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Os Processos terapêuticos dos “Ti nyangas” para os Residentes do Bairro Luís Cabral na
Cidade de Maputo
Os Processos terapêuticos dos “Ti nyangas” para os Residentes do Bairro Luís Cabral na
Cidade de Maputo
Índice
DECLARAÇÃO ............................................................................................................................ iii
LISTA DE IMAGENS ................................................................................................................... iv
ABREVIATURAS .......................................................................................................................... v
DEDICATÓRIA ............................................................................................................................ vi
AGRADECIMENTOS ................................................................................................................. vii
RESUMO ..................................................................................................................................... viii
ABSTRACT ................................................................................................................................... ix
0. INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 11
CAPÍTULO I: ASPECTOS GERAIS DO BAIRRO LUÍS CABRAL ......................................... 25
1.1. Localização Geográfica do Bairro Luís Cabral ..................................................................... 25
1.2. História do Bairro Luís Cabral ............................................................................................... 26
1.3. Organização Política Administrativa do Bairro Luís Cabral ................................................. 26
1.4. Infra-Estruturas do Bairro Luís Cabral .................................................................................. 29
CAPÍTULO II: PERFIL SOCIAL DOS “TI NYANGAS” DO BAIRRO LUÍS CABRAL ........ 31
2.2. Perfil social dos Utentes dos serviços dos “ti nyangas” ........................................................ 31
CAPITULO III: DOENÇAS TRATADAS PELOS “TI NYANGAS” ........................................ 33
3.1.Processos Terapêuticas por via de Plantas Medicinais. .......................................................... 35
3.2. Processos Terapêuticas por via da Invocação de Espíritos .................................................... 36
CAPÍTULO IV: PERCEPÇÕES DOS RESIDENTES DO BAIRRO LUÍS CABRAL OBRE OS
PROCESSOS TERAPÊUTICOS DOS “TI NYANGAS”. ........................................................... 38
4.1. Práticas Alternativas no Acesso a Saúde. .............................................................................. 38
4.2. Uma fonte de Sobrevivência .................................................................................................. 39
CONCLUSÃO .............................................................................................................................. 42
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................................... 44
APÊNDICES................................................................................................................................. 46
iii
DECLARAÇÃO
Eu, César Tito Gremo Nota, estudante da Universidade Pedagógica de Maputo, Faculdade de
Ciências Sociais e Filosofia, declaro que está monografia é resultado da minha investigação
pessoal e das orientações do meu supervisor. O seu conteúdo é original, e todas as fontes
consultadas estão devidamente mencionadas no texto e na bibliografia final.
Declaro ainda que este trabalho não foi apresentado em nenhuma outra instituição para obtenção
de qualquer grau académico.
Maputo, _______de_________________de_______
Assinatura do Candidato
_____________________________________
LISTA DE IMAGENS
Imagem I: Mapa do Bairro Luís Cabral…………………………………………………....…....25
ABREVIATURAS
AMETRAMO- Associação dos Médicos Tradicionais de Moçambique;
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho a Deus, todo poderoso, pois sem Ele nada seria possível.
vii
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus todo-poderoso, por me ter acompanhado nesta jornada académica, dando-me
força e saúde para progredir com os estudos.
Ao meu supervisor Professor Doutor. José Alberto Raimundo, pela paciência e pelo tempo gasto
na orientação deste trabalho, e por ser o professor que me inspira no seu estilo de vida.
Aos meus pais Tito Gremo Nota e Florinda Uzer Bango, pela educação que me deram desde
minha nascença, e pelas orações que têm realizado no dia-a-dia para o meu bem-estar.
Aos meus comandantes Tenente Coronel Marcelino Bule e Alberto Estevão, pelo incentivo de
continuar com os estudos e por serem boas pessoas.
A todos meus irmãos que directa ou indirectamente contribuíram bastante com incentivo e
conselhos durante este percurso da Faculdade, e por terem acreditado na minha força de vontade
nos estudos.
Ao meu melhor amigo, Desidério Supeia pelas noites perdidas na troca de ideias para a
concretização deste trabalho, também agradeço, ao meu melhor colega de carteira, Milton Maria
Manhiça, pelo sacrifício concedido para a reparação do meu computador e, a todos os colegas de
turma, pelo convívio passado ao longo dos quatro anos de formação, o meu muito obrigado.
viii
RESUMO
A monografia versa sobre a medicina tradicional, e visa compreender a forma como os residentes
do Bairro Luís Cabral percebem a eficácia dos processos terapêuticos dos “ti nyangas”.
Buscando entender a relevância e a persistência da procura dos cuidados médicos tradicionais
prestados pelos “ti nyangas”. O trabalho tem como objectivo compreender os processos
terapêuticos dos “ti nyangas” para os residentes do Bairro Luís Cabral cidade de Maputo. Os
dados foram analisados com recurso ao método qualitativo e a teoria interpretativa ou
hermenêutica de Clifford Geertz, tendo-se apoiado nas técnicas da pesquisa bibliográfica,
observação directa e na entrevista semi-estruturada. Os dados colectados revelam que os “ti
nyangas” são terapeutas procurados pelos residentes do bairro em referência para prestação dos
cuidados de saúde, os processos terapêuticos destes actores, pode ser caracterizado de duas
formas: por via de plantas medicinais e por via da invocação dos espíritos. Com recurso aos
dados colectados no campo, conclui-se que os processos terapêuticos dos “ti nyangas ”são para
os residentes do Bairro Luís Cabral práticas alternativas para o acesso aos cuidados de saúde,
uma fonte de sobrevivência para os “ti nyanga”.
ABSTRACT
This monograph is about traditional medicine in Mozambique, whose analysis aims to
understand how the residents of Luis Cabral neighborhood perceive and evaluate the
effectiveness of the therapeutic processes of the "ti nyangas". It should be noted that our concern
is based on the explanation of the relevance and persistence of residents of the Luis Cabral
neighborhood in seeking medical care provided by the "ti nyangas". Data were analyzed using
the qualitative method and the interpretative or hermeneutic theory of Clifford Geertz, based on
the themes of bibliographical research, direct observation and semi-structured interviews. The
collected data reveal that the "ti nyangas" are therapists sought by residents of the neighborhood
in reference to provide health care, the therapeutic processes of these actors can be characterized
in two ways: through medicinal plants and through the invocation of spirits. Using the data
collected in the field, it is concluded that the therapeutic processes of the "ti nyangas" are, for the
residents of Luis Cabral neighborhood, an alternative for accessing health care, a source of
survival for the "ti nyanga".
Keywords: Traditional Medicine; “ti nyanga" and Perception, Luís Cabral, Maputo,
Mozambique.
11
0. INTRODUÇÃO
Em Moçambique o Serviço Nacional de Saúde (SNS) constitui o principal prestador de
serviço de saúde convencional a nível nacional, este serviço cobre cerca de 40% no que diz aos
cuidados hospitalares. Devido a fraca rede cobertura do SNS, estima-se que os restantes 60% da
população utilizam os serviços fornecidos pela medicina tradicional (Resolução n°11/2004 de 14
de Abril).
Como mostra também o PESS (2013, p.65) que em Moçambique, por razões culturais e
de acesso aos cuidados de saúde, a maioria dos moçambicanos são primeiro observados pelos
praticantes da medicina tradicional e sabe-se que a actividade realizada por estes, abrangem
cobertura de 70% serviços de saúde primário na comunidade.
Com recurso a descrição acima relacionada com a medicina tradicional, percebe-se que
este tipo de medicina tende a ser a principal prestadora de cuidados de saúde, o que testemunha a
persistência da procura dos utentes aos terapeutas desta medicina que vulgarmente são
designados por “ti nyangas”.
O motivo que nos levou a pautar por este tema, deve-se ao facto do pesquisador ter sua
residência no bairro Luís Cabral, onde o mesmo tem observado pessoas a se submeterem a
consultas médicas tradicionais, e pelo facto de ter visto panfletos publicitários sobre este tipo de
medicina nas vias públicas do Bairro Luís Cabral.
Consideramos pertinente abordar o tema sobre medicina tradicional, uma vez que com
recurso a leituras constatamos que actualmente tem-se notado uma tendência cada vez maior de
valorização deste tipo de medicina. Importa referir ainda que, pela sua importância reconhecida,
o governo criou uma política de integração deste tipo de medicina no Sistema Nacional de
Saúde.
No âmbito académico, esta pesquisa poderá ser útil pois procuramos explicar as
diferentes percepções que se constroem sobre as práticas curativas prestadas pelos “ti nyangas”.
Importa referir também que a trazer uma análise de carácter antropológica justifica-se a
relevância do trabalho no âmbito teórico académico.
12
Na área social, o trabalho será útil para a divulgação das informações sobre diferentes
processos terapêuticos utilizados pelos “ti nyangas” na prestação dos cuidados de saúde, o que
poderá assegurar a sua legitimidade, pelos utentes.
No estudo desenvolvido por MENESES (S/d, p.1) alega que na actualidade, os médicos
ditos “tradicionais” continuem a ser procurados, não só nos meios rurais onde o alcance do
Serviço Nacional de Saúde (SNS) é mais reduzido, mas também nos contextos urbanos. Na
opinião de GRANJO (2009, p.578) Esta procura aos vários tipos de curandeiros deriva da
insuficiência de médicos, ou da falta de dinheiro das famílias.
Tendo sido feita a descrição sobre a medicina tradicional, importa referir que o problema
desta pesquisa, surgiu a partir de observações directa feitas no terreno sobre as práticas
tradicionais e de algumas conversas informais com fiscais da AMETRAMO do bairro Luís
Cabral. A partir destas fontes de informação, ficou claro que a medicina tradicional tende a ser
um negócio muito lucrativo e, por essa razão, atrai muitos “ti nyangas” de outras províncias e
também de fora do país. É por esse facto que assistimos hoje a presença desses médicos
tradicionais na cidade de Maputo e, em particular no Bairro Luís Cabral, onde com recurso a
observações foi possível ver longas filas de pacientes em frente de algumas casas de “ti nyangas”
nos quarteirões 18 e 21, onde esperavam pacientemente para serem atendidas e constatar um
ambiente particular caracterizado por danças, cânticos, delírios, batuques, capulanas coloridas e
muitos panfletos publicitários.
Importa referir que com recurso as conversos informais os residentes foram unânimes em
afirmaram que há casos que estes recebem sensibilizações das igrejas para não aderência dos
processos terapêuticos dos “ti nyangas”, pois acredita-se que são práticas obscuras, as
implicações práticas desta sensibilização é que os residentes devem resolver os cuidados de
saúde nas unidades sanitárias mais próximas. Portanto, o que se verifica é que a uma persistência
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na procura dos cuidados médicos prestados por estes actores neste bairro. Face a estas
constatações colocamos a seguinte pergunta: Como os residentes do Bairro Luís Cabral
percebem a eficácia dos processos terapêuticos dos “ti nyangas”?
Como forma de dar uma resposta a questão colocada, propomos a seguinte hipótese: Os
residentes do Bairro Luís Cabral percebem os processos terapêuticos dos “ti nyangas ”como
sendo alternativas para os seus problemas de saúde, particularmente quando a medicina
convencional não proporciona um tratamento satisfatório.
O objectivo geral deste estudo propõe: Compreender a forma como residentes do bairro
Luís Cabral Percebem os processos terapêuticos dos “ti nyangas”.
Para esta monografia traçamos os seguintes objectivos específicos: (i) Descrever o perfil
social dos “nyangas”; (ii) Descrever o perfil dos utentes dos serviços dos “ti nyangas” (iii)
Apresentar as principais doenças tratadas pelos “ti nyangas” (iv) Caracterizar o processo
terapêutico dos “ti nyangas”; (v) Analisar as percepções dos residentes do Bairro Luís Cabral
sobre os processos terapêuticos dos “ti nyangas”.
O tema de medicina tradicional já foi analisada por JUNOD (1996) No seu estudo o autor
interessou-se em descrever os costumes e as manifestações sociais da vida tribal dos Tsongas,
relacionados com sua vida mental e espiritual. No terceiro capítulo do seu estudo que aborda
sobre a “Magia” apresenta categorias diversas de curandeiros, fazem parte das categorias de
curandeiros apresentados pelo autor os seguintes: (i) aqueles cuja actividade reveste o mínimo de
carácter mágico, são os “n’anga”, nome técnico dos médicos indígenas, a competência dos
médicos indígenas varia muito de um individuo para outro, há-os que tratam só um género de
doenças ou uma categoria de pacientes, pois são os únicos a conhecer os remédios que convém
aos seus casos. (ii) os govela aqueles que, tendo passado pela cerimónia do exorcismo se
tornaram eles próprios exorcistas. (iii) os mungoma, os verdadeiros curandeiros, dotados de
poder, divinatório e miraculoso que lutam contra os valoyi. (iv) os Xinusa aqueles cujo poder os
qualifica especialmente param descobrir os deitadores de sorte.
Importa referir que com o seu estudo no capítulo sobre a “Magia” afirma que os
curandeiros são os partidários, os sustentáculos de ordem social que predizem o futuro, curam os
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doentes, previnem a desgraça sob todas as formas, lutam contra valoyi e são regulamente
consultados pelo tribunal quando se trata de descobrir os deitadores de sortes.
Analisando as ideias colocadas no estudos, percebe-se que são relevantes, pois ilustra-nos
as diferentes categorias de curandeiros da tribo dos Tsongas, importa referir com recurso as estas
categoria, pode-se incluir os “ti nyangas” na categoria dos “n’anga” uma vez que estes tem
restrições na prestação dos cuidados de saúde. Portanto, o estudo do autor difere-se do nosso
uma vez que nos interessa perceber a sobre a forma como os residentes do bairro Luís Cabral
avaliam a eficácia dos processos terapêuticos dos “ti nyangas”.
Comentando as abordagens trazidas pelo autor, nota-se que o seu estudo apresenta como ponto
forte de perceber a intervenção da medicina tradicional no tratamento da doença mental, embora
não apresente evidências que demostrem como a medicina tradicional opera na cura da doença
mental. Este estudo difere-se do nosso uma vez que nos preocupamos em compreender as como
os residentes do Bairro Luís Cabral avaliam a eficácia dos processos terapêuticos dos “ti
nyangas”.
As ideias apresentadas pela autora são relevantes na medida em que, nos remetem ao
período colonial em que as práticas dos “ti nyangas” eram desvalorizadas e combatidas. O que
podemos reter do pensamento da autora é o facto de que a medicina tradicional é uma prática que
já existe há muito tempo, muito antes dessa presença colonial. Porém, na sua abordagem, ela não
se preocupa com a forma como que as comunidades percebem e avaliam a eficácia dessas
práticas tradicionais, o que é justamente objectivo da nossa pesquisa.
O autor afirma no seu estudo que para os “ti nyanga”, as suas capacidades curativas são
inseparáveis dos espíritos que os possuam e, mesmo quando recorrem a farmacopeia com
eficácia química reconhecida, o sucesso dos tratamentos poderá implicar a concordância dos seus
e dos antepassados do paciente, o que por sua vez implica acções rituais.
Comentando o estudo do autor percebemos que o estudo é relevante pois mostra como funciona
a práticas de cura dos “ti nyangas” onde mostra que a fonte do processo terapêutico prestado por
16
estes actores, tem uma relação estreita com a invocação dos espíritos dos antepassados. O estudo
difere-se do nosso uma vez que, nos interessa captar a forma como os residentes do Bairro Luís
Cabral percebem e avaliam a eficácia dos processos terapêuticos fornecidos pelos “ti nyangas”.
SANTANA (2016) no seu estudo afirma que no século XIX, os “ti nyanga” exerciam
considerável influência no poder político e militar do Estado de Gaza e mantinham certa
autoridade e influência na vida pública e pessoal dos povos africanos, lugar social que lhes foi
negado com o advento da colonização portuguesa. Para a realização do seu trabalho a autora
recorreu a técnica de pesquisa bibliográfica.
Com o seu estudo autora pretende mostrar como “ti nyanga”, ao sul de Moçambique,
reagiram e destacar a relevância do costume e suas reinvenções nos processos de contestação
social movidos por colectivos subalternizados, inclusive, no campo ritual que aqui é visto como
espaços políticos e de transformação social ao invés de meios de controlo social e acomodação
de conflitos.
Percebe-se no estudo desenvolvido pela autora que o interesse foi de estudar a questão da
reivindicação dos “ti nyangas” face a exclusão das suas práticas na época colonial, olha as
práticas dos “ti nyangas” a partir de uma visão política. Importa referir que o estudo difere-se
com o nosso uma vez que procuramos compreender a forma como os residentes do Bairro Luís
Cabral percebem e avaliam a eficácia dos processos terapêuticos dos “ti nyangas”.
Os resultados da sua pesquisa revelam que em Moçambique, tal como vários outros
países do continente africano, preconiza na política do seu governo a valorização da “medicina
tradicional” associada à medicina moderna.
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Com o seu estudo chegou a conclusão de que a revalorização da “medicina tradicional” permite
em simultâneo negar a dimensão social das medicinas locais ao reduzi-las à sua farmacopeia, ao
mesmo tempo que se torna possível o controle político das práticas terapêuticas, nas suas várias
dimensões, através da sua legalização.
i) Cultura
A Cultura deve ser entendida como uma teia de significados produzida dentro de
um sistema compartilhado pelos membros de cada sociedade. A cultura denota
um padrão de significados transmitido historicamente, incorporado em símbolos,
um sistema de concepções herdadas expressas em formas simbólicas, por meio
19
ii) Símbolo
Com esta definição, pretendemos apresentar o significado desta prática. Neste contexto,
optamos pela definição proposta pela Organização Mundial da Saúde (OMS), por se tratar de
uma definição que descreve elementos que os profissionais desta área desenvolvem.
Segundo GRANJO (2010, p.19) “ti nyangas” refere-se a terapeutas que possuem
poderes curativos, divinatórios e de eficácia ritual ao fato de serem possuídos por espíritos de
defuntos, que com eles formam uma simbiose profissional e ontologia.
Com recurso a este método foi possível captar diferentes as opiniões, percepções,
experiências dos residentes do Bairro Luís Cabral sobre a forma como percebem e avaliam a
eficiência dos processos terapêuticos oferecidos pelos “ti nyangas” na resolução dos problemas
de saúde.
21
Com este método foi possível formular uma hipótese relacionada com a forma como os
residentes do Bairro Luís Cabral percebem as práticas terapêuticas dos “ti nyangas” que se
encontra também referida na conclusão deste trabalho.
Este método foi útil neste trabalho, uma vez que o mesmo nos permitiu estar no campo da
pesquisa, onde foi possível colher as informações usadas na análise deste trabalho, importa
referir que no campo de pesquisa foram colectados informações relacionados com o perfil social
dos “ti nyangas” e dos utentes, as características do bairro e interacção com o grupo alvo.
Sobre a pesquisa bibliográfica, LIMA (2008, p.67) define-a como uma actividade de
localização e consulta de fontes da diversa informação escrita orientada pelo objecto explícito
de colecta de matérias relacionado com o tema. Esta técnica foi útil para uma vez que a mesma
nos permitiu fazer leituras de diferentes livros que abordam a medicina tradicional nas
plataformas virtuais e em algumas bibliotecas existentes na cidade de Maputo a destacar,
nomeadamente a Biblioteca do Instituto Superior de Ciências de Saúde; Biblioteca da
Universidade São Tomas de Moçambique; Biblioteca Brazão Mazula da Universidade Eduardo
Mondlane; Biblioteca da Universidade Pedagógica de Maputo; e a Biblioteca Nacional de
Moçambique.
É aquela que ocorre naquela situação em que o pesquisador tem a convicção de que a
colecta de matérias terá mais êxito na medida em que resguardar sua identidade e a sua
postura de espectador dos eventos observados ou do quotidiano dos grupos observados
(p.50)
Esta técnica também nos foi muito útil no processo de recolha de informações, uma vez
que nos tivemos a possibilidade de usar os nossos órgãos de sentido como é o caso da visão e da
audição com recurso a visão tivemos a possibilidade descrever as principais características do
Bairro Luís Cabral, captar algumas imagens das infra-estrutura do Bairro, bem como identificar
os instrumentos usados pelos “ti nyangas” para realização das suas práticas, ouvir as opiniões
dos “ti nyangas” e dos residentes do Bairro em referência sobre aspectos relacionados com a
medicina tradicional.
Através desta técnica foi possível interagir com os residentes e os “ti nyangas” cujo intuito
foi de captar informações sobre os processos terapêuticos dos “ti nyangas”, perceber a forma
como os residentes percebem e avaliam a eficácia dos processos terapêuticos prestados pelos “ti
nyangas”. Ao longo da realização das entrevistas, foram privilegiadas as línguas: a portuguesa e
“Xichangana” (uma das línguas mais faladas na cidade de Maputo). Importa referir que, as
informações das entrevistas incidiram em dois momentos principais: anotações das entrevistas
em um bloco de notas e as gravações por telefone.
O universo da pesquisa foi de trinta e três mil oitocentos (33800) habitantes do Bairro Luís
Cabral, de acordo com o Recenseamento Geral da População e Habitação, realizado em 2017
pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).
Tratou-se de uma amostra não-probabilística que para GIL (2008, p.67), uma amostra é
não-probabilística quando não apresenta fundamentos matemáticos ou estatísticos, depende
23
Importa referir que esta amostra foi muito útil para o nosso estudo, uma vez que permitiu
ao pesquisador ter uma escolha própria de critério na colecta de informações, conhecer os “ti
nyangas” do Bairro Luís Cabral a partir da indicação de outros “ti nyangas”, isto é, depois de
conversar com um “ti nyanga”, este por sua simpatia nos indicava um outro, com o mesmo
perfil, para responder as questões previstas no guião da entrevista.
Esta monografia apresenta na sua estrutura quatro capítulos principais: o capítulo I que se
debruça sobre os aspectos gerais do Bairro Luís Cabral, o capítulo II sobre o perfil social dos “ti
nyangas” do Bairro Luís Cabral, o Capítulo III: Doenças tratadas pelos “Ti Nyangas” Capitulo
IV: Percepções dos residentes do bairro Luís Cabral obre os processos terapêuticos dos “ti
nyangas”. Para além destes capítulos o trabalho tem a conclusão, referências bibliográfico,
apêndice e anexo.
Ao longo da realização deste trabalho tivemos alguns constrangimentos, dos quais destacamos os
seguintes:
Como forma de ultrapassar a barreira relacionada com o isolamento social foi necessário
esperar até o mês de Agosto de 2020 para o inicio do o trabalho de terreno.
24
Nas observações realizadas no Bairro Luís Cabral, foi possível constatar que o Bairro
Luís Cabral é um Bairro suburbano da cidade de Maputo, que tem próprias características dentre
elas são visíveis em quase todas as ruas o coqueiro, uma planta comum entre os habitantes
provenientes de Inhambane.
As suas ruas são de terra batida e, é um bairro propício a inundações durante o período chuvoso.
Além dos assentamentos desordenados de alguns quarteirões, também e caracterizado por um
mau saneamento do meio.
1
Nome ficticio
2
Nome ficticio
28
O Instituto Superior Dom Bosco é uma outra infra-estrutura do Bairro importante por
referir. Encontra-se localizada no 21° Quarteirão e faz fronteira a Norte pelas instalações da
agência de viaturas da Ford, a Sul pela linha férrea da CFM, e a Este pela Estrada Nacional
Número um (EN1);
30
Imagem IV: A-Instalações do Instituto Superior Dom Bosco B- Igreja de Metodista de Chinhembanine
CAPÍTULO II: PERFIL SOCIAL DOS “TI NYANGAS” DO BAIRRO LUÍS CABRAL
Nesta parte do trabalho, procuramos conhecer o perfil do nosso grupo alvo, olhando para
questões relacionadas com a origem étnica e aspectos económicos.
Foi possível constatar também que a maior parte dos “ti nyangas” tem suas casas no
Bairro Luís Cabral. Porém, foi possíveltambém constatar que alguns deles são oriundos de outros
Bairros mais próximos tais como Chamanculo “C”, Inhagoia e Casa Branca.
2.2. Perfil social dos Utentes dos serviços dos “ti nyangas”
Com recurso as observações no terreno, foi possível perceber que os serviços dos “ti
nyangas” são utilizados pelos moradores do bairro Luís Cabral e de bairros circunvizinhos, estes
utentes podem ser caracterizados pelas seguintes categorias: jovens, adultos e idosos. De entre
estes, é mais comum ver pessoas idosas a recorrer aos processos terapêuticos dos “ti nyangas”.
Com estas duas imagens procuramos apresentar as principais doenças que os “ti nyangas”
tem a possibilidade de curar se olharmos para o panfleto a direita o “nyanga” alega ter a
possibilidade de curar pessoas enfeitiçadas, este cenário nos remete a ideia de que os processos
de diagnóstico é feito com recurso a invocação de espíritos dos antepassados. Quanto a imagem
a esquerda nota-se uma veriedade de doencas que estes terapeutas alegam ter a possibilidade de
curar.
Durante as entrevistas com os “ti nyangas” estes, falaram sobre algumas doenças sobre os
quais estão a seu alcance de cura, de entre estas temos: Diabete, epilepsia, tuberculose,
34
Agora trato mais a doença de lua, porque as mães que acabam de nascer tem vindo a
pedir esse remédio para dar seus filhos para não ter problemas de ataque, na verdade o
remédio de lua é um banho de purificação que chamamos de kutlampswiwa, nos
hospitais não tratam essa doença… (Entrevista feita no dia 8/07/2021)
Olhando para esta entrevista nota-se que a procura do “nyanga” para receber o remédio
de lua deve-se ao facto deste remédio significar para as mães um acto de purificação dos seus
bebes recém-nascidos, dai que incorporamos aqui o conceito de símbolo que na opinião de
Geertz citado por VAGHETTI (2006) Símbolo é um vínculo da cultura que resulta da associação
de comportamentos, imagens, a organização social, rituais e a percepção do mundo em um
determinado grupo cultural gerando significados.
Ainda sobre o mesmo assunto, relacionado com os tipos de doenças tratadas pelos “ti
nyangas”, o nyanga Mario Tome4, disse o seguinte:
Para falar das doenças que curamos é preciso saber qual é a especialização de
cada nyanga, pois tem aqueles que são possuídos por espíritos que fazem o
“kutchaya thingoma” (toque do batuque), esses curam doenças que tem a ver
com espíritos como por epilepsia, doenças mentais como emouquecer. Outros
nyangas tratam certas doenças por via de plantas, como malária, tuberculose,
infertilidade, são algumas doenças curadas por meio de plantas. (Entrevista feita
no dia 16/04/2021).
Comentando esta entrevista, percebe-se que as doenças taradas pelos “ti nyanga”
resultam da sua experiência de aprendizagem, das doenças curadas pelos ti nyangas encontram
em duas categorias: doenças curadas por via da invocação de espíritos e por via de plantas. Para
aprofundar esta entrevista, nos socorremos ao conceito de cultura que na opinião de Geertz
citado por VAGHETTI (2006) a cultura é um sistema de concepções herdadas expressas em
formas simbólicas, por meio das quais os homens comunicam, perpetuam e desenvolvem seu
3
Nome ficticio.
4
Nome ficticio
35
Para a cura de doenças, primeira coisa temos que fazer é consulta para saber se
a doença do paciente pode ser curada com raízes ou adivinhação, a casos que o
paciente sente dor de estômago por exemplo eu logo lhe entrego raiz de uma
planta e se for espíritos maus ai terei que fazer o processo de Kufemba 6 .
(Entrevista feita no dia 13/08/2020)
Este depoimento mostra que os “ti nyangas” para além de trabalharem com a invocação dos
espíritos, também têm conhecimentos sobre as plantas medicinais que, de acordo com os nossos
entrevistados, são conhecimentos adquiridos dos seus antecessores.
Com este enunciado percebemos também que a cura de doenças nos “ti nyangas”
depende da vocação espiritual que cada um tem para este processo. Porem torna-se relevante
trazer o conceito de “ti nyanga” proposto por GRANJO (2010) que nos remete para uma parte
espiritual do ti nyanga na cura de doenças.
5
Nome Fictício
6
Kufemba, termo usado pelos “ti nyangas” para processo de diagnóstico de expulsão de espíritos.
7
Nome ficticio
36
Quando estou com um paciente, a primeira coisa que faço é lançar o “Tinhlolo”9
falo dessas carraças que você pode ver aqui, servem para adivinhar a doença do
paciente, depois de lançar o Tinhlolo, e descobrir o que se passa com o paciente
entrego o “Bhasso” que é junção muitos medicamentos, esse “Bhasso” aqui
afugenta espíritos maus, problemas de maus sonhos muitas coisas que afugenta...
(Entrevista feita no dia 13/ 08/2020)
Olhando para a explicação do “ti nyanga” percebe-se que ele procura dar uma explicação
do problema a partir de experiências de práticas curativas anteriores, dai que é consideramos ser
imperioso aprofundar esta entrevista com recurso ao conceito de Cultura que na opinião de
Geertz citado por VAGHETTI (2006) a cultura é uma teia de significados produzida dentro de
um sistema compartilhado pelos membros de cada sociedade. As práticas curativas do “ti
nyanga” são compartilhados pelos com os seus pacientes.
Com esta imagem procuramos apresentar os instrumentos utilizados pelos “ti nyangas”
nos processos terapêutico a partir da invocação de espíritos, onde se podem ver conchas, moedas,
8
Nome fictício
9
Termo usado para caracterizar os meios de consulta, como ossos, sementes, dados, que o ti nyanga lança para
descobrir a doença do paciente.
37
Eu já tenho 10 anos a fazer esse trabalho de nyanga, as pessoas que aparecem muitas
doenças que eles falam-me de doenças relacionadas com espíritos maus, outros
procuram medicamentos para sorte e para conseguir emprego. Para este tipo de casos,
trabalho com as duas coisas, conheço medicamentos de plantas e também esses de
espíritos. (Entrevista feita no dia 13/8/2020)
Com esta entrevista, pode se perceber que o “nyanga” apresenta os tipos de doenças que
este trata e a forma como são curadas. Portanto, o “nyanga” cura as doenças a partir dos
aprendizados que obteve com os seus antecessores. De acordo com Geertz citado por
VAGHETTI (2006)A cultura denota um padrão de significados transmitido historicamente, por
meio das quais os homens comunicam, perpetuam e desenvolvem seu conhecimento e suas
actividades em relação à vida. Com recurso ao conceito de cultura é possível perceber que os
aprendizados que o nyanga tem um histórico relacionado com a forma de assimilação dos
conhecimentos para a cura de doenças.
10
Nome fictício
38
É assim não sei o que cada um vai fazer na casa de um “nyanga”, porque tem
aqueles que vão procurar drogar para serem ricos, terem sorte, então na minha
opinião eu diria que muitas vezes as pessoas vão nos ti nyangas quando tem uma
doença que o hospital não consegue resolver, como é o caso de doenças de
espírito mau, feitiçaria por ai, essas coisas no hospital não curam... (Entrevista
feita no dia 16/8/2020).
Analisando esta entrevista percebe-se que a escolha dos serviços fornecidos pelos “ti
nyangas” pode ser percebido tendo em conta ao sentido que o individuo atribui a estes serviços,
neste caso é imperioso nos socorrer ao conceito de cultura que na opinião de Geertz citado por
VAGHETTI (2006) alega que a cultura é uma teia de significados incorporado em símbolos, um
sistema de concepções herdadas expressas em formas simbólicas, por meio das quais os homens
comunicam, perpetuam e desenvolvem seu conhecimento e suas actividades em relação à vida.
Por força maior nos aqui no Bairro consideramos o hospital como principal
centro de atendimento de saúde, mas no caso de algumas doenças consideramos
os ti nyangas como nossos segundos médicos, porque eles tem experiência na
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cura para muitas doenças, um nyanga pode curar doenças de espíritos, tem
domínio de plantas... (Entrevista feita no dia 16/08/2020).
Com esta entrevista, pode se perceber que os “ti nyangas” são uma alternativa de cura de
certas doenças para os residentes do Bairro em referência. Para se aprofundar esta entrevista
propomos o conceito de Símbolo que na opinião de Geertz citado por VAGHETTI (2006)
compreende a todas as representações atribuídas por um grupo sociocultural, que resulta da
associação de comportamentos, imagens, a organização social, rituais e a percepção do mundo
em um determinado grupo cultural gerando significados. Com isso, pode se afirmar os residentes
tem noção da existência de uma medicina convencional para prestação dos cuidados de saúde,
porém a escolha dos serviços fornecidos pelos “ti nyangas” representa uma forma alternativa
quando a medicina convencional não proporciona uma solução satisfatória no que diz respeito
aos cuidados de saúde.
Questionados sobre a forma como estes actores conseguem sobreviver, as nossas fontes,
foram unânimes em afirmar que, no geral, dependem das consultas que os seus pacientes fazem
para conhecer o seu estado de saúde, e também do valor que pagam pelos remédios que lhes são
receitados. A respeito disso a residente Sandra Mustafa13, deu o seguinte testemunho:
Com recurso a esta entrevista, é importante referir que a prática da medicina tradicional
significa em parte para os “ti nyangas” sua fonte de rendimento, para sua sobrevivência.Pode-se
perceber melhor esta entrevista a aplicando o conceito de símbolo que para Geertz citado por
VAGHETTI (2006) Símboloé um vínculo da cultura que compreende a todas as representações
atribuídas por um grupo sociocultural. Nota-se que os processos terapêuticos dos ti nyangas
representam a sua fonte de sobrevivência.
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Para nós marcar os preços depende das dores que o paciente estiver a sentir, nós
cobramos para consulta 500mt, porque esse valor serve para o chamamento dos
Tinguluves 15 do paciente, depois de descobrir o que o paciente tem se pretende ter
remédios de cura o preço é de 2000mt... (Entrevista feita no dia 17/08/2020)
Com este depoimento, percebe-se que o valor que o paciente paga ao “nyanga” tem a ver
com o conhecimento terapêutico que o “nyanga” tem em relação ao problema de saúde
apresentado pelo paciente. Para aprofundar esta entrevista consideramos relevante propor o
conceito de cultura que para Geertz citado por VAGHETTI (2006). A actividade dos ti nyangas
faz parte da cultura uma vez que os seus conhecimentos partilham com os membros
dacomunidade, proporcionando os cuidados de saúde.
Sobre o mesmo assunto ainda, o “ti nyanga” Mariza Pedro16 testemunhou da seguinte maneira:
Uma forma fácil que tenho adoptado para conseguir clientes é dar um atendimento
satisfatório para os primeiros clientes, quando estes curam vão divulgando o meu
trabalho, só para consulta nesses dias com Corona Vírus não está fácil cobro 150mt
para cura acaba cobrando 1500mt. (Entrevista feita no dia 20/08/2020)
Olhando para esta entrevista, percebe-se claramente que existe uma boa convivência
entre o “ti nyanga” e o paciente o que faz com que este se sinta satisfeito e, por consequência,
recomende outros pacientes a consultá-lo. Esta entrevista pode-se perceber melhor ao
enquadrarmos oconceito de Cultura que para Geertz citado por VAGHETTI (2006) a cultura é
uma teia de significados produzida dentro de um sistema compartilhado pelos membros de cada
sociedade. A cultura denota um padrão de significados transmitido historicamente, por meio das
quais os homens comunicam, perpetuam e desenvolvem seu conhecimento e suas actividades em
relação à vida.
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Termo local para referir-se aos antepassados.
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Para além da das consultas medicas, os nossos informantes afirmaram que uma outra
fonte de rendimento é a prática da agricultura como também a realização com comércio
informal. A este respeito a “nyanga” Camila João17, deixou o seguinte testemunho:
Nem sempre temos tido clientes, pior com essa doença de corona vírus, já não
tenho recebido muitos clientes porque proíbem aglomerados, então para não
sofrer a fome vamos na machamba, cultivar couve, milho e cebolas, mas também
tenho vendido bolinhos lá na Maquinaque só para ter algum dinheiro para
sustentar meus filhos. (Entrevista feita no dia 20/08/2020)
Com este depoimento, percebe-se que os “ti nyangas” tem mobilizado diferentes meios
para a sua sobrevivência, nota-se aqui uma outra base económica que é neste caso a prática da
agricultura como também a realização do comércio informal. Pode se entender esta entrevista ao
nos socorrermos ao conceito de cultura que para Geertz citado por VAGHETTI (2006) A Cultura
é um sistema de concepções herdadas expressas em formas simbólicas, por meio das quais os
homens comunicam, perpetuam e desenvolvem seu conhecimento e suas actividades em relação
à vida. Nota-se neste caso que a agricultura é uma outra actividade auxiliar que os “ti nyangas”
recorrem para sua sobrevivência.
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CONCLUSÃO
O trabalho foi desenvolvido com intuito apresentar algum contributo sobre a medicina
tradicional, tendo em conta a forma como os residentes do Bairro Luís Cabral percebem e
avaliam a eficácia dos processos terapêuticos fornecidos pelos “ti nyangas” Para se concretizar
este objectivo foram apresentados na revisão bibliográfica diferentes estudos já realizados sobre
esta temática onde foi possível constatar que existe um grande interesse em aprofundar o
conhecimento sobre este tema.
Constatamos também que os “ti nyanga” são de origens diferentes, dos quais se
destacam os Rhongas, changanas, tswas, chopes, bitongas e nyungwes. Além disto, foi possível
também perceber que a principal fonte de sobrevivência dos “ti nyanga” é a prática
curativa.Durante o trabalho de campo, procuramos perceber como ocorre as práticas terapêuticas
dos “ti nyangas” do Bairro Luís Cabral, onde foi possível constatar que elas se caracterizam pelo
uso de plantas medicinais e pela invocação de espíritos dos antepassados.
Foram apresentadas nos desenrolares os tipos de doenças tratadas pelos “ti nyangas”,
onde referenciamos a epilepsia como sendo a principal doença tratada por estes terapeutas
devido a demanda da procura dos remédios para esta doença.
Após termos constatado sobre a forma como ocorrem as práticas terapêuticas dos ti
nyangas, um outro aspecto que nos interessou esteve relacionado com a forma como os
residentes do Bairro Luís Cabral percebem o valor e eficácia dos processos terapêuticos dos “ti
nyangas”. Onde ficamos também a saber que os residentes do Bairro Luís Cabral percebem que
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os processos terapêuticos dos“ti nyangas” são práticas alternativas à medicina legal para a cura
de certas doenças, e são acima de tudo, uma fonte de sobrevivências. Podemos por isso dizer que
a nossa hipótese foi confirmada, uma vez que os residentes do Bairro em referência recorrem aos
“ti nyangas” quando os hospitais não possuem soluções para certas enfermidades.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BOAVENTURA. M. Edivaldo: Metodologia de pesquisa: monografia, dissertação e tese. 3ᵃ
edição, São Paulo, Atlas editora, 2007
BOUDON, Raymond: Metodologia das ciências sociais. S.ed. Petrópolis: vozes editora, 1971
GIL, António: Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. São Paulo: Editora Atlas, 2008
GRANJO, Paulo: Ser curandeiro em Moçambique: uma vocação imposta. S.ed. Maputo: UEM,
2010
GRANJO, Paulo. Ser curandeiro em Moçambique: uma vocação imposta. S.ed. Maputo,
S/editora, 2007
MAHUMANE Paulo Albino: Somos uma Identidade Própria”: percorrendo as trilhas de uma
identidade Tsonga criada. As múltiplas identificações no contexto urbano do Bairro Luís Cabral
em Maputo. S.ed. Salvador- Brazil, 2007.
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LIMA, Mano lita Correia: Monografia- a engenharia da produção acadêmica. 2ᵃ ed. SãoPaulo:
Saraiva Editora, 2008
RUIZ, João Álvaro: Metodologia Científica: guia para eficiência nos estudos. 6ᵃ edição, São
Paulo: Atlas editora, 2006
APÊNDICES
Fontes Orais
Guião de observação
Guião de entrevista
Saudações! Sou estudante da Universidade Pedagógica de Maputo, e estou aqui no Bairro Luís
Cabral a realizar um trabalho, sobre os médicos tradicionais vulgo “ti nyangas”, o trabalho tem
como objectivo de compreender como os residentes percebem e avaliam a eficácia dos processos
de cura fornecidos pelos “ti nyangas” pois temos assistido no nosso dia-a-dia que há uma
tendência de haver muitos praticantes da medicina tradicional a fixarem panfletos que alegam
resolver todo tipo de doenças e isso faz com que muitos indivíduos aderirem essas práticas
tradicionais. Face a isso temos aqui algumas perguntas para saber mais sobre essa profissão,
agradecíamos se nos oferecem suas opiniões sobre o tema.
Dados pessoais
Nome?........................................................................idade?..........................……………nível de
escolaridade?.....................................................................anos de trabalho?..................................
bairro?....................................................................religião?..............................................................
2. Porque motivo foi criada Associação de Médicos Tradicionais aqui no Bairro Luís
Cabral?
8. Que tipo de remédio oferece para seus pacientes na cura de uma doença qualquer?
10. Qual tem sido o critério que usa para consultas, tem cobrado um valor?
1. Na sua opinião porque é que as pessoas recorrem aos serviços dos “ti nyangas”?
2. Já foi a uma consulta de um “ti nyanga”? Se sim diga nos como ocorre o processo de cura
de doença na medicina tradicional?
3. No seu ponto de vista o que representam essas práticas dos “ti nyangas” para os
residentes deste Bairro?
4. Na sua opinião acha que os serviços dos “ti nyangas” são úteis para os residentes? Se for
sim diga nos porquê?
5. Pode nos explicar a razão de existir muitos panfletos de “ti nyangas” aqui no Bairro?
6. Quais tem sido as principais funções dos “ti nyangas” para os residentes do Bairro?
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ANEXO