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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA

FACULDADE DE EDUCAÇÃO - FACED

CURSO DE JORNALISMO

KAREN KRISTINE FERREIRA MUNIZ - 11611JOR021

Formação da TV no Brasil revisitada por Othn Jambeiro

Resenha apresentada como exigência parcial


para aprovação na disciplina de Telejornalismo I
do Curso de Jornalismo da Universidade Federal
de Uberlândia.

UBERLÂNDIA - 2018
Livro “A TV no Brasil do Século XX”, por Othon Jambeiro, publicado pela
editora EDUFBA com todos os direitos reservados em 2001.

O livro “A TV no Brasil do Século XX”, escrito por Othon Jambeiro, busca


contextualizar e elucidar os trâmites econômicos, políticos e sociais que
ambientaram a formação e transformações regulatórias do meio televisivo no Brasil.
O autor é graduado em jornalismo pela Universidade Federal da Bahia (UFBA),
possui mestrado em ciências sociais, no qual desenvolveu sua tese sobre canções
populares e indústria cultural, e é Doutor em comunicação pela Universidade de
Westminster na Inglaterra, onde iniciou seus estudos concentrados na televisão. No
período de 1991 à 2001 (ano de publicação da obra resenhada), Jambeiro
embrenhou-se nos estudos sobre a formação regulatória do meio televisivo.
Concebeu sua tese de doutorado intitulada “The TV regulatory environment:
continuity and change”, traduzida “O ambiente regulatório da TV: Continuidade e
mudanças” em 1995, e nos anos seguintes enfatizou suas pesquisas no ambiente
regulatório em países do Mercosul, entre eles, evidentemente, o Brasil.

O livro é dividido em três partes e composto por sete capítulos. Na primeira parte,
intitulada “Aspectos conceituais e contextuais da TV”, compreendida pelo capítulo I,
Jambeiro (2001) discorre sobre o atrelamento do meio televisivo com o modelo
econômico vigente, e como o liberalismo, característico de uma substancial parcela
dos Estados-Nação capitalistas, têm moldado os sistemas de exploração da
televisão. O autor destaca três principais sistemas, sendo estes: o estatal-
subdividido em três variantes, comunista, cultural-educativo e político partidário,
neste sistema o suporte econômico vêm do Estado; o comercial- modelo mais
difundido, busca atender as preferências da audiência e se baseia em pesquisas de
predileção já que o suporte econômico parte da venda de tempo para anunciantes;
e o public service- modelo concebido no interior do aparato do sistema que
argumenta sua programação sob a necessidade de educar, entreter e informar, nos
moldes delimitados pelo que definiam como os mais altos padrões culturais e
ideológicos da sociedade, o aporte financeiro parte de uma contribuição compulsória
dos telespectadores, de subsídio público e em alguns casos de publicidades.

Jambeiro (2001) busca demonstrar como os três sistemas têm convergido para uma
mesma lógica de gestão que se embasa na racionalidade capitalista, em virtude,
primordialmente, do crescente fortalecimento das ideias firmadas no pensamento
liberal. O sistema televisivo Estatal tem se desmantelado em países que se
fundamentavam na lógica comunista de conquista de objetivos coletivos. Na
ex-União Soviética e demais países que incorreram governos comunistas, os
sistemas se encontram agora na mão de regimes capitalistas, que favorecem o
investimento privado em detrimento de subsídios públicos para o aporte financeiro
dos sistemas de TV. O public service, no que lhe concerne, previamente buscava
apenas alcançar a aceitação do público, mas acabou por se sujeitar a racionalidade
do mercado empenhando-se em atender as predileções dos telespectadores para
garantir altos índices de audiência. As empresas que operam no ramo de
comunicação adotaram dinâmicas do mercado, como fusões e formação de grupos
econômicos que dominam a propriedade tanto vertical quanto horizontal dos meios,
para o autor, tudo isso culminou na formação de um mercado mundial de mídia.

A segunda parte do livro, intitulada “Das origens a estruturação da indústria da TV”,


compreende os capítulos II, III, IV e V. Nesta seção, Othon Jambeiro (2001)
contextualiza a formação regulamentar da indústria televisiva conforme a conjuntura
histórica contemporânea as deliberações. Partindo da regulamentação da
radiodifusão, nos anos 30, que foi precursora para a televisiva. O então governo,
encabeçado por Getúlio Vargas, buscou centralizar e tornar exclusivo do poder
executivo as concessões e fiscalização dos serviços radiofônicos, característica
remanescente no serviço televisivo. A ideologia do governo Vargas, fundamentada
em uma postura nacionalista, compreendia cultura “como um instrumento de
organização política e disseminação ideológica” (JAMBEIRO, 2001, p. 41). Em
detrimento disso, o governo se ornou de aparatos culturais para difundir os
princípios do poder central. Em 1937, com o início do regime do Estado Novo,
Vargas cria o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) que
fundamentalmente garantia ao Estado a regulação, inclusive dos conteúdos, de tais
aparatos ideológicos. A lógica nacionalista e intervencionista é abandonada em
1950, com Juscelino Kubitschek na presidência, mesmo que retomada pouco mais
de uma década depois, em 1964, pelo Regime Militar. Kubitschek prezou pela
industrialização e internacionalização dos sistemas produtivos brasileiros, o rádio
então assume um novo papel fortemente atrelado ao mercado, como meio de
publicidade, e é na mesma lógica que surge a televisão no país. Como afirma
Jambeiro

Ao entrar nos anos 50 o rádio já havia consolidado o padrão


industrial que até hoje predomina na radiodifusão brasileira, ao qual
então se integrou a televisão. Um padrão que se caracteriza por
busca de audiência de massa; predominância de entretenimento
sobre programas educacionais e culturais; controle privado sob
fiscalização governamental; e economia baseada na publicidade
(JAMBEIRO, 2001, p. 49).

Na sequência, o autor discorre sobre os diversos decretos que regulamentaram a


difusão do rádio no Brasil, desde a Era Vargas até o presente Regulamento, e sobre
como suas deliberações se projetam no Código Nacional de Telecomunicações,
sendo tais projeções a raiz nacionalista, a centralidade do processo concessório e o
modelo comercial dado às atividades. Jambeiro (2001) argumenta que ainda é
cômodo para as empresas que oferecem tais serviços a centralidade da concessão
já que “pelo menos um terço dos parlamentares brasileiros receberam concessões
para si ou seus amigos e parentes e consequentemente são beneficiários do
modelo em uso” (p. 69).

Durante a Ditadura Militar (1964 - 1985), houve numerosos investimentos no setor


de telecomunicações, com o desenvolvimento de infraestruturas modernas, e novas
regulamentações e conselhos, para serviços nacionais e internacionais, aliando
investimento público e o favorecimento de investimentos privados. Neste período foi
criado o Ministério das Comunicações. A política econômica do Regime, como
afirma Jambeiro (2001), fortaleceu a expansão nacional da indústria televisiva ao
passo que também a empregava para disseminar a Doutrina de Segurança Nacional
preconizada no período ditatorial. Nesse contexto, emergiu a principal emissora do
Brasil, que ainda perdura como líder em audiência televisiva, a Rede Globo. Grupo
que detém também a propriedade de outros meios como emissoras de rádio,
revistas, jornais impressos e jornais digitais em diversos formatos.

Adiante, Jambeiro (2001) destaca o caráter de conglomerado formatado à tal


indústria, como o sistema de afiliadas garante a uma emissora repercussão nacional
com uso de retransmissões de sua programação, ocupando, compulsoriamente, a
maior parte do tempo de exibição. Em compensação, oferecendo apoio técnico,
espaço para anunciantes locais e compensação financeira baseada na audiência. A
programação das redes, por sua vez, é definida à arbítrio do caráter publicitário,
sendo constituída por três pilares universais: entretenimento, informação e anúncios
(JAMBEIRO, 2001).

O Brasil foi um dos últimos países da América Latina a aderir ao serviço de TV por
assinatura, no final da década de 80. Entretanto, como pretexta o autor, é apenas no
final da década de 90 que o serviço ascende no país. A TV não-comercial não
obteve sucesso, as tentativas do Estado de serviços com esse caráter se resumiram
a Radiobrás e a TV Educativa, porém no final do Século XX todos serviços de rádio
e TV com caráter educativo estavam vinculadas ao modo de gestão capitalista, com
espaço para anunciantes e patrocínios.

No capítulo V, que encerra a segunda parte do livro, Jambeiro (2001) articula quanto
às mudanças concebidas na Televisão pela Constituição de 1988 à luz das
Constituições precedentes. Conforme o autor, em suma, a propensão dos
constituintes de se extremar rigorosamente aos antigos cerceamentos de governos
autoritários tornou na prática nulos os dispositivos de regulação do setor da indústria
cultural. A nova Constiuição consumou, entretanto, o atrelamento de poder político e
Poder da mídia, como ilustrado pelo caso do Sarney, que realizou mais de mil
concessões com critérios políticos e eleitorais.

A terceira parte do livro, composta pelos capítulos VI e VII, intitula-se “O caso da TV


a cabo”. No que concerne o tema, Jambeiro (2001) destrincha a discordância entre
o Fórum pela Democratização da Informação e a Associação Brasileira de
Emissoras de Rádio e Televisão (ABERT) quanto a propriedade das frequências
eletromagnéticas usadas na transmissão. Jambeiro (2001), postula a nova forma de
exploração do meio como positiva pelo fato de, substancialmente, expandir as
discussões da regulação da TV para o universo social, consequentemente trazendo
novas medidas de acesso e uma programação segmentada completamente
diferente do que conhecemos com a TV aberta. Outro aspecto foi a conquista de
acesso público que concede a setores da sociedade a reserva de canais gratuitos,
porém não equipa tais setores, o que entrava o uso da reserva.

Othon Jambeiro realiza na obra uma síntese do trajeto percorrido pela TV no Brasil
até chegar ao modelo da atualidade. Entretanto, o autor ignora, em alguns
momentos, atores políticos importantes para a concepção do serviço televisivo
corrente. Apesar de postular na primeira parte do livro a influência do liberalismo na
formatação do paradigma televisivo, nos capítulos decorrentes Jambeiro parece
olvidar-se dos créditos aos agentes internacionais parte do mercado mundial de
mídia. Durante o período de Regime Militar, onde o capital estrangeiro agiu de forma
progressiva na manutenção, a indústria cultural prosperou com a importação de
produtos, principalmente, dos Estados Unidos. Havia, portanto, influência
internacional não somente no governo mas também na sua propaganda.

Jambeiro discorre de forma minuciosa sobre a formação da Rede Globo e a


programação da TV aberta, porém salta a menção de outras emissoras de TV
aberta e suas formações mesmo de forma concisa. Levando em consideração a
data de publicação da obra, o autor deixa também de mencionar os programas
policialescos que vieram a se tornar grandes líderes em audiência nos canais Rede
Record, SBT e Bandeirantes, após a cobertura dada pelas emissoras ao sequestro
do ônibus 174 em junho de 2000, inserindo uma variável nova no que Jambeiro
postula sobre as programações televisivas.

Outro tópico não destrinchado pelo autor é a televisão digital, tecnologia com
prelúdio na década de 1970, e que define uma qualidade melhor de transferência de
dados para o televisor, garantindo uma transmissão sem ruídos e portanto
otimizada. A tecnologia que substitui a forma de transmissão analógica aponta para
uma universalização do acesso à internet. Decorrente da grande infraestrutura já
implementada no Brasil para o suporte da televisão, uma vultosa parcela do
território já é atingida pelos espectros de transmissão. A tecnologia de TV White
Spaces, através do uso de rádios cognitivos identifica espectros de frequência
subutilizados e que podem ser usados para a transmissão de internet banda larga,
garantindo acesso a rede para todos aqueles que já possuem acesso aos
televisores (DAVID, 2017). Seria, portanto, coerente uma explanação do autor à
respeito da qualidade de transmissão da mensagem e quais fatores afastaram a
ponderação de migração digital mais cedo.

Em suma, a obra é concisa e completa, ressalvadas as devidas críticas acima,


Jambeiro faz uma trajetória histórica que abrange tanto aspectos econômicos,
políticos e sociais no contexto televisivo. Recomendo a leitura principalmente para
aqueles que são iniciantes no ambiente televisivo, podendo compreender melhor as
conjunturas de formação da televisão no Brasil e seu encaminhamento para o
modelo atual.

REFERÊNCIAS

DAVID, Salomão. Como a tecnologia de TV White Spaces pode contribuir para o


acesso à banda larga. poliTICs, n. 26, p. 13-22, out. 2017.

JAMBEIRO, Othon. A TV no Brasil do Século XX. Salvador: EDUFBA, 2001.261 p.

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