Você está na página 1de 1

Filosofia - O problema do mal

O argumento mais antigo e mais discutido contra a existência de Deus teísta é o problema do
mal. Colocado de forma simples, este argumento questiona: Como pode um Deus todos poderoso
e sumamente bom permitir o mal e o sofrimento?

Existem, dentro deste tema central, dois tipos de mal: o mal moral e o mal natural.
Resumidamente, o mal moral é todo aquele que é provocado intencionalmente, ou não, pelos
seres humanos, uma vez que estes possuem livre arbítrio e têm, então, toda a liberdade e a
capacidade de fazer as suas escolhas. Existe também, como referi anteriormente, o mal natural. É
neste que se concentram todas as catástrofes naturais, como os “tremores de terra, erupções
vulcânicas, inundações e doenças” (Peter Cave).

Concordo em parte com o texto do Peter Cave, concretamente na questão do livre arbítrio,
pois Deus deu-nos a liberdade de agir. Relativamente ao assunto do mal natural, não concordo que
seja a ação de Deus a causar os desastres naturais. Pois a maioria desses desastres são o resultado
das leis da natureza a funcionar e da ação humana que provoca desequilíbrios ambientais. Os
tremores de terra, as erupções vulcânicas e os tsunamis, são um exemplo do resultado da estrutura
da base da terra a deslocar-se (leis da natureza), assim como a poluição dos rios e mares, a
desflorestação, a emissão de gases, entre outros, são provocados pelo homem.

Diante dos acontecimentos visualizados nas imagens que nos parecem injustos e sem
sentido, em presença dos quais no sentimos impotentes, surge de modo natural a pergunta de
como um Deus omnipotente, perfeito e amoroso pode permitir isto. Acredito que os desastres
naturais, como descritos também por Peter Cave – “tremores de terra, erupções vulcânicas,
inundações e doenças”, e o sofrimento de pessoas inocentes não sejam obra de Deus no sentido de
queridas por ele como tais. Também não acredito que sejam consequência da culpa desses
inocentes e tenham caráter de castigo. Milhões de pessoas já foram obrigadas a deixar os seus
lares, fugindo de guerras, conflitos internos, perseguições políticas e violações de direitos
humanos. Muitas vezes culpam Deus por todo este mal causado, quando na verdade tudo acontece
devido à ação de ditadores que não souberam por na prática o grande atributo que lhes foi dado, o
livre-arbítrio, e decidiram utilizá-lo para praticar o mal, as guerras. Deus não pode assumir qualquer
tipo de responsabilidade pelas más escolhas desses homens. Sim, a culpa do sofrimento infligido
aos inocentes é só e unicamente do homem que decidiu, através do poder de escolha, realizar o
mal. A incompetência politica, a corrupção e a guerra causam fomes e mortes. É portanto o homem
que tem espalhado o sofrimento de forma intencional.

Os judeus carregaram o drama do holocausto, e o sofrimento vivido foi terrível, tal como
descreve Etty Hillesum – “mães vulneráveis em desespero, (…) humilhação e colapso mental de
demasiados homens, (…) gritos de socorro, desesperados, demasiadas pessoas serem reunidas e
presas”. No meio de todo este sofrimento, Etty encontrou uma oportunidade de recorrer a Deus e
de esperar uma felicidade com ele – “sabe mais profundamente do que qualquer outra coisa, que
não pode viver sem esse Deus, sem “se ajoelhar”...constantemente. (…) E, assim, Deus torna-se,
para ela, uma Presença vulnerável que deve ser cuidada e amada no coração humano”. Ela sabia
que Deus não os podia ajudar naquele momento, naquele lugar, naquele sofrimento, mas manteve
a sua fé porque era através desta que a sua vida podia ser “preservada”.

Perante o exposto, onde está demarcada a minha opinião, concluo que a afirmação “Se Deus
existe, o mal não pode existir” é falsa. O livre arbítrio demonstra que Deus e o mal podem coexistir.
Seria impossível para Deus criar um mundo com pessoas livres sem a capacidade de fazerem
escolhas. Culpar Deus do mal no mundo nunca irá resolver o problema do mal.

Você também pode gostar