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A 1ª Escolha Profissional: Quem Influencia?

Responsáveis por adolescentes conhecem a ansiedade do momento da primeira escolha


profissional. O ano do vestibular é inegavelmente tenso, não é? Um grande acontecimento
familiar. Em geral, tem-se a impressão de que chega rápido, pega o aluno imaturo para tomar uma
decisão com tanta consequência.

Marca o fim da formação básica. A escola, que é um contorno bem definido sobre como
a vida prática deve ser vivida, também acaba. Não haverá mais as aulas, provas, boletins, férias
que trazem previsibilidade.

Parece que é hora de “escolher um caminho”. Soa como uma tarefa individual. De fato,
ninguém vive outra vida que não a sua. Faz parte da experiência adulta assumir escolhas e
consequências. Porém, estamos falando de adolescentes que mal acabaram de entrar na
maioridade civil e, principalmente, de famílias que raramente os reconhecem como jovens
adultos.

Realmente, aos dezoito anos, é matematicamente impossível ter experiências que


fundamentem decisões importantes e complexas. A escolha profissional pode parecer uma delas.
Concordando ou não, o trabalho define boa parte da posição de alguém no mundo como
entendemos hoje.

Mesmo que existam critérios diversos para estabelecer esse lugar, a atividade profissional
ainda se conecta fortemente com nossa personalidade. Compõe uma “identidade profissional”,
relevante a ponto de se tornar uma métrica do que a pessoa se tornou. A afirmativa “Eu sou...” é
frequentemente ouvida como autodefinição, declaração de relevância social.

Seria ingenuidade insistir na crença de que o apoio familiar se restringe ao respeito pela
liberdade de escolha. Que o desempenho profissional de uma pessoa impacte apenas o realizador.
Ao contrário, as escolhas de um membro da família mobilizam todo o grupo.

Mesmo no século XXI, a ancestralidade ou o legado parental são relevantes. Geram


expectativas e fantasias de corresponsabilidade. O profissional, se bem-sucedido, atesta de certa
forma, o sucesso do grupo. A decisão do filho reflete os esforços dos pais, avós, ancestrais e
define, em certa medida, o caminho de irmãos, filhos, primos e assim por diante. Seja como
exemplo positivo ou negativo.

Por isso, como instituição corporativista, a família tende a defender os seus. Quando um
jovem termina o ensino médio, é natural que surja o anseio de ajudar a pensar boas alternativas.
Sugestões, críticas, avisos, recomendações, cobranças. Como um papel em branco, uma nova
chance.

Não existe neutralidade no sistema familiar. Identidade, trabalho e família estão


profundamente conectados. A liberdade de escolha é limitada, pois recebe influências diretas ou
indiretas o tempo todo.

Isso não é ruim, afinal, o melhor momento na orientação profissional é o de captação de dados e
informações. Quanto maior, mais variada e livre de pressupostos, melhor. Uma vez se apropriando
dessa realidade com franqueza, sem culpa, o diálogo entre pais, filhos, familiares, amigos - e até
a interação com as mídias - pode ser mais consciente de sua potencial contribuição. Afinal,
opiniões têm fronteiras desenhadas por fatos e experiências subjetivas. São úteis se reconhecidas
como referências honestas e, acima de tudo, generosas.

Não é preciso pisar em ovos. Tudo bem ter expectativas, desejar que seu filho ou filha
siga sua carreira, ganhe o dinheiro ou prestígio que se considera justo ou mesmo realize aquele
sonho que não foi possível. Essas conjecturas são parte do exercício da parentalidade.
Desconheço, em saúde, pais que desejem encaminhar um jovem para o desemprego, desocupação
ou marginalização.

O processo de orientação profissional contempla essa dinâmica e direciona esforços para


instrumentalizar pais ou responsáveis. Orientá-los a participar desse momento sem culpa, para
incentivar que seja amplamente discutido em família, e claro, não imposto. Afinal, se é impossível
ser indiferente, que ao menos seja consciente.

Anaí Auada

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