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Marca o fim da formação básica. A escola, que é um contorno bem definido sobre como
a vida prática deve ser vivida, também acaba. Não haverá mais as aulas, provas, boletins, férias
que trazem previsibilidade.
Parece que é hora de “escolher um caminho”. Soa como uma tarefa individual. De fato,
ninguém vive outra vida que não a sua. Faz parte da experiência adulta assumir escolhas e
consequências. Porém, estamos falando de adolescentes que mal acabaram de entrar na
maioridade civil e, principalmente, de famílias que raramente os reconhecem como jovens
adultos.
Mesmo que existam critérios diversos para estabelecer esse lugar, a atividade profissional
ainda se conecta fortemente com nossa personalidade. Compõe uma “identidade profissional”,
relevante a ponto de se tornar uma métrica do que a pessoa se tornou. A afirmativa “Eu sou...” é
frequentemente ouvida como autodefinição, declaração de relevância social.
Seria ingenuidade insistir na crença de que o apoio familiar se restringe ao respeito pela
liberdade de escolha. Que o desempenho profissional de uma pessoa impacte apenas o realizador.
Ao contrário, as escolhas de um membro da família mobilizam todo o grupo.
Por isso, como instituição corporativista, a família tende a defender os seus. Quando um
jovem termina o ensino médio, é natural que surja o anseio de ajudar a pensar boas alternativas.
Sugestões, críticas, avisos, recomendações, cobranças. Como um papel em branco, uma nova
chance.
Isso não é ruim, afinal, o melhor momento na orientação profissional é o de captação de dados e
informações. Quanto maior, mais variada e livre de pressupostos, melhor. Uma vez se apropriando
dessa realidade com franqueza, sem culpa, o diálogo entre pais, filhos, familiares, amigos - e até
a interação com as mídias - pode ser mais consciente de sua potencial contribuição. Afinal,
opiniões têm fronteiras desenhadas por fatos e experiências subjetivas. São úteis se reconhecidas
como referências honestas e, acima de tudo, generosas.
Não é preciso pisar em ovos. Tudo bem ter expectativas, desejar que seu filho ou filha
siga sua carreira, ganhe o dinheiro ou prestígio que se considera justo ou mesmo realize aquele
sonho que não foi possível. Essas conjecturas são parte do exercício da parentalidade.
Desconheço, em saúde, pais que desejem encaminhar um jovem para o desemprego, desocupação
ou marginalização.
Anaí Auada