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O Remontador
É preciso que exista alguém que conheça o estilo desejado pelo coreógrafo, ou que
tenha dançado consideravelmente determinado ballet, ensaiado com vários coreógrafos ou
remontadores distintos, em diferentes versões da obra, para poder dar sua contribuição à
continuidade da obra. O vídeo é um recurso a mais para auxiliar àqueles que já conhecem
o que vão montar ou remontar.
Fui bailarina durante muitos anos. É óbvio que não conheci pessoalmente Petipa e
não fui ensaiada por ele! Mas fui ensaiada por alguém de notório saber que, por sua vez,
foi ensaiado por alguém com a mesma capacidade e assim por diante, até
chegarmos a quem conheceu Petipa. Tradição. É isto que devemos ter em mente na
ocasião de uma remontagem: a continuidade da obra como desejaria seu criador.
A imortalidade da dança
Pessoalmente, sou a favor de festivais, mostras competitivas etc. – mas isto é uma
outra história que não cabe aqui. Entretanto, é preciso manter-se a tradição e não
descaracterizar a obra, adaptando-a à técnica do estudante que irá apresentar-se – tanto
“facilitando” alguns movimentos quanto incluindo outros de mais difícil execução, quando o
bailarino dispõe de determinada habilidade, como hiperextensão ou facilidade para girar.
Variações nunca devem ser modificadas para caber nas possibilidades do aluno ou
dissimular seus defeitos. Os mesmos passos executados por bailarinas como Lyubov
Egorova, Olga Prcobrajenska ou Anna Pavlova, estrelas que fizeram a mágica do ex- teatro
Mariinsky, esses mesmos passos devem ser trilhados pelas gerações que as sucederam.
Eis a imortalidade da dança.
Está claro que boa parte do trabalho de grandes maestros de dança e bailarinos do
passado inevitavelmente perdeu-se no tempo, mas é fundamental não permitirmos que as
coreografias originais se percam por falhas de memória (ou falta de pesquisa) ou ainda por
modificações desta ou de outra natureza.
Competência e ética
É fácil identificar por quê: segundo ela diz “não tem pirueta, não tem grand jeté, não
tem developpés”!
Eliana menciona também que, freqüentemente, o remontador confunde as
personalidades de Swanilda (Coppelia) com Lise (La Fille Mal Gardée), personagens de
índoles opostas. Lise e Collas, alerta Eliana, são jovens seguros do que desejam e
defendem suas aspirações com inteligência e alegria.
Já o casal de Coppelia é um tanto inconseqüente, são jovens mal educados e
imaturos. Os primeiros usam o símbolo da fita cor de rosa como referência de que um está
pensando no outro e em como irão se encontrar, em lugar do ramo de trigo (em Coppelia)
que a insegura Swanilda e suas amigas usam para tentar adivinhar o sentimento do
parceiro. Collas é puro e apaixonado, enquanto o inconseqüente Franz não consegue
decidir-se entre sua noiva ou Coppelia.
Citei apenas esses detalhes observados por Caminada, para mostrar que o
remontador não pode ignorar as peculiaridades dos ballets, a observação à época, o estilo
e demais componentes que já mencionamos como as características psicológicas dos
personagens – nos ballets que têm enredo – por serem determinantes ao entendimento da
obra. Deixar isto de lado seria torná-los mero conjunto de passos e gestos aleatórios –
mesmo que bem executados.
As possibilidades de adaptação visando apenas adequar a obra a um grupo menor
de bailarinos, do que o da versão original, por exemplo, é totalmente válido, assim como
um ajuste nos desA enhos ou nos tempos musicais que “sobraram” em vista de menor
número de participantes.