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COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

Apresentação
Caros leitores e estudantes, esta obra digital do Projeto Exame de
Ordem (PEO), o Vade PEO, oferecido pelo Gran Cursos Online,
faz parte de uma coleção do curso que reúne teoria, resolução
de questões objetivas e subjetivas, peças, entre muitas dicas. Tudo
realizado pela lavra da seleta equipe de professores do Projeto,
com cuidadoso esmero e atualização de informações.
Prof. Marcelo Borsio Trata-se de um grupo esquematizado de dicas de todas as disci-
Coordenador Científico plinas do Exame de Ordem, com sugestões de temas para estudo,
Projeto Exame de entre outros tantos detalhes que não podem passar ao largo de
Ordem quem estuda para a OAB.
Eis, então, parte do compêndio da coleção VADE PEO. Material
ímpar e vitrine sem igual da competência e capacidade técnica de
nossos professores.

Boa leitura!
Forte abraço

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Sumário
1ª FASE – PROJETO EXAME DE ORDEM:

Direito Tributário: Professor Marcelo Borsío ...................................................................... 8


Direito Civil: Professora Raquel Bueno ........................................................................12
Direito Penal: Professor Flávio Daher ...........................................................................19
Ética/Estatuto da OAB: Professora Daniela Menezes .................................................21
Direito Civil: Professor Eduardo Galante ....................................................................24
Direito Administrativo: Professor Gustavo Scatolino ..............................................34
Direito Ambiental: Professor Felipe Leal .................................................................... 39
Direito Civil: Professora Roberta Queiroz ...................................................................42
Direito Internacional: Professor Luciano Favaro ....................................................... 50
Direito Penal: Professor José Carlos ............................................................................. 57
Direitos Humanos: Professor Luciano Favaro ............................................................63
Direito Penal – Professor José Carlos .......................................................................... 70
Direito Constitucional: Professor Luciano Dutra ......................................................... 75
Direito Tributário: Professor Mauro Moreira ............................................................................ 79
Direito Administrativo: Professor Gustavo Scatolino .................................................. 83
Direito Empresarial: Professor André Ramos .............................................................93
Direito Ambiental: Professor Felipe Leal ..............................................................................96
Direito Tributário: Professor Marcelo Borsio .............................................................98
Direito Administrativo: Professor Emerson Caetano ....................................................100
Direito Administrativo: Professor Gustavo Scatolino ................................................... 110
Direito do Trabalho: Professor José Gervásio ..................................................................115
Direito do Consumidor: Professora Patrícia Dreyer ...................................................... 119
Direito do Trabalho: Professor José Gervásio ...............................................................................122
Direito do Consumidor: Professora Patrícia Dreyer ......................................................127
Direito Penal: Professor Flávio Milhomem ............................................................................130
Direito Civil: Professora Roberta Queiroz ..............................................................................135
Direito Civil: Professor Rodrigo Costa ....................................................................... 140
Ética Profissional: Professora Daniela Menezes ...................................................... 152
Direito Ambiental: Professor Felipe Leal .................................................................. 156
Direitos Humanos: Professor Luciano Favaro .......................................................... 158
Direito Constitucional: Professor Luciano Dutra ....................................................... 163

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Direito Penal: Professor Flávio Milhomem ...............................................................................169


Direito Tributário: Professor Mauro Moreira ..............................................................................173
Direito Empresarial: Professor André Ramos ........................................................... 179
Direito Administrativo: Professor Gustavo Scatolino ................................................. 181
Direito Civil: Professor Rodrigo Costa ......................................................................... 186
Direito do Trabalho: Professor Stevão Gandh ......................................................... 193
Direito Civil: Professora Anelise Muniz .......................................................................... 196
Direito Processual Civil : Professor Erick Vidigal ..................................................... 201
Direito Penal : Professor Marcelo Ferreira ............................................................................ 203
Direito Civil : Professor Rodrigo Costa ......................................................................206
Direito Constitucional : Professor André Alencar ................................................... 213
Direito Penal: Professor Anderson Costa ...............................................................................219

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2ª FASE – DIREITO CIVIL:

Direito Civil: Professora Patrícia Dreyer ........................................................................... 222


Direito Civil: Professora Anelise Muniz ............................................................................ 228
Direito Civil: Professora Roberta Queiroz ....................................................................... 232
Direito Civil: Professora Anelise Muniz ............................................................................ 238
Direito Civil: Professor Eduardo Galante ......................................................................... 246
Direito Civil: Professora Raquel Bueno ............................................................................ 256
Direito Civil: Professor Rodrigo Costa .............................................................................. 262
Direito Civil: Professor Eduardo Galante ......................................................................... 267
Direito Civil: Professora Patrícia Dreyer ........................................................................... 277
Professora Roberta Queiroz ................................................................................................ 283
Professor Eduardo Galante .................................................................................................. 289
Professora Raquel Bueno ..................................................................................................... 297
Professor Rodrigo Costa ....................................................................................................... 305
Professora Roberta Queiroz .................................................................................................312
Professor Rodrigo Costa ........................................................................................................317
Professora Patrícia Dreyer .....................................................................................................321
Professora Roberta Queiroz ................................................................................................ 326
Professora Anelise Muniz ......................................................................................................331
Professora Raquel Bueno ..................................................................................................... 335
Professora Roberta Queiroz ................................................................................................344
Professora Patrícia Dreyer .................................................................................................... 348
Professora Anelise Muniz ......................................................................................................351

DIREITO PENAL:

Direito Penal: Professor Flávio Daher .............................................................................355


Direito Penal: Professor Flávio Milhomem ..................................................................... 357
Direito Penal: Professor José Carlos ...............................................................................363
Direito Penal: Professor Marcelo Ferreira .....................................................................367
Direito Penal: Professor Felipe Leal ................................................................................370
Direito Penal: Professor Flávio Milhomem ...................................................................373
Direito Penal: Professor Bruno de Mello ....................................................................... 377
Direito Penal: Professor Marcelo Ferreira .....................................................................379

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Direito Penal: Professor Felipe Leal ................................................................................382


Direito Penal: Professor Flávio Milhomem ........................................................................... 384
Direito Penal: Professor Felipe Leal ......................................................................................387
Direito Penal: Professor Flávio Daher ..................................................................................389
Direito Penal: Professor Marcelo Ferreira ...........................................................................393
Direito Penal: Professor José Carlos .....................................................................................396
Direito Penal: Professor Felipe Leal ...................................................................................... 401
Direito Penal: Professor Anderson Costa .......................................................................... 403
Direito Penal: Professor Flávio Daher ................................................................................. 405
Direito Penal: Professor José Carlos .................................................................................... 408
Direito Penal: Professor Flávio Daher .................................................................................. 412
Direito Penal: Professor Flávio Milhomem ........................................................................ 415
Direito Penal: Professor Bruno de Mello ............................................................................ 418
Direito Penal: Professor Marcelo Ferreira ........................................................................... 419

DIREITO DO TRABALHO:

Direito do Trabalho: Professor Stevão Gandh .................................................................. 423


Direito do Trabalho: Professor Hugo Sousa ...........................................................................426
Direito do Trabalho: Professor José Gervásio.........................................................................430
Direito do Trabalho: Professor Hugo Sousa ...........................................................................433
Direito Penal: Professor Felipe Leal ..................................................................................... 435
Direito do Trabalho: Professor Leandro Alencar ................................................438
Direito do Trabalho: Professor José Gervásio ...........................................................................440
Direito do Trabalho: Professor Stevão Gandh .................................................................. 444
Direito do Trabalho: Professor José Gervásio .................................................................. 448
Direito do Trabalho: Professor Leandro Alencar ......................................................... 451
Direito do Trabalho: Professor José Gervásio .................................................................. 453
Direito do Trabalho: Professor Hugo Sousa ...........................................................................458
Direito do Trabalho: Professor José Gervásio ...........................................................................462
Direito do Trabalho: Professor Stevão Gandh ........................................................ 466
Direito do Trabalho: Professor José Gervásio ..............................................................................469
Direito do Trabalho: Professor Leandro Alencar .........................................................474
Direito do Trabalho: Professor José Gervásio ...........................................................................477
Direito do Trabalho: Professor Hugo Sousa ............................................................................481

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Direito do Trabalho: Professor José Gervásio ..............................................................................483


Direito do Trabalho: Professor Stevão Gandh .........................................................488
Direito do Trabalho: Professor José Gervásio ..............................................................................490
Direito do Trabalho: Professor Leandro Alencar .................................................... 493
Direito do Trabalho: Professor José Gervásio ..............................................................................497
Direito do Trabalho: Professor Hugo Sousa ..............................................................................500
Direito do Trabalho: Professor Stevão Gandh .........................................................504
Direito do Trabalho: Professor Leandro Alencar .....................................................507
Direito do Trabalho: Professor Hugo Sousa ..............................................................................509
Direito do Trabalho: Professor Stevão Gandh ..........................................................511
Direito do Trabalho: Professor Leandro Alencar ..................................................... 514
Direito do Trabalho: Professor Hugo Sousa ............................................................................516
Direito do Trabalho: Professor Leandro Alencar .....................................................520

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1ª FASE – PROJETO EXAME DE ORDEM

DIREITO TRIBUTÁRIO: PROFESSOR MARCELO BORSIO

Prezados alunos, vamos passar algumas dicas que vêm caindo na prova da 1ª
Fase da OAB em tributário. A cada parágrafo uma dica diferente.

1. A regra da lei tributária é a lei ordinária (ler todo o artigo 97 do CTN – hipó-
teses), mas há hipóteses constitucionais (ler todo o artigo 146 da CF) que são ma-
térias de lei complementar. Há tributos federais que são veiculados por lei com-
plementar: Imposto sobre Grandes Fortunas, Empréstimo Compulsório, Impostos
Residuais, Contribuições Sociais Residuais. Decore o mnemônico: AS FORTUNAS
COMPULSÓRIAS SÃO RESIDUAIS. As matérias cabentes à lei complementar não
poderão ser objeto de medida provisória. Decore mais isso: as leis de regras ge-
rais do ICMS e do ISS são complementares. A do ITCMD (até hoje não editada)
nas hipóteses em que haja algum elemento de conexão de que possa decorrer
tributação em país estrangeiro.
Isso poderá ocorrer, por exemplo, quando o doador possuir domicílio ou re-
sidência no exterior, os bens inventariados estiverem localizados no exterior ou o
próprio inventário for realizado fora do Brasil. É também da lei complementar a
lei que confere (até hoje não editada) remissão e anistia das contribuições sociais
para a seguridade social.
2. Decore esse quadro para memorizar alíquotas máximas e mínimas e quem define:

RESOLUÇÃO DO SENADO
ALÍQUOTAS ALÍQUOTAS
MÁXIMAS MÍNIMAS
ITCMD –
ICMS ICMS
– IPVA

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LEI COMPLEMENTAR ADCT DA CF


116/03
ALÍQUOTA ALÍQUOTA
MÁXIMA MÍNIMA
ISS-QN ISS-QN

3. O princípio da anterioridade tributária guarda pertinência com o postulado


da não surpresa tributária. As normas da legalidade e da anterioridade tributárias
constituem cláusulas pétreas que não podem ser retiradas do ordenamento jurídi-
co nem mesmo por emenda constitucional. O princípio da anterioridade tributária,
consagrado na CF, não se confunde com a própria ideia de anualidade tributária.
Para verificar a não surpresa no princípio da anterioridade pode ser feita assim:
Anterioridade Tributária → 1º PASSO – leve para 01 de janeiro; 2º PASSO –
veja quantos dias tem;
1. se tiver 91 dias – PERMANECE 01 DE JANEIRO;
2. se tiver menos de 91 dias – SOMAM-SE OS 90 DIAS e o dia seguinte é o da
exigência (03 de outubro é o grande dia!!!)
Tanto o aumento de alíquota quanto a redução de benefício fiscal implicam o
aumento de tributo. Submetendo-se à observância do princípio da anterioridade.
Ag Reg RE 564.225, setembro de 2014. O afastamento de aplicação de norma
que diminuiu a base de cálculo do ICMS é aumento indireto de tributo, avocan-
do-se a anterioridade.
Eis as exceções ao princípio da anterioridade:
A vedação do inciso III, b, não se aplica aos tributos previstos nos arts. 148,
I (E Compulsório CALA e GUE), 153, I (Imp. Importação), II (Imp. Exportação), IV
(IPI) e V (IOF); e 154, II (IEG); e a vedação do inciso III, c, não se aplica aos tributos
previstos nos arts. 148, I (E Compulsório CALA e GUE), 153, I (Imp. Importação), II
(Imp. Exportação), IV (IPI) e V (IOF); e 154, II (IEG), nem à fixação da base de cál-
culo dos impostos previstos nos arts. 155, III (IPVA), e 156, I (IPVA).

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PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE NONAGISIMAL PARA AS CONTRI-


BUIÇÕES SOCIAIS DA SEG SOCIAL E PREVIDENCIÁRIAS → PIS, COFINS,
CSLL, PIS E COFINS IMPORTAÇÃO, além das contribuições previdenciárias sobre
a folha de salários e demais remunerações (INSS) → 90 DIAS (3 meses não), após
a publicação da lei que instituiu ou modificou.
E as demais contribuições? As CIDEs, as para as Categorias Profissionais
(CRM, CRC etc) → aplica-se a elas a Anterioridade Comum (Exercício, Anual) +
Noventena (surpresa) = Regra Geral.

4. Guarde isso que José Afonso da Silva ensina sobre o princípio da isonomia
tributária: Não basta, pois, a regra de isonomia estabelecida no caput do art.5º.
O constituinte teve consciência de sua insuficiência, tanto que estabeleceu que
é vedado instituir tratamento desigual entre contribuintes que se encontrem em
situação equivalente, proibida qualquer distinção em razão da ocupação profis-
sional ou função por eles exercida, independentemente da denominação jurí-
dica dos rendimentos, títulos ou direitos (art. 150, II). Mas também consagrou a
regra pela qual, sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e serão
graduados segundo a capacidade econômica do contribuinte (art.145, §1º). (…)
Aparentemente, as duas regras se chocam. Uma veda tratamento desigual; outra
autoriza. Mas em verdade ambas se conjugam na tentativa de concretizar a jus-
tiça tributária”.

5. Como corolário da isonomia tributária, tem-se o non olet, devendo haver


abstração da licitude ou ilicitude da atividade exercida. O tributo deve incidir so-
bre atividades lícitas e sobre as ilícitas e imorais. Non Olet – traficante paga IR,
por que tem renda. Casa de prostituição paga IPTU.
Outros exemplos de non olet:
a) IPTU incide em imóvel considerado urbano em APA, com ocupação ilegal .
b) ITBI incide para o adquirente de imóvel, mesmo que o negócio tenha sido
celebrado por pessoa absolutamente incapaz.
c) ICMS incide no valor da NF, independente de ter havido o pagamento do
preço.

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d) ISS incide sobre empresa em face de terraplanagem realizada, mesmo que


não qualificada para tal.
e) ISS sobre casa de bingos (atividade considerada ilícita atualmente).
Por enquanto é isso. Voltamos mais adiante na Regressiva 100 dias OAB 1ª
Fase!
Forte abraço!
Marcelo Borsio

Marcelo Borsio – Delegado da Polícia Federal. Possui


graduação em Direito pela Universidade Presbiteriana
Mackenzie, é mestre e doutor em Direito Previdenciá-
rio pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,
Pós-Doutor em Direito da Seguridade Social pela Uni-
versidade Complutense de Madrid. Especialista em Di-
reito Tributário pela PUC-SP. Autor de algumas obras
no tema, inclusive com o Prof° Luiz Flávio Gomes, pa-
lestrante pelo país, professor e coordenador de Pós-
Graduação de Direito Previdenciário e da Prática Previdenciária. Coordenador
Pedagógico do Projeto Exame de Ordem.

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DIREITO CIVIL:
PROFESSORA RAQUEL BUENO

1ª DICA – o parentesco pode ser natural ou civil, conforme derive da con-


sangüinidade ou de outra origem (adoção, socioafetividade ou afinidade). Ao
tratar de ascendentes e descendentes, fala-se em parentesco em reta, que não
tem limitação de graus e se refere ao vínculo por meio do qual uns descendem
dos outros. Já na linha denominada colateral ou transversal, busca-se um tronco
comum e o parentesco inicia-se no segundo grau (irmãos). Os irmãos podem ser
bilaterais, também chamados de germanos, ou unilaterais. Quando unilaterais,
podem ser somente por parte de pai (consangüíneos), ou somente por parte de
mãe (uterinos).
Noutro giro, os parentes colaterais podem ainda ser de terceiro grau (tios/
sobrinhos), ou de quarto grau (primos). Já o parentesco por afinidade se refere à
relação havida entre o cônjuge/companheiro, com os parentes do outro cônjuge
ou companheiro, limitando-se aos ascendentes, descendentes e irmãos do outro.
Segundo o Código Civil vigente, na linha reta, a afinidade não se extingue com a
dissolução do casamento ou união estável (artigo 1595, §2º), justificando o ditado
popular que diz que sogro e sogra são para a vida toda!
2ª DICA – Estabelece a lei do bem de família legal (Lei n. 8.009/90), em seu
artigo 5º, parágrafo único, que havendo a existência de dois bens imóveis, utili-
zados como residência, a impenhorabilidade do bem de família legal recairá so-
bre aquele de menor valor, uma vez que a referida legislação visa a proteção do
direito de moradia, e não a proteção da família, em si mesma considerada. Neste
sentido, pode invocar tal benefício a pessoa solteira, separada/divorciada, viúva,
nos termos da Súmula 364 do STJ.
Ademais, em recente decisão, o Colendo STJ, no julgamento do Recurso Es-
pecial n.: 1608415/SP, deu a melhor interpretação à norma supramencionada (in-
terpretação sistemática e teleológica), conforme se depreende da ementa abaixo
reproduzida: “RECURSO ESPECIAL. EMBARGOS À EXECUÇÃO. PENHORA. BEM
DE FAMÍLIA. PROPRIETÁRIA DE OUTROS BENS. LEI N. 8.009/1990. IMÓVEL DE

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RESIDÊNCIA. IMPOSSIBILIDADE DE CONSTRIÇÃO. 1. Na origem, os embargos


à execução foram julgados improcedentes e o Tribunal estadual manteve a pe-
nhora sobre o bem de família da recorrente, reconhecendo a existência de outro
bem de sua propriedade de menor valor. 2. A jurisprudência deste Tribunal é firme
no sentido de que a Lei n. 8.009/1990 não retira o benefício do bem de família
daqueles que possuem mais de um imóvel. 3. O parágrafo único do artigo 5º da
Lei n. 8.009/1990 dispõe expressamente que a impenhorabilidade recairá sobre o
bem de menor valor na hipótese em que a parte possuir vários imóveis utilizados
como residência, o que não ficou demonstrado nos autos. 4. Recurso especial
provido. (REsp 1608415/SP, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEI-
RA TURMA, julgado em 02/08/2016, DJe 09/08/2016)”
3ª DICA – No estudo do regime de bens, deve-se destacar o polêmico re-
gime da separação obrigatória de bens. As hipóteses que obrigam a incidência
deste regime constam do artigo 1.641 do CC/02. Quem se casa neste regime
também se submete à necessidade de outorga/vênia conjugal, nos termos do
artigo 1.647 do CC/02, sendo tal outorga somente dispensada no caso do regime
de separação absoluta (convencional) de bens, e no regime de participação final
nos aquestos, quando houver tal liberação expressa na escritura pública de pacto
antenupcial.
Pois bem, no regime da separação obrigatória de bens não haverá a neces-
sidade de pacto antenupcial. Além disso, tal regime pode ser afastado, mediante
autorização judicial, antes ou depois de celebrado o casamento, com exceção do
inciso II, que trata de pessoas maiores de setenta anos, havendo intensa polêmica
nesta temática. Neste contexto, parte da doutrina (Maria Berenice Dias e Paulo
Lôbo, por exemplo) entende que a obrigatoriedade do regime de separação de
bens para pessoas maiores de setenta anos é inconstitucional, sendo imposição
violadora da dignidade humana, além da autonomia da vontade (autonomia pri-
vada), sem falar do Princípio da Intervenção Mínima nas relações familiares.
Acerca desta temática, oportuna a contribuição do ex-Ministro do Excelso
STF Antônio Cezar Peluso, quando ainda Desembargador do Tribunal de Justiça
do Estado de São Paulo, no voto proferido acerca do tema, na Apelação Cível
n. 007. 512-4/2-00 – 2ª CDPriv – de 18 de agosto de 1998: “ (…) Lei que, com o

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propósito racional de guardar o patrimônio dalgumas pessoas contra as fraque-


zas da submissão amorosa, priva-as a todas de exercitarem a liberdade jurídica
de dispor sobre seus bens e de pautarem suas ações por razões íntimas, res-
sente-se de nexo de proporção entre o objetivo legítimo, que está na tutela dos
casos particulares de debilidade senil, e o resultado prático exorbitante, que é,
no fundo, a incapacitação da ampla classe das pessoas válidas na mesma faixa
etária. Ou seja, inabilita e deprecia quase todos, por salvar uns poucos, que, aliás,
têm outros meios jurídicos para se redimir dos enganos das paixões crepuscula-
res. […] O alcance irracional e injusto da mesma norma vulnera ainda princípios
constitucionais, até com gravidade maior, sob outro ponto de vista, que é o da
mutilação da “dignidade” da pessoa humana em situação jurídica de casamento,
porque, desconsiderando-lhe, de modo absoluto e sem nenhum apoio na obser-
vação da realidade humana, o poder de autodeterminação, sacrifica, em nome
de interesses sociais limitados e subalternos o direito fundamental do cônjuge de
decidir quanto à sorte de seu patrimônio disponível, que, não ofendendo direito
subjetivo alheio nem a função social da propriedade, é tema pertinente ao redu-
to inviolável de sua consciência. É muito curta a razão normativa para a invasão
tamanha. A lei, aqui, é modo exemplar de intrusão estatal lesiva do direito à inti-
midade (right of privacy, ou , como se usa dizer, direito à privacidade), enquanto
dimensão substancial da pessoa humana e objeto de tutela constitucional explí-
cita (art. 5º, X, da Constituição Federal) e implícita (art. 5º, LIV).”
Por fim, destaque-se que em eventual separação/divórcio, na definição da
partilha, aplica-se a Súmula 377 do STF, segundo a qual: “no regime de separa-
ção legal de bens, comunicam-se os adquiridos na constância do casamento.”
Recomenda-se também a leitura dos Enunciados 125, 261 e 262 das Jornadas de
Direito Civil, acerca deste assunto.
4ª DICA – É possível a responsabilidade civil decorrente de condutas lícitas?
Por incrível que pareça sim, mas nas hipóteses expressamente previstas em lei.
Ouso falar do nosso artigo 188 e do artigo 930 do CC/02, que estabelece ser pos-
sível a responsabilidade civil decorrente de condutas lícitas, mais precisamente
nas hipóteses de legítima defesa real e estado de necessidade agressivo. Quando
o dano atinge o próprio causador da situação extrema de legítima defesa/estado

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de necessidade, restará afastado o dever de indenizar. Mas quando o exercício


da legítima defesa/estado de necessidade atinge terceiros, há responsabilidade
civil e o dever de indenizar, mesmo a conduta sendo lícita, resguardado o direito
de regresso contra o verdadeiro causador da situação. Aqui não há espaço para
a legítima defesa e estado de necessidade putativos, uma vez que, nesses casos,
não resta afastado o dever de indenizar, posto que a conduta continua sendo
ilícita, tratando-se de uma falsa percepção da realidade por parte do ofensor.
5ª DICA – Dentro das formas de aquisição originária da propriedade imóvel,
destaca-se a acessão natural. Entre suas espécies, destaque para a aluvião (artigo
1.250 do CC/02) e avulsão (artigo 1.251 do CC/02). Tratando-se de propriedades
ribeirinhas, cortadas por rios não navegáveis, a aluvião é o acréscimo paulatino
de terras a uma determinada propriedade ribeirinha (aluvião própria), ou ainda
o ressecamento parcial do álveo (leito do rio), aumentando uma propriedade
ribeirinha (aluvião imprópria). Já a avulsão é o desprendimento notório de por-
ção considerável de terra, de uma propriedade ribeirinha, em direção a outra,
em virtude de eventos naturais. Neste caso, o dono da propriedade defasada
pode requerer a restituição de sua porção de terra, ou a indenização equivalente,
tratando-se de um caso de responsabilidade civil objetiva. De qualquer forma, o
prazo decadencial para o exercício de uma das condutas acima (remoção/inde-
nização) é de um ano.
6ª DICA – A guarda no Brasil divide-se essencialmente em duas possibilida-
des: guarda unilateral (guarda exclusiva do pai/mãe, resguardado ao não guar-
dião o direito de visitas) e guarda compartilhada, sendo esta preferencial, uma
vez que atende ao maior e melhor interesse da criança/adolescente, estabelecen-
do um período maior de convivência da prole com o núcleo familiar materno e
paterno. Neste contexto, a guarda compartilhada pode ser requerida por ambos
os pais, em ação própria, ou de forma incidental em ação de separação/divórcio
ou reconhecimento de união estável.
Pode também a guarda compartilhada ser concedida de ofício pelo juiz, mes-
mo quando conflituosa a relação dos genitores. Todavia, importante destacar o
último posicionamento do Colendo STJ, acerca desta matéria, conforme julga-
do ora reproduzido: “CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. FAMÍ-

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LIA. GUARDA COMPARTILHADA. DISSENSO ENTRE OS PAIS. POSSIBILIDADE. 1.


A guarda compartilhada deve ser buscada no exercício do poder familiar entre
pais separados, mesmo que demande deles reestruturações, concessões e ade-
quações diversas para que os filhos possam usufruir, durante a formação, do ideal
psicológico de duplo referencial (precedente). 2. Em atenção ao melhor interesse
do menor, mesmo na ausência de consenso dos pais, a guarda compartilhada
deve ser aplicada, cabendo ao Judiciário a imposição das atribuições de cada um.
Contudo, essa regra cede quando os desentendimentos dos pais ultrapassarem o
mero dissenso, podendo resvalar, em razão da imaturidade de ambos e da aten-
ção aos próprios interesses antes dos do menor, em prejuízo de sua formação e
saudável desenvolvimento (art. 1.586 do CC/2002). 3. Tratando o direito de família
de aspectos que envolvem sentimentos profundos e muitas vezes desarmonio-
sos, deve-se cuidar da aplicação das teses ao caso concreto, pois não pode haver
solução estanque já que as questões demandam flexibilidade e adequação à hi-
pótese concreta apresentada para solução judicial. 4. Recurso especial conhecido
e desprovido. (REsp 1417868/MG, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA,
TERCEIRA TURMA, julgado em 10/05/2016, DJe 10/06/2016)”
7ª DICA – o que fazer quando um imóvel está encravado, sem acesso à via
pública? Para responder esta questão, entra em cena o direito de vizinhança one-
roso denominado passagem forçada. Por meio dela o sujeito encravado (situação
de encravamento natural e absoluto), pode compelir qualquer de seus vizinhos a
lhe ceder passagem, mediante indenização, tratando-se de verdadeira desapro-
priação parcial de interesse particular. Tal instituto é contemplado no Código Civil,
no artigo 1.285. (ver também Enunciado 88 da I Jornada de Direito Civil).
Mas atenção! Não confundir o direito de passagem forçada com o direito real
de servidão de passagem, posto que este é direito real sobre coisa alheia, inci-
dente apenas sobre bens imóveis de titulares diferentes, denominados de imóvel
serviente e dominante, sendo que o titular do primeiro sofre restrições em bene-
fício do segundo, de forma voluntária, a título gratuito ou oneroso. Sobre a po-
lêmica da distinção, segue julgado do Colendo STJ: “RECURSO ESPECIAL. AÇÃO
POSSESSÓRIA. INTERDITO PROIBITÓRIO. PASSAGEM FORÇADA. SERVIDÃO DE
PASSAGEM. DISTINÇÕES E SEMELHANÇAS. NÃO CARACTERIZAÇÃO NO CASO.

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SERVIDÃO NÃO SE PRESUME E DEVE SER INTERPRETADA RESTRITIVAMENTE. 1.


Apesar de apresentarem naturezas jurídicas distintas, tanto a passagem forçada,
regulada pelos direitos de vizinhança, quanto a servidão de passagem, direito
real, originam-se em razão da necessidade/utilidade de trânsito, de acesso. 2.
Não identificada, no caso dos autos, hipótese de passagem forçada ou servidão
de passagem, inviável a proteção possessória pleiteada com base no alegado
direito. 3. A servidão, por constituir forma de limitação do direito de propriedade,
não se presume, devendo ser interpretada restritivamente. 4. Recurso especial
provido. (REsp 316.045/SP, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEI-
RA TURMA, julgado em 23/10/2012, DJe 29/10/2012)”.
8ª DICA – O usufruto é um direito real sobre coisa alheia de uso e fruição, que
cria a coexistência de, no mínimo, dois sujeitos: o nu proprietário (titular de uma
propriedade transitoriamente limitada, e possuidor indireto da coisa) e o usu-
frutuário (no qual se concentra as prerrogativas de domínio de uso e fruição da
coisa, além da posse direta). Regra geral, o usufruto recai sobre bens infungíveis,
mas pode também recair sobre bens fungíveis, quando é chamado de usufruto
impróprio ou quase usufruto. Tal direito pode decorrer da lei ou da vontade das
partes, podendo também ser instituído a título gratuito ou oneroso. Outro ponto
relevante é que o direito real de usufruto não pode ser cedido/transferido, nem
a título gratuito, nem oneroso, nem por ato inter vivos/causa mortis, devido ao
seu caráter personalíssimo. Mas seu exercício pode ser cedido (artigo 1.393 do
CC/02).
Além disso, o Brasil não admite o usufruto sucessivo, mas admite o usufruto
simultâneo (que contempla duas ou mais pessoas as mesmo tempo). No caso
de usufruto simultâneo, caso uma das pessoas venha a falecer, sua quota parte
retorna ao nu proprietário, só podendo se falar em direito de acrescer do usu-
frutuário remanescente caso haja previsão expressa neste sentido (artigo 1.411 do
CC/02).
9ª DICA – Dentre as excludentes da responsabilidade civil, destacam-se o
caso fortuito e a força maior, contempladas no Código Civil, em seu artigo 393
(ver também Enunciado 443 da V Jornada de Direito Civil). Conceitua-se o caso
fortuito e a força maior dentro de uma perspectiva de situação inevitável e/ou

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imprevisível. Todavia, no estudo do caso fortuito, a doutrina diferencia o fortuito


interno do fortuito externo, sendo que, somente este último tem o condão de
quebrar o nexo causal, excluindo a responsabilidade civil (ver Súmula 479 do Co-
lendo STJ).
Sobre o tema, oportuna a contribuição de Nelson Rosenvald, Cristiano Chaves
de Farias e Felipe Peixoto Braga Netto, ao afirmarem: “(…) Essa distinção entre for-
tuito interno e externo foi introduzida no direito brasileiro por Agostinho Alvim,
sendo o fortuito interno aquele que se relaciona com a pessoa do devedor ou da
empresa e com a organização que eles imprimam ao negócio. Em contraparti-
da, o fortuito externo, também conhecido como força maior, é um fato que não
guarda conexão com estas pessoas, tratando-se de um acontecimento externo a
elas.” (in Curso de Direito Civil: Responsabilidade Civil, volume 03, 2ª edição, São
Paulo: Atlas, 2015, p. 383).
10ª DICA – O Brasil admite testamento na modalidade oral? Excepcional-
mente sim! Fala-se em modalidade de testamento especial militar NUNCUPATIVO
(artigo 1.896 do CC/02), que se refere aos sujeitos do artigo 1.893 do CC/02, em-
penhados em combate ou feridos, que poderão, em virtude da excepcionalidade
desta situação, manifestar sua última vontade perante duas testemunhas. Não
confundir com o casamento nuncupativo, que exige a presença de seis testemu-
nhas (artigo 1.540 e 1.541 do CC/02).

Raquel Bueno – Formada em Direito pela Universida-


de Católica de Brasília, Especialista em Direito Civil e
Processo Civil pela Universidade Cândido Mendes-RJ,
Mestranda em Direito na Universidade Católica de Bra-
sília, professora de Direito Civil da graduação da Uni-
versidade Católica de Brasília e IESB, da pós graduação
em Direito Civil da UniEvangélica de Anápolis-GO e
professora de Direito Civil e Processo Civil do Gran
Cursos Online. Advogada.

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DIREITO PENAL:
PROFESSOR FLÁVIO DAHER

Prezados(as) examinandos(as), na dica de hoje vamos abordar as diferenças


entre omissão própria e omissão imprópria, além das caractéristicas de crimes
omissivo e comissivo. Vejamos:

Diferenças entre Omissão Própria e Omissão Imprópria

Os crimes podem ser praticados por ação ou omissão:


AÇÃO (CRIME COMISSIVO): Está descrito em tipos proibitivos, isto é, tipos
através dos quais o direito penal protege bens jurídicos proibindo algumas con-
dutas. O agente pratica o crime desobedecendo a proibição.
OMISSÃO (CRIME OMISSIVO): o crime omissivo está previsto em tipos man-
damentais, através dos quais o direito penal protege bens jurídicos determinando
a realização de condutas. O agente deixa de agir como determinado pela norma.

• A norma mandamental pode decorrer:


a- DO PRÓPRIO TIPO PENAL: são tipos penais que tem a expressão “deixar
de” – CRIMES OMISSIVOS PRÓPRIOS. Ex: artigos 135 e 269 do CP.
b- DE UMA CLÁUSULA GERAL: (art.13, § 2º, CP). CRIMES OMISSIVOS IMPRÓ-
PRIOS OU COMISSIVOS POR OMISSÃO.
2º – A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir
para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem:
1. a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância;
2. b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado;
3. c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resul-
tado.

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CRIME OMISSIVO PRÓPRIO CRIME OMISSIVO IMPRÓPRIO


1- Dever específico de evitar o resultado
1-Dever genérico de agir;
(dever específico – recai sobre pessoa
(recai sobre todos).
especial: o garantidor)
2- Existe subsunção DIRETA – 2- Existe subsunção INDIRETA. O dever
FATO / NORMA. O dever de de agir deriva de cláusula geral. O art.13,
agir deriva da própria norma §2º, CP. A sua omissão não está escrita
fundamental. A omissão está no tipo. Como tinha dever de evitar, vai
descrita no tipo penal incrimi- responder como se tivesse praticado por
nador. tipo COMISSIVO.
3- Admite tentativa. No crime omissivo
3- Não admite tentativa. impróprio vai responder como se tivesse
provocado o resultado.
4- Natureza Jurídica: uma realidade onde
falta a causalidade. O agente responde
4- Natureza Jurídica: Ausência
penalmente porque não evita resultado
de ação esperada.
que estava obrigado evitar. (NEXO NOR-
MATIVO – NEXO DE EVITAÇÃO)

Flávio Daher – Delegado de Polícia Federal no DF.


Mestre em Direito Constitucional pela UNIFRAN-SP.
Doutorando em Direito Penal pela UNICEUB. Professor
de Cursos Preparatórios. Autor de Obras com o Profes-
sor Luiz Flávio Gomes.

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ÉTICA/ESTATUTO DA OAB: PROFESSORA DANIELA MENEZES

5 em 1: Ética Profissional

Analisando os assuntos mais cobrados na disciplina de Ética Profissional, iden-


tificamos temas fundamentais para o seu estudo com a leitura do Estatuto da
Advocacia e da OAB, do Regulamento Geral e do Código de Ética.
Lembrando à vocês que o Novo Código de Ética será cobrado no XXI Exame
de Ordem, por isso, temos que começar a estudar as novas alterações, ok?
A título de curiosidade, o novo Código de Ética estabeleceu novas regras so-
bre publicidade na internet e telefonia, questões sobre os honorários, o exercício
da advocacia pública, o tratamento com os clientes, o sigilo profissional e os pro-
cedimentos para o julgamento das infrações disciplinares.
Os princípios basilares da publicidade são: o caráter informativo, a discrição e
sobriedade, não configurando a captação de clientela ou mercantilização da pro-
fissão, sendo vedado a publicidade em rádio, cinema, televisão, veículos e redes
sociais.
São admissíveis: a circulação de boletins, por meio físico ou eletrônico, sobre
matéria cultural, envio de mensagens, por meios eletrônicos, desde que a desti-
natários certos, sem o oferecimento de serviços ou captação de clientela.
O novo Código de Ética teve a preocupação com os advogados públicos na
execução das atividades profissionais, visando à busca pela solução ou redução
de litígios.
A advocacia pro bono é a prestação gratuita, eventual e voluntária da presta-
ção de serviços jurídicos à instituições sociais sem fins econômicos, sempre que
os beneficiários não dispuserem de recursos para a contratação de profissional.
Com relação a instauração do processo disciplinar, o Novo Código de Ética
manteve os padrões do antigo código, com a ressalva de que a denúncia anôni-
ma não é considerada fonte inidônea.
Assim, o processo disciplinar continua ocorrendo em função do conhecimen-
to do fato, quando obtido por meio de fonte idônea ou em virtude de comuni-

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cação da autoridade competente. A representação será formulada ao Presidente


do Conselho Seccional ou ao Presidente da Subseção, por escrito ou verbalmente
e, neste caso, será reduzida a termo.
• Os temais mais cobrados pela FGV são:
• Sociedade de advogados
• Inscrição
• Direito dos advogados
• Honorários Advocatícios
• Infrações e Sanções Disciplinares
• Conselho Seccional
• Conselho Federal
• Impedimentos e Incompatibilidades
• Processo disciplinar
• Estágio Profissional
• Instrumento de mandato
• Publicidade
• Sigilo Profissional
• Relações com o cliente

Dentre os assuntos mais cobrados, vamos revisar sobre os poderes dos advo-
gados – substabelecimento?
O substabelecimento é o compartilhamento de poderes entre advogados ou
a transferência de poderes de um advogado para outro. A diferença entre com-
partilhar ou transferir está no tipo de substabelecimento, podendo ser com reser-
vas ou sem reservas de poderes. O substabelecimento, sem reservas, precisa do
consentimento do cliente, devido a retirada do advogado do processo.
Melhor dizendo, o substabelecimento sem reservas, é a transferência total de
poderes do advogado para outro, retirando-se totalmente da atuação no processo.
Já o substabelecimento com reservas ocorre quando o advogado compartilha
os poderes com outro advogado, sendo dispensado o consentimento do cliente,
pois trata-se de ato privativo do advogado, podendo inclusive, substabelecer a

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estagiários.
Lembre-se que o instrumento de procuração e o substabelecimento são do-
cumentos escritos e essenciais para o exercício do advogado na via judicial e
extrajudicial.

Procuração Substabelecimento
Cliente à Advogado Advogado à Advogado
Tipo: com reservas ou sem reservas
sem reservas: é obrigatório o consentimento do
cliente / outorgante.

Aguardo vocês no próximo encontro!


Bons estudos,
Professora Daniela Menezes.

Daniela Menezes – Advogada. Mestranda em Políti-


cas Públicas pelo Uniceub, Professora Substituta do
Uniceub, Advogada, Formação e Capacitação de Juíza
Arbitral do Brasil, Europa e Mercosul.

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DIREITO CIVIL:
PROFESSOR EDUARDO GALANTE

Olá pessoal. Tudo bem? Fortalecidos para a caminhada da aprovação no Exa-


me de Ordem? Bem… Sou o Professor Eduardo Galante e estou aqui para trazer
algumas dicas para a 1ª fase do Exame de Ordem sobre a disciplina Direito Pro-
cessual Civil.
Mas antes mesmo de iniciarmos, gostaria de deixar uma mensagem cujo con-
teúdo representa o que deve ser a nossa caminhada para aprovação: “Espalhem,
transmitam o positivismo, sonhem, acreditem no otimismo, procurem, busquem
a conquista, examinem-se, achem o real valor da vida! Reflitam sobre suas ações.
Amem intensamente, respeitem opiniões, neutralizem o negativismo, sejam alma,
mente e coração, mas com os pés cravados ao chão, auto avaliem-se… e vivam!”.
É com essa concepção que temos que nos preparar para o Exame. A dedica-
ção de vocês, as muitas horas de estudo, a confiança nesse projeto de vida, tudo
isso em breve terá como resultado a aprovação de todos. Podem ter certeza:
os nomes de vocês estarão na lista de aprovados da primeira fase do Exame de
Ordem. Da parte do nosso projeto não faltará dedicação e nem instrumentos
didático-pedagógicos para que você estabeleça metas e estratégias máximas.
Uma boa maneira de iniciarmos essa preparação é utilizarmos a técnica de
estudo que preconiza a aprendizagem por meio de sínteses (resumos ou dicas).
Com o intuito de contribuir decisivamente com o seu sucesso o GRANCUR-
SOS oferece excelentes cursos que os ajudarão em todas as fases do Exame.
Como forma de demonstrar o meu comprometimento com vocês, em espe-
cial com os seus estudos, apresento hoje uma série de dicas de Direito Processual
Civil elaborada com base em pontos recorrentes e importantes da disciplina. Va-
mos lá.
1ª) Pode-se conceituar a jurisdição como: Função do Estado, pela qual ele, no
intuito de solucionar os conflitos de interesse em caráter coativo, aplica a lei geral
e abstrata aos casos concretos que lhe são submetidos.

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2ª) A competência é, conforme definição clássica, a medida da jurisdição. Ela


quantificará a parcela de exercício de jurisdição atribuída a determinado órgão,
em relação às pessoas, à matéria ou ao território.
3ª) As sentenças estrangeiras são, portanto, emanações de um poder sobe-
rano externo. O mecanismo pelo qual a autoridade brasileira outorga eficácia à
sentença estrangeira, fazendo com que ela possa ser executada no Brasil, deno-
mina-se HOMOLOGAÇÃO DE SENTENÇA ESTRANGEIRA, que hoje é da compe-
tência do Superior Tribunal de Justiça.
4ª) A Constituição Federal, ao formular a estrutura do Judiciário, estabelece a
distinção entre a justiça comum e as especiais: a trabalhista, tratada no art. 111; a
eleitoral, nos arts. 118 e ss.; e a militar, no art. 122. A Justiça do Trabalho é compos-
ta pelo Tribunal Superior do Trabalho (TST), pelos Tribunais Regionais do Trabalho
(TRTs) e pelos juízes do trabalho. A eleitoral, pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE),
os Tribunais Regionais Eleitorais, os Juízes Eleitorais e as Juntas Eleitorais. A militar
é dividida em Justiça Militar da União e dos Estados: a da União é composta pelo
Superior Tribunal Militar e os Conselhos de Justiça, Especial e Permanente, nas
sedes das Auditorias Militares; a dos Estados, Distrito Federal e Territórios, pelo
Tribunal de Justiça ou Tribunal de Justiça Militar, nos Estados em que o efetivo for
igual ou superior a 20.000 integrantes, e pelos juízes auditores e pelos Conselhos
de Justiça, com sede nas Auditorias Militares. A competência das justiças especiais
é apurada de acordo com a matéria discutida (ratione materiae). A das justiças
comuns é supletiva: abrange todas as causas que não forem de competência das
especiais.
5ª) A justiça comum pode ser federal ou estadual. A competência da primeira
é dada ratione personae, pela participação, no processo, como parte ou inter-
veniente, das pessoas jurídicas de direito público federais e empresas públicas
federais (art. 109, I, da CF) ou ratione materiae, já que o art. 109 enumera temas
pertinentes às justiças federais. É composta por juízes e Tribunais Regionais Fede-
rais. O que não for de competência das justiças especiais, nem da Justiça Federal,
será atribuído, supletivamente, à Justiça Estadual. Cabe-lhe o julgamento de to-
das as causas que não pertencerem a uma e outras.

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6ª) Cabe aos Estados organizar sua respectiva justiça, respeitados os dispositi-
vos da CF: em cada qual haverá os juízos e tribunais estaduais, cuja competência
é dada em conformidade com as Constituições Estaduais e leis de organização
judiciária. Tanto a Justiça Federal quanto a estadual terão ainda os seus respecti-
vos juizados especiais e colégios recursais.
7ª) Em posição de destaque acima dos órgãos de primeiro e segundo graus
de jurisdição, tanto estaduais como federais, há o Superior Tribunal de Justiça,
criado pela CF de 1988 (arts. 104 e ss.), cuja função precípua é resguardar a lei
federal infraconstitucional. E, sobre todos, o Supremo Tribunal Federal, guardião
máximo da Constituição Federal, cuja competência é estabelecida no seu art. 102.
8ª) REGRAS GERAIS PARA A APURAÇÃO DE COMPETÊNCIA: Neste item, for-
mularemos algumas regras que devem ser observadas por aquele que deseja
apurar onde determinada demanda deve ser proposta. São seis os passos, su-
geridos por Nelson Nery Junior: I) Se a ação pode ou não ser proposta perante
a justiça brasileira, o que exige consulta aos arts. 21 a 23 do CPC; II) Sendo da
justiça brasileira, se não se trata de competência originária do Supremo Tribunal
Federal ou do Superior Tribunal de Justiça, o que exige consulta aos arts. 102, I, e
l05, I, da Constituição Federal; III) Se a competência não é de alguma das justiças
especiais, conforme arts. 114, 121 e 124 da Constituição Federal; IV) Não sendo de
competência das justiças especiais, verificar se a competência é da justiça comum
federal ou estadual, lembrando que será da primeira nas hipóteses do art. 109
da CF; V) Qual o foro competente, o que exige consulta ao CPC ou a lei federal
especial; VI) Qual o juízo competente, nos termos das normas estaduais de orga-
nização judiciária.
9ª) TIPO DE TUTELA COGNITIVA: CONDENATÓRIA, CONSTITUTIVA E DECLA-
RATÓRIA: Dentre as ações de conhecimento, é possível identificar três tipos fun-
damentais: a condenatória, a constitutiva e a declaratória, conforme o tipo de
tutela postulada. Nas três, pede-se sempre uma sentença: as declaratórias são
mais simples que as demais, porque nelas o juiz se limita a declarar a existência
ou inexistência de uma relação jurídica. O que se pretende obter é uma certeza
jurídica sobre algo que, até então, era fonte de dúvidas, incertezas ou insegu-

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rança. A sentença declaratória não impõe obrigações’ aos litigantes, por isso não
constitui título executivo, mas torna certa uma situação jurídica que, embora já
existisse, não era reconhecida. Por exemplo: quando houver dúvida a respeito da
paternidade de alguém que queira saná-la, bastará que ajuíze ação declaratória,
na qual o juiz decidirá se, afinal, o autor é ou não filho do réu. Já a tutela consti-
tutiva é aquela cuja finalidade é modificar, constituindo ou desconstituindo, uma
relação jurídica. Um exemplo é o das ações de separação judicial ou divórcio,
que objetivam desconstituir a sociedade conjugal ou o casamento, respectiva-
mente. Tal como as ações declaratórias, as constitutivas não visam a formação
de um título executivo. Por seu intermédio, o que se busca é a modificação de
uma situação jurídica indesejada. As ações constitutivas podem ser positivas ou
negativas. As primeiras são as que criam relações jurídicas até então inexistentes;
as segundas as que as desconstituem. O que caracteriza a sentença constitutiva
é a criação de um estado jurídico distinto do anterior. Por fim, a ação condenató-
ria é aquela que visa a formação de um título executivo judicial, que atribuirá ao
autor a possibilidade de valer-se da via executiva, tornando realidade aquilo que
lhe foi reconhecido. Sua finalidade é compelir alguém ao cumprimento de uma
obrigação inadimplida. A ação condenatória tem por objetivo não a satisfação
imediata e plena do direito postulado, mas a formação de título que permita apli-
car a sanção executiva.
10ª) PROCESSO E PROCEDIMENTO: Enquanto o processo engloba todo o
conjunto de atos que se alonga no tempo, estabelecendo uma relação dura-
doura entre os personagens da relação processual, o procedimento consiste na
forma pela qual a lei determina que tais atos sejam encadeados.
11ª) NULIDADES: No processo civil, também são admitidas as nulidades abso-
lutas e relativas, mas o tratamento dado é diferente do que se dá no direito civil,
pois ambas se sanam, se tomadas as providências necessárias para isso. Todas as
nulidades processuais, em princípio, podem ser sanadas, porque o processo não
é um fim em si, mas meio para se alcançar a proteção aos direitos materiais. As
nulidades absolutas são as que decorrem de vícios relacionados com a estrutura
do processo e da relação processual. As que não dizem respeito a esses aspectos
são relativas.

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12ª) CAPACIDADE DE SER PARTE: É a aptidão de ser parte em um processo, de


figurar na condição de autor ou réu. Como o processo é um instrumento que visa
tornar efetivos os direitos, todos os titulares de direitos na ordem civil terão ca-
pacidade de ser parte (portanto, todas as pessoas, físicas e jurídicas). Mas o CPC
vai além, estendendo a capacidade de ser parte a alguns entes despersonaliza-
dos, que não são pessoas, porque há certas circunstâncias em que eles podem
ter necessidade de comparecer em juízo, como a massa falida, o condomínio, a
herança jacente ou vacante, o espólio e o nascituro. Mas só excepcionalmente,
quando houver previsão legal, os entes despersonalizados terão capacidade de
ser parte. O processo não poderá ter desenvolvimento válido e regular se nele
figurar alguém que não a tenha.
13ª) PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS NEGATIVOS: Para que o processo pos-
sa ser válido, é indispensável que determinadas circunstâncias estejam ausentes.
Entre elas, a coisa julgada, a litispendência, a perempção e o compromisso de
arbitragem. A presença de qualquer delas implicará a extinção do processo sem
resolução de mérito. Vale lembrar que a perempção é a perda do direito de ação
como consequência de, por três vezes anteriores, o autor ter dada causa à extin-
ção do processo, sem resolução de mérito, por abandono.
14ª) CAPACIDADE DE SER PARTE: Todas as pessoas, sem exceção, têm capa-
cidade de ser parte, porque são titulares de direitos e obrigações na ordem civil.
A regra abrange as pessoas naturais ou físicas e as jurídicas, de direito público
ou privado. O art. 75 do CPC trata da representação das pessoas jurídicas e dos
entes despersonalizados, que têm capacidade de ser parte. A lei processual es-
tende a capacidade de ser parte a alguns entes despersonalizados, por entender
conveniente para a postulação ou defesa de determinados interesses em juízo.
Conquanto eles não tenham personalidade civil, têm, ao menos, personalidade
processual. Entre outros exemplos, podem ser citados: a) Massa falida; b) Espólio;
1. c) Herança jacente e vacante; d) Condomínio; e) Sociedade sem persona-
lidade jurídica; f ) Nascituro: é aquele que, conquanto já concebido, ainda não
nasceu.

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15ª) DA SUCESSÃO DAS PARTES E DOS PROCURADORES: A sucessão das


partes ou de seus procuradores, que pode ocorrer por ato Inter vivos ou mortis
causa, vem regulada nos arts. 108 a 112 do CPC. Os arts. 109 e 110 tratam da su-
cessão de partes, o primeiro por ato inter vivos e o segundo em caso de morte.
Os arts. 111 e 112 tratam da alteração de procurador, seja por vontade da parte,
seja por vontade do próprio advogado. A sucessão por ato inter vivos ocorrerá
nas hipóteses de alienação de coisa litigiosa, que, por sua importância, será estu-
dada em item próprio.
16ª) LITISCONSÓRCIO: O litisconsórcio é a pluralidade de partes no polo ati-
vo, no passivo, ou em ambos, do mesmo processo. Daí falar-se, respectivamente,
em litisconsórcio ativo, passivo e misto (ou bilateral). Haverá um único processo
com mais de um autor ou de um réu. Trata-se de fenômeno bastante comum no
processo civil, que ocorre talvez na maior parte dos processos. Litisconsórcio ne-
cessário É aquele cuja formação é obrigatória. O processo não pode prosseguir e
o juiz não pode julgar validamente, se não estiverem presentes todos os litiscon-
sortes necessários. São duas as razões para que exista. A primeira é a existência
de lei impondo a sua formação.
17ª) LITISCONSÓRCIO FACULTATIVO, UNITÁRIO, SIMPLES: Litisconsórcio facul-
tativo é aquele cuja formação é opcional: no momento da propositura da deman-
da, o autor tinha a opção entre formá-lo ou não. Litisconsórcio unitário é aquele
em que a sentença forçosamente há de ser a mesma para todos os litisconsortes,
sendo juridicamente impossível que venha a ser diferente. Só existe quando, no
processo, discute-se uma relação jurídica una e incindível, como o contrato e o
casamento, que não pode desconstituir-se para um dos participantes, e não para
outro. Litisconsórcio simples é aquele em que existe a possibilidade de a sentença
ser diferente para os litisconsortes. Quando o litisconsórcio é facultativo, a sua
formação depende da vontade do autor ou autores. Quando o litisconsórcio é
necessário, não há opção do autor entre formá-lo ou não: o autor deverá incluir
todos no polo ativo ou passivo. É possível que os litisconsortes, ativos ou passi-
vos, constituam o mesmo procurador, ou procuradores diferentes. No segundo
caso, terão todos os prazos processuais para se-manifestar nos autos em dobro,
por força do art. 229 do CPC, desde que não integrantes do mesmo escritório e
que o processo não seja eletrônico, pois nesses casos o prazo será simples.

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18ª) INTERVENÇÃO DE TERCEIROS: O Código de Processo Civil trata de nume-


rosas hipóteses de terceiros que podem ingressar no processo em andamento. A
intervenção implicará que aquele que não figurava até então no processo passe
a figurar. Só há intervenção de terceiros se o terceiro ingressa em processo em
andamento. A denunciação da lide e o chamamento ao processo só cabem em
processo de conhecimento, porque a sua finalidade é constituir, no mesmo proces-
so, título executivo contra o terceiro, seja ele alguém em relação à qual uma das
partes tenha direito de regresso, como na denunciação, seja o afiançado ou os de-
vedores solidários, no chamamento. As demais espécies de intervenção cabem em
qualquer tipo de processo, inclusive no de execução. DAS DIVERSAS FORMAS DE
INTERVENÇÃO: Assistência: A assistência é forma típica de intervenção de terceiros,
porque pressupõe o ingresso no processo de alguém que até então não figurava.
Denunciação da lide: É forma de intervenção de terceiros, que pode ser provocada
tanto pelo autor quanto pelo réu, diversamente do chamamento ao processo, que
só pode ser requerido pelo réu. Tem natureza jurídica de ação, mas não implica a
formação de um processo autônomo. Chamamento ao processo: É forma de inter-
venção de terceiros por meio da qual o réu fiador ou devedor solidário, originaria-
mente demandado, trará para compor o polo passivo, em litisconsórcio com ele,
o afiançado ou os demais devedores solidários. Do incidente de desconsideração
da personalidade jurídica: autoriza o juiz a estender, em determinadas situações, a
responsabilidade patrimonial pelos débitos da empresa aos sócios, sem que haja a
dissolução ou desconstituição da personalidade jurídica. O amicus curiae é o tercei-
ro que, conquanto não tenha interesse jurídico próprio, que possa ser atingido pelo
desfecho da demanda em andamento, como tem o assistente simples, representa
um interesse institucional, que convém seja manifestado no processo para que,
eventualmente, possa ser considerado quando do julgamento.
19ª) MP E PROCESSO CIVIL: a intervenção do Ministério Público no processo civil,
regulamentada pelos arts. 177 a 181 do CPC. Os arts. 177 e 178 mostram que ele pode
atuar em um processo em duas qualidades: como parte ou fiscal da ordem jurídica.
Cada uma delas será examinada nos itens seguintes. COMO PARTE: O membro do
Ministério Público tem capacidade postulatória e pode propor ações no âmbito de

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suas atribuições. O art. 129, III, da CF autoriza o Parquet a “promover o inquérito civil e
a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente
e de outros interesses difusos e coletivos”. COMO FISCAL: A outra qualidade em que
o Ministério Público pode intervir no Processo Civil é a de fiscal da ordem jurídica. O
art. 178 do CPC enumera em três incisos um rol apenas exemplificativo, quais são as
hipóteses: Quando houver interesse público ou social; Quando houver interesse de in-
capazes; Nas ações que envolvam litígios coletivos pela posse da terra rural e urbana.
20ª) O CPC dá excepcional importância à SOLUÇÃO CONSENSUAL DOS
CONFLITOS. Dentre outras, há duas providências determinadas pelo legislador,
que visam diretamente facilitar e favorecer a autocomposição. A primeira delas
é a instituição de uma audiência de tentativa de conciliação já no início do pro-
cedimento comum, antes que o réu tenha oportunidade de oferecer resposta. A
segunda é a inclusão de mediadores e conciliadores como auxiliares da justiça.
Determina o art. 165, caput, do CPC que os tribunais criarão centros judiciários
de solução consensual de conflitos, a quem competirão duas tarefas essenciais: a
de realizar as sessões e audiências de conciliação e mediação; e a de desenvolver
programas destinados a auxiliar, orientar e estimular a autocomposição. O art.
165, §§ 2º e 3º, esclarece a atuação do conciliador e do mediador. O primeiro atua
preferencialmente em casos em que não houver vínculo anterior entre as partes;
e o segundo, quando houver esse vínculo. É ele que determinará a atuação de
mediador ou de conciliador.
21ª) PRINCÍPIOS DA CONCILIAÇÃO, CONCILIADOR E MEDIADOR: são princí-
pios fundamentais que regem a atuação de conciliadores e mediadores judiciais:
confidencialidade, decisão informada, competência, imparcialidade, independên-
cia e autonomia, respeito à ordem pública e às leis vigentes, empoderamento e
validação.
I – Confidencialidade- dever de manter sigilo sobre todas as informações ob-
tidas na sessão, salvo autorização expressa das partes, violação à ordem pública
ou às leis vigentes, não podendo ser testemunha do caso, nem atuar como ad-
vogado dos envolvidos, em qualquer hipótese;
II – Decisão informada – dever de manter o jurisdicionado plenamente infor-
mado quanto aos seus direitos e ao contexto fático no qual está inserido;

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III  – Competência – dever de possuir qualificação que o habilite à atuação


judicial, com capacitação na forma desta Resolução, observada a reciclagem pe-
riódica obrigatória para formação continuada;
IV – Imparcialidade – dever de agir com ausência de favoritismo, preferência
ou preconceito, assegurando que valores e conceitos pessoais não interfiram no
resultado do trabalho, compreendendo a realidade dos envolvidos no conflito e
jamais aceitando qualquer espécie de favor ou presente;
V – Independência e autonomia- dever de atuar com liberdade, sem sofrer
qualquer pressão interna ou externa, sendo permitido recusar, suspender ou in-
terromper a sessão se ausentes as condições necessárias para seu bom desenvol-
vimento, tampouco havendo dever de redigir acordo ilegal ou inexequível;
VI – Respeito à ordem pública e às leis vigentes – dever de velar para que
eventual acordo entre os envolvidos não viole a ordem pública, nem contrarie as
leis vigentes;
VII – Empoderamento – dever de estimular os interessados a aprenderem a
melhor resolverem seus conflitos futuros em função da experiência de justiça vi-
venciada na autocomposição;
VIII – Validação- dever de estimular os interessados perceberem-se recipro-
camente como serem humanos merecedores de atenção e respeito”. O art. 167
do CPC cuida de recrutamento de conciliadores e mediadores. Não se exige que
sejam advogados, nem que tenham bacharelado em direito. Caso o conciliador
ou mediador seja advogado, ele e a sociedade de advogados a que pertence
(Enunciado 60 da ENFAM) ficarão impedidos de exercer a advocacia nos juízos
em que desempenhem as suas funções. O art. 168 faculta às partes, de comum
acordo, escolher o conciliador ou o mediador. O art. 169 estabelece que o conci-
liador e o mediador fazem jus à remuneração, conforme tabela fixada pelos tribu-
nais, observados os parâmetros estabelecidos pelo Conselho Nacional de Justiça.
O art. 174 prevê que a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios criem
câmaras de mediação e conciliação para a solução consensual de conflitos no
âmbito administrativo.
Bem pessoal… Acredito que com essas dicas vocês terão condições de fomen-
tar os seus estudos para enfrentar a 1ª fase do Exame de Ordem.
ESTUDAR E TRANSFORMAR!

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OBRAS CONSULTADAS PARA ELABORAÇÃO DO PRESENTE RESUMO:

• Novo Código de Processo Civil Comentado, José Miguel Garcia Medina,


2015.
• Novo Código de Processo Civil Anotado, ESA/OAB-RS, 2015.
• Novo Código de Processo Civil Anotado, Cassio Scarpinella Bueno, 2015.
• Novo Código de Processo Civil Comparado, Elpídio Donizete, 2015.
• Novo Código de Processo Civil anotado e Comparado para Concursos, Si-
mone D. Figueiredo, 2015.

Eduardo Galante – Mestre em Direito pela Universi-


dade São Carlos, mestrando em Educação pela Univer-
sidade da Cidade de São Paulo – UNICID, especialista
em Direito Civil, Direito Processual Civil, Direito Consti-
tucional, Direito Administrativo e em Direito Penal pela
Faculdade Processus. Graduado em Direito e em Se-
cretariado. Professor de cursos de pós-graduação e de
graduação em faculdades de Brasília, tendo ministrado
disciplinas, como: Direito Civil, Direito Processual Civil,
entre outras. Ministra cursos preparatórios para concursos públicos e para o Exa-
me da Ordem. É professor em cursos de extensão e de atualização na área jurí-
dica. Palestrante, instrutor e consultor para certames públicos. Servidor Público
há 25 anos.

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DIREITO ADMINISTRATIVO:
PROFESSOR GUSTAVO SCATOLINO

Caros examinandos e examinandas,


Daremos continuidade a Regressiva “100 dias para a OAB” com dicas impor-
tantes para o estudo do Direito Administrativo:

SEGURANÇA JURÍCIA, CONTRADITÓRIO, AMPLA DEFESA E REGISTRO


DE APOSENTADORIA PERANTE O TRIBUNAL E CONTAS

O princípio visa a dar maior estabilidade às relações jurídicas, mesmo àquelas


que a princípio apresentam ilegalidade.
Como a sociedade prefere a segurança das relações jurídicas, ao invés da sua
instabilidade, houve a fixação do prazo decadencial de 5 anos, salvo comprovada
má-fé, para a Administração anular seus atos, conforme prevê o art. 54, da Lei n.
9.784/99. Dessa forma, após 5 anos da edição de um ato administrativo, mesmo
havendo ilegalidade nesse ato, não há mais, salvo comprovada má-fé, possibili-
dade de a Administração corrigir esse ato através da anulação.
Segundo Almiro Couto e Silva, à medida que o tempo vai passando, eventuais dú-
vidas sobre a legalidade do ato administrativo vão, gradativamente, perdendo relevo
diante da crescente e sempre mais robustecida confiança na sua legalidade.1
Questão que merece análise detalhada se refere ao prazo para registro de
aposentadoria perante o TCU. Conforme a súmula vinculante n. 3, do STF, “nos
processos perante o Tribunal de Contas da União asseguram-se o contraditório e
a ampla defesa quando da decisão puder resultar anulação ou revogação de ato
administrativo que beneficie o interessado, excetuada a apreciação da legalidade
do ato de concessão inicial de aposentadoria, reforma e pensão”.

1 SILVA, Almiro e Couto. O princípio da segurança jurídica (proteção à confiança) no Direito Público Brasileiro e do direito da
Administração Pública de anular seus próprios atos administrativos: o prazo decadencial do art. 54 da Lei do Processo
Administrativo da União (Lei n. 9.784/99). In: Revista Brasileiro de Direito Público – RBDP, Belo Horizonte, ano 2, n. 6, p.
48-49, jul./set., 2004.

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De acordo com essa súmula, na análise pelo TCU de processos que ele deva
fazer o registro se for resultar em determinação de anulação ou revogação, pri-
meiro deve se conferir ao interessado a oportunidade para o exercício do con-
traditório e ampla defesa, antes da referida anulação ou revogação. Entretanto, a
súmula faz exceção ao registro inicial de aposentadoria, reforma e pensão. Nes-
ta hipótese não haverá direito ao contraditório e da ampla defesa perante o TCU
O STF entende que o registro de aposentadoria é ato complexo. Sendo
assim, só está realmente formado o ato com a conjugação da vontade dos dois
órgãos (órgão do servidor e TCU). Enquanto o servidor tem a concessão de
aposentadoria apenas perante seu órgão de origem, esse ato ainda não está
formado, pois apenas com o registro perante o TCU é que estará finalizado.2 Na
verdade, o TCU não aprova um ato já pratica, mas sim participa da própria for-
mação do ato, que só estará finalizado com a aquiescência da Corte de Contas.
Assim, o TCU não está submetido ao prazo de 5 anos para fazer o
registro da aposentadoria. Esse é o entendimento que prevalece no STF, mas
veremos que o Supremo Tribunal Federal possui alguns acórdãos (MS n. 24.448
e 25.116) no sentido de que o TCU tem que fazer o registro dentro de um prazo
razoável, posição que, em alguns casos, já vem sendo perfilhada pelo STJ.
Entretanto, deve-se ter atenção. O TCU não está submetido ao prazo de 5
anos para o registro de aposentadoria, que se trata de ato complexo, mas para
outros atos que não têm essa natureza está esse Tribunal sujeito ao prazo de-
cadencial, a exemplo de atos que concedem incorporação de gratificação ou
adicional.
No Mandado de Segurança n. 26.117/DF, Relator Min. Eros Grau, o STF enten-
deu que se operou a decadência para anulação do ato pelo TCU. Tratava-se de
ascensão funcional interna de servidor no órgão de lotação em que o órgão de
controle somente julgou as contas depois de mais de 10 anos. Entendeu-se que
não consubstancia ato complexo a ascensão funcional.

2 Apesar do STF entender que o registro de aposentadoria é ato complexo, entendemos que seria caso de ato composto, pois
o ato do TCU apenas aprova, confirma outro ato. Entretanto, para fins de concurso deve ser adotada a posição do STF
no sentido de que é ato complexo.

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Em outro julgado proferido pelo STF, entendeu-se que o ato de revisão de


aposentadoria também está sujeito ao prazo decadencial de 5 anos. Após o aper-
feiçoamento da aposentadoria, que ocorre com o registro perante o TCU, esse
Tribunal tem o prazo de 5 anos para fazer a revisão do ato de concessão inicial.
E, ainda, deve conceder contraditória e ampla defesa previamente.
Dissemos, anteriormente, que o STF tem posição no sentido de que o TCU
não deve garantir o contraditório e a ampla defesa, se resolver negar registro
de aposentadoria, conforme entendimento da súmula vinculante número 3.
Entretanto, um novo paradigma vem sendo traçado no Supremo, exigindo a ob-
servância desses princípios quando o TCU não analisa o registro inicial em tempo
razoável3. Tem-se adotado como período razoável para análise do ato o prazo de
5 anos, entre a concessão do ato e o registro pela Corte de Contas, em razão do
art. 54, da Lei n. 9.784/99. É o que se depreende da seguinte decisão:
A inércia da Corte de Contas, por sete anos, consolidou, de forma positiva,
a expectativa da viúva, no tocante ao recebimento de verba de caráter alimentar.
Este aspecto temporal condiz, intimamente, com o princípio da segurança jurídica,
projeção objetiva do princípio da dignidade da pessoa humana e elemento concei-
tual do Estado de Direito. O prazo de cinco anos é de ser aplicado aos processos
de contas que tenham por objeto o exame de legalidade dos atos concessivos de
aposentadorias, reformas e pensões. Transcorrido in albis o interregno quinquenal,
é de se convocar os particulares para participar do processo de seu interesse, a fim
de desfrutar das garantias do contraditório e da ampla defesa (inciso LV, do art. 5º)
(MS 24.448/DF, DJ 14/11/2007, Informativo 488). (ver também MS 25116)4
Em outro julgado, proferido pelo PLENO do STF, decidido por maioria (infor-
mativo 599), foi concedido o mandado de segurança para anular acórdão do TCU,
para o fim de ser assegurada a oportunidade do uso das garantias constitucionais
do contraditório e da ampla defesa. Na situação dos autos, a Corte de Contas ne-
gara registro a ato de aposentadoria especial de professor, por considerar indevido

3 O termo a quo do prazo de 5 anos para que o Tribunal de Contas da União – TCU examine a legalidade dos atos concessivos
de aposentadorias, reformas e pensões, conta-se a partir da data de chegada do processo administrativo na própria Corte
de Contas. MS 24781/DF, rel. orig. Min. Ellen Gracie, red. p/ o acórdão Min. Gilmar Mendes, 2.3. 2011. (MS-24781) – Infor-
mativo n. 618 STF.
4 REsp 1098490/SC, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, QUINTA TURMA, julgado em 05/03/2009, DJe 27/04/2009

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o cômputo de serviço prestado sem contrato formal e sem o recolhimento das


contribuições previdenciárias. Não obstante admitindo o fato de que a relação jurí-
dica estabelecida no caso se dá entre o TCU e a Administração Pública, o que, em
princípio, não reclamaria a audição da parte diretamente interessada, entendeu-se,
tendo em conta o longo decurso de tempo da percepção da aposentadoria até a
negativa do registro (cinco anos e oito meses), haver direito líquido e certo do im-
petrante de exercitar as garantias do contraditório e da ampla defesa. Salientou-se
a necessidade de se fixar um tempo médio razoável a ser aplicado aos processos
de contas cujo objeto seja o exame da legalidade dos atos concessivos de aposen-
tadorias, reformas e pensões, e afirmou-se poder se extrair, dos prazos existentes
no ordenamento jurídico brasileiro, o referencial de cinco anos.
Essa é a nova orientação que vem se firmando no STF, no sentido de se con-
ceder direito ao contraditório e da ampla defesa, quando a anulação do ato de
aposentadoria ocorre depois de tempo razoável de sua concessão: em média, 5
anos.
Sob esse fundamento, o Supremo aplicou orientação firmada no MS 25.116/DF
(v. Informativo 599) para anular acórdão do TCU, a fim de ser assegurada a opor-
tunidade do uso das garantias constitucionais do contraditório e da ampla defesa.
Tratava-se, na espécie, de mandado de segurança impetrado contra atos do TCU
e do Coordenador-Geral de Recursos Humanos do Ministério dos Transportes,
que implicaram no cancelamento da pensão especial percebida pela impetrante.
Tendo em conta que ela vinha recebendo a pensão há quase 10 anos, de forma
ininterrupta, entendeu-se que o seu benefício não poderia ter sido cessado, sem
que lhe fosse oportunizada manifestação. Vencidos os Ministros Celso de Mello
e Cezar Peluso, Presidente, que concediam a ordem totalmente, pronunciando
a decadência, e os Ministros Ellen Gracie e Marco Aurélio que a denegavam. MS
25403/DF, rel. Min. Ayres Britto, 15.9.2010. (MS-25403-Informativo 600).
Assim, percebe-se que, paulatinamente, o STF vem desenhando um novo mo-
delo sobre a garantia do direito ao contraditório e da ampla defesa nos atos de
anulação de aposentadoria, reforma ou pensão. Em razão dessa nova orientação,
que vem se consolidando no STF, inevitavelmente a súmula vinculante n. 3 deverá
ter sua redação alterada, ou, até mesmo, será objeto de cancelamento.

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Por fim, não podemos deixar de fazer a crítica referente à edição de súmulas
vinculantes, sem debate aprofundado sobre o tema; assim como aconteceu com
a súmula vinculante n. 13, que dispõe sobre o nepotismo, entre outras. Novamen-
te sem examinar diversos precedentes antes de consolidar o entendimento, o STF
edita súmula que já não é mais aplicada conforme está disposta.
Na sua prova, então, atenção

Regra 1 Direito ao contraditório e ampla defesa no TCU


TCU deve observar prazo de 5 anos na análise dos atos adminis-
Regra 2
trativos
Concessão inicial de aposentadoria, reforma e pensão TCU não
precisa conceder contraditório e ampla defesa previamente,
Obs 1!
SALVO se entre a data da concessão pelo órgão e registro pelo
TCU decorreu prazo maior do que 5 anos.
Na revisão da concessão inicial tem que observar prazo de 5 anos
Obs 2!
e contraditório e ampla defesa previamente.
Havendo má-fé não há que se falar em prazo de 5 anos (art. 54,
Obs 3!
Lei n. Lei n. 9.784/99)

Gustavo Scatolino – Atualmente é Procurador da Fa-


zenda Nacional. Bacharel em Direito e Pós-graduado
em Direito Administrativo e Processo Administrativo.
Ex-Assessor de Ministro do STJ. Aprovado em vários
concursos públicos, dentre eles, Analista Judiciário do
STJ, exercendo essa função durante 5 anos, e Procura-
dor do Estado do Espírito Santo.

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DIREITO AMBIENTAL: PROFESSOR FELIPE LEAL

Futura advogada, Futuro advogado.


Quinta-feira é dia de dicas de Direito Ambiental!!!
Preparado (a)? Então vamos lá!!!

DICA 01 – MARCOS HISTÓRICOS E PRINCÍPIOS

Eis os dois marcos históricos que costumeiramente são objeto de questionamen-


tos por examinadores: a Conferência de Estocolmo (Suécia) – 1972 e a Decla-
ração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (ECO-92) – 1992.
Em Estocolmo, consagrou-se o princípio da prevenção, com a ideia de de-
senvolvimento sustentável. Já no Rio de Janeiro, vinte anos após, importante foi a
previsão do princípio da precaução.
Pelo Princípio da Prevenção, procura-se evitar o risco de uma atividade
sabidamente danosa e evitar efeitos nocivos ao meio ambiente.
Já com base no Princípio da Precaução, procura-se evitar o risco de perigo
de uma atividade. Assim, quando há perigo de dano grave e irreversível, a falta
de certeza científica absoluta não deverá ser utilizada como razão para postergar
a adoção de medidas eficazes para impedir a degradação do meio ambiente.

DICA 02 – CONCEITOS – DEVERES DO ESTADO

Nas provas de Direito Ambiental, as questões, quase em sua totalidade, ver-


sam sobre conceitos, características, requisitos e prazos. Dentre os conceitos, se-
guem os relacionados aos deveres do Estado:
• Preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo
ecológico das espécies e ecossistemas: lidar com as espécies e conservá-las,
e, se possível, recuperá-las.
• Preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fis-
calizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético.
• Definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus

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componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a


supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização
que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção.
• Exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente
causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de
impacto ambiental, a que se dará publicidade.
• Controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos
e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o
meio ambiente.
• Promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a cons-
cientização pública para a preservação do meio ambiente; Intervenção na
atividade privada.
• Proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que colo-
quem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou
submetam os animais a crueldade.
• Impor ao minerador a responsabilidade de recuperação da área
• Proteger microrregiões: Floresta Amazônica, Mata Atlântica, Serra do Mar,
Pantanal Mato-grossense e Zona Costeira.
• Controlar usinas nucleares.

DICA 03 – ZONEAMENTO

O Zoneamento é um instrumento para a efetivação da Política Nacional do


Meio Ambiente, consubstanciado em repartição do território em zonas, com vis-
tas ao uso sustentável dos recursos naturais, segundo critérios a serem respeita-
dos por particulares e pela Administração Pública.
Sobre o tema, de leitura obrigatória é a Lei n. 10. 257/2001, que, em seu art.
41, estabelece a obrigatoriedade do plano diretor para as cidades que se enqua-
drarem nas hipóteses que se seguem:
• com mais de vinte mil habitantes;
• integrantes de regiões metropolitanas e aglomerações urbanas;
• onde o Poder Público municipal pretenda utilizar os instrumentos previstos

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no 4º do art. 182 da Constituição Federal;


• integrantes de áreas de especial interesse turístico;
• inseridas na área de influência de empreendimentos ou atividades com sig-
nificativo impacto ambiental de âmbito regional ou nacional; ou
• incluídas no cadastro nacional de Municípios com áreas suscetíveis à ocor-
rência de deslizamentos de grande impacto, inundações bruscas ou pro-
cessos geológicos ou hidrológicos correlatos.

Bons estudos!

Felipe Leal – Graduado em Direito pela Universidade


Federal da Paraíba (2003) e mestrado em Direito Am-
biental e Políticas Públicas pela Universidade Federal
do Amapá (2012). Ingressou na Polícia Federal em 2005,
como Papiloscopista Policial Federal, adquirindo expe-
riência na área técnica, e, desde 2006, é Delegado de
Policia Federal, tendo já chefiado Delegacias Especiali-
zadas na Repressão ao Tráfico de Drogas (Pará), na Re-
pressão aos Crimes Ambientais (Amapá) e na Repres-
são a Crimes Financeiros (Paraíba), bem como atuou como Chefe do Núcleo de
Inteligência em Pernambuco. Na docência, é um dos responsáveis pela formação
profissional de novos policiais, com a elaboração de Caderno Didático para a
Academia Nacional de Polícia. Já elaborou Manuais de Investigações para autori-
dades policiais. Professor em Faculdades de Direito e em cursos de pós gradua-
ção. Coordenador de pós graduação em Investigação Criminal e Ciências Foren-
ses. Coordenador da Escola Nacional de Polícia Judiciária.

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DIREITO CIVIL:
PROFESSORA ROBERTA QUEIROZ

Oi amores…
Vamos hoje conversar um pouco sobre nossa prova da 1ª fase da OAB???
Precisamos conversar sobre alguns temas de pessoa natural que devem estar
sempre no coração …
Vamos enfrentar essa prova juntos, de mãos dadas…
Sabe o que pode ser interessante para sua prova?! Olha só…

SISTEMA DE INCAPACIDADES NO CC APÓS ESTATUTO DA PESSOA


COM DEFICIÊNCIA

A lei n. 13.146/15 instituiu a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência –


o Estatuto da Pessoa com Deficiência.
Essa lei trouxe várias alterações no Código Civil, em especial no que tange ao
sistema de incapacidades.
Você sabia que a regra é a capacidade das pessoas naturais? É, a incapacida-
de é algo excepcional que depende previsão legal.
O Código Civil trabalha essa questão no artigo 3º e artigo 4º, respectivamen-
te, absolutamente e relativamente incapazes.
A redação do Código Civil antes do EPD estabelecia:

Art. 3º São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da


vida civil:
I – os menores de dezesseis anos;
II – os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário
discernimento para a prática desses atos;
III – os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade.
Art. 4º São incapazes, relativamente a certos atos, ou à maneira de os
exercer:
I – os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos;

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II – os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência men-


tal, tenham o discernimento reduzido;
III – os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo;
IV – os pródigos.

Tal redação sofreu alteração relevante e passamos a ter:

Art. 3º São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da


vida civil os menores de 16 (dezesseis) anos.
Art. 4º São incapazes, relativamente a certos atos ou à maneira de os exer-
cer:
I – os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; II – os ébrios habi-
tuais e os viciados em tóxico;
III – aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem expri-
mir sua vontade;
IV – os pródigos.

Assim, hoje, o único absolutamente incapaz que temos é o menor de 16 anos.


Podemos afirmar que o somente quem tem incapacidade natural é absolutamen-
te incapaz.
Ah, e a pergunta que não quer calar é: o relativamente incapaz pode praticar
algum ato sem assistência do seu representante e este ato ser válido?
A resposta é SIM! O relativamente pode ser, por exemplo, testemunha (artigo
228, CC), pode aceitar mandato (artigo 666, CC); pode fazer testamento (artigo
1860, CC), pode ser responsabilizado pelos danos causados no âmbito da res-
ponsabilidade civil (artigo 928, CC), etc…

EMANCIPAÇÃO

Sabemos que a emancipação pode ser VOLUNTÁRIA, JUDICIAL ou LEGAL


Quanto à emancipação voluntária, esta é concedida pelos pais, diretamente
no cartório, mediante escritura pública irretratável.

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Em relação ao tema, tenha cuidado, pois a súmula 358 do STJ diz que o can-
celamento de pensão alimentícia de filho que atingiu a maioridade está sujeito à
decisão judicial, mediante contraditório, ainda que nos próprios autos. Ou seja,
não adianta emancipar o menor, vai continuar pagando alimentos até uma pos-
sível exoneração por decisão judicial.
Outro ponto interessante é sobre a responsabilidade civil dos pais em relação
aos atos praticados por seus filhos emancipados. Nas lições sempre preciosas de
Carlos Roberto Gonçalves, seguindo a antiga jurisprudência do Supremo Tribunal
Federal, a emancipação voluntária não se reveste, como as demais espécies, do
efeito de isentar os pais da obrigação de reparar as vítimas dos atos ilícitos prati-
cados pelo menor emancipado, sendo forma de evitar emancipações maliciosas.

MORTE

Observe que a morte pode ser real, conforme resoluções do CFM – resolu-
ções 1480/97 e 1826/2007 do CFM, tem como critério científico a parada da fun-
ção encefálica, conhecida como morte cerebral.
Contudo, há a morte presumida, sem corpo presente. Essa morte pode acon-
tecer de duas formas: com ou sem declaração de ausência. Em verdade, haverá
morte com prévia declaração de ausência quando o sujeito ausente desaparecer
de seu domicílio sem deixar notícias. Assim, essa morte exige, antes de sua de-
claração, um período de “não presença” e “não notícias”. A lei não traz o tempo
exato de desaparecimento.
Entretanto, há a morte presumida sem declaração de ausência sempre que,
mesmo sem corpo presente, é possível e provável a morte do sujeito. Esta, inclu-
sive, foi o tema de questão da OAB. Veja que ocorre a incidência do artigo 7º do
CC, vejamos:
Pode ser declarada a morte presumida, sem decretação de ausência:
I – se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida;
II – se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for en-
contrado até dois anos após o término da guerra.

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Parágrafo único. A declaração da morte presumida, nesses casos, somente


poderá ser requerida depois de esgotadas as buscas e averiguações, devendo a
sentença fixar a data provável do falecimento.
No Brasil, de acordo com a Lei de Registro Público, nenhum sepultamento
será feito sem certidão, do oficial de registro do lugar do falecimento, extraída
após a lavratura do assento de óbito, em vista do atestado de médico, e, se não
houver, de duas pessoas qualificadas que tiverem presenciado ou verificado a
morte.
Já tivemos várias questões envolvendo o tema em sede exame de ordem, olha só:
(FGV) Raul, cidadão brasileiro, no meio de uma semana comum, desaparece
sem deixar qualquer notícia para sua ex-esposa e filhos, sem deixar cartas ou
qualquer indicação sobre seu paradeiro. Raul, que sempre fora um trabalhador
exemplar, acumulara em seus anos de labor um patrimônio relevante. Como Raul
morava sozinho, já que seus filhos tinham suas próprias famílias e ele havia se
separado de sua esposa 4 (quatro) anos antes, somente após uma semana seus
parentes e amigos deram por sua falta e passaram a se preocupar com o seu
desaparecimento. Sobre a situação apresentada, assinale a opção correta.
a) Para ser decretada a ausência, é necessário que a pessoa tenha desapare-
cido há mais de 10 (dez) dias. Como faz apenas uma semana que Raul desapa-
receu, não pode ser declarada sua ausência, com a consequente nomeação de
curador.
b) Em sendo declarada a ausência, o curador a ser nomeado será a ex-esposa
de Raul.
c) A abertura da sucessão provisória somente se dará ultrapassados três anos
da arrecadação dos bens de Raul.
d) Se Raul contasse com 85 (oitenta e cinco) anos e os parentes e amigos já
não soubessem dele há 8 (oito) anos, poderia ser feita de forma direta a abertura
da sucessão definitiva.

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DIREITOS DE PERSONALIDADE

Pessoal, o tema de direitos de personalidade é sempre muito recente. São


direitos que protegem características inerentes à pessoa; recaem sobre atributos
naturais e suas projeções sociais.
Com a constitucionalização do Direito Civil, hoje, temos que os direitos de
personalidade integram um MOVIMENTO DE REPERSONALIZAÇÃO, uma CLÁU-
SULA GERAL DE PROTEÇÃO, identificada a partir de alguns pilares, como a Inte-
gridade física: vida, corpo, partes do corpo; Integridade intelectual: liberda-
de pensamento, autorias científicas e artísticas; Integridade moral: intimidade,
vida privada, honra, imagem e nome, como ensina nosso glorioso professor Cris-
tiano Chaves.
Nesse sentido, recorde-se que os direitos de personalidade possuem como
características:
1. Absolutos: são oponíveis erga omnes. Veja que não é no sentido de re-
lativos, pois nada impede que um direito de personalidade sofra relativização
quando em conflito com outro de mesma hierarquia.
2. Inatos: inerentes à condição humana. Foram feitos pelo homem e para o
homem.
3. Extrapatrimonias: o conteúdo, essência não tem valor econômico, pecu-
niário. Os direitos de personalidade não têm estimativa econômica, mas a viola-
ção a um direito de personalidade gera indenização, gera reparação pecuniária.
A indenização por danos morais é a reparação por essa violação.
A natureza do dano moral é de compensação e não de restituição, haja vista
que não há o que se restituir.
4. Impenhoráveis: isso significa que não se admite constrição judicial sobre
direitos da personalidade. Cuidado, pois é possível penhorar a indenização de-
corrente da violação, pois esta tem natureza patrimonial.
5. Imprescritíveis: não há prazo extintivo para o exercício de um direito de
personalidade. Ninguém sofre a perda de um direito de personalidade pelo não
uso. Veja que existe prazo prescricional para reclamar a indenização.

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6. Vitalícios: o que é vitalícios extinguem-se com a morte do titular, o perpé-


tuo são os direitos que se transmitem com a morte, são os direitos reais. O pro-
blema é o artigo 943 que diz o direito de exigir reparação se transmite-se com a
herança, desde que não tenha ocorrido a prescrição.
É possível proteção dos direitos de personalidade para após a morte???
Sim, e a resposta está em dois artigos do Código Civil:

Art. 12. Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da persona-
lidade, e reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas
em lei.
Parágrafo único. Em se tratando de morto, terá legitimação para requerer a
medida prevista neste artigo o cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente
em linha reta, ou colateral até o quarto grau.
Art. 20. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça
ou à manutenção da ordem pública, a divulgação de escritos, a transmissão
da palavra, ou a publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma
pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da indeni-
zação que couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilida-
de, ou se se destinarem a fins comerciais. (Vide ADIN 4815)
Parágrafo único. Em se tratando de morto ou de ausente, são partes legítimas
para requerer essa proteção o cônjuge, os ascendentes ou os descendentes.

As pessoas descritas nesses dispositivos estão inseridas em um rol exemplifi-


cativo, segundo orientação da melhor doutrina.

NOME DA PESSOA NATURAL

Já que falamos um pouco de direitos de personalidade, vamos tecer algumas


considerações sobre o nome?
O nome goza de proteção no artigo 16 do CC, que, por sua vez, define que
“Toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendidos o prenome e o sobre-
nome.”

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O nome da pessoa natural é um dos elementos mais sensíveis ligados à iden-


tificação da pessoa. No nome é composto por alguns elementos, vejamos:
a) Prenome é o nome de batismo, nome próprio da pessoa, tem como fun-
ção a distinção de membros da própria família, podendo ser simples (João, José)
ou composto (Carlos Eduardo, Pedro Henrique). É escolhido pelos pais, mas a
Lei n. 6.015 /73, lei de registro público, estabelece que os oficiais do registro civil
não registrem nomes suscetíveis de expor ao ridículo os seus portadores. Assim,
quando os pais não se conformarem com a recusa do oficial, poderão recorrer ai
judiciário para solução do impasse.
b) Sobrenome, também conhecido como apelido familiar ou patronímico,
é o sinal que identifica a origem da pessoa, de forma a indicar sua filiação ou
estirpe, motivo pelo qual não pode ser escolhido livremente. É característico da
família sendo, assim, transmissível por sucessão.
Por fim, recorde-se que existe a possibilidade de aquisição de patronímico
familiar mediante um ato jurídico, como nos casos de adoção e casamento.
c) Agnome tem a função de diferenciar pessoas da mesma família que pos-
suem o mesmo prenome e sobrenome. São nomes do tipo Filho, Neto, Sobrinho,
ou ainda Segundo, Terceiro.
Cuidado: o pseudônimo, conhecido como codinome ou heterônimo, é esco-
lhido pelo próprio indivíduo, que escolhe tal designação para se identificar em
seu meio profissional.

Para sua prova, importante destacar três dispositivos do Código:

Art. 17. O nome da pessoa não pode ser empregado por outrem em pu-
blicações ou representações que a exponham ao desprezo público, ainda
quando não haja intenção difamatória.
Art. 18. Sem autorização, não se pode usar o nome alheio em propaganda
comercial.
Art. 19. O pseudônimo adotado para atividades lícitas goza da proteção que
se dá ao nome.

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Mas professora, é possível alterar o nome???


Sim, sim, é possível… O prenome pode ser alterado quando expõe o sujeito
ao ridículo (artigo 55 LRP); registrado com erro gráfico evidente (artigo 110 LRP);
quando houver fundada coação ou ameaça de testemunha (artigo 58 LRP); subs-
tituição por apelidos notórios (artigo 58 LRP); adoção (artigo 1627 CC); imotiva-
damente ao completar 18 anos pelo período de um ano decadencial (artigo 56
LRP).

Roberta Queiroz – Graduada em Direito pela Univer-


sidade Católica de Brasília em dezembro de 2005; Es-
pecialista em Direito Processual Civil pela Universidade
do Sul de Santa Catarina em novembro de 2009; Mes-
tranda em Direito pela Universidade Católica de Brasí-
lia, com enfoque em direito público; docente nas disci-
plinas de Direito Civil, Direito Processual Civil e Direito
Administrativo desde 2007; docente titular do curso de
Direito da Universidade Católica de Brasília; professora
de cursos preparatórios para concursos; advogada atuante na área de direito
privado e direito administrativo desde 2006.

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DIREITO INTERNACIONAL: PROFESSOR LUCIANO FAVARO

Olá Examinandos(as),
O artigo de hoje contém a 1ª parte das dicas de Direito Internacional. Bons
estudos!

DICAS – DIREITO INTERNACIONAL – PARTE I

1) Principais regras de conexão para solução de conflitos de lei no


Espaço:

1.1) Começo e fim da personalidade; nome; capacidade e direitos de família:


lei do domicílio;
1.2) Qualificar e reger as obrigações: lei do país em que as obrigações se
constituírem. Em síntese, trata-se do local da assinatura;

Destinando-se a obrigação a ser executada no Brasil e dependendo de


forma essencial, será esta observada, admitidas as peculiaridades da lei
estrangeira quanto aos requisitos extrínsecos do ato.

Fique atento(a): esta regra já foi cobrada várias vezes no Exame de Ordem.
Veja, por exemplo, a questão cobrada no VI Exame, aplicado em Duque de Caxias:
Uma sociedade brasileira, sediada no Rio de Janeiro, resolveu contratar uma
sociedade americana, sediada em Nova York, para realizar um estudo que lhe per-
mitisse expandir suas atividades no exterior, para poder vender seus produtos no
mercado americano. Depois de várias negociações, o representante da sociedade
americana veio ao Brasil, e o contrato de prestação de serviços foi assinado
no Rio de Janeiro. Não há no contrato uma cláusula de lei aplicável, mas alguns
princípios do UNIDROIT foram incorporados ao texto final. Por esse contrato, o

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estudo deveria ser entregue em seis meses. No entanto, apesar da intensa troca
de informações, passados 10 meses, o contrato não foi cumprido. A sociedade
brasileira ajuizou uma ação no Brasil, invocando a cláusula penal do contrato, que
previa um desconto de 10% no preço total do serviço por cada mês de atraso. A
sociedade americana, na sua contestação, alegou que a cláusula era inválida se-
gundo o direito americano. Conforme a Lei de Introdução às Normas do Direito
Brasileiro, qual é a lei material que o juiz deverá aplicar para solucionar a causa?
1. a) A lei brasileira, pois o contrato foi firmado no Brasil.
2. b) A lei americana, pois o réu é domiciliado nos Estados Unidos.
3. c) Os princípios do UNIDROIT, porque muitas cláusulas foram inspiradas
nessa legislação.
4. d) A Lex Mercatoria, porque o que rege o contrato internacional é a prática
internacional.
Explicando: no caso desta questão verifica-se que o contrato foi assinado no
Rio de Janeiro. Assim, a lei de direito material aplicável para reger o contrato, será
a lei brasileira. Isso não é pelo fato de a sociedade contratante ser brasileira, mas
sim pelo fato de o contrato ter sido celebrado no Brasil. Portanto, alternativa “a”
o gabarito.
No III Exame de Ordem aplicaram uma questão muito similar que cobrava a
mesma regra, a saber:
Em junho de 2009, uma construtora brasileira assina, na Cidade do Cabo,
África do Sul, contrato de empreitada com uma empresa local, tendo por ob-
jeto a duplicação de um trecho da rodovia que liga a Cidade do Cabo à capital
do país, Pretória. As contratantes elegem o foro da comarca de São Paulo
para dirimir eventuais dúvidas. Um ano depois, as partes se desentendem
quanto aos critérios técnicos de medição das obras e não conseguem chegar a
uma solução amigável. A construtora brasileira decide, então, ajuizar, na justiça
paulista, uma ação rescisória com o objetivo de colocar termo ao contrato. Com
relação ao caso hipotético acima, é correto afirmar que:
1. a) o Poder Judiciário brasileiro não é competente para conhecer e julgar a
lide, pois o foro para dirimir questões em matéria contratual é necessariamente o
do local onde o contrato é assinado.
2. b) o juiz brasileiro poderá conhecer e julgar a lide, mas deverá basear sua

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decisão na legislação sul-africana, pois os contratos se regem pela lei do local de


sua assinatura.
3. c) o juiz brasileiro poderá conhecer e julgar a lide, mas deverá basear sua
decisão na legislação brasileira, pois um juiz brasileiro não pode ser obrigado a
aplicar leis estrangeiras.
4. d) o juiz brasileiro poderá conhecer e julgar a lide, mas deverá se basear na
legislação brasileira, pois em litígios envolvendo brasileiros e estrangeiros aplica-se
a lex fori.
Explicando: verifique que, nesse caso, o contrato foi assinado na Cidade do
Cabo, AFS. Aqui há um elemento a mais, uma vez que se estipulou o foro com-
petente para analisar eventual litígio. O foro competente eleito foi o de São Paulo
(poderia ter sido eleito outro foro ou, até mesmo, uma arbitragem, por exemplo).
Uma vez levado o questionamento ao juiz de São Paulo, este deverá aplicar a
legislação sul-africana, pois o contrato foi celebrado na África do Sul. Interessante
que no XX Exame, a FGV cobrou uma questão similar a essa, alterando-se, uni-
camente, os dados.
Dessa questão poderia advir outro questionamento. Um juiz brasileiro pode
mesmo aplicar uma lei alienígena (estrangeira)? A resposta é sim. Vide o artigo
376 NCPC: “A parte que alegar direito municipal, estadual, ESTRANGEIRO ou
consuetudinário provar-lhe-á o teor e a vigência, se assim o juiz determinar”. Esse
artigo é de redação idêntica ao do artigo 336 CPC/1976.
Fique ligado(a): Admite-se foro de eleição pelas partes contratantes nos
contratos comerciais, uma vez que não há vedação na Lei de Introdução às Nor-
mas do Direito Brasileiro – LINDB.
Veja, inclusive, que nos termos do artigo 25 do novo CPC, “não compete à
autoridade judiciária brasileira o processamento e o julgamento da ação quando
houver cláusula de eleição de foro exclusivo estrangeiro em contrato internacio-
nal, arguida pelo réu na contestação, exceto se se tratar de uma cláusula de foro
vedada pelo ordenamento em virtude de ser competência exclusiva do Poder
Judiciário brasileiro (vide artigo 23 NCPC)
1.3) Ato ilícito extracontratual: lei do local da realização do ato ilícito

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1.4) Qualificar os bens e regular as relações a eles concernentes: lei do país


em que localizado o bem;
1.5) Impedimento dirimentes e formalidades da celebração de casamento
realizado no Brasil: lei do Brasil;
1.6) Regime de bens (legal ou convencional) / Invalidade do matrimônio:
obedece à lei do país em que tiverem os nubentes domicílio, e, se este for diver-
so, a do PRIMEIRO DOMICÍLIO CONJUGAL;
1.7) Sucessão por morte ou por ausência: obedece à lei do país em que do-
miciliado o defunto ou o desaparecido, qualquer que seja a natureza e a situação
dos bens.

Art. 5º, XXXI CF/88: a sucessão de bens de estrangeiros situados no país


será regulada pela lei brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos bra-
sileiros, sempre que não lhes seja mais favorável a lei pessoal do “de cujus”;

2) Competência Internacional:

A competência da justiça brasileira frente aos tribunais estrangeiros pode ser


concorrente ou exclusiva.
• Concorrente: artigo 21 e 22 NCPC. Na competência concorrente o juiz
brasileiro poderá conhecer e julgar a causa, mas nada impossibilita que
uma autoridade estrangeira julgue a demanda e posteriormente seja reco-
nhecida a sentença estrangeira em nosso ordenamento mediante a
homologação pelo STJ.

Art. 21. Compete à autoridade judiciária brasileira processar e julgar as


ações em que:
I – o réu, qualquer que seja a sua nacionalidade, estiver domiciliado no Brasil;
II – no Brasil tiver de ser cumprida a obrigação;

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III – o fundamento seja fato ocorrido ou ato praticado no Brasil.


Parágrafo único. Para o fim do disposto no inciso I, considera-se domiciliada
no Brasil a pessoa jurídica estrangeira que nele tiver agência, filial ou sucursal.
Art. 22. Compete, ainda, à autoridade judiciária brasileira processar e julgar
as ações:
I – de alimentos, quando:
1. a) o credor tiver domicílio ou residência no Brasil;
2. b) o réu mantiver vínculos no Brasil, tais como posse ou propriedade de
bens, recebimento de renda ou obtenção de benefícios econômicos;
II – decorrentes de relações de consumo, quando o consumidor tiver domicí-
lio ou residência no Brasil;
III – em que as partes, expressa ou tacitamente, se submeterem à jurisdição
nacional.
• Exclusiva: artigo 23 NCPC. Na competência exclusiva, o juiz brasileiro de-
verá conhecer e julgar a demanda e, caso uma demanda, com o mesmo
assunto, seja julgada no exterior, nenhum efeito poderá produzir no Brasil.
Entenda: ela não será homologada pelo STJ.

Art. 23. Compete à autoridade judiciária brasileira, com exclusão de qualquer


outra:
I – conhecer de ações relativas a imóveis situados no Brasil;
II – em matéria de sucessão hereditária, proceder à confirmação de testamen-
to particular e ao inventário e à partilha de bens situados no Brasil, ainda que o
autor da herança seja de nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio fora do
território nacional;
III – em divórcio, separação judicial ou dissolução de união estável, proceder
à partilha de bens situados no Brasil, ainda que o titular seja de nacionalidade
estrangeira ou tenha domicílio fora do território nacional.

Fique atento(a): este artigo tinha redação similar ao antigo artigo 89 CPC/76.
Foi, no entanto, inserido o inciso III. Esse inciso, inclusive, já foi objeto de cobrança

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no XX Exame. Veja a seguinte questão:


Lúcia, brasileira, casou-se com Mauro, argentino, há 10 anos, em elegante
cerimônia realizada no Nordeste brasileiro. O casal vive atualmente em Buenos
Aires com seus três filhos menores. Por diferenças inconciliáveis, Lúcia pretende
se divorciar de Mauro, ajuizando, para tanto, a competente ação de divórcio, a
fim de partilhar os bens do casal: um apartamento em Buenos Aires/Argentina e
uma casa de praia em Trancoso/Bahia. Mauro não se opõe à ação. Com relação
à ação de divórcio, assinale a afirmativa correta.
1. a) Ação de divórcio só poderá ser ajuizada no Brasil, eis que o casamento
foi realizado em território brasileiro.
2. b) Caso Lúcia ingresse com a ação perante a Justiça argentina, não poderá
partilhar a casa de praia.
3. c) Eventual sentença argentina de divórcio, para produzir efeitos no Brasil,
deverá ser primeiramente homologada pelo Superior Tribunal de Justiça.
4. d) Ação de divórcio, se consensual, poderá ser ajuizada tanto no Brasil
quanto na Argentina, sendo ambos os países competentes para decidir acerca da
guarda das criança e da partilha dos bens.
Explicando: Nos termos do artigo 23, III, do novo CPC, preconiza-se que
compete à autoridade judiciária brasileira, com exclusão de qualquer outra em
divórcio (…) proceder à partilha de bens situados no Brasil, ainda que o titular seja
de nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio fora do território nacional.
Assim, atinente aos bens localizados no Brasil, apenas (competência exclu-
siva) o juiz brasileiro será competente para proceder à partilha. Desse modo, a
alternativa “b” está correta.
O erro da alternativa “a” é que não há exclusividade no que tange ao ajui-
zamento da ação de divórcio em virtude de o casamento ter sido realizado em
território brasileiro.
No que tange à alternativa “c” tem-se que a sentença argentina de divórcio
não produzirá efeitos no Brasil caso se trate da partilha da casa de praia, uma vez
que, reitera-se, essa é competência exclusiva da autoridade judiciária brasileira
(art. 23, III, CPC). O mesmo erro é verificado na alternativa “d”.
Litispendência: Não indução litispendência a ação proposta perante tribunal
estrangeiro devido a soberania estatal (Art. 24 NCPC).

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Art. 24. A ação proposta perante tribunal estrangeiro não induz litispendência
e não obsta a que a autoridade judiciária brasileira conheça da mesma causa e
das que lhe são conexas, ressalvadas as disposições em contrário de tratados in-
ternacionais e acordos bilaterais em vigor no Brasil.
Parágrafo único. A pendência de causa perante a jurisdição brasileira não
impede a homologação de sentença judicial estrangeira quando exigida para
produzir efeitos no Brasil.
Continuaremos com nossas dicas de Direito Internacional no próximo encon-
tro que será no dia 26 de setembro. Até lá!

Luciano Favaro – Mestre em Direito Internacional


Econômico. Pós-graduado em Direito Civil e em Direi-
to do Trabalho. Professor universitário na graduação
em Direito e em cursos preparatórios para o Exame de
Ordem e Concursos em geral. Advogado na Empresa
Brasileira de Correios e Telégrafos.

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DIREITO PENAL:
PROFESSOR JOSÉ CARLOS

TEMA DE ATUALIZAÇÃO NOS CRIMES AMBIENTAIS: PERSISTE A NE-


CESSIDADE DA DUPLA IMPUTAÇÃO PARA RESPONSABILIZAÇÃO CRI-
MINAL DA PESSOA JURÍDICA?

Prezado candidato ao exame da OAB, hoje trabalharemos com a atualiza-


ção da jurisprudência no âmbito dos crimes ambientais perpetrados por pessoas
jurídicas. A teoria da dupla imputação fora escolhida em razão da mudança de
entendimento nos tribunais superiores.
O assunto é atual, polêmico e instigante!
Primeiramente, cabe esclarecer que o coração da tutela ambiental no ordena-
mento jurídico pátrio é art. 225 da Constituição Federal de 1988. Prevê o referido
artigo que:
“Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,
bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, im-
pondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e pre-
servá-lo para as presentes e futuras gerações.

• 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:


I – preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo
ecológico das espécies e ecossistemas;
(…)
III  – definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus
componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supres-
são permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que compro-
meta a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;
(…)
VII – proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que co-
loquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou
submetam os animais a crueldade”.

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Percebe-se que a Constituição de 1988 estabelece que as condutas e ativida-


des consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físi-
cas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente
da obrigação de reparar os danos causados (artigo 225, §3º, CF).
No que pertine a legislação ordinária, os crimes ambientais estão previstos na
Lei n. 9.605 de 1998. O artigo 2º da Lei do Ambiente estabelece que:
“Quem, de qualquer forma, concorre para a prática dos crimes previstos nes-
ta lei, incide nas penas a estes cominadas, na medida da sua culpabilidade, bem
como o diretor, o administrador, o membro de conselho e de órgão técnico, o
auditor, o gerente, o preposto ou mandatário de pessoa jurídica, que, sabendo
da conduta criminosa de outrem, deixar de impedir a sua prática, quan-
do podia agir para evitá-la”.
CUIDADO: O diretor, administrador, conselheiro, auditores, gerentes, prepos-
tos e mandatários de Pessoa jurídica, respondem por omissão nos crimes
ambientais. Veja que o legislador criou o dever jurídico de agir e de evitar cri-
mes ambientais, o que torna a omissão dessas pessoas penalmente relevante,
nos termos do art. 13, §2º, a, CP.
DICA DO JC: os requisitos para responsabilização por omissão são: A
ciência da existência do crime e o poder de evitar a pratica do crime.
Destaca-se que a lei em análise apresenta coerência e aspecto positivo, pois
seguindo uma tendência moderna do Direito Penal, superou-se o caráter mera-
mente individual da responsabilidade penal até então vigente. Hodiernamente,
a pessoa jurídica poderá ser sujeito ativo da relação processual penal nos crime
contra o meio ambiente.
Ademais, via de regra, o verdadeiro delinquente ecológico não é a
pessoa física, mas a pessoa jurídica que na maioria das vezes objetiva
tão somente o lucro, sem preocupar-se com a degradação ambiental e a
saúde das pessoas.
Sobre o tema, traz-se à baila um dos maiores desastres ambientais do mundo,
o rompimento da barragem da empresa Samarco em Mariana, Minas Gerais. Nes-
te acontecimento, cerca de vinte e cinco mil piscinas olímpicas de lama composta

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por rejeitos minerais cobriram vilarejos da cidade mineira, mataram dezenas de


pessoas e impactaram centenas de desalojados de suas casas. Os impactos sobre
o Rio Doce foram imensuráveis.
Ora, por tais razões, há a necessidade de uma efetiva responsabilização crimi-
nal da pessoa jurídica. A legislação ordinária tratou do tema no parágrafo único
do art. 3º da Lei dos Crimes Ambientais, vejamos:
Art. 3º- As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa,
civil e penalmente conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a
infração seja cometida por decisão de seu representante legal ou con-
tratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua en-
tidade.
Parágrafo único. A responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a
das pessoas físicas, autoras, co-autoras ou partícipes do mesmo fato.
Observa-se que o legislador (também na visão da jurisprudência) adotou o
“Societas Delinquere Potest”, pois a pessoa jurídica pode ser sujeito ativo de crime
ambiental.
O fundamento está respaldado na chamada teoria da realidade ou da per-
sonalidade real, uma vez que as pessoas jurídicas são entes reais, não são meras
ficções jurídicas ou meras abstrações legais. Assim, a pessoa jurídica possui
capacidade e vontade próprias, independentes das pessoas físicas que as
compõem.
Os requisitos para que ocorra a responsabilidade penal da pessoa jurídica nos
crimes contra o meio ambiente são:
1. a) Deve a decisão pela prática do crime partir do representante legal ou do
contratual ou de um órgão colegiado da pessoa jurídica;
2. b) Que a infração seja praticada no interesse ou benefício da pessoa jurídica.
CUIDADO: A Jurisprudência dos tribunais superiores sempre exigia
que a ação penal contra a pessoa jurídica por crime ambiental também
tivesse a imputação simultânea da pessoa física responsável.

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Na visão antiga dos tribunais, somente haveria a responsabilidade


penal da pessoa jurídica em crimes ambientais se houvesse também a
imputação simultânea do ente moral e da pessoa física que atua em seu
nome ou em seu benefício.
Trata-se da aplicação da teoria da dupla imputação que consiste no seguinte:
impossível imputar o delito ambiental exclusivamente à pessoa jurídica, pois por
trás do ato criminoso sempre existe uma pessoa física. Logo, impõe-se
descobri-la para que faça parte (necessariamente) do polo passivo da ação
penal.
Nesse viés, a denúncia jamais seria recebida se unicamente imputasse o crime
à pessoa jurídica.

Esse era o antigo posicionamento da jurisprudência dos tribunais


superiores, uma vez que houve mudança de entendimento, veja-
mos:

A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal, no julgamento do RE 548.181/


PR, no ano de 2013, de relatoria da Ministra Rosa Weber, decidiu que o art. 225,
§ 3º, da Constituição Federal não condiciona a responsabilização penal da
pessoa jurídica por crimes ambientais à simultânea persecução penal da
pessoa física em tese responsável no âmbito da empresa.
O referido Recurso Extraordinário, interposto pelo Ministério Público Federal,
com fundamento na alínea “a” do inciso III do art. 102 da Constituição Federal, con-
tra acórdão da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, que ao julgar o Recurso
em Mandado de Segurança n. 16.696/PR, determinou o trancamento de ação pe-
nal movida contra a Petrobrás por crime ambiental, uma vez que foi excluída a im-
putação de condutas criminosas aos dirigentes responsáveis. O fundamento seria a
necessidade da dupla imputação – a responsabilização penal da pessoa jurídica só
poderia existir se houvesse a imputação simultânea da pessoa física.

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MUDANÇA DE ENTENDIMENTO: a Ministra relatora Rosa Weber, segundo


seu voto, destacou que o art. 225, § 3º, da Constituição Federal não condiciona
a responsabilização penal da pessoa jurídica por crimes ambientais à simultânea
persecução penal da pessoa física em tese responsável no âmbito da empresa.
A norma constitucional não impõe a necessária dupla imputação.
Para a ilustre Ministra, as organizações corporativas se caracterizam, atual-
mente, pela descentralização e distribuição de atribuições e responsabilidades,
sendo inerentes, a esta realidade, as dificuldades para imputar o fato ilícito a uma
pessoa concreta.
Sustentou ainda que condicionar a aplicação do art. 225, § 3º, da Car-
ta Política a uma concreta imputação também a pessoa física implicaria
indevida restrição da norma constitucional, uma vez que a intenção do
constituinte originário foi expressa, não apenas no sentido de ampliar
o alcance das sanções penais, mas também de evitar a impunidade pe-
los crimes ambientais frente às imensas dificuldades de individualização
dos responsáveis internamente às corporações, além de reforçar a tutela
do bem jurídico ambiental.
Pelo exposto, restou abandonada a teoria da dupla imputação ne-
cessária, eventual ausência de descrição pormenorizada da conduta dos
gestores da empresa não resulta no esvaziamento do elemento volitivo
do tipo penal (culpa ou dolo) em relação à pessoa jurídica.
DICA DO JC: Atualmente, não se pode subordinar a responsabilização
da pessoa jurídica à responsabilização conjunta e cumulativa das pesso-
as físicas envolvidas.
Em suma, é possível a responsabilização penal da pessoa jurídica por
delitos ambientais independentemente da responsabilização concomi-
tante da pessoa física que agia em seu nome.
Por fim, segundo essa nova visão do STF, a Lei de Crimes Ambientais deve ser
interpretada à luz dos princípios do desenvolvimento sustentável e da prevenção,
indicando o acerto da análise que a doutrina e a jurisprudência têm conferido à
parte inicial do art. 54, da Lei n. 9.605/1998, de que a mera possibilidade de cau-
sar dano à saúde humana é suficiente para configurar o crime de poluição, dada
a sua natureza formal ou, ainda, de perigo abstrato.

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As decisões do STJ seguem a jurisprudência do pretório excelso sobre o tema.


A conduta dos dirigentes tem que ser comprovadamente ilícita, mas a falta desta
comprovação não extingue por completo a ação penal.
Bons estudos e mantenha-se atualizado!
Avante!

José Carlos – é professor universitário e advogado,


com especialização em Direito Penal, Direito Processu-
al Penal e Direito Ambiental e Recursos Hídricos. Dou-
torando em Direito Penal pela Universidade de Buenos
Aires (UBA). Professor Titular de Direito Penal e Direito
Processual Penal na Universidade Católica de Brasília
(UCB). Professor Titular das Faculdades Integradas da
União Educacional do Planalto Central (FACIPLAC) nas
áreas de Direito Penal, Processo Penal e Laboratório de
Prática Jurídica. Participante de bancas examinadoras de Concursos Públicos.

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DIREITOS HUMANOS: PROFESSOR LUCIANO FAVARO

Olá, prezada(o) aluna(o),


Hoje iniciamos nossas dicas de Direitos Humanos. Nossas dicas serão dividi-
das em 3 dias. Tal qual fizemos na dica de Direito Internacional, vamos passando
as dicas e resolvendo algumas questões dos últimos exames, ok!

1) Gerações de Direitos Humanos: como se sabe, os Direitos Humanos


são divididos em gerações ou dimensões.
• A primeira geração (conhecida como direitos de liberdade ou negativos)
trata dos direitos civis e políticos.
• A segunda geração (conhecida como direitos de igualdade ou positivos)
trata dos direitos econômicos, sociais e culturais.
• A terceira geração (conhecida como direitos de solidariedade/fraternidade)
trata dos direitos transindividuais (difusos e coletivos) como, por exemplo,
o direito ao meio ambiente, direitos do consumidor.

Além dessas, outras gerações têm sido estudadas, a exemplo da quarta gera-
ção (direito a bioética e limites da manipulação genética); quinta geração (direito
à paz em toda a humanidade), entre outros.
Em recente exame aplicado pela FGV, cobraram a seguinte questão:

O processo histórico de afirmação dos direitos humanos foi inscrito em im-


portantes documentos, tais como a Declaração Universal dos Direitos do
Homem e do Cidadão de 1789 ou mesmo a Constituição Mexicana de 1917.
Desse processo é possível inferir que os Direitos Humanos são constituídos
por, ao menos, duas dimensões interdependentes e indivisíveis. São elas:
a) Direitos Naturais e Direitos Positivos.
b) Direitos Civis e Direitos Políticos.
c) Direitos Civis e Políticos e Direitos Econômicos e Sociais.
d) Direito Público e Direito Privado.
Nessa questão cobrou-se as gerações de Direitos Humanos. A Declaração

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Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, tratou dos direitos de


1ª geração (denominado na questão de “dimensão). Nela estavam previstos, por-
tanto, direitos civis e políticos. Já a Constituição Mexicana, de 1917, foi o marco
dos direitos humanos de 2ª geração. Nela se previu direitos econômicos, sociais
e culturais. Assim, o gabarito dessa questão é a alternativa “b”.
Cuidado para não confundir! A referida Declaração não se confunde com a
Declaração Universal dos Direitos Humanos – DUDH, de 1948, que compreendeu
direitos de 1ª e 2ª gerações. Trataremos sobre a DUDH na segunda parte das di-
cas de Direitos Humanos, que será dia 26 de setembro.
2) Tratados de Direitos Humanos: Nos termos do artigo 5º, § 3º, CF/88, os
tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprova-
dos, em cada Casa do Congresso Nacional, em 2 turnos, por 3/5 dos votos dos
respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais. Esse
CUIDADO! Este quorum é mínimo. Assim, por exemplo, se uma questão falar
de um quorum de 2/3, o tratado também terá status de emenda constitucional,
pois 2/3 é superior a 3/5.
Você já parou para pensar o porquê de os tratados de direitos humanos apro-
vados por esse quorum terem status de emenda constitucional? É que esse quo-
rum é o mesmo para aprovação de emenda constitucional (Leia o artigo 60, § 2º
CF/88). Daí a equivalência hierárquica.
A diferença é que a emenda constitucional é promulgada pelas Mesas da
Câmara dos Deputados e do Senado Federal (art. 60, § 3º CF/88), ao passo que
os tratados de direitos humanos são promulgados pelo Presidente da República,
mediante Decreto, conforme práxis da diplomacia brasileira e entendimento do
Supremo Tribunal Federal.
3) Incidente de deslocamento de competência: outro assunto muito co-
brado nos exames de ordem é acerca do Incidente de Deslocamento de Compe-
tência – IDC. A previsão do IDC foi inserida na CF/88 pela EC 45/2004. Por essa
EC inseriu-se o § 5º no artigo 109 CF/88.
Assim, com a finalidade de assegurar o cumprimento de obrigações decor-
rentes de tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja par-

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te, é possível o deslocamento de competência para a Justiça Federal quando se


verificar grave violação de direitos humanos.
Mas atenção! o pedido deve ser feito exclusivamente pelo Procurador-Geral
da República que deverá suscitar o IDC perante o Superior Tribunal de Justiça.
O pedido deverá ser feito em qualquer fase do inquérito ou processo.
Veja uma questão recente aplicada no XVIII Exame de Ordem que cobrou
acerca do IDC:

O STJ decidiu, no dia 10/12/2014, que uma causa relativa à violação de


Direitos Humanos deve passar da Justiça Estadual para a Justiça Federal,
configurando o chamado Incidente de Deslocamento de Competência. A
causa trata do desaparecimento de três moradores de rua e da suspeita de
tortura contra um quarto indivíduo. Desde a promulgação da Emenda 45,
em 2004, essa é a terceira vez que o STJ admite o Incidente de Desloca-
mento de Competência. De acordo com o que está expressamente previsto
na Constituição Federal, a finalidade desse Incidente é o de:
a) garantir o direito de acesso à Justiça.
b) assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de tratados inter-
nacionais de Direitos Humanos dos quais o Brasil seja parte.
c) combater a morosidade de órgãos da Administração Pública e do Poder
Judiciário.
d) combater a corrupção em entes públicos dos Estados e do Distrito Fe-
deral.

Aqui, praticamente, cobrou-se a literalidade do artigo 109, § 5º da CF/88. Des-


se modo, o gabarito é a alternativa “b”.
Uma outra questão que cobrou sobre o IDC foi a aplicada no XV Exame de
Ordem, a saber:

Em maio de 1996, o Brasil instituiu seu primeiro Programa Nacional de


Direitos Humanos (PNDH 1). Na Introdução do PNDH 2, adotado em
maio de 2002, vem escrito o seguinte: “Entre as principais medidas legis-
lativas que resultaram de proposições do PNDH figuram… a transferência

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da justiça militar para a justiça comum dos crimes dolosos contra a vida
praticados por policiais militares (Lei n. 9.299/96), que permitiu o indicia-
mento e o julgamento de policiais militares em casos de múltiplas e graves
violações como os do Carandiru, Corumbiara e Eldorado dos Carajás; a
tipificação do crime de tortura (Lei n. 9.455/97), que constituiu marco re-
ferencial para o combate a essa prática criminosa no Brasil; e a construção
da proposta de reforma do Poder Judiciário, na qual se inclui, entre outras
medidas destinadas a agilizar o processamento dos responsáveis por vio-
lações, a chamada ‘federalização’ dos crimes de direitos humanos.”

Em relação ao último ponto descrito, é correto dizer que a federalização


contra os crimes de direitos humanos pode ocorrer apenas no seguinte
caso:
a) havendo indício de violação de direitos humanos previstos na legislação
nacional ou nos tratados internacionais.
b) havendo grave violação de direitos humanos previstos nos tratados in-
ternacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja parte.
c) havendo violação das leis protetivas dos direitos humanos, tais quais as
leis citadas na Introdução do PNDH 2.
d) havendo grave violação dos direitos humanos previstos na Constituição
Federal.

Alguns examinandos ficaram com dúvidas nessa questão. Primeiro pela exten-
são do texto e por juntar a questão do IDC com os PNDHs – Programas Nacionais
de Direitos Humanos. A resposta, no entanto, foi simples e cobrou, novamente, a
literalidade do artigo 109, § 5º (alternativa, portanto, “b”).
Não se espante quando tratar dos PNDHs. São programas instituídos no Brasil
para a proteção dos Direitos Humanos. Desses programas podem advir altera-
ções legislativas, tal qual a do IDC que, inicialmente, foi prevista no PNDH-2 in-
formado no comando da questão aplicada no XV Exame de Ordem. Trataremos
dos PNDHs na próxima dica.

4) Política Nacional de Direitos Humanos e os Programas Nacio-

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nais de Direitos Humanos

Na Conferência Mundial sobre Direitos Humanos (Conferência de Viena, de


1993), orientou-se que os países membros da ONU constituíssem programas na-
cionais de Direitos Humanos mediante uma política nacional de Direitos Huma-
nos.
O Brasil foi um dos primeiros países a promover essa formulação. Atualmente,
a política nacional de Direitos Humanos compreende 3 Programas, a saber:
• PNDH-1, 1996, que enfatizou os direitos civis e políticos;
• PNDH-2, 2002, que incorporou os direitos econômicos, sociais, culturais e
ambientais;
• PNDH-3, 2010, que tem como diretriz a garantia da igualdade na diversi-
dade, com respeito às diferentes crenças, liberdade de culto e garantia da
laicidade do Estado brasileiro, prevista na Constituição Federal.

Finalidade do PNDH-3: dar continuidade à integração e ao aprimoramen-


to dos mecanismos de participação existentes, bem como criar novos meios de
construção e monitoramento das políticas públicas sobre Direitos Humanos no
Brasil.
IMPORTANTE: as propostas previstas nos Programas não possuem força de
lei. Tratam-se, na verdade, de normas programáticas.
Fique atenta(o)! No PNDH-3 incorporou-se resoluções da 11ª Conferência
Nacional de Direitos Humanos e propostas aprovadas nas mais de 50 conferên-
cias temáticas promovidas desde 2003. Essas Conferências trataram dos seguin-
tes assuntos: segurança alimentar, educação, saúde, habitação, igualdade racial,
direitos da mulher, juventude, crianças e adolescentes, pessoas com deficiência,
idosos, meio ambiente.
A 11ª Conferência Nacional dos Direitos Humanos foi realizada em 2008, coin-
cidindo com os 60 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos. O tema
dessa 11ª Conferência foi: “Democracia, Desenvolvimento e Direitos Humanos:
superando as desigualdades”.
Objetivo principal da Conferência: constituir um espaço de participação de-

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mocrática para revisar e atualizar o PNDH, com o desafio de tratar de forma in-
tegrada as múltiplas dimensões dos Direitos Humanos.
O PNDH-3 foi aprovado por intermédio do Decreto 7.037, de 21 de dezembro
de 2009, estando estruturado em 6 eixos orientadores e 25 Diretrizes:
• Interação Democrática entre Estado e Sociedade Civil (Diretrizes 1 a 3);
• Desenvolvimento e Direitos Humanos (Diretrizes 4 a 6);
• Universalizar Direitos em um Contexto de Desigualdades (Diretrizes 7 a 10);
• Segurança Pública, Acesso à Justiça e Combate à Violência (Diretrizes 11 a 17);
• Educação e Cultura em Direitos Humanos (Diretrizes 18 a 22);
• Direito à Memória e à Verdade (Diretrizes 23 a 25).

As ações propostas nesses Eixos são consideradas transversais, uma vez que
são executadas por vários ministérios em cooperação, inclusive, com a sociedade
civil.
Observação: as metas, prazos e recursos necessários para a implementação
do PNDH-3 serão definidos e aprovados em Planos de Ação de Direitos Huma-
nos bianuais.
Por intermédio do PNDH-3 institui-se o Comitê de Acompanhamento e
Monitoramento que tem por finalidade:

I – promover a articulação entre os órgãos e entidades envolvidos na imple-


mentação das suas ações programáticas; II – elaborar os Planos de Ação dos
Direitos Humanos; III – estabelecer indicadores para o acompanhamento,
monitoramento e avaliação dos Planos de Ação dos Direitos Humanos; IV –
acompanhar a implementação das ações e recomendações; e V – elaborar
e aprovar seu regimento interno.

Observações sobre o Comitê:


• o Comitê poderá constituir subcomitês temáticos para a execução de suas
atividades, que poderão contar com a participação de representantes de
outros órgãos do Governo Federal.
• 2) O Comitê convidará representantes dos demais Poderes, da sociedade

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civil e dos entes federados para participarem de suas reuniões e atividades.


• 3) Os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e os órgãos do Poder Le-
gislativo, do Poder Judiciário e do Ministério Público, serão convidados a
aderir ao PNDH-3.

Por hoje são essas as dicas! Continuaremos com nossas dicas de Direitos Hu-
manos no próximo encontro que será no dia 26 de setembro. Até lá!

Luciano Favaro – Mestre em Direito Internacional


Econômico. Pós-graduado em Direito Civil e em Direi-
to do Trabalho. Professor universitário na graduação
em Direito e em cursos preparatórios para o Exame de
Ordem e Concursos em geral. Advogado na Empresa
Brasileira de Correios e Telégrafos.

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DIREITO PENAL – PROFESSOR JOSÉ CARLOS

Prezados candidatos ao exame da OAB, hoje passaremos algumas dicas sobre


o importantíssimo Princípio da Insignificância (criminalidade de bagatela) e sua
aplicabilidade pelos tribunais brasileiros.
O princípio da insignificância é originário do Direito Romano, e foi reintrodu-
zido no sistema penal por Claus Roxin, na Alemanha, no ano de 1964. Fundado
no brocardo minimis non curat praetor.
A aplicabilidade do postulado, cuja utilização tem sido admitida, em inúmeros
casos, pelos tribunais pátrios tem a seguinte ideia: não é razoável que o direito
penal e todo o aparelho estatal da persecução penal movimentem-se no
sentido de atribuir relevância a uma lesão insignificante.
Observe-se que o princípio da insignificância deve ser analisado em conexão
com os postulados da fragmentariedade, subsidiariedade e da intervenção míni-
ma do Estado em matéria penal – tem o sentido de excluir ou de afastar a pró-
pria tipicidade penal, examinada na perspectiva de seu caráter material.
No ano de 2009, em julgamento realizado pela Segunda Turma do Supremo
Tribunal Federal, os ministros aplicaram o princípio da insignificância a uma ten-
tativa de furto de cinco barras de chocolate em um supermercado. No presente
caso, o Superior Tribunal de Justiça havia analisado o caso limitando-se a extin-
guir a punibilidade do acusado, todavia o STF, seguindo voto do relator do
processo, ministro Celso de Mello, reformou a decisão para absolver o
réu e extinguir a ação penal porque, segundo ele, a conduta sequer po-
deria ser considerada crime.
O fundamento foi o seguinte: a extinção da punibilidade por si só não exclui
os efeitos processuais, ou seja, a tentativa de furto ficaria registrada e poderia
pesar contra o acusado no futuro, na qualidade de maus antecedentes. Ao ser
absolvido, o acusado é considerado primário caso se torne réu em outra ação.

CUIDADO: O VALOR NÃO É O ÚNICO PARÂMETRO – segundo o STF é

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necessária, na aferição do relevo material da tipicidade penal, a presença


dos seguintes requisitos:
(a) a mínima ofensividade da conduta do agente;
(b) a nenhuma periculosidade social da ação;
(c) o reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento, e;
(d) a inexpressividade da lesão jurídica provocada.

Nessa linha, o princípio possui a base em valores de política criminal, funcio-


nando como causa de exclusão da tipicidade material do crime.
Nesse viés, o Supremo Tribunal Federal tem utilizado frequentemente o co-
nhecido Princípio da Bagatela ou Insignificância para extinguir ações penais e
liberar uma boa quantidade de presos no país. O STF vem concedendo Habeas
Corpus alegando a existência de tal princípio, por exemplo, no julgamento de
uma tentativa de furto de 10 brocas, 2 cadeados, 2 cuecas, 3 sungas e 6 bermu-
das de um hipermercado em Natal, no Rio Grande do Norte.
O ministro Gilmar Mendes, em julgamento sobre o tema, ressaltou que tal
princípio deve ser analisado “como importante instrumento de aprimoramento
do Direito Penal, sendo paulatinamente reconhecido pela jurisprudência dos tri-
bunais superiores, em especial pelo Supremo Tribunal Federal”.
Outro Habeas Corpus concedido foi para um rapaz que teria furtado uma
bicicleta no valor de R$ 120,00 (cento e vinte reais), a qual foi devolvida ao dono,
ressarcindo o prejuízo. Também foi considerada como infração insignificante o
não recolhimento de tributos de importação no valor de R$ 1.645,28 (Um mil
seiscentos e quarenta e cinco reais e vinte e oito centavos).
Cabe destacar que o reduzido valor patrimonial do objeto material
não autoriza, por si só, o reconhecimento dos crimes de bagatela. De-
ve-se analisar o crime e suas consequências em cada caso concreto – as
circunstâncias do fato e os reflexos da conduta aparentemente ilícita no
âmbito social.

Nesta linha, o STJ exige também requisitos de ordem subjetiva: a im-

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portância do objeto material do crime à vítima, as condições econômi-


cas do ofendido, as circunstâncias e o resultado do delito.
Em suma, deve-se analisar subjetivamente, no âmbito do caso concreto, se
houve uma relevante lesão.
Outra questão interessante diz respeito a não aplicabilidade do postulado
para os casos de réus reincidentes. Sobre o tema, a 2ª Câmara Criminal do Tri-
bunal de Justiça de Santa Catarina manteve uma condenação da comarca da
Capital e negou a aplicação do princípio da bagatela para dupla já reincidente em
crimes contra o patrimônio. Na oportunidade dois réus foram condenados por
tentativa de furto qualificado.
De acordo com a denúncia, a dupla subtraiu um carrinho de mão e uma saca
de 50 kg de cimento. Ambos, em recurso pediram a aplicação do princípio da
insignificância.
Segundo o Tribunal de Justiça de Santa Catarina, para o reconheci-
mento do crime de bagatela na hipótese de furto, além do valor ínfimo
do bem, faz-se mister que o agente preencha outros requisitos, dentre
os quais não possuir antecedentes. No presente caso, a Câmara não deu
provimento ao recurso, uma vez que os apelantes praticavam habitual-
mente delitos contra o patrimônio, como revelaram suas folhas de ante-
cedentes, . (Apel. Crim. 2010.085289-5).
Inteligentemente, sobre a reincidência, o TRF da 1º Região, em algumas deci-
sões que envolvem o delito de descaminho impõe condições para aplicação
do princípio, vejamos:
“Se o comércio de mercadorias importadas ilegalmente constitui atividade
habitual do agente, não há que se falar em aplicação do princípio da insignificân-
cia penal que revela o crime de descaminho quando pequena a lesão imposta
ao fisco, sob pena de converter-se em medida de incentivo à prática do
delito” RT 763/679.

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O STF possui o entendimento que mesmo nos crimes contra a Admi-


nistração Pública é admissível a aplicação da insignificância penal.

Sobre o tema, vejamos o STF/HC 96376 / PR – Julgamento em 31/08/2010:

EMENTA: Habeas Corpus. Descaminho. Imposto não pago na importação


de mercadorias. Irrelevância administrativa da conduta. Parâmetro: art. 20 da
Lei n. 10.522/02. Incidência do princípio da insignificância. Atipicidade da
conduta. Ordem concedida. A importação de mercadoria, iludindo o paga-
mento do imposto em valor inferior ao definido no art. 20 da Lei n. 10.522/02,
consubstancia conduta atípica, dada a incidência do princípio da insignificân-
cia. O montante de impostos supostamente devido pelo paciente (R$ 189,06)
é inferior ao mínimo legalmente estabelecido para a execução fiscal, não cons-
tando da denúncia a referência a outros débitos congêneres em seu desfavor.
Ausência, na hipótese, de justa causa para a ação penal, pois uma
conduta administrativamente irrelevante não pode ter relevância cri-
minal. Princípios da subsidiariedade, da fragmentariedade, da neces-
sidade e da intervenção mínima que regem o Direito Penal. Inexistên-
cia de lesão ao bem jurídico penalmente tutelado. Precedentes. Ordem
concedida para o trancamento da ação penal de origem. (Destacamos).

Na mesma linha, o julgamento do HC 77.003-PE:

Por falta de justa causa, a Turma deferiu habeas corpus para trancar ação
penal proposta contra ex-prefeita que fora denunciada pela prática de crime
de responsabilidade (DL 201/67, art. 1º, XIII) por ter contratado, de forma
isolada e por curto período, uma pessoa para a atividade de “gari”, sem a
devida observância da exigência do concurso para provimentos de cargo
público. Com base nos princípios da razoabilidade e da proporcio-
nalidade, entendeu-se configurada a insignificância jurídica do ato
tido como criminoso. HC 77.003-PE, rel. Min. Marco Aurélio, 16.6.98.
Por fim, destaca-se que o Superior Tribunal de Justiça possui várias decisões
em sentido contrário, defendendo a inadmissibilidade do princípio em estudo, no

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tocante aos crimes contra a Administração Pública.


Na maioria das suas decisões, o STJ sustenta que é inaplicável o princípio da
insignificância nos crimes contra a Administração Pública, ainda que o valor da
lesão seja ínfimo, uma vez que o legislador buscou resguardar não somente o
aspecto patrimonial, mas a moral e a probidade da Administração Pública.
Em suma, para o Tribunal da Cidadania, nos referidos crimes existiria ofensa à
moralidade administrativa, o que descaracterizaria o requisito do reduzidíssimo
grau de reprovabilidade do comportamento.

Bons estudos e sucesso na prova da OAB!

José Carlos – Professor Universitário e Advogado,


com especialização em Direito Penal, Direito Processu-
al Penal e Direito Ambiental e Recursos Hídricos. Dou-
torando em Direito Penal pela Universidade de Buenos
Aires (UBA). Professor Titular de Direito Penal e Direito
Processual Penal na Universidade Católica de Brasília
(UCB). Professor Titular das Faculdades Integradas da
União Educacional do Planalto Central (FACIPLAC) nas
áreas de Direito Penal, Processo Penal e Laboratório de
Prática Jurídica. Participante de bancas examinadoras de Concursos Públicos.

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DIREITO CONSTITUCIONAL: PROFESSOR LUCIANO DUTRA

Olá, meus amigos!


Quem vos fala é o Prof. Luciano Dutra. Estaremos doravante estudando juntos
o Direito Constitucional, trazendo temas importantes para o seu sucesso no XXI
Exame de Ordem.
Cabe-nos falar sobre Controle de Constitucionalidade; Nacionalidade; Direitos
Políticos e Partidários; Ações Constitucionais; Organização do Estado; Organi-
zação dos Poderes; Defesa do Estado e das Instituições Democráticas e Ordem
Econômica e Financeira. Nessa esteira, traremos agora 15 dicas de Controle de
Constitucionalidade, que é um tema certo no seu Exame. Portanto, vamos lá.

1. Inicialmente, o que é o controle de constitucionalidade? É um conjunto de


atos tendentes a garantir a supremacia formal da Constituição. Vale dizer, desti-
na-se a averiguar a compatibilidade vertical das demais normas jurídicas e atos
do Poder Público com o seu fundamento de validade – a Constituição Federal.
2. Por sua vez, a inconstitucionalidade é a ofensa ao texto constitucional, que
se perfaz por uma ação ou por uma omissão. A inconstitucionalidade por ação
diz respeito à aferição de compatibilidade entre normas jurídicas gerais e abstra-
tas elaboradas pelo Estado, notadamente pelo Poder Legislativo, e o seu parâme-
tro de controle – a Constituição Federal. Pressupõe um fazer inconstitucional do
Poder Público. Já a inconstitucionalidade por omissão decorre de uma inação do
Estado ofensiva à Constituição Federal, uma vez que compete ao Poder Público
cumprir os ditames constitucionais obrigatórios.
3. A inconstitucionalidade pode ser material ou formal. Ocorre a inconstitucio-
nalidade material quando há um conflito de conteúdo em relação à Constituição.
De outra banda, ocorre a inconstitucionalidade formal quando o devido proces-
so legislativo constitucional for desrespeitado. O conteúdo da norma pode até
ser compatível com a Constituição, mas alguma formalidade exigida pelo Texto
Maior, no tocante ao trâmite legislativo, foi desobedecida.
4. A inconstitucionalidade pode, ainda, ser total ou parcial. Quando, em de-
corrência de uma inconstitucionalidade, uma lei é expulsa integralmente do orde-

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namento jurídico ocorre a inconstitucionalidade total. Por outro lado, para efeitos
de controle de constitucionalidade, podem os atos normativos sofrer um parce-
lamento. Neste caso, apenas a parcela viciada da disposição infraconstitucional
será fulminada, ocorrendo, na espécie, a inconstitucionalidade parcial.
5. Quanto ao momento, o controle de constitucionalidade pode ser preventivo
ou repressivo. No controle preventivo, fiscaliza-se a validade do projeto de lei com
o fim de se evitar que seja inserida no ordenamento jurídico uma norma incompa-
tível com a Constituição. Já no controle repressivo, fiscaliza-se a validade de uma
norma já inserida no ordenamento jurídico. Procura-se expurgar do Direito Posto
norma que contraria formal e/ou materialmente o texto constitucional.
6. No Brasil, o Poder Judiciário atua em dois modelos de controle de constitucio-
nalidade: o modelo concentrado e o modelo difuso. O Poder Judiciário atuará no
modelo concentrado quando somente o órgão de cúpula do Poder Judiciário – no
caso, o Supremo Tribunal Federal – puder realizar o controle de constitucionalidade
das leis e dos atos normativos. Por outro lado, no modelo difuso, todos os órgãos
do Poder Judiciário, inclusive o próprio STF, podem realizar o controle de constitu-
cionalidade das leis e dos atos normativos.
7. Vamos, a partir de agora, aprofundar no controle difuso de constitucionali-
dade. No que tange à legitimação ativa, esta é ampla, uma vez que qualquer das
partes (autor e réu) poderá levantar a questão constitucional, bem assim o membro
do Ministério Público que oficie no feito ou, ainda, o próprio magistrado de ofício.
8. Por seu turno, quanto à competência, qualquer juiz ou tribunal do País dis-
põe de competência para declarar a inconstitucionalidade das leis e dos atos nor-
mativos no controle difuso. No entanto, quando o processo chega às instâncias
superiores, um órgão fracionário do tribunal não possui esta competência, já que
se deve respeitar o princípio da reserva de plenário prescrito no art. 97, da CF.
9. Os efeitos da decisão em controle difuso de constitucionalidade realizado
por juízes monocráticos e tribunais, inclusive o próprio STF, são inter partes (al-
cançan-do apenas o autor e o réu) e ex tunc (retroativos).
Vamos começar agora a tratar do controle concentrado de constitucionalida-
de. Vamos falar inicialmente da ação direta de inconstitucionalidade (ADI), que
tem por fim retirar do ordenamento jurídico uma lei ou ato normativo federal ou
estadual que desrespeita a Constituição Federal.
11. Quem são os legitimados ativos para propor ADI? O art. 103, incs. I a IX,
nos dá a resposta, vamos lá:

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Art. 103. Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a ação de-


claratória de constitucionalidade:
I – o Presidente da República;
II – a Mesa do Senado Federal;
III – a Mesa da Câmara dos Deputados;
IV – a Mesa de Assembleia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito
Federal;
V – o Governador de Estado ou do Distrito Federal;
VI – o Procurador-Geral da República;
VII – o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil;
VIII – partido político com representação no Congresso Nacional;
IX – confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional.

12. Ainda no que tange à legitimação ativa em ADI, temos legitimados universais
e especiais. Os legitimados universais podem impugnar qualquer matéria, indepen-
dentemente da comprovação de interesse, são eles: Presidente da República; Mesa
do Senado Federal; Mesa da Câmara dos Deputados; Procurador-Geral da República;
Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil; partido político com repre-
sentação no Congresso Nacional. Já os legitimados especiais só podem propor ADI
em face de leis ou atos normativos em relação aos quais comprovarem interesse, co-
nhecido doutrinariamente como “pertinência temática”, são eles: Mesa da Assembleia
Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal; Governador de Estado ou do
Distrito Federal; confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional.
13. Como fica a atuação do Procurador-Geral da República (PGR) na ADI? O
PGR é um dos legitimados universais para propor as ações de controle concen-
trado de constitucionalidade, independentemente da comprovação de interesse
na matéria. Além disso, por força do art. 103, § 1º, da CF, deverá ser previamen-
te ouvido em todas as ações do controle concentrado e em todos os demais
processos de competência do STF, atuação esta chamada de custus legis. Nesta
atuação, o parecer do PGR é obrigatório, ficando totalmente livre para opinar a
favor ou contra a (in)constitucionalidade do tema constitucional debatido, ainda
que tenha impetrado a ADI.
14. E o Advogado-Geral da União (AGU), qual o seu papel no julgamento da
ADI? O AGU é citado para defender o ato normativo impugnado (art. 103, § 3º,

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da CF). A atuação do AGU é vinculada, pois age como curador do ato normativo
debatido.Cabe a ele defender a norma guerreada, não podendo, como regra,
opinar pela inconstitucionalidade, ainda quando a ADI tenha sido proposta pelo
Presidente da República.
15. Por fim, vamos falar da natureza dúplice ou ambivalente da ADI. À luz do
art. 24, da Lei n. 9.868, de 1999, e tendo por base que o pedido formulado pelo
autor é pelo reconhecimento da inconstitucionalidade da norma, teremos o se-
guinte: a) se a ação direta é julgada procedente, estará sendo declarada a incons-
titucionalidade da norma impugnada; b) se a ação direta é julgada improcedente,
estará sendo declarada a constitucionalidade do texto guerreado.
É isso meus amigos. Contem conosco para a sua aprovação.
Fé na missão.

Luciano Dutra – É Advogado da União. Graduado


em Direito pela Universidade Federal de Juiz de Fora e
especialista em Direito Público. Graduado e Pós-Gra-
duado em Ciências Militares. Professor de Direito Cons-
titucional com ampla experiência em cursos prepara-
tórios para concursos públicos presenciais e on-line.
Comentarista jurídico para revistas, jornais, sites e rá-
dios especializados em concursos públicos. Aprovado
em diversos concursos públicos. Autor das obras Direi-
to Constitucional Essencial (Editora Gen – 2ª edição), Direito Constitucional para
a OAB em Exercícios Comentados (Editora Gen – ebook), Direito Constitucional
em 1600 Questões (Editora Gran Cursos), Direito Constitucional em Exercícios
(Editora Gran Cursos – ebook), Direito Constitucional para o INSS (Editora Gran
Cursos – ebook).

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DIREITO TRIBUTÁRIO: PROFESSOR MAURO MOREIRA

Caros alunos e alunas,


A dica de hoje é sobre Direito Tributário e, dentro dessa disciplina, vamos falar
das Espécies Tributárias.
Vamos com tudo!

1. IMPOSTOS – Segundo o art. 16 do CTN, “imposto é o tributo cuja obri-


gação tem por fato gerador uma situação independente de qualquer atividade
estatal específica, relativa ao contribuinte”. Os Impostos são Tributos não vincu-
lados, de arrecadação não vinculada. Sua receita presta-se ao financiamento das
atividades gerais do Estado, remunerando os serviços universais (uti universi) que,
por não gozarem de referibilidade (especificidade e divisibilidade), não podem
ser custeados por intermédio de taxas
2. COMPETÊNCIA TRIBUTÁRIA PARA INSTITUIR IMPOSTOS – A com-
petência para instituir impostos é atribuída pela Constituição Federal de maneira
enumerada e privativa a cada ente federado. A) União – art. 153 (II, IE, IR, IPI, IOF,
ITR e IGF); B) Estados (e o DF) – art. 155 (ITCMD, ICMS e IPVA); C) Municípios (e o
DF) – art. 156 (IPTU, ITBI e ISS).
3. PRINCÍPIO DA CAPACIDADE CONTRIBUTIVA – Nesse particular, deve-
-se abrir espaço para tratar da aplicação do Princípio da Capacidade Contributiva
aos Impostos. Senão vejamos: De acordo com o art. 145, § 1.º, da CF, sempre que
possível, os impostos terão caráter pessoal e serão graduados segundo a capa-
cidade econômica do contribuinte, facultado à administração tributária, especial-
mente para conferir efetividade a esses objetivos, identificar, respeitados os direi-
tos individuais e nos termos da lei, o patrimônio, os rendimentos e as atividades
econômicas do contribuinte. O Supremo Tribunal Federal estende a aplicação do
princípio da capacidade contributiva a outras espécies tributárias, como o caso
das taxas incidentes sobre os serviços judiciários.

4. IMPOSTOS REAIS X IMPOSTOS PESSOAIS – Em momento anterior, o

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STF entendeu não ser aplicável a técnica progressividade fiscal ao ITBI, classificado
como um imposto real, nos termos da Súmula 656 do STF. Em relação ao IPTU
(Imposto Sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana), o STF entendeu que
a aplicação da técnica da progressividade fiscal ao IPTU (real) somente ocorre-
ria a partir da Emenda Constitucional n. 29\2000, conforme Súmula 668, STF. A
evolução da jurisprudência ocorreu a partir do julgamento da progressividade do
ITCMD (Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação), na medida em que o
STF (RE562045/RS) entendeu que todos os impostos, independentemente de sua
classificação como de caráter real ou pessoal, podem e devem guardar relação
com a capacidade contributiva do sujeito passivo.
5. TAXAS – Os entes políticos poderão instituir taxas, em razão do exercício
do poder de polícia ou pela utilização, efetiva ou potencial, de serviços públicos
específicos e divisíveis, prestados ao contribuinte ou postos à sua disposição, com
a ressalva de não poderem ter base de cálculo própria de impostos (CF, art. 145,
lI e § 2º; CTN, art. 77 caput; CTN, art. 80).
6. VEDAÇÃO DE BASE DE CÁLCULO IDÊNTICA À DE IMPOSTOS – Se-
gundo o art. 145, § 2º, da CF, “as taxas não poderão ter base de cálculo própria
de impostos”. Entretanto, a questão deve ser analisada em conjunto com o en-
tendimento do STF sobre esse ponto. Conforme se verifica da dicção expressa da
Súmula Vinculante 29, STF: É constitucional a adoção, no cálculo do valor de taxa,
de um ou mais elementos da base de cálculo própria de determinado imposto,
desde que não haja integral identidade entre uma base e outra.
7. TAXA DE ILUMINAÇÃO PÚBLICA – A taxa de iluminação pública se
refere a atividade estatal que se traduz em prestação de utilidades inespecíficas,
indivisíveis e insuscetíveis de serem referidas a determinado contribuinte, não
podendo ser custeada senão por meio do produto da arrecadação dos impostos
gerais. (Al-AgR 542122. DJ 22.9.2006). Nesse sentido é a Súmula Vinculante n.
41: O serviço de iluminação pública não pode ser remunerado mediante taxa. O
constituinte derivado, a fim de evitar a perda de receita dos municípios editou a
Emenda Constitucional 39 , que criou a COSIP (Contribuição para o Custeio dos
Serviços de Iluminação Pública), senão vejamos: Art. 149-A Os Municípios e o

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Distrito Federal poderão instituir contribuição, na forma das respectivas leis, para
o custeio do serviço de iluminação pública, observado o disposto no art. 150, I e
III. (Incluído pela Emenda Constitucional n. 39, de 2002) Parágrafo único. É facul-
tada a cobrança da contribuição a que se refere o caput, na fatura de consumo
de energia elétrica. (Incluído pela Emenda Constitucional n. 39, de 2002).
8. CONTRIBUIÇÃO DE MELHORIA – A contribuição de melhoria pode ser
cobrada por qualquer ente tributante no âmbito de suas respectivas atribuições
(CTN, art. 81). Nesse particular, sua instituição é competência comum da União,
Estados, Distrito Federal e Municípios. Esclareça-se que apesar de o texto consti-
tucional dizer simplesmente que a contribuição de melhoria será devida em “de-
corrência de obra pública”, em verdade, é obrigação decorrente de “valorização
de bem imóvel em decorrência de obra pública”. Ademais, tem como fundamen-
to a vedação ao enriquecimento sem causa.
9. EMPRÉSTIMOS COMPULSÓRIOS – Os empréstimos compulsórios são
tributos temporários que a União (competência exclusiva da União e exige Lei
Complementar) compulsoriamente cobra dos administrados para custear despe-
sas urgentes, ficando obrigada a devolvê-los assim que solucionada a causa que
justificou sua instituição. Não há previsão constitucional que vincule a instituição
dos empréstimos compulsórios a qualquer fato ou situação jurídica específica
relacionada ao contribuinte, nem faça menção aos seus fatos geradores, limitan-
do-se a prever os motivos pelos quais a exação pode ser criada (CF, art. 148). Mo-
tivos estes que não devem ser confundidos com fatos geradores. Motivos para
criação dos empréstimos compulsórios A) atender a despesas extraordinárias,
decorrentes de calamidade pública, de guerra externa ou sua iminência; B) no
caso de investimento público de caráter urgente e de relevante interesse nacional
(nesse caso, observado o princípio da anterioridade).
10. CONTRIBUIÇÕES – O artigo 149 da Constituição Federal estabelece que
compete exclusivamente à União instituir contribuições sociais, de intervenção no
domínio econômico e de interesse das categorias profissionais ou econômicas,
como instrumento de sua atuação nas respectivas áreas, observado o disposto
nos arts. 146, III, e 150, I e III, e sem prejuízo do previsto no art. 195, § 6º, relativa-

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mente às contribuições a que alude o dispositivo. Por sua vez, os Estados, o Dis-
trito Federal e os Municípios instituirão contribuição, cobrada de seus servidores,
para o custeio, em benefício destes, do regime previdenciário de que trata o art.
40, cuja alíquota não será inferior à da contribuição dos servidores titulares de
cargos efetivos da União. Ademais, elenca características principais, na medida
em que é expresso no sentido de que as contribuições sociais e de intervenção
no domínio econômico de que trata o caput deste artigo: não incidirão sobre
as receitas decorrentes de exportação; incidirão também sobre a importação de
produtos estrangeiros ou serviços; poderão ter alíquotas: a) ad valorem, tendo
por base o faturamento, a receita bruta ou o valor da operação e, no caso de
importação, o valor aduaneiro; b) específica, tendo por base a unidade de medi-
da adotada. Em complemento, estabelece que a pessoa natural destinatária das
operações de importação poderá ser equiparada a pessoa jurídica, na forma da
lei; bem como é expresso no sentido de que a lei definirá as hipóteses em que as
contribuições incidirão uma única vez.
Bons estudos!

Mauro Moreira – Procurador Federal. Mestrando em


Direito Tributário pela Universidade Católica de Brasília
– UCB. Especialista em Direito Tributário pelo Instituto
Brasileiro de Estudos Tributários – IBET. Coordenador
Nacional de Contencioso, Cobrança e Recuperação de
Créditos do DNPM/Ministério das Minas e Energia. Pro-
fessor de Direito Tributário da Escola Superior da Advo-
cacia – ESA/OAB/DF. Professor Orientador e Tutor da
Especialização em Direito Público da UnB/Escola da
AGU nos exercícios de 2013/2014. Ex-Advogado da Área Tributária da PETROBRAS.

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DIREITO ADMINISTRATIVO: PROFESSOR GUSTAVO SCATOLINO

Examinandos e examinandas, rumo a nossa caminhada para o XXI Exame de


Ordem, hoje trataremos de alguns pontos sobre Licitações:
O fato de um produto ser patenteado induz, necessariamente, a sua
exclusividade para fins de contratação direta sem licitação?
Antes de chegar ao cerne do problema, vamos rememorar os casos de con-
tratação direta sem licitação.
Os casos de contratação direta são situações em que não será realizado o
procedimento licitatório. Trata-se de situação excepcional, uma vez que a regra
será a licitação para a escolha da proposta mais vantajosa, antes da celebração
do contrato administrativo, art. 37, XXI, CF.
Para a contratação direta, a lei exige que sejam necessariamente justificadas e
a observância do parágrafo único do art. 26:

Art. 26. As dispensas previstas nos §§ 2º e 4º do art. 17 e no inciso III e se-


guintes do art. 24, as situações de inexigibilidade referidas no art. 25, ne-
cessariamente justificadas, e o retardamento previsto no final do parágrafo
único do art. 8º desta Lei deverão ser comunicados, dentro de 3 (três) dias,
à autoridade superior, para ratificação e publicação na imprensa oficial, no
prazo de 5 (cinco) dias, como condição para a eficácia dos atos.
Parágrafo único. O processo de dispensa, de inexigibilidade ou de retarda-
mento, previsto neste artigo, será instruído, no que couber, com os seguintes
elementos:
I  – caracterização da situação emergencial ou calamitosa que justifique a
dispensa, quando for o caso;
II – razão da escolha do fornecedor ou executante;
III – justificativa do preço.
IV – documento de aprovação dos projetos de pesquisa aos quais os bens
serão alocados. (Incluído pela Lei n. 9.648, de 1998)

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A Lei do Processo Administrativo, Lei n. 9.784/99, art. 50, também determina


que deve haver a motivação, com indicação dos fatos e fundamentos jurídicos de
atos que dispensem ou declarem a inexigibilidade de processo licitatório.
É bom lembrar que configura ato de improbidade administrativa que causa
prejuízo ao erário frustrar a licitude de processo licitatório ou dispensá-lo indevi-
damente. Em razão de tal ato de improbidade, a Lei n. 8.429/90 determina que
serão aplicadas as sanções de suspensão dos direitos políticos de 5 a 8 anos,
multa de até 2 vezes o valor do prejuízo e proibição de contratar ou receber
benefícios do poder público pelo prazo de 5 anos. Sem prejuízo da ação penal
cabível, por ser a ação de improbidade de natureza civil.
A Lei de Licitações, art. 89, ainda, tipifica como crime dispensar ou inexigir li-
citação fora das hipóteses previstas em lei, ou deixar de observar as formalidades
pertinentes à dispensa ou à inexigibilidade, com pena de detenção, de 3 (três) a
5 (cinco) anos, e multa.
Nos casos de inexigibilidade e em qualquer dos casos de dispensa, se com-
provado superfaturamento, respondem solidariamente pelo dano causado à
Fazenda Pública o fornecedor ou o prestador de serviços e o agente público res-
ponsável, sem prejuízo de outras sanções legais cabíveis (art. 25, § 2º).
Como visto, pelo menos no direito positivo a licitação é tratada com serie-
dade, estabelecendo-se sanção civil, penal e administrativa para contratações
irregulares.
Pois bem! As hipóteses de contratação direta são: dispensa e inexigibilidade.
Os casos de dispensa constituem a licitação dispensada, art. 17, e licitação dispen-
sável, art. 24. Os casos de inexigibilidade encontram-se no art. 25.
As hipóteses de dispensa de licitação são casos TAXATIVOS/EXAUSTIVOS,
previstos em lei. Portanto, somente pode haver contratação direta por dispen-
sa de licitação (dispensada/dispensável) nas situações previstas no art. 17 ou 24
da lei. Não é possível ao agente público ampliar as hipóteses de dispensa fora
dos casos legais previstos, uma vez que são estabelecidos previamente e não há
possibilidade de se dilatar as situações positivadas, a não ser que LEI estabeleça

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outras situações.
A inexigibilidade compõe-se de casos EXEMPLIFICATIVOS. O art. 25 esta-
beleceu três situações exemplificativas, mas tornou possível ao agente público,
quando se encontrar em outra situação de inviabilidade de competição, fazer a
contratação direta pela inexigibilidade.
Outro ponto distintivo entre dispensa e inexigibilidade se refere ao fato de que
a licitação dispensada é uma atuação vinculada, em que o agente público não
faz licitação porque a lei assim previamente estabeleceu, não havendo liberdade
do administrador de querer licitar. A licitação dispensável é atuação discricio-
nária, pois, diante das situações do art. 24, o agente público pode decidir em
fazer ou não a licitação, conforme seus critérios de conveniência e oportunidade.
Por outro lado, nos casos de inexigibilidade, não há o procedimento licitatório,
por ser inviável a competição. Mesmo que o agente público pretendesse fazer
licitação, não teria como executá-la.

Casos de Inexigibilidade – art. 25

Como dito, o art. 25 da Lei de Licitações apresenta três casos exemplificativos


de inexigibilidade em razão da inviabilidade de competição.

1. Fornecedor exclusivo

O primeiro caso de inexigibilidade se refere à situação de fornecedor exclu-


sivo. Nesse caso, a inviabilidade de competição é gritante, tendo em vista que
somente existe um fornecedor do produto.

I – para aquisição de materiais, equipamentos, ou gêneros que só possam


ser fornecidos por produtor, empresa ou representante comercial exclusivo,
vedada a preferência de marca, devendo a comprovação de exclusividade
ser feita através de atestado fornecido pelo órgão de registro do comércio
do local em que se realizaria a licitação ou a obra ou o serviço, pelo Sindi-
cato, Federação ou Confederação Patronal, ou, ainda, pelas entidades equi-

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valentes;
A comprovação da exclusividade será feita através de atestado fornecido pelo
órgão de registro do comércio do local em que se realizaria a licitação ou a obra
ou o serviço, pelo Sindicato, Federação ou Confederação Patronal, ou, ainda, por
entidades equivalentes (art. 25).

A lei veda a preferência pela marca. Contudo, a vedação exposta pela lei
deve ser compreendida no sentido de ser evitada a preferência pela marca
com o intuito de não se fazer a licitação. É possível, em algumas situações,
dentro de um processo licitatório, a preferência pela marca. Confira os
casos apontados por José dos Santos Carvalho Filho15:

1) continuidade da utilização de marca já adotada no órgão;


2) para a utilização de nova marca mais conveniente; e
3) para o fim de padronização de marca no serviço público, todas evidente-
mente justificadas pela necessidade da Administração.
É possível também a preferência por marca para definir o objeto a ser licitado
ou seus padrões de qualidade, admitindo outras marcas similares que mante-
nham os mesmos padrões exigidos pela marca indicada. A existência de outras
marcas similares que preencham as mesmas condições da marca “desejada” pela
Administração, em especial pelos padrões de qualidade apresentados, afasta a
possibilidade de contratação direta por essa hipótese, salvo se devidamente jus-
tificado pela Administração.
Dessa forma, o que a Lei de Licitações veda e os Tribunais de Contas repro-
vam, em especial o TCU, é a preferência por determinada marca e sua indicação
sem a devida justificativa técnica nos autos.
Confira alguns julgados do TCU a respeito do tema:

Acórdão 2844/2003 Primeira Câmara. Evite a indicação de marcas de produtos


para configuração do objeto, quando da realização de seus certames licitatórios
para a aquisição de bens de informática, a não ser quando legalmente possível
e estritamente necessária para atendimento das exigências de uniformização e
padronização, sempre mediante justificativa prévia, em processo administrati-
vo regular, no qual fiquem comprovados os mencionados requisitos.
1 CARVALHO FILHO, José dos Santos, Op. Cit., p. 258 CARVALHO FILHO, José dos Santos, Op. Cit., p. 258

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Decisão 1622/2002 Plenário. A licitação sob análise não restringiu o objeto da


licitação, com indicação de marca, fato este vedado pelo Estatuto Licitatório.
Insurgiu-se o Representante quanto à exigência de que os cartuchos de mar-
ca diversa das impressoras a que se destinariam fossem objeto de atestado
comprobatório de seu funcionamento.
Decisão 1476/2002 Plenário. Nos procedimentos licitatórios para aquisição de
toner para impressoras ou outros produtos análogos, deve ser evitado – em ho-
menagem aos princípios que regem as licitações no âmbito da Administração
Pública e às disposições Resolução n. 05, de 05.01.1998 – a indicação de prefe-
rência por marcas, ante a falta de amparo legal, salvo na hipótese em que fique
demonstrada tecnicamente que só determinada marca atende à necessidade
da Administração, situação que deve ficar devidamente demonstrada e justifi-
cada no processo.

2. Serviços técnicos profissionais especializados

A segunda hipótese exemplificativa de inexigibilidade se refere a serviços


técnicos profissionais especializados.

II – para a contratação de serviços técnicos enumerados no art. 13 desta Lei,


de natureza singular, com profissionais ou empresas de notória especializa-
ção, vedada a inexigibilidade para serviços de publicidade e divulgação;

Os contratos para a prestação de serviços técnicos profissionais especializados


deverão, preferencialmente, ser celebrados mediante a realização de concurso.
Somente é permitida a contratação direta se preenchidas as condições previstas
em lei. (art. 13, § 1º)
Para a contratação de serviços técnicos especializados sem licitação, devem
ser atendidos três requisitos: serviço incluído no art. 13 da Lei de Licitações; pro-
fissional detentor de notória especialização; objeto singular.
A súmula 252 do TCU prescreve que a inviabilidade de competição para a
contratação de serviços técnicos decorre da presença simultânea dos três requi-
sitos: serviço técnico especializado, entre os mencionados no art. 13 da referida

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lei, natureza singular do serviço e notória especialização do contratado.


O art. 13 apresenta uma lista de serviços considerados especializados para fins
de contratação direta:

Art. 13. Para os fins desta Lei, consideram-se serviços técnicos profissionais
especializados os trabalhos relativos a:
I – estudos técnicos, planejamentos e projetos básicos ou executivos;
II – pareceres, perícias e avaliações em geral;
III – assessorias ou consultorias técnicas e auditorias financeiras ou tributárias;
IV – fiscalização, supervisão ou gerenciamento de obras ou serviços;
V – patrocínio ou defesa de causas judiciais ou administrativas;
VI – treinamento e aperfeiçoamento de pessoal;
VII – restauração de obras de arte e bens de valor histórico.

Dessa forma, não é qualquer tipo de serviço que pode ser contratado sem
licitação, apenas os serviços selecionados pela lei. Para fins de memorização,
devem-se relacionar os serviços apenas com “atividades de natureza intelectual”.
O conceito de notória especialização do profissional contratado é fixado pelo
art. 25, § 1º:

“Considera-se de notória especialização o profissional ou empresa cujo con-


ceito no campo de sua especialidade, decorrente de desempenho anterior, es-
tudos, experiências, publicações, organização, aparelhamento, equipe técnica,
ou de outros requisitos relacionados com suas atividades, permita inferir que
o seu trabalho é essencial e indiscutivelmente o mais adequado à plena
satisfação do objeto do contrato.”

O profissional deve possuir características individuais distintas dos demais que


atuam no mesmo ramo, tornando-o o mais apropriado, mais conveniente para a
o desenvolvimento do trabalho.
Deve, ainda, tratar-se de objeto singular. Ou seja, deve ser uma situação ex-
cepcional da Administração. A contratação de serviços técnicos profissionais es-
pecializados não deve ser usada para atividades corriqueiras.

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A contratação direta de advogado é possível. Contudo, deve ser observada a


exigência do objeto singular, adicionada à exigência de notória especialização do
profissional. O TCU vem estabelecendo limites para esses contratos, no sentido de
que a regra para a contratação de serviços advocatícios é a licitação, e a inexigibi-
lidade é exceção que deve ser precedida da comprovação da inviabilidade fática
ou jurídica de competição, da singularidade do objeto e da notoriedade do con-
tratado. Quanto à natureza singular do objeto, “há de ser o serviço técnico tão
incomum, raro, incomparável com outros, que somente possa ser prestado por
profissional ou empresa cuja especialização naquele tipo de serviço seja notória.
O objeto do contrato deve revelar-se de tal singularidade que não dê condições
a que se proceda qualquer competição entre os profissionais existentes no ramo”.
Nas hipóteses de serviços técnicos profissionais especializados é vedada a
inexigibilidade para serviços de publicidade e divulgação. A vedação ex-
pressa na lei é um tanto redundante, uma vez que o serviço de publicidade e
divulgação não consta na lista de serviços do art. 13 para fins de contratação
sem licitação (foi vetado). A Lei n. 12.232/10 dispõe sobre as normas gerais para
licitação e contratação pela administração pública de serviços de publicidade
prestados por intermédio de agências de propaganda. Trata-se de lei destinada
a contratações de serviços de publicidade em razão da especialidade do setor.

3. Contratação de serviços artísticos

A terceira situação que configura caso de inexigibilidade de licitação é a con-


tratação de serviços artísticos.

III – para contratação de profissional de qualquer setor artístico, diretamente


ou através de empresário exclusivo, desde que consagrado pela crítica espe-
cializada ou pela opinião pública.

Trata-se de mais um caso de inviabilidade de competição, pois, na contratação


de serviços artísticos, seria inviável a elaboração de um edital com critérios de jul-

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gamento puramente objetivos a fim de fazer a escolha do melhor serviço artístico.


A inexigibilidade é possível para qualquer serviço (ator, cantor, artista plástico
e etc.), desde que o contratado seja consagrado pela crítica especializada ou pela
opinião pública.

2. Licitação dispensável – art. 24

A Lei de Licitações, art. 24, enumera os casos taxativos de licitação dispen-


sável, sendo situações em que há discricionariedade para o agente público
fazer um juízo de conveniência e oportunidade para decidir se realizará, ou não,
licitação. Segundo Maria Sylvia Di Pietro, as hipóteses de licitação dispensável
podem ser enquadradas em quatros situações, em razão de: valor, objeto, pessoa
e situação.
Assim, após essa digressão, voltemos à reflexão: O fato de um produto ser
patenteado induz, necessariamente, a sua exclusividade para fins de contratação
direta sem licitação? Trata-se de caso de fornecedor exclusivo?
Não é suficiente apresentar a patente de um determinado produto para con-
siderá-lo exclusivo. A patente pode ser adquirida quando é criado produto novo
(invenção) ou quando são aprimoradas as qualidades de um produto, melhoran-
do seu uso (modelo de utilidade). No primeiro caso, a exclusividade fica mais fácil
de ser caracterizada, já na segunda hipótese pode ser que os melhoramentos
realizados pelo inventor não conduzam à exclusividade do produto, fazendo com
que outros que não dispõem da mesma inovação sejam capazes de atender às
necessidades da Administração. Em uma ou outra hipótese é possível haver ex-
clusividade ou não, tudo dependerá da análise e da comprovação do gestor pú-
blico de que o produto patenteado é o único apto a suprir a demanda adminis-
trativa. Nesse sentido, não basta fundamentar que o fornecedor detém a patente
do produto para sua contratação sem licitação. Esse fundamento por si só não
gera exclusividade para justificar a não realização do procedimento licitatório.
Vamos exemplificar: imagine que um inventor desenvolva um tipo de apaga-
dor de quadro-negro mais sofisticado, com melhoramentos que só o apagador

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patenteado tenha. Só o fato de esse produto ser patenteado não quer dizer que
ele deva ser adquirido sem a devida licitação, pois, talvez, os melhoramentos
criados não sejam indispensáveis à Administração e os outros produtos disponí-
veis no mercado atendam às necessidades da Administração. De outro modo se
o inventor produz um melhoramento no produto, adquirindo a patente, com um
diferencial que realmente faz o produto ser incomparável e indispensável, condu-
zirá à exclusividade e contratação direta sem licitação.
Inclusive, o STJ já proferiu decisão nesse sentido:
ADMINISTRATIVO. LICITAÇÃO POR PREGÃO PRESENCIAL. EXCLUSIVIDADE.
HIPÓTESE QUE NÃO SE ENQUADRA NAS HIPÓTESES DE LICITAÇÃO PREVISTAS
NO ART. 25, INCISO I, DA LEI N. 8.666/93.
1. Buscou-se com a impetração anular o Pregão n. 040/2008, realizado pela
Secretaria de Estado de Saúde de Minas gerais, defendendo o impetrante que o
fornecimento do produto licitado enquadra-se em uma das hipóteses de inexigi-
bilidade de licitação previstas no art. 25 da Lei n. 8.666/92 diante do privilégio de
exclusividade para o fornecimento de “capa para tampa de reservatório de água
potável (caixa d’água)”, que está tutelado por carta de patente.
2. As hipóteses de contratação direta por inexigibilidade de licitação, elenca-
das no art. 25 da Lei n. 8.666/93, somente se justificam quando se configura a
inviabilidade de competição, diante da existência de apenas um objeto ou pessoa
capaz de atender às necessidades da Administração Pública.
3. Deflui do inciso I do referido dispositivo a necessidade de implementação
das seguintes condições para que o fornecimento de equipamento ou produtos
prescinda de licitação: (i) o produto estar tutelado por exclusividade, atestada
por órgão ou entidades competentes para tanto, o que impede que o Estado
adquira produto similar; (ii) quando inviável a competição pela ausência de outro
licitante capaz de produzir objeto equivalente, que atenta às necessidades da
Administração; e (iii) o produto, ainda que seja tutelado por patente, não possa
ser fornecido por terceiros.
4. Assim, o que torna inexigível a licitação, segundo a dicção do inciso I do
artigo 25 em referência, não é o simples fato de o fornecedor deter a patente de
seu produto, mas o fato desse produto deter certas características peculiares, não
encontradas nos produtos que lhe são concorrentes, e, ainda, que tais caracterís-

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ticas sejam decisivas para contemplar o interesse público.


5. Na hipótese dos autos, o motivo explicitado pelo recorrente para contor-
nar a exigência legal da realização do certame público, na verdade, não restou
devidamente comprovado. A documentação juntada aos autos, notadamente o
registro feito no Instituto Nacional da Propriedade Industrial, do Ministério do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, não evidencia prontamente a
exclusividade para todo e qualquer tipo de “capa para tampa de caixa d’água” –
objeto da licitação, mas apenas demonstra que o recorrente detém a patente de
um modelo de utilidade, e não de uma invenção. Ou seja, não há exclusividade
para o produto licitado, mas apenas sobre os melhoramentos promovidos em
produto já existente.
6. Tampouco restou demonstrado que o modelo do produto licitado é exa-
tamente aquele patenteado pelo recorrente e que esse produto, diante de suas
características, é o único no mercado capaz de atender as necessidades do órgão
licitante. E, a análise desses elementos tampouco pode ser satisfeita em sede de
mandado de segurança, incompatível com a dilação probatória.
7. Recurso ordinário em mandado de segurança não provido. (RMS 37.688/
MG, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em
26/06/2012, DJe 06/08/2012)
Bons estudos!

Gustavo Scatolino – Atualmente é Procurador da Fa-


zenda Nacional. Bacharel em Direito e Pós-graduado
em Direito Administrativo e Processo Administrativo.
Ex-Assessor de Ministro do STJ. Aprovado em vários
concursos públicos, dentre eles, Analista Judiciário do
STJ, exercendo essa função durante 5 anos, e Procura-
dor do Estado do Espírito Santo.

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DIREITO EMPRESARIAL: PROFESSOR ANDRÉ RAMOS

Examinandos e examinandas,
dando prosseguimento a nossa caminhada rumo ao XXI Exame de Ordem,
vamos abordar hoje temas importantes sobre o Direito Empresarial:

Dica 1:

Segundo a legislação falimentar anterior (DL 7.661/1945), o prazo de respos-


ta do devedor empresário que tinha sua falência requerida era extremamente
curto – apenas 24 horas –, o que contribuiu, de certa forma, para o uso da ação
falimentar como instrumento eficiente de cobrança judicial de dívidas. Tentando
mudar essa realidade, a atual lei (Lei n. 11.101/2005) aumentou esse prazo sensi-
velmente, passando a ser de dez dias. Nesse prazo, além de oferecer contesta-
ção, o devedor empresário pode (i) requerer incidentalmente a sua recuperação
judicial (art. 95) ou fazer o depósito elisivo (art. 98, parágrafo único).

Dica 2:

Art. 861. Penhoradas as quotas ou as ações de sócio em sociedade simples


ou empresária, o juiz assinará prazo razoável, não superior a 3 (três) meses, para
que a sociedade:
I – apresente balanço especial, na forma da lei;
II – ofereça as quotas ou as ações aos demais sócios, observado o direito de
preferência legal ou contratual;
III – não havendo interesse dos sócios na aquisição das ações, proceda à li-
quidação das quotas ou das ações, depositando em juízo o valor apurado, em
dinheiro.
§ 1º Para evitar a liquidação das quotas ou das ações, a sociedade poderá
adquiri-las sem redução do capital social e com utilização de reservas, para ma-
nutenção em tesouraria.

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§ 2º O disposto no caput e no § 1º não se aplica à sociedade anônima de ca-


pital aberto, cujas ações serão adjudicadas ao exequente ou alienadas em bolsa
de valores, conforme o caso.
§ 3º Para os fins da liquidação de que trata o inciso III do caput, o juiz poderá,
a requerimento do exequente ou da sociedade, nomear administrador, que de-
verá submeter à aprovação judicial a forma de liquidação.
§ 4º O prazo previsto no caput poderá ser ampliado pelo juiz, se o pagamen-
to das quotas ou das ações liquidadas:
I – superar o valor do saldo de lucros ou reservas, exceto a legal, e sem dimi-
nuição do capital social, ou por doação; ou
II – colocar em risco a estabilidade financeira da sociedade simples ou empre-
sária.
§ 5º Caso não haja interesse dos demais sócios no exercício de direito de
preferência, não ocorra a aquisição das quotas ou das ações pela sociedade e a
liquidação do inciso III do caput seja excessivamente onerosa para a sociedade, o
juiz poderá determinar o leilão judicial das quotas ou das ações.
O CPC de 1973 previa a possibilidade de penhora de quotas em seu art. 655,
VI, mas não detalhava o seu procedimento. O novo CPC, porém, fez isso em seu
art. 861.
Enfim, havendo penhora de quotas, podem ocorrer, basicamente, três situa-
ções, sucessivamente: (i) os próprios sócios fazerem a aquisição delas, nos termos
do art. 861, II; (ii) caso os sócios não as adquiram, a própria sociedade pode fazê-lo,
usando seu fundo de reserva e colocando-as em tesouraria, nos termos do art. 861,
§ 1º; e, finalmente, (iii) caso nem os sócios nem a sociedade adquiram as quotas,
elas serão postas à venda em leilão judicial. Em qualquer dos casos, os recursos
obtidos com a venda serão usados para pagamento do credor que as penhorou.
Quanto à segunda hipótese (aquisição das quotas pela própria sociedade,
para manutenção em tesouraria), a antiga Lei das Limitadas autorizava tal prática
expressamente em seu artigo 8º. O Código Civil de 2002, no entanto, não tem
regra no mesmo sentido, de modo que a partir da sua vigência passou-se a dis-
cutir se tal prática continuaria ou não sendo permitida.

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O DREI, no anexo II da Instrução Normativa 10/2013, prevê no item 3.2.10.2


que “a aquisição de quotas pela própria sociedade não está autorizada pelo novo
Código Civil”.
No entanto, parece-nos que o DREI será obrigado a rever o seu entendi-
mento, já que o novo CPC prevê expressamente a possibilidade de a sociedade
limitada adquirir suas próprias quotas quando elas forem penhoradas e nenhum
sócio deseje adquiri-las.
Em se tratando de sociedade anônima, não haverá maiores polêmicas, pois a
LSA já tem regra nesse sentido (art. 30, § 1º, alínea “b”).
Bons estudos, pessoal !

André Ramos – Doutor em Direito Empresarial pela


Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
Mestre em Direito Processual Civil pela Universidade
Federal de Pernambuco (UFPE). Pós-graduado em Di-
reito da Economia e da Empresa pela Fundação Getulio
Vargas (FGV-RJ). Pós graduado em Direito da Concor-
rência pela Fundação Getulio Vargas (FGV-SP). Profes-
sor de Direito Empresarial do Centro Universitário IESB
e de diversos cursos preparatórios. Procurador Federal.
Autor da obra Direito Empresarial Esquematizado pelo Grupo Gen.

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DIREITO AMBIENTAL: PROFESSOR FELIPE LEAL

Futura advogada, futuro advogado.


Dia de dicas de Direito Ambiental!!!
Preparado (a)? Então vamos lá!!!

DICA 01 – LEI N. 9.985/2000 – SISTEMA NACIONAL DE UNIDADES DE


CONSERVAÇÃO DA NATUREZA

A Lei n. 9.985/2000 instituiu e consolidou o Sistema Nacional de Unidades de


Conservação da Natureza (SNUC). Com relação à gestão das Unidades, temos
o Ministério do Meio Ambiente como órgão central; o Conselho Nacional do
Meio Ambiente – Conama como Órgão consultivo e deliberativo; e, como
órgãos executores o IBAMA, o Instituto Chico Mendes e, em caráter supletivo,
os órgãos estaduais e municipais.
Guardem esse ano: 2007. Desde a Lei n. 11.516/2007, figura o Instituto
Chico Mendes como principal órgão executor das ações referentes à política na-
cional de unidades de conservação. O IBAMA, no quadro atual, possui atuação
apenas supletiva!!

DICA 02 – LEI N. 9.985/2000 – CRIAÇÃO DE UNIDADES DE CONSERVA-


ÇÃO

As Unidades de Conservação podem ser criadas não apenas por lei, como
também, como exemplo, por Decretos.
No tocante à redução dos limites da Unidade de Conservação, como nos en-
sina Paulo Affonso Leme Machado, só deverá haver a necessidade de lei quando
essa alteração significar mudança para pior, ou seja, acarretar degradação am-
biental, ainda que potencial.

DICA 03 – LEI N. 9.985/2000 – DESNECESSIDADE DE CONSULTA PÚBLICA

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Para a criação de uma Unidade de Conservação, são necessários estudos téc-


nicos e uma consulta pública, sob pena de nulidade do ato instituidor.
Cuidado com as questões sobre o assunto. Em relação à estação ecológica e
reserva biológica, dispensa-se a consulta pública, porquanto o interesse público
é legalmente presumido!!!
Bons estudos !

Felipe Leal – Graduado em Direito pela Universidade


Federal da Paraíba (2003) e mestrado em Direito Am-
biental e Políticas Públicas pela Universidade Federal
do Amapá (2012). Ingressou na Polícia Federal em
2005, como Papiloscopista Policial Federal, adquirindo
experiência na área técnica, e, desde 2006, é Delega-
do de Policia Federal, tendo já chefiado Delegacias Es-
pecializadas na Repressão ao Tráfico de Drogas (Pará),
na Repressão aos Crimes Ambientais (Amapá) e na
Repressão a Crimes Financeiros (Paraíba), bem como atuou como Chefe do Nú-
cleo de Inteligência em Pernambuco. Na docência, é um dos responsáveis pela
formação profissional de novos policiais, com a elaboração de Caderno Didático
para a Academia Nacional de Polícia. Já elaborou Manuais de Investigações para
autoridades policiais. Professor em Faculdades de Direito e em cursos de pós gra-
duação. Coordenador de pós graduação em Investigação Criminal e Ciências
Forenses. Coordenador da Escola Nacional de Polícia Judiciária.

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DIREITO TRIBUTÁRIO: PROFESSOR MARCELO BORSIO

As dicas de hoje são sobre a Objeção de Pré-Executividade ou Ex-


cesso de Execução Fiscal. Estou sentindo que uma questão do XXI
Exame pode vir daqui….

1. Trata-se de Defesa do Executado Anterior à Garantia Integral da execu-


ção.
2. Motivos: defeitos da CDA, invalidade do título por ausência de seus pres-
supostos formais, carência da ação, ausência de requisitos do processo, paga-
mento, prescrição, que maculam o nascimento da EF, independente de garantir
o juízo (matérias que possam ser conhecidas pelo juízo – cognoscíveis).
3. Simples Petição com prova pré-constituída
4. Argui-se a nulidade do processo de EF, por objeção à às questões de di-
reito material que atinjam a substância do título.
5. No STJ: “A regra, na EF, é a de que o executado deverá alegar toda a matéria
útil à defesa nos embargos do devedor. Excepcionalmente, admite-se a exce-
ção de pré-executividade, no âmbito da qual, sem o oferecimento da penhora, o exe-
cutado pode obter um provimento, positivo ou negativo, sobre os pressupostos do
processo ou sobre as condições da ação” ROMS n 9980/SP. Min. Ari Pargendler.
6. “Em princípio, a defesa do executado deve realizar-se através dos embar-
gos, nos termos do artigo 16 da LEF. Todavia, é assente na doutrina e na juris-
prudência o cabimento de exceção de pré-executividade quando a parte argui
matérias de ordem pública ou nulidades absolutas que dispensam, para
seu exame, dilação probatória. Esse entendimento objetiva atender ao inte-
resse público quanto à economia e celeridade processual.” Resp. 602.407.
Min. Castro Meira.
7. A exceção de pré-executividade é servil à suscitação de questões que de-
vam ser conhecidas de ofício pelo juiz, como as atinentes à liquidez do
título executivo, os pressupostos processuais e as condições da ação exe-
cutiva.” EDResp 576.713/SC Min, Luiz Fux.
8. Súmula 393 STJ: A exceção de pré-executividade é admissível na exe-

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cução fiscal relativamente às matérias conhecíveis de ofício que não demandem


dilação probatória.
9. Abaixo algumas matérias que podem ser arguidas na ação de ex-
ceção de pré-executividade e que podem aparecer na sua 1ª Fase do XXI
Exame. Fique ligado!
1. Falta de condições da ação e de seus pressupostos processuais decorrentes
de nulidades absolutas.
2. Falta de jurisdição.
3. A ilegitimidade de parte.
4. A inépcia da petição inicial.
5. A falta ou irregularidade de citação.
6. A falta de capacidade postulatória.
7. A coisa julgada, a litispendência e a perempção.
8. Os vícios do PAF.
9. As nulidades relativas à Execução.
10. O Excesso de Execução.
11. A inexistência total ou parcial do débito fiscal.
12. Qualquer outra causa extintiva da obrigação, como pagamento, compen-
sação, novação.
Bons estudos!!

Marcelo Borsio – Delegado da Polícia Federal. Possui


graduação em Direito pela Universidade Presbiteriana
Mackenzie, é mestre e doutor em Direito Previdenciário
pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Pós-
-Doutor em Direito da Seguridade Social pela Universi-
dade Complutense de Madrid. Especialista em Direito
Tributário pela PUC-SP. Autor de algumas obras no
tema, inclusive com o Prof° Luiz Flávio Gomes, pales-
trante pelo país, professor e coordenador de Pós-Gra-
duação de Direito Previdenciário e da Prática Previden-
ciária. Coordenador Pedagógico do Projeto Exame de Ordem.

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DIREITO ADMINISTRATIVO: PROFESSOR EMERSON CAETANO

Caros alunos,
dando continuidade a Regressiva de 100 dias para o Exame de Ordem, hoje
veremos dicas de Direito Administrativo:

RESUMO TEÓRICO DA PARTE GERAL DO DIREITO ADMINISTRATIVO

1. Estado, Governo e Administração Pública – Conceitos.

1.1 ESTADO
• Pessoa Jurídica Territorial Soberana;
• Nação politicamente organizada, dotada de personalidade jurídica;
• Pessoa Jurídica de Direito Público com Elementos Formadores e 3 Poderes;
• Atual tanto no âmbito do Direito Público quanto do Direito Privado;
• Teoria da Dupla Personalidade do Estado: Essa teoria admitia que o
Estado poderia ter tanto personalidade de DIREITO PÚBLICO, quando atu-
ando na área do direito público, quanto de DIREITO PRIVADO, quando atu-
ando nas questões regidas pelo direito privado;
• Elementos originários e indissociáveis:

POVO – componente humano;


TERRITÓRIO – base física, espaço geográfico delimitado;
GOVERNO SOBERANDO (SOBERANIA) – elemento condutor do Estado, de-
tém e exerce o poder absoluto de autodeterminação e auto-organização; poder
absoluto, indivisível e incontrastável de organizar-se e de conduzir-se segundo a
vontade livre de seu povo e de fazer cumprir suas decisões.
FINALIDADE –

1.1.1 Poderes e Funções do Estado.

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• Modelo de Montesquieu;
• Elementos estruturais do Estado – orgânicos ou organizacionais;
• Não se confundem com os poderes Administrativos – são formas estrutu-
rais de manifestação da Vontade Estatal;
• Funções típicas e Funções atípicas: LEGISLATIVA, JUDICIAL e ADMINIS-
TRATIVA
• Munus Publico: Um encargo para quem exerce. Um dever de defesa, con-
servação e aprimoramento dos bens, serviços e interesses da coletividade.
Não há liberdade para a perseguição de outros interesses.

 Obs.: Celso Antônio inclui uma quarta função POLÍTICA OU DE GOVER-


NO – Iniciativa de lei do Poder Executivo, Sanção ou veto, Declaração
do Estado de Sítio, Estado de Defesa, Decretação de calamidade pública,
Declaração de Guerra…

FUNDAMENTOS: a) não tem o caráter de gestão rotineira dos assuntos da


sociedade; b) não estão em pauta comportamentos infralegais ou infraconstitu-
cionais numa relação hierárquica.
1.2 GOVERNO: Atividade política e discricionária. Conduta independente do
Administrador. Comando com Responsabilidade Constitucional e Política.
• Em sentido formal: é conjunto de Poderes e Órgãos Constitucionais.
• Em sentido Material: é o complexo de funções estatais básicas.
• Em sentido Operacional: é a condução política dos Negócios Públicos
(comando, iniciativa, fixação de objetivos do Estado e manutenção da or-
dem jurídica vigente). Atua por meio de atos de soberania e atos de auto-
nomia. Exerce a Direção Suprema dos Interesses Públicos.

1.3 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA: É o aparelhamento do Estado destinado à

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realização de serviços, para a satisfação das necessidades coletivas.


• Pratica atos de execução, com maior ou menor grau de autonomia funcional;
• É o instrumental do Estado para a implementação das opções políticas do
Governo;
• É uma atividade neutra, vinculada à lei ou à norma técnica;
• Atua com responsabilidade técnica e legal pela execução;
• Exerce conduta hierarquizada, sem responsabilidade constitucional e polí-
tica;
• Sem qualquer faculdade de opção política;
• Poder de decisão restrito à área de suas atribuições e competência executiva
(aspectos: jurídicos, técnicos, financeiros e de conveniência administrativa);

Em sentido Subjetivo, Orgânico ou Formal:

Em sentido Objetivo, Material ou Funcional:

Em sentido Operacional: É o desempenho perene e sistemático, legal e


técnico dos serviços próprios do Estado em benefício da coletividade.
2. Conceito de Direito Administrativo. Há grande divergência na concei-
tuação por causa da ausência de uma definição clara quanto ao OBJETO desse
ramo do Direito.

• CRITÉRIOS ADOTADOS PARA CONCEITUAR O DIREITO ADMINISTRATIVO:

2.1 Escola do Serviço Público: (Duguit, Jèze e Bonnard)


• Inspirada na Jurisprudência do Conselho de Estado Francês (caso Blanco,
1873);
• Direito Administrativo disciplina o “serviço público”, que abrangia toda a
atuação do Estado, inclusive atividades industriais e comerciais;
• Incluia normas de outros ramos do direito, mas deixava de fora o poder de polícia.
2.2 Critério do Poder Executivo:

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• O Direito Administrativo centralizava todo o seu estudo na atuação do Po-


der Executivo.
• Os outros Poderes também exercem atividade administrativa. O Executivo
exerce atividades de natureza política e constitucional que não interessam
ao Direito Administrativo.

2.3 Critério das Relações Jurídicas:


• Direito Administrativo como o conjunto de normas jurídicas que regem as
relações entre a Administração e os administrados;
• Outros ramos do direito também fazem isso;
• Exclui as relações internas entre Órgãos, Agentes e Entidades Públicas.

2.4 Critério Teleológico: (Oswaldo Aranha Bandeira de Mello)


• Direito Administrativo como o sistema dos princípios jurídicos que regulam
a atividade do Estado para o cumprimento de seus fins.
• Esse ramo restringia-se à forma de ação do Estado-poder, excluindo a ati-
vidade de julgar.

2.5 Critério Negativo ou Residual:


• Direito Administrativo tem por objeto as atividades desenvolvidas para a
consecução dos fins estatais, excluídas a legislação e a jurisdição ou somen-
te esta;
• Sentido Positivo: compreende os institutos jurídicos pelos quais o Estado
busca realizar seus fins;
• Sentido Negativo: define-se o objeto do Direito Administrativo excluin-
do-se a Legislação e a Jurisdição.

2.6 Critério da Distinção entre Atividade Jurídica e Social do Estado:


• Com base no TIPO DE ATIVIDADE EXERCIDA e nos ÓRGÃOS que a exercem;
• É o conjunto dos princípios que regulam a atividade jurídica não conten-
ciosa do Estado e a constituição dos órgãos e meios de sua ação em geral.
2.7 Critério da Administração:

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• Direito Administrativo é o conjunto de princípios que regem a Administra-


ção Pública;
• Compreende os aspectos Subjetivo e Objetivo.

3. Fontes do Direito Administrativo:


• FONTE PRIMÁRIA > Lei.
• FONTES SECUNDÁRIAS: Jurisprudência, Doutrina, Costumes e Princípios
Gerais do Direito.

4. Regime Jurídico Administrativo: É o conjunto sistematizado de prin-


cípios e normas que conferem identidade ao Direito Administrativo, tornando
possível diferenciá-lo dos demais ramos do Direito.
• É o fundamento metodológico de cada um dos institutos do Direito Admi-
nistrativo;
• Permite a compreensão desse ramo do Direito;
• Orientação de Celso Antônio Bandeira de Mello;

• Distinção entre Princípios e Regras:

PRINCÍPIOS:
• Não são meras recomendações ou orientações;
• São normas que obrigam aqueles que a elas se submetem;
• A generalidade quanto aos destinatários e ao conteúdo não prejudica sua
força coercitiva;
• São mandamentos de OTIMIZAÇÃO. Ponderação dos valores.

REGRAS:
• Caracterizam-se pela concretude;
• Amplitude fixada antecipadamente;
• Conflito entre elas é dirimido no plano da validade;
• Não há hierarquia normativa entre princípios e regras, qualquer um pode
prevalecer.
4.2 Princípios do Direito Administrativo:

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José Cretella Júnior afirma que princípio é toda proposição que age como
pressuposto do sistema, legitimando-o. Classifica-os em:
a) princípios onivalentes(ou universais) – os princípios lógicos encontra-
dos em toda construção científica elaborada pelo homem;
b) princípios plurivalentes – os princípios comuns a um grupo de ciências
semelhantes;
c) princípios monovalentes – os princípios que atuam em somente uma
ciência;
d) princípios setoriais – os princípios de um setor de determinada ciência.
Para Celso Antônio, o Regime Jurídico Administrativo fundamenta-se em
dois princípios basilares: Supremacia do Interesse Público sobre o Privado e Indis-
ponibilidade do Interesse Público pela Administração.

 Obs.: Todos os demais princípios e prerrogativas da Administração


Pública decorrem desses dois princípios basilares.

SUPREMACIA DO INTERESSE PÚBLICO:


• Posição privilegiada do órgão encarregado de zelar pelo interesse público;
• Posição de supremacia do órgão nas relações com os administrados;
• Acarreta a exigibilidade e a executoriedade dos Atos Administrativos;
• Possibilidade de Anulação e Revogação de seus próprios atos (autotutela);
• Interesse público PRIMÁRIO (pertinente à sociedade) e SECUNDÁRIO (rela-
tivo às conveniências do aparato Estatal);

INDISPONIBILIDADE DO INTERESSE PÚBLICO:


• Quem detém apenas poderes instrumentais à consecução de um determi-
nado fim não possui a prerrogativa de abrir mão deles;
• O administrador não pode gerir o Estado desvinculado do interesse público;
• Não dispor com liberdade dos deveres entregues à tutela do Administrador;
• Dever de prover a coisa pública com equidade, isonomia, publicidade, ra-
zoabilidade, proporcionalidade, moralidade e demais princípios;
• Torna-se possível ponderar interesses patrimoniais em face de outros inte-

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resses do Estado;
• Divergência quanto ao cabimento de ARBITRAGEM nos contratos com a
Administração; (Agravo de Instrumento 52.181, 1973);
• Possibilidade de transação entre Município e Servidores – RE 253.885-0,
2002- STF);
• Possibilidade de Juízo Arbitral, STJ, Agravo Regimental no MS 11.308-DF,
Fux, 2006).

4.2.1 Legalidade:
• Legalidade estrita e legalidade ampla;
• Presunção de Legitimidade;
• Restrições: MEDIDAS PROVISÓRIAS, ESTADO DE SÍTIO, ESTADO DE DEFESA.

4.2.2 Impessoalidade:

• Nepotismo: impessoalidade, moralidade, eficiência e isonomia;


• Para o STF, não há necessidade de lei formal para a vedação ao nepotismo
(RE 579.951/RN);

4.2.3 Publicidade:

• Condição de Eficácia;
• Termo inicial dos prazos;
• Controle e Fiscalização;
• Publicidade e Publicação;
• Mandado de Segurança e Habeas Data;
• Exceções: 5º, X, XXXII e LX (Lei n. 12.527/2011);

4.2.4 Segurança Jurídica:

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• Não basta o Estado estar vinculado à Lei como no Estado Liberal;


• É preciso observar determinados valores jurídicos que tornem previsível e
razoável a vida em coletividade;
• Sociedade cada dia mais complexa e dinâmica;
• O direito tem a função primordial de resguardar um grau razoável de pre-
visibilidade e continuidade das expectativas no tocante às escolhas institu-
cionais;
• Assegurar o direito de conhecer, antecipadamente, os resultados de suas
ações e omissões;
• É indispensável a confiança das pessoas físicas e jurídicas destinatárias da
atuação Estatal;
• É necessário um mínimo de coerência e firmeza nos comportamentos Es-
tatais;
• Segurança Jurídica como pilar de sustentação da ordem jurídica e da esta-
bilidade das relações sociais;
• O Poder Público não pode omitir-se na sua missão de perseguir e promo-
ver um mínimo de quietude e estabilidade nas relações jurídicas;
• Não pode ser entrave às mudanças sociais e jurídicas;
• Não é imutabilidade das situações de fato e normas jurídicas, todavia a es-
tabilidade mínima das relações sociais;
• Não pode ser reduzida a noção de CERTEZA JURÍDICA;

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PROTEÇÃO DA CONFIANÇA: (Pedro José Jorge COVIELLO, “La protección


de la confianza del administrado)
• Cada um deve guardar a palavra dada, não fraudar a confiança ou abusar
dela;
• A confiança legítima é a segurança jurídica vista do lado do particular;
• Busca atenuar as consequências ocasionadas pela aplicação mecânica do
princípio da Legalidade;
• Não se confunde com a boa-fé. Esta é um pressuposto subjetivo da con-
fiança legítima;

Requisitos:
a)Comprovar uma situação subjetiva de confiança (boa-fé de quem invoca);
b)Que tenha atuado de forma prudente (boa-fé);
c) que o direito gerador tenha sido idôneo para produzi-la.
• Decorre dos postulados: Estado de direito, da segurança jurídica e da equi-
dade.
• Valida a crença de boa-fé nos comportamentos, promessas, declarações e
informes das autoridades públicas;

4.2.5 Boa-fé Objetiva


• Para alguns, implícito no conceito de interesse público;
• Impõe um padrão ético de honestidade, confiança, lealdade e fidelidade;
• Impossibilidade de o Estado violar a confiança que a própria presunção de
legitimidade dos atos administrativos traz, agindo contra factum propium;
• Inadmissível um comportamento público que crie justas expectativas e que,
posteriormente, frustre de modo desarrazoado;
• Válvula do sistema jurídico que permite o ingresso da moral;

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Decorrências da Boa-fé Objetiva:


a)Vedação de excesso no exercício de prerrogativas;
b)Proibição ao venire contra factum propium;
c) Proibição à inação inexplicável e desarrazoada;
d)Vedação à defesa de nulidades puramente formais;
e)Inaplicação do tu quoque (não se pode violar e exigir normas simultanea-
mente);
f )Negativa ao exercício inútil de direitos e deveres;
g)Dever do favor acti (dever de buscar a convalidação dos atos administrati-
vos);
h)Respeito aos motivos determinantes do ato administrativo;
Bons estudos !!!

Emerson Caetano – Professor de Direito Administrati-


vo. Especialista em preparação para concursos públi-
cos. Pós-graduado pela Fundação Escola Superior do
Ministério Público do Distrito Federal – FESMPDFT. Ad-
vogado. Bacharel em Direito pelo Centro Universitário
de Brasília – UniCEUB. Aprovado em cargos públicos.
Ex-Analista Judiciário do STJ. Ex-Assessor de Ministro
do STJ. Foi servidor público por mais de 10 anos.

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DIREITO ADMINISTRATIVO: PROFESSOR GUSTAVO SCATOLINO

Súmula vinculante n. 13 do STF e Agentes Políticos

Com o intuito de ressaltar a aplicação dos princípios administrativos, dentre


eles a impessoalidade, o STF editou a súmula vinculante de n. 13; mas ao julgar
o RE n. RE 579.951 deu um novo sentido à referida súmula, para excluir de sua
incidência os cargos políticos, como os de Ministro, ou Secretário Estadual ou
Municipal; isso em virtude de terem esses cargos natureza eminentemente polí-
tica; diversa, portanto, da que caracteriza os cargos e funções de confiança em
geral, que têm feição nitidamente administrativa.
A súmula vinculante n. 13 vedou “a nomeação de cônjuge, companheiro ou
parente em linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, inclusive
da autoridade nomeante ou de servidor da mesma pessoa jurídica investido em
cargo de direção, chefia ou assessoramento, para o exercício de cargo em comis-
são ou de confiança ou, ainda, de função gratificada na administração pública di-
reta e indireta em qualquer dos poderes da união, dos estados, do distrito federal
e dos municípios, compreendido o ajuste mediante designações recíprocas, viola
a constituição federal”.
A edição de tal súmula decorreu da publicação da Resolução n. 07/2005,
do Conselho Nacional de Justiça. Por meio desse ato, o CNJ proibiu a prática
de nepotismo no âmbito do Poder Judiciário, a pretexto de emprestar eficácia
a diversos princípios constitucionais. Porém, foi interposta Ação Declaratória de
Constitucionalidade, ADC n. 12, pela Associação dos Magistrados Brasileiros.
Foi deferida medida cautelar, suspendendo a discussão da questão pelas ins-
tâncias inferiores. Posteriormente, julgou-se procedente a ADC n. 12, declarando
a constitucionalidade da resolução do Conselho Nacional de Justiça, com eficácia
erga omnes e efeito vinculante (ADC n. 12, Tribunal Pleno, 2009). Com isso, o
nepotismo no âmbito do Poder Judiciário já tinha um marco inicial para sua ex-
tinção.
Na mesma data do julgamento de mérito da ADC n. 12, em 20 de agosto de

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2008, o STF julgou o Recurso Extraordinário n. 579.951, em que se questionava a


prática de nepotismo no âmbito do Poder Executivo. E o recurso foi provido, para
anular a nomeação de um “aparentado com agente político” para cargo em co-
missão. Entendeu-se que a vedação ao nepotismo se estenderia aos demais Po-
deres da República. E, para a caracterização de atos como nepotismo, utilizou-se
dos mesmos critérios fixados pela Resolução n. 07 do CNJ. Era o fim do nepotismo
também para os demais Poderes da República.
Contudo, foram excluídas do alcance dessa vedação as nomeações para car-
gos de natureza política, ou seja, de agentes políticos. Em síntese, decidiu o Tribu-
nal que é proibido ao agente público de quaisquer dos Poderes nomear parentes
até o terceiro grau para cargos ou empregos públicos, ressalvando-se as nome-
ações para cargos de agentes políticos.
Na sessão do dia seguinte a esses históricos julgamentos, o Supremo Tribunal
Federal aprovou a Súmula Vinculante n. 13, expressando que a vedação à prática
do nepotismo se estende a todos os três Poderes e em todas as esferas federa-
tivas.
Ao se analisar o conteúdo da súmula vinculante n. 13, percebe-se que a re-
dação é confusa. Inclusive, na leitura da ata da sessão de aprovação verifica-se a
dificuldade em se encontrarem os termos corretos para a edição. Na parte final
do enunciado, consta a seguinte redação atual: “compreendido o ajuste mediante
designações recíprocas, viola a constituição federal”. Na sessão, foi cogitado uti-
lizar a expressão “inclusive” ou “abrangendo”, ao invés de “compreendido”. Com
efeito, esperava-se que uma súmula vinculante só fosse editada após o tema ter
sido amplamente debatido; mas o STF analisou poucos casos e já foi editando a
referida súmula.
Além do mais, o texto fala em parentes na linha reta, colateral e por afinidade
até o terceiro grau, divergindo, assim, do Código Civil, que limita o parentesco
por afinidade até o segundo grau.
A súmula também não pode criar o impedimento para que parentes assu-
mam função de confiança no mesmo órgão, pessoa jurídica ou até mesmo em
qualquer esfera de governo. É possível que dois irmãos sejam servidores efetivos

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do mesmo órgão (concursados) e venham a assumir função de confiança ou car-


go em comissão, desde que não haja relação de subordinação entre eles. Enten-
dimento contrário resultaria em impedir que um parente recebesse uma função
de confiança no órgão, caso outro já fosse nomeado para função semelhante.
Apesar de todos esses questionamentos, o STF, com a edição da súmula vin-
culante n. 13, veda, expressamente, essa conduta em todos os Poderes e em
toda a Administração Pública de todos os níveis da Federação, com a res-
salva de sua aplicação aos agentes políticos.[1]
A nomeação de parentes ou cônjuge para cargos em comissão ou função de
confiança viola não apenas o princípio da impessoalidade, mas também o princí-
pio da moralidade, entre outros. Por isso, em concurso público todas as opções
abaixo podem ser consideradas corretas:

Aplicações da súmula vinculante n. 13 do STF

Decisões relevantes do STF sobre aplicação da Súmula Vinculante n. 13:


Limitação do Código Civil em relação ao parentesco por afinidade –
“Como relatado, a autora impetrou mandado de segurança contra ato do Presi-
dente do Tribunal de Contas do Estado do Piauí, questionando a ilegalidade de
sua exoneração de cargo em comissão naquela Corte de Contas em razão de ser
sobrinha da esposa do Conselheiro Luciano Nunes Santos. A medida liminar foi
deferida e, posteriormente, confirmada na sentença que concedeu a segurança,
sob o fundamento de que a impetrante não podia ser alcançada pela Súmula
Vinculante 13, pois o parentesco por afinidade é limitado aos ascendentes, des-
cendentes e irmãos do cônjuge ou companheiro, nos termos do art. 1.595, § 1º,
do Código Civil. Tal entendimento não merece prosperar. A Súmula Vinculante 13
é expressa em incluir a nomeação de parentes por afinidade, até o terceiro grau,
inclusive, no conceito de nepotismo. Tal formulação, é verdade, pode se entender
que conflitaria com o conceito de parentesco delimitado na lei civil, que confor-
me já ressaltado, limita-o aos ascendentes, descendentes e irmãos do cônjuge
ou companheiro. Essa suposta incompatibilidade, contudo, foi afastada por este

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Tribunal por ocasião do julgamento da ADC 12-MC/DF, Rel. Min. Ayres Britto.” Rcl
9.013, Relator Ministro Ricardo Lewandowski, Decisão Monocrática, julgamento
em 21.9.2011, DJe de 26.9.2011.
Súmula Vinculante 13 e não exaustão das possibilidades de nepotis-
mo – “Ao editar a Súmula Vinculante n. 13, a Corte não pretendeu esgotar todas
as possibilidades de configuração de nepotismo na Administração Pública, dada
a impossibilidade de se preverem e de se inserirem, na redação do enunciado,
todas as molduras fático-jurídicas reveladas na pluralidade de entes da Federa-
ção (União, estados, Distrito Federal, territórios e municípios) e das esferas de
Poder (Executivo, Legislativo e Judiciário), com as peculiaridades de organização
em cada caso. Dessa perspectiva, é certo que a edição de atos regulamentares
ou vinculantes por autoridade competente para orientar a atuação dos demais
órgãos ou entidades a ela vinculados quanto à configuração do nepotismo não
retira a possibilidade de, em cada caso concreto, proceder-se à avaliação das
circunstâncias à luz do art. 37, caput, da CF/88.” MS 31.697, Relator Ministro Dias
Toffoli, Primeira Turma, julgamento em 11.3.2014, DJe de 2.4.2014.
Servidor público efetivo indicado para cargo em comissão e relação
de parentesco com servidor não efetivo do mesmo órgão – “Considerada
a amplitude e a complexidade da estrutura administrativa dos diversos órgãos do
Poder Judiciário no tocante à gestão de seus servidores (efetivos ou não), enten-
do que não configura nepotismo a nomeação de pessoa sem vínculo efetivo com
o órgão para cargo de direção, chefia ou assessoramento sem que se questione
a existência de qualquer influência do servidor efetivo com quem o nomeado é
casado, mantém relação estável ou possui relação de parentesco sobre a autori-
dade nomeante, seja para fins de se alcançarem interesses pessoais do servidor
efetivo (devido a relações de amizade, subordinação ou mudança de localidade,
por exemplo) ou da autoridade nomeante (mediante troca de favores), sob pena
se afrontar um dos princípios que a própria Resolução CNJ n. 7/05 e a Súmula
Vinculante n. 13 pretenderam resguardar, qual seja, o princípio constitucional da
impessoalidade.” MS 28.485, Relator Ministro Dias Toffoli, Primeira Turma, julga-
mento em 11.11.2014, DJe de 4.12.2014.
Nepotismo e lei estadual que prevê hipóteses de exceção – “A previ-

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são impugnada, ao permitir (excepcionar), relativamente a cargos em comissão


ou funções gratificadas, a nomeação, a admissão ou a permanência de até dois
parentes das autoridades mencionadas no caput do art. 1º da Lei estadual n.
13.145/1997 e do cônjuge do chefe do Poder Executivo, além de subverter o
intuito moralizador inicial da norma, ofende irremediavelmente a Constituição
Federal.” ADI 3.745, Relator Ministro Dias Toffoli, Tribunal Pleno, julgamento em
15.5.2013, DJe de 1.8.2013.
[1]
. NÃO APLICAÇÃO DA S.V. n. 13 A CARGOS DE CONSELHEIROS DE TRIBU-
NAIS DE CONTAS por ser cargo técnico e não político: “Entendeu-se que estariam
presentes os requisitos autorizadores da concessão da liminar. Considerou-se
que a natureza do cargo de Conselheiro do Tribunal de Contas não se en-
quadraria no conceito de agente político, uma vez que exerce a função
de auxiliar do Legislativo no controle da Administração Pública e que o
processo de nomeação do irmão do Governador, ao menos numa análise
perfunctória dos autos, sugeriria a ocorrência de vícios que maculariam
a sua escolha por parte da Assembléia Legislativa do Estado. (..). Rcl 6702
AgR-MC/PR, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 4.3.2009 STF

Gustavo Scatolino – Atualmente é Procurador da Fa-


zenda Nacional. Bacharel em Direito e Pós-graduado
em Direito Administrativo e Processo Administrativo.
Ex-Assessor de Ministro do STJ. Aprovado em vários
concursos públicos, dentre eles, Analista Judiciário do
STJ, exercendo essa função durante 5 anos, e Procura-
dor do Estado do Espírito Santo.

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DIREITO DO TRABALHO: PROFESSOR JOSÉ GERVÁSIO

CONCILIAÇÃO

A Justiça do Trabalho também possui uma forte atuação no âmbito concilia-


tório. Essa lógica deriva do próprio texto celetista, cujo art. 764 expressa no caput
e § 1º:
Art. 764 – Os dissídios individuais ou coletivos submetidos à apreciação da
Justiça do Trabalho serão sempre sujeitos à conciliação.
1º – Para os efeitos deste artigo, os juízes e Tribunais do Trabalho empregarão
sempre os seus bons ofícios e persuasão no sentido de uma solução conciliatória
dos conflitos.
A importância da conciliação é tamanha que o acordo pode ser realizado tan-
to nos momentos em que a tentativa é obrigatória no processo trabalhista, como
em qualquer outro momento. A tentativa compulsória ocorre antes da apresen-
tação da defesa (“art. 846 – Aberta a audiência, o juiz ou presidente proporá a
conciliação”) e após as razões finais (Art. 850 – Terminada a instrução, poderão
as partes aduzir razões finais, em prazo não excedente de 10 (dez) minutos para
cada uma. Em seguida, o juiz ou presidente renovará a proposta de conciliação,
e não se realizando esta, será proferida a decisão).
Entretanto, como afirmado, nada impede a conciliação perpetrada fora desses
momentos, conforme art. 764, § 3º, da CLT: “É lícito às partes celebrar acordo que
ponha termo ao processo, ainda mesmo depois de encerrado o juízo conciliatório”.
Uma vez proposta a conciliação, o juiz não possui obrigação de homologá-la,
devendo justificar o indeferimento do pedido de homologação. E a parte não
pode alegar direito líquido e certo de ter o acordo chancelado. Nesse sentido
segue a Súmula 418 do TST:
MANDADO DE SEGURANÇA VISANDO À CONCESSÃO DE LIMINAR OU HO-
MOLOGAÇÃO DE ACORDO (conversão das Orientações Jurisprudenciais n.s 120
e 141 da SBDI-II) – Res. 137/2005, DJ 22, 23 e 24.08.2005
A concessão de liminar ou a homologação de acordo constituem faculdade

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do juiz, inexistindo direito líquido e certo tutelável pela via do mandado de segu-
rança.
A estipulação do acordo pressupõe a discriminação da natureza das parcelas
ajustadas, ou seja, se são indenizatórias ou remuneratórias. É o que se infere do
art. 832, § 3º, da CLT: “As decisões cognitivas ou homologatórias deverão sempre
indicar a natureza jurídica das parcelas constantes da condenação ou do acordo
homologado, inclusive o limite de responsabilidade de cada parte pelo recolhi-
mento da contribuição previdenciária, se for o caso”.
Se a parcela for discriminada como remuneratória, haverá incidência de con-
tribuições previdenciária. É o que ocorre com as horas extras, salários, adicionais,
gratificações etc. Por outro lado, se a parcela for indenizatória (tais como férias
vencidas, multa do art. 477, § 8º, da CLT etc), não há que se falar incidência de
contribuições previdenciárias.
Caso não haja essa discriminação, as contribuições previdenciárias incidirão
sobre o valor total do acordo. Essa mesma lógica se aplica mesmo quando não
há vínculo de emprego reconhecido no acordo. Nessa direção segue a inteligên-
cia da OJ 368 da SDI-I do TST:
DESCONTOS PREVIDENCIÁRIOS. ACORDO HOMOLOGADO EM JUÍZO. INE-
XISTÊNCIA DE VÍNCULO EMPREGATÍCIO. PARCELAS INDENIZATÓRIAS. AUSÊN-
CIA DE DISCRIMINAÇÃO. INCIDÊNCIA SOBRE O VALOR TOTAL (DEJT divulgado
em 03, 04 e 05.12.2008)
É devida a incidência das contribuições para a Previdência Social sobre o valor
total do acordo homologado em juízo, independentemente do reconhecimento
de vínculo de emprego, desde que não haja discriminação das parcelas sujeitas
à incidência da contribuição previdenciária, conforme parágrafo único do art. 43
da Lei n. 8.212, de 24.07.1991, e do art. 195, I, “a”, da CF/1988.
Se o acordo for efetuado após o trânsito em julgado, deve haver proporcio-
nalidade entre as parcelas remuneratórias e indenizatórias estipuladas na conde-
nação e no objeto do acordo. A Súmula 376 do TST aponta:

CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA. ACORDO HOMOLOGADO EM JUÍZO

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APÓS O TRÂNSITO EM JULGADO DA SENTENÇA CONDENATÓRIA. INCIDÊNCIA


SOBRE O VALOR HOMOLOGADO (DEJT divulgado em 19, 20 e 22.04.2010)
É devida a contribuição previdenciária sobre o valor do acordo celebrado e
homologado após o trânsito em julgado de decisão judicial, respeitada a pro-
porcionalidade de valores entre as parcelas de natureza salarial e indenizatória
deferidas na decisão condenatória e as parcelas objeto do acordo.
Na fixação da multa no termo de acordo, a importância não pode ultrapassar
o valor da obrigação principal. Vejamos a OJ 54 da SDI-I do TST:
MULTA. CLÁUSULA PENAL. VALOR SUPERIOR AO PRINCIPAL (título alterado,
inserido dispositivo e atualizada a legislação) – DJ 20.04.2005
O valor da multa estipulada em cláusula penal, ainda que diária, não poderá
ser superior à obrigação principal corrigida, em virtude da aplicação do artigo
412 do Código Civil de 2002 (art. 920 do Código Civil de 1916).
Homologado o acordo, as partes não podem recorrer de seus termos. Essa
vedação decorre do art. 831, parágrafo único, da CLT: “No caso de conciliação, o
termo que for lavrado valerá como decisão irrecorrível, salvo para a Previdência
Social quanto às contribuições que lhe forem devidas”. Já a União, credora das
contribuições previdenciárias, pode recorrer, conforme art. 832, § 4º, da CLT.
Nesse contexto, caso uma das partes queira impugnar a conciliação, deve
manejar ação rescisória. O TST já consolidou entendimento na Súmula 259:
TERMO DE CONCILIAÇÃO. AÇÃO RESCISÓRIA (mantida) – Res. 121/2003, DJ
19, 20 e 21.11.2003
Só por ação rescisória é impugnável o termo de conciliação previsto no pará-
grafo único do art. 831 da CLT.
Quanto aos efeitos do acordo, se houver extinção do contrato de trabalho
com ampla e plena quitação, sem qualquer ressalva, a eficácia liberatória atinge
qualquer outra parcela oriunda do contrato, ainda que não pedida na ação prin-
cipal. E, caso seja ajuizada uma nova ação trabalhista pedindo outras verbas, a
ação será, como regra, julgada extinta sem resolução de mérito por violação à
coisa julgada.
Esse é o raciocínio da OJ 132 da SDI-II do TST:

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AÇÃO RESCISÓRIA. ACORDO HOMOLOGADO. ALCANCE. OFENSA À COISA


JULGADA (DJ 04.05.2004)
Acordo celebrado – homologado judicialmente – em que o empregado dá
plena e ampla quitação, sem qualquer ressalva, alcança não só o objeto da inicial,
como também todas as demais parcelas referentes ao extinto contrato de traba-
lho, violando a coisa julgada, a propositura de nova reclamação trabalhista.

José Gervásio – Ex-Procurador do Estado do Goiás.


Ex-Procurador da Fazenda Nacional. Juiz do Trabalho.
Ministra as matérias de Direito do Trabalho, Direito
Processual do Trabalho e Direito Administrativo.

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DIREITO DO CONSUMIDOR: PROFESSORA PATRÍCIA DREYER


Meus caros alunos, a dica de hoje é sobre Direito do Consumidor e, dentro
dessa disciplina, vamos falar das sanções administrativas e penais sofridas
pelo fornecedor:

1 – Nas linhas do artigo 56, as infrações das normas de defesa do consumi-


dor ficam sujeitas, conforme o caso, às seguintes sanções administrativas, sem
prejuízo das de natureza civil, penal e das definidas em normas específicas: I –
multa; II – apreensão do produto; III – inutilização do produto; IV – cassação do
registro do produto junto ao órgão competente; V – proibição de fabricação do
produto; VI – suspensão de fornecimento de produtos ou serviço; VII – suspen-
são temporária de atividade; VIII – revogação de concessão ou permissão de uso;
IX – cassação de licença do estabelecimento ou de atividade; X – interdição, total
ou parcial, de estabelecimento, de obra ou de atividade; XI – intervenção admi-
nistrativa; XII – imposição de contrapropaganda.
O artigo 55 do CDC, ao elencar as sanções administrativas sofridas pelo for-
necedor, cuida na verdade do chamado poder de polícia que, nas linhas do
professor Celso Antônio Bandeira de Mello, trata-se da atividade expressa em
atos normativos ou concretos de condicionar, com fundamento em sua suprema-
cia geral e na forma da lei, a liberdade e a propriedade dos indivíduos, mediante
ação fiscalizadora, preventiva ou repressiva, impondo coercitivamente aos parti-
culares um dever de abstenção (“non facere”), a fim de conformar-lhes os com-
portamentos aos interesses sociais consagrados no sistema normativo.
2 – Falando do poder de polícia, é bom lembrar que ele se reveste de três
atributos: discricionariedade, autoexecutoriedade e coercibilidade. O primeiro
trata-se da livre escolha, à luz da oportunidade e da conveniência, que tem a
Administração Pública de aplicar sanções a fim de atingir o objetivo pretendido.
Portanto, se há mais de uma possibilidade de sanção, é a Administração que
deve verificar no caso concreto qual seria mais adequada.
3 – A autoexecutoriedade quer dizer que a Administração Pública também
tem a prerrogativa de decidir e aplicar a sanção e não precisa da intermediação
do Poder Judiciário para fazer valer ou cumprir a sanção imposta.
4 – A coercibilidade quer dizer que se houver eventual resistência por parte

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do fornecedor em cumprir a sanção imposta pela Administração Pública, o próprio


órgão público pode impor a decisão expedida e realiza-la, podendo utilizar-se, in-
clusive, de força policial para tanto.
5 – O artigo 57 do CDC reza que a multa deve ser destinada a um Fundo
de que trata a Lei da Ação Civil Pública, ou para os Fundos Estaduais ou Muni-
cipais que defendem o Direito do Consumidor. São fundos de interesses difusos
que devem, em tese, receber valores de condenações judicias por eventual lesão
a tais interesses e que devem ser revertidos para o financiamento de atividades
relacionadas ao interesses previstos no CDC, na Lei da Ação Civil Pública, na Lei
da Ação Popular, dentre outras.
6 – Os artigos 58 a 60 do CDC trabalham as sanções em forma de gradação
– tanto assim, que as penas de apreensão, de inutilização de produtos, de proibição
de fabricação de produtos, de suspensão do fornecimento de produto ou serviço,
de cassação do registro do produto e revogação da concessão ou permissão de
uso do artigo 58 só podem ser aplicadas quando se constate algum vício de quan-
tidade ou qualidade, inadequação ou insegurança. Para o artigo 59, a reincidência
deve ser considerada a prática de nova infração, de mesma natureza, que ocorrer
depois do término do processo administrativo sancionatório anterior.
7 – No que diz respeito às infrações penais previstas nos artigos 61 a
80, é importante mencionais que, nesse diapasão, o Código Penal e a lei consu-
merista se complementam e continuam em vigor, pois o CDC não teve caráter
revogatório. Em caso de aparente conflito, devem ser aplicados os critérios da
especialidade, da subsidiariedade, da consunção etc. Quanto à competência para
julgamento de tais crimes, a mais autorizada jurisprudência entende que a com-
petência é das varas criminais comuns.
8 – O artigo 63 do CDC tipifica como crime omitir dizeres ou sinais ostensivos
sobre a nocividade ou periculosidade de produtos, nas embalagens, nos invólu-
cros, recipientes ou publicidade, e fica claro que o objeto juridicamente tutelado
é a vida, a saúde, a segurança do consumidor. É crime próprio, que demanda o
sujeito ativo fornecedor, de perigo abstrato, pois não se exige prova da ocorrên-
cia de perito concreto, omissivo puro ou próprio, de forma vinculada, instantâ-
neo, unissubjetivo, unissubsistente. Admite a forma culposa, pois não se observa
o dever de cuidado, num menor potencial ofensivo, cabendo os benefícios da

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lei dos Juizados Especiais Criminais, sendo aplicável a suspensão condicional do


processo. Todavia, não se admite transação penal.
9 – Já o artigo 64 tipifica que é crime deixar de comunicar à autoridade com-
petente e aos consumidores a nocividade ou periculosidade de produtos cujo
conhecimento seja posterior à sua colocação no mercado. Aqui o bem da vida
também é a saúde, a segurança e a vida do consumidor. É crime omissivo puro
ou próprio, de perigo abstrato, instantâneo, de forma vinculada porque sua con-
sumação só pode ser perpetrada conforme descrição legal, unissubjetivo porque
só pode ser cometido pelo fornecedor, unissubsistente porque praticável por ato
único, podendo ser somente doloso. Por ser de menor potencial ofensivo, admi-
te-se a suspensão condicional do processo.
10 – Por fim, a última dica de hoje é o artigo 65 do CDC que tipifica ser crime
executar serviço de alto grau de periculosidade, contrariando determinação de
autoridade competente. Há contrariedade ao princípio da legalidade porque não
traz a taxatividade do que é um serviço de alto grau de periculosidade. De toda
forma, é crime próprio, de forma vinculada, comissivo, instantâneo, de perigo
abstrato, unissubjetivo, plurissubistente pois várias condutas podem ser aqui en-
quadradas, e necessariamente doloso.
Em breve, teremos mais dicas! Continue estudando!!!
Abraço afetuoso,

Patrícia Dreyer – é graduada em Direito há 14 anos,


pelo UNICEUB, advogada, especialista em Direito Pro-
cessual Civil pela PUC-SP, especialista em Direito Público
e estudante regular do Programa de Doutorado. Profes-
sora de Direito Civil, Direito Processual Civil, Direito do
Consumidor, Estatuto da Criança e do Adolescente e do
Estatuto do Idoso, com experiência em cursos de gradu-
ação, pós-graduação, Academia de Polícia Militar, e pre-
paratórios para concursos públicos e exames de Ordem.

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DIREITO DO TRABALHO: PROFESSOR JOSÉ GERVÁSIO

MANDADO DE SEGURANÇA

A Justiça do Trabalho possui competência para apreciar e julgar mandados


de segurança relativos a matérias afetas a sua jurisdição, conforme art. 114, IV, da
Constituição Federal.
Nesse contexto, torna-se imperioso ao candidato entender como funciona a
dinâmica desse remédio processual no âmbito da Justiça Especializada, sobretu-
do diante da aplicação da Lei n. 12.016/09 e entendimento consolidado do Tribu-
nal Superior do Trabalho.
De plano, considerando ser pressuposto do writ constitucional a existência de
direito líquido e certo a ser tutelado judicialmente, torna-se relevante compreen-
der que o TST possui diversos posicionamentos consolidados explicitando casos
em que esse direito existe e outros em que esse direito não existe. Nessa última
hipótese (inexistência de direito líquido e certo), o manejo do mandado de segu-
rança se torna inviabilizado.
Inicialmente, a parte não possui direito líquido e certo à homologação de
acordo, já que se trata de faculdade do juiz. Logo, de nada adianta impetrar
mandado de segurança contra decisão do juiz que indefere a homologação de
acordo. Vejamos a Súmula 418 do TST:

MANDADO DE SEGURANÇA VISANDO À CONCESSÃO DE LIMINAR OU


HOMOLOGAÇÃO DE ACORDO

A concessão de liminar ou a homologação de acordo constituem faculdade


do juiz, inexistindo direito líquido e certo tutelável pela via do mandado de segu-
rança.

Outro exemplo refere-se à penhora em dinheiro do executado determinada

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pelo juiz em execução definitiva. Não há direito líquido e certo do executado de


ter outro bem diverso de dinheiro penhorado apenas porque lhe era mais con-
veniente. Nessa direção segue a Súmula 417, I do TST:

MANDADO DE SEGURANÇA. PENHORA EM DINHEIRO

I – Não fere direito líquido e certo do impetrante o ato judicial que de- termi-
na penhora em dinheiro do executado, em execução definitiva, para garantir cré-
dito exeqüendo, uma vez que obedece à gradação prevista no art. 655 do CPC.
Apenas para registro: atualmente a ordem de gradação de penhora encontra-se
no art. 835 do CPC de 2015.
Mais um exemplo apenas para ilustrar. O deferimento de liminar para impor
uma reintegração de empregado estável, seja porque sua estabilidade decorre
de lei, seja porque decorre de norma coletiva, não viola direito líquido e certo do
empregador. Nessa direção segue a OJ 64 da SDI-II do TST:

MANDADO DE SEGURANÇA. REINTEGRAÇÃO LIMI- NARMENTE CON-


CEDIDA (INSERIDA EM 20.09.2000)

Não fere direito líquido e certo a concessão de tutela antecipada para reinte-
gração de empregado protegido por estabilidade provisória decorrente de lei ou
norma coletiva.
Importante lembrar que o recurso cabível da decisão que julga o mérito do
mandado de segurança é o recurso ordinário. Assim, muito embora a Lei n.
12.016/09 preveja a apelação como recurso cabível da sentença (art. 14, caput),
no Processo do Trabalho é cabível o recurso ordinário.
Aliás, o Tribunal Superior do Trabalho editou a Instrução Normativa 27/05 que
preceituou:

Art. 1º As ações ajuizadas na Justiça do Trabalho tramitarão pelo rito ordinário

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ou sumaríssimo, conforme previsto na Consolidação das Leis do Trabalho, ex-


cepcionando-se, apenas, as que, por disciplina legal expressa, estejam
sujeitas a rito especial, tais como o Mandado de Segurança, Habeas Cor-
pus, Habeas Data, Ação Rescisória, Ação Cautelar e Ação de Consignação em
Pagamento.
Art.2º A sistemática recursal a ser observada é a prevista na Consolida-
ção das Leis do Trabalho, inclusive no tocante à nomenclatura, à alçada,
aos prazos e às competências.
(…)
Assim, se a competência para apreciar o mandado de segurança origina-
riamente for da Vara ou do TRT, a decisão que julga definitivamente o remédio
processual (mérito) desafia recurso ordinário. Por isso, percebe-se a lógica da
Súmula 201 do TST, segundo a qual:

RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA

(mantida) – Res. 121/2003, DJ 19, 20 e 21.11.2003


Da decisão de Tribunal Regional do Trabalho em mandado de segurança cabe
recurso ordinário, no prazo de 8 (oito) dias, para o Tribunal Superior do Trabalho,
e igual dilação para o recorrido e interessados apresentarem razões de contra-
riedade.
Nesse contexto, se o mandado de segurança é impetrado originariamente
perante o TRT, o recurso contra a decisão final colegiada não pode ser o recurso
de revista. A interposição de recurso de revista seria erro grosseiro:

OJ 152 da SDI-II do TST

AÇÃO RESCISÓRIA E MANDADO DE SEGURANÇA. RECURSO DE


REVISTA DE ACÓRDÃO REGIONAL QUE JULGA AÇÃO RESCISÓRIA OU
MANDADO DE SEGURANÇA. PRINCÍPIO DA FUNGIBILIDADE. INAPLI-
CABILIDADE. ERRO GROSSEIRO NA INTERPOSIÇÃO DO RECURSO (DEJT
divulgado em 03, 04 e 05.12.2008). A interposição de recurso de revista de

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decisão definitiva de Tribunal Regional do Trabalho em ação rescisória ou em


mandado de segurança, com fundamento em violação legal e divergência ju-
risprudencial e remissão expressa ao art. 896 da CLT, configura erro grosseiro,
insuscetível de autorizar o seu recebimento como recurso ordinário, em face do
disposto no art. 895, “b”, da CLT.
Entretanto, nesse ponto, é importante uma ponderação. Se a hipótese con-
creta não justificar o uso do mandado de segurança ou se, mesmo justificando,
faltar um requisito legal, pode ser indeferida a petição inicial do MS liminarmente.
Vejamos o art. 10 da Lei n. 12.016/09:
Art. 10. A inicial será desde logo indeferida, por decisão motivada, quando
não for o caso de mandado de segurança ou lhe faltar algum dos requisitos legais
ou quando decorrido o prazo legal para a impetração.
• 1º Do indeferimento da inicial pelo juiz de primeiro grau caberá apelação
e, quando a competência para o julgamento do mandado de segurança
couber originariamente a um dos tribunais, do ato do relator caberá agravo
para o órgão competente do tribunal que integre.

(…)
No caso de extinção do processo sem resolução de mérito pelo juiz (compe-
tência originária da Vara), caberá recurso ordinário (art. 895, I, da CLT).
Todavia, se a decisão de extinção liminar for de desembargador relator (nos
processos de competência originária do TRT), o recurso cabível contra a decisão
monocrática é agravo regimental para o colegiado e não recurso ordinário. O even-
tual erro, contudo, não se reputa tão grave, já que o TST aceita receber o recurso
ordinário como agravo regimental e mandar o processo para o TRT julgar o agravo.
Esse é o entendimento da OJ 69 da SDI-II do TST:
FUNGIBILIDADE RECURSAL. INDEFERIMENTO LIMINAR DE AÇÃO
RESCISÓRIA OU MANDADO DE SEGURANÇA. RECURSO PARA O TST. RE-
CEBIMENTO COMO AGRAVO REGIMENTAL E DEVOLUÇÃO DOS AUTOS
AO TRT. Inserida em 20.09.00.
Recurso ordinário interposto contra despacho monocrático indeferitório da

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petição inicial de ação rescisória ou de mandado de segurança pode, pelo princí-


pio de fungibilidade recursal, ser recebido como agravo regimental. Hipótese de
não conhecimento do recurso pelo TST e devolução dos autos ao TRT, para que
aprecie o apelo como agravo regimental.
Bons estudos!

José Gervásio – Ex-Procurador do Estado do Goiás.


Ex-Procurador da Fazenda Nacional. Juiz do Trabalho.
Ministra as matérias de Direito do Trabalho, Direito
Processual do Trabalho e Direito Administrativo.

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DIREITO DO CONSUMIDOR: PROFESSORA PATRÍCIA DREYER

Meus caros alunos, a dica de hoje é sobre Direito do Consumidor e, dentro


dessa disciplina, vamos falar sobre a origem, a finalidade e os princípios do CDC:

1 – Nos EUA, a defesa do consumidor nasceu de movimentos pró-consumi-


dores, mas aqui no Brasil, tal defesa começou por volta da década de 1970, com
as primeiras associações civis voltadas para esta fim: o Conselho de Defesa do
Consumidor – CODECON; a Associação de Defesa e Orientação do Consumidor –
ADOC; a Associação de Proteção ao Consumidor – APC; e o Conselho Estadual de
Proteção ao Consumidor, e o Grupo Executivo de Proteção ao Consumidor, que
veio ao ser denominado PROCON.
2 – Com o acentuado desequilíbrio de forças entre produtores e distribuidores
de um lado, e o consumidor, percebeu-se sua vulnerabilidade técnica, fática e ju-
rídica. Daí, dizer-se que a vulnerabilidade é requisito essencial para a formulação
do conceito de consumidor. Só assim se justifica a aplicação de uma lei protetiva
em face de uma relação de desiguais.
3 – A defesa do consumidor é direito fundamental e princípio geral de toda a
atividade econômica, à luz do artigo 170, inciso V, da Constituição, entre os princí-
pios da ordem econômica que se estender até a relação de serviço público, quan-
do prestado de forma empresarial, como fornecimento de água ou energia elétrica.
4 – O Código de Defesa do Consumidor é uma lei principiológica que ob-
jetiva efetivar os princípios constitucionais da defesa do consumidor, postos es-
pecialmente no artigo 5º, inciso XXXII; e artigo 170 da Constituição e, para isso,
criou uma estrutura multidisciplinar que poderá ser usada em todos os ramos
do Direito onde ocorrem relações de consumo – seja direito público ou privado,
contratual ou extracontratual, material ou processual. Assim, nas linhas de Cláu-
dia Lima Marques, o Código do Consumidor, embora não discipline nenhum con-
trato especificamente, aplica-se a todos os tipos de contratos que geram relação
de consumo.
5 – Se houver aparente antinomia, sendo o CDC lei especial em relação às

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leis que já disciplinavam a matéria, há de prevalecer o CDC, lei material posterior


que inovou, pois ela é lei especial, específica e exclusiva que estabelece disciplina
uniforme e única para todas as relações de consumo.
6 – Um bom exemplo da dica acima está na indenização limitada que prevê,
para o caso de transporte áereo internacional, a Convenção de Varsóvia, em seu
artigo 22, n.1. Com o ingresso do CDC, entretanto, em caso de acidente de consu-
mo, resta afastada a responsabilidade civil tarifada. Pela teoria dualista, atribui-se
prevalência ao Direito Interno, pois a Convenção não se sobrepõe às leis do país
em que seu Legislativo expressa sua vontade por meio de suas próprias normas.
7 – Fábio Konder Comparato ensina, no que tange à norma de ordem pública
e de interesse social, que a defesa do consumidor é, indubitavelmente, um tipo
de princípio programa, tendo por objetivo uma ampla política pública. A expres-
são política nacional designa um programa de ação de interesse público. Como
todo programa de ação, a política pública desenvolve uma atividade, isto é, uma
série organizada de ações, para a consecução de uma finalidade, imposta na lei
ou na Constituição. A imposição constitucional ou legal de políticas é feita, por-
tanto, por meio das chamadas normas-objetivo. Tudo isso para dizer que o obje-
tivo do CDC é desenvolver um projeto de ação destinado a alcançar a harmonia
das relações de consumo, conforme se verifica na parte final do artigo 4º do CDC.
8 – No artigo 6º, inciso VI, verifica-se que dentre os direitos básicos, está o
de prevenir a ocorrência de danos ao consumidor. Para isso, é necessário educar,
orientar e informar consumidores e fornecedores, restringindo a autonomia con-
tratual dos fornecedores, trazendo a possibilidade de responsabilização penal,
civil e administrativa. Isso não é garantia para a não ocorrência de danos, mas
estampa a necessidade de efetividade de reparação.
9 – Em caso de antinomia entre o Código Civil e o Código de Defesa do Con-
sumidor, observe-se que o Código Civil é lei central, base conceitual para outras
leis, mas que cuida da relação entre iguais. Já o CDC, é norma aplicável no campo
especial, que regula relação entre desiguais, buscando igualdade na desigualda-
de material, numa relação jurídica que busca proteger o diferente e o vulnerável:
o consumidor.
10 – O princípio da boa fé no CDC está na cláusula geral do artigo 4º, inci-

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so III, e importa dizer que a boa fé deve estar presente em todas as relações de
consumo, e isso quer dizer que os contratantes não são obrigados somente a
realizar a prestação principal, mas também usar de seus esforços para garantir o
perfeito adimplemento do contrato, pensando no direito do outro que precisa ser
preservado, afastando a ideia ou a hipótese de vantagem excessiva. O que conta
é a probidade e a colaboração entre as partes.
Em breve, teremos mais dicas! Continue estudando!!!
Abraço afetuoso,

Patrícia Dreyer – é graduada em Direito há 14 anos,


pelo UNICEUB, advogada, especialista em Direito Pro-
cessual Civil pela PUC-SP, especialista em Direito Público
e estudante regular do Programa de Doutorado. Profes-
sora de Direito Civil, Direito Processual Civil, Direito do
Consumidor, Estatuto da Criança e do Adolescente e do
Estatuto do Idoso, com experiência em cursos de gradu-
ação, pós-graduação, Academia de Polícia Militar, e pre-
paratórios para concursos públicos e exames de Ordem.

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DIREITO PENAL:
PROFESSOR FLÁVIO MILHOMEM

Querida Aluna, Querido Aluno,


Aproxima-se a 1ª fase do XXI Exame de Ordem Unificado da Ordem dos Ad-
vogados do Brasil; e, assim, gostaria de dividir com vocês alguns temas de inte-
resse no Processo Penal, com alta possibilidade de serem cobrados na sua prova.
Então, vamos ao trabalho!

PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DO PROCESSO PENAL

São princípios que regem o processo penal, previstos na Constituição Federal:


I – Princípio do devido processo legal (CF, art. 5º, LIV);
II – Princípio da presunção de inocência (CF, art. 5º, LVII);
III – Princípio da ampla defesa (CF, art. 5º, LV);
IV – Princípio do contraditório (CF, art. 5º, LV);
V – Princípio da publicidade (CF, art. 93, IX);
VI – Princípio da vedação das provas ilícitas (CF, art. 5º, LVI);
VII – Princípio da economia processual (CF, art. 5º, LXXVIII);
VIII – Princípio do juiz natural (CF, art. 5º, XXXVII);
IX – Princípio da plenitude de defesa, soberania dos veredictos e sigilo das
votações aplicável ao julgamento dos crimes dolosos contra a vida no Tribunal do
Júri (CF, art. 5º, XXXVIII)

PRINCÍPIO DO DEVIDO PROCESSO LEGAL

De acordo com a Constituição Federal (art. 5º, LIV), ninguém será privado da
liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal.
Entende-se por devido processo legal o conjunto de regras, antecedente à
prática do crime, que regulamenta os procedimentos e garantias para a efetiva
aplicação da sanção penal ao autor da conduta criminosa.

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PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA

O princípio da presunção de inocência (CF, art. 5º, LVII) garante ao acusado,


enquanto não transitar em julgado a sentença penal condenatória, o status de
inocente, mesmo após a prática do crime e oferecimento da ação penal; cabendo
ao Ministério Público, via de regra, afastar esta presunção (relativa) por meio da
atividade probatória que comprove a responsabilidade penal do acusado.

PRINCÍPIO DA AMPLA DEFESA

É preceito constitucional, previsto no art. 5º, LV, da Carta Magna, que, aos liti-
gantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são asse-
gurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes.
A ampla defesa deve ser entendida como a possibilidade de utilização de to-
dos os meios admitidos em direito para a manutenção do direito fundamental de
liberdade do acusado em processo penal, a fim de se obter o não provimento da
pretensão punitiva do Estado ou, ao menos, não na sua integralidade.

PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO

É garantia processual, prevista no art. 5º, LV, da Constituição Federal, o direito


ao contraditório.
Representa a possibilidade processual de manifestação de uma parte, sempre
que a outra apresentar prova ou fizer alegação acerca do fato criminoso objeto
do processo penal. É usual se identificar o princípio do contraditório com a ex-
pressão “paridade de armas”, ou seja, a igual oportunidade das partes, acusação
e defesa, de se manifestarem no processo.

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PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE

A publicidade dos atos processuais é garantia constante da Constituição Fe-


deral (CF, art. 93, IX); e constitui característica essencial do sistema acusatório. No
entanto, não havendo direitos absolutos no ordenamento jurídico, a publicidade
processual pode sofrer restrições ante à prevalência do interesse na proteção do
interesse da vítima ou da ordem pública.

PRINCÍPIO DA VEDAÇÃO DAS PROVAS ILÍCITAS

O processo penal é procedimento de reconstrução histórica por meio da ati-


vidade probatória. Procura-se reproduzir, ao longo da instrução processual, por
meio das provas admitidas em Direito, o fato da vida (crime) que deu ensejo ao
oferecimento da ação penal.
Todavia, para o exercício desta atividade probatória, o legislador constitucio-
nal impõe limites éticos e, dentre eles, a proibição de utilização de provas ilícitas
(v.g. tortura, interceptação telefônica clandestina etc.) para tornar certa a respon-
sabilidade penal do acusado (CF, art. 5º, LVI)

PRINCÍPIO DA ECONOMIA PROCESSUAL

A todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável du-


ração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação (CF,
art. 5º, LXXVIII).
A celeridade processual é medida que se impõe para a concretização da se-
gurança jurídica; bem como uma garantia para o cidadão, acusado ou não, de
pacificação social por meio do processo. Afinal de contas, lembrando Rui Barbo-
sa, justiça atrasada não é justiça; senão injustiça qualificada e manifesta.

PRINCÍPIO DO JUIZ NATURAL

Ao afirmar o legislador constituinte que não haverá juízo ou tribunal de ex-


ceção (CF, art. 5º, XXXVII); estabelece-se a garantia processual de que, uma vez

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praticada a conduta criminosa, seu autor será julgado de acordo com critérios
objetivos e de imparcialidade.
Significa dizer, portanto, que não haverá a possibilidade de designação do
órgão julgador por razões de amizade ou inimizade com o acusado, mas por
critérios previamente estabelecidos na lei (Código de Processo Penal).

PRINCÍPIOS APLICÁVEIS AO TRIBUNAL DO JÚRI

Competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida

Os autores de crimes dolosos contra a vida, previstos no Código Penal (homi-


cídio, aborto, infanticídio e auxílio ao suicídio), serão julgados perante o Tribunal
do Júri, em razão da fixação constitucional da competência deste órgão judicial
(CF, art. 5ª, XXXVIII, d).
Tal critério, contudo, é adotado para a fixação da competência mínima do
órgão de justiça popular, já que, além desses, também poderá ser levado a julga-
mento, perante o Tribunal do Júri, os crimes que lhes são conexos.

Princípio da plenitude de defesa

A plenitude de defesa confunde-se com o princípio da ampla defesa (CF, art.


5º, LV), porém lhe extrapola os limites. Enquanto na ampla defesa, garante-se o
uso de todos os meios de prova admitidos em direito para resguardar o direito
fundamental de liberdade do acusado; na plenitude de defesa, os meios utiliza-
dos não se restringem ao direito, podendo o defensor do acusado se valer de
argumentos metajurídicos, como a piedade, o time do coração, a vontade divina,
a manifestação mediúnica etc.(CF, art. 5ª, XXXVIII, a).

Soberania dos veredictos

A decisão proferida pelos jurados, no julgamento dos crimes dolosos contra


a vida, é soberana. A soberania dos veredictos importa na impossibilidade de o
órgão revisional (Tribunal de Justiça estadual ou Tribunal Regional Federal) alterar
a decisão do conselho de sentença, reformando-a.

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Em suma, significa dizer que, se os jurados condenarem o acusado, o tribunal


não poderá absolvê-lo; e vice-versa. Isto não afasta, no entanto, a possibilidade
de invalidação da decisão do Júri pelo tribunal, em sede de apelação. Invalidar
significa reconhecer ilegalidade que acarretará a nulidade do provimento juris-
dicional; podendo, de acordo com o regramento constante do CPP, nos crimes
dolosos contra a vida, o acusado ser submetido a até 03 (três) julgamentos (CF,
art. 5º, XXXVIII, c).

Sigilo das votações

O sigilo das votações é garantia do acusado de imparcialidade do julgador


( jurado), já que, por meio de procedimento que permite a manutenção do se-
gredo do teor do voto, pelo depósito de cédula (sim/não) em urna indevassável,
o jurado julga de acordo com sua íntima convicção, livre da influência dos demais
jurados, bem como das partes ou do Juiz-Presidente do Tribunal do Júri. (CF, art.
5º, XXXVIII, b).
É certo que os assuntos aqui tratados lhes serão de utilidade na preparação
para o exame unificado da OAB; lembrando que nos veremos, em breve, com
outros assuntos de interesse no processo penal.
Bons estudos!!!

Flávio Milhomem – Mestre em Ciências Jurídico-Pe-


nais, Doutorando em Direito e Políticas Públicas, Docen-
te nas disciplinas de Direito Penal e Processo Penal desde
1997, Docente titular do curso de Direito (bacharelado) e
da pós-graduação do Instituto Brasiliense de Direito Pú-
blico – IDP, Brasília/DF, professor de cursos preparatórios
para concursos, Promotor de Justiça Criminal do Minis-
tério Público do Distrito Federal e Territórios desde 1.997.

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DIREITO CIVIL:
PROFESSORA ROBERTA QUEIROZ

Olá meus amores,


Vamos conversar, pontualmente, alguns tópicos legais do direito civil para
nossa provinha… que tal??
Animação e força, estamos juntos nessa jornada e tenho certeza de que dará
tudo, absolutamente tudo, certo!

EXPRESSÃO “SUJEITO DE DIREITOS”

Amores, tenham cuidado com esta expressão, pois sujeitos de direitos é gê-
nero que comporta espécies: “com personalidade jurídica” e sem “personalidade
jurídica”.
Quando o sujeito detém personalidade jurídica, ele pode tudo o que a lei não
proíbe; no entanto, quando não a possui, somente poderá atuar quando a lei
autorizar.
Exemplo de sujeito de direito com personalidade jurídica é a pessoa natural e
a pessoa jurídica; de sujeito sem personalidade temos a sociedade irregular, nas-
cituro, condomínio, massa falida, herança e outros…

PRÓDIGO

O pródigo é o “gastador compulsivo”; é aquele que dilapida o patrimônio sem


a menor piedade; é o sujeito que não se controla em relação a dinheiro.
O pródigo é considerado, pelo CC, relativamente incapaz, mas essa incapaci-
dade diz respeito somente a atos que possam comprometer o patrimônio, atos
de disposição ou oneração de bens (artigo 1782 do CC).
Veja que uma questão interessante é se o pródigo pode casar sem anuência
de seu curador… o que você acha disso?

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Podemos afirmar que casar é livre, no sentindo de escolher quem será o nu-
bente (risos), mas a escolha do regime de bens não é livre. Claro, nem poderia ser,
pois veja que o curador do pródigo serve para proteção dos bens e, dependendo
do regime, poderá haver algum prejuízo.
Ademais disso, o artigo 1767 do CC preleciona que qualquer parente sucessí-
vel ou o MP podem requerer a proteção do pródigo.

DIREITOS DE PERSONALIDADE DO MORTO

Temos dois artigos do CC que cuidam do assunto, vejamos:

Art. 12. Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da personali-
dade, e reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em
lei.Parágrafo único. Em se tratando de morto, terá legitimação para requerer
a medida prevista neste artigo o cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente
em linha reta, ou colateral até o quarto grau.
Art. 20. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça ou
à manutenção da ordem pública, a divulgação de escritos, a transmissão da
palavra, ou a publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma pes-
soa poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da indenização
que couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou
se se destinarem a fins comerciais. Parágrafo único. Em se tratando de morto
ou de ausente, são partes legítimas para requerer essa proteção o cônjuge, os
ascendentes ou os descendentes.

Observe que, para doutrina, o rol de legitimados previstos nestes artigos é


exemplificativo.

DOMICÍLIO

Recentemente foi cobrada em prova da OAB a noção de domicílio. Veja, en-


tão, que temos as seguintes regras:
Domicílio da pessoa natural: é o lugar onde ela estabelece a sua residência
com ânimo definitivo.

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Se, porém, a pessoa natural tiver diversas residências, onde, alternadamente,


viva, considerar-se-á domicílio seu qualquer delas.
Ter-se-á por domicílio da pessoa natural, que não tenha residência habitual, o
lugar onde for encontrada.
Quanto às relações concernentes à profissão, o lugar onde esta é exercida. Se
a pessoa exercitar profissão em lugares diversos, cada um deles constituirá domi-
cílio para as relações que lhe corresponderem.
Obs: súmula 58 do STJ – proposta a execução fiscal, a posterior mudança de
domicílio do executado não desloca a competência fixada.
Mesclando o tema com o processo civil, temos que:
Art. 46 do CPC. A ação fundada em direito pessoal ou em direito real sobre
bens móveis será proposta, em regra, no foro de domicílio do réu.
• 1º Tendo mais de um domicílio, o réu será demandado no foro de qualquer
deles.
• 2º Sendo incerto ou desconhecido o domicílio do réu, ele poderá ser de-
mandado onde for encontrado ou no foro de domicílio do autor.
• 3º Quando o réu não tiver domicílio ou residência no Brasil, a ação será
proposta no foro de domicílio do autor, e, se este também residir fora do
Brasil, a ação será proposta em qualquer foro.
• 4º Havendo 2 (dois) ou mais réus com diferentes domicílios, serão deman-
dados no foro de qualquer deles, à escolha do autor.
• 5º A execução fiscal será proposta no foro de domicílio do réu, no de sua
residência ou no do lugar onde for encontrado.

COMODATO E MÚTUO

São duas formas de empréstimo de coisa. Esses temas também são recorren-
tes em prova.
Comodato é o empréstimo gratuito de coisas não fungíveis.
Mútuo é o empréstimo de coisas fungíveis.
São contratos unilaterais, gratuitos e reais. Contudo, o mútuo pode ser onero-
so, como o empréstimo de dinheiro realizado por instituições financeiras – mútuo
feneratício.

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Sobre o comodato, tenha em mente que se o comodato não tiver prazo


convencional, presumir-se-lhe-á o necessário para o uso concedido; não poden-
do o comodante, salvo necessidade imprevista e urgente, reconhecida pelo juiz,
suspender o uso e gozo da coisa emprestada, antes de findo o prazo conven-
cional, ou o que se determine pelo uso outorgado. Além disso, o comodatário
é obrigado a conservar, como se sua própria fora, a coisa emprestada, não po-
dendo usá-la senão de acordo com o contrato ou a natureza dela, sob pena de
responder por perdas e danos. O comodatário constituído em mora, além de por
ela responder, pagará, até restituí-la, o aluguel da coisa que for arbitrado pelo
comodante. (artigos 581 e 582 do CC)
Tal disposição do CC ocorre, pois o comodato é um empréstimo de uso, ca-
bendo ao comodatário cuidar do bem como se dele fosse.
No que tange ao mútuo, importante carregar a informação de que se feito a
pessoa menor, sem prévia autorização daquele sob cuja guarda estiver, não pode
ser reavido nem do mutuário, nem de seus fiadores. (artigo 588 do CC)
Contudo, essa regra tem exceção, conforme artigo 589: Cessa a disposição do
artigo antecedente: I – se a pessoa, de cuja autorização necessitava o mutuário
para contrair o empréstimo, o ratificar posteriormente; II – se o menor, estando
ausente essa pessoa, se viu obrigado a contrair o empréstimo para os seus ali-
mentos habituais; III – se o menor tiver bens ganhos com o seu trabalho. Mas,
em tal caso, a execução do credor não lhes poderá ultrapassar as forças; IV – se o
empréstimo reverteu em benefício do menor; V – se o menor obteve o emprés-
timo maliciosamente.

CONTRATO ESTIMATÓRIO

Esse contrato nada mais é do que a popularmente conhecida “venda em con-


signação”. Irá acontecer quando um sujeito entregar a outro um bem móvel para
que seja vendido.
Esta espécie tem previsão no artigo 534 e seguintes do CC, no qual, o con-
signante entrega bens móveis ao consignatário, que fica autorizado a vendê-los,
pagando àquele o preço ajustado, salvo se preferir, no prazo estabelecido, resti-
tuir-lhe a coisa consignada.

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O enunciado 32, da Jornada de Direito Civil, ensina que no contrato estima-


tório, o consignante transfere ao consignatário, temporariamente, o poder de
alienação da coisa consignada com opção de pagamento do preço de estima ou
sua restituição ao final do prazo ajustado.
Essa espécie já foi cobrada em prova e no caso vertente havia a indagação se
o consignatário deveria respeitar o preço ajustado com o consignante. Veja que
sobre isso é indiscutível que aquele que se comprometeu a vender a coisa deve
sim respeitar o preço ajustado, sob pena de responder por isso.
Art. 535. O consignatário não se exonera da obrigação de pagar o preço, se a
restituição da coisa, em sua integridade, se tornar impossível, ainda que por fato
a ele não imputável.
Art. 536. A coisa consignada não pode ser objeto de penhora ou seqüestro
pelos credores do consignatário, enquanto não pago integralmente o preço.
Art. 537. O consignante não pode dispor da coisa antes de lhe ser restituída
ou de lhe ser comunicada a restituição.
A gente vai fazendo assim, misturando os assuntos e trazendo o que pode ser
cobrado…
Beijos e até a próxima…

Roberta Queiroz – Graduada em Direito pela Univer-


sidade Católica de Brasília em dezembro de 2005; Es-
pecialista em Direito Processual Civil pela Universidade
do Sul de Santa Catarina em novembro de 2009; Mes-
tranda em Direito pela Universidade Católica de Brasí-
lia, com enfoque em direito público; docente nas disci-
plinas de Direito Civil, Direito Processual Civil e Direito
Administrativo desde 2007; docente titular do curso de
Direito da Universidade Católica de Brasília; professora
de cursos preparatórios para concursos; advogada atuante na área de direito
privado e direito administrativo desde 2006.

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DIREITO CIVIL:
PROFESSOR RODRIGO COSTA

Da recorribilidade das interlocutórias no NCPC e as possíveis so-


luções

O NCPC, em seu artigo 1.015, adotou o princípio da irrecorribilidade em sepa-


rado das interlocutórias, também conhecido como princípio da irrecorribilidade
imediata das interlocutórias, segundo o qual, o cabimento do recurso de agravo
de instrumento está vinculado aos casos elencados no referido artigo, os quais
são taxativos – numerus clausus-, de modo que, todas as demais decisões interlo-
cutórias proferidas nos autos, mas que não se enquadrem num daqueles incisos,
não se sujeitarão à impugnação imediata por meio de agravo de instrumento.
O art. 1.015 do NCPC estabelece as seguintes hipóteses de cabimento do
agravo de instrumento:
Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que
versarem sobre: I – tutelas provisórias; II – mérito do processo; III – rejeição da ale-
gação de convenção de arbitragem; IV – incidente de desconsideração da perso-
nalidade jurídica; V – rejeição do pedido de gratuidade da justiça ou acolhimento
do pedido de sua revogação; VI – exibição ou posse de documento ou coisa;
VII – exclusão de litisconsorte; VIII – rejeição do pedido de limitação do litiscon-
sórcio; IX – admissão ou inadmissão de intervenção de terceiros; X – concessão,
modificação ou revogação do efeito suspensivo aos embargos à execução; XI –
redistribuição do ônus da prova nos termos do art. 373, § 1º; XII – (VETADO); XIII
– outros casos expressamente referidos em lei. Par. Único: também caberá agravo
de instrumento contra decisões interlocutórias proferidas na fase de liquidação
de sentença, no processo de execução e no processo de inventário.
Dessa forma, se a decisão interlocutória não se enquadrar nos incisos su-
pracitados, não desafiará agravo de instrumento, todavia, não estará sujeita à
preclusão, visto que o agravo retido foi retirado do nosso sistema jurídico, então,
o jurisdicionado, se não estiver satisfeito com uma decisão interlocutória não ata-
cável por agravo de instrumento proferida no processo em que for parte, deverá
aguardar o momento posterior para interpor o recurso de apelação, oportunida-

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de na qual poderá arguir sua discordância com a referida decisão interlocutória e


pedir sua reforma, modificação ou revogação, nos termos dos parágrafos do art.
1.009 do NCPC.
Muito provavelmente, os objetivos do legislador com a mudança do regime
do recurso em tela – quais sejam, mais celeridade e uma prestação jurisdicional
adequada – não serão alcançados, podendo, inclusive produzirem efeito reverso.
Em um primeiro momento, abre-se a possibilidade para impugnação das de-
cisões interlocutórias por outros meios judiciais, muitas vezes mais morosos que
o agravo de instrumento, tanto com relação ao prazo para interposição quanto
ao procedimento de julgamento, a exemplo do mandado de segurança e da re-
clamação, medidas que poderão ser utilizadas para esse fim, consoante adiante
se observará. Ou seja, de nada adianta diminuir as possibilidades de recurso, uma
vez que as ações impugnativas autônomas ocuparão tais espaços no cenário
jurídico. Permanece, assim, inócua a mudança legal, produzindo-se apenas uma
transferência de competência de apreciação das impugnações, sem diminuição
efetiva do labor judicial (GREZELLE, 2012, p. 561).

Da interpretação meramente exemplificativa do art. 1.015 do


NCPC

Como já esposado, a intenção do legislador com a criação das hipóteses de


interposição de agravo de instrumento foi de estabelecer um rol taxativo. Mesmo
diante dessa asseveração, lógica é a análise de que o legislador não é capaz de
prever todas as possibilidades em que se faria necessário possibilitar a impug-
nação de decisão interlocutória por meio de agravo de instrumento. Ante essa
circunstância, formas interpretativas podem tomar o cenário jurídico para dar um
entendimento mais acertado e condizente com a realidade do jurisdicionado.
Não se descarta, portanto, a possibilidade do rol ser exemplificativo, aproximan-
do-se o agravo de instrumento à forma que prevalecia no CPC/73, qual seja, ficar
ao juízo do tribunal definir que decisão poderia ser atacada ou não por esse recur-
so. Ressalte-se que este juízo era limitado ao fato de haver necessidade ou não de
se dar provimento ao agravo de imediato para evitar dano irreparável à parte.

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Caso adotado o entendimento de que seria exemplificativo o rol do art. 1.015


do CPC, evitar-se-ia a ampliação do número de meios impugnativos autônomos
ou outro sucedâneo recursal para atacar decisão interlocutória. Nesse sentido,
válidas são as palavras de Scarpinella (2015, p. 623-624):

[…] será bem-vinda, justamente para não generalizar o emprego do man-


dado de segurança como sucedâneo recursal, interpretação ampliativa das
hipóteses do art. 1.015, sempre conservando, contudo, a razão de ser de
cada uma de suas hipóteses para não generalizá-las indevidamente […]

A interpretação extensiva do rol do art. 1.015 do CPC

Didier Jr e Cunha (2016, p. 208-209) reconhecem a taxatividade do agravo


de instrumento, porém apresentam como alternativa uma interpretação capaz
de estender as hipóteses previstas pelo legislador a outras derivadas do seu tipo,
para, então, posteriormente, diante da realidade jurídica, sofrer uma análise críti-
ca e sistemática, permitindo uma interpretação mais consistente e justa.
Há exemplos no ordenamento jurídico de normas taxativas que admitem in-
terpretação extensiva. Didier Jr e Cunha trazem à luz o entendimento do STJ no
tocante à lista de serviços tributáveis constante no Decreto-lei n. 406/68 que,
embora taxativa, admite interpretação extensiva, para permitir a incidência do
imposto sobre serviços (ISS) sobre serviços relacionados aos estabelecidos no
rol. Válido é citar o entendimento firmado pelo STJ, quando do julgamento do
seguinte Recurso Especial:

[…] 1. Apesar de o rol de serviços […] ser taxativo em sua enumeração, admite-
-se uma interpretação extensiva dos seus itens, abarcando-se todas as espé-
cies do gênero tributado. 2. Isto mais se justifica pelo fato de que o legislador,
ao relacionar os serviços que seriam tributáveis pelo ISS, não pôde esgotar
todas as possibilidades, seja em razão da evolução das atividades bancárias,
seja pela alteração da sua nomenclatura […] (Recurso Especial n. 1111234/PR,
Relatora: Eliana Calmon, Data de Julgamento: 23/09/2009, 1ª Seção)

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Os referidos doutrinadores reforçam sua argumentação ao tratar do princípio


da igualdade, constante do art. 7º do CPC, que revelaria como injusta a irrecorri-
bilidade de decisões interlocutórias não previstas no CPC, mas que se identificas-
sem ou se assemelhassem com as hipóteses taxativas do referido diploma legal
(DIDIER JR; CUNHA, 2016, p. 216).
Como exemplo, a doutrina afirma que a decisão que versa sobre a rejeição
de alegação de convenção de arbitragem é eminentemente uma decisão sobre
competência. Dessa forma, uma decisão sobre competência relativa ou absoluta
seria passível de ser agravada, uma vez que o tratamento processual, no caso,
deveria ser isonômico, ou seja, estar em acordo com o princípio da igualdade do
art. 7º do CPC (DIDIER JR; CUNHA, 2016, p. 216).
Não obstante a vigência do novo CPC ser tão recente, desde o dia 18 de março
de 2016, há decisão versando sobre matéria de competência, que corrobora com a
tese de interpretação extensiva ventilada por Didier Jr e Cunha, colacionada a seguir:

[…] Tratando-se de questão que envolve matéria de ordem pública (com-


petência absoluta), e, diante da omissão do NCPC, entendo ser possível a
interposição do agravo de instrumento no presente caso, ainda que não haja
previsão expressa no rol taxativo do artigo1.015. Ressalte-se que, a taxativi-
dade do art. 1.015 não impede a interpretação extensiva, como bem já deci-
diu o Tribunal Federal Regional da 2ª Região, em sede de agravo de instru-
mento n. 0003223-07.2016.4.02.0000, relatoria do Des. Federal Luiz Antônio
Soares: “(…) o dispositivo não pode ser lido de modo a tornar irrecorrível a
decisão que trata de competência para a tramitação dos processos em pri-
meira instância. Na verdade, entendo, com suporte em respeitada doutrina,
e por todos cito Fredie Didier, no sentido deque embora o legislador tornou
taxativas as hipóteses de agravo de instrumento, o caso do art. 1.015, III, do
CPC (decisão que rejeita alegação de convenção de arbitragem) comporta
interpretação extensiva, para incluir as decisões que versam sobre compe-
tência, tal como a objeto dos autos. Isso ocorre pois a decisão relativa à con-
venção de arbitragem, versa essencialmente sobre competência, de modo
que se essa decisão é agravável,não há fundamento para entender que não

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é agravável a decisão que trata de competência, seja ela relativa ou abso-


luta. Entendimento diverso seria desprezar, em última análise, o conteúdo
propedêutico do direito processual contemporâneo, pautado, dentre outros
fundamentos, no reconhecimento do papel criativo e normativo da atividade
jurisdicional, no reconhecimento da força normativa da Constituição e con-
sagração dos direitos fundamentais. Dessa forma, o processo, para ser con-
siderado devido, deve respeitar a isonomia (art. 7º do CPC/15), conferindo o
mesmo tratamento a situações similares, em razão da identidade de ratio”. 4.
Assim, em vista dos elementos trazidos aos autos, vislumbro probabilidade
de provimento do recurso, além de risco de dano grave ou de difícil repa-
ração decorrente da imediata eficácia da decisão recorrida […] (Agravo de
instrumento no processo n. 2079842-39.2016.8.26.0000, TJ-SP, Relator: Ed-
gard Rosa, Data de publicação: 29/04/2016, 25ª Câmara de direito privado).

Sobre a importância de se fazer uma interpretação extensiva do art. 1.015 do


CPC, Didier Jr e Cunha (2016, p. 211) afirmam:
A interpretação extensiva opera por comparações e isonomizações, não por
encaixes e subsunções. As hipóteses de agravo de instrumento são taxativas e es-
tão previstas no art. 1.015 do CPC. Se não se adotar a interpretação extensiva, cor-
re-se o risco de se ressuscitar o uso anômalo e excessivo de mandado de seguran-
ça contra ato judicial, o que é muito pior, inclusive em termo de política judiciária.

O mandado de segurança como meio impugnativo alternativo

O mandado de segurança visa proteger direito líquido e certo, não amparado


por Habeas Corpus ou Habeas Data, quando a autoridade – pública ou não, des-
de que no exercício de atribuições próprias do Poder Público – for a responsável
pela ilegalidade ou abuso de poder perpetrado, segundo proclama o inciso LXIX
do art. 5º da CF/88.

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Diante desse conceito, sabe-se que uma decisão judicial é prolatada por au-
toridade pública, qual seja, o magistrado, investido no cargo segundo requisitos
constitucionais. Dessa forma, abre-se a possibilidade de impetração de mandado
de segurança para impugnar decisões interlocutórias capazes de gerar dano ir-
reparável à parte.
É preciso, porém, fazer menção novamente ao verbete 267 da súmula da ju-
risprudência do STF, o qual veda a possibilidade de impetração de mandado de
segurança, quando cabível recurso ou correição contra a decisão judicial que se
deseja impugnar. Eis, portanto, um óbice ao uso desse remédio constitucional,
uma vez que se poderá argumentar que as decisões interlocutórias, na verdade,
são recorríveis, quando da interposição da apelação. Nesse sentido, mister se faz
citar o seguinte julgado:

[…] Descabida a impetração do mandado de segurança contra decisão que


declina da competência para o Juizado Especial Cível. Não é pelo simples
fato de a decisão proferida no juízo a quo não ser passível de recurso que
passa a constituir ilegalidade ou abuso de poder do magistrado, ensejando
a possibilidade de se impetrar remédio jurídico extremo, como é o man-
dado de segurança. Ademais, deve-se ter presente que o NCPC inaugu-
rou uma nova cultura processual, que ainda não foi devidamente absorvida
pelos operadores do direito: decisões interlocutória insuscetíveis de ataque
via agravo de instrumento não se submetem à eficácia preclusiva, podendo
ser suscitadas em preliminar quando da interposição de eventual recurso
de apelação (art. 1.009, § 1º, do NCPC), o que inviabiliza o uso de manda-
do de segurança, que constitui medida extrema. Indeferimento da inicial.
Processo extinto sem resolução de mérito […] (Mandado de Segurança n.
70069528578, TJ-RS, Relator: Voltaire de Lima Moraes, Data de julgamento:
17/05/2016, 19º Câmara Cível).

A decisão supracitada indeferiu um mandado de segurança, sendo que um


dos fundamentos utilizados foi de que o fato de uma decisão interlocutória ser
irrecorrível de imediato não constitui ilegalidade ou abuso de poder que justifique

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a impetração de mandado de segurança, posto que atacável em preliminar de


apelação. Destarte, é extremamente provável que, diante dessa situação, o Ju-
diciário recuse, em outros casos, a impetração de mandado de segurança como
medida subsidiária à irrecorribilidade imediata das decisões interlocutórias.
Interessante, a propósito, a regra já estabelecida no âmbito dos juizados espe-
ciais, segundo a qual não é cabível a aplicação subsidiária do CPC para interpo-
sição de agravo de instrumento contra decisões interlocutórias proferidas nesse
campo jurisdicional, mostrando-se necessário, portanto, aguardar o momento da
interposição do recurso inominado para impugná-las. Diante dessa conjuntura,
o jurisdicionado fez uso do mandado de segurança como alternativa, medida
essa que foi rechaçada pelo STF. O referido julgado restou ementado da seguinte
maneira:

RECURSO EXTRAORDINÁRIO. PROCESSO CIVIL. REPERCUSSÃO GERAL RE-


CONHECIDA. MANDADO DE SEGURANÇA. CABIMENTO. DECISÃO LIMINAR
NOS JUIZADOS ESPECIAIS. LEI N. 9.099/95. ART. 5º, LV DACONSTITUIÇÃO
DO BRASIL. PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA AMPLA DEFESA. AUSÊNCIA
DE VIOLAÇÃO. 1. Não cabe mandado de segurança das decisões interlo-
cutórias exaradas em processos submetidos ao rito da Lei n. 9.099/95. 2. A
Lei n. 9.099/95 está voltada à promoção de celeridade no processamento
e julgamento de causas cíveis de complexidade menor. Daí ter consagrado
a regra da irrecorribilidade das decisões interlocutórias, inarredável. 3. Não
cabe, nos casos por ela abrangidos, aplicação subsidiária do Código de Pro-
cesso Civil, sob a forma do agravo de instrumento, ou o uso do instituto do
mandado de segurança. 4. Não há afronta ao princípio constitucional da
ampla defesa (art. 5º, LV da CB), vez que decisões interlocutórias podem
ser impugnadas quando da interposição de recurso inominado. Recurso ex-
traordinário a que se nega provimento (Recurso extraordinário 576.847/BA,
Relator: Eros Grau, Data de julgamento: 20/05/2009, Tribunal pleno)

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A experiência dos juizados especiais estaduais em muito se assemelha àquela


verificada no novo CPC, no que pertine às decisões interlocutórias. É extrema-
mente provável, assim, que os subterfúgios ora intentados no âmbito dos juiza-
dos especiais sejam cada vez mais utilizados na fase cognitiva do processo, como
já o tem sido, conforme o Mandado de Segurança n. 70069528578 do Tribunal
de Justiça do Rio de Janeiro, supracitado.

A reclamação como meio impugnativo alternativo

A reclamação prevista no CPC se apresenta como forma adequada para im-


pugnar as decisões interlocutórias, desde que o fim almejado seja um daqueles
presentes nos incisos constantes no art. 988 do CPC, a saber:

I – preservar a competência do tribunal;


II – garantir a autoridade das decisões do tribunal;
III – garantir a observância de enunciado de súmula vinculante e de decisão
do Supremo Tribunal Federal em controle concentrado de constitucionalidade;
IV – garantir a observância de acórdão proferido em julgamento de inciden-
te de resolução de demandas repetitivas ou de incidente de assunção de
competência.

A reclamação possui normas procedimentais que possibilitam sua ampla utili-


zação no ordenamento jurídico. Sabe-se que não é preciso exaurir a via recursal,
seja ordinária ou extraordinária, para a propositura da reclamação. Logo, não
prosperaria o argumento acima mencionado contra a impetração de mandado
de segurança, qual seja, a possibilidade de impugnação da decisão interlocutória
em preliminar de apelação. Na verdade, por sua natureza jurídica de ação autô-
noma, a reclamação é cabível independentemente da preexistência de processo
judicial (DIDIER JR; CUNHA, 2016, p. 535).

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Ademais, a reclamação, segundo o novo CPC, pode ser utilizada para pre-
servar a competência e garantir a autoridade das decisões de qualquer tribunal.
Dessa forma, é mais provável que o Judiciário consiga dirimir a insegurança jurídi-
ca presente no Brasil, dando um contorno mais acertado e justo às sua decisões,
consequentemente, incluídas, nesse contexto, as interlocutórias.
Os requisitos inerentes à interposição da reclamação são, na verdade, aque-
les inerentes a uma ação judicial, não possuindo os pressupostos limitativos do
mandando de segurança.
Reconhece-se a dificuldade, entretanto, ainda aqui, de se impugnar as deci-
sões interlocutórias não agraváveis. Sugere-se, por fim, para aumentar a possibi-
lidade de se assegurar direito da parte, a impugnação dessas decisões por meio
da correição parcial, chamada de reclamação regimental no âmbito dos juizados
especiais, medida essa que parece a mais adequada, conforme os argumentos
que serão levantados a seguir.
A reclamação regimental, em que pese ter nascido como medida administra-
tiva, tem sido admitida para reforma ou cassação de decisões. Coaduna com essa
afirmação a seguinte doutrina (MIRANDA, 2003, p. 150 apud PEREIRA, 2006): “Se
a doutrina e a jurisprudência admitem que a Reclamação possa cassar ou refor-
mar decisão judicial, é inegável que fez da Reclamação ou recurso ou ação, mas
jamais de alcance meramente correcional”.
Dissertando sobre a correição parcial, Bernardo Pimentel (SOUZA, 2008, p.
235/242 apud VASCONCELOS, 2012, p. 32) afirma que “a correição parcial é o su-
cedâneo recursal admissível contra omissão e decisões jurisdicionais irrecorríveis”.
A reclamação regimental encontra respaldo na CF/88, por meio do art. 96,
inciso I, alínea b, o qual proclama que compete privativamente aos tribunais velar
pela atividade correicional de suas secretarias e serviços auxiliares e dos juízes
que lhes forem vinculados. Diante disso, definiu-se na jurisprudência do Tribunal
de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT) que para impugnar decisão
interlocutória irrecorrível de imediato é cabível a reclamação, ou seja, correição
parcial, prevista no art. 14 do regimento interno das turmas recursais do TJDFT,

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com a seguinte redação: “Admitir-se-á reclamação contra ato judicial que conte-
nha erro de procedimento e que, à falta de recurso específico, puder causar dano
irreparável ou de difícil reparação”. Confirmando os argumentos aqui esposados,
cita-se a jurisprudência:

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. RECLAMAÇÃO. DECISÃO INTERLOCUTÓRIA,


IRRECORRÍVEL EM NÍVEL DE JUIZADO ESPECIAL, QUE INDEFERE O PEDIDO
DE CONCESSÃO DOS BENEFÍCIOS DA JUSTIÇA GRATUITA E FIXA O PRAZO
DE 48 HORAS PARA A EFETIVAÇÃO DO PREPARO. CABIMENTO DA MEDIDA
RECLAMATÓRIA, NESSA HIPÓTESE, DESDE QUE ATENDIDOS SEUS PRES-
SUPOSTOS OBJETIVOS. NECESSIDADE DE CONCESSÃO DE PRAZO PARA A
RECORRENTE COMPROVAR O SEU ESTADO DE POBREZA. RECLAMAÇÃO
NÃO-CONHECIDA. UNÂNIME. 1. PROFERIDA DECISÃO INTERLOCUTÓRIA,
EM PROCESSO QUE CORRE EM JUIZADO ESPECIAL, INDEFERINDO PEDIDO
DE BENEFÍCIO DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA, AO ARGUMENTO DE QUE
NÃO HOUVERA COMPROVAÇÃO PELA PARTE REQUERENTE, E INSTANDO
A PARTE A REFORMA DA DECISÃO, CABÍVEL É A RECLAMAÇÃO REGIMEN-
TAL, CONSOLIDADO QUE SE ENCONTRA O PRINCÍPIO PROCESSUAL DA
IRRECORRIBILIDADE DAS INTERLOCUTÓRIAS NESTA JURISDIÇÃO ESPECIAL,
EM COMBINAÇÃO COM O DISPOSTO NO ARTIGO 6º (sic), CAPUT, DO RE-
GIMENTO INTERNO DAS TURMAS RECURSAIS DOS JUIZADOS ESPECIAIS
DO DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITÓRIOS, QUE ADMITE O MANEJO DES-
TA MEDIDA COMO ALTERNATIVA PARA A SITUAÇÃO CRIADA PELA INVIABI-
LIDADE DO AGRAVO NESTE PATAMAR PROCESSUAL […] (Processo n. 1292-
5/2010, Registro do Acórdão n. 435383, TJ-DFT, Relator: José Guilherme,
Data de julgamento: 13/07/2010, 2ª Turma recursal dos juizados especiais
cíveis e criminais do DF).

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Sedimentou-se, portanto, no TJDFT o cabimento da reclamação regimental


em caso de erro em procedimento ou que resulte em lesão grave ou de difícil
reparação. Além dos julgados citados, válido é colacionar a ementa da seguinte
decisão:

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. JUIZADOS ESPECIAIS. RECLAMAÇÃO CONTRA


DECISÃO PROFERIDA AÇÃO DE EXECUÇÃO. NÃO INDICAÇÃO “ERROR IN
PROCEDENDO” OU ABUSO DO PROLATOR DA DECISÃO, TAMBÉM NÃO
RESULTA EM DANO IRREPARÁVEL OU DE DIFICIL REPARAÇÃO. DECISÃO:
RECLAMAÇÃO NÃO CONHECIDA. 1- A RECLAMAÇÃO, PREVISTA NOS JUI-
ZADOS ESPECIAIS, CONSTITUI MEIO DE IMPUGNAÇÃO, DE FORMA LIMI-
TADA, QUE SE DESTINA A CORRIGIR ATO JUDICIAL QUE ENCERRE ALGU-
MA ESPÉCIE DE ERROR IN PROCEDENDO, OU QUE RESULTE EM DANO
IRREPARÁVEL OU DE DIFÍCIL REPARAÇÃO. 2- A MERA INSURGÊNCIA DA
PARTE CONTRA DECISÃO INTERLOCUTÓRIA QUE LHE FOI DESFAVORÁVEL,
SEM, CONTUDO, APONTAR A OCORRÊNCIA DE ERRO OU ABUSO DO JUL-
GADOR MONOCRÁTICO, NÃO ENSEJA O CONHECIMENTO DO RECURSO.
3- DECISÃO: RECLAMAÇÃO NÃO CONHECIDA (Processo n. 6554-3/2007,
Registro do Acórdão n. 341918, TJ-DFT, Relatora: Diva Lucy Ibiapina, Data de
julgamento: 09/09/2008, 2ª Turma recursal dos juizados especiais cíveis e
criminais do DF).

É possível que o julgador, quando da prolação de sua decisão, cometa erro


de procedimento, também chamado de error in procedendo, ou erro de julga-
mento, error in judicando. Aquele ocorre quando há vício na decisão, um defeito
formal em um ato processual, apto a gerar sua invalidação, não se discutindo
matéria de mérito. No erro de julgamento, tem-se uma apreciação inadequada
dos fundamentos de fato e de direito aludidos no processo. Guarda relação com
o conteúdo da decisão, em que não foi aplicada a norma correta ao caso (DIDIER
JR; CUNHA, 2016, p. 135-136). No caso da reclamação regimental, não se aprecia
erro de julgamento, salvo em caso de abuso do julgador.
Limitou-se, portanto, o princípio da irrecorribilidade das decisões interlocu-
tórias no âmbito dos juizados especiais para que fosse possível corrigir falhas, as

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quais, por vezes, poderiam causar sério dano à parte. Restou demonstrado que
o legislador não foi capaz de prever situações em que seria necessário impugnar
essas decisões. Para tanto, parte da doutrina e jurisprudência, já mencionadas,
admitiram subterfúgios jurídicos, a fim de dirimir possíveis danos a direito da parte.
Destarte, possível é concluir que, diante da irrecorribilidade de imediato das
decisões interlocutórias no âmbito do CPC, na fase de conhecimento do proces-
so, o Judiciário não deixará passar incólume, assim como o fez em relação aos
juizados especiais, o erro do legislador em limitar as hipóteses de interposição de
agravo de instrumento. Perante essa circunstância, a reclamação, tanto a consti-
tucional como a regimental, são medidas razoáveis e de aplicabilidade ideal.
Por fim, sem o intuito de exaurir o tema, porém, buscando auxiliá-los em seus
estudos, espero que os assuntos abordados façam a diferença na prova de Exa-
me de Ordem.
Estamos juntos na caminhada do seu sucesso!
Até breve!

Rodrigo Costa – Graduado em Direito pela Universi-


dade Católica de Brasília (2001) e Especialista em Direito
Processual Civil pela ICAT/AEUDF. Tem experiência na
área de Direito, com ênfase em Direitos Civil e Proces-
sual Civil. Professor titular das disciplinas Direito Civil II e
V, Direito Processual Civil IV e Prática Processual Civil II
e na Universidade Católica de Brasília (UCB), nas disci-
plinas de Direito Processual Civil II e V e Teoria Geral do
Direito Privado

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ÉTICA PROFISSIONAL: PROFESSORA DANIELA MENEZES

Meus queridos alunos, a dica de hoje é sobre Ética Profissional e, dentro


dessa disciplina, vamos revisar e resolver algumas questões sobre as Atividades
da Advocacia. Vamos lá!

1. Atividades privativas da advocacia: consultoria, assessoria e direção jurídica


(Art. 1º, II, Estatuto da Advocacia e da OAB);
2. A função de diretor jurídico só pode ser exercida por advogado regular-
mente inscrito na OAB;
3. É obrigatório visto dos advogados nos atos e contratos de pessoas jurídicas,
sob pena de nulidade, salvo microempresas e empresas de pequeno porte (Art.
1º, §2º, Estatuto da Advocacia e da OAB);
4. É obrigatório a inscrição dos advogados públicos nos quadros da OAB (Art.
3º, §1º, Estatuto da Advocacia e da OAB);
5. Após a notificação da renúncia, o advogado deve permanecer no processo
durante dez dias consecutivos, salvo se for substituído antes do prazo legal (Art.
5º, §3º, EAOAB);
6. É proibido ao advogado funcionar como preposto e patrono no mesmo
processo (Art. 3º Regulamento Geral);
7. O advogado tem imunidade profissional a difamação e a injúria, sendo
afastado o desacato;
8. A instituição da Ordem dos Advogados do Brasil possui natureza jurídica sui
generis, autônoma e independente, com finalidade institucional (ADI 3.026/DF);
9. É incabível a exigência de concurso público para admissão dos contratados
sob o regime trabalhista pela OAB;
10. A OAB tem imunidade tributária, não é fiscalizada e nem controlada pelo
Tribunal de Contas da União, a contratação é feita pelo regime da Consolidação
das Leis Trabalhistas e sujeita a competência da Justiça Federal;
11. A publicidade do advogado deve ser restrita e moderada, não podendo
divulgar experiências profissionais anteriores, mas apenas o histórico acadêmico;
12. A interposição de recursos é atividade privativas dos advogados inscritos

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regularmente na OAB;
13. É facultativo a presença do advogado nas varas e tribunais regionais do
trabalho, salvo nas ações rescisórios, ação cautelar, mandado de segurança e os
recursos para o Tribunal Superior do Trabalho;
14. Advogado deve estimular a conciliação entre as partes somente com con-
sentimento do cliente (Art. 2º, VI, Código de Ética);
15. O advogado não pode vincular advocacia com o ramo empresarial, sob
pena de captação de clientela;
16. O advogado empregado tem isenção técnica e pode recusar as demandas
individuais do seu empregador;
17. O exercício efetivo do advogado é computado a partir da prática de cinco
atos privativos – atos judiciais e extrajudiciais (Art. 5º, Regulamento Geral);
18. O impedimento da advocacia permanece durante a investidura do cargo.

30. (IX Exame Unificado)

Laura, advogada na área empresarial, após concluir o mestrado em renoma-


da instituição de ensino superior, é convidada para integrar a equipe de as-
sessoria jurídica da empresa K S/A. No dia da entrevista final, é inquirida pelo
Gerente Jurídico da empresa, bacharel em Direito, sem inscrição na Ordem
dos Advogados do Brasil, apesar de o mesmo ter logrado êxito no Exame de
Ordem. Observado tal relato, consoante as normas do Regulamento Geral do
Estatuto da Advocacia e da OAB, assinale a afirmativa correta.
a) O bacharel em Direito pode exercer as funções de Gerência Jurídica mesmo
que não tenha os requisitos para ingresso na Ordem dos Advogados.
b) A função de Gerente Jurídico é privativa de advogados com regular inscrição
nos quadros da Ordem dos Advogados.
c) O bacharel em Direito, caso preencha os requisitos legais, inclusive aprovação
em Exame de Ordem, pode exercer funções de Gerente Jurídico antes da inscri-
ção na Ordem dos Advogados.
d) A função de Gerente Jurídico, como é de confiança da empresa, pode ser exer-

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cida por quem não tem formação na área.

Gabarito: Letra B.

São atividades privativas do advogado os atos judiciais e extrajudiciais,


sendo ato extrajudicial a prática de consultorias, assessoria e direção
jurídica. Sabe-se que para o exercício do cargo de diretor jurídico em
qualquer empresa, pública ou privada, paraestatais e instituições fi-
nanceiras, é requisito obrigatório a inscrição regular nos quadros da
advocacia e da OAB, sendo vedado o exercício por bacharéis ou estu-
dantes de direitos (Art. 7º, Regulamento Geral da Advocacia).

Questão 2. (XI Exame Unificado)

Cláudio, advogado com vasta experiência profissional, ê contratado pela so-


ciedade LK Ltda. para gerenciar a carteira de devedores duvidosos, propondo
acordos e, em último caso, as devidas ações judiciais. Após um ano de suces-
so na empreitada, Cláudio postula aumento nos seus honorários, o que vem
a ser recusado pelos representantes legais da sociedade. Insatisfeito com o
desenrolar dos fatos, Cláudio comunica que irá renunciar aos mandatos que
lhe foram conferidos, notificando pessoalmente os representantes legais da
sociedade que apuseram o seu ciente no ato de comunicação. Dez dias após,
a sociedade contratou novos advogados, que assumiram os processos em
curso. Observado tal relato, baseado nas normas do Regulamento Geral do
Estatuto da Advocacia e da OAB, assinale a afirmativa correta.
a) A comunicação da renúncia do mandato não pode ser pessoal, para evitar
conflitos com o cliente.
b) A renúncia ao mandato deve ser comunicada ao cliente, preferencialmente
mediante carta com aviso de recepção.
c) O advogado deve comunicar a renúncia ao mandato diretamente ao Juízo da

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COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

causa, que deverá intimar a parte.


d) O advogado não tem o dever de comunicar à parte a renuncia ao mandato
judicial ou extrajudicial.

Gabarito: Letra B.

A renúncia é ato privativo do advogado e independe do esclareci-


mento dos motivos ao cliente, bastando a notificação com carta de
aviso de recebimento e a comunicação ao juízo da causa, devendo
permanecer no processo pelo prazo consecutivo de 10 dias, salvo
se for substituído antes, tornando-se facultativo a sua permanên-
cia no término do prazo legal. Difere-se a renúncia da revogação,
uma vez que a renúncia pertence ao advogado e a revogação é
ato privativo do cliente/contratante, sendo facultativo o esclareci-
mento da renúncia e da revogação (Art. 5º, § 3º, do Estatuto e Art.
6º, Regulamento Geral da OAB).

Bons estudos pessoal !

Daniela Menezes – Advogada. Mestranda em Políticas


Públicas pelo Uniceub, Professora Substituta do Uni-
ceub, Advogada, Formação e Capacitação de Juíza Ar-
bitral do Brasil, Europa e Mercosul.

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COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

DIREITO AMBIENTAL: PROFESSOR FELIPE LEAL


Futura advogada, Futuro advogado.
Domingo de dicas de Direito Ambiental!!!

DICA 01 – LEI N. 9.985/2000 – PLANO DE MANEJO

Somos inclinados, em uma prova de Direito Ambiental, a refutar exceções,


imaginando que as assertivas estejam incorretas quando elas afastam a obriga-
toriedade, por exemplo, da participação popular.
Muito cuidado, porém, quando a questão abordar o tema Plano de Manejo,
segundo a Lei n. 9.985/2000. A participação popular na elaboração do Plano de
Manejo somente é obrigatória em Reservas Extrativistas, Reservas de Desen-
volvimento Sustentável e Áreas de Proteção Ambiental, sendo dispensável nas
demais Unidades de Conservação.

DICA 02 – PATRIMÔNIO NACIONAL E COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL

Segundo o art. 225, § 4º, da Constituição Federal, a Floresta Amazônica bra-


sileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona
Costeira são patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro
de condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto
ao uso dos recursos naturais.
Embora assim considerados, não são considerados bens da União, razão pela
qual nem todo impacto negativo nessas localidades reclama ação da Polícia Fe-
deral e atrai a competência da Justiça Federal.
Nessa esteira, o Informativo n. 0365: o Superior Tribunal de Justiça entende
que, embora a mata atlântica integre o patrimônio nacional, não se enquadra na
definição de bem da União e, por isso, não atrai a competência da Justiça Federal.
Sendo assim, é competente a Justiça estadual para processar e julgar crime am-
biental de desmatamento da floresta nativa da mata atlântica. Precedentes cita-
dos: CC 55.704-SP, DJ 10/4/2006; CC 92.327-SP, DJ 24/3/2008, e CC 35.087-SP, DJ
17/11/2004.AgRg no CC 93.083-PE, Rel. Min. Nilson Naves, julgado em 27/8/2008.
DICA 03 – JULGAMENTO DE CONTRAVENÇÃO AMBIENTAL PELA JUS-

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COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

TIÇA FEDERAL

Reza o art. 109 da Constituição Federal:


Aos juízes federais compete processar e julgar:
(…)
IV – os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de
bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou em-
presas públicas, excluídas as contravenções e ressalvada a competência da
Justiça Militar e da Justiça Eleitoral;
Com efeito, a contravenção ambiental é julgada sempre pela Justiça Estadual,
mesmo que atinja interesse direto e específico da União.
Ocorre que devemos ter cautela em uma prova objetiva, pois há uma ex-
ceção, ainda não explorada nas provas: se o contraventor tem foro especial na
Justiça Federal, hipótese que atrai a competência do Tribunal Regional Federal.
Bons estudos !

Felipe Leal – Graduado em Direito pela Universidade


Federal da Paraíba (2003) e mestrado em Direito Am-
biental e Políticas Públicas pela Universidade Federal
do Amapá (2012). Ingressou na Polícia Federal em
2005, como Papiloscopista Policial Federal, adquirindo
experiência na área técnica, e, desde 2006, é Delegado
de Policia Federal, tendo já chefiado Delegacias Espe-
cializadas na Repressão ao Tráfico de Drogas (Pará), na
Repressão aos Crimes Ambientais (Amapá) e na Re-
pressão a Crimes Financeiros (Paraíba), bem como atuou como Chefe do Núcleo
de Inteligência em Pernambuco. Na docência, é um dos responsáveis pela forma-
ção profissional de novos policiais, com a elaboração de Caderno Didático para a
Academia Nacional de Polícia. Já elaborou Manuais de Investigações para autori-
dades policiais. Professor em Faculdades de Direito e em cursos de pós gradua-
ção. Coordenador de pós graduação em Investigação Criminal e Ciências Foren-
ses. Coordenador da Escola Nacional de Polícia Judiciária.

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DIREITOS HUMANOS: PROFESSOR LUCIANO FAVARO

Olá, prezada(o) aluna(o),


Como estão os estudos? O Exame de Ordem se aproxima e você não pode
desanimar, ok! Conte sempre conosco do Projeto Exame de Ordem.
Hoje daremos continuação a nossas dicas de Direitos Humanos.

1) Tribunal Penal Internacional: nossa primeira dica de hoje é sobre o Tri-


bunal Penal Internacional – TPI.
O TPI entrou em funcionamento em 2002 mediante o Estatuto de Roma que
fora assinado em 1998.
Este tribunal penal internacional de caráter permanente tem por finalidade jul-
gar indivíduos que cometeram crimes de guerra, de agressão, contra a humani-
dade e genocídio. Fique atento(a), portanto, que este tribunal não julga Estados,
mas sim indivíduos, ok!
Outra coisa: apesar de o TPI ficar localizado em Haia, na Holanda, ele não se
confunde com a Corte Internacional de Justiça – CIJ (que também fica Haia). A CIJ
sim é responsável por julgamento de Estados.
Uma novidade desse tribunal a tipificação do crime de agressão que não fora
definido no Estatuto de Roma. A tipificação foi aprovada na Resolução n. 6, de
11/06/2010, que definiu o crime de agressão como sendo “o planejamento, início
ou execução, por uma pessoa em posição de efetivo controle ou direção da ação
política ou militar de um Estado, de um ato de agressão que, por suas caracterís-
ticas, gravidade e escala, constitua uma violação manifesta da Carta das Nações
Unidas”. Essa definição foi adotada por consenso, seguindo a linha da Resolução
n. 3.314 da Assembleia Geral da ONU de 1974.
O TPI é um que somente pode analisar crimes ocorridos após a sua entrada
em vigor, haja vista não ser um tribunal ad quo (de exceção).
As penas aplicadas pelo TPI são: prisão perpétua, prisão de até 30 anos, multa
e perdimentos de bens.
Pergunta: mas tendo como uma de suas penas a prisão perpétua, o Brasil se

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submete a sua jurisdição? A resposta é sim, conforme previsto no artigo 5º, § 4º


CF/88, segundo o qual o Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal Interna-
cional a cuja criação tenha manifestado adesão.
No XIII Exame de Ordem cobraram a seguinte questão:

O sistema global de Direitos Humanos foi pensado para proteger as vítimas


de violações ou ameaças de violações dos direitos humanos. Daí os variados
mecanismos que buscam proteção ou reparações em face de diferentes vio-
lências. Contudo, dentro do sistema global há um tratado internacional que
instituiu um órgão de caráter permanente e independente voltado especifica-
mente para o julgamento e a punição de indivíduos agressores e não direta-
mente para a proteção das vítimas. Assinale a opção que indica esse órgão.
a) Corte Internacional de Justiça – Corte de Haia – instituída pela Carta das
Nações Unidas.
b) Conselho de Segurança da ONU, instituído pela Carta das Nações Unidas.
c) Tribunal Penal Internacional, instituído pelo Estatuto de Roma.
d) Corte Europeia dos Direitos dos Homens, instituída pela Convenção Euro-
peia dos Direitos do Homem.

Veja que nessa questão o examinador queria saber qual é o órgão de caráter
permanente e independente que julga e pune os indivíduos agressores. Dos ór-
gãos indicados, apenas o TPI (alternativa “c”) tem essa competência.
2) Declaração Universal dos Direitos Humanos – DUDH: a DUDH é um
dos documentos básicos e proteção internacional dos Direitos Humanos. Esse
documento foi aprovado e adotado pela Assembleia Geral da ONU em 10 de
dezembro de 1948, mediante a Resolução 217A.
Nele estão especificados Direitos Humanos de 1ª e 2ª gerações (se tiver dúvida
sobre as gerações de Direitos Humanos, veja a nossa dica de agosto, ok!).
Fique atento(a)! No artigo I da DUDH até se menciona sobre a fraternidade
(direito de 3ª geração), mas não se especifica nenhum direito de 3ª geração na
DUDH, apenas de 1ª e 2ª.
IMPORTANTÍSSIMO: a DUDH não tem força obrigatória e vinculante. Assim,

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COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

ela é um documento de mera orientação aos países. Ela é diferente, portanto,


de um tratado/acordo/convenção que geram obrigações. Se um país, ainda que
membro da ONU, descumprir a DUDH, ele não será punido, uma vez que não se
previu caráter sancionatório na DUDH.
Diferencia-se, portanto, de outros documentos de proteção dos direitos hu-
manos os quais, em sendo tratados, podem importar sanção ao país violador dos
Direitos ali previstos.
Por fim, cabe registrar que na DUDH alguns direitos foram especificados como
absolutos, a exemplo da proibição da escravidão ou servidão; submissão à tor-
tura ou tratamento/castigo cruel etc; por outro lado, alguns direitos foram tidos
como relativos, a exemplo do direito a prisão no qual se especificou que ninguém
será arbitrariamente preso, detido ou exilado. Veja que não se está proibindo a
prisão/detenção/expulsão, mas sim que ela não seja de modo arbitrário. Trata-se,
portanto, de um direito que pode ser relativizado.
3) Pacto de San José da Costa Rica: o Pacto de San José da Costa Rica
também é denominado de Convenção Americana sobre Direitos Humanos.
É o tratado de Direitos Humanos com maior relevância no âmbito do Sistema
Interamericano de Proteção de Direitos Humanos. Ele foi adotado em 1969, mas
somente entrou em vigor internacionalmente em 1978.
Para o Brasil, no entanto, a entrada em vigor desse tratado se deu em 1992. O
seu status hierárquico, de acordo com a decisão do STF, é de norma supralegal,
haja vista ter sido aprovado em turno único. Sendo assim, ele se sobrepõem às
leis, mas encontra-se abaixo da Constituição Federal e Emendas Constitucionais.
Diferentemente da DUDH, o Pacto de San José é um tratado e pode gerar
sanções a um Estado que, tendo ratificado/aderido ao tratado, descumprir os
direitos ali enumerados. Trataremos dessa possibilidade de sanção na nossa pró-
xima dica no mês de outubro.
4) Direitos previstos no Pacto de San José da Costa Rica: diferentemen-
te da DUDH, no Pacto foram enumerados direitos exclusivamente de 1ª geração
(direitos civis e políticos). Um único artigo no Pacto trata dos direitos de segunda
geração, mas não enumera quais são esses direitos.
Capítulo III – DIREITOS ECONÔMICOS, SOCIAIS E CULTURAIS

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Artigo 26 – Desenvolvimento progressivo. Os Estados-partes comprometem-se


a adotar as providências, tanto no âmbito interno, como mediante coope-
ração internacional, especialmente econômica e técnica, a fim de conseguir
progressivamente a plena efetividade dos direitos que decorrem das normas
econômicas, sociais e sobre educação, ciência e cultura, constantes da Carta
da Organização dos Estados Americanos, reformada pelo Protocolo de Buenos
Aires, na medida dos recursos disponíveis, por via legislativa ou por outros
meios apropriados.

Tal qual na DUDH, há direitos humanos especificados no Pacto de caráter ab-


solutos e outros de caráter relativos. Fique atento(a), ok! Um exemplo de direito
que pode ser relativizado é o direito à liberdade de manifestar a religião.

A liberdade de manifestar a própria religião e as próprias crenças está sujei-


ta apenas às limitações previstas em lei e que se façam necessárias para
proteger a segurança, a ordem, a saúde ou a moral públicas ou os direitos e
as liberdades das demais pessoas.

5) Suspensão de garantias previstas no Pacto de San José da Costa Rica:


Pergunta: é possível suspender as obrigações assumidas pelo Estado constan-
tes na Convenção Americana? Resposta: Sim, mas desde que temporária e que
não gere discriminação alguma fundada em motivos de raça, cor, sexo, idioma,
religião ou origem social.
Pergunta: mas em quais situações os direitos poderão ser suspensos? Respos-
ta: nos casos de guerra; perigo público; ou de outra emergência que ameace a
independência ou segurança do Estado parte.

os seguintes direitos NÃO podem ser suspensos: Direito ao reconhecimen-


to da personalidade jurídica; Direito à vida; Direito à integridade pessoal;
Proibição da escravidão e da servidão; Princípio da legalidade e da retro-
atividade; Liberdade de consciência e religião; Proteção da família; direito
ao nome; Direitos da criança; Direito à nacionalidade; Direitos políticos;
CUIDADO! Tampouco poderão ser suspensas as garantias indispensáveis

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COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

para a proteção desses direitos.

Quadro Comparativo
DUDH Convenção Americana
Âmbito Internacional Regional
Organizações das Organização dos Estados
Aprovação
Nações Unidas – ONU Americanos – OEA
Ano de aprovação 1948 1969
Direitos humanos
1ª e 2ª gerações Apenas 1ª geração
especificados
Gera sanção pelo
Não Sim
descumprimento
Brasil faz parte Sim, desde 1948 Sim, desde 1992

Por hoje são essas as dicas, prezada(o) aluna(o)! Continuaremos com nossas
dicas de Direitos Humanos no próximo encontro que será no dia 27 de outubro.
Até lá!

Luciano Favaro – Mestre em Direito Internacional


Econômico. Pós-graduado em Direito Civil e em Direi-
to do Trabalho. Professor universitário na graduação
em Direito e em cursos preparatórios para o Exame de
Ordem e Concursos em geral. Advogado na Empresa
Brasileira de Correios e Telégrafos.

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DIREITO CONSTITUCIONAL: PROFESSOR LUCIANO DUTRA

Olá meus amigos, futuros colegas advogados!


Quem vos fala é o Luciano Dutra, Advogado da União e professor de Direi-
to Constitucional neste seleto time que tem a missão de prepará-los para o XXI
Exame de Ordem. Na regressiva passada, trouxe temas do Controle de Consti-
tucionalidade. Agora pretendo dar seguimento a este importantíssimo assunto.
Vamos lá!

1. Vamos começar tratando da figura do amicus curiae, que numa tradução


literal seria o amigo da corte. O que é o amicus curiae? É o terceiro interessado,
mas não legitimado, que atua no controle concentrado de constitucionalidade
como colaborador.
2. À luz do art. 7º, § 2º, da Lei n. 9.868, de 1999, o relator, considerando a
relevância da matéria e a representatividade dos postulantes, poderá, por despa-
cho irrecorrível, admitir a manifestação de outros órgãos ou entidades. “Outros
órgãos ou entidades” é o já tratado amicus curiae. Deve haver no caso concreto
a “representatividade dos postulantes”. Nessa senda, não vem sendo admitidas
pessoas físicas, em homenagem à jurisprudência consolidada do STF e ao texto
da norma em questão:

ADI 4178/GO. Relator: Min. Gilmar Mendes. Julgamento: 05/08/2010: […] Não
assiste razão ao pleito de […], que requerem admissão na condição de amici
curiae. É que os requerentes são pessoas físicas, terceiros concretamente
interessados no feito, carecendo do requisito de representatividade inerente
à intervenção prevista pelo art. 7º, § 2º, da Lei n. 9.868, de 10.11.1999, o qual,
aliás, é explícito ao admitir somente a manifestação de outros “órgãos ou
entidades” como medida excepcional aos processos objetivos de controle
de constitucionalidade.

3. O prazo limite de admissão do amicus curiae, segundo fixou o STF na ADI

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COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

4.071-AgR/DF, da relatoria do Min. Menezes Direito, é a data de remessa dos au-


tos para mesa de julgamento, percebam:

Ementa: “Agravo regimental. Ação direta de inconstitucionalidade manifes-


tamente improcedente. Indeferimento da petição inicial pelo Relator. Art. 4º
da Lei n. 9.868/99. 1. É manifestamente improcedente a ação direta de in-
constitucionalidade que verse sobre norma (art. 56 da Lei n. 9.430/96) cuja
constitucionalidade foi expressamente declarada pelo Plenário do Supremo
Tribunal Federal, mesmo que em recurso extraordinário. 2. Aplicação do art.
4º da Lei n. 9.868/99, segundo o qual ‘a petição inicial inepta, não fundamen-
tada e a manifestamente improcedente serão liminarmente indeferidas pelo
relator’. 3. A alteração da jurisprudência pressupõe a ocorrência de significati-
vas modificações de ordem jurídica, social ou econômica, ou, quando muito,
a superveniência de argumentos nitidamente mais relevantes do que aqueles
antes prevalecentes, o que não se verifica no caso. 4. O amicus curiae somen-
te pode demandar a sua intervenção até a data em que o Relator liberar o
processo para pauta. 5. Agravo regimental a que se nega provimento”.

4. A finalidade de admissão do amicus curiae é pluralizar o debate do tema


constitucional guerreado, permitindo que o STF disponha dos elementos necessá-
rios à melhor solução da relevante controvérsia constitucional, legitimando demo-
craticamente as decisões da Corte Suprema. Vejamos os precedentes importantes:

ADPF 54/DF. Arguição de descumprimento de preceito fundamental. Rela-


tor: Min. Marco Aurélio. Julgamento: 09/04/2012. […] “O Min. Gilmar Mendes
realçou a importância da ADPF, como processo de índole objetiva, na instru-
mentalidade da proteção dos direitos fundamentais. Evidenciou a relevância
do amicus curiae como fonte de informação para a Corte, além de cumprir
função integradora importante no Estado de Direito, tendo em conta o cará-
ter pluralista e aberto de sua admissão, fundamental para o reconhecimento
de direitos e a realização de garantias constitucionais. Nesse sentido, repu-
tou não razoável a ausência, nesse julgamento, de algumas entidades que
tentaram se habilitar como amici curiae“.
RE 597.165/DF. Relator: Min. Celso de Mello: […] “Não se pode perder de

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perspectiva que a regra inscrita no art. 7º, § 2º da Lei n. 9.868/99 – que


contém a base normativa legitimadora da intervenção processual do “ami-
cus curiae” – tem por objetivo essencial pluralizar o debate constitucional,
permitindo que o Supremo Tribunal Federal venha a dispor de todos os
elementos informativos possíveis e necessários à resolução da controvérsia,
visando-se, ainda, com tal abertura procedimental, superar a grave questão
pertinente à legitimidade democrática das decisões emanadas desta Corte,
quando no desempenho de seu extraordinário poder de efetuar, em abstra-
to, o controle concentrado de constitucionalidade”.

5. Outro tema do controle concentrado que é deveras importante, que, inclu-


sive, já caiu em exame anterior, é a impossibilidade de desistência. À luz do art. 5º,
da Lei n. 9.868, de 1999, proposta a ação direta de inconstitucionalidade, não se
admitirá desistência. Esta impossibilidade de desistência também se aplica à ação
direta de inconstitucionalidade por omissão (art. 12-D, da Lei n. 9.868, de 1999) e
à ação declaratória de constitucionalidade (art. 16, da Lei n. 9.868, de 1999).
6. Falaremos agora da irrecorribilidade das ações de controle concentrado
de constitucionalidade. Em face das decisões proferidas pelo Supremo Tribunal
Federal nas ações de controle concentrado de constitucionalidade, não cabe re-
curso, salvo embargos de declaração, tampouco podem ser objeto de ação resci-
sória, conforme prevê o art. 26, da Lei n. 9.868, de 1999, nos seguintes termos: “a
decisão que declara a constitucionalidade ou a inconstitucionalidade da lei ou do
ato normativo em ação direta ou em ação declaratória é irrecorrível, ressalvada
a interposição de embargos declaratórios, não podendo, igualmente, ser objeto
de ação rescisória”.
7.Cuidado meus alunos com a possibilidade de modulação temporal dos efei-
tos da decisão presente no art. 27, da Lei n. 9.868, de 1999, a saber “ao declarar
a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, e tendo em vista razões de se-
gurança jurídica ou de excepcional interesse social, poderá o Supremo Tribunal
Federal, por maioria de dois terços de seus membros, restringir os efeitos daquela
declaração ou decidir que ela só tenha eficácia a partir de seu trânsito em julgado
ou de outro momento que venha a ser fixado”.
8. No que tange à ação direta de inconstitucionalidade por omissão, já caiu

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uma questão cobrando a possibilidade de concessão pelo STF de medida caute-


lar. Vejam o que diz a norma:

Art. 12-F. Em caso de excepcional urgência e relevância da matéria, o


Tribunal, por decisão da maioria absoluta de seus membros, observado o
disposto no art. 22, poderá conceder medida cautelar, após a audiência
dos órgãos ou autoridades responsáveis pela omissão inconstitucional, que
deverão pronunciar-se no prazo de 5 (cinco) dias.
§1º A medida cautelar poderá consistir na suspensão da aplicação da
lei ou do ato normativo questionado, no caso de omissão parcial,
bem como na suspensão de processos judiciais ou de procedimentos
administrativos, ou ainda em outra providência a ser fixada pelo Tribunal.
§2º O relator, julgando indispensável, ouvirá o Procurador-Geral da Repúbli-
ca, no prazo de 3 (três) dias.
§3º No julgamento do pedido de medida cautelar, será facultada susten-
tação oral aos representantes judiciais do requerente e das autoridades ou
órgãos responsáveis pela omissão inconstitucional, na forma estabelecida no
Regimento do Tribunal.
Art.12-G. Concedida a medida cautelar, o Supremo Tribunal Federal fará pu-
blicar, em seção especial do Diário Oficial da União e do Diário da Justiça
da União, a parte dispositiva da decisão no prazo de 10 (dez) dias, devendo
solicitar as informações à autoridade ou ao órgão responsável pela omissão
inconstitucional, observando-se, no que couber, o procedimento estabeleci-
do na Seção I do Capítulo II desta Lei.

9. Sobre a ação declaratória de constitucionalidade, importante trazer à cola-


ção que a Lei n. 9.868, de 1999, em seu art. 14, inc. III, exige, como requisito para
o recebimento da ação pelo STF, que seja demonstrado pelo autor a existência
de controvérsia judicial relevante sobre a aplicação da disposição objeto da ação
declaratória. Caso o autor não se desincumba deste mister, o relator irá liminar-
mente indeferir a petição inicial.

10. Acerca da arguição de descumprimento de preceito fundamental (ADPF),

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o art. 1º, da Lei n. 9.882, de 1999, define qual o objeto desta ação de controle
concentrado, vejamos:

Art. 1º A arguição prevista no § 1º do art. 102 da Constituição Federal será


proposta perante o Supremo Tribunal Federal, e terá por objeto evitar ou
reparar lesão a preceito fundamental, resultante de ato do Poder Público.
Parágrafo único. Caberá também arguição de descumprimento de preceito
fundamental:
I – quando for relevante o fundamento da controvérsia constitucional sobre
lei ou ato normativo federal, estadual ou municipal, incluídos os anteriores à
Constituição;
II – (VETADO)

11. Percebam que, diferentemente da ação direta de inconstitucionalidade e


da ação declaratória de constitucionalidade, podem ser propostas ADPFs em face
de leis municipais e também contras normas anteriores à atual Constituição (5 de
outubro de 1988).
12. Questão intrincada é saber o que é um “´preceito fundamental”. Na ques-
tão de ordem da ADPF 01, tendo como relator o Min. Néri da Silveira, julgado
em 3 de fevereiro de 2000, a Corte definiu que “compete ao Supremo Tribunal
Federal o juízo acerca do que se há de compreender, no sistema constitucional
brasileiro, como preceito fundamental”. Em outras palavras, a Constituição não
possui uma definição a priori do que seja “preceito fundamental”, assim, compete
ao STF defini-lo no caso concreto.
13. Ponto muito importante acerca do estudo da ADPF é saber que o ajuiza-
mento da ADPF rege-se pelo princípio da subsidiariedade presente no art. 4º, §
1º, da Lei n. 9.882, de 1999. Desta forma, não será ela admitida a ADPF sempre
que houver qualquer outro meio juridicamente idôneo, apto a sanar, com efeti-
vidade real, o estado de lesividade emergente do ato impugnado (precedentes:
ADPF 3-CE, ADPF 12-DF e ADPF 13-SP).
14. Agora, cuidado!!!! A mera possibilidade de utilização de outros meios pro-
cessuais, no entanto, não basta, só por si, para justificar a invocação do princípio
da subsidiariedade. Para que esse postulado possa legitimamente incidir, reve-
lar-se-á essencial que os instrumentos disponíveis mostrem-se aptos a sanar, de

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COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

modo eficaz e real, a situação de lesividade que se busca neutralizar com o ajui-
zamento da ADPF.
15. Por fim, cuidado com a impossibilidade de se utilizar a ação civil pública como
sucedâneo da ação direta de inconstitucionalidade. Como já decidiu o STF: “É inques-
tionável que a utilização da ação civil pública como sucedâneo da ação direta de
inconstitucionalidade, além de traduzir situação configuradora de abuso do poder de
demandar, também caracterizará hipótese de usurpação da competência do Supremo
Tribunal Federal. Esse entendimento – que encontra apoio em autorizado magistério
doutrinário […] reflete-se, por igual, na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal,
que, no entanto, somente exclui a possibilidade do exercício da ação civil pública,
quando, nela, o autor deduzir pretensão efetivamente destinada a viabilizar o controle
abstrato de constitucionalidade de determinada lei ou ato normativo (RDA 206/267,
Rel. Min. CARLOS VELLOSO – AI 189.601-AgR/GO, Rel. Min. MOREIRA ALVES)”.
É isso meus amigos. Contem conosco para a sua aprovação.
Fé na missão.
Prof. Luciano Dutra.

Luciano Dutra – É Advogado da União. Graduado em


Direito pela Universidade Federal de Juiz de Fora e espe-
cialista em Direito Público. Graduado e Pós-Graduado
em Ciências Militares. Professor de Direito Constitucional
com ampla experiência em cursos preparatórios para
concursos públicos presenciais e on-line. Comentarista
jurídico para revistas, jornais, sites e rádios especializados
em concursos públicos. Aprovado em diversos concur-
sos públicos. Autor das obras Direito Constitucional Es-
sencial (Editora Gen – 2ª edição), Direito Constitucional para a OAB em Exercícios
Comentados (Editora Gen – ebook), Direito Constitucional em 1600 Questões (Edi-
tora Gran Cursos), Direito Constitucional em Exercícios (Editora Gran Cursos –
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DIREITO PENAL:
PROFESSOR FLÁVIO MILHOMEM

Querida Aluna,
Querido Aluno,
Aproxima-se a 1ª fase do XXI Exame de Ordem Unificado da Ordem dos Ad-
vogados do Brasil; e, assim, gostaria de dividir com vocês alguns temas de inte-
resse no Processo Penal, com alta possibilidade de serem cobrados na sua prova.
Vamos tratar, nesta oportunidade, da audiência de custódia e da prisão temporá-
ria. Então, vamos ao trabalho!

AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA (RESOLUÇÃO 213/CNJ)

A Resolução 213/CNJ detalha o procedimento de apresentação de presos em


flagrante ou por mandado de prisão à autoridade judicial competente e possui
dois protocolos de atuação – um sobre aplicação de penas alternativas e outro
sobre os procedimentos para apuração de denúncias de tortura.
Dispõe o art. 310 do CPP que o juiz, ao receber o auto de prisão em flagran-
te, deverá fundamentadamente, relaxar a prisão ilegal; ou converter a prisão em
flagrante em preventiva, quando presentes os requisitos constantes do art. 312
deste Código, e se revelarem inadequadas ou insuficientes as medidas cautelares
diversas da prisão; ou conceder liberdade provisória, com ou sem fiança.
A norma administrativa (resolução) inovou ao estabelecer que toda pessoa
presa em flagrante delito, independentemente da motivação ou natureza do ato,
seja obrigatoriamente apresentada, em até 24 horas da comunicação do flagran-
te, à autoridade judicial competente, e ouvida sobre as circunstâncias em que se
realizou sua prisão ou apreensão.
A matéria, ora regulamentada por resolução do Conselho Nacional de Justiça,
é objeto do projeto de lei do Senado Federal PLS 554/2011, o qual, caso aprova-
do, importará em alteração do Código de Processo Penal.

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De acordo com o projeto de lei, a alteração do CPP seguirá as mesmas re-


gras já implementadas pela Resolução 213/STJ. A audiência servirá para que o
juiz verifique se os direitos fundamentais do preso estão sendo respeitados; não
podendo ser usada como prova contra o depoente, e deve tratar apenas da le-
galidade e da necessidade da prisão, da prevenção da ocorrência de tortura ou
de maus-tratos e do esclarecimento dos direitos assegurados ao preso.

RELAXAMENTO DA PRISÃO

Cuida-se de mandamento constitucional o relaxamento da prisão ilegal pela


autoridade judiciária (CF, art. 5º, LXV). Assim, uma vez recebido o auto de prisão
em flagrante, deverá o juiz relaxar a prisão do autuado quando constatada sua
ilegalidade; seja pelo não atendimento do disposto no art. 302 (flagrante), seja
no art. 306 e parágrafos (comunicações), ambos do Código de Processo Penal.

CONVERSÃO DO FLAGRANTE EM PREVENTIVA

A conversão em prisão preventiva não se trata de efeito automático da prisão


em flagrante, somente se aplicando quando não for o caso de relaxamento da
prisão ou concessão de liberdade provisória, com ou sem fiança.

CONCESSÃO DE LIBERDADE PROVISÓRIA

Uma vez recebido o auto de prisão em flagrante, não sendo o caso de rela-
xamento da prisão ilegal, deverá o juiz conceder, de ofício, por meio de decisão
fundamentada, a liberdade provisória ao preso, se não verificados no caso em
concreto os requisitos que legitimariam a conversão da prisão em flagrante em
prisão preventiva (CPP, art. 312).

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PRISÃO TEMPORÁRIA

Prisão temporária é a prisão provisória praticada no curso do inquérito poli-


cial, cuja finalidade é assegurar uma eficaz investigação policial, fundamentada na
imprescindibilidade das investigações dos crimes especificados na Lei n. 7960/89.
Tem natureza cautelar, colocando-se ao lado da prisão em flagrante e da pri-
são preventiva; exigindo, portanto, o fumus comissi delicti e o periculum in mora,
para sua decretação. Ocorre que, ao contrário da prisão preventiva (CPP, art. 311),
não pode a prisão temporária ser decretada de ofício pelo juiz.
Os crimes que admitem a prisão temporária se encontram elencados no art.
1º, III, da Lei n. 7.960/89, sendo eles: o homicídio doloso (art. 121, caput, e seu §
2º); sequestro ou cárcere privado (art. 148, caput, e seus §§ 1º e 2º); roubo (art.
157, caput, e seus §§ 1º, 2º e 3º); extorsão (art. 158, caput, e seus §§ 1º e 2º); ex-
torsão mediante sequestro (art. 159, caput, e seus §§ 1º, 2º e 3º); estupro (art. 213,
caput, e sua combinação com o art. 223, caput, e parágrafo único); atentado
violento ao pudor (art. 214, caput, e sua combinação com o art. 223, caput, e
parágrafo único); rapto violento (art. 219, e sua combinação com o art. 223 caput,
e parágrafo único); epidemia com resultado de morte (art. 267, § 1º); envenena-
mento de água potável ou substância alimentícia ou medicinal qualificado pela
morte (art. 270, caput, combinado com art. 285); quadrilha ou bando (art. 288),
todos do Código Penal; genocídio (arts. 1º, 2º e 3º da Lei n. 2.889, de 1º de outu-
bro de 1956), em qualquer de sua formas típicas; tráfico de drogas (art. 33 da Lei
n. 11.343/06); crimes contra o sistema financeiro (Lei n. 7.492, de 16 de junho de
1986); e os crimes previstos na Lei de Terrorismo (Lei n. 13.260, de 2016).
O Estado pode se valer desta medida cautelar restritiva de liberdade quando
ela se mostre imprescindível para as investigações do inquérito policial; ou quan-
do o indiciado não tiver residência fixa ou não fornecer elementos necessários ao
esclarecimento de sua identidade. Assim, com a prática de um ou mais dos crimes
constantes do rol legal, taxativo, deve-se verificar, ao menos, um dos requisitos
acima elencados (imprescindibilidade para as investigações ou falta de residência
fixa ou dúvidas quanto à identidade do suspeito), para que possa a autoridade

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judiciária competente, mediante provocação (requerimento do Ministério Público


ou representação da autoridade policial), decretar a prisão temporária do suspei-
to e determinar a expedição do respectivo mandado de prisão.
A prisão temporária terá o prazo de 5 (cinco) dias, prorrogável por igual perí-
odo em caso de extrema e comprovada necessidade; sendo que, no caso dos cri-
mes hediondos (Lei n. 8.072/90), e daqueles a ele assemelhados (tortura, tráfico
de drogas e terrorismo), o prazo será de 30 (trinta) dias, igualmente prorrogável,
em caso de extrema e comprovada necessidade.
Findo o prazo estipulado na decisão judicial, deverá o indiciado ser imedia-
tamente libertado, pela própria autoridade policial, independentemente da ex-
pedição de alvará de soltura pelo juiz competente; salvo se decretada sua prisão
preventiva.
É certo que os assuntos aqui tratados lhes serão de utilidade na preparação
para o exame unificado da OAB; lembrando que nos veremos, em breve, com
outros assuntos de interesse no processo penal.
Bons estudos!

Flávio Milhomem – Mestre em Ciências Jurídico-Pe-


nais, Doutorando em Direito e Políticas Públicas, Do-
cente nas disciplinas de Direito Penal e Processo Penal
desde 1997, Docente titular do curso de Direito (ba-
charelado) e da pós-graduação do Instituto Brasiliense
de Direito Público – IDP, Brasília/DF, professor de cur-
sos preparatórios para concursos, Promotor de Justiça
Criminal do Ministério Público do Distrito Federal e
Territórios desde 1.997.

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DIREITO TRIBUTÁRIO: PROFESSOR MAURO MOREIRA

Caros Alunos, seguem algumas dicas de Direito Tributário:

1. Sujeito ativo da obrigação é a pessoa jurídica de direito público, titu-


lar da competência para exigir o seu cumprimento.
2. Salvo disposição de lei em contrário, a pessoa jurídica de direito públi-
co, que se constituir pelo desmembramento territorial de outra, subroga-se
nos direitos desta, cuja legislação tributária aplicará até que entre em vigor a sua
própria.
3. Sujeito passivo da obrigação principal é a pessoa obrigada ao pagamento
de tributo ou penalidade pecuniária.
4. O sujeito passivo da obrigação principal diz-se:
I – contribuinte, quando tenha relação pessoal e direta com a situação
que constitua o respectivo fato gerador;
II – responsável, quando, sem revestir a condição de contribuinte, sua obri-
gação decorra de disposição expressa de lei. Sujeito passivo da obrigação
acessória é a pessoa obrigada às prestações que constituam o seu objeto.
5. Salvo disposições de lei em contrário, as convenções particulares, relati-
vas à responsabilidade pelo pagamento de tributos, não podem ser opostas à
Fazenda Pública, para modificar a definição legal do sujeito passivo das obriga-
ções tributárias correspondentes.
6. São solidariamente obrigadas:
I – as pessoas que tenham interesse comum na situação que constitua o
fato gerador da obrigação principal;
II – as pessoas expressamente designadas por lei. A solidariedade referida
neste artigo não comporta benefício de ordem.
7. Salvo disposição de lei em contrário, são os seguintes os efeitos da solida-
riedade:
I – o pagamento efetuado por um dos obrigados aproveita aos demais;
II – a isenção ou remissão de crédito exonera todos os obrigados, salvo

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se outorgada pessoalmente a um deles, subsistindo, nesse caso, a solidariedade


quanto aos demais pelo saldo;
III – a interrupção da prescrição, em favor ou contra um dos obrigados,
favorece ou prejudica aos demais.
8. A capacidade tributária passiva independe:
I – da capacidade civil das pessoas naturais;
II – de achar-se a pessoa natural sujeita a medidas que importem privação
ou limitação do exercício de atividades civis, comerciais ou profissionais, ou da
administração direta de seus bens ou negócios;
III – de estar a pessoa jurídica regularmente constituída, bastando que
configure uma unidade econômica ou profissional.
9. Responsabilidade Tributária – Sem prejuízo do disposto neste capítulo,
a lei pode atribuir de modo expresso a responsabilidade pelo crédito tri-
butário a terceira pessoa, vinculada ao fato gerador da respectiva obrigação,
excluindo a responsabilidade do contribuinte ou atribuindo-a a este em caráter
supletivo do cumprimento total ou parcial da referida obrigação.
10. Os créditos tributários relativos a impostos cujo fato gerador seja a proprie-
dade, o domínio útil ou a posse de bens imóveis, e bem assim os relativos a
taxas pela prestação de serviços referentes a tais bens, ou a contribuições
de melhoria, subrogam-se na pessoa dos respectivos adquirentes, salvo
quando conste do título a prova de sua quitação. No caso de arrematação
em hasta pública, a sub-rogação ocorre sobre o respectivo preço.
11. São pessoalmente responsáveis:
I – o adquirente ou remitente, pelos tributos relativos aos bens adquiridos ou
remidos;
II – o sucessor a qualquer título e o cônjuge meeiro, pelos tributos devi-
dos pelo de cujus até a data da partilha ou adjudicação, limitada esta respon-
sabilidade ao montante do quinhão do legado ou da meação;
III – o espólio, pelos tributos devidos pelo de cujus até a data da abertura
da sucessão.
12. A pessoa jurídica de direito privado que resultar de fusão, transformação

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ou incorporação de outra ou em outra é responsável pelos tributos devidos até


à data do ato pelas pessoas jurídicas de direito privado fusionadas, transformadas
ou incorporadas. O disposto neste artigo aplica-se aos casos de extinção de
pessoas jurídicas de direito privado, quando a exploração da respectiva ativida-
de seja continuada por qualquer sócio remanescente, ou seu espólio, sob
a mesma ou outra razão social, ou sob firma individual.
13. Conforme a Súmula 554, STJ: Na hipótese de sucessão empresarial,
a responsabilidade da sucessora abrange não apenas os tributos devidos pela
sucedida, mas também as multas moratórias ou punitivas referentes a fatos
geradores ocorridos até a data da sucessão.
14. A responsabilidade do adquirente de fundo de comércio ou esta-
belecimento nos termos do 133: A pessoa natural ou jurídica de direito privado
que adquirir de outra, por qualquer título, fundo de comércio ou estabeleci-
mento comercial, industrial ou profissional, e continuar a respectiva exploração,
sob a mesma ou outra razão social ou sob firma ou nome individual, responde
pelos tributos, relativos ao fundo ou estabelecimento adquirido, devidos até à
data do ato:
I – integralmente, se o alienante cessar a exploração do comércio, indústria
ou atividade;
II – subsidiariamente com o alienante, se este prosseguir na exploração ou
iniciar dentro de seis meses a contar da data da alienação, nova atividade no
mesmo ou em outro ramo de comércio, indústria ou profissão.
15. Noutra ponta, não aplicação da responsabilidade à alienação em
Processo de falência ou recuperação judicial :
I – em processo de falência;
II – de filial ou unidade produtiva isolada, em processo de recuperação ju-
dicial.
16. Entretanto, haverá responsabilidade quando o adquirente for:
I – sócio da sociedade falida ou em recuperação judicial, ou sociedade
controlada pelo devedor falido ou em recuperação judicial;
II – parente, em linha reta ou colateral até o 4º(quarto) grau, consan-

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güíneo ou afim, do devedor falido ou em recuperação judicial ou de qualquer de


seus sócios; ou III – identificado como agente do falido ou do devedor em
recuperação judicial com o objetivo de fraudar a sucessão tributária.
17. Responsabilidade de Terceiros – Atuação Regular nos termos do
Art. 134, CTN – Nos de impossibilidade de exigência do cumprimento da obri-
gação principal pelo contribuinte, respondem solidariamente com este nos atos
em que intervierem ou pelas omissões de que forem responsáveis:
I – os pais, pelos tributos devidos por seus filhos menores;
II – os tutores e curadores, pelos tributos devidos por seus tutelados ou
curatelados;
III – os administradores de bens de terceiros, pelos tributos devidos por
estes;
IV – o inventariante, pelos tributos devidos pelo espólio;
V – o síndico e o comissário, pelos tributos devidos pela massa falida
ou pelo concordatário;
VI – os tabeliães, escrivães e demais serventuários de ofício, pelos tri-
butos devidos sobre os atos praticados por eles, ou perante eles, em razão do
seu ofício;
VII – os sócios, no caso de liquidação de sociedade de pessoas. O dis-
posto neste artigo só se aplica, em matéria de penalidades, às de caráter mo-
ratório.
18. Nesse particular, a jurisprudência do STJ faz uma distinção entre SOLIDA-
RIEDADE X SUBSIDIARIEDADE: “Flagrante ausência de tecnicidade legislativa se
verifica no art. 134, do CTN, em que se indica hipótese de responsabilidade soli-
dária ‘nos casos de impossibilidade de exigência do cumprimento da obrigação
principal pelo contribuinte’, uma vez cediço que o instituto da solidariedade não
se coaduna com o benefício de ordem ou de excussão. Em verdade, o aludido
preceito normativo cuida de responsabilidade subsidiária” (EREsp 446.955/SC,
Rel. Min. Luiz Fux, 1.ª Seção, j. 09.04.2008, DJe05.2008).

19. Reponsabilidade de Terceiro – Atuação Irregular nos termos do

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135, CTN: São pessoalmente responsáveis pelos créditos correspondentes a obri-


gações tributárias resultantes de atos praticados com excesso de poderes ou
infração de lei, contrato social ou estatutos:
I – as pessoas referidas no artigo anterior;
II – os mandatários, prepostos e empregados;
III – os diretores, gerentes ou representantes de pessoas jurídicas de direito
privado.
20. No que tange a esse assunto, deve ser considerado teor do entendimento
sumulado do STJ, senão vejamos: Súmula 430 do STJ: “O inadimplemento
da obrigação tributária pela sociedade não gera, por si só, a responsabilidade
solidária do sócio-gerente”; Súmula 435 do STJ: “Presume-se dissolvida irre-
gularmente a empresa que deixar de funcionar no seu domicílio fiscal,
sem comunicação aos órgãos competentes, legitimando o redirecionamento da
execução fiscal para o sócio-gerente”.
21. Responsabilidade por Infrações nos moldes do art. 136: Salvo dis-
posição de lei em contrário, a responsabilidade por infrações da legislação tribu-
tária independe da intenção do agente ou do responsável e da efetivida-
de, natureza e extensão dos efeitos do ato.
22. Por sua vez, nos termos estritos do artigo 137, a Responsabilidade por
Infrações é pessoal ao agente:
I – quanto às infrações conceituadas por lei como crimes ou contraven-
ções, salvo quando praticadas no exercício regular de administração, man-
dato, função, cargo ou emprego, ou no cumprimento de ordem expressa emitida
por quem de direito;
II – quanto às infrações em cuja definição o dolo específico do agente seja
elementar;
III – quanto às infrações que decorram direta e exclusivamente de dolo
específico:
a) das pessoas referidas no artigo 134, contra aquelas por quem respondem;
b) dos mandatários, prepostos ou empregados, contra seus mandantes, pre-
ponentes ou empregadores;
c) dos diretores, gerentes ou representantes de pessoas jurídicas de direito
privado, contra estas.
23. No que tange à Denúncia Espontânea, nos termos do artigo 138, a

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responsabilidade é excluída pela denúncia espontânea da infração, acompa-


nhada, se for o caso, do pagamento do tributo devido e dos juros de mora,
ou do depósito da importância arbitrada pela autoridade administrativa, quando
o montante do tributo dependa de apuração. Não se considera espontânea a
denúncia apresentada após o início de qualquer procedimento administra-
tivo ou medida de fiscalização, relacionados com a infração.
24. Conforme entendimento do STJ, Não se trata de Denúncia Espontânea o
mero parcelamento, uma vez que para a exclusão da responsabilidade deve ha-
ver pagamento do tributo, juros de mora e correção monetária.
25. Conforme o entendimento do STJ, a Denúncia Espontânea exclui Multa
punitiva e moratória, uma vez que “a expressão ‘multa punitiva’ é até pleo-
nástica, já que toda multa tem por objetivo punir, seja em razão da mora, seja por
outra circunstância, desde que prevista em lei. Daí, a jurisprudência deste Superior
Tribunal ter-se alinhado no sentido de que a denúncia espontânea exclui a incidên-
cia de qualquer espécie de multa, e não só a ‘punitiva’, como quer o recorrente”.
Bons estudos!

Mauro Moreira – Procurador Federal. Mestrando em


Direito Tributário pela Universidade Católica de Brasília
– UCB. Especialista em Direito Tributário pelo Instituto
Brasileiro de Estudos Tributários – IBET. Coordenador
Nacional de Contencioso, Cobrança e Recuperação de
Créditos do DNPM/Ministério das Minas e Energia. Pro-
fessor de Direito Tributário da Escola Superior da Advo-
cacia – ESA/OAB/DF. Professor Orientador e Tutor da
Especialização em Direito Público da UnB/Escola da
AGU nos exercícios de 2013/2014. Ex-Advogado da Área Tributária da PETROBRAS.

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DIREITO EMPRESARIAL: PROFESSOR ANDRÉ RAMOS

Examinandos e examinandas, dando prosseguimento a nossa caminhada


rumo ao XXI Exame de Ordem, vamos abordar hoje temas importantes sobre o
Direito Empresarial:

DICA 1:

As Juntas Comerciais são órgãos estaduais que exercem uma função federal,
tendo, portanto, subordinação híbrida. Administrativamente, subordinam-se aos
respectivos Estados; tecnicamente, subordinam-se ao DREI (Departamento de
Registro Empresarial e Integração). Portanto, a competência para eventuais ações
judiciais contra as Juntas será da Justiça Estadual, quando se tratar de matéria
administrativa, e da Justiça Federal, quando se tratar de matéria técnica.

DICA 2:

Empresário individual incapaz (art. 974, caput, do CC)


Sócio incapaz (art. 974, § 3º, do CC).
Não confundir!
O incapaz só pode ser EMPRESÁRIO INDIVIDUAL nas hipóteses excepcio-
nais do art. 974, caput, do CC: incapacidade superveniente ou herança. Em
ambos os casos, é imprescindível obter autorização judicial (art. 974, §§ 1º e
2º, do CC).

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O incapaz pode ser SÓCIO de uma sociedade empresária, independente-


mente das razões que motivaram tal fato (não precisa ser apenas em caso de in-
capacidade superveniente ou herança), mas desde que preenchidos os requisitos
do art. 974, § 3º, do CC: não exercício de administração, integralização total do
capital social e representação ou assistência conforme o grau de sua incapacida-
de. Nesse caso, é desnecessária a autorização judicial.
Bons estudos, pessoal !

André Ramos – Doutor em Direito Empresarial pela


Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
Mestre em Direito Processual Civil pela Universidade
Federal de Pernambuco (UFPE). Pós-graduado em Di-
reito da Economia e da Empresa pela Fundação Getu-
lio Vargas (FGV-RJ). Pós graduado em Direito da Con-
corrência pela Fundação Getulio Vargas (FGV-SP).
Professor de Direito Empresarial do Centro Universitá-
rio IESB e de diversos cursos preparatórios. Procurador
Federal. Autor da obra Direito Empresarial Esquematizado pelo Grupo Gen.

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DIREITO ADMINISTRATIVO: PROFESSOR GUSTAVO SCATOLINO

Responsabilidade pela execução do contrato e encargos traba-


lhistas, previdenciários e comerciais – art. 71

Quanto aos encargos decorrentes da execução do contrato, somente há res-


ponsabilidade solidária da Administração em relação aos encargos previdenci-
ários. Nesse passo, nos termos da LEI, em relação aos encargos TRABALHISTAS
não há responsabilidade da Administração.
Contudo, o Tribunal Superior do Trabalho editou o Enunciado n. 331, firman-
do o entendimento de que a omissão da lei seria inconstitucional e, assim, con-
signando o entendimento de que existe a responsabilidade da Administração,
também, pelos encargos trabalhistas. No entanto, fixou que a responsabilidade é
SUBSIDIÁRIA.

TST Enunciado n. 331 – Revisão da Súmula n. 256 – Res. 23/1993, DJ 21,


28.12.1993 e 04.01.1994 – Alterada (Inciso IV) – Res. 96/2000, DJ 18, 19 e
20.09.2000 – Mantida – Res. 121/2003, DJ 19, 20 e 21.11.2003
Contrato de Prestação de Serviços – Legalidade
I – A contratação de trabalhadores por empresa interposta é ilegal, forman-
do-se o vínculo diretamente com o tomador dos serviços, salvo no caso de
trabalho temporário (Lei n. 6.019, de 03.01.1974).
II – A contratação irregular de trabalhador, mediante empresa interposta, não
gera vínculo de emprego com os órgãos da administração pública direta, indire-
ta ou fundacional (art. 37, II, da CF/1988). (Revisão do Enunciado n. 256 – TST)
III – Não forma vínculo de emprego com o tomador a contratação de servi-
ços de vigilância (Lei n. 7.102, de 20.06.1983), de conservação e limpeza, bem
como a de serviços especializados ligados à atividade-meio do tomador, des-
de que inexistente a pessoalidade e a subordinação direta.

IV – O inadimplemento das obrigações trabalhistas, por parte do empregador,


implica a responsabilidade subsidiária do tomador dos serviços, quanto àque-

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las obrigações, inclusive quanto aos órgãos da administração direta, das au-
tarquias, das fundações públicas, das empresas públicas e das sociedades de
economia mista, desde que hajam participado da relação processual e cons-
tem também do título executivo judicial (art. 71 da Lei n. 8.666, de 21.06.1993).
(Alterado pela Res. 96/2000, DJ 18.09.2000)

Na responsabilidade solidária todos os devedores são responsáveis integral-


mente pela dívida, não comportando benefício de ordem. Dessa forma, qualquer
devedor poderá ser acionado para o pagamento de toda a dívida. No caso de
responsabilidade subsidiária, deve ser demandado, primeiramente, o devedor
principal e, depois, o devedor secundário.
O STF, ao julgar a Ação Declaratória de Constitucionalidade n. 16,
firmou o entendimento de que a Administração não é responsável por
pagamentos trabalhistas na inadimplência de empresas contratadas,
confirmando a constitucionalidade do artigo 71, parágrafo 1º, da Lei de
Licitações, afastando a aplicação do Enunciado n. 331 do TST.
A ação foi ajuizada pelo governador do Distrito Federal em face do Enunciado
(súmula) 331 do Tribunal Superior do Trabalho (TST), por entender que havia con-
trariedade ao disposto no parágrafo 1º do art. 71 da Lei n. 8.666/1993. Entre os
fundamentos utilizados pelo DF para o provimento do pedido suscitou-se que a
responsabilidade do Estado por eventuais danos causados aos particulares deve
ocorre na forma da responsabilidade objetiva, pois a teoria do risco foi adotada
pela CF. O enunciado do TST, ao transferir a responsabilidade para a Administra-
ção, provocava violação à Constituição porque consagrava a teoria do risco inte-
gral, que não admite nenhum fator para a exclusão da responsabilidade estatal.
Também foi utilizado como argumento o princípio da separação dos Poderes,
bem como a desobediência ao princípio da legalidade, pois não poderia o TST
ignorar o que constava expressamente em lei.

No referido julgamento, entendeu-se que a mera inadimplência do contrata-


do não poderia transferir à Administração Pública a responsabilidade pelo paga-

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mento dos encargos, mas reconheceu-se que isso não significaria que eventual
omissão da Administração Pública, na obrigação de fiscalizar as obrigações do
contratado, não viesse a gerar essa responsabilidade. Registrou-se que, entretan-
to, a tendência da Justiça do Trabalho não seria de analisar a omissão, mas aplicar,
irrestritamente, o Enunciado 331 do TST. O Min. Marco Aurélio, ao mencionar os
precedentes do TST, observou que eles estariam fundamentados tanto no § 6º
do art. 37 da CF quanto no § 2º do art. 2º da CLT1 . Afirmou que o primeiro não
encerraria a obrigação solidária do Poder Público quando recruta mão de obra,
mediante prestadores de serviços, considerado o inadimplemento da prestadora
de serviços. Enfatizou que não seria caso de responsabilidade objetiva frente à
inocorrência de ato do agente público causando prejuízo a terceiros que seriam
os prestadores do serviço. Dessa forma, inaplicável o preceito do § 6º do art. 37
da CF. No que tange ao segundo dispositivo, observou que a premissa da solida-
riedade nele prevista seria a direção, o controle, ou a administração da empresa,
o que não se daria no caso, haja vista que o Poder Público não teria a direção, a
administração, ou o controle da empresa prestadora de serviços. Concluiu, assim,
que não estaria o parágrafo único do art. 71 da Lei n. 8.666/1993, ao excluir a res-
ponsabilidade do Poder Público pela inadimplência do contratado, em confronto
com a Constituição Federal.
A Min. Cármen Lúcia consignou que o art. 37, § 6º, da CF trataria de
responsabilidade objetiva extracontratual, não se aplicando o dispositivo à
espécie. Explicou que uma coisa seria a responsabilidade contratual da Ad-
ministração Pública e outra, a extracontratual ou patrimonial. Aduziu que o
Estado responderia por atos lícitos, aqueles do contrato, ou por ilícitos, os
danos praticados.

Ficaram, vencidos, parcialmente, o Min. Ayres Britto, que dava pela incons-
titucionalidade apenas no que respeita à terceirização de mão de obra. Ressal-
1 “ § 2º Sempre que uma ou mais empresas, tendo, embora, cada uma delas, personalidade jurídica própria, estiverem sob a
direção, controle ou administração de outra, constituindo grupo industrial, comercial ou de qualquer outra atividade eco-
nômica, serão, para os efeitos da relação de emprego, solidariamente responsáveis a empresa principal e cada uma das
subordinadas.”

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COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

tava que a Constituição teria esgotado as formas de recrutamento de mão de


obra permanente para a Administração Pública (concurso público, nomeação
para cargo em comissão e contratação por prazo determinado para atender a
necessidade temporária de excepcional interesse público), não tendo falado em
terceirização. Salientou que esta significaria um recrutamento de mão de obra
que serviria ao tomador do serviço, Administração Pública, e não à empresa con-
tratada, terceirizada. Assentava que, em virtude de se aceitar a validade jurídica
da terceirização, dever-se-ia, pelo menos, admitir a responsabilidade subsidiária
da Administração Pública, beneficiária do serviço, ou seja, da mão de obra recru-
tada por interposta pessoa2 .
Assim, com o julgamento da ADC não há mais controvérsia judicial, em espe-
cial pelo TST, acerca da legitimidade do § 1º, art. 71 da Lei n. 8.666/1993. Sendo
inadimplente o contratado por débitos decorrentes da relação de trabalho, não
há mais que se falar em transferência do encargo para a Administração, salvo se
houver omissão da Administração Pública no seu dever de fazer a fisca-
lização contratual.
Com a decisão do STF, o TST altera sua súmula n. 331 para acrescentar o item V:

“V – Os entes integrantes da administração pública direta e indireta respon-


dem subsidiariamente, nas mesmas condições do item IV, caso evidenciada a
sua conduta culposa no cumprimento das obrigações da Lei n. 8.666/93, es-
pecialmente na fiscalização do cumprimento das obrigações contratuais e le-
gais da prestadora de serviço como empregadora. A aludida responsabilidade
não decorre de mero inadimplemento das obrigações trabalhistas assumidas
pela empresa regularmente contratada.”

2 ADC 16/DF, rel. Min. Cezar Peluso, 24.11.2010. (ADC-16)

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Assim, para fins de prova devemos entender que:


1- Os encargos da execução contratual são do contratado;
2- A Administração Pública responde solidariamente pelos encargos previ-
denciários;
3- A Administração Pública não responde pelos encargos trabalhistas, SALVO
se houve omissão na fiscalização (responsabilidade subsidiária e subjetiva (prova
da culpa)).

Gustavo Scatolino – Atualmente é Procurador da Fa-


zenda Nacional. Bacharel em Direito e Pós-graduado
em Direito Administrativo e Processo Administrativo.
Ex-Assessor de Ministro do STJ. Aprovado em vários
concursos públicos, dentre eles, Analista Judiciário do
STJ, exercendo essa função durante 5 anos, e Procura-
dor do Estado do Espírito Santo.

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DIREITO CIVIL:
PROFESSOR RODRIGO COSTA

Caros colegas, permitam-me chamá-los assim, já que em breve, se Deus qui-


ser, vocês estarão aprovados no Exame da OAB, juntando-se aos demais advo-
gados que tanto abrilhantam o labor jurídico em nosso país.
Hoje darei algumas dicas sobre a técnica de ampliação do colegiado para
julgamento (art. 942 do NCPC), instituto este criado pelo NCPC, em substituição
ao recurso de embargos infringentes, cabíveis no CPC/73 (art. 530 ao 534) e hoje
extinto pelo NCPC.

Como era no antigo Código de Processo Civil

O antigo Código de Processo Civil, visando assegurar maior segurança jurídi-


ca, previa, em seu artigo 530, o cabimento do recurso de embargos infringentes,
no qual se buscava a uniformização de jurisprudência dentro de um mesmo Tri-
bunal, sempre que preenchidos alguns requisitos, vejamos:
Art. 530 – Cabem embargos infringentes quando o acórdão não unânime
houver reformado, em grau de apelação, a sentença de mérito, ou houver jul-
gado procedente ação rescisória. Se o desacordo for parcial, os embargos serão
restritos à matéria objeto da divergência.
Desta forma, para o cabimento dos Embargos Infringentes devia-se preen-
cher os seguintes requisitos, simultaneamente:
* Acórdão por maioria, de provimento, com reforma, em grau de apelação,
interposta contra sentença de mérito, na primeira hipótese de cabimento prevista
no artigo 530 do Código de Processo Civil de 1973;
* Acórdão por maioria, de procedência, em ação rescisória, na segunda hipó-
tese de cabimento.
Nos termos do artigo 508 do CPC/73, o prazo para interpor e para responder/
contrarrazoar os embargos infringentes era de 15 (quinze) dias, sendo possível a
interposição de embargos infringentes adesivos, conforme previa o artigo 500,
II do CPC/73, nos casos de sucumbência recíproca, no julgamento da apelação.

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Os embargos eram interpostos em petição escrita, e com os requisitos de ob-


servância necessária como identificação do recorrente e do recorrido, pedido de
novo julgamento, razões da inconformidade com a decisão impugnada, a qual era
dirigida ao relator do acordão embargado. Em seguida, era dado vista dos autos ao
embargado, pelo prazo de 15 (quinze) dias, para que oferecesse as contrarrazões,
isto é, para responder aos embargos. Decorrido esse prazo, com ou sem as con-
trarrazões, seguiam os autos conclusos ao relator do acórdão embargado (que não
era, necessariamente, o relator da apelação ou da ação rescisória) para exercer o
juízo de admissibilidade do recurso. Os embargos eram processados nos próprios
autos da causa e não em autos apartados. O preparo dos infringentes ficava reser-
vado à Lei de Organização Judiciária pertinente, que poderia dispensá-los ou não.

Como ficou no Novo Código de Processo Civil

O Novo Código de Processo Civil extinguiu os embargos infringentes, ou seja,


no novo diploma legal essa espécie recursal foi transformada em procedimento,
não fazendo mais parte do sistema recursal brasileiro.
A técnica de ampliação do colegiado para julgamento está prevista no NCPC,
em seu artigo 942 e fora instituída para suprir a lacuna deixada pela extinção dos
embargos infringentes em nosso ordenamento jurídico, retirando-se, assim, a
voluntariedade, que é característica dos recursos, impondo-se, por conseguinte,
a obrigatoriedade da técnica de julgamento, a qual decorre de uma imposição
legislativa, sempre que preenchidos os requisitos estabelecidos em lei, vejamos:
Art. 942. Quando o resultado da apelação for não unânime, o julgamento terá
prosseguimento em sessão a ser designada com a presença de outros julgadores,
que serão convocados nos termos previamente definidos no regimento interno,
em número suficiente para garantir a possibilidade de inversão do resultado ini-
cial, assegurado às partes e a eventuais terceiros o direito de sustentar oralmente
suas razões perante os novos julgadores.

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§1º Sendo possível, o prosseguimento do julgamento dar-se-á na mesma


sessão, colhendo-se os votos de outros julgadores que porventura compo-
nham o órgão colegiado.
§2ºOs julgadores que já tiverem votado poderão rever seus votos por oca-
sião do prosseguimento do julgamento.
§3ºA técnica de julgamento prevista neste artigo aplica-se, igualmente,
ao julgamento não unânime proferido em:

I – ação rescisória, quando o resultado for a rescisão da sentença, devendo,


nesse caso, seu prosseguimento ocorrer em órgão de maior composição previsto
no regimento interno;
II – agravo de instrumento, quando houver reforma da decisão que julgar
parcialmente o mérito.

§4º Não se aplica o disposto neste artigo ao julgamento:

I – do incidente de assunção de competência e ao de resolução de demandas


repetitivas;
II – da remessa necessária;
III – não unânime proferido, nos tribunais, pelo plenário ou pela corte especial.
O § 2º, do art. 941 do CPC prevê que a decisão no julgamento do recurso de
apelação, bem como do agravo de instrumento deve ser tomada, no órgão cole-
giado, pelo voto de três membros. Desta forma, um julgamento não unânime, nes-
se caso, é uma decisão que possui dois votos vencedores e um voto vencido (2 x 1).
Como se vê, o art. 942 do CPC prevê uma técnica de ampliação do colegiado
para julgamento, estabelecendo a suspensão da sessão de julgamento quando o
resultado não for unânime, determinando que se prossiga, com outros membros,
em nova designação.
Aplicando-se referida técnica, tendo-se uma votação de 2×1 hão de ser con-
vocados mais dois julgadores para que se possa, eventualmente, inverter a con-
clusão inicialmente tomada pelo colegiado, agregando-se os dois novos votos
ao vencido, tendo-se, agora, um resultado 2 x 3, de modo a se inverter o resul-

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tado inicial da votação. Vale lembrar que nada impede que os novos julgadores
convocados venham a aderir ao posicionamento da maioria inicial, chegando-se
a uma votação de 4×1, ou, então, que um se una aos vencedores e o outro ao
perdedor inicial, chegando-se a um resultado de 3×2.
Quanto à sua natureza jurídica, a técnica de ampliação do colegiado não se
trata de recurso, já que o recurso é cabível contra uma decisão proferida, enquan-
to na hipótese do art. 942 do CPC, não há encerramento do julgamento, pelo
contrário, colhidos os votos e não sendo unânime o resultado, incide referida re-
gra: convocam-se novos julgadores designando-se nova sessão para prossegui-
mento do julgamento, e não para revisão ou reconsideração do que foi julgado.
Repise-se que não houve encerramento do julgamento, mas sua suspensão para
prosseguimento com a composição do órgão julgador ampliada.
Dica: na apelação, a regra aplica-se a qualquer resultado não unâni-
me, ou seja: conhecimento ou não conhecimento. Provimento ou desprovimen-
to. Reforma, cassação ou até mesmo a manutenção da decisão recorrida por
maioria de votos.
Como o julgamento ainda não se encerrou, deverá prosseguir com os julga-
dores convocados na forma prevista no regimento interno do tribunal, designan-
do-se nova sessão para prosseguimento do julgamento, na qual as partes – e
eventuais terceiros – poderão sustentar oralmente suas razões perante os novos
julgadores.
De acordo com o § 1º, do art. 942 do CPC, se for possível prosseguir o julga-
mento na mesma sessão, não será necessária a designação de nova sessão de
julgamento, já se colhendo, ali mesmo, os votos dos outros julgadores. Nesse
caso, dispensa-se nova sustentação oral, pois os outros julgadores já terão assis-
tido às que foram apresentadas pelos patronos das partes, vejamos:

§1º Sendo possível, o prosseguimento do julgamento dar-se-á na mesma


sessão, colhendo-se os votos de outros julgadores que porventura compo-
nham o órgão colegiado.

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Dica: como o julgamento não se encerrou, o julgador que já tiver proferido


seu voto pode revê-lo por ocasião da sessão de prosseguimento (art. 942,§ 2º,
CPC), todavia se o julgador que já proferiu o voto afastar-se ou for substituído,
não poderá ter seu voto alterado (art. 941, § 1º, CPC).

A regra do Art. 942 do CPC, por força do que prevê o inciso I, do §3, aplica-se,
não somente aos julgamentos não unânimes de apelação, mas também ao jul-
gamento não unânime proferido em ação rescisória, quando o resultado
for a rescisão da sentença, vejamos:

§3º A técnica de julgamento prevista neste artigo aplica-se, igualmente,


ao julgamento não unânime proferido em:

I – ação rescisória, quando o resultado for a rescisão da sentença, de-


vendo, nesse caso, seu prosseguimento ocorrer em órgão de maior com-
posição previsto no regimento interno;

Dica: o art. 942 do CPC tem aplicação mais restrita no âmbito da ação rescisó-
ria, somente incidindo quando acolhido o pedido de rescisão da decisão
rescindenda, ou seja: se a ação rescisória não for conhecida, ou, se conhecida,
for desprovida por maioria de votos, não se aplicará referida regra de ampliação
do colegiado.

Dica: o dispositivo legal supracitado estabelece que o prosseguimento do


julgamento da ação rescisória dar-se-á em órgão de maior composição do que
aquele que iniciara o julgamento, conforme previsto no regimento interno, o que
não se exige nos demais casos de aplicação da técnica de ampliação do
colegiado (apelação e agravo de instrumento).

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O inciso II, do §3º, do art. 942 do CPC, também determina que a técnica
de ampliação do colegiado se aplica ao julgamento não unânime proferido em
agravo de instrumento, quando houver reforma da decisão que julgar par-
cialmente o mérito, vejamos:

§3ºA técnica de julgamento prevista neste artigo aplica-se, igualmente,


ao julgamento não unânime proferido em:

(…)
II – agravo de instrumento, quando houver reforma da decisão que jul-
gar parcialmente o mérito.
Dica: no agravo de instrumento a regra de ampliação do colegiado só se
aplicará se o agravo for admitido e provido, por maioria de votos, para
reformar a decisão que julgar parcialmente o mérito.
Vale lembrar que a regra do art. 942 do CPC somente se aplica quando o
resultado não for unânime. Se o resultado for unânime, não se aplica a re-
gra, mesmo que haja divergência na fundamentação, ou seja, a aplicação
da regra depende de divergência no resultado, e não na fundamentação.
Por fim, conforme estabelece a norma emanada do § 4º, do art. 942 do CPC,
a técnica de ampliação do colegiado nos julgamentos não se aplicará aos jul-
gamentos dos incidentes de assunção de competência e de resolução
de demandas repetitivas, nem ao da remessa necessária, nem aos jul-
gamentos não unânime proferidos, nos tribunais, pelo plenário ou pela
corte especial, vejamos:

§4ºNão se aplica o disposto neste artigo ao julgamento:

I – do incidente de assunção de competência e ao de resolução de demandas


repetitivas;
II – da remessa necessária;
III – não unânime proferido, nos tribunais, pelo plenário ou pela corte especial.

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A técnica de ampliação do colegiado nos julgamentos também não se aplica


no julgamento dos recursos inominados, nos Juizados Especiais, conforme esta-
beleceu o enunciado 552, do Fórum Permanente de Processualistas Civis, o qual
possui a seguinte redação:
“Não se aplica a técnica de ampliação do colegiado em caso de julgamento
não unânime no âmbito dos Juizados Especiais.”
Dessa forma, sem o intuito de exaurir os debates sobre o tema, essas são as
relevantes dicas para o certame da OAB.
Estamos juntos na caminhada do seu sucesso!
Até breve!

Rodrigo Costa – Graduado em Direito pela Universi-


dade Católica de Brasília (2001) e Especialista em Direi-
to Processual Civil pela ICAT/AEUDF. Tem experiência
na área de Direito, com ênfase em Direitos Civil e Pro-
cessual Civil. Professor titular das disciplinas Direito Ci-
vil II e V, Direito Processual Civil IV e Prática Processual
Civil II e na Universidade Católica de Brasília (UCB), nas
disciplinas de Direito Processual Civil II e V e Teoria
Geral do Direito Privado

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DIREITO DO TRABALHO: PROFESSOR STEVÃO GANDH

A EXTENSÃO DOS EFEITOS DA SUSPENSÃO DO CONTRATO DE TRABA-


LHO NAS CAUSAS DE AUXÍLIO DOENÇA ACIDENTÁRIO OU APOSEN-
TADORIA POR INVALIDEZ

A suspensão do contrato de trabalho é a sustação dos efeitos do contrato


sem ensejar na extinção da relação jurídica empregatícia, ou seja, tanto as obri-
gações do empregador (pagar salários) quanto do empregado (prestar serviços)
ficam paralisadas, sobrestadas, enquanto perdurar o período da suspensão.
Essa suspensão se justifica pelas hipóteses previstas em lei, mas acima de tudo
tem suas bases fincadas no caráter sinalagmático do contrato de trabalho (direi-
tos e obrigações recíprocas).
Parte da doutrina entende que a nomenclatura apropriada é suspensão total
e suspensão parcial, isto é, não colaciona a expressão interrupção do contrato de
trabalho que é paralisação da prestação de serviços pelo empregado e manuten-
ção de todas as obrigações do empregador.
A regra do efeito da suspensão do contrato de trabalho é a sustação das
obrigações por ambas as partes de modo que o empregado não presta serviços
e como consequência não recebe salário, não tem a contagem do tempo de ser-
viço para fins previdenciários e não tem os recolhimentos do FGTS na sua conta
vinculada, afinal as obrigações do empregador também foram paralisadas.
Entretanto, existem hipóteses previstas em lei que mesmo o contrato estan-
do suspenso haverá a manutenção de algumas obrigações por parte do em-
pregador e como exemplo cita-se a prestação de serviços militar obrigatório (o
empregador continua a recolher o FGTS do empregado e a contar o tempo de
serviços), o afastamento do empregado por período superior a 15 dias quando se
tratar de acidente de trabalho ou doença ocupacional (o empregador continua a
recolher o FGTS do empregado e a contar o tempo de serviços).

O detalhe é que o Colendo Tribunal Superior do Trabalho – C. TST conferiu

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ao empregado uma interpretação mais favorável ao ponto de ampliar o leque


de efeitos da suspensão do contrato de trabalho quando estivermos diante do
auxílio doença acidentário ou no caso de aposentadoria por invalidez.
O raciocínio e conclusão do C. TST foi ímpar no particular, afinal nas duas
hipóteses citadas o empregado necessita de cuidados para que possa retornar
ao labor com plena aptidão, pois são situações temporárias, precárias e não é
possível comungar com a desassistência.
No auxílio doença acidentário presume-se que o empregado se afastou em
decorrência do infortúnio sofrido no labor e que o quanto antes retornará, isto se
devidamente amparado por um sistema de saúde. Na aposentadoria por inva-
lidez a norma consolidada trouxe em seu texto a mesma sistemática teleológica
(art. 475 da CLT).
Sob esse prisma é que o C. TST sumulou o entendimento no sentido de con-
ferir o direito ao empregado de manter o plano de saúde ou de assistência mé-
dica oferecido pela empresa quando se deparar com uma dessas duas situações.
Nesta esteira, cita-se a Súmula:

Súmula n. 440 do TST


AUXÍLIO-DOENÇA ACIDENTÁRIO. APOSENTADORIA POR INVALI-
DEZ. SUSPENSÃO DO CONTRATO DE TRABALHO. RECONHECIMEN-
TO DO DIREITO À MANUTENÇÃO DE PLANO DE SAÚDE OU DE AS-
SISTÊNCIA MÉDICA

Assegura-se o direito à manutenção de plano de saúde ou de assistência mé-


dica oferecido pela empresa ao empregado, não obstante suspenso o contrato
de trabalho em virtude de auxílio-doença acidentário ou de aposentadoria por
invalidez.
Incontestavelmente é uma evolução jurisprudencial que refletia uma realidade
amarga aos empregados, afinal ao ter o contrato suspenso nessas situações o
empregador se eximia da principal obrigação para a ocasião, qual seja a assistên-
cia à saúde e o empregado ficava à mercê da boa vontade do empregador ou
de buscar na via judicial a respectiva responsabilização civil não somente para a

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reparação do prejuízo moral como também do material e, principalmente, para a


manutenção da assistência à saúde.
Portanto, o entendimento sumulado merece atenção por estender os efeitos
da suspensão do contrato de trabalho nos casos de auxílio doença acidentário
e da aposentadoria por invalidez, posto que nessas duas causas de afastamento
além das obrigações já citadas o empregador continua com o encargo de manter
o plano de saúde ou a assistência médica ofertada pela empresa.
Bons estudos!!!

Stevão Gandh – Stevão Gandh – Advogado militante.


Especialista em Direito Público. Palestrante e Parecerista
na área de direito do trabalho, especialmente em cursos
de prevenção de passivos trabalhista. Professor de Direi-
to do Centro Universitário do Distrito Federal – UDF na
disciplina Direito Processual do Trabalho. Professor de
Direito da Faculdade Projeção – FAPRO na disciplina Di-
reito Processual do Trabalho e Direito do Trabalho. Pro-
fessor de Cursos Preparatórios para Concurso Público.

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DIREITO CIVIL:
PROFESSORA ANELISE MUNIZ

Bom dia Povo estudioso!!!!!


Que tal dicas rápidas após um feriadão para a 1ª FASE DA OAB – Exame XXI?
Vamos pintar os códigos e preparar algumas remissões importantes???????

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Um dia abençoado a todos!


Bons Estudos.
Beijão

Anelise Muniz – Anelise Muniz – Mestranda em Edu-


cação pela UNICID- Universidade Cidade de São Paulo
(2016). Membro do Grupo de Estudos e pesquisas em
Políticas Públicas, Avaliação e Qualidade-Geppaq, sob
a Orientação da Professora Drª Cristiane Machado. Ba-
charel em Direito pelo Centro Universitário do Distrito
Federal – UDF (2006). Especialista em Didática do Ensi-
no Superior pela UNICSUL/UDF (2011). Especialista em
Direito Processual Civil pelo ICAT/UDF (2013). Ex-Chefe
de Gabinete no TRF 1ª Regão. Professora de Graduação do UDF na área de Direi-
to Civil , Processual Civil e Direito Previdenciário. EX- Coordenadora do Núcleo de
Práticas Jurídicas na Justiça Federal de Brasília. Professora de 1ª fase em Processo
Civil da OAB e 2ª Fase da OAB em Civil. Professora Orientadora de Monografia.
Advogada Atuante nas áreas de Direito Civil e Processo Civil e Direito Previdenci-
ário. Professora do GRANCURSOS. Membro do Conselho da OAB/DF.

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL : PROFESSOR ERICK VIDIGAL

Direito Processual Civil – Professor Erick Vidigal

As dicas de hoje versam sobre mediação e conciliação no novo processo civil


brasileiro.
1. Mediação e conciliação são mecanismos autocompositivos de solução de
conflitos, ou seja, são mecanismos em que as próprias partes administram pacifi-
camente a solução dos conflitos em que estão envolvidos.
2. Os mediadores e conciliadores são facilitadores de comunicação, e não
atuam como árbitro ou juiz (heterocomposição).
3. Os mediadores atuam preferencialmente nos conflitos que decorrem de
relações jurídicas continuadas (ex. relação de vizinhança), buscando restabelecer
a comunicação entre as partes. Não podem propor soluções para as partes. Ape-
nas auxiliam as partes a buscarem, por si mesmos, a melhor solução consensual
para o conflito (art. 165, § 3º)
4. Os conciliadores atuam preferencialmente nos conflitos que decorrem de
relações jurídicas esporádicas (ex. compra de mercadoria em loja), buscando a
melhor solução para o conflito por meio de sugestões (art. 165, § 2º).
5. A audiência de mediação e conciliação é obrigatória e somente não será
realizada se o direito em questão não admitir transação ou se houver recusa ex-
pressa de todas as partes (art. 334, § 4º).
6. Havendo litisconsórcio, deve haver recusa expressa de todos – art. 334, § 6º.
7. O não comparecimento à audiência de conciliação / mediação é caracteri-
zado ato atentatório à dignidade da justiça e será aplicável multa de até 2% sobre
a vantagem econômica pretendida ou valor da causa (art. 334, § 8º).
8. A participação dos advogados é obrigatória (art. 334, § 9º).
9. O autor deve manifestar sua recusa na inicial (art. 319, VII). O réu em petição
específica que deve ser protocolada até 10 dias antes da realização da audiência
(art. 334, §5º).
10. O réu será citado para comparecer à audiência. Esta será marcada com an-

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COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

tecedência mínima de 30 dias e o réu deve ser citado até 20 dias antes (art. 334)
11. Designação / citação / recusa do réu = 30 / 20 / 10
12. Poderá haver mais de uma sessão destinada a mediar ou conciliar, mas
o prazo total não pode superar dois meses contados da realização da primeira
sessão (art. 334, § 2º).
13. O procedimento da mediação ou conciliação é pautada por vários prin-
cípios especiais, dentre eles o da autonomia da vontade, da busca pela solução
pacífica das controvérsias (art. 3º) e da confidencialidade (art. art. 166).
Bons estudos!

Erick Vidigal – Doutor e Mestre em Direito pela PUC/


SP. Pós-graduado em Direito Processual Civil, Relações
Internacionais e Comércio Exterior (Grau de Especialis-
ta) pelo Centro Universitário de Brasília – UniCEUB.
Autor de livros e artigos especializados. Professor uni-
versitário desde 2002. Possui ampla experiência no
serviço público (Legislativo, Executivo e Judiciário,
além do Ministério Público da União e do Conselho
Nacional do Ministério Público). Professor dos cursos
de graduação e pós-graduação em Direito Processual Civil no Centro Universitá-
rio de Brasília – UniCEUB. Professor do Programa de Mestrado em Direito da Es-
cola Paulista de Direito – EPD. Instrutor em projetos de capacitação dos servidores
do Conselho Nacional do Ministério Público. É Pesquisador do Núcleo de Pesqui-
sa do Capitalismo Humanista da PUC/SP e Coordenador de projetos de pesquisa
na Escola Paulista de Direito – EPD. Atualmente exerce o cargo de Subchefe Ad-
junto para Assuntos Jurídicos da Casa Civil da Presidência da República.

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DIREITO PENAL : PROFESSOR MARCELO FERREIRA

CRIMES FUNCIONAIS – PRINCIPAIS ASPECTOS

O Título XI do Código Penal se refere aos crimes praticados contra a Adminis-


tração Pública. Esse título é dividido em capítulos, da seguinte forma: crimes pra-
ticados por funcionário público (art. 312 ao 326); crimes praticados por particular
contra a Administração em Geral (art. 328 ao 337-A); crimes praticados por par-
ticular contra a Administração Pública Estrangeira (art. 337-B ao 337-D); crimes
praticados contra a administração da justiça (art. 338 ao 359); crime praticados
contra as finanças públicas (art. 359-A a 359-H).
Como se vê, os crimes praticados por funcionário público estão previstos no
primeiro Capítulo daquele Título (art. 312 ao 326). Tais crimes são chamados pela
doutrina de crimes funcionais.
Os crimes funcionais são relacionados à função pública e exigem uma carac-
terística específica do sujeito ativo: ser funcionário público. Eles podem ser classi-
ficados em próprios e impróprios.
Enquanto os Crimes funcionais próprios são aqueles cuja exclusão da quali-
dade de funcionário público torna o fato atípico (por exemplo: prevaricação), os
crimes funcionais impróprios são aqueles em que, excluindo-se a qualidade de
funcionário público, haverá desclassificação para crime de outra natureza. Ex.:
peculato, que passa a ser furto.
O Código de Processo Penal traz um rito diferente para os crimes praticados por
funcionário público (arts. 513 a 518 do CPP), em que existe a defesa preliminar antes
do recebimento da denúncia. Tal assunto também é tratado pela Súmula 330 do STJ.
Uma questão interessante é a definição legal de funcionário público. De acor-
do com o art. 327 do Código Penal: “Considera-se funcionário público, para os
efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce car-
go, emprego ou função pública”.
O parágrafo primeiro do referido artigo dispõe sobre os funcionários públicos,
por equiparação. São eles: quem exerce cargo, emprego ou função em entidade
paraestatal e quem trabalha para empresa, prestadora de serviço, contratada ou

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COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

conveniada para a execução de atividade típica da Administração Pública.


Entidade paraestatal é entendida, majoritariamente, como a administração indi-
reta – autarquia, empresa pública, sociedade de economia mista e fundação pública.
Funcionário do Banco do Brasil é funcionário público, pois o Banco do Brasil é
uma sociedade de economia mista.
Funcionário dos Correios é funcionário público, pois os Correios é uma em-
presa pública.
Em relação à competência para o julgamento dos crime funcionais, se o inte-
resse em questão for o da União, a competência será da Justiça Federal.
O conceito de equiparação, para a doutrina majoritária, só abrange os casos
em que o funcionário for autor do crime. A comparação não pode ser aplicada
quando o funcionário for vítima.
Em relação ao funcionário público estrangeiro, o assunto é regido pelo Código
Penal com a alteração implementada por meio da Lei n. 10.467, de 11 de junho de
2002, que introduziu no Código Penal, além dos artigos 337-B e 337-C, o artigo
337-D que cuida do conceito penal de funcionário público estrangeiro, in verbis:

“Art. 337-D. Considera-se funcionário público estrangeiro, para os efeitos pe-


nais, quem, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo,
emprego ou função pública em entidades estatais ou em representações di-
plomáticas de país estrangeiro.”

O parágrafo único amplia o conceito estabelecido no caput, nos seguintes


termos: “Equipara-se a funcionário público estrangeiro quem exerce cargo, em-
prego ou função em empresas controladas, diretamente ou indiretamente, pelo
Poder Público de país estrangeiro ou em organizações públicas internacionais.”
O legislador, ao definir funcionário público estrangeiro equiparado, adotou
solução diversa à adotada para a definição de funcionário público nacional. Com
efeito, a lei nova é menos abrangente, pois não incluiu, como o fez a regra do
artigo 327, § 1º, in fine, os particulares que trabalham em empresas contratadas
ou conveniadas ao Poder Público que exercem atividades da Administração Pú-
blica. Assim, o conceito de funcionário público estrangeiro por equiparação não
alcança profissionais ou empregados de empresas privadas estrangeiras, ainda
que atuem em representação, por contrato ou convênio, de Estado estrangeiro.
No tocante às causas de aumento de pena (art. 327, § 2.º, do Código Penal)

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destaca-se que devem incidir nas hipóteses em que o agente exerce cargo em
comissão (cargo de confiança) ou de direção ou assessoramento de órgãos da
administração direta, sociedade de economia mista, empresa pública e fundação
instituída pelo Poder Público.
Quanto ao concurso de agentes, destaca-se que o particular pode responder
por peculato quanto atua em conjunto com funcionário público. Mas o particular
deve ter consciência e vontade (dolo) em relação ao agente do tipo, ou seja, deve
saber que esse possui a condição de funcionário público. Caso contrário, trans-
forma-se em responsabilidade objetiva, o que é proibido.
O fundamento legal dessa possibilidade de responsabilizar o particular por
crime funcional é o disposto no art. 30 do Código Penal, segundo o qual são
comunicáveis as circunstâncias de caráter pessoal quando elementares do crime.
Ser funcionário público é circunstância pessoal e elementar do crime. Assim, se
o particular não souber que o outro é funcionário público, responderá por outro
crime. Exemplo: furto.
Bons estudos!

Marcelo Ferreira – Mestre em Direito Público, Espe-


cialista em Direito Penal e Processo Penal. Autor da
obra Segurança Pública e Prisão Preventiva no Estado
Democrático de Direito (Editora Lumen Juris). Assessor
de Ministro do Superior Tribunal Militar. Professor de
Direito Penal e Processo Penal do Centro Universitário
do Distrito Federal (UDF), da UNIEURO e da
pós-graduação do UniCEUB. Coordenador da Equipe
Exame (cursos presenciais de prática penal para OAB).
No Rio de Janeiro, além de professor universitário e de
cursos preparatórios para concursos, atuou como presidente e membro de várias
bancas de concurso público, em especial, os concursos para os cargos de Dele-
gado de Polícia do Estado do Rio de Janeiro e de Oficial integrante do Sistema de
Assessoria Jurídica Consultiva da Marinha.

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DIREITO CIVIL : PROFESSOR RODRIGO COSTA

O Novo Processo Civil: Petição inicial no novo CPC/15

Caros colegas, hoje darei algumas dicas sobre a petição inicial, de acordo com
o novo CPC, abordando temas que podem ser cobrados no Exame de Ordem,
por se tratarem de inovações inseridas em nosso ordenamento jurídico.
É sabido por todos que para a atividade jurisdicional contenciosa (composição
de lide) ser exercida é necessário que o interessado provoque-a, pois prevalece em
nosso ordenamento jurídico o “princípio da inércia da jurisdição” (art. 2º do CPC/15).
Essa provocação é feita pelo exercício do direito de ação, iniciando-se após a apre-
sentação, pelo autor, de sua petição inicial, que é o instrumento pelo qual o interes-
sado provoca a atividade jurisdicional, fazendo surgir o processo. Nela, o interes-
sado/autor formula sua pretensão, o que acaba por limitar a atividade jurisdicional
(princípio da congruência/adstrição/dispositivo art. 492 do CPC/15), pois o juiz não
pode proferir sentença de natureza diversa da pedida, bem como condenar o réu
em quantidade superior ou em objeto diverso do demandado.
No NCPC, o procedimento comum é aplicável a todas as causas (inclusive,
subsidiariamente, aos procedimentos especiais), salvo disposições em contrário
(art. 318 e seguintes do NCPC), uma vez que houve a adoção do sistema bipar-
tide, quanto aos procedimentos, já que foram previstos apenas o procedimento
comum e os procedimentos especiais, não havendo mais a previsão do proce-
dimento sumário, como fazia o CPC/73, sendo que, segundo o art. 1.063
do NCPC, as causas elencadas no art. 275, inciso II do antigo CPC/73, que
eram aquelas que adotavam o procedimento sumário independente do
valor da causa, passaram a ser de competência dos Juizados Especiais,
enquanto não for criada nova legislação sobre o tema, vejamos:

Art. 1.063. Até a edição de lei específica, os juizados especiais cíveis previstos
na Lei n. 9.099, de 26 de setembro de 1995, continuam competentes para o
processamento e julgamento das causas previstas no art. 275, inciso II, da Lei
n. 5.869, de 11 de janeiro de 1973.
Os artigos 319 e 320 do NCPC estabelecem quais são os requisitos obrigató-

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rios de uma petição inicial, inserindo alguns requisitos não exigidos pelo antigo
ordenamento jurídico, vejamos:

Art. 319. A petição inicial indicará:


I – o juízo a que é dirigida;
II – os nomes, os prenomes, o estado civil, a existência de união estável,
a profissão, o número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas ou
no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica, o endereço eletrônico, o
domicílio e a residência do autor e do réu;
III – o fato e os fundamentos jurídicos do pedido;
IV – o pedido com as suas especificações;
V – o valor da causa;
VI – as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos
alegados;
VII – a opção do autor pela realização ou não de audiência de conci-
liação ou de mediação.

*os itens sublinhados e em negrito foram inserido pelo CPC/15


O primeiro requisito exigido é a indicação do juízo a que é dirigida, afinal,
a petição inicial é dirigida ao Estado Juiz, vez que a ele é formulada a tutela juris-
dicional, por ser o titular da Jurisdição.
Dica: Se o juízo for absolutamente incompetente, no qual todos os atos deci-
sórios são nulos (art. 64, § 2º do CPC/15), o magistrado poderá encaminhá-lo ao
competente; mas, se deixar de fazê-lo ao despachar a petição inicial, caberá ao
réu suscitar a incompetência absoluta (art. 337, II do CPC/15). A qualquer tempo,
o réu ou o autor poderão suscitar o problema, bem como o juiz reconhecer sua
própria incompetência (art. 64, §1º do CPC/15).
Dica: Se o juízo for relativamente incompetente, a petição só poderá ser
encaminhada ao juízo competente após o acolhimento da alegação de incom-
petência firmada pelo réu em preliminar de contestação (art. 64 c/c 337 ambos
do CPC/15); se a alegação não for apresentada pelo réu, o juízo relativamente
incompetente terá sua competência prorrogada;
Dica: A nulidade da cláusula de eleição de foro, em contrato de adesão, po-

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derá ser declarada de ofício pelo juiz, que declinará de competência para o juízo
de domicílio do réu, todavia, se o magistrado não reconhecer referida situação de
ofício antes de determinar a citação do réu, deverá este, ao ser citado, suscitá-la
em preliminar de contestação, sob pena de prorrogação da competência do juízo
outrora incompetente (art. 63, §§ 3º e 4º c/c 337 do CPC/15).
O segundo requisito exige a indicação dos nomes, prenomes, estado civil,
existência de união estável, profissão, domicílio e residência do autor e do réu,
pois é necessário analisar a legitimidade do autor e do réu para serem partes,
bem como individualizar e distinguir as pessoas físicas e jurídicas das demais. O
estado civil faz-se necessário para verificar a regularidade da petição inicial, como
por exemplo, reconhecer que o autor precisa de outorga uxória. O endereço é
imprescindível para determinar a competência territorial e a citação do réu.
A qualificação não essencial para a citação do réu poderá ser convalidada,
ou seja, o juiz não deve prender-se meramente aos requisitos formais, se o ob-
jetivo do processo puder ser conseguido sem a totalidade da qualificação das
partes. Nesse sentido, o art. 319, em seus parágrafos 2º e 3º, estabelece que a
integralidade dos dados requeridos pode ser dispensada se a despeito da falta
de informações a que a se refere o inciso II, for possível a citação do réu ou se
a obtenção de tais informações tornar impossível ou excessivamente oneroso o
acesso à justiça.
Dica: O art. 319, §1º dispõe que: “caso não disponha das informações pre-
vistas no inciso II, poderá o autor, na petição inicial, requerer ao juiz diligências
necessárias a sua obtenção”. Assim, por exemplo, o autor poderá requerer justi-
ficadamente o acesso a bancos de dados públicos para a busca do endereço do
réu. Obviamente, a diligência deverá ser justificada e não pode ser utilizada de
forma indiscriminada.
O terceiro requisito está relacionado à indicação do fato e dos fundamen-
tos jurídicos do pedido, ou seja, da causa de pedir remota e próxima. Fato (causa
de pedir remota) é todo direito ou interesse a ser tutelado, que surgiu de um
fato ou um conjunto deles, sendo necessários para que o julgador possa melhor
analisar a aplicação da causa de pedir próxima. Fundamentos jurídicos (causa de

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pedir próxima) que decorre da análise da subsunção do fato à norma, aliado à


análise da doutrina, da jurisprudência e também do fundamento legal, mas não
apenas deste.
O quarto requisito é a indicação do pedido com as suas especificações, pois
ele também limita a atuação jurisdicional. O pedido imediato está ligado à provi-
dência jurisdicional, ou seja, à eficácia sentencial (sentença condenatória, decla-
ratória, constitutiva), enquanto o pedido mediato estaria ligado ao bem da vida
pretendido pelo autor, de modo que alguns doutrinadores afirmam que o pedido
imediato estaria vinculado ao direito processual e o mediato ao direito material.
O pedido deve ser certo, ou seja, nada pode ser subentendido, presumido
pelo magistrado, devendo o autor requerer expressamente tudo o que preten-
de, todavia, nosso ordenamento jurídico admite algumas exceções a essa regra,
conforme se verifica da norma emanada do art. 322 do CPC/15, segundo o qual
compreendem-se no principal os juros legais, a correção monetária e as verbas
de sucumbência, inclusive os honorários advocatícios; a interpretação do pedido
considerará o conjunto da postulação e observará o princípio da boa-fé. Na ação
que tiver por objeto cumprimento de obrigação em prestações sucessivas, essas
serão consideradas incluídas no pedido, independentemente de declaração ex-
pressa do autor, e serão incluídas na condenação, enquanto durar a obrigação, se
o devedor, no curso do processo, deixar de pagá-las ou de consigná-las.
O pedido também tem que ser determinado, ou seja, a quantia pretendida
pelo autor constará expressamente de seu pedido, sendo-lhe vedada a elabora-
ção de pedido genérico, ou seja, sem se estabelecer o valor pretendido, salvo nas
exceções previstas no art. 324 do CPC/15, quais sejam: nas ações universais,
se o autor não puder individuar os bens demandados; quando não for
possível determinar, desde logo, as consequências do ato ou do fato;
quando a determinação do objeto ou do valor da condenação depender
de ato que deva ser praticado pelo réu.

O quinto requisito está ligado ao valor da causa, uma vez que, segundo

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o art. 291 do CPC/15, toda causa deve ter um valor certo, ainda que não tenha
conteúdo econômico imediato. O art. 292 do CPC/15 indica qual o valor a ser
atribuído a algumas causas, sob pena do juiz, de ofício, corrigir a petição inicial,
determinando o recolhimento das custas complementares, sob pena de seu in-
deferimento e baixa na distribuição, vejamos:

Art. 292. O valor da causa constará da petição inicial ou da reconvenção e será:


I – na ação de cobrança de dívida, a soma monetariamente corrigida do
principal, dos juros de mora vencidos e de outras penalidades, se houver, até
a data de propositura da ação;
II – na ação que tiver por objeto a existência, a validade, o cumprimento, a
modificação, a resolução, a resilição ou a rescisão de ato jurídico, o valor do
ato ou o de sua parte controvertida;
III – na ação de alimentos, a soma de 12 (doze) prestações mensais pedidas
pelo autor;
IV – na ação de divisão, de demarcação e de reivindicação, o valor de ava-
liação da área ou do bem objeto do pedido;
V – na ação indenizatória, inclusive a fundada em dano moral, o valor pre-
tendido;
VI – na ação em que há cumulação de pedidos, a quantia correspondente à
soma dos valores de todos eles;
VII – na ação em que os pedidos são alternativos, o de maior valor;
VIII – na ação em que houver pedido subsidiário, o valor do pedido principal.
§1º Quando se pedirem prestações vencidas e vincendas, considerar-se-á o
valor de umas e outras.
§2º O valor das prestações vincendas será igual a uma prestação anual, se a
obrigação for por tempo indeterminado ou por tempo superior a 1 (um) ano,
e, se por tempo inferior, será igual à soma das prestações.
§3º O juiz corrigirá, de ofício e por arbitramento, o valor da causa quando
verificar que não corresponde ao conteúdo patrimonial em discussão ou ao
proveito econômico perseguido pelo autor, caso em que se procederá ao
recolhimento das custas correspondentes.
Art. 293. O réu poderá impugnar, em preliminar da contestação, o valor atri-
buído à causa pelo autor, sob pena de preclusão, e o juiz decidirá a respeito,
impondo, se for o caso, a complementação das custas.
O sexto requisito da petição inicial é a indicação das provas com base nas

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quais o autor pretende provar suas alegações, sendo este o momento correto
para que se requeira a produção específica dos meios de prova necessários para
comprovação de sua pretensão, todavia, é muito comum na praxe forense que
as partes deixem de indicar na inicial as provas a serem produzidas, fazendo-se
um pedido genérico de produção de provas, o que deve ser evitado em cumpri-
mento aos princípios que norteiam o novo CPC.
O sétimo requisito da inicial trata-se de uma inovação inserida pelo NCPC,
uma vez que a nova sistemática processual cria como regra a citação do réu para
comparecer à audiência de conciliação ou medicação e não mais para contes-
tar, como era no CPC/73. Dessa forma, a regra hoje é a citação do réu para que
compareça à audiência designada e esta não será designada somente, segundo
a norma emanada do § 4º do art. 334, em dois casos, quais sejam: se ambas as
partes manifestarem expressamente desinteresse na composição con-
sensual ou se o direito em litígio não admitir a autocomposição. A ma-
nifestação do desinteresse em composição consensual, segundo estabelece o §
5º, do art. 334 do NCPC será feito pelo autor na inicial e pelo réu nos 10 dias que
precedem à data designada para realização da referida audiência, vejamos:

Art. 334. Se a petição inicial preencher os requisitos essenciais e não for o


caso de improcedência liminar do pedido, o juiz designará audiência de
conciliação ou de mediação com antecedência mínima de 30 (trinta)
dias, devendo ser citado o réu com pelo menos 20 (vinte) dias de
antecedência.
[…]
§ 4ºA audiência não será realizada:
I – se ambas as partes manifestarem, expressamente, desinteresse
na composição consensual;
II – quando não se admitir a autocomposição.
§ 5º O autor deverá indicar, na petição inicial, seu desinteresse na
autocomposição, e o réu deverá fazê-lo, por petição, apresentada
com 10 (dez) dias de antecedência, contados da data da audiência.

Dica: a primeira audiência a ser designada no rito ordinário, na vigência


do CPC/73, era a audiência preliminar (art. 331), onde se proferia o conhecido
“Despacho Saneador”, cumprindo-se suas quatro finalidades, quais sejam: ten-
tar conciliar as partes; fixar os pontos controvertidos da lide; decidir as

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questões processuais pendentes; deferir ou não a produção dos meios


de provas requeridos pelas partes. Assim, na vigência do antigo CPC, a regra
seria que as partes somente se encontrariam, para uma tentativa de conciliação,
após o réu apresentar suas respostas; sobre elas ter se assegurado o direito ao
autor de impugná-las em réplica, se fosse o caso ou não estivéssemos diante dos
casos de julgamento antecipado da lide (art. 330 do CPC/73), pois, do contrário,
o feito seria julgado sem sequer tentar-se conciliar as partes.
No NCPC, se o juiz verificar que a petição inicial não preenche os requisitos
dos arts. 319 e 320 (documentos essenciais) ou que “apresenta defeitos e irregu-
laridades capazes de dificultar o julgamento de mérito“, intimará o autor, para
que no prazo de 15 dias a emende ou complete, sob pena de indeferimento,
conforme estabelece o artigo 321.
Dica: Segundo determina a norma emanada do art. 321 do NCPC, o juiz é
obrigado a informar, com precisão, o que deve ser corrigido ou completado, ou
seja, qual o vício encontrado e como fazer para corrigi-lo.
Por fim, sem o intuito de exaurir o tema, porém, buscando auxiliá-los em seus
estudos, espero que os assuntos abordados façam a diferença na prova de Exa-
me de Ordem.
Estamos juntos na caminhada do seu sucesso!
Até breve!

Rodrigo Costa – Graduado em Direito pela Universi-


dade Católica de Brasília (2001) e Especialista em Direi-
to Processual Civil pela ICAT/AEUDF. Tem experiência
na área de Direito, com ênfase em Direitos Civil e Pro-
cessual Civil. Professor titular das disciplinas Direito Ci-
vil II e V, Direito Processual Civil IV e Prática Processual
Civil II e na Universidade Católica de Brasília (UCB), nas
disciplinas de Direito Processual Civil II e V e Teoria
Geral do Direito Privado

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DIREITO CONSTITUCIONAL : PROFESSOR ANDRÉ ALENCAR

A CONSTITUIÇÃO MATERIAL

Olá, tudo bem? Venho hoje apresentar para vocês um artigo que escrevi sobre
um tema que acho de grande interesse, trata-se da tipologia das constituições
quanto ao conteúdo – constituição formal e constituição material – especialmen-
te esta última. A definição do que é constituição em sentido material é sempre
cobrada em provas objetivas e repercute em outros temas do direito constitucio-
nal, como por exemplo no controle de constitucionalidade.
A classificação das constituições em formal ou material parte do pressuposto
que estamos diante de uma constituição escrita. A constituição não escrita sem-
pre será considerada uma constituição apenas material, ou em outras palavras,
a constituição não escrita não possui normas formais e por isso não pode ter
conteúdo apenas formal.
Então, se estamos diante de uma constituição escrita, como classificar seu con-
teúdo? O que a constituição escrita traz dentro de sua forma? Temos que analisar as
normas constitucionais e do que tratam para tentar classificar a constituição como
um todo se é uma constituição formal ou material. Pelo menos assim tem feito a
maioria da doutrina e, claro, as provas de exames da OAB e concursos em geral.
Enquanto não tínhamos constituições escritas, período pré-constitucionalis-
mo, todas as constituições eram apenas constituições materiais, não tinham for-
ma e era considerada constituição aquela norma, costume, pacto que dissesse
respeito à organização fundamental do Estado e da sociedade. Já dissemos linhas
acima que se não há constituição escrita a constituição será sempre material.
Quando as constituições escritas foram produzidas, passou-se a ter a possi-
bilidade de se confrontar o conteúdo das normas da constituição escrita com a
organização fundamental do Estado e da sociedade, ou seja, passou a ser pos-
sível analisar se todas as normas da constituição escrita se adequam ao tema da
organização fundamental do Estado e da sociedade. Com essa análise veio então
a possibilidade de se ter constituição escrita que não fosse totalmente material.
No século XVIII foi fixado o conteúdo mínimo de uma constituição baseado

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na ideologia liberal, por essa linha de pensamento as constituições só deveriam


tratar de temas absolutamente imprescindíveis para a organização do Estado –
como a separação dos poderes e declarações de direitos fundamentais.
Com o constitucionalismo social o conteúdo da Constituição é expandido para
conter também normas de cunho social, econômico e cultural. Em nossa visão,
esse novo conteúdo altera o conceito de constituição material porque passa-se
a aceitar novos conteúdos dignos de estarem dentro da constituição escrita. Mas
então, qual o sentido que a doutrina dominante dá à constituição material?
Encontramos então uma dificuldade: Não há um critério amoral ou de base estrita-
mente científica de se fazer a classificação entre constituição formal e constituição ma-
terial. A classificação é permeada de valor, dependerá, no mínimo, da ideologia ado-
tada. Acrescente-se ainda a possibilidade que adeptos do neoconstitucionalismo irão
considerar novos conteúdos “essenciais” para uma Constituição e por isso também
haverá dissenso sobre o que uma Constituição formal e uma Constituição material.
Normalmente a doutrina tradicional tende a comparar o conteúdo mínimo,
ideologia liberal (clássica), com o texto atual da constituição escrita. Assim, se
a constituição escrita ultrapassar este conteúdo clássico será considerada uma
constituição formal, caso esteja compatível com o conteúdo mínimo liberal, será
uma constituição material.
Para tentar esclarecer um pouco mais, vamos adentrar mais no sentido de
constituição material dado pela doutrina.
Miranda1 entende que constituição material pode ser vista em um sentido am-
plo, médio ou ainda em sentido restrito. Interessa-nos o sentido amplo e o sentido
restrito. Em sentido amplo a constituição seria a própria essência do Estado, todo
Estado tem constituição, é o modo de ser do Estado. Esse sentido amplo foi utiliza-
do para se referir ao período anterior ao surgimento das constituições escritas. Já o
sentido restrito liga-se à Constituição definida em termos liberais a partir da revolu-
ção francesa. O sentido restrito é normalmente utilizado pela doutrina como forma
de se classificar as normas constitucionais e consequentemente a Constituição.

Vejamos, então, mais detidamente estas duas maneiras de se enxergar uma


1 Jorge Miranda (2005, pg. 321).

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constituição material.

Constituição material em sentido amplo.

“A acepção ampla encontra-se presente em qualquer Estado.”29 Todo Estado


teria constituição material em sentido amplo. “Todos os países têm uma consti-
tuição”3.10
Maurice Duverger4 destaca que:
Do ponto de vista do conteúdo (ponto de vista material, em linguagem jurí-
dica) a Constituição de um país é o conjunto de suas instituições políticas, sejam
quais forem os documentos que as estabelecem: leis, regulamentos, usos, costu-
mes, tradições, Constituições escritas, etc.
Todo Estado tem constituição material e por isso é possível dizer que inde-
pendentemente da existência de constituição escrita é possível encontrar uma
constituição material para o Estado (constituições não-escritas, costumeiras ou
consuetudinárias). A constituição material em sentido amplo se confunde com a
própria organização do Estado.
Holthe512cita que a
“Constituição material no sentido amplo é a própria organização de um Esta-
do, o seu regime político. Sob esse aspecto, todo Estado tem uma Constituição,
pois se ele existe de certo modo, sob uma forma, qualquer que seja esse seu
modo de existir é a sua Constituição.”
Moraes6 entende que a constituição material ou substancial é o “conjunto de
regras materialmente constitucionais, estejam ou não codificadas em um único
documento”.

Segundo Bonavides a Constituição material teria o conteúdo básico referente


2 Jorge Miranda (2005, pg. 321).
3 Canotilho (2003, pg. 1129).
4 DUVERGER, Maurice. Droit constitucionnel et institutions politiques, 1955, p. 215 e 216. Citado por Cláudio Pacheco. Novo
Tratado das Constituições Brasileiras. São Paulo: Saraiva, 1990, p. 10, vol. 1.
5 Holthe (2009, pg. 35).
6 Alexandre de Moraes (2006, pg 3).

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à composição e ao funcionamento da ordem política7 .


Este sentido amplo está considerando constituição material como o conjunto
de normas materialmente constitucionais independentemente de sua colocação
em texto escrito.
Constituição material em sentido restrito.
“A [concepção] restrita liga-se à Constituição definida em termos liberais, tal
como surge na época moderna”.8 A constituição material em sentido restrito seria
apenas aquele conjunto de normas que definem a forma básica de organização
do Estado (separação dos poderes e direitos fundamentais conforme definido no
art. 16 da Declaração dos direitos do homem e do cidadão).
Bester916assim se pronuncia sob a constituição material, adotando o sentido
restrito:

São aquelas Constituições que abrangem apenas o conteúdo básico, o mais


importante, o único merecedor de ser reduzido à matéria constitucional.
(grifo original).

Segundo a autora, a constituição material teria texto extremamente curto,


embora entende que seria possível, ainda que o texto escrito só contemple a
matéria constitucional, que o texto material seja extenso10 . Então, para ela, não
é simplesmente o tamanho do texto (sua extensão) e sim o seu conteúdo que di-
ferencia uma constituição como sendo material. Concordamos, e se nos permite,
concordamos muito! Vemos, na doutrina, uma confusão generalizada em relação
ao que é constituição material.

Constituição em sentido material, então, é a constituição que trata de matéria


7 Paulo Bonavides (2005, pg. 80).
8 Jorge Miranda (2005, pg. 321). Interessante explicar que “…época moderna” para o autor é o período das grandes revoluções
liberais do século XVIII.
9 Gisela Bester (2005, pg. 69).
10 Gisela Bester (2005, pg. 69).

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tipicamente constitucional, compreendendo as normas que dizem respeito à es-


trutura mínima e essencial do Estado.
Considerando que num determinado Estado há uma constituição escrita,
então poderíamos dizer que a constituição material é o conjunto das normas
constitucionais escritas ou não escritas que estruturam, dão forma e or-
ganizam o Estado. Assim, a constituição material pode estar escrita ou pode
não estar escrita.
Neste sentido, entendemos correta a afirmação que a Constituição do EUA é
material1118. O conteúdo da constituição americana é adequado ao sentido clássico,
liberal de que apenas normas materialmente constitucionais estão contidas na
constituição escrita. Nos EUA há uma coincidência entre a constituição escrita e o
conjunto de normas materialmente constitucionais12 .
Na tipologia das constituições, então, a constituição material escrita é a junção
de todas as normas materialmente constitucionais do Estado que estão presentes
no texto escrito.
A constituição material do Brasil seria composta, especialmente, pelas normas
do Título I, II, grande parte dos títulos III e IV. As demais normas poderiam ser
consideradas apenas formalmente constitucionais (conforme o constitucionalis-
mo liberal)13 .

11 Conforme nosso colega João Trindade Cavalcante Filho. Roteiro de Direito Constitucional. 2ª edição. Obcursos Editora. 2009,
p. 37.
12 Embora não devemos esquecer daquela ressalva de que a constituição escrita pode ser complementada pelos costumes,
como é o caso da constituição americana.
13 Para o constitucionalismo social os temas da ordem econômica e social também poderiam fazer parte da constituição
material brasileira.

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Espero que estas primeiras linhas sejam úteis e contribuam para a melhor
definição do que é uma constituição material. Em outros artigos daremos outras
contribuições. Ainda tem dúvidas? Entre em contato para podermos esclarecer
esse ou outros temas: andre.concursos@gmail.com

André Alencar – Bacharel em direito, especialista em


direito público, professor de Direito Constitucional em
preparatórios para concursos desde 2000, ex-servidor
do STF, advogado atuante pela OAB-DF, Analista Legis-
lativo da Câmara dos Deputados (assessor de plená-
rio), autor de livros e artigos jurídicos.

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COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

DIREITO PENAL: PROFESSOR ANDERSON COSTA

AÇÃO PENAL

Afirma-se que o processo penal é a instrumentalização do direito material. É


através da ação penal que o Estado Juiz efetiva seu direito de punir ( jus puniendi)
em face do agente da infração. Na Carta Magna, o art. 5º, XXXV, determina que
a lei não excluirá da apreciação do poder judiciário lesão ou ameaça a direito.
No que concerne às condições da Ação, no processo penal pátrio, sabe-se
que são condicionados o conhecimento e julgamento da pretensão veiculada
pela demanda ao preenchimento prévio de determinadas exigências, conectadas
à identidade das partes, ao objeto da relação de direito material a ser debatida
ou à comprovação da efetiva necessidade da atuação jurisdicional. Por conta dis-
so, vinculam-se as condições da ação gerais, antes expressas no código civil de
1973. Não obstante, devemos lembrar de outras condições especificas, como as
legais (a exemplo do art. 236, parágrafo único do código penal, que estabelece
como condição para propositura da ação o trânsito em julgado do casamento na
esfera civil); as jurisprudenciais (a exemplo da súmula vinculante n. 24 do STF es-
pecificar o lançamento como condição indispensável para constituição do direito
de punir do Estado).
A classificação das ações penais tem caráter subjetivo, ou seja, com a iden-
tificação de seu titular. A Regra é que a ação penal seja pública, salvo quando a
lei determine expressamente que seja privada, nos termos do art. 100 do código
penal. A ação penal pode ser, de acordo com a iniciativa, pública ou privada. Pro-
movida pelo MP, é pública. Iniciada pelo ofendido é privada. Ação penal pública
subdivide-se em incondicionada (a atuação do MP não está sujeita a nenhum
tipo de condição) e condicionada (somente pode agir o MP, caso autorizado por
representação do ofendido ou requisição do Ministro da Justiça).
Para se identificar a natureza da ação penal, torna-se necessário consultar o
Código Penal. Em cada tipo penal ou em norma específica, válida para vários de-
litos, demonstra-se ser a ação penal pública condicionada (somente se procede

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COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

mediante representação) ou privada (somente se procede mediante queixa). Na


ausência de menção expressa da lei penal, a ação penal é pública incondicionada.
Sendo a ação penal pública condicionada ou incondicionada, a legitimidade ativa
é sempre do MP, não só como regra imanente do nosso modelo acusatório, mas
também por força expressa de norma constitucional (art. 129, I, da CF). Tal regra
não tem caráter absoluto. A prova dessa exceção se faz ao observar o crime de
lesão corporal caput, previsto no art. 129 do Código Penal. De uma rápida leitura
desse dispositivo, perceptível que a ação, em qualquer grau que seja a lesão, é
pública incondicionada, visto que o referido tipo penal nada diz a respeito da
ação penal cabível. Contudo, o art. 88 da Lei n. 9099/95 especifica que em caso
de lesão leve e culposa, a ação se torna pública condicionada à representação.
Ou seja, a legislação especial complementa o código penal, em nítida exceção à
regra aqui comentada.
Cabe mencionar, também, que a própria jurisprudência tem o condão de de-
limitar a ação penal cabível em determinado tipo de crime. Tal fato se observa
na análise da súmula 542 do STJ, que é taxativo em consignar que em situações
de ocorrência de crimes de lesões corporais sob a égide da Lei Maria da Penha
(11.340/06), a ação será pública incondicionada. Por extensão, o entendimento
da Corte Superior também abrange as contravenções penais, que por si só já
são alvo de exceção, pois a apesar de a Lei de Contravenções Penais (Dec. Lei
n. 3688/41) especificar que todas as contravenções são de ação penal pública
incondicionada, no que tange a de vias de fato (art. 21), a jurisprudência fixou o
entendimento de que aplica-se a regra que abarca a lesão corporal de natureza
leve (ação penal pública incondicionada, exceto em casos de violência doméstica
contra a mulher, conforme exposto acima).
Em circunstâncias excepcionais, quando o MP deixar de ingressar com a ação
penal no prazo legal, pode o ofendido, por seu advogado, propor ação penal pri-
vada subsidiária da pública, através da queixa crime (art. 29 do CPP). Esta deve ser
ajuizada no prazo máximo de 6 meses (art. 38, parte final do CPP); se não o fizer,
cabe apenas ao MP promovê-la, desde que a punibilidade não esteja extinta pelo
decurso do prazo prescricional. A fundamentação constitucional é o art. 5. LIX.
O prazo para oferecimento da denúncia, estando o réu preso, será de 5 dias,

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contado da data em que o órgão do Ministério Público receber os autos do inquéri-


to policial, e de 15 dias, se o réu estiver solto ou afiançado. No último caso, se houver
devolução do inquérito à autoridade policial (art. 16), contar-se-á o prazo da data
em que o órgão do Ministério Público receber novamente os autos (art. 46 do CPP).
Quanto à ação penal pública condicionada, o ofendido tem o prazo de seis
meses, a contar da data em que tiver ciência de quem é o autor do crime (art. 38
do CPP), para oferecer representação (ou seus sucessores – art. 24, §1º do CPP –
CADI – cônjuge, companheiro, ascendente, descente e irmãos). Se não agir neste
período, ocorrerá a decadência (perda do direito de ação) e, consequentemente,
haverá a extinção da punibilidade do acusado (art. 107, IV, do CP).
A ação privada também deve ser intentada no prazo de seis meses, a contar da
data em que a vítima souber quem é o autor do fato (art. 38 do CPP). O mesmo
prazo se aplica aos sucessores (CADI). Se nada for feito, ocorrerá a decadência.

Anderson Costa – Advogado sócio administrador do


Escritório Costa & Amorim, militante na área criminal,
tendo como especialidade crimes contra a vida, honra e
patrimônio. Especialista em direito penal e processo pe-
nal, graduado pelo UNICEUB; ex-professor de direito
penal e processual penal da instituição ICESP-DF; pro-
fessor de direito penal, processo penal e prática penal
na UDF, sendo coordenador da unidade de prática jurí-
dica de Taguatinga, pertencente à instituição em voga.
Ex coordenador do curso de pós graduação “lato sensu” em processo penal e
direito penal da UDF; professor em institutos preparatórios para concursos públi-
cos e OAB na área penal e processual penal (IMP, APCON, ALUNB, GRANCURSOS
e professor no curso de prática de advocacia criminal do instituto CERS – Com-
plexo Renato Saraiva). Revisor da Obra “Manual de Prática Penal – 5ª edição” de
autoria de Geovane Moraes e Ana Cristina Mendonça, editora Armador.
2ª FASE – DIREITO CIVIL

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DIREITO CIVIL: PROFESSORA PATRÍCIA DREYER

Meus caros alunos, a dica de hoje é sobre Direito do Consumidor. Diante


da nossa sistemática processual civil, torna-se absolutamente necessário conhe-
cer a jurisprudência dos Tribunais Superiores. Vejamos alguns julgados recentes.

1 – A “cláusula de raio” não prejudica os consumidores.


A “cláusula de raio” posta num contrato de locação é aquela em que o locatá-
rio de um espaço comercial se obriga – perante o locador – a não exercer ativi-
dade similar à praticada no imóvel objeto da locação em outro estabelecimento
situado a um determinado raio de distância contado a partir de certo ponto do
terreno do shopping center. Desta forma, o consumidor não irá encontrar em
todos os shopping centers que frequenta, ou em determinado raio de distância,
determinadas lojas. Mas isso não implica efetivo prejuízo a ele, pois a instalação
dos lojistas em tais ou quais empreendimentos depende, categoricamente, de
inúmeros fatores. De fato, a lógica por detrás do empreendimento se sobrepõe
à pretensão comum do cidadão de objetivar encontrar, no mesmo espaço, todas
as facilidades e variedades pelo menor preço e distância. . REsp 1.535.727-RS, Rel.
Min. Marco Buzzi.
2 – Quando o contrato de plano de saúde incluir atendimento obsté-
trico, a operadora tem o dever de prestar assistência ao recém-nascido
durante os primeiros trinta dias após o parto, independentemente de a
operadora ter autorizado a efetivação da cobertura, ter ou não custeado
o parto, tampouco de inscrição do neonato como dependente nos trinta
dias seguintes ao nascimento.
É sabido que a inclusão de atendimento obstétrico na contratação do pla-
no-referência (art. 12, III, a, da Lei n. 9.656/1998) é facultativa. Todavia, se isso
acontecer, deverá ser respeitada a exigência mínima de cobertura assistencial ao
recém-nascido, filho natural ou adotivo do consumidor, ou de seu dependente,
durante os primeiros trinta dias após o parto. Além disso, a lei assegura a possi-

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bilidade de inscrição do recém-nascido no plano ou seguro, como dependente,


dispensado dos períodos de carência desde que a inscrição ocorra no prazo
máximo de trinta dias do nascimento (art. 12, III, b). REsp 1.269.757-MG, Rel. Min.
Luis Felipe Salomão.
3 – O companheiro faz jus à cobertura de cláusula de remissão por
morte de titular de plano de saúde na hipótese em que a referida dispo-
sição contratual faça referência a cônjuge, sendo omissa quanto a com-
panheiro.
A cláusula de remissão consiste em uma garantia de continuidade da presta-
ção dos serviços de saúde suplementar aos dependentes inscritos após a morte
do titular, por lapso que varia de 1 a 5 anos, sem a cobrança de mensalidades. Essa
cláusula deve ser pactuada, e está presente em alguns planos de saúde. Embora
a cláusula de remissão de plano de saúde se refira a cônjuge como dependente,
sendo omissa quanto à figura do companheiro, por óbvio, o entendimento do
STJ se deu no sentido de que não deve haver distinção sobre esse direito, diante
da semelhança de papéis e do reconhecimento da união estável como entidade
familiar, promovido pela própria CF (art. 226, § 3º). Já que existe a equiparação de
companheiro e de cônjuge para fins de qualificação como dependente em plano
de saúde, deve ser estendido ao companheiro o direito à cobertura adicional de
remissão por morte. REsp 1.457.254-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva
4 – Após o transcurso do período previsto em cláusula de remissão por
morte de titular de plano de saúde, o dependente já inscrito pode assu-
mir, nos mesmos moldes e custos avençados, a titularidade do plano.
Nesse mesmo contexto, a Agência Nacional de Saúde Suplementar – ANS
editou a Súmula Normativa n. 13/2010, pontificando que “o término da remissão
não extingue o contrato de plano familiar, sendo assegurado aos dependentes já
inscritos o direito à manutenção das mesmas condições contratuais, com a assun-
ção das obrigações decorrentes, para os contratos firmados a qualquer tempo”.

Essa orientação tem, por fim evitar o desamparo dos dependentes inscritos
do titular falecido quanto à assistência médica e hospitalar. Assim, deve ser as-
segurado a dependente o direito de assumir a posição de titular de plano de

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saúde – saindo da condição de dependente inscrito – desde que arque com as


obrigações decorrentes e sejam mantidas as mesmas condições contratuais. REsp
1.457.254-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva.
5 – O plano de saúde deve reembolsar o segurado consumidor pelas
despesas que pagou com tratamento médico realizado em situação de
urgência ou emergência por hospital não credenciado, ainda que o re-
ferido hospital integre expressamente tabela contratual que exclui da
cobertura os hospitais de alto custo, limitando-se o reembolso, no mí-
nimo, ao valor da tabela de referência de preços de serviços médicos e
hospitalares praticados pelo plano de saúde.
Quando o consumidor se encontra em situação de urgência ou emergência, e
não sendo possível a utilização dos serviços médicos, próprios, credenciados ou
conveniados, a empresa de plano de saúde, mediante reembolso, responsabili-
za-se pelos custos e despesas médicas expendidos pelo contratante em tais con-
dições, limitada, no mínimo, aos preços de serviços médicos e hospitalares prati-
cados pelo respectivo produto. Trata-se, pois, de garantia legal mínima conferida
ao contratante de plano de assistência à saúde, ora consumidor, e que deve ser
observada, inclusive, nos planos de cobertura básica. Desse modo, afigura-se
absolutamente eivada de nulidade a disposição contratual que excepciona o de-
ver de reembolsar, mesmo nos casos de urgência ou de emergência, as despesas
médicas efetuadas em hospital de tabela própria (compreendido como de alto
custo). REsp 1.286.133-MG, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze
6 – Não há dano moral quando o provedor de busca, mesmo após
cientificado pelo consumidor, exibe associação indevida entre o argu-
mento de pesquisa (o nome desse consumidor) e o resultado de busca (o
sítio eletrônico cujo conteúdo nocivo ao consumidor já tenha sido corri-
gido pelo responsável da página eletrônica).
O provedor de busca na Internet – espécie de provedores de conteúdo –
exerce atividade de mero transporte de informações e, portanto, não tem qual-
quer decisão quanto ao conteúdo da informação ou à seleção dos destinatários
do referido conteúdo. Desse modo, fica afastada sua responsabilização quanto
ao conteúdo, porquanto se evidencia a ausência absoluta de controle quanto ao
conteúdo danoso divulgado. REsp 1.582.981-RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze.

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7 – O provedor de busca cientificado pelo consumidor sobre vínculo


virtual equivocado entre o argumento de pesquisa (nome de consumi-
dor) e o resultado de busca (sítio eletrônico) é obrigado a desfazer a re-
ferida indexação, ainda que esta não tenha nenhum potencial ofensivo.
Para além do afastamento da responsabilidade civil pelos danos eventual-
mente sofridos, o STJ reconheceu, em 2012, a impossibilidade de se obrigar pro-
vedor de busca a excluir dos resultados de pesquisa determinados termos os
quais conduziriam à exibição do conteúdo danoso – (REsp 1.316.921-RJ, Terceira
Turma, DJe 29/6/2012). Essa conclusão foi extraída a partir da premissa de que,
retirado o conteúdo nocivo da rede, automaticamente estaria excluído o resulta-
do da busca. Na prática, contudo, essa premissa tem se mostrado irreal.
Na prática, mesmo quando o conteúdo nocivo, contra o consumidor, é pron-
tamente corrigido na página em que divulgado originariamente, o índice de pro-
vedor de busca permanece exibindo o link como se na página indicada ainda
houvesse o conteúdo retirado. Dessa forma, o STJ revisitou o assunto, a fim de
aferir a existência de eventual falha, bem como sua correspondente aptidão para
configurar, ou não, um acidente de consumo, a impor a responsabilização direta
do fornecedor. A falha não está relacionada estritamente à esfera individual do
consumidor cujo nome estava vinculado indevidamente ao sítio eletrônico, mas,
de forma objetiva, à exibição de resultado que já não corresponde, não guarda
nenhuma pertinência, ao argumento objeto de busca.
Assim, o STJ concluiu que um provedor de pesquisa deve corrigir sua base de
dados e adequá-la aos resultados de busca atuais, fazendo cessar a vinculação do
nome do consumidor à página por ele indicada, por ser medida que concretiza
diretamente aquele seu dever, enquanto fornecedora do serviço de busca, de en-
tregar respostas adequadas ao critério pesquisado. Segundo este Tribunal, não há
espaço para a inércia do empresário em corrigir uma clara falha de seu serviço,
quando cientificada pelo consumidor, em especial, diante da fácil constatação de
que o vínculo original não mais se sustenta e a mera reindexação é manifestamen-
te suficiente para essa correção. REsp 1.582.981-RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze
8 – Não há dano moral in re ipsa quando a causa de pedir da ação se
constitui unicamente na inclusão de valor indevido na fatura de cartão

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de crédito de consumidor.
O STJ já havia se manifestado no sentido de que o envio de cobrança inde-
vida não acarreta, por si só, dano moral objetivo, in re ipsa, na medida em que
não ofende direito da personalidade. Para caracterizar dano moral, há que se
considerar as peculiaridades do caso concreto, a serem alegadas e comprovadas
nos autos. Com efeito, a jurisprudência tem entendido caracterizado dano moral
quando evidenciado abuso na forma de cobrança, com publicidade negativa de
dados do consumidor, reiteração da cobrança indevida, inscrição em cadastros
de inadimplentes, protesto, ameaças descabidas, descrédito, coação, constrangi-
mento, ou interferência malsã na sua vida social, por exemplo (REsp 326.163-RJ,
Quarta Turma, DJ 13/11/2006; e REsp 1.102.787-PR, Terceira Turma, DJe 29/3/2010).
Por outro lado, a indenização por dano moral, se comprovadas consequên-
cias lesivas à personalidade decorrentes da cobrança indevida, como, por exem-
plo, inscrição em cadastro de inadimplentes, desídia do fornecedor na solução
do problema ou insistência em cobrança de dívida inexistente, tem a benéfica
consequência de estimular boas práticas do empresário. REsp 1.550.509-RJ, Rel.
Min. Maria Isabel Gallotti.
9 – O banco deve compensar os danos morais sofridos por consumi-
dor vítima de saque fraudulento que, mesmo diante de grave e evidente
falha na prestação do serviço bancário, teve que intentar ação contra a
instituição financeira com objetivo de recompor o seu patrimônio, após
frustradas tentativas de resolver extrajudicialmente a questão.
A retirada indevida de quantia depositada em conta poupança ou corrente
nem sempre gera, automaticamente, dano moral passível de indenização, pois
isso depende do exame das circunstâncias que envolveram cada hipótese sub-
metida à apreciação judicial. Entretanto, no caso posto à apreciação do STJ, em-
bora grave a falha na prestação do serviço, a instituição financeira não adotou
quaisquer providências hábeis a solucionar o problema narrado pelo consumidor,
tanto que se fez necessário o ajuizamento de uma ação judicial, em que pleite-
ado, além do dano moral, aquele de cunho patrimonial, consistente nos valores
sacados indevidamente da conta bancária. Tais circunstâncias são suficientes à ca-

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racterização do dano moral, porquanto não podem ser concebidos como meros
dissabores, inerentes à vida social. AgRg no AREsp 395.426-DF, Rel. Min. Antonio
Carlos Ferreira, Rel. para acórdão Marco Buzzi
10 – Não é abusiva a cláusula prevista em contrato de adesão que
impõe ao consumidor em mora a obrigação de pagar honorários advo-
catícios decorrentes de cobrança extrajudicial.
A cobrança, em favor do credor, de honorários advocatícios extrajudiciais é
prática muito comum e, em nada, mostra-se abusiva. Além de não causar preju-
ízo indevido para o devedor em atraso, ela tem apoio nas normas dos arts. 389,
395 e 404 do CC, as quais atribuem ao devedor a responsabilidade pelas des-
pesas e prejuízos causados em razão de sua mora ou inadimplemento, neles in-
cluindo expressamente os honorários advocatícios. Por outro lado, também está
assegurado ao consumidor, independentemente de previsão contratual, ainda
que em contrato de adesão, o mesmo direito a cobrança de honorários advoca-
tícios extrajudiciais conferido ao credor.

Patrícia Dreyer – Graduada em Direito há 14 anos, pelo


UNICEUB, advogada, especialista em Direito Processual
Civil pela PUC-SP, especialista em Direito Público e estu-
dante regular do Programa de Doutorado. Professora de
Direito Civil, Direito Processual Civil, Direito do Consumi-
dor, Estatuto da Criança e do Adolescente e do Estatuto
do Idoso, com experiência em cursos de graduação,
pós-graduação, Academia de Polícia Militar, e preparató-
rios para concursos públicos e exames de Ordem.

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DIREITO CIVIL: PROFESSORA ANELISE MUNIZ


Olá Amados!!!!!!!!!!!!!!!!
A 2ª Fase para o Exame de Ordem se aproxima e, é preciso que não existam
dúvidas quanto algumas ações específicas, portanto, nossa dica de hoje é sobre
a Ação Reivindicatória na Defesa do Direito de Propriedade.

A ação reivindicatória é um instituto característico do direito de propriedade.


Consiste no remédio jurídico contra a injusta posse alheia, a fim de que o pro-
prietário possa livremente gozar, fruir e dispor daquilo que lhe pertence. Pode- se
dizer que é uma ação de quem possui a propriedade, mas não a posse, contra
aquele que se encontra na posse injusta, mas não tem a propriedade, conforme
o previsto na 2ª parte do artigo 1.228 do Código Civil de 2002:

Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa,


e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a
possua ou detenha.

Para ser recebida, a ação reivindicatória deve atender aos seguintes


requisitos/pressuposto, além da obrigatoriedade dos requisitos essenciais da
Petição Inicial dispostos no artigo 319, do Código de Processo Civil:
a) Provar a propriedade.
b) Identificar a coisa pretendida de forma individualizada.
c) Comprovação da posse injusta da coisa por um terceiro.
d) E, não ter o proprietário se imitido na posse.
Esses pressupostos são determinantes para o acolhimento ou não da peti-
ção inicial, conforme verifica-se na jurisprudência de nossos tribunais. Vejamos:

APELAÇÃO CÍVEL. POSSE (BENS IMÓVEIS). AÇÃO REIVINDICATÓ-


RIA. PROPRIEDADE DO IMÓVEL DEVIDAMENTE DEMONSTRADA.
POSSE INJUSTA DA PARTE DEMANDADA.
AUSÊNCIA DE TÍTULO CAPAZ DE GERAR OPOSIÇÃO AO TÍTULO DO-
MINIAL APRESENTADO PELA PARTE AUTORA.
Demonstrada a propriedade do imóvel pela parte autora, e não havendo jus-

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tificativa plausível para a posse da parte adversa, o que faz dela injusta, têm-se
como presentes os pressupostos autorizadores da medida reivindicatória.
NEGARAM PROVIMENTO. UNÂNIME.
(Apelação Cível N. 70054565775, Décima Oitava Câmara Cível, Tribunal de
Justiça do RS, Relator: Pedro Celso Dal Pra, Julgado em 22/08/2013)
(TJ-RS – AC: 70054565775 RS, Relator: Pedro Celso Dal Pra, Data de Julga-
mento: 22/08/2013, Décima Oitava Câmara Cível, Data de Publicação: Diário
da Justiça do dia 26/08/2013)
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO REIVINDI-
CATÓRIA. PROPRIEDADE DO IMÓVEL COMPROVADA O QUE AUTO-
RIZA A IMISSÃO NA POSSE DO BEM. IMPOSSIBILIDADE DE DILAÇÃO
PROBATÓRIA E APROFUNDAMENTO COGNITIVO EM SEDE DE AGRA-
VO DE INSTRUMENTO. RECURSO AO QUAL SE NEGA SEGUIMENTO
COM ESPEQUE NO ARTIGO 557 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL.
I – Em ação reivindicatória a imissão na posse do imóvel deve ser garantida
se os autores comprovaram a propriedade do imóvel;
II – Segundo Lafayette, a reivindicatória pressupõe um proprietário não pos-
suidor que age contra um possuidor não proprietário, a saber, “ação pro-
posta pelo proprietário que tem o domínio e não tem a posse, contra o não
proprietário, que não tem o domínio, mas tem a posse”;
III – A alegação da agravante antiga locatária – de que o proprietário origi-
nal não lhe garantiu a preferência de compra do imóvel em igualdade de
condições, não pode impedir a imissão na posse do imóvel pela proprietária,
porquanto a comprovação da alegação exigirá dilação probatória e apro-
fundamento na cognição, o que se mostra inviável em sede de recurso de
agravo de instrumento;
IV – Recurso ao qual se nega seguimento com espeque no artigo 557 do
Código de Processo Civil.
(TJ-RJ – AI: 175525620128190000 RJ 0017552-56.2012.8.19.0000, Relator: DES.
ADEMIR PIMENTEL, Data de Julgamento: 13/06/2012, DECIMA TERCEIRA
CAMARA CIVEL)

O conhecimento dessas condições é importante para o correto emprego


dessa modalidade de ação. O Superior Tribunal de Justiça recentemente julgou
inadequado o uso da reivindicatória – contra os demais condôminos – para a
demarcação de vaga de garagem em área de uso comum. No acórdão, ficou res-

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saltada a inexistência de matrícula independente no registro de móveis, ou seja,


a individualização do imóvel.
Isso porque, se tratando de área de uso comum, todos os condôminos osten-
tariam o título de domínio equivalente.
Dessa forma, em casos como este, seria cabível a ação possessória em vez da
reivindicatória.

PROCESSO CIVIL. DIREITOS REAIS. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO REIN-


VINDICATÓRIA. CONDOMÍNIO EDILÍCIO. VAGA NA GARAGEM. COI-
SA REIVINDICANDA NÃO INDIVIDUALIZADA.
IMPOSSIBILIDADE.
1. A ação reivindicatória (art. 1.228 do CC), fundada no direito de sequela,
outorga ao proprietário o direito de pleitear a retomada da coisa que se
encontra indevidamente nas mãos de terceiro, tendo como requisitos espe-
cíficos: (i) a prova do domínio da coisa reivindicanda; (ii) a individualização
do bem; e (iii) a comprovação da posse injusta.
2. Em condomínio edilício, a vaga de garagem pode ser enquadrada como:
(i) unidade autônoma (art. 1.331, § 1º, do CC), desde que lhe caiba matrícula
independente no Registro de Imóveis, sendo, então, de uso exclusivo do
titular; (ii) direito acessório, quando vinculado a um apartamento, sendo,
assim, de uso particular; ou (iii) área comum, quando sua fruição couber a
todos os condôminos indistintamente.
3. A via da ação reivindicatória não é franqueada àquele que pretende obter
direito exclusivo de vaga no estacionamento, quando este, na verdade, con-
figura direito acessório da unidade autônoma ou área de uso comum, uma
vez que, nessas hipóteses, inexiste requisito essencial ao seu ajuizamento,
qual seja, a individualização do bem reivindicando.
4. No caso em exame, as vagas na garagem encontram-se na área comum
do edifício ou são acessórias aos apartamentos, a depender do que regula
a convenção do condomínio, o que se torna ainda mais evidente ante a au-
sência de matrícula autônoma no Registro de Imóveis, descabendo, por isso,
o manejo da ação reivindicatória.
5. Recurso especial provido.
(STJ, Relator: Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, Data de Julgamento:
13/08/2013, T4 – QUARTA TURMA)
Uma vez procedente a ação reivindicatória, fica reconhecido e declarado

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o direito de propriedade do autor e o réu fica condenado a devolver a coisa.


Dessa forma, a ação pode ter efeito declaratório, condenatório e executório.
Além disso, pode haver cumulação de pedido de indenização por perdas e
danos advindos da detenção indevida pelo réu.
Cabe ressaltar que o reconhecimento da propriedade é o objeto da ação
reivindicatória, isto é, o meio de defesa do real proprietário, detentor do título
que lhe confere esse direito, face a um proprietário aparente – possuidor injusto,
sem título ou detentor de título inválido. Logo, o objetivo do instituto é a imissão
da posse ao proprietário para que possa dispor da coisa como melhor lhe convier.
Por fim, importante ressaltar que as ações possessórias não se assemelham
com as ações reivindicatórias, ou seja, são distintas, uma vez que nas ações
reivindicatórias a causa de pedir é a propriedade e visa o reconhecimento do di-
reito de gozar, fruir e dispor da coisa e nas ações possessórias a causa de pedir é
a posse em que se buscam à manutenção ou reintegração da posse sobre a coisa.
Bons Estudos
Beijão

Anelise Muniz – Mestranda em Educação pela UNI-


CID- Universidade Cidade de São Paulo (2016). Mem-
bro do Grupo de Estudos e pesquisas em Políticas Pú-
blicas, Avaliação e Qualidade-Geppaq, sob a Orientação
da Professora Drª Cristiane Machado. Bacharel em Di-
reito pelo Centro Universitário do Distrito Federal – UDF
(2006). Especialista em Didática do Ensino Superior pela
UNICSUL/UDF (2011). Especialista em Direito Processual
Civil pelo ICAT/UDF (2013). Ex-Chefe de Gabinete no
TRF 1ª Regão. Professora de Graduação do UDF na área
de Direito Civil , Processual Civil e Direito Previdenciário. EX- Coordenadora do
Núcleo de Práticas Jurídicas na Justiça Federal de Brasília. Professora de 1ª fase em
Processo Civil da OAB e 2ª Fase da OAB em Civil. Professora Orientadora de Mo-
nografia. Advogada Atuante nas áreas de Direito Civil e Processo Civil e Direito
Previdenciário. Professora do GRANCURSOS. Membro do Conselho da OAB/DF.

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DIREITO CIVIL: PROFESSORA ROBERTA QUEIROZ

Oi querid@s…
Vamos hoje conversar um pouco sobre nossa prova da 2ª fase da OAB???
Então, vamos falar de alguns temas do coração.Temas que devem estar sem-
pre em mente…
Sempre digo que a FGV não sai por aí cobrando o absurdo, ela cobra o que
você deve, minimamente, ter noção no âmbito do processo civil e do civil…
É verdade que passamos por uma transição legislativa importante com o
NCPC, mas não vamos deixar nossas forças diminuírem.Vamos seguir no nosso
propósito. Estamos juntos nisso e vamos até o final…
Então, sem mais delongas, vamos juntos, pois nossa caminhada é doce e só
nos trará bons frutos…Já que nosso tema é doce, vou começar como se começa
uma cartinha de amor, afinal, estamos aqui pelo amor à nossa matéria…
Amor, para que você possa mandar super bem na prova, vou te dar alguns
conselhos:

1. ALTERAÇÃO NO NCPC – PRELIMINARES DE CONTESTAÇÃO

Como resposta de réu, o NCPC apresenta as seguintes modalidades: contes-


tação e reconvenção. Onde estão as exceções??? Vou te falar já já… olha isso…
O tema de contestação está no artigo 335 e seguintes do NCPC. Esteja atento,
pois a contestação deve ser apresentada no prazo de 15 dias contados da audi-
ência de mediação, se realizada; do protocolo da petição do réu, caso não queira
comparecer (petição esta que deve ser apresentada com 10 dias de antecedência
da audiência) ou da data da juntada aos autos da citação efetivada nos termos
do artigo 231.
Veja que a estrutura da contestação não mudou. Ela continua tendo as pre-
liminares e as defesas de mérito. Observe que as preliminares envolvem defesas
dilatórias ou peremptórias (levam à extinção do processo) e estão no artigo 337
do NPC, são elas: I – inexistência ou nulidade da citação;II – incompetência abso-

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luta e relativa;III – incorreção do valor da causa;IV – inépcia da petição inicial;V


– perempção;VI – litispendência;VII – coisa julgada;VIII – conexão;IX – incapaci-
dade da parte, defeito de representação ou falta de autorização;X – convenção
de arbitragem;XI – ausência de legitimidade ou de interesse processual;XII – falta
de caução ou de outra prestação que a lei exige como preliminar;XIII – indevida
concessão do benefício de gratuidade de justiça.
Sabe essas grifadas???? São mega novidades!!!! Assim, se cair na sua prova
algo envolvendo incompetência relativa, por exemplo, se ligue, faça a preliminar
de contestação.
Professora, como alego uma preliminar? Faz assim: ao redigir sua contestação
dê destaque para as preliminares (1. Preliminares) antes de fazer a defesa efetiva
(2. Mérito). Tá bom?! Não esquece!!
Ah, antes que eu me esqueça (kkkk) lembra da exceção de impedimento e
suspeição? Pois é, não existe mais. Se o juiz for suspeito ou impedido faça uma
petição simples no prazo de 15 dias, seguindo o artigo 146 do NCPC.
Viu só?! Não tem mais exceção… bom né?

2. ALTERAÇÃO NO NCPC – RECONVENÇÃO

Como falamos antes: resposta de réu, no NCPC, só contestação e reconvenção.


A reconvenção está prevista no artigo 343 do NCPC.
Qual foi a mudança? Ah, essa foi ótima… Agora a reconvenção será feita na
própria contestação. Assim, se o réu for contestar e reconvir, deverá fazer na mes-
ma petição, evidentemente, especificando corretamente as manifestações – defe-
sa e pedido. Assim, você pode apresentar a reconvenção dentro da contestação,
mas, se quiser só reconvir, sem contestar, pode também, só fazer por petição
própria – artigo 343, §6º, NCPC.
Agora lembre-se, para que se considere proposta a reconvenção, segundo o
enunciado 45 da FPPC, não há necessidade de uso do nome “reconvenção”, mas,
como estamos falando de OAB e FGV, melhor é indicar certinho. Ok?
Reconvenção tem a mesma estrutura de petição inicial, logo, o autor recon-

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vindo deverá ser intimado para se manifestar em resposta de réu.


Professora, o autor reconvindo pode apresentar reconvenção como resposta
da reconvenção?
Sim sim, pode tranquilamente. A isso a doutrina dá o nome de reconventio
reconvetionis.
Ah, outra coisa, na reconvenção é possível ampliação subjetiva da demanda,
ou seja, trazer terceiro no polo ativo, ao lado do réu, ou no polo passivo, ao lado
do autor. Por fim, se liga, reconvenção tem valor de causa, pois, como disse, é
petição inicial.
Ufaaa, vamos seguir???

3. NCPC E REVELIA

Oha só, tire de sua mente que revelia é ausência de resposta. Revelia, como
diz o artigo 344, é ausência de contestação. Revelia significa ausência de contes-
tação na forma e no tempo devido. Temos três efeitos de revelia: a) presunção
de veracidade ou confissão ficta; b) julgamento antecipado da lide; c) os prazos
fluem contra o revel, sem advogado constituído, a partir da publicação.
Então imagine uma situação: pense que Joao autor da ação, com advogado,
e Antônio, réu, sem advogado nos autos. Imagine que a sentença, de parcial
procedência, foi redigida pelo magistrado e aposta nos autos no dia 05/07/2016
(terça feira), sendo publicada no diário de justiça no dia 12/07/2016, terça feira.
Quando começa a fluir o prazo para os respectivos recursos de apelação?
Veja que quando a sentença foi colocada nos autos, foi publicada efetiva-
mente, as partes já podem ter ciência e acesso. O diário de justiça é intimação
de publicação, é o judiciário dizendo: olha, a sentença foi publicada dia 05/07.
Entendeu?
Veja que para quem tem advogado nos autos os prazos começam a contar
da intimação – DJ. Para quem é revel os prazos começam independentemente
de intimação, ou seja, da publicação do ato, quando o ato foi colocado dentro
do processo.
Assim, o prazo para o réu considera-se o dia 05/07/2016 e para o autor, dia

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12/07/2016. Belezura?
Para terminar, os prazos, hoje, são em dias uteis… e mais, dias úteis são de
segunda a sexta. Para não perder o prazo em processo físico, considere o horá-
rio de expediente forense – horário de funcionamento do fórum – em BSB é de
12h as 19h; para processo eletrônico considere protocolizar sua petição até as
23h59m59s do último dia do prazo, pois se der 00:00 já era…. Legal né?!

3. ARBITRAGEM

Tema super legal que pode vir a cair em uma questão simples.
O artigo 3º do NCP diz que “não se excluirá da apreciação jurisdicional ame-
aça ou lesão a direito.” Este dispositivo prevê, em sede de legislação infraconsti-
tucional, um princípio constitucional da inafastabilidade do controle jurisdicional…
até aí tudo bem…
O parágrafo primeiro diz que é permitida a arbitragem, na forma da lei.
A lei que rege a arbitragem é a lei 9307/96. Este procedimento de arbitragem
é usado por pessoas capazes de contratar para dirimir litígios relativos a direitos
patrimoniais disponíveis.Em 2015, incluiu-se a possibilidade de a administração
pública direta e indireta utilizar-se da arbitragem para dirimir conflitos relativos a
direitos patrimoniais disponíveis.
Mas e aí, professora, como isso pode cair?
Poderá esse tema ser cobrado em sua prova com a seguinte indagação: como
a arbitragem pode ser instituída pelas partes?
Ah, cuidado, a arbitragem pode ser instituída por meio de cláusula compro-
missória ou por meio de compromisso arbitral. Qual a diferença? Fácil, olha só:
A cláusula compromissória, também chamada de pactum de comprome-
tendo, é um pacto acessório,previsto no artigo 853 do CC. Consiste em uma
convecção prévia, mediante a qual as partes de um contrato obrigam-se a se
submeter à arbitragem , eventuais litígios decorrentes da avença. Tipo assim: a
gente faz um contrato de arrendamento e estabelece que em caso de eventual
conflito usaremos a arbitragem para solução.
Essa cláusula pode ser cheia ou vazia. Será cheia se prever todos os moldes

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da arbitragem; será vazia se prever de maneira genérica.


O compromisso arbitral vai ser contrato principal que será celebrado quan-
do o litígio já estiver estipulado.
Veja que na cláusula compromissória, o litigio nem existe ainda; no compro-
misso arbitral o litígio já existe.
Fácil?
Para terminar, lembre-se que a convenção de arbitral deve ser alegada em
preliminar de contestação caso a parte, ao invés de levar para arbitragem o caso,
leve para o judiciário. E mais, a sentença do arbitro tem o mesmo valor da sen-
tença de um juiz e é título executivo JUDICIAL. Isso mesmo, título executivo judi-
cial, pois essa palavra “judicial” vem do latim “iudicium” que quer dizer “processo”,
seja estatal – do judiciário, ou paraestatal – da arbitragem.
Shoooow…

4. CONTRATO DE SEGURO

O contrato de seguro tem previsão no artigo 757 do CC.


Este contrato tem como objeto a transferência de um risco mediante contra-
prestação pecuniária. Nesse contrato, a empresa seguradora garante que acaso
implementado o risco descrito na apólice, denominado sinistro, haverá contra-
prestação. É, em verdade, uma obrigação de garantia.
Tudo bem?
Então, dentro desse tema podemos falar contrato de seguro de vida – artigo
789 e seguintes do CC.

Interessante destacar o artigo 798, vejamos:“O beneficiário não tem direito


ao capital estipulado quando o segurado se suicida nos primeiros dois anos
de vigência inicial do contrato, ou da sua recondução depois de suspenso,
observado o disposto no parágrafo único do artigo antecedente. Parágrafo
único. Ressalvada a hipótese prevista neste artigo, é nula a cláusula contra-
tual que exclui o pagamento do capital por suicídio do segurado.”
Assim, o seguro de vida tem por objetivo a indenização em caso de sinistros

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involuntários – culposos. Nesse sentido, o CC adotou uma presunção de preme-


ditação na hipótese de suicídio nos dois primeiros anos de vigência do seguro, ou
logo nos dois primeiros anos da renovação.
Mas sabe qual a parte legal dessa história? Essa presunção é relativa, juris
tantum, podendo ser afastada por alegações de fatos externos geradores do
suicídio, como patologias terminais alucinações… Tudo será questão de prova…
Tiramos esse entendimento da súmula 105 do STF e 61 do STJ, vejamos:
• súmula 105 do STF: Salvo se tiver havido premeditação, o suicídio do
segurado no período contratual de carência não exime o segurador do
pagamento do seguro.
• súmula 61 do STJ: O seguro de vida cobre o suicídio não premeditado.

Informação top, né?


Se der tempo, dê uma olhadinha no REsp 1.334.005 e AgRg no AG 1.244.022,
tudo no STJ…
Em breve voltarei com mais dicas legais…
“xêro”
Vamos em frente…

RobertaQueiroz – Graduada em Direito pela Univer-


sidade Católica de Brasília em dezembro de 2005; Es-
pecialista em Direito Processual Civil pela Universidade
do Sul de Santa Catarina em novembro de 2009; Mes-
tranda em Direito pela Universidade Católica de Brasí-
lia, com enfoque em direito público; docente nas disci-
plinas de Direito Civil, Direito Processual Civil e Direito
Administrativo desde 2007; docente titular do curso de
Direito da Universidade Católica de Brasília; professora
de cursos preparatórios para concursos; advogada atuante na área de direito
privado e direito administrativo desde 2006.

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DIREITO CIVIL: PROFESSORA ANELISE MUNIZ

Bom dia Amados!!!!!!!


A dica que trago para vocês abarca um dos Pressupostos/Requisitos da
Petição Inicial em que, se não observado pelo Magistrado acarretará defeitos/
vícios na Sentença.

DOS ELEMENTOS E DOS EFEITOS DA SENTENÇA COM VÍCIOS NO JUL-


GAMENTO

Com fundamento no artigo 319, inciso IV, do Código de Processo Civil, a


Petição Inicial indicará: “o pedido com suas especificações” . Para tanto, o
autor deve observar os artigos 322 a 329, do Capítulo II, Título I, Seção II,
do Livro I – Do Pedido, para fazer constar em sua Inicial o pedido com suas
especificações, nos termos da lei.

Então! Preenchido o requisito/pressuposto do inciso IV, do artigo 319, do CPC,


pelo autor, importante relembrar os defeitos/vícios que podem constar
nas sentenças, nos termos do artigo 492, caput e parágrafo 1º, do CPC e, con-
sequentemente, ocorrendo qualquer um dos vícios/defeitos, a parte poderá opor
Embargos de Declaração, com fundamento no artigo 1.022, caput e incisos I e II,
do CPC, com a finalidade de que o Juiz venha a sanar o defeito.

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Vamos relembrar:

1. a) Sentença extra petita: o juiz concede algo diferente do que foi pedido
na petição inicial. Exemplo: o ex-marido faz o pedido na inicial requerendo a
guarda dos três filhos havidos no casamento. Ao proferir a Sentença o juiz con-
cede a ele a guarda da sogra. Portanto, diverso/distinto do que foi pedido pelo
Autor.
1. b) Sentença ultra petita: o juiz concede além do que foi pedido. Exem-
plo: o juiz, no caso anterior, além da guarda dos filhos, condena a ex-esposa ao
pagamento de pensão alimentícia ao ex-marido. Observem, que tal pedido se-
quer constava na inicial. Portanto, ao proferir a Sentença o magistrado foi além
do pedido.
1. c) Sentença infra ou citra petita: o magistrado deixa de analisar o pe-
dido em sua totalidade/parcialmente, concedendo – injustificadamente – menos
do que foi pedido. Exemplo: ainda, com base no caso exposto na letra “a”, o juiz
concede a guarda apenas do filho mais velho. Neste caso, ao preferir a Sentença
o magistrado julgou aquém do pedido.

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LEMBREM-SE: o juiz, ao proferir a sentença, deve se ater exatamente ao re-


querido pelo autor, ou seja, nem mais, nem menos, nem fora do que foi pedido.
Assim é denominado o princípio da congruência, disposto no art. 492, do CPC:

Art. 460 – É vedado ao juiz proferir decisão de natureza diversa da pedida,


bem como condenar a parte em quantidade superior ou em objeto diverso
do que lhe foi demandado.

Oportuno pontuar, que nesta dica, utilizamos para Exemplificar a Sentença,


a partir dos pedidos elencados na Petição Inicial, pelo autor. Mas, importante que
vocês observem o artigo 460, do CPC que indica “proferir decisão”. Desse
modo, trata-se de qualquer decisão. (Decisão Interlocutória, Sentença, Decisão
Monocrática).
Nesse sentido – e a título de exemplo – decidiu o Superior Tribunal de Justiça:

“AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL N. 864.714 – RS (2016/0038066-


0) RELATORA : MINISTRA MARIA ISABEL GALLOTTI
AGRAVANTE : O N M ADVOGADOS : FERNANDO ANTÔNIO FREI-
TAS MALHEIROS FILHO E OUTRO(S) GABRIELA SUDBRACK CRIPPA
AGRAVADO : N L P L ADVOGADO : ELIZA CERUTTI DECISÃO
Trata-se de agravo em recurso especial interposto por O N M, contra deci-
são que negou seguimento ao recurso especial, com fundamento nas alí-
neas “a” e “c” do inciso III do artigo 105 da Constituição Federal, em face de
acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul,
assim ementado (fl. 1485 e-STJ): APELAÇÕES CÍVEIS. AGRAVO RETIDO. Com
efeito, não há falar em encerramento da instrução sem a intimação da parte
sobre o indeferimento do seu pedido de produção de prova. Cerceamento
de defesa configurado. Agravo provido. SENTENÇA CITRA PETITA. Além
do cerceamento de defesa reconhecido, ainda se argumenta que também
está configurada a nulidade da sentença por não apreciação de todos os
pedidos da inicial.
DERAM PROVIMENTO AO AGRAVO RETIDO, ACOLHERAM A PRELIMINAR
DE NULIDADE DA SENTENÇA RESTANDO, AINDA, PREJUDICADA A ANÁLI-
SE DO RECURSO DO RÉU.

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Nas razões do especial, a parte recorrente alegou violação ao artigo 185,


do Código de Processo Civil de 1973, em virtude da inexistência de cerce-
amento de defesa. Sustentou violação aos artigos 128 e 458, do Código de
Processo Civil de 1973, tendo em vista que a sentença não foi citra petita.
Inicialmente, cumpre destacar que a decisão recorrida foi publicada antes
da entrada em vigor da Lei n. 13.105 de 2015, estando o recurso sujeito aos
requisitos de admissibilidade do Código de Processo Civil de 1973, conforme
Enunciado Administrativo 2/2016, desta Corte. Presentes os pressupostos de
admissibilidade e ultrapassado o limite do conhecimento do presente agravo,
verifico que esse não merece provimento, senão vejamos. A súmula n. 568,
desta Corte, dispõe que o relator, monocraticamente e no Superior Tribunal
de Justiça, poderá dar ou negar provimento ao recurso quando houver en-
tendimento dominante acerca do tema. Assim sendo, verifico que as alega-
ções de negativa de vigência ao artigo 185, do CPC/73, encontram óbice na
Súmula n. 7 do STJ, que impede a revisão do conjunto fático-probatório dos
autos em sede de recurso especial. O Tribunal de origem assim decidiu (fls.
1489/1490 e-STJ): A autora, na petição de fls. 1001-1005, requereu que fosse
determinado que o réu juntasse aos autos os documentos fiscais e contábeis
das suas empresas para avaliação da evolução patrimonial durante a união
estável. O pedido da autora foi indeferido pelo magistrado com a fundamen-
tação que seria desnecessária a providência naquele momento fl. 1010. Pois
bem. Da referida decisão não houve intimação das partes. Apesar disso, na
decisão de fl. 1074, o magistrado singular encerrou a instrução. Desta decisão
a autora recorreu pela via do agravo de instrumento fls. 1144-1154 o qual foi
convertido no presente agravo retido fls. 1155-1156. Ora, da leitura dos acon-
tecimentos, entendo que procede a inconformidade vertida no agravo retido,
uma vez que a não apreciação do pedido probatório com a fundamentação,
por ora, deu a entender que o pedido seria avaliado noutro momento o que,
com efeito, não ocorreu. Mas, além disso, da decisão que não apreciou o
pedido da prova, a peticionante não foi intimada, de sorte que sequer teve a
oportunidade de recorrer, em flagrante cerceamento de defesa. Desse modo,
dou provimento ao agravo retido para declarar a nulidade do encerramento
da instrução processual sem enfrentamento da prova pretendida pela parte
autora. Observo, portanto, que a Corte estadual, ao analisar as circunstân-

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cias contidas nos autos e o conjunto fático-probatório produzido, entendeu


que houve cerceamento de defesa, em virtude da não intimação da parte
recorrida do indeferimento da produção de prova requerida. Dessa forma, a
alteração dessas premissas estabelecidas no acórdão recorrido implicaria ne-
cessariamente o reexame fático-probatório, o que é vedado na via do recurso
especial, por força do enunciado sumular n. 7, desta Corte. Nesse sentido:
AGRAVO INTERNO. AGRAVO DE INSTRUMENTO. RESCISÃO CONTRATUAL.
LEGITIMIDADE PASSIVA. CERCEAMENTO DE DEFESA. NÃO CONFIGURAÇÃO.
REEXAME DE MATÉRIA FÁTICA DA LIDE. SÚMULA 7/STJ. NÃO PROVIMENTO.
Inviável o recurso especial cuja análise impõe reexame do contexto fático-pro-
batório da lide (Súmula 7 do STJ).
Agravo interno a que se nega provimento. (AgRg no Ag 1176734/SP, Rel. Mi-
nistra MARIA ISABEL GALLOTTI, QUARTA TURMA, julgado em 14/06/2016,
DJe 17/06/2016) Ademais, o artigo apontado como violado não guarda re-
lação com a existência ou não de cerceamento de defesa, bem como em
relação ao comparecimento espontâneo nos autos para fins de intimação,
razão pela qual incide o óbice previsto na súmula 284, do STF. As alegações
de violação aos artigos 128 e 458, do Código de Processo Civil de 1973, tam-
bém não merecem guarida. É de se ressaltar que, à luz do princípio da
congruência, deve o juiz decidir a lide nos limites em que foi propos-
ta, devendo ser a sentença adstrita aos limites do pedido formulado,
sob pena de incorrer em vício, qual seja, ser “citra”, “ultra” ou “extra
petita”. Ao analisar os pedidos contidos na inicial e a sentença proferida
pelo Magistrado, o Tribunal de origem assim decidiu (fls. 1490/1492 e-STJ):
Além disso, argumento que também está configurada a nulidade da senten-
ça por não apreciação de todos os pedidos da inicial. Nesse sentido, adoto
os fundamentos do bem lançado parecer do Ministério Público ao efeito de
declarar a nulidade da sentença recorrida: Razão assiste à apelante quando
sustenta a nulidade da sentença de fls. 1.160/1.164, em virtude de não ter
analisado a integralidade do pedido de pedido de partilha do patrimônio do
casal à época da ruptura da relação, especialmente dos frutos decorrentes
do crescimento patrimonial das empresas do varão na constância do relacio-
namento. Com efeito, segundo Humberto Theodoro Júnior , é citra petita a
sentença que não examina todas as questões propostas pelas partes, sendo

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imprescindível, ao reconhecimento da mácula do decisório, que tal questão


tenha sido debatida e não solucionada pelo magistrado. Pois bem. Da análise
da peça portal (fls. 02/40) verifica-se que Nara Lúcia arrolou, à fl. 29, os bens
que julgava passíveis de divisão […]. Por ocasião da réplica (fls. 660/679), a au-
tora reiterou a necessidade da produção de provas no intuito de comprovar a
confusão patrimonial operada por Oleg com vistas a fraudar a meação a que
faz jus, tendo ela apontado, também quando da oposição dos aclarató-
rios de fls. 1.165/1.167, que o pedido de partilha dos lucros obtidos com
o crescimento patrimonial das empresas do ex-companheiro, bem como dos
ativos financeiros em nome do par, ambos no período em que as partes man-
tiveram relacionamento estável, não fora apreciado na sentença embargada.
E do exame do decisório singular, mais precisamente das fls. 1.161/1.161 verso,
é possível constatar que, de fato, o MM. Juiz sentenciante limitou-se ao ca-
bimento ou não da partilha do bem imóvel localizado à Rua Doutror Valle,
nesta Capital, desconsiderando o pleito relativo à postulada divisão de todo
o patrimônio conjugal, isto é, dos ativos financeiros em nome do par à época
do fim da união, assim como dos frutos decorrentes do crescimento patri-
monial das empresas do requerido na constância do relacionamento. Dessa
forma, restando configurada a negativa de prestação jurisdicional, afigura-se
impositiva a anulação da sentença hostilizada, devendo o feito retornar à ori-
gem para que o Magistrado decida todas as questões submetidas ao crivo do
Poder Judiciário, já que não aplicável, à espécie, a regra contida no art. 515,
§1º, do Código de Processo Civil , ante a não apreciação, sequer em parte, da
questão controvertida. Por fim, apenas saliento que a impossibilidade de jul-
gamento do processo no estado em que se encontra está calcada na falta de
produção probatória suficiente para se averiguar a possibilidade de partilha
do crescimento financeiro das empresas.
Diante do exposto, dou provimento ao agravo retido para declarar a nuli-
dade do encerramento da instrução sem determinar a produção da prova
pleiteada e acolho a preliminar de nulidade da sentença citra petita, restan-
do, assim, prejudicada a análise do apelo do réu. Com efeito, tendo o juízo
de primeiro grau se omitido quanto à análise do pedido de partilha dos
lucros da empresa, inclusive após a oposição de embargos de declaração,
imperioso concluir pelo acerto do acórdão recorrido. Dessa forma, não ha-

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vendo violação aos artigos apontados, imperioso concluir igualmente pela


incidência da súmula n. 284, do Egrégio STF, visto que a deficiência na fun-
damentação do recurso não permitiu a exata compreensão da controvérsia.
Nesse sentido: AGRAVO INTERNO NO AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO
EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE RESCISÃO DE PROMESSA DE COMPRA
E VENDA. SÚMULA 284/STF. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. SÚMU-
LAS 282/STF E 211/STJ. SÚMULAS 5 E 7/STJ.
Nos termos da Súmula 284 do STF, “É inadmissível o recurso extraordinário,
quando a deficiência na sua fundamentação não permitir a exata compreen-
são da controvérsia.” 2. A invocação de matérias somente em sede de em-
bargos de declaração configura inovação recursal, não admitida pelo siste-
ma jurídico pátrio. 3. Por conseguinte, observa-se que as referidas matérias
não foram objeto de discussão no acórdão recorrido, não se configurando
o prequestionamento, o que impossibilita a sua apreciação na via especial
(Súmulas 282/STF e 211/STJ). 4. Ao analisar a demanda, à vista dos elemen-
tos fático-probatórios constantes dos autos, o Tribunal local concluiu que o
recorrente tinha pleno conhecimento de que os recorridos não eram os pro-
prietários do imóvel alienado no momento da celebração do negócio jurídi-
co, reconhecendo a presença de má-fé em sua conduta. Para desconstituir
a convicção formada pelas instâncias ordinárias a esse respeito, far-se-ia ne-
cessário incursionar no substrato fático-probatório dos autos, bem como na
interpretação de cláusulas contratuais, o que é defeso a este Tribunal nesta
instância especial, conforme se depreende do teor dos Enunciados sumula-
res n. 5 e 7 do STJ. 5. Agravo interno não provido. (AgInt no AgRg no AREsp
649.543/CE, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado
em 14/06/2016, DJe 17/06/2016) PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO
AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. REEXAME DE FATOS E PROVAS. SUMULA 7
DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. DEFICIÊNCIA NA FUNDAMENTAÇÃO.
SÚMULA 284 DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (ANALOGIA). 1. Não cabe,
em recurso especial, reexaminar matéria de fato (Súmula 7/STJ). 2. A defici-
ência na fundamentação atrai, por analogia, a incidência da Súmula 284/STF.
Agravo interno a que se nega provimento.
(AgRg no AREsp 720.282/RJ, Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, QUARTA
TURMA, julgado em 02/06/2016, DJe 08/06/2016)

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Em face do exposto, não havendo o que reformar, nego provimento ao agravo.


Intimem-se. Brasília (DF), 16 de agosto de 2016.
MINISTRA MARIA ISABEL GALLOTTI Relatora” (Grifou-se)

Portanto, meus amados, vocês examinaram quantos institutos nós abordamos


hoje?
• Petição Inicial – Requisitos;
• Decisão – Extra Petita, Ultra Petita e Infra ou Citra Petita;
• Embargos de Declaração; e
• Entendimento Jurisprudencial.

Bons Estudos.
Beijão Carinhoso

Anelise Muniz- Anelise Muniz – Mestranda em Edu-


cação pela UNICID- Universidade Cidade de São Paulo
(2016). Membro do Grupo de Estudos e pesquisas em
Políticas Públicas, Avaliação e Qualidade-Geppaq, sob
a Orientação da Professora Drª Cristiane Machado. Ba-
charel em Direito pelo Centro Universitário do Distrito
Federal – UDF (2006). Especialista em Didática do Ensi-
no Superior pela UNICSUL/UDF (2011). Especialista em
Direito Processual Civil pelo ICAT/UDF (2013). Ex-Chefe
de Gabinete no TRF 1ª Regão. Professora de Graduação do UDF na área de Direito
Civil , Processual Civil e Direito Previdenciário. EX- Coordenadora do Núcleo de
Práticas Jurídicas na Justiça Federal de Brasília. Professora de 1ª fase em Processo
Civil da OAB e 2ª Fase da OAB em Civil. Professora Orientadora de Monografia.
Advogada Atuante nas áreas de Direito Civil e Processo Civil e Direito Previdenciá-
rio. Professora do GRANCURSOS. Membro do Conselho da OAB/DF.

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COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

DIREITO CIVIL: PROFESSOR EDUARDO GALANTE

Olá pessoal. Tudo bem? Revigorados pela aprovação na 1ª fase do Exame de


Ordem? Ratifico os meus cumprimentos de reconhecimento pela aprovação de to-
dos. Eu já sabia que vocês conseguiriam, pois são os melhores. Confiaram no nosso
Projeto e hoje colhem os resultados. Mas ainda não acabou. Temos mais uma etapa
e precisamos manter o foco. Que venha a 2ª fase! Estaremos preparados.
Bem… Sou o Professor Eduardo Galante e estou aqui para trazer algumas di-
cas para a 2ª fase do Exame de Ordem sobre a disciplina Direito Processual Civil,
que fará parte da prova de prática civil.
Nesse contexto gostaria de apresentar um pequeno texto que entendo ser
importante nessa caminhada de preparação como fonte de fortalecimento de
confiança. Leiam…
“Então encontre um caminho para fazê-lo. Qualquer coisa que é considerada
impossível é uma oportunidade esperando para ser descoberta. Imagine o incrí-
vel poder de ser capaz de dizer “EU POSSO” quando todos estão dizendo “Eu
não posso.” Seja a pessoa que irá fazer, e o mundo da oportunidade se abrirá
para você.
É fácil dizer “não”, para evitar o desafio e o esforço. Sucesso vem para aqueles
que dizem “sim”, e em seguida começam a fazer algo. Queixas e desculpas co-
locarão você em um incrível mundo de mediocridade. Ainda que seja impossível
para outros, não tem que ser para você. Receba os desafios, tome a iniciativa.
Sinta a satisfação de fazer o que nunca foi feito antes. Seja conhecido como uma
pessoa que faz a coisas acontecerem e que aceita desafios e dificuldade. Tenha
coragem e inteligência para dizer “Eu consigo fazer””. (Autor desconhecido).
É com essa concepção que temos que nos preparar para o Exame. A dedica-
ção de vocês, as muitas horas de estudo, a confiança nesse projeto de vida, tudo
isso em breve terá como resultado a aprovação de todos. Podem ter certeza: os
nomes de vocês estarão na lista de aprovados do Exame de Ordem. Por parte do
nosso projeto não faltará dedicação e nem instrumentos didático-pedagógicos
para que você estabeleça metas e estratégias vitoriosas.
Uma boa maneira de complementar os estudos para realização da 2ª fase do

246 grancursosonline.com.br
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

Exame de Ordem é utilizarmos a técnica de estudo que preconiza a aprendiza-


gem por meio de sínteses (resumos ou dicas).
Com o intuito de contribuir decisivamente com o seu sucesso o GRANCUR-
SOS oferece excelentes cursos que os ajudarão em todas as fases do Exame.
Agora, apresento a vocês uma série de dicas de prática civil elaborada com
base em pontos recorrentes da prova de 2ª fase. Minha proposta é trazer dicas
sobre assuntos que poderão ser objetos da peça processual a ser cobrada ou das
questões. Em especial e em conjunto com a Coordenação do curso publicarei
informações valiosas sobre os 4 (quatro) assuntos que já foram mais explorados
pelo Exame de Ordem desde a unificação dos certames da OAB. Vamos lá. A pri-
meira série apresentará informações sobre a PETIÇÃO INICIAL.

• PETIÇÃO INICIAL: é o primeiro requerimento formulado pelo autor no


qual concretiza, exteriorizando-o, o exercício do seu direito de ação rom-
pendo a inércia da jurisdição e apresentando os contornos, subjetivos e
objetivos, da tutela jurisdicional por ele pretendida. Ela, como qualquer ato
processual deve observar certos requisitos para que, do ponto de vista
formal, seja bem praticado e, também, viabilize a devida prática dos atos
processuais subsequentes. É o objeto do art. 319, CPC.
• O JUÍZO A QUE É DIRIGIDA: A exigência do inciso I do art. 319 diz respeito
à identificação da competência do órgão jurisdicional. Sua identificação deve
levar em conta as considerações que ocupam das regras de Competência.
• QUALIFICAÇÃO DAS PARTES: O inciso II do art. 319 exige que a petição
inicial decline a qualificação das partes fornecendo seus nomes, prenomes,
estado civil (esclarecendo, se for o caso, a existência de união estável), a
profissão, o número no cadastro de pessoas físicas ou no cadastro nacional
de pessoas jurídicas, o endereço eletrônico, o domicílio e a residência do
autor e do réu. A exigência quer permitir a identificação do réu (ou réus) e
sua qualificação, a mais completa possível, que interfere, importa esclarecer,
em inúmeras questões. Seu endereço, por exemplo, é indicativo da compe-
tência; ser, ou não casado ou viver em união estável, pode impor a forma-

grancursosonline.com.br 247
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

ção de litisconsórcio passivo (necessário) e assim por diante. Caso o autor


desconheça um ou mais dos dados exigidos pelo dispositivo, cabe a ele,
também na inicial, requerer ao magistrado a realização de audiências para
obtê-los (§ 1º), sendo certo que a petição inicial não será indeferida quan-
do a obtenção daquelas informações “tornar impossível ou excessivamente
oneroso o acesso à justiça” (§ 3º). Mesmo não ocorrendo este quadro ex-
tremo, contudo, a falta dos elementos não leva ao indeferimento da inicial
quando, suficiente a identificação do réu, for possível a citação do réu (§ 2º).
• O FATO E OS FUNDAMENTOS JURÍDICOS DO PEDIDO: A petição ini-
cial deverá, em consonância com o inciso III do art. 319, indicar “o fato e os
fundamentos jurídicos do pedido”, isto é, as razões que, do ponto de vista
fático e jurídico, dão fundamento ao pedido.
• O PEDIDO COM AS SUAS ESPECIFICAÇÕES: O pedido exigido pelo
inciso IV do art. 319 é a providência desejada pelo autor que deverá ter
fundamento na causa de pedir, objeto do inciso III. O pedido deve ser certo
(art. 322, caput), no sentido de o autor indicar com precisão o que pretende
em termos de tutela jurisdicional. A regra é que o magistrado não possa
conceder nada além e nem diferente do que foi pedido e pelas razões que
foi pedido. É o princípio da vinculação do juiz ao pedido (art. 492), que
vincula, do ponto de vista objetivo, a qualidade e quantidade de tutela ju-
risdicional passível de ser concedida pelo magistrado. A certeza do pedido
não significa, no CPC de 2015, que ele deva ser interpretado necessária e
invariavelmente de maneira restritiva. O § 2º do art. 322 dispõe que a sua
interpretação considerará o “conjunto da postulação” devendo observar
também o “princípio da boa-fé” (art. 5º). Trata-se de viabilizar ao magistra-
do que leve em conta tudo o que é alegado na petição inicial e, não ne-
cessariamente, no local por ela indicado como “pedido”, evitando, com isto,
contudo, introduzir matéria estranha ao que foi pedido pelo autor, máxime
quando o réu, também de boa-fé, não tiver detectado a questão e, por isto,
não ter exercitado, em plenitude, sua defesa.
• PEDIDOS IMPLÍCITOS: Há exceções à exigência codificada de formulação

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COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

de pedido, o que a doutrina em geral identifica com o nome de “pedidos


implícitos”. São, assim, verdadeiros efeitos anexos das decisões jurisdicionais.
No contexto da petição inicial, importa destacar dois casos: O primeiro está
no § 1º do art. 322, que entende compreendidos no pedido os juros legais,
a correção monetária e as verbas de sucumbência, isto é, o pagamento das
custas e despesas adiantadas ao longo do processo, desde a petição inicial,
pelo autor, e os honorários advocatícios sucumbenciais. A previsão não im-
pede, de qualquer sorte, que o autor postule expressamente sobre específi-
co índice de correção ou de juros, sua forma de fluência e, bem assim, qual
é o percentual dos honorários advocatícios que, à guisa de sucumbência,
entende devido, observando os limites do § 2º ou, conforme o caso, do § 3º
do art. 85. O segundo diz respeito à existência de obrigação em prestações
sucessivas. Neste caso, basta ao autor formular pedido com relação a uma
das prestações. A sentença, como permite o art. 323, incluirá as prestações
inadimplidas na sentença, independentemente de pedido, enquanto durar
a obrigação, desde que elas não sejam pagas ou consignadas durante o
processo. Além de certo, o pedido deve ser determinado, isto é, ele deve
indicar a quantidade e qualidade do que pretende o autor (art. 324, caput).
• EXCEÇÕES A FORMULAÇÃO DE PEDIDO GENÉRICO: As exceções, isto
é, os casos em que é viável a formulação de pedido genérico, estão pre-
vistas no § 1º do art. 324. São elas: (I) ações universais quando o autor não
puder individuar, desde a inicial, os bens a que tem direito (é o caso, por
exemplo, de o autor não saber quais os bens da herança lhe serão destina-
dos); (II) quando não for possível determinar as consequências do ato ilícito
(não se sabe, por exemplo, se um determinado acidente deixará sequelas
no autor e o que será necessário para repará-las, nem seu custo e nem suas
consequências patrimoniais respectivas) e (III) quando a determinação do
objeto (como ocorre, por exemplo, nas obrigações de dar coisa, em que a
escolha cabe ao devedor) ou o do valor da obrigação depender de ato a
ser praticado pelo réu (que tem a obrigação legal, por exemplo, de guardar
extratos e comprovantes de pagamento). Com os olhos voltados para o di-
reito material, o art. 328 dispõe que, na obrigação indivisível com pluralida-

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COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

de de credores, aquele que não participou do processo receberá sua parte,


deduzidas as despesas na proporção de seu crédito. Trata-se, em harmonia
com o caput do art. 260 e com o art. 261 do CC, de interessante regra de
legitimação extraordinária, em que um autor age sozinho (e em nome pró-
prio) em nome dos demais. É possível ao autor formular um só pedido de
tutela jurisdicional ou cumular vários deles, iniciativa que vai ao encontro da
eficiência do processo já que permite, muitas vezes, com a mesma ativida-
de jurisdicional (e a partir da mesma petição inicial), solucionar, de uma só
vez, diversos conflitos envolvendo as mesmas partes, e, até mesmo (como
ocorre nos casos em que há litisconsórcio), outras partes.
• CUMULAÇÃO DE PEDIDOS: As regras de cumulação de pedidos estão
nos arts. 326 e 327. É lícita a cumulação em ordem subsidiária (a doutrina
refere-se a esta espécie de cumulação também como eventual) no sentido
de que o magistrado apreciará um segundo pedido quando não conceder
o primeiro (art. 326, caput). Também é lícito ao autor cumular pedidos alter-
nativos, sem indicar sua preferência por um deles (e se o fizesse, a hipótese
seria de cumulação subsidiária ou eventual), viabilizando, destarte, que o
magistrado conceda um só dos pedidos (art. 326, parágrafo único). Esta hi-
pótese, esclareço, não se confunde com outra bem diversa, que se dá quan-
do a obrigação (analisada no plano material) é, ela própria, alternativa e, por
isto, há, para o réu, mais de uma forma de adimpli-la, cabendo a ele, con-
soante o caso, a escolha sobre a forma de adimplemento, o que é expres-
samente previsto pelo art. 325. Os casos do art. 326 são identificados pela
doutrina em geral como de cumulação imprópria porque, em rigor, dos dois
ou mais pedidos formulados, só um será acolhido, a final, pelo magistrado.
Há também os casos chamados de “cumulação própria de pedidos”, em que
a perspectiva do autor, que os formula em conjunto na petição inicial, é de
vê-los acolhidos todos concomitantemente. Será assim quando a cumula-
ção não depender de nenhuma ordem lógica entre os pedidos (cumulação
simples) porque os pedidos, em última análise, independem uns dos outros
e também quando o acolhimento de um pedido depender do acolhimento
de outro, a ele logicamente anterior. São os casos rotulados pela doutrina de

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cumulação simples e sucessiva, respectivamente.


• REGRAS PARA CUMULAÇÃO DE PEDIDOS: Para os casos de cumulação
de pedidos, importa observar as regras do art. 327: (I) a cumulação é pos-
sível mesmo que entre os pedidos não haja conexão; (II) os pedidos devem
ser compatíveis entre si, a não ser que se trata de cumulação imprópria, no
que é expresso o § 3º do dispositivo; (III) o juízo deve ser competente para
apreciar todos os pedidos; (IV) o procedimento deve ser o adequado para
todos os pedidos, sendo que, havendo disparidade, o autor deve optar pelo
procedimento comum, sem prejuízo da adoção das técnicas diferenciadas
eventualmente existentes para a tutela jurisdicional mais adequada para
algum dos pedidos (§ 2º do art. 327). Ainda sobre o assunto, cabe destacar
que o art. 329 admite que o autor complemente ou altere o pedido e/ou
a causa de pedir até a citação do réu, hipótese em que é desnecessária a
concordância do réu. Desde a citação do réu até o saneamento do proces-
so (art. 357), a complementação ou a alteração do pedido e/ou da causa de
pedir depende da concordância do réu e também que seja assegurado ao
réu o direito de se contrapor ao que inovar no prazo mínimo de quinze dias
e facultando-lhe, também, requerer a produção de prova complementar.
• O VALOR DA CAUSA: A petição inicial deverá indicar o valor da causa
(art. 319, V) que, em geral, corresponde à expressão econômica do direito
reclamado pelo autor. A exigência prevalece mesmo quando o direito sobre
o qual o autor requer que recaia a tutela jurisdicional não tenha expressão
econômica imediata (art. 291). Seja quando se trata de direito que não tem
expressão patrimonial ou quando não for possível ao autor, desde logo,
precisar as consequências do dano e, consequentemente, sua expressão
econômica. Nestes casos, cabe ao autor estimar o valor da causa, justifican-
do sua iniciativa, o que viabilizará adequada manifestação do réu (art. 293)
e do próprio magistrado a este respeito (art. 292, § 3º). O art. 292 indica,
sem pretensão de exaurir o tema, alguns critérios a serem observados pelo
autor para aferição do valor da causa e que devem guiar, no particular, a
elaboração da petição inicial.
• AS PROVAS COM QUE O AUTOR PRETENDE DEMONSTRAR A VER-

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COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

DADE DOS FATOS ALEGADOS: O inciso VI do art. 319 exige do autor a


indicação, na petição inicial, dos meios de prova mediante os quais pre-
tende demonstrar a verdade dos fatos alegados. Embora o CPC de 2015
não tenha trazido nenhuma inovação na exigência, cabe compreendê-la
sistematicamente, como de resto, sempre o foi mais adequado (e correto),
mesmo no âmbito do CPC de 1973. É que a produção da prova documental
deve ser feita com a petição inicial. Não só os documentos tidos como “in-
dispensáveis” pelo art. 320 mas todos e quaisquer documentos que o autor
conheça sobre fatos por ele alegados. É a interpretação que decorre do
caput do art. 434. Idêntica análise merece ser reservada para a ata notarial
(art. 384) da qual o autor já disponha (ou, quando menos, tenha ciência de
existência) no momento de apresentar a petição inicial. Também pode ser
que o autor disponha de trabalho técnico cuja análise seja bastante para
dispensar a prova pericial (art. 472). É o caso de fazê-lo desde a inicial, jus-
tificando sua apresentação desde logo.
• ANTECIPAÇÃO DA PROVA: O inciso VI do art. 319 convida, outrossim,
ao entendimento de que, sendo o caso, o autor indicará, já na inicial, a
necessidade de antecipação da prova para os fins do art. 381. Importa, por-
tanto, entender a regra aqui examinada não só na perspectiva futura de o
magistrado, entendendo que o processo deve ingressar em sua fase instru-
tória, determinar às partes que especifiquem as provas que nela pretendam
produzir, decidindo a seu respeito (art. 357, II) mas também na presente,
de produção imediata de meios de prova pelo autor ou, se for este o caso,
requerer a antecipação de sua produção. O que é inadmissível em um mo-
delo de processo que quer ser cooperativo (art. 6º) é que o dia a dia do
foro continue a reproduzir (e a admitir) os “protestos genéricos” de prova
que nada significam em termos de eficiência processual, como se o instante
procedimental adequado para a produção da prova documental não fosse
a petição inicial. No que é (e continua a ser) claro o caput do art. 434.

• A OPÇÃO DO AUTOR PELA REALIZAÇÃO OU NÃO DE AUDIÊNCIA

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DE CONCILIAÇÃO OU DE MEDIAÇÃO: A última exigência feita pelo art.


319, e que é novidade trazida pelo CPC de 2015, é que a petição inicial reve-
le a opção do autor sobre a realização ou não da audiência de conciliação
ou de mediação (inciso VII). Se o autor manifestar, desde logo, seu desin-
teresse naquela audiência, o réu será citado para apresentar contestação
(art. 335, III). Não há sentido em designar aquela audiência nos casos em
que o autor, desde logo, indica seu desinteresse na conciliação ou na me-
diação. Até porque seu não comparecimento pode ser entendido como ato
atentatório à dignidade da justiça nos moldes do § 8º do art. 334. Trata-se
de interpretação que se harmoniza e que se justifica com o princípio da
autonomia da vontade – tão enaltecido pelo CPC de 2015 – e que, mais es-
pecificamente, preside a conciliação e a mediação. Expresso, nesse sentido,
aliás, o art. 2º, V, da Lei n. 13.140/2015, que disciplina a mediação. Ademais,
de acordo com o § 2º daquele mesmo art. 2º, “ninguém será obrigado a
permanecer em procedimento de mediação”. De outra parte, ainda que o
autor nada diga a respeito da sua opção de participar, ou não, da audiência
de conciliação ou de mediação (quando se presume sua concordância com
a designação da audiência consoante se extrai do § 5º do art. 334), pode
ocorrer de o réu manifestar-se, como lhe permite o mesmo dispositivo,
contra sua realização, hipótese em que a audiência inicialmente marcada
será cancelada, abrindo-se o prazo para o réu apresentar sua contestação,
como determina o inciso II do art. 335.
• OUTRAS EXIGÊNCIAS: Embora o CPC de 2015 nada diga a respeito, inci-
dindo no mesmo equívoco do CPC de 1973, há outras exigências a serem
preenchidas pela petição inicial.
• ASSINATURA: Ela deverá ser datada e assinada por alguém que detenha
capacidade postulatória. A este respeito, destaco o art. 287, segundo o qual
a inicial deverá ser acompanhada, em regra, da procuração outorgada pela
parte ao advogado (privado). As exceções são as do parágrafo único da-
quele dispositivo: quando se tratar de prática de ato urgente, inclusive para
evitar decadência ou prescrição, quando se tratar de representação pela

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COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

Defensoria Pública ou, ainda, quando a representação for institucional, de-


correndo diretamente da CF (como se dá com a advocacia-geral da União
e com o Ministério Público) ou de outros atos normativos (como se dá com
a advocacia pública em geral).
• ENDEREÇO ELETRÔNICO: Os endereços eletrônicos e o não eletrônico
do procurador devem ser indicados, viabilizando, com isto, a correção na
realização das intimações processuais (art. 77, V).
• MODALIDADE DE CITAÇÃO: É pertinente sublinhar também que, não
obstante o silêncio do art. 319, quando comparado com o art. 282 do CPC
de 1973, o autor poderá indicar, na petição inicial, por qual modalidade pre-
tende a citação do réu, observando o que os arts. 238 a 259 disciplinam a
respeito. Se o autor nada requerer a este respeito, a citação será feita com
observância da ordem legal, extraível do art. 246.
• TUTELA PROVISÓRIA: Também pode ser o caso de a petição inicial vei-
cular pedido de “tutela provisória”. Se este for ocaso, cabe ao autor indicar
a ocorrência de seus respectivos pressupostos (art. 300).
• DENUNCIAÇÃO DA LIDE: Se for o caso de denunciação da lide pelo
autor, a inicial deverá justificar a razão pela qual o autor entende trazer ao
processo, desde já, aquele em face de que, na perspectiva do direito ma-
terial (lei ou contrato) entende possuir direito de regresso, que será citado.
• DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA: O § 2º do art.
134 permite ao autor que requeira, já com a inicial, a desconsideração da
personalidade jurídica. A hipótese é, bem entendida, de apresentação de
mais de um pedido em face de um mesmo réu.
• CUSTAS E DESPESAS: Por fim, mas não menos importante, cabe ao autor
demonstrar o recolhimento das custas e das despesas de plano. A sua fal-
ta levará à necessária intimação do procurador para realizá-lo em quinze
dias. Na omissão, será cancelada a distribuição (art. 290) o que equivale a
dizer que a petição inicial não superará o juízo de admissibilidade positivo.
Se o caso for de justiça gratuita – cuja concessão dispensará o pagamento
noticiado –, o requerimento respectivo deverá ser formulado com a petição
inicial (art. 99, caput).
Bem pessoal… Acredito que com essas dicas vocês terão condições de fomen-

254 grancursosonline.com.br
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tar os seus estudos para enfrentar a 2ª fase do Exame de Ordem.


ESTUDAR E TRANSFORMAR!

OBRAS CONSULTADAS PARA ELABORAÇÃO DO PRESENTE RESUMO:


• Novo Código de Processo Civil Comentado, José Miguel Garcia Medina,
2015.
• Novo Código de Processo Civil Anotado, ESA/OAB-RS, 2015.
• Novo Código de Processo Civil Anotado, Cassio Scarpinella Bueno, 2015.
• Novo Código de Processo Civil Comparado, Elpídio Donizete, 2015.
• Novo Código de Processo Civil anotado e Comparado para Concursos, Si-
mone D. Figueiredo, 2015.

Eduardo Galante – Mestre em Direito pela Universida-


de São Carlos, mestrando em Educação pela Universi-
dade da Cidade de São Paulo – UNICID, especialista em
Direito Civil, Direito Processual Civil, Direito Constitucio-
nal, Direito Administrativo e em Direito Penal pela Facul-
dade Processus. Graduado em Direito e em Secretaria-
do. Professor de cursos de pós-graduação e de
graduação em faculdades de Brasília, tendo ministrado
disciplinas, como: Direito Civil, Direito Processual Civil,
entre outras. Ministra cursos preparatórios para concursos públicos e para o Exa-
me da Ordem. É professor em cursos de extensão e de atualização na área jurí-
dica. Palestrante, instrutor e consultor para certames públicos. Servidor Público
há 25 anos.

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DIREITO CIVIL: PROFESSORA RAQUEL BUENO

Caros alunos,
dando prosseguimento ao estudo do Direito Civil para a 2ª fase, vejamos as
dicas de hoje:

DICA 01 – Diante do advento do Código de Processo Civil novo, urge es-


clarecer que, se for cobrada uma peça de contestação, e no enunciado constar
que o réu deseja formular uma pretensão em seu favor, não se pode esquecer
que agora a reconvenção ou pedido reconvencional deve ser formulado no pró-
prio corpo da contestação, após a defesa apresentada. Assim, deve-se seguir
o seguinte percurso: endereçamento, qualificação das partes, resumo dos fatos
na versão do réu (conseqüente impugnação específica dos fatos elencados pelo
autor); questões preliminares (artigo 337 do CPC/15); defesa de mérito (direta e
indireta) e pedido reconvencional.
O encerramento da peça processual ocorre com a conclusão, onde o réu pode
formular pedido de gratuidade de justiça, além do pedido para o acolhimento
das preliminares, e subsidiariamente a improcedência ou procedência parcial dos
pedidos do autor, a depender da realidade fática. Em seguida, faz-se o pleito re-
lacionado à reconvenção, além do pedido de inversão dos ônus de sucumbência.
É possível ainda pleitear a litigância de má-fé da parte autora, caso o enunciado
contenha alguma das hipóteses do artigo 80 do Novo CPC. No mais, o protesto
pela produção de provas, o pleito final de deferimento, local, data e assinatura do
advogado com o número da OAB.
DICA 02 – Imagine que na segunda fase da OAB seja feita a seguinte inda-
gação: como deve proceder a mulher que no curso do divórcio descobre que
o marido inseriu dois imóveis adquiridos onerosamente na constância do casa-
mento (regime da comunhão parcial de bens), em nome da pessoa jurídica da
qual é sócio, tendo tais bens sido excluídos da partilha, em manifesto prejuízo do
cônjuge virago? Resposta na ponta da língua! Incidente de desconsideração
da personalidade jurídica inversa (artigo 133, §2º, do CPC/15), por meio de uma

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petição cujo pólo passivo é ocupado pela pessoa jurídica, que será citada para se
manifestar em 15 dias. Após o julgamento do incidente, será proferida decisão in-
terlocutória agravável. Acolhido o pedido, os tais imóveis serão considerados para
fins de partilha. O CPC/15 trata do tema como nova modalidade de intervenção
de terceiros (artigos 133-137), também admitida no âmbito dos juizados especiais.
DICA 03 – Na ação declaratória de usucapião de imóvel urbano (usucapião
constitucional urbana individual), agora submetida ao procedimento comum, há
uma requisito negativo, qual seja, o usucapiente não pode ser proprietário de
outro imóvel urbano ou rural. Além disso, a metragem da área urbana não pode
ultrapassar duzentos e cinqüenta metros quadrados. O prazo para a configura-
ção desta prescrição aquisitiva são cinco anos, e a finalidade de moradia também
deve ser demonstrada.
Neste contexto, como o usucapiente prova que não tem nenhum outro imó-
vel urbano ou rural no planeta? Prova esta impossível de ser produzida, razão
pela qual é conhecida como prova diabólica. Neste caso, o CPC/15 permite a
inversão do ônus da prova, que será atribuído à outra parte, que reúne melhores
condições de fazer prova em sentido contrário. Fala-se, desta forma, em distribui-
ção dinâmica do ônus da prova. (vide artigo 373, §1º, do CPC/15). Por fim, desta-
que-se que o requisito negativo em tela é exigido também na usucapião especial
urbana coletiva, usucapião constitucional rural e usucapião por abandono de lar.
DICA 04 – Caso o possuidor de boa-fé tenha que devolver o imóvel sobre
o qual exercia posse, em virtude de demanda reivindicatória, terá direito a ser
indenizado pelas benfeitorias empregadas no imóvel? Sim. Segundo o Código
Civil, se ao tempo da retomada do bem pelo verdadeiro titular, as benfeitorias
ainda existirem, o possuidor de boa –fé será indenizado pelas benfeitorias úteis
e necessárias. Até seu efetivo pagamento, terá direito de retenção da coisa prin-
cipal. Ademais, terá direito de levantamento das benfeitorias voluptuárias, se isto
não implicar prejuízo à coisa principal. Se o titular do bem preferir ficar com as
benfeitorias voluptuárias, deverá indenizar o possuidor de boa-fé. O valor da in-
denização será o valor atual.
E o possuidor de má-fé? Este também terá direitos, por incrível que possa

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COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

parecer. Direito a ser indenizado pelo valor de custo das benfeitorias necessá-
rias somente. Não possui direito de retenção até ser indenizado por estas, nem
direito a ser indenizado pelas benfeitorias úteis. Também não possui direito de
levantamento das benfeitorias voluptuárias.
DICA 05 – Infelizmente nosso amigo Marcelo Morreu. Ele vivia em união
estável com Carlos e tinha somente um filho já maior de idade (Júnior), de um
primeiro relacionamento heteroafetivo. Marcelo tinha ainda os pais vivos (Ana e
Adão) e dois irmãos (Marta e Marcos). Todo patrimônio do casal foi adquirido
onerosamente e com esforço comum. Neste caso, como ficaria a divisão patri-
monial post mortem?
Carlos ficará com 50% por cento do patrimônio a título de meação – artigo
1.725 do CC/02), os outros 50% representam a herança, que será dividida entre
Carlos e o filho do de cujus, nos moldes do artigo 1.790, inciso II, do Código Civil,
in verbis: “Art. 1.790. A companheira ou o companheiro participará da sucessão
do outro, quanto aos bens adquiridos onerosamente na vigência da união está-
vel, nas condições seguintes: (…) II – se concorrer com descendentes só do autor
da herança, tocar-lhe-á a metade do que couber a cada um daqueles; (…)” O
ideal então, caso haja necessidade de fazer cálculo, é utilizar o parâmetro 2X/X,
onde 2x é a cota do descendente e 1x é a cota do companheiro(a) sobrevivente.
Assim, se o valor da herança é R$ 150.000,00.

DICA 06 – Maria é pessoa idosa, mas plenamente capaz e lúcida e quer deixar

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um pingente de muito significado emocional para sua melhor amiga Zilda. Além
disso, quer deixar para esta amiga uns lenços coloridos que trouxe da Itália e um
conjunto de copinhos de tequila que trouxe do México. Ocorre que ela não quer ir
ao Cartório e gostaria de uma solução bastante simples e prática para atingir seu
objetivo. Advinha o que vamos indicar para Maria fazer? Isso mesmo! CODICILO,
entendido como uma disposição de última vontade cujo objeto são bens de pe-
quena monta, tratando-se de um documento escrito, digitado ou datilografado,
datado e assinado pelo autor da herança. (artigo 1.881 do CC/02). Lembrem-se que
há doutrinadores que chamam o codicilo de testamento anão ou modalidade de
testamento especial! Outros não lhe reconhecem natureza jurídica de testamento.
DICA 07 – Soraia quer se separar de Diogo, que também concorda com a se-
paração. Como o casal ainda não tem certeza da decisão, não querem o divórcio,
mas tão somente a separação. O casamento durou 05 anos. Desta união nasceu
Miguel, menor impúbere. Todavia, não há qualquer patrimônio a ser partilhado.
Considere que já houve foi firmado acordo judicial acerca da guarda, visitas e
alimentos para o filho. Seria cabível a separação extrajudicial feita em cartório?
Sim. Segundo o novo CPC: “Art. 733. O divórcio consensual, a separação
consensual e a extinção consensual de união estável, não havendo nascituro
ou filhos incapazes e observados os requisitos legais, poderão ser realizados por
escritura pública, da qual constarão as disposições de que trata o art. 731. § 1º
A escritura não depende de homologação judicial e constitui título hábil para
qualquer ato de registro, bem como para levantamento de importância depo-
sitada em instituições financeiras. § 2º O tabelião somente lavrará a escritura se
os interessados estiverem assistidos por advogado ou por defensor público, cuja
qualificação e assinatura constarão do ato notarial.”
Logo, considerando que o instituto da separação foi mantido pelo Novo CPC,
além de haver consenso entre o casal e de já terem sido solucionadas as questões
relativas ao filho incapaz no âmbito judicial, com intervenção do Ministério Públi-
co, fiscal da ordem jurídica, a escritura pública de separação pode sim ser feita em
cartório de notas, sem a exigência de qualquer prazo de duração do casamento.
DICA 08 – Gisele está bastante idosa e com doença degenerativa mental em

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avançado estágio. Não consegue se locomover sem ajuda de terceiros e tem


muita dificuldade de comunicação. Seus dois filhos gêmeos de 29 anos cuidam
dela há muitos anos, desde que sua saúde piorou. Então procuraram um médico
e diante da gravidade do diagnóstico, resolveram promover sua interdição. Como
moram os três na mesma casa, gostariam de poder dividir a tarefa de curador. A
senhora Gisele é viúva e seus pais já são falecidos. Os dois únicos filhos poderiam
ser curadores? Sim, diante da admissibilidade legal expressa da curatela compar-
tilhada no ordenamento jurídico brasileiro (artigo 1.775 e 1.775-A do CC/02, este
último inserido pelo Estatuto da Pessoa com Deficiência).
DICA 09 – Júlio sofre turbação na posse de sua fazenda. Como defender sua
posse de forma extrajudicial e judicial, respectivamente? Caso a turbação seja
presenciada ou exista conhecimento imediato do possuidor, a forma de defesa
extrajudicial que pode ser empregada é a legítima defesa da posse (autotutela =
reação imediata e proporcional). Superado o caráter imediatista da autodefesa,
resta a ação possessória de manutenção de posse, que se submete a um proce-
dimento especial de jurisdição contenciosa, de rito diferenciado caso a ação seja
ajuizada até um ano e um dia da turbação (ação de força nova). Lembre-se que
a ação possessória deve ser ajuizada no foro da situação da coisa, caso se trate
de bem imóvel, hipótese excepcional de competência territorial absoluta
(artigo 47, §2º, do CPC/15).
DICA 10 – A responsabilidade civil exige o preenchimento de três requisitos
essenciais, quais sejam: conduta humana, direta ou indireta, voluntária, positiva
ou negativa, lícita ou ilícita, além do dano ou do nexo causal. Quanto às diversas
classificações de dano, destaca-se o dano moral ou extrapatrimonial, dano este
que atinge e viola direitos da personalidade. Neste contexto, a indenização fixada
tem caráter compensatório (não reparador), devendo ser fixado valor razoável,
que atenda os seguintes requisitos: extensão do dano, capacidade econômica do
ofensor e as finalidades do instituto: finalidade compensatória, punitiva e preven-
tiva ou pedagógica.
O valor deve ser de tal monta que não represente enriquecimento sem causa
da vítima, nem seja tão baixo a ponto de ser irrisório e não causar qualquer deses-

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tímulo ao ofensor. Acerca desta matéria, destaque para a Súmula 362 do Colendo
STJ. Favor não esquecer que o Brasil não adota o sistema tarifado de indenização
para danos morais e que com o novo CPC/15, a parte autora ou reconvinte não
pode deixar o valor da indenização a título de danos morais ao arbítrio do juiz,
devendo indicar o valor que entende devido em sua petição (pedidos e valor da
causa), nos moldes do artigo 292, inciso V.
Bons estudos!

Raquel Bueno – Formada em Direito pela Universida-


de Católica de Brasília, Especialista em Direito Civil e
Processo Civil pela Universidade Cândido Mendes-RJ,
Mestranda em Direito na Universidade Católica de Bra-
sília, professora de Direito Civil da graduação da Uni-
versidade Católica de Brasília e IESB, da pós graduação
em Direito Civil da UniEvangélica de Anápolis-GO e
professora de Direito Civil e Processo Civil do Gran
Cursos Online. Advogada.

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DIREITO CIVIL:
PROFESSOR RODRIGO COSTA

Dicas de como identificar o recurso cabível na hipótese de uma deci-


são interlocutória
Caros colegas, hoje passaremos algumas dicas de como identificar o recurso
correto para impugnar uma decisão interlocutória proferida pelo juiz de primeira
instância.
PRIMEIRO PASSO: devemos identificar que tipo de decisão é aquela cons-
tante da situação hipotética sugerida pelo examinador, sendo que, para tanto,
temos que analisar a norma contida no art. 203 do NCPC, que, em seu § 1º, esta-
belece que sentença é o ato do juiz que, resolvendo ou não o mérito, põe fim à
fase de conhecimento ou de execução.
Por outro lado, o § 2º, do art. 203 do referido código, conceitua decisão inter-
locutória como toda decisão que não encerrar o procedimento na primeira ins-
tância, podendo ter conteúdo de mérito ou de resolução de questão incidental.
Os §§ 3º e 4 º do art. 203 do NCPC conceituam despacho de forma residual,
ou seja, seriam todos os atos do juiz praticados no processo, de oficio ou a reque-
rimento da parte, que não possuam natureza jurídica de sentença ou de decisão
interlocutória.
Dessa forma, verificando de que tipo de decisão se trata, podemos partir para
o SEGUNDO PASSO, qual seja, a identificação do recurso cabível. Se a decisão
a ser impugnada for uma decisão interlocutória, nos termos do art. 203, § 2º do
NCPC, os recursos cabíveis serão, a priori, agravo de instrumento (art. 1.015 ao
1.020 do NCPC) ou recurso de apelação (art. 1.009 ao 1.014 do NCPC), dependen-
do de seu conteúdo, conforme passaremos a abordar.
O NCPC, em seu artigo 1.015, adotou o princípio da irrecorribilidade em sepa-
rado das interlocutórias, também conhecido como princípio da irrecorribilidade
imediata das interlocutórias, segundo o qual, o cabimento do recurso de agravo
de instrumento está vinculado aos casos elencados no referido artigo, que são
taxativos – numerus clausus-, de modo que, todas as demais decisões interlocu-
tórias proferidas nos autos, mas que não se enquadrem num daqueles incisos,
não se sujeitarão à impugnação imediata por meio de agravo de instrumento.

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Analisando o art. 1.015 do NCPC podemos ver os seguintes casos de cabimen-


to de agravo de instrumento:

Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que


versarem sobre: I – tutelas provisórias; II – mérito do processo; III – rejeição
da alegação de convenção de arbitragem; IV – incidente de desconsidera-
ção da personalidade jurídica; V – rejeição do pedido de gratuidade da jus-
tiça ou acolhimento do pedido de sua revogação; VI – exibição ou posse de
documento ou coisa; VII – exclusão de litisconsorte; VIII – rejeição do pedido
de limitação do litisconsórcio; IX – admissão ou inadmissão de intervenção
de terceiros; X – concessão, modificação ou revogação do efeito suspensivo
aos embargos à execução; XI – redistribuição do ônus da prova nos termos
do art. 373, § 1º; XII – (VETADO); XIII – outros casos expressamente referidos
em lei. Par. Único: também caberá agravo de instrumento contra decisões
interlocutórias proferidas na fase de liquidação de sentença, no processo de
execução e no processo de inventário.

Se a situação hipotética constante da questão (peça exigida no cer-


tame) versar sobre uma das hipóteses previstas no art.1.015 do NCPC a
solução terá sido encontrada, destarte, o recurso a ser elaborado será o
agravo de instrumento.

TERCEIRO PASSO: devemos lembrar que o agravo de instrumento será in-


terposto no prazo de 15 dias, nos termos do artigo 1.003, § 5 do NCPC (mesmo
prazo que disporá o agravado para apresentar contraminutas), diretamente no
juízo do tribunal ad quem, em petição que preencha os requisitos constantes no
art. 1.016 do NCPC, quais sejam: os nomes das partes; a exposição do fato e do
direito; as razões do pedido de reforma ou de invalidação da decisão e o próprio
pedido; o nome e o endereço completo dos advogados constantes do processo.
O agravante deverá formular sua pretensão recursal nos termos estabelecidos
pelo art. 1.019 do NCPC e instruirá a petição do agravo de instrumento, obriga-
toriamente, segundo estabelece o inciso I, do art. 1.017 do NCPC, com a cópia
dos seguintes documentos: cópia da petição inicial, da contestação, da petição

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que ensejou a decisão agravada (documentos novos exigidos pelo NCPC), pela
decisão agravada, da certidão da respectiva intimação ou outro documento ofi-
cial que comprove a tempestividade (inserido pelo NCPC), e pelas procurações
outorgadas aos advogados do agravante e do agravado.
O art. 1.018 do NCPC, apesar de dizer que o agravante poderá requerer a
juntada da petição comunicando ao juízo a quo da referida interposição, em seu
§ 3º, prevê expressamente que o descumprimento da exigência constante do §
2º, desde que arguido e provado pelo agravado, importará inadmissibilidade do
agravo de instrumento.
* De acordo com o § 2º, do art. 1.018 do NCPC, referida exigência não se im-
põe em se tratando de autos eletrônicos, nos quais também se dispensa a junta-
da dos documentos exigidos nos incisos I e II do art. 1.017, conforme prevê o § 5º
do mesmo dispositivo legal.
* O § 3º do art. 1.017 prevê que na falta de qualquer peça ou no caso de outro
vício que comprometa a admissibilidade do agravo de instrumento, deve o rela-
tor determinar a intimação do agravante para que o corrija no prazo de 5 dias, e
não mais inadmiti-lo de plano.
QUARTO PASSO: se a decisão interlocutória não se enquadrar nos incisos
elencados no art. 1.015 do NCPC, não desafiará o agravo de instrumento,
todavia, não estará sujeita à preclusão, visto que o agravo retido foi retirado
do nosso sistema jurídico, então, o jurisdicionado, se não estiver satisfeito com
uma decisão interlocutória não atacável por agravo de instrumento proferida
no processo em que for parte, deverá aguardar o momento posterior para
interpor o recurso de apelação. Observação: será a oportunidade em que
poderá arguir sua discordância com a referida decisão interlocutória e pedir sua
reforma, modificação ou revogação, nos termos dos parágrafos do art. 1.009 do
NCPC, que estabelecem o seguinte:
Art. 1.009. Da sentença cabe apelação. § 1º As questões resolvidas na fase de
conhecimento, se a decisão a seu respeito não comportar agravo de instrumento,
não são cobertas pela preclusão e devem ser suscitadas em preliminar de
apelação, eventualmente interposta contra a decisão final, ou nas contrar-
razões.

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A apelação terá cabimento contra sentença que julgue ou não o mérito, bem
como contra decisões interlocutórias não impugnáveis por agravo de instrumen-
to. Essa modalidade recursal está prevista no NCPC do art. 1.009 ao 1.014. Com
o fim do agravo retido, as decisões interlocutórias proferidas na fase de conhe-
cimento que não sejam impugnáveis por agravo de instrumento, deverão ser
impugnadas por meio de preliminar no recurso de apelação.
*Se a decisão interlocutória versar sobre uma das matérias elencadas nos inci-
sos do art. 1.015, a parte deverá interpor agravo de instrumento, sendo que, caso
não o faça, referida decisão sujeitar-se-á aos efeitos da preclusão, não podendo
ser impugnada em preliminar de apelação.
QUINTO PASSO: a apelação será interposta perante o juiz a quo, que pro-
feriu a sentença/decisão interlocutória, em petição escrita, que pode ou não ser
acompanhada de peça de interposição, desde que sejam apresentadas simulta-
neamente. A apelação, conforme regra trazida pelo art. 1.010 do NCPC, conterá:
“I – os nomes e a qualificação das partes; II – a exposição do fato e do direito; III
– as razões do pedido de reforma ou de decretação de nulidade; IV – o pedido
de nova decisão”.
A apelação possui efeito devolutivo e, em regra, efeito suspensivo, conforme
prevê o art. 1.012 do NCPC. O § 1º do referido artigo, traz, entretanto, as exceções
em que a apelação não possuirá efeito suspensivo, que são quando: I – homolo-
ga divisão ou demarcação de terras; II – condena a pagar alimentos; III – extingue
sem resolução do mérito ou julga improcedentes os embargos do executado; IV
– julga procedente o pedido de instituição de arbitragem; V – confirma, concede
ou revoga tutela provisória; VI – decreta a interdição.
*Nos casos supracitados, poderá o recorrente requerer a atribuição de efeito
suspensivo ao recurso de apelação se o apelante demonstrar a probabilidade de
provimento do recurso ou se, sendo relevante a fundamentação, houver risco de
dano grave ou de difícil reparação, por meio de requerimento dirigido ao tribunal,
no período compreendido entre a interposição da apelação e sua distribuição,
ficando o relator designado para seu exame prevento para julgá-la; ou, então,
diretamente ao relator, se já distribuída a apelação (art 1.012, §§ 2º, 3 o e 4º ).

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Em cumprimento ao princípio da primazia pela decisão colegiada de mérito,


o art. 1.013, §§ 3º e 4º, estabelece que se o processo estiver em condições de
imediato julgamento, o tribunal deve decidir desde logo o mérito, quando: I – re-
formar sentença fundada no art. 485; II – decretar a nulidade da sentença por não
ser ela congruente com os limites do pedido ou da causa de pedir; III – constatar
a omissão no exame de um dos pedidos, hipótese em que poderá julgá-lo; IV –
decretar a nulidade de sentença por falta de fundamentação. § 4º Quando refor-
mar sentença que reconheça a decadência ou a prescrição, o tribunal, se possível,
julgará o mérito, examinando as demais questões, sem determinar o retorno do
processo ao juízo de primeiro grau.
*Segundo o § 5º do art. 1.013 do CPC, o capítulo da sentença que confirma,
concede ou revoga a tutela provisória é impugnável na apelação. Outro ponto
importante é o previsto no art. 1.014, segundo o qual as questões de fato não
propostas no juízo inferior poderão ser suscitadas na apelação se a parte provar
que deixou de fazê-lo por motivo de força maior.
Por fim, sem o intuito de exaurir o tema, porém, buscando auxiliá-los em seus
estudos, espero que os assuntos abordados façam a diferença na prova de Exa-
me de Ordem.
Estamos juntos na caminhada do seu sucesso!
Até breve!

Rodrigo Costa – Graduado em Direito pela Universida-


de Católica de Brasília (2001) e Especialista em Direito Pro-
cessual Civil pela ICAT/AEUDF. Tem experiência na área de
Direito, com ênfase em Direitos Civil e Processual Civil.
Professor titular das disciplinas Direito Civil II e V, Direito
Processual Civil IV e Prática Processual Civil II e na Univer-
sidade Católica de Brasília (UCB), nas disciplinas de Direito
Processual Civil II e V e Teoria Geral do Direito Privado

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DIREITO CIVIL:
PROFESSOR EDUARDO GALANTE

“O grande segredo de uma boa vida é encontrar qual é o seu destino. E rea-
lizá-lo” – (Henry Ford)
Olá pessoal. Tudo bem? Vamos dar sequência a nossa preparação para a 2ª
fase do Exame de Ordem? Bem… Sou o Professor Eduardo Galante e estou aqui
para trazer algumas dicas sobre a disciplina Direito Processual Civil, que fará parte
da prova de prática civil.
A dedicação e o compromisso serão os combustíveis da sua vitória, da sua
aprovação. Estudar agora é mais do que uma missão: é a certeza de uma trans-
formação de vida! Pode ter certeza: o seu nome estará entre os aprovados do
Exame de Ordem. Por parte do nosso projeto não faltará dedicação e nem ins-
trumentos didático-pedagógicos para que você estabeleça metas e estratégias
vitoriosas.
Agora, apresento a vocês uma série de dicas de prática civil elaborada com
base em pontos recorrentes da prova de 2ª fase. Minha proposta é trazer dicas
sobre assuntos que poderão ser objetos da peça processual a ser cobrada ou das
questões. Em especial e em conjunto com a Coordenação do curso publicarei
informações valiosas sobre os 4 (quatro) assuntos que já foram mais explorados
pelo Exame de Ordem desde a unificação dos certames da OAB. Vamos lá. Nesta
série apresentarei informações sobre a CONTESTAÇÃO.
A contestação pode e deve ser compreendida como a contraposição formal
ao direito de ação tal qual exercido pelo autor e materializado na petição inicial.
A contestação, neste sentido, contrapõe-se à petição inicial. A contestação é que
veicula o direito de defesa, é ela que exterioriza perante o Estado-juiz o exercício
daquele direito, tanto quanto o “direito de ação” do autor é veiculado pela peti-
ção inicial. Ela se justifica, portanto, não só em função dos princípios da “ampla
defesa” e do “contraditório”, mas também pelo próprio princípio da “isonomia” e
do “acesso à justiça”.

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A contestação é a forma mais ampla da defesa do réu; é, por excelência, o ins-


tante procedimental em que se espera que ele traga concomitantemente todas as
alegações, de ordem processual e de ordem material, que possam ser significativas
para convencer o magistrado a não prestar a tutela jurisdicional pretendida pelo
autor, seja por reconhecer a presença de algum defeito insanável no processo, que
justifica a sua extinção, seja por rejeitar o(s) pedido(s) formulado(s) na inicial. Ela é
regida, por isto mesmo, pelos princípios da “concentração da defesa”, da “eventu-
alidade” e da “impugnação especificada”, no que são claros os arts. 336, 337 e 341.
O princípio da concentração da defesa significa que o réu deve alegar toda a
matéria de defesa, seja ela de cunho processual ou substancial (art. 337), na con-
testação (art. 336). Trata-se de inequívoca decorrência do princípio constitucional
da ampla defesa, que, associado ao princípio constitucional da eficiência proces-
sual, otimiza as defesas a serem apresentadas pelo réu, advertindo-o, porque
expresso, que deve fazê-lo.
O art. 342 robustece-o ao vedar alegações novas pelo réu depois da contes-
tação salvo quando disserem respeito a direito ou a fato superveniente, quando
for cabível a atuação oficiosa do magistrado a seu respeito e quando puderem ser
formuladas a qualquer tempo e grau de jurisdição por expressa autorização legal.
É didático destacar, a propósito deste princípio, o da eventualidade. O “princípio da
eventualidade” significa a possibilidade (e a recomendação) de o réu arguir toda
a defesa possível caso uma ou alguma delas seja rejeitada pelo magistrado. Con-
centra-se a defesa na eventualidade de alguma alegação não vir a ser acolhida
pelo Estado-juiz. É esta a razão pela qual o art. 337, buscando ordenar as defesas,
impõe ao réu que suscite, antes das defesas de mérito (relativas a saber se o autor
é, ou não, merecedor de tutela jurisdicional), as defesas processuais que entender
cabíveis (relativas à possibilidade de o magistrado analisar, ou não, o mérito).
O princípio da impugnação especificada, que se relaciona às defesas de mé-
rito, exige do réu que se manifeste especificamente, precisamente, sobre todos
os fatos alegados pelo autor. Fato não controvertido, friso, é fato passível de ser
reputado verdadeiro (arts. 341, caput, e 374, III) e, como tal, passível de ser aco-
lhido pelo magistrado.

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• Prazo: O prazo para o réu contestar é de quinze dias. O seu termo inicial
depende de variadas hipóteses indicadas no art. 335. A primeira é a de re-
alização de audiência de conciliação ou de mediação à qual as partes ou,
pelo menos uma delas, não comparecem ou em que não houve autocom-
posição. Neste caso, os quinze dias fluirão da data da audiência (art. 335, I).

Quando o réu manifestar seu desinteresse na realização daquela audiência, o


prazo para contestação terá início na data do protocolo da petição respectiva (art.
335, II). Se houver mais de um réu (litisconsórcio passivo) e todos eles manifesta-
rem desinteresse na realização da audiência de conciliação ou de mediação (art.
334, § 6º), o termo inicial para a apresentação da contestação fluirá para cada um
da data de sua respectiva petição (art. 334, § 1º). Não tendo sido designada audi-
ência de conciliação ou de mediação ou em outras situações não alcançadas pelas
hipóteses anteriores, o prazo começa a correr de acordo com as variantes do art.
231 (art. 335, III), quais sejam: (I) sendo a citação pelo correio, da data da juntada,
aos autos, do respectivo aviso de recebimento; (II) sendo a citação realizada por
oficial de justiça (inclusive a por hora certa), da data de juntada, aos autos, do
mandado de citação cumprido; (III) sendo a citação realizada por ato do escrivão
ou chefe de secretaria, da data em que o réu compareceu ao cartório ou secretaria
viabilizando a efetivação da citação (arts. 152, II, e 246, III); (IV) sendo a citação por
edital, do dia útil seguinte ao fim do prazo de sua duração; (V) sendo a citação
realizada por meios eletrônicos, do dia útil seguinte à consulta ao seu teor ou ao
término do prazo para que a consulta se dê; (VI) sendo a citação realizada por car-
ta (de ordem, precatória ou rogatória) da data da juntada da comunicação (ele-
trônica), aos autos do processo em que a carta foi expedida, de seu cumprimento
pelo juízo que a cumpriu ou, não havendo, da juntada, aos autos de origem, da
carta cumprida. Se houver mais de um réu, acrescento, o prazo para citação corre
do último evento citatório de todos os demais, no que é claro o § 1º do art. 231.
Por fim, dispõe o § 2º do art. 335 que, não sendo caso de realização de audiência
de conciliação ou de mediação pela inadmissibilidade de autocomposição sobre
o direito em discussão (art. 334, § 4º, II) e o autor desistir da ação em relação a
litisconsorte passivo ainda não citado, o prazo para contestação correrá da data
de intimação da decisão que homologar a desistência. Preliminares O réu deverá

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apresentar, na sua contestação, toda a matéria de defesa, expondo as razões de


fato e de direito pelas quais impugna o(s) pedido(s) do autor (art. 336). Trata-se
dos já apresentados princípios da “concentração da defesa” e da “eventualidade”.
Também deverá, ainda de acordo com o mesmo art. 336, especificar as provas
que pretende produzir, sendo pertinente, a propósito, lembrar das mesmas conside-
rações que lancei em relação ao inciso VI do art. 319: a prova documental que o réu
já possuir deve ser apresentada com a contestação (art. 434, caput), tanto quanto
eventual ata notarial ou documento técnico apto a dispensar a perícia. Também
caberá ao réu, na contestação, requerer a antecipação de prova, justificando sua ini-
ciativa. O CPC de 2015, preservando no particular o CPC de 1973, separa a matéria
arguível na contestação pelo réu em dois grupos: as defesas relativas ao plano do
processo (e ao exercício da ação) e as defesas relativas ao direito material pleiteado
pelo autor. O primeiro grupo compreende o que a prática do foro conhece como
“preliminares” e que devem, pela sua própria razão de ser, já que dizem respeito à
higidez do processo e ao escorreito exercício do direito de ação, ser arguidas antes
das defesas relativas ao mérito. Se acolhidas, elas conduzem, por isto mesmo, o pro-
cesso à sua extinção sem resolução de mérito (art. 485, I, IV a VII). Novidade do CPC
de 2015, quando comparado com o CPC de 1973, está no rol destas “preliminares”.
O rol do art. 337 é mais extenso que seu similar no CPC de 1973, o art. 300, e isto
se deve fundamentalmente porque o novo Código inovou ao desformalizar várias
manifestações que, até então, por razões históricas, quiçá consuetudinárias ou, pura
e simplesmente, por inércia, exigiam manifestação apartada e/ou diferenciada, in-
confundível com a contestação. Eram as “exceções” e outros incidentes de diversa
ordem que nada traziam de substancial para o eficiente desenvolvimento do pro-
cesso. O CPC de 2015 aboliu a forma, friso, e manteve o conteúdo, realocando-os
como “preliminares” de contestação. De acordo com o art. 337, são as seguintes as
questões a serem arguidas preliminarmente na contestação:

Inexistência ou nulidade da citação


A primeira preliminar é a do inciso I do art. 337: inexistência ou a nulidade da
citação. A citação é indispensável para a formação e o desenvolvimento válido do
processo (os princípios constitucionais do contraditório e da ampla defesa previs-
tos no inciso LV do art. 5º da CF, impõe esta forma de pensar) e, ressalvadas hipó-

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teses legais devidamente justificadas e temperadas à luz de outros princípios, ela


não pode ser dispensada ou, o que é o mesmo ser realizada de maneira irregular.
Quando o réu não é citado (inexistência de citação) ou é citado de forma irregular
(nulidade da citação) cabe a ele arguir a questão em preliminar de contestação.
E muito provavelmente (embora isto não seja necessário), ele o fará a destempo,
justamente pelo defeito que recai sobre a citação.

Incompetência absoluta e relativa


No CPC de 1973, havia uma distinção formal (injustificável, forçoso reconhe-
cer) entre a alegação da incompetência relativa e da incompetência absoluta.
Esta era arguível em preliminar de contestação. Aquela, a relativa, devia ser ar-
guida pelo réu pelo que era chamado de “exceção de incompetência”, cuja apre-
sentação suspendia o processo – e, em rigor, também o prazo para apresentação
da contestação – até ulterior decisão. O CPC de 2015 aboliu aquela “exceção” (e
também as outras duas subsistentes, de impedimento e de suspeição) e passou
a permitir, no inciso II do art. 337, que tanto a incompetência absoluta como a
incompetência relativa sejam arguidas pelo réu em preliminar de contestação.
Aboliu, portanto, uma especial forma de determinadas matérias serem arguidas
em juízo. A matéria em si mesma considerada foi preservada.

Incorreção do valor da causa


Cabe ao réu, em preliminar de contestação (art. 337, III), alegar que o valor da
causa, tal qual indicado pelo autor em sua petição inicial (art. 319, V) é incorreto.
Seja porque ele não representa, a contento, a expressão econômica do(s) pedi-
do(s) formulado(s) pelo autor, seja porque ele se desvia daqueles casos em que
o próprio art. 292 impõe a observância de um valor certo (v. n. 10 do Capítulo 5).
O CPC de 2015 também inova com relação ao ponto. O CPC de 1973 disciplinava
a iniciativa do réu como um incidente processual, que nada acrescentava à efici-
ência processual. É, neste sentido, benvinda a inovação de desformalizar aquela
alegação, transformando-a em mais uma preliminar a ser arguida pelo réu.

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Inépcia da petição inicial


A inépcia da petição inicial, sobre a qual versam os §§ 1º e 2º do art. 330 é
razão para conduzir o magistrado ao indeferimento liminar da inicial, desde que,
como lá escrevi, não seja possível ou efetivada sua emenda ou sanação.

Perempção
A perempção é pressuposto processual negativo que, se presente, inibe a for-
mação e o desenvolvimento válido do processo. É a hipótese de o autor ter for-
mulado o mesmo pedido, com base na mesma causa de pedir em face do réu três
vezes anteriores e ter dado ensejo à extinção do processo sem resolução de mérito
por abandono de causa em cada uma delas. O § 3º do art. 486 veda que o autor
requeira, ao Estado-juiz, pela quarta vez, aquela mesma tutela jurisdicional em face
do réu, ainda que resguarde a ele a possibilidade de alegar seu direito em defesa.

Litispendência e coisa julgada


A litispendência e a coisa julgada, não obstante estarem previstas em dois in-
cisos diferentes do art. 337 (incisos VI e VII, respectivamente), merecem tratamen-
to conjunto. É que, em rigor, ambas representam o mesmo fenômeno e a mesma
consequência jurídica só que em momentos diferentes. A litispendência volta-se à
identificação de duas demandas idênticas em curso concomitantemente. A coisa
julgada também trata da identificação de duas demandas idênticas quando uma
já transitou em julgado. Compreenda, prezado leitor, a palavra demanda, sempre
no sentido da postulação que alguém faz em face de outrem, formulando pedido
de tutela jurisdicional (ou mais de um) por determinada razão relevante para o
direito (ou mais de uma).

Conexão
A conexão é fator que modifica a competência de um juízo para o outro, nos
casos disciplinados pelos arts. 54 e 55. Trata-se, como se lê do art. 54 da hipótese
em que duas demandas, por terem em comum o pedido ou a causa de pedir, de-
vem tramitar perante o mesmo juízo. O objetivo da regra é evitar o proferimento de
decisões conflitantes e, até mesmo, incompatíveis entre si o que é possível (mas ab-
solutamente indesejável) dada a identidade dos elementos de ambas as demandas.

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Incapacidade da parte, defeito de representação ou falta de autori-


zação
O inciso IX do art. 327 trata de pressupostos processuais relativos às partes, ao
se referir à incapacidade da parte, defeito de representação ou falta de autoriza-
ção. É a hipótese de menor não estar devidamente representado ou assistido por
quem de direito (em geral a mãe e/ou o pai); não ter sido apresentada pelo côn-
juge a autorização exigida pelo art. 73; a falta de apresentação de procuração a
advogado (art. 104); a ausência de apresentação dos atos constitutivos de pessoa
jurídica ou, ainda, a não comprovação da regularidade daquele que outorgou os
poderes, em nome de pessoa jurídica, para o advogado agir.

Convenção de arbitragem
Convenção de arbitragem é gênero do qual são espécies a cláusula compro-
missória (cláusula inserida em contratos que prevê, entre os contratantes, a sub-
missão de qualquer ou de um específico litígio a um “juízo arbitral” e não a um
“juízo estatal”) e o compromisso arbitral (convenção firmada entre as partes pela
qual submetem um específico litígio concreto a um “juízo arbitral” e não ao “juí-
zo estatal”). Do ponto de vista do direito processual civil, é mais um pressuposto
processual negativo.

Ausência de legitimidade ou de interesse processual


No que diz respeito ao escorreito exercício do direito de ação pelo autor, ca-
berá ao réu arguir ausência de legitimidade (ativa ou passiva ou ambas) ou ainda,
falta de interesse processual por parte do autor.

Falta de caução ou de outra prestação que a lei exige como preliminar


Por vezes, a lei (processual ou material) exige que seja prestada caução ou ou-
tra prestação para viabilizar o exercício do direito de ação. É o caso, por exemplo,
do art. 83 (autor que residir ou passar a residir fora do Brasil e que aqui não tiver
bens imóveis); do art. 559 (ações possessórias) e do § 2º do art. 641 (nos casos de
colação de bens). São hipóteses que merecem ser tratadas como pressupostos
processuais negativos.

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Indevida concessão do benefício de gratuidade de justiça


A última preliminar prevista no inciso XIII do art. 337 diz respeito ao questio-
namento lançado pelo réu em relação ao benefício da gratuidade de justiça con-
cedida ao autor, que o terá formulado na sua petição inicial ou em algum instante
antes da apresentação da contestação (art. 100, caput). Uma vez mais, o CPC de
2015 descarta a forma exigida até seu advento, revogando expressamente os dis-
positivos da defasada Lei n. 1.060/1950 que, até então, disciplinava o assunto (art.
1.072, III). E o faz sem prejuízo, muito pelo contrário, do conteúdo.

Defesas de mérito
As “defesas de mérito”, também chamadas de “defesas substanciais” não se
voltam a questionar a regularidade do processo em si mesmo considerado ou
do exercício do direito de ação que provocou e anima o exercício da atividade
jurisdicional. Elas, como seu próprio nome sugere, voltam-se ao “direito material”,
ao “conflito de interesses” retratado pelo autor em sua petição inicial, do qual ele
pretende determinadas consequências em face do réu. Elas se voltam, destarte,
ao pedido de tutela jurisdicional formulado pelo autor.
O “mérito” baseia-se necessariamente em pelo menos um fato e nas consequ-
ências jurídicas que, na visão do autor, emanam deste fato e que justificam a pres-
tação da tutela jurisdicional por ele pretendida. Estes fatos e estes fundamentos
jurídicos correspondem (e têm que corresponder, sob pena de inépcia da inicial)
à causa de pedir descrita na petição inicial e conduzem (e têm que conduzir, tam-
bém sob pena de inépcia da inicial) ao pedido.
A defesa a ser apresentada pelo réu nessa perspectiva merece ser estudada
a partir de uma distinção bem aceita pela doutrina. A defesa pode ser direta ou
indireta. A defesa que negar o fato constitutivo do direito do autor ou que negar
as consequências jurídicas pretendidas pelo autor é direta. Em tais casos, a defesa
dirige-se à própria pretensão do autor visando ao desfazimento dos fundamen-
tos de fato e/ou de direito e, consequentemente, de seu pedido. A defesa indire-
ta caracteriza-se pela aceitação dos fatos e das consequências jurídicas trazidas
pelo autor pelo réu. Só que o réu, ao fazê-lo, leva ao processo novos fatos que
têm o condão de extinguir, impedir ou modificar os fatos e/ou as consequências
jurídicas pretendidas pelo autor. São as chamadas “exceções substanciais”, que

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têm o condão de ampliar a matéria cognitiva do magistrado, isto é, o objeto so-


bre o qual recairá o conhecimento do magistrado.
Os fatos impeditivos são os que querem obstaculizar ou retardar a projeção
dos efeitos pretendidos pelo autor em sua inicial. É o que se verifica, por exemplo,
com a chamada “exceção do contrato não cumprido”; a transação com fixação de
novo prazo para pagamento; e com todas as anulabilidades e nulidades dos atos
jurídicos em geral, nos termos das leis de direito material (assim, v.g.: arts. 104 a 165
e 166 a 185 do CC, respectivamente, e arts. 2º a 4º da Lei n. 4.717/1965, a “lei da
ação popular”). São fatos modificativos aqueles que buscam alterar as consequên-
cias jurídicas do direito do autor, como se dá, por exemplo, com a compensação;
com a redução do valor pedido; com a alegação de culpa concorrente na ocor-
rência do dano; no parcelamento da dívida; na transação sobre o objeto litigioso
a que o autor não fez referência; na novação e na cessão de crédito. Por fim, os
fatos extintivos são todos aqueles cuja eficácia elimina o direito do autor, como se
dá, por exemplo, com a existência de outros consortes no período da concepção;
com o pagamento; com a remissão (perdão) da dívida e com a prescrição.
Estes novos fatos, que constituem o fundamento do direito de defesa, corres-
pondem, em tudo e por tudo, à “causa de pedir”. É por esta razão que alguns au-
tores se referem a eles como “causa excipiendi” para evidenciar o seu paralelismo
com aquele outro instituto e dar ênfase à concepção de que o “direito de defesa”
é, por imposição do “modelo constitucional do processo civil”, a contraface do
“direito de ação”. À “causa de pedir” da petição inicial (art. 319, III) corresponde a
“causa de resistir” da contestação (art. 336).
Tanto as defesas diretas como as indiretas, de qualquer sorte, devem ser arti-
culadas concomitantemente na contestação. Também incide aqui o “princípio da
concentração da defesa” ou da “eventualidade” que tem fundamento no art. 336,
robustecido, não é demais lembrar, pela regra do art. 342. Mas não só: incide so-
bre a defesa de mérito o chamado “princípio da impugnação especificada”, que
encontra fundamento no art. 341. A defesa de mérito, seja ela direta ou indireta,
busca tornar controvertidos os fatos narrados pelo autor. Não basta, contudo, que
o réu o faça mediante negativa geral. À luz dos deveres que norteiam a atuação
dos litigantes e em nome da otimização da prestação jurisdicional, é impositivo
que a impugnação dos fatos seja feita de forma ordenada, especificada, para que

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cada um deles possa ser devidamente examinado pelo magistrado e verificado se


ele pode ou não ser considerado para a concessão da tutela jurisdicional ao autor
ou ao réu. É disto que trata o caput do precitado art. 341, segundo o qual cabe ao
réu “manifestar-se precisamente sobre as alegações de fato constantes da petição
inicial” com a consequência de, não o fazendo, serem presumidas verdadeiras.
As exceções com relação à presunção destacada estão nos incisos do art. 341:
(I) quando sobre o fato não impugnado especificadamente não for admissível a
confissão; (II) quando a petição inicial não estiver acompanhada de documento
reputado substancial do ato e (III) quando as alegações do autor, embora não
impugnadas especificadamente, acabarem se mostrando controvertidas com a
defesa “considerada em seu conjunto”.
O parágrafo único do art. 341 afasta do defensor público, do advogado dati-
vo e do curador especial a aplicação da impugnação especificada. Nestes casos,
portanto, embora não seja o ideal, é legítima a “negativa geral”.
Bem pessoal… Acredito que com essas dicas vocês terão condições de fomentar
os seus estudos para enfrentar a 2ª fase do Exame de Ordem com estratégia e afinco.
ESTUDAR E TRANSFORMAR!

Eduardo Galante – Mestre em Direito pela Universi-


dade São Carlos, mestrando em Educação pela Uni-
versidade da Cidade de São Paulo – UNICID, especia-
lista em Direito Civil, Direito Processual Civil, Direito
Constitucional, Direito Administrativo e em Direito Pe-
nal pela Faculdade Processus. Graduado em Direito e
em Secretariado. Professor de cursos de pós-gradua-
ção e de graduação em faculdades de Brasília, tendo
ministrado disciplinas, como: Direito Civil, Direito Pro-
cessual Civil, entre outras. Ministra cursos preparató-
rios para concursos públicos e para o Exame da Ordem. É professor em cursos de
extensão e de atualização na área jurídica. Palestrante, instrutor e consultor para
certames públicos. Servidor Público há 25 anos.

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DIREITO CIVIL:
PROFESSORA PATRÍCIA DREYER

Meus caros alunos, a dica de hoje é sobre Direito do Consumidor. Diante


da nossa sistemática processual civil, torna-se absolutamente necessário conhe-
cer a jurisprudência dos Tribunais Superiores. Vejamos alguns julgados recentes.

1 – Multa aplicada pelo PROCON para condenar banco que insere


cláusulas abusivas no contrato é mantida pelo STJ
Pautado no artigo 57 do CDC, o Ministro Humberto Martins, da Segunda Tur-
ma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) manteve a cobrança de uma multa de R$
3 milhões, estipulada por decisão colegiada (acórdão) do Tribunal de Justiça de
Minas Gerais (TJMG), ao banco Cetelem, por cláusulas abusivas em contratos com
os clientes da instituição financeira.
A multa administrativa foi aplicada pelo Procon de Minas Gerais, após o banco
se negar a assinar termo de ajustamento de conduta (TAC). O órgão entendeu
que ocorreram cobranças indevidas que variavam de R$ 0,15 a R$ 2,00, como
tarifa de administração, taxa de emissão de boleto bancário, tarifa de débito em
conta-corrente, envio de produtos e serviços sem solicitação do consumidor, en-
tre outros.
“A simples presença da cláusula abusiva no contrato é reprovável,
ainda que não haja abuso do poderio econômico do fornecedor, pois a
mera existência da abusividade é danosa à ordem econômica e contrária
às relações de consumo”, afirmou.
Para o Tribunal, a multa fixada pelo Procon é “graduada de acordo com a gra-
vidade da infração, a vantagem auferida e a condição econômica do fornecedor”,
segundo o artigo 57 do CDC. REsp 1539165, em 26 de agosto de 2016.

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2 – Locatária e locadora de veículo respondem por acidente com


danos a ciclista
No campo da responsabilidade civil extracontratual ou aquiliana, quando
ocorre um acidente automobilístico, proprietário e condutor respondem solida-
riamente pelo evento. O proprietário responde porque permitiu que o condutor
utilizasse o veículo que está registrado em nome do proprietário. Aplicando tal
entendimento de forma analógica, a 4ª Turma do Superior Tribunal de Justiça
(STJ) responsabilizou duas pessoas jurídicas, locadora e locatária de veículo, Ouro
Verde Transporte e Locação que alugou o carro para a Concremat Engenharia,
por acidente que provocou graves danos a uma ciclista.
A vítima caiu no chão, fraturou o joelho esquerdo e foi submetida a cirurgia
para implante de pinos e parafusos, perdeu os movimentos normais da perna e
ficou impedida de trabalhar.
Segundo o Tribunal, o guardião do bem ficaria isento da responsabilidade se
a culpa fosse exclusiva da vítima. E a locadora tem responsabilidade quanto aos
danos que o veículo locado causa a terceiros. “Afirmando-se a responsabilidade
da locadora, precedentemente está-se reconhecendo a responsabilidade do lo-
catário. A primeira decorre, na maioria dos casos, da confirmação da segunda”,
explicou Salomão.
Ainda que haja no contrato de locação de veículos cláusula prevendo como
obrigação da locadora a contratação de seguro contra eventos danosos, a de-
sobediência à obrigação não isenta a locatária da responsabilidade. Isso porque
“ainda que cumprida a obrigação de contratar o seguro, este não socorreria a
locatária em eventos como o do caso concreto”. REsp 1354332, em 26 de agosto
de 2016.

3 – Limitação da taxa de juros em 12% ao ano não se aplica aos


contratos bancários
O STJ entende que contratos bancários não se aplica a limitação da taxa
de juros remuneratórios em 12% ao ano. É necessária a demonstração de
que a taxa diverge de forma atípica da média de mercado para a caracterização
de abusividade em sua cobrança.

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Em recurso repetitivo, a Segunda Seção definiu que a importância cobrada


a título de comissão de permanência não poderá ultrapassar a soma dos en-
cargos remuneratórios e moratórios previstos no contrato. Dessa feita, os juros
remuneratórios não podem ultrapassar o percentual contratado para o período
de normalidade da operação; os juros moratórios até limite de 12% ao ano; e a
multa contratual limitada a 2% do valor da prestação, nos termos do artigo 52 do
Código de Defesa do Consumidor (CDC).
“Constatada abusividade dos encargos pactuados na cláusula de comissão
de permanência, deverá o juiz decotá-los, preservando, tanto quanto possível, a
vontade das partes manifestada na celebração do contrato, em homenagem ao
princípio da conservação dos negócios jurídicos consagrado nos artigos 139 e
140 do Código Civil alemão e reproduzido no artigo 170 do CC brasileiro”, afirmou
o ministro João Otávio de Noronha, relator para o acórdão. REsp 1063343, em 25
de agosto de 2016.

4 – STJ reconhece validade da corretagem de imóvel, mas declara


taxa Sati abusiva
A Segunda Seção do Superior Tribunal de Justiça (STJ), por unanimidade, de-
cidiu que é válida a cláusula contratual que transfere ao consumidor a obrigação
de pagar comissão de corretagem na venda imóveis, mas é abusivo impor ao
comprador o pagamento da taxa de Serviço de Assessoria Técnico-Imobiliária
(Sati).
A taxa Sati é o valor cobrado pelas construtoras com base em 0,8% sobre o
preço do imóvel novo adquirido pelo consumidor. A quantia seria destinada aos
advogados da construtora por terem redigido o contrato de compra e venda,
além de corresponder a serviços correlatos do negócio, porque ela é uma mera
prestação de serviços inerente ao contrato. Por outro lado, que eventuais serviços
específicos prestados ao consumidor, como o trabalho de despachantes ou taxas
de serviços cartorários, podem ser cobrados.
A previsão da comissão de corretagem, para ser válida, deve ser informada
de forma prévia e explícita ao adquirente. Se a cobrança da taxa só for informada

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após a celebração do negócio, como estratégia de venda, há flagrante viola-


ção aos deveres de informação e transparência que devem pautar as relações
de consumo. Nestes casos, o consumidor terá assegurado o direito de exigir o
cumprimento da proposta do preço ofertado, não sendo admitida a cobrança
apartada da comissão de corretagem”.
O STJ definiu também que o prazo prescricional para ajuizamento de ações
que questionem a abusividade nas cobranças é de três anos.

5 – Os estabelecimentos comerciais (e outros fornecedores de


bens ou serviços) não podem cobrar mais caro pelo produto caso o
consumidor opte por pagar com cartão de crédito ou com cheque
em vez de pagar com dinheiro
É abusivo o fornecedor de bens e serviços prever preços mais favoráveis para
o consumidor que paga em dinheiro ou cheque em detrimento daquele que
paga em cartão de crédito.
Segundo decidiu o STJ, o preço à vista deve ser estendido também aos con-
sumidores que pagam em cartão de crédito, os quais farão jus, ainda, a eventuais
descontos e promoções porventura destinados àqueles que pagam em dinheiro
ou cheque. STJ. 2ª Turma. REsp 1.479.039-MG, Rel. Min. Humberto Martins.
Se o estabelecimento alegar que o desconto no dinheiro é porque a compra
é à vista, lembre-se que o pagamento por cartão de crédito é modalidade de
pagamento à vista (pro soluto). Isso porque no momento em que é autorizado o
pagamento, extingue-se a obrigação do consumidor perante o fornecedor.

6 – Circunstâncias que gerem a insegurança do produto ou ser-


viço relacionam-se com o fato do produto, ou seja, com acidente de
consumo.
O STJ entende que o conceito de “fato do produto” deve ser lido de forma
mais ampla, abrangendo todo e qualquer vício que seja grave a ponto de ocasio-
nar dano indenizável ao patrimônio material ou moral do consumidor.
Isto quer dizer que se o vício for muito grave a ponto de ocasionar dano ma-
terial ou moral ao consumidor, mesmo o produto/serviço não sendo “inseguro”,
isso poderá configurar “fato do produto/serviço”.

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O aparecimento de grave vício em revestimento (pisos e azulejos), quando


já se encontrava devidamente instalado na residência do consumidor, configura
FATO DO PRODUTO, sendo, portanto, de 5 anos o prazo prescricional da preten-
são reparatória (art. 27 do CDC). STJ. 3ª Turma. REsp 1.176.323-SP, Rel. Min. Villas
Bôas Cueva.

7 – Não é abusiva cláusula contratual de plano privado de as-


sistência à saúde que estabeleça a coparticipação do usuário nas
despesas médico-hospitalares em percentual sobre o custo de tra-
tamento médico realizado sem internação, desde que a copartici-
pação não caracterize financiamento integral do procedimento por
parte do usuário, ou fator restritor severo ao acesso aos serviços.
Segundo o STJ, esta cláusula só será abusiva se esta cláusula será abusiva se a
coparticipação do usuário financiar integralmente o procedimento médico-hos-
pitalar; ou se o percentual exigido do usuário representar, no caso concreto, uma
restrição severa aos serviços médico-hospitalares. STJ. 3ª Turma. REsp 1.566.062-
RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva.

8 – Súmula 572 – O Banco do Brasil, na condição de gestor do Ca-


dastro de Emitentes de Cheques sem Fundos (CCF), não tem a res-
ponsabilidade de notificar previamente o devedor acerca da sua
inscrição no aludido cadastro, tampouco legitimidade passiva para
as ações de reparação de danos fundadas na ausência de prévia co-
municação.
Tema já tratado em nossas dicas, conforme súmula 404, vem agora com a
nominação expressa de que o Banco do Brasil não tem obrigação de notificar o
devedor, mas quem o faz é a própria instituição do cadastro.

9 – Súmula 547 – Nas ações em que se pleiteia o ressarcimento


dos valores pagos a título de participação financeira do consumidor
no custeio de construção de rede elétrica, o prazo prescricional é de
vinte anos na vigência do Código Civil de 1916. Na vigência do Código

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Civil de 2002, o prazo é de cinco anos se houver previsão contratual


de ressarcimento e de três anos na ausência de cláusula nesse sen-
tido, observada a regra de transição disciplinada em seu art. 2.028.
Segundo o STJ, nas hipóteses em que se pleiteia a restituição dos valores in-
vestidos pelo consumidor para a ampliação de rede de eletrificação rural com
base em documento reconhecido como “termo de doação”, o prazo prescricio-
nal aplicável é o vintenário, na vigência do Código Civil de 1916, passando a ser
trienal com a entrada em vigor do atual Código Civil. Se o prazo prescricional
iniciou-se um ano a partir da conclusão das obras, não se justifica a interrupção
da contagem do lapso com base em legislação superveniente.

10 – Súmula 479 – As instituições financeiras respondem objetiva-


mente pelos danos gerados por fortuito interno relativo a fraudes e
delitos praticados por terceiros no âmbito de operações bancárias.
O fortuito interno é inerente ás próprias atividades do prestador de serviços
ou fornecedor de produtos, razão pela qual ele não pode ser esquivar de res-
ponder por situações imprevistas mas possíveis no âmbito dessa atividade, como
fraudes, clonagem de cartões, etc.

Patrícia Dreyer – é graduada em Direito há 14 anos,


pelo UNICEUB, advogada, especialista em Direito Pro-
cessual Civil pela PUC-SP, especialista em Direito Público
e estudante regular do Programa de Doutorado. Profes-
sora de Direito Civil, Direito Processual Civil, Direito do
Consumidor, Estatuto da Criança e do Adolescente e do
Estatuto do Idoso, com experiência em cursos de gradu-
ação, pós-graduação, Academia de Polícia Militar, e pre-
paratórios para concursos públicos e exames de Ordem.

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DIREITO CIVIL:
PROFESSORA ROBERTA QUEIROZ

Oi amores,
vamos conversar mais um pouco sobre nossa prova da OAB que se aproxima,
pois só os fortes escolhem nossas queridíssimas disciplinas de civil e processo
civil… é isso aí, somos demais…
E, especialmente hoje, vamos falar de detalhes trazidos em decisões do STJ…
Então, vamos começar???

LITISCONSÓRCIO NA JURISPRUDÊNCIA DO STJ

Gente, precisamos estar sempre atentos ao que o STJ diz, principalmente de-
pois da inserção no NCPC sobre os precedentes judiciais…
O STJ, recentemente, decidiu sobre litisconsórcio em ação demarcatória e, na
oportunidade, ficou detalhado que é um litisconsórcio facultativo, vejamos:
DIREITO PROCESSUAL CIVIL. HIPÓTESE DE INEXISTÊNCIA DE LITIS-
CONSÓRCIO PASSIVO NECESSÁRIO EM AÇÃO DEMARCATÓRIA. Em ação
demarcatória de parte de imóvel, é facultativo – e não necessário – o litisconsór-
cio passivo entre o réu e os confinantes da área do bem que não é objeto de de-
marcação. Nas demarcatórias parciais, há o litisconsórcio passivo necessário entre
demandante e os vizinhos lindeiros da área específica cuja demarcação é preten-
dida. É essa a única interpretação cabível do disposto no art. 950 do CPC/1973.
Tratamento diverso se dá aos demais confinantes da área que não é objeto de
demarcação, pois, quanto a estes, não há litisconsórcio passivo necessário, ape-
nas facultativo. Nesse sentido, há entendimento doutrinário sobre o art. 950 do
CPC/1973, segundo o qual, “são legitimados passivamente todos os confinantes
da área demarcanda; se a demarcação for parcial, são réus os confinantes da área
a ser demarcada, e não os demais, o que é óbvio”. REsp 1.599.403-MT, Rel. Min.
João Otávio de Noronha, julgado em 23/6/2016, DJe 1/7/2016.

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Interessante essa colocação, pois no NCPC a redação do artigo 574 segue a


linha do artigo 950 do antigo CPC.

DE OLHO NA JURISPRUDÊNCIA DO STJ E HIPOTECA

Ainda, em tempo, vamos observar que o STJ decidiu que “a ausência de regis-
tro da hipoteca em cartório de registro de imóveis não afasta a exceção à regra
de impenhorabilidade prevista no art. 3º, V, da Lei n. 8.009/1990, a qual autoriza
a penhora de bem de família dado em garantia hipotecária na hipótese de dívida
constituída em favor de entidade familiar. A hipoteca é um direito real de garantia
(art. 1.225, IX, do CC) incidente, em regra, sobre bens imóveis e que dá ao credor
o poder de excutir o bem, alienando-o judicialmente e dando-lhe primazia sobre
o produto da arrematação para satisfazer sua dívida. Por um lado, a constituição
da hipoteca pode dar-se por meio de contrato (convencional), pela lei (legal)
ou por sentença ( judicial) e, desde então, já tem validade inter partes como um
direito pessoal. Por outro lado, nos termos do art. 1.227 do CC, só se dá a cons-
tituição de um direito real após a sua inscrição no cartório de registro de imóveis
da circunscrição imobiliária competente. Assim é que essa inscrição confere à
hipoteca a eficácia de direito real oponível erga omnes. Nesse sentido, há enten-
dimento doutrinário de acordo com o qual “Somente com o registro da hipoteca
nasce o direito real. Antes dessa providência o aludido gravame não passará de
um crédito pessoal, por subsistente apenas inter partes; depois do registro, vale
erga omnes“. Se a ausência de registro da hipoteca não a torna inexistente, mas
apenas válida inter partes como crédito pessoal, a ausência de registro da hipo-
teca não afasta a exceção à regra de impenhorabilidade prevista no art. 3º, V, da
Lei n. 8.009/1990.” Esse tema foi discutido no REsp 1.455.554-RN, cujo relator foi
o Ministro João Otávio de Noronha, publicado no DJe em 16/6/2016. A ementa
deste julgado foi “DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. PENHORABILIDADE DE
BEM DE FAMÍLIA IMÓVEL DADO EM HIPOTECA NÃO REGISTRADA” (fonte: STJ)
Informação top…

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COISA JULGADA NO NCPC E JURISPRUDÊNCIA DO STJ

Pessoal, em relação à coisa julgada, temos algumas considerações…


O tema, agora, vem tratado no artigo 502 e seguintes do NCPC.
Temos duas espécies, a coisa julgada formal e a coisa julgada material. A pri-
meira acontece sempre que não couber mais recurso, sendo chamada de pre-
clusão máxima quando ocorrente na decisão final do processo; a coisa julgada
material ocorre somente quando a decisão for definitiva, ou seja, de mérito, e
tiver ocorrido a preclusão máxima.
Outros pontos de destaque sobre a coisa julgada material é que ela produz
efeitos extraprocessuais e, de acordo com o enunciado 436 da FPPC, preen-
chidos os demais pressupostos, a decisão interlocutória e a decisão unipessoal
(monocrática) são suscetíveis de fazer coisa julgada. (FPPC – fórum permanente
de processo civil)
Ainda, observe os seguintes julgados:
• Havendo conflito entre duas coisas julgadas, prevalecerá a que se formou
por último, enquanto não desconstituída mediante Ação Rescisória. (REsp
1.524.123/SC, 30/06/2015)
• A mera alegação de que houve um erro de julgamento não é apta a jus-
tificar a aplicação da teoria da relativização da coisa julgada com vistas a
desconstituir decisão que, em sede de incidente de habilitação de crédito,
fixou equivocadamente os honorários advocatícios com base no § 3º do art.
20 do CPC – quando deveria ter utilizado o § 4º do referido dispositivo –,
ainda que o valor dos honorários seja excessivo e possa prejudicar os de-
mais credores concursais.(REsp 1.163.649, 27/02/2015)

TEORIA DA IMPREVISAO E A JURISPRUDÊNCIA DO STJ

Gente, como estamos nessa pegada, com decisões interessantes do STJ, va-
mos observar que a teoria da imprevisão tem assento no Código Civil.

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Veja que para configuração da teoria da imprevisão e teoria da onerosidade


excessiva é preciso pressupostos de incidência, quais sejam:
1. a) Imprevisibilidade (anormal – objetiva) (imprevistos são subjetivos e não
ensejam teoria da imprevisão)
2. b) Excepcionalidade do fato
3. c) Desequilíbrio entre as prestações (mesmo sem demonstrar “efeito gan-
gorra”)
Sobre o tema, o STJ já decidiu que “tratando-se de relação contratual paritá-
ria – a qual não é regida pelas normas consumeristas –, a maxidesvalorização do
real em face do dólar americano ocorrida a partir de janeiro de 1999 não autoriza
a aplicação da teoria da imprevisão ou da teoria da onerosidade excessiva, com
intuito de promover a revisão de cláusula de indexação ao dólar americano. Com
efeito, na relação contratual, a regra é a observância do princípio pacta sunt ser-
vanda, segundo o qual o contrato faz lei entre as partes e, por conseguinte, impõe
ao Estado o dever de não intervir nas relações privadas. Ademais, o princípio da
autonomia da vontade confere aos contratantes ampla liberdade para estipular
o que lhes convenha, desde que preservada a moral, a ordem pública e os bons
costumes, valores que não podem ser derrogados pelas partes. Desse modo, a
intervenção do Poder Judiciário nos contratos, à luz da teoria da imprevisão ou
da teoria da onerosidade excessiva, exige a demonstração de mudanças super-
venientes das circunstâncias iniciais vigentes à época da realização do negócio,
oriundas de evento imprevisível (teoria da imprevisão) e de evento imprevisível e
extraordinário (teoria da onerosidade excessiva), que comprometam o valor da
prestação, demandando tutela jurisdicional específica, tendo em vista, em espe-
cial, o disposto nos arts. 317, 478 e 479 do CC. Nesse passo, constitui pressuposto
da aplicação das referidas teorias, a teor dos arts. 317 e 478 do CC, como se pode
extrair de suas próprias denominações, a existência de um fato imprevisível em
contrato de execução diferida, que imponha consequências indesejáveis e onero-
sas para um dos contratantes. A par disso, o histórico inflacionário e as sucessivas
modificações no padrão monetário experimentados pelo País desde longa data
até julho de 1994, quando sobreveio o Plano Real, seguido de período de relativa

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estabilidade até a maxidesvalorização do real em face do dólar, ocorrida a par-


tir de janeiro de 1999, não autorizam concluir pela inexistência de risco objetivo
nos contratos firmados com base na cotação da moeda norte-americana, em se
tratando de relação contratual paritária.” (REsp 1.321.614-SP, Rel. Originário Min.
Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. Para acórdão Min. Ricardo Villas Bôas Cueva,
julgado em 16/12/2014, DJe 3/3/2015.) (fonte: STJ)
Veja que imprevistos não ensejam a aplicabilidade da revisão dos contratos no
direito civil, mas o STJ tem aplicado a teoria da quebra da base, usando impre-
vistos para revisão de contratos pautados em relação de consumo, vamos ver?
“A teoria da base objetiva ou da base do negócio jurídico tem sua aplicação
restrita às relações jurídicas de consumo, não sendo aplicável às contratuais pu-
ramente civis. A teoria da base objetiva difere da teoria da imprevisão por pres-
cindir da imprevisibilidade de fato que determine oneração excessiva de um dos
contratantes. Pela leitura do art. 6º, V, do CDC, basta a superveniência de fato
que determine desequilíbrio na relação contratual diferida ou continuada para
que seja possível a postulação de sua revisão ou resolução, em virtude da inci-
dência da teoria da base objetiva. O requisito de o fato não ser previsível nem
extraordinário não é exigido para a teoria da base objetiva, mas tão somente
a modificação nas circunstâncias indispensáveis que existiam no momento da
celebração do negócio, ensejando onerosidade ou desproporção para uma das
partes. Com efeito, a teoria da base objetiva tem por pressuposto a premissa de
que a celebração de um contrato ocorre mediante consideração de determina-
das circunstâncias, as quais, se modificadas no curso da relação contratual, deter-
minam, por sua vez, consequências diversas daquelas inicialmente estabelecidas,
com repercussão direta no equilíbrio das obrigações pactuadas. Nesse contexto,
a intervenção judicial se daria nos casos em que o contrato fosse atingido por
fatos que comprometessem as circunstâncias intrínsecas à formulação do vínculo
contratual, ou seja, sua base objetiva. Em que pese sua relevante inovação, a refe-
rida teoria, ao dispensar, em especial, o requisito de imprevisibilidade, foi acolhida
em nosso ordenamento apenas para as relações de consumo, que demandam
especial proteção. Ademais, não se admite a aplicação da teoria do diálogo das

grancursosonline.com.br 287
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fontes para estender a todo direito das obrigações regra incidente apenas no
microssistema do direito do consumidor. De outro modo, a teoria da quebra da
base objetiva poderia ser invocada para revisão ou resolução de qualquer con-
trato no qual haja modificação das circunstâncias iniciais, ainda que previsíveis,
comprometendo em especial o princípio pacta sunt servanda e, por conseguinte,
a segurança jurídica. Por fim, destaque-se que, no tocante às relações contratu-
ais puramente civis, quer dizer, ao desamparo das normas protetivas do CDC, a
adoção da teoria da base objetiva, a fim de determinar a revisão de contratos,
poderia, em decorrência da autuação jurisdicional, impor indesejáveis prejuízos
reversos àquele que teria, em tese, algum benefício com a superveniência de fa-
tos que atinjam a base do negócio. (REsp 1.321.614-SP, Rel. Originário Min. Paulo
de Tarso Sanseverino, Rel. Para acórdão Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado
em 16/12/2014, DJe 3/3/2015.) (fonte: STJ)
Temas interessantes, né?!
Bom, dia 04/09 e volto com mais temas tops para a prova da OAB…
“Xêro” grande…

Roberta Queiroz – Graduada em Direito pela Univer-


sidade Católica de Brasília em dezembro de 2005; Es-
pecialista em Direito Processual Civil pela Universidade
do Sul de Santa Catarina em novembro de 2009; Mes-
tranda em Direito pela Universidade Católica de Brasí-
lia, com enfoque em direito público; docente nas disci-
plinas de Direito Civil, Direito Processual Civil e Direito
Administrativo desde 2007; docente titular do curso de
Direito da Universidade Católica de Brasília; professora
de cursos preparatórios para concursos; advogada atuante na área de direito
privado e direito administrativo desde 2006.

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DIREITO CIVIL:
PROFESSOR EDUARDO GALANTE

Olá pessoal. Tudo bem? A segunda fase do XX Exame de Ordem se aproxima


e temos muitos motivos para acreditarmos na sua aprovação. Nosso Projeto foi
concebido com muito carinho, profissionalismo, dedicação e principalmente, com
riqueza de informações e conhecimento. Não medimos esforços para trazer o
melhor conteúdo para vocês e mais, não descansaremos para sempre aprimorar
o nosso trabalho e com isso proporcionar a todos um curso à altura dos desafios
do certame. Nosso comprometimento vai além de proporcionar aulas e conteú-
dos. Queremos a sua aprovação, a sua conquista profissional, a sua transforma-
ção de vida.
Nossa parceria tem se mostrado vibrante, rica em propósitos, pautada em
confiança. E é dessa forma que o nosso projeto caminhará. O primeiro passo foi
um sucesso total. Você brilhou e obteve um resultado expressivo na 1ª fase. Agora
iremos para a 2ª fase com a mesma confiança e com a mesma garra. Que venha
a 2ª fase! Estaremos preparados.
Bem… Sou o Professor Eduardo Galante e estou aqui para trazer algumas
dicas para a essa fase do Exame de Ordem e na oportunidade apresentarei con-
teúdo sobre a disciplina de Direito Processual Civil, que fará parte da prova de
prática civil.
Nesse cenário gostaria de apresentar um pequeno texto que entendo ser im-
portante na sua preparação. Leia por favor…
“O aprendizado é a base de todo conhecimento que adquirimos ao longo de
nossa vida profissional, a fonte de nossa motivação, da autoestima, do otimismo
diante das adversidades, o aprendizado é fundamental, é mais, é essencial para
aqueles que buscam se qualificarem em seu posto de trabalho. Existem três tipos
de pessoas: as que deixam acontecer, as que fazem acontecer e as que pergun-
tam o que aconteceu. (John Richardson Jr)”.
Uma boa maneira de complementar os estudos para realização da 2ª fase do
Exame de Ordem é utilizar a técnica de estudo que preconiza a aprendizagem
por meio de sínteses (resumos ou dicas).

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Com o intuito de contribuir decisivamente com o seu sucesso, o GRANCUR-


SOS oferece excelentes cursos que certamente farão a diferença na sua aprova-
ção no Exame de Ordem.
Agora, apresento a vocês uma série de dicas de prática civil elaborada com
base em pontos recorrentes da prova de 2ª fase. Minha proposta é trazer dicas
sobre assuntos que poderão ser objetos da peça processual a ser cobrada ou das
questões. Vamos lá. Hoje falarei do Recurso de Apelação.

APELAÇÃO (ARTS. 1.009 A 1.014 – NCPC)

• Apelação é o recurso cabível contra sentença (art. 1.009, CPC), definida


como “o pronunciamento por meio do qual o juiz, com fundamento nos
arts. 485 e 487, põe fim à fase cognitiva do procedimento comum, bem
como extingue a execução” (art. 203, § 1º, CPC).
• Sua finalidade, como os recursos de maneira geral, é provocar o reexame
da decisão judicial pelo órgão judiciário de segundo grau, com escopo de
sua reforma ou modificação, total ou parcial (art. 1.002, CPC).
• Para sua admissibilidade, não importa se a sentença foi de mérito ou sem
julgamento do mérito, bem como a natureza do procedimento onde foi
prolatada, ou se o processo é de jurisdição voluntária ou contenciosa. En-
tretanto, há que se ressaltar que, se o processo for entre, de um lado, Esta-
do estrangeiro ou organismo internacional e, de outro, Município ou pes-
soa residente ou domiciliada no país, será cabível o recurso ordinário para
o Superior Tribunal de Justiça, que, neste caso, se equipara ao de apelação
(art. 1.027, II, “b”, CPC).
• Há, contudo, decisões que, apesar de constituírem sentença na acepção
verdadeira do termo, não são recorríveis via apelação, por expressa dispo-
sição legal. São elas: sentença proferida no Juizado Especial Cível, recorrível
por meio de recurso inominado (art. 41 da Lei n. 9.099/1995); sentença pro-
ferida pela Justiça Federal no julgamento de causa internacional (na qual
figura em um dos polos Estado estrangeiro ou organização internacional e,

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em outro, Município ou pessoa residente no país), que se sujeitará a recur-


so ordinário; sentença que julga embargos do devedor em execução fiscal
cujo valor seja de até 50 OTNs (Obrigação do Tesouro Nacional), impugná-
vel por meio de embargos infringentes de alçada, nos termos do art. 34 da
Lei n. 6.830/1980 (Lei de Execução Fiscal).
• Cabe ressaltar que esses embargos em nada se assemelham com aque-
les embargos infringentes previstos no art. 530 do CPC/1973 e que foram
suprimidos do ordenamento processual. Por outro lado, o novo CPC não
revoga o art. 34 da LEF. A propósito, nas disposições finais há a seguinte
regra: “Permanecem em vigor as disposições especiais dos procedimentos
regulados em outras leis, aos quais se aplicará supletivamente este Código”.
Resumindo: os embargos infringentes interpostos em face da sentença que
julga embargos interpostos em execução fiscal de valor equivalente a até 50
OTNs continuam firmes e fortes.
• Com escopo de verificar-se o cabimento, ou não, do “recurso de apelação”
num caso concreto, o recorrente deve confirmar se a decisão judicial, da
qual se pretende recorrer “resolve a lide principal”, com ou sem apreciação
de mérito. Caso a decisão judicial da qual se queira recorrer tenha posto
tão somente fim a um incidente, o recurso será o de agravo de instrumento.
• Da mesma forma, é impugnável por agravo de instrumento a “sentença pro-
cessual” que diga respeito a apenas parcela do processo (art. 354, parágrafo
único, CPC), assim como a sentença de mérito parcial (art. 356, § 2º, CPC).
Cabe, ainda, recurso de apelação contra sentença em mandado de segurança,
negando ou concedendo o remédio heroico, decidida por juiz singular (LMS).
• O art. 1.010 do CPC informa que a apelação deve ser interposta por petição
endereçada ao juiz da causa, sendo seus requisitos formais: (I) os nomes e
as qualificações das partes; (II) a exposição do fato e do direito; (III) as ra-
zões do pedido de reforma ou de decretação de nulidade; (IV) o pedido de
nova decisão. Não obstante o declarado no texto legal, estando o recorren-
te e o recorrido já qualificados nos autos, desnecessário contenha a petição
de interposição nova qualificação.

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• Por outro lado, imprescindível apresente o apelante as razões do seu in-


conformismo, demonstrando os vícios e erros da sentença, impugnando os
argumentos que lhe dão arrimo e, finalmente, fazendo pedido expresso ao
órgão ad quem de nova decisão, que reforme total ou parcialmente aquela
expedida pelo juiz de primeiro grau.
• No ato de interposição do recurso, o apelante deverá comprovar, quan-
do exigido pela legislação pertinente (estadual ou federal), o recolhimento
do respectivo preparo, que envolve as custas e despesas, inclusive porte
de remessa e de retorno, sob pena de ter seu recurso declarado deserto,
consoante o art. 1.007 do CPC. A formalização da interposição do recurso
de apelação só ocorre com o efetivo protocolo da petição de interposição,
acompanhada das razões, no protocolo da Comarca. Não basta, a fim de
caracterizar sua tempestividade, o mero despacho com o juiz competente,
sendo necessária a entrega no respectivo cartório.
• O prazo para interposição do recurso de apelação, assim como para apre-
sentar contrarrazões, é de 15 (quinze) dias (art. 1.003, § 5º, CPC). Na con-
tagem de prazo se deve observar apenas os dias úteis, cabendo ao recor-
rente comprovar a ocorrência de feriado local no ato de interposição do
recurso; conta-se o prazo para interposição da data em que os advogados,
a sociedade de advogados, a Advocacia

Pública, a Defensoria Pública ou o Ministério Público são intimados da decisão


(arts. 219 e 1.003, CPC). Litisconsortes com diferentes procuradores, de escritórios
de advocacia distintos, terão os prazos contados em dobro, salvo nos casos de
processo eletrônico (art. 229, CPC).
• Gozam, ademais, de prazo em dobro o Ministério Público, a Advocacia Pú-
blica e a Defensoria Pública (arts. 180, 183 e 186, CPC). Suspende-se o prazo
para interposição do recurso, se “sobrevier o falecimento da parte ou de
seu advogado ou ocorrer motivo de força maior, que suspenda o curso do
processo” (art. 1.004, CPC), devendo tal prazo ser restituído integralmente.
Há, ademais, interrupção do prazo pela interposição de embargos de de-
claração (art. 1.026, CPC). Neste caso, o prazo integral só voltará a correr
depois da intimação da decisão sobre os embargos.

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• Além de obstar o trânsito em julgado da sentença, a apelação, de regra,


tem duplo efeito: o devolutivo e o suspensivo. O efeito devolutivo consiste
na transferência para o órgão ad quem do conhecimento de toda a ma-
téria efetivamente impugnada pelo recorrente e, obviamente, no limite da
impugnação (tantum devolutum quantum appellatum).
• O efeito devolutivo, possibilita conheça o tribunal de todas as questões susci-
tadas e discutidas no processo, mesmo que a sentença não as tenha apreciado
por inteiro. Pode, inclusive, acolher fundamento alternativo da defesa, previa-
mente rejeitado pelo juiz de primeiro grau, ou até julgar o feito, no caso de o
juiz de primeiro grau ter extinto o processo sem julgamento de mérito, se a
questão de fundo for unicamente de direito. Estabelecido o alcance do efeito
devolutivo, fica fácil concluir que o apelante pode recorrer parcialmente quanto
à questão de mérito (princípio dispositivo), sendo que a matéria não impugna-
da transitará em julgado, formando a coisa julgada e possibilitando a execução
definitiva. – Outra conclusão que advém do efeito devolutivo é a proibição da
reformatio in pejus. Com efeito, se a parte contrária se conformou com os limi-
tes da sentença, não pode o recorrente que, no exercício de um direito, busca
a revisão da decisão judicial ter sua situação alterada para pior.
• O efeito suspensivo, por sua vez, impede a eficácia da decisão judicial, man-
tendo a situação decidida, nos limites da matéria impugnada pelo recurso,
no mesmo estado em que se encontra, até nova decisão pelo órgão ad
quem. Embora, de regra, a apelação deva ser recebida no duplo efeito (de-
volutivo e suspensivo), há, segundo norma do art. 1.012 do CPC, algumas
exceções a esta regra geral, quando a sentença recorrida:

I – homologa divisão ou demarcação de terras;


II – condena a pagar alimentos;
III – extingue sem resolução do mérito ou julga improcedentes os embargos
do executado;
IV – julga procedente o pedido de instituição de arbitragem;
V – confirma, concede ou revoga tutela provisória;
VI – decreta a interdição. Diante de requerimento do interessado, o Relator
pode conceder efeito suspensivo às exceções do art. 1.012 do CPC.

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Ressalve-se, ademais, que a Lei no 8.245/91, a chamada Lei do Inquilinato, de-


clara no seu art. 58, V, que os recursos interpostos contra as sentenças proferidas
nas ações de despejo, consignação em pagamento de aluguel e acessórios de
locação, revisionais de aluguel e renovatórias de locação terão somente o efeito
devolutivo.
• Merece, por fim, nota especial a apelação interposta contra sentença que
indeferiu de pronto o pedido do autor (art. 332, CPC) e aquela que indefere
a petição inicial (art. 330, CPC). Em ambos os casos, é facultado ao juiz, no
prazo de 5 (cinco) dias, contados do termo de conclusão, reformar sua de-
cisão. Nestes casos, ocorre a mitigação do efeito devolutivo, uma vez que a
interposição do recurso de apelação possibilita ao próprio juiz prolator da
sentença reformar sua decisão. Havendo reforma da decisão, o processo
terá regular prosseguimento. De outro lado, mantida a sentença, o juiz de-
terminará, em ambos os casos, a citação do réu para responder ao recurso.
• O recorrente pode suscitar na apelação questões de fato não propostas no
juízo de primeiro grau, desde que prove que deixou de fazê-lo oportuna-
mente por motivo de força maior (art. 1.014, CPC). Importante observar, no
entanto, que o referido dispositivo não permite a modificação da causa de
pedir (causa petendi). Sendo assim, desejando o recorrente suscitar ques-
tão nova quando da apelação, deverá ter o cuidado de previamente alegar
e provar o motivo de força maior que dá arrimo a sua pretensão, para, só
então, ter a questão apreciada pelo tribunal. Aplica-se esta mesma norma
para a juntada de novos documentos na apelação, ou seja, deve a parte
justificar os motivos que a impediram de fazê-lo oportunamente. Dispensa
a prova de motivo de força maior a alegação de prescrição, que pode ser
suscitada em qualquer grau de jurisdição (art. 193, CC).
• Formalizada a interposição do recurso de apelação, os autos irão conclusos
ao juiz a quo, que, sem emitir juízo de admissibilidade, determinará a inti-
mação, ou citação (arts. 331, § 1º, e 332, § 4º, CPC), da parte contrária para,
se quiser, apresentar contrarrazões. Havendo recurso adesivo, o juiz deverá
observar o mesmo procedimento, abrindo prazo para a manifestação da
parte contrária. Note-se que a apresentação do recurso adesivo não dis-
pensa a parte de contra-arrazoar o recurso principal.

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• Apresentadas, ou não, as contrarrazões, o juiz determinará a subida dos


autos para o órgão ad quem, onde serão imediatamente distribuídos. Re-
cebidos os autos, o relator nomeado poderá decidi-lo monocraticamente
nas seguintes hipóteses: (I) não conhecer de recurso inadmissível, prejudi-
cado ou que não tenha impugnado especificamente os fundamentos da
decisão recorrida; (II) negar provimento a recurso que for contrário a: (a)
súmula do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça ou do
próprio tribunal; (b) acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou
pelo Superior Tribunal de Justiça em julgamento de recursos repetitivos; (c)
entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas
ou de assunção de competência; (III) dar provimento ao recurso se a de-
cisão recorrida for contrária a: (a) súmula do Supremo Tribunal Federal, do
Superior Tribunal de Justiça ou do próprio tribunal; (b) acórdão proferido
pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em jul-
gamento de recursos repetitivos; (c) entendimento firmado em incidente de
resolução de demandas repetitivas ou de assunção de competência; Não
sendo o caso de decisão monocrática, o relator elaborará seu voto para
julgamento do recurso pelo órgão colegiado.

Espero que tenham gostado. Esse recurso é recorrente em provas do Exame


de Ordem e merece a sua atenção.

ESTUDAR E TRANSFORMAR!

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OBRAS CONSULTADAS PARA ELABORAÇÃO DO PRESENTE RESUMO:


• Novo Código de Processo Civil Comentado, José Miguel Garcia Medina,
2015.
• Novo Código de Processo Civil Anotado, ESA/OAB-RS, 2015.
• Novo Código de Processo Civil Anotado, Cassio Scarpinella Bueno, 2015.
• Novo Código de Processo Civil Comparado, Elpídio Donizete, 2015.
• Novo Código de Processo Civil anotado e Comparado para Concursos, Si-
mone D. Figueiredo, 2015.

Eduardo Galante – Mestre em Direito pela Universi-


dade São Carlos, mestrando em Educação pela Univer-
sidade da Cidade de São Paulo – UNICID, especialista
em Direito Civil, Direito Processual Civil, Direito Consti-
tucional, Direito Administrativo e em Direito Penal pela
Faculdade Processus. Graduado em Direito e em Secre-
tariado. Professor de cursos de pós-graduação e de
graduação em faculdades de Brasília, tendo ministrado
disciplinas, como: Direito Civil, Direito Processual Civil,
entre outras. Ministra cursos preparatórios para concursos públicos e para o Exa-
me da Ordem. É professor em cursos de extensão e de atualização na área jurídi-
ca. Palestrante, instrutor e consultor para certames públicos. Servidor Público há
25 anos.

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DIREITO CIVIL:
PROFESSORA RAQUEL BUENO

Caros alunos,
dando prosseguimento ao estudo do Direito Civil para a 2ª fase, vejamos as
dicas de hoje:

DICA 01 – Olha o que aconteceu com nosso amigo Olavo. Ele adquiriu um
imóvel do amigo Célio em 2010. Todavia, não transferiu o imóvel para seu nome
no registro imobiliário por falta de recursos para o recolhimento de emolumen-
tos cartorários e tributos. Em 2016, quando Olavo resolve fazer a transferência
do bem para seu nome, descobre que há uma constrição judicial sobre o bem
(penhora), oriunda de um processo de execução autônoma promovida por Helen
contra Célio, distribuída em janeiro de 2015, tendo a indicação do bem à penhora
partido da exequente. Diante da referida situação, qual medida judicial você re-
comendaria? EXATO!!! EMBARGOS DE TERCEIRO!
Trata-se de procedimento especial de jurisdição contenciosa, que visa a des-
constituição da constrição judicial indevida. A petição inicial deve ser distribuída
por dependência ao juízo que determinou a constrição, com autuação apartada.
A concessão de liminar para a suspensão das medidas constritivas ou manuten-
ção/reintegração provisória da posse exige requerimento expresso do embar-
gante, e pode ser condicionada à prestação de caução pelo requerente, ou so-
mente ser acolhido o pleito provisório do embargante após audiência preliminar
designada pelo juízo competente.

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DICA 02 – Você já ouviu a triste expressão “carro, arma e mulher” não se em-
prestam. Pois bem. Considere que Judite emprestou seu carro para a amiga Júlia.
Esta, de forma negligente, colide no veículo de Alice. Alice promove demanda inde-
nizatória em face da titular formal da coisa, Judite. Esta apresenta contestação após
frustração da audiência de conciliação/mediação, alegando em preliminar a sua ile-
gitimidade (artigo 337, XI, do CPC/15). Ato contínuo, afirma que o carro fora em-
prestado na data dos fatos e que a responsabilidade é da condutora Júlia (qualifican-
do-a). O magistrado abre prazo para a autora se manifestar. O que você alegaria?
UHUUUUUUUUU! Aplicação do artigo 339 do Novo CPC! Em caso de empréstimo
de veículos, a responsabilidade passa a ser solidária entre comodante e comodatá-
rio! Logo, a autora deve pedir a inserção do nome da condutora também no polo
passivo da demanda, criando uma situação de litisconsórcio superveniente, faculta-
tivo e simples!!!!! Para ratificar a solidariedade ora apontada, segue julgado do STJ:

AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. CIVIL. RESPONSA-


BILIDADE DO PROPRIETÁRIO DO VEÍCULO. DANOS MORAIS. VALOR RAZO-
ÁVEL. RECURSO NÃO PROVIDO. 1. A jurisprudência desta egrégia Corte
se orienta no sentido de considerar que “O proprietário do veículo que
o empresta a terceiros responde solidariamente pelos danos decor-
rentes de sua utilização” (AgRg no Ag 823.567/DF, Relatora Ministra
MARIA ISABEL GALLOTTI, QUARTA TURMA, julgado em 22/09/2015,
DJe de 1º/10/2015). 2. A orientação pacificada no Superior Tribunal de
Justiça é de que o valor estabelecido pelas instâncias ordinárias a título de
indenização por danos morais pode ser revisto nas hipóteses em que a con-
denação se revelar irrisória ou exorbitante, distanciando-se dos padrões de
razoabilidade, o que não se evidencia no presente caso. 3. No caso, não se
mostra desproporcional a fixação em R$ 7.000,00 (sete mil reais) a título de
reparação moral, decorrente das circunstâncias específicas do caso concreto
e do dano sofrido pela vítima do acidente de trânsito, qual seja, incapacidade
permanente parcial para atividades laborais que precisam da movimentação
do ombro esquerdo, motivo pelo qual não se justifica a excepcional interven-
ção desta Corte no presente feito. 4. Agravo interno não provido. (AgRg no
AREsp 814.893/ES, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA, julgado em
03/05/2016, DJe 13/05/2016)

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DICA 03 – A posse é um direito especial sui generis. Além disso, a teoria da


posse adotada no Brasil é a Teoria Objetiva de Ihering. Neste contexto, como fica
a situação do possuidor que é demandado para restituir a coisa reivindicada por
seu real titular ou melhor possuidor? E as benfeitorias aplicadas à coisa principal?
O tratamento da matéria consta dos artigos 1.219-1.222 do Código Civil. Nesse
estudo, destaque para o direito de retenção, que é assegurado ao possuidor de
boa-fé, até ser indenizado pelas benfeitorias (necessárias e úteis) empreendidas
na coisa reivindicada, por seu valor atual. Tal direito não se estende ao possuidor
de má-fé, que só terá o direito de ser indenizado pelas benfeitorias necessárias,
por ser valor de custo, sem direito de ser indenizado pelas benfeitorias úteis, nem
direito de levantamento das benfeitorias voluptuárias. Lembre-se que só será de-
vida a indenização por benfeitorias se elas ainda existirem ao tempo da restituição
da coisa principal. Noutro giro, o direito de retenção do possuidor de boa-fé não
é absoluto. Sobre esta temática, segue interessante precedente do Colendo STJ:

“DIREITO CIVIL. DIREITO DE PROPRIEDADE. POSSE DE BOA-FÉ. DIREITO DE


RETENÇÃO QUE SE TORNAR IRREGULAR COM O USO DA COISA. DEVER
DO RETENTOR DE INDENIZAR O PROPRIETÁRIO COMO SE ALUGUEL HOU-
VESSE. – O direito de retenção assegurado ao possuidor de boa-fé não é ab-
soluto. Pode ele ser limitado pelos princípios da vedação ao enriquecimento
sem causa e da boa-fé objetiva, de forma que a retenção não se estenda
por prazo indeterminado e interminável. – O possuidor de boa-fé tem o
direito de detenção sobre a coisa, não sendo obrigado a devolvê-la até que
seu crédito seja satisfeito, mas não pode se utilizar dela ou perceber seus
frutos. Reter uma coisa, não equivale a servir-se dela. O uso da coisa retida
constitui abuso, gerando o dever de indenizar os prejuízos como se aluguel
houvesse. – Afigura-se justo que o proprietário deva pagar pelas acessões
introduzidas, de boa-fé, no terreno e que, por outro lado, os possuidores
sejam obrigados a pagar um valor, a ser arbitrado, a título de aluguel, pelo
uso do imóvel. Os créditos recíprocos haverão de ser compensados de for-
ma que o direito de retenção será exercido no limite do proveito que os
retentores tenham da propriedade alheia. Recurso Especial provido. (REsp
613.387/MG, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado
em 02/10/2008, DJe 10/12/2008)

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DICA 04 – Analise o seguinte cotejo entre a sucessão da companheira e do


cônjuge sobrevivente:

Será que o tratamento sucessório acima é desigual, injusto e inconstitucional?


Isso é o assunto do momento que começou a ser decidido pelo Excelso STF no
último dia 31/08/2016! Houve pedido de vista do Ministro Dias Toffoli, no para-
digmático julgamento do RE 878694. Então vamos aguardar e torcer pela vitória
do voto do Relator Ministro Luís Roberto Barroso, que acolheu a pretensão de
inconstitucionalidade do artigo 1.790 do CC/02, com modulação de efeitos (efi-
cácia ex nunc).

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DICA 05 – Meus amores! Qual a diferença entre a culpa concorrente e a culpa


exclusiva da vítima no estudo da responsabilidade civil, no tocante aos efeitos?
A culpa exclusiva da vítima implica no rompimento do nexo causal, com a exclu-
são da responsabilidade civil. Tal excludente pode ser invocada em relações con-
sumeristas, nas hipóteses de responsabilidade civil contratual e extracontratual,
subjetiva e objetiva (exceto no caso de aplicação da Teoria do Risco Integral). Já
a culpa concorrente não exclui a responsabilidade civil, mas atenua o nexo cau-
sal, implicando em redução do quantum indenizatório. É o que se depreende do
artigo 945 do Código Civil, in verbis: “Art. 945. Se a vítima tiver concorrido culpo-
samente para o evento danoso, a sua indenização será fixada tendo-se em conta
a gravidade de sua culpa em confronto com a do autor do dano.”
DICA 06 – JULIETA, pessoa solteira, foi acionada judicialmente pelo Banco
MERCENARIUM (execução de título executivo extrajudicial). Durante a tramitação
da execução, foi ordenada a penhora de um bem imóvel encontrado em nome de
Julieta. Ocorre que este é o único imóvel de titularidade da exequente, onde ela
reside. Em sua defesa, como Julieta perdeu o prazo de embargos à execução (15
dias a contar da juntada do mandado de citação cumprido), resolveu apresentar
uma objeção de pré-executividade, alegando a impenhorabilidade do bem de fa-
mília legal (Lei n. 8.009/90), matéria de ordem pública. O Banco, em contrapartida,
alegou que tal benefício não poderia ser invocado pela exequente, uma vez que
se trata de pessoa solteira, visando a lei mencionada a proteção do bem de família.
Que advogado maluco e desatualizado! Não se esqueçam de ler as Súmulas
dos Tribunais Superiores, meus amores!!!!! Principalmente diante do novo CPC,
que estabelece o microssistema de precedentes obrigatórios!!!!! (artigo 927).
Dentro desta temática de impenhorabilidade do bem de família legal, destaque
para duas súmulas do Tribunal da Cidadania:

SÚMULA 364 – “O CONCEITO DE IMPENHORABILIDADE DE BEM DE FAMÍLIA


ABRANGE TAMBÉM O IMÓVEL PERTENCENTE A PESSOAS SOLTEIRAS, SEPA-
RADAS E VIÚVAS.”
SÚMULA 486 – impenhorável o único imóvel residencial do devedor que esteja
locado a terceiros, desde que a renda obtida com a locação seja revertida para
a subsistência ou moradia da sua família”.

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DICA 07 – No estudo das modalidades de intervenção de terceiros, lem-


bre-se que houve alterações significativas no novo CPC. O CPC/73 previa as se-
guintes modalidades: assistência, nomeação à autoria, oposição, denunciação da
lide e chamamento ao processo. Já o novo CPC excluiu a nomeação à autoria,
deslocou a oposição para o capítulo dos procedimentos especiais de jurisdição
contenciosa, manteve a denunciação da lide com alterações importantes no seu
tratamento jurídico, manteve o chamamento ao processo e inclui duas novas mo-
dalidades na categoria de intervenção de terceiros, quais sejam: o amicus curiae
e a desconsideração da personalidade jurídica. Estas duas últimas são também
admitidas no âmbito dos juizados especiais, novidade esta relevante!!!!
DICA 08 – Às vezes o jurisdicionado promove uma demanda, mas não pode
esperar para obter a resposta jurisdicional apenas no final do processo, por meio
da sentença, com cognição exauriente e ampla dilação probatória. Assim, diante
de situações de urgência, desde que demonstrada a probabilidade do direito in-
vocado, bem como o risco/perigo de dano/ilícito ou ao resultado útil do processo,
poderá requerer a tutela jurisdicional do Estado em caráter provisório e anteci-
pado (satisfativo) ou cautelar (assecuratório). Tais medidas podem ser concedidas
de forma antecedente ou incidental. Além disso, o magistrado pode concedê-las
inaudita altera pars (sem oitiva prévia do réu), após audiência de justificação ou
mediante caução. Na verdade, o que se percebe, é uma verdadeira tentativa do
novo CPC, de criar um regime jurídico único para as tutelas provisórias de urgên-
cia, todavia, respeitando suas manifestas diferenças.

DICA 09 – Professora Raquel!!! Socorro! Quais as princi-


pais diferenças entre impugnação e embargos à execu-
ção?

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Calma! Se liga aí, no meu esquema:

DICA 10 – a servidão é um direito real sobre coisa alheia (gratuito ou one-


roso), que exige a coexistência de pelos menos dois imóveis de donos distintos:
imóvel serviente e imóvel dominante. O titular do primeiro sofre limitações em
seu direito de propriedade em proveito do titular do imóvel dominante. Uma das
curiosas formas de aquisição deste direito real é por meio da usucapião, nos ter-
mos do artigo 1.379 do CC/02, abaixo:

Art. 1.379. O exercício incontestado e contínuo de uma servidão aparente, por


dez anos, nos termos do art. 1.242, autoriza o interessado a registrá-la em seu
nome no Registro de Imóveis, valendo-lhe como título a sentença que julgar
consumado a usucapião.
Parágrafo único. Se o possuidor não tiver título, o prazo da usucapião será de
vinte anos.

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Este prazo de 20 anos está correto? Muito estranho, porque para adquirir a
propriedade de imóvel via usucapião, o prazo máximo do CC/02 é de 15 anos.
Verdade! Quando o CC/02 entrou em vigor, houve a redução dos prazos prescri-
cionais e esqueceu-se de alterar a parte da servidão, pronto falei! Mas no intuito
de corrigir tal problema, há o Enunciado 251, da III Jornada de Direito Civil, que
se segue:

251 – Art. 1.379: O prazo máximo para o usucapião extraordinário de servi-


dões deve ser de 15 anos, em conformidade com o sistema geral de usuca-
pião previsto no Código Civil.

Gostaram? Então cola comigo! Bons estudos e fiquem com Deus!

Raquel Bueno – Formada em Direito pela Universi-


dade Católica de Brasília, Especialista em Direito Civil
e Processo Civil pela Universidade Cândido Mendes-RJ,
Mestranda em Direito na Universidade Católica de
Brasília, professora de Direito Civil da graduação da
Universidade Católica de Brasília e IESB, da pós gra-
duação em Direito Civil da UniEvangélica de Anápo-
lis-GO e professora de Direito Civil e Processo Civil do
Gran Cursos Online. Advogada.

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DIREITO CIVIL:
PROFESSOR RODRIGO COSTA

Identificação do Recurso cabível da decisão que inadmite o pro-


cessamento do Resp e/ou Re no NCPC
Caros colegas, hoje a dica que darei diz respeito ao recurso cabível da decisão
que inadmite o Recurso Especial e/ou o Recurso Extraordinário, pois, no CPC/73,
da decisão que inadmitisse os referidos recursos, cabia o recurso de agravo nos
próprios autos, a ser interposto no prazo de dez dias, conforme estabelecia a
norma disposta no art. 544 do referido regramento jurídico, vejamos:

Art. 544. Não admitido o recurso extraordinário ou o recurso especial, caberá


agravo nos próprios autos, no prazo de 10 (dez) dias.
• 1º O agravante deverá interpor um agravo para cada recurso não admitido.
• 2º A petição de agravo será dirigida à presidência do tribunal de origem,
não dependendo do pagamento de custas e despesas postais. O agravado
será intimado, de imediato, para no prazo de 10 (dez) dias oferecer resposta,
podendo instruí-la com cópias das peças que entender conveniente. Em se-
guida, subirá o agravo ao tribunal superior, onde será processado na forma
regimental.

Analisando o dispositivo supracitado verifica-se que a decisão que inadmitisse


os Recursos Especial e/ou Extraordinário seria atacada pelo agravo nos próprios
autos, independente da fundamentação utilizada pelo Presidente ou Vice do tri-
bunal a quo.
Sobre o tema, cabe ressaltar que após a interposição dos referidos agravos
nos próprios autos, o julgador, no tribunal a quo, após ouvir o agravado, deter-
minaria a remessa dos autos ao STJ e após, se não estivesse prejudicado, ao STF,
conforme estabelecia o § 2º, do art. 544.
Assim, não seria realizado qualquer juízo de admissibilidade e/ou de retrata-
ção pelo referido magistrado no tribunal a quo, o qual determinaria a remessa
dos autos ao tribunal ad quem em todos os casos, uma vez que, conforme previa

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o paragrafo 4, do art. 544, o juízo de admissibilidade do referido agravo seria


feito pelo relator, no tribunal ad quem (STJ ou STF).

O NCPC acabou com o sistema bipartide do juízo de admissibilidade re-


cursal (adotado pelo CPC/73), exceto para os recursos excepcionais (Resp
e Re), que atualmente são os únicos que sofrem duplo juízo de admissi-
bilidade, sendo, o primeiro, que é provisório, realizado pelo tribunal de
origem, e, o segundo, que é definitivo, pelo STF ou pelo STJ, sendo que,
contra a decisão que inadmite os recursos excepcionais, ou seja, contra a
decisão que faz um juízo provisório negativo da admissibilidade, caberá
agravo em recurso especial e/ou extraordinário ou agravo interno, depen-
dendo da fundamentação utilizada pelo Presidente ou pelo Vice em seu
juízo de prelibação negativo, conforme passaremos a esmiuçar.

O NCPC, em seu artigo 1.042, que trata do recurso de agravo contra decisão
que inadmite o resp e/ou re, estabelece o seguinte:

Art. 1.042. Cabe agravo contra decisão do presidente ou do vice-presidente do


tribunal recorrido que inadmitir recurso extraordinário ou recurso especial, salvo
quando fundada na aplicação de entendimento firmado em regime de re-
percussão geral ou em julgamento de recursos repetitivos. Grifei

• 1º Revogado
• 2º A petição de agravo será dirigida ao presidente ou ao vice-presidente do
tribunal de origem e independe do pagamento de custas e despesas postais,
aplicando-se a ela o regime de repercussão geral e de recursos repetitivos,
inclusive quanto à possibilidade de sobrestamento e do juízo de retratação.
• 3º O agravado será intimado, de imediato, para oferecer resposta no prazo
de 15 (quinze) dias.

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• 4º Após o prazo de resposta, não havendo retratação, o agravo será re-


metido ao tribunal superior competente.
• 5º O agravo poderá ser julgado, conforme o caso, conjuntamente com o
recurso especial ou extraordinário, assegurada, neste caso, sustentação oral,
observando-se, ainda, o disposto no regimento interno do tribunal respectivo.
• 6º Na hipótese de interposição conjunta de recursos extraordinário e
especial, o agravante deverá interpor um agravo para cada recurso
não admitido.
• 7º Havendo apenas um agravo, o recurso será remetido ao tribunal compe-
tente, e, havendo interposição conjunta, os autos serão remetidos ao Supe-
rior Tribunal de Justiça.
• 8º Concluído o julgamento do agravo pelo Superior Tribunal de Justiça e, se
for o caso, do recurso especial, independentemente de pedido, os autos se-
rão remetidos ao Supremo Tribunal Federal para apreciação do agravo a ele
dirigido, salvo se estiver prejudicado.

Analisando o referido dispositivo legal, com a redação inserida pela Lei n.


13.256/16, verificamos que o recurso de agravo nos próprios autos será o recurso
cabível da decisão que inadmitir o processamento do Resp e/ou do Re se o fun-
damento utilizado pelo Presidente ou pelo Vice no tribunal a quo, no ato do juízo
de prelibação dos referidos recursos, for qualquer outro que não o decor-
rente de aplicação de entendimento firmado em regime de repercussão
geral ou em julgamento de recursos repetitivos, pois, se o fundamento
utilizado for um desses dois (entendimento firmado em regime de re-
percussão geral ou julgamento de recursos repetitivos) o recurso cabível
será o agravo interno e não mais o agravo nos próprios autos, conforme
se depreende da norma disposta na parte final do caput do art. 1.042 c/c
1.030 do NCPC.

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O agravo da decisão que inadmite o Resp e/ou Re (art. 1.042), será dirigido
ao Presidente ou Vice-Presidente do tribunal de origem, no prazo de 15
(quinze) dias, por meio de petição escrita, sendo que não é necessário
o recolhimento de preparo, segundo o § 2º do referido artigo.

Gize-se que será oportunizado o exercício do contraditório, por meio de aber-


tura de prazo para o recorrido apresentar contrarrazões (art. 1.042, § 3º, NCPC), o
Presidente ou Vice-Presidente deverá, caso não exerça o juízo de retratação,
remeter os autos ao tribunal superior competente (art. 1.042, § 4º, CPC).
Ressalte-se, ainda, que no CPC/73 não havia possibilidade de o Presidente e/
ou Vice exercerem juízo de retratação após a interposição do agravo nos pró-
prios autos, o que agora está previsto expressamente no paragrafo supracitado.
Vale lembrar que caso tenha interposto Recurso Extraordinário e Recurso Es-
pecial, o agravante deverá interpor um agravo para cada recurso não admitido
pelo tribunal de origem (art. 1.042, § 6º, CPC).
Recebido pelo tribunal superior, o agravo será distribuído ao relator, que po-
derá julgá-lo monocraticamente, nos termos do art. 932 do NCPC. Vale ressaltar
que é cabível agravo interno da decisão monocrática do relator que negar, deci-
dir ou não conhecer o agravo nos próprios autos (art. 1.021 do CPC).

Do cabimento de agravo interno da decisão que inadmite o Resp


e/ou o Re:

O NCPC alterou significativamente esse tema, ao afirmar, em alguns dispo-


sitivos, como, por exemplo, no art. art. 1.030, inciso I, alínea “a”, após alteração
legislativa inserida pela Lei n. 13.256/16, que da referida decisão do Presidente ou
Vice-Presidente, que recebe o recurso extraordinário e nega o seu seguimento,
caberá agravo interno e não agravo nos próprios autos, vejamos:

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Art. 1.030. Recebida a petição do recurso pela secretaria do tribunal, o recorrido


será intimado para apresentar contrarrazões no prazo de 15 (quinze) dias, findo
o qual os autos serão conclusos ao presidente ou ao vice-presidente do tribunal
recorrido, que deverá:
I – negar seguimento:
1. a) a recurso extraordinário que discuta questão constitucional à qual o Su-
premo Tribunal Federal não tenha reconhecido a existência de repercussão geral
ou a recurso extraordinário interposto contra acórdão que esteja em conformi-
dade com entendimento do Supremo Tribunal Federal exarado no regime de
repercussão geral;
2. b) a recurso extraordinário ou a recurso especial interposto contra acórdão
que esteja em conformidade com entendimento do Supremo Tribunal Federal
ou do Superior Tribunal de Justiça, respectivamente, exarado no regime de julga-
mento de recursos repetitivos;
II – encaminhar o processo ao órgão julgador para realização do juízo de re-
tratação, se o acórdão recorrido divergir do entendimento do Supremo Tribunal
Federal ou do Superior Tribunal de Justiça exarado, conforme o caso, nos regimes
de repercussão geral ou de recursos repetitivos;
III – sobrestar o recurso que versar sobre controvérsia de caráter repe-
titivo ainda não decidida pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Supe-
rior Tribunal de Justiça, conforme se trate de matéria constitucional ou
infraconstitucional;
IV – selecionar o recurso como representativo de controvérsia constitucional
ou infraconstitucional, nos termos do § 6º do art. 1.036;
V – realizar o juízo de admissibilidade e, se positivo, remeter o feito ao Supre-
mo Tribunal Federal ou ao Superior Tribunal de Justiça, desde que:
1. a) o recurso ainda não tenha sido submetido ao regime de repercussão
geral ou de julgamento de recursos repetitivos;
2. b) o recurso tenha sido selecionado como representativo da controvérsia;
3. c) o tribunal recorrido tenha refutado o juízo de retratação.

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• 1º Da decisão de inadmissibilidade proferida com fundamento


no inciso V caberá agravo ao tribunal superior, nos termos do art.
1.042.
• 2º Da decisão proferida com fundamento nos incisos I e III caberá
agravo interno, nos termos do art. 1.021. grifei

Dica: O agravo interno é cabível contra decisões monocráticas proferidas no


âmbito dos tribunais, seja quem for que a tenha proferido. Não obstante o art.
1.021 do CPC aduzir que seja cabível agravo interno apenas contra decisões uni-
pessoais proferidas pelo Relator, ele é cabível, também, quando a autori-
dade que decide for Vice-Presidente, Relator ou mesmo Presidente do
tribunal.
Ressalte-se que apesar da regra contida na Lei n. 8.038/90, que prevê o prazo
de cinco dias para a interposição de agravo interno perante o STF e o STJ, o art.
1.070 do NCPC aduz que o prazo para a interposição de qualquer agra-
vo, seja previsto por lei ou regimento interno de tribunal, será de quinze
dias.
No agravo interno, o recorrente deverá impugnar de maneira específica todos
os fundamentos da decisão agravada, regra essa contida no § 1º do art. 1.021 do
NCPC. Dirigido ao Presidente ou ao Vice- Presidente que proferiu a decisão, este
abrirá prazo para contrarrazões da parte contrária, pelo prazo de 15 dias, confor-
me o § 2º do art. 1.021 do NCPC. O agravo interno dispensa o recolhimento de
preparo, uma vez que seu custo já estaria embutido no custo da causa em trâmite
no tribunal.
Após os procedimentos aqui explicitados, o Presidente e ou Vice poderá exer-
cer o juízo de retratação e, caso não o faça, deverá levar o recurso para julgamen-
to pelo órgão colegiado respectivo, com inclusão em pauta (§ 2º do art. 1.021).
Destaca-se que o § 3º, do artigo 1.021, veda ao Presidente e/ou Vice que se
limitem à reprodução dos fundamentos da decisão agravada para julgar impro-
cedente o agravo interno.

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Cuidado: O ponto de inovação e de grande divergência na doutrina é


o previsto no § 4º do artigo 1.021 do NCPC, segundo o qual, quando o
agravo interno for declarado manifestamente inadmissível ou improce-
dente em votação unânime, o órgão colegiado, em decisão fundamen-
tada, condenará o agravante a pagar ao agravado multa fixada entre um
e cinco por cento do valor atualizado da causa.
Cuidado: De acordo com o § 5º do referido artigo, a interposição de qualquer
outro recurso está condicionada ao depósito prévio do valor da multa supraci-
tada à exceção da Fazenda Pública e do beneficiário da gratuidade de
justiça, que farão o pagamento ao final.
Sem o intuito de exaurir os debates sobre o tema, essas são as relevantes di-
cas para o certame da OAB.
Estamos juntos na caminhada do seu sucesso!
Até breve!

Rodrigo Costa – Graduado em Direito pela Universi-


dade Católica de Brasília (2001) e Especialista em Direito
Processual Civil pela ICAT/AEUDF. Tem experiência na
área de Direito, com ênfase em Direitos Civil e Proces-
sual Civil. Professor titular das disciplinas Direito Civil II e
V, Direito Processual Civil IV e Prática Processual Civil II e
na Universidade Católica de Brasília (UCB), nas discipli-
nas de Direito Processual Civil II e V e Teoria Geral do
Direito Privado

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DIREITO CIVIL:
PROFESSORA ROBERTA QUEIROZ
Oi meus amores, tudo bem com vocês?
Então, voltamos para comentar mais um pouco sobre nossa provinha que se
aproxima.
E, hoje, vamos tecer mais algumas considerações que são relevantes para o
seu excelente desempenho na prova.
Vamos nessa!

PROVA TESTEMUNHAL NO NCPC

Gente, esse tema vem exposto no artigo 442 e seguintes do novo CPC. Lem-
bre-se que testemunha é aquela pessoa alheia ao litígio que presta declaração
sobre os fatos pertinentes e relevantes ao deslinde da causa.
O processo civil adota o sistema de valoração de prova como sendo o sistema
da persuasão racional ou convencimento motivado.
Nesse campo, o juiz deverá apreciar a prova e fundamentar sua decisão, sem-
pre buscando a verdade real.
O Código Civil estipulava que a prova exclusivamente testemunhal somente seria
admitida nos contratos cujo valor não excedesse o décuplo do salário mínimo vi-
gente, ou seja, dez vezes o valor do salário mínimo. Essa regra não existe mais, pois,
pela regra do NCPC, a prova exclusivamente testemunhal será sempre admitida,
conforme artigo 442 do NCPC. Veja, inclusive, que não há hierarquia entre as provas.
Nesse ponto, quem pode ser testemunha?? O artigo 447 do NCPC expõe que
“Podem depor como testemunhas todas as pessoas, exceto as incapazes, impe-
didas ou suspeitas.”
E quem são esses incapazes, impedidos ou suspeitos???

São incapazes:
I – o interdito por enfermidade ou deficiência mental;
II – o que, acometido por enfermidade ou retardamento mental, ao tempo em
que ocorreram os fatos, não podia discerni-los, ou, ao tempo em que deve depor,
não está habilitado a transmitir as percepções;

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III – o que tiver menos de 16 (dezesseis) anos;


IV – o cego e o surdo, quando a ciência do fato depender dos sentidos que
lhes faltam.

São impedidos:
I – o cônjuge, o companheiro, o ascendente e o descendente em qualquer
grau e o colateral, até o terceiro grau, de alguma das partes, por consanguini-
dade ou afinidade, salvo se o exigir o interesse público ou, tratando-se de causa
relativa ao estado da pessoa, não se puder obter de outro modo a prova que o
juiz repute necessária ao julgamento do mérito;
II – o que é parte na causa;
III – o que intervém em nome de uma parte, como o tutor, o representante
legal da pessoa jurídica, o juiz, o advogado e outros que assistam ou tenham
assistido as partes.

São suspeitos:
I – o inimigo da parte ou o seu amigo íntimo;
II – o que tiver interesse no litígio.
Mas cuidado, pois, sendo necessário, pode o juiz admitir o depoimento das
testemunhas menores, impedidas ou suspeitas, podendo ser independentemente
de compromisso, e o juiz lhes atribuirá o valor que possam merecer.
Show!!!

PROVA PERICIAL NO NCPC

Não podemos deixar de observar que a prova pericial é aquela realizada por
alguém que detém conhecimento técnico ou cientifico específico sobre determi-
nado assunto, podendo ser feita por meio de vistoria, exames ou avaliações.
Veja que o o juiz indeferirá a perícia quando: I – a prova do fato não depender
de conhecimento especial de técnico; II – for desnecessária em vista de outras
provas produzidas; III – a verificação for impraticável.

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COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

Outro ponto relevante é que “de ofício ou a requerimento das partes, o juiz
poderá, em substituição à perícia, determinar a produção de prova técnica simpli-
ficada, quando o ponto controvertido for de menor complexidade. A prova téc-
nica simplificada consistirá apenas na inquirição de especialista, pelo juiz, sobre
ponto controvertido da causa que demande especial conhecimento científico ou
técnico. Durante a arguição, o especialista, que deverá ter formação acadêmica
específica na área objeto de seu depoimento, poderá valer-se de qualquer re-
curso tecnológico de transmissão de sons e imagens com o fim de esclarecer os
pontos controvertidos da causa.”
Sobre o tema, temos as seguintes súmulas do coração:
Súmula 261 do STF: Para a ação de indenização, em caso de avaria, é dis-
pensável que a vistoria se faça judicialmente.
Súmula 232 do STJ: A Fazenda Pública, quando parte no processo, fica su-
jeita à exigência do depósito prévio dos honorários do perito.
E uma pergunta final: as partes podem escolher o perito???
O artigo 471 traz a resposta: As partes podem, de comum acordo, escolher
o perito, indicando-o mediante requerimento, desde que: I – sejam plenamente
capazes; II – a causa possa ser resolvida por autocomposição.
• 1º As partes, ao escolher o perito, já devem indicar os respectivos assisten-
tes técnicos para acompanhar a realização da perícia, que se realizará em
data e local previamente anunciados.
• 2º O perito e os assistentes técnicos devem entregar, respectivamente, lau-
do e pareceres em prazo fixado pelo juiz.
• 3º A perícia consensual substitui, para todos os efeitos, a que seria realizada
por perito nomeado pelo juiz.

FUNDAMENTAÇÃO DE DECISÃO NO NCPC

Estamos vivendo a era dos precedentes judiciais com objetivo de aprimorar as


decisões judiciais e evitar recursos protelatórios.
Com base nisso, o artigo 489 do NCP dispõe que são elementos essenciais
da sentença:

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I – o relatório, que conterá os nomes das partes, a identificação do caso,


com a suma do pedido e da contestação, e o registro das principais ocorrências
havidas no andamento do processo;
II – os fundamentos, em que o juiz analisará as questões de fato e de direito;
III – o dispositivo, em que o juiz resolverá as questões principais que as par-
tes lhe submeterem.
Continuando o dispositivo em análise, não se considera fundamentada qual-
quer decisão judicial, seja ela interlocutória, sentença ou acórdão, que:
I – se limitar à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem
explicar sua relação com a causa ou a questão decidida;
II – empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo con-
creto de sua incidência no caso;
III – invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão;
IV – não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de,
em tese, infirmar a conclusão adotada pelo julgador;
V – se limitar a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar
seus fundamentos determinantes nem demonstrar que o caso sob julgamento se
ajusta àqueles fundamentos;
VI – deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente in-
vocado pela parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em julga-
mento ou a superação do entendimento.
Assim, com base no inciso V, acima destacado, não se considera fundamen-
tada a decisão que se limita a invocar um precedente ou enunciado de súmula,
sem identificar seus fundamentos determinantes, sem demonstrar que o caso é
semelhante. Para isso, temos a técnica do distinguishing – comparação do jul-
gado com o caso concreto.
Outro detalhe, é que, por foça do inciso VI também se demonstra que se o
decisum deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente
invocado pela parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em julga-
mento, ou mesmo a superação do precedente, haverá falha na fundamentação.
Quando o precedente invocado for superado na totalidade termos o chamado
overruling, se for parcial, teremos o overriding.

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PRECEDENTES NO NCPC

Já que estamos falando de precedentes, que tal recordar que hoje temos um
artigo específico?!
Art. 927. Os juízes e os tribunais observarão:
I – as decisões do Supremo Tribunal Federal em controle concentrado de
constitucionalidade;
II – os enunciados de súmula vinculante;
III – os acórdãos em incidente de assunção de competência ou de resolução de
demandas repetitivas e em julgamento de recursos extraordinário e especial repetitivos;
IV – os enunciados das súmulas do Supremo Tribunal Federal em matéria
constitucional e do Superior Tribunal de Justiça em matéria infraconstitucional;
V – a orientação do plenário ou do órgão especial aos quais estiverem vinculados.
Veja que neste rol teremos precedentes vinculantes ou obrigatórios e prece-
dentes meramente persuasivos ou não vinculantes – jurisprudência persuasiva.
Tudo bem, amig@s?!
Voltarei depois com mais dicas.
Beijo grandão.

Roberta Queiroz – Graduada em Direito pela Univer-


sidade Católica de Brasília em dezembro de 2005; Es-
pecialista em Direito Processual Civil pela Universidade
do Sul de Santa Catarina em novembro de 2009; Mes-
tranda em Direito pela Universidade Católica de Brasí-
lia, com enfoque em direito público; docente nas disci-
plinas de Direito Civil, Direito Processual Civil e Direito
Administrativo desde 2007; docente titular do curso de
Direito da Universidade Católica de Brasília; professora
de cursos preparatórios para concursos; advogada atuante na área de direito pri-
vado e direito administrativo desde 2006.

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DIREITO CIVIL:
PROFESSOR RODRIGO COSTA

Caros colegas, hoje darei algumas dicas sobre tópicos que podem ser cobra-
dos na 2ª fase do exame de ordem.
O primeiro ponto a ser abordado é relativo aos ritos/procedimentos no atual
CPC, pois no CPC/73 os procedimentos eram divididos em comum e especial,
sendo, o rito comum, subdividido em ordinário e sumário. Para fixarmos o rito a
seguir, tínhamos que verificar se nossa demanda se enquadrava dentre aquelas
previstas no art. 3º da Lei n. 9.099/95, pois, se preenchidos os demais requisitos,
o valor da causa seria o determinante para fixação do rito, uma vez que, segundo
o inciso I, se o valor da causa fosse igual ou inferior a 40 salários mínimos, o rito
a ser adotado seria o sumaríssimo.
Se o valor da causa fosse superior a 40, mas menor ou igual a sessenta salários
mínimos, o rito a ser adotado seria o rito sumário, conforme estabelecia o inciso
I, do art. 275 do CPC/73. Por outro lado, se o valor da causa fosse superior a 60
salários mínimos, porém, versasse sobre uma das hipóteses previstas no inciso II,
do art. 275 do CPC/73, o rito seria o sumário, independente do valor da causa.
Dessa forma, se sua situação hipotética não se enquadrasse no rito sumaríssi-
mo (art. 3º da 9.099/95), nem no art. 275, incisos I e II do CPC/73 (rito sumário),
de forma residual, estaríamos diante da regra quanto aos ritos do processo civil,
qual seja, o rito ordinário (art. 282/73).
O art. 318 do NCPC estabelece que os ritos são divididos em duas espécies,
quais sejam: comum e especial, não havendo mais subdivisões quanto ao rito
comum, ou seja, o NCPC excluiu a subdivisão do rito comum em ordinário e su-
mário. Diante dessa situação ficaria a seguinte questão: e as ações que adotaram
o rito sumário e que ainda estão em trâmite, como ficarão? A resposta dessa
indagação está no § 1º, do Art. 1.046 do NCPC, segundo o qual: As disposições
da Lei n. 5.869, de 11 de janeiro de 1973, relativas ao procedimento sumário e aos
procedimentos especiais que forem revogadas aplicar-se-ão às ações propostas
e não sentenciadas até o início da vigência deste Código, ou seja, nos processos

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que adotaram o rito sumário, previsto no CPC/73, este será o rito seguido até a
extinção do feito, mesmo que isso se dê na vigência do NCPC.
Outro ponto de extrema importância está relacionado às causas que, inde-
pendente do valor, adotariam o rito sumário, conforme estabelecia o inciso II, do
art. 275/73, quais sejam:
a) de arrendamento rural e de parceria agrícola;
b) de cobrança ao condômino de quaisquer quantias devidas ao condomínio;
c) de ressarcimento por danos em prédio urbano ou rústico;
d) de ressarcimento por danos causados em acidente de veículo de via ter-
restre;
e) de cobrança de seguro, relativamente aos danos causados em acidente de
veículo, ressalvados os casos de processo de execução;
f) de cobrança de honorários dos profissionais liberais, ressalvado o disposto
em legislação especial;
g) nos demais casos previstos em lei.
g) que versem sobre revogação de doação;
h) nos demais casos previstos em lei.
Agora, com a extinção do rito sumário pelo NCPC, referidas hipóteses ado-
tarão o rito especial da lei 9.099/95, conforme estabelece o art. 1.063 do NCPC,
vejamos:

Art. 1.063. Até a edição de lei específica, os juizados especiais cíveis previstos
na Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995, continuam competentes para o
processamento e julgamento das causas previstas no art. 275, inciso II, da Lei
no 5.869, de 11 de janeiro de 1973.

Desta forma, se a lide versar sobre uma das hipóteses previstas no art. 275,
inciso II do CPC/73, hoje, na vigência do NCPC, adotará o rito especial da Lei n.
9.099/95, conforme estabelece o art. 1.063 do NCPC c/c art. 3º, inciso II, da Lei n.
9.099/95.

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Momento para apresentação do rol de testemunhas no NCPC

O CPC/73 estabelecia, em seu art. 407, que o rol de testemunhas seria apre-
sentado nos termos e prazo ali estabelecidos, vejamos: Incumbe às partes, no
prazo que o juiz fixará ao designar a data da audiência, depositar em cartório
o rol de testemunhas, precisando-lhes o nome, profissão, residência e o local
de trabalho; omitindo-se o juiz o rol será apresentado até 10 (dez) dias antes da
audiência.
O NCPC alterou essa regra, conforme se verifica através da análise da norma
prevista no art. 357, que trata da decisão de saneamento e organização do pro-
cesso, que, em seu parágrafo 4º estabelece que caso tenha sido determinada a
produção de prova testemunhal, o juiz fixará prazo comum não superior a
15 (quinze) dias para que as partes apresentem rol das testemunhas que pre-
tendem ouvir em juízo na Audiência de Instrução e Julgamento.
Cuidado: caso o juiz tenha designado audiência de saneamento e organiza-
ção do processo, intimando as partes para nela comparecerem, conforme esta-
belece o par. 3 o, do artigo 357 do NCPC, pois, neste caso, o rol de testemunhas
será apresentado no dia da referida audiência, conforme se depreende da norma
emanada do parágrafo 5 o, do referido dispositivo legal, que prevê o seguinte:
Na hipótese do § 3º, as partes devem levar, para a audiência prevista, o
respectivo rol de testemunhas.
Outro ponto de grande relevância está ligado à obrigação de intimar as tes-
temunhas da data designada para realização da audiência de instrução e julga-
mento, pois no CPC/73 essa obrigação era do Poder judiciário.
Acontece que, o NCPC, em seu artigo Art. 455, estabelece que caberá ao
advogado informar ou intimar as testemunhas por ele arroladas do dia, da hora
e do local da audiência designada, dispensando-se a intimação do juízo, deven-
do, segundo prevê o § 1º , referida intimação, realizar-se por carta com aviso de
recebimento, devendo o advogado juntar aos autos, com antecedência de pelo
menos 3 (três) dias da data da audiência, cópia da correspondência de intimação
e do comprovante de recebimento. Aliado a esse fundamento, o § 3º do referido
dispositivo legal estabelece que a inércia na realização da intimação a que se re-
fere o § 1º importa em desistência da inquirição da testemunha.

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O § 4º, do art. 455 do NCPC, estabelece que a intimação da testemunha far-se-á


por meio do oficial de justiça/via judicial e não pelo advogado, nos casos previstos
nos cinco incisos nele constantes, quais sejam: I – for frustrada a intimação pre-
vista no § 1º deste artigo; II – sua necessidade for devidamente demonstra-
da pela parte ao juiz; III – figurar no rol de testemunhas servidor público
ou militar, hipótese em que o juiz o requisitará ao chefe da repartição ou
ao comando do corpo em que servir; IV – a testemunha houver sido arro-
lada pelo Ministério Público ou pela Defensoria Pública; V – a testemunha
for uma daquelas previstas no art. 454.
Sem o intuito de exaurir os debates sobre o tema, essas são as relevantes di-
cas para o certame da OAB.
Estamos juntos na caminhada do seu sucesso!
Até breve!

Rodrigo Costa – Graduado em Direito pela Universi-


dade Católica de Brasília (2001) e Especialista em Direito
Processual Civil pela ICAT/AEUDF. Tem experiência na
área de Direito, com ênfase em Direitos Civil e Proces-
sual Civil. Professor titular das disciplinas Direito Civil II e
V, Direito Processual Civil IV e Prática Processual Civil II e
na Universidade Católica de Brasília (UCB), nas discipli-
nas de Direito Processual Civil II e V e Teoria Geral do
Direito Privado

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DIREITO CIVIL:
PROFESSORA PATRÍCIA DREYER

Meus caros alunos, a dica de hoje é sobre Direito do Consumidor e, dentro


dessa disciplina, vamos falar dos enunciados das Jornadas de Direito Civil, bem
como da mais atualizada jurisprudência.
1 – I Jornada de Direito Civil – Enunciado 42 – O art. 931 amplia o conceito de
fato do produto existente no art. 12 do Código de Defesa do Consumidor, impu-
tando responsabilidade civil à empresa e aos empresários individuais vinculados
à circulação dos produtos.
Esse enunciado veio exatamente para fazer a vinculação entre a responsabilidade
objetiva do artigo 931 à responsabilidade prevista no artigo 12 do CDC. Mas lembre-
-se que as excludentes de tal responsabilidade estão previstas no §3º do artigo 12.
Não haverá responsabilidade se houve culpa exclusiva da vítima ou de terceiro, se o
suposto responsável não colocou o produto no mercado, ou se não houver defeito.
2 – V Jornada de Direito Civil – Enunciado 460 – A responsabilidade subjetiva
do profissional da área da saúde, nos termos do art. 951 do Código Civil e do art.
14, § 4º, do Código de Defesa do Consumidor, não afasta a sua responsabilidade
objetiva pelo fato da coisa da qual tem a guarda, em caso de uso de aparelhos ou
instrumentos que, por eventual disfunção, venham a causar danos a pacientes,
sem prejuízo do direito regressivo do profissional em relação ao fornecedor do
aparelho e sem prejuízo da ação direta do paciente, na condição de consumidor,
contra tal fornecedor.
Isso significa que mesmo quando o profissional liberal não terá responsabili-
dade subjetiva pessoal, ele terá responsabilidade pelo uso dos equipamentos que
apresentem disfunção e causem danos. Por via de consequência, ele terá regres-
so em face do fornecedor do equipamento.
3 – VI Jornada de Direito Civil – Enunciado 562 – Aos casos do art. 931 do
Código Civil aplicam-se as excludentes da responsabilidade objetiva.
Basta ver a dica número 1 e perceber como isso se encaixa perfeitamente na
doutrina da responsabilidade objetiva não integral, que prevê o afastamento da
mesma por meio das excludentes.

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4 – AgRg no AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL N. 811.888 – RS (2015/0286757-


3) AGRAVANTE : VONPAR REFRESCOS S/A ADVOGADOS : BERNARDO CAPELLI
BORELLA E OUTRO(S) LÚCIA HELENA SPEGGIORIN CELIBERTO VINÍCIUS DE OLI-
VEIRA BERNI AGRAVADO : FFG DISTRIBUIDORA DE BEBIDAS E TRANSPORTES EI-
RELI ADVOGADOS : ANTÔNIO PAULO BERTANI ROGÉRIO VARGAS DOS SANTOS
RELATÓRIO O EXMO. SR. MINISTRO MARCO BUZZI (Relator): Cuida-se de agravo
regimental interposto por VONPAR REFRESCOS S/A contra decisão monocráti-
ca deste signatário (fls. 394/397 e-STJ), que deu provimento ao próprio recurso
especial a fim de anular o acórdão de fls. 175/189, para que, após devidamente
oportunizado prazo para que FFG Distribuidora de Bebidas e Transportes Eireli
Ltda contra argumente as razões do agravo interno interposto por Vonpar Re-
frescos S/A (fls. 164/173) e, por conseguinte, a Décima Segunda Câmara Cível do
TJRS profira novo julgamento como entender de direito.
AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO (ART. 544 DO CPC) – EXCEÇÃO DE IN-
COMPETÊNCIA – CLÁUSULA DE ELEIÇÃO DE FORO – CÓDIGO DE DEFESA DO
CONSUMIDOR – PRINCÍPIO DA FACILITAÇÃO DA DEFESA DO CONSUMIDOR
EM JUÍZO – NULIDADE DE CLÁUSULA DE ELEIÇÃO DE FORO EM CONTRATOS
NÃO REGIDOS PELO CDC – OBSTACULIZAÇÃO DO ACESSO À JUSTIÇA – DELI-
BERAÇÃO MONOCRÁTICA QUE DEU PROVIMENTO AO RECURSO ANTE O CER-
CEAMENTO DO DIREITO DE DEFESA. IRRESIGNAÇÃO DA AGRAVANTE.

1. Segundo a segundo a jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça,


a intimação da parte agravada para resposta é procedimento natural de
preservação do princípio do contraditório, nos termos do art. 527, V, do
CPC (AgRg no REsp 1.506.408/RS, Rel. Ministro Herman Benjamin, Segunda
Turma, julgado em 19/03/2015, DJe 06/04/2015)
2. No caso dos autos, o Desembargador Relator negou provimento mo-
nocraticamente ao agravo de instrumento. Porém, após a interposição de
agravo interno, o órgão colegiado deu provimento ao agravo para deter-
minar a declinação da competência para a Comarca de Florianópolis/SC.
Evidente, pois, o prejuízo à ora agravada, sendo de rigor a anulação do
acórdão que julgou o agravo interno, devendo ser a ela oportunizado prazo
para a apresentação de resposta.
3. Agravo regimental desprovido.

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Isso se deu exatamente porque havia no contrato de adesão uma cláusula


de eleição de foro que dificultou a defesa do consumidor. Como as normativas
contratuais devem ser interpretadas da maneira mais favorável ao consumidor e
qualquer cláusula que o coloque em desvantagem deve ser afastada por nulida-
de, a defesa e o direito de responder ao recurso foi devolvido ao consumidor, em
julgado que já acontecia no STJ exatamente porque a defesa do consumidor em
juízo não pode, de modo algum, causar prejuízos ao mesmo.
5 – REsp 1247150 / PR, Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, CE – CORTE ESPECIAL,
em 19/10/2011

Ementa
DIREITO PROCESSUAL. RECURSO REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA (ART.
543-C, CPC). DIREITOS METAINDIVIDUAIS. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. APADECO X
BANESTADO. EXPURGOS INFLACIONÁRIOS. ALCANCE SUBJETIVO DA SENTEN-
ÇA COLETIVA. LIMITAÇÃO AOS ASSOCIADOS. INVIABILIDADE. OFENSA À COISA
JULGADA. MULTA PREVISTA NO ART. 475-J, CPC. NÃO INCIDÊNCIA.

1. Para efeitos do art. 543-C do CPC: 1.1. A sentença genérica proferida na


ação civil coletiva ajuizada

pela Apadeco, que condenou o Banestado ao pagamento dos chamados ex-


purgos inflacionários sobre cadernetas de poupança, dispôs que seus efeitos
alcançariam todos os poupadores da instituição financeira do Estado do
Paraná. Por isso descabe a alteração do seu alcance em sede de liquida-
ção/execução individual, sob pena de vulneração da coisa julgada. Assim,
não se aplica ao caso a limitação contida no art. 2º-A, caput, da Lei n. 9.494/97.
1.2. A sentença genérica prolatada no âmbito da ação civil coletiva, por si, não
confere ao vencido o atributo de devedor de “quantia certa ou já fixada em li-
quidação” (art. 475-J do CPC), porquanto, “em caso de procedência do pedido,
a condenação será genérica”, apenas “fixando a responsabilidade do réu pelos
danos causados” (art. 95 do CDC). A condenação, pois, não se reveste de liqui-
dez necessária ao cumprimento espontâneo do comando sentencial, não sendo
aplicável a reprimenda prevista no art. 475-J do CPC. 2. Recurso especial parcial-
mente provido.

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COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

O julgado fala exatamente do artigo 103 do CDC que ensina que nos casos de
direitos coletivos, a coisa julgada terá efeitos ultra partes, limitado ao grupo, cate-
goria ou classe, e afastar tais efeitos violaria a coisa julgada produzida. Aplicação
fiel do disposto na norma consumerista.
6 – REsp 1243887 / PR, RECURSO ESPECIAL 2011/0053415-5 Relator(a) Mi-
nistro LUIS FELIPE SALOMÃO, Órgão Julgador CE – CORTE ESPECIAL Data do
Julgamento 19/10/2011

Ementa
DIREITO PROCESSUAL. RECURSO REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA (ART.
543-C, CPC). DIREITOS METAINDIVIDUAIS. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. APADECO X
BANESTADO. EXPURGOS INFLACIONÁRIOS. EXECUÇÃO/LIQUIDAÇÃO INDIVI-
DUAL. FORO COMPETENTE. ALCANCE OBJETIVO E SUBJETIVO DOS EFEITOS
DA SENTENÇA COLETIVA. LIMITAÇÃO TERRITORIAL. IMPROPRIEDADE. REVISÃO
JURISPRUDENCIAL. LIMITAÇÃO AOS ASSOCIADOS. INVIABILIDADE. OFENSA À
COISA JULGADA.

1. Para efeitos do art. 543-C do CPC: 1.1. A liquidação e a execução indi-


vidual de sentença genérica proferida em ação civil coletiva pode ser
ajuizada no foro do domicílio do beneficiário, porquanto os efeitos
e a eficácia da sentença não estão circunscritos a lindes geográficos,
mas aos limites objetivos e subjetivos do que foi decidido, levando-
-se em conta, para tanto, sempre a extensão do dano e a qualidade
dos interesses metaindividuais postos em juízo (arts. 468, 472 e 474,
CPC e 93 e 103, CDC). (…)

A decisão acima fala e faz aplicar exatamente dos limites geográficos postos
no artigo 98 do CDC que reza que execução poderá ser coletiva, sendo pro-
movida pelos legitimados de que trata o art. 82, abrangendo as vítimas cujas
indenizações já tiveram sido fixadas em sentença de liquidação, sem prejuízo do
ajuizamento de outras execuções e que o foro competente para a execução será
o da liquidação da sentença ou da ação condenatória, no caso de execução indi-
vidual; ou da ação condenatória, quando coletiva a execução.

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7 – À luz do artigo 107 do CDC, as entidades associativas de consumidores


e fornecedores, bem como os sindicatos de categorias econômicas tem legitimi-
dade para celebrar convenção coletiva de consumo. Então, trata-se de negócio
entre particulares que diferem dos compromissos de ajustamento pois aqui não
há a necessidade de um órgão público presente.
8 – Nas ações de obrigação de fazer ou não fazer, para efetivar a tutela pre-
vista no artigo 84 do CDC, é possível que o juiz confira tutelas específicas anteci-
patórias ou definitivas e, ainda, fixe astreintes, ou seja, a multa diária ou qualquer
outra medida executória para forçar o inadimplente a cumprir a obrigação a que
estiver vinculado, como impedimento da atividade nociva ao consumidor, ate
mesmo com requisição de força policial.
9 – Para o ajuizamento das demandas coletivas previstas no artigo 82 e se-
guintes do CDC, a legitimação ali prevista é concorrente, mas à luz do artigo 92,
o Ministério Público sempre participará sob pena de nulidade processual.
10 – O cumprimento da sentença que julga demanda coletiva na defesa do
consumidor poderá ser requerido de forma individual, ou seja, cada credor pode
pleitear a satisfação de seu direito ou pode pedir, se quiser, a suspensão da sua
demanda individual, no prazo de 30 dias a contar da ciência da ação coletiva, e
aguardar se o julgamento da ação coletiva será favorável.
Bons estudos!!!!

Patrícia Dreyer – é graduada em Direito há 14 anos,


pelo UNICEUB, advogada, especialista em Direito Proces-
sual Civil pela PUC-SP, especialista em Direito Público e
estudante regular do Programa de Doutorado. Professo-
ra de Direito Civil, Direito Processual Civil, Direito do Con-
sumidor, Estatuto da Criança e do Adolescente e do Esta-
tuto do Idoso, com experiência em cursos de graduação,
pósgraduação, Academia de Polícia Militar, e preparató-
rios para concursos públicos e exames de Ordem.

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DIREITO CIVIL:
PROFESSORA ROBERTA QUEIROZ

Olá meus amores estamos aqui para mais dia de dicas importantes pra nossa
prova da OAB…
Vamos juntos nessa conquista de aprovação na nossa prova e, hoje, vamos
comentar alguns pontos importantes do Direito Civil que já foram abordados na
segunda fase da prova da OAB, vamos nessa???

PAGAMENTO DAS OBRIGAÇÕES E TEMAS CORRELATOS

Um ponto importante que sempre cai em prova é a questão do pagamento.


Isso porque, o artigo 313 do Código Civil apresenta uma regra importantíssi-
ma, uma regra do nosso coração, qual seja: o credor não é obrigado a receber
prestação diversa da que lhe é de vida, ainda que mais valiosa.
Veja que esse dispositivo traz o princípio da identidade do pagamento, ou
seja, o devedor deve pagar aquilo e exatamente aquilo a que se comprometeu,
nem mais, nem menos em relação ao objeto.
Outra questão interessante é que o artigo 314 do Código Civil complementa
a informação, pois neste dispositivo está estampado “que ainda que obrigação
tenha objeto prestação divisível, não pode o credor ser obrigado receber, nem o
devedor ser obrigado a pagar, por partes se assim não se ajustou.”
Esse dispositivo apresenta questão de obrigação parcelar e obrigação divi-
sível. Veja que obrigação divisível não se confunde com pagamento parcelado;
obrigação divisível tem a ver com o objeto da prestação que é suscetível de divi-
são. Todavia, o pagamento parcelado só pode ser evidentemente exigido se for
compactuado no contrato, pois o credor não é obrigado receber parceladamen-
te, e o devedor também não é obrigado a pagar em parcelas.
Nesse sentido, levando em consideração a teoria do pagamento, a regra é
que o credor deve receber exatamente aquilo que o devedor se comprometeu.
Excepcionalmente, podemos aplicar a regra da dação em pagamento, previs-
ta no artigo 356 do Código Civil, que diz: o credor pode consentir em receber

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prestação diversa da que lhe é devida. Ou seja, nesse aspecto devemos levar em
consideração que o credor não é obrigado a receber pressão diversa, mas se ele
concordar haverá o pagamento especial denominado dação em pagamento.
Em algumas provas anteriores da OAB, a FGV já cobrou alguma questão abor-
dando dação em pagamento. Assim, se em algum item for indagado se o credor
é obrigado a receber prestação diversa da que lhe é devida, a resposta será ne-
gativa. Contudo, ele pode consentir, e se consentir haverá o fenômeno da dação
em pagamento, cuja previsão está no artigo 356 do Código Civil.

TRANSMISSÃO DAS OBRIGAÇÕES

Outro tema igualmente importante é a questão da cessão de crédito e débito


e a novação. A cessão de crédito e débito tem a ver com a transmissão das obri-
gações e o tratamento está no artigo 286 e seguintes do Código Civil.
Importante você observar que na cessão de crédito ou débito o credor inicial
ou o devedor inicial sairão da relação obrigacional, entrando outros sujeitos nos
seus lugares, mas sem extinção da obrigação anteriormente estipulada.
Na cessão de crédito, o credor inicial sai da relação obrigação, entrando o novo
credor, denominado cessionário, e não há necessidade de consentimento do deve-
dor. Esse devedor deverá, apenas, ser notificado para que realize o pagamento cor-
retamente para o novo credor, ou seja, na cessão de crédito o contrato de cessão
se aperfeiçoa a partir da manifestação de vontade entre o credor inicial, cedente,
e o credor que vai entrar no lugar do inicial, cessionário. Veja, então, que para a
formação da cessão de crédito não há necessidade de consentimento do devedor.
Na cessão de débito a questão é um pouco diferente, posto que ao ceder o
débito o devedor inicial sairá da relação de obrigacional e será substituído pelo
devedor final, assuntor, aquele que vai assumir a obrigação. Nesse sentido, im-
portante destacar que na cessão de débito deve haver consentimento expresso
do credor, de acordo com artigo 299 do Código Civil.
Falamos em duas espécies de assunção de dívida, que é o mesmo que cessão
de débito: por delegação – quando devedor transfere ao terceiro a obrigação de
pagar com consentimento do credor; ou por expromissão: quando o credor, em
acordo com terceiro, transfere a este o dever de pagar.

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Não podemos confundir assunção de dívida com pagamento com sub-roga-


ção, pois no pagamento com sub-rogação ocorre o pagamento, sub-rogando-se
efetivamente aquele que pagou o crédito na condição de credor.
Em relação a esse tema, ainda devemos mencionar que não podemos con-
fundir cessão de crédito ou débito com novação subjetiva. Isso porque, na nova-
ção temos a criação de uma nova obrigação que tem efeito de liberar obrigação
primitiva, ou seja, haverá a constituição de uma nova obrigação e a extinção da
obrigação anterior.
Na cessão de crédito ou débito, um sujeito entra no lugar do outro sem ex-
tinguir a obrigação anterior. Na novação subjetiva um sujeito entra no lugar do
outro extinguindo a obrigação anterior e criando-se uma nova obrigação. Para
que haja a novação deve haver animus no novandi, que é a intenção de criar uma
nova relação jurídica extinguindo-se anterior.
O Instituto da novação, também a forma especial de pagamento, está previsto
no artigo 360 do Código Civil.

COMPENSAÇÃO NO PAGAMENTO

Outro tema bastante relevante em relação à teoria do pagamento é a questão


da compensação que está prevista no artigo 368 do Código Civil. Sempre que
duas pessoas forem, ao mesmo tempo, credor e devedor uma da outra, as duas
obrigações extinguem-se, até onde se compensarem.
A compensação faz com que haja uma redução de ligações mútuas em rela-
ção a objetos fungíveis e pode gerar a extinção de uma ou de algumas obriga-
ções se os valores entre elas forem equivalentes.
A compensação pode ser legal, operada por lei; convencional, realizada pelas
partes em acordo ou judicial determinada pelo juiz em sede de sentença.
Observe que a compensação deve-se efetuar entre obrigações vencidas e de
coisas fungíveis.
O artigo 373 do Código Civil traz uma regra interessante ao dizer que a dife-
rença de causa nas dívidas não impede a compensação. Causa é exatamente a
fundamentação da formação da dívida; cada contrato e obrigação possuem suas
causas específicas. Uma causa é a função social da obrigação e, embora sejam

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diferentes entre uma e outra, não impedem a compensação, mas deve-se ter cui-
dado, pois o próprio artigo 373 revela que as causas não impedem a compensa-
ção, mas se forem provenientes de esbulho, furto ou roubo; se uma se originar de
comodato, deposito ou alimentos; se uma for de coisa não suscetível de penhora,
não haverá então compensação.
Também é possível uma exclusão consensual da compensação – o artigo 375
do Código Civil diz que não haverá compensação quando as partes, por mútuo
acordo, a excluírem, ou no caso de renúncia prévia de uma delas.
Se uma mesma pessoa estiver obrigada por várias de dívidas compensáveis,
serão observadas, no compensá-las, a regra estabelecida quanta imputação do
pagamento.

IMPUTAÇÃO DO PAGAMENTO

Por falar em imputação do pagamento, devemos recordar que este instituto


está previsto no artigo 352 do Código Civil.
A imputação vai ocorrer quando a pessoa for obrigada por dois ou mais dé-
bitos da mesma natureza, a um só credor, tendo o direito de indicar qual deles
oferece em pagamento, se todos forem líquidos e vencidos.
Veja que imputação é a indicação de qual débito deve estar sendo quitado. A
questão é que pode ocorrer de um devedor ter várias obrigações iguais em rela-
ção ao mesmo credor e, sendo todas elas vencidas, poderá haver imputação. Para
isso, é necessário que sejam os débitos, as coisas devidas, da mesma natureza.
A imputação é um direito do devedor.
Agora, imagine você, que um mesmo devedor tenha, em relação a um credor,
três dívidas vencidas, cada uma no valor de R$ 10.000,00. Veja que todas as dívi-
das estão vencidas. Agora, imagine que cada dívida dessa tenha vencido, respec-
tivamente, em janeiro, fevereiro, março e o devedor tenha exatos R$ 10.000,00
em mãos para quitação. Deverá ele imputar qual está efetuando pagamento, se
a primeira, a segunda, ou a terceira. Caso não declare qual das dívidas está reali-
zando pagamento, o credor imputará a que está sendo paga no ato de quitação
e, se o devedor aceitar a quitação de uma delas, não terá direito a reclamar contra
imputação feita pelo credor, salvo provando ter ele cometido violência ou dolo.

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Observe, então, que a imputação é direito do devedor e caso ele não faça, ao
receber o pagamento, o credor terá o direito de imputar qual foi pago, se o de-
vedor não fizer a referida indicação. Contudo, se a quitação dada pelo credor for
omissa em relação à imputação, esta acontecerá nas dívidas líquidas e vencidas
em primeiro lugar, mas se todas forem vencidas ao mesmo tempo, a imputação
far-se-á na mais onerosa.
Por hoje é só…
Bjs

Roberta Queiroz – Graduada em Direito pela Uni-


versidade Católica de Brasília em dezembro de 2005;
Especialista em Direito Processual Civil pela Universi-
dade do Sul de Santa Catarina em novembro de 2009;
Mestranda em Direito pela Universidade Católica de
Brasília, com enfoque em direito público; docente nas
disciplinas de Direito Civil, Direito Processual Civil e Di-
reito Administrativo desde 2007; docente titular do
curso de Direito da Universidade Católica de Brasília;
professora de cursos preparatórios para concursos; advogada atuante na área de
direito privado e direito administrativo desde 2006.

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DIREITO CIVIL:
PROFESSORA ANELISE MUNIZ

Bom dia povo guerreiro!!!!!!!


A dica que trago para vocês hoje é sobre Ação de Investigação de Pater-
nidade.

A PRESUNÇÃO RELATIVA DE PATERNIDADE NA AÇÃO INVESTIGATÓRIA

O exame de DNA nas ações de investigação de paternidade constitui uma


prova inquestionável, em virtude de seu caráter cientificamente preciso. Ocorre
que, em respeito ao direito constitucional do suposto pai recusar-se a realizar tal
procedimento, os tribunais brasileiros buscaram meios de assegurar aos autores
das demandas a mais correta e ampla tutela jurisdicional. Inicialmente, as deci-
sões aplicavam o disposto nos artigos 231 e 232 do Código Civil de 2002:

Art. 231. Aquele que se nega a submeter-se a exame médico necessário não
poderá aproveitar-se de sua recusa.
Art. 232. A recusa à perícia médica ordenada pelo juiz poderá suprir a prova
que se pretendia obter com o exame.

Em seguida, o entendimento foi pacificado pela edição, em 2004, da Súmula


n. 301/STJ: “Em ação investigatória, a recusa do suposto pai a submeter-se ao
exame de DNA induz presunção juris tantum de paternidade”. Um importante e
controverso ponto a ser observado nesse enunciado é como a presunção passou
a ser operada.
Nos julgados posteriores à edição da súmula, verifica-se que – para a presun-
ção ser efetivada – a recusa em realizar o exame de DNA deveria ser injustificada.
Além disso, as decisões mencionam que, apesar da presunção, o autor não se
desonera de comprovar – por outros meios de prova – a existência de um rela-
cionamento íntimo entre a genitora e o suposto pai.

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“Direito de família e processual civil. Recurso especial. Investigação de pater-


nidade. Exame de DNA. Ausência injustificada do réu. Presunção de paterni-
dade. Falta de provas indiciárias. – O não comparecimento, injustificado, do
réu para realizar o exame de DNA equipara-se à recusa. – Apesar da Súmula
301/STJ ter feito referência à presunção juris tantum de paternidade na hipó-
tese de recusa do investigado em se submeter ao exame de DNA, os prece-
dentes jurisprudenciais que sustentaram o entendimento sumulado definem
que esta circunstância não desonera o autor de comprovar, minimamente,
por meio de provas indiciárias a existência de relacionamento íntimo entre a
mãe e o suposto pai. Recurso especial conhecido e provido”.
(STJ – REsp: 692242 MG 2004/0133071-1, Relator: Ministra NANCY ANDRI-
GHI, Data de Julgamento: 28/06/2005, T3 – TERCEIRA TURMA, Data de Pu-
blicação: DJ 12.09.2005 p. 327)
“Direito civil. Recurso especial. Ação de investigação de paternidade. Exame
pericial (teste de DNA). Recusa. Inversão do ônus da prova. Relacionamento
amoroso e relacionamento casual. Paternidade reconhecida. – A recusa do
investigado em se submeter ao teste de DNA implica a inversão do ônus
da prova e consequente presunção de veracidade dos fatos alegados pelo
autor. – Verificada a recusa, o reconhecimento da paternidade decorrerá de
outras provas, estas suficientes a demonstrar ou a existência de relaciona-
mento amoroso à época da concepção ou, ao menos, a existência de re-
lacionamento casual, hábito hodierno que parte do simples ‘ficar’, relação
fugaz, de apenas um encontro, mas que pode garantir a concepção, dada a
forte dissolução que opera entre o envolvimento amoroso e o contato sexu-
al. Recurso especial provido”.
(STJ, RESP 557365 – RO. Relator: Ministra NANCY ANDRIGHI, Data de Julga-
mento: 07/04/2005, T3 – TERCEIRA TURMA)

Uma das críticas ao conteúdo sumular é o risco do filho – fruto de um relaciona-


mento casual em que outros tipos de prova (documentos e testemunhas, por exem-
plo) sejam escassas ou inexistentes – não tenha seus direitos reconhecidos. Isso sig-
nificaria uma afronta direta ao Princípio da Dignidade Humana. Doutrinadores como
Ives Gandra da Silva Martins defendem que o direito de recusa do suposto pai em re-
alizar o exame de DNA não se sobrepõe ao direito do filho de assim ser reconhecido:

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“[…] a intimidade do pai não é mais forte que o direito do filho de ter asse-
gurado, como consequência da atitude paterna menos digna, o seu direito
à cidadania ampla é à própria dignidade pessoal decorrente do reconheci-
mento. (MARTINS, Ives Gandra da Silva. O exame de DNA como meio de
prova – aspectos constitucionais. Grandes temas da atualidade. DNA como
meio de prova da filiação. Rio de Janeiro: Forense, 2000. p. 128) ”

Esse pensamento é difundido e adotado em países, como o Estados Unidos,


onde o exame de DNA é obrigatório sob o argumento de que a sociedade “não
pode tolerar o abandono de menores e a irresponsabilidade de pais em nome de
um suposto malferimento de direito fundamental, qual seja, o direito à integrida-
de física”. (GAMA, Guilherme Calmon Nogueira de. Direito de Família Brasileiro.
São Paulo: Juarez de Oliveira, 2001. p. 92).
Ainda assim, o posicionamento do STJ consolidou-se na edição da Lei n.
12.004/2009, a qual estabelece em seus dois primeiros artigos:

Art. 1º Esta Lei estabelece a presunção de paternidade no caso de recusa do


suposto pai em submeter-se ao exame de código genético – DNA.
Art. 2º A Lei no 8.560, de 29 de dezembro de 1992, passa a vigorar acrescida
do seguinte art. 2º-A:
“Art. 2º-A. Na ação de investigação de paternidade, todos os meios legais,
bem como os moralmente legítimos, serão hábeis para provar a verdade
dos fatos.
Parágrafo único. A recusa do réu em se submeter ao exame de código gené-
tico – DNA gerará a presunção da paternidade, a ser apreciada em conjunto
com o contexto probatório. ”

Dessa forma, ficou claro que a paternidade presumida é relativa, tendo o réu
o direito de produzir provas em contrário, a fim de impugnar a paternidade.
Significa dizer, pois, que a recusa em realizar o exame de DNA não se equivale à
confissão.

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A negativa passará a ser considerada – no conjunto das provas – favorável ao


autor, cabendo ao réu desconstituí-la. Da mesma forma, caberá ao juiz analisar
todos os elementos constantes dos autos, que o levem ao convencimento razo-
ável acerca das alegações elencadas na petição inicial.
Bons Estudos.
Beijão

Anelise Muniz – Mestranda em Educação pela UNI-


CID- Universidade Cidade de São Paulo (2016). Mem-
bro do Grupo de Estudos e pesquisas em Políticas Pú-
blicas, Avaliação e Qualidade-Geppaq, sob a Orientação
da Professora Drª Cristiane Machado. Bacharel em Di-
reito pelo Centro Universitário do Distrito Federal –
UDF (2006). Especialista em Didática do Ensino Supe-
rior pela UNICSUL/UDF (2011). Especialista em Direito
Processual Civil pelo ICAT/UDF (2013). Ex-Chefe de Ga-
binete no TRF 1ª Regão. Professora de Graduação do UDF na área de Direito Civil
, Processual Civil e Direito Previdenciário. EX- Coordenadora do Núcleo de Práti-
cas Jurídicas na Justiça Federal de Brasília. Professora de 1ª fase em Processo Civil
da OAB e 2ª Fase da OAB em Civil. Professora Orientadora de Monografia. Advo-
gada Atuante nas áreas de Direito Civil e Processo Civil e Direito Previdenciário.
Professora do GRANCURSOS. Membro do Conselho da OAB/DF.

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DIREITO CIVIL:
PROFESSORA RAQUEL BUENO

1ª DICA – Meus amores! Que saudade de vocês! Imagine que Artur foi esbu-
lhado da posse de seu imóvel situado na cidade satélite do Gama – DF. Isso acon-
teceu há exatos três meses e ele quer reverter a situação (retomada da posse). O
esbulho foi praticado por um primo, que se aproveitou da ausência de Artur, que
viajou para cuidar do pai doente em outro estado. Quando retornou, o primo já
havia se apossado do bem. Neste caso, qual a medida judicial cabível?
Resposta: Ação de Reintegração de Posse de Força Nova. Procedimento
especial de jurisdição contenciosa. O juízo cível é o competente e o foro é o do
local onde situada a coisa (Gama – DF), tratando-se, excepcionalmente, de com-
petência territorial absoluta (artigo 47, §2º, do CPC/15).
Neste caso, demonstrado o esbulho, a posse anterior e a data do esbulho
(menos de ano e dia do ajuizamento da ação), cabe liminar, que será concedida
inaudita altera pars (independentemente da oitiva prévia do réu). Todavia, em
caso de dúvida, o juiz designará audiência de justificação prévia (artigo 562 do
CPC/15), oportunidade na qual poderá conceder a prestação jurisdicional anteci-
pada (satisfativa), provisória, por meio de cognição sumária. Não se esqueça de
que é permitida a cumulação de pedidos, além da pretensão possessória (artigo
555 do CPC/15), e de que a intimação do MP (fiscal da ordem jurídica) só é ne-
cessária caso se trate de litígio coletivo pela posse de terra rural ou urbana (artigo
178, do CPC/15).
2ª DICA – Agora é conversa de gente grande! Quem faz a admissibilidade e
o julgamento do IRDR – Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas?
Em ambas as hipóteses é o órgão colegiado indicado pelo Regimento Interno do
respectivo TJ/TRF. Uma vez admitido o IRDR, o relator determinará a suspensão
de todos os processos pendentes, envolvendo a mesma matéria de direito, na-
quele estado ou região. Tal suspensão poderá ser parcial, se o processo pendente
apresenta outras pretensões, caso típico de cumulação de pedidos (vide Enuncia-
do 205 do FPPC – Fórum Permanente de Processualistas Civis.).

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Lembrem-se: para a admissão deste incidente, há a necessidade de se preen-


cher requisitos, quais sejam:
• A) efetiva (não a mera possibilidade)existência de processos repetitivos
(versando sobre a mesma questão jurídica);
• B) risco de ofensa à isonomia e à segurança jurídica (mais importante).
Enunciado 87 FPPC.
• Requisito negativo – 976, §4º, do Novo CPC: “(…) 4ºÉ incabível o inciden-
te de resolução de demandas repetitivas quando um dos tribunais superio-
res, no âmbito de sua respectiva competência, já tiver afetado recurso para
definição de tese sobre questão de direito material ou processual repetitiva.”

3ª DICA – Na fase de execução, ou execução autônoma, o salário é mesmo


absolutamente impenhorável?
NÃO! Admite-se a penhora de salário nos casos de crédito de natureza ali-
mentar, (alimentos decorrentes do Direito das Famílias ou ressarcitórios, que são
aqueles decorrentes de ato ilícito). No caso da obrigação alimentar oriunda de
relações familiares, a execução das prestações vencidas e vincendas pode com-
prometer até 50% dos rendimentos líquidos do executado (artigo 529, §3º, do
CPC/15). Para o adimplemento de obrigações pecuniárias de outra natureza, ad-
mite-se excepcionalmente a penhora de remuneração/salário do devedor, caso
ele receba mais de 50 salários mínimos, e apenas na parte que exceder tal limite,
realidade esta não muito comum no cenário nacional (artigo 833, §2º, do CPC/15).
4ª DICA – No estudo dos precedentes, algumas expressões são bem comuns
e devem ser entendidas por todos vocês, conforme esquema abaixo:

Sentença

1 Relatório – Resumo do procedimento (atos processuais praticados espe-


cialmente pelo autor, réu e magistrado.
2 – Fundamentação – Aqui o julgador cria a norma jurídica geral do caso
concreto. Neste espaço o julgador também se manifesta sobre as questões in-
cidentais (incidenter tantum). A essência da fundamentação da decisão repre-
senta a RATIO DECIDENDI (núcleo essencial formador do PRECEDENTE). Se o

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precedente é utilizado em casos similares, sua reiteração conduz à formação da


jurisprudência, que gerará posteriormente as súmulas. Aquelas informações que
constam da fundamentação, acessórias e dispensáveis (fragmentos de doutrina
e menção a outros precedentes, por exemplo), denominam-se OBTER DICTUM.
Pode acontecer também da fundamentação conter “dicas” sobre novas tendên-
cias e mudanças de entendimento jurisprudencial a ocorrerem em caráter super-
veniente (SIGNALING). Quando um precedente é superado/revogado, consoante
os anseios da sociedade dinâmica, fala-se em OVERRULING. Por conseguinte,
quando se quer utilizar um precedente jurisprudencial em determinada petição,
imperioso fazer o DISTINGUISHING (cotejo ou comparação entre o caso concreto
e o caso paradigma do precedente; assim, para bases fáticas iguais, as soluções
jurídicas devem ser homogêneas; já para bases fáticas distintas, soluções jurídicas
também diversas).
3 – Dispositivo – Surgimento da norma especial do caso concreto. Trata-se
da conclusão do julgado, onde o julgador se manifesta sobre as questões princi-
pais (principaliter tantum). Regra geral, esta é a parte da decisão com potenciali-
dade para a formação de coisa julgada material.
5ª DICA – Imagine a seguinte situação: Cláudia foi citada acerca da existência
de uma execução autônoma de título executivo extrajudicial (taxas condominiais
ordinárias instituídas em assembléia devidamente documentada – artigo 784, in-
ciso X, do CPC/15). No prazo de 03 dias para pagamento, ela consegue parte do
dinheiro para o cumprimento da referida obrigação pecuniária, mas insuficiente
para o cumprimento integral do débito. Qual solução você sugere para sua cliente?
Resposta: parcelamento ou moratória legal, previsto no artigo 916, do CPC
vigente, ora reproduzido:
“Art. 916. No prazo para embargos, reconhecendo o crédito do exequente e
comprovando o depósito de trinta por cento do valor em execução, acrescido de
custas e de honorários de advogado, o executado poderá requerer que lhe seja
permitido pagar o restante em até 6 (seis) parcelas mensais, acrescidas de correção
monetária e de juros de um por cento ao mês.
• 1º O exequente será intimado para manifestar-se sobre o preenchimento dos
pressupostos docaput, e o juiz decidirá o requerimento em 5 (cinco) dias.

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• 2º Enquanto não apreciado o requerimento, o executado terá de depositar as


parcelas vincendas, facultado ao exequente seu levantamento.
• 3º Deferida a proposta, o exequente levantará a quantia depositada, e serão
suspensos os atos executivos.
• 4º Indeferida a proposta, seguir-se-ão os atos executivos, mantido o depósi-
to, que será convertido em penhora.
• 5º O não pagamento de qualquer das prestações acarretará cumulativa-
mente:

I – o vencimento das prestações subsequentes e o prosseguimento do pro-


cesso, com o imediato reinício dos atos executivos;
II – a imposição ao executado de multa de dez por cento sobre o valor das
prestações não pagas.
• 6º A opção pelo parcelamento de que trata este artigo importa renúncia ao
direito de opor embargos
• 7º O disposto neste artigo não se aplica ao cumprimento da sen-
tença.”

A novidade fica por conta do §7º do aludido artigo, que passa a não admitir
o parcelamento na fase de cumprimento de sentença, admitido no CPC/73, por
força da doutrina/jurisprudência.
6ª DICA – Isaura te procura e diz: “(…) estou me relacionando afetiva e sexu-
almente com uma pessoa há 10 (dez) anos. Não moramos juntos, uma vez que
cada um preferiu ficar em seu respectivo apartamento, mas construímos patri-
mônio conjunto. Temos conta bancária conjunta e sou dependente dele (Aroldo),
no plano de saúde da empresa onde ele trabalha. Nossas famílias se conhecem
e nossos amigos são comuns. Nos apresentamos socialmente como se casados
fôssemos, mas como não moramos na mesma casa e não temos filhos, entendo
que tal relação é de um simples namoro.” Você concorda?
Será que se trata de um namoro qualificado? Sobre este tema, o Colendo
STJ já se manifestou, conforme o julgado abaixo selecionado:

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“RECURSO ESPECIAL E RECURSO ESPECIAL ADESIVO. AÇÃO DE RECONHE-


CIMENTO E DISSOLUÇÃO DE UNIÃO ESTÁVEL, ALEGADAMENTE COMPREENDI-
DA NOS DOIS ANOS ANTERIORES AO CASAMENTO, C.C. PARTILHA DO IMÓVEL
ADQUIRIDO NESSE PERÍODO. 1. ALEGAÇÃO DE NÃO COMPROVAÇÃO DO FATO
CONSTITUTIVO DO DIREITO DA AUTORA. PREQUESTIONAMENTO. AUSÊNCIA.
2. UNIÃO ESTÁVEL. NÃO CONFIGURAÇÃO. NAMORADOS QUE, EM VIRTUDE
DE CONTINGÊNCIAS E INTERESSES PARTICULARES (TRABALHO E ESTUDO) NO
EXTERIOR, PASSARAM A COABITAR. ESTREITAMENTO DO RELACIONAMENTO,
CULMINANDO EM NOIVADO E, POSTERIORMENTE, EM CASAMENTO. 3. NAMO-
RO QUALIFICADO. VERIFICAÇÃO. REPERCUSSÃO PATRIMONIAL. INEXISTÊNCIA.
4. CELEBRAÇÃO DE CASAMENTO, COM ELEIÇÃO DO REGIME DA COMUNHÃO
PARCIAL DE BENS. TERMO A PARTIR DO QUAL OS ENTÃO NAMORADOS/NOI-
VOS, MADUROS QUE ERAM, ENTENDERAM POR BEM CONSOLIDAR, CONS-
CIENTE E VOLUNTARIAMENTE, A RELAÇÃO AMOROSA VIVENCIADA, PARA
CONSTITUIR, EFETIVAMENTE, UM NÚCLEO FAMILIAR, BEM COMO COMUNICAR
O PATRIMÔNIO HAURIDO. OBSERVÂNCIA . NECESSIDADE. 5. RECURSO ESPE-
CIAL PROVIDO, NA PARTE CONHECIDA; E RECURSO ADESIVO PREJUDICADO.
1. O conteúdo normativo constante dos arts. 332 e 333, II, da lei adjetiva civil,
não foi objeto de discussão ou deliberação pela instância precedente, circuns-
tância que enseja o não conhecimento da matéria, ante a ausência do correlato
e indispensável prequestionamento. 2. Não se denota, a partir dos fundamentos
adotados, ao final, pelo Tribunal de origem (por ocasião do julgamento dos em-
bargos infringentes), qualquer elemento que evidencie, no período anterior ao
casamento, a constituição de uma família, na acepção jurídica da palavra, em que
há, necessariamente, o compartilhamento de vidas e de esforços, com integral e
irrestrito apoio moral e material entre os conviventes. A só projeção da formação
de uma família, os relatos das expectativas da vida no exterior com o namorado,
a coabitação, ocasionada, ressalta-se, pela contingência e interesses particulares
de cada qual, tal como esboçado pelas instâncias ordinárias, afiguram-se insufi-
cientes à verificação da affectio maritalis e, por conseguinte, da configuração da
união estável. 2.1 O propósito de constituir família, alçado pela lei de regência

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como requisito essencial à constituição da união estável – a distinguir, inclusive,


esta entidade familiar do denominado “namoro qualificado” -, não consubstancia
mera proclamação, para o futuro, da intenção de constituir uma família. É mais
abrangente. Esta deve se afigurar presente durante toda a convivência, a partir
do efetivo compartilhamento de vidas, com irrestrito apoio moral e material entre
os companheiros. É dizer: a família deve, de fato, restar constituída. 2.2. Tampou-
co a coabitação, por si, evidencia a constituição de uma união estável (ainda que
possa vir a constituir, no mais das vezes, um relevante indício), especialmente se
considerada a particularidade dos autos, em que as partes, por contingências e
interesses particulares (ele, a trabalho; ela, pelo estudo) foram, em momentos
distintos, para o exterior, e, como namorados que eram, não hesitaram em residir
conjuntamente. Este comportamento, é certo, revela-se absolutamente usual nos
tempos atuais, impondo-se ao Direito, longe das críticas e dos estigmas, adequar-
-se à realidade social. 3. Da análise acurada dos autos, tem-se que as partes liti-
gantes, no período imediatamente anterior à celebração de seu matrimônio (de
janeiro de 2004 a setembro de 2006), não vivenciaram uma união estável, mas sim
um namoro qualificado, em que, em virtude do estreitamento do relacionamento
projetaram para o futuro – e não para o presente -, o propósito de constituir uma
entidade familiar, desiderato que, posteriormente, veio a ser concretizado com o
casamento. 4. Afigura-se relevante anotar que as partes, embora pudessem, não
se valeram, tal como sugere a demandante, em sua petição inicial, do instituto
da conversão da união estável em casamento, previsto no art. 1.726 do Código
Civil. Não se trata de renúncia como, impropriamente, entendeu o voto condutor
que julgou o recurso de apelação na origem. Cuida-se, na verdade, de clara ma-
nifestação de vontade das partes de, a partir do casamento, e não antes, consti-
tuir a sua própria família. A celebração do casamento, com a eleição do regime
de comunhão parcial de bens, na hipótese dos autos, bem explicita o termo a
partir do qual os então namorados/noivos, maduros que eram, entenderam por
bem consolidar, consciente e voluntariamente, a relação amorosa vivenciada para
constituir, efetivamente, um núcleo familiar, bem como comunicar o patrimô-
nio haurido. A cronologia do relacionamento pode ser assim resumida: namoro,

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noivado e casamento. E, como é de sabença, não há repercussão patrimonial


decorrente das duas primeiras espécies de relacionamento. 4.1 No contexto dos
autos, inviável o reconhecimento da união estável compreendida, basicamente,
nos dois anos anteriores ao casamento, para o único fim de comunicar o bem en-
tão adquirido exclusivamente pelo requerido. Aliás, a aquisição de apartamento,
ainda que tenha se destinado à residência dos então namorados, integrou, ine-
quivocamente, o projeto do casal de, num futuro próximo, constituir efetivamente
a família por meio do casamento. Daí, entretanto, não advém à namorada/noiva
direito à meação do referido bem. 5. Recurso especial provido, na parte conheci-
da. Recurso especial adesivo prejudicado. (REsp 1454643/RJ, Rel. Ministro MARCO
AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA, julgado em 03/03/2015, DJe 10/03/2015)”
Isaura está bem equivocada! Para a configuração da União Estável, pre-
ceitua o Código Civil: “Art. 1.723. É reconhecida como entidade familiar a união
estável entre o homem e a mulher, configurada na convivência pública, contínua
e duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de família.”. Neste
caso, há dois requisitos objetivos: união pública; estabilidade/durabilidade, e um
requisito subjetivo (o mais importante), denominado “affectio maritalis” (intenção
de constituição de família). Não se exige o dever de coabitação, nem a existência
de filhos comuns. Assim, Isaura e Aroldo assumem verdadeira postura de casados
(posse do estado de casados), restando preenchidos todos os requisitos de uma
genuína união estável!
7ª DICA – O que são alvíssaras ou achádego? Trata-se da recompensa a ser
concedida por aquele que emprega esforços para entregar COISA PERDIDA a
seu titular. O instituto jurídico é denominado Descoberta (artigos 1233-1237 do
CC/02). Segundo a legislação civil, o valor do achádego não pode ser inferior a
5% (cinco por cento) do valor da coisa encontrada, tendo o descobridor direito
também de ser ressarcido das despesas com a conservação e transporte da coisa.
8ª DICA – Dentro do estudo da responsabilidade civil, em casos de negativa-
ção de nome, merece destaque três Súmulas do Colendo STJ, ora reproduzidas:
Súmula 385 – Da anotação irregular em cadastro de proteção ao crédito, não
cabe indenização por dano moral, quando preexistente legítima inscrição, ressal-
vado o direito ao cancelamento

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Súmula 548 – Incumbe ao credor a exclusão do registro da dívida em nome


do devedor no cadastro de inadimplentes no prazo de cinco dias úteis, a partir
do integral e efetivo pagamento do débito.
Súmula 572 – O Banco do Brasil, na condição de gestor do Cadastro de Emi-
tentes de Cheques sem Fundos (CCF), não tem a responsabilidade de notificar
previamente o devedor acerca da sua inscrição no aludido cadastro, tampouco
legitimidade passiva para as ações de reparação de danos fundadas na ausência
de prévia comunicação.
9ª DICA – o que é casamento avuncular? Trata-se de casamento nulo? Ca-
samento avuncular é o casamento de tio(a) com sobrinho(a). Em que pese o
disposto no artigo 1521, inciso IV, parte final, do CC/02 (causa impeditiva que gera
nulidade absoluta do casamento – artigo 1548, II, do CC/02), se houver compro-
vação médica que demonstre a ausência de risco de problemas genéticos à prole
eventual deste casal, nos termos do Decreto-Lei n. 3200/41, tal casamento pode
ser autorizado. Neste sentido, estabelece também o Enunciado 98 da Jornada de
Direito Civil: “O inc. IV do art. 1.521 do novo Código Civil deve ser interpretado
à luz do Decreto-Lei n. 3.200/41 no que se refere à possibilidade de casamento
entre colaterais de 3º grau.”
10ª DICA – Fechando nossas dicas com chave de ouro, eu pergunto: quais
as principais formas de aquisição da propriedade de bem móvel? Para facilitar,
memorize esta estranha palavra: CACETUTO
C – omistão – mistura de substâncias sólidas de titulares distintos, sem pos-
sibilidade de separação.
A – djunção – justaposição de substâncias sólidas de titulares distintos, sem
possibilidade de separação.
C – onfusão – mistura de substâncias líquidas de titulares distintos, sem pos-
sibilidade de separação.
E – specificação (transformação de matéria prima total ou parcialmente
alheia pelo especificador, originando espécie nova).
T – radição – entrega material, simbólica, consensual ou ficta (constituto pos-
sessório) da coisa móvel.

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U – sucapião (modalidade ordinária 03 anos, desde que haja justo título e


boa-fé; e modalidade extraordinária 05 anos)
T-esouro (achado do tesouro) – objetos móveis de valor ocultados inten-
cionalmente pelo antigo titular, do qual não se tem mais notícia.
O –cupação (apreensão física/tomar para si coisas sem dono, seja porque
nunca tiveram um dono – res nullius – ou foram abandonadas – res derelicta).
Força! Estamos perto da vitória! Persistência! Fiquem com Deus e bons estu-
dos!!!!! Contem comigo sempre!

Raquel Bueno – Formada em Direito pela Universi-


dade Católica de Brasília, Especialista em Direito Civil e
Processo Civil pela Universidade Cândido Mendes-RJ,
Mestranda em Direito na Universidade Católica de
Brasília, professora de Direito Civil da graduação da
Universidade Católica de Brasília e IESB, da pós gradu-
ação em Direito Civil da UniEvangélica de Anápolis-
-GO e professora de Direito Civil e Processo Civil do
Gran Cursos Online. Advogada.

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DIREITO CIVIL:
PROFESSORA ROBERTA QUEIROZ

Olá meus amores, estamos na reta final para a nossa provinha de segunda fase…
Vamos fechar nossas dicas hoje com alguns pontos de recordação do direito
civil e do processo civil, vamos misturar tudo; não pode esquecer….

LEGITIMIDADE AD CAUSAM PARA PROTEÇÃO DE DIREITOS DE PERSO-


NALIDADE DO MORTO (APÓS A MORTE) É ORDINÁRIA – NÃO ESQUECE!

Para proteção de direitos de personalidade do morto temos dois artigos: ar-


tigo 12 e artigo 20 do CC, vejamos:
Art. 12. Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da personali-
dade, e reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei.
Parágrafo único. Em se tratando de morto, terá legitimação para requerer a
medida prevista neste artigo o cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente em
linha reta, ou colateral até o quarto grau.
Art. 20. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça
ou à manutenção da ordem pública, a divulgação de escritos, a transmissão da
palavra, ou a publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa
poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da indenização que
couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se desti-
narem a fins comerciais.
Nos dois dispositivos, o rol de legitimados é exemplificativo.

COMPETÊNCIA NO PROCESSO CIVIL – REGRAS BÁSICAS

Art. 46. A ação fundada em direito pessoal ou em direito real sobre bens mó-
veis será proposta, em regra, no foro de domicílio do réu.
Art. 47. Para as ações fundadas em direito real sobre imóveis é competente o
foro de situação da coisa. § 1º O autor pode optar pelo foro de domicílio do réu
ou pelo foro de eleição se o litígio não recair sobre direito de propriedade, vizi-

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nhança, servidão, divisão e demarcação de terras e de nunciação de obra nova.


(nesses casos tem que ser no local do imóvel – competência funcional)
§ 2º. A ação possessória imobiliária será proposta no foro de situação da coi-
sa, cujo juízo tem competência absoluta.

INCOMPETÊNCIA

A incompetência, absoluta ou relativa, será alegada como questão preliminar


de contestação, mas a incompetência absoluta pode ser alegada em qualquer
tempo e grau de jurisdição e deve ser declarada de ofício.
A súmula 33 do STJ veda que o juiz reconheça de ofício a incompetência re-
lativa; Prorrogar-se-á a competência relativa se o réu não alegar a incompetência
em preliminar de contestação.

CÔNJUGES NO PROCESSO

Como autores: o cônjuge necessitará do consentimento ( juiz pode suprir a


ausência do consentimento) do outro para propor ação que verse sobre direito real
imobiliário, salvo quando casados sob o regime de separação absoluta de bens.
Como réus: Ambos os cônjuges serão necessariamente citados para a ação,
formando litisconsórcio necessário:
I – que verse sobre direito real imobiliário, salvo quando casados sob o regime
de separação absoluta de bens;
II – resultante de fato que diga respeito a ambos os cônjuges ou de ato prati-
cado por eles;
III – fundada em dívida contraída por um dos cônjuges a bem da família;
IV – que tenha por objeto o reconhecimento, a constituição ou a extinção de
ônus sobre imóvel de um ou de ambos os cônjuges.
Nas ações possessórias, a participação do cônjuge do autor ou do réu so-
mente é indispensável nas hipóteses de composse (posse dos dois) ou de ato por
ambos praticado.
Essas regras serão aplicadas à união estável que esteja comprovada nos autos.

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PEDIDO NA PETIÇÃO INICIAL

O pedido deve ser determinado, ou seja, deve estar individualizado. Excep-


cionalmente, de acordo com o CPC, é possível pedido genérico (determinável),
quando:
I – nas ações universais, se o autor não puder individuar os bens demandados;
II – quando não for possível determinar, desde logo, as consequências do ato
ou do fato;
III – quando a determinação do objeto ou do valor da condenação depender de
ato que deva ser praticado pelo réu.
Quando o pedido for genérico, a sentença poderá sofrer liquidação de sen-
tença.
E, até quando o pedido pode ser alterado???
Art. 329. O autor poderá:
I – até a citação, aditar ou alterar o pedido ou a causa de pedir, independente-
mente de consentimento do réu;
II – até o saneamento do processo, aditar ou alterar o pedido e a causa de
pedir, com consentimento do réu, assegurado o contraditório mediante a possi-
bilidade de manifestação deste no prazo mínimo de 15 (quinze) dias, facultado o
requerimento de prova suplementar.
Parágrafo único. Aplica-se o disposto neste artigo à reconvenção e à respectiva
causa de pedir.

PRAZOS RECURSAIS

Os prazos recursais foram unificados para 15 dias, salvo embargos de decla-


ração que permanece sendo 5 dias.
Ministério Público, Defensoria Pública, Fazenda Pública e litisconsórcio com
advogados diferente de escritórios diferentes possuem prazos em dobro.

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EMBARGOS A EXECUÇÃO

O executado, no prazo de 15 dias, independentemente de penhora, depósito


ou caução, poderá se opor à execução por meio de embargos, que serão dis-
tribuídos por dependência, autuados em apartado e instruídos com cópias das
peças processuais relevantes, que poderão ser declaradas autênticas pelo próprio
advogado, sob sua responsabilidade pessoal.
Na execução por carta, os embargos serão oferecidos no juízo deprecante
ou no juízo deprecado, mas a competência para julgá-los é do juízo deprecante,
salvo se versarem unicamente sobre vícios ou defeitos da penhora, da avaliação
ou da alienação dos bens efetuadas no juízo deprecado.
Gente, as dicas de hoje foram somente alguns pontos finais e, em conjunto
com as anteriores, são importantes para sua prova…
Tenha uma excelente prova; confio em você!
Beijos

Roberta Queiroz – Graduada em Direito pela Univer-


sidade Católica de Brasília em dezembro de 2005; Es-
pecialista em Direito Processual Civil pela Universidade
do Sul de Santa Catarina em novembro de 2009; Mes-
tranda em Direito pela Universidade Católica de Brasí-
lia, com enfoque em direito público; docente nas disci-
plinas de Direito Civil, Direito Processual Civil e Direito
Administrativo desde 2007; docente titular do curso de
Direito da Universidade Católica de Brasília; professora
de cursos preparatórios para concursos; advogada atuante na área de direito
privado e direito administrativo desde 2006.

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DIREITO CIVIL:
PROFESSORA PATRÍCIA DREYER

Meus caros alunos, a dica de hoje é sobre Direito do Consumidor e, dentro


dessa disciplina, vamos falar dos contratos submetidos ao CDC:

1 – Segundo entendimento já consagrado no Superior Tribunal de Justiça, os


contratos bancários estampam contratos de consumo. Entretanto, quando se
faz contrato de financiamento, aplica-se o CDC se o empréstimo é tomado pelo
consumidor final, e não quando o empréstimo é feito para a empresa aplicar o
valor no seu negócio ou no capital de giro. O serviço de crédito tomado pela
pessoa física, membro da sociedade empresária, junto à instituição financeira é
utilizado no fomento de sua atividade empresarial, de sua atividade lucrativa, de
modo que a circulação econômica não se encerra em suas mãos, e não torna a
empresa destinatária final.
2 – No que diz respeito aos contratos de saúde, há varias questões contro-
vertidas que podem ser inicialmente resolvidas pela súmula 469 do STJ: Aplica-se
o Código de Defesa do Consumidor aos contratos de plano de saúde. Nesse
diapasão, é imperioso destacar que só poderá ser recusada a cobertura do se-
guro saúde se o segurado agiu de má fé, conhecia a doença e ocultou em suas
declarações.
3 – Quanto à cláusula dos contratos de saúde que limita dias de in-
ternação, o STJ já se manifestou para firmar o entendimento de que é abusiva a
cláusula contratual de seguro de saúde que estabelece limitação de valor para o
custeio de despesas com tratamento clínico, cirúrgico e de internação hospitalar,
porque exclui a essência do próprio risco assumido, devendo ser decretada a sua
nulidade.
4 – Já o seguro de responsabilidade civil, na subespécie seguro de
danos, é aquele em que o segurador garante o pagamento de perdas e danos
devidos pelo segurado a terceiros. O beneficiário é o próprio segurado porque
se resguarda para não ter que desembolsar a indenização eventualmente devida

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a terceiro. À evidência, contudo, permita-se destacar que a responsabilidade que


se segura, nas linhas de Pontes de Miranda, é a de ato culposo, não doloso, da
pessoa segurada; ou ainda, de ato, ato-fato de outrem, culposo ou doloso, ou
ainda de animal.
5 – O contrato de transporte é de maior relevância social e econômica,
aproxima pessoas, cidades, países, fomenta negócios e circula riquezas. A única
exceção em que o CDC não será aplicado, portanto, se faz quando o transpor-
te é puramente gratuito, porque não há prestação de serviço. Neste sentido, é
importante destacar que o CDC destacou o princípio da indenização integral,
sobrepondo-se à Convenção de Varsóvia quanto aos contratos aéreos e qualquer
cláusula contratual que limite o valor de indenização por extravio de bagagem,
por exemplo, é considerada abusiva.
6 – A prestação de serviços públicos essenciais, conforme artigo 22 do
CDC, também se enquadra na espécie de contratos de consumo, especialmente
quando remunerados por tarifa ou preço público, como telefone, água e energia
elétrica. Por outro lado, serviços remunerados por tributos (impostos, taxas ou
contribuição de melhoria) não estão submetidos ao CDC pois se trata de relação
entre Poder Público e contribuinte, numa relação administrativo-tributária.
7 – Também os contratos de incorporação imobiliária são entendidos
como contratos de consumo, pois o incorporador/construtor é um fornecedor de
produtos ou serviços. Quando ele vende e constrói unidades imobiliárias assume
a obrigação de dar coisa certa, de entregar um produto. Quem adquire é desti-
natário final, pois fará ali sua moradia e de sua família.
8 – No que diz respeitos aos contratos de locação, espaços em shoppings,
lojas, escritórios, não há qualquer dúvida de que não incide o CDC. A divergência
está no locação residencial, mas a maioria da doutrina insiste não ser um contrato
de consumo porque o locador não exerce tal atividade como essencial, habitual,
de modo a caracterizá-lo fornecedor, salvo se for empresa proprietária de vários
imóveis destinados à locação. Quando o contrato é feito por imobiliária também
não se verifica uma relação de consumo porque a administradora não é parte no
contrato de locação.

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9 – Não existe relação de consumo também na relação entre condomínio e


condôminos, mas uma relação civil, porque o condomínio não fornece serviços.
Portanto, o CDC não se aplica à multa pelo atraso no pagamento de alugueis e
de cotas condominiais.
10 – Os contratos eletrônicos são contratos comuns de compra e venda,
prestação de serviços, locação de coisas, feitos pela rede mundial de computa-
dores. Mas não diferem dos outros contratos de adesão, a não ser pela forma.
Assim, se houver relação paritária aplica-se o Código Civil e se houver relação
de consumo, notadamente quando há um destinatário final que contrata o for-
necedor para adquirir produto ou serviço aplica-se o CDC. Todavia, quando se
tratar de relação de consumo, observe-se que a vulnerabilidade do consumidor
pode ser ainda maior pela limitação de verificação do produto ou do serviço, e
até mesmo pela verificação do próprio fornecedor. Por isso, há maior relevância e
observância dos princípios da confiança, da informação e da segurança.
Em breve, teremos mais dicas! Continue estudando!!!
Abraço afetuoso,

Patrícia Dreyer – é graduada em Direito há 14 anos,


pelo UNICEUB, advogada, especialista em Direito Pro-
cessual Civil pela PUC-SP, especialista em Direito Público
e estudante regular do Programa de Doutorado. Profes-
sora de Direito Civil, Direito Processual Civil, Direito do
Consumidor, Estatuto da Criança e do Adolescente e do
Estatuto do Idoso, com experiência em cursos de gradu-
ação, pós-graduação, Academia de Polícia Militar, e pre-
paratórios para concursos públicos e exames de Ordem.

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DIREITO CIVIL:
PROFESSORA ANELISE MUNIZ

Bom dia, meus amados!


Hoje trago 03 (três) Súmulas comentadas para vocês! Vejam:

SÚMULA N. 420 DO STF


“NÃO SE HOMOLOGA SENTENÇA PROFERIDA NO ESTRANGEIRO SEM
PROVA DO TRÂNSITO EM JULGADO”.

Para que uma decisão proferida pelo Poder Judiciário de outro país possa
produzir os mesmos efeitos no Brasil é necessário o reconhecimento pela
Justiça brasileira. E, somente após a homologação, a sentença estrangeira
terá eficácia no Brasil.

O órgão competente para essa homologação é o Superior Tribunal de Justiça,


nos termos do art. 105, I, alínea “i”, da CF/88 (por força da EC 45/04). Por isso,
deve-se atentar à leitura do art. 961, do CPC.
Art. 961. A decisão estrangeira somente terá eficácia no Brasil após a homolo-
gação de sentença estrangeira ou a concessão do exequatur às cartas rogatórias,
salvo disposição em sentido contrário de lei ou tratado.

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A exigência do trânsito em julgado consta no art. 5º da Resolução n. 9/2005


do STJ, que regulamenta a homologação de sentença estrangeira:

Art. 5º Constituem requisitos indispensáveis à homologação de sentença


estrangeira:
I – haver sido proferida por autoridade competente;
II – terem sido as partes citadas ou haver-se legalmente verificado a revelia;
III – ter transitado em julgado; e
IV – estar autenticada pelo cônsul brasileiro e acompanhada de tradução por
tradutor oficial ou juramentado no Brasil.

SÚMULA N. 404 DO STJ (DIREITO DO CONSUMIDOR – AVISO DE RECE-


BIMENTO/AR)
“É DISPENSÁVEL O AVISO DE RECEBIMENTO (AR) NA CARTA DE CO-
MUNICAÇÃO AO CONSUMIDOR SOBRE A NEGATIVAÇÃO DE SEU NOME
EM BANCOS DE DADOS E CADASTROS”.

Essa súmula pacifica o entendimento do § 2º do art. 43 do Código de Defe-


sa do Consumidor. Para os julgadores do Superior Tribunal de Justiça, não
há previsão legal de exigência do aviso de recebimento, isto é, da ciência
do destinatário sobre a inscrição em cadastro de proteção ao crédito.
Além disso, não cabe aos órgãos de proteção ao crédito verificar se o notificado
ainda reside no endereço fornecido pelo credor. Ou seja, basta a comprovação
de envio da correspondência para que a notificação seja considerada válida.

Art. 43. O consumidor, sem prejuízo do disposto no art. 86, terá acesso às
informações existentes em cadastros, fichas, registros e dados pessoais e de
consumo arquivados sobre ele, bem como sobre as suas respectivas fontes.
1º Os cadastros e dados de consumidores devem ser objetivos, claros, ver-
dadeiros e em linguagem de fácil compreensão, não podendo conter infor-
mações negativas referentes a período superior a cinco anos.

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2º A abertura de cadastro, ficha, registro e dados pessoais e de consumo de-


verá ser comunicada por escrito ao consumidor, quando não solicitada por ele.
3º O consumidor, sempre que encontrar inexatidão nos seus dados e cadas-
tros, poderá exigir sua imediata correção, devendo o arquivista, no prazo
de cinco dias úteis, comunicar a alteração aos eventuais destinatários das
informações incorretas.
4º Os bancos de dados e cadastros relativos a consumidores, os serviços de pro-
teção ao crédito e congêneres são considerados entidades de caráter público.
5º Consumada a prescrição relativa à cobrança de débitos do consumidor,
não serão fornecidas, pelos respectivos Sistemas de Proteção ao Crédito,
quaisquer informações que possam impedir ou dificultar novo acesso ao
crédito junto aos fornecedores.

SÚMULA N. 449
(DIREITO DE FAMÍLIA – BEM DE FAMÍLIA)
“A VAGA DE GARAGEM QUE POSSUI MATRÍCULA PRÓPRIA NO REGISTRO
DE IMÓVEIS NÃO CONSTITUI BEM DE FAMÍLIA PARA EFEITO DE PENHORA”.

O Supremo Tribunal de Justiça, no julgamento do REsp 23.420, entendeu


que a vaga de garagem, por possuir matrícula própria no registro de imó-
veis, tinha destinação independente do imóvel principal, podendo inclusive
ser objeto de transação de compra e venda, permuta, cessão ou aluguel.
Além disso, a comercialização desse bem não traria consequências para os
direitos da família em relação ao imóvel habitado. Ou seja, tratava-se de uma
unidade autônoma, não amparada pela proteção legal ao bem de família.
Ressalte-se que a existência de matrícula própria é requisito fundamental
para que a penhora seja possível.

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Um dia abençoado a todos!


Bons Estudos.
Beijão

Anelise Muniz – Anelise Muniz – Mestranda em Educa-


ção pela UNICID- Universidade Cidade de São Paulo
(2016). Membro do Grupo de Estudos e pesquisas em
Políticas Públicas, Avaliação e Qualidade-Geppaq, sob a
Orientação da Professora Drª Cristiane Machado. Bacha-
rel em Direito pelo Centro Universitário do Distrito Fede-
ral – UDF (2006). Especialista em Didática do Ensino Su-
perior pela UNICSUL/UDF (2011). Especialista em Direito
Processual Civil pelo ICAT/UDF (2013). ExChefe de Gabi-
nete no TRF 1ª Regão. Professora de Graduação do UDF na área de Direito Civil ,
Processual Civil e Direito Previdenciário. EX- Coordenadora do Núcleo de Práticas
Jurídicas na Justiça Federal de Brasília. Professora de 1ª fase em Processo Civil da
OAB e 2ª Fase da OAB em Civil. Professora Orientadora de Monografia. Advogada
Atuante nas áreas de Direito Civil e Processo Civil e Direito Previdenciário. Professora
do GRANCURSOS. Membro do Conselho da OAB/DF.

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DIREITO PENAL

DIREITO PENAL:
PROFESSOR FLÁVIO DAHER

CONCURSO DE PESSOAS

Os crimes podem ser praticados por uma só pessoa ou por várias pessoas. Em
relação a necessidade de um crime ser praticado por uma ou por várias pessoas
temos a seguinte classificação:
Crime de concurso necessário (plurisubjetivos): quando o crime só pu-
der ser cometido com a intervenção de mais de uma pessoa a pluralidade de
pessoas intervindo no fato é exigência típica – só haverá a caracterização do cri-
me com o concurso de pessoas. Ex.: quadrilha ou banco (art. 288 – Associarem-
-se 3 (três) ou mais pessoas, para o fim específico de cometer crimes), paralisação
de trabalho (art. 201 – Participar de suspensão ou abandono coletivo de trabalho,
praticando violência contra pessoa ou contra coisa. Parágrafo único – Para que se
considere coletivo o abandono de trabalho é indispensável o concurso de, pelo
menos, três empregados). Rixa (art. 137- Participar de rixa, salvo para separar os
contendores). Obs.: tipo penal não precisa quantificar o número de pessoas para
que ele seja de concurso necessário, bastando que, pela sua definição ele não
possa ser realizado por uma única pessoa. Existe uma subclassificação dos crimes
de concurso necessários que leva em conta a postura dos infratores em relação
ao concurso (finalidade da união): a) crimes de condutas paralelas (os concorren-
tes se auxiliam – como no crime de quadrilha ou bando); b) crimes de conduta
convergente (as ações dos concorrentes se fundem para resultar o crime – como
a bigamia ou o já revogado adultério); c) crimes de condutas contrapostas: os
concorrentes agem uns contra os outros – como na rixa).
Crime de concurso eventual (unisubjetivos ou mosossubjetivos): o cri-
me, via de regra, pode ser cometido por uma só pessoa. Isso não impede que
ele seja cometido por várias pessoas em concurso. Neste caso então o concurso
de pessoas não é um exigência típica (dado inafastável para caracterização do
crime) e sim algo eventual.

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A norma que prevê o tema concurso de pessoas é uma “norma de extensão


típica”, ou seja uma norma que amplia o espectro de incidência do tipo incrimina-
dor. O art. 29 do CP afirma que quem, de qualquer modo, concorre para o
crime incide nas penas a este cominadas”. A parte do dispositivo que amplia
as hipóteses de fato atingidas pela regra incriminadora está contida na expres-
são “de qualquer modo”: via de regra para cometer um crime a pessoa tem que
praticar o chamado “verbo reitor do tipo”, ou seja o verbo que traduz a conduta
nuclear do tipo incriminador (subtrair no furto, matar no homicídio, ofender na
lesão corporal, etc), no entanto o art. 29 do CP estende a incriminação para ou-
tras pessoas que, apesar de não terem incorrido na prática do verbo reitor, vo-
luntariamente colaboraram para o delito. Veja o exemplo da pessoa que fica de
vigília para alertar o furtador sobre o retorno dos donos de um imóvel enquanto
seu comparsa realiza a subtração de bens alheios: ficar de vigília não é verbo rei-
tor do art. 155 (que conforme já mencionado é subtrair) mas esse indivíduo fará
jus as penas do furto uma vez que concorreu de qualquer modo.

Flávio Daher – Delegado de Polícia Federal no DF.


Mestre em Direito Constitucional pela UNIFRAN-SP.
Doutorando em Direito Penal pela UNICEUB. Professor
de Cursos Preparatórios. Autor de Obras com o Pro-
fessor Luiz Flávio Gomes.

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DIREITO PENAL:
PROFESSOR FLÁVIO MILHOMEM

Querida Aluna,
Querido Aluno,
Aproxima-se a 2ª fase do XX Exame de Ordem Unificado da Ordem dos Ad-
vogados do Brasil; e, assim, gostaria de dividir com vocês alguns temas de inte-
resse no Processo Penal, com alta possibilidade de serem cobrados na sua prova.
Então, vamos ao trabalho!

Princípio da Presunção de Inocência e a Execução Provisória da


Pena

A presunção de inocência é princípio constitucional, constante do título dos


Direitos e Garantias Individuais, que assegura que ninguém será considerado cul-
pado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória (CF/88, art. 5º,
LVII).
O trânsito em julgado, por sua vez, é o decurso do tempo, com a utilização,
ou não, dos recursos cabíveis, que impossibilita a rediscussão da matéria objeto
do processo.
O Supremo Tribunal Federal, no entanto, no julgamento do HC 126292, em 17
de fevereiro de 2016, por maioria de votos, entendeu que a possibilidade de início
da execução da pena condenatória, após a confirmação da sentença em segundo
grau, não ofende o princípio constitucional da presunção da inocência.
Em resumo, para o STF, uma vez confirmada pelo órgão de 2º grau, em grau
de recurso, a decisão do juízo monocrático, é possível a expedição do mandado
de prisão do condenado.
Cabe, no entanto, a ressalva de que tal decisão não teve reconhecida sua re-
percussão geral, nem foi objeto de súmula vinculante; ou seja, não é de adoção
obrigatória pelos demais órgãos do Poder Judiciário, embora represente um en-
tendimento jurisprudencial acerca da matéria.

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Arquivamento do Inquérito Policial


Cabe ao Ministério Público a promoção do arquivamento do inquérito policial
quando considerar, do exame do caderno inquisitório, inexistentes os elementos
legitimadores do oferecimento da ação penal, seja a materialidade delitiva, indí-
cios suficientes de autoria, ou mesmo as condições da ação (possibilidade jurídica
do pedido, interesse de agir, legitimidade da parte ou justa causa).
A promoção de arquivamento, no entanto, não vincula o juiz de direito que,
caso considere improcedentes as razões invocadas, fará remessa do inquérito ou
peças de informação ao procurador-geral, e este oferecerá a denúncia, designará
outro órgão do Ministério Público para oferecê-la, ou insistirá no pedido de ar-
quivamento, ao qual só então estará o juiz obrigado a atender (CPP, art. 28).

Ação Penal – Espécies


A ação penal é o direito da sociedade, representada pelo Ministério Público,
ou da vítima, de ingressar em juízo, solicitando a aplicação de sanção penal a
autor de crime.
Levando em consideração a predominância do interesse em relação ao bem
jurídico violado com a conduta criminosa (coletivo ou predominantemente indi-
vidual), a ação penal pode ser classificada em: pública ou privada.
A ação penal pública, por sua vez, pode ser classificada em: incondicionada
ou condicionada (à representação do ofendido ou à requisição do Ministro da
Justiça). Nos crimes de ação pública, esta será promovida por denúncia do Mi-
nistério Público, mas dependerá, quando a lei o exigir, de requisição do Ministro
da Justiça, ou de representação do ofendido ou de quem tiver qualidade para
representá-lo (CPP, art. 24).
É importante esclarecer que a ação penal pública é a regra, sendo excepcional
as hipóteses de ação penal privada (queixa-crime). A ação penal é pública, salvo
quando a lei expressamente a declara privativa do ofendido (CP, Art. 100).

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O princípio da inevitabilidade da jurisdição


O princípio da inevitabilidade da jurisdição, ou da irrecusabilidade, consiste na
impossibilidade da parte poder recusar o juiz que lhe é dado, conforme previsto
na lei. Tal princípio, no entanto, não se aplica nos casos de impedimento, suspei-
ção e incompetência do órgão jurisdicional.

Fixação da competência do juízo criminal


Competência é o âmbito delimitado por lei onde o órgão do Estado exerce
sua jurisdição; o que impede, por exemplo, que um juiz de direito do Acre julgue
o autor de crime praticado no Estado de São Paulo.
São três os critérios para definição da competência:
1. I) Em razão da matéria (ratione materiae): estabelecida em razão da natu-
reza do crime praticado;
2. II) Em razão da pessoa (ratione personae): de acordo com a qualidade das
pessoas incriminadas;
III – Em razão do lugar (ratione loci): de acordo com o local em que foi prati-
cado ou restou consumado o crime.

Preliminares no Processo Penal


As preliminares são incidentes processuais que não têm valor próprio, nem
existência independente, muito embora necessitem ser conhecidas antes do mé-
rito, impedindo sua apreciação (v.g. alegação de cerceamento de defesa, suspei-
ção do juiz, nulidade etc.).
Levando em consideração os efeitos decorrentes de seu acolhimento, as
questões preliminares podem ser classificadas em:
1. Peremptórias: extinguem o processo (coisa julgada e litispendência); e
2. Dilatórias: acarretam a prorrogação do curso do processo (suspeição e in-
competência).

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Provas no Processo Penal


As provas são o conjunto de atos praticados pelas partes, pelo juiz e por
terceiros, destinados a levar ao magistrado a convicção acerca da existência ou
inexistência de um fato, da falsidade ou veracidade de uma afirmação.
O objeto da prova, por sua vez, é toda circunstância, fato ou alegação refe-
rente ao litígio sobre os quais pesa incerteza, e que precisam ser demonstrados
perante o juiz para o deslinde da causa.
No entanto, determinados fatos independem de prova, tais como os fatos
evidentes; os notórios, cujo conhecimento faz parte do saber popular; as presun-
ções legais, que são conclusões decorrentes da própria lei; os fatos inúteis, que
não influenciam na apuração da verdade real; e os fatos impossíveis.

Prisão cautelar
A Constituição Federal dispõe que ninguém será preso senão em flagrante
delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competen-
te, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar, defini-
dos em lei (CF/88, art. 5º, LXI).
Os crimes militares são previstos em legislação especial, o Código Penal Mili-
tar; bem como o procedimento para o julgamento dos autores dos crimes milita-
res segue rito próprio, previsto no Código de Processo Penal Militar.
A prisão disciplinar encontra previsão em legislação extravagante, sendo que
a Constituição da República (art. 142, §2º) proíbe a impetração de habeas corpus
com o objetivo de reexaminar o mérito de ato administrativo que determina pu-
nição disciplinar militar, sendo viável, contudo, a utilização do remédio constitu-
cional quanto aos vícios de legalidade do referido ato.

Prisão temporária
Prisão temporária é a prisão provisória praticada no curso do inquérito poli-
cial, cuja finalidade é assegurar uma eficaz investigação policial, fundamentada na
imprescindibilidade das investigações dos crimes especificados na Lei n. 7960/89.

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Característica importante da prisão temporária é que, ao contrário da prisão


preventiva, não pode ser decretada de ofício pelo juiz, carecendo sempre de
provocação da autoridade policial, por representação, ou de requerimento do
Ministério Público.
Caberá prisão temporária quando imprescindível para as investigações do
inquérito policial; o indicado não tiver residência fixa ou não fornecer elementos
necessários ao esclarecimento de sua identidade; e quando houver fundadas ra-
zões, de acordo com qualquer prova admitida na legislação penal, de autoria ou
participação do indiciado nos crimes de homicídio doloso; sequestro ou cárcere
privado; roubo ;extorsão; extorsão mediante sequestro; estupro; epidemia com
resultado de morte; envenenamento de água potável ou substância alimentícia
ou medicinal qualificado pela morte; quadrilha ou bando; genocídio; tráfico de
drogas; e crimes contra o sistema financeiro.

A inafiançabilidade de determinados crimes


A Constituição Federal prevê que a prática do racismo constitui crime inafian-
çável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei. (Art. 5º, LII);
assim como a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anis-
tia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terroris-
mo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes,
os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem (Art. 5º, XLIII).
O Código de Processo Penal, por sua vez, prevê que não será concedida fian-
ça nos crimes de racismo; tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins,
terrorismo e nos definidos como crimes hediondos; e nos crimes cometidos por
grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado De-
mocrático. (Art. 323).
A inafiançabilidade dos crimes acima referidos, no entanto, não deve ser con-
fundido com a impossibilidade de concessão de liberdade provisória, de acordo
com jurisprudência do Supremo Tribunal Federal.

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Assim, no sistema processual penal vigente, crimes de menor censurabilidade,


como o furto simples, por exemplo, estarão sujeitos ao recolhimento da fiança,
como condição para a concessão de liberdade provisória; enquanto o tráfico de
drogas, assemelhado ao crime hediondo, trará a possibilidade de liberdade pro-
visória a seu autor, tão somente pela não identificação das causas legitimadoras
da decretação da prisão preventiva.
Torço para que os assuntos aqui tratados lhes sejam de utilidade na prepa-
ração para o exame unificado da OAB; lembrando que nos veremos, em breve,
com outros assuntos de interesse no processo penal.

Flávio Milhomem – Mestre em Ciências Jurídico-Pe-


nais, Doutorando em Direito e Políticas Públicas, Do-
cente nas disciplinas de Direito Penal e Processo Penal
desde 1997, Docente titular do curso de Direito (ba-
charelado) e da pós-graduação do Instituto Brasiliense
de Direito Público – IDP, Brasília/DF, professor de cursos
preparatórios para concursos, Promotor de Justiça Cri-
minal do Ministério Público do Distrito Federal e Terri-
tórios desde 1.997.

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DIREITO PENAL:
PROFESSOR JOSÉ CARLOS

Prezados candidatos ao exame da OAB, hoje passaremos algumas dicas sobre


o importantíssimo remédio heroico Habeas Corpus.
Primeiramente, a sua origem etimológica significa “tomar o corpo”, ou seja,
deveria ser feita a imediata apresentação em juízo de quem estivesse detido.
Sobre o tema, a Constituição Federal de 1988 em seu artigo 5º, inciso LXVIII,
estabeleceu: “Conceder-se-á Habeas Corpus sempre que alguém sofrer ou se
achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção,
por ilegalidade ou abuso de poder”.
Pelo exposto, o Habeas Corpus trata-se de remédio jurídico destinado a tute-
lar a liberdade física do indivíduo de ir, ficar e vir, tendo por escopo evitar ou fazer
cessar a violência ou coação à liberdade de locomoção decorrente de ilegalidade
ou abuso de poder.
CUIDADO: a impetração de Habeas Corpus está atrelada à necessida-
de de prova pré-constituída, cuja apresentação será ônus do impetrante.

O Habeas Corpus tem natureza de ação autônoma de impugna-


ção, e não natureza recursal.

A referida natureza decorre de algumas circunstâncias inerentes ao Habe-


as Corpus que são mais amplas que as características dos recursos, como, por
exemplo, a possibilidade de sua impetração a qualquer momento, inclusive mes-
mo antes de existir, efetivamente, uma ação penal, ou, a possibilidade de impe-
tração mesmo após o trânsito em julgado da sentença.
DICA DO JC: Poderá o Habeas Corpus visar, por exemplo, o reconhecimento
de nulidades processuais – art. 648, VI, do CPP.

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Também caberá a impetração do remédio constitucional nas hipóteses de


extinção de punibilidade do artigo 107 do CP. Neste caso, o Habeas Corpus ob-
jetivará apenas o reconhecimento de que a punibilidade já restou extinta com o
consequente arquivamento do inquérito policial ou do processo criminal.
Quanto à legitimidade para impetração, importante destacar que qualquer pes-
soa (denominado impetrante), física ou jurídica, nacional ou estrangeira, poderá
ajuizar o habeas corpus em favor de alguém (denominado paciente), indepen-
dentemente de possuir habilitação técnica para tanto (desnecessário o pa-
trocínio de advogado, conforme disposição expressa no art. 1º, §1º, do Es-
tatuto da Advocacia da Ordem dos Advogados do Brasil – Lei n. 8.906/94).

O Ministério Público pode ingressar com Habeas Corpus em favor


de qualquer pessoa, inclusive do réu do processo onde ele (Promotor ou
Procurador da República) figura como acusador.

Poderá ser paciente qualquer pessoa física. Atenção: Majoritariamen-


te não se admite a possibilidade de figurar como beneficiária do Habeas
Corpus a pessoa jurídica, pois inexiste viabilidade para constranger a sua
liberdade de locomoção. Neste sentido STF, RTJ 104/1060.

Assim, se a pessoa jurídica for acusada da prática de um crime contra o meio


ambiente (Lei n. 9.605/98), cuidando-se de ação penal injustificada, sem respaldo
algum, recebida a denúncia, caberá a impetração de Mandado de Segurança
para trancar o andamento do feito.
Já no polo passivo do habeas corpus haverá a figura da autoridade coatora
(impetrado), cujo ato signifique ao paciente um constrangimento à sua liberdade
de ir, vir e ficar.

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Cuidado: Tem-se admitido, majoritariamente, que o particular figure como


agente coator. Essa posição fundamenta-se na celeridade do Habeas Corpus
para resolver problemas relacionados à liberdade de locomoção.
Outra questão importante, é que a ação de Habeas Corpus, por impera-
tivo constitucional, é sempre gratuita, não havendo qualquer espécie de
pagamento de custas à luz do art. 5º, LXXVII, CF.
Outro tema muito abordado nos exames, é que ao juiz será permitida a con-
cessão de Habeas Corpus de ofício, ou seja, independentemente de requerimen-
to de qualquer interessado, nos termos do disposto no art. 654, §2º, do CPP, in-
clusive, cassando a própria decisão ou de algum antecessor, sem que tal conduta
represente violação à estabilidade das decisões.
Cuidado: É inadmissível Habeas Corpus se não há atentado contra a liberdade
de locomoção. Assim, não cabe para eximir o paciente do pagamento de
custas processuais (súmula 395 do STF).
Também não cabe Habeas Corpus contra dosimetria da pena de multa, uma
vez que, diante da lei 9.268/96, não existe mais possibilidade de esta pena ser
convertida em privativa de liberdade, não havendo como ocorrer constrição à
liberdade de locomoção (1ª T., HC 73.744, rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJU, 28
out. 1996). Esse entendimento é objeto da Súmula 693 do STF, cujo teor é o se-
guinte: “Não cabe Habeas Corpus contra decisão condenatória a pena de
multa, ou relativo a processo em curso por infração penal a que a pena
pecuniária seja a única cominada”.
Outro tema relevante, diz respeito à inadmissibilidade da impetração do Ha-
beas Corpus durante o estado de sítio (CF, arts. 138, caput, e 139, I e II), a vedação
se dirige apenas contra o mérito da decisão do executor da medida, podendo ser
impetrado o remédio se a coação tiver emanado de autoridade incompetente,
ou em desacordo com as formalidades legais.
Em suma, nada impede a impetração quando presentes vícios formais que
destaquem a medida como ilegal, por exemplo, na hipótese de incompetência
do detentor da patente que ordenou a prisão disciplinar do militar. Também no
caso de cerceamento de defesa e no descumprimento das formalidades legais
(devido processo legal).
Na mesma linha, no caso de transgressão disciplinar, só não cabe quanto ao
mérito do ato administrativo militar, porém, em caso de ilegalidade ou descum-
primento de formalidade, será possível o manejo do writ constitucional.

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Por fim, o art. 654, § 1º, do CPP estabelece os requisitos da petição do Habeas
Corpus, os quais consistem:
1. A) O nome da pessoa que sofre ou está ameaçada de sofrer violência
ou coação […].” Trata-se da identificação do paciente.
2. B) O nome “de quem exercer a violência, coação ou ameaça”. Obs:
Tratando-se de Habeas Corpus destinado á cessação do constrangimento pelo
particular, por exemplo, um gerente de hotel que impede a saída do hóspede
enquanto não houver o pagamento dos débitos, entende-se ser indispensável à
identificação pelo nome, basta declinar a função ou cargo do coator.
3. C) A “declaração da espécie de constrangimento ou, em caso de
simples ameaça de coação, as razões que geraram o temor”.
Dica: é imprescindível que a petição demonstre a ilegalidade do constrangi-
mento sofrido ou ameaçado. Assim, deverá expor as razões de fato e de direito
que demonstrem a coação.
1. D) A “assinatura do impetrante, ou de alguém a seu rogo, quando
não souber ou não puder escrever”. Também a designação das respectivas
residências.
Cuidado: Não se admite a petição apócrifa (sem subscrição). Destarte, não
sabendo ou não podendo assinar o impetrante, alguém deverá subscrever a seu
rogo, sob pena de indeferimento ou não conhecimento.
BONS ESTUDOS E MUITO SUCESSO NA PROVA DA OAB!
ABRAÇOS DO PROFESSOR JC!

José Carlos – Professor Universitário e Advogado,


com especialização em Direito Penal, Direito Proces-
sual Penal e Direito Ambiental e Recursos Hídricos.
Doutorando em Direito Penal pela Universidade de
Buenos Aires (UBA). Professor Titular de Direito Penal
e Direito Processual Penal na Universidade Católica de
Brasília (UCB). Professor Titular das Faculdades Inte-
gradas da União Educacional do Planalto Central (FA-
CIPLAC) nas áreas de Direito Penal, Processo Penal e
Laboratório de Prática Jurídica. Participante de bancas
examinadoras de Concursos Públicos.

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DIREITO PENAL:
PROFESSOR MARCELO FERREIRA

PROGRESSÃO DE REGIMES PARA OS CRIMES HEDIONDOS: QUAL É A


SÚMULA?

Os problemas envolvendo súmulas do STJ e do STF têm presença certa nas


provas práticas de Penal da OAB. Tanto na peça quanto nas questões.Assim, en-
quanto, de um lado, o examinador lê a súmula e elabora sua questão; de outro,
o candidato à carteira da OAB lê a questão e começa a corrida para encontrar a
súmula referente ao assunto.
No geral, o comando da questão se refere à “posição dos tribunais superio-
res”, ao “entendimento do STJ” ou à “jurisprudência do STF”. Enfim, o examinador
chama a atenção do candidato para se manifestar de acordo com o entendimen-
to dominante da jurisprudência, que é representado pelo verbete das súmulas
daqueles tribunais.
Nossa súmula de hoje envolve a progressão de regimes para os crimes
hediondos. Assim, é proposta a seguinte questão: Como se posiciona a ju-
risprudência dos tribunais superiores acerca da fração de pena que deve
ser cumprida nos crimes hediondos praticados antes da Lei n. 11.464/07
para a obtenção da progressão de regimes?
A pergunta é interessante porque a Lei dos Crimes Hediondos (Lei n. 8.072/90),
em sua redação original, estabelecia que as penas pela prática de crimes hedion-
dos eram cumpridas no regime integralmente fechado. Assim, independente da
espécie ou quantidade de pena aplicada, o agente condenado por crime hedion-
do deveria cumpri-la no regime fechado, ou seja, sem o direito à progressão de
regimes. Assim previa o § 1º do art. 2º da Lei n. 8.072/90:
• 1º A pena por crime previsto neste artigo será cumprida integralmente em
regime fechado.

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COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

Ocorre que o Supremo Tribunal Federal, depois de muito se conformar com


aquela disposição legal, resolveu mudar seu posicionamento. Assim, invocando
ofensa ao princípio da individualização da pena, o STF declarou inconstitucional
aquela disposição da Lei n. 8.072/90 que vedava a progressão de regimes.
Atento à mudança de posicionamento, o Legislativo se apressou para pro-
mover a alteração daquela Lei. Eis a mudança implementada por meio da Lei n.
11.464/07:
Art. 1º O art. 2º da Lei n. 8.072, de 25 de julho de 1990, passa a vigorar com
a seguinte redação:
“Art. 2º ………………..……………………………
(…)
• 1º A pena por crime previsto neste artigo será cumprida inicialmente em
regime fechado.
• 2º A progressão de regime, no caso dos condenados aos crimes previstos
neste artigo, dar-se-á após o cumprimento de 2/5 (dois quintos) da pena,
se o apenado for primário, e de 3/5 (três quintos), se reincidente.

Como se vê, além de passar a prever a possibilidade de progressão de regi-


mes para os crimes hediondos, o legislador resolveu estabelecer frações diferen-
ciadas daquelas previstas na Lei de Execução Penal (Lei n. 7.210/84).
Em decorrência, enquanto o agente que pratica crime hediondo deve cumprir
2/5 (dois quintos) ou 3/5 (três quintos) da pena, o agente que pratica crime que
não é hediondo cumpre somente 1/6 (um sexto).
A dúvida que a questão levanta é a seguinte: como fica a situação do agente
que praticou um crime hediondo antes da publicação da Lei n. 11.464/07, conside-
rando que não havia previsão de progressão na redação original da Lei n. 8.072/90?
A posição adotada pelo Superior Tribunal de Justiça é no sentido de que a fra-
ção a ser cumprida é a prevista na redação do art. 112 da Lei de Execução Penal,
ou seja, somente 1/6 (um sexto) da pena. Isso porque era a única fração existente
antes da publicação da Lei n. 11.464/07.
Nesse sentido, é o teor da Súmula n. 471 do STJ, segundo a qual “os conde-
nados por crimes hediondos ou assemelhados cometidos antes da vigência da
Lei n. 11.464/2007 sujeitam-se ao disposto no art. 112 da Lei n. 7.210/1984 (Lei de
Execução Penal) para a progressão de regime prisional”.

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Concluindo, se o crime hediondo foi praticado antes da Lei n. 11.464/2007, o


agente deverá cumprir somente 1/6 da pena para fazer jus à progressão de regi-
mes. Agora, se praticou o crime após a publicação da referida Lei, deverá cumprir
2/5 (dois quintos), se for primário, ou 3/5 (três quintos) se reincidente em crime
hediondo ou assemelhado.
Uma dica para o candidato localizar a súmula utilizada pelo examinador para
a elaboração da questão é sublinhar “palavras-chaves”. No presente caso, a su-
gestão é sublinhar “crimes hediondos” e “progressão de regimes”. A partir
dessa marcação, o candidato deve utilizar o índice de súmulas por assunto ou
as tabelas de súmulas que algumas editoras disponibilizam no vademecum de
Penal/Processo Penal. Se o seu vademecum não possui esse índice ou a tabela,
a sugestão é buscar as remissões dos textos da lei, no presente caso, o candi-
dato poderia procurar a súmula diretamente na Lei dos crimes hediondos (Lei n.
8.072/90) ou nos artigos da legislação penal que tratam da progressão de regi-
mes (33 do CP ou 112 da LEP).

Marcelo Ferreira – Mestre em Direito Público, Especia-


lista em Direito Penal e Processo Penal. Autor da obra
Segurança Pública e Prisão Preventiva no Estado Demo-
crático de Direito (Editora Lumen Juris). Assessor de Mi-
nistro do Superior Tribunal Militar. Professor de Direito
Penal e Processo Penal do Centro Universitário do Distri-
to Federal (UDF), da UNIEURO e da pós-graduação do
UniCEUB. Coordenador da Equipe Exame (cursos pre-
senciais de prática penal para OAB). No Rio de Janeiro,
além de professor universitário e de cursos preparatórios para concursos, atuou
como presidente e membro de várias bancas de concurso público, em especial, os
concursos para os cargos de Delegado de Polícia do Estado do Rio de Janeiro e de
Oficial integrante do Sistema de Assessoria Jurídica Consultiva da Marinha.

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DIREITO PENAL:
PROFESSOR FELIPE LEAL

Futura advogada, Futuro advogado.


Hoje, irei apresentar dicas importantes para a segunda fase em Direito Penal.
Preparado(a)? Então vamos lá!!!

DICA 01 – LEI N. 9.605/1998 – CRIME DE PESCA

Segundo o art. 34 da Lei n. 9.605/1998, é crime pescar em período no qual a


pesca seja proibida ou em lugares interditados por órgão competente. O art. 35
da Lei n. 9.605/1998, por seu turno, estabelece, como crime, a pesca mediante a
utilização de explosivos ou substâncias que, em contato com a água, produzam
efeito semelhante; ou mediante a utilização de substâncias tóxicas, ou outro meio
proibido pela autoridade competente.
Pois bem. Faz-se necessário interpretar esse artigo em conjunto com o art. 36,
segundo o qual se considera pesca todo ato tendente a retirar, extrair, coletar,
apanhar, apreender ou capturar espécimes dos grupos dos peixes, crustáceos,
moluscos e vegetais hidróbios, suscetíveis ou não de aproveitamento econômico,
ressalvadas as espécies ameaçadas de extinção, constantes nas listas oficiais da
fauna e da flora.
Sublinhamos o termo acima com vistas a realçar o momento do iter criminis
em que ocorre a consumação do crime, sendo suficiente a execução de ação idô-
nea e inequívoca de apanhar ou capturar, razão pela qual se mostra prescindível
a consecução do ato, com a efetiva captura da espécie (exaurimento do crime).
Outro ponto importante, ainda nesse tema, é a pesca e molestamento de ce-
táceos, como a baleia e o golfinho. Neste caso, não se aplica a Lei n. 9.605/1998,
e, sim, pelo princípio da especialidade, a Lei n. 7.643/1987.

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DICA 02 – LEI N. 11.343/2006 – TRÁFICO PRIVILEGIADO

A Lei n. 11.343/2006, em seu art. 33, §4º, estabeleceu que, no caso de tráfico
de drogas, as penas possam ser reduzidas de um sexto a dois terços, desde que
o agente seja primário, de bons antecedentes, não se dedique às atividades cri-
minosas nem integre organização criminosa.
Antes, o entendimento era no sentido de a causa de diminuição de pena, em
comento, não afastar a hediondez do crime. Foi editada, inclusive, a Súmula 512
do STJ: “a aplicação da causa de diminuição de pena prevista no art. 33, § 4º, da
Lei n. 11.343/2006 não afasta a hediondez do crime de tráfico de drogas”.
Ocorreu que, na sessão do dia 23 de junho de 2016, o Plenário do Supremo
Tribunal Federal (STF) entendeu que o chamado tráfico privilegiado não mais
deve ser considerado crime de natureza hedionda (Habeas Corpus 118533), alte-
rando o entendimento sobre o assunto.

DICA 03 – LEI N. 9.296/1996 – INTERROGATÓRIO CLANDESTINO

Imaginemos uma situação: um preso, ao ser conduzido por policiais, do local


do flagrante à Delegacia, é questionado sobre as circunstâncias do crime, em tom
de informalidade. Sem saber que estava sendo gravado, acaba por revelar um
detalhe importante em seu desfavor. No momento da oitiva, após ciência de seus
direitos constitucionais, resolve permanecer calado.
Indaga-se: é possível considerar a gravação realizada no momento da condu-
ção do preso? Respondo que não. Aceitar tal gravação seria se valer de um in-
terrogatório clandestino, eis que realizado sem a necessária e antecipada ciência
dos direitos constitucionais do conduzido.
Nessa esteira, vide decisão proferida no HC 80949 RJ – STF:
(…) 3. Ilicitude decorrente – quando não da evidência de estar o suspeito, na
ocasião, ilegalmente preso ou da falta de prova idônea do seu assentimento à
gravação ambiental – de constituir, dita “conversa informal”, modalidade de “in-
terrogatório” sub- reptício, o qual – além de realizar-se sem as formalidades legais
do interrogatório no inquérito policial (C.Pr.Pen., art. 6º, V) -, se faz sem que o
indiciado seja advertido do seu direito ao silêncio (…)

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DICA 04 – LEI N. 10.826/2003 – ABOLITIO CRIMINIS

A abolitio criminis temporária prevista na Lei n. 10.826/2003 ainda é muito


explorada em provas. Sobre o assunto, destaco a Súmula 513-STJ, por estabelecer
23/10/2005, como data limite para a abolitio criminis temporária do crime de pos-
se de arma de fogo de uso permitido com numeração, marca ou qualquer outro
sinal de identificação raspado, suprimido ou adulterado.

Felipe Leal – Graduado em Direito pela Universidade


Federal da Paraíba (2003) e mestrado em Direito Am-
biental e Políticas Públicas pela Universidade Federal
do Amapá (2012). Ingressou na Polícia Federal em
2005, como Papiloscopista Policial Federal, adquirindo
experiência na área técnica, e, desde 2006, é Delega-
do de Policia Federal, tendo já chefiado Delegacias Es-
pecializadas na Repressão ao Tráfico de Drogas (Pará),
na Repressão aos Crimes Ambientais (Amapá) e na
Repressão a Crimes Financeiros (Paraíba), bem como atuou como Chefe do Nú-
cleo de Inteligência em Pernambuco. Na docência, é um dos responsáveis pela
formação profissional de novos policiais, com a elaboração de Caderno Didático
para a Academia Nacional de Polícia. Já elaborou Manuais de Investigações para
autoridades policiais. Professor em Faculdades de Direito e em cursos de pós gra-
duação. Coordenador de pós graduação em Investigação Criminal e Ciências
Forenses. Coordenador da Escola Nacional de Polícia Judiciária.

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DIREITO PENAL:
PROFESSOR FLÁVIO MILHOMEM

Querida aluna, futura advogada,


Querido aluno, futuro advogado,
Aproxima-se a 2ª fase do XX Exame de Ordem Unificado da Ordem dos Ad-
vogados do Brasil; e, assim, gostaria de dividir com vocês alguns temas de inte-
resse no Processo Penal, com alta possibilidade de serem cobrados na sua prova.
Então, vamos ao trabalho!

AMPLA DEFESA E PLENITUDE DE DEFESA NO PROCESSO PENAL

A Constituição Federal, em seu art. 5º, inciso LV, preceitua que aos litigantes,
em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados
o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes.
Ampla defesa, no processo penal, em suma, significa a possibilidade de o
acusado valer-se de todos os meios admitidos em direito com o fim de afastar a
pretensão punitiva do Estado. A jurisprudência, inclusive, reconhece que, mes-
mo a prova ilícita, quando utilizada para comprovar a inocência do acusado no
processo, deva ser considerada pelo juiz da causa, em face da supremacia do jus
libertatis quando comparado com o jus puniendi do Estado.
A plenitude de defesa, por sua vez, não restringe a defesa processual aos
argumentos estritamente jurídicos, podendo-se inclusive apelar, por exemplo,
à piedade do julgador, desnecessidade de condenação para ressocialização, e
mesmo o time do coração do acusado!
Esta, a plenitude de defesa, no entanto, não é princípio aplicável a todo e
qualquer crime, mas tão somente àqueles dolosos contra a vida; de competência,
portanto, do Tribunal do Júri. Assim dispõe a CF/88, no art. 5º, XXXVIII, a.

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O indiciamento no inquérito policial


O indiciamento é ato privativo do delegado de polícia que se dará por ato
fundamentado, mediante análise técnico-jurídica do fato, que deverá indicar a
autoria, materialidade e suas circunstâncias (L. n. 12.830/13, Art. 2º, § 6º).
Indiciar significa imputar, formalmente, ao suspeito a prática de infração penal,
mediante a identificação do tipo penal violado (incidência penal).
Esta garantia legal da autoridade policial impede, por exemplo, que o Minis-
tério Público, o qual pode realizar investigações por conta própria, nos termos da
jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, possa indiciar um suspeito de crime;
ou mesmo, determinar ao delegado de polícia que o faça.

LEI PROCESSUAL PENAL NO TEMPO

Em caso de sucessão de leis processuais penais no tempo; a lei nova, que


revogou a anterior, aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da validade dos atos
realizados sob a vigência da lei revogada (CPP, art. 2º).
Iniciado o processo criminal sob a vigência de uma determinada norma pro-
cessual, com a sua revogação não se faz necessária a repetição dos atos proces-
suais já realizados, considerando-se estes perfeitos e acabados, portanto, não
eivados de nulidade.
Cabe, no entanto, a ressalva quanto às chamadas leis processuais mistas (hete-
rotópicas), que são aquelas que, por exemplo, ao suprimir um recurso, até então
existente no ordenamento jurídico, afetarão o jus libertatis do cidadão, por anteci-
par o trânsito em julgado de decisão condenatória. Nestes casos, aplica-se a regra
de direito material, constante do Código Penal (art. 2º, parágrafo único), aplican-
do-se a norma revogada, no julgamento, por se tratar de norma mais benéfica.

Condições da ação penal e a inépcia da denúncia


São condições da ação penal a possibilidade jurídica do pedido, entendida
esta como a previsão legal, em abstrato, da pretensão punitiva apresentada em
juízo, ou seja, o tipo penal; o interesse de agir, diante da necessidade de se obter,
por meio do processo, a proteção ou reparação pretendida para o bem da vida

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COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

lesionado, ou ameaçado de lesão; a legitimidade da parte, que é a legitimação


para ocupar, na relação processual, tanto a qualidade de autor, pólo ativo; quanto
a de réu, pólo passivo; e, por fim, a justa causa.
A justa causa, por sua vez, é a condição que legitima o oferecimento da ação
penal ante à constatação da materialidade delitiva, certeza da ocorrência de um
crime; e a presença de indícios suficientes de autoria, elementos probatórios que
levam à suspeita de que determinada pessoa pode vir a ter reconhecida sua res-
ponsabilidade penal em juízo.
Quando é possível vislumbrar desde logo a arbitrariedade, a total ausência de
justiça ou razoabilidade da acusação, fala-se na falta de justa causa para a ação penal.
A ausência de qualquer das condições da ação penal, no momento de seu
oferecimento perante o juízo competente, leva à declaração de sua inépcia, acar-
retando-lhe o não recebimento pelo juiz de direito.
A denúncia, ou queixa, portanto, pode vir a ser considerada inepta, quando
não descrever um fato aparentemente típico, já estiver extinta a punibilidade do
denunciado, carecer o autor da ação de legitimidade para oferecê-la, não houver
prova da existência do crime ou indícios suficientes de autoria; ou, por fim, quan-
do se reconhecer a possibilidade de aplicação do princípio da insignificância.
Cabe à defesa, na primeira oportunidade processual, sustentar a ausência de
qualquer das condições da ação, sob pena de preclusão processual.

Prisão preventiva e seu regramento


A prisão preventiva é modalidade de prisão provisória, de natureza cautelar,
por razões de necessidade, respeitados os requisitos estabelecidos em lei (ga-
rantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução
criminal, ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver prova da
existência do crime e indício suficiente de autoria).
A prisão preventiva, no entanto, é medida cautelar subsidiária, uma vez que,
somente será determinada quando não for cabível a sua substituição por outra
medida cautelar diversa da prisão, dentre aquelas elencadas no art. 319 do Códi-
go de Processo Penal. (CPP, art. 282, § 6º)

grancursosonline.com.br 375
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

São pressupostos da prisão preventiva:


1. I) Natureza da infração (alguns delitos não a admitem, dentre eles os culpo-
sos e aqueles cuja pena máxima não excede 04 anos – CPP, Art. 313, I);
2. II) Probabilidade de condenação (fumus comissi delicti): materialidade deli-
tiva e indícios suficientes de autoria;
III – Perigo na demora (periculum in mora); e
1. IV) Controle jurisdicional prévio.
Em qualquer fase da investigação policial ou do processo penal, caberá a
prisão preventiva. Ocorre que ao juiz de direito é vedada a decretação da prisão
preventiva, de ofício, sem provocação portanto, na fase pré-processual; ou seja,
durante as investigações, não poderá o juiz, sem requerimento do Ministério Pú-
blico, ou representação da autoridade policial, decretá-la.
A jurisprudência dos tribunais superiores, no entanto, reconhece que a con-
versão da prisão em flagrante em prisão preventiva, durante a audiência de cus-
tódia do autuado, não viola o regramento previsto no Código de Processo Penal.
Uma vez recebida a denúncia, é faculdade processual da autoridade judicial
competente decretar a prisão preventiva do acusado de ofício, mediante decisão
fundamentada.
Espero que aproveitem a leitura dos temas propostos, lembrando que ainda
discutiremos temas de grande interesse para a 2ª fase do exame unificado da
Ordem dos Advogados do Brasil, dentre eles, os recursos.
Firma o golpe!

Flávio Milhomem – Mestre em Ciências Jurídico-Pe-


nais, Doutorando em Direito e Políticas Públicas, Docen-
te nas disciplinas de Direito Penal e Processo Penal desde
1997, Docente titular do curso de Direito (bacharelado) e
da pós-graduação do Instituto Brasiliense de Direito Pú-
blico – IDP, Brasília/DF, professor de cursos preparatórios
para concursos, Promotor de Justiça Criminal do Minis-
tério Público do Distrito Federal e Territórios desde 1.997.

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DIREITO PENAL:
PROFESSOR BRUNO DE MELLO

Caros alunos,
Dando continuidade ao projeto “Regressiva 30 dias OAB”, vamos debater um
ponto importante sobre Direito Penal:

No apontamento crime de “Feminicídio”, não basta apenas que a vítima seja


do sexo feminino, pois a este delito dá-se o nome de “femicídio”.
A incidência da qualificadora reclama situação de violência praticada contra
a mulher, em contexto caracterizado por relação de poder e submissão, situação
de vulnerabilidade, ou seja, nas condições de:
• violência doméstica
• menosprezo ou discriminação à condição de mulher

Noutro giro, mas ainda no que dedilha-se aos Crimes contra a Pessoa, temos
os delitos de abandono de incapaz e de recém-nascido, condutas estas insculpi-
das nos art.´s 133 e 134, respectivamente.
Entre eles temos muitas semelhanças, dentre elas: são crimes “bi-próprios”
(sujeitos ativo e passivo próprios ou especiais); no art. 133, o sujeito ativo somente
pode figurar aquele que tem o dever de cuidado, guarda, vigilância, enquanto
no art. 134, somente a mãe do recém-nascido e eventualmente o pai adulterino
ou incestuoso, pois somente estas pessoas podem alegar a pratica do fato para
ocultar desonra própria (Rogério Sanches citando o escólios de Heleno Fragoso
e Mirabete).
Nesse diapasão, temos que os sujeitos passivos das condutas em testilha, so-
mente a pessoa assistida, ou seja, incapaz de defender-se dos riscos decorrentes
do abandono, em relação ao crime de Abandono de Incapaz, enquanto no art.
134, somente o recém-nascido, filho (a) do autor (a) da conduta delituosa.
Finalmente, temos que em ambos as condutas podem ser comissivas (pratica-
das por ação) ou omissivas (praticadas por inação). Exemplificando: “A” abandona

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COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

“B”, seu filho de 4 anos, no parque de diversão. Se “A” deixou “B” no local e foi em-
bora, a conduta foi praticada por ação. Todavia, se já estavam lá brincando e pos-
teriormente decidiu ir embora, o abandonando, o delito foi praticado por omissão.
Jamais confundam o crime de abandono de incapaz com resultado morte,
com o crime de homicídio por omissão imprópria. Vamos lá:
“A” deixa “B”, seu filho de 4 anos, em casa enquanto vai à padaria. “B” pula a
janela e morre. Abandono de incapaz com resultado morte.
Agora, se “A”, se descuida com o filho em casa, enquanto preparava o almoço,
e “B” pula da janela, descortinado está o crime de homicídio por omissão impró-
pria, também chamado de crime comissivo por omissão, devendo “A” responder
por crime de homicídio culposo por omissão.
Concluindo, não se olvidem das qualificadoras dos crimes de Abandono de
Incapaz e Recém-nascido, quando resulta lesão grave ou morte (sendo este re-
sultado jamais desejado ou aceito pelo (s) agente (s), sob pena de responder por
homicídio pro dolo eventual, bem como da causa de aumento de pena apenas
para o crime de abandono de incapaz, quando a vítima for abandonada em lugar
ermo (distante, de difícil acesso), ou ascendente, descendente, cônjuge, irmão,
tutor, curador ou, ainda, no caso da vítima ser maior de 60 anos.
Bom estudos e vamos em frente!

Bruno de Mello – Advogado criminalista e professor


de Direito Penal em diversos cursinhos para concursos e
graduação em faculdade (Faculdade Luís Eduardo na
Bahia).

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DIREITO PENAL:
PROFESSOR MARCELO FERREIRA

Caros alunos,
Vamos estudar hoje por mais uma dica de Direito Penal para a “Regressiva de
30 dias para a OAB”, vamos lá:

POSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO DO PRIVILÉGIO AO FURTO QUALIFI-


CADO: QUAL É A SÚMULA?

Os problemas envolvendo súmulas do STJ e do STF têm presença certa nas


provas práticas de Penal da OAB. Tanto na peça quanto nas questões.
Assim, enquanto, de um lado, o examinador lê a súmula e elabora sua ques-
tão; de outro, o candidato à carteira da OAB lê a questão e começa a corrida para
encontrar a súmula referente ao assunto.
No geral, o comando da questão se refere à “posição dos tribunais superiores”,
ao “entendimento do STJ” ou à “jurisprudência do STF”. Enfim, o examinador chama a
atenção do candidato para se manifestar de acordo com o entendimento dominante
da jurisprudência, que é representado pelo verbete das súmulas daqueles tribunais.
Nossa súmula de hoje envolve questão acerca da possibilidade de aplicação do
privilégio ao furto qualificado. Assim, é proposta a seguinte questão: Caio, primá-
rio, arrombou a porta de um supermercado num domingo à tarde, e de lá subtraiu 30
latas de leite, avaliadas em R$ 300,00 (trezentos reais) no total. O juiz, ao aplicar a pena,
embora reconhecendo o pequeno valor dos bens subtraídos, não aplicou a diminuição
de pena prevista no § 2º do art. 155, por entender que o furto qualificado pelo rompi-
mento de obstáculo não admite a incidência daquele privilégio. Que argumento você
utilizaria na defesa de Caio, considerando o entendimento dos tribunais superiores?
A pergunta é interessante, senão vejamos.
Ocorre o furto privilegiado nas hipóteses do art. 155, § 2º, do CP, segundo o qual:

Art. 155, § 2º – Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa fur-


tada, o juiz pode substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la
de um a dois terços, ou aplicar somente a pena de multa.

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COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

Assim, o Código Penal reconhece o privilégio diante da primariedade e do


pequeno valor do bem subtraído.
Por outro lado, o Código Penal prevê situações em que o furto é considerado
qualificado. Há no § 4º do art. 155 do CP sete qualificadoras que estão distribuídas
em quatro incisos.
No inciso I está a figura do furto qualificado pelo rompimento de obstáculo,
nos seguintes termos:

Art. 155, § 4º – A pena é de reclusão, de dois a oito anos, e multa, se o crime


é cometido:
I – com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa

Observe que, enquanto a pena do furto simples é de 1 a 4 anos de reclusão, a


pena do furto qualificado é de 2 a 8 anos de reclusão. E o privilégio do § 2º do ar.
155 representa simplesmente a possibilidade de diminuição dessas faixas de pena
na terceira fase da dosimetria da pena
Por muito tempo prevaleceu o entendimento segundo o qual, ainda que esti-
vessem presentes os requisitos do privilégio, não poderia o benefício (diminuição
da pena) ser aplicado se presente também uma qualificadora.
A justificativa era no sentido de considerar a posição dos parágrafos do art.
155. Ou seja, se a regra do privilégio está prevista no § 2º, é porque o legislador
quis restringir sua incidência ao furto simples (art. 155, caput), não podendo apli-
cá-lo às hipóteses qualificadoras dos incisos do § 4º.
No entanto, o Superior Tribunal de Justiça passou a permitir essa possibilidade
de aplicação do privilégio ao furto qualificado. Tal posição está expressa no enun-
ciado da Súmula n. 511, segundo a qual:

É possível o reconhecimento do privilégio previsto no § 2º do art. 155 do CP


nos casos de crime de furto qualificado, se estiverem presentes a primarieda-
de do agente, o pequeno valor da coisa e a qualificadora for de ordem ob-
jetiva.(Súmula 511, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 11/06/2014, DJe 16/06/2014)

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Assim, no caso da questão proposta, Caio responderá pelo furto qualificado


pelo rompimento de obstáculo (por ter arrombado a porta do supermercado),
mas poderá ser beneficiado pelo privilégio da primariedade e do pequeno valor
da coisa subtraída. Dito de outra forma, poderá fazer jus à diminuição de pena
prevista no § 2º do art. 155 mesmo tendo praticado um furto qualificado.
Uma dica para o candidato localizar a súmula utilizada pelo examinador para
a elaboração da questão é sublinhar “palavras-chaves”. No presente caso, a su-
gestão é sublinhar “furto qualificado” e “privilégio”. A partir dessa marcação,
o candidato deve utilizar o índice de súmulas por assunto ou as tabelas de súmu-
las que algumas editoras disponibilizam no vademecum de Penal/Processo Penal.
Se o seu vademecum não possui esse índice ou a tabela, a sugestão é buscar as
remissões dos textos da lei. No presente caso, o candidato poderia procurar a
súmula diretamente nas remissões presentes no art. 155 do Código Penal, que
trata do furto.
Vamos em frente! Bons Estudos!

Marcelo Ferreira – Mestre em Direito Público, Especia-


lista em Direito Penal e Processo Penal. Autor da obra
Segurança Pública e Prisão Preventiva no Estado Demo-
crático de Direito (Editora Lumen Juris). Assessor de Mi-
nistro do Superior Tribunal Militar. Professor de Direito
Penal e Processo Penal do Centro Universitário do Dis-
trito Federal (UDF), da UNIEURO e da pós-graduação
do UniCEUB. Coordenador da Equipe Exame (cursos
presenciais de prática penal para OAB). No Rio de Janei-
ro, além de professor universitário e de cursos preparatórios para concursos, atuou
como presidente e membro de várias bancas de concurso público, em especial, os
concursos para os cargos de Delegado de Polícia do Estado do Rio de Janeiro e de
Oficial integrante do Sistema de Assessoria Jurídica Consultiva da Marinha.

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DIREITO PENAL:
PROFESSOR FELIPE LEAL

Futura advogada, Futuro advogado.


Para começar bem a semana, Direito Penal na veia!!!!

DICA 01 – LEI N. 12.961/2014 – DESTRUIÇÃO DE PLANTAÇÕES ILÍCI-


TAS

Importante alteração da Lei n. 11.343/2006 sobre a destruição de drogas apre-


endidas!!! Com a Lei n. 12.961/2014, as plantações ilícitas podem ser imediata-
mente destruídas pelo delegado de polícia na forma do art. 50-A, que recolherá
quantidade suficiente para exame pericial, de tudo lavrando auto de levanta-
mento das condições encontradas, com a delimitação do local, asseguradas as
medidas necessárias para a preservação da prova.

DICA 02 – LEI N. 9.605/1998 – PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA

Quando tratamos de proteção ambiental, somos resistentes em afastar qual-


quer possibilidade de não imputação penal. Ocorre que, mesmo no caso de
crimes ambientais, também se admite o princípio da insignificância (STF – HC
112563/SC; STJ – AgRg no REsp 1320020/RS).

DICA 03 – LEI N. 8.137/1990 – PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA

Ainda sobre o princípio da insignificância, relacionando-o aos crimes tributá-


rios, para o STJ, aplica-se tal princípio quando o débito tributário não ultrapassar
R$ 10 mil reais. Já para o STF, o limite é de R$ 20 mil.

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COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

DICA 04 – LEIS N. 4.898/1965 E 9.455/1997 – INABILITAÇÃO DE EXER-


CÍCIO DE FUNÇÃO (PRAZOS)

Atentem-se para o prazo de inabilitação ou interdição para o exercício de


uma função pública.
Na Lei n. 4.898/1965 (ABUSO DE AUTORIDADE), entre as sanções penais pre-
vistas, incluem-se a perda do cargo público e a inabilitação para o exercício de
qualquer outra função pública por prazo de até três anos.
Na Lei n. 9.455/1997 (TORTURA), a condenação implica a perda do cargo, fun-
ção ou emprego público e a interdição para seu exercício pelo dobro do prazo
da pena aplicada.
Bons Estudos!!!

Felipe Leal – Graduado em Direito pela Universidade


Federal da Paraíba (2003) e mestrado em Direito Am-
biental e Políticas Públicas pela Universidade Federal do
Amapá (2012). Ingressou na Polícia Federal em 2005,
como Papiloscopista Policial Federal, adquirindo experi-
ência na área técnica, e, desde 2006, é Delegado de
Policia Federal, tendo já chefiado Delegacias Especiali-
zadas na Repressão ao Tráfico de Drogas (Pará), na Re-
pressão aos Crimes Ambientais (Amapá) e na Repres-
são a Crimes Financeiros (Paraíba), bem como atuou como Chefe do Núcleo de
Inteligência em Pernambuco. Na docência, é um dos responsáveis pela formação
profissional de novos policiais, com a elaboração de Caderno Didático para a
Academia Nacional de Polícia. Já elaborou Manuais de Investigações para autori-
dades policiais. Professor em Faculdades de Direito e em cursos de pós gradua-
ção. Coordenador de pós graduação em Investigação Criminal e Ciências Foren-
ses. Coordenador da Escola Nacional de Polícia Judiciária.

grancursosonline.com.br 383
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

DIREITO PENAL:
PROFESSOR FLÁVIO MILHOMEM

Querida Aluna, futura advogada,


Querido Aluno, futuro advogado,
Aproxima-se a 2ª fase do XX Exame de Ordem Unificado da Ordem dos Ad-
vogados do Brasil; e, assim, gostaria de dividir com vocês alguns temas de inte-
resse no Processo Penal, com alta possibilidade de serem cobrados na sua prova.
Então, vamos ao trabalho!

O duplo grau de jurisdição


O Pacto de San Jose da Costa Rica (Convenção Americana dos Direitos Hu-
manos) prevê como garantia mínima processual o direito de recorrer da sentença
a juiz ou tribunal superior (Art. 8º, 2-h).
E, muito embora tal convenção internacional tenha sido ratificada pelo Esta-
do brasileiro em 1992, o Supremo Tribunal Federal já decidiu que não é possível
erigir o duplo grau em garantia processual, tantas são as previsões, na própria
Constituição Federal, do julgamento de única instância ordinária, a exemplo da
competência do próprio STF para o julgamento, nas infrações penais comuns, do
Presidente da República, do Vice-Presidente, dos membros do Congresso Nacio-
nal, de seus próprios Ministros e do Procurador-Geral da República;

A mutatio libelli em segundo grau de jurisdição


O princípio do duplo grau de jurisdição traz, como corolário, o direito de revisão
da decisão judicial prolatada por juiz singular ( juízo monocrático) por órgão colegia-
do (turmas, câmaras e plenário do Tribunal de Justiça ou Tribunal Regional Federal).
No entanto, na apreciação da matéria pelo órgão revisional, é vedada a ino-
vação do objeto do processo (matéria fática) sob pena de supressão de instância
processual. Assim, o Supremo Tribunal Federal dispõe:
Não se aplicam à segunda instância o art. 384 do Código de Processo Penal,
que possibilitam dar nova definição jurídica ao fato delituoso, em virtude de cir-
cunstância elementar não contida, explícita ou implicitamente, na denúncia ou
queixa. (Súmula 453/STF)

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COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

A mutatio libelli, prevista no art. 384 do Código de Processo Penal, é a pos-


sibilidade de retificação da ação penal inicialmente ajuizada, para nela incluir fato
que veio à tona, no processo criminal, e que era desconhecido quando do ofe-
recimento da denúncia. Trata-se, portanto, de inovação do objeto do processo;
o quê, por razões lógicas, impede sua utilização nos tribunais, dado seu caráter
exclusivamente revisor.

Princípio da fungibilidade dos recursos


Pelo princípio da fungibilidade (CPP, Art. 579), o recurso erroneamente inter-
posto pode ser conhecido pelo outro, desde que não haja má-fé.
Afasta-se, no entanto, a aplicação do princípio da fungibilidade – previsto
implicitamente no Código de Processo Civil em seu art. 250 e expressamente
no art. 579 do Código de Processo Penal – nos casos de erro grosseiro, que se
configura quando o recurso previsto para determinada decisão judicial encontra
suas hipóteses de cabimento, explícita e claramente, delineadas na lei, e a parte
interpõe recurso diverso.
Segundo o entendimento consolidado do Superior Tribunal de Justiça, consi-
dera-se erro grosseiro e inescusável a interposição de recurso especial no lugar
de recurso ordinário constitucionalmente previsto, que afasta a aplicação do prin-
cípio da fungibilidade.

Efeitos dos recursos e execução provisória da pena privativa de li-


berdade
Todo recurso processual é dotado do efeito devolutivo que, por sua vez, con-
siste em devolver ao tribunal ad quem o conhecimento da matéria impugnada,
julgada no grau inferior de jurisdição, bem como da cognoscível de ofício.
Alguns recursos, ademais, são também dotados do efeito suspensivo, em cer-
tas hipóteses, quando sua interposição impede a produção imediata dos efeitos
da decisão.
A Constituição Federal prevê em seu art. 5º, LVII, que ninguém será conside-
rado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória; o que
levava à interpretação de que os efeitos decorrentes de sentença penal conde-
natória (execução da pena) somente poderiam ser verificados uma vez alcançada

grancursosonline.com.br 385
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

a imutabilidade da decisão condenatória (coisa julgada), seja pela utilização de


todos os recursos cabíveis em lei, seja pelo decurso in albis dos prazos recursais.
Contudo, o Supremo Tribunal Federal, no julgamento do HC 126292, em 17 de
fevereiro de 2016, por maioria de votos, entendeu que a possibilidade de início da
execução da pena condenatória, após a confirmação da sentença em segundo
grau, não ofende o princípio constitucional da presunção da inocência.
Em resumo, para o STF, uma vez confirmada pelo órgão de 2º grau, em grau
de recurso, a decisão do juízo monocrático, é possível a expedição do mandado
de prisão do condenado.
Isso porque, ainda que cabíveis os Recursos Especial e Extraordinário, não se
revolveria a matéria fática, o conjunto probatório que levou ao convencimento
dos juízes de primeira e segunda instância; mas, tão somente, se procederia à va-
loração da correta, ou incorreta, aplicação da legislação federal e dos dispositivos
constitucionais, respectivamente.
Cabe, no entanto, a ressalva de que tal decisão não teve reconhecida sua
repercussão geral, nem foi objeto de súmula vinculante; ou seja, não impõe a
adoção obrigatória pelos demais órgãos do Poder Judiciário, embora represente
um entendimento jurisprudencial acerca da matéria.
Espero que aproveitem a leitura dos temas propostos, lembrando que ainda
discutiremos temas de grande interesse para a 2ª fase do exame unificado da
Ordem dos Advogados do Brasil; dentre eles, os recursos em espécie.
Firma o golpe!
Bons estudos!

Flávio Milhomem – Mestre em Ciências Jurídico-Pe-


nais, Doutorando em Direito e Políticas Públicas, Docente
nas disciplinas de Direito Penal e Processo Penal desde
1997, Docente titular do curso de Direito (bacharelado) e
da pós-graduação do Instituto Brasiliense de Direito Pú-
blico – IDP, Brasília/DF, professor de cursos preparatórios
para concursos, Promotor de Justiça Criminal do Ministé-
rio Público do Distrito Federal e Territórios desde 1.997.

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COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

DIREITO PENAL:
PROFESSOR FELIPE LEAL

Futura advogada, Futuro advogado.


Que venha setembro!!! Hoje, mais dicas de legislação extravagante.
Vamos aprofundar a Lei Maria da Penha!!!

DICA 01 – LEI N. 11.340/2006 – VULNERABILIDADE DA MULHER

A Lei n. 11.340/2006 criou mecanismos para coibir e prevenir a violência do-


méstica e familiar contra a mulher. A vulnerabilidade da mulher, porém, não é
analisada a cada caso, pois se trata de uma presunção da lei. Sobre esse
assunto, o Superior Tribunal de Justiça já se manifestou em importante julgado:
(Informativo 539): “O fato de a vítima ser figura pública renomada não afasta a
competência do Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher para
processar e julgar o delito. Isso porque a situação de vulnerabilidade e de hipos-
suficiência da mulher, envolvida em relacionamento íntimo de afeto, revela-se
ipso facto, sendo irrelevante a sua condição pessoal para a aplicação da Lei Maria
da Penha. Trata-se de uma presunção da Lei” (STJ, 5ª Turma. REsp 1.416.580-RJ,
Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 1º/4/2014).

DICA 02 – LEI N. 11.340/2006 – PRISÃO PREVENTIVA

Com a Lei n. 11.340/2006 (conhecida como Lei Maria da Penha), foi incluída
nova hipótese de prisão preventiva: se o crime envolver violência doméstica
e familiar contra a mulher, nos termos da lei específica, para garantir a execução
das medidas protetivas de urgência.
Essa redação foi alterada pela Lei n. 12.403, de 2011. Eis o texto atual:
Art. 313. Nos termos do art. 312 deste Código, será admitida a decretação da
prisão preventiva:
I – nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade máxima su-
perior a 4 (quatro) anos;

grancursosonline.com.br 387
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

II – se tiver sido condenado por outro crime doloso, em sentença transitada
em julgado, ressalvado o disposto no inciso I do caput do art. 64 do Decreto-Lei
no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal;
III – se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a mu-
lher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência,
para garantir a execução das medidas protetivas de urgência
Pois bem, uma dúvida surge: é possível haver prisão preventiva com base nos
termos precitados, mesmo em se tratando de crime punido apenas com deten-
ção, com pena máxima abstrata inferior a 04 anos?
Sim!!! O Superior Tribunal de Justiça julgou constitucional o decreto de prisão
preventiva, a despeito de o crime ser punido com detenção e ser de menor po-
tencial ofensivo (HC 132.379/BA).
Importante, pois, é o objetivo da norma: garantir a execução da medida protetiva.
Assim, uma vez imposta uma medida e desrespeitada, a prisão preventiva se impõe.
Bons estudos, pessoal!

Felipe Leal – Graduado em Direito pela Universidade


Federal da Paraíba (2003) e mestrado em Direito Am-
biental e Políticas Públicas pela Universidade Federal do
Amapá (2012). Ingressou na Polícia Federal em 2005,
como Papiloscopista Policial Federal, adquirindo experi-
ência na área técnica, e, desde 2006, é Delegado de Po-
licia Federal, tendo já chefiado Delegacias Especializadas
na Repressão ao Tráfico de Drogas (Pará), na Repressão
aos Crimes Ambientais (Amapá) e na Repressão a Cri-
mes Financeiros (Paraíba), bem como atuou como Chefe
do Núcleo de Inteligência em Pernambuco. Na docência, é um dos responsáveis
pela formação profissional de novos policiais, com a elaboração de Caderno Di-
dático para a Academia Nacional de Polícia. Já elaborou Manuais de Investiga-
ções para autoridades policiais. Professor em Faculdades de Direito e em cursos
de pós graduação. Coordenador de pós graduação em Investigação Criminal e
Ciências Forenses. Coordenador da Escola Nacional de Polícia Judiciária.

388 grancursosonline.com.br
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

DIREITO PENAL: PROFESSOR FLÁVIO DAHER

Examinandos e examinandas,
CONTINUANDO O ASSUNTO DAS REGRESSIVAS ANTERIORES (CONCURSO
DE PESSOAS) E QUASE TERMINANDO…

TIPOS DE AUTORIA

1) AUTORIA DIRETA: É a regra. Normalmente o próprio agente executa a


conduta proibida de forma direta, sem se valor de outrem como instrumento
para a prática de crime.
2) AUTORIDA INDIRETA ou AUTORIA MEDIATA: Se dá quando o autor
do crime se utiliza de interposta pessoa como instrumento (autor imediato) para
a prática do crime que ele deseja cometer (autor mediato). Na hipótese de autoria
mediata é necessário antes de mais nada fazer um alerta: objetivamente a autoria
mediata em tudo se assemelha ao concurso de pessoas (no plano de fato, pela “fo-
tografia externa” as hipóteses de autoria mediata têm os requisitos do concurso de
pessoas); a diferença reside na postura subjetiva (o autor executor não quer ou não
sabe que comete o crime, cometido, este sim, pelo autor mediato). Existem no Có-
digo Penal quatro hipóteses de autoria mediata: a) o erro determinado por terceiro
(art. 20, §2º do CP); b) a coação moral irresistível (art. 22, 1ª parte do CP); c) obedi-
ência hierárquica (art. 22, 2ª parte); d) uso de impunível em virtude de condição ou
qualidade pessoal (art. 62, III, 2ª parte do CP). O erro determinado por terceiro pode
ser o erro de tipo (médico induz o enfermeiro a administrar veneno afirmando se
tratar de remédio), erro de tipo permissivo (alguém afirma para amigo, que porta
arma, que terceira pessoa irá tentar matá-lo na próxima oportunidade que o avistar;
eis que instantes depois surge o mencionado terceiro que leva a mão ao bolso para
pegar o telefone celular que estava vibrando e faz com que o enganado suponha
estar na iminência de realmente sofrer injusta agressão contra a sua vida, vindo en-
tão a sacar sua arma e efetuar disparos que vêm a ocasionar o óbito do terceiro)
ou erro de proibição (indivíduo afirma para mulher que é permitido o abortamento

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COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

em casos de insuficiência econômica da gestante, citando inclusive número de lei


e página de publicação no diário oficial; enganada a gestante aborta). Nas situa-
ções de erro o autor imediato não sabe que comete crime. Nas hipóteses do art.
22 (coação moral irresistível e obediência hierárquica) a vontade do executor não é
livre, sendo esmagada pela coação ou pelo dever de obediência, vindo a responder
pelo crime apenas o coator ou o superior hierárquico que exarou o comando, aqui
autores mediatos. Nas situações do art. 22 do CP devemos fazer uma distinção: na
coação moral irresistível o autor imediato sabe que comete um crime (do qual ele
não queria participar e somente o faz porque sofre coação) enquanto na obediência
hierárquica ele não sabe que comete um crime (pela aparência de legalidade que
deve possuir a ordem). Nas hipóteses de uso de impunível em virtude de condição
ou qualidade pessoal (doentes mentais ou menores) devemos alertar: parte da dou-
trina afirma que se a responsabilização do autor mediato nestes casos somente se
dá pelo uso da Teoria do Domínio do Fato, uma vez que o autor mediato (também
chamado de “homem de trás”) não pratica o verbo que rege o tipo, como afirmar
que alguém possui domínio do fato quando o executor necessariamente não possui
autodeterminação (capacidade de gestão da própria vontade, capacidade de agir
conforme desígnio próprio). Fica patente que se alguém determinar ou sugestionar
a um louco que mate determinada pessoa a execução ou não do homicídio não
está em nenhuma medida nas mãos do autor mediato, visto que não existe um
padrão seguro de previsibilidade quanto a ação adotada pelo louco. A insanidade
mental faz com que o autor mediato possa contar apenar com a probabilidade de
que o autor executor realize conforme sugestão/determinação e, neste caso, não
se pode afirmar que o mesmo possuiria domínio sobre o fato. Feita a ressalva dou-
trina majoritária considera que tal hipótese é perfeitamente cabível e que quando
o agente se vale de inimputáveis ele será sim autor mediato (na verdade boa parte
das situações envolvendo inimputáveis melhor seriam enquadráveis como omissão
imprópria pela ingerência do art. 13, §2º alínea “c” do CP: uma vez que o indivíduo
entrega uma arma ou qualquer instrumento vulnerante a menor ou doente mental,
ou mesmo determina ou sugere a este o cometimento do delito ele com tal com-
portamento criou o risco da ocorrência do resultado e contra ele passa a valer o
dever de impedir este mesmo resultado que, caso venha a acontecer, irá gerar a sua

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responsabilização). Nas hipóteses de exclusão da conduta que podem ser atribuídos


a terceiros (hipnose e coação física irresistível), quem coage fisicamente ou induz o
estado hipnótico não é autor mediato e sim imediato, pois nestes casos a pessoa
hipnotizada ou coagida sequer tem o comando sobre a dinâmica motora de seu
comportamento atuando ora como objeto inanimado (coação física irresistível) ora
como uma marionete (hipnose).
3) Autoria Colateral, autoria incerta e autoria desconhecida: quando
dois infratores agem para alcançar um mesmo resultado sem que um saiba da
vontade do outro (sem acordo de vontades ou adesão da vontade de um na
vontade do outro) teremos a chamada autoria colateral. Estarão presentes todos
os requisitos objetivos do concurso de pessoas ficando de fora apenas o requi-
sito subjetivo. No exemplo clássico A e B querem a morte de C e fazem tocaia
esperando a passagem deste para então agiram contra a vítima; eis que ambos
têm visada para C quando este passa pelo local mas nenhum tem visada para o
abrigo do outro; ambos disparam e C vem a falecer. Identificado o autor do dis-
paro letal este responderá por crime consumado enquanto o outro pela tentativa.
Caso não se consiga estabelecer o autor do disparo fatal ambos responderão por
crime tentado (uma vez que não há como punir qualquer deles por crime con-
sumado – e para o Direito é sempre preferível absolver um culpado a condenar
um inocente). Nesta hipótese diz-se que a autoria é incerta. Não se confunde
a autoria incerta com a autoria desconhecida: na autoria incerta sabe-se quem
são os possíveis autores (não existe a certeza sobre quem efetivamente alcançou
o resultado), já na autoria desconhecida os autores não são conhecidos, não se
sabe quem praticou as condutas.
4) Co-autoria: o co-autor é autor. Quando se dividem as tarefas para a con-
secução do delito teremos vários autores, denominados então de co-autores. A
fragmentação da execução da infração faz com que cada co-autor tenha domínio
da sua função dentro da empreitada delitiva, e não do todo, surgindo então a cor-
reção da denominação: de domínio do fato migramos para domínio funcional do
fato (domínio da própria tarefa ou função dentro do fato e não do fato todo). Para
se falar em co-autoria ou domínio funcional do fato não é imprescindível que a con-
tribuição de cada co-autor seja diferenciada, reconhecendo-se ainda que se trate de

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COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

contribuições homogêneas (podemos ter vários co-autores se revezando na direção


de veículo automotor que transporta droga originária de destino longínquo – todos
dividem tarefas e são co-autores e emprestam idêntica forma de contribuição). Para
se falar em co-autoria é imperativo que a contribuição do infrator seja imprescindível
para o êxito do delito (caso contrário estaremos no campo da participação e não
da co-autoria). Não é necessário porém que o vínculo psicológico seja prévio ao
início da execução podendo haver a adesão do co-autor em qualquer momento do
iter criminis (Alguém se depara com pessoa espancando seu desafeto e querendo
tomar parte no delito passa a auxiliar na agressão em andamento, sendo portanto
ambos co-autores da lesão corporal). A regra é o vínculo prévio mas quando este
não for o caso e houver a adesão posterior ao início da execução teremos a deno-
minada co-autoria sucessiva. Mas lembre-se: o co-autor sucessivo responderá
pela infração penal em andamento mesmo em relação aos fatos que ocorreram
antes de seu ingresso no delito sempre que estes tenham entrado em sua esfera de
conhecimento e desde que eles não consistam em infrações penais mais graves já
consumadas (quem adere a um roubo em andamento responderá pela causa espe-
cial de emprego de arma, ainda que não porte nenhuma, desde que saiba que os
demais portam, mas não responderá por latrocínio caso no mesmo contexto uma
das vítimas já tenha sido morta, mesmo que ele saiba do fato).
Bons estudos!

FlávioDaher – Delegado de Polícia Federal no DF.


Mestre em Direito Constitucional pela UNIFRAN-SP.
Doutorando em Direito Penal pela UNICEUB. Professor
de Cursos Preparatórios. Autor de Obras com o Pro-
fessor Luiz Flávio Gomes.

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DIREITO PENAL:
PROFESSOR MARCELO FERREIRA

QUAL A DIFERENÇA ENTRE PREVARICAÇÃO E CORRUPÇÃO PASSIVA


PRIVILEGIADA?

É muito comum confundir entre prevaricação (art. 319, do Código Penal) e


corrupção passiva privilegiada (art. 317, § 2º, do Código Penal).
Ambos os crimes estão disciplinados no título do Código Penal destinado aos
crimes contra a administração pública, especificamente no capítulo referente aos
crimes praticados por funcionários públicos contra a administração pública.
Sobre o assunto, pode ser proposta a seguinte questão: Se Tício. funcionário
público, com o auxílio de Caio, que sabe da qualidade funcional de Tício, retar-
dar ato de seu ofício, infringindo dever funcional, a pedido de terceiro, é correto
afirmar que Tício responderá por prevaricação e que a conduta de Caio é atípica,
considerando que não é funcionário?
Inicialmente, convém destacar a definição dos referidos crimes:

Prevaricação

Art. 319 – Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou


praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sen-
timento pessoal:
Pena – detenção, de três meses a um ano, e multa.

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COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

Corrupção passiva

Art. 317 – (…)


2º – Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda ato de ofício, com
infração de dever funcional, cedendo a pedido ou influência de outrem:
Pena – detenção, de três meses a um ano, ou multa.

São muitas as semelhanças entre os mencionados crimes: existe em ambos


as condutas de retardar ou deixar de praticar ato de ofício; a pena de detenção
é igual; e são crimes praticados por funcionários contra a administração pública.
Daí a confusão! E exatamente por isso, as bancas exploram o assunto. Mas o
candidato atento não pode errar essa questão!
A diferença reside na parte final: enquanto na prevaricação as condutas são
praticadas visando à satisfação de um interesse pessoal, na corrupção passiva
privilegiada, as condutas são praticadas para atender pedido ou influência de um
terceiro.
E é exatamente o que consta do comando da questão: Tício deixa de agir,
com a ajuda de Caio, para atender a pedido ou influência de uma terceira pessoa.
Logo, sua conduta é a aquela prevista no art. 317, § 2º, do Código Penal (corrup-
ção passiva privilegiada).
Com efeito, nem sempre a conduta de retardar ou deixar de praticar ato de
ofício indica a ocorrência de prevaricação!
Quanto à conduta de Caio, que não é funcionário público, aplica-se a regra
prevista no art. 30 do CP:

Circunstâncias incomunicáveis

Art. 30 – Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pes-


soal, salvo quando elementares do crime.

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Como a condição “funcionário público” é elementar do crime funcional, e Caio


sabe da condição de Tício, deverá responder pelo mesmo crime. Ou seja, mesmo
não ostentando a condição de funcionário, Caio responderá como partícipe de
um crime funcional.
Diante do exposto, a assertiva está ERRADA, porque Tício NÃO responderá
por prevaricação. Sua conduta amolda-se ao crime de corrupção passiva privile-
giada (art. 317, § 2º, do Código Penal). E Caio deverá responder como partícipe
do mesmo crime, diante da regra do artigo 30 do Código Penal.

Marcelo Ferreira – Mestre em Direito Público, Espe-


cialista em Direito Penal e Processo Penal. Autor da obra
Segurança Pública e Prisão Preventiva no Estado Demo-
crático de Direito (Editora Lumen Juris). Assessor de Mi-
nistro do Superior Tribunal Militar. Professor de Direito
Penal e Processo Penal do Centro Universitário do Dis-
trito Federal (UDF), da UNIEURO e da pós-graduação
do UniCEUB. Coordenador da Equipe Exame (cursos
presenciais de prática penal para OAB). No Rio de Janei-
ro, além de professor universitário e de cursos preparatórios para concursos,
atuou como presidente e membro de várias bancas de concurso público, em
especial, os concursos para os cargos de Delegado de Polícia do Estado do Rio
de Janeiro e de Oficial integrante do Sistema de Assessoria Jurídica Consultiva da
Marinha.

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COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

DIREITO PENAL:
PROFESSOR JOSÉ CARLOS

Prezado candidato ao exame da segunda fase da prova da OAB, hoje tra-


balharemos com a peça inicial nos crimes de ação penal privada. Escolhemos
tal tema, pois entendemos que a queixa-crime é uma das possíveis peças a ser
cobrada no próximo certame da FGV.
Sobre o tema, primeiramente, devemos lembrar que nas ações penais de na-
tureza privada haverá o oferecimento de uma queixa-crime pelo ofendido, assim,
a legitimidade para oferecer a referida peça inicial será do ofendido ou de seu
representante legal, através de advogado (capacidade postulatória).

O advogado deverá possuir poderes especiais, devendo fazer cons-


tar do instrumento do mandato o nome do querelado e a breve
menção do fato criminoso, salvo quando tais esclarecimentos de-
penderem de diligências que devem ser previamente requeridas
no juízo criminal.

Sobre a necessidade da menção do fato criminoso no corpo da queixa-crime,


selecionamos jurisprudência para a compressão do assunto, veja:
QUEIXA-CRIME. PROCURAÇÃO. FATO CRIMINOSO. Trata-se de reclamação
em que o reclamante insurge-se contra a decisão de Juizado Especial Criminal
confirmada em apelação a qual rejeitou queixa-crime por ele apresentada sob o
fundamento de que não teria indicado, na procuração outorgada ao seu patro-
no, o fato criminoso em toda a sua extensão. A Seção conheceu da reclamação
e julgou procedente o pedido por entender que a decisão impugnada de fato
está divergente da jurisprudência do STJ. Assim, reiterou que a procuração
outorgada pelo reclamante ao seu advogado, para fins de ingresso com
queixa-crime, não requer a descrição pormenorizada do fato criminoso.

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Precedentes citados: HC n.o 83.543/GO, DJ 08.10.2007; HC n.o 106.423/


SC, DJe 17.12.2010; HC n.o 119.827/SC, DJe 19.04.2010; HC n.o 36.843/
RJ, DJe 08.06.2009, e HC n.o 36.843/RJ, DJe 06.08.2009 (Rcl n.o 5.478/
DF, rel. Min. Sebastião Reis Júnior, j. 14.09.2011). (grifei).
CUIDADO: Lembre-se que o art. 41 do Código de Processo Penal estabelece
quais são os requisitos que deverão ser obedecidos para elaboração da queixa-
crime (os mesmos da denúncia):
1. a) exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias;
2. b) qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identi-
ficá-lo;
3. c) classificação do crime;
4. d) rol de testemunhas.
No que pertine ao prazo para o oferecimento da queixa, deverá ser exercido
no prazo de seis meses, contados do dia em que o ofendido, seu representante
legal ou cada uma das pessoas do art. 31 do CPP (no caso de morte da vítima ou
de sua ausência) vierem a tomar ciência de quem foi o autor do crime. (art. 38
do CPP)

Há exceções, por exemplo, no crime de induzimento a erro essencial e


ocultação de impedimento, o prazo é de seis meses a partir do trânsito
em julgado da sentença anulatória do matrimônio, sobre o tema veja o
art. 236, parágrafo único, do CP. Também nos crimes contra a propriedade
imaterial, sendo de ação penal privada, o prazo será de trinta dias a contar
da homologação do laudo pericial conforme prevê o art. 529 do CPP.

Dica do JC: O prazo é decadencial, ou seja, deve se computar obede-


cendo-se a regra do artigo 10 do CPB.
Assim, inclui-se o dia de início e não há possibilidade de prorrogação.
Tome cuidado, pois se o último dia for no domingo ou feriado, não ha-
verá a prorrogação para o próximo dia útil subsequente.

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COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

Cuidado: se o ofendido for menor de 18 anos, o direito de queixa poderá


ser exercido pelo seu representante legal, todavia, se este não ajuizar à ação no
prazo legal, poderá́ fazê-lo o próprio ofendido após completar a maioridade (o
prazo decadencial começará a partir daqui).

A PARTIR DE AGORA PASSAREMOS ALGUMAS DICAS SOBREA ELABO-


RAÇÃO DA PEÇA INCIAL:

1. Na redação da peça de queixa-crime, deve-se evitar a citação de


doutrinas e de jurisprudências, assim, tente ser direto, claro e objetivo.
Observe-se que diferentemente da área cível, no Processo Penal, a queixa
deve ser concisa e sucinta, limitando-se a apontar os fatos cometidos pelo que-
relado, sem qualquer juízo de valoração.
Ademais, peças prolixas, contendo exposição de doutrinas e jurisprudências,
acabam por prejudicar a autodefesa do acusado podendo gerar a inépcia da ini-
cial nos moldes do artigo 395, I do CPP.
1. Outra questão de suma relevância, é que na queixa-crime poderá
o querelante (por meio de seu causídico) requerer diligências probató-
rias que entenda imprescindíveis, como, por exemplo, a elaboração de
perícias, requisições de documentos, reconhecimentos, levantamentos
topográficos do local dos fatos, entre outras.
CUIDADO – não obstante, não esteja previsto expressamente no artigo 41 do
CPP, entendemos que seja importante requerer no exame da OAB o valor mínimo
para reparação dos danos causados pelo crime, conforme estabelece o art.
387, IV, CPP.
Sobre o assunto, observe:
Art. 387. O juiz, ao proferir sentença condenatória:
IV  – fixará valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração,
considerando os prejuízos sofridos pelo ofendido.

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1. Outro tema, que entendemos que deverá ser enfrentado pelo can-
didato, trata-se da menção do valor da causa em sede de queixa-crime,
para nós, deverá ser requerida, aplicando-se analogia ao artigo 291 do
NCPC, vejamos:
“A toda causa será atribuído valor certo, ainda que não tenha conteúdo eco-
nômico imediatamente aferível”.
1. Quanto ao endereçamento da petição inicial, deverá ser analisada,
com muita cautela, a questão da competência criminal, ou seja, se per-
tencente ao JECrim ou a Vara Criminal, observe as dicas abaixo:

SE FOR PARA O JECRIM:


Exmo. Sr. Dr. Juiz de Direito da ___ Vara do Juizado Especial Criminal da Co-
marca de ___(crimes com pena máxima de até 2 anos).

SE FOR PARA O JUIZ CRIMINAL:


Exmo. Sr. Dr. Juiz de Direito da ____ Vara Criminal da Comarca de ______ (para
crimes com pena maior que 2 anos).
1. Sobre a elaboração do pedido a ser realizado na queixa-crime, se-
guem algumas formas de redação e importantes dicas, veja abaixo:
FORMA DE REDAÇÃO DO PEDIDO: Ante o exposto, tendo o querelado infrin-
gido e disposto no(S) art (S) XX do CB, requer:

Se for crime de competência do Juizado Especial Criminal tem que pe-


dir que seja designada audiência preliminar para eventual composição e
transação, ou então se infrutífera, seja intimado para apresentação da de-
fesa preliminar, seguindo-se o recebimento da queixa-crime, a citação e
designação de audiência de instrução, debates e julgamento, ouvindo-se
as testemunhas abaixo relacionadas, nos termos do rito sumaríssimo dos
artigos 77 a 83 da lei 9.099/95, até final sentença e condenação. * Não se
esqueça do valor da indenização e valor da causa.

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MUITA ATENÇÃO: SE EM RAZÃO DA PENA, SAIR DA ESFERA DO JE-


CRIM, por exemplo, um crime de calúnia + causa de aumento pela pre-
sença de várias pessoas, deve-se observar o procedimento dos crimes
contra honra.
Neste caso, você deverá requerer que seja citado o acusado e, enfim, defen-
der-se dos termos da presente ação, com apresentação da resposta à acusação,
audiência una e sentença condenatória, de acordo com o rito sumário (artigo 395
a 405 e artigos 531 a 538, todos do CPP). Deverá requer ainda o valor da indeni-
zação e indicar que á causa, atribui-se o valor de R$_______.
1. Por fim, não se esqueça dos requerimentos abaixo e do rol das tes-
temunhas da acusação. Veja:
Nestes termos,
Pede deferimento.
______________________, ____de ______2016.
Advogado OAB/___ n°_____.
Rol de testemunhas e vítima:
• ___________,
• ___________,
Desejo muito sucesso na prova da OAB!
Grande abraço e AVANTE!

José Carlos – Professor Universitário e Advogado,


com especialização em Direito Penal, Direito Processual
Penal e Direito Ambiental e Recursos Hídricos. Douto-
rando em Direito Penal pela Universidade de Buenos
Aires (UBA). Professor Titular de Direito Penal e Direito
Processual Penal na Universidade Católica de Brasília
(UCB). Professor Titular das Faculdades Integradas da
União Educacional do Planalto Central (FACIPLAC) nas
áreas de Direito Penal, Processo Penal e Laboratório de
Prática Jurídica. Participante de bancas examinadoras
de Concursos Públicos.

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DIREITO PENAL:
PROFESSOR FELIPE LEAL

Futura advogada, Futuro advogado.


Hoje, pretendo reforçar seus estudos com a Lei n. 11.343/2006!!!

DICA 01 – LEI N. 11.343/2006 – PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA

É possível se aplicar o princípio da insignificância quando ínfima a quantidade


de droga apreendida. Nesse sentido, o Habeas Corpus (HC) 110475 – STF, impe-
trado pela defesa de um condenado por porte de entorpecente em Santa Ca-
tarina pela ausência de tipicidade da conduta, em razão da “quantidade ínfima”
(0,6g) de maconha que ela levava consigo.

DICA 02 – LEI N. 11.343/2006 – ESTADO DE NECESSIDADE

É possível alegar estado de necessidade para a venda de drogas? Respondo


que NÃO! Segundo a Jurisprudência, não se justifica apelo a recurso ilícito, mo-
ralmente reprovável e socialmente perigoso, de se entregar o agente ao comér-
cio de drogas.

DICA 03 – LEI N. 11.343/2006 – PRVISÃO CULPOSA

Há previsão culposa na Lei n. 11.343/2006? Respondo que SIM!

Art. 38. Prescrever ou ministrar, culposamente, drogas, sem que delas ne-
cessite o paciente, ou fazê-lo em doses excessivas ou em desacordo com
determinação legal ou regulamentar:
Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e pagamento de 50 (cin-
quenta) a 200 (duzentos) dias-multa.
Parágrafo único. O juiz comunicará a condenação ao Conselho Federal da
categoria profissional a que pertença o agente.

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COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

Como crime de forma livre, pode ocorrer, como exemplos, quando se ministra
droga certa em dose errada ou droga errada em dose certa.
Bons estudos !!!!

Felipe Leal – Graduado em Direito pela Universidade


Federal da Paraíba (2003) e mestrado em Direito Am-
biental e Políticas Públicas pela Universidade Federal
do Amapá (2012). Ingressou na Polícia Federal em 2005,
como Papiloscopista Policial Federal, adquirindo expe-
riência na área técnica, e, desde 2006, é Delegado de
Policia Federal, tendo já chefiado Delegacias Especiali-
zadas na Repressão ao Tráfico de Drogas (Pará), na Re-
pressão aos Crimes Ambientais (Amapá) e na Repres-
são a Crimes Financeiros (Paraíba), bem como atuou como Chefe do Núcleo de
Inteligência em Pernambuco. Na docência, é um dos responsáveis pela formação
profissional de novos policiais, com a elaboração de Caderno Didático para a
Academia Nacional de Polícia. Já elaborou Manuais de Investigações para autori-
dades policiais. Professor em Faculdades de Direito e em cursos de pós gradua-
ção. Coordenador de pós graduação em Investigação Criminal e Ciências Foren-
ses. Coordenador da Escola Nacional de Polícia Judiciária.

402 grancursosonline.com.br
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DIREITO PENAL:
PROFESSOR ANDERSON COSTA

Hoje conversaremos sobre o Agravo em Execução, também denominado de


Recurso de Agravo. Trata-se do recurso cabível contra qualquer decisão do juiz da
execução penal, estando previsto no artigo 197 da Lei de Execuções Penais – Lei.
7210/84. Como a LEP não disciplina o rito desse recurso, e sendo ele uma “dissi-
dência” do recurso em sentido estrito, considera-se que o seu procedimento deve
reger-se conforme estabelece o artigo 581 e seguintes do Código de Processo
Penal (05 dias para interposição + 02 dias para apresentação das razões. O prazo
para interposição é determinado pela Súmula 700 do STF).
Nessa entoada, sempre que uma decisão do juiz de execução criminal causar
prejuízo a uma das partes da relação processual, o recurso de agravo é a alter-
nativa disponível, para fins de buscar a declaração da extinção da punibilidade; a
unificação das penas; a progressão de regime; o livramento condicional, a detra-
ção ou remição da pena, dentre outros (ver artigo 66 e incisos da LEP).
É importante anotar que o art. 581 do CPP elenca diversas hipóteses constan-
tes no art. 66 da LEP como passíveis de Recurso em Sentido Estrito. Entretanto,
pelos princípios da especialidade (situação específica prevista na Lei especial) e
posterioridade (Lei posterior revoga lei antiga, visto que o CPP é de 1941 e a LEP
é de 1984), tais situações não vigem mais, tendo havido o que chamamos de re-
vogação tácita. Todos os incisos que disciplinam sobre atos do juízo da execução
comportam exclusivamente Agravo, não havendo que se cogitar do RESE.
A interposição do recurso de Agravo à execução deverá ser feita no prazo de
cinco dias, em petição dirigida ao juiz prolator da decisão; as razões deverão ser
interpostas em petição separada, dirigidas ao Tribunal competente para apreciar
o recurso, no prazo de dois dias. Esse mesmo prazo deve ser obedecido para
apresentação das contrarrazões. Na hipótese de haver juízo de retratação – tal
como ocorre com o

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COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

Poderão interpor o recurso de agravo tanto o Ministério Público quanto o


executado (condenado) ou o seu defensor. O assistente de acusação não tem
legitimidade para propor Agravo à execução.
Uma vez denegado o Agravo, caberá o Recurso de Carta Testemunhável –
artigo 639, II e II do Código de Processo Penal.
Bons estudos!!!

Anderson Costa – Advogado sócio administrador do


Escritório Costa & Amorim, militante na área criminal,
tendo como especialidade crimes contra a vida, honra
e patrimônio. Especialista em direito penal e processo
penal, graduado pelo UNICEUB; ex-professor de direito
penal e processual penal da instituição ICESP-DF; pro-
fessor de direito penal, processo penal e prática penal
na UDF, sendo coordenador da unidade de prática jurí-
dica de Taguatinga, pertencente à instituição em voga.
Ex coordenador do curso de pós graduação “lato sensu” em processo penal e
direito penal da UDF; professor em institutos preparatórios para concursos públi-
cos e OAB na área penal e processual penal (IMP, APCON, ALUNB, GRANCURSOS
e professor no curso de prática de advocacia criminal do instituto CERS – Com-
plexo Renato Saraiva). Revisor da Obra “Manual de Prática Penal – 5ª edição” de
autoria de Geovane Moraes e Ana Cristina Mendonça, editora Armador.

404 grancursosonline.com.br
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

DIREITO PENAL:
PROFESSOR FLÁVIO DAHER

Terminando o assunto das Regressivas anteriores (Concurso de Pessoas):

PARTICIPAÇÃO

Após conceituar a autoria pode-se conceituar a participação a contrario sen-


su: será partícipe aquele que colaborar para o delito sem ter domínio do fato
(caso se adote esta tese para configuração da autoria) ou será partícipe aquele
que colaborar para o delito sem praticar o verbo que rege o tipo (caso se adote
a tese objetivo-formal). A participação pode ocorrer pela via moral ou material.
A participação moral se dá através do induzimento ou da instigação. Teremos o
induzimento quando o partícipe faz surgir no autor o propósito, antes inexistente,
de cometer o delito (A induz B a matar C). Teremos a Instigação quando o partí-
cipe reforçar o propósito preexistente do autor no sentido de cometer o delito (B
fala para A sobre o seu propósito de eliminar C; A afirma que a idéia de B de eli-
minar C é excelente, inclusive formulando com B qual seria o método perfeito de
eliminá-lo). A participação material ocorre quando o partícipe presta assistência,
normalmente de índole logística, de forma a facilitar a execução do crime pelo
autor (A empresta a arma para que B elimine C). Eventualmente as provas fazem
questionamentos sobre o momento em que cada forma de participação deve ou
pode ocorrer para se caracterizar (é impossível induzir alguém a cometer um de-
lito quando este já está se preparando ou o executando por exemplo) Vejamos:

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COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

Sendo forma de atuar acessória a participação para ter relevância depen-


de inexoravelmente da sorte da conduta principal. Se A induz B a matar C e B
sequer iniciar a execução do homicídio o induzimento será atípico e portanto
penalmente irrelevante. A partir dessa relação de dependência algumas teorias
foram formuladas para se estabelecer a partir de que grau a repercussão penal
da conduta principal haveria a caracterização da relevância jurídica da participa-
ção (relevância não no sentido de contribuição para o êxito da infração mas no
sentido de pertinência jurídica para existir). As quatro teorias formuladas são:

406 grancursosonline.com.br
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

Bons estudos !!!

Flávio Daher – Delegado de Polícia Federal no DF.


Mestre em Direito Constitucional pela UNIFRAN-SP.
Doutorando em Direito Penal pela UNICEUB. Professor
de Cursos Preparatórios. Autor de Obras com o Profes-
sor Luiz Flávio Gomes.

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COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

DIREITO PENAL:
PROFESSOR JOSÉ CARLOS

Prezados candidatos ao Exame da OAB, hoje passaremos algumas dicas so-


bre o importantíssimo tema: o foro por prerrogativa de função e sua persistência
após o encerramento do mandato ou cargo público. O tema é de extrema rele-
vância, uma vez que poderá ser objeto das questões discursivas da FGV.
Para compreendê-lo, devemos entender a evolução jurisprudencial e legisla-
tiva sobre o assunto.
Primeiramente, a Súmula n. 394 do STF editada em 1964 sempre garan-
tiu a continuidade do foro por prerrogativa de função mesmo após o término
da função, desde que o crime tivesse sido cometido durante o exercício
funcional. O argumento é que havia sido fixado o foro no momento da prática
delituosa.
Mais tarde, em 25 de agosto de 1999, o STF determinou o cancelamento da
Súmula n. 394, sustentando que as prerrogativas de foro especial comportam
interpretação restritiva na medida em que recepcionam o princípio da igualdade
entre os cidadãos.
Em 26 de dezembro de 2002, entrou em vigor a Lei n. 10.628 de 24 de de-
zembro (foi apelidada de Lei FHC), a referida norma atribuiu uma nova redação
ao caput do artigo 84 do CPP, acrescentando-lhe dois parágrafos, vejamos:
Art. 84: A competência pela prerrogativa de função é do Supremo Tribunal
Federal, do Superior Tribunal de Justiça, dos Tribunais Regionais Federais e Tribu-
nais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal, relativamente às pessoas que
devam responder perante eles por crimes comuns e de responsabilidade.
Artigo 84, §1: “a competência especial por prerrogativa de função relativa a
atos administrativos do agente, prevalece ainda que o inquérito ou ação judicial
sejam iniciados após a cessação do exercício da função pública”.

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COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

Pela leitura do dispositivo acima, encerrado o exercício funcional, se o crime


tivesse relação com a função, prevaleceria o foro especial por prerroga-
tiva de função, mesmo após o término do período.
Para nós, houve a repristinação “da ideia” presente na revogada Súmula 394
do STF.

A Lei n. 10.628 de 2002 foi bem mais além, uma vez que no §2º do art. 84
do CPP, estendeu as hipóteses de foro por prerrogativa de função
para os atos de improbidade administrativa (definidos na Lei n.
8.429/92 – improbidade administrativa).

Ademais, a matéria não tem nenhuma relação com área criminal.


Por óbvio, a referida alteração foi muita questionada no âmbito jurídico, uma
vez que lei ordinária não poderia acrescentar novos casos por prerrogativa de
função além dos já constantes no texto constitucional.
Em síntese, a crítica estabelecida foi: que uma lei inferior não poderia assu-
mir o papel de Emenda Constitucional. Tal critério, mesmo tendo fundamento
de relevância pública, não competiria ao legislador ordinário, mas sim ao poder
constituinte derivado.

Como o Pretório Excelso enfrentou tais questões?


Em 15 de setembro de 2005, acabou a celeuma, pois o STF por maioria de
votos (7 x 3), em seu órgão plenário, declarou inconstitucionais os parágrafos 1º
e 2º do art. 84 do CPP.

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COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

A decisão do pretório excelso foi proferida no julgamento da ADIn


2797 proposta pela Associação Nacional dos Membros do MP (CO-
NAMPI), tendo como relator o Ministro Sepúlveda Pertence.
Fundamentos do STF: O Congresso Nacional não tem legitimidade para res-
tringir ou ampliar a competência originária do STF, STJ, dos TRFs e dos TJs. Para
o Ministro Celso de Mello, haveria “uma indevida ingerência normativa do Con-
gresso Nacional”
Conclusão: Hodiernamente, o foro por prerrogativa de função não mais se
estende para ex-ocupantes de cargo ou mandato eletivo. Destarte, não possui
mais o cargo, não possui também o foro especial.
Também não se pode mais falar em foro por prerrogativa de função para atos
de improbidade administrativa. Em que pese à declaração de inconstitucio-
nalidade, o STF declarou competir a ele próprio julgar a ação de impro-
bidade contra seus ministros.
Vejamos o informativo n. 498 do STF (2008):
Improbidade Administrativa – Ministro do STF e Competência. O Tri-
bunal, por maioria, resolvendo questão de ordem suscitada em petição,
firmou sua competência para julgar ação por ato de improbidade admi-
nistrativa ajuizada contra atual Ministro do STF (à época Advogado-Geral
da União), e outros, na qual se lhe imputam a suposta prática dos crimes
previstos nos artigos 11, I e II, e 12, III, da Lei n. 8.429/92.
No caso supra, o STF reportou-se á orientação fixada na Rcl 2138/DF,
entendeu que distribuir competência para juiz de 1º grau para julgamen-
to de ministro da Corte quebraria o sistema judiciário como um todo.
O STJ respaldado no mesmo fundamento entende que, por imposição ló-
gica de coerência interpretativa, uma norma infraconstitucional não pode
atribuir a um juiz de primeira instância o julgamento de ação de impro-
bidade administrativa contra um governador, uma vez que poderá ser
imposta a perda do mandato.

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COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

Em suma, a referida Corte passou a entender que cabe a ele STJ a aplicação
da Lei n. 8.429/92 para governadores e não ao juiz singular.
Para essa linha, a ação civil pública por ato de improbidade administrativa,
quando houver possibilidade de perda de cargo ou mandato, não caberá ao juiz
de primeira instância, mas sim ao órgão especial competente segundo as regras
de foro por prerrogativa de função.
Bons estudos e sucesso na prova da OAB!
Avante!

José Carlos – Professor Universitário e Advogado,


com especialização em Direito Penal, Direito Processu-
al Penal e Direito Ambiental e Recursos Hídricos. Dou-
torando em Direito Penal pela Universidade de Buenos
Aires (UBA). Professor Titular de Direito Penal e Direito
Processual Penal na Universidade Católica de Brasília
(UCB). Professor Titular das Faculdades Integradas da
União Educacional do Planalto Central (FACIPLAC) nas
áreas de Direito Penal, Processo Penal e Laboratório de
Prática Jurídica. Participante de bancas examinadoras de Concursos Públicos.

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COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

DIREITO PENAL:
PROFESSOR FLÁVIO DAHER

TEORIA EXTREMADA X TEORIA LIMITADA DA CULPABILIDADE

O erro nas descriminantes putativas: três são as hipóteses de erro nas descri-
minantes putativas:
(a) erro sobre a existência de uma descriminante ou justificante (exemplo: su-
jeito pensa que pode matar seu injuriador);
(b) erro sobre os limites de uma descriminante ou justificante (exemplo: sujeito
pensa que pode reagir contra a execução de despejo pelo oficial de justiça);
(c) erro sobre situação fática de uma descriminante ou justificante (descrimi-
nante putativa fática). Exemplos: (a) ao ouvir barulho estranho em sua casa, o
agente pensa que é perigoso ladrão e dispara; verifica-se depois que era o guar-
da noturno se escondendo da chuva, com um guarda-chuva nas mãos; (b) o filho
se despediu do pai em uma festa e disse que só voltaria no dia seguinte; o pai
retornou para casa e viu o quarto do filho com luz acesa; aproximou-se e ouviu
barulho; gritou e ninguém respondia; disparou e depois se verificou que havia
acabado de matar o filho, que retornou para casa e ouvia música com fones de
ouvido.
As hipóteses “a” e “b” configuram erro de proibição indireto (regido pelo art.
21 do CP) e chamam-se também erro de permissão; a hipótese “c” também é
denominada de erro de tipo permissivo e está regulada pelo art. 20, § 1.º, do CP.
Erro de permissão, portanto, nada tem a ver com o erro de tipo permissivo. Tanto
um quanto outro acontece dentro das descriminantes putativas, mas o primeiro
é erro de proibição (CP, art. 21), enquanto o segundo tem regime jurídico próprio
(CP, art. 20, § 1.º). Pode-se perguntar: o erro nas descriminantes putativas, afinal,
é de permissão ou erro de tipo permissivo?
Pela teoria extremada da culpabilidade trata-se de erro de proibição uma vez
que o infrator age com dolo (no exemplo o pai atira dolosamente para matar
imaginando ser sua conduta amparada pela legítima defesa). O agente erra so-

412 grancursosonline.com.br
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

bre a ilicitude de seu comportamento, e sabe perfeitamente que realiza a condu-


ta típica, tanto do ponto de vista objetivo como subjetivo: o agente sabe o que
faz, mas supõe erroneamente que estaria permitido. Neste caso, para os adeptos
da teoria extremada da culpabilidade, fica evidente a manutenção da tipicidade
e a exclusão (erro inevitável – isenção de pena), ou a diminuição (erro evitável –
diminuição de pena) da reprovabilidade.
Já para os adeptos da teoria limitada da culpabilidade o erro de proibição
indireto é erro de proibição mas o erro de tipo permissivo é erro de tipo uma
vez que o indivíduo quer agir conforme a norma (sua representação, apesar de
equivocada de fato, está juridicamente correta). A tese é simples: no erro de proi-
bição a pessoa acerta no fato e erra no direito e no erro de tipo a pessoa acerta
no direito e erra no fato e é justamente isso que acontece no erro de tipo per-
missivo (pessoa representa mal o fato mas corretamente o direito) e assim tanto
na hipótese de errônea representação da situação típica quanto da situação jus-
tificante haverá a exclusão do dolo e eventual punição pela modalidade culposa
caso verificado que o erro da representação surgiu da verificação imprudente da
realidade.

Reforça essa tese o item 17 da Exposição de Motivos do Código Penal: “17. É,


todavia, no tratamento do erro que o princípio nullum crimen sine culpa vai aflo-
rar com todo o vigor no direito legislado brasileiro. Com efeito, acolhe o Projeto,
nos artigos 20 e 21, as duas formas básicas de erro construídas pela dogmática
alemã: erro sobre elementos do tipo (Tatbestandsirrtum) e erro sobre a ilicitude
do fato (Verbotsirrtum). Definiu-se a evitabilidade do erro em função da consciên-
cia potencial da ilicitude (parágrafo único do artigo 21), mantendo-se no tocante
às descriminantes putativas a tradição brasileira, que admite a forma culposa, em
sintonia com a denominada “teoria limitada da culpabilidade”.

grancursosonline.com.br 413
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

Por fim é também evidente que a solução para as hipóteses evitáveis e inevi-
táveis do erro de tipo e do erro de tipo permissivo se parecem mais uma com a
outra do que com a solução dada ao erro de proibição:

Flávio Daher – Delegado de Polícia Federal no DF.


Mestre em Direito Constitucional pela UNIFRAN-SP.
Doutorando em Direito Penal pela UNICEUB. Professor
de Cursos Preparatórios. Autor de Obras com o Profes-
sor Luiz Flávio Gomes.

414 grancursosonline.com.br
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

DIREITO PENAL:
PROFESSOR FLÁVIO MILHOMEM
Querida Aluna, futura advogada,
Querido Aluno, futuro advogado,
Aproxima-se a 2ª fase do XX Exame de Ordem Unificado da Ordem dos Ad-
vogados do Brasil; e, assim, gostaria de dividir com vocês alguns temas de inte-
resse no Processo Penal, com alta possibilidade de serem cobrados na sua prova.
Então, vamos ao trabalho!

O RECURSO DE APELAÇÃO

Constitui a apelação o recurso ordinário por excelência, caracterizado por


ampla devolução cognitiva ao órgão ad quem, Tribunal de Justiça estadual ou
Tribunal Regional Federal.
Por meio da apelação, o órgão revisor pode reapreciar questões de fato e de
direito, ainda que julgadas anteriormente; e pode também examinar questões
ainda não analisadas pelo juiz, que estejam compreendidas na abrangência da
impugnação.
As hipóteses de cabimento da apelação contra decisões do juiz singular estão
referidas no art. 593, I e II, CPP; e, em relação ao júri (impronúncia e absolvição
sumária), no art. 416 do mesmo diploma legal.
É passível também de impugnação por apelação o valor mínimo para a repa-
ração dos danos causados pelo crime fixado na sentença condenatória.
Tratando-se de recurso cabível contra decisões de mérito e decisões defini-
tivas, faz-se necessária sua adequada conceituação para que não haja dúvida
quanto ao cabimento da apelação. São consideradas decisões de mérito aquelas
que, analisando o objeto do processo, acolhem ou afastam a pretensão punitiva
do Estado, por meio de sentença condenatória ou absolutória, respectivamente.
São consideradas definitivas as resoluções de mérito que encerram o proces-
so, diversas das sentenças condenatórias e absolutórias, por exemplos, as que
extinguem a punibilidade, concedem o perdão judicial, proferidas em habeas
corpus ou revisão criminal.

grancursosonline.com.br 415
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

A apelação é também admitida em leis extravagantes, como a Lei n. 9.099/95.


Nesta lei, há três decisões impugnáveis por apelação: a que acolhe a proposta
do MP de aplicação imediata de pena de multa ou pena restritiva; a decisão de
rejeição de queixa ou denúncia; e a sentença condenatória ou absolutória.
No tocante aos crimes dolosos contra a vida; cabe apelação contra decisões
do júri nas hipóteses das alíneas do art. 593, III. Estas, no entanto, são de fun-
damentação vinculada; e, sendo assim, se a parte invocar uma das alíneas, não
pode o tribunal julgar com base em outra.
A esse respeito, o Supremo Tribunal Federal editou o Enunciado n. 713, com
a seguinte redação:
“O efeito devolutivo da apelação contra decisões do júri é adstrito aos funda-
mentos da sua interposição”.
Levando-se em conta o prazo para interposição do recurso de apelação, 05
(cinco) dias para os procedimentos previstos no Código de Processo Penal, e 10
(dez) dias, no procedimento sumaríssimo previsto na Lei n. 9.099/95; entende-se
que, seu início, para a defesa, depende da intimação do acusado e seu defensor,
não necessariamente nesta ordem; porém, só correndo o prazo após a segunda
intimação.
Em caso de júri, intimadas as partes na sessão de julgamento, o prazo começa
a fluir do dia útil imediatamente seguinte.
Além das partes processuais, também a vítima tem o direito ao recurso de
apelação. O ofendido, em processos por crimes de ação penal pública iniciados
por meio de denúncia, terá quinze dias para recorrer a partir do dia em que ter-
minar o prazo do MP (art. 598, parágrafo único).
Quanto ao processamento do recurso, cabe ressaltar que a apelação é dirigi-
da ao tribunal competente para julgar o recurso, mas deve ser submetida a um
primeiro controle de admissibilidade pelo juiz singular. Caso este não o admita,
caberá o recurso em sentido estrito (art. 581, XV).
Após ter emitido o juízo positivo de admissibilidade, não pode deixar o juiz
de dar seguimento ao recurso, e, se o fizer, será cabível carta testemunhável (art.
639, II).

416 grancursosonline.com.br
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

Quanto às razões, apelante e apelado terão o prazo de 08 (oito) dias cada um


para oferecer razões e contrarrazões, quando se tratar de crime, e 03 (três) dias
se contravenção (art. 600, caput). Sendo dois ou mais os apelantes ou apelados,
os prazos serão comuns (art. 600, §3º).
Muito embora fixado o prazo para o oferecimento de razões, cabe esclarecer
que sua apresentação fora do prazo constitui mera irregularidade.
No procedimento sumaríssimo, previsto no art. 82, §1º, da Lei n. 9.099/95, o
recurso de apelação traz peculiaridades em relação àquele previsto no Código
de Processo Penal, já que as apelações interpostas de decisões proferidas nos
Juizados Especiais, no prazo de dez dias, devem vir acompanhadas das razões.
Em qualquer caso, transcorrido o prazo sem oferecimento das razões, os au-
tos serão remetidos à superior instância (art. 601, caput); tratando-se de exceção
à regra de que o recurso deva sempre ser motivado.
Espero que aproveitem a leitura dos temas propostos, lembrando que ainda
discutiremos temas de grande interesse para a 2ª fase do exame unificado da
Ordem dos Advogados do Brasil.
Foco no estudo!

Flávio Milhomem – Mestre em Ciências Jurídico-Pe-


nais, Doutorando em Direito e Políticas Públicas, Do-
cente nas disciplinas de Direito Penal e Processo Penal
desde 1997, Docente titular do curso de Direito (ba-
charelado) e da pós-graduação do Instituto Brasilien-
se de Direito Público – IDP, Brasília/DF, professor de
cursos preparatórios para concursos, Promotor de
Justiça Criminal do Ministério Público do Distrito Fede-
ral e Territórios desde 1.997.

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COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

DIREITO PENAL:
PROFESSOR BRUNO DE MELLO

Examinandos e examinandas,
dando continuidade aos estudos do Direito Penal para 2ª fase, analisaremos
uma súmula que foi aprovada pelo STJ nesta quarta-feira, 14 de setembro de
2016:

SÚMULA 582 DO STJ

Publicada recentemente, esta súmula sedimenta o entendimento que o crime


de roubo se consuma com a inversão da posse do bem, ainda que o agente não
tenha a posse mansa e pacífica ainda que por breve tempo e em seguida à per-
seguição imediata do agente e recuperação da coisa roubada.
Ainda no que pese o entendimento da maioria da doutrina, que a posse man-
sa e pacífica deve existir (teoria da ablacio), que caso o agente seja imediatamen-
te perseguido após a subtração, seria tentativa, o entendimento da Corte agora
é sumulado e assim deve ser seguido.
Não percam tempo, estudem!!

Bruno de Mello – Advogado criminalista e professor


de Direito Penal em diversos cursinhos para concursos
e graduação em faculdade (Faculdade Luís Eduardo na
Bahia).

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COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

DIREITO PENAL:
PROFESSOR MARCELO FERREIRA

MÁXIMO DE CUMPRIMENTO DA PENA X BENEFÍCIOS NO CURSO DA


EXECUÇÃO PENAL: QUAL É A SÚMULA?

Os problemas envolvendo súmulas do STJ e do STF têm presença certa nas


provas práticas de Penal da OAB. Tanto na peça quanto nas questões.
Assim, enquanto, de um lado, o examinador lê a súmula e elabora sua ques-
tão; de outro, o candidato à carteira da OAB lê a questão e começa a corrida para
encontrar a súmula referente ao assunto.
No geral, o comando da questão se refere à “posição dos tribunais superio-
res”, ao “entendimento do STJ” ou à “jurisprudência do STF”. Enfim, o examinador
chama a atenção do candidato para se manifestar de acordo com o entendimen-
to dominante da jurisprudência, que é representado pelo verbete das súmulas
daqueles tribunais.
Nossa súmula de hoje envolve o quantum de pena (total ou o limite de
30 anos) que deve ser considerado para a concessão dos benefícios da
execução penal, como o livramento condicional e a progressão de regi-
mes. Assim, é proposta a seguinte questão: Caio, reincidente, em razão de vários
processos, resultou condenado a um total de penas que, unificadas, se traduzi-
ram em 60 anos de reclusão. Face ao disposto nos artigos 75 e 83, do Código
Penal, qual o lapso temporal mínimo para a obtenção do benefício do livramento
condicional?
A pergunta é interessante porque, no Brasil, a Constituição Federal veda a
imposição de penas de caráter perpétuo, in verbis:

Constituição da República Federativa do Brasil de 1988

Art. 5º (…)
XLVII – não haverá penas:
(…)
b) de caráter perpétuo.

grancursosonline.com.br 419
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

Em decorrência desse mandamento constitucional, estabelece o Código Penal


que o prazo de cumprimento da pena não pode exceder a 30 (trinta) anos:

Limite das penas

Art. 75 – O tempo de cumprimento das penas privativas de liberdade não


pode ser superior a 30 (trinta) anos.
1º – Quando o agente for condenado a penas privativas de liberdade cuja
soma seja superior a 30 (trinta) anos, devem elas ser unificadas para atender
ao limite máximo deste artigo.
2º – Sobrevindo condenação por fato posterior ao início do cumprimento da
pena, far-se-á nova unificação, desprezando-se, para esse fim, o período de
pena já cumprido.

Assim, em que pese o fato de ser possível condenação à pena superior a 30


(trinta) anos, não é possível cumprir mais de 30 (trinta) anos, diante da vedação
legal respaldada pelo texto constitucional.
E é justamente quando o assunto envolve condenações superiores a 30 (trina)
anos é que surge a dúvida em relação ao quantum de pena que deve ser consi-
derado para ao cálculo dos benefícios que podem surgir no curso da execução
penal.
Durante a execução penal, é possível a incidência de alguns benefícios, como,
por exemplo, a progressão de regimes e o livramento condicional.
Em ambos os casos, a concessão do benefício depende do cumprimento de
tempo da pena: são frações estabelecidas em lei.
Para a concessão do livramento condicional, devem ser observadas as frações
previstas no art. 83 do Código Penal:

Art. 83 – O juiz poderá conceder livramento condicional ao condenado a pena


privativa de liberdade igual ou superior a 2 (dois) anos, desde que:
I – cumprida mais de um terço da pena se o condenado não for reincidente
em crime doloso e tiver bons antecedentes;
II – cumprida mais da metade se o condenado for reincidente em crime do-
loso;

420 grancursosonline.com.br
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(…)
V – cumprido mais de dois terços da pena, nos casos de condenação por
crime hediondo, prática da tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas
afins, e terrorismo, se o apenado não for reincidente específico em crimes
dessa natureza.

Para a progressão de regimes, as frações estão previstas na Lei de Execução


Penal e na Lei dos Crimes Hediondos, in verbis:

LEI N. 7.210, DE 11 DE JULHO DE 1984.

Art. 112. A pena privativa de liberdade será executada em forma progressiva


com a transferência para regime menos rigoroso, a ser determinada pelo juiz,
quando o preso tiver cumprido ao menos um sexto da pena no regime an-
terior e ostentar bom comportamento carcerário, comprovado pelo diretor do
estabelecimento, respeitadas as normas que vedam a progressão.

LEI N. 8.072, DE 25 DE JULHO DE 1990.

Art. 2º
(…)
2º A progressão de regime, no caso dos condenados aos crimes previstos nes-
te artigo, dar-se-á após o cumprimento de 2/5 (dois quintos) da pena, se o
apenado for primário, e de 3/5 (três quintos), se reincidente.

Imaginemos um agente que tenha sido condenado a um total de 60 anos e


quisesse requerer o benefício da progressão de regimes. Ele teria que cumprir 1/6
de 30 ou de 60 anos?
O Supremo Tribunal Federal, depois de enfrentar essa questão, decidiu no
sentido de que a fração deve incidir sobre o total da pena e não sobre o tempo
máximo de cumprimento.
Assim é o teor da Súmula n. 715 do STF, segundo a qual “a pena unificada
para atender ao limite de trinta anos de cumprimento, determinado pelo art.
75 do Código Penal, não é considerada para a concessão de outros benefícios,
como o livramento condicional ou regime mais favorável de execução.”.

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COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

No caso da questão proposta, tratando de reincidente, a fração de cumpri-


mento da pena para a obtenção do livramento condicional é de metade, confor-
me o previsto no art. 83, inciso II, do Código Penal, sendo que essa fração, nos
termnos da Súmula n. 715 do STF, deve incidir sobre o total da pena aplicada (60
anos) e não sobre o máximo de cumprimento (30 anos).
Logo, coincidentemente, quando Caio cumprir a fração para a obtenção do livra-
mento, já terá cumprido também o tempo máximo previsto no art. 75 do Código Penal.
Uma dica para o candidato localizar a súmula utilizada pelo examinador para a
elaboração da questão é sublinhar “palavras-chaves”. No presente caso, a suges-
tão é sublinhar “livramento condicional”. A partir dessa marcação, o candidato
deve utilizar o índice de súmulas por assunto ou as tabelas de súmulas que algumas
editoras disponibilizam no vademecum de Penal/Processo Penal. Se o seu vademe-
cum não possui esse índice ou a tabela, a sugestão é buscar as remissões dos textos
da lei, no presente caso, o candidato poderia procurar a súmula diretamente nos
artigos 75 e 83 do Código Penal, que tratam dos assuntos da questão proposta.
Bons estudos e uma excelente prova a todos!

Marcelo Ferreira – Mestre em Direito Público, Especia-


lista em Direito Penal e Processo Penal. Autor da obra
Segurança Pública e Prisão Preventiva no Estado Demo-
crático de Direito (Editora Lumen Juris). Assessor de Mi-
nistro do Superior Tribunal Militar. Professor de Direito
Penal e Processo Penal do Centro Universitário do Distri-
to Federal (UDF), da UNIEURO e da pós-graduação do
UniCEUB. Coordenador da Equipe Exame (cursos pre-
senciais de prática penal para OAB). No Rio de Janeiro,
além de professor universitário e de cursos preparatórios para concursos, atuou
como presidente e membro de várias bancas de concurso público, em especial, os
concursos para os cargos de Delegado de Polícia do Estado do Rio de Janeiro e de
Oficial integrante do Sistema de Assessoria Jurídica Consultiva da Marinha.

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DIREITO DO TRABALHO

DIREITO DO TRABALHO: PROFESSOR STEVÃO GANDH

O ÔNUS DA PROVA DO VALE-TRANSPORTE E DO RECOLHIMENTO DO


FGTS – UNIFORMIZAÇÃO DO ENTENDIMENTO: ÔNUS DO EMPREGA-
DOR

É sabido que tanto do direito processual do trabalho como no processo civil


o ônus da prova incumbe a quem alega, eis a premissa legal descrita no art. 818,
da CLT combinado com o art. 373, I, do CPC/2015.
Sob a regra desses preceitos, há muito tempo a jurisprudência dos Tribunais
pátrios discutiam especificamente a respeito de quem seria o ônus da prova quanto
à demonstração do preenchimento dos requisitos legais para percepção do vale-
-transporte jamais fornecido ao empregado ou ao recolhimento regular do FGTS.
A discussão acerca de quem seria o ônus da prova acerca do preenchimento
dos requisitos para percepção do vale-transporte rendeu uma variação de posi-
cionamentos nos Tribunais Regionais, pois o Tribunal Superior do Trabalho – TST,
até maio de 2011, adotava na Orientação Jurisprudencial – OJ n. 215 da SDI-1 o
entendimento de que é do empregado o ônus de comprovar que satisfaz os
requisitos indispensáveis à obtenção do vale-transporte, ou seja, aplicava-se a
interpretação literal de que a prova das alegações incumbe à parte que as fizer
(art. 818, da CLT combinado com o art. 333, I do CPC/73).
Em maio de 2011 o TST cancelou a OJ n. 215 e a questão ficou em aberto,
sendo que uns entendiam que o ônus foi mantido com o empregado por aplica-
ção do dispositivo da norma consolidada citada, outros que o ônus passou a ser
do empregador por entenderem que se houve o cancelamento da orientação é
porque a interpretação deve ser a contrario sensu.
Outro tema acerca do ônus da prova era a questão do regular recolhimento
do FGTS, ou seja, também com o cancelamento da OJ n. 301 da SDI-1 do TST a
divergência pairou em ser ou não obrigatória a comprovação, pelo empregador,
do regular recolhimento do FGTS, afinal é do dele a obrigação legal de efetuar os
depósitos e é ele também que detém os respectivos documentos comprobatórios.

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COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

A outra corrente afirmava que o empregado também detinha livre acesso


aos extratos da sua conta vinculada do FGTS, devendo, portanto, ser aplicado o
contido no art. 818 da CLT para lhe impor o ônus de comprovar a irregularidade
dos depósitos.
Nas duas situações, do vale-transporte e do FGTS, houve inúmeras discussões
e divergências na interpretação de quem seria o ônus da prova, empregado ou
empregador.
O fato é que recentemente a Corte Trabalhista entendeu por bem uniformizar
o posicionamento, sanar a celeuma que pairava acerca dos temas e na oportuni-
dade editou as Súmulas 460 e 461, senão vejamos:

Súmula n. 460 do TST


VALE-TRANSPORTE. ÔNUS DA PROVA – Res. 209/2016, DEJT divulga-
do em 01, 02 e 03.06.2016
É do empregador o ônus de comprovar que o empregado não satisfaz os
requisitos indispensáveis para a concessão do vale-transporte ou não pretenda
fazer uso do benefício.

Súmula n. 461 do TST


FGTS. DIFERENÇAS. RECOLHIMENTO. ÔNUS DA PROVA – Res.
209/2016, DEJT divulgado em 01, 02 e 03.06.2016
É do empregador o ônus da prova em relação à regularidade dos depósitos
do FGTS, pois o pagamento é fato extintivo do direito do autor (art. 373, II, do
CPC de 2015).
A não satisfação pelo empregado dos requisitos para a concessão do vale-
transporte previstos em lei ou a sua livre manifestação quanto à declaração de
que não quer fazer o uso do benefício (ex: em razão do alto salário recebido pelo
empregado, o valor do desconto de 6% do vale sobre o salário fará com que ele
arque sozinho com o valor do vale-transporte) é obrigação do empregador que
pode ser aferido por simples documento disponibilizado pelo empregador e as-
sinado pelo trabalhador relatando a situação.

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COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

E quanto ao FGTS, como há presunção de que os valores foram devidamen-


te depositados regularmente e somado à circunstância de que é o empregador
quem procede ao recolhimento mensal e que é ele quem detém o comprovante,
não se trata de fato constitutivo do direito do autor e sim, unicamente, de fato
extintivo do direito do autor. Com efeito, ônus do empregador.
Portanto, como um alerta, as atenções devem se voltar para essas Súmulas,
pois mesmo que ainda seja possível suscitar a violação do contido no art. 818 da
CLT e art. 373, I do CPC, É DO EMPREGADOR o ônus de comprovar que o
empregado não satisfaz os requisitos indispensáveis para a concessão
do vale-transporte ou não pretende fazer o uso do benefício e É DO EM-
PREGADOR o ônus probatório em relação à regularidade dos depósitos
do FGTS.

Stevão Gandh – Advogado militante. Especialista em


Direito Público. Palestrante e Parecerista na área de di-
reito do trabalho, especialmente em cursos de preven-
ção de passivos trabalhista. Professor de Direito do
Centro Universitário do Distrito Federal – UDF na disci-
plina Direito Processual do Trabalho. Professor de Direi-
to da Faculdade Projeção – FAPRO na disciplina Direito
Processual do Trabalho e Direito do Trabalho. Professor
de Cursos Preparatórios para Concurso Público.

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COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

DIREITO DO TRABALHO: PROFESSOR HUGO SOUSA

Prezados Alunos, futuros colegas


Incumbido que fui de contribuir com o projeto do GranOnline no sentido de cuidar
de sua aprovação junto ao exame da Ordem dos Advogados do Brasil, desenvolvo
considerações relevantes a respeito do Direito do Trabalho, especialmente em área
normalmente negligenciada, mas também relevante para a prova, o Direito Coletivo.
O Estudo do Direto Coletivo passa por três etapas, a saber. A) Direito Sindical,
B) Negociação Coletiva, e, por derradeiro, a C) Greve.
Faremos uma série de três manifestações, sendo a primeira sobre direito sin-
dical, a segunda sobre negociação coletiva e a terceira sobre greve.
Quanto ao Direito Sindical revela debater as importantes disposições sobre o
Princípio da Liberdade Sindical, e representatividade Sindical.
Vamos lá.

O Princípio da Liberdade Sindical é de caráter positivo, ou seja, liberdade de


associar-se e de manter-se associado, como de caráter negativo, liberdade de
não se associar ou de se retirar do sindicato.
Reflexos desse Princípio existe em demasia, mas um deles se vê no cotidiano,
e é passível de ser cobrado em prova, qual seja, o direito de não ser obrigado
a arcar com a chamada contribuição confederativa, que somente é devida por
filiados, sendo ilegal pensar em obrigação de comunicar o ente sindical sobre a
discordância com a cobrança pelos não filiados, pois se não é filiado, não cabe
a exigência. Na prática a questão é bem controvertida, por possuir viés político,
mas nos termos do PN (Precedente Normativo 119 do TST) tal contribuição so-
mente é devida por filiados, e é o que vale para efeito de prova.

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COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

Vejamos o texto.

“N. 119 CONTRIBUIÇÕES SINDICAIS – INOBSERVÂNCIA DE PRECEITOS


CONSTITUCIONAIS – (mantido) – DEJT divulgado em 25.08.2014
“A Constituição da República, em seus arts. 5º, XX e 8º, V, assegura o direito
de livre associação e sindicalização. É ofensiva a essa modalidade de liberda-
de cláusula constante de acordo, convenção coletiva ou sentença normativa
estabelecendo contribuição em favor de entidade sindical a título de taxa
para custeio do sistema confederativo, assistencial, revigoramento ou for-
talecimento sindical e outras da mesma espécie, obrigando trabalhadores
não sindicalizados. Sendo nulas as estipulações que inobservem tal restrição,
tornam-se passíveis de devolução os valores irregularmente descontados.”

Não confundir, entretanto, a contribuição confederativa com a contribuição


sindical, esta de caráter obrigatório, nos termos do art. 580 da CLT, sendo devida
por filiados e não filiados.
Quanto à confederativa, se o empregador promover o desconto, terá de res-
tituir ao empregado o valor, pois será indevido. Na prática, todavia, e mais cau-
teloso comparecer ao sindicato e fazer a recusa expressa nos termos descritos
na CCT, pois do contrário o empregado terá de se indispor com o empregador, o
que nem sempre gera bons resultados.
Avaliado este ponto, outro que se revela em grau de importância é a repre-
sentatividade sindical, ou seja, qual o sindicado que representa a categoria do em-
pregado, e que, portanto, terá legitimidade para celebrar acordos e convenções
coletivas, assim como terá legitimidade para atuar como substituto processual.
A regulamentação decorre do art. 511 da CLT, e não está definida pelas funções
que o empregado exerce, mas sim pela atividade preponderante do empregador,
ou seja, a atividade que define o empreendimento é que será levada em conta
para definir o sindicato patronal, também chamado de categoria econômica. A
partir dessa definição, se define qual é o sindicato que representa os empregados,
denominada de categoria profissional. O sistema adotado, portanto, é o vertical,
quer dizer, a atividade preponderante do empregador, define qual a categoria a
que pertence o empregado.

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COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

Há, entretanto, a chamada categoria diferenciada, ou seja, grupo de empre-


gados que por possuir condições de trabalho singulares, ou norma regulamen-
tadora, fogem à regra geral do empreendimento. Nesse caso, o sindicato que
representa esses empregados é o da categoria diferenciada (ex. motoristas em
um hospital, médico em uma indústria, em ambos os casos a realidade deles e
bem distinta dos demais empregados)
Todavia, uma questão é extremamente importante. O fato do sindicato ser
outro, não obriga o empregador a, de imediato, observar para esses empregados
especiais a norma coletiva de seu sindicato, sendo imprescindível que o empre-
gador a ela adira expressamente. Isso inclusive e lógico, pois em tese o hospital
não participou da negociação entre, por exemplo, o sindicato dos motoristas e a
empresa de transportes, e como a CCT não deixa de ser em parte um contrato,
ela não pode obrigar que não participou da negociação.
O TST já se manifestou sobre a questão através de sumula, qual seja, a de
número 374, verbis.
Súmula n. 374 do TST NORMA COLETIVA. CATEGORIA DIFERENCIA-
DA. ABRANGÊNCIA (conversão da Orientação Jurisprudencial n. 55 da
SBDI-1) – Res. 129/2005, DJ 20, 22 e 25.04.2005
Empregado integrante de categoria profissional diferenciada não tem o direi-
to de haver de seu empregador vantagens previstas em instrumento coletivo no
qual a empresa não foi representada por órgão de classe de sua categoria. (ex-OJ
n. 55 da SBDI-1 – inserida em 25.11.1996)
Pois bem, não há como exaurir o tema nessa sede, mas do quanto se disse,
podemos concluir o seguinte em relação ao texto
1. Liberdade sindical se exerce de forma positiva (ativa), ou negativa (omissiva),
2. A contribuição confederativa só é devida por filiados, e se houver desconto
de não filiados, deve ser restituído pelo empregador. Contribuição sindical é de-
vida por filiados e não filiados
3. Sindicato que representa a categoria profissional é o da atividade prepon-
derante do empregador, salvo categoria diferenciada,

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4. Empregador só está obrigado a observar a CCT de categoria diferenciada


se aderiu aos seus termos expressamente.
Certo de ter contribuído com a formação dos senhores em matéria de Direito
Coletivo, nos despedimos neste momento.
Abs e Boa Sorte.

Hugo Sousa – Advogado. Professor de Direito e Pro-


cesso do Trabalho há mais de 15 anos no DF. Professor
de Cursos Preparatórios para Concurso.

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COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

DIREITO DO TRABALHO: PROFESSOR JOSÉ GERVÁSIO

COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA CAUSAS ENVOLVEN-


DO ACIDENTE DO TRABALHO

A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) não estabelece regras acerca da


indenização por danos decorrentes do acidente de trabalho. Por isso, a análise da
questão atrai a aplicação do capítulo de Responsabilidade Civil do Código Civil.
Assim, não se tratando de matéria eminentemente trabalhista, ficava a dúvida
acerca da competência para o julgamento da questão.
Por compreender que a questão é de natureza civil, já na vigência da Consti-
tuição de 1988, o Superior Tribunal de Justiça editou a súmula 15, pela qual “com-
pete à Justiça Estadual processar e julgar os litígios decorrentes de acidente do
trabalho”. Embora tal verbete de súmula não tenha sido cancelada, não expressa
mais o entendimento adequado.
​Ocorre que a EC 45 ampliou a competência material da Justiça do Trabalho,
de modo a prever, entre outras hipóteses, a competência para processar e julgar
as ações de indenização apor dano moral ou patrimonial decorrentes da relação
de trabalho (item VI do art. 114 da CF). A partir daí, portanto, a Justiça do Trabalho
passa a ter competência explícita para o julgamento das ações indenizatórias por
fatos decorrentes da relação de trabalho, pouco importando que a matéria deva
ser resolvida mediante aplicação do Código Civil.
Na hipótese do acidente de trabalho, o art. 109 da Constituição, ao tratar da
competência da Justiça Federal, fez menção de que aos juízes federais compete
processar e julgar as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa
pública federal forem interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou
oponentes, exceto as de falência, as de acidente de trabalho e as sujeitas à Justi-
ça Eleitoral e à Justiça do Trabalho (item I do art. 109). Na realidade, tal regra diz
respeito às ações de acidente de trabalho que envolvamo INSS como autarquia
previdenciária, e não as lides entre o trabalhador e seu empregador.
Pacificando a questão, o STF editou a Súmula Vinculante n. 22, pela qual “a

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Justiça do Trabalho é competente para processar e julgar as ações de indenização


por danos morais e patrimoniais decorrentes de acidente de trabalho propos-
ta por empregado contra empregador, inclusive aqueles que ainda não possuí-
am sentença de mérito em primeiro grau quando da promulgação da Emenda
Constitucional n. 45/04”. Com isso, a Emenda Constitucional 45, promulgada em
31/12/2004 é o marco definidor da competência da Justiça do Trabalho para tais
causas.
Por fim, na linha da afirmação da competência acidentária da Justiça do Traba-
lho é a súmula 392 do Tribunal Superior do Trabalho, com o seguinte teor:
SUM-392: DANO MORAL E MATERIAL. RELAÇÃO DE TRABALHO.
COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO (redação alterada na sessão
do Tribunal Pleno realizada em 27.10.2015) – Res. 200/2015, DEJT divulgado
em 29.10.2015 e 03 e 04.11.2015 – Nos termos do art. 114, inc. VI, da Constitui-
ção da República, a Justiça do Trabalho é competente para processar e julgar
ações de indenização por dano moral e material, decorrentes da relação de
trabalho, inclusive as oriundas de acidente de trabalho e doenças a ele equi-
paradas, ainda que propostas pelos dependentes ou sucessores do trabalha-
dor falecido.
Percebe-se que a súmula 392 do TST complementa a Súmula Vinculante
22 do STF, ao reconhecer que a competência da Justiça do Trabalho alcança,
inclusive, as ações propostas pelos dependentes ou sucessores do trabalha-
dor falecido. O STF fixou tal competência ao julgar o Tema 242 da Tabela de
Repercussão Geral, acerca da “competência para processar e julgar ações in-
denizatórias decorrentes de acidente do trabalho propostas por sucessores
do trabalhador falecido” (RE 600091, Relator Min. Dias Toffoli, Dje 15/08/2011),
com a seguinte ementa:
Recurso extraordinário – Competência – Processual Civil e do Traba-
lho – Repercussão geral reconhecida – Ação de indenização decorrente
de danos sofridos em acidente de trabalho – Demanda diretamente de-
corrente de relação de trabalho, sendo irrelevante, para fins de fixação
da competência, o fato de ter sido ajuizada por sucessores do trabalha-

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COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

dor falecido – Aplicação da norma do art. 114, inciso VI, da Constituição


Federal, com a redação que a ela foi dada pela Emenda Constitucional n.
45/04 – Reconhecimento da competência da Justiça Federal do Trabalho
para o processamento do feito. Recurso não provido.

José Gervásio – Juiz do Trabalho. Ex-Procurador do


Estado do Goiás. Ex-Procurador da Fazenda Nacional.
Ministra as matérias de Direito do Trabalho, Direito
Processual do Trabalho e Direito Administrativo.

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DIREITO DO TRABALHO: PROFESSOR HUGO SOUSA

Prezados Alunos, futuros colegas


Na sequência da dica anterior, prosseguimos na análise do Direito Coletivo
para o Exame da Ordem.
Questão agora é o período de vigência do acordo ou da convenção coletiva,
e os comandos da sumula 277 do TST, além do período de vigência da sentença
normativa.
Sabemos, o período máximo de vigência de um acordo coletivo de trabalho
ou de uma convenção coletiva é de 2 anos.
Todavia, nem sempre a negociação coletiva para estabelecimento das novas
cláusulas para os próximos 02 anos termina em tempo hábil, o que levava à si-
tuação da categoria ficar sem norma por algum lapso de tempo, o que só não
ocorria se a negociação coletiva estabelecesse a retroação das novas cláusulas
mantendo a data-base da anterior.
Com a nova redação da súmula 277 do TST, o problema foi minimizado, pois
o instrumento normativo expirado permanece em vigor até que outro o venha
substituir.
Na prova eles perguntariam sobre a teoria da aderência, quer dizer, como
ocorre a incorporação ao contrato de trabalho dos direitos previstos nas normas
coletivas.
Antes da sumula 277 atual, adotava-se o princípio da aderência relativa, ou
seja, os direitos previstos em norma coletiva somente aderiam ao contrato de tra-
balho durante os dois anos, não caracterizando direito adquirido. Então dizia-se
que a teoria era da aderência relativa, relativizada pelo tempo
Atualmente, entretanto, a aderência ocorre não mais relativizada pelo tempo,
mas sim por revogação, ou seja, a norma coletiva anterior só cai diante de nova
norma coletiva aprovada, enquanto não vier esta, a norma antiga permanece
em vigor, caracterizando a ultratividade da norma coletiva, que, pois permanece
regendo as relações jurídicas mesmo após esgotada a sua vigência inicial.
Exemplo, a CCT de uma categoria prevê o direito a auxílio-creche aos empre-

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COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

gados. Pelo sistema anterior, se a norma perdesse a sua eficácia pelo decurso de
02 anos, os empregados não mas teriam direito ao auxílio-creche, não se falando
em aderência deste direito ao contrato de trabalho, ou seja, não havia direito ad-
quirido, e a empresa nada devia ao empregado após os dois anos, salvo se nova
norma mantivesse o benefício.
Hoje em dia, entretanto, a situação é inversa, quer dizer, a empresa permane-
ceria devendo ao empregado o auxílio-creche, mesmo que passados os 02 anos
de vigência da norma, pois o direito aderiu ao contrato de trabalho, só decaindo
se eventualmente nova norma o revogasse (ponto que em verdade merece todo
um debate em face do Princípio do não retrocesso social). Certo, entretanto, é
que o direito ao auxílio, no exemplo, permaneceria exigível.
Em prova a resposta deve mencionar as palavras-chave – ultratividade – ade-
rência do direito ao contrato de trabalho, e sumula 277 do TST.
Abs.
Boa sorte

Hugo Sousa – Advogado. Professor de Direito e Pro-


cesso do Trabalho há mais de 15 anos no DF. Professor
de Cursos Preparatórios para Concurso.

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DIREITO PENAL:
PROFESSOR FELIPE LEAL

Futura advogada, Futuro advogado.


Hoje, irei apresentar dicas importantes para a segunda fase em Direito Penal.
Preparado(a)? Então vamos lá!!!

DICA 01 – LEI N. 9.605/1998 – CRIME DE PESCA

Segundo o art. 34 da Lei n. 9.605/1998, é crime pescar em período no qual a


pesca seja proibida ou em lugares interditados por órgão competente. O art. 35
da Lei n. 9.605/1998, por seu turno, estabelece, como crime, a pesca mediante a
utilização de explosivos ou substâncias que, em contato com a água, produzam
efeito semelhante; ou mediante a utilização de substâncias tóxicas, ou outro meio
proibido pela autoridade competente.
Pois bem. Faz-se necessário interpretar esse artigo em conjunto com o art. 36,
segundo o qual se considera pesca todo ato tendente a retirar, extrair, coletar,
apanhar, apreender ou capturar espécimes dos grupos dos peixes, crustáceos,
moluscos e vegetais hidróbios, suscetíveis ou não de aproveitamento econômico,
ressalvadas as espécies ameaçadas de extinção, constantes nas listas oficiais da
fauna e da flora.
Sublinhamos o termo acima com vistas a realçar o momento do iter criminis
em que ocorre a consumação do crime, sendo suficiente a execução de ação idô-
nea e inequívoca de apanhar ou capturar, razão pela qual se mostra prescindível
a consecução do ato, com a efetiva captura da espécie (exaurimento do crime).
Outro ponto importante, ainda nesse tema, é a pesca e molestamento de ce-
táceos, como a baleia e o golfinho. Neste caso, não se aplica a Lei n. 9.605/1998,
e, sim, pelo princípio da especialidade, a Lei n. 7.643/1987.

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COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

DICA 02 – LEI N. 11.343/2006 – TRÁFICO PRIVILEGIADO

A Lei n. 11.343/2006, em seu art. 33, §4º, estabeleceu que, no caso de tráfico
de drogas, as penas possam ser reduzidas de um sexto a dois terços, desde que
o agente seja primário, de bons antecedentes, não se dedique às atividades cri-
minosas nem integre organização criminosa.
Antes, o entendimento era no sentido de a causa de diminuição de pena, em
comento, não afastar a hediondez do crime. Foi editada, inclusive, a Súmula 512
do STJ: “a aplicação da causa de diminuição de pena prevista no art. 33, § 4º, da
Lei n. 11.343/2006 não afasta a hediondez do crime de tráfico de drogas”.
Ocorreu que, na sessão do dia 23 de junho de 2016, o Plenário do Supremo
Tribunal Federal (STF) entendeu que o chamado tráfico privilegiado não mais
deve ser considerado crime de natureza hedionda (Habeas Corpus 118533), alte-
rando o entendimento sobre o assunto.

DICA 03 – LEI N. 9.296/1996 – INTERROGATÓRIO CLANDESTINO

Imaginemos uma situação: um preso, ao ser conduzido por policiais, do local


do flagrante à Delegacia, é questionado sobre as circunstâncias do crime, em tom
de informalidade. Sem saber que estava sendo gravado, acaba por revelar um
detalhe importante em seu desfavor. No momento da oitiva, após ciência de seus
direitos constitucionais, resolve permanecer calado.
Indaga-se: é possível considerar a gravação realizada no momento da condu-
ção do preso? Respondo que não. Aceitar tal gravação seria se valer de um in-
terrogatório clandestino, eis que realizado sem a necessária e antecipada ciência
dos direitos constitucionais do conduzido.
Nessa esteira, vide decisão proferida no HC 80949 RJ – STF:

(…) 3. Ilicitude decorrente – quando não da evidência de estar o suspeito, na


ocasião, ilegalmente preso ou da falta de prova idônea do seu assentimento
à gravação ambiental – de constituir, dita “conversa informal”, modalidade de
“interrogatório” sub- reptício, o qual – além de realizar-se sem as formalida-
des legais do interrogatório no inquérito policial (C.Pr.Pen., art. 6º, V) -, se faz
sem que o indiciado seja advertido do seu direito ao silêncio (…)

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DICA 04 – LEI N. 10.826/2003 – ABOLITIO CRIMINIS

A abolitio criminis temporária prevista na Lei n. 10.826/2003 ainda é muito


explorada em provas. Sobre o assunto, destaco a Súmula 513-STJ, por estabelecer
23/10/2005, como data limite para a abolitio criminis temporária do crime de pos-
se de arma de fogo de uso permitido com numeração, marca ou qualquer outro
sinal de identificação raspado, suprimido ou adulterado.

Felipe Leal – Graduado em Direito pela Universidade


Federal da Paraíba (2003) e mestrado em Direito Am-
biental e Políticas Públicas pela Universidade Federal
do Amapá (2012). Ingressou na Polícia Federal em 2005,
como Papiloscopista Policial Federal, adquirindo expe-
riência na área técnica, e, desde 2006, é Delegado de
Policia Federal, tendo já chefiado Delegacias Especiali-
zadas na Repressão ao Tráfico de Drogas (Pará), na Re-
pressão aos Crimes Ambientais (Amapá) e na Repres-
são a Crimes Financeiros (Paraíba), bem como atuou como Chefe do Núcleo de
Inteligência em Pernambuco. Na docência, é um dos responsáveis pela formação
profissional de novos policiais, com a elaboração de Caderno Didático para a
Academia Nacional de Polícia. Já elaborou Manuais de Investigações para autori-
dades policiais. Professor em Faculdades de Direito e em cursos de pós gradua-
ção. Coordenador de pós graduação em Investigação Criminal e Ciências Foren-
ses. Coordenador da Escola Nacional de Polícia Judiciária.

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DIREITO DO TRABALHO: PROFESSOR LEANDRO ALENCAR

Caros alunos,
Hoje, rumo a 2ª fase da OAB faremos um estudo sobre Sucessão Trabalhista:

SUCESSÃO TRABALHISTA.

Inicialmente, registra-se que o tema sucessão trabalhista é muito importante


no ramo laboral e, por esta razão, está sempre em evidência nas provas de con-
cursos e OAB.
Este instituto do Direito do Trabalho encontra-se fundamentação nos arts. 10
e 448 da CLT, que dispõem nos seguintes sentidos:
Art. 10 – Qualquer alteração na estrutura jurídica da empresa não afetará os
direitos adquiridos por seus empregados.
Art. 448 – A mudança na propriedade ou na estrutura jurídica da empresa não
afetará os contratos de trabalho dos respectivos empregados.
Sendo assim, pouco importa a forma de alteração na estrutura jurídica da
empresa (Ltda. à S.A, por exemplo) ou de sua propriedade, uma vez que tais
mudanças não afetarão os contratos de trabalho dos empregados. Dessa forma,
os créditos trabalhistas restarão garantidos, independentemente do proprietário.
Quanto ao tema, importa destacar, também, os requisitos exigidos para a sua
configuração. Prevalece na jurisprudência, atualmente, a corrente moderna que
caminha no sentido de que basta a transferência da unidade econômico-jurídica
para que seja configurada a sucessão trabalhista, não havendo a necessidade de
continuidade da prestação do serviço ao sucessor.
Ou seja, a simples transferência da unidade já é suficiente para responsabili-
zar a empresa sucessora pelos créditos trabalhistas dos empregados da empresa
sucedida.
Por outro lado, ressalta-se a existência da corrente clássica. Para esta corrente
só restará configurada a sucessão trabalhista se restarem preenchidos os dois
requisitos, quais sejam, a transferência da unidade econômico-jurídica e a conti-

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COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

nuidade da prestação dos serviços ao sucessor. Destaca-se, novamente, que não


é a corrente que predomina atualmente. Todavia, comporta exceções.
Isto porque quando se tratar de sucessão trabalhista envolvendo titulares de
serventia extrajudiciais (cartório) ou de contrato de concessão de serviço público
(OJ n. 225 da SDI-I do TST) prevalecerá a corrente clássica, ou seja, só há falar
em sucessão trabalhista se forem preenchidos os dois requisitos: (1) transferência
da unidade econômico-jurídica e (2) continuidade da prestação dos serviços ao
sucessor.
Por fim, a conclusão que se chega é a de que havendo a configuração da su-
cessão trabalhista à empresa sucessora lhe é transferida a parte positiva (bônus)
e a parte negativa (ônus), mas sempre com um objetivo principal: a garantia dos
créditos trabalhistas dos empregados.

Leandro Alencar – Graduado em Direito, especialista


em Direito e Processo do Trabalho pelo Instituto Brasi-
liense de Direito Público – IDP, com atualização em Di-
reito e Processo do Trabalho em cursos livres; Professor
do curso Prática Trabalhista, Pesquisador em diversos
temas do Direito do Trabalho, inclusive trabalho infan-
til, discriminação no ambiente de trabalho e precariza-
ção da relação empregatícia.

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COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

DIREITO DO TRABALHO: PROFESSOR JOSÉ GERVÁSIO

BANCÁRIO E JORNADA DE TRABALHO

A Constituição apresenta uma jornada padrão para os trabalhadores em geral


no art. 7º, XIII, qual seja, oito horas diárias e quarenta e quatro semanais. Todavia,
afigura-se natural que o legislador infraconstitucional, sensível ao maior desgaste
nas atividades de determinados profissionais, estabeleça jornada mais benéfica.
É exatamente o que ocorre com os bancários, cuja jornada, como regra, é de
seis horas diárias e trinta semanais, o que se infere do art. 224, caput, da CLT: “A
duração normal do trabalho dos empregados em bancos, casas bancárias e Caixa
Econômica Federal será de 6 (seis) horas continuas nos dias úteis, com exceção
dos sábados, perfazendo um total de 30 (trinta) horas de trabalho por semana”.
Logo, considerando o parâmetro diário de jornada, as horas extras passam a ser
contadas a partir da sétima hora diária, de segunda a sexta.
Todavia, o próprio legislador criou uma exceção a essa regra ao estabelecer
no art. 224, § 2º, da CLT: “As disposições deste artigo não se aplicam aos que
exercem funções de direção, gerência, fiscalização, chefia e equivalentes, ou que
desempenhem outros cargos de confiança, desde que o valor da gratificação não
seja inferior a 1/3 (um terço) do salário do cargo efetivo”. Como as disposições do
art. 224 não se aplicam a esses profissionais indicados no parágrafo, a jornada
deles cai na jornada comum, ou seja, oito horas diárias.
Dessa forma, para as exceções a que se refere o art. 224, § 2º, da CLT, consi-
derando o parâmetro diário de segunda a sexta, as horas extras apenas seriam
devidas depois da oitava hora de trabalho, sendo que a sétima e a oitava hora de
trabalho já estariam incluídas na remuneração mensal desse bancário.
A partir dessa premissa, podemos compreender o entendimento do Tribunal
Superior do Trabalho na Súmula 102, IV: “O bancário sujeito à regra do art. 224,
§ 2º, da CLT cumpre jornada de trabalho de 8 (oito) horas, sendo extraordinárias
as trabalhadas além da oitava”. Além disso, também compreendemos o inciso II
da mesma Súmula: “O bancário que exerce a função a que se refere o § 2º do

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art. 224 da CLT e recebe gratificação não inferior a um terço de seu salário já tem
remuneradas as duas horas extraordinárias excedentes de seis”.
Nesse ponto, cabe um registro. A exceção do art. 224, § 2º, da CLT exige dois
requisitos cumulativos: o desempenho de cargo de confiança (o próprio preceito
exemplifica ao falar em direção, chefia, gerência etc) e a percepção de gratificação
de função que seja igual ou superior a 1/3 do salário do cargo efetivo.
Portanto, caso a gratificação seja inferior a 1/3 do salário do cargo efetivo (ex.
bancário possui salário básico de R$ 4.000,00 e a gratificação de função é de R$
1.000,00), sua jornada passa a ser de seis horas, pouco importando se ele efetiva-
mente exerce funções que exijam maior fidúcia (confiança) patronal.
Nessa direção o TST já consolidou a inteligência da Súmula 102: “Ao bancário
exercente de cargo de confiança previsto no artigo 224, § 2º, da CLT são devidas
as 7ª e 8ª horas, como extras, no período em que se verificar o pagamento a me-
nor da gratificação de 1/3”.
Por outro lado, de nada adianta a gratificação de função ser maior ou igual a
1/3 do salário efetivo e o cargo ocupado pelo empregado não ser de confiança,
ou seja, quando suas funções são meramente técnicas. Nesse caso, também será
a jornada de seis horas.
Nesse particular, cabe perguntar, como aferir se a atividade é meramente técni-
ca? A resposta depende do exame das tarefas e atividades do trabalhador no coti-
diano, cabendo a análise de suas atribuições pelo juiz no caso concreto. Aliás, esse
exame de fatos e provas fica limitado ao Tribunal Regional do Trabalho, visto que o
Tribunal Superior do Trabalho não reexamina fatos e provas, conforme a Súmula 126
(“Incabível o recurso de revista ou de embargos para reexame de fatos e provas”).
Assim, é perfeitamente compreensível a inteligência da Súmula 102, I, do TST:
“A configuração, ou não, do exercício da função de confiança a que se refere o
art. 224, § 2º, da CLT, dependente da prova das reais atribuições do empregado,
é insuscetível de exame mediante recurso de revista ou de embargos”.
Pondere-se, ainda, que, sanando qualquer dúvida sobre o tema, o mero fato
de trabalhar com a movimentação de numerário não implica automático exercí-
cio de cargo de confiança. Tanto é verdade que o TST considera que o caixa não
exerce função de confiança, possuindo jornada de seis horas e não de oito horas.
Veja o conteúdo da Súmula 102, VI: “O caixa bancário, ainda que caixa executivo,

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não exerce cargo de confiança. Se perceber gratificação igual ou superior a um


terço do salário do posto efetivo, essa remunera apenas a maior responsabilidade
do cargo e não as duas horas extraordinárias além da sexta”.
Um cuidado, contudo, deve ser tomado. Existem normas coletivas (acordos
coletivos e convenções coletivas de trabalho) que preveem uma gratificação de
função superior a 1/3 aos ocupantes de cargo em comissão. Logo, o que fazer se
o gerente, por exemplo, recebe a gratificação de função de 1/3, mas inferior ao
previsto na norma coletiva?
Suponha que um gerente de contas receba R$ 3.000,00 de salário base e
mais R$ 1.000,00 de gratificação de função, porém a convenção coletiva preveja
gratificação de, no mínimo, 50% (o que importaria R$ 1.500,00 nessa hipótese). O
requisito do art. 224, § 2º, foi atendido, mas o normativo não. Nesse exemplo, o
TST entende que a jornada continuará sendo de oito horas, sendo que o traba-
lhador terá direito apenas às diferenças de gratificação. Veja o item VII da Súmula
102 do TST: “O bancário exercente de função de confiança, que percebe a gratifi-
cação não inferior ao terço legal, ainda que norma coletiva contemple percentual
superior, não tem direito às sétima e oitava horas como extras, mas tão somente
às diferenças de gratificação de função, se postuladas”.
Interessante, ainda, se torna indagar o que ocorreria se aquele trabalhador que
não exerce função de confiança (logo, sujeito a jornada de seis horas), mas rece-
be gratificação de função, ganhasse horas extras deferidas judicialmente (porque
trabalhava mais do que seis horas). Nesse caso, poderiam as horas extras serem
compensadas com a gratificação? O TST entende negativamente na Súmula 109:
“GRATIFICAÇÃO DE FUNÇÃO (mantida) – Res. 121/2003, DJ 19, 20 e 21.11.2003
O bancário não enquadrado no § 2º do art. 224 da CLT, que receba gratifica-
ção de função, não pode ter o salário relativo a horas extraordinárias compensa-
do com o valor daquela vantagem”.
Por último, convém lembrar que os gerentes gerais das agências não se enquadram
no art. 224, mas sim no art. 62, II, da CLT. Transcrevo o preceito na parte de relevo:

Art. 62 – Não são abrangidos pelo regime previsto neste capítulo


(…)
II – os gerentes, assim considerados os exercentes de cargos de gestão, aos

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quais se equiparam, para efeito do disposto neste artigo, os diretores e che-


fes de departamento ou filial.
Parágrafo único – O regime previsto neste capítulo será aplicável aos empre-
gados mencionados no inciso II deste artigo, quando o salário do cargo de
confiança, compreendendo a gratificação de função, se houver, for inferior
ao valor do respectivo salário efetivo acrescido de 40% (quarenta por cento).

Logo, os gerentes gerais de agência, como regra, estão possuem direito a ho-
ras extras, já que não estariam sujeitos a controle de jornada dado seu exercício
do encargo de gestão, sem se esquecer da necessidade salário superior exigido
no art. 62, parágrafo único, da CLT.
A Súmula 287 do TST é esclarecedora sobre esse ponto:

“JORNADA DE TRABALHO. GERENTE BANCÁRIO (nova redação) – Res.


121/2003, DJ 19, 20 e 21.11.2003

A jornada de trabalho do empregado de banco gerente de agência é regida


pelo art. 224, § 2º, da CLT. Quanto ao gerente-geral de agência bancária, pre-
sume-se o exercício de encargo de gestão, aplicando-se-lhe o art. 62 da CLT”.

José Gervásio – Ex-Procurador do Estado do Goiás.


Ex-Procurador da Fazenda Nacional. Juiz do Trabalho.
Ministra as matérias de Direito do Trabalho, Direito Pro-
cessual do Trabalho e Direito Administrativo.

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DIREITO DO TRABALHO: PROFESSOR STEVÃO GANDH

Examinandos e examinandas,
dando continuidade ao estudo do Direito do Trabalho para 2ª fase da OAB,
vamos a dica de hoje:

O ADEUS AO NÃO CONHECIMENTO DO RECURSO TRABALHISTA POR


IRREGULARIDADE DE REPRESENTAÇÃO

Atualmente ainda existem inúmeras súmulas e orientações jurisprudenciais do


Tribunal Superior do Trabalho – TST que convergem para o não conhecimento do
recurso trabalhista.
Não fossem suficientes as limitações previstas na Consolidação das Leis do
Trabalho – CLT acerca do conhecimento recursal, o TST ainda apresenta o posi-
cionamento de que, data venia, pela quantidade de entendimentos uniformes no
particular, o não conhecimento recursal é a regra a ser cumprida, pouco impor-
tando se o direito processual comum aplicado subsidiariamente (art. 769, CLT) é
em sentido favorável ao conhecimento e processamento.
Infelizmente, na grande maioria dos posicionamentos do TST, a interpretação
final da norma subsidiária enseja o entendimento de obstar o prosseguimento do
recurso.
Esse era o posicionamento do TST quanto à juntada do instrumento de pro-
curação na fase recursal, ou seja, o patrono da parte somente poderia interpor
o recurso se no ato da sua propositura estivesse regularmente constituído sob
pena de não conhecimento do recurso, ainda, eis o agravante, que protestasse
pela juntada do instrumento de procuração no prazo legal previsto no digesto
processual civil e de aplicação subsidiária.
Para o TST, o ato processual de interposição do recurso na ocasião não era
considerado urgente ao ponto de justificar a juntada posterior do instrumento de
procuração.
Com todo o respeito à Corte trabalhista, o entendimento contido na Súmula

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383, TST apenas reforçava que as normas de aplicação subsidiária, no caso o


CPC, quando aplicadas ao processo do trabalho recebiam a interpretação que
melhor atendia o posicionamento do TST, qual seja não conhecer dos recursos.
Pois bem, o fato é que o novo CPC alinhou o regramento acerca da juntada
do instrumento de procuração (art. 104, CPC) e o TST enfim se curvou ao que
hoje pode-se creditar como ato urgente, isto é, modificou o entendimento juris-
prudencial acerca da aceitação da juntada da procuração após a interposição do
recurso. Neste sentido, segue a nova redação da Súmula:

Súmula n. 383 do TST


RECURSO. MANDATO. IRREGULARIDADE DE REPRESENTAÇÃO. CPC
DE 2015, ARTS. 104 E 76, § 2º (nova redação em decorrência do CPC de
2015) – Res. 210/2016, DEJT divulgado em 30.06.2016 e 01 e 04.07.2016
I – É inadmissível recurso firmado por advogado sem procuração juntada aos
autos até o momento da sua interposição, salvo mandato tácito. Em caráter ex-
cepcional (art. 104 do CPC de 2015), admite-se que o advogado, independen-
temente de intimação, exiba a procuração no prazo de 5 (cinco) dias após a
interposição do recurso, prorrogável por igual período mediante despacho do
juiz. Caso não a exiba, considera-se ineficaz o ato praticado e não se conhece do
recurso.
II – Verificada a irregularidade de representação da parte em fase recursal, em
procuração ou substabelecimento já constante dos autos, o relator ou o órgão
competente para julgamento do recurso designará prazo de 5 (cinco) dias para
que seja sanado o vício. Descumprida a determinação, o relator não conhecerá
do recurso, se a providência couber ao recorrente, ou determinará o desentra-
nhamento das contrarrazões, se a providência couber ao recorrido (art. 76, § 2º,
do CPC de 2015).
Cotejando a anterior e a nova redação, é facilmente perceptível a reinterpre-
tação da aplicação subsidiária do dispositivo do CPC, ou melhor houve uma no-
tória mudança de paradigma do TST para se alcançar esse denominador.
A análise da Súmula deve ser detida e em uma interpretação a contrariu sensu

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extrai-se as seguintes conclusões:


I – Quando não houver instrumento de procuração ou mandato tácito
nos autos:
1. a) excepcionalmente (art. 104, CPC) o advogado PODE SIM interpor o recur-
so sem o instrumento de procuração, mas deverá juntar a procuração no prazo
de até 5 (cinco) dias após a interposição, prazo este prorrogável por igual período
mediante despacho do juiz; b) o advogado não será intimado a juntar a procu-
ração após a interposição do recurso; c) somente se o advogado não cumprir os
regramentos anteriores é que será declarada a ineficácia do ato e, consequente-
mente, o não conhecimento do recurso por ausência de pressuposto processual
extrínseco/objetivo decorrente da irregularidade de representação.
II – Quando existir instrumento de procuração ou substabelecimento
nos autos, mas estes contiverem alguma irregularidade:
1. a) havendo a constatação da irregularidade, o relator ou o órgão compe-
tente para julgamento do recurso designará prazo de 5 (cinco) dias para que
seja sanado o vício; b) não sendo sanado o vício no prazo, a consequência para
o recorrente será o não conhecimento do recurso por ausência de pressuposto
extrínseco/objetivo (irregularidade de representação) e para o recorrido acarre-
tará no desentranhamento das contrarrazões porventura apresentadas (art. 76,
§ 2º, CPC).
Em outras palavras, é notória a evolução do posicionamento do TST que antes
da alteração da Súmula somente conseguia reforçar a interpretação de que havia
menos um recurso a ser julgado, pois não conhecia o recurso por irregularidade
de representação sem possibilitar ao prejudicado sanar eventual vício.
Com a nova redação sumular é possível afirmar com veemência que a parte
que se encontra irregular em sua representação somente não terá o seu recurso
conhecido (recorrente) ou contrarrazões desentranhadas (recorrida) se descum-
prir (omissão) ponto de fácil resolução, ou no dito popular, não terá o seu recurso
conhecido SE QUISER!

Portanto, a nova regra exige atenção quanto a regularidade de representação

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na fase recursal e caso a mesma, excepcionalmente, não tenha sido observada é


perfeitamente possível interpor o recurso sem procuração, desde que se proceda
a juntada posteriormente do documento, além também de ser possível regula-
rizar a representação quando a procuração ou o substabelecimento apresenta
vício.
Enfim, com as cautelas do homem médio: ADEUS ao despacho de não conhe-
cimento do recurso por irregularidade de representação!!!
Avante, examinandos!

Stevão Gandh – Stevão Gandh – Advogado militante.


Especialista em Direito Público. Palestrante e Parecerista
na área de direito do trabalho, especialmente em cursos
de prevenção de passivos trabalhista. Professor de Direi-
to do Centro Universitário do Distrito Federal – UDF na
disciplina Direito Processual do Trabalho. Professor de
Direito da Faculdade Projeção – FAPRO na disciplina Di-
reito Processual do Trabalho e Direito do Trabalho. Pro-
fessor de Cursos Preparatórios para Concurso Público.

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DIREITO DO TRABALHO: PROFESSOR JOSÉ GERVÁSIO

BANCÁRIO E JORNADA DE TRABALHO – PARTE – II

Na última dica, tratamos diversos aspectos jurídicos a respeito da jornada dos


bancários. Todavia, considerando a quantidade significativa de questões envol-
vendo essa jornada especial, passamos a apontar outros pontos de relevo.
Um ponto interessante refere-se à qualificação do sábado para fins de jorna-
da do bancário. Seria um dia de repouso ou seria um dia útil não trabalhado?
A interpretação afeta substancialmente o Direito, uma vez que, dependendo da
premissa, o divisor de horas extras não seria o mesmo.
Além disso, considerando que horas extraordinárias habituais geram reflexos
na remuneração do repouso semanal (Súmula 172 do TST), se sábado for con-
siderado repouso, haveria o debate sobre a necessidade de que as horas extras
habitualmente prestadas por um bancário também gerassem reflexos na remu-
neração do sábado e não apenas do domingo.
O art. 224, caput, da CLT estabelece: “A duração normal do trabalho dos em-
pregados em bancos, casas bancárias e Caixa Econômica Federal será de 6 (seis)
horas continuas nos dias úteis, com exceção dos sábados, perfazendo um total
de 30 (trinta) horas de trabalho por semana”.
A leitura parece indicar que o sábado seria um dia útil não trabalhado, en-
tendimento esse que o Tribunal Superior do Trabalho consagrou na Súmula 113:
“BANCÁRIO. SÁBADO. DIA ÚTIL (mantida) – Res. 121/2003, DJ 19, 20 e 21.11.2003.
O sábado do bancário é dia útil não trabalhado, não dia de repouso remunerado.
Não cabe a repercussão do pagamento de horas extras habituais em sua remu-
neração”.
Assim, se o bancário estiver sujeito à jornada de 6 horas diárias e 30 semanais
previstas no art. 224, caput, da CLT, o divisor de horas extras será 180, ao passo
que, se for enquadrado no art. 224, § 2º, da CLT ( jornada de oito horas diárias e
quarenta semanais), o divisor será 220.
Divisor de horas extras é necessário para a apuração do valor de cada hora

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extra laborada. Assim, quanto maior o divisor, menor será, por evidente, o valor
de cada hora. O divisor considera a jornada ordinária de cada trabalhador.
O problema seria simples, mas recebe um complicador quando consideramos
a possibilidade da norma coletiva (convenção ou acordo coletivo de trabalho)
criar novos direitos (art. 7º, XXVI, da Constituição Federal). E é muito comum ver
normas coletivas de bancários apontando expressamente o sábado como repou-
so semanal remunerado.
Nesse último caso, se a norma coletiva considerar o sábado como repouso
semanal, esse dia não pode ser utilizado para o cálculo do divisor, o que reduz o
valor do divisor. Essa conclusão pode ser vista na Súmula 124 do TST:
BANCÁRIO. SALÁRIO-HORA. DIVISOR (redação alterada na sessão do Tribu-
nal Pleno realizada em 14.09.2012) – Res. 185/2012 – DEJT divulgado em 25, 26 e
27.09.2012
I – O divisor aplicável para o cálculo das horas extras do bancário, se houver
ajuste individual expresso ou coletivo no sentido de considerar o sábado como
dia de descanso remunerado, será:
1. a) 150, para os empregados submetidos à jornada de seis horas, prevista no
caput do art. 224 da CLT;
2. b) 200, para os empregados submetidos à jornada de oito horas, nos ter-
mos do § 2º do art. 224 da CLT.
II – Nas demais hipóteses, aplicar-se-á o divisor:
a)180, para os empregados submetidos à jornada de seis horas prevista no
caput do art. 224 da CLT;
1. b) 220, para os empregados submetidos à jornada de oito horas, nos ter-
mos do § 2º do art. 224 da CLT.
Diante da evidente jornada diferenciada para o bancário (art. 224 da CLT),
diversas categorias pretenderam a aplicação dessa jornada mais vantajosa. É o
que ocorreu com os financiários, ou seja, os empregados de financeiras. No caso
desse profissional, o TST, diante da similitude de atividades vem reconhecendo a
aplicação dessa jornada especial aos financiários na Súmula 55:
FINANCEIRAS (mantida) – Res. 121/2003, DJ 19, 20 e 21.11.2003 As empresas de

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COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

crédito, financiamento ou investimento, também denominadas financeiras, equi-


param-se aos estabelecimentos bancários para os efeitos do art. 224 da CLT.
Todavia, a aplicação da jornada do art. 224 aos empregados de financeiras
não os torna bancários, de maneira que as normas coletivas dos bancários não
se lhe são aplicáveis. Apenas a jornada lhe e aplicável.

José Gervásio – Ex-Procurador do Estado do Goiás.


Ex-Procurador da Fazenda Nacional. Juiz do Trabalho.
Ministra as matérias de Direito do Trabalho, Direito Pro-
cessual do Trabalho e Direito Administrativo.

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DIREITO DO TRABALHO: PROFESSOR LEANDRO ALENCAR

Examinandos e examinandas,
daremos continuidade aos estudos do Direito do Trabalho para a 2ª fase da
OAB, vamos a nossa 10ª dica:

HORAS IN ITINERE.

A regra, quando falamos em jornada de trabalho, é a de que o tempo gasto


com deslocamento residência-trabalho e trabalho-residência não é computado
na jornada (art. 58, §2º, parte inicial, da CLT), tendo em vista que o trabalhador,
nesse período, não está à disposição do seu empregador (art. 4º da CLT). Todavia,
essa regra comporta exceção.
A exceção diz respeito às horas “in itinere”. Entretanto, precisamos compreen-
der melhor este instituto.
Horas “in itinere” nada mais é do que a inclusão do tempo gasto pelo traba-
lhador no trajeto residência-trabalho e trabalho-residência em sua jornada de
trabalho, desde que preenchidos os requisitos do art. 58, §2º, parte final, da CLT
e Súmula n. 90 do TST.
A parte final do art. 58, §2º, da CLT é clara ao dispor que “tratando-se de local
de difícil acesso ou não servido por transporte público, o empregador fornecer a
condução” o tempo gasto com o deslocamento residência-trabalho e trabalho-
-residência será computado na jornada de trabalho do empregado. Esse enten-
dimento é ratificado pelo item I da Súmula n. 90 do TST.
Além disso, o item II da Súmula n. 90 do TST traz outra hipótese, qual seja,
quando houver “incompatibilidade entre os horários de início e término da jor-
nada do empregado e os do transporte público regular”. Neste caso, também, o
tempo de deslocamento residência-trabalho e trabalho-residência será compu-
tado na jornada de trabalho do empregado.
Em resumo, portanto, temos duas hipóteses de cabimento: (1) local de difícil
acesso ou não servido por transporte público + condução fornecida pelo empre-

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gador e (2) incompatibilidade de horário entre o início e fim da jornada e o do


transporte público.
Ressalta-se que pelo item III da Súmula n. 90 do TST “a mera insuficiência de
transporte público não enseja o pagamento das horas in itinere”.
A Súmula n. 90 do TST, em seu item IV, destaca, também, que as horas “in iti-
nere” são limitadas ao trajeto não percorrido por transporte público, no caso de
haver transporte público regular em parte do trajeto.
Vale ressaltar, ainda, que o período que extrapola a jornada ordinária de tra-
balho, incluindo as horas “in itinere”, deverá ser pago como extraordinário, nos
termos do item V da Súmula 90 do TST.
Por fim, importa frisar que, nos termos da Súmula n. 320 do TST, o fato do em-
pregador cobrar o transporte fornecido não afasta o direito às horas “in itinere”.
Bons estudos pessoal !

Leandro Alencar – Graduado em Direito, especialista


em Direito e Processo do Trabalho pelo Instituto Brasi-
liense de Direito Público – IDP, com atualização em
Direito e Processo do Trabalho em cursos livres; Pro-
fessor do curso Prática Trabalhista, Pesquisador em di-
versos temas do Direito do Trabalho, inclusive trabalho
infantil, discriminação no ambiente de trabalho e pre-
carização da relação empregatícia.

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DIREITO DO TRABALHO:
PROFESSOR JOSÉ GERVÁSIO

Na última dica, vimos várias peculiaridades relacionadas ao bancário. Consta-


tamos que, considerando o fato de sua jornada ser especial, diversos trabalhado-
res buscam a aplicação da mesma em sua relação de trabalho. Aliás, na dica an-
terior, demonstramos que os financiários, embora não sejam bancários, possuem
aplicação da jornada prevista no art. 224 da CLT.
Todavia, considerando que as matérias veiculadas em súmulas e orientações
jurisprudenciais constantemente são objeto de questionamento nas provas, ne-
cessário se faz examinar alguns pontos de referência.
Primeiramente, verificamos que o Tribunal Superior do Trabalho entende que
os empregados de corretoras de títulos e valores mobiliários (ex. corretores que
atuam no mercado de ações) não possuem direito a essa jornada privilegiada,
confirme Súmula 119:
JORNADA DE TRABALHO (mantida) – Res. 121/2003, DJ 19, 20 e 21.11.2003 Os
empregados de empresas distribuidoras e corretoras de títulos e valores mobiliá-
rios não têm direito à jornada especial dos bancários.
Além disso, outros empregados que não possuem esse direito são os vigilantes
de agência bancária, independentemente de terem sido contratado diretamente
pelo banco ou através de empresa terceirizada. Nessa direção é a inteligência da
Súmula 257 do TST:
VIGILANTE (mantida) – Res. 121/2003, DJ 19, 20 e 21.11.2003 O vigilante, con-
tratado diretamente por banco ou por intermédio de empresas especializadas,
não é bancário.
Ademais, no caso dos empregados das cooperativas de crédito, o TST tam-
bém afasta a qualidade de bancário, o que os exclui dessa jornada especial do
art. 224 da CLT. Vejam a Orientação Jurisprudencial 379:
EMPREGADO DE COOPERATIVA DE CRÉDITO. BANCÁRIO. EQUIPARAÇÃO.
IMPOSSIBILIDADE (DEJT divulgado em 19, 20 e 22.04.2010)

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Os empregados de cooperativas de crédito não se equiparam a bancário,


para efeito de aplicação do art. 224 da CLT, em razão da inexistência de expressa
previsão legal, considerando, ainda, as diferenças estruturais e operacionais entre
as instituições financeiras e as cooperativas de crédito. Inteligência das Leis n.os
4.594, de 29.12.1964, e 5.764, de 16.12.1971.
Outra hipótese que não se beneficia dessa jornada especial envolve os inte-
grantes de categorias diferenciadas. O TST consolidou o entendimento na Sú-
mula 117:
BANCÁRIO. CATEGORIA DIFERENCIADA (mantida) – Res. 121/2003, DJ 19, 20
e 21.11.2003 Não se beneficiam do regime legal relativo aos bancários os em-
pregados de estabelecimento de crédito pertencentes a categorias profissionais
diferenciadas.
O conceito de categoria diferenciada pode ser constatado no art. 511, § 3º, da
CLT: “Categoria profissional diferenciada é a que se forma dos empregados que
exerçam profissões ou funções diferenciadas por força de estatuto profissional
especial ou em consequência de condições de vida singulares”. Assim, profissional
de categoria diferenciada é regulado por lei especial ou possui condições de vida
singulares. Exemplo seria o engenheiro, o arquiteto etc.
Apenas para exemplificar o entendimento, mencionamos um julgado do TST:
(…) HORAS EXTRAS. ENGENHEIRO. ARQUITETO. EMPREGADO DE ESTABE-
LECIMENTO BANCÁRIO. ENQUADRAMENTO. JORNADA REDUZIDA. IMPOSSIBI-
LIDADE. A Subseção 1 Especializada em Dissídios Individuais, no julgamento do
processo TST-E-RR-10400-85.2006.5.05.0006, proclamou veredicto no sentido de
que os arquitetos e engenheiros que desempenham suas atividades em bancos
são equiparados à categoria profissional diferenciada, seja por estarem incluí-
dos no quadro anexo ao art. 577 da CLT como profissionais liberais, ou porque
abrangidos por leis específicas. Demais disso, a Súmula n. 117 do TST preconiza
que “Não se beneficiam do regime legal relativo aos bancários os empregados de
estabelecimento de crédito pertencentes a categorias profissionais diferenciadas”.
Logo, inexiste incompatibilidade na aplicação, para esta categoria de emprega-
dos, das regras concernentes à categoria profissional diferenciada, ficando veda-

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do o enquadramento como bancário. Decisão regional em consonância com esta


jurisprudência. Hipótese de incidência da Súmula n. 333 do TST. Agravo a que se
nega provimento.
( Ag-AIRR – 1129-61.2011.5.01.0047 , Relator Ministro: Cláudio Mascarenhas
Brandão, Data de Julgamento: 03/08/2016, 7ª Turma, Data de Publicação: DEJT
05/08/2016)
Caso que também gera dificuldade refere-se ao advogado empregado de
banco. Seria ele enquadrado no art. 224, § 2º, da CLT, por supostamente ter
um cargo de confiança? O TST rejeita essa idéia na Súmula 102, V: “O advogado
empregado de banco, pelo simples exercício da advocacia, não exerce cargo de
confiança, não se enquadrando, portanto, na hipótese do § 2º do art. 224 da
CLT”.
Ora, se não exerce cargo em confiança, então, qual seria a jornada do advo-
gado empregado de banco? Seis horas previstas no art. 224, caput, da CLT ou
quatro horas previstas no art. 20 da Lei n. 8.906/94?
Nesse ponto, vale lembrar que os advogados são considerados equiparados
a profissionais liberais (possuem estatuto próprio), razão pela qual não se pode
cogitar da aplicação da regra do art. 224 da CLT.
Logo, aplica-se a jornada especial prevista no art. 20 da Lei n. 8.906/94:
Art. 20. A jornada de trabalho do advogado empregado, no exercício da pro-
fissão, não poderá exceder a duração diária de quatro horas contínuas e a de vin-
te horas semanais, salvo acordo ou convenção coletiva ou em caso de dedicação
exclusiva.
(…)
Lembre-se que dedicação exclusiva para configurar oito horas diárias de tra-
balho exige previsão expressa no contrato de trabalho, conforme art. 12 do Re-
gulamento Geral da OAB:
Art. 12. Para os fins do art. 20 da Lei n. 8.906/94, considera-se de dedicação
exclusiva o regime de trabalho que for expressamente previsto em contrato indi-
vidual de trabalho.

grancursosonline.com.br 455
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

A titulo exemplificativo, colacionamos o seguinte julgado:


AGRAVO REGIMENTAL INTERPOSTO CONTRA DECISÃO MONOCRÁTICA DE
PRESIDENTE DE TURMA QUE NEGA SEGUIMENTO A RECURSO DE EMBARGOS.
HORAS EXTRAS. ADVOGADO BANCÁRIO CONTRATADO APÓS O ADVENTO DA
LEI 8.906/94. JORNADA DE TRABALHO. O entendimento deste Tribunal é no sen-
tido de que nos casos em que o empregado for contratado após o advento da
Lei n. 8.906/94, exige-se a cláusula expressa como condição essencial à caracte-
rização do regime de dedicação exclusiva. No presente caso, restou consignado
que por livre iniciativa a autora quando firmou o Termo Aditivo do Contrato de
Trabalho optou pela jornada de dedicação exclusiva. Por não demonstrada con-
trariedade à Súmula 102, V do TST e inovatória a alegação da OJ 403 da SDI-1 do
TST, deve ser mantida a decisão recorrida. Agravo regimental desprovido.
( AgR-E-ED-RR – 1288-12.2012.5.15.0004 , Relator Ministro: Augusto César Lei-
te de Carvalho, Data de Julgamento: 30/06/2016, Subseção I Especializada em
Dissídios Individuais, Data de Publicação: DEJT 29/07/2016)
Então, para arrematar a jornada do advogado bancário, vejam esse julgado:
(…) ADVOGADO. ENQUADRAMENTO COMO BANCÁRIO. SÉTIMA E OITAVA
HORAS COMO EXTRAS. INDEVIDAS. 1. Este Tribunal firmou jurisprudência no sen-
tido de que os advogados empregados de banco não se enquadram na regra
do art. 224 da CLT, notadamente, por se tratarem de profissionais liberais, que se
equiparam aos membros de categoria diferenciada, cujas atividades são regula-
mentadas por estatuto próprio (lei 8.906/94), o qual estabelece jornada normal de
oito horas diárias para esses profissionais em período de dedicação exclusiva. 2.
Incidência do art. 896, §4º (atual §7º), da CLT e da Súmula 333/TST, restando ilesos
os arts. 224, caput, 511, §2º, 570, 577 e 581, §2º da CLT, e a Súmula 102 do TST, bem
como superados os arestos trazidos a cotejo. Recurso de revista não conhecido.
(ARR – 1114-92.2012.5.18.0012 , Relator Ministro: Hugo Carlos Scheuermann,
Data de Julgamento: 10/08/2016, 1ª Turma, Data de Publicação: DEJT 19/08/2016)
Por último, devemos nos lembrar ser muito comum haver bancos que pos-
suem seus dados processados por meio de uma outra empresa integrante do
grupo econômico. Ora, se essa empresa presta serviços apenas para o banco,

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COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

resta patente que seus empregados devem ser considerados bancários. Entendi-
mento contrário importaria o risco de fraudes trabalhistas, já que poderia ocorrer
de uma instituição bancária preferir criar uma empresa de processamento de
dados apenas para diminuir o custo (que seria maior na contratação direta).
Entretanto, caso essa empresa de processamento de dados preste serviços
não apenas para esse banco, mas também para outras instituições não bancárias
integrantes do mesmo grupo econômico, não há razão para considerá-los ban-
cários.
A lógica do Tribunal Superior, nesse ponto, foi consolidada na Súmula 239:
BANCÁRIO. EMPREGADO DE EMPRESA DE PROCESSAMENTO DE DADOS
(incorporadas as Orientações Jurisprudenciais n.s 64 e 126 da SBDI-1) – Res.
129/2005, DJ 20, 22 e 25.04.2005
É bancário o empregado de empresa de processamento de dados que pres-
ta serviço a banco integrante do mesmo grupo econômico, exceto quando a
empresa de processamento de dados presta serviços a banco e a empresas não
bancárias do mesmo grupo econômico ou a terceiros.

José Gervásio – Ex-Procurador do Estado do Goiás.


Ex-Procurador da Fazenda Nacional. Juiz do Trabalho.
Ministra as matérias de Direito do Trabalho, Direito Pro-
cessual do Trabalho e Direito Administrativo.

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COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

DIREITO DO TRABALHO: PROFESSOR HUGO SOUSA

Diletos alunos,
Prosseguindo na série de dicas sobre Direito Coletivo do Trabalho, falaremos
agora sobre Greve.

O Direito vem regulamentado pela Lei n. 7.783/89, sendo que é relevante


pontuarmos algumas questões, de forma bem sucinta, mas extremamente rele-
vantes.
Primeiramente em relação ao conceito, trata-se de uma forma de solução de
conflito na modalidade de autotutela, caracterizada pela suspensão coletiva, tem-
porária e pacifica do trabalho com vistas a obter normatização a reger a categoria
por inteiro, ou parcialmente, mas sempre com finalidade econômica, podendo
ainda ser exercido para exigir cumprimento de cláusulas pactuadas para por fim
ao movimento, esses os termos do Art. 2º: “Para os fins desta Lei, considera-se
legítimo exercício do direito de greve a suspensão coletiva, temporária e pacífica,
total ou parcial, de prestação pessoal de serviços a empregador.”
Após a conceituação, necessário avaliar a natureza jurídica dos direitos vindi-
cados em uma greve. Via de regra, a greve de trabalhadores não pode ter como
objetivo questões políticas ou diversas de cláusulas que serão objeto de acordo
ou convenção coletiva, ou sentença normativa ou laudo arbitral. A questão, en-
tretanto, pode ter fomentado debate, ante o exto da CF/88, art. 9º(ver RO-51534-
84.2012.5.02.0000.). Pelo debate, não é salutar que o examinador explore esse
tema nas questões. A disciplina é a do art. 9º. É assegurado o direito de greve,
competindo aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre
os interesses que devam por meio dele defender.
Vejamos, na sequência, os requisitos para o exercício do Direito de Greve.
Inicialmente é necessário comprovar o legítimo interesse no movimento, ou seja,
a necessidade de se regular determinado instituto por negociação coletiva, que
acabou não frutificando. Com efeito, se já existe normatização, não há necessida-
de de greve, existindo vários instrumentos como a ação de cumprimento, que se

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COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

presta a essa finalidade. Vejamos o art. 14 da Lei de greve: “Art. 14 Constitui abuso
do direito de greve a inobservância das normas contidas na presente Lei, bem
como a manutenção da paralisação após a celebração de acordo, convenção ou
decisão da Justiça do Trabalho. Parágrafo único. Na vigência de acordo, conven-
ção ou sentença normativa não constitui abuso do exercício do direito de greve
a paralisação que: I – tenha por objetivo exigir o cumprimento de cláusula ou
condição; II – seja motivada pela superveniência de fatos novo ou acontecimento
imprevisto que modifique substancialmente a relação de trabalho.”
Em seguida deve ter sido esgotadas as negociações – Fato, tal qual em qual-
quer dissídio coletivo, no de greve também é imprescindível o esgotamento das
tentativas de autocomposição, esse o texto do art. 3º “Frustrada a negociação ou
verificada a impossibilidade de recursos via arbitral, é facultada a cessação cole-
tiva do trabalho.”
Quanto aos direitos dos grevistas todo rol de direitos previstos gira em torno
de garantir ampla liberdade de adesão e não adesão ao movimento, bem como,
no exercício do direito não causar maiores danos do que aqueles naturalmente
relacionados ao movimento, a regulamentação vem no art. 6º, senão vejamos:
Art. 6º e 7º da Lei; “São assegurados aos grevistas, dentre outros direitos: I – o
emprego de meios pacíficos tendentes a persuadir ou aliciar os trabalhadores a
aderirem à greve; II – a arrecadação de fundos e a livre divulgação do movimen-
to. § 1º Em nenhuma hipótese, os meios adotados por empregados e empre-
gadores poderão violar ou constranger os direitos e garantias fundamentais de
outrem. § 2º É vedado às empresas adotar meios para constranger o empregado
ao comparecimento ao trabalho, bem como capazes de frustrar a divulgação
do movimento. § 3º As manifestações e atos de persuasão utilizados pelos gre-
vistas não poderão impedir o acesso ao trabalho nem causar ameaça ou dano
à propriedade ou pessoa. Art. 7º Observadas as condições previstas nesta Lei,
a participação em greve suspende o contrato de trabalho, devendo as relações
obrigacionais, durante o período, ser regidas pelo acordo, convenção, laudo ar-
bitral ou decisão da Justiça do Trabalho. Parágrafo único. É vedada a rescisão de
contrato de trabalho durante a greve, bem como a contratação de trabalhadores
substitutos, exceto na ocorrência das hipóteses previstas nos arts. 9º e 14.
Pois bem, visto o conceito, a natureza jurídica dos direitos vindicados, os re-

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COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

quisitos para o exercícios dos direitos e quais são os direitos dos grevistas, o can-
didato deve ter em mente o procedimento para o exercício do Direito de Greve,
a saber:
a) – Convocação de assembleia geral da categoria para aprovação da greve,
bem como da pauta de reivindicação. Tal convocação deverá ser feita pela en-
tidade sindical respectiva. O quórum e a forma de convocação está previsto no
estatuto;
b) – notificação do sindicato patronal ou empregador com no mínimo 48 ho-
ras de antecedência;
c) – paralisação dos trabalhos.
Em serviços essenciais a questão é um pouco diferente.
A Definição de serviços essenciais se percebe por um valor preponderante,
qual seja, manutenção dos serviços estruturais de uma sociedade civilizada, veja-
mos: Art. 10 São considerados serviços ou atividades essenciais: I – tratamento e
abastecimento de água; produção e distribuição de energia elétrica, gás e com-
bustíveis; II – assistência médica e hospitalar; III – distribuição e comercialização
de medicamentos e alimentos; IV – funerários; V – transporte coletivo; VI – cap-
tação e tratamento de esgoto e lixo; VII – telecomunicações; VIII – guarda, uso e
controle de substâncias radioativas, equipamentos e materiais nucleares; IX – pro-
cessamento de dados ligados a serviços essenciais; X – controle de tráfego aéreo;
XI compensação bancária.
O procedimento é o seguinte:
a) Convocação de assembleia geral da categoria para aprovação da greve,
bem como da pauta de reivindicação. Tal convocação deverá ser feita pela en-
tidade sindical respectiva. O quórum e a forma de convocação está previsto no
estatuto;
b) Sindicatos, empregadores, e empregados deverão entabular negociação
coletiva com vistas a criar os regramentos sobre a manutenção dos percentuais
minimamente razoáveis das referidas atividades essenciais inadiáveis da comuni-
dade, sob pena do poder público estar autorizado a suprir a falha. NNoa há na
lei percentual mínimo previsto.
c) Sindicato ou trabalhadores deverão comunicar a sociedade e os empre-

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COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

gadores com 72 horas de antecedência sobre a data de início do movimento


paredista
Finalmente, é necessário pontuar que a greve acarreta a suspensão dos con-
tratos de trabalho dos empregados.
Encerramos aqui as questões sobre Direito Coletivo.

Hugo Sousa – é advogado e professor de Direito e


Processo do Trabalho há mais de 15 anos no DF. Profes-
sor de Cursos Preparatórios para Concurso.

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COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

DIREITO DO TRABALHO: PROFESSOR JOSÉ GERVÁSIO

PRESSUPOSTO EXTRÍNSECO: PREPARO

O candidato que pretende passar no exame precisa necessariamente dominar


os pressupostos recursais, sejam eles intrínsecos, sejam ele extrínsecos.
Dentre os pressupostos extrínsecos, o preparo afigura-se um dos mais rele-
vantes. E o preparo, no Processo do Trabalho, envolve tanto o recolhimento das
custas como o depósito recursal.
No que tange às custas, o art. 789, § 1º, da CLT prevê a necessidade de reco-
lhimento e comprovação no prazo recursal: “As custas serão pagas pelo vencido,
após o trânsito em julgado da decisão. No caso de recurso, as custas serão pagas
e comprovado o recolhimento dentro do prazo recursal”.
O mesmo raciocínio pode ser aplicado no caso do depósito recursal, o que se
infere do art. 7º da Lei n. 5.584/70: “A comprovação do depósito da condenação
(CLT, art. 899, §§ 1º a 5º) terá que ser feita dentro do prazo para a interposição do
recurso, sob pena de ser êste considerado deserto”.
Mais clara ainda passou a ser a inteligência da Súmula 245 do TST:
“DEPÓSITO RECURSAL. PRAZO (mantida) – Res. 121/2003, DJ 19, 20 e 21.11.2003
O depósito recursal deve ser feito e comprovado no prazo alusivo ao recurso. A
interposição antecipada deste não prejudica a dilação legal”.
As custas podem ser isentas em hipóteses especiais, como ocorre no caso do
art. 790-A da CLT:

“Art. 790-A. São isentos do pagamento de custas, além dos beneficiários de


justiça gratuita:
I – a União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e respectivas autar-
quias e fundações públicas federais, estaduais ou municipais que não explo-
rem atividade econômica;
II – o Ministério Público do Trabalho.
(…)”
Outra situação benéfica refere-se aos Correios, os quais possuem a mes-

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COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

ma prerrogativa da Fazenda Pública quanto a custas (portanto, está isenta), na


forma do art. 12 do Decreto Lei n. 509/69: “A ECT gozará de isenção de direitos
de importação de materiais e equipamentos destinados aos seus serviços, dos
privilégios concedidos à Fazenda Pública, quer em relação a imunidade tributária,
direta ou indireta, impenhorabilidade de seus bens, rendas e serviços, quer no
concernente a foro, prazos e custas processuais”.
Aliás, quanto aos Correios, o Tribunal Superior do Trabalho já decidiu:

“RECURSO DE REVISTA. EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELÉGRA-


FOS. DESERÇÃO NÃO CONFIGURADA. RECEPÇÃO DO DECRETO-LEI N.
509/69 PELA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. PRIVILÉGIOS DA FAZENDA PÚBLI-
CA. O artigo 12 do Decreto-lei n. 509/69 foi recepcionado pela Constituição
Federal, aplicando-se à Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos as mes-
mas prerrogativas processuais previstas para a Fazenda Pública. Dessarte, a
ECT está dispensada do recolhimento prévio das custas para a interposição
de recurso, bem como isenta de efetuar o depósito recursal. Recurso de re-
vista conhecido e provido.
(RR – 3633-69.2013.5.12.0045 , Relatora Ministra: Dora Maria da Costa, Data
de Julgamento: 30/03/2016, 8ª Turma, Data de Publicação: DEJT 01/04/2016)”

Importante lembrar que, caso as custas sejam recolhidas a menor, o novo CPC
prevê a necessidade de intimação da parte para complementá-las, o que pode-
mos ver no art. 1.007, § 2º: “A insuficiência no valor do preparo, inclusive porte
de remessa e de retorno, implicará deserção se o recorrente, intimado na pessoa
de seu advogado, não vier a supri-lo no prazo de 5 (cinco) dias”.
E essa norma é perfeitamente compatível com o Processo do Trabalho, con-
forme indica o TST na Instrução Normativa 39/2016, mais especificamente no
seu art. 10, caput: “Aplicam-se ao Processo do Trabalho as normas do parágrafo
único do art. 932 do CPC, §§ 1º a 4º do art. 938 e §§ 2º e 7º do art. 1007”.
Todavia, se, ainda assim, permanecer insuficiente o valor das custas, mister
se faz compreender que haverá deserção, mesmo que a diferença faltante seja
ínfima, referente a centavos. É a aplicação do entendimento da OJ 140 da SDI-I
do TST:
OJ-SDI1-140 DEPÓSITO RECURSAL E CUSTAS. DIFERENÇA ÍNFIMA.

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COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

DESERÇÃO. OCORRÊNCIA (nova redação) – DJ 20.04.2005


Ocorre deserção do recurso pelo recolhimento insuficiente das custas e do
depósito recursal, ainda que a diferença em relação ao “quantum” devido seja
ínfima, referente a centavos.
Uma questão torna-se relevante. Se as custas são recolhidas mediante guia, a
existência de erro no preenchimento da guia gera deserção? A resposta está no
novo CPC, cujo art. 1.007, § 7º, aponta: “O equívoco no preenchimento da guia
de custas não implicará a aplicação da pena de deserção, cabendo ao relator, na
hipótese de dúvida quanto ao recolhimento, intimar o recorrente para sanar o
vício no prazo de 5 (cinco) dias”.
E o TST entendeu, na IN 39/2016, que esse preceito é aplicável ao Processo
do Trabalho, conforme art. 10, caput, da Instrução ( já transcrita acima).
Uma ponderação deve ser feita. Quando se trata de recurso de decisão profe-
rida na execução, as custas não precisam ser recolhidas no prazo recursal, já que
são devidas ao final, conforme previsão do art. 789-A, caput, da CLT.
Apenas para exemplificar, citamos um julgado do TST:

AGRAVO DE PETIÇÃO. EMBARGOS À EXECUÇÃO. DESERÇÃO. RECOLHI-


MENTO DE CUSTAS. DESNECESSIDADE. No processo de execução, as custas
não serão exigidas à época da interposição do recurso, devendo ser supor-
tadas pelo executado, ao final, nos termos do caput do artigo 789-A da CLT.
A garantia assegurada com a penhora de bens deve abranger as despesas
processuais, nas quais estão inseridas tanto as custas do processo de co-
nhecimento, previstas pelo art. 879 da CLT, quanto as custas do processo de
execução, acrescidas pela Lei n. 10.537/2002 ao artigo 789-A da CLT. Daí de-
corre a vedação legal da exigência, imposta pelo Regional, de comprovação
do recolhimento prévio das custas para a interposição do agravo de petição.
Registra-se que, no âmbito da execução trabalhista, o valor e o momento
do recolhimento das custas, para fins de interposição do agravo de petição,
encontram-se previamente definidos pelo artigo 789-A, caput e inciso IV,
da CLT, sendo desnecessárias maiores interpretações em torno do referido
dispositivo, principalmente a restritiva do direito constitucional de acesso à
jurisdição. Assim, para interposição de agravo de petição contra decisão

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pela qual são julgados improcedentes os embargos à execução ou embar-


gos de terceiro, descabe o recolhimento prévio das custas processuais, cujo
valor a ser recolhido não se calcula sobre o valor da causa dos embargos à
execução ou de terceiro, pois se encontra previamente definido pelo artigo
789-A, inciso IV, da CLT. Portanto, no caso concreto, os princípios da ampla
defesa e do contraditório (artigo 5º, inciso LV, da Constituição Federal) foram
violados, porquanto existe expressa determinação legal que veda a exigên-
cia do prévio recolhimento das custas por ocasião da interposição de agravo
de petição. Recurso de revista conhecido e provido.

(RR – 770-90.2015.5.05.0102 , Relator Ministro: José Roberto Freire Pimenta,


Data de Julgamento: 11/05/2016, 2ª Turma, Data de Publicação: DEJT 13/05/2016)
Na próxima dica trataremos de mais temas sobre o preparo.
Bons estudos!

José Gervásio – Ex-Procurador do Estado do Goiás.


Ex-Procurador da Fazenda Nacional. Juiz do Trabalho.
Ministra as matérias de Direito do Trabalho, Direito
Processual do Trabalho e Direito Administrativo.

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COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

DIREITO DO TRABALHO: PROFESSOR STEVÃO GANDH

Examinandos e examinandas,
dando continuidade ao estudo do Direito do Trabalho para 2ª fase da OAB,
vamos a dica de hoje:

A PRIVATIZAÇÃO E O EFEITO CONVALIDANTE DO CONTRATO DE TRA-


BALHO ANTERIORMENTE CONSIDERADO NULO

É sabida a imprescindibilidade da aprovação em concurso público para in-


gresso nos quadros da Administração Pública Direta e Indireta. Trata-se de regra
insculpida na Constituição Federal em seu art. 37, II e §2º e amplamente defendido
deste 1988 quando assim se instaurou o histórico Estado Democrático e de Direito.
Não cumprir o requisito da aprovação no concurso público de provas ou
provas e títulos é afrontar diametralmente os princípios basilares da legalidade,
impessoalidade, moralidade e eficiência.
Na Administração Pública Indireta, mais especificamente nas empresas pú-
blicas e sociedades de economia mista, essa regra constitucional deve ser mais
acentuada em razão do regime de contratação que estão submetidos os tra-
balhadores, isto é, as regras da Consolidação das Leis do Trabalho – CLT após a
aprovação no concurso.
O detalhe disso tudo é a persistência no descumprimento da regra do con-
curso e a tentativa reiterada de se valer do famoso jeitinho brasileiro ou trem da
alegria, onde inúmeros trabalhadores ingressam nos quadros das pessoas jurí-
dicas citadas e iniciam o seu labor como se empregados efetivamente fossem e
como se estivessem cumpridos a etapa da aprovação no certame público.
Até que a ilegalidade seja descoberta ou seja manchete nos jornais muito
tempo se passou e aí o trabalhador se depara com a realidade de que o seu con-
trato de trabalho é nulo de pleno direito, que não tem direitos trabalhistas garan-
tidos, exceto, unicamente o FGTS do período (Súmula 363, TST e Lei n. 8.036/90).
Eis a consequência lógica para tal situação.
Contudo, é necessário ficar muito atento quanto ao momento em

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COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

que esse contrato pode deixar de ser nulo e ao final ser convalidado com
efeitos ex tunc.
A possibilidade está na redação da Súmula 430 do Tribunal Superior do Tra-
balho – TST, vejamos:

Súmula n. 430 do TST


ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA INDIRETA. CONTRATAÇÃO. AUSÊNCIA DE CON-
CURSO PÚBLICO. NULIDADE. ULTERIOR PRIVATIZAÇÃO. CONVALIDAÇÃO. IN-
SUBSISTÊNCIA DO VÍCIO
Convalidam-se os efeitos do contrato de trabalho que, considerado
nulo por ausência de concurso público, quando celebrado originalmente
com ente da Administração Pública Indireta, continua a existir após a
sua privatização.
Pelo teor do entendimento sumulado o Tribunal Superior do Trabalho con-
cluiu pela convalidação da relação jurídica de emprego anteriormente conside-
rada nula como sendo perfeitamente válida e para se chegar a essa conclusão
utilizou-se a aplicação do contido no art. 10 e 448 da CLT que tratam da sucessão
empresarial, ou seja, com a privatização ocorre a sucessão e, via de regra, tanto
os ativos como os passivos da sucedida passam a ser de responsabilidade da
sucessora.
No caso específico, como ocorreu a privatização na Administração Pública
Indireta, a legalidade do contrato de trabalho que esbarrava na exigência do con-
curso público, agora não é mais um requisito, afinal deixou de ser público (órgão
da Administração Pública) e passou a ser privado, o que, por sua vez, não exige
como condição para a contratação de empregado a aprovação em concurso
público.
Desse modo, o contrato de trabalho, reputado como nulo por ausência de
concurso público com a Administração Pública Indireta, SE PERSISTE após a pri-
vatização tem os seus efeitos CONVALIDADOS.

Portanto, atenção quanto ao efeito convalidante do contrato de trabalho an-

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COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

teriormente declarado nulo quando ocorrer a privatização, pois aquele traba-


lhador que somente estava amparado pelo FGTS do período da prestação de
serviços, com esse efeito passa a ter todos os direitos previstos no ordenamento
jurídico para o empregado.
Bons estudos!

Stevão Gandh – Advogado militante. Especialista em


Direito Público. Palestrante e Parecerista na área de di-
reito do trabalho, especialmente em cursos de preven-
ção de passivos trabalhista. Professor de Direito do
Centro Universitário do Distrito Federal – UDF na disci-
plina Direito Processual do Trabalho. Professor de Direi-
to da Faculdade Projeção – FAPRO na disciplina Direito
Processual do Trabalho e Direito do Trabalho. Professor
de Cursos Preparatórios para Concurso Público.

468 grancursosonline.com.br
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

DIREITO DO TRABALHO: PROFESSOR JOSÉ GERVÁSIO

PRESSUPOSTO EXTRÍNSECO: PREPARO (PARTE II)

Na última dica, tratamos do preparo recursal no que tange às custas, ainda


remanescendo falar sobre o depósito recursal.
O depósito recursal cuida de parcela prevista no art. 899, §§ 1º a 7º, da CLT.
Sua natureza é garantia da execução, conforme entendimento do Tribunal Supe-
rior do Trabalho. Justamente em virtude dessa natureza, é que os benefícios da
justiça gratuita, muito embora dispensem o recolhimento de custas para fins de
recurso, não eliminam a obrigação de se recolher o depósito recursal.
Apenas para exemplificar esse entendimento, apresentamos o seguinte julgado:
“AGRAVO DE INSTRUMENTO. LEI N. 13.015/2014. ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA
GRATUITA. EMPREGADOR. AUSÊNCIA DE DEPÓSITO RECURSAL. 1. É entendi-
mento desta Corte superior que os benefícios da justiça gratuita limitam-se às
despesas processuais, não alcançando, portanto, o depósito recursal correspon-
dente à garantia do juízo. 2. Não efetuado o depósito pelo espólio reclamado,
impõe-se o reconhecimento da deserção do Recurso de Revista. Precedentes. 3.
Agravo de Instrumento a que se nega provimento”.
(AIRR – 461-50.2013.5.02.0255 , Relator Desembargador Convocado: Marcelo
Lamego Pertence, Data de Julgamento: 24/08/2016, 1ª Turma, Data de Publica-
ção: DEJT 26/08/2016)
Considerando essa natureza, apenas se justifica exigir o depósito quando es-
tamos tratando de condenações de natureza pecuniária, conforme Súmula 161
do TST:
DEPÓSITO. CONDENAÇÃO A PAGAMENTO EM PECÚNIA (mantida) – Res.
121/2003, DJ 19, 20 e 21.11.2003 Se não há condenação a pagamento em pecúnia,
descabe o depósito de que tratam os §§ 1º e 2º do art. 899 da CLT

Todavia, quando um trabalhador é condenado em parcela pecuniária (obreiro

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foi condenado em uma indenização a favor do empregador, por exemplo), não


há que margem para depósito recursal. O TST já decidiu:
“RECURSO DE REVISTA EM FACE DE DECISÃO PUBLICADA ANTES DA VIGÊN-
CIA DA LEI N. 13.015/2014. PRELIMINAR DE NÃO CONHECIMENTO ARGUIDA
EM CONTRARRAZÕES – DESERÇÃO – AUSÊNCIA DE DEPÓSITO RECURSAL DO
EMPREGADO RECONVINDO. Não há previsão legal da exigência de depósito
recursal por parte do trabalhador, ainda que sucumbente em reconvenção. Isso
porque os §§ 1º, 4º e 5º do artigo 899 da CLT são expressos ao direcionar apenas
ao empregador a obrigação da garantia do juízo como pressuposto extrínseco
de admissibilidade recursal. Precedentes, inclusive da SBDI-1 e da 3ª Turma. Pre-
liminar rejeitada. (…)
( RR – 405000-25.2007.5.09.0670 , Relator Ministro: Alexandre de Souza Agra
Belmonte, Data de Julgamento: 24/08/2016, 3ª Turma, Data de Publicação: DEJT
26/08/2016)”
Também não precisa efetuar o depósito recursal os entes públicos, as autar-
quias e as fundações públicas, na forma do Decreto-Lei n. 779/69:
Art. 1º Nos processos perante a Justiça do Trabalho, constituem privilégio da
União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e das autarquias ou fun-
dações de direito público federais, estaduais ou municipais que não explorem
atividade econômica:
IV – a dispensa de depósito para interposição de recurso;
Os Correios, por deterem algumas prerrogativas processuais da Fazenda Pú-
blica, na forma do art. 12 do Decreto-Lei n. 509/69, não necessita realizar o de-
pósito para recorrer. Vejamos:
RECURSO DE REVISTA. EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELÉGRAFOS.
DESERÇÃO NÃO CONFIGURADA. RECEPÇÃO DO DECRETO-LEI N. 509/69 PELA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL. PRIVILÉGIOS DA FAZENDA PÚBLICA. O artigo 12 do
Decreto-lei n. 509/69 foi recepcionado pela Constituição Federal, aplicando-se à
Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos as mesmas prerrogativas processuais
previstas para a Fazenda Pública. Dessarte, a ECT está dispensada do recolhimen-
to prévio das custas para a interposição de recurso, bem como isenta de efetuar
o depósito recursal. Recurso de revista conhecido e provido.
(RR – 3633-69.2013.5.12.0045 , Relatora Ministra: Dora Maria da Costa, Data

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de Julgamento: 30/03/2016, 8ª Turma, Data de Publicação: DEJT 01/04/2016)


Outro ponto importante, conforme se constata da leitura dos parágrafos, en-
volve o limite para o depósito. Todavia, atualmente essa atualização é realizada
pelo Tribunal Superior do Trabalho, mediante a edição de ato. E, atualmente,
vigora o Ato N. 326/SEGJUD.GP, de 15 de julho de 2016, cujo teor transcrevemos:
“Art. 1º Os novos valores referentes aos limites de depósito recursal previstos
no artigo 899 da Consolidação das Leis do Trabalho, reajustados pela variação
acumulada do INPC/IBGE, no período de julho de 2015 a junho de 2016, serão de:
8. a) R$ 8.959,63 (oito mil, novecentos e cinquenta e nove reais e sessenta e
três centavos), no caso de interposição de Recurso Ordinário;
9. b) R$ 17.919,26 (dezessete mil, novecentos e dezenove reais e vinte e seis
centavos), no caso de interposição de Recurso de Revista, Embargos e Recurso
Extraordinário;
10. c) R$ 17.919,26 (dezessete mil, novecentos e dezenove reais e vinte e seis
centavos), no caso de interposição de Recurso em Ação Rescisória”.
Ressalte-se que, sendo o recurso o agravo de instrumento, o art. 899, § 7º,
da CLT estabeleceu uma regra especial: “No ato de interposição do agravo de
instrumento, o depósito recursal corresponderá a 50% (cinquenta por cento) do
valor do depósito do recurso ao qual se pretende destrancar”.
Logo, se o agravo de instrumento quer liberar o recurso ordinário trancado
pelo juiz da vara, o depósito recursal do agravo é metade do valor do depósito
do recurso ordinário.
O candidato não precisa decorar o valor dos depósitos recursais, mas precisa
saber que existe um teto máximo, uma vez que nenhum depósito mais é exigido
para um recurso quando esse teto é atingido.
Assim, se uma condenação da empresa na sentença fosse hoje de R$ 50.000,00,
por exemplo, apenas o teto de R$ 8.959,63 seria obrigatório. Caso o recurso da
empresa tenha o provimento negado (e a condenação permaneça R$ 50.000,00) e
a empresa queira interpor recurso de revista, deverá depositar o valor do teto do re-
curso de revista (R$ 17.919,26), já que o valor da condenação continua sendo superior
ao somatório de ambos os tetos (o do recurso ordinário já realizado e o de revista).
Por outro lado, se a condenação na sentença fosse de R$ 3.000,00, o valor do

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depósito recursal ficaria limitado a esses R$ 3.000,00, já que a condenação teria


sido atingida (e o depósito possui natureza de garantia), conforme a previsão da
Súmula 128, I, do TST:
DEPÓSITO RECURSAL (incorporadas as Orientações Jurisprudenciais n.s
139, 189 e 190 da SBDI-1) – Res. 129/2005, DJ 20, 22 e 25.04.2005
I – É ônus da parte recorrente efetuar o depósito legal, integralmente, em re-
lação a cada novo recurso interposto, sob pena de deserção. Atingido o valor da
condenação, nenhum depósito mais é exigido para qualquer recurso.
Nesse ponto, ressaltamos que, na hipótese de haver um litisconsórcio passivo,
o depósito recursal realizado por uma empresa aproveita ao litisconsorte, desde
que aquela que fez o depósito não peça sua exclusão do processo. Assim, se
duas empresas X e Y foram condenadas solidariamente em R$ 3.000,00 na sen-
tença e apenas a empresa X recolheu o depósito recursal integral (R$ 3.000,00),
a empresa Y não precisará fazê-lo, desde que a empresa X não alegue matérias
que a retirem do processo.
Por outro lado, caso a empresa X alegue, por exemplo, ilegitimidade passiva,
a empresa Y terá que realizar o depósito também. Isso porque, se o argumento
da empresa X for acolhido, haveria extinção do processo sem resolução de mérito
em relação a X e a empresa X sairia do processo levando seu depósito recursal e
o processo ficaria sem valor garantidor.
A lógica foi consagrada na Súmula 128, III, do TST:
DEPÓSITO RECURSAL (incorporadas as Orientações Jurisprudenciais n.s 139,
189 e 190 da SBDI-1) – Res. 129/2005, DJ 20, 22 e 25.04.
III – Havendo condenação solidária de duas ou mais empresas, o depósito
recursal efetuado por uma delas aproveita as demais, quando a empresa que
efetuou o depósito não pleiteia sua exclusão da lide.
Quanto à forma de se proceder a recolhimento do depósito recursal, o TST
esclareceu na Súmula 426:
DEPÓSITO RECURSAL. UTILIZAÇÃO DA GUIA GFIP. OBRIGATORIEDA-
DE (editada em decorrência do julgamento do processo TSTIUJEEDRR 91700-
09.2006.5.18.0006) – Res. 174/2011, DEJT divulgado em 27, 30 e 31.05.2011
Nos dissídios individuais o depósito recursal será efetivado mediante a utiliza-

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ção da Guia de Recolhimento do FGTS e Informações à Previdência Social – GFIP,


nos termos dos §§ 4º e 5º do art. 899 da CLT, admitido o depósito judicial, reali-
zado na sede do juízo e à disposição deste, na hipótese de relação de trabalho
não submetida ao regime do FGTS.
Ora, existem situações em que o trabalhador não está sujeito ao FGTS, não
detendo, assim, conta vinculada apta a receber o depósito recursal. Isso ocorre,
por exemplo, com trabalhador autônomo e o trabalhador eventual. Nessa hi-
pótese, quando um trabalhador autônomo vence uma demanda trabalhista e o
tomador condenado decide recorrer, o depósito é feito em uma conta judicial à
disposição do juízo.
Vale lembrar que o recolhimento insuficiente do depósito recursal gera deser-
ção, mesmo que a diferença faltante seja ínfima, referente a centavos. É a aplica-
ção do entendimento da OJ 140 da SDI-I do TST:
OJ-SDI1-140 DEPÓSITO RECURSAL E CUSTAS. DIFERENÇA ÍNFIMA.
DESERÇÃO. OCORRÊNCIA (nova redação) – DJ 20.04.2005
Ocorre deserção do recurso pelo recolhimento insuficiente das custas e do
depósito recursal, ainda que a diferença em relação ao “quantum” devido seja
ínfima, referente a centavos.
Bons estudos!

José Gervásio – Ex-Procurador do Estado do Goiás.


Ex-Procurador da Fazenda Nacional. Juiz do Trabalho.
Ministra as matérias de Direito do Trabalho, Direito
Processual do Trabalho e Direito Administrativo.

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DIREITO DO TRABALHO: PROFESSOR LEANDRO ALENCAR

Caros alunos,
Hoje, rumo a 2ª fase da OAB faremos um estudo sobre Trabalho Noturno.

TRABALHO NOTURNO.

O art. 7º, IX, da Constituição Federal é claro ao dispor que é direito dos tra-
balhadores urbanos e rurais a remuneração do trabalho noturno superior a do
diurno. Ou seja, o valor da hora do trabalhador noturno será superior a do tra-
balhador diurno.
No mesmo raciocínio segue o art. 73, caput, da CLT, ao reforçar a ideia de que
o trabalho noturno terá remuneração superior ao trabalho diurno. Além disso,
afirma que a hora noturna será de, no mínimo, 20% sobre o valor da hora diurna.
Perceba, portanto, que a lei menciona o mínimo. Assim, nada impedirá que esse
percentual seja majorado por meio de contrato ou norma coletiva.
Interessante destacar que a hora de trabalho noturno será computada com
tempo reduzido. Ou seja, para cada 52 minutos e 30 segundos de trabalho no-
turno equivalerá a uma hora, de acordo com a redação do art. 73, §1º, da CLT.
Esta aplicação é cabível, inclusive, para os vigias noturnos, nos termos da Súmula
n. 65 do TST.
Ressalta-se que a inobservância da hora reduzida acarretará no pagamento
do período excedente à jornada ordinária como extraordinário.
O art. 73, §2º, da CLT, afirma, ainda, que o trabalho noturno será aquele pres-
tado entre às 22h00 e 05h00. Dessa forma, todo e qualquer trabalhador que
laborar nesse período terá direito ao adicional de, no mínimo, 20% sobre a hora
diurna.
Lembre-se, também, que o fato do trabalhador laborar em período diurno e
noturno, não impede, quanto a este, do recebimento do respectivo adicional, nos
termos do art. 73, §4º, da CLT.
No mais, importa destacar a Súmula n. 60 do TST.

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Isto porque, de acordo com o item I da respectiva súmula, o adicional noturno


integrará o salário do empregado e, por consequência, gerará efeitos nas demais
verbas, caso seja pago com habitualidade. Inclusive, nos termos da OJ n. 97 da
SDI-I do TST, haverá cumulação entre o adicional noturno e o adicional de horas
extras.
Além disso, a súmula relata em seu item II que, no caso da jornada ser cumpri-
da durante todo o período noturno, ou seja, das 22h00 às 05h00, sobre as horas
prorrogadas, também incidirá o respectivo adicional. Nesse sentido, também, é o
art. 73, §5º, da CLT.
Exemplo dessa situação seria aquele trabalhador que, contratado para labo-
rar das 22h00 às 05h00, costuma permanecer nas suas atividades laborais até
as 07h00. Neste caso, embora o período excedente à jornada ordinária, no total
de duas horas (05h00 às 07h00), não seja considerado noturno, ainda sim, sobre
estas, incidirá o respectivo adicional.
Ressalta-se que este mesmo entendimento é aplicado ao trabalhador que la-
bore em jornada de trabalho 12×36, de acordo com a OJ n. 388 da SDI-I do TST.
Nunca é demais salientar que ao menor de 18 anos é vedado trabalhar no
período noturno, seja ele urbano (art. 7º, XXXIII, da CF) ou rural (art. 8º da Lei n.
5.889/73).
Por fim, vamos apresentar algumas exceções às regras acima registradas:
I – No que tange à hora noturna:
a) Advogado: 20h00 às 05h00 – Art. 20, §3, da Lei n. 8.906/1994;
b) Portuário: 19h00 às 07h00 – Art. 4º, §1º, da Lei n. 4.860/1965.
c) Lavoura: 21h00 às 05h00 – Art. 7º, da Lei n. 5.889/1973.
d) Pecuária: 20h00 às 04h00 – Art. 7º, da Lei n. 5.889/1973.

II – No que tange ao adicional:


a) Advogado: 25% – Art. 20, §3º, da Lei n. 8.906/1994.
b) Rural: 25% – Art. 7º, parágrafo único, da Lei n. 5.889/1973

III – No que tange a hora reduzida:

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a) Não se aplica ao rural: ausência de precisão na Lei n. 5.889/1973.


b) Nã se aplica ao portuário> OJ n. 60 da SDI-I do TST.

Bons estudos, pessoal!

Leandro Alencar – Graduado em Direito, especialista


em Direito e Processo do Trabalho pelo Instituto Brasi-
liense de Direito Público – IDP, com atualização em Di-
reito e Processo do Trabalho em cursos livres; Professor
do curso Prática Trabalhista, Pesquisador em diversos
temas do Direito do Trabalho, inclusive trabalho infan-
til, discriminação no ambiente de trabalho e precariza-
ção da relação empregatícia.

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DIREITO DO TRABALHO: PROFESSOR JOSÉ GERVÁSIO

PRESSUPOSTO EXTRÍNSECO: TEMPESTIVIDADE

Seguindo o nosso estudo sobre pressupostos recursais extrínsecos, passemos


à análise da tempestividade.
Como sabemos, a regra do prazo recursal trabalhista é de oito dias, conforme
art. 6º da Lei n. 5.584/70. Essa regra continua valendo mesmo após o advento do
novo CPC, conforme art. 1º, § 2º, da IN 39/2016.
“Art. 1º (…)

• 2º O prazo para interpor e contra-arrazoar todos os recursos trabalhistas,


inclusive agravo interno e agravo regimental, é de oito dias (art. 6º da Lei
n. 5.584/70 e art. 893 da CLT), exceto embargos de declaração (CLT, art.
897-A)”.

Entretanto, deve o leitor perceber que esse prazo refere-se aos recursos tra-
balhistas, excepcionado o embargos declaratórios, cujo prazo é de 5 dias (art.
897-A da CLT). No entanto, existem outros recursos regulados pelo Código de
Processo Civil e compatíveis com o sistema processual trabalhista.
É como ocorre com o recurso extraordinário (art. 1.029) e o agravo para des-
trancar o recurso extraordinário (art. 1.042), recursos esses cujo prazo é de 15
dias, na forma do art. 1003, § 5º, do CPC:
“Art. 1.003 (…)

• 5º Excetuados os embargos de declaração, o prazo para interpor os recur-


sos e para responder-lhes é de 15 (quinze) dias”.

Uma ponderação merece ser feita. Existem pessoas que possuem prazo para

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recorrer em dobro, como, por exemplo, os entes públicos (União, Estados, Dis-
trito Federal e Municípios), suas autarquias e fundações de direito público. Nesse
sentido já havia a previsão do Decreto-Lei n. 779/69:

“Art. 1º. Nos processos perante a Justiça do Trabalho, constituem privilégio


da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e das autarquias
ou fundações de direito público federais, estaduais ou municipais que não
explorem atividade econômica:
III – o prazo em dobro para recurso”.

O art. 183 do CPC apenas reforçou essa prerrogativa:


“Art. 183. A União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e suas respec-
tivas autarquias e fundações de direito público gozarão de prazo em dobro para
todas as suas manifestações processuais, cuja contagem terá início a partir da
intimação pessoal.
• 1º A intimação pessoal far-se-á por carga, remessa ou meio eletrônico.
• 2º Não se aplica o benefício da contagem em dobro quando a lei estabele-
cer, de forma expressa, prazo próprio para o ente público”.

Os Correios, por sua vez, uma vez mais, possuem prerrogativa similar à Fazen-
da Pública, por força do Decreto-Lei n. 509/69:
“Art. 12. A ECT gozará de isenção de direitos de importação de materiais e
equipamentos destinados aos seus serviços, dos privilégios concedidos à Fazen-
da Pública, quer em relação a imunidade tributária, direta ou indireta, impenho-
rabilidade de seus bens, rendas e serviços, quer no concernente a foro, prazos e
custas processuais”.
O Ministério Público também possui essa prerrogativa de prazo em dobro,
conforme art. 180 do CPC:
“Art. 180. O Ministério Público gozará de prazo em dobro para manifestar-se
nos autos, que terá início a partir de sua intimação pessoal, nos termos do art.
183, § 1º.
• 1º Findo o prazo para manifestação do Ministério Público sem o oferecimen-

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to de parecer, o juiz requisitará os autos e dará andamento ao processo.


• 2º Não se aplica o benefício da contagem em dobro quando a lei estabele-
cer, de forma expressa, prazo próprio para o Ministério Público”.

A Defensoria Pública também goza do mesmo privilégio, vantagem estabele-


cida pelo LC 80/94:
“Art. 44. São prerrogativas dos membros da Defensoria Pública da União:
I – receber, inclusive quando necessário, mediante entrega dos autos com
vista, intimação pessoal em qualquer processo e grau de jurisdição ou instância
administrativa, contando-se-lhes em dobro todos os prazos”.
Vale ressaltar que as demais empresas públicas e as sociedades de economia
mista não gozam desse mesmo privilégio processual.
Quanto ao prazo em dobro para litisconsortes com procuradores distintos
previsto no art. 229 do CPC, essa regra não é compatível com o Processo do
Trabalho, nos moldes da OJ 310 da SDI-I do Tribunal Superior do Trabalho:
“LITISCONSORTES. PROCURADORES DISTINTOS. PRAZO EM DOBRO.
ART. 229, CAPUT E §§ 1º E 2º, DO CPC DE 2015. ART. 191 DO CPC DE
1973. INAPLICÁVEL AO PROCESSO DO TRABALHO (atualizada em decor-
rência do CPC de 2015)
Inaplicável ao processo do trabalho a norma contida no art. 229, caput e §§ 1º
e 2º, do CPC de 2015 (art. 191 do CPC de 1973), em razão de incompatibilidade
com a celeridade que lhe é inerente”.
Deve-se ressaltar que a existência de feriados afeta o prazo recursal, seja no
termo a quo do prazo (prorrogando o início da contagem para o primeiro dia
útil seguinte), seja no termo ad quem ( já que o prazo apenas vence em dia útil).
Logo, cabe ao recorrente demonstrar que existe feriado, quando esse dia influir
no exame da tempestividade de seu recurso.
Assim, é perfeitamente compreensível a Súmula 385, I, do TST:
“FERIADO LOCAL. AUSÊNCIA DE EXPEDIENTE FORENSE. PRAZO RE-
CURSAL. PRORROGAÇÃO. COMPROVAÇÃO. NECESSIDADE. ATO ADMI-
NISTRATIVO DO JUÍZO “A QUO” (redação alterada na sessão do Tribunal
Pleno realizada em 14.09.2012) – Res. 185/2012 – DEJT divulgado em 25,
26 e 27.09.2012
I – Incumbe à parte o ônus de provar, quando da interposição do recurso, a

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existência de feriado local que autorize a prorrogação do prazo recursal”.


Aliás, no mesmo sentido do exposto milita o art. 1.003, § 6º, do CPC: “O re-
corrente comprovará a ocorrência de feriado local no ato de interposição do
recurso”.
Por outro lado, quando se trata de feriado forense (feriado na Justiça), o pró-
prio Judiciário já certifica tal fato nos autos, conforme a Sumula 385, II, do TST:
“FERIADO LOCAL. AUSÊNCIA DE EXPEDIENTE FORENSE. PRAZO RE-
CURSAL. PRORROGAÇÃO. COMPROVAÇÃO. NECESSIDADE. ATO ADMI-
NISTRATIVO DO JUÍZO ‘A QUO’ (redação alterada na sessão do Tribunal
Pleno realizada em 14.09.2012) – Res. 185/2012 – DEJT divulgado em 25,
26 e 27.09.2012
II – Na hipótese de feriado forense, incumbirá à autoridade que proferir a de-
cisão de admissibilidade certificar o expediente nos autos”.
Por último, lembramos que a interposição do recurso realizada antes do início
formal do prazo recursal não torna o apelo intempestivo ou extemporâneo. Nes-
se sentido vaticina o art. 218, § 4º, do novo CPC: “Será considerado tempestivo o
ato praticado antes do termo inicial do prazo”.

José Gervásio – Ex-Procurador do Estado do Goiás.


Ex-Procurador da Fazenda Nacional. Juiz do Trabalho.
Ministra as matérias de Direito do Trabalho, Direito Pro-
cessual do Trabalho e Direito Administrativo.

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DIREITO DO TRABALHO: PROFESSOR HUGO SOUSA

DA DISPENSA ARBITRÁRIA OU SEM JUSTA CAUSA

Com o advento da CF/88 restou extinto o sistema de estabilidade decenária


previsto originalmente na CLT, em seus artigos 492 ao 500. Este sistema conviveu
com o regime de FGTS de 1966 à 1988, quando havia alternativa entre ambos.
O Lei Maior eliminou a possibilidade de opção, suprimindo o regime de ga-
rantia de emprego, por indenização pecuniária, mas prometeu, no art. 7º, inciso
I, que regulamentaria a proteção contra dispensa arbitrária ou sem justa causa,
mas não o fez, mesmo após quase 30 anos de sua promulgação.
Alguns grupos de empregados, entretanto, mereceram proteção especial,
como a gestante, e o membro da CIPA, artigo 10, II, alíneas “b” e “a” e súmula 244
e 339 respectivamente.
Temos ainda o Dirigente Sindical, de que trata o art. 8º VIII da Lei Maior, junto
com a súmula 369 do TST, e o último dos quatro principais protegidos no sistema
de estabilidades, o acidentado do trabalho, art. 118 da Lei n. 8.213/91 e súmula
378 do TST.
Até então, o que se verificava, pois, era essa polarização, ou seja, ou o em-
pregado estava protegido por norma especial que lhe garantia a estabilidade, ou
então, sem proteção alguma, poderia ser dispensado sem justa causa e até de
forma arbitrária, quer dizer, sem qualquer motivo existente e muito menos rele-
vante.
Grupos de empregados, entretanto, começaram a merecer a atenção da ju-
risprudência, e são aqueles que ostentam uma situação de fragilidade superior à
natural hipossuficiência do empregado, para esses em que pese não haja lei que
lhes atribua estabilidade, a jurisprudência tem impedido a dispensa discriminató-
ria, de maneira que somente podem ser dispensados se houver uma justificativa
plausível, ainda que não faltosa, sendo que do contrário, se presume persecutória
a demissão deste laborista.
Nesse sentido, a atual súmula 443 do TST, que estabelece: “Súmula n. 443 do TST

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DISPENSA DISCRIMINATÓRIA. PRESUNÇÃO. EMPREGADO PORTADOR DE


DOENÇA GRAVE. ESTIGMA OU PRECONCEITO. DIREITO À REINTEGRAÇÃO –
Res. 185/2012, DEJT divulgado em 25, 26 e 27.09.2012.
Presume-se discriminatória a despedida de empregado portador do vírus HIV
ou de outra doença grave que suscite estigma ou preconceito. Inválido o ato, o
empregado tem direito à reintegração no emprego.”
A questão é de extrema relevância não só sob ponto de vista do direito mate-
rial, como sob ponto de vista processual, pois inverte o ônus da prova, cabendo
ao empregador demonstrar que tinha de dispensar aquele empregado, e que
tinha de ser ele, mesmo que não haja justa causa, mas apenas motivo técnico,
econômico, ou financeiro.
Desta forma, devemos ficar atentos ao conceito de garantia de emprego, que
não se confunde com estabilidade. Toda estabilidade é uma garantia, mas nem
toda garantia é uma estabilidade, sendo possível, por exemplo, vir questão que
fale da necessidade de reintegração de um empregado como esse, com manu-
tenção de eventual plano de saúde que era concedido pelo empregador, e demais
consequências da reintegração, que passa a ser vista como um dever patronal,
em respeito à dignidade da pessoa humana, e em decorrência da função social
do contrato, eu, em conjunto, impõe ao empresário o dever de manter a relação
de emprego, ainda que em tese, tivesse direito potestativo de dispensá-lo.

Hugo Sousa é advogado e professor de Direito e Pro-


cesso do Trabalho há mais de 15 anos no DF. Professor
de Cursos Preparatórios para Concurso.

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DIREITO DO TRABALHO: PROFESSOR JOSÉ GERVÁSIO

Prezados alunos,
dando continuidade a série Regressiva 31 dias OAB, seguem dicas preciosas
para a 2ª fase de Direito do Trabalho. Vejamos:

HORAS ITINERÁRIAS

O operador do Direito, na área trabalhista, deve dominar as peculiaridades


referentes às chamadas horas itinerárias (também conhecidas como horas in iti-
nere), ou seja, o tempo no trajeto entre a residência e o trabalho e vice-versa.
Como sabemos, a regra é que esse tempo de deslocamento não é contabi-
lizado na jornada, exceto se houver a concorrência de dois requisitos, como ve-
mos na ressalva do art. 58, § 2º, da CLT: “O tempo despendido pelo empregado
até o local de trabalho e para o seu retorno, por qualquer meio de transporte,
não será computado na jornada de trabalho, salvo quando, tratando-se de local
de difícil acesso ou não servido por transporte público, o empregador fornecer
a condução”.
Os dois requisitos cumulativos podem ser assim sintetizados:
1. a) empregador fornece a condução; e
2. b) o trajeto para o trabalho não é servido por transporte público ou o local
de trabalho caracteriza-se como de difícil acesso.
Essa lógica prevista em lei também já era considerada pelo Tribunal Superior
do Trabalho e hoje encontra-se consagrada na Súmula 90:
“HORAS “IN ITINERE”. TEMPO DE SERVIÇO (incorporadas as Sú- mulas n.s 324
e 325 e as Orientações Jurisprudenciais n.s 50 e 236 da SBDI- 1) – Res. 129/2005,
DJ 20, 22 e 25.04.2005
I – O tempo despendido pelo empregado, em condução fornecida pelo em-
pregador, até o local de trabalho de difícil acesso, ou não servido por transporte
público regular, e para o seu retorno é computável na jornada de trabalho”.
Um ponto merece destaque. Muitos pensam que a existência de horas itinerá-

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rias (com a presença dos requisitos mencionados) implicaria o pagamento auto-


mático de horas extras, o que não é correto. Essas horas são incluídas na jornada
de maneira que apenas haverá horas extras quando ultrapassada a jornada diária
do trabalhador.
Nessa direção caminha a Súmula 90, V, do TST: “Considerando que as horas
‘in itinere’ são computáveis na jornada de trabalho, o tempo que extrapola a jor-
nada legal é considerado como extraordinário e sobre ele deve incidir o adicional
respectivo”.
A matéria, que parece ser simples, envolve certos complicadores, tais como
a questão referente à insuficiência do transporte público. Muitas vezes, existe
transporte público no trajeto e o local é de fácil acesso, mas o transporte não
consegue atender a toda a demanda de trabalhadores (muitas pessoas para pou-
cos veículos). Assim, diversos empregadores oferecem transporte privado a seus
empregados, provocando um questionamento. Esse período de transporte pode
ser considerado na jornada? Estariam os requisitos presentes?
O TST entende negativamente. De fato, havendo transporte público no horá-
rio em que o trabalhador necessita, a eventual insuficiência do transporte revela
problema de política pública, uma vez que o Município (ou o Distrito Federal, que
não se divide em Municípios) é o responsável pela gestão dos serviços públicos
de transporte, conforme art. 30, V, da CF.

“Art. 30. Compete aos Municípios:


V – organizar e prestar, diretamente ou sob regime de concessão ou permis-
são, os serviços públicos de interesse local, incluído o de transporte coletivo,
que tem caráter essencial”.

Logo, seria descabido transferir ao empregador esse ônus. Aliás, o TST afas-
ta a contagem desse tempo, consolidando o entendimento na Súmula 90, III: A
mera insuficiência de transporte público não enseja o pagamento de horas “in
itinere”.

Além disso, quando existe transporte público apenas em parte do trajeto,

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por coerência lógica, apenas pode ser considerada a parte em que não há o
transporte referido. Nesse sentido vemos a posição do TST na Súmula 90, IV: “Se
houver transporte público regular em parte do trajeto percorrido em condução
da empresa, as horas ‘in itinere’ remuneradas limitam-se ao trecho não alcançado
pelo transporte público”.
Outro ponto de relevo ocorre quando o transporte público existe, mas o ho-
rário desse transporte não coincide com o horário que o trabalhador necessita.
Imagine que um empregado de um supermercado sai do serviço às 3hs (ma-
drugada) e o próximo ônibus somente passe às 6hs. Existe incompatibilidade de
horários.
Na hipótese levantada, caso o empregador forneça o transporte privado, tor-
na-se natural reconhecer o tempo de deslocamento como computado na jorna-
da. O TST já pacificou a matéria na Súmula 90, II: A incompatibilidade entre os
horários de início e término da jornada do empregado e os do transporte público
regular é circunstância que também gera o direito às horas “in itinere”.
Registre-se que, caso o empregador cobre alguma importância pelo trans-
porte, essa peculiaridade não elimina o direito às horas itinerárias. Vejamos a
Súmula 320 do TST:
HORAS “IN ITINERE”. OBRIGATORIEDADE DE CÔMPUTO NA JORNADA DE
TRABALHO (mantida) – Res. 121/2003, DJ 19, 20 e 21.11.2003
O fato de o empregador cobrar, parcialmente ou não, importância pelo trans-
porte fornecido, para local de difícil acesso ou não servido por transporte regular,
não afasta o direito à percepção das horas “in itinere”.
Diante da grande quantidade de conflitos na apuração do tempo de trans-
porte in itinere, o legislador andou bem ao estipular que é possível à negociação
coletiva estabelecer o tempo médio desse transporte, o que se infere do art. 58, §
3º, da CLT: “Poderão ser fixados, para as microempresas e empresas de pequeno
porte, por meio de acordo ou convenção coletiva, em caso de transporte forne-
cido pelo empregador, em local de difícil acesso ou não servido por transporte
público, o tempo médio despendido pelo empregado, bem como a forma e a
natureza da remuneração”.
Nesse particular surge uma indagação: poderia a norma coletiva estipular um

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tempo de horas itinerárias menor do que o efetivamente gasto pelo trabalhador.


A questão importa inclusive os limites da negociação coletiva, com exame do art.
7º, XXVI, da Constituição Federal.
O Tribunal Superior do Trabalho aceita a negociação coletiva, com estipulação
de tempo menor do que o realmente gasto, desde que preservada a razoabili-
dade. E, por razoabilidade, o Tribunal entende que o limite mínimo de 50% do
tempo efetivamente gasto deve ser respeitado:

RECURSO DE EMBARGOS EM RECURSO DE REVISTA. INTERPOSIÇÃO SOB


A ÉGIDE DA LEI 11.496/2007. HORAS IN ITINERE. NEGOCIAÇÃO COLETIVA.
LIMITAÇÃO QUANTITATIVA. LAPSO TEMPORAL FIXADO COLETIVAMENTE
QUE NÃO CORRESPONDE A CINQUENTA POR CENTO DO TEMPO DESPEN-
DIDO NO DESLOCAMENTO. INVALIDADE. 1. O Colegiado Turmário negou
provimento ao recurso de revista do reclamante, registrando que, “convindo
às categorias interessadas, dentro da dialética inerente ao conglobamento,
estabelecer duração única para a apuração de horas ‘ in itinere’ , desta for-
ma devidas a todo o universo de trabalhadores alcançados, nenhum ilícito
remanescerá, resguardado que permanece o direito à percepção da par-
cela”. 2. Esta Corte tem admitido a limitação do número de horas in itinere
por norma coletiva, desde que observados os princípios da razoabilidade e
proporcionalidade entre o tempo fixado e aquele efetivamente gasto. Nessa
trilha, este Tribunal tem considerado razoável o lapso fixado coletivamen-
te que corresponda a, pelo menos, 50% (cinquenta por cento) do tempo
despendido no deslocamento. 3. No caso dos autos, a norma coletiva fixou
em uma hora diária o pagamento a título de horas in itinere, enquanto o
reclamante despendia no percurso, em média, cinco horas diárias. Tem-se,
assim, à luz da jurisprudência desta Corte, que a referida cláusula coletiva
não atendeu aos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade – pois
o lapso negociado coletivamente corresponde a menos de 50% (cinquenta
por cento) do tempo gasto no deslocamento -, razão pela qual é inviável
concluir pela sua validade. Recurso de embargos conhecido e provido.

(E-ARR – 881-69.2010.5.09.0092 , Relator Ministro: Hugo Carlos Scheuer-

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mann, Data de Julgamento: 20/08/2015, Subseção I Especializada em Dissí-


dios Individuais, Data de Publicação: DEJT 28/08/2015)

Bons estudos!

José Gervásio – Ex-Procurador do Estado do Goiás.


Ex-Procurador da Fazenda Nacional. Juiz do Trabalho.
Ministra as matérias de Direito do Trabalho, Direito Pro-
cessual do Trabalho e Direito Administrativo.

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DIREITO DO TRABALHO: PROFESSOR STEVÃO GANDH


Caros alunos,
Dando prosseguimento ao nosso estudo do Direito do Trabalho para a 2ª
fase…. vamos as dicas:

É OU NÃO POSSÍVEL CUMULAR O ADICIONAL DE INSALUBRIDADE E


PERICULOSIDADE

A regra insculpida na Consolidação das Leis do Trabalho – CLT é no sentido


de que havendo a constatação do local de trabalho como sendo insalubre e
perigoso segundo as normas do Ministério do Trabalho e Emprego – MTE, o tra-
balhador tem direito ao adicional, contudo deve optar por aquele adicional mais
vantajoso (art. 193, 2º, CLT).
Apesar de se estar tratando de adicionais decorrentes de fatos geradores
(arts. 189 e 193, CLT) e bem jurídicos tutelados diferentes (saúde do trabalhador
para a insalubridade e a integridade física/vida periculosidade), a norma consoli-
dada veda a acumulação dos dois adicionais.
Desse modo, em uma análise preliminar, caso indagado acerca da possibilida-
de de acumulação dos adicionais, segundo as normas da CLT, a resposta é única,
qual seja é vedado.
Entretanto, a doutrina que defende a acumulação dos adicionais e os jul-
gados da Sétima Turma do Tribunal Superior do Trabalho – TST (RR-1072-
72.2011.5.02.0384) que também adota esse posicionamento estão cada vez mais
ampliando seu espectro de aceitação e sendo mais convincentes no sentido de
enaltecer a não receptividade pela Constituição Federal de 1988 – CF/88 do dis-
positivo da CLT que veda a acumulação.
Dentre os fundamentos a amparar esse raciocínio está a ausência de vedação
expressa na CF/88 (art. 7º, XXIII) quanto à acumulação dos adicionais de insalu-
bridade, periculosidade e penosidade e como consequência chega-se à conclu-
são de que não houve receptividade do preceito da CLT neste particular.
O outro fundamento que complementa essa corrente é no sentido de que
as Convenções 148 (preconiza a necessidade de atualização constante da legis-
lação sobre as condições nocivas de trabalho) e 155 (estabelece que seja levado

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em consideração os riscos para a saúde decorrente da exposição simultânea a


diversas substancias ou agentes) da Organização Internacional do Trabalho – OIT
foram recepcionadas pelo ordenamento jurídico como normas materialmente
constitucionais ou, pelo menos, são consideradas normas supralegais, inclusive
esse foi o entendimento do Supremo Tribunal Federal – STF.
Ou seja, com os fundamentos dessa corrente doutrinária, dos posicionamen-
tos da citada Turma do TST e de outros Tribunais Regionais do Trabalho que os
endossam nos mesmos termos, pode-se afirmar que a norma da CLT e a Norma
Regulamentar do MTE foram superadas quanto à vedação da acumulação dos
adicionais de insalubridade e periculosidade.
Neste sentido, em uma reclamação trabalhista o advogado se valerá das Con-
venções da OIT para fundamentar a pretensão autoral e em uma contraposição, na
contestação, sustentará pela vedação à acumulação dos adicionais nos termos da
CLT, tudo em total observância aos interesses da parte que se defende em Juízo.
Portanto, em uma indagação subjetiva com remissão à CLT no enunciado
deve-se responder pela vedação da acumulação dos adicionais de insalubridade
e periculosidade e caso não haja qualquer remição à CLT deve-se demonstrar o
conhecimento com a citação à vedação e também fundamentar no sentido de
aplicar as Convenções da OIT que convergem para a acumulação dos adicionais,
informando, inclusive, que já existe julgado do TST neste sentido.
Bons estudos !!!!

Stevão Gandh – Advogado militante. Especialista em


Direito Público. Palestrante e Parecerista na área de di-
reito do trabalho, especialmente em cursos de preven-
ção de passivos trabalhista. Professor de Direito do
Centro Universitário do Distrito Federal – UDF na disci-
plina Direito Processual do Trabalho. Professor de Direi-
to da Faculdade Projeção – FAPRO na disciplina Direito
Processual do Trabalho e Direito do Trabalho. Professor
de Cursos Preparatórios para Concurso Público.

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DIREITO DO TRABALHO: PROFESSOR JOSÉ GERVÁSIO

AÇÃO DE CUMPRIMENTO

No Processo do Trabalho, cabe ao operador conhecer a ação de cumpri-


mento. Trata-se de uma ação de conhecimento que, inicialmente, visava impor o
cumprimento de uma obrigação definida na sentença normativa (esse é o nome
do acórdão proferido no dissídio coletivo).
Assim, havendo, por exemplo, um reajuste previsto na sentença normativa
prolatada pelo Tribunal Regional do Trabalho de Minas Gerais em um dissídio
coletivo entre o sindicato de trabalhadores e o sindicato de empresas, cabe aos
empregadores representados por aquele sindicato patronal promover a conces-
são de reajuste. Se não o fizerem, é possível o manejo de ação de cumprimento
para obrigá-los a tanto, além da condenação pelo período de descumprimento.
A previsão genérica encontra-se no art. 872, parágrafo único, da CLT:
Art. 872 – Celebrado o acordo, ou transitada em julgado a decisão, seguir-se-á
o seu cumprimento, sob as penas estabelecidas neste Título.
Parágrafo único – Quando os empregadores deixarem de satisfazer o paga-
mento de salários, na conformidade da decisão proferida, poderão os emprega-
dos ou seus sindicatos, independentes de outorga de poderes de seus associados,
juntando certidão de tal decisão, apresentar reclamação à Junta ou Juízo compe-
tente, observado o processo previsto no Capítulo II deste Título, sendo vedado,
porém, questionar sobre a matéria de fato e de direito já apreciada na decisão.
Essa ação de cumprimento pode ser coletiva (ajuizada pelo sindicato represen-
tando os trabalhadores, por exemplo) ou individual. Na prática, contudo, quando
a ação é individual, normalmente se vê o nome ação/reclamação trabalhista (ao
invés de constar expressamente ação de cumprimento), o que não configura erro
nenhum, já que se trata efetivamente de uma ação trabalhista.
A referida ação pode ser manejada a partir do vigésimo dia seguinte ao julgamen-
to do dissídio coletivo, conforme art. 7º, § 6º, da Lei n. 7.701/88: “A sentença normativa
poderá ser objeto de ação de cumprimento a partir do 20º (vigésimo) dia subseqüen-
te ao do julgamento, fundada no acórdão ou na certidão de julgamento, salvo se
concedido efeito suspensivo pelo Presidente do Tribunal Superior do Trabalho”.
Logo, não é necessário aguardar a sentença normativa transitar em julgado.

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Esse entendimento está consolidado na Súmula 246 do TST:


AÇÃO DE CUMPRIMENTO. TRÂNSITO EM JULGADO DA SENTENÇA NORMA-
TIVA (mantida) – Res. 121/2003, DJ 19, 20 e 21.11.2003
É dispensável o trânsito em julgado da sentença normativa para a propositura
da ação de cumprimento.
Uma vez estabelecido, no nosso exemplo, o direito a um reajuste ou a outro
direito/vantagem na sentença normativa, não há interesse do trabalhador em
ajuizar uma ação individual para reconhecer esse direito, visto que ele já está ex-
presso na decisão do dissídio coletivo.
Nesse caso, cabe uma ação de cumprimento do direito que já está assegura-
do, conforme OJ 188 da SDI-I do TST:
DECISÃO NORMATIVA QUE DEFERE DIREITOS. FALTA DE INTERESSE DE AGIR
PARA AÇÃO INDIVIDUAL (inserida em 08.11.2000)
Falta interesse de agir para a ação individual, singular ou plúrima, quando o
direito já foi reconhecido através de decisão normativa, cabendo, no caso, ação
de cumprimento.
Importante, ainda, lembrar que é possível o ajuizamento da ação de cumpri-
mento para se fazer cumprir a obrigação prevista em norma coletiva (convenção
coletiva ou acordo coletivo de trabalho). Portanto, essa ação de conhecimento
não serve apenas para a sentença normativa.
Esse raciocínio foi consolidado na Súmula 286 do TST:
SINDICATO. SUBSTITUIÇÃO PROCESSUAL. CONVENÇÃO E ACORDO COLETI-
VOS (mantida) – Res. 121/2003, DJ 19, 20 e 21.11.2003
A legitimidade do sindicato para propor ação de cumprimento estende-se
também à observância de acordo ou de convenção coletivos.
No que tange à prescrição, ressalte-se o teor da Súmula 350 do TST:
PRESCRIÇÃO. TERMO INICIAL. AÇÃO DE CUMPRIMENTO. SENTENÇA NOR-
MATIVA (mantida) – Res. 121/2003, DJ 19, 20 e 21.11.2003
O prazo de prescrição com relação à ação de cumprimento de decisão nor-
mativa flui apenas da data de seu trânsito em julgado.
Quanto à competência, registre-se que essa ação de cumprimento tramita
originariamente na Vara do Trabalho e de sua sentença cabe recurso ordinário.
Como se sabe, a ação de cumprimento da sentença normativa pode ser ajui-

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zada antes dessa sentença transitar em julgado e ainda que penda recurso. Su-
ponhamos que foi o dissídio coletivo julgado pelo TRT e dessa sentença normati-
va o sindicato patronal interponha recurso para o TST. Enquanto o recurso tramita
no TST, pode a ação de cumprimento estar em curso na Vara.
E, uma vez julgada a ação de cumprimento na Vara e tendo essa decisão
transitado em julgado condenando o empregador com base na obrigação des-
cumprida prevista na sentença normativa, deve-se ter um cuidado. Se o recurso
no TST for julgado e o dissídio coletivo for extinto sem resolução de mérito, não
haverá mais título (sentença normativa) e a execução da decisão da ação de cum-
primento deve ser extinta, pois o título (sentença normativa) no qual essa decisão
da ação de cumprimento se fundava não existe mais.
Nessa direção segue a inteligência da OJ 277 da SDI-I do TST:
AÇÃO DE CUMPRIMENTO FUNDADA EM DECISÃO NORMATIVA QUE SOFREU
POSTERIOR REFORMA, QUANDO JÁ TRANSITADA EM JULGADO A SENTENÇA
CONDENATÓRIA. COISA JULGADA. NÃO-CONFIGURAÇÃO (DJ 11.08.2003)
A coisa julgada produzida na ação de cumprimento é atípica, pois dependen-
te de condição resolutiva, ou seja, da não-modificação da decisão normativa por
eventual recurso. Assim, modificada a sentença normativa pelo TST, com a con-
seqüente extinção do processo, sem julgamento do mérito, deve-se extinguir a
execução em andamento, uma vez que a norma sobre a qual se apoiava o título
exeqüendo deixou de existir no mundo jurídico.
Bons estudos !!!!

José Gervásio – Ex-Procurador do Estado do Goiás.


Ex-Procurador da Fazenda Nacional. Juiz do Trabalho.
Ministra as matérias de Direito do Trabalho, Direito Pro-
cessual do Trabalho e Direito Administrativo.

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DIREITO DO TRABALHO: PROFESSOR LEANDRO ALENCAR

Caros alunos,
Hoje, rumo a 2ª fase da OAB faremos um estudo sobre demissão por justa
causa:

CESSAÇÃO DO CONTRATO DE EMPREGO – DEMISSÃO POR JUSTA


CAUSA.

Antes de tudo, é importante salientar que temos várias formas de cessação


do contrato de emprego, sendo que as principais são: dispensa sem justo moti-
vo, pedido de demissão, demissão por justa causa, cumprimento do contrato a
termo e rescisão indireta.
Todavia, nossa dica de hoje será voltada para a demissão por justa causa.
Importa esclarecer, inicialmente, que a demissão por justa causa é a forma
mais trágica de cessação do contrato de emprego, isto porque deriva de uma
falta grave cometida pelo empregado que impossibilita a continuidade da pres-
tação dos serviços. Além disso, as verbas rescisórias são afetadas de maneira
considerável, gerando grande prejuízo ao trabalhador.
Por esta razão que não se pode considerar como grave qualquer falta prati-
cada pelo empregado sob pena de violar o princípio da razoabilidade e propor-
cionalidade.
Ademais, tamanha é a proteção contra essa forma de cessação do contrato
de emprego que o empregador deverá, inclusive, respeitar alguns princípios es-
pecíficos aplicáveis à demissão por justa causa. Vejamos:
I – Legalidade ou reserva legal: a falta grave cometida pelo empregado de-
verá estar prevista em lei;
II – Nexo causal ou caráter determinante: a falta grave deverá ser o motivo
determinante da dispensa;

III – Proporcionalidade ou gravidade da falta: a falta deverá ser grave o sufi-

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ciente para ensejar a justa causa;


IV – Imediatidade ou imediaticidade: após tomar conhecimento da falta o
empregador deverá aplicar a punição de forma imediata;
V – Não ocorrência de perdão tácito ou expresso: o perdão do empregador
impossibilita a demissão por justa causa;
VI – Non bis in idem: o empregado não poderá ser punido duas vezes pela
mesma falta;
VII – Isonomia: a punição aplicada deverá ser a mesma para todos que co-
meteram a falta.

Ressalta-se que a inobservância desses princípios invalidará a demissão por


justa causa.
No mais, precisamos destacar o art. 482 da CLT que elenca as principais con-
dutas do empregado que dará ao empregador o direito de demiti-lo por justa
causa. Analisaremos cada uma delas:

a)Ato de improbidade: ato de desonestidade; ato que traz prejuízo material


ao empregador; quebra da confiança;
b)Incontinência de conduta: desregramento no comportamento sexual den-
tro da empresa: palavras, gestos ou atos. Ex: empregado “tarado”;
c)Mau procedimento: é um tipo aberto. Muito utilizado quando não é pos-
sível enquadrar a falta em outro tipo. Ex: vazamento de fotos íntimas com o
uniforme da empresa;
d) (1) Negociação habitual por conta própria ou alheia sem permissão do
empregador e (2) quando constituir ato de concorrência à empresa para a
qual trabalha o empregado, ou (3) for prejudicial ao serviço: podemos dividir
em três tipos: o primeiro diz respeito àquele empregado que toma à frente e
negocia em nome da empresa sem que tenha poderes para tanto; o segun-
do diz respeito àquele empregado que desvia clientes para a concorrência;
o terceiro diz respeito àquele empregado que exerce atividade dentro da
empresa que, embora não gere concorrência, causa prejuízo ao andamento
da empresa (ex: venda de bijuterias no horário de trabalho);
e) Condenação criminal, passada em julgado, caso não tenha havido sus-

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pensão da execução da pena: ou seja, o empregado só será demitido por


justa causa se houver contra ele uma sentença transitada em julgado e
o cumprimento da pena impossibilitar a continuidade da prestação dos
serviços;
f ) Desídia no desempenho das respectivas funções: é a soma de pequenas
faltas. Ex: diversos atrasos;
g) Embriaguez habitual ou em serviço: atualmente não há falar em demis-
são por justa causa em razão da embriaguez habitual, tendo em vista que
é considerada doença pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Sendo
assim, o empregado deverá ser encaminhado ao INSS. No que diz respeito à
embriaguez em serviço sequer precisa ser habitual, bastando uma única vez;
h) Violação de segredo da empresa: desde que seja um segredo relevante;
que cause prejuízo à empresa. Ex: divulgar a fórmula de um produto espe-
cífico;
i) Ato de indisciplina: descumprimento das normas gerais da empresa. Ex:
não bater o ponto;
j) Ato de insubordinação: descumprimento de normas específicas ao cargo
exercido;
l) Abandono de emprego: desde que preenchidos os elementos objetivo
(ausência por mais de 30 dias) e subjetivo (demonstrar a vontade do traba-
lhador de deixar o emprego);Ato lesivo da honra ou da boa fama praticado
no serviço contra qualquer pessoa, ou ofensas físicas, nas mesmas condi-
ções, salvo no caso de legitima defesa, própria ou de outrem: atente-se para
o fato de ser contra qualquer pessoa (cliente, colega de trabalho etc.) desde
que no serviço;
m) Ato lesivo da honra ou da boa fama ou ofensas físicas praticadas contra
o empregador e superiores hierárquicos, salvo em caso de legitima defesa,
própria ou de outrem: atenção para a desnecessidade de ser em serviço;
n) Prática constante de jogo de azar: desde que seja em serviço ou, ainda
que fora dele, venha a prejudicar o rendimento do trabalhador na empresa.

Por fim, vale registrar o tamanho do prejuízo sofrido pelo trabalhador. Em ra-

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zão de uma demissão por justa causa o empregado fará jus apenas ao saldo de
salário e férias vencidas.
Bons estudos, pessoal!

Leandro Alencar – Graduado em Direito, especialista


em Direito e Processo do Trabalho pelo Instituto Brasi-
liense de Direito Público – IDP, com atualização em Di-
reito e Processo do Trabalho em cursos livres; Professor
do curso Prática Trabalhista, Pesquisador em diversos
temas do Direito do Trabalho, inclusive trabalho infan-
til, discriminação no ambiente de trabalho e precariza-
ção da relação empregatícia.

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DIREITO DO TRABALHO: PROFESSOR JOSÉ GERVÁSIO

PRESCRIÇÃO

No Direito do Trabalho, revela-se extremamente importante compreender o


fenômeno da prescrição.
Prescrição envolve uma inexigibilidade de uma pretensão ou, em última aná-
lise, do próprio direito material. Percebe-se que não se trata de perda do direito
material, o qual continua existindo. Tanto é verdade que nada impede que o cre-
dor de uma parcela prescrita receba do devedor. O que não é possível ao credor
é exigir a parcela prescrita do devedor.
A regra geral de prescrição encontra-se no art. 7º, XXIX, da Constituição Fe-
deral: “ação, quanto aos créditos resultantes das relações de trabalho, com prazo
prescricional de cinco anos para os trabalhadores urbanos e rurais, até o limite de
dois anos após a extinção do contrato de trabalho”.
Como se sabe, a prescrição pode ser interrompida ou suspensa. Quando tra-
tamos de causas interruptivas da prescrição, consideramos que sua ocorrência
paralisa definitivamente a contagem, a qual recomeça do zero. E a prescrição
apenas pode ser interrompida uma única vez, conforme se constata no art. 202,
caput, do Código Civil.
Nesse ponto vale a pensa transcrever o art. 202 do estatuto civil:

Art. 202. A interrupção da prescrição, que somente poderá ocorrer uma vez,
dar-se-á:
I – por despacho do juiz, mesmo incompetente, que ordenar a citação, se o
interessado a promover no prazo e na forma da lei processual;
II – por protesto, nas condições do inciso antecedente;
III – por protesto cambial;
IV – pela apresentação do título de crédito em juízo de inventário ou em
concurso de credores;
V – por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor;
VI – por qualquer ato inequívoco, ainda que extrajudicial, que importe reco-

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nhecimento do direito pelo devedor.


Parágrafo único. A prescrição interrompida recomeça a correr da data do
ato que a interrompeu, ou do último ato do processo para a interromper.

Esse preceito deve ser visto com adaptações no âmbito trabalhista. A título de
exemplo, veja o inciso I. Não há no Processo do Trabalho, como regra, despacho
do juiz para ordenar citação, uma vez que o encaminhamento da citação/noti-
ficação já é feito pelo diretor de secretaria, conforme art. 841 da CLT (embora o
preceito mencione “escrivão” ou “chefe de secretaria”).
Assim, é a propositura da ação que promove a interrupção da ação trabalhis-
ta, conforme o Tribunal Superior do Trabalho já decidiu:

RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO PELA RECLAMADA ARQUIVAMENTO


DA RECLAMAÇÃO TRABALHISTA. INTERRUPÇÃO DA PRESCRIÇÃO QUIN-
QUENAL. PRAZO. MARCO INICIAL DA CONTAGEM. No processo do traba-
lho, o simples ajuizamento da ação é suficiente para provocar a interrupção
da prescrição (Súmula 268 desta Corte). Não se faz aqui qualquer distinção
entre a prescrição bienal e a quinquenal; ajuizada a reclamação trabalhista,
ocorre a interrupção da prescrição (bienal e quinquenal). Portanto, o marco
inicial da contagem da prescrição quinquenal é a data do ajuizamento da
primeira ação. Precedentes desta Corte. (…)
(RR – 1002-46.2010.5.09.0594 , Relator Ministro: João Batista Brito Perei-
ra, Data de Julgamento: 17/08/2016, 5ª Turma, Data de Publicação: DEJT
19/08/2016)

Todavia, mister se faz lembrar que a interrupção apenas ocorre em relação a


pedidos idênticos, na forma da Súmula 268 do TST:
PRESCRIÇÃO. INTERRUPÇÃO. AÇÃO TRABALHISTA ARQUIVADA (nova reda-
ção) – Res. 121/2003, DJ 19, 20 e 21.11.2003 A ação trabalhista, ainda que arquiva-
da, interrompe a prescrição somente em relação aos pedidos idênticos.

Logo, se for ajuizada uma ação no dentro do prazo de dois anos (contados

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da extinção do contrato) pedindo horas extras e adicional de insalubridade, a


prescrição somente foi interrompida para essas duas parcelas e não para outras
a que o trabalhador entende ter direito. Para as demais parcelas (não pleiteadas)
a contagem da prescrição não parou.
Além disso, é possível que o protesto judicial (art. 202, II, CC) interrompa a
prescrição. Protesto é uma medida cautelar que permite a preservação de um
direito ou previne uma responsabilidade. Atualmente está prevista no art. 726, §
2º, do CPC e é extremamente utilizada para interromper a prescrição.
O próprio TST admite sua plena aplicabilidade na OJ 392 da SDI-I do TST:
PRESCRIÇÃO. INTERRUPÇÃO. AJUIZAMENTO DE PROTESTO JUDICIAL. MAR-
CO INICIAL (atualizada em decorrência do CPC de 2015) (republicada em razão
de erro material) – Res. 209/2016, DEJT divulgado em 01, 02 e 03.06.2016
O protesto judicial é medida aplicável no processo do trabalho, por força do art.
769 da CLT e do art. 15 do CPC de 2015. O ajuizamento da ação, por si só, interrompe
o prazo prescricional, em razão da inaplicabilidade do § 2º do art. 240 do CPC de 2015
(§ 2º do art. 219 do CPC de 1973), incompatível com o disposto no art. 841 da CLT.
Na ação de protesto, não existe defesa. Ocorre a simples notificação da parte
contrária. O juiz sequer se manifesta sobre a existência do direito alegado pelo
autor do protesto. O direito em si poderá ser debatido na futura ação trabalhista
a ser ajuizada.
Bons estudos !!!

José Gervásio – Ex-Procurador do Estado do Goiás.


Ex-Procurador da Fazenda Nacional. Juiz do Trabalho.
Ministra as matérias de Direito do Trabalho, Direito Pro-
cessual do Trabalho e Direito Administrativo.

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DIREITO DO TRABALHO: PROFESSOR HUGO SOUSA

PRESSUPOSTOS RECURSAIS

Na dica de hoje minha preocupação se volta para admissibilidade/inadmissi-


bilidade dos recursos, seja pelas regras já em vigor, seja segundo as novas altera-
ções de entendimentos advindas do CPC.
Tempestividade: Aqui a questão remete inicialmente à contagem dos prazos,
que, nos termos da IN 39 do TST, art. 2º, III, será feita em dias corridos, com ex-
clusão do dia do começo e inclusão do dia do fim, não iniciando nem finando em
dia em que não haja expediente forense.
Ainda em relação ao prazo, lembrar que se houver feriado local o ônus de
provar sua existência é de quem alega, e que no caso de litisconsórcio passivo
com diferentes procuradores, não há de falar em prazo dobrado. No feriado local
a questão pode ser analisada de forma superveniente no agravo, em ED ou em
agravo regimental.
Passada a análise quanto à tempestividade, há a questão do preparo. Antes
do novo CPC, diferença ínfima nas custas gerava deserção, agora é necessário
intimar para corrigir o erro, só então acarreta deserção se não sanado o vício,
por outro lado, esse entendimento ano se aplica ao depósito recursal, se faltar
diferença ínfima gera deserção.
Finalmente, em relação à regularidade de representação, não acreditamos
que venha nessa prova, pois a mudança é muito recente, mas o TST se posicio-
nou no sentido de que se houver vício na representação processual, somente
após intimação para corrigir é que se pode falar em não conhecimento do apelo,
nesse sentido a nova redação da súmula 383, mas observe que somente é
possível sanar o vício se o instrumento já consta dos autos. Recorrer sem
procuração somente se o recorrente a apresentar em 05 dias prorrogá-
veis por mais 05.

O mesmo debate está tanto na súmula 383, como na súmula 395 do

500 grancursosonline.com.br
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TST, mas em contextos diferentes, mas atentem para esse fato, corrigir a
representação processual em fase recursal é possível, mas só se o man-
dato já está no processo, se não tiver, o advogado deve recorrer e apre-
sentar o instrumento em 05 dias, não sendo possível exigir do relator
que abra o prazo para correção no sentido de juntar a procuração que
não existia na fase da admissibilidade do apelo.
Boa sorte a todos!

[1] [1]Súmula n. 262 do TST PRAZO JUDICIAL. NOTIFICAÇÃO OU INTIMAÇÃO


EM SÁBADO. RECESSO FORENSE. (redação do item II alterada na sessão do Tri-
bunal Pleno realizada em 19.05.2014) – Res. 194/2014, DEJT divulgado em 21, 22
e 23.05.2014 I – Intimada ou notificada a parte no sábado, o início do prazo se
dará no primeiro dia útil imediato e a contagem, no subsequente. (ex-Súmula n.
262 – Res. 10/1986, DJ 31.10.1986) II – O recesso forense e as férias coletivas dos
Ministros do Tribunal Superior do Trabalho suspendem os prazos recursais. (ex-OJ
n. 209 da SBDI-1 -inserida em 08.11.2000)
Súmula n. 385 do TST – FERIADO LOCAL. AUSÊNCIA DE EXPEDIENTE FO-
RENSE. PRAZO RECURSAL. PRORROGAÇÃO. COMPROVAÇÃO. NECESSIDADE
ATO ADMINISTRATIVO DO JUÍZO “A QUO” (redação alterada na sessão do Tribu-
nal Pleno realizada em 14.09.2012) – Res. 185/2012, DEJT divulgado em 25, 26 e
27.09.2012
I – Incumbe à parte o ônus de provar, quando da interposição do recurso, a
existência de feriado local que autorize a prorrogação do prazo recursal.
II – Na hipótese de feriado forense, incumbirá à autoridade que proferir a de-
cisão de admissibilidade certificar o expediente nos autos.
III – Na hipótese do inciso II, admite-se a reconsideração da análise da tem-
pestividade do recurso, mediante prova documental superveniente, em Agravo
Regimental, Agravo de Instrumento ou Embargos de Declaração

OJ 310 SBDI-1 – LITISCONSORTES. PROCURADORES DISTINTOS. PRAZO EM

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DOBRO. ART. 229, CAPUT E §§ 1º E 2º, DO CPC DE 2015. ART. 191 DO CPC DE
1973. INAPLICÁVEL AO PROCESSO DO TRABALHO (atualizada em decorrência
do CPC de 2015) – Res. 208/2016, DEJT divulgado em 22, 25 e 26.04.2016
Inaplicável ao processo do trabalho a norma contida no art. 229, caput e §§ 1º
e 2º, do CPC de 2015 (art. 191 do CPC de 1973), em razão de incompatibilidade
com a celeridade que lhe é inerente
IN 39 DO TST Art. 10. Aplicam-se ao Processo do Trabalho as normas do pa-
rágrafo único do art. 932 do CPC, §§ 1º a 4º do art. 938 e §§ 2º e 7º do art. 1007.
Parágrafo único. A insuficiência no valor do preparo do recurso, no Processo do
Trabalho, para os efeitos do § 2º do art. 1007 do CPC, concerne unicamente às
custas processuais, não ao depósito recursal.

Súmula n. 395 do TST


MANDATO E SUBSTABELECIMENTO. CONDIÇÕES DE VALIDADE (nova reda-
ção dos itens I e II e acrescido o item V em decorrência do CPC de 2015) – Res.
211/2016, DEJT divulgado em 24, 25 e 26.08.2016
I – Válido é o instrumento de mandato com prazo determinado que contém
cláusula estabelecendo a prevalência dos poderes para atuar até o final da de-
manda (§ 4º do art. 105 do CPC de 2015). (ex -OJ n. 312 da SBDI-1 – DJ 11.08.2003)
II – Se há previsão, no instrumento de mandato, de prazo para sua juntada, o
mandato só tem validade se anexado ao processo o respectivo instrumento no
aludido prazo. (ex-OJ n. 313 da SBDI-1 – DJ 11.08.2003)
III – São válidos os atos praticados pelo substabelecido, ainda que não haja,
no mandato, poderes expressos para substabelecer (art. 667, e parágrafos, do
Código Civil de 2002). (ex-OJ n. 108 da SBDI-1 – inserida em 01.10.1997)
IV – Configura-se a irregularidade de representação se o substabelecimento
é anterior à outorga passada ao substabelecente. (ex-OJ n. 330 da SBDI-1 – DJ
09.12.2003)
V – Verificada a irregularidade de representação nas hipóteses dos itens II e IV,
deve o juiz suspender o processo e designar prazo razoável para que seja sanado
o vício, ainda que em instânciarecursal (art. 76 do CPC de 2015).
Súmula n. 383 do TST

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RECURSO. MANDATO. IRREGULARIDADE DE REPRESENTAÇÃO. CPC DE 2015,


ARTS. 104 E 76, § 2º (nova redação em decorrência do CPC de 2015) – Res.
210/2016, DEJT divulgado em 30.06.2016 e 01 e 04.07.2016
I – É inadmissível recurso firmado por advogado sem procuração juntada aos
autos até o momento da sua interposição, salvo mandato tácito. Em caráter ex-
cepcional (art. 104 do CPC de 2015), admite-se que o advogado, independen-
temente de intimação, exiba a procuração no prazo de 5 (cinco) dias após a
interposição do recurso, prorrogável por igual período mediante despacho do
juiz. Caso não a exiba, considera-se ineficaz o ato praticado e não se conhece do
recurso.
II – Verificada a irregularidade de representação da parte em fase recursal, em
procuração ou substabelecimento já constante dos autos, o relator ou o órgão
competente para julgamento do recurso designará prazo de 5 (cinco) dias para
que seja sanado o vício. Descumprida a determinação, o relator não conhecerá
do recurso, se a providência couber ao recorrente, ou determinará o desentra-
nhamento das contrarrazões, se a providência couber ao recorrido (art. 76, § 2º,
do CPC de 2015).

Hugo Sousa é advogado e professor de Direito e Pro-


cesso do Trabalho há mais de 15 anos no DF. Professor
de Cursos Preparatórios para Concurso.

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DIREITO DO TRABALHO: PROFESSOR STEVÃO GANDH

NÃO SE ESQUEÇA DE MIM: INTERVALO INTERJORNADA

O intervalo interjornada é o tempo de descanso concedido ao empregado


entre o final da jornada de trabalho de um dia e o início da outra jornada. A Con-
solidação das Leis do Trabalho – CLT, no seu art. 66, prevê um intervalo mínimo
de 11 (onze) horas consecutivas.
Este intervalo é de pleno conhecimento dos operadores do Direito, contudo
na situação prática ou na elaboração de uma inicial trabalhista muitas vezes passa
despercebido.
Quando se relata, por exemplo, que a jornada de trabalho contratada era de
40h/semana e que a jornada diária era das 8h às 19h com duas horas de interva-
lo para alimentação e descanso de segunda a sexta-feira, exceto na quarta-feira
em que o empregado se ativa das 15h às 23h com uma hora de intervalo para
alimentação, normalmente o operador do Direito já busca averiguar eventual
irregularidade na jornada diária (horas extras), período noturno e se o intervalo
intrajornada mínimo foi respeitado, ou seja, na maioria das vezes não se atenta
para o intervalo interjornada.
A análise acerca do respeito às 11h consecutivas do intervalo interjornada é
regra obrigatória e norma de ordem pública (higiene e medicina do trabalho) que
não pode ser desconsiderada quer pelo advogado atuante que ao esquecê-lo
prejudica o interesse do cliente ou pelo candidato à prova de concurso ou exame
de ordem, afinal se não percebido e prenotado na reclamação trabalhista não
haverá o ganho da pontuação por desconhecimento.
No exemplo acima em que o empregado laborava toda quarta-feira das 15h
às 23h e nos demais dias iniciava às 8h, constata-se facilmente o desrespeito ao
intervalo interjornada mínimo de 11h consecutivas, pois do término da jornada na
quarta-feira, às 23h, até o início da jornada na quinta-feira, 8h, deveria ter sido
respeitado o intervalo de 11h consecutivas e que na ocasião somente contabilizou
9h de intervalo.
A consequência pela não observância das 11h do intervalo é justamente a

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obrigação do empregador efetuar o pagamento, no caso em tela, de 2h acres-


cidas do adicional legal de 50% pela não concessão do intervalo interjornada
(aplicação por analogia aos efeitos do contido no art. 71, §4º,CLT).
Perceba que não se está impondo obrigação ao empregador para que efetue
o pagamento de 2h por labor extraordinário e sim pela não concessão do inter-
valo interjornada de 11h consecutivas que, diga-se de passagem, se habitual, ain-
da repercute nas rubricas trabalhistas de estilo (13º salário, férias +1/3, FGTS etc).
Eis o contido na orientação jurisprudencial do Tribunal Superior do Trabalho –
TST, in verbis:

OJ 355 da SDI-1 do TST


INTERVALO INTERJORNADAS. INOBSERVÂNCIA. HORAS EXTRAS. PERÍODO
PAGO COMO SOBREJORNADA. ART. 66 DA CLT. APLICAÇÃO ANALÓGICA
DO § 4º DO ART. 71 DA CLT O desrespeito ao intervalo mínimo interjornadas
previsto no art. 66 da CLT acarreta, por analogia, os mesmos efeitos previs-
tos no § 4º do art. 71 da CLT e na Súmula n. 110 do TST, devendo-se pagar
a integralidade das horas que foram subtraídas do intervalo, acrescidas do
respectivo adicional.

Ainda nessa seara, no regime de revezamento, esclarece-se que esse inter-


valo é ainda mais esquecido quando o empregado inicia o gozo do seu repouso
semanal remunerado de 24h consecutivas, pois após esse ainda deve ser obser-
vado o intervalo interjornada de 11h consecutivas, isto é, são 35h de descanso.
A sua não observância, mais uma vez, enseja a aplicação analógica dos efeitos
pecuniários do contido no art. 71, §4º, da CLT. Neste sentido, cita-se o entendi-
mento sumulado do TST:

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Súmula n. 110 do TST


JORNADA DE TRABALHO. INTERVALO (mantida) – Res. 121/2003, DJ 19, 20 e
21.11.2003
No regime de revezamento, as horas trabalhadas em seguida ao repouso se-
manal de 24 horas, com prejuízo do intervalo mínimo de 11 horas consecutivas
para descanso entre jornadas, devem ser remuneradas como extraordinárias, in-
clusive com o respectivo adicional.
Depois dessas considerações, espera-se que o operador do Direito fique aler-
ta em relação à aplicação dos dispositivos citados e se habitue a incluir aludido
intervalo quando da análise da jornada de trabalho em uma situação demandada
da advocacia ou em provas de concursos e, principalmente, Exame de Ordem.
Bons estudos!!

Stevão Gandh – Advogado militante. Especialista em


Direito Público. Palestrante e Parecerista na área de di-
reito do trabalho, especialmente em cursos de preven-
ção de passivos trabalhista. Professor de Direito do
Centro Universitário do Distrito Federal – UDF na disci-
plina Direito Processual do Trabalho. Professor de Direi-
to da Faculdade Projeção – FAPRO na disciplina Direito
Processual do Trabalho e Direito do Trabalho. Professor
de Cursos Preparatórios para Concurso Público.

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DIREITO DO TRABALHO: PROFESSOR LEANDRO ALENCAR

JORNADA DE TRABALHO – TURNOS ININTERRUPTOS DE REVEZAMENTO

O art. 7º, XIV, da CF, é claro ao dispor que é direito do trabalhador a jornada
de seis horas para o trabalho realizado em turnos ininterruptos de revezamento,
salvo negociação coletiva.
Perceba que a jornada de trabalho será de 6 horas diárias. Todavia, comporta
exceção.
Isto porque a parte final do dispositivo utiliza a expressão “salvo negociação
coletiva”. Ou seja, havendo norma coletiva em sentido diverso, a jornada de tra-
balho poderá ser superior a 6 horas diárias.
Assim, torna imprescindível o teor da Súmula n. 423 do TST no sentido de que,
existindo norma coletiva, a jornada de trabalho será limitada a 8 horas diárias e,
portanto, o trabalhador não terá direito a 7ª e 8ª horas como extraordinárias.
Esta jornada especial visa compensar a irregularidade do relógio biológico
do trabalhador, tendo em vista o grande prejuízo sofrido em razão do labor em
turnos distintos.
Ressalta-se, portanto, que é requisito obrigatório a prestação de serviços em
turnos distintos. Se assim não for, não há falar em turno ininterrupto de reveza-
mento e, por consequência, em jornada especial.
Importa destacar, ainda, que o trabalhador nesta condição terá direito ao
adicional noturno e hora noturna reduzida, nos termos do art. 73, caput e §1º, da
CLT. Claro, quando o trabalho for prestado no período noturno.

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COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

Por fim, a Súmula n. 360 do TST dispõe que o fato do trabalhador interromper
seu labor em razão de repouso e alimentação diário e/ou descanso semanal não
descaracteriza o regime de revezamento com jornada de 6 horas.
Bons estudos!

Leandro Alencar – Graduado em Direito, especialista


em Direito e Processo do Trabalho pelo Instituto Brasi-
liense de Direito Público – IDP, com atualização em Di-
reito e Processo do Trabalho em cursos livres; Profes-
sor do curso Prática Trabalhista, Pesquisador em
diversos temas do Direito do Trabalho, inclusive traba-
lho infantil, discriminação no ambiente de trabalho e
precarização da relação empregatícia.

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DIREITO DO TRABALHO: PROFESSOR HUGO SOUSA

Queridos alunos
O tema que abordaremos hoje engloba duas matérias relevantes, quais sejam:
a) adicional de periculosidade; b) prova pericial e distribuição do ônus da
prova.
Pois bem, em matéria de adicional de periculosidade e insalubridade, o ônus
da prova inicialmente é do empregado, ou seja, é sua a incumbência de compro-
var que o ambiente é nocivo, e que, pois, faz jus ao adicional respectivo.
A prova, ordinariamente, se faz mediante perícia, nos termos do art. 195 § 2º
da CLT.
Todavia, o TST modificou o seu posicionamento para dispensar a prova peri-
cial quando a nocividade do ambiente é fato incontroverso, caracterizado pelo
pagamento espontâneo em determinado período do contrato de trabalho.
Em situações como essa, é dispensada a prova pericial, sendo que o emprega-
dor somente se exime se comprovar que houve modificação da situação anterior,
que dizer, o ônus da prova se inverte, em razão da distribuição dinâmica desse
ônus que oscila entre autor e réu conforme haja arguição de fato constitutivo,
impeditivo ou modificativo do direito em discussão.
A questão veio tratada na súmula 453 do TST.
Ao, em que pese não ser o assunto, encerramos lembrando que os honorá-
rios periciais ficam a cargo da parte sucumbente no pedido objeto da perícia, sal-
vo se beneficiário da justiça gratuita, nos termos da súmula 457 do TST, situação
em que o encargo deve ser suportado pela União.

Súmula n. 453 do TST ADICIONAL DE PERICULOSIDADE. PAGA-


MENTO ESPONTÂNEO. CARACTERIZAÇÃO DE FATO INCONTROVER-
SO. DESNECESSÁRIA A PERÍCIA DE QUE TRATA O ART. 195 DA CLT.
(conversão da Orientação Jurisprudencial n. 406 da SBDI-1) – Res.
194/2014, DEJT divulgado em 21, 22 e 23.05.2014

O pagamento de adicional de periculosidade efetuado por mera li-

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beralidade da empresa, ainda que de forma proporcional ao tempo


de exposição ao risco ou em percentual inferior ao máximo legal-
mente previsto, dispensa a realização da prova técnica exigida pelo
art. 195 da CLT, pois torna incontroversa a existência do trabalho em
condições perigosas.
Súmula n. 457 do TST HONORÁRIOS PERICIAIS. BENEFICIÁRIO DA
JUSTIÇA GRATUITA. RESPONSABILIDADE DA UNIÃO PELO PAGA-
MENTO. RESOLUÇÃO N. 66/2010 DO CSJT. OBSERVÂNCIA. (conver-
são da Orientação Jurisprudencial n. 387 da SBDI-1 com nova reda-
ção) – Res. 194/2014, DEJT divulgado em 21, 22 e 23.05.2014A União
é responsável pelo pagamento dos honorários de perito quando a
parte sucumbente no objeto da perícia for beneficiária da assistên-
cia judiciária gratuita, observado o procedimento disposto nos arts.
1º, 2º e 5º da Resolução n.º 66/2010 do Conselho Superior da Justiça
do Trabalho – CSJT.

Bons estudos!

Hugo Sousa é advogado e professor de Direito e


Processo do Trabalho há mais de 15 anos no DF. Pro-
fessor de Cursos Preparatórios para Concurso.

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DIREITO DO TRABALHO: PROFESSOR STEVÃO GANDH

A ULTRATIVIDADE DA DAS CLÁUSULAS DAS NORMAS COLETIVAS:


TEORIA DA ADERÊNCIA LIMITADA POR REVOGAÇÃO

Por muitos anos se discutiu na doutrina qual seria os limites da aplicabilidade


das normas coletivas, ou seja, se as suas cláusulas integrariam ao contrato de tra-
balho dos empregados irrestritamente (aderência irrestrita), se integrariam pelo
prazo de vigência da convenção ou acordo coletivo de trabalho (aderência limi-
tada pelo prazo) ou se a aplicação das cláusulas perdurariam até que outra nor-
ma coletiva revogasse a existente (teoria da aderência limitada por revogação).
O Tribunal Superior do Trabalho, assim como uma parte considerável da dou-
trina, firmou o posicionamento no sentido de considerar que as cláusulas das
normas coletivas adeririam aos contratos individuais de trabalho somente duran-
te o seu prazo de vigência (máximo de 2 anos, art. 614, §3º da CLT).
Entretanto, apesar de à época ser um entendimento sumulado, o TST que-
dava-se em autorizar a aplicação de determinadas cláusulas da norma coletiva
mesmo após a sua vigência (ex: na manutenção da estabilidade conferida pela
norma), isto é, adotava explicitamente a teoria da aderência limitada pelo prazo
e ao mesmo tempo relativizava o posicionamento para continuar aplicando a
norma após o termo da sua vigência (princípio da ultratividade da norma).
Importante esclarecer que a categoria deveria estar atenta à vigência da nor-
ma para que ao seu término já tivessem outra para substituí-la, sob pena do tra-
balhador ficar desamparado quanto às proteções previstas nas normas coletivas.
Para melhor esclarecer, suponhamos que a norma coletiva previa 85% a título
de adicional de hora extra, que era o seu último dia de vigência e que naquele
dia o empregado havia laborado extraordinariamente, então ser-lhe-ia aplicado
o adicional 85%, contudo se laborasse no dia seguinte, após a vigência da norma
coletiva, o adicional seria automaticamente o legal, qual seja 50%.

As cláusulas somente eram aplicadas enquanto a norma estava vigente.

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Foi sob o prisma da possibilidade real de desassistência do trabalhador de


determinada categoria em decorrência de não se ter prontamente outra norma
coletiva para substituir aquela que perdeu a sua vigência pelo decurso do tempo
e somado ao princípio da proteção e, principalmente, da ultratividade normativa,
que o TST transmudou o seu posicionamento e passou a adotar a teoria da ade-
rência limita por revogação ou aderência por revogação.
Referida teoria foi pontual e expressou a máxima do princípio da ultratividade,
pois ficou assente que as cláusulas das normas coletivas serão aplicadas até que
venha outra norma coletiva para revogá-las, ainda que o seu prazo de vigência
tenha se escoado.

Neste sentido, cita-se:

Súmula n. 277 do TST


CONVENÇÃO COLETIVA DE TRABALHO OU ACORDO COLETIVO DE
TRABALHO. EFICÁCIA. ULTRATIVIDADE (redação alterada na sessão
do Tribunal Pleno realizada em 14.09.2012) – Res. 185/2012, DEJT
divulgado em 25, 26 e 27.09.2012

As cláusulas normativas dos acordos coletivos ou convenções coletivas inte-


gram os contratos individuais de trabalho e somente poderão ser modificadas ou
suprimidas mediante negociação coletiva de trabalho.
Depois da alteração do entendimento realizada no ano de 2012 a exigência
de atenção passou a ser redobrada, especialmente quando existir somente uma
única norma coletiva cujo prazo de vigência já findou, pois na ocasião as cláusulas
da aludida norma continuam sendo aplicadas ao contrato de trabalho por terem
aderido/integrado o mesmo.

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Desse modo, não se deve ficar detido somente ao prazo de vigência estabe-
lecido na norma ou no enfoque referendado pelo prazo de vigência trazido na
situação problema, mas, sim, se as cláusulas da norma integraram ao contrato de
trabalho do empregado (aderência por revogação) e, conseguintemente, conti-
nuam a ser aplicadas (ultratividade).
Bons estudos!!!

Stevão Gandh – Advogado militante. Especialista em


Direito Público. Palestrante e Parecerista na área de di-
reito do trabalho, especialmente em cursos de preven-
ção de passivos trabalhista. Professor de Direito do
Centro Universitário do Distrito Federal – UDF na disci-
plina Direito Processual do Trabalho. Professor de Direi-
to da Faculdade Projeção – FAPRO na disciplina Direito
Processual do Trabalho e Direito do Trabalho. Professor
de Cursos Preparatórios para Concurso Público.

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DIREITO DO TRABALHO: PROFESSOR LEANDRO ALENCAR

GRUPO ECONÔMICO

Primeiramente, precisamos deixar claro que grupo econômico é mais um ins-


tituto do direito laboral que surge em razão da necessidade de se garantir o
adimplemento dos créditos trabalhistas. Ou seja, é outra forma criada pelo legis-
lador com o intuito de assegurar o cumprimento das obrigações por parte do
empregador.
A previsão legal deste instituto encontra-se no art. 2º, §2º, da CLT. Dispõe o
dispositivo que:

§2º – Sempre que uma ou mais empresas, tendo, embora, cada uma delas,
personalidade jurídica própria, estiverem sob a direção, controle ou adminis-
tração de outra, constituindo grupo industrial, comercial ou de qualquer outra
atividade econômica, serão, para os efeitos da relação de emprego, solidaria-
mente responsáveis a empresa principal e cada uma das subordinadas.

Pela leitura, podemos perceber que só há falar na existência de grupo econô-


mico quando restar demonstrado o poder de direção, controle ou administração
de uma empresa sobre outra(s). Por esta razão, afirmamos que o legislador ado-
tou a vertente do “nexo de coordenação hierárquico”.
Isto quer dizer que a mera existência de sócios em comum e de relação de
coordenação entre as empresas não são suficientes para configurar grupo econô-
mico, sendo necessária a demonstração da relação hierárquica entre elas. Nesse
sentido é a posição majoritária do TST.
Digo posição majoritária, tendo em vista que ainda persiste no TST uma cor-
rente minoritária que defende a tese de que a mera administração comum (sócio
em comum) ou conjunção de esforços para o desenvolvimento do sistema pro-
dutivo já seria suficiente para caracterizar grupo econômico. Esta corrente adota
a vertente do “nexo de coordenação interempresarial”. Todavia, ressalta-se, é po-
sição minoritária.
Importa lembrar que, uma vez reconhecido o grupo econômico, a responsa-

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bilidade será solidária. Ou seja, o trabalhador poderá exigir o cumprimento dos


seus créditos trabalhistas de uma ou de todas as empresas do grupo.
Ainda quanto à responsabilidade solidária, merece destaque o teor da Súmula
n. 129 do TST ao dispor que a prestação de serviços a mais de uma empresa do
mesmo grupo econômico, durante a mesma jornada de trabalho, não caracteriza
a coexistência de mais de um contrato de trabalho, salvo ajuste em contrário.
Sendo assim, é plenamente correto afirmar que a responsabilidade solidária
entre as empresas integrantes do grupo econômico é ativa e passiva (dual). Isto
porque todas elas poderão exigir a prestação de serviços em seu favor (ativa),
mas, também, todas elas serão responsáveis pela quitação dos créditos trabalhis-
tas do empregado (passiva).
Além disso, de acordo com a súmula destacada, havendo a prestação de serviços
para mais de uma empresa do grupo econômico, no mesmo horário de trabalho,
por si só, não gera a existência de mais de um vínculo de emprego, SALVO se ficar
ajustado entre as partes em sentido diverso. Esta é a tese do “empregador único”
Por fim, vale ressaltar que não é possível exigir a equiparação salarial entre
empregados de empresas distintas integrantes do mesmo grupo. Da mesma for-
ma, não é possível a extensão de vantagens instituídas por norma interna de de-
terminada empresa aos empregados de outra pertencente ao grupo econômico.
Bons estudos

Leandro Alencar – Graduado em Direito, especialista


em Direito e Processo do Trabalho pelo Instituto Brasi-
liense de Direito Público – IDP, com atualização em Di-
reito e Processo do Trabalho em cursos livres; Professor
do curso Prática Trabalhista, Pesquisador em diversos
temas do Direito do Trabalho, inclusive trabalho infan-
til, discriminação no ambiente de trabalho e precariza-
ção da relação empregatícia.

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DIREITO DO TRABALHO: PROFESSOR HUGO SOUSA

REQUISITOS DE VALIDADE DA DISPENSA POR JUSTA CAUSA

Matéria sempre frequentadora das provas de Direito do Trabalho e de Direito


Processual do Trabalho é a dispensa por justa causa.
Não iremos abordar aqui as hipóteses em si da justa causa, mas apenas seus
requisitos objetivos, quais sejam: a) tipicidade; b) imediaticidade; c) proporciona-
lidade.
Há situações em que mesmo diante da existência de uma falta grave, a justa
causa não se confirma perante o Judiciário em face da ausência de um desses
requisitos.
Tipicidade se traduz na previsão legal da falta cometida, ou seja, as hipóteses
do art. 482 da CLT, de maneira que não é possível “criar” hipótese de justa causa,
por exemplo, em contrato de trabalho.
Nesse particular, é importante deixar claro que o empregador deve informar
os motivos da dispensa por justa causa, mas não é necessário capitular em qual
alínea do art. 482 a situação se encaixa, basta que o empregado conheça o mo-
tivo de seu despedimento. O Precedente Normativo 47 do TST nos informa a
respeito.
Por outro lado, há o requisito imediatidade, ou imediaticidade, segundo o
qual a punição deverá ocorrer dentro de um tempo razoável, que a lei não define,
para que não reste caracterizado o perdão tácito.
Cada caso concreto irá indicar essa razoabilidade, mas o examinador terá de
ser claro em relação ao ponto, para que não haja divergência de gabaritos.
Importante é que não seja a conduta do empregador incompatível com aque-
la de quem pretende o rompimento do pacto. Por exemplo, o empregado é fla-
grado dia 30 do mês furtando o empreendimento, e no dia 1º do mês seguinte,
ciente dos fatos, o empregador paga ao empregado todo o salário, não desconta
e ainda dá um bônus por ser funcionário do mês. Trata-se de conduta flagrante-
mente incompatível com aquela de quem pretende aplicar as punições.
Finalmente há o critério da proporcionalidade.

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É verdade que o Judiciário não pode adentrar em questões interna corporis,


e dizer qual a forma de punição ou nível de punição adequado, mas atua ele na
legalidade, no sentido de que será analisada se a conduta realmente se caracteri-
za, se encaixa na descrição legal da falta, e, à partir daí, definir que a punição foi
desproporcional.
Exemplo recente disso saiu nas “noticias do TST”, onde um advogado de um
Banco foi “absolvido” da justa causa pelo critério da proporcionalidade mesmo
tendo cometido diversos deslizes processuais em sua atuação profissional.
Isso se deve ao fato de que há condutas que demandam uma gradação natu-
ral na pena, como o caso da desídia, onde há situações que, para se caracterizar
desídia, devem ter sido antecedidas de um chamado ao empregado concedendo
a chance de readequar seu comportamento. Não se quer dizer com isso que se
tem de advertir e suspender, como se fossem níveis obrigatórios de penalidade,
mas deve ficar claro que as condutas anteriores do empregado, estavam sen-
do avaliadas e foram reprovadas, e que sempre foi oportunizado ao obreiro a
chance de corrigir sua atuação, e que, uma vez não corrigido, a solução será o
rompimento por justa causa.
Tipicidade, proporcionalidade e imediaticidade, são os requisitos na justa cau-
sa, ainda que se registre variações doutrinárias, essa designação é a mais usual.
Boa sorte a todos

[i] (Qui, 25 Ago 2016 07:49:00)


A Primeira Turma do Tribunal Superior do Trabalho rejeitou agravo do Banco
Bradesco S/A contra decisão que reverteu a justa causa aplicada a um advoga-
do com fundamento na desídia no desempenho das funções. No caso, ficou de-
monstrado que o banco não aplicou nenhuma penalidade em relação às falhas
processuais cometidas anteriormente pelo advogado, presumindo-se o perdão
tácito, afastando-se o requisito da imediatidade quanto à última falha, pois a
demissão ocorreu quase um mês após a ciência do fato pelo advogado.

O advogado, que exercia a função de assistente jurídico, disse que o banco

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não explicou as razões da rescisão do contrato de trabalho por justa causa,


mencionando no comunicado de dispensa apenas o artigo 482 da CLT, sem
apontar a alínea. Essa atitude, argumentou, viola o Precedente Normativo 47
do TST, que exige que o empregado demitido seja informado, por escrito, dos
motivos da dispensa, e levantou suspeitas de colegas e clientes de que teria
praticado ato desonesto.
O Bradesco alegou que o advogado soube no ato da dispensa que o motivo
foi o cometimento de reiteradas falhas processuais, que acarretaram prejuízos
de R$ 1 milhão, e que foram oferecidas diversas chances de rever sua rotina
de trabalho para evitar novas falhas, como forma de advertência. A última foi
a perda do prazo para a interposição de um recurso por falta de juntada da
procuração. Segundo o banco, foi enviado e-mail ao gerente do jurídico comu-
nicando o ocorrido ao autor, depois de publicado o acórdão que considerou o
recurso intempestivo. Dois dias depois, ele foi dispensado por desídia (artigo
482, alínea “e”, da CLT).
O juízo da 12ª Vara do Trabalho de Goiânia (GO) reconheceu a conduta de-
sidiosa e a quebra da fidúcia do empregador quanto ao desempenho satisfató-
rio do advogado nas tarefas relativas ao cargo, e julgou improcedente o pedido
de conversão da dispensa por justa causa em imotivada. O Tribunal Regional do
Trabalho da 18ª Região (GO), porém, ainda que reconhecendo as falhas come-
tidas, considerou desproporcional a justa causa ao constatar que o banco não
aplicou nenhuma penalidade pelas falhas anteriores. Diante disso, reformou a
sentença para condenar o Bradesco a pagar as verbas rescisórias.

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A decisão foi mantida no TST. O relator, ministro Hugo Carlos Scheuermann,


assinalou que as falhas processuais não autorizavam a dispensa motivada, so-
bretudo porque o próprio banco afirmou que o advogado foi promovido um
ano antes da dispensa de caixa a assistente jurídico e, quatro meses antes, a
Advogado I, quando já havia cometido as falhas, reforçando a tese do perdão
tácito. Para o relator, diante desse contexto, não houve violação ao artigo 482,
alínea “e”, da CLT.
(Lourdes Côrtes/CF)
Processo: ARR-1114-92.2012.5.18.0012
PN N. 47 DISPENSA DE EMPREGADO (positivo)
O empregado despedido será informado, por escrito, dos motivos da dispensa.

Hugo Sousa é advogado e professor de Direito e


Processo do Trabalho há mais de 15 anos no DF. Pro-
fessor de Cursos Preparatórios para Concurso.

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DIREITO DO TRABALHO: PROFESSOR LEANDRO ALENCAR

DESCONTOS – LIMITAÇÕES

Inicialmente, vale destacar a importância do tema tratado que conta, inclusive,


com regulamentação em norma internacional. A Convenção n. 95/49 da Organi-
zação Internacional do Trabalho (OIT), que versa sobre a proteção ao salário, em
seu art. 9º, dispõe que:

Art.9 – Fica proibido qualquer desconto dos salários cuja finalidade seja asse-
gurar pagamento direto ou indireto do trabalhador ao empregador, a repre-
sentante deste ou a qualquer intermediário (tal como um agente encarregado
de recrutar a mão-de-obra), com o fim de obter ou conservar um emprego.

Na CLT temos o art. 462 que trata especificadamente da questão e concretiza


o princípio da intangibilidade salarial. O referido dispositivo, no caput, deixa claro
que:

Art. 462 – Ao empregador é vedado efetuar qualquer desconto nos salários do


empregado, salvo quando este resultar de adiantamentos, de dispositivos de
lei ou de contrato coletivo.

Percebam que, em regra, é vedado efetuar qualquer tipo de desconto no


salário do empregado, exceto nos casos de adiantamento (ex: adiantamento de
parte do salário), de dispositivos de lei (ex: contribuições previdenciárias) ou de
contrato coletivo de trabalho (ex: taxa assistencial).
O §1º do mesmo artigo acrescenta, ainda, duas possibilidades: (1) dano cau-
sado pelo empregado por culpa + previsão de desconto no contrato de trabalho
e; (2) dano causado pelo empregado por dolo. Neste último sequer há a neces-
sidade de previsão contratual.

Entretanto, as possibilidades de descontos lícitos não param por aqui. A Sú-

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mula n. 342 do TST trata de vantagens fornecidas pelo empregador e que, se


aceitas de forma espontânea pelo empregado, também poderão ser desconta-
das da parcela salarial. Assim é o teor da súmula:

SÚMULA N. 342 DO TST


DESCONTOS SALARIAIS. ART. 462 DA CLT (mantida) – Res. 121/2003,
DJ 19, 20 e 21.11.2003
Descontos salariais efetuados pelo empregador, com a autorização prévia e
por escrito do empregado, para ser integrado em planos de assistência odontoló-
gica, médico-hospitalar, de seguro, de previdência privada, ou de entidade coope-
rativa, cultural ou recreativo-associativa de seus trabalhadores, em seu benefício
e de seus dependentes, não afrontam o disposto no art. 462 da CLT, salvo se ficar
demonstrada a existência de coação ou de outro defeito que vicie o ato jurídico.
Atenção para 3 pontos da súmula: (1) autorização prévia e por escrito do em-
pregado; (2) hipóteses previstas e; (3) aceitação espontânea. Se assim não for, o
desconto realizado será considerado ilícito.
O §2º do art. 462 da CLT traz, ainda, a impossibilidade de a empresa exigir
que o empregado utilize de mercadorias ou serviços fornecidos em armazém do
empregador.
Ressalta-se que, no caso do empregado não ter acesso a armazéns ou ser-
viços não mantidos pela empresa, as mercadorias e os serviços fornecidos pela
própria empresa empregadora deverão ter preços razoáveis, sem intuito de lucro
e sempre em benefício dos empregados. Nesse sentido é o §3º do mesmo dis-
positivo legal.
Por fim, urge frisar que o empregador não poderá limitar a forma de o em-
pregado dispor do seu salário (art. 462, §4º, da CLT). Além disso, em consonância
com o art. 82, parágrafo único, da CLT, os descontos salariais não poderão ser
superiores a 70% do salário do empregado, tendo em vista que lhe é garantido,
em dinheiro, o mínimo de 30%.

Concluímos, portanto, que qualquer outra forma de desconto, desde que não

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prevista em lei específica, será considerada ilícita e, por consequência, o empre-


gador deverá restituir a quantia.
Boa prova!!!

Leandro Alencar – Graduado em Direito, especialis-


ta em Direito e Processo do Trabalho pelo Instituto
Brasiliense de Direito Público – IDP, com atualização
em Direito e Processo do Trabalho em cursos livres;
Professor do curso Prática Trabalhista, Pesquisador
em diversos temas do Direito do Trabalho, inclusive
trabalho infantil, discriminação no ambiente de traba-
lho e precarização da relação empregatícia.

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