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ISSN 1809-4139

Protocolo de avaliação diagnóstica multidisciplinar da equipe de transtornos globais do desenvolvimento.

PROTOCOLO DE AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA MULTIDISCIPLINAR DA


EQUIPE DE TRANSTORNOS GLOBAIS DO DESENVOLVIMENTO
VINCULADO À PÓS-GRADUAÇÃO EM DISTÚRBIOS DO
DESENVOLVIMENTO DA UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE.

PROTOCOL OF MULTIDISCIPLINARY DIAGNOSTIC EVALUATION OF


PERVASIVE DEVELOPMENTAL DISORDER TEAM LINKED TO
DEVELOPMENTAL DISORDERS PROGRA OF MACKENZIE PRESBYTERIAN
UNIVERSITY.

Renata de Lima Velloso


Alessandra Aronovich Vinic
Cintia Perez Duarte
Maria Eloisa Famá Dantino
Decio Brunoni
José Salomão Schwartzman

Universidade Presbiteriana Mackenzie

Sobre os autores RESUMO


Renata de Lima Velloso O objetivo é descrever os procedimentos realizados na equipe de pesquisa em
Fonoaudióloga, Mestre e
Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD) vinculado à pós-graduação em
Doutoranda em Distúrbios do
Desenvolvimento pela Distúrbios do Desenvolvimento, Universidade Presbiteriana Mackenzie. Foi
Universidade Presbiteriana realizada descrição do protocolo de avaliação utilizado no grupo e resultados. São
Mackenzie. avaliados indivíduos com suspeita de TGD, é realizada: anamnese, avaliação
relimavelloso@yahoo.com.br neuropsicológica, fonoaudiológica, cognição social, exame físico e neurológico,
rastreamento visual e pesquisas. A equipe emite uma conclusão diagnóstica,
Alessandra Aronovich Vinic baseada nos critérios DSM-IV e CID-10. De junho de 2005 a dezembro de 2010
Psicóloga pelo Mackenzie. Mestre foram realizadas 126 avaliações: 31 indivíduos com diagnóstico de Transtorno
e Doutoranda em Distúrbios do
Autista, 18 de Síndrome de Asperger, 14 de Transtorno Global do
Desenvolvimento pela
Universidade Presbiteriana Desenvolvimento Sem Outra Especificação, 25 de Transtorno Global do
Mackenzie. Desenvolvimento, 2 de Síndrome Semântico-Pragmática, 17 não se enquadraram
nos TGD e 19 avaliações não foram concluídas. A equipe descrita realiza
Cintia Perez Duarte avaliações multidisciplinares e pesquisas, ressaltando a importância da
Psicóloga pelo Mackenzie. Mestre abrangência de conhecimento nesta área e da possibilidade de intervenção
e Doutoranda em Distúrbios do precoce.
Desenvolvimento pela
Universidade Presbiteriana
Palavras-chave: autismo, avaliação, pesquisa, transtornos globais do
Mackenzie.
desenvolvimento, desenvolvimento.
Maria Eloisa Famá Dantino
Pedagoga pelo Mackenzie. Mestre ABSTRACT
em Educação pela USP. Doutora
em Psicologia Escolar e do The aim is to describe the procedures performed in the research team at Pervasive
Desenvolvimento Humano pela Developmental Disorders (PDD) linked to postgraduate Development Disorders,
USP. Professora Titular do Universidade Presbiteriana Mackenzie. Description was made of the assessment
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Cadernos de Pós-Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento, São Paulo, v.11, n.1, p. 9-22, 2011.
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Protocolo de avaliação diagnóstica multidisciplinar da equipe de transtornos globais do desenvolvimento.

Programa de Pós-Graduação em protocol used in the group and results. Individuals are evaluated with suspected
Distúrbios do Desenvolvimento, PDD, is performed: history, neuropsychological evaluation, speech therapy,
Universidade Presbiteriana social cognition, physical and neurological examination, visual tracking and
Mackenzie
research. The team sends a diagnostic conclusion based on the DSM-IV and CID-
Decio Brunoni 10. From June 2005 to December 2010 were carried out 126 assessments: 31
Graduado em Medicina pela individuals diagnosed with Autism, 18 Asperger Syndrome, 14 Pervasive
Universidade Federal de Santa Developmental Disorder-not otherwise specified (PDD-NOS), 25 PDD, 2
Catarina, Mestre em Genética pela Semantic-Pragmatic Syndrome, 17 did not fit in PDD and 19 evaluations were
UNIFESP e Doutor em Ciências not completed. The team described conducts assessments and multidisciplinary
Biológicas (Genética) pela UFRJ. research, highlighting the importance of breadth of knowledge in this area and the
Professor Titular do Programa de possibility of early intervention.
Pós-Graduação em Distúrbios do
desenvolvimento, Universidade
Presbiteriana Mackenzie. Keywords: autism, assessment, research, pervasive developmental disorders,
development.
José Salomão Schwartzman
Médico neurologista infantil.
Doutor em Neurologia Clínica pela
UNIFESP. Professor Titular do
Programa de Pós-Graduação em
Distúrbios do Desenvolvimento,
Universidade Presbiteriana
Mackenzie

Apoio Financeiro:
Universidade Presbiteriana
Mackenzie

1-INTRODUÇÃO estereotipados. Os TGD englobam o Transtorno


Autista, o Transtorno de Rett, o Transtorno
Desintegrativo da Infância, o Transtorno de
Na tentativa de identificar e Asperger e o Transtorno Global do
caracterizar os sintomas mais comuns que Desenvolvimento Sem Outra Especificação.
fazem parte dos Transtornos do Espectro do
A Classificação Estatística
Autismo (TEA), Wing e Gould (1979)
Internacional de Doenças e Problemas
descreveram uma tríade de comprometimentos
Relacionados à Saúde - CID-10 (OMS, 2000)
muito específicos e característicos dos
utiliza o termo Transtornos Invasivos do
distúrbios: prejuízos severos na interação social,
Desenvolvimento (TID), que englobam:
dificuldades severas nas comunicações tanto
Autismo Infantil, Autismo Atípico, Síndrome de
verbais como não verbais, e ausência de
Rett, Transtornos Desintegrativos da Infância,
atividades imaginativas, substituídas por
Transtorno de Hiperatividade Associado a
comportamentos repetitivos e estereotipados. As
Retardo Mental e Movimentos Estereotipados,
manifestações clínicas são bem características
Síndrome de Asperger e Outros Transtornos
nos TEA, variando apenas na gravidade destas
Invasivos do Desenvolvimento Não
apresentações (SCHWARTZMAN, 1995).
Especificados.
Atualmente, o Manual Diagnóstico e
Rutter (2005) ressalta a ampliação do
Estatístico de Transtornos Mentais - DSM-IV
diagnóstico de autismo que ocorreu nos últimos
(APA, 2002) utiliza o termo Transtornos
40 anos. Essa mudança ocorreu não pela
Globais do Desenvolvimento (TGD) para
determinação de características
caracterizar esses quadros com prejuízos no
sintomatológicas de um único distúrbio, mas
desenvolvimento, nas habilidades de interação
pela introdução da ideia de um espectro,
social, de comunicação e de comportamento, e
conhecido como Autism Spectrum Disorder
com presença de interesses e atividades
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(ASD), ou Transtorno do Espectro Autista interação social. Os autores relatam que o


(TEA). Neste estudo, foram relatadas as padrão de linguagem dos indivíduos com SA é
avaliações realizadas com indivíduos com similar ao descrito em indivíduos com SSP.
suspeita de TEA, portanto os diagnósticos
Bishop (1989) sugere que os
emitidos são de Autismo, Síndrome de Asperger
diagnósticos de Autismo, SA e SSP coexistem
(SA) e Transtorno Global do Desenvolvimento
nos TEA, sendo que indivíduos com habilidades
Sem Outra Especificação (TGD/SOE), descritos
comunicativas relativamente normais, mas com
nas classificações atuais de diagnóstico citadas
relacionamentos sociais anormais, poderiam ter
acima.
a SA e indivíduos com habilidades sociais
Além destes diagnósticos, a equipe de normais, porém com anormalidades
avaliação de indivíduos com suspeita de TEA comunicativas, teriam SSP.
vinculada ao programa de Pós-Graduação em
Segundo Mercadante, Gaag e
Distúrbios do Desenvolvimento emite também
Schwartzman (2006), a opinião mais sólida
na conclusão de algumas avaliações o
entre os profissionais que trabalham na área de
diagnóstico de Síndrome Semântico-Pragmática
transtornos do desenvolvimento é a de
(SSP). Este termo foi inicialmente introduzido
considerar que a SSP integra o grupo dos TEA,
por Rapin e Allen (1983) para se referir a uma
em vez de ser um transtorno do
classificação médica para os transtornos de
desenvolvimento da linguagem. Tendo em vista
desenvolvimento de linguagem, mencionando
que a equipe de avaliação tem como objetivo
alterações mais evidentes na linguagem
realizar pesquisas de cunho acadêmico, optou-se
expressiva, na interação social e na
pela utilização do termo SSP como diagnóstico,
compreensão verbal.
uma vez que este termo é relatado em muitas
Os indivíduos com SSP apresentam pesquisas.
comumente um atraso inicial na aquisição da
Devido à evolução nas características
fala e dificuldade de linguagem receptiva,
diagnósticas, a literatura demonstra variações na
seguidos por adequado aprendizado da fala.
estimativa da prevalência do autismo. Em 2003,
Conforme a fala se desenvolve com o uso de
Fombonne estimou a prevalência média de TEA
frases mais complexas, ficam evidentes as
e autismo nos últimos 37 anos e descreveu
dificuldades semânticas e pragmáticas da
aumento de 4,4/10.000 (entre 1966 e 1991) para
linguagem (BISHOP; ROSENBLOOM, 1987).
12,7/10.000 (entre 1992 e 2001). Estudos atuais
As alterações comumente relatadas nos
estimam taxas de prevalência muito mais altas:
indivíduos com SSP se referem à dificuldade em
10/10.000 para indivíduos com autismo, e entre
integrar as informações, prejuízo no uso e
30 e 60/10.000 para indivíduos com TEA.
conteúdo da comunicação (apesar da utilização
Fombonne (2003) discute essa prevalência
de frases complexas e gramaticalmente
maior justificando-a por evidências de mudança
corretas), falhas de compreensão, alteração de
na definição e pelo conhecimento mais amplo e
prosódia, dificuldade de utilização de
disseminado do distúrbio.
comunicação não-verbal, dificuldade para
assimilar e utilizar pistas contextuais e Sigman e Capps (1997) relatam que há
dificuldade na interpretação de linguagem maior número de meninos do que de meninas
figurada (BROOK; BOWLER, 1992; RAPIN; com autismo, na proporção de 4:1, e de meninos
ALLEN, 1998). com melhor índice de desempenho medido por
QI (Quoeficiente Intelectual). A etiologia dos
Bishop e Rosenbloom (1987)
fenótipos dos TEA clinicamente definidos é
sugeriram que a SSP seria uma associação de
complexa e multifatorial, pois, em geral, sofre
comportamentos que se escondiam sob os TEA,
forte influência genética e ambiental, embora
ressaltando que estes indivíduos apresentavam
dificuldades significativas relacionadas à
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também compreenda causas ocasionais não Asperger. Bishop (1989) complementou esse
genéticas (MUHLE et al., 2004). conceito, sugerindo que os padrões de alterações
de linguagem seriam ponto comum entre o
Diante de um quadro de
autismo infantil, a síndrome de Asperger e a
heterogeneidade sintomática e grande incidência
síndrome semântico-pragmática.
na população, cada vez mais as pesquisas
apontam para recursos diagnósticos que Uma das considerações fundamentais
diferenciam as características das crianças do sobre a linguagem é ser um sistema organizado
espectro do autismo. Uma compreensão de forma regular e previsível, possibilitando,
completa do quadro autístico envolve quatro com isso, uma lista de regras que descrevem a
níveis do conhecimento: etiologia, estruturas e regularidade do sistema. Existem diferentes
processos cerebrais, neuropsicologia, sintomas e níveis nos quais o sistema pode ser dito
comportamento (GADIA et al., 2004). organizado, cada um lidando com uma unidade
de análise distinta. São eles: fonologia,
O desenvolvimento de procedimentos
gramática, semântica e a própria prática
de avaliação mais precisos pode ser dirigido
(BISHOP; MOGFORD, 2002).
para a avaliação neuropsicológica e estudos de
processos biológicos dessas crianças. Assim, A linguagem verbal de crianças com
novas possibilidades de determinar um TEA pode apresentar algumas alterações, como
marcador preciso para o autismo vêm sendo a escolha de palavras pouco usuais, inversão
amplamente discutidas na literatura, tais como a pronominal, ecolalia, discurso incoerente,
estratégia de usar endofenótipos biológicos ou alteração de prosódia, não resposta a
marcadores biológicos, ou endofenótipos questionamentos, o que leva a um distúrbio de
comportamentais, como a história de regressão comunicação (RAPIN; DUNN, 2003;
comportamental, estereotipias ou transtorno da BOTTING; CONTI-RAMSDEN, 2003). No
linguagem, a fim de restringir a busca por autismo, a compreensão e a pragmática estão
etiologias subjacentes (GOTTESMAN; sempre afetadas, sendo que esses sujeitos
GOULD, 2003). apresentam também alteração da comunicação
não verbal, comportamentos estereotipados e
Algumas alterações dos TEA
perseverantes, interesses restritos e alteração das
1. Linguagem capacidades sociais (WILSON et al., 2003).
A linguagem sempre representa um 2. Cognição Social
aspecto fundamental do quadro clínico,
Inicialmente, Lamb e Sherrod (1981)
independentemente da abordagem conceitual, da
pioneiros no estudo da Cognição Social,
hipótese etiológica e do critério diagnóstico
pontuaram que esta seria a capacidade que o
envolvendo o autismo infantil (FERNANDES,
indivíduo tem de perceber e compreender o
1996). Segundo essa autora, muitos estudos
outro, interagindo assim de maneira adequada.
associam as dificuldades de linguagem às
Em 1991, Fiske e Taylor ampliaram o conceito
causas do autismo infantil, seja como elemento
para a idéia de que para compreender o outro, a
desencadeador ou como aspecto afetado pelas
pessoa deveria também desenvolver uma
mesmas desordens que o determinam.
autopercepção e a partir desta, interpretar e
A diferenciação desses quadros está na responder aos sinais sociais.
intensidade dos desvios de linguagem, déficits
Cognição Social, em termos mais
cognitivos e interação social. Lorna Wing
recentes, pode ser definida como o processo
(1988) introduziu o termo espectro do autismo,
neurobiológico que possibilita aos seres
referindo-se a uma entidade única para os
humanos, interpretar adequadamente os signos
quadros de autismo infantil, de baixo ou alto
sociais e apresentar uma resposta apropriada a
funcionamento, juntamente com a Síndrome de
estes estímulos (BUTMAN, 2001). Seu início
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ocorre nos primeiros anos de vida através das DESCRIÇÃO DO PROTOCOLO DE


relações interpessoais, nas quais a criança AVALIAÇÃO
estrutura um repertório, compreendendo sinais
Inicialmente optou-se pela descrição do
faciais e emoções do grupo social no qual está
protocolo de avaliação adotado pela equipe
inserido (BARON-COHEN, 2002).
multidisciplinar, que engloba as avaliações
O conhecimento e a avaliação da médicas, psicológicas e fonoaudiológica. Em
Cognição Social nos TEA tornam-se seguida foi realizada uma análise do banco de
fundamentais como critério importante para dados de todas as pessoas avaliadas pelo grupo
diagnóstico diferencial, na medida em que o do ano de 2005 até 2010, a fim de descrever o
comprometimento na interação social é número total de atendimentos realizados,
conseqüência de déficits nestas habilidades. focando-se nas conclusões finais da equipe, em
relação aos diagnósticos emitidos.
3. Aspectos neuropsicológicos
O grupo de Transtornos Globais do
Os indicadores de que pessoas com
Desenvolvimento (TGD) tem o objetivo de
TEA apresentam alterações neurobiológicas e
avaliar indivíduos com características
que, deste modo, o funcionamento cognitivo e
compatíveis com os transtornos do espectro do
comportamental é afetado, levaram a diversos
autismo (TEA), realizando juntamente pesquisas
estudos de avaliação das funções cognitivas que
científicas na área e orientando as famílias
investigaram como se dá este processamento e
destes indivíduos. Triagem inicial, realizada por
sua manifestação. Há relatos sobre alterações de
profissionais experientes, identifica aqueles
inteligência (SIGMAN et al., 1997; COSTA;
indivíduos que apresentam características
NUNESMAIA, 1998; HARRIS, 2000; STARR
suficientes para permitir um pré-diagnóstico.
et al., 2001; SCHWARTZMAN, 2003; BOLTE;
Após esta fase inicial são encaminhados para a
DZIOBEK; POUSTKA, 2009), linguagem
avaliação multidisciplinar abrangente.
(LORD; PAUL, 1997; TAMANAHA;
PERISSINOTO, 1999; HODGE, 2010), funções A avaliação consiste em: anamnese,
executivas (ORSATI, 2006; AMES; WHITE, avaliação neuropsicológica, avaliação
2010; LEMON et al., 2010), atenção (BURACK fonoaudiológica, avaliação da cognição social,
et al., 1997; LAMPREIA, 2007; HODGE, exame físico, exame neurológico, avaliação
2010), memória (JONES et al., 2010), através de equipamento que registra o
alterações no processamento sensorial e movimento ocular (Tobii eye tracking) e
habilidade de imitação (LAMPREIA, 2007; aplicação de protocolos de pesquisas científicas.
MOTA, 2008), alterações no padrão de Ao final de cada avaliação, em reunião
rastreamento visual (ORSATI et al., 2009) e multidisciplinar discutem-se aspectos relevantes
percepção de faces (ORSATI et al., 2009), entre da avaliação, formulando-se um diagnóstico,
outros. baseado também nos critérios diagnósticos dos
manuais médicos de diagnóstico DSM-IV
Levando-se em conta estas alterações
(APA, 2002) e CID-10 (OMS, 2000). Em
encontradas nos TGD e a importância da
seguida é feito um relatório contendo todas estas
avaliação destas, o objetivo deste artigo é
informações, com conduta e orientações, que
descrever o protocolo e procedimentos
são explicadas em reunião com a família do
utilizados pela equipe responsável pela
indivíduo avaliado.
avaliação de indivíduos com suspeita de TGD,
equipe esta que realiza pesquisas e é vinculada à Todos os pais/responsáveis pelos
pós-graduação em Distúrbios do indivíduos avaliados recebem este relatório,
Desenvolvimento, Centro de Ciências com todas as informações das avaliações,
Biológicas e da Saúde, Universidade diagnóstico final e orientações à família, que
Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, Brasil. são detalhadas no encontro final (devolutiva).

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Os dados das avaliações são registrados, para no Brasil por MERTELETO;


posterior análise e divulgação em pesquisa, PEDROMÔNICO, 2005).
mediante termo de consentimento e autorização
No final do protocolo estão descritos os
da família. O grupo possui consentimento do
critérios diagnósticos do DSM-IV e CID-10,
Comitê de Pesquisa e Ética da Universidade
referentes aos Transtornos Invasivos do
Presbiteriana Mackenzie.
Desenvolvimento / Transtornos Globais do
A equipe realiza reuniões semanais Desenvolvimento, que são retomados no final
para discussão das pesquisas em andamento, da avaliação para conclusão diagnóstica dos
acompanhamento, discussão e fechamento dos casos.
casos em avaliação, e discussão de artigos
2. Avaliação Neuropsicológica
científicos. A equipe realiza também pesquisas
relacionadas a avaliação de problemas de Tem como objetivo avaliar funções cerebrais
linguagem, estudos epidemiológicos em saúde superiores através de testes padronizados, com
mental da infância e adolescência, pesquisas foco na inteligência, memória verbal e visual,
sobre gênero e desenvolvimento, mecanismos atenção concentrada, seletiva e dividida,
plásticos no modelo de autismo induzido pela funções executivas e percepção. Tais
exposição pré-natal ao ácido valpróico, modelos habilidades cognitivas são investigadas para
animais aplicados aos Transtornos Neuro- verificar se há preservação ou prejuízo no
Psiquiátricos, pesquisas sobre o processamento, interferindo assim no
desenvolvimento e seus transtornos, Síndrome desempenho e adaptação do indivíduo no seu
de Rett (aspectos médicos e neuropsicológicos) dia-a-dia. O indivíduo com Transtorno Global
e varredura visual como instrumento do Desenvolvimento apresenta características
diagnóstico e compreensão de perfil de peculiares quanto ao funcionamento cognitivo e
funcionamento cerebral. tal avaliação pode auxiliar no processo
diagnóstico. Por fim, também é realizada
Protocolo de Avaliação
observação comportamental, para averiguar
1. Anamnese aspectos relacionados à tríade de
comprometimentos: interação social,
Uma entrevista é realizada com os pais
comunicação e comportamento.
e/ou responsáveis pelo indivíduo que será
avaliado, com base em um protocolo A bateria é composta por alguns
padronizado elaborado pelo grupo. Esta instrumentos padronizados e normatizados, bem
anamnese contém questões referentes à como por testes que ainda estão em fase de
identificação, histórico escolar, histórico médico normatização, utilizados para fins de pesquisa.
e genético, desenvolvimento neuropsicomotor, Tais instrumentos visam avaliar:
dentre outros fatores essenciais para a adequada
- Inteligência através da Escala de Inteligência
avaliação. Nesta etapa é apresentado o Termo de
Wechsler para Crianças – WISC-III
Consentimento Livre e Esclarecido, no qual os
(WECHSLER, 2002) e Escala de Inteligência
responsáveis são informados sobre as pesquisas
Wechsler para Adultos – WAIS-III
realizadas no grupo e somente após seu
(WECHSLER, 2004). Maturidade mental com a
consentimento por escrito têm seus dados
Escala de Maturidade Mental Columbia
registrados. São aplicados também nesta fase
(BURGEMEISTER; BLUM; LORGE, 2001).
instrumentos de rastreamento dos Transtornos
Para as crianças que não conseguem realizar tais
Globais do Desenvolvimento, o Autism
avaliações é administrado o Perfil
Screening Questionnaire (ASQ) (BERUMENT
Psicoeducacional Revisado – PEP-R
et al., 1999, em fase de validação no Brasil,
(SCHOPLER et al., 1990).
SATO et al., 2009) e o Autism Behavior
Checklist (ABC) (KRUG et al., 1980, validado

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- Avaliação de memória verbal imediata, comercialmente e indicados para avaliação e


aprendizagem, suscetibilidade à interferência e diagnóstico na Fonoaudiologia Na área de
memória de reconhecimento pelo Rey Auditory linguagem infantil, temos comercialmente
Verbal Learning Test - RAVLT (LEZAK, disponíveis o Teste ABFW (ANDRADE et al.,
1995). Memória de trabalho visuoespacial com 2004) (avaliação das áreas de fonologia,
o Corsi Blocks (LEZAK, 1995). vocabulário, fluência e pragmática), e um
Protocolo de Observação Comportamental
- Habilidade de visuoconstrução, capacidade de
(PROC) (ZORZI; HAGE, 2004) (avaliação da
organização perceptivo-motora, e a memória
linguagem e dos aspectos cognitivos infantis)
visual imediata e tardia com o teste Figuras
(GIUSTI; BEFI-LOPES, 2008). No grupo que
Complexas de Rey (REY, 1999).
estuda os Transtornos Globais do
- Fluência de palavras através do princípio Desenvolvimento, por ser um grupo que
fonêmico e semântico com o teste FAS- objetiva também a pesquisa, são utilizados
Animais e Frutas (SHERMAN; SPREEN, instrumentos padronizados ou não e disponíveis
2006). comercialmente ou não, pois muitos
- Atenção seletiva pelo Teste Stroop (versão instrumentos encontram-se em processo de
Victoria) (SHERMAN; SPREEN, 2006), pesquisa. Portanto, na avaliação de linguagem é
atenção alternada com Trail Makink Test realizada:
(LEZAK, 1995), e atenção concentrada com o - Observação da linguagem através de roteiro
Teste Atenção Concentrada – AC estruturado, onde são observados aspectos
(CAMBRAIA, 2003). relevantes para o diagnóstico (prosódia,
- Funções executivas através do Teste inversão pronominal, manutenção de diálogo,
Wisconsin de Classificação de Cartas – WCST assunto do diálogo e presença de ecolalias).
(CUNHA et al., 2005) e da Torre de Hanoi - Avaliação da habilidade Pragmática, através
(LEZAK, 1995). do teste ABFW (ANDRADE et al., 2004).
3. Avaliação Fonoaudiológica - Avaliação do vocabulário expressivo (Teste
A avaliação clínica de linguagem é ABFW (ANDRADE et al., 2004)), e
uma das etapas do processo que envolve a vocabulário receptivo (TVIP (CAPOVILLA;
atuação fonoaudiológica, sendo imprescindível CAPOVILLA, 1997)).
o conhecimento e o uso de ferramentas técnicas, - Avaliação da habilidade de fonologia, através
especificamente ligadas a Fonoaudiologia e à do teste ABFW (ANDRADE et al., 2004).
comunicação humana. Nos casos de TEA é de
- Avaliação das habilidades metalingüísticas de
extrema importância a avaliação de linguagem,
Leitura, Escrita, Compreensão oral e gráfica, da
uma vez que nestes quadros a linguagem é um
habilidade Semântica (prova de Categorização e
aspecto notadamente comprometido.
Definição) e da habilidade Sintática (prova de
Esta avaliação é realizada com ênfase Complementação de sentenças), por meio do
nos aspectos de linguagem, onde são avaliadas teste de linguagem infantil TIPITI (BRAZ;
as habilidades: fonologia, sintática, semântica, PELLICCIOTTI, 1988).
vocabulário, pragmática, competências
- Avaliação de habilidades metalingüísticas que
metalingüísticas (incluindo leitura, escrita,
envolvem ambigüidade, inferências, elaboração
interpretação de inferência, ambigüidade e
de sentenças dentro de contextos e interpretação
metáfora, dentre outras), maturidade simbólica e
de linguagem figurada, através do Teste TLC-E
atenção compartilhada.
(WIIG; SECORD, 1985/89; trad e adap nível I –
Atualmente há escassez no Brasil de MANTOVANI; PERISSINOTO, 2004 e nível II
instrumentos formais e objetivos disponíveis – ARAÚJO; PERISSINOTO, 2002), sendo que

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as pesquisas envolvendo este teste encontram-se alguns casos como diagnóstico diferencial.
em andamento. (RUSSELL; SHARMA, 2003) É composto por
uma bateria de tarefas específicas para este
- Avaliação da Maturidade Simbólica, através
objetivo, além de escalas traduzidas e adaptadas
de protocolo de observação estruturado
para o Português pelo grupo de pesquisa, como
(TAMANAHA; PERISSINOTO;
a EQ-SQ (Child) (VINIC; SCHWARTZMAN,
PEDROMÔNICO, 1998).
2010), a Phisycal Prediction Questionnaire
- Avaliação de linguagem e teoria da mente (PPQ) (VINIC; SCHWARTZMAN, 2009) e o
através de Teste avançado em Teoria da Mente Friendship Questionnaire (VINIC;
(HAPPÉ, 1993, 1994), onde são apresentadas SCHWARTZMAN, submetido).
aos sujeitos avaliados vinhetas ou histórias
As habilidades investigadas são:
sobre situações do dia a dia, nas quais as
Atenção Compartilhada – dividir ou
pessoas dizem coisas que elas não querem dizer
compartilhar o mesmo ponto de interesse ou
literalmente. Atualmente este teste está em
perspectiva; Empatia – compreender e colocar-
pesquisa (Doutorado em Distúrbios do
se no lugar do outro; Reconhecimento de
Desenvolvimento, aluna Renata de Lima
expressões faciais – identificar emoções através
Velloso), em processo de adaptação para a
da face; Inferências – inferir sobre os estados
língua portuguesa.
mentais do outro; Antecipação – prever reações
A avaliação de linguagem torna-se e comportamentos do outro; Alexitimia –
importante no auxilio do diagnóstico autopercepção de sentimentos e características
diferencial. O fonoaudiólogo deve estar atento pessoais; Pretend play (faz-de-conta) –
às manifestações presentes na avaliação, que imaginação, simbolização; Falsa crença –
auxiliarão na discussão do caso em equipe, perceber a distinção entre aparência e realidade.
ajudando na diferenciação dos quadros de TEA
Existem alguns instrumentos
e Transtornos Específicos de Linguagem, que
padronizados ou validados, e que avaliam os
podem também acometer aspectos
comportamentos sociais e algumas habilidades
comportamentais e interacionais como
de Cognição Social nos TEA. São eles:
consequência do distúrbio de comunicação, mas
Inventário de Habilidades Sociais Del (DEL
de forma diferenciada.
PRETTE, 2001), ADOS-G (Autism Diagnostic
Após a avaliação de linguagem, cada Observation Schedule - Programa de
resposta obtida, nas diferentes situações de Observação Diagnóstica do Autismo), ADI-R
avaliação, representa uma possibilidade de (Autism Diagnosis Interview-Revised -
linguagem do indivíduo, que conduzirá à Entrevista para Diagnóstico de Autismo -
hipótese diagnóstica. revisada) - entrevista que avalia os
comportamentos sociais e de comunicação da
criança, CHAT - Checklist de Autismo em
4. Avaliação da Cognição Social crianças (BARON-COHEN et al., 1992).
Tais instrumentos possibilitam verificar
A Avaliação da Cognição Social nos o repertório de comportamentos sociais do
TEA tem como objetivo investigar quais sujeito, mas trazem poucos dados sobre quais
habilidades estão presentes e quais apresentam habilidades especificamente estariam
déficits em seu funcionamento. Esta minuciosa prejudicadas neste sistema cognitivo. A
investigação possibilita um diagnóstico mais Avaliação de Cognição Social (protocolo de
preciso e o melhor planejamento da intervenção pesquisa em andamento, Doutorado em
a ser realizada, viabilizando melhora no Distúrbios do Desenvolvimento, aluna
prognóstico social, sendo considerado em Alessandra Aronovich Vinic) proposta pelo
Protocolo utilizado, permite ir além de se
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observar quais classes de comportamentos equipamento alguns protocolos de pesquisas são


sociais estão presentes e funcionais, mas, realizados, descritos posteriormente.
verificar quais habilidades fazem parte do
repertório do sujeito, como um pré-requisito
para o comportamento expresso. Buscam-se as 2- RESULTADOS
ferramentas do sujeito, anteriormente ao seu
uso. Esse novo viés de observação proposto,
funciona como um norteador para a intervenção Atendimentos realizados:
a ser planejada e executada, como sequência do O grupo realiza atendimentos desde o
diagnóstico. ano de 2005. De junho de 2005 a dezembro de
2010, foram realizadas 126 avaliações. A idade
dos indivíduos avaliados foi de 2 a 29 anos,
5. Exame Físico Morfológico sendo que a média das idades é de 7,7 anos. A
conclusão destas avaliações foi: 31 indivíduos
com diagnóstico de Transtorno Autista, 18 de
Envolve investigação familiar
Síndrome de Asperger (SA), 14 de Transtorno
(heredograma), exame físico morfológico geral
Global do Desenvolvimento Sem Outra
e exame físico especial com identificação de
Especificação (TGD-SOE), 25 de Transtorno
possíveis desvios morfológicos.
Global do Desenvolvimento-TGD (não foi
possível especificar), 2 de Síndrome Semântico-
Pragmática (SSP), 17 não se enquadraram nos
6. Exame Neurológico
Transtornos Globais do Desenvolvimento e 19
avaliações não foram concluídas por interrupção
Compreende a avaliação das funções da avaliação (Gráfico 1).
motoras, perceptuais e cognitivas acessíveis ao Das 107 avaliações concluídas,
exame neurológico tradicional. Em razão da aproximadamente 84% apresentaram
patologia que é objeto de nosso interesse é diagnóstico positivo para TEA (Gráfico 2).
avaliada também, a interação do paciente com o
examinador e seus acompanhantes, a forma
como manipula e brinca com objetos e o tipo de
comunicação que estabelece com o ambiente.

7. Avaliação por rastreamento visual

O equipamento computadorizado Tobii


1750 (Tobii Technology, 2005), com o software
ClearView, foi desenvolvido para avaliar e
registrar a varredura visual de um indivíduo
frente a um estímulo visual projetado na tela do
computador. O equipamento é capaz de detectar
vários parâmetros durante o movimento ocular,
como a fixação (paradas) e os movimentos
sacádicos (saltos). O sistema Tobii segue os
movimentos oculares do sujeito na tela
automaticamente e em tempo real. Através deste Gráfico 1. Conclusão das avaliações realizadas de
2005 a 2010.
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O diagnóstico precoce possibilita


intervenções terapêuticas e educacionais mais
produtivas. Independentemente do critério
diagnóstico adotado, as TEA constituem
quadros de instalação precoce, antes dos três
anos. No entanto, em nossa realidade, não são
raros os casos em que o atendimento
especializado só é procurado na adolescência
(FERNANDES, 2000). Portanto, é essencial o
conhecimento por profissionais que atuam na
área da saúde e infância, sobre o
desenvolvimento esperado na normalidade, para
identificação precoce de possíveis desvios e
condutas adequadas.

AGRADECIMENTOS
Aos profissionais que participam da equipe
Gráfico 2. Diagnóstico de TGD nas avaliações de
como colaboradores e pesquisadores: Profa.
2005 a 2010.
Dra. Roberta Monterazzo Cysneiros, Profa. Dra.
Maria Cristina Triguero Veloz Teixeira, Profa.
4- CONSIDERAÇÕES FINAIS Dra. Cristiane Silvestre de Paula e psicóloga
Ms. Tatiana Pontrelli Mecca.

O grupo de pesquisa em TEA descrito


realiza avaliações multidisciplinares e 5- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
pesquisas, ressaltando a importância da
abrangência de conhecimento nesta área e da
possibilidade de intervenção precoce. Os AMES, C.S.; WHITE, S.J. Brief report: are
resultados apontam que a Avaliação de caráter ADHD traits dissociable from the autistic
interdisciplinar proporciona uma melhor profile? Links between cognition and behavior.
investigação de todos os aspectos envolvidos na Journal of autism and developmental
tríade que caracteriza os TEA, especialmente disorders, v. 41, n. 3, p. 357-363, 2010.
levando-se em conta a variabilidade de graus de ANDRADE, C.R.F.; BEFI-LOPES, D.M.;
comprometimento em cada uma delas. FERNANDES, F.D.M.; WERTZNER, H.F.
O diagnóstico diferencial evita ABFW: Teste de Linguagem Infantil nas áreas
conclusões equivocadas e refina a possibilidade de fonologia, vocabulário, fluência e
de um direcionamento mais individualizado e pragmática. 2. ed. Barueri: Pró-Fono. v. 2, n. 1,
planejado, de acordo com as peculiaridades de p. 1-98, 2004.
cada caso. A conseqüência disto é um APA - American Psychiatric Association.
prognóstico melhor, quer seja na linguagem, Manual Diagnóstico e Estatístico de
cognição social ou aspectos neuropsicológicos. Transtornos Mentais - DSM-IV. Washington,
Dos casos avaliados, 84% tiveram confirmado o DC: APA. 2002.
diagnóstico de TEA, o que sugere que o
BARON-COHEN, S, ALLEN, J, GILLBERG,
protocolo de avaliação utilizado pela equipe
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auxiliou positivamente na emissão de
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