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AUTORES
MAGNO LUIZ COELHO DE MOURA
Faculdade Novos Horizontes
coelhomoura@hotmail.com
Resumo
Abstract
This study aimed to analyze aspects that influence the exporter behavior of the
Brazilian company of the food sector located in the Minas Gerais State. The article can be
characterized as a case study that used the semi-structured interview as the main technique to
data collection. The sampling of the research was composed of 2 directors of the Brazilian
exporting company and 1 director of the trading company in charge of exporting activities of
the company researched. The results showed that in spite of the exporting company reveal
beliefs with the possibility to obtain profit with the international business, that aspect does not
seem lined up to organizational factors very important to exporting performance, for example,
international experience, resources commitment and international marketing strategies. It was
noticed also that the motivations for the continuation of foreign affairs were of a more
reactive, which allowed the testing of a series of failures in exports.
Palavras-Chave
1 Introdução
2
2 Referencial teórico
que possa generalizar tal experiência. O interesse desse artigo é traçar discussões a respeito do
comportamento de uma empresa que adota como estratégia de entrada a exportação
intermediada por uma trading company. Trata-se, portanto, de uma empresa que se encontra
em um processo inicial de internacionalização.
De um modo geral, fatores tanto internos (nível funcional e estratégico) quanto
externos (nível do ambiente) caracterizam o comportamento exportador de uma empresa. O
ambiente externo corresponderia aos fatores macroeconômicos, políticos, sociais, culturais,
enquanto que o ambiente interno seria formado pelas características, competências e
estratégias da firma (AABY e SLATER, 1989). De um modo geral os fatores internos
estariam sob o controle da empresa e, por essa razão, considerados muito importantes para a
iniciação ou desenvolvimento exportador. Entretanto, alguns fatores internos associados às
características gerenciais relativas ao nível de educação e experiência internacional e às
características e competências são considerados não-controláveis porque demandam um
espaço de tempo maior para mudanças. Os fatores do ambiente externo, da mesma forma,
seriam considerados não-controláveis (ZOU e STAN, 1998). Vários estudos evidenciaram
que o desempenho exportador é fortemente influenciado por diferentes fatores internos,
destacando-se a experiência internacional, as aspirações/expectativas gerenciais, o nível de
comprometimento de recursos e as estratégias de marketing internacional (CAVUSGIL e
NEVIN, 1981; CHRISTENSEN et al., 1987; CAVUSGIL e ZOU, 1994; WOOD e
ROBERTSON, 1997; FERRAZ e RIBEIRO, 2002).
As considerações teóricas brevemente até aqui traçadas permitem reconhecer que
elementos tanto motivacionais quanto estratégicos estão presentes nas atividades de
exportação. Estes elementos são discutidos a seguir.
grau de estruturação de uma rede, Johanson e Mattsson (1987) pontuam que ele está sujeito à
extensão pela qual as posições das firmas são interdependentes. As firmas em redes
solidamente estruturadas são altamente interdependentes, unidas por laços fortes e
possuidoras de posições bem-definidas. Em redes frouxamente estruturadas, ao contrário, elas
são unidas por laços fracos, e as posições que ocupam são menos bem-definidas. Os laços
podem ser de natureza técnica, social, informacional, econômica e legal (JOHANSON e
MATTSSON, 1987).
3. Metodologia
Nesta seção procura-se apresentar os caminhos que nortearam o alcance dos objetivos
do estudo. Baseando-se na perspectiva de que a internacionalização consiste em uma
realidade socialmente construída, segundo argumenta Cassol et al (2004), esta pesquisa optou
pelo método do estudo de caso qualitativo, uma vez que esta metodologia permitiria
aprofundar as idiossincrasias do comportamento exportador de uma indústria alimentícia
mineira (YIN, 2005).
A unidade de observação da pesquisa constituiu-se de três participantes. Dois deles
fazem parte da empresa exportadora: um diretor comercial e um diretor industrial. O terceiro
participante, a diretora da trading company responsável pelas operações de exportação e
importação da empresa alimentícia, foi convidado a participar da pesquisa porque se entendia
ser importante estabelecer pontos de convergência e/ou divergência entre todos os
depoimentos.
A técnica fundamental de levantamento de dados foi a entrevista semi-estruturada,
todavia documentos foram utilizados para complementar os relatos colhidos. O roteiro de
entrevista foi elaborado por Honório (2004) e adaptado à realidade da empresa foco do
estudo. O instrumento tinha como intuito coletar dados abrangentes a respeito da percepção
que os participantes do estudo possuíam a respeito do comportamento exportador da empresa
alimentícia, procurando investigar os aspectos facilitadores e dificultadores associados ao
incremento das exportações. As entrevistas duraram, em média, 60 minutos.
A primeira parte do roteiro de entrevista traçava o perfil da empresa, coletando dados
acerca das suas características gerais, bem como da sua formação e desenvolvimento. A
segunda parte abrangia a consideração de aspectos que motivaram a realização de negócios
internacionais. A terceira parte investigava aspectos específicos sobre o processo de entrada
no mercado estrangeiro (características gerais, mecanismos de entrada, conhecimento do
mercado, comprometimento de recursos), seguido dos fatores estratégicos de
internacionalização (escolha do produto e do mercado-alvo, objetivos e metas traçadas para o
mercado-alvo, plano de marketing estabelecido e desempenho das operações). Os fatores
estratégicos complementavam-se com a abordagem de aspectos relacionais, sendo que a
identificação de parceiros domésticos e internacionais, as linhas gerais sobre o processo de
interação da empresa e seus parceiros, os profissionais envolvidos no processo, eram alguns
dos tópicos abordados nesta parte. A última parte consistia de itens que levantavam
informações sobre as atividades atuais de exportação da empresa, tendo em vista a análise do
nível de comprometimento de recursos com as operações, do grau de estruturação da firma em
suas relações internacionais e do desenvolvimento de relacionamentos da empresa com seus
parceiros.
Todas as entrevistas foram gravadas e transcritas integralmente, de modo que uma
matriz temática de análise pudesse ser elaborada para fins de confrontação e comparação dos
dados (MILES e HUBERMAN, 1994). Esse procedimento permitiu a construção de uma
descrição pormenorizada dos facilitadores e dificultadores do comportamento exportador da
empresa pesquisada.
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talvez, tenha sido um forte motivo para a escolha de um intermediário. Além disso,
acrescenta-se a impossibilidade da empresa operar diretamente suas operações de
exportações, uma vez que havia perdido o registro de exportador e importador devido ao não
fechamento do câmbio junto ao Banco Central em decorrência de não pagamentos da Bolívia.
A empresa não possuía nenhum conhecimento prévio sobre os mercados estrangeiros
para onde destinava seus produtos em termos de padrões culturais, estrutura do mercado,
clientes, métodos de marketing, instituições etc. Para o diretor industrial, as informações
sobre o mercado externo eram obtidas através de viagens realizadas ao exterior. O
conhecimento era adquirido à medida que as exportações iam acontecendo. A empresa quase
não comprometia recursos com o mercado estrangeiro. Os recursos disponibilizados ocorriam
em função das viagens que os diretores realizavam aos países a fim de conhecerem a estrutura
das empresas dos importadores. Ainda assim, isto foi feito apenas na Bolívia e Angola. O
diretor industrial afirmou que na medida em que os negócios no exterior fossem se mostrando
rentáveis, dando retorno para a empresa, haveria disposição em fazer investimentos. Para ele
“... isso tudo era uma coisa que ia acontecer ao longo do processo, na medida em que ele fosse
tendo sucesso...”. Contudo, como os retornos financeiros de curtos e médios prazos com as
exportações não foram satisfatórios, na opinião do diretor comercial, a empresa não chegou a
dedicar recursos com estas atividades. O diretor industrial, no entanto, acredita que a empresa
ganhou muito com as exportações, não em termos financeiros, mas com o aprendizado.
Não obstante um dos dirigentes salientar que a empresa ganhou aprendizado com as
operações de exportação, essa prerrogativa por si só não é suficiente para a sustentação dos
resultados dos negócios estrangeiros, uma vez que a decisões internacionais requerem a
consideração de um conjunto de componentes empresariais (CABRAL e SILVA JÚNIOR,
2008). A literatura tem demonstrado que além da experiência internacional e das
aspirações/expectativas gerenciais, o desempenho exportador é fortemente influenciado por
outros fatores internos à firma, entre eles o nível de comprometimento de recursos e as
estratégias de marketing internacional (CAVUSGIL e NEVIN, 1981; CHRISTENSEN et al,
1987; CAVUSGIL e ZOU, 1994; WOOD e ROBERTSON, 1997; FERRAZ e RIBEIRO,
2002). Estes elementos não parecem ter contornado as decisões da empresa alimentícia em
prol das suas atividades internacionais.
Para o diretor industrial, a motivação da empresa para se internacionalizar estava
relacionada à busca por estabilidade de mercado e como uma alternativa para responder às
flutuações do mercado interno. Para ele:
“... era uma forma de progredir e encontrar uma segurança maior porque variando o
mercado interno a gente tinha uma opção, poderia ter uma opção no mercado externo
que pudesse dar uma segurança maior no contexto de comercialização da empresa”.
serem por meio de embarques de menor valor, a empresa não teve problemas desta ordem,
tendo recebido os valores dos produtos exportados. Todavia, os problemas nestes mercados
foram de outra natureza, relacionados à indisponibilidade da empresa em fazer adaptações
necessárias aos seus produtos e à má qualidade dos mesmos, uma vez que apresentavam
validade inferior à informada na embalagem.
Um aspecto importante que decretou a não continuidade das operações de exportação
foi a incapacidade dos dirigentes da empresa de pensar em longo prazo. A necessidade da
empresa em obter retornos rápidos para compensar os investimentos comprometidos com as
operações de exportação fez com que seus dirigentes pressionassem os empresários no
exterior, levando-os a interromperem as atividades. Outro aspecto diz respeito à incapacidade
de empresa em controlar efetivamente suas operações de exportação. Uma experiência mal
sucedida com Angola ilustra este aspecto. Havia surgido uma possibilidade de formar uma
parceria com um empresário local angolano, apresentado à exportadora por um terceiro. Após
a celebração do acordo, a empresa exportadora transferiu produtos próprios e de terceiros a
este empresário angolano, porém sem qualquer garantia de recebimento. Diga-se de passagem
que a remessa de produtos de terceiros adquiridos no Brasil por meio de pagamento à vista
superava a dos produtos próprios da exportadora. Como o processo de vendas no mercado
angolano não decolava, agentes brasileiros foram enviados para auxiliar no processo de venda
dos produtos exportados ao empresário africano. Os agentes brasileiros conseguiram realizar
as vendas no mercado angolano, porém sem muitas garantias de pagamento. O empresário
africano, por sua vez, não recebendo o pagamento das vendas feitas pelos agentes brasileiros
no mercado local, deixou de remeter pagamento à exportadora brasileira.
O conjunto dos aspectos que caracterizam as descontinuidades identificadas
anteriormente denota que as decisões internacionais da empresa alimentícia pesquisada foram
mais relevantemente motivadas por fatores externos do que internos, conforme salienta
Leonidou (1995). Observa-se que a empresa exportadora procurava solucionar os problemas
que iam surgindo com as atividades internacionais, porém esse processo parecia contornado
por ações mais emergentes do que deliberadas, uma vez que se mostravam fortemente
susceptíveis às contingências dos mercados estrangeiros onde atuava. A empresa exportadora
parecia orientada para os negócios internacionais em termos de aspirações e expectativas
gerenciais, entretanto não mostrava reunir outras características organizacionais importantes
para o desempenho exportador, por exemplo, experiência internacional, comprometimento de
recursos e estratégias de marketing internacional (CAVUSGIL e NEVIN, 1981;
CHRISTENSEN et al, 1987; CAVUSGIL e ZOU, 1994; WOOD e ROBERTSON, 1997;
FERRAZ e RIBEIRO, 2002). O relato da diretora da trading company contratada pela
empresa alimentícia reforça essa constatação. Esta dirigente afirma que não entendia muito
bem como os negócios da empresa pesquisada eram realizados. Para ela, sua trading foi
contratada apenas para “... pegar a mercadoria e colocá-la nas mãos do comprador”. Ela
acredita que poderia ter contribuído para alavancar os negócios da empresa pesquisada se
tivesse mais informações de como estavam estruturadas as suas operações e, se a contratante
tivesse mostrado interesse em aproveitar o conhecimento que a contratada possuía de
negócios internacionais.
5 Considerações finais
Pela análise dos resultados foi possível perceber que a empresa pesquisada não
conseguiu obter melhores resultados em suas atividades internacionais por alguns fatores
importantes: Primeiro, a trading company foi contratada para realizar apenas atividades
administrativas de exportação da empresa alimentícia, por exemplo, a realização as operações
de câmbio, registro de exportação e importação, contratação de despachante aduaneiro,
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6 Referências
NOTAS
1 – Usualmente, a classificação do tamanho de uma empresa pode ser feita com base no número de empregados
ou na receita operacional bruta anual. Na pesquisa, optou-se pela primeira modalidade por meio da classificação
sugerida pela Fundação Centro de Estudos em Comércio Exterior (FUNCEX), que estabelece como pequena
empresa aquela que tem até 100 empregados; média, de 100 a 500; e grande, acima de 500 empregados.