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HISTÓRIA DA ELETROTERAPIA
Eclesiastes, 1:9.
A Estimulação Elétrica (EE) usada com fins terapêuticos - a Eletroterapia - ocupa, desde o final dos anos 60,
um lugar de destaque no arsenal de recursos terapêuticos usados pelos fisioterapeutas. Esse ressurgimento
(2) às descobertas neurofisiológicas feitas principalmente no campo dos mecanismos de dor e analgesia,
que permitiram entender, programar e sistematizar melhor o uso da EE nas mais variadas síndromes
dolorosas, além de renovar o interesse pelo seu uso em outros tipos de problemas, especialmente os
Não obstante essa recente retomada, o uso da estimulação elétrica transcutânea para fins terapêuticos perde-
se na noite dos tempos. Suas técnicas não são novas e seus princípios básicos são estudados há muitos e
muitos séculos.
O presente texto convida o leitor a fazer uma viagem numa espécie de túnel do tempo, desde a época
em que se fazia estimulação com peixes elétricos até o emprego de modernas próteses mioelétricas
computadorizadas, e a conhecer um pouco da aventura secular da eletroterapia (e também algumas das suas
desventuras).
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Na história do uso terapêutico das correntes elétricas, nós vamos encontrar "aparelhos" utilizados há
como meio terapêutico. Apesar de não haver evidências escritas sobre o uso terapêutico dos peixes elétricos
nos tempos mais antigos, é notável que o malopterus electricus, ou peixe gato do Nilo, tenha sido
representado nas paredes dos túmulos dos faraós egípcios da V Dinastia (2750 a.C.).
Eletroterapia e da Eletroanalgesia falam sobre o uso terapêutico dos peixes elétricos em diversos problemas
(LICHT, 1970; KANE & TAUB, 1975; MORUS, 1993; MOTTELAY, 1980; ROWBOTTOM M &
Todos esses textos contam a clássica história de Antero, acontecida mais ou menos à época da
crucificação de Cristo. Antero, um escravo liberto do imperador Tiberius, que padecia de gota, ao passear as
margens do rio Tibre, pisou, por acaso, em um peixe elétrico, recebendo uma forte descarga de eletricidade.
Imagino eu que depois de xingar muito, por causa do susto que levou e da dor que sentiu, ele percebeu que
Scribonius Largus, (46 d.C.), médico de Messalina e do imperador romano Marco Aurélio, é quem
nos conta a história de Antero. Essa é, provavelmente, a referência escrita mais antiga sobre os efeitos
analgésicos dos peixes elétricos. Scribonius usava esses peixes para curar nevralgias, cefaléias e artrites. Ele
afirmava que:
"Quando se aplica o torpedo negro vivo a uma zona dolorosa, ele alivia e cura algumas cefaléias
crônicas e intoleráveis sempre que a dor esteja localizada. Existem, todavia, muitas espécies de
torpedo e é necessário testar duas ou três variedades antes de se conseguir a insensibilidade; este
"Quando se dispõe de um torpedo negro vivo e se aplica sob os pés, faz-se desaparecer a dor da
artrite. O paciente deve permanecer em pé na água, junto a areia, e o torpedo deve adormecer
todo o pé e a perna, até o joelho. Quando isto acontece, alivia-se a dor e a cura é permanente.
Assim curou-se Antero, escravo liberto de Tibério." (In: KANE & TAUB, 1975, p. 125)
Scribonius notou ainda que o adormecimento era gradual e que podia persistir mesmo após o contato com o
Cláudio Galeno (130-200 d.C.), considerado um dos mais notáveis médicos da Antigüidade, pois
escreveu quase uma centena de dissertações médicas conhecidas, também estudou o uso dos peixes elétricos,
tanto vivos quanto mortos, para o tratamento de diversas doenças. Ele afirmava que o peixe, quando tomado
numa refeição, não tinha nenhum efeito, mas quando era aplicado vivo em um paciente sofrendo de dores de
"Aplico, pois, um torpedo vivo na cabeça de uma pessoa que sofre de cefaléia porque creio que
o remédio exerce um efeito calmante, como todas as coisas que produzem uma sensação de
Na primeira alusão escrita sobre o peixe elétrico ele é chamado de "Nark", sugestivo termo grego
que pode ser traduzido por "adormecimento", e que deu origem à palavra narcose. Em latim, o peixe elétrico
Além do Torpedo marmorata, um peixe marinho que possui de cada lado de sua cabeça um órgão
elétrico cujas descargas são capazes de paralisar suas vítimas, existem outras variedades principais de peixes
elétricos, como por exemplo: o Gymnotus electricus, nos rios da África, o Malopterus electricus, do rio Nilo,
e o Electrophorus ou Enguia Elétrica, do rio Amazonas, este último sendo capaz de gerar mais de 550 Volts
de tensão! Supõe-se que os órgãos elétricos se originam em músculos e em geral dispõem-se em uma série
de placas formando uma bateria orgânica usadas provavelmente como proteção contra predadores e para
seguinte forma: ele foi usado por diversos médicos para tratar enxaquecas (o peixe era envolvido ao redor da
cabeça), artrites (colocando-o debaixo dos pés), asma (respirando sua fumaça enquanto o peixe cozinhava) e
hemorróidas (onde se enfiava o peixe é que não podemos imaginar, dizem os autores!). Esse tipo de
tratamento continuou a ser usado por toda a Idade Média e Renascimento e é empregado até hoje em
algumas culturas.
Em tempo: a indicação para tratar hemorróidas é comer um ensopado de peixe elétrico. Obviamente,
Jogados em outra época pelo nosso "Túnel do Tempo", vamos encontrar William Gilbert (1544 -
1603), médico da rainha Catarina II da Inglaterra, (aquela que o rei Henrique VIII trocou pela Ana Bolena
que, aliás, dizem as más línguas, não estava lá com essa bola toda).
Pois, então, William Gilbert escreveu uma grande obra sobre Eletricidade Médica, chamada "DE
MAGNETE" e é considerado um dos pais da moderna eletroterapia, por ter sido o primeiro a classificar e
Outro "bioengenheiro" foi Van Musschenbrok, médico holandês de Leyde, que inventou o primeiro
condensador elétrico (a garrafa de Leyde, como ficou mais popularmente conhecida) constituído por um
recipiente de vidro revestido de folhas de estanho [Fig. 2]. E ele próprio foi a primeira vítima de sua
invenção: numa carta escrita em 1746 a um amigo, ele conta que levou um choque tão violento na mão
direita que todo o seu corpo sacudiu, como se ele tivesse sido atingido por um raio!
Figura 2. Uma unidade isolada e uma bateria feita com garrafas de Leyde.
Essa é a outra parte da história pois, se os peixes elétricos foram usados principalmente para aliviar
dores, desde a Antigüidade já se sabia que esses animais eram capazes de produzir descargas elétricas que
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induziam contrações musculares involuntárias nas pessoas. Plínio, em sua “História Natural” (Apud LICHT,
um bastão, o peixe tem a propriedade de adormecer até o braço mais forte e de atravessar os pés
O abade Nollet, médico e - a julgar por essa história - um grande gozador, sabedor dessa
propriedade das correntes elétricas e freqüentador da corte e dos lugares mais badalados
da Paris do século XVI, fez uma divertidíssima experiência com a garrafa de Leyde. Em
Versailles, diante do rei e de toda corte de França, ele colocou 240 soldados em fila, de
mãos dadas. Depois, ele pediu para que os dois soldados que estavam nas extremidades
da fila segurassem, cada um deles, um dos pólos da bateria de garrafas. Fechado o circuito, os 240 soldados
levaram um choque tão grande que pularam para cima, todos ao mesmo tempo, para o delírio e aplausos
Jallabert (1748) e o próprio abade Nollet trabalharam muito com a estimulação de hemiplégicos e de
soldados paralíticos. Deshais (1749) foi quem sistematizou essas experiências em Montpellier, publicando
O suiço Jallabert e o estadista, físico e empinador de pipas americano Benjamim Franklin (1706 -
1790) mostraram que duas pontas metálicas permitem descarregar à distância um corpo eletrizado (Olha o
conceito de eletrodos nascendo aí, gente!). Gray e Wheeler, em 1729, descobriram as propriedades
Zetzell, em 1754, na Suécia, publicou seus bons resultados de tratamento eletroterápico para dores
de cabeça e de dentes e Lovett publica, em 1756, o primeiro livro em língua inglesa sobre eletricidade
pesquisador da área e publicando em 1759 seu "Desideratum: or Electricity Made Plain and Useful by a
Lover of Mankind and of Common Sense". Neste livro, Wesley dá diversos exemplos de tratamentos
eletroterápicos para dores ciáticas, histeria, dor de cabeça, pedra nos rins, angina pectoris e gota, entre outras
indicações.
Nessa história toda, o salto de qualidade da eletroterapia se deu em função de dois fatos: os
experimentos de Galvani e a invenção da pilha de Volta. Luigi Galvani e Alesandro Volta: dois italianos
É curioso observar que um conjunto de experimentos feitos com pernas de rãs permitiu descobertas
importantes nos campos de Física e da Fisiologia, fundou os estudos eletrofisiológicos e gerou um clássico
Luigi Galvani, professor, médico e investigador nos campos de anatomia comparativa, fisiologia e
química da vida (Bolonha, 1737 - 1798), juntamente com sua esposa Lúcia, fizeram essas revolucionárias
Dizem que a primeira observação sobre a eletricidade feita pelo casal foi obra do acaso. Madame
Galvani encontrava-se no laboratório do marido dissecando uma rã bem próxima a uma máquina
eletrostática quando, acidentalmente, o bisturi tocou a máquina: Galvani viu saltar faíscas das pernas de uma
rã morta que sua esposa dissecava e, quando as faísca saltaram, os músculos da rã se contraíram e suas
pernas chutaram!
Luigi ficou enlouquecido. "O que teria provocado uma contração num ser já morto?", perguntava-se
ele. A partir dai o Sr. e a Sra. Galvani, além de trabalharem duro no laboratório, convidavam seus amigos
para saraus de verão em sua casa de campo, onde os espantados convidados podiam ver com seus próprios
olhos as contrações da rã todas as vezes que, ao longe, um relâmpago brilhava nos céus.
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Milagre? Não. Galvani certamente conhecia os experimentos de Franklin, que, quarenta anos antes,
havia inventado o pára-raios. Assim, ele pegava uma rã dissecada, pendurava a pobre fora de casa e ligava a
extremidade cefálica do animal a um fio vindo de um pára-raios e outro fio ligava as pernas do bichinho a
todos os músculos (da rã) entram em violentas e múltiplas contrações”. Assim, "juntamente com o esplendor
O que parecia milagre para o casal Galvani e seus convidados tem hoje uma explicação lógica muito
simples. Durante uma tempestade, a atmosfera torna-se densamente carregada de eletricidade e o relâmpago
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ocorre quando uma parte dessa carga passa da atmosfera para a terra. Desse modo, a rã, ligada ao "circuito"
do relâmpago, recebe e reage a uma pequena corrente elétrica que circula através de seu corpo.
Mas, eu disse que hoje esse experimento tem uma explicação lógica. Na época de Galvani muitas rãs
mortas foram tornadas vivas e histórias fantásticas foram inventadas para explicar a origem dessa força vital
Dos seus estudos sobre os efeitos da eletricidade em rãs, o cientista de Bolonha derivou a hipótese
que os tecidos animais são dotados de uma eletricidade intrínseca envolvida em processos fisiológicos
fundamentais, como a condução nervosa e a contração dos músculos. O trabalho de Galvani (embora não por
vontade dele) varreu para longe das ciências da vida os fluidos misteriosos e as entidades enganosas como os
"espíritos animais" e fundou uma ciência nova, a Eletrofisiologia. Dois séculos de trabalho de pesquisa
demonstraram como a concepção de Galvani de eletricidade animal foi um grande insight. Entretanto, seus
contemporâneos místicos consideraram que seus experimentos provavam que a alma existe, e que ela fluía
pelo corpo na forma de eletricidade. Afinal de contas, os crentes sempre descreveram a alma como uma
forma de energia.
Essas experiências, entre tantos outros importantes dados para o desenvolvimento da ciência,
ajudaram a gerar uma das melhores obras de terror da história da literatura fantástica: o "Frankenstein",
Mary tinha 19 anos quando escreveu esse romance. Era a segunda esposa de Percy B.Shelley, poeta
e intelectual rebelde, (..."Pois existem dois mundos, da vida e da morte: / Um é o que cruzaste; mas o outro /
Jaz sob a terra, onde habitam / As sombras de todas as formas que pensam e vivem / Até que a morte as una
O casal era amigo de Lord Byron e com ele passaram o verão de 1816 numa casa perto do lago de
Genebra, na companhia de outro escritor, este de letras menores, chamado John Polidori.
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Conta-nos Mary Shelley, na sua introdução ao "Frankenstein", que "Aquele... (1816) estava sendo
um verão muito desagradável, e as chuvas incessantes nos obrigavam a permanecer em casa durante vários
dias. (...) - 'Cada um de nós vai escrever uma estória de fantasmas'- disse Lord Byron, e sua proposição foi
aceita. (...) muitas e longas eram as conversas entre Lord Byron e Shelley às quais eu assistia como ouvinte
devota, mas silenciosa. Durante uma delas, discutiu-se sobre várias doutrinas filosóficas e, entre outras, sobre
a natureza do princípio da vida, e se havia possibilidade de ele ser descoberto e comunicado a algo. Eles
falavam das experiências do Dr. Darwin (...) que havia guardado um pedacinho de aletria numa caixa de
vidro até que, por algum meio extraordinário, ele começou a se mover voluntariamente. Afinal de contas,
não era assim que a vida devia ser criada. Talvez se pudesse reanimar um cadáver. As correntes galvânicas
tinham dado sinal disso; talvez se pudesse fabricar as partes componentes de uma criatura e depois juntá-las
escreveram uma), e nem mesmo quem ganhou o concurso. Mas, a humanidade ganhou, de uma só tacada, e
pelo motivo que ela mais critica na conduta dos Homens, - a mais absoluta falta do quê fazer -, dois dos
maiores arquétipos do horror de todos os tempos, Drácula e Frankenstein, "que já nasceram com a autoridade
dos mitos, e que se levantaram dali para caminharem com suas próprias pernas, até hoje, juntando novos
significados pelo caminho". Mas, deixemos a literatura de lado e voltemos à História da Eletroterapia.
Não obstante a relevância dos experimentos de Galvani, esse estudioso de Bolonha é preterido na
história de ciência, porque a importância de suas pesquisas parece ficar limitada ao fato de que elas abriram
os caminhos aos estudos do físico Alessandro Volta, que culminaram em 1800 com a invenção da bateria
elétrica.
Alessandro Volta (1745 - 1827), grande físico italiano, percebendo o alcance da descoberta de
Galvani, criou, em torno de 1800, a primeira bateria utilizável para fins práticos. Volta foi um forte opositor
das teorias de Galvani sobre eletricidade animal. Galvani, acreditava que tinha provado que o corpo possui
eletricidade e, em 1791, ele fez um anúncio dramático aos cientistas da Europa: ele descobrira que uma força
vital fluía pelo sistema nervoso, e este era o élan da vida. Dois anos depois dessa comunicação de Galvani,
Alessandro Volta fez sua própria interpretação a respeito do assunto. Volta afirmou que o Galvani tinha
descoberto era uma forma nova de eletricidade: as correntes elétricas de Galvani eram causadas
simplesmente pelos íons salgados existentes no corpo. Volta não acreditava na existência de qualquer tipo
intrínseco de eletricidade animal e, portanto, em nenhuma evidência para a existência de uma alma.
À Galvani, ninguém lhe deu mais ouvidos, e isso foi para ele um terrível bofetão na cara. Ele
publicou mais um relatório anonimamente, mas este também não recebeu nenhuma atenção da comunidade
Volta tornou-se rico e famoso desenvolvendo a pilha. Nessa época (1800), tanto Galvani quanto sua
esposa já haviam morrido e, ironicamente, o gerador de correntes contínuas, idealizado por Volta, ficou
O tema da controvérsia científica entre Galvani e Volta já dura há dois séculos e foi mantida por seus
sucedâneos, estudiosos da excitabilidade elétrica em nervos e músculos, cientistas como Nobili, Matteucci,
du Bois-Reymond, von Helmholtz, Bernstein, Hermann, Lucas, Adrian, Hodgkin, Huxley, e Katz.
As experiências de Galvani e a pilha de Volta tiveram o duplo mérito de possibilitar o início dos
época para o uso terapêutico das correntes galvânicas, inclusive para introduzir substâncias medicamentosas
uma nova fonte de eletricidade, preciosa para a terapêutica e para a pesquisa, que fez renovar e incandescer o
interesse médico pela eletroterapia. A eletricidade, até então estática, tornou-se dinâmica com a pilha alcalina
Esses inventos vão encontrar na França um de seus mais famosos usuários: Duchenne de Boulogne,
considerado um dos maiores eletroterapeutas de todos os tempos. Guillaume Benjamin Amand Duchenne de
http://www.whonamedit.com/doctor.cfm/950.html).
Pesquisador sério e metódico, mas também um grande artista e fotógrafo, Duchenne desenvolveu
uma imensa atividade eletroterapêutica e divulgou sua grande experiência clínica numa monografia
pathologie et à la thérapeutique” (Paris, J. B. Baillière et fils, 1855; 2nd edition, 1861; 3rd editon, 1872).
Segundo informações do Prof. Palmiro Torrieri Junior [comunicação pessoal], há um exemplar deste livro na
biblioteca da SUAM - RJ, do acervo original da Associação Brasileira Beneficente de Reabilitação, ABBR -
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Avenue Berkeley CA 94704 Internet/Art: (510) 849-2133 Main store: (510) 849-2087
moe@moesbooks.com) encontra-se a venda um exemplar da terceira edição desse livro por U$ 250.
Duchenne foi um clínico brilhante, responsável pelo desenvolvimento de uma meticulosa técnica de
Duchenne construiu seu próprio aparelho de estimulação neuromusuclar e aprimorou a técnica de uso de
eletrodos de superfície. Ele descobriu que a estimulação elétrica externa podia provocar movimentos nos
músculos e inicialmente ele usou isso como uma forma de terapia, mas depois avaliou as possibilidades
diagnósticas do método. Nas duas primeiras edições de “De l'Electrisation localisée”, Duchenne fez
descrições clínicas exatas sobre o curso usual da poliomielite, incluindo suas alterações elétricas típicas e
prognósticos de recuperação baseados nos achados elétricos. Em função dessas alterações, Duchenne fazia
uma distinção entre “estimulação indireta via nervo” e estimulação direta do músculo. Ele também realizou
resultados foram descritos em uma comunicação feita à Academia de Medicina de Paris em 1848. Usou
também a EE para analisar o mecanismo da expressão facial, tendo publicado um estudo a respeito disso e
tendo sido um dos primeiros a usar a fotografia para ilustrar os processos das doenças [Fig. 4].
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Figura 4. Ilustração do livro The Mechanism of Human Facial Expression Paris: Jules Renard, 1862,
mostrando Duchenne fazendo eletroestimulação na face de um paciente, “O Velho”, o principal sujeito das
fotografias de Duchenne. Esse paciente sofria de um tipo de anestesia quase total da face. Essa circunstância
fez dele o sujeito ideal para as investigações de Duchenne, uma vez que os eletrodos de estimulação que ele
Os testes eletrodiagnósticos, portanto, começaram a ser feitos nos meados de 1800. Uma excelente
revisão histórica das técnicas tradicionais de avaliação elétrica pode ser encontrada no livro de Sidney Licht
mapeamento posterior desses pontos, feito por outros cientistas, foram os principais passos para o
se durante essa época, com os procedimentos de curvas intensidade-duração e cronaxia sendo descritos e
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usados em animais de laboratório. Adrian reportou o uso dessas técnicas eletrodiagnósticas em humanos em
1916. As curvas intesidade-duração, medidas cronaximétricas e outros testes elétricos ganharam importância
com o seu uso freqüente para avaliar lesões periféricas durante as duas grandes guerras. Nos anos 1950, a
A Estimulação Elétrica (EE) usada com fins terapêuticos - a Eletroterapia - ocupa, desde o final dos
anos 1960, um lugar de destaque no arsenal de recursos terapêuticos usados pelos fisioterapeutas. Esse
(2) às descobertas neurofisiológicas feitas principalmente no campo dos mecanismos de dor e analgesia,
que permitiram entender, programar e sistematizar melhor o uso da EE nas mais variadas síndromes
dolorosas, além de renovar o interesse pelo seu uso em outros tipos de problemas, especialmente os
o controle do pé caído de hemiplégicos. Nas Olimpíadas de Montreal, em 1976, Yadov M. Kots, um médico
da delegação russa, foi visto usando o que ficou conhecido como Corrente Russa (CR) para fortalecimento
muscular em atletas de alta performance. Kots afirmava que a CR produzia ganhos de força de 30 a 40%
maiores do que com o exercício voluntário, com contrações musculares induzidas eletricamente de 10 a 30%
maiores que a capacidade de contração voluntária máxima dos sujeitos. Ninguém conseguiu reproduzir os
achados de Kots mas, o interesse pela Estimulação Elétrica Neuromuscular ficou renovado a partir dessa
época. As principais indicações dos programas NMES são: fortalecimento muscular, manutenção de ADM e
sangüíneo, e EE em disfunções urinárias. As indicações dos programas FES são: para ortostatismo e marcha
em lesões medulares, para dorsiflexão assistida do pé e tornozelo, para subluxação do ombro, no controle da
Mas, o nosso "Túnel do Tempo" novamente conseguiu nos localizar e nos transportar para o século
XXI, ano 2003. Entretanto, (Oh!, suprema desgraça!), caímos no Brasil. Com tantos centros desenvolvidos
em eletroterapia - EUA, Canadá, França, Inglaterra, Suécia - viemos parar no ..."Meu Brasil brasileiro, meu
mulato inzoneiro, vou cantar-te nos meus versos"... (obrigado, Ari Barroso).
E o quê nós encontramos aqui nesse imenso pais tropical? Um resumo ilustrativo da própria história
da eletroterapia, desde seu passado mais remoto (quantos peixes elétricos existem no rio Amazonas, heim,
heim?) até o próprio futuro da eletroterapia (as órteses mioelétricas funcionais para marcha assistida de
Aparelhos geradores de tensão eletrostática, descendentes diretos da garrafa de Leyde? Tem, nas
TENS? Claro que tem, desde 1982. Em maio de 1982, no IX Congresso Internacional da Word
Confederation for Physical Therapy, em Estocolmo, Suécia, pude tomar contato direto com essa nova
tecnologia para eletroanalgesia que recém tomava corpo naquele início dos anos 80. Após ouvir dezenas de
comunicações sobre o uso da TENS feitas nesse Congresso, trouxe para o Brasil, a pedido de uma empresa
nacional produtora de equipamentos para eletroterapia (a KLD Biossistemas), um aparelho TENS americano
Claro que sim, ó pá!, desde o começo da última década do século XX.
Então, não foi tão ruim ter vindo parar aqui no Brasil. Até porquê são com os recursos disponíveis
no nosso mercado é que nós vamos ter que trabalhar, não é mesmo? Além disso, com o absurdo aumento de
Este capítulo tentou refazer o caminho da eletroterapia, - desde o uso do peixe elétrico num ato
terapêutico até o emprego das modernas próteses elétricas facilitadoras do movimento voluntário -,
destacando seus momentos de grande aceitação e também de total descrédito. Esses períodos de descrédito
deveram-se, sobretudo, à falta de conhecimento das possibilidades e das limitações da eletroterapia, que fez
acreditar, em alguns momentos históricos, que ela fosse a panacéia universal para a cura de todos os males.
Portanto, praticar uma eletroterapia baseada em evidências clínicas é necessário para não mais desacreditar
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Cornwall MW & Fukamoto D. PT580 - PHYSICAL AGENTS. Northern Arizona University. Disponível em
Kane K & Taub A. A History of Local Electrical Analgesia. Pain 1975 1: 125-38
Liberson WT et al. Functional electrotherapy: stimulation of peronealnerve synchronized with swing phase
of gait of hemiplegic patients. Arch Phis Med Rehabil 1961 42: 101-5.
Morus IR. Currents from the underworld: electricity and the technology of display in early Victorian
Mottelay PF. Bibliographical History of Electricity and Magnetism. New York: Maurizio Martino Pub,
1980.
Rowbottom M & Susskind C. Electricity and Medicine: History of Their Interaction. San Francisco: San
Talbot JH. A Biographical History of Medicine. New York: Grune & Stratton, 1970.
Veríssimo LF. Os Monstros. Jornal Estado de São Paulo, Caderno 2/Cultura, p. D2, Domingo, 25/04/1999.