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M.A.

, 61 anos, IMC de 31, cuidadora de idosos, procurou um serviço de saúde devido a dores
recorrentes na coluna, que relata serem constantes ao longo do último ano. Ela relata que a dor
piora durante a transferência de idosos acamados ou durante o levantamento de carga e que os
sintomas são mais intensos no final do dia e quase inexistentes no início da manhã. Apresenta maior
tensão à palpação entre as vértebras lombares e relata diminuição de força e formigamento em
MMII, especialmente na coxa esquerda. Sua queixa principal é: “Sinto muitas dores na lombar,
principalmente no final do dia ou quando carrego peso” (SIC). Apresenta HAS, diabetes e
osteoporose, a irmã apresenta queixas semelhantes e a mãe faleceu por complicações da diabetes.
Outros familiares não têm histórico de doenças. Durante o exame de palpação foi possível
perceber: anteriorização cervical, hipercifose torácica alta, hiperlordose lombar, sacro
posteriorizado, escoliose em “C” à esquerda (ombro E e EIAS E mais elevados). No exame
radiológico apresenta proliferações osteofíticas marginais nos corpos vertebrais torácicos e
lombares, escoliose torácica em C à esquerda, degeneração no disco intervertebral de L3-L4 e L4-
L5, redução do espaço discal entre L4-L5 e L5-S1 e acentuação da lordose lombar.

Questões:

Qual o papel da coluna enquanto estrutura e qual sua importância funcional?


O papel da coluna é proteger a medula espinhal e os nervos espinhais, bem como suportar o peso do
corpo, servir de ponto de fixação para as costelas, para a cintura pélvica e para os músculos do dorso,
além de fazer a absorção de choques, a transmissão de carga da cabeça e do tronco para a pelve, a
sustentação para os movimentos da cabeça, dos membros superiores e inferiores, auxilia na ventilação, dá
estabilidade e amplitude de movimento aos membros apendiculares e ajuda a direcionar a linha de
gravidade do corpo através da base de suporte fornecida pelos pés.

2. Curvaturas: quais são as curvaturas e qual seu papel na coluna vertebral? O que é normal e o
que é patológico em relação às curvaturas?
As curvaturas da coluna são a cervical e a lombar. Elas caracterizam-se por serem convexas
anteriormente e côncavas posteriormente. Desta forma, permitem um alinhamento chamado lordose, que
significa “curvatura para trás” (curvaturas primárias). Além delas, há a curvatura torácica e a sacral, que
exibem uma cifose natural. A cifose é côncava anteriormente e convexa posteriormente (curvaturas
secundárias). O papel das curvaturas na coluna vertebral é aumentar a resistência a cargas compressivas.
Todavia as curvaturas podem tornar-se patológicas quando há um desvio exagerado da mesma, como
ocorre nos casos de hiperlordose, hipercifose e escoliose. O desvio exagerado dessas curvaturas leva a um
desequilíbrio de forças intrínsecas, gerando a deformidade. As principais causas para estas patologias são
má postura, envelhecimento, condicionamento físico insuficiente, associado à inflamação ou degeneração
do disco intervertebral, alterações musculares, osteoporose das vértebras (mais frequente no idoso) e
doenças endócrinas.

3. Fale da conexão entre duas vértebras: quais as articulações e qual o papel dessas articulações na
função global da coluna vertebral?
As articulações retratadas são a articulação interfacetária (ou zigapoafisária) e intervertebral (ou
intercorporal). A articulação interfacetária é do tipo sinovial e sua função na coluna vertebral é orientar o
movimento, considerando que facetas mais horizontalizadas favorecem a rotação axial e facetas mais
verticalizadas, tanto no plano sagital quanto frontal, bloqueiam a rotação axial. Por outro lado, a
articulação intervertebral é do tipo sínfise e funciona principalmente para a absorção de choque e
distribuição de carga. Além disso, a sínfise intervertebral acrescenta estabilidade entre as vértebras, serve
como local aproximando dos eixos de rotação e funciona como um espaçador intervertebral deformável.
Como espaçadores, os discos intervertebrais constituem aproximadamente 25% da altura total da coluna
vertebral. Quanto maior a relação entre a altura do disco intervertebral, maior o movimento relativo entre
os corpos consecutivos.
4. Como se estrutura o disco intervertebral? Qual sua função?
O disco intervertebral é formado pelo núcleo pulposo, anel fibroso e placas terminais vertebrais. O
primeiro é um gel semifluído avascular que constitui 40 a 60% do disco. Ele pode ser deformado sob
pressão, sem redução em seu volume, permitindo acomodação durante o movimento e transmitindo a
carga compressiva de uma vértebra para outra. Ele é composto por fibrocartilagem, colágeno tipo I e II,
proteoglicanas e água (70-90% de água). O segundo é uma estrutura composta de 10 a 20 camadas
concêntricas ou lamelas de fibras colágenas que envolvem o núcleo pulposo. As fibras são paralelas entre
si, de modo diagonal, dispondo-se em direções opostas nas lamelas adjacentes. O gel proteoglicano une as
fibras colágenas e lamelas firmemente, prevenindo sua deformação através de torções, tração ou
cisalhamento. Ele é composto por tecido conjuntivo denso, fibrocartilagem (condroblastos), colágeno tipo
I e II, proteoglicanas, elastina e água. O terceiro é composto por cartilagem hialina, que se modificam em
fibrocartilagem com o envelhecimento. Essas placas estão fortemente ligadas ao anel fibroso e fracamente
ligadas ao platô vertebral. Em suma, a partir desta constituição, o disco intervertebral atua como
amortecedor (distribuindo e absorvendo cargas), separa as vértebras, permite mobilidade e emergência
das raízes nervosas, atua como sistema hidráulico complexo que absorve choques, permite uma
compressão transitória (responsável pela absorção de impacto e distribuição de carga) e promove
estabilidade.

5. Quais movimentos ocorrem na coluna vertebral? Quais os principais restritores desses


movimentos?
Os movimentos são de flexão, extensão, inclinação e rotação.
Flexão: é restringida pelos músculos extensores, ligamento alar, ligamento supra e interespinhoso, cápsula
interfacetária, ligamento flavo, ligamento longitudinal posterior e anel fibroso posterior.
Extensão: limitada pelos músculos flexores, contato ósseo de processos espinhosos, cápsula interfacetária,
anel fibroso anterior e ligamento longitudinal anterior.
Inclinação e rotação: são restritas pelos ligamentos e pela congruência óssea.

6. Em relação ao caso da Sra. Maria:

a. Quais seriam os possíveis acometimentos que estão causando a dor atual? Justifique sua resposta.
A Sra Maria apresenta hérnia discal lombar devido a sua ocupação. O levantamento de peso constante
pode ter provocado tensão ligamentar e forças de compressão e cisalhamento desenvolvidas contra discos
intervertebrais e articulações dos processos articulares. Essa patologia pode ser detectada, principalmente
através da presença de osteófitos e da dor demonstrada durante o processo de palpação das vértebras
lombares, já que, durante o levantamento de peso, a força de compressão imposta é representativa na
região lombar inferior.
b. Quais as estruturas possivelmente afetadas? Justifique sua resposta.
As estruturas possivelmente afetadas são os discos intervertebrais (principalmente da porção lombar) e,
consequentemente as raízes nervosas, que serão comprimidas pelo extravazamento de líquido do núcleo
pulposo. A compensação gerada pela paciente para amenizar sua dor também pode gerar consequências.

Referências:

• Aula: CINESIOLOGIA E BIOMECÂNICA DA COLUNA VERTEBRAL E COLUNA LOMBAR.


Disciplina: CINESIOLOGIA. Ministrada por Letícia Bergamin Januário, Maio de 2015.

• Aula: CINESIOLOGIA E BIOMECÂNICA DA COLUNA CERVICAL e CINESIOLOGIA E


BIOMECÂNICA DO TÓRAX E CAIXA TORÁCICA. Disciplina: CINESIOLOGIA. Ministrada por
Marina Machado Cid, Maio de 2015.

• NEUMANN, D. A. Cinesiologia do aparelho musculoesquelético: Fundamentos para a reabilitação


física. Ed. Guanabara Koogan. Rio de Janeiro. 2006.

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