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Crime de

Perseguição
Art. 147-A do Código Penal
APRESENTAÇÃO

Prezadas amigas e amigos, o dia 09.03.21 foi marcado pela aprovação do PL 1.369/19,
que previa a pificação da conduta conhecida por stalking.
O texto foi aprovado pelo senado e seguiu para a sanção do Presidente da República, de
forma que o presente ebook, desenvolvido para o meu livro de Direito Penal – Parte Especial –
ainda em desenvolvimento, depende da sanção presidencial para validação. Havendo vetos,
alterarei o texto para vocês.
Naturalmente, há temas que podem ser controversos na doutrina, como, por exemplo,
a natureza formal do delito por mim sustentada, entre outros pontos. De qualquer forma,
fiquem a vontade para, no nosso Instagram e canal de comunicação do Curso Mege, buscarem
esclarecimentos e apresentarem crí cas.
O ebook é parte do trabalho de constante atualização dos materiais para nossos alunos
e, antes de ser enviado para vocês, foi enviado para as Turmas Ponto a Ponto MP/MG, MP/SP e
Clube do MP.
Forte abraço e fiquem com Deus!

Fernando Abreu
@prof.fernandoabreu

t.me/cursomege
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SUMÁRIO

1. PERSEGUIÇÃO – ART. 147-A....................................................................................................5


1.1 Introdução .......................................................................................................................5
1.2 Sujeitos do crime..............................................................................................................5
1.3 Estrutura do po penal .....................................................................................................6
1.4 Consumação e tenta va ...................................................................................................8
1.5 Majorante ........................................................................................................................8
1.6 Ação penal .......................................................................................................................9
1.7 Conflito aparente de normas ............................................................................................9
1.8 Você não pode deixar de saber - peculiaridades de provas..............................................10

mege.com.br
1. PERSEGUIÇÃO – ART. 147-A
Perseguição
Art. 147-A. Perseguir alguém, reiteradamente e por qualquer meio, ameaçando-lhe
a integridade sica ou psicológica, restringindo-lhe a capacidade de locomoção ou, de
qualquer forma, invadindo ou perturbando sua esfera de liberdade ou privacidade. Pena –
reclusão, de 06 (seis) meses a 2 (dois anos, e multa.
§ 1º A pena é aumentada de metade se o crime é come do:
I - contra criança, adolescente ou idoso;
II - contra mulher por razões da condição de sexo feminino, nos termos do § 2º-A do
art. 121 deste Código;
III - mediante concurso de 2 (duas) ou mais pessoas ou com o emprego de arma. §
2º As penas deste ar go são aplicáveis sem prejuízo das correspondentes à violência.
§ 3º Somente se procede mediante representação.
Art. 3º Fica revogado o art. 65 do Decreto-Lei nº 3.688, de 3 de outubro de 1941.
5
1.1. Introdução

O delito de perseguição, incluído pelo art. 147-A do Código Penal, tutela a liberdade do
indivíduo, caracterizando-se, a priori, como delito de perigo, vez que se revela como delito de
flanco para diversos outros delitos.
O ataque à liberdade individual com o obje vo de ameaçar alguém da prá ca de um
mal injusto e grave tem o condão de perturbar sua paz, reduzindo sua faculdade de determinar-
se de forma livre.
A conduta, conhecida por stalking, é a perseguição persistente, na qual o sujeito a vo
pra ca, reiteradamente, comportamentos ameaçadores sob o aspecto sico ou psicológico,
contra alguém, ou ainda condutas invasivas e perturbadoras à esfera da liberdade ou
privacidade da ví ma.

1.2. Sujeitos do crime

Em tese, qualquer pessoa pode ser sujeito a vo do delito de perseguição, vez que o
po penal não exige qualquer qualidade especial do agente. Sendo o sujeito a vo funcionário
público, a conduta ainda pode se amoldar aos pos penais previstos na Lei de Abuso de
Autoridade (Lei 13.869/19).
O sujeito passivo pode ser qualquer pessoa que possua capacidade de compreensão e

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de decidir sobre seus próprios atos, excluindo-se, portanto, os menores de tenra idade, os
loucos e etc. Registre-se que, nesses casos, o sujeito passivo poderá ser o responsável pelo
menor ou pessoa sem capacidade de compreensão, vez que podem se reves r do meio pelo
qual a conduta é pra cada (perseguição a filho menor, por exemplo).

1.3. Estrutura do po penal

A arquitetura do crime de perseguição, previsto no art. 147-A do CP, é formada pelo verbo
nuclear perseguir e pelos meios ameaçando, restringindo, invadindo ou perturbando; pelas
elementares obje vas alguém, integridade sica ou psicológica, capacidade de locomoção; e
pelas elementares norma vas reiteradamente, por qualquer meio e sua esfera de liberdade ou
privacidade.

Verbos Nucleares
Ÿ Perseguir*
Ÿ *Ameaçando
Ÿ *Restringindo
Ÿ *Invadindo 6
Ÿ * Perturbando

Elementares obje vas


Ÿ Alguém
Ÿ Integridade sica ou psicológica
Ÿ Capacidade de locomoção

Elementares norma vas


Ÿ Reiteradamente
Ÿ Por qualquer meio
Ÿ Sua esfera de liberdade ou privacidade

Elementares subje vas e especial fim de agir


Ÿ Dolo

Perseguir, no sen do do po penal, significa importunar, causar constrangimento. O


po penal contempla três formas de caracterização do delito:
a) ameaçando-lhe a integridade sica ou psicológica: nesse par cular, a figura revela-
se um po especial com relação ao crime de ameaça, previsto no art. 147 do Código Penal, vez
que agrega, além da ameaça, a perseguição, isto é, a reiteração do comportamento como meio
de causar temor sico ou psicológico, sendo, portanto, delito complexo.
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b) restringindo-lhe a liberdade de locomoção: a restrição da locomoção, prevista no
po penal, não se confunde com a efe va privação da liberdade da ví ma, vez que tal
comportamento caracteriza o crime de sequestro ou cárcere privado (art. 148 do CP). In casu,
previu o legislador que somente a perseguição apta a causar restrições à capacidade de
locomoção caracteriza o po penal, a exemplo do ex-namorado que diariamente monta
campana defronte à residência da ví ma, causando-lhe transtornos para deixar o domicílio.
c) ou, de qualquer forma, invadindo ou perturbando sua esfera de liberdade ou
privacidade: a hipótese contempla a situação da perseguição pica do stalking, como no caso do
paparazzi que reiteradamente persegue a ví ma em seus vários momentos de privacidade,
subindo em árvores e muros para rar fotos da ví ma na piscina, ou a perseguindo em todos os
eventos públicos que essa comparece, abordando-a de forma perturbadora.
O crime de perseguição, em razão da elementar reiteradamente, é habitual, pois exige
a reiteração dos atos por parte do sujeito a vo. Assim, não se consuma o delito com a mera
prá ca de um ato, havendo a necessidade de habitualidade no comportamento a ponto de criar
o temor ou perturbação da ví ma.
Ainda no contexto da conduta, o crime pode ser pra cado sob as modalidade dolo
7
direto e eventual. Nesse par cular, compreendemos que a habitualidade exigida pelo po
penal não afasta a possibilidade do dolo eventual, pois o agente pode, mesmo não desejando
diretamente, assumir o risco, com o seu comportamento, de dar causa ao resultado norma vo,
caracterizando a perseguição.
O po penal, para nós, não exige o especial fim de agir do agente, vez que suas
condutas reiteradas, independentemente de sua perspec va subje va, são capazes de causar o
temor à ví ma e constrangimento à sua liberdade e privacidade. O crime, igualmente, não
admite a modalidade culposa.
O resultado, por se tratar de crime de perigo, é norma vo. O resultado estará
configurado com a efe va caracterização da perseguição reiterada capaz de causar ameaça à
integridade sica ou psicológica, restrição à capacidade de locomoção ou, de qualquer forma,
invadir ou perturbar sua esfera de liberdade ou privacidade.
A solução do nexo de causalidade pela teoria da imputação obje va não diverge da
doutrina tradicional da teoria da equivalência das condições. O agente, ao perseguir a ví ma de
forma reiterada, ameaçando-lhe a integridade psicológica, cria um risco juridicamente
desaprovado para os bens jurídicos liberdade e in midade. Em tese, a solução pela teoria da
imputação obje va dar-se-á apenas pelo primeiro nível de imputação, posto que o resultado é
norma vo. Contudo, podemos afirmar que o risco criado materializa-se na violação da norma
“não perseguirás”, sendo que o resultado produzido encontra-se dentro do alcance do po, que
contempla, igualmente, sua garan a de vigência e validade.
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Por fim, a estrutura do po penal completa-se com a picidade, expressamente
consignada no art. 147-A do Código Penal.

1.4. Consumação e tenta va

O crime de perseguição consuma-se com a efe va caracterização da perseguição


reiterada capaz de causar ameaça à integridade sica ou psicológica, restrição à capacidade de
locomoção ou, de qualquer forma, invadir ou perturbar sua esfera de liberdade ou privacidade
da ví ma.
Não se exige, portanto, a produção de resultado naturalís co. O alcance dos verbos-
meio – ameaçar, restringir, invadir e perturbar – deve ser interpretado sob a luz do verbo
nuclear perseguir. De fato, ainda que, por exemplo, a modalidade restringir possa induzir à ideia
de efe va restrição, na realidade a mens legis caminha na linha do dificultar e não da efe va
restrição, sob pena de caracterização do delito de sequestro ou cárcere privado.
Em linhas gerais, o po penal trilha o caminho do embaraço, do constrangimento, da
importunação e perturbação, e não da efe va realização de comportamentos que poderiam ser
alcançados, autonomamente, por outros pos penais, como a ameaça, constrangimento ilegal 8
e cárcere privado.
A tenta va para nós não se revela admissível, pois o po penal exige a habitualidade
comportamental e consequente reiteração de atos, não havendo possibilidade de
fracionamento do iter criminis.

1.5. Majorante

O §1º do art. 147-A prevê:


§ 1º A pena é aumentada de metade se o crime é come do:
I - contra criança, adolescente ou idoso;
II - contra mulher por razões da condição de sexo feminino, nos termos do § 2º-A do
art. 121 deste Código;
III - mediante concurso de 2 (duas) ou mais pessoas ou com o emprego de arma.

O inciso I revela-se verdadeira norma penal em branco homogênea heterovitelina, pois


os conceitos de crianças e adolescentes são extraídos do art. 2º do Estatuto da Criança e do
Adolescente¹ e o conceito de idoso do art. 1º da Lei 10.741/03².

¹ Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela
entre doze e dezoito anos de idade.
³ Art. 1º É ins tuído o Estatuto do Idoso, des nado a regular os direitos assegurados às pessoas com idade igual ou superior
a 60 (sessenta) anos.
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De igual modo, o inciso II também exige o complemento norma vo
homogêneo/homovitelino do §2º-A do art. 121 do Código Penal no que tange ao conceito de
razões da condição de sexo feminino, sendo, igualmente, norma reme da.
O inciso III, por sua vez, contempla a previsão da majorante de metade quando o crime
for come do mediante concurso de 2 (duas) ou mais pessoas ou com o emprego de arma. De
fato, o legislador puniu, de forma mais severa, o comportamento facilitado pelo risco maior
imposto à ví ma em razão da superioridade numérica de agentes ou emprego de armas.
Para contabilização do número de agentes podem ser contabilizados o menor
inimputável ou o agente não iden ficado. No tocante ao emprego de arma, entendemos que a
compreensão do termo “arma” deve englobar qualquer instrumento que possa ser concebido
como hábil da ferir, concretamente, a integridade corporal da ví ma. Assim, armas de fogo,
facas e porretes, entre outros, caracterizam a elementar especializante. No que concerne à
arma de brinquedo, não obstante ser hábil a constranger a ví ma, entendemos que, por ser
instrumento incapaz de aumentar o risco para a ví ma, não se aplica a majorante.
O §2º do art. 147-A prevê que além das penas cominadas ao crime de perseguição,
aplicam-se as penas correspondentes à violência. Logo, ocorrendo lesões corporais como 9
decorrência do comportamento do agente, o legislador previu o concurso de crimes para fins de
aplicação da reprimenda.
De fato, não obstante a violência não ser elementar do delito, optou a lei por aplicar a
regra do cúmulo material entre a penas dos crimes, pois o delito de perseguição pode
apresentar, no seu contexto, a violência. Assim, para efeitos jurídicos, aplica-se a regra do
concurso material de crimes, cumulando-se materialmente as penas previstas para cada delito,
registrando-se, contudo, que a caracterização do crime de perseguição pressupõe a
habitualidade deli va, isto é, só teremos o concurso material se houver, previamente, a
reiteração dos atos de perseguição.

1.6. Ação penal

Segundo a regra do §3º do art. 147-A, a ação penal é pública condicionada à


representação.

1.7. Conflito aparente de normas

a) Art. 147-A x art. 146 do Código Penal: Art. 146 - Constranger alguém, mediante
violência ou grave ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a
capacidade de resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a fazer o que ela não manda: Pena -
detenção, de três meses a um ano, ou multa.

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b) Art. 147-A x art. 147 do Código Penal: Art. 147 - Ameaçar alguém, por palavra,
escrito ou gesto, ou qualquer outro meio simbólico, de causar-lhe mal injusto e grave: Pena -
detenção, de um a seis meses, ou multa.
c) Art. 147-A x art. 148 do Código Penal: Art. 148 - Privar alguém de sua liberdade,
mediante sequestro ou cárcere privado: Pena - reclusão, de um a três anos.
d) Art. 146 x art. 28 da Lei de Segurança Nacional (Lei 7.170/83): atentar contra a
liberdade pessoal de qualquer das autoridades referidas no art. 26 (Presidente da República, o
do Senado Federal, o da Câmara dos Deputados ou o do Supremo Tribunal Federal).
e) Art. 146 x art. 71 do Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078/90): U lizar, na
cobrança de dívidas, de ameaça, coação, constrangimento sico ou moral, afirmações falsas
incorretas ou enganosas ou de qualquer outro procedimento que exponha o consumidor,
injus ficadamente, a ridículo ou interfira com seu trabalho, descanso ou lazer. Pena Detenção
de três meses a um ano e multa.
f) Art. 146 x art. 1º, inc. I, da Lei de Tortura (Lei 9.455/97): Cons tui crime de tortura
constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento
sico ou mental: (a) com o fim de obter informação, declaração ou confissão da ví ma ou de 10
terceira pessoa; (b) para provocar ação ou omissão de natureza criminosa; ou (c) em razão de
discriminação racial ou religiosa.
g) Art. 146 x art. 107 do Estatuto do Idoso: Coagir, de qualquer modo, o idoso a doar,
contratar, testar ou outorgar procuração. Pena: reclusão de dois a cinco anos.

1.8. Você não pode deixar de saber - peculiaridades de provas

ü Sendo a pretensão do agente legí ma ou supostamente legí ma, caracteriza-se o


crime de exercício arbitrário das próprias razões (CP, art. 345).
ü O crime de constrangimento ilegal é eventualmente subsidiário, vez que somente
será crime autônomo quando o constrangimento não cons tuir a forma de se
pra car um delito mais grave.

1.5.1. Caso sob a luz da teoria da imputação obje va

Vejamos um caso com solução pela teoria da imputação obje va:


a) agente, ao perseguir a ví ma de forma reiterada, ameaçando-lhe a integridade
psicológica, cria um risco juridicamente desaprovado para os bens jurídicos liberdade e
in midade . Por sua vez, o risco criado materializa-se no resultado norma vo, sendo que o
resultado produzido encontra-se dentro do alcance do po.

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