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Apontamentos de Fisiologia, Licenciatura em Bioquímica

Aula 3 – Noçã o de Homeostãse. “Feedbãck” – noço es

Homeostase

 O que é?

A Homeostase, de um modo geral, refere-se à estabilidade ou equilíbrio.


A manutenção de um ambiente estável interno exige constante
monitoramento e ajustes à medida que as condições mudam. Este ajuste de
sistemas fisiológicos no organismo é denominado regulação homeostática.
A regulação homeostática envolve três partes ou mecanismos: 1) o
receptor, 2), o centro de controlo e 3) o efector.
1. O receptor recebe a informação de que algo no ambiente está a
mudar;
2. O centro de controlo ou centro de integração recebe e processa
as informações do receptor;
3. Por fim, o efetor responde aos comandos do centro de controlo,
através de um aumento ou diminuição do estímulo.

Uma vez que o ambiente interno e externo do corpo estão constantemente


a mudar e devem ser feitas adaptações de forma contínua para permanecer no ou
perto do ponto de equilíbrio, a homeostase pode ser vista como um equilíbrio
dinâmico.

Feedback
Para controlar a resposta do corpo a estímulos, existem dois tipos
principais de feedback: o positivo e o negativo.
Feedback negativo: Neste tipo de feedback quando é sentida uma
alteração, a informação dessa alteração segue até ao controlador e o efector
atua, contrariando essa variação. Exemplo: inibição de um enzima pelo respetivo
produto.

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Feedforward: este tipo de regulação antecipa a mudança de uma dada


variável (como por exemplo a temperatura corporal interna), aumenta a
velocidade da resposta homeostática e impede que a variação ocorrida varie
muito do ponto de equilíbrio. Normalmente, este mecanismo, acompanha o
feedback negativo.

Feedback positivo: neste


tipo de feedback, uma alteração é
sentida e a reação é reforçar essa
alteração. O feedback positivo não
leva à manutenção do estado de
equilíbrio, mas à progressiva
alteração, apenas num sentido.
Exemplo: Ação potencial no nervo e
no músculo.

 Alguns Conceitos e Definições

Conceito Definição
Estímulo alteração detectável no ambiente interno ou externo, tal como uma
mudança na temperatura, concentração de potássio no plasma ou
pressão arterial

Receptor detecta a alteração no ambiente. O estimulo actua sobre o receptor


de forma a produzir um sinal que é transmitido para um centro
integrativo, onde é processado
Via caminho percorrido pelo sinal entre o receptor e o centro integrativo
aferente onde o sinal é processado
Efector é o ultimo componente do sistema, onde a alteração da actividade
corresponde à resposta global do sistema
Via caminho percorrido pelo sinal entre o centro integrativo e o efector
eferente

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 Estado Estacionário é diferente de Equílibrio

Estado estacionário: uma dada condição mantém-se constante ao longo


do tempo, ou seja, a concentração de uma substância ao longo do tempo num
dado compartimento é constante

Equilíbrio: Dois compartimentos


estão em equilíbrio quando duas forças
estão equilibradas e não existe a
transferência de uma substância particular
de um compartimento para o outro.

Aula 4 – Comunicãçã o. Conceitos de Trãnsduçã o e de Amplificãçã o.

Introdução
Cada sistema do corpo contribui para a homeostase de outros sistemas e
de todo o organismo. Nenhum sistema do corpo funciona de forma isolada: o
bem-estar de uma pessoa depende do bem-estar de todos os sistemas do corpo
em interação. Uma interrupção dentro de um sistema geralmente tem
consequências adicionais para os vários sistemas do corpo.
De seguida mostram-se algumas breves explicações de como vários
sistemas do corpo contribuem para a manutenção da homeostase:

Sistemas:
 Nervoso: coordena os movimentos dos membros e do corpo; estimula os
músculos a contrair e os sentidos da tensão muscular e posição dos
membros.
 Cardiovascular: fornece sangue para os músculos; fornece nutrição e
remoção de resíduos metabólicos e de calor;
 Respiratório: fornece oxigénio e remove o dióxido de carbono;

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 Renal: mantém a composição ótima do sangue.


 Gastrointestinal: fornece metabolitos
 Endócrino: ajusta o fluxo sanguíneo e fornece diversos substratos para o
trabalho muscular.

Tem de haver coordenação entre os sistemas!

 Mecanismos de comunicação entre células

a) Através de junções: as junções são canais


proteicos que permitem o fluxo de iões e pequenas moléculas
entre o citosol de células vizinhas; quando uma célula foi
comprometida, a junção fecha-se de forma a prevenir que a

célula vizinha também o fique.


b) Através de sinais autócrinos: a célula liberta um
sinal para o liquido intersticial que vai afetar a sua própria atividade,
uma vez que o sinal se liga à superfície da própria célula;

c) Através de sinais parácrinos: a célula liberta um


sinal que se difunde para o liquido intersticial e actua nas células
que se encontram próximas. Estes sinais ligam-se à célula alvo
com elevada especificidade. Para prevenir a difusão em demasia,
estes sinais são rapidamente destruídos por enzimas extracelulares.

d) Através de sinais endócrinos: o


sistema endócrino produz hormonas como
resposta a uma variedade de estímulos. A
resposta através de hormonas é mais lenta, mas
o seu efeito é mais duradouro. As hormonas são
transportadas pela corrente sanguínea e só se
ligam a células que possuam o seu respetivo
recetor. O sistema nervoso atua sob o sistema
endócrino.

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 Transdução do sinal
Um sinal tem uma origem e um destino definido. A descodificação do sinal
envolve a formação de um sinal intracelular que inicia a resposta celular
(transdução de sinal). Quando os sinais iniciais são pequenos, levam a respostas
celulares amplificadas

 Amplificação do sinal
Para as hormonas serem
reguladores eficazes nos processos
biologicos, a amplificação tem de ser uma
parte do mecanismo de ação destas. A
amplificação resulta, geralmente, da
ativação de uma série de passos
enzimáticos envolvidos na ação da
hormona. Em cada passo, há um aumento
das moléculas de sinal, levando a uma
cascata de amplificação.

Aula 5 – Energiã/Informãçã o. Entropiã. Fronteirãs.

Introdução

Pode-se dividir o mundo em dois semi-mundos permeáveis, o mundo da


energia (mundo termodinâmico, qualitativo, local, metabólico) e o mundo da
informação. Estes dois mundos, apesar de serem permeáveis, são dois mundos
diferentes. No entanto, estão relacionados entre si. Assim, é necessário gastar-se
energia para gerar códigos informativos (informação). São esses códigos que,
por sua vez, permitem controlar a energia gasta.

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 Entropia
Para fenómenos espontâneos que evoluem no tempo, teoricamente pode-
se ter:

1. Fenómenos que não mudam (A);


2. Espontâneos (B);
3. Monotónicos decrescente (com declive negativo) (C);
4. Monotánicos crescentes (com declive positivo) (D).

Na prática, os fenómenos imutáveis e espontâneos não são possíveis.

Qualquer que seja a natureza da


fronteira, pode haver fronteiras mais ou
menos transponíveis, se se tiver um
gradiente, espera-se sempre que haja uma
dissipação. A dissipação ocorre devido à
existência de um gradiente.

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Exemplo: O corpo humano tem muita água, a qual está distribuída pelos
vários compartimentos diferentes. Na célula, não há impermeabilidades absolutas.
Há assimetrias entre os vários iões da célula. Espera-se sempre que haja uma
dissipação dos gradientes. No entanto, a água está em equilíbrio termodinâmico,
havendo a mesma pressão osmótica dentro e fora da célula.

Aula 6 – Trãnsporte Pãssivo / Trãnsporte Ativo

Introdução

 Membrana Plasmática
A membrana plasmática
mantém a integridade celular e
delimita a fronteira entre os meios
intracelular e extracelular, constituindo
uma barreira selectiva, através da
qual se processam trocas de
substâncias e energia entre a célula e
o meio exterior.

A membrana celular funciona também como um sensor, permitindo à


célula modificar-se em resposta a diversos estímulos ambientais.
A passagem de substâncias através da membrana pode ocorrer através
de vários mecanismos e está dependente, entre outros factores, da configuração
molecular dessas substâncias.

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O transporte através da membrana celular, tanto directamente (através


da bicamada lipídica) como por meio de proteínas ocorre por um de dois
processos básicos: transporte passivo ou transporte ativo.

Transporte Passivo
Transporte passivo é o nome dado a passagem natural de pequenas
moléculas através da membrana plasmática. Isso ocorre em virtude da diferença
de pressão de difusão entre os líquidos que estão nos dois lados da membrana. É
o que justifica a absorção e a eliminação de água pela célula. É um fenómeno que
ocorre espontaneamente, sem qualquer dispêndio de energia (ATP) pela célula.
Existem 3 tipos de transporte passivo: A difusão simples a difusão
facilitada e a osmose.

1.Difusão Simples: significa que o movimento cinético das moléculas


ou dos iões ocorre através de uma abertura na membrana ou através dos
espaços intermoleculares, sem que ocorra qualquer interacção com as proteínas
transportadoras da membrana. Na difusão simples, a velocidade de difusão
aumente proporcionalmente à quantidade de substância difusora. A difusão
simples pode ocorrer através da membrana celular por duas vias:
a. Pelos “gaps” da bicamada lipídica, no caso de a substância
que se difunde ser lipossolúvel, e
b. Pelos canais aquosos que penetram por toda a espessura
da membrana, por meio de alguma das grandes proteínas transportadoras.

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2.Difusão Facilitada: é também conhecida como difusão mediada por


transportador, porque a substância que é transportada por este processo difunde-
se através da membrana usando uma proteína transportadora específica para
auxiliar. Na difusão facilitada, a velocidade de difusão tende para um máximo, à
medida que a quantidade da substância difusora aumenta.

Difusão Facilitada

Velocidade de difusão para a Difusão Simples e Difusão Facilitada

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3.Osmose: pode ser definida como a movimentação da água por


difusão, através de uma membrana semipermeável. O fluxo de água faz-se
sempre do meio com menor concentração em soluto (hipotónico), para o meio
com maior concentração em soluto (hipertónico). Quando a concentração do
soluto é igual nos dois meios, o fluxo de água é igual nos dois sentidos, e os
meios dizem-se isotónicos. O fenómeno de osmose pode ocorrer em células
animais ou vegetais. Se uma célula que está normalmente em equilíbrio osmótico
é transferida para uma solução mais diluída, a água irá entrar na célula, o volume
da célula aumenta, e a concentração do soluto do citoplasma será reduzida
(turgescência). Se a célula for transferida para uma solução mais concentrada, a
água irá sair da célula, o volume da célula diminui e a concentração do soluto no
citoplasma aumenta (plasmólise).

Transporte Activo
Às vezes é necessária uma grande concentração de uma substância no
líquido intracelular, embora o líquido extracelular só contenha baixa concentração.
Isso é válido, por exemplo, para os iões potássio. De modo contrário, é importante
manter baixas concentrações de outros iões dentro das células, mesmo que a sua
concentração no líquido extracelular seja alta. Isto é especialmente válido para os
iões sódio.

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Nenhum desses dois efeitos pode ocorrer por difusão simples, porque
esta, com o passar do tempo, equilibra a concentração dos dois lados da
membrana. Assim, uma fonte de energia (ATP) deve causar maior deslocamento
dos iões potássio para o interior da célula e o deslocamento mais intenso de iões
sódio para fora das células.
Como a membrana celular transporta moléculas ou iões contra um
gradiente de concentração e requer ATP, este processo é denominado por
transporte activo. As diversas substâncias que são transportadas activamente
através da membrana de pelo menos algumas células incluem muitos iões (Na+,
K+,Ca2+, H+, Cl-), vários glúcidos e a maioria dos aminoácidos.

O transporte activo é dividido em dois tipos de acordo com a fonte de


energia usada para causar o transporte: transporte activo primário e transporte
activo secundário.

1.Transporte Activo Primário: a energia é derivada directamente da


degradação do ATP ou de qualquer outro composto de fosfato com alta energia;

2.Transporte Activo Secundário: a energia é derivada


secundariamente da energia armazenada na forma de diferentes concentrações
iónicas de substâncias moleculares secundárias ou iónicas, entre os dois lados da
membrana da célula, gerada originariamente por transporte activo primário.
Em ambos os casos, o transporte depende de proteínas transportadoras,
que penetram por toda a membrana. No caso do transporte activo, as proteínas
transportadoras são capazes de transferir energia para a substância transportada
de modo a movê-la contra o gradiente eletroquímico.

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Exemplos:
a) Transporte activo primário
 Bomba de Sódio-Potássio – A concentração do sódio é
maior no meio extracelular enquanto a de potássio é maior no meio intercelular. A
manutenção dessas concentrações é realizada pelas proteínas transportadoras
que capturam iões sódio (Na+) no citoplasma e bombeia-os para fora da célula.
No meio extracelular, capturam os iões potássio (K+) e bombeiam-nos para o
meio interno. Se não houvesse um transporte ativo eficiente, a concentração
destes iões iria igualarar-se. Esta bomba é a responsável pela manutenção das
diferenças de concentração entre o sódio e o potássio, bem como pelo
estabelecimento da voltagem eléctrica negativa dentro das células.

Quando 2 iões potássio se ligam à parte


externa da proteína transportadora e 3 iões
sódio se ligam à parte interna, a função de
ATPase da proteína torna-se activada. É assim
clivada uma molécula de ATP em ADP. A
energia libertada causará alterações químicas e
conformacionais na proteína transportadora que
forçará a passagem de 3 iões sódio para fora e
de 2 iões potássio para dentro.

 Bombas de cálcio – os iões de cálcio são, nas condições


normais, mantidos em concentrações extremamente baixas no citosol de,
praticamente, todas as células. Esta situação resulta, em grande parte, do
transporte ativo primário por duas bombas de cálcio. Uma está na membrana
celular, transportando cálcio para o exterior. A outra bombeia iões cálcio para
dentro de um ou mais organelos celulares, como o retículo endoplasmático ou os
mitocôndrios. Em cada um destes casos a proteína transportadora atravessa a
membrana e actua como enzima ATPase, tendo a mesma capacidade de clivar o
ATP, como o ATPase da proteína transportadora do sódio. A diferença é que esta
proteína contém um local de ligação extremamente específico para o cálcio, em
vez de para o sódio.

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b) Transporte activo secundário


 Co-transporte – uma substância é transportada contra um
gradiente eletroquímico, aproveitando a "boleia energética" de uma outra
substância que é transportada a favor de seu gradiente eletroquímico, ambas
sendo transportadas no mesmo sentido. Exemplo: O transporte da glucose
ocorre contra o seu gradiente de concentração, graças ao transporte simultâneo
do sódio a favor do seu gradiente eletroquímico. Por sua vez, o gradiente
eletroquímico do sódio é mantido pela bomba Na +-K+ (a qual realiza transporte
ativo primário), logo, o transporte de glucose é ativo secundário.

 Contratransporte – uma substância é transportada contra um


gradiente eletroquímico, aproveitando a "boleia energética" de uma outra
substância que é transportada a favor de seu gradiente eletroquímico, sendo as
duas substâncias transportadas em sentidos opostos. Exemplo: O transporte do
ião H+ ocorre contra o seu gradiente eletroquímico, graças ao transporte
simultâneo do íon sódio a favor do seu gradiente eletroquímico. Por sua vez, o
gradiente eletroquímico do sódio é mantido pela bomba Na +-K+ (a qual realiza
transporte ativo primário), logo, o transporte de hidrogénio é ativo secundário.

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Potenciais de Membrana e Potenciais de Ação


 Potencial de Nernst
O nível do potencial de difusão em toda a membrana que se opõe
exactamente ao da difusão efectiva de um ião em particular, através da
membrana, é conhecido como potencial de Nernst.
A grandeza deste potencial é determinada pela proporção entre as
concentrações desse determinado ião nos dois lados da membrana. Quanto
maior for essa proporção, maior será a tendência de o ião se difundir numa
determinada direcção e, consequentemente, maior potencial de Nernst será
preciso.

EMF é a força electromotriz. No geral, quando se usa esta fórmula,


assume-se que o potencial do lado de fora da membrana é zero e que o potencial
de Nernst é o potencial do lado interno da membrana. O sinal do potencial será
positivo (+) se o ião a difundir-se de dentro para fora da membrana for um ião
negativo (anião), e negativo (-) se o ião for positivo (catião).
Quando a membrana é permeável a vários iões diferentes, o potencial de
difusão que se desenvolve depende de 3 fatores: a polaridade das cargas
eléctricas de cada ião; a permeabilidade (P) da membrana para cada ião e as
concentrações dos respectivos iões no lado interno (i) e externo (e) da membrana.
Assim, a seguinte fórmula, referida como equação de Goldman-Hodgkin-
Katz, dá o potencial calculado do lado interno da membrana quando dois iões
positivos univalentes, sódio (Na+) e potássio (K+) e um ião univalente negativo,
cloreto (Cl-) estão envolvidos.

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Importância desta equação:


 Os iões sódio, potássio e cloreto são os iões mais importantes
envolvidos no desenvolvimento dos potenciais de membrana nas fibras
musculares e nervosas, bem como nas células neuronais do sistema nervoso. O
gradiente de concentração de cada um destes iões, através da membrana, ajuda
a determinar a voltagem do potencial de membrana;
 O grau de importância de cada um destes iões na determinação da
voltagem é proporcional à permeabilidade da membrana para cada ião em
particular – se a membrana tiver permeabilidade zero para os iões potássio e
cloreto, o potencial de membrana passa a ser totalmente dominado pelo gradiente
de concentração dos iões sódio, e o potencial resultante será igual ao potencial
de Nernst para o sódio;
 Um gradiente positivo de concentração iónica de dentro para
fora da membrana causa electronegatividade no lado de dentro da membrana
(o excesso de iões positivos difunde-se para fora quando a sua concentração é
maior dentro do que fora – cargas positivas para fora, cargas negativas ficam
dentro). Um gradiente negativo de concentração iónica de fora para dentro da
membrana causa electronegatividade do lado de dentro da membrana (cargas
negativas difundem-se para dentro, cargas positivas ficam fora);
 A permeabilidade dos canais de sódio e potássio passa por
rápidas alterações durante a transmissão dos impulsos nervosos, enquanto a
permeabilidade dos canais de cloreto não têm grandes alterações durante este
processo. Assim, rápidas alterações na permeabilidade dos iões sódio e potássio
são primariamente responsáveis pela transmissão de sinais nos neurónios.

Permeabilidade da Membrana:

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Aula 7 – Epite lios. Trãnsporte ãssime trico. Tecnicã de corrente de


curto-circuito (SCC).

 Movimento de solutos através camadas de células epiteliais

As células epiteliais estão presentes em camadas ou folhas que permitem


o movimento direccional de solutos não só através da membrana plasmática, mas
também a partir de um lado para o outro de uma camada de células.
Este movimento regulado é
conseguido porque as membranas
plasmáticas das células epiteliais
têm duas regiões distintas com
morfologias e sistemas de transporte
diferentes. Estas regiões são a
membrana apical, de frente para o
lúmen (mucosa), e a membrana
basolateral, de frente para o
suplemento de sangue (serosa).

A organização especializada ou polarizada das células é mantida pela


presença de junções apertadas (“tight junctions”) nas zonas de contacto entre as
células adjacentes. Estas junções impedem as proteínas na membrana apical de
migrar para a membrana basolateral e aqueles da membrana basolateral de
migrar para a membrana apical. Assim, os passos de entrada e saída para solutos
podem ser localizados em lados opostos da célula. Esta é a chave para o
transporte transcelular (transmembranar) através das células epiteliais.

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 Estudo do Transporte Activo Iónico em Epitélios


Este estudo foi realizo por Ussing e Zerahn no epitélio de pele de rã,
usando a câmara de Ussing.

A câmara de Ussing é uma ferramenta científica que mede a corrente de


curto-circuito, como um indicador do transporte de iões através de um
epitélio. Esta câmara consiste em duas metades, que são fixas em conjunto com
o epitélio. As duas câmaras são cheias com uma quantidade igual de solução de
Ringer, a fim de remover quaisquer mecânicas, químicas ou eléctricas forças
motrizes.
O transporte de iões através do epitélio produz uma diferença de
potencial que é medida utilizando dois eléctrodos que são colocados mais
próximo do tecido. Esta voltagem é neutralizada por injecção de corrente
utilizando mais dois eléctrodos de corrente que são colocadas fora do epitélio.
Esta quantidade de corrente injectada é chamada de corrente de curto-circuito
(S.C.C) e é a medida exacta do transporte de iões que está a ocorrer em todo o
epitélio.

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Aula 8 – Utilizãção de iso topos rãdioãtivos no estudo de trãnsporte


ãtivo io nico em epite lios. Estequiometriã dã bombã de so dio e
potã ssio.

Isótopos Radioativos e Transporte Ativo


Os isótopos radioactivos podem interferir no mecanismo de transporte
ativo, na medida em que podem inibir os ATPases do cálcio, sódio e potássio,
afectando o transporte membranar.

Estequiometria da bomba de sódio e potássio


É um mecanismo que se localiza na membrana plasmática de quase
todas as células do corpo humano e é também comum em todos os seres vivos.

FUNÇÃO:
Para manter o potencial eléctrico da célula, esta precisa de uma baixa
concentração de iões de sódio e de uma elevada concentração de iões de
potássio, dentro da célula. Fora das células existe uma alta concentração de
sódio e uma baixa concentração de potássio, pois existe difusão destes
componentes através de canais iónicos existentes na membrana celular. Para
manter as concentrações ideais dos dois iões, a bomba de sódio bombeia sódio
para fora da célula e potássio para dentro dela, por transporte activo.

MECANISMO:
 A bomba, ligada ao ATP, liga-se a 3 iões de Na+ intracelulares;
 O ATP é hidrolisado, levando à fosforilação da bomba e à
libertação de ADP.
 Essa fosforilação leva a uma mudança conformacional da
bomba, expondo os iões de Na+ ao exterior da membrana. A forma fosforilada da
bomba, por ter uma afinidade baixa aos iões de sódio, liberta-os para o exterior da
célula.
 À bomba ligam-se 2 iões de K+ extracelulares, levando à
desfosforilação da bomba.

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 O ATP liga-se e a bomba reorienta-se para libertar os iões de


potássio para o interior da célula: a bomba está pronta para um novo ciclo.

O bombeamento não é
equitativo: para cada três iões
sódio bombeados para o líquido
extracelular, apenas dois iões de
potássio são bombeados para o
líquido intracelular.

FISIOLOGIA:
Como a membrana celular é muito menos permeável ao sódio que ao
potássio, desenvolve-se um potencial eléctrico (positivo, como ponto de referência
o interior celular) na célula.
O gradiente de concentração e eléctrico estabelecido pela bomba de
sódio suporta não só o potencial eléctrico de repouso da célula, mas também os
potenciais de acção em células nervosas e musculares. A exportação de sódio da
célula proporciona a força motriz para que certos transportadores façam o importe
de glicose, aminoácidos e outros nutrientes importantes para a célula. A
translocação de sódio de um lado do epitélio para o outro cria um gradiente
osmótico que suporta a absorção de água.

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Aula 9 – Contribuiçã o dos trãnsportes ãtivos pãrã o potenciãl de


membrãnã. Relãçã o entre trãnsportes de ele tro litos e nã o-eletro litos.
O trãnsportãdor Nã +-glucose. Trãbãlhos de Scultz e Zãlusky.

Transporte activo e potencial de membrana

O potencial de membrana é a diferença de potencial elétrico medido entre


o interior e o exterior da membrana plasmática de uma célula.

Este potencial de membrana


pode ser medido através de um
microelétrodo. Este microelétrodo é
introduzido no interior da célula
enquanto um elétrodo de referência é
colocado no líquido extracelular – a
diferença de potencial entre as partes
interna e externa da membrana é
Medida do potencial de membrana da fibra nervosa usando
medida usando o voltímetro apropriado. um microelétrodo.

Todas as células têm potencial de membrana. Para um neurónio em


repouso (isto é, quando não está a ser transmitido um potencial nervoso), o valor
é de aproximadamente -90mV. O sinal negativo indica que o potencial elétrico do
meio intracelular é menor do que o do meio extracelular.

Para criar um potencial negativo dentro


da membrana, devem ser transportados para o
exterior somente iões positivos suficientes para
desenvolver a camada do dipolo elétrico na
própria membrana. Todos os iões que
permanecem dentro da fibra nervosa podem ser
positivos ou negativos.
Distribuição dos iões com cargas positivas e negativas no líquido
extracelular, em volta da fibra nervosa, e no líquido dentro da fibra.
A imagem inferior mostra as alterações abruptas no potencial de
membrana que ocorrem nas membranas nos dois lados da fibra.

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Por essa razão, para estabelecer o potencial de repouso normal de -90


mV, é apenas necessário que sejam transferidas pequenas quantidades de iões.
Os potenciais a nível da membrana devem-se principalmente à distribuição
assimétrica de iões, especialmente de Na+, K+ e Cl-.

O potencial de membrana existe sob duas formas principais: o potencial


de repouso e o potencial de ação.

Potencial de repouso – ocorre quando o potencial de membrana não é


alterado. Na maioria das células o potencial de repouso tem um valor negativo, o
que por convenção significa que existe um excesso de carga negativa no interior
da membrana comparado com o exterior. O potencial de repouso é determinado
pela concentração de iões nos fluídos dos dois lados da membrana celular ou
pela existência de proteínas transportadoras de iões existentes na própria
membrana celular.

Existem 3 factores importantes para o estabelecimento do potencial de


repouso:

1. Contribuição do potencial de difusão do potássio: Admite-se que


o único movimento iónico através da membrana é o de difusão dos iões K +, como
demosntrado pelos canais abertos dentro e fora da membrana. Devido ao facto de
haver mais iões K+ do lado de dentro da
membrana, o potencial de Nernst gerado
é de -94 mV – se os iões potássio fossem
os únicos responsáveis pelo potencial de
repouso este seria de -94 mV.

2. Contribuição da difusão do sódio através da membrana nervosa:


Aumento pouco significativo da permeabilidade da membrana nervosa aos iões
sódio causada pela difusão
diminuta dos iões sódio pelos
canais de saída (extravasamento)
de Na+-K+.

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Como há mais iões sódio do lado de fora da membrana, o potencial de


Nernst é de +61 mV (no lado de dentro). No total, o potencial de membrana será
de -86mV, uma vez que também há difusão de iões potássio.

3. Contribuição da bomba Na+-K+ (transporte ativo): Esta bomba


contribui adicionalmente para o potencial de repouso. Com esta bomba ocorre
continuamente bombeamento de 3 iões Na+ para o exterior por cada 2 iões K+
bombeados para o interior da membrana.
O facto de mais iões sódio
serem bombeados para fora do que iões
potássio serem bombeados para dentro
produz uma perda contínua de cargas
negativas pelo lado interno da membrana –
isto cria um grau adicional de negatividade (~
-4 mV) no lado interno, além da produzida
pela difusão. Por esta razão, o potencial de
membrana efectivo, com todos os factores
anteriores também tidos em conta (e que
acontecem ao mesmo tempo), é de -90 mV.

Potencial de ação – onda de descarga elétrica que percorre a membrana


de uma célula. Os potenciais de acção são essenciais para a vida animal, porque
transportam rapidamente informações entre e dentro dos tecidos. O potencial de
acção pode ser gerado por muitos tipos de células, mas são utilizados mais
intensamente pelo sistema nervoso, para a comunicação entre neurónios e para
transmitir informação dos neurónios para outro tecido do organismo, como os
músculos ou as glândulas.

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Relação entre transportes de eletrólitos e não-eletrólitos

Um eletrólito é qualquer substância que, dissociada ou ionizada, origina


iões positivos (catiões) e iões negativos (aniões) pela adição de um solvente ou
através de aquecimento. Desta forma torna-se um condutor de eletricidade.

Um não-eletrólito é um soluto que não liberta iões em solução (ex:


sacarose, água) – não tem capacidade de se tornar num condutor de eletricidade.
Logo não influenciam a condutividade do solvente.

O mecanismo físico mais simples de tráfego molecular através da


membrana, é a difusão. A maior ou menor facilidade com que as moléculas
passam através da membrana traduz-se pelo coeficiente de permeabilidade. O
coeficiente de permeabilidade é função essencialmente de três factores:

1. A dimensão da molécula (existindo uma correspondência,


ainda que grosseira, entre dimensão e peso molecular, é habitualmente a este
último que nos referimos);
2. O seu estado de ionização;
3. A afinidade para com os lípidos.

Permeabilidade diferenciada de diferentes categorias de moléculas

Assim, a maior ou menor permeabilidade que caracteriza uma determinada


molécula será função destas suas características, sendo expectável, por exemplo,
que uma molécula de maior peso molecular, mas francamente lipófila, apresente

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um coeficiente de permeabilidade superior a uma molécula de menor dimensão,


mas lipófoba.

Tratando-se de iões, a permeabilidade reduz-se drasticamente, ao ponto


de ser praticamente nula a probabilidade de difusão dos catiões e aniões
habituais (Na+, K+, Ca2+, Mg2+, Cl-, etc.) através da camada de fosfolípidos.

Assim sendo, deverão coexistir, na membrana, a par da simples difusão,


outros mecanismos que proporcionem o abastecimento da célula em moléculas
necessárias ao metabolismo mas que, pelas suas características físicas,
apresentam uma permeabilidade fraca ou mesmo nula. Aos sistemas, mais ou
menos complexos, através dos quais as moléculas conseguem atravessar a
barreira membranar, atribui-se a designação genérica de transportes. Uns, não
consomem energia; são designados por transportes passivos. Outros, pelo
contrário, consomem energia; são por isso designados por transportes activos.

 Transportes passivos

Designam-se genericamente por transportes passivos, todos aqueles que


não impliquem, por parte da célula, dispêndio de energia.

Englobam-se nesta categoria, os transportes de electrólitos ou de não


electrólitos que se efectuam, respectivamente, a favor do gradiente de potenciais
electroquímicos ou de concentrações.

No entanto há que distinguir duas situações distintas, decorrentes da


natureza das moléculas e das suas permeabilidades: ou se trata de entidades que
podem atravessar a membrana por difusão simples ou, pelo contrário, de
moléculas que o não podem e, para as quais, a célula dispõe de mecanismos que
facilitam o respectivo tráfego.

 Transporte de água

A molécula da água possui um elevado coeficiente de permeabilidade. A


sua difusão através da membrana designa-se por osmose. A osmose justifica a
variação do volume das células quando estas entram em contacto com meios

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quer hipertónicos (de concentração mais elevada), quer hipotónicos (de


menor concentração).

Duas situações ilustram as consequências da osmose. A primeira é relativa


aos glóbulos vermelhos (hemácias); a outra, tem a ver com o comportamento da
célula vegetal em confronto com meios não isotónicos.

 Transporte de outras moléculas (não-eletrólitos)

Não sendo a membrana plasmática, no plano real, uma membrana


semipermeável ideal, outras moléculas, para além das do solvente (água),
difundem através dela. O fluxo de difusão é função da diferença de
concentrações entre os dois lados da membrana.

Consideremos o caso de duas soluções, A e B, de concentrações


diferentes, separadas por uma membrana. Num dado instante, a probabilidade de
uma molécula da solução A possa chocar com a membrana sendo portadora de
energia cinética suficiente para a transpor, é idêntica a probabilidade que assiste
às moléculas da solução B, em sentido inverso.

Difusão, em função dos gradientes de concentração: conceito de equilíbrio dinâmico.

Todavia, se a concentração de A for superior à concentração de B, o


número de moléculas que transita de A para B será superior ao número das
moléculas que efectuam a difusão em sentido inverso. Dito de outro modo, as
intensidades dos fluxos são diferentes, mas tendem a igualar-se quando as

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concentrações de ambos os lados da membrana também o forem. Quando tal se


verifica, atinge-se o equilíbrio.

Em termos cinéticos, a velocidade com que se opera a difusão é


proporcional à diferença de concentrações.

 Transporte de eletrólitos

Para uma substância não eletrolítica, a condição de equilíbrio é aquela


em que há igualdade das concentrações.

No caso dos electrólitos, intervém um factor suplementar e a condição


análoga é a ausência de diferença de potenciais electroquímicos (µ 1 e µ2). Este
define-se relativamente a um potencial padrão m0 de acordo com a equação:

µ = µ0 + RT ln C + z EF

onde: z é a carga do ião considerado; F, a constante de Faraday; E, o potencial


eléctrico; R e T, respectivamente, a constante dos gases perfeitos e a
temperatura absoluta.

No equilíbrio, os potenciais electroquímicos dos dois lados da membrana (1


e 2) atingem a igualdade: µ1 = µ 2

Então: RT ln C1 + z E1F = RT ln C2 + z E2F

de onde se extrai a expressão do potencial de membrana no equilíbrio Em:

Em = E1 - E2 = RT/ zF . ln C2/C1 (Equação de Nerst)

Assim, compreende-se que as condições de equilíbrio estabelecidas para


um electrólito podem compreender uma desigualdade de concentrações, desde
que seja contrabalançada por uma diferença de potencial eléctrico entre os dois
compartimentos.

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Nos casos em que z=1 e admitindo-se uma temperatura de 20 ºC, então:


Em (V) = 0,058 log C2/C1

Ainda que a barreira fosfolipídica seja praticamente impermeável aos iões,


estes atravessam a membrana graças a canais iónicos. Os canais iónicos são
constituídos por proteínas intrínsecas, que estabelecem entre si uma passagem, a
qual poderá ser atravessada por diversos iões, com graus de especificidade
variáveis.

Alguns desses canais, tirando partido das propriedades alostéricas das


proteínas, podem assumir configurações alternativas de “aberto” ou “fechado”.
Essas alternativas alostéricas são determinadas por factores externos, como a
ligação de uma das proteínas constitutivas do canal a uma outra molécula ou a
existência de um determinado potencial de membrana.

 Transportes facilitados

Para as circunstâncias em que a permeabilidade de uma determinada


molécula essencial à vida da célula, não permite a sua captação com a destreza
requerida pelo metabolismo, a célula dispõe de mecanismos membranares
específicos. Se tais mecanismos não despenderem energia, designam-se por
transportes facilitados e enquadram-se, portanto, na classe dos transportes
passivos. São objecto de transporte facilitado, entre outras moléculas, os
monossacáridos, como a glucose, e os aminoácidos. Mas também, em certas
circunstâncias, os iões são beneficiários destes sistemas de transporte

a) Não electrólitos

O exemplo clássico que ilustra as características deste tipo de


transporte é o da glucose. Reconhecendo as características que lhe estão
associadas, concebe-se um modelo baseado na existência de proteínas
membranares transportadoras, susceptíveis de assumirem duas configurações
tridimensionais.

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Modelo de transporte facilitado da glucose

O transportador de membrana pode assumir duas configurações


alostéricas consoante se encontre ligado ou não a uma molécula de glucose. O
sentido global do transporte obedece ao gradiente de concentrações. Tal sistema
não oferece qualquer preferência de sentido, podendo promover tanto a saída
como a entrada de moléculas de glucose. O sentido do fluxo é apenas
determinado pelo gradiente de concentração, tal como da difusão simples. Com a
diferença, porém, de que permite o trânsito de moléculas que, de outra forma, não
transporiam a barreira membranar.

b) Eletrólitos

Certas substâncias podem tornar as membranas permeáveis aos iões –


designam-se por ionóforos e podem apresentar estruturas muito diversas.
Apresentam em comum a característica de serem pequenas edificações
moleculares hidrófobas, que se dissolvem facilmente na bicamada lipídica da
membrana plasmática.

Distinguem-se essencialmente duas


categorias de ionóforos: (i) aqueles que

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determinam a formação transitória de um canal e (ii) os que, sendo móveis, se


comportam como “veículos”, assegurando o transporte os iões entre as duas
faces da membrana.

Enquanto o fluxo iónico proporcionado pelos primeiros não é afectado por


uma diminuição da temperatura, o fluxo assegurado pelos ionóforos móveis,
diminui em idênticas circunstâncias. Em ambos os casos, o transporte respeita o
gradiente electroquímico que, como se sabe, em condições naturais, é bastante
acentuado, e garantido pelas bombas de transporte activo de iões.

 Transporte activo

Em alternativa aos diferentes tipos de transporte que se referiram e que


têm entre si a característica comum de promoverem o tráfego molecular “a favor”
dos gradientes, quer de concentrações, quer electroquímicos, sem consumo
energético, há outros que actuam “contra” os gradientes – transportes activos.

a) Eletrólitos

Os transportes activos melhor


conhecidos são os dos iões, cujos sistemas
membranares são designados habitualmente
por bombas iónicas. Existem bombas para
transportarem protões, catiões de cálcio, catiões
de sódio e de potássio, etc. Um exemplo de
uma bomba iónica é a bomba de
sódio/potássio, que é a mais abundante e
existe em todas (ou quase todas) as células.

b) Não eletrólitos

Os não electrólitos podem ser activamente transportados graças à energia


potencial subjacente a gradientes iónicos, em lugar do dispêndio directo de ATP.

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Nestes casos o transporte de uma molécula é associado ao transporte de um ião,


quer no mesmo sentido (simporte) ou em sentidos contrários (antiporte).

O transportador Na+/Glucose – Trabalhos de Scultz e Zalusky

Antes de a glucose poder ser utilizada pelas células dos tecidos do corpo,
ela deve ser transportada através da membrana para o citoplasma celular. A
difusão da glucose através dos poros das membranas celulares é feita por difusão
facilitada – através de proteínas transportadores que se ligam à glucose e a
“ajudam” a atravessar.

Se a concentração de glucose for maior de um lado da membrana do que


do outro, mais glucose vai ser transportada: do lado de maior concentração para o
de menor concentração.

No entanto, o transporte de glucose através da membrana gastrointestinal


ou através de epitélios dos túbulos renais é feito de maneira diferente – trabalhos
de Scultz e Zalusky. Nestes dois casos, a glucose é transportada pelo mecanismo
de co-transporte ativo de sódio e glucose (transporte ativo secundário), onde o
transporte ativo do sódio fornece energia para absorver a glucose contra uma
diferença de concentração.

Este mecanismo de co-transporte (simporte) de sódio (Na+) só funciona


em algumas células epiteliais especiais que são especificamente adaptadas para
a absorção ativa de glucose. Noutras membranas celulares, a glucose só é
transportada de uma concentração mais elevada para uma mais baixa através de
difusão facilitada.

Os sistemas de simporte permitem uma eficiente absorção de nutrientes,


mesmo quando os nutrientes estão presentes em concentrações muito baixas. O
co-transportador Na-glucose é denominado SGLT (sodium-dependent glucose
transporter).

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Modelo da estrutura secundária do SGLT no intestino humano.

A glucose entra do lado apical da


membrana através do transportador SGLT e
sai do lado basolateral através do
transportador GLUT 2 enquanto o Na+ que
entra via simporte do lado apical é
bombeado para fora através da bomba de
sódio-potássio no lado basolateral da
membrana.

O resultado é um movimento de
solutos do lado do lúmen para o lado
basolateral da célula, assegurando a
absorção eficiente de glucose, aminoácidos
e Na+ a partir do lúmen intestinal.

Localização dos sistemas de transporte em diferentes


regiões da membrana plasmática nas células epiteliais
do intestino delgado.

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Este mecanismo é um tipo de


transporte ativo secundário como já
foi dito, pois embora não dependa
diretamente de ATP e obedeça ao
gradiente de concentração do Na+,
depende do funcionamento da
bomba de Na+/K+, um transportador
ativo. Este mecanismo impede que
as células intestinais percam glucose
em direção ao lúmen intestinal nos
períodos de jejum.

A existência de dois transportadores diferentes para a glucose no epitélio


intestinal tanto impede a concentração excessiva de glucose nessas células
durante a fase de absorção da luz intestinal quanto a perda de glucose para o
lúmen intestinal nos períodos de jejum. Nesta fase, a célula estará a receber
glucose pelos transportadores uniporte do domínio basolateral. Assim, a
concentração citoplasmática de glucose nessas células será sempre superior à do
meio extracelular, como indica o sombreado da seta à direita.

Aula 10 – Trãnsporte em epitelios. Epite lios de ãbsorçã o e de


secreçã o. Introduçã o ã s glã ndulãs. Hipo tese de secreçã o em duãs
etãpãs. Glã ndulãs simples (lãcrimãl e sudorí pãrã) e sãlivãres.

Transporte em epitélios

Muitas vezes as substâncias devem atravessar uma célula em toda a sua


extensão e por mecanismos distintos em ambas as faces. O mecanismo mais
comum baseia-se no transporte activo através de um dos lados da membrana e
depois uma difusão simples ou facilitada na outra face.

Um exemplo deste tipo de transporte é o transporte da glucose no


epitélio intestinal, como já foi discutido na aula 9.

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 Regulação do transporte epitelial

1. Há regulação da permeabilidade paracelular – afectando o


gradiente electroquímico do Na+ afecta-se também o gradiente electroquímico de
outras moléculas, que estão dependentes do gradiente de Na +;
2. Existe uma variação de gradiente electroquímico;
3. Há sinalização intracelular – recrutamento de transportadores
necessários para a síntese de novo tecido epitelial.

Epitélios de absorção e de secreção

 Epitélio

Epitélio é um termo derivado do grego que significa “tecido que cresce


(theleo) sobre outro (epi”). Os epitélios revestem as superfícies livres do corpo
tanto externa como internamente, com exceção das superfícies articulares. Assim,
tudo que entra ou sai do organismo, atravessa necessariamente um segmento
epitelial.

É também o tecido responsável pela produção, armazenamento e


secreção das mais variadas substâncias, através de unidades secretoras.
Caracteriza-se pela alta densidade celular, relação íntima com o tecido conjuntivo
e pela polarização das células.

Por não possuir suprimento sanguíneo direto (exceto em vasos


sanguíneos), está sempre associado ao tecido conjuntivo, dependendo assim dos
nutrientes e do oxigénio vindos deste tecido. Para que esse influxo de nutrientes e
oxigénio seja possível, o epitélio conta com lâminas e membranas basais que o
conectam ao tecido conjuntivo ao qual se encontra apoiado (subjacente). Desta
forma, um dos lados do epitélio (o pólo basal) está sempre aderido ao tecido
conjuntivo, enquanto o seu ápice (o pólo apical) encontra-se continuadamente
exposto ao espaço livre.

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 Epitélio de absorção

O tecido que reveste internamente o intestino delgado é um bom


exemplo de epitélio (de absorção) especializado em absorver nutrientes e permitir
que eles passem da cavidade intestinal para o sangue. A alta capacidade de
absorção do epitélio intestinal deve-se ao facto das suas células possuírem
microvilosidades na membrana do lúmen.

 Epitélio de secreção (ou glandular)

O tecido epitelial glandular ou secretor é constituído por várias células


epiteliais glandulares que possuem como principal função produzir e libertar
secreções tanto para o meio interno como para o meio externo. Estas secreções
podem ser viscosas e escorregadias (mucosas), aquosas e límpidas (serosas),
como também podem ser a mistura de secreções mucosas e serosas (mista).

Introdução às Glândulas

Quando agrupadas em grande número, as células epiteliais glandulares


formam estruturas denominadas glândulas. Alojadas no interior das glândulas, as
células epiteliais glandulares podem sintetizar, armazenar e secretar várias
substâncias tais como proteínas (pâncreas), lipídios (adrenal e glândulas
sebáceas) ou complexos de glúcidos e proteínas (glândulas salivares).

As glândulas podem ser classificadas em glândulas exócrinas e


glândulas endócrinas. A principal diferença entre estes dois tipos de glândulas é
que as glândulas endócrinas não possuem ductos (tubos), ao contrário das
glândulas exócrinas, que os têm, e os utilizam para transportar suas secreções
para locais específicos.

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 Glândulas Endócrinas

Uma glândula endócrina secreta substâncias que


são lançadas directamente na corrente sanguínea, ao
contrário das glândulas exócrinas. Um exemplo de glândula
endócrina é a tiróide. As hormonas são o produto de
secreção destas glândulas. Têm como característica
principal estarem presentes em toda a circulação, desta
maneira banhando todas as células, e exercerem as suas
acções distantes da sua origem.

 Glândulas Exócrinas

As glândulas exócrinas são órgãos que produzem


secreções ou substâncias que elaboram para um sistema de
canais excretores que se abrem em superfície externa ou
interna. As secreções não são despejadas na corrente
sanguínea (como nas glândulas endócrinas), mas sim em
outros órgãos, ou para o exterior do corpo, através de canais.
Além disso, glândulas exócrinas não se associam a vasos
sanguíneos e apresentam ductos.

As glândulas exócrinas que vão ser estudadas são as lacrimais,


sudoríparas e salivares.

a) Glândulas Lacrimais

A glândula lacrimal, parte do sistema


lacrimal, está localizada na parte anterior e lateral
do teto da órbita ocular. A glândula lacrimal está
alojada na fossa da glândula lacrimal, no osso
frontal, recebendo inervação simpática e
parassimpática do SNA (Sistema Nervoso
Autónomo ou Visceral).

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A sua função é produzir o fluido lacrimal (lágrima) para a lubrificação e


limpeza do globo ocular. A sua taxa de secreção pode ser modulada – tem uma
taxa basal de produção e há vias sensoriais, aferentes, que transmitem a
informação necessária ao cérebro acerca do olho. Há também vias motoras, as
quais interagem com o sistema simpático e parassimpático.

b) Glândulas Sudoríparas

As glândulas sudoríparas dos mamíferos são glândulas que produzem o


suor – função importante para regular a temperatura do corpo e eliminar
substâncias tóxicas. São glândulas tubulares enroladas derivadas das camadas
exteriores da pele mas estendem-se até à camada interna.

Estas glândulas têm transportadores que fazem o transporte de 2 iões de


Na+ para dentro da célula por 1 ião de K+ para fora. Os canais cloreto são
modulados pela quantidade de cAMP.

O suor é hipotónico – a pressão osmótica do suor é mais baixa do que a


do sangue. Em situações normais, a taxa de secreção aumenta quando os níveis
de K+ diminuem.

Curiosidade: Nas pessoas com fibrose quística, os níveis de Na+


e Cl- são bastante elevados porque não possuem o canal CFTR que é regulador
do cAMP, o que afecta o transporte destes iões.

c) Glândulas Salivares

As glândulas salivares localizam-se no interior e também em torno da


cavidade bucal tendo como objectivo principal a produção e secreção da saliva.
A saliva é fundamental para falar, ter paladar, humedecer as mucosas, entre
outras funcionalidades.

A produção de saliva pode ser afectada por vários níveis, tanto pelo
sistema simpático como pelo parassimpático.

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Aula 11 – Orgãnizãçã o gerãl do Sistemã Nervoso. O neuro nio. Sinãpse


quí micã e sinãpse ele tricã.

Organização do Sistema Nervoso

input (do exterior)


Estímulo Filtração

Captação de
dos sistemas
sinais
integrados
(informação)
Actividade do
Processamento
neurónio
de vias aferentes
e eferentes

Sistema
Nervoso

Periférico
Central (SNC)
(SNP)

Autónomo Somático

Simpático Parassimpático

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 Sistema Nervoso Central

Chama-se sistema nervoso central (SNC) ao conjunto do encéfalo e da


espinal medula dos vertebrados. É no SNC que chegam as informações
relacionadas aos sentidos (audição, visão, olfato, paladar e tato) e é dele que
partem ordens destinadas aos músculos e glândulas.

 Sistema Nervoso Periférico

O sistema nervoso periférico é a parte do sistema nervoso que se


encontra fora do sistema nervoso central (SNC). É constituído por fibras
(nervos), gânglios nervosos e órgãos terminais.

Diferentemente do sistema nervoso central, o sistema nervoso periférico


não se encontra protegido pela barreira hematoencefálica. É graças a este
sistema que o cérebro e a espinal medula recebem e enviam as informações
permitindo-nos reagir às diferentes situações que têm origem no meio externo ou
interno.

O Neurónio

O neurónio é a célula do sistema


nervoso responsável pela condução do impulso
nervoso. O neurónio é constituído por: corpo
celular, o núcleo celular, dendrites
(prolongamentos numerosos e curtos do corpo
celular, receptores de mensagens) e axónio
(prolongamento que transmite o impulso
nervoso vindo do corpo celular).

A membrana exterior de um neurónio


toma a forma de vários ramos extensos
chamados dendrites, que recebem sinais

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elétricos de outros neurónios, e de uma estrutura a que se chama um axónio que


envia sinais elétricos a outros neurónios. O espaço entre a dendrite de um
neurónio e as dendrites de outro é o que se chama uma fenda sináptica: os
sinais são transportados através das sinapses por uma variedade de substâncias
químicas chamadas neurotransmissores. O córtex cerebral é um tecido fino
composto essencialmente por uma rede de neurónios densamente interligados.

Os neurónios recebem continuamente impulsos nas sinapses das suas


dendrites vindos de milhares de outras células. Os impulsos geram ondas de
corrente elétrica (excitatória ou inibitória, cada uma num sentido diferente) através
do corpo celular até a uma zona chamada a zona de disparo, no começo do
axónio. É aí que as correntes atravessam a membrana celular para o espaço
extracelular e que a diferença de voltagem que se forma na membrana determina
se o neurónio dispara ou não.

 Funcionamento do Neurónio

O neurónio é uma célula altamente especializada na transmissão de


informações, na forma de impulsos nervosos. Os impulsos nervosos são
fenómenos electroquímicos que utilizam certas propriedades e substâncias da
membrana plasmática, que permitem que seja criado e transmitido um impulso
eléctrico.

Um neurónio em repouso é uma célula que possui uma diferença de


voltagem entre o seu citoplasma e o líquido extracelular. Esta diferença de
voltagem é criada graças ao acumular
selectivo de iões potássio (K+) e sódio
(Na+), que ocorre pela acção de bombas
que criam uma diferença de concentração.
Esta diferença de concentração é
controlada por canais sódio/potássio
gerando uma tensão negativa.

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Este estado de equilíbrio (ou estado de polarização do neurónio) dura até


o momento em que um potencial de acção abre os canais de K+ e de Na+,
alterando a concentração destes iões. Esta modificação gera um potencial
positivo dentro do neurónio. Este desequilíbrio gera um efeito cascata, que é o
potencial de acção. Usualmente o potencial de ação inicia no começo no axónio
(zona de disparo) e propaga-se até às vesículas sinápticas, gerando a descarga
de neurotransmissores.

Após ter ocorrido o potencial de acção, os canais de K+ e de Na+


começam imediatamente a restabelecer o equilíbrio anterior, com uma tensão
negativa no interior do neurónio e positiva fora dele.

Sinapses

As sinapses nervosas são os pontos onde as extremidades de neurónios


vizinhos se encontram e o estímulo passa de um neurónio para o seguinte por
meio de mediadores químicos, os neurotransmissores.

A sinapse é considerada uma estrutura formada por: membrana pré-


sináptica, fenda sináptica e membrana pós sináptica.

As sinapses determinam as direcções em que os sinais nervosos se vão


distribuir através do sistema nervoso. A transmissão sináptica pode ser
influenciada por sinais excitatórios ou inibitórios que vêem de diferentes áreas do
sistema nervoso, sendo que algumas vezes pode abrir as sinapses e outras vezes
fechá-las.

Existem dois tipos de sinapses neuronais: as sinapses químicas e as


sinapses elétricas. Ambos os tipos de sinapses transmitem o potencial de acção
para outros neurónios, diferindo apenas no mecanismo de comunicação (químico
ou elétrico).

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 Sinapse Química

Quase todas as sinapses utilizadas para


transmissão do sinal no sistema nervoso central da
espécie humana são sinapses químicas. Nestas
estruturas, o primeiro neurónio secreta, no seu terminal,
uma substância química chamada de neurotransmissor
(ou apenas substância transmissora), e este
neurotransmissor, por sua vez, irá actuar em proteínas
receptoras presentes na membrana do neurónio
seguinte, para promover excitação, inibição ou, ainda,
modificar, de outra maneira, a sensibilidade desta célula.

Algumas dos neurotransmissores mais importantes são: acetilcolina,


serotonina, glutamato e epinefrina.

Junção Neuromuscular: é a junção entre a parte terminal de um axónio


motor com uma placa motora (ou sinapse neuromuscular), que é a região da
membrana plasmática de uma fibra muscular (o sarcolema) onde se dá o
encontro entre o nervo e o músculo permitindo desencadear a contração
muscular. Na junção neuromuscular o neurotransmissor utilizado sempre é a
acetilcolina.

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 Sinapse Elétrica

As sinapses elétricas, são caracterizadas por


canais que conduzem eletricidade de uma célula para a
próxima. A maior parte destas sinapses consiste em
pequenas estruturas tubulares proteicas chamadas de
junções comunicantes (gap junctions), que permitem o
movimento livre de iões do interior de uma célula para o
interior de outra. É através destas junções e de outras
semelhantes que os potenciais de acção são
transmitidos.

Este tipo de sinapse reduz muito o tempo de transmissão do impulso


elétrico entre os neurónios, sendo a ideal para comportamentos que exigem
rapidez de resposta.

Aula 12 – Ce lulãs dã Gliã. Sistemã Nervoso Perife rico: sistemã nervoso


somã tico e sistemã nervoso ãuto nomo (simpã tico e pãrãssimpã tico).
Orgãnizãçã o e funcionãmento.
Neurotrãnsmissores mãis frequentemente utilizãdos.

Células da Glia

As células da Glia são células não neuronais do sistema nervoso central


que proporcionam suporte e nutrição aos neurónios. Geralmente arredondadas,
no cérebro humano as células da glia são, aproximadamente, 10 vezes mais
frequentes que os neurónios. Ao contrário do neurónio, que é amitótico, nas
células gliais ocorre a mitose.

 Funções

As principais funções das células da glia são cercar os neurónios, e


mantê-los no seu lugar, fornecer nutrientes e oxigénio para os neurónios, isolar

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Apontamentos de Fisiologia, Licenciatura em Bioquímica

um neurónio do outro, destruir microrganismos patógeneos e remover neurónios


mortos. Mantêm a homeostase, formam mielina e participam na transmissão de
sinais no sistema nervoso.

As células de glia têm a importante função de produzir moléculas que


modificam o crescimento de dendritos e axónios. Descobertas recentes indicam
que também participam ativamente nas transmissões sinápticas, regulando a
libertação de neurotransmissores ou libertando-os elas mesmas e libertando ATP
que modela funções pré-sinápticas.

As células da glia podem ser: oligodendrócitos, astrócitos e micróglia.

a) Oligodendrócitos: são as células responsáveis pela formação, e


manutenção das bainhas de mielina dos axónios, no SNC. Sem os
oligodendrócitos, os neurónios não sobrevivem em meio de cultura.
b) Astrócitos: são as células da glia que possuem as maiores
dimensões. Os astrócitos, desempenham funções muito importantes, como a
sustentação e a nutrição dos neurónios o preenchimento dos espaços entre os
neurónios, na regulação da concentração de diversas substâncias com potencial
para interferir nas funções neuronais normais (ex.: concentrações extracelulares
de potássio) e na regulação dos neurotransmissores.
c) Células da micróglia: são as menores células da glia. Possuem
elevado poder fagocitário e representam uma variedade dos macrófagos que
atuam na defesa do sistema nervoso. Estas células são capazes de reconhecer e
fagocitar antigénios, aderindo proteínas do mesmo na sua membrana
citoplasmática.

Sistema Nervoso Periférico (Somático e Autónomo)

 Sistema Nervoso Somático

O sistema nervoso somático é composto por neurónios que estão


submetidos ao controle consciente para gerar acções motoras voluntárias,
resultantes da contracção de um músculo esquelético. A sua principal função é

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inervar a musculatura esquelética, responsável pelas acções voluntárias, como a


movimentação de um braço ou perna.

 Sistema Nervoso Autónomo (SNA)

Sistema nervoso autónomo (também chamado sistema neurovegetativo


ou sistema nervoso visceral) é a parte do sistema nervoso periférico que está
relacionada com o controlo da vida vegetativa, ou seja, controla funções como a
respiração, circulação do sangue, controlo de temperatura e digestão.

É também o principal responsável pelo controlo automático do corpo


frente às modificações do ambiente. Dessa maneira, pode-se perceber que o
organismo possui um mecanismo que permite ajustes corporais, mantendo assim
o equilíbrio do corpo: a homeostase.

O SNA é dividido em duas partes:

Sistema nervoso simpático: as fibras


nervosas simpáticas originam-se na espinal
medula juntamento com os nervos espinais,
projectando-se primeiro para a cadeia simpática
e daí para os tecidos e órgãos que são
estimulados pelos nervos simpáticos.

Sistema nervoso parassimpático: É o


responsável por estimular acções que
permitem ao organismo responder a situações
de calma, como fazer yoga ou dormir. Essas
acções são: a desaceleração dos batimentos
cardíacos, diminuição da pressão arterial, a
diminuição da adrenalina e a diminuição do
açúcar no sangue.

As fibras parassimpáticas deixam o SNC


através dos nervos cranianos III, VII, IX e X.

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Aula 13 – Potenciãl de ãçã o. Tecnicã de voltãge clãmp.

Potencial de Ação dos Nervos (=Conjunto de Neurónios)

Os sinais nervosos são transmitidos por potenciais de ação, que são


rápidas alterações do potencial de membrana que se propagam com grande
velocidade por toda a membrana da fibra nervosa – o potencial de ação desloca-
se ao longo da fibra nervosa até à sua extremidade. Cada potencial de ação
começa com uma alteração súbita do potencial de membrana normal negativo
para um potencial positivo, terminando, então, com o retorno quase tão rápido
para o potencial negativo.

No gráfico pode-se ver as sucessivas alterações do potencial de


membrana que ilustra o início explosivo do potencial de ação e a sua quase
idêntica recuperação.

Existem 3 estágios sucessivos do potencial de ação, que são os


seguintes:

1. Estágio de Repouso: corresponde ao potencial de membrana,


antes do início do potencial de ação. Diz-se que a membrana está “polarizada”
durante este estágio, em razão do potencial de membrana da -90 mV existente.
2. Estágio de Despolarização: Durante este estágio a membrana fica
subitamente permeável a iões sódio, permitindo que um grande número destes
iões (carregados positivamente) se difunda para o interior do axónio. Assim, o

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estado normal de “polarização” de -90 mV é, de imediato, neutralizado pelo influxo


de iões sódio. O potencial é assim aumentado para um valor positivo –
despolarização. O grande excesso de iões sódio faz com que o potencial de
membrana “ultrapasse” (overshoot) rapidamente o nível zero e se torne positivo.
3. Estágio de Repolarização: Após a membrana ter ficado permeável
aos iões sódio, os canais de sódio começam a fechar-se e os canais de potássio
(K+) começam a abrir (mais do que o normal). Assim, a rápida difusão dos iões
potássio para o exterior reestabelece o potencial de repouso negativo da
membrana – repolarização da membrana.

Técnica de Voltage Clamp

É um método utilizado para


medir o efeito da voltagem sobre a
abertura e o fecho de canais
controlados pela voltagem. Foi a
técnica utilizada pelos
pesquisadores Alan Lloyd Hodgkin e
Andrew Huxley quando estudaram as Método de voltage clamp para estudar o fluxo dos
iões através de um canal específico
propriedades da membrana do axónio.
Nesta técnica são utilizados pulsos de voltagem em vez de pulsos de correntes
para controlar o mecanismo envolvido na geração do potencial de ação nos
neurónios.

Para se usar esta montagem, são inseridos na fibra nervosa, dois


elétrodos – um deles é para medir a voltagem do potencial e o outro é para
conduzir corrente elétrica para dentro ou para fora da fibra nervosa.

Esta montagem é utilizada da seguinte maneira: o pesquisador (operador)


decide qual a voltagem que ele deseja estabelecer dentro da fibra nervosa. O
componente eletrónico da montagem é então ajustado para essa voltagem
desejada, injetando automaticamente eletricidade positiva ou negativa, por meio

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do elétrodo de corrente. O componente é também ajustado na intensidade que


seja necessária para fixar a voltagem, medida pelo elétrodo de voltagem.

Quando o potencial de membrana é repentinamente alterado por esta


técnica (pelo “gancho” de voltagem), de -90 mV para 0, os canais de potássio e
sódio regulados pela voltagem abrem-se, e os iões potássio (K+) e sódio (Na+)
começam a fluir (sair) por esses canais.

Para contrabalançar os efeitos desses fluxos iónicos sobre os valores


fixados da voltagem intracelular, é injetada corrente elétrica automaticamente por
meio dos elétrodos, para manter a voltagem intracelular no nível 0 constante que
é necessário. Para isso, a corrente injetada deve ser igual mas com polaridade
oposta ao fluxo efetivo de corrente que flui pelos canais.

Para se medir a intensidade de fluxo que está a ocorrer a cada instante, o


elétrodo de corrente é conectado a um osciloscópio que regista o fluxo de
corrente.

Por fim, o pesquisador altera as concentrações iónicas intra e


extracelulares para valores diferentes dos “normais” e repete a medida – é feito
de modo fácil quando se usam fibras nervosas bastante calibrosas (como as do
axónio gigante da lula).

Quando o sódio é o único ião permeável nas soluções intra e extracelular


do axónio da lula, o “gancho” de voltagem só mede o fluxo corrente pelos canais
de sódio. Quando é o potássio o único ião permeável, só o fluxo corrente pelos
canais de potássio é medido.

 Outra maneira de se estudar o fluxo iónico por meio de um tipo


individual de canal é pelo bloqueio de um tipo de canal de cada vez. Por exemplo:
os canais de sódio podem ser bloqueados pela toxina chamada tetrodotoxina,
aplicando-a na parte externa da membrana celular, onde o canal de sódio está
situado. Os canais de potássio são bloqueados pelo ião tetraetilamónio,
quando aplicado no interior da fibra nervosa.

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Nesta imagem podem-se ver as


variações típicas da condutância dos canais
de sódio e potássio regulados pela
voltagem, quando o potencial de membrana
é repentinamente alterado pela técnica de
“voltage clamp”, de –90 mV para +10 mV e,
2 milisegundos depois, de volta para os –90
mV.

Pode-se observar uma abertura abrupta dos canais de sódio (estágio de


ativação) numa pequena fração de milisegundos, após o potencial de membrana
ser elevado para um valor positivo. Durante os próximos milisegundos, os canais
de sódio fecham-se (estágio de inativação).

É de notar também a abertura dos canais de potássio – estes abrem-se


lentamente, atingindo o seu estado de abertura total só depois dos canais de
sódio se terem fechado quase complementamente. Além disso, uma vez abertos,
os canais de potássio, estes permanecem assim durante todo o potencial positivo
de membrana e só se fecham quando o potencial de membrana retorna a um
valor negativo.

Canais de Sódio e de Potássio Regulados pela Voltagem

O agente necessário para provocar a despolarização e a repolarização


das membranas nervosas durante o potencial de ação é o canal de sódio
regulado pela voltagem. O canal de potássio regulado pela voltagem também
tem a sua importância por aumentar a rapidez da repolarização da membrana.

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 Canal de Sódio Regulado pela Voltagem

O canal de sódio regulado pela voltagem em 3 estados distintos.Este


canal tem dois “portões” – um perto da abertura externa do canal, referida como
“portão” de ativação, e a outro perto da abertura interna do canal, denominado
como “portão” de inativação.

Esta imagem mostra o estado


desses dois “portões” na membrana normal
em repouso, quando o potencial de
memrana é de –90 mV.

a) Ativação do Canal de Sódio

Quando o potencial de membrana se torna menos


negativo que durante o estado de repouso, aumentando
de –90 mV até zero (0) ela atinge a voltagem – em geral
cerca de –70 a –50 mV – o que provoca uma alteração
conformacional abrupta/inesperada do “portão” de
ativação, fazendo com que o canal fique completamente
aberto. Esta condição é referida como estado ativado –
durante este estado, os iões sódio podem passar através
do canal, aumentando a permeabilidade da membrana de
sódio.

b) Inativação do Canal de Sódio

O mesmo aumento de voltagem que faz com que o “portão” seja ativado
também faz com que este seja fechado (desativado). O “portão” é desativado em
poucos milésimos de segundo após ter sido ativada. Isto é, a alteração
conformacional que provoca o fecho do “portão” de ativação é um processo mais
lento que a alteração conformacional que a abre o “portão” de ativação.

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Apontamentos de Fisiologia, Licenciatura em Bioquímica

Assim, após o canal de sódio ter permanecido


aberto por algum tempo ele é inativado e fecha-se, sendo
que, assim, os iões Na+ não podem atravessar a
membrana – neste momento, o potencial de membrana
começa a retomar ou a aproximar-se do seu estado normal
de repouso (processo de repolarização).

Outra característica importante do processo de inativação do canal de


sódio é que o “portão” inativado só vai reabrir quando o potencial de membrana
retomar ou se aproximar do potencial de repouso na condição original – por esta
razão, usualmente, não é possível, para o canal de sódio, voltar a abir sem que a
fibra nervosa seja primeiro repolarizada.

Aula 15 – Cãnãis Io nicos. Te cnicã de Patch Clamp. Correntes unitã riãs


e mãcrosco picãs.

Canais Iónicos (Ver Aula 6)

Canais iónicos são formados por proteínas integrais da membrana


plasmática das células. Por possuírem uma estrutura tridimensional, formam
túneis de passagem a determinados iões através da bicamada lipídica, que
compõe a membrana das células. Se não existissem os canais iónicos, os iões
não conseguiriam entrar nem sair das células devido à sua carga elétrica.

Estes canais podem assumir diferentes estados conformacionais, abertos


e fechados. Estas transições dependem das barreiras de energias potenciais que
separam esses estados e, que podem ser controladas por campo elétrico, iões,
substâncias químicas e outros agentes.

Todos os canais apresentam um poro aquoso central com comunicação


intracelular e extracelular.

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Existem também canais iónicos dependentes de voltagem (Aula 13).


Estes são uma classe de canais iónicos transmembranares que são activados por
alterações de diferença de potencial eléctrico perto do canal; a presença deste
tipo de canais iónicos é especialmente crítica nos neurónios, mas são comuns em
muitos tipos de células. Ao longo de todo o axónio e na sinapse, os canais
dependentes de voltagem propagam os sinais eléctricos.

Alguns exemplos incluem: canais de sódio e os canais de potássio


dependentes de voltagem (localizados nos nervos e músculos) e o canal de cálcio
dependente de voltagem (desempenha um papel na libertação de
neurotransmissores na terminação pré-sináptica). Os canais de sódio e potássio
dependentes de voltagem já foram falados na aula 13. De seguida fala-se do
canal de cálcio dependente de voltagem.

 Canal de Cálcio dependente de voltagem

Os canais de cálcio dependentes de voltagem são ligeiramente


permeáveis aos iões sódio (Na+), assim como aos iões cálcio (Ca2+) – quando
estes canais se abrem estes iões fluem para interior fibra nervosa. Estes canais
são conhecidos como canais de Ca2+-Na+.

Os canais de cálcio são de lenta ativação – são denominados, por isso,


de canais lentos, enquanto os canais de sódio são canais rápidos (de rápida
ativação).

Os canais de cálcio são muito numerosos no músculo cardíaco e no


músculo liso. Na verdade, em alguns tipos de músculo liso os canais de sódio
(rápidos) são bastante raros, de forma que o potencial de ação ocorre, quase
exclusivamente, pela ativação dos canais (lentos) de cálcio.

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Técnica de Patch Clamp

É uma técnica de fixação de


membranas utilizada para registar a
corrente iónica que flui através de cada
canal iónico.

Registo do fluxo de corrente por um canal de sódio,


ligado à voltagem isolada, demonstrando o princípio
“tudo ou nada” da abertura e do fecho do canal.

Nesta técnica, de forma muito simplificada,


uma micropipeta com diâmetro de apenas 1 ou 2
μm é colocada sobre a parte externa da membrana
celular. Em seguida, é feita sucção por uma pipeta,
para aspirar a membrana contra a ponta da pipeta
e a membrana – isto cria uma selagem entre a
ponta da pipeta e a membrana celular. O resultado
é um “patch” diminuto de membrana que se “fixa”

na ponta da pipeta, por onde o fluxo de corrente elétrica pode ser registado.

Alternativamente, a pequena placa de


membrana celular na ponta da pipeta pode ser removida
da célula. A pipeta com a placa selada é então colocada
em solução livre – isto permite que as concentrações
iónicas dentro da micropipeta na solução externa
possam ser modificadas à vontade (a voltagem está
“fixa” – clamped – em determinado valor.

Já foi possível a obtenção de “patches” (placas) suficientemente


pequenas para conter apenas um canal proteico na membrana a ser estudada.
Por meio da variação da concentração de diferentes iões, bem como da voltagem

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Apontamentos de Fisiologia, Licenciatura em Bioquímica

através da membrana, podem-se determinar as características do transporte de


um canal isolado e também as propriedades dos seus “portões” (receptores).

Correntes Unitárias e Macroscópicas

A técnica de “voltage clamp” que permite fixar a voltagem, quando


aplicado ao axónio, permitiu medir as correntes iónicas através da membrana da
célula excitável (corrente macroscópica). A corrente macroscópica resulta da
passagem de iões através de uma população de canais iónicos.

Actualmente, a técnica do “patch clamp” permite medir a passagem de


iões através de um único canal iónico, que são as correntes microscópicas ou
unitárias.

Aula 16 – Propriedãdes Pãssivãs dã Membrãnã. Somãçã o Espãcio-


Temporãl.

Propriedades Passivas da Membrana

A velocidade de condução do potencial de ação depende de vários


factores:

1. Capacitância da membrana: Quanto maior a capacitância, menor


é a velocidade de condução, já que é necessário maior tempo para descarregar a
membrana.
2. Resistência interna da membrana: Quanto maior a resistência,
menor é a velocidade de condução. No entanto, os potenciais (sinais) prolongam-
se até uma distância maior.
3. Diâmetro da fibra nervosa: Quanto maior o diâmetro da fibra,
maior é a velocidade, pois se por exemplo houver a duplicação do raio da fibra
nervosa, haverá aumento da capacitância da membrana por um factor de 2, uma
redução da resistência da membrana por um factor 2 e uma redução da

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resistência interna por um factor 4. Como a redução da resistência supera o


aumento da capacitância, o resultado é o aumento da velocidade de condução.
4. Mielina: Fibras mielinizadas conduzem muito mais rapidamente
que fibras não mielinizadas, visto que as fibras mielinizadas têm menor
capacitância, portanto descarregam mais rapidamente, além do mais a resistência
interna não se modifica. Somente a resistência da membrana aumenta. Além
disto, os potenciais de ação, são gerados somente em locais de alta condutância,
os chamados nódulos de Ranvier, que são espaços que aparecem a cada 1 a 2
mm, permitindo a chamada condução saltatória.
5. Temperatura: Quanto maior a temperatura, maior é a “agitação”
molecular, aumentando consequentemente o fluxo iónico e a velocidade de
condução do potencial elétrico.
As duas propriedades passivas das membranas do axónio, diretamente
relacionadas com a velocidade com que o axónio pode transmitir os potenciais de
ação são: somação espacial e somação temporal. Dizem-se propriedades
passivas pois não dependem diretamente do metabolismo.

 Somação Espacial

A excitação de um único terminal pré-sináptico sobre a superfície de um


neurónio quase nunca excita a célula. Isto deve-se ao facto de a quantidade de
neurotransmissores libertada por um único terminal é apenas suficiente para
provocar um PEPS (Potencial Excitatório Pós-Sináptico), normalmente de valor
não superior a um intervalo de 0,5 a 1 mV, em vez do potencial de 10 a 20 mV
geralmente necessário para atingir o limiar de excitação.

Entretanto, diversos terminais pré-sinápticos são normalmente


estimulados ao mesmo tempo. Embora estes terminais estejam distribuídos por
áreas amplas e distantes presentes no neurónio, os seus efeitos podem ainda ser
somados, ou seja, os potenciais podem somar-se a outros até que a excitação
neuronal ocorra. A razão para que isto ocorra é a seguinte: uma alteração do
potencial em qualquer ponto isolado do corpo celular (ou soma) mudará o
potencial em qualquer local do mesmo quase exactamente do mesmo modo. Isto

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ocorre porque a condutividade elétrica dentro do grande corpo celular neuronal é


muito alta.

Portanto, para cada sinapse excitatória que dispara simultaneamente, o


potencial de membrana total torna-se mais positivo em 0,5 a 1 mV.

Quando o PEPS se torna grande suficiente será alcançado o limiar de


disparo e o potencial de acção vai ser gerado espontaneamente, a partir do
segmento inicial do axónio. No caso do disparo de 16 sinapses, pode-se ver pela
figura anterior, que o limiar de disparo foi alcançado e foi então gerado, no axónio,
o potencial de acção.

Este efeito de somação dos potenciais pós-sinápticos simultâneos pela


activação de múltiplos terminais em áreas amplamente espaçadas na membrana
neuronal é chamado de somação espacial.

 Somação Temporal

Todas as vezes que um terminal pré-sináptico dispara os


neurotransmissores libertados, promove a abertura dos canais de membrana por
milisegundo. Porém, o potencial pós-sináptico modificado pode durar 15
milisegundos depois dos canais já se terem fechado. Portanto, uma segunda
abertura dos mesmos canais pode aumentar o potencial pós-sináptico para um
nível ainda maior. Além disso, quanto mais rápida a velocidade de estimulação,
maior se torna o potencial pós-sináptico.

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Assim, descargas sucessivas de um único terminal pré-sináptico, se


ocorrerem rápido o suficiente, podem ser adicionadas umas às outras, ou seja,
podem-se “somar”. A este tipo de somação, diz-se somação temporal.

Aula 17 – Sinãpse. Modulãçã o. Fãcilitãçã o. Depressã o e Potenciãçã o.

Anatomia Fisiológica da Sinapse

Esta imagem é um esquema de


um neurónio motor anterior típico. Este
neurónio é composto por 3 partes
principais: o corpo celular ou soma,
que constitui a maior parte do neurónio;
um axónio único, que se estende a
partir do corpo celular até à espinal
medula; e os dendrites, que são
numerosas projecções ramificadas do
corpo celular.

Nas superfícies das dendrites (cerca de 80 a 95%) e do corpo celular


(cerca de 5 a 20%) existem os chamados terminais pré-sinápticos. Estes
terminais são também as porções terminais de ramificações de axónios de
diversos outros neurónios. Muitos destes terminais pré-sinápticos são
excitatórios – secretam neurotransmissores que estimulam o neurónio pós-
sináptico. No entanto também existem terminais pré-sinápticos inibitórios –
secretam neurotransmissores que inibem o neurónio pós-sináptico.

Os neurónios podem diferir no tamanho do corpo celular; no tamanho,


comprimento e número de dendrites; no comprimento e tamanho do axónio e no
número de terminais pré-sinápticos. Estas diferenças fazem com que os
neurónios de diferentes partes do sistema nervoso reajam de maneira diversa a
sinais sinápticos aferentes e, sendo assim, executarem muitas funções distintas.

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 Terminais Pré-Sinápticos

Estes terminais possuem


uma forma arredondada como se
pode ver pela figura.

Na figura está representada


a estrutura básica de uma sinapse,
que mostra um terminal pré-
sináptico único na superfície da
membrana de um neurónio pós-
sináptico. Este terminal é separado
do corpo celular do neurónio pós-
sináptico por uma fenda sináptica.

O terminal possui dois tipos de estruturas internas importantes para a


função excitatória ou inibitória da sinapse: as vesículas transmissoras – que
contêm os neurotransmissores, e que estes, quando libertados na fenda sináptica
excitam ou inibem o neurónio pós-sináptico (excita se a membrana neuronal
contém receptores excitatórios e inibe se esses receptores forem inibitórios) – e
os mitocôndrios, que fornecem ATP que por sua vez fornece a energia necessária
para sintetizar novas moléculas de neurotransmissores.

Quando um potencial de acção chega a um terminal pré-sináptico, a


despolarização da sua membrana faz com que um pequeno número de vesículas
transmissoras liberte neurotransmissores na fenda sináptica. Esta libertação, por
sua vez, provoca uma mudança imediata nas características da permeabilidade
da membrana neuronal pós-sináptica, o que leva à excitação ou inibição do
neurónio pós-sináptico, dependendo das características do receptor neuronal.

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 Papel dos Iões Cálcio (Ca2+)

A membrana do terminal pré-sináptico (membrana pré-sináptica) possui


um grande número de canais de cálcio dependentes de voltagem.

Quando um potencial de acção despolariza a membrana pré-sináptica,


estes canais de cálcio abrem-se e permitem, então, a passagem de inúmeros iões
cálcio para dentro do terminal pré-sináptico. A quantidade de neurotransmissores
que se liberta será directamente proporcional ao número de iões cálcio que
entram.

O mecanismo pelo qual os iões cálcio provocam a libertação dos


neurotransmissores ainda não é conhecido na sua totalidade, mas acredita-se
que se processe mais ou menos da seguinte maneira:

1. Entrada dos iões cálcio no terminal pré-sináptico;


2. Ligação dos iões Ca2+ a moléculas de proteínas especiais
presentes na superfície interna da membrana pré-sinpática – locais de libertação;
3. Abertura dos locais de libertação através da membrana;
4. Libertação de alguns neurotransmissores das vesículas para a
fenda sináptica.

 Função das Proteínas Receptoras

A membrana do neurónio pós-sináptico contém um grande número de


proteínas receptoras. As moléculas destes receptores possuem dois
componentes importantes:

1. Componente de ligação, que se exterioriza, a partir da


membrana, na fenda sináptica – onde se irá ligar o neurotransmissor que vem do
terminal pré-sináptico;
2. Componente ionóforo, que atravessa toda a membrana pós-
sináptica até alcançar o interior do neurónio pós-sináptico. Este componente pode
ser um de dois tipos:

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a. Canal iónico, que permite a passagem de tipos específicos


de iões através da membrana;
b. Activador de “segundo mensageiro”, que não é um canal
iónico mas sim uma molécula que, projectando-se para o citoplasma
da célula, ativa uma ou mais substâncias localizadas no interior do
neurónio pós-sináptico – estas substâncias funcionam como
segundos mensageiros que promovem ou aumento ou a diminuição
de funções celulares específicas.

 Canais iónicos

Os canais iónicos na membrana neuronal pós-sináptica são geralmente


de dois tipos: catiónicos (permitem a passagem maioritariamente de sódio e de
outros catiões como o potássio ou o cálcio) e os aniónicos (permitem a
passagem principalmente de iões cloreto e também outros aniões).

Os canais catiónicos são revestidos por cargas negativas – estas atraem


os catiões que conseguem atravessar o canal e impedem a passagem dos
aniões.

Os canais aniónicos são revestidos por cargas positivas – que permitem a


passagem de aniões (carga negativa) mas não de catiões (carga positiva).

A substância transmissora (neurotransmissor) que abre canais catiónicos


é chamada de transmissor excitatório, por outro lado, uma que abra canais
aniónicos é denominada de transmissor inibitório.

Quando uma substância transmissora activa um canal iónico este abre-se,


quando a substância deixa de estar presente ele fecha-se.

 Sistema de “Segundos Mensageiros”

Muitas funções do sistema nervoso requerem mudanças prolongadas nos


neurónios, mesmo depois de a substância transmissora já se ter dissipado. Os
canais iónicos não são capazes de provocar mudanças prolongadas no neurónio

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pós-sináptico, porque estes canais fecham-se muito rapidamente assim que o


neurotransmissor deixa de estar presente.

No entanto, em muitos casos, a excitação ou inibição neuronal pós-


sináptica prolongada é alcançada pela activação de um sistema de “segundos
mensageiros” no neurónio pós-sináptico, sendo este segundo mensageiro o
responsável por provocar o efeito prolongado.

A figura mostra uma proteína receptora de membrana. Ligada a esta


proteína receptora está uma proteína G – ligada à porção do receptor do lado de
dentro da célula.

A proteína G é formada por três subunidades: subunidades α (alfa), β


(beta) e γ (gama). As subunidades β e γ estão ligadas tanto à subunidade α, como
à parte interna da membrana celular adjacente à proteína receptora.

Durante a activação por um impulso nervoso, a subunidade α separa-se


das restantes subunidades, ficando livre para se mover pelo citoplasma da célula
e executar uma ou mais de múltiplas funções, dependendo da característica
específica de cada neurónio.

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Apontamentos de Fisiologia, Licenciatura em Bioquímica

Na figura acima estão representadas 4 das possibilidades que podem


ocorrer. São elas:

1. Abertura de canais iónicos específicos na membrana da


célula pós-sináptica: na figura abre-se um canal de potássio (K+) em resposta à
proteína – este canal geralmente permanece aberto por um tempo prolongado, ao
contrário do fecho rápido dos canais iónicos activados directamente, que não
usam o sistema de segundos mensageiros
2. Activação de cAMP ou cGMP: tanto o AMP cíclico como o GMP
cíclico podem activar a maquinaria metabólica altamente específica no neurónio
e, sendo assim, podem iniciar qualquer um dos muitos resultados químicos,
incluindo as mudanças a longo prazo na estrutura da célula que, por sua vez,
alteram a excitabilidade do neurónio por longo tempo.
3. Activação de um ou mais enzimas intracelulares: a proteína G
pode activar directamente um ou mais enzimas intracelulares. Por sua vez, estes
enzimas podem induzir uma das muitas funções químicas específicas da célula.
4. Activação da transcrição génica: um dos efeitos mais
importantes na medida em que a transcrição génica pode provocar a formação de
novas proteínas dentro do neurónio, modificando, desta forma, a sua maquinaria
metabólica.

Modulação

Ionotrópicos
Receptores
(neurotransmissores
pós-sinápticos)
Metabotrópicos

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Tanto os receptores ionotrópicos como os metabotrópicos fazem parte


das sinapses excitatórias.

Um receptor metabotrópico não contém um canal iónico, mas, em vez


disso, está acoplado a uma proteína G que inicia cascatas de mensageiros
secundários que, em última análise, afectam os canais de iões. Um receptor
ionotrópico contém o canal de iões, como parte integrante do próprio.

Os receptores ionotrópicos são de transmissão sináptica rápida enquanto


os receptores metabotrópicos são de transmissão sináptica lenta.

Facilitação. Depressão e Potenciação.

A resposta de um neurónio pós-sináptico depende da que frequência e da


duração com que ele foi estimulado pelo neurónio pré-sináptico. Quando o
neurónio pós-sináptico recebe estímulos repetidos, havendo um aumento da
resposta pós-sináptica chamamos a este fenómeno facilitação.

Facilitação, potenciação pós-tetânica e potenciação a longo prazo são


exemplos do aumento da eficácia da transmissão sináptica em resposta a
estímulos anteriores de uma sinapse. Depressão a longo prazo é um exemplo da
eficácia reduzida resultante da activação prévia da sinapse.

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Os fenómenos de potenciação e depressão são tipos de plasticidade


sináptica. A plasticidade sináptica tem papel fundamental em ocasiões de danos
ao cérebro. Mesmo em casos de acidentes que causam a morte de certos
neurónios existe uma certa recuperação, gerada por neurónios que se adaptam e
podem assim exercer funções similares às daqueles que foram perdidos. Este
processo de aprendizagem mostra a capacidade do cérebro de recuperar ou
adaptar-se a ocasiões

Aula 18 – Regulãção neuro-endo crinã.

Sistema Neuro-Endócrino

O sistema neuro-endócrino é
constituído pelo sistema nervoso e um
conjunto de glândulas endócrinas
(sistema endócrino) que se integram,
formando uma unidade funcional;

O sistema endócrino (produção


de hormonas) e nervoso estão
associados de tal forma que se
denominam por vezes de sistema neuro-
endócrino. Células nervosas
especializadas do cérebro (hipotálamo)
controlam as glândulas endócrinas.

O hipotálamo secreta hormonas


que estimulam glândulas endócrinas a
secretar outras hormonas.

A função dos dois tipos de Locais anatómicos das principais glândulas


sistemas é coordenar e regular as endócrinas e tecidos do corpo.

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atividades de todos os outros sistemas do organismo.

O sistema nervoso pode receber estímulos da parte interna do organismo,


como a produção de hormonas pelas glândulas endócrinas (estimulantes).

 Hipófise

É considerada a glândula mais importante do nosso organismo.

A hipófise produz uma grande quantidade de hormonas, sendo algumas


delas responsáveis pela regulação da actividade de outras glândulas endócrinas.
Essa regulação feita por um mecanismo de feedback (negativo ou positivo).

A hipófise é dividida em: adeno-hipófise (produção de hormonas) e


neuro-hipófise (relacionada com o hipotálamo, armazena dois tipos de
hormônios, a ocitocina e ADH ou vasopressina).

O Sistema de Relógio Circadiano (“Circadian Cycle”)

O ciclo circadiano designa o período de aproximadamente um dia (24


horas) sobre o qual se baseia todo o ciclo biológico do corpo humano e de
qualquer outro ser vivo, influenciado pela luz solar.

O ritmo circadiano regula todos os ritmos materiais bem como muitos dos
ritmos psicológicos do corpo humano, com influência sobre, por exemplo, a
digestão ou o estado de vigília (alerta), passando pelo crescimento e pela
renovação das células, assim como a subida ou descida da temperatura.

O "relógio" que processa e monitora todos estes processos encontra-se


localizado numa área cerebral denominada núcleo supraquiasmático, localizado
no hipotálamo na base do cérebro e acima das glândulas pituitárias.

 Pesquisas recentes expandiram o sentido do termo, demonstrando que os


ritmos circadianos estão também relacionados às marés, ao ciclo lunar e também
à dinâmica climática da Terra através das correntes eólicas e marítimas, em

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especial se observado com relação aos animais migratórios. Dessa forma, a


dinâmica circadiana não se reduz a uma questão fisiológica, mas também a uma
conjuntura astronómica, geológica e ecológica.

 Distúrbios no ciclo circadiano

Um dos distúrbios do ciclo circadiano mais notável são as insónias


(“sleep-disorders”).

A melatonina consiste no principal


sincronizador interno do ritmo biológico e é
sintetizada pela glândula pineal, tendo
sua origem a partir do triptofano. A
glândula pineal participa na organização
temporal dos ritmos biológicos, actuando Melatonina

como mediadora entre o ciclo claro/escuro ambiental e os processos regulatórios


fisiológicos, incluindo a regulação endócrina da reprodução, a regulação dos
ciclos de actividade-repouso e sono/vigília assim como a regulação do sistema
imunológico, entre outros. No entanto, em humanos, a melatonina tem sua
principal função em regular o sono; ou seja, em um ambiente escuro e calmo, os
níveis de melatonina do organismo aumentam, causando o sono.

A serotonina é uma molécula


envolvida na comunicação entre neurónios.
Esta comunicação é fundamental para a
percepção e avaliação do meio e para a
capacidade de resposta aos estímulos
ambientais. A serotonina parece ter funções
diversas, como o controlo da liberação de Serotonina

algumas hormonas e a regulação do ciclo circadiano, do sono e do apetite.

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Aula 19 e 20 – Musculo esquele tico; mu sculo cãrdí ãco e mu sculo liso


(cãrãcterí sticãs gerãis). Filãmentos citoplãsmã ticos. Orgãnizãçã o
ãnãto micã. Plãcã motorã. Junçã o neuromusculãr. Fisiologiã dã
contrãcçã o. Movimento. Tipos de fibrãs. Forçã e precisã o.

Sistema Muscular

O sistema muscular é o
sistema biológico dos seres
humanos que lhes permite mover. O
sistema muscular, em vertebrados,
é controlado pelo sistema nervoso,
apesar de alguns músculos, como o
músculo cardíaco, pode ser
completamente autónomo.

O músculo é tecido contráctil e a sua função é produzir força e causar o


movimento – movimento de locomoção ou nos órgãos internos.

Grande parte da contracção muscular ocorre sem pensamento consciente


e é necessária para a sobrevivência, como a contracção do coração e
peristaltismo (que empurra alimento através do sistema digestivo). A contracção
muscular voluntária é usada para mover o corpo e pode ser controlado
minuciosamente, como os movimentos dos dedos.

O músculo é composto por fibras musculares. Dentro das células são


miofibrilas – estas contêm filamentos de actina e miosina.

Pode-se dizer que, no geral, existem 3 tipos de músculo: músculo


esquelético, músculo liso e músculo cardíaco.

O músculo esquelético pode ser definido como músculo estriado


voluntário que é geralmente ligado a um ou mais ossos. Este músculo diz-se
voluntário, pois é geralmente sujeito a um controlo voluntário (podemos decidir
quando contrair um músculo esquelético) e diz-se estriado porque exibe um

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padrão microscópico de bandas alternadas claras e escuras. Devido ao seu


comprimento extraordinário, as células do músculo esquelético são geralmente
chamadas fibras musculares ou miofibrilhas. Estas miofibras são constituídas
por filamentos de actina e miosina.

Músculo esquelético.

O músculo cardíaco também é estriado, mas é involuntário (não está


normalmente sob controlo consciente). As suas células não são fibrosas em
forma, pelo que são chamados cardiócitos ou miócitos, em vez de fibras.

Músculo cardíaco.

O músculo liso também é involuntário, e, ao contrário do músculo


esquelético e cardíaco, carece de estrias, daí a descrição de liso. As suas células
também são chamadas de miócitos, mas são fusiforme em forma - grossa no
meio e delgada nas extremidades.

Músculo liso.

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Organização Anatómica

 Músculo Esquelético

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 Músculo Liso

 Músculo Cardíaco

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Excitação do Músculo Esquelético – Junção neuromuscular

Cada terminação nervosa faz uma junção, chamada junção


neuromuscular, com a fibra muscular próxima desta.

O potencial de acção, iniciado na fibra muscular pelo sinal nervoso, viaja


em ambas as direcções, até às extremidades da fibra muscular.

Esta figura mostra a


junção neuromuscular de uma
grande fibra nervosa
mielinizadas com uma fibra
muscular esquelética. A fibra
nervosa forma um complexo de
terminais nervosos ramificados
que se invaginam na superfície extracelular da fibra muscular. Toda a estrutura é
denominada placa motora. Esta é recoberta por uma ou mais células de Shawn
que a isolam dos líquidos circundantes.

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Esta figura é um
esquema que mostra a junção
neuromuscular entre um
terminal de um axónio e a
membrana da fibra muscular.

No terminal axonal
existem muitos mitocôndrios
que fornecem ATP para a
síntese de um neurotransmissor excitatório – a acetilcolina.

A acetilcolina, por sua vez, excita a membrana da fibra muscular. A


acetilcolina é sintetizada no citoplasma do terminal, mas é absorvida rapidamente
por vesículas sinápticas, as quais se encontram normalmente nos terminais de
uma única placa motora. Na fenda sináptica há grandes quantidades do enzima
acetilcolinesterase, que destrói a acetilcolina pouco tempo após (na ordem dos
milisegundos) esta ter sido libertada das vesículas sinápticas.

Fisiologia da Contração

A a fisiologia da contração muscular ocorre por várias etapas:

1. Um potencial de ação “viaja” ao longo de um nervo motor até às


suas terminações nas fibras musculares;
2. Em cada terminação, o nervo secreta uma pequena quantidade de
substância neurotransmissora, a acetilcolina;
3. Essa acetilcolina actua sobre uma área localizada na membrana da
fibra muscular, abrindo numerosos canais acetilcolina-dependentes dentro de
moléculas proteicas na membrana da fibra muscular;
4. A abertura destes canais permite que uma grande quantidade de iões
sódio passe para dentro da membrana da fibra muscular no ponto terminal neural.
Isso desencadeia um potencial de ação na fibra muscular;

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5. O potencial de ação prolonga-se ao longo da membrana da fibra


muscular da mesma forma como o potencial de ação se prolonga pelas
membranas neurais;
6. O potencial de ação despolariza a membrana da fibra muscular e o
retículo sarcoplasmático liberta para as miofibrilhas uma grande quantidade de
iões cálcio, que estavam armazenados no interior do retículo sarcoplasmático;
7. Os iões cálcio provocam grandes forças atrativas entre os filamentos
de actina e miosina, fazendo com que eles deslizem entre si, o que constitui o
processo contrátil;
8. Após uma pequena fracção de segundos, os iões cálcio são
bombeados de volta para o retículo sarcoplasmático, onde permanecem
armazenados até que um novo potencial de ação chegue; essa remoção dos iões
cálcio da vizinhança das miofibrilhaspõe fim à contração.

O mecanismo da contração muscular é demonstrado pela teoria dos


filamentos deslizantes. Uma série de hipóteses é admitida para explicar como é
que os filamentos deslizantes desenvolvem uma tensão e se encurtam. Uma
delas é a seguinte:

1. Com o sítio de ligação de ATP livre, a miosina liga-se fortemente à


actina;
2. Quando uma molécula de ATP se liga à miosina, a conformação da
miosina e o sítio de ligação se tornam instáveis libertando a actina;
3. Quando a miosina liberta a actina, o ATP é parcialmente hidrolizado
(transformando-se em ADP);
4. A religação com a actina provoca a libertação do ADP e a miosina
altera-se novamente voltando a posição de início, pronta para mais um ciclo.

Existem 3 tipos de contracção:

a) Isométrica: contração em que o comprimento externo do músculo


não se altera, pois a força gerada pelo músculo é insuficiente para mover a carga
à qual está fixado;

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b) Lenghtening (ou alongamento): o músculo aumenta conforme


aumenta a tensão nos músculos, como quando se diminui lentamente o peso. As
fibras musculares deslizam paralelamente uma à outra resultando na total
alongamento do músculo.
c) Shortening (ou encurtamento): o músculo encurta à medida que
a tensão no músculo aumenta, como quando se levanta um peso.

 Músculo Esquelético

A contração muscular esquelética acontece quando há uma interação das


proteínas contráteis de actina e miosina, que ocorre na presença de iões de
cálcio intracelulares e energia (ATP). A disponibilidade de energia para a
contração vem por meio da hidrólise de ATP, e o cálcio é libertado pelo retículo
sarcoplasmático (RS) quando estimulado pela despolarização.

A ligação de um impulso neural gerado no sistema nervoso central a uma


contração muscular esquelética distante é denominada acoplamento excitação-
contração.

A figura mostra o acoplamento


excitação-contração, mostrande
em primeiro lugar um potencial
de acção que causa a libertação
de iões cálcio do retículo
sarcoplasmático e, em seguida, a
recaptação destes iões por uma
bomba de cálcio.

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 Músculo Liso

Base Química para a Contração do Músculo Liso

O músculo liso é constituído tanto por filamentos de actina como


filamentos de miosina, com características químicas semelhantes às dos mesmos
filamentos mas no músculo esquelético. No entanto, o músculo liso não contém o
complexo de troponina normal que é necessário no controlo da contração do
músculo esquelético. Por isso o mecanismo de controlo da contração é diferente
no músculo liso. Mesmo assim, em ambos os tipos de músculos, o processo
contráctil é activado por iões cálcio, e o ATP é degradado a ADP que irá fornecer
energia para a contração.

No entanto, existem diferenças importantes na organização física do


músculo liso e do músculo esquelético.

Base Física para a Contração do Músculo Liso

O músculo liso não tem o mesmo arranjo


estriado dos filamentos de actina e de miosina que
são encontrados no músculo esquelético. Em vez
disso, a organização física do músculo liso é a que
se segue na figura.

Alguns dos corpos densos na membrana


de células adjacentes estão conectados por pontes
intercelulares de proteínas. É principalmente
através destas conexões que a força da contracção
é transmitida de uma célula para outra.

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 Músculo Cardíaco

Como ocorre com os músculos esqueléticos, ao propagar-se pela


membrana do músculo cardíaco, o potencial de ação também se dissemina para
o interior da fibra muscular cardíaca, pelas membranas dos túbulos T. Os
potenciais de ação dos túbulos T, por sua vez, actuam sobre as membranas dos
túbulos sarcoplasmáticos, causando a libertação instantânea de quantidades
muito elevadas de iões cálcio do retículo sarcoplasmático para o sarcoplasma
muscular.

Esses iões cálcio difundem-se até as miofibrilhas e catalisam as reações


químicas que promovem o deslizamento dos filamentos de actina e miosina uns
pelos outros – produzindo a contração muscular.

Até aqui, este mecanismo de acoplamento excitação-contração é como o


que ocorre no músculo esquelético, mas há um segundo efeito que é bem
diferente.

Além dos iões cálcio libertados no sarcoplasma, grande quantidade


destes iões (extra) também se difunde dos túbulos T para o sarcoplasma por meio
do potencial de ação.

Na verdade, sem esse cálcio extra dos túbulos T, a força de contração do


músculo cardíaco seria consideravelmente reduzida, porque o retículo
sarcoplasmático do músculo cardíaco não é tão desenvolvido quanto o dos
músculos esqueléticos e não armazena cálcio suficiente para proporcionar
contração completa.

Por outro lado, os túbulos T do músculo cardíaco têm maior diâmetro que
o dos túbulos dos músculos esqueléticos e da mesma forma, há no interior dos
túbulos T grande quantidade de mucopolissacarídeos eletronegativamente
carregados que servem de reserva de iões cálcio, mantendo-os sempre
disponíveis para a difusão para dentro da fibra muscular cardíaca ao ocorrer o
potencial de ação dos túbulos T.

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A força de contração do músculo cardíaco depende, em grande parte, da


concentração de iões cálcio nos líquidos extracelulares.

Ao final do platô do potencial de ação, o influxo de iões cálcio para o


interior das fibras musculares é interrompido subitamente e os iões cálcio
presentes no sarcoplasma são rapidamente bombeados de volta tanto para o
retículo sarcoplasmático como para os túbulos T. Em consequência, a contração
cessa até que ocorra novo potencial de ação.

 Papel dos iões cálcio na contração muscular

Os iões Ca2+ são importantes para o acoplamento electro-mecânico


(acoplamento de excitação-contração):

1. Condução do potencial de acção pelo sarcolema;


2. Despolarização dos túbulos T;
3. Abertura dos canais de Ca2+ do retículo sarcoplasmático;
4. Difusão dos iões Ca2+;
5. Aumento da concentração dos iões Ca2+ no micoplasma;
6. Início da contracção muscular.

Após a chegada do potencial de acção, há a libertação de acetilcolina que


se traduz em potencial de placa ocorrendo a despolarização da membrana,
permitindo a abertura dos canais de Na+.

Como a quantidade de iões Ca2+ é muito elevada dentro do retículo


2+
sarcoplasmático, todos os gradientes de iões Ca favorecem a saída destes iões
para o citoplasma (de dentro do retículo sarcoplasmático para o citoplasma).
Como as cisternas do retículo sarcoplasmático estão próximas, os iões Ca 2+
ligam-se à troponina C e os filamentos de actina e miosina interagem, permitindo
a contracção.

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Deste modo, a presença ou a ausência destes iões permite a


despolarização da membrana plasmática. Após a contracção, é necessário que
estes iões desapareçam do citoplasma para que possa haver nova contracção.
Assim, na membrana há sistemas para a troca de iões Na + e Ca2+, bombas de
Ca2+ e também há a possibilidade destes iões serem ligados no retículo
sarcoplasmático pela calreticulina e calsequestrina que sequestram os iões para
dentro do retículo sarcoplasmático, diminuindo a quantidade de iões Ca 2+ livre.

O potencial de acção propaga-se pela membrana.

Assim, na presença de iões cálcio, o cálcio liga-se aos locais de ligação


da troponina C. Há uma alteração conformacional, permitindo a ligação da
miosina. A miosina também tem locais para a ligação do ATP. Na presença de
ATP, a miosina desliga-se da actina e o ATP é hidrolisado, havendo a libertação
de ADP e fosfato inorgânico. Esta é a energia que se traduz em movimento. Após
a libertação do fosfato inorgânico, quando o ADP se desliga, há uma
contracção/movimento.

Aula 21 – Sistemã cãrdiovãsculãr: Corãçã o e Ciclo cãrdí ãco.


Eletrocãrdiogrãmã. Regulãçã o nervosã do bãtimento cãrdíãco.

Sistema Cardiovascular

Trata-se de um sistema fechado e distributivo. Este sistema é constituído


por duas partes:

 Menor fracção de sangue existente;


 Maior fracção de sangue existente.
O sangue está na maior parte do tempo em reservatórios. As "câmaras"
de recepção de sangue são as aurículas e as "câmaras" de ejecção de sangue
são os ventrículos.

O volume de distribuição de sangue nos diferentes compartimentos


depende da actividade.

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A circulação sistémica ("grande circulação") é diferentes da circulação


pulmonar ("pequena circulação").

A circulação sistémica é a que envolve a circulação sanguínea por


todo o corpo. Neste circuito, o sangue arterial sai do coração e dirige-se para
todos os órgãos, regressando como sangue venoso ao coração. O circuito
sistémico inicia-se no ventrículo esquerdo, cujo contrac-ção faz sair o sangue
arterial do coração pela artéria aorta, dirigindo-se para todo o corpo. Ao nível dos
tecidos, o sangue arterial transforma-se em sangue venoso e regressa ao
coração, para a aurícula direita, através das veias cavas.

A circulação pulmonar ("pequena circulação") ocorre a baixas pressões.


Esta circulação ocorre entre o coração e os pulmões. Neste circuito, o sangue
venoso sai do coração para os pulmões, é oxigenado e regressa ao coração
como sangue arterial. Esta circulação inicia-se no ventrículo direito. Quando o
ventrículo direito contrai, o sangue venoso sai do coração através da artéria
pulmonar e dirige-se aos pulmões. Uma vez nos pulmões, o sangue venoso é
oxigenado, transformando-se em sangue arterial e regressa, através das veias
pulmonares, ao coração entrando pela aurícula esquerda.

 Coração

O coração é composto
por 3 tipos principais de
músculo: músculo atrial, o
músculo ventricular e as fibras
especializadas excitatórias e
condutoras. Os tipos de
músculo atrial e ventricular
contraem-se quase como os
músculos esqueléticos, mas
com uma maior duração da contração. Por outro lado, as fibras excitatórias e as
de condução contraem-se fracamente por possuirem poucas fibras contrácteis.
No entanto, elas apresentam descargas elétricas ritmicas automáticas, na forma

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de potencial de ação, ou fazem a condução desse potencial pelo coração,


representando o sistema excitatório que controla os batimentos cardíacos
(ritmicos).

 Ciclo Cardíaco

Chama-se ciclo cardíaco ao conjunto de eventos cardíacos que ocorrem


entre o inicio de um batimento e o inicio do proximo, sendo que cada ciclo é
iniciado pela geração espontânea de um potencial de ação.

O ciclo cardíaco consiste num período de relaxamento – diástole –


durante o qual o coração se enche de sangue, seguindo-se um período de
contração – sístole – que provoca a saída do sangue da aurícula para o
ventrículo ou da cavidade para as artérias.

Eventos do ciclo cardíaco para o funcionamento do ventrículo esquerdo, mostrando as


variações de pressão na aurícula esquerda, na pressão do ventrículo esquerdo, na pressão da
aorta, no volume ventricular, no eletrocardiograma e no fonocardiograma.

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Electrocardiograma

O electrocardiograma da figura anterior mostra as ondas P, Q, R, S e T.


Estas ondas são voltagens elétricas geradas pelo coração e que são registadas
pelo electrocardiógrafo na superfície do corpo.

A onda P corresponde à despolarização


atrial, sendo a sua primeira componente relativa à
aurícula direita e a segunda relativa à aurícula
esquerda ( a sua sobreposição gera uma morfologia
tipicamente arredondada).

O complexo QRS corresponde a despolarização ventricular. É maior


que a onda P pois a massa muscular dos ventrículos é maior que a das aurículas,
sendo os sinais gerados pela despolarização ventricular mais fortes do que os
sinais gerados pela repolarização atrial.

A onda T corresponde à repolarização dos ventrículos – quando as


suas fibras musculares começam a relaxar.

Output Cardíaco

Regulação Nervosa do Batimento Cardíaco

Quando uma pessoa se encontra em repouso, o coração bombeia apenas


4 a 6 litros de sangue por minuto. No entanto, durantte exercício físico intenso
pode ser necessário que o coração bombeio 4 a 7 vezes mais essa quantidade.

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Os meios básicos da regulação do volume bombeado são: (1) regulação


cardíaca intrinseca e (2) controlo da frequência cardíaca e força do bombeamento
pelo sistema nervoso autónomo (simpático e parassimpático).

 Regulação Intrínseca do Batimento Cardíaco (Mecanismo de


Frank-Starling)

Cada tecido periférico do corpo controla o seu fluxo local de sangue, e


todos os fluxos locais se combinam e retornam, pelas veias, para a aurícula
diretita – compondo o retorno venoso.

O coração, por sua vez, bombeia automaticamente esse sangue que


chegou até ele para as artérias, para que volte a circular.

Esta capacidade intrínseca do coração se adaptar a volumes crescentes


de afluxo sanguíneo é conhecida como mecanismo de Frank-Starling.
Basicamente, este mecanismo afirma que quanto mais o miocárdio for distendido
durante o enchimento, maior será a força da contração e maior a quantidade de
sangue bombeada para a aorta. Por outras palavras, pode dizer-se que, dentro
dos limites fisiológicos, o coração bombeia todo o sangue que a ele retorna
pelas veias.

Uma das melhores maneiras de expressar a capacidade funcional dos


ventrículos para bombear o sangue é por meio de curvas de função ventricular.

Na curva de trabalho sistólico,


à medida que a pressão atrial aumenta
em qualquer dos lados do coração, o
trabalho sistólico desse mesmo lado
também aumenta, até alcançar o seu
limite de capacidade de bombeamento
ventricular.

Curva de trabalho sistólico.

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As duas curvas presentes na


figura da curva de volume ventricular
representam a função de ambos os
ventrículos do coração humano. Pode-se
ver que quando se elevam as pressões
atriais da esquerda e da direita, o volume
ventricular por minuto respectivo também
aumenta.
Curva de volume ventricular.

Pode-se dizer que as curvas de função ventricular são outra forma de


representar o mecanismo de Frank-Starling, isto é, enquanto os ventrículos se
enchem em resposta a maiores pressões atrais, o volume de cada ventrículo e a
força da contração cardíaca também se elevam, levando o coração a bombear
maiores quantidades de sangue para as artérias.

 Controlo do Coração pelo Sistema Autónomo

A eficácia do bombeamento
cardíaco é também controlada pelos
nervos simpáticos e parassimpáticos
(vagos), que inervam, de forma
abundante, o coração – como se pode ver
na figura ao lado.

Para determinados níveis de


pressão de afluxo atrial, a quantidade de
sangue bombeado a cada minuto (output cardíaco), com uma dada frequência,
pode ser aumentada pelo estímulo simpático ou diminuida pelo estimulo
parassimpático.

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Os estímulos simpáticos aumentam a força de contração cardíaca até ao


dobro da normal, aumentando, deste modo, o volume bombeado de sangue
assim como a sua pressão de ejecção.

A forte estimulação das fibras nervosas parassimpáticas dos nervos


vagos do coração pode chegar a parar os batimentos por alguns segundos, mas o
coração recupera, mesmo se o estímulo parassimpático continuar.

Efeito destes estímulos na curva da função cardíaca

Esta figura mostra 4 curvas de


função cardíaca que representam o
funcionamento do coração como um todo e
não de um ventrículo isolado.

Estas curvas mostram também a


relação entre a pressão da aurícula direita e
o output cardíaco.

Estas curvas demonstram que, para


qualquer pressão atrial inicial, o output
cardíaco sobe durante os maiores estímulos
simpáticos, e cai durante estímulos
parassimpáticos intensos.

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Aula 22 – Vãsos sãnguí neos. Trocãs cãpilãres. Sistemã linfã tico.

Vasos Sanguíneos e Trocas Capilares

Os capilares sanguíneos,
ou vasos capilares, são vasos
sanguíneos do sistema circulatório com
forma de tubos e constituem a rede de
distribuição e recolhimento
do sangue nas células. Estes vasos estão
em comunicação, por um lado, com ramificações originárias das artérias e, por
outro, com as veias de menor dimensão.

Os capilares existem em grande quantidade no nosso corpo mas podem


deformar-se com muita facilidade e impedir a passagem de glóbulos vermelhos. A
parede dos capilares é constituída por uma única camada de células endotoliais..

É nas paredes dos capilares que ocorrem as trocas gasosas (trocas


capilares).

 Trocas capilares

Quando o sangue chega ao vaso capilar,


do ponto de vista químico, os gradientes são de
difusão.

As diferenças de pressão hidrostática são


as forças que permitem a saída de sangue.

Somando as forças de entrada e de saída, no terminal arterial é


favorecida a saída e no terminal venoso é favorecida a entrada.

Vasodilatação: pressão hidrostática maior - favorece a saída de sangue.

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Vasoconstrição: pressão hidrostática menor - favorece a entrada de


sangue.

Sistema Linfático

Devido ao retorno
sanguíneo é o sistema linfático
é outro dos sistemas
importantes que acompanha o
sistema cardiovascular (ao
transportar de novo a linfa).
Trata-se de um sistema de
baixas pressões que tem
válvulas que fazem com que o
fluxo siga num determinado
sentido. Quando há um aumento
da pressão estas válvulas
abrem.

O sistema linfático é
uma rede complexa de vasos e
pequenas estruturas chamadas de nódulos linfáticos que transportam o fluido
linfático (linfa) dos tecidos de volta para o sistema circulatório.

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Aula 23 e 24 – Sistemã respirãto rio. Mecãnismo respirãto rio e suã


regulãçã o. Trocãs gãsosãs no pulmã o. Composiçã o gãsosã ãrteriãl e
venosã do sãngue. Hemoglobinã. Controlo respirãto rio.

Sistema Respiratório

O sistema respiratório
é o conjunto de órgãos
responsáveis pelas trocas
gasosas do organismo dos
animais com o meio ambiente
ou seja a hematose pulmonar,
possibilitando a respiração
celular.

Nos vertebrados terrestres, o sistema respiratório é fundamentalmente


formado por dois pulmões. Mas nos animais aquáticos, como peixes e moluscos,
o sistema baseia-se nos brânquios, enquanto nos artrópodes terrestres, a
respiração é assegurada por um sistema de traqueias.

O sistema respiratótio, juntamente com o sistema cardiovascular, fornece


oxigénio a todas as células do corpo; remove o CO2 produzido; está envolvido na
manutenção do pH do sangue e do fluido extracelular e ajuda o sistema linfático
na eliminação de patogénicos.

O nariz e a cavidade nasal são as duas cavidades por onde o ar entra e


são também denominadas de fossas nasais. São separadas por uma cartilagem
chamada cartilagem do septo, formando o septo nasal. Os pêlos (cílios no epitélio
nasal) no interior do nariz retêm as partículas que entram juntamente com o ar. É
composto de células ciliadas e produtoras de muco. O teto da cavidade nasal
possui células com função olfativa. Nesta região, a mucosa é bem irrigada e
aquece o ar inalado.

A faringe pertence tanto ao sistema respiratório como ao sistema


digestório. Antes de ir para a laringe, o ar inspirado pelo nariz passa pela faringe.

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A laringe é um tubo cartilaginoso (epiglote) de forma irregular que


conecta a faringe com a traquéia. A epiglote desvia os alimentos das vias
respiratórias para o esófago. Na laringe encontramos também as cordas vocais.

A traqueia é um tubo não rígido que não colapsa devido aos anéis
cartilagíneos. Trata-se de um epitélio com células ciliadas embebidas num líquido
secretado pelo epitélio.

Há dois pulmões – o pulmão direito é maior que o pulmão esquerdo,


porque o pulmão esquerdo acomoda o coração. A estrutura alveolar dos
pulmões fica cheia de ar. Entre o ar nos alvéolos e o oxigénio e o CO 2 está uma
membrana com uma espessura muito fina. A pressão parcial do oxigénio é maior
nos pulmões para que seja possível que este gás passe para os capilares que
contêm glóbulos vermelhos, onde a pressão parcial de oxigénio é menor.

A pleura é uma membrana com dupla camada que contém um líquido e


está a pressões negativas. As camadas da pleura são:

 Camada visceral: separa os alvéolos pulmonares;


 Camada parietal: reveste a parte interna (muscular) da caixa
toráxica.

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Mecanismo Respiratório e sua Regulação

O estudo da respiração pode dividir-se em 4 partes:


1. Ventilação pulmonar/respiração: consiste numa renovação contínua
do ar presente no interior dos alvéolos, produzida pelos movimentos respiratórios
(inspiratórios e expiratórios)
2. Trocas Gasosas: difusão do oxigénio e do dióxido de carbono entre
sangue e alvéolos e transporte do oxigénio e do dióxido de carbono.
3. Regulação da respiração.

 Mecanismo Respiratório – Ventilação pulmonar

1. O ar é filtrado e aquecido ao entrar pelas


fossas nasais, sendo que as partículas poluentes
são retidas pelos cílios;
2. O ar desce pela faringe e pela laringe e
segue até à traqueia;
3. O ar é puxado para dentro e para baixo com
a contracção do diafragma – caixa toráxica abre
(inspiração);
4. Os bronquíolos conduzem o ar aos alvéolos
através dos capilares sanguíneos;
5. O diafragma relaxa e o pulmão contrai
(expiração) fazendo com que o ar saia.

A capacidade pulmonar é o volume total de ar que cabe no sistema


respiratório e corresponde, num adulto, a mais ou menos 6 litros. Apesar desse
volume, a cada movimento respiratório normal de uma pessoa em repouso, os
pulmões trocam com o meio exterior apenas 0,5 litro de ar, que é chamado de
volume ou ar corrente.

Na realidade, só cerca de 70% desse volume chega aos alvéolos, ficando


o restante nas vias aéreas (traquéia, brônquios), o chamado espaço morto, pois
aí não há trocas gasosas.

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Ao realizar uma inspiração forçada e em seguida uma expiração também


forçada, máxima, o volume de ar que expelimos pode chegar a cerca de 4,5 ou 5
litros. Esse volume é a capacidade vital. No entanto, mesmo uma expiração
forçada, por mais intensa que seja, não permite um esvaziamento completo dos
pulmões, sobrando sempre neles um certo volume de ar residual, cerca de 1,2, a
1,5 litros.

 Trocas Gasosas

As trocas gasosas realizam-se nos alvéolos pulmonares. Estes estão


rodeados pelos capilares da circulação pulmonar. A sua ansa aferente contém
sangue pobre em oxigénio (O2) e rico em dióxido de carbono (CO2) transportados
pelas artérias pulmonares, provenientes do ventrículo direito.

Durante a sua passagem pelos capilares pulmonares, o sangue carregar-


se-á de oxigénio num período de tempo muito curto. Ao mesmo tempo, o CO 2
difunde -se no sentido inverso sendo eliminado pela expiração.

Às trocas de CO2 e O2 chama-se trocas gasosas. Após as trocas, a ansa


eferente dos capilares conterá um sangue rico em O 2 e pobre em CO2 que será
transportado para a aurícula esquerda pelas veias pulmonares e seguidamente
pela aorta para distribuir oxigénio aos órgãos e tecidos.

Uma das funções do sistema circulatório é transportar, através do


sangue, oxigénio para todas as células do organismo. Assim, o sangue que deixa
o coração pelas artérias é rico em oxigénio, chamado de arterial. À medida que o
oxigénio vai sendo consumido, o sangue adquire dióxido de carbono, sendo
chamado, nesse estado, de sangue venoso. O sangue venoso retorna ao
coração e é enviado aos pulmões para que, no processo de respiração, troque o
dióxido de carbono pelo oxigénio.

Nas trocas gasosas os alvéolos estão abertos. No entanto, devido a estes


serem revestidos internamente por uma delgada camada de líquidos, mantê-los
abertos é uma tarefa difícil, pois as forças atractivas entre as moléculas

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adjacentes do líquido são mais fortes que as forças atractivas entre moléculas do
líquido de gás nos alvéolos, o que cria tensão superficial.

Tensão superficial

Sendo T = tensão superficial e P = Pressão.

Quando o raio é muito pequeno, é necessário aumentar a pressão dentro


dos alvéolos para que estes não colapsem.

Em situações normais a pressão na circulação pulmonar é mais baixa do


que na circulação sistémica.

Tendo em conta as trocas gasosas, os alvéolos devem ser o mais


pequenos possível, para aumentar sua área total de superfície. Esse conflito é
resolvido por uma substância chamada surfactante (mistura de fosfolípidos que
recobre a superfície interna dos alvéolos, diminuindo a tensão superficial).

O oxigénio transportado depende de quantidade de hemoglobina


existente.
Hemoglobina

Metaloproteína que contém ferro e que se encontra presente nos glóbulos


vermelhos (eritrócitos) e que permite o transporte de oxigénio pelo sistema
circulatório.

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a) Efeito de Bohr

Este efeito tem a ver com a afinidade da hemoglobina para o oxigénio,


dependendo do pH e CO2. O aumento da pressão parcial de CO2 e/ou a
diminuição do pH favorecem a libertação do oxigénio da hemoglobina. O aumento
do pH provoca a retenção do oxigénio na hemoglobina.

b) Efeito de Haldane

Este efeito tem a ver com o papel do oxigénio na afinidade da


hemoglobina para o CO2.

Quando a pressão parcial de oxigénio aumenta, a quantidade de CO 2


ligado à hemoglobina diminui e aumenta a quantidade de oxigénio ligado à
hemoglobina. O CO2 nos tecidos passa para o glóbulo vermelho. Uma vez dentro
do glóbulo vermelho, dissolve-se e se estiver presente o enzima anidrase
carbónico, forma-se o ião bicarbonato (o processo é rápido). Se a quantidade
deste ião aumentar, a proteína faz a troca entre o ião bicarbonato (que vai para o
citoplasma) e o ião cloreto. Assim, ocorre o que se designa por shift de cloreto.
Consequentemente, há um aumento do volume do glóbulo vermelho (pois o ião
cloreto é um ião com um grande raio atómico) e há um aumento da pressão
osmótica.

 Regulação da Respiração

Normalmente o Sistema Nervoso


ajusta de modo exacto a ventilação às
necessidades do organismo de modo que as
pressões parciais de O2 e CO2 no sangue
arterial se alteram muito pouco, mesmo
durante exercício intenso e nas situações em
que a capacidade do sistema respiratório é
exigida ao máximo.

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O centro respiratório (CR) é composto por vários neurónios localizados


bilateralmente no bolbo e no tronco cerebral e subdivididos em três grupos:

1. Grupo respiratório dorsal – responsável principalmente pelas


inspirações;
2. Grupo respiratório ventral – pode causar tanto inspirações como
expirações, dependendo dos neurónios estimulados;
3. Centro pneumotáxico – que auxilia no controle da frequência
respiratória e do padrão da ventilação.

O CR é altamente sensível às variações das pressões parciais de O 2 e


CO2. Inúmeros quimiorreceptores distribuídos pelo organismo e receptores
localizados no próprio CR, são responsáveis por captar essas informações e
encaminhá-las até o sistema nervoso. Além disso, o CR é sensível às variações
nas concentrações de iões H+ e HCO3-.
Os receptores localizados no próprio CR (área quimiossensível) detectam
variações principalmente nas concentrações de iões H+ e na pCO2.
Assim, quando a [H+] ou a pCO2 aumenta o CR é estimulado directamente
e causa um aumento da ventilação, com o intuito de aumentar a eliminação de
CO2 e normalizar a sua pressão parcial e indirectamente, o pH sanguíneo.

Além do estímulo directo do CR existe outro modo de se controlar a


actividade respiratória – sistema de quimioreceptores periféricos distribuídos
principalmente em diversas áreas fora do SNC sendo especialmente sensíveis às
variações da pO2.

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 Quando há ↓pO2 e ↑pCO2 e [H+] (como no início do exercício) os


quimioreceptores detectam essa diminuição da pO2 e causam uma estimulação
da respiração, para atender às novas demandas do organismo.
 Quando a pO2 diminui mas as pCO2 e [H+] permanecem normais
(como ocorre quando o indivíduo respira ar rarefeito) as alterações da ventilação
são menores do que se esperaria. Isto ocorre porque ao estimular a respiração
eleva-se a pO2, mas por outro lado, a pCO2 e a [H+] diminuem podendo levar a
uma alteração do pH sanguíneo. Portanto, a estimulação feita pelo O2 sofre uma
oposição pelo CO2 que se encontra normal, reduzindo os efeitos do O 2 sobre a
respiração.
 Quando a troca gasosa está comprometida (pneumonia, por
exemplo) a quantidade de O2 que se difunde para o sangue é pequena, porém, as
quantidades de CO2 e H+ permanecem próximas dos seus valores normais.
Nesses casos, a estimulação da respiração desencadeada pela baixa pO 2 não
sofre oposição da pCO2 já que também a eliminação desse gás fica
comprometida devido às alterações da barreira alvéolo-capilar.

Aula 25 – Rim: ãnãtomiã do nefro nio. Fluxo sãnguí neo renãl e


filtrãgem glomerulãr. Mecãnismos de ãuto-regulãçã o. Noçã o de
"cleãrãnce".

Rim

O rim é o principal órgão do sistema excretor e osmorregulador dos


vertebrados. Os rins filtram produtos do metabolismo de aminoácidos
(especialmente ureia) do sangue, e excretam-nos, com água, na urina; a urina sai
dos rins através dos ureteres, para a bexiga.

Para além de excretar substâncias tóxicas, os rins também desempenham


muitas outras funções, como por exemplo:

1. Eliminar substâncias tóxicas oriundas do metabolismo, como a ureia;

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2. Manter o equilíbrio de eletrólitos no corpo humano, tais como: sódio,


potássio, cálcio, hidrogénio, cloro e outros;
3. Regular o equilíbrio ácido-base, mantendo constante o pH sanguíneo;
4. Regular a osmolaridade e volume de líquido corporal eliminando o
excesso de água do organismo;
5. Excreção de substâncias exógenas como por exemplo medicações e
antibióticos;
6. Produção de hormonas: eritropoietina (estimula a produção de
hemácias), aldosterona (eleva a pressão arterial), cianinas e prostaglandinas;
7. Produção de urina para exercer as suas funções excretórias.

 Anatomia do nefrónio

Nos rins, a estrutura mais importante é o nefrónio. Este é capaz de


eliminar resíduos do metabolismo do sangue, manter o equilíbrio de eletrólitos e
ácido-base do corpo humano, controlar a quantidade de líquidos no organismo,
regular a pressão arterial e secretar hormonas, além de produzir a urina. Por esse
motivo dizemos que o nefrónio é a unidade funcional do rim, pois apenas um
nefrónio é capaz de realizar todas as funções renais.

Cada rim contém milhares de nefrónios. Cada nefrónio contém um grupo


de capilares glomerulares chamado de glomérulo (onde ocorre a filtração) e um
longo túbulo, no qual o líquido filtrado é convertido em urina.

O glomérulo contém uma rede de


capilares glomerulares que se unificam.
Estes capilares são cobertos por células
epiteliais e todo o glomérulo está
envolvido pela cápsula de Bowman. O
líquido filtrado dos capilares glomerulares
flui para o interior da cápsula de Bowman
e daí para o interior do túbulo proximal,
que se situa na zona cortical renal.

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A partir do túbulo proximal, o líquido flui para o interior da ansa de Henle,


a qual “mergulha” no interior da medula renal. Cada ansa de Henle contém um
ramo ascendente (com uma porção mais grossa e outra mais fina) e um ramo
descendente.

No final da porção espessa do ramo ascendente da ansa de Henle


encontra-se a mácula densa (importante no controlo da função do nefrónio).

Depois da mácula densa, o líquido entra no túbulo distal que, como o


túbulo proximal, se situa no córtex renal. Este é seguido pelo túbulo conector e
colector cortical que levam ao ducto colector medular.

Fluxo Sanguíneo Renal e Filtração Glomerular

 Filtração Glomerular

A filtração glomerular é o primeiro passo da formação da urina.

O sangue arterial é conduzido sob alta pressão nos capilares do


glomérulo. Essa pressão, que normalmente é de 70-80 mmHg, tem intensidade
suficiente para que parte do plasma passe para a cápsula de Bowman, onde as
substâncias pequenas - água, sais, vitaminas, açúcares, aminoácidos - saem do
glomérulo e entram na cápsula de Bowman. Somente as células sanguíneas (não
é possível filtrar) e as proteínas (devido ao seu tamanho que é grande) não vão
ser filtradas. Deste processo resulta um líquido que recebe o nome de filtrado
glomerular.

Esta filtração glomerular é um processo passivo que depende da


interacção de dois tipos de forças antagónicas:

a) Pressão hidrostática: a pressão do líquido em cada


compartimento (nos capilares glomerulares e no espaço urinário);
b) Pressão coloidosmótica: o poder de absorção de água das
proteínas presentes no plasma e cujo tamanho não lhes permite atravessar as

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paredes dos capilares do glomérulo – por isso têm tendência para reter líquidos
no sangue.
Taxa de Filtração Glomerular (TFG)

As forças que determinam a taxa de filtração glomerular são as mesmas


que determinam a troca de fluidos entre os capilares sistémicos e o fluido
intersticial:

1. Pressão hidrostática do sangue nos capilares glomerulares;


2. Pressão coleidosmótica do sangue nos capilares glomerulares;
3. Pressão hidrostática do filtrado glomerular na cápsula de Bowman;
4. Pressão coleidosmótica do filtrado glomerular na cápsula de Bowman.

A interacção destas forças provoca uma determinada pressão de


filtração, que se traduz na passagem de água e de múltiplas substâncias de
minúsculo tamanho dissolvidas no plasma sanguíneo para o interior do espaço
urinário.

Todavia, as substâncias de maior dimensão, como as proteínas e as


células sanguíneas, não conseguem atravessar a membrana dos capilares e, por
conseguinte, permanecem sempre no sangue.

A passagem do fluido plasmático faz-se através da Barreira de filtração


que separa o sangue no lúmen dos capilares glomerulares do espaço urinário da
cápsula de Bowman.

 Fluxo Sanguíneo Renal

O fluxo sanguíneo renal (FSR) refere-se ao ritmo em que o sangue flui


para os rins.

Num homem de 70 Kg, o fluxo sanguíneo para ambos os rins é de 1100


mL/min, ou seja, aproximadamente 22% do output cardíaco. O fluxo sanguíneo
supre os rins com nutrientes e remove produtos indesejáveis. No entanto, o fluxo

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alto para os rins excede, em muito, esta necessidade. O propósito deste fluxo
adicional é suprir plasma suficiente para se ter altas taxas de filtração glomerular
que são necessárias para a regulação precisa dos volumes de líquidos corporais
e concentrações de solutos.

Os mecanismos que regulam o fluxo sanguíneo renal estão intimamente


ligados ao controlo da taxa de filtração glomerular e às funções excretoras dos
rins.

Mecanismos de Auto-regulação

Os mecanismos intrínsecos ao rim normalmente mantêm constantes o


fluxo sanguíneo renal e a taxa de filtração glomerular, independentemente
das oscilações de pressão arterial.

Estes mecanismos ainda funcionam em rins profundidos com sangue,


após serem retirados do corpo, ou seja, actuam independentemente de
interferências sistémicas. A esta constância interna é que se denomina auto-
regulação.

Os mecanismos de auto-regulação actuam no sentido de preservar a taxa


de filtração glomerular e o fluxo sanguíneo renal em valores constantes, para que
se possa realizar com precisão a excreção renal de água e solutos.

Os mecanismos de auto-regulação podem ser:

 Mecanismos miogénicos: consiste na capacidade dos vasos


sanguíneos resistirem ao estiramento provocado por um aumento de pressão,
desencadeando uma contracção do músculo liso, ajudando a manter constantes
tanto o fluxo sanguíneo renal como a taxa de filtração glomerular. O estiramento
das paredes vasculares promove uma maior entrada de iões cálcio para o interior
das fibras musculares lisas das paredes dos vasos, induzindo a sua contracção;

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 Feedback tubuloglomerular: mecanismo de auto-regulação que


estabelece uma ligação entre as concentrações de cloreto de sódio, na mácula
densa, e o controlo da resistência arteriolar renal. O feedback tubuloglomerular
conta com dois mecanismos de controlo sobre a taxa de filtração glomerular:
o O mecanismo de feedback arteriolar aferente;
o O mecanismo de feedback arteriolar eferente.
Estes mecanismos dependem de disposições anatómicas especiais do
complexo justaglomerular.

O complexo justaglomerular é composto por células da mácula densa,


localizadas na porção inicial do túbulo distal e pelas células justaglomerulares,
que se encontram nas paredes das arteríolas aferentes e eferentes. As células
justaglomerulares libertam renina.

Resumo do Feedback tubuloglomerular

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Noção de “Clearence”

O “clearence” ou a depuração renal é a avaliação da capacidade renal em


remover substâncias do plasma. As medidas de “clearance” são usadas não
apenas para determinar elementos da função renal (como a taxa de filtração
glomerular), mas também para:

1. Entender como é que as substâncias são manejadas pelos túbulos


renais (reabsorvidas ou secretadas);
2. Determinar a fracção da substância que é reabsorvida;
3. Estimar a excreção de soluto e a concentração de urina;
4. Comparar valores da função renal com o propósito de diagnóstico.

Aula 26 – Mecãnismos bã sicos nã ãbsorçã o e secreçã o


tubuloglomerulãr. Processos renãis bã sicos nã formãçã o de urinã.
Osmoregulãçã o. Sistemã reninã/ãngiotensinã. Regulãçã o nã produçã o
de ãldosteronã e de ADH – os seus mecãnismos de ãcçã o.

Formação de Urina

A formação da urina envolve três processos básicos: filtração do plasma


nos glomérulos, absorção de água e solutos do filtrado e secreção de solutos
seleccionados para o fluido tubular. Embora cerca de 180 litros de líquido
essencialmente livre de proteínas sejam filtrados pelos glomérulos humanos por
dia, somente 1 a 2% da água, menos de 1% de sódio filtrado e quantidades
variáveis de outros solutos são excretados na urina. Pelos processos de absorção
e secreção, os túbulos renais modulam o volume e a composição da urina.

A absorção tubular está relacionada com a remoção de água e solutos


do líquido tubular. Após o filtrado ter passado pela cápsula de Bowman, chega ao
sistema tubular, passando primeiramente pelo túbulo proximal, seguindo pelo
ramo descendente e ascendente da Ansa de Henle, chegando ao túbulo distal e
finalmente ao túbulo colector. Ao longo do sistema tubular a água e os solutos

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passam do lúmen tubular para os capilares peritubulares, em quantidades


variadas.

A secreção tubular consiste na passagem de substâncias dos capilares


peritubulares para o lúmen tubular, ou seja, são adicionadas ao filtrado que passa
pelo sistema tubular.

Poucas substâncias são activamente secretadas do sangue para o lúmen


tubular, pelo epitélio tubular, entre as quais podemos citar iões potássio e
hidrogénio.

Os mecanismos básicos de transporte através da membrana tubular são


transporte activo primário e secundário e difusão.

 Transporte pelo Túbulo Proximal

Ao passar pelo interior deste segmento, cerca de 100% da glucose é


reabsorvida através da parede tubular e retornando, portanto, ao sangue que
circula no interior dos capilares peritubulares.

Ocorre também, neste segmento, reabsorção de 100% dos


aminoácidos e das proteínas (que porventura tenham passado através da
parede dos capilares glomerulares). Neste mesmo segmento ainda são
reabsorvidos aproximadamente 70% de NaCl. A reabsorção de NaCl faz com que
um considerável volume de água, por mecanismo de osmose, seja também
reabsorvido.

Podem ser secretados iões hidrogénio e reabsorvidas quantidades


variáveis de potássio, cálcio, magnésio, fosfatos, ureia e ácido úrico. Desta forma,
num volume já bastante reduzido, o filtrado deixa o túbulo contornado proximal e
atinge o segmento seguinte: a Ansa de Henle.

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 Transporte pela Ansa de Henle

Esta divide-se em dois ramos: um descendente e um ascendente.

No ramo descendente a membrana é bastante permeável à água e,


ocorre, portanto, reabsorção de água. Por outro lado, a membrana do ramo
ascendente, é impermeável à água, porém promove um bombeamento constante
de iões sódio do interior para o exterior da ansa, carregando consigo iões cloreto,
ou seja, reabsorve NaCl.

A ansa de Henle reabsorve, aproximadamente, 20% da água filtrada.


Essa reabsorção, contudo, ocorre exclusivamente no ramo fino descendente.

À medida que o filtrado for passando pelo ramo descendente da ansa de


Henle vai-se tornando mais concentrado (devido a reabsorção de água) e, quando
que retorna pelo ramo ascendente, torna-se novamente diluído (devido a
reabsorção de solutos).

Na medula, o gradiente de pressão osmótica é cerca de 300 a 1200, o


que faz com que a água que está no ramo descendente saia para o interstício.
Neste ramo o sal não sai e, havendo a saída de água, a concentração de sal é
maior neste ramo.

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 Transporte pela Túbulo Distal

Neste segmento são feitos os ajustes finais na composição e volume da


urina e também é realizada a maior parte da regulação por hormonas. Neste
segmento continua a reabsorção dos iões sódio e cloreto.

O segmento inicial do túbulo distal é relativamente impermeável à água. A


sua porção final responde hormona antidiurética (ADH – produzido no hipotálamo
e liberado pela hipófise posterior), exibindo permeabilidade na presença desta
hormona e impermeabilidade na sua ausência.

Na presença de ADH, a membrana do túbulo distal torna-se bastante


permeável à água, possibilitando sua reabsorção.

A quantidade de iões sódio (consequentemente de água) no túbulo distal


depende bastante do nível plasmático da hormona aldosterona, secretada pelas
glândulas supra-renais. Quanto maior for o nível de aldosterona, maior será a
reabsorção de iões sódio, cloreto e água e, maior também será a excreção de
potássio, pois a aldosterona estimula a secreção renal de potássio.

Neste segmento também são encontrados receptores para a hormona


PTH, a qual estimula a reabsorção renal do ião cálcio.

 Transporte pelo Ducto Colector

Neste segmento ocorre também reabsorção de iões Na+ e Cl-,


acompanhados de água, como ocorre no túbulo distal.

A reabsorção de sódio depende muito do nível da hormona aldosterona


e a reabsorção de água depende do nível do ADH.

Há reabsorção de ureia e pode haver secreção de iões hidrogénio.

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Neste segmento existem:

 Célula principal: Bomba Na+-K+ responsável pelo transporte de


sal (NaCl)
 Células intercaladas A e B: responsáveis pela regulação do pH,
sendo que na célula intercalada A há o aumento do pH da urina e na célula
intercalada B há a diminuição do pH da urina.

Sistema renina/angiotensina

A presença de renina:

 Aumenta a actividade simpática, permitindo a vasoconstrição;


 Diminui a tensão das paredes nas arteríolas aferentes,
consequentemente, há o aumento da libertação de renina. (Vias aferentes: “as
que estão a chegar”; vias eferentes: “as que estão a sair”);
 Concentra os iões sódio na mácula densa;
 Provoca hipovolémia - estado de diminuição do volume
sanguíneo, mais especificamente do volume de plasma sanguíneo.
A renina estimula a reabsorção de água e de sal.

O rim produz angiotensinogénio. Posteriormente, a renina parte o


angiotensinogénio formando-se angiotensina I. Através do enzima ACE, a

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angiotensina I é transformada em angiotensina II. Na zona do hipotálamo, é


estimulada a libertação da hormona antidiurética (ADH), necessitando de se
ingerir mais água. Por outro lado, há a estimulação da adrenal para a libertação
de aldosterona para o rim, estimulando a retenção de iões sódio e a ADH estimula
a retenção de água ao nível do rim.

Com a libertação de renina, há a consequente formação de


angiotensina II, que actua como um potente vasoconstritor das arteríolas
eferentes. Desta forma, haverá o aumento da pressão hidrostática glomerular,
normalizando a taxa de filtração glomerular.

Com o aumento da pressão osmótica, é necessário que entre água,


diluindo a solução.

O hipotálamo detecta maiores ou menores pressões osmóticas. Se


houver um aumento da pressão osmótica, a célula perde volume e a libertação de
ADH é estimulada. Se houver uma diminuição da pressão osmótica, a célula
aumenta de volume e há a diminuição da libertação de ADH.

O aumento da angiotensina II provoca uma vasoconstrição maior e é


estimulada a actividade simpática do sistema nervoso. No túbulo distal, há a
retenção de água.

Regulação na produção de Aldosterona e ADH

As hormonas ADH e aldosterona participam na regulação da produção


de urina pelos rins.

A ADH é uma hormona produzida no hipotálamo e libertada pela hipófise


que estimula a reabsorção de água pelos rins, diminuindo assim a diurese.

Esta hormona chega aos rins, transportada pelo sangue, e age no


sistema tubular dos nefrónios, aumentando a permeabilidade dos túbulos distal e
colector à água. Isto causará maior reabsorção tubular de água e

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consequentemente, conservação de água no organismo e diminuição da excreção


de água.

A aldosterona por sua vez estimula a reabsorção de sódio e a


secreção renal de potássio nos rins, o que faz aumentar a pressão osmótica
sanguínea e consequentemente a libertação de ADH. A produção de aldosterona
é estimulada pela presença de angiotensina I.

Estas acções da aldosterona permitem ao organismo conservar sódio e


eliminar o excesso de potássio. A concentração sanguínea de sódio aumenta e a
de potássio diminui.

Aula 27 – Regulãção de pH. Compensãçã o respirãto riã e renãl.

Regulação de pH

O pH interno está muito regulado, pois interfere com muitos factores e


permite a regulação adequada desses factores.

A protonação e a desprotonação de radicais proteicos provocam uma


variação da carga total da molécula.

Com o aumento do pH, ocorre a desprotonação, aumentando o número


de partículas desprotonadas por unidade de volume e o líquido celular torna-se
hipertónico. Consequentemente há a entrada de água e um aumento do volume
da célula.

Com a diminuição, ocorre a protonação, aumentando o número de


partículas protonadas por unidade de volume e o líquido celular torna-se
hipotónico. Consequentemente, há a saída de água e uma diminuição do volume
da célula.

Com o aumento do pH, há acidémia, pois houve um aumento do fluxo


de protões para dentro da célula. Devido à entrada de protões, saem iões

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potássio e a concentração de iões potássio extracelular aumenta e há a


diminuição da concentração de protões extracelular.

Com a diminuição do pH, há alcalémia, pois houve uma diminuição do


fluxo de protões para dentro da célula. Devido a essa diminuição, não saem iões
potássio e a concentração de iões potássio extracelular diminui e há o aumento
da concentração de protões extracelular.

As membranas celulares separam gradientes electroquímicos para os


iões. Um gradiente electroquímico para um ião é facilmente separável.

pH intracelular = 7,00 – 7,10

pH extracelular = 7,35 - 7,45

São vários os mecanismos que permitem que o pH se mantenha.

Todos os dias produzimos uma quantidade enorme de ácido, por


exemplo, através do metabolismo da glucose, havendo a produção de dióxido de
carbono e de ácido láctico.

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Mesmo ao nível da célula, para os diferentes tipos de pH, há uma


diferente estimulação ao nível da troca, por exemplo, a troca de sódio por protões.

Sistema tampão → tamponamento químico (rápido);

Pulmão → Respostas respiratórias (lento);

Rim → Respostas renais (mais lento).

pH sangue arterial = 7,45

pH sangue venoso = 7,35

Valores de pH menor que 6,9 e


maior que 7,7 = MORTE!!

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No túbulo proximal, sempre que um H+ é secretado para o lúmen, há um


HCO3- que é transportado para o sangue. Este protão pode ligar-se a bases com
carga eléctrica.

A concentração de anidrase carbónica é diferente na membrana apical e


na membrana celular.

Muitas vezes, este H+ que é secretado, liga-se a outras substâncias


secretados fazendo com que estas já não voltem para dentro da célula. Por outro
lado, é também útil pois o sistema diminui a acidez.

O NH3 muitas vezes vem da glutamina.

A excreção de H+ é acompanhada pela excreção na urina de NH4+ e/ou


fosfato profuzidos no túbulo distal.

Assim, se um H+ secretado reagir com outro tampão tubular, passa para o


plasma HCO3-.

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A acidose ocorre quando o pH <7,35 (pH do sangue venoso). A alcalose


ocorre quando o pH > 7,45 (pH do sangue arterial).

Compensação Respiratória e Renal

 Acidose respiratória

Com acidose respiratória, o pH fica mais baixo que 7,35. Não havendo
resposta do rim, a pressão parcial de CO2 aumenta, o pH diminui e a quantidade
de HCO3- mantém-se constante. Podem ocorrer problemas respiratórios, devido à
retenção de CO2 (hipoventilação), aumentando a pressão parcial de CO2, porque
a capacidade de libertação deste gás é menor.

Havendo resposta renal, o rim retém os iões HCO3-, fazendo com que a
variação do pH não seja tão grave do que ocorria sem resposta renal.

 Alcalose respiratória

Sem resposta renal, havendo alcalose respiratória, a pressão parcial de


CO2 diminui, o pH aumenta e a quantidade de HCO3- mantém-se constante.

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Podem ocorrer problemas respiratórios, devido à hiperventilação, devido à


diminuição da pressão parcial de CO2.

Havendo resposta renal, o rim retém menos os iões HCO 3-, fazendo com
que a variação do pH não seja tão alta, havendo a libertação destes iões pelo rim.

 Acidose metabólica

Sem compensação respiratória, a pressão parcial CO2 não varia e há uma


diminuição do pH e da concentração de iões HCO3-.

Havendo compensação respiratória, diminui a pressão parcial de CO2 por


hiperventilação. Consequentemente, a diminuição do pH não é tão pronunciado
quanto seria sem a compensação.

 Alcalose metabólica

Sem compensação respiratória, a pressão parcial CO2 não varia e há um


aumento do pH e da concentração de iões HCO3-.

Havendo compensação respiratória, aumenta a pressão parcial de CO 2


por hipoventilação. Consequentemente, o aumento do pH não é tão pronunciado
quanto seria sem a compensação.

No túbulo proximal, há antiporte Na+/H+ que secreta H+ para o lúmen. O H+


no filtrado combina-se com os iões HCO3- do filtrado formando CO2, o qual se
difunde para dentro da célula e combina-se com as moléculas de água formando
H+ e HCO3-. Este H+ secretado é novamente excretado.

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