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9 Coisificação Do Homem Nas Relaçoes de Educação e Trabalho
9 Coisificação Do Homem Nas Relaçoes de Educação e Trabalho
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1Maria Isabel Moura Nascimento, Universidade Estadual de Ponta Grossa. Paraná, Brasil. E-mail:
misabel@lexa.com.br
2Rosiane Machado da Silva, Universidade Estadual de Ponta Grossa. Paraná, Brasil. E-
mail:profmsrosiane@hotmail.com
3Eliza Ribas Gracino, Universidade Estadual de Ponta Grossa. Paraná, Brasil. E-mail: ergracino@hotmail.com
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Resumo: Este artigo tem como objetivo apresentar as contradições existentes na relação
do trabalho e coisifação do homem. A desvalorização da mão de obra e do seu trabalho,
e a exploração pelo sistema capitalista. No desenvolvimento apresentamos como o
trabalho vem sendo apresentado na história, retomando de modo sucinto o escravagismo
no sentido de se compreender como ele tem sido visto ao longo dos séculos de modo
especial no Brasil no final do século XIX. Apontamos ainda o sentido ontológico do
trabalho na perspectiva marxista. Onde o mesmo sinaliza a importância do homem em
sua totalidade e modo da exploração do trabalho pelo capitalismo e a influência deste
sistema na educação. A estratégia utilizada nesse processo por meio do convencimento
ideológico do trabalhador. Levando-o ao convencimento de que a vida que lhe é
oferecida e a remuneração recebida é o melhor que pode obter. Nas considerações finais
sinalizamos as contradições existentes entre o discurso instaurado sobre a educação e o
trabalhador, e as reais necessidades de uma mudança do status quo vigente. As reformas
nas políticas educacionais, a valorização expressa na remuneração do professor, e as
suas condições de trabalho são consideradas como o inicio deste processo. Apontamos
algumas reflexões sobre a necessidade de um ensino voltado para as classes populares,
como uma das ferramentas para a sua emancipação social e desideologização.
Palavras- chave: Trabalho; Educação; Ideologia; Emancipação.
Introdução
Desenvolvimento
Não é sem motivo que Drummond com muita propriedade fala sobre a
coisificação do homem, o que fazemos, pensamos ou vestimos tem um valor “de”
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mercado”, que nem sempre apresenta coerência com o que se pensa ou se quer. A
ideologização tem sido uma arma utilizada pelo capital para convencimento do
trabalhador, sua permanência e conformismo com relação a sua condição social e de
trabalho.
A história sobre o homem nos relata que as relações sociais e de trabalho vem
sofrendo transformações durante os tempos históricos e políticos, modificando o
sentido ontológico do ser enquanto ser. Para Nascimento; Silva (2015, p.23) a
ontologia significa,
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produção e do conjunto das relações sociais e de força produtiva originou-se um
determinado tipo de sujeito, que apreende o objeto a partir da realidade material.
(MARX; ENGELS, 2007)
Esse sujeito histórico, determinado por suas relações com os meios de produção
de sua vida material está também condicionado as relações sociais e econômicas, que
determinam sua consciência, condicionando-o.
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A realização do trabalho surge de tal modo como desrealização que o
trabalhador se invalida até a morte pela fome. A objetivação revela‐se
de tal maneira como perda do objeto que o trabalhador fica privado
dos objetos mais necessários, naõ só à vida, mas também ao trabalho.
Sim, o trabalho transforma‐se em objeto, que ele só consegue adquirir
com o máximo esforço e com interrupções imprevisı́veis. A
apropriação do objeto manifesta‐se a tal ponto como alienação que
quanto mais objetos o trabalhador produzir, tanto menos ele pode
possuir e mais se submete ao domı́nio do seu produto, o capital
(MARX, 2005, p. 112).
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trabalho, impondo ao primeiro a dualidade: sendo aos homens livres legada a atividade
intelectual, e aos escravos e servos, a educação pelo trabalho, necessária aos serviços
braçais (SAVIANI, 2007).
A relação do homem, trabalho e escravidão é algo que o acompanha pelos
tempos, a escravidão é tão antiga quanto à humanidade. A escravidão dos povos esteve
atrelada ao ganhar ou perder as guerras, como na Grécia e Roma, quem perdia era feito
escravo. Também entre os incas e astecas no México essa prática era comum. O
guerreiro vencido se tornava escravo, propriedade do vencedor. Outra prática
escravagista era o pagamento de dívidas por meio da venda de pessoas, filhos, e
familiares aos credores. Com essa prática o homem se comparava a uma mercadoria ou
um produto, assim como o seu trabalho.
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política, cultural e religiosa em ampla área sudanesa. Eram de cultura
banto os negros provenientes do Congo e de Angola — os cabindas,
caçanjes, muxicongos, monjolos, rebolos—, assim como os de
Moçambique (BIBLIOTECA NACIONAL, 1988, p.11).
Em maior parte da população mundial essa prática era comum, pois o sistema
social do trabalho forçado era praticado por todos os povos, coisificando o homem, e o
que por ele era produzido sob a égide do capitalismo.
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[...] como a sociedade escravista precisa ser defendida [...] no pólo
senhorial criaram-se vários mecanismos de defesa contra esses
levantes e fugas, mecanismos que vão de uma estruturação de uma
legislação repressiva violenta à criação de milícias, capitães do mato e
ao estabelecimento de todo um arsenal de instrumentos de tortura
(MOURA, 1986, p. 11).
Para Rezende Filho (1995) a libertação dos escravos na Europa se deu por
motivos econômicos e não por considerar que o trabalho do negro “mais valia” do que
lhe era ofertado, mas sim, pois o custo financeiro de um escravo era maior do que um
trabalhador assalariado. Com isso se vê que o argumento de humanização e valorização
do trabalho negro escravo, estava longe de ser uma realidade. Como exemplo disso, a
Inglaterra se apresenta como a principal representante.
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Os motivos da Inglaterra, que nos séculos XVII e XVIII fora uma das
nações mais atuantes neste tipo de comércio, eram essencialmente
econômicos. Em suas possessões, no final do século XVIII, havia
aproximadamente 800 mil escravos para 150 mil homens livres. Com
a revolução industrial, porém, a acumulação de capital passou a ser
feita predominantemente na esfera da produção, nas indústrias e nas
propriedades rurais modernizadas, o que conferiu maior importância à
produtividade e à ampliação de mercados. O trabalho escravo e as
práticas monopolistas tornaram-se anacrônicas (BIBLIOTECA
NACIONAL, 1988, p.29).
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O início do século XX, especialmente as primeiras décadas foram marcadas por
crises no sistema capitalista, a Primeira Guerra Mundial, e a quebra da Bolsa de Nova
York em 1929. Dentre os principais efeitos dessas crises, estão os altos índices de
desemprego, ocasionados pela diminuição do consumo (HOBSBAWN, 1995, p. 106-
107).
[...] Tal tese está apoiada na análise de uma contradição que marca a
história da educação escolar na sociedade capitalista. Trata-se da
contradição entre a especificidade do trabalho educativo na escola –
que consiste na socialização do conhecimento em suas formas mais
desenvolvidas – e o fato de que o conhecimento é parte constitutiva
dos meios de produção que, nesta sociedade, são propriedade do
capital e, portanto, não podem ser socializados (SAVIANI; DUARTE,
2012, p. 2).
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As crises no sistema de produção capitalista são constantes, bem como os
esforços do Estado em reestruturaro sistema produtivo, educativo e as e políticas
neoliberais, para assegurar sua manutenção e hegemonia. Por esse motivo, é
imprescindível que os educadores percebam o engodo capitalista de transformar a
educação não só em capital, mas também em instrumento de inculcaçao dos valores da
classe dominante, para a perpetuação do status quo. Para que a educação cumpra sua
função de transformação da sociedade, é necessário que as nuances de negação de uma
educação de qualidade a classe trabalhadora seja desvelada e denunciada, e que a
minoria dominada tenha acesso ao conteúdo historicamente acumulado pela
humanidade.
Conclusões
Como vimos às relações de trabalho no Brasil desde 1530 até 1888 com a abolição dos
escravos foi sustentada pela mão de obra escrava, primeiro com índio, depois o negro e na
seqüência os imigrantes. Desde o início o Brasil vinha estabelecendo as relações de produções
com base na exploração da mão de obra do escravo/trabalhador. As preocupações dos
empregadores com este trabalhador em relação a sua remuneração, condições de trabalho e ou
seus direitos eram inexistentes. O que dizer então com relação à preocupação com a sua
escolaridade? Ou a consideração do trabalho e esforço empreendido por este homem, no
enriquecimento de seu patrão? Nada disso era visto como importante ou necessário. O homem
e seu trabalho era visto apenas como um meio de enriquecimento. A única preocupação estava
relacionada com uma maior produtividade de trabalho para o enriquecimento do capital. Com
isso a população negra e os colonos que residiam no Brasil, ficaram a margem dos lucros dos
senhores de terras e donos das escravarias. O ensino a princípio era ministrado por professores
particulares para os filhos dos ricos, consolidando cada vez mais, a hegemonia da classe
dominante. Com isso os que detinham o poder permaneceriam nele. Os pobres e trabalhadores
seriam treinados para obedecer cegamente o que lhes era proposto.
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Por outro lado as políticas voltadas para educação pública não se sustentam, seja por
falta de recursos ou por troca de governo e planos de gestão, o que temos hoje é um ensino
voltado para as elites. Os que podem pagar uma escola particular que preferencialmente seja
“bilíngüe” levam vantagem, na disputa pela empregabilidade e conseqüentemente estes, os
filhos dos burgueses serão os empregadores do futuro.
Mediante isso cabe a indagação “o que mudou de 1530” do sistema escravagista até os
dias de hoje, em relação ao trabalho, trabalhador, remuneração de sua mão de obra e educação?
O salário do trabalhador tem que render e pagar todas as despesas, e ainda garantir um
futuro promissor aos seus filhos. A educação é o meio que muitos trabalhadores acreditam que
seus filhos poderão acender socialmente, como dizem “melhorar de vida”. Infelizmente o que
temos visto é que o sistema público está cada vez mais com dificuldades, para realizar a tão
sublime tarefa. A falta de recursos financeiros e humanos tem sido pauta dos noticiários e da
realidade da educação brasileira.
Desde a educação jesuítica vemos o desrespeito pela cultura e valores das classes menos
favorecidas. No caso dos índios a intenção era catequizá-los, ou seja, imprimir nos nativos os
costumes e cultura que não lhes trazia nenhum significado. Esse modelo jesuítico, ainda se faz
presente na educação brasileira. O que temos na escola em muitos casos e realidades distintas da
população brasileira, é que a mesma apresenta uma linguagem que não lhes representa. Os
conteúdos são repassados de modo dissociado de sua realidade, um perfeito descompasso e
descompromisso com uma educação emancipatória.
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autoemancipação da humanidade, apesar de todas as adversidades, ou será
pelo contrário, a adoção pelos indivíduos, em particular, de modos de
comportamento que apenas favorecem a concretização dos objetivos
reificados do capital? (MÈSZÁROS, 1930, p. 47-48).
Ou será que estamos vivendo num “faz de conta”, onde todos devem acreditar que
somos ou que temos oportunidades iguais. Como a exemplo disso, temos aquela criança que
cata o jornal para vender, pois seus pais trabalham com reciclagem e o utilizam como meio de
sua sobrevivência. Diferente daquela que seus pais o utilizam para a leitura e ou fonte de
informação . Quais as aproximações e diferenças na aprendizagem dessas crianças, que estão na
mesma escola e na mesma classe? Elas terão a mesma compreensão e leitura de mundo? A
utilização do jornal tem o mesmo significado para ambas? Por certo que não e as diferenças
existem, o sistema meritocrático é cruel e impiedoso. Nessa lógica o capitalismo baseado no
mérito, vem nos dizer que essas crianças tem oportunidades iguais, se uma avança e a outra
fica, é porque ela não estudou ou não se esforçou como devia, pois ambas estão recebendo os
mesmos ensinamentos.
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contos de “assombração” reproduzidos pelas nossas avós. Se isto persistir talvez
tenhamos que concordar com os versos de Drummond na epígrafe desse texto: “Já não
me convém o título de homem. Meu nome novo é coisa. Eu sou a coisa, coisamente”.
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