Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Técnicas da Informação
e Comunicação
aplicadas à Educação
Fortaleza
2013
Ciências Artes
Química Biológicas Plásticas Informática Física Matemática Pedagogia
Capítulo 2 – A Comunicação..........................................................................27
1. A Comunicação como troca simbólica............................................................29
2. A comunicação como processo interacional..................................................31
3. A comunicação de massa como simulação de troca simbólica....................40
4. A comunicação como simulação de dialogia..................................................42
Considerações finais.....................................................................................138
Sobre os autores............................................................................................140
Introdução
A capacidade de intervenção na natureza é um dos traços mais significativos
que distinguem os seres humanos dos demais animais
No filme 2001 – uma odisseia no espaço (1969), dirigido por Stanley
Kubrick, vemos uma sequência inicial que mostra um conjunto de antepas-
sados do ser humano vivendo em tempos pré-históricos. Em dado momento,
um deles descobre que um osso de animal pode ter uma utilidade até então
impensada: ser uma arma, que serve para abater outros animais, seja para
comê-los, seja para lutar contra eles.
Na sequência, esse ser pré-histórico joga o osso para cima e, numa
das mais famosas elipses do cinema, experimentamos um salto no tempo
da narrativa e chegamos ao futuro representado no filme (o ano de 2001, no
caso), onde vemos uma nave no espaço. Uma das coisas que Kubrick quer
nos mostrar é que essa nave é fruto da intervenção humana na natureza. Em
outros termos: ela é fruto da tecnologia.
A língua também é uma forma
de tecnologia. Como tal, necessita ser
aprendida, seja uma língua nativa, seja Saiba mais
uma segunda língua. E, por ser uma
tecnologia, uma vez aprendida esquece- Técnica x Tecnologia
mos que a aprendemos. Tal processo, do É importante fazer a distinção (fundamental) entre tecnologia e técni-
ponto de vista neurológico e cognitivo, é ca. Cronologicamente, a palavra “técnica” é mais antiga: deriva do gre-
go, tekhnè, que significava em sua origem “arte” ou “ofício” (a Retórica,
similar a aprender a tocar um instrumen-
por exemplo, era considerada uma arte e também uma tekhnè entre
to ou a dirigir um carro; no início, pensa- gregos e romanos antigos). Dentro de uma visão científica moderna,
mos nas ações a serem executadas, de- “técnica” significa um tipo de construção ou de método particular, que
pois apenas as executamos. Pensamos ajuda a promover a modificação do real. Já o termo “tecnologia” sur-
ge bem depois, por volta do século XVII, para designar um “estudo
nas palavras que vamos usar apenas em
sistemático das artes ou a terminologia de uma arte em particular”
situações específicas e que considera- (WILLIAMS, 2000, p. 312), e provém do grego clássico, tekhnologia, e
mos importantes pelo fato de não serem do latim moderno, technologia, que designam formas de tratamento
rotineiras (uma entrevista de emprego, sistemático de algo, ou ainda um sistema desses meios e métodos.
Assim, técnicas de informação e comunicação dizem respeito a tipos
por exemplo); não tendemos a ficar es-
e métodos particulares de sistematização de informações e de pro-
colhendo palavras se vamos apenas dar cessos comunicativos; tecnologias de informação e de comunicação
um “bom dia” a alguém conhecido. designam o sistema que faz uso dos meios e métodos técnicos.
das apenas nessa lógica transmissiva fossem também eficientes; mas variáveis
como as maneiras como as pessoas consumiam a TV, os gêneros televisivos
favoritos da audiência e as situações de recepção foram deixados de lado. O
relativo fracasso dessa tentativa aponta para o fato de que a análise da TV como
ferramenta se centrou apenas na tecnologia em si, não nos modos como as
pessoas interagem diante da tecnologia e entre si, simultaneamente.
A TV foi percebida em sua eficácia potencial como transmissora de
conteúdos, mas não se questionou, à época, sua eficácia como geradora de
conhecimentos, sendo que estes se baseiam, muitas vezes, em práticas so-
ciointerativas (ou seja, em situações sociais, presenciais ou à distância).
No início de seu livro intitulado La Educación desde la Comunicación, o
pesquisador colombiano (nascido na Espanha) Jesús Martín-Barbero adverte
sobre um duplo fato: o que estamos acostumados a confundir a comunicação
com os meios e a educação com seus métodos e técnicas. Ou seja: é pre-
ciso evitar o reducionismo de ambos os conceitos e processos a uma visão
meramente técnico-instrumental. Além disso, há outro aspecto importante no
que se refere ao modo de se lidar com a dualidade Comunicação-Educação,
do ponto de vista teórico-metodológico: é mais importante ensinar o aluno a
utilizar os meios, dominando suas técnicas, ou ensinar o aluno a fazer uma
leitura crítica desses meios?
De um lado, em uma sociedade cada vez mais mediatizada1, faz-se 1
Apesar de os termos
necessário que os alunos dominem as diversas técnicas de produção de in- “mídia” e “midiático”
estarem popularizados, a
formação e de comunicação (compreensão da lógica produtiva); ao mesmo grafia mais adequada, do
tempo, é preciso que eles saibam interpretar os conteúdos veiculados nos ponto de vista etimológico,
meios de comunicação massivos e digitais (interpretação dos produtos medi- seria “media” e “mediático”
áticos). A nosso ver, essa é uma escolha fundamental, mas perceba-se que, (como escrevem os
portugueses). Afinal, a
apesar de serem duas questões interrelacionadas, elas colocam em xeque palavra vem do latim,
aspectos diferentes sobre a percepção dos meios: a produção de textos por medium, que significa
parte dos alunos e a análise dos produtos mediáticos produzidos no âmbito “meio” (seu plural é media).
dos meios de comunicação massivos e digitais. Aqui, todos os vocábulos
de língua portuguesa
Assim, é preciso ter sempre em mente as diferenças simbólicas entre o referentes aos meios
campo escolar como esfera de produção de conhecimentos e o sistema mediáti- de comunicação serão
co como espaço difusor de informações. Nossa escolha, aqui, é auxiliar o profes- grafados em conformidade
com a origem do termo
sor na produção dos textos por parte dos alunos a partir das diferentes técnicas de em latim: assim, usaremos
comunicação e informação; acreditamos que o conhecimento e a prática sobre “mediático” e não
os modos de produzir esses textos ajudam posteriormente numa análise crítica “midiático”; “mediatizado”, e
sobre os meios de comunicação de massa nos quais circulam outros textos. Ou não “midiatizado”.
seja: existe uma diferença fundamental entre saber como se faz e saber fazer.
Cumpre lembrar que todas as técnicas aqui relacionadas podem ser
trabalhadas com o auxílio do computador. Uma vez que as tecnologias digi-
tais permitem o manuseio dos textos verbais, das imagens e dos sons, bem
como de suas combinações, nada impede que as atividades sejam realizadas
tanto através de encontros presenciais quanto através de atividades coletivas
e colaborativas mediadas pelo computador. Cabe aos professores, dentro de
suas visões de processo pedagógico, avaliarem quais os melhores caminhos
a serem seguidos.
Aqui, tentaremos evitar alguns equívocos: talvez o principal deles seja
deixar de lado a centralidade no suporte para dar ênfase aos aspectos das
diversas formas de linguagem (escrita, sonora, audiovisual, imagética etc.),
cujos princípios tendem a se manter, independentemente do suporte analisa-
do. Um exemplo simples: a princípio, não existem diferenças entre um filme
visto na TV, no cinema, num aparelho de DVD ou de Blu-ray ou no compu-
tador, no que se refere ao filme em si; as diferenças ocorrem em função do
suporte e daquilo que ele possibilita.
No cinema, não podemos pausar a exibição do filme; na TV, dependen-
do do tipo de aparelho, isso já é possível; no aparelho de DVD ou Blu-ray e
no computador, podemos pausar quantas vezes quiser. Mas essas diferenças
não alteram o estatuto do filme como mensagem audiovisual: assim, o tempo
de exibição ou a ordem das sequências são mantidos. Ou seja: os modos
de construção de um produto audiovisual (em termos de captação de ima-
gens, edição, pós-produção etc.) serão sempre os mesmos, independente
do suporte no qual o filme será exibido (obviamente, há exceções em alguns
aspectos, como os filmes em 3D).
Há outras variantes a serem consideradas: um filme na TV, no DVD
ou no Blu-ray, visto em família ou entre amigos, é quase sempre um ritual
acompanhado de comentários (ligados ao filme ou não); no cinema, o ritual
(ao menos em algumas culturas) pede que o filme seja assistido em silêncio;
no computador, a exibição tende a ser individual e solitária (uma vez que, seja
num desktop, notebook, netbook, tablet ou mesmo num smartphone, esses
objetos tendem a ser percebidos como objetos pessoais). Ou seja, as formas
de recepção são bastante distintas. Observar as formas de recepção também
na sala de aula é algo importante para o pedagogo.
Além disso, é preciso ter em mente que os modos como as futuras
tecnologias são concebidas podem implicar em mudanças nas formas de
produção mediática. Por exemplo: se um dia pudermos “escolher” a próxima
sequência de um filme, numa lógica similar à do RPG (role playing game), é
inevitável que a produção do filme se modificará, deixando de ser roteirizada
e concebida como um continuum temporal para se tornar um conjunto de
possibilidades narrativas à escolha do espectador (mais próxima da lógica do
videogame). Uma discussão sobre essas potencialidades pode ser encontra-
da, por exemplo, em Gosciola (2003).
Referências
BRAGA, José Luiz & CALAZANS, Regina. Comunicação e educação –
questões delicadas na interface. São Paulo: Hacker Editores, 2001.
CITELLI, Adilson. Comunicação e educação – a linguagem em movimento.
São Paulo: Editora SENAC, 2000.
COSTA, Cristina. Educação, imagem e mídias. São Paulo: Cortez, 2005.
GOSCIOLA, Vicente. Roteiro para as novas mídias – do game à TV intera-
tiva. São Paulo: SENAC, 2003.
MARTÍN-BARBERO, Jesús. La educación desde la comunicación. Bogotá:
Grupo Editorial Norma, 2003.
OROFINO, Maria Isabel. Mídias e mediação escolar – pedagogia dos meios,
participação e visibilidade. São Paulo: Cortez, 2005.
SCHAUN, Angela. Educomunicação – reflexões e princípios. Rio de Janeiro:
Mauad, 2002.
SETTON, Maria da Graça. Mídia e educação. São Paulo: Contexto, 2010.
STEINER, George. Depois de Babel – aspectos da linguagem e tradução.
Lisboa: Relógio D’Água, 2002.
WILLIAMS, Raymond. Palabras clave – un vocabulário de la cultura y la so-
ciedad. Buenos Aires: Ediciones Nueva Visión, 2000.
(e não como apenas algo que se transmite a alguém) e que estudá-la significa
estudar as pessoas que interatuam nos processos comunicacionais.
Em suma, Shannon e Weaver se preocupavam principalmente com a
eficácia técnica do sistema informativo, ou seja, que a mensagem constituída
no polo da emissão fosse reconstituída no polo da recepção na sua íntegra
em relação aos sinais. O aspecto semântico (o conteúdo da mensagem) não
era de interesse deles.
Em outros termos: não interessa o teor da conversa de duas pessoas
ao telefone, mas apenas que uma pessoa possa ouvir à outra e vice-versa,
compreendendo o que ela fala, palavra por palavra, fonema por fonema. Po-
rém, veremos que, mesmo com a proposta feita por Schramm, o modelo de
Shannon e Weaver se tornou paradigmático no campo da Comunicação, a
ponto de muitas vezes apenas se pensar os fenômenos da área dentro dessa
visão chamada por Winkin (1984), em termos facilitadores, de “telegráfica”. A
justificativa dessa visão será retomada adiante.
Saiba mais
5
A teoria matemática da
Emissor: seja na teoria da informação ou na maioria das teorias da comunicação tradicionais,
comunicação não surgiu
emissor é o criador ou a fonte da informação, de uma mensagem, que é emitida a um receptor.
nos anos 1940, conforme
Receptor: é o recebedor ou destinatário da mesma mensagem enviada pelo emissor. Em
destaca Weaver (1987:
algumas ocasiões, emissor e receptor tanto podem ser a mesma pessoa quanto podem
26-7). O físico austríaco
trocar de lugar, em situações de interação presencial ou mediada pelo computador.
Ludwig Boltzmann (1844-
Mensagem: é o conjunto ordenado de uma série de sinais que, sendo interpretáveis,
1906) sugeriu prováveis
se tornam signos, visando a transmissão de uma dada informação. Geralmente a infor-
pontos de contato entre a
mação está situada dentro do contexto de uma mensagem.
mecânica estatística e o
Código: linguagem ou sistema de signos convencionais e regrados nos quais a mensagem
conceito de informação.
é transmitida (linguagem escrita ou falada, cinematográfica, quadrinística, teatral etc.).
O matemático norte-
Sinais: fenômenos físicos que, uma vez interpretados, se transformam em signos de
americano Norbert Wiener
uma mensagem.
(1894-1964), que foi
Ruído: sinal que atrapalha a transmissão e/ou decodificação da mensagem.
uma influência central
Redundância: repetição de signos, iguais ou equivalentes entre si (como as paráfra-
no trabalho de Shannon,
ses), para reforçar a compreensão de uma dada mensagem.
desenvolveu o conceito de
cibernética (que é abordado
no próximo tópico). Maser
(1975: 168) cita outros 3. Cibernética: um dos pontos de partida da comunica-
pesquisadores que também ção e da informação
se dedicaram ao estudo
da teoria da informação, Ciência proposta por Norbert Wiener nos anos 1940 diz respeito ao estudo do
como Karl Küpfmüller “controle e comunicação no animal e na máquina”.
(1897-1977), Dennis Gabor,
inventor da holografia Em 1948, o matemático norte-americano Norbert Wiener (1894-1964)
(1900-1979) e Leo Szilard publicou um livro intitulado Cybernetics: Or the Control and Communication
(1898-1964). in the Animal and the Machine, com o qual criou o termo “cibernética5”; dois
anos depois, trouxe à luz a obra The Human Use of Human Beings, na qual
retoma os conceitos-chave do livro anterior para fins de divulgação junto a
público mais leigo.
A origem do termo “cibernética” vem da palavra grega kubernetes (“pi-
loto”), da qual também se origina a expressão “governador” (através do Latim,
gubernare); porém, o próprio Wiener adverte que a palavra já havia sido usada
antes, por exemplo, por André-Marie Ampère em estudos sobre ciência política. 6
Outro autor que trabalhou
com a ideia de sistema
O que Wiener chama de Cibernética? Antes, é preciso entender que a
foi o biólogo austro-
Natureza, do ponto de vista estatístico, é “caótica”, ou seja: é “imprevisível”, “in- canadense Ludwig von
controlável”. A Cibernética, por outro lado, é colocada (ao menos inicialmente) Bertalanffy (1901-1972),
como a ciência do controle (ou seja, “regulação”) das relações existentes (ou criador da Teoria Geral
dos Sistemas nos anos
seja, “comunicação”) entre máquinas e organismos vivos (ou seja, “homens”).
1930. Sua principal obra
Para que tal relação possa existir, é importante a existência da “retroali- é justamente intitulada
mentação” (feedback) para que o sistema continue em ação. Nesta visão, se Teoria Geral dos Sistemas
e é bastante estudada em
aceita que o mundo seja composto de sistemas6 vivos ou não, que interagem
áreas como Administração,
uns com os outros (empresas, pessoas, animais, computadores, cérebros Biologia e Sociologia. O
etc.). Ao mesmo tempo, um sistema é visto como um conjunto de elementos princípio lógico-matemático
em interação constante. Assim, um sistema deve ter dados de entrada (inputs) da Teoria Geral dos
Sistemas é que muitas
inseridos nele e, posteriormente, esse mesmo sistema deve produzir respos-
disciplinas refletem mais
tas (outputs) que permitam a criação de um feedback. em termos de sistemas de
Para Wiener, existem dois tipos de feedback: um positivo, no qual as re- elementos do que como
elementos isolados; assim,
ações de B reforçam as ações de A, podendo até mesmo mudar o método e o
ela pode ser aplicada às
padrão geral de desempenho do sistema; e outro negativo, no qual as reações mais diversas ciências
de B levam as ações de A a serem apenas reguladas. Aqui, Wiener fala, respec- empíricas.
tivamente, em “aprendizagem” e “rigidez”. Assim, homens e máquinas se comu-
nicam através de situações em que uma informação “retorna7” à fonte emissora. 7
Retorno (ou feedback): a
volta da mensagem à sua
origem (emissor).
nos seja dita a respeito dele terá grande potencial informativo e, ao mesmo
tempo, nos dá um modo de perceber esse fenômeno. Digamos, por exemplo,
que uma pessoa nunca tenha visto uma determinada cor (o azul), tampouco
saiba o seu nome (já que nunca a viu).
Se alguém disse a essa pessoa que o nome dessa cor é “azul”, daí por
diante, sempre que a pessoa estiver diante dessa cor, irá pensar na palavra
“azul”. Ou seja: a partir daquele momento, a palavra “azul” formata aquela
informação cromática para aquele indivíduo e aquela cor deixa de ser “impre-
cisa”, torna-se por ele “conhecida”. Ao mesmo tempo, elimina-se a incerteza
(“qual o nome dessa cor?”) e formata-se um aspecto da realidade (a existên-
cia do nome “azul” para essa cor, em língua portuguesa).
Essa lógica se estende a outros fenômenos da realidade (incidentes di-
plomáticos, conflitos bélicos e acontecimentos em geral) através dos meios de
comunicação de massa. Percebe-se, porém, que esse processo não é tão sim-
ples e estável: dependendo de uma série de percepções ideológicas e culturais,
a imprensa pode falar em “guerra do Afeganistão” ou “invasão norte-americana
ao Afeganistão” para se referir a acontecimentos que envolvam o exército norte-
-americano no território afegão, como os ocorridos a partir de 2001.
Isso ocorre na sociedade a todos os momentos: uma pessoa pode perce-
ber uma garrafa de Coca-Cola como uma opção refrescante para um dia quen-
te e outra pessoa pode associar a bebida à noção conceitual de “imperialismo
norte-americano”.
Assim, a informação é uma mensagem referente a um acontecimento des-
conhecido ou novo, do ponto de vista de quem não o conhece. Mas esse acon-
tecimento pode depender também das probabilidades de ele acontecer ou não.
Assim, um dado fenômeno pode ser raro ou altamente improvável, o que implica
em um alto grau informativo. Nos meios jornalísticos, há uma frase humorística e
talvez exagerada, mas que não deixa de explicitar a lógica desse raciocínio:
Os eventos esportivos, por sua própria natureza, não podem ter seu
desfecho antecipado, ainda que os torcedores possam especular sobre o
resultado final (loteria esportiva, bolões, apostas etc.). Por tudo isso, vale
a pena transcrever a seguinte citação do pesquisador português Adriano
Duarte Rodrigues (1994)
Atividades de avaliação
1. Por que a teoria de Shannon e Weaver é tomada como uma teoria da co-
municação? Pense sobre o assunto.
2. Pense em algumas formas de feedback dentro de um processo de troca de
informações.
3. Pense nas várias formas de informação que nos cercam no dia-a-dia.
4. Quais as informações jornalísticas que interessam a você? Por quê? Pen-
se sobre o assunto.
Referências
CAPURRO, Rafael. “Pasado, presente y futuro de la noción de información”.
In: I Encuentro Internacional de Expertos en Teorías de la Información –
un enfoque interdisciplinar. León, 2008. Disponível em http://www.capurro.de/
leon.pdf. Acessado em 1o. de fevereiro de 2012.
Isso implica uma desigualdade sob uma dupla ótica: o emissor detém tanto
a informação quanto os meios de transmissão dessa informação; o receptor, por
sua vez, nem possui a informação, nem os meios de retransmissão dessa infor-
mação, apenas os meios de recepção (veículos impressos, TV, rádio, equivoca-
damente chamados por alguns mais “distraídos” de “meios de comunicação”).
Ao mesmo tempo, a aceitação dessa noção do processo de comunica-
ção como transmissão da informação não fez mais do que, em determinadas
condições, reforçar determinadas práticas pedagógicas – com a diferença de
que, nessa área, a “informação” é substituída pelo “conhecimento”. O pedago-
go brasileiro Paulo Freire, ainda em fins dos anos 1960, já havia denominado
(e denunciado) essa prática da “concepção bancária”, ou seja: por um lado,
ela é uma prática voltada exclusivamente para a transferência de conheci-
mentos, cuja responsabilidade fica nas mãos do “educador”; por outro lado, é
uma prática que ignora os saberes do “educando” em sala de aula: “na visão
‘bancária’ da educação, o ‘saber’ é uma doação dos que se julgam sábios aos
que julgam nada saber (...). A rigidez destas posições nega a educação e o
conhecimento como processos de busca” (FREIRE, 2012, p. 81).
Voltemos à noção de interação. O que isso quer dizer, na prática? Vimos
que a comunicação é um processo de troca e que, conforme a visão de Mauss,
ela pode implicar na obrigação ou não de retribuição. Mas esse processo pode
não se encerrar nesse triplo movimento (dar, receber e retribuir); na verdade,
poderíamos dizer que o mais comum é que o processo comunicativo seja con-
tinuado, até que se cesse a interação entre os dois agentes sociais. Além disso,
podem existir mais pessoas envolvidas num processo comunicativo; nem sem-
pre essa é uma relação que envolve apenas duas pessoas.
Essa visão de comunicação foi
© Mark Stivers
8
A palavra “pragmática” Existem alguns axiomas centrais nos pensamentos desses autores, no
etimologicamente vem do que se referem à comunicação, decorrentes dessas visões acima enumera-
grego, práxis, que se refere
às relações entre sujeitos.
das. O aspecto mais importante aqui é a noção de que a comunicação e o
O conceito é estudado em comportamento humanos estão interligados. Para compreender isso melhor,
outras áreas, como Teoria é preciso antes lembrar que, para Charles Morris (1938), há três domínios na
Literária e Filosofia da apreensão de uma língua:
Linguagem.
Sintático (relativo ao uso dos códigos e signos em relação com outros có-
digos e signos);
Semântico (relativo ao significado dos signos, ou seja, da relação deles
9
Os filósofos da linguagem
com a realidade);
tendem a falar em “atos
Pragmático (relativo à relação e à alteração do comportamento humano a
8
de linguagem”, como o
britânico John Langshaw partir dos usos e “interpretações” desses signos).
Austin, ao analisar certas
ações que são praticadas Ou seja: num primeiro momento, é preciso saber usar os códigos e signos
através do ato de falar, usados num certo tipo de linguagem9 (a língua, por exemplo); num segundo mo-
como promessas e mento, é preciso conhecer os significados desses signos (decodificar palavras,
batismos. Essas ações
imagens, sons etc.); e, finalmente, num terceiro momento, é preciso considerar
só podem ocorrer quando
“dizemos” que estamos que somos afetados por esses signos.
prometendo algo ou Assim, uma ordem que nos é dada nos solicita que obedeçamos; um fa-
que estamos batizando
vor que nos é pedido nos solicita uma ação; cenas de um filme de terror podem
alguém ou algo, desde que
dentro de determinadas nos assustar. Mas também pode ocorrer que nem obedeçamos a ordem, nem
circunstâncias (a promessa façamos o favor, nem nos assustemos com o filme; mesmo assim, há um efeito
deve ser realizável, o dito pragmático sobre nós: nos comportamos de algum modo, seja conforme o
batismo deve ser realizado
esperado, seja de modo inesperado.
por quem tem a devida
competência para tal ação). Em outros termos: nossos comportamentos e ações podem ser movidos
Para mais detalhes, ver por meio da interpretação desses sinais. Isso ocorre também porque, para es-
Quando Dizer é Fazer, ses autores, a comunicação é um todo integrado, ou seja: ela não restringe ape-
de Austin, e também Os
Atos de Fala, de John nas à comunicação verbal, mas abrange também a comunicação não-verbal.
Searle. Num sentido um Esse aspecto é importante de ser considerado, na medida em que grande parte
pouco diferente e mais de nossas ações comportamentais tendem a ser não-verbais (gestos, posturas,
amplo, Paulo Freire vai tons de voz, distância em relação a outras pessoas etc.). É certo que, para al-
propor a inter-relação
entre Palavra (ação/ guns autores, a fala é uma forma de ação; porém, ela não é a única.
reflexão) = práxis como Isso implica na noção de que nosso comportamento (isto é, nossas falas
instância indissociável e ações) tanto pode influenciar pragmaticamente outras pessoas quanto, in-
do processo pedagógico
dito problematizador versamente, ser também influenciado. Acontece que, lembram alguns autores,
(que procura modificar como Watzlawick, nós nos comportamos o tempo todo. Dito de outro modo: não
a realidade e superar a existe não-comportamento.
dicotomia “opressor x
oprimido”). Para mais A ausência de ação é, por mais estranho que isso possa parecer, uma for-
detalhes, ver, por exemplo, ma de ação: se um prédio está em chamas e uma pessoa fica parada no meio
Pedagogia do Oprimido e do fogo, enquanto as demais saem correndo para se salvarem, fica claro que
Pedagogia da Autonomia. a não ação daquela pessoa é uma forma de comportamento, e não uma forma
Dizendo de outro modo: uma mensagem verbal pode ser contradita por
uma mensagem não-verbal e vice-versa. Os exemplos desse tipo de situação
são ilimitados em nosso cotidiano: um pai que, sorrindo, tenta dar uma bronca
no filho pequeno; uma pessoa que diz “eu te amo” para outra sem demonstrar
a menor passionalidade; o funcionário mal-humorado de uma empresa em
cujo uniforme podemos ler a frase “estamos contentes em atender você”.
Em todos esses casos, tendemos a estar diante de um paradoxo co-
municacional, no qual as mensagens comunicacionais (relação e conteúdo)
apontam para significações geralmente opostas.
Daniel Bougnoux (1994) aponta para o fato de que esses paradoxos são
mais comuns do que imaginamos. O exemplo do autor é um anúncio publicitário
contra a AIDS, divulgado na França nos anos 1990, que solicitava verbalmente
aos seus destinatários que evitassem a prática sexual, mas, ao mesmo tempo,
mostrava imagens de um casal transando.
Poderíamos dizer que o texto verbal apontava para uma negatividade e
o texto visual para uma positividade. Isso nos remete à célebre discussão de
Sigmund Freud (data) sobre a falta de negação nos sonhos, que deve ser in-
terpretada nos seguintes termos: se dizemos “João não está mais na cadeira”,
fica claro o caráter “negativo” da expressão; porém, se trocarmos o enunciado
verbal por uma imagem (fotografada ou desenhada) de uma cadeira vazia, o
enunciado visual que teremos é “uma cadeira vazia” ou “uma cadeira” ou “uma
cadeira de estilo campestre” ou outras possibilidades descritivas, mas dificil-
mente olharemos para a imagem e pensaremos “João não está mais na cadei-
ra” (afinal, João não está presente na imagem).
Mesmo que coloquemos João ao lado da cadeira, tenderemos a pensar
“João está ao lado da cadeira” ou “João está em pé ao lado da cadeira” ou (nova-
mente) outras possibilidades descritivas, mas dificilmente uma delas será “João
não está mais na cadeira” (pois a imagem não pode nos mostrar se ele estava
antes na cadeira). Ainda no mesmo exemplo: imaginemos agora que alguém filma
João saindo da cadeira. A tendência, ainda assim, é de criar um enunciado posi-
tivo: “João se levanta da cadeira”, “João está saindo da cadeira” ou algo similar.
Esse é um problema clássico da Psicanálise, conforme lembra Boug-
noux: como negar algo sem que esse “algo” esteja presente no enunciado?
Se dissermos “é proibido fumar”, o termo “fumar” está presente na expressão.
Existe até uma velha brincadeira em que alguém manda as pessoas fecharem
os olhos e, de repente, ela diz: “não pensem na cor azul!”. O resultado, obvia-
mente, é a cor azul vindo à nossa mente.
Um outro exemplo, comum em certas emissoras de TV: vez por outra
(infelizmente) ocorrem brigas entre torcidas de times de futebol ditos “rivais”
(nos estádios ou nas imediações). É comum vermos na TV os comentaristas,
Mas o que (também) nos interessa é o fato de apenas (ao menos) uma
terceira pessoa, estando fora da situação de interação, possa interpretar o
que está ocorrendo, tendo condições de “desfazer” o mal-entendido. Fatos
similares podem ocorrer, em âmbito pessoal, dentro de uma mesma cultura.
Pensemos num exemplo típico de Watzlawick: um marido que nunca deu flo-
res à esposa, mas as compra num determinado dia (digamos que alguém está
vendendo-as no trabalho dele a um preço bastante em conta).
Ao achar em casa com as flores (inesperadas), a reação da esposa
poderá ser de surpresa, espanto ou felicidade, mas é bastante provável que
ela imagine que o marido “aprontou alguma fora de casa” e o motivo de alegria
pode tornar-se uma “dor de cabeça” para ambos. Novamente, aqui, apenas
um observador externo poderia ajudar a desfazer o mal-entendido, desde que
compreenda bem as duas partes envolvidas (marido e mulher).
Diferenças de percepção cultural entre tempo e espaço também podem
produzir conflitos interculturais. Hall demonstrou o fato de que tempo e espaço
são, em termos perceptivos, construções culturais. Em relação ao tempo, ele
afirma que existem dois modos culturais de se percebê-lo e de administrá-lo:
Monocrônico: quando os indivíduos realizam apenas uma coisa de cada vez e
dão ênfase à execução de uma tarefa (como nas culturas anglo-saxã e alemã);
Policrônico: quando os indivíduos realizam várias coisas ao mesmo tem-
po e dão ênfase à relação com o indivíduo (como nas culturas latinas).
Imaginemos uma situação em que um indivíduo monocrônico (um britâ-
nico, por exemplo) solicite a atenção de um sujeito policrônico (um brasileiro,
por exemplo), ao que este responde: “um minuto”. É bastante provável que o
britânico conte os exatos 60 segundos, caso não tenha sido atentido, e peça
a atenção de novo, ao passo que o brasileiro, e isso também é bastante pro-
vável, repita: “já não falei pra esperar um segundinho?”. Nas culturas mono-
crônicas, o tempo é algo formal demais, nas culturas policrônicas, o tempo é
bastante informal; desse modo e nesse caso, uma simples expressão como
“um minuto” permitirá, no mínimo, duas interpretações bastante distintas.
O mesmo ocorre com o espaço. Hall lembra que todos os animais (in-
cluindo aí naturalmente o ser humano) admitem zonas espaciais de conforto
ou de ameaça. Nas culturas humanas, existem quatro tipos de distância: ín-
tima (sexo, briga), pessoal (parentes, amigos), social (uma festa ou reunião
entre amigos) e pública (conferências, palestras).
A questão é que a medida dessas distâncias varia de cultura para cultu-
ra. Por exemplo: todo indivíduo tem aquilo que podemos chamar de “espaço
aéreo” ou “bolha de ar”, que é o espaço que o envolve e que ele administra em
termos de proximidade das pessoas em sua volta. Assim, familiares e paren-
tes tendem a se aproximar espacialmente mais dele do que os amigos; estes,
por sua vez, podem se aproximar mais do que os conhecidos, que por sua vez
se aproximam mais do que os estranhos.
Porém, uma das constatações de Hall é que essas distâncias variam
de cultura para cultura. Ou seja: uma mesma distância, num dado contexto
cultural, pode ser íntima, e noutro contexto cultural pode ser social.
sentes as figuras do “eu” e do “tu”, bem como das ideias e visões de mundo
que cada um “oferta” no processo comunicativo. Além disso, esses “eu” e “tu”
são dotados de reversibilidade, ou seja, podem trocar de lugar. A dialogia se
distingue da monologia, ou seja, o resultado do processo do monólogo, onde
“eu” e “tu” ocupam a mesma posição.
Mas é preciso ter em mente que nem sempre a presença de um diálogo
implica a presença de uma dialogia. Há diversas situações nas quais, apesar de
termos dois ou mais agentes sociais no processo interativo, de fato há um ver-
dadeiro monólogo. Retornemos rapidamente a Bateson, agora para falar sobre
a cismogênese, ou seja, sobre a gênese de um cisma (divisão) no interior de um
sistema social; esse conceito nos ajudará a entender aonde queremos chegar.
Segundo Bateson, essas formas de divisão social podem ser de duas
ordens. A primeira delas é a diferenciação simétrica: “podem se inscrever nes-
sa categoria todos os casos nos quais os indivíduos de dois grupos A e B têm
as mesmas aspirações e os mesmos modelos de comportamento, mas se di-
ferenciam pela orientação desses modelos” (BATESON, 1977, p. 98). Existem
vários exemplos clássicos de relações simétricas: dois times que disputam
uma partida esportiva ou dois exércitos que disputam um território.
Ou seja: todos os indivíduos têm as mesmas aspirações (vencer ou con-
quistar) e os mesmos modelos de comportamento, mas diferenciados, dentro de
cada universo social (atacantes e defensores ou capitães, sargentos, soldados).
A outra forma de diferenciação proposta por Bateson é a diferencia-
ção complementar: “nessa categoria estarão inscritos todos os casos onde o
comportamento e a aspirações dos membros dos dois grupos são fundamen-
talmente diferentes” (BATESON, 1977, p. 99). Aqui também existem vários
exemplos de relações sociais complementares: pais e filhos, patrões e em-
pregados, professores e alunos, exibicionistas e voyeuristas, sádicos e ma-
soquistas. Ou seja: tanto o comportamento quanto as aspirações dos agentes
sociais envolvidos no processo interacional são completamente distintos. Em
suma, se A e B são sujeitos, então:
relação simétrica: A = B
relação complementar: A > B ou A < B
Assim, é por isso que um atleta pode deixar uma equipe para defender
outra, por exemplo; por outro lado, na relação complementar, os agentes não
podem trocar seus “papéis sociais”. Mas, em ambos os casos, ressalta Bate-
son, tanto uma quanto outra forma de diferenciação podem progredir rumo a
uma escalada de descontrole e violência se não houver regras limitantes às
práticas de cada sujeito.
Assim, de um lado, o esporte tem regras a serem seguidas e existe
(em tese) um controle contra a corrida armamentista; de outro, as relações
Além disso, Verón percebe (na Argentina) que a oposição entre essas
duas posturas ideológico-pedagógicas era maior nos primeiros ciclos do que
nos demais, posteriores. Ou seja: à medida que os graus escolares avançam,
há uma tendência maior ao uso de livros que favorecem a uma relação com-
plementar, na medida em que eles são menos lúdicos e narrativos e mais
técnicos, didáticos e imperativos (no sentido que “ordenam”).
As ideias de Verón se aproximam bastante das considerações de Paulo
Freire; este, ao discorrer sobre a dialogicidade, lembra que “a educação autênti-
ca (...) não se faz de A para B ou de A sobre B [como na concepção ‘bancária’ de
educação], mas de A com B, mediatizados pelo mundo” (FREIRE, 2012, p. 116.
Grifo no original). Assim, a concepção dialógica e simétrica de educação se dife-
rencia da (podemos dizer: se confronta com a) concepção pedagógica “bancária”,
que seria monológica (“antidialógica”, diria Freire) e complementar.
Um adendo: em Extensão ou Comunicação?, Paulo Freire se refere aos
objetos cognoscíveis como mediadores entre os homens, enquanto em Peda-
gogia do Oprimido essa mediatização seria própria do mundo (aí inclusos os
objetos cognoscíveis). De todo o modo, o mais importante aqui é a noção de
mediatização: para Freire, são os objetos ou o mundo que os sujeitos cognos-
centes buscam conhecer.
Uma vez que não é possível esgotar o objeto ou o mundo, tampouco dar
conta deles com um só olhar ou um só ponto de vista, monologicamente, é pre-
ciso criar as condições de conhecimento sobre esse objeto ou sobre o mundo.
E as condições de criação desse conhecimento somente podem decorrer de
uma situação dialógica.
Assim, podemos estabelecer as diferenças centrais entre comunicação
e informação a partir das seguintes definições: a comunicação deve ser vista
como um processo, de troca simbólica, enquanto a informação deve ser vista
como um produto, a mensagem a ser transmitida a alguém. Ao mesmo tem-
po, a comunicação tende a ser um processo dialógico, bilateral, enquanto a
informação é um produto cuja transmissão se pretende (por parte do emissor)
monológica e unilateral. Mas há dois detalhes importantes:
1. É possível que um processo comunicacional seja monológico, quando
desconsidera a possibilidade de permutação dos papéis sociais dos agen-
tes participantes da interação, ainda que pareça dialógico apenas pelo fato
de contar com dois ou mais indivíduos; e
2. Sempre há a possibilidade de reversibilidade da informação num processo
comunicacional; a essa reversibilidade da informação, de volta ao emis-
sor, chamamos feedback. Essa reversibilidade faz parte dos processos
comunicacionais.
Atividades de avaliação
1. Pense nas diferentes formas de trocas simbólicas que existem em nossa
sociedade. Cite ao menos duas.
2. Preste atenção a como as pessoas assistem à televisão nos diferentes es-
paços sociais (em casa, em salas de espera, em restaurantes etc.). Veja se
elas assistem à TV de modo passivo ou se fazem comentários.
3. Preste atenção a uma sala de aula em um ambiente qualquer. Como é o
comportamento de professores e alunos ao longo da aula? Se possível,
preste atenção mais aos gestos e atos do que as palavras ditas.
4. Pense em situações nas quais a pessoa diz uma pessoa e faz outra com-
pletamente diferente. Justifique, se possível, porque isso ocorre.
5. Procure, em jornais ou revistas, exemplos de paradoxos comunicacionais
(onde o texto verbal indica uma coisa e as imagens indicam outra contrária).
6. Preste atenção às maneiras como os apresentadores de rádio e de TV se
dirigem aos seus ouvintes e espectadores. Faça uma comparação entre
essas maneiras.
7. Tente obter livros pedagógicos que adotem as duas posturas analisadas
por Eliseo Verón. Faça uma comparação entre eles.
Referências
BATESON, Gregory. Vers une écologie de l’esprit. Paris: Seuil, 1977 (tome
1), 1980 (tome 2).
BATESON, Gregory & RUESCH, Jurgen. Communication et société. Pa-
ris : Seuil, 1988.
BATESON, Gregory. Mente e natureza - uma unidade necessária. Rio de
Janeiro: Francisco Alves, 1986.
BIRDWHISTELL, Ray. El lenguaje de la expresión corporal. Barcelona:
Gustavo Gili, 1979 (original: Kinesics and context, Philadelphia University of
Pennsylvania Press, 1970).
BOUGNOUX, Daniel. Introdução às ciências da informação e da comuni-
cação. Petrópolis: Vozes, 1994.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia – saberes necessário à prática
educativa. 12ª. ed., São Paulo: Paz e Terra, 1996.
FREIRE, Paulo. Extensão ou comunicação? 15ª. ed., São Paulo: Paz e Terra, 2011.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 50ª. ed., Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2012.
HALL, Edward T. Le langage silencieux. Paris: Seuil, 1984.
HALL, Edward T. A dimensão oculta. Lisboa: Relógio D’Água, 1986.
HALL, Edward T. Más allá de la cultura. Barcelona: Gustavo Gili, 1978.
HALL, Edward T. A dança da vida - a outra dimensão do tempo. Lisboa: Re-
lógio D’Água, 1996.
MAUSS, Marcel. “Ensaio sobre a dádiva”. In: MAUSS, Marcel. Sociologia e
antropologia. São Paulo: Cosac Naify, 2003.
RODRIGUES, Adriano Duarte. Comunicação e cultura - a experiência cultu-
ral na era da informação. Lisboa: Editorial Presença, 1994.
SODRÉ, Muniz. O monopólio da fala. Petrópolis: Vozes, 1977.
THOMPSON, John B. A mídia e a modernidade. Petrópolis: Vozes, 1998.
VERÓN, Eliseo. Esto no es un Libro. Barcelona: Gedisa, 1999.
WATZLAWICK, Paul, BEAVIN, Janet Helmick & JACKSON, Don D. Pragmá-
tica da comunicação humana. 15. ed., São Paulo: Cultrix, 2002.
WATZLAWICK, Paul, WEAKLAND, John & FISCH, Richard. Mudança – prin-
cípios de formação e resolução de problemas. São Paulo: Cultrix, 1977.
WATZLAWICK, Paul. A realidade é real? Lisboa: Relógio D’Água, 1991.
WINKIN, Yves (org.). La Nouvelle Communication. Paris: Seuil, 1984 (tradução
parcial: WINKIN, Yves (org.). A Nova Comunicação. Campinas: Papirus, 1996).
1. As tecnologias da informação
Um dos aspectos mais importantes das técnicas da informação contemporâ-
neas é a possibilidade de convergir diferentes processos.
Vimos, nos capítulos anteriores, a diferença entre informação e comu-
nicação. Essa diferença é fundamental para se entender o atual estágio da
sociedade. Isso porque o computador, em particular quando conectado à In-
ternet, se transforma potencialmente numa técnica e numa tecnologia de in-
formação e de comunicação simultaneamente.
Do ponto de vista técnico, tecnológico e cultural, esse é um fato completa-
mente novo na história da Humanidade: um mesmo suporte permite (potencial-
mente) tanto o acesso a informações das mais diversas (enciclopédias, jornais,
livros digitais, vídeos, músicas etc.) quanto permite uma forma de comunicação
entre pessoas que não necessitam estar mais no mesmo tempo-espaço para
interagirem entre si em tempo real (ainda que tecnologias anteriores, como o
telégrafo e o telefone, já permitissem essa comunicação dita “em tempo real”).
Em outros termos: presenciamos uma tecnologia que permite a conver-
gência entre o acesso à informação (em suas formas verbais, visuais, sono-
ras etc.) e a uma nova forma de experiência comunicacional (verbal, sonora,
audiovisual etc.).
As consequências do potencial desse tipo de equipamento ainda são, a
nosso ver, bastante preliminares e provisórias. Isso ocorre porque é impossível
determinar a priori quais serão as futuras utilidades de uma tecnologia recém-
-descoberta. O teórico norte-americano Neil Postman (1994), por exemplo,
pondera a existência de “consequências imprevistas (...) no caminho daque-
les que pensam que veem, com clareza, a direção para a qual uma nova
tecnologia nos levará” (p. 24). Ele cita, como exemplo, o relógio, cuja origem
está ligada aos mosteiros beneditinos dos séculos XII e XIII e cuja finalidade
era regular os horários de devoção dos monges ao longo do dia.
O teórico francês Bernard Miège (2009) segue uma linha parecida, ao
falar da pouca confiabilidade da antecipação dos usos sociais e, consequen-
temente, das mudanças a serem previstas nas práticas sociais (p. 28). Em
suma: sempre pode ocorrer uma diferença entre os usos inicialmente ima-
ginados e previstos para uma dada tecnologia e os seus usos efetivamente
concretizados pelos agentes sociais.
2. Os produtos mediáticos
O surgimento de uma tecnologia mediática possibilita novas formas cognitivas
e de uso da linguagem
a) Verbal (escrita)
b) Visual (corporal, gestual, gráfica e/ou imagética, fixa ou em movimento)
c) Sonora (oral, musical)
Consideramos apenas essas três formas de expressão porque (ao me-
nos até o momento) ainda não dispomos de técnicas de comunicação ou de
informação que simulem ou representem os outros sentidos (gustativo, táctil
e olfativo, no caso). Assim, podemos considerar todas as tecnologias mediáti-
cas como meios e/ou suportes que fazem uso articulado e combinado dessas
três formas de expressão.
Pensemos numa enciclopédia multimedia: nela, teremos uma descrição
verbal de algum referente (um leão, por exemplo), suas imagens (fotográficas,
filmadas e/ou desenhadas, animadas ou não) e os sons que ele produz (rugidos).
Ter essa noção em mente nos permite começar a perceber os meios de
forma diferente. Por exemplo: o senso comum tende a falar no jornal impresso
como um meio “verbal”; porém, em suas páginas, temos recursos visuais,
como imagens (fotografias, desenhos, infografias) e a própria disposição es-
pacial dos elementos (manchetes, textos, fotos, anúncios publicitários etc.)
em uma página. Assim, mesmo um texto verbal é também visual; basta pen-
sar que diferenciamos uma manchete jornalística de uma pequena notícia no
fim da página em termos de localização (cima x baixo) e de tamanho (letras
grandes x letras pequenas).
Outro exemplo: o senso comum tende a falar no cinema, na TV e nas
animações como exemplos de linguagem visual. Na verdade, porém, essas
produções são audiovisuais, ou seja, contam com som também (vozes, mú-
sicas incidentais, ruídos e sons ambiente). Para quem tem alguma dúvida,
basta eliminar o volume durante uma novela, filme ou desenho sonoros (sem
usar a função closed caption) e ficar assistindo apenas às imagens para tentar
compreender a narrativa ou a transmissão. Além disso, elas fazem uso de
textos verbais escritos (nome da produção, créditos etc.).
Assim, trabalhar com técnicas de informação e de comunicação pres-
supõe a compreensão de quando, como e por que fazer uso dessas formas
técnicas de expressão (verbal, visual e sonora). A partir de agora, vamos ana-
lisar as características e particularidades de cada uma dessas formas de lin-
guagem, a fim de melhor compreender as suas finalidades e potencialidades
dentro das diferentes formas de expressão humana.
Gauthier (1996, p. 231-48), por sua vez, irá buscar compreender a ca-
pacidade enunciativa das imagens fixas (ou seja, não sequenciais), como de-
senhos e fotografias, a partir das ideias do lingüista francês Émile Benveniste
e dos estudos de Sigmund Freud sobre os sonhos. Essa capacidade da ima-
gem já fora analisada por Freud (A Interpretação dos Sonhos, 1900) em seus
estudos sobre os sonhos (imagens mentais) e as possíveis relações lógicas
entre os elementos que neles aparecem. Freud vai constatar a existência de
apenas uma relação lógica “bem-sucedida” no sonho: a relação de semelhan-
ça, o “assim como” (na verdade, um aspecto descritivo em relação a algo).
Freud vai dizer que a negação aparece nos sonhos; alguns autores vão
concordar com a idéia, outros vão discordar, comentando que a negação não
faz parte do âmbito das imagens. Aqui, há uma diferença fundamental entre a
imagem fixa (foto, desenho) e a imagem sequencial (cinema, TV etc.).
Imagem fixa = congelamento de um momento (não há antes ou após).
Imagem seqüencial = narração visual de um espaço temporal (um momento
específico tem antes e depois).
Imagem fixa = não pode mostrar um “não-ato”
Imagem seqüencial = pode mostrar alguém não fazendo algo
Texto = pode dizer “alguém não faz algo”
Gauthier demonstra que as características enunciativas (“relações lógi-
cas”, para Freud) mais importantes de uma imagem fixa são:
A justaposição (cuja equivalência verbal se daria com o uso da preposição
“e”, para dar noção de co-presença), e;
A descrição (cuja equivalência verbal se daria com a palavra “como” em
seu sentido adverbial: “de que modo”).
Ou seja: a imagem pode mostrar pessoas e/ou objetos em um mesmo
espaço-tempo e, ao mesmo tempo, pode descrever suas características físi-
cas e suas ações (desde que percebidas sempre sob a ótica da ação, e não
da não-ação).
Esse aspecto é importante sob um outro viés: o do potencial narrativo.
Percebe-se que o texto verbal permite dar conta da narração tanto de ações
executadas quanto de ações que não foram executadas. Por outro lado, as
imagens em movimento podem mostrar ações executadas e ações que deixam
de ser executadas, mas para serem substituídas por outras ações.
Digamos que, num texto verbal, encontramos o enunciado “João não
quis sentar na cadeira” e ele será plausível para nós; mas, se numa sequência
de imagens vemos uma personagem que não se senta na cadeira, poderemos
pensar que ela “fica em pé”, “permanece em pé”, ou seja, a personagem exe-
cuta outras ações. No âmbito das imagens em movimento, a personagem pode
não sentar, mas também pode potencialmente não fazer uma série de outras
coisas (não deitar, não plantar bananeira, não correr).
Em suma: o que queremos dizer é que é impossível mostrar uma negação
através de imagens; é nesse sentido que se diz que a imagem é sempre positiva.
Aliás, como vimos anteriormente, esse é um dos grandes problemas psicanalíti-
cos: como negar sem trazer embutido na negação aquilo que se pretende negar?
Dentro dessa lógica, devemos considerar também que o som é sempre positivo,
pois ele sempre aponta para uma presença, nunca para uma ausência, tampouco
para uma negação – tanto que um dos paradoxos sonoros clássicos do cinema
é usar os sons de grilos para denotar a “presença do silêncio” em um ambiente...
Além disso, Gauthier leva essa discussão para o âmbito da Filosofia da
Linguagem, particularmente para as análises de J. L. Austin sobre os atos de
fala e diz que as fotografias podem ser consideradas como formas de enuncia-
dos constatativos. Austin reconhece a existência de dois tipos de enunciados:
performativos e constatativos.
Os enunciados performativos são promessas, apostas e declarações ti-
das pelo autor como atos de fala (o que se fala é a própria ação, como em “eu
prometo...” ou “aposto que...”), os quais podem ser explícitos (“eu o autorizo a
sair”) ou primários (“saia!”). Os enunciados constatativos são aqueles que des-
crevem o estado das coisas. O argumento de Gauthier mostra, assim, que as
imagens não são imperativas ou performativas; isso desmonta a idéia de que
as imagens publicitárias por si só seriam imperativas, da esfera do “fazer consu-
mir”. O contexto no qual a imagem aparece, o veículo e o texto (escrito ou oral)
ajudam a contribuir para essa finalidade.
Devemos lembrar também que os textos verbais permitem a constru-
ção, em termos lógicos, de proposições categóricas tanto singulares (“Fulano
caiu”) quanto gerais (“eles correm”), tanto afirmativas quanto negativas (“Fula-
no não caiu”). O mesmo, porém, já não ocorre com as imagens: uma fotogra-
fia, paradoxalmente, tende a ser singular (em relação àquilo que ela mostra:
aquele gato, e não qualquer gato, como ocorre no desenho) mas, como não
tem poder indutivo, nem denominativo, ela pode se tornar uma proposição
geral (“um gato”). Vejamos as duas imagens abaixo:
Referências
AUSTIN, John Langsaw. Quando dizer é fazer - palavras e ação. Porto Ale-
gre: Artes Médicas, 1990.
BARTHES, Roland. “A Retórica da Imagem”. In: BARTHES, Roland. O óbvio e
o obtuso - ensaios críticos III. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1990, pp. 27-43.
BOUGNOUX, Daniel. Introdução às ciências da informação e da comuni-
cação. Petrópolis: Vozes, 1994.
BUSH, Vannevar. “As we may think”. Disponível em: www.ps.uni-saarland.
de/~duchier/pub/vbush/vbush-all.shtml.
CHION, Michel. L’audiovision – son et image au cinéma. Paris: Nathan, 1990.
GAUTHIER, Guy. Veinte lecciones sobre la imagen y el sentido. 3ª. ed.,
Madri: Cátedra, 1996.
GUBERN, Román. La mirada opulenta - exploración de la iconosfera con-
temporánea. Barcelona: Gustavo Gili, 1987.
HAVELOCK, Eric A. A revolução da escrita na grécia e suas consequên-
cias naturais. São Paulo/Rio de Janeiro: UNESP/Paz e Terra, 1996.
JOLY, Martine. L'image et les signes - approche sémiologique de l'image
fixe. Paris: Nathan, 1994.
JOUSSE, Marcel. L’anthropologie du geste. Paris: Gallimard, 2008.
LEÓN, Paul. “Textos icónicos, o jogo das imagens e das palavras: imprensa e
publicidade ‘de papel’”. In: GARDIES, René (org.). Compreender o cinema e
as imagens. Lisboa: Ed. Texto & Grafia, 2008, pp. 227-43.
LEROI-GOURHAN, André. O gesto e a palavra. 1 – técnica e linguagem. Lis-
boa: Ed. 70, 1985.
2. O Som
Antes de fazer uso dos sons em produtos sonoros ou audiovisuais, é impor-
tante primeiro conhecer algo sobre eles
criativas dos alunos. Mas o que podemos fazer com os sons? Há uma série
de possibilidades; antes, porém, é preciso ter noção da importância dos sons
16
Uma vez que os sons para, num segundo momento, pensarmos neles em produtos mediáticos.
estejam misturados num Aqui, vamos elencar algumas possibilidades, começando pela música.
único arquivo, ou seja,
mixados, não é mais Como dissemos há pouco, a música nada mais é do que uma orga-
possível separá-los. Alguns nização sintática de sons16. Um bom exemplo disso são os sons produzidos
usuários usam programas pelo grupo brasileiro Uakti ou pelo músico alagoano Hermeto Paschoal, to-
que alteram a frequência do
arquivo sonoro, o que torna
dos eles feitos de materiais ditos “insólitos” (tubos de PVC, panelas, latas de
alguns sons mais audíveis lixo, apitos bacias d’água etc.).
(ou em “primeiro plano”, por Atualmente, porém, com a tecnologia digital, não é necessário “tocar”
assim dizer) e outros mais
“escondidos”.
esses “instrumentos insólitos”; com algum conhecimento básico de softwares
de edição de áudio, é possível e fácil produzir música a partir do manuseio
de som. Apesar da existência de uma série de formatos digitais (MIDI, MP3,
OGG, WAVE, AIFF), o mais popular é o MP3, pela sua grande capacidade de
compressão, pois ele elimina as frequências que o ouvido humano não per-
cebe, por isso ele se torna um arquivo menor, “mais leve” (para mais detalhes
técnicos, ver SERRA, 2002).
É preciso ter em mente também que um software de edição de áudio
funciona em parte como uma mesa de som. Ou seja: é possível trabalhar com
vários sons separados, fazendo aqui que nos estúdios é chamado de matriz
ou master. Esse nome é dado ao arquivo que contém a gravação com todos
os seus elementos sonoros separados, cada um em uma faixa sonora. De
posse dessa matriz, é possível tanto eliminar certos sons quanto acrescentar
outros. A junção desses sons num único arquivo é chamada de mixagem.
Para começar a trabalhar, é interessante que o aluno tenha ao seu dis-
por alguns sons gravados, um computador (de preferência, com bons fones
de ouvido ou ligado a caixas de som de boa qualidade sonora) e um software
de edição. Se o aspecto sonoro a ser trabalhado for uma música, é bom ter
algumas noções básicas, como a noção de compasso, ou seja, de que a mú-
sica tende a seguir um determinado andamento, geralmente com uma batida
constante e constituída de um mesmo som repetido em intervalos de tempo
iguais; podemos chamar vulgarmente essa batida de base, a qual tem uma
função idêntica à do bumbo da bateria: marcar o tempo da música.
É possível usar mais de um elemento para criar essa base; ao inserir
outros sons que se repitam constantemente, mas de modo diferente do pri-
meiro, se estará criando uma base polirrítmica (o melhor exemplo de polirrit-
mia é a bateria de uma escola de samba).
18
Caso seja de interesse Para começar a trabalhar, o aluno deve abrir o software e inserir uma
trabalhar com criação de faixa de áudio (caso queira gravar algo) ou abrir um arquivo sonoro já existente.
músicas, é importante
que os alunos tenham
A partir daí, é possível ir “brincando” com o arquivo, seja copiando e colando
algumas noções básicas partes dele, seja alterando seus timbres, alturas e/ou sua velocidade e/ou ainda
sobre o som (altura, acrescentando efeitos sonoros18 (ecos, reverberações, delays etc.). Isso vale
duração, intensidade, tanto para um som, um conjunto de sons, pequenos acordes de violão etc.
timbre) e sobre música
(andamento, tipos de
compasso etc.) bem como
conhecer fundamentos
da escrita musical (notas,
claves, partituras) e
conhecer alguns dos
diferentes gêneros musicais
existentes.
19
Mesmo que o software
de áudio a ser utilizado
seja em língua portuguesa,
sempre haverá termos
em inglês que não são
traduzidos. É interessante
que o aluno possa
manusear um arquivo
aplicando a ele diferentes
efeitos para ter uma melhor
noção de como cada efeito
funciona – infelizmente,
é muito difícil explicar
e compreender efeitos Figura 14 – Imagem do software19 Audacity: cada faixa corresponde a uma pista sono-
sonoros através apenas de
ra, ou seja, a um som diferente
palavras...
Além de efeitos sonoros pré-gravados e de sons produzidos por instru-
20
Na área de comunicação
de massa, usa-se o termo mentos musicais, é possível também criar outros sons, seja através de va-
“vinheta” para denominar riadas matérias-primas (baldes, panelas, pedaços de madeira, brinquedos),
um conjunto de sons como fazem os já citados Hermeto Pascoal e Uakti; basta gravá-los e colocá-
(melódicos ou não) que -los em sequências distintas, para perceber como a organização de um som
identifica um determinado
programa de rádio ou de TV pode gerar uma base rítmica e, a partir daí, servir de base para uma canção,
(um exemplo é o famoso um efeito sonoro, uma vinheta20 ou um jingle.
“plim-plim” da Rede Globo).
“Jingle” é o nome dado
à canção gravada com 3. Som + texto
finalidade comercial, sendo
inserida posteriormente Falar sobre som e texto varia do canto à feitura de produtos sonoros radiofônicos
num anúncio publicitário Neste tópico, vamos falar sobre dois assuntos que têm estreita relação,
radiofônico ou televisivo
(como o famoso coral e que podem ser trabalhados em diferentes processos pedagógicos: o som
cantando “So-da Li-mo-na- dentro de uma perspectiva textual e suas múltiplas manifestações (ruído, voz,
da An-tar-cti-ca”, de 1982). canto) e a mídia sonora (majoritariamente, mas não exclusivamente, o rádio).
3.1. A voz
Antes de tudo, porém, é preciso lembrar dos cuidados necessários à voz, como
a projeção adequada da mesma, alimentação e hidratação corretas, o repouso
vocal e evitar hábitos que comprometam os aparelhos fonador e respiratórios no
todo ou em parte (cigarros, bebidas alcoólicas, mudanças bruscas de tempera-
tura, gritos exagerados, roupas apertadas e até mesmo alguns medicamentos).
É preciso ter em mente também que nem todo uso da voz é necessa-
riamente verbal, ou seja, usando palavras. Há uma série de sons vocais não-
-verbais, como solfejos, gritos ou imitações de animais e pássaros; há também
usos de fonemas vocais usados a esmo, sem sentido algum (é o caso de
um grupo britânico, dos anos 1980, chamado Cocteau Twins, que “inventava”
palavras para serem cantadas). Ou artistas que buscam inspiração na poesia
concreta para compor e cantar, como Arnaldo Antunes.
Além disso, uma das formas mais comuns de reunirmos som e texto é
cantando. Como diz Martins Ferreira, “a voz, riqueza natural de nosso corpo, é
como um ‘instrumento musical’ que carregamos conosco e que a maioria das
pessoas não sabe usar (ou tocar e manter) bem” (FERREIRA, 2010, p. 29).
O mais comum é o uso de textos para serem cantados, as famosas
“letras de música”. É prudente, porém, lembrar que nem sempre o fato de uma
letra estar em primeira pessoa (“eu”) implica que o personagem da letra seja
o intérprete da mesma. No cancioneiro brasileiro há exemplos disso, como as
várias canções de Chico Buarque nas quais existe um “eu feminino” (a letra
expressa o ponto de vista de uma mulher) ou a versão de Marina Lima para
“Mesmo Que Seja Eu”, de Erasmo Carlos e Roberto Carlos (“você precisa de
um homem pra chamar de seu / mesmo que esse homem seja eu”).
Por outro lado, nem sempre essa diferenciação é fácil: quando o grupo
de rock Ultraje a Rigor canta “a gente somos inútil” (na música “Inútil”), quem
é “a gente”? O vocalista está incluído nesse sujeito ou não? Em suma: nem
sempre uma letra biográfica (que fala sobre alguém) deve ser necessariamen-
te tomada como autobiográfica em relação a quem canta (um exemplo disso
é a música “Eu Nasci Há Dez Mil Anos Atrás”, de Raul Seixas e Paulo Coelho,
que obviamente não nasceram há tanto tempo assim).
SPOT
TEMPO DIÁLOGO EFEITOS SONOROS
0" Filho - Pai, quando você era criança você tinha ipod? Música Instrumental
Pai - Risadas! Não Filho!
Filho - E computador pai, você tinha!
5"
Pai - Não, meu pai tinha uma máquina de escrever.
Filho - E o que você fazia de bom?
10" Pai - Hoje o mundo mudou muito filho. Eu gostava de
brincar de bola na rua, de pegar manga na árvore,
de jogar futebol de botão (pausa) e de comer o pão
15"
de queijo que minha mãe fazia todo dia no lanche da
tarde.
20" Filho - Que coincidência não é pai?
Pai - Mas que coincidência?
Filho - Eu jogo videogame, brinco no computador, tenho
25" ipod (pausa) mas todo dia no lanche da tarde minha mãe
também faz pão de queijo para eu comer.
30" Pai/Filho - Risadas. Vinheta
Locutor: Pão de queijo Forno de Minas. A gerações
mudam, mas a tradição permanece. Forno de Minas
1) Usar fontes tipográficas com alta legibilidade e grandes. Nunca usar tipos
difíceis de serem lidos ou muito pequenos;
2) Usar frases curtas (períodos longos cansam a quem lê e a quem ouve, e
dificultam a compreensão do que está sendo dito) e palavras também cur-
tas ou mais cotidianas, se possível (mas se deve evitar tanto gírias e termos
formais demais quanto expressões estrangeiras e jargões técnicos);
3) Preferir a redação da frase em ordem direta (sujeito + predicado + comple-
mento). Isso ajuda, por exemplo, a evitar o início de um texto com gerúndio;
4) Escrever o texto em voz alta, durante a sua feitura. Ou seja: escreva à medi-
da que for falando, o que fará o texto soar mais “natural” e permitindo notar
se o texto está longo; se existem expressões difíceis de serem pronuncia-
das (“ele tem algumas exigências”, por exemplo), cacofonias (“o jogador
não marca gol há três jogos”; “o boom da música paraense”) ou aliterações
desagradáveis (“a seleção do Japão jogou um bolão contra o Gabão...”). E
ler de novo em voz alta após concluí-lo para ver se passou alguma sonori-
dade indesejável;
5) Usar espaços (margens) nas laterais e de espaçamentos duplos entre pe-
ríodos completos, para melhor visualizar o texto;
6) Nunca cortar palavras ao fim da linha, nem cortar frases de uma página
para outra (virar a folha interrompe a leitura do período);
7) Numerar as páginas e usar, no fim das mesmas, os termos “continua” (se o
assunto continuar na folha seguinte) ou “fim” (se o tema se encerrar ali);
8) Usar sinais gráficos (vírgulas, pontos, reticências, travessões) para melhor
pontuar a locução e garantir pausas para o locutor;
9) Usar sinal de interrogação no começo do período interrogativo (como na
língua espanhola) para que o locutor saiba previamente que está diante de
uma frase interrogativa: Será que nosso colégio vai ter bom desempenho
nas olimpíadas escolares esse ano?
10) Marcar as palavras e os nomes estrangeiros com um sinal específico (um
asterisco, *, por exemplo) e indicar, na parte de cima da folha, a sua pro-
núncia correta.
Locutor: “Barack” se pronuncia “Baráque”
O presidente norte-americano Barack* Obama...
Locutor: “Renoir”: pronuncia-se “Renuá”
Um quadro do pintor francês Renoir* ...
11) Sublinhar as palavras a serem enfatizadas pelo locutor;
12) Marcar as citações (frases de outras pessoas) com aspas;
19) Fazer uma leitura dramatizada de um mesmo texto com diferentes tipos
de interpretação (um discurso oral, uma leitura escolar, uma conversa
familiar etc.).
4. A imagem
Aqui, vamos abordar a imagem fotográfica e mostrar seus princípios óticos, os
quais podem ser aprendidos ludicamente pelos alunos.
O uso do termo “imagem” é complexo na contemporaneidade. Isso ocor-
re porque ele aponta para significados ora distintos (“imagem de uma empresa”,
“imagem de uma pessoa”), ora paralelos (“um quadro é uma imagem”, “quadrinhos
são imagens”), ora pertencentes a campos distintos (“um raio X é uma imagem”,
O que queremos dizer com isso? Que existe uma relação entre imagem
e verbo; como já dissemos anteriormente, se temos diante de nós a imagem
de algo que não conhecemos, “buscamos” um nome para aquilo; por outro
lado, se nos apresentam uma palavra cujo significado concreto nos é desco-
nhecido, uma imagem nos ajudará a saber do que se trata. Em suma: palavras
e imagens tendem a trabalhar juntas.
Tomemos como exemplo o livro do fotógrafo brasileiro Sebastião Salga-
do intitulado Trabalhadores (1997): por mais que as fotografias ali presentes
possam nos remeter a outras noções, elas estarão “etiquetadas” como “fotos
de trabalhadores”. Se o nome do livro hipoteticamente fosse Pessoas, nossa
percepção seria parcialmente modificada, e deixaríamos de ver “trabalhado-
res” nas imagens para pensarmos em “pessoas”. Isso não significa que os
nomes delimitam nossa leitura das imagens; apenas significa que quem as
produziu queria que as interpretássemos a partir do nome que ele sugeriu. Ou
seja: não podemos confundir a sugestão do autor com a interpretação do leitor.
Outro aspecto importante da fotografia (e das imagens em geral) diz
respeito não apenas àquilo que vemos nela, mas também àquilo que não ve-
mos, ou melhor: àquilo que não está presente na fotografia. Essa operação
bastante simples, chamada de “enquadramento”, estabelece um duplo movi-
mento: seleciona tanto aquilo que quer mostrar quanto seleciona aquilo que
não quer mostrar. Essa prática é bastante comum também nas redações de
jornais e revistas, quando o espaço dedicado a uma imagem é menor do que
a fotografia original; a esse processo, nas redações, se costuma chamar de
edição fotográfica (ilustrar/exemplificar).
Ao realizar esse processo seletivo, vamos construindo também uma
memória; só que essa memória tende a se constituir apenas daquilo que foi
“materializado” em imagens. Quando montamos um álbum fotográfico de nos-
sa família, tendemos a fazer isso: selecionamos as melhores fotos (conforme
critérios individuais) e deixamos outras de lado por uma série de motivos (qua-
lidade fotográfica, mau enquadramento, foto tremida etc.). E, muitas vezes, no
limite e no melhor estilo “novelesco”, sempre há alguém que rasga ao meio
uma foto de um casal que já não está mais junto...
Essa memória se estende para além de nossas próprias vidas. Muitos
de nós sabemos, por exemplo, que a guerra do Vietnã existiu, entre 1959 e
1975; porém, a maior parte de nós tende a se lembrar apenas da fotografia in-
titulada The Execution, feita pelo fotógrafo Eddie Adams (da Associated Press)
em 1968, e que mostra um homem apontando um revólver para a cabeça
de outro homem (além da imagem da garotinha nua correndo pelas ruas na
direção do fotógrafo). Ou seja: a memória da guerra do Vietnã se resume, para
muitos, apenas àquela fotografia.
Ou seja: de algum modo, a fotografia “nos enganou”. Por isso, muitas ve-
zes, uma imagem necessita de um texto: para tirar a sua ambiguidade (como
já havia sugerido Barthes).
Por outro lado, a fotografia traz consigo um forte potencial representa-
tivo, sendo que o verbo “representar” aqui deve ser entendido no sentido de
“tornar presente de novo”. É graças à fotografia que podemos, por exemplo,
saber como são visualmente o quadro da Mona Lisa (ainda que seja diferente
ver a foto e ter o quadro diante de si), as pirâmides do Egito, o rosto de Mahat-
ma Gandhi e muitas outras pessoas, lugares e objetos aos quais dificilmente
teremos acesso direto e presencial.
Finalmente, cumpre lembrar as diversas finalidades que a fotografia
apresenta em nossa sociedade. O pesquisador brasileiro Isaac Antonio Ca-
margo (1999, p. 17-29) enumera algumas funções da imagem; vamos aqui
citar apenas aquelas diretamente ligadas à fotografia:
Representativa. Sua finalidade é reproduzir algo que exista ou, se for um
desenho, que tenha possibilidade de existir. No caso da fotografia, sua prin-
cipal virtude é de ser figurativa, ou seja, de conseguir reproduzir boa parte
dos traços visuais de algo concreto. A imagem figurativa se opõe à imagem
abstrata, que busca não representar nada concreto.
Informativa. Uma imagem é informativa quando ela consegue reproduzir
ou projetar vários dados e informações sobre aquilo que ela mostra. Uma
fotografia colorida, por exemplo, pode visualizar melhor a gama de cores de
a) Pegar a caixa;
b) Colar o papel cartão preto por dentro da caixa, em todos os lados, e depois
vedá-la completamente por fora, de modo a que não fique nenhuma possí-
vel entrada de luz;
c) Cortar um dos lados da caixa (o que vai ser coberto pelo papel vegetal) fa-
zendo uma espécie de buraco retangular (de tamanho menor do que o do
papel vegetal). Depois, cole o papel vegetal bem esticado nesse lado aberto;
d) Recortar um pedaço da lona que permita cobrir boa parte da caixa;
e) Fazer um pequeno orifício, com uma caneta, lápis ou outro objeto pontiagu-
do, no lado da caixa que seja oposto ao lado com o papel vegetal; e
f) Finalmente, colocar a cabeça embaixo da lona e visualizar as imagens pro-
jetadas através do orifício no papel vegetal.
28
Para revelar a fotografia e) Colocar a lata em frente ao objeto que se deseja fotografar, abrir por alguns
feita através da técnica segundos o orifício para deixar a luz passar por ele, e depois fechar. A lata
de pinhole, é preciso um
laboratório de verdade,
e o modelo a ser fotografado devem ficar parados;
sem entrada de luz (apenas f) Revelar28 o papel fotográfico dentro de um laboratório.
luz vermelha) e com
químicos para revelação.
Alguns fotógrafos fazem
a revelação com outros
produtos (vitamina C, café
etc.).
29
Para ter certeza de
que sua pinhole está
funcionando direito, ou
seja, que não está entrando
luz por nenhum orifício, Figura 19 – Esquema ilustrativo da máquina com pinhole
faça um teste simples.
É importante advertir aos alunos que a imagem gerada através da técnica
Coloque uma folha de
papel fotográfico dentro do pinhole29 não permite o controle de uma série de elementos (iluminação, entra-
da pinhole, leve-a para da da luz, enquadramento do objeto etc.), além de gerar uma imagem em preto e
um lugar com bastante branco (pois o papel é P & B). Ao mesmo tempo, há a tendência a um “encanta-
sol, deixe-a por uns três
mento”, por parte dos alunos, ao vislumbrarem a imagem aparecendo no papel fo-
minutos e revele logo
depois o papel fotográfico. tográfico. A partir do domínio dessa técnica, é possível fazer novos experimentos.
Se ele estiver diferente, Finalmente, se a escolha recai sobre o uso de máquinas fotográficas
com alguma mancha, é
digitais, é preciso instrumentalizar o aluno a fim de que ele possa saber como
porque a luz está passando
por alguma fresta; se não usá-la (caso nunca tenha manejado uma). Além disso, é importante ensiná-los
tiver nada, a pinhole está a utilizarem os diversos recursos que a máquina apresenta (fotografar em co-
pronta para uso. res, em preto e branco, com tons de sépia ou com filtros, usar ou não o flash e
quando, usar o zoom, saber escolher entre as pré-configurações da máquina
etc.) e explicar como evitar eventuais enganos (apagar uma foto sem querer,
estourar o flash, esquecer de fazer o foco correto etc.). Além disso, sempre
é possível fazer correções e ajustes da fotografia num software de edição de
30
Caso se opte pelo uso
imagens; a esse processo, chama-se tratamento de imagem.
de máquinas fotográficas
digitais, a sugestão é Aliás, a possibilidade de tratamento da imagem fotográfica30 possibilita uma
que todas elas sejam de outra discussão em sala de aula: é ético alterar imagens? Até que ponto? Corrigir
propriedade da escola, de
contraste e brilhos são corretos? E eliminar pessoas ou objetos de uma imagem?
um mesmo fabricante e
de uma mesma série, se A discussão ética sobre a informação na imagem fotográfica pode render uma
possível, para facilitar o excelente discussão em sala de aula, e pode ser aprofundada se a escola tiver
aprendizado dos recursos interesse em realizar um jornal com e para os alunos (como veremos adiante).
da mesma. Nem todas
as máquinas apresentam
os mesmos recursos 4.4. Os conceitos da linguagem fotográfica
e, quando apresentam,
eles podem variar de um Antes de começar, é fundamental que os alunos conheçam alguns conceitos
fabricante para outro. importantes da linguagem fotográfica. Um dos mais importantes diz respeito
que os alunos prestem igual atenção ao uso do som (em particular, músicas,
vinhetas, efeitos sonoros). O pesquisador francês Michel Chion (1990), por
exemplo, chegar a falar (acertadamente) em “audiovisão”, ou seja: que, diante
de um filme, não apenas vemos, mas “audiovemos” (consumimos imagens e
sons simultaneamente).
daquele material
coletivo, com decisões a serem tomadas em grupo.
(informativo, documentário, O segredo de uma boa produção audiovisual (em termos de obtenção das
pesquisa audiovisual etc.); metas pretendidas, e não necessariamente em qualidade visual e sonora) está,
deixar claro qual o tipo
33
A claquete é uma espécie De outro lado, é quando são definidos os locais e os horários das gra-
de placa ou quadro que vações, o que é importante tanto para a equipe de produção quanto para en-
tem duas funções. Uma
delas é ser o lugar onde
trevistados, convidados etc. É também quando se faz o levantamento do ma-
são colocadas informações terial sonoro a ser utilizado no produto audiovisual (músicas, efeitos sonoros,
sobre a cena que está vinhetas, jingles etc.).
sendo filmada para
posterior identificação.
Uma vez definidas todas as informações obtidas na pré-produção, é hora
A outra função é auxiliar de gravar o material. É sempre importante ter foco no material a ser filmado, para
na sincronização das não perder nem tempo, nem espaço (na memória do computador). É sempre
sequências de imagens e importante identificar cada trecho de gravação, de preferência com o nome ou
de sons, quando a captura
de vídeo e de áudio é feita
expressão adotado no roteiro (“entrevista com X, data, local”, “cena do encontro
separadamente (ou seja, dos namorados” etc.); essa identificação deve vir tanto ao início da gravação
em dois equipamentos (oralmente, ainda que a claquete33 mantenha seu charme e utilidade) quanto
diferentes. servir para nomear o arquivo que será transferido para o computador.
A finalidade é identificar rapidamente a quê se refere aquela gravação,
a fim de acelerar o processo de montagem do produto audiovisual; isso é
importante porque nem sempre as filmagens se dão em ordem cronológica.
A pós-produção é uma etapa posterior à produção: é nela que podem
ser feitas alterações (de imagens e sons), acréscimos (de créditos, músicas,
Exemplo de fachada de uma efeitos sonoros, efeitos visuais, vinhetas etc.).
claquete
De posse de todo o material necessário, é chegada a hora da edição.
A definição de Cunha para edição é clara e simples: “é a tarefa de selecionar,
cortar e emendar eletronicamente os trechos gravados” (1990, p. 125). Ela
deve seguir, em parte, aquilo que foi previsto no roteiro, ou seja, a ordem do
material gravado e selecionado.
Mas, por outro lado, é preciso também verificar a qualidade do material
em termos de imagem e de som. Em geral, imagens tecnicamente ruins ou
pouco informativas acabam sendo eliminadas no processo de edição. Se as
imagens forem ruins, mas informativas, em certos casos podem ser usadas.
E se o som for ruim mas as imagens forem boas, pode-se usá-las, fazendo
uso de um recurso comum na esfera audiovisual: a gravação da voz em off
(que nada mais é do que a gravação posterior da voz do locutor para acom-
panhar as imagens). Aqui, as experiências com rádio são bastante válidas.
Além disso, na edição devem ser também eliminados os seguintes tipos
de cenas:
Cenas repetidas ou bastante parecidas;
Gravações de pessoas errando durante a entrevista ou fala para a câmera
(nem todo mundo tem costume de falar para uma câmera);
Imagens de pessoas em situações constrangedoras, censuráveis ou ina-
dequadas;
Por outro lado, é possível também inserir imagens não captadas (fotogra- 34
No caso do uso de
fias, cenas de outro produto audiovisual, imagens antigas etc.), desde que elas fotografias alheias e
de imagens antigas, é
sejam creditadas34. Além disso, é possível também colocar outros tipos de ima- importante indicar nos
gem, como mapas, diagramas, gráficos e animações35 feitas por computador. créditos a sua procedência
O trabalho de edição deve ser bastante cuidadoso. Inicialmente, deve- (arquivo pessoal de alguém,
de um museu ou jornal
-se trabalhar com dois tipos de material: o gravado (chamado tecnicamente etc.). Cenas de filmes ou
de material bruto) e o que será montado. É sempre importante manter cópias novelas devem trazer nos
do material bruto, facilmente identificável no computador; é a partir dele que seus créditos os nomes da
a pessoa responsável pela edição deve criar outro arquivo, “montando” o ma- obra e do titular da mesma
(emissora de TV, empresa
terial final. De posse do roteiro, deve-se antes ver todo o material gravado, cinematográfica).
anotando o que está de acordo com o previsto, verificando o que vai ser apro-
veitado e como e sugerindo material a ser inserido. 35
Do ponto de vista
informativo, as animações
É importante anotar o tempo de cada gravação para ter uma noção feitas por computador
preliminar do total gravado e as principais partes de cada trecho. Digamos que devem ser utilizadas
alguém grava uma entrevista com um professor e, de quatro perguntas feitas apenas para fazerem
a ele, apenas uma das respostas seja de fato interessante. É preciso anotar o reconstituições de fatos não
registrados, desde que os
tempo em que começa e termina essa fala e o que ele fala nesse trecho. fatos a serem mostrados
A partir disso, pode-se fazer uma espécie de “nova versão” do roteiro, tenham verdadeiramente
agora com o material já selecionado e indicando o tempo de duração de cada ocorrido.
trecho. Por exemplo: no caso de uma entrevista para um telejornal, com apre-
sentadores em estúdio e reportagem externa (fora do estúdio) a ser apresen-
tada, teríamos o seguinte esboço:
a) Apresentação do locutor no estúdio: 30 segundos;
b) Primeiras imagens do local: 6 segundos;
c) Passagem do repórter: 15 segundos;
d) Fala do entrevistado: 37 segundos;
e) Desfecho da matéria com o repórter: 26 segundos.
Total aproximado da matéria: 1 minuto e 54 segundos.
Num produto audiovisual informativo, é importante que não haja repe-
tição entre falas. Ou seja: o apresentador de estúdio não deve dizer o que o
repórter irá falar, e sim indicar o assunto que a matéria irá abordar.
Pensemos agora noutra situação: a realização de um produto audiovi-
sual ficcional (uma pequena novela ou a dramatização de um conto ou peça
de teatro). A lógica continua sendo a mesma: a partir do roteiro (que deverá
indicar as sequências da história) e das imagens gravadas (que devem estar
identificadas e cronometradas), se faz uma previsão do produto final:
a) Vinheta do programa: 20 segundos
b) Cena de identificação do local da trama: 15 segundos
c) Cena do primeiro diálogo entre personagens A e B: 40 segundos...
Saiba mais
Na esfera audiovisual, é comum fazer uso do recurso do plano e do contraplano. Essa
prática é comum quando envolve ao menos duas pessoas num mesmo ambiente e se
tem apenas uma câmera de filmagem.
Ela consiste em gravar as imagens e falas de uma das pessoas de frente, com
a outra de costas e, depois, repassar ou reinterpretar o mesmo texto invertendo a
posição da câmera, passando a filmar de frente quem estava de costas e vice-versa
(imagens ao lado). Em geral essas cenas se misturam a uma tomada geral (com os dois
personagens).
Essa técnica permite dar maior dinamismo às cenas audiovisuais (como se o es-
pectador pudesse se “movimentar” junto com a câmera no espaço em que as pessoas
dialogam), ainda que seja mais trabalhosa na hora da edição. Cenas de filmes e de
novelas e entrevistas com apenas duas pessoas (entrevistador e entrevistado) tendem
a fazer uso constante dessa técnica. E, mesmo quando a equipe de gravação tem duas
ou mais câmeras de filmagem, ainda assim é comum o uso desse recurso.
6. Texto e imagem
Aqui, vamos abordar dois diferentes modos gráficos de realizar produtos im-
pressos usando texto e imagem: o jornal e as histórias em quadrinhos.
Como já dissemos, o advento da imprensa mudou boa parte dos rumos
36
Na impossibilidade de
acesso a jornais escolares,
da Humanidade: foi graças a esse invento que o saber passou a ser “estoca- por qualquer motivo, uma
do” em folhas de papel (livros, revistas, jornais, enciclopédias etc.) e que o alternativa pode ser a
mundo passou a ser representado no papel (OLSON, 1997). Vamos nos deter leitura de jornais feitos
particularmente em dois produtos impressos bastante populares, e que estão por alunos dos cursos
superiores de Comunicação
sofrendo mutações por conta do advento das tecnologias digitais: o jornal36 e ou de Jornalismo. Esses
as histórias em quadrinhos. jornais são chamados de
jornais-laboratório. Alguns
jornais-laboratório optam
6.1. O jornal impresso por abordar o próprio
mundo universitário;
O jornal impresso entra o século XXI em uma espécie de crise: com a po- outros preferem retratar
pularização da internet, dos portais de notícias e das mídias sociais, alguns a vida de um bairro ou
especialistas prevêem o fim desse produto e dos demais tipos de publicação comunidade; e outros
adotam uma temática
impressa. Outros acreditam que suas tiragens diminuirão, mas que o jornal
aberta, sem restrições.
impresso não desaparecerá. Mas, ao menos em uma coisa, muitos parecem A consulta e leitura de
concordar: o produto impresso tende a sobreviver ao tempo de maneira me- exemplares desses jornais
lhor do que a informação eletrônica na Internet. podem ser bastante úteis
para uma tomada de
A grande questão não é exatamente o meio em si (impresso x eletrôni- decisão na escola. Sobre
co), mas o resultado de uma atividade (no caso, o jornalismo). A matéria-prima o assunto (ainda que um
do jornalismo é a informação, no sentido daquilo que ainda não é sabido por pouco desatualizado em
alguns aspectos técnicos),
outras pessoas. Porém, um jornal não se faz apenas de textos noticiosos, mas
consultar Lopes (1989).
também de opiniões, cartas, imagens, entrevistas etc.
levar a escola a fazer orçamentos preliminares de gastos; por tudo isso, deve
ser uma decisão bem pensada.
A linha editorial
Uma vez que a escola tenha definido que terá um jornal, a primeira coisa a
se fazer é: qual a linha editorial a ser adotada? Por linha editorial entende-se,
de certo modo, a “cara” do jornal. Quais os gêneros de textos que estarão
presentes no jornal? Quais serão os assuntos que entrarão no jornal? Quem
poderá escrever no jornal, além dos alunos? Qual será o seu público-alvo?
Qual a sua periodicidade? Quantas páginas ele terá? Qual o nome do jornal?
Qual o projeto gráfico? Será colorido ou em preto e branco? Qual o tamanho?
Quais as seções? Haverá espaços para anúncios publicitários? O jornal será
distribuído onde e como? Ele poderá circular fora da escola?
Decisões dessa natureza não costumam ser tomadas em apenas uma
reunião; assim, pode ser útil ter presente um jornalista ou um assessor de im-
prensa para auxiliar em algumas decisões de caráter técnico.
A decisão mais importante é: quem terá voz no jornal? Tendo em vista que
a atividade é voltada para os alunos, nada mais natural do que a maior parte do
espaço editorial contemplar as suas próprias produções. Isso não impede que o
jornal dedique algum espaço a professores, diretores, funcionários da escola e/
ou pais de alunos ou especialistas de algum assunto. Neste caso, é importante
que fiquem bem delimitados os espaços dedicados a eles, através de nomes
de seções ou no alto da página (“Espaço do Professor”, “Palavra da Diretora”
etc.); além disso, esses espaços não devem ocupar mais do que 10% aproxi-
madamente do jornal (se, afinal, ele for um jornal dos alunos e para os alunos).
Uma vez definido quem vai escrever, a próxima meta é: ao longo das
edições, escrever o quê e por quê? Já dizia o escritor irlandês Oscar Wilde
que “só existem duas regras para escrever: ter algo a dizer e dizê-lo”. Desse
modo, é importante que as pessoas envolvidas no projeto editorial do jornal
saibam exatamente sobre o quê escrever e o porquê dessa escolha. Uma vez
mais, essa é uma decisão a ser tomada coletivamente: podem ser os proble-
mas da escola, assuntos pedagógicos etc.
O próximo passo é definir o nome do jornal. Parece algo sem importân-
cia mas não é: na verdade, o nome deve fazer parte da identidade do jornal e,
ao mesmo tempo, dar uma noção de qual o tipo de produto que o leitor terá
diante de si. O nome do jornal pode incluir o tipo de publicação (“jornal”, “gaze-
ta”, “informativo”) ou o nome da escola (em poucas palavras, se possível), ou
ainda ser uma palavra ou expressão que denote algum aspecto informativo ou
particular daquela escola.
37
As medidas dos jornais Uma vez que os gastos precisam ser orçados, é importante definir o jornal
descritas correspondem em termos materiais. Qual o seu tamanho e a quantidade de páginas que terá?
ao tamanho do papel, não
ao tamanho do espaço
Os tamanhos mais comuns de jornal na grande imprensa37 brasileira são:
destinado à impressão. Tablóide (cerca de 32 cm de altura x 28,5 cm de largura);
A esse espaço no qual
Berliner (cerca de 47 cm de altura x 31,5 cm de largura);
são impressos textos e
Standard (cerca de 57 cm de altura x 32 cm de largura).
imagens, dá-se o nome 38
de mancha gráfica,
Entre as medidas alternativas, a mais comum é a utilização do formato
enquanto os espaços em
branco à sua volta são A4 29 cm de altura x 21 cm de largura. Outros tamanhos podem ser analisa-
chamados de margens. dos em contato com profissionais da área gráfica. Quanto às revistas sema-
Durante o planejamento nais, elas têm, em média, 26,5 cm de altura x 20 cm de largura.
de um jornal, é preciso
considerar apenas o uso Os formatos influenciam decisivamente no processo de feitura do jornal
da mancha gráfica e deixar (processo esse chamado nas redações de fechamento). O formato standard
os espaços em brancos tem forte impacto visual pelo seu tamanho, mas é mais demorado para ser
correspondentes às
finalizado; por outro lado, o formato tablóide tem menor impacto visual, mas é
margens.
mais fácil de ser finalizado. O berliner é uma espécie de intermediário dos dois
38
Na imprensa brasileira, os gêneros, nos seus prós e contras. A nosso ver, para um jornal escolar39, usar
tamanhos mais comuns são um tamanho entre o tablóide e o A4 é o mais indicado.
o standard e o tablóide. O
formato berlinense é mais A quantidade de páginas de um jornal depende diretamente do seu ta-
comum na Europa, apesar manho. Jornais grandes podem fazer uso de poucas páginas, ao passo que
de o formato tablóide ser o jornais pequenos necessitam de mais páginas. Uma vez mais, sugerimos o
mais popular na Inglaterra.
tamanho tablóide ou similar, uma vez que é mais fácil inserir uma folha com
Não há nenhuma relação
direta entre o formato de duas ou 4 páginas num jornal pequeno do que num jornal grande.
um jornal e seu conteúdo, Outro elemento fundamental, e que envolve gastos, é o uso de cores
ainda que o termo “tablóide”
ou não. Em geral, jornais em preto e branco são bem mais baratos do que os
sirva para se referir aos
jornais sensacionalistas. coloridos: um jornal em preto e branco usa apenas uma cor de tinta (preta), ao
passo que o colorido geralmente é impresso em processo de policromia, ou
seja, com quatro cores de tinta (vermelho, amarelo, azul e preto) para criar as
demais cores. Além disso, a impressão em preto e branco é mais barata do
39
Atualmente existem que a impressão colorida.
alguns jornais que são Há ainda a questão do tipo de papel40: o papel jornal é mais barato, mas
feitos no tamanho A4, em
também é um dos mais frágeis. Alguns jornais são feitos também com papel
formato PDF, para poderem
ser impressos pelo leitor em reciclado, além dos papéis offset (mais branco) e LWC (mais caro e brilhoso).
casa ou lidos diretamente Certas publicações de maior qualidade podem ser impressas em papel cou-
no computador ou tablet. chê. O papel reciclado é ecologicamente correto, mas por vezes interfere na
É uma opção econômica
qualidade da leitura; o papel jornal é o mais usado em função de seu baixo
e prática, pois elimina o
trabalho com a distribuição custo. O melhor é analisar com a gráfica os custos de cada tipo de papel em
física dos jornais. relação à sua tiragem, bem como os tipos de papel com os quais ela trabalha.
Finalmente, há a questão da tiragem, ou seja, de quantos exemplares
serão impressos. É preciso ter em mente que, numa gráfica, quanto maior a
41
Em alguns jornais Definição de tarefas
(poucos, no caso do
Brasil), existe uma figura Como já dissemos, fazer um jornal41 tende a envolver muitas pessoas:
de nome complicado
Quem decide os assuntos que serão cobertos;
(de origem sueca, para
sermos mais precisos), Quem coleta as informações e depois redige os textos (podem ser pessoas
chamado ombudsman. Ele diferentes);
pode ser uma espécie de
“ouvidor do leitor” (recebe Quem faz qual tipo de texto;
as reclamações do leitor Quem lê os textos, revisando-os ou lendo para saber se estão adequados
do jornal, sobre erros de
à linha editorial do jornal;
informação, grafia etc.) ou
uma espécie de avaliador Quem fotografa;
do jornal (ele mesmo faz
Quem faz ilustrações;
as ponderações sobre os
lados positivos e negativos Quem distribui os textos, imagens e eventuais anúncios nas páginas (pro-
do jornal anterior). Um cesso esse chamado de diagramação);
jornal escolar pode adotar
Quem decide o que vai na capa (ou primeira página) do jornal.
essa figura para que ela
faça uma análise crítica Todos esses processos são coletivos; não se faz um jornal sozinho, e
do jornal da escola. Para
talvez, reafirmamos, esse seja um elemento crucial na tomada de decisão
mais detalhes sobre o
ombudsman, ver Mendes de se fazer um jornal: a necessidade de trabalho em equipe. Fica a critério
(2002). da escola definir se os alunos se mantêm nas mesmas tarefas ou se fazem
uma espécie de rodízio entre eles (ainda que essa última opção seja pedago-
gicamente mais rica). Perceba-se que essas diferentes atividades mobilizam
também diferentes competências por parte dos alunos:
Quem decide os assuntos que serão cobertos e quem coleta as informa-
ções necessita ter alguma noção de História e de conhecimentos gerais
(por exemplo: uma decisão do Governo Federal na área de educação pode
remeter a discussão do assunto em uma matéria: qual a opinião dos alu-
nos, professores e diretores sobre a decisão? Essa decisão muda o quê
na rotina das escolas? Quando a decisão entra em vigor? É a primeira
vez que isso ocorre?). Assim, os alunos aprendem a articular, aos poucos,
a realidade escolar com o mundo à sua volta, ao mesmo tempo em que
desenvolvem a capacidade de pesquisar sobre um determinado assunto.
Em tempo: quando a pesquisa termina, é importante entregar a quem vai
fazer a matéria os resultados e informações úteis dessa pesquisa. Eles são
necessários para as entrevistas;
Quem redige os textos e quem os revisa posteriormente deve ter bons co-
nhecimentos de Língua Portuguesa e de conhecimentos gerais;
Quem faz qual tipo de texto deve ter algumas noções importantes de tipos
textuais e de gêneros textuais. Isso é importante, uma vez que tal atividade
ajuda os alunos a perceberem as diferenças entre um texto informativo
(que se refere à descrição de algum fato da realidade) e um texto opinati-
42
Mais sobre o estilo Foi resultado do projeto de alguém? Essa nova disciplina já foi ofertada an-
jornalístico de escrever teriormente, em outros tempos? Alguma escola já a oferecia antes dessa
pode ser encontrado nos
decisão? Quais os conteúdos dela?).
vários manuais de redação
lançados no mercado Em geral se faz um texto com as principais informações coletadas, o qual
editorial (Folha de S. Paulo, será repassado a quem fará a matéria. Além disso, a pauta pode sugerir nomes
O Estado de São Paulo,
de entrevistados, as formas de contatos com eles e uma pequena bibliografia
O Globo, Zero Hora, O
Povo etc.); porém, esses sobre o porquê de aquele entrevistado estar na pauta (um ex-ministro ou ex-
manuais trazem muitas -secretário da Educação? Um pedagogo? Um especialista da disciplina?).
informações relacionadas
Perceba-se que uma pauta bem feita auxilia até mesmo a feitura da
ao modus operandi de cada
jornal. Duas sugestões matéria: ela tanto dá subsídios a quem vai atrás das informações quanto
interessantes sobre como fornece dados que podem ser usados na própria matéria.
escrever bem são as obras
Todo texto jornalístico42 é apresentado graficamente através de um
de Assumpção e Bocchini
(2006, mais voltada para título. Em geral ele é redigido no tempo verbal do presente do indicativo,
a questão dos textos) e de mesmo que o fato já tenha ocorrido (“Brasil vence China por 8 a 0”), para
Squarisi e Salvador (2012, reforçar a noção de novidade para o leitor. O título deve ser a síntese do fato
que discute também os
mais importante e novo narrado no texto.
gêneros jornalísticos).
Visualmente, ele tem mais destaque do que o texto noticioso, justamente
para chamar a atenção do leitor; e, mesmo que não haja a leitura do texto, o
título já terá cumprido seu papel, que é o de informar sobre o quê aquele texto
fala. Além disso, é comum que, logo abaixo do título, venha um outro texto, seja
para complementá-lo, seja para colocar informações que não couberam nele:
é o subtítulo. Ao contrário do que se imagina, o título e o subtítulo, em geral, de-
vem ser redigidos depois do texto noticioso; como ele são uma síntese do texto
informativo, só podem ser escritos após o texto pronto.
Como vimos anteriormente, o texto jornalístico busca responder um
conjunto de questões-chave (quem? O quê? Onde...) sobre um determinado
assunto, cujo texto final é chamado de lide. Nos textos noticiosos em geral,
o primeiro parágrafo é destinado ao lide; às vezes, quando o assunto é um
pouco mais complexo, essas respostas podem ser continuadas no parágrafo
seguinte, que muitos denominam sublide. O restante do texto traz as demais
informações e opiniões de entrevistados sobre o assunto em questão.
Além do texto em si e da manchete, é possível (e mesmo interessante)
que a matéria venha assinada, ou seja, com o nome do autor do texto. Ob-
viamente, pode-se decidir por publicar o material noticioso sem assinaturas,
mas o ato de assinar um texto aumenta a responsabilidade de seu autor. Em
alguns casos, além da assinatura, vem próxima a ela a fotografia de quem
fez o texto e, mais recentemente, alguns jornais estão optando por colocar os
dados da internet sobre o autor (e-mail, Twitter etc.). Reafirmamos: tudo isso é
opcional e deve ser decidido coletivamente.
Além do jornal impresso, existem outras formas de trabalhar com material im-
presso na escola. Até um passado não tão distante, era comum que escolas,
repartições públicas e outras instituições fizessem uso do jornal mural, um con-
junto de poucas folhas (com informações, notícias, seções de humor, artigos
opinativos etc.) que era afixado num local de alta movimentação de pessoas.
A vantagem disso é seu baixo custo (pois poucos exemplares são im-
pressos); a desvantagem é que ele não pode ser manuseado pelas pessoas
(que devem lê-lo afixado na parede), além de nem sempre ficar na altura ideal
para pessoas de vários tamanhos...
Outra variante é o informativo, na verdade uma espécie de jornal reduzi-
do (uma folha frente e verso, uma folha maior dividida ao meio, gerando quatro
páginas), cuja periodicidade é mais intensa (quinzenal, semanal e, por vezes,
diária). O que vai determinar sua periodicidade é a capacidade de impressão
e de distribuição dentro da escola (e fora, se for o caso).
Finalmente, há também a possibilidade de fazer esse informativo sem
ser em formato impresso, e sim em formato eletrônico digital, através de sites,
blogs ou uso de mídias digitais.
Os formatos quadrinísticos
Partes de uma HQ
uma forma de aprofundamento desse processo, desde que com títulos adequa-
dos à sua faixa etária, à sua realidade social e à sua capacidade cognitiva.
Os professores podem desenvolver também uma série de atividades
com os alunos, antes de eles mesmos produzirem suas próprias HQs (se for
do interesse da escola). Eis algumas dessas atividades:
Interpretação textual e visual da história. O mais comum dos exercícios:
é solicitada ao aluno a compreensão e/ou discussão dos elementos nar-
rativos básicos (quem são as personagens? Onde se passa? Há alguma
moral na história?);
Ordenação dos quadros. Esse tipo de exercício é interessante quando se
tem tirinhas de 3 a 5 quadros, com ou sem texto verbal. A ideia é pegar uma
tirinha, recortar os quadros, colocá-los fora de ordem, e solicitar ao aluno a
ordenação mais adequada para eles, de modo a constituir uma sequência nar-
rativa lógica. Em certos casos, pode haver mais de uma alternativa adequada.
Reescrita dos textos e paratextos. Quando em fase de alfabetização, é
comum que as crianças “inventem” histórias e diálogos para os quadrinhos
que ainda não sabem ler. O professor pode pegar tirinhas ou pequenas histó-
rias (1 a 2 páginas), eliminar todos os textos verbais (falas das personagens,
recordatórios) e paratextos (título da historinha, nomes da(s) personagem(ns)
e do autor) e oferecer ao aluno uma cópia somente com as imagens para o
aluno “criar” sua história, preenchendo os balões com outros diálogos.
Desenvolvimento do traço e do desenho. Mesmo o “pior dos desenhis-
tas” sabe fazer uma forma qualquer: se alguém coloca, dentro de um cír-
culo, dois pontos simulando olhos, fatalmente terá desenhado algo que re-
mete a um rosto. Pode-se estimular o aluno a tentar fazer um rosto usando
números em diferentes posições, desenhos de frutas ou legumes, formas
simples às quais, quando acrescentado um par de pontos e um traço cur-
vo, transformem aquela imagem em um “rosto”. O mesmo método pode
ser usado para que o aluno desenvolva desenhos de corpos, objetos e
outros elementos visuais.
Uso de outras matérias-primas. Uma história em quadrinhos não precisa
ser desenvolvida apenas com desenhos: fotonovelas são uma forma de HQ
que usa fotografias no lugar dos desenhos. A imaginação pode permitir que
as imagens sejam capas de revistas, imagens de filmes de cinema, reprodu-
ções de quadros ou fotografias famosas, xerocadas, recortadas de revistas
ou manuseadas no computador através de softwares de edição de imagem
(essa prática pressupõe um aluno de mais idade e/ou com desenvoltura nes-
ses softwares). Apesar de ser uma experiência pedagógica, é também um
bom momento para desenvolver com os alunos uma discussão sobre os di-
reitos autorais e o uso de imagens alheias, como já sugerimos anteriormente.
7. A hipertextualidade
Com o advento e popularização da computação gráfica, é possível trabalhar
texto, imagem e som interligados entre si por links (vínculos).
Quando falamos em hipertextualidade ou em meios e tecnologias digi-
tais, muitas vezes há uma espécie de esquecimento: nesses suportes, o que
trabalhamos, uma vez mais, são textos verbais, imagens (fixas e em movi-
mento) e sons. A grande diferença não é a possibilidade de usá-los simultane-
amente (o audiovisual já faz isso, no cinema e na TV), mas sim a possibilidade
de interligá-los através de links (outros autores denominam os links também
de conexões, ligações ou vínculos computadorizados).
Essa é a novidade dos ambientes hipertextuais: criar hiperdocumentos
que tenham ligações com outros hiperdocumentos, sejam eles textos verbais,
fotografias, filmes, músicas ou espaços da Internet (sites, blogs, páginas de
busca, mídias sociais etc.). A digitalização dos suportes atingiu grande dimen-
são nos dias atuais, e está presente em diferentes possibilidades, como a
Internet, os CD-Roms, DVDs e Blu-Rays, por exemplo, nos quais se “navega”
buscando sites, blogs, informações técnicas, espetáculos, filmes, shows etc.
Aqui, as noções de “texto” e de “navegação” ganham novos contornos.
Como afirma Martin, (1992) “diferente do texto em um livro, o leitor pode atra-
vessar ligações computadorizadas para chegar, quase instantaneamente, a
outras partes do texto. Esse é alinhavado com ligações projetadas para que
o leitor possa, de forma útil, pular de um ponto para outro do texto” (p. 4).
Além disso, como lembra o pesquisador norte-americano George Landow, o
hipertexto permite novas modalidades de leitura não linear (multilinear, multi-
sequencial) (LANDOW, 1995. p. 16).
Se a ideia de hipertextualidade surge com o Memex de Vannevar Bush, a
palavra “hipertexto” surge com Theodore Nelson em 1965. Para ele, o conceito
autor ou editor” (WIRTH, 1998, p. 103). Basta pensarmos que um site na Inter-
net sem nenhum outro vínculo indica que seu autor deseja que toda a leitura
se concentre exclusivamente naquela página.
É também a partir dos modos como as partes de um hiperdocumento
se relacionam através dos links que percebemos o seu design, a sua estrutura
arquitetônica. Assim, por exemplo, um site cuja home-page só tenha um link,
e essa nova página, por sua vez, só tenha um link, e assim sucessivamente,
apresenta uma estrutura fortemente verticalizada.
46
O pesquisador francês do texto como relevante para o hiperdocumento46 a ser vinculado, optava sim-
Dominique Maingueneau, plesmente pela redação de algo como “para saber mais, clique aqui”.
ao se referir aos suportes
da Internet, prefere falar Outra coisa importante é tentar deixar claro para o leitor se aquele link o
em hipergêneros, em levará para outro ponto do próprio hiperdocumento que ele está lendo (interno)
oposição aos gêneros. Os ou se o levará para fora (externo). Alguns gostam de colocar links internos
gêneros se caracterizam
por apresentam uma
num hiperdocumento para notas de rodapé, por exemplo, em vez de fazer as
série de regularidades mesmas considerações no meio do texto. Isso garante a unidade da leitura
estruturais, sintáticas e e do hiperdocumento como um todo, mas deve ser uma prática cuidadosa,
temáticas dentro de um sem exageros: deve-se inserir links apenas quando eles forem realmente ne-
dado contexto histórico;
já os hipergêneros,
cessários. Uma quantidade exagerada de links em um único parágrafo, por
segundo Maingueneau, exemplo, dará ao leitor a ideia de confusão.
se caracterizam por Outros preferem fazer uso de links externos, que levam o leitor para
apresentarem fracas
restrições de gênero, no
outros textos. Isso é válido quando se quer permitir um maior grau de profun-
máximo “enquadrando” didade e leitura naquele assunto. Mas isso implica num potencial erro; colocar
certos textos. Entre as um link externo logo no início de um texto: isso funciona como uma espécie
formas tradicionais de de convite, dirigido ao leitor, para que ele abandone a leitura e siga o vínculo
hipergênero propostas
por Maingueneau, estão a
oferecido a ele.
carta, o diário e o diálogo, O pesquisador brasileiro Bruno Rodrigues, especialista em webwriting
formas antigas e que (redação para mídias digitais), aconselha, quando o assunto são sites da Inter-
permitem a transmissão de
conteúdos completamente
net: “evite links nas primeiras linhas, nas quais – espera-se – esteja o conteúdo
diferentes (filosóficos, principal da informação que você deseja passar. Primeiramente, capture a
literários, jornalísticos, atenção do visitante, e só depois ofereça-lhe opções” (RODRIGUES, 2000,
publicitários etc.). Assim, p. 28). Ainda em relação ao link externo, outro equívoco é sua colocação ao
por exemplo, sites e blogs
não caracterizam gêneros, e
longo do corpo do texto. O ideal é que haja um conjunto de links ao final do
sim hipergêneros. Para mais texto, como opção para o leitor continuar lendo sobre o assunto em outros
detalhes, ver Maingueneau documentos, mas sem fazer com que ele deixe de ler o texto principal: o que
(2010, p. 129-38). está sendo lido naquele momento.
pítulo. Por exemplo: um videoclipe pode tanto reunir imagens que se tornam
representativas e informativas por “redundarem” as ideias contidas no texto
verbal quanto pode reunir imagens simbólicas e expressivas para criarem no-
vos sentidos ao final. Um documento hipertextual pode fazer uso das regras
de redação para roteiros de rádio e TV, uma vez que é comum o uso de uma
certa coloquialidade nos textos para a Internet.
A partir desses exercícios, e dependendo da faixa etária dos alunos, é
possível pensar em projetos mais complexos, envolvendo suportes interativos
(TV, jogos, filmes etc.). A princípio, as únicas limitações são de criatividade e
de recursos técnicos disponíveis. Uma boa discussão sobre as novas possibi-
lidades geradas pelos suportes multimediáticos pode ser encontrada em Gos-
ciola (2003), que discute as aproximações entre as artes (Literatura, Cinema,
Quadrinhos) e os novos suportes interativos (TV interativa, videogames etc.),
bem como pensar em roteiros para essas novas possibilidades.
8. Exercícios práticos
Aqui, damos algumas sugestões de exercícios que podem ser realizados pe-
los alunos.
Os exercícios que enumeramos aqui são apenas uma pequena amos-
tra do que pode ser realizado em sala de aula; a maioria deles pode ser re-
alizada com o auxílio do computador e dos devidos softwares, periféricos e
equipamentos já citados. Muitas das atividades podem ser compartilhadas
em sites, blogs e mídias sociais (desde que não venham a ferir a política de
direitos autorais, de direitos de imagem etc.). Porém, nem todos os exercícios
servem para todas as faixas etárias; alguns dependem de competências na-
tas ou adquiridas no convívio escolar.
É importante que todos os colegas possam ter acesso à produção uns
dos outros na própria sala de aula, antes mesmo de compartilhar na Internet:
isso permite uma melhor compreensão das possibilidades que as diferentes
linguagens oferecem para se referirem a uma mesma realidade e dá a opor-
tunidade de uma avaliação crítica antes desse material ser tornado público.
Além disso, esse método permite criar, como diria Jesús Martín-Barbe-
ro, mediações, ou seja: os alunos não apenas recebem o material mediático
produzido por eles, mas dialogam entre si e constroem conhecimento a partir
desse material, de sua experiência de vida e de sua experiência coletiva. Aqui,
temos o cerne do tripé Informação + Comunicação + Educação: os dados
sobre a realidade, a coletividade social e a produção de conhecimentos.
1. A partir de um projeto de arquivo de áudio (musical, sonoro etc.), fazer
acréscimos, substituições, omissões de sons em um software de edição de
áudio. Se for possível ter um arquivo de áudio master (ou seja, com todos
os instrumentos em pistas separadas e independentes), isso proporcionará
aos alunos uma noção prática de como se faz a remixagem de uma música
ou como se trabalha a edição sonora. A presença de um professor da área
de Música ajudará bastante.
2. A partir de uma melodia ao violão, criar um jingle. É outra atividade na qual
a presença de um professor de Música será útil. Se for possível a presença
de alguém que trabalhe na área de Publicidade ou de jingles, certamente a
atividade renderá mais.
3. A partir de uma batida, criar uma música de estilo rap. Com um software de
áudio e algum conhecimento musical, é possível criar uma batida de rap. A
partir dessa batida, a ideia de compor um rap pode se tornar interessante.
Além do professor da área de Música, um professor da área de Literatura
ou de Língua Portuguesa pode acompanhar a atividade. Se houver caixas
de som espalhadas pela escola, a música pode ser compartilhada com os
demais colegas.
4. A partir de uma música conhecida, criar uma paródia. Às vezes, é possível
encontrar versões instrumentais de músicas conhecidas ou mesmo gravá-
-la com os instrumentos que estiverem à disposição. Ao contrário do que
se imagina, fazer uma boa paródia não é algo tão fácil. O assunto pode ser
discutido com o professor de Literatura ou de Língua Portuguesa.
5. A partir de trechos de produtos audiovisuais, criar redublagens. A dublagem
é uma técnica de sincronização da voz do dublador numa outra língua com
o movimento do personagem numa animação ou filme que usa uma língua
original. Na Internet, é comum encontrarmos redublagens de cenas de no-
velas, filmes e anúncios publicitários. O acompanhamento de um professor
de Educação Artística ou de Língua Portuguesa pode ser interessante.
6. Fazer leituras orais de diferentes textos verbais usando diferentes estilos ou mo-
dos de fala. Esse tipo de exercício propicia aos alunos perceberem as diferentes
nuances da própria voz, a partir de mudanças de velocidade, timbre, intensidade
etc. O exercício terá melhores resultados se puder ser realizado num estúdio
de som; como já dissemos, ouvir a própria voz gravada, bem como suas
variações, pode soar como uma descoberta para boa parte dos alunos. Se a
escola tiver profissionais de Fonoaudiologia em seus quadros, para acompa-
nhar os exercícios com a voz, os resultados serão ainda melhores.
7. Fazer leituras orais de pequenas frases (manchetes de jornais ou revis-
tas), deslocando as suas ênfases. Exercício típico de quem pretende ser
locutor, mas que serve também para melhorar a dicção e possibilitar maior
dinamismo vocal.
16. Pedir aos alunos para adicionarem outros quadros a uma pequena HQ ou
tirinha de jornal, criando um outro início e um outro fim para aquela história.
Dois ótimos exercícios de estímulo à imaginação: o primeiro é solicitar aos
alunos para imaginarem o que poderia ter acontecido antes do primeiro
quadrinho e o que poderia ocorrer após o último quadrinho; o segundo é
fazer a quadrinização dessas cenas.
17. Pedir para redesenhar, reduzindo, uma história de 4 páginas para 2 pági-
nas. É o contrário do exercício anterior, de certo modo: permite observar a
capacidade de síntese dos alunos.
18. Pedir para os alunos transformarem piadas em tirinhas. Permite a observação
da capacidade de quadrinização dos alunos com um roteiro bastante simples.
19. Pedir para os alunos adaptarem um pequeno texto ou conto (uma fábula de
Esopo, por exemplo) em uma historinha de 1 ou 2 páginas. A sugestão aqui é
pedir para que os alunos refaçam parte do texto original, condensando algu-
mas partes e eliminando outras (como as descrições, que deverão aparecer
nos desenhos dos quadrinhos). É uma espécie de exercício mais avançado.
20. Solicitar aos alunos para fazerem pesquisas fazendo uso dos operadores
lógicos, frases exatas e outras modalidades que refinem a busca na Internet.
Exercício obrigatório para quem pretende que os alunos façam pesquisas
na Internet. Além de otimizar o tempo da pesquisa, solicita a capacidade
lógica do aluno de pensar em como reduzir suas opções de busca.
21. Pedir aos alunos para adaptarem pequenos textos impressos para o for-
mato hipertextual (com uso de outros textos, imagens, sons etc.). O exer-
cício pode ser feito com um pequeno texto de jornal, um conto ou uma
poesia. O importante é estimular o aluno a pensar em outras linguagens e
textos que podem ser mobilizadas para dialogarem com o texto verbal.
22. Pedir aos alunos um projeto escolar de hipertexto com duas versões: uma
para a Internet e outra para suportes digitais (CD, DVD etc.). Os alunos
devem apresentar a estrutura do projeto, os links, os textos, as imagens
e os sons que devem constar no trabalho. É interessante que os alunos
apresentem esse projeto em forma de esboço inicial, desenhado à mão
mesmo, e que detalhem e justifiquem os elementos inseridos. O exercício
estimula a capacidade de visualização de dados e informações por parte
dos alunos.
Referências
ARONCHI DE SOUZA, José Carlos. Gêneros e formatos na televisão bra-
sileira. São Paulo: Summus, 2004.
ASSUMPÇÃO, Maria Elena O. Ortiz & BOCCHINI, Maria Otilia. Para escre-
ver bem. 2ª. ed., rev. e amp. Barueri: Manole, 2006.
BLOCK, Bruce. A narrativa visual – criando a estrutura visual para cinema,
TV e mídias digitais. São Paulo: Elsevier, 2010.
BRANDÃO, Myrna Silveira. Leve seus alunos ao cinema. Rio de Janeiro:
Qualitymark Editora, 2011.
BRANDIMILLER, Primo A. O corpo no trabalho – guia de conforto e saúde
para quem trabalha em microcomputadores. São Paulo: SENAC, 1999.
CALAZANS, Flavio. História em quadrinhos na escola. 2ª. ed., São Paulo:
Paulus, 2005.
CAMARGO, Isaac Antonio. Reflexões sobre o pensamento fotográfico. 2ª.
ed., rev. e amp. Londrina: UEL, 1999.
CHINEN, Nobu. Linguagem HQ – conceitos básicos. São Paulo: Criativo, 2011.
CHION, Michel. L’audiovision – son et image au cinéma. Paris: Nathan, 1990.
CONSANI, Marciel. Como usar o rádio na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2010.
COSTA, Cristina. Educação, imagem e mídias. São Paulo: Cortez, 2005.
CUNHA, Albertino Aor da. Telejornalismo. São Paulo: Atlas, 1990.
DENEGA, Marcos Antonio. Como pesquisar na Internet. São Paulo: Berke-
ley Brasil, 2000.
ECO, Umberto. “Guerrilha semiológica”. In: ECO, Umberto. Viagem na irre-
alidade cotidiana. 9ª. ed., Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993, pp. 165-75.
EISNER, Will. Quadrinhos e arte sequencial. 3ª. ed., São Paulo: Martins
Fontes, 1999.
FARIA, Maria Alice. Como usar o jornal na sala de aula. 11ª. ed., São Paulo:
Contexto, 2011.
FERREIRA, Martins. Como usar a música na sala de aula. 7ª. ed., São Pau-
lo: Contexto, 2010.
GENETTE, Gérard. Palimpsestes - la littérature au second degré. Paris: Seuil, 1992.
GOSCIOLA, Vicente. Roteiro para as novas mídias – do game à TV intera-
tiva. São Paulo: SENAC, 2003.
GURAN, Milton. Linguagem Fotográfica e Informação. Rio de Janeiro: Rio
Fundo Editora, 1992.
KOCH, Ingedore G. Villaça, BENTES, Anna Christina & CAVALCANTE, Mônica
Considerações finais
Como pudemos perceber, historicamente o homem nunca esteve dis-
sociado da tecnologia, em suas diversas nuances. E o tempo das tecnologias
digitais assinala mais uma etapa nesse processo. Dentre as tecnologias que
acompanham o ser humano, a linguagem talvez seja uma das mais intrigan-
tes: é através dela que nos comunicamos, que construímos bancos de dados
e informações, que escrevemos nossa história e construímos nossa memória.
Sem a linguagem, pouco seríamos.
Conhecer as potencialidades das linguagens é um desafio desde sempre.
Saber como fazer uso das técnicas de comunicação e de informação garante
a manutenção da nossa memória (seja ela coletiva ou individual), a escritura da
história (também coletiva ou individual) e nossa própria sobrevivência diante de
outros seres humanos. Diante de tais afirmativas, a frase “todo mundo é uma
ilha” pode ser logicamente contradita: “ninguém é uma ilha”.
Assim, possibilitar aos alunos, em sala de aula, o aprendizado e o do-
mínio de certas técnicas de comunicação e informação ajuda a garantir que
tenhamos futuras gerações que saibam exercer o seu direito de expressão.
O uso das tecnologias digitais, nesse aspecto, acelera processos de aprendi-
zagem e, ao mesmo tempo, permite a troca de experiências com alunos que
estão geograficamente distantes, mas virtualmente próximos.
As palavras de Paulo Freire, extraídas de seu livro Pedagogia da Auto-
nomia, cabem aqui como uma luva:
“Educar é substantivamente formar. Divinizar ou diabolizar a tecno-
logia ou a ciência é uma forma altamente negativa e perigosa de pensar
errado” (1999; p. 37).
A questão central aqui não é tanto a tecnologia, mas o uso que dela é
feito. E, tendo em vista que a linguagem, em suas diversas matizes, é uma
forma de tecnologia, nada mais natural do que a escola ter uma atitude pro-
ativa nesse aspecto. Para transformar os alunos em cidadãos, é preciso an-
teriormente auxiliar na criação das condições de expressão própria de cada
um. Ou, como escreveu o professor italiano Gianni Rodari, em seu fantástico
livro Gramática da Fantasia, a respeito da criatividade e da imaginação no
processo educacional (e que também se encaixa com perfeição em nossa
discussão): "todos os usos da palavra a todos" (1982, p.11).
Referências
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia – saberes necessários à prática
educativa. 12ª. ed., São Paulo; Paz e Terra, 1999.
RODARI, Gianni. Gramática da Fantasia. 11ª., ed., São Paulo; Summus, 1982.
Sobre os autores
Ricardo Jorge de Lucena Lucas: jornalista, professor dos cursos de Jor-
nalismo e Publicidade do Instituto de Cultura e Arte da Universidade Federal
do Ceará (ICA-UFC). Doutor em Comunicação pela Universidade Federal de
Pernambuco (UFPe), mestre em Comunicação e Cultura pela Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), especialista em Teorias da Comunicação
e da Imagem pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e Universidade
Federal do Ceará e graduado em Comunicação Social pela Universidade Fe-
deral do Ceará. É coordenador do projeto de extensão “Oficina de Quadri-
nhos – UFC”. Ministrou as disciplinas “Teoria da Comunicação” no curso de
especialização em Teorias da Comunicação e da Imagem (UFC) e “Textos e
Narrativas Audiovisuais” no curso de especialização em Audiovisual em Meios
Eletrônicos. É também professor do Programa de Pós-Graduação em Comu-
nicação da Universidade Federal do Ceará (PPGC-UFC)