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NOSSO

AMBIENTE
10 ANOS EDUCANDO NA NATUREZA
ecofuturo.org.br

Organização: Instituto Ecofuturo Presidente


Diretor Superintendente: Paulo Groke Daniel Feffer

Coordenação: Michele Martins Diretor Superintendente


Mediação e apoio conceitual: Juliana Coutinho Paulo Groke
Coordenação de conteúdo: Juliana Coutinho
Meio Ambiente
Apoio: Paula Dourado, Larissa Cabelo e Cleia Araújo

NOSSO
Adriano Ferreira de Souza
Texto: Sibélia Zanon Alexandre Oliveira da Silva
Revisão de texto: Iraci Martinez Pereira Ana Maria de Matos Guidi
Ilustração da capa: Paloma de Farias Portela Cleia Marcia Ribeiro de Araújo Sousa
Fotos: Lethicia Galo, Eliza Carneiro, Ronaldo David de Almeida Santos
Elon Alves Machado
Cardoso, Sergio Zacchi, Seleção Natural - Inovação

AMBIENTE
Juvenil Vitoriano de Jesus
em Projetos Ambientais, acervo Ecofuturo, acervo Marcelo Lemes de Siqueira
dos educadores e das escolas que participaram do Marcelo Rogério Sant’Ana
Programa Meu Ambiente Marcos José Rodrigues Prado
Projeto Gráfico: Soma palavra e forma Maurício Rodrigues Prado
Michele Cristina Martins
São Paulo • 2020 Raquel Coutinho
Ricardo Silva de Souza
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

10 ANOS EDUCANDO NA NATUREZA


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Comunicação
Zanon, Sibélia Paula Dourado
Nosso ambiente [livro eletrônico]: 10 anos educando na Larissa Cabelo
natureza / Sibélia Zanon; [organização Instituto Ecofuturo]. -- São
Paulo: Instituto Ecofuturo, 2020. PDF Educação e Cultura
Vanessa Espíndola
ISBN 978-65-88172-02-5
1. Aprendizagem 2. Atividades 3. Educação ambiental 4. Meio Administrativo e Financeiro
ambiente 5. Programa Meu Ambiente 6. Recreação ao ar livre Bianca Corrêa
I. Instituto Ecofuturo. Mateus Cardoso Scriboni
20-51442 CDD-304.2
Mantenedora
Índices para catálogo sistemático:
1. Educação ambiental 304.2
Cibele Maria Dias - Bibliotecária - CRB-8/9427
Dedicamos esta publicação a todas as pessoas e,
em especial, aos educadores que participaram
da trajetória do Programa Meu Ambiente.
O que é escola para você?

P
ara muitas pessoas, a escola é o lugar vocabulário, a construção que criamos da
onde aprendemos a ler e escrever, palavra natureza acaba se remetendo a
e os conteúdos sistematizados pela áreas naturais, praças, parques, árvores,
humanidade ao longo do tempo. animais. E existe natureza em todos os
Você já parou para refletir que o ato lugares! Nós somos natureza!
de aprender a ler está relacionado ao exer- Aprender sobre vida é aprender sobre
cício de ler o mundo? Para atentar-se às a nossa vida, a vida de todos os seres,
relações, reverberam na percepção com a vida do planeta, a vida do universo. A
atenção os espaços da escola. Todos os vida que existe em todas as relações, inte-
dias inúmeras possibilidades estão acon- rações, criações, imaginações.
tecendo nos espaços externos e que não Eu, que sou professora em escola
são percebidas quando se está entre qua- pública e também atuo em formação de
tro paredes. Há vida, há tempo, há encon- educadores em vários lugares do Brasil,

Prefácio
tros, há transformações. deparo-me com as mais diferentes realida-
Eu acredito que a escola é o lugar des e percebo que é impossível aprender
onde aprendemos sobre a vida. E o que sobre a vida estando distante dela, em
é vida? Tim Ingold, antropólogo, nos diz
que vida é tudo que se move. Estamos
num planeta em movimento, num universo “Você já parou para refletir que o ato
em movimento.
E vida também é o que chama- de aprender a ler está relacionado ao
mos de natureza. No entanto no nosso exercício de ler o mundo?”
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açã o?”
“Que educ
possib
ilidade s espaç os de
s conseguim otin a , n o
“É preciso que nós, educadoras e educadores, nossa natureza. E a partir daí, que ação os encontrar na nossa r
simples posso ter? Abrir as janelas. Deixar
exercitemos um olhar mais sensível para todo o que o ar fresco circule, sentir a temperatura
território da escola e seu entorno. Existe vida ?” oscilando ao longo do dia, nos colocando
em contato com a umidade do ar, com o Para além de ter a natureza presente faixas etárias. Conhecer estes projetos
vento. Essa ação, além da promoção do fisicamente, também é importante conec- é fundamental para nutrir nossa criativi-
lugares cada vez mais artificiais e que cada bem-estar e da saúde, nos ensina sobre o tar-se com seus valores. A natureza pode dade, e nos mostrar caminhos. É possível!
vez nos afastam mais da natureza. A escola lugar no qual vivemos e constrói um senti- atravessar o currículo, as propostas, o pro- E conhecer experiências reais nos ajudam
precisa ser um lugar cheio de vida. Quanto mento de pertencimento. jeto político pedagógico. Nessa perspec- a refletir e questionar nossa prática, mudar
mais vida presente, mais relações vivas! Que outras possibilidades consegui- tiva estamos considerando a escola e a paradigmas e encontrar possibilidades que
Independente do contexto, do espaço, mos encontrar na nossa rotina, nos espa- vida que ali se manifesta. Considerar seus antes não eram percebidas.
do lugar, existe natureza na escola. E sem- ços de educação? Que boas escolhas valores é também dar visibilidade ao seu Deixo aqui um pedido: esteja dispo-
pre é possível trazer essas relações mais fazemos diariamente e nos colocam em território, à sua comunidade, à sua diver- nível e vislumbre as possibilidades. Toda
para perto e frequentes. É possível e pre- relação com a vida? Trazer mais plantas sidade, aos diálogos, às relações. mudança começa com um pequeno passo.
ciso torná-las visíveis e presentes. em diferentes ambientes da escola, mais Nas próximas páginas desta publica- Descubra o que é possível, desafie-se, e
E para isso, faz-se necessário rever a elementos naturais presentes em diferentes ção encontramos registros de ações reali- encontre sempre muito mais os motivos
concepção que temos de natureza. Você contextos, contar histórias no jardim, optar zadas em escolas a partir das provocações para realizar algo que as desculpas que
deve ter percebido que quando está em por realizar ações nos espaços externos da do Programa Meu Ambiente. Professoras e impedem que aconteça.
áreas naturais abundantes o sentimento escola, dentre tantas outras possibilidades. professores que encontraram muitos bons
de conexão é maior e mais profundo. No É preciso que nós, educadoras e edu- motivos para ter a natureza presente nos
entanto, perceber a natureza que existe na cadores, exercitemos um olhar mais sensí- processos de aprendizagem de diferentes Ana Carol Thomé
nossa rotina, encontrar possibilidades, per- vel para todo o território da escola e seu
mite efetivamente realizar pequenas ações entorno. Existe vida? Como pode haver
no cotidiano que nos conectam e nos apro- mais vida? Precisamos nos atentar para
ximam dos pulsos de vida. reconhecer estes espaços a partir da per- Pedagoga, especialista em Educação Lúdica, Psicomotricidade e Educação
Um exemplo? Respirar. O começo cepção das crianças, com a curiosidade Inclusiva. Professora da Rede Pública, atuando no programa de inclusão
escolar. Idealizou e coordena o programa Ser Criança é Natural do Instituto
desta conexão começa com o ar que res- de quem visita um lugar pela primeira vez,
Romã, desde 2013. Trabalhou em Escolas da Floresta no Reino Unido, e
piramos, a mesma atmosfera e que conecta com o resgate das primeiras sensações ao pesquisa iniciativas que relacionem Educação e Natureza pelo mundo. Estuda
todos os seres do planeta. Respirar é uma observar uma folha caindo, encontrar uma a abordagem Pikler, primeira infância e desenvolvimento infantil. Professora
ação que nos conecta com a natureza semente no chão. Repare na sua rotina, por profissão, educadora de coração, brincante desde o nascimento. Acredita
do mundo e nos permite conectar com a nos seus tempos e nos seus espaços. no poder da infância e que o mundo pode ser melhor.
8 9
Queri d o l e i t o r !

A
s próximas páginas foram teci- Trata-se de um dos programas de edu-
das em conjunto com a natureza, cação ambiental desenvolvidos pelo Instituto
como o ninho de um pássaro ou o Ecofuturo, organização sem fins lucrativos,
seu canto, ao escapar da copa da árvore criada em 1999 e mantida pela Suzano,
e voar até o coração de uma criança. que investe na promoção do conhecimento
Estamos falando do Programa Meu e na conservação de áreas naturais, inte-
Ambiente e de seus desdobramentos na grando pessoas, livros e natureza. 
atuação de sensíveis educadores e seus Nas próximas páginas veremos que o
alunos, famílias e comunidade. Meu Ambiente promove a sensibilização
O Meu Ambiente está fazendo ani- de professores, educadores, monitores
versário! São 10 anos de atuação, tendo ambientais e estudantes. Paralelamente, o
a natureza como educadora. O Programa Programa alcança Secretarias de Educação
considera pessoas e natureza partes e Meio Ambiente, e instituições de ensino.
atuantes e significativas de um mesmo sis- O envolvimento de todos é fundamental
tema interligado de vida – como, afinal, para o bom desempenho da iniciativa, e é
deve ser. Valoriza o indivíduo-educador e
o indivíduo-aluno, despertando a reflexão
sobre a importância de atividades ao ar O Meu Ambiente está fazendo aniversário!
livre, do contato mais próximo com o meio
e da conservação dos biomas brasileiros São 10 anos de atuação, tendo a natureza
e sua biodiversidade. como educadora.
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Educador
es traze
m repertó ões
rio rico de inspiraç

a partir da colaboração dos participantes muitas vezes de maneira interdisciplinar em que se vive, do rio vizinho, da praça que tecemos com ela e com o outro, por-
que os trabalhos começam, privilegiando e para além do senso comum de que o ao lado de casa, do pátio da escola, de que reconhecemos as conexões existentes
atividades que partem de suas realidades estudo do meio está limitado a aulas de um canteiro no quintal ou, até mesmo, das entre todos os seres.
e preferências. ciências ou geografia. plantinhas na varanda. Atividades ao ar livre ajudam a enten-
O Programa foi realizado, nos seus As diversas abordagens estimulam a Partindo de ações simples, como uma der contextos, observar lugares e conhecer
primeiros anos, com escolas públicas do refletir sobre as possibilidades de atuação caminhada de reconhecimento dos arredo- histórias que, muitas vezes, são contadas
entorno do Parque das Neblinas, usando de cada um no seu ambiente, incentivando res da escola, surgem muitas observações por meio de um toque, de um cheiro, de
a reserva como ambiente de encontros de educadores a criarem contextos de apren- que culminam em ações com forte potencial um sabor ou de um som. O mundo se
formação, trocas e vivências. A metodo- dizagem que envolvam os elementos da transformador. Da busca por ampliar as ati- manifesta de várias maneiras, e acredita-
logia, contudo, pode ser multiplicada em natureza, dentro e fora da sala de aula. vidades em ambientes naturais, acontecem mos que certas leituras só podem ser feitas
variados espaços naturais, proporcionando Observar o líquen numa árvore e estudar transformações nos espaços escolares. Das através dos sentidos.
experiências significativas ao ar livre. o oxigênio em sala de aula; ver o cambuci árvores frutíferas plantadas na praça, se E é pela porta de entrada destes
A seguir, vamos conhecer a trajetó- na natureza e depois fazer o brigadeiro da colhe o fruto e se ouve o pio do pássaro. sentidos que se desenvolve o apreço e o
ria de educadores de Bertioga, Mogi das fruta, calculando quantidades, registrando E novos ciclos de dispersão de sementes e entendimento de que estamos todos interli-
Cruzes e Suzano, que já participaram do a receita, cozinhando e degustando o qui- de ideias passam a povoar a atuação de gados numa teia, cujos fios, quando toca-
Meu Ambiente junto com seus alunos. A tute; ler sobre a Mata Atlântica embaixo de todos: professores, estudantes, comunidade dos, reverberam a intensidade e intenção
experiência única de cada educador traz uma árvore; descobrir em mapas o trajeto escolar, famílias, bairros. do toque por toda a sua extensão, atin-
um repertório rico de inspirações e mostra feito entre a própria casa e a escola e os A vivência na natureza é parte funda- gindo o todo.
a natureza permeando a proposta pedagó- acidentes geográficos do bairro; elaborar mental do programa, convidando à inte- Por meio desta publicação, o Instituto
gica e os conteúdos do currículo escolar, um jogo que reproduza o ambiente da gração e à extensão dos temas abordados Ecofuturo revela a trajetória de alguns de
floresta com folhas, gravetos e sementes na escola. Todo esse contexto é revelado seus participantes, que representam tan-
coletados durante as caminhadas… em múltiplas experiências práticas nas pró- tos outros, e busca, assim, inspirar leito-
“Quanto mais intensificamos e promovemos O Meu Ambiente convida a uma ximas páginas. res e ampliar olhares e possibilidades de
essas relações entre nós e o ambiente, mais experiência de integração, oportunizando Desde o início, o Meu Ambiente tem trabalho no espaço educador natureza:
que cada participante se reconheça como deixado pegadas na trajetória de cada ambiente capaz de potencializar e huma-
desenvolvida será a consciência sobre as nossas parte de um ciclo contínuo e interdepen- um de seus participantes. Os espaços nizar a nossa leitura de mundo.
responsabilidades e o cuidado que devemos ter dente de vida, que tudo envolve e abriga. naturais são espaços com vocação sen- Então, querido leitor, vire as páginas
Ao vivenciar a natureza é possível reno- sibilizadora e, mais do que isso, educa- e escute: o pio de um pássaro escapou da
com todas as vidas.” var o olhar para o cotidiano e ao próprio dora. Quando conhecemos a natureza, copa de uma árvore… e vai voar até mais
Michele Martins ambiente, apropriando-se da realidade nós nos responsabilizamos pelas relações um coração! Será o seu?
12 13
Os rios
da minha vida

M
e recordo de momentos com meu O que hoje chamamos tecnicamente
pai na barranca do Rio Paraná, como vocalização, meu pai e eu conhecía-
quando nós e o Paranazão – mos como sinfonia das aves, dos anfíbios
como o rio era carinhosamente chamado –, e dos insetos, cada um tocando o seu “ins-
corríamos livres, leves e soltos. trumento”. As obras musicais contrastavam
Rio potente e imponente, vai cortando com o nosso silêncio, única e respeitosa
milhares de quilômetros, dezenas de muni- contribuição que poderíamos oferecer
cípios e três países, forjando a paisagem, naqueles momentos.
gerando vida e histórias. Mas deixamos de correr livres. O
O correr livre do Rio Paraná signifi- Paranazão e nós.
cava a formação de uma geografia orgâ- As represas erguidas comprometeram
nica, que na época das cheias formava os os varjões. O rio, disciplinado pela força
varjões, ambientes nos quais a vida existia das necessidades humanas – sempre elas –
em tremenda profusão e sonoridade. teve transformada a complexa sinfonia de
Era o berçário de inúmeras espécies suas margens difusas em uma composição
de peixes. Também bastava um descansar de poucas notas. O regente cervo custa
dos remos para contemplar irerês, curim- agora a dar as caras.
batás, garças, socós, biguás, jacarés. Com E nós, disciplinados pela vida urbana,
sorte, o dia seria premiado com a apari- pelo tratamento asséptico e distante da
ção de um cervo do pantanal. natureza, pelo consumismo exagerado,
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“O Ita a vid a.”
tinga p ece ra m n
ode ser o primei nh
ro r i o l i m p o q u e m u i t o s c o

também seguimos perdendo conexão e mas um curso sinuoso. E impressiona florestais, biólogos, guarda-parques, monito- quanto as escolhas futuras não poderão ser
organicidade. Deixamos de nos encantar mesmo por sua transparência, pelas res, pesquisadores, cozinheiras, ecoturistas, influenciadas pelo contato e (re)descoberta
com a estética e sonoridade do ambiente cachoeiras e pequenas praias. educadores e estudantes tratam o Itatinga e do ambiente natural?
natural. Deixamos de remar e de nos Mas a mim, toca principalmente pela a Mata com grande e merecida reverência. Fico feliz só de saber que o Rio
encantar nos varjões da vida. história que ele me conta. Cada gota traz Parte do que até o momento escrevi Itatinga oferece, para todas as pessoas
Mas o que vi, ouvi e senti, não con- na sua essência uma história não somente pode ser explicada pela geografia, biolo- que hoje o visitam, a oportunidade, cada
sigo esquecer. Mais que isso, a minha própria de uma substância chamada água, gia, física, matemática, história e cultura. vez mais rara, que o Paranazão me ofe-
experiência de contato com a natureza mas de plantas, bichos e gente. Podemos tentar compreender a vida de receu. O Itatinga pode ser o primeiro rio
me impregnou e forjou a minha essência. Você, que como eu pode estar agora qualquer rio por meio destas “disciplinas”. limpo que muitos conheceram na vida. E
O mesmo destino que na infância me na cidade grande, pare perto de um rio pró- Melhor, podemos falar de geografia, bio- muitos se confraternizam e compartilham
apresentou ao Rio Paraná e me fez enge- ximo e tente ouvir o que ele tem para contar. logia, física, matemática, história e cultura histórias com as suas águas frias e trans-
nheiro florestal, também me deu o privilé- Sim, todos os rios podem falar, não apenas por meio dos rios e também das matas parentes, testemunhas de tantos momentos
gio de conhecer, já na vida adulta, um rio o Paranazão e o Itatinga. Certamente, as e paisagens. É o ambiente natural como de transformação.
chamado Itatinga. Amor à primeira vista histórias não são as mesmas. espaço educador. Quem sabe sejam instigados ao con-
que, creio eu, foi recíproco. Voltando aos dois rios da minha vida, Qual o reflexo que o convívio com o tato cada vez mais constante com a natu-
Mais mirradinho, com menor vazão e eles correm em sentido quase contrário e ambiente natural pode proporcionar para reza. Quem sabe consigam até ouvir o que
num relevo acidentado, não tem varjões, deságuam no Atlântico, distantes um do pessoas praticamente desprovidas da opor- cada rio, cada planta e cada bicho tem a
outro, mas o oceano lhes permite misturar tunidade do contato com a natureza? Sem nos dizer.
suas histórias e vidas no eterno embolar contar o desfrute em si, os benefícios à
E nós, disciplinados pela vida urbana, pelo das correntes. Ali, se tornam um. saúde e a sensação de encantamento, o Paulo Groke
tratamento asséptico e distante da natureza, Bem antes disso, nas nascentes do
Itatinga, um tal de Parque das Neblinas foi
pelo consumismo exagerado, também seguimos criado para abraçá-lo e protegê-lo. Cada
perdendo conexão e organicidade. Deixamos de uma de suas quase quinhentas nascentes
Diretor Superintendente do Instituto Ecofuturo, Paulo Groke é
engenheiro florestal (ESALQ/USP), e especialista em ecoturismo
nos encantar com a estética e sonoridade do é um filhote de rio e, como tal, merece (SENAC) e em Prevenção e Controle de Incêndios Florestais (UFPR).
especial cuidado. A Mata Atlântica que É responsável pela gestão do Parque das Neblinas e atua há 35
ambiente natural. Deixamos de remar e de nos lhe serve de manto se recupera do assédio anos com conservação ambiental.
encantar nos varjões da vida. do Homo sapiens. No Parque, engenheiros
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18 19
Sumário
Fazedores de histórias.............................................. 22
Natureza na telha.................................................... 27
Vista linda............................................................... 33
Caixas ganham asas................................................ 39
Q de quero-quero ................................................... 45
Ler a natureza......................................................... 51
Uma trilha para chamar de sua................................. 57
E a escola se transformou em floresta......................... 63
E a escola brotou..................................................... 69
Música da natureza ................................................ 75
Brincar com terra .................................................... 81
Plantar transformações ............................................. 87
Vai dar fruta nessa escola ........................................ 93
Manifestantes da poesia........................................... 99
Nascente de ideias ............................................... 105
Abrir os portões .................................................... 111
Referências inspiracionais....................................... 116
Biblioteca da natureza............................................ 118
“Temos que tocar o coração deles pra

Fazedores de histórias
CIBELE CRUZ
Escola Municipal de Ensino Infantil
e Ensino Fundamental José Carlos
plantar uma sementinha em cada um.
Buzinaro – Bertioga Aí ela vai crescer e lá na frente a gente
Classe participante: 5º ano vai colher frutos.”

JAQUELINE MARTIN ALARCON “Eu falava com todo encantamento e


Escola Municipal de Ensino Infantil e
trazia textos e vídeos. Minha própria
Ensino Fundamental Genésio Sebastião
dos Santos – Bertioga inspiração contagiou as crianças no
Classe participante: 5ª ano sentido de conhecer o ambiente.”

MARCELO OLIVEIRA “Depois desse projeto acabamos abrindo a mente


Escola Municipal de Ensino Infantil
e Ensino Fundamental José de
e desenvolvendo outros projetos sempre com
Oliveira Santos – Bertioga esse foco na relação homem-natureza.”
Classe participante: 1ª ano

MÔNICA MARTINEZ “Uma das funções da escola é oportunizar


Escola Municipal de Ensino Infantil
e Ensino Fundamental José Carlos
o conhecimento e se podemos, enquanto
Buzinaro – Bertioga professores, nos apropriar do interesse e da
Classe participante: 2º ano realidade do aluno, fantástico ! ”

RENATA GRAZIELA DE “Para que possamos deixar um legado de


CHECHI PEREIRA LANZA amor e aprendizagem é necessário nos
Escola Municipal de Ensino Infantil
e Ensino Fundamental José de
entendermos parte do lugar em que vivemos
Oliveira Santos – Bertioga e, assim, ouvi-lo, senti-lo e transformar
Classe participante: 1º ano tudo em ações de cuidado.”
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CECÍLIA DÍAZ OLMOS “Desde pequena sou apaixonada KEROLLEN FERNANDES MARTINS “O objetivo do nosso trabalho foi
Escola Municipal Sérgio Hugo E MILENA DE JESUS RIBEIRO
Pinheiro – Mogi das Cruzes
por natureza, então busco cursos propiciar aos alunos vivenciarem
Escola Municipal Professora Edna
Classe participante: 1ª ano relacionados a meio ambiente.” Leite Lima – Suzano a natureza em sua forma literal
Classe participante: 1º A e 1º B – e valorizarem o território
Fundamental I em que habitam.”
DÉBORA FERRAZ “A experiência fica para sempre. A gente não
Escola Municipal Sérgio Hugo
consegue trabalhar com a criança do mesmo MICHELLE NUNES “Descobri que a criança só vai cuidar
Pinheiro – Mogi das Cruzes
Classe participante: Infantil 4 jeito que trabalhava antes. O olhar mais atento DURAES NOGUEIRA daquilo que ama, e ela só vai amar a
tem prazer em ver, aprecia, é diferente.” Escola Municipal Engenheiro
natureza se ela se sentir parte.”
Isaías Martinelli Gama – Suzano
ROSEMEIRE APARECIDA Classe participante: 1ª ano
DE SOUSA CARDOSO
Escola Municipal Rural Eunice
“As crianças ficaram maravilhadas
com tudo. Voltaram do Parque com “Eu vinha de um processo muito difícil de
de Almeida – Mogi das Cruzes PATRÍCIA ÁRIAS
Classe participante: 3º e olhinhos de encantamento.” Escola Municipal Ângela Martins começar a olhar para a educação e me perguntar:
4º ano (multisseriada) de Oliveira – Suzano o que eu estou fazendo aqui? Esse projeto veio
Classe participante: 2º ano para me despertar de novo como professora.”
SOLANGE APARECIDA “Como estamos próximos da
GONZALES BASSINI Mata Atlântica, venho tentando
Escola Municipal Cecília de Souza Lima RANDAL DE SOUZA ALVES “A partir do curso e dos materiais
Vianna – Mogi das Cruzes construir com meus alunos uma Escola Municipal Engenheiro oferecidos abriu-se um novo horizonte
Classe participante: 1º ao 5º ano – poética da natureza.” Isaías Martinelli Gama – Suzano
em minha vida pedagógica.”
Fundamental I Classe participante: 1ª ano

VANESSA ADELINA DIAS “Sempre que possível, a gente faz RAYSSA PEREIRA DA SILVA “Não vejo valor em explorar apenas o
Escola Municipal Luiz de Oliveira
Machado – Mogi das Cruzes
atividades fora da sala de aula, Escola Municipal de Ensino
conteúdo do livro didático. Se estou na
Fundamental Ignez de Castro
Classe participante: Educação Infantil – explorando tudo o que a gente consegue Almeida Mayer – Suzano escola como professora, tenho que trazer
Infantil 3 e 4 (multisseriada) perceber de forma prática e concreta.” Classe participante: 2ª ano uma forma deles experienciarem coisas.”
24 25
e!
e d o ! Tá n a h o r a d o l a n c h
Natureza na telha

Vem, passar
Escola Municipal de Ensino Infantil e
Ensino Fundamental José Carlos
Buzinaro – Bertioga
Educadora: Cibele Cruz

“Eu sou professora em Bertioga há dois anos.


Aprendi muito com as crianças, elas me
mostraram coisas sobre a mata que eu não
conhecia. Foi muito legal essa troca
de experiências.”
26 27
Jam
b us tar
o, ja
butica a pa ar deg
ba-do-mat ut
o e cajá-manga: quanta fr

A “O jambo parece uma maçã e o cajá-manga é


lgumas telhas antigas estavam
sem destino num canto da casa
da professora de artes. Enquanto cheio de espinhos e é azedinho.” Multidisciplinar,
isso, Cibele, professora do 5º ano, par- interdisciplinar e
ticipava do Meu Ambiente e a sua turma transdisciplinar
se empolgava com as aves. “Na escola, Jambo, jabuticaba-do-mato e cajá-
Quando várias disciplinas
os passarinhos vêm comer com eles na -manga ainda entrariam na roda de expe-
mesa. Lá tem coruja buraqueira e as riências gastronômicas da professora.
estudam o mesmo objeto, mas
crianças tomam todo cuidado na aula de A ideia de pintar os pássaros nas
sem interações, trata-se de
educação física para não chegar perto telhas de barro fez sucesso entre as crian- estudo multidisciplinar. Quando
e não machucá-las”, conta a educadora. ças. Cada criança ganhou uma telha, há interação e colaboração
Junto com a professora de artes, Cibele levou para casa, limpou e trouxe de volta à entre as disciplinas, no estudo
propôs para a turma: que tal registrar os escola. Cada um escolheu seu pássaro pre- do mesmo objeto, trata-se
pássaros do nosso bioma e dar vida às ferido e pesquisou seus hábitos: a repro- de estudo interdisciplinar. O
telhas esquecidas? dução, o ninho, a alimentação, o canto, estudo transdisciplinar se dá
A EMEIF José Carlos Buzinaro, onde as cores… Depois desenhou e pintou na quando é possível extrair da
também trabalha Mônica Martinez, fica telha. “No final, o Secretário de Educação colaboração entre as disciplinas
em Bertioga, perto do encontro entre o Rio deu a ideia de pendurarmos na escola, um caminho norteador.
Guaratuba e o mar. As crianças moram que eu não conhecia. Foi muito legal essa mas as crianças quiseram levar as telhas
perto da praia em região arborizada e têm troca de experiências”, conta Cibele. para casa”, conta Cibele.
oportunidades constantes de contato com Naquele ano, Cibele provou frutas Ao longo do ano, a educadora buscou
a natureza. que nunca tinha visto. introduzir temáticas ligadas à natureza ao matemática por causa do Saresp (Sistema
“Eu sou professora em Bertioga há — Tia, eu trouxe araçá pra você. lecionar os conteúdos programados, num de Avaliação de Rendimento Escolar do
dois anos. Aprendi muito com as crianças, — O que é isso? trabalho interdisciplinar. “O 5º ano precisa Estado de São Paulo). Em língua por-
elas me mostraram coisas sobre a mata — É goiabinha do mato. focar muito em habilidades de português e tuguesa, eu buscava usar textos sobre
28 29
Educ
ador
tamb
ém é
apren
diz: co
mparti
lhar expe
riências dá sabo
r à vida

nova informação rendeu pesquisa na volta maravilhoso pão de queijo e do banho de


às aulas. Os alunos buscaram vídeos sobre rio. Mas agora, indo pela segunda vez, eu
“As crianças têm praia e mata ao redor o tempo a professora. Ficaram indignados ao ima- o tema, debateram sobre a oferta de ar vi como é linda a natureza.
ginar que a mata um dia poderia acabar e puro da natureza e sobre a necessidade
inteiro. Eu falo pra eles que eles são ricos por um dos alunos disse: “Por mais que nossas que os seres humanos têm de oxigênio.
ter tudo aquilo perto deles.” casas estejam dentro da mata, a gente tem Algumas crianças já tinham feito a “Temos que tocar o coração deles pra
que conservar o que está ao redor.” vivência na mesma floresta quando mais plantar uma sementinha em cada um. Aí
Ao visitar a floresta, as crianças se novos e um aluno disse:
a mata. Em matemática incluí quilôme- encantaram com o rastro de animais, — Tia, quando eu fui da primeira ela vai crescer e lá na frente a gente vai
tros e distâncias, abordando Guaratuba pegadas da anta, arranhões da onça, vez eu era pequeno e eu só lembrava do colher frutos.”
e região”, conta Cibele. Além e com tudo o que puderam ver
disso, em geografia, histó- com a lupa. Entre as coisas
ria e ciências a profes- que mais chamaram a
sora buscou fazer um atenção das crianças, Impulso verde
trabalho interdiscipli- estavam as manchi-
nar, estudando a mata nhas vermelhas, verdes
A participação de Cibele e Mônica no Programa Meu Ambiente
e os animais. e azuladas nas árvo-
intensificou as ações em educação ambiental e fortaleceu o movimento
Ao comemorar o res. Perguntaram para de aproximação da natureza que a escola já buscava. Várias ações
aniversário de Bertioga, a monitora por que vingaram na comunidade escolar: as crianças deixaram de usar
em maio, conversa- existiam aquelas man- copos descartáveis e cada um passou a usar a sua caneca, houve
ram bastante sobre a chinhas, os líquens, e ela redução de alimentos descartados nas refeições e também redução
localidade e viram na explicou que isso se dava de papel jogado nas lixeiras das salas de aula, a horta da escola
internet as imagens devido ao local ser muito foi incrementada, a separação de recicláveis foi implementada, um
de satélite da região. bem oxigenado. Fungos comedouro para pássaros passou a receber as sobras de frutas das
“Acharam o máximo e algas são sensíveis à crianças. A natureza não estampou só a telha de barro, mas fez arte
localizar as próprias poluição e onde eles exis- pela escola inteira.
casas e ver por cima”, diz tem é sinal de ar puro. A
30 31
I n s p i ra ç ã o q u e t ra n s p i ra
Vista linda
Escola Municipal de Ensino Infantil e
Ensino Fundamental Genésio Sebastião
dos Santos – Bertioga
Educadora: Jaqueline Martin Alarcon

“Eles não sabiam que serra era aquela que


víamos pela janela, que vegetação cobria a
serra. Como eles moram nesse paraíso e não
conhecem? Isso me indignava e ao mesmo
tempo me inspirava a fazer eles conhecerem.”
32 33
Quand
o a águ
a vem, p
ara onde o
lixo vai?

J “Depois do programa sou outra pessoa, a


aqueline queria participar do Pro-
grama Meu Ambiente. Ela ficou Meio ambiente e interdisciplinaridade em sala de aula
sabendo de sua existência no Festival vontade de transformar o olhar dos educandos
Além da língua portuguesa, Jaqueline entrelaçou conhecimentos sobre a
da Mata Atlântica, atividade promovida para o nosso ambiente é intensa.” região em outras matérias
pela Secretaria de Meio Ambiente de Ber-
• Geografia: vegetação da serra e do mangue
tioga. Desde então, começou a idealizar
um projeto que incluísse uma vivência na Jaqueline lecionava. Ela se inscreveu e
• Ciências: poluição e contaminação da água
natureza com seus alunos. Trocou dicas e foi contemplada. • Matemática: resolução de problemas, incluindo temática ambiental,
informações com os gestores do Programa “Desde que comecei a lecionar em como a supressão de mata ocorrida em Bertioga
Meu Ambiente, elaborou seu projeto, e Bertioga, senti a necessidade de des-
levou ao diretor da escola. O diretor apro- pertar o amor e o cuidado pelo
vou sua ideia de visitar uma nosso bioma”, conta a pro-
floresta com as crianças e fessora. Ao olhar pelas adotado para as turmas do 5º ano tinha plásticas… E para onde vai o lixo quando
ela conversou com todos janelas do prédio da como tema a Mata Atlântica. Não poderia a água sobe?
sobre as questões envol- escola, localizada no ser melhor! Era um apoio para Jaqueline Pensando em como melhorar essas
vidas, inclusive sobre bairro Chácara Vista trabalhar diversos temas e questões coe- questões, as crianças passaram a olhar
como viabilizar a ação. Linda, ela perguntava rentes com seu projeto de reconhecimento para o próprio lixo, aquele que descar-
Tudo estava sendo aos alunos qual era da região em que moravam. tavam em casa. Começaram a observar
organizado, quando o nome da serra que Assim, Jaqueline passou a andar com quanto lixo havia e como poderia ser clas-
aconteceu o inespe- podiam ver. Ninguém a meninada pelo bairro para ver o que sificado e separado. Sem coleta seletiva
rado: o Programa Meu sabia a resposta e isso havia ao redor. Algumas questões chama- no bairro, alguns pais começaram a levar
Ambiente foi imple- era perturbador, e tam- ram a atenção: a invasão do mangue foi o lixo separado para o bairro Riviera de
mentado no município bém instigante. uma delas. Embaixo das casas de madei- São Lourenço, a cerca de 7 km da escola.
de Bertioga, abran- Naquele ano, o li­­ rite, a cerca de três metros do chão, havia Ao irem à praia, as crianças começa-
gendo a escola em que vro de língua portuguesa garrafas, fraldas descartáveis, sacolinhas ram a levar alguns sacos plásticos para
34 35
A in
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dade c e cui dar
om o amb s e j o d
iente desperta encanto e de

de cuidar. Algumas crianças não eram de


“Quando minha inscrição para o Meu Ambiente Bertioga e, ao conhecer melhor o local,
foi aprovada, realizei todo o projeto com passaram a valorizar o território. Com para todos desligarem o mundo digital
muita felicidade.” o tema “Conhecendo para respeitar”, a e ligarem os radares na natureza. No
observação do bairro foi se expandindo dia, faltou apenas uma aluna porque
para a observação do mundo. ficou doente.
recolher não apenas o próprio lixo, mas Assim, assistiram a reportagens sobre Jaqueline conta que na volta da
também o lixo largado sem dono. “Eu a poluição nos principais rios do Brasil: vivência havia uma chuva de perguntas e
vi a mudança de comportamento deles. como já haviam sido limpos e como esta- ideias sobre como poderiam descrever o
Antes, não tinham a preocupação de onde vam nos dias atuais, sobre a Mata sentimento gerado pela proximidade da
descartariam os resíduos”, Atlântica e sua vulnerabilidade floresta. Fizeram cartazes sobre a ação
conta Jaqueline. diante do avanço do desma- destrutiva do homem na natureza e deixa-
Começando pelo que tamento e do aquecimento ram expostos na sala de aula, produziram
estava mais próximo, Ja­ global, entre outros temas. textos sobre conservação e respeito ao
queline tinha como obje- Depois das reportagens, ambiente, e terminaram com a produção
tivo que as crianças per- faziam rodas de conversa de um vídeo falando sobre a vivência. O
cebessem sua relação com para troca de informações vídeo foi postado em redes sociais e apre- Jaqueline sentiu como especial a
o ambiente ao redor: o e impressões. sentado para toda a comunidade escolar. mudança de um de seus alunos após a
Rio Itapanhaú, o mangue, Em uma reunião com vivência na natureza, demonstrando envol-
a Serra do Mar, a Mata os pais, Jaqueline conver- vimento, concentração e interesse inéditos:
Atlântica, as moradias, a sou sobre a vivência que “Não sei se é porque eu amo muito essa cidade “a transformação desse garoto foi maravi-
produção e descarte do ocorreria na natureza. A ou respeito a natureza, mas eu incorporei o lhosa, a participação dele na conclusão do
lixo. E que essa intimi- visita não seria simples projeto foi intensa.” Ter acesso à natureza
dade com o ambiente des- passeio, mas parte dos
Meu Ambiente, eu respirava o programa, só de fora pode ajudar a encontrar a natu-
pertasse encanto e o desejo estudos e uma oportunidade sabia falar disso.” reza de dentro.
36 37
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Caixas ganham asas

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Escola Municipal de Ensino Infantil e

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Ensino Fundamental José de
Oliveira Santos – Bertioga

“O m
Educador: Marcelo Oliveira

“A vivência na natureza foi maravilhosa!


Lembro de uma criança falando pra mim dos
diferentes tons de verde que a gente tinha
comentado em sala de aula. O olhar para os
detalhes foi mágico. Todos eles vão carregar
esse dia no coração para o resto da vida.”
38 39
O Meu
Ambi
ente
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nte: se
expande
e se multiplica
a cada ano

“E
u e alguns outros professores já independentes. Uma das atividades que formatos certos: corpo e asas ganharam
estávamos preocupados com o Marcelo desenvolveu com as crianças por contorno. Enquanto isso, a pesquisa sobre
descarte de embalagens dos ali- lá foi o mapa auditivo. as cores e o canto das aves continuava
mentos que vinham para a escola”, conta Um desafio do mapa auditivo era entre as crianças.
Marcelo. “Eu estava juntando as caixas praticar o silêncio. “Foi interessante ver Então, cada criança ganhou dois kits
de banana, por exemplo, e aí ficou uma as crianças tentando ficar quietas. Uma com asas e corpo de madeira. As famílias
dúvida: o que fazer com esse material?” não podia falar enquanto a outra estava
Foi no primeiro encontro do Meu tentando achar um pássaro no seu mapa
Ambiente que veio a ideia de reaprovei- auditivo. Depois que todo mundo termi-
tar as embalagens para confeccionar brin- nava, elas se arriscavam: Era bem-te-vi, era O mapa auditivo e seus objetivos
quedos para o dia das crianças. Como as guacho, era canário?”, conta o professor.
Vamos brincar de mapa auditivo?
crianças estavam bem encantadas com Em sala de aula, o trabalho com as aves
os pássaros, suas cores e cantos, surgiu foi ganhando asas. Cada criança escolheu Cada criança recebe uma folha sulfite com alguns círculos desenhados.
a ideia: usar as caixas de banana para uma espécie e ela própria encarnava o A criança está representada no centro da folha. De olhos fechados e
construir pássaros de madeira. A EMEIF pássaro ao se descrever: em silêncio, ela escuta os sons da mata: o vento nas folhas, a água do
José de Oliveira Santos fica ao lado do — Eu tenho peito vermelho e minhas rio, os pingos da chuva, os insetos e os pássaros. Ah, os pássaros! Tenta
Sesc Bertioga, também reserva natural, asas são pretas. perceber, por exemplo, se o pássaro cantou à sua frente, atrás, à direita
que pode ser alcançada a pé. Na escola Brincando, foram pesquisando e se ou à esquerda e marca a localização com um x na folha de papel. Pelas
há diversas árvores que são visitadas com familiarizando com diversas espécies da características do canto, ela tenta adivinhar qual é a ave.
frequência pelas aves. região, unindo ciências e língua portu-
Objetivos
Alguns professores haviam se progra- guesa nessa busca das singularidades de
mado a fazer, ao longo do ano, algumas cada pássaro. Partiram, então, para o Concentração, percepção e distinção de sons, reconhecimento das aves,
visitas ao Sesc, combinando a programa- trabalho de reaproveitamento das caixas sentir-se parte do ambiente, entregar-se e encantar-se com a natureza,
ção disponibilizada aos conteúdos curri- de banana. Marcelo pediu ajuda e alguns perceber com os ouvidos o que não se vê com os olhos.
culares ou mesmo realizando atividades pais vieram para cortar as caixas nos
40 41
las ”
m e
“Foi muito fácil trazer as crianças para a Outros projetos ganhariam ainda “O c
éu br ad ei co
ideia da conservação da natureza, da visão corpo naquele ano. A vivência na natu- ilhou
, o ven io e eu n
do homem enquanto interdependente da
reza foi impactante. “Foi uma semana
de chuva, nosso passeio foi adiado por
to acalmou, as crianças entraram no r
natureza porque a proposta apresentada para os queda de árvores, a expectativa cresceu e
no dia em que nós fomos, tudo mudou, o
professores, a metodologia e toda a estrutura céu brilhou, o vento acalmou, as crianças
(do Meu Ambiente) foi encantadora.” puderam entrar no rio, eu nadei com elas. escola. Em sistema de rodízio, sempre O tema é sempre atual. Aqui na escola,
Foi um dia de encanto, como se elas tives- duas crianças ficavam incumbidas de estamos sempre trazendo esse tema à tona
sem entrado num outro mundo, num outro serem as vigilantes do desperdício durante com um novo viés ou novo enfoque.”
também participaram, ajudando a lixar universo. Naquele dia, a Terra girou mais as refeições. Elas usavam coletes especiais
as peças, que depois ganharam as cores devagar”, conta Marcelo. para a função, faziam um trabalho de veri-
do pássaro escolhido e previamente pes- As crianças voltaram da vivência aten- ficação de sobras, e conversavam com as
quisado. Cada criança pintou dois pássa- tas com a natureza e preocupadas com a outras crianças sobre evitar o desperdício. Caixas com asas
ros: um deles ficou com ela e o outro ela produção e o desperdício de alimentos. Em uma competição, a sala que produ- “Um dos objetivos do projeto
deu de presente para um colega de outra A horta da escola foi revitalizada e cres- zisse menos resíduos ganharia. “Antes, as foi fazer com que a criança
sala de aula. ceu, teve salada de frutas com a participa- crianças menores faziam pratos grandes e
tivesse a noção da importância
Trazer os pais e familiares para parti- ção de todos e Marcelo ajudou com sua descartavam. A partir desse trabalho redu-
de cuidar da natureza para
cipar do Programa e do cotidiano escolar turma na execução do projeto Vigilante do ziu-se consideravelmente o desperdício de
cuidar de si própria. Reutilizamos
foi muito enriquecedor. O Desperdício, que incentivava a alimentos na escola”, conta Marcelo.
as embalagens dos alimentos
aprendizado tornou-se consumir conscientemente Outro projeto desenvolvido pela turma
que vieram para a escola,
mais significativo e as os alimentos e cuidar dos do Marcelo foi o Cuidar da Ciclovia, que
aprendemos a doar o fruto
ações mais participati- restos e sobras. é muito usada na região e constantemente
vas e eficientes. A cola- Com o princípio está suja com lixo. “Mais tarde o Sesc
do nosso trabalho para outras
boração dos pais nos de que “comida não arborizou também o trajeto da ciclovia e crianças e pesquisamos pássaros
processos escolares é lixo” e não deve ser foi bacana”, conta. Para Marcelo, a par- da Mata Atlântica e sua
faz a criança sentir-se descartada, o projeto ticipação no Meu Ambiente não tem fim. dificuldade em sobreviver com
valorizada e incenti- se mostrou muito efi- Cada professor participante busca multi- a invasão do homem no espaço
vada. A comunidade ciente nas mudanças plicar os conhecimentos na sua unidade deles. Esse foi o foco do trabalho
escolar ganha força e de consumo dos ali- escolar. “Esse projeto não se fecha, ele de modo geral.” Marcelo Oliveira
novas ideias. mentos ser vidos na se expande e se multiplica a cada ano.
42 43
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o G u a r at u b a a b r a ç a
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Escola Municipal de Ensino Infantil
e Ensino Fundamental José Carlos

Ali, o
Buzinaro – Bertioga
Educadora: Mônica Martinez

“A partir do que é despertado na gente,


enquanto professor, a gente trabalha o ano
inteiro voltando o olhar para a questão
natural. Só dá certo para as crianças se
tocar o coração do professor.”

44 45
Percu
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n tre a ca
sa e a escol
a mora um mundo

Q
uero-quero faz ninho lá perto do observações, o despertar dos sentidos foi
campinho de futebol. E a meni- ganhando corpo entre as crianças e virou
Caminhada com propósito
nada que se cuide! Se invadirem tema da classe. O objetivo da educa-
o gramado do pássaro, lá vem rasante! • Aguçar os sentidos dora era sensibilizar as crianças para
Quero-quero, tucano, a mata, a meni- • Perceber os desafios e conhecerem a riqueza do seu entorno,
nada e o Rio Guaratuba encontrando potenciais do entorno plantando o desejo de conservar.
o mar… Isso tudo cabe em Guaratuba, • Refletir sobre os impactos da Essas observações levaram a ati-
Ber tioga, onde fica a EMEIF José “nossa pegada” vidades bastante significativas, como
Carlos Buzinaro. o registro escrito. Na sala de aula,
Para despertar os sentidos das crian- foi colocada uma cartolina e algu-
ças para toda essa riqueza, Mônica mas vezes por semana as crianças
lançou um desafio. As crianças deve- a atenção: os tons de verde das árvores, escreviam lá o que haviam obser-
riam obser var algo uma joaninha pelo cami- vado de novo. Às vezes, acontecia de
que nunca haviam nho, o canto de um alguém escrever uma palavra errada e um
notado no seu per- pássaro diferente. colega colaborava com uma correção, tor- na chegada, às 7h30. Depois novamente
curso de casa até O comentário nando o processo de alfabetização mais às 10 horas, e outra vez, ao meio-dia.
a escola, mesmo de um aluno agu- significativo e conectado com o cotidiano Registraram em desenhos e ficaram impres-
que percorressem çava a curiosidade das crianças. sionadas com a possibilidade da leitura
todos os dias o dos outros e, no Além da língua portuguesa, outras das horas por meio da observação do Sol.
mesmo trajeto. dia seguinte, tra- disciplinas entraram na roda das obser- Esse olhar chamou a geografia para
Ao chegarem ziam observações vações. A matemática das horas apa- falarem mais sobre o nascer e o pôr do
à escola, nasciam novinhas em folha, receu no quintal da escola, quando as sol e os pontos cardeais. Nessa aula, con-
os diversos rela- em árvore, em rio, e crianças começaram a observar a sombra versaram também sobre a vivência que
tos e registros do as ideias iam fermen- que as árvores faziam. Por alguns dias fariam na floresta. Qual seria a distân-
que havia chamado tando. Partindo dessas foram, então, visitar essa sombra logo cia? Onde ficava? O assunto se expandiu
46 47
Uma convers
a sobre a natureza puxa outra
Reg
istr
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rito: rio
observaç e, em
ões novinhas em folha, em árvor
para uma exploração do globo terrestre
com um pouco de som para animar a pes- Mais que registros
quisa. A música escolhida foi Ora bolas,
• Aprimoramento da escrita
do Palavra Cantada.
• Trabalho coletivo
“Onde está a cidade?
• Ampliação do olhar a partir Mônica diz que aprimorou
Tá do lado da floresta! de observação cotidiana sua prática pedagógica
Onde está a floresta? • Multidisciplinaridade/ com o Meu Ambiente
A floresta é no Brasil! interdisciplinaridade
“Todas as ciências nasceram
Onde está o Brasil? da natureza e às vezes a gente
Tá na América do Sul, monta um planejamento e
no continente americano, não faz nenhuma referência
cercado de oceano e puderam ver a pegada da anta – traz uma à natureza. Por exemplo, se
das terras mais distantes leitura nova de pertencimento e comunhão. eu vou elaborar um problema
de todo o planeta. No Parque, as crianças puderam ver árvo-
de matemática, eu posso falar
E como é o planeta? res e insetos que também veem nos arre-
sobre o tamanho das árvores
O planeta é uma bola, dores da escola.
ou sobre o tempo de gestação
que rebola lá no céu.” “Uma coisa é a criança chegar na a ser utilizadas com mais cuidado e, em
dos animais da nossa floresta.
escola e ouvir que não pode desperdi- vez de começarem cada dia de aula numa
Então, eu estou trabalhando
A visita ao Parque trouxe a proximi- çar papel e outra coisa é ela sentir isso”, nova página, eles passaram a pular ape-
ciências, matemática e falando
dade com a linguagem da floresta. “A fala Mônica. Ao longo do ano, as crian- nas duas linhas. O cuidado com a água
da nossa Mata Atlântica. Se
vivência na natureza traz a verdade que ças foram sentindo e, no final, isso já se também pôde ser notado entre as crianças
as crianças costumam ler nos livros”, diz percebia na lata de lixo da sala de aula: na hora de lavar as mãos. “A mudança
vamos falar do abecedário, o A
Mônica. Em Guaratuba, a floresta faz parte mais vazia. As folhas das atividades eram de comportamento acontece devagar, é de anta, o L é de lontra, e o
do cotidiano de todos, mas reconhecer no reaproveitadas: leste, oeste, frente e verso. mas uma discussão sobre a natureza puxa Q é de quero-quero.”
chão a pegada de um animal – no Parque Também as folhas dos cadernos passaram outra”, garante Mônica.
48 49
abrigar a natureza
Ler a natureza

e sentidos para
caixa d
Escola Municipal de Ensino Infantil e
Ensino Fundamental José de Oliveira

U ma
Santos – Bertioga
Educadora: Renata Graziela de
Chechi Pereira Lanza

“As mudanças nos alunos foram acontecendo


durante todo o processo, pois começaram a
refletir sobre a importância de cuidar do lugar
onde vivem e mais, iniciaram mudanças em
casa, tais como redução do lixo, cuidados com
a Mata Atlântica que resta pela cidade e com os
animais que temos aqui.”
50 51
Etern
os aprend
izes de passagem por este mundo

Q “A sensação de pertencimento é importante


uando Renata contou para sua • Entender o conceito de biodiversidade,
turma de 1º ano que fariam uma • Pesquisar nomes de espécies de ani-
vivência na floresta, o ânimo foi mais e de plantas do bioma, no 1º ano: saber que esse é um lugar deles,
grande. Passaram a pesquisar sobre a • Ampliar o vocabulário, que eles podem cuidar e preservar. No sentido
Mata Atlântica, bioma presente onde estu- • Refletir sobre o sistema alfabético
davam e moravam e também bioma da de escrita,
comportamental: poder sair sem os pais,
floresta que visitariam. • Incentivar a leitura, conversar com outras pessoas, conhecer a
Entre os objetivos que Renata queria • Visitar textos instrucionais. Mata Atlântica.”
alcançar com as crianças estavam: Antes da visita à floresta e para
• Conhecer a Mata Atlântica e reconhe- colocar fermento no ânimo e curiosi-
cer-se como parte dela, dade das crianças, Renata propôs várias ser alcançado a pé, onde todos fariam
uma trilha com um biólogo especializado
em aves e conheceriam espécies e ani-
mais. No ano em que participou do Meu
Ações para despertar a curiosidade Ambiente, Renata lecionava na mesma
atividades. Algumas delas já fariam parte escola que Marcelo Oliveira.
• Leituras com o tema Mata Atlântica: Poeminhas da Terra, Márcia Leite;
da programação do ano, organizada Ao fazerem a trilha no Sesc, as crian-
Novos Brasileirinhos, Lalau e Laura Beatriz; Mata Atlântica, Rubens
pela Secretaria de Educação de Bertioga, ças pegaram gravetos, folhas e sementes.
Matuck; Natureza Maluca, Edgard Bittencourt; Jacaré do Papo Amarelo,
como a visita ao Viveiro de Plantas “Seo Com a coleta, construíram na escola uma
Rosana Rios; A Biodiversidade no Parque das Neblinas, Sibélia Zanon Léo”, onde as crianças conheceriam abe- caixa de sentidos, em que era possível mer-
• Pesquisa sobre pássaros da região lhas nativas, a flora do bioma e explora- gulhar mãos curiosas e adivinhar o que
• Coleta de galhos, folhas secas e sementes riam por mapas o território de Bertioga. havia por ali. “Eles puderam sentir a natu-
• Visita ao Sesc Bertioga Outras atividades foram pensadas para reza com os dedos”, conta Renata. Assim,
• Visita ao Viveiro de Plantas “Seo Léo” reconhecer os arredores da escola, como a trabalharam os cinco sentidos em ciências:
visita ao Sesc Bertioga, vizinho que podia olharam as belezas da trilha e sentiram o
52 53
Briga
d e i ro
de cam
“O que mais chamou minha atenção em relação buci, te q
u e ro a q u i !
receita de brigadeiro de cambuci. Para
aos alunos foi o olhar… de alegria, curiosidade, que todos pudessem provar, precisaram
Receita de Brigadeiro
medo, prazer, desejo, liberdade, conhecimento… de Cambuci dobrar a receita e, assim, a matemática
A vivência de novos desafios, um mundo além Ingredientes
foi entrando na culinária.
Como trabalho de fechamento, cons-
das telas do celular e do tablet… Entendendo a alimentos novos… Tudo isso tocou forte as 1 lata de leite condensado truíram um jogo gigante: Trilha do Parque
natureza como parte de si mesmo.” crianças e virou prosa animada na volta 1 colher de manteiga das Neblinas. As crianças desenharam e
de ônibus. 2 cambucis formularam as regras de cada cartela e
Muitas habilidades ligadas ao com- Coco ralado para enrolar Renata ajudou como escriba. O jogo tinha
cheiro da mata, escutaram pássaros, toca- portamento leitor seriam ainda trabalhadas dois dados gigantes e as crianças se orga-
Modo de fazer
ram folhas e sementes. Mais tarde viria o naquele 1º ano. Segundo a Base Nacional nizavam num grupo de quatro para jogar:
paladar, com os brigadeiros de cambuci! Comum Curricular (BNCC), as propostas Bater os ingredientes no duas na trilha e duas lançando os dados.
Quando chegou o dia da vivência pedagógicas para os 1º e 2º anos do liquidificador. Levar ao fogo até Na medida em que iam avançando, elas
na floresta, que ocorreu no Parque das Ensino Fundamental devem propiciar que a apurar. Esperar esfriar, enrolar e tiravam uma carta do jogo e liam as ins-
Neblinas, as crianças estavam cheias de criança produza, em colaboração com os passar no coco ralado. truções. E a leitura de natureza só tinha a
expectativas sobre o que veriam. colegas e com a ajuda do professor, lis- crescer na turma, cada dia mais afinada.
Sabiam que se tratava do tas, avisos, convites, receitas,
mesmo bioma e que a flo- instruções de montagem,
resta que visitariam traria legendas para álbuns,
surpresas por estar numa fotos ou ilustrações, entre As vivências na natureza proporcionam
região de altitude ele- outros textos do campo da aprendizados importantes
vada, no alto da Serra do vida cotidiana.
• Conteúdos conceituais: aprender sobre a biodiversidade e, estando
Mar, apresentando pecu- Assim, durante as
na mata, unir os aprendizados teóricos à vivência concreta
liaridades em relação à diversas atividades do ano,
• Conteúdos procedimentais: observar e fazer anotações sobre a
diversidade e estatura da os textos foram destaque.
natureza, sentir o cheiro e a texturas das folhas, subir numa árvore,
vegetação. Subiram em Os alunos elaboraram a
árvores, reconheceram lista dos animais da Mata
saborear alimentos locais
pegadas de animais, Atlântica numa produção • Conteúdos atitudinais: amar e respeitar as plantas, os animais, os
deitaram sobre a ponte individual e em cartaz cole- outros e a si próprio
do rio, experimentaram tivo. Elaboraram também a
54 55
ória
rio Itatinga ficou na mem
Uma trilha para
chamar de sua

grande do
Escola Municipal Sérgio Hugo

A água
Pinheiro – Mogi das Cruzes
Educadora: Cecília Díaz Olmos

“Por meio da atividade lúdica, colocamos as


informações sobre o tema Mata Atlântica, o
bioma onde eles vivem.”

56 57
Marsup
ial:
nut
rir a
cria
na bo
lsa e gan
Silen har a simpatia da meninada
ciar para
não espantar a bicharada

N “Há muitas pesquisas bem fundamentadas que


a roda de conversa, Cecília per- semirrural. Alguns pais criam galinhas e as
guntou para os alunos do 1º ano crianças conhecem animais que aparecem
o que eles achavam que era a eventualmente pelo quintal, como gambás afirmam que, para melhores resultados na
Mata Atlântica, como ela era e o que fazia e até cobras. aprendizagem, a experiência aparece como tão
parte deste bioma. Partindo do questiona- Além da bicharada, tema recorrente
mento, as crianças arriscaram respostas nas conversas foram as maneiras de con-
importante quanto o conhecimento.”
e também desenharam suas hipóteses. servar. Juntos, chegaram à conclusão de Rita Mendonça
“Foi interessante o levantamento das pri- que muitas coisas que usavam tinham sua
meiras impressões das crianças. origem na floresta, como
Nos desenhos apareceu, por o papel. Dessa obser- não espantá-los. Mas como não exclamar
exemplo, uma girafa”, vação, a turma sentiu- quando aparecia uma borboleta diferente? Desvendar a Mata Atlântica
conta a educadora. -se incentivada a fazer E um beija-flor? E uma bromélia vermelhi-
Como os bichos todo o processo de nha que só? Assim, de espanto em espanto,
• Levantamento de hipóteses
foram recorrentes no reciclagem de papel. usufruíram cada esquina do dia no Parque.
com as crianças sobre
discurso e nos dese- Assim foi… até a utili- Gostaram especialmente de encontrar as o bioma
nhos das crianças, a zação das folhas pron- pegadas da anta, mas também da água • Pesquisa de animais e plantas
professora traçou como tas, onde cada um pôde grande do Rio Itatinga. E ficou a vontade do bioma na biblioteca
objetivo investigar mais desenhar seu bicho prefe- de ver mais bichos: o bugio, por exemplo, • Roda de conversa sobre os
a fundo os animais rido da Mata Atlântica. que guincha com vontade. bichos da região: o gambá é
da Mata Atlântica. Quando chegou o De volta à escola, essa vontade um marsupial
Grande parte das dia da vivência na natu- levou a turma a pesquisar na biblioteca e • A floresta no nosso cotidiano:
crianças mora em reza, as crianças tinham conhecer algumas espécies mais a fundo. papel que vem da árvore
casas ou sítios, expectativas de ver a Descobriram, por exemplo, que o gambá • Trazer a floresta para dentro
numa região que bicharada. Sabiam que o é um marsupial, da mesma classe dos can- da escola em um jogo gigante
pode ser considerada silêncio era importante para gurus, e nutre sua cria em uma bolsa após
58 59
Trazer a floresta para dentr
o da escol
a num jo
go gigan
te

“A expressão lúdica tem a capacidade de unir o


conhecimento e o sonho.”
Paulo de Tarso Cheida Ians Jogo Trilha Gigante
Objetivo
Conhecer fauna e flora da Mata Atlântica
ciências, nas diversas pesquisas sobre os
Peças
elementos eleitos da Mata Atlântica que
apareceriam nas cartelas; língua portu-
23 cartelas ilustradas com elementos do bioma e 1 dado gigante
guesa, ao ler os textos. Propiciou também Sugestão para confecção
um avanço nas relações interpessoais. A professora imprimiu bem grande parte da imagem da cartela e as
Com o jogo pronto, o ânimo foi geral, a crianças completaram o desenho com lápis de cor e giz de cera
classe jogou com outras turmas da escola. Estratégia de jogo
o nascimento. O bichinho ganhou a simpa- Quatro anos depois de participar do Meu Cada cartela traz uma curiosidade, o bioma e um comando (avance
tia da meninada. Ambiente, o jogo ainda é usado por ou volte). A curiosidade pode ser um texto sobre a jaguatirica ou um
Enquanto eles se entretinham com várias crianças. desafio para que o jogador adivinhe o som da araponga, por exemplo.
mais descobertas, Cecília encontrava num Ao longo do ano Cecília notou, pela Se a cartela contar notícia ruim sobre poluição ou descarte inadequado
livro a imagem de um jogo em forma de fala dos pais, que as crianças levavam de lixo, a criança precisa regredir alguns passos na brincadeira. Eita!
trilha e, assim, nascia a ideia da Trilha as novidades para casa. Por criarem gali- Como jogar
Gigante, uma trilha lúdica, que poderia ser nhas, alguns pais não gostam nadinha dos Algumas crianças percorrem a trilha enquanto outras comandam o jogo.
percorrida pelas crianças. A ideia lançada gambás, que têm um apreço especial por Tocam o som do bicho quando a cartela pede, leem as informações
na classe agradou bastante e a diversão ovos. Assim, se os gambás antes eram mor- sobre as plantas ou animais
começou com a construção coletiva do tos quando apareciam no quintal, agora Dicas
jogo: animais e plantas fariam parte das a meninada não deixa mais. Também as • O jogo construído coletivamente com as crianças teve a temática
cartelas e as crianças desenharam e pin- cobras, as crianças pedem para chamar Mata Atlântica, mas ele pode ser construído com diversos temas
taram os elementos escolhidos. os bombeiros em vez de matar. E assim, • As crianças usam pantufas para pisar no jogo. Assim, ele dura anos
O jogo propiciou trabalhar artes, passo a passo, a trilha da vida vai ficando e pode ser usado por diversas turmas
nas pinturas dos animais e plantas; mais verde.
60 61
as
deu as
da represa e a professora
E a escola se
transformou em floresta

s cantavam lá
As voze
Escola Municipal Sérgio Hugo Pinheiro –
Mogi das Cruzes
Educadora: Débora Ferraz

“Todo ano eu trabalho o Meu Ambiente com as


minhas turmas. Busco despertar o olhar deles
para o que tem no entorno. Que mata é essa? O
que mais tem ao redor da escola? Quais cuidados
podemos ter com os animais e com a natureza?
Tento passar isso para eles. Os pais até falam:
‘agora ele vê uma formiga e não deixa matar’.”
62 63
Desper
tar os
sentid Desenhar e
os das cr
ianças e d pintar os alados,
escobrir tamanhos deixando o voo livre
, cores e texturas

D
istante 12 quilômetros do centro Não se sabe se foram as vozes que de conversa em que valorizadas e compar-
de Taiaçupeba, a Escola Municipal cantavam lá da represa ou se foi o jeito de Débora falou sobre a tilhadas em rodas de
Sérgio Hugo Pinheiro tem trilha a professora dar asas, mas quando Débora visita ao Parque das conversa. Sempre que
sonora. A Represa Taiaçupeba banha a e seus alunos do Infantil 4 participaram Neblinas, próximo à encontravam uma pena,
vizinhança e chama a passarada a cantar. do Programa Meu Ambiente, as crianças escola, nos municípios vinham correndo mostrar
As crianças escutam. A professora também. escolheram os pássaros como tema para de Mogi das Cruzes e para a turma e a partir
Débora se lembra que, quando pesquisar. A escolha se deu numa roda Bertioga. Descobriram, daí, exploravam vários
criança, seu avô caçava passarinhos para ali na prosa, que tanto aspectos: textura, cor,
comer. José Cardoso dos Santos não caça o entorno da escola tamanho, elaborando
mais faz muito tempo. Ele e seus amigos como o Parque esta- uma hipótese sobre a
perceberam que os pássaros estavam Como objetivos, a professora vam dentro de áreas espécie da ave.
diminuindo e que, se não parassem com tinha em mente de Mata Atlântica e Em sala de aula, diver-
a caça, eles poderiam acabar. fizeram uma lista de coi- sas atividades antecederam a
• Proporcionar observação e
sas que eles imaginavam visita ao Parque. Em língua por-
contato das crianças com as
que poderiam ver na floresta. tuguesa, praticaram leituras e a escrita
aves da Mata Atlântica
Na lista, estavam as aves que foram esco- dos nomes das aves com letras móveis. Em
• Identificar e reconhecer algumas
lhidas em votação como tema preferido ciências, investigaram a vida e caracterís-
aves da Mata Atlântica
para estudo e aprofundamento. Débora ticas dos pássaros, compararam aves a
• Trabalhar a importância da
voou por dentro. outras classes de animais, refletiram sobre
conservação dos pássaros e, A partir da escolha do tema, pare- as relações entre aves e florestas. Em artes,
consequentemente, da floresta cia que os sentidos das crianças foram desenharam e pintaram os alados, carim-
• Perceber as relações entre despertados e a todo momento estavam bos dos pés das crianças se transforma-
floresta e aves (por exemplo, a atentas ao canto, às cores, ao tamanho ram em pássaros artísticos e carimbos das
dispersão de sementes) das aves que observavam em casa ou no mãos fizeram as vezes das folhas de uma
entorno da escola. As observações eram grande árvore coletiva. Também o senhor
64 65
Ali n inte iras
ascia l i a s
m certe famí
zas capazes de mudar o conceito de

acostumados ao cativeiro sobrevivem elaboraram um painel coletivo sobre os


“As crianças tiveram uma visão diferente da quando soltos repentinamente? Será que pássaros que habitam o Parque e usaram
floresta. Foi mais difícil ver e ouvir os pássaros, eles sabem voar? Como eles conseguiriam nele todas as cores que gostariam de ver
mas a chuva trouxe diferentes aromas e sons.” a comida? O que vale mais: um pássaro nas aves da mata. O painel rendeu um
preso ou um pássaro na árvore? A expe- gráfico de cores, feito com os potinhos de
riência foi forte para todos e ali nasciam tinta, para mostrar qual tinha sido a cor
José, que de caçador não tem mais nada, certezas capazes de mudar o conceito de mais querida da classe. Ali, trabalharam
apareceu em vídeo para mostrar diferentes famílias inteiras. conteúdos de matemática, como a noção
apitos com pios de aves. No dia especial da visita ao Parque de quantidade, a composição e interpreta-
Pelas pesquisas e observação cons- das Neblinas, a mata não cantou muito ção do gráfico. e outros professores, elaboraram dentro
tante, as diferentes características e can- pássaros. Ela estava ocupada cantando Ao longo daquele ano, Débora cons- da sala o Jogo Trilha Gigante e todos os
tos dos pássaros começaram a ser apre- chuva. Mas a chuva não é empecilho, truiu o blog asasdamata.blogspot.com. alunos, vendados e descalços, puderam
ciados de forma intensa pelos alunos. Em ela é parte da vida. E que parte mais Lá, registrou as atividades realizadas com desvendar um pouquinho da floresta.
uma roda de conversa, as crianças linda! Então, a programação a turma. No ano seguinte, a professora Hoje, a meninada já está mais cres-
descobriram que o avô de um não mudou e todos segui- pôde participar do projeto com uma nova cida, mas Débora continua em contato com
menino da turma tinha ram com suas capas. turma de crianças. E de tanto escutá-la eles. E o assunto sempre volta…
pássaros em gaiola. “As crianças tiveram falar sobre o Meu Ambiente, outros profes- — Como foi legal aquele dia, né pro-
As crianças ficaram uma visão diferente da sores também participaram do Programa fessora? – Diz Davi quando passa pela
desesperadas e floresta. Foi mais difícil e puderam realizar atividades em con- Débora na escola. Entrar no rio limpo, o
queriam soltá- ver e ouvir os pássaros, junto na escola. “Fizemos uma sala sen- contato com a natureza, a gastronomia
-los. Débora tra- mas a chuva trouxe sorial para todas as crianças visitarem e caprichada com sabores da floresta,
balhou diversas diferentes aromas e poderem sentir um pouquinho da floresta: silenciar no meio da trilha para escutar,
questões com as sons”, conta Débora. galhos, folhas, raízes suspensas, som apreciar, sentir a natureza de fora e a de
crianças. Será Depois da visita ambiente, garoa feita com borrifador de dentro… experiências que não são esque-
que os pássaros ao Parque, as crianças água…” Com a participação dos alunos cidas facilmente.
66 67
icar
ementes tinha de frutif
E a escola brotou

a intensa de s
A colet
Escola Municipal Rural Eunice de
Almeida – Mogi das Cruzes
Educadora: Rosemeire Aparecida de
Sousa Cardoso

Um viveiro para reflorestar: “Queríamos ter


alimento para os animais e contar com eles como
ajudantes nesse reflorestamento. Os pássaros, por
exemplo, ajudariam a dispersar sementes.”

68 69
Reflor
estar com aça
a ajuda dos pássaros tem outra gr

A
coleta de sementes era intensa… A Escola Municipal Rural Eunice de palmeira-juçara. Com barbante e madei-
um viveiro ia nascer. Tudo come- Almeida fica no bairro São Sebastião e ras, as crianças delimitaram espaço e mon-
çou com uma conversa sobre tem apenas duas classes de alunos. Por se taram um viveiro embaixo do pé de mimo
a Mata Atlântica e a futura vivência na tratar de um número pequeno de crianças, (conhecido também como hibisco). Nome
natureza. Além de participar do Meu muitos projetos são feitos em parceria com melhor de árvore para abrigar a semen-
Ambiente, Rosemeire fazia naquele ano as duas salas de aula. No ano em que teira não tinha.
um curso sobre recursos hídricos e, numa Rosemeire participou do Meu Ambiente, a O projeto do viveiro foi além daquele
conversa com a classe multisseriada de 3º professora que dava aulas na outra turma ano letivo. As mudas ganharam plaqui-
e 4º anos, chegaram à conclusão de que da escola era a Vanessa Dias, que também nhas, identificando as espécies. Pitangas
para se ter água é preciso ter floresta. Foi já havia participado do Meu Ambiente e palmeiras-juçara se desenvolviam bem.
assim que a turma lançou a ideia: “vamos com os alunos da Escola Municipal Luiz No decorrer do crescimento foi preciso
plantar árvores!” Só que ninguém tinha de Oliveira Machado. As duas professoras trocar as mudas de recipiente. Juntaram Vegetação de valor
árvores. E agora? eram bastante parceiras no desejo de ver sacos de arroz e fizeram os transplantes:
A mata ciliar é a vegetação que
a escola brotar. um aluno maior junto com dois menores,
se localiza nas proximidades
A partir da constatação de que do Infantil, faziam o transplante da muda.
de cursos d’água: rios, lagos,
precisavam de árvores, as crianças Depois de mais alguns meses, as plantas
nascentes, represas e reservas
fizeram uma pesquisa sobre a flora crescidas já tinham força para sair do
hídricas. Ela contribui com
nativa e, então, começou o movi- viveiro e ganhar o mundão. Assim, os
mento: crianças e comunidade esco- alunos plantaram as mudas nas margens
a quantidade e a qualidade
lar abriram os olhos para tudo o que da represa, perto da escola, fortalecendo da água disponível. Ao reter
era semente. Traziam sementes dos a mata ciliar. sedimentos e poluentes, evita
próprios quintais e dos caminhos Rosemeire conta que o objetivo do a poluição das águas. Protege
por onde passavam, a professora viveiro era reflorestar. “Queríamos ter ali- também o solo da erosão,
fez parcerias com conhecidos e mento para os animais e contar com eles evitando o assoreamento.
o Ecofuturo doou sementes de como ajudantes nesse reflorestamento. Os
70 71
Torta d
e espina
fre: da horta
para a mesa!
Composteira: essa horta
vai vingar!
Ao fazer o viveiro e plantar pássaros, por exemplo, ajudariam a dis- a separação, que foi se tornando algo bem
algumas mudas doadas, as persar sementes.” natural entre eles. Como na área rural não
crianças notaram que nem Enquanto o viveiro crescia, muitas há coleta seletiva, Rosemeire e Vanessa pas-
todas vingavam. Por que será? outras iniciativas vingavam: saram a levar o lixo reciclável com o próprio
• Aprofundamento sobre a Mata Atlân- carro até Taiaçupeba, para uma família que
Conversaram sobre o enigma,
tica e felinos na aula de ciências, separa e vende os materiais. A iniciativa
pesquisaram tipos de solo, e
• Atividades de língua portuguesa permanece até hoje e as mudas plantadas
chegaram à conclusão de que
com a temática dos animais da na escola e arredores continuam chamando
uma forma de enriquecer o solo
Mata Atlântica, os pássaros para o trabalho de semear.
para dar mais força às plantas
• Plantio de mudas doadas no terreno
seria fazer uma composteira. E
da escola,
assim foi! • Elaboração de composteira,
A merendeira passou a separar • Cultivo de horta com mudas e composto Objetivos
restos de frutas, cascas de orgânico doados pela comunidade,
legumes e verduras e outras • Conhecer para preservar
• Aproveitamento das iguarias colhidas
sobras da cozinha e as • Explorar a Mata Atlântica
na horta em atividade de culinária:
crianças pegavam essas sobras, e seus componentes: fauna,
torta de espinafre e torta de escarola
picavam em pedaços menores flora, rios e solo
e colocavam na composteira.
com frango!
• Apropriar-se do meio em que “Entendem-se por educação ambiental não
E foi ao estudar em geografia os desa-
Depois de um tempo, o material fios do lixo, os aterros, e as formas corretas vive, percebendo-o como vital formal as ações e práticas educativas voltadas à
orgânico passou a ser usado de descarte que as crianças tiveram a ideia e de responsabilidade de todos sensibilização da coletividade sobre as questões
numa horta, que rendeu • Descobrir que pequenas ações
alimentos para a merenda e
de implementar a separação de resíduos
fazem toda a diferença ambientais e à sua organização e participação
na escola. Duas latas foram colocadas em
também alimentos que foram cada sala de aula e, tratando-se de turmas • Tornar-se um cuidador na defesa da qualidade do meio ambiente.”
usados em atividade culinária. multisseriadas, os alunos mais antigos aju- do ambiente Política Nacional de Educação
davam os mais novos no compromisso com Ambiental (PNEA)
72 73
o?
ian

d
coti
vação do
scuta ativa a partir da obser
Música da natureza

citar a e
Escola Municipal Cecília de Souza
Lima Vianna – Mogi das Cruzes

o exer
Educadora: Solange Aparecida

Com
Gonzales Bassini

“Vi a oportunidade de fazer um trabalho


que contemplasse os sons de uma maneira
aliada à beleza, à educação, à preservação
nossa e do lugar, aos costumes. Um
trabalho que pudesse ligar a formação deles
à comunidade em que moram.”
74 75
Nada m
ais afin
ado do que
fazer coro com as
voz es da natureza
“A música é, em primeiro lugar, uma
contribuição para o alargamento da
consciência e para a modificação do

Q
ue música a natureza canta aí um grupo de tucanos que era mais fre- diversos: elementos da natureza como
na sua casa? E na sua escola? quente na escola.” A figura dos tucanos se sementes e conchas, papéis de vários tipos,
homem e da sociedade.”
Partindo desses sons, a arte- fez, então, bastante presente e cada grupo chaves, chocalhos, tubos de conduíte, cha- Hans-Joachim Koellreutter
-educadora Solange conversou com as tur- foi escolhendo uma técnica: desenho, tinta pas de raio X e outros.
mas do 1º ao 5º ano, nas quais leciona ou bordado. Os pais contribuíram com Com as experimentações e os sentidos
artes visuais e coral. A ideia era que as materiais e assim seguiram, uns ajudando afinados, professora e alunos elegeram a
duas aulas semanais em cada turma pudes- os outros na elaboração dos pássaros. música Passaredo, de Chico Buarque, para Unir música e meio ambiente
sem fazer coro com as vozes da natureza. Na aula de coral, todos começaram trabalharem com maior profundidade.
• Apreciar sons do ambiente e
“Vi a oportunidade de fazer um tra- a exercitar a escuta ativa: que sons fazem Usando a música como tema, colocaram
anotar: barulhos, sons musicais,
balho que contemplasse os sons de uma parte do nosso cotidiano? Na EM Cecília a criatividade para funcionar, ampliaram
sons da natureza, a respiração,
maneira aliada à beleza, à educação, à de Souza Lima Vianna tem uma amoreira, conhecimentos e habilidades artísticas.
as vozes, o som da mordida
preservação nossa e do lugar, aos cos- que vive chamando os passarinhos. Assim, O objetivo era apresentar o trabalho na
na maçã
tumes. Um trabalho que tucano, pica-pau e sabiá-laranjeira foram Semana Cultural, evento anual que envolve
• Escutar os sons dos pássaros e
pudesse ligar a forma- incluídos nas aulas. a escola inteira.
reconhecer os pios da região
ção deles à comu- Depois de exerci- O fechamento das atividades do ano
nidade em que tarem a escuta ativa, ocorreu na Semana Cultural, conforme pla-
• Brincar de imitar os sons dos
moram”, conta passaram a outras nejado. Todos os alunos da escola e os pais pássaros, o som do vento
Solange. Nas explorações sono- vieram apreciar a exposição. Lá, foi mon- • Criar paisagem sonora usando
aulas de artes, ras: expressão cor- tado um varal com os trabalhos de desenho, o próprio corpo e materiais
a professora poral e rítmica livre, pintura e bordado. E a música Passaredo ao redor
propôs dese- experimentação de ganhou novos acordes e cores com a meni- • Descobrir músicas que falam
nhos com a temá- sons com o próprio nada do coral. Coreografia, figurino e sobre a natureza, pesquisar
tica pássaros. “Alguns corpo e boca, cria- maquiagem misturaram elementos da flora fauna e flora que aparecem nas
alunos pesquisaram sobre ção de paisagem e dos alados. A música fez tanto sucesso músicas, tocar, encenar e cantar
as espécies, mas tínhamos sonora usando materiais que foi também apresentada na Escola
76 77
lora povoando as músicas qu
auna e a f e amam
rb ir a f os
Desco Apreciar
o som da mordida na maçã

“Gosto de trabalhar com a beleza das formas


e dos sons, dos ritmos sonoros que temos no “Some, coleiro
canto dos pássaros, suas cores e variedades.” Anda, trigueiro
Te esconde, colibri
Voa, macuco
Ambiental de Mogi das Cruzes, em uma Voa, viúva “Todos os trabalhos que realizo com estas
Utiariti
palestra para diretores de escolas da rede crianças me deixam feliz porque penso na
municipal. “Às vezes, penso que o traba- Bico calado
lho não está pronto, não está perfeito, mas beleza, na leveza, na harmonia do conjunto,
Toma cuidado
quando acontece uma apresentação é uma Que o homem vem aí” na complexidade. A colaboração de cada um, a
surpresa para os expectadores. Acho que é
isso: a beleza das crianças e da natureza é Chico Buarque, Passaredo
doação de cada elemento do grupo, cada som de
sempre inesperada”, conta Solange. pássaro, cada voz, cada pessoa.”

E, assim, o dia de vivência na floresta que existe na natureza e a beleza de cada


Atividades com a música Passaredo trouxe belezas inesperadas também: a ser, cada inseto, a teia molhada com gotí-
paisagem de cores vivas, a água limpa do culas”, diz Solange. “Vemos e tentamos
• Elaboração de arranjo musical, com uso do pau de chuva, tambor,
rio, a vegetação abundante, uma ponte chamar a atenção para que outros tam-
chocalhos, pios e outros
sobre o rio, a caminhada de observação bém vejam e cuidem e respeitem uns aos
• Pesquisa sobre os pássaros que fazem parte da letra da música e o almoço com alimentos da região. outros e à natureza.” Assim, quem sabe
• Criação de movimentos coreográficos e expressão corporal para a canção “Precisamos de momentos de contempla- um dia, a música Passaredo não precise
• Elaboração de figurinos e maquiagem ção, pois é um enriquecimento espiritual mais alertar os pássaros sobre a chegada
ouvir, ver a água, as plantas, o equilíbrio do homem.
78 79
rtas
co b e

es
as d
de nov
ploração de espaços: certeza
Brincar com terra

campo e ex
Escola Municipal Luiz de Oliveira
Machado – Mogi das Cruzes
Educadora: Vanessa Adelina Dias

isas de
Pesqu
“Nós fazemos parte do meio ambiente. Tudo o
que está fora reflete dentro de nós. A água que
está fora também está dentro do nosso corpo.
Então, cuidarmos da água que está fora interfere
diretamente nas nossas vidas. E o solo? Quanto
do solo também tem no nosso corpo? Quando
fazemos um exame de sangue, vemos ferro,
cálcio… um monte de minerais. O ser humano
não está desconectado do meio ambiente.”
80 81
Serrapilheir
a que nutre a terra e faz brotar

F “A apreciação da paisagem sonora, do


azer arte com tinta ou massinha é terra encontrados ao redor da escola.
uma festa. E pensar na segurança dos Exploraram vários espaços: o pátio, o
materiais usados em sala de aula é cheiro, do gosto gera uma transformação parquinho, o bosque. Nas pesquisas de
tarefa constante na Educação Infantil. A dentro da gente.” campo, descobriram diferenças: havia a
tinta não pode ir para os olhos e a massi- terra seca e soltinha que ficava embaixo
nha, com cheiro gostoso, não pode ir para do gira-gira, e a terra úmida e escura que
a boca. Vanessa sempre havia conversado muito grande”, conta Vanessa. Todos os ficava embaixo das árvores do bosque.
com as crianças sobre essas regras e che- dias ela se desloca por 30 minutos até Botaram as mãos nas terras e brincaram,
gou a mostrar um vídeo explicativo sobre o bairro Barroso, em Mogi das Cruzes, sentindo texturas, temperaturas, umidade
a tinta com seus elementos quími- onde leciona em duas esco-
cos e os cuidados necessários las. Uma delas é a Escola
durante o uso. Municipal Luiz de
No ano em que parti- Oliveira Machado, Tintas naturais
cipou do Meu Ambiente, onde é professora na Partindo do apreço das crianças pelas tintas, Vanessa criou tintas
a professora estava com Educação Infantil. A naturais com a turma do Infantil 3 e 4, passando por diversas etapas
uma classe multisseriada escola fica do lado • Explorar os diferentes tipos de terra encontrados ao redor da escola:
de Infantil, com crianças de um bosque e pelo observar, tocar e brincar com a terra
de 4 e 5 anos, e teve von- alambrado do pátio dá • Roda de conversa sobre as diferenças: terra sequinha e solta x terra
tade de explorar a terra para ver a área verde. úmida e cheia de nutrientes
como matéria natural Para criar a tinta
• Coletar amostras de diferentes terras
para criar tinta, ele- natural, Vanessa des-
• Criar tintas com as diferentes amostras
mento que as crianças per tou o interesse
• Pintura em cartolina ao ar livre com as tintas elaboradas
tanto gostam. das crianças, convi-
“Trabalhar numa dando-as a observar Dica: Apostila Intuitiva de Pigmentos Naturais, de Jhon Bermond
área rural é um privilégio os diferentes tipos de
82 83
Brinca
r com a
terra: expre
ssão da essência

“Fomos, durante muito tempo, embalados com


e cores. Descobriram uma parte de chão, seca avermelhada no barranco. De volta Vamos brincar com terra?
em que a terra se misturava a pedrinhas. à escola, exploraram as texturas e fizeram
a história de que somos a humanidade e nos
“Brincar com terra é uma
Conversaram sobre a terra do bosque, que novas tintas. alienamos desse organismo de que somos parte, experiência fundamental para
tinha a serrapilheira, rica em matéria orgâ- A experiência levou a uma nova a Terra, passando a pensar que ele é uma coisa que a alma se recorde de
nica e nutrientes. pergunta: que outros elementos naturais quem somos: Terra. Para que
Depois dessas primeiras experimen- poderiam virar tinta? Pesquisaram sobre e nós, outra: a Terra e a humanidade. Eu não
resgatemos nossa identidade
tações, coletaram amostras das diferen- pigmentos naturais e fizeram tintas com percebo que exista algo que não seja natureza. e tenhamos uma compreensão
tes terras e elaboraram tintas que beterraba, açafrão e couve. Quantas cores Tudo é natureza. O cosmos é natureza.” profunda da nossa existência.
se transformaram em arte. da natureza! Assim, as tin- Já pensou na origem da palavra
Na área externa da escola, tas abriram caminho para Ailton Krenak
humano? Ela vem de humus,
embaixo das árvores, usa- novas pesquisas, como terra fértil. É o que somos.
ram as tintas naturais aconteceu com a mas- Brincar com a natureza,
para fazer pinturas na sinha industrializada, Vanessa conta que antes do Meu
brincar com a terra é uma
cartolina. O experi- outro elemento muito Ambiente trabalhava as questões naturais
experiência fundamental para
mento não parou por apreciado no cotidiano do lado de dentro da sala de aula: apre-
que o humano se expresse
aí. Durante a vivência dos pequenos. Do sentava vídeos, trazia materiais impressos,
verdadeiramente por meio
na natureza (ou) visita que é feita a massi- buscava nas apostilas. “Eu podia explorar
de nós. Privar as crianças do
à floresta, coletaram nha? Existe alguma o ambiente ao redor, mas eu estava presa
contato com a terra é bloquear
amostras de diferen- massinha natural? dentro da sala. Eu não tinha esse olhar
tes tipos de solo: terra Chegaram, assim, à despertado”, diz. Agora, o ambiente natu-
a expressão de sua essência, é
rica em compostos argila e, com as mãos ral transformou-se em espaço educador e romper os vínculos com
orgânicos na trilha, solo na massa, modelaram Vanessa não perde uma chance de olhar sua ancestralidade.”
arenoso na margem do e depois pintaram as a vida acontecendo ao vivo e de colocar Ana Carolina Thomé e Rita Mendonça,
rio, pedras de diferentes obras de arte com as a mão na massa. A meninada segue junto, Blog Ser Criança é Natural
formatos dentro do rio e terra tintas naturais. feliz, a tatear novidades.
84 85
Deixar voar é uma arte
Plantar transformações
Escola Municipal Professora Edna Leite
Lima – Suzano
Educadoras: Kerollen Fernandes Martins e
Milena de Jesus Ribeiro

“Normalmente, enquanto professores,


focamos nas atividades e nos conteúdos.
Hoje, percebo o território e a natureza como
potências educadoras, o que torna mais
significativa e prazerosa a aprendizagem para
as crianças e para nós mesmos.”
Kerollen Fernandes Martins
86 87
A joan
inha g
e ro u u m c i
clo de descobertas

A
horta plantada pelas trouxeram o tema joaninha portuguesa num trabalho transversal. Com
crianças no terreno para o centro das atividades a canetinha, as crianças registravam todos
da escola tornou- desenvolvidas. Em parceria os dias no calendário quantas joaninhas
-se espaço de observa- com a gestão escolar, pro- estavam em cada estágio: ovo, larva, pupa
ção intensa. Cada classe videnciaram para a escola e adulto.
tinha seu dia de cuidados. dois kits com larvas de joa- Assim, puderam verificar quantos dias criança chacoalhava a casa das joani-
Quando iam regar, leva- ninhas vermelhas de ver- levava cada estágio. Perceberam, ainda, nhas, as outras intervinham, pedindo mais
vam junto um saco para dade para serem obser- que havia uma variação entre as joani- cuidado. A escola toda estava envolvida
recolher lixos que apare- vadas, criadas, e depois nhas, elas mudavam de ciclo em dias dife- no projeto e no aprendizado da vida.
cessem pelo caminho. soltas na natureza. O kit rentes. Cada uma no seu tempo. Lidaram Cada joaninha que se tornava adulta
Nos finais de semana, um tinha um habitáculo de com o fato de que algumas morreram sem era solta pelas crianças na horta: deixar
vizinho da escola ajudava criação, uma lupa, um completar os ciclos todos. Quando alguma voar era uma arte. E soltar as joaninhas
a aguar. O jeitão escabe- jogo de perguntas e respos- na horta fazia todo o sentido porque elas
lado da rúcula, o rabanete tas e comida específica para tinham um papel fundamental: comer os
que crescia para baixo, algu- as joaninhas. pulgões. Saber que as joaninhas viveriam
Transversalidade
mas mudas que não vingavam… tudo era Diversas atividades com a temática cerca de seis meses após chegarem à fase
percebido e era motivo de levantamento de da joaninha entraram em cena. Nas aulas na educação adulta também foi uma descoberta impor-
hipóteses e prosa. E os insetos visitantes? de música e língua portuguesa, joaninhas Ação pedagógica que integra os tante. Quanto dura seis meses?
Ah, os insetos! Entre eles, havia um que apareceram em letras de música, poemas conteúdos escolares tradicionais Enquanto as joaninhas evoluíam, as
era o queridinho das crianças: a joaninha! e na leitura de livros como A joaninha que (matemática, língua portuguesa, crianças observaram também outros bichos
Um dia ela pousou na mão de uma perdeu as pintinhas, de Ducarmo Paes. história, geografia, ciências) que apareciam na horta, como as minho-
aluna e a meninada toda queria decifrar Para o trabalho com o kit, professo- aos conteúdos cotidianos da cas. Em ciências, estudaram o ciclo de
os mistérios do bichinho. Foi partindo ras e crianças elaboraram um calendário vida (meio ambiente, ética, vida de diversos deles. Ao pesquisarem
desse interesse que Kerollen e Milena, de registro do ciclo de vida da joaninha, diversidade, sentimentos). nos livros, os ovos dos sapos foram os que
professoras de duas turmas do 1º ano, que uniu matemática, ciências e língua fizeram mais sucesso.
88 89
“As crian ature za”
ças têm o direito a essas experiência s co m a n
“Infelizmente ainda há a visão de que os aulas e gerou uma maquete, em que as
crianças mapearam os locais queimados
alunos não podem se sujar ou ter um contato e as áreas preservadas da floresta.
direto com a natureza e nós, professores, “Um dia cheguei cedo na escola e a
reproduzimos esses hábitos. O Meu Ambiente merendeira comentou: você sabia que isso

contribuiu muito para a minha forma de


é um ipê?”, conta Milena. Como estavam A questão foi compartilhada com “É pequeno, é singelo, é simples, mas foi
trabalhando a Mata Atlântica e aquela os pais, e as professoras escutaram a
trabalhar com recursos naturais.” árvore fazia parte do cotidiano das crian- comunidade. Uma associação de bairro
muito eficaz. É disso que o mundo precisa,
ças, incluiu uma pesquisa sobre os dife- já lutava para que fosse feita a limpeza desse olhar, dessa sensibilidade de se dispor a
Milena de Jesus Ribeiro
rentes tipos de ipê e suas cores. Depois, as do terreno. Ao levarem juntos a demanda servir para que a gente transforme o que precisa
crianças fizeram desenhos e pinturas na para a Prefeitura, conseguiram que o lixo
Também a alface, a rúcula e o raba- aula de artes. fosse retirado. Muitos caminhões de lixo ser transformado.”
nete cresciam. E a partir das observações Assim, a horta foi crescendo junto com foram embora. Junto a uma ONG, Cintia Cintia Souza
sobre questões concretas, nasciam novas as crianças e seus ipês, numa jornada que conseguiu a doação de mudas da Mata
pesquisas. Notaram, por exemplo, o cresci- desenvolveu os conteúdos de forma trans- Atlântica para plantarem no terreno.
mento do rabanete: ele crescia para baixo, versal, com muito significado e voo. Comunidade e vizinhos se ocuparam do tem alguém cuidando, o olhar da comu-
dentro da terra! Observação que intrigou Junto com o crescimento das crian- plantio e cuidados e as crianças nidade e de todos é outro”,
algumas crianças e levou a turma a pes- ças, crescia também o sentimento de per- acompanhavam e ajudavam afirma Cintia. Enquanto
quisar o assunto. E não é que o rabanete tencimento. A participação no Programa a regar as mudas. Uma as mudas, ainda peque-
apareceu, inclusive, numa encenação do Meu Ambiente não ficou restrita às duas ação puxava a outra. nas, eram adotadas
corpo docente de boas-vindas aos alunos educadoras e seus alunos. Houve grande Dessas experiências, por todos e cresciam, as
na volta das férias? A história encenada envolvimento da comunidade. Partindo da surgiam novas pesquisas crianças plantaram giras-
foi O grande rabanete, de Tatiana Belinky. observação do entorno da escola durante sobre as plantas, sobre sóis para enfeitar o espaço
As crianças se envolveram e ajudaram a caminhadas, as crianças traziam curiosi- o descarte do lixo, sobre mais rápido. Depois, a
puxar o rabanete imaginário gigante das dades sobre insetos e bichos, mas tam- seres vivos e tantas outras Prefeitura fez a calçada ao
profundezas do palco escolar. bém indignação. Cintia Patrício Olímpio vivências significativas. redor do terreno. As plan-
“Não éramos nós que levávamos os Souza, diretora da escola naquele ano, “Não foi difícil articu- tas continuam sendo cuida-
temas, eram as crianças que traziam. Um conta que um aspecto que chamou muita lar um plano de ação das ainda hoje! Ninguém
dia viram no jornal sobre a queimada na atenção de todos foi a quantidade de porque um lugar que tem coragem e nem von-
Amazônia”, conta Kerollen. A conversa lixo encontrada, principalmente num é cuidado dificilmente tade de jogar lixo lá, não. O
sobre o assunto virou pesquisa, ocupou terreno baldio. será desrespeitado. Se terreno tem cor e cheiro de flor.
90 91
esp ertou um desejo
is d

i ma
os an
tação d
ia das árvores para a alimen
Vai dar fruta nessa escola

mportânc
Escola Municipal Engenheiro Isaías

ber a i
Martinelli Gama – Suzano
Educadora: Michelle Nunes

Perce
Duraes Nogueira

“Eu sempre fui muito ligada ao meio ambiente,


mas eu não deixava as crianças se sujarem. A
partir desse projeto passei a ter um olhar mais
leve. A criança é parte da natureza, então ela pode
brincar, sim. Ela pode e ela tem que se sujar. Então
acho que esse foi o grande marco que dividiu a
minha carreira. Antes e depois do projeto.”
92 93
Conhec
er o entorn rian ças
o da escola im pactou as c

M
ichelle convidou as crianças do “Fui criada numa chácara, brincava na
Contágio do bem
1º ano a fazerem um passeio terra, subia em árvore, tomava banho em
pelo bairro para reconhecimento O entusiasmo de Michelle ao
do entorno. A Escola Municipal Engenheiro
rio, rolava em barrancos… brincava com
participar do Meu Ambiente foi
Isaías Martinelli Gama, em Suzano, fica elementos naturais.” transformador. Sua construção
em região rica de Mata Atlântica e pró- coletiva com os alunos e
xima à represa Taiaçupeba. “O passeio comunidade escolar teve poder
impactou as crianças. Eles observaram Ganharam mudas do Programa Meu multiplicador. Não apenas
tanto a reserva de Mata Atlântica quanto Ambiente e plantaram dentro do terreno os alunos participaram do
a represa. Mas, viram também que tinha da escola. “A escola tem bastante espaço, Programa, mas os colegas
muito lixo e árvores cortadas”, conta não pode construir no terreno inteiro por- também se sentiram convidados
a professora. Michelle levou para os alunos áudios que fica em área de preservação ambien-
e sensibilizados. No ano
Numa roda de conversa, trocando do canto das aves e, com o tempo, eles tal e de proteção de mananciais”, conta
seguinte, fizeram questão de
impressões sobre o que tinham visto e escutavam a passarinhada cantando pela Michelle. As árvores, plantadas em 2018,
ingressar no Programa, dando
sentido, Michelle deu autonomia para as escola e já sabiam identificar qual era estão firmes e fortes, crescendo junto com
origem ao projeto Cuidando do
crianças decidirem que tema seria apro- a espécie. as crianças. Mas outras ideias ainda iriam
que é nosso. “Foi contagiante!
fundado e notou o grande interesse pelas — Olha professora, é um sabiá! frutificar por ali…
Em 2018 participei do Programa
aves, que frequentam em abundância a No dia da vivência na natureza, visi- Depois da participação do Meu
e em 2019 todo mundo da
represa Taiaçupeba. A professora usou a taram uma floresta e fizeram diversas ati- Ambiente, Michelle mudou algumas per-
Aprendizagem Baseada em Projetos (ABP), vidades. Ao verem as palmeiras-juçara e cepções. “Descobri que a criança só vai
escola foi participar. Abraçamos
que prioriza as vivências práticas, levando o cambuci na trilha, as crianças percebe- cuidar daquilo que ama, e ela só vai amar a ideia e pensamos juntos o que
a maior participação dos alunos durante o ram a importância das árvores como fonte a natureza se ela se sentir parte.” Antes, podíamos fazer para melhorar a
processo de aprendizado. Todos estavam de alimento para os animais e decidiram: a professora não deixava as crianças se nossa escola. Foi encantador”,
muito interessados em estudar as diferentes queriam ter mais frutíferas na escola! O sujarem de terra e não incentivava brinca- conta a educadora.
aves, seus hábitos e o seu canto. objetivo? Atrair os alados! deiras com recursos naturais. “Hoje, faço
94 95
Mais d
o que
Palm as fr
e ira-j utas
uçara que
e cambu
ci, cham um
dia s o ol har
a um passar n ov
inho aqui! erão colhi
das, já frutificou um

Interdisciplinaridade: o voo permeando os estudos


O tema aves apareceu em atividades de diversas disciplinas:
• Em ciências: as diferenças entre os pássaros, seu habitat natural, a
coloração das penas e o canto. Debates sobre o contrabando de aves
“A possibilidade de mexer na terra, colher e seu aprisionamento em gaiolas
gravetos e de se sujar foi libertador, você via • Em língua portuguesa: cartaz com fotos das aves da região e seus
a alegria e empolgação nos olhinhos deles. Eu nomes. Registro diário das descobertas sobre as aves. Cada dia uma
criança tomava a frente da função. Todos tiveram seu dia de escriba
senti que aquilo conectou as crianças com a
natureza, trouxe alegria. É isso mesmo, você só
vai cuidar daquilo que você ama.”
Artes e natureza
mais atividades ao ar livre, dando tempo às crianças novamente uma vivência mar-
Uma das atividades feitas na aula de artes foi a composição de
no final para as crianças explorarem o cante na natureza. Escolheu um parque
paisagens com a colagem de elementos naturais. A natureza descartou?
ambiente e brincarem com o que quise- com entrada gratuita e com monitores. E
Então podemos usar esse presente!
rem”, conta. lá seguiu a turma do 2º ano.
No ano seguinte à participação no Mais do que as frutas que serão colhi-
• Coleta de gravetos, pedras, sementes, flores caídas
Meu Ambiente, a vivência na floresta con- das um dia no terreno da escola, já fruti- • Objetivo: despertar a criatividade e liberdade de expressão
tinuava viva dentro das crianças e da pro- ficou um novo olhar nas crianças e comu- • Interdisciplinaridade: os elementos trazidos não serviam só para a
fessora. Mesmo sem participar oficialmente nidade escolar. Várias mudanças foram atividade artística, mas eram apreciados coletivamente. Folha, galho,
do projeto naquele ano, Michelle usou a implementadas na escola em 2019 com o flor? Qual a sua importância na natureza? Ciências sempre a postos
mesma metodologia e conseguiu propiciar projeto Cuidando do que é nosso.
96 97
u”

ce
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nar que ac
ria bem bonita de imagi
Manifestantes da poesia

a histó
Escola Municipal Ângela Martins de
Oliveira – Suzano

“É um
Educadora: Patrícia Árias

“Saímos completos de uma maratona de projetos


e de realizações mesmo. Fazia tempo que eu não
via crianças assim felizes por terem realizado
coisas com as próprias mãos e sonhado coisas
diferentes. Desculpa, estou chorando. É uma
história bem bonita de imaginar que aconteceu.”
98 99
A ro d
a de l
eitur
a prov
ocou r
eflexão próprio coração – cadência que surpreen-
, t ro c a e t o
mada de decisões deu algumas das crianças.
O movimento foi se expandindo. Com
o objetivo principal de introduzir na rotina
dos alunos conteúdos socioambientais,
Patrícia buscou aguçar a curiosidade das

P
atrícia sentia já desde um tempo a “Na escola pública a gente lida, às vezes, com crianças. Semanalmente a turma exerci-
prática pedagógica um tanto acostu- tava a escuta e o olhar no pátio externo
mada. Pensava em mudar de área: a falta. Mas com o projeto eu descobri que da escola. Buscavam conhecer as espé-
quem sabe a contabilidade? Ela sentia não é falta porque a nossa escola é localizada cies da flora e da fauna ao redor. Também
algumas carências em relação aos mate- em ambiente rural. Então, a gente tem no assistiram a vídeos sobre a Mata Atlântica,
riais escolares disponíveis, pouco engaja- bioma onde estão inseridos, e vídeos sobre
mento dos alunos e suas famílias. Já tinha entorno tucanos, papagaios, gambás. Lidamos o Parque das Neblinas como preparo para
em seu cotidiano o hábito de chamar as com uma natureza muito diversa num espaço a visita futura.
crianças para o contato com a natureza, Assim, escolheram a Mata Atlântica correndo e gritando e espantou o pássaro.
era um privilégio tê-la tão perto da escola,
de cidade. Eu pude mostrar para as crianças que como tema para ser explorado. Para Era um tucano! As crianças ficaram bravas
mas nunca tinha experimentado a natureza as coisas estavam nas nossas mãos, que o fazer estudar o meio, as crianças perceberam com o colega e entenderam na prática o
com a ênfase e amplitude que viria a fazer. não precisa ser só tecnológico. A gente fala na prática que precisavam mudar o pró- exercício de observar”, conta Patrícia.
Começou com seus alunos a leitura prio comportamento. “Lembro do dia em Esse movimento de observação foi
da história Lúcia já vou indo, de Maria
de uma falta que às vezes representa o que vem que ouvimos um canto diferente. Fomos crescendo e ultrapassou os muros da
Heloísa Penteado. Quando iniciou sua sendo imposto. E a gente tem que retornar para andando até o pátio externo, mas uma escola. Todos os dias, as crianças chega-
participação no Meu Ambiente notou que um fazer mais primitivo. Existe um excesso da criança que estava no banheiro veio vam com novidades sobre sons de bichos,
o livro induzia as crianças à tomada de novas plantas e até a descoberta da Lua
consciência sobre o próprio ambiente e o folha, do papel, da xerox e do padrão. E essas no céu matinal. Partindo das observa-
próprio corpo. Na história, a lagarta Lúcia coisas acabam virando quantidade e não ções das crianças, a educadora introdu-
Despertar a curiosidade
tinha dificuldade em chegar a sua festa.
Então, durante a roda de leitura as crian-
qualidade de trabalho.” • Caminhada com propósito
zia reflexões sobre questões ambientais.
Para registrar as descobertas, os alunos
ças decidiram que iriam ajudá-la e senti- • Observação da fauna e flora escolheram fazer um “Diário do Mata
ram a necessidade de materializar isso em sobre os insetos e pararam para escutar • Aguçar a escuta Atlântica”, contando com a ajuda dos pais
uma encenação. Na preparação da peça, o colega. Ao exercitar a escuta descobri- • Vídeos sobre o bioma e familiares. “O essencial dessa pesquisa
trabalharam a escrita coletiva, pesquisaram ram outros sons: os pássaros, a batida do era interagir com as famílias, mostrando
100 101
brincando com a terra, a areia, a água, N in
guém
Registro das descobertas a lama, as pedras, e o direito de sentir os falto eriê ncia
• Diário da Mata Atlântica
gostos e os perfumes oferecidos pela natu- u às aulas.
Todos queriam conversar sobr e a exp
reza, foi lido também o direito à natureza
• Apoio dos pais e familiares
selvagem: Toda criança tem o direito de
• Leituras coletivas
construir uma cabana nos bosques, de ter
• Diálogos e reflexões
um arbusto onde se esconder e árvores nas
quais subir.
Após a leitura, a roda se envolveu
a importância da Mata Atlântica para a numa conversa acalorada, em que as Para eles era importante registrar de forma
“Eu sei que no final do ano essas crianças
nossa região”, conta Patrícia. crianças falaram com liberdade se eram correta e coerente porque aqueles mate-
Algumas crianças escreveram sobre a ou não contempladas naqueles direitos. riais eram produções de autoria deles que saíram muito emocionadas e eu também. A gente
fauna no Diário, outros escolheram a flora. Alguns expressaram que não podiam brin- seriam compartilhados com a comunidade se despediu com vontade de voltar logo, sabe ?”
Na sala de aula, compartilhavam as leitu- car no quintal porque os pais tinham medo escolar. Treinaram a leitura em voz alta e a
ras e dialogavam sobre as descobertas. que se machucassem, outros tinham receio entonação. Fixaram os direitos pela escola
Para integrar a realização do projeto aos de brincar e se sujar porque a mãe não para chamar a atenção dos funcionários, ninguém faltou às aulas. Todos queriam
conteúdos das disciplinas, Patrícia asso- gostava. Surgiu entre as crianças a ideia pais e crianças. No dia da apresentação, conversar sobre a experiência.
ciou o tema aos gêneros textuais, como de apresentar o texto aos outros alunos os alunos entregaram panfletos com os Educadora e alunos passaram a
texto informativo, bilhete, texto instrucio- da escola. direitos impressos. Enquanto um colega ser protagonistas da própria história:
nal, cartaz, poema. As crianças pratica- Produziram cartazes, ilustrando cada lia determinado direito, outro erguia o car- se apropriaram dos espaços da escola,
ram também a escrita coletiva. Durante as direito natural e relacionaram o movimento taz. Assim se fez uma mobilização para compreenderam melhor o próprio bioma,
práticas de observação na área externa que faziam internamente ao movimento conscientizar a comunidade escolar sobre experimentaram a escuta, a observação e
registraram em cartazes a lista de animais de protestos que já tinham visto nas ruas. o uso dos espaços partilhados com todos a comunicação de formas novas. O pro-
vistos ou pesquisados e as novidades de os benefícios naturais. cesso de aprendizagem aconteceu repleto
observação do dia. Com grande entusiasmo de todos che- de significado. Patrícia considera que o
Numa roda de leitura Patrícia apre- gou o dia da visita ao Parque das Neblinas. processo ativou energias positivas nas
sentou às crianças o texto Dez Direitos “Eu vinha de um processo muito difícil de Lá, a oportunidade de experimentar coisas crianças. “Eu posso dizer que o projeto
Naturais das Crianças, trazido pelo escri- começar a olhar para a educação e me perguntar: novas ampliou os conhecimentos da Mata colaborou com o crescimento delas? Sim.
tor Rubem Alves de um congresso, e com- Atlântica: a trilha, a cachoeira, observar Mas, em primeiro lugar ele trouxe uma luz
partilhado pelo Meu Ambiente com os o que eu estou fazendo aqui? Esse projeto veio a pegada da onça, a alimentação com a que eu precisava para transformar a minha
professores. Entre o direito de sujar-se, para me despertar de novo como professora.” preocupação gastronômica. Após a visita, prática de ensino.”
102 103
mento
te do rio e nascer maravilha
Nascente de ideias

a nascen
Escola Municipal Engenheiro Isaías
Martinelli Gama – Suzano

Olhar
Educador: Randal de Souza Alves

“Quando comecei a adentrar naquela mata e,


ao meu redor, só enxergava árvores e ouvia os
cantos dos pássaros e o barulho da água, já fui
ficando totalmente instigado e ansioso e, ao
mesmo tempo, maravilhado com tanta riqueza
que a natureza nos proporciona.”
104 105
Conhec
er a fam
ília das m “Gostei da leitura que fizemos dentro da
irtáceas e sa
borear o suco fresquinho do Cambuci floresta ouvindo os pássaros cantarem.”
Michel, 6 anos

N
as margens do Rio Una se reu- “É provável que uma criança ingresse na Parque. Para conseguir o cambuci,
niram alunos e professor. O rio Randal contou com a ajuda de uma
passa dentro do terreno da Escola
primeira série em uma escola ao lado de um professora, que tinha na casa do pai
Municipal Engenheiro Isaías Martinelli córrego poluído e saia de lá, ao cabo de alguns a fruta no pé. A escola se encheu
Gama e é testemunha de muita prosa. O anos, com o córrego ainda mais poluído. É de sabores. Outras turmas também
espaço ao ar livre é inspirador e ao iniciar visitariam o Parque das Neblinas
a conversa com a classe, Randal perguntou: bem provável que os seus professores atravessem pelo Programa Meu Ambiente
— O que é meio ambiente? décadas de aulas sem lançar um olhar sequer naquele ano e as crianças estavam
— É tudo isso que está em volta, as para além dos muros da escola… A Terra está imersas na expectativa.
árvores, o Sol, as nuvens, inclusive os pas- Com a mente na futura vivência na Chegando ao Parque, algumas crian-
sarinhos que estão cantando. Que maravi- doente porque nós estamos doentes.” natureza (ou) visita à floresta, Randal quis ças já anunciavam:
lha, né professor? – Respondeu uma aluna. José Pacheco despertar a curiosidade em relação aos — Olha, professor, o bico-de-papa-
Foi junto com o maravilhamento da animais que habitam a Mata Atlântica e gaio! – As crianças se referiam à helicônia
turma que Randal caminhou até uma das colocou registros dos sons dos bichos para bico-de-papagaio, que tinham visto no livro
nascentes do rio, ainda dentro da escola. a turma escutar. Foi grande o entusiasmo A Biodiversidade no Parque das Neblinas
— Professor, está saindo água Meio Ambiente de todos ao adivinhar as vozes da bicha- e agora viam ao vivo.
daquele buraco! “Conjunto de condições, leis, rada e o ânimo perdurou ao fazerem o Na visita, todos puderam reconhe-
Com essa frase de um dos alunos, influências e interações de ordem registro artístico dos animais na aula de cer plantas novas e se familiarizar com as
novas questões foram cutucadas e surgiram física, química e biológica, que artes e ao estudarem sobre suas caracte- partes das plantas, conteúdo que tinham
conversas sobre nascentes e a relação das permite, abriga e rege a vida em rísticas na aula de ciências. aprendido na aula de ciências. Ficaram
águas com a flora e a fauna. Daí nasceu todas as suas formas.” Ainda como preparo à visita, as maravilhados com a abundância da natu-
o projeto Cuidando do que é nosso, que Política Nacional do Meio Ambiente crianças manusearam publicações e assis- reza, a diversidade de árvores, animais, e
teve o nome escolhido por votação das (PNMA) brasileira, estabelecida pela tiram a vídeos sobre o Parque e provaram o Rio Itatinga.
crianças, com o propósito de conhecer e Lei 6938 de 1981. o suco de cambuci, fruta da família das Na volta, um dos alunos decretou:
valorizar o próprio entorno. mirtáceas que é abundante na região do — Foi o melhor passeio da minha vida!
106 107
Adiv
inhar
as vozes e
da bicharada e transformá-las em art

“Gostei da atividade de vendar os olhos e


só ouvirmos o barulho do rio.”
Vitória, 6 anos

O projeto Cuidando do
que é nosso trabalhou a
Para além do passeio, adentrar a reuniram na Escola Municipal Engenheiro
natureza com propósito e com a curiosi- Isaías Martinelli Gama para uma comemo- diversidade da fauna de
dade despertada por prosas, pesquisas e ração de encerramento do projeto! forma multidisciplinar
atividades é muito enriquecedor. A união, que aqueceu e fortaleceu o • Em ciências, estudaram as
No decorrer do ano e após a visita ao movimento, trouxe: características dos animais (anfíbios,
Parque, muita coisa mudou. Todos estavam • Exposição dos trabalhos realizados mamíferos, répteis, aves, peixes)
engajados em cuidar do prédio da escola pelos alunos ao longo do ano; • Em artes, desenharam os animais e fizeram composições com folhas,
e do ambiente mais próximo. Envolvidos no • Apresentações de diversas turmas: sementes e galhos secos
projeto Cuidando do que é nosso, alunos, música, poesia, jogral; • Em língua portuguesa, fizeram leituras e registraram os nomes da
funcionários e gestores pintaram o muro • Plantio de árvores.
bicharada com o alfabeto móvel
externo da escola de branco e depois as A comunidade escolar prestigiou o
cores do professor de artes Flávio Chagas evento. “Desde que fizemos a pintura do Objetivo
colocaram a bicharada do Parque das muro e a comunidade presenciou a dedica- • Observar, conhecer e cuidar do ambiente ao redor
Neblinas e da Mata Atlântica a embele- ção dos alunos não houve mais nenhuma
Conquistas
zar a fachada. Floreiras com pneus velhos pichação”, conta Randal.
foram pintadas, ganharam mudas, e revi- • A comunidade escolar promoveu a revitalização:
talizaram a parte externa da escola. pintura do muro da escola com animais da Mata Atlântica,
As diversas escolas de Suzano, parti- “Para darmos uma boa aula sobre a natureza é elaboração de floreiras feitas com pneus usados
cipantes do Meu Ambiente naquele ano, se preciso irmos ao encontro dela.”
108 109
tador
O espaço ao ar livre é liber
Abrir os portões
Escola Municipal de Ensino
Fundamental Ignez de Castro
Almeida Mayer – Suzano
Educadora: Rayssa Pereira da Silva

“Ao participar do Meu Ambiente, passei a


ouvir mais as crianças e permitir que elas
tomem as rédeas das escolhas. Passei a ser mais
coadjuvante no processo e tentar colocar em
prática as ideias delas.”
110 111
A l ém des
do li ida
xo, as pr ecios
crianças o s e o u tras
foram descobrindo gravet

H
avia um portão fechado no quintal “A vivência na natureza foi maravilhosa, começou a sonhar: dos lixos, as crianças
da EMEF Ignez de Castro Almeida o que poderíamos foram descobrindo
Mayer. Do lado de cá do portão
quase todas as crianças da turma conseguiram fazer nesse espaço? gravetos, folhas soltas
estavam as crianças, o prédio da escola, ir e, após o passeio, ficaram lembrando disso Cada um trazia uma e outras preciosidades
uma quadra, um pátio para as atividades até o final do ano.” ideia: brincar, ler deixadas pela natu-
de educação física, e mais um espaço embaixo da árvore, reza, que renderiam
apertadinho e quente, sem sombra de correr, subir nas árvo- atividades artísticas.
árvore para testemunhar história. Do lado não havia opções de locais para as crian- res… Rayssa propôs, Tudo era motivo
de lá do portão podia-se ver uma área ças fazerem outras atividades ao ar livre. então, que cuidas- para ir para o lado
em declive com gramado, árvores, aqui Um dia, Rayssa olhou com mais atenção sem juntos daquele de lá: atividade de
e ali papéis jogados pelo chão e bitucas para o lado de lá, escutou o silêncio e viu lugar. E assim come- artes, roda de con-
de cigarro, muitas delas. O a sombra das árvores. Ela falou, então, çaram. Todos os dias, versa e até a caixa de
espaço, proibido para com a direção da escola e a classe de 2º ano ia um livros da classe ia junto na
as crianças, servia perguntou se poderia usar pouco para o lado de lá. “Chegávamos e hora da leitura. A atenção das crianças em
de fumódromo para aquele espaço. Mas limpávamos um pouquinho, depois brin- relação à limpeza dos espaços escolares
os funcionários. havia um problema: cávamos um pouquinho também”, conta foi ficando mais aguçada. Elas chamavam
A sala de aula o espaço estava sujo. a educadora. a atenção das pessoas sobre não jogar
de Rayssa ficava Será que isso era Rayssa notou que o espaço ao ar livre lixo no chão. “A justificativa repetida cons-
perto do pátio e por mesmo problema? era libertador. Passou a ir para lá com as tantemente por elas era: porque estraga a
isso era constante- Logo, a profes- crianças no início do período escolar. natureza”, conta Rayssa.
mente impactada sora convidou as Depois, na sala de aula, as crianças pare- Além de abrir o portão para a área
pelos sons que crianças para espia- ciam ficar mais calmas e concentradas. Aos arborizada da escola, outros portões foram
vinham das crian- rem o lado de lá poucos, o espaço foi ficando mais limpinho sendo abertos ao longo daquele ano de
ças em atividade pelo portão e, em e aconchegante, sem os papéis largados participação no Programa Meu Ambiente.
física. Praticamente conjunto com elas, e as habituais bitucas de cigarro. E, além Para despertar o interesse das crianças,
112 113
Na h
ora
da l
eitu
ra, a
caixa
de livr
os passea
va até a sombra das árvores

sala que habitavam moradias de risco e a escola toda experimentou o lado de lá! “Durante aquele ano letivo, percebi a turma
estavam acostumadas a ter a casa ala- E, imaginem o que aconteceu? Começou
gada quando chovia. a haver disputa de horários para a utili-
mais unida e entrosada.”
Esse universo ligado à água foi cres- zação do local.
cendo na turma: a poluição, o desperdí- No final do ano, as crianças de toda a
cio, os alagamentos, o descarte do lixo nos escola apresentaram os trabalhos desenvol- Vida curiosa!
rios, água potável, moradias seguras, os vidos ao longo do ano para os colegas e Partir da experiência concreta das
estados e o ciclo da água. O tema estava os pais. O tema meio ambiente estava pre- crianças e trabalhar conteúdos:
Rayssa sugeriu que observassem as plan- também presente no livro didático e acabou sente nos diversos trabalhos, assim como
• A limpeza em conjunto da
tas que achavam pelo caminho diário até se transformando em jogo. Construíram no jogo temático da água. O 2º ano quis
área arborizada da escola
a escola. Não eram muitas. O bairro Boa em conjunto um tabuleiro e uma trilha. “As também apresentar uma música. “A minha
propiciou trabalhar os
Vista, em Suzano, é bastante urbanizado. crianças escolheram as situações do jogo. turma gostava de dançar”, conta Rayssa.
temas: lixo, descarte correto,
A pouca vegetação foi chamando outros Casos de desperdício, como lavar a cal- A música escolhida foi Filhote do filhote:
reciclagem, reaproveitamento
assuntos, que surgiam naturalmente, de çada com a mangueira ligada, obrigava
e a importância da mata e
acordo com os acontecimentos. o jogador a voltar casas”, conta Rayssa. “Cuida do jardim pra mim
A água foi um tema que impactou as Naquele ano, a escola toda estava Deixe a terra florescer
das árvores
crianças. Próximo à escola há um córrego conectada com o tema meio ambiente e Pensa no filhote do filhote
• O córrego poluído perto da
bastante sujo. O assunto lixo, reaprovei- no final do ano haveria uma exposição Que ainda vai nascer.” escola e as moradias de risco
tamento e descarte correto era assunto com os trabalhos realizados pelas crian- inspiraram estudos sobre a
recorrente desde que haviam começado ças. Até o mês de outubro, o 2º ano de Assim como na letra da música, água: poluição, desperdício,
a recuperar o espaço escolar. Algumas Rayssa frequentava o lado de lá pratica- naquele ano as crianças estavam preo- alagamento, descarte de
crianças tinham visto até sofá boiando no mente sozinho. Mas, para o dia das crian- cupadas em deixar a terra florescer. lixo em rios, água potável,
córrego, que já não tinha nenhuma vege- ças, a direção da escola prendeu entre Cuidaram da área arborizada da escola e moradias seguras, os estados
tação ao redor: de um lado a avenida e duas árvores o slackline, fita elástica para puderam abrir novos portões de percepção e o ciclo da água
do outro as moradias. Havia crianças da brincadeiras e exercícios de equilíbrio. Aí, sobre o ambiente ao redor.
114 115
Organizações e Iniciativas
Referências inspiracionais Instituto Alana • www.alana.org.br
Ser Criança é Natural • www.sercriancaenatural.com
Território do Brincar • www.territoriodobrincar.com.br
FNLIJ • www.fnlij.org.br
Instituto Romã • www.institutoroma.com.br
Programa Criança e Natureza • www.criancaenatureza.org.br

Livros
Atividades em Áreas Naturais • Instituto Ecofuturo
Baú de Histórias • Instituto Ecofuturo
Saber Cuidar • Instituto Ecofuturo
Vivências com a Natureza • Instituto Romã
Dedo Verde na Escola • Instituto 5 Elementos
Brincando e Aprendendo com a Natureza • Joseph Cornell
Última Criança na Natureza • Richard Louv
Desemparedamento da Escola • Instituto Alana
Criando Habitats na Escola Sustentável • Lucy Legan
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A árvore dos meus dois quintais A última árvore do mundo
Jonas Ribeiro Lalau e Laurabeatriz

As coisas importantes sempre existem Um dia, uma árvore se vê sozinha no


dentro e fora da gente. Jonas Ribeiro mundo. Mas nem por isso deixa de
conta a história de um menino e sua ami- seguir em frente com sua vida. Ela continua a dar frutos,
zade com uma árvore plantada no quintal de casa. Com flores e abrigo a todos que vivem em sua volta, com per-
narrativa poética, o texto convida o leitor a refletir sobre sistência e amor. Uma história poética e delicada, capaz
o carinho e o respeito presentes nesta relação. de encantar as crianças.

A flor do lado de lá Amoras


Roger Mello Emicida

Uma anta interessa-se por uma flor, Em seu primeiro livro infantil, Emicida
porém não consegue chegar até ela conta uma história cheia de simplici-
porque há muitos obstáculos. Faz vá- dade e poesia, que mostra a impor-
rias tentativas, sofre, chora por não conseguir chegar até tância de nos reconhecermos nos pequenos detalhes do
aquela flor tão linda… Roger Mello, inventivo como sem- mundo e nos orgulharmos de quem somos.
pre, cria um final inesperado, surpreendente.

A floresta Aqui estamos nós


Claire A. Nívola Oliver Jeffers

O livro conta a história de um camun- O mundo pode parecer muito confu-


dongo que decide deixar a segurança so, sobretudo se acabamos de aqui
de sua casa, para explorar a floresta. chegar. Para melhor compreendê-lo,
O livro amplia o mundo do leitor, falan- vamos explorar o nosso planeta e ver
do com veemência e tranquilidade a todas as crianças como vivemos. Estes apontamentos são um guia para
que já sentiram medo do desconhecido. essa viagem…

Árvores do Brasil

Biblioteca da natureza
A primavera da lagarta
Ruth Rocha Lalau e Laurabeatriz

Bem no meio da clareira, debaixo da ba- O livro mostra algumas das árvores mais
naneira, os bichos da floresta resolveram importantes do nosso país. É uma home-
fazer uma festa. Mas não era festa não. nagem às maravilhas da natureza que nos dão sombra e
Era um comício do Sr. Camaleão. Todos protestavam con- frutas, evitam que a erosão acabe com nossos rios, ofere-
tra a feiura da lagarta. Só não contavam com a sabedoria cem abrigo e alimento aos passarinhos e outros bichos,
da mãe natureza que na primavera espalha sua beleza. ajudam a retirar poluentes do ar que respiramos.

118 119
Bem brasileirinhos Folha Lolo Barnabé Para criar passarinho
Lalau e Laurabeatriz Stephen Michael King Eva Furnari Bartolomeu Campos de Queirós

Esta obra mostra às crianças alguns Folha conta a história de um garotinho, Lolo Barnabé era um sujeito inteligente e Em cada página, Bartolomeu nos fala
animais da fauna brasileira ameaça- como tantos outros, que simplesmente criativo. Ele nasceu há muito tempo, no o que é preciso para criar passarinho.
dos de extinção – aves, insetos, ma- odeia pentear os cabelos. Um certo dia, porém, ele des- tempo das cavernas. A família do Barna- Uma prosa poética que seduz pela beleza e magia das
míferos, entre outros. Inclui um jogo de memória para o cobre uma vantagem extraordinária em ter o cabelo todo bé queria um lugar melhorzinho para morar, com mais palavras, despertam a sensibilidade adormecida e os sen-
leitor brincar com os brasileirinhos. desarrumado e bastante embaraçado, quando uma semen- conforto. Só que, nessa busca, algo saiu errado. Você é tidos, convidando a pensar sobre a liberdade e a incon-
te cai bem na sua cabeça e ali mesmo começa a crescer. capaz de entender o que foi que aconteceu? veniência das prisões.

Carta da Terra Fonchito e a Lua Macaco danado Pé-de-bicho


Mario Vargas Llosa Julia Donaldson e Axel Scheffler Márcia Leite e João Caré
Escrita em 1994, a Carta da Terra es-
tabelece os principais fundamentos do O pequeno Fonchito morre de vontade Borboleta e macaquinho saem em busca Pé-de-bicho é o ponto de encontro dos
desenvolvimento sustentável. Estamos dar um beijinho no rosto de Nereida. da mamãe macaca. A maior dificuldade bichos da floresta. Nessa grande e
diante de um momento crítico da histó- Mas ela só aceitará seu carinho se ele da borboleta está em entender que a mãe acolhedora árvore sempre cabe mais
ria da Terra. Devemos reconhecer que, no meio da diversi- puder lhe trazer de presente a Lua! Mas como nada é do macaco é parecida com ele, mas a lagarta (filhote de um! É nela que animais de diferentes espécies se reúnem,
dade de culturas e formas de vida, somos uma família hu- impossível, numa noite de sorte, Fonchito descobrirá uma borboleta) não se parece nem um pouco com a mãe – a se divertem e convivem em total harmonia. Todos são ami-
mana e uma comunidade terrestre com um destino comum. maneira de conseguir o que tanto queria. borboleta adulta. gos, ninguém caça ninguém!

Chuva de manga Júbilo – o romance do jardineiro Obax Se eu fosse uma árvore


James Rumford Andrea Pizarro Clemo André Neves Talita Nozdmi

Há terras secas e alguns momentos O livro narra, em versos, a melancolia Quando o sol nasce se espalha sobre a E se eu fosse… um pássaro, uma
de fertilidade. Por meio do dia a dia do jardineiro Juvenal após ser obrigado vegetação. O dia aquece, enquanto os flor, um riacho? Com muita delicade-
do menino Tomás, os leitores poderão imaginar o que é a se aposentar. Mas eis que, de onde homens lavram a terra e as mulheres cui- za, este livro transforma o leitor em uma árvore. Uma árvo-
esperar pela chuva, fazer um carrinho de lata e apreciar menos se espera, surge a força motivadora que alegra – dam dos afazeres domésticos e das crianças. Ao anoitecer, re maluca, é verdade, mas também muito bonita e acolhe-
os frutos da terra generosa, que nos oferece a alegria de e rejuvenesce – o velho Juvenal. Assim como revelado no tudo se enche de vazio, e o silêncio negro se transforma dora. Vale a pena deixar de ser gente um pouquinho, para
saborear e cheirar uma manga dourada. subtítulo da obra, Júbilo é um romance. num ótimo companheiro para compartilhar boas histórias. atrair passarinhos e ter sementes que voam até alto-mar.

Comilança Lilás O sapo Bocarrão Um dia na aldeia


Fernando Vilela Mary E. Whitcomb Keith Faulkner Daniel Munduruku

De forma encantadora e inovadora, o Lilás é uma menina que foge ao estereó­ O sapo Bocarrão é um divertido ani- Por meio de jogos e brincadeiras, o jo-
autor aborda a cadeia alimentar, da tipo convencional de comportamento. O mal que tem uma boca enorme, é vem Manhuari recebe os conhecimentos
pequena minhoca à gigantesca cobra. primeiro dia de aula de Lilás é diferente – ao invés de muito guloso e vive perguntando aos tradicionais, essenciais para crescer em
O autor buscou inspiração nas viagens que fez para a imitar os colegas, que presenteiam a professora com perfu- outros bichos o que eles gostam de comer. O livro tem do- sintonia com a cultura do seu povo e viver
Floresta Amazônica, quando registrou muito do que viu mes, lencinhos bordados e porta-joias, ela lhe oferece uma braduras-surpresa, brincadeiras gráficas e cores vibran- em harmonia com a natureza. Os Mundurukus celebram o
em cadernos de desenho. caixinha de papelão com sete pedrinhas e muito mais. tes, além de letras graúdas. cotidiano, os animais, as frutas e outros temas…

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