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ESTUDOS PARA
Belo Horizonte
2007
Sandra Parra Furlanete
Belo Horizonte
Escola de Belas Artes da UFMG
2007
Furlanete, Sandra Parra, 1974-
Estudos para integração voz–movimento corporal no trabalho
do ator contemporâneo / Sandra Parra Furlanete. – 2007.
135 f. : il. -
CDD: 792.028
Sandra Parra Furlanete
Estudos para Integração Voz–Movimento Corporal no Trabalho do Ator
Contemporâneo
______________________________________
prof. dr. Maurílio Andrade Rocha (orientador) – UFMG
______________________________________
profª. drª. Rosa Maria Hercoles (co-orientadora)– PUC-SP
______________________________________
prof. dr. Ernani de Castro Maletta – UFMG
______________________________________
prof. dr. Sérgio Dias Cirino – FAE/ UFMG
AGRADECIMENTOS
e.e. cummings
RESUMO
cognitivas.
ABSTRACT
standard fitted in how we deal with this issue in our theatrical practice,
physics; that knowledge fields dialogues with Jerzy Grotowski’s work and
his search for actor’s integrality in creation. That dialogue leads this
entirety of both.
sciences.
SUMÁRIO
Apresentação ..............................................................................08
Referências ...............................................................................129
Apresentação
uma poética cênica de comunhão entre ator e espectador – uma cena que
relações entre ambos, como essa operação tem sido vista por nós até hoje e
esteve mergulhado nos últimos séculos, e que por sua vez acabou por
determinar também nossa relação com a arte, com o fazer artístico e com a
ambos; e que, para tanto, é necessário que o artista conheça não apenas
Hanna.
ator.
concerne à sua busca pela integridade do ator em sua criação – voz, corpo,
no mundo.
Para Descartes “o você real não é seu corpo material, mas sim
movido por propósitos ditados pela sua própria fisicalidade (fome, sono,
desejo sexual etc.), mas também por desejos e decisões dessa mente
“obediência a”) sua mente o que faz esse corpo ser seu, e não o de outra
pessoa.
mente, na cultura ocidental, tem raízes muito profundas, que podem ser
conforme vemos nos diálogos transcritos por Platão, que teremos mais
“Moira fatal”.
afirma que o raciocínio do filósofo será tanto melhor, mais claro e mais
primeiro lugar, no plano das idéias. O plano das idéias seria o modelo
1
Ver especialmente “A morte como libertação do pensamento” e “A purificação”, PLATÃO, 1987:65-72.
mundo – materiais, transitórias e imperfeitas (porque cópias). O mundo,
sabedoria).
corpo é lugar de pecado, logo todos os seus desejos de ter uma boa vida,
contrário de Platão, acreditava que uma não pode existir sem a outra, pois
é através da forma que a matéria torna-se real (processo chamado por ele
de enteléquia, autocompletude).
governado por Deus, mas pelo homem; destacado das coisas, do mundo à
(1632-1677).
Universo é uma Substância – que é tudo, engloba tudo, e pode também ser
mesma; assim, ambos seriam não coisas opostas entre si, mas como
tese do paralelismo, que nega não apenas uma relação causal entre
sobre o outro.
pelo seu gênero ou espécie, pelos seus órgãos ou funções, mas por aquilo
indivíduo, ou de ser afetado por ele; todo corpo tem os órgãos ou funções
sempre finita, porque limitada pela própria sua própria composição (só a
“de cima”, “de fora”, colocando-se além do próprio homem – sendo disso
futilidade.
Espinosa propõe então a construção de uma moral imanente: Deus
2
As idéias expostas aqui sobre o pensamento de Nietzsche foram retiradas, principalmente, de PELBART,
2001a.
Com a concepção dionisíaca, Nietzsche procura opor-se a uma
da arte etc. “Por que todos têm tanta fé na razão? Quem acredita na
valor do que qualquer outra crença; usar a verdade para combater a ilusão
compartilhada.
Por baixo desse ideal de verdade existem seres com corpos, paixões,
que talvez o mundo ideal seja uma ilusão – ao contrário de Platão, que diz
arrogância.
são partes da vida, estão em função dela e não desconectados dela, como
passa pelo corpo – por isso, ele propõe um resgate do corpo, daquilo para o
“verdadeiro” ou “falso”, mas a que tipo de vida ele interessa: que tipo de
força está falando, ou que tipo de fraqueza está falando? Que tipo de força
o habita e o fazer sentir, dizer, fazer o que está fazendo? São essas forças
desejo. E quem não consegue criar, ir para além de si, passa a desprezar o
partir daí, inventar uma nova relação entre corpo e pensamento, entre vida
e razão.
posso. Potência não é algo que eu almejo, mas algo que já existe – e que
está atuando agora, nesse momento, em mim. Através do pensamento –
Hanna (1972), considerando que não existe uma palavra nas línguas
modernas européias que designe o ser humano como “corpo + mente”, irá
Hanna, “Soma não que dizer ‘corpo’; significa ‘Eu, o ser corporal. (...) Os
somas são os seres vivos e orgânicos que você é nesse momento, nesse
lugar onde você está” (HANNA, 1972:28; grifos do original). Dessa maneira,
performance etc.).
corpo, e apenas uma pequena parte dela é consciente; ainda assim, sabe-
1996).
interação entre a mente e o seu ambiente ou entre uma mente e outra, por
lingüística.
(2002).
mente-corpo.3
que nenhum outro órgão físico dispõe, e que essas propriedades seriam de
3
A partir deste ponto, as questões dos dualismos e materialismos serão tratadas, principalmente, a partir de
paráfrases do texto de Churchland, a não ser quando em indicação contrária.
teorias da mente. Mas não podemos ignorar, neste ponto, as implicações
como explicitado na seção 1 deste capítulo – o que faz com que nos
teoria mais antiga; ou seja, da mesma forma que dizemos hoje que “a luz é
cinética”, ela propõe que estados mentais são estados físicos do cérebro ou
proposta pela teoria da identidade, não por entender que esta deva ser
acontecerá com nossos conceitos sobre o que sejam estados mentais (como
seriam o que são se não existisse uma interação entre o corpo e o cérebro
4
António Damásio, pesquisador várias vezes premiado por seu trabalho, chefe do Departamento de
Neurologia da Universidade de Iowa, tem contribuído enormemente para o campo de conhecimento das
neurociências e das ciências cognitivas com suas pesquisas e suas publicações na área, como O Erro de
Descartes, O Mistério da Consciência, Em Busca de Espinosa (Cia. das Letras).
5
É preciso ter em mente aqui que, por questões metodológicas, para efeito de melhor desenvolver sua
proposta, Damásio separa “cérebro” (sistemas nervosos) de “corpo” (conjunto de todos os outros órgãos e
estruturas que geram / recebem informações, que por sua vez são lidas / processadas / devolvidas pelo
“cérebro”). No entanto, ele mesmo afirma que, convencionalmente, o sistema nervoso faz parte do corpo
como um todo – o qual ele chama de organismo. (DAMÁSIO, 1996:112.)
cerebrais” (DAMÁSIO, 1996:17). Ou seja, o corpo fornece, constantemente,
informações que constroem a mente; esta, por sua vez, modifica o corpo,
6
Utilizamos aqui o termo informação no sentido de “informação como diferença que gera diferenças” de
qualidade ou de quantidade (cf. VIEIRA, 2006:77).
Os estados corporais se atualizam constantemente, em altos níveis
representações do corpo a cada alteração que ele sofra, sejam elas de tipo
fluir até o corpo, a partir de zonas do cérebro cujas atividades nunca são
2002:143).
depreender daí que toda vez que um organismo produz voz ele altera todo
etc. Sem contar ainda com o efeito da vibração da voz sobre o próprio
corpo e a própria audição de quem está falando, que irão gerar outras
muitos anos (de fato, alguns séculos), no teatro ocidental, o texto verbal foi
todo texto verbal – e, com isso também o texto vocal. Ou seja, junto com a
palavra, desapareceu a voz. Acreditamos que isso possa ter sido motivado
Como nos diz Paul Zumthor, “a voz é uma coisa: descrevem-se suas
das idéias, o termo genérico “corpo” por “movimento corporal”, já que este
também é produzido pelo corpo, e tão parte constituinte dele quanto a voz.
8
Também essa questão será tratada mais de perto no Capítulo III desta dissertação.
porque o movimento corporal está obrigatoriamente presente na produção
ocidental do século XX. Embora ele nunca tenha tocado no assunto com
carreira como diretor no final da década de 1950, dez anos depois já era
9
As informações referentes às fases do trabalho de Grotowski contidas neste resumo biográfico foram
retiradas e parafraseadas principalmente de TOLENTINO, 2007; CAMPBELL, 2005 e http://wikipedia.com
constantemente em seu trabalho; o conhecimento de distintas formas do
medidas diversas, ao longo das várias fases pelas quais seu trabalho
1978), o Teatro das Fontes (ou Teatro das Origens – 1976-1982) e o Arte
um Teatro Pobre.
um golpe de Estado. Mas ele próprio considerou esta fase muito mais
precisa e repetível.
vida.
que um povo possa sobreviver como nação é necessário que eles tenham
catolicismo.
neste caso, é algo imanente a ele, pelo próprio fato de ser parte do povo
polonês.
Grotowski teve uma infância muito ligada ao rito católico, por ter se
só reforçava sua ligação, sua conexão com seu passado histórico, com a
violentos vivido durante esse período, professar a idéia do ator santo não
missa da Igreja Católica. Seria nesse espaço, nessa relação sagrada entre
preencher.
fundante, “essencial” para a cena teatral, aquilo sem o qual o teatro não
pelo dramaturgo, mas sim aquele que é formado pela tessitura de práticas
que se realizam tendo por base (ou não) o texto literário. O texto escrito,
pessoas.
máscaras, amarras, artifícios, o que fará com que sua própria “alma” seja
pelo ator.
O trabalho de Grotowski surge de um contexto que incluía, dentre
(...) o corpo, por anos e séculos, havia sido mal desenvolvido pelo
ator; de maneira que toda a atenção, nos anos sessenta, se focou
no desenvolvimento do corpo. Mas houve uma triste decepção
entre atores e grupos que haviam trabalhado de maneira
maravilhosa o seu corpo; ainda que fazendo exercícios acrobáticos
muito difíceis, não chegavam a um trabalho que mudasse a
qualidade da percepção do espectador, e a partir disso se começou
a ver que o desafio era muito maior e a obrigação era dar-se conta
que um corpo animado por sentimentos banais expressava
banalidade, e um corpo animado por uma emoção muito intensa,
muito brilhante, mas com um pensamento rígido, esquemático,
doutrinário, não podia dar uma expressão que tocasse
profundamente ao espectador. (BROOK, 1993:124b.)10
gesto – deixando bastante claro que essa relação não pode ser
Podemos supor então, pelos seus escritos, que a partir desse cenário
10
Todas as citações de textos em espanhol e em inglês feitas neste capítulo foram traduzidas por nós para o
português.
aspecto ético do trabalho do ator, no sentido de uma total implicação
o domínio da técnica. 11
algo que não se possa tomar nas mãos, manipular, mas ainda assim
...Teatro Pobre (1992), vemos que ele chegou, com seus atores, a esse
11
Em sua entrevista a Schechner (GROTOWSKI, 1992:200-201), Grotowski rejeita a palavra “ética”, mas
por atribuir-lhe um valor de “moral” (que denota julgamento de valor); nós aqui tratamos “ética” no seu
sentido filosófico de regulador das ações humanas em relação ao seu coletivo.
forma, entre desejo “interior” e realização “exterior”, como se esses
uns dos outros. Não podem. Foi pelo trabalho prático que Grotowski
forma que o discurso falado ou escrito de seu tempo jamais daria conta de
afirma que o treinamento corporal do ator pode ter muitos aspectos úteis
com muito cuidado o campo do místico, de onde tira os termos que darão
(embora tenha sempre deixado muito clara a diferença entre aquilo que é
espetáculo e aquilo que é ritual, colocando seu trabalho sempre dentro dos
12
A quem interessava, sobretudo, “reproduzir as impalpáveis nuanças e profundezas da vida [a fim de]
absorver inteiramente o espectador, fazendo-o, a um só tempo, entender e experimentar intimamente os
acontecimentos do palco, enriquecendo a sua vida interior e deixando impressões que não se desvanecerão
com o tempo” (STANISLAVSKI, 1991:45).
Essa terminologia será sempre utilizada para criar um contexto que
como arte só será indispensável à vida se servir como lugar onde “não se
mente”, ou seja, onde a pessoa não está dividida; para tanto, é necessário
“cumprir o ato com o verdadeiro amor”: “que é esta plenitude? começa por
aqui: não ser morno. (...) Não esconder-se e não estar dividido nunca
época do Teatro Pobre (cujo livro teve sua primeira edição lançada em
do ator] deve ser treinado para obedecer, para ser flexível, para responder
um trabalho em que todo o ser do ator está integrado, sem distinção entre
impossível discernir o que é um, onde está o outro. Essa proposição nos é
recordação de fatos, mas sim os sintomas de vida que surgem sempre que
surgem organizados por este algo que não se reduz ao raciocínio, que é o
cumprir o Ato: de entregar-se todo, inteiro na ação, e com isso tocar, afetar,
modificar o outro. Para isso, o ator deverá criar uma relação de confiança e
porque não há arte – e não o contrário .“A falta de técnica é então sintoma
(GROTOWSKI, 1993a:38b).
loucura da criação” –
do corpo.
várias vezes, que apenas na ação é que esses termos, essas idéias todas
que está fazendo. Com isso Grotowski demarca muito claramente seu
formas de não-aceitação.
Para que o ator possa viver e criar, ele precisa aceitar-se: aceitar sua
presente imediato, sabendo o que faz e o que quer, mas sem medir as
alter ego. Ele o faz porque, com prazer ou com angústia, ele sabe que é
isso o que ele tem de fazer; ele sabe que esse é o trabalho do ator: agir,
criar o Ato.
não tenha experienciado. Mas se ela o tiver sentido na carne, ainda que
uma única vez, por um momento fugaz, ela sabe o que é – e que não há
caminho de volta possível: ou você escolhe ignorá-lo, ou passa o resto de
voz
14-15).
Grotowski é deixar claro que todo o treinamento do ator deve ser norteado
13
A esse respeito, ver principalmente GROTOWSKI, “El Director como Espectador de Profesión”, 1993c e
“El Montaje en el Trabajo del Director”, 1993d.
Neste momento [do trabalho, o ator] está procurando (...) a
eliminação do supérfluo, bem como os sinais necessários para a
expressão. Então pensa: “o que eu estou fazendo é
compreensível?” A pergunta implica na presença do espectador. Eu
também estou ali, guiando o trabalho, e digo ao ator: “Não
compreendo”, “Compreendo”, “Compreendo mas não acredito”...
(GROTOWSKI, 1992:183; grifo nosso.)
você toca alguém, esse alguém aparecerá naquilo que você faz”
(GROTOWSKI, 1993b:43c).
ator se dirige e de quem ele recebe seus estímulos passa a ser não apenas
relação sistêmica com o todo que o cerca: “podem ser os seres, o espaço, a
paisagem que nos habita, o sol, a luz, a falta de luz, o espaço aberto, ou
1993a :37a).
diferença entre algo que é (apenas) “movimento” e algo que é “ação” (com
sentido apenas “em si”, ou para o próprio ator; é algo que deve ser feito
aquilo que vem “do interno” do ator e aquilo que é “externo” (no sentido de
14
“Muito freqüentemente um gesto é um movimento periférico do corpo, um gesto não nasce do interior do
corpo, mas de sua periferia (as mãos e o rosto)” (RICHARDS, 1995:75; grifo do original). Esse “interior”
Grotowski irá relacionar, fisicamente, à coluna vertebral, de onde nasceriam todas as ações e reações
verdadeiras (não-superficiais), ponto de vista que será compartilhado por Eugênio Barba e Luis Otávio
Burnier.
intencionalidade (seja ela considerada racional ou emocional) da parte do
espectador.
novas informações (já que é uma pessoa viva, a todo instante diferente) às
(1993a) ter buscado uma solução para essa dicotomia de como ter o
máximo de precisão nos exercícios e, ao mesmo tempo, deixar que a vida,
pode-se aferir que Grotowski pensava os produtos cênicos não como finais,
savoir faire que um ator precisa, mas sim de “não hesitar diante do
1993b:40b).
aos seus limites no trabalho; para realizar aquilo que lhe é desconhecido,
será preciso que ele “evoque todos os elementos do seu ser, o seu ser
uma série de fatos sobre o trabalho de voz para atores, com suas
única e melhor coisa que se pode fazer por ela é deixá-la livre, o mais
natural e ampla possível. Exercícios de controle respiratório de qualquer
dirigida para fins muito diversos daqueles que interessam aos atores; elas
ponto mais enfatizado por Grotowski será sempre o fato de que o ator não
15
Especificamente sobre o yoga Grotowski declara que o hatha-yoga induz a uma diminuição da freqüência
corporal, e o treinamento e o trabalho do ator pedem o contrário; assim, o uso dessa técnica pode criar erros e
bloqueios no corpo do ator. “Todos sabem que, para usar a voz, é necessária uma respiração ampla, aberta,
natural. Eles (os professores que se apropriam dos exercícios de yoga) se servem de uma terminologia
diversa. E, além disso, acreditam que já estão em condições de fazer esses exercícios. Mas não dominam a
proposta exata, e então tomam da proposta mais conveniente, aquelas fornecidas pela técnica psicofísica
fornecida por uma outra cultura, com objetivos completamente diversos. Isto é irresponsabilidade. Estes
exercícios vocais são somente um mito” (GROTOWSKI, 1969:170).
racionalmente nos processos que o corpo implementa irá desfavorecer as
soluções que, em primeira instância, seriam mais naturais – aquilo que ele
culturas, foi o que lhe fez ver a possibilidade extensa, quase infinita, do
uso dos vibradores da voz, muito além da tradicional “máscara” do teatro
imagem de um animal: tigre, vaca, lobo etc. (no caso do gato, por exemplo,
talvez nenhum deles tenha visto um chinês falar, e se o vir, talvez fique
imitar animais quando era criança? Assim, é muito mais simples, mais
factível e efetivo pedir a um ator que imite uma vaca ou um tigre – o que
também faz com que ele desarme um controle totalmente racional sobre a
que pedir a ele que fale como um chinês, um africano, ou que faça a voz
ressoar aqui ou ali, o que traria uma carga muito grande de controle, de
etc. – em forma de jogo ou luta ou ação “em relação a”, ou seja, em relação
teto, para trás, para frente, para o chão), e a cada vez vibradores diferentes
espaço faz com que o ator não ouça somente a si mesmo, mas também ao
eco que ele produz na sala, evitando-se os prejuízos causados pelo auto-
controle. “A voz não é automática, não é dura nem pesada, ela é viva. A
sua atenção está dirigida para o externo, você produz um eco – o fenômeno
(...) não se deve fazer exercícios vocais, mas sim deve-se usar a voz
em exercícios que empenhem todo o nosso ser e nos quais a voz se
liberará por si mesma. Talvez se deva trabalhar falando, cantando,
mas não se deve trabalhar sobre a voz, deve-se trabalhar com todo
o seu ser, com todo o corpo. Sei também que não se deve trabalhar
em posições fixas, rígidas; que todas as posições-chave dos atores
que trabalham a voz bloqueiam a voz e basta. Todas essas
posições simétricas, geométricas, posições sem movimento ou com
movimentos automáticos – tudo isso é estéril. (GROTOWSKI,
1969:179.)
o resultado visto ou descrito por Grotowski sem passar pelo mesmo tipo de
16
Esta questão será discutida mais detalhadamente no próximo capítulo desta dissertação.
espontâneas do corpo. Segundo Grotowski, “os impulsos que percorrem o
outro, reciprocamente.
em que a tradição oral se perdeu, para que o trabalho possa ser realizado.
(GROTOWSKI, 1995:127).
“meu corpo” é eu (ou self, como preferem alguns autores) tanto quanto
talvez a pergunta que falte sempre ser feita é não se o racional estava no
termos:
acreditarmos que ela sintetiza bastante bem a opinião dos críticos desse
essa distorção. Em seu texto La Voce ele afirma que “a grande aventura”
aquilo que surge a partir de algo que se move, ou que é movido: aquilo que
ressonância, por sua vez, pode ser entendida como a intensificação do tom
seja: nosso corpo inteiro. Isso é o que se chama de vibração por simpatia.
essa larga área de madeira vibrar – essa é a vibração por simpatia; essa
madeira, mas com certeza ela irá amplificar o som do diapasão devido à
grande superfície que foi posta em vibração, e que então faz uma
por simpatia para se fazerem ouvir, pois a maior parte do som que
quando as cordas vocais vibram, todo o resto do corpo vibra também, por
18
Pequeno instrumento metálico em forma de U montado sobre um cabo que, posto em vibração, produz um
som de altura determinada – geralmente, em lá; é usado principalmente na afinação de instrumentos ou vozes
(cf. HOUAISS, 2001:vb. Diapasão).
simpatia – o que se encontra em conformidade com a própria experiência
vibradores são, sim, uma força física, mas não serão nunca compreendidos
o que é a imaginação.
Imaginação é, basicamente, a capacidade que temos de criar
origina a imaginação.
formadas por aspectos sensoriais diversos (som, odor, movimento etc.) que
então o comportamento.
símbolos abstratos que passam pela nossa mente são, antes de tudo,
1996:116; 135).
alto nível e também aos gânglios basais e estruturas límbicas (estes dois
ambiente.
19
Lembrando mais uma vez que Damásio, para efeitos de maior clareza na exposição da sua tese, considera
em separado “cérebro” (sistema nervoso) e “corpo” (conjunto dos órgãos sensoriais, vísceras etc.), embora
admitindo que essa separação não existe na realidade – já que ambos, corpo e cérebro, são inseparáveis, pois
são instâncias de processamento de um mesmo fenômeno.
Damásio descreve as imagens mentais como sendo de dois tipos:
de imagens evocadas.
cérebro das sensações da visão captadas pela retina, tal como citamos
anteriormente). Depois de um certo tempo sem conseguirem ver as cores,
aperceberem da sua existência num objeto externo. Mas não é isso o que
percepção.
partir disso, que a ativação não pare aí, nos córtices visuais do cérebro, e
(DAMÁSIO, 1996:133).
Chegamos, assim, ao ponto principal da nossa discussão sobre
corporal. (O que nos faz pensar, por exemplo, naqueles momentos em que
sozinho?...)
uma boca no topo da cabeça etc., essas imagens evocadas criam alterações
da vibração – e isso faz com que a voz soe diferente, alterada em seu
timbre e registro.
Ligado de maneira fundamental a essa questão está o fato de que
verticalização do corpo) que, nos bebês, nasce nos lábios, coordena todos
para o tórax, fazendo com que as duas primeiras costelas se elevem, para
enrolamento da cabeça.
20
A esse respeito, ver também principalmente LIMA, 1994:“Características Embriológicas” e BÉZIERS;
PIRET, 1992.
Esta é apenas uma descrição esquemática do ponto de partida de
21
O texto de Rossing (1990) é bastante conciso e preciso e, como não foi ainda traduzido para o português,
houvemos por bem transcrever uma tradução na íntegra deste trecho, ao invés de simplesmente parafraseá-lo.
Foram excluídas dessa tradução as referências a gráficos e ilustrações do texto original.
Os cricotireóideos [também definidos como tensores
das pregas vocais] conectam as duas grandes cartilagens da
laringe, a tireóide e a cricóide. Eles podem puxar a tireóide
para frente, em relação à cricóide, e também para baixo, em
relação a ela. Ambas as ações estiram as cordas vocais
longitudinalmente, o que é uma maneira de aumentar sua
taxa de vibração. A ação dos músculos cricotireóideos pode
ser observada de duas formas: uma é pressionar para dentro
o pomo de Adão enquanto se canta uma nota média da
extensão vocal. Uma soltura repentina dessa pressão fará
com que a altura da voz suba. Um segundo experimento
consiste em colocar um dedo no pequeno espaço entre as
cartilagens tireóide e cricóide enquanto se canta. Subir o tom
em uma oitava irá forçar o dedo para fora enquanto a
tireóide é puxada para baixo, aproximando-se da cricóide.
Os tireoaritenóideos, também chamados de vocalis ou
músculos da voz [e definidos como constritores da glote],
formam o corpo das cordas vocais em si. Elas se estendem
do ângulo interno da cartilagem tireóide até as aritenóides,
na parte de trás da garganta, e são cobertas por uma
membrana que é contínua em relação ao revestimento da
laringe. A tensão das cordas vocais é resultado de um
complexo equilíbrio de forças entre esses três músculos, e a
coordenação entre eles é necessária para uma transição
suave de uma altura para outra. Para que se possa manter
um tom constante em um crescendo ou diminuendo, esses
músculos deverão compensar a tendência do tom em subir à
medida que o fluxo de ar aumenta.
(...)
O traço de distinção [entre a voz de cabeça e a voz de
peito] parece estar no estado dos músculos tireoaritenóideos.
Na voz pesada, ou de peito, estes músculos estão ativos; na
voz leve, ou de cabeça, eles estão virtualmente passivos. (...)
Na voz de peito, os tireoaritenóideos estão ativos e portanto
encurtados. Nos tons mais baixos, os músculos estão
relaxados e as pregas vocais estão espessas. Devido ao seu
espessamento, a glote se fecha firmemente e se mantém
fechada durante uma boa parte de cada ciclo de vibração
[abertura e fechamento das pregas vocais que controlam a
passagem do ar para a execução do som da voz].
À medida que a altura do tom sobe na voz de peito, os
músculos cricotireóideos se contraem e aplicam uma tensão
nas cordas vocais. No entanto, elas não se alongam
rapidamente, pois os músculos tireoaritenóideos entram em
ação, e de fato espessam as cordas vocais ao agirem. Nas
notas mais altas da voz de peito, os tireoaritenóideos dos
cantores inexperientes muitas vezes cedem diante da força
excessiva dos cricotireóideos, e a voz se “quebra” em uma
involuntária voz de cabeça (Venard, 1967).
No mecanismo leve, ou voz de cabeça, os
tireoaritenóideos oferecem pequena resistência aos
cricotireóideos, os quais podem então aplicar uma tensão
longitudinal substancial às cordas vocais, fazendo com que
elas se alonguem e fiquem mais finas. Os músculos vocalis
descem lateralmente, e a vibração acontece quase
inteiramente nos ligamentos, com muito menos amplitude de
movimento que na voz de peito. A glote se fecha apenas
brevemente ou nem chega a fazê-lo, e o som resultante
possui muito menos harmônicos que a voz de peito. (...)
Quando está vibrando no mecanismo leve, as cordas
vocais estão pelo menos 30% mais longas, consideravelmente
mais finas e têm uma massa efetiva menor. As cordas, em
geral, não estão completamente fechadas em nenhum
momento do ciclo [de movimentação]. Isso resulta em um
menor número de harmônicos da fundamental e em uma
conversão menos eficiente da potência respiratória em
potência sonora. (...)
[Assim, o autor define os registros de voz da seguinte
forma:]
! voz (registro) de peito: maneira de se cantar
associada com o mecanismo pesado ou
músculos vocalis ativos.
! voz (registro) de cabeça: maneira de se cantar
associada com o mecanismo leve, músculos
vocalis passivos, e cordas vocais alongadas e
finas.
(ROSSING, 1990:357-365. Ilustrações de LE HUCHE;
ALLALI, 2005:77, 75, 80.)
quanto mais precisa, quanto mais vívida for a imagem evocada por ele,
nível para os córtices sensoriais iniciais, e daí para os órgãos dos sentidos:
etc.; de fato, ainda que a imagem formada seja vaga, mesmo que o ator
irá alterar a configuração de tônus de toda a sua cadeia posterior. Isso irá
“João é forte como o ferro” – e não que ele seja realmente feito desse
numa relação objetiva, mas, sim, numa relação toda subjetiva” (apud
da metáfora:
22
Uma das áreas de conhecimento das ciências cognitivas (cf. descrito no Capítulo I desta dissertação),
surgida na década de setenta; estuda as formas e regulações da produção lingüística, partindo do ponto de
vista de que os processos de percepção, de memorização ou de aprendizagem dependem fundamentalmente da
linguagem. “Os estatutos das operações lingüísticas em nível cognitivo são definidos como transcendendo as
operações de conformação sintático-semântica, já que as motivam, e manifestando sobretudo a ‘ativação’ da
linguagem como vetor e meio de intervenção no mundo e de relações subjetivas e objetivas desse mesmo
mundo” [www.citi.pt/educacao_final/linguistica.html].
pensamento e na ação. Nosso sistema conceptual ordinário, em
termos do qual não só pensamos, mas também agimos, é
fundamentalmente metafórico por natureza. (LAKOFF; JOHNSON,
2002:45-46.)
não está meramente nas palavras que usamos (...). Falamos sobre
elas também nos indicam como os artistas podem fazer uso criativo delas.
Entender essa questão nos chama a atenção para o fato de que o modo
autores:
que temos de entender o menos concreto pelo mais concreto; como muitos
experiências corporais.
23
A “Apresentação à Edição Brasileira” de Metáforas da Vida Cotidiana (LAKOFF; JOHNSON, 2002) foi
escrita por Mara Sophia Zanotto, Heronildes M. M. de Moura, Maria Isabel A. Nardi e Solange Coelho
Vereza, integrantes do Grupo de Estudos da Indeterminação da Metáfora (GEIM), coordenado por Zanotto.
em nossa experiência” (LAKOFF; JOHNSON, 2002:201), podemos dizer que
o mesmo se aplica à criação artística. Esta pode ser uma entrada para
“Arte Como Veículo” etc. – não porque esses nomes signifiquem algo per si,
relação entre os atores; ao usar imagens como “há uma boca no topo de
voz.
lidar com uma linguagem como a nossa (do ramo indo-europeu), que é
Podemos então entender que os termos criados por ele, mais do que
concreta algo sobre o qual ainda não temos palavras específicas para
está inserido. Nossas metáforas são coerentes com nosso sistema cultural
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O termo subcultura é utilizado aqui na acepção de “grupo, minoria, segmento, caracterizado por uma
combinação de situações sociais diversas (....) cujo padrão de comportamento é suficientemente uniforme para
distingui-lo, como uma subdivisão, dentro de uma cultura mais geral” (HOUAISS, 2001:vb. Subcultura).
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Mesmo grupos marginais, que desenvolvem conceitos em conflito com a cultura dominante, em
determinado nível também partilham e preservam outros valores da cultura dominante (cf. LAKOFF;
JOHNSON, 2002:73-74).
metáforas. Utilizando-nos do exemplo citado anteriormente, se quisermos
algum dia entender discussão de uma maneira diferente que não como
guerra, teremos de criar outras metáforas conceptuais para ela, tal como
elaboram, para que sejam divididos mais tarde pelo próprio grupo ou pela
auxiliava Grotowski a evoluir no seu trabalho com seus atores, não havia
conduzi-los. Dessa forma, não diremos que Roubine “errou” ao dizer que o
aqueles que nos interessam, por algum motivo: porque concorda com o
sistema social vigente (em qualquer escala: pessoal, familiar, política etc.) e
nos integra a ele; ou porque discorda dele, deixando então claro que
tomaremos caminhos diferentes, ou que teremos de fazê-lo, em algum
momento.
herança genética dos mais bem adaptados, que trazemos conosco até hoje.
também.
como colocam Lakoff e Johnson (2002:257 e ss.), “as pessoas que detêm o
ângulos, e nos faz ver aspectos que o hábito com as estruturas antigas nos
uma metáfora terá para uma pessoa será, por um lado, determinado por
Mas uma pessoa poderia lançar uma nova metáfora para se falar de
exemplo:
permitem entender que imaginar é uma forma de fazer ciência. Talvez não
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O Dr. Jorge de Albuquerque Vieira é cientista pesquisador, ligado ao Departamento de Astronomia e
Observatório do Valongo – UFRJ, ao Departamento de Linguagens do Corpo da PUC-SP, e coordena o
NESC – Núcleo de Estudos em Semiótica e Complexidade da PUC-SP.
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A esse respeito ver, principalmente VIEIRA, 2006:“Formas de Conhecimento:Arte e Ciência” e VIEIRA,
2006:“Ciência, Arte e o Conceito de Umwelt”.
não tem compromisso com uma realidade, e pode portanto trabalhar
tem, tanto quanto a ciência, ampla atuação e valor, já que trabalha não só
que não pode ser reduzido ao discurso) que a ciência (VIEIRA, 2006:52-
Assim, como nos afirma Vieira, embora seja, muitas vezes, encarada
ao mesmo tempo em que nos ensina a lidar com ela, nos instiga à busca
de mais complexidade – sendo portanto fundamental no próprio processo
não nos cabe discutir aqui. Mas não podemos deixar de notar que, se a
como forma de fazer artístico, como ciência da descoberta que ela nos
serve. Mas somos homens do nosso tempo; vivemos ainda sob a égide da
Renascença e teve seu auge no século XIX – como nos diz Damásio
(1996:276), “temos uma paixão pela razão”. E, fazendo um paralelo com
já que não é esse o enfoque que lhe interessa. No entanto, Grotowski tem a
técnicas que influenciam não só nossa vida como nossa forma de vivê-la,
progressos feitos nessa área, isso ainda seja comum na prática teatral.
self, que é composto pelos mapas básicos que o cérebro tem do corpo, em
fazer com que o ator viva esse estado de presença em cena. Partindo dos
criação.
pois existe junto com ela, engendra-se com ela, é ela – tanto quanto eu sou
Ato; da mesma forma, para que estas outras formulações possam ganhar
ação mecânica.
Grotowski viessem da sua observação sobre o que era efetivo para que a
conceitos intelectuais.
tempo; que nem tudo o que havia lhe interessado ou servido em uma
criação, cada obra tem uma necessidade técnica específica. E se isso vale
criadores diversos.
proposto por Grotowski não pode ser usado à revelia, como exercícios
que inclui tanto suas superações quanto seus desejos pessoais de criação).
para a autocomplacência.
alunos são colocados em relação com o outro (mesmo que essa relação não
relação com o outro, com o espaço; de fato, a princípio, suas ações ficam
Essa redução não foi feita aqui, por não ser este o escopo deste
temos de levar em conta que, se nem todos nós, nos tempos e na sociedade
questões.
cena.
Eles podem fazer com que as intenções dadas surjam a partir de relações
perceptivas (quer dizer, que sejam propostas pelo ator apenas em sua
imaginação, não vindo objetivamente do espaço cênico), isso faz com que
induz a uma inação física por parte dos atores – eles ficariam parados, ou
abertos, para que ele possa manter-se sempre em relação com o espaço e
que esses próprios sistemas metafóricos, que traduzem nossa relação com
que qualquer linguagem teatral carrega uma dimensão política, ainda que
produção da voz, já que, pela imaginação (e, por extensão, pela própria
sem palavras, para eles, está em geral ligada a ruído (num sentido
sobre a nossa voz: talvez não tanto na vida cotidiana, mas certamente no
como temos visto em nossos alunos, faz com que eles deixem de conhecer
por exemplo); e, como já foi dito no cap. III (p 78-79), a imaginação evocada
será sempre mais rica quanto mais nossa percepção sensorial for
acordo com o lugar onde eles estejam, cheiros, sabores, luz e sombra,
mente e corpo.
encontrar um caminho efetivo para unir duas coisas que nunca estiveram
separadas.
Referências
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Nova Cultural, 1987. Coleção Os Pensadores (capa cinza), p. 55-
126.
TOLENTINO, Cristina.
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VIEIRA, Jorge Albuquerque. Teoria Geral dos Sistemas. São Paulo: PUC-
SP/Comunicação das Artes do Corpo, 2001. Notas de aula.
WISNIK, José Miguel. O Som e o Sentido. São Paulo: Cia. das Letras,
2004.
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