5 A 11 DE JANEIRO DE 2022

TIME OUT PORTUGAL #92

PUBLICAÇÃO SEMANAL
DIRECTORA VERA MOURA

AS PESSOAS COM
QUEM QUEREMOS
JANTAR EM 2022
14 talentos com quem nos queremos cruzar no novo ano
QUE É REAL
 #editorial
Vera Moura Directora
vera.moura@timeout.com

É a típica pergunta de entrevista de emprego

– uma oportunidade para quem quer o lugar brilhar,
ou uma rasteira para quem foi mal preparado.

“Se pudesse escolher, quem levaria a jantar?”

Nós não estamos à procura de um novo trabalho nem pretendemos

impressionar quem nos lê com clichés e lugares comuns,
mas começamos o ano com um hábito antigo da Time Out:
a escolha das pessoas com quem queremos jantar em 2022.

Nas próximas páginas, não vai encontrar políticos de renome,

estrelas de Hollywood, membros da realeza, prémios
Nobel da Paz ou deuses da beleza por quem temos uma paixoneta
desde a adolescência. Vai encontrar, sim, promessas e fezadas, gente
com quem nos queremos cruzar nos próximos meses pelos palcos,
museus, restaurantes, ecrãs, livros e redes sociais. Gente que queremos
que nos impressione. A nós e a si, que arranca o ano connosco.

Deixe-se ficar. Quem sabe não o levamos a jantar um dia destes.

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3 5 – 11 Janeiro 2022 Time Out Portugal

 Índice Coisas para fazer
5–1–2022
Ano novo, novas aprendizagens

PÁG. 38

à
Promessas 2022
Quem vai dar que falar no novo ano

PÁG. 16
à

Música
É desta que voltamos ao “ao vivo”

PÁG. 60
à

SECÇÕES
10 Intercidades 16 Pessoas com quem queremos jantar
38 Coisas para fazer 44 Miúdos 48 Grande Ecrã 52 Pequeno Ecrã
62 Palco 66 Música 78 Comer&Beber

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Time Out Portugal 5 – 11 Janeiro 2022 4

 FOTOGRAFIA: GABRIELL VIEIRA

Time Out Portugal 5 – 11 Janeiro 2022 6

 Et voilá!
Vincent Farges
chegou
Vincent Farges, chef do restaurante EPUR, reconhecido
com uma estrela Michelin em 2019, já abriu o seu novo espaço
na ala dos chefs no Time Out Market.

ACABOU-SE A ESPERA: o canto direito da ala Para Vincent Farges esta abertura
dos chefs já tem novo dono. Vincent Farges, representa um grand challenge. “No mercado,
de nacionalidade francesa, mas com metade o meu objectivo é ter um espaço onde posso
do coração já português – vive há 20 anos no exprimir uma cozinha mais simples, com um
nosso país – é o novo inquilino. preço mais acessível, com 100% de sabor e
Durante mais de 10 anos, Vincent liderou um cunho francês.” ■
a cozinha do Fortaleza do Guincho, onde
manteve a estrela Michelin que o restaurante
conquistou em 2001. Em 2018 abriu o Epur no
Chiado, que conquistou uma estrela Michelin
em apenas um ano.
Para o espaço que agora assume no Time
Out Market, o chef traz uma cozinha de cunho
francês, que reflecte sobretudo as suas raízes.
Alguns dos pratos que vai trazer são clássicos
da cozinha francesa, mas sobretudo pratos
que lhe trazem boas memórias, como uma
FOTOGRAFIA: GABRIELL VIEIRA

salada de fígados de aves, um pargo com

beringelas fumadas, uma presa de porco
preto com vinho tinto ou a sobremesa Baba au
rhum.

7 5 – 11 Janeiro 2022 Time Out Portugal

 Time Out & MEO apresentam

5 embaixadores
MEO para manter
debaixo de olho A não perder em 2022
A cantora sobe ao palco do
Coliseu dos Recreios, em
Lisboa, nos dias 20 e 21
Uns na cultura, outros no desporto, os deste mês.A 22 e 23, segue
embaixadores MEO são exemplos de para o Coliseu do Porto.
talento, trabalho e compromisso. Se
em 2021 já deram cartas, este ano há
novos projectos que provam que vale a
pena continuar de olho neles.

Carolina Deslandes
2021 não podia ter sido melhor para Carolina Deslandes.
A embaixadora MEO recebeu uma nomeação para os
prémios Grammy Latinos com o EP Mulher, recebeu o Globo
de Ouro de Melhor Música com “Por um Triz”, o tema que
levou ao Festival da Canção 2021, e foi convidada para
actuar no Colors, uma das mais importantes plataformas
internacionais de música, onde apresentou o novo “Eco”.
A cantora fechou o ano com a participação no espectáculo
A Nova Cinderela no Gelo, no MAR Shopping Matosinhos,
onde dividiu o papel principal com a colega e amiga Irma.
Para quando o próximo disco? É o que todos queremos saber
(fazemos figas para que este seja o ano).
Acompanhe-a em: @carolinadeslandes

Bárbara Tinoco
Depois do EP Desalinhados, um dos maiores acontecimentos
de 2021 para Bárbara Tinoco foi o lançamento do seu A não perder em 2022
primeiro álbum, Bárbara. Este primeiro disco da embaixadora Bárbara Tinoco já confirmou a
MEO inclui novos temas, mas também títulos que já todos presença no Rock in Rio e no MEO
sabemos de cor como “Antes d’ela dizer que sim” ou “Sei lá”. Marés Vivas.A pensar no futuro,
Também foi no ano passado que Tinoco subiu aos palcos dos já anunciou datas para 2023
Coliseus de Lisboa, do Porto e de Ponta Delgada – com muitas no Campo Pequeno, em Lisboa
datas esgotadas pelo meio.Tal como Carolina Deslandes, (11 de Março), e no Super Bock
Bárbara Tinoco levou para casa um Globo de Ouro, este de Arena, no Porto (25 de Março).
Melhor Intérprete. E por falar em galardões, a artista também
arrecadou o prémio Play de Artista Revelação. O que estará a
tramar para 2022?
FOTOGRAFIA:

Acompanhe-a em: @tinoco.barbara

 A não perder em 2022
Armindo Araújo tem um
novo objectivo: veículos de
todo-o-terreno. Quem sabe,
vamos poder vê-lo já no
próximo Dakar.
A não perder em 2022
Ninguém vai querer perder
a World Surf League 2022.
O surfista português vai
participar nas quatro
etapas, uma delas na
Ericeira, em Outubro.

A não perder em 2022
O piloto português tem
lugar na equipa oficial da
KTM até final da próxima
temporada e estaremos cá
para o apoiar em todas as
voltas à pista.
Frederico Morais
Num ano ainda cheio de incertezas, Frederico Morais,
também conhecido como Kikas, voltou a surpreender em
cima da prancha e a encher de orgulho todo o país. Foi em
2021 que conseguiu, pela primeira vez, ficar no top 10 da
World Surf League, a sua melhor classificação final e a melhor
de sempre de um português nesta competição mundial.
Como se isto não bastasse, o surfista de Cascais ainda
fechou o ano a alcançar o quinto lugar nas Challenger Series,
a competição que apura os atletas para o World Tour do
próximo ano. Kikas já está seleccionado.
Acompanhe-o em: @fredericomoraiis

Miguel Oliveira Armindo Araújo

Mesmo com um ano atípico, 2021 não deixou de trazer
vitórias ao piloto de MotoGP. Miguel Oliveira não conseguiu
alcançar os melhores resultados em todas as competições,
mas voltou a encher de orgulho todos os portugueses quando
foi consagrado o campeão do Grande Prémio da Catalunha,
a sétima corrida do Campeonato do Mundo de Moto GP de
2021. Mas o que marcou o ano do embaixador MEO não tem
nada a ver com o desporto: nasceu a sua primeira filha, Alice.
Agora o piloto de Almada está fora das pistas, mas prepara o
regresso em força. Temos a certeza que o vamos voltar a ver a
FOTOGRAFIA: DR
A pandemia não foi simpática com o desporto, mas muitos
desportistas não cruzaram os braços. Em 2020, Armindo
Araújo mudou a estratégia da sua fábrica de têxteis para
apostar em produzir tecido certificado para máscaras sociais.
Nesse mesmo ano, o piloto voltou às pistas pela Skoda e, em
2021, participou no Campeonato de Portugal de Ralis onde
venceu a quarta prova, em Castelo Branco. O sucesso do
embaixador MEO é visível em títulos: hexacampeão nacional
e bicampeão do mundo. Neste novo ano, o piloto de ralis vai
continuar a impressionar nas pistas e a apoiar o crescimento

subir ao pódio. da modalidade em Portugal.

Acompanhe-o em: @88migueloliveira Acompanhe-o em: @armindoaraujo
Intercidades
leitores@timeout.com
 Então, até já
Já tem a sua agenda para 2022? E a de 2023, 2024 e por aí fora?
Óptimo. Faça como Renata Lima Lobo e anote as datas de fecho
(e de reabertura) de algumas salas culturais de Lisboa e Porto.

LISBOA
Teatro Variedades
Inaugurado em 1926, o Variedades foi
desactivado no final dos anos 90. Até há
bem pouco tempo, este edifício desenhado
pelo arquitecto Norte Júnior encontrava-
-se em avançado estado de degradação, mas
está a ser alvo de obras de requalificação
e pode estar pronto já em 2022. Uma
empreitada retomada em 2020, após a obra
ter sido interrompida por insolvência do
anterior empreiteiro. Com um investimento
municipal de cerca de cinco milhões de
euros, é um projecto da autoria de Manuel
Aires Mateus que, segundo a Lisboa
Ocidental SRU (entidade municipal que
executa as empreitadas em curso), “visa
restaurar o glamour deste emblemático
edifício da cidade de Lisboa, mantendo os
principais elementos que o caracterizam: o
pórtico, o foyer, o auditório e o palco.” No
entanto, é possível que o público tenha de
esperar mais um tempo até voltar a entrar
no teatro, já que ainda não foi divulgado
o modelo de exploração do espaço. Por
exemplo, o vizinho Cineteatro Capitólio
– Teatro Raul Solnado foi concessionado
pela Câmara Municipal de Lisboa à Sons
Em Trânsito em 2017, após lançamento de
concurso público.
euros, com verbas do Plano de Recuperação
e Resiliência (a famosa “bazuca europeia”),
destinadas à valorização, salvaguarda e
dinamização do património cultural. A
mudança vai ser clara logo à entrada, com a
reformulação da zona do átrio, que ficará mais
confortável e bem iluminada, e também com
a junção da bilheteira e da livraria num só
espaço. A Sala Garrett será pintada, os tecidos
que forram as paredes serão substituídos
e toda a parafernália eléctrica actualizada.
As restantes mudanças acontecem nos
bastidores, com a criação de uma nova sala de
ensaios, a reorganização da zona do subpalco
e a melhoria das condições nas zonas onde são
guardados os adereços e figurinos, assim como
a área da biblioteca/arquivo, onde se encontra
o precioso acervo histórico. E por quase todo o
lado vai respirar-se melhor, com a instalação
de um novo sistema de climatização. O Teatro
D. Maria II abriu em 1836 e não é a primeira
vez que encerra, embora agora por motivos

Teatro Nacional D. Maria II

A mais emblemática sala de espectáculos
FOTOGRAFIA: DR; FILIPE FERREIRA

de Lisboa vai fechar durante todo o ano de

2023 para obras de restauro, manutenção e
renovação de várias zonas, um projecto que
prevê um investimento total de 9,8 milhões de

11 5 – 11 Janeiro 2022 Time Out Portugal

Intercidades
menos trágicos. Em 1964, um violento
incêndio só deixou de pé as paredes exteriores
e a entrada do edifício e apesar de respeitar o
estilo neoclássico original, o actual edifício é
uma reconstrução que se deu por terminada
apenas em 1978. Em comunicado, o teatro
garante que o actual projecto de remodelação
“terá em consideração o valor arquitetónico e
patrimonial do teatro.”
MUDE – Museu
do Design e da Moda
É uma verdadeira obra de Santa Engrácia,
mas há luz ao fundo do túnel. O MUDE
– Museu do Design e da Moda, que abriu
em 2009 no antigo edifício-sede do Banco
Nacional Ultramarino (BNU) da Rua
Augusta, fechou em 2016 para obras de
requalificação integral, com o objectivo de
alargar o espaço expositivo e instalar um
restaurante panorâmico com vista sobre a
Baixa Pombalina. No entanto, problemas
financeiros da construtora fizeram parar a
obra e a burocracia voltou à estaca zero. Após
lançamento de novo concurso público, foi
finalmente assinado um contrato em Janeiro
de 2021, com prazo de execução de 720 dias.
Time Out Portugal 5 – 11 Janeiro 2022
Fazendo as contas, equivale a quase dois anos
de partir pedra, rumo a 2023.
Museu Nacional
de Arqueologia
Numa das alas do Mosteiro dos Jerónimos
mora o Museu Nacional de Arqueologia, um
espaço fundado em 1893 que integra a maior
colecção de tesouros nacionais e de escultura
clássica em museus portugueses. Este é outro
dos espaços do nosso património cultural que
irá beber da fonte do Plano de Recuperação e
Resiliência e será alvo de “uma intervenção
profunda e hercúlea”, um investimento de
25 milhões de euros, assegurou ​​o director
do museu, António Carvalho. Mas tudo irá
valer a pena. É que a maior parte do acervo
está guardada em reservas, inacessíveis
ao público, e a reabilitação do espaço irá
permitir o crescimento da área expositiva,
pela cedência da Torre Oca do Mosteiro dos
Jerónimos, actualmente ocupada pelo Museu
de Marinha. A obra deverá arrancar no final
de 2023 e estar concluída no final de 2025
e irá reorganizar espaços no subsolo, assim
FOTOGRAFIA: DR
como consolidar as fundações do mosteiro.
Durante esse período, o museu irá continuar
12

a participar em exposições temporárias
noutros locais do país.
Teatro Nacional
de São Carlos
A “bazuca” a dar-lhe: em breve irá ainda
financiar as obras do Teatro Nacional de São
Carlos (TNSC), num investimento de 27,93
milhões de euros. Arrancam em Janeiro
de 2023, ou seja, logo após o fim das obras
do D. Maria II, se o calendário correr como
planeado. E, na verdade, o São Carlos tem
pressa: Conceição Amaral, presidente do
Conselho de Administração do OPART –
Organismo de Produção Artística, alerta
que “o TNSC vive na angústia permanente
e monitorização diária sobre a instalação
eléctrica”. As obras irão decorrer entre Janeiro
de 2024 e Setembro de 2025 e corrigir várias
fragilidades do edifício, com intervenções na
sala principal, no pavimento, na maquinaria,
no sistema de som, na protecção térmica e na
protecção contra incêndios. A intervenção
irá também criar uma nova sala de ensaios
para a Orquestra Sinfónica Portuguesa, uma
nova cafeteira e uma nova loja, estando ainda
previstas obras na bilheteira, reabilitação
FOTOGRAFIA: ALFREDO ROCHA
13
Intercidades
dos espaços de acervo e requalificação
dos bastidores e camarins. Recordamos
que o TNSC já se encontra de cara lavada,
embora apenas no exterior: este ano o teatro
regressou à sua cor original, abandonando
o amarelo (cor adoptada em 1940) e
regressando ao azul. Também a programação
do TNSC promete percorrer o país de norte a
sul durante o seu encerramento.
PORTO
Cinema Batalha
Pode começar a fazer a contagem decrescente
para a reabertura do Cinema Batalha. Perdão,
Batalha Centro de Cinema, o novo nome do
mítico cinema portuense desactivado no
virar do século. Com inauguração prevista
para Fevereiro de 2022, este Monumento
de Interesse Público foi arrendado pela
Câmara do Porto por um período de 25 anos à
família Neves Real, proprietária que não quis
vender. A empreitada iniciada em 2019, que
representa um investimento municipal de
aproximadamente quatro milhões de euros,
tem por base um projecto de arquitectura do
Atelier 15, de Alexandre Alves Costa e Sérgio
Fernandez, que desenharam duas salas
5 – 11 Janeiro 2022 Time Out Portugal
Intercidades
OUVIDO NO METRO

de projecção preparadas para exibição de

formatos digitais e analógicos: a Sala Grande,
com 341 lugares, e a Sala Estúdio, com 126.
O novo Batalha terá uma galeria de 65 metros “Eu sei que
quadrados dedicada às artes visuais, uma estou a exagerar,
biblioteca especializada em cinema, uma
mas é para efeitos
mediateca dedicada ao património fílmico
da cidade do Porto e um bar equipado para dramáticos.”
exibições e performances. Guilherme Blanc,
o novo director artístico, adiantou em Março “Tu medes
passado que o Batalha “não pretende ter o tempo pelas filhas
a missão exclusiva de programar cinema
que tens?”
histórico, ou dedicar-se a estreias de filmes
que entram no circuito comercial, mas antes
propor uma programação que estimule o “Se eu fosse
conhecimento e fruição cultural através das super-herói o meu poder
múltiplas formas de fazer e pensar o cinema”. era cortar bolos.”
Está quase.
“Não sei, tenho medo
Museu do Holocausto de ir ao Dubai,
É o único espaço desta lista que fecha portas enquanto mulher
por outro motivo que não obras. Devido à em idade reprodutiva.”
actual situação pandémica, o museu deverá
estar fechado até Fevereiro ou Março de
“O ‘Believe’ da Cher
2022. “Reabrindo quando as circunstâncias
o permitirem”, lê-se em comunicado. Uma é um hino
reprodução dos dormitórios de Auschwitz, do auto-tune.”
uma sala de nomes, um memorial da
chama, cinema, sala de conferências, centro “Nunca passei
de estudos, corredores com a narrativa um dia inteiro de pijama,
completa, fotografias e ecrãs que exibem
filmes reais são algumas das áreas deste
desde que nasci.”
museu inaugurado em Abril de 2021. Até
agora recebeu mais de 35 mil pessoas, público “Ele tem cara
que é “esmagadoramente constituído por de pêra abacate,
adolescentes que ali se deslocam em grupos não tem?”
ou em visitas escolares”, explica o director do
museu Michael Rothwell, acrescentando que
não é desejável manter o espaço aberto “até à
reabertura da sociedade”. Aguardemos. n

Ouviu alguma coisa ridícula?

FOTOGRAFIA: JOÃO BIZARRO

leitores@timeout.com

Time Out Portugal 5 – 11 Janeiro 2022

 O PÁTIO DAS ANTIGAS
Coisas e loisas da Lisboa de outras eras
Por Eurico de Barros

O antigo Hotel Victoria

Projectado por Cassiano Branco e inaugurado em 1936,
o Hotel Victoria, hoje sede regional do PCP, era considerado
suspeito pelos Aliados durante a II Guerra Mundial, por ser muito
frequentado por alemães.

A MAIOR PARTE DAS PESSOAS que por ele
passam na Avenida da Liberdade conhecem-
no apenas como sede regional do PCP, mas
o moderno edifício concebido por Cassiano
Branco, o antigo Hotel Victoria, tem uma
história que lhe é anterior e com pormenores
curiosos, associados à II Guerra Mundial e à
neutralidade de Portugal durante o conflito.
Vizinho do Hotel Liz, que esteve vazio
durante muitos anos, o Victoria foi inaugurado
no dia 1 de Julho de 1936, embora tenha sido
FOTOGRAFIA: ESTUDIO HORACIO NOVAIS
ampliação, mas nenhum deles se realizou.
Durante a II Guerra Mundial, o distinto e
confortável Hotel Victoria, cujos proprietários
se gabavam de o edifício ser imune a incêndios
devido ao seu tipo de construção, tornou-se
num dos eleitos pelos alemães que estavam em
Portugal ou por cá passavam, tendo-se criado
a reputação de ser frequentado por espiões
nazis, e, logo, suspeito para os Aliados.
Quando se deu o 25 de Abril, o edifício já
não funcionava como hotel e estava vazio há

construída apenas uma parte do edifício
original, que previa o aproveitamento do
espaço livre que existia entre este e o Hotel Liz.
Nas décadas de 40 e 50 foram apresentados
vários projectos para concretizar esta
vários anos. Uma empresa hoteleira fez então
uma tentativa para o recuperar, mas ficou sem
efeito e o prédio acabou por ir parar às mãos do
PCP. E assim, o antigo Hotel Victoria é hoje o
Centro de Trabalho Vitória. ■

15 5 – 11 Janeiro 2022 Time Out Portugal

À mesa
com
2022
Time Out Portugal 5 – 11 Janeiro 2022 16
 Se pudesse convidar alguém
para jantar no novo ano, quem
convidava? A equipa da
Time Out Portugal já escolheu
as melhores companhias para
partilhar uma refeição em
2022. São promessas
da música, chefs que vão
dar que falar (e que comer),
fezadas da ficção e da
comédia e outros talentos
com quem nos queremos
cruzar nos próximos tempos.
FOTOGRAFIA:

17 5 – 11 Janeiro 2022 Time Out Portugal

Idade: Rita Blanco, 59 anos,
Júlia Pinheiro, 59, Rui Zink, 60,
Manuel Serrão, 62
O que fazem: comentadores
da actualidade portuguesa

Noite
FORAM, DURANTE ANOS, os desejados. Em
Setembro de 2021, fizeram a vontade
aos que pediam (e pediam e pediam) um
regresso do programa mítico dos anos 90. A

da Má
Noite da Má Língua voltou, não aos ecrãs da
SIC, mas enquanto podcast do Expresso. O
reencontro foi orquestrado por quem, afinal?
“Júlia”, dispara Rui Zink, atropelado pela

Língua
apresentadora que diz que foi “o universo”,
seguida por Rita Blanco que garante que foi
“Jesus”. Na verdade, “quando se começou
a falar da ideia de fazer mais podcasts aqui
dentro do grupo Impresa pôs-se a hipótese”,
recorda a também directora da SIC Mulher
e SIC Caras. Foi o suficiente para reacender
a chama entre Júlia Pinheiro, Rita Blanco,
Manuel Serrão e Rui Zink. “Na atitude e na
forma de ser não mudámos”, diz Serrão, que se
Em 2022, vão levar a junta à equipa por videochamada. “A idade até
nos dá a liberdade para dizer ainda mais o que
língua afiada mais longe nos apetece. Se há 25 anos não dependíamos
de nada, hoje ainda dependemos menos.”
– e não, não é à televisão. À mesa no estúdio em Paço de Arcos, numa
segunda-feira à noite e a minutos de gravar
Avizinham-se Noites mais um episódio, a conversa flui. Discute-
se efusivamente e com fartas gargalhadas.
da Má Língua ao vivo. Fica a sensação de que, segundos depois,
FOTOGRAFIAS: RICARDO LOPES

com o gravador ligado, nada mudou. Nem há

preparação prévia. “Estamos só naturalmente
atentos ao que se está a passar”, esclarece a

Time Out Portugal 5 – 11 Janeiro 2022 18

 Idade: 30 anos
O que faz: música

Rita QUANDO ERA PEQUENINA, Rita Vian já cantava

Vian
livremente o fado sem saber ainda o que
era o fado. No seio de uma família musical,
entoavam-se fados de forma singela, sem os
instrumentos tradicionais – algumas das suas
primeiras memórias musicais são na casa da
avó, com a família a cantar à volta do piano.
As melodias que ela traz na cabeça vêm daí.
Depois, na adolescência, o hip-hop atraiu-a
pelo ritmo e a rapidez de pensamento, a fluidez
Em 2022, vai mostrar fonética e a alma poética. Mais tarde, quando
começou a criar canções, gravou com Mike El
que a tradição Nite, Benji Price e DJ Glue, e chegou a integrar
os Beautify Junkyards, seduzida pelo lado
é o que era experimental do grupo. Depois de lançar os
primeiros temas a solo, Branko convidou-a a
e o que ainda vai ser. colaborar com ele e produziu o EP de estreia
CAOS’A, que saiu em 2021 com o selo da
Arraial, o braço editorial da agência Arruada.
O resultado é uma mão cheia de canções que
deixam pistas promissoras para o futuro. O
facto de criar música no silêncio, só com a voz,
ajudou-a a imaginar novas possibilidades,
criando um som seu, pondo a música
electrónica global e a Lisboa multicultural
a namorar com a sua forma afadistada de
cantar. Nas suas letras, que brotam de matérias
simples mas profundas, respira-se ar puro.
São canções sobre a vida, o amor e as mágoas
humanas, que tentam abrir novos caminhos
sem arrancar as raízes. Rita Vian não é fadista,
mas sabe usar a expressividade do fado para
elevar o seu canto. Cristalina e enfeitiçante,
ela leva na voz a melancolia lusitana, por entre
trilhos sarracenos e ritmos mutantes. Em
2022, a artista lisboeta vai continuar a criar e
a levar a sua música a palcos maiores. “Estou
feliz por tocar em palcos como o do Festival
Impulso, no ID NO LIMITS ou no Primavera
Sound”, diz-nos Rita Vian. “Prometo coisas
novas e palavras cada vez mais próximas do
FOTOGRAFIA: EVA FISAHN

que quero trazer à minha música.” Por cá,

vamos manter os ouvidos e os horizontes bem
abertos. ■ Ana Patrícia Silva

Time Out Portugal 5 – 11 Janeiro 2022 20

 Idade: 30 anos
O que faz: designer de moda
Víctor
Huarte
Em 2022 vai ver a marca Huarte crescer
e continuar a explorar o melhor de dois mundos:
a criatividade e a indústria.
VÍCTOR NÃO PENSA em arredar pé do Porto,
cidade a que chama sua desde que chegou
para fazer Erasmus, em 2017. A proximidade
das fábricas e a profusão de ferramentas de
confecção seduziram-no e foi em Portugal
que este jovem designer espanhol deu os
primeiros passos para criar a sua própria
marca. Chama-se Huarte e nasceu em plena
pandemia. “Estava em casa fechado com a
minha máquina de costura e tinha ainda
alguns tecidos. Fiz duas máscaras e pu-las à
venda. Foi um sucesso. O que começou por ser
uma brincadeira acabou por me sustentar
durante aqueles meses”, recorda em conversa
com a Time Out. Para trás deixou um percurso
pouco linear. Começou por estudar Gestão e
Marketing, embora já sonhasse com o Design
de Moda. A alta-costura de John Galliano
para a Dior é uma referência até hoje, embora
a sua abordagem seja bem menos teatral e
focada num pronto-a-vestir masculino
FOTOGRAFIA: INÊS SÁ
pensado para o dia-a-dia. “Tento que a minha
roupa seja criativa, com detalhes que a
23
tornem especial, mas gosto que olhem para
ela e pensem em usá-la.” A passerelle é
igualmente familiar. Com a colecção de final
de curso da ESAD, passou pelo Sangue Novo
da ModaLisboa e pelo Bloom do Portugal
Fashion, onde a última participação (com a
colecção The Lighthouse) lhe valeu uma
menção honrosa. “Um dos prémios era
produzir um dos coordenados do desfile com
a Salsa. Acharam que não fazia sentido e
acabámos por incluir mais peças.” O
resultado foi uma colecção cápsula de nove
peças lançada em Setembro com a marca
portuguesa. Mas a relação aprofundou-se.
Além da marca própria, Víctor é actualmente
o responsável pelas camisas e tricots da Salsa,
dentro do departamento de moda masculina.
Uma forma de financiar a Huarte quando se
prepara para entrar em 2022, ano que trará
um novo desfile no Portugal Fashion (o
designer já pensa em aumentar a colecção) e
uma possível nova colaboração dentro da
indústria nacional. ■ Mauro Gonçalves
5 – 11 Janeiro 2022 Time Out Portugal
 Idade: 42 anos
O que faz: curadora de artesanato
Felipa
Almeida
Em 2022, vai continuar a correr Portugal
em busca de objectos e ofícios.
FELIPA NUNCA ESCONDEU o apreço pela
pequena escala. Em casa, no atelier ou no
rol de interiores que já projectou (em nome
próprio ou durante os dez anos em que
integrou a dupla AnahoryAlmeida), os
objectos de arte ou artesanato, meramente
decorativos ou pertinentemente funcionais,
estão inscritos no currículo desta curiosa
formada em História da Arte. “Um gosto pelo
belo”, sintetiza a própria, em conversa com a
Time Out.
“Cresci na Suíça e estudei em Londres,
então os projectos sempre foram uma
oportunidade para ir descobrindo o meu país
e o seu artesanato”, explica. Com o passar do
tempo, foi desenvolvendo uma colaboração
estreita com artesãos de todo o país —
oleiros, marceneiros, cesteiros, ceramistas e
bordadeiras enriqueceram ambientes como
o São Lourenço do Barrocal, o Belcanto ou a
Marisqueira Azul. O estúdio fechou portas
no ano passado e Felipa prossegue agora
na missão de trazer os velhos ofícios para
a contemporaneidade. Depois da teoria,
no terreno, descobriu o que de imaterial e
FOTOGRAFIA: MATILDE TRAVASSOS
precioso existe no saber-fazer português.
“Estamos a falar de pessoas muitas vezes
isoladas, o que tem aumentado esta vontade
de servir de ponte, de dar voz e luz, e de, de
27
alguma forma, ser útil. Isso fez-me querer
continuar com os projectos e também com o
trabalho de curadoria.”
O atelier, que divide com a ilustradora e
ceramista Henriette Arcelin em Campo de
Ourique, é uma das montras deste impulso
recolector. “Há peças tradicionais nas quais
não ouso tocar”, resume. É dessas que são feitas
as vendas pop-up que organiza de tempos a
tempos – uma curadoria de objectos especiais,
que saem de oficinas para encontrarem morada
nos ambientes urbanos. “Dá-me muito gozo
perceber que técnicas antigas podem ser
trazidas para o dia-a-dia. Muitas vezes, quando
uma peça é posta num espaço onde respira é
que se percebe a sua beleza, complexidade e a
dedicação que envolve.”
Para 2022, antevê um ano promissor para
o artesanato português. A sua viagem pelo
património nacional ainda agora começou
e, por estes dias, aprofunda conhecimentos
sobre antigos utilitários alentejanos para
um hotel que abrirá portas naquela mesma
região. Em Maio, vai marcar presença em
mais uma edição da Lisbon by Design. “Há
cada vez mais interesse, da nossa parte e de
quem vem de fora. O importante é manter o
artesanato vivo e a evoluir, e celebrar o facto
de haver um futuro”. ■ Mauro Gonçalves
5 – 11 Janeiro 2022 Time Out Portugal

Alice Neto
de Sousa
Em 2022, vai falar mais com as mãos
e vamos poder vê-la em mais palcos, a mostrar como
a poesia pode ser uma forma de activismo.
2021 TEVE TANTO de estranho como de
espantoso. Quem o diz é Alice Neto de Sousa,
que nunca imaginou terminar o ano com uma
récita de poesia no Teatro São Luiz. Foi na 1.ª
edição da Power List da revista Bantumen que
a ouvimos ao vivo pela primeira vez, a
homenagear as 100 personalidades negras
mais influentes da lusofonia. Mas a poeta,
licenciada e mestre em Reabilitação
Psicomotora, já andava a fazer das suas.
Depois de o seu poema “Terra” integrar (e dar
nome) à antologia Do que ainda nos sobra da
guerra – e outros versos pretos, publicada pela
editora brasileira Ipêamarelo, Alice juntou-se
à Bolsa de Poetas da associação cultural
A Palavra e tornou-se presença assídua
no programa Bem-vindos, da RTP África.
“É engraçado: estive quase para seguir
contabilidade. Se o tivesse feito, agora seria
uma pessoa completamente diferente”,
diz-nos ao telefone, logo a seguir a confessar
sentir-se poeta desde que, ainda menina, se
revia nas mágoas de Florbela Espanca. “Ter
estudado psicomotricidade forçou-me a estar
mais conectada com as minhas emoções e a
desenvolver a relação com o outro. Todo esse
trabalho tem feito de mim melhor poeta.”
Actualmente, a especializar-se na área da
surdez, Alice admite o fascínio pela linguagem
Time Out Portugal 5 – 11 Janeiro 2022
Idade: 28 anos
O que faz: poeta
do corpo, razão pela qual começou a aprender
Língua Gestual Portuguesa (LGP) na
Associação Portuguesa de Surdos, e tem estado
focada em escrever “poesia para ser dita”
também através dos gestos e das expressões.
“Quero explorar esta coisa de falar com as mãos.
Ando a investigar sobre poesia em LGP, porque
existe e até temos um poeta surdo de referência,
o Amílcar Furtado.” Nos entretantos, tem vindo
a resgatar versos de “um lugar de muita
profundidade”. São sobretudo inquietações,
como o seu olhar sobre as prostitutas do metro
do Martim Moniz, a quem gostaria de dedicar
um livro muito em breve, ou a sua experiência
enquanto mulher negra, nascida em Portugal e
com raízes em Angola, que tem ainda “muitos
caminhos para descobrir” dentro de si. “Não
sou nada de levantar ondas. Tenho muito medo
de incomodar. Até o digo num poema inédito:
‘Andar a afiar a língua/ O que é que isso
importa?’. Se calhar, importa, porque as
palavras têm força.” Afinal, diz no mesmo
poema, “quem vai perder tempo a escrever
versos de amor/ com estes tempos, estas
tempestades, estes sismos, estes ismos”. Sem
estar preparada, mas com uma bravura
FOTOGRAFIA: ANDRÉ FERREIRO
inesperada, Alice escreve antes sobre “dores
comuns”. “É o ser humano que sou antes de ser
poeta”, remata. ■ Raquel Dias da Silva
28
 Idade: 27 anos
O que faz: actriz e activista
Rafaela
Jacinto
Em 2022, vai escrever um novo espectáculo e
concluir a tese de mestrado sobre a inf luência do
cristianismo nas artes performativas.
DURANTE QUASE DEZ ANOS, Rafaela fez parte de
uma ambiciosa produção. Pathos Ethos Logos,
a trilogia de Joaquim Pinto e Nuno Leonel,
estreou em Locarno, mas muito antes da
consagração da obra em ecrãs internacionais,
os dois realizadores conseguiram convencer
uma jovem indecisa a agarrar numa carreira
como actriz.
“Nunca foi bem um sonho. A minha mãe
é que queria ter uma filha licenciada em
alguma coisa. Estava indecisa entre História
e o teatro e fui um bocadinho empurrada
pelo Joaquim e pelo Nuno. Conheci-os
em 2012 e houve qualquer coisa que me
despertou”, recorda.
O Conservatório veio depois. Diz hoje ter
resistido à formatação académica, embora
tenha feito a vontade à mãe e concluído o
curso. O teatro esperava por ela. Começou
por trabalhar com Alex Cassal, seguiu-se
o Teatro Praga, a Cão Solteiro e o convite
inesperado de Luís Miguel Cintra para
integrar o elenco de Canja de Galinha (com
Miúdos), já em 2019.
Pelo caminho, Rafaela questionou e
consolidou a sua própria espiritualidade. A
FOTOGRAFIA: MARIANA VALLE LIMA
fé cristã, assumida e reiterada, seria o mais
estranho dos corpos dentro da comunidade
artística. Nos últimos anos, fez dessa a sua
causa. “Comecei a aproximar-me da religião
31
e percebi que, no meio artístico, ainda existe
muito preconceito em relação a isso. O meu
coming out queer foi muito mais fácil do que
chegar e dizer: acredito em Deus.”
Crença e vocação tornaram-se
indissociáveis, manifestas em produções
próprias como Ad Bestias (2018), Choo-Low
(2019) e Via Crucis (2021). Ao mesmo tempo,
voltou à sala de aula, desta vez para estudar
História e Cultura das Religiões. “Peguei na
teologia feminista e na teologia queer, temas
sobre os quais não existe informação em
Portugal. Para mim, é impossível separar as
duas coisas, o que é muito problemático para
a sociedade. As pessoas esperam que seja
queer ou cristã.”
Em 2022, vai continuar. Activismo? Em
todas as frentes, incluindo o livro de poesia
Regime, que quer continuar a divulgar.
Também gostava de dar aulas – de Religião e
Moral – e de começar a mudar mentalidades
a partir das novas gerações. “Não vou ser
a Joana d’Arc, mas sinto que é este o meu
caminho. Vejo muita ignorância.” Ao mesmo
tempo, quer escrever um novo espectáculo
(tendo as stigmata dos santos e a anorexia
de Santa Catarina de Sena como ponto de
partida) e com ele explorar uma dimensão
mais física do seu trabalho. ■
Mauro Gonçalves
5 – 11 Janeiro 2022 Time Out Portugal

Dani
Salles
Em 2022, vai “dar um Oi Portugal” – fazer uma
viagem de autocaravana de norte a sul do país.
FOI UMA DAS VÍTIMAS de Joana Marques no
seu Extremamente Desagradável, para a
rádio Renascença, embora numa das menos
desagradáveis emissões do programa, e assim
se tornou conhecida à escala nacional. Bem-
-humorada e com uma energia contagiante,
Dani Salles é autora de frases como “Se
fosse para andar eu também participava”
ou “Vou pôr a máscara para não beber mais”
(brevemente numa t-shirt perto de si), que
ajudaram a garantir novos milhares de
seguidores no dia do programa de humor.
Um dia em que Dani planeava festejar a
meta dos sete mil seguidores da sua página
de Instagram Oi Cascais, tendo comprado
um balão e tudo, como nos contou. Planos
que tiveram de ser adiados com a chegada
de mais dois mil fãs à sua página, quase de
uma assentada. Mas quem é afinal a nova
relações públicas da Linha? Carioca, no início
da pandemia trocou o Rio de Janeiro por
Cascais, para onde foi morar com o marido à
procura de mais segurança. Com ela trouxe
a ArtMais, empresa de eventos corporativos
que fundou no Brasil, mas o confinamento e
as restrições trocaram-lhe as voltas. “Abri a
minha página de Instagram, porque os meus
Time Out Portugal 5 – 11 Janeiro 2022
Idade: “Costumo dizer que
tem uma música para esta
pergunta: “Forever young,
I want to be forever young”
O que faz: influencer
trabalhos estavam parados”, descreve. No
início, a maioria dos seus seguidores eram
brasileiros. “Depois que eu saí na rádio, foram
muitos seguidores portugueses, de tudo quanto
é lugar. Recebi várias mensagens lindas desses
seguidores novos que vieram pela rádio e
também pelo programa da SIC Casa Feliz”, onde
participou, pós-Joana Marques. “Para mim foi
óptimo, eu morri de rir, achei [o Extremamente
Desagradável] muito engraçado. E nem
conhecia esse programa, foi uma surpresa
mesmo”. Em Cascais, também se sente em casa
e há um cantinho especial (com dois mil metros
quadrados) que Dani diz que vai dar que falar no
novo ano: o Palaphita Cascais, um restaurante
“eco-lounge” de raízes amazónicas, irmão do
Palaphita Galeão, no Rio de Janeiro. “Conheci
aqui, mas o restaurante era muito conhecido
no Rio. Sinto-me em casa, e todo o mundo pode
levar o cachorro. Levo o Charlie lá e tomo uns
drinks”, diz, referindo-se ao seu cão português
(veio do Porto) que é também uma celebridade
no Instagram. Em 2022, o Oi Cascais ultrapassa
fronteiras e transforma-se em Oi Portugal: Dani
FOTOGRAFIA: VANESSA REIS
vai dar uma volta ao país e animar as redes com
a sua energia contagiante. ■
Renata Lima Lobo
32

Rafael
Morais
Em 2022, vai ser assíduo
no cinema e na televisão
QUASE SEM darmos por ele, Rafael Morais
tem vindo a ganhar espaço na televisão e no
cinema. Não é do nada que dizemos que 2022
pode ser o ano da sua afirmação (se é que não
a teve já, depois de se ter tornado num dos
poucos portugueses com créditos em duas
séries Netflix). O actor, que começou em
grande, em 2008, com Amor de Perdição, de
Mário Barroso, e Como Desenhar um Círculo
Perfeito, de Marco Martins, em 2009, vai ter
nos próximos meses nada mais, nada menos
do que quatro longas-metragens e uma série de
televisão. “O início da pandemia foi bastante
duro, estava em Los Angeles e tive de vir para
Lisboa”, conta, explicando que inicialmente
as perspectivas não eram muitas. White Lines,
a série da Netflix onde foi o jovem Boxer, a
personagem principal de Nuno Lopes, já tinha
sido rodada, e Amadeo, filme de Vicente
Alves do Ó, também – este porém acabou
por ser adiado e a estreia deverá acontecer
até ao Verão. “Foi estranho, até porque uns
meses depois não parei mais.” Poder-se-ia
pensar que foi um golpe de sorte. Mas Rafael é
peremptório: é resultado de “muito trabalho
e muitas audições”. Não há outra alternativa
na vida de um actor que quer fazer da arte
vida. Foi assim que aconteceu, por exemplo,
com Glória, a primeira série portuguesa feita
para a Netflix, onde deu vida a Domingos,
funcionário da RARET. Em 2022, o mais
FOTOGRAFIA: MARIANA VALLE LIMA
provável é começarmos por vê-lo no papel
do pintor português Amadeo de Souza-
-Cardoso (1887-1918), um desafio com o seu
risco, diz o actor, por se tratar de uma “figura
35
Idade: 32 anos
O que faz: actor
portuguesa conhecida”. Protagoniza ainda A
Cup of Coffee and New Shoes On, do realizador
albanês Gentian Koçi, e que conta a história
de dois irmãos gémeos surdos, inseparáveis,
que descobrem que, devido a uma doença
genética, ficarão cegos. “Foi um processo
muito intenso porque não falo durante o
filme todo, tive de aprender língua gestual”,
explica. “Depois vou ter Evadidos, que é
totalmente diferente.” Filmado em Barcelos,
o terceiro filme do realizador português
Bruno Gascon é apresentado como uma ficção
distópica de um país em ditadura – se tudo
correr como planeado, a longa-metragem dará
ainda origem a uma minissérie que passará
na RTP1. Também no Norte, Rafael Morais
filmou Mal Viver, de João Canijo, realizador
com quem já tinha trabalhado em Sangue do
Meu Sangue (2011). “Trabalhar com o João
Canijo é sempre especial porque há uma
grande colaboração e ele dá-nos tempo para
explorarmos os nossos personagens, isso é
um luxo”, afirma. Para este Mal Viver – que
junta no elenco nomes como Rita Blanco,
Anabela Moreira, Cleia Almeida, Nuno Lopes,
Beatriz Batarda ou Leonor Silveira – João
Canijo instalou toda a equipa num hotel em
Ofir, Esposende, onde viveram durante três
meses. A história, sobre o amor disfuncional
entre mães e filhas, mas sobre a qual ainda se
sabe tão pouco, estará também na base da série
Hotel do Rio. “O mais provável é que o filme
faça o circuito dos festivais e chegue depois
às salas”, conclui Rafael. ■ Cláudia Lima
Carvalho
5 – 11 Janeiro 2022 Time Out Portugal
A Semana

Até vemos
estrelas MÚSICA
página 58

t Mau tt Fraco ttt Razoável tttt Bom ttttt Muito Bom

 Coisas
para fazer
nacidade@timeout.com

FOTOGRAFIA:

Time Out Portugal 5 – 11 Janeiro 2022 38

 Aprender fazendo
O novo ano é sempre uma oportunidade
para recomeçar. Deixando de parte as resoluções inatingíveis,
Ana Patrícia Silva e Joana Moreira foram à procura
dos workshops (estes sim, concretizáveis) no Porto e em Lisboa
onde pode pôr mãos à obra já em Janeiro. Arregace as mangas,
abuse do álcool gel e decida: o que vai aprender hoje?

PORTO
marmorite (26) e bolo de rosetas coloridas
Azulejaria (29).à Baronesa às Claras (Porto). 15, 19, 22, 26
Os edifícios revestidos a azulejo são dos e 29 Janeiro, 10.00. 55€-150€
mais belos no Porto. Estas peças de cerâmica
foram pintadas à mão, uma a uma, nas
extintas fábricas de azulejos da região. Nestes Pintura
workshops vai descobrir mais sobre este O Lx Paint, um ateliê que ensina a recriar
importante património e aprender a pintar obras de pintores famosos, tem um novo
azulejos utilizando as técnicas tradicionais. desafio em Janeiro. Através da mestria do
à Gazete Azulejos (Porto). Seg-Qui 15.30, Sex-Sáb passo-a-passo, conduzido pelos professores
11.00, Dom 16.30. 30€ do projecto, uma tela em branco vai
transformar-se num quadro para pendurar lá
em casa. Este mês poderá aprender a recriar
Fermentação O Beijo (1908), a obra que eternizou o pintor
A fermentação é um processo que parece simbolista Gustav Klimt na História da Arte.
mágico. Aqui poderá aprender a fermentar à Lx Paint Porto. 22 de Janeiro 15.30. 35€
vegetais e a descobrir como os seus sabores
complexos podem melhorar a digestão e
a saúde. Depois da prova, serão ensinadas
diferentes técnicas, dicas e truques para
fazer esta magia em casa. A formação será
dada por Aija Repsa, chef especializada em
cozinha vegetariana e vegana.à Casa da Horta
(Porto). 16 de Janeiro 14.00. 20€-25€

Pastelaria
Na Baronesa às Claras, um bolo nunca
é apenas um bolo – pode ser uma tela
para criar pequenas obras de arte.
Regularmente organizam workshops para
dar asas à criatividade, mas também para
aprendizagens mais técnicas. Em Janeiro,
vão ensinar a fazer cupcakes (dia 15), massas
FOTOGRAFIA: DR

e recheios (19), montagem e decoração

de bolos de camadas (22), bolo terrazzo/

39 5 – 11 Janeiro 2022 Time Out Portugal

Coisas para fazer
Café
Não há nada que substitua um café feito
por um verdadeiro barista, e aprender não
custa. Se quiser ter uma manhã em cheio,
no dia 8 de Janeiro poderá participar em
três workshops complementares na escola
certificada Abcoffee. Às 09.00, pode começar
a aprender a tirar o “espresso perfetto”, do
moinho à máquina. Depois, vão ensinar a
vaporizar o leite, essencial para conseguir um
creme perfeito em bebidas com leite. Para
terminar, pode aprender a fazer “latte art” –
não se esqueça de mostrar o seu talento no
Instagram.à Abcoffee (Porto). 8 de Janeiro 09.00,
10.30, 12.00. 50€-55€
Doçaria
Portugal é um país muito guloso, com um
vasto receituário de doces feitos com os
ingredientes mais simples. Neste workshop, o
chef Hugo Araújo vai ensinar a fazer algumas
das sobremesas mais tradicionais de norte a
sul do país. No final, vai poder provar estas
doces delícias.à Workshops Pop-Up (Porto).
16 de Janeiro 15.00. 35€
Time Out Portugal 5 – 11 Janeiro 2022
LISBOA
K-Pop
Os nomes BTS e Blackpink dizem-lhe
alguma coisa? São dois exemplos das mais
proeminentes bandas de K-Pop, o termo que
abrevia um género de música pop coreana.
O Museu do Oriente preparou um workshop
dedicado a este fenómeno global que já
se estende além da música. Nesta viagem
sem sair do sítio, vai aprender as letras das
canções e o seu significado, mas também
conhecer outros aspectos da cultura
coreana, da gastronomia à tradicional
cerimónia do chá. à Museu do Oriente (Lisboa).
28 de Janeiro (Sex) 14.00-16.00, ou 30 de Janeiro
(Dom) 17.00-19.00. 25€
Cerâmica
Há quem vá pela experiência relaxante e
quem ceda ao desejo de levar peças únicas
para casa. No hALL, os ateliers de cerâmica
são frequentes e misturam experientes e
curiosos. As sessões são de duas horas e com
direito a todos os materiais e ferramentas.
Pode experimentar diferentes técnicas:
40

rolinhos, modelação, construção com
lastras, moldes com lastras ou roda de oleiro.
à hALL – Atelier de Coworking (Lisboa). 5, 7, 8, 9,
11, 15, 19 e 22 de Janeiro. Vários horários. 35€/
sessão ou pack de 4 sessões por 110€
Macramé
As infinitas possibilidades do macramé,
uma técnica de tecer fios que não utiliza
qualquer tipo de maquinaria ou ferramenta,
são exploradas neste workshop ministrado
por Joana Teixeira. No final, cada
participante leva um suporte de vaso para
adicionar à decoração. à ARTlier (Lisboa).
23 de Janeiro. Dom 10.00-12.30. 50€
Cozinha
Durante o confinamento percebeu que
as suas habilitades enquanto chef estão
próximas do zero? No nível 1 do curso
Kitchen Skills, na Academia Time Out
Market, aprende-se as bases da cozinha
– desde as técnicas de corte de vegetais
até à confecção de molhos ou caldos. São
quatro sessões de 2 horas e 30 carregadas de
exemplos práticos. à Academia Time Out, Time
FOTOGRAFIA: DR
41
Coisas para fazer
Out Market (Lisboa). 6, 13, 20 e 27 de Janeiro. Qui
19.30. 140€
Encadernação
Desta oficina de encadernação, dividida
em três sessões de três horas, sai-se a saber
fazer cadernos do início ao fim. Em cada
uma das aulas aprende-se uma técnica
diferente: costura francesa, capa dura e até
caixas. No fim, garantem, estará apto a fazer
encadernações sem qualquer assistência.
Se neste Natal já caprichou nos presentes,
comece já a pensar no ano que vem. à FICA
– Oficina Criativa (Lisboa). 18, 25 de Janeiro
e 1 de Fevereiro. Ter 18.30-21.30. 110€
Sustentabilidade
A palavra é um chavão e a pergunta que se
segue não tem resposta fácil: como ser mais
sustentável? O workshop Zero Waste Living
pretende ensinar os participantes a ter uma
cozinha mais sustentável e com o mínimo
desperdício, graças a dicas de planeamento
e organização e apelando ao consumo local e
sazonal. à Workshops Pop Up Chiado (Lisboa).
15 de Janeiro. Sáb 15.00-17.00. 40€
5 – 11 Janeiro 2022 Time Out Portugal
 Mais que fazer
Castafiore
A propósito da exposição dedicada a Hergé
na Gulbenkian, Catarina Molder parte de
uma personagem da banda desenhada As
Aventuras de Tintim, Bianca Castafiore,
uma cantora de ópera, para criar uma
perfomance com a duração de 15 minutos
que se repetirá três vezes. Tal como a
personagem, Molder cantará a “Ária das
Jóias”, da ópera Fausto, de Charles Gounod.
à Fundação Calouste Gulbenkian (Lisboa). 8 de
Janeiro. Sáb. 16.00, 17.00 e 18.00. Entrada livre,
mediante levantamento de bilhete
Animal de Palco
David Cristina estreia-se num espectáculo
de stand-up a solo no Lisboa Comedy
Club, na The Famouse Grouse Room.
Depois de esgotar duas datas, e antes de
rumar ao Porto, ainda há uma terceira
oportunidade para ver o humorista na
capital com Animal de Palco.à Lisboa
Comedy Club (Lisboa). 7 de Janeiro. Sex 21.00. 7,5€
Bailados clássicos no Coliseu
O Coliseu do Porto começa o novo ano
com dois bailados da companhia Russian
Classical Ballet, dirigida pela bailarina
Evgeniya Bespalova. Primeiro, O Lago
dos Cisnes, uma narrativa de amor, de
traição e do triunfo do Bem sobre o Mal,
com música composta por Tchaikovsky.
Segue-se A Bela Adormecida, com uma
narrativa que desperta a magia dos
contos de fadas, onde somente o beijo de
um amor verdadeiro conseguirá desfazer
Time Out Portugal 5 – 11 Janeiro 2022
o feitiço. à Coliseu Porto Ageas. Qua e Qui
21.00. 22-35€
Exposições no Centro
Português de Fotografia
Durante quase 200 anos, a antiga Cadeia
da Relação do Porto albergou nomes
ilustres como Camilo Castelo Branco,
condenado por adultério com Ana Plácido,
também ela encarcerada nesta prisão.
No final do século XX, o edifício foi
renovado para acolher o Centro Português
de Fotografia, que merece sempre uma
visita – pela arquitectura do edifício e
pela riqueza das suas colecções. Pode ver
as exposições “Quando tudo mudou”,
de Fabio Bucciarelli (até 9 de Janeiro),
“Nicolás Muller. O olhar comprometido”
(até 20 de Fevereiro), o Prémio Estação
Imagem 2021 Coimbra (até 6 de Março) e
a mostra colectiva “Texturas” (até 20 de
Março). à Centro Português de Fotografia (Porto).
Ter-Sex 10.00-18.00, Sáb-Dom 15.00-19.00. Grátis
O Balcão
A obra mais ambígua do escritor e poeta
Jean Genet joga-se no interior de um
bordel de luxo, espaço confinado e
atravessado por ecos de uma revolução
em curso. É com ela que o encenador
Nuno Cardoso reflecte sobre a ilusão, o
poder como claustrofobia, as revoluções e
FOTOGRAFIA: SUSANA PAIVA
as sedutoras vizinhanças entre o sexo e a
morte. à Teatro Nacional São João (Porto). 7 a 22
de Janeiro, Qua-Sáb 19.00, Dom 16.00. 7,50€-16€
42
 Time Out & MEO apresentam

Chegaram os saldos
Ainda não recuperámos dos excessos natalícios, mas há negócios
que não podemos deixar passar ao lado. Espreite os saldos do MEO
e comece o ano a aproveitar muito com pouco.

Saldos MEO Go Multi Canais premium de futebol

2022 chegou, o futuro chegou. E só não o apanha quem
não quer. Com o MEO Go Multi pode ver televisão em
directo onde e quando quiser – basta ter um tablet, um
smartphone ou um computador por perto. E ainda tem
acesso às gravações automáticas, ao MEO VideoClube e
aos canais premium incluídos no seu pacote de TV do MEO.
Tudo isto sem gastar dados, já que este serviço não tem
custos de tráfego nas redes MEO. E as boas notícias que o
futuro traz não ficam por aqui. Pode experimentar o MEO Go
Multi durante três meses sem qualquer custo e aproveitar
descontos todos os dias. O mais provável, depois, é já não
querer voltar ao passado.
à Saiba mais aqui
A televisão já não serve só para ver filmes e séries.
Ah, e não desista de nos ler só por causa da palavra
“premium”. É que em Janeiro, o premium é de todos, com
descontos nos canais de futebol pagos do MEO. E se vai valer
a pena: os próximos dias estão carregadinhos de grandes
partidas. Dia 7, por exemplo, o Santa Clara defronta o
Sporting às 18.30 na Sport TV. Pouco depois, às 19.30, é a
vez do Bayern contra o Borussia M’gladbach na Eleven. Dia 8,
a barrigada de futebol continua com o Estoril Praia a receber
o FC Porto às 18.00 na Sport TV e o Real Madrid a tentar
vencer o Valencia às 20.00 na Eleven. No domingo, 9, há
Lyon-Paris SG para ver às 19.45 na Eleven. Aproveite 35% de
desconto nos conteúdos premium e não desgrude do sofá o
fim-de-semana inteiro. à Saiba mais aqui

Waiting Ring
Melhor que um bom desconto é uma grande borla,
principalmente no mês de Janeiro, quando quase toda
a gente anda a correr atrás do prejuízo do final do ano.
Comece 2022 a dar música a quem lhe liga, activando o
waiting ring da canção “Follow You” dos Imagine Dragons.
Oferecer este mimo a quem espera que atenda não custa
nada: no primeiro mês, o serviço do MEO é grátis.
à Disponível aqui

Sugestões
 Miúdos
miudos@timeout.com

FOTOGRAFIA:

Time Out Portugal 5 – 11 Janeiro 2022 44

 Um segredo
colorido
Vem aí uma revista infantil para soltar a língua.
Raquel Dias da Silva falou com a ilustradora Mariana Soares
sobre a novidade.
A DÓLITÁ NÃO É PARA ADULTOS nem (só) para
dar outro ar à mesa de centro da sala. Embora
vá ficar um espanto em qualquer divisão
da casa, o mais provável será encontrá-la
no quarto dos mais novos. Ah, pois. É para
miúdos curiosos, com ganas de brincar e
aprender. Sim, sabemos de fonte segura: a
revelação foi-nos feita por Mariana Soares,
a criadora desta nova revista ilustrada,
pensada para soltar a língua e a criatividade
às crianças dos três aos seis anos. Com foco
no conceito da Amizade, a primeira edição
conta com 24 páginas de histórias e coisas
para fazer. Mas – preste atenção – os mais
velhos estão a ser chamados a contribuir.
Para dar corpo à ideia, está a decorrer uma
campanha de financiamento colectivo até 28 de
Janeiro. O objectivo é angariar 2860 euros, o
valor necessário para imprimir os primeiros
300 exemplares.
Há quatro anos, Mariana Soares foi mãe.
Quando o seu filho atingiu a idade pré-
-escolar, a designer, que já embelezou
muitas páginas da Time Out, resolveu
fazer experiências gráficas e criar
actividades educativas para o estimular
e entreter. “Deram muito jeito durante
os confinamentos”, confessa. “Há muitos
ILUSTRAÇÃO: YARA KONO
cadernos temáticos e até a Dois Pontos, que é
uma revista para a faixa etária a seguir, mas
não há nada do género para o pré-escolar.
45
Um produto apelativo para os mais
pequenos, com ferramentas de jogo simples,
que respeitem a inteligência e reforcem o
potencial de cada criança.” Com Luís Leal
Miranda (ex-director da Time Out) a seu lado,
no papel de sócio, autor e revisor, Mariana
sonhou a Dólitá. Imaginou-a de grande
dimensão, um A4 bem colorido –
para satisfazer os sentidos vorazes dos mini-
-leitores – impresso em risografia, com tinta
biológica e papel certificado, proveniente de
florestas com manejo sustentável.
“A risografia permite sobreposições, o que
torna o trabalho de cor mais interessante
e o objecto mais artístico. Como a técnica
é semelhante à serigrafia, mas consegue
reproduzir bastantes cópias a maior
velocidade, o custo também é menor. Cada
edição será impressa com duas cores, que
juntas criam uma terceira. Nesta primeira
edição, temos o azul e o amarelo, que dá
origem ao verde”, esclarece Mariana, que
está a contar com a colaboração de diferentes
ilustradores em cada número da Dólitá. Neste
primeiro, temos desenhos da portuguesa
Margarida Ferreira, mais conhecida por
Amargo, do neerlandês Momo, actualmente a
viver em Portugal, e da brasileira Yara Kono,
que integra a equipa da editora Planeta
Tangerina. Mas Mariana também desenha.
São, aliás, da sua autoria as pranchas do Sr.
5 – 11 Janeiro 2022 Time Out Portugal
Miúdos
Girassol, uma BD muda de Luís Leal Miranda.
“A criança tem liberdade para imaginar o que
se está a passar e contar a sua história a quem
estiver a seu lado.”
Além de contos em diferentes formatos, a
revista promete incluir várias actividades,
jogos e desafios, como páginas para colorir,
diferenças para descobrir e labirintos e
adivinhas para resolver. Ouvir, falar e brincar
são as três palavras de ordem. A ambição,
conta-nos Mariana, é promover o gosto
pela leitura, incentivar as crianças a serem
engenhosas e estimular a análise e reflexão,
a concentração, o espírito crítico e criativo,
Time Out Portugal 5 – 11 Janeiro 2022
a auto-estima e a inteligência emocional.
“Gostava mesmo de ver os miúdos a
apropriar-se do objecto. É natural haver
acompanhamento dos pais, sobretudo no
primeiro contacto, mas a revista é deles e até
tem um lugar para colocarem o seu nome.”
A data de lançamento ainda não está
definida, mas a Dólitá deverá estrear-se em
Fevereiro de 2022. Uma única doação de 9€
dá direito a um exemplar. “Funciona como
pré-venda”, remata Mariana, que um dia
gostaria de a poder distribuir gratuitamente
em todos os jardins de infância públicos de
Portugal. ■
ILUSTRAÇÃO: YARA KONO
46
 Time Out & MEO apresentam

Os reis são eles

Comece o ano novo em grande, a celebrar o Dia de Reis
com os miúdos e o MEO. Uma semana em que vale saltar no tempo,
tornar-se um Mestre Pokémon e viajar com dragões.

Dia de Reis no Canal Panda Clube 57

O que é que a Barbie, a Masha, o Norman Pickelstripes, o
Panda e os Caricas e Dragões: Pilotos de Resgate, têm em
comum? Todos celebram o Dia de Reis no Canal Panda,
que é como quem diz, podem ser vistos na posição 46 do
MEO entre as 10.00 e as 17.00 do dia 6 de Janeiro. A festa
começa com uma dupla de episódios de Dragões: Pilotos
de Resgate, que conta a história de cinco dragões e dos
gémeos Dak e Leyla, das 10.00 às 10.45.
à Canal Panda, posição 46 do MEO
Como seria viver nos anos 50? É isso que os irmãos Eva e
Ruben descobrem depois de acidentalmente viajarem no
tempo até 1957. E não estão sozinhos: Tiago, um brilhante,
mas rebelde colega de escola desenvolve a sua própria
tecnologia para viajar até ao passado. Os irmãos vivem
uma emocionante história cheia de peripécias e saltos no
tempo, cujo fio condutor é o exclusivo Club 57, o programa
de televisão de música e dança mais popular da época.
à Canal BIGGS, posição 42 do MEO

Pokémon: Jornadas de Mestre

Faça as malas para embarcar em mais uma aventura
na companhia de Ash, Goh, Chloe e Pikachu. Na nova
temporada, os heróis continuam a viajar pelo mundo. Ash
segue seu objectivo de encontrar Mew, um dos melhores
treinadores; Goh precisa de capturar um tipo de cada
Pokémon para adicionar ao seu Pokédex, e Chloe está
em busca do seu verdadeiro propósito numa jornada em
conhece um misterioso Eevee. Pokémon: Jornadas de
Mestre chega ao Panda Kids no dia 10 de Janeiro às 18.00.
à Canal Panda Kids, posição 50 do MEO

Sugestões
 Grande
Ecrã
grandeecra@timeout.com

Time Out Portugal 5 – 11 Janeiro 2022 48

 Uma despedida
autobiográfica
Em ‘Tom Medina’, Tony Gatlif regressou à sua agitada
juventude para dizer adeus ao cinema, após quase meio século
a fazer filmes, escreve Eurico de Barros.
ttttt
QUASE MEIO SÉCULO DEPOIS do seu primeiro
filme, La Tête en Ruine (1975), Tony Gatlif,
franco-argelino e cabila de etnia cigana,
assina, aos 73 anos, a sua despedida do
cinema com Tom Medina. E o autor de Latcho
Drom, Vengo e O Estrangeiro Louco põe um
ponto final na sua obra com uma fita muito
autobiográfica, que remete para os seus
tempos de juventude através da personagem
que lhe dá o nome. Tom Medina é uma
conclusão que faz a ligação ao início de tudo.
Na década de 60, o então jovem delinquente
Gatlif andava de casa de correcção em casa
de correcção, até ser enviado por um juiz do
tribunal de menores para uma quinta da região
francesa da Camarga onde foi posto nos eixos
pelo seu proprietário, que o ensinou a tratar de
cavalos e a correr toiros bravos na companhia
do equivalente local dos nossos campinos.
Poucos anos depois, faria teatro, e nos anos 70,
chegaria finalmente ao cinema e à realização.
O protagonista homónimo de Tom Medina,
interpretado com vigor anárquico e recorte
cartoonesco por David Murgia, é também ele
um jovem delinquente, inadaptado e revoltado
mas de bom coração, que sonha ser toureiro.
Tom é enviado pelo tribunal para a quinta
de Ulysse (Slimane Dazi), que cria cavalos e
touros, e recebe rapazes para reeducação e
reintegração na sociedade. Apesar de só aceitar
menores, Ulysse abre uma excepção para o
esquivo e despassarado Tom, que veio a pé e à
boleia por nem sequer ter reparado que havia
um bilhete de comboio no envelope que lhe foi
dado pelo funcionário do tribunal.
FOTOGRAFIA: DR
Todo rodado na belíssima região da
Camarga, terra de cavalos e cavaleiros, touros
49
e paisagens pantanosas com ressonâncias
místicas, Tom Medina é um misto de western
contemporâneo e de filme de “integração
social”, em que Ulysse e Tom andam em
constante cabo de guerra. Aquele cheio de
paciência, a fazer o possível para que Tom
acalme e entre no bom caminho, e este ora
a esforçar-se para colaborar, ora a resistir
e a seguir a sua natureza intranquila e
inconformada, até que, perto do final, um
momento de confissão fará luz sobre a sua
personalidade e o seu comportamento (tem
tudo a ver com questões de identidade, uma
tragédia familiar e a falta de um sentimento
de pertença, mas Tony Gatlif evita quer
o sentimentalismo pegajoso, quer a pose
“sociológica”).
Ora jovial, ora crispada, ora calma e lírica
com interlúdios oníricos (as visões de touros
fantasmagóricos que assaltam Tom), ora
inquieta e angustiada, a fita anda ao sabor
dos impulsos, das guinadas de atitude e dos
estados de alma da personagem principal,
acompanhada pela música tocada pela filha
de Ulysse, Stella (Karoline Rose Sun), à qual,
e à falta de melhor classificação, podemos
chamar metal cigano (a cena em que Tom vai
ouvir Stella ao cantinho onde ela compõe e
toca é impagável).
No final, fica tudo em aberto para Tom, que
não parece mesmo ser feito para levar uma vida
convencional e se mete estrada fora, seguindo
o seu coração e a jovem Suzanne, uma errante
como ele, afinal fiel à vocação nómada do
cinema e das personagens de Tony Gatlif. Tom
Medina é um adeus aos filmes tão adequado
como sentido. ■
5 – 11 Janeiro 2022 Time Out Portugal
 Nas Salas
EM ESTREIA
O Acontecimento
Audrey Diwan realiza esta adaptação do
livro de Annie Ernaux, passado em França,
em 1963, quando o aborto ainda não
estava legalizado. Uma jovem e brilhante
estudante engravida inadvertidamente
e vê o seu futuro comprometido. Com
Anamaria Vartolomei, Sandrine Bonnaire
e Anna Mouglalis. Venceu o Festival de
Veneza.
Odeio-te e Amo-te
Comédia romântica sobre uma rapariga
ambiciosa e um rapaz frio e eficiente,
ambos assistentes do director de uma
importante editora, que começam a
competir por uma promoção. Só que
a rivalidade vai-se transformando em
atracção mútua.
Sem Hora Marcada
Filme de acção com Bruce Willis no
papel de um xerife reformado de uma
vila dos EUA, que vai em auxílio de uma
rapariga perseguida por polícias corruptos
envolvidos no tráfico de droga.
Time Out Portugal 5 – 11 Janeiro 2022
Meu Querido Monstro
Longa-metragem de animação russa sobre
uma princesa teimosa que foge do palácio
no dia do seu aniversário, e é capturada
pelo mais temido ladrão do reino. Só que
este não imagina que ela lhe vai fazer a
vida negra.
EM CARTAZ
Licorice Pizza
ttttt
O novo filme de Paul Thomas Anderson
está tão sólida e convictamente instalado
nos anos 70, que parece que veio de lá
numa máquina do tempo. Passado quase
todo na zona do Vale de San Fernando, em
Los Angeles, Licorice Pizza é uma sucessão
de episódios na vida de Gary Valentine
(Cooper Hoffman, filho de Philip Seymour
Hoffman), um finalista do secundário,
jovem actor e fura-vidas, e de Alana Kane
(Alana Haim), uns anos mais velha do que
ele e pela qual está apaixonado. Enquanto
Gary tenta convencer Alana a ser mais
do que uma grande amiga e a tornar-
FOTOGRAFIA: DR
-se na sua namorada, e ela lhe resiste,
vivem ambos uma série de peripécias
50

descosidas, insólitas e hilariantes, desde
vender colchões de água pelo telefone até
terem um encontro surreal com o exaltado
e engatatão ex-cabeleireiro, produtor
e namorado de Barbra Streisand, Jon
Peters (Bradley Cooper), em plena crise
do petróleo e da falta de combustível.
Filmado por Anderson em alegre ritmo
de mata-cavalos e interpretado com piada
e despretensão por Hoffman e Haim (do
grupo com o mesmo nome, as duas irmãs
dela na vida real fazem o mesmo papel
aqui, tal como o pai e a mãe), Licorice
Pizza é uma história de amor assolapado
e relutante (ficarão Gary e Alana juntos?),
e de agitação juvenil benigna (em que
mais andanças disparatadas eles se irão
meter?), tão aleatória e desconcertante
como afável e folgazona. Eurico de Barros
Homem-Aranha: Sem
Regresso a Casa
ttttt
O Homem-Aranha interpretado por
Tom Holland não só tem que enfrentar
vilões provenientes de linhas temporais
alternativas neste novo filme, como
também o espera uma enorme surpresa
FOTOGRAFIA: DR
51
Grande Ecrã
em termos da sua própria identidade. O
que o vai levar a pedir ajuda ao Doutor
Estranho (Benedict Cumberbatch),
embora o contacto entre ambos não corra
lá muito bem. Mesmo contemplando
os temas estandardizados, as situações
feitas e o gigantismo habituais das fitas
de super-heróis, Homem-Aranha: Sem
Regresso a Casa consegue ainda assim
manter a bonomia simpática, a ausência
de peneiras e um sentido de humor que
têm marcado quase todos os títulos desta
série, o que o destaca do ramerrame da
pomposa, elefantina e estereotipada oferta
deste género. EB
EM STREAMING
The Tender Bar
O novo filme realizado por George Clooney
adapta o livro de memórias do jornalista e
escritor J.R. Moehringer, que cresceu em
Long Island nos anos 80, abandonado pelo
pai e criado pela mãe e restante família,
e nutrindo uma enorme admiração pelo
tio, um autodidacta dono de um bar. Com
Ben Affleck, Tye Sheridan, Lily Rabe e
Christopher Lloyd. à Amazon Prime Video.
7 de Janeiro
5 – 11 Janeiro 2022 Time Out Portugal
 Pequeno
Ecrã
grandeecra@timeout.com

Entre o
amor e a justiça
Dos bastidores dos tribunais para o ecrã de televisão, ‘Causa Própria’
estreia-se a 5 de Janeiro. Raquel Dias da Silva conta-lhe o que já sabe
sobre o drama judicial realizado por João Nuno Pinto.

Time Out Portugal 5 – 11 Janeiro 2022 52

 NUMA CIDADE FICTÍCIA do interior de
Portugal, a vida desenrola-se sem pressa nem
sobressaltos. Os miúdos vão à escola, uma
juíza julga casos mais ou menos dramáticos,
mas sempre insólitos, e um inspector trabalha
no seu barco de pesca. Tudo decorre como
habitualmente – até ao anúncio inesperado de
uma tragédia. Quando o corpo de um jovem
é encontrado no jardim central, a polícia e
os tribunais confrontam-se com um crime
violento envolto em mistério e a pressão de
levar à justiça os responsáveis. Produzida pela
Arquipélago Filmes e realizada por João Nuno
Pinto, Causa Própria fala-nos sobre “como a
verdade às vezes não nos salva, destrói-nos”.
Quem o diz é Edgar Medina, que assina o
argumento com Rui Cardoso Martins, autor
das crónicas judiciais de Levante-se o Réu, que
alimentam a linha narrativa secundária desta
nova série de ficção nacional para a RTP1.
“Era para ter sido produzida antes de Sul
[o premiado policial negro realizado por Ivo
Ferreira]”, revela à Time Out Lisboa o produtor
e argumentista Edgar Medina, justificando
o atraso no processo com a falta de recursos,
os confinamentos provocados pela actual
pandemia e a mudança no próprio foco do
projecto. “Eu tive a ideia de levar para o ecrã
as crónicas do Rui, mas a certa altura falei
com a RTP e decidimos avançar com uma
trama original. Queríamos ter uma juíza numa
pequena cidade da província e um homicídio,
que se complica porque, de repente, a sua
família está de certa forma envolvida.” Pelo
meio, surgem “cinco ou seis casos” inspirados
nas histórias dos tribunais portugueses a
que Rui Cardoso Martins foi assistindo em
sessões públicas, ao longo de duas décadas.
A protagonista, interpretada por Margarida
Vila-Nova, é a juíza Ana Martins, mãe de Clara
(Sílvia Chiola) e David (Afonso Laginha),
colegas da tal vítima de um crime ali nunca
antes visto, e ex-mulher do procurador Vítor
(Ivo Canelas), que não hesita em tentar fechar
o caso ao primeiro suspeito.
“Tivemos aconselhamento sobre o modus
operandi do tribunal”, conta-nos a actriz
Margarida Vila-Nova, que teve oportunidade
de acompanhar uma juíza em várias sessões
no Campus da Justiça. “Pude entrevistá-la
e tirar dúvidas que me inquietavam, sobre o
seu dia-a-dia, os seus dilemas éticos e morais,
FOTOGRAFIA: RTP
o que é a justiça e o sentido da justiça.” Essas
conversas foram cruciais, confessa, para
53
– mais do que construir – desconstruir a sua
personagem e reflectir sobre como lidamos
com incidentes capazes de abalar, por um
lado, a pessoa que achávamos que éramos e,
por outro, a imagem que tínhamos de quem
nos é mais próximo. “Nós vemos uma mulher,
organizada e recta, a transformar-se à medida
que os seus valores e princípios são postos à
prova, mas também como as suas relações a
condicionam e como ela gere, ou não, a sua
vida familiar em conflito profissional.”
Em paralelo e até mesmo antes de o caso ir
parar a tribunal, os espectadores são também
convidados a acompanhar a investigação
do homicídio por uma dupla de inspectores
da Polícia Judiciária local. Com um visual
ousado a fazer lembrar a Lisbeth Salander
de Rooney Mara, sobrancelhas oxigenadas
incluídas, Catarina Wallenstein é Maria,
“uma personagem estupidamente eficaz, que
se levanta de manhã para fazer o que tem a
fazer”, com muita sensibilidade e um certo
sentido de humor. Não há arco romântico,
adianta a actriz, que procurou afastar-se de
estereótipos e retratar “a alegria de sermos
todos diferentes e tão complexos”. A seu
lado, Nuno Lopes dá voz e corpo a Mário, que
nada tem a ver com “o típico polícia cheio de
estilo, a fumar cigarros, como se vê nos filmes
americanos”. Pelo contrário.
“É um tipo mais simples, mais metódico
e que está a tentar fazer o bem”, resume o
actor. “Ele gosta de pescar”, acrescenta ainda,
por entre risos.
“Vi muitas séries criminais, mas este
detective tem uma característica muito
especial, que é o facto de ser português e de
isso ser levado ao extremo por se passar numa
cidade pequena em Portugal. Ao contrário
de qualquer série criminal americana que
estejamos habituados a ver, em que sentimos
que quando aparece um morto é um morto
que aqueles detectives já investigaram 20,
30 vezes antes, aqui o grande choque para o
meu personagem é que ele vive numa terra
tranquila, onde nada daquilo se passou nunca
e ele nem sequer imagina que aquele tipo de
violência se possa passar no sítio onde vive,
onde ama viver”, adianta Nuno Lopes.
Gravada entre Sintra, Caldas da Rainha e a
Foz do Arelho, Causa Própria tem cerca de sete
episódios e estreia marcada para 5 de Janeiro,
às 21.00, na RTP1 e na RTP Play. ■à RTP1 e RTP
Play. Qua (5 de Janeiro) 21.00
5 – 11 Janeiro 2022 Time Out Portugal
 Em Directo
Rebelde
Produzida no México, esta série de
comédia dramática passa-se num
exclusivo colégio particular e é uma nova
versão da série homónima datada do
início deste século. Uma nova geração de
alunos combina-se com personagens do
original e estabelecem-se novas amizades
e relações amorosas. Entretanto, uma
sociedade secreta, a Loja, procura sabotar
os sonhos e as esperanças daqueles que se
dedicam à música. à Netflix. Qua
Fantasy Island
Nova versão da série A Ilha da Fantasia,
interpretada por Ricardo Montalban e
Hervé Villechaise, e que durou entre 1977
e 1984. A acção passa-se numa estância
de férias de luxo de uma ilha do Pacífico,
cujos hóspedes podem realizar qualquer
desejo pessoal. A personagem principal
deste reboot é Christine Collins, uma
apresentadora de televisão que, após uma
humilhação em directo, vai fazer um retiro
na Ilha da Fantasia.à AXN White. Seg 21.25
FBI: International
Derivada da série-mãe FBI, esta FBI
International centra-se numa equipa de
agentes que está instalada em Budapeste,
na Hungria, e tem como missão proteger
cidadãos americanos em todo o mundo,
Time Out Portugal 5 – 11 Janeiro 2022
em especial na Europa, funcionando aqui
em estreita ligação com a Europol. O líder
desta unidade é o agente especial Scott
Forrester (Luke Kleintank), que nunca se
separa da sua arma secreta – o seu fiel cão
Tank.à FOX. Qua 23.05
Mistérios em Paris
Émilie Dequenne é a principal intérprete
desta série policial de época, passada na
Paris do século XIX e centrada numa série
de assassinatos que se dão em diversos
locais emblemáticos da capital francesa,
como a Torre Eiffel ou o Louvre. Dequenne
personifica Diane, uma rapariga que viaja
até Paris em busca da irmã desaparecida e
que acaba por se envolver na investigação
de uma série de crimes no Moulin Rouge.
à FOX Crime. Ter 22.00
Onde Nascem os Fortes
Dois gémeos, Maria e Nonato, partem do
Recife para Sertão, a cidade natal da mãe,
para fazerem mountain bike. Enquanto
Maria conhece Hermano, um paleontólogo
pelo qual se apaixona, o irmão envolve-
-se numa discussão num bar por causa de
uma mulher, é expulso do estabelecimento
e desaparece. Alice Wegmann, Marco
Pigossi, Patrícia Pillar e Gabriel Leone
FOTOGRAFIA: DR
encabeçam o elenco desta série dramática
e policial brasileira. à Globo. Qui 22.00
54

Estrada de Fogo
Walter Hill realizou, em 1984, este
filme de culto da década de 80, com
interpretações de Michael Paré, Willem
Dafoe, Diane Lane, Amy Madigan e
Rick Moranis, passado num tempo
indeterminado e numa cidade que nunca
é identificada e onde é sempre noite. Uma
cantora de rock é raptada por um gang de
motociclistas, e o seu ex-namorado, um
mercenário que regressou à cidade para
ver a irmã, é contratado para a resgatar.
à Cinemundo. Seg 19.20
Ártico
Mads Mikkelsen interpreta, neste
filme de sobrevivência assinado em
2018 por Joe Penna, um homem
chamado Overgard, que ficou sozinho
e perdido no Ártico após um desastre
de avião. Ele tem que se decidir entre
esperar por socorro (que poderá nunca
chegar) na relativa segurança do seu
acampamento improvisado, ou embarcar
numa arriscadíssima viagem através
das vastidões geladas, rumo à possível
salvação. à AMC. Dom 23.35
Missão Impossível
Há séries de televisão que são clássicos
entre os clássicos. É o caso de Missão
Impossível, vista originalmente em
Portugal na RTP ainda a preto e branco
nos anos 60 e 70, e que volta agora a ser
exibida na RTP Memória. Peter Graves,
Martin Landau, Barbara Bain, Greg Morris
e Peter Lupus interpretam os agentes
da super-secreta I.M.F., aos quais são
atribuídas as missões mais arriscadas e
inacreditáveis.à RTP Memória. Seg/Sex 21.00
FOTOGRAFIA: DR
55
Bem Visto
àPor Eurico de Barros
GUERRA QUENTE
Kill Stalin
ttttt
O YOUTUBE é uma cinemateca alternativa,
uma videoteca inesgotável, um
alfarrabista audiovisual e uma televisão
paralela (e é grátis). Lá encontramos
centenas de filmes e de séries, mais
antigas ou recentes, e de países
pouco representados no cabo ou nas
plataformas de streaming. É no YouTube
que está Kill Stalin, uma série policial
de espionagem russa passada durante
a II Guerra Mundial, e bastante melhor
do que 95% do que nos é proposto
habitualmente. Passada em 1941,
quando os alemães estavam às portas de
Moscovo e os soviéticos ponderavam a
evacuação de Estaline e do seu governo,
Kill Stalin põe em cena uma unidade
de elite dos serviços secretos militares
alemães, liderada pelo capitão Hess,
e com a missão de matar o ditador
comunista. Procurando detectá-la e
eliminá-la, está um grupo de agentes
do NKVD, comandada pelo capitão
Berezhnoy. No afã narrativo, na sucessão
de peripécias e reviravoltas, no suspense
permanente e no ritmo intenso, Kill Stalin
não dá descanso ao espectador, juntando
a estas qualidades um pequeno exército
de bons actores (os que interpretam
Estaline e Beria são sósias deles…) e
uma recriação de época inatacável,
dos uniformes ao equipamento. Único
senão: o retrato demasiado simpático de
Estaline, um óbvio reflexo da era Putin. ■
5 – 11 Janeiro 2022 Time Out Portugal
 Time Out & MEO apresentam

Mais que ver

O novo ano já começou e trouxe com ele boas razões para
voltar ao sofá. De filmes de acção a sessões de terror,
descubra as novidades que o MEO tem para lhe dar.

Ladrões de Elite Padre

Depois de vestir a pele de James Bond entre 1997 e 2002,
Pierce Brosnan regressa aos papéis de acção em Ladrões
de Elite. Neste filme realizado por Renny Harlin, ele é Richard
Pace, um ladrão bem sucedido conhecido pelas autoridades
por roubar apenas objectos cobertos por seguro.A aventura
começa quando Richard é convidado por um grupo
autodenominado de Ladrões de Elite para assaltar uma das
prisões mais modernas de todos os tempos. Esta aventura
com muitas explosões à mistura conta com Jamie Chung,
Nick Cannon e Tim Roth no elenco. àDisponível no MEO
VideoClube
Uma Miúda com Potencial
Cassie (Carey Mulligan) tinha tudo para ser uma médica
de sucesso, mas desistiu do curso depois de um evento
traumático.Agora, trabalha num café e dedica-se a levar
a cabo um plano de vingança que inclui homens que se
aproveitam de raparigas alcoolizadas em bares e discotecas.
Com quatro nomeações para os Globos de Ouro e cinco
para os Óscares, onde Carey Mulligan levou para casa o de
Melhor Actriz, Uma Miúda com Potencial marca a estreia de
Emerald Fennell na realização. Esta comédia negra feminista
e desconfortável destaca a violência contra as mulheres como
uma realidade bem actual. àTVCine Top, canal 55 do
MEO. Sex 21.30
Este filme de 2011 conta com Paul Bettany no papel principal.
Em Padre, ficamos a conhecer um mundo devastado por
séculos de guerra entre homens e vampiros. Quando os
humanos conseguem aparentemente ganhar, ficam sob o
controlo do clero, que nega a existência de uma ameaça. Um
dos padres (Paul Bettany) continua a combater os vampiros
em segredo, mas é obrigado a revelar-se quando a sobrinha
é sequestrada por um grupo destes predadores. àSYFY,
canal 76 do MEO. Qua 22.15
Legião
Melhor do que um filme de acção protagonizado por Paul
Bettany, só dois. Nesta adaptação da BD com o mesmo nome,
a actual estrela da Marvel é o arcanjo Miguel que cai na Terra
quando Deus envia anjos para iniciar um extermínio total. Só
este arcanjo pode ajudar a humanidade a sobreviver. Neste
filme realizado por Scott Stewart, Bettany divide o ecrã com
Tyrese Gibson,Adrianne Palicki, Kevin Durand, Kevin Durand e
Dennis Quaid. àSYFY, canal 76 do MEO. Qua 23.35

Sugestões
 Palco
palco@timeout.com

Olhar o mundo
através de
Nina Simone
FOTOGRAFIA: SIMON GOSSELIN

Inspirada na cantora, pianista e activista americana,

‘O Silêncio e o Medo’ ocupa o D. Maria II de quinta-feira a sábado.
Mariana Duarte conversou com o encenador, David Geselson.

Time Out Portugal 5 – 11 Janeiro 2022 58

APÓS TER PASSADO pelo Teatro Nacional
D. Maria II em 2019, o actor e encenador
francês David Geselson, regressa a Lisboa
com O Silêncio e o Medo, espectáculo que
entrelaça a biografia de Nina Simone com
a história colonial e as vivências afro-
-americanas. A peça põe em perspectiva uma
história individual e uma história colectiva,
perpassada por confronto, violência e
resistência, para tentar construir um espaço
partilhado e de reconhecimento mútuo num
teatro que deve ser “o espelho do mundo”.
Porquê Nina Simone?
Depois de ter criado En Route-Kaddish,
cruzei-me com uma biografia de Nina
Simone escrita pelo franco-suíço David
Brun Lambert. Isto foi após ter ouvido um
conjunto de discos que ela tinha lançado
pela RCA nos anos 60 e 70. Eu conhecia a
música, mas muito pouco da sua história.
Descobri uma vida épica que terminou
numa solidão quase total em França, em
2003, mas também a história de uma busca
íntima pelo reconhecimento e de uma luta
política vital, que ainda ressoa. A forma
como a vida dela se cruza com a História
pareceu-me uma oportunidade para
trabalhar sobre a história afro-americana.
De que maneira é que procurou entrelaçar a
biografia de Nina Simone com o contexto histórico
dos EUA desse ponto de vista?
Nina Simone – ou Eunice Waymon, o
seu verdadeiro nome – foi uma criança
prodígio, nascida na Carolina do Norte,
que se transformou numa estrela e numa
das principais vozes do Movimento dos
Direitos Civis. É também a tetraneta de
um cherokee que sobreviveu ao genocídio
da população nativo-americana, casado
com uma africana negra escravizada. Ou
seja, ela transporta dentro dela quatro
séculos de história colonial. Contar a sua
história é também uma oportunidade para
evocar a conquista sangrenta do “novo
continente” por vários impérios ocidentais.
E, ao fazê-lo, contar parte da história dos
59
afro-americanos, que está intimamente
ligada a este período. Como é que o medo de
ser destruído, por causa de quem és, deixa
cicatrizes permanentes nos corpos e nas
mentes daqueles que sofrem, e é passado de
geração em geração? Os europeus também
são herdeiros destas feridas. Vítimas ou
executores, as nossas histórias são o fruto de
revoltas causadas pelo desenvolvimento dos
impérios que viriam a constituir a Europa.
Enquanto homem branco, francês, imagino que se
tenha questionado sobre se deveria ou não contar
esta história. Que tipo de decisões tomou de modo
a não ocupar um lugar de apropriação?
Aqui não é uma questão de nos
apropriarmos de uma história que não é a
nossa, mas de tentar criar uma comunidade
e de congregar os protagonistas que são
herdeiros de dois lados com consequências
muito diferentes, no sentido de procurar
construir um lugar comum. Para abordar
aquilo que Nina Simone transportava dentro
dela, pareceu-me essencial trabalhar com
artistas afro-americanos. Não tanto para
legitimar esta investida, mas para perceber
como construir um encontro real e torná-lo
presente. A equipa artística é composta por
duas heranças, duas maneiras de trabalhar:
uma franco-europeia e uma afro-americana.
A extrema-direita em França está em clara
ascensão. Considera que as artes performativas
devem ser activa e didacticamente contra o
racismo e a xenofobia, ou não devem estar
dependentes de problemáticas, ideologias e
discursos políticos?
Eu acredito num teatro que é o espelho do
mundo em que vivemos, e esse mundo está
cheio de ideologias. O teatro deve espelhar
essas ideologias, mas não só. No que me diz
respeito, defendo vigorosamente um teatro
que construa ferramentas para lutar contra
a violência e o ódio, e ao mesmo tempo para
trazer poesia, significado e reconhecimento
mútuo ao mundo que partilhamos. ■
àTeatro Nacional D. Maria II (Lisboa). Qui-Sáb 19.00.
9€-16€
5 – 11 Janeiro 2022 Time Out Portugal
 Música
musica@timeout.com

FOTOGRAFIA:

Time Out Portugal 5 – 11 Janeiro 2022 60

 Ao vivo
em 2022
No novo ano, estamos prontos para recuperar os concertos
perdidos nos dois últimos. Ana Patrícia Silva e João Pedro
Oliveira antecipam o que aí vem.
The Divine Comedy
A música dos Divine Comedy é um universo
sumptuoso de pop orquestral enlaçada com
destreza lírica. A banda de Neil Hannon visita-
-nos em modo best of.à Casa da Música (Porto).
7 Março (Seg) 21.00. 35€. Aula Magna (Lisboa).
8 Março (Ter) 21.00. 24€-40€
Skunk Anansie
Os Skunk Anansie lascam baladas de uma
sensibilidade punk, com letras que carregam
activismo político e contemplam as relações
humanas. Mas o melhor de tudo é a vocalista
Skin, uma combinação letal de ferocidade e
vulnerabilidade.à Coliseu do Porto. 18 Março
(Sex) 21.00. 22€-34€. Coliseu dos Recreios (Lisboa).
19 Março (Sáb) 21.00. 28-34€
Lloyd Cole
Quando surgiu com os Commotions em
meados dos anos 80, cimentou-se como um
dos compositores mais marcantes dessa era,
introduzindo uma sensibilidade literária na
pop britânica governada por guitarras. Desde
1989, é dono de uma consistente discografia
a solo.à Casino Estoril (Cascais). 18 Março (Sex)
21.30. 17,50€-40€. Super Bock Arena (Porto).
19 Março (Sáb) 21.00. 30-35€
Rodrigo Amarante
Regressa a Portugal para apresentar o novo
voo a solo, Drama (2021), onde preenche
o vazio com mais música e amor. É um
disco maravilhoso que encontra a paz num
FOTOGRAFIA: DR
momento complexo, que transborda de
deslumbramento no meio do doloroso caos
61
que é estar vivo.à Casa da Música (Porto). 18 Abril
(Seg) 21.00. 25€. Capitólio (Lisboa). 19 Abril (Ter)
21.00. 25€
Simple Minds
Esta malta que começou a tocar junta em
1979, em Glasgow, está a comemorar 40 anos
de êxitos. No cartaz, estão até inscritos os
nomes de vários singles, para que ninguém
tenha dúvidas sobre ao que vai – um
espectáculo revivalista de estilo best of.
à Coliseu do Porto. 24 Abril (Dom) 21.00.
39€-65€. Campo Pequeno (Lisboa). 25 Abril
(Seg) 21.00. 29€-65€
Yes
Sim, os Yes vão tocar o álbum Relayer, de 1974,
na sua totalidade – um disco que se estica
por uma hora e dez minutos (só a canção de
abertura, “The Gates of Delirium”, ocupa 22).
Estamos, portanto, na perspectiva de uma
noite de rock progressivo daquelas valentes,
pontuada depois por clássicos semeados ao
longo de 54 anos.à Campo Pequeno (Lisboa).
12 Maio (Qui) 20.30. 24€-32€
Tindersticks
Os Tindersticks saem do confinamento para
os palcos mesmo a tempo de celebrar 30
anos de carreira. Em Maio, o grupo de Stuart
Staples regressa a Portugal, onde há muitos
anos é banda de culto, para dois concertos nos
coliseus, em que serão escoltados por uma
orquestra e convidados.à Coliseu dos Recreios
(Lisboa). 13 Maio (Sex) 21.00. 20€-50€. Coliseu do
Porto. 14 Maio (Sáb) 21.00. 18,50€-48€
5 – 11 Janeiro 2022 Time Out Portugal
Música
Kings of Convenience
Regressam em Maio para apresentar Peace or
Love, álbum gravado ao longo de cinco anos
e em cinco cidades diferentes. São canções
sobre a vida e o amor, com a beleza, a pureza e
a claridade emocional que já se espera deste
duo norueguês.à Coliseu do Porto. 16 Maio (Seg)
21.00. 30€-40€. Coliseu dos Recreios (Lisboa). 18-19
Maio (Qua-Qui) 21.00. 25€-40€
Aerosmith
O último concerto dos Aerosmith em Lisboa,
em Junho de 2017, foi vendido como sendo
mesmo o último. Dizia-se que seria a digressão
de despedida – mentira. A banda de hard-rock
regressa em 2022 para celebrar mais de meio
século de carreira.à Altice Arena (Lisboa). 1 Junho
(Qua) 20.30. 59€-95€
Guns N’ Roses
Nas décadas de 1980 e 90, foram um
dos maiores nomes do hard-rock norte-
americano. Mas os membros foram saindo, até
restar pouco mais do que Axl Rose e um bando
de tarefeiros. Até que, em 2016, os icónicos
Slash e Duff McKagan se reuniram com o
vocalista. Os condimentos para o revivalismo
estão aqui todos.à Passeio Marítimo de Algés
(Algés). 4 Junho (Sáb) 18.00. 69€
Time Out Portugal 5 – 11 Janeiro 2022
Dua Lipa
Ancorada na pop dos anos 80 e 90,
a cantora e compositora britânica faz música
saudosista de um passado que não viveu,
mas segue rumo ao futuro, num misto de
reverência e interpretação, revisionismo
e futurismo. São canções suculentas,
prontas para as pistas, deliciosamente
pop.à Altice Forum Braga. 5 Junho (Dom) 20.00.
41€-61€. Altice Arena (Lisboa). 6 Junho (Seg) 20.00.
35€-60€
Iron Maiden
Esta é uma noite para correr êxitos, celebrar
quatro décadas e meia de estrada e matar
saudades do bom metal tocado com aquela
ferocidade de quem está prestes a fazer
reféns.à Estádio Nacional (Cruz Quebrada).
31 Julho (Dom) 19.00. 60€-75€
Michael Kiwanuka
A voz remete para cantores clássicos, mas
a instrumentação navega na vanguarda,
do rock ao r&b, da soul ao jazz. Com uma
narrativa poderosa, é um espírito inquieto
que busca na música uma forma de catarse.
à Super Bock Arena (Porto). 23 Setembro
(Sex) 21.30. 25€-30€. Campo Pequeno (Lisboa).
24 Setembro (Sáb) 21.30. 27€-32€ FOTOGRAFIA: OLIVIA ROSE
62

7 Festivais para a Primavera/Verão
Sónar
Uma das estreias lisboetas em 2022 é o Sónar,
festival de música electrónica que nasceu em
Barcelona e terá pela primeira vez uma edição
portuguesa. Nina Kraviz, Ellen Alien, Honey
Dijon, India Jordan, Thundercat, Pongo e
Nídia são algumas das estrelas do cartaz.
à Vários locais de Lisboa. 8-10 Abril (Sex-Dom).
60€-175£
NOS Primavera Sound
O Primavera retoma a maioria dos nomes das
edições adiadas de 2020-2021, como Nick
Cave & The Bad Seeds, Beck, Pavement, Tame
Impala, Little Simz, Kim Gordon, Gorillaz,
Slowdive, Shellac e Dinosaur Jr. Mas também
há novidades este ano, como Grimes e os
Interpol.à Parque da Cidade (Porto). 9-11 Junho
(Qui-Sáb). 60€-140€
Rock in Rio
A “Cidade do Rock” é um verdadeiro parque
temático da música, que este ano terá
concertos dos Foo Fighters, Liam Gallagher,
The National, Duran Duran, Post Malone, The
Black Eyed Peas e Anitta, entre outros.à Parque
da Bela Vista (Lisboa). 18-19 e 25-26 Junho (Sáb-
Dom) 12.00. 74€-121€
NOS Alive
FOTOGRAFIA: HUGO LIMA
Num festival com a dimensão do NOS Alive,
há sempre muita música por onde escolher,
para todos os gostos, como os Metallica, M.I.A,
63
Música
The Strokes, Florence + The Machine, Imagine
Dragons, The War On Drugs e o regresso dos
Da Weasel, uma oportunidade única para
recordar a banda de Almada que revolucionou
a música portuguesa.à Passeio Marítimo de Algés
(Algés). 6-9 Julho (Qua-Sáb) 69€-189€
V odafone Paredes
de Coura
O cabeça de cartaz? A natureza, sempre. O
anfiteatro natural da praia fluvial do Taboão
é um cenário idílico para curar ressacas e ver
concertos. Este ano o destaque vai para nomes
como os Pixies, Beach House, IDLES e Princess
Nokia.à Praia do Taboão (Paredes de Coura). 16-20
Agosto (Ter-Sáb). 120€
EDP Vilar de Mouros
O pai de todos os festivais portugueses
mergulha nas memórias de décadas passadas,
com actuações de Iggy Pop, Bauhaus, Placebo,
Suede, Wolfmother e Limp Bizkit.à Estrada
da Ponte (Vilar de Mouros). 25-27 Agosto (Qui-Sáb).
42,95€-85,90€
Kalorama
Há mais um festival no Parque da Bela Vista –
e não é o Rock in Rio. Este festival de “música,
arte e sustentabilidade” estreia-se com
nomes de peso como os Arctic Monkeys, The
Chemical Brothers e Kraftwerk.à Parque da
Bela Vista (Lisboa). 1-3 Setembro (Qui-Sáb). 120€
5 – 11 Janeiro 2022 Time Out Portugal
Comer
& Beber
comerebeber@timeout.com
 Vai ser uma
limpeza
Emagrecer, fazer uma alimentação mais saudável e praticar
mais exercício são, invariavelmente, os clássicos da meia-noite.
Teresa David e Mariana Morais Pinheiro sugerem-lhe planos
detox, livros e apps que o vão ajudar a cumprir esses desejos
adiados mas muito desejados.

Detox by Fruly quatro cremes de legumes; o plano full day

Na Fruly, os programas detox são
desenvolvidos com a nutricionista Noélia
Arruda, que os divide em três objectivos:
limpeza e aceleração do metabolismo;
absorção dos nutrientes essenciais; e efeito
energizante. Estes planos podem ser de um,
dois ou três dias e são constituídos por seis
sumos, ideais para quem prefere uma dieta
líquida. Podem ser encomendados na loja
Fruly no Saldanha Residence, em Lisboa,
pelo site da marca para recolha no dia
seguinte em loja, ou através das plataformas
de entrega ao domicílio. Os planos de um
dia têm o custo de 40€, sendo que os de três
sobem para 100€ quando encomendados
pelo site ou loja e 120€ pelas plataformas de
entrega.
Drink 6
Para um detox pós-festas feito à medida, a
Drink 6 tem seis planos à escolha. O plano de
sumos detox, com seis sumos; o foodie detox,
com sumos e pratos; o plano sumos e cremes
FOTOGRAFIA: DR
que inclui pequeno-almoço, almoço e jantar;
e, por fim, o plano veggie com mais vegetais,
menos frutas e menos carboidratos. Tudo a
partir dos 45€. Pode escolher quantos dias
quer fazer, entre um e cinco, ou optar logo
por uma subscrição semanal, trimestral,
mensal ou anual. No site, onde é feita a
encomenda, pode ver todos os ingredientes
e nutrientes do plano que escolher. Não há
desculpas: os envios são feitos para qualquer
zona de Portugal Continental.
Eat Love Healthy Concept
A limpeza interior do Eat Love Healthy
Concept consiste num plano detox líquido
de três (85€) ou seis (128€) dias. Inclui
dois smoothies, duas sopas e também
alguns snacks entre as refeições, para
matar as saudades de mastigar. A seguir,
pode complementar o detox com um
dos outros programas – o low carb ou
jejum intermitente. A papinha toda feita
é entregue em casa, em várias zonas da

detox, com quatro sumos e dois cremes de Grande Lisboa, e deve ser encomendada
legumes; o souping detox, com dois sumos e através da página de Instagram da marca.

65 5 – 11 Janeiro 2022 Time Out Portugal

Comer & Beber
Therapist
Na loja online do Therapist pode comprar,
entre muitos outros, dois kits detox,
pensados especialmente para este pós-festas
tão exigente. Um, consiste em três dias de
refeições líquidas (85€), distribuídas por
três shots, cinco sopas, dois smoothies e
três sumos. O outro, com refeições sólidas,
também durante três dias, custa 141€. No
primeiro dia há um immunity shot, uma
kombucha, um pudim de chia, arroz de
aveia e tofu crocante e um sumo de kale,
pêra e chia. Depois, palitos de cenoura e
uma sopa proteica de cenoura e gengibre. O
detox do segundo dia começa com um shot
e uma kombucha seguido de uma smoothie
bowl verde. Ao almoço há almôndegas
de beterraba com sumo de cenoura, aipo
e gengibre. E, para terminar, palitos de
pepino e sopa de couve-flor. A última fase é
composta por um shot de carvão activado,
kombucha, mousse de abacate e limão, arroz
integral com beterraba assada e hummus,
Time Out Portugal 5 – 11 Janeiro 2022
Três apps grátis
8FIT
É uma espécie de dois em um: tanto é personal
trainer, uma vez que disponibiliza treinos
personalizados, como uma nutricionista sempre
presente, com planos de refeições e receitas
fáceis de fazer.
LIFESUM: ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL
Mantenha um diário de alimentação com a ajuda
desta app com receitas saudáveis, planos de
refeição completos, contagem de calorias, dicas
de nutrição e registo de alimentos com a ajuda do
código de barras.
LEMBRETE DE BEBER ÁGUA
Não tem muito que saber, mas nem sempre nos
lembramos de beber água, esse bem indispensável
ao bom funcionamento do nosso organismo.
Esta app vai criar um plano de hidratação para si,
FOTOGRAFIA: DR
bem como mostrar-lhe os seus progressos.
66

sumo de ananás e spirulina, palitos de
cenoura, e creme de lentilhas. No final
de todos os dias há ainda um mini-blend
ashwanga green acompanhado de frutos
secos. As encomendas, que são entregues
apenas na zona de Lisboa, devem ser feitas
com 24 horas de antecedência.
Be Well by Marta Wahnon
Cor, sabor e limpeza do organismo. Eis os
pilares da Be Well by Marta Wahnon, que
conta com cinco diferentes modelos para
desintoxicar. Há o detox das sopas, com
quatro sopas por dia, durante três dias
(68€); o refresh, para fazer três dias durante
três semanas, com alimentos frescos, entre
saladas, taças de frutas, sumos e sopas
desintoxicantes (285€); o plano SOS, apenas
com líquidos, durante três dias (75€); o
detox para redução e perda de peso, que
também tem os líquidos como protagonistas
em três dias durante três semanas (255€); e
67
Comer & Beber
o summer shape detox, a pensar nas férias
de Verão, com a duração de cinco dias
(145€). A marca entrega em várias zonas
do país, incluindo Lisboa e Porto.
As encomendas devem ser feitas online.
Maria do Bairro
Esta Maria tem planos detox adequados a
cada estação do ano e feitos de acordo com a
sazonalidade da fruta e dos legumes. Estão
disponíveis em opções de um a seis dias,
a começar nos 40€. O programa de um dia
de Inverno inclui seis sumos e duas sopas
quentinhas, no Verão são oito sumos (o único
disponível o ano todo) e no Outono sete
sumos e um wrap. Falta a Primavera, com sete
sumos e uma salada, que só está disponível a
partir de Março. Se estiver na Grande Lisboa,
a encomenda deverá ser feita no site e pode
recebê-la em casa ou levantar na loja do
Restelo. Se estiver no Porto, a desintoxicação
será enviada por transportadora.
5 – 11 Janeiro 2022 Time Out Portugal
Comer & Beber
Desintoxicar a ler
Detox Paleo
30 Dias para Mudar de Vida
JOANA MOURA IN I 15,99€
A dieta Paleo não é nova, mas Joana Moura
– que estudou nas melhores escolas de
gastronomia francesas, privou com a
cozinha molecular de perto, escreveu
vários livros e é investigadora e consultora
em ciências gastronómicas – é uma
sumidade no assunto e tinha, por isso
mesmo, de constar desta pequena lista
de livros a consultar na hora de fazer uma
limpeza. O Detox Paleo não é novo (foi
editado pela primeira vez em 2016), mas
tem receitas intemporais e eficazes para a
perda de peso, se for esse o seu objectivo de
ano novo. Caril thai de abóbora e salmão,
frango no forno com farofa e bolo de
banana e noz são algumas das receitas que
poderá recriar em casa.
Supervida
DARIN OLIEN NASCENTE I 17,99€
O autor – um norte-americano especialista
em saúde natural e nutrição que apresenta
juntamente com o actor Zac Efron o
documentário da Netflix Down to Earth –
lançou em Setembro de 2021, em Portugal,
um livro assente em cinco pilares: nutrição,
hidratação, oxigenação, alcalinização
e desintoxicação. Desta forma, explica
como “obter um peso saudável, prevenir
doenças, aproveitar os superpoderes da
Time Out Portugal 5 – 11 Janeiro 2022
alimentação, da água, do oxigénio e de um
pH equilibrado, para viver melhor, sem
dietas restritivas e complexas”.
Detox Natural
JOANA ALVES IN I 19,99€
Receitas saudáveis, dicas de meditação,
exercícios de respiração e cosmética natural são
algumas das áreas abordadas em Detox Natural,
o último livro de Joana Alves, autora do blogue
Le Passe Vite. Promover, através de processos
naturais, a desintoxicação do corpo é o grande
objectivo deste manual, onde encontrará um
plano alimentar de três semanas que ajudará
a equilibrar o sistema digestivo e a reduzir
eventuais inflamações. E o melhor de tudo é que
há receitas de pizzas e panquecas lá pelo meio.
Saladas Inspiradas
KATHRYN BRUTON VOGAIS I 17,69€
Se quer optar por uma alimentação mais
leve (chega de assados, fritos e refogados
por uns tempos), mas fazer detoxes líquidos
não é a sua praia, este pode ser um bom livro
para começar uma dieta mais consciente.
No interior há 80 receitas nutritivas com
menos de 300 calorias. Cogumelos com
miso e alface iceberg; batata doce assada
com piripiri, couve-flor, rúcula e ricota ou
salada de frango com curcuma e gengibre são
FOTOGRAFIA: DR
algumas das possibilidades.
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Fábrica dos Sabores

Um Natal confinado deixou Violeta de Vasconcellos amarga.
Em trauma, negou as azevias, e afogou mágoas em receitas francesas.

ttttt

É PRECISO ADMITIR O INTERESSE infinito
das invenções da pastelaria francesa. Não
há vantagem absoluta numa ilimitada
reprodução – mesmo que perfeita – dos
originais e entusiasmam-me todos os
desenvolvimentos criativos que dela se
façam. A Fábrica dos Sabores parecia-me ir ao
encontro desta perspectiva.
Comecei pelo rei éclair (3,90€). Espetei
o dedo no creme do topo e logo a textura
contrariou a minha expectativa: era bastante
denso. O sabor, bom, era, no entanto, pouco
declarado e não me pareceu justificar o peso.
Cortei o bolinho a direito e deparei-me com
recheio de chocolate a preencher cada espaço
da cavidade do choux. Essa abundância, que
normalmente valorizo, revelou-se demasiada,
precisamente porque, mais uma vez, senti a
densidade excessiva, sobretudo considerando
o generoso tamanho. A massa, seu sabor e
textura acabaram afogados. Mas os sabores
são agradáveis, fazendo dele indicado para os
grandes gulosos.
FOTOGRAFIA: DR
caras! Era densa, sem perder o crocante das
folhas e de sabor profundo, conferido por um
forno bem forte, que caramelizou as notas
da manteiga. Mas, novamente, um creme
demasiado estruturado. Nem parece meu
dizê-lo, mas achei que havia manteiga a mais
(ou o frio da vitrine que, talvez excessivo, acaba
por a solidificar). O sabor era uma baunilha
discreta, pontuada por um caramelo amargo,
como gosto.
Muitas palmas, por fim, para a tarte
merengada de limão (3,90€): massa crocante
(moderaria o açúcar e carregaria no sal) que
recebe um lindíssimo curd de limão, ácido
e com o amarguinho desejável das raspas
amarelas, ainda pontuado, ao centro, qual
cratera mágica, por uma geleia de limão
ainda mais azeda, sentindo-se a textura dos
micro-favos do fruto. Por cima, um merengue
italiano flambeado, onde o monolítico açúcar
é destabilizado por frescas raspas de lima. Foi
o meu consolo estival num Natal pouco doce.
à Av. Defensores de Chaves, 55, Lisboa. Seg- Qui

Segui com o mil-folhas (4,50€) e logo parti 08.00-20.00, Sex 08.00-17.00, Sáb 09.00-18.00,
um pedacito da âmbar massa. Adorei, de Dom 08.00-15.30

69 5 – 11 Janeiro 2022 Time Out Portugal

 Mesa farta
o ano inteiro
As melhores refeições da cidade
são servidas dentro de pequenas embalagens:
as caixas 2POR1 Deluxe da Time Out Lisboa.
Os menus de degustação de 2022 incluem
10 grandes restaurantes e 10 novos restaurantes
de Lisboa, todos a preço de saldo.

O BÊ-Á-BÁ DO 2POR1 DELUXE Veja só quem voltou

— e mesmo a tempo do Natal. É o presente perfeito para pôr no sapatinho de qualquer foodie da cidade:
as caixas 2POR1 Deluxe, bem recheadas com os seus cartões de desconto para usufruir em 2022
em restaurantes da cidade. A caixa dos 10 Novos Restaurantes (39,90€) inclui duas refeições pelo preço de uma,
sem bebidas, em dez espaços que abriram em 2021 e é perfeita para quem gosta de andar sempre em cima do
acontecimento. A caixa dos 10 Grandes Restaurantes (49,90€) permite conhecer ou matar saudades
de alguns dos espaços mais emblemáticos de Lisboa, sempre com uma refeição de oferta.

Time Out Portugal 5 – 11 Janeiro 2022

5 – 11 Janeiro 2022 Time Out Portugal
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Time Out Portugal 5 – 11 Janeiro 2022

72
FOTOGRAFIA: DUARTE DRAGO

Vino Vero
Os vinhos naturais não fazem, por si, uma boa casa. Alfredo
Lacerda foi à Graça ser mal servido. Com toda a naturalidade.
ttttt
O HOMEM TRAZ O MENU de comidas e
desaparece. Estamos num bar de vinhos
e comida. Falta a lista de vinhos. “Podia
trazer também a lista dos vinhos, por favor?”
Parando brevemente a sua marcha frenética
entre uma mesa e outra e o balcão, o homem
atira: “Eu sou a lista de vinhos.”
Questiono-me se terei ouvido bem. Terei.
Não há nada a travar o seu aparelho vocal e
respiratório. O homem – todo o staff – circula
naquele estilo blasé de máscara no queixo
que vemos nos estafetas e nos distribuidores
de cerveja. Já o que parece ser um dos
proprietários, copo na mão, anda sem máscara
alguma, deambulando entre a cozinha e a
clientela de estrangeiros que enche o sítio,
uma vozearia animada com álcool e hip hop de
Spotify Radio.
Pergunto então ao homem-lista se pode
escolher algo seco, que vá bem com ostras,
primeiro prato do cardápio. Uma pessoa na
mesa manifesta preferência por Pinot Noir.
Passados uns segundos, chega um Pinot Noir,
mas com maceração carbónica. Embora seja
uma casta tinta, o Pinot Noir pode funcionar
com ostras se tiver acidez – se for da Alsácia,
por exemplo. Mas se for um Pinot Noir com
maceração carbónica, técnica muito usada
nos vinhos naturais, ele vai ser docinho e
concentrado. Tudo o que não se quer para as
ostras. O vinho vai para trás e o homem-lista
parece ficar desnorteado.
A comida é bem feita e tem bons produtos,
com influência italiana (a primeira casa está
instalada em Veneza). Mas isso não chega,
sobretudo quando o preço médio é de 30 euros
por pessoa.
Nos pedidos, falham dois pratos, não
anotados. Já a tosta de queijo gorgonzola e
speck (presunto do Norte de Itália, temperado
com especiarias) virá antes das ostras, sem
razão aparente a não ser a extrema urgência
em despachar serviço. De resto, há-de haver
73
Comer & Beber
um pão, para acompanhar a burrata (boa) com
anchovas (fracas), que nunca chegará.
A bifana, por sua vez, é feita de carne assada
fatiada e vem basicamente igual ao prato de
porchetta, tirando a primeira ter pão (aberto –
oh, sofisticação!) e a segunda batatas assadas.
Ora, uma bifana não tem nada a ver com
carne assada seca. E porchetta muito menos:
porchetta é barriga de porco, porventura
recheada de lombo, um rolo laborioso com
gordura e pele caramelizada.
Por fim, já cansados de esperar pelo
desenlace, quando perguntamos ao homem-
-lista se sabe o que se passa com a sobremesa,
ele responde: “Sei, está na cozinha.” Ninguém
ri. A sobremesa demora 17 minutos a
chegar e consiste em duas coisas: uma fatia
de panettone comprado à Gleba e duas
colheradas de mascarpone industrial.
Em síntese. Gosto muito que haja mais gente
a fazer e a beber vinhos menos processados
e com menos químicos na vinha e na adega.
Os vinhos ditos naturais estão na moda e a
moda é boa. Agora, isto não significa que
todas as garrafas com rótulos arty sejam
recomendáveis. Nem significa que todos os
bares e restaurantes que se vendem como
naturais sejam bons, mesmo quando a cozinha
é muito aceitável, mesmo quando há bons
vinhos nas prateleiras – como é o caso.
Só vejo uma razão para o tratamento dado,
que não me parece ter sido circunstancial. O
Vino Vero dá-se ao luxo de servir as pessoas
displicentemente porque a casa tem estado
cheia de tugas impressionáveis e expatriados
dispostos a pagar 35 euros por uma garrafa
que desconhecem, desde que lhes digam que é
natural e que seja escolhida por um indivíduo
com tatuagens e piercings e a confiança do
sommelier do Alain Ducasse au Plaza Athénée.
Um mau serviço. Naturalmente. ■ à Travessa
do Monte, 30 (Graça). 21 886 3115. Seg, Qua-Dom
12.00-00.00, Ter 18.00-00.00. Preço: 25€-45€
5 – 11 Janeiro 2022 Time Out Portugal
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