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JUDAS, EM DEFESA DA GENUÍNA FÉ CRISTÃ

Judas informa aos leitores que, querendo escrever sobre a salvação comum, viu-se impulsionado pelo
Espírito Santo a advertir os crentes sobre a necessidade de se batalhar pela fé genuína.
A) INTRODUÇÃO AO TRIMESTRE

- A Epístola de Judas é a última das chamadas epístolas gerais, ou seja, cartas apostólicas
dirigidas à Igreja como um todo.

- A Epístola de Judas foi uma das últimas a ser reconhecida como parte do cânon do Novo
Testamento (ou seja, da relação dos livros inspirados), tendo sido um elemento decisivo para
sua aceitação o fato de ter sido utilizada há largo tempo pela igreja em Roma. Dentre os
principais defensores de sua canonicidade encontramos Tertuliano (abaixo esclarecimento
sobre este filósofo e teólogo cristão do século III)

- Um dos principais motivos para a resistência à aceitação de Judas são as citações da


contenda sobre o corpo de Moisés(Jd.9) e do apócrifo "livro de Enoque" (Jd.14), citações,
entretanto, que apenas revelam que o autor usava não só das Escrituras hebraicas mas
também da tradição judaica para ilustrar o seu argumento.

- O autor da Epístola se intitula como sendo "o irmão de Tiago" ( Jd.1), entendendo-se que o
Tiago a que se refere é o líder da igreja em Jerusalém, ou seja, o irmão do Senhor( Gl.1:19,
At.15:13). Deste modo, Judas é, também, irmão de Jesus (cf. Mc.6:3).

- Judas se converteu apenas após a ressurreição de Jesus, provavelmente como


conseqüência da aparição do Senhor a Tiago(I Co.15:7), tendo sido batizado com o Espírito
Santo no dia de Pentecostes(At.1:14).

- Judas tencionava escrever algo sobre a salvação dos cristãos, provavelmente um ensino a
respeito da vida cristã, mas acabou impulsionado pelo Espírito Santo a escrever uma apologia,
ou seja, um discurso de defesa da fé cristã, contra os falsos mestres que ameaçavam a Igreja
já no seu tempo(Jd.3).

- Judas apresenta um texto muito semelhante à Segunda Epístola de Pedro, preocupando-se


em dissipar os ensinamentos do gnosticismo libertino, doutrina que ensinava que a matéria é
má em si mesma e que só deve prevalecer o espírito, algo muito próximo ao ensinamento
contemporâneo de que "Deus só quer o coração".
- Judas, nesta sua apologia, após apresentar o aparecimento dos falsos mestres
naIgreja(Jd.4), traz sete ilustrações das Escrituras a respeito deles, demonstrando qual é o fim
deste tipo de gente, a saber: a rebelião da geração israelita do êxodo, a rebelião dos anjos, o
juízo sobre Sodoma e Gomorra, a postura do arcanjo Miguel, Caim, Balaão e Coré( Jd.5-11)

- Em seguida, Judas apresenta doze características dos falsos mestres: manchas nas festas
dos cristãos; nuvens sem água; árvores murchas, infrutíferas e mortas; ondas impetuosas do
mar; estrelas errantes; murmuradores; arrogantes; interesseiros; escarnecedores;
divisionistas; sensuais; pessoas sem o Espírito.(Jd.12-19)

- Judas, então, faz uma exortação aos crentes diante destes falsos mestres, com sete
recomendações: edificação sobre a fé, oração no Espírito, autoconservação no amor de Deus,
esperança na misericórdia de Jesus Cristo para a vida eterna, piedade para com o irmão
duvidoso, misericórdia para salvação de alguns do fogo, aborrecimento até da roupa
manchada da carne.(Jd.20-23).

- Judas encerra sua carta lembrando os irmãos da necessidade de uma vida livre de tropeços
e com apresentação irrepreensível, com alegria, em virtude do poder de Deus, que é o único
Senhor e dominador de todas as coisas(Jd.24,25).

B) INTRODUÇÃO À LIÇÃO

- A humildade de Judas deve ser ressaltada, pois, provavelmente por não ter crido em seu
meio-irmão como o Salvador do mundo (cf.Jo.7:5) até a ressurreição, entendia não ser digno
de se identificar como irmão de Jesus, limitando-se a dizer que era irmão de Tiago, líder da
igreja em Jerusalém. - Jd.1

- Este exemplo deve ser seguido pelos crentes, pois o principal título que devemos ostentar é
o de "servo de Jesus Cristo", devendo sempre ter a mesma atitude daquele que o próprio
Jesus testificou ser o maior de todos os homens, João Batista, cuja grandeza se encontra,
precisamente, na sua humildade :" convém que Ele cresça e que eudiminua"( Jo.3:30) .

OBS: "...Numa época talvez menos dedicada, no início do século X, o mais destacado rabino e
mestre de sua geração, da Babilônia, Sherira Gaon, olhava nostalgicamente para trás, para a
Idade de Ouro da inocência rabínica: ' As gerações mais antigas (de rabinos), porém, que
eram muito superiores, não tinham títulos como os de Raban, Rabi, ou Rab, tanto para os
Sábios da Babilônia quanto os da Palestina. Isto está evidente no fato de que Hilel, que veio
de Babilônia, não tinha o título de Raban (Rabino Chefe) antes de seu nome...alguns dos
Sábios são chamados simplesmente por seus nomes sem qualquer título, como Simão o
Justo, Antígono de Sokho e José Ben Johanan..." (Enciclopédia Judaica, v.6, p.701). Será que
este mesmo sentimento de Gaon não pode ser encontrado em meio aos cristãos, diante de
tanta luta por títulos e auto-exaltações ?...

" ...Os tradutores e revisores erraram ao não colocarem aqui o termo mais correto e franco,
"escravo", porquanto isso é o que afirma aqui o original grego, A 'escravidão' fala da perda
absoluta da vontade pessoal, da total absorção de uma personalidade gumana por outra. Os
escravos não tinham direitos, privilégio e vontade própria. Portanto, espiritualmente falando,
ser alguém um "escravo' de Cristo indica dedicação absoluta, total outorga da alma aos Seus
cuidados..." (R.N. CHAMPLIN, NTI, v.6, p.328-9).

Judas se dirige para os chamados, ou seja, para a Igreja em geral. Devemos sempre nos
lembrar que a salvação é resultado de um interesse e dedicação do Senhor em relação a nós,
um "favor imerecido", i.e., graça de Deus. O homem jamais pode se vangloriar por ser salvo,
pois tudo é resultado de um chamado de Deus -Tt.2:11; Rm.5:15;Jo.15:16.

OBS: " ...A 'chamada' nos chama para fora do mundo e da lealdade ao pecado cósmico
(investido em Satanás), para que nos tornemos parte do reino de Deus, de sua retidão, do
processo de transformação segundo o Seu Filho, o que ó destino de todos os eleitos de
Deus(...) O autor sagrado queria mostrar que o fato que formos chamados por Deus envolve
grande responsabilidade moral, algo que os gnósticos ignoravam e que desconheciam. Assim
também Paulo invocou os crentes a que andassem de modo 'digno' de sua chamada e
posição cristãs (ver Ef.4:1)..." (R.N. CHAMPLIN, NTI, v.6, p.329).

- Judas afirma que os chamados são queridos de Deus Pai , ou seja, declara que a razão de
termos sido chamados por Deus é fruto de Sua vontade soberana, de Seu amor sem igual.
Porque Deus nos amou, Ele nos chamou. Ele não é um Deus distante, que deixa os homens à
mercê ou entregues à sua própria sorte, como ensinavam os gnósticos, mas um Deus que Se
preocupa com Sua criação. -Gn.2:18; 6:3,8;9:9-17.

OBS: "Os chamados também são 'amados'. Os gnósticos, contra os quais foi escrito este livro,
criam no deísmo, o qual pode ser contrastado com o teísmo. O deísmo ensina que, apesar de
existir um poder divino ou cósmico, que a tudo criou, esse poder ou pessoa não mantém
interesse pessoal por sua criação, não galardoando nem castigando, nem fazendo
intervenções na vida da humanidade. Deus, de acordo com essa definição, está divorciado de
Sua criação. O teísmo, em contraposição a isso, ensina que Deus criou e até agora continua
presente em Seu universo. Deus recompensa ao bem e pune ao mal, fazendo intervenções na
história humana. Para que alguém seja 'amado por Deus', como é óbvio, torna-se necessário
que exista um Deus concebido aos moldes teístas..." (R. N. CHAMPLIN, NTI, v.6, p.329). É
interessante notar que, neste particular, os conceitos gnósticos se assemelham aos da
Maçonaria.
Alguns manuscritos trazem "santificados" ao invés de "amados" ou "queridos". Este texto
apresentaria, portanto, uma necessidade de separação do crente em relação ao mundo,
precisamente o que contraria o pensamento dos gnósticos, que será o alvo do autor sagrado.

- Judas afirma que os chamados são conservados por Jesus Cristo, ou seja, declara que a
salvação é um processo contínuo em que agem tanto o homem quanto Deus. Se, de um lado,
o homem deve se santificar; de outro, Jesus, com Seu poder, sustenta-nos até o dia da
glorificação -Sl.72:2; Is.41:10;Jo.10:27-29.

OBS: " ... somos resguardados de todos os maus desígnios dos poderes malignos; somos
preservados para um propósito específico e beneficente, tanto no caso dos resguardados,
como no caso daquele que nos guarda(...) O fato que somos guardados dá-nos o poder de
vencermos às tentações, de derrotarmos as heresias, de vivermos fielmente agora, e também
de chegarmos à salvação eterna..." (R.N. CHAMPLIN, NTI, v.6, p.329).

- Judas afirma que intentava escrever sobre a salvação comum, mas foi impulsionado pelo
Espírito a fazer uma defesa da fé cristã (cf.Jd.3). O verdadeiro cristão sempre age sob a
direção do Espírito Santo de Deus -Rm.8:1; Gl.2:20;At.10:38; Ef.4:30.

OBS: " Por quê ? Porque os gnósticos estavam obtendo êxito em sua campanha de adquirir
adeptos tirados da igreja, com sua doutrina insidiosa. Os gnósticos ensinavam que Cristo era
apenas um "aeon" (uma emanação angelical) e não o Verbo ou mesmo um elevado poder
espiritual, porquanto era apenas um dentre muitos mediadores e pequenos salvadores(...)
Negavam a humanidade de Cristo, reduzindo ainda a sua 'divindade' ao mero nível de algum
pequeno 'deus' dentre muitos..." (R.N.CHAMPLIN, NTI, v.6, p.330). Não é, porventura, o que
fazem hoje os adeptos da Nova Era, bem como movimentos como o mormonismo, o
moonismo, o romanismo e outros ?

- A defesa da fé por parte do cristão é algo sempre presente, pois vivemos em um mundo que
está no maligno(I Jo.5:19), mundo que sempre nos aborrece(I Jo.3:13), pois há uma oposição
entre o crente e o mundo(I Jo.2:15; Tg.4:4). Esta é a batalha que deveremos travar até o dia
da glorificação(Ef.6:10-12). - Gl.2:11;Fp.1:27; Tt.1:13.

OBS: "...Os fiéis em Cristo têm o solene encargo de 'batalhar' pela fé que Deus entregou aos
apóstolos e demais santos(Fp.1:27; cf. ITm.1:18; 6:12). (1) A 'fé', aqui, significa o evangelho
proclamado por Cristo e os apóstolos. É a verdade estabelecida e inalterável, comunicada pelo
Espírito Santo e incorporada ao NT.(...)(2) A palavra 'batalhar' (...) descreve a luta que o crente
fiel deve travar na defesa da fé. Significa, literalmente, 'contender', 'estar sob muita pressão',
ou 'travar uma luta'. Devemos esforçar-nos ao máximo na defesa da Palavra de Deus e da fé
segundo o NT, mesmo se isso nos for custoso e agonizante(...)(3) Batalhar pela fé significa
tomar posição firme contra aqueles que, dentro da igreja visível, negam a autoridade da Bíblia
ou distorcem a fé original anunciada por Cristo e pelos apóstolos..." (Bíblia de Estudo
Pentecostal, nota a Jd.3, p.1975).

"Lute com firmeza pela fé bíblica; Não aceite nenhuma forma de alteração. Rejeite qualquer
que ensinar que a graça é ; permissão de Deus para o pecado'..." (Bíblia de Estudo Plenitude,
Ação nº 1 no livro de Judas, p.1337).

Esta batalha é bem diferente da batalha preconizada pelos muçulmanos, que é uma guerra
literal, contra a carne e o sangue, a famigerada "guerra santa"("jihad"), que é o impulso
religioso dos movimentos fundamentalistas islâmicos, que têm descambado para o terrorismo.
Eis alguns trechos do Alcorão a respeito: " Quantos profetas e, com eles, quantos grupos
lutaram pela causa de Deus, sem desanimarem com o que lhes aconteceu; não se
acovardaram, nem se renderam! Deus aprecia os perseverantes" (3:146); "Ó fiéis, não sejais
como os incrédulos, que dizem de seus irmãos, quando estes viajam pela terra ou quando
estão em combate: Se tivessem ficado conosco, não teriam morrido, nem sido assassinados!
Com isso, Deus infunde-lhes a angústia nos corações, pois Deus concede a vida e a morte, e
Deus bem vê tudo quando fazeis. Mas, se morrerdes ou fordes assassinados pela causa de
Deus, sabei que a Sua indulgência e a Sua clemência são preferíveis a tudo quando possam
acumular (3:156,157)".

- A fé é o produto da revelação de Deus aos homens, algo que foi dada uma vez aos homens,
através de Jesus Cristo(Hb.1:1) e que não pode ser acrescentada nem diminuída por homem
algum(Mt.5:18,19; Ap.22:18,19). O texto original de Jd.3 fala em "uma vez para sempre", de
"uma vez por todas". Por isso a Bíblia, que é o livro em que está a completa revelação de
Deus ao homem, é nossa única regra de fé e prática. Defender a fé cristã, portanto, é
sobretudo defender a sublimidade da Palavra de Deus.

OBS: "...A declaração diz que Cristo é a revelação final do N.T. Aquilo que degrada de Sua
divindade, de Sua humanidade, de Seu senhorio e de Seu poder de salvar é que é
automaticamente falso. O autor sagrado não fecha a porta da investigação na verdade, mas
contendo que toda a verdade deve estar centralizada no Cristo anunciado pelos apóstolos.
Gerações sucessivas têm o dever de transmitir a outros o que os apóstolos nos legaram.
Ninguém, entretanto, é o guardião de toda a verdade divina, e podemos 'ir crescendo' na
doutrina de Cristo, sendo-nos dado um maior e mais profundo discernimento quanto à sua
significação cósmica..." (R.N. CHAMPLIN, NTI, v.6, p.331).

- A atualidade da epístola de Judas se encontra, precisamente, neste ponto, pois, atualmente,


muitos são os que têm acrescentado, diminuído e distorcido os ensinamentos das Escrituras,
gerando um sem-número de falsos ensinamentos que têm contaminado sobremaneira a vida
espiritual de muitos crentes.

ESCLARECIMENTOS COMPLEMENTARES DO TEXTO DO COMENTÁRIO DA LIÇÃO


- O gnosticismo - " a palavra vem do grego "gignoskein", "saber", referindo-se a um movimento
dedicado à obtenção de um conhecimento genuíno maior, por meio do qual, seus adeptos
criam, poderia ser obtida a salvação. O gnosticismo, tal como as religiões misteriosas dos
gregos, reivindicavam possuir uma sabedoria esotérica, que se tornaria propriedade dos
iniciados, em contraste com os de fora, que não seriam assim privilegiados.(...) Esse sistema
fez competição com o cristianismo bíblico durante cerca de 150 anos, tendo atingido seu ponto
culminante na segunda metade do século II d.C.(...) No tocante ao cristianismo, o gnosticismo
consistia, essencialmente, na tentativa de fundir as revelações dadas por meio de Cristo e
Seus apóstolos com os padrões de pensamento já existentes. Se porventura o gnosticismo
tivesse tido sucesso, nessa tentativa, o cristianismo tornar-se-ia apenas mais outro culto
misterioso greco-romano" (R.N. CHAMPLIN, Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, v.2,
p.918-9).
" ... Além disso, os falsos mestres gnósticos eram homens ímpios, em sua doutrina e vida
diária. Transformavam a graça de Deus em lascívia. Isso é uma referência à imoralidade
oficialmente aprovada do sistema gnóstico. Os gnósticos criam que a matéria é o princípio
mesmo do mal, e que o corpo participa da matéria(...) também criam que podemos ajudar ao
sistema do mundo(...) abusando de nossos corpos. Esse abuso pode ser perpetrado através
do ascetismo extremo (forma de gnosticismo atacado em Cl. 2:15 e s.) ou através da
imoralidade exagerada, que enfraquece e degrada ao corpo (gnosticismo combatido nas
epístolas pastorais de Paulo, nas epístolas joaninas e na epístola de Judas). Dessa maneira,
pois, os gnósticos faziam da imoralidade algo não somente desejável, mas também legal(...).
Os gnósticos se utilizavam da ilustração do mergulhar o ouro na lama. Assim fazendo-se, o
ouro não é corrompido, pois a lama não pode penetrar no mesmo. E, desse modo, os
gnósticos imaginavam, loucamente, que a alma mergulhada no pecado não é prejudicada. A
mensagem dos mestres gnósticos, por conseguinte, não envolvia 'exigências morais'. Alguns
deles eram místicos, e totalmente pensavam que suas supostas experiências místicas
tornavam a moralidade algo desnecessário. Bem pelo contrário, sabemos que o misticismo
autêntico purifica-nos a moralidade...." (R. N. CHAMPLIN, NTI, v.6, p.331-2).

- Tertuliano - O mais vigoroso e intransigente dos apologistas cristãos, ou seja, defensores da


fé cristã. Nasceu em Cartago (região atual da Tunísia, no norte da África), tendo vivido entre
155 a 222 d.C. Antes de se converter, estudou direito, literatura e filosofia. Foi presbítero em
Cartago. Foi um dos principais expositores da doutrina da Trindade, bem como do anti-
intelectualismo, segundo a qual a fé independe, por completo, do intelecto, sendo dele a
famosa frase "creio por ser absurdo"("credo quia absurdum"). (dados extraídos da
Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, v.6, p.392).

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