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ECONOMIA POLÍTICA PARA O

CURSO DE DIREITO

1
2
Ricardo Antonio Lucas Camargo
Professor Adjunto da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Doutor em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais
Membro do Instituto Brasileiro de Advocacia Pública e da Fundação
Brasileira de Direito Econômico

ECONOMIA POLÍTICA PARA O


CURSO DE DIREITO

Segio Antonio Fabris Editor


Porto Alegre / 2012

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© Ricardo Antonio Lucas Camargo

CATALOGAÇÃO NA FONTE

C172e Camargo, Ricardo Antonio Lucas


Economia política para o curso de direito / Ricardo
Antonio Lucas Camargo. – Porto Alegre : Sergio
Antonio Fabris Ed., 2012.
303 p. ; 15,5 x 22 cm.
ISBN 978-857525-594-0
1. Direito Econômico. 2. Direito e Economia. 3.
Economia Política : Direito. I. Título.
CDU – 346.14
Bibliotecária Responsável : Inês Peterle, CRB-10/631.

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ÍNDICE

Apresentação .................................................................................. 07

1. Introdução .................................................................................. 11

2. Noções Fundamentais ................................................................. 15

3. Necessidade ................................................................................ 19
3.1. Conceito ............................................................................... 19
3.2. Classificação......................................................................... 19
3.3. Aplicações no Direito ........................................................... 24

4. Bem ............................................................................................ 27
4.1. Conceito ............................................................................... 27
4.2. Classificação......................................................................... 27
4.3. Aplicações no Direito ........................................................... 31

5. Utilidade ..................................................................................... 33
5.1. Conceito ............................................................................... 33
5.2. Classificação......................................................................... 33
5.3. Aplicações no Direito ........................................................... 39

6. Valor .......................................................................................... 41
6.1. Conceito ............................................................................... 41
6.2. Explicações teóricas – utilidade, trabalho e outras ................ 41
6.3. Aplicações no Direito ........................................................... 44

7. Interesse ..................................................................................... 47
7.1. Conceito ............................................................................... 47

5
7.2. Classificação......................................................................... 47
7.3. Aplicações no Direito ........................................................... 49
8. Fatos Econômicos Fundamentais ................................................ 51
8.1. Produção ............................................................................... 52
8.1.1. Recursos naturais ............................................................ 53
8.1.2. Trabalho ......................................................................... 61
8.1.3. Capital ............................................................................ 73
8.1.4. Empresa .......................................................................... 84
8.2. Circulação............................................................................. 92
8.2.1. Circulação física e circulação econômica........................ 92
8.2.2. Mercado – concorrência, concentração, preços ............... 93
8.2.3. Moeda, inflação e crédito ................................................ 98
8.2.4. Elasticidade da procura e da oferta ............................... 107
8.2.5. Equilíbrio econômico .................................................... 111
8.2.6. “Falhas” de mercado ..................................................... 120
8.3. Repartição........................................................................... 131
8.3.1. Renda............................................................................ 134
8.3.2. Juro ............................................................................... 135
8.3.3. Lucro ............................................................................ 139
8.3.4. Salário .......................................................................... 147
8.4. Consumo............................................................................. 153
8.4.1. Fatos econômicos relacionados ao consumo ................. 153
8.4.2. Identificação do consumo a partir da caracterização
dos bens ............................................................................... 158
8.4.3. Consumidor .................................................................. 159
8.4.4. “Efeitos” do consumo ................................................... 159

9. Sistemas Econômicos ............................................................... 163

10. Economia Internacional .......................................................... 207

11. Desenvolvimento e Subdesenvolvimento ............................... 219

12. Relação Entre Economia e o Direito no Pensamento


Ético Ocidental .......................................................................... 227

13. Direito Econômico e Economia Política ................................. 249

14. Bibliografia ............................................................................ 253

Índice Remissivo .......................................................................... 289


6
APRESENTAÇÃO

Encontrei Ricardo em uma reunião da Sociedade Brasileira Para


o Progresso da Ciência – SBPC realizada naquele ano em Porto Ale-
gre. Foi em uma das sessões da área do conhecimento das Ciências
Jurídicas e Sociais. Este é o marco que deu início à nossa amizade
que desde então se fortaleceu e que se caracteriza pelo diálogo jurí-
dico e o contraditório de idéias, pautadas pelas indagações e apro-
fundamento das controvérsias e conclusões provisórias que soem
caracterizar, seja o senso comum, seja o avanço do Direito, apontado
para a atualização dos princípios, conceitos, instituições, normas,
regras e a necessária compatibilidade com a vida em sociedade,
avanço este que se pode identificar na louvável e vasta produção
intelectual do Professor Doutor Ricardo Antônio Lucas Camargo.
Pois este feliz encontro nos idos do século passado explica a ra-
zão de o cidadão paulista ter decidido tornar-se Procurador do Esta-
do do Rio Grande do Sul e também integrar o quadro docente da
Faculdade de Direito da UFRGS. Explica obviamente esta apresen-
tação, considerando a forte influência que exerci para o termos
atuando na seara jurídica gaúcha. O Direito Econômico, alvo de
nossas afinidades acadêmicas eletivas, aproximou-nos. Tratava-se de
dar curso à convicção de que esta disciplina jurídica, face à ordem
democrática constitucional, merecia, como merece, o espaço acadê-
mico curricular que o pleno conhecimento do Direito requer.
O diálogo e as interfaces do direito e da economia, tanto pelas
práticas, quanto pelas teorias, de tão óbvios e usuais, passam batidos,
mas também formam o tecido das bases conceituais que obrigam a

7
interdisciplinaridade da abordagem no Campo Jurídico e no Campo
Econômico, razão pela qual as cadeiras do Direito Econômico e da
Economia Política costumam ser entendidas como uma e mesma
disciplina, travestidas de Economia do Direito. Contudo, não o são, e
bem o demonstra o Autor.
Para que o estatuto teórico e a aplicação prática de ambas as cá-
tedras recebam o devido tratamento nas salas de aula, de modo a
propiciar ao acadêmico o entendimento daquilo que as aproxima e as
distinguem, o Professor Ricardo ocupou-se em consolidar e sistema-
tizar os apontamentos dos estudantes, a partir do programa de Eco-
nomia Política. A estes, adicionou sólidos e tradicionais argumentos
de autoridade, expressos na rica bibliografia que pesquisou cuidado-
samente, tarefa sobre a qual se debruçou preocupado em não imiscuir
em uma o que é próprio de outra, tal qual Hans Kelsen, que lhe serve
de guia epistemológico.
Deste modo, adotando o purismo vestido nos conceitos, o Autor,
partindo das anotações frutos do saber de suas preleções curricula-
res, construiu este instrumento facilitador das relações de ensino-
aprendizagem, evidenciando sua vocação de mestre e realizando o
que a boa didática orienta nas definições de um projeto pedagógico.
Como diz nas folhas iniciais, sabedor da fatalidade ideológica
que é própria da relação disciplinar de que se trata, resulta da leitura
deste texto que o Mestre cumpriu sua promessa de não adentrar a
arena dos interesses cifrados em pretensa neutralidade conceitual.
Anunciou seus propósitos de não instrumentalizar justificativas valo-
rativas ou à liberdade de mercado ou à intervenção estatal, mas dei-
xou claro e objetivamente para a que fins servem a Economia Políti-
ca, o Direito Econômico e a Economia do Direito.
Ainda que as disputas ideológicas estejam acobertadas nas me-
didas governamentais e nas relações de mercado, o que é da natureza
do exercício do poder e da clivagem dos interesses nas sociedades
complexas e desiguais, o tema de uma justiça tridimensional foi pro-
positalmente afastado pelo Professor neste texto. Mesmo que esteja
latente nos ensinamentos vertidos pelo Autor na sala de aula. A con-
cepção desta justiça, qual seja, a que distribui os bens da vida, reco-
nhece a legitimidade desta distribuição e autoriza a participação de
todos os cidadãos da Nação a usufruírem as fatias do bolo econômi-
co (Nancy Fraser).

8
Tarefa proposta e cumprida, a Universidade realizou sua missão
através do trabalho do Professor Ricardo Camargo, que tive o prazer
de ler e a amizade em apresentar e ao qual desejo profícuo aprovei-
tamento nas relações de ensino-aprendizagem, proporcionando a
acumulação de experiências didáticas que o levem a novos desafios e
resultados.
Em Porto Alegre, outubro de 2011

Luiza Helena Moll


Professora Aposentada
Departamento de Direito Econômico e do Trabalho
Faculdade de Direito da UFRGS

9
10
1. INTRODUÇÃO

Uma primeira pergunta que emergiria em relação ao presente li-


vro seria a referente ao interesse e legitimidade de um estudioso do
Direito escrever sobre Economia Política. A resposta vem a colocar-
se no sentido de que, tradicionalmente, a disciplina é oferatda nos
cursos de Direito, e o é justamente porque muitos dos fatos econô-
micos vêm a constituir conteúdo de relações jurídicas. Daí por que
Bacharéis em Direito escreveram textos voltados a ela, como é o
caso de Francisco Simch, Carlos Galves, Caio Prado Jr., Celso Fur-
tado, Washington Peluso Albino de Souza, Fábio Nusdeo, Avelãs
Nunes, António de Oliveira Salazar e tantos outros. E, presente a
própria idéia de política econômica, do exercício do poder em rela-
ção à realidade econômica, para se atender a determinados objetivos
– pouco importa, no caso, se “bons” ou “ruins” -, vem necessaria-
mente acoplada aos instrumentos jurídicos, pois somente estes é que
vêm a corporificá-la, isto é, a trazê-la para o plano das possibilidades
de concreção, fora das abstrações teóricas. E, por conta disto mesmo,
é que se constituiu um novo ramo da ciência jurídica – o Direito
Econômico – que constitui o foco principal da produção intelectual
deste autor.
Por outro lado, ao mesmo tempo em que a Ciência Econômica
se foi emancipando em relação ao Direito, de tal sorte que se consti-
tui, hoje, em curso superior distinto, haveria mister, para o Bacharel,
por isto mesmo, no exame dos problemas econômicos ter o seu foco
muito mais voltado para as respectivas repercussões jurídicas, muitas
vezes enfoque bem distinto daquele próprio da Economia Pura –

11
terreno que pertence, inequivocamente, ao Economista, e no qual
não se pretende avançar -. Daí por que, já na apresentação dos con-
ceitos fundamentais da disciplina, ter-se-á a preocupação de mostrar
onde, no Direito, vêm eles a fazer-se presentes, ilustrando com
exemplos extraídos da jurisprudência. Metodologicamente, o texto
está organizado no sentido de assegurar o palmilhar do estudante do
terreno da Economia Política em direção ao Direito Econômico,
tomando como referenciais para a respectiva estruturação as obras
Direito Econômico e Economia Política, do Professor Washington
Peluso Albino de Souza, e Curso de Economia Política – introdução
ao Direito Econômico, do Professor Fábio Nusdeo.
É importante, ainda, deixar bem claros os referenciais que se uti-
lizarão, para o fim de tornar clara a exposição. Não cabe na condição
de cientista, realizar cortes em relação a autores com os quais even-
tualmente se antipatize, seja por motivos pessoais, seja por motivos
políticos1, sobretudo porque de cada um deles pode provir uma pro-
posição merecedora de confronto, no respectivo mérito, com a reali-
dade, e que pode vir a se confirmar como apta a explicá-la. Seguir-
se-á, aqui, não propriamente a metodologia, mas a atitude intelectual
proposta por Max Weber2: “dentre todas as tarefas pedagógicas, a
mais difícil é a que consiste em expor problemas científicos de tal
forma que um espírito não-preparado, mas bem-dotado, possa com-
preendê-lo e formar opinião própria”. A questão, pois, não é a de
permitir o trânsito da opinião pura e simples até mesmo sobre o que
não se conhece3, muito menos a de tratar a mente do estudante como
um papel em branco ou tábua rasa – tese defendida por alguns edu-

1 - BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Habeas corpus 43.787. Relator: Min.


Hahnemann Guimarães. Diário de Justiça da União. 10 ago 1967; idem. Habeas
corpus 43.829. Relator: Min. Gonçalves de Oliveira. Diário de Justiça da União. 27
jun 1967; idem. Recurso Criminal 1082. Relator: Min. Aliomar Baleeiro. Diário de
Justiça da União. 6 set 1968.
2 - Ciência e política – duas vocações. Trad. Jean Melville. São Paulo: Martin
Claret, 2011, p. 31; MISES, Ludwig Von. O intervencionismo. Trad. José Joaquim
Teixeira Ribeiro. Boletim da Faculdade de Direito de Coimbra. Coimbra, v. 20, p.
449, 1945; MYRDAL, Gunnar. Aspectos políticos da teoria econômica. Trad. José
Auto. São Paulo: Nova Cultural, 1986, p. 15; BARRE, Raymond. Manual de eco-
nomia política. Trad. Pierre Santos. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1970, v. 1, p.
60-2.
3 - PLATÃO. A república. Trad. Pietro Nassetti. São Paulo: Martin Claret, 2005, p.
178.
12
cadores de formação teológica4, paradoxalmente, contrariando a
própria noção agostiniana de “livre arbítrio” 5 –, menos ainda a de
escrever obra destinada a uma tomada de posição, por parte do autor,
perante a multiplicidade de questões relacionadas com a matéria, até
porque é para isto que existem as obras de caráter monográfico. É,
sim, a de permitir que o estudante, que não é um prolongamento do
Professor, embora este tenha responsabilidade com os acessos que
oferece, venha a conhecer os temas para, por si, poder falar deles
com conhecimento de causa, ao invés de agir como os integrantes do
júri que condenou Dimitri Karamazov, para o qual não interessava se
este havia ou não matado o velho Fiódor: necessariamente, tinha de
o ter matado, para que pudessem sobre ele exercer o papel de “exe-
cutores da Justiça Divina”, prevenidos como estavam contra o jovem
“de caráter violento, de paixões desenfreadas”, que a tantos ofendera
e, por isto, gerava uma predefinida convicção acerca de sua culpa 6.
O enfrentamento das questões à moda weberiana é já um bom come-
ço para se poder trilhar uma busca do conhecimento que não seja
precondicionada pela fé (seja religiosa, política, o que for) 7. “Qual o
historiador que diria não ser verdadeiro o assassinato de César por
Bruto porque não é justo que ele o tenha morto? [...] Imagine-se o
efeito ridículo que produziria, hoje, o filósofo ou o teólogo ou o mo-
ralista que condenasse o cientista por ele não se ter indignado pelo
iníquo e pérfido comportamento da aranha contra a mosca” 8. Até
porque a idéia a partir de uma apreciação pessoal, positiva ou nega-
tiva, sobre determinado objeto não dará sobre este informações fide-
dignas, mas meramente nos levará a imaginá-la conforme as nossas

4 - HEGEL, Georg Wilhelm Friedrich. Propedêutica filosófica. Trad. Artur Morão.


Lisboa: Ed. 70, 1989, p. 373.
5 - AUGUSTINE, Aurelius. The city of God. Transl. Marcus Dods. London: En-
cyclopaedia Britannica, 1952, p. 215-6; ALIGHIERI, Dante. Monarquia. Trad. Ciro
Mioranza. São Paulo: Escala, 2005, p. 51.
6 - DOSTOIÉVSKY, Fiódor Mikhailovitch. Os irmãos Karamazov. Trad. Natália
Nunes & Oscar Mendes. São Paulo: Círculo do Livro, s/d, p. 629.
7 - SCHUMPETER, Joseph Alois. Capitalismo, socialismo e democracia. Trad.
Ruy Jungmann. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1961, p. 74-5, nota 14.
8 - BECKER, Alfredo Augusto. Teoria geral do Direito Tributário. São Paulo:
Saraiva, 1963, p. 80; KELSEN, Hans. Teoria pura do Direito. Trad. João Baptista
Machado. Coimbra: Arménio Amado, 1974, p. 161.
13
conveniências9. Assim se explica que sejam igualmente valorizados
– sem exclusão de qualquer outro em ambos os campos e mesmo em
campos diversos – autores de formação liberal, como Fábio Nusdeo,
e de formação marxista, como António José Avelãs Nunes, que têm
em comum, entretanto, a seriedade acadêmica daquele que tem bem
nítida a diferença da área da produção científica em face da área da
militância política, religiosa, corporativa, qualquer que seja. E, como
o fantasma dos sectarismos de esquerda e de direita, volta e meia,
assombra o campo das Ciências Sociais10, é de se recordar que “as
teses de Max Weber e W. Sombart são nitidamente opostas à con-
cepção materialista-histórica das forças motrizes do desenvolvimen-
to social e, especialmente, do processo do aparecimento e desenvol-
vimento do capitalismo”11. Quanto às notas de rodapé, a presença,
lado a lado, dos autores tais ou quais não significará, necessariamen-
te, que concordam entre si, mas sim que versaram, de alguma forma,
o tema a que a nota se refere, constituindo ponto de partida para o
estudante que desejar aprofundar-se nele. Preferencialmente, o texto
estará voltado aos conceitos econômicos que se fazem mais freqüen-
tes no exame dos problemas jurídicos. A eventual presença de gráfi-
cos e equações – reduzida ao mínimo possível - não tem por objetivo
ensinar o aluno a elaborá-los, mas sim permitir-lhe a visualização de
determinados exemplos passíveis de representação por esta forma.
Aproveite-se para consignar, aqui, um agradecimento especial aos
alunos Asafe do Carmo Sulzbacher Wondracek e Roger Lucas Bava-
resco Acadroli, que, ao cederem as respectivas anotações de aula
realizadas no primeiro semestre de 2011, possibilitaram a confecção
deste livro.

9 - SPINOZA, Baruch. Ethics. Transl. W. H. White. London: Encyclopaedia Bri-


tannica, 1952, p. 382.
10 - DUVERGER, Maurice. Os laranjais do Lago Balaton. Trad. Edgard de Brito
Chaves Júnior. Brasília: UnB, 1982, p. 36.
11 - LANGE, Oskar. Moderna economia política. Trad. Pedro Lisboa. Rio de Janei-
ro: Fundo de Cultura, 1963, p. 252; LENIN, Vladimir Ilitch Ulianov. O desenvol-
vimento do capitalismo na Rússia. Trad. José Paulo Netto. São Paulo: Abril Cultu-
ral, 1982, p. 398, nota 47.
14
2. NOÇÕES FUNDAMENTAIS

É comum iniciar-se o curso falando acerca da origem da palavra


“Economia” como originária do grego “oikos”, casa, e “nomos”,
regras. Ou seja, seria a ciência que estudaria “o funcionamento” ou
“a gestão” da “casa”. Neste sentido, uma expressão que se vulgari-
zou, “economia doméstica”, pareceria um verdadeiro pleonasmo, se
não tivesse assumido a conotação do conhecimento próprio da ges-
tão de uma residência familiar. A “casa” a que se refere o conceito
de “Economia”, na concepção grega, diz com o local onde os indiví-
duos habitam, estendendo-se da residência à própria “polis”, da pró-
pria “cidade”. A “polis” aparece, neste sentido, como a família am-
plificada: “o todo natural, que a família constitui, alarga-se ao todo
de um povo e de um Estado, em que os indivíduos têm por si uma
vontade independente”12. Daí falar-se em “Economia Política”. Po-
deríamos parar por aqui. Mas, considerando os altos e baixos da vida
pública brasileira, como se ilustra pelas obras que vão referidas logo
abaixo13, vem a tornar-se indispensável uma explicação adicional da

12 - HEGEL, Georg Wilhelm Friedrich. Propedêutica filosófica. Trad. Artur Mo-


rão. Lisboa: Ed. 70, 1989, p. 317; NUSDEO, Fábio. Curso de economia política –
introdução ao Direito Econômico. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003, p. 29.
13 - MALUF, Sahid. Teoria geral do Estado. São Paulo: Sugestões Literárias,
1978, p. 379; BASTOS, Celso Ribeiro & MARTINS, Ives Gandra da Silva, Comen-
tários à Constituição do Brasil. São Paulo: Saraiva, 1988, v. 1, p. 318-319; FER-
REIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Comentários à Constituição brasileira. São
Paulo: Saraiva, 1972, v. 1, p. 16; JACQUES, Paulino. Curso de Direito Constituci-
onal. Rio de Janeiro: Forense, 1983, p. 81-82; BATALHA, Wilson de Souza Cam-
pos. Introdução ao Direito. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1968, v. 2, p. 767;
FERRAZ, Manoel de Figueiredo. A segurança nacional e o Ministério Público. In:
15
denominação da disciplina. Com efeito, por se chamar “Economia
Política”, pareceria, num primeiro momento, ao senso comum, estar
referida às concepções econômicas adotadas pelas agremiações que
disputam o Poder Público nas eleições. Porém, não é disto que se
trata: a disciplina tem este nome, atribuído desde 1615 por Antoine

Congresso do Ministério Público de São Paulo, 1º. Anais. São Paulo: 1971, p. 215;
DUARTE, Arnaldo Rodrigues. Regimes políticos contemporâneos. Revista de
Direito da Procuradoria Geral de Justiça do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, v. 1, n.
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Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1968, p. 26; PEREIRA, Caio Mário da Silva. Refor-
mulação da ordem jurídica e outros temas. Rio de Janeiro: Forense, 1980, p. 116;
ZENUN, Augusto. Legislação agrária e sua aplicação. Rio de Janeiro: Forense,
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Bueno [org.]. Por uma nova esfera pública – a experiência do orçamento participa-
tivo. Petrópolis: Vozes, 2000, p. 148.
16
de Montchrestien, porque se volta a estudar não somente a atuação
dos indivíduos, das famílias e das empresas particulares na busca da
satisfação das respectivas necessidades, como também das que en-
volvem coletividades14. Por outra razão não é que se distingue entre
a microeconomia, voltada a quantidades individuais, a consumidores
e empresas tomados nas respectivas particularidades, à renda indivi-
dual, à produção e investimento das empresas e a macroeconomia,
voltada a grandezas globais, poupança global, renda global, investi-
mentos e gastos em nível mais totalizante15. Ou seja: a macroecono-
mia se volta ao que se convencionou denominar “grandes agrega-
dos”, que não se constituem simplesmente da soma aritmética de
cada um dos particulares que integrem uma determinada coletivida-
de, e merecerão um exame mais aprofundado quando se for estudar o
tema do desenvolvimento e do crescimento econômico, mais adiante.
São estes grandes agregados que são tomados em consideração na
definição dos contornos do exercício do poder econômico público,
seja para o fim de se o tratar como mero viabilizador da iniciativa
privada – como o desejavam os fisiocratas no século XVIII – seja
como planejador da economia, como se verificou tanto nos países
socialistas como nos países capitalistas mais avançados.
É importante ter presente, outrossim, o perigo consistente em
dar como uma característica geral da economia como um todo um
dado que se reporta a realidades econômicas específicas. Por exem-
plo, em livro didático16, elevam-se os seguintes enunciados à condi-
ção de “princípios da economia”, sendo que, ao longo deste texto,
teremos discutida a respectiva aplicabilidade genérica a qualquer que
seja o sistema econômico:

(1) As pessoas enfrentam dilemas para decidir;

14 - SAY, Jean-Baptiste. Tratado de economia política. Trad. Balthazar Barbosa


Filho. São Paulo: Abril Cultural, 1983, p. 39; SOUZA, Washington Peluso Albino
de. Direito Econômico e Economia Política. Belo Horizonte: Prisma, 1970, v. 1, p.
75; GALVES, Carlos. Manual de economia política atual. Rio de Janeiro: Forense,
1972, p. 7-8.
15 - KEYNES, John Maynard. Teoría general de la ocupación, el interés y el dine-
ro. Trad. Eduardo Hornedo. México: Fondo de Cultura Económica, 1965, p. 260;
SOUZA, Washington Peluso Albino de. Direito Econômico e Economia Política.
Belo Horizonte: Prisma, 1970, v. 1, p. 179.
16 - MANKIW, N. Gregory. Princípios de microeconomia. Trad. Allan Vidal Has-
tings & Elisete Paes e Lima. São Paulo: Cengage Leaning, 2009, p. 4-13.
17
(2) O custo de cada coisa é a necessidade de que se desiste de
atender para a obter;
(3) Pessoas racionais pensam na margem;
(4) Pessoas reagem a incentivos;
(5) O comércio pode ser bom para todos;
(6) Mercados são uma boa forma de organização da atividade
econômica;
(7) Às vezes os Governos podem melhorar os resultados do
mercado;
(8) O padrão de vida de uma coletividade depende de sua capa-
cidade de produzir bens e serviços;
(9) Os preços sobem quando o Governo emite moeda demais;
(10) As sociedades enfrentam um dilema entre inflação e de-
semprego.

E as perguntas que emergem, a colocar em debate a considera-


ção de todos estes enunciados como “princípios” são as seguintes,
partindo do pressuposto da universalidade do fenômeno econômico
em relação à humanidade: (1) todas as economias produzem exce-
dentes para poderem ser levados ao comércio? (2) o comércio será a
única forma de lidar com os excedentes que as sociedades conce-
bem? (3) quando se admitem relações comerciais, todas elas neces-
sariamente implicam o estabelecimento de relações de mercado? (4)
haverá um critério universal para se dizer o que é uma “boa organi-
zação da atividade econômica”? (5) toda economia terá, necessaria-
mente, moeda? (6) será o Governo necessariamente o único titular
do poder de emissão de moeda? (7) a variação do poder aquisitivo da
moeda estará necessariamente ligada ao desemprego, colocando-se,
pois, este como opção necessária para que se combata a inflação?
Assim como ocorre no exame de problemas jurídicos, o estudo
de problemas econômicos exige do analista que tenha muito presen-
tes as distinções entre: (1) a realidade que esteja a examinar; (2) a
percepção que tenha acerca desta mesma realidade; (3) a identidade
de cada um dos referenciais empregados para perceber e conhecer a
realidade; (4) a distinção entre os referenciais empregados e as suas
preferências pessoais acerca da realidade examinada. A influência
dos gostos pessoais do analista não pode ser tal que conduza à alte-
ração das características do objeto examinado por conta de tais ou
quais conveniências, e a ultrapassagem deste limite, nas Ciências
Sociais, é um perigo constante para os mais sérios pesquisadores.

18
3. NECESSIDADE

3.1. Conceito

È uma sensação dolorosa, consistente na percepção, por parte de


um ser, de que algo lhe falta. Tende a crescer até o infinito e a multi-
plicar-se rapidamente, tanto no que diz respeito a um indivíduo
quanto no que diz respeito à própria multiplicação dos indivíduos.

3.2. Classificação

A partir das características, da origem e dos sujeitos a que se


referem, tem-se a seguinte classificação das necessidades17:

 PRIMÁRIAS: Assaltam naturalmente o ser humano. Ex: ali-


mentação, sono, aquecimento...

17 - SOUZA, Washington Peluso Albino de. Direito Econômico e Economia Políti-


ca. Belo Horizonte: Prisma, 1970, v. 1, p. 210-214; NUSDEO, Fábio. Curso de
economia política – introdução ao Direito Econômico. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2003, p. 25-6; ROSSETTI, José Paschoal. Introdução à economia. São
Paulo: Atlas, 1971, p. 84; VEBLEN, Thorstein. A teoria da classe ociosa. Trad.
Olívia Krahenbühl. São Paulo: Abril Cultural, 1983, p. 16; SIMCH, Francisco
Rodolfo. Economia social. Porto Alegre: Globo, 1912, p. 3; SAMUELSON, Paul A.
Introdução à análise econômica. Trad. Luiz Carlos do Nascimento Silva. Rio de
Janeiro: Agir, 1966, v. 1, p. 158; BARRE, Raymond. Manual de economia política.
Trad. Pierre Santos. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1970, v. 1, p. 20-1.
19
 DERIVADAS: Decorrentes de atividades exercidas pelo ser
humano na satisfação das necessidades, podendo ser estas biológi-
cas, culturais, etc. Ex: alimentação sofisticada com caviar.
 ESSENCIAIS: são aquelas cujo atendimento é indispensável à
vida do ser humano em seu meio natural e social, independen-
temente de se tratar de necessidade biológica ou cultural.
 NÃO ESSENCIAIS: são aquelas cujo não-atendimento pode,
eventualmente, causar um desconforto, mas não necessariamente
provocará a impossibilidade de o ser humano viver no meio natural e
social.
 SUNTUÁRIAS: são aquelas cujo atendimento se volta a fato-
res de ostentação ou de diferenciação, pura e simples.
 RACIONAIS: Relacionadas à possibilidade de serem satisfei-
tas. A adequação pode ser objetiva – obedecendo a um plano aferível
independentemente das preferências da pessoa necessitada – ou sub-
jetiva – governada pelas preferências-.
 IRRACIONAIS: Inadequadas ao fim proposto. Ex: criança
comendo papel.
 RÍGIDAS: não admitem adiamentos nem substituição.
 ELÁSTICAS: admitem adiamentos ou substituições.
 COLETIVAS: referentes a carências que atingem o conjunto
indivisível dos indivíduos, arroladas dentre estas as voltadas ao setor
de comunicações.
 DE MASSA: referentes a carências de vários indivíduos em
relação a bens iguais – serão centralizadas, quando provierem os
bens aptos a satisfazê-la de um único agente ou descentralizadas.
 DECORRENTES DE ATOS DE PRODUÇÃO : a partir de um ato
ou fato ou ato-fato econômico, vêm a ser deflagradas novas carên-
cias.
 ESPECULATIVAS: para bens a que não há uma imediata apli-
cação ou que sejam produzidos em quantidade superior à apta a pro-
duzir a satisfação.

As necessidades coletivas e as necessidades de massa, as decor-


rentes de atos de produção e as especulativas são situadas na alta
etapa do capitalismo como “classes especiais de necessidades”18.

18 - SOMBART, Werner. El apogeo del capitalismo. Trad. Vicente Caridad. Méxi-


co: Fondo de Cultura Económica, 1946, v. 2, p. 18-9.
20
Distingue-se a necessidade do desejo, no sentido de que este se-
ria a “roupagem psicológica” daquela. Com efeito, o desejo se mani-
festa quando, dentre outros meios aptos a satisfazerem aquela deter-
minada necessidade, vem a se eleger um específico. Ele é, pois, o
impulso que conduz o necessitado ao bem, a cada momento em que a
necessidade se manifesta19. De outra parte, mesmo sendo ilimitadas
as necessidades, o grau do desejo de as satisfazer pode variar con-
forme as circunstâncias em que se ache o ser necessitado20. Quando
satisfeitas, as necessidades tenderão a se reproduzir, e à ação huma-
na voltada à satisfação de uma necessidade recorrente dar-se-á o
nome de “hábito”21. É interessante, outrossim, evocar o conceito de
“indiferença”, pelo qual a satisfação de um determinado grupo de
necessidades ou de outro viria a dar-se na mesma intensidade, de tal
sorte que tanto faria o sacrifício de um ou de outro. Vamos a um
exemplo: quanto se disporia um leitor a sacrificar dentre um livro
que lhe proporcionasse distração e um livro que se voltasse a aumen-
tar o seu conhecimento? Claro que virá a objeção de que é intuitivo o
caráter mais essencial da instrução em face do lazer, mas suponha-
mos que o nosso leitor seja um estudante de Direito, que tivesse a
possibilidade de entender e assimilar o que se contivesse num manu-
al de astronomia – voltado, pois, a fins de instrução – e tivesse de
optar entre a leitura deste livro e de um romance de Érico Veríssimo.
Neste caso, a satisfação de uma ou outra necessidade daria rigoro-
samente no mesmo, pois a astronomia, para o nosso estudante de
Direito, não terá o caráter essencial que teria para um navegador ou
um geógrafo. A mensuração da indiferença – representada grafica-
mente pela denominada “curva de indiferença” – vem a dar-se a
partir dos termos em que um determinado grupo de necessidades
seria passível de sacrifício em prol de outro22. No nosso exemplo,
suponhamos que vão surgindo fatores que levem o nosso estudante a

19 - KNIGHT, Frank Hyneman. Riesgo, incertidumbre y beneficio. Trad. Ramón


Verea. Madrid: Aguilar, 1947, p. 54.
20 - WEBER, Adolf. Introducción al estudio de la Economía Política. Trad. José
Alvarez de Cienfuegos y Cobos. Barcelona: Bosch, 1943, p. 82-3; BÖHM-
BAWERK, Eugen Von. Teoria positiva do capital. Trad. Luís João Baraúna. São
Paulo: Abril Cultural, 1988, v. 1, p. 162-4.
21 - GUITTON, Henri. Economia política. Trad. Oscar Dias Correa. Rio de Janeiro:
Fundo de Cultura, 1961, v. 1, p. 195.
22 - SAMUELSON, Paul A. Introdução à análise econômica. Trad. Luiz Carlos do
Nascimento Silva. Rio de Janeiro: Agir, 1966, v. 2, p. 98.
21
identificar maior utilidade no livro de astronomia do que no literário.
A variação dar-se-á, na oposição Instrução x Lazer, pela redução da
ênfase neste e pelo aumento da ênfase naquela. Ilustremos grafica-
mente a situação, atribuindo, aqui, pesos para a variação do interesse
na Instrução e no Lazer:

Linhas de indiferença

4,5
4
3,5
3

Lazer
2,5
Série1
2
1,5
1
0,5
0
0 1 2 3
Instrução

Figura 1

Tais pesos não correspondem, evidentemente, a grandezas efeti-


vas, mas tão-somente à indicação de que quanto maior se mostra a
inclinação pela satisfação de uma necessidade, menor se mostra a
inclinação para a satisfação da outra23. Para facilitar, digamos que,
sejam, de cada lado, o número de razões que pesariam para que o
nosso estudante se inclinasse por satisfazer a uma ou outra necessi-
dade. Claro que aqui estamos a lidar com necessidades de diferente
natureza e verificamos a possibilidade de substituir a satisfação de
uma pela de outra. Mas podemos, no âmbito de uma necessidade
idêntica, verificar o estabelecimento de prioridades. Suponhamos
que o nosso estudante de Direito do exemplo tenha de escolher, na
sua necessidade de instrução, entre estudar Direito Civil e Direito
Constitucional. Suponhamos, mais, que ele goste mais de Direito
Constitucional. Pelo gosto, tenderá mais a estudar Direito Constitu-

23 - GUITTON, Henri. Economia política. Trad. Oscar Dias Correa. Rio de Janeiro:
Fundo de Cultura, 1961, v. 2, p. 198.
22
cional. Caso não pretenda, porém, precisar de pontos em Direito
Civil, necessitará colocar ênfase nesta matéria, pois tenderá a apren-
der a outra com maior facilidade. Novamente, vamos atribuir pesos
que não corresponderão a efetivas grandezas, mas apenas indicarão
que em determinado momento pesarão mas as razões para se atender
a uma das motivações do que a outra. Suponhamos aqui os números
como o número de horas que ele pretende dedicar a uma atividade ou
outra:

Linhas de indiferença

4,5
4

Estudo por gosto


3,5
3
2,5
Série1
2
1,5
1
0,5
0
0 1 2 3
Estudo por necessidade

Figura 2

Este conceito merecerá ser recordado quando se responder à


pergunta acerca dos fatores que conduzem o indivíduo a adquirirem
tal ou qual bem ou a fruírem de tal ou qual serviço 24. Também se
tomará em consideração quando estudarmos, no capítulo referente à
produção, o conceito de “custos de oportunidade”.

24 - MEYERS, Alfred L. Elementos de economia moderna. Trad. Antonio Ferreira


da Rocha. Rio de Janeiro: Livro Ibero-Americano, 1968, p. 57-8.
23
Vale, ainda, recordar os “teoremas de Gossen”, voltados a medir
a intensidade das necessidades a partir da intensidade do prazer que
se obtém quando satisfeitas 25:

1 – Um prazer continua, descresce e acaba por se extinguir;


2 – Para uma mesma necessidade, há um máximo de satisfação
que corresponde a uma certa duração e uma certa freqüência de
satisfações sucessivas;
3 – Quando um mesmo prazer se repete, a intensidade inicial e a
duração são mais breves do que da primeira vez, e a intensidade
inicial e a duração decrescerão tão rapidamente quanto mais fre-
qüentes forem as repetições.

3.3. Aplicações no Direito

Como causa apta a excluir ou diminuir a responsabilidade nos


âmbitos criminal e civil, o estado de necessidade, enquanto sacrifício
de um direito alheio em prol da eliminação de um perigo atual ou
iminente, é de longa data conhecido. Tem-se procurado caracterizar
como tal – normalmente, sem sucesso26 - as dificuldades financeiras
por que eventualmente passam acusados de crimes relacionados com
tráfico de entorpecentes, venda de produtos “piratas”, não repassa-
mento de contribuições previdenciárias, para tentarem justificar as
respectivas condutas. Também se fala no estado de necessidade en-
quanto situação de fraqueza, da qual se pode, por vezes, abusar para
se obter vantagem ilícita: “em sua origem, a ilicitude do negócio
usurário era medida apenas com base em proporções matemáticas
(requisito objetivo), mas a evolução do instituto fez com que se pas-
sasse a levar em consideração, além do desequilíbrio financeiro das

25 - GOSSEN, Hermann Heinrich. The laws of human relations and the rules of
human action derived therefrom. Transl. Rudolph C. Blitz. Cambridge: The MIT,
1983, p. 6; STAVENHAGEN, Gerhard. História de las teorias econômicas. Trad.
Adolfo von Ritter-Zahony. Buenos Aires: El Ateneo, 1959, p. 193-4; WIESER,
Friedrich Von. Natural value. Transl. Christian A. Malloch.
http://praxeology.net/FW-NV-I-3.htm, acessado em 29 ago 2011.
26 - BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso especial 1163090. Relator:
Min. Gilson Dipp. DJ-e 14 mar 2011; idem. Habeas corpus 143308. Relator: Min.
Napoleão Nunes Maia Filho. DJ-e 22 fev 2010; idem. Recurso especial 410054.
Relator: Min. Felix Fischer. DJU 3 fev 2003.
24
prestações, também o abuso do estado de necessidade (requisito sub-
jetivo)”27.
A definição do salário mínimo, no inciso IV do artigo 7º da
Constituição Federal, toma em consideração as necessidades tidas
como essenciais, ou seja, o piso aquém do qual não se admite que
ninguém seja remunerado precisamente porque todo trabalhador
deve poder obter os bens que lhe permitam satisfazer àquelas neces-
sidades específicas28. Não se volta, pois, ao atendimento de necessi-
dades além deste nível básico, mas tão-somente das essenciais. No
que diz respeito à sua utilização como fator de indexação, “o Supre-
mo Tribunal Federal fixou que ‘ao estabelecer o artigo 7º, IV, da
Constituição Federal, que é vedada a vinculação ao salário-mínimo
para qualquer fim, se pretendeu evitar que interesses estranhos aos
versados na norma constitucional venham a ter influência na fixação
do valor mínimo a ser observado’”29.
A classificação das necessidades, também, é tomada em consi-
deração quando se vai, no § 1º do artigo 1694 do Código Civil de
2002, definir o conteúdo da obrigação alimentar, como balizado
pelas necessidades do reclamante30. A proximidade com as razões
que levaram o constituinte a definir os elementos para a fixação do
salário mínimo é tão evidente que o Supremo Tribunal Federal con-
siderou possível a utilização deste no estabelecimento do quanto da
obrigação alimentar sem ofensa à Constituição31.
Ingressa também este conceito na definição da pobreza para os
efeitos de se dispensar quem vai ao Judiciário do pagamento de cus-
tas processuais e honorários de advogado e de perito: o comprome-
timento do atendimento de necessidades essenciais é que justifica a

27 - BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso especial 809565. Relator: Min.


Nancy Andrighi. DJ-e 29 jun 2011.
28 - BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso extraordinário 242740. Relator:
Min. Moreira Alves. DJU 18 maio 2001; idem. Medida cautelar na ação direta de
inconstitucionalidade 1.458. Relator: Min. Celso de Mello. DJU 20 set 1996.
29 - BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Agravo regimental no recurso extraordi-
nário 467212. Relator: Min. Eros Grau. DJ-e 31 ago 2008.
30 - BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso especial 1027930. Relatora;
Min. Nancy Andrighi. DJ-e 16 mar 2009.
31 - BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso extraordinário 134567. Relator:
Min. Ilmar Galvão. DJU 6 dez 1991.
25
concessão do benefício, e não o desejo, puro e simples, de receber de
graça o serviço judicial32.
A caracterização da necessidade como essencial ou não ingressa
no Direito, também, quando se vem tratar o mínimo existencial co-
mo limite a medidas coercitivas sobre o patrimônio dos cidadãos 33.
O caráter individual ou coletivo da necessidade também aparece
como um dado apto a justificar a maior ou menor restrição a condu-
tas que se mostrem aptas a frustrarem a respectiva realização, e foi o
reconhecimento do caráter coletivo da necessidade referente ao abas-
tecimento popular que veio a conduzir o Supremo Tribunal Federal a
considerar compatível com a Constituiçao brasileira lei voltada a
assegurá-lo, com as restrições impostas ao empresariado privado 34.
O caráter rígido ou elástico de uma necessidade, de outra parte,
pode ser apto a caracterizar ou descaracterizar a urgência e maior
relevância de um interesse em face de outro, como se pode exempli-
ficar em questão examinada pelo Supremo Tribunal Federal, em
litígio que envolvia Município e companhia concessionária de servi-
ço público, afetando a continuidade da prestação do saneamento
básico35. Também ele se vem a colocar para o fim de se reconhecer
ou não a presença do estado de necessidade36.

32 - BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso especial 1070457. Relator:


Min. Aldir Passarinho Júnior. DJ-e 23 mar 2009.
33 - BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Medida Cautelar 9675. Relator: Min.
Mauro Campbell Marques. DJ-e 3 ago 2011; idem. Embargos de divergência no
recurso especial 1057912. Relator: Min. Luiz Fux. DJ-e 26 abr 2011.
34 - Agravo regimental no agravo de instrumento 268.857. relator: Min. Marco
Aurélio. DJU 4 maio 2001; idem. Agravo regimental no agravo de instrumento
479966. Relator: Min. Carlos Velloso. DJU 8 abr 2005.
35 - Agravo regimental na suspensão de tutela antecipada 26. Relator: Min. Eros
Grau. Revista dos Tribunais. São Paulo, v. 95, n. 850, p. 165-174, ago 2006.
36 - BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Habeas corpus 19285. Relator: Min.
Gilson Dipp. DJU 17 fev 2003.
26
4. BEM

4.1. Conceito

O objeto da necessidade, no sentido de que seria o meio apto a


saná-la. Suas relações com as carências que se mostram aptas a su-
prir renderão estudo à parte, ao se examinar o conceito de “utilida-
de”, bem como com o dado de que as carências tendem a se multi-
plicar até o infinito, ao passo que a disponibilidade tenderia a se
reduzir (escassez).

4.2. Classificação

É a partir das características físicas dos bens, da natureza das


necessidades que visam satisfazer, da intensidade da respectiva es-
cassez que na Economia e no Direito se vêm a buscar os critérios
para sua classificação37:

37 - SOUZA, Washington Peluso Albino de. Direito Econômico e Economia Políti-


ca. Belo Horizonte: Prisma, 1970, v. 1, p. 224-241; NUSDEO, Fábio. Curso de
economia política – introdução ao Direito Econômico. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2003, p. 34-41; ROSSETTI, José Paschoal. Introdução à economia. São
Paulo: Atlas, 1971, p. 83-5 e 193; PACHECO, José da Silva. Tratado de Direito
Empresarial. São Paulo: Saraiva, 1979, v. 1, p. 335-339; WICKSELL, Knut.
Lecciones de economía política. Trad. Francisco Sánchez Ramos. Madrid:
Aguilar, 1947, p. 10 e 38-9; GALVES, Carlos. Manual de economia política
atual. Rio de Janeiro: Forense, 1972, p. 39-43; HICKS, John R. Uma introdu-
ção à economia. Trad. Sérgio Góes de Paula. Rio de Janeiro; Zahar, 1972, p.
39-43; SIMCH, Francisco Rodolfo. Economia social. Porto Alegre: Globo,
27
 CORPÓREOS: bens que tem corpo (físico). Ex: cadeira, mesa,
etc.
 INCORPÓREOS: são bens econômicos, sem corpo. Sobre es-
ses, se exercem direitos reais (apropriação). Não são encontrados na
natureza, são puras criações abstratas. Ex: a tecnologia.
 DE FRUIÇÃO COLETIVA: um bem pode satisfazer a um ser
sem que haja a exclusão de outros. Ex: concerto musical.
 DE FRUIÇÃO INDIVIDUAL: atendem somente a um indiví-
duo. Ex: porção de alimento.
 IN COMMERCIUM: bens que podem ser objetos de uma ope-
ração comercial.
 EXTRA COMMERCIUM: bens que, por natureza ou força de
lei, não podem ser objetos de uma operação comercial. possibilidade
do aproveitamento econômico de alguns deles, como é o caso da
energia solar.
 PÚBLICOS: pertencem a pessoa de direito público, tendo o
seu uso determinado pelo respectivo regime jurídico e não pela livre
vontade da pessoa que o gere, inclusive quando delegado o seu uso,
gozo e fruição ao particular, dentro dos limites da lei. Ex: terra indí-
gena.
 PRIVADOS: (a) de interesse individual – são aqueles cuja uti-
lização é predominantemente governada pelo interesse do indivíduo.
É de se fazer referência, entretanto, à função social que grava a utili-
zação privada das coisas; (b) de interesse social – são aqueles cuja
utilização é predominantemente governada pelo interesse da coleti-
vidade.
 DE PRODUÇÃO: voltados à geração de bens de consumo– de
uso único – são absorvidos pelo próprio aparelho produtivo para
darem origem a outros bens - ou de uso contínuo – estes últimos
constituem o capital fixo.
 DE CONSUMO: voltados à satisfação direta de determinada
necessidade, sem intuito de geração de riqueza.
 PRESENTES: são os que integram o patrimônio presente do
sujeito em questão.

1912, p.8-13; WIESER, Friedrich Von. Natural value. Transl. Christian A.


Malloch. http://praxeology.net/FW-NV-III-12.htm, acessado em 29 ago 2011.
28
 FUTUROS: são os passíveis de integrar o patrimônio do sujei-
to em questão.
 INSTRUMENTAIS: participam da produção do outro.
 INTERMEDIÁRIOS: para produção material e para circulação.
 AUTÔNOMOS: não dependem de outros para cumprirem sua
função econômica.
 COMPLEMENTARES: dependem de outros para o cumpri-
mento de sua função econômica – complementaridade pode ser téc-
nica ou psíquica.
 PRINCIPAIS: são aqueles cuja existência não depende, neces-
sariamente, da de outros, e cujos destino não é necessariamente go-
vernado pelo destes.
 ACESSÓRIOS: são aqueles cuja existência necessariamente
depende da de outros, cuja sorte necessariamente seguem.
 INVESTIMENTO: destinado a aplicação para gerarem frutos e
rendimentos.
 USO: bens de consumo cuja função é exercida continuamente
durante certo tempo.
 RESTITUIÇÃO: aluguel, empréstimo, depósito, usufruto.
 NATURAIS: existentes antes de o homem vir a trabalhá-los.
 PRODUZIDOS: depois de o homem os haver trabalhado.
 ATIVOS: aqueles cujos preços influenciam os dos demais.
 PASSIVOS: aqueles cuja variação no preço não influencia o
dos demais.
 REPRODUTÍVEIS: aqueles que podem ser reproduzidos em
várias unidades, cujo valor seja igual.
 NÃO REPRODUTÍVEIS: aqueles que, por uma razão natural
ou cultural, não podem ser reproduzidos em unidades de valor idên-
tico.
 DE CUSTO: reprodutíveis a certo custo.
 DE MONOPÓLIO: são os que condicionam inexoravelmente a
produção deles dependente, sem condições de substituição.
 PRIMITIVOS OU ORIGINÁRIOS : são os tradicionalmente
empregados para certa função.
 SUCEDÂNEOS: são os capazes de substituir bens originários,
para atenderem à mesma finalidade deste.

29
 SUBPRODUTOS: são os que decorrem do mesmo esforço pa-
ra a produção de um determinado bem e cujos custos são apurados
em associação com os da produção do bem principal.
 BENS STRICTO SENSU OU PRODUTOS: objetos, com identi-
dade específica, voltados a satisfazer determinada necessidade.
 SERVIÇOS: condutas economicamente apreciáveis.
 ECONÔMICOS: são aqueles escassos para a satisfação da ne-
cessidade a que se referem.
 LIVRES: são os que não entram no circuito econômico por
não serem escassos para a satisfação da necessidade a que se referem
 SUPÉRFLUOS: são os que não se voltam a satisfazer a neces-
sidades vitais do ser humano.
 ESSENCIAIS: são os indispensáveis a que o ser humano possa
viver no ambiente em que se insere.
 PATRIMONIAIS: são os que se apreciam economicamente.
 IMÓVEIS: são os que não podem ser objeto de deslocamento
físico em nenhuma hipótese.
 MÓVEIS: são os que podem ser objeto de deslocamento físico
sem sofrerem qualquer perda.
 FUNGÍVEIS: são os que podem ser substituídos por bem de
mesma espécie e igual valor.
 INFUNGÍVEIS: são os que não têm como ser substituídos por
qualquer outro bem de mesma espécie, marcados pela singularidade.
 DURADOUROS: são os passíveis de se estocar ou armazenar,
sem risco de rápida deterioração.
 PERECÍVEIS: são os que devem ser consumidos rapidamente,
pela possibilidade de rápida deterioração.
 ACABADOS: são os que assinalam o final do processo de
produção.
 INACABADOS: são aqueles que não tenham, ainda, assinala-
do o término de qualquer fase da produção.
 SEMI-ACABADOS: são aqueles que assinalam o término de
uma fase da produção, que ainda serão trabalhados antes de se con-
verterem no produto final
 COMPOSTOS: são os que se formam de partes componentes
de um todo orgânico.

30
 UNIVERSALIDADE: reunião de coisas singulares, considera-
das no seu conjunto, por sua finalidade econômica, designação gené-
rica, estipulação própria e administração comum.

Os serviços, ainda, podem ser prestados por subordinação para


assegurar a outrem a produção de bens e outros serviços, traduzindo
relação de trabalho, ou prestados para o fim estrito de possibilitar a
fruição para o outro o serviço em questão.

4.3. Aplicações no Direito

A classificação dos bens, sob o aspecto econômico, vem a refle-


tir na aplicação do direito sob várias formas.
Bens essenciais, por exemplo, são por vezes subtraídos à penho-
ra, como é o caso do bem imóvel único do devedor destinado à sua
residência e à da respectiva família, nos termos da Lei 8.009, de
199038. O caráter essencial ou supérfluo de um bem, em relação a
determinados impostos, autoriza tratamento seletivo, como é o caso
do IPI e do ICMS39.
A distinção entre bens stricto sensu e serviços ingressa no mo-
mento de definir o fato gerador da obrigação tributária, sendo de
recordar o debate travado nos tribunais acerca de o fornecimento de
comida e bebida em bares e restaurantes traduzir operação de
circulação de mercadorias, sujeita ao ICMS, de competência estadual,
ou prestação de serviços, sujeita ao ISSQN, de competência munici-
pal40.
A identificação do caráter autônomo ou complementar de um
determinado bem esteve por trás da discussão que se travou, a partir
do tratamento privilegiado para os jornais, livros, revistas e do papel
para a respectiva impressão, acerca de se estender tal tratamento à

38 - BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso especial 1217219. Relator:


Min. Castro Meira. DJ-e 4 abr 2011.
39 - BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Agravo regimental no agravo de instru-
mento 814600. Relator: Min. Marco Aurélio. DJ-e 1 ago 2008.
40 - BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso extraordinário 146815. Relator:
Min. Octávio Gallotti. DJU 20 out 1995.
31
tinta que seria utilizada41, ou à caracterização de um bem não dire-
tamente empregado na atividade econômica como essencial ao res-
pectivo funcionamento42.
A intensidade com que sucedâneos possam desempenhar as fun-
ções do bem ingressa também na verificação da maior ou menor
gravosidade da situação que se imponha em termos de restrição ao
respectivo proprietário43.

41 - BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso extraordinário 273308. Relator:


Min. Moreira Alves. DJU 15 set 2000; idem. Recurso extraordinário 267.690. Rela-
tor: Min. Ilmar Galvão. DJU 10 ago 2000; idem. Recurso extraordinário 174476.
Relator: Min. Marco Aurélio. DJU 12 dez 1997.
42 - BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso especial 786.282. Relator:
Min. Aldir Passarinho Júnior. DJ-e 17 maio 2010.
43 - BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso especial 254314. Relator: Min.
Sálvio de Figueiredo Teixeira. DJU 29 abr 2002.
32
5. UTILIDADE

5.1. Conceito

Aptidão de um determinado bem para a satisfação de necessida-


des. Será ela entendida, matematicamente, como função da quanti-
dade necessária de um bem para satisfazer determinada necessidade.
Ou seja, ela dependerá da quantidade e qualidade dos bens econômi-
cos44.

5.2. Classificação

Pode ser classificada do seguinte modo45:

44 - PAULA, L. Nogueira de. Metodologia da economia política. Rio de Janeiro:


Pongetti, 1942, p. 161; JEVONS, William Stanley. A teoria da economia política.
Trad. Cláudia Lavensveiler de Moraes. In: JEVONS, William Stanley & MENGER,
Carl. Os economistas. São Paulo: Abril Cultural, 1983, p. 47-8; SEN, Amartya.
Desenvolvimento como liberdade. Trad. Laura Teixeira Motta. São Paulo: Compa-
nhia das Letras, 2010, p. 95-7.
45 - SOUZA, Washington Peluso Albino de. Direito Econômico e Economia Políti-
ca. Belo Horizonte: Prisma, 1970, v. 1, p. 222 e 247-8; NUSDEO, Fábio. Curso de
economia política – introdução ao Direito Econômico. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2003, p. 35; WALRAS, Léon. Compêndio dos elementos de economia
política pura. Trad. João Guilherme Vargas Netto. São Paulo: Nova Cultural, 1996,
p. 90-1; SAY, Jean-Baptiste. Tratado de economia política. Trad. Balthazar Barbo-
sa Filho. São Paulo: Abril Cultural, 1983, p. 68; BÖHM-BAWERK, Eugen Von.
Teoria positiva do capital. Trad. Luís João Baraúna. São Paulo: Abril Cultural,
1988, v. 1, p. 168; MYRDAL, Gunnar. Aspectos políticos da teoria econômica.
Trad. José Auto. São Paulo: Nova Cultural, 1986, p. 81; GEORGE, Henry. Pro-
33
 OBJETIVA: capacidade do bem atender, efetivamente, inde-
pendentemente de apreciações do sujeito, a necessidade a que cor-
responde.
 SUBJETIVA: capacidade do bem atender, em função da apre-
ciação do sujeito, a necessidade a que corresponde.
 TOTAL: quantidade de bens apta a satisfazer, na plenitude,
determinada necessidade. Por exemplo, a sede, para ser satisfeita,
necessita de mais do que um copo de água. O número de copos de
água apto a satisfazer a sede, no caso, em sua plenitude corresponde-
rá à utilidade total. Quanto mais se vai utilizando o bem, menor a
intensidade com que se satisfaz a necessidade, porquanto esta vai
sendo eliminada aos poucos. No exemplo abaixo, o ponto de satisfa-
ção plena da necessidade se veio a dar com o quarto copo, corres-
pondente a uma satisfação de uma necessidade de hidratação do cor-
po (figura 3).

Figura 3

gresso e pobreza. Trad. Américo Werneck Júnior. São Paulo: Companhia Editora
Nacional, 1935, p. 112; CAMARGO, Ricardo Antônio Lucas. O direito exaurido –
a hermenêutica da Constituição Econômica no coração das trevas. Porto Alegre:
Sérgio Antônio Fabris, 2011, p. 98.
34
A utilidade total será correspondente à soma das utilidades até o
ponto da satisfação plena.

 MARGINAL: um bem é produzido além do suficiente para a


satisfação plena da necessidade; excessivo. O ponto limite a partir do
qual se define a plenitude da satisfação da necessidade será a utilida-
de marginal. A partir daí, o que ingressará no cálculo serão os teo-
remas de Gossen. A utilidade marginal corresponderá ao máximo de
satisfação das necessidades. No caso, o ponto limite é alcançado
quando se bebem 4 copos. Tem ela, como se sabe, caráter decrescen-
te e, no exemplo trazido, ela se representa graficamente da seguinte
forma:

Figura 4

A área definida entre o ponto em que que se inicia a satisfação


da necessidade e aquela em que tal satisfação se vem a mostrar plena

35
– o ponto da mínima utilidade marginal – corresponde à utilidade
total46:

Figura 5

A utilidade total corresponderá à área definida entre os pontos


em que a utilidade marginal era mais elevada e onde ela encontra o
seu limite.

 DIFERENCIAL: decorrente de diferentes utilidades do bem. A


água do exemplo pode servir tanto para matar a sede do indivíduo
como para refrescar um corpo castigado pelo calor, para higieniza-
ção, para dessedentação de animais, irrigação de plantas, dentre ou-
tras tantas que se possam pensar. Supomos, aqui, que a mesma quan-
tidade de bens – nossos quatro copos de água - sacie em proporções
diferentes a necessidades diferentes. Assim, teremos na figura 6 a
seguinte visualização gráfica:

46 - GUITTON, Henri. Economia política. Trad. Oscar Dias Correa. Rio de Janeiro:
Fundo de Cultura, 1961, v. 1, p. 203.
36
Figura 6

Podem-se, também, comparar as variações das utilidades, po-


dendo-se ilustrar com a satisfação da sede em face da satisfação das
necessidades inerentes à cozinha:

37
Figura 7.
 INTEGRAL: soma das diferentes utilidades de iguais quanti-
dades de um mesmo bem. A utilidade integral dos quatro copos de
água será a soma do quanto pode, de cada uma das diferentes neces-
sidades, ser satisfeito.
 EFETIVA: soma total das necessidades efetivamente satisfei-
tas pela quantidade consumida do bem tomado em consideração. Ou
seja, havendo utilidade diferencial, as utilidades totais – o quanto
necessário para a plena satisfação da sede, somado com o quanto
necessário para a satisfação da necessidade de higienização, com o
quanto necessário para irrigação e assim por diante, no exemplo da
água – a soma de todas elas é que traduzirá a utilidade efetiva.
 VIRTUAL: possibilidades de o bem em questão satisfazer a
tais ou quais necessidades, para além do consumo efetivo. No caso
da água, além da utilidade efetiva que tenha para um indivíduo num
determinado contexto, hão que se cogitar de outras. Para um executivo
que não seja dado às artes, por exemplo, a utilidade da água como
solvente de tinta de aquarela é virtual.

Na Escola de Lausanne, substituiu-se a “utilidade” pela “ofeli-


midade”, traduzindo-se esta pelo prazer proporcionado por uma de-
terminada quantidade de bens47. A “ofelimidade”, entretanto, dimi-
nui até um momento em que qualquer sacrifício que se faça não terá
como contrapartida a capacidade de geração de prazer pela satisfa-
ção da necessidade em questão, com o que, aplicando-se as Leis de
Gossen, as decisões, a partir deste ponto, passam a ser tomadas em
função de outras necessidades48. O máximo bem-estar, na visão pare-
tiana, consistiria nas situações em que, para majorar o bem-estar de

47 - PARETO, Vilfredo. Manual de economia política. Trad. Guillermo Cabanellas.


Buenos Aires: Atalaya, 1945, p. 123.
48 - WICKSELL, Knut. Lecciones de economía política. Trad. Francisco Sánchez
Ramos. Madrid: Aguilar, 1947, p. 36-7; JEVONS, William Stanley. A teoria da
economia política. Trad. Cláudia Lavensveiler de Moraes. In: JEVONS, William
Stanley & MENGER, Carl. Os economistas. São Paulo: Abril Cultural, 1983, p.
56-7; KNIGHT, Frank Hyneman. Riesgo, incertidumbre y beneficio. Trad. Ramón
Verea. Madrid: Aguilar, 1947, p. 57.
38
um dos habitantes, necessariamente outro tivesse de ser minorado 49 -
visão que, modo certo, já se encontrava em pensadores da era mer-
cantilista50 -.

5.3. Aplicações no Direito

O conceito tem ampla aplicação no Direito, especialmente no


momento em que se vão discutir as características de obras realiza-
das em imóveis, quanto à respectiva finalidade. Com efeito, é a res-
peito das várias utilidades das “benfeitorias” que se refere a legisla-
ção civil, ao distinguir entre as necessárias, que se voltam à conser-
vação do bem, as “úteis” stricto sensu, que lhe aumentam o conforto,
e as “voluptuárias”, que simplesmente vêm a embelezar o imóvel,
com reflexos na possibilidade de aquele que as fez vir ou não a ter
direito a indenização por parte do proprietário não é estranha à juris-
prudência51.
Este conceito, o de utilidade, também se coloca no âmbito pro-
cessual, no sentido de o juiz ter o poder-dever de verificar se a pro-
vidência que o autor e o réu lhe requerem ter aptidão para alcançar
tal ou qual objetivo previsto no ordenamento jurídico, em caráter
geral e, em particular, no que se refere às provas cuja produção pre-
tendam, se são aptas a reconstituírem os fatos por eles alegados, isto
é, se elas são “úteis” ou “inúteis”, porque, nesta última hipótese,
devem ser elas negadas. A demonstração de que tal ou qual medida
processual conduz à obtenção do fim a que o interessado se propõe
nada mais é que a aplicação do conceito de “utilidade”52.

49 - PARETO, Vilfredo. Manual de economia política. Trad. Guillermo Cabanellas.


Buenos Aires: Atalaya, 1945, p. 267-8; LANDAUER, Carl. Sistemas econômicos
contemporâneos. Trad. Waltensir Dutra. Rio de Janeiro: Zahar, 1966, v. 1, p. 88;
PERROUX, François. Economia e sociedade. Trad. Aurora & Mário Murteira. São
Paulo: Duas Cidades, 1961, p. 172-3.
50 - HECKSCHER, Eli R. La época mercantilista. Trad. Wenceslao Roces. Méxi-
co: Fondo de Cultura Económica, 1983, p. 471-2.
51 - BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial n. 845.247. Relator:
Min. Sidney Benetti. DJ-e 18 jun. 2010.
52 - BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso especial n. 293587. Relator:
Min. Carlos Alberto Menezes Direito. DJU 19 nov 2001; BRASIL. Tribunal Supe-
39
No Direito Administrativo, a noção de utilidade pública também
se faz presente, para o efeito tanto de fundamentar hipóteses de de-
sapropriação53 e de constituição de servidões administrativas 54 como
outras medidas voltadas ao benefício da coletividade55.

rior Eleitoral. Agravo regimental em agravo de instrumento nº 6801. Relator: Min.


Carlos Ayres Britto. DJ-e 1º jul 2008.
53 - BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso extraordinário 97.963. Relator:
Min. Néri da Silveira. DJU 8 nov 1996; idem. Mandado de segurança 26.192. Rela-
tor: Min. Joaquim Barbosa. DJ-e 23 ago. 2011.
54 - BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso extraordinário 581.941. Relator;
Min. Eros Grau. Revista dos Tribunais. São Paulo, v. 100, n. 904, p. 169-177, 2011.
55 - BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. Agravo regimental no recurso especial
24.989. Relator: Min. Caputo Bastos. DJU 26 ago 2005.
40
6. VALOR

6.1. Conceito

As necessidades tendem a aumentar indefinidamente, ao passo


que os bens são escassos para atendê-las. Por isso mesmo, o ser hu-
mano desenvolve atividades no sentido de chegar a obter os bens
aptos a satisfazê-la. O desenvolvimento de tal esforço variará em
intensidade conforme o significado que se atribua tanto ao bem
quanto à respectiva utilidade. Tal significado receberá a denomina-
ção de “valor”.

6.2. Explicações teóricas – utilidade, trabalho e outras

A respectiva fundamentação rendeu ensejo a duas grandes ver-


tentes teóricas, quais sejam, a teoria do valor-utilidade e a teoria do
valor-trabalho56.

56 - SOUZA, Washington Peluso Albino de. Direito Econômico e Economia Políti-


ca. Belo Horizonte: Prisma, 1970, v. 1, p. 255-6; NUSDEO, Fábio. Curso de eco-
nomia política – introdução ao Direito Econômico. São Paulo: Revista dos Tribu-
nais, 2003, p. 46-9 e 57; GALVES, Carlos. Manual de economia política atual. Rio
de Janeiro: Forense, 1972, p. 66-71.
41
A teoria do valor-utilidade toma em consideração a comparação
entre a utilidade do bem em questão e a respectiva escassez57.
Valor de uso é a expectativa que o sujeito, individual ou coleti-
vo, tem do quanto de utilidade pode ser extraída do bem no momen-
to da respectiva fruição. Pode-se dizer que é baseado na expectativa
de fruição.
Valor de troca diz respeito a possibilidade de eu obter, pela alie-
nação daquele bem, um determinado retorno. Pressupõe uma expec-
tativa do VALOR DE USO da outra parte da relação. “A troca de duas
mercadorias entre si, num mercado regido pela livre concorrência, é
uma operação pela qual todos os portadores, quer de uma das merca-
dorias, quer da outra, quer de ambas, podem obter a maior satisfação
das suas necessidades compatível com a condição de dar mercadoria
que vendem e receber mercadoria que compram numa proporção
comum e idêntica”58.
É correntia a afirmativa de que, no Direito Civil, tomam-se os
bens pelo valor de uso, ao passo que, no Direito Comercial, pelo
valor de troca59. Independentemente de se poder debater em outro
lugar se tem ou não procedência tal proposição, ela aparece para
ilustrar a presença do conceito nas preocupações dos juristas, tanto
quanto nas dos economistas.
BÖHM-BAWERK, em relação aos valores de uso e de troca, refe-
re que tanto um quanto o outro teriam uma dimensão objetiva e uma
dimensão subjetiva, sendo esta última, em relação ao valor de troca,

57 - GOSSEN, Hermann Heinrich. The laws of human relations and the rules of
human action derived therefrom. Transl. Rudolph C. Blitz. Cambridge: The MIT,
1983, p. 55; WICKSELL, Knut. Lecciones de economía política. Trad. Francisco
Sánchez Ramos. Madrid: Aguilar, 1947, p. 18; SAY, Jean-Baptiste. Tratado de
economia política. Trad. Balthazar Barbosa Filho. São Paulo: Abril Cultural, 1983,
p. 69; SIMCH, Francisco Rodolfo. Economia social. Porto Alegre: Globo, 1912, p.
15-6; JEVONS, William Stanley. A teoria da economia política. Trad. Cláudia
Lavensveiler de Moraes. In: JEVONS, William Stanley & MENGER, Carl. Os
economistas. São Paulo: Abril Cultural, 1983, p. 106.
58 WALRAS, Léon. Compêndio dos elementos de economia política pura. Trad.
João Guilherme Vargas Netto. São Paulo: Nova Cultural, 1996, p. 107; SAMUEL-
SON, Paul A. Introdução à análise econômica. Trad. Luiz Carlos do Nascimento
Silva. Rio de Janeiro: Agir, 1966, v. 2, p. 91.
59 GOMES, Orlando. Introdução ao Direito Civil. Rio de Janeiro: Forense, 1987,
p. 15.
42
o mínimo aquém do qual o vendedor não se disporá a alienar o bem,
e, em relação ao valor de uso, o máximo além do qual o comprador
não se dispõe a pagar60. Quanto à dimensão objetiva, será proporcio-
nal à utilidade marginal61.
Já pela TEORIA DO VALOR-TRABALHO, um bem passa a valer
a partir da quantidade de trabalho (horas e esforço dispendido) que
se aplica à sua produção62.
Outros conceitos entram em questão, na temática do valor:

(1) motivações, ou seja, os móveis que conduzem os entes a to-


marem tal ou qual decisão e que podem ser:
(1.1) egoístas, voltados a propiciar o bem-estar próprio, inde-
pendentemente de propiciar o bem-estar a outrem;
(1.2) não egoístas, voltados a propiciar o bem-estar a outrem,
independentemente de tal decisão provocar ou não o bem-estar
próprio;
(2) valores vividos, ou seja, o sentido que se atribui à vida e o
referencial ético de cada ente;
(3) teoria sociológico-histórica dos dados, que dá a extensão do
campo econômico de decisão do agente para além do cálculo
econômico individual, tomando-se em consideração as condi-
ções físicas e técnicas, as limitações jurídicas, as possibilidades
de troca etc.

60 - Teoria positiva do capital. Trad. Luís João Baraúna. São Paulo: Abril Cultural,
1988, v. 1, p. 182-3; SOUZA, Washington Peluso Albino de. Direito Econômico e
Economia Política. Belo Horizonte: Prisma, 1970, v. 1, p. 256-7.
61 - WICKSELL, Knut. Lecciones de economía política. Trad. Francisco Sánchez
Ramos. Madrid: Aguilar, 1947, p. 34.
62 - KEYNES, John Maynard. Teoría general de la ocupación, el interés y el dine-
ro. Trad. Eduardo Hornedo. México: Fondo de Cultura Económica, 1965, p. 190-1;
BÖHM-BAWERK, Eugen von. Capital e interés. Trad. Carlos Silva. México:
Fondo de Cultura Económica, 1947, p. 59; LANDAUER, Carl. Sistemas econômi-
cos contemporâneos. Trad. Waltensir Dutra. Rio de Janeiro: Zahar, 1966, v. 1, p.
72-3; RICARDO, David. Princípios de economia política e do imposto. Trad. C.
Machado Fonseca. Rio de Janeiro: Atena, 1937, p. 4; SMITH, Adam. A riqueza das
nações – uma investigação sobre a sua natureza e as suas causas. Trad. Luís João
Baraúna. São Paulo: Nova Cultural, 1996, v. 1, p. 90; MYRDAL, Gunnar. Aspectos
políticos da teoria econômica. Trad. José Auto. São Paulo: Nova Cultural, 1986, p.
77-8; CAMARGO, Ricardo Antônio Lucas. O capital na ordem jurídico-
econômica. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 1998, p. 59-60.
43
6.3. Aplicações no Direito

Todos sabemos que o Direito se vincula diretamente ao proble-


ma do valor, por conta de as suas determinações decorrerem neces-
sariamente da valoração de fatos e atos por parte de quem detenha o
poder de editar a norma, Contudo, o que se fará, aqui, será demons-
trar como se aplicam as teorias do valor na resolução de problemas
jurídicos.
Conforme a natureza do bem que se tenha presente, ora se lança
mão da teoria do valor-utilidade, ora da teoria do valor-trabalho.
Em relação a obras de arte, prestação de serviços, ainda que não
abrangidos pela legislação trabalhista, não haveria como lançar mão
do valor-utilidade, e é em função do valor-trabalho que se admite
que, mesmo em casos de nulidade de contratos administrativos,
quando evidente a boa-fé, pelo serviço efetivamente realizado sejam
exigíveis pagamentos63.
Mesmo na atuação judicial, quando se vão fixar honorários de
advogado64 ou de perito65, o que se toma em consideração são justa-
mente as características e a quantidade do trabalho desenvolvido.
Quando se trate, entretanto, de bens de outra natureza, bens cuja
aquisição envolva, necessariamente, uma expectativa do uso que se
lhes possa dar, a teoria mais adequada será a do valor-utilidade, e é
dela que se lança mão quando se vai trabalhar com a idoneidade da
garantia de uma dívida qualquer que esteja em litígio 66.
De outra parte, as características do bem podem aconselhar que
não se lance mão nem de uma nem da outra teoria: por vezes, nas
desapropriações, tomam-se em consideração fatores que ultrapassam
a questão da utilidade para o proprietário ou qualquer pessoa que
viesse a adquirir o bem, mas, nem por isto, se deixa de fixar um de-

63 - BRASIL. Superior Tribunal de Justiça; Agravo regimental no recurso especial


1140386. Relator: Min. Benedito Gonçalves. DJ-e 9 ago 2010.
64 - BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Agravo regimental no agravo no recur-
so especial 31691. Relator: Min. Herman Benjamin. DJ-e 3 out 2011.
65 - BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. TST-AIRR-74540-
86.2001.5.04.0021. Relator: Min. César Leite de Carvalho. DJ-e 7 maio 2010..
66BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Agravo regimental no agravo de instru-
mento 1.237.510. Relator: Min. Eliana Calmon. DJ-e 14 abr 2010.
44
terminado valor pelo qual se verifica se a perda será adequadamente,
justamente, compensada67.
O tema do valor ingressa, também, como se verá adiante, no
exame das funções da moeda, enquanto meio universal de troca,
sendo de notar a freqüência dos debates em torno da correção mone-
tária, especialmente por meio de expedientes como a cláusula de
escala móvel e a distinção entre dívidas de valor e dívidas de dinhei-
ro68.

67 - BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso extraordinário 134297. Relator:


Min. Celso de Mello. DJU 24 set 1995.
68 - BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Agravo regimental no agravo de instru-
mento 143.766. Relator: Min. Marco Aurélio. DJU 7 maio 1993; BRASIL. Superior
Tribunal de Justiça. Embargos de divergência no recurso especial 37.313. Relator:
Min. Garcia Vieira. DJU 5 dez 1994.
45
46
7. INTERESSE

7.1. Conceito

Traduz um modo de ser recíproco, uma relação, portanto, entre


entes69: um sujeito, que é açulado pela necessidade, e um objeto, que
se mostra apto a satisfazer a necessidade. Não se confunde com esta,
que é uma sensação. Também não se confunde com o desejo, que é
um impulso em direção a determinado tipo de bem. Quando surge o
interesse, identifica-se, dentre os bens daquele determinado tipo,
qual será apto a satisfazer a necessidade. Tem, pois, um objeto de-
terminado, e pressupõe, obviamente, uma avaliação da utilidade do
bem.

7.2. Classificação

Tomando em consideração as características do bem, poderemos


classificar o interesse como material, intelectual, religioso, moral,
social e assim por diante70. Ainda, pelo objeto, poderíamos identifi-
car a distinção entre o interesse disponível e o interesse indisponível.

69 - CARNELUTTI, Francesco. Teoria geral do Direito. Trad. Afonso Rodrigues


Queiró & Artur Anselmo de Castro. São Paulo: Saraiva, 1942, p. 41; SOUZA,
Washington Peluso Albino de. Do econômico nas Constituições vigentes. Belo
Horizonte: Revista Brasileira de Estudos Políticos, 1961, v. 1, p. 51; CAMARGO,
Ricardo Antônio Lucas. Breve introdução ao Direito Econômico. Porto Alegre:
Sérgio Antônio Fabris, 1993, p. 18-9.
70 - SOUZA, Washington Peluso Albino de. Direito Econômico e Economia Políti-
ca. Belo Horizonte: Prisma, 1970, v. 1, p. 219.
47
A própria identificação do que seria a “vantagem econômica” que se
persegue está fundamentalmente ligada à relação entre o sujeito que
padece a necessidade e o bem. Daí se compreende a ênfase, no âmbi-
to do pensamento utilitarista, à caracterização do interesse como
situação de um sujeito perante um objeto na medida em que este seja
para ele fonte de prazer ou de extinção da dor71, aperfeiçoando, no
particular, a noção de Locke 72, para o qual o interesse seria a busca
da criação ou aumento do prazer e/ou diminuição da dor. A expecta-
tiva da satisfação a partir da obtenção do determinado bem é a defla-
gradora do nascimento de tal relação. O sujeito, no entanto, nem
sempre é determinado (como por exemplo, na propaganda e na pu-
blicidade). Pode ser individual, apesar de interessar a mais de uma
pessoa. O que o vai caracterizar como individual é que sua satisfação
será exclusiva em relação a outro interesse individual, ou seja, seu
atendimento implicará a frustração do interesse de outro indivíduo 73.
Pode ser coletivo, por ter nascido de necessidades comuns de um
grupo determinado, inconfundíveis com a soma das necessidades de
cada um dos integrantes respectivos74. Pode ser, consoante já se adi-
antou, indeterminado, diluído na massa, difuso 75. De outra parte,
também se pode classificar o interesse, quanto ao sujeito, como: (1)
particular, quando o benefício seja referível ao respectivo titular; (2)
público, quando disser respeito ao desenvolvimento de fins ligados à
estabilidade da ordem social; (3) social, quando se refira a benefícios
que transcendam a disponibilidade do titular respectivo e não se
confundam – embora não necessariamente se oponham – aos referí-
veis ao interesse público. De qualquer sorte, é importante ter presen-
te o dado de que não existe interesse sem sujeito. Por outro lado, não
se confunde “interesse público”, que é relação, com “ordem públi-

71 - BENTHAM, Jeremy. Escritos económicos. Trad. Francisco J. Pimentel. Méxi-


co: Fondo de Cultura Económica, 1965, p. 4.
72An essay concerning human understanding. London: Encyclopaedia Britannica,
1952, p. 176.
73 - JHERING, Rudolf Von. A finalidade do Direito. Rio de Janeiro: Rio, 1979, v.
1, p. 19.
74 - CAMARGO, Ricardo Antônio Lucas. Direito, globalização e humanidade – o
jurídico reduzido ao econômico. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 2009, p. 80-
1.
75 - SOUZA, Washington Peluso Albino de. Primeiras linhas de Direito Econômi-
co. 6ª Ed. São Paulo: LTr, 2005, p. 161.
48
ca”, que é um conjunto sistemático de situações que têm como pres-
suposto o interesse público.

7.3. Aplicações no Direito

O interesse constitui conceito freqüentemente manuseado no Di-


reito. A identificação do direito subjetivo com o interesse juridica-
mente protegido leva a conseqüências na identificação da maior ou
menor medida em que um interesse merece ser atendido. Por outro
lado, conforme o tipo de sujeito do interesse, maiores ou menores
prerrogativas lhe serão reconhecidas, influindo na perquirição da
juridicidade ou não do reconhecimento de tais prerrogativas. Exem-
plo disto é o dever-poder de anulação de atos administrativos por
parte do Estado, justamente em prol do interesse público76.
O binômio “necessidade” e “utilidade” de uma determinada
providência coercitiva comparece na composição do denominado
“interesse processual”, quando tal ou qual situação venha a constituir
obstáculo à realização de tal ou qual “interesse material” 77.
Fala-se, também, no “interesse social”, tomado como relativo à
realização de determinadas políticas públicas, como uma das hipóte-
ses em que autorizada constitucionalmente a desapropriação78, no
interesse de coletividades determinadas, passíveis de serem defendi-
das por indivíduos que as integram, como é o caso da ação de res-
ponsabilidade do administrador que tenha causado prejuízos à com-
panhia promovida por acionista minoritário, prevista no § 4º do arti-
go 159 da Lei 6.404, de 197679 ou da ação popular, para proteger o
patrimônio público, o meio ambiente e a moralidade administrativa,
à disposição qualquer cidadão eleitor80.

76 - BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso em mandado de segurança


20385. Relator: Min. Castro Meira. DJ-e 24 fev 2010.
77 - BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. Recurso especial 24.980. Relator: Min.
Marco Aurélio. DJU 27 maio 2005.
78 - BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso especial 1182808. Relator:
Min. Herman Benjamin. DJ-e 4 maio 2011; idem. Recurso em mandado de segu-
rança 16.627. Relator: Min. Teori Zavascki. DJU 28 nov 2005.
79 - BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso especial 16.410. Relator: Min.
Sálvio de Figueiredo Teixeira. DJU 16 maio 1996.
80 - BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Reclamação 424. Relator: Min. Sepúlve-
da Pertence. DJU 6 set 1996.
49
50
8. FATOS ECONÔMICOS FUNDAMENTAIS

Por fato econômico entende-se aquele acontecimento que se re-


lacione com as atividades relacionadas à satisfação de necessidades.
Não deixam de ser os “fatos econômicos” espécie do gênero “fato
social”, acontecimento que se vincula inexoravelmente às relações
entre os seres humanos no seio de uma coletividade, dotado do poder
de coação81. Há quem considere o fato social em si mesmo como
relação de adaptação do indivíduo aos círculos sociais – entendidos
sob este nome (círculos sociais) os sistemas de relações com outros
indivíduos, ou uma ou mais coletividades de que o indivíduo faça
parte – ou dos círculos sociais entre si ou com outros indivíduos 82.
Como fatos econômicos fundamentais definir-se-ão os grandes
subconjuntos de fatos aptos a abrangerem as mais diversas formas de
o ser humano se posicionar diante da realidade econômica. Para efei-
tos didáticos, costuma-se denominá-los “produção”, “circulação”,
“repartição” e “consumo”83. A identificação dos fatos econômicos
fundamentais deve-se a Jean-Baptiste Say84, que conceituava a Eco-
nomia Política como a ciência “que ensina como se constituem, se
distribuem e se consomem as riquezas que satisfazem a organização
da sociedade”. O destaque da circulação, contudo, é-lhe anterior, e

81 - SOUZA, Washington Peluso Albino de. Direito Econômico e Economia Políti-


ca. Belo Horizonte: Prisma, 1970, v. 1, p. 322-3.
82 - MIRANDA, Francisco Cavalcanti Pontes de. Tratado de Direito Privado. Rio
de Janeiro: Forense, 1955, t. 7, p. 161.
83 - CARREIRO, Carlos H. Porto. Lições de economia política e noções de finan-
ças. Rio de Janeiro: F. Briguiet, 1952, p. 67-8.
84 - Tratado de economia política. Trad. Balthazar Barbosa Filho. São Paulo: Abril
Cultural, 1983, p. 39.
51
para isto contribuiu a formação médica de François Quesnay85, que
se propôs mostrar, no seu Quadro Econômico, que, a partir do traba-
lho do que denominava “classe produtiva” – agricultores –, mesmo
as classes denominadas “estéreis” – comerciantes, industriais e quan-
tos não trabalham a terra – “fazem circular a riqueza”, “transformam
os produtos”, “prestam serviços”, de tal sorte que “a riqueza circula-
rá, portanto, em todo o organismo social do mesmo modo que o san-
gue circula no organismo animal e a seiva no organismo vegetal”86.
Claro que a divisão, em si mesma, por dar, talvez, uma idéia de
estanqueidade que não corresponde à realidade, comporta críticas 87,
mas vai mantida somente para fins de simplificar a exposição, sobre-
tudo porque muito do tratamento jurídico da realidade econômica
vem a pressupô-la, como se pode exemplificar pela legislação tribu-
tária.

8.1. Produção

Fato consistente na apreensão dos objetos, tanto naturais


quanto destes derivados, tanto materiais quanto imateriais, para
submetê-los à função de satisfazer às mais diversas necessida-
des. A definição dos sistemas econômicos vem a dar-se a partir
do modo como se estabelecem as relações de produção. E tais
relações vêm a ser definidas a partir do momento da identifica-
ção do regime de propriedade dos bens de produção. E, por si-
nal, é em relação a estes, sejam móveis ou imóveis, sejam singu-
lares ou uma universalidade, que vem a ingressar no debate o
conceito positivista de “função social”88, combatido tanto pelos
liberais e “neoliberais”, como amesquinhador de um “direito

85 - Quadro econômico. Trad. Teodora Cardoso. Lisboa: Gulbenkian, 1966, p. 147-


8.
86 - SOUZA, Washington Peluso Albino de. Direito Econômico e Economia Políti-
ca. Belo Horizonte: Prisma, 1970, v. 1, p. 102.
87 - WICKSELL, Knut. Lecciones de economía política. Trad. Francisco Sánchez
Ramos. Madrid: Aguilar, 1947, p. 9-10; STOLZMANN, Rudolf Von. Introducción
filosófica a la economia. Trad. Felipe Turk. Buenos Aires: El Ateneo, 1956, p. 163.
88 DUGUIT, Léon. Traité de Droit Constitutionnel. Paris: Boccard, 1930, t. 3, p.
664-6.
52
natural”89, quanto pelos marxistas, como forma de legitimação
dos pilares da ordem capitalista que combatem90.

8.1.1. Recursos naturais

As condições do meio físico no qual o ser humano vive e desen-


volve sua atividade, como meios postos à disposição dele pela natu-
reza91, quando tomadas em sua localização, constituem as “bases
geográficas da atividade econômica”92. O tema vem a tocar direta-
mente à escassez do espaço da superfície terrestre ante o aumento
populacional e a possibilidade do desenvolvimento de estratégias de
sobrevivência93, para estender-se ao subsolo e ao supersolo94. Um
alerta importante: “a romântica teoria das áreas geográficas esqueci-
das, ricas em recursos, foi desacreditada pelos geógrafos. Falando de
um modo geral, o homem já se instalou nas regiões mais produti-
vas”95.
Os recursos do subsolo, principalmente os minerais, vão consti-
tuir a matéria prima para a indústria para a confecção de utensílios
de valor, e, em função disto mesmo, determinarão o surgimento de
atividades voltadas à sua extração, ao seu beneficiamento e à sua

89 - THEODORO JÚNIOR, Humberto. A onda reformista do Direito positivo e


suas implicações com o princípio da segurança jurídica. Revista Forense. Rio de
Janeiro, v. 102, n. 387, p. 134, set/out 2006; PEREIRA, Caio Mário da Silva. Re-
formulação da ordem jurídica e outros temas. Rio de Janeiro: Forense, 1980, p.
157.
90 - PASHUKANIS, Evgeny Bronislavovitch. Teoria geral do Direito e marxismo.
Trad. Sylvio Donizete Chagas. São Paulo: Acadêmica, 1988, p. 59.
91 - MOLL, Luíza Helena Malta. Externalidades e apropriação: projeções sobre o
Direito Econômico na nova ordem econômica mundial. In: CAMARGO, Ricardo
Antônio Lucas [org.]. Desenvolvimento econômico e intervenção do Estado na
ordem constitucional – estudos jurídicos em homenagem ao Professor Washington
Peluso Albino de Souza. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 1995, p. 151.
92 - SOUZA, Washington Peluso Albino de. Direito Econômico e Economia Políti-
ca. Belo Horizonte: Prisma, 1970, v. 1, p. 350.
93 - GROTIUS, Hugo. O direito da guerra e da paz. Trad. Ciro Mioranza. Ijuí:
UNIJUÍ, 2004, v. 1, p. 313-4.
94 - FIGUEIREDO, Guilherme José Purvin de. Curso de Direito Ambiental. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2011, p. 156-7.
95 - SAMUELSON, Paul A. Introdução à análise econômica. Trad. Luiz Carlos do
Nascimento Silva. Rio de Janeiro: Agir, 1966, v. 2, p. 480.
53
transformação. Por extração, entende-se a obtenção direta do bem
em estado bruto, direto da natureza. Beneficiamento será a operação
artificial pela qual o bem manterá a sua identidade, mas terá aumen-
tada a respectiva utilidade. Transformação será a modificação sofri-
da pelo bem, seja sob o aspecto físico, seja sob o aspecto químico,
para se converter em outro bem.
Quando surgiram as armas e ferramentas de metal, a obtenção
de minério converteu-se – como bem ilustrado na película Os reis do
sol [Kings of the sun – dir. J. Lee Thompson – EUA, 1963] – no
diferencial para a mais eficiente apropriação do espaço físico. Entre-
tanto, é de se notar que a fusão de metais se mostrava menos inçada
de dificuldades em sociedades sedentárias, nas quais o solo já se
vinha a tornar objeto de apropriação privada. E, como se sabe, não
há como pretender acessar os recursos do subsolo sem se ingressar e
atuar sobre o solo. Por outro lado, em relação aos minerais preciosos
sua importância cresce, quer no tocante à confecção de objetos de
luxo – desde a lapidação de jóias até trabalhos de ourivesaria -, quer
no tocante à adoção da moeda metálica. Certa quantidade desses
minerais era necessária para se construir lastro para o custeio das
atividades públicas. Os metais “ouro” e “prata” vão se tornar precio-
sos não por sua natureza (nenhum elemento conceitual da economia
se oferece como dado pela natureza, ela é tão cultural quanto qual-
quer outra das ciências sociais), mas pelo dado de poderem substituir
outros com vantagem, excetuando o ferro, pela sua resistência à oxi-
dação, bem como pela respectiva atratividade estética 96. Onde quer
que a propriedade privada, seja móvel ou imóvel, seja tida como
sagrada, o proprietário pode dela fazer o que lhe permitir a respecti-
va fantasia97. Entretanto, há um interesse público na exploração dos
minérios, de que dependem não só a indústria como também, como
dito, a própria possibilidade de cunhagem de moeda. Como poderia
se conseguir o minério o suficiente se o proprietário não o permitis-
se? Daí aparece o interesse de separar a propriedade do solo da pro-

96 - SMITH, Adam. A riqueza das nações – uma investigação sobre a sua natureza
e as suas causas. Trad. Luís João Baraúna. São Paulo: Nova Cultural, 1996, v. 1, p.
209-210.
97 - SAY, Jean-Baptiste. Tratado de economia política. Trad. Balthazar Barbosa
Filho. São Paulo: Abril Cultural, 1983, p. 130; MISES, Ludwig Von. O intervenci-
onismo. Trad. José Joaquim Teixeira Ribeiro. Boletim da Faculdade de Direito de
Coimbra. Coimbra, v. 20, p. 446, 1945.
54
priedade do subsolo, ou sistema da separação, em oposição ao siste-
ma de acessão. No que tange aos recursos do subsolo, avulta, por seu
papel como combustível, como fonte de energia e como insumo de
um sem-número de bens, e, por conta disto mesmo, fonte de inúme-
ros conflitos na história do Brasil: o petróleo 98. Outros minerais
chamam a atenção como fontes de energia (ou, como se lê em livros
mais antigos, forças motrizes), como o carvão99 e os radiativos, co-
mo o urânio e o tório.

- Solo Urbano: destinado a abrigar aglomerações humanas em


uma determinada área. Totalmente voltado a assegurar a relação
entre indivíduos centralizando-se o poder ali, bem como uma série
de funções em que os bens se vão aproximar com maior facilidade
daqueles que não os tem, por causa da maior proximidade entre
estranhos100, que, no entanto, ainda vêm a guardar certa afinidade
entre si, recordando, modo certo, a assertiva agostiniana segundo a
qual cada homem se afastou dos que não podia entender para apro-
ximar-se daqueles cuja linguagem era inteligível101. Mesmo que a
visão liberal pura partisse do pressuposto de que a extensão dos ter-
renos urbanos haveria de ter como determinantes os modos de aqui-
sição da propriedade previstos na lei civil, limitado o papel do Esta-
do ao resguardo dos negócios realizados entre os particulares e da
propriedade privada, os problemas criados pelo desenvolvimento
industrial e pelos movimentos migratórios vêm a exigir uma atuação

98 - CAMPOS, Francisco Álvares da Silva. O Estado Nacional. Rio de Janeiro:


José Olympio, 1941, p. 141; VARGAS, Getúlio Dornelles. O pensaamento político.
Porto Alegre: Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul, 2004, p.
134-6; LOBATO, José Renato Monteiro. O poço do Visconde. São Paulo: Brasili-
ense, 1960, p. 68-9; LIMA SOBRINHO, Alexandre José Barbosa. A nacionalidade
da pessoa jurídica. Belo Horizonte: Revista Brasileira de Estudos Políticos, 1960,
p. 169; COELHO, Wladmir Tadeu Silveira. A política econômica do petróleo no
Brasil. In: SOUZA, Washington Peluso Albino de & CLARK, Giovani [org.]. Di-
reito Econômico e a ação estatal na pós-modernidade. São Paulo: LTr, 2011, p. 83-
5; CAMARGO, Ricardo Antonio Lucas. Direito Econômico – aplicação e eficácia.
Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 2001, p. 277-8.
99 - GIDE, Charles. Compêndio de Economia Política. Trad. F. Contreiras Rodri-
gues. Porto Alegre: Globo, 1933, p. 75.
100 - AZEVEDO, Plauto Faraco de. Justiça distributiva e aplicação do Direito.
Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 1983, p. 65-7.
101 - AUGUSTINE, Aurelius. The city of God. Transl. Marcus Dods. London:
Encyclopaedia Britannica, 1952, p. 426.
55
mais efetiva do Poder Público na ordenação da cidade, tornando-a
um espaço mais habitável102. Na cidade, todos os elementos culturais
vêm a fazer-se presentes, de tal sorte que “além da simples residên-
cia, surgem os templos, as sedes de poder, as ruas, as praças, os pon-
tos de lazer, as escolas, os locais de trabalho, de aperfeiçoamento,
relacionados com as necessidades individuais e coletivas de confor-
to, de assistência, de segurança e assim por diante” 103. Há a questão
dos espaços para construir, destinados aos mais diversos usos, desde
os denominados “usos improdutivos” (e.g., casas e ruas), até os vol-
tados à produção e circulação de bens, e dos espaços interditos para
estes fins, como as praças e os que abrigam bens culturais. Note-se,
quanto a estes, que, embora o solo urbano seja o seu ambiente por
excelência, não se fazem ausentes do solo rural, como se pode veri-
ficar em relação à maioria dos sítios arqueológicos, que no Brasil
incumbe a todas as entidades federadas proteger 104. É interessante
notar que mesmo a religião pode ter relevância na destinação do solo
urbano: o Código de Direito Canônico aprovado pelo Papa João Pau-
lo II, por exemplo, define, no seu Cânone 1.205 e seguintes, os luga-
res sagrados como os que devam ser votados ao culto dos fiéis e à
respectiva sepultura, distinguindo-os, outrossim, dos bens temporais
da Igreja. Os lugares sagrados, em linha de princípio, por estarem,
por um título de transcendência, subtraídos à possibilidade de qual-
quer outro lhes vir a adquirir a propriedade, vêm a ficar imunes aos
conflitos pelo espaço territorial, salvo quando às partes em conflito
não haja consenso quanto ao respectivo caráter sagrado 105.

102 - CAMARGO, Ricardo Antonio Lucas. Direito Econômico – aplicação e eficá-


cia. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 2001, p. 296.
103 - SOUZA, Washington Peluso Albino de. Lições de Direito Econômico. Porto
Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 2002, p. 252.
104 - BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação Direta de Inconstitucionalidade
2.544. Relator: Min. Sepúlveda Pertence. DJU 17 nov 2006; idem. Ação Direta de
Inconstitucionalidade 3.525. Relator: Min. Gilmar Mendes. DJ-e 26 out 2007; idem.
Habeas corpus 73.449. Relator: Min. Celso de Mello. DJU 7 fev 1997; idem. Habe-
as corpus 72.506. relator: Min. Celso de Mello. DJU 18 set 1998.
105 - MEIRA, Sílvio Augusto Bastos. Os templos sagrados em face da lei e do
Direito. In: NOGUEIRA, Adalício et allii. Estudos jurídicos em homenagem ao
Professor Orlando Gomes. Rio de Janeiro: Forense, 1979, p. 126; CAMARGO,
Ricardo Antônio Lucas. Direito Econômico, direitos humanos e segurança coletiva.
Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 2007, p. 128.
56
- Solo Rural: extensões de terra que serão voltadas ao desempe-
nho de atividades agrícolas ou pecuárias ou agropecuárias ou para o
extrativismo OU eventualmente destinadas ao lazer (sítios). A maior
ou menor fertilidade, a abundância ou proximidade de recursos natu-
rais, a maior ou menor extensão, a composição do solo, o clima, tudo
isto vem a ostentar, incontestavelmente, influência sobre o valor
econômico da terra, somente havendo divergência entre os clássicos
no que se refere à proporção em que se dá tal influência 106. O pro-
blema da distribuição do solo rural esteve na preocupação dos Ir-
mãos Graco, e por conta das respectivas Leis Agrárias foram mor-
tos107. De acordo com um dos próceres da formação do varguismo, a
grande propriedade agrícola, no Brasil, seria precisamente a criadora
das dificuldades para a formação da pequena propriedade, possibili-
tando, ainda, a geração de rendimentos sem que o respectivo proprie-
tário sequer nela se fizesse presente, conduzindo, mesmo, à explora-

106 - SMITH, Adam. A riqueza das nações – uma investigação sobre a sua nature-
za e as suas causas. Trad. Luís João Baraúna. São Paulo: Nova Cultural, 1996, v. 1,
p. 211; RICARDO, David. Princípios de economia política e do imposto. Trad. C.
Machado Fonseca. Rio de Janeiro: Atena, 1937, p.30-2; MALTHUS, Thomas Ro-
bert. Princípios de economia política. Trad. Regis Castro de Andrade e Dinah de
Azevedo Abreu. In: GALVEAS, Ernane [org.]. Os economistas – Malthus. São
Paulo: Nova Cultural, 1996, p. 116; MARX, Karl. O capital. Trad. Reginaldo
Sant’Anna. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1974, v. 6, p. 765; GALVES,
Carlos. Manual de economia política atual. Rio de Janeiro: Forense, 1972, p.94;
CARREIRO, Carlos H. Porto. Lições de economia política e noções de finanças.
Rio de Janeiro: F. Briguiet, 1952, p. 101; HEILBRONER, Robert L. Introdução à
história das idéias econômicas. Trad. Waltensir Dutra. Rio de Janeiro: Zahar, 1969,
p. 85; CAMARGO, Ricardo Antônio Lucas. O direito exaurido – a hermenêutica
da Constituição Econômica no coração das trevas. Porto Alegre: Sérgio Antônio
Fabris, 2011, p. 137.
107 - AUGUSTINE, Aurelius. The city of God. Transl. Marcus Dods. London:
Encyclopaedia Britannica, 1952, p. 184; CAMARGO, Ricardo Antônio Lucas.
Direito Econômico e reforma do Estado – 1 – a experiência européia de Constitui-
ção Econômica “socialista”: bases para a crítica. Porto Alegre: Sérgio Antônio
Fabris, Data, 1994, p. 18; CÍCERO, Marco Túlio. Tratado dos deveres. Trad. Nes-
tor Silveira Chaves. São Paulo: Cultura Brasileira, [s/d], p. 92; SMITH, Adam. A
riqueza das nações – uma investigação sobre a sua natureza e as suas causas.
Trad. Luís João Baraúna. São Paulo: Nova Cultural, 1996, v. 2, p. 58; LOBATO,
José Renato Monteiro. História do mundo para as crianças. São Paulo: Brasiliense,
1960, p. 110.
57
ção irracional, no sentido do exaurimento dos recursos existentes108.
No que toca ao solo rural, mais se agudizam as questões referentes à
possibilidade ou impossibilidade de apropriação pública ou privada,
das modalidades de utilização, que podem ir desde a ampla liberdade
de se fruir do espaço em questão até a total interdição, pelos mais
variados motivos, bem como dos conflitos 109 entre a posse na visão
civilística – seja entendida como manifestação da vontade de ser
dono, seja como exteriorização dos poderes inerentes à condição de
dono110 – e a posse na visão ecológica, de interação do ser humano
com o habitat111. É de se notar, ainda, que a maior parte das vezes,
ocorre conflito entre posses distintas, que tenham a mesma caracteri-
zação (posse civil x posse civil; posse ecológica x posse ecológica).
Vale notar, em relação às terras ocupadas pelos índios, no Brasil, até
5 de outubro de 1988, que “os órgãos criados para a tutela indígena
restringiram a sua atuação a um foco único: transformar cada reserva
numa fazenda modelo e, por conseguinte, impingir aos índios o tra-
balho agrícola e artesanal, como verdadeiro agente civilizador”112.
Os recursos naturais do super-solo, em regra, são explorados
mediante coleta direta da natureza, apreensão direta. No “estado de
natureza”, são tidos como “coisa de ninguém” (res nullius). Quando
os homens se reúnem em sociedade, no sistema do comunismo pri-
mitivo, o resultado da apanha destes recursos se reparte por todos os

108 - TORRES, Alberto. A organização nacional. São Paulo: Companhia Editora


Nacional, 1938, p. 285.
109 - CAMARGO, Ricardo Antônio Lucas. Direito Econômico, direitos humanos e
segurança coletiva. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 2007, p. 101.
110 - JHERING, Rudolf Von. La posesión. Trad. Adolfo Posada. Madrid: Reus,
1926, p. 222.
111 - SILVA, José Afonso da. Terras tradicionalmente ocupadas pelos índios. In:
SANTILLI, Juliana [org.]. Os direitos indígenas e a Constituição. Porto Alegre:
Sérgio Antônio Fabris, 1993, p. 49-50; CORRÊA, Leonardo Alves. Direito Econô-
mico e desenvolvimento: uma interpretação a partir da Constituição de 1988. Rio
de Janeiro: Publit, 2011, p. 180-3.
112 - MACHADO, Jorge Luís. O trabalhador indígena e o direito à diferença – o
coainho para um novo paradigma antropológico no Direito Comparado. LTr. São
Paulo, v. 75, n. 9, p. 1.102, set 2011; SOUZA FILHO, Carlos Frederico Marés de. A
liberdade e outros direitos: ensaios socioambientais. São Paulo/Curitiba: Instituto
Brasileiro de Advocacia Pública/Letra da Lei, 2011, p. 139; SOUZA, Ana Hilda
Carvalho de. População indígena de Boa Vista/RR: uma análise sócio-econômica.
Porto Alegre: Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, 2009, p. 25-8 (dissertração de mestrado).
58
integrantes. Porém, ao ser adotada a propriedade privada, passam a
pertencer a quem os apanhar. O título de aquisição deles será, pois, a
ocupação. Quanto à flora, os produtos serão objeto do extrativismo
vegetal, que pode consistir na coleta pura e simples de frutos, folhas
e raízes, ou na obtenção de seiva – caso da seringueira e do caucho –
ou de resina – caso dos pinheiros e abetos – ou na obtenção da ma-
deira. O tratamento dessas atividades pode dizer respeito tanto à
definição do regime de apropriabilidade – porque, quando se encon-
trem os vegetais em propriedade privada, podem ser tratados como
parte do imóvel em que se localizam – quanto à definição das espé-
cies aproveitáveis e, dentre as que são aproveitáveis, o próprio pro-
cedimento para que o sejam – no caso da extração da madeira, basta
recordar a diferença existente entre o corte com machado, com serra
comum e com serra elétrica -, bem como a intensidade do respectivo
aproveitamento. No que tange à fauna terrestre, caracterizar-se-á
como “caça”, variando desde a modalidade de “caça de subsistên-
cia”, voltada a assegurar a alimentação e o vestuário de quem não
tenha acesso aos produtos de origem animal provenientes da fauna
domesticada, passando pela “caça de controle”, destinada a assegurar
que a população de uma determinada espécie não venha a chegar a
uma dimensão apta a comprometer o desenvolvimento de outras
atividades econômicas, ingressando na “caça profissional”, voltada
tanto à caça de controle quanto ao abastecimento de outras ativida-
des, pela utilização de insumos provenientes da fauna “bravia”, até
chegar à “caça desportiva”, praticada com objetivos lúdicos, e que é
bem ilustrada na película tragicômica A regra do jogo [La règle du
jeu – dir. Jean Renoir. FRA, 1939]. No que tange à fauna aquática,
caracterizar-se-á como “pesca”, podendo classificar-se como “pesca
de subsistência”, “pesca profissional”, “pesca artesanal”, “pesca
industrial”, “pesca desportiva”. O tratamento de tais atividades de
ocupação da fauna pode dizer respeito às modalidades admitidas ou
proibidas, e, dentre as admitidas, a designação de quem estaria legi-
timado a desempenhá-las – a lenda de Robin Hood, explorada ad
nauseam tanto pela literatura quanto pelo cinema, tem uma passa-
gem significativa do conflito entre a caça de subsistência (exercida
pelos aldeões, necessitando de autorização dos senhores) e a caça
desportiva (exercida livremente pelos senhores feudais nos seus do-
mínios) -, os procedimentos a serem observados – basta verificar a
diferença entre a pesca com anzol e a pesca com rede de arrasto, sem

59
falar na realizada com explosivos -, as espécies passíveis de caça ou
pesca, as épocas em que é possível a realização de tais atividades, os
efeitos sobre as populações que se relacionam com os animais em
questão – basta recordar o que aconteceu com os peles-vermelhas
dos EUA por conta da caça dos brancos aos bisões, primeiro, para
alimentar os trabalhadores das ferrovias e fornecer matéria-prima
para a indústria coureira, depois, como estratégia pensada para ven-
cê-los pela fome -113.
Além da flora e da fauna, também pertencem ao super-solo re-
cursos que, no pensamento econômico, são por vezes tratados como
bens livres, como é o caso da água e do ar, assim como certas fontes
de energia, como o sol e o vento114. Quanto à água, é notório que,
dadas as múltiplas utilidades que apresenta – desde a dessedentação
humana e animal, a higienização, o auxílio no preparo de alimentos,
passando pelo papel de meio de recreação, de habitat de vários seres
destinados ao aproveitamento econômico (algas, crustáceos, molus-
cos, peixes), de via de transporte, para chegar até a condição de for-
necedora de energia mecânica e elétrica -, a proximidade a ela foi
um dado decisivo para determinar a populações que ocupassem es-
paços, sendo um dos mais notáveis exemplos o do Vale do Nilo,
como notado pelos historiadores mais antigos 115. Contudo, sua carac-
terização como bem livre já se acha comprometida pelo fato de ha-
ver muitos países com déficit de recursos hídricos, sendo de notar
que, mesmo dentre os que deles são melhor servidos, existem regiões
onde o transporte terrestre de pipas d’água se impõe 116. O mesmo se
diga a respeito do ar atmosférico, considerado insuscetível de se
esgotar, diante dos efeitos da poluição, a um ponto em que a pureza

113 - FIGUEIREDO, Guilherme José Purvin de. Curso de Direito Ambiental. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2011, p. 291-2; CAMARGO, Ricardo Antônio Lucas.
O direito exaurido – a hermenêutica da Constituição Econômica no coração das
trevas. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 2011, p. 93-4.
114 - GIDE, Charles. Compêndio de Economia Política. Trad. F. Contreiras Rodri-
gues. Porto Alegre: Globo, 1933, p. 74-6.
115 - HERÔDOTOS. História. Trad. Mário da Gama Kury. Brasília: Universidade
de Brasília, 1988, p. 90.
116 - CAMARGO, Ricardo Antônio Lucas. Direito Econômico, direitos humanos e
segurança coletiva. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 2007, p. 103-5.
60
respectiva vem a se tornar um dos fatores de valorização para deter-
minados empreendimentos imobiliários e turísticos117.

8.1.2. Trabalho

A origem das relações de trabalho:


O trabalho é o esforço humano voltado a converter qualquer
bem, ou melhor, qualquer objeto, em um bem econômico, um bem
apto a satisfazer uma necessidade. Uma pedra poder-se-á converter
numa peça de uma edificação, em uma arma, em um componente de
uma arma, numa estátua, etc... Cada vez que essa pedra vier a sofrer
alguma conversão em um bem, estar-se-á realizando-se sobre ela o
trabalho. Entretanto, num primeiro momento cada qual ira trabalhar
para si, e numa etapa posterior principiar-se-á trabalhar para outrem.
Quem trabalha para outrem deve obediência para esse outro. Por
quais motivos? O de haver ele sido vencido em combate e converti-
do, pois, em um bem semovente: uma verdadeira ferramenta com
alma118. A comunidade escravizada paga tributo a uma pequena elite
dirigente da comunidade dominante119. Pelo fato de ter sido derrota-
do na guerra, para não perder a vida, o escravo se reifica (se torna
coisa), teria, pois, deixado de manifestar a preferência pela morte ao
invés da derrota e da escravidão, de acordo com Platão120. Porém, se
exteriormente ele se reifica, interiormente ele ainda tem consciência
de sua condição humana. Chega um determinado momento que o
medo de morrer chega a ser superado pela aflição de ser tratado co-
mo uma coisa121. A reificação não decorria apenas na condição de
perder a guerra. No caso de um devedor insolvente, por exemplo.

117 - FIGUEIREDO, Guilherme José Purvin de. Curso de Direito Ambiental. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2011, p. 391.
118 - ARISTÓTELES. A política. Trad. Mário da Gama Kury. Brasília: UnB, 1997,
p. 21-2.
119 - FURTADO, Celso. Teoria e política do desenvolvimento econômico. São
Paulo: Companhia Editora Nacional, 1969, p. 128.
120 - A república. Trad. Pietro Nassetti. São Paulo: Martin Claret, 2005, p. 74.
121 - BODIN, Jean. Los seis libros de la República. Trad. Pedro Bravo Gala. Ma-
drid: Tecnos, 2006, p.. 31.
61
Início da transformação da relação de trabalho:
Entretanto, tanto a filosofia estóica122 quanto o cristianismo vie-
ram a abalar as bases do sistema escravocrata. A escravidão passa a
ser vista não como uma condição natural de determinados seres hu-
manos, mas como um castigo pelo pecado 123, o que conduz necessa-
riamente a pôr qualquer ser humano na possibilidade de ser visto, em
linha de princípio, como dotado da dignidade inerente à condição de
ter sido feito à imagem e semelhança de Deus e, portanto, merecedor
de respeito, independentemente de prestar trabalho ou de servir-se
deste, ao mesmo tempo que nem sempre o trabalho virá marcado
pelo ferrete da reificação. O trabalho passa a ser tratado como obri-
gação decorrente de um contrato, mas um contrato peculiar porque
o trabalhador passa a aderir à terra, porque o poder se embasava na
propriedade da terra e o senhor da terra, o senhor feudal, pode exigir
o trabalho ofertando em contra-partida, a segurança. É de se recordar
que a Idade Média, quando tais fatos se sucederam, se caracterizou
especialmente por ser uma época de muito medo124.

A relação de trabalho começa a mudar com o


surgimento das cidades:
O senhor feudal desfrutava dos plebeus, seus vassalos, quase
como alguém desfruta de alguma coisa. Ante essa situação franca-
mente opressiva e a ineficiência dos senhores feudais em propicia-
rem a segurança, os vassalos resolviam fugir, migrar para as cida-
des. Pela expressão “os ares da cidade são libertinos” saudavam os
adversários do feudalismo125 a libertação dos servos em relação laços
com os suseranos e lastimavam-na estes, entretanto – e é interessante
observar que, em plena Rússia czarista contemporânea à Revolução

122 - BÖCKENFÖRDE, Ernst-Wolfgang. História da filosofia do Direito e do


Estado – Antiguidade e Idade Média. Trad. Adriana Beckman Meirelles. Porto
Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 2012, p. 177.
123 - AUGUSTINE, Aurelius. The city of God. Transl. Marcus Dods. London:
Encyclopaedia Britannica, 1952, p. 521; DORNELLES, Leandro do Amaral Dor-
nelles de. A transformação do Direito do Trabalho – da lógica da preservação à
lógica da flexibilidade. São Paulo: LTr, 2002, p. 18.
124 - KNIGHT, Frank Hyneman. Inteligência e ação democrática. Trad. Francisco
J. Beralli. Rio de Janeiro: Instituto Liberal, 1989, p. 62.
125 - SMITH, Adam. A riqueza das nações – uma investigação sobre a sua nature-
za e as suas causas. Trad. Luís João Baraúna. São Paulo: Nova Cultural, 1996, v. 1,
p. 394.
62
Industrial, a lástima dos latifundiários acerca do êxodo rural era ex-
pressa no mesmo sentido126 -. Nas cidades a relação de trabalho era
estabelecida a partir de aprendizado, ou seja, havia os mestres em
um determinado ofício, que sabia exercê-lo com toda a arte, estes
artesãos, e estes ensinavam aos aprendizes os passos que deviam ser
observados, e deviam ser rigorosamente seguidos. Já no campo as
relações de trabalho iam deteriorando-se tendo como causas as guer-
ras, as dívidas etc., ou seja. continuavam nos mesmos moldes da
Idade Média. O servo não era um escravo mas era aderido à gleba.127

O Êxodo rural e as novas relações de trabalho:


Não é um fenômeno novo, ele já surge das fugas dos vassalos à
cidade em busca de condições melhores de vida. As corporações de
ofício surgiram e determinavam as medidas técnicas ("techne") e
estéticas, como retratado poeticamente na comédia musical de Ri-
chard Wagner Os mestres cantores de Nuremberg. Mas havia um
PROBLEMA: quem não estivesse numa dessas corporações, não po-
dia exercer o ofício. Base do pensamento liberal é a liberdade do
trabalho, da escolha da profissão128. Contudo, temos que recordar o
seguinte: a relação de trabalho passa a valer a partir do contrato, e
como é livre, ele não pode ser gratuito. Não há uma ordem que deva
ser cumprida sem que haja uma contra-partida (remuneração). Entre-
tanto, a própria vida no campo também fora muito abalada por conta
das necessidades da produção industrial.

126 - LENIN, Vladimir Ilitch Ulianov. O desenvolvimento do capitalismo na Rús-


sia. Trad. José Paulo Netto. São Paulo: Abril Cultural, 1982, p. 160.
127 - HICKS, John. Uma teoria de história econômica. Trad. Maria José Cyhla
Monteiro. Rio de Janeiro: Zahar, 1972, p. 72.
128 - SMITH, Adam. A riqueza das nações – uma investigação sobre a sua nature-
za e as suas causas. Trad. Luís João Baraúna. São Paulo: Nova Cultural, 1996, v. 1,
p. 450-1; SAY, Jean-Baptiste. Tratado de economia política. Trad. Balthazar Bar-
bosa Filho. São Paulo: Abril Cultural, 1983, p. 173; BUENO, José Antônio Pimen-
ta. Direito Público brasileiro e análise da Constituição do Império. Brasília: Sena-
do Federal, 1978, p. 395; FRIEDMAN, Milton. Capitalismo e liberdade. Trad.
Luciana Carli. São Paulo: Abril Cultural, 1984, p. 127; AMARAL, Alexandre Au-
gusto Pinto Coelho de. O contrato coletivo de trabalho no Direito corporativo por-
tuguês. Boletim da Faculdade de Direito de Coimbra. Coimbra, v. 11, p. 330-1,
1953 - supl.
63
"À beira do colapso do capitalismo":
A presença de um exército de desempregados contribuía para o
barateamento da mão-de-obra129. Começaram, então, a surgir preo-
cupações principalmente no que tange a assistência pública. Ocorre
que a situação de subordinação que ao mesmo tempo é um trabalha-
dor livre que celebra livremente um contrato de trabalho e que pode
também rescindir o contrato livremente, a situação de subordinação
necessita um tipo a mais de legitimação porque passado algum tem-
po para ele sustentar a sua própria família, ele passa a não ver a luz
do sol (principalmente os mineiros). Ou se tratava o proletariado
como uma classe revolucionária, ou se tornava em consideração as
necessidades deles como algo digno de atenção, sob pena de solapa-
rem os alicerces do sistema capitalista130."Salvar o capitalismo de si
próprio", tal foi o mote adotado a partir da crise de 1929, nos
EUA131. Atender às necessidades dos trabalhadores é uma forma de
evitar que se lhes acirrem os ânimos a ponto de que eles queiram
mudar o modo de produção (o capitalismo)132. Neste particular, no
Brasil, há uma forte base do pensamento positivista, para o qual
seriam intoleráveis quaiquer fatores que pudessem comprometer a

129 - WALRAS, Léon. Compêndio dos elementos de economia política pura. Trad.
João Guilherme Vargas Netto. São Paulo: Nova Cultural, 1996, p. 312; LENIN,
Vladimir Ilitch Ulianov. O desenvolvimento do capitalismo na Rússia. Trad. José
Paulo Netto. São Paulo: Abril Cultural, 1982, p. 150; NUNES, Antonio José Ave-
lãs. Uma introdução à economia política. São Paulo: Quartier Latin, 2008, p. 533.
130 - GALBRAITH, John Kenneth. O novo Estado industrial. Trad. Leônidas
Gontijo de Carvalho. São Paulo: Nova Cultural, 1988, p. 170; HEILBRONER,
Robert L. Introdução à história das idéias econômicas. Trad. Waltensir Dutra. Rio
de Janeiro: Zahar, 1969, p. 278.
131 - ROOSEVELT, Franklin Delano. Mirando adelante. Trad. Luís Klappenbach.
Buenos Aires: Tor, 1943, p. 24.
132 - ROBINSON, Joan. Filosofia econômica. Trad. Fernando Ferro. Rio de Janei-
ro: Zahar, 1964, p. 92-3; HEILBRONER, Robert L. Introdução à história das
idéias econômicas. Trad. Waltensir Dutra. Rio de Janeiro: Zahar, 1969, p. 255-6;
DUVERGER, Maurice. Os laranjais do Lago Balaton. Trad. Edgard de Brito Cha-
ves Júnior. Brasília: UnB, 1982, p. 164-5; CARRION, Eduardo Kroeff Machado.
Apontamentos de Direito Constitucional, Porto Alegre: Livraria do Advogado,
1997, p. 153; SOUZA, Ricardo Luiz de. Os sentidos da ruptura: trabalhismo e
legislação trabalhista na Revolução de 1930. Justiça & História. Porto Alegre, v. 5,
n. 10, p. 226-7, 2005.
64
harmonia e a solidariedade socaisi, nas medidas intervencionistas no
âmbito das relações de trabalho133.

Direito ao trabalho:
As relações de trabalho não poderiam ser concebidas como uma
relação de contrato comum porque há uma relação de "poder" desi-
gual entre o empregador e o empregado. "Como equacionar o direito
ao trabalho no contexto do capitalismo?" O direito ao trabalho não
tem como se realizar a título individual. Ou seja, o trabalhador João
não pode compelir o empregador Pedro a lhe dar trabalho porque a
relação de trabalho no capitalismo é livre. Eu não posso obrigar al-
guém a contratar outrem. A partir de um momento que uma empresa
cria obstáculos para dar trabalho para um indivíduo como, por
exemplo, não dar a vaga por ser gordo ou magro demais, aí esse
direito pode ser reclamado perante o Judiciário. Nos países cujos
meios de produção tenham sido estatizados, há a tendência, em tem-
pos de paz, a se aproveitar o contingente das casernas em trabalhos
civis134. Em determinados países capitalistas, o acesso aos cargos
públicos têm sido opção de trabalho franqueada à população. Ao
mesmo tempo em que é mister, para a materialização do serviço
público, por óbvio, a presença de pessoas físicas que efetivamente
venham a executar as tarefas correspondentes, há uma peculiaridade
na forma de atribuição destas tarefas, da identificação do número de
pessoas que as deverão desempenhar e do próprio recrutamento,
tendo em vista que isto envolve a gestão de recursos que podem ser
obtidos mediante o uso da coação, interditado aos particulares: so-
mente a lei pode criar cargos e funções públicas, estabelecendo-lhes
os respectivos número e atribuições e a admissão de pessoal perma-
nente se há de fazer mediante procedimento previsto em lei, sem a
marca da subjetividade do administrador, que seria marca inerente à
gestão de bens privados, procedimento, este, que, no Brasil, é o con-
curso de provas ou de provas e títulos, referido genericamente nos
incisos I e II do artigo 37 da Constituição de 1988. Calha referir,

133 - BIAVASCHI, Magda Barros. O Direito do Trabalho no Brasil – 1930 a 1942


– a construção do sujeito de direitos trabalhistas. São Paulo; LTr, 2007, p. 241 –
nota 25.
134 - ROSSETTI, José Paschoal. Introdução à economia. São Paulo: Atlas, 1971, p.
102-3; BALEEIRO, Aliomar. Uma introdução à ciência das finanças. Rio de Janei-
ro: Forense, 1986, p. 173.
65
ainda, a questão dos trabalhadores que se aposentam voluntariamen-
te e que, entrando em depressão pelo papel que, muitas vezes, a pró-
pria sociedade dele cobra, pelo fato de não estar na época de se apo-
sentar compulsoriamente, vem a se empregar para não se sentir inú-
til. Se, nos primeiros instantes, provém o prazer, chega determinado
momento em que tal sensação vai sendo substituída pela fadiga, que
deverá obter, por conta disto mesmo, real compensação 135. Se, por
um lado, são salientados perigos, especialmente no que tange aos
servidores públicos, na aposentadoria, porque muitas vezes o indiví-
duo ainda válido para o trabalho levará o seu conhecimento e o seu
treinamento para a iniciativa privada, também constitui um dado da
vida a fadiga pela longa permanência, que conduziria o serviço à
estagnação, sem contar com o dado de chocar a moral social o lançar
ao desamparo aquele que tenha ofertado a sua força de trabalho e
tenha, em relação a esta, decaído, principalmente quando tenha de-
pendentes136. No âmbito privado, procurou-se, em princípio, atender
a tal necessidade mediante as obras de caridade e filantropia, embora
estas tivessem caráter de obras obras de misericórdia 137 e, pois, de
liberalidade, jamais de direito subjetivo assegurado a quem quer que
fosse – ou seja, ninguém seria obrigado a prestá-las -, entendendo-se,
mais, deverem “guardar a justa medida pela indispensabilidade dos
socorros, os quais devem ser prestados somente nos casos estrita-
mente necessários”138. Foi por esta razão, pela existência da necessi-
dade de quem perdia a possibilidade de contribuir para com a socie-
dade com o seu trabalho dela não ser excluído, com todas as conse-
qüências que daía adviriam para a própria ordem social, que o Esta-
do veio a assumir tal incumbência. Constituem os sistemas de apo-
sentadorias e pensões, ao mesmo tempo em que traduzem mecanis-
mos de redistribuição da riqueza, refletindo sobre a economia, ver-
dadeiro serviço público voltado ao atendimento das necessidades de
quem já tenha ofertado a força de trabalho, bem como dos respecti-

135 - EINAUDI, Luigi. Princípios de hacienda pública. Trad. Jayme Algarra &
Miguel Paredes. Madrid: Aguilar, 1955, p. 214-5.
136 - BALEEIRO, Aliomar. Uma introdução à ciência das finanças. Rio de Janei-
ro: Forense, 1986, p. 105.
137 - FREITAS, Augusto Teixeira de. Vocabulário jurídico. São Paulo: Saraiva,
1983, v. 1, p. 242.
138 - VARGAS, Getúlio Dornelles. A serpente e o dragão. Porto Alegre: Sulina,
2003, p. 130.
66
vos dependentes139, a despeito da condenação da assunção de tal
encargo pelo Estado continuamente levada a cabo pelos autores libe-
rais140. “Quando o Estado garante, chama a si, e, pois, à totalidade
dos cidadãos capazes a responsabilidade, justamente para a criação
da riqueza e para o bem-estar social. Ao contrário, quando o Estado
somente contribui em parte, e o restante passa a ser diretamente for-
necido pelo próprio beneficiário, o trabalhador que decai nas condi-
ções de exercício do trabalho, ou do indireto, o empregador que usu-
frui os benefícios do trabalho daquele que decaiu daquelas condi-
ções, temos um dado novo para considerar, pois a previdência assim
mais fundamente a condição de seguro feito pelo interessado dire-
to”141.

Desemprego
O desemprego vem a tomar algumas classificações. Há quem
pense, seguindo a concepção atribuída aos puritanos142 – embora

139 - BALEEIRO, Aliomar. Uma introdução à ciência das finanças. Rio de Janei-
ro: Forense, 1986, p. 107; GALVES, Carlos. Manual de economia política atual.
Rio de Janeiro: Forense, 1972, p. 196; MANKIW, N. Gregory. Princípios de mi-
croeconomia. Trad. Allan Vidal Hastings & Elisete Paes e Lima. São Paulo: Cen-
gage Leaning, 2009, p. 219.
140 - SAY, Jean-Baptiste. Tratado de economia política. Trad. Balthazar
Barbosa Filho. São Paulo: Abril Cultural, 1983, p. 316-7; NASSAU SENIOR,
William et allii. Poor Law’s Comissioners Report, 1834.
http://oll.libertyfund.org/?option=com_staticxt&staticfile=show.php%3Ftitle=1461
&chapter=74184&layout=html&Itemid=27, acessado em 27 ago 2011; HEILBRO-
NER, Robert L. Introdução à história das idéias econômicas. Trad. Waltensir Du-
tra. Rio de Janeiro: Zahar, 1969, p. 71; FRIEDMAN, Milton. Capitalismo e liber-
dade. Trad. Luciana Carli. São Paulo: Abril Cultural, 1984, p. 165-7; SEN, Amar-
tya. Desenvolvimento como liberdade. Trad. Laura Teixeira Motta. São Paulo:
Companhia das Letras, 2010, p. 277.
141 - SOUZA, Washington Peluso Albino de. Do econômico nas Constituições
vigentes. Belo Horizonte: Revista Brasileira de Estudos Políticos, 1961, v. 2, p.
295; SAVATIER, René. Les métamorphoses économiques et sociales du Droit Civil
d’aujourd’hui. Paris: Dalloz, 1952, p. 266; BARRE, Raymond. Manual de econo-
mia política. Trad. Pierre Santos. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1970, v. 3, p.
206-7.
142 - WEBER, Max. Economía y sociedad. Trad. José M. Echavarría et allii. Méxi-
co/Buenos Aires: Fondo de Cultura Económica, 1992, p. 1.054; HECKSCHER, Eli
R. La época mercantilista. Trad. Wenceslao Roces. México: Fondo de Cultura
Económica, 1983, p. 601; DORNELLES, Leandro do Amaral Dornelles de. A trans-
67
tenha sido identificada também no catolicismo143 -, que o desempre-
go seria manifestação, exteriorização, da inércia ou da preguiça do
indivíduo que se achasse em tal situação144. Contudo, com o passar
do tempo foram estabelecendo classificações conforme as causas do
desemprego que podem ser variadas principalmente depois que iden-
tificaram crises como a de 1929 e aqui no Brasil se referindo a pró-
pria abolição da escravatura que atingiu violentamente o trabalho. Os
escravos recém emancipados estavam livres, mas sem a possibilida-
de de terem a respectiva sobrevivência porque desde a interdição do
tráfico negreiro, se intensificou a vinda de imigrantes145. Estes vi-
nham com conhecimentos técnicos adquiridos nos países industriali-
zados, e faziam com muito maior eficiência o trabalho que o rude
escravo teria ainda de aprender146. Tratar o desemprego como sem-
pre decorrente de uma pré-disposição negativa ao trabalho, portanto,
vem a ser uma simplificação brutal e que não corresponderia neces-
sariamente à realidade. É sobre o desemprego involuntário que vai se
voltar Keynes147, quando estuda o New Deal, a política econômica

formação do Direito do Trabalho – da lógica da preservação à lógica da flexibili-


dade. São Paulo: LTr, 2002, p. 18-9.
143 - SOMBART, Werner. El burgués. Trad. Maria Pilar Lorenzo. Madrid: Alian-
za, 1992, p. 259.
144 - NUNES, Antonio José Avelãs. Uma introdução à economia política. São
Paulo: Quartier Latin, 2008, p. 594-5; SMITH, Adam. A riqueza das nações – uma
investigação sobre a sua natureza e as suas causas. Trad. Luís João Baraúna. São
Paulo: Nova Cultural, 1996, v. 1, p. 343; RICARDO, David. Princípios de econo-
mia política e do imposto. Trad. C. Machado Fonseca. Rio de Janeiro: Atena, 1937,
p. 62; HUME, David. Escritos sobre economia. Trad. Sara Albieri. In: CAMPOS,
Roberto de Oliveira & KUNTZ, Rolf [org.]. Os economistas – Petty – Hume –
Quesnay. São Paulo: Abril Cultural, 1983, p. 212; BAUTISTA ALBERDI, Juan.
Estudios económicos. Quilmes: Universidad Nacional de Quilmes, 1996, t. 1, p.
432-3; FRIEDMAN, Milton. Capitalismo e liberdade. Trad. Luciana Carli. São
Paulo: Abril Cultural, 1984, p. 21-3.
145 - TORRES, Alberto. A organização nacional. São Paulo: Companhia Editora
Nacional, 1938, p. 126-7.
146 - CAMARGO, Ricardo Antonio Lucas. Direito Econômico – aplicação e eficá-
cia. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 2001, p. 311.
147 - Teoría general de la ocupación, el interés y el dinero. Trad. Eduardo Horne-
do. México: Fondo de Cultura Económica, 1965, p. 26; HEILBRONER, Robert L.
Introdução à história das idéias econômicas. Trad. Waltensir Dutra. Rio de Janeiro:
Zahar, 1969, p. 251-2.
68
do Presidente Franklin Roosevelt148, lembrando que somente se po-
deria ter como verdadeira a proposição geral “todo desemprego é
voluntário” em um contexto de pleno emprego. Também se pode
falar, por exemplo, o desemprego tecnológico, decorrente do avanço
da tecnologia, mercê do qual cada vez mais o trabalhador vai per-
dendo seu espaço e menos consegue ser empregado naquilo que an-
teriormente ele conseguia fazer. Sob o prisma da substituição do
trabalhador pela máquina, o tema já era tratado pelos economistas
clássicos enquanto uma forma de reduzir os custos com mão-de-
obra149. Porém, sob o ponto de vista da necessidade de conhecimen-
tos para operar os equipamentos como requisito para a possibilidade
de trabalhar, vem a ser mais freqüente na literatura a partir da I
Guerra.
O subemprego nada mais é do que aquele emprego normalmente
sazonal, mal remunerado, e a ela não se liga qualquer prestígio 150.
No que pesem as dificuldades do tratamento jurídico do tema, tem-se
debruçado a doutrina sobre as hipóteses mais sutis do denominado
“assédio moral”, quando um empregado efetivamente capacitado
para fazer determinadas tarefas, de maior prestígio, a ele não sejam
confiadas estas e sim tarefas menores, com o objetivo de se lhe aba-
ter o ânimo. Por exemplo, colocar um analista de sistemas para fazer
trabalhos de digitação. Isto configura assédio moral, porque, admiti-
do que foi como analista de sistemas, reconheceu-se que ele tinha
capacidade de fazer um trabalho melhor. Mesmo percebendo o salá-
rio da função para a qual foi admitido, ao ser obrigado a realizar

148 - BARRETO, Alberto Deodato Maia. Manual de ciência das finanças. São
Paulo: Saraiva, 1971, p. 278.
149 - CLARK, John Bates. Essentials of economic theory. New York: Mac Millan
Company, 1915, p. 170.
150 - KEYNES, John Maynard. Teoría general de la ocupación, el interés y el
dinero. Trad. Eduardo Hornedo. México: Fondo de Cultura Económica, 1965, p.
257; SINGER, Paul. Repartição da renda – pobres e ricos sob o regime militar. Rio
de Janeiro: Jorge Zahar, 1985, p. 57; BRITO FILHO, José Cláudio Monteiro de.
Trabalho decente. São Paulo: LTr, 2004, p. 61; NUNES, António José Avelãs.
Industrialização e desenvolvimento: a economia política do “modelo brasileiro de
desenvolvimento”. Boletim da Faculdade de Direito de Coimbra. Coimbra, v.
24/25, p. 796-7, 1982 – supl.
69
trabalho inferior a ela vem a ter diminuída a própria dignidade, re-
baixado em sua significação social151.

Causas possíveis do desemprego:


Os custos trabalhistas são responsáveis pelo desemprego, porque
traduzem a mais clara demonstração de hostilidade do Estado pela
iniciativa privada, na opinião de muitos empresários e de economis-
tas que crêem na sacralidade do lucro privado152, mas a genericidade
desta proposição deve ser confrontada com o fato de que comparado
o custo do trabalhador brasileiro ao custo de um trabalhador francês,
o francês custaria muito mais. No entanto, é mais fácil dispensar o
brasileiro do que o francês153, e a França está longe de poder ser
considerada território hostil ao desenvolvimento da atividade empre-
sarial privada. A capacidade das empresas enfrentarem os custos
acaba tendo sua influência no que tange a absorção da mão-de-obra,
com toda a certeza, mas não seria somente um dos fatores aptos a
aumentarem o custo que porventura seria o responsável por entraves
no seu desenvolvimento154. Vale, ainda, a advertência no sentido de
não ser o mercado de trabalho, seja antes do advento dos sindicatos,
seja depois do surgimento destes, a expressão da concorrência per-
feita, como o ilustra este exemplo: “você pode ser tão capaz quanto
alguém que tenha um emprego e, no entanto, não há meio de você

151 - CAMARGO, Ricardo Antônio Lucas. Direito, globalização e humanidade – o


jurídico reduzido ao econômico. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 2009, p. 116.
152 - FRIEDMAN, Milton. Capitalismo e liberdade. Trad. Luciana Carli. São
Paulo: Abril Cultural, 1984, p. 115; MISES, Ludwig Von. O intervencionismo.
Trad. José Joaquim Teixeira Ribeiro. Boletim da Faculdade de Direito de Coimbra.
Coimbra, v. 20, p. 450, 1945; MANKIW, N. Gregory. Princípios de microecono-
mia. Trad. Allan Vidal Hastings & Elisete Paes e Lima. São Paulo: Cengage Lea-
ning, 2009, p. 120.
153 - CESARINO JÚNIOR, Antônio Frederico. Direito Social. São Paulo: LTr,
1970, v. 2, p. 279; BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho.
São Paulo: LTr, 2011, p. 772; LEITE, João Antônio G. Pereira. Estudos de Direito
do Trabalho e Direito Previdenciário. Porto Alegre: Síntese, 1979, p. 134; DOR-
NELLES, Leandro do Amaral Dornelles de. A transformação do Direito do Traba-
lho – da lógica da preservação à lógica da flexibilidade. São Paulo: LTr, 2002, p.
144-5; VILHENA, Paulo Emílio Ribeiro de. Relação de emprego. São Paulo: LTr,
2005, p. 104-5; CAMINO, Carmen. Direito individual do Trabalho. Porto Alegre:
Síntese, 2003, p. 519-620.
154 - TEMER, Michel. Democracia e cidadania. São Paulo: Malheiros, 2006, p.
209-210.
70
tirar-lhe o emprego pedindo menos pelo seu trabalho. Imagine-se
indo à Ford ou qualquer outra grande empresa quando vier a próxi-
ma depressão, brandindo seus diplomas e certtificados de teste de
inteligência e capacidade e oferecendo-se para trabalhar por menos
do que estão pagando. Você poderia obter emprego desta manei-
ra?”155

A educação e o trabalho:
Quando se fala na educação em relação ao trabalho, se pensa
justamente no que o mercado, ou melhor, quais os conhecimentos
que o mercado vai exigir de um indivíduo que vai ganhar a sua so-
brevivência, embora, como alerta Adolf Weber156, a isto não se re-
suma a finalidade da educação em si mesma. Hoje em dia, não basta
o individuo conhecer as quatro operações e identificar os fonemas
correspondentes aos sinais gráficos (as letras). Hoje se requer cada
vez mais conhecimentos que se consideram básicos para se tornar
apto para ingressar no mercado de trabalho. Daí a fórmula, algo aca-
ciana em sua formulação geral, da educação como pressuposto do
adequado funcionamento do Estado democrático e social de Direi-
to157, especialmente no que diz respeito à maior produtividade no
desenvolvimento das atividades econômicas158. “Nos países subde-
senvolvidos, existem massas de trabalhadores, empregados a um
nível muito baixo de produtividade, ou mesmo sem qualquer empre-
go. Equipar e treinar essas massas para um nível razoável de produ-
ção é uma grande tarefa”159. É de se notar que a educação e o trei-
namento do trabalhador, normalmente, traduzem um investimento de

155 - SAMUELSON, Paul A. Introdução à análise econômica. Trad. Luiz Carlos


do Nascimento Silva. Rio de Janeiro: Agir, 1966, v. 2, p. 240.
156 - Introducción al estudio de la Economía Política. Trad. José Alvarez de Cien-
fuegos y Cobos. Barcelona: Bosch, 1943, p. 98-9.
157 - ABENDROTH, Wolfgang. Der demokratische und soziale Rechtstaat aus
politischer Auftrag. In: CORTIÑAS-PELÁEZ, León [org.]. Perspectivas del Dere-
cho Público en la segunda mitad del siglo XX – homenaje a Enrique Sayagues-
Laso. Madrid: Instituto de Estudios de Administración Local, 1969, t. 1, p. 825.
158 - WICKSELL, Knut. Lecciones de economía política. Trad. Francisco Sánchez
Ramos. Madrid: Aguilar, 1947, p. 95.
159 - ROBINSON, Joan. Filosofia econômica. Trad. Fernando Ferro. Rio de Janei-
ro: Zahar, 1964, p. 110.
71
longo prazo, limitado pela própria capacidade humana de aprendiza-
gem, por mais excepcionalmente brilhante que se seja160.
Cabe lembrar um dado importante no que toca ao trabalho: é
que, se toda a população que habita um determinado espaço consome
o que nele se produz ou o que nele ingressa, em termos de bens e
serviços, nem toda ela está voltada à atividade que o provê, mas
somente a parte dela a que se dá o nome de população economica-
mente ativa161. Em função deste dado, foi manifestada uma preocupa-
ção, ao final do século XVIII, com o fato de que a produção de ali-
mentos tende a crescer em progressão aritmética, ao contrário da
população, que cresce em progressão geométrica 162. Embora muito
desta concepção venha a colocar-se em debate – sobretudo porque,
desde o final do século XVIII, “a população mundial aumentou qua-
se seis vezes, mas ainda assim a produção e o consumo são hoje
maiores do que no tempo de Malthus, e isso ocorreu com uma eleva-
ção sem precedentes nos padrões gerais de vida”163 –, o dado é que
nem por isto a preocupação, em si, se mostrará errônea, máxime
quando se toma em consideração a tendência – já referida anterior-
mente – de as necessidades se expandirem até o infinito ao lado da
finitude, escassez, dos bens.Com efeito, enquanto seja possível a
apropriação humana dos recursos naturais antes que estes, por mais
que se renovem, sejam superados numericamente pelo aumento da
população, há um estímulo a que esta aumente, com repercussões na
agilidade com que se materializa a produção. Quando, porém, se
vem a verificar tal superação, vai-se, com o acréscimo de mão-de-
obra, diminuindo a quantidade de recursos a serem trabalhados e,

160 - HICKS, John R. Uma introdução à economia. Trad. Sérgio Góes de Paula.
Rio de Janeiro; Zahar, 1972, p. 86-7.
161 - GALVES, Carlos. Manual de economia política atual. Rio de Janeiro: Foren-
se, 1972, p. 106; CASTRO, Antônio & LESSA, Carlos. Introdução à economia –
uma abordagem estruturalista. Rio de Janeiro: Forense, 1970, p. 22.
162 - MALTHUS, Thomas Robert. Ensaio sobre a população. Trad. Antônio Alves
Cury. In: GALVEAS, Ernane [org.]. Os economistas – Malthus. São Paulo: Nova
Cultural, 1996, p. 282; HEILBRONER, Robert L. Introdução à história das idéias
econômicas. Trad. Waltensir Dutra. Rio de Janeiro: Zahar, 1969, p. 78; CARREI-
RO, Carlos H. Porto. Lições de economia política e noções de finanças. Rio de
Janeiro: F. Briguiet, 1952, p. 87.
163 - SEN, Amartya. Desenvolvimento como liberdade. Trad. Laura Teixeira Mot-
ta. São Paulo: Companhia das Letras, 2010, p. 265.
72
ipso facto, de bens a serem gerados164. De outra parte, quando se vai
falar na população economicamente ativa, tem-se de observar as
diferentes valorações que se ofertam às profissões, a exigência ou
não de habilitação para o respectivo exercício, a idade mínima para o
ingresso no mercado de trabalho, as possibilidades profissionais de
homens e mulheres, para então se ter uma idéia efetiva de qual seja o
quadro a ser tomado em consideração. Tal conceito – o de população
economicamente ativa – tende a variar também quando se observe o
dado no cenário do Primeiro Mundo, onde, normalmente, a popula-
ção de vinte a sessenta anos tem a seu cargo a manutenção da popu-
lação mais jovem, ao passo que a população mais idosa poderá gozar
do ócio com dignidade custeado pelas contribuições para a segurida-
de social, e quando se o observe no Terceiro, onde aos vinte anos o
indivíduo já venceu obstáculos como a mortalidade infantil, a falta
de alimentos, a escassez de oportunidades de trabalho e, com mais
de quarenta, já chegou ao esgotamento165.

8.1.3. Capital

 Capital se compõe dos bens aplicados à produção. Podem ser


tanto bens materiais como bens imateriais. São objetos que po-
dem ser encontrados na natureza ou podem ser uma criação arti-
ficial. O que interessa pra que um bem seja considerado de capi-
tal, ou melhor que seja considerado integrante do capital é que
ele se volte a gerar outros bens e com o objetivo de propiciar ri-
quezas. Não é só o dinheiro que integrará o conceito de capital.
Também o integrarão quaisquer outros bens que se voltem à
produção. Assim o imóvel , aplicado a atividade produtiva, é um
bem de capital. Seja ele de propriedade do empresário ou de ter-
ceiro que tenha cedido a posse ao empresário. Os direitos à par-
ticipação em outras atividades ou bens imateriais, especialmente
aqueles ligados à propriedade industrial (Ex: as marcas, as pa-

164 SAMUELSON, Paul A. Introdução à análise econômica. Trad. Luiz Carlos do


Nascimento Silva. Rio de Janeiro: Agir, 1966, v. 2, p. 430.
165 - SOUZA, Washington Peluso Albino de. Direito Econômico e Economia
Política. Belo Horizonte: Prisma, 1970, v. 1, p. 366-7; CAMARGO, Ricardo Antô-
nio Lucas. Direito Econômico, direitos humanos e segurança coletiva. Porto Ale-
gre: Sérgio Antônio Fabris, 2007, p. 149.
73
tentes) também integram o capital166. Além das patentes e mar-
cas, que são criação tipicamente jurídica, emerge um outro bem
imaterial de suma importância: a tecnologia. A proteção da pro-
priedade industrial vem a colocar-se como um estímulo às in-
venções, que são acolhidas de bom grado no seio da empresa,
quer porque possibilitam vantagens perante a concorrência, quer
porque rendem ensejo ao surgimento de novas atividades 167. É, a
bem de ver, uma das mais antigas exceções ao horror que, em
regra, o pensamento liberal tem aos monopólios: “impõe-se a
esperança de lucros monopolísticos, por algum tempo, a fim de
haver dispêndio de fundos em pesquisas e invenções, e a aplica-
ção de capital indipensável ao lançamento de produto no merca-
do. Neste sentido, aquele estimula o investimento. Todavia, se a
patente for mantida além do prazo imprescindível à invenção e
ao emprego do capital inicial, agirá como obstáculo ao investi-
mento por novos competidores”168. Há uma grande diferença en-
tre a propriedade artística, literária e científica e a propriedade
industrial porque eu não posso falar em patente ou em marca an-
tes do registro. Já no caso do direito autoral, o registro apenas
cria uma presunção de titularidade mas essa presunção pode ser
destruída. No caso da propriedade industrial ela é constituída pe-
lo registro. Daí por que se entende que não se atribuam os direi-
tos da invenção do avião a Santos Dumont, apesar dos testemu-
nhos, fotos e filmagens das proezas do 14-bis em torno da Torre
Eiffel, e sim aos irmãos Wright. O registro autoral apenas torna
certo, esclarece, algo que já existe, razão por que é denominado
“declaratório”. Já o registro da propriedade industrial é constitu-
tivo, ou seja, é ele que faz nascer os direitos decorrentes da cria-
ção intelectual em tela. O direito autoral tem duas dimensões:
patrimonial e não-patrimonial. A primeira, passado um determi-

166 - SOUZA FILHO, Carlos Frederico Marés de. A liberdade e outros direitos:
ensaios socioambientais. São Paulo/Curitiba: Instituto Brasileiro de Advocacia
Pública/Letra da Lei, 2011, p. 96.
167 - SOMBART, Werner. El apogeo del capitalismo. Trad. Vicente Caridad.
México: Fondo de Cultura Económica, 1946, v. 1, p. 99-100.
168 - MEYERS, Alfred L. Elementos de economia moderna. Trad. Antonio Ferreira
da Rocha. Rio de Janeiro: Livro Ibero-Americano, 1968, p. 455; PETTY, Sir Willi-
am. Tratado dos impostos e das contribuições. Trad. Luiz Henrique Lopes dos
Santos. In: PETTY, Sir William. Obras econômicas. São Paulo: Nova Cultural,
1988, p. 59-60.
74
nando período, cai no domínio público (Ex: toda a obra do José
de Alencar – o escritor, evidentemente, não o ex-Vice-
Presidente da República - caiu no domínio público), ao passo
que a segunda se mantém intacta169. Não se pense, contudo, que
os ganhos decorrentes do direito autoral somente se prestariam a
recompensar as contribuições à produção de bens simbólicos,
vez que podem servir de receita para determinadas atividades
econômicas, a exemplo do que ocorre com os programas de en-
tretenimento em relação às respectivas emissoras de rádio e te-
levisão170, o que vem a colocar em questão a tese smithiana
quanto ao caráter “frívolo”, economicamente irrelevante, deste
setor171, modo certo ecoando a famosa passagem platônica se-
gundo a qual os poetas deveriam ser enaltecidos por mostrarem
sua arte e seu engenho, coroados com grinaldas de flores e ex-
pulsos da cidade, por serem, mais que inúteis, perniciosos como
cidadãos172. Emerge, ao contrário, tese no sentido de que, em ní-
veis mais elevados em termos de poder aquisitivo, a produção
artística e literária tende a ser desfrutada, ou em si mesma, ou a
título da identificação positiva que o indivíduo reclama para si e,
a partir daí, vê-se um considerável volume da atividade econô-
mica dependendo muito mais da qualidade artística do que da
eficiência técnica173. Verdade que, em princípio, se uma pessoa
“possuir terra muito fértil e insistir em cultivá-la por métodos
antieconômicos, estará pagando pela sua tolice ou teimosia em
deixar de receber o elevado rendimento que aquele tipo de terra
é capaz de proporcionar; em dólares, a terra se torna mais valio-

169 - VIANA, Marco Aurélio da Silva. O direito autoral e o Anteprojeto do Código


Civil brasileiro. In: SOUZA, Washington Peluso Albino de [org.]. O conteúdo
econômico no Anteprojeto do Código Civil brasileiro. Belo Horizonte: Faculdade
de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais, 1975, p. 213-4.
170 - FARACO, Alexandre Ditzel. Democracia e regulação das redes eletrônicas
de comunicação – rádio, televisão e internet. Belo Horizonte: Forum, 2009, p. 208.
171 - SMITH, Adam. A riqueza das nações – uma investigação sobre a sua nature-
za e as suas causas. Trad. Luís João Baraúna. São Paulo: Nova Cultural, 1996, v. 1,
p. 334.
172 - PLATÃO. A república. Trad. Pietro Nassetti. São Paulo: Martin Claret, 2005,
p. 89.
173 - GALBRAITH, John Kenneth. A economia e o interesse público. Trad. Anto-
nio Zoratto Sanvicente. São Paulo: Pioneira, 1988, p. 65; BARRE, Raymond. Ma-
nual de economia política. Trad. Pierre Santos. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura,
1970, v. 1, p. 23.
75
sa para outros do que para ela, e se ela se recusar a aluga-la ou
vendê-la, estará gastando um meio de subsistência para satisfa-
zer os seus gostos, como aconteceria se vendesse a terra e gas-
tasse o produto da venda em vinhos, canções e uma vida de gen-
til-homem do campo. Um elemento jovem, com um alto índice
de QI e com talentos versáteis, que continua num emprego enfa-
donho e sem futuro ou numa indústria agonizante está igualmen-
te malbaratando o seu potencial econômico” 174. Mas também é
verdade que mesmo os eventos que, por exigência da vida dos
negócios, aproximam as pessoas necessitarão constantemente,
para que as negociações cheguem a bom termo, quando precisa-
rem ser feitas, de demonstração de êxito e, “por ser o consumo
de bens de maior excelência prova da riqueza, ele se torna hono-
rífico”175. Se o aumento do poder aquisitivo é índice de êxito, a
busca do prestígio em meio às classes bem sucedidas assume
uma conotação francamente econômica176. De outra parte, o pa-
pel social do produtor de bens simbólicos vem a se delinear no
que tange (1) à necessidade de investimentos tanto na aquisição
de instrumentos para tomar a idéia que o assalta e dar-lhe trata-
mento pessoal como nas atividades aptas a permitirem a aquisi-
ção dos conhecimentos necessários a manuseá-los; (2) ao aten-
dimento de necessidades que vão desde o entretenimento dos
que desfrutam a sua obra até a formação da consciência cultural,
passando pela instrução pura e simples177. Esteve em voga, de-
mais disto, durante um largo período a tese segundo a qual as
humanidades não passariam de diletantismo permitido apenas a

174 - SAMUELSON, Paul A. Introdução à análise econômica. Trad. Luiz Carlos


do Nascimento Silva. Rio de Janeiro: Agir, 1966, v. 2, p. 118, nota 10.
175 - VEBLEN, Thorstein. A teoria da classe ociosa. Trad. Olívia Krahenbühl. São
Paulo: Abril Cultural, 1983, p. 37.
176 - SCHUMPETER, Joseph Alois. Capitalismo, socialismo e democracia. Trad.
Ruy Jungmann. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1961, p. 255.
177 - VIANA, Marco Aurélio da Silva. O direito autoral e o Anteprojeto do Código
Civil brasileiro. In: SOUZA, Washington Peluso Albino de [org.]. O conteúdo
econômico no Anteprojeto do Código Civil brasileiro. Belo Horizonte: Faculdade
de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais, 1975, p. 213; CANOTILHO,
José Joaquim Gomes & MACHADO, Jonatas E. M. “Reality shows” e liberdade de
programação. Coimbra: Coimbra Ed., 2003, p. 38.
76
quem não tivesse de trabalhar para ganhar a vida 178 ou, fora des-
ta hipótese, como um ramo do conhecimento humano com pos-
sibilidades fortíssimas de desagregação social179, o dado é que
hoje, com o incremento das relações econômicas internacionais,
a capacidade de identificação das características culturais dos
possíveis consumidores nos mercados a serem abertos pode ser a
diferença entre o sucesso e o fracasso de um empreendimento 180.
É o conhecimento das humanidades que vem a propiciar a aqui-
sição das informações que irão orientar a decisão do agente eco-
nômico, e muitos dos indicadores dos traços culturais dos habi-
tantes do espaço onde se pretende atuar estarão na produção lo-
cal artística e literária, como diria o Conselheiro Acácio. “Nas
formações sociais pré-capitalistas, uma parte da renda das clas-
ses ditas ‘ociosas’ era utilizada direta ou indiretamente no de-
senvolvimento dos conhecimentos científicos e técnicos ou na
difusão desses conhecimentos. Não é preciso examinar aqui esse
problema, mas é preciso assinalar que essas classes ociosas de-
sempenharam (a um custo, com efeito, elevado) um papel não
negligenciável no progresso dos desenvolvimentos científicos e
técnicos. É bastante lembrar que numerosos grandes físicos, ma-
temáticos ou químicos foram membros dessas classes ‘ocio-
sas’”181. É sempre necessário recordar que as empresas realizam
pesquisas, em todas as áreas, movidas pela possibilidade de ge-
ração de lucros, e, tendo em vista que as pesquisas podem, even-
tualmente, servir a outras empresas do mesmo ramo e mesmo à
sociedade como um todo, tem sido identificada a necessidade de

178 - CIVITA, Roberto. Um dia muito especial. Veja. São Paulo, v. 41, n. 2.077, p.
112, 10 set 2008; SIMONSEN, Mário Henrique. Brasil 2001. Rio de Janeiro:
APEC, 2001, p. 222-3; FARHAT, Emil. O país dos coitadinhos. São Paulo: Com-
panhia Editora Nacional, 1966, p. 362.
179 - SIMONSEN, Mário Henrique. Brasil 2001. Rio de Janeiro: APEC, 2001, p.
68.
180 - SOUZA, Cláudio Luiz Gonçalves de. A exportação da MARCA BRASIL e o
marketing internacional. Revista de Direito Mercantil, Industrial, Econômico e
Financeiro. São Paulo, v. 44, n. 138, p. 166, abr/jun 2005; CAMARGO, Ricardo
Antonio Lucas. Advocacia Pública e Direito Econômico – o encontro das águas.
Porto Alegre: Núria Fabris, 2009, p. 218.
181 - BETTELHEIM, Charles. Planificação e crescimento acelerado. Trad. Dirceu
Lindoso. Rio de Janeiro: Zahar, 1968, p. 134.
77
atuação governamental neste campo 182. Ainda no campo dos
bens imateriais enquanto integrantes do “capital”, algo mais de-
ve ser dito sobre a transferência de tecnologia, que, no âmbito
da propriedade industrial, vem a ter um tratamento especial. O
contrato de transferência de tecnologia tem que ser “publiciza-
do”, mas a tecnologia, em si, não. Porque ela tem que ser uma
inovação que ainda não seja de conhecimento público. A essên-
cia dos contratos de transferência de tecnologia, ou de know
how, é o segredo. Recordemos que as grandes potências, por ve-
zes, desenvolveram originariamente para fins militares as tecno-
logias que utilizam em suas atividades econômicas 183. É impor-
tante ter presente que é a propriedade dos bens de produção que
se toma em consideração quando se vão discutir os modelos
econômicos 184.
 Custo: o processo de produção implica necessariamente a re-
alização de alguns sacrifícios, gastos, o suportar alguns descon-
fortos. Existem varias classificações para os custos185:

182 - SAMUELSON, Paul A. Introdução à análise econômica. Trad. Luiz Carlos


do Nascimento Silva. Rio de Janeiro: Agir, 1966, v. 2, p. 496.
183 - ROSSETTI, José Paschoal. Introdução à economia. São Paulo: Atlas, 1971, p.
103.
184 - SOUZA, Washington Peluso Albino de. Do econômico nas Constituições
vigentes. Belo Horizonte: Revista Brasileira de Estudos Políticos, 1961, v. 2, p. 42.
185 - SOUZA, Washington Peluso Albino de. Direito Econômico e Economia
Política. Belo Horizonte: Prisma, 1970, v. 1, p. 260-8 e 275; NUSDEO, Fábio.
Curso de economia política – introdução ao Direito Econômico. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2003, p. 256-9; SAMUELSON, Paul A. Introdução à análise eco-
nômica. Trad. Luiz Carlos do Nascimento Silva. Rio de Janeiro: Agir, 1966, v. 2, p.
105-111; ROSSETTI, José Paschoal. Introdução à economia. São Paulo: Atlas,
1971, p. 95-6; CARVALHO, Cristiano. A análise econômica do Direito Tributário.
In: SCHOUERI, Luís Eduardo [org.]. Direito Tributário – homenagem a Paulo de
Barros Carvalho. São Paulo: Quartier Latin, 2008, p. 198 e 201-2; MARSHALL,
Alfred. Princípios de economia. Trad. Rômulo Almeida & Ottolmy Strauch. São
Paulo: Abril Cultural, 1982, v. 2, p. 42; WIESER, Friedrich Von. Natural value.
Transl. Christian A. Malloch. http://praxeology.net/FW-NV-V-1.htm, acessado em
29 ago 2011; FORGIONI, Paula Andréa. Análise econômica do Direito: paranóia
ou mistificação? Revista de Direito Mercantil, Industrial, Econômico e Financeiro.
São Paulo, v. 44, n. 139, p. 247, jul/set 2005; POSNER, Richard. Economic analys-
is of Law. New York: Aspen, 1998, p. 56; SZTAJN, Rachel. Notas de análise eco-
nômica: contratos e responsabilidade. Revista de Direito Mercantil, Industrial,
Econômico e Financeiro. São Paulo, v. 36, n. 111, p. 11, jul/set 1998; SALOMÃO
FILHO, Calixto. Regulação e concorrência (estudos e pareceres). São Paulo: Ma-
78
(1) Contábil – compõe-se das parcelas correspondentes aos gas-
tos para a obtenção do produto.
(2) de produção – compõe-se das mesmas parcelas que o contá-
bil, computadas, entretanto, de modo que a respectiva combina-
ção leve ao melhor resultado econômico.
(3) diferencial – decorrente da comparação do comportamento
das parcelas componentes do custo de produção a partir da situa-
ção peculiar de cada empresa no mercado.
(4) marginal – é o que se refere à produção de uma unidade a
mais, situando-se no limite extremo da permanência no mercado
(5) de substituição – decorrente da reposição dos bens da mesma
espécie, após a respectiva alienação.
(6) industrial – prende-se à continuidade da produção.
(7) primário – é o que se toma em relação aos fatores da produ-
ção.
(7.1) custo de uso – referente aos desgastes dos equipamentos
empregados na produção.
(7.2) custo de fatores – referente ao pagamento dos fatores da
produção.
(8) suplementar – considerado em relação aos resultados que os
fatores da produção poderiam render em outra aplicação.
(9) para a coletividade – sacrifício de toda a coletividade e de
cada indivíduo para que o bem seja produzido.
(10) para a empresa – referente ao que esta dispende para a pro-
dução do bem.
(11) para o indivíduo – referente à apreciação do sacrifício que
faz o indivíduo para a aquisição do bem.
(12) total – somatório dos gastos para a obtenção do bem.
(13) médio – divisão do custo total pela quantidade de unidades
produzidas.
(14) unitário – o quanto se dispende na produção de uma unida-
de.
(15) parte fixa – é a que se mantém constante, independente-
mente do número de unidades produzidas, também chamada de
custo indireto ou fixo.

lheiros, 2002, p. 59; CAMARGO, Ricardo Antônio Lucas. “Custos dos direitos” e
reforma do Estado. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 2008, p. 85-7.
79
(16) parte variável – é a que se modifica, conforme a quantidade
de unidades produzidas, também chamada de custo direto ou va-
riável.
(17) constante – permanece o mesmo, qualquer que seja a quan-
tidade de unidades produzidas.
(18) crescente – aumenta conforme o número de unidades pro-
duzidas.
(19) decrescente – diminui conforme o número de unidades pro-
duzidas.
(20) ponto ótimo – relação que determina o comportamento dos
custos e a melhor combinação entre eles.
(21) inevitável – aquele que não se tem como deixar de incor-
rer, podendo-se desdobrar nos que o são:
(21.1) a curto prazo, embora a longo sejam evitáveis;
(21.2) por íntima ligação recíproca, chamados, também, conjun-
tos;
(21.3) somente para pequenos agentes, mas não para grandes;
(21.4) em todos os sentidos.
(22) associado – é o que se liga à produção, a partir de um mes-
mo esforço ou matéria prima originária, de produtos de natureza
ou finalidades diferentes.
(23) globalizado – soma dos gastos incorporados ao produto
com os que, mesmo não incidindo sobre sua formação (despesas
neutras), vêm a ser essenciais à continuidade da atividade eco-
nômica.
(24) de coação – gastos necessários à instalação e à manutenção
das posições de poder no seio das relações sociais.
(25) social – é o que se converte em externalidade negativa - de-
corrente da incapacidade dos recursos disponíveis atenderem à
necessidade apontada como prioritária.
(26) break even point ou ponto de equilíbrio – proporção entre
os custos fixos e variáveis.
(27) de oportunidade – é o que decorre do sacrifício que se faz
dos resultados da aplicação dos fatores de produção a outra ati-
vidade, ligando-se, pois, diretamente ao conceito de “curva de
indiferença”, referido no primeiro capítulo.
(28) de conformidade – é o que decorre das providências neces-
sárias ao atendimento de qualquer determinação legal, especial-
mente na área tributária.

80
(29) de transação – é o que se incorre quando se tomam as pro-
vidências para viabilizar uma transação, embora não sejam a ela
internos. Aqueles necessários ao desenvolvimento da atividade e
não se inserem propriamente na atividade em si. São os incorri-
dos com viagens, por exemplo, para o fim de se convencer al-
guém a entrar na sociedade. São aqueles custos com as chama-
das telefônicas para que a atividade possa se desenvolver. Eles
não entram em si no custo da atividade, mas se faz necessário
para que a atividade possa se concretizar.
(30) ambiental: atualmente essa questão está em voga, por causa
da pretensão da alteração do Código Florestal. Pretende-se redu-
zir o ônus das perdas das florestas, e isto implica no aumento do
custo contábil para os proprietários rurais. Pensa-se na perda dos
recursos naturais e na própria condição de habitabilidade do
planeta.
 Nacionalidade do capital: como objeto, o capital não possui
uma nacionalidade. Porém, ele se submete juridicamente a uma
nacionalidade, porque é necessário saber a que regime jurídico
ele se submete. Porque é a partir daí que se saberá o quanto po-
derá qualquer agente econômico esperar em termos de lucro.
Nós vamos discutir a questão do lucro quando chegarmos ao fa-
to econômico conhecido como repartição. O quanto uma empre-
sa estrangeira, repatriar em termos de lucro, ou seja, quanto ela
pode trazer para si em termos de lucro. Se a empresa resolveu
aventurar-se ou arriscar-se em solo estrangeiro ela deve poder
apropriar o máximo de lucro que puder, mas a questão é: qual é
o máximo que ela pode. Especialmente quando a empresa entra
num lugar e ela deva ocupar uma porção de um determinado ter-
ritório e usar de recursos naturais. Muitas vezes ela obterá favo-
res fiscais então tudo isso deve ser levado em conta. Passa-se a
disciplinar a questão da nacionalidade do capital, até mesmo pa-
ra o beneficio do próprio capital estrangeiro. O texto originário
da Constituição de 1988 distinguia, no seu artigo 171, entre em-
presas brasileiras e empresas brasileiras de capital nacional, to-
mando em consideração o fenômeno das transnacionais. A
Emenda Constitucional n. 6, de 1995, revogou o aludido dispo-
sitivo. Entretanto, a temática dos capitais estrangeiros compare-
ce em outras passagens da Constituição:

81
o Mineração: empresas de mineração devem ter sede e admi-
nistração no país, diferentemente das transnacionais.
o Comunicação social: O capital dessas empresas deve ser na-
cional, de acordo com tradição legislativa e constitucional brasi-
leira, a partir da lei de imprensa de 1934. Esse texto passou por
todas as Constituições seguintes até a de 1988. As únicas pes-
soas jurídicas que poderiam exercer controle sobre essas empre-
sas seriam os partidos políticos. A possibilidade de participação
do capital estrangeiro no setor de comunicação social somente
veio a ser admitida com a Emenda Constitucional n. 36, de
2002.
 Sobre o capital há varias questões muito mais jurídicas do
que propriamente econômicas. O grande advogado do livre co-
mercio186 para assegurar o escoamento da produção industrial
inglesa, crítico da balança comercial, do mercantilismo, defen-
sor incondicional da liberdade de mercado, elogiava as leis de
navegação de Cromwell – o responsável pela única experiência
republicana na Inglaterra - que determinavam que os produtos
ingleses só podiam circular em navios ingleses.
 Incentivos fiscais, isenções fiscais, redução de alíquota, em-
préstimos sem juros ou com juros reduzidos: instrumentos usa-
dos para reduzir os custos de produção e assegurar uma margem
de lucro ao capital. Quando se vai falar no capital, vai se falar
também nos meios para se reduzir os respectivos custos. E quais
são eles? Um dos principais é justamente a concessão de incen-
tivos públicos que se podem materializar sob a forma de incen-
tivos fiscais, incentivos creditícios, ou ainda como assistência
técnica187. Creditícios: empréstimo sem juros ou juros abaixo do
mercado. Fiscais: redução das alíquotas, redução da base de cál-
culo. Houve, durante o ciclo de medidas voltadas à recuperação
dos EUA da crise de 1929, o largo emprego de expedientes de

186 - SMITH, Adam. A riqueza das nações – uma investigação sobre a sua nature-
za e as suas causas. Trad. Luís João Baraúna. São Paulo: Nova Cultural, 1996, v. 2,
p. 92-3.
187 - GRAU, Eros Roberto. Planejamento econômico e regra jurídica. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 1978, p. 124; CASTRO, Antônio & LESSA, Carlos. Intro-
dução à economia – uma abordagem estruturalista. Rio de Janeiro: Forense, 1970,
p. 94.
82
fomento188. “O crédito fiscal dado aos investimentos em 1962
pelo Governo Kennedy-Dillon constituiu um atrativo para a
formação de capital”189. Quando se elaborou a Lei Fundamental
de Bonn, de 1949, a predominância da CDU (Christianische
Demokratische Union), partido de orientação mais voltada ao li-
beralismo econômico190, não impediu que se admitisse esta mo-
dalidade de intervenção estatal no domínio econômico 191, tradu-
zida, no caso, em subvenções para investimentos na grande in-
dústria192. Isto tem ocorrido inclusive em setores que tradicio-
nalmente seriam próprios do poder público.Vejam o caso das
parcerias público-privadas onde o poder público arca pratica-
mente com todos os custos e o parceiro privado presta os servi-
ços e obtém uma generosa remuneração. É algo que vai muito
alem de uma simples concessão que vamos estudar no Direito
Administrativo.
 O montante do capital é utilizado como critério para definir o
porte de uma empresa. Interessa, aqui, também verificar que, pa-
ra maiores empreendimentos, a captação de recursos se fará jun-
to ao público, seja mediante a emissão de papéis que materiali-

188 - KEYNES, John Maynard. Teoría general de la ocupación, el interés y el


dinero. Trad. Eduardo Hornedo. México: Fondo de Cultura Económica, 1965, p.
294.
189 - SAMUELSON, Paul A. Introdução à análise econômica. Trad. Luiz Carlos
do Nascimento Silva. Rio de Janeiro: Agir, 1966, v. 2, p. 504.
190 - ABENDROTH, Wolfgang. Der demokratische und soziale Rechtstaat aus
politischer Auftrag. In: CORTIÑAS-PELÁEZ, León [org.]. Perspectivas del Dere-
cho Público en la segunda mitad del siglo XX – homenaje a Enrique Sayagues-
Laso. Madrid: Instituto de Estudios de Administración Local, 1969, t. 1, p. 813.
191 - AUGUSTO, Ana Maria Ferraz. Incentivos – instrumentos jurídicos do desen-
volvimento. In: FRANÇA, Rubens Limongi [org.]. Enciclopédia Saraiva de Direi-
to. São Paulo: Saraiva, 1980, v. 43, p. 219; CARVALHOSA, Modesto de Souza
Barros. Direito Econômico. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1973, p. 344; FA-
RIA, Werter. Constituição Econômica – liberdades de iniciativa e de concorrência.
Porto Alegre: Sérgio Antonio Fabris, 1990, p. 120; CLARK, Giovani. O município
em face do Direito Econômico. Belo Horizonte: Del Rey, 2001, p. 208; CAMAR-
GO, Ricardo Antônio Lucas. Fomento. In: FUNDAÇÃO BRASILEIRA DE DI-
REITO ECONÔMICO. Novo Dicionário de Direito Econômico. Porto Alegre:
Sérgio Antônio Fabris, 2010, p. 233-4.
192 - ABENDROTH, Wolfgang. Der demokratische und soziale Rechtstaat aus
politischer Auftrag. In: CORTIÑAS-PELÁEZ, León [org.]. Perspectivas del Dere-
cho Público en la segunda mitad del siglo XX – homenaje a Enrique Sayagues-
Laso. Madrid: Instituto de Estudios de Administración Local, 1969, t. 1, p. 821.
83
zarão empréstimos de quem os subscrever à sociedade, seja me-
diante a emissão de papéis que convertam os respectivos titula-
res em participantes do capital193. É justamente para esta moda-
lidade de captação de recursos, de tal sorte que qualquer pessoa
possa contribuir, de alguma maneira, para a manutenção e a ex-
pansão da empresa, sem a necessidade, sequer, de contato físico
entre os sócios que se criou o tipo societário da companhia, ou
sociedade anônima194. O feixe de relações que se estabelece en-
tre os agentes que ofertam papéis representativos de uma parti-
cipação no capital das empresas e os que procuram adquirir tais
papéis é denominado “mercado de capitais”.

8.1.4. Empresa

Os fatores de produção, os recursos naturais, o trabalho e capital


tomados isoladamente, cada qual nada significariam, se não existisse
algo que os coordenasse, se não existisse algo que os colocasse e
cimentasse entre si e definisse assim, as relações entre si 195. Estamos
tomando a relação como modo ser recíproco entre entes. (interesse)
È interessante verificar que no regime militar, houve um estímu-
lo à criação de grandes empresas, conglomerados cujo ápice se dá
com a edição da Lei 6404/76, que substituiu em grande parte o De-
creto-lei 2.627/40, e a autorização de sociedades estrangeiras a se
estabelecerem aqui no Brasil.
Quando se fala na organização dos fatores da produção, imedia-
tamente vem à baila o tema do poder econômico e as formas por que
se manifesta. Claro, a mais conhecida é a concentração empresarial,
que merecerá, contudo, exame ao se versar a circulação, porquanto é

193 - SAMUELSON, Paul A. Introdução à análise econômica. Trad. Luiz Carlos


do Nascimento Silva. Rio de Janeiro: Agir, 1966, v. 1, p. 127-9.
194 - GUITTON, Henri. Economia política. Trad. Oscar Dias Correa. Rio de Janei-
ro: Fundo de Cultura, 1961, v. 2, p. 58-9.
195 - MARSHALL, Alfred. Princípios de economia. Trad. Rômulo Almeida &
Ottolmy Strauch. São Paulo: Abril Cultural, 1982, v. 1, p. 211-2; GUITTON, Henri.
Economia política. Trad. Oscar Dias Correa. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura,
1961, v. 2, p.50-1; COASE, Ronald Harry. The firm, the market and the Law. Chi-
cago: University of Chicago Press, 1988, p. 36; BARRE, Raymond. Manual de
economia política. Trad. Pierre Santos. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1970, v.
3, p. 191.
84
a este fato econômico básico que se reporta a própria noção do seu
contrário, que é a concorrência operada tanto entre vendedores quan-
to entre compradores. Quando se fala em poder econômico, o que se
quer referir é a capacidade de cada agente, público ou privado, con-
formar o cenário econômico onde se move. A atuação do poder eco-
nômico privado mediante os meios de comunicação de massa – tanto
na condição de instrumentos dos respectivos anunciantes como na de
titulares de interesse próprio196, sendo importante destacar que eram
entendidos como manufatura já nos seus primórdios 197 – no sentido
de disseminar hábitos, valores, já vinha sendo observada por estudio-
sos no início do século XIX198: o papel dos jornais na época do início
do caso Dreyfus, açulando os pruridos nacionalistas e anti-semitas
na França, humilhada pela derrota para a Alemanha na Batalha de
Sedan em 1870, prova isto199. Merecem exame, também: (1) o finan-
ciamento de campanhas de candidatos a cargos eletivos que, uma vez
logrando aprovação nas urnas, passam a nortear parte – e, em muitos
casos, o todo – de sua atuação pública no atendimento dos interesses
dos que lhe forneceram meios materiais para chegar ao poder, (2) a
maior facilidade na obtenção de informações acerca do ambiente em
que se vai operar, bem como de eliminação de fatores de risco; (3) as
capacidades200 de (3.1) determinar quando, onde e como as opera-
ções da empresa serão executadas; (3.2) acessar serviços, abasteci-

196 - LINS, Bernardo E. O estudo econômico da mídia: origens e tendências recen-


tes. In: http://www.belins.eng.br/ac03/wkpaps/ecm05CO.pdf, acessado em 12 fev
2012.
197 - SAY, Jean-Baptiste. Tratado de economia política. Trad. Balthazar Barbosa
Filho. São Paulo: Abril Cultural, 1983, p. 93.
198 - LIST, Friedrich. Sistema nacional de economia política. Trad. Manuel Sán-
chez Sarto. México: Fondo de Cultura Económica, 1942, p. 184; SALOMÃO FI-
LHO, Calixto. Monopólio colonial e subdesenvolvimento. In: BERCOVICI, Gilber-
to et allii. Direitos humanos, democracia e república – homenagem a Fábio Konder
Comparato. São Paulo: Quartier Latin, 2009, p. 168.
199 - CHEVALIER, Jean-Jacques. Le temperament politique français. In: COR-
TIÑAS-PELÁEZ, León [org.]. Perspectivas del Derecho Público en la segunda
mitad del siglo XX – homenaje a Enrique Sayagues-Laso. Madrid: Instituto de
Estudios de Administración Local, 1969, t. 1, p. 730.
200 - BERLE, Adolf A. Poder sin propiedad. Trad. Juan Carlos Pellegrini. Buenos
Aires: Tipografia Editora Argentina, 1961, p. 106-7; MACEDO, Ricardo Ferreira
de. Controle não societário. Rio de Janeiro: Renovar, 2004, p. 145; COMPARATO,
Fábio Konder. O poder de controle na sociedade anônima. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 1976, p. 31.
85
mentos, matérias-primas; (3.3) determinar o que se produzirá e o que
se venderá, incluída aí a possibilidade de abertura ou fechamento de
áreas de produção diferenciadas201, trazendo ao debate a proposição
genérica segundo a qual, numa economia de mercado, seriam mera-
mente responsivas aos sinais deste as decisões de produzir e vender
tomadas pelos agentes econômicos privados202; (3.4) fixar e adminis-
trar os próprios preços; (3.5) distribuir ou reter os próprios lucros;
(3.6) realizar liberalidades, a título de filantropia, para fins de frui-
ção de favores fiscais; (4) no âmbito interno da organização, o poder
de (4.1) empregar indivíduos; (4.2) determinar os termos das rela-
ções de emprego; (4.3) incrementar oportunidades; (4.4) promover,
beneficiar, punir ou perseguir indivíduos. Interessa notar que, quan-
do se trabalha com o poder de controle na grande empresa, a disper-
são da propriedade empresarial por vários pequenos acionistas, que
sequer precisam conhecer uns aos outros, faz com que deapareça a
pura e simples identificação entre as condições de proprietário e
controlador da empresa203. Dentre as manifestações do poder econô-
mico privado que não se inscrevem no círculo dos expedientes con-
centracionistas, chama a atenção o lobbyismo. A expressão é prove-
niente do inglês lobby, que originariamente designa o salão do hotel
e refere-se à pressão que se faz sobre autoridades, principalmente
legislativas. A capacidade de influência dos lobbies varia, conforme
o tamanho e o poderio econômico que representem. Também a in-
tensidade e o modo de atuar, que pode ir desde a simples postulação
realizada perante a autoridade, em caráter pessoal, passando pela
exploração de prestígio, para obter de agentes públicos – pouco im-
porta, no caso, se são agentes políticos ou servidores públicos – o
patrocínio de interesses privados perante a própria Administração até
chegar, mesmo, ao oferecimento de vantagens para que os agentes
públicos pratiquem ou deixem de praticar atos que são de sua com-

201 - GALVES, Carlos. Manual de economia política atual. Rio de Janeiro: Foren-
se, 1972, p. 86.
202 - ROSSETTI, José Paschoal. Introdução à economia. São Paulo: Atlas, 1971, p.
91-2.
203 - SAMUELSON, Paul A. Introdução à análise econômica. Trad. Luiz Carlos
do Nascimento Silva. Rio de Janeiro: Agir, 1966, v. 1, p. 131; BERLE, Adolf A.
Poder sin propiedad. Trad. Juan Carlos Pellegrini. Buenos Aires: Tipografia Edito-
ra Argentina, 1961, p. 86-7.
86
petência204. Deixemos a qualificação jurídica de cada uma destas
condutas para um texto jurídico, algumas delas, em relação ao Direi-
to positivo brasileiro, correspondentes mesmo a infrações penais205.
No presente momento, o que se está a fazer é indicar como, sob o
enfoque da ciência do ser, pode manifestar-se o poder econômico
privado. E, por outro lado, se tais expedientes se apresentam como
armas de guerra de que lança mão a empresa, tal conduta não entra
em absoluto em contradição com a ostentação, por parte daquele que
a comanda, das “virtudes do bom burguês”, isto é, evitar todo vício e
não andar senão em companhia de “pessoas de bem”, não ser dado a
aventuras sexuais, nem a bebedeiras nem a jogatinas, e comparecer a
todos os serviços religiosos, “porque isto é bom para os negócios” e
firma a respeitabilidade perante a coletividade 206. Quando se toma
em consideração o papel da empresa enquanto organização, pensa-se
na necessidade de se equilibrarem os interesses do crédito – sobre o
qual nos debruçaremos ao examinar a circulação – na expulsão do
mercado daqueles agentes que se mostram incapazes de atender aos

204 - GALBRAITH, John Kenneth. O novo Estado industrial. Trad. Leônidas


Gontijo de Carvalho. São Paulo: Nova Cultural, 1988, p. 226.
205 - BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Inquérito 2.245. Relator: Min. Joaquim
Barbosa. Diário de Justiça da União, 9 nov 2007; idem. Inquérito 2.280. Relator:
Min. Joaquim Barbosa. Diário de Justiça eletrônico, 26 mar 2010; idem. Recurso
extraordinário 20.562. Relator: Min. Hahnemann Guimarães. Diário de Justiça da
União. 17 set 1953; idem. Recurso em habeas corpus 65.697. Relator: Min. Carlos
Madeira. Diário de Justiça da União. 20 nov 1987; idem. Habeas corpus 97.300.
Relator: Min. Cezar Peluso. Diário de Justiça eletrônico. 7 maio 2009; idem. Inqué-
rito 2.728. Relator: Min. Carlos Alberto Menezes Direito. Diário de Justiça eletrô-
nico. 26 mar 2009; idem. Habeas corpus 87.724. Relator: Min. Gilmar Ferreira
Mendes. Diário de Justiça eletrônico. 3 abr 2008; idem. Habeas corpus 79.823.
Relator: Min. Moreira Alves. Diário de Justiça da União. 2 fev 2001; idem. Habeas
corpus 63.172. Relator: Min. Aldir Passarinho. Diário de Justiça da União. 19 dez
1985; idem. Habeas corpus 62.080. Relator: Min. Oscar Dias Correa. Diário de
Justiça da União. 1 fev 1985; idem. Recurso extraordinário 69.904. Relator: Min.
Barros Monteiro. Diário de Justiça da União. 26 nov 1971; idem. Ação Penal 231.
Relator: Min. Xavier de Albuquerque. Diário de Justiça da União. 23 fev 1979.
206 SOMBART, Werner. El burgués. Trad. Maria Pilar Lorenzo. Madrid: Alianza,
1992, p. 135; PENNA, J. O. Meira. Opção preferencial pela riqueza. Rio de Janei-
ro: Instituto Liberal, 1991, p. 116-7; WEBER, Max. A ética protestante e o espírito
do capitalismo. Trad. Tamás Smreczániy & Maria Irene de Q. F. Smreczániy. São
Paulo: Pioneira, 1994, p. 46.
87
próprios compromissos207 com os interesses de toda uma coletivida-
de de trabalhadores, consumidores e tantos mais que a empresa se
volte a atender, de tal sorte que se evite a pura e simples expulsão
daquela que ainda tenha, efetivamente, uma função social a cumprir,
embora, sem culpa, se tenha desequilibrado208.

EMPRESA: TITULARIDADE DO CONTROLE

Empresa privada: cujo titular será necessariamente um parti-


cular (pessoa física ou pessoa jurídica), que, ao empregar os respec-
tivos capitais, vem a fazê-lo do modo que lhe aprouver, de acordo
com a conformação do direito de propriedade. Neste particular, vale
a pena mencionar a intuição de um autor que, entretanto, reduzia a
somente dois – capital e trabalho - os fatores da produção: “o capita-
lista cuida em que o trabalho se realize de maneira apropriada e em
que se apliquem adequadamente os meios de produção, não se des-
perdiçando matéria-prima e poupando-se o instrumental de trabalho,
de modo que só se gaste deles o que for imprescindível à execução
do trabalho”209. Ao mesmo tempo em que se trabalha a posição do
empresário enquanto elemento de aglutinação e comando, o que se
verifica, cada vez mais, é a formação de interesses próprios da orga-
nização em si mesma, que vem a ultrapassar, mesmo, o próprio con-
trato de sociedade, para abranger o todo da “unidade econômica” 210.
A empresa privada pode variar, quanto à dimensão, desde a condição
de micro-empresa (ex: quitanda) até a de macro-empresa (ex: mega-
corporação como a Toyota), e o dimensionamento se dá mediante a

207 - SILVA, Clóvis Veríssimo do Couto e. A obrigação como processo. São Pau-
lo: José Bushatsky, 1976, p. 135.
208 - BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação Direta de Inconstitucionalidade
3.934. Relator: Relator: Min. Ricardo Lewandowski; DJ-e 5 nov 2009; COROTTO,
Suzana. Modelos de reorganização empresarial brasileiro e alemão – comparação
entre a Lei de Recuperação e Falências de Empresas (LRFE) e a Insolvenz
Ordnung (InsO) sob a ótica da viabilidade prática. Porto Alegre: Sérgio Antônio
Fabris, 2009, p. 245; CAMARGO, Ricardo Antônio Lucas. A empresa na ordem
jurídico-econômica. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 2010, p. 95.
209 - MARX, Karl. O capital. Trad. Reginaldo Sant’Anna. Rio de Janeiro; Civili-
zação Brasileira, 1975, v. 1, p. 209.
210 - SAVATIER, René. Les métamorphoses économiques et sociales du Droit
Civil d’aujourd’hui. Paris: Dalloz, 1952, p. 83.
88
mensuração do capital. Este, também, vem a se colocar como um dos
elementos aptos a permitirem a identificação da respectiva naciona-
lidade. Embora, em regra, a exploração de atividade econômica pri-
vada se movimente em direção ao lucro, é de se notar que este não
será essencial a caracterizá-la. Cooperativas são tradicionalmente
tratadas pela doutrina como empresas e tem como escopo prestar
serviços aos cooperados e não têm fins lucrativos211. É interessante
observar que o Código Civil brasileiro de 2002 recusa o caráter em-
presarial à cooperativa, qualquer que seja o respectivo objeto. É de
se ter presente que, a despeito de o Estado também organizar recur-
sos humanos e materiais para se chegar a um determinado fim, não
será aqui tratado no nível de fator de produção, salvo quando atue
como empresário, porque lhe incumbe, em caráter monopolístico, até
mesmo para que os interesses em confronto não se venham a fazer
valer mediante o exercício da violência física, o emprego da coa-
ção212.
Empresa estatal: a idéia de empresa estatal não é incompatível
com a idéia econômica liberal porque se parte do pressuposto que
aquele setor não é do interesse da iniciativa privada (retorno peque-
no, ou demorado) ou é de tal importância estratégica que não se tor-
na conveniente a sua entrega à iniciativa privada. Tal, aliás, a reda-
ção do caput do artigo 173 da Constituição Federal brasileira. Entre-
tanto, em setores explorados pela iniciativa privada, quando a con-
corrência não se mostra suficiente para assegurar a acessibilidade de
uma grande parte da coletividade a tais ou quais produtos ou servi-
ços considerados essenciais ou mesmo, em certos casos, para assegu-
rar determinadas fontes de receita não-coativas, também são criadas
estas empresas. Quando o Estado vem a concorrer como particular
ele se submete ao regime das empresas particulares (Constituição

211 - ESTRELLA, Hernani. Curso de Direito Comercial. Rio de Janeiro: José


Konfino, 1973, p. 471; BULGARELLI, Waldírio. Direito Comercial – II (conclu-
são: a empresa cooperativa). Revista de Direito Mercantil, Industrial, Econômico e
Financeiro. São Paulo, v. 11, n. 6, p. 42-3, 1972; MIRANDA, Francisco Cavalcanti
Pontes de. Tratado de Direito Privado. Rio de Janeiro: Borsoi, 1965, t. 49, p. 431-
2; MENDONÇA, José Xavier Carvalho de. Tratado de Direito Comercial brasilei-
ro. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1964, v. 4, p. 238; CAMARGO, Ricardo Antônio
Lucas. A empresa na ordem jurídico-econômica. Porto Alegre: Sérgio Antônio
Fabris, 2010, p. 161-8.
212 - PERROUX, François. Economia e sociedade. Trad. Aurora & Mário Murtei-
ra. São Paulo: Duas Cidades, 1961, p. 170.
89
Federal, artigo 173, § 1º, redação original, artigo 173, § 1º, II, na
redação da Emenda Constitucional n. 19, de 1998). É importante
salientar que tais empresas tanto podem desempenhar atividade eco-
nômica quanto prestar serviços públicos 213. Cabe um registro acerca
da existência, mesmo nos EUA, de empresas controladas pelo Poder
Público no setor de energia e, em menor escala, da produção de ma-
terial bélico214.
*Empresa pública-pessoa jurídica de direito privado, com capi-
tal totalmente público, podendo ser unipessoal (Ex: correio) ou com
mais de uma entidade da Administração Pública a participar do seu
capital. Veio a ser preconizada como forma de a Administração Pú-
blica atuar com maior flexibilidade, decorrente de sua caracterização
como pessoa jurídica de direito privado, sem, contudo, necessitar do
concurso dos particulares para o respectivo financiamento215.
*Sociedade economia mista- nesta pessoa jurídica de direito pri-
vado criada por lei, o estado como sócio majoritário, e acionistas
particulares que participam de seu capital, com todos os direitos
assegurados na legislação societária216. (Ex:) Banco do Brasil; Petro-
brás.
JOINT-VENTURES: Formalmente, não têm personalidade em-
presarial. É definido como a associação de empresas – privadas,
públicas, etc. –, visando alcançar determinados resultados comuns,
postos em acordo, embora, mesmo na relação com terceiros em face
do acordo, cada um dos partícipes deste responda autonomamente.
Durante o regime castrense no Brasil, proliferaram as joint-ventures
com a participação do Poder Público217.

213 - COMPARATO, Fábio Konder. O poder de controle na sociedade anônima.


São Paulo: Revista dos Tribunais, 1976, p. 314; SILVA, Almiro do Couto e. Con-
trole de empresas estatais. Revista de Direito Público. São Paulo, v. 13, n. 55/56, p.
115-6, jul/dez 1980.
214 - SAMUELSON, Paul A. Introdução à análise econômica. Trad. Luiz Carlos
do Nascimento Silva. Rio de Janeiro: Agir, 1966, v. 1, p. 206.
215 - BARRE, Raymond. Manual de economia política. Trad. Pierre Santos. Rio de
Janeiro: Fundo de Cultura, 1970, v. 2, p. 122-3.
216 - GUITTON, Henri. Economia política. Trad. Oscar Dias Correa. Rio de Janei-
ro: Fundo de Cultura, 1961, v. 2, p. 125.
217 - NUNES, António José Avelãs. Industrialização e desenvolvimento: a econo-
mia política do “modelo brasileiro de desenvolvimento”. Boletim da Faculdade de
Direito de Coimbra. Coimbra, v. 24/25, p. 676-7, 1982 – supl.
90
Empresas binacionais com capitais públicos: Itaipu (Sete Que-
das). Os capitais tanto do Brasil quanto do Paraguai serviram para
construir Itaipu. Esse tipo de empresa possui um regime administra-
tivo próprio, diferenciando-se dos outros tipos de empresa.
Participação do empregado na gestão da empresa: a participa-
ção do empregado é na realidade um expediente do capitalismo, o
mais evoluído que se conhece. A experiência mais significativa disso
é a da Republica Federal da Alemanha, na época em que existiam
duas Alemanhas (embora já se encontrasse registro na República de
Weimar218). Buscou-se permitir que o trabalhador percebesse a reali-
dade da empresa como algo que fizesse parte ‘dele’ também 219. Em
alguns casos, dando-lhe voz e voto, e em outros, somente voz220. A
consolidação da experiência se deu em 1951, com a consagração do
instituto em lei, declarada, por sua vez, compatível com a Lei Fun-
damental de Bonn, que, a despeito de sua declaração liberal de direi-
tos221, se auto-define como um Estado social e democrático de direi-
to222, pelo Tribunal Constitucional alemão 223. A Constituição de

218 - ABENDROTH, Wolfgang. Der demokratische und soziale Rechtstaat aus


politischer Auftrag. In: CORTIÑAS-PELÁEZ, León [org.]. Perspectivas del Dere-
cho Público en la segunda mitad del siglo XX – homenaje a Enrique Sayagues-
Laso. Madrid: Instituto de Estudios de Administración Local, 1969, t. 1, p. 809;
COMPARATO, Fábio Konder. O poder de controle na sociedade anônima. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 1976, p. 310; SALOMÃO FILHO, Calixto. Regula-
ção e concorrência (estudos e pareceres). São Paulo: Malheiros, 2002, p. 172.
219 - HICKS, John R. Uma introdução à economia. Trad. Sérgio Góes de Paula.
Rio de Janeiro; Zahar, 1972, p. 93; MYRDAL, Gunnar. Aspectos políticos da teoria
econômica. Trad. José Auto. São Paulo: Nova Cultural, 1986, p. 165; SILVA, An-
tônio Álvares da. Co-gestão no estabelecimento e na empresa. São Paulo: LTr,
1991, p. 170-1; MACEDO, Ricardo Ferreira de. Controle não societário. Rio de
Janeiro: Renovar, 2004, p. 16-7; CAMARGO, Ricardo Antônio Lucas. A empresa
na ordem jurídico-econômica. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 2010, p. 170-1.
220 - BARRE, Raymond. Manual de economia política. Trad. Pierre Santos. Rio de
Janeiro: Fundo de Cultura, 1970, v. 2, p. 34.
221 - ABENDROTH, Wolfgang. Der demokratische und soziale Rechtstaat aus
politischer Auftrag. In: CORTIÑAS-PELÁEZ, León [org.]. Perspectivas del Dere-
cho Público en la segunda mitad del siglo XX – homenaje a Enrique Sayagues-
Laso. Madrid: Instituto de Estudios de Administración Local, 1969, t. 1, p.815.
222 - TIPKE, Klaus & LANG, Joachim. Direito Tributário. Trad. Luís Dória Fur-
quim. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 2008, v. 1, p. 54; MAIER, Hans. Ver-
waltungslehre und politische Theorie. CORTIÑAS-PELÁEZ, León [org.]. Perspec-
tivas del Derecho Público en la segunda mitad del siglo XX – homenaje a Enrique
91
1967, no seu artigo 165 inciso V, participação dos trabalhadores nos
lucros da empresa ou excepcionalmente na gestão, nos termos da
lei224. E assim está posto também no inciso XI no artigo 7º da atual
Constituição Federal. Por sinal, o Supremo Tribunal Federal, ao
examinar o tema da co-gestão, caracterizou-a como endereçada so-
mente aos trabalhadores da ativa, já que são os interesses destes que
se precisariam harmonizar com os do capital 225. Nada impede que
Estados-membros e Municípios, ao criarem as respectivas empresas
estatais, estabeleçam a possibilidade dos respectivos empregados
terem participação na gestão. O que, contudo, não se pode admitir é
que norma constitucional estadual imponha como obrigatória tal
participação, já que isto implicaria a derrogação das normas sobre
organização societária, matéria de competência legislativa privativa
da União, de acordo com o artigo 22, I, da Constituição Federal226.

8.2. Circulação

8.2.1. Circulação física e circulação econômica

Quando se pensa em circulação, vem à mente a sua manifesta-


ção como circulação física. Porém, não é desta apenas que vamos
falar porque em primeiro lugar existem bens que fisicamente não
podem circular. Um bem imóvel, por exemplo, não tem como circu-
lar fisicamente. Mas isso não quer dizer que ele permaneça eterna-
mente vinculado a um mesmo titular. Ele poderá ser transferido,
mesmo que fisicamente não mude de lugar e é um bem corpóreo por
excelência. Quando procedo à negociação de bens incorpóreos, não
tenho como verificar a circulação física, também. Daí a construção

Sayagues-Laso. Madrid: Instituto de Estudios de Administración Local, 1969, t. 1,


p. 795.
223 - DUVERGER, Maurice. Os laranjais do Lago Balaton. Trad. Edgard de Brito
Chaves Júnior. Brasília: UnB, 1982, p. 168-9.
224 - LEITE, João Antônio G. Pereira. Estudos de Direito do Trabalho e Direito
Previdenciário. Porto Alegre: Síntese, 1979, p. 137-8.
225 Medida cautelar na ação direta de inconstitucionalidade 2.296. Relator: Min.
Sepúlveda Pertence. DJU 23 fev 2001.
226 - BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação direta de inconstitucionalidade
238. Relator: Min. Joaquim Barbosa. DJ-e 9 abr 2010.
92
do conceito de circulação econômica, já no início do século XIX 227.
Embora seja evidentemente relevante para o funcionamento da eco-
nomia a circulação física, tem chamado mais a atenção dos estudio-
sos a circulação econômica que não deixa de ser também circulação
jurídica. E ela se realiza mediante os mais variados contratos: troca,
compra e venda, etc.
A consideração da circulação enquanto fato econômico tem con-
seqüências muito importantes, como se verifica quando nos depara-
mos com o ICMS (Imposto de Circulação sobre Mercadorias e Ser-
viços) e o deslocamento de informações. O ICMS incide sobre a
circulação econômica. O deslocamento de um bem dentro do mesmo
Estado, no que pese traduza circulação física, não é circulação eco-
nômica, quando não haja transferência de mercadoria. Não sendo
circulação econômica, não se cobra ICMS. O ICMS é um imposto
indireto228, ou seja, o valor dele já é embutido no preço, o preço da
mercadoria não conta apenas com o preço de custo de produção e do
custo da aquisição. Ele conta também o valor do ICMS que será
repassado ao consumidor. Ele é um típico caso de um tributo que ao
ser pago, o contribuinte não perde dinheiro, ele repassa ao Fisco o
que já fora cobrado ao consumidor229.

8.2.2. Mercado – concorrência, concentração, preços

Um dos pontos mais caros à Economia Clássica é o do estabele-


cimento dos preços no mercado a partir do mecanismo da oferta e da
procura, no sentido de que uma grande oferta implica a queda dos
preços, ao passo que a redução dela implicará a respectiva majora-
ção. Já a procura, ao aumentar, implica, proporcionalmente redução
da oferta e, com isto, os preços aumentam, ao passo que ao diminuir,
haverá a diminução dos preços. Há uma pressuposição da existência
de uma multiplicidade de agentes, tanto de um lado como de outro.
Cada lado francamente informado da capacidade do bem satisfazer

227 - SAY, Jean-Baptiste. Tratado de economia política. Trad. Balthazar Barbosa


Filho. São Paulo: Abril Cultural, 1983, p. 273.
228 - HICKS, John R. Uma introdução à economia. Trad. Sérgio Góes de Paula.
Rio de Janeiro; Zahar, 1972, p. 187.
229 - BALEEIRO, Aliomar. Uma introdução à ciência das finanças. Rio de Janei-
ro: Forense, 1986, p. 264.
93
as necessidades e da qualidade do bem ofertado. Pressupõe-se que
do lado da oferta e da procura, estejam uma multiplicidade de agen-
tes com condições iguais, correndo juntos, competindo e esta compe-
tição entre eles na busca da satisfação das respectivas necessidades
tendo por norte a satisfação do interesse próprio de cada qual, tem
como efeito o estabelecimento natural de um equilíbrio entre as po-
sições conflitantes. Cabe observar que não há oferta e procura so-
mente em relação ao mercado consumidor, pois os fornecedores
também demandam os recursos materiais e humanos – os “fatores de
produção” – necessários ao desenvolvimento das respectivas ativi-
dades. Tal procura é “derivada indiretamente da procura do consu-
midor pelo produto final”230. Num contexto denominado “concorrên-
cia perfeita”, uma mão invisível seria a responsável pelo estabeleci-
mento do ponto de equilíbrio entre estes egoísmos. O egoísmo apa-
receria como um vício virtuoso que conduziria ao progresso 231, ha-
vendo, mesmo, dentre os continuadores dos liberais clássicos, quem
sustente que “las clases inferiores tienen necesidad de una moral
humanitária, que sirva también para dulcificar sus sentimientos. Si
las clases superiores no la acogen más que en la forma, el mal no es
grande; pero si, por el contrario, la siguen realmente, resultan gran-
des males para la sociedad. Ya se ha señalado que los pueblos tienen
necesidad de ser gobernados con mano de hierro con guante de ter-

230 - SAMUELSON, Paul A. Introdução à análise econômica. Trad. Luiz Carlos


do Nascimento Silva. Rio de Janeiro: Agir, 1966, v. 2, p. 184.
231 - SMITH, Adam. A riqueza das nações – uma investigação sobre a sua nature-
za e as suas causas. Trad. Luís João Baraúna. São Paulo: Nova Cultural, 1996, v. 1,
p. 74; GOSSEN, Hermann Heinrich. The laws of human relations and the rules of
human action derived therefrom. Transl. Rudolph C. Blitz. Cambridge: The MIT,
1983, p. 187; VEBLEN, Thorstein. A teoria da classe ociosa. Trad. Olívia Krahen-
bühl. São Paulo: Abril Cultural, 1983, p. 82; BASTIAT, Claude-Frédéric. A lei.
Trad. Ronaldo da Silva Legey. Rio de Janeiro: José Olympio/Instituto Liberal,
1987, p. 70-1; WALRAS, Léon. Compêndio dos elementos de economia política
pura. Trad. João Guilherme Vargas Netto. São Paulo: Nova Cultural, 1996, p. 265;
MISES, Ludwig Von. O intervencionismo. Trad. José Joaquim Teixeira Ribeiro.
Boletim da Faculdade de Direito de Coimbra. Coimbra, v. 20, p. 437, 1945; SA-
MUELSON, Paul A. Introdução à análise econômica. Trad. Luiz Carlos do Nasci-
mento Silva. Rio de Janeiro: Agir, 1966, v. 2, p. 150; SOMBART, Werner. El bur-
gués. Trad. Maria Pilar Lorenzo. Madrid: Alianza, 1992, p. 180; MYRDAL, Gun-
nar. Aspectos políticos da teoria econômica. Trad. José Auto. São Paulo: Nova
Cultural, 1986, p. 48-50; SEN, Amartya. Desenvolvimento como liberdade. Trad.
Laura Teixeira Motta. São Paulo: Companhia das Letras, 2010, p. 326.
94
ciopilo”232. No limite, a exigência de uma moral rígida para os infe-
riores que precisam justificar o porquê de dividirem o espaço terres-
tre com os seus superiores, que, sob pena de fraqueza, estariam dela
plenamente liberados, foi ilustrada pelo roteiro de Hume Cronyn
filmado por Alfred Hitchcock – Festim diabólico [Rope – EUA,
1948] -, na figura de dois estudantes que eliminam um colega de
classe exatamente por isto, por se entenderem “superiores” em face
de um “inferior”. A vontade de superar as barreiras para o gozo de
uma situação de conforto, de tranqüilidade, muitas vezes, vem mani-
festada como desejo de sobrepujar os demais, buscando a respeitabi-
lidade e, mesmo, o poder233 – manifestação, mesmo, da vontade em
direção ao poder, trabalhada poeticamente, tanto n’ O anel do nibe-
lungo quanto no Parsifal, por Richard Wagner e filosoficamente por
Friedrich Nietzsche -. Em suma, a falta de escrúpulos e a esperteza
são consideradas verdadeiras virtudes, principalmente se vierem
acompanhadas pela aparência de respeitabilidade234. Isto tudo so-
mente vai se verificar em sociedades em que haja a possibilidade da
troca de excedentes, que nada mais são do que aquilo que se produz
além das necessidades do indivíduo.
A concorrência no mercado tende a se auto-destruir, constatação
feita, inclusive, historicamente, antes mesmo do advento do mercan-
tilismo: “a livre concorrência, para não degenerar rapidamente em
formas imperfeitas de mercado, exige, mais que qualquer outro re-
gime, total regulamentação e estrito controle. O regime de laissez
faire não cria mercados perfeitos, pois dá oportunidade ao mais forte
de liquidar os mais fracos ou de reduzi-los ao comportamento subor-
dinado. A concorrência pura, na forma que existiu nos mercados de
gêneros alimentícios das cidades medievais, não é propícia ao de-
senvolvimento da economia capitalista, pois reduz os lucros ao mí-
nimo”235. Nem sempre existe um número grande de concorrentes,

232 - PARETO, Vilfredo. Manual de economia política. Trad. Guillermo Cabanel-


las. Buenos Aires: Atalaya, 1945, p. 107.
233 - VEBLEN, Thorstein. A teoria da classe ociosa. Trad. Olívia Krahenbühl. São
Paulo: Abril Cultural, 1983, p. 19.
234 - SOMBART, Werner. El burgués. Trad. Maria Pilar Lorenzo. Madrid: Alian-
za, 1992, p. 190.
235 - FURTADO, Celso. Teoria e política do desenvolvimento econômico. São
Paulo: Companhia Editora Nacional, 1969, p. 138; SOMBART, Werner. El apogeo
del capitalismo. Trad. Vicente Caridad. México: Fondo de Cultura Económica,
1946, v. 2, p. 52-3.
95
seja do lado da oferta, seja do lado da procura. Podem ser poucos
(oligopsônio, do lado da procura, oligopólio, do lado da oferta) ou
um só (monopsônio, do lado da procura, monopólio, do lado da ofer-
ta) os agentes em um dos pólos, podendo, em tese, forçar a balança
do mercado a tender para o respectivo lado. O progresso tecnológico
aumentando o montante a ser investido por parte dos concorrentes
para se manterem no mercado, a maior possibilidade de algumas
empresas discriminarem mercados e diferenciarem produtos, bem
como o acesso desigual a fontes públicas e privadas de financiamen-
to vêm a ser apontados como causas do processo oposto à concor-
rência, a concentração236. Quando começam a surgir os TRUSTES,
resultado da luta entre empresas nas quais uma delas acaba sendo a
vencedora, ou os cartéis, que são as combinações que se estabelecem
entre as empresas para determinarem certas práticas para com os
seus clientes, entramos justamente na gravíssima questão do uso e do
abuso do poder econômico237. Mesmo antes de fazer fortuna o pen-
samento liberal, “a luta contra a situação privilegiada, legal ou de
fato, de algumas companhias de comércio no século XVI e XVII
pode ser facilmente comparada com a moderna tendência contra os
trustes”238. Se a concorrência não for tutelada, a autodeterminação do
consumidor se vê reduzida. “Si son muchas las ramas de la produc-
ción monopolizadas o trustificadas no tendría objeto que elevarse sus
precios para hacer una competencia encarnizada”239. Doutra parte,
quando falamos em circulação, temos que lembrar que muitas vezes,
para a comercialização de certo bens, são impostas determinadas
condições. No comércio exterior, tem sido considerada uma barreira
tarifária, em alguns casos, no caso do selo verde (o produto, em sua
elaboração, deve provocar o mínimo impacto possível para o meio

236 - NUSDEO, Fábio. Curso de economia política – introdução ao Direito Eco-


nômico. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003, p. 278-9.
237 - COMPARATO, Fábio Konder. O poder de controle na sociedade anônima.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 1976, p. 403-4; SILVA, Clóvis Veríssimo do
Couto e. A obrigação como processo. São Paulo: José Bushatsky, 1976, p. 25-6;
CAMARGO, Ricardo Antônio Lucas. A empresa na ordem jurídico-econômica.
Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 2010, p. 132-3.
238 - WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo. Trad. Tamás
Smreczániy & Maria Irene de Q. F. Smreczániy. São Paulo: Pioneira, 1994, p. 54-5.
239 - WICKSELL, Knut. Lecciones de economía política. Trad. Francisco Sánchez
Ramos. Madrid: Aguilar, 1947, p. 396.
96
ambiente). As vezes condicionamentos podem ser compensados, seja
por certas desonerações, seja no aspecto do crédito subsidiado.
Resolveu-se estruturar todo um sistema para a formação de con-
glomerados, captar a poupança popular como objetivo de enfrentar a
concorrência com as grandes empresas transnacionais. O que se en-
tendia que as empresas privadas nacionais estavam imprensadas
entre as transnacionais e as empresas estatais, e que a concorrência
ficaria melhor tutelada pela formação das macro-empresas do que
pela atuação repressiva do Conselho Administrativo de Defesa Eco-
nômica, criado em 1962, que teve francamente amesquinhadas as
suas tarefas, no dizer de um grande Professor da Universidade Fede-
ral do Rio Grande do Sul240. O efeito disto: não consta que o País se
tenha tornado mais competitivo por conseqüência da criação dos
grandes conglomerados. Em 1986 o Professor Werter Faria, ao as-
sumir a Presidência do CADE, imprimiu-lhe uma nova dinâmica que
o fez passar a ter uma atuação mais efetiva241.
O preço é o resultado final entre o máximo que alguém está dis-
posto a pagar e o mínimo que alguém está disposto a receber, seja no
que tange a economia, ao trabalho, serviços, imóveis. Mas não é
somente desta forma que se constituem os preços, como se poderá
ver a partir das classificações abaixo:

 Preços orientados: decorrentes da fixação de coordenadas


pelo Poder Público a respeito das atividades dos agentes priva-
dos.
 Preços regulados: estabelecidos por expedientes de regulação
de mercado, sejam públicos ou privados, fixando-se margem en-
tre o mínimo e o máximo que se entenda como apto a traduzir
um lucro razoável
 Preços administrados: decorrentes da posição de supremacia
da empresa no mercado, possibilitando a obtenção da margem

240 - FARIA, Werter R. Constituição Econômica – liberdades de iniciativa e de


concorrência. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 1990, p. 76.
241 - SOUZA, Washington Peluso Albino de. Werter Faria – apóstolo da livre
concorrência. In: CAMARGO, Ricardo Antonio Lucas [org.]. Títulos de crédito,
concorrência e MERCOSUL – estudos em memória do Professor Werter R. Faria.
Porto Alegre: Sérgio Antonio Fabris, 2008, p. 110.
97
de lucro não distribuída aos acionistas e que constituirá para ela,
empresa, a maior parte do ativo patrimonial 242
 Preços tabelados: impostos pelo Poder Público, mediante o
estabelecimento de uma quantia fixa, predeterminada em ato
normativo243.

8.2.3. Moeda, inflação e crédito

A moeda vai ser considerada expressão de soberania 244, formu-


lação que, no entanto, merecerá reexame diante das teses que se têm
erguido, nos últimos tempos, quanto à necessidade de se “despoliti-
zar” a moeda, conferindo-se maior autonomia aos Bancos Centrais.
De todos os países da União Européia, a Inglaterra tem a moeda
mais forte; ainda tem lastro em ouro. Para um bem se tornar um
meio universal de troca – medida de valor – é necessário que alguém
possa a atribuir a esse bem um valor e quem pode fazê-lo é quem
possui poder de coerção245. Quanto ao tema da desvalorização ou
valorização das moedas nacionais em face das estrangeiras, ficará
reservado, para tratamento em maior profundidade, ao capítulo sobre
economia internacional. É de se tomar, ainda, em consideração, a Lei
de Gresham (atribuída a Sir Thomas Gresham, financista da Rainha
Elizabeth I, da Inglaterra, que, na realidade, sequer chegou a enun-

242 - COMPARATO, Fábio Konder. Aspectos jurídicos da macro-empresa. São


Paulo: Revista dos Tribunais, 1970, p. 22.
243 - CAGGIANO, Mônica Herman Salem. Controle do mercado por via de tabe-
lamento. Revista de Direito Público. São Paulo, v. 25, n. 100, p. 43, out/dez 1991
244 - BODIN, Jean. Los seis libros de la República. Trad. Pedro Bravo Gala. Ma-
drid: Tecnos, 2006, p. 82-3.
245 - BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso extraordinário 478.410. Rela-
tor: Min. Eros Grau. DJ-e 14 maio 2010; SILVA, Clóvis Veríssimo do Couto e. A
obrigação como processo. São Paulo: José Bushatsky, 1976, p. 182; HEDEMANN,
Justus Wilhelm. Tratado de Derecho Civil. Trad. Jaime Santos Briz. Madrid: Edito-
rial Revista de Derecho Privado, 1958, v. 3, p. 91; NUSSBAUM, Arthur. Derecho
Monetário nacional e internacional. Trad. Alberto D. Schoo. Buenos Aires: Arayú,
1954, p. 15; COPÉRNICO, Nicolau. Pequeno tratado da primeira invenção das
moedas. In: ORESME, Nicole & COPÉRNICO, Nicolau. Raízes do pensamento
econômico. Curitiba: Segesta, 2004, p. 103; SOUZA, Washington Peluso Albino
de. Primeiras linhas de Direito Econômico. 6ª ed. São Paulo: LTr, 2005, p.502;
CAMARGO, Ricardo Antonio Lucas. Mercado de precatórios e crédito tributário.
Porto Alegre: Sérgio Antonio Fabris, 2008, p. 25-6.
98
ciá-la), segundo a qual a moeda má expulsa a moeda boa, no sentido
de que há a tendência a guardarmos esta – logo, retirá-la de circula-
ção -, para utilizarmos aquela para atender a nossos credores e for-
necedores, de tal sorte que se coloca presente a necessidade de que
somente uma moeda efetivamente circule246. No Brasil, o órgão de
cúpula da política monetária é o Conselho Monetário Nacional, co-
legiado criado pela Lei 4.595, de 1964, ao qual compete determinar
tanto a adaptação do volume dos meios de pagamento às necessida-
des reais da economia como orientar a aplicação dos recursos das
instituições financeiras bem como normatizar as respectivas ativida-
des, disciplinar o câmbio, autorizar a emisão de papel-moeda pelo
Banco Central, e várias outras atribuições que não serão esmiuçadas
presentemente247. Já o Banco Central – cuja criação pela Lei 4.595,
de 1964, decorreu de recomendação da Conferência Financeira In-
ternacional, reunida em Bruxelas em 1920248 – é uma autarquia fede-
ral, que desempenha o papel de normatizar, executar e fiscalizar o
cumprimento de disposições legais e resoluções do Conselho Mone-
tário Nacional, com atribuições, ainda, de emissão de moeda, contro-
le do crédito, controle de capitais estrangeiros, controle de câmbio,
proibida a atuação como banco em relação ao público em geral249.
Durante muito tempo, os estudos sobre a circulação enfatizaram
a política monetária, por conta das oscilações do valor da moeda 250.
A situação, em realidade, era já conhecida desde a Antiguidade, ten-
do-se notícia de um fragmento de Papiniano inserto no Digesto, no
qual se encontra a afirmativa de que, em se tratando de dinheiro, não
deve ser cogitada a aparência, mas sim a respectiva quantidade, pre-

246 - GIDE, Charles. Compêndio de Economia Política. Trad. F. Contreiras Rodri-


gues. Porto Alegre: Globo, 1933, p. 216-8; SILVA, Clóvis Veríssimo do Couto e. A
obrigação como processo. São Paulo: José Bushatsky, 1976, p. 190-1; GUDIN,
Eugênio. Princípios de economia monetária. Rio de Janeiro: Agir, 1954, v. 1, p. 52.
247 - MOREIRA, Egon Bockmann. Conselho Monetário Nacional, Banco Central
do Brasil e Comissão de Valores Mobiliários: considerações acerca de sua natureza
jurídica, em face das chamads “agências administrativas”. Revista Trimestral de
Direito Público. São Paulo, n. 25, p. 190, 1999
248 - BALEEIRO, Aliomar. Banco Central. In: SANTOS, João Manoel Carvalho
[org.]. Repertório enciclopédico do Direito brasileiro. Rio de Janeiro: Borsoi, [s/d],
v. 5, p. 302.
249 - NUSDEO, Fábio. Curso de economia política – introdução ao Direito Eco-
nômico. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003, p. 316.
250 - RIPERT, Georges. La règle morale dans les obligations civiles. Paris: LGDJ,
1949, p. 152.
99
nunciando uma “teoria quantitativa da moeda”. Durante a Baixa
Idade Média, com o esboroamento do sistema feudal e a revaloriza-
ção do Direito Romano, os glosadores, notadamente Acúrsio, viriam
a sustentar que o valor real da moeda seria expresso pela quantidade
de metal que continha. Com o fortalecimento da autoridade do Prín-
cipe, distinguir-se-iam o valor extrínseco, que seria imposto por ato
de força, ao se lhe determinar o nome e o valor nominal correspon-
dente, e o valor intrínseco, que corresponderia ao valor real, que não
teria como ser modificado251. O advento do Absolutismo, com o
reforço das prerrogativas inerentes à soberania, vai trazer como uma
das principais conseqüências a moeda afiançada pelo Poder Público
como apta a liberar o devedor da respectiva obrigação 252. Jean Bo-
din, em 1568, sustentava que o poder aquisitivo da moeda variaria
no sentido inverso ao da quantidade de ouro e prata em circulação253.
Tal variação, que pode ser tanto no sentido positivo – deflação –
como no sentido negativo – inflação –, provoca, como é óbvio, alte-
rações profundas na definição das obrigações, seja as que têm ori-
gem negocial, seja as que têm origem em títulos de outra natureza,
como é o caso da responsabilidade por danos 254. No que tange à in-

251 - SOUZA, Washington Peluso Albino de. Direito Econômico e Economia


Política. Belo Horizonte: Prisma, 1970, v. 1, p. 309-311; NUSSBAUM, Arthur.
Derecho Monetário nacional e internacional. Trad. Alberto D. Schoo. Buenos
Aires: Arayú, 1954, p. 317; ASCARELLI, Tullio. Problemas das sociedades anô-
nimas e Direito Comparado. São Paulo: Saraiva, 1969, p. 15-6.
252 - CHIARA, José Tadeu de. Moeda – III. In: FRANÇA. Rubens Limongi [org.].
Enciclopédia Saraiva de Direito. São Paulo: Saraiva, 1981, v. v. 58, p. 140; SAVI-
GNY, Friedrich Carl Von. Le obbligazioni. Trad. Giovanni Pacchioni. Torino:
UTET, 1912, p. 414-5; MARTINS-COSTA, Judith Hofmeister. Comentários ao
novo Código Civil. Rio de Janeiro: Forense, 2005, v. 5, t. 1, p. 235.
253 - NUNES, Antonio José Avelãs. Uma introdução à economia política. São
Paulo: Quartier Latin, 2008, p. 319.
254 - GÉNY, François. Quelques observations sur le role et les pouvoirs d l’État en
matière de monnaie et de papier-monnaie. In: DUGUIT, Léon et allii. Mélanges
Maurice Hauriou. Paris: Sirey, 1929, p. 417-9; WALD, Arnoldo. A cláusula de
escala móvel. São Paulo: Max Limonad, 1956, p. 28-30; NUSSBAUM, Arthur.
Derecho Monetário nacional e internacional. Trad. Alberto D. Schoo. Buenos
Aires: Arayú, 1954, p. 24; PEREIRA, Caio Mário da Silva. Estabelecimento da
cláusula de escala móvel nas obrigações em dinheiro – a valorização dos créditos
em face do fenômeno inflacionário. Revista Forense. Rio de Janeiro, v. 52, n. 157,
p. 54-5, jan/fev 1955; FONSECA, Arnoldo Medeiros da. Caso fortuito e teoria da
imprevisão. Rio de Janeiro: Forense, 1958, p. 345; GRAU, Eros Roberto. Princípio
d equibalência e o equilíbrio econômico e financeiro do contrato. Revista de Direito
100
flação, “considerada pelas correntes de pensamento econômico bra-
sileiro, estabeleceu-se desde logo uma oposição entre os monetaris-
tas, que a tomam como um fenômeno monetário, e os estruturalistas,
que a abordam como decorrência do funcionamento de toda a eco-
nomia”255. Com efeito, o pensamento estruturalista parte do pressu-
posto da existência de desajustamentos estruturais da economia 256.
As exportações de bens primários, não se expandindo em velocidade
suficiente ante a lentidão do crescimento da demanda internacional,
a rigidez da oferta de alimentos ante o caráter arcaico da estrutura
agrária, a insuficiência dos serviços de utilidade pública conduziri-
am, sempre, ao estabelecimento de pressões inflacionárias257. “A
escassez extrema de um fator de produção ou de elemento essencial
desta, como a energia elétrica ou os transportes, pode embaraçar a
utilização dos demais fatores ou elementos acaso existentes em
suficiência ou até abundância. São os pontos de estrangulamento
(bottlenecks; goulots d’étranglement) responsáveis, em parte, pela
inflação ou pelo subdesenvolvimento”258. Pode-se dizer que a con-
cepção estruturalista parte do pressuposto de que o controle da infla-
ção se deve dirigir muito mais às causas – ações de ordem estrutural
– do que aos efeitos respectivos – ações de ordem conjuntural -.
“Quando a inflação resulta de causas conjunturais mais ou menos
profundas, os resultados da luta anti-inflacionária são mais prontos.
Quando, porém, tais causas são de ordem estrutural – isto é, quando
provêm da organização defeituosa da economia do país, ou do seu
funcionamento defeituoso -, há que remover, retificar ou substituir
situações velhas e enraizadas, não só na atividade econômica, mas
nos costumes sociais, na psicologia do povo, no funcionamento da
Administração Pública e na mentalidade dos políticos. A luta contra

Público. São Paulo, v. 20, n. 96, p. 64-5, out/dez 1990; CAMARGO, Ricardo Antô-
nio Lucas. A empresa na ordem jurídico-econômica. Porto Alegre: Sérgio Antônio
Fabris, 2010, p. 71-3.
255 - SOUZA, Washington Peluso Albino de. Direito Econômico. São Paulo: Sa-
raiva, 1980, p. 537.
256 - FURTADO, Celso. Teoria e política do desenvolvimento econômico. São
Paulo: Companhia Editora Nacional, 1969, p. 248.
257 - BIELSCHOWSKY, Ricardo. Pensamento econômico brasileiro. Rio de Janei-
ro: Contraponto, 2000, p. 24; SEN, Amartya. Desenvolvimento como liberdade.
Trad. Laura Teixeira Motta. São Paulo: Companhia das Letras, 2010, p. 185-7.
258 - BALEEIRO, Aliomar. Uma introdução à ciência das finanças. Rio de Janei-
ro: Forense, 1986, p. 50.
101
a inflação não pode deixar de ser acompanhada por medidas sociais,
educacionais, jurídicas, políticas”259. As teses estruturalistas, no Bra-
sil, vieram a ser desprestigiadas a partir de 1964, ao argumento de
uma suposta “base marxista”260, algo que, além de sob o estrito pon-
to de vista da lógica formal não ser suficiente para o comprometi-
mento da veracidade da proposição no seu mérito, 261 não correspon-
de à realidade, consoante demonstra um dos mais sérios autores
marxistas em língua portuguesa262: “os estruturalistas não foram
capazes de se libertar inteiramente dos preconceitos ideológicos de
uma ciência econômica supostamente ‘neutral’ e ‘apolítica’, e de
elaborar uma teoria capaz de atuar como um fator de transformação
social (G. Myrdal). Daí a pouca atenção dada à inserção de países
subdesenvolvidos no espaço do capitalismo como sistema dominante
à escala mundial e à importância deste fato na determinação da sua
situação de países de desenvolvimento impedido. Daí a quase total
ausência da análise do poder e da propriedade (e sua transformação)
como elemento fundamental de estudo das estruturas sociais e das
lutas sociais (de que a inflação é uma das manifestações)”. E, de
fato, um dos textos mais representativos da escola estruturalista
aponta para um caráter preocupante da desestabilização – perspecti-
va que estaria bem longe da marxista, que tomaria esta como benéfi-
ca no sentido de abrir o caminho para a revolução como “único meio
de superar o capitalismo”263 – decorrente do tratamento da inflação

259 - GALVES, Carlos. Manual de economia política atual. Rio de Janeiro: Foren-
se, 1972, p. 300; MARTINS-COSTA, Judith Hofmeister. Comentários ao novo
Código Civil. Rio de Janeiro: Forense, 2005, v. 5, t. 1, p. 249.
260 - MÜLLER, Johannes. Dependência; teoria da dependência. Trad. Bruno Jorge
Hammes. In: ENDERLE, Georges et allii. Dicionário de ética econômica. São
Leopoldo: UNISINOS, 1997, p. 144; SIMONSEN, Mário Henrique. Brasil 2001.
Rio de Janeiro: APEC, 2001, p. 68.
261 - SCHOPENHAUER, Arthur. A arte de ter razão exposta em 38 estratagemas.
Trad. Alexandre Krug. São Paulo: Martins Fontes, 2001, p. 67; CAMARGO, Ricar-
do Antonio Lucas. Interpretação jurídica e estereótipos. Porto Alegre: Sérgio An-
tônio Fabris, 2003, p. 127-8.
262 - NUNES, António José Avelãs. Industrialização e desenvolvimento: a econo-
mia política do “modelo brasileiro de desenvolvimento”. Boletim da Faculdade de
Direito de Coimbra. Coimbra, v. 24/25, p. 234-6, 1982 – supl.
263 - MARX, Karl & ENGELS, Friedrich. Manifesto of the Communist Party.
Transl Samuel Moore. London: Encyclopaedia Britannica, 1952, p. 424; LENIN,
Vladimir Ilitch Ulianov. O Estado e a revolução. [s/t]. Lisboa: Avante, 1983, p. 29-
30.
102
como fenômeno puramente monetário: “não costuma ser difícil man-
ter a estabilidade da moeda em situações de relativo estancamento
econômico e social, baseado num regime anacrônico de propriedade
da terra e de distribuição de renda com escasso grau de mobilidade
social. Mas cedo ou tarde surgem pressões sociais que conspiram
contra esse precário equilíbrio, dando impulso a pressões inflacioná-
rias que terminam facilmente com a estabilidade monetária” 264. Na
concepção monetarista, a pujança da moeda é considerada o ideal
para o bom funcionamento da economia de mercado, e a inflação há
de ser entendida como um fenômeno puramente monetário, decor-
rente da atuação das autoridades, e merece ser combatida a qualquer
custo. Tal concepção veio a fazer-se presente na Alemanha, mais
especificamente na zona de ocupação inglesa, no período que medeou
o final da II Guerra Mundial e a elaboração da Lei Fundamental de
Bonn: com efeito, ali se enfatizou a necessidade de estabilizar o va-
lor da moeda como medida urgente265. A necessidade de se aumentar
a poupança interna, com a redução da procura global, porquanto com
isto se reduziria a necessidade de moeda para cobrir déficits e para a
oferta de crédito ao setor privado, imporia a retração do Estado, por-
que o livre jogo das forças de mercado garantiria, a longo prazo, o
crescimento sem inflação e sem desequilíbrios 266. Note-se que os
monetaristas, neste particular, não deixam de se alinhar com os “neo-
liberais” no que tange a tratar as despesas com o trabalho como o
grande responsável pelo aumento dos preços em geral, em virtude do
gravame que representam nos custos de produção, como se pode
exemplificar com o pronunciamento de um dos mais ilustres repre-

264 - PREBISCH, Raúl. Dinâmica do desenvolvimento latino-americano. Trad.


Vera Neves Pedroso. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura Econômica, 1964, p. 196.
265 - ABENDROTH, Wolfgang. Der demokratische und soziale Rechtstaat aus
politischer Auftrag. In: CORTIÑAS-PELÁEZ, León [org.]. Perspectivas del Dere-
cho Público en la segunda mitad del siglo XX – homenaje a Enrique Sayagues-
Laso. Madrid: Instituto de Estudios de Administración Local, 1969, t. 1, p. 814;
GUDIN, Eugênio. Princípios de economia monetária. Rio de Janeiro: Agir, 1954,
v. 1, p. 253.
266 - NUNES, António José Avelãs. Industrialização e desenvolvimento: a econo-
mia política do “modelo brasileiro de desenvolvimento”. Boletim da Faculdade de
Direito de Coimbra. Coimbra, v. 24/25, p. 213-4, 1982 – supl.; SIMONSEN, Mário
Henrique. Brasil 2001. Rio de Janeiro: APEC, 2001, p. 258; FRIEDMAN, Milton.
Capitalismo e liberdade. Trad. Luciana Carli. São Paulo: Abril Cultural, 1984, p.
43-4.
103
sentantes desta última escola de pensamento: “no cálculo do patrão
não entra somente o salário, mas todos os encargos provenientes do
emprego do seu trabalhador”267. Registre-se a referência ao dilema
entre “inflação” e “desemprego”, no sentido de que, sendo as medi-
das para combater a este um fortíssimo elemento de pressão para o
alto, o inverso poderia conduzir à moderação ou à gradativa elimina-
ção do aumento de preços. A aceitação, sem reservas, da recíproca
implicaria a negação da experiência histórica de inflação concomi-
tante à recessão268. A política antiinflacionária levada a cabo por
Roosevelt durante a II Guerra embasava-se nos seguintes pontos: “1)
impostos pesados; 2) tabelamento; 3) estabilização do preço recebido
pelos agricultores; 4) estabilização dos salários; 5) venda do bônus
de guerra; 6) racionamento; e 7) desencorajamento das compras a
crédito e a prestações”269. Em períodos de inflação, tem sido comum
a adoção de uma grande diversidade de índices para a respectiva
mensuração, notabilizando-se as discussões em torno da sistemática
de reajuste adequada aos contratos de mútuo vinculados ao Sistema
Financeiro da Habitação270. É de se notar que nem sempre é mal
vista a depreciação monetária, como se pode exemplificar com esta
passagem do positivista Charles Gide 271: “a depreciação da moeda
tem por conseqüência ordinária a alta dos preços. Ora, a alta dos
preços é estimulante e útil à produção; mantém animado o espírito
de empresa, favorece a alta dos salários, atua como tônico, é o siste-
ma da boa saúde econômica”.
Quando se fala em moeda, imediatamente nos vêm à idéia as
instituições financeiras. Surgidas, efetivamente, para serem as depo-
sitárias dos valores em negociação, sua importância começa a cres-
cer de vulto durante a Idade Média, quando elas se tornam as deposi-

267 - MISES, Ludwig von. O intervencionismo. Trad. José Joaquim Teixeira Ribei-
ro. Boletim da Faculdade de Direito de Coimbra. Coimbra, v. 20, p. 462, 1945.
268 - SAMUELSON, Paul A. Introdução à análise econômica. Trad. Luiz Carlos
do Nascimento Silva. Rio de Janeiro: Agir, 1966, v. 1, p. 468.
269 - BARRETO, Alberto Deodato Maia. Manual de ciência das finanças. São
Paulo: Saraiva, 1971, p. 279.
270 - BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Agravo regimental no recurso especial
616765. Relator: Min. Luís Felipe Salomão. DJ-e 24 ago 2011; idem. Agravo regi-
mental no recurso especial 1040275. Relator: Min. Herman Benjamin. DJ-e 30
maio 2011.
271 - Compêndio de Economia Política. Trad. F. Contreiras Rodrigues. Porto
Alegre: Globo, 1933, p. 211.
104
tárias da moeda metálica a ser empregada nas negociações, trocando-
a por documentos de mais fácil transporte e menor risco de serem
subtraídos pelos salteadores de estrada. Daí por que se diz que tais
instituições se voltariam muito mais a negociar créditos, propriamen-
te, do que dinheiro, isto é, voltar-se-iam à troca de uma riqueza pre-
sente por uma riqueza futura, representada em um documento em
favor do credor, de tal sorte que se apresentam como uma verdadeira
infra-estrutura catalisadora da realização de atividades as mais diver-
sas, sobretudo no que tange à facilitação das operações de compra e
venda272. Torna-se necessário destacar que os bancos e demais insti-
tuições financeiras – cuja disciplina geral, no Brasil, está na Lei
4.595, de 1964 -, ao lado das funções de depositários e intermediá-
rios do numerário, desempenham a de materialização do crédito, isto
é, de ofertar os recursos financeiros para que se desenvolvam as
atividades econômicas, ampliando, assim, as forças iniciais do em-
preendedor, ou para a aquisição de bens de consumo 273. Novos con-
tratos surgiram, voltados a conferir maior segurança ao crédito ban-
cário, sendo um dos exemplos mais eloqüentes a alienação fiduciária
em garantia. É comum a distinção entre o crédito a curto prazo, cuja
duração não ultrapassa dois anos e se destina a propiciar capital de
giro a empresas comerciais e industriais, o crédito a longo prazo, que
se volta a financiar a formação do ativo imobilizado, e o crédito a
médio prazo, empregável quando o desenvolvimento dos meios de
produção demande mais tempo do que o inerente ao crédito a curto
prazo e quando se trate de propiciar fundos a uma empresa até que
esta se encontre com aptidão a buscar financiamento no mercado de
capitais274. Para a tutela do crédito, na hipótese de o devedor não
pagar espontaneamente o correspondente ao que lhe foi emprestado
mais os juros, são criados procedimentos de cobrança forçada mais
ágeis. Quando se torne, entretanto, insolvente, isto é, quando seu
patrimônio não se mostre suficiente para satisfazer os seus débitos,

272 - CARREIRO, Carlos H. Porto. Lições de economia política e noções de finan-


ças. Rio de Janeiro: F. Briguiet, 1952, p. 309; GUDIN, Eugênio. Princípios de
economia monetária. Rio de Janeiro: Agir, 1954, v. 1, p. 55; CASTRO, Antônio &
LESSA, Carlos. Introdução à economia – uma abordagem estruturalista. Rio de
Janeiro: Forense, 1970, p. 118.
273 - CAMARGO, Ricardo Antônio Lucas. A empresa na ordem jurídico-
econômica. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 2010, p. 214-222.
274 - BARRE, Raymond. Manual de economia política. Trad. Pierre Santos. Rio de
Janeiro: Fundo de Cultura, 1970, v. 3, p. 130.
105
criam-se expedientes voltados a permitir, na medida do possível, a
satisfação de todos os credores, com efeitos gravíssimos sobre a
situação jurídica do devedor: a falência, a insolvência civil, a liqui-
dação extrajudicial, todos instrumentos voltados especificamente à
tutela do crédito, no pressuposto de que os credores do insolvente,
do devedor cujo patrimônio se mostra insuficiente para satisfazer a
todos os seus débitos, têm também compromissos a atender, de tal
sorte que se colocaria em risco, em geral, todo o funcionamento de
um sistema voltado a aumentar não só a capacidade de constituição,
operação e expansão das empresas como também a acessibilidade
aos bens de consumo275. Comum a todos eles é a submissão da ges-
tão da totalidade do patrimônio do devedor ao comando do Estado-
juiz276 e o levantamento dos débitos respectivos, classificando-os
conforme a respectiva preferência, sendo de notar que a Lei 11.101,
de 2005, rompeu com a caracterização da condição do credor traba-
lhista como dotado de preferência absoluta, limitando esta àqueles
cujos créditos não ultrapassassem cento e cinqüenta salários míni-
mos, pospondo os demais aos créditos com garantia real – majorita-
riamente bancários – e aos créditos fiscais277.
Cabe falar, aqui, acerca do capital especulativo, voltado exclusi-
vamente à realização de aplicações financeiras, sem que haja, neces-
sariamente, investimento na atividade produtiva278. Estes capitais,
com o desenvolvimento da tecnologia de comunicação, passaram a
não fincar raízes em lugar algum, sendo, ao menor sinal de surgi-
mento de alguma situação desfavorável – mesmo que os respectivos
titulares possam ter alguma responsabilidade no seu desabrochar -,
transferidos rapidamente “aos locais de maior segurança, maior ren-

275 - COSTA, Adroaldo Mesquita da. A falência. Porto Alegre: A Nação, 1941, p.
9; ÁLVARES, Walter Tolentino. Direito Falimentar. São Paulo: Sugestões Literá-
rias, 1971, v. 1, p. 23; SILVA, Antônio Álvares da. Créditos trabalhistas no juízo
concursal. Rio de Janeiro: Aide, 1985, p. 28-9; SOMBART, Werner. El apogeo del
capitalismo. Trad. Vicente Caridad. México: Fondo de Cultura Económica, 1946, v.
2, p. 203-4; CAMARGO, Ricardo Antônio Lucas. A empresa na ordem jurídico-
econômica. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 2010, p. 82-3.
276 - LACERDA, Galeno & OLIVEIRA, Carlos Alberto Alvaro. Comentários ao
Código de Processo Civil. Rio de Janeiro: Forense, 1991, v. 8, t. 2, p. 31.
277 - CAMARGO, Ricardo Antônio Lucas. A empresa na ordem jurídico-
econômica. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 2010, p. 62.
278 - DERANI, Cristiane. Capital financeiro e proteção à concorrência. Revista
Trimestral de Direito Público. São Paulo, n. 17, p. 187-8, 1997.
106
tabilidade e maior liquidez para suas aplicações, sempre com o me-
nor risco possível”279. Por esta razão, também recebem o nome de
“capitais voláteis” ou hot money.

8.2.4. Elasticidade da procura e da oferta

Entende-se por elasticidade da procura, num primeiro momento,


a relação entre a variação das quantidades compradas de bens e a dos
preços destes mesmos bens280. Quanto maior for a influência do fator
preço na variação das quantidades compradas, maior será a elastici-
dade da procura281. Vamos a um exemplo simples. Suponhamos,
aqui, que por um preço de R$ 30,00 a unidade, seja possível a aqui-
sição de 50 unidades de determinado bem. Reduzido que seja o pre-
ço para R$ 20,00 a unidade, aumentam-se as vendas para 60. Redu-
zindo-sea R$ 10,00, teremos o aumento das vendas para 80 unida-
des.

279 - FEIX, Geraldo. Capitais voláteis. In: FUNDAÇÃO BRASILEIRA DE DI-


REITO ECONÔMICO. Novo Dicionário de Direito Econômico. Porto Alegre:
Sérgio Antônio Fabris, 2010, p. 89.
280 - NUSDEO, Fábio. Curso de economia política – introdução ao Direito Eco-
nômico. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003, p. 233-4.
281 - MEYERS, Alfred L. Elementos de economia moderna. Trad. Antonio Ferreira
da Rocha. Rio de Janeiro: Livro Ibero-Americano, 1968, p. 50.
107
Dá-se a elasticidade como inversamente proporcional à essen-
cialidade do bem282. Isto porque, quanto mais essencial o bem, me-
nos relevância terá o preço na decisão do adquirente em utilizá-lo. É
de se observar que nem sempre a menor elasticidade corresponde à
maior essencialidade, pois consideram-se procuras fracamente elás-
ticas ou inelásticas: (1) artigos de primeira necessidade; (2) artigos
cuja procura seja proporcionalmente menor do que a de outros a eles
relacionados; (3) bens complementares; (4) artigos de luxo 283. No
que tange ao mercado de trabalho, a absorção do respectivo exceden-
te vem a diminuir a elasticidade da demanda284. O conceito de elasti-
cidade da demanda foi empregado por Rostow285 para assinalar sua
relação diretamente proporcional com o crescimento verificado em
determinados setores da economia. Já a elasticidade da oferta será
maior na medida em que, ante a diminuição da variação proporcional
do preço houver maior variação proporcional na quantidade vendi-
da286. Um conceito que aproxima a micro e a macroeconomia é o de
elasticidade de antecipação, que seria a relação entre o percentual da
variação dos preços futuros em face dos passados e o percentual da
variação dos preços presentes em face dos passados287. A determina-
ção dos preços futuros por parte dos ofertantes segue o cálculo de
probabilidades, tomando por base o comportamento geral da realida-
de econômica. Podemos trazer um exemplo: num dado momento, um
bem era vendido a R$ 30,00 a unidade. Seu preço atual é R$ 50,00.
Tomando em consideração a probabilidade da ocorrência de uma
calamidade e uma necessidade maior deste bem, estima-se o preço
unitário de R$ 80,00. No nosso exemplo, então teremos:

282 - NUSDEO, Fábio. Curso de economia política – introdução ao Direito Eco-


nômico. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003, p. 237.
283 - GUITTON, Henri. Economia política. Trad. Oscar Dias Correa. Rio de Janei-
ro: Fundo de Cultura, 1961, v. 2, p. 191-2; GASTALDI, J. Petrelli. Elementos de
economia política. São Paulo: Saraiva, 1970, p. 157; CAMARGO, Ricardo Antônio
Lucas. O direito exaurido – a hermenêutica da Constituição Econômica no coração
das trevas. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 2011, p. 107.
284 - FURTADO, Celso. Teoria e política do desenvolvimento econômico. São
Paulo: Companhia Editora Nacional, 1969, p. 153.
285 - Las etapas del crecimiento econômico – un manifiesto no comunista. Trad.
Rubén Pimentel. México: Fondo de Cultura Económica, 1961, p. 27.
286 - MEYERS, Alfred L. Elementos de economia moderna. Trad. Antonio Ferreira
da Rocha. Rio de Janeiro: Livro Ibero-Americano, 1968, p. 88-9.
287 - GUITTON, Henri. Economia política. Trad. Oscar Dias Correa. Rio de Janei-
ro: Fundo de Cultura, 1961, v. 2, p. 215.
108
Elevação de preços

90
80
70
60

Preços
50
Série1
40
30
20
10
0
1 2 3
Período de tempo

Do tempo 1 (passado) ao tempo 2 (presente) temos um percen-


tual de variação real, que é o percentual de variação de preços atuais.
Já do tempo 1 (passado) ao tempo 3 (futuro) temos um percentual de
variação estimado, que é o percentual de variação de preços futuros.
A elasticidade de antecipação é o que será determinado pela divisão
do percentual da variação de preços futuros pelo percentual da varia-
ção de preços atuais.
A elasticidade cruzada consiste na relação da quantidade procu-
rada de um bem com a variação do preço de outros 288. Tal conceito
também se faz presente quando se tenha a hipótese de “demanda
conjunta”, em que a procura de um bem determinaria, necessaria-
mente, a de outro que lhe fosse complementar. Quando se mostrar
alta em face de sucedâneos, a elasticidade cruzada aponta para a
possibilidade de fuga dos consumidores para estes, de tal sorte que,
praticamente, se veria neutralizado o poder do monopolizador e, ipso

288 - NUSDEO, Fábio. Curso de economia política – introdução ao Direito Eco-


nômico. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003, p. 242.
109
facto, não caberia falar em exercício abusivo do poder econômico,
tomando em consideração os princípios do antitruste289.
Claro que, em se tratando de bens em relação aos quais o preço
se mostrar irrelevante para determinar a procura – caso dos bens
simbólicos -, não caberá lançar mão deste conceito, o de elasticida-
de290. Ou melhor: traduzirão estes, tomando em consideração os res-
pectivos consumidores, o mais acabado exemplo de “procura inelás-
tica” em relação ao preço. Até porque existem outros fatores a
influenciar a demanda, como as preferências dos adquirentes, o res-
pectivo poder de compra, a qualidade do bem ou serviço a ser adqui-
rido ou fruído, as expectativas do adquirente em relação à respectiva
capacidade de aquisição291. Trata-se da denominada “diferenciação
do produto”, que se ensaiou quando introduzido o conceito de “indi-
ferença” e se indicou a possibilidade de sua mensuração. Pode-se,
em se tratando da “diferenciação”, falar tanto na “diferenciação per-
feita”, mercê da qual um mesmo bem ou serviço opde ser vendido ou
prestado, num dado momento, segundo determinadas características
do adquirente ou usuário, e a “diferenciação imperfeita”, que emerge
quando, a despeito de os bens não serem exatamente idênticos, vêm
a satisfazer a mesma necessidade, tornando o fator “decréscimo do
preço” irrelevante para o efeito da fruição do bem ou serviço 292.
Pode-se, entretanto, salvar a aplicabilidade do conceito de elastici-
dade quando o seu referencial for a possibilidade de substituição do
bem, em relação à mesma necessidade293. Entretanto, o preço que os
compradores se dispõem a pagar sempre influencia a oferta, qualquer
que seja a natureza do bem, ainda que se trate de bens simbólicos,
justamente porque ninguém, em regra, se vai lançar a uma atividade
econômica, qualquer que seja, se não for com o objetivo de obtenção

289 - COASE, Ronald Harry. The firm, the market and the Law. Chicago: Universi-
ty of Chicago Press, 1988, p. 69.
290 - FARACO, Alexandre Ditzel. Democracia e regulação das redes eletrônicas
de comunicação – rádio, televisão e internet. Belo Horizonte: Forum, 2009, p. 74.
291 - SAMUELSON, Paul A. Introdução à análise econômica. Trad. Luiz Carlos
do Nascimento Silva. Rio de Janeiro: Agir, 1966, v. 2, p. 82-3; PERROUX, Fran-
çois. Economia e sociedade. Trad. Aurora & Mário Murteira. São Paulo: Duas
Cidades, 1961, p. 124-5.
292 - GUITTON, Henri. Economia política. Trad. Oscar Dias Correa. Rio de Janei-
ro: Fundo de Cultura, 1961, v. 2, p. 220-1.
293 - BARRE, Raymond. Manual de economia política. Trad. Pierre Santos. Rio de
Janeiro: Fundo de Cultura, 1970, v. 2, p. 173.
110
de uma determinada vantagem294. Pode-se ter uma oferta fracamente
elástica, em que a alta do preço, embora influa, não produz efeitos
imediatos, ou uma oferta fortemente elástica, mas sempre haverá
elasticidade na oferta: a inelasticidade, em relação a esta, ocorre
apenas “no limite”, isto é, em um ponto apenas hipoteticamente atin-
gível, não empírico. Tanto assim o é que, ao se definirem as ofertas
fracamente elásticas ou inelásticas no limite, eis como se manifesta
Guitton295: “trata-se de bens para os quais as considerações de preços
pouco influem sobre o volume das vendas possíveis”. Importa tam-
bém destacar que nem sempre as oscilações de preços serão explicá-
veis em termos de elasticidade, como, por exemplo, a variação do
poder aquisitivo da moeda. “Estas variações podem ser devidas ao
comportamento do valor do bem a ser negociado como ao valor da
moeda que o comprará”296.

8.2.5. Equilíbrio econômico

Ponto em que chegam ao limite a capacidade de imposição do


vendedor e a capacidade de resistência do consumidor. O vendedor
reduz ao máximo o preço a que ele está disposto a vender e o com-
prador chega ao máximo preço em que ele está disposto a pagar 297.
Encontro entre a capacidade “ofensiva” do vendedor e “defensiva”
do consumidor. “Cada comprador ou vendedor encontra exatamente
sua contrapartida com o vendedor ou o comprador”298. Ou, na lin-
guagem paretiana, quando os movimentos que impulsionam os gos-
tos são contrabalançados à mesma proporção pelos obstáculos exis-

294 - MARSHALL, Alfred. Princípios de economia. Trad. Rômulo Almeida &


Ottolmy Strauch. São Paulo: Abril Cultural, 1982, v. 2, p. 110.
295 - Economia política. Trad. Oscar Dias Correa. Rio de Janeiro: Fundo de Cultu-
ra, 1961, v. 2, p. 204.
296 - SOUZA, Washington Peluso Albino de. Direito Econômico. São Paulo: Sa-
raiva, 1980, p. 557.
297 - SOUZA, Washington Peluso Albino de. Direito Econômico e Economia
Política. Belo Horizonte: Prisma, 1970, v. 1, p. 282; NUSDEO, Fábio. Curso de
economia política – introdução ao Direito Econômico. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2003, p. 265.
298 - WALRAS, Léon. Compêndio dos elementos de economia política pura. Trad.
João Guilherme Vargas Netto. São Paulo: Nova Cultural, 1996, p. 70.
111
tentes299. A análise neoclássica pressupõe que as decisões que se
tomam, de acordo com as informações do mercado, seja do lado da
oferta, seja do lado da procura, equilibram-se automaticamente, di-
ante de uma visão segundo a qual todas elas mais não seriam que
meras reações aos sinais ofertados pelo mercado, com o transporte,
para as relações sociais, da mecânica newtoniana 300. É de se notar
que, por vezes, o equilíbrio vem a ser fortemente abalado, a curto,
médio ou longo prazo, seja pela escassez, do lado da procura, seja
pelo excesso, do lado da oferta301.

 Estacionário  comprador e vendedor permanecem na


mesma situação, independente das circunstâncias. Hipotético,
impossível de se estabelecer na prática302.
 Dinâmico ou de expectativas É exatamente como se espera
que a realidade econômica vá se comportar, podendo ser303:
o Parcial  diz respeito a apenas uma ou algumas entidades
atuantes no mercado
o Geral  diz respeito à totalidade dos agentes presentes no
mercado.
 Dirigismo contratual  Da obra de Louis Josserand304. Ele
fala das circunstâncias que vão comprometer a própria substân-

299 - PARETO, Vilfredo. Manual de economia política. Trad. Guillermo Cabanel-


las. Buenos Aires: Atalaya, 1945, p. 140.
300 - FURTADO, Celso. Teoria e política do desenvolvimento econômico. São
Paulo: Companhia Editora Nacional, 1969, p. 87-8; STIGLITZ, Joseph E. &
WALSH, Carl E. Introdução à macroeconomia. Trad. Maria José Cyhlar Monteiro.
Rio de Janeiro: Campus, 2003, p. 57; NUSDEO, Fábio. Curso de economia política
– introdução ao Direito Econômico. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003, p.
286; PERROUX, François. Economia e sociedade. Trad. Aurora & Mário Murteira.
São Paulo: Duas Cidades, 1961, p. 80-7.
301 - STIGLITZ, Joseph E. & WALSH, Carl E. Introdução à macroeconomia.
Trad. Maria José Cyhlar Monteiro. Rio de Janeiro: Campus, 2003, p. 64-5.
302 - WALRAS, Léon. Compêndio dos elementos de economia política pura. Trad.
João Guilherme Vargas Netto. São Paulo: Nova Cultural, 1996, p. 172; KNIGHT,
Frank Hyneman. Riesgo, incertidumbre y beneficio. Trad. Ramón Verea. Madrid:
Aguilar, 1947, p. 14-5; KEYNES, John Maynard. Teoría general de la ocupación,
el interés y el dinero. Trad. Eduardo Hornedo. México: Fondo de Cultura Económi-
ca, 1965, p. 261.
303 - SOUZA, Washington Peluso Albino de. Direito Econômico e Economia
Política. Belo Horizonte: Prisma, 1970, v. 1, p. 280.
304 - Derecho Civil. Trad. Santiago Cunchillos y Manterola. Buenos Aires: Edicio-
nes Jurídicas Europa-América, 1950, t. 2, v. 1, p. 17.
112
cia do negócio, liberdade das partes no estabelecimento de con-
tratos (imposição das partes) e a intervenção do Estado que
substitui a vontade das partes mediante provimento legislativo.
Ex: tabelamento/congelamento de preços, estabelecimento de
índices de correção monetária. Um dos meios utilizados para a
correção do desequilíbrio entre partes de poder econômico de-
sigual.
 Tributação e crédito público  a tributação também pode
atuar como um instrumento conformador das relações de merca-
do, sendo, em uma visão mais simples, apta a restringir o pólo
da relação onde se mostra mais gravosa: gravando-se mais a
oferta, reduzir-se-ia a produção de bens para o mercado305. É de
se ter presente, entretanto, que somente num plano ideal as coi-
sas se apresentariam com tal simplicidade, porquanto: (1) deve-
se observar, em primeiro lugar, se a forma de Estado adotada é a
federal ou a unitária, vez que, na primeira, existem diferentes
entidades dotadas do poder de instituir tributos, ao passo que na
segunda, somente uma; (2) nem todas as remunerações e nem
todas as operações são tributadas da mesma forma, havendo va-
riantes, quer quanto à natureza das remunerações, quer quanto
ao diferencial que se estabelece entre elas dentro da mesma clas-
se, quer quanto à natureza das operações realizadas, quer quanto
à própria essencialidade dos bens e serviços a que elas se refi-
ram306. Não há tributo que não seja instituído ou quantificado
sem ato normativo formal. Se válido o ato que o institui ou mo-
difica o quantitativo é outro problema: o fato é que o tributo é
uma entidade essencialmente normativa. A situação do valor
aumentando por ordens verbais da autoridade, figurada na pelí-
cula A marca do Zorro [The mark of Zorro – dir. Reuben Ma-
moulian – EUA, 1940], é uma caricatura cujo efeito é o de dei-

305 - MANKIW, N. Gregory. Princípios de microeconomia. Trad. Allan Vidal


Hastings & Elisete Paes e Lima. São Paulo: Cengage Leaning, 2009, p. 122-3;
STIGLITZ, Joseph E. & WALSH, Carl E. Introdução à macroeconomia. Trad.
Maria José Cyhlar Monteiro. Rio de Janeiro: Campus, 2003, p. 168; TEMER, Mi-
chel. Democracia e cidadania. São Paulo: Malheiros, 2006, p. 155-6.
306 - ÁVILA, Humberto Bergmann. Sistema constitucional tributário. São Paulo:
Saraiva, 2004, p. 380-1; CARRAZZA, Roque Antonio. Curso de Direito Constitu-
cional Tributário. São Paulo: Malheiros, 2006, p. 96-7; COELHO, Sacha Calmon
Navarro. Comentários à Constituição de 1988 – sistema tributário nacional. Rio de
Janeiro: Forense, 2006, p. 472-3.
113
xar mais claro o porquê de, em todo o mundo civilizado, a ativi-
dade tributária estar totalmente disciplinada por lei. É de se ob-
servar que já se apontou no aumento da tributação o efeito de,
por vezes, conduzir os contribuintes a reduzirem os respectivos
gastos e, conseqüentemente, pouparem mais, de tal sorte que se
iria reduzindo, também, o ritmo do escasseamento dos bens e
serviços no mercado e, pois, reduzir-se-ia a marcha do aumento
dos preços307. De outra parte, muitas das análises sobre o peso
dos tributos na configuração do mercado partem do pressuposto
de que somente pagando o contribuinte se libera do dever de os
pagar, quando no artigo 156 do Código Tributário Nacional es-
tão elencados vários modos de extinção do crédito tributário que
são manifestamente incompatíveis com qualquer ato de desem-
bolso por parte do sujeito passivo 308: a prescrição, a decadência,
a compensação, a remissão, a dação em pagamento, a decisão
judicial contra a qual não caiba mais recurso que afaste a exi-
gência tributária, todas elas muito mais freqüentes, na prática,
do que se supõe, e merecedoras de ser tomadas em consideração
por qualquer análise que pretenda verificar como efetivamente a
tributação pode afetar o equilíbrio de mercado. Merece também
ser tomado em consideração o dado das desonerações totais ou
parciais de tributos309, somado com as restituições do que tenha
sido indevidamente pago, seja via administrativa, seja via judi-
cial. Os itens anteriormente enumerados, mais a evasão ilegal de
tributos conduzem à confissão da impotência da ciência econô-
mica em calcular com exatidão os efeitos da tributação, reser-
vando-se-lhe, entretanto, a possibilidade de o assinalar 310. As

307 - SAMUELSON, Paul A. Introdução à análise econômica. Trad. Luiz Carlos


do Nascimento Silva. Rio de Janeiro: Agir, 1966, v. 1, p. 328; PETTY, Sir William.
Tratado dos impostos e das contribuições. Trad. Luiz Henrique Lopes dos Santos.
In: PETTY, Sir William. Obras econômicas. São Paulo: Nova Cultural, 1988, p. 77.
308 - TORRES, Ricardo Lobo. Arts. 156 a 194. In: MARTINS, Ives Gandra da
Silva [org.]. Comentários ao Código Tributário Nacional. São Paulo: Saraiva,
2002, v. 2, p. 334; DIFINI, Luiz Felipe Silveira. Manual de Direito Tributário. São
Paulo: Saraiva, 2008, p. 287; CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito
Tributário. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 498.
309 - STIGLITZ, Joseph E. & WALSH, Carl E. Introdução à macroeconomia.
Trad. Maria José Cyhlar Monteiro. Rio de Janeiro: Campus, 2003, p. 80.
310 - SAMUELSON, Paul A. Introdução à análise econômica. Trad. Luiz Carlos
do Nascimento Silva. Rio de Janeiro: Agir, 1966, v. 1, p. 226-7.
114
distorções que muitas vezes parecem presentes emergem da per-
cepção de que nem todos serão igualmente afetados pela tributa-
ção311. Além das formas coativas de obtenção de receita, com
todos os percalços que as afetam e que precisam ser considera-
dos para que se tenha uma identificação de qual seja a efetiva in-
fluência delas sobre o mercado, cabe trazer aqui o papel das
formas não coativas de obtenção de receitas, especialmente a
emissão de títulos da dívida pública312, sempre cercada de todos
os cuidados, para que se não desviem recursos que deveriam ser
canalizados para a produção313. O Estado, ao tomar dinheiro
emprestado, vem a fazê-lo ou diretamente, abrindo subscrições
ou procedendo à venda dos títulos, ou por intermediários, obri-
gando-se, em qualquer caso, sempre ao pagamento de juros.
Quando o empréstimo seja subscrito por titulares de capital, diz-
se que ele foi “coberto”314. Apesar de, aparentemente, menos an-
tipáticas que as formas coativas, e dotadas de potencial de atra-
ção de capitais, tanto nacionais como estrangeiros, as formas
não-coativas também apresentam problemas, já que, por elas,
tem-se aumentado o endividamento público315, a cada emissão e
subscrição dos títulos, que, não raro, vêm a converter-se em
verdadeira moeda paralela, qual aconteceu com a ORTN e com
as denominadas “moedas de privatização”, ou “moedas po-
dres”316. Foi uma questão relacionada com o crédito público que
rendeu ensejo ao primeiro grande problema financeiro enfrenta-
do no nascedouro da República dos Estados Unidos do Brasil:
com a abolição da escravatura, surgia o problema de recompor o

311 - BOULDING, Kenneth A. Princípios de política econômica. Trad. Luiz Apa-


recido Caruso. São Paulo: Mestre Jou, 1967, p. 230.
312 - WICKSELL, Knut. Lecciones de economía política. Trad. Francisco Sánchez
Ramos. Madrid: Aguilar, 1947, p. 336.
313 - CASTRO, Antônio & LESSA, Carlos. Introdução à economia – uma aborda-
gem estruturalista. Rio de Janeiro: Forense, 1970, p. 97-9.
314 - BARRETO, Alberto Deodato Maia. Manual de ciência das finanças. São
Paulo: Saraiva, 1971, p. 288-9.
315 - CONTI, José Maurício. Arts. 32 a 39. In: NASCIMENTO, Carlos Valder &
MARTINS, Ives Gandra da Silva [org.]. Comentários à Lei de Responsabilidade
Fiscal. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 247.
316 - CAMARGO, Ricardo Antonio Lucas. Aspectos jurídicos da política monetá-
ria e creditícia. In: SANTOS, Ernane Fidelis [org.]. Atualidades jurídicas. Belo
Horizonte: Del Rey, 1993, v. 2, p. 268-9, nota 5.
115
patrimônio dos fazendeiros e, por outro lado, assegurar que eles
pudessem ter capital de giro e pagar os salários a quem viesse
para eles trabalhar. A solução imaginada, ainda nos estertores do
Império, foi, ante a escassez de papel-moeda, que os bancos
emitissem papéis ao portador, que seriam conversíveis em moe-
da corrente, mediante o depósito de igual valor em títulos da dí-
vida pública. No último ano do Império, o Gabinete do Viscon-
de de Ouro Preto modificava o sistema legal, admitindo a emis-
são, até o triplo do que estivesse depositado em moeda corrente.
Instalada a República, constatada a escassez papel-moeda, ao
assumir a Pasta da Fazenda, Ruy Barbosa arredou a conversibi-
lidade em metal como limite às emissões, iniciando-se uma fe-
bre especulativa para a aquisição de papéis 317. De acordo com
testemunho da época, “a facilidade com que se ganhava dinhei-
ro, o muito que acudia às algibeiras, nas repentinas transações
de títulos com tendência sempre para a alta, acelerava de modo
pasmoso a venda dos mais custosos adereços e de peregrinas
gemas. [...] Com o direito não fiscalizado de emissões de papel-
moeda, cada vez mais se estimulava a grande enfermidade mo-
ral, a megalomania, e não se resistia ao prurido das derramas
clandestinas. [...] Tornara-se o Brasil verdadeira república plu-
tocrática; e tal regime só vive de papel bancário e sistema adua-
neiro levados às últimas conseqüências”318. Em torno do crédito
público, costuma-se chamar a atenção para as operações de
“open market”, relacionadas à intervenção do Banco Central no
mercado, para a compra de títulos públicos319. Embora aparen-
temente óbvio, cabe destacar que não há como dizer, a partir de
critérios puramente científicos, qual dentre os meios para o fi-
nanciamento público vem a se mostrar mais apto a assegurar o
equilíbrio nas relações de mercado e em que medida tal equilí-
brio é, efetivamente, desejável. Todas as dificuldades apontadas

317 - FAORO, Raymundo & BARBOSA, Francisco de Assis. Encilhamento. In:


HOUAISS, Antônio [org.]. Enciclopédia Mirador Internacional. Rio de Janeiro:
Encyclopaedia Britannica do Brasil, 1975, v. 8, p. 3.821-2.
318 - TAUNAY, Alfredo d’Escragnolle, Visconde de. O encilhamento – cenas
contemporâneas da bolsa do Rio de Janeiro em 1890, 1891 e 1892. Belo Horizonte:
Itatiaia, 1971, p. 114-6.
319 - BALEEIRO, Aliomar. Uma introdução à ciência das finanças. Rio de Janei-
ro: Forense, 1986, p. 451.
116
por Gunnar Myrdal320 decorrentes da contaminação das crenças
acerca das funções do Estado e da divisão social do trabalho
ainda persistem na formulação de princípios mais sólidos:
“qualquer que seja o disfarce sob o qual os princípios mais ele-
vados aparecem, sua interpretação confina com a teoria políti-
ca”.
 Contratos administrativos  tema que comparece amiúde
nas questões concernentes aos contratos administrativos cele-
brados pelo particular com a Administração Pública é o da ma-
nutenção do equilíbrio econômico-financeiro.321 Com efeito,
quando a Administração resolve chamar o auxílio do poder eco-
nômico privado para prestar, por delegação, serviços à coletivi-
dade, há de acenar com alguma vantagem, diante da motivação
do agente econômico privado, que é o maior proveito econômi-
co para si próprio322. Uma vez estabelecida a relação com a Ad-
ministração, os sacrifícios que cada uma das partes tem necessa-
riamente de fazer não podem ser agravados, sob pena de haver
um descompasso em termos de obrigações e direitos recíprocos.
Num certo sentido, entende-se por que em tempos de crise as
empresas delegatárias da prestação de serviços públicos vêm a
figurar em setor protegido contra a baixa dos respectivos lu-

320 - Aspectos políticos da teoria econômica. Trad. José Auto. São Paulo: Nova
Cultural, 1986, p. 136.
321 - TÁCITO, Caio. Teoria da imprevisão – cláusula “rebus sic stantibus”. Revista
Forense. Rio de Janeiro, v. 42, n. 103, p. 452, jul 1945; MOTTA, Carlos Pinto
Coelho. Eficácia nas licitações e contratos. Belo Horizonte: Del Rey, 1997, p. 290;
MUKAI, Toshio. O novo estatuto jurídico das licitações e contratos administrati-
vos. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1993, p. 60-1; JUSTEN FILHO, Marçal.
Comentários à lei de licitações e contratos administrativos. São Paulo: Dialética,
2001, p. 553-4; FIGUEIREDO, Lúcia Valle. Extinção dos contratos administrati-
vos. São Paulo: Malheiros, 2002, p. 104-5; MEIRELLES, Hely Lopes. Licitações e
contratos administrativos. São Paulo: Malheiros, 2002, p. 192-4; MELLO, Celso
Antônio Bandeira de. Contrato administrativo: fundamento da preservação do equi-
líbrio econômico-financeiro. Revista de Direito Administrativo. Rio de Janeiro, v.
52, n. 211, p. 25, jan/mar 1998; WALD, Arnoldo. Do direito adquirido à equação
financeira nos contratos administrativos. Revista dos Tribunais. São Paulo, v. 85, n.
727, p. 46, maio 1996; GRAU, Eros Roberto. Princípio da equivalência e o equilí-
brio econômico e financeiro do contrato. Revista de Direito Público. São Paulo, v.
20, n. 96, p. 64, out/dez 1990.
322 - SAMUELSON, Paul A. Introdução à análise econômica. Trad. Luiz Carlos
do Nascimento Silva. Rio de Janeiro: Agir, 1966, v. 2, p. 170.
117
cros323. De qualquer sorte, recordemos que, para a obtenção de
receitas, por parte do Estado, não se pode empregar, necessa-
riamente, a lógica própria do auto-financiamento inerente à
compra e venda de bens e serviços por parte da iniciativa priva-
da324, “seja porque não podem ser individualizados seus benefi-
ciários (por exemplo, no caso dos serviços administrativos), seja
porque existe o consenso de que não devem ser remunerados
certos serviços sociais (educação e saúde), seja pórque ao Go-
verno é imputada a tarefa de construir (ou encomendar ao setor
privado) obras que servem à coletividade como um todo e que,
portanto, não são objeto de transações” 325. Uma vez que o au-
mento da carga tributária é considerado, em princípio, um inibi-
dor do investimento privado326 - em princípio, note-se bem, con-
siderando-se a observação de Samuelson examinada no item
“tributação e crédito público” -, deve-se tomar em consideração
que é precisamente dos tributos que provêm os recursos para se-
rem honrados os contratos realizados com a iniciativa privada
para a prestação dos serviços delegados. Claro que, sob o ponto
de vista da macroeconomia, como se verá adiante, tais pagamen-
tos serão contabilizados na “renda” e na “produção” nacionais,
“porque cobrem, realmente, serviços prestados, consomem re-
cursos e produção e proporcionam consumo coletivo, direto ou
indireto, aos cidadãos”327.
 Contratos da dívida das entidades federadas menores com
as maiores  embora a lógica, mesmo no pensamento liberal
clássico, que rege o equilíbrio das relações entre os entes públi-
cos não seja a de mercado, considerando o prestígio que o pen-
samento “neoliberal” tem logrado no Brasil, justifica-se o trata-
mento do tema neste subtópico. Em países que adotam a forma
federativa de Estado, supõe-se que cada esfera de Governo seja

323 - BARRE, Raymond. Manual de economia política. Trad. Pierre Santos. Rio de
Janeiro: Fundo de Cultura, 1970, v. 2, p. 121.
324 - PERROUX, François. Economia e sociedade. Trad. Aurora & Mário Murtei-
ra. São Paulo: Duas Cidades, 1961, p. 96.
325 - CASTRO, Antônio & LESSA, Carlos. Introdução à economia – uma aborda-
gem estruturalista. Rio de Janeiro: Forense, 1970, p. 93.
326 - STIGLITZ, Joseph E. & WALSH, Carl E. Introdução à macroeconomia.
Trad. Maria José Cyhlar Monteiro. Rio de Janeiro: Campus, 2003, p. 171.
327 - SAMUELSON, Paul A. Introdução à análise econômica. Trad. Luiz Carlos
do Nascimento Silva. Rio de Janeiro: Agir, 1966, v. 1, p. 207.
118
auto-bastante em termos de obtenção de receitas, seja via tribu-
tos, seja via crédito público junto aos particulares328. No caso, os
contratos que versam a transferência de recursos da União para
os Estados-membros, Distrito Federal e Municípios, e dos Esta-
dos-membros e Distrito Federal para os Municípios têm como
ponto de equilíbrio o concernente à autonomia que cada ente fe-
derado tem em relação ao outro. O contrato se caracteriza, como
se sabe, por concessões recíprocas de cada uma das partes. En-
tretanto, em se tratando de prerrogativas públicas, indispensá-
veis à consecução de finalidades que transcendem o interesse
particular daquele a quem são atribuídas, já no pensamento libe-
ral clássico se tinha esta matéria como insuscetível de negocia-
ção329. O objetivo básico do endividamento estatal vem a colo-
car-se como um instrumento de superação das oscilações da ca-
pacidade de os contribuintes efetivamente atenderem aos respec-
tivos débitos tributários330. Tal possibilidade, no entanto, radica-
ria na própria fé pública, de que o Estado é merecedor, na fideli-
dade para atender a seus compromissos, de acordo com autores
de formação liberal, vez que daí se teria presente a própria segu-
rança de que os negócios alheios seriam por ele protegidos: “es-
sa confiança, não a consegue o Estado gerar se não oferecer, em
sua constituição econômica e política, elementos que garantam,
por meio da capacidade financeira, a observância das estipula-
ções, firmadas nos atos de solicitação do concurso dos presta-
mistas e reguladoras da modalidade de restituição dos capitais

328 - BALEEIRO, Aliomar. Uma introdução à ciência das finanças. Rio de Janei-
ro: Forense, 1986, p. 73; BARRETO, Alberto Deodato Maia. Manual de ciência
das finanças. São Paulo: Saraiva, 1971, p. 154-5; TORRES, Ricardo Lobo. Siste-
mas constitucionais tributários. Rio de Janeiro: Forense, 1986, p. 719-720.
329 - ALENCAR, José Martiniano de. Pareceres. Rio de Janeiro: Ministério da
Justiça, 1960, p. 104; DERZI, Misabel de Abreu Machado. Arts. 40 a 47. In: NAS-
CIMENTO, Carlos Valder & MARTINS, Ives Gandra da Silva [org.]. Comentários
à Lei de Responsabilidade Fiscal. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 307.
330 - RICHTER, Wolfram. Endividamento do Estado. Trad. Brenno Dischinger. In:
ENDERLE, Georges et allii. Dicionário de ética econômica. São Leopoldo: UNI-
SINOS, 1997, p. 253; SANTOS, Paulo Rogério Silva dos. Dívida pública dos entes
subnacionais no Brasil: um problema federativo. Porto Alegre: Pontifícia Universi-
dade Católica do Estado do Rio Grande do Sul, 2007, p. 63-4 (dissertação de mes-
trado).
119
fornecidos e da remuneração do uso desses mesmos capitais”331.
O empréstimo interno tem sido aconselhado nas depressões eco-
nômicas objetivando resolver problemas referentes a um excesso
de procura de bens de consumo e à arrecadação da poupança pa-
ra investimentos332.

8.2.6. “Falhas” de mercado

o Entendem-se como tais os fatores que seriam aptos a com-


prometerem a capacidade de as forças de mercado se entre-
equilibrarem. Mesmo um defensor intransigente do caráter “na-
tural” do equilíbrio que se estabeleceria em um regime de livre
competição não deixa de reconhecer a possibilidade de ocorre-
rem modificações nas condições do mercado por parte, inclusi-
ve, de atuação de indivíduos que buscariam ter toda a segurança
de não serem perturbadas suas operações e, por isto mesmo, te-
riam de se desembaraçar dos obstáculos, tanto naturais quanto
humanos a que seus intentos lograssem êxito333.
o Acesso à informação: não ultrapassa o óbvio a recordação do
papel desempenhado pela informação ao se formarem as deci-
sões de produzir, investir e consumir334. Supõe-se que o mercado
deve ser transparente e os sinais mais evidentes devem estar nos

331 - VEIGA, Dídimo Agapito da. Ensaios de ciência das finanças e de economia
pública. Rio de Janeiro: Jacintho Ribeiro dos Santos, 1927, p. 303; CARREIRO,
Carlos H. Porto. Lições de economia política e noções de finanças. Rio de Janeiro:
F. Briguiet, 1952, p. 519.
332 - BARRETO, Alberto Deodato Maia. Manual de ciência das finanças. São
Paulo: Saraiva, 1971, p. 280.
333 - PARETO, Vilfredo. Manual de economia política. Trad. Guillermo Cabanel-
las. Buenos Aires: Atalaya, 1945, p. 128.
334 - NUSDEO, Fábio. Curso de economia política – introdução ao Direito Eco-
nômico. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003, p. 146-8; SOMBART, Werner. El
apogeo del capitalismo. Trad. Vicente Caridad. México: Fondo de Cultura Econó-
mica, 1946, v. 2, p. 131-2; SEN, Amartya. Desenvolvimento como liberdade. Trad.
Laura Teixeira Motta. São Paulo: Companhia das Letras, 2010, p. 236; STIGLITZ,
Joseph E. & WALSH, Carl E. Introdução à macroeconomia. Trad. Maria José
Cyhlar Monteiro. Rio de Janeiro: Campus, 2003, p 100.
120
preços335. Mas nem todos os agentes econômicos sabem a possi-
bilidade de aceitação de um determinado produto ou serviço no
meio em que vão operar. Se é verdade que o comportamento de
cada agente econômico toma em consideração o comportamento
do concorrente, é de se notar que, por vezes, empresas atuantes
em setores concentrados adotam comportamentos paralelos em
relação aos preços, isto é, não atuam tomando a estes como refe-
rência necessária, de tal sorte que “dissimulem seu comportame-
to de modo a não permitir o seu conhecimento ou, pelo menos,
pleno conhecimento de seus efeitos pelos concorrentes” 336. De-
terminados agentes têm condições melhores de obter retorno no
meio em que operam do que outros e também de se expandirem
para outros meios. É de se observar que, no ver do principal es-
tudioso dos “custos de transação”, se há um mais óbvio custo
para organizar a produção pelo mecanismo dos preços, é o de
descobrir quais dentre estes e quão relevantes eles são 337. É de se
notar que não se trata somente de verificar se existem bens da
mesma natureza ou sucedâneos, mas também os próprios bens
complementares e, por outro lado, o preço, consoante dito ante-
riormente, não é o único fator que o consumidor toma em consi-
deração - por vezes, será ele até irrelevante para determinar a
escolha -. A capacidade de manipulação das informações vem a
produzir seus efeitos no que tange à procura e à oferta. Uma
boa ilustração deste dado pode ser colhida na película Vidas
amargas [East of Eden – dir. Elia Kazan, EUA 1955], na qual o
personagem Caleb Trask (James Dean), vivendo numa pequena
cidade interiorana, aproveita-se de um dado ignorado inclusive
por seu vitoriano pai Adam (Raymond Massey), ou seja, a imi-
nência da entrada dos EUA na I Guerra, para investir no plantio
de feijão, alimento que teria mercado consumidor certo, princi-
palmente nas Forças Armadas, vez que toda a atividade econô-

335 - HAYEK, Friedrich August von. Direito, legislação e liberdade. São Paulo:
Visão, 1985, v. 1, p. 53; SAMUELSON, Paul A. Introdução à análise econômica.
Trad. Luiz Carlos do Nascimento Silva. Rio de Janeiro: Agir, 1966, v. 1, p. 106.
336 - SALOMÃO FILHO, Calixto. Regulação e concorrência (estudos e parece-
res). São Paulo: Malheiros, 2002, p. 154.
337 - COASE, Ronald Harry. The firm, the market and the Law. Chicago: Universi-
ty of Chicago Press, 1988, p. 38.
121
mica se voltaria ao esforço de guerra338. Muitas vezes, a assime-
tria de informações aparece como causa explicativa do porquê
de alguns se beneficiarem de medidas de política econômica que
se mostrem, para a maior parte, prejudiciais 339. Na empresa mo-
derna, a formação da decisão econômica dar-se-á mediante o re-
curso “a conhecimento especializado científico e técnico, a in-
formações acumuladas ou à experiência e ao senso artístico e in-
tuitivo de muitas pessoas”340. Cabe também ter presente, no que
tange especificamente aos meios de comunicação de massa, que
os programas de conteúdo informativo, diversamente do que
ocorre com programas de cunho lúdico ou educativo, não têm
como gerar receitas outras que as dos anúncios, com o que a re-
lação com os anunciantes pode determinar, inclusive, o que será
informado e o modo como o será ao público 341. Ainda é de se
trazer a observação acerca do papel dos meios de comunicação
na delimitação não só dos temas a serem discutidos pelo público
como também da base para a tomada de decisões por parte dos
agentes econômicos de um modo geral342. Sem contar justamen-
te com outras questões que são relacionadas com o tema, que
são objeto de consideração pelo direito societário, como é o caso
da full disclosure, que é o princípio da plena transparência do
mercado de capitais. Todos os investidores devem ter o mesmo
nível de informação a respeito da situação da companhia. Há,
justamente por conta disto, o cometimento a autoridades públi-
cas tidas como infensas a critérios outros que não os técnicos,

338 - CAMARGO, Ricardo Antônio Lucas. A empresa na ordem jurídico-


econômica. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 2010, p. 124.
339 - SOUZA, Washington Peluso Albino de. Direito Econômico. São Paulo: Sa-
raiva, 1980, p. 528.
340 - GALBRAITH, John Kenneth. O novo Estado industrial. Trad. Leônidas
Gontijo de Carvalho. São Paulo: Nova Cultural, 1988, p. 58; KEYNES, John Ma-
ynard. Teoría general de la ocupación, el interés y el dinero. Trad. Eduardo Horne-
do. México: Fondo de Cultura Económica, 1965, p. 178.
341 - FARACO, Alexandre Ditzel. Democracia e regulação das redes eletrônicas
de comunicação – rádio, televisão e internet. Belo Horizonte: Forum, 2009, p. 206-
7; CANOTILHO, José Joaquim Gomes & MACHADO, Jonatas E. M. “Reality
shows” e liberdade de programação. Coimbra: Coimbra Ed., 2003, p. 25.
342 - COMPARATO, Fábio Konder. A democratização dos meios de comunicação.
In: GRAU, Eros Roberto & GUERRA FILHO, Willis Santiago [org.]. Direito
Constitucional – estudos em homenagem a Paulo Bonavides. São Paulo: Malheiros,
2001, p. 138.
122
das quais o modelo-base é a Securities Exchange Commission,
criada nos EUA durante o New Deal343. No Brasil, a autoridade
a que compete zelar pela lisura, pela regularidade da atuação no
mercado de capitais é a Comissão de Valores Mobiliários –
CVM, autarquia federal criada pela Lei 6.358, de 1976. Insider
trading é comércio de informações privilegiadas, proibido jus-
tamente para evitar que um dos agentes tenha um nível de in-
formação maior do que os demais344. Os exemplos de Stiglitz &
Walsh345 sobre os efeitos da assimetria de informações em cada
um dos mercados revelam o seu caráter praticamente inexorável.
 Concentração: a concentração empresarial, enquanto nega-
ção, em princípio, da concorrência346, pode não ter um objetivo
deletério sob o ponto de vista do mercado347. Pode ter um obje-
tivo de alcançar a conquista de novos espaços 348, a maior produ-
ção em série349, redução de custos de produção por unidade350,

343 - SAMUELSON, Paul A. Introdução à análise econômica. Trad. Luiz Carlos


do Nascimento Silva. Rio de Janeiro: Agir, 1966, v. 1, p. 125.
344 - ROOSEVELT, Franklin Delano. Mirando adelante. Trad. Luís Klappenbach.
Buenos Aires: Tor, 1943, p. 139.
345 - Introdução à macroeconomia. Trad. Maria José Cyhlar Monteiro. Rio de
Janeiro: Campus, 2003, p. 82-3.
346 - SOUZA, Washington Peluso Albino de. Direito Econômico e Economia
Política. Belo Horizonte: Prisma, 1970, v. 1, p. 167; WICKSELL, Knut. Lecciones
de economía política. Trad. Francisco Sánchez Ramos. Madrid: Aguilar, 1947, p.
80; LANGE, Oskar. Moderna economia política. Trad. Pedro Lisboa. Rio de Janei-
ro: Fundo de Cultura, 1963, p. 162; ASCARELLI, Tullio. Problemas das socieda-
des anônimas e Direito Comparado. São Paulo: Saraiva, 1969, p. 153; FARIA,
Werter R. Constituição Econômica – liberdades de iniciativa e de concorrência.
Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 1990, p. 144.
347 - ROOSEVELT, Franklin Delano. Mirando adelante. Trad. Luís Klappenbach.
Buenos Aires: Tor, 1943, p. 17-8.
348 - NUNES, António José Avelãs. Aventuras e desventuras do Estado social. In:
BERCOVICI, Gilberto et allii. Direitos humanos, democracia e república – home-
nagem a Fábio Konder Comparato. São Paulo: Quartier Latin, 2009, p. 80.
349 - SOMBART, Werner. El apogeo del capitalismo. Trad. Vicente Caridad.
México: Fondo de Cultura Económica, 1946, v. 2, p. 313.
350 - GUITTON, Henri. Economia política. Trad. Oscar Dias Correa. Rio de Janei-
ro: Fundo de Cultura, 1961, v. 2, p. 78-9; NUSDEO, Fábio. Curso de economia
política – introdução ao Direito Econômico. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2003, p. 150-1; LANGE, Oskar. Moderna economia política. Trad. Pedro Lisboa.
Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1963, p. 183; SIMCH, Francisco Rodolfo. Eco-
nomia social. Porto Alegre: Globo, 1912, p. 76.
123
expansão de um setor menos lucrativo para outro mais lucrati-
vo351, o estabelecimento de maior possibilidade de fazer frente a
despesas com pesquisa e publicidade352, o enfrentamento, em
determinados setores, da concorrência em um mercado transna-
cional, que se trava entre grandes empresas 353. Diante do direito
ela pode ser tanto tolerada como reprimida, e ainda pode ser in-
centivada. Quando se identifica na concentração o caráter abusi-
vo e se indaga da própria capacidade, para manter o ambiente
concorrencial, de a controlar o Estado, a própria qualificação
deste como instância máxima de poder, tida como axiomática
desde a formação dos Estados Nacionais, passa a ser passível de
debate354. A bem de ver, a concentração empresarial, quando
abusiva, é tida como fator inibidor da própria livre iniciativa das
unidades menores, por conta das dificuldades que efetivamente
nascem para a respectiva atuação355. Ligados a este tema, encon-
tram-se os seguintes dados:

351 - FARACO, Alexandre Ditzel. Democracia e regulação das redes eletrônicas


de comunicação – rádio, televisão e internet. Belo Horizonte: Forum, 2009, p. 192.
352 - SAMUELSON, Paul A. Introdução à análise econômica. Trad. Luiz Carlos
do Nascimento Silva. Rio de Janeiro: Agir, 1966, v. 2, p. 168.
353 - LIST, Friedrich. Sistema nacional de economia política. Trad. Manuel Sán-
chez Sarto. México: Fondo de Cultura Económica, 1942, p. 116-7; ROSENFIELD,
Dennis Lerrer. A mídia e a democracia. In: BRASIL. Conselho de Comunicação
Social. Concentração da mídia. Brasília: Congresso Nacional, 2004, p. 29-30.
354 - MOLL, Luíza Helena Malta. Externalidades e apropriação: projeções sobre o
Direito Econômico na nova ordem econômica mundial. In: CAMARGO, Ricardo
Antônio Lucas [org.]. Desenvolvimento econômico e intervenção do Estado na
ordem constitucional – estudos jurídicos em homenagem ao Professor Washington
Peluso Albino de Souza. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 1995, p. 143; AZE-
VEDO, Plauto Faraco de. Justiça distributiva e aplicação do Direito. Porto Alegre:
Sérgio Antônio Fabris, 1983, p. 71.
355 - BRASIL. Recurso extraordinário 199.517. Relator: Min. Maurício Correa.
DJU 13 nov 1998; SAMUELSON, Paul A. Introdução à análise econômica. Trad.
Luiz Carlos do Nascimento Silva. Rio de Janeiro: Agir, 1966, v. 1, p. 134-6;
ROOSEVELT, Franklin Delano. Mirando adelante. Trad. Luís Klappenbach. Bue-
nos Aires: Tor, 1943, p. 133; FRIEDMAN, Milton. Capitalismo e liberdade. Trad.
Luciana Carli. São Paulo: Abril Cultural, 1984, p. 121; MANKIW, N. Gregory.
Princípios de microeconomia. Trad. Allan Vidal Hastings & Elisete Paes e Lima.
São Paulo: Cengage Leaning, 2009, p. 338-340; HAYEK, Friedrich August von.
Direito, legislação e liberdade. São Paulo: Visão, 1985, v. 3, p. 91; JAEGER JÚ-
NIOR, Augusto. Mercados comum e interno e liberdades econômicas fundamentais.
Curitiba: Juruá, 2010, p. 710; FARIA, Werter R. Constituição Econômica – liber-
124
o Monopólios naturais: atividades que não têm como ser ex-
ploradas pela iniciativa privada em caráter de concorrência356.
Passam elas a constituir campo da atividade do Poder Público,
embora nem sempre venham a ser prestadas em regime de servi-
ço público (ex.: exploração de petróleo, no Brasil).
o Procura viscosa: caracteriza-se pelo fato do consumidor pre-
ferir uma determinada empresa em detrimento de qualquer outra
concorrente, atual ou futura. Independentemente do preço, o
consumidor vem a ser atraído em função da marca, de determi-
nadas características do produto ou serviço prestado pela empre-
sa X e não pela sua concorrente Y, a despeito de esta, eventual-
mente, ofertar serviços por um preço mais acessível. Também é
denominada “procura relativa à empresa”357. No que toca ao pú-
blico destinatário de bens como jornais e periódicos, este con-
ceito é plenamente aplicável. Daí por que se tem por procedente
a observação de que não é só pela capacidade de se determinar
os preços que se medirá o poder econômico, mas pela capacida-
de de influenciar comportamentos dos agentes econômicos e na
configuração do mercado358.
 Externalidades: custos que não podem ser absorvidos no lu-
cro e vão ser ou suportados por todos ou, pelo contrário, conver-
tidos em benefício a todos359. Aí se levanta a externalidade po-
sitiva ou negativa. O dano ao meio ambiente é considerado uma
externalidade negativa, porque traduz um custo a ser suportado
por todos, e já se fala, mesmo, no meio ambiente, como um to-

dades de iniciativa e de concorrência. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 1990,


p. 156.
356 - KNIGHT, Frank Hyneman. Inteligência e ação democrática. Trad. Francisco
J. Beralli. Rio de Janeiro: Instituto Liberal, 1989, p. 101; FRIEDMAN, Milton.
Capitalismo e liberdade. Trad. Luciana Carli. São Paulo: Abril Cultural, 1984, p.
34-5; CARREIRO, Carlos H. Porto. Lições de economia política e noções de finan-
ças. Rio de Janeiro: F. Briguiet, 1952, p. 155-6; SILVA, Clóvis Veríssimo do Couto
e. A obrigação como processo. São Paulo: José Bushatsky, 1976, p. 20.
357 - BARRE, Raymond. Manual de economia política. Trad. Pierre Santos. Rio de
Janeiro: Fundo de Cultura, 1970, v. 2, p. 175-6.
358 - FERNANDES, André de Godoy. Meios de comunicação social no Brasil –
promoção do pluralismo, direito concorrencial e regulação. São Paulo: Faculdade
de Direito da USP, 2009, p. 166.
359 - NUSDEO, Fábio. Curso de economia política – introdução ao Direito Eco-
nômico. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003, p. 154-5.
125
do, em função de sua degradação, como um bem escasso 360.
Existem situações que da atividade econômica podem ser rever-
tidas em benefícios a todos, como por exemplo a construção de
um praça. A empreiteira é quem constrói, e será remunerada pe-
lo titular do domínio do bem, o Município. O uso respectivo não
vai ser absorvido como lucro pelo titular ou por qualquer agente
econômico privado, mas sim convertido como beneficio para to-
dos. Aqui teremos uma externalidade positiva361. Também se
usa denominar “deseconomia externa” à externalidade negativa
e “economia externa” à externalidade positiva362.
 Bens coletivos: são aqueles bens que não vão ser objeto de
apropriação privada, entretanto podem ser usufruídos por todos.
Sua fruição não vai ser traduzida como lucro363. Não serão aptos
a gerar lucro para o agente privado, ao contrário do que ocorre
com os bens de uso exclusivo364, que estimulam os consumido-
res ou usuários a sacrificarem uma parte dos respectivos rendi-
mentos a fim de os obterem365. “Os benefícios de um bem social,
ao contrário de um bem puramente privado, envolvem efeitos de
consumo externos sobre mais de um indivíduo” 366. Ingressa pre-
cisamente aqui o conceito de free-rider, que se refere àquele que

360 - MOLL, Luíza Helena Malta. Externalidades e apropriação: projeções sobre o


Direito Econômico na nova ordem econômica mundial. In: CAMARGO, Ricardo
Antônio Lucas [org.]. Desenvolvimento econômico e intervenção do Estado na
ordem constitucional – estudos jurídicos em homenagem ao Professor Washington
Peluso Albino de Souza. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 1995, p.153.
361 - NUSDEO, Fábio. Curso de economia política – introdução ao Direito Eco-
nômico. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003, p. 158.
362 - SAMUELSON, Paul A. Introdução à análise econômica. Trad. Luiz Carlos
do Nascimento Silva. Rio de Janeiro: Agir, 1966, v. 2, p. 127-8.
363 - BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso extraordinário 581.947. Rela-
tor: Min. Eros Grau. DJ-e 27 ago 2010.
364 - BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Medida cautelar na ação direta de in-
constitucionalidade 1.623. Relator: Min. Moreira Alves. DJU 5 dez 1997; FRIED-
MAN, Milton. Capitalismo e liberdade. Trad. Luciana Carli. São Paulo: Abril
Cultural, 1984, p. 36; HAYEK, Friedrich August Von. The constitution of liberty.
Chicago: University of Chicago Press, 1978, p. 374-5.
365 - NUSDEO, Fábio. Curso de economia política – introdução ao Direito Eco-
nômico. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003, p. 164; MANKIW, N. Gregory.
Princípios de microeconomia. Trad. Allan Vidal Hastings & Elisete Paes e Lima.
São Paulo: Cengage Leaning, 2009, p. 218.
366 - SAMUELSON, Paul A. Introdução à análise econômica. Trad. Luiz Carlos
do Nascimento Silva. Rio de Janeiro: Agir, 1966, v. 1, p. 214.
126
se beneficia do esforço de quem desempenha uma determinada
atividade econômica. Num certo sentido, é uma forma elegante
de nominar os “parasitas”, dado que não será desempenhado um
esforço, não será feito um sacrifício para a fruição do bem em
questão. No filme de Robert Aldrich O imperador do Norte
[Emperor of the North Pole – EUA, 1973], a expressão free ri-
der é utilizada para referir os vagabundos que viajavam clandes-
tinamente nos trens de carga, arriscando-se, entretanto, a serem
mortos pelo guarda367. Uma paisagem, por exemplo, como as da
Floresta Amazônica, não é apropriável. Os Lençóis Maranhen-
ses também não. Assim também as Cataratas do Iguaçu e o Salto
do Yucuman. Tais paisagens poderão ser aptas a gerar lucro
quando utilizadas para a realização de turismo, com a organiza-
ção de excursões, por exemplo, mas a paisagem em si traduz um
bem coletivo, que pode ser fruído independentemente de alguém
participar ou não de tais excursões368.
 Diferente capacidade dos agentes econômicos manipularem
custos: cada empresa, ao desenvolver suas atividades (com seus
custos), tem a capacidade de moldar sua atividade de tal forma
que isso acarrete os menores custos possíveis369. Muitas vezes o
impacto dos gastos que uma grande empresa para obter informa-
ções para saber sobre o funcionamento do mercado é muito me-
nor que o de uma média empresa porque a capacidade de enfren-
tamento que ela tem, de auto-financiamento, é maior370. Existem
certos reajustes salariais que uma GM paga brincando. Porém,
não é qualquer empresa que pode satisfazer aos reajustes. Daí se
entende, por outra banda, por que muitas vezes o Direito oferta
tratamentos diferenciados às empresas conforme a respectiva
dimensão371. Ainda é perfeitamente possível que empresas que

367 - CAMARGO, Ricardo Antônio Lucas. O direito exaurido – a hermenêutica da


Constituição Econômica no coração das trevas. Porto Alegre: Sérgio Antônio
Fabris, 2011, p. 143.
368 - NUSDEO, Fábio. Curso de economia política – introdução ao Direito Eco-
nômico. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003, p. 164.
369 - SOUZA, Washington Peluso Albino de. Direito Econômico e Economia
Política. Belo Horizonte: Prisma, 1970, v. 1, p. 303.
370 - GALBRAITH, John Kenneth. A economia e o interesse público. Trad. Anto-
nio Zoratto Sanvicente. São Paulo: Pioneira, 1988, p. 111-2.
371 - PINGRET, Clóvis Sá Britto. O Estado como fomentador da iniciativa privada
– o caso das microempresas. In: CAMARGO, Ricardo Antônio Lucas [org.]. De-
127
operem no mesmo ramo e sejam de mesma dimensão em que os
custos evoluam de modo diferente, isto é, umas operando com
custos crescentes e outras operando com custos decrescentes, si-
tuação que está bem longe de configurar o equilíbrio espontâneo
das forças de mercado e ocorre na prática 372. A igualdade de
acesso ao mercado somente se mostra efetiva quando uma em-
presa nova tiver condições de imitar o comportamento das ou-
tras em relação a custos e produção, sem que se possa apontar
para quaisquer desníveis de informações ou de quaisquer possi-
bilidades diferenciadas de obtenção de recursos materiais e hu-
manos para aplicar à atividade a preços mais baixos373.
 Capacidade de criar necessidades: mediante a publicidade,
produtos que antes não seriam sequer pensados como necessá-
rios passam a incorporar as necessidades do meio374. Desde os
supérfluos, como a Coca-Cola, até produtos que estão se tornan-
do essenciais, como o computador com acesso à internet.
“Mesmo nos artigos que à primeira vista parecem servir apenas
à pura ostentação é sempre possível captar algum propósito útil,
pelo menos ostensivo; e, por outro lado, mesmo na maquinaria e
nas ferramentas inventadas visando a algum processo particular,
bem como nos mais grosseiros aparelhos da indústria humana,
os traços de consumo conspícuo ou, pelo menos, o hábito de os-

senvolvimento econômico e intervenção do Estado na ordem constitucional – estu-


dos jurídicos em homenagem ao Professor Washingon Peluso Albino de Souza.
Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 1995, p. 54; ÁVILA, Humberto Bergmann.
Sistema constitucional tributário. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 140; TEMER, Mi-
chel. Democracia e cidadania. São Paulo: Malheiros, 2006, p. 252.
372 - MEYERS, Alfred L. Elementos de economia moderna. Trad. Antonio Ferreira
da Rocha. Rio de Janeiro: Livro Ibero-Americano, 1968, p. 140.
373 - SAMUELSON, Paul A. Introdução à análise econômica. Trad. Luiz Carlos
do Nascimento Silva. Rio de Janeiro: Agir, 1966, v. 2, p. 116-7.
374 - NUSDEO, Fábio. Curso de economia política – introdução ao Direito Eco-
nômico. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003, p. 223; SOUZA, Washington
Peluso Albino de. Direito Econômico e Economia Política. Belo Horizonte: Prisma,
1970, v. 1, p. 210; GALBRAITH, John Kenneth. A economia e o interesse público.
Trad. Antonio Zoratto Sanvicente. São Paulo: Pioneira, 1988, p. 137; SOMBART,
Werner. El apogeo del capitalismo. Trad. Vicente Caridad. México: Fondo de
Cultura Económica, 1946, v. 2, p. 51-2.
128
tentação, usualmente se tornam mais evidentes em face de um
escrutínio mais atento”375.
 Rigidez das posições sociais em decorrência da distribuição
de riquezas a partir da “luta pela vida”: costuma-se atribuir a
hábitos de consumo arraigados a rigidez dos fatores de produ-
ção376 - atribuição, esta, que traduz analogia com a lei física da
inércia, e que recebe o nome de fricção econômica 377 -, embora
também se saiba que “o individualismo liberal afastava as hipó-
teses das soluções coletivas, comandadas pelo Estado, para os
problemas da população e das gerações que se formassem, e is-
to, certamente, se traduziria em lógica resistente dos chefes de
família com parcos recursos, baixos ganhos, do mesmo modo
que para os ricos, interessados nos prazeres de uma vida farta e
sem compromissos familiares”378. Tal constatação vem a abalar
a certeza da proposição segundo a qual nas “economias descen-
tralizadas” a acumulação segue as indicações do mercado 379. É
de ser registrada a posição de Vilfredo Pareto380, para quem tal
situação não seria, necessariamente, uma falha do mercado, mas
sim um efeito virtuoso da competição, nos seguintes termos: “en
cada raza, nacen elementos de desecho que deben ser eliminados
por la selección. Los dolores causados por esta destrucción son
el precio al cual se compra el perfeccionamento de la raza; es
uno de esos casos numerosos en los cuales el bien del individuo
está en oposición con el bien de la especie”.
 Oscilação de valores de bens econômicos por motivos alheios
às reações recíprocas de oferta e procura: aqui, entram temas
como a existência de bens cujo preço desempenha um papel ex-
tremamente reduzido para o fim de determinar a decisão de os

375 - VEBLEN, Thorstein. A teoria da classe ociosa. Trad. Olívia Krahenbühl. São
Paulo: Abril Cultural, 1983, p. 48.
376 - NUSDEO, Fábio. Curso de economia política – introdução ao Direito Eco-
nômico. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003, p. 144.
377 - WICKSELL, Knut. Lecciones de economía política. Trad. Francisco Sánchez
Ramos. Madrid: Aguilar, 1947, p. 64.
378 - SOUZA, Washington Peluso Albino de. Direito Econômico e Economia
Política. Belo Horizonte: Prisma, 1970, v. 1, p. 365.
379 - ROSSETTI, José Paschoal. Introdução à economia. São Paulo: Atlas, 1971, p.
196.
380 - Manual de economia política. Trad. Guillermo Cabanellas. Buenos Aires:
Atalaya, 1945, p. 319.
129
adquirir – exemplifica-se com livros, jornais, periódicos -, sem
contar com a procura viscosa, que se caracteriza pela preferência
do consumidor por determinado fornecedor, independentemente
do preço que este lhe cobre. De outra parte, atos de autoridade,
fatos de conjuntura e estrutura econômica também são aptos a
causarem oscilações nos valores e nada têm com o mecanismo
da oferta e da procura381.
 Desequilíbrios decorrentes de fatores éticos, psicológicos ou
fatores extraordinários, normalmente caracterizados como caso
fortuito ou força maior: “O fenômeno econômico tem como ba-
se uma decisão ou um conjunto de decisões de agentes com uma
função social específica. Não seria fácil explicar a procura como
uma reação à oferta, nem vice-versa. Com efeito, oferta e pro-
cura são dois fenômenos autônomos, derivados da divisão social
do trabalho, o que não impede que se influenciem mutuamente.
A oferta é a expressão da vontade de certos agentes econômicos
que pretendem participar de forma privilegiada na repartição do
produto social. Uma modificação autônoma do comportamento
dos agentes responsáveis pela procura não provoca necessaria-
mente reação da oferta no sentido de restabelecer o equilíbrio.
Diversas reações podem ter lugar. É perfeitamente possível que
certos agentes procurem tirar proveito da situação, modificando
a distribuição de renda em proveito próprio ou mesmo forçando
uma alteração permanente na forma do mercado”382. O progres-
so técnico, por vezes, vem a provocar o aumento de necessida-
des, acarretando inquietações, descontentamentos, motivações,
enfim, que ultrapassam o jogo espontâneo do mercado, e im-
põem o surgimento de outras atividades, sem contar com fatores
extraordinários, como as guerras ou as revoluções tecnológi-
cas383. Os referenciais éticos podem influenciar, também, a acei-

381 - SOUZA, Washington Peluso Albino de. Direito Econômico e Economia


Política. Belo Horizonte: Prisma, 1970, v. 1, p. 300; SALOMÃO FILHO, Calixto.
Regulação e concorrência (estudos e pareceres). São Paulo: Malheiros, 2002, p.
125.
382 - FURTADO, Celso. Teoria e política do desenvolvimento econômico. São
Paulo: Companhia Editora Nacional, 1969, p. 88; RECASÉNS SICHES, Luís.
Tratado general de Filosofía del Derecho. México: Porrúa, 1970, p. 490.
383 - SOUZA, Washington Peluso Albino de. Direito Econômico e Economia
Política. Belo Horizonte: Prisma, 1970, v. 1, p. 348-9; PARETO, Vilfredo. Manual
de economia política. Trad. Guillermo Cabanellas. Buenos Aires: Atalaya, 1945, p.
130
tação ou rejeição de certos produtos – figure-se o exemplo das
bebidas espirituosas em meio a uma comunidade de abstêmios –
e assim também razões militares384.“Evidentemente, na realida-
de grosseira da vida, o homem econômico jamais terá existência
real, efêmera mesmo que seja. O homem econômico é um mons-
tro sem realidade possível. Ao ente humano, por mais egoísta
que ele seja, sobra-lhe sempre uma parcela de altruísmo, dado o
caráter eminentemente social de sua natureza” 385. Os defensores
dos efeitos benéficos e auto-reguladores da perseguição, por
parte de cada qual, dos interesses próprios têm condenado a ab-
sorção de tais referenciais pelo Direito lançando-lhe a pecha de
liberticida386.

8.3. Repartição

O resultado da atividade econômica poderá se constituir con-


forme o fator que se tome como principal – ou em renda, ou em juro,
ou em lucro, ou em salário.
A remuneração dos fatores de produção, descontada a parte que
delas se vem a tornar indisponível por várias razões (dentre elas, a
tributação), pode ser destinada a:

 Bens de consumo (C)


 Bens de produção (I = Investimento)
 Poupança (P)

322-3; NUSDEO, Fábio. Curso de economia política – introdução ao Direito Eco-


nômico. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003, p. 145.
384 - PIGOU, A. C. Teoría y realidad económica. Trad. Samuel Vasconcelos.
México: Fondo de Cultura Económica, 1942, p. 141.
385 - PAULA, L. Nogueira de. Metodologia da economia política. Rio de Janeiro:
Pongetti, 1942, p. 163; MYRDAL, Gunnar. Aspectos políticos da teoria econômica.
Trad. José Auto. São Paulo: Nova Cultural, 1986, p. 86; SEN, Amartya. Desenvol-
vimento como liberdade. Trad. Laura Teixeira Motta. São Paulo: Companhia das
Letras, 2010, p. 356-7.
386 - PARETO, Vilfredo. Manual de economia política. Trad. Guillermo Cabanel-
las. Buenos Aires: Atalaya, 1945, p. 377-8, nota 38; FRIEDMAN, Milton. Capita-
lismo e liberdade. Trad. Luciana Carli. São Paulo: Abril Cultural, 1984, p. 21.
131
Quanto menor a remuneração, mais será destinado ao consumo e
menos aos outros fins387. Cada um dos fatores de produção mantém,
como é evidente, uma forte relação com os demais 388. E o incremen-
to de qualquer deles em uma unidade a mais, mantendo-se os demais
constantes, será denominado “produto marginal”. Este corresponderá
(1) o teto dos salários que a empresa pagará aos trabalhadores; (2) à
máxima taxa de juros na expectativa do prestamista; (3) à máxima
expectativa de lucro para o capital produtivo; (4) à máxima renda
para o proprietário389. Este conceito vem a ser desenvolvido na obra
de John Bates Clark390, supondo, evidentemente, um mercado sem
falhas. Tal proposição, modo certo, já fora inferida no século XVII,
quando se apontou para o dado de que “a carestia e a barateza natu-
rais dependem de quantos braços são exigidos pelos bens necessários
da natureza. Assim, o trigo é mais barato onde uma pessoa produz
trigo para dez do que onde ela o pode fazer apenas para seis. Depen-
de também do clima, que submete as pessoas à necessidade de con-
sumir mais ou menos. No entanto, a barateza política depende de ser
pequeno o número de pessoas que, além das que são necessárias em
um negócio, nele intervêm como extranumerários; isto é, o trigo será
duas vezes mais caro onde duzentos lavradores fizerem o trabalho
que cem poderiam fazer”391.
É de se notar que a repartição comporta tanto uma análise
“quantitativa”, que toca à distância entre as remunerações nos dife-

387 - WEBER, Adolf. Introducción al estudio de la Economía Política. Trad. José


Alvarez de Cienfuegos y Cobos. Barcelona: Bosch, 1943, p. 85; GALVES, Carlos.
Manual de economia política atual. Rio de Janeiro: Forense, 1972, p. 314; QUES-
NAY, François. Quadro econômico. Trad. Teodora Cardoso. Lisboa: Gulbenkian,
1966, p. 120; GUITTON, Henri. Economia política. Trad. Oscar Dias Correa. Rio
de Janeiro: Fundo de Cultura, 1961, v. 1, p. 195; LANGE, Oskar. Moderna econo-
mia política. Trad. Pedro Lisboa. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1963, p. 186.
388 - MARSHALL, Alfred. Princípios de economia. Trad. Rômulo Almeida &
Ottolmy Strauch. São Paulo: Abril Cultural, 1982, v. 2, p. 86-7;
389 - SAMUELSON, Paul A. Introdução à análise econômica. Trad. Luiz Carlos
do Nascimento Silva. Rio de Janeiro: Agir, 1966, v. 2, p. 198; MARSHALL, Al-
fred. Princípios de economia. Trad. Rômulo Almeida & Ottolmy Strauch. São
Paulo: Abril Cultural, 1982, v. 2, p. 76-7.
390 - Essentials of economic theory. New York: Mac Millan Company, 1915, p.
170.
391 - PETTY, Sir William. Tratado dos impostos e das contribuições. Trad. Luiz
Henrique Lopes dos Santos. In: PETTY, Sir William. Obras econômicas. São Pau-
lo: Nova Cultural, 1988, p. 72.
132
rentes estratos sociais – a que se dá o nome de aspecto “relativo”
desta modalidade de análise – e ao montante da participação de cada
um – a chamada “renda per capita”, correspondente ao aspecto “ab-
soluto” -, quanto uma análise “qualitativa”, voltada à verificação dos
processos de aquisição e de exclusão da riqueza392.
Antes de versar cada uma das espécies de remuneração em si
mesmas, é aqui o momento de tratar, em caráter geral, da tributa-
ção393. Com efeito, ainda que se esteja diante do “tipo ideal” – no
sentido weberiano de construção intelectual voltada a estabelecer a
conexão de sentido entre os conceitos formulados e a realidade estu-
dada, embora a esta não enquadre em caráter milimétrico394 – do
“Estado Mínimo”, a busca de recursos financeiros por parte do Poder
Público, dotado de coação, para o desempenho de suas tarefas, vem a
fazer-se tanto por via não-coativa quanto por via coativa. E é mais
do que evidente que, para isto, hão de se tomar em consideração as
possibilidades de aqueles que se submetem à autoridade do Poder
Público virem a suportar o gravame. Tais possibilidades fazem aflo-
rar o tema da capacidade contributiva, tida por Klaus Tipke e Joa-
chim Lang395 como o primeiro obstáculo a, mesmo fora de um con-
texto federalista, que se adote a solução fisiocrática do imposto úni-
co396, por conta da inexistência de um único critério para a mensurar.
É de se notar que, no seio do ‘socialismo utópico’, houve sugestão
de adoção do “imposto único” e de redução, mesmo, das atividades
do Estado397, tendo tal doutrina sido abraçada, ao final da vida, por

392 - SINGER, Paul. Repartição da renda – pobres e ricos sob o regime militar.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985, p. 7-8.
393 - HICKS, John R. Uma introdução à economia. Trad. Sérgio Góes de Paula.
Rio de Janeiro; Zahar, 1972, p. 242.
394 - WEBER, Max. Economía y sociedad. Trad. José M. Echavarría et allii. Méxi-
co/Buenos Aires: Fondo de Cultura Económica, 1992, p. 17; STAVENHAGEN,
Gerhard. História de las teorias econômicas. Trad. Adolfo von Ritter-Zahony.
Buenos Aires: El Ateneo, 1959, p. 178.
395 - Direito Tributário. Trad. Luís Dória Furquim. Porto Alegre: Sérgio Antônio
Fabris, 2008, v. 1, p. 208-9; MANKIW, N. Gregory. Princípios de microeconomia.
Trad. Allan Vidal Hastings & Elisete Paes e Lima. São Paulo: Cengage Leaning,
2009, p. 244.
396 - QUESNAY, François. Quadro econômico. Trad. Teodora Cardoso. Lisboa:
Gulbenkian, 1966, p. 130; HEIMANN, Eduard. História das doutrinas econômicas.
Trad. Waltensir Dutra. Rio de Janeiro: Zahar, 1971, p. 70.
397 - GEORGE, Henry. Progresso e pobreza. Trad. Américo Werneck Júnior. São
Paulo: Companhia Editora Nacional, 1935, p. 229.
133
Monteiro Lobato398. Aliomar Baleeiro399 informa que “na prática, o
imposto único dos fisiocratas só foi experimentado por um príncipe
de Baden entre 1772 e 1802, com resultados contraproducentes”.

8.3.1. Renda

Modalidade de remuneração que decorre da situação de proprie-


tário de um bem. Muito mais uma situação estática que dinâmica 400.
Evidente que o vocábulo “renda” não está sendo tomado em sua
acepção “macroeconômica”, quando significa a remuneração paga a
todos os que se movimentam num dado contexto econômico, mas
sim em sua acepção “microeconômica”, para nominar uma das for-
mas de remuneração. A denominação “rentista” a significar o indiví-
duo que “vive de rendas”, toca exatamente à acepção “microeconô-
mica” do vocábulo.

Modalidades de renda:
 Aluguel  (que se paga pelo uso de uma propriedade mó-
vel/imóvel). Será estabelecido o preço desses de acordo com sua
localização, entre outros fatores.
 Leasing  O proprietário cede mediante o pagamento de um
preço periódico um determinado equipamento por um prazo cer-
to, gerando a possibilidade de compra ao final deste prazo. A
renda compatível é o principal fator de atração dessa prática.
 Royalty  normalmente, designa os pagamentos pela utili-
zação de bens protegidos por direitos de propriedade industrial.

398 - LOBATO, José Renato Monteiro. Conferências, artigos e estudos. Rio de


Janeiro: Globo, 2010, p. 230.
399 - Uma introdução à ciência das finanças. Rio de Janeiro: Forense, 1986, p.
218, nota 1.
400 - MEYERS, Alfred L. Elementos de economia moderna. Trad. Antonio Ferreira
da Rocha. Rio de Janeiro: Livro Ibero-Americano, 1968, p. 258; SAY, Jean-
Baptiste. Tratado de economia política. Trad. Balthazar Barbosa Filho. São Paulo:
Abril Cultural, 1983, p. 300; WALRAS, Léon. Compêndio dos elementos de eco-
nomia política pura. Trad. João Guilherme Vargas Netto. São Paulo: Nova Cultu-
ral, 1996, p. 284; MARSHALL, Alfred. Princípios de economia. Trad. Rômulo
Almeida & Ottolmy Strauch. São Paulo: Abril Cultural, 1982, v. 2, p. 87; ROBIN-
SON, Joan. Filosofia econômica. Trad. Fernando Ferro. Rio de Janeiro: Zahar,
1964, p. 62.
134
Contudo, a expressão é utilizada, também, para qualificar a re-
muneração paga pela União aos Estados-membros e Municípios
pela exploração de recursos do subsolo nos respectivos territó-
rios.
 Renda arbitrada judicialmente paga ao proprietário do so-
lo quando o explorador dos recursos do subsolo não entre com
ele em acordo a respeito do quanto a ser pago em virtude da res-
trição que aquele vem a sofrer no direito de usar a sua proprie-
dade.

8.3.2. Juro

Fruto do capital entregue (ou em mãos) de outrem que não o ti-


tular.
Platão401 apontava no empréstimo a juros uma atividade voltada
a derruir a saúde da cidade, porque propiciava aos que dele se servi-
am entregar-se a uma vida de dissipação, concupiscência, inativida-
de, frouxidão para responder aos estímulos de prazer e dor, preguiça.
Aristóteles402 considerava o juro como algo contrário à natureza das
coisas porque o dinheiro, aqui, estaria a gerar-se a partir de si pró-
prio, um atributo que não seria próprio das coisas. Entre os hebreus,
era inadmissível cobrar juros de seus irmãos. A Igreja Católica in-
corporou a observação de Aristóteles, assumindo relevo, neste senti-
do, a posição do Sínodo de Aqüisgrana (hoje Aachen), realizado em
789, acolhida por Carlos Magno403. Na obra de São Tomás de Aqui-
no, dizia-se que o usurário que emprestava o dinheiro era um ladrão,
pois este se apropriava do tempo, sendo o tempo algo de Deus. Max
Weber404 procura demonstrar que com o advento do protestantismo,

401 - A república. Trad. Pietro Nassetti. São Paulo: Martin Claret, 2005, p. 252-3.
402 - A política. Trad. Mário da Gama Kury. Brasília: UnB, 1997, p. 28.
403 - HEDEMANN, Justus Wilhelm. Tratado de Derecho Civil. Trad. Jaime Santos
Briz. Madrid: Editorial Revista de Derecho Privado, 1958, v. 3, p. 94; NUSS-
BAUM, Arthur. Derecho Monetário nacional e internacional. Trad. Alberto D.
Schoo. Buenos Aires: Arayú, 1954, p. 234; RIPERT, Georges. Le régime démocra-
tique et le Droit Civil. Paris: LGDJ, 1936, p. 200.
404 - A ética protestante e o espírito do capitalismo. Trad. Tamás Smreczániy &
Maria Irene de Q. F. Smreczániy. São Paulo: Pioneira, 1994, p. 116; CROCE, Be-
nedetto. Le concezione liberale. In: CROCE, Benedetto & EINAUDI, Luigi. Libe-
rismo e liberalismo. Milano-Napoli: Riccardo Ricciardi Ed., 1957, p. 9; ROSTOW,
135
se procurou retirar o problema do juro das preocupações religiosas e
mais do que isso, a idéia de riqueza (antes proscrita ao argumento de
que era mais fácil um camelo passar pelo buraco da agulha, etc.) vai
ser defendida a partir das próprias Escrituras com a parábola dos
talentos. O sucesso econômico seria uma graça e seria pecado rejei-
tá-la. Werner Sombart405 contesta essa tese, porque os banqueiros
lombardos e florentinos cobravam juros e faziam questão de afirmar
sua piedade e ortodoxia em face da fé católica. Tal contestação, en-
tretanto, nunca teve grande êxito406. De qualquer sorte, mesmo as
restrições de cunho religioso não chegavam a constituir, em si e por
si, impeditivos absolutos à cobrança de juros. Os hebreus não
podiam cobrar juros de seus irmãos, mas cobravam aos que não o
eram, como os cristãos407. A própria igreja começou a amenizar a
questão dos juros. O juro foi então admitido, podendo então ser sim-
ples ou composto. Várias teorias existem para os explicar408. Uma
das mais prestigiosas refere-se à privação sofrida pelo titular do ca-
pital ao emprestá-lo ao devedor, durante o tempo em que à disposi-
ção deste ficasse o numerário, sujeito, ainda, aos riscos quanto à
possibilidade de o patrimônio dele, devedor, responder pela dívi-
da409. Outra toca à presunção de que a quantia em dinheiro, ou seu

Walt Whitman. Las etapas del crecimiento econômico – un manifiesto no comunis-


ta. Trad. Rubén Pimentel. México: Fondo de Cultura Económica, 1961, p. 67;
PENNA, J. O. Meira. Opção preferencial pela riqueza. Rio de Janeiro: Instituto
Liberal, 1991, p. 138-9.
405 - El burgués. Trad. Maria Pilar Lorenzo. Madrid: Alianza, 1992, p. 235-6;
LANDAUER, Carl. Sistemas econômicos contemporâneos. Trad. Waltensir Dutra.
Rio de Janeiro: Zahar, 1966, v. 1, p. 289; SAMUELSON, Paul A. Introdução à
análise econômica. Trad. Luiz Carlos do Nascimento Silva. Rio de Janeiro: Agir,
1966, v. 2, p. 472.
406 - ROBINSON, Joan. Filosofia econômica. Trad. Fernando Ferro. Rio de Janei-
ro: Zahar, 1964, p. 106.
407 - SOMBART, Werner. El burgués. Trad. Maria Pilar Lorenzo. Madrid: Alian-
za, 1992, p. 276.
408 - CAMARGO, Ricardo Antônio Lucas. O capital na ordem jurídico-
econômica. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 1998, p. 149-150; GALVES,
Carlos. Manual de economia política atual. Rio de Janeiro: Forense, 1972, p. 183-
5.
409 - FREITAS, Augusto Teixeira. Vocabulário jurídico. São Paulo: Saraiva
1983, v. 1, p. 114; NASSAU SENIOR, William. Political economy.
<http://oll.libertyfund.org/index.php?option=com_staticxt&staticfile=show.php%3F
title=116&layout=html>, acessado em 27 ago 2011; NUSSBAUM, Arthur. Derecho
136
equivalente, em poder do devedor, estaria a frutificar 410. Há a expli-
cação de ser ela fruto da relação entre a procura de capitais e a segu-
rança do retorno destes, na proporção inversa desta e direta daque-
la411. Outra contribuição consiste na consideração da taxa de juros
como a representação da troca de bens presentes por bens futuros,
cujo valor seria sempre presumivelmente menor que o daqueles 412.
Existe, ainda, a tese segundo a qual o juro se eleva quando diminui o
volume de capital disponível pelo aumento da demanda deste acima
do nível da poupança normal413. Há, também, sua fundamentação na
necessidade de cobrir o custo de oportunidade para o ofertante do
crédito, tomada em consideração a preferência pela liquidez enquan-
to desejo de o devedor ter disponível certa quantidade pecuniária
para os fins de atendimento das mais variadas necessidades, desde as
primárias até as puramente especulativas 414. A ligação entre a políti-
ca de juros e a política monetária, em termos macroeconômicos, vem
a revelar-se particularmente evidente, especialmente na visão mone-
tarista, por se considerar que as taxas de juros mais elevadas seriam
um incentivo à poupança, diminuindo-se o ritmo do escasseamento
dos bens ofertados no mercado415.

 Decreto 22.262/1933 – “Lei da Usura”: juro superior ao do-


bro da taxa legal (esta, no regime do Código Civil de 1916, cor-
responderia a 0,5% ao mês ou 6% ao ano, e no regime do Códi-

Monetário nacional e internacional. Trad. Alberto D. Schoo. Buenos Aires: Arayú,


1954, p. 228.
410 - ESTRELLA, Hernani. Da teoria dos juros no Código Comercial. Revista da
Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. São Paulo, v. 45, p. 422-3,
1950; WALD, Arnoldo. Obrigações e contratos. São Paulo: Revista dos Tribunais,
1987, p. 91; HEDEMANN, Justus Wilhelm. Tratado de Derecho Civil. Trad. Jaime
Santos Briz. Madrid: Editorial Revista de Derecho Privado, 1958, v. 3, p. 95.
411 - BEVILAQUA, Clovis. Código Civil dos Estados Unidos do Brasil comenta-
do. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1917, v. 4, p. 477.
412 - BÖHM-BAWERK, Eugen von. Capital e interés. Trad. Carlos Silva. México:
Fondo de Cultura Económica, 1947, p. 279.
413 - WICKSELL, Knut. Lecciones de economía política. Trad. Francisco Sánchez
Ramos. Madrid: Aguilar, 1947, p. 366-7.
414 - KEYNES, John Maynard. Teoría general de la ocupación, el interés y el
dinero. Trad. Eduardo Hornedo. México: Fondo de Cultura Económica, 1965, p.
151.
415 - NUSDEO, Fábio. Curso de economia política – introdução ao Direito Eco-
nômico. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003, p. 319.
137
go Civil de 2002, ora vigente, a 1% ao mês ou 12% ao ano) não
poderia, sob pena de nulidade, ser pactuado. Proibição da con-
tratação de juros compostos (ou anatocismo), acolhendo, no par-
ticular, a orientação do Código Civil alemão, como “tutela del
deudor, que en otro caso podría facilmente desorientarse y ser
objeto de explotación usurária”416.
 Lei 4595/1964 – Estruturou o sistema financeiro nacional e
criou o Banco Central. Estabeleceu a limitação, pelo Conselho
Monetário Nacional, quando necessária, das taxas de juros, ex-
cepcionando, no ver do Supremo Tribunal Federal, do limite da
Lei de Usura as instituições financeiras (Súmula 596).

CLASSIFICAÇÕES DO JURO

- Juro moratório: em função da demora em atender a obrigação.


O cálculo deste, em determinadas situações, leva em conta no seu
cálculo o juro compensatório. Ex: aplicações financeiras.
- Juro compensatório: aquele que visa a recompor um rendi-
mento que razoavelmente tenha se deixado de obter. dizem respeito
ao que poderia razoavelmente esperar o titular do capital que este
rendesse nas suas mãos se não estivesse em mãos do devedor. Ex:
desapropriações
- Juro remuneratório: aquele que decorre de se entregar um de-
terminado capital à guarda de uma instituição financeira e esta ao
devolver esse capital terá de o fazer acrescido do quanto ele poderia
ter rendido se estivesse em mãos do titular. decorrentes dos rendi-
mentos que se asseguram à quantia depositada (aplicações financei-
ras, bancos...)
- Juro onzenário (ou usurários): juros cobrados acima do limite
legal e de forma proibida legalmente. uma forma de se dizer juros
usurários. São aqueles que são cobrados acima do limite legal e em
forma proibida em lei.
- Capitalizados ou compostos: "juros de juros" são, em regra,
proibidos pelo Decreto 22.626/33 -lei de usura. Segundo o Superior
Tribunal de Justiça, são possíveis em determinadas operações bancá-
rias. A admissão dos juros compostos teria como base a contraparti-

416 - HEDEMANN, Justus Wilhelm. Tratado de Derecho Civil. Trad. Jaime Santos
Briz. Madrid: Editorial Revista de Derecho Privado, 1958, v. 3, p. 96.
138
da a situações mais vantajosas para o devedor ou as finalidades es-
peciais de determinadas operações, exigindo o desestímulo à ina-
dimplência417.

8.3.3. Lucro

O lucro, tal como o juro, é considerado fruto da propriedade.


Quem se lança a atividade econômica, arrisca bens próprios, vai
justamente atrás de quem possa adquirir os bens que produz ou aque-
les bens que adquiriu para revenda e conseqüentemente arrosta, pois,
o risco de não receber, quebra, de falência. Vai se constituir, portan-
to, como uma recompensa por ter arriscado os capitais próprios. Nes-
te sentido, ele se enobrece com a vitória alcançada com a ajuda de
Deus, excluída, entretanto, a concepção medieval de que a motiva-
ção pelo lucro desvalorizaria a disposição para o combate418. Por
outro lado, como o lucro corresponde necessariamente ao risco do
prejuízo, entende-se o porquê de no próprio direito liberal negar-se
validade a cláusula em contrato de sociedade que liberasse um ou
alguns dos sócios de arcar com os prejuízos ou excluísse um ou al-
guns dos sócios da fruição dos lucros – a famosa “cláusula leonina”,
assim chamada por conta de célebre fábula de La Fontaine, em que,
ao se associarem as feras, a única que realmente veio a obter vanta-
gem na caça foi o leão -.
Preço de venda - preço de custo = lucro. Esta é a regra geral.
Contudo, conforme as peculiaridades da operação, o custo pode ou
não influir no lucro419. Exemplo: exploração de atividade ligada ao
setor de comunicação social, embora tenha escopo lucrativo, tem o
seu sucesso econômico aferido muito mais pelo estabelecimento de
uma clientela cativa e pela conquista de novos clientes do que pela
diferença entre ‘preço de venda” e “preço de custo”. É precisamente
um campo onde a atenção deve voltar-se à capacidade da empresa

417 - ASHTON, Peter Walter. Juros, especialmente compostos. O posicionamento a


respeito da jurisprudência e doutrina, antiga e moderna, inglesa e americana. A
posição a respeito da lei alemã. Direito & Justiça. Porto Alegre, v. 10, n. 12, p. 66,
1988.
418 - ALIGHIERI, Dante. Monarquia. Trad. Ciro Mioranza. São Paulo: Escala,
2005, p. 84.
419 - FURTADO, Celso. Teoria e política do desenvolvimento econômico. São
Paulo: Companhia Editora Nacional, 1969, p. 142.
139
obter poder e influência sobre preços, custos, consumidores, gover-
nos420.
Fundamento do lucro: O fundamento do lucro é o risco da que-
bra. O risco de o agente econômico não conseguir vender seu produ-
to, de obter a remuneração pela sua atividade421. Daí por que tam-
bém se vem a sustentar que os lucros e os altos rendimentos dos
fatores seriam o verdadeiro estímulo a que alguém se lançasse a uma
atividade, enquanto os prejuízos se apresentariam como o castigo
pelo fracasso: “os lucros se destinam àqueles que foram eficientes no
passado – eficientes em fazer coisas, em vender coisas, em prever
coisas -. Por intermédio do lucro, a sociedade entrega aos que acumu-
laram um acervo de sucessos o comando de novos empreendimen-
tos”422.
Custo: o custo, enquanto conjunto de despesas que gravam tanto
a produção quanto a circulação de bens (Lei 4.506/64), foi estudado,
com as respectivas classificações, ao se examinar o capital como
fator de produção. Agora, como se trata de identificá-lo como um
dos elementos da equação do lucro, serão identificados os métodos
de seu cálculo. Há grande variedade de métodos cuja escolha depen-
derá das condições peculiares de cada empresa. Serão, pois, os se-
guintes423:
DIVISÃO SIMPLES E DIRETA: divisão do total de gastos pelo
número de quantidades produzidas.
DIVISÃO SIMPLES EM FASES : divisão do total de gastos pelo
número de produtos semi-elaborados em estoque ao final de cada
fase da produção.
DIVISÃO POR COEFICIENTES : quando a empresa chega a ofe-
recer grande variedade de tipos de produto, com custos diferentes

420 - GALBRAITH, John Kenneth. A economia e o interesse público. Trad. Anto-


nio Zoratto Sanvicente. São Paulo: Pioneira, 1988, p. 110-1.
421 - KNIGHT, Frank Hyneman. Riesgo, incertidumbre y beneficio. Trad. Ramón
Verea. Madrid: Aguilar, 1947, p. 43; BARRE, Raymond. Manual de economia
política. Trad. Pierre Santos. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1970, v. 3, p. 185-7;
SOUZA, Washington Peluso Albino de. Direito Econômico. São Paulo: Saraiva,
1980, p. 601; CAMARGO, Ricardo Antônio Lucas. O capital na ordem jurídico-
econômica. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 1998, p. 60.
422 - SAMUELSON, Paul A. Introdução à análise econômica. Trad. Luiz Carlos
do Nascimento Silva. Rio de Janeiro: Agir, 1966, v. 2, p. 300.
423 - SOUZA, Washington Peluso Albino de. Direito Econômico e Economia
Política. Belo Horizonte: Prisma, 1970, v. 1, p. 269-274.
140
entre si, toma-se separadamente o custo de cada tipo, escolhe-se um
deles para base e, a partir deste, é elaborada uma tabela de coeficien-
tes, mercê da qual se verificará o peso que cada um deles terá no
custo global.
ACRÉSCIMO PROPORCIONAL: estabelecido a partir da propor-
ção entre os custos singulares e as quantidades produzidas.
COMBINAÇÃO DE MÉTODOS: estabelecido conforme o impo-
nham as circunstâncias ou a conveniência do agente econômico.
Vem a consistir na combinação dos métodos conhecidos, conside-
rando o custo pelo comportamento de cada uma das fases da produ-
ção – o custo da obtenção da matéria prima pode ser apurado de
modo diverso daquele da transformação intermediária, que por sua
vez poderá diferir daquele mais adequado para se apurar o do aca-
bamento final do produto. Para ser adequadamente empregado, é
necessário que se tome em consideração a multiplicidade de variá-
veis que determinam os custos de determinados bens: em geral, são
encontrados bens que incorporam a si os resíduos dos custos de ou-
tros de diversa natureza, podem ocorrer situações em que, a partir da
definição dos custos dos produtos principais e secundários de uma
mesma indústria, a própria posição dos principais e dos secundários,
o dado de um tal ou qual produto não ter como determinante de sua
procura a competição pelo preço.
Criam-se expedientes para tentar diminuir os riscos, e isto não
necessariamente significa a diminuição do lucro. O expediente lícito
que mais se traz a exemplo é o dos seguros 424. Aponta-se, em rela-
ção a estes, a semelhança com o jogo, em virtude de se trabalhar
com o elemento sorte, embora, aqui, o cálculo de probabilidades se
coloque, justamente, para o efeito de prevenir os riscos ou, no caso
de sua concretização, compensa-los, diversamente do que ocorre
com o jogo, em que o risco é assumido e define o êxito ou o malo-
gro425. Também aparecem as aplicações financeiras como forma de
canalizar recursos à poupança, motivada pela precaução em face da

424 - KNIGHT, Frank Hyneman. Riesgo, incertidumbre y beneficio. Trad. Ramón


Verea. Madrid: Aguilar, 1947, p. 221.
425 - SAMUELSON, Paul A. Introdução à análise econômica. Trad. Luiz Carlos
do Nascimento Silva. Rio de Janeiro: Agir, 1966, v. 2, p. 77-8.
141
necessidade de se realizarem gastos repentinos ou de surgirem im-
previstas oportunidades vantajosas426.
Remessa de lucros: disciplinada pela Lei 4131/62 a remessa de
lucros para o estrangeiro. Estabelece um percentual que deve ficar
no Brasil, sob controle do BC. Estimula o reinvestimento do lucro da
empresa de capital estrangeiro, no próprio País427. Embora haja uma
tendência a se polarizar o debate entre a “defesa do capital nacional”
e a “receptividade ao capital estrangeiro”, o real desafio vem a colo-
car-se em termos de que haja a real possibilidade de o país receptor
dos capitais efetivamente desenvolver sua economia e garantir a
lucratividade das empresas que se vêm instalar no país428. Assim,
entre estes dois pólos gravita o montante a ser subtraído, para ficar
retido no país, do lucro neste gerado, a ser remetido para o exterior.
Lucros cessantes: a indenização, no âmbito da responsabilidade
civil, abrange aquilo que o lesado razoavelmente deixou de lucrar.
O que significa este “razoavelmente”? Significa “um rendimento
normal de serviços administrativos, segundo determinação competi-
tiva em todas as indústrias; e um rendimento normal de capital, tal

426 - KEYNES, John Maynard. Teoría general de la ocupación, el interés y el


dinero. Trad. Eduardo Hornedo. México: Fondo de Cultura Económica, 1965, p.
176.
427 - GALVES, Carlos. Manual de economia política atual. Rio de Janeiro: Foren-
se, 1972, p. 374; SIMONSEN, Mário Henrique. Brasil 2001. Rio de Janeiro: APEC,
2001, p.248-9; BARRETO, Alberto Deodato Maia. Manual de ciência das finanças.
São Paulo: Saraiva, 1971, p. 151-2; REIS, Sebastião Alves dos. Capital estrangeiro,
remssa de lucros. Revista de Direito Público. São Paulo, v. 23, n. 84, p. 299, abr/jun
1990; AUGUSTO, Ana Maria Ferraz. Remessa de lucros. In: FRANÇA, Rubens
Limongi [org.]. Enciclopédia Saraiva de Direito. São Paulo: Saraiva, 1981, v. 64,
p. 476-7; FARIA, Werter R. Tratamento jurídico dispensado no Brasil ao capital
estrangeiro. Revista ce Informação Legislativa. Brasília, v. 28, n. 110, p. 236,
abr/jun 1991; SOUZA, Washington Peluso Albino de. Capitais estrangeiros: regime
jurídico e modelo econômico. Revista da Faculdade de Direito da Universidade
Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte, v. 29, n. 26/27, p. 175, 1983/1984; CA-
MARGO, Ricardo Antonio Lucas. Uma introdução à prioblemática jurídica dos
capitais estrangeiros. In: CAMARGO, Ricardo Antônio Lucas [org.]. Desenvolvi-
mento econômico e intervenção do Estado na ordem constitucional – estudos jurí-
dicos em homenagem ao Professor Washington Peluso Albino de Souza. Porto
Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 1995, p. 180-1.
428 - BARRE, Raymond. Manual de economia política. Trad. Pierre Santos. Rio de
Janeiro: Fundo de Cultura, 1970, v. 4, p. 187-8.
142
como determinado competitivamente em toda parte por indústrias de
igual risco”429.
Lucro arbitrado: comum no âmbito fiscal. Quando a empresa
declara um lucro e essa declaração se mostra inexata ou desmerece-
dora de fé, o Fisco pode arbitrá-lo, ou seja, fixá-lo de acordo com o
que se poderia esperar o que se teria lucrado naquelas circunstâncias.
Lucro presumido: é aquele que não se tem como apurar median-
te dados documentais, porém se determina tomando em consideração
aquilo que normalmente acontece para a ele se chegar.
Lucro real: é justamente aquele que corresponde ao ganho real
da atividade, independente da inflação.
Aumento arbitrário dos lucros: este conceito aparece, no art. 157
inciso V, da CF de 1967, e está pressuposto em vários diplomas. Na
Constituição atual, comparece no § 4º do artigo 173. Em regra, há a
pressuposição do lucro como proveniente de justa causa, socialmente
justificado. Sem causa justa, decorre de expedientes fraudulentos,
abusivos ou mesmo escancaradamente ilícitos, para se obter uma
elevação da remuneração. Torna-se de mais fácil apuração em perío-
dos de tabelamento ou congelamento, ante a fixação do preço por ato
de autoridade. Mas também pode ser verificada em casos de evasão
tributária, de apropriação de créditos fictícios, sem autorização legal,
no momento de apurar o quanto devido em impostos não cumulati-
vos.
Justa remuneração do capital (equilíbrio econômico financeiro
nos contratos administrativos): quando uma empresa contrata com o
Poder Público a prestação de um serviço, ela vai ter gastos, ela vai
incorrer em vários custos. E a tarifa que é celebrada entre ela e ad-
ministração pública, ao mesmo tempo em que tem um caráter módi-
co, tem que permitir lucro, para não ir a empresa à bancarrota.
Direito ao lucro como limite dos tabelamentos e congelamentos:
pode tabelar preços e congelar, mas não se pode impor ao particular
que opere no prejuízo. Caso paradigmático foi examinado pelo Su-
premo Tribunal Federal ao considerar que, mesmo não havendo in-
constitucionalidade no tabelamento e no congelamento em si, a fixa-

429 - SAMUELSON, Paul A. Introdução à análise econômica. Trad. Luiz Carlos


do Nascimento Silva. Rio de Janeiro: Agir, 1966, v. 2, p. 118.
143
ção dos preços em valores que impedissem a recomposição de custos
imporia ao Poder Público o dever de indenizar 430.

Lucro x salário:
Já se mostrava comum entre os clássicos do liberalismo econô-
mico a percepção de que o lucro aumenta na proporção inversa do
salário431, apesar de uma ou outra contestação432.

430 - Recurso extraordinário 422941. Relator: Min. Carlos Velloso. Diário de Justi-
ça da União. Brasília, 24 mar 2006.
431 - NUNES, Antonio José Avelãs. Uma introdução à economia política. São
Paulo: Quartier Latin, 2008, p. 437; WALRAS, Léon. Compêndio dos elementos de
economia política pura. Trad. João Guilherme Vargas Netto. São Paulo: Nova
Cultural, 1996, p. 313; SMITH, Adam. A riqueza das nações – uma investigação
sobre a sua natureza e as suas causas. Trad. Luís João Baraúna. São Paulo: Nova
Cultural, 1996, v. 1, p. 118-9; RICARDO, David. Princípios de economia política e
do imposto. Trad. C. Machado Fonseca. Rio de Janeiro: Atena, 1937, p. 69; MAL-
THUS, Thomas Robert. Ensaio sobre a população. Trad. Antônio Alves Cury. In:
GALVEAS, Ernane [org.]. Os economistas – Malthus. São Paulo: Nova Cultural,
1996, p. 253-4; AMARAL, Alexandre Augusto Pinto Coelho de. O contrato coleti-
vo de trabalho no Direito corporativo português. Boletim da Faculdade de Direito
de Coimbra. Coimbra, v. 11, p. 331-2, 1953 - supl.; HUBERMAN, Leo. História da
riqueza do homem. Trad. Waltensir Dutra. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara, 1986, p.
207; MYRDAL, Gunnar. Aspectos políticos da teoria econômica. Trad. José Auto.
São Paulo: Nova Cultural, 1986, p. 99-100; CAMARGO, Ricardo Antônio Lucas.
O direito exaurido – a hermenêutica da Constituição Econômica no coração das
trevas. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 2011, p. 124.
432 - NUNES, Antonio José Avelãs. Uma introdução à economia política. São
Paulo: Quartier Latin, 2008, p. 538-9; SAY, Jean-Baptiste. Tratado de econo-
mia política. Trad. Balthazar Barbosa Filho. São Paulo: Abril Cultural,
1983, p. 318-9; JEVONS, William Stanley. A teoria da economia política.
Trad. Cláudia Lavensveiler de Moraes. In: JEVONS, William Stanley &
MENGER, Carl. Os economistas. São Paulo: Abril Cultural, 1983, p. 158 -
9; NASSAU SENIOR, William. Three lectures on the rate of wages.
http://socserv2.socsci.mcmaster.ca/~econ/ugcm/3ll3/senior/wages.html, acessado
em 23 ago 2011; GALVES, Carlos. Manual de economia política atual. Rio de
Janeiro: Forense, 1972, p. 177-9; WIESER, Friedrich Von. Natural value. Transl.
Christian A. Malloch. http://praxeology.net/FW-NV-III-3.htm, acessado em 29 ago
2011; KNIGHT, Frank Hyneman. Inteligência e ação democrática. Trad. Francisco
J. Beralli. Rio de Janeiro: Instituto Liberal, 1989, p. 167.
144
Marx433 enuncia a teoria da mais valia, aceitando a proporção es-
tabelecida pelos seus antecessores entre o salário e o lucro, para con-
cluir que há a subtração da parcela correspondente a este a partir do
que seria devido ao trabalhador. É interessante notar, contudo, que a
percepção inicial de que um nível salarial mais reduzido asseguraria
uma lucratividade maior às empresas vem, após um exame mais
aprofundado, a ser abalada pelo dado de salários mais elevados po-
derem resultar, antes, em maior motivação para o trabalho e, conse-
qüentemente, que haja menor esforço e maior produtividade 434.
Participação do trabalhador nos lucros da empresa 435: esta idéia
foi posta em prática muito antes de Marx escrever O capital. Napo-
leão estabeleceu para os artistas da Comédie Française uma partici-
pação no que fosse arrecada pela bilheteria. Na França, hoje, existem
os denominados planos de acionariados, que consistem na oferta de
ações da companhia aos empregados. Nas condições de acionistas,
eles participam dos lucros da mesma. Aqui no Brasil, algumas em-
presas concediam participação nos lucros. A Constituição de 46
prometeu essa participação. E o mesmo o fez a Constituição de 67.
Indagava-se como iriam operacionalizar tal participação sem terem
os operários acesso à contabilidade da empresa. Adotou-se uma so-
lução: a Lei Complementar n. 7, de 1970, institui o chamado pro-
grama de integração social, o PIS, que constitui uma exação fiscal

433 - O capital. Trad. Reginaldo Sant’Anna. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,


1974, v. 4, p. 221-3; NUNES, Antonio José Avelãs. Uma introdução à economia
política. São Paulo: Quartier Latin, 2008, p. 518-521; GALVES, Carlos. Manual de
economia política atual. Rio de Janeiro: Forense, 1972, p. 168; BETTELHEIM,
Charles. Planificação e crescimento acelerado. Trad. Dirceu Lindoso. Rio de Janei-
ro: Zahar, 1968, p.120-1; GEORGE, Henry. Progresso e pobreza. Trad. Américo
Werneck Júnior. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1935, p. 106-7; CA-
MARGO, Ricardo Antônio Lucas. O direito exaurido – a hermenêutica da Consti-
tuição Econômica no coração das trevas. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris,
2011, p. 124.
434 - SAMUELSON, Paul A. Introdução à análise econômica. Trad. Luiz Carlos
do Nascimento Silva. Rio de Janeiro: Agir, 1966, v. 2, p. 244.
435 - SOUZA, Washington Peluso Albino de. Do econômico nas Constituições
vigentes. Belo Horizonte: Revista Brasileira de Estudos Políticos, 1961, v. 2, p.
268; MARSHALL, Alfred. Princípios de economia. Trad. Rômulo Almeida &
Ottolmy Strauch. São Paulo: Abril Cultural, 1982, v. 2, p. 237; GUITTON, Henri.
Economia política. Trad. Oscar Dias Correa. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura,
1961, v. 3, p. 244; CARDOSO, Pires. Por uma corporação autêntica. Boletim da
Faculdade de Direito de Coimbra. Coimbra, v. 36, p. 83-4, 1960.
145
que é cobrada às empresas e depositada numa conta da Caixa Eco-
nômica Federal436. Esta exação não incide sobre o lucro, mas sim
sobre o faturamento437 (mesmo a empresa em “quebra” tem fatura-
mento). No final das contas, justamente porque o faturamento existe
mesmo em situação de insolvência das empresas, essa solução ado-
tada pelos militares vem a ser bem mais onerosa para elas do que a
participação nos lucros. A participação, em si mesma, principiou a
ser instituída por expedientes contratuais, a que o Tribunal Superior
do Trabalho, por seu Enunciado 251, conferia natureza salarial. Este
enunciado teve de ser cancelado, tendo em vista que a Constituição
de 1988 determinou que fosse tal participação desvinculada da re-
muneração. Por via legislativa, começou a ser instituída por uma
série de medidas provisórias a partir de dezembro de 1994, vindo a
ser adotada, efetivamente, entre nós, com a edição da Lei 10.101, de
19 de dezembro de 2000438.
Lucro e preços políticos: os preços políticos, estudados pelo
economista italiano Luigi Einaudi439, são fixados de sorte a assegu-
rarem o acesso da população a determinados serviços públicos. Esse
estabelecimento era muito comum com relação a telefonia, a energia
elétrica.Havia efetivamente algumas tarifas que eram subsidiadas
pelo governo. Os preços não eram fixados de modo a assegurarem o
maior lucro, e os acionistas se sentiam altamente prejudicados, em
favor à maior acessibilidade do serviço. Quando foi privatizado, isso
se alterou, passando-se a seguir o regime próprio dos contratos ad-
ministrativos. O lucro, sob ponto de vista contábil é a diferença posi-
tiva entre preço de custo e preço de venda, em linha de princípio. A
diferença negativa é o prejuízo. Mas quando estamos lidando com

436 - NUNES, António José Avelãs. Industrialização e desenvolvimento: a econo-


mia política do “modelo brasileiro de desenvolvimento”. Boletim da Faculdade de
Direito de Coimbra. Coimbra, v. 24/25, p. 786-7, 1982 – supl.
437 - GALVES, Carlos. Manual de economia política atual. Rio de Janeiro: Foren-
se, 1972, p. 172-4; BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso extraordinário
149.524. Relator: Min. Moreira Alves. DJU 7 out 1994.
438 - BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. São Paulo: LTr,
2011, p. 631-2.
439 - Princípios de hacienda pública. Trad. Jayme Algarra & Miguel Paredes.
Madrid: Aguilar, 1955, p. 62-3; BALEEIRO, Aliomar. Uma introdução à ciência
das finanças. Rio de Janeiro: Forense, 1986, p. 126; SOUZA, Washington Peluso
Albino de. Direito Econômico e Economia Política. Belo Horizonte: Prisma, 1970,
v. 1, p. 273.
146
preços políticos, a idéia de lucro diz com a acessibilidade ao serviço,
que possibilitaria a satisfação de uma necessidade indivisível dos
cidadãos. O exemplo por ele ofertado era o da tarifa do transporte
por ferrovia, para viabilizar “a divulgação da cultura, a defesa militar
e a melhora de regiões economicamente atrasadas”.

8.3.4. Salário

É a remuneração devida ao fator “trabalho”. O salário assinala


um tipo de relação de trabalho que é o trabalho livre. Este é necessa-
riamente assalariado. Justamente porque se trata do esforço em face
de uma contraprestação. Nós temos outras formas de trabalho:
Temos o trabalho escravo, por exemplo, onde o indivíduo é
obrigado a trabalhar sem qualquer remuneração. Ele não é sequer
considerado pessoa,e sim, é considerado uma ferramenta animada.
Temos o trabalhador visto como um bem semovente. A perda do
escravo implica a perda de um patrimônio440. O regime escravocrata
vigorou em toda a antiguidade (Grécia, Roma, Egito, Império Inca).
Mas ao lado do trabalho escravo, conhecia-se também o trabalho
servil. Neste modelo de trabalho, o trabalhador, não é coisa, porém,
ele vai trabalhar na terra e vai se colocar sujeito à autoridade daquele
que é o respectivo proprietário. Esta modalidade trabalho – a servi-
dão – vai ser a base da economia durante o feudalismo. No trabalho
servil, eu pago para trabalhar, entrego parte da minha produção para
o senhor da terra, necessariamente.
Mas como o salário é a marca do trabalho livre, ele vai compa-
recer como o preço da força do trabalho. Teremos, ainda, sua fixa-
ção, em regra, pela livre convenção das partes (empregado / empre-
gador), porém as partes são desiguais. A capacidade de negociação
do empregador se tornava uma capacidade de imposição diante da
maior necessidade e, ipso facto, menor capacidade de negociação do
empregado441.

440 - WIESER, Friedrich Von. Natural value. Transl. Christian A. Malloch.


http://praxeology.net/FW-NV-IV-10.htm, acessado em 29 ago 2011; ALENCAR,
José Martiniano de. Pareceres. Rio de Janeiro: Ministério da Justiça, 1960, p. 147-
8.
441 - SAY, Jean-Baptiste. Tratado de economia política. Trad. Balthazar Barbosa
Filho. São Paulo: Abril Cultural, 1983, p. 318; PIGOU, A. C. Teoría y realidad
147
Em muito, o salário, passa a ter uma fixação direta por ato legis-
lativo do estado. A manifestação mais evidente desta atuação estatal
nos salários, é a fixação do salário mínimo. Não pode ele, contudo,
ser empregado como indexador:

“O sentido da vedação constante da parte final do inc. IV do art.


7º da Constituição impede que o salário-mínimo possa ser apro-
veitado como fator de indexação; essa utilização tolheria even-
tual aumento do salário-mínimo pela cadeia de aumentos que
ensejaria se admitida essa vinculação (RE 217.700, Ministro
Moreira Alves). A norma constitucional tem o objetivo de im-
pedir que aumento do salário-mínimo gere, indiretamente, peso
maior do que aquele diretamente relacionado com o acréscimo.
Essa circunstância pressionaria reajuste menor do salário-
mínimo, o que significaria obstaculizar a implementação da po-
lítica salarial prevista no art. 7º, inciso IV, da Constituição da
República. O aproveitamento do salário-mínimo para formação
da base de cálculo de qualquer parcela remuneratória ou com
qualquer outro objetivo pecuniário (indenizações, pensões, etc.)
esbarra na vinculação vedada pela Constituição do Brasil. Histó-
rico e análise comparativa da jurisprudência do Supremo Tribu-
nal Federal. Declaração de não-recepção pela Constituição da
República de 1988 do Art. 3º, § 1º, da Lei Complementar n.
432/1985 do Estado de São Paulo”442.

Além do salário mínimo, o denominado salário mínimo profis-


sional é o piso que se entende necessário à valoração de determina-
das categorias, seja em razão do alto custo do respectivo treinamento
em face de uma escassa capacidade de ofertar profissionais diante
das exigências do mercado443, seja por caracterização própria da
profissão em termos de riscos ou de prestígio social. O salário míni-
mo é fixado por lei. O salário mínimo profissional pode ser fixado
por lei ou por convenção coletiva, mas não pode ser indexado pela

económica. Trad. Samuel Vasconcelos. México: Fondo de Cultura Económica,


1942, p. 118.
442 - BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso extraordinário 565714. Relato-
ra: Min. Carmen Lúcia. DJ-e 8 ago 2008.
443 - SAMUELSON, Paul A. Introdução à análise econômica. Trad. Luiz Carlos
do Nascimento Silva. Rio de Janeiro: Agir, 1966, v. 1, p. 163.
148
variação do salário mínimo stricto sensu, pela razão de com este não
se confundir. O salário é fixado, em regra, de acordo com a jornada
de trabalho, embora também se admite que ele possa ser fixado por
peça produzida. Esta última forma costuma ser combatida por operá-
rios e sindicatos em virtude de permitir a desigualação entre traba-
lhadores e incitar à redução da remuneração 444. Há um máximo de
horas por dia para o trabalhador, até porque “se o esforço é muito
grande, o homem está sujeito a cansar-se tanto com um longo traba-
lho que raramente se encontra na melhor forma, ficando o mais das
vezes muito abaixo disso ou então inativo”445. O que ultrapassar esse
máximo, é considerado hora extra, que deve ser remunerado. Con-
forme o período em que se trabalhe, no caso de trabalho noturno, o
remuneração será maior, porque o trabalho noturno, normalmente, é
mais fatigante do que o mesmo trabalho feito de dia. (Banco de ho-
ras –Lei 9608/98). A hora-extra, em realidade, vem a ser uma com-
pensação financeira pelo período de lazer sacrificado, período em
que não há a obrigatoriedade de o trabalhador ofertar sua energia em
prol do empregador446. De qualquer sorte, deve ser sempre levado
em consideração o dado de que a exigência de esforços corpóreos
superiores aos que muitos organismos humanos são capazes de reali-
zar traz consigo a seqüela de períodos de paralisação 447. O salário é
irredutível, salvo acordos ou convenções coletivas, uma vez que tais
atos jurídicos, que têm os sindicatos laborais como partes necessá-
rias, buscam a disciplina das relações laborais de acordo com as
circunstâncias em que são celebradas e, por vezes, a redução salarial
pode ser a alternativa para a manutenção dos postos de trabalho 448.
Nem a lei nem os ajustes individuais podem reduzir, pois, os salá-
rios. A irredutibilidade salarial não protege o salário contra a corro-
são inflacionária, de acordo com o entendimento firme do Supremo

444 - BARRE, Raymond. Manual de economia política. Trad. Pierre Santos. Rio de
Janeiro: Fundo de Cultura, 1970, v. 3, p. 78.
445 - MARSHALL, Alfred. Princípios de economia. Trad. Rômulo Almeida &
Ottolmy Strauch. São Paulo: Abril Cultural, 1982, v. 2, p. 286.
446 - SAMUELSON, Paul A. Introdução à análise econômica. Trad. Luiz Carlos
do Nascimento Silva. Rio de Janeiro: Agir, 1966, v. 2, p. 234.
447 - WICKSELL, Knut. Lecciones de economía política. Trad. Francisco Sánchez
Ramos. Madrid: Aguilar, 1947, p. 42.
448 - SAMUELSON, Paul A. Introdução à análise econômica. Trad. Luiz Carlos
do Nascimento Silva. Rio de Janeiro: Agir, 1966, v.2, p. 240.
149
Tribunal Federal449. Essa irredutibilidade é puramente nominal, não
real, sendo uma das razões o dado de que, como a inflação não afeta
igualmente a cada nível salarial, somente mediante lei se poderia
estabelecer o índice de reajuste que iria, efetivamente recompô-lo,
faixa a faixa. Não há direito a obter reajuste salarial sem previsão
expressa em lei450. Antes que se traga a objeção de que, para a solu-
ção deste problema, bastaria deixar à lei da oferta e da procura o
estabelecimento do ponto de equilíbrio entre os interesses do capital
e do trabalho, redorde-se que uma das razões pelas quais não há co-
mo se estabelecer, faticamente, um mercado de concorrência perfeita
no campo do trabalho, de tal sorte que pudesse haver uniformidade
geral nos níveis salariais é o dado de que, ao lado de categorias que
podem, perfeitamente substituir-se umas às outras, existem aquelas
que somente o podem fazer em parte e aquelas que não se podem
substituir entre si, correspondendo aos denominados “grupos não
concorrentes”451. Cabe falar, outrossim, nos adicionais voltados a
compensar financeiramente determinados infortúnios. Tais infortú-
nios, a rigor, num plano ideal deveriam ser eliminados, mas se con-
sidera que, em determinadas circunstâncias, o custo se poderia tornar
insuportável para as empresas, inviabilizando o próprio desenvolvi-
mento da atividade econômica452. Por esta razão, criam-se sucedâ-
neos financeiros, caso contrário, ninguém se disporia a desempenhar
atividades que de tais incômodos estivessem inçadas. A tais sucedâ-

449 - BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso extraordinário 174.184. Rela-


tor: Min. Moreira Alves. DJU 21 set 2001.
450 - SAMPAIO, José Adércio Leite. Expectativa de direito e direito adquirido
como franquias e bloqueios à transformação social. In: ROCHA, Carmen Lúcia
Antunes [org.]. Constituição e segurança jurídica – direito adquirido, ato jurídico
perfeito e coisa julgada – estudos em homenagem a José Paulo Sepúlveda Perten-
ce. Belo Horizonte: Forum, 2005, p. 329-330; BRASIL. Supremo Tribunal Federal.
Recurso extraordinário 203.361. Relator: Min. Marco Aurélio. DJU 28 fev 1997;
idem. Recurso extraordinário 175.246. Relator: Min. Moreira Alves. DJU 29 maio
1997.
451 - SAMUELSON, Paul A. Introdução à análise econômica. Trad. Luiz Carlos
do Nascimento Silva. Rio de Janeiro: Agir, 1966, v. 2, p. 238-9.
452 - SANTOS, Marco Fridolin Sommer. Acidente do trabalho entre a seguridade
social e a responsabilidade civil. São Paulo: LTr, 2008, p. 149; SOARES, Evanna.
Ação ambiental trabalhista. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 2004, p. 113-4;
SOUZA, Ricardo Luiz de. Os sentidos da ruptura: trabalhismo e legislação traba-
lhista na Revolução de 1930. Justiça & História. Porto Alegre, v. 5, n. 10, p. 224,
2005.
150
neos financeiros dá-se o nome, em Direito, de “adicionais” e, em
Economia Política, de “diferenças niveladoras”453.
Insalubridade: trata-se de adicional voltado a compensar finan-
ceiramente condições de trabalho que podem afetar a saúde de um
indivíduo.
Periculosidade: adicional voltado a compensar o perigo de aci-
dentes, não confundível com o anterior. O trabalho, por sua natureza
ou método, implicará contato permanente com substâncias inflamá-
veis, explosivas ou de qualquer outra natureza que a lei considere
aptas a afetar a integridade física do indivíduo. É deferido, ainda, no
Brasil, ao Ministério do Trabalho realizar, em ato administrativo
normativo, a identificação das atividades passíveis de serem abran-
gidas pelo adicional correspondente, bem como os critérios para a
sua graduação.
Penosidade: diz respeito àqueles serviços mais penosos, aptos a
criarem um desconforto a mais, além dos limites do suportável, que
não se enquadrem nem no conceito de insalubridade nem no de peri-
culosidade. A conceituação jurídica ainda depende de melhor expli-
citação, uma vez que ainda não se tem como precisar onde começa o
caráter excessivo do esforço exigido do ser humano no desempenho
de qualquer trabalho.
Quando estivermos tratando de servidores públicos, a remunera-
ção só pode ser fixada por lei e não por livre convenção das partes.
No âmbito de serviço público, não cabe a convenção coletiva, o
acordo coletivo para a fixação de estipêndios ou de condições de
trabalho, consoante o Supremo Tribunal Federal454.
Salário Família – benefício previdenciário instituído entre nós
pela Lei 4.266, de 1962, que se paga ao trabalhador na proporção
dos respectivos encargos familiares455. Embora se tenha sustentado,

453 - SAMUELSON, Paul A. Introdução à análise econômica. Trad. Luiz Carlos


do Nascimento Silva. Rio de Janeiro: Agir, 1966, v. 2, p. 235-6.
454 - Ação direta de inconstitucionalidade 391. Relator: Min. Paulo Brossard. DJU
16 set 1994; Ação direta de inconstitucionalidade 492. Relator: Min. Carlos Vello-
so. DJU 12 mar 1993.
455 - BALERA, Wagner. A seguridade social na Constituição de 1988. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 1989, p. 101; MARTINEZ, Wladimir Novaes. Comentários
à lei básica da previdência social. São Paulo: LTr, 1995, t. 2, p. 328-9; CORREIA,
Marcus Orione Gonçalves & CORREIA, Érica Paula Barcha. Curso de Direito da
Seguridade Social. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 342-3; CESARINO JÚNIOR,
Antônio Frederico. Direito Social. São Paulo: LTr, 1970, v. 2, p. 162-3; CASTRO,
151
num primeiro momento, que a instituição de um tal benefício seria
muito mais apta a desencorajar a contratação de trabalhadores casa-
dos e com filhos, o fato é que a diminuição da taxa de natalidade ou
o aumento da taxa de mortalidade infantil, os efeitos da alta do custo
de vida sobre pais de numerosa prole têm sido determinantes na de-
cisão dos Estados em adotá-lo456.
FGTS (fundo de garantia por tempo de serviço): instituído em
1966, pela Lei 5.107, como alternativo ao instituto da estabilidade
laboral, que o trabalhador, no Brasil, conquistava após prestar servi-
ços ininterruptamente dez anos para o mesmo empregador 457. Con-
siste em depósitos realizados pelo empregador em conta do empre-
gado, correspondentes a uma percentagem sobre a remuneração des-
te, que somente poderão ser levantados em hipóteses taxativas pre-
vistas na própria lei, tendo em vista que os recursos se voltam, tam-
bém, a financiar o desenvolvimento de outras políticas públicas,
como, por exemplo, o Sistema Financeiro da Habitação 458.
Truck system: sistema pelo qual o trabalhador ao invés de rece-
ber a parte pelo seu trabalho em dinheiro, vem a receber em gêneros.
Porém, muitas vezes, o valor do gênero supera o valor do trabalho,
de modo que o trabalhador fique vinculado ao empregador mediante
esse complexo sistema de endividamento459. Mediante ações civis

Carlos Alberto Pereira de & LAZZARI, João Batista. Curso elementar de Direito
Previdenciário. São Paulo: LTr, 2005, p. 299-301; NASCIMENTO, Amauri Masca-
ro. Iniciação ao Direito do Trabalho. São Paulo: LTr, 2002, p. 340.
456 - GUITTON, Henri. Economia política. Trad. Oscar Dias Correa. Rio de Janei-
ro: Fundo de Cultura, 1961, v. 3, p. 245.
457 - SINGER, Paul. Repartição da renda – pobres e ricos sob o regime militar.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985, p. 30.
458 - CESARINO JÚNIOR, Antônio Frederico. Direito Social. São Paulo: LTr,
1970, v. 2, p. 272-3; BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho.
São Paulo: LTr, 2011, p. 798-800; LEITE, João Antônio G. Pereira. Estudos de
Direito do Trabalho e Direito Previdenciário. Porto Alegre: Síntese, 1979, p. 133.
459 - TORRES, Alberto. A organização nacional. São Paulo: Companhia Editora
Nacional, 1938, p. 286; LENIN, Vladimir Ilitch Ulianov. O desenvolvimento do
capitalismo na Rússia. Trad. José Paulo Netto. São Paulo: Abril Cultural, 1982, p.
282; CESARINO JÚNIOR, Antônio Frederico. Direito Social. São Paulo: LTr,
1970, v. 2, p. 180; ENGELS, Friedrich. A situação da classe trabalhadora na
Inglaterra. Trad. Rosa de Camargo Artigas & Reginaldo Forti. São Paulo: Global,
1988, p. 203-5; BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. São
Paulo: LTr, 2011, p. 647-8; MARX, Karl. O capital. Trad. Reginaldo Sant’Anna.
Rio de Janeiro; Civilização Brasileira, 1975, v. 1, p. 196; CARREIRO, Carlos H.
Porto. Lições de economia política e noções de finanças. Rio de Janeiro: F. Brigui-
152
públicas, o Ministério Público do Trabalho vem combatendo este
tipo de conduta, tido como apto a reduzir o trabalhador a condição
análoga à de escravo460. Como é correntia a afirmação de que as
dificuldades para que o Brasil se desenvolva estão radicadas, além
da carga tributária, nos pesados ônus sobre a folha de pagamento – o
que pressupõe que eles sejam sempre atendidos e não existam outras
formas, inclusive em lei, para se os satisfazer, quando não são efeti-
vamente inadimplidos -, é bom lembrar que nos meios rurais, a legis-
lação trabalhista chega apenas formalmente. E, muitas vezes, consi-
derando determinados ambientes, como as cerradas matas amazôni-
cas, não tem como se fazer um controle mais efetivo, e ali o traba-
lhador fica totalmente à mercê do empregador.

8.4. Consumo

8.4.1. Fatos econômicos relacionados ao consumo

Consumo: destino último de toda atividade econômica, ou seja,


toda atividade econômica se desenvolve necessariamente em busca
de meios para obtenção de bens de consumo 461. Meios estes que fo-
ram estudados ao tratarmos do fato econômico denominado reparti-
ção. Porém quando chega a remuneração à cada um dos fatores de
produção, nem toda ela será destinada ao consumo. Uma parte é

et, 1952, p.376; SIMCH, Francisco Rodolfo. Economia social. Porto Alegre: Globo,
1912, p.41; RUSSOMANO, Mozart Victor. Curso de Direito do Trabalho. Curiti-
ba: Juruá, 2002, p. 365; CAMINO, Carmen. Direito individual do Trabalho. Porto
Alegre: Síntese, 2003, p. 345, nota 410.
460 - BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Agravo de Instrumento em Recurso
de Revista n° TST-AIRR-33840-41.2004.5.01.0411. Relator: Min. Dora Maria da
Costa. DJ-e 24 set 2010; LOTTO, Luciana Aparecida. Ação civil pública contra o
trabalho escravo. São Paulo: LTr, 2008, p. 103-6; BRITO FILHO, José Cláudio
Monteiro de. Trabalho decente. São Paulo: LTr, 2004, p. 76-7; MACHADO, Jorge
Luís. O trabalhador indígena e o direito à diferença – o caminho para um novo
paradigma antropológico no Direito Comparado. LTr. São Paulo, v. 75, n. 9, p.
1.103, set 2011.
461 - SMITH, Adam. A riqueza das nações – uma investigação sobre a sua nature-
za e as suas causas. Trad. Luís João Baraúna. São Paulo: Nova Cultural, 1996, v. 2,
p. 146; NUNES, Antonio José Avelãs. Uma introdução à economia política. São
Paulo: Quartier Latin, 2008, p. 448; MYRDAL, Gunnar. Aspectos políticos da
teoria econômica. Trad. José Auto. São Paulo: Nova Cultural, 1986, p. 117.
153
destinada ao consumo, realmente, isto é, a aquisição dos bens para a
satisfação das necessidades próprias462. Os ganhos dos mais pobres,
em regra, são totalmente ou majoritariamente absorvidos pelo con-
sumo, diversamente dos ganhos dos mais afortunados, que, por tal
motivo, ofertarão ao pensamento neoclássico o argumento de que
“dado que só os ricos economizam, a desigualdade é justificada” 463.
Claro que, com a admissão da rigidez das situações dos fatores de
produção como falha de mercado464, tal argumento se veria algo aba-
lado. De qualquer sorte, é de se observar que o consumo das classes
menos aquinhoadas pela fortuna é predominantemente função do
respectivo ganho, ao passo que o das mais abastadas vem a consultar
outros fatores, como moda, gostos pessoais, índice de prestígio ou
poder e tantos outros, que muitas vezes levam a desprezar o fator
preço no momento da aquisição de um bem que, para outras classes,
teria neste fator um peso predominante465. A propensão média a con-
sumir – isto é, o que se entende que traduza a inclinação de alguém
ou algum grupo, determinado ou indeterminado, a consumir – é es-
tabelecida pela relação entre o consumo e a “renda” – aqui, no senti-
do de “ganho” -. A propensão marginal a consumir será estabelecida
pela relação entre a variação do consumo e a da “renda”. Tal pro-
pensão tende a aumentar com o incremento dos ganhos, mas a dimi-
nuição destes não acarreta necessariamente a respectiva redução. De
qualquer sorte, são sobejamente conhecidas dos economistas as
mensurações das taxas de dilatabilidade, quando é positiva a varia-
ção dos ganhos e, quando esta é negativa, de compressibilidade466.
De qualquer sorte, deve-se tomar em consideração que a variação
dos ganhos também influi na propensão a poupar. Cada unidade
econômica que não é “consumida” é “poupada” e, por esta razão, a

462 - FURTADO, Celso. Teoria e política do desenvolvimento econômico. São


Paulo: Companhia Editora Nacional, 1969, p. 149.
463 - ROBINSON, Joan. Filosofia econômica. Trad. Fernando Ferro. Rio de Janei-
ro: Zahar, 1964, p. 59; PARETO, Vilfredo. Manual de economia política. Trad.
Guillermo Cabanellas. Buenos Aires: Atalaya, 1945, p. 320; BALEEIRO, Aliomar.
Uma introdução à ciência das finanças. Rio de Janeiro: Forense, 1986, p. 56-7.
464 - NUSDEO, Fábio. Curso de economia política – introdução ao Direito Eco-
nômico. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003, p. 142-3.
465 - FURTADO, Celso. Teoria e política do desenvolvimento econômico. São
Paulo: Companhia Editora Nacional, 1969, p. 152.
466 - GUITTON, Henri. Economia política. Trad. Oscar Dias Correa. Rio de Janei-
ro: Fundo de Cultura, 1961, v. 4, p. 102-3.
154
propensão marginal a poupar será o resultado da subtração da unida-
de pela propensão marginal a consumir. Ou, por outra: a soma da
propensão marginal a consumir e da propensão marginal a poupar é
igual à unidade467. O nível de essencialidade, por fim, será estabele-
cido pela relação entre a propensão marginal e a propensão média a
consumir468.
Consumo individual: é aquele que diz respeito a determinado
indivíduo, à satisfação de pessoa determinada.
Consumo familiar: é aquele que diz respeito à satisfação das ne-
cessidades das pessoas que habitam uma mesma residência, podendo
ou não corresponder a uma “família” no sentido jurídico 469, tomado,
em regra, sob um ponto de vista quantitativo, como se fosse um in-
divíduo só470.
Consumo comunitário: é o que diz respeito, tanto em termos
quantitativos quanto qualitativos, aos hábitos de consumo de uma
determinada comunidade, tomada em bloco. Este conceito será exa-
minado com maior profundidade no capítulo sobre desenvolvimento
e subdesenvolvimento, no qual serão tratados com mais minúcia os
conceitos próprios da macroeconomia.
Sustentabilidade: nos tempos atuais, o problema do esgotamento
dos recursos naturais se coloca diante de uma concepção do consu-
mo limitado exclusivamente pela capacidade de satisfação do con-
sumidor. Emerge, destarte, a questão do “consumo sustentável”, que
pressupõe uma disciplina dos impulsos, que pode vir tanto mediante
a edição de comandos coercitivos diretos quanto mediante a educa-
ção.
*Consumo compulsivo: é o referente à pressão psicológica para
adquirir todos os bens e serviços que aparecem ofertados no merca-
do, especialmente quando se trate de novidades. A maior facilidade

467 - SAMUELSON, Paul A. Introdução à análise econômica. Trad. Luiz Carlos


do Nascimento Silva. Rio de Janeiro: Agir, 1966, v. 1, p. 295-6.
468 - GUITTON, Henri. Economia política. Trad. Oscar Dias Correa. Rio de Janei-
ro: Fundo de Cultura, 1961, v. 4, p. 102.
469 - MIRANDA, Francisco Cavalcanti Pontes de. Tratado de Direito Privado. Rio
de Janeiro: Forense, 1955, t. 7, p. 174.
470 - GALBRAITH, John Kenneth. A economia e o interesse público. Trad. Anto-
nio Zoratto Sanvicente. São Paulo: Pioneira, 1988, p. 35; SEN, Amartya. Desenvol-
vimento como liberdade. Trad. Laura Teixeira Motta. São Paulo: Companhia das
Letras, 2010, p. 100; GUITTON, Henri. Economia política. Trad. Oscar Dias Cor-
rea. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1961, v. 4, p. 98.
155
de realização de despesas, pelo uso do cartão de crédito, por exem-
plo, vem a encontrar franca ligação com este fenômeno, embora não
se possa estabelecer uma relação fatal de causalidade entre o uso do
cartão de crédito e a compulsão para consumir, porque, por óbvio,
nem todos os que usam cartão de crédito são, só por isto, consumido-
res compulsivos.
Superendividamento: é o comprometimento do orçamento fami-
liar de modo tal que se gera uma dificuldade maior de satisfação das
dívidas do indivíduo. Aí, surgem questões diversas. Pode ele ter
origem tanto no consumo compulsivo, na realização imprudente de
despesas, como em circunstâncias que são absolutamente estranhas à
capacidade de previsão e prevenção do consumidor. Neste sentido,
vêm-se produzindo estudos que aproximam o tratamento jurídico do
super endividamento ao da falência, distinguindo entre o desequilí-
brio de boa ou má fé471.
A partir de tudo isso nós temos aqui, demonstrada a falácia de
um dos princípios da economia clássica, o principio da SOBERANIA
DO CONSUMIDOR, isto é o princípio segundo o qual o mercado se
organiza em torno o consumidor, em torno o que o consumidor quer,
deseja472. Por sinal era com base nele que valia a máxima Caveat
emptor – “cuide-se o comprador”. Já mesmo na época em que tal
princípio gozou de maior prestígio tem-se noticia do paradoxo de
Condorcet, concernente à impossibilidade de se obter a consagração

471 - MARQUES, Cláudia de Lima. Contratos no Código de Defesa do Consumi-


dor. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005, p. 1.236-8; ALMEIDA, João Baptista
de. A proteção jurídica do consumidor. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 327; COSTA,
Geraldo de Faria Martins da. Superendividamento – solidariedade e boa fé. In:
MARQUES, Cláudia de Lima & CAVALLAZZI, Rosângela Lunardelli [org.].
Direitos do consumidor superendividado. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008,
p. 249.
472 - QUESNAY, François. Quadro econômico. Trad. Teodora Cardoso. Lisboa:
Gulbenkian, 1966, p.. 261-2; SMITH, Adam. A riqueza das nações – uma investi-
gação sobre a sua natureza e as suas causas. Trad. Luís João Baraúna. São Paulo:
Nova Cultural, 1996, v. 2, p. 146; MEYERS, Alfred L. Elementos de economia
moderna. Trad. Antonio Ferreira da Rocha. Rio de Janeiro: Livro Ibero-Americano,
1968, p. 16; HECKSCHER, Eli R. La época mercantilista. Trad. Wenceslao Roces.
México: Fondo de Cultura Económica, 1983, p. 780; SOMBART, Werner. El apo-
geo del capitalismo. Trad. Vicente Caridad. México: Fondo de Cultura Económica,
1946, v. 2, p. 50; CANOTILHO, José Joaquim Gomes & MACHADO, Jonatas E.
M. “Reality shows” e liberdade de programação. Coimbra: Coimbra Ed., 2003, p.
78-9.
156
majoritária que, com fidelidade, espelhe a posição dos indivíduos
que compõem a coletividade473. Justamente porque o consumo pode
ser induzido, necessidades podem ser criadas principalmente pela
atuação da publicidade, o principio da “soberania do consumidor”
passa a ser substituído pelo princípio da “vulnerabilidade”, ou seja, o
consumidor é vulnerável, mas não significa que ele seja sempre frá-
gil.
Investimento: A outra parte será destinada ao investimento, ou
seja, uma parte será destinada à produção de rendimentos, a obten-
ção de mais meios para a aquisição de bens de consumo. Portanto
será aplicado ou na atividade econômica, ou destinado a aplicações
financeiras e, por último, à poupança. É de se notar que nem sempre
a parte da remuneração correspondente à abstinência do consumo
corresponderá efetivamente a um sacrifício, bastando tomar em con-
sideração o modo como se comportam os rendimentos dos mais opu-
lentos474.
Poupança: é justamente a parte da remuneração que não será
nem votada a produção de novos rendimentos e nem para aquisição
de bens de consumo, ela será simplesmente guardada, posta como
uma reserva para quaisquer perigos e eventualidades. A imagem
mais perfeita da poupança, nós a podemos verificar no Gênesis
quando José do Egito, depois de interpretar o sonho do faraó, a res-
peito das vacas gordas e vacas magras, aconselha-o a recolher uma
parte do trigo, produzido pelos súditos, para enfrentar a carestia que
estava por vir. Houve uma poupança compulsória475. Que não é so-

473 - NUSDEO, Fábio. Curso de economia política – introdução ao Direito Eco-


nômico. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003, p. 220-1; MANKIW, N. Gregory.
Princípios de microeconomia. Trad. Allan Vidal Hastings & Elisete Paes e Lima.
São Paulo: Cengage Leaning, 2009, p. 473-4; SEN, Amartya. Desenvolvimento
como liberdade. Trad. Laura Teixeira Motta. São Paulo: Companhia das Letras,
2010, p. 320-1.
474 - NUNES, Antonio José Avelãs. Uma introdução à economia política. São
Paulo: Quartier Latin, 2008, p. 539; WICKSELL, Knut. Lecciones de economía
política. Trad. Francisco Sánchez Ramos. Madrid: Aguilar, 1947, p. 69.
475 - BOULDING, Kenneth A. Princípios de política econômica. Trad. Luiz Apa-
recido Caruso. São Paulo: Mestre Jou, 1967, p. 166; MEYERS, Alfred L. Elemen-
tos de economia moderna. Trad. Antonio Ferreira da Rocha. Rio de Janeiro: Livro
Ibero-Americano, 1968, p. 471-2; SOUZA, Washington Peluso Albino de. Direito
Econômico. São Paulo: Saraiva, 1980, p. 16.
157
mente o capital que vem a sofrer este tipo de imposição, provam-no
o PIS, o PASEP e o FGTS476.

8.4.2. Identificação do consumo a partir da caracterização dos


bens

Insumos: bens que são aplicados a atividade econômica, produ-


tiva ou de comércio. Um bem conforme a sua destinação por de ser
um insumo ou bem de consumo (uma maçã é um insumo para o qui-
tandeiro, mas um bem de consumo para quem comprar para consu-
mir). O tema dos insumos traz à questão a imunidade do livro do
jornal do periódico e do papel para respectiva impressão a tributos
posta na letra “d” do inciso VI do artigo 150 da Constituição Fede-
ral477. Outros insumos entrariam? Num primeiro momento, sim,
desde que se os pudesse equiparar ao papel. O filme fotográfico esta-
ria ou não abrangido pela imunidade? Foi decidido que sim, que ele
se equipararia ao papel. Já a tinta não se considera abrangida pela
imunidade em questão478. A importância econômica disto é que mui-
tas vezes aquilo que entra no preço dos insumos reflete no preço dos
bens de consumo. E justamente para evitar que os tributos sobre os
insumos exacerbem os preços dos bens de consumo, adota-se para
alguns deles o sistema de não cumulatividade, ou seja, no momento
de se apurar o quanto devido ao fisco abate-se aquilo que já foi pago
numa operação anterior479.
Bens de consumo: dizem respeito à satisfação de uma necessi-
dade, em caráter final sem se destinarem à geração de riquezas. Cos-
tuma-se, conforme as particularidades do uso, agrupá-los nas seguin-
tes categorias:

476 - NUNES, António José Avelãs. Industrialização e desenvolvimento: a econo-


mia política do “modelo brasileiro de desenvolvimento”. Boletim da Faculdade de
Direito de Coimbra. Coimbra, v. 24/25, p. 767-8, 1982 – supl.
477 - BARRETO, Aires Fernandino. ISS na Constituição e na lei. São Paulo: Dialé-
tica, 2003, p. 102; NUNES, Fernando Crespo Queiroz. Imposto sobre a prestação
de serviços de comunicação e internet. Curitiba: Juruá, 2006, p. 223-5.
478 - ÁVILA, Humberto Bergmann. Sistema constitucional tributário. São Paulo:
Saraiva, 2004, p. 241-5.
479 - CAMARGO, Ricardo Antonio Lucas. ICMS e equilíbrio federativo na Consti-
tuição Econômica. Porto Alegre: Sérgio Antonio Fabris, 2008, p. 33-5.
158
o Consumível: aquele cujo uso implica a respectiva destruição
o Durável: aquele cujo uso ou fruição não implica a destruição
(ex: livro).
o Fruível: aquele cuja finalidade última é atingida ou mediante
a simples contemplação ou mediante a prestação de uma condu-
ta útil.

8.4.3. Consumidor

Consumidor-indivíduo: é o sujeito particularizado, que frui do


bem ou serviço em caráter final, isto é, sem o escopo de fazer com
que o bem ou serviço venham a constituir fonte de produção de ri-
queza. Poderá caracterizar-se como tal tanto o que adquire a proprie-
dade do bem quanto o simples possuidor ou detentor, tanto o que
contrata diretamente com o fornecedor quanto o que sequer o tenha
feito: o que interessa para qualificar o consumo não é o título que
liga o sujeito ao objeto, mas tão-somente o ato de consumir, seja
efetiva, seja virtualmente. O mesmo se diga em relação a quem frua
do serviço: não há necessidade de que o indivíduo contrate direta-
mente o prestador do serviço.
Consumidor-categoria: toca ao conjunto de pessoas que tenha
como traço de união o dado de consumir determinado produto ou
fruir determinados serviços. É a este consumidor que se vai referir
não só o tratamento legislativo do tema – estabelecendo a categoria
jurídica “consumidor”, ao lado de outras já conhecidas como “pai”,
“mãe”, “parente”, “trabalhador”, “empregador”, “contribuinte” –
como também a tutela de interesses transindividuais – coletivos e
difusos – nos âmbitos administrativo e judicial.

8.4.4. “Efeitos” do consumo

Efeito-demonstração: a posse de um determinado bem ou a frui-


ção de um determinado serviço por um indivíduo determinado lhe
atribui um status. Outros tendem a imitá-lo para conseguir tal sta-

159
tus.480 É, por sinal, com base nele que se pode explicar a presença de
fatores distintos do preço e da remuneração para que a publicidade
tenha como induzir o consumo481.
Efeito-memória: aquele que uma vez fruiu daquele serviço ou
teve a possibilidade de consumir aquele bem, quer experimentar
novamente a sensação daquela satisfação482. O efeito-memória tam-
bém se liga a uma das principais características psicológicas do ser
humano, que é o amor extremado às próprias percepções e, ipso facto,
às próprias convicções, tenham elas um fundamento racional ou
não483.
Efeito-cremalheira: quando eu vou utilizando determinado bem,
ele vai satisfazendo minha necessidade. Chega um determinado mo-
mento em que se passa do limite da satisfação e vai-se para a satura-
ção (Leis de Gossen)484. De outra parte, uma vez experimentada uma
forma de fruição apta a gerar um prazer em “nível mais elevado”,
seja sob o aspecto qualitativo, seja sob o aspecto quantitativo, seja
sob ambos, o indivíduo relutará em retornar a uma situação cujo
nível de consumo se coloque em patamar inferior485. Este aspecto do
“efeito-cremalheira” liga-se ao que se considera um dos principais
acicates para a “acumulação”, ou seja, “a riqueza e o prazer futuros
do indivíduo que acumula, ou daqueles para quem pretende deixar os

480 - WEBER, Adolf. Introducción al estudio de la Economía Política. Trad. José


Alvarez de Cienfuegos y Cobos. Barcelona: Bosch, 1943, p. 90; NUSDEO, Fábio.
Curso de economia política – introdução ao Direito Econômico. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2003, p. 296; GALVES, Carlos. Manual de economia política atual.
Rio de Janeiro: Forense, 1972, p. 317; LANDAUER, Carl. Sistemas econômicos
contemporâneos. Trad. Waltensir Dutra. Rio de Janeiro: Zahar, 1966, v. 1, p. 54-5,
nota 14; VEBLEN, Thorstein. A teoria da classe ociosa. Trad. Olívia Krahenbühl.
São Paulo: Abril Cultural, 1983, p. 176-8.
481 - SAMUELSON, Paul A. Introdução à análise econômica. Trad. Luiz Carlos
do Nascimento Silva. Rio de Janeiro: Agir, 1966, v. 2, p. 83.
482 - GUITTON, Henri. Economia política. Trad. Oscar Dias Correa. Rio de Janei-
ro: Fundo de Cultura, 1961, v. 4, p. 103.
483 - MANKIW, N. Gregory. Princípios de microeconomia. Trad. Allan Vidal
Hastings & Elisete Paes e Lima. São Paulo: Cengage Leaning, 2009, p. 479.
484 - STAVENHAGEN, Gerhard. História de las teorias económicas. Trad. Adolfo
von Ritter-Zahony. Buenos Aires: El Ateneo, 1959, p. 196.
485 - VEBLEN, Thorstein. A teoria da classe ociosa. Trad. Olívia Krahenbühl. São
Paulo: Abril Cultural, 1983, p. 49; GUITTON, Henri. Economia política. Trad.
Oscar Dias Correa. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1961, v. 4, p. 104.
160
seus bens”486. Mas é, também, de se recordar que evitar a situação de
dano traduz um móvel maior para a ação humana do que a busca do
acréscimo ao patrimônio, qualquer que seja ele: “o homem não dese-
ja ‘por natureza’ ganhar cada vez mais dinheiro, mas simplesmente
viver como estava acostumado a viver, e ganhar o necessário para
este fim”487.

486 - MALTHUS, Thomas Robert. Princípios de economia política. Trad. Regis


Castro de Andrade e Dinah de Azevedo Abreu. In: GALVEAS, Ernane [org.]. Os
economistas – Malthus. São Paulo: Nova Cultural, 1996, p. 173.
487 - WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo. Trad. Tamás
Smreczániy & Maria Irene de Q. F. Smreczániy. São Paulo: Pioneira, 1994, p. 38.
161
162
9. SISTEMAS ECONÔMICOS

Os sistemas econômicos constituem tipos ideais da configuração


das relações econômicas em determinada sociedade488. Tipos ideais,
sim, se considerarmos a advertência no sentido de que elementos de
cada um dos sistemas se encontravam nos outros, de tal sorte que
não seria prudente estabelecer uma correspondência rígida e linear
entre as classificações e as épocas da história econômica 489. Assim
como não se deve, a partir das convicções ideológicas de quem este-
ja no exercício do poder concluir que o sistema político irá corres-
ponder necessariamente àquelas convicções – ou teríamos de inter-
pretar a proclamação da República no Brasil como a substituição de
um monarca por outro, dado que o Marechal Manoel Deodoro da
Fonseca, mesmo durante o exercício de sua Presidência, continuou
um monarquista convicto490 -, é importante evitar a confusão do sis-
tema e regime políticos com o sistema e regime econômicos.
Fábio Nusdeo 491os separa em três grandes grupos:

488 - GALVES, Carlos. Manual de economia política atual. Rio de Janeiro: Foren-
se, 1972, p.. 458; LANDAUER, Carl. Sistemas econômicos contemporâneos. Trad.
Waltensir Dutra. Rio de Janeiro: Zahar, 1966, v. 1, p. 16-7.
489 - SAMUELSON, Paul A. Introdução à análise econômica. Trad. Luiz Carlos
do Nascimento Silva. Rio de Janeiro: Agir, 1966, v. 2, p. 446.
490 - CALMON, Pedro. História social do Brasil. São Paulo: Companhia Editora
Nacional, 1939, v. 3, p. 26.
491 - Curso de economia política – introdução ao Direito Econômico. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2003, p. 99.
163
Sistema tradicional:
 Em primeiro lugar, cabe falar no comunismo primitivo, eco-
nomia votada ao auto consumo, somente cabendo falar em apro-
priação privada no momento da captura e fruição do bem 492. Não
há falar, nesse sistema, em mercado, embora, quando surge a
produção de excedentes, começa a surgir a idéia do mercado. Aí
temos uma transição do sistema tradicional de auto consumo pa-
ra um sistema tradicional de mercado. Ex: economia dos Aste-
cas. Começam a surgir também as disputas por espaços, as guer-
ras – tidas como forma natural de utilização do excedente de
produção493 -, e, em função delas, os que sobrevivem a elas se
tornam prisioneiros e são convertidos em escravos. Passamos
então a ter o sistema escravocrata, baseado na propriedade imo-
biliária: a economia é essencialmente agrária. A propriedade da
terra é o principal meio de produção. Quanto maiores as exten-
sões de terra, mais braços se tornam necessários para a explora-
ção. E estes braços serão os escravos. O ápice da sofisticação se
deu com os romanos. O início do comércio se deu de forma tê-
nue. Porém, vai chegar um momento em que o sistema escravo-
crata vai começar a ruir, em primeiro lugar, pelo advento do
cristianismo porque, entre os cristãos, aquela idéia de tratar o ser
humano como uma ferramenta se torna estranha. É uma visão
que nasce a partir das camadas mais humildes da sociedade. Em
segundo lugar, porque cada vez mais o império romano esta a se
desagregar, assediado pelos bárbaros nômades, principalmente
os germânicos. E quando Roma cai, as relações passaram a ser
estabelecidas mediante contratos. No sistema feudal, todas as re-
lações são contratuais494, do mesmo modo que, n’ O anel do ni-
belungo, de Wagner, o poder de Wotan sobre os deuses e os
demais entes nasce, justamente, de um juramento – um pacto,
em suma – sobre a lança que ele porta: isto é, tudo provém ex-
clusivamente da convenção, do acordo entre os interessados.

492 - GROTIUS, Hugo. O direito da guerra e da paz. Trad. Ciro Mioranza. Ijuí:
UNIJUÍ, 2004, v. 1, p. 311; GIDE, Charles. Compêndio de Economia Política.
Trad. F. Contreiras Rodrigues. Porto Alegre: Globo, 1933, p. 180.
493 - FURTADO, Celso. Teoria e política do desenvolvimento econômico. São
Paulo: Companhia Editora Nacional, 1969, p. 129.
494 - BARRE, Raymond. Manual de economia política. Trad. Pierre Santos. Rio de
Janeiro: Fundo de Cultura, 1970, v. 1, p. 172-3.
164
“Cada senhor feudal era rei em seu feudo, e daí os castelos e as
muralhas a fortificá-los em seus territórios. E esse isolamento
trazido pelo feudalismo concorreu para implantar o sistema de
territorialidade: nenhum senhor consentia em qualquer manifes-
tação de poder estranho a seu feudo”495. O único traço de unida-
de no Ocidente, como se sabe, era a Igreja, e o poder temporal,
praticamente, punha-se numa condição de servo do poder espiri-
tual496. “Antes da Revolução Industrial do fim do século XIX,
quando a economia mundial era de predominância rural, as po-
pulações urbanas não deviam ultrapassar um terço das rurais.
Cada homem no campo produzia para pouco mais do que a sua
subsistência e, em contrapartida, a produção doméstica dispensa
o meio rural de receber da cidade a maioria dos utensílios, te-
cidos e todos os demais produtos de que necessitavam. Prati-
cava-se uma economia praticamente ‘fechada’, de auto-
abastecimento, em que o Castelo se gabava de ter vida autôno-
ma, o mesmo acontecendo com a fazenda e a propriedade rural
em todas as suas manifestações”497. Trata-se de uma forma de
economia levada a cabo pelos grandes proprietários de terras,
buscando obter, a partir do trabalho de outros que, em troca, su-
pliquem a proteção de seu braço armado, os bens aptos a satisfa-
zerem as suas necessidades, sobretudo de produtos naturais498. A
figura do rei é a de um grande proprietário de terras que confere
aos guerreiros poderes de coação, imposição de tributos, cunha-
gem de moeda. Porém, tem uma autoridade reduzida, não tem
sequer um exército regular499. Mesmo um tratado defendendo a
concentração dos poderes políticos em uma autoridade superior,
chega a defender a juridicidade do duelo enquanto julgamento
com o resultado determinado pela Providência Divina, no caso

495 - CASTRO, Amílcar de. Direito Internacional Privado. Rio de Janeiro: Foren-
se, 2001, p. 134.
496 - CAVIEDES, Antonio Poch G. de. Precedentes medievales de la organización
internacional. Boletim da Faculdade de Direito de Coimbra. Coimbra, v. 40, p. 124,
1964.
497 - SOUZA, Washington Peluso Albino de. Direito Econômico e Economia
Política. Belo Horizonte: Prisma, 1970, v. 1, p. 369.
498 - SOMBART, Werner. El burgués. Trad. Maria Pilar Lorenzo. Madrid: Alian-
za, 1992, p. 72.
499 - HECKSCHER, Eli R. La época mercantilista. Trad. Wenceslao Roces. Méxi-
co: Fondo de Cultura Económica, 1983, p. 104.
165
de o exame das provas pelo juiz humano não lhe permitir chegar
a uma efetiva conclusão a respeito da ocorrência ou não do fa-
to500. Neste período, em que estamos no sistema feudal, vão co-
meçando a se formar as repúblicas de mercadores. Elas vão se
formando à margem dos castelos porque, justamente, no interior
do feudo, há ainda a possibilidade de realizar um comércio. O
comércio de um feudo para outro depara-se com um problema: a
moeda, pesos e medidas variam conforme os domínios dos se-
nhores por que transitem as mercadorias. Vão começar a surgir
as corporações de ofício, e elas vão ter um domínio tanto da téc-
nica como da estética, nas atividades humanas. Surgem também
as ligas, que terão seus exércitos para combater os que coloca-
rem em perigo os seus interesses comerciais 501. A imagem da
“justiça vendada, plantada nos lugares mais visíveis dos burgos,
sinaliza, evoca e adverte agora a existência de uma nova ordem
européia, cuja jurisdição é laica, implacável e imune a compro-
missos pessoais”502. Criavam-se, assim, cortes para a aplicação
do direito das corporações, direito que se baseava nos costumes
respeitados pelos mercadores e nas convenções entre eles esta-
belecidas503. Não havia ainda, aquela idéia do Estado Nacional,
dotado de soberania. Este sistema, também, se punha em prática
no Japão, com a peculiaridade de que quem não tivesse um se-
nhor para servir, era considerado não servível para nada. Tem
certos problemas. Não há uma unidade monetária que permita a
realização das trocas; de feudo a feudo, de burgo a burgo, como
dito antes, varia a moeda504. De outra parte, a moeda fiduciária,

500 - ALIGHIERI, Dante. Monarquia. Trad. Ciro Mioranza. São Paulo: Escala,
2005, p. 82; GUSMÃO, Paulo Dourado de. Introdução à ciência do Direito. Rio de
Janeiro: Forense, 1976, p. 356.
501 - SMITH, Adam. A riqueza das nações – uma investigação sobre a sua nature-
za e as suas causas. Trad. Luís João Baraúna. São Paulo: Nova Cultural, 1996, v. 1,
p. 393; GOSSEN, Hermann Heinrich. The laws of human relations and the rules of
human action derived therefrom. Transl. Rudolph C. Blitz. Cambridge: The MIT,
1983, p. 173.
502 - FRANCA FILHO, Marcílio Toscano. A cegueira da justiça: diálogo icono-
gráfico entre arte e direito. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 2011, p. 42.
503 - GUSMÃO, Paulo Dourado de. Introdução à ciência do Direito. Rio de Janei-
ro: Forense, 1976, p. 357.
504 - BODIN, Jean. Los seis libros de la República. Trad. Pedro Bravo Gala. Ma-
drid: Tecnos, 2006, p. 275.
166
emitida por banqueiros e comerciantes como solução para o
problema dos perigos presentes no transporte físico de metais,
sem qualquer garantia da autoridade pública, passava a depender
exclusivamente do precário critério das virtudes pessoais de
quem fosse o depositário da moeda metálica 505. É por isso que
os comerciantes vão conferir o apoio do seu poder econômico,
ao fortalecimento da autoridade do poder real, especialmente pa-
ra tirar o poder de cunhagem da moeda e de imposição de gra-
vames pecuniários dos senhores feudais506. É do período de for-
mação dos Estados Nacionais a assertiva: “o gênero humano de-
ve ser governado pelo monarca na busca das regras válidas para
todos e deve ser governado por uma norma universalmente váli-
da para a paz”507. Criam-se, por outra banda, os exércitos regula-
res, de tal sorte que se separarão o homem que exercita as artes
do combate, treinado inclusive para o uso das novas armas de
fogo, disciplinado, acostumado à ação harmoniosa em conjunto,
e o homem voltado ao desenvolvimento da atividade econômica,
aquele propiciando a este a segurança para desempenhar suas
atividades, o segundo, por sua vez, abastecendo o primeiro 508. A
formação do Estado Nacional que vai exercer a soberania sobre
determinado território, dotado do poder de coação, que vai reti-
rar da mão do particular, e, por outro lado, vai determinar o

505 - FARIA, Luís Augusto Estrella. Uma análise da história monetária para a
inflação brasileira. Ensaios FEE. Porto Alegre, v. 15, n. 1, p. 154, 1994.
506 - WEBER, Max. Economía y sociedad. Trad. José M. Echavarría et allii. Méxi-
co/Buenos Aires: Fondo de Cultura Económica, 1992, p. 1.054; SMITH, Adam. A
riqueza das nações – uma investigação sobre a sua natureza e as suas causas.
Trad. Luís João Baraúna. São Paulo: Nova Cultural, 1996, v. 1, p. 392; BODIN,
Jean. Los seis libros de la República. Trad. Pedro Bravo Gala. Madrid: Tecnos,
2006, p. 82-4; HUBERMAN, Leo. História da riqueza do homem. Trad. Waltensir
Dutra. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara, 1986, p. 71-2; CAVIEDES, Antonio Poch G.
de. Precedentes medievales de la organización internacional. Boletim da Faculdade
de Direito de Coimbra. Coimbra, v. 40, p. 160-1, 1964.
507 - ALIGHIERI, Dante. Monarquia. Trad. Ciro Mioranza. São Paulo: Escala,
2005, p. 55.
508 - SOMBART, Werner. El burgués. Trad. Maria Pilar Lorenzo. Madrid: Alian-
za, 1992, p. 294-5; HOHENZOLLERN, Frederico II de. Anti-Maquiavel. In: ISÓ-
CRATES et allii. Conselhos aos governantes. Brasília: Senado Federal, 2003, p.
730; HUBERMAN, Leo. História da riqueza do homem. Trad. Waltensir Dutra. Rio
de Janeiro: Ed. Guanabara, 1986, p. 72; HICKS, John. Uma teoria de história eco-
nômica. Trad. Maria José Cyhla Monteiro. Rio de Janeiro: Zahar, 1972, p. 42.
167
meio universal de troca e, para tanto, vai procurar ter um máxi-
mo de lastro metálico possível, coloca-se na raiz do sistema eco-
nômico em questão509.

● Sistema da Autoridade:
O mercantilismo vai conduzir necessariamente ao metalismo. O
desenvolvimento da economia monetária, especialmente depois da
adoção do metal nobre como meio universal de troca, foi também
uma condição essencial ao desenvolvimento de um dos elementos do
espírito do capitalismo, que é precisamente a vocação para o cálculo,
possibilitando quantificar, avaliar em termos de números as opera-
ções comerciais510. As trocas comerciais decorrentes das corporações
de oficio deram origem a um novo sistema de comercialização rela-
cionado ao poder centralizado do monarca na formação do Estado
Moderno, sendo Colbert um dos mais influentes financistas do regi-
me mercantil511. O Estado vai utilizar o poder de coação para colocar
as forças econômicas a serviço da afirmação de sua soberania: a
idéia de proteger a indústria local, regulamentar o comércio, tem
como pressuposto a visão de que “el fin era la guerra, la cual exigia
una buena hacienda, y a su vez era indispensable contar con una
sólida economía”512. De outra parte, as barreiras que travavam o
comércio só tinham, mesmo, como ser removidas com o estabeleci-
mento da autoridade centralizada no Estado513. Sua política era fran-
camente nacionalista e tendencialmente belicista, justamente porque
uma economia sujeita a contratos de dívidas de dinheiro e costumes
mais ou menos fixos durante um período apreciável, em que o volu-
me de circulação e a taxa de juros internos estiveram principalmente
determinados pela balança de pagamentos, as autoridades não dispo-
riam de meios regulares para combaterem o desemprego salvo por

509 - FONSECA, João Bosco Leopoldino da. Mercantilismo. In: FUNDAÇÃO


BRASILEIRA DE DIREITO ECONÔMICO. Novo Dicionário de Direito Econômi-
co. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 2010, p. 322.
510 - SOMBART, Werner. El burgués. Trad. Maria Pilar Lorenzo. Madrid: Alian-
za, 1992, p. 321.
511 - GUSMÃO, Paulo Dourado de. Introdução à ciência do Direito. Rio de Janei-
ro: Forense, 1976, p. 361-2.
512 - HECKSCHER, Eli R. La época mercantilista. Trad. Wenceslao Roces. Méxi-
co: Fondo de Cultura Económica, 1983, p. 463.
513 - WEBER, Adolf. Introducción al estudio de la Economía Política. Trad. José
Alvarez de Cienfuegos y Cobos. Barcelona: Bosch, 1943, p. 16.
168
um excesso de exportações e uma importação de metal à custa dos
vizinhos514. Daí se entende o porquê de especialmente Inglaterra e
França haverem lançado mão dos corsários para atacarem os navios
e colônias ibéricos, subtraindo-lhes os metais515. Doutra parte, vão
começar a surgir restrições quanto a emigração e a imigração de
trabalhadores e artífices. A idéia do segredo industrial já está presen-
te no mercantilismo, e se verifica pelo temor de que nações rivais se
apoderassem dos inventos que tornavam mais ágil e melhor a produ-
ção de bens516.
É durante o mercantilismo que tem inicio a aventura colonial eu-
ropéia, pela expansão ibérica, aplicada, aqui, doutrina que ampliou a
abrangência de assertiva aristotélica (embora, no texto de onde se
colhe a citação, voltada a justificar a supremacia dos romanos): “de-
terminados povos são levados naturalmente a governar, enquanto
outros se adaptam naturalmente à servidão” 517. A busca de especia-
rias vai levar Portugal a conquistar a costa da África. E a conquista
de Constantinopla pelos turcos vai levar a Espanha a procurar outra
rota pelo Ocidente para a China518. Na época, não existia a ciência
econômica, com este nome, mas é a partir daí que se pode falar do
surgimento da economia política, lançamento dos fundamentos da
economia política. Fisiocratas (aqueles que acreditavam no poder –

514 - KEYNES, John Maynard. Teoría general de la ocupación, el interés y el


dinero. Trad. Eduardo Hornedo. México: Fondo de Cultura Económica, 1965, p.
308; NUNES, Antonio José Avelãs. Uma introdução à economia política. São
Paulo: Quartier Latin, 2008, p. 313, nota 330.
515 - SOUZA, Washington Peluso Albino de. Adam Smith e o ouro de Minas Ge-
rais (o Tratado de Methuen). Revista da Faculdade de Direito da Universidade
Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte, v. 24, n. 17, p. 237, out 1976; SOM-
BART, Werner. El burgués. Trad. Maria Pilar Lorenzo. Madrid: Alianza, 1992, p.
81-2.
516 - HECKSCHER, Eli R. La época mercantilista. Trad. Wenceslao Roces. Méxi-
co: Fondo de Cultura Económica, 1983, p. 573.
517 - ALIGHIERI, Dante. Monarquia. Trad. Ciro Mioranza. São Paulo: Escala,
2005, p. 76; CAVIEDES, Antonio Poch G. de. Precedentes medievales de la orga-
nización internacional. Boletim da Faculdade de Direito de Coimbra. Coimbra, v.
40, p. 164, 1964.
518 - SOMBART, Werner. El burgués. Trad. Maria Pilar Lorenzo. Madrid: Alian-
za, 1992, p. 83; BARRE, Raymond. Manual de economia política. Trad. Pierre
Santos. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1970, v. 1, p. 72.
169
kratós – da natureza – physis -) como Quesnay519 criaram conceitos
de economia como a “lei da oferta e da procura”, preocupados sobre-
tudo com a necessidade de se desenvolver a agricultura e com o for-
tíssima atuação estatal no domínio econômico520. Dentre os discípu-
los de Quesnay, chama a atenção a obra de Turgot, que trouxe como
contribuição mais efetiva a teoria do rendimento decrescente do solo,
na qual demonstra que todo incremento unilateral dos gastos investi-
dos conduziria a um incremento na rentabilidade da produção, até
que, alcançado o ponto culminante, os rendimentos se vão tornando
decrescentes521. Adam Smith vai tomar de seu amigo David Hume522
– também escocês e também interessado em Economia – a idéia da
busca do interesse próprio como móvel das ações dos seres humanos
como própria da natureza destes (tese que, a bem de ver, remontaria
ao filósofo e jurisconsulto elizabetano Francis Bacon 523) e do Dr.
Quesnay a idéia da oferta e da procura, como decorrentes da própria
natureza, mas vai mudar o foco porque ele é um grande advogado do
industrialismo inglês524. Ele vai falar da concorrência como apta a
assegurar o equilíbrio dos egoísmos entre si, através de uma mão
invisível que naturalmente vai colocá-los me posição de igualdade e
ele vai também, ao mesmo tempo, verberar o Tratado de Methuen,
realizado em 1703 entre Inglaterra e Portugal, argumentando ter sido
muito mais vantajoso a este último em detrimento daquela, uma vez
que o vinho português passou a contar com mercado consumidor
certo, por um lado, e, por outro, a disseminação de manufaturas in-
glesas por outros países ficou prejudicada, porque se prendeu ao

519 - Quadro econômico. Trad. Teodora Cardoso. Lisboa: Gulbenkian, 1966, p.


288-9.
520 - HEILBRONER, Robert L. Introdução à história das idéias econômicas. Trad.
Waltensir Dutra. Rio de Janeiro: Zahar, 1969, p. 37.
521 - STAVENHAGEN, Gerhard. História de las teorias econômicas. Trad. Adolfo
von Ritter-Zahony. Buenos Aires: El Ateneo, 1959, p. 31-2; SCHUMPETER, Jo-
seph Alois. História da análise econômica. Trad. Álvaro Moutinho dos Reis, José
Silveira Miranda & Renato Rocha. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1964, v. 1, p.
328-9.
522 - Concerning human understanding. London: Encyclopaedia Britannica, 1952,
p. 479; SOUZA, Washington Peluso Albino de. Direito Econômico e Economia
Política. Belo Horizonte: Prisma, 1970, v. 1, p. 98.
523 - Advancement on learning. London: Encyclopaedia Britannica, 1952, p. 73.
524 - WEBER, Adolf. Introducción al estudio de la Economía Política. Trad. José
Alvarez de Cienfuegos y Cobos. Barcelona: Bosch, 1943, p. 38-9.
170
mercado lusitano525. É nesta época que se vão adotando estes postu-
lados para se reduzir a presença do estado no domínio econômico
nos países industrializados (ING) e nos recém-criados EUA.
Socialismo: o socialismo, enquanto aspiração igualitária, e
mesmo enquanto experiência, vem a aparecer desde a Antiguidade,
razão por que se mostra temerário, desde logo, considerá-lo como o
contrário do capitalismo como se se tratasse da oposição entre o
Demônio e Deus. No Cristianismo dos Evangelistas encontra-se uma
concepção mais igualitarista do que em Pedro e Paulo, preocupados
em tornar mais palatável a nova compreensão do mundo à Roma
patrimonialista e escravista. Durante a Idade Média, movimentos de
cunho religioso vêm a opor-se à desigualdade social fundada na pro-
priedade, destacando-se comunidades como a dos cátaros, dos val-
denses e dos dolcinitas, para serem referidas as mais subversivas, e
outras que, embora mendicantes, procuraram aproximar a Igreja dos
pobres, como foi o caso da Ordem dos Franciscanos. Dante Alighi-
eri526, que estava longe de poder ser considerado um precursor do
socialismo, chegou a exprobrar as autoridades eclesiásticas de seu
tempo pela sua cupidez nestes termos: “não é oferecido auxílio aos
pobres com as riquezas da Igreja que, entretanto, pertencem também
a eles e, por outro lado, esses bens não são guardados com a gratidão
devida ao império que os oferece”. No período da formação dos Es-
tados Nacionais, surgem textos importantes em termos de teoria e
levantes camponeses nos principados alemães e mesmo na Grã-
Bretanha527. Mesmo entre os iluministas havia quem discutisse a

525 - SMITH, Adam. A riqueza das nações – uma investigação sobre a sua nature-
za e as suas causas. Trad. Luís João Baraúna. São Paulo: Nova Cultural, 1996, v. 2,
p. 147; SOUZA, Washington Peluso Albino de. Adam Smith e o ouro de Minas
Gerais (o Tratado de Methuen). Revista da Faculdade de Direito da Universidade
Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte, v. 24, n. 17, p. 267-8, out 1976.
526 - Monarquia. Trad. Ciro Mioranza. São Paulo: Escala, 2005, p. 86; OCKHAM,
Guillermo de. Sobre el poder de los emperadores y de los Papas. Trad. Juan Otrera
García. Barcelona: Marcial Pons, 2007, p. 127; HOHENZOLLERN, Frederico II
de. Anti-Maquiavel. In: ISÓCRATES et allii. Conselhos aos governantes. Brasília:
Senado Federal, 2003, p. 725.
527 - CAMARGO, Ricardo Antônio Lucas. Direito Econômico e reforma do Esta-
do – 1 – a experiência européia de Constituição Econômica “socialista”: bases
para a crítica. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, Data, 1994, p. 18-23; BODIN,
Jean. Los seis libros de la República. Trad. Pedro Bravo Gala. Madrid: Tecnos,
2006, p. 167; CARRION, Eduardo Kroeff Machado. Apontamentos de Direito
Constitucional, Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1997, p. 164.
171
propriedade como título de desigualdade entre os seres humanos e,
no seio dos jacobinos, durante a Revolução Francesa, emergiu um
dos mais veementes manifestos socialistas528. Na expressão posterior
ao século XIX, partiu do pressuposto de que, no capitalismo, a ênfa-
se na liberdade implicaria necessariamente, num aprofundamento na
desigualdade de forças entre as partes. Seria uma liberdade puramen-
te formal, que somente poderia se tornar real no momento em que
não mais existissem as desigualdades entre os integrantes da socie-
dade. Importante notar que, no pensamento marxista, não há ataque
ao capitalismo sob o ponto de vista ético, sendo ele mesmo conside-
rado superior aos sistemas que o antecederam, por sua capacidade de
auto-recuperação e adaptação às crises que o abalam e, mais do que
isto, como inócuas as críticas a ele endereçadas com viés moralizan-
te529. Como as experiências de implementação do socialismo verifi-
cadas durante o século XX vieram associadas, todas, a regimes polí-
ticos fortes, vêm elas a ser trabalhadas no grupo do sistema de auto-
ridade, a despeito de a idéia de “Estado democrático e social de Di-
reito” haver sido sugerida, pela primeira vez, em escritos do socialis-
ta utópico Louis Blanc (Blanqui), no clima da Revolução de 1848530.
“Alguns perguntarão: ‘podem as liberdades ser conservadas quando
o Estado limita as liberdades econômicas?’ A História e a Antropo-
logia ainda não deram uma resposta definitiva a esta pergunta” 531.

528 - RIPERT, Georges. Le régime démocratique et le Droit Civil. Paris: LGDJ,


1936, p. 111.
529 - MARX, Karl & ENGELS, Friedrich. Manifesto of the Communist Party.
Transl Samuel Moore. London: Encyclopaedia Britannica, 1952, p. 420-1; LENIN,
Vladimir Ilitch Ulianov. O desenvolvimento do capitalismo na Rússia. Trad. José
Paulo Netto. São Paulo: Abril Cultural, 1982, p. 373; GALVES, Carlos. Manual de
economia política atual. Rio de Janeiro: Forense, 1972, p. 406; HEILBRONER,
Robert L. Introdução à história das idéias econômicas. Trad. Waltensir Dutra. Rio
de Janeiro: Zahar, 1969, p. 151.
530 - ABENDROTH, Wolfgang. Der demokratische und soziale Rechtstaat aus
politischer Auftrag. In: CORTIÑAS-PELÁEZ, León [org.]. Perspectivas del Dere-
cho Público en la segunda mitad del siglo XX – homenaje a Enrique Sayagues-
Laso. Madrid: Instituto de Estudios de Administración Local, 1969, t. 1, p. 807.
531 - SAMUELSON, Paul A. Introdução à análise econômica. Trad. Luiz Carlos
do Nascimento Silva. Rio de Janeiro: Agir, 1966, v. 2, p. 519, nota 2.
172
Socialismo ou Capitalismo de Estado? (expressão cunhada por
Lenin532). Para se ter socialismo, em principio não haveria distinção
entre patrões e empregados. No capitalismo de Estado, apontado
como fase de transição para o socialismo, eliminar as relações de
produção capitalistas e organizar as relações socialistas cabe ao Po-
der Público, cuja morte, entretanto, é anunciada533. Porém, enquanto
não morrer, o Estado é patrão de todos aqueles que nele traba-
lham534, o que não arredaria a atuação de cooperativas organizadas
voluntariamente, em regime de autogestão financeira, no setor agrí-
cola, que recebiam em usufruto terras pertencentes ao Estado535. A
grande produção seria organizada partindo-se da estrutura criada
pelo próprio capitalismo, com a força coercitiva do Estado, apoiada
pelos operários e com uma férrea disciplina 536. Se, por um lado, todo
operário poderia encontrar emprego e não temeria a pressão de se
desempregar, por outro, o acicate a que o trabalho fosse bem desen-
volvido era possibilidade da aplicação de sanções penais, uma das
quais era a condenação a trabalhos forçados537.

532 - O Estado e a revolução. [s/t]. Lisboa: Avante, 1983, p. 9; NUNES, Antonio


José Avelãs. Uma introdução à economia política. São Paulo: Quartier Latin, 2008,
p. 196, nota 209; CARRION, Eduardo Kroeff Machado. Apontamentos de Direito
Constitucional, Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1997, p. 175-6.
533 - NUNES, Antonio José Avelãs. Uma introdução à economia política. São
Paulo: Quartier Latin, 2008, p. 534; STUCKA, Petr Ivanovitch. Direito e luta de
classes. Trad. Sílvio Donizete Chagas. São Paulo: Acadêmica, 1988, p. 169.
534 - LENIN, Vladimir Ilitch Ulianov. O Estado e a revolução. [s/t]. Lisboa: Avan-
te, 1983, p. 113; GALVES, Carlos. Manual de economia política atual. Rio de
Janeiro: Forense, 1972, p. 131-2; HICKS, John R. Uma introdução à economia.
Trad. Sérgio Góes de Paula. Rio de Janeiro; Zahar, 1972, p. 36; BARRE, Raymond.
Manual de economia política. Trad. Pierre Santos. Rio de Janeiro: Fundo de Cultu-
ra, 1970, v. 1, p. 181-2.
535 - ARAÚJO, Ivana Duarte. Kolkhoz (II). In: FUNDAÇÃO BRASILEIRA DE
DIREITO ECONÔMICO. Novo Dicionário de Direito Econômico. Porto Alegre:
Sérgio Antônio Fabris, 2010, p. 290.
536 - LENIN, Vladimir Ilitch Ulianov. O Estado e a revolução. [s/t]. Lisboa: Avan-
te, 1983, p. 58-9; VISHINSKY, Andrei. Problemi del diritto e dello Stato in Marx.
Trad. Umberto Cerroni. In: CERRONI, Umberto [org.]. Teorie sovietiche del dirit-
to. Milano: Giuffrè, 1964, p. 254; ROSTOW, Walt Whitman. Las etapas del cre-
cimiento econômico – un manifiesto no comunista. Trad. Rubén Pimentel. México:
Fondo de Cultura Económica, 1961, p. 174-5.
537 - BARRE, Raymond. Manual de economia política. Trad. Pierre Santos. Rio de
Janeiro: Fundo de Cultura, 1970, v. 2, p. 35-6.
173
Autogestão: sistema pelo qual as empresas tinham como respec-
tivos controladores e sócios os próprios trabalhadores. Concorriam
entre si, buscavam lucro, faliam, mas nunca houve distinção entre
patrões e empregados. Socialismo baseado na iniciativa privada, que,
curiosamente, estava mais próximo à utopia marxista, e foi adotado
na Iugoslávia do Marechal Tito. Nem por isto estaria ausente a dire-
ção coativa da economia pelo Estado538.
Planejamento centralizado da economia: ou seja, o estado de-
termina pelo plano o que produzir, para quem produzir e quanto pro-
duzir539. Busca-se, por tal instrumento, fazer com que o Estado tome
em consideração toda a vida econômica para direcioná-la a um fim
predeterminado540. A obtenção do lucro máximo não seria mais o fim
da atividade econômica, mas meramente um meio para o atingimen-
to dos objetivos superior e hierarquicamente estabelecidos pelo pla-
no aprovado por lei541. O caráter coercitivo da lei do plano seria uma
decorrência da necessidade de integração entre diversos setores que,
a se desenvolverem paralelamente, a despeito da interdependência
cada vez mais crescente no plano dos fatos, poderiam render ensejo a
que retornassem situações em que as unidades de produção, em sepa-

538 - SOUZA, Washington Peluso Albino de. Direito Econômico do trabalho. Belo
Horizonte: Fundação Brasileira de Direito Econômico, 1985, p. 273; CAMARGO,
Ricardo Antônio Lucas. Direito Econômico e reforma do Estado – 1 – a experiên-
cia européia de Constituição Econômica “socialista”: bases para a crítica. Porto
Alegre: Sérgio Antônio Fabris, Data, 1994, p. 34-6; BARRE, Raymond. Manual de
economia política. Trad. Pierre Santos. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1970, v.
1, p. 176.
539 - FURTADO, Celso. Teoria e política do desenvolvimento econômico. São
Paulo: Companhia Editora Nacional, 1969, p. 156; ROSSETTI, José Paschoal.
Introdução à economia. São Paulo: Atlas, 1971, p. 196; CARRION, Eduardo
Kroeff Machado. Apontamentos de Direito Constitucional, Porto Alegre: Livraria
do Advogado, 1997, p. 182; MERCIER, Jacques. Les elections municipales en
Tunisie et l’ institutionalisation du Parti Unique au Maghreb. In: CORTIÑAS-
PELÁEZ, León [org.]. Perspectivas del Derecho Público en la segunda mitad del
siglo XX – homenaje a Enrique Sayagues-Laso. Madrid: Instituto de Estudios de
Administración Local, 1969, t. 1, p. 771; In: FUNDAÇÃO BRASILEIRA DE DI-
REITO ECONÔMICO. Novo Dicionário de Direito Econômico. Porto Alegre:
Sérgio Antônio Fabris, 2010, p. 80; PIGOU, A. C. Teoría y realidad económica.
Trad. Samuel Vasconcelos. México: Fondo de Cultura Económica, 1942, p. 35.
540 - HECKSCHER, Eli R. La época mercantilista. Trad. Wenceslao Roces. Méxi-
co: Fondo de Cultura Económica, 1983, p. 779.
541 - LANGE, Oskar. Moderna economia política. Trad. Pedro Lisboa. Rio de
Janeiro: Fundo de Cultura, 1963, p. 164-5.
174
rado, dominariam as relações mercantis, cada qual em seu campo 542.
Ali, pois, o plano é “uma super-lei, superfonte de direitos e obriga-
ções. As funções de administração e as relações jurídicas entre os
particulares são imediatamente subordinadas a ele, suscetíveis de
anulação ou de retificação na medida em que não estejam em har-
monia com as suas disposições”543. Existe um estudo de autoria de
Maurice Duverger544 em que são mostrados os desvios que os países
que se diziam marxistas, cometeram em sua trajetória em relação à
própria doutrina de Marx, mesmo tentando guardar, em relação a ela,
alguma ortodoxia545. Já no início do Primeiro Plano Qüinqüenal na
URSS, os controles sobre os trabalhadores foram estabelecidos de tal
forma que praticamente aniquilaram a autonomia dos sindicatos,
embora, pouco depois da morte de Estaline, por ocasião da tentativa
de degelo levada a cabo por Kruschev, tenha havido um afrouxamen-
to de tais controles, com a eliminação da convocação e distribuição
forçada do trabalho, permitindo o revigoramento dos sindicatos546.
Tinha esse caráter francamente autoritário, apostando, principalmen-
te na unicidade partidária como elemento de coesão social 547, justa-
mente por confundir os embates entre os partidos políticos com os

542 - BETTELHEIM, Charles. Planificação e crescimento acelerado. Trad. Dirceu


Lindoso. Rio de Janeiro: Zahar, 1968, p. 28; LANDAUER, Carl. Sistemas econômi-
cos contemporâneos. Trad. Waltensir Dutra. Rio de Janeiro: Zahar, 1966, v. 2, p.
505.
543 - GRAU, Eros Roberto. Planejamento econômico e regra jurídica. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 1978, p. 85.
544 - Os laranjais do Lago Balaton. Trad. Edgard de Brito Chaves Júnior. Brasília:
UnB, 1982, p. 97; PERROUX, François. Economia e sociedade. Trad. Aurora &
Mário Murteira. São Paulo: Duas Cidades, 1961, p. 60.
545 - KOSLOV, G. A. Sobre a etapa socialista de Economia Política. In: UNIÃO
DAS REPÚBLICAS SOCIALISTAS SOVIÉTICAS. Academia de Ciências Sociais.
História das doutrinas econômicas. Trad. Renato Guimarães. Rio de Janeiro: Zahar,
1967, p. 289.
546 - LANDAUER, Carl. Sistemas econômicos contemporâneos. Trad. Waltensir
Dutra. Rio de Janeiro: Zahar, 1966, v. 2, p. 488.
547 - MERCIER, Jacques. Les elections municipales en Tunisie et l’ institutionali-
sation du Parti Unique au Maghreb. In: CORTIÑAS-PELÁEZ, León [org.]. Pers-
pectivas del Derecho Público en la segunda mitad del siglo XX – homenaje a Enri-
que Sayagues-Laso. Madrid: Instituto de Estudios de Administración Local, 1969, t.
1, p. 770; CROCE, Benedetto. Principio, ideale, teoria. In: CROCE, Benedetto &
EINAUDI, Luigi. Liberismo e liberalismo. Milano-Napoli: Riccardo Ricciardi Ed.,
1957, p. 66; LIMA, Ruy Cirne. Princípios de Direito Administrativo. Porto Alegre:
Sulina, 1964, p. 152-3.
175
embates entre as classes econômicas548. De qualquer sorte, cabe sali-
entar que a tendência seria a de voltar-se a atividade econômica à
indústria de base, ao desenvolvimento de tecnologia e à produção de
bens voltados a assegurar a infra-estrutura necessária ao funciona-
mento do Estado, em detrimento da produção de bens de consumo 549.

Sistema da Autonomia:
O Estado deixa de definir os conteúdos das relações econômi-
cas, mas ele vai permanecer ainda, como titular do monopólio do
poder de coação550. E ainda há a necessidade da unidade de comando
do poder de criação da moeda. Fase do capitalismo industrial que,
para se expandir, vai dar um novo curso à aventura colonial euro-
péia551. Países agrários como ESP e PORT começam a perder suas
colônias ultramarinas. E o industrialismo impõe a presença de traba-
lhadores remunerados em todo mundo, ou seja, impõe o combate ao
tráfico de escravos552. A própria idéia de um livre-cambismo, defen-

548 - BARACHO, José Alfredo de Oliveira. Regimes políticos. São Paulo: Resenha
Universitária, 1977, p. 258; CROCE, Benedetto. Le fedi religiose oposte. In: CRO-
CE, Benedetto & EINAUDI, Luigi. Liberismo e liberalismo. Milano-Napoli: Ric-
cardo Ricciardi Ed., 1957, p. 44.
549 - ROSSETTI, José Paschoal. Introdução à economia. São Paulo: Atlas, 1971, p.
88.
550 - BONAVIDES, Paulo. Do Estado liberal ao Estado social. São Paulo: Malhei-
ros, 2007, p. 131; CHEVALIER, Jean-Jacques. Le temperament politique français.
In: CORTIÑAS-PELÁEZ, León [org.]. Perspectivas del Derecho Público en la
segunda mitad del siglo XX – homenaje a Enrique Sayagues-Laso. Madrid: Instituto
de Estudios de Administración Local, 1969, t. 1, p. 724; WEBER, Max. Economía y
sociedad. Trad. José M. Echavarría et allii. México/Buenos Aires: Fondo de Cultura
Económica, 1992, p. 45; MANKIW, N. Gregory. Princípios de microeconomia.
Trad. Allan Vidal Hastings & Elisete Paes e Lima. São Paulo: Cengage Leaning,
2009, p. 10; JAY, John. A União como requisito para a segurança nacional. In:
HAMILTON, Alexander, MADISON, James & JAY, John. O Federalista. Trad.
Heitor de Almeida Herrera. Brasília: Universidade de Brasília, 1984, p. 109; SOU-
ZA JÚNIOR, Cezar Saldanha de. Consenso e democracia constitucional. Porto
Alegre: Sagra Luzzatto, 2002, p. 30; SEN, Amartya. Desenvolvimento como liber-
dade. Trad. Laura Teixeira Motta. São Paulo: Companhia das Letras, 2010, p. 334;
BOBBIO, Norberto. Ensaios escolhidos. Trad. Sérgio Bath. São Paulo: C. H. Car-
dim, [s/d], p. 124.
551 - SOMBART, Werner. El apogeo del capitalismo. Trad. Vicente Caridad.
México: Fondo de Cultura Económica, 1946, v. 1, p. 78.
552 - SMITH, Adam. A riqueza das nações – uma investigação sobre a sua nature-
za e as suas causas. Trad. Luís João Baraúna. São Paulo: Nova Cultural, 1996, v. 2,
176
dido por Smith, vai ser posta em prática no Brasil quando o príncipe
regente Dom João celebra os tratados com a ING permitindo o livre
ingresso de produtos industriais. Isto depois de um século de proibi-
ção das indústrias da colônia ultramarina. Enquanto se adota o sis-
tema de livre-cambismo, a ING ainda pratica protecionismo e Smith,
“paradoxalmente”, assume uma posição favorável ao protecionismo
ao defender a lei de navegação de Cromwell553. Por seu turno, Jean-
Baptiste Say chega a defender o privilégio exclusivo de uma compa-
nhia, somente pelo tempo necessário à integral recomposição dos
adiantamentos e dos riscos incorridos, quando se trate do único meio
para deflagrar “comércio inteiramente novo com povos distantes ou
bárbaros”554. É interessante observar a caracterização do comércio
com estes “povos distantes ou bárbaros” como verdadeira “pilhagem
disfarçada”, a ponto de justificar o estabelecimento de fortes para
que os comerciantes europeus se protegessem da possível vingança
dos indígenas com que, pela manhã, tivessem negociado 555.
Capitalismo liberal: exclui-se necessariamente a idéia das cor-
porações de oficio, embora as associações empresariais continuem a
todo o vapor. As bases do capitalismo liberal são a plena liberdade
contratual e a proteção da propriedade privada. “Correspondendo à
idéia de egoísmo, porém, desenvolvia-se também a de harmonia
social, procurando conciliar a satisfação de cada um com a felicida-
de de todos. Daí o princípio filosófico de que ‘a liberdade de cada
um termina onde começa a liberdade alheia’, cujas implicações polí-
ticas são conhecidas no liberalismo e cujo correspondente econômi-

p. 167; SOMBART, Werner. El burgués. Trad. Maria Pilar Lorenzo. Madrid: Ali-
anza, 1992, p. 96; BASTIAT, Claude-Frédéric. A lei. Trad. Ronaldo da Silva Legey.
Rio de Janeiro: José Olympio/Instituto Liberal, 1987, p. 22; SAY, Jean-Baptiste.
Tratado de economia política. Trad. Balthazar Barbosa Filho. São Paulo: Abril
Cultural, 1983, p. 199-200; NASSAU SENIOR, William. Three lectures on the rate
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acessado em 23 ago 2011; SCHOPENHAUER, Arthur. Los dos fundamentos de la
ética – el fundamento de la moral. Trad. Vicente Romano Garcia. Buenos Aires:
Aguilar, 1965, p. 171-2.
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rais (o Tratado de Methuen). Revista da Faculdade de Direito da Universidade
Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte, v. 24, n. 17, p. 278-9, out 1976.
554 - Tratado de economia política. Trad. Balthazar Barbosa Filho. São Paulo:
Abril Cultural, 1983, p. 183.
555 - SOMBART, Werner. El burgués. Trad. Maria Pilar Lorenzo. Madrid: Alian-
za, 1992, p. 87.
177
co estaria expresso na livre iniciativa e, especialmente, no ‘laissez
faire’, como veremos mais adiante”556.
Contrato/propriedade: o contrato é considerado a mais plena
manifestação da liberdade individual 557. A propriedade privada era
considerada a justa recompensa pelo trabalho desenvolvido ou ao
longo da vida daquele indivíduo, ou ao longo de gerações558; a má-
xima lucratividade vem a ser vista como o passaporte da honra a
quem tivesse logrado vencer as exigências da seleção natural 559.

556 - SOUZA, Washington Peluso Albino de. Direito Econômico e Economia


Política. Belo Horizonte: Prisma, 1970, v. 1, p. 98; CUNHA, Sérgio Sérvulo da.
Limites ao poder do Estado (ensaio de determinação do Direito na perspectiva dos
direitos fundamentais). In: GRAU, Eros Roberto & GUERRA FILHO, Willis Santi-
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São Paulo: Malheiros, 2001, p. 188.
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tituição do Império. Brasília: Senado Federal, 1978, p.396; SOUZA, Washington
Peluso Albino de. Do econômico nas Constituições vigentes. Belo Horizonte: Re-
vista Brasileira de Estudos Políticos, 1961, v. 2, p. 144-5.
558 - SMITH, Adam. A riqueza das nações – uma investigação sobre a sua nature-
za e as suas causas. Trad. Luís João Baraúna. São Paulo: Nova Cultural, 1996, v. 2,
p. 188; GOSSEN, Hermann Heinrich. The laws of human relations and the rules of
human action derived therefrom. Transl. Rudolph C. Blitz. Cambridge: The MIT,
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tônio Alves Cury. In: GALVEAS, Ernane [org.]. Os economistas – Malthus. São
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texto do Código Civil. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 2006, p. 267; FRAN-
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8, 22 ago 2007; MARTINS, Ives Gandra da Silva & BASTOS, Celso Ribeiro. Co-
mentários à Constituição do Brasil. São Paulo: Saraiva, 1991, v. 6, t. 2, p. 183-4;
FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Aspectos do Direito Constitucional con-
temporâneo. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 39; JARDIM, Torquato Lorena. Empresas
estatais. Revista de Direito Público. São Paulo, v. 24, n. 98, p. 210, abr/jun 1991;
MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. Constituição e revisão. Rio de Janeiro:
Forense, 1991, p. 382; HAYEK, Friedrich August von. Direito, legislação e liber-
dade. São Paulo: Visão, 1985, v. 3, p. 157; ROSSETTI, José Paschoal Introdução
à economia. São Paulo: Atlas, 1971, p 151; MILL, John Stuart. De la libertad – del
gobierno representativo – esclavitud femenina. Trad. Marta C. C. Iturbe. Madrid:
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Flexibilização do mercado de trabalho e contratação coletiva. São Paulo: LTr,
1994, p. 157; PINTO, Almir Pazzianotto. Direito e política. Brasília: Consu-
178
Voto censitário: quem elaborava o ordenamento era justamente
quem se entendia insuscetível de ver a liberdade de sua decisão
comprometida, por ter dinheiro, e ao mesmo tempo era tido como
recompensado pela sua diligência ou a de sua família 560. Como se

lex,2008, p. 211; PRUNES, José Luis Ferreira. Trabalho terceirizado e composição


industrial. Curitiba: Juruá, 1999, p 15-6; ALMEIDA, Paulo Roberto de. A econo-
mia política do baixo crescimento econômico do Brasil: um Prometeu acorrentado
por sua própria Constituição. In: ACCIOLY, Elizabeth [org.]. O Direito no século
XXI – homenagem a Werter Faria. Curitiba: Juruá, 2008, p. 629; RICARDO, Da-
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lação. Trad. Antônio Alves Cury. In: GALVEAS, Ernane [org.]. Os economistas –
Malthus. São Paulo: Nova Cultural, 1996, p. 265; MARQUES, Heloísa Pinto. Fle-
xibilização do Direito do Trabalho no Brasil. LTr. São Paulo, v. 54, n. 12, p. 1.450,
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Sair do socialismo. Trad. Célia Neves Dourado. Rio de Janeiro: Instituto Liberal,
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jurídica. Trad. Elisete Antoniuk. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 2005, p. 143-
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SAY, Jean-Baptiste. Tratado de economia política. Trad. Balthazar Barbosa Filho.
São Paulo: Abril Cultural, 1983, p. 121; AMARAL FILHO, Marcos Jordão Teixeira
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FARHAT, Emil. O país dos coitadinhos. São Paulo: Companhia Editora Nacional,
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cas. Trad. Waltensir Dutra. Rio de Janeiro: Zahar, 1969, p.86; SOMBART, Werner.
El burgués. Trad. Maria Pilar Lorenzo. Madrid: Alianza, 1992, p. 320.
560 - BUENO, José Antônio Pimenta. Direito Público brasileiro e análise da Cons-
tituição do Império. Brasília: Senado Federal, 1978, p. 463-4; KANT, Immanuel. A
paz perpétua e outros opúsculos. Trad. Artur Morão. Lisboa: Ed. 70, 1988, p. 80-2;
BASTIAT, Claude-Frédéric. A lei. Trad. Ronaldo da Silva Legey. Rio de Janeiro:
José Olympio/Instituto Liberal, 1987, p.20-1; VOLTAIRE, François Marie Arouet.
Dicionário filosófico. Trad. Bruno da Ponte, João Lopes Alves & Marilena de Sou-
za Chauí. In: CHAUÍ, Marilena de Souza [org.]. Os pensadores – Voltaire. Sao
Paulo; Abril Cultural, 1978, p. 217; HAYEK, Friedrich August Von. The constitu-
tion of liberty. Chicago: University of Chicago Press, 1978, p. 105; WEBER, Max.
Ciência e política – duas vocações. Trad. Jean Melville. São Paulo: Martin Claret,
2011, p. 69; SCAFF, Fernando Facury. Notas sobre a reserva legal tributária no
Brasil. In: ROCHA, Carmen Lúcia Antunes [org.]. Constituição e segurança jurídi-
ca – direito adquirido, ato jurídico perfeito e coisa julgada – estudos em homena-
gem a José Paulo Sepúlveda Pertence. Belo Horizonte: Forum, 2005, p. 378;
179
considerava que a pobreza tinha de ser encarada como uma situação
transitória, perfeitamente superável pelo trabalho contínuo e pela
parcimônia nos gastos, era fácil inferir que o estabelecimento de uma
renda mínima como condição para participar da vida pública viria a
estimular os indivíduos a tornarem mais rentáveis as respectivas
atividades econômicas561, de tal sorte que, buscando cada qual a rea-
lização da sua vontade em direção ao poder, involuntariamente have-
ria o benefício para a Economia em geral.
Autonomia da vontade: “é a qualidade da vontade pela qual ela é
uma lei para si mesma”562. Ou seja, quando eu vou estabelecer uma
relação negociar com quem quer que seja, ela se estabelece livre-
mente. Eu me obrigo porque eu livremente aceitei essa obrigação. A
partir desse momento, em respeito à outra parte, eu deverei atender a
essa obrigação rigorosamente, tal como eu a assumi. A autonomia
privada corresponde à responsabilidade no atendimento das obriga-
ções. “Sem a fidelidade mútua (Diretório confirmado pelo Alv. de 17
de agosto de 1758, § 38), não se pode aumentar e não pode subsistir
o comércio”563.
Não confundir o capitalismo liberal com o liberalismo político:
é perfeitamente possível que o liberalismo econômico se desenvolva
independentemente de se prestar homenagem ao liberalismo político.
Um exemplo evidente foi o Império Napoleônico, cujo cesarismo
fugia aos pressupostos do liberalismo político564, mas editou o mais

CARRION, Eduardo Kroeff Machado. Apontamentos de Direito Constitucional,


Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1997, p. 159.
561 - NUNES, Antonio José Avelãs. Uma introdução à economia política. São
Paulo: Quartier Latin, 2008, p. 146-7.
562 - KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes. Trad. Guido
Antônio de Almeida. São Paulo: Barcarolla, 2009, p. 285; SILVA, Clóvis Veríssi-
mo do Couto e. A obrigação como processo. São Paulo: José Bushatsky, 1976, p.
77.
563 - FREITAS, Augusto Teixeira de. Vocabulário jurídico. São Paulo: Saraiva,
1983, v. 1, p. 83.
564 - CHEVALIER, Jean-Jacques. Le temperament politique français. In: COR-
TIÑAS-PELÁEZ, León [org.]. Perspectivas del Derecho Público en la segunda
mitad del siglo XX – homenaje a Enrique Sayagues-Laso. Madrid: Instituto de
Estudios de Administración Local, 1969, t. 1, p. 725-6; BONAVIDES, Paulo. Do
Estado liberal ao Estado social. São Paulo: Malheiros, 2007, p. 81; TIMM, Lucia-
no Benetti & DRESCH, Rafael de Freitas Valle. Aspectos gerais do novo Código
Civil. In: TIMM, Luciano Benetti [org.]. Direito de empresa e contrato. São Paulo:
IOB-Thomson, 2005, p. 24.
180
completo modelo jurídico do liberalismo econômico, que foi o Códi-
go Civil de 1804565. Código, este, que seguiu em vigor mesmo du-
rante a restauração do Absolutismo político empreendida por Luís
XVIII de 1815 a 1830566, a despeito da identificação que Savigny567
fazia entre o movimento da codificação e os “convulsionantes” ide-
ais de Liberdade, Igualdade, Fraternidade, que se mostrariam impe-
ditivos da tranqüilidade social que só poderia repousar nas tradi-
ções568. É de se notar que, no pensamento fisiocrático, franca rejei-
ção havia ao liberalismo político, sustentava-se, antes que “o objeti-
vo da autoridade e da obediência é a segurança e o interesse lícito de
todos”569, e que Camilo de Cavour, o artífice no âmbito da política
de gabinete da Unificação Italiana – o militar foi Garibaldi -, pouco
simpático ao liberalismo político, era um defensor convicto do libe-

565 - SOUZA, Washington Peluso Albino de. Lições de Direito Econômico. Porto
Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 2002, p. 118; GOMES, Orlando. Introdução ao
Direito Civil. Rio de Janeiro: Forense, 1987, p. 53-4; SALDANHA, Nelson. For-
mação da teoria constitucional. Rio de Janeiro: Forense, 1983, p. 92; GIDE, Char-
les. Compêndio de Economia Política. Trad. F. Contreiras Rodrigues. Porto Alegre:
Globo, 1933, p.347; HUBERMAN, Leo. História da riqueza do homem. Trad.
Waltensir Dutra. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara, 1986, p. 151; GUSMÃO, Paulo
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Míriam de Abreu Machado e. Análise estrutural do Anteprojeto do Código Civil
brasileiro. In: SOUZA, Washington Peluso Albino de [org.]. O conteúdo econômico
no Anteprojeto do Código Civil brasileiro. Belo Horizonte: Faculdade de Direito da
Universidade Federal de Minas Gerais, 1975, p. 17.
566 - CHEVALIER, Jean-Jacques. Le temperament politique français. In: COR-
TIÑAS-PELÁEZ, León [org.]. Perspectivas del Derecho Público en la segunda
mitad del siglo XX – homenaje a Enrique Sayagues-Laso. Madrid: Instituto de
Estudios de Administración Local, 1969, t. 1, p. 727.
567 - De la vocación de nuestra época para la legislación. Trad. José Díaz García.
In: THIBAUT & SAVIGNY. La codificación. Madrid: Aguilar, 1970, p. 89; BO-
NAVIDES, Paulo. Do Estado liberal ao Estado social. São Paulo: Malheiros, 2007,
p. 83-4; GUSMÃO, Paulo Dourado de. Introdução à ciência do Direito. Rio de
Janeiro: Forense, 1976, p. 363.
568 - MONCADA, Luís Cabral de. Filosofia do Direito e do Estado. Coimbra:
Coimbra Ed. 2006, v. 1, p. 273-4.
569 - QUESNAY, François. Quadro econômico. Trad. Teodora Cardoso. Lisboa:
Gulbenkian, 1966, p. 142; SALDANHA, Nelson. Formação da teoria constitucio-
nal. Rio de Janeiro: Forense, 1983, p. 64; CARREIRO, Carlos H. Porto. Lições de
economia política e noções de finanças. Rio de Janeiro: F. Briguiet, 1952, p. 42;
SORMAN, Guy. Sair do socialismo. Trad. Célia Neves Dourado. Rio de Janeiro:
Instituto Liberal, 1991, p. 198.
181
ralismo econômico570. “O grau de controle econômico governamen-
tal é um traço característico que se estuda desde a sociedade liberal
até um regime coletivista comunista. Mas a História nos ensina que
não se deve comfundir tal classificação com o grau de liberdade
política e de liberdades civis. Os regimes fascistas adotam, freqüen-
temente, medidas socialistas, e os comissariados comunistas restrin-
gem a liberdade individual ao mínimo. Por outro lado, vemos que a
Grã Bretanha, a Escandinávia e outras regiões socialistas conservam
as liberdades civis e políticas do indivíduo garantidas pela Constitui-
ção norte-americana”571.
“Liberismo”  Termo criado pelo filósofo italiano Benedetto
Croce572 para caracterizar o liberalismo econômico, distinguindo-o
do liberalismo político. Embora não tenha feito fortuna entre nós tal
terminologia, a ausência de necessária coincidência entre o libera-
lismo político e o econômico, tal como se demonstrou anteriormente,
torna-a francamente razoável para possibilitar a distinção entre obje-
tos que não são nem idênticos nem necessariamente simultâneos.
Formação de proletariado: são trabalhadores assalariados, que
são livres para trabalharem ou não. Eles celebram o contrato de tra-
balho como eles quiserem, eles estabelecem do modo que eles quise-
rem o modo do seu trabalho. Por vezes, a jornada de trabalho ia "de
sol a sol" e podia perfeitamente ocorrer o que Joseph Conrad 573 tes-
temunhou acerca da realidade dos trabalhadores negros – não escra-
vizados – da República do Congo em 1890, isto é, “trazidos de todos
os recantos da costa, com a legalidade dos contratos temporários,
perdidos num ambiente inóspito, alimentados com comida estranha,
adoeciam, tornavam-se ineficientes, sendo-lhes então permitido ras-
tejar para longe e descansar. Essas formas moribundas eram livres

570 - BOBBIO, Norberto. Liberalismo e democracia. Trad. Marco Aurélio Noguei-


ra. São Paulo: Brasiliense, 1986, p. 77-8.
571 - SAMUELSON, Paul A. Introdução à análise econômica. Trad. Luiz Carlos
do Nascimento Silva. Rio de Janeiro: Agir, 1966, v. 2, p. 519, nota 2.
572 - Liberismo e liberalismo. In: CROCE, Benedetto & EINAUDI, Luigi. Liberis-
mo e liberalismo. Milano-Napoli: Riccardo Ricciardi Ed., 1957, p. 11; TORELLY,
Paulo Peretti. Soberania, Estado e mercado. São Paulo: Faculdade de Direito da
Universidade de São Paulo, 2010, p. 142-3 (tese de doutoramento).
573 - O coração das trevas. Trad. Albino Poli Jr. Porto Alegre: L & PM, 2007, p.
31; CAMARGO, Ricardo Antônio Lucas. O direito exaurido – a hermenêutica da
Constituição Econômica no coração das trevas. Porto Alegre: Sérgio Antônio
Fabris, 2011, p. 131.
182
como o ar – e quase diáfanas de tão magras”. Proletariado porque o
que eles podiam produzir, acima de tudo, era a prole. Quanto mais
gente estiver à procura de trabalho, menores os salários. A sindicali-
zação e a greve são vistas como expedientes voltados à desobediên-
cia da lei por parte dos obreiros e têm-se como merecedoras de pron-
ta repressão para tranqüilidade das pessoas de bem574. Esta concep-
ção, por sinal, vem ilustrada com eloqüência pela película cinemato-
gráfica Sindicato de ladrões [On the waterfront – dir. Elia Kazan –
EUA 1954], no qual o mal é representado pelo sindicato corrupto
que instiga os trabalhadores a adotarem medidas hostis contra o pa-
trão, não recuando nem mesmo diante do homicídio, e o heroísmo
está nos empregados que se recusam a esta atitude e vêm a colaborar
com a preservação plena da autoridade patronal. Abstração feita do
seu caráter de franco antípoda de O encouraçado Potemkin, de
Eisenstein [Bronenosets Potyomkin – URSS, 1925], quanto ao cará-
ter propagandístico (a intensidade em prol da causa que cada qual
defende é rigorosamente a mesma), e da excelente qualidade cinema-
tográfica que ostenta tanto quanto seu antípoda, o fato é que o filme
em questão também chama a atenção para um problema existente no
sindicalismo norte-americano, que é o da infiltração do gangsteris-
mo, sobretudo no período logo posterior à revogação da Lei Seca:
“houve, realmente, pistoleiros corrutos que conseguiram entrar para
alguns sindicatos urbanos (por exemplo, os estivadores por perto de
Nova Iorque). Esses elementos estavam prontos, tanto a trair a classe
em troca de suborno como a lutar pelos interesses dos trabalhadores.
Estes obtiveram algum sucesso em limpar a sua própria casa. Nas
cidades onde existe um eficiente dispositivo que faz com que as leis
sejam cumpridas, os males do gangsterismo social estão muito bem
controlados”575.
Republicanismo/Monarquia Constitucional: para proteger o
contrato e a propriedade, o rei absolutista não servia mais. Precisava
de parâmetros mais estáveis e seguros 576. O rei não poderia ter a sua

574 - PARETO, Vilfredo. Manual de economia política. Trad. Guillermo Cabanel-


las. Buenos Aires: Atalaya, 1945, p. 361-2; RIPERT, Georges. Le déclin du Droit.
Paris: LGDJ, 1949, p. 112; HUBERMAN, Leo. História da riqueza do homem.
Trad. Waltensir Dutra. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara, 1986, p. 191-3.
575 - SAMUELSON, Paul A. Introdução à análise econômica. Trad. Luiz Carlos
do Nascimento Silva. Rio de Janeiro: Agir, 1966, v. 1, p. 184.
576 - GOSSEN, Hermann Heinrich. The laws of human relations and the rules of
human action derived therefrom. Transl. Rudolph C. Blitz. Cambridge: The MIT,
183
base num direito divino, quer por conta da necessidade de impor sua
autoridade a súditos das mais variadas confissões religiosas, quer
porque nenhuma atividade poderia ter seus resultados assegurados à
falta de parâmetros que tolhessem o capricho pessoal livre do gover-
nante577. Então para garantir a previsibilidade indispensável ao de-
senvolvimento dos negócios578 precisava adotar ou o Republicanis-
mo ou a Monarquia Constitucional. É este o ponto em que se encon-
tram as teses do liberalismo econômico e do liberalismo político: a
necessidade de previsibilidade dos atos do poder público, para não se
comprometer a segurança do cálculo econômico 579, bem como a ga-
rantia de que, em caso de conflito, um terceiro não interessado venha
a compor o litígio580. Neste sentido, Dante Alighieri581, mesmo sem
se poder considerar um precursor do liberalismo: “quando a vontade
não está isenta de cobiça, a justiça, ainda que presente, não se mani-
festa com todo o brilho de sua pureza, porque encontra de algum
modo resistência, por mínima que seja, no indivíduo que deve atuá-
la”. Contudo, caveat lector: mesmo com um “Poder Moderador”
semelhante ao que ostentava o Imperador brasileiro 582 ou o Presiden-

1983, p. 232; MAIER, Hans. Verwaltungslehre und politische Theorie. COR-


TIÑAS-PELÁEZ, León [org.]. Perspectivas del Derecho Público en la segunda
mitad del siglo XX – homenaje a Enrique Sayagues-Laso. Madrid: Instituto de
Estudios de Administración Local, 1969, t. 1, p. 798.
577 - WEBER, Max. Economía y sociedad. Trad. José M. Echavarría et allii. Méxi-
co/Buenos Aires: Fondo de Cultura Económica, 1992, p. 735; BARZOTTO, Luís
Fernando. O positivismo jurídico contemporâneo – uma introdução a Kelsen, Ross
e Hart. São Leopoldo: UNISINOS, 1999, p. 137; FREITAS, Juarez. O intérprete e o
poder de dar vida à Constituição: preceitos de exegese constitucional. In: GRAU,
Eros Roberto & GUERRA FILHO, Willis Santiago [org.]. Direito Constitucional –
estudos em homenagem a Paulo Bonavides. São Paulo: Malheiros, 2001, p. 238.
578 - LOCKE, John. Ensayo sobre el gobierno civil. Trad. Armando Lazaro Ros.
Madrid: Aguilar, 1969, p. 104-5; PILAGALLO, Oscar. Direito e economia. São
Paulo: Saraiva, 2008, p. 27..
579 - SOMBART, Werner. El burgués. Trad. Maria Pilar Lorenzo. Madrid: Alian-
za, 1992, p. 337; SALDANHA, Nelson. Formação da teoria constitucional. Rio de
Janeiro: Forense, 1983, p. 176.
580 - LOCKE, John. Ensayo sobre el gobierno civil. Trad. Armando Lazaro Ros.
Madrid: Aguilar, 1969, p. 94.; PILAGALLO, Oscar. Direito e economia. São Pau-
lo: Saraiva, 2008, p. 39.
581 - Monarquia. Trad. Ciro Mioranza. São Paulo: Escala, 2006, p. 48.
582 - BUENO, José Antônio Pimenta. Direito Público brasileiro e análise da Cons-
tituição do Império. Brasília: Senado Federal, 1978, p. 278; SALDANHA, Nelson.
Formação da teoria constitucional. Rio de Janeiro: Forense, 1983, p. 192.
184
te da República francesa no gaullismo 583, o liberalismo econômico
poderia perfeitamente funcionar. Daí por que se reitera: embora, em
muito, o caráter de restrição ao Poder Estatal inerente ao liberalismo
político pudesse render ensejo à criação do ambiente para se desen-
volver o liberismo – liberalismo econômiico -, é necessário ter pre-
sente que este somente aceitará as premissas daquele até o limite em
que não ficar comprometido o funcionamento do mercado. A própria
democracia, outrossim, era uma idéia vista com reservas e até com
temor pelos fundadores da República dos EUA, como se pode verifi-
car no texto de James Madison acerca do Governo republicano re-
presentativo como um antídoto aos conhecidos vícios de um regime
de Governo que, de acordo com a concepção vigorante na época,
somente seria exeqüível “por um número limitado de pessoas, vi-
vendo em um pequeno território”584.
Concorrência perfeita: os egoísmos em perfeita concorrência se
equilibrariam585. A concepção ética mais umbilicalmente ligada a
esta concepção econômica, indiscutivelmente, é o utilitarismo 586.
Esta, aliás, uma razão a mais para dissociar o empresário modelar
capitalista do modelar príncipe medieval à procura do Santo Graal 587.

583 - BUFFELAN, Jean-Paul. La conception gaullienne du pouvoir. CORTIÑAS-


PELÁEZ, León [org.]. Perspectivas del Derecho Público en la segunda mitad del
siglo XX – homenaje a Enrique Sayagues-Laso. Madrid: Instituto de Estudios de
Administración Local, 1969, t. 1, p. 752.
584 - Repúblicas federativas e democracias diretas. In: HAMILTON, Alexander,
MADISON, James & JAY, John. O Federalista. Trad. Heitor de Almeida Herrera.
Brasília: Universidade de Brasília, 1984, p. 174.
585 - ROBINSON, Joan. Filosofia econômica. Trad. Fernando Ferro. Rio de Janei-
ro: Zahar, 1964, p. 55.
586 - MILL, John Stuart. Utilitarianism. London: Encyclopaedia Britannica, 1952,
p. 474; CROCE, Benedetto. Liberismo e liberalismo. In: CROCE, Benedetto &
EINAUDI, Luigi. Liberismo e liberalismo. Milano-Napoli: Riccardo Ricciardi Ed.,
1957, p. 12; HECKSCHER, Eli R. La época mercantilista. Trad. Wenceslao Roces.
México: Fondo de Cultura Económica, 1983, p. 739; SALDANHA, Nelson. For-
mação da teoria constitucional. Rio de Janeiro: Forense, 1983, p. 88-9; MARX,
Karl. O capital. Trad. Reginaldo Sant’Anna. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
1975, v. 2, p. 708, nota 63; MYRDAL, Gunnar. Aspectos políticos da teoria eco-
nômica. Trad. José Auto. São Paulo: Nova Cultural, 1986, p. 46.
587 - BERLE, Adolf A. Poder sin propiedad. Trad. Juan Carlos Pellegrini. Buenos
Aires: Tipografia Editora Argentina, 1961, p. 132; SOMBART, Werner. El bur-
gués. Trad. Maria Pilar Lorenzo. Madrid: Alianza, 1992, p. 365; SCHUMPETER,
Joseph Alois. Capitalismo, socialismo e democracia. Trad. Ruy Jungmann. Rio de
Janeiro: Fundo de Cultura, 1961, p. 168; CAMARGO, Ricardo Antônio Lucas.
185
Como se lê num clássico da literatura fantástica, todas as demais
pessoas que não lhe tenham utilidade, para ele, “são como fantasmas
de séculos sepultos”588. Nada mais longe da índole do empresário do
que a popstura do índio do romantismo brasileiro, que, caído prisio-
neiro em combate, destinado a converter-se em repasto, não precisa-
va ser guardado, pois, caso se evadisse, “o desprezo do inimigo o
acompanharia aos seus nativos; e a taba de seus irmãos não se abriria
para o fugitivo que tivesse desonrado o nome de sua nação” 589. Nas
palavras de um autor insuspeito de antipatias pelo capitalismo libe-
ral, “o antigo capitão de indústria, apesar de todo o seu gênio criador
e toda a sua habilidade em calcular os riscos necessários à formação
de uma grande empresa, exibia com freqüência uma mentalidade de
bucaneiro e uma atitude irresponsável de ‘o público que se dane’” 590.
O Estado somente interferiria para impedir, para tolher, para coarctar
as perturbações da ordem. Mas a possibilidade de atuação do Estado,
num capitalismo liberal, não é nula591. Ele vai ter de prestar serviços
públicos. As estradas devem ser, necessariamente, vias públicas. E
incumbe ao Estado gerir estes bens públicos, prestar, repete-se, ser-
viços públicos592. E, para tanto, entende-se que deve buscar, mesmo
coativamente, recursos dos particulares: “as necessidades que ele
satisfaz são coletivas e não individuais; é difícil precisar o quanto de
vantagem cabe a cada um”593. Modo certo, retoma a idéia de Dante
quanto ao dever de o governante perseguir não o bem próprio, mas o
bem comum594.

Direito Econômico e reforma do Estado – 1 – a experiência européia de Constitui-


ção Econômica “socialista”: bases para a crítica. Porto Alegre: Sérgio Antônio
Fabris, Data, 1994, p. 21-2.
588 - POE, Edgar Allan. Histórias extraordinárias. Trad. Clarice Lispector. Rio de
Janeiro/São Paulo: Nova Fronteira/Saraiva, 2011, p. 33.
589 ALENCAR, José Martiniano de. Ubirajara. Porto Alegre: L & PM, 2005, p.
41.
590 - SAMUELSON, Paul A. Introdução à análise econômica. Trad. Luiz Carlos
do Nascimento Silva. Rio de Janeiro: Agir, 1966, v. 1, p. 133.
591 - BARRE, Raymond. Manual de economia política. Trad. Pierre Santos. Rio de
Janeiro: Fundo de Cultura, 1970, v. 1, p. 130.
592 - SAY, Jean-Baptiste. Tratado de economia política. Trad. Balthazar Barbosa
Filho. São Paulo: Abril Cultural, 1983, p. 192-3.
593 - HICKS, John R. Uma introdução à economia. Trad. Sérgio Góes de Paula.
Rio de Janeiro; Zahar, 1972, p. 172.
594 - Monarquia. Trad. Ciro Mioranza. São Paulo: Escala, 2005, p. 54; OCKHAM,
Guillermo de. Sobre el poder de los emperadores y de los Papas. Trad. Juan Otrera
186
Subsidiariedade: o próprio Adam Smith595 fala que, quando não
houver interesse da iniciativa privada ou a atuação desta não for
conveniente à paz social, o Estado deverá, em caráter temporário,
interferir. Preferencialmente, cabe à iniciativa privada, sendo a cir-
cunstância que justificaria a atuação estatal excepcional.
Livre-cambismo: livre entrada e saída de mercadorias do exterior
e para o exterior, sustentada tanto pelos fisiocratas quanto pela Ingla-
terra. Os fisiocratas defendiam-no em nome de se ampliar a rentabi-
lidade dos bens de raiz, aplainando as desigualdades das colheitas596.
Sua defesa pela Inglaterra vem a dar-se por conta de sua condição de
“oficina do mundo”, fundada no dado de precisar escoar os produtos
industrializados que não teria como internamente consumir 597.
Nacionalismo econômico: Nos principados alemães, por volta
de 1815, Napoleão derrotado, os comerciantes e industriais nacionais
destes pequenos Estados que falavam a mesma língua resolveram
montar grandes associações para que se adotasse um sistema de pro-
tecionismo, em face dos produtos industriais ingleses. Quem vai ter
uma atuação muito forte nesse sentido e vai levar sua experiência
prática para a teoria será o economista alemão Friedrich List598, o
grande teórico do nacionalismo econômico que vai ressuscitar a
idéia do protecionismo em nome de uma garantia de concorrência
mais equilibrada599, inspirado nas idéias políticas de Alexander Ha-

García. Barcelona: Marcial Pons, 2007, p. 79-80; LIMA, Ruy Cirne. Princípios de
Direito Administrativo. Porto Alegre: Sulina, 1964, p. 77.
595 - A riqueza das nações – uma investigação sobre a sua natureza e as suas
causas. Trad. Luís João Baraúna. São Paulo: Nova Cultural, 1996, v. 2, p. 224.
596 - QUESNAY, François. Quadro econômico. Trad. Teodora Cardoso. Lisboa:
Gulbenkian, 1966, p. 117.
597 - SOMBART, Werner. El apogeo del capitalismo. Trad. Vicente Caridad.
México: Fondo de Cultura Económica, 1946, v. 1, p. 76.
598 - Sistema nacional de economia política. Trad. Manuel Sánchez Sarto. México:
Fondo de Cultura Económica, 1942, p. 177; HECKSCHER, Eli R. La época mer-
cantilista. Trad. Wenceslao Roces. México: Fondo de Cultura Económica, 1983, p.
777.
599 - SOUZA, Washington Peluso Albino de. Do econômico nas Constituições
vigentes. Belo Horizonte: Revista Brasileira de Estudos Políticos, 1961, v. 2, p.
210; HUBERMAN, Leo. História da riqueza do homem. Trad. Waltensir Dutra. Rio
de Janeiro: Ed. Guanabara, 1986, p. 209-210.
187
milton600. São mantidos os fundamentos do capitalismo, ou seja,
contrato e propriedade. Porém o Estado passa a ter que agir na prote-
ção da indústria nacional, tendo em vista existir uma desigualdade
no nível de industrialização das nações 601. Esse nacionalismo vai
constituir a base econômica do sentimento de aglutinação política e
inspirar a unificação alemã602.
Protecionismo: base do nacionalismo econômico, prática de um
país voltada a assegurar, no comércio exterior, as vantagens para os
seus próprios bens e serviços, supondo que a concorrência não se
trave em condições de igualdade.
Capitalismo “social”: a questão da legitimidade do poder não
deixa de guardar, modo certo, parentesco com a assertiva agostiniana
a respeito de o Estado desprovido de justiça não diferir de um bando
de ladrões603. Max Weber604 retomará o tema, distinguindo entre as
relações de poder baseadas na “força nua” e as que tivessem um

600 - A União e a receita nacional. In: HAMILTON, Alexander, MADISON, James


& JAY, John. O Federalista. Trad. Heitor de Almeida Herrera. Brasília: Universi-
dade de Brasília, 1984, p. 166-7.
601 - HEIMANN, Eduard. História das doutrinas econômicas. Trad. Waltensir
Dutra. Rio de Janeiro: Zahar, 1971, p. 137; SOUZA, Washington Peluso Albino de.
Adam Smith e o ouro de Minas Gerais (o Tratado de Methuen). Revista da Facul-
dade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte, v. 24,
n. 17, p. 284, out 1976.
602 - BONAVIDES, Paulo. Do Estado liberal ao Estado social. São Paulo: Malhei-
ros, 2007, p. 81-2; SALDANHA, Nelson. Formação da teoria constitucional. Rio
de Janeiro: Forense, 1983, p. 96-7.
603 - AUGUSTINE, Aurelius. The city of God. Transl. Marcus Dods. London:
Encyclopaedia Britannica, 1952, p. 190-1.
604 - Economía y sociedad. Trad. José M. Echavarría et allii. México/Buenos Aires:
Fondo de Cultura Económica, 1992, p. 43; GRAU, Eros Roberto. O discurso neoli-
beral e a teoria da regulação. In: CAMARGO, Ricardo Antônio Lucas [org.]. De-
senvolvimento econômico e intervenção do Estado na ordem constitucional – estu-
dos jurídicos em homenagem ao Professor Washington Peluso Albino de Souza.
Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 1995, p. 72-3, nota 17; BERLE, Adolf A.
Poder sin propiedad. Trad. Juan Carlos Pellegrini. Buenos Aires: Tipografia Edito-
ra Argentina, 1961, p. 127; COMPARATO, Fábio Konder. A democratização dos
meios de comunicação. In: GRAU, Eros Roberto & GUERRA FILHO, Willis San-
tiago [org.]. Direito Constitucional – estudos em homenagem a Paulo Bonavides.
São Paulo: Malheiros, 2001, p. 150-1; SOUZA JÚNIOR, Cezar Saldanha de. Con-
senso e democracia constitucional. Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 2002, p. 55;
BOBBIO, Norberto. Ensaios escolhidos. Trad. Sérgio Bath. São Paulo: C. H. Car-
dim, [s/d], p. 176-7; AZEVEDO, Plauto Faraco de. Justiça distributiva e aplicação
do Direito. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 1983, p. 64.
188
título de legitimação qualquer, desde o carisma do líder, passando
pela tradição, até desembocar na legitimidade racional, a presença,
enfim, de uma razão para se aderir aos comandos provenientes da-
quele que se ache investido no poder. Claro que se está, aqui, a tra-
balhar com tipos ideais, e o próprio Weber605 tinha ciência disto,
pois, ao lado de situações óbvias como o do Gen. De Gaulle enquan-
to exemplo de legitimação pelo carisma 606, aparecem algumas que
ficam em uma espécie de zona cinzenta, como é o caso da concepção
jacobina do poder, concentrado em um partido único que encarnaria
de modo impessoal os ideais da Revolução Francesa 607. É a partir daí
que se coloca a questão de como se poderia fazer com que as classes
desprovidas dos meios de produção não viessem a se insurgir contra
a estrutura institucional que garantia o funcionamento do mercado.
Ou seja, como o voto era censitário, havia um problema de legitimi-
dade do poder exercido sobre as massas despossuídas. E as próprias
teses do liberalismo político, vinham a dar apoio a sustentação delas.
Tanto que John Stuart Mill608, que no âmbito econômico é um libe-
rista, vai ser um dos defensores universalização do sufrágio. Não era
mais suficiente tratar a liberdade como autonomia, era mister tomá-
la, também, como a possibilidade de se fazer ouvido, de participar do
poder609. Ao mesmo tempo começa-se a assumir a legitimidade de

605 - Ciência e política – duas vocações. Trad. Jean Melville. São Paulo: Martin
Claret, 2011, p. 62.
606 - BUFFELAN, Jean-Paul. La conception gaullienne du pouvoir. CORTIÑAS-
PELÁEZ, León [org.]. Perspectivas del Derecho Público en la segunda mitad del
siglo XX – homenaje a Enrique Sayagues-Laso. Madrid: Instituto de Estudios de
Administración Local, 1969, t. 1, p. 745-6.
607 - CHEVALIER, Jean-Jacques. Le temperament politique français. In: COR-
TIÑAS-PELÁEZ, León [org.]. Perspectivas del Derecho Público en la segunda
mitad del siglo XX – homenaje a Enrique Sayagues-Laso. Madrid: Instituto de
Estudios de Administración Local, 1969, t. 1, p. 725; CROCE, Benedetto. Le fedi
religiose oposte. In: CROCE, Benedetto & EINAUDI, Luigi. Liberismo e liberalis-
mo. Milano-Napoli: Riccardo Ricciardi Ed., 1957, p. 39; MONCADA, Luís Cabral
de. Filosofia do Direio e do Estado. Coimbra: Coimbra Ed., 2006, v. 1, p. 392;
CAMARGO, Ricardo Antônio Lucas. Direito Econômico e reforma do Estado – 1 –
a experiência européia de Constituição Econômica “socialista”: bases para a
crítica. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, Data, 1994, p. 24.
608 - De la libertad – del gobierno representativo – esclavitud femenina. Trad.
Marta C. C. Iturbe. Madrid: Tecnos, 1965, p. 182.
609 - MAIER, Hans. Verwaltungslehre und politische Theorie. CORTIÑAS-
PELÁEZ, León [org.]. Perspectivas del Derecho Público en la segunda mitad del
siglo XX – homenaje a Enrique Sayagues-Laso. Madrid: Instituto de Estudios de
189
algumas pretensões das classes desprovidas de bens, já que poderiam
se fazer presentes no local onde os seus direitos subjetivos e seus
deveres, inclusive no que diz respeito às relações econômicas,
seriam definidos610. A fórmula geral do Estado Social é no sentido
de que uma democracia somente funciona quando seja assegurada a
igualdade de oportunidades a quantos estejam envolvidos no proces-
so econômico611. Entretanto, tal sistema não seria albergado somente
em regimes políticos democráticos612. Experiências unipartidárias
anti-liberais e anti-comunistas613, como é o caso do Nazismo e do
Fascismo614, ou mesmo apartidárias, como é o caso da Espanha fran-

Administración Local, 1969, t. 1, p. 788; SOUZA JÚNIOR, Cezar Saldanha de.


Consenso e democracia constitucional. Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 2002, p. 108;
WEBER, Max. Economía y sociedad. Trad. José M. Echavarría et allii. Méxi-
co/Buenos Aires: Fondo de Cultura Económica, 1992, p. 1.056.
610 - SOUZA, Washington Peluso Albino de. Do econômico nas Constituições
vigentes. Belo Horizonte: Revista Brasileira de Estudos Políticos, 1961, v. 2, p.
176-8; GALBRAITH, John Kenneth. O novo Estado industrial. Trad. Leônidas
Gontijo de Carvalho. São Paulo: Nova Cultural, 1988, p. 210; HECKSCHER, Eli R.
La época mercantilista. Trad. Wenceslao Roces. México: Fondo de Cultura Eco-
nómica, 1983, p. 778.
611 - HELLER, Hermann. Teoria do Estado. Trad. Lycurgo Gomes da Motta. São
Paulo: Mestre Jou, 1968, p. 171-2; ABENDROTH, Wolfgang. Der demokratische
und soziale Rechtstaat aus politischer Auftrag. In: CORTIÑAS-PELÁEZ, León
[org.]. Perspectivas del Derecho Público en la segunda mitad del siglo XX – home-
naje a Enrique Sayagues-Laso. Madrid: Instituto de Estudios de Administración
Local, 1969, t. 1, p. 819; LANDAUER, Carl. Sistemas econômicos contemporâ-
neos. Trad. Waltensir Dutra. Rio de Janeiro: Zahar, 1966, v. 1, p. 92; BERCOVICI,
Gilberto. Desigualdades regionais, Estado e Constituição. São Paulo: Max Limo-
nad, 2003, p. 244; SOARES, Mário Lúcio Quintão. Teoria do Estado. Belo Hori-
zonte: Del Rey, 2001, p. 289; CAMARGO, Ricardo Antonio Lucas. Direito Eco-
nômico – aplicação e eficácia. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 2001, p. 69.
612 - BONAVIDES, Paulo. Do Estado liberal ao Estado social. São Paulo: Malhei-
ros, 2007, p. 184.
613 - BARRE, Raymond. Manual de economia política. Trad. Pierre Santos. Rio de
Janeiro: Fundo de Cultura, 1970, v. 1, p. 176-7.
614 - CHEVALIER, Jean-Jacques. Le temperament politique français. In: COR-
TIÑAS-PELÁEZ, León [org.]. Perspectivas del Derecho Público en la segunda
mitad del siglo XX – homenaje a Enrique Sayagues-Laso. Madrid: Instituto de
Estudios de Administración Local, 1969, t. 1, p. 729; MONCADA, Luís Cabral de.
Filosofia do Direio e do Estado. Coimbra: Coimbra Ed., 2006, v. 1, p. 397; AZE-
VEDO, Plauto Faraco de. Limites e justificação do poder do Estado. Petrópolis:
Vozes, 1979, p. 98-100; BARACHO, José Alfredo de Oliveira. Regimes políticos.
São Paulo: Resenha Universitária, 1977, p. 268.
190
quista615 e do Estado Novo em Portugal616 e no Brasil617, poderiam,
tranqüilamente, sob o aspecto econômico, ser classificadas sob esta
rubrica, o que explica as perplexidades dos autores preocupados com
a manutenção das conquistas do liberalismo político 618 e a necessi-
dade de, constantemente, definir-se o contexto jurídico-político em
que tal sistema econômico se manifestará619. “É freqüente os capita-
listas e as classes médias baixas contribuírem para os primeiros im-
pulsos dos movimentos fascistas; mais tarde, quando o movimento
começa a assumir aspectos revolucionários – como às vezes acontece
–, os capitalistas podem lastimar o monstro de Frankenstein que
ajudaram a criar. Só lhes resta um consolo: uma das características
de um regime fascista é a oposição ao comunismo. Muitas vezes, o
fascismo chega ao poder pelo exagero que põe na imediata possibili-
dade de uma revolução bolchevista e, depois de assumido o poder, a
ameaça do comunismo é usada como desculpa para a supressão dos
procesos democráticos”620.
Sindicalização: os sindicatos, antes considerados como um sími-
le dos monopólios, por forçarem os salários para cima do “nível de
equilíbrio” traduzido pela capacidade “ofensiva” do empregado e

615 - LEGAZ Y LACAMBRA, Luís. Horizontes del pensamiento jurídico. Barce-


lona: Bosch, 1947, p. 181.
616 - MIRANDA, Jorge. Manual de Direito Constitucional. Coimbra: Coimbra Ed.,
2003, t. 1, p. 308-9; QUEIRÓ, Afonso Rodrigues. O novo Direito Constitucional
português. Boletim da Faculdade de Direito de Coimbra. Coimbra, v, 22, p. 64-5,
1946.
617 - CAMPOS, Francisco Álvares da Silva. O Estado Nacional. Rio de Janeiro:
José Olympio, 1941, p. 38-40; VARGAS, Getúlio Dornelles. O pensamento políti-
co. Porto Alegre: Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul, 2004, p.
96-7; SOUZA, Ricardo Luiz de. Os sentidos da ruptura: trabalhismo e legislação
trabalhista na Revolução de 1930. Justiça & História. Porto Alegre, v. 5, n. 10, p.
218-9, 2005; CARRION, Eduardo Kroeff Machado. Apontamentos de Direito
Constitucional, Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1997, p. 218-9.
618 - MAIER, Hans. Verwaltungslehre und politische Theorie. In: CORTIÑAS-
PELÁEZ, León [org.]. Perspectivas del Derecho Público en la segunda mitad del
siglo XX – homenaje a Enrique Sayagues-Laso. Madrid: Instituto de Estudios de
Administración Local, 1969, t. 1, p. 799-800.
619 - ABENDROTH, Wolfgang. Der demokratische und soziale Rechtstaat aus
politischer Auftrag. In: CORTIÑAS-PELÁEZ, León [org.]. Perspectivas del Dere-
cho Público en la segunda mitad del siglo XX – homenaje a Enrique Sayagues-
Laso. Madrid: Instituto de Estudios de Administración Local, 1969, t. 1, p. 828.
620 - SAMUELSON, Paul A. Introdução à análise econômica. Trad. Luiz Carlos
do Nascimento Silva. Rio de Janeiro: Agir, 1966, v. 2, p. 517.
191
“defensiva” do empregador621, passam a ser compreendidos, em face
da capacidade real de imposição deste, como um poder de contraba-
lanço622, quando corresponda a regimes políticos democráticos. O
papel dos sindicatos na França, aos tempos em que governava a
Frente Popular – aliança liberal-jacobina que, em 1936, derrotara
eleitoralmente os fascistas623 -, com a possibilidade de ampla defini-
ção, via convenção coletiva, das relações entre patrões e emprega-
dos624, era muitíssimo diverso daquele estabelecido quando do Go-
verno do Marechal Pétain625, que adotou a unicidade sindical e a
obrigatoriedade de filiação de cada empregador e trabalhador aos
respectivos sindicatos626, algo similar ao que aconteceu na Alemanha
nazista, com os seus “comissários do trabalho”, e que, com o seu
“princípio do líder”, fez da empresa o centro de gravidade das rela-
ções laborais, e na Espanha franquista627. No Portugal salazarista,
longe do caráter de combate ou de contraposição, o sindicato, seja
laboral ou patronal, teria de seguir a filosofia da “coordenação insti-

621 - KNIGHT, Frank Hyneman. Inteligência e ação democrática. Trad. Francisco


J. Beralli. Rio de Janeiro: Instituto Liberal, 1989, p. 102; PARETO, Vilfredo. Ma-
nual de economia política. Trad. Guillermo Cabanellas. Buenos Aires: Atalaya,
1945, p. 354.
622 - ROBINSON, Joan. Filosofia econômica. Trad. Fernando Ferro. Rio de Janei-
ro: Zahar, 1964, p. 135; GALBRAITH, John Kenneth. O novo Estado industrial.
Trad. Leônidas Gontijo de Carvalho. São Paulo: Nova Cultural, 1988, p. 204;
LANDAUER, Carl. Sistemas econômicos contemporâneos. Trad. Waltensir Dutra.
Rio de Janeiro: Zahar, 1966, v. 2, p. 488-9; ROSTOW, Walt Whtiman. Las etapas
del crecimiento econômico – un manifiesto no comunista. Trad. Rubén Pimentel.
México: Fondo de Cultura Económica, 1961, p. 181.
623 - CHEVALIER, Jean-Jacques. Le temperament politique français. In: COR-
TIÑAS-PELÁEZ, León [org.]. Perspectivas del Derecho Público en la segunda
mitad del siglo XX – homenaje a Enrique Sayagues-Laso. Madrid: Instituto de
Estudios de Administración Local, 1969, t. 1, p. 730.
624 - MORIN, Gaston. La revolte du droit contre le Code. Paris: Sirey, 1945, p. 55.
625 - CHEVALIER, Jean-Jacques. Le temperament politique français. In: COR-
TIÑAS-PELÁEZ, León [org.]. Perspectivas del Derecho Público en la segunda
mitad del siglo XX – homenaje a Enrique Sayagues-Laso. Madrid: Instituto de
Estudios de Administración Local, 1969, t. 1, p. 730.
626 - MORIN, Gaston. La revolte du droit contre le Code. Paris: Sirey, 1945, p. 45;
RIPERT, Georges. Le déclin du Droit. Paris: LGDJ, 1949, p. 73.
627 - AMARAL, Alexandre Augusto Pinto Coelho de. O contrato coletivo de traba-
lho no Direito corporativo português. Boletim da Faculdade de Direito de Coimbra.
Coimbra, v. 11, p. 339-340, 1953 - supl.; BARACHO, José Alfredo de Oliveira.
Regimes políticos. São Paulo: Resenha Universitária, 1977, p. 212.
192
tucionalizada de interesses e funções, em ordem ao Bem Comum” 628,
e o próprio nome “sindicato” era substituído por “corporação”, en-
tregue “a representação de cada categoria a uma única associação,
autorizada e reconhecida pelo Governo, à qual compete celebrar
convenções coletivas obrigatórias para todos os seus membros” 629.
“Dirigismo” contratual: o capitalismo social convive com o di-
rigismo contratual, fenômeno amplamente estudado por Louis Josse-
rand630. Para corrigir o desequilíbrio entre partes do poder econômi-
co desigual, o legislador vai limitar a autonomia da vontade. Não vai
anular essa autonomia, mas vai limitar, justamente a partir do pres-
suposto de que “à medida que a desigualdade se reduz, os perigos
que ameaçam a liberdade declinam rapidamente” 631. O contrato con-
tinua sendo celebrado, embora alguns de seus segmentos possam
deixar de ser fruto exclusivo da autonomia da vontade632. Abre-se
maior espaço para a heteronomia, situação em que “a vontade não se
dá ela própria a lei, mas é, sim, um impulso alheio que dá lei à von-
tade”633. Ex: ação renovatória de locação comercial (quando um con-
trato de locação é celebrado por 5 anos ou mais, visando uma ativi-
dade empresarial, o locatário pode obrigar à renovação).
Legislação social: Otto von Bismarck vai estruturar a previdên-
cia social na recém unificada Alemanha. Vem a traduzir, a bem de
ver, uma medida apta a inserir a própria clientela política dos socia-
listas no seio do Estado, a fim de que ela também se sentisse con-

628 - CARDOSO, Pires. Por uma corporação autêntica. Boletim da Faculdade de


Direito de Coimbra. Coimbra, v. 36, p. 84, 1960.
629 - AMARAL, Alexandre Augusto Pinto Coelho de. O contrato coletivo de traba-
lho no Direito corporativo português. Boletim da Faculdade de Direito de Coimbra.
Coimbra, v. 11, p. 343, 1953 - supl.
630 - Derecho Civil. Trad. Santiago Cunchillos y Manterola. Buenos Aires: Edicio-
nes Jurídicas Europa-América, 1950, t. 2, v. 1, p. 285-7.
631 - LANDAUER, Carl. Sistemas econômicos contemporâneos. Trad. Waltensir
Dutra. Rio de Janeiro: Zahar, 1966, v. 1, p. 104; SAVATIER, René. Les métamor-
phoses économiques et sociales du Droit Civil d’aujourd’hui. Paris: Dalloz, 1952,
p. 55.
632 - OLIVEIRA, Wilson de. Identificação do conteúdo econômico no Anteprojeto
de Código Civil brasileiro (1972). In: SOUZA, Washington Peluso Albino de
[org.]. O conteúdo econômico no Anteprojeto do Código Civil brasileiro. Belo
Horizonte: Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais, 1975, p.
62.
633 - KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes. Trad. Guido
Antônio de Almeida. São Paulo: Barcarolla, 2009, p. 299.
193
templada e, por esta razão, tivesse motivos para o manter estável634.
Tal foi, consoante se viu ao ser estudado o tema do desemprego, o
cálculo de Franklin Roosevelt e, modo certo, o de Getúlio Vargas,
tomando a sério o tema do discurso proferido por Ruy Barbosa no
Teatro Lírico em 1919 sobre a questão social no Brasil. Toma-se
como ponto de partida o dado de que, se o ser humano é movido
pelo egoísmo, em regra, as exigências de solidariedade, notadamente
o auxílio aos necessitados, não poderiam ficar ao sabor da beneme-
rência de cada cidadão; demandariam, mesmo, o aparelho coercitivo
do Estado635.
Intervencionismo do Estado no domínio econômico: significa
que a atuação do Estado tem um caráter excepcional. Tem seus pres-
supostos delineados normativamente. A presença ou ausência do
Estado não é determinada por uma ordem natural e sim por um tra-
tamento normativo, mesmo no capitalismo liberal. Essa intervenção
vai se realizar mediante atos legislativos (indireta) ou mediante a
atuação de entidades criadas por lei (direta). Mas seria equivocado
pretender estabelecer uma necessária proporção inversa entre a ex-
pansão do poder econômico público e a do poder econômico priva-
do636. A intervenção não se faz somente para restrição a este, sendo
algumas vezes realizados incentivos para a iniciativa particular. Ao
lado das medidas interventivas pontuais, mesmo casuísticas, buscou-
se, também, a coordenação entre os diversos setores da Economia
mediante a adoção, no seio dos países capitalistas, do planejamento
econômico, a começar pela França, embora produzindo alterações

634 - MAIER, Hans. Verwaltungslehre und politische Theorie. CORTIÑAS-


PELÁEZ, León [org.]. Perspectivas del Derecho Público en la segunda mitad del
siglo XX – homenaje a Enrique Sayagues-Laso. Madrid: Instituto de Estudios de
Administración Local, 1969, t. 1, p. 785; SAY, Jean-Baptiste. Tratado de economia
política. Trad. Balthazar Barbosa Filho. São Paulo: Abril Cultural, 1983, p. 387;
HECKSCHER, Eli R. La época mercantilista. Trad. Wenceslao Roces. México:
Fondo de Cultura Económica, 1983, p. 456; SANTOS, Marco Fridolin Sommer.
Acidente do trabalho entre a seguridade social e a responsabilidade civil. São
Paulo: LTr, 2008, p. 50.
635 - WEBER, Adolf. Introducción al estudio de la Economía Política. Trad. José
Alvarez de Cienfuegos y Cobos. Barcelona: Bosch, 1943, p. 165.
636 - BERLE, Adolf A. Poder sin propiedad. Trad. Juan Carlos Pellegrini. Buenos
Aires: Tipografia Editora Argentina, 1961, p. 119-120; LANDAUER, Carl. Siste-
mas econômicos contemporâneos. Trad. Waltensir Dutra. Rio de Janeiro: Zahar,
1966, v. 1, p. 113-4; BARRE, Raymond. Manual de economia política. Trad. Pierre
Santos. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1970, v. 1, p. 132-4.
194
profundas mesmo no que diz respeito à compreensão do papel da lei,
a fim de que ele pudesse ser adotado sem se nulificar a liberdade de
iniciativa637. Aliás, esta vem, num certo sentido, a ser até mesmo
reforçada em suas garantias: “o exame sério e racional da situação
econômica, como afirma Juan de Soto, pode liberar o mercado de
uma série de intervenções tornadas inúteis ou desvantajosas e pode
encaminhar a supressão de medidas devidas à recessão ou à inflação,
que sobrevivem às razões que as motivaram. De outra parte, a racio-
nalidade não é um mal em si, servindo também como instrumento de
preservação da liberdade, na medida em que não desconsidere a pri-
mazia dos interesses humanos”638. Técnicos elaboram a “peça” a
partir de um diagnóstico da\ realidade e dos meios de que se dispõe,
estabelecem objetivos a serem atingidos e as metas a serem busca-
das, entendidas estas últimas como quantificações daqueles. Tal peça
virá a ser conteúdo de um diploma legislativo específico. É de se
esclarecer que, no processo de elaboração da peça técnica, são toma-
dos em consideração os “grandes agregados”, isto é, é com os con-
ceitos da “macroeconomia” que se trabalhará639. A Lei Complemen-
tar n. 3, de 1967, revogada pelo Ato Complementar n. 43, de 1969,
chegava a esmiuçar o conteúdo da peça, no sentido de que dela
“constariam as definições básicas adotadas, os elementos de infor-
mação que as justificariam, a determinação dos objetivos pretendi-
dos, bem assim as decisões alternativas que poderiam ser adotadas
duratne a sua execução, a fim de que o resultado final fosse efetiva-
mente alcançado”640. É necessário, para fins de diagnóstico, o conhe-
cimento dos dados concernentes à demografia, à produção em bloco
(não somente a presente como a potencial), ao comércio exterior, à
circulação dos produtos, à “renda nacional”, bem como o conheci-

637 - LANDAUER, Carl. Sistemas econômicos contemporâneos. Trad. Waltensir


Dutra. Rio de Janeiro: Zahar, 1966, v. 2, p. 356-8; PERROUX, François. Economia
e sociedade. Trad. Aurora & Mário Murteira. São Paulo: Duas Cidades, 1961, p.
201.
638 - GRAU, Eros Roberto. Planejamento econômico e regra jurídica. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 1978, p. 41-2.
639 - BETTELHEIM, Charles. Planificação e crescimento acelerado. Trad. Dirceu
Lindoso. Rio de Janeiro: Zahar, 1968, p. 205.
640 - GRAU, Eros Roberto. Planejamento econômico e regra jurídica. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 1978, p. 154.
195
mento das potencialidades materiais e humanas à disposição 641. No
âmbito dos Estados cuja economia se baseia predominantemente na
iniciativa privada, desenvolveram-se duas noções, uma comum a
todos eles – a do caráter puramente indicativo, para o setor privado,
da lei que aprova o plano – e a outra presente em alguns – a elabora-
ção “concertada” ou “combinada” do Plano -642. Muito importante
ter-se presente que nem toda atuação do Estado no domínio econô-
mico traduz exercício de planejamento, embora se tenha lançado
mão amiúde da denominação “plano” para medidas que continham
uma contradição evidente com a nota fundamental deste conceito, já
que vinham marcada sob o signo da imediatidade dos efeitos, para
atender a situações que exigiam respostas mais ágeis. “A filosofia do
planejamento é justamente a de dimensionar os instrumentos de ação
de acordo com os objetivos traçados. Ao invés de se fixarem arbitra-
riamente os orçamentos públicos e os parâmetros quantitativos da
legislação econômica, tomam-se esses instrumentos como variáveis
dependentes, a serem determinadas em função dos objetivos globais
previamente estabelecidos”643. Duas observações, a propósito deste
tema:

o As crises que sucederam a I Guerra Mundial foram percebi-


das pelos juristas que notaram a insuficiência dos parâmetros
tradicionais do Direito Civil para a solução dos reflexos dos fe-
nômenos econômicos afetando relações jurídicas que pareciam
consolidadas, merecendo destaque a percepção de Justus
Wilhelm Hedemann644 quanto ao surgimento de um Direito da
Economia, do qual se destacaria um ramo da ciência jurídica a
qual se dá o nome de Direito Econômico.
o Preservados os pilares da ordem jurídica do capitalismo
(contrato e propriedade): a liberdade contratual e a propriedade
continuam reconhecidos como direitos subjetivos, porém, funci-

641 - BETTELHEIM, Charles. Planificação e crescimento acelerado. Trad. Dirceu


Lindoso. Rio de Janeiro: Zahar, 1968, p. 200-3.
642 - GUITTON, Henri. Economia política. Trad. Oscar Dias Correa. Rio de Janei-
ro: Fundo de Cultura, 1961, v. 2, p. 135.
643 - SIMONSEN, Mário Henrique. Brasil 2001. Rio de Janeiro: APEC, 2001, p.
190.
644 - Tratado de Derecho Civil. Trad. Jaime Santos Briz. Madrid: Editorial Revista
de Derecho Privado, 1958, v. 3, p. 21-2.
196
onalizados645. Isto significaria a absorção, em termos de Direito
positivo, de doutrina posta em prática também por homens de
negócios como Walther Rathenau e Henry Ford, referida entusi-
asticamente por Monteiro Lobato646 como traduzindo a visão de
que a empresa “não é, como se pensava, um meio empírico de
ganhar dinheiro; é o meio científico de transformar os bens da
terra em utilidade de proveito geral, com proveito geral. O fim
não é o dinheiro, é o bem comum, e o meio prático de o conse-
guir reside no aperfeiçoamento constante dos processos de tra-
balho conduzido de par com uma rigorosa distribuição de lucros
a todos os sócios de cada empresa. São três esses sócios, o con-
sumidor, e receberá ele a sua quota de lucros sob a forma de
produtos cada vez melhores e cada vez mais baratas; o operário,
e receberá ele a sua parte sob a forma de salários cada vez mais
altos; o dono, e receberá ele um equitativo dividendo”.

Neoliberalismo: a expressão, atualmente, designa as escolas


econômicas que vêem na atuação do Estado, quer sobre, quer no
domínio econômico, a maior ameaça à liberdade como fundamento
da ordem social647. O Estado Socialgerou um temor no sentido de
que se viesse a radicalizar a funcionalização das prerrogativas indi-
viduais, com a ulterior destruição do indivíduo, sua diluição na mas-
sa648. Note-se que, para esconjurar tal temor, mesmo as liberdades
civis e políticas poderiam ser sacrificadas, na medida em que o exer-
cício delas pudesse ser apto a atrapalhar o espontâneo funcionamen-

645 - MORIN, Gaston. La revolte du droit contre le Code. Paris: Sirey, 1945, p. 96-
7; SILVA, Clóvis Veríssimo do Couto e. A obrigação como processo. São Paulo:
José Bushatsky, 1976, p. 26-7.
646 - Conferências, artigos e estudos. Rio de Janeiro: Globo, 2010, p. 60.
647 - CERQUEIRA, Marcello. Recado ao tempo: democracia e segurança. In:
ROCHA, Carmen Lúcia Antunes [org.]. Constituição e segurança jurídica – direito
adquirido, ato jurídico perfeito e coisa julgada – estudos em homenagem a José
Paulo Sepúlveda Pertence. Belo Horizonte: Forum, 2005, p. 39-40.
648 - MAIER, Hans. Verwaltungslehre und politische Theorie. CORTIÑAS-
PELÁEZ, León [org.]. Perspectivas del Derecho Público en la segunda mitad del
siglo XX – homenaje a Enrique Sayagues-Laso. Madrid: Instituto de Estudios de
Administración Local, 1969, t. 1, p. 786-7; RIPERT, Georges. Le déclin du Droit.
Paris: LGDJ, 1949, p. 197; MISES, Ludwig Von. O intervencionismo. Trad. José
Joaquim Teixeira Ribeiro. Boletim da Faculdade de Direito de Coimbra. Coimbra,
v. 20, p. 451, 1945.
197
to do mercado649. Sintomático, neste particular, foi o elogio de um
dos que preconizam a adoção desta linha de pensamento ao regime
instaurado no Chile em 1973650, merecendo, a propósito, reflexão
acerca da compatibilidade entre a tese que este mesmo autor defende
segundo a qual “um indivíduo adquire direitos dentro de uma socie-
dade pela obediência às suas normas. Concepções contrárias talvez
lhe confiram direitos em outras sociedades, não na nossa. Para a
antropologia, talvez todas as culturas ou sistemas morais sejam
igualmente bons, mas é por considerar os demais inferiores que pre-
servamos nossa sociedade”651 e o ideário do liberalismo político652.
Redução indiscriminada da máquina pública: a proposição bá-
sica é a da redução do Estado ao mínimo, de tal sorte que a socieda-
de seja maior do que ele653. Entretanto, há uma admissão dos mono-

649 - CROCE, Benedetto. Liberismo e liberalismo. In: CROCE, Benedetto &


EINAUDI, Luigi. Liberismo e liberalismo. Milano-Napoli: Riccardo Ricciardi Ed.,
1957, p. 13-4; SILVA, Clóvis Veríssimo do Couto e. A obrigação como processo.
São Paulo: José Bushatsky, 1976, p. 131; LIMA, Ruy Cirne. Princípios de Direito
Administrativo. Porto Alegre: Sulina, 1964, p. 150; HECK, Luís Afonso. Regras,
princípios jurídicos e sua estrutura no pensamento de Robert Alexy. In: LEITE,
George Salomão [org.]. Os princípios constitucionais – considerações em torno das
normas principiológicas da Constituição. São Paulo: Malheiros, 2003, p. 97;
TIMM, Luciano Benetti & DRESCH, Rafael de Freitas Valle. Aspectos gerais do
novo Código Civil. In: TIMM, Luciano Benetti [org.]. Direito de empresa e contra-
to. São Paulo: IOB-Thomson, 2005, p. 33.
650 - HAYEK, Friedrich August Von. Entrevista. El Mercúrio. Santiago, 19 abr
1981.
651 - HAYEK, Friedrich August von. Direito, legislação e liberdade. São Paulo:
Visão, 1985, v. 3, p. 185.
652 - GRAU, Eros Roberto. O discurso neoliberal e a teoria da regulação. In: CA-
MARGO, Ricardo Antônio Lucas [org.]. Desenvolvimento econômico e intervenção
do Estado na ordem constitucional – estudos jurídicos em homenagem ao Professor
Washington Peluso Albino de Souza. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 1995, p.
63; HELLER, Hermann. Teoria do Estado. Trad. Lycurgo Gomes da Motta. São
Paulo: Mestre Jou, 1968, p. 321; SOARES, Mário Lúcio Quintão. Teoria do Esta-
do. Belo Horizonte: Del Rey, 2001, p. 276.
653 - FEIX, Geraldo. Neoliberalismo. In: FUNDAÇÃO BRASILEIRA DE DIREI-
TO ECONÔMICO. Novo Dicionário de Direito Econômico. Porto Alegre: Sérgio
Antônio Fabris, 2010, p. 339; FRIEDMAN, Milton. Capitalismo e liberdade. Trad.
Luciana Carli. São Paulo: Abril Cultural, 1984, p. 76; REVEL, Jean François. O
Estado e o indivíduo. [s/t]. São Paulo: SENAC, 1985, p. 15-6; PENNA, J. O. Meira.
Opção preferencial pela riqueza. Rio de Janeiro: Instituto Liberal, 1991, p. 163-4;
SORMAN, Guy. Sair do socialismo. Trad. Célia Neves Dourado. Rio de Janeiro:
Instituto Liberal, 1991, p. 117-8.
198
pólios públicos que varia desde a solução de uma específica falha de
mercado – bens públicos insuscetíveis de uso rival ou exclusivo654 –
até o enfrentamento genérico de tais falhas655. Há, entretanto, nesta
corrente, quem rejeite a própria idéia do monopólio público em si,
mesmo no que diz respeito à emissão de moeda 656, muito além, pois,
do que sustentaram os próprios próceres do liberalismo econômico
clássico, no sentido de que a lógica da gestão pública, por diferir da
particular, imporia que as atividades típicas do Poder Estatal não
fossem delegadas aos particulares, sob pena de se solaparem as con-
dições de desenvolvimento da concorrência657. Aliás, a adoção da
lógica econômica privada no âmbito da gestão pública 658 fora levada
a cabo justamente durante a era mercantilista, coincidente com o
absolutismo monárquico, em que o bem público seria determinado
pelo interesse pessoal do monarca, por si ou por seus funcionários,
olhos postos também na obtenção de lucros no sentido capitalista,
com resultados que conduziram à conclusão da inconciliabilidade
entre a mentalidade de comerciante e a de estadista659.
Privatizações (muitas vezes subsidiadas com o dinheiro públi-
co): num primeiro momento, a justificativa apresentada é a de que o
Estado não poderia gastar mais do que o efetivamente arrecadado.
Elas se imporiam para combater o déficit público, permitindo a eco-

654 - CARVALHO, Cristiano. A análise econômica do Direito Tributário. In:


SCHOUERI, Luís Eduardo [org.]. Direito Tributário – homenagem a Paulo de
Barros Carvalho. São Paulo: Quartier Latin, 2008, p. 199.
655 - NUNES, António José Avelãs. Aventuras e desventuras do Estado social. In:
BERCOVICI, Gilberto et allii. Direitos humanos, democracia e república – home-
nagem a Fábio Konder Comparato. São Paulo: Quartier Latin, 2009, p. 120.
656 - HAYEK, Friedrich August von. Direito, legislação e liberdade. São Paulo:
Visão, 1985, v. 3, p. 153-4; VERÇOSA, Haroldo Malheiros Duclerc. Bancos Cen-
trais no Direito comparado. São Paulo: Malheiros, 2005, p. 425-7.
657 - HECKSCHER, Eli R. La época mercantilista. Trad. Wenceslao Roces. Méxi-
co: Fondo de Cultura Económica, 1983, p. 437-8.
658 - REVEL, Jean François. O Estado e o indivíduo. [s/t]. São Paulo: SENAC,
1985, p. 82; COASE, Ronald Harry. The firm, the market and the Law. Chicago:
University of Chicago Press, 1988, p. 117.
659 - SOMBART, Werner. El burgués. Trad. Maria Pilar Lorenzo. Madrid: Alian-
za, 1992, p. 96-8; SMITH, Adam. A riqueza das nações – uma investigação sobre a
sua natureza e as suas causas. Trad. Luís João Baraúna. São Paulo: Nova Cultural,
1996, v. 2, p. 275-7; KEYNES, John Maynard. Teoría general de la ocupación, el
interés y el dinero. Trad. Eduardo Hornedo. México: Fondo de Cultura Económica,
1965, p. 122.
199
nomia de recursos que iriam financiar a prestação de serviços públi-
cos indispensáveis. Na hipótese de não se tratar de empresa deficitá-
ria, o argumento erguido era o de que, em se tratando de atividade
lucrativa, não haveria por que supor que o particular que adquirisse o
controle da empresa que a desempenhasse iria cessar o desempenho
da respectiva função social. Vale a pena, aqui, registrar o dado de
que a alienação de ativos em momento de dificuldades financeiras
por parte do Estado foi a forma mais antiga que se conheceu para a
obtenção de receitas extraordinárias, seguindo entendimento oposto
ao da consagração do caráter indisponível do bem público 660.
Enxugamento dos quadros funcionais: a tese seria a de que, re-
duzindo-se o tamanho do Estado, não haveria a necessidade de um
número grande de funcionários. E, por outro lado, as despesas de
pessoal seriam responsáveis, em grande parte, pelas sérias dificulda-
des de caixa enfrentadas pelo Poder Público e que viriam, ao cabo, a
pesar no bolso do contribuinte, quer pela emissão de moeda, quando
se trate da autoridade central, quer pelo aumento de impostos661. De
outra parte, vem a ser questionada a máxima weberiana segundo a
qual a garantia do servidor contra demissões e remoções arbitrárias
teria como escopo assegurar a isenção e exação no cumprimento dos
deveres legais inerentes a seu cargo 662, em nome da verificação do
que cada servidor, bem como os respectivos dependentes, represen-
taria em termos de gravame sobre os cofres públicos 663, partindo-se,
ainda, do pressuposto de que, em regra, quem ingressa na carreira
pública, vem a fazê-lo menos pelo desprendimento em colaborar
com a gestão do Estado e mais em busca da segurança da estabilida-
de no posto de trabalho e da eliminação das incertezas por conta do
caráter rotineiro das tarefas, exatamente o oposto das ideias de aven-
tura, inovação e risco que estariam por detrás da perseguição do
lucro, no âmbito da iniciativa privada, e que fariam com que esta

660 - BARRETO, Alberto Deodato Maia. Manual de ciência das finanças. São
Paulo: Saraiva, 1971, p. 274.
661 - GALVES, Carlos. Manual de economia política atual. Rio de Janeiro: Foren-
se, 1972, p. 294.
662 - WEBER, Max. Economía y sociedad. Trad. José M. Echavarría et allii. Méxi-
co/Buenos Aires: Fondo de Cultura Económica, 1992, p. 722.
663 - FARIA, Edimur Ferreira de. Curso de Direito Administrativo positivo. Belo
Horizonte: Del Rey, 1999, p. 133; MEDAUAR, Odete. Direito Administrativo
moderno. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000, p. 330.
200
fosse a mola propulsora do progresso econômico664. Um dado de
curiosidade: a despeito da divergência de fins visados e de funda-
mentos, a visão neoliberal coincide com a dos integrantes da Comu-
na de Paris e a dos bolchevistas acerca da caracterização do funcio-
nalismo público como uma “casta parasitária”665.
Flexibilização de direitos trabalhistas: argumenta-se que os di-
reitos trabalhistas aumentam significativamente os custos das empre-
sas, diversamente do que ocorreria com os direitos próprios do Esta-
do liberal666. Assim, o movimento se volta no sentido de restringir a
atuação de sindicatos combativos, cujas exigências são tidas por
perniciosas ao funcionamento do mercado, garantindo, desta forma,
a mobilidade da mão-de-obra entre as empresas e, ipso facto, estan-
cando a supressão dos postos de trabalho667.
Sacralização da dívida pública: é o retorno a uma discussão que
ocorreu no inicio do sec. XX. A Venezuela, por conta de dívidas
com cidadãos da ING, ITA e ALE, sofreu um bombardeio. O chan-
celer argentino emitiu uma nota pela qual, embora fossem sagradas
as dividas publicas, a primeira dívida de um estado seria com os seus
súditos. Então, chegou-se à conclusão que na cobrança de dívidas
não caberia o uso da força668. Entretanto, uma vez reduzidas as fun-

664 - SIMONSEN, Mário Henrique. Brasil 2001. Rio de Janeiro: APEC, 2001, p.
262.
665 - LENIN, Vladimir Ilitch Ulianov. O Estado e a revolução. [s/t]. Lisboa: Avan-
te, 1983, p. 38.
666 - HAYEK, Friedrich August von. Direito, legislação e liberdade. São Paulo:
Visão, 1985, v. 3, p. 135; HEIMANN, Eduard. História das doutrinas econômicas.
Trad. Waltensir Dutra. Rio de Janeiro: Zahar, 1971, p. 110.
667 - NUNES, Antonio José Avelãs. Uma introdução à economia política. São
Paulo: Quartier Latin, 2008, p. 600; POSNER, Richard. Economic analysis of Law.
New York: Aspen, 1998, p. 352; FRIEDMAN, Milton. Capitalismo e liberdade.
Trad. Luciana Carli. São Paulo: Abril Cultural, 1984, p. 115; MISES, Ludwig Von.
O intervencionismo. Trad. José Joaquim Teixeira Ribeiro. Boletim da Faculdade de
Direito de Coimbra. Coimbra, v. 20, p. 442, 1945.
668 - DRAGO, Luís Maria. Cobro coercitivo de deudas públicas. Buenos Aires:
Coni Hermanos, 1906, p. 12; BARBOSA, Ruy. A segunda Conferência de Paz. Rio
de Janeiro: Ministério da Justiça/Fundaçaõ Casa de Ruy Barbosa, 1966, p. 79;
BALEEIRO, Aliomar. Uma introdução à ciência das finanças. Rio de Janeiro:
Forense, 1986, p. 473-4; BARRETO, Alberto Deodato Maia. Manual de ciência das
finanças. São Paulo: Saraiva, 1971, p. 307; CORREA, Alexandre Augusto de Cas-
tro. Drago (Rui e a doutrina de Drago). In: FRANÇA, Rubens Limongi [org.].
Enciclopédia Saraiva de Direito. São Paulo: Saraiva, 1979, v. 29, p. 392-7; MEL-
LO, Celso Duvivier Albuquerque. Direito Internacional Econômico. Rio de Janei-
201
ções do Estado ao suficiente para garantir o funcionamento do mer-
cado, uma vez reduzido, portanto, o espectro de atividades que ab-
sorveriam as finanças estatais, estas, prioritariamente, voltar-se-iam
a honrar os empréstimos a ele feitos, atendendo, assim, às justas
expectativas de seus credores, tanto internos quanto externos, reavi-
vando-se a antiga lição segundo a qual ele gozará de tanto maior
crédito e tanto maior autoridade quanto melhor modelados e executa-
dos os respectivos orçamento e gestão financeira, até porque toda a
nação, mediante os tributos, seria responsável pelas despesas “com a
manutenção da honorabilidade do Estado”669.
Substituição do direito estatal pela Lex Mercatoria: durante a
Idade Média, os comerciantes, quando não havia um Estado nacio-
nal, estabeleciam as relações comerciais mediante seus negócios
privados. Com a globalização da economia, entendeu-se que as bar-
reiras da soberania se teriam tornado mais porosas, para conter o
volume de negociações existentes. Assim, ao invés de as relações se
estabelecerem por comandos legislativos, elas passam a estabelecer
mediante contratos. A Lex mercatoria não tem nada a ver com as leis
de mercado. A Lex mercatoria é um direito dos mercadores. Porém o
aparato estatal ainda precisa existir para manter a ordem interna 670.
Ele vem, entretanto, a ser “minimizado”, para que cada indivíduo
possa ajustar, com cada um dos seus semelhantes, relações que per-

ro: Renovar, 1993, p. 204; CAMARGO, Ricardo Antonio Lucas. Doutrina de Dra-
go. In: FUNDAÇÃO BRASILEIRA DE DIREITO ECONÔMICO. Novo Dicioná-
rio de Direito Econômico. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 2010, p. 181-2.
669 - VEIGA, Dídimo Agapito da. Ensaios de ciência das finanças e de economia
pública. Rio de Janeiro: Jacintho Ribeiro dos Santos, 1927, p. 304; SANTOS, Paulo
Rogério Silva dos. Dívida pública dos entes subnacionais no Brasil: um problema
federativo. Porto Alegre: Pontifícia Universidade Católica do Estado do Rio Grande
do Sul, 2007, p. 98-104 (dissertação de mestrado); VERÇOSA, Haroldo Malheiros
Duclerc. Bancos Centrais no Direito comparado. São Paulo: Malheiros, 2005, p.
226.
670 - TORELLY, Paulo Peretti. Soberania, Estado e mercado. São Paulo: Faculda-
de de Direito da Universidade de São Paulo, 2010, p. 127-8 (tese de doutoramento);
GRAU, Eros Roberto. O discurso neoliberal e a teoria da regulação. In: CAMAR-
GO, Ricardo Antônio Lucas [org.]. Desenvolvimento econômico e intervenção do
Estado na ordem constitucional – estudos jurídicos em homenagem ao Professor
Washington Peluso Albino de Souza. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 1995, p.
74; FRIEDMAN, Milton. Capitalismo e liberdade. Trad. Luciana Carli. São Paulo:
Abril Cultural, 1984, p. 32.
202
mitam a afirmação, com igual dignidade, das diferenças de cada
qual671.
Nenhum dos sistemas apresentados aqui é encontrado no seu es-
tado de pureza. Eles são permeáveis a características de sistemas
diferentes, até porque “a história sugere que o conservantismo infle-
xível anula o seu próprio objetivo. Um aço sem flexibilidade irá
partir-se subitamente quando submetido a uma pressão”672. É de se
notar, outrossim, que a aprovação da escolha por qualquer um deles
decorre muito menos das virtudes intrínsecas a cada qual do que
propriamente dos êxitos que se mostrem visíveis perante a popula-
ção: enquanto for exitoso em propiciar o atendimento às necessida-
des e desejos da maioria da população, com a aprovação desta até
mesmo um regime ditatorial pode contar, sendo conhecido o alerta
do General De Gaulle acerca do início geralmente auspicioso das
ditaduras, por conta do entusiasmo de uns e do conformismo de ou-
tros pelo rigor de ordem que elas impõem em favor de um cenário
brilhante e de uma propaganda de sentido único, até que elas se des-
gastam pela contínua compressão da individualidade (no sentido
extra-econômico da expressão) dos cidadãos e da ultrapassagem de
todas as medidas pelos respectivos dirigentes 673. Ao mesmo tempo,
quando surgem os descontentamentos com a ausência de uma res-
posta mais ágil do Estado às carências coletivas, por conta, justa-
mente, da racionalização da máquina pública, posta para assegurar o
tratamento igualitário dos cidadãos perante o Poder Público, e se
verificam atuações de determinados segmentos que se mostram aptas
a intranqüilizarem quem detenha uma certa situação mais estável,
com o perigo, mesmo, do esgarçamento social, surgem clamores

671 - BARACHO, José Alfredo de Oliveira. O princípio de subsidiariedade: concei-


to e evolução. In: CAMARGO, Ricardo Antônio Lucas [org.]. Desenvolvimento
econômico e intervenção do Estado na ordem constitucional – estudos jurídicos em
homenagem ao Professor Washington Peluso Albino de Souza. Porto Alegre: Sérgio
Antônio Fabris, 1995, p. 100.
672 - SAMUELSON, Paul A. Introdução à análise econômica. Trad. Luiz Carlos
do Nascimento Silva. Rio de Janeiro: Agir, 1966, v. 1, p. 201.
673 - BUFFELAN, Jean-Paul. La conception gaullienne du pouvoir. CORTIÑAS-
PELÁEZ, León [org.]. Perspectivas del Derecho Público en la segunda mitad del
siglo XX – homenaje a Enrique Sayagues-Laso. Madrid: Instituto de Estudios de
Administración Local, 1969, t. 1, p. 750-1, nota 12; AZEVEDO, Plauto Faraco de.
Limites e justificação do poder do Estado. Petrópolis: Vozes, 1979, p. 168.
203
pelas restrições à liberdade674. Outrossim, o fortalecimento do tecno-
crata, com a solução do “discurso competente”, do “conhecimento
científico subordinando a decisão política”, reduzindo todos os fe-
nômenos ao econômico675, vem a constituir o resultado da desilusão
com a atuação política a partir das “oscilações ideológicas” 676, desi-
lusão que não deixa de deitar raízes numa visão de mundo que dê
por possível, no âmbito temporal, lograr a organização social perfei-
ta ou, por outras palavras, o paraíso na Terra, e que, ao cabo, não
deixa de produzir frustrações constantes677, sendo sempre bom re-
cordar a variedade de referenciais para o “Bem” e o “Mal” – como
não inferíveis, destarte, da “natureza das coisas” – e, por conta disto
mesmo, traduzirem as decisões que se tomem sempre uma opção
entre um Bem maior ou um Mal menor678.

674 - CHEVALIER, Jean-Jacques. Le temperament politique français. In: COR-


TIÑAS-PELÁEZ, León [org.]. Perspectivas del Derecho Público en la segunda
mitad del siglo XX – homenaje a Enrique Sayagues-Laso. Madrid: Instituto de
Estudios de Administración Local, 1969, t. 1, p. 731; NUNES, António José Ave-
lãs. Industrialização e desenvolvimento: a economia política do “modelo brasileiro
de desenvolvimento”. Boletim da Faculdade de Direito de Coimbra. Coimbra, v.
24/25, p. 512, 1982 – supl.; SCHUMPETER, Joseph Alois. Capitalismo, socialismo
e democracia. Trad. Ruy Jungmann. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1961, p.
188; BOBBIO, Norberto. Liberalismo e democracia. Trad. Marco Aurélio Noguei-
ra. São Paulo: Brasiliense, 1986, p. 95.
675 - BONAVIDES, Paulo. Teoria do Estado. São Paulo: Malheiros, 1995, p. 237;
CAMPOS, Francisco Álvares da Silva. O Estado Nacional. Rio de Janeiro: José
Olympio, 1941, p. 98; SOUZA, Washington Peluso Albino de. Lições de Direito
Econômico. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 2002, p. 172; BARACHO, José
Alfredo de Oliveira. Regimes políticos. São Paulo: Resenha Universitária, 1977, p.
143-4; CAMARGO, Ricardo Antônio Lucas. O direito exaurido – a hermenêutica
da Constituição Econômica no coração das trevas. Porto Alegre: Sérgio Antônio
Fabris, 2011, p. 158-9.
676 - CHEVALIER, Jean-Jacques. Le temperament politique français. In: COR-
TIÑAS-PELÁEZ, León [org.]. Perspectivas del Derecho Público en la segunda
mitad del siglo XX – homenaje a Enrique Sayagues-Laso. Madrid: Instituto de
Estudios de Administración Local, 1969, t. 1, p. 727-8; RIPERT, Georges. Le dé-
clin du Droit. Paris: LGDJ, 1949, p. 104; PENNA, J. O. Meira. Opção preferencial
pela riqueza. Rio de Janeiro: Instituto Liberal, 1991, p. 173.
677 - COUTINHO, Jacinto Nelson de Miranda. Estado de polícia: ‘matem o bicho!
Cortem a garganta! Tirem o sangue!’ In: COUTINHO, Jacinto Nelson de Miranda
[org.]. Direito e psicanálise – inserções e interlocuções a partir de O senhor das
moscas, de William Golding. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2011, p. 179.
678 - SPINOZA, Baruch. Ethics. Transl. W. H. White. London: Encyclopaedia
Britannica, 1952, p. 444.
204
As crises, entretanto, desafiam a capacidade humana à urdidura
de algum sistema que seja compatível com as necessidades da socie-
dade contemporânea. Eventos como o crack de 1929, a queda do
Muro de Berlim, a crise da “bolha” de 2008, a crise européia de
2011 indicam as limitações dos sistemas até hoje construídos e a
necessidade de se buscarem novos parâmetros. Claro que não será
num texto destinado aos cursos de graduação em Direito que se irão
lançar as teses para tal construção, sobretudo tendo em vista a salutar
advertência weberiana quanto a não poder o Professor, enquanto tal,
alimentar veleidades messiânicas. “O professor que sente a vocação
de conselheiro da juventude e que goza da confiança dos moços deve
desempenhar esse papel no contato pessoal, de homem para homem.
Caso ele se julgue chamado a participar das lutas entre concepções
de mundo e entre opiniões de partidos, deve fazê-lo em lugar apro-
priado, isto é, através da imprensa, em reuniões, em associações,
onde achar melhor. Sem dúvida, é muito cômodo exibir coragem
num local em que taos assistentes e, provavelmente, os oponentes
estão supliciados ao silêncio”679. Cabe, entrento, chamar atenção
para o fato.

679 - WEBER, Max. Ciência e política – duas vocações. Trad. Jean Melville. São
Paulo: Martin Claret, 2011, p.51.
205
206
10. ECONOMIA INTERNACIONAL

Pressupondo a relação entre estados nacionais. As primeiras


preocupações em torno da economia internacional, vai aparecer na
época do mercantilismo. Durante o mercantilismo, havia um forte
protecionismo, inclusive havia uma preocupação com o problema da
evasão de cérebros (visto até hoje). Colbert chegou a ameaçar com a
pena capital os artesãos que deixassem o território francês porque
poderia levar o respectivo know how para os países rivais680. Quando
se constróem as teses próprias do livre cambismo, este vem a buscar
seu fundamento na teoria das vantagens comparativas.
Teoria das vantagens comparativas: não deixa de ter uma certa
aproximação com os motivos pelos quais tanto Aristóteles quanto
Platão apontavam para o porque do apetite de sociedade dos seres
humanos. Porque cada qual tem uma determinada vocação. Seria
como se o Brasil mandasse banana para o Chile e o último, cerejas
para o Brasil. Foi com base nessa teoria que se celebrou o Tratado de
Methuen – ou, pelo menos, assim foi argumentado por seus defenso-
res681 -. Um tem uma fraqueza a que corresponde a uma força da

680 - HECKSCHER, Eli R. La época mercantilista. Trad. Wenceslao Roces. Méxi-


co: Fondo de Cultura Económica, 1983, p. 194; SOUZA, Washington Peluso Albi-
no de. Direito Econômico do trabalho. Belo Horizonte: Fundação Brasileira de
Direito Econômico, 1985, p. 296-7; DINIZ, Artur José Almeida. A política e o
Terceiro Mundo. Belo Horizonte: Revista Brasileira de Estudos Políticos, 1983, p.
197.
681 - SOUZA, Washington Peluso Albino de. Adam Smith e o ouro de Minas Ge-
rais (o Tratado de Methuen). Revista da Faculdade de Direito da Universidade
Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte, v. 24, n. 17, p. 236, out 1976; NUNES,
207
outra parte. E a outra parte tem uma fraqueza a que corresponde a
uma força da primeira parte. Nas trocas internacionais, em princí-
pio, ninguém perde682.
Desigualdade na concorrência: constatou-se que, na realidade,
não haveria, no livre comércio internacional, um jogo em que nin-
guém perde, pois o melhoramento da balança comercial de um im-
plicaria, necessariamente, a piora do desempenho da de outros683.
Um dos primeiros argumentos foi o da indústria nascente, referente
ao dado de que o desenvolvimento industrial dos países não se dá de
forma igual e com a mesma velocidade e, pois, quando os que chega-
ram primeiro alcancem a possibilidade de economia de escala, será
muito maior o custo do desenvolvimento da concorrência no âmbito
interno684, sendo de notar que, em países capitalistas de Terceiro
Mundo, ainda é comum priorizar-se a fabricação de bens de consu-
mo voltados à satisfação de necessidades primárias e coletivas, pos-
pondo outras espécies de necessidade685. Eis por que se entende a
adoção de medidas compensatórias de tal desigualdade, como o foi a
reserva de mercado adotada pelo Brasil na área da informática em
84.
Subsídios: recursos transferidos a exportadores para reduzirem
seus custos, assegurando-lhes competitividade, podem levar a um
falseamento da concorrência no âmbito internacional. Eles são espé-
cie do gênero “auxílios públicos”, que, no entanto, em determinadas

Antonio José Avelãs. Uma introdução à economia política. São Paulo: Quartier
Latin, 2008, p. 480.
682 - SMITH, Adam. A riqueza das nações – uma investigação sobre a sua nature-
za e as suas causas. Trad. Luís João Baraúna. São Paulo: Nova Cultural, 1996, v. 1,
p. 467; GOSSEN, Hermann Heinrich. The laws of human relations and the rules of
human action derived therefrom. Transl. Rudolph C. Blitz. Cambridge: The MIT,
1983, p. 104; MANKIW, N. Gregory. Princípios de microeconomia. Trad. Allan
Vidal Hastings & Elisete Paes e Lima. São Paulo: Cengage Leaning, 2009, p. 54-5;
JAEGER JÚNIOR, Augusto. Mercados comum e interno e liberdades econômicas
fundamentais. Curitiba: Juruá, 2010, p. 46.
683 - PIGOU, A. C. Teoría y realidad económica. Trad. Samuel Vasconcelos.
México: Fondo de Cultura Económica, 1942, p. 77.
684 - NUNES, Antonio José Avelãs. Uma introdução à economia política. São
Paulo: Quartier Latin, 2008, p. 481; MEYERS, Alfred L. Elementos de economia
moderna. Trad. Antonio Ferreira da Rocha. Rio de Janeiro: Livro Ibero-Americano,
1968, p. 362-3.
685 - ROSSETTI, José Paschoal. Introdução à economia. São Paulo: Atlas, 1971, p.
92-3.
208
circunstâncias, podem vir a justificar-se, como na hipótese de desen-
volver regiões menos favorecidas socialmente, o desenvolvimento de
atividade econômica que não afete as condições do comércio 686, a
necessidade de auto-suficiência em relação a determinado insumo
necessário à defesa nacional687. Note-se que existem, também, pro-
gramas de auxílio de um País a outro economicamente mais debilita-
do, com objetivo não só de assegurar um parceiro comercial como
para a construção de aliança688.
Dumping: como tal se costuma caracterizar a venda por preço
abaixo do praticado no mercado interno para o fim de prejudicar os
concorrentes689. Fala-se, ainda, no dumping ecológico, que consisti-
ria no desenvolvimento de atividades econômicas em determinado
território sem a necessidade de observância de restrições em prol do
meio ambiente existentes em outros países. Também se toca no
dumping social, consistente na exploração da economia baseada em
relações laborais precárias, tendentes à escravatura 690.
Balança comercial: conceito tipicamente mercantilista. Diferen-
ça entre as exportações e as importações, que, quando positiva (mais
exportações que importações), caracteriza superavit. Há, em regra,
grande número de ofertantes e grande número de procurantes, com
grande elasticidade, embora possa haver exceções. Por vezes, justifi-
cada ou injustificadamente, os governos nacionais podem estabelecer
restrições ou estímulos a exportações e importações.

686 - OLIVAR JIMÉNEZ, Martha Lucia. A defesa contra as práticas desleais na


Europa: um exemplo a seguir? Brasília: Associação Brasileira de Estudos sobre a
Integração, 1992, p. 14; JAEGER JÚNIOR, Augusto. Mercados comum e interno e
liberdades econômicas fundamentais. Curitiba: Juruá, 2010, p. 494.
687 - SAMUELSON, Paul A. Introdução à análise econômica. Trad. Luiz Carlos
do Nascimento Silva. Rio de Janeiro: Agir, 1966, v. 2, p. 383.
688 - CORRÊA, Leonardo Alves. Direito Econômico e desenvolvimento: uma
interpretação a partir da Constituição de 1988. Rio de Janeiro: Publit, 2011, p. 33;
SAMUELSON, Paul A. Introdução à análise econômica. Trad. Luiz Carlos do
Nascimento Silva. Rio de Janeiro: Agir, 1966, v. 2, p. 403; CAMARGO, Ricardo
Antônio Lucas. Breve introdução ao Direito Econômico. Porto Alegre: Sérgio
Antônio Fabris, 1993, p. 47.
689 - SOUZA, Washington Peluso Albino de. Dumping. In: FUNDAÇÃO BRASI-
LEIRA DE DIREITO ECONÔMICO. Novo Dicionário de Direito Econômico.
Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 2010, p. 183.
690 - FERNANDES, Edison Carlos. Sistema tributário no MERCOSUL. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 1999, p. 150-3.
209
Balança de serviços: diz respeito justamente a prestação de ser-
viços a partir do Brasil para o exterior e vice-versa. Fornecimentos
de assistência técnica, impressões e encadernamento de livros, im-
pressões de discos para autores residentes no exterior, consultorias
entre outras atividades são computadas nesta rubrica. Nela são com-
putadas não somente os serviços stricto sensu, como também as de-
nominadas mercadorias “invisíveis”, e as remessas dos imigrantes ao
exterior691.
Balança de capitais: diferença entre a entrada e a saída de capi-
tais do país. Tomam-se em consideração tanto os investimentos dire-
tos – isto é, o dinheiro e os bens que vão ser aplicados diretamente
na atividade econômica no País – quanto os financiamentos – isto é,
o numerário destinado a que se adquiram os bens que se aplicarão ao
desenvolvimento da atividade econômica no país -.
Balanço de pagamentos: conjunto das operações externas do pa-
ís, decorrente da soma das balanças comercial, de serviços e de capi-
tais692. Deve-se, ainda, ter presente, no que tange à relação entre
politicas monetárias, a questão do padrão-ouro, que representa a
correspondência entre a unidade monetária que se adote e determi-
nada quantidade de grãos de ouro puro. Quando dois países adotam
tal padrão, os limites da troca da moeda por ouro ficam entre o ponto
a partir do qual a liquidação da dívida em ouro se tornaria mais cus-
tosa do que em moeda, em razão tanto dos custos do frete e do segu-
ro como dos juros que deixaria de render – ponto, este, que tradu-
ziria o preço mínimo pelo qual os titulares de moeda estrangeira se
disporiam a desfazer-se delas – e o ponto a partir do qual o paga-
mento em ouro se mostraria mais vantajoso do que o pagamento em
moeda – e que traduziria o preço máximo que alguém se disporia a
pagar para a aquisição de moeda estrangeira 693 -. Quanto a isto, me-
rece meditação o que escrito por Luiz Gonzaga de Mello Belluzzo 694,

691 - NUSDEO, Fábio. Curso de economia política – introdução ao Direito Eco-


nômico. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003, p. 340-1.
692 - CAMARGO, Ricardo Antonio Lucas. Balanço de pagamentos. In: FUNDA-
ÇÃO BRASILEIRA DE DIREITO ECONÔMICO. Novo Dicionário de Direito
Econômico. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 2010, p. 67.
693 - MEYERS, Alfred L. Elementos de economia moderna. Trad. Antonio Ferreira
da Rocha. Rio de Janeiro: Livro Ibero-Americano, 1968, p. 376-7.
694 - Os antecedentes da tormenta" in:
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=15276&al
terarHomeAtual=1, acessado em 7 out 2008.
210
quando recorda que a reforma proposta por John Maynard Keynes e
Dexter White previa a utilização da moeda internacional como sim-
ples moeda de conta, de tal sorte que os países que tivessem déficit
registrassem num banco internacional, nas respectivas contas, a dí-
vida com os demais, fazendo com que a compensação entre déficit e
superávits tornasse despicienda a movimentação de capitais para
saldar dívidas. Tal sistema teria sido visto com reservas pelos EUA e
pela Inglaterra, mas, ainda assim, teria o acordo de Bretton Woods
permitido que, do final da II Guerra até meados da década de 80
fosse exercida pelos países a prerrogativa de controle do fluxo de
capitais, com o que puderam salvaguardar as respectivas autonomias
na formulação da política monetária e fiscal. Contudo, a mudança no
panorama das relações econômicas internacionais consistiu no trân-
sito livre de capitais em busca de economias que lhes permitissem
uma remuneração maior com o menor risco físico possível. Por esta
razão, ter-se-ia tornado uma blasfêmia falar em controle de capitais e
os investimentos de empresas cujo centro de decisões se caracteriza
pela mobilidade se fazem no mercado financeiro, com preferência
sobre a produção de mercadorias. A lógica seguida pelos reformado-
res de Bretton Woods radicaria em dotar de alguma previsibilidade a
taxa de juros – indicador ao agente econômico acerca de melhor
convir poupar, investir no mercado financeiro ou na atividade produ-
tiva – e a taxa de câmbio – indicador da riqueza efetivamente exis-
tente a partir da mais aproximada paridade com a moeda de referên-
cia internacional –, lógica esta que teria permitido que mediante o
controle de capitais durante os anos 50/60 economias pudessem
crescer de modo menos traumático, que se teria caracterizado pela
formação de um capitalismo tutelado pelo Estado e teria perdido um
de seus pilares a partir do momento em que a moeda de referência
internacional – o dólar dos EUA – passou a ter incrementada a sua
emissão para atender às necessidades militares do país onde era ado-
tado como moeda nacional – meados da década de 60, coincidindo
com a Guerra do Vietnã. Em virtude do grande volume de dólares,
excedendo o total exigido para o comércio internacional, passou a
ser questionada pelos europeus a prestabilidade do dólar como moe-
da internacional de referência e, ao ser proposta pela França a troca
dos excedentes pelo ouro de Forte Knox, os EUA, a partir de 1971,
suspenderam a conversibilidade do dólar em ouro, convertendo sua
moeda nacional, assim, em termo de referência em relação a outras

211
moedas, criando, assim, o padrão-divisa ou padrão-dólar695. No caso
de inexistir o padrão-ouro, a procura de produtos estrangeiros pelos
nacionais e a oferta de produtos nacionais ao estrangeiro será deter-
minante da procura da moeda estrangeira pelo nacional e da moeda
nacional pelo estrangeiro, com reflexos na taxa de câmbio 696. Ao
lado do câmbio fixo, há o regime de livre flutuação, cuja determina-
ção decorre da lei da oferta e da procura, introduzindo no comércio
internacional um elemento de risco, a ser coberto por operações de
câmbio a termo, promovem o deslocamento dos fatores de produção
entre a destinada ao mercado interno e a destinada à exportação,
suscitam a prática da especulação financeira697. Por conta da descon-
fiança dos europeus com o dólar, formou-se o Euro Mercado, pelo
qual se expandiam os negócios financeiros ao largo da fiscalização
das autoridades monetárias e cujas taxas de juros eram baixas, moti-
vando alguns países, como o Brasil, em tempos de milagre, a se en-
dividarem maciçamente em dólar junto a ele. Por conta da derrota
política e militar dos EUA no Vietnã, aparentemente a supremacia
norte-americana no mundo ocidental estaria a aproximar-se do fim, o
que motivou, por parte do respectivo governo a implementação de
medidas voltadas ao enfrentamento de tal situação. Assim, ao lado
da inconversibilidade do dólar em ouro, veio a ser adotada a taxa
cambial flutuante, determinando, com isto, o aumento do preço do
petróleo, que era fixado em dólares, sendo de notar que a crise do
petróleo é que costuma ser apontada como a grande responsável pelo
comprometimento do sucesso do “milagre econômico” ocorrido no
início do período castrense no Brasil698. Quando Ronald Reagan
sucedeu Carter, até 1981, foi adotada nos EUA a estratégia moneta-
rista de elevação dos juros e reduzir os impostos das classes ricas e
médias altas. A partir desse ano, verificou-se uma queda nas taxas de

695 - FONSECA, João Bosco Leopoldino da. Direito Econômico. Rio de Janeiro:
Forense, 2001, p. 129; CAMARGO, Ricardo Antonio Lucas. A turbulência nos
EUA, o jornalismo e a reflexão.
http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/a_turbulencia_nos_eua_o_j
ornalismo_e_a_reflexao, acessado em 18 nov 2008.
696 - SAMUELSON, Paul A. Introdução à análise econômica. Trad. Luiz Carlos
do Nascimento Silva. Rio de Janeiro: Agir, 1966, v. 2, p. 333.
697 - BARRE, Raymond. Manual de economia política. Trad. Pierre Santos. Rio de
Janeiro: Fundo de Cultura, 1970, v. 4, p. 224.
698 - NUSDEO, Fábio. Curso de economia política – introdução ao Direito Eco-
nômico. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003, p. 243.
212
juros, com o início de um ciclo de consumo e importações, tendo
como principais provedores, até 1985, Japão, Coréia do Sul e Tai-
wan, sendo de notar que os EUA, por deterem o comando da moeda
de referência nas transações internacionais, não vieram a enfrentar
problemas com a balança de pagamentos. O financiamento do déficit
dos EUA passou a ser feito por papéis do Tesouro que eram trocados
com os bancos privados por créditos contra os países latino-
americanos. A elevação da taxa de juros produziu os conhecidos
efeitos em relação à dívida externa dos países da América Latina. A
partir de 1985, foi anunciado pelos EUA que o respectivo déficit
não teria mais como ser aumentado e que a carga tributária da res-
pectiva indústria nacional teria de ser aliviada, com o que chegava a
hora dos seus parceiros comerciais fazerem o sacrifício. O Japão, por
exemplo, seria obrigado a reduzir lucros, cortar custos e a deslocar
os capiais respectivos para os países do Sudeste Asiático, rendendo,
assim, ensejo ao surgimento dos chamados “tigres”. Enquanto se
desmoronava a experiência do “Eurocomunismo”, simbolizado pelo
Muro de Berlim, cuja derrubada se deu em 1989, e os meios de co-
municação, de uma maneira geral, saudavam o triunfo do mercado
como o final feliz da história, como se o crack de 1929 tivesse sido
apenas um acidente de percurso cuja repetição os agentes privados
saberiam, em sua racionalidade, impedir, a economia dos EUA se-
guia mais às bases da expansão do consumo do que da expansão do
investimento e, no período mais recente, dos mercados financeiros
desregulados, a taxa média de expansão teria sido menor do que a
dos anos 50/60, mesmo tomando em consideração o crescimento
verificado a partir de 1995/1996, quando se verificou um ciclo de
investimento e consumo baseado numa forte concentração de capi-
tais, tendo como propulsor o mercado de crédito, que conduziu a um
alto grau de endividamento dos particulares. O aumento da rentabili-
dade dos valores mobiliários incentivou famílias e empresas a adqui-
rirem tais papéis e a, na crença de haverem aumentado o respectivo
patrimônio, terem incrementado a respectiva propensão a consumir,
endividando-se ainda mais e ofertando tais papéis como garantia,
sendo bruscamente surpreendidas pela queda do valor dos seus títu-
los e pela elevação dos preços dos bens e serviços, aumentando-lhes
o passivo e corroendo-lhes o ativo. Em 2008, o triunfalismo do dis-
curso "neoliberal" também veio a arrefecer, como a demonstrar que a
lógica binária em que o mundo se debateu durante a Guerra Fria

213
precisa ser superada no âmbito da compreensão das relações de po-
der. Assim, a raiz da crise norte-americana desde 2001 estaria em
que as empresas e as famílias, respectivamente, cortariam investi-
mento e consumo no aumento da relação entre as dívidas e o patri-
mônio, implicando o estabelecimento de um cenário de aumento de
desemprego, que determina uma contração tanto do crédito a ser
concedido como da renda disponível, conduzindo a um novo pata-
mar de restrição de gastos. A sustentação deste padrão de crescimen-
to pelos EUA teria sido decorrente de sua capacidade de atração de
capitais excedentes de todo o restante do mundo e, mesmo com a
queda da Bolsa e o declínio das taxas de juros, não se registra uma
fuga de capitais.
Tradicionalmente, em função do balanço de pagamentos se vem,
por vezes, a identificar a importância econômica de um País, como
integrante do “Primeiro” ou do “Terceiro” Mundo, ou, na terminolo-
gia corrente, como “desenvolvido” ou “subdesenvolvido”. É de se
notar que, no entanto, veio a abater-se sobre a Europa crise que veio
a afetar seriamente o respectivo balanço de pagamentos a partir do
ano de 2011, o que rendeu ensejo a que, inclusive, viessem a ser
trazidos planos de reajustamento no sentido de redução da despesa
pública, a partir de orientações do FMI. Nem por isto, o “Primeiro
Mundo” veio a se transmutar em “Terceiro”.
O Fundo Monetário Internacional, mais conhecido como FMI, é
uma organização internacional criada em 1944, a partir da Conferên-
cia Monetária e Financeira realizada em Bretton Woods, New
Hampshire, EUA, mediante Convenção Constitutiva, firmada pelos
países ali presentes, aprovada pelo Brasil mediante a edição do De-
creto-lei 8.749, de 1946, e promulgada pelo Decreto 21.177, do ano
seguinte. Sediado em Washington, D. C., teve como primeiro Presi-
dente John Maynard Keynes, e suas finalidades institucionais são as
seguintes: (1) promover a cooperação monetária internacional; (2)
expansão e desenvolvimento equilibrado do comércio internacional;
(3) promover a estabilidde cambial, mantendo a disciplina do câmbio
entre seus membros e evitando depreciações competitivas; (4) auxi-
liar na formação de um sistema multilateral de pagamentos de tran-
sações correntes entre seus membros, assim como na eliminação das
retrições cambiais aptas a dificultarem o desenvolvimento do comér-
cio mundial; (5) colocar recursos à disposição de seus membros, a
fim de possibilitar a correção de desajustes no balanço de pagamen-

214
tos, sem comprometimento de sua prosperidade nacional e internaci-
onal; (6) reduzir o grau de desequilíbrio no balanço de pagamen-
tos699.
Para se compreender bem as finalidades institucionais do FMI, é
necessário recordar que a moeda, enquanto meio universal de troca,
vem a voltar-se a facilitar o comércio no seio do território em que
circula. Quanto menores, pois, sejam as disparidades entre as moe-
das, mais fluente será a circulação de mercadorias no âmbito das
relações econômicas internacionais. De outra parte, o valor da moe-
da, por vezes, pode implicar maior ou menor facilitação no que tange
às operações internacionais – basta recordar que, em 1998, podiam-
se comprar 10 CDs em Buenos Aires por um preço que não permiti-
ria a aquisição de um no Brasil, justamente pelo mais alto valor da
moeda brasileira em relação à argentina, naquela ocasião -. Note-se
que sua Carta Constitutiva, desde logo, pressupõe a possibilidade de
ele, em sua atuação, vir a malferir a soberania de cada Estado, tendo
em vista reservar a disciplina do câmbio aos seus membros. E, não é
demais lembrar, membros do FMI são os Estados soberanos. Por
outro lado, há o condicionamento a que não se comprometa a pros-
peridade destes, seja no nível nacional ou internacional, por conta da
atuação do próprio FMI. Independentemente da polêmica que se
trave em torno de haver este, ao longo de sua história, ou não, even-
tualmente violado estas disposições700, o que se toma em considera-
ção é a lição segundo a qual uma conduta somente é considerada
pressuposto de um comando normativo quando ela se mostre passí-
vel de verificação e, por outro lado, “uma determinada conduta ou
omissão humana é feita pela ordem jurídica pressuposto de um ato
de coação porque essa ação ou omissão é considerada, pela autorida-
de jurídica, como socialmente indesejável ou nociva”701.

699 - FONSECA, João Bosco Leopoldino da. Direito Econômico. Rio de Janeiro:
Forense, 2001, p. 129-130; CAMARGO, Ricardo Antônio Lucas. A empresa na
ordem jurídico-econômica. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 2010, p. 211-3.
700 - BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Medida cautelar na ação direta de in-
constitucionalidade 1.975. Relator: Min. Sepúlveda Pertence. DJU 14 dez 2001.
701 - KELSEN, Hans. Teoria pura do Direito. Trad. João Baptista Machado.
Coimbra: Arménio Amado, 1974, p. 168; CUNHA, Sérgio Sérvulo da. Limites ao
poder do Estado (ensaio de determinação do Direito na perspectiva dos direitos
fundamentais). In: GRAU, Eros Roberto & GUERRA FILHO, Willis Santiago
[org.]. Direito Constitucional – estudos em homenagem a Paulo Bonavides. São
Paulo: Malheiros, 2001, p. 178.
215
Globalização: nome que se dá à homogeneização jurídica para
as relações que se travam em mais de um espaço territorial, com o
objetivo, no caso das relações econômicas, de se encontrar um ponto
de convergência apto a possibilitar o aumento do volume de circula-
ção de bens702. Não se confunde com a integração, que é a coordena-
ção, em nível supranacional, da legislação pertinente à política eco-
nômica, com o objetivo de formar uma entidade que se tornará res-
ponsável pelo atendimento às necessidades comuns dos Estados nela
engajados, seja mediante a edição de atos mais genéricos, a serem
detalhados pelos Estados pelas legislações internas, seja pela edição
de atos voltados a uma vinculação mais forte destes mesmos Esta-
dos: a comunidade econômica, de que são exemplos tanto a União
Européia quanto o MERCOSUL703.
Deslocamentos populacionais: não é admissível deixar o dado
econômico pura e simplesmente solto no ar como se ele não viesse a
tocar em temas que são de típico interesse jurídico. Em relação a
sociedades nômades, a migração constitui um dado constante. Já no
que tange a sociedades sedentárias, o tema vem a dizer com a pró-
pria ubicação do ser humano no mundo, não sendo raro que o mi-
grante seja visto como um concorrente em potencial e, pois, como
um inimigo, abrindo-se o campo para relações conflituosas que ul-
trapassam em muito a tradicional dicotomia capital/trabalho704.
Quando se toma em consideração o problema dos refugiados de
guerra é que aflora a importância econômica do tema com maior
clareza705. Com efeito, quando se parta do pressuposto de que o ser
humano deve ser valorado a partir do que represente na economia –

702 - CAMARGO, Ricardo Antônio Lucas. Direito, globalização e humanidade – o


jurídico reduzido ao econômico. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 2009, p. 25-
6.
703 - SOUZA, Washington Peluso Albino de. Primeiras linhas de Direito Econô-
mico. 6ª ed. São Paulo: LTr, 2005, p. 196-7; FARIA, Werter. Prefácio. In: CA-
MARGO, Ricardo Antonio Lucas. Direito Econômico e reforma do Estado – 2 – o
“liberalismo” na experiência francesa, alemã, italiana e comunitária. Porto Ale-
gre; Sérgio Antônio Fabris, Data, 1994, p. 6.
704 - GALBRAITH, John Kenneth. O novo Estado industrial. Trad. Leônidas
Gontijo de Carvalho. São Paulo: Nova Cultural, 1988, p. 182.
705 - ABENDROTH, Wolfgang. Der demokratische und soziale Rechtstaat aus
politischer Auftrag. In: CORTIÑAS-PELÁEZ, León [org.]. Perspectivas del Dere-
cho Público en la segunda mitad del siglo XX – homenaje a Enrique Sayagues-
Laso. Madrid: Instituto de Estudios de Administración Local, 1969, t. 1, p. 821.
216
isto é, engajado no processo de produção, circulação ou consumo -,
os deslocamentos populacionais surgirão como um elemento pertur-
bador das relações de mercado, e estarão justificadas, inclusive, me-
didas destinadas a reprimir quantos estejam presentes em tais deslo-
camentos. Entretanto, quando se parta do pressuposto de que o ser
humano, pelo simples fato de integrar a espécie humana, não pode
nunca ser considerado como um mero instrumento e sempre como
um fim em si mesmo706, a questão será a de verificar a capacidade de
integração de tais indivíduos na coletividade, justamente para que se
evite a emersão de estímulos a que peguem em armas contra ela.
Nem sempre aquele que se acha em posição de inferioridade aceita
pacificamente, por mais que haja vozes a aconselharem-lhe humilda-
de707, tal situação. Até porque, a despeito de terem a real possibilida-
de de perturbar as relações econômicas, em sua maior parte, tais
deslocamentos decorrem de motivos de natureza diversa 708. É exata-
mente neste momento que se vão estabelecer inseguranças quanto à
capacidade do Poder Público proceder à definição do que cabe a
cada um dos que se lhe submetem à autoridade – proposição que não
é infirmada nem mesmo na pura manifestação liberal do Estado, já
que é a ato deste (a lei) que cabe distinguir a situação das pessoas
perante os bens como “propriedade”, “posse” ou “detenção” – que
surge o debate acerca de se atender a quem teria a possibilidade de
se revoltar, para se manter, no essencial, a organização social, na

706 - KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes. Trad. Guido


Antônio de Almeida. São Paulo: Barcarolla, 2009, p. 259-261; SOUZA, Washing-
ton Peluso Albino de. O princípio da universalidade no Direito Internacional dos
Direitos Humanos: visita à obra de consolidação de Antonio Augusto Cançado
Trindade. In: LEÃO, Renato Zerbini Carneiro [org.]. Os rumos do Direito Interna-
cional dos Direitos Humanos – ensaios em homenagem ao Professor Antonio Au-
gusto Cançado Trindade. Porto Alegre: Sérgio Antonio Fabris, 2005, t. 1, p. 73-4.
707 - CÍCERO, Marco Túlio. Orações. Trad. Pe. Antonio Joaquim. São Paulo: W.
M. Jackson, 1949, p. 258; KIERKEGAARD, Sören. Desespero – a doença mortal.
Trad. Ana Keil. Porto: Res, [s/d], p. 143-5; ALIGHIERI, Dante. Monarquia. Trad.
Ciro Mioranza. São Paulo: Escala, 2005, p.75; HAYEK, Friedrich August Von.
History and politics. In: HAYEK, Friedrich August Von [org.]. Capitalism and
historians. London: Routledge & Kegan Paul Ltd., 1954, p. 16; PENNA, J. O.
Meira. Opção preferencial pela riqueza. Rio de Janeiro: Instituto Liberal, 1991, p.
190; FRIEDMAN, Milton. Capitalismo e liberdade. Trad. Luciana Carli. São Pau-
lo: Abril Cultural, 1984, p. 115.
708 - WICKSELL, Knut. Lecciones de economía política. Trad. Francisco Sánchez
Ramos. Madrid: Aguilar, 1947, p. 95.
217
mesma lógica do Príncipe de Salina na película O leopardo [Il gat-
topardo – dir. Luchino Visconti – ITA, 1963], baseada no romance
homônimo de Tommaso di Lampedusa, ou proceder a profundas
mudanças, qual ocorreu nos países que se recuperaram após a II
Guerra709.

709 - ABENDROTH, Wolfgang. Der demokratische und soziale Rechtstaat aus


politischer Auftrag. In: CORTIÑAS-PELÁEZ, León [org.]. Perspectivas del Dere-
cho Público en la segunda mitad del siglo XX – homenaje a Enrique Sayagues-
Laso. Madrid: Instituto de Estudios de Administración Local, 1969, t. 1, p. 806;
STAMMLER, Rudolf. Economia y Derecho. Trad. Wenceslao Roces. Madrid:
Reus, 1929, p. 308; LIMA, Hermes. O Estado intervencionista. Revista Forense.
Rio de Janeiro, v. 38, n. 85, p. 204, 1941; FABRÍCIO, Adroaldo Furtado. Comentá-
rios ao Código de Processo Civil. Rio de Janeiro: Forense, 2002, v. 8, t. 3, p. 373-4;
PORTO, Sérgio José. O projeto de Código Civil e o direito das coisas. Revista dos
Tribunais. São Paulo, v. 90, n. 794, p. 55, dez 2001; CAMARGO, Ricardo Antônio
Lucas. Direito Econômico, direitos humanos e segurança coletiva. Porto Alegre:
Núria Fabris, 2007, p. 129-130.
218
11. DESENVOLVIMENTO E SUBDESENVOLVIMENTO

O presente capítulo volta-se ao estudo dos conceitos próprios da


macro-economia, que se prestam a fundamentar o caminho da políti-
ca econômica voltada “a comandar os ajustamentos globais e a con-
duzir o próprio resultado dos agregados”710. Os agregados tomam em
consideração elementos que tenham alguma característica em co-
mum e são trabalhados em função da possibilidade de tal caracterís-
tica sofrer variações ao longo do tempo e do espaço ou se manter
constante. É aqui que são estudados os denominados “ciclos econô-
micos”, os períodos em que determinada realidade econômica
variam da “prosperidade”, passando pela “estagnação”, à “depres-
são” e vice-versa711. Eles são tidos como uma verdadeira contradição
com a idéia de um “equilibrio estático”, embora, para lhes determi-
nar a origem, seja necessário pressupô-lo como ponto de partida712.
Produto Bruto: um dos conceitos mais empregados em macroe-
conomia713 é o de Produto Bruto, que corresponde ao valor do con-
junto de todos os bens e serviços finais (subtraído, pois, o valor dos

710 - SOUZA, Washington Peluso Albino de. Direito Econômico e Economia


Política. Belo Horizonte: Prisma, 1970, v. 1, p. 110.
711 - SAMUELSON, Paul A. Introdução à análise econômica. Trad. Luiz Carlos
do Nascimento Silva. Rio de Janeiro: Agir, 1966, v. 1, p. 334-5.
712 - MEYERS, Alfred L. Elementos de economia moderna. Trad. Antonio Ferreira
da Rocha. Rio de Janeiro: Livro Ibero-Americano, 1968, p. 461.
713 - NUSDEO, Fábio. Curso de economia política – introdução ao Direito Eco-
nômico. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003, p. 299-301; MEYERS, Alfred L.
Elementos de economia moderna. Trad. Antonio Ferreira da Rocha. Rio de Janeiro:
Livro Ibero-Americano, 1968, p. 389-400; ROSSETTI, José Paschoal. Introdução à
economia. São Paulo: Atlas, 1971, p. 282-8.
219
bens e serviços que entrem no processo de produção daqueles) que
sejam produzidos por um sistema econômico num dado período de
tempo, somado ao investimento bruto (aumento dos estoques mais a
produção de prédios e equipamentos)714. A especificação do Produto
Bruto como Produto Interno Bruto – PIB – diz com o valor da pro-
dução gerada nos limites geográficos de um determinado país. Já a
especificação como Produto Nacional Bruto – PNB – exclui a remu-
neração remetida ao exterior e inclui a que é recebida do exterior
para o país.
Valor adicionado: quando se fala em “bens e serviços finais”, a
seren tomados em consideração no cálculo do Produto Bruto, enten-
da-se que o são por setor da economia, de tal sorte que não se venha
a computar por duas vezes o valor da farinha produzida pelo moagei-
ro ao padeiro para o fabrico do pão: a farinha é o produto final para o
moageiro, o pão, para o padeiro. O custo da matéria-prima e dos
produtos intermediários recebidos de outras empresas, em cada fase
da produção, é cuidadosamente subtraído, de tal sorte que a soma de
todos os valores subtraídos constituirá o valor adicionado715.
Produto Líquido: é o Produto Bruto, descontado o que se tem de
despender com o desgaste dos equipamentos empregados na produ-
ção, em sentido diverso do empregado pelos fisiocratas, que se colo-
cava no sentido de excedente da produção agrícola do país716. Outra
denominação que se usa para o desgaste é “depreciação” 717.
Renda Nacional: é o Produto Líquido, descontados os tributos
indiretos, somados os subsídios. Corresponde ao montante da remu-
neração de todos os fatores da produção. Sua variação é diretamente
proporcional â da demanda agregada, que é o somatório dos gastos
dos grupos atuantes na realidade econômica718 – as famílias, as em-
presas, o Governo e os estrangeiros -. Vem a colocar-se na depen-

714 - SAMUELSON, Paul A. Introdução à análise econômica. Trad. Luiz Carlos


do Nascimento Silva. Rio de Janeiro: Agir, 1966, v. 1, p. 255.
715 - SAMUELSON, Paul A. Introdução à análise econômica. Trad. Luiz Carlos
do Nascimento Silva. Rio de Janeiro: Agir, 1966, v. 1, p. 251.
716 - SOUZA, Washington Peluso Albino de. Direito Econômico e Economia
Política. Belo Horizonte: Prisma, 1970, v. 1, p. 102-3.
717 - SAMUELSON, Paul A. Introdução à análise econômica. Trad. Luiz Carlos
do Nascimento Silva. Rio de Janeiro: Agir, 1966, v. 1, p. 284.
718 - STIGLITZ, Joseph E. & WALSH, Carl E. Introdução à macroeconomia.
Trad. Maria José Cyhlar Monteiro. Rio de Janeiro: Campus, 2003, p. 233-4.
220
dência de todos os fatores que determinam a demanda individual por
bens e do número de potenciais adquirentes.
Renda disponível: é a Renda Nacional, descontados os impostos
diretos, representando, em caráter global, as mais diversas formas
por que se manifesta a repartição – a renda stricto sensu, os juros, o
lucro e o salário – do produto da atividade econômica em meio à
população. A partir daí se pode ter, subtraída da demanda agregada,
a “demanda solvente”, que se compõe do conjunto dos que realmente
teriam poder de adquirir os bens e serviços ofertados em um deter-
minado local.
Os conceitos de demanda agregada e de demanda solvente re-
vestir-se-ão de suma importância no momento de se verificar o con-
sumo comunitário presente e de se o estimar no futuro. Com efeito,
aqui se responde a duas perguntas: o que e para quem produzir. Per-
guntas, estas, cuja resposta influenciará nas decisões das empresas
produzirem tais ou quais bens e serviços e do Estado estimular ou
desestimular ou deixar ao inteiro alvedrio do setor privado tais in-
vestimentos. De outra parte, é nestes conceitos que se pensa quando
se vai, na atuação publicitária, criar hábitos de consumo em relação a
tais ou quais bens e serviços, tomando como deflagrador do “efeito-
demonstração” os padrões de consumo onde se entenda presente o
desenvolvimento – tantas pessoas utilizando computador, com aces-
so à Internet, índice de consumo de tais ou quais alimentos etc. 719 -.
Por outro lado, a relação entre o consumo e o ganho, em termos ma-
croeconômicos, vem a se relacionar com a variação da renda dispo-
nível720.
Direito ao desenvolvimento: as Nações Unidas consideram exis-
tir, dentre os direitos humanos, o direito ao desenvolvimento. Reco-
nhecido pela ONU em 1993, é abordado na obra de Antônio Augusto
Cançado Trindade721. Por outro lado, existe uma distinção entre de-

719 - CORRÊA, Leonardo Alves. Direito Econômico e desenvolvimento: uma


interpretação a partir da Constituição de 1988. Rio de Janeiro: Publit, 2011, p.
168-9; NUNES, António José Avelãs. Industrialização e desenvolvimento: a eco-
nomia política do “modelo brasileiro de desenvolvimento”. Boletim da Faculdade
de Direito de Coimbra. Coimbra, v. 24/25, p. 766, 1982 – supl..
720 - SAMUELSON, Paul A. Introdução à análise econômica. Trad. Luiz Carlos
do Nascimento Silva. Rio de Janeiro: Agir, 1966, v. 1, p. 298-9.
721 - Do Direito Econômico aos direitos econômicos, sociais e culturais. In: CA-
MARGO, Ricardo Antônio Lucas [org.]. Desenvolvimento econômico e intervenção
do Estado na ordem constitucional – estudos jurídicos em homenagem ao Professor
221
senvolvimento e crescimento. O desenvolvimento traduz um dese-
quilíbrio nas relações econômicas, em direção a uma situação me-
lhor. Já o crescimento, embora se traduza por uma melhoria em ter-
mos de possibilidade de oferta de bens no mercado, prescinde de tal
desequilíbrio, ele pode ocorrer com relações econômicas equilibra-
das, justamente por ser ele simples aumento da remuneração global e
do Produto Interno Bruto722. Tanto para o crescimento quanto para o
desenvolvimento faz-se necessário um impulso inicial, que represen-
ta a fase em que se superam os obstáculos e resistências ao “cami-
nhar para a frente” da realidade econômica723.
Desenvolvimento/Crescimento: o crescimento dá-se de modo
quantitativo. Exemplificando: a produção de grãos elevou-se este
ano, houve crescimento. A exportação de sapatos aumentou esse
ano, é um crescimento. Mas quando falamos em desenvolvimento,
não é só aspectos quantitativos, mas sim também qualitativo. Não
adianta aumentar a produção agrícola, se a população agrícola conti-
nua, por exemplo, sem o conhecimento de técnicas para aprimorarem
o bem que elas estão voltadas a produzir e, respectivamente, pode-
rem aumentar a produção. O desenvolvimento não envolve só aspec-
tos quantitativos, mas também qualitativos. Schumpeter724, neste
particular, refere o processo constante de mutação por que passa a

Washington Peluso Albino de Souza. Porto Alegre: Sérgio Antonio Fabris, 1995, p.
31.
722 - SEN, Amartya. Desenvolvimento como liberdade. Trad. Laura Teixeira Mot-
ta. São Paulo: Companhia das Letras, 2010, p.16; NUSDEO, Fábio. Curso de eco-
nomia política – introdução ao Direito Econômico. São Paulo: Revista dos Tribu-
nais, 2003, p. 354; SOUZA, Washington Peluso Albino de. Primeiras linhas de
Direito Econômico. 6ª ed. São Paulo: LTr, 2005, p. 419-420.
723 - ROSTOW, Walt Whitman. Las etapas del crecimiento econômico – un mani-
fiesto no comunista. Trad. Rubén Pimentel. México: Fondo de Cultura Económica,
1961, p. 20; SAMUELSON, Paul A. Introdução à análise econômica. Trad. Luiz
Carlos do Nascimento Silva. Rio de Janeiro: Agir, 1966, v. 2, p. 473; SOUZA,
Washington Peluso Albino de. Primeiras linhas de Direito Econômico. 6ª ed. São
Paulo: LTr, 2005, p. 414; NUSDEO, Fábio. Curso de economia política – introdu-
ção ao Direito Econômico. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003, p. 359; BALE-
EIRO, Aliomar. Uma introdução à ciência das finanças. Rio de Janeiro: Forense,
1986, p. 62.
724 - Capitalismo, socialismo e democracia. Trad. Ruy Jungmann. Rio de Janeiro:
Fundo de Cultura, 1961, p. 106; SOMBART, Werner. El apogeo del capitalismo.
Trad. Vicente Caridad. México: Fondo de Cultura Económica, 1946, v. 2, p. 353-4;
SOUZA, Washington Peluso Albino de. Primeiras linhas de Direito Econômico. 6ª
ed. São Paulo: LTr, 2005, p. 411-2.
222
produção “que revoluciona incessantemente a estrutura econômica a
partir de dentro, destruindo incessantemente o antigo e criando ele-
mentos novos”. Por isso que se entende existirem países que crescem
e não se desenvolvem.
Desenvolvimento sustentável: A noção de desenvolvimento traz
algumas variáveis. Hoje em dia se fala muito no desenvolvimento
sustentável que é justamente aquele que se vai verificar com o menor
impacto possível no meio ambiente. É aquele que se vai verificar
com o menor impacto possível no que tange as peculiaridades cultu-
rais de cada povo, enfim, é o desenvolvimento menos doloroso 725. E
esta noção vai aparecer pela primeira vez em 1987 no relatório Bru-
ntland. Em 1993, em Viena, a Conferência de direitos humanos da
ONU reconheceu o caráter de direito humano o direito ao desenvol-
vimento.
Porém surge a questão do subdesenvolvimento que é justamente
a marca da desigualdade econômica entre os povos. Sob o ponto de
vista econômico nós temos os países desenvolvidos, primeiro mun-
do, e sub, terceiro mundo. Os países integrantes deste último, em
regra, foram colônias dos integrantes daquele, sendo de notar a ade-
quada observação segundo a qual, em pleno desenvolvimento do
capitalismo, a relação instaurada pelas metrópoles nos territórios de
cada colônia se assemelhavam muito às feudais, embora com estas
não se identificassem726. Sob o ponto de vista político, a igualdade é
plena. A distinção entre desenvolvimento e subdesenvolvimento é
uma distinção que se reporta a padrões e não à natureza. Ou seja, não
há como se estabelecer a distinção apontada como um a priori. To-
me-se, por exemplo, a definição que Samuelson oferta ao subdesen-
volvimento, a partir da consideração da “renda per capita” de um
país, mas apontando para os seguintes dados para a este caracteriza-
rem como subdesenvolvido: renda anual do indivíduo médio mais
baixa do que a dos países desenvolvidos, altas taxas de mortalidade
infantil e de analfabetismo, alta dependência do estrangeiro em ter-
mos de técnicas de saúde e medicina, maior ênfase no setor primário
do que no secundáro e terciário, maior presença da população nos
meios rurais que urbanos, menor consumo de energia não braçal,

725 - STIGLITZ, Joseph E. & WALSH, Carl E. Introdução à macroeconomia.


Trad. Maria José Cyhlar Monteiro. Rio de Janeiro: Campus, 2003, p. 204.
726 - SOMBART, Werner. El burgués. Trad. Maria Pilar Lorenzo. Madrid: Alian-
za, 1992, p. 95.
223
conhecimentos científicos parcos em face de um grande conheci-
mento do folclore, métodos e ferramentas primitivos, indiferença
tanto à disciplina dos mercados quanto à centralização do planeja-
mento727. Esses padrões foram elaborados nos próprios países desen-
volvidos. “A colônia aspira a ser o que a metrópole é” 728. É, ainda,
de se tomar em consideração o dado de que, no próprio seio de um
Estado soberano, o desenvolvimento não se dá de modo uniforme729.
E com esta constatação algo acaciana, vem a ser introduzida nas
preocupações econômicas a questão federalista730. O federalismo,
como se sabe, constituiu, antes e acima de tudo, uma construção do
liberalismo político, objetivando aumentar a descentralização do
poder731. Embora seja perfeitamente possível a adoção de um regime
econômico liberal concomitante a um Estado unitário 732, o fato é que
a fragmentação de poder inerente ao federalismo, com a possibilida-
de de várias ordens jurídicas parciais e de governos não necessaria-
mente alinhados com o Poder Central reforça a idéia de limitação tão
cara aos liberais e mesmo aos liberistas 733. Contudo, quando a posi-
ção ativa do Estado em relação ao domínio econômico aparentemen-
te vem a esmaecer a autonomia das entidades menores, ainda vem a
se impor o reconhecimento de problemas cuja dimensão geográfica
não ultrapassaria determinada parcela do território e que devem lo-
grar atendimento por parte da instância de poder que esteja mais
próxima, de tal sorte que não se aprofundem as desigualdades entre

727 - Introdução à análise econômica. Trad. Luiz Carlos do Nascimento Silva. Rio
de Janeiro: Agir, 1966, v. 2, p. 467-8; BARRE, Raymond. Manual de economia
política. Trad. Pierre Santos. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1970, v. 1, p. 105-6.
728 - SOUZA FILHO, Carlos Frederico Marés de. A liberdade e outros direitos:
ensaios socioambientais. São Paulo/Curitiba: Instituto Brasileiro de Advocacia
Pública/Letra da Lei, 2011, p. 55.
729 - PEREIRA, Caio Mário da Silva. Reformulação da ordem jurídica e outros
temas. Rio de Janeiro: Forense, 1980, p. 70.
730 - SOUZA, Washington Peluso Albino de. Primeiras linhas de Direito Econô-
mico. 6ª Ed. São Paulo: LTr, 2005, p. 345.
731 - GRAU, Eros Roberto. Planejamento econômico e regra jurídica. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 1978, p. 49.
732 - CORRÊA, Leonardo Alves. Direito Econômico e desenvolvimento: uma
interpretação a partir da Constituição de 1988. Rio de Janeiro: Publit, 2011, p.
127.
733 - HAMILTON, Alexander. O futuro equilíbrio dos poderes estaduais e nacio-
nais. HAMILTON, Alexander, MADISON, James & JAY, John. O Federalista.
Trad. Heitor de Almeida Herrera. Brasília: Universidade de Brasília, 1984, p. 194.
224
as regiões734: “os dados fundamentais da política econômica nos
Estados Federativos estão na multiplicidade dos poderes públicos e
diversidade dos fatores materiais e condições sociológicas” 735. De
outra parte, vem ganhando corpo a tese segundo a qual “convém
resguardar-se contra uma concepção burocrática e financeira de um
plano de desenvolvimento. Nada é mais perigoso, a esse propósito,
para um país subdesenvolvido, do que imaginar que é suficiente uma
equipe dirigente procurar alguns técnicos para preparar um plano de
desenvolvimento, e, em seguida, dirigir-se aos países estrangeiros
para obter os créditos necessários à realização desse plano. Se se
limita a isso, poder-se-ia, em alguns setores, obter resultados limita-
dos, mas nada se faria no sentido de uma luta verdadeira contra o
subdesenvolvimento, pois essa luta exige, antes de tudo, como a
todos os instantes estou a dizer, um grande esforço de acumulação
nacional que, no caso, impõe a participação entusiástica da popula-
ção”736.

734 - BERCOVICI, Gilberto. Desigualdades regionais, Estado e Constituição. São


Paulo: Max Limonad, 2003, p. 158-9.
735 - GRAU, Eros Roberto. Planejamento econômico e regra jurídica. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 1978, p. 61.
736 - BETTELHEIM, Charles. Planificação e crescimento acelerado. Trad. Dirceu
Lindoso. Rio de Janeiro: Zahar, 1968, p. 62.
225
226
12. RELAÇÃO ENTRE ECONOMIA E O DIREITO NO
PENSAMENTO ÉTICO OCIDENTAL

Em todos os autores estudiosos do Direito Econômico – Wa-


shington Peluso Albino de Souza, Modesto Carvalhosa, José Naban-
tino Ramos, Eros Roberto Grau, José Wilson Nogueira de Queiroz,
Werter Faria, só para ficarmos nos nacionais – não há senão consen-
so acerca da relação entre Economia e Direito. Uma certa exacerba-
ção na concepção liberal vai procurar dá-los como compartimentos
estanques, considerando, ainda, o Direito como um mal quando im-
plica a “negação do livre arbítrio e da capacidade de decisão dos
indivíduos”737, recordando pronunciamentos que se vêem na obra de
Bastiat e Beudan, supondo, ademais, um Direito composto somente
de normas imperativas e proibitivas, desconsiderando mesmo as
dispositivas e permissivas, que seriam a base para a entabulação dos
negócios mercê dos quais se materializaria a liberdade de mercado.
Tal exacerbação é bem exposta por Washington Peluso Albino de
Souza738:

“Esta situação encontrava sua base filosófica no pensamento do


Séc. XVIII e, especialmente, no princípio de Kant segundo o
qual a liberdade de cada um termina onde começa a liberdade
alheia. Esta liberdade envolvia, inclusive, o direito à proprieda-
de privada e, assim, passou a permitir um poder econômico dife-

737 - CARELLI, Gabriela & SALVADOR, Alexandre. É de enlouquecer. Veja. São


Paulo, v. 44, n. 2.236, p. 91, 28 set 2011.
738 - Lições de Direito Econômico. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 2002, p.
123.
227
rente entre as partes e a caracterizar a parte forte e a parte fraca
do contrato. [...] A mesma filosofia conduzia ao pensamento de
que a vida é uma ‘guerra’ entre indivíduos e repetia-se na ‘luta
pela vida’. Esta era, portanto, natural, explicava-se por uma ‘or-
dem natural’ que envolvia a sociedade humana”.

Nenhum dos clássicos da Economia Política – seja Adam Smith,


seja David Ricardo, seja Thomas Malthus, sejam James ou John
Stuart Mill, seja Bentham, só para ficarmos nos autores liberais -,
nenhum dos fundadores da Economia Política deixou de reconhecer
a presença do componente jurídico nos fatos econômicos, tendo em
vista a constante referência a criaturas próprias do Direito – negó-
cios, propriedade, moeda, tributo -. Entre nós, os maiores juristas do
século XIX e início do século XX, exemplificando apenas com Tei-
xeira de Freitas739 e Clóvis Bevilaqua740, têm passagens notáveis no
sentido de apontar para o papel da legislação civil na operacionaliza-
ção da vida econômica.
A titularidade da terra e do capital, os termos em que as relações
de trabalho se travam, que são os elementos indispensáveis à carac-
terização do modo de produção, em Economia, desde logo, revelam
a íntima ligação com o Direito. Com efeito, a posição de um ser hu-
mano diante de um objeto – se ele seria seu titular ou se outrem o
seria, se sua condição seria a de proprietário, possuidor ou detentor -,
a possibilidade de um ser humano ser ou não passível de apropriação
por outro, a acessibilidade ou não a tal ou qual atividade, o caracteri-
zar-se tal ou qual produto intelectual como bem imaterial o não,
todas estas questões de natureza econômica têm um componente
jurídico evidente, muito embora durante um largo período se tenha
procurado estabelecer uma separação absoluta entre a esfera da eco-
nomia e a do Direito. Por outro lado, é de se notar que, sem a idéia
de um ordenamento jurídico estabelecendo a propriedade privada
como um direito, nenhuma das teorias que compõem o arcabouço do
liberalismo econômico teria substância741.

739 - Consolidação das leis civis. Brasília: Senado Federal, 2003, v. 1, p. CLXXV-
CLXXVI.
740 - Direito das obrigações. Rio de Janeiro: Rio, 1977, p. 26-7.
741 - SOUZA, Washington Peluso Albino de. Direito Econômico e Economia
Política. Belo Horizonte: Prisma, 1970, v. 1, p. 124; SOARES, Nilda. Responsabi-
lidade pré-contratual. In: SOUZA, Washington Peluso Albino de [org.]. O conteúdo
228
No pensamento ocidental, a relação entre a atividade desenvol-
vida pelo ser humano no sentido da satisfação das respectivas neces-
sidades e o Direito enquanto meio de possibilitar a convivência dos
seres humanos mediante o estabelecimento de critérios gerais a se-
rem observados independentemente de se desejar ou não a eles ade-
rir, vem sendo cogitada desde os Pré-Socráticos, sendo de notar, por
exemplo, a Escola Pitagórica, com a sua noção matemática de pro-
porcionalidade742, que influenciaria profundamente a distinção entre
a justiça comutativa – de logo presente em célebre definição medie-
val do Direito como “relação real e pessoal de homem para homem,
que, observada, preserva a sociedade, e corrompida, corrompe-a”743 -
e a justiça distributiva, e que se liga, ainda, à noção econômica de
repartição.
Dos Sofistas, proviria a idéia do Estado como produto da vonta-
de humana para assegurar a paz, tendo em vista que nenhum argu-
mento seria válido em si e por si, nem nenhuma proposição exprimi-
ria por si só o bem e a justiça744, de onde derivaria a visão pragmáti-
co-utilitarista745 contra a qual se insurgiria Sócrates, que, ao restabe-
lecer a ligação entre a lei humana e o Logos, vem a sustentar que a
verdade, acima do capricho humano746, é que o Estado seria necessá-
rio a todo aquele que estivesse integrado na humanidade, com o que
mesmo a lei injusta mereceria obediência 747. A partir daí, derivar-se-

econômico no Anteprojeto do Código Civil brasileiro. Belo Horizonte: Faculdade


de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais, 1975, p. 174-5; CAMARGO,
Ricardo Antônio Lucas. A empresa na ordem jurídico-econômica. Porto Alegre:
Sérgio Antônio Fabris, 2010, p. 223.
742 - RECASÉNS SICHES, Luís. Tratado general de Filosofía del Derecho. Méxi-
co: Porrúa, 1970, p. 369; ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Trad. Leonel Vallan-
dro & Gerd Bornheim. In: PESSANHA, José Américo Motta [org.]. Os pensadores
– Aristóteles. São Paulo: Nova Cultural, 1991, v. 2, p. 85.
743 - ALIGHIERI, Dante. Monarquia. Trad. Ciro Mioranza. São Paulo: Escala,
2005, p. 69.
744 - MATA-MACHADO, Edgar de Godói. Elementos de teoria geral do Direito.
Belo Horizonte: Vega, 1972, p. 61.
745 - SOUZA, Washington Peluso Albino de. Direito Econômico e Economia
Política. Belo Horizonte: Prisma, 1970, v. 1, p. 91.
746 - PLATÃO. A república. Trad. Pietro Nassetti. São Paulo: Martin Claret, 2005,
p.188-9; KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes. Trad.
Guido Antônio de Almeida. São Paulo: Barcarolla, 2009, p. 281.
747 - PLATÃO. Críton. In: PLATÃO. Apologia de Sócrates, precedido de Sobre a
piedade (Êutifron) e seguido de Sobre o dever (Críton). Trad. André Malta. Porto
229
iam as concepções concernentes ao papel da autoridade em face da
realidade social, da qual a econômica é espécie, com as teses que
fundamentariam a atuação do Estado no domínio econômico, seja
em caráter principal (dirigismo) seja em caráter excepcional (inter-
vencionismo)748. É no Sócrates platônico, outrossim, que serão en-
contrados fundamentos para a divisão do trabalho social e o trata-
mento da propriedade privada749.
Na obra aristotélica, encontrar-se-ão debates sobre o papel da
propriedade dos bens de produção – entre estes, incluído o próprio
escravo – e a distinção entre a justiça distributiva – conceito que irá
orientar as teorias da repartição – e a justiça comutativa750 – que
pressupõe o fato “circulação” e introduzirá, por isto mesmo, os con-
ceitos de “valor de troca” e “valor de uso”751 -.
A contribuição dos estóicos emerge a partir de conceitos como o
de “ordem natural” - que irá inspirar tanto os fisiocratas quanto o
liberalismo de Adam Smith, com a sua “mão invisível” -, “valores
universais” obrigatórios a todos os seres humanos em caráter iguali-
tário752, que, ao mesmo tempo em que confrontava a tese aristotélica
da “escravatura por natureza”, antecipando, modo certo, o tema da
indispensabilidade da concepção do interesse impessoal do desen-
volvimento industrial no desempenho do trabalho bem feito 753, tam-
bém trazia à questão o “poderio universal, registrado nas conquistas
de Alexandre e no Império Romano, e que se refletirão nos Impérios
Mercantilistas e nos ‘pactos coloniais’ desse sistema, já em plena
formação do capitalismo moderno. Princípios teóricos como os da
dominação, explicando as economias dominantes e dominadas, os

Alegre: L & PM, 2008, p. 135-6; MATA-MACHADO, Edgar de Godói. Elementos


de teoria geral do Direito. Belo Horizonte: Vega, 1972, p. 62.
748 - SOUZA, Washington Peluso Albino de. Direito Econômico e Economia
Política. Belo Horizonte: Prisma, 1970, v. 1, p. 91.
749 - PLATÃO. A república. Trad. Pietro Nassetti. São Paulo: Martin Claret, 2005,
p. 109-110.
750 - ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Trad. Leonel Vallandro & Gerd Bor-
nheim. In: PESSANHA, José Américo Motta [org.]. Os pensadores – Aristóteles.
São Paulo: Nova Cultural, 1991, v. 2, p. 86.
751 - SOUZA, Washington Peluso Albino de. Direito Econômico e Economia
Política. Belo Horizonte: Prisma, 1970, v. 1, p. 92.
752 - MATA-MACHADO, Edgar de Godói. Elementos de teoria geral do Direito.
Belo Horizonte: Vega, 1972, p. 62-3.
753 - VEBLEN, Thorstein. A teoria da classe ociosa. Trad. Olívia Krahenbühl. São
Paulo: Abril Cultural, 1983, p. 109.
230
‘pólos’ de dominação e outros, aí estão alicerçados”754. Com efeito, a
idéia de uma lei natural, universal, cujo atendimento se imporia a
todos, sendo o sábio aquele que fizesse o seu trabalho sem se impor-
tar com ser o resultado prazeroso ou doloroso, “serviu inicialmente
para legitimar o diádoco e, depois, o governante como legislador
universal (inspirado por Deus) e conceder-lhe, assim, especial auto-
ridade”755.
Os epicuristas, com seu materialismo e seu individualismo, co-
locando o prazer duradouro e seguro como o fim supremo da exis-
tência humana, lançando a idéia do máximo benefício com o mínimo
de esforço756.
Os pontos de contato entre o Direito e a Economia comparece-
ram às meditações dos primeiros teólogos cristãos, embora suas pre-
ocupações fundamentais se voltassem muito mais ao destino da Al-
ma do que do Corpo757. Não há, claro, o desenvolvimento de teorias
ou doutrinas econômicas, embora haja uma preocupação com os
fatos econômicos naquilo que tenham percussões éticas 758.
Eusébio de Cesaréia759, um dos grandes nomes da Patrística, in-
dica dois modos de vida postos pela lei do Cristo para Sua Igreja:
um, acima da natureza e além da vida humana comum, não admitin-
do nem casamento, nem a geração de crianças, propriedade ou a
posse de riquezas, inteira e permanentemente separado do restante da
humanidade, morrendo para o mundo, para se dedicarem exclusiva-
mente ao serviço de Deus, para quem tivesse vocação para o sacer-

754 - SOUZA, Washington Peluso Albino de. Direito Econômico e Economia


Política. Belo Horizonte: Prisma, 1970, v. 1, p. 93.
755 - BÖCKENFÖRDE, Ernst-Wolfgang. História da filosofia do Direito e do
Estado – Antiguidade e Idade Média. Trad. Adriana Beckman Meirelles. Porto
Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 2012, p. 184.
756 - SOUZA, Washington Peluso Albino de. Direito Econômico e Economia
Política. Belo Horizonte: Prisma, 1970, v. 1, p. 93.
757 - LEGAZ Y LACAMBRA, Luís. Horizontes del pensamiento jurídico. Barce-
lona: Bosch, 1947, p. 170; MATA-MACHADO, Edgar de Godói. Elementos de
teoria geral do Direito. Belo Horizonte: Vega, 1972, p. 64.
758 - SCHUMPETER, Joseph Alois. História da análise econômica. Trad. Álvaro
Moutinho dos Reis, José Silveira Miranda & Renato Rocha. Rio de Janeiro: Fundo
de Cultura, 1964, v. 1, p. 100; HEIMANN, Eduard. História das doutrinas econô-
micas. Trad. Waltensir Dutra. Rio de Janeiro: Zahar, 1971, p. 33.
759 - The proof of Gospel. Transl. W. J. Ferrar.
http://www.tertullian.org/fathers/eusebius_de_03_book1.htm, acessado em 23 set
2011.
231
dócio, e a outra mais humilde, mais humana, que permite às pessoas
que se unam em matrimônio e a partir deste gerem crianças, que
assumam posições de Governo, dêem ordens aos soldados para luta-
rem pelo que for justo, e admitiria aos cristãos dirigir as respectivas
energias para explorar a agricultura, o comércio, e atender a outros
interesses seculares além da religião: razão por que se colocariam em
destaque determinados dias de recolhimento, instrução e audição de
temas sagrados para estes. Claramente, pois, emerge o entendimento
de que a disciplina das questões sociais – incluindo, aqui, as econô-
micas - , embora tivesse a compatibilidade com a fé como ponto de
partida, somente no contato com esta seria objeto de consideração
por parte dos que estavam a construir e sistematizar a doutrina cristã.
São Jerônimo760 espelha também a visão da Igreja no que diz
respeito a se ter como meta não se desejar mais do que o que se tem,
cada qual ficando, como diria o apóstolo Paulo, onde Deus o deixou.
A religião cristã, assim entendida, amenizaria a violência dos con-
trastes sociais, fazendo aparecer a riqueza como uma missão atribuí-
da por Deus e a pobreza como uma privação de natureza educati-
va761.
De acordo com Legaz y Lacambra762, São Clemente de Alexan-
dria763 sustentou, a partir do princípio de que a riqueza é um dom de
Deus ao homem para que o administre segundo a Vontade Divina,
ser a propriedade privada uma instituição de Direito Natural, ao con-
trário de Santo Ambrósio, para o qual a propriedade privada teria
nascido do vício da ambição e, portanto, seria um dos tantos castigos
impostos por Deus ao pecado original. São Clemente764 – que, neste
particular, teria contestado Santo Ambrósio avant la lettre -, de

760 - Letter. Transl. Roger Pearce.


http://www.tertullian.org/fathers/jerome_letter_120.htm, acessado em 23 set 2011.
761 - WEBER, Adolf. Introducción al estudio de la Economía Política. Trad. José
Alvarez de Cienfuegos y Cobos. Barcelona: Bosch, 1943, p. 148.
762 - Horizontes del pensamiento jurídico. Barcelona: Bosch, 1947, p. 170-1; RE-
CASÉNS SICHES, Luís. Tratado general de Filosofía del Derecho. México:
Porrúa, 1970, p. 584.
763 - Who is the rich man that shall be saved? Transl. William Wilson. In: ROB-
ERTS, Alexander & DONALDSON, James [ed.]. The ante-nicean fathers. New
York: Charles Scribner’s Sons, 1913, v. 2, p. 595.
764 - The stromata, or miscellanies. Transl. William Wilson. In: ROBERTS, Alex-
ander & DONALDSON, James [ed.]. The ante-nicean fathers. New York: Charles
Scribner’s Sons, 1913, v. 2, p. 306.
232
qualquer sorte, vem a trabalhar, a partir de sua erudição quanto ao
pensamento greco-romano, a interdição da usura e da imposição ao
devedor de um sofrimento superior ao necessário à satisfação da
dívida na fraternidade universal pressuposta nos Evangelhos. Em
Santo Ambrósio765 se encontra passagem que retoma a tese platônica
quanto a não poder o governante ser guiado pelo amor ao lucro pes-
soal, não poder ele seguir o trilho dos mercadores.
Em Santo Agostinho, como foi visto ao longo destas páginas,
aparece a preocupação da responsabilidade do ser humano por suas
ações em virtude do livre arbítrio e daí deriva a escravatura como um
castigo pela prática de um pecado, indicando, também, teses a res-
peito da iniqüidade na distribuição dos bens, sobretudo imobiliários,
como causa de sedições – a relação entre a saúde da economia e a
ordem pública, que somente pode ser estabelecida pelo Direito,
emerge claramente neste pensador pré-Medievo -.
São Cirilo de Alexandria766 – o mesmo que manteve as famosas
dissensões com a astrônoma e matemática Hipácia – reforça em seu
comentário sobre o Evangelho de Lucas a tradicional defesa da pre-
terição da acumulação de bens terrenos pela devoção, reforçando,
ainda, o dever de cada qual se contentar com o que tiver.
A visita ao pensamento dos teólogos cristãos vem a tornar-se
mais necessária com o advento da Idade Média, considerando-se
que, no Ocidente, o único fator de aglutinação era a autoridade da
Igreja Católica767. “Para os juristas medievais, a justiça era e estava
em Deus e, apenas com o passar do tempo, o próprio Deus foi dele-
gando a atribuição de Sua justiça aos Seus representantes terrenos,
os monarcas”768. O direito canônico, normalmente lembrado no que
toca às relações familiares, também trouxe contribuições no que diz
respeito aos direitos de conteúdo econômico, quais sejam, obrigacio-

765 - On the duties of the clergy. Transl. Philip Schaff & Henry Wace.
http://www.ccel.org/print/schaff/npnf210/iv.i.iii.xiv, acessado em 23 set 2011.
766 - A commentary upon the Gospel according S. Luke. Transl. R. Payne Smith.
http://www.tertullian.org/fathers/cyril_on_luke_03_sermons_26_38.htm, acessado
em 23 set 2011.
767 - POSADA, Adolfo. Tratado de Derecho Político. Madrid: Librería General de
Victoriano Suárez, 1935, p. 336-7.
768 - FRANCA FILHO, Marcílio Toscano. A cegueira da justiça: diálogo icono-
gráfico entre arte e direito. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 2011, p. 38.
233
nais e reais769. É nos canonistas medievais que se encontrará a visão
da obrigatoriedade da promessa enquanto decorrência do valor dela
em si mesma, como tutela jurídica do dever moral de dizer a verda-
de770. É no direito canônico também, a partir de elaboração de Gio-
vanni d’Andrea, que uma das mais importantes exceções ao dever de
observância dos pactos, depois desenvolvida por Acúrsio e por Bár-
tolo, em busca da preservação da equivalência econômica das pres-
tações: a teoria da imprevisão771.
Santo Isidoro772, Bispo de Sevilha, antes da invasão da Penínsu-
la Ibérica pelos mouros, vem a caracterizar a propriedade como situa-
ção determinada por um título legal – herança, dinheiro ou usucapião
– e a falar na sua tutelabilidade quando se lhe dê bom uso, derivando
daí o chamar aos objetos sobre os quais recai “bens”, ao lado da
tradicional condenação da usura.
Para S. Beda, o Venerável773, prelado britânico, vem a compare-
cer, numa sociedade essencialmente agrária, onde a terra simboliza-
va não só a possibilidade de obtenção de alimentos como também a
própria razão de ser para que o indivíduo e sua família se colocassem
sob a proteção de um senhor, a idéia de que ser um proscrito, sem
possibilidade de pouso, seria um castigo pior que a morte desenvol-
vida a partir do castigo imposto a Caim, o primeiro homicida, mais
preocupado com as coisas do mundo do que com a salvação da Al-
ma. Vê no destino dele uma prefiguração do destino dos judeus, que
teriam repetido a sua afronta ao matarem Jesus.
No pensamento de S. Bernardo de Clairvaux, mesmo a busca da
salvação da Alma marcada pelo contemptus mundi não deixa de aco-

769 - GUSMÃO, Paulo Dourado de. Introdução à ciência do Direito. Rio de Janei-
ro: Forense, 1976, p. 360-1.
770 - CAVIEDES, Antonio Poch G. de. Precedentes medievales de la organización
internacional. Boletim da Faculdade de Direito de Coimbra. Coimbra, v. 40, p. 144,
1964; MARQUES, Cláudia de Lima. Contratos no Código de Defesa do Consumi-
dor. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005, p. 55-6.
771 - MARTINS-COSTA, Judith Hofmeister. Comentários ao novo Código Civil.
Rio de Janeiro: Forense, 2005, v. 5, t. 1, p. 286; SILVA, Clóvis Veríssimo do Couto
e. A obrigação como processo. São Paulo: José Bushatsky, 1976, p. 129; RIPERT,
Georges. La règle morale dans les obligations civiles. Paris: LGDJ, 1949, p. 144.
772 - The etymologies. Transl, Stephen A. Barney et allii. Cambridge: Cambridge
University, 2006, p. 121.
773 - On Genesis. Transl. Calvin B. Kendall. Liverpool: Liverpool University
Press, 2008, p. 147.
234
lher a idéia de que o ouro e a prata de boa proveniência devam ser
tratados como “dons de Deus” e, como tais, devem ser bem utiliza-
dos, sendo pecaminoso desperdiçá-los, mais grave cobiçá-los e uma
ponte certa à perdição a paixão por eles774.
Santo Tomás de Aquino traz à colação o tema do justo preço,
que vai colher em Aristóteles, a partir do conceito de “justiça comu-
tativa”, e “também recomenda o salário justo como forma de efeti-
var o justum praetium e, assim, situa o trabalho na base do valor”775.
Como salário justo, entender-se-ia o salário que permitisse o susten-
to conforme a posição social776, conceito que permanece até os dias
de hoje, diante da identificação das classes pelo consumo tanto em
termos qualitativos como quantitativos777.
Dante Alighieri778, que costuma ser mais recordado por uma fa-
ceta que não traduz o menor de seus méritos – o ter composto o mai-
or poema da Cristandade medieval, A Divina Comédia -, combaten-
do a profunda insegurança decorrente da pluralidade de centros de
poder na Idade Média, vai defender a necessidade de que somente
um governe779. A relevância desta construção jurídica para a Econo-
mia foi vista quando examinada a transição do feudalismo para o
mercantilismo.
Preocupados com a segurança das relações jurídicas por decor-
rência da mulitiplicidade de ordenamentos – o que, por óbvio, tam-
bém comprometia as relações econômicas -, desde o século XI estu-
diosos nas Universidades, procuraram resgatar o direito romano,
acrescendo glosas sobretudo às Institutas justinianéias780. Esta escola
iniciada por Irnerius, denominada dos “glosadores”, fora motivada

774 - SKANDERA, Rudolf. Doutrina canonista – origem do pensamento econômi-


co e das práticas administrativas. [s/t]. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas,
1973, p. 105.
775 - SOUZA, Washington Peluso Albino de. Direito Econômico e Economia
Política. Belo Horizonte: Prisma, 1970, v. 1, p. 95.
776 - STAVENHAGEN, Gerhard. História de las teorias económicas. Trad. Adolfo
von Ritter-Zahony. Buenos Aires: El Ateneo, 1959, p. 3.
777 - VEBLEN, Thorstein. A teoria da classe ociosa. Trad. Olívia Krahenbühl. São
Paulo: Abril Cultural, 1983, p. 53.
778 - Monarquia. Trad. Ciro Mioranza. São Paulo: Escala, 2005, p. 43.
779 - POSADA, Adolfo. Tratado de Derecho Político. Madrid: Librería General de
Victoriano Suárez, 1935, p. 343-4.
780 - GUSMÃO, Paulo Dourado de. Introdução à ciência do Direito. Rio de Janei-
ro: Forense, 1976, p. 359.
235
pelo comércio entre as cidades – cada qual com um estatuto diferen-
te - integrantes das Ligas, e dentre os membros de tal escola, chama
a atenção Acúrsio781, que, como visto ao se tratar da circulação, já
identificava a relação entre a moeda e a quantidade de metal a que
correspondesse.
O jurista Jean Buridan, famoso pelo “dilema do asno”, traz, por
seu turno, contribuição às teorias monetárias, ao relacionar o valor
do dinheiro ao montante de reservas metálicas 782, arredando, entre-
tanto, a visão do “justo preço”, ao argumento de que as mercadorias
seriam desprovidas de valor fixo e que seriam vendidas em função
da necessidade, antecipando, assim, as teorias do “valor utilidade” e
da “oferta e procura” como lei natural governante das relações de
mercado783.
Vem a ser lançada, também, pelo Bispo de Lisieux, Nicole
Oresme784, obra que antecipa as teorias monetárias – recordemos que
é ao Direito que compete atribuir a tal ou qual bem o caráter de mo-
eda -, inclusive a “Lei de Gresham,” segundo a qual a moeda má
expulsa a moeda boa785. A preocupação com as oscilações do valor
da moeda, comprometendo a previsibilidade dos negócios jurídicos
travados entre os comerciantes faz-se presente também no pensa-
mento deste prelado, antecipando-se às teses em torno da indexa-
ção786.
Na obra de Duns Scotus, a relação entre o Direito e a Economia
se acha presente na distinção entre as tendências inerentes à vontade,
que são a affectio commodi, cujo sentido econômico se mostra o

781 - CASTRO, Amílcar de. Direito Internacional Privado. Rio de Janeiro: Foren-
se, 2001, p. 136-7.
782 - STAVENHAGEN, Gerhard. História de las teorias económicas. Trad. Adolfo
von Ritter-Zahony. Buenos Aires: El Ateneo, 1959, p. 4.
783 - HUBERMAN, Leo. História da riqueza do homem. Trad. Waltensir Dutra.
Rio de Janeiro: Ed. Guanabara, 1986, p. 62.
784 - Pequeno tratado da primeira invenção das moedas. Trad. Marzia Terenzi
Vicentini. In: ORESME, Nicole & COPÉRNICO, Nicolau. Raízes do pensamento
econômico. Curitiba: Segesta, 2004, p. 69.
785 - SOUZA, Washington Peluso Albino de. Direito Econômico e Economia
Política. Belo Horizonte: Prisma, 1970, v. 1, p. 95.
786 - ORESME, Nicole. Pequeno tratado da primeira invenção das moedas. Trad.
Marzia Terenzi Vicentini. In: ORESME, Nicole & COPÉRNICO, Nicolau. Raízes
do pensamento econômico. Curitiba: Segesta, 2004, p. 72; HUBERMAN, Leo.
História da riqueza do homem. Trad. Waltensir Dutra. Rio de Janeiro: Ed. Guana-
bara, 1986, p. 85-6.
236
mais próximo da idéia de bem-estar, e a affectio iustitiae, que dirigi-
ria a vontade para o que a razão tem como bom em si mesmo, que
pode eventualmente não coincidir com a affectio commodi.787 No seu
ver, os negócios e o comércio se apresentam como fatos cotidianos e
atividades necessárias da sociedade, a que se não pode atirar a quali-
ficação de reprováveis, desde que propiciem o bem-estar da coletivi-
dade788. Sua posição no campo da teoria do conhecimento quanto à
inexistência dos universais como realidades em si, mas tão-somente
como características comuns a vários singulares 789, vem a abrir ca-
minho para a valorização do individualismo como dado essencial do
liberalismo econômico, cuja manifestação jurídica mais dinâmica
seria o estabelecimento das relações negociais pelo exercício pleno
da liberdade de contratar.
A controvérsia sustentada por William of Ockham contra o Papa
João XXII, no que tange a localizar a propriedade na Lex humana e
não na Lex naturalis, vez que no Jardim do Eden ela não existia, ao
passo que, em razão do pecado de Adão, a possibilidade ampla do
uso dos bens correspondente à amplitude no plano dos fatos passa a
depender do consentimento daquele a quem se atribua, convencio-
nalmente, a propriedade, porque os direitos de cada qual merecem
ser respeitados por quem não os titularize 790, tese que em muito ante-
cipa, num certo sentido, a visão liberal da liberdade de cada qual
indo aos limites da liberdade alheia e, modo certo, o debate posto

787 - BÖCKENFÖRDE, Ernst-Wolfgang. História da filosofia do Direito e do


Estado – Antiguidade e Idade Média. Trad. Adriana Beckman Meirelles. Porto
Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 2012, p. 337.
788 - BEER, Max. Early British economics. London: Routledge, 2003, p. 46;
O’BRIEN, George. An essay on mediaeval economic teaching. Middlesex: Echo
Library, 2007, p. 86; STAVENHAGEN, Gerhard. História de las teorias económi-
cas. Trad. Adolfo von Ritter-Zahony. Buenos Aires: El Ateneo, 1959, p. 3.
789 - SCOTUS, John Duns. A treatise on God as first principle. Transl. Allan B.
Wolter. http://www.ewtn.com/library/THEOLOGY/GODASFIR.HTM, acessado
em 18 set 2011; COMPARATO, Fábio Konder. O poder de controle na sociedade
anônima. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1976, p. 283.
790 - OCKHAM, William of. Dialogus. Transl. John Kilkullen & John Scott.
http://www.britac.ac.uk/pubS/dialogus/t32d2Con.html#zp23, acessado em 18 set
2011; idem. Sobre el poder de los emperadores y de los Papas. Trad. Juan Otrera
García. Barcelona: Marcial Pons, 2007, p. 130; KILCULLEN, John. Okham’s
political writings. http://www.britac.ac.uk/pubS/dialogus/polth.html, acessado em
18 set 2011; POSADA, Adolfo. Tratado de Derecho Político. Madrid: Librería
General de Victoriano Suárez, 1935, p. 345.
237
por Rousseau791 quanto à propriedade enquanto origem da desigual-
dade entre os homens.
Nicolau Copérnico792 – o mesmo responsável pelos primeiros
abalos à concepção geocêntrica do universo –, em 1526, identificou
na multiplicidade de moedas uma das principais causas dos proble-
mas do comércio na Prússia, e sustentou ser necessário, como pri-
meira providência, “evitar a confusão proveniente da variedade de
oficinas em que ela há de ser cunhada. Essa multiplicidade impede
um resultado uniforme, e é mais trabalhoso manter em muitas ofici-
nas o respeito às regras do sistema monetário”. Ou seja, dever-se-ia
concentrar no soberano o poder de cunhagem de moedas – definição
que, como se sabe, é ao Direito que compete -.
O Mercantilismo, se não contou, propriamente, com um corpo
de teorias econômicas, teve em seus juristas e políticos os grandes
responsáveis pela viabilização jurídica dos seus objetivos econômi-
cos. A preocupação de Jean Bodin com o excesso de metal na Fran-
ça, provocando a alta dos preços pela elevada quantidade de moeda
em circulação, não deixa de se ligar diretamente com o problema da
possibilidade do enfraquecimento da soberania, dado que como atri-
buto desta passou a ser concebida a possibilidade de emissão e, por
outro lado, não deixa de vir reforçada a inteligência copernicana
quanto ao papel da uniformidade da moeda para que os negócios
privados pudessem realizar-se com efetividade793.
Na Inglaterra, emergem autores como Thomas Mun, Davenant e
North, debatendo o papel da legislação na definição do desempenho
da balança comercial, a preocupação de Thomas Morus com o dese-
quilíbrio social provocado pelo ingresso de miseráveis agricultores a
partir da transformação das suas terras agricultáveis (afetação direta
no respectivo direito de propriedade, portanto) em pastos para as

791 - A dissertation on the origin and foundation of inequality of mankind. Transl.


G. D. H. Cole. London: Encyclopaedia Britannica, 1952, p. 354.
792 - Sobre a moeda. Trad. Alessandro Henrique Poersch Rolim de Moura. In:
ORESME, Nicole & COPÉRNICO, Nicolau. Raízes do pensamento econômico.
Curitiba: Segesta, 2004, p. 111; HUBERMAN, Leo. História da riqueza do homem.
Trad. Waltensir Dutra. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara, 1986, p. 86.
793 - KEYNES, John Maynard. Teoría general de la ocupación, el interés y el
dinero. Trad. Eduardo Hornedo. México: Fondo de Cultura Económica, 1965, p.
305; SOUZA, Washington Peluso Albino de. Direito Econômico e Economia Polí-
tica. Belo Horizonte: Prisma, 1970, v. 1, p. 96.
238
ovelhas que forneceriam a matéria-prima para a indústria têxtil 794, e,
sobretudo, Thomas Hobbes795, que, ao caracterizar o estado de natu-
reza como uma situação de guerra permanente, vai fundamentar sua
assertiva na escassez dos bens existentes para atenderem aos apetites
humanos, e vai apontar no Estado o grande responsável pela defini-
ção da situação jurídica de cada indivíduo em face dos bens – pro-
prietário, possuidor ou detentor -, indispensável a que se possam
realizar as trocas796.
Os cameralistas alemães, como Johann Joachim Becher, voltam-
se para os aspectos predominantemente fiscais da realidade econô-
mica, sendo de se observar os estudos sobre as relações entre Estado
e Economia, ingressando na teoria do contrato e na análise socioló-
gica da organização econômica, que vêm a trazer algumas antecipa-
ções dos princípios jurídicos da atuação do Estado no domínio eco-
nômico, no sentido de prover o bem-estar à população, e apontam no
crescimento desta o fortalecimento do poder estatal 797. É assinalado,
também, o papel deste pensador no combate às corporações de ofício
pelo impedimento que elas representavam a que a gente honesta e
pobre chegasse a desfrutar de direitos de cidadania inerentes à con-
dição de mestre798. Dentro desta linha de pensamento, comparece
ainda Phillip Wilhelm Hörnigk, que sustentará a proibição de expor-

794 - A Utopia. Trad. Ana Pereira de Melo Franco. Brasília: Universidade de Brasí-
lia, 1992, p. 15-6; LEGAZ Y LACAMBRA, Luís. Horizontes del pensamiento
jurídico. Barcelona: Bosch, 1947, p. 167-8.
795 - Leviathan. London: Encyclopaedia Britannica, 1955, p. 86; CAMARGO,
Ricardo Antonio Lucas. Direito Econômico, Direito Internacional e direitos huma-
nos. Porto Alegre: Sérgio Antonio Fabris, 2006, p. 66-7.
796 - MATA-MACHADO, Edgar de Godói. Elementos de teoria geral do Direito.
Belo Horizonte: Vega, 1972, p. 78; CARVALHO, Salo de. A hipótese do fim da
violência no discurso da modernidade penal (as representações do bárbaro e do
civilizado em “O senhor das moscas” de William Golding). In: COUTINHO, Jacin-
to Nelson de Miranda [org.]. Direito e psicanálise – inserções e interlocuções a
partir de O senhor das moscas, de William Golding. Rio de Janeiro: Lúmen Júris,
2011, p. 153.
797 - SOUZA, Washington Peluso Albino de. Direito Econômico e Economia
Política. Belo Horizonte: Prisma, 1970, v. 1, p. 97; STAVENHAGEN, Gerhard.
História de las teorias econômicas. Trad. Adolfo von Ritter-Zahony. Buenos Aires:
El Ateneo, 1959, p. 12-4; SCHUMPETER, Joseph Alois. História da análise eco-
nômica. Trad. Álvaro Moutinho dos Reis, José Silveira Miranda & Renato Rocha.
Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1964, v. 1, p. 356-7.
798 - WEBER, Adolf. Introducción al estudio de la Economía Política. Trad. José
Alvarez de Cienfuegos y Cobos. Barcelona: Bosch, 1943, p. 167.
239
tação do ouro e da prata existentes no país, a necessidade de atenção
especial ao mercado interno. Wilhelm Von Schröder, defendendo,
em continuidade ao trabalho de Becher, o papel do Estado enquanto
guia da economia, vem a ser também classificado como fiscalista e
mercantilista, no seio desta corrente. Merece menção também Veit
Ludwig Von Seckendorf, que, a partir de um exame acurado “da
história, da população, das condições econômicas, da administração,
do sistema de ensino, do direito e da justiça” nos Principados ale-
mães, após a Guerra dos Trinta Anos, vem a sugerir medidas econô-
micas que incluem a promoção das manufaturas, o estabelecimento
dos artesãos nas cidades, bem como a promoção da agricultura e
atividades que pudessem, de alguma forma, significar acréscimo de
valor à propriedade da terra, de tal sorte que, como observa Erich
Reinert799, vem a antecipar, mesmo, as teses do Estado-Providência.
Theodor Ludwig Lau, jurista e teólogo, que se insurgia contra o en-
tesouramento do dinheiro, exigindo que este circulasse livremente, a
fim de se estimular a produção industrial e o desenvolvimento das
manufaturas, como condição para assegurar-se a alimentação e o
emprego da população. Johann Heinrich Gottlob von Justi, para
quem um Governo moderado, que interviesse a curto espaço de tem-
po na economia, porém, respeitasse a propriedade privada, reduzisse
o poder das guildas, com incentivos à mineração e à agricultura seria
o mais adequado, indicando, para a realização de tais desideratos
econômicos a monarquia constitucional. Johann von Sonnenfels, por
fim, vem a tratar o aumento da população como um dado positivo
para o fortalecimento da nação. Todos eles, de qualquer modo, preo-
cupados com a solvabilidade das arcas reais, vêm a adotar idéias que
podem ser classificadas nas teorias da moeda e a respectiva influên-
cia nos preços800, idéias que se vieram a fazer presentes na obra de
Frederico, o Grande801, quando sustenta que, ao lado da segurança,
seria dever do Príncipe cuidar da felicidade dos súditos, pois “um

799 - How rich nations got rich.


http://www.seatini.org/publications/gats/Essay%202%20SUM%20wp.2004.01%20
How%20rich%20nations%20got%20rich.pdf, acessado em 24 set 2011.
800 - SOUZA, Washington Peluso Albino de. Direito Econômico e Economia
Política. Belo Horizonte: Prisma, 1970, v. 1, p. 97; HEIMANN, Eduard. História
das doutrinas econômicas. Trad. Waltensir Dutra. Rio de Janeiro: Zahar, 1971, p.
37.
801 - Anti-Maquiavel. In: ISÓCRATES et allii. Conselhos aos governantes. Brasí-
lia: Senado Federal, 2003, p. 682.
240
povo contente não pensará em revoltar-se; um povo feliz sente tanto
receio de perder o seu príncipe, que é ao mesmo tempo o seu benfei-
tor, que este não tem por que temer a diminuição do poderio”.
Grotius802, enquanto advogado da Companhia das Índias Orien-
tais, em nome do fortalecimento do comércio holandês sustentará,
contra a\ tese das Coroas Ibéricas, a impertinência das razões que
justificaram a apropriação dos espaços terrestres aos domínios marí-
timos, de tal sorte que estes se consideram livres para todos, com
ampla possibilidade de circulação de pessoas e bens e da fruição dos
respectivos recursos.
Spinoza803, embora concorde com as premissas de Hobbes 804 no
que diz respeito à razão de ser para que se institua o Estado e, mes-
mo, radique num dado com fortes elementos econômicos a sua con-
cepção de direito natural, considerando que ele seria determinado
pelo apetite (isto é, necessidade) e pela força, supõe, justamente, que
o soberano, sendo também ser humano, poderia empregar seu poder
para satisfazer seus próprios caprichos 805 e, portanto, o melhor go-
verno seria, para ele, o democrático-republicano806.
John Locke, cuja contribuição para a construção do liberalismo
político é inconteste, elabora, tal como seu antípoda Hobbes807, a sua
doutrina do Direito Natural sobre fundamentos econômicos, ao con-
ceder preeminência à propriedade enquanto recompensa justa pelo
trabalho de um indivíduo ou de gerações 808, que se vai fazer presente
tanto no pensamento de Adam Smith, qual visto anteriormente, ao se
versar o liberalismo enquanto sistema econômico, como no de Ar-

802 - O direito da guerra e da paz. Trad. Ciro Mioranza. Ijuí: UNIJUÍ, 2004, v. 1,
p. 315.
803 - A theologico-political treatise. Transl. John Childs.
http://www.philosophyarchive.com/index.php?title=ChapterXVI_-_A_Theologico-
Political_Treatise_-_Spinoza, acessado em 24 set 2011.
804 - MATA-MACHADO, Edgar de Godói. Elementos de teoria geral do Direito.
Belo Horizonte: Vega, 1972, p. 82.
805 - SCHOPENHAUER, Arthur. El mundo como voluntad y representación. Trad.
Eduardo Ovejero. Buenos Aires: Nueva, 1942, p. 970.
806 - CAMARGO, Ricardo Antonio Lucas. Direito Econômico – aplicação e eficá-
cia. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 2001, p. 52.
807 - MATA-MACHADO, Edgar de Godói. Elementos de teoria geral do Direito.
Belo Horizonte: Vega, 1972, p. 81-2.
808 - SOUZA FILHO, Carlos Frederico Marés de. A liberdade e outros direitos:
ensaios socioambientais. São Paulo/Curitiba: Instituto Brasileiro de Advocacia
Pública/Letra da Lei, 2011, p. 90.
241
thur Schopenhauer809, embora este faça uma distinção entre a proprie-
dade havida como “de direito natural”, por ter sido adquirida com o
fruto do próprio esforço, e a propriedade decorrente da ação do Deus
Eventus.
Gottfried Leibnitz, mais conhecido, evidentemente, por suas
contribuições no âmbito da matemática e da metafísica, não deixa de
trazer uma contribuição ao entendimento da relação entre Economia
e Direito, a partir da sua premissa geral de que, tendo Deus feito este
mundo e sendo, tudo o que por Ele feito, o melhor possível, este
seria o melhor dos mundos possíveis, não deixa de apontar para a
sacralidade das posições que cada qual neste mundo ocupa - seja na
hierarquia clerical, seja entre os leigos, seja na família, seja como
rei, seja como súdito, seja como suserano, seja como vassalo, seja
como senhor, seja como escravo, seja como patrão, seja como em-
pregado – como manifestação da perfeição ética810.
Entre os fisiocratas, não foi ausente a preocupação com o Direi-
to Natural, sendo de recordar que uma das contribuições de Quesnay
à Enciclopédia foi justamente o verbete sobre “Direito Natural”,
tomando a economia de trocas – materializada, como se sabe, medi-
ante negócios jurídicos – como manifestação de uma “ordem natu-
ral”.
Na mesma obra em que debate a necessidade da desconcentra-
ção do poder estatal, Montesquieu811 ocupa-se de temas econômicos,
como as funções do dinheiro, do câmbio e da usura, apontando, em
relação a esta última, o fortalecimento do seu exercício abusivo e
subterrâneo em virtude da rigidez da legislação voltada a reprimi-la.
Voltaire812 tem como a mais perfeita das ordens jurídico-econômicas
aquela que melhor atender ao interesse dos proprietários, evitando
que os camponeses sejam ricos para que tenham a riqueza da liber-
dade de poderem vender a respectiva força de trabalho a quem me-

809 - Los dos fundamentos de la ética – el fundamento de la moral. Trad. Vicente


Romano Garcia. Buenos Aires: Aguilar, 1965, p. 117.
810 - Discurso de metafísica. Trad. João Amado. Lisboa: Ed. 70, 1989, p. 17; RE-
CASÉNS SICHES, Luís. Tratado general de Filosofía del Derecho. México: Por-
rúa, 1970, p. 480.
811 - The spirit of Laws. Transl. Thomas Nugent. London: Encyclopaedia Britan-
nica, 1952, p. 185,
812 - Dicionário filosófico. Trad. Bruno da Ponte, João Lopes Alves & Marilena de
Souza Chauí. In: CHAUÍ, Marilena de Souza [org.]. Os pensadores – Voltaire. Sao
Paulo; Abril Cultural, 1978, p. 271-2.
242
lhor lhes possa pagar e possam, de outra parte, cumprir o seu dever
de educar as respectivas famílias para o desempenho dos seus miste-
res úteis e laboriosos, oferecendo, ainda, os soldados necessários à
garantia da inviolabilidade da propriedade. É de se observar que ele
evolui de uma visão eminentemente hedonista, tratando os bens pos-
tos na terra como demandantes de fruição ao máximo, para uma vi-
são mais propriamente realista, no sentido de que, não sendo possí-
vel eliminar os infortúnios e as misérias, cabe a cada qual buscar
tanta felicidade quanto lhe permitam as próprias forças 813. Jean Jac-
ques Rousseau814 chega a manifestar-se no sentido de estar ebtre as
mais importantes funções de um Governo, ao lado da proteção da
liberdade e da segurança, a redução das desigualdades, propondo,
dentre outras medidas, a tributação mais gravosa de produtos con-
forme a sua menor essencialidade.
Immanuel Kant, enquanto pensador que se preocupou com a de-
finição da liberdade enquanto autonomia da vontade, vem a trazer
fortíssimos fundamentos para a viabilização jurídica do credo eco-
nômico liberal, no que tange à defesa da igualdade formal, que no
campo econômico se traduzirá como livre concorrência815, no que
tange à consideração da propriedade privada como uma condição de
auto-suficiência para evitar os vícios no momento do exercício do
direito de voto e também no que tange à sacralidade da palavra em-
penhada como manifestação simultânea do dever moral de veracida-
de e do dever jurídico de observância dos contratos 816, embora tam-
bém traga fundamentos para a atuação do Direito no sentido de dis-
ciplinar o poder econômico ao tratar a dignidade do ser humano co-
mo caracterização deste como fim em si mesmo 817. Todos estes te-
mas foram versados em passagens anteriores deste manual.

813 - CASSIRER, Ernst. The philosophy of enlightenment. Transl. Fritz C. A. Ko-


elln & James P. Petergrove. Boston: Beacon Press, 1961, p. 148.
814 - A dissertation on political economy. Transl. G. D. H. Cole. London: Encyclo-
paedia Britannica, 1952, p. 384-5.
815 - SOUZA, Washington Peluso Albino de. Direito Econômico e Economia
Política. Belo Horizonte: Prisma, 1970, v. 1, p. 128.
816 - MATA-MACHADO, Edgar de Godói. Elementos de teoria geral do Direito.
Belo Horizonte: Vega, 1972, p. 92.
817 - GUSMÃO, Paulo Dourado de. Introdução à ciência do Direito. Rio de Janei-
ro: Forense, 1976, p. 361; SALGADO, Joaquim Carlos. A idéia de justiça em Kant
– seu fundamento na liberdade e na igualdade. Belo Horizonte: UFMG/PROED,
1986, p. 346-7.
243
Hegel818, a partir da concepção do homem enquanto ser inte-
grante de uma comunidade – que foi, a bem de ver, buscar tanto em
Platão quanto em Aristóteles -, sustenta que ele, enquanto parte,
deve esforçar-se para o bem-estar do todo, embora, precisamente por
conta deste esforço, venha cada vez mais a se tornar soberano em
relação à natureza, libertando-se da necessidade. Para que a conser-
vação do indivíduo também se torne possível no contexto da conser-
vação do todo vivo, há de existir uma instância dotada da capacidade
de estabelecer critérios universais para o agir e para a respectiva
valoração. A libertação da necessidade, superando a natureza, faz-se
pela formação da consciência, que se dá a partir de três fases contra-
ditórias: a afirmação da tese, a negação a partir de si própria, a supe-
ração pela síntese, que, mais tarde, viria a se espelhar na tese schum-
peteriana da destruição criadora819. Os conceitos econômicos de “ne-
cessidade” e jurídicos de “liberdade” e “Estado” comparecem imbri-
cados no pensamento hegeliano, a despeito de ser ele marcadamente
idealista – no sentido técnico, não no vulgar -.
Arthur Schopenhauer820, adversário de Hegel, traz uma contribui-
ção no sentido de tratar a conduta como o mover-se do ser humano
em direção à satisfação das suas necessidades, posta a razão mesma
como serva da vontade, tendo o Direito e o Estado a função de im-
pedir que um ser procure projetar a própria vontade sobre outrem,
suprinindo a deste, o que configuraria a injustiça radicada na ilusão
dos sentidos conhecida como principium individuationis.
A Escola Histórica, Savigny821 à frente, construindo o Direito a
partir da dinâmica das relações sociais, na perene atualização das
práticas consolidadas, inclusive no âmbito econômico – basta verifi-
car sua concepção do dinheiro enquanto “valor”, dando como essen-
cial nas obrigações pecuniárias não tanto a soma numérica em si

818 - Propedêutica filosófica. Trad. Artur Morão. Lisboa: Ed. 70, 1989, p. 144-5.
819 - SOUZA, Washington Peluso Albino de. Direito Econômico e Economia
Política. Belo Horizonte: Prisma, 1970, v. 1, p. 128.
820 - El mundo como voluntad y representación. Trad. Eduardo Ovejero. Buenos
Aires: Nueva, 1942, p. 345; CAMARGO, Ricardo Antonio Lucas. Direito Econô-
mico – aplicação e eficácia. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 2001, p. 61-3.
821 - Le obbligazioni. Trad. Giovanni Pacchioni. Torino: UTET, 1912, p. 377-8;
SOUZA, Washington Peluso Albino de. Direito Econômico e Economia Política.
Belo Horizonte: Prisma, 1970, v. 1, p. 128-9; MARTINS-COSTA, Judith Hofmeis-
ter. Comentários ao novo Código Civil. Rio de Janeiro: Forense, 2005, v. 5, t. 1, p.
249-250.
244
expressa em unidades monetárias quanto o que tal soma representa-
ria em termos de bens a serem adquiridos -, em oposição ao raciona-
lismo da Revolução Francesa, merece também consideração, neste
particular.
O mesmo se diga acerca das escolas ligadas ao utilitarismo –
dentre as quais se destaca a de Rudolf von Jhering - que, ao tomarem
o interesse como conceito nuclear do Direito, espelham ligação um-
bilical entre este e a Economia. Reduz-se, em tais concepções, não
só o Direito como toda a ética à condição de “regulamentação cientí-
fica e inteligente do egoísmo, a aritmética do prazer”822.
Conhecida sobejamente a posição atribuída ao materialismo dia-
lético sustentado a partir da obra de Marx e Engels, dando como
causa fundamental das relações sociais – as jurídicas dentre elas – o
dado econômico. Este traduziria, então, a “infra-estrutura”, ao passo
que o Direito seria, apenas, parte da “super-estrutura” que lhe daria
forma. O papel do direito é de viabilizar o funcionamento da econo-
mia823. Curiosamente, visão desta mesma natureza se colocaria para
autores francamente antípodas ao marxismo, como é o caso de Ha-
yek, para quem a função natural do Direito é a de servo das relações
definidas espontaneamente no mercado, viabilizando-as e dando-lhes
segurança.
Rudolf Stammler824: escreve um livro no início do século XX
justamente para combater o materialismo histórico. Refuta Marx
dizendo que não é a economia que determina o direito. O direito é
que constrói a economia.

822 - MONCADA, Luís Cabral de. Filosofia do Direito e do Estado. Coimbra:


Coimbra Ed. 2006, v. 1, p. 312.
823 - VISHINSKY, Andrei. Problemi del diritto e dello Stato in Marx. Trad. Um-
berto Cerroni. In: CERRONI, Umberto [org.]. Teorie sovietiche del diritto. Milano:
Giuffrè, 1964, p. 281; STUCKA, Petr Ivanovitch. Direito e luta de classes. Trad.
Sílvio Donizete Chagas. São Paulo: Acadêmica, 1988, p. 135; PASHUKANIS,
Evgeny Bronislavovitch. Teoria geral do Direito e marxismo. Trad. Sylvio Donize-
te Chagas. São Paulo: Acadêmica, 1988, p. 57; SOUZA, Washington Peluso Albino
de. Direito Econômico e Economia Política. Belo Horizonte: Prisma, 1970, v. 1, p.
140-1.
824 - Economia y Derecho. Trad. Wenceslao Roces. Madrid: Reus, 1929, p. 176;
SOUZA, Washington Peluso Albino de. Direito Econômico e Economia Política.
Belo Horizonte: Prisma, 1970, v. 1, p. 142-3; DEL VECCHIO, Giorgio. Diritto ed
Economia. Roma: Studium, 1954, p. 50.
245
Já o pensamento weberiano vem a colocar-se no sentido de
comprovar a transformação, no desenvolvimento histórico, da com-
preensão do conteúdo econômico da norma jurídica a partir da reali-
dade econômica, por um lado, e, por outro, da influência da norma
jurídica na transformação e mesmo conformação da realidade eco-
nômica825.
Richard A. Posner826: a partir da noção de ofelimidade de Pare-
to, constrói suas teses partindo da premissa que a solução jurídica
mais eficiente será aquela que consultar melhor o propósito de ma-
ximização da riqueza. Estabelecendo a relação entre critérios de
“eficiência econômica” e justiça, podem ser citados ainda Mitchell
Polinsky, Guido Calabresi, Thomas Uhlen, Robert Cooter, quantos,
enfim, cada qual com determinadas peculiaridades, possam ser con-
siderados como corifeus da Análise Econômica do Direito.
Ripert 827: Visualizou, na atuação do Estado sobre o domínio
econômico, um reflexo de um fenômeno político que seria uma ex-
tensão do sufrágio às classes que não fossem dotadas de bens. Sem-
pre se pronuncia num sentido de quase lamentação a respeito da
demolição dos conceitos que pareciam decorrentes da natureza das
coisas que informavam o velho Direito Contratual.
Josserand: Grande teórico acerca da relativização dos dogmas
do liberalismo justamente tendo em vista a própria dimensão social.
Fala sobre os abusos do direito, dirigismo contratual (visão da eco-
nomia não poder ser deixada a si sob pena de o ser humano não ter
como sobreviver).
Carnelutti828: trata a economia justamente enquanto o terreno
onde se move os interesses humanos, e ao direito ele empresta a
missão de conectar aos fatos econômicos, o fator ético, ou seja, uma

825 - SOUZA, Washington Peluso Albino de. Direito Econômico e Economia


Política. Belo Horizonte: Prisma, 1970, v. 1, p. 144-5.
826 - Economic analysis of Law. New York: Aspen, 1998, p. 13; FARIA, Guiomar
Therezinha Estrella. A interpretação econômica do Direito. Porto Alegre: Livraria
do Advogado, 1994, p. 46-7; TIMM, Luciano Benetti & DRESCH, Rafael de Frei-
tas Valle. Aspectos gerais do novo Código Civil. In: TIMM, Luciano Benetti [org.].
Direito de empresa e contrato. São Paulo: IOB-Thomson, 2005, p. 29.
827 - Le régime démocratique et le Droit Civil. Paris: LGDJ, 1936, p. 192; HAY-
EK, Friedrich August Von. The constitution of liberty. Chicago: University of Chi-
cago Press, 1978, p. 248.
828 - Teoria geral do Direito. Trad. Afonso Rodrigues Queiró & Artur Anselmo de
Castro. São Paulo: Saraiva, 1942, p. 114.
246
determinada situação econômica será, em face do referencial jurídi-
co, valorada como justa ou injusta.
Savatier829: Vai também tratar dos efeitos da economia no senti-
do de abalar as velhas certezas da Teoria dos Contratos. Por isso que
sua obra principal se chama As metamorfoses econômicas do direito
civil.
Gaston Morin830: Durante o entre guerras, em 1920, escreve um
livro cujo título é também um bordão: “La Revolte des Faits contre
le Code” (Revolta dos fatos contra o Código), no qual salienta o
pressuposto individualista do Código Napoleão da plena igualdade
de todos os que celebram os negócios jurídicos como desautorizado
pelo fato da desigualdade entre as partes, conduzindo, mesmo, ao
comprometimento da tão cantada autonomia da vontade.
Tullio Ascarelli: um dos primeiros a examinar a possibilidade
das partes se defenderem das oscilações da moeda mediante as dis-
tinções entre dívidas de direito e dívidas de valor. Estudou também a
concentração de empresas. Obra: Problemas das sociedades anôni-
mas e direito comparado.
Arnoldo Wald831: dedicou seus estudos e sua prática profissional
na advocacia militante à busca da solução jurídica para corrigir a
situação em que ficavam os credores quando se deparavam com a
corrosão do poder aquisitivo da moeda.
A relação entre a Economia e o Direito, como se pode ver, é tra-
dicional no pensamento jurídico, tomados em consideração os mais
diversos pressupostos teóricos. Considerá-la como “novidade suspei-
ta” é, pura e simplesmente, ignorar a própria história, tanto do Direi-
to quanto da Ciência Econômica e, por outro lado, não constitui uma
construção “artificial” dos juseconomistas.

829 - Les métamorphoses économiques et sociales du Droit Civil d’aujourd’hui.


Paris: Dalloz, 1952, p. 16-7.; CARVALHOSA, Modesto de Souza Barros. Direito
Econômico. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1973, p. 185
830 - La revolte du droit contre le Code. Paris: Sirey, 1945, p. 16; SOUZA, Wa-
shington Peluso Albino de. Direito Econômico e Economia Política. Belo Horizon-
te: Prisma, 1970, v. 1, p. 160.
831 - WALD, Arnoldo. A evolução da correção monetária na “era da incerteza”.
In: CANTO, Gilberto de Ulhoa & MARTINS, Ives Gandra da Silva [org.]. A corre-
ção monetária no Direito brasileiro. São Paulo; Saraiva, 1983, p. 13-20.
247
248
13. DIREITO ECONÔMICO E ECONOMIA POLÍTICA

A esta altura dos nossos estudos, é importante retomar a distin-


ção entre as ciências do ser e as ciências do dever-ser. Quando se
fala em ser e dever-ser está-se a referir o objeto destas ciências, não
as ciências em si mesmas, pois tanto umas quantou outras, para re-
ceberem o nome de ciências, devem dizer como se comportam os
objetos sobre os quais se debruçam. As ciências do ser, estejam elas
inscritas no círculo das ciências “exatas” ou das “humanidades”,
lidam com enunciados veritativos, isto é, elas simplesmente descre-
vem como um fato será determinante de outro e determinado por um
anterior, independentemente de se querer que ele o seja. Já as ciên-
cias do dever ser descreverão enunciados prescritivos, ou seja, enun-
ciados que impõem uma tal ou qual conseqüência a determinado
fato, dizendo a conduta que se espera seja adotada ante a sua ocor-
rência832. O ser, estudado pela Economia Política, poderá ser conteú-
do de uma norma jurídica, ou seja, nós podemos falar do fato eco-
nômico enquanto conteúdo de uma norma jurídica. Podemos falar,
pois, do contudo econômico da norma. Mas a um determinado fato
econômico, podem-se imputar N conseqüências. O desempenho de
uma atividade pode ser lícito, ilícito, lícito em termos, passível de
gerar efeitos tributários, ou não. Ainda essa certa atividade pode

832 - KELSEN, Hans. Teoria pura do Direito. Trad. João Baptista Machado.
Coimbra: Arménio Amado, 1974, p. 137-8; BARZOTTO, Luís Fernando. O positi-
vismo jurídico contemporâneo – uma introdução a Kelsen, Ross e Hart. São Leo-
poldo: UNISINOS, 1999, p. 35-6; VILANOVA, Lourival. As estruturas lógicas e o
sistema do Direito Positivo. São Paulo: Max Limonad, 1997, p. 105.
249
gerar obrigações válidas, ou não, ou seja, nós temos o conteúdo da
norma que terá uma determinada valorada. Quando se toma em con-
sideração um determinado fato econômico ele pode se desdobrar em
vários fatos jurídicos distintos833 – pode gerar conseqüências pró-
prias do Direito Civil, do Direito Penal, do Direito Administrativo,
do Direito Tributário, enfim, cada qual com a sua peculiaridade do
tratamento jurídico do dado econômico -. Todas as vezes em que
estivermos diante de normas jurídicas com conteúdo econômico,
estaremos lidando com o conceito de Direito da Economia, que não
chega, propriamente, a ser um ramo, quer da ciência jurídica, quer
do Direito positivo, mas um conjunto de normas de diversos ramos
do Direito que têm como característica comum tratar do fato econô-
mico.
Quando nós estivermos tratando esse fato – conteúdo econômico
da norma jurídica - como objeto de política econômica, ou seja,
quando nós estivermos diante de uma posição de um ordenamento
jurídico no sentido de dar determinado rumo à realidade econômica
uma manifestação de poder econômico, estaremos lidando com o
Direito Econômico, a que se refere nominalmente o inciso I do artigo
24 da Constituição de 1988. Os objetivos econômicos são, neste
campo, instrumentalizados e condicionados pelo direito834.
Seguindo a conceituação posta pelo introdutor da disciplina no
Brasil, o Professor Washington Peluso Albino de Souza835, Direito
Econômico é o ramo do direito constituído por normas de conteúdo
econômico, buscando harmonizar interesses individuais e coletivos,
tendo por objeto a regulamentação da política econômica e por sujei-
to agente que dela participe observada a ideologia constitucional
adotada valendo-se do principio da economicidade.
Ideologia constitucionalmente adotada: a ideologia constitucio-
nalmente adotada. Ideologia é tomada na acepção de Mannheim 836 –

833 - BECKER, Alfredo Augusto. Teoria geral do Direito Tributário. São Paulo:
Saraiva, 1963, p. 291.
834 - BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Mandado de segurança 21.729. Relator:
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co. São Paulo: Saraiva, 1980, p. 34.
250
um sistema de valores que se têm como dominantes em uma deter-
minada sociedade; uma visão dominante num determinado grupo
social, independentemente de ser boa ou má – basta ser dominante
para ser ideologia837.
Economicidade: significa a busca da linha de maior vantagem
em relação ao caso. E esta maior vantagem pode ser de varias natu-
rezas, muitas vezes se pensarmos no incentivo fiscal, no aspecto
contábil, ele seria barbaramente anti econômico, o fisco perde di-
nheiro (literalmente)838. Porém, se o incentivo corresponde a um
projeto de interesse público, não implica a subtração de receitas para
o atendimento de deveres preexistentes e é efetivamente desenvolvi-
do, com a efetiva concreção do que se buscava, aí vê-se atendido
esse princípio, porque a renúncia dessa receita deu-se com o fim de
ver aquele interesse público atendido.
A economia vai ajudar a identificar o fato, ajudar a verificar
como é que o fato se comporta, vai ser, em suma, uma verdadeira
ciência auxiliar do direito, uma fonte auxiliar. Jamais poderá a eco-
nomia, substituir o direito enquanto o referencial para a solução de
problemas jurídicos, do mesmo modo que jamais poderá o direito
substituir as ciências do ser na solução dos problemas a estas ineren-
tes839. Isto porque ao direito, enquanto ciência, compete o estudo do
modo como se imputam conseqüências ao fato, ao passo que às ciên-
cias do ser compete o estudo do modo como as conseqüências decor-
rem, necessariamente, do fato, sendo de bom alvitre recordar que
“nem tudo da realidade física ou social entra no quadro esquemático
da hipótese da proposição normativa”840. Mesmo o estabelecimento
de ficções jurídicas não é suficiente para assegurar ao direito a capa-
cidade de transmutar os fatos tais como são: ele apenas, por motivos

837 - AZEVEDO, Plauto Faraco de. Justiça distributiva e aplicação do Direito.


Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 1983, p. 42.
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de operacionalidade, impõe que se considerem ocorridos fatos que,
em realidade, não correspondem à realidade concreta, nestas hipóte-
ses. Tenhamos sempre presente, de qualquer sorte, os campos de
cada uma das ciências, olhos postos na advertência de que “quando
posso conhecer uma coisa sem poder dizer em que consistem suas
diferenças ou propriedades, o conhecimento é confuso” 841.

841 - LEIBNITZ, Gottfried. Discurso de metafísica. Trad. João Amado. Lisboa: Ed.
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287
288
ÍNDICE REMISSIVO

“falhas” de mercado, 121, 133 Alfred L. Meyers, 23, 74, 108,


A. C. Pigou, 132, 149, 176, 210 109, 129, 135, 158, 159, 210,
Absolutismo, 100, 183, 201 213, 222
Adam Smith, 43, 54, 57, 58, 63, Alfred Marshall, 79, 84, 111,
68, 75, 82, 94, 145, 155, 158, 133, 135, 146, 150
168, 170, 172, 178, 179, 180, Alfredo Augusto Becker, 13, 252
189, 190, 202, 210, 230, 233, Alice Monteiro de Barros, 70,
244 147, 153, 154
Adolf A. Berle, 86, 188, 190, 197 Aliomar Baleeiro, 12, 65, 66, 67,
Adolf Weber, 21, 71, 133, 161, 94, 100, 102, 117, 120, 135,
170, 172, 196, 235, 242 147, 155, 204, 225
Adolfo Posada, 236, 238, 240 Almir Pazzianotto Pinto, 180
Adroaldo Furtado Fabrício, 220 Almiro do Couto e Silva, 90
Adroaldo Mesquita da Costa, 107 Aluguel, 136
Affonso Heliodoro, 16 Amartya Sen, 33, 67, 72, 95, 102,
Afonso Rodrigues Queiró, 193 121, 132, 156, 158, 178, 224
Aires Fernandino Barreto, 159 Amauri Mascaro Nascimento,
Alberto Bittencourt Cotrim Neto, 153
16 Amílcar de Castro, 166, 238
Alberto Deodato Maia Barreto, Ana Hilda Carvalho de Souza, 59
69, 105, 116, 120, 121, 143, Ana Maria Ferraz Augusto, 83,
202, 204 143
Alberto Torres, 58, 69, 154 Análise Econômica do Direito,
Alexandre Augusto de Castro 249
Correa, 204 André de Godoy Fernandes, 126
Alexandre Augusto Pinto Coelho Andrei Vishinsky, 175, 248
de Amaral, 64, 145, 195 Antônio Álvares da Silva, 91,
Alexandre Ditzel Faraco, 75, 107
111, 123, 125 Antônio Augusto Cançado
Alexandre José Barbosa Lima Trindade, 224
Sobrinho, 55 Antônio Castro, 72, 83, 106, 116,
Alexandre Salvador, 230 119

289
Antônio de Oliveira Salazar, 11 benfeitorias, 39
Antônio Frederico Cesarino bens acabados, 30
Júnior, 70, 153, 154 bens acessórios, 29
António José Avelãs Nunes, 11, bens ativos, 29
14, 64, 68, 69, 91, 101, 103, bens autônomos, 29
104, 124, 145, 146, 147, 155, bens coletivos, 127
159, 170, 174, 175, 182, 201, bens complementares, 29
203, 206, 210, 224 bens compostos, 30
Antonio Poch G. de Caviedes, bens corpóreos, 28
166, 169, 171, 236 bens de consumo, 28
Arion Sayão Romita, 181 bens de custo, 29
Aristóteles, 61, 136, 210, 231, bens de fruição coletiva, 28
233, 237, 246 bens de fruição individual, 28
Arnaldo Rodrigues Duarte, 16 bens de investimento, 29
Arnoldo Medeiros da Fonseca, bens de produção, 28, 52, 53, 78,
101 133, 233
Arnoldo Wald, 101, 118, 138, bens de restituição, 29
250 bens de uso, 29
Arthur Nussbaum, 99, 100, 101, bens de uso exclusivo, 127
137, 138 bens duradouros, 30
Arthur Schopenhauer, 103, 178, bens econômicos, 30
244, 247 bens essenciais, 30, 31
Artur José Almeida Diniz, 209 bens extra commercium, 28
assédio moral, 70 bens fungíveis, 30
assimetria de informações, 123, bens futuros, 29
Consulte "falhas" de mercado bens imóveis, 30
assistência pública, 64 bens in commercium, 28
Augusto Jaeger Júnior, 125, 210, bens inacabados, 30
211 bens incorpóreos, 28
Augusto Teixeira de Freitas, 67, bens infungíveis, 30
182, 231 bens instrumentais, 29
Augusto Zenun, 16 bens intermediários, 29
balança comercial, 212 bens móveis, 30
balança de capitais, 212 bens não reprodutíveis, 29
balança de serviços, 212 bens naturais, 29
balanço de pagamentos, 212, bens passivos, 29
216, 217 bens patrimoniais, 30
banco, 100, 106, 213, 215 bens perecíveis, 30
Banco Central, 99, 117, 139 bens presentes, 28
Baruch Spinoza, 14, 207, 244 bens primitivos ou originários,
bem, 21, 23, 27, 28, 30, 31, 32, 29
33, 34, 35, 36, 38, 41, 42, 43, bens principais, 29
47, 48, 127, 128 bens privados, 28
Benedetto Croce, 137, 177, 184, bens protegidos, 29
187, 191, 200 bens públicos, 28, 188, 201
290
bens reprodutíveis, 29 Carlos Alberto Pereira de Castro,
bens semi-acabados, 30 153
bens stricto sensu ou produtos, Carlos Frederico Marés de Souza
30, 31 Filho, 58, 74, 226, 244
Bernardo E. Lins, 85 Carlos Galves, 11, 16, 17, 27, 41,
break even point, 81 57, 67, 72, 86, 102, 133, 138,
Bretton Woods, 213, 217 143, 145, 146, 147, 161, 164,
Caio Mário da Silva Pereira, 16, 174, 175, 202
53, 101, 226 Carlos H. Porto Carreiro, 51, 57,
Caio Prado Jr., 11 72, 106, 121, 126, 154, 183
Caio Tácito, 118 Carlos Lessa, 72, 83, 106, 116,
Calixto Salomão Filho, 79, 85, 119
91, 122, 131 Carlos Medeiros Silva, 16
CAMARGO, Ricardo Antonio Carlos Pinto Coelho Motta, 118
Lucas, 261 Carmen Camino, 70, 154
câmbio, 214, 217, 218, 245 Celso Antônio Bandeira de
cameralistas, 242 Mello, 118
capacidade contributiva, 134 Celso Duvivier Albuquerque
capacidade das empresas Mello, 204
enfrentarem os custos, 71, 128 Celso Furtado, 61, 96, 101, 109,
capital, 21, 28, 33, 43, 57, 74, 81, 113, 131, 141, 155, 156, 165,
82, 84, 88, 89, 90, 91, 92, 106, 176
107, 116, 133, 136, 137, 138, Celso Ribeiro Bastos, 15, 180
139, 141, 143, 144, 146, 151, Cezar Saldanha de Souza Júnior,
154, 187, 209, 219, 231, 259, 178, 191, 192
275, 276 Charles Bettelheim, 78, 146, 176,
capitalismo, 14, 20, 63, 64, 65, 197, 198, 228
74, 88, 91, 96, 97, 103, 107, Charles de Secondat, Barão de
121, 124, 129, 137, 154, 158, Montesquieu, 245
162, 169, 172, 174, 178, 179, Charles Gide, 55, 60, 99, 105,
182, 188, 189, 190, 195, 196, 165, 183
199, 214, 225, 226, 233, 274, ciclos econômicos, 222
285, 289 cidade, 56, 63, 75, 96, 238, 243
capitalismo liberal, 179 circulação, 6, 29, 31, 51, 56, 85,
capitalismo social, 190, 195 93, 97, 99, 100, 141, 170, 198,
Carl E. Walsh, 113, 114, 115, 217, 218, 219, 233, 238, 241,
119, 121, 124, 223, 225 244
Carl Landauer, 39, 43, 137, 161, classes especiais de
164, 176, 177, 192, 194, 195, necessidades, 20
197 classificação das necessidades,
Carlos Alberto Alvaro de 25
Oliveira, 107 classificação dos bens, 27
Carlos Alberto de Melo Lacerda, Claude-Frédéric Bastiat, 95, 178,
16 181, 230

291
Cláudia de Lima Marques, 157, Cristiane Derani, 107
236 Cristiano Carvalho, 78, 180, 201
Cláudio Luiz Gonçalves de curva de indiferença, 21
Souza, 77 custo, 18, 29, 70, 77, 79, 81, 93,
Clóvis Bevilaqua, 138, 231 104, 122, 126, 138, 141, 142,
Clóvis Sá Britto Pingret, 129 148, 150, 153, 210, 223
Clóvis Veríssimo do Couto e custo ambiental, 81
Silva, 88, 97, 99, 126, 182, custo associado, 80
199, 200, 237 custo constante, 80
Comissão de Valores custo contábil, 79
Mobiliários, 124 custo crescente, 80
concentração empresarial, 85, custo de coação, 80
124, 125, Consulte "falhas" de custo de conformidade, 81
mercado custo de fatores, 79
concorrência, 6, 42, 71, 74, 79, custo de oportunidade, 23, 81
83, 85, 90, 91, 94, 96, 97, 98, custo de produção, 79
107, 122, 124, 126, 131, 151, custo de substituição, 79
172, 187, 189, 190, 201, 210, custo de transação, 81
211, 246 custo de uso, 79
concorrência perfeita, 94, 151, custo decrescente, 80
187 custo diferencial, 79
condição análoga à de escravo, custo direto, 80
154 custo fixo, 80
congelamento, 113, 144 custo globalizado, 80
Conselho Monetário Nacional, custo indireto, 80
99, 139 custo industrial, 79
consumo, 6, 28, 29, 38, 51, 72, custo inevitável, 80
76, 106, 119, 121, 127, 130, custo marginal, 79
133, 155, 157, 158, 159, 160, custo médio, 80
161, 162, 165, 178, 211, 215, custo para a coletividade, 79
219, 226, 238 custo para a empresa, 79
consumo comunitário, 223 custo para o indivíduo, 80
contemptus mundi, 237 custo social, 81
cooperativa, 89, 175 custo suplementar, 79
corporação, 195 custo total, 80
corporações de ofício, 63, 167 custo unitário, 80
crédito, 6, 83, 88, 97, 98, 99, 100, custo variável, 80
104, 106, 114, 119, 138, 157, custos com mão-de-obra, 69
204, 216, 287 custos de produção, 82, 104, 124
crédito público, 116, 119 custos trabalhistas, 70
crise da “bolha” de 2008, 216 Dante Alighieri, 13, 140, 167,
crise da “bolha” de 2008, 207 169, 171, 173, 186, 220, 232,
crise de 1929, 65, 68, 83, 207, 238
216 Darcy Ribeiro, 16
crise européia de 2011, 207, 216 David Hume, 68, 172
292
David Ricardo, 43, 57, 68, 145, Direito Civil, 42, 198, 253
181, 230 Direito da Economia, 199, 253
demanda agregada, 223 Direito Econômico, 3, 9, 11, 12,
demanda solvente, 223 15, 17, 19, 27, 33, 41, 43, 47,
Dennis Lerrer Rosenfield, 125 48, 51, 52, 53, 55, 56, 57, 58,
deseconomia externa, 127 61, 69, 73, 77, 78, 83, 96, 99,
desejo, 21, 26, 47, 95, 138 100, 101, 107, 108, 110, 112,
desemprego, 18, 68, 70, 170, 216 113, 121, 123, 124, 125, 126,
desemprego tecnológico, 69 127, 128, 129, 130, 131, 132,
desenvolvimento, 14, 16, 17, 41, 139, 141, 142, 147, 155, 158,
48, 53, 56, 59, 61, 63, 64, 69, 161, 165, 167, 169, 172, 173,
71, 72, 78, 81, 83, 91, 94, 96, 175, 176, 179, 183, 188, 191,
101, 103, 104, 106, 107, 109, 192, 199, 201, 204, 206, 209,
113, 131, 141, 147, 152, 153, 211, 212, 214, 215, 217, 218,
154, 155, 156, 157, 159, 165, 220, 222, 223, 224, 225, 227,
169, 174, 176, 177, 186, 201, 230, 231, 232, 233, 234, 238,
206, 210, 211, 212, 217, 224, 239, 241, 242, 243, 244, 246,
225, 226, 233, 234, 243,赼248, 247, 248, 249, 250, 253, 254,
263, 264, 265
281
Direito Penal, 253
desenvolvimento sustentável,
Direito Tributário, 253, Consulte
225
tributo
deslocamentos populacionais,
dirigismo contratual, 113, 195,
219
249
destruição criadora, 247
dor, 48
Dexter White, 213
Dumping, 211
Dídimo Agapito da Veiga, 121,
Duns Scotus, 239
204
duplicidade de moral, 95
diferença da área da produção
Economia, 6, 11, 15, 17, 19, 21,
científica em face da área da
22, 27, 33, 36, 41, 42, 43, 47,
militância, 14, 207
51, 52, 53, 55, 60, 73, 78, 84,
diferenciação do produto, 111
91, 94, 99, 100, 105, 109, 111,
diferenciação imperfeita, 111
112, 113, 124, 128, 129, 130,
diferenciação perfeita, 111
131, 132, 133, 142, 146, 147,
diferente capacidade dos agentes
152, 153, 154, 156, 157, 161,
econômicos manipularem
162, 165, 167, 172, 177, 179,
custos, 128
180, 182, 183, 197, 198, 199,
Diogo de Figueiredo Moreira
209, 220, 222, 223, 229, 230,
Neto, 180
231, 232, 233, 234, 238, 239,
Direito Administrativo, 16, 40,
241, 242, 243, 244, 246, 247,
84, 118, 177, 189, 200, 203,
248, 250, 252, 281
253, 276
economia concertada, 198
direito ao desenvolvimento, 224,
economia de escala, 210
226
economia externa, 127
direito ao trabalho, 65
economia internacional, 99, 209
293
Economia Política, 11, 12, 15, 17, Encilhamento, 117, Consulte
19, 27, 33, 41, 43, 47, 51, 52, crédito público
53, 55, 60, 73, 78, 99, 100, energia, 28, 55, 60, 90, 102, 147,
105, 112, 113, 124, 128, 129, 150, 226
130, 131, 132, 142, 147, 152, equilíbrio dinâmico ou de
165, 167, 172, 177, 179, 183, expectativas, 113
222, 223, 230, 231, 232, 233, equilíbrio econômico, 112
234, 238, 239, 241, 242, 243, equilíbrio entre oferta e procura,
246, 247, 248, 250, 252 94
economicidade, 253, 254 equilíbrio estacionário, 113
Edgar Allan Poe, 188 equilibrio estático, 222
Edgar de Godói Mata-Machado, Érica Paula Barcha Correia, 153
232, 233, 234, 242, 244, 246 Erich Reinert, 243
Edimur Ferreira de Faria, 203 Ernst Cassirer, 246
Edison Carlos Fernandes, 212 Ernst-Wolfgang Böckenförde,
Eduard Heimann, 135, 190, 203, 62, 233, 239
234, 243 Eros Roberto Grau, 83, 101, 118,
Eduardo Carrion, 65, 173, 174, 123, 177, 180, 186, 190, 197,
176, 181, 193 198, 200, 205, 218, 227, 254
educação, 71, 72, 157 escassez, 27, 42, 53, 73, 102, 113,
educação em relação ao trabalho, 241
71 escravidão, 62, 148, 165
efeito-cremalheira, 162 esgarçamento social, 206
efeito-demonstração, 161, 224 Espanha franquista, 193, 195
efeito-memória, 161 estabilidade, 70, 153
egoísmo, 94, 179, 248 estado de necessidade, 24, 26
Egon Bockmann Moreira, 100 Estado liberal, 178, 182, 183,
elasticidade, 108, 110, 111, 212 190, 192
elasticidade de antecipação, 109 Estado Novo, 193, Consulte
Eli R. Heckscher, 39, 68, 158, Portugal salazarista
167, 170, 171, 176, 187, 189, Estado social, 124, 178, 182, 183,
192, 196, 201, 209 190, 192, 201
Emil Farhat, 77, 181 Estaline, 177
empresa, 65, 71, 74, 79, 81, 84, estruturalismo, 101, 102, 103
86, 88, 89, 90, 91, 97, 98, 101, Eugen von Böhm-Bawerk, 21,
105, 106, 107, 122, 123, 126, 33, 43, 138
128, 133, 141, 142, 143, 144, Eugênio Gudin, 99, 104, 106
145, 146, 182, 188, 194, 200, Eusébio de Cesaréia, 234
202, 217, 231, 249, 260, 264, Evanna Soares, 152
288 evasão de cérebros, 209
Empresa pública, 90 Evgeny Bronislavovitch
empresas delegatárias da Pashukanis, 53, 248
prestação de serviços exército de desempregados, 64
públicos, 118 externalidade, 81, 126
externalidade negativa, 126
294
externalidade positiva, 126 Franklin Roosevelt, 65, 69, 105,
extinção do crédito tributário 124, 125, 196
sem pagamento, 115 Frederico, o Grande, 169, 173,
Fábio Konder Comparato, 86, 90, 243
91, 97, 98, 123, 190, 240 free-rider, 128
Fábio Nusdeo, 11, 12, 14, 15, 19, Friedrich August von Hayek,
27, 33, 41, 78, 96, 100, 108, 121, 125, 127, 180, 181, 200,
110, 112, 113, 121, 124, 126, 201, 203, 220, 248, 249
127, 128, 129, 130, 132, 139, Friedrich Carl von Savigny, 101,
155, 158, 161, 165, 212, 215, 183, 247
222, 224, 225 Friedrich Engels, 103, 154, 174
fadiga, 66 Friedrich List, 85, 125, 189
falência, 106, 107, 140, 157 Friedrich von Wieser, 24, 28, 79,
Fascismo, 192 146, 148
fatores de produção, 79, 81, 84, função social, 28, 53
94, 130, 133, 155, 214, 223 G. A. Koslov, 177
federalismo, 134 Gabriela Carelli, 230
Fernando Facury Scaff, 181 Galeno Lacerda, 107
Fernando Whitaker da Cunha, 16 Gaston Morin, 194, 199, 250
FGTS, 153 Georg Wilhelm Friedrich Hegel,
Fiódor Mikhailovitch 13, 15, 246, 247
Dostoiévsky, 13 George O’Brien, 240
fisiocratas, 17, 134, 135, 189, Georges Ripert, 100, 137, 173,
223, 233, 245 183, 185, 194, 200, 206, 237,
Flávio Bauer Novelli, 16 249
FMI, 217 Geraldo de Faria Martins da
fontes de energia, 55 Costa, 157
Francesco Carnelutti, 47, 249 Geraldo Feix, 107, 201
Francis Bacon, 172 Gerhard Stavenhagen, 24, 134,
Francisco Campos, 55, 193, 206 162, 171, 238, 239, 240, 242
Francisco Cavalcanti Pontes de Getúlio Dornelles Vargas, 55, 67,
Miranda, 51, 89, 156 193
Francisco de Assis Barbosa, 117 Getúlio Vargas, 196
Francisco Rodolfo Simch, 11, 19, Gilberto Bercovici, 85, 124, 192,
28, 42, 124, 154 201, 227
François Gény, 101 Giorgio Del Vecchio, 248
François Perroux, 39, 89, 111, Giovani Clark, 55, 83
113, 119, 177, 197 globalização, 218
François Quesnay, 52, 68, 133, Gottfried Leibnitz, 244, 255
135, 158, 171, 172, 183, 189, grandes agregados, 17, 197
245, 272 Guerra do Vietnã, 214
Frank Hyneman Knight, 21, 38, Guilherme José Purvin de
62, 113, 126, 141, 142, 146, Figueiredo, 53, 60, 61
194 Guiomar Therezinha Estrella
Faria, 249
295
Gunnar Myrdal, 12, 33, 43, 91, interesse difuso, 48
95, 132, 145, 155, 187 interesse disponível, 47
Guy Sorman, 181, 183, 201 interesse indisponível, 48
Hans Kelsen, 13, 218, 252 interesse individual, 28, 48
Hans Maier, 92, 186, 192, 193, interesse intelectual, 47
196, 200 interesse material, 47
Haroldo Malheiros Duclerc interesse religioso, 47
Verçosa, 201, 204 interesse social, 28
Heleno Cláudio Fragoso, 16 intervencionismo, 12, 55, 70, 83,
Heloísa Pinto Marques, 181 95, 104, 113, 196, 200, 203,
Hely Lopes Meirelles, 16, 118 232
Henri Guitton, 21, 22, 36, 84, 91, Irmãos Graco, 57
109, 111, 124, 133, 146, 153, Ivana Duarte Araújo, 175
156, 157, 161, 162, 198 Ives Gandra da Silva Martins, 15,
Henry George, 34, 135, 146 115, 116, 120, 180, 250
Hermann Heinrich Gossen, 24, J. O. Meira Penna, 88, 137, 181,
42, 94, 168, 180, 186, 210 201, 206, 220
Hermann Heller, 192, 200 J. Petrelli Gastaldi, 109, 181
Hermes Lima, 220 Jacinto Nelson de Miranda
Hernani Estrella, 89, 138 Coutinho, 207, 242
Heródoto, 61 Jacqueline Moll, 16
Hipácia, 236 Jacques Mercier, 176, 177
Hugo Grotius, 243 Jean Bodin, 62, 98, 101, 168,
Humberto Bergmann Ávila, 114, 169, 173, 241
129, 160 Jean Buridan, 238
Humberto Theodoro Júnior, 53 Jean François Revel, 201
Immanuel Kant, 181, 182, 196, Jean Jacques Rousseau, 240, 246
219, 230, 232, 246, 282 Jean-Baptiste Say, 17, 33, 42, 52,
imposto, 31, 105, 202, 215 55, 64, 67, 85, 93, 135, 145,
imposto único, 135 149, 178, 179, 181, 188, 196
impostos diretos, 223 Jean-Jacques Chevalier, 85, 178,
impostos indiretos, 93 182, 183, 191, 192, 194, 206
impostos não cumulativos, 144 Jean-Paul Buffelan, 187, 191,
indiferença, 21, 111, 226 206
inflação, 6, 18, 98, 101, 102, 144, Jeremy Bentham, 48, 230
151, 168, 197 Joachim Lang, 92, 134
Insider trading, 124 Joan Robinson, 65, 72, 135, 137,
insolvência civil, 106 155, 187, 194
instituições financeiras, 99, 105, João Antônio G. Pereria Leite,
106, 139 70, 92, 154
interesse, 22, 26, 28, 47, 49, 55, João Baptista de Almeida, 157
76, 84, 85, 90, 94, 120, 128, João Batista Lazzari, 153
129, 141, 156, 172, 183, 189, João Bosco Leopoldino da
201, 219, 233, 245, 247, 254 Fonseca, 169, 214, 217
interesse coletivo, 48
296
Johann Heinrich Gottlob von Joseph Alois Schumpeter, 13, 76,
Justi, 243 171, 188, 206, 234, 242
Johann Joachim Becher, 242 Joseph Conrad, 184
Johannes Müller, 102 Joseph e. Stiglitz, 124
John Bates Clark, 69, 133 Joseph E. Stiglitz, 113, 114, 115,
John Hicks, 27, 63, 72, 91, 93, 119, 121, 223, 225
134, 169, 175, 189 Juan Bautista Alberdi, 68, 181
John Kenneth Galbraith, 64, 76, Juarez Freitas, 186
87, 123, 128, 129, 141, 156, Judith Hofmeister Martins-Costa,
192, 194, 219 101, 102, 237, 247
John Kilcullen, 240 juros, 82, 106, 116, 133, 136,
John Locke, 186, 244 138, 139, 140, 170, 213, 215,
John Maynard Keynes, 17, 43, 223, 267
69, 83, 113, 123, 138, 143, Justino Adriano Farias da Silva,
170, 202, 213, 217, 241 16
John Stuart Mill, 180, 187, 191, Justus Wilhelm Hedemann, 99,
230 136, 138, 139, 199
joint-ventures, 91 Karl Mannheim, 253
Jónatas E. M. Machado, 77, 123, Karl Marx, 57, 89, 103, 146, 154,
158 174, 177, 187, 248
Jorge Luís Machado, 58, 154 Kenneth A. Boulding, 115, 159
Jorge Miranda, 193 Klaus Tipke, 92, 134
José Adércio Leite Sampaio, 151 Knut Wicksell, 27, 38, 42, 43,
José Afonso da Silva, 58 52, 72, 97, 116, 124, 130, 138,
José Alfredo de Oliveira 150, 159, 220
Baracho, 177, 193, 195, 205, L. Nogueira de Paula, 33, 132
206 laissez faire, 96, 179
José Antônio Pimenta Bueno, 64, Lauro Lacerda Rocha, 16
180, 181, 187 Leandro do Amaral Dornelles de
José Cláudio Monteiro de Brito Dornelles, 62, 68, 70
Filho, 69, 154 Leasing, 136
José Joaquim Gomes Canotilho, Lei de Gresham, 99, 239
77, 123, 158 lei de navegação de Cromwell,
José Luís Ferreira Prunes, 180 179
José Martiniano de Alencar, 75, Leis Agrárias, 57
120, 148, 188 Leo Huberman, 145, 169, 183,
José Maurício Conti, 116 185, 190, 239, 240
José Paschoal Rossetti, 19, 27, Léon Duguit, 53, 101
65, 78, 86, 130, 176, 178, 180, Léon Walras, 33, 42, 64, 95, 112,
211, 222 113, 135, 145
José Pastore, 180 Leonardo Alves Corrêa, 58, 211,
José Tadeu de Chiara, 101 224, 227
José Xavier Carvalho de liberalismo econômico, 83, 145,
Mendonça, 89 182, 184, 186, 201, 231, 240

297
liberalismo político, 182, 183, Magda Barros Biavaschi, 65
184, 186, 191, 200, 227, 244 Manoel de Figueiredo Ferraz, 15
liberdade contratual, 179, 199 Manoel de Oliveira Franco
liberdade do trabalho, 63 Sobrinho, 16
liquidação extrajudicial, 106 Manoel Gonçalves Ferreira
livre cambismo, 210 Filho, 15, 180
livre concorrência, 96 mão invisível, 94
livre iniciativa, 125, 179 Marçal Justen Filho, 118
livre-cambismo, 179, 189 Marcello Cerqueira, 199
lobbyismo, 87 Marcílio Toscano Franca Filho,
Louis Josserand, 113, 195, 249 168, 236
Lourival Vilanova, 252, 254 Marco Aurélio da Silva, 75, 77
Lúcia Valle Figueiredo, 118 Marco Fridolin Sommer Santos,
Luciana Aparecida Lotto, 154 152, 196
Luciano Benetti Timm, 182, 200, Marco Túlio Cícero, 57, 220
249 Marcos Jordão Teixeira do
lucro, 70, 81, 82, 89, 98, 126, Amaral Filho, 181
127, 132, 133, 140, 141, 142, Marcus Orione Gonçalves
143, 144, 145, 146, 147, 148, Correia, 153
175, 176, 223, 235 Mário Henrique Simonsen, 77,
Ludwig von Mises, 12, 55, 70, 102, 104, 143, 198, 203
95, 104, 181, 200, 203 Mário Lúcio Quintão Soares,
lugares sagrados, 56 192, 200
Luigi Einaudi, 66, 137, 147, 177, Martha Lucia Olivar Jiménez,
184, 187, 191, 200 211
Luís Afonso Heck, 200 marxismo, 14, 53, 102, 103, 173,
Luís Augusto Estrella Faria, 168 175, 248
Luís Cabral de Moncada, 183, materialismo histórico, 248,
191, 193, 248 Consulte marxismo
Luís Fernando Barzotto, 186, 252 Maurice Duverger, 14, 65, 92,
Luís Maria Drago, 204 177
Luís Recaséns Siches, 131, 231, Max Beer, 240
235, 245 Max Weber, 12, 68, 88, 97, 134,
Luiz Felipe Silveira Difini, 115 137, 162, 168, 178, 181, 186,
Luiz Gonzaga de Mello 190, 192, 202, 207
Belluzzo, 213 meios de produção, 65, 88, 106,
Luiz Legaz y Lacambra, 193, 166, 191
234, 235, 241 mercado, 6, 18, 42, 71, 73, 74, 79,
Luíza Helena Malta Moll, 53, 82, 83, 84, 86, 94, 96, 98, 104,
125, 127 106, 109, 112, 113, 114, 119,
luxo, 54, 109 121, 124, 125, 126, 128, 130,
macroeconomia, 17, 113, 114, 131, 133, 139, 150, 155, 157,
115, 119, 121, 124, 157, 197, 158, 165, 172, 180, 184, 187,
222, 223, 225 191, 197, 200, 201, 203, 204,
macro-empresa, 89, 97
298
205, 211, 213, 214, 219, 224, Napoleão, 16, 24, 146, 182, 189,
230, 239, 242, 248, 279 250
mercado de capitais, 84, 106, 123 Nazismo, 192
mercado de trabalho, 71 necessidades, 17, 19, 20, 21, 22,
mercadoria, 42, 93 24, 25, 27, 30, 33, 35, 38, 41,
mercantilismo, 82, 96, 169, 171, 42, 47, 51, 52, 53, 56, 64, 67,
209, 238, 241 73, 77, 94, 129, 131, 138, 155,
metais, 54, 168, 170 156, 158, 167, 188, 205, 207,
métodos de cálculo do custo, 142 211, 214, 218, 231, 247
Michel Temer, 71, 114, 129 necessidades coletivas, 20, 48
microeconomia, 17, 67, 70, 114, necessidades de massa, 20
125, 127, 134, 158, 162, 178, necessidades decorrentes de atos
210 de produção, 20
micro-empresa, 89 necessidades derivadas, 20
Milton Friedman, 64, 67, 68, 70, necessidades elásticas, 20, 26
104, 125, 126, 127, 132, 201, necessidades especulativas, 20
203, 205, 220 necessidades essenciais, 20, 25
minerais preciosos, 54 necessidades irracionais, 20
Míriam de Abreu Machado e necessidades não essenciais, 20
Campos, 183 necessidades primárias, 19
Misabel de Abreu Machado necessidades racionais, 20
Derzi, 120 necessidades rígidas, 20, 26
Modesto Carvalhosa, 83, 249 necessidades suntuárias, 20
modo de produção, 65, 231 Nelson Saldanha, 183, 186, 187,
moeda, 18, 45, 54, 98, 100, 105, 190
116, 167, 178, 201, 202, 213, neoliberalismo, 104, 119, 199,
217, 230, 238, 239, 240, 241, 201, 203, 216
243, 250 New Deal, 69, 124, Consulte
monetarista, 101, 103, 139, 215 Franklin Roosevelt, John
Mônica Herman Salem Maynard Keynes
Caggiano, 98 Ney Prado, 180
monopólio, 74, 96, 178, 194, 201 Nicolau Copérnico, 99, 239, 240
Monopólios naturais, 126 Nicole Oresme, 99, 239, 240
monopólios públicos, 201 Nilda Soares, 231
monopsônio, 96 Nilton Bueno Fischer, 16
Monteiro Lobato, 55, 58, 135, Norbert Horn, 181
199 Norberto Bobbio, 178, 184, 191,
Mozart Victor Russomano, 154 206
N. Gregory Mankiw, 17, 67, 70, O Federalista, 178, 187, 190, 227
114, 125, 127, 134, 158, 162, Odete Medauar, 203
178, 210 ofelimidade, 38, 249
Nacionalidade do capital, 81 oferta, 6, 94, 96, 102, 108, 109,
nacionalismo econômico, 189, 111, 112, 114, 122, 129, 131,
190 146, 151, 171, 214, 224, 239
Orlando Gomes, 42, 183
299
Oscar Pilagallo, 186 Plínio Paulo Bing, 180
Oskar Lange, 14, 124, 133, 176 poder econômico, 17, 85, 87, 97,
ótimo de Pareto, 38 110, 114, 118, 126, 168, 195,
padrão-divisa, 214 196, 230, 246, 253
padrão-dólar, 214 política econômica, 11, 55, 69,
padrão-ouro, 212 115, 123, 159, 218, 221, 253,
Patrística, 234 264
Paul A. Samuelson, 19, 21, 42, ponto ótimo (custos), 80
54, 71, 73, 76, 78, 83, 84, 86, população, 59, 72, 130, 145, 147,
90, 94, 95, 105, 111, 115, 118, 180, 181, 205, 223, 225, 226,
119, 121, 124, 125, 127, 128, 242
129, 133, 137, 141, 143, 144, população economicamente ativa,
146, 150, 151, 152, 156, 161, 72, 73
165, 174, 184, 185, 188, 194, Portugal salazarista, 195
205, 211, 214, 222, 223, 224, posse, 58
225 prazer, 24, 38, 48, 66, 136, 162,
Paul Singer, 69, 134, 153 234, 248
Paula Andréa Forgioni, 79 Preço, 141
Paulino Jacques, 15 preços administrados, 98
Paulo Bonavides, 178, 182, 183, preços orientados, 98
190, 192, 206, 259 preços regulados, 98
Paulo Brossard, 16 preços tabelados, 98, Consulte
Paulo de Barros Carvalho, 115 congelamento, tabelamento
Paulo Dourado de Gusmão, 167, previdência, 68
168, 170, 183, 236, 238, 246 procura, 94
Paulo Emílio Ribeiro de Vilhena, procura derivada, 94
70 procura viscosa, 126, 131
Paulo Napoleão Nogueira da produção, 17, 23, 29, 30, 31, 43,
Silva, 16 51, 53, 56, 64, 72, 73, 74, 78,
Paulo Peretti Torelly, 184, 205 79, 80, 198, 213, 219, 222,
Paulo Roberto de Almeida, 180 223, 225, 231, 233, 243
Paulo Rogério Silva dos Santos, produção em série, 124
120, 204 Produto Bruto, 222, 223
Paulo Sarasate, 16 Produto Interno Bruto – PIB,
Peter Walter Ashton, 140 222, 224
Petr Ivanovitch, 175, 248 Produto Líquido, 223
Phillip Wilhelm Hörnigk, 242 produto marginal, 133
Pires Cardoso, 146, 195 Produto Nacional Bruto – PNB,
planejamento, 176, 197, 198, 226 222
plano, 176, 198, 227 propaganda, 48, 205
Platão, 12, 62, 75, 136, 210, 232, propriedade privada, 54, 56, 59,
246 179, 180, 230, 231, 232, 235,
Plauto Faraco de Azevedo, 55, 243, 246
125, 191, 193, 206, 253 protecionismo, 179
pleno emprego, 69
300
publicidade, 48, 125, 129, 158, Ricardo Ferreira de Macedo, 86,
161 91
queda do muro de Berlim, 207, Ricardo Lobo Torres, 115, 120
215 Ricardo Luiz de Souza, 65, 152,
Quesnay, 171 193
Rachel Sztajn, 79 Richard A. Posner, 79, 203, 249
Rafael de Freitas Valle Dresch, Robert L. Heilbroner, 57, 64, 65,
182, 200, 249 67, 69, 72, 171, 174, 181
Raymond Barre, 12, 19, 68, 76, Roberto Civita, 77
85, 90, 92, 106, 111, 118, 126, Ronald Harry Coase, 84, 110,
141, 143, 150, 166, 171, 175, 122, 201
176, 188, 192, 197, 214, 226 Ronaldo França, 180
Raymondo Faoro, 117 Ronaldo Rebello de Britto
Recursos naturais, 6, 53 Poletti, 16
relações de produção, 52, 53, 174 Roque Antonio Carrazza, 114
relações de trabalho, 61, 63, 65, Rosah Russomano, 16
231 Royalty, 136
remuneração, 64, 84, 120, 133, Rudolf Skandera, 237
134, 135, 136, 141, 144, 147, Rudolf Stammler, 220, 248
148, 150, 152, 153, 155, 158, Rudolf von Jhering, 48, 58, 247
159, 161, 213, 222, 223, 224 Rudolf von Stolzmann, 52
renda, 132, 133, 135 Ruy Barbosa, 117, 196, 204, 258
Renda arbitrada judicialmente, Ruy Cirne Lima, 177, 189, 200
136 Sacha Calmon Navarro Coelho,
renda disponível, 216 114
Renda disponível, 223 sacrifício, 21, 24, 38, 79, 80, 81,
Renda Nacional, 119, 223 128, 158, 215
renda per capita, 134 Sahid Maluf, 15
René Savatier, 68, 89, 195, 249 salário, 25, 70, 104, 132, 145,
repartição, 51, 81, 131, 134, 155, 146, 148, 149, 150, 223, 237
223, 232, 233 Salário Família, 153
Ricardo Antonio Lucas salário justo, 237, 238
Camargo, 77 salário mínimo, 25, 149, 150
Ricardo Antônio Lucas salário mínimo profissional, 150
Camargo, 34, 43, 47, 48, 53, Salo de Carvalho, 242
55, 56, 57, 58, 60, 61, 69, 70, Santo Agostinho, 13, 56, 57, 62,
73, 79, 83, 88, 89, 92, 97, 98, 190, 235
99, 101, 103, 106, 107, 109, Santo Ambrósio, 235
116, 122, 125, 127, 128, 129, Santo Isidoro, 237
137, 141, 143, 145, 146, 160, São Beda, o Venerável, 237
173, 175, 184, 188, 190, 191, São Bernardo de Clairvaux, 237
192, 200, 204, 205, 206, 211, São Cirilo de Alexandria, 236
212, 214, 217, 218, 219, 220, São Clemente, 235
224, 231, 241, 244, 247 São Jerônimo, 235
Ricardo Bielschowsky, 102 Sebastião Alves dos Reis, 143
301
sectarismos, 14, 205, 216 tabelamento, 98, 105, 113, 144,
Securities Exchange 145, 260
Commission, 123 tecnocrata, 206
SEN, Amartya, 284 teoremas de Gossen, 24, 35, 38,
Sérgio José Porto, 220 162
Sérgio Paulo Muniz Costa, 16 teoria das vantagens
Sérgio Sérvulo da Cunha, 179, comparativas, 210
218, 254 teoria do rendimento
serviço, 23 decrescente, 171
serviço público, 26, 67, 90, 126, teorias do valor na resolução de
147, 152, 188, 202 problemas jurídicos, 44
serviços, 30, 31 terras ocupadas pelos índios, 58
SILVA, Almiro do Couto e, 284 Theodor Ludwig Lau, 243
Sílvio Augusto Bastos Meira, 57 Thomas Hobbes, 241, 244
sindicalização, 185, 194, Thomas Morus, 241
Consulte sindicato Thomas Robert Malthus, 57, 72,
sindicato, 71, 150, 177, 185, 194, 145, 162, 180, 181, 230
195, 203 Thorstein Veblen, 19, 76, 94, 95,
Sir William Petty, 74, 115, 134 130, 161, 162, 233, 238
Sistema Financeiro da Habitação, tipo ideal, 134, 164
105, 153 Torquato Lorena Jardim, 180
sistemas econômicos, 52, 53, 164 trabalho, 44, 56, 61, 62, 64, 65,
socialismo, 181, 183, 201 66, 69, 72, 73
Sociedade economia mista, 90 trabalho livre, 148, 149
Solo, 55, 57 trabalho servil, 148
solo rural, 58 transferência de tecnologia, 78
solo urbano, 56 Tratado de Methuen, 170, 172,
Solo Urbano, 55 179, 190, 210
Sören Kierkegaard, 220 Tribunal Superior do Trabalho,
Stanislaw Ponte Preta, 16 44, 147, 154
subemprego, 69 tributação, 114, 119, 133, 134,
subprodutos, 30 246
subsídio, 211 tributo, 61, 93, 114, 230
subsolo, 53, 54, 136 Truck system, 154
sucedâneos, 29 Tullio Ascarelli, 100, 124
Superior Tribunal de Justiça, 24, Turgot, 171
25, 26, 31, 32, 39, 44, 45, 49, tutela do crédito, 106
105, 140 universalidade, 31
supersolo, 53 utilidade, 27, 33, 39, 42, 47
Supremo Tribunal Federal, 12, utilidade diferencial, 36
25, 26, 31, 32, 40, 45, 50, 56, utilidade efetiva, 38
87, 88, 92, 99, 127, 139, 145, utilidade integral, 38
147, 149, 151, 153, 218, 253 utilidade marginal, 35, 36
Suzana Corotto, 88 utilidade objetiva, 34
utilidade pública, 40
302
utilidade subjetiva, 34 132, 141, 142, 143, 146, 147,
utilidade total, 34, 35, 36 159, 167, 170, 172, 175, 179,
utilidade virtual, 38 180, 183, 190, 192, 195, 200,
utilitarismo, 48, 187, 232, 247 205, 206, 209, 210, 211, 218,
valor, 41, 43 222, 223, 224, 225, 227, 230,
valor adicionado, 223 231, 232, 233, 234, 238, 239,
valor de troca, 42 241, 242, 243, 246, 247, 248,
valor de uso, 42 250, 253, 254
valor-trabalho, 41, 43, 44, 238 Washington Peluso Albino
valor-utilidade, 41, 42, 44 deSouza, 219
varguismo, 58, Consulte Estado Werner Sombart, 14, 20, 68, 74,
Novo 88, 95, 96, 107, 121, 124, 129,
Veit Ludwig Von Seckendorf, 137, 158, 167, 169, 170, 171,
242 178, 179, 181, 186, 188, 189,
Vilfredo Pareto, 38, 39, 95, 112, 202, 225, 226
121, 130, 132, 155, 185, 194, Werter Faria, 83, 97, 98, 124,
249 126, 143, 181, 218, 230
Visconde de Taunay, 117 Wilhelm Von Schröder, 242
Vladimir Ilitch Ulianov Lenin, William Nassau Senior, 67,
14, 63, 64, 103, 154, 174, 175, 138, 145, 178
203 William of Ockham, 173, 189,
Voltaire, 181, 245, 289 240
Voto censitário, 181 William Stanley Jevons, 33, 38,
Wagner Balera, 153 42, 145
Waldírio Bulgarelli, 89 Wilson de Oliveira, 195
Walt Whitman Rostow, 137, 175, Wilson de Souza Campos
225 Batalha, 15
Walter Tolentino Álvares, 107 Wladimir Novaes Martinez, 153
Washington Peluso Albino de Wladmir Tadeu Silveira Coelho,
Souza, 11, 12, 17, 19, 27, 33, 55
41, 43, 47, 48, 51, 52, 53, 55, Wolfgang Abendroth, 71, 83, 91,
56, 68, 73, 75, 77, 78, 98, 99, 92, 104, 174, 192, 193, 219,
100, 101, 112, 113, 123, 124, 220
125, 127, 128, 129, 130, 131, Wolfram Richter, 120

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