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Motim:

Horizontes do genocídio
antinegro na Diáspora

Organização
Ana Luiza Pinheiro Flauzina
João Helion Costa Vargas

Brado Negro
2017
Morte Íntima:
A gramática do genocídio antinegro na Baixada Fluminense
Luciane de Oliveira Rocha

O genocídio antinegro continua em curso no Brasil. Autor que


inaugura o uso do conceito na tradição de estudos raciais no país na obra
O genocídio do negro brasileiro: processo de um racismo mascarado (1978),
Abdias do Nascimento mostra que o genocídio existiu desde sempre na
nossa história. Segundo o autor, tanto de forma declarada, com políticas
de Estado voltadas para o extermínio da população negra, como por
outras dinâmicas subjetivamente violentas, como a imposição do mito da
democracia racial. Independente da configuração tomada, o genocídio visa
a continuada destruição física e social do ser negro, o desumaniza, e faz com
que a resistência negra seja tarefa constante.

Na história do Rio de Janeiro é importante destacar a respeito de


expressão do genocídio o ano de 1878. Neste ano, o Quilombo de Iguaçu,
no Recôncavo da Guanabara, estava no auge de seu poder organizativo e
comercial. De acordo o historiador Flávio Gomes (1994), esta organização
social e racial havia criado um mundo novo e alternativo dentro da escravidão,
despertando o ódio das elites comerciárias da região, que viam sua atividade
ameaçada pela produção econômica do quilombo que abastecia a região
com produtos agrícolas e madeira. Após sucessivas tentativas fracassadas
de extinção do quilombo pelas forças estatais, o então Ministro da Justiça,
Gama Cerqueira, comparou-o com a Hidra de Lerna, o animal da mitologia
grega possuidor de muitas cabeças de serpente que tendo uma destas cortada,
consequentemente surgiam outras duas em seu lugar (GOMES, 1994, p. 1).
Isso porque, apesar das diversas tentativas de destruição Quilombo de Iguaçu,
os mocambos se multiplicavam, o que levou Cerqueira a autorizar a utilização
de meios de destruição do quilombo que segundo ele, “não [foram] dos mais
confessáveis, mas [surtiram] excelente efeito” (CARVALHO FILHO, 2004).
Os corpos negros que formavam as cabeças imortais da Hidra de Iguaçu e
as terras por eles habitadas foram incendiados tal como as cabeças da Hidra
de Lerna (GOMES, 2004, p. 125-126). Em outras palavras, foram alvo do
recorrente, mas pouco argumentado, genocídio antinegro que existe no país.
37
Atualmente, a área onde existiu o Quilombo Iguaçu e pelo menos outros
quatro quilombos no século XIX é conhecida como Baixada Fluminense,41 e
é habitada por uma população majoritariamente negra e pobre que continua
enfrentando a violência estatal direta, exercida principalmente pela Polícia
Militar; ou facilitada, devido à estimulada degradação das condições de vida
nas comunidades negras e pobres. Esses dois processos expõem a população da
negra Baixada Fluminense a experiências genocidas.

Através de entrevistas realizadas entre os anos de 2010 e 2012 com mães de


vítimas de violência residentes em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense,
este artigo busca expor o vocabulário do genocídio antinegro presente no
testemunho dessas mulheres. Este artigo está dividido em duas partes. Primeiro,
este texto abordará aspectos da violência na cidade de Duque de Caxias à
luz do conceito do genocídio antinegro. Na segunda parte, apresentamos o
conceito de maternidade ultrajada como uma estratégia de resistência exercida
pelas mulheres negras no combate à criminalidade e terror na região. Através
de árvores temáticas produzidas e analisadas com o programa NVivo 11©,
apresentamos projetos de Word Cloud [nuvem de palavras] que esboçam a
gramática do genocídio negro anunciada por dez mulheres residentes de Duque
de Caxias. O interesse em produzir este artigo surgiu da necessidade de, por
um lado, problematizar os estudos sobre a Baixada Fluminense, que tendem a
utilizar um viés histórico-social que não reconhece aspectos raciais para analisar
a complexidade da violência física e simbólica na região. Por outro lado, este
artigo anseia tornar evidente a posição das mães negras como antagônicas ao
projeto genocida e ao mesmo tempo as principais testemunhas dele.

41 Inicialmente, é importante compreender que não há um consenso quanto à quais


municípios a Baixada Fluminense abarca. Para a geografia física, a Baixada Fluminense seria
uma área composta por planícies baixas, constantemente alagadiças, entre o litoral e a Serra
do Mar no Rio de Janeiro. Na década de 70, a partir dos inúmeros casos de assassinatos
ocorridos na região, oito municípios passaram a ser definidos por este termo, identificando
mais o aspecto da violência. Contudo, o único consenso que parece haver seria o de uma
Baixada Fluminense composta pelos municípios de Belford Roxo, Duque de Caxias,
Mesquita, Nilópolis, Nova Iguaçu e São João de Meriti. Neste ensaio, para efeito de análise
quantitativa, consideramos como Baixada Fluminense os seus 13 municípios: Belford Roxo,
Guapimirim, Duque de Caxias, Itaguaí, Japeri, Magé, Mesquita, Nilópolis, Nova Iguaçu,
Paracambi, Queimados, São João de Meriti e Seropédica. Para a análise qualitativa, optamos
por entrevistas com mulheres da cidade de Cidade de Duque de Caxias, escolhida por
apresentar o maior número absoluto de homicídio de pessoas negras nos últimos cinco anos
segundo os microdados do SIM/SVS/MS.
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Genocídio Antinegro: A violência na Baixada Fluminense
em perspectiva

Autoras feministas negras nos lembram de que as experiências


negras sempre devem ser analisadas por uma perspectiva de gênero,
mas que existe uma tendência nos estudos raciais à normatização e
ao consequente esquecimento deste fato (WERNECK at al, 2012).
Foi justamente para fugir da armadilha de focar mais um estudo
sobre antinegritude na experiência masculina que optei por analisar o
genocídio no Rio de Janeiro a partir da experiência das mulheres negras.
O objetivo geral da pesquisa conduzida entre julho de 2010 e agosto
de 2014 foi investigar como as mulheres negras lidam com a morte
prematura de jovens negros e negras, como se organizam para resistir
às mortes e como lidam com o trauma causado por elas. Em setembro
de 2012 realizei entrevista com uma moradora do Complexo da
Mangueirinha,42 na Cidade de Duque de Caxias na Baixada Fluminense.
Ao ser perguntada como gostaria de ser chamada, a mulher parda de
voz firme sugeriu: “Pode me chamar de A Mãe Que Perdeu Três Filhos.
É assim que todos me conhecem por aqui.” Após o assassinato de seus
três filhos no curto período de cinco anos por grupos de extermínio e
pela Polícia Militar do Rio de Janeiro (PM), a Mãe Que Perdeu Três
Filhos resiste ao sofrimento dedicando-se à prevenção e retirada de
jovens do vício e do fetiche do varejo das drogas.43 Ela justifica sua
decisão relatando sua experiência de maternidade interrompida pelo
homicídio:

42 As favelas que formam o Complexo da Mangueirinha são: Favela da Mangueirinha,


Favela do Santuário, Morro do Sapo, Morro da Favelinha e Morro do São Pedro. Mangueirinha
foi a primeira favela fora do município do Rio de Janeiro a receber uma Unidade de Polícia
Pacificadora (UPP) em fevereiro de 2014.
43 Neste artigo utilizo os termos “varejo de drogas” e “venda de drogas” ao invés
de “tráfico de drogas” como uma forma de problematizar a naturalização dos projetos
governamentais e do foco da mídia, que tendem a definir as favelas como alvo principal
de ações antidrogas, enquanto os caminhos pelos quais essas drogas chegam às favelas são
encobertos.
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Deus me deu três filhos lindos, belíssimos, perfeitos.
Quando mataram meu primeiro filho, eu olhei pra
trás e vi que eu ainda tinha dois para cuidar. Eu
levantei minha cabeça, enxuguei minhas lágrimas
e segui adiante. Eu lutei. Lutei muito. Quando
mataram meu segundo filho, eu olhei pra trás e
ainda tinha um. Eu engoli minha segunda dor, meu
coração dilacerado e fui adiante por meu terceiro
filho. Quando meu terceiro filho faleceu, as minhas
palavras foram essas: ‘Jesus, Jesus, Jesus, o que será
da arvore sem suas raízes’. Eu choro lágrima de
sangue. E não é só uma, são três lágrimas que caem
incansavelmente. Três filhos. O primeiro sem a
metade da cabeça, o segundo sem um pulmão e uma
perna, o último com vinte sete tiros. A dor é muito
grande. Estou conversando com você e de repente
eu olho para o lado e vejo um jovem parecido com o
meu primeiro [filho], passo por um [jovem] que se
parece com o segundo ou com o terceiro. Eu não sei
qual é a dor do câncer, mas eu posso falar pra você
que esta dor é uma dor insuportável. Meu coração
continua sendo triturado, mas eu sou uma mulher
muito forte. Eu sigo viva testemunhando a minha
dor, pois tem muitos filhos de outras mães que eu
posso tentar preservar. [...]

O depoimento da Mãe Que Perdeu Três Filhos detalha não somente o


terror e o trauma de ter tido sua maternidade interrompida três vezes, mas
também a força necessária para seguir lutando por seus filhos e pelos filhos
da comunidade. No contexto de morte prematura, evitável e iminente nos
bairros pobres do Rio de Janeiro, é difícil estimar a devastação física, social,
emocional e política na vida das mulheres negras causadas pelos encontros
diários com práticas genocidas. Nessas áreas, a banalidade das mortes violentas
mostra tanto a vulnerabilidade à morte quanto as estratégias de sobrevivência
organizadas pela população negra.
A violência na Baixada Fluminense afeta principalmente a juventude
negra, que para além de “magnetizarem balas” (WILDERSON, 2010, p.
3), são vítimas da aversão à sua subjetividade. Ou seja, é principalmente em
seus corpos que atos de antinegritude – físicos e simbólicos – são inscritos.
Por exemplo, o medo advindo das representações sociais feitas sobre esses
40
jovens os impacta mais fortemente nas políticas de segurança pública, pois
a desumanização deste segmento populacional legitima a polícia para ser
mais dura com este grupo. Em consequência disso, as mulheres negras são
duplamente vitimadas, pois elas sofrem a ação direta da violência sobre seus
corpos, e também são vítimas secundárias da brutalidade exercida sobre seus
amigos, parentes e filhos. Em outras palavras, o homicídio de jovens negros e
negras gera resultados complexos no cotidiano de mulheres negras à medida
que elas exercem (ou são impedidas de exercer) seus papéis biológicos, sociais
e culturais de criação e proteção de sua prole e de suas comunidades em
geral. Como principais testemunhas da violência gerada pela antinegritude, as
mulheres negras ocupam uma posição importante através da qual se é possível
entender aspectos deste processo genocida.
Diversos autores argumentam que a experiência da Diáspora Africana
está intrinsecamente relacionada com a morte e o sofrimento. A respeito
disso, a autora norte-americana Ruth Simms Hamilton (1995) argumenta
que “a vida das pessoas negras consiste numa estrutura de desvantagens que
as põe em uma situação destrutiva, hostil e socialmente opressiva, constante
em toda a diáspora Africana” (p. 398). O mesmo é sugerido pelos intelectuais
negros Abdias do Nascimento (1978) e João Costa Vargas (2010), que
analisam a antinegritude e a violência contínua contra a população negra
como expressões do genocídio.
O uso analítico do conceito de genocídio vem ganhando espaço no
meio acadêmico dos Estados Unidos desde a década de 1950 a partir do
investimento de militantes que viram a possibilidade do uso do termo como
categoria política.44 No Brasil, apesar de o conceito ter sido inaugurado no
final da década de 1970 com a mesma finalidade, a academia segue resistindo
a teorizar a violência física e outras situações de vulnerabilidade que acometem
sistematicamente a população negra como sendo genocídio. É comum ouvir
que tal argumento desmerece os dois processos genocidas mais reconhecidos
na história das sociedades: o Holocausto Alemão durante a Segunda Guerra
Mundial, e o genocídio de Ruanda perpetrado por extremistas Hutus contra
os Tutsis e Hutus Moderados. O principal argumento é construído em torno
na impossibilidade de se aferir a intenção de destruir o grupo, visto que a
definição oficial de genocídio elaborada na II Convenção sobre a Prevenção
e Repressão do Crime de Genocídio, aprovada pela Assembleia Geral das
Nações Unidas em 1948 e ratificada pelo Brasil em 1952 o define como

44 Por exemplo, em 2011 a Associação de Estudos Étnicos Críticos (CESA) da


Universidade da Califórnia em Riverside organizou a conferencia Estudos Étnicos Críticos e o
Futuro do Genocídio tendo como palestrantes os mais prestigiados teóricos do conceito. Ver
em <http://events.ucr.edu/cgi-bin/display.cgi?event_id=34682>.
41
qualquer dos seguintes atos, cometidos com a
intenção de destruir, no todo ou em parte, um grupo
nacional, étnico, racial ou religioso, tal como: (a)
assassinato de membros do grupo; (b) dano grave à
integridade física ou mental de membros do grupo;
(c) submissão intencional do grupo a condições
de existência que lhe ocasionem a destruição física
total ou parcial; (d) medidas destinadas a impedir
os nascimentos no seio do grupo; (e) transferência
forçada de menores do grupo para outro grupo.
(Decreto 30.882. - Nações Unidas, Art II., 1948)

Focados na impossibilidade de se provar a intenção dos atos genocidas, os


críticos afirmam que o mais apropriado para entender a violência na Baixada
Fluminense seria analisá-la como uma epidemia gerada pela pobreza na região
(SOUZA, 1993) ou como um descaso devido ao seu preterimento em relação
à alegada guerra civil na capital do Rio de Janeiro (MONTEIRO, 2011).
Estas perspectivas desmerecem a importância política e analítica da categoria
genocídio para se entender a realidade brasileira e impedem que processos locais
possam ser vistos como “parte de um continuum de violência contra a população
negra na diáspora africana” (VARGAS, 2010, p. 5).
Contribuindo para este debate, João Costa Vargas (2010) refuta a premissa
da impossibilidade de aferir a intenção dos atos e afirma que “se fôssemos
desviar a nossa atenção para a busca de intenções, ou se não adotar uma
perspectiva sistêmica e incremental em genocídio, tais fenômenos poderiam
parecer díspares no espaço, tempo e natureza, e não haveria nenhum genocídio
a ser contabilizado” (p. 5-6). Ao contrário, inspirado pelo trabalho de Willian
Patterson e seus colaboradores em We Charge Genocide [Nós Cobramos
Genocídio] (1951), Vargas sugere que, sem perder o rigor da aplicação do
termo, foquemos “em processos sociais específicos, quantificáveis e recorrentes
na Diáspora Africana, e cujos resultados são a vitimização desproporcional da
população negra” (VARGAS, p. 7). Ainda de acordo com a análise de Vargas,
o genocídio é multidimensional e é expresso na “violência física mortal,
discriminação institucionalizada pela e na polícia, tribunais e órgãos legislativos;
terror psicológico, marginalização econômica e política, e militarização” (p. 4).
Neste artigo, embora entendendo que a população da Baixada Fluminense esteja
vulnerável a diferentes atos pelos quais poderíamos cobrar genocídio, concentro
principalmente nos índices de violência letal como expressão do genocídio
antinegro. Em conformidade com os teóricos do genocídio antinegro, defendo
uma análise da violência na Baixada Fluminense centrada na antinegritude
42
e que leve em consideração os agentes e as vítimas da violência; a presença
ou ausência de racismo como um componente significativo de análise; e as
possibilidades de resistência a ele.
O cenário de homicídios na Baixada Fluminense é escandaloso. Como é
possível ver no gráfico 1, dados do Instituto de Segurança Pública do Estado do
Rio de Janeiro (ISP-RJ) mostram que a curva de homicídios na capital do Rio
de Janeiro vem caindo desde 2009, enquanto a curva de homicídios da Baixada
Fluminense apresenta continuado aumento a partir de 2012, tendo ultrapassado
a curva da Capital ainda em 2011, em virtude de sua queda relativa entre 2009
e 2012 ter sido menor que a da Capital. Esta virada pode ser explicada pela
implementação de Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) em diversas favelas
do município do Rio de Janeiro e a consequente migração de traficantes para
outras regiões do \stado, principalmente a Baixada e o Norte Fluminense45. Para
Olinda46, uma moradora do Complexo da Mangueirinha, essa suspeita legitima
a ação ostensiva da polícia na região. Ela diz:

A polícia chega atirando e a gente não sabe o que fazer.


Ontem mesmo apontaram arma para meu filho. Eu
choro até pelos filhos dos outros. Nós todos tínhamos
que nos reunir para reclamar. Essa favela não estaria
do jeito que está. Foi muito tiro passando dali pra cá.
De um ponto que eu preferi estar no meio da rua a
estar dentro da minha casa. Peço que tenham calma,
paz. Quando eles fazem operação, querem ir entrando
nas nossas casas e querem que nós abaixemos a cabeça.
Nos xingam de tudo o que é nome. Se todo mundo
denunciasse, a Mangueirinha não estava como está.
Eles acham que todos que fugiram da UPP vieram pra
Mangueirinha. Acham que aqui é esconderijo.

45 Oficialmente, as Unidades de Polícia Pacificadoras visam à aplicação da lei e inserção


de serviços sociais que visa recuperar territórios em favelas controladas por traficantes de
drogas. Segundo os moradores dos locais, a prática desta política se traduz na coerção,
brutalidade policial, restrição de direitos e corrupção, apenas para listar alguns. (IBASE,
2011). De acordo com o Secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, a estratégia
de implementação das UPPs é anunciar amplamente o local da instalação e divulgar a data e a
hora da incursão da polícia na favela. Isso possibilitaria a entrega ou a fuga de traficantes para
outros locais. Por exemplo, em 15 de junho, o jornal O Globo publicou o artigo “Mangueira
Será Ocupada pelo Bope no domingo”. O subtítulo do artigo diz, “Polegar, chefe do trafico, já
teria deixado o morro” (Goulard, 2011).
46 Os nomes reais das colaboradoras deste ensaio foram omitidos na tentativa de
preservação de suas identidades.
43
Gráfico 1: Capital Rio de Janeiro e Municípios da Baixada, 2007-2014:
Frequências absolutas

Fonte: ISP-RJ

O gráfico acima também mostra a curva representativa de homicídios


dos três municípios da Baixada Fluminense que tiveram frequência
absoluta maior que 100 homicídios entre os anos de 2007 e 2014.
Percebe-se um equilíbrio da curva ao longo dos anos, o que mostra o
continuum de violência na região e indica a falta de políticas capazes de
reduzir as mortes. A seguir mostramos que não coincidentemente, esses
são também os municípios da Baixada com as maiores taxas de homicídios
na população negra.

O Mapa da Violência 2012 – A Cor dos Homicídios no Brasil


(WAISELFISZ, 2012) mostra que seis municípios do Rio de Janeiro
aparecem entre os 100 municípios brasileiros com maiores taxas de
homicídios negros entre os 608 municípios com mais de 50 mil habitantes.
Dentre esses seis municípios, Duque de Caxias figura como a primeira
cidade do estado do Rio de Janeiro, ocupando a quadragésima primeira
posição no ranque nacional. Nova Iguaçu aparece em sexto lugar no
estado e em 89º no país.

44
Homicídios
Unidades População Ranque
Números Taxas
Territoriais Nacional
Branca Negra Total Branca Negra Branca Negra
Duque de
302.089 542.300 855.048 138 426 45,7 78,6 41º
Caxias
Itaguaí 42.320 65.613 109.091 11 44 26,0 67,1 65º
Japeri 26.254 67.325 95.492 11 43 41,9 63,9 75º
Niterói 307.654 176.132 487.562 71 108 23,1 61,3 83º
Cabo Frio 88.847 95.916 186.227 33 58 37,1 60,5 84º
Nova Iguaçu 289.612 498.496 796.257 105 297 36,3 59,6 89º

Tabela 1: Municípios do Rio de Janeiro com maiores taxas de homicídio de negros


entre os 608 municípios brasileiros com ais de 50 mil habitantes em 2010.
Fonte: Mapa da Violência 2012 a partir do processamento dos microdados do
SIM/SVS/MS e Censo Demográfico 2010/IBGE

Como podemos ver na tabela 1, a taxa de homicídios na população


branca de Duque de Caxias era de 45,7% em 2010, enquanto que a taxa de
homicídios na população negra era de 78,6%. Já em Nova Iguaçu as taxas
de homicídio nas populações branca e negra eram respectivamente 36,3%
e 59,6%. Percebe-se que o número de habitantes negros das duas cidades
da Baixada Fluminense (em verde) é maior do que o número de habitantes
brancos, contudo, ressaltamos que o método para calcular as taxas de
homicídios considera o número de homicídios em relação a cada segmento
populacional. Portanto, o método refuta o argumento de que morrem mais
negros por configurarem a maioria da população. Ou seja, nesses municípios,
seguindo a regra nacional, a população negra é mais vulnerável à violência
letal e os brancos são os principais beneficiários das raras políticas de Estado
levadas a cabo para combater a violência.

Os índices de encontro de ossada, encontro de cadáver e autos de


resistência informam o papel do Estado na produção da violência na Baixada
Fluminense. A história social da Baixada Fluminense é marcada pela ação
ostensiva da Polícia Militar e pela atuação de milícias e grupos de extermínio
com um braço no Estado. O sociólogo José Cláudio Souza Alves (2007),
estudioso da atuação dos grupos de extermínio na região, afirma que é errôneo
45
dizer que existe um poder paralelo atuando na Baixada Fluminense. Para ele,
“é justamente dentro do Estado que se aloja a estrutura de funcionamento
de grupos criminosos” (p. 10). Alves argumenta que “a matança que vitima
negros e pobres na baixada beneficia vários grupos sociais, econômicos e
políticos do Rio de Janeiro” (p. 12).

O Gráfico 2 mostra, em números absolutos, a evolução dos casos de nos


treze municípios da Baixada Fluminense entre 2005 e 2014.

Gráfico 2: Índices de Violência na Baixada Fluminense, 2005-2014: Frequência


Absoluta

Fonte: ISP-RJ

Essas tipologias revelam aspectos importantes para o entendimento


do histórico de atuação dessas instituições e como se relacionam com
a raça, gênero e território. Enquanto na tipologia Homicídios Dolosos
(quando há intenção de matar) são incluídos os assassinatos cometidos
entre a população, os chamados Autos de Resistência configuram as mortes
cometidas por policiais. Os dados do ISP-RJ indicam que de 2005 a 2014
houve 2058 registros de Auto de Resistência, se somados os números
dos treze municípios da Baixada Fluminense. Amparados pelo Código
46
Penal, esse termo era usado por policiais que matavam suspeitos alegando
estarem se defendendo. Contudo, conforme mostra Michel Misse et al
(2013), mesmo representando homicídios, os Autos de Resistência eram
classificados separadamente nas estatísticas.47

Outra questão importante são os encontros de cadáveres e ossadas na


Baixada Fluminense. De acordo com o sociólogo José Claudio Souza Alves
(2003), era característica das milícias matar ostensivamente e deixar os corpos
visíveis nas ruas da Baixada como um ritual de afirmação do seu poder. De
acordo com ele, a vinculação da Polícia Militar com grupos de extermínios
era visível principalmente nos modelos de execuções e pelas formas punitivas
adotadas na região. Esta característica foi forjada no golpe militar de 1964,
quando a PM assumiu papel coadjuvante na repressão montada pela ditadura.
Ele descreve:

As marcas de algema, cordas e arames; os sinais


de sevícias e tortura; o corpo frequentemente
encontrado apenas com uma sunga; as perfurações
de balas de calibre 45, de nove milímetros ou de
metralhadora; e o cuidado com a não identificação
da vítima – ausência de documentos, abandono
em lugar ermo não podiam ser atribuídos à briga
entre quadrilhas rivais ou à disputa entre traficantes,
nem tampouco à ação de bandidos que queriam
desmoralizara polícia. (p. 130)

Até as décadas de 1980 e 1990, podia-se ver esta exposição não somente
nas ruas dos municípios, como também nas bancas em que jornais sangrentos
expunham essas atrocidades como um espetáculo de corpos negros mutilados
e perfurados por balas. O racismo nas políticas públicas de segurança no
Rio de Janeiro e na Baixada Fluminense é expresso através de um cultivo do
medo, caos e desordem que serve para detonar estratégias de neutralização
e disciplina da população preta e pobre, e as políticas formuladas fazem

47 Em janeiro de 2016, a resolução conjunta Nº 2 (DOU, 04/01/2016) publicada


pelos comandos da Polícia Federal e das polícias civis aboliu os termos “auto de resistência”
e “resistência seguida de morte” dos boletins de ocorrência e inquéritos policiais. A mudança
da nomenclatura era uma antiga reivindicação de grupos de direitos humanos, que
argumentavam que o uso das expressões protegia policiais que cometiam propositalmente
homicídios.
47
uso do extermínio como tática de terror e controle dessa população. Com
o intuito de manter a ordem, é no corpo negro que o poder do Estado é
exercido, matando-o e silenciando-o. No livro Elemento Suspeito (2005),
Silvia Ramos e Leonarda Musumeci abordam o preconceito racial no
policiamento do Rio de Janeiro. De acordo com elas, a Polícia Militar
exerce um tipo de policiamento baseado subjetivamente em critérios
de classe, idade, sexo e raça, ou seja, apesar de as mulheres também
sofrerem a ação direta da repressão policial, os jovens-pobres-negros são
“freio de camburão” (p. 75).

Para Alves (2003), o vínculo da Polícia Militar (PM) com grupos


de extermínio, tal como o Esquadrão da Morte que atuou na Baixada
na década de 1970, acarretou em assassinatos punitivos e vingativos que
deixaram um rastro de encontro de cadáveres em diversas cidades da
Baixada, mas principalmente em Nova Iguaçu (p. 135). O despacho de
cadáver ainda é recorrente na Baixada Fluminense e, conforme expresso
no Gráfico 2, no período analisado este índice de violência teve seu
ponto máximo no ano de 2007, com 169 corpos encontrados. Contudo,
após a visibilidade que a CPI das Milícias48 trouxe para as “punições
exemplares” que conformam características das milícias e grupos
de extermínio, agora eles agem “no sapatinho” (CANO; DUARTE,
2012), matando silenciosamente, sepultando os cadáveres, ou fazendo-
os desaparecer. Um exemplo desta tecnologia cadavérica é colocar
pedras e entulhos dentro do abdômen para o corpo não boiar e, assim,
desaparecer quando jogado no mar ou em um rio (ARAÚJO, 2014).
Esta estratégia faz com que se torne relevante, embora ainda baixo, o
índice de encontro de ossada.

O gráfico 3 mostra a evolução dos casos de desaparecimento na


3ª RISP – Região Segurança Pública, que corresponde aos registros
das dezoito delegacias da Baixada Fluminense nos últimos dois anos.
Segundo o Instituto de Segurança Pública, houve registros de 1.760
pessoas desaparecidas nas delegacias da região em 2015. O número
quase não mudou em relação ao ano subsequente (1.663 casos).

48 A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Milícias no Rio de Janeiro foi


idealizada e presidida pelo deputado Estadual Marcelo Freixo e indiciou mais de 200 pessoas.
O relatório pode está disponível em <http://www.nepp-dh.ufrj.br/relatorio_milicia.pdf>
48
Gráfico 3: Pessoas Desaparecidas na Baixada Fluminense, 2014-2015: Frequência
Absoluta

Fonte: ISP-RJ

Como é possível perceber, salvo o mês de junho, em todos os outros


meses houve uma pequena diminuição de registros com relação ao ano
anterior. Conforme aponta o sociólogo Fabio Araújo (2014), muitas
vezes são impostos o silêncio e consequentemente a falta de registro e
investigação dos casos de desaparecimento, o que faz com que os casos
reais de pessoas desaparecidas sejam ainda maiores.49 Contudo, o que a
frieza dos números e destas manobras não mostra é que somente nesses
dois anos 3.423 famílias da negra Baixada Fluminense convivem com a
ausência de pelo menos um membro. Os números encobrem milhares
de mães que sofrerão e desejarão todos os dias o retorno de seu filho ou
filha.

49 O advogado João Tancredo afirma que “o Auto de Resistência tem os nomes das
vítimas e dos policiais militares. Se a família (da vítima) cobra providências, a sociedade civil se
mobiliza e o PM que matou alguém de forma covarde vai para a cadeia. (...) Desaparecimento
não tem autor” (CARPES, 2014). Ou seja, se não tem corpo, não tem autor, logo, não tem
crime.
49
Maternidade ultrajada e a gramática do genocídio na
experiência das mulheres

Como podemos identificar expressões de resistência em situações


de genocídio e vulnerabilidade extrema? Uma abordagem interessante a
essa pergunta pode ser encontrada na obra de Cedric Robinson (1983).
Em Black Marxism, Robinson argumenta que os esforços para entender
a história da resistência dos negros unicamente através do prisma da
teoria marxista são incompletos e imprecisos. Ele argumenta que as
análises marxistas tendem a pressupor modelos europeus da história e da
experiência que minimizam a importância dos negros e das comunidades
negras como agentes de mudança e resistência (p. 43). Robinson examina
os mecanismos pelos quais os povos africanos em toda a Diáspora
resistiram à violência da escravidão e, no processo, como criaram uma
resposta radical que foi incorporada nas experiências históricas e culturais
de consciência desses povos. Ele estabelece as bases para pensar a resistência
à antinegritude com a consciência histórica em mente, a Tradição Radical
Negra. Esta tradição considera principalmente os processos de tomada de
consciência da população negra, tais como as revoltas, rebeliões, e fugas à
escravidão como fundamentais e extremos para a consciência histórica da
população negra.

Engajando com a perspectiva de Robinson na pesquisa com mães


que tiveram filhos assassinados, é possível identificar a maternidade
negra como um desses processo de tomada de consciência e resistência à
antinegritude. Argumento que a maternidade negra é responsável pela (re)
criação de sociabilidade negra na Diáspora Africana em face das maneiras
com que o genocídio tenta eliminar existência negra. Vários estudiosas
têm se engajado com o conceito de othermothering [outra maternidade]
para falar do papel exercido pelas mulheres negras na preservação de suas
comunidades (COLLINS, 1993, 1994; EDWARDS, 2000; JAMES,
1993; O’REILLY, 2004; WELLS, 1998). Othermothering consiste na
responsabilidade compartilhada de carinho e acolhimento de crianças, e

50
tem importância fundamental para a sobrevivência da comunidade negra,
pois é uma forma cultural e política que as mulheres negras encontraram
para garantir a sobrevivência dos seus filhos.

No livro Toni Morrison e Motherhood, a pesquisadora Andrea


O’Reilly (2004), baseada no trabalho de feministas negras como Patrícia
Hill Collins e Sara Ruddick, chama de Maternidade Preservativa a tarefa
das mulheres negras em “manter as crianças vivas em um mundo racista
hostil ao seu bem-estar” (p. 117). De acordo com O’Reilly, “na tentativa
de reivindicar seu poder como mães, elas perturbam a visão cultural de
que todas as mães e, particularmente as mães negras, são impotentes às
adversidades” (p. 119). Pelo contrário, elas encontram diversas maneiras
para tentar preservar as vidas de seus filhos e filhas. E por muitas vezes,
definham de tristeza, pena e ultraje quando não são vitoriosas.

No contexto do genocídio antinegro do Rio de Janeiro e da Baixada


Fluminense, ofereço o conceito de Maternidade Ultrajada como uma
maneira de retratar os sentimentos e estratégias utilizadas por mulheres
negras e mães de vítima de violência. Como poderemos ver abaixo, a
violência informa a experiência das mulheres negras com a maternidade
através da intimidade com a morte e elas expressam seu ultraje por ter
sua maternidade interrompida pela violência. Seus testemunhos abordam
as práticas, explicações e sentimentos relacionados à maternidade negra
como uma ferramenta de combate e também alvo do genocídio antinegro.
Conscientes da estrutura do racismo letal que vitima principalmente
corpos negros, as mães negras lutam diariamente pela sobrevivência física
de seus filhos e os filhos de suas comunidades. Neste sentido, Maternidade
Ultrajada pode ser entendida como uma expressão de indignação pela
impossibilidade de exercer a maternidade devido à violência e o descaso
perante o sofrimento negro. O ultraje impulsiona as mães a pensarem em
alternativas para aquilo que leva os seus filhos e a elas mesmo para a morte
– física e/ou social.

51
Abaixo apresento um quadro de identificação das entrevistadas para esta
pesquisa e um resumo da interrupção de sua maternidade:

Quadro 1: Maternidade Ultrajada

Nome e
Nome da Idade do Ano da Morte/
Ocupação Contexto da Morte Segundo as Mães
Mãe Filho ao Desaparecimento
morrer
Desaparecido. Estava envolvido com
Auxiliar de Felipe - 17
Marta 2002 venda de drogas. Acha que caiu em
Creche anos
emboscada.
Auto de Resistência – estava voltando
Eduardo – da casa da namorada que morava perto
Patrícia Aposentada 2002
14 anos de boca de fumo. Foi ameaçada pelos
policias a não denunciar.
Homicídio. Jovem havia parado de
Márcio –
Alda Aposentada 2011 usar e vender drogas há 2 anos e estava
34 anos
trabalhando em regime CLT.
Não
Ari – 22 Envolvido com roubo. Torturado e
Olinda trabalha 2000
anos assassinado a mando de facção rival.
(doença)
José (filho) 2010
Envolvimento com roubo. Assassinado
dentro de casa.
Não
Dora
trabalha
Envolvimento com roubo. Assassinado
Ivo 2010 (2 dias
numa festa ao tentar vingar a morte de
(sobrinho) depois)
seu primo.
Assassinado, esquartejado e os pedaços
Carla Catadora Patrick 2011 postos em sacos de lixo. Dívida de
drogas.
Não Assassinado pela polícia confundido
Nia Hélio 2000
trabalha com traficante.
Assassinado perto de casa. Suspeita de
Joana Cosme –
Cozinheira 2007 queima de arquivo por envolvimento
Dark 24 anos
com milícia.
Maria Vendedora Marcos 2009 Auto de Resistência
Primeiro Morto em chacina promovia por gru-
15
Mãe Que Filho - po de extermínio.
Perdeu Não traba- Segundo Venda de drogas. Assassinado ao sair
18
Três lha (doença) Filho - de casa.
Filhos Terceiro Venda de drogas. Assassinado dentro
14
Filho - da favela em que morava.

52
Através de entrevistas com as mulheres qualificadas acima foi possível
classificar a Maternidade Ultrajada em cinco estágios: Alegria Amedrontada,
Aviso Carinhoso, Iminência Ansiosa, Triste Aceitação e Outra Maternidade.
Neste artigo, essas categorias foram revisitadas e ampliadas para esboçar
a gramática do genocídio antinegro na Baixada Fluminense através da
perspectiva das mulheres. Foi utilizado o programa QSR NVivo 11© para a
análise quantitativa, que permite a codificação de trechos das transcrições de
entrevistas de acordo com temas principais que informam a experiência das
mães. As transcrições das 10 entrevistas em profundidade foram codificadas
segundo a árvore temática [tree nodes] abaixo descrita.

- Alegria Amedrontada
• Desafios da Gravidez
• Projetos

- Aviso Carinhoso
• Conselhos
• Conjecturas

- Iminência Ansiosa
• Iminência da morte
• Estratégias

- Triste Aceitação
• Reflexão sobre a morte
• Lidar com a dor
• Saudade
• Reconstrução própria

- Renovação Saudosa
• Busca de sentido e significado
• A redescoberta dos outros filhos
• Os filhos da comunidade

53
Esta árvore temática foi elaborada considerando a morte como
experiência comum entre as 10 mulheres que fizeram parte do estudo.
Diante disso foi possível criar tipos ideais (WEBER, 2009) sobre as
experiências de pré-morte e pós-morte. Como tipos ideais, estas estruturas
de maternidade não são uma regra para todas as mulheres negras, tampouco
para todas as mães de vítima de violência. No contexto de genocídio e
antigenocídio, dependendo dos determinantes sociais e da rede de apoio
que elas desenvolvem, as mães negras podem ter a experiência de todos,
algum ou nenhum estágio de uma maternidade ultrajada.

Assim sendo, os tipos ideais Alegria Amedrontada e Aviso Carinhoso


relacionam-se com as experiências pré-morte de seu ente querido; Iminência
Ansiosa concerne ao período em que, em casos de envolvimento com a
criminalidade, as mães se preparam para o pior, sem deixar de lutar pela
vida dos seus filhos e filhas; finalmente, Triste Aceitação e Renovação Saudosa
dizem respeito às estratégias de reconstrução de suas vidas após a morte de
seu familiar. Após a codificação das entrevistas, foram geradas nuvens de
palavras com as respostas das mulheres sobre uma pergunta específica ou
tópico de discussão. Essas nuvens podem ser vistas a seguir, como serão
sentidas e gerarão empatia depende da capacidade do leitor em entender
a gramática do sofrimento negro (WILDERSON, 2010). A proposta
aqui não é a de expor pornograficamente a experiência dessas mulheres
(HARTMAN, 2007), mas a de contribuir com a denúncia do genocídio
antinegro e, principalmente, mostrar que ele é também uma experiência de
gênero.

Ao serem perguntadas sobre o significado da maternidade, as mulheres


falaram sobre o que sentiram durante a gravidez e as projeções feitas para
o crescimento e futuro de suas crianças. Alegria Amedrontada refere-se aos
primeiros momentos da maternidade dessas mães de vítimas de violência.
As mães se lembram da alegria e da esperança com a nova vida sendo gerada
em seu ventre e dos primeiros anos da infância de seus filhos. Contudo,
elas também revelam a angústia de não saber se serão capazes de mantê-los
longe dos perigos do mundo – principalmente a violência. Por exemplo,
Joana Dark afirma que até a morte de seu filho, na idade de 24 anos, a
maternidade foi uma realização para ela. “Receber o abraço de um filho é
maravilhoso. Ouvir que é amada... eu era um escudo pra ele. Desde criança,
onde ele queria ir, se precisasse de mim para protegê-lo, eu ia. Desde descer uma
escada, até entrar na frente de uma bala”.
54
Na nuvem de palavras formada para a categoria Alegria Amedrontada
(figura 1), percebe-se que as quatro palavras mais citadas por elas são família,
alegria, mãe e parto. Essas palavras podem remeter a uma romantização da
maternidade, contudo, outras palavras como dinheiro, assustada, medo e pai,
nos lembram dos desafios vividos pelas mulheres pobres das periferias que
muitas vezes são mães solteiras e arcam sozinhas e/ou através das maternidades
coletivas [othermothering] com a criação e educação de seus filhos e filhas.

Figura 1 - Nuvem Alegria Amedrontada

A Mãe Que Perdeu Três Filhos, já apresentada no início deste texto,


também relata suas expectativas com a maternidade. Segundo ela, cada filho
demandou uma entrega pessoal única e mesmo após o assassinato de seu
segundo filho, ela ainda sonhava em ser feliz em sua experiência maternal.
Em suas palavras:

Eu sonhava em vê-los crescerem e que eles cuidassem


de mim. Meu sonho era viver com esse último não
olhando para trás, mas para frente. Queria que ele
pensasse, ‘minha mãe fez tudo por mim, não tem
marido, é deficiente, vou fazer tudo por minha
55
mãe. Cuidar da minha mãe para ela não chorar’.
Eu dizia para ele que era melhor comer pão seco e
tê-lo comigo do que comer filet mignon e não ter
nenhum filho. Já bastava os dois que eu perdi.

A categoria Aviso Carinhoso abrange todos os conselhos que as mães dão


a seus filhos para prepará-los para enfrentar o mundo racista. Esta fase da
maternidade também envolve uma análise constante da violência e conjecturas
de medo a fim de prever cenários de perigo. Por exemplo, Dora conta que
sempre alertou seu filho e sobrinho para o pior. “Eles me chamam de dramática,
mas quando alguma coisa acontecia eles vinham logo me dizer, ‘bem que você disse,
mãe’. Se tivessem me ouvido...”. Este é um momento de luta principalmente
na esfera privada (casa) e de formação da personalidade de seus filhos na
tentativa de evitar problemas que possam surgir do seu comportamento e/ou
envolvimento com a criminalidade. Neste sentido, assessoria e aconselhamento
tornam-se as principais expressões da maternidade, especialmente quando
seus filhos e filhas chegam à adolescência.

Figura 2 - Nuvem Aviso Carinhoso

56
Conforme pode ser visto na nuvem de palavras acima (figura 2), nesta
fase as mães se preocupam tanto com a “polícia” quanto com os “bandidos”.
Essas duas palavras aparecem do mesmo tamanho quando quantificados o
léxico de suas narrativas. Preocupação é o sentimento central nas mães, e
entendem que o racismo pode ser fator que gera insegurança à vida de seus
filhos e filhas. Diante disto, a vestimenta preferida dos jovens homens – boné,
bermuda e tênis Nike – também é vista como marcadora da diferença que
põe em risco a integridade física dos jovens. O mesmo pode ser dito quanto a
alguns locais, tais como a rua e a esquina. Fica também evidente a necessidade
de identificação dos jovens. É recorrente entre elas os avisos para que seus
filhos carreguem documentação e carteira. “Assim eles podem mostrar quem
são. A gente nunca sabe o que pode acontecer”, avisou Maria.

Quando as tentativas de prevenção falham e os adolescentes se


envolvem com a criminalidade, as mães buscam outras duas características
de maternidade em zonas de morte. Iminência Ansiosa é o período no qual
elas tentam desesperadamente tirar seus filhos da criminalidade ou de outros
processos perigosos que podem levá-los à morte. A certeza do envolvimento
no varejo das drogas causa desespero nas mães, e além de lutar para evitar
seu encontro fatal com uma bala de revólver, elas tentam se preparar para a
notícia fatídica.

Alda relata a angústia desta etapa de sua maternidade:

Minha vida mudou muito. Meus filhos saíam de


casa e eu não confiava. Eu ficava preocupada e não
conseguia dormir bem. Assim, por um longo tempo
eu era como uma pessoa louca. Eu escutava fogos de
artifício, eu não me importava, poderia ser qualquer
hora do dia ou da noite, eu entrava na favela à
procura deles.

Marta, irmã de Alda, também relata sua experiência com a Iminencia


Ansiosa:

Meu filho se envolveu e morreu rapidamente,


tudo durou menos de três meses, mas pareceu uma
eternidade. Uma vez eu estava trabalhando e parou
57
um carro da polícia em frente ao meu serviço, eu
estava na hora do almoço. Uma amiga minha me
gritou pra falar que o cara estava com o Felipe
dentro da patrulhinha. Fiquei muito nervosa. Estava
com 3 trouxinhas de maconha. Fui na delegacia e
o soltaram. Minha irmã o levou pra casa da minha
mãe. Quando eu saí do trabalho e fui buscá-lo, ele
já estava dentro da favela novamente. Eu o trazia pra
casa, quando eu olhava ele já tinha saído. Ele estava
cego, um tipo de cegueira que só via aquilo.

Joana Dark também relata sua experiência:

A pior parte desta história foi quando ele se


envolveu com policiais e estava lá no morro onde
eu fui nascida e criada entregando as pessoas. Eu
estava trabalhando, minha filha me ligou e pediu
para que eu viesse imediatamente porque ele
estava aprontando. Isso foi uma facada no meu
coração. Minhas irmãs estavam todas chorando
na calçada quando eu cheguei na favela. Tinham
muitos homens com armamento pesado, com fuzil,
escopeta, sei lá o que era aquilo. Ele sem nada, sem
colete, capacete, sem nada. Eu xinguei ele, bati na
cara dele, os policiais puseram a arma na minha cara.
Daí ele gritou: “não, por favor, é a minha mãe, é a
minha mãe”. Eu chorei muito. Ele disse que eu o
estava fazendo passar vergonha. Vergonha foi o que
eu passei com ele dentro da favela em que eu nasci.
Os policiais não me mataram por causa dele, mas
eu faria tudo de novo. Quando eu desci o morro, os
moradores me aplaudiram por minha coragem. Eu
não entendi na hora, mas logo depois uma vizinha
veio me contar que se eu não tivesse feito o que fiz,
os traficantes iriam expulsar minha família todinha
da favela.

58
A nuvem de palavras que retrata esse momento na vida das mães de
vítima de violência pode ser apreciada na figura 3 abaixo.

Figura 3 - Nuvem Eminência Ansiosa

As conversas com as mães de vítima de violência tiveram como ponto


crítico falar do dia da morte de seus filhos. Elas relatam este dia como a
experiência do mais profundo sentimento de tristeza que uma mãe pode ter.
Joana Dark diz que depois da morte de seu filho, o significado de vida mudou
para ela. Segundo ela, a ausência dele a faz lembrar da existência dela e a
inexistência de sua maternidade. Joana relata:

Para evitar que meu filho morresse eu fiz de tudo. Se


Deus falasse “Você vai e ele fica”, eu iria na hora. Eu
já vivi o que eu tinha que viver, ele não. Ele estava
começando a vida dele. Queria tanto o meu filho
aqui. A pior data pra mim é o meu aniversário. Eu
tento me animar por causa da irmã dele, mas... Eu
fazendo cinquenta e poucos anos e meu filho não
está mais aqui. Isso é horrível para mim.

59
Similarmente, A Mãe Que Perdeu Três filhos descreve sua experiência de
luto como algo que transborda o limite do emocional. Ela narra:

Eu fiquei tomando sete remédios tarja preta. A minha


dor era tão grande, tão profunda, que acho que eu
fiquei em coma. Eu ainda estou em coma. Sabe o
que é você não acreditar. Eu ainda estou em coma.
Sabe a pessoa que sofre um acidente e fica dois, três
anos em coma? Se a pessoa não tiver uma fé grande
ela dá um tiro na cabeça. Eu não tenho mais nada.
Não tenho mais filho, não tive netos, não tenho mais
marido. Não tenho nada. É muita dor. É um vazio.
Eu só estou viva quando eu estou na rua. Quando eu
entro em casa eu volto para coma.

A nuvem de palavras da Triste Aceitação (figura 4) é formada a partir dos


comentários das mães sobre como lidam com a dor, angústia e culpa após a
morte de seus entes queridos. Nesta etapa, a vergonha e a tristeza competem
com a força dessas mães para recuperar a rotina em suas vidas. Elas analisam
o acontecimento enquanto refletem sobre o seu papel na preservação da vida
de seus filhos. Patrícia, relata seus sentimentos e frustrações: “Eu me sinto mal.
Eu não me sinto realizada em minha vida. Eu falhei como mãe. Eu acho que sou
culpada por não ter dado mais apoio para o meu filho. Eu me sinto muito culpada.”

Joana Dark também expressa certo sentimento de culpa por ter perdido
seu filho. Ela revela:

Eu pensei que dando o melhor, tal coisa não


aconteceria. Então eu me concentrei em trabalhar
duro para dar o que ele precisava. Eu pensei que ele
não faria essa merda. Meu filho começou a trabalhar
com dezesseis anos de idade, seguindo a mesma
vocação de seu pai, um ferreiro. Ele voltou para casa
cheio de graxa no seu primeiro dia de trabalho, eu
me senti como a mulher mais feliz do mundo. Eu me
importava, eu cuidei dele. Até hoje eu não sei por que
meu filho se envolveu com tais coisas. Se eu tivesse dito
não para algumas coisas e mantivesse minha palavra,
se eu tivesse tido mais firmeza meu filho ainda poderia
estar aqui. Eu não sei...
60
Figura 4 - Nuvem Triste Aceitação

Figura 4 - Nuvem Triste Aceitação

Com o passar do tempo as mulheres entram num processo de


transformação do seu luto. Renovação Saudosa consiste na reconstrução da
sociabilidade da mãe que perdeu seu filho ou filha seja pela necessidade
de trabalhar e criar outros filhos, seja pela esperança ressurgida através da
redescoberta de outras possibilidades de alegria, ou mesmo por meio da
construção de outro sentido para as suas vidas.

Figura 5 - Nuvem Renovação Saudosa

61
Sobre esta fase, Nia revela:

Eu converso com Deus para pedir força, e agora


tenho um ser que Deus me deixou para cuidar.
Tenho que me dedicar a ele, a viver por ele. Ele me
trouxe a vida. Um presente que Deus me deu, que é
o meu neto. Deus desceu um anjo para nos alegrar,
estávamos no fundo do poço.

Religiosidade também tem papel fundamental na reconstrução da vida


das mães de vítima de violência. A Mãe que Perdeu Três Filhos aliou a fé ao
cuidado de outras crianças para o seu fortalecimento. Ela diz, “cuidar do filho
de outras mães me anima. Falar que Cristo cura, sara, liberta e é a arma mais
poderosa. Não tem fuzil, metralhadora ou pistola. Eu sinto dor 24 horas por dia.
Eu acordo e durmo sentindo dor, saudade pelos meus filhos. Mas isso não me
impossibilita de lutar por outros. Enquanto há vida, há esperança.”

Baseada nas entrevistas com as mães de vítimas de violência que


colaboraram com este estudo, defendo que suas narrativas de violência
apresentam um léxico que aborda suas experiências ontológicas com o
genocídio na medida em que estão profundamente relacionados com a
morte e o morrer. Isso é possível por que as mulheres negras são vítimas e
principais testemunhas dos atos de violência contínua, estrutural, e gratuita
do genocídio antinegro. Sua resistência através da posicionalidade de mãe
busca evitar, retardar e/ou transcender o genocídio na Baixada Fluminense,
no Brasil e na Diáspora Africana.

Conclusão

Este artigo buscou analisar os homicídios e a vitimização negra na Baixada


Fluminense a partir da perspectiva da antinegritude. Os índices de violência
na região mostram que a população negra é historicamente o principal alvo
de práticas e políticas que a põem em situação de extrema vulnerabilidade e
exposição à morte prematura.

62
As histórias de Martha, Alda, Olinda, Dora, Carla, Nia, Patrícia, Maria,
Joana Dark e da Mãe Que Perdeu Três Filhos estão cheias de sofrimento,
tristeza e desespero, mas elas nos mostram o seu poder para lutar contra a
estrutura mortal que desmantela suas famílias. Se o objetivo principal do
genocídio é a morte negra, a maternidade negra tenta evitá-lo através de
atos que tentam assegurar a manutenção da Diáspora. Este texto mostrou
as minúcias dessa luta de sobrevivência através da maternidade. Essas mães
negras não tiveram o poder para evitar a morte, mas elas mostram uma enorme
resistência na micropolítica da vida cotidiana. Suas experiências ilustram que
as ideologias genocidas geram a individualização do sofrimento mediante a
criação de vergonha em torno de sua suposta falta como mães. Esta vergonha
é evidente em sua autoculpa e sentimento que eles deveriam ter feito algo
diferente para evitar as mortes. Suas estratégias para garantir a possibilidade
de a maternidade revelam uma gama de sentimentos e lutas internas que,
embora forte, não as paralisam, mesmo na tristeza.

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