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A Eucaristia
na espiritualidade dehoniana
ENQUADRAMENTO
• As figuras da Eucaristia
• A Eucaristia como acontecimento
• A Eucaristia como Sacramento
• O mistério do lava-pés
• O espírito de serviço
• O serviço do Espírito
• “Corações ao alto”
• A Eucaristia e a igreja peregrina
• A Eucaristia, esperança e compromisso
• A Eucaristia e a evangelização
• A Eucaristia, fermento de “caridade e de justiça”
• A Eucaristia e a transformação do mundo
CÂNTICO
Não sabeis que um pouco de fermento faz levedar toda a massa? Purificai-vos do
velho fermento, para serdes uma nova massa, já que sois pães ázimos. Pois
Cristo, nossa Páscoa, foi imolado. Celebremos, pois, a festa, não com o fermento
velho, nem com o fermento da malícia e da corrupção, mas com os ázimos da
pureza e da verdade.
1. As figuras da Eucaristia
2. A Eucaristia como acontecimento
3. A Eucaristia como Sacramento
São várias: o maná (Ex 16,4ss; Jo 6,31ss); o sacrifico de Melquisedec (Gn 14,18;
Sl 110,4; Hb 7,1ss); o sacrifico de Isaac (Gn 22). Entre as figuras eucarísticas do Antigo
Testamento destaca-se a Páscoa hebraica, em que era imolado um cordeiro e se fazia
memória das magníficas intervenções de Deus na História para salvar o seu Povo,
especialmente quatro delas. Três já passadas: a Criação, o sacrifício do Moriá, o Êxodo
(passagem do Mar Vermelho e dom da Lei e da Terra); uma de que ainda se estava à
espera, a vinda do Messias.
Quando chegou a plenitude dos tempos: “Cristo, nossa Páscoa foi imolado” (1 Cor
5,7). As figuras deram lugar à realidade. O evento que funda, ou institui a Eucaristia, é a
Morte e a Ressurreição de Cristo, o seu “dar” a vida para retomá-la. S. João realça a
imolação real na cruz; os Sinópticos realçam a imolação mística na última Ceia. Mas é o
mesmo evento contemplado a partir de dois pontos de observação: esse evento que
funda a Eucaristia, que lhe dá conteúdo, é a imolação/ressurreição de Cristo, ou, se
quisermos usar a linguagem das nossas Constituições (n. 81), é “a oblação perfeita
que Cristo faz de Si mesmo ao Pai pelos homens”.
Esta oblação é oblação de amor, um amor fiel até ao sofrimento, até à morte e
morte de Cruz. A Eucaristia nasce do amor:
– o amor do Pai que, para nos salvar, faz o sacrifício de não poupar o próprio
Filho e de O entregar por todos nós (Rom 8,32);
– o amor do Filho que nos amou e Se entregou por nós, ou “me amou e Se
entregou por mim” (Paulo);
– o amor do Espírito Santo que animou a oblação perfeita de Cristo ao Pai
pelos homens (“por um espírito eterno ofereceu-Se sem mácula a Deus” (Heb
9,14).
O “evento” da Cruz foi, pois, um evento espiritual, isto é, operado pelo Espírito.
Foi o Espírito Santo que suscitou em Cristo aquele movimento de auto-doação, de
oblação de Si mesmo ao Pai, que O fez abraçar a Cruz. Ora o Espírito Santo é “um
Espírito eterno” (Heb 9,14), um Espírito que permanece connosco “para sempre”.
Não é possível “unirmo-nos à oblação perfeita que Cristo oferece ao Pai” sem o
Espírito Santo. E “a Eucaristia reflecte-se em tudo o que somos e vivemos”, se formos
animados pelo Espírito que animou Jesus Cristo. Por isso, cada Eucaristia é uma espécie
de Novo Pentecostes para a Igreja. E tem de sê-lo para cada um de nós. Só assim
poderemos “inserir-nos no movimento de amor redentor, doando-nos a Deus e aos
irmãos, com e como Cristo” (cf. Cst 21). Só assim poderemos fazer da nossa vida “uma
missa permanente” (cf. Cst 5). Só assim podemos efectivamente contribuir para que “a
comunidade humana, santificada pelo Espírito Santo, se torne uma oblação agradável a
Deus” (cf. Rom 15, 16), seja reunida no Corpo de Cristo, e consagrada “para Glória e
Alegria de Deus” (cf. Cst 25).
TEXTOS DE APOIO
Texto 1
João Paulo II, Ecclesia de Eucharistia, n. 11
«O Senhor Jesus, na noite em que foi entregue» (1 Cor 11,23), instituiu o sacrifício
eucarístico do seu corpo e sangue. As palavras do apóstolo Paulo recordam-nos as
circunstâncias dramáticas em que nasceu a Eucaristia. Esta tem indelevelmente inscrito
nela o evento da paixão e morte do Senhor. Não é só a sua evocação, mas presença
sacramental. É o sacrifício da cruz que se perpetua através dos séculos. Esta verdade
está claramente expressa nas palavras com que o povo, no rito latino, responde à
proclamação «mistério da fé» feita pelo sacerdote: «Anunciamos, Senhor, a vossa
morte… Quando a Igreja celebra a Eucaristia, memorial da morte e ressurreição do seu
Senhor, este acontecimento central de salvação torna-se realmente presente e «realiza-
se também a obra da nossa redenção». Este sacrifício é tão decisivo para a salvação do
género humano que Jesus Cristo realizou-o e só voltou ao Pai depois de nos ter deixado
o meio para dele participarmos como se tivéssemos estado presentes. Assim cada fiel
pode tomar parte nela, alimentando-se dos seus frutos inexauríveis… Que mais poderia
Jesus ter feito por nós? Verdadeiramente, na Eucaristia demonstra-nos um amor levado
até ao «extremo» (cf. Jo 13,1), um amor sem medida».
Jesus na santa Eucaristia está no estado e no espírito de vítima. Vários autores místicos
não prestaram atenção suficiente a isto. Não vêem quase exclusivamente na santa
Eucaristia, para além bem entendido do sacrifício da missa, senão a extensão da
Incarnação. Mas este amor incarnado é também o mesmo amor que sofreu por nós, e
este coração aparece-nos precisamente na santa Eucaristia encimado pela Cruz, o sinal e
o instrumento da Redenção.
É verdade que as circunstâncias acidentais e passageiras da Paixão desapareceram; o
sofrimento já não existe, mas o essencial está lá: este Coração que me amou e que por
amor se entregou por mim: «Christus dilexit me et tradidit semetipsum pro me». É
precisamente este Coração que chorou pelas nossas ingratidões no Jardim, este Coração
que foi partido pelos nossos pecados, este Coração que o amor mais do que a lança feriu
sobre o Calvário. Ele já não sofre, é verdade, mas alegra-se por ter sofrido por nós, por
ter morrido por nós, por ter compadecido as nossas misérias e por ter levado todas as
nossas fraquezas e todas as nossas enfermidades.
Presta-se tão pouca atenção à alegria que experimenta agora o Sagrado Coração de
Jesus por ter sofrido por nós, e no entanto, Ele indicou-a com tanto amor à Bem-
Aventurada Margarida Maria! Assegurou-lhe que perseveraria sempre na intenção de
sofrer e de morrer ainda por aqueles que ama, mas isto já não é necessário, e no
entanto esta afirmação de Nosso Senhor prova que no seu Coração Sagrado a disposição
de imolação por amor persiste sempre. E é por meio desta disposição que Ele oferece
sempre a Deus Pai, os seus méritos, os seus sofrimentos e a sua morte por nós, e que
renova sem cessar o espírito da Paixão, mesmo se não renova o exterior sangrento que
aliás era apenas acidental e passageiro. Mas esta oblação constante dos seus sofrimentos
passados, esta alegria morosa, contínua, de ter sofrido e de ter morrido por nós,
constituem o Sagrado Coração de Jesus todo alegre e glorioso como é, no estado
perpétuo de vítima eucarística, fora mesmo do santo Sacrifício da missa.
Texto 3
Padre Dehon, Eucaristia, OSP 2, p. 456
O Santo Sacrifício não é outro sacrifício senão o da cruz, é a sua renovação mística e a
continuação, excepto a morte física que não é essencial para uma morte real, porque a
essência do sacrifício consiste sobretudo na oblação do coração e não no degole da
vítima, quando esta vítima é um ser espiritual; de modo que a morte de Jesus é
renovada realmente pela oblação que de Si faz o seu divino Coração. De resto, todos os
mistérios de Jesus estão representados no augusto sacrifício e também todos os estados
da Igreja.
PRECES
Irmãos e irmãs:
Por nosso amor, o Pai enviou-nos o seu Filho Unigénito que,
animado pelo Espírito Santo, Se entregou por nós,
deixando-se imolar no altar da Cruz.
Oremos, pois, confiantes pela Santa Igreja,
e por todos os homens, dizendo:
CÂNTICO FINAL
CÂNTICO
Viver a Eucaristia quer dizer tornar-nos eucaristia, “fazer da nossa vida uma missa
permanente”. É viver aquilo que nos recomenda Paulo na Carta aos Romanos: “Exorto-
vos, irmãos, pela misericórdia de Deus a que ofereçais os vosso corpos como
sacrifício vivo, santo e agradável a Deus; é esse o vosso culto espiritual” (Rom 12,1).
Estas palavras do Apóstolo lembram-nos imediatamente as de Jesus na Última Ceia:
“Tomai e comei: isto é o meu corpo entregue por vós”. Paulo convida-nos, portanto, a
fazermos o que Jesus fez. É como se dissesse: “Fazei o que Jesus fez; fazei-vos também
vós Eucaristia para Deus! Ele ofereceu-Se a Deus em sacrifício de suave odor; oferecei-
vos também vós em sacrifício vivo e agradável a Deus!
Mas também o próprio Cristo nos convida a fazer-nos Eucaristia: “Fazei isto em
memória de Mim” (Lc 22,19) – disse Ele aos discípulos na Última Ceia. Não se trata só de
repetir o rito… Trata-se de fazer o essencial daquilo que Ele fez: oferecer os nossos
corpos como Ele ofereceu o seu em sacrifício. De facto, acrescenta: “Dei-vos o
exemplo para que façais como Eu fiz” (Jo 13, 15).
Nos somos Corpo de Cristo, membros de Cristo (cf. 1 Cor 12,12ss). Por isso, de
certo modo, o sacrifício de Cristo não está completo sem a oferta do nosso próprio corpo,
sem nos oferecermos nós mesmos: “Completo na minha carne o que falta a Paixão de
Cristo” – escrevia Paulo (Col 1, 24).
Para celebrarmos com verdade a Eucaristia, precisamos de fazer o que Jesus
fez. Ele “partiu o pão”, isto é, partiu-se a si mesmo, imolou-se para remissão dos nossos
pecados; “obedeceu até à morte” para proclamar que só Deus é Deus e que só Deus
basta. Entrega-se amorosa e confiadamente à vontade do Pai, dizendo: “Não quisestes
sacrifícios nem holocaustos… Eis que venho, ó Deus, para fazer a vossa vontade”… “Ecce
venio” (cf. Hebr 10,5-9).
O que Jesus entrega aos discípulos, para eles comerem, é o pão da sua obediência
e do seu amor ao Pai.
Texto 1
João Paulo II, Ecclesia de Eucharistia, n. 13
Texto 2
Padre Dehon, Eucaristia, OSP 2, p.486s
Associamo-nos com todo o nosso coração ao Sagrado Coração de Jesus que se oferece e
se imola ao seu Pai. De resto, o Sagrado Coração de Jesus não é outra coisa senão o
amor, a reparação e a acção de graças viventes e incarnadas. Esta associação faz-se de
um modo mais ou menos perfeito, conforme o queremos com mais ou menos força, mais
ou menos amor. Todo o nosso coração deveria abismar-se nesta união sacerdotal ao
Sagrado Coração de Jesus sacerdote e vítima. É o exercício mais sublime, mais fecundo,
o que nos subtrai mais a nós mesmos e às criaturas, e que obtém sempre o seu efeito,
desde que estejamos em estado de graça.
A união ao sacerdócio do Sagrado Coração de Jesus, a oferenda sacerdotal que d’Ele
fazemos, e de nós mesmos com Ele, se é feita com um amor real e uma grande
confiança, apaga no instante todos os nossos pecados veniais, porque é um acto de amor
perfeito; paralisa as nossas más disposições e dispõe-nos a prestar, de facto, uma
enorme glória, um enorme amor e uma eficacíssima reparação ao Sagrado Coração de
Jesus…
Ex opere operato, toda a Missa, mesmo que fosse celebrada por um padre indigno, é
essencialmente um acto infinito de amor, de reparação e de acção de graças da parte de
Nosso Senhor; mas quando nós nos associamos a estas disposições sacerdotais do
Sagrado Coração de Jesus através de um acto positivo e pessoal, obtemos, ex opere
operantis, graças incalculáveis destinadas a formar o Coração místico de Jesus na Igreja.
Eis como se faz, como dissemos, que a santa Missa seja a nossa devoção especial e o
nosso fundamento. Para tornar a nossa união bem real ao Coração sacerdotal de Jesus, é
necessário estarmos unidos a Ele pelo exercício da contemplação contínua.
PRECES
Irmãos e Irmãs:
Reunidos em nome do Senhor,
a reflectir sobre o mistério da Eucaristia,
oremos com toda a confiança ao Pai celeste, dizendo:
CÂNTICO
Aceitai-nos, Senhor,
Por Jesus, nosso irmão,
Imolado na Cruz,
No altar da redenção.
CÂNTICO
Quem realmente come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna e
Eu hei-de ressuscitá-lo no último dia, porque a minha carne é uma verdadeira
comida e o meu sangue uma verdadeira bebida. Quem realmente come a minha
carne e bebe o meu sangue fica a morar em mim e Eu nele. Assim como o Pai que
me enviou vive e Eu vivo pelo Pai, também quem de verdade me come viverá por
mim. Este é o pão que desceu do Céu; não é como aquele que os antepassados
comeram, pois eles morreram; quem come mesmo deste pão viverá eternamente.
Um ateu escreveu: «O homem é aquilo que come». Queria com isso dizer que, no
homem, tudo se resume à componente orgânica e material. Mas saiu-lhe da pena uma
bela definição para o mistério da comunhão eucarística. Graças à comunhão eucarística,
o cristão torna-se aquilo que come, ou, mais precisamente, torna-se Aquele que come.
Já o ensinava S. Leão Magno: “A nossa participação no corpo e no sangue de Cristo
não tende a outra coisa senão a tornar-nos aquilo que comemos” (Sermão 12,
sobre a Paixão 3, 7), portanto, a tornar-nos Cristo, Corpo de Cristo.
«A Igreja vive da Eucaristia» afirma João Paulo II, em recente encíclica. Jesus já o
tinha dito: «Quem me come viverá por mim” (Jo 6,57). A preposição “por” pode indicar
“finalidade” (vive para mim, em vista de mim, do meu reino), ou “proveniência” (vive de
mim, com a vida que recebe de mim…).
Os Padres explicavam este mistério servindo-se do exemplo da alimentação,
segundo os conceitos do seu tempo. Diziam: é o princípio vital mais forte que assimila o
mais fraco, e não o contrário; o vegetal assimila o mineral, o animal assimila o vegetal, o
espiritual assimila o material. Assim, aquele que se aproxima de Jesus não O assimila,
mas é assimilado por Ele. É incorporado mais profundamente em Cristo. Passa a viver
d’Ele, com a vida que recebe d’Ele. Assim, torna-se semelhante a Ele: semelhante nos
sentimentos, nos desejos, no modo de pensar, nos ideais, nas preocupações, no modo de
viver. Graças à comunhão, podemos realizar o desejo de Paulo: “Irmãos, tende em vós
os mesmos sentimentos que estavam em Cristo Jesus...” (Fil 2, 5).
Mas a comunhão eucarística não realiza só a nossa união com a Trindade, só uma
união vertical. Realiza a união entre nós, uma união horizontal, com os irmãos: “Porque
há um só pão, nós, embora sejamos muitos, somos um só Corpo” (cf. 1 Cor 10,16-17).
TEXTOS DE APOIO
Texto 1
João Paulo II, Ecclesia de Eucharistia, n. 24
O dom de Cristo e do seu Espírito, que recebemos na comunhão eucarística, realiza plena
e sobreabundantemente os anseios de unidade fraterna que vivem no coração humano e
ao mesmo tempo eleva esta experiência de fraternidade, que é a participação comum na
mesma mesa eucarística, a níveis que estão muito acima da mera experiência dum
banquete humano. Pela comunhão do corpo de Cristo, a Igreja consegue cada vez mais
profundamente ser, «em Cristo, como que o sacramento, ou sinal, e o instrumento da
íntima união com Deus e da unidade de todo o género humano».
Texto 2
Padre Dehon, Eucaristia, OSP 2, p. 421s
PRECES
Irmãs e irmãos:
todos nós que temos por alimento espiritual
o mesmo Pão descido do Céu,
imploremos, numa só voz, o Senhor Jesus Cristo,
dizendo:
CÂNTICO
Na visão, ouvi a voz de uma multidão angélica, à volta do trono, dos seres
viventes e dos anciãos; o seu número era de miríades de miríades, milhares de
milhares e cantavam com voz forte: «O Cordeiro que foi imolado é digno de
receber o poder e a riqueza, a sabedoria a força, a honra, a glória e o louvor.»
A Eucaristia serve para fazermos memória de Jesus, para nos recordarmos d’Ele,
e de tudo quanto fez por nós. “Recordar” é a palavra-chave. “Re-cordar” é fazer voltar
ao coração. Não é, pois, só uma actividade da inteligência. É, sobretudo, uma actividade
do coração. É pensar com amor…
A contemplação eucarística, feita na adoração, permite-nos ter em nós “os
sentimentos que estavam em Cristo Jesus” (Fil 2,5), permite-nos “pensar segundo Deus,
e não segundo os homens” (cf. Mt 16,23), e torna “puro” o nosso coração. O que, de
facto, nos torna impuros é a busca de nós mesmos, da nossa glória. Mas o homem que
contempla a Deus, volta as costas a si mesmo, esquece-se de si. Quem contempla, não
se contempla.
Assiste-se ao renascimento da adoração eucarística. Os cristãos voltam a gostar
de estar diante de Jesus, como Maria de Betânia (Lc 10,39). É à volta do “Corpo real”,
que é a Eucaristia, que redescobrimos e aprofundamos a realidade do Corpo Místico,
que é a Igreja.
Estando silenciosos e calmos diante do Senhor, presente na Eucaristia,
percebemos os seus desejos a nosso respeito, depomos a seus pés os nossos projectos e
aceitamos os d’Ele. A sua luz penetra o nosso coração e cura-o. As almas eucarísticas,
contemplando o “sol da Justiça”, Cristo Nosso Senhor, fixam o seu Espírito e
transmitem-no a toda a grande árvore que é a Igreja, tornam-se servidores do Reino do
TEXTOS DE APOIO
Texto 1
João Paulo II, Ecclesia de Eucaristia, n. 25
Texto 2
Padre Dehon, Eucaristia, OSP 2, p. 487s
PRECES
Irmãs e irmãos:
Cristo quis permanecer connosco
no sacramento do Seu Corpo e do Seu Sangue.
Invoquemo-l’O dizendo:
Cântico final
Ó Sagrado Banquete
Em que se recebe Cristo
E se comemora a sua Paixão,
Em que a alma se enche de graça
E nos é dado o penhor
Da futura glória.
CÂNTICO
Depois de lhes ter lavado os pés e de ter posto o manto, voltou a sentar-se à
mesa e disse-lhes: «Compreendeis o que vos fiz? Vós chamais-me ‘o Mestre’ e ‘o
Senhor’, e dizeis bem, porque o sou. Ora, se Eu, o Senhor e o Mestre, vos lavei os
pés, também vós vos deveis lavar os pés uns aos outros. Na verdade, dei-vos
exemplo para que, assim como Eu fiz, vós façais também».
1. O mistério do lava-pés
2. O espírito de serviço
3. O serviço do Espírito
É curioso que S. João, ao falar da Última Ceia, não faça qualquer referência à
instituição da Eucaristia, mas se detenha a descrever o episódio do lava-pés. Porquê?
São várias as respostas possíveis. Uma resposta bastante provável parece ser aquela diz
que o Apóstolo e Evangelista não terá necessidade de lembrar o que toda a Igreja já
sabia e praticava: a celebração da Eucaristia. Mas achou importante lembrar as
consequências sociais dessa celebração, as exigências de tal rito para a vida da Igreja.
1. O mistério do lava-pés
De facto, o lava-pés é um gesto que esconde um mistério que vai muito para
além do facto contingente. “Dei-vos o exemplo” – diz Jesus. Exemplo de como se devem
lavar os pés? Muito mais do que isso, esclarece S. João: “Ele deu a sua vida por nós;
também nós devemos dar a vida pelos irmãos” (1 Jo 3,16). É disso que Jesus nos dá
exemplo. É isso que devemos imitar.
Jesus dá-nos exemplo de uma vida gasta pelos outros, ao serviço dos outros.
“Fazei isto em memória de Mim” (Lc 22,19): com estas palavras, Jesus institui na Igreja
a Diaconia, o serviço, elevando-o a lei fundamental, ou melhor, a um estilo de vida e a
um modelo de todas as relações na Igreja. Pedro, a princípio não compreendeu. Por isso,
não queria que Jesus lhe lavasse os pés. Compreendeu-o depois da Páscoa.
Compreendeu-o toda Igreja que jamais deixou de inculcar o espírito de serviço aos seus
membros. Paulo, ao traçar o perfil da viúva ideal, aponta o lava-pés como critério de
qualificação: “Tenha lava os pés aos santos...” (1 Tim 5,10). A doutrina dos carismas é
toda orientada para o serviço. Paulo afirma que toda a “manifestação particular” do
Espírito é para “utilidade comum” (1 Cor 12,7) e que os carismas são distribuídos “para
tornar os irmãos idóneos para o serviço” (diaconia) (Ef 4,12). Pedro recomenda: “Cada
um viva segundo a graça (o carisma) recebida, pondo-a ao serviço (diaconia) dos outros”
(1 Pe 4,10).
Carisma, ministério, serviço, aparecem sempre ligados entre si; o carisma que se
não torne serviço é um talento enterrado, que se transforma em título de condenação
(cf. Mt 25,25). A Igreja é carismática para servir.
O serviço, para ser evangélico, precisa de ser feito com as atitudes e com os
sentimentos de Jesus. Há muitos serviços na sociedade de que fazemos parte, no país,
no mundo… Mas não são todos evangélicos só por serem serviços. São evangélicos, ou
segundo o Evangelho, aqueles que são prestados com os sentimentos de Jesus.
A propósito do lava-pés, João escreve: “Tendo amado os seus que estavam no
mundo, amou-os até ao fim” (13,1). E vem a descrição do lava-pés. O serviço
evangélico, a diaconia, brota da caridade, é a manifestação mais clara da ágape. Servir é
amar, não com palavras nem com a língua. O serviço feito por amor “não busca o próprio
interesse” (1 Cor 13,5), mas o daqueles que serve. O serviço evangélico é imitação do
agir de Deus que, sendo “o Bem, o Sumo Bem”, na expressão de S. Francisco, não pode
senão amar e beneficiar gratuitamente, sem qualquer interesse…
A gratuidade é, pois, uma característica do serviço evangélico. Mas há outra: a
humildade. Jesus dá exemplo de um serviço feito por amor e com humildade. Lavar os
pés era um serviço humilde, próprio dos servos, dos escravos… “Deveis lavar os pés uns
dos outros” (Jo 13,14), diz-nos Jesus: quer dizer, deveis prestar-vos uns aos outros os
serviços de uma caridade humilde. Caridade e humildade, conjuntamente, formam o
serviço evangélico.
Toda a existência de Jesus foi caracterizada pelo serviço de Deus e dos homens,
feito por amor, feito com humildade. Jesus é, na verdade, o Servo de Deus e dos
homens. É o que significa o episódio do lava-pés; é o que canta S. Paulo na Carta aos
Filipenses (2,1ss). Da Encarnação ao lava-pés, Jesus não fez outra coisa que, por amor e
para servir o homem, aniquilar-se, humilhar-se: “O Criador colocou-Se de joelhos
perante a criatura! Envergonha-te soberba cinza: Deus abaixa-se e tu exaltas-te!” –
exclama S. Bernardo ao meditar no mistério do lava-pés.
3. O Serviço do Espírito
- “Não saiba a tua mão esquerda o que faz a direita” (Mt 6,3);
- Tudo o que fizerdes “para ser vistos pelos homens” é coisa perdida (cf Mt 6,1;
23,5);
- “Cristo não procurou satisfazer a Si mesmo” (Rom 15,3).
Para terminar, cito uma palavra do Pe. Dehon no Directório Espiritual: “Amemo-
nos como Jesus nos amou, isto é, com generosidade, com fidelidade e
desinteressadamente, até ao sacrifício da vida” (DSP, ed. portuguesa, n. 162).
TEXTOS DE APOIO
Texto 1
João Paulo II, Mane nobiscum Domine, n. 27
Texto 2
Padre Dehon, Eucaristia, OSP 2, p. 513
A caridade mútua deve também informar a nossa vida, tal como a levamos com os
nossos irmãos. Recordemo-nos das palavras do Senhor: «Dou-vos um mandamento
novo, que vos ameis uns aos outros como Eu vos amei. Todos conhecerão que sois meus
discípulos, se tiverdes amor uns para com os outros!» Ah! Amando-nos ternamente,
amamos o Sagrado Coração de Jesus que vive em nós. Também que este amor seja
totalmente sobrenatural! Amamo-nos a fim de que o Sagrado Coração de Jesus, vivendo
em nós, viva também em todos os seus membros.
Entre nós, o egoísmo não deve existir; tudo deve ser amor e dilecção, porque nos
devemos esquecer de nós mesmos para não vivermos senão pelo Coração de Jesus, e o
Coração de Jesus não é senão suavidade e misericórdia. Com a caridade bem
estabelecida nos nossos corações, não pensaremos senão numa coisa: expandirmo-nos
em perfumes de gratidão e de acção de graças. Todo o nosso desejo será de nos
tornarmos a Eucaristia vivente do Sagrado Coração de Jesus, como este divino Coração é
a nossa.
Irmãs e irmãos:
Elevemos as nossas súplicas para Jesus,
que lavou os pés aos Apóstolos
e nos deu o sacerdócio, a Eucaristia e a diaconia,
dizendo com toda a confiança:
CÂNTICO FINAL
CÂNTICO
Veneremos, adoremos
A presença do Senhor,
Nossa luz e Pão da Vida,
A presença do Senhor;
Cante a alma o seu louvor!
Adoremos o Sacrário,
Adoremos no sacrário
Deus oculto por amor.
Ouvi uma voz potente que vinha do trono e dizia: «Esta é a morada de Deus entre
os homens. Ele habitará com eles; eles serão o seu povo e o próprio Deus estará
com eles e será o seu Deus.
S. Mateus conta-nos aquele episódio em que alguns doutores da Lei e fariseus lhe
pediam um sinal feito para crerem n’Ele. Jesus responde-lhes que não terão outro sinal,
a não ser o do profeta Jonas: «Como Jonas esteve no ventre do monstro marinho, três
dias e três noites, assim o Filho do Homem estará no seio da terra, três dias e três
Muito se discutiu na Igreja sobre o modo como Cristo está presente na Eucaristia.
Houve até quem negasse essa presença, ou a interpretasse de modo incorrecto. Não é
fácil encontrar palavras para expressar, de modo minimamente adequado, o mistério da
presença real de Cristo na Eucaristia.
A Igreja latina fala de presença real, mas escondida, realizada na consagração.
O sacerdote repete as palavras de Cristo, na Última Ceia. São essas palavras que fazem
o sacramento: «Este pão, antes das palavras sacramentais é pão. Mas, pronunciadas as
palavras da consagração, o pão torna-se carne de Cristo… Vês quanto é eficaz o falar de
Cristo? Antes da consagração não havia o Corpo de Cristo, mas, depois da consagração,
eu to afirmo, há o Corpo de Cristo. Ele disse e fez, mandou e foi criado», escreve Santo
Ambrósio (De sacr. IV,14-16). A Eucaristia não é, pois, simples sinal ou símbolo de
Cristo. É presença verdadeira, presença real de Cristo Ressuscitado no meio de nós. Por
isso, a Igreja pode cantar: «Ó verdadeiro Corpo do Senhor, nascido para nós da Virgem
Mãe, penhor da eterna glória prometida! Ó verdadeiro Corpo do Senhor!» (Inocêncio IV).
S. Agostinho esclarece que essa presença acontece «no sacramento» (in sacramentum).
Não se trata pois de uma presença física, mas sacramental, mediada por sinais, que são
o pão e o vinho consagrados. Esses sinais não excluem a realidade, mas tornam-na
presente como é possível tornar presente a nós, que vivemos neste mundo, uma
realidade espiritual como a do Corpo de Cristo ressuscitado. S. Tomás escreve que essa
presença acontece «segundo a substância» e que só a fé a pode detectar: «A vista, o
tacto, o gosto, aqui enganam-se; só pelo ouvido tudo acreditamos… Eu Te adoro
devotamente, Deus escondido, que sob estas figuras verdadeiramente Te escondes»
(Hino “Adoro Te devote”…). Escondido, mas está; está, mas escondido. O Beato
Francisco Marto percebeu bem esta verdade da fé, passando horas a fio na igreja da sua
paróquia, junto de “Jesus escondido”.
É, pois o Espírito Santo que torna eficaz a palavra de Jesus e faz o sacramento.
Não é a fé que “faz” o sacramento. É a palavra de Jesus tornada eficaz pelo Espírito. Mas
o sacramento só se torna eficaz para nós na fé. Já Orígenes, S. Agostinho e S. Bernardo
perguntavam: «De que me serve que Cristo tenha nascido uma vez de Maria, se não
nascer novamente, pela fé, no meu coração?». O mesmo se pode perguntar sobre a
presença de Cristo na Eucaristia: «De que serve que Cristo esteja na Eucaristia se, pela
fé, não se tornar presente no meu coração?». Só a fé torna pessoal a presença real de
Jesus no sacramento. Como nos mostra o episódio da mulher que sofria de um fluxo de
sangue, não basta tocar em Jesus para ser curado (Lc 8,43; cf. Mt 9,18-26; Mc 5,21-43).
É preciso tocá-lo com fé. Não basta comungar. É preciso comungar com fé.
A fé na presença de Cristo na Eucaristia faz brotar em nós a admiração, a
gratidão, o louvor, a reverência e a adoração. A Eucaristia é o preço do nosso resgate.
Por isso os santos se comoviam intensamente diante de Jesus sacramentado. A
Eucaristia há-de ser rodeada de respeito e veneração, manifestados pela lâmpada, pelas
flores, pelas toalhas limpas, pela genuflexão. O sacrário há-de ser o coração das nossas
igrejas, das nossas comunidades.
É importante estarmos presentes à Presença, para que não aconteça connosco
aquilo que dizia S. Agostinho: «Tu estavas comigo, mas eu não estava contigo»
(Confissões, X,27). O nosso comportamento diante da Eucaristia há ser para todos,
também para os não-crentes, um testemunho semelhante ao que dava João Baptista:
«Está no meio de vós quem vós não conheceis» (Jo 1,26). A Eucaristia é certamente um
dom, mas também uma responsabilidade: há que rodeá-la de respeito e veneração; há
que corresponder a um dom tão maravilhoso. O culto da Eucaristia torna-nos atentos ao
amor e à fidelidade do Senhor presentes no mundo (cf. Cst 84). Queremos responder ao
convite de encontro e de comunhão que Cristo nos faz por meio da Eucaristia, sinal
privilegiado da sua presença no meio de nós (cf. Cst 84).
TEXTOS DE APOIO
Texto 1
João Paulo II, Ecclesia de Eucharistia, n. 15
Texto 2
Padre Dehon, Eucaristia, OSP 2, p. 4e19s
Não se encontrando mais sobre esta terra a humanidade santa, a fonte da graça parece
esgotada, ou transportada para uma distância incomensurável de nós. Porque, saibamo-
lo bem, toda a graça é o produto do Sagrado Coração de Jesus, brota d’Ele como o
sangue material; identifica-se com o seu sangue e o seu amor. Mas, se este Coração se
afastava de nós, mesmo que nos deixasse os outros sacramentos, que solidão nos seria
feita aqui em baixo! Que isolamento! Que vazio! O nosso terno irmão, o nosso amigo já
não estaria lá connosco! O seu Coração de homem já não escutaria de perto os nossos
suspiros e as nossas lágrimas! Em que nos tornaríamos?
Mas o seu terno Coração soube tudo arranjar, e a fim de permanecer sempre connosco,
inventou o sacramento do amor. Não vemos Jesus, mas Ele está lá; só as fracas
aparências eucarísticas nos separam d’Ele, e temos a fé para as penetrar, e temos um
coração que voa para o Coração de Jesus, tornado mais do que nunca o Coração do
nosso irmão e do nosso amigo. É assim que o Coração de Jesus cumpre a sua promessa:
«Não vos deixarei órfãos». É assim que a Eucaristia continua o mistério da Incarnação e
multiplica por toda a parte Belém e Nazaré. A Eucaristia torna mesmo Nosso Senhor mais
perto de nós do que o mistério da Incarnação, e quando reflectimos bem nisto vemos
que Ele não se afastou do homem pela Ascensão senão para estar mais perto dele pela
Eucaristia, porque as condições da vida mortal não permitiam ao Salvador tornar-se
presente em todos os pontos do espaço, em todo o coração que o amasse e que
desejasse a sua visita, mas a sua vida gloriosa permite-lhe a omnipresença do amor; o
seu Coração está em toda a parte, encontramo-lo em todos os santuários, e se a nossa
ligeireza e a nossa indiferença não impedissem as efusões deste amor insaciável no dom
de si mesmo, ser-nos-ia permitido como aos primeiros crentes de o guardar nas nossas
casas e de o levar sempre no nosso coração. Tal teria sido a condescendência deste
Coração generoso, se a Igreja não tivesse tomado, de algum modo contra Ele mesmo, o
cuidado do respeito que Lhe é devido.
Mas se este privilégio não nos é concedido, nós podemos sem grande fadiga, e quando
queremos, a toda a hora do dia e da noite, aproximar-nos do Coração eucarístico, falar-
lhe, abrir-lhe todo o nosso coração, atraí-l’O a nós e fazer d’Ele tudo o que quisermos.
Porque, na santa Eucaristia, o seu Coração tornou-se dependente de nós, mais ainda do
que não o era em Belém e em Nazaré. É certamente fácil pegar numa criança, abraçá-la
e acariciá-la, mas é ainda bem mais fácil pegar num bocadinho de pão, colocá-lo onde se
quiser. E quando se pensa que sob esta débil aparência o Coração de Jesus mesmo está
lá; quando se pensa neste amor que quis até este ponto tornar-se dependente de nós,
como não chorar, como fazia o santo Cura de Ars exclamando: «Faço d’Ele o que quero,
coloco-o onde quero!» Porque o privilégio de dispor da humanidade santa tornou-se um
dos mais preciosos privilégios que possam ter as mãos sacerdotais. Mas é meditando na
vida eucarística escondida que nos será dado aprofundar este prodígio de amor. Para
hoje, basta-nos verificar este primeiro ponto.
Pela santa Eucaristia, a Incarnação multiplica-se sobre todos os pontos da terra
habitável; em toda a parte aonde nos é dado dirigir os nossos passos, encontramos o
Coração do nosso irmão e do nosso amigo, sempre pronto a nos receber, sempre pronto
a nos consolar, sempre pronto a nos cumular de graças, a nos iluminar, a nos levantar e
a nos perdoar. Assim, nesta Incarnação nova, é sobretudo o Coração de Jesus que está
presente; Ele esconde todo o resto, a sua divindade, a sua humanidade, a fim de melhor
deixar ver o seu Coração; e se os olhos do corpo não podem ver, como o vêem os olhos
do coração e como sabem penetrar os véus que o envolvem! Ah! Porque não nos é dado
multiplicar também o nosso coração para o dar a este Coração que se multiplica por nós!
Pelo menos, arranquemos os nossos pensamentos, as nossas afeições ao mundo, a nós
PRECES
Irmãs e irmãos:
Cristo quis ficar connosco na Eucaristia,
sacramento do Seu Corpo e do Seu Sangue.
Invoquemo-l’O dizendo:
CÂNTICO
Irmãos, eu recebi do Senhor o que também vos transmiti: na noite em que foi
entregue, o Senhor Jesus tomou o pão e, depois de dar graças, partiu-o e disse:
«Isto é o meu corpo, que é entregue por vós; fazei isto em memória de mim». Do
mesmo modo, depois da ceia, tomou o cálice e disse: «Este cálice é a nova
Aliança no meu sangue; todas as vezes que dele beberdes, fazei-o em memória
de mim». Porque, todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes deste
cálice, anunciais a morte do Senhor, até que Ele venha.
1. “Corações ao alto”
2. A Eucaristia e a Igreja peregrina
3. A Eucaristia, esperança e compromisso
S. Paulo escreveu aos Coríntios: «Todas as vezes que comerdes deste pão e
beberdes deste cálice, anunciareis a morte do Senhor até que ele venha» (1 Cor 11,26).
Em todas as eucaristias, a Igreja grita após a elevação do cálice: «Vem, Senhor Jesus!».
1. “Corações ao alto”
A Eucaristia faz-nos viver como peregrinos, de olhos erguidos para o alto, para a
Nova Jerusalém que nos espera. A Eucaristia lembra-nos que não temos aqui morada
permanente, que somos peregrinos e forasteiros neste mundo. Por natureza,
pertencemos a este mundo. Por vocação, estamos destinados a outro mundo. A
ressurreição de Cristo fundamenta esta certeza e anima-nos na caminhada: «Se
ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas do alto» (Col 3,1). Os cristãos estão
espalhados pelo mundo. São “sementeira de Deus” (cf. 1 Pe 1,1) para que todo o mundo
se torne campo de Deus, colheita de Deus, que Cristo um dia virá recolher para
apresentar ao Pai.
Somos, pois, viandantes e peregrinos em todos os campos, desde o espiritual ao
cultural e ao apostólico. Deus nos defenda que nos tornemos cristãos, religiosos, padres
“sedentários”, satisfeitos connosco mesmos, porque já chegámos ao termo do nosso
caminho espiritual, cultural, apostólico. Recordemos S. Paulo: “Não é que eu já tenha
alcançado a meta (Cristo e a sua Ressurreição) ou que já seja perfeito, mas prossigo a
minha carreira para ver se de algum modo a poderei alcançar, visto que já fui alcançado
por Jesus Cristo. Irmãos, não penso que já a alcancei, mas uma coisa faço: esquecendo-
me do que fica para trás e avançando para o que está adiante, prossigo em direcção à
meta, para obter o prémio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus” (Fil 3,12-14).
O importante é correr para a meta “até que cheguemos todos à unidade da fé e do
conhecimento do filho de Deus ao estado do homem perfeito, à medida da estatura
completa de Cristo” (Ef 4,13).
A vinda do Senhor não nos deve encher de medo, mas de esperança. S. Paulo fala
da «feliz esperança» da manifestação gloriosa do nosso Salvador (cf. Tt 2,13). Sem essa
esperança, seríamos os mais desgraçados dos homens (cf. 1 Cor 15,19).
Há que restituir aos nossos contemporâneos a nostalgia, a saudade e o sentido da
Pátria celeste. Não falar disso seria cair no erro dos parentes que não alertam um
familiar para a morte que se aproxima: não o impedem de morrer; mas podem impedi-lo
de morrer bem!
A saudade da Pátria celeste não nos afasta do compromisso para com os outros e
para com o mundo em que vivemos. Pelo contrário, purifica-o, ensina-nos a avaliar
convenientemente os valores deste mundo, os bens da terra. S. Paulo, que nos diz que
«este tempo é breve», acrescenta: «Portanto, enquanto temos tempo, façamos o bem a
todos, especialmente aos irmãos na fé» (cf. Gal 6,10). A celebração da Eucaristia torna-
nos atentos, não só ao amor e à fidelidade do Senhor, presentes no mundo, mas
também ao próprio mundo, com todas as suas carências e anseios. A Eucaristia suscita
em nós a esperança na Pátria futura, e compromete-nos no mundo actual, onde já estão
em construção os novos céus e a nova terra.
Desejar a vinda do Senhor não é desejar a morte. «Procurar as coisas do alto» é
orientar a nossa vida em vista do encontro com o Senhor, venha quando vier…
A vinda do Senhor é uma alegre notícia que havemos de encarar como tal. S.
Paulo desejava ardentemente essa vinda, para se encontrar com Cristo: «Desejo
dissolver-me para estar com Cristo» (Fl 1,23). Os santos encaravam com alegria o dia da
sua morte, porque, então, podiam encontrar-se face a face, e definitivamente, com o
Senhor. Alguns cantavam no leito de morte: «Que alegria quando me disseram: vamos
para a casa do Senhor!» (Sl 122 (121), 1). Sabemos que não vamos sós. Jesus vai à
nossa frente e nós seguimos os seus passos, atraídos pelo seu perfume, que é o Espírito
Santo. Em cada Eucaristia, o Espírito e a Esposa dizem (a Jesus): Vem! (Apoc 22,17). E
nós repetimos: «Vem!».
TEXTOS DE APOIO
Texto 1
João Paulo II, Ecclesia de Eucharistia, n. 20
Texto 2
Padre Dehon, Eucaristia, OSP 2, p. 472
A presença sacerdotal de Jesus tem por fim, antes de mais, produzir e revelar a sua
presença eucarística. Nosso Senhor uniu-se moralmente ao sacerdote e habita nele pela
sua graça, para que este revele ao mundo os segredos da sua vida Eucarística.
Deus segue na Igreja uma conduta semelhante à que seguiu na criação. Depois da obra
dos seis dias, parece ter-se retirado; vela-se e deixa às criaturas o cuidado de transmitir
o movimento, a luz, a actividade, a vida… Assim, Nosso Senhor, depois de ter instituído a
Eucaristia, fundado o sacerdócio e a Igreja, reentrou no céu. Esconde-se depois da
Ascensão. A terra não voltará a vê-lo até ao fim dos tempos; e, se permanece connosco,
é de uma maneira invisível, velada, embora real. E encarregou os seus sacerdotes de o
consagrarem, de o revelarem, de o distribuírem, de serem os propagadores da sua luz,
do seu amor, da sua vida.
PRECES
Irmãs e irmãos:
ao celebrarmos a Eucaristia, anunciamos a Morte do Senhor,
proclamamos a sua Ressurreição,
enquanto esperamos a sua vinda.
Rezemos e digamos:
CÂNTICO FINAL
CÂNTICO
1. A Eucaristia e a evangelização
2. A Eucaristia, fermento de “caridade e de justiça”
3. A Eucaristia e a transformação do mundo
1. A Eucaristia e a evangelização
TEXTOS DE APOIO
Texto 1
João Paulo II, Ecclesia de Eucharistia, n. 22
Unindo-se a Cristo, o povo da nova aliança não se fecha em si mesmo; pelo contrário,
torna-se «sacramento» para a humanidade, sinal e instrumento da salvação realizada
por Cristo, luz do mundo e sal da terra (cf. Mt 5,13-16) para a redenção de todos. A
missão da Igreja está em continuidade com a de Cristo: «Assim como o Pai Me enviou,
também Eu vos envio a vós» (Jo 20,21). Por isso, a Igreja tira a força espiritual de que
necessita para levar a cabo a sua missão da perpetuação do sacrifício da cruz na
Eucaristia e da comunhão do corpo e sangue de Cristo. Deste modo, a Eucaristia
apresenta-se como fonte e simultaneamente vértice de toda a evangelização, porque o
seu fim é a comunhão dos homens com Cristo e, n’Ele, com o Pai e com o Espírito Santo.
Texto 2
João Paulo II, Mane nobiscum Domine, n. 28
Há ainda um ponto para o qual queria chamar a atenção, porque sobre ele se joga em
medida notável a autenticidade da participação na Eucaristia, celebrada na comunidade:
é o impulso que esta aí recebe para um compromisso real na edificação duma sociedade
mais equitativa e fraterna… Penso no drama que atormenta centenas de milhões de seres
humanos, penso nas doenças que flagelam os países em vias de desenvolvimento, na
solidão dos idosos, nas dificuldades dos desempregados, nas desgraças dos imigrantes.
Trata-se de males que afligem, embora em medida diversa, também as regiões mais
opulentas. Não podemos iludir-nos: do amor mútuo e, em particular, da solicitude por
quem passa necessidade, seremos reconhecidos como verdadeiros discípulos de Cristo
(cf. Jo 13,35; Mt 25,31-46). Com base neste critério, será comprovada a autenticidade
das nossas celebrações eucarísticas.
Texto 4
Padre Dehon, Eucaristia, OSP 2, p. 502
A prática da acção de graças faz que o coração, sendo ele mesmo dilatado, dilate
facilmente os corações que sofrem a sua acção. Enfim, este fogo que diviniza um coração
de apóstolo, o ardente desejo que tem de testemunhar algum regresso ao Coração
amabilíssimo de Jesus, dar-lhe-á, na pregação e nos exercícios do zelo, uma eloquência,
um calor verdadeiramente divinos. Não se pregará a si mesmo, pregará o Coração de
Jesus. «Oh! Quando é que este divino Coração poderá dizer com toda a verdade: o meu
amor está em todos estes corações que resgatei e Eu neles! Quando é que será dado,
sobretudo aos corações consagrados, saborear as suavidades do Coração de Jesus, de o
exprimir neles, não vivendo senão para Ele!»
PRECES
Irmãs e irmãos:
Oremos a Deus nosso Pai,
para que, pela Eucaristia que celebramos, recebemos e adoramos,
nos encha de caridade e zelo apostólico.
Digamos com fé:
CÂNTICO FINAL
Composição e impressão:
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