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XIFOPAGIA

Xifopagia, uma palavra que aparenta ser muito complexa mas que na
realidade está associada a um conceito que todos nós conhecemos: os
gémeos siameses. O termo siamês teve origem na região do Sião, hoje
Tailândia, onde os gémeos Chang e Eng Bunker nasceram em 1811.
Mas afinal, como ocorre a formação de gémeos siameses?

A conceção de gémeos difere de uma conceção de um só indivíduo na


medida em que a formação de um único bebé, resulta da fecundação de
um óocito II por um espermatozóide seguida da fixação do zigoto na
cavidade uterina.
Já na fecundação múltipla pode ocorrer de duas maneiras: numa delas
dá-se a libertação de pelo menos dois óvulos, os quais são fecundados
por um espermatozoide e posteriormente implantados no útero onde se
desenvolvem placentas distintas. Estes gémeos são designados por
bivitelinos, trivitelinos, etc e não são idênticos podendo ser de sexos
diferentes. O outro processo é caracterizado pela fecundação e divisão
de um óvulo de forma a originar dois ou mais embriões. Estes, terão a
mesma carga genética, o mesmo sexo e as mesmas características
físicas e desenvolver-se-ão na mesma placenta.
No caso da génese de gémeos xifópagos, um óvulo é fecundado duas
vezes e a divisão não ocorre corretamente: após o processo fecundativo
é suposto que essa separação se dê num período máximo de 12 dias.
No entanto, devido a fatores genéticos, o processo de divisão celular
fica comprometido, havendo divisão tardia. Quanto mais tarde acontecer
a divisão, maior é a probabilidade dos gémeos partilharem órgãos e/ ou
membros.
Em alguns casos, a xifopagia pode ser detectada através de ultrassons.
Dependendo da região que se encontra unida, os dois indivíduos podem
estar unidos por praticamente qualquer órgão ou membro, como o
tronco, a cabeça, as costas, os intestinos e os pulmões.
Atualmente, e com o avanço da medicina, é possível separar
cirurgicamente os gémeos siameses. Em Portugal, António Gentil da
Silva Martins é um conceituado médico que durante anos liderou várias
destas operações de alto risco.
Em 1978, o Dr Gentil Martins realizou a primeira cirurgia de separação
de gémeos xifópagos no nosso país.
Tânia e Magda nasceram unidas pelo abdómen e aos quatro meses e
meio foram operadas durante cerca de oito horas. Numa entrevista em
2018 confessaram a sua eterna gratidão ao médico que lhes deu a
oportunidade de viver dignamente.
Apesar do sucesso deste caso, é importante reforçar que estes
procedimentos clínicos envolvem grandes riscos, visto que para além da
morte das pessoas, há também a possibilidade de uma delas ser
prejudicada em função da maior utilização do órgão pela outra. Quando
há a ligação de órgãos altamente vitais nem sempre se recomenda a
intervenção cirúrgica.
Recuperando a história que abordámos inicialmente, os gémeos
tailandeses Chang e Eng Bunker nascidos há 210 anos foram um dos
primeiros e certamente o mais famoso par de gémeos xifópagos.
À nascença foram considerados aberrações e chegaram a ser vendidos
pela própria mãe para os Estados Unidos onde foram exibidos numa
exposição para entreter o público.
Unidos pelo esterno, um osso situado na parte anterior média do tórax,
viveram a vida toda ligados um ao outro e, nesses 63 anos tiveram 21
filhos e originaram 1500 descendentes todos em condições de saúde
ideais e sem predominância de gémeos.
Um dos irmãos morreu devido ao consumo excessivo de álcool, e sem
nenhuma explicação aparente, o outro faleceu horas depois. Exames
médicos revelaram que o fígado de Chang e Eng estava conectado, o
que permitiu tirar as primeiras ilações sobre este fenómeno raro.

Atualmente, com recurso a alta tecnologia é possível criar moldes 3D e


fazer simulações de intervenções médicas de forma a promover o
sucesso das mesmas e sobretudo o bem estar dos pacientes.
O avanço da Ciência é, sem dúvida, um sinal de esperança para todos
aqueles que sofrem qualquer anomalia genética e que almejam uma
Vida digna.

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