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Análise Financeira da
“Renova- Fábrica de Papel do Almonda, S.A ”
A nossa análise irá ter como objeto as contas apresentadas pela empresa “Renova –
Fábrica de Papel do Almonda, S.A.” no triénio constituído pelos anos 2016, 2017 e 2018, com
base nos seus relatórios e contas destes anos, contextualizando-as no ambiente micro e
macroeconómico desta época em Portugal e, quando possível, no setor em que se integra.
Em 1961, altura em que a Renova vivia numa situação favorável do “monopólio”, iniciou
a comercialização de “tissues” para uso doméstico e sanitário, lenços e guardanapos. Na década
de 80, com o aparecimento de novos concorrentes, a Renova decide investir numa segunda
infraestrutura fabril de grandes dimensões, com novas tecnologias para a produção de papel. Na
década de 90, a empresa começa a alargar horizontes, apostando na internacionalização.
A empresa conta com um volume de negócios que ronda os 122 milhões de euros e
emprega cerca de 650 trabalhadores. Tem um capital 100% privado, capacidade de produção de
100 mil toneladas, duas fábricas em Torres Novas e armazéns em Lisboa e no Porto.
Têm sido atribuídos à Renova diversos prémios pela forma como atua no mercado
mundial. A Renova foi distinguida com o prémio “Europaneidade” do Best of European
Business 2006; foi considerada uma das “21 Empresas para o século XXI” pelo Jornal Expresso
em 2007; e foi apontada como a “Empresa mais inovadora em Portugal” pela Startegos em 2008.
A Renova é a quinta maior empresa portuguesa do setor de papel e pasta de Papel (SPP).
A atividade neste setor contribui fortemente para o crescimento da economia nacional, uma vez
que as exportações excedem as importações.
O SPP é o quarto exportador líquido na economia portuguesa, depois da indústria dos
têxteis, do couro e da madeira. O setor tem uma taxa de cobertura das importações em cerca de
40%, contribuindo positivamente para a Balança de Pagamentos.
Quase a completar 80 anos de existência, a Renova exporta os seus produtos descartáveis
de papel para dezenas de mercados. Só na última década o volume de negócios da empresa
cresceu mais de 60%.
A reputação internacional da Renova, devido à sua inovação, como o papel higiénico
preto, contribui para o aumento das suas exportações, que atingem metade da sua faturação.
Devido à sua internacionalização, na Europa o seu mercado cresceu de 10 milhões para 120
milhões de pessoas. O “mercado europeu é responsável por 50% do volume de negócios da
empresa”, segundo Joana Oliveira, Teresa Ferreira e Vera da Costa (2008).
Vinte anos depois da primeira abordagem ao mercado espanhol, o sucesso da
internacionalização da Renova começou. O volume de negócios da empresa atingiu, em 2010,
cerca de 130 milhões de euros.
Nos anos mais recentes, sistematicamente, cerca de 50% das vendas foram realizadas
fora de Portugal, sendo Espanha, França, Bélgica, Luxemburgo e Angola os mercados externos
onde a Renova está mais presente.
Verifica-se que tanto em 2016 como em 2017, o Fundo de Maneio é superior a zero – Fundo de
Maneio superavitário. No entanto, em 2018 temos um Fundo de Maneio negativo, ou seja, um
Fundo de Maneio deficitário.
Sendo que as Necessidades Cíclicas (NC) são o ativo de exploração, este deveria ser financiado
pelos Recursos Cíclicos (RC).
A empresa “Renova – Fábrica de Papel do Almonda, S.A.” está numa situação do Tipo II nos
anos 2016 e 2017:
Fundo de Maneio – Positivo;
Necessidades de Fundo de Maneio – Positivas;
Tesouraria Líquida – Negativa;
No entanto, no ano de 2018 a empresa encontra-se numa situação financeira do Tipo III, ou seja,
numa situação financeira crítica, uma vez que os Capitais Permanentes não cobrem o ativo fixo:
Fundo de Maneio – Negativo;
Necessidades de Fundo de Maneio – Positivas;
Tesouraria Líquida – Negativa.
Rácios de Rotação
Notas:
O saldo de clientes é o Saldo Médio - (Si+Sf)/2;
Vendas = Volume de negócios;
Compras = CMVMC – Ei + Ef.
Rácios de Liquidez
Como podemos verificar nos rácios financeiros apresentados acima, a Liquidez Geral manteve-
se superior a 1 nos anos 2016 e 2017, o que mostra a existência de ativo corrente em valor
superior ao passivo corrente. Com exceção de 2018 em que o valor do ativo corrente não cobre o
passivo corrente.
Analisando a liquidez com maior atenção (recorrendo aos prazos médios acima apresentados),
percebemos que a Liquidez Geral, embora revelando que existe ativo corrente superior ao
passivo corrente (em 2016 e 2017), não garante que todo o seu valor possa ser empregue no
pagamento atempado das dívidas de curto prazo, já que o prazo para transformar inventários em
recebimentos (PMI + PMR, que variou de 241 para 229 dias) manteve-se claramente superior ao
prazo de exigibilidade das dívidas (PMP, que variou de 44 para 137 dias).
Rácios de Estrutura
Relativamente à Autonomia Financeira, podemos verificar que diminuiu de 45% em 2016 para
40% em 2018 (correspondendo a um endividamento de 55% e 60% respetivamente), no entanto,
é importante realçar que a Autonomia Financeira era e manteve-se relativamente baixa (45% em
2016, 37% em 2017 e 40% em 2018), uma vez que se encontra a menos de 50%.
O facto de o valor da Autonomia Financeira se manter baixo indica uma grande dependência em
relação aos credores. Para além dos riscos inerentes, é desvantajosa a negociação de novos
financiamentos, ou seja, a empresa está muito dependente de capital alheio.
Como temos uma Autonomia Financeira baixa, esta pode ser vista como uma desvantagem para
a empresa, uma vez que existe um risco financeiro elevado (maior endividamento), dessa forma
diminuiu a capacidade de a empresa resolver os seus compromissos sem alienar os seus ativos.
A estrutura do endividamento procura medir o peso de capital alheio de curto prazo face ao
capital alheio total. No ano de 2018, temos um valor da estrutura do endividamento de 76%, ou
seja, 76% do capital alheio tem de ser pago no próximo ano, o que representa alguma pressão a
nível financeiro. Essa pressão dependerá da capacidade da empresa negociar os empréstimos.
Assim, a situação económica e financeira da “Renova – Fábrica de Papel do Almonda, S.A.”,
está um pouco desequilibrada porque tem uma rendibilidade baixa e um alto risco financeiro.
O rácio de solvabilidade da empresa (que passou de 183% em 2016 para 176% e 167% em 2017
e 2018 respetivamente), revela que, ao longo do triénio, a empresa diminuiu a sua capacidade
para dispor de meios para satisfazer os seus compromissos. Este indicador revela, no fundo, a
mesma realidade que o rácio de autonomia financeira porque os dois estão relacionados, dado
que as suas variáveis, Ativo, Capital Próprio e Passivo estão também relacionadas entre si, pelo
que as suas leituras corretas conduzem à mesma conclusão: uma estrutura financeira
desequilibrada.
As rendibilidades da empresa, medidas sob diferentes perspetivas, atingem valores com algumas
variações, como poderemos verificar pelos rácios económicos apresentados de seguida:
Rácios de Rendibilidade
A Rendibilidade Líquida das Vendas que mede o excedente das vendas após a cobertura de
todos os gastos operacionais, financeiros, extraordinários e impostos, que é o resultado depois de
todos os gastos, compara a capacidade de a empresa gerar lucro comparativamente com as
vendas. Esta diminuiu também de 2,9% para -2,7% (de 2016 para 2017 respetivamente)
aumentando novamente em 2018 para 2%.
Isto revela que, em 2017, os encargos financeiros consumiram a totalidade do resultado
operacional, fazendo com que os acionistas não beneficiassem do resultado operacional da
“Renova – Fábrica de Papel do Almonda, S.A.” (estando de acordo com o elevado
endividamento da empresa já constatado atrás, na análise financeira).
A Rendibilidade Líquida do Ativo, mede de que forma a gestão da empresa faz render os ativos
que gere, comparando os resultados com os meios utilizados para atingir esses resultados, tendo
a ver com a eficiência. De 2016 para 2017, o valor do rácio decresce de 2,8% para um valor
negativo (-2,6%) aumentando novamente para 2,2% em 2018. No entanto, este aumento é menor
A Rendibilidade do Capital Próprio (ROE), que mede a capacidade da empresa gerar resultados
a partir dos capitais investidos pelos acionistas também decresce de 2016 a 2017 de 6,2% para -
7,1%, respetivamente. No entanto, o ROE volta a aumentar de 2017 para 2018 de um valor
negativo para 5,5%, valor este inferior ao do ano 2016 (que era positivo). Relativamente ao
setor, o valor médio deste rácio variou entre 9,8% (2017) e 16,6% (2018), sendo que tanto no
ano 2017 como 2018 a empresa não cresceu em comparação com o setor, uma vez que os
valores da empresa se encontram abaixo dos do setor.
Do ponto de vista dos acionistas, esta empresa deve ser muito bem analisada, de forma a que
possam decidir se é ou não um investimento a fazer.
Análise Horizontal
Ao longo deste triénio podemos verificar que o volume de negócios aumentou. No sentido
inverso, podemos observar que o Resultado Líquido do Período apesar de negativo, diminuiu de
2016 para 2017 e aumentou em 2018.
A ligeira diminuição dos Gastos com o Pessoal (de 11,76% para 10,5% em 2016 para 2018
respetivamente), pode ser justificado pela redução de pessoal, ou pela diminuição de horas
trabalhadas. Neste caso, verifica-se a segunda razão, sendo que de acordo com os anexos
apresentados, se verifica que apesar do aumento de contratações de pessoal, houve uma
diminuição de horas trabalhadas, fazendo com que se diminua as despesas, face ao elevado
endividamento da empresa, como já analisado anteriormente. Há um aumento dos inventários
(de 15,18% em 2016 para 19,72% em 2018) podendo este aumento ser justificado pelo aumento
do volume de vendas (já que o aumento do volume de vendas pode gerar um aumento dos
inventários – ponto analisado anteriormente).
Relativamente aos fornecedores, há também um ligeiro aumento de 15,04% em 2016 para
19,51% em 2018, aumentando de certa forma as dívidas que a empresa tem a pagar.
Análise Dupont
O sistema de Análise Dupont é uma técnica utilizada para a análise da rendibilidade dos capitais
próprios (ROE), decompondo-os em vários fatores explicativos. Esta desmultiplicação dos
fatores explicativos salienta que o aumento da rendibilidade dos capitais (para além do RLP e do
valor dos Capitais Próprios), depende da rendibilidade das vendas, da rotação do ativo
(eficiência da gestão dos ativos) e da relação entre o ativo e os capitais próprios (inverso da
Autonomia Financeira). A análise Dupont permite que os gestores simulem diferentes cenários e
avaliem o seu impacto na ROE. Funciona como uma técnica para localizar as áreas responsáveis
pelo desempenho financeiro da empresa.
Relativamente à Margem Líquida, podemos concluir que empresa diminui cerca de 0,9% (2,9%-
2%) de 2016 para 2018, ou seja se em 2016 por cada 10€ de aumento nas vendas aumentava o
resultado líquido em 0,29€ (0,029*10) em 2018 os mesmos 10€ proporcionavam um aumento no
resultado líquido de 0,20€ (0,020*10).
No que respeita à rotação do ativo, existe um aumento de 2016 para 2018 de 14% que nos
permite concluir que por cada 100€ de aumento no ativo a empresa vai passar a vendar mais
109€.
Margem Líquida
É o resultado líquido na DR (lucro ou prejuízo) em relação à receita líquida;
É o que sobra para os sócios/acionistas;
Os valores podem chegar até no máximo 1 e não tem limite para ser negativo, caso a
empresa apresente prejuízo.
Rotação do Ativo
Mostra quantas vezes podemos realizar um volume de vendas com um determinado valor
de ativo;
Quanto maior, melhor e para isso, irá testar se a aplicação em ativos está a tornar-se cada
vez menor e se paralelamente o volume de vendas é cada vez maior;
Análise do Risco
O risco operacional, que pode ser medido pelo Grau de Alavanca Operacional, apresenta-se na
Renova bastante instável, com o GAO a oscilar entre valores positivos em 2016 e 2018 (20,90 e
17,36, respetivamente) e valores negativos em 2017 (-18,85). Em 2018, a empresa encontra-se
acima do setor. Sendo que o GAO mensura a variabilidade dos resultados operacionais, face a
variações ocorridas no volume de negócios (medido através da Margem Bruta), apesar de, como
já analisado anteriormente, o volume de negócios aumentar ao longo do triénio, o valor do GAO
é maior em 2016 (ano em que a empresa tem menor volume de negócios). Neste caso específico,
a empresa tem elevados custos fixos, tendo impacto na sua atividade operacional, ou seja, maior
é o risco de negócio, pois num cenário de queda na procura, empresas com um GAO superior a 1
tenderão a ver os seus resultados operacionais a descer. Por outro lado, o risco diminui um pouco
em 2018, com valor inferior ao de 2016.
Rácios de Risco
O Grau de Alavanca Combinado (GAC), mede o risco global da empresa, considerando o risco
de negócio e o risco financeiro, sendo que quanto maior o valor do GAC, maior é o risco global.
Este tipo de indicador mede a variabilidade dos resultados disponíveis para os acionistas
(Resultado Líquido), face a uma alteração no volume de negócios (medido através da margem
bruta). Assim, temos que, apesar de em 2018, o GAF ter aumentado 0,01 relativamente a 2016, o
GAO diminui de 2016 para 2018. Logo, este facto faz com que o GAC tivesse diminuído de
2016 para 2018. Assim sendo, em 2017, uma variação de 1% nas vendas, provocará um impacto
negativo de 16,40 no resultado líquido.
Os valores estão próximos de 1, significando que os recebimentos dos clientes estão em média
próximos das vendas do período, como se pode verificar, por exemplo, em 2016 os recebimentos
de clientes têm um valor de 123 223 182 e tem como volume de negócios 123 780 311, com o
prazo de recebimento nos rácios de rotação em 2017 (112 dias), que se encontra próximo do
setor em que a nossa empresa está inserida (152 dias).
Este indicador é um indicador que mostra em que medida a atividade da empresa liberta meios
para liquidar os encargos financeiros, resultantes do financiamento necessário para o seu
funcionamento. À exceção de 2017, a empresa apresenta valores bastante elevados, o que
significa que há um menor risco de incumprimento, comparando com o GAF, que nestes anos
pode ser considerado favorável.
Numa análise global, a empresa “Renova – Fábrica de Papel do Almonda, S.A” sente
algumas dificuldades ao longo do triénio.
Embora a empresa tenha uma Liquidez Geral que revela que o ativo corrente é superior
ao passivo corrente, tal não garante que a empresa consiga liquidar, em devido tempo, as dívidas
que se vão vencendo. Para complementar esta ideia de que a empresa poderá não dispor de
liquidez suficiente, verificamos que, em 2017 e 2018, a empresa tem uma LR inferior a 1, sendo
este um indicador de fraca capacidade de liquidez.
Para que a empresa possa ter uma liquidez razoável, de forma a conseguir liquidar as suas
dívidas, esta deverá rever algumas contas de forma a aumentar essa liquidez. Reduzindo os
custos, avaliando-os e vendo se existe alguma possibilidade de diminuí-los. Reduzindo despesas
gerais, haverá impacto na rendibilidade da empresa. Ao nível das contas a receber, a empresa
poderá “monitorar” as dívidas a receber de forma eficaz, garantindo que está a cobrar
corretamente aos clientes. Relativamente às contas a pagar, a empresa poderá negociar com os
seus fornecedores condições mais longas de pagamento para manter o seu dinheiro aplicado
mais tempo.
Sendo que a eficiência do ativo é um indicador que nos mostra em que medida os ativos
da empresa estão a gerar fluxos de caixa, concluímos que, em 2018, a empresa conseguiu utilizar
os seus ativos de uma forma mais eficiente, comparativamente aos anos anteriores, atingindo um
valor acima do valor do setor para o mesmo ano. Ou seja, o ativo da empresa em 2018,
conseguiu gerar Fluxos de Caixa Operacional acima de 2016 e 2017.
O efeito da alavancagem operacional está relacionado com os gastos fixos da empresa,
gastos este que poderão constituir risco para as atividades operacionais. No caso específico da
Renova, a empresa tem elevados custos fixos, tendo impacto na sua atividade operacional, ou
seja, maior é o risco de negócio. O GAO da empresa Renova é superior a 1 em 2016 e 2018.
Concluindo, a empresa deverá rever melhor as suas contas, de modo a aumentar a sua
rendibilidade e a diminuir o risco financeiro.
https://www.racius.com/renova-fabrica-de-papel-do-almonda-s-a/
https://www.bing.com/search?q=+renova&qs=n&form=QBRE&sp=-
1&pq=renova&sc=8-6&sk=&cvid=F5EAE2CC77444883BAEC9BB576C5DA4B
https://www.myrenova.com/
https://www.occ.pt/pt/noticias/contabilidade-geral-metodo-de-equivalencia-patrimonial/
http://www3.uma.pt/eduardog/IMG/pdf/Artigo-SNC_Particip-Fins-Consolidacao-
Contas.pdf
https://pt.wikipedia.org/wiki/Balanço_funcional
https://www.bportugal.pt/QS/qsweb/Dashboards
https://pt.wikipedia.org/wiki/Alavancagem_financeira#Alavancagem_financeira_e_risco
https://www.informadb.pt/idbweb/public/ASABI.xhtml
Ano 2018