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RESUMO
Esta comunicação tem como objetivo um percurso histórico na Arte Pública e suas
transformações, em nível formal e de significado, abrangendo uma visualidade que vai dos
monumentos tradicionais às intervenções urbanas/artísticas que ocupam o espaço das
grandes capitais da atualidade. Nessa perspectiva, a partir de um levantamento fotográfico
realizado anteriormente, observa-se tradição e ruptura nas obras instaladas nos espaços
públicos abertos de Belém. Assim, propõe-se uma narrativa que evidencia a presença dessa
arte na Amazônia urbana, especificamente em Belém - tanto naquela do Ciclo da Borracha,
quanto na resultante da globalização e da arte como meio de transformação da paisagem.
ABSTRACT
This paper has as main goal an historical approach to Public Arts and its transformations, in
formal level and its meaning, involving the aesthetics that ranges from traditional monuments
to urban/artistic interventions which occupy today's world capitals’ spaces. In such
perspective, starting from a photographic study done previously, we can notice tradition and
rupture in Belém's open public spaces. We propose therefore a narrative which highlights the
presence of such art in urban Amazon, specifically in Belém – not only the Belém from the
Rubber Boom period, but also the one resulting from globalization and from the art as a
mean of landscape transformation.
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uma paisagem banalizada pelos usos e pela privatização do espaço público? Quais
as ideologias representadas no espaço urbano pela arte pública contemporânea?
Como tradição e ruptura se qualificam como Arte Pública de Belém nos novos
espaços públicos da cidade? No contexto de transformação da Arte Pública, quais
os elementos de ruptura entre Arte Pública tradicional e as novas formas de
intervenção na paisagem?
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novas e espaços acessíveis a toda a população. Mesmo que, ao final, isto se resulte
em espaços públicos excludentes e atraentes para o turismo e classes mais
sofisticadas da sociedade, substituindo os antigos frequentadores do local. Isto
ocorre nos espaços da Casa das 11 Janelas, no Mangal das Garças e na Estação
das Docas, que, não por acaso, abrigam jardins de esculturas modernas e/ou
contemporâneas de acordo com as possibilidades de cada um desses espaços.
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Outra possibilidade são esculturas de caráter permanentes, figurativas ou
não, inseridas no espaço urbano sem qualquer relação de significado ou função
comemorativa. Têm objetivo de embelezamento relacionado à revitalização e
humanização dos espaços deixados pelo urbanismo tradicional.
Nessa perspectiva, segue um fio condutor que aponta para representações que
contam a história da cidade e para as diferentes mentalidades que se revelam em
diferentes formas, técnicas e materiais construtivos de épocas presentes e
passadas, como se a paisagem urbana formasse um palimpsesto de imagens que
emergem ante o olhar do transeunte.
Giulio Carlo Argan (1992, p.235), em seu livro “História da Arte como História
da Cidade" argumenta que a cidade é um sistema de comunicação e informação,
não só no sentido de deslocamento, mas também no sentido de transmissão de
determinados conteúdos urbanos. Além disso, afirma que “é próprio dos
monumentos comunicarem um conteúdo ou um significado de valor”. Os
monumentos representam não só um ato político, de homenagem e celebração de
um determinado fato histórico ou personalidade, como também marcam a estrutura
da cidade como ponto focal e elemento de orientação dos transeuntes. Os
monumentos tradicionais rompem com a arte do século passado e perdem a sua
singularidade enquanto emblema na estrutura urbana.
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Neste contexto, entende-se a arte pública não só como no pensamento de
Teixeira Coelho, mas também como expressão de um determinado discurso
ideológico. Portanto, não se encontra na cidade de forma neutra; ao contrário, está
relacionada a utopias e críticas sociais, a medidas de embelezamento urbano ou de
protesto.
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presença de personalidades históricas, evidenciadas por expressões de autoridade,
respeito e adoração, muitas vezes marcando a passagem e feitos dos estrangeiros
que passaram por aqui.
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desdobraram no mundo da escultura são reflexo e consequência das trocas
ideológicas e políticas que caracterizam a nossa época.
Nesse sentido, a cidade sempre foi e será um espaço privilegiado da arte, que
se desdobra em toda a sua estrutura: da maneira tradicional, representada pelos
monumentos urbanos que repetem, de forma mimética, diferentes estilos artísticos
representantes de épocas e de uma visualidade que conta um determinado instante
da história da cidade; de forma atual, reflexo de rupturas modernistas consagradas,
que, entre outras representações, aprovou uma nova monumentalidade, a perda do
pedestal da escultura e espaços áridos a serem renovados por obras de arte; da
maneira refletida em inserções de espaços entrópicos que agregam situações sem
compromisso formal, mas que interferem nos conflitos desses espaços.
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Nesse sentido, os monumentos do final do século XIX em Belém, como: o
monumento Homenagem ao General Hilário Maximiliano Antunes (na Praça Dom
Pedro II, 1882), o monumento ao Dr. José da Gama Malcher (no Largo das Mercês,
1889), o monumento à República, localizado na Praça da República, e o monumento
a Frei Caetano Brandão, na Praça Frei Caetano Brandão (Praça da Sé, 1900), são
exemplos de monumentos que confirmam essa afirmação, sobrevivendo até os
nossos dias, apesar da problemática que envolve essas obras na atualidade – como
é o caso da falta de conservação e da sua percepção em uma época onde os
transeuntes não têm mais tempo para observar a sua presença física na paisagem
urbana, ou porque estão em um ambiente entrópico que impede os expectadores de
observá-los de outra maneira.
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Esses trabalhos, considerados Arte Pública, pontuam o final desse percurso,
rompendo com todos os paradigmas de transformação entre os monumentos, as
esculturas e as intervenções urbanas. Entretanto, todas participam da cena urbana,
relacionando-se com essas obras em maior ou menor grau, dinamizando o espaço
urbano e se relacionando com ele de uma forma mais humana e afetiva.
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Tais obras e espaços recém-construídos resultam da vertente teórica que
entende a arte pública como meio de acesso ao espectador, que não costuma ir a
museus ou galerias. Assumem, portanto, um papel estratégico, propondo uma
aproximação direta do público com o embelezamento dos espaços que estão para
além das galerias e dos museus.
o a efemeridade da obra;
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sentido na paisagem contemporânea, de modo que a nova produção de Arte Pública
ora não tem nenhum significado além da ornamentação e embelezamento urbano,
ora sugere questões coletivas e conceituais de caráter coletivo e de interesse de
uma determinada comunidade.
Referências:
ARGAN, Giulio Carlo. História da Arte como história da cidade. São Paulo: Martins
Fontes, 1992.
ARTE PARÁ (Belém-PA) Arte Pará 27ª Edição: catálogo. Belém, 2008/2009.
BRISSAC, Nelson. Paisagens urbanas. São Paulo: Editora SENAC, 1996.
COELHO, Geraldo Mártires. No Coração do Povo. O Monumento à República em Belém
(1891-1897) Belém: Paka-Tatu, 2002.
COELHO, Teixeira. Dicionário crítico de política cultural. São Paulo: Editora Iluminuras,
1999.
CRUZ, Ernesto. Monumentos de Belém. Belém: IHGP, 1945.
DUQUE, Félix. Arte público Y espacio político. Madrid: Ediciones Akal, S.A., 2001.
MADERUELO, Javier. El espacio raptado. Madrid: Mondadori España, S.A., 1990.
Ubiraélcio Malheiros
Prof. Dr. do Instituto de Ciências da Arte, da Faculdade de Arte Visuais da Universidade
Federal do Pará. Mestrado e Doutorado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade de São Paulo – FAU/USP. Estágio Pós-Doutoral, Universidad de Alcalá,
Espanha. Atualmente, coordena o GEAPPA (Grupo de Estudos sobre Arte Pública do Pará)
e desenvolve projeto de pesquisa e de extensão na área de Arte Pública.
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