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Faculdade de Ciências Humanas e Sociais | Licenciatura em

Psicologia

Ano Letivo 2014/2015

Nome do trabalho: Reflexão sobre o Livro “A agressão. Uma História Natural do Mal.”
Disciplina: Introdução às Ciências Sociais
Docente: Daniel Seabra
Nº e Nome do Aluno: 31647 – Ana Rita Marques Monteiro Reis
Data de entrega: 05 de Janeiro de 2015
Universidade Fernando Pessoa Introdução às Ciências Sociais

“As verdades definidas não parecem estar


ao nosso alcance, seres humanos finitos,
exceto talvez na matemática.” -
Desconhecido

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Introdução
O fenómeno da agressão entre os seres humanos tem sido abordado por

diversas entidades em enumeras áreas do conhecimento como a Etologia, a

Sociologia, a Antropologia, a Biologia, a Filosofia e a Psicologia.

Cada uma observa e experimenta o tema sob uma diferente perspetiva

desenvolvendo hipóteses, mais ou menos amplas, segundo a sua área para explicar

as origens do comportamento agressivo.

Existem coisas que dependem da conceção da natureza humana como o

significado e o propósito de vida, assim como o rumo a tomar e o que devemos

fazer para conseguir atingir esses objetivos. Contudo, as respostas a essas perguntas

podem ser complexas e até difíceis de explicar mas, dependem em parte de

pensarmos na existência de algo verdadeiro ou inato no ser humano.

Hoje em dia, os teóricos sociobiológicos tratam os humanos como sendo um

produto da evolução, dotados de padrões de comportamento biologicamente

determinados e específicos da espécie.

Para Lorenz (2003), as pulsões agressivas são o resultado da “pressão da

seleção intraespecífica” (p. 253)

A natureza humana como tópico rompe as fronteiras entre a ciência e as

humanidades onde homens e mulheres se exibem em sentimentos, pensamentos e

ações amplificando-os e aprofundando-os embora, muitas vezes, esteja além da sua

compreensão, não nos é possível exprimi-los em palavras.

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Konrad Lorenz
Konrad Zacharias Lorenz, Austríaco, nasceu em Viena a 7 de Novembro

de 1903 e onde acabou por falecer com 85 anos a 27 de Fevereiro de 1989. Foi

um importante etólogo, zoólogo e ornitólogo.

Filho de um cirurgião ortopédico, apresentou desde cedo um grande

interesse sobre os animais, estudando o seu comportamento desde o nascimento.

Ao terminar a escola secundária em 1922, seguiu o desejo do pai, estudou

medicina por dois semestres na Universidade de Columbia, em Nova Iorque,

retornando a Viena para continuar seus estudos. Diplomou-se em medicina em

Viena em 1928 e obteve o grau de doutor em Zoologia, em 1933.

Em 1935 descreveu o processo de aprendizagem nos gansos onde os

filhotes, logo que nasciam, aprendiam a seguir a mãe, ou então, uma falsa mãe,

criando assim o conceito de "imprinting", ou gravação, que é descrito como sendo

um processo que compreende sinais visuais e auditivos do objeto "mãe" que são

gravados, mesmo que sejam enganosos. Isto provoca uma resposta de

acompanhamento que depois vai afetar o adulto.

Foi professor e chefe do Departamento de Psicologia Geral da

Universidade de Königsberg.

Mais tarde em 1973 foi agraciado com o Nobel de Fisiologia ou Medicina

pelos seus estudos sobre o comportamento animal no seu ambiente natural, a

etologia.

Lorenz foi um dos fundadores da Etologia sob influência da Teoria da

Evolução, tendo como uma de suas preocupações básicas a evolução do

comportamento através do processo de seleção natural.

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Reflexão do Livro:
“A agressão. Uma História Natural do Mal.”

No prólogo, Lorenz escreveu: “O tema deste livro é a agressão, ou seja, o

instinto de lutar comum aos homens e aos animais, quando essa luta é dirigida

contra membros de sua própria espécie”. Segundo as suas crenças, os animais,

distintamente os machos, são programados biologicamente para lutar por recursos

e território sendo esse comportamento parte da seleção natural, ou seja, o

comportamento agressivo é, em grande parte, inato ou fixado e não podiam ser

explicados behavioristicamente.

Esses comportamentos não podiam ser eliminados nem alterados

significativamente por mais que se manipulasse experimentalmente o ambiente.

A fim de explicar esses comportamentos recorreu não à experiencia passada

do animal como individual mas sim a todo o processo de evolução que deu origem

à espécie, sendo que o ramo de Etologia por ele fundado baseia-se na evolução.

Lorenz chega, através do estudo dos gansos, à conclusão partilhada pelos

etnólogos: é o rito, e não a genética, que forma os grupos. Claro que, entre os gansos

e entre os homens, o rito com o parceiro sexual e com os amigos começa desde

cedo. É inevitável que se escolha um parceiro disponível e viável; e na vizinhança

somente encontramos outros gansos do mesmo bando.

Se o acaso permitir que um jovem ganso perdido seja recebido por um rito de

acasalamento de outro jovem antes de ser expulso por um adulto, integra-se naquele

bando.

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Porém, as implicações desta teoria na evolução da nossa espécie, na

compreensão da nossa natureza, da nossa sociedade e da nossa cultura têm sido

alvo de diversas disputas quer filosóficas, quer religiosas, quer políticas que a

própria teoria científica em si não pode encontrar resolução.

Os comportamentos instintivos acontecem espontaneamente, resultado do

modo como os vários subsistemas nervosos interagem entre si e com o mundo

externo e interno.

É de salientar diversos relatos e interpretações bastante detalhados das mais

variadas espécies e da introdução de novos conceitos, alguns dos quais tornaram-se

correntes na ciência biológica que veio revolucionar a mentalidade da sua geração.

Lorenz sustenta que existem muitos padrões de comportamento animal do

tipo “coordenações hereditárias” ou “movimentos de instinto”; são inatos e não

aprendidos, e há para cada padrão um “impulso” que faz o comportamento aparecer

espontaneamente no entanto, eles estão à disposição de um ou mais dos “quatro

grandes impulsos” – a alimentação, a reprodução, a fuga e a luta ou agressão (Cap.

3) sendo que, é despoletado determinado comportamento manifesto pela soma de

dois ou mais dos impulsos anteriores. Se houver apenas conflito entre impulsos

independentes que estes dariam firmeza a todo o organismo, como um equilíbrio de

forças no interior de um sistema politico (Cap. 6).

O ponto crucial da visão de Lorenz respeitante à natureza humana é que, tal

como todos os animais, o homem tem o impulso inato do comportamento agressivo

em relação à sua própria espécie, estando limitado a poucos danos, como acontece

entre animais da mesma espécie, não fossem dois problemas:

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 Primeiro o homem é um animal racional que dispões de tecnologia e

de materiais (armamento), multiplicando seu poder ofensivo, de modo

que o equilíbrio natural entre o potencial mortífero e a inibição é

perturbado.

 Segundo problema é que não existe respeito pelo gesto de submissão

feito pelo perdedor é considerado fraco, inferior, uma mera peça de

jogo. Por essas razões, o homem, é o único animal que mata dentro de

sua própria espécie.

Lorenz mostra que o nosso conhecimento de nós mesmos, enquanto força

humana e espécie, aumenta o nosso poder de autocontrolo e assenta por isso, em

bases sólidas da nossa vontade. Quanto mais compreendermos, mais aptos estamos

para tomar medidas racionais para controlá-lo. "O autoconhecimento é o primeiro

passo para a salvação" (Cap. 12-3).

Durante a leitura é possível observar que Lorenz tem vê os seres humanos

como uma espécie particular que evoluiu a partir de outras. Assim como o nosso

corpo e fisiologia revelam similaridades com outros animais, também ele espera

que hajam parecenças nos nossos padrões de comportamento embora, sejamos a

“mais elevada” realização até agora alcançada pela evolução.

É descrito o processo de imprinting (gravação) onde descreve que os filhotes,

logo que nasciam, aprendiam a seguir a mãe, ou então, uma falsa mãe e que

compreende sinais visuais e auditivos do objeto "mãe" que são gravados, mesmo

que sejam enganosos, mais tarde afetando o adulto.

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Essa é a questão que procura explicar a agressividade nos seres humanos.

Segundo Lorenz desenvolve-se como uma pulsão que permite experiências limite

nos indivíduos. Experiências da agressividade constituem essas experiências que

colocam os seres a enfrentar o risco de morte. Nos seres humanos essa agressividade

é um instinto que resulta da sua evolução.

Ao abordar a agressividade como um instinto abriu caminho á resolução da

questão da agressividade nas sociedades humanas, classificando-nos assim em

quatro tipos de ordens sociais:

 a multidão anónima, (representada pelas grandes manadas, onde os

indivíduos não se conhecem pessoalmente nem estabelecem laços),

 a vida familiar (representada pelas colónias de aves onde a sobrevivência

depende da alimentação e do território a defender),

 a das superfamílias (retratada pelos ratos, onde o reconhecimento não é

individual mas tribal, protegendo os membros e agindo agressivamente com

os outsiders,

 a sociedade (representada pela análise dos gansos). Este último é, segundo

Lorenz semelhante á sociedade humana, onde a luta é mais destrutiva, não

travada entre indivíduos mas entre grupos contrários, organizados – guerra

ou, desorganizados – massacres de comunidades.

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A proposta de Lorenz neste livro sobre a agressividade é que a sua função,

nas sociedades humanas, é por vezes um instinto treinado. Alguns indivíduos são

incapazes de se entender como elementos num todo na sua relação com a natureza.

Esses indivíduos rejeitam a causalidade, em contradição com o livre-arbítrio. São

indivíduos que assumem uma arrogância espiritual. A partir daí, propõe um

conjunto de medidas para trabalhar a "agressividade no ser humano":

 Conhecer-se a si mesmo - Através do conhecimento de si e do treino do

instinto da agressividade, é possível enfrentar as "pulsões" biológicas.

 Prática da “Sublimação” ou "Catarse" - Integração no mundo e com os

outros.

 A amizade ou o reconhecimento dos outros - Capturar as diferenças nos

outros também alcançamos um reconhecimento de nós como individuo.

 Encorajar a "juventude" – Deixar os jovens envolverem-se em questões

socialmente relevantes, com fortes valores seria, uma forma de facilitar o

encontro e a espontaneidade promovendo o debate de ideias e de inovação.

Se a agressão é inata para a espécie humana, parece haver pouca esperança

para a nossa raça. Apelar à razão, à moralidade e ao bom senso pouco valor têm.

Eliminar todos os estímulos provocatórios de nada adianta pois, o impulso

interior vai continuar à procura de saídas e uma vez que, não sabemos até que ponto

é importante na nossa formação de personalidade, enquanto espécie humana,

poderíamos estar a assassinar a “mais elevada” realização humana.

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Durante a leitura do capítulo final Lorenz confessa-se otimista “a razão pode

e vai exercer uma pressão de seleção na direção correta”.

Havendo a canalização de energia e raiva quer para objetos, quer para

atividades, quer em forma de sarcasmo, quer em forma de senso de humor,

promovendo uma forma de confraternização e interação com diferentes nações,

classes, culturas e partidos podemos, sem perder o controlo racional, utilizar essa

canalização para acalentar a esperança de que, futuramente, consigamos controlar

o impulso agressivo reduzindo-o a um nível aceitável sem perturbar a sua função.

O texto foi desenvolvido para um público culto em geral e enaltece o

principal argumento com uma riqueza de detalhes de provas por ele experienciadas

e documentadas minuciosamente podendo, fazer com que as suas ideias sejam

bastante persuasivas combinando a compreensão humana de Freud e o rigor

científico de Skinner.

Contudo, o que suscitou mais dúvidas na sua metodologia foi a insinuação

de que os “pequenos impulsos parciais” costumam ser a soma de um ou mais dos

quatro “grandes impulsos” acima referidos.

Sustém, ainda, que uma “função autocontida” não é resultante de um só

impulso mas que a agressão é por si só a base, ou seja, a força motriz, no

comportamento humano “estão na base de padrões de comportamento que

exteriormente não têm nenhuma relação com a agressão e até se mostram como seu

extremo oposto” (Cap. 3).

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A maioria dos exemplos descritos no livro são maioritariamente sobre aves

e peixes, uma pequena porção de mamíferos e nada de primatas, os nosso grandes

ancestrais logo, faz deduções por analogia “se os peixes e as aves são inatamente

agressivos, o comportamento humano está sujeito às mesmas leis básicas” (Cap.

10).

Todavia, se ele tivesse feito estudos detalhados sobre os primatas talvez

pudesse acreditar que existem diferenças entre os seres humanos e os outros animais

e que poderão ser tão ou mais importantes que as ditas semelhanças. Mas, se a

analogia com os animais não puder provar o que se quer, porque não fazer uma

observação direta do comportamento da própria espécie para verificá-la.

O argumento de Lorenz é que o amor e a guerra são originados pelo mesmo

instinto. Garantimos a guerra com uns ao ter o amor de outros, e vice-versa.

Konrad Lorenz, vivenciando o clima da Guerra Fria em que escreveu o livro

procurou entender a agressão, entre a espécie humana, fazendo a Grande Divisão –

entre corpo e espírito. Assim sendo, a nossa pré-evolução, o Homo sapiens é, para

Lorenz mais corpo do que espírito.

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Conclusão:
«A conclusão evidente é que o amor e a amizade devem compreender toda

a humanidade e que devemos amar todos os nossos irmão humanos sem

discriminação. Este mandamento não é novo. A nossa razão é perfeitamente capaz

de compreender a sua necessidade e a nossa sensibilidade é capaz de apreciar a

sua beleza. E no entanto, tal como somos feitos, somos incapazes de lhe

obedecer.» Konrad Lorenz

“Todos os grandes perigos que ameaçam a humanidade de extinção são

consequência direta do pensamento conceitual e da linguagem verbal” (p. 230).

“O conceito de normal é um dos mais difíceis de definir em toda a biologia,

mas ao mesmo tempo é tão indispensável como o conceito oposto de patológico”

(p. 327).

Esta reflexão foi originada pelo desafio proposto pelo professor de

Introdução às Ciências Sociais no qual teríamos que ler um livro ou um capítulo

de um livro à nossa escolha e, dele fazer resultar o trabalho final.

Foi um livro de leitura intermédia, exige algum conhecimento de espécies

e conceitos adquiridos quer nesta disciplina quer nas restantes e concentração pois,

nele existem detalhes de uma necessidade interior e de uma busca de valores da

vida e da própria verdade.

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Alguns foram reemergindo numa nova descoberta, numa vontade enorme

de desvendar o maior segredo da vida humana pela busca constante do equilíbrio

e da verdade.

A agressão é inata, “espontânea”, gerada por um recetáculo infindo de

energia que vai sendo preenchido interiormente e que varia de acordo com a

posição social.

Lorenz generalizou a teoria sob forte especulação, não comprovada, vinda

através da observação por si efetuada aos animais.

Ao longo da história e até aos dias de hoje vimos sendo assombrados pelos

irresolvíveis problemas militares e políticos de todo o mundo envolvendo

hostilidade e a própria sobrevivência da espécie humana na Terra ameaçada pela

existência de armas nucleares, químicas e biológicas. Eles têm noção do perigo

mas defendem essas alegações uma vez que, podem justificar as ações como

“naturais” ou “inevitáveis” perante a sociedade.

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Referências Bibliográficas:
 LORENZ, K. L. A Agressão – Uma história natural do mal, Lisboa, Relógio

D’água, 2003.

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