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FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE

FERNANDÓPOLIS – FEF

FONOAUDIOLOGIA

FUNDAMENTOS DE
FÍSICA E BIOFÍSICA

PROFa. ANA LÚCIA RIOS

ALUNA: __________________________

2004
Fundamentos de Física e Biofísica 1

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

GARCIA, E. A. C. Biofísica. São Paulo: Sarvier, 2000.

HAUGHTON, P. M. Physical Principles of Audiology, 1980

HEININE, I. L. Biofísica básica. São Paulo: Atheneu. 2 .ed., 1996.

LOPES-FILHO, O. Tratado de fonoaudiologia. São Paulo: Roca, 1996.

NUSSENZVEIG, M. Física básica. São Paulo: Edgard Blücher Ltda., 1998, v. 1-4.

OKUNO, E.; CALDAS, I. L.; CHOW, C. Física para ciências biológicas e biomédicas. São
Paulo: Harbra, 1986.

RUSSO, I.C.P. Acústica e psicoacústica aplicada à fonoaudiologia. 2.ed., São Paulo:


Lovise, 1999.

ZEMLIN, W. R. Princípios de anatomia e fisiologia em fonoaudiologia. Porto Alegre:


Artmed. 2000.

OBS: Figuras retiradas do livro: RUSSO, I.C.P. Acústica e psicoacústica aplicada à


fonoaudiologia. 2.ed., São Paulo: Lovise, 1999.

OBJETIVO

Fornecer ao aluno conhecimentos básicos e gerais de Física e Biofísica a fim de possibilitar


a compreensão dos mecanismos auditivos e vocais levando o aluno a adotar uma postura
crítica - reflexiva sobre a importância desta área na realidade atual da Fonoaudiologia.

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO

 Quantidades ou grandezas físicas


 Fenômenos Ondulatórios
 Natureza da onda sonora
 Dimensões da onda sonora
 Tipos de onda sonora
 Representação gráfica da onda sonora
 Velocidade, pressão e energia sonoras
 Intensidade sonora e os processos de medida
 Propagação do som
 Fontes sonoras, ressonância e filtros acústicos
 Acústica fisiológica ou psicoacústica
 Bases físicas da audição
 Ruídos, seus efeitos e medidas preventivas
 A importância da calibração
 O papel da acústica das salas de aula na inteligibilidade da fala
 Bases físicas da fonação
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 A música e os instrumentos musicais / voz humana (texto)


QUANTIDADES OU GRANDEZAS FÍSICAS

INTRODUÇÃO À ACÚSTICA

Acústica: Ramo da física que se preocupa com o estudo do som, que se divide em
produção, transmissão e detecção. Usualmente pode ser estudada segundo dois aspectos:
- Acústica física: É à parte da acústica que trata das vibrações e ondas mecânicas;

- Psicoacústica: É à parte da acústica relacionada à sensação que o som produz nos


indivíduos, os julgamentos e impressões que eles emitem ao receberem uma estimulação
sonora em seus ouvidos.

POR QUE ESTUDAR FÍSICA?


- É a mais fundamental e a mais geral das ciências;
- Desempenha um papel básico em todos os fenômenos;
- Pode fornecer dois tipos diferentes de contribuição para outras ciências: teóricas e
técnicas.
- Teóricas: Auxiliam diretamente na compreensão de um determinado fenômeno;
- Técnicas: Compreendem o desenvolvimento de aparelhos e equipamentos
(mecânicos e eletrônicos) que auxiliam no desenvolvimento e no aperfeiçoamento de
recursos específicos das mais diversas áreas.
- Definição: É a medida dos fenômenos da natureza, bem como a sua interpretação. É
comparar os fenômenos a outro da mesma espécie, sendo este último denominado
unidade.
- Fenômeno: Quantidades ou grandezas.
- Sistemas de Medidas: Existem dois sistemas fundamentais de medidas utilizados que
representam diferentes unidades para cada grandeza.
- Internacional: m.k.s. (metro-quilograma-segundo);
- c.g.s. (centrímetro-grama-segundo).
- Há 3 grandezas fundamentais ou primitivas que são:
- Comprimento (d);
- Massa (m);
- Tempo (t)
- As demais grandezas são as derivadas, pois são descritas a partir destas três.

QUANTIDADES FÍSICAS FUNDAMENTAIS

Comprimento (d)
É uma medida de distância, ou seja, a separação espacial entre dois pontos. Para
determinar a magnitude da distância, selecionamos uma unidade de medida como o metro no
m.k.s. e pelo processo de medida determinamos quantas vezes esta unidade está contida em
uma dada distância. As unidades usualmente empregadas para se medir o comprimento são:

m.k.s.: metro (m) c.g.s.: centrímetro (cm)


1 m = 100 cm 1 cm = 0,01 m

Massa (m)
É uma propriedade de toda matéria e pode ser definida como a quantidade de matéria
que o corpo possui. O uso da palavra quantidade indica, simplesmente, que há uma
propriedade observável que pode ser medida ou de alguma forma especificada
numericamente. O conceito de massa está ligado ao conceito de inércia e a palavra massa é
algumas vezes usada para referir quanta inércia o corpo possui. Quanto maior a massa de um
objeto, maior é a sua inércia.

m.k.s.: quilograma (Kg) c.g.s.: grama (g)


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1 Kg = 1.000 g
Tempo (t)
Ë a mais difícil de ser definida, uma vez que apresente um aspecto de certo modo
intuitivo. Nós possuímos a noção intuitiva de tempo e nos acostumamos a medi-lo em
segundos, minutos ou horas.
Em virtude do dia solar ser dividido em 24 horas, uma hora em 60 minutos, um minuto
em 60 segundos, cada dia tem 86.400 segundos. Isso nos leva ao conceito de que segundo é
1/86.400 de um dia solar.

m.k.s.: segundos (s) c.g.s.: segundos (s))

QUANTIDADES FÍSICAS DERIVADAS

Velocidade (c)
Refere-se à quantidade de deslocamento por unidade de tempo. Deslocamento é
uma mudança na posição de um móvel e é especificada pelo cálculo da distância de um ponto
de referência ou de partida até um novo ou posição final. O deslocamento envolve tanto a
distância quanto a direção do móvel. Portanto, velocidade pode ser definida como a
distância do móvel em função do tempo.

m.k.s.: segundos (s) c.g.s.: segundos (s))

Aceleração (a)
É a taxa de variação da velocidade. Se a velocidade do móvel aumenta dizemos que
a aceleração é positiva e se diminui é negativa ou também chamada de desaceleração. Assim,
como a velocidade é o deslocamento do móvel em função do tempo, a aceleração é uma
mudança na velocidade em função do tempo.

m.k.s.: a = m/s2 c.g.s.: cm/s2

Força (F)
É todo agente capaz de produzir a aceleração de um corpo ou então sua
deformação. A força é definida como o produto da massa do corpo e aceleração.
Matematicamente:

F = m.a
m.k.s.: Newton (N) c.g.s.: g.cm/s 2
1 Newton = 10 dina
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Estamos constantemente sujeitos a força da gravidade, e quando age sobre uma


determinada massa recebe o nome de peso ou força-peso. O peso é o produto da massa e
aceleração da gravidade (g).

Trabalho (W)
É a medida do efeito causado por uma força. Assim, quando uma força consegue
pôr em movimento um corpo sob sua ação, o trabalho foi realizado e esse é o produto da
magnitude da força aplicada e a distância movida. Por outro lado, se a força não produz o
movimento, nenhum trabalho foi realizado.

W = F.d
m.k.s.: joule c.g.s.: erg
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1 joule = 10 5 erg
Energia (E)
É uma medida da capacidade de realizar trabalho. Uma forma de distinguir energia
de trabalho é perceber que energia é alguma coisa que o corpo possui, enquanto que trabalho
é alguma coisa que o corpo faz.

m.k.s.: joule c.g.s.: erg

Potência (Pot)
É a medida do trabalho realizado em função do tempo.

Pot = W
t
m.k.s.: Watt c.g.s.: erg
s
1 Watt = 10 6 erg
s

Pressão (P)
É a força exercida por unidade de área. Se a força F está agindo sobre uma
superfície de área A, a pressão é definida como sendo:

P=F
A
m.k.s.: Newton c.g.s.: dina
m2 cm2
1 Nt/ m = dina/ cm2
2

Uma forma alternativa de medirmos pressão é utilizarmos em vez de Newton por metro
quadrado, uma unidade denominada Pascal (Pa). As relações entre essas várias unidades de
medida para pressão são mostradas abaixo:

1 Pa = 1 Nt/ m2 = 10 dina/ cm2


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FENÔMENOS ONDULATÓRIOS

ONDA

É uma perturbação, abalo ou distúrbio transmitido através do vácuo ou de um meio


gasoso, líquido ou sólido.
Há uma variedade de ondas, por exemplo: ondas do mar, ondas numa corda ou mola,
ondas eletromagnéticas, sonoras, etc.
Todas as ondas podem transmitir energia de um ponto a outro, através de grandes
distâncias, sem necessariamente haver transporte de matéria.
Cada tipo de onda caracteriza-se pela oscilação de uma ou mais variáveis físicas que
se propagam através do espaço.

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Onda harmônica simples.

TIPOS DE ONDA

Quanto à Natureza
Dependendo do meio de propagação das ondas, elas podem ser classificadas em:
- Mecânicas: São aquelas que precisam de matéria para se propagar. As partículas do meio
vibram somente ao redor de suas posições de equilíbrio, sem se deslocarem como um todo
juntamente com a onda. Por exemplo: onda numa corda, ondas na água e ondas sonoras.

- Não-mecânicas: São aquelas que não necessitam de um meio material para se propagar
e são constituídas por variações de campos elétricos e magnéticos. Por exemplo: luz, onda
eletromagnética.

Quanto à Direção de Propagação


Uma onda pode ser:
- Unidimensionais: Quando se propagam em uma só direção ou segundo a direção de um
eixo. Ex: Pulso numa corda.

- Bidimensionais: Quando se propagam em duas dimensões ou em um plano formado por


dois eixos. Ex: Onda na água.

- Tridimensionais: Quando se propagam em todas as direções, isto é, no espaço. Ex: Onda


sonora.

Quanto à Direção de Propagação com Relação à Direção da Perturbação


- Longitudinais: Se a perturbação for paralela à direção de propagação. Ex: onda sonora,
onda numa mola.

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Onda longitudinal numa mola.


- Transversais: Se a perturbação for perpendicular à direção de propagação da onda. Ex:
onda luminosa, onda numa corda, ondas eletromagnéticas.

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Onda transversal numa corda.

Quanto à Duração da Perturbação no Meio


- Solitária: Quando a fonte emite apenas um pulso ou perturbação, sendo uma onda única.
Ex: uma sacudidela em uma corda tensionada produz um pulso.

- Trem de Ondas: Quando uma sucessão de pulsos move-se ao longo do meio. Ex:
Sucessão continua de pulsos no caso de algumas sacudidelas na corda tensionada.

Ondas Estacionárias ou Progressivas


- Progressiva: Nesta onda, cada partícula do meio vibra com a mesma amplitude. Todos os
pontos do meio oscilam com a mesma freqüência, exceto os nós, que estão,
permanentemente, em repouso. As ondas sonoras produzidas na fala são progressivas.

- Estacionária: Nesta onda, a amplitude depende da posição do ponto, sendo máxima nos
ventres de vibração. As ondas originadas no interior de uma flauta são estacionárias, isto é,
possuem mesma freqüência e amplitude, mas direções opostas. A formação de ondas
estacionárias é critério seguro para caracterizar a natureza ondulatória de um fenômeno e
permite determinar o comprimento de onda correspondente.

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Ondas estacionárias numa corda fixa em ambas as extremidades.


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Superposição de Ondas
Consiste no fato de duas ou mais ondas atingirem a mesma região do espaço,
simultaneamente.
A Forma de Onda
O fenômeno ondulatório é comumente registrado em um gráfico que representa o
movimento das partículas materiais em função do tempo.
Um pulso ou perturbação em uma corda longa, fixa em uma de suas extremidades, é
gerado quando movimentamos sua extremidade livre para cima e para baixo, com igual
deslocamento vertical.
O movimento ondulatório resultante revela a existência de pontos permanentemente
imóveis em suas posições, denominados nós ou nodos de vibração, onde a amplitude é nula.
Situados entre os nós e com o crescente afastamento dos mesmos, encontram-se os
ventres de vibração, onde a amplitude é máxima.
Quando o ventre de vibração está voltado para cima é denominado crista e, quando
está voltado para baixo, vale.
À distância entre duas cristas ou dois vales consecutivos é chamada de comprimento
de onda ().
A figura abaixo mostra a representação gráfica do movimento ondulatório, que reflete
um movimento harmônico simples, também chamado de movimento senoidal. Este tipo de
representação é denominado forma de onda e não é restrito somente ao deslocamento, mas
também podem representar velocidade, aceleração, força, pressão, etc. em função do tempo.

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Comprimento de onda ().

Onda Sonora
É produzida por um elemento vibrador ou fonte, que pode ser desde um cristal, uma
corda, um tubo, uma membrana, uma placa que, quando estimulado, é capaz de produzir
perturbações ou variações na densidade do meio ao seu redor, como conseqüência do
aumento ou diminuição da pressão sonora.
Pelo fato das partículas materiais, que transmitem a onda, oscilarem paralelamente à
direção da propagação, as ondas sonoras são longitudinais.
Uma vez que necessitam de um meio material para se propagarem, pois não se
propagam no vácuo, as ondas sonoras são mecânicas. Além disso, são tridimensionais, pois
sua propagação é feita em todas as direções, ou seja, no espaço.
A figura abaixo ilustra a variação do comprimento de onda de duas ondas sonoras de
freqüências diferentes, propagando-se no ar e na água em velocidade de propagação
constante.
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NATUREZA DA ONDA SONORA

( ) “Som é tudo aquilo que ouvimos.”


( ) “Som é uma energia vibratória que se propaga em meios elásticos.”
( ) “Som é uma sensação inerente a cada indivíduo.”

( ) Psicólogo
( ) Físico
( ) Uma pessoa

Muitos corpos podem servir como fontes sonoras desde que vibrem. Para isso eles
necessitam de duas propriedades físicas inerentes a cada corpo: massa e elasticidade.

PROPRIEDADES DO MEIO DE TRANSMISSÃO

Massa: É a quantidade de matéria que está presente que representa a matéria que o corpo
possui.

Diferença entre MASSA e PESO: (M) é a quantidade de matéria presente e (P) refere-se à
força gravitacional de atração exercida sobre a massa pela Terra. Peso é força e devido à força
da gravidade, as moléculas da atmosfera se acumulam próximas à superfície da Terra. Há,
portanto, uma pressão exercida para baixo e as moléculas são comprimidas em um menor
volume, o que aumenta a densidade que é a quantidade de massa por unidade de volume.

Elasticidade: É a possibilidade que os corpos têm de voltarem à forma e tamanho originais,


uma vez retirada a força que os levou à deformidade.

PROPRIEDADE DA FONTE SONORA

Diapasão: Fonte sonora é uma barra metálica em forma de U. As hastes do diapasão possuem
massa e elasticidade, o que faz com que retornem à posição original após terem sido
deslocadas. A amplitude de deslocamento é proporcional à magnitude da força aplicada.
Devido à interação de duas forças opostas, elasticidade e inércia (tendências de um
corpo em repouso permanecer em movimento e a tendência de um corpo em repouso
permanecer em repouso), as hastes do diapasão continuam a mover-se e estão em vibração.
O movimento vibratório consiste, então, em movimentos de vaivém de um corpo que
apresenta massa e elasticidade, como resultado de duas forças opostas: inércia e elasticidade.

Ciclo Vibratório: É o movimento das hastes da posição de equilíbrio ao deslocamento máximo


em uma direção, voltando à posição de equilíbrio e indo ao ponto de deslocamento máximo na
direção oposta e, finalmente, retornando à posição de equilíbrio.

PROPAGAÇÃO DA ONDA SONORA

A onda sonora é o resultado do movimento vibratório de alguma massa (diapasão). A


ação produz uma onda de compressão que se move através do meio.
Cada molécula de ar apresenta um movimento de vaivém com relação à posição de
equilíbrio, mas não o faz em grande distância. Devido à força que foi exercida sobre a massa
de moléculas, o movimento que estas apresentam produzirá regiões alternadas de alta
densidade (compressão) e baixa densidade (rarefação) e esse distúrbio é então propagado
através do meio.
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DIMENSÕES DA ONDA SONORA

FREQÜÊNCIA (f) E PERÍODO (T)

Freqüência (f): É o número de ciclos que as partículas materiais realizam em 1 segundo


(Hertz – Hz). É determinada pela densidade e pelo comprimento das hastes do diapasão
(como exemplo).

Período (T): É a quantidade de tempo, em segundos, requerida para as partículas materiais


completarem 1 ciclo.

A freqüência (f) é o inverso do período (T). A (f) é expressa em Hz e o (T) em


segundos.

f=1 T=1
T f

Unidades de medidas para freqüência e período


Freqüência Multiplicador Período Multiplicador
Hertz (Hz) 1 Segundo 1
Quilohertz (kHz) 1.000 Milisegundo 0,001
Megahertz (MHz) 1.000.000 Microsegundo 0,000001
Gigahertz (GHz) 1.000.000.000 Nanosegundo 0,000000001

OBS: Esses multiplicadores são encontrados para designar faixas amplas de freqüências como
aquelas utilizadas pelas estações de rádio, TV, por exemplo:
- AM: 550 a 1.600 kHz;
- FM: 88 a 108 MHz;
- VHF: 54 a 216 MHz;
- UHF: 470 a 890 MHz.

O ouvido humano é sensível somente aos sons cuja faixa de freqüências se situa entre 20
e 20.000 Hz, denominada faixa audível. Ondas sonoras situadas abaixo de 20 Hz são
chamadas de infra-som e acima de 20.000 Hz de ultra-som.

Curiosidades: A faixa de freqüências audível difere para alguns animais, tais como:
- Gatos: 10 Hz a 60 Hz;
- Cães: 15 Hz a 50 Hz;
- Morcegos: 10 kHz a 120 kHz;
- Golfinhos: 10 kHz a 240 kHz.

Determinantes de Freqüência
Quanto maior a massa menor a freqüência e quanto maior a rigidez, maior a
freqüência.

VELOCIDADE ANGULAR (w)

É quando a freqüência é expressa em radianos por segundo. Por exemplo: Um


passageiro está sentado na roda gigante que completa uma volta a 360º de rotação, se os 360º
de rotação forem completados em 1 segundo, dizemos que a freqüência é de 1 Hz. Se
dividirmos uma roda em vários segmentos ou radianos, verificaremos que, independentemente
de seu diâmetro, 360º contêm exatamente dois radiano, ou seja, 6,2832 vezes o comprimento
do raio ou 3,1416 vezes o comprimento do diâmetro da roda.
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AMPLITUDE (A)

É a medida do afastamento ou deslocamento horizontal das partículas materiais


de sua posição de equilíbrio. Relaciona-se à intensidade sonora, sendo um dos processos
físicos utilizados na medida desta, juntamente com a pressão e a energia transportada pelo
som.

QUALIDADES DA ONDA SONORA

Altura
É a qualidade relacionada à freqüência da onda sonora que, por sua vez, nos permite
classificá-la em uma escala que varia de grave a aguda.
Quanto mais alta for a freqüência, mais agudo é o som e quanto mais baixa for a
freqüência, mais grave ele o será.

Intensidade
É a qualidade relacionada tanto à amplitude da onda sonora quanto à sua pressão
efetiva e sua energia transportada, permitindo-nos classificá-la dentro de uma escala que varia
de fraco a forte.
Quanto maior for a amplitude, mais forte é o som e quanto menor for, mais fraco
ele o será.

Timbre
Não é uma qualidade do som, mas sim da fonte sonora. Por meio dele podemos
diferenciar a mesma nota musical emitida por instrumentos diferentes, graças à contribuição
das diversas freqüências harmônicas de que compõem um som denominado complexo.
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TIPOS DE ONDA SONORA

Dependendo do número de freqüências presentes na onda ela pode ser classificada


em: onda senoidal, onda complexa e onda periódica.

ONDA SENOIDAL

É a onda sonora que resulta de um movimento harmônico simples, proveniente de


uma relação que contém uma função de seno. Dela se origina o tom puro, constituído por uma
única freqüência, denominada de fundamental.
O tom puro não é encontrado na natureza, sendo gerado eletronicamente. É muito
utilizado na determinação dos limiares tonais do indivíduo, realizada com o uso de audiômetros
calibrados.

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Onda senoidal, também chamada de tom puro.

ONDA COMPLEXA

Pode ser definida como sendo qualquer onda sonora composta de uma série de
senóides simples que podem diferir em amplitude, freqüência ou fase. Por exemplo: voz
humana, som de alguns instrumentos, ou seja, constituídos por mais de uma freqüência.

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Onda complexa, resultante da soma de 3 ondas senoidais.


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Teoria de Fourier
“O grau de complexidade de uma onda sonora complexa depende do número de ondas
senoidais combinadas, bem como dos valores dimensionais específicos de amplitude,
freqüência e fase dos componentes senoidais”.
Todas as ondas sonoras podem ser classificadas com relação à presença ou ausência
de periodicidade e ao grau de complexidade da onda.

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Representação das várias formas de ondas geradas pelo tom puro


e sons complexos de fala.

ONDA PERIÓDICA

Quando a onda sonora se repete a iguais intervalos de tempo ela é conhecida como
onda periódica, isto é, as características do ciclo da onda são duplicadas exatamente nos
demais ciclos. Tanto as ondas senoidais quanto as ondas complexas são tipos de ondas
periódicas.

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Onda periódica.

Segundo Fourier, qualquer onda complexa consiste em um número de ondas senoidais


simples somadas. Entretanto, para que uma onda complexa seja periódica, seus componentes
senoidais precisam obedecer a um requisito matemático, chamado relação harmônica.

- Relação Harmônica: As freqüências de todas as senóides que compõem a série devem


ser múltiplas integrais (números inteiros) da freqüência senoidal de mais baixa freqüência
da série. Todas as senóides incluídas na série harmônica são chamadas de harmônicos.
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Estes são numerados, consecutivamente, a partir da freqüência mais baixa da série,


freqüência fundamental (f0), conhecida como primeiro harmônico de f 1, f2, f3, f4, f5 ... até a
mais alta, ou até o último componente da série harmônica.

- Por exemplo: f0 = 100 Hz, os harmônicos da onda complexa serão 200 Hz, 300 Hz, 400
Hz, e assim por diante, sendo essas freqüências múltiplas integrais da fundamental.
ONDA APERIÓDICA

É uma segunda categoria de forma de onda e seu nome deriva exatamente da falta de
periodicidade. O movimento vibratório de uma onda aperiódica é ao acaso, aleatório, e, por
essa razão, imprevisível.
São encontradas em ruídos produzidos por aviões, automóveis, cachoeiras, sons
sibilantes da fala.

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Onda aperiódica.
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REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DA ONDA SONORA

FORMA DE ONDA

A forma de onda define a distribuição da amplitude instantânea de uma onda sonora


em função do tempo. Por intermédio dela, podemos também identificar o período fundamental
de cada onda e, a partir dele, calcularmos a freqüência fundamental.

ONDA SONORA DE DENTE-DE-SERRA

O nome foi atribuído a essa onda em função de sua forma se parecer com um dente-de
-serra. É uma onda complexa que contém energia em todos os múltiplos inteiros, pares e
ímpares da freqüência fundamental.
O espectro dessa onda é linear, pois existe energia somente em freqüências discretas,
múltiplas inteiras da freqüência fundamental.
O estudo dessa onda interessa particularmente àqueles que visam obter conhecimento
na área da acústica da fala, pois essa forma de onda se assemelha àquela produzida pela
vibração das pregas vocais.

ONDA QUADRADA

É também uma onda sonora complexa periódica, mas possui energia somente nos
múltiplos ímpares da freqüência fundamental.

ONDA TRIANGULAR

É uma onda sonora complexa periódica que também contém energia somente nos
múltiplos ímpares da freqüência fundamental, da mesma forma que a onda quadrada. Seu
espectro também é linear.

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Fundamentos de Física e Biofísica 15

Comparação de formas de ondas, espectro de amplitude e espectro de fase

VELOCIDADE, PRESSÃO E ENERGIA SONORAS

VELOCIDADE DE PROPAGAÇÃO DO SOM

As ondas sonoras propagam-se com velocidade bem definidas, dependendo das


características do meio de propagação. Enquanto a freqüência de vibração de uma fonte
sonora é dependente das características da fonte, a velocidade da onda sonora é dependente
delas no meio.
Dessa forma, a rapidez ou a lentidão da onda sonora depende fundamentalmente da
elasticidade e da densidade do meio.
As diferenças entre o quão rapidamente vemos ou ouvimos algo estão exatamente no
fato de que o som e a luz apresentam velocidades distintas. Podemos ver um raio na
tempestade antes de ouvirmos o seu barulho. A velocidade da luz é 299.728.377 Km/s e a do
som de 331,2 m/s ao nível do mar a uma temperatura de 0º centígrados. Assim, a velocidade
da luz é quase 1 milhão de vezes mais rápida que a do som.
Mudanças na temperatura do ar afetam a velocidade de propagação do som, ou seja,
à medida que a temperatura aumenta, a pressão do meio permanece constante, mas os gazes
expandem-se e diminuem a densidade do meio.
A velocidade de propagação do som no ar usualmente empregada é aquela obtida a
20ºC, que equivale a 343,2 m/s ou simplesmente 340 m/s alguns exemplos:
- Vapor de água = 405 m/s
- Água do mar = 1.461 m/s
- Alumínio = 5.105 m/s
Assim, sendo o aço 6.000 vezes mais denso do que o ar se ignorássemos a
elasticidade do meio, poderíamos concluir que a velocidade do som é menor neste do que no
ar, pois velocidade e densidade são inversamente proporcionais.
Contudo, não podemos ignorar a elasticidade, ou seja, a habilidade de resistir à
deformação, e o aço certamente oferece maior resistência à deformação do que a água. Como
resultado, a velocidade do som é aproximadamente 14 vezes maior no aço do que no ar.

PRESSÃO SONORA

Para melhor compreensão, consideremos o afeito da variação da pressão do ar


produzida por uma onda sonora. Para tal, tomemos, por exemplo, o efeito de uma corda
vibrante sobre as partículas de ar que a circundam.
Quando a corda está em repouso, isto é, na ausência de vibração, as partículas de ar
encontram-se em repouso, apresentando apenas o movimento desordenado, aleatório, gerado
pela pressão atmosférica (Pa).
No momento em que a corda é tocada, ela inicia um movimento ordenado de vibração,
acompanhado pelas partículas de ar que a circundam. Esse movimento ordenado se sobrepõe
ao anterior (desordenado) e, como conseqüência, a pressão atmosférica se alterará.
Assim, no movimento vibratório encontramos, alternadamente, no espaço e no tempo,
regiões de depressão (rarefação) e regiões de compressão, criando ondas de pressão, cujo
valor é superior ou inferior ao da pressão atmosférica.

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Esquema da situação física das partículas de ar na propagação do som.


ENERGIA SONORA

Na propagação do som há transmissão de energia, em outras palavras, o som pode ser


definido como sendo a transferência de energia através de um meio elástico.
A energia pode ser transformada de uma forma para outra, mas nunca criada ou
destruída, pois a energia total permanece uma constante. Na transferência de energia através
de um meio elástico, a massa de ar oferece uma resistência e parte da energia cinética será
transformada em energia térmica e, quando essa transformação se completar, a energia
sonora será dissipada. Desse modo, essa oposição ao movimento recebe o nome de fricção,
que, por sua vez, serve para limitar a velocidade do movimento vibratório.
Quando uma partícula de ar está sob a ação de uma onda sonora, alguma força está
atuando sobre ela, fazendo-a vibrar na direção da onda, portanto, o trabalho físico é realizado e
a energia é consumida.

IMPEDÂNCIA ACÚSTICA

A impedância de um sistema vibratório é a oposição que este oferece à passagem da


onda sonora e é determinada pela resistência e pela reactância.
- Resistência: É à parte da impedância que depende do meio material e não depende da
freqüência. É proveniente da transformação da energia aplicada a um sistema móvel em
uma forma alternativa de energia, denominada atrito.

- Reactância: É à parte da impedância tributária da freqüência da onda sonora e é


proveniente do efeito da massa e elasticidade (rigidez) no movimento resultante. A massa
faz com que o sistema obedeça às leis da inércia e a elasticidade é a tendência que o
sistema móvel possui de manter sua forma e posição original.

Uma forma alternativa de expressar as características de um sistema móvel é em


termos da facilitação que ele oferece à passagem da onda sonora, denominada complacência,
opondo-se, portanto, à rigidez. A admitância é recíproca da impedância e também está
relacionada à facilitação que o meio elástico oferece ao movimento vibratório.
Quanto maior for a impedância menor será a admitância e vice-versa. Quanto maior for
a rigidez menor será a complacência e vice-versa.

Terminologia de imitância acústica


TERMO SÍMBOLO CONCEITO
Impedância Z Total oposição ao fluxo de energia.
Admitância Y Total fluxo de energia (recíproca Z).
Reactância X Oposição à energia para estocagem.
Susceptância B Fluxo de energia associada a reactância.
Resistência R Oposição à energia para dissipação.
Condutância G Fluxo de energia associada à resistência.
Complacência C Facilitação à energia (recíproca rigidez).

OBS: Imitância Acústica: Grandeza que inclui tanto a oposição quanto a facilitação que o
sistema oferece à passagem da onda sonora.
Fundamentos de Física e Biofísica 17

INTERVALOS, GAMAS, ESCALAS E LOGARITMOS

INTERVALOS

Dados dois sons cujas freqüências são, respectivamente, f 1 e f2, sendo f1 maior ou igual
a f2, chama-se intervalo (I) entre esses sons a razão entre as suas freqüências.
Quando o intervalo for igual a 1 (um), isto é, f 1 = f2, ele recebe o nome de uníssono.
Quando o intervalo for igual a 2 (dois), ou seja, quando f 2 – 2.f1, ele recebe o nome de intervalo
de oitava.
Uma oitava refere-se ao dobro da freqüência. Assim, 250 Hz está uma oitava acima de
125 Hz; 500 Hz está uma oitava acima de 250 Hz e duas oitavas acima de 125 Hz. Uma oitava
sempre se refere à razão de 2:1 ou 1:2 e não à diferença de freqüência.

GAMAS

É um conjunto formado pelas sete notas musicais e é denominado de Gama de Zarlin.


São também utilizados índices dó 1, dó2, lá1, ré3, etc. para diferenciar as sucessivas gamas
formadas pelas notas musicais. A primeira nota de 1ª gama será o tom fundamental, sendo as
suas correspondentes iniciais das próximas gamas múltiplas deste, portanto, harmônicas. O
conjunto de gamas forma uma escala.

ESCALAS DE MEDIDAS

A palavra medida ou mensuração descreve um processo pelo qual numerais são


atribuídos a objetos de acordo com regras específicas.
Existem várias escalas de medida: nominal, ordinal, linear e logarítmica.
- Nominal: Separa itens em categorias distintas, pela observação de que um objeto é igual
ou diferente de outro, sendo este o seu único parâmetro. Tem aplicação limitada. Ex:
Frutas/vegetais.

- Ordinal: Podemos dizer que dois ou mais itens são diferentes, mas também podemos
dizer que um objeto tem aproximadamente a mesma dimensão do outro. Ex: Conceitos de
avaliação de um aluno.

- Linear: Representa que o tamanho do intervalo possui um valor constante, ou seja, a


espaços iguais fazemos corresponder intervalos iguais de freqüência. Ex: 10, 20, 30,...., n.

- Logarítmica ou Exponencial: É aquela que tem como pré-requisito um ponto zero


absoluto. Sua principal característica é que uma unidade da escala é tantas vezes maior ou
menor do que outra. A escala logarítmica consiste em unidade sucessivas que são geradas
pela multiplicação ou divisão de cada número sucessivo da escala pela base. Ex: Se a
base for 10:

Xn Operação Resultado
100 10 x 0,1 1
101 10 x 1 10
102 10 x 10 100
103 10 x 10 x 10 1.000
104 10 x 10 x 10 x 10 10.000
105 10 x 10 x 10 x 10 x 10 100.000
Fundamentos de Física e Biofísica 18

LOGARITMOS

Logaritmo de um número é o expoente a que se deve elevar a base adotada para se


obter esse número. Considerando duas progressões, uma geométrica, começando por 1 tendo
como razão 10 e outra progressão aritmética, começando por 0 e tendo como razão 1,
representadas abaixo:

Exemplos de progressões
PG PA
1 = 100 0
10 = 101 1
100 = 102 2
1.000 = 103 3
10.000 = 104 4
100.000 = 105 5
1.000.000 = 106 6

OBS: Faremos uso considerável dos logaritmos quando estudaremos o deciBel.

NOTAÇÃO CIENTÍFICA

Os valores são escritos como o produto de um número chamado coeficiente por uma
potência de 10. O coeficiente pode ser qualquer número maior ou igual a 1 e menor ou igual a
10. Ex: 2.000 pode ser escrito 2 x 103.
Fundamentos de Física e Biofísica 19

INTENSIDADE SONORA E OS PROCESSOS DE MEDIDA: O DECIBEL

Estudando os fenômenos ondulatórios, chegamos ao conceito de que som é uma


forma de movimento ondulatório no qual alterações na pressão ou mudanças da densidade são
propagadas através de meios elásticos.
Energia é transferida ao meio e essa transferência ocorre em uma taxa particular,
conhecida como potência acústica (watt – W).

OBSERVAÇÃO: Diferença entre POTÊNCIA e ENERGIA.

Se imaginarmos um indivíduo que está desempenhando uma atividade física como


correr, ele pode fazê-lo por uma hora à razão de 100 passos por minuto, antes que a
quantidade de energia armazenada em seus músculos se esgote e a exaustão ocorra.
Contudo, se estiver com muita pressa de chegar ao destino final e quiser realizar o trabalho
mais rapidamente, dobrando para 200 passos por minuto, a exaustão ocorrerá mais cedo.

PROCESSOS DE MEDIDA DA INTENSIDADE SONORA

A intensidade de uma onda sonora pode ser medida através de processos absolutos e
relativos. Quando medimos o afastamento da partícula material de sua posição de equilíbrio,
medimos a sua amplitude em metros ou centímetros. Também podemos fazê-lo através da
energia que atravessa uma área na unidade de tempo, ou seja, em watt/m2 ou erg/cm 2s.
Finalmente, através da força exercida pela partícula material sobre uma superfície na
qual incide, isto é, pela pressão efetiva, usando como unidades o Pascal, o Newton/m 2 ou
dina/cm2. Os três processos são denominados processos absolutos de medida da intensidade,
pois fornecem diretamente os valores através das respectivas unidades.
Quando usamos um processo de medida de intensidade sonora, tomando um valor de
referência que estabeleça uma razão ou relação entre os valores de energia ou pressão.
Quando a pressão ou a energia sonora de um ruído decresce, nossa sensação auditiva
também o faz, da mesma forma que quando ambas aumentam, existe um aumento em nossa
sensação de intensidade sonora. Entretanto, intensidade sonora e auditiva não varia
linearmente. Podemos aumentar a pressão sonora de um tom de 1.000 Hz um milhão de
vezes a partir de 20 mPa até que este seja incômodo aos nossos ouvidos.
A energia sonora é proporcional ao quadrado da pressão sonora de forma a relação
que para a pressão é de 1:1.000.000, para a energia é de 1:1.000.000.000.000 ou 1:1012 para
o mesmo tom de 1.000 Hz, sendo a menor energia necessária para ser ouvida da ordem de
10–16 watt/cm2 ou 10–12 watt/m2.
De acordo com a lei de Fechner-Weber, um indivíduo, ao receber um estímulo (E), a
sensação (S) não é proporcional ao estímulo, mas diretamente proporcional a uma constante
(K) multiplicada pelo logaritmo do estímulo, tomando por base um estímulo preexistente (E ref),
isto é, um valor de referência.
Matematicamente: S = K log E/E ref
Neste caso, se substituirmos o estímulo pela energia ou pela pressão, podemos afirmar
que a sensação produzida pelo som não é diretamente proporcional à pressão ou à energia,
mas a uma constante multiplicada pelo logaritmo da pressão ou da energia, tomando por base
uma pressão ou uma energia de referência, que são, respectivamente, 20 mPa e 10–12
watt/m2 ou 10–16 watt/cm2.
Os processos que tomam por base esta lei são chamados de processos audiológicos
ou relativos de medida da intensidade sonora, ou seja, o nível de intensidade sonora (NIS) e
o nível de pressão sonora (NPS), cuja unidade de medida é o decibel, em homenagem a
Alexander Graham Bell, inventor do telefone.
Fundamentos de Física e Biofísica 20

O Bel era uma unidade usada para medições de perdas nas linhas telefônicas, nos
EUA, da qual derivou o decibel (dB), ou seja, a décima parte do Bel, definido como uma raiz
que nos diz em que razão um valor é maior ou menor do que outro, sendo este último, tomado
como referência.

Do Bel ao deciBel
- Bel (Bels): Medida relativa de intensidade, a qual comprimia uma ampla variação da escala
linear de intensidades pela transformação desta em uma escala logarítmica.
- DeciBel (dB) (DeciBels): 0,1 de um Bel.

PROCESSOS ABSOLUTOS DE MEDIDA DA INTENSIDADE SONORA

Amplitude (A)
É a medida do afastamento ou deslocamento das partículas materiais de sua posição
de equilíbrio. Quanto maior é a amplitude de uma onda sonora, maior é o efeito que ela exerce
sobre a superfície na qual incide. Ela é medida em metros nos sistema internacional e no c.g.s.
em centímetros.

Intensidade de energia (I)


Lembrando que energia é a capacidade de realizar trabalho e que som transporta
energia, podemos estabelecer um processo para a medida da intensidade sonora, medindo-se
a energia que o som transporta.
Na física, a intensidade de energia é sempre medida levando-se em conta a área na
qual a energia sonora incide, não esquecendo também de levar em conta o tempo no qual ela é
realizada.
Em resumo, a intensidade é a quantidade de energia transmitida por segundo
sobre uma área de um metro quadrado. Se a unidade de medida de potência acústica é o
watt e se a intensidade é a quantidade de energia por segundo por metro quadrado, então a
unidade de medida para a intensidade de energia é o watt/m2. Na audiologia, utiliza-se
watt/cm2.
Os valores de intensidade de energia sonora audível para um tom de 1.000 Hz variam
de 10-16 a 10-4 erg/cm2 (c.g.s.) ou de 10-12 a 10 watt/m2 (m.k.s.).

Pressão Sonora
A medida da intensidade sonora mais freqüentemente empregada é aquela que se
relaciona à pressão, isto é, à força exercida pelas partículas materiais sobre uma superfície na
qual incidem.
Quanto maior for a pressão sonora, maior será a intensidade sonora.
Os valores médios de pressão sonora normalmente audíveis para um tom de 1.000 Hz
variam de 20 μPa a 20 Pa.

PROCESSOS RELATIVOS DE MEDIDA DA INTENSIDADE SONORA

Nível de Intensidade Sonora (NIS) - (sound intensity level – SIL)


Para cada aumento de 10 na intensidade de energia o NIS aumenta de 10 em 10 dB.
O decibel é uma unidade de medida ambígua, a menos que a intensidade de referência
seja especificada. Qualquer confusão pode ser evitada se uma intensidade convencional de
referência for comparada a alguma intensidade absoluta e se pudermos calcular a intensidade
relativa. Quando a referência for igual a 10–16watt/cm 2 ou 10–2watt/m2, o resultado é expresso
em dB NIS.
Consideremos um som cuja intensidade sonora seja I. Chama-se nível de intensidade
sonora (NIS) desse som o resultado numérico da expressão: I NIS =10 log ¾
I0 onde I0 é igual ao menor valor de intensidade de energia audível, isto é: 10–16 watt/cm 2,
devendo ser especificado o resultado em decibel NIS (dB NIS).
Sendo o decibel uma unidade relativa, a intensidade de energia de referência deve ser
sempre especificada, uma vez que se tal referência for modificada o resultado será diferente.
Fundamentos de Física e Biofísica 21

Sendo assim, escreve-se da seguinte forma: NIS = 100 dB relativo a 10–16 watt/cm 2 ou
simplesmente, NIS = 100 dB re 10–16 watt/cm2.

Nível de Pressão Sonora (NPS) - (sound pressure level – SPL)


Como a intensidade de energia é igual ao quadrado da pressão, à medida que a
pressão aumenta em 10 vezes, o nível de pressão sonora cresce de 20 em 20 dB.
O decibel é uma unidade relativa sendo, portanto, imprescindível especificarmos o
valor tomado como referência. No caso do nível de pressão sonora, o padrão de referência
equivale à menor pressão sonora audível, ou seja, 20 mPa que, por sua vez, equivale à menor
intensidade de energia audível: 10–16 watt/cm2.
Consideremos agora um som cuja pressão sonora seja P. Chama-se nível de pressão
sonora o resultado da expressão numérica: P NPS = 20 log ¾
P0 onde P0 é igual ao menor valor de pressão sonora audível, isto é: 20 mPa, sendo o
resultado especificado em decibel NPS (dB NPS).

Relação entre NPS e NIS


Operando com NIS e com o NPS, por não serem processos lineares ou absolutos de
medida da intensidade sonora, não permitem, pois, adições ou subtrações comumente
utilizadas. Ao invés disto, é necessário o trabalho com logaritmos.
Quando a intensidade de energia é duplicada, o NIS aumenta em 3 dB e quando a
pressão sonora é duplicada, o NPS aumenta em 6 dB.
Fundamentos de Física e Biofísica 22

PROPAGAÇÃO DO SOM

A propagação das ondas sonoras no mundo real não ocorre sem que elas encontrem
em sua trajetória forças friccionais, que fazem com que a amplitude do som produzido diminua
com o tempo e com a distância da fonte sonora.
Entretanto, se não houver no caminho da onda sonora nenhum obstáculo que se
interponha à sua passagem, bloqueando-a, essa condição é denominada transmissão em
campo livre.
Uma vez que haja um objeto na trajetória do som, parte dele será refletido, parte
absorvido e o restante será transmitido, passando pelo obstáculo ou, até mesmo, contornando-
o. A quantidade de som que é refletida, absorvida ou transmitida depende, por sua vez, das
características físicas do obstáculo, que determinam a resistência que ele irá oferecer à
passagem das ondas sonoras, ou seja, da impedância específica do obstáculo.

ATENUAÇÃO DA INTENSIDADE SONORA


Quando a onda sonora se propaga em campo livre, a medida que é transmitida no
espaço, sua intensidade sonora diminui progressivamente, quanto maior for a distância da
fonte sonora.

REFLEXÃO
Se uma bola de borracha é jogada contra uma parede rígida, obviamente ela não
atravessa a parede. Em vez disso ela bate e retorna à posição inicial, refletindo-se no
obstáculo, sem qualquer mudança na velocidade de propagação.

ECO e REVERBERAÇÃO
- Eco: Ocorre quando o som refletido retorna à fonte num intervalo de tempo igual ou
superior a 1/10 de segundo ou 17 metros;
- Reverberação: É o número de reflexões sucessivas, cujo tempo é inferior à discriminação
do ouvido, ou seja, inferior a 1/10 de segundo. Ou ainda, ocorre quando o som refletido
retorna à fonte num intervalo de tempo inferior a 1/10 de segundo ou 17 metros. É um
fenômeno característico de recintos fechados, como por exemplo, auditórios, teatros,
estúdios, etc.
- Tempo de reverberação: É definido como o tempo requerido para a onda sonora
refletida ser atenuada em 60 dB, em relação ao seu nível de intensidade original, ou o
tempo de permanência do som no ambiente.

TRANSMISSÃO
É quando ouvimos um som que vem do outro lado de uma parede que separa dois
recintos.
O som que incidiu na parede fez com que ela vibrasse, tornando-se uma nova fonte
sonora que transmite o som para os dois lados da parede. Assim, ao ouvirmos um som que
atravessa uma parede divisória entre dois ambientes acústicos, na realidade ouvimos o som
gerado pela própria parede que, excitada pela fonte original, passa a vibrar, transmitindo o som
para o lado oposto.

REFRAÇÃO
Fundamentos de Física e Biofísica 23

Quando uma onda sonora penetra em outro meio ou encontra mudanças nas
“condições” de um meio que causem alteração na velocidade de propagação, inclinando o raio
de incidência, dizemos que ela foi refratada.
Exemplo: Devido ao fato da temperatura do ar da Terra variar com a altura acima da
superfície e da velocidade de propagação ser diretamente proporcional à temperatura do meio
de transmissão, a onda sonora é então refratada. Pela manhã, a onda sonora é refratada para
baixo, isto é na direção da superfície terrestre e, com a chegada da noite, ela é refratada na
direção oposta, indo para cima, para a atmosfera.
DIFRAÇÃO
É a mudança na direção de propagação da onda sonora, desviando-se ou contornando
um obstáculo.
Essa propagação depende do tamanho do obstáculo com relação ao comprimento de
onda do som. Quanto maior for o comprimento de onda maior é a freqüência, ou seja, os sons
graves conseguem contornar os obstáculos mais facilmente do que os sons agudos.

ABSORÇÃO
Quando o obstáculo não apresenta rigidez suficiente para refletir a onda sonora que
sobre ele incide, oferecendo pouca resistência à sua passagem parte da energia, penetra no
material do obstáculo, sendo dissipada dentro deste, caracterizando o fenômeno da absorção.

EFEITO DOPPLER
É a alteração na sensação de freqüência resultante de uma situação em que a fonte
sonora é móvel, deslocando-se a uma velocidade constante, e o receptor encontra-se parado
em algum ponto da trajetória desse móvel.
Esse efeito tem grande aplicação no diagnóstico médico para analisar estruturas em
movimento, como é o caso do fluxo sangüíneo ou do coração, em que ocorre variação na
freqüência da onda refletida com relação à da onda incidente.
Por exemplo: Imaginemos o que ocorre durante uma corrida automobilística na qual o
receptor está sentado em local determinado do circuito.
À medida que os carros se aproximam, a sensação do receptor é de que tanto a
intensidade quanto a freqüência do som gerado pelos motores dos carros aumentaram, ficando
o som mais agudo, no momento que os carros passam à sua frente.
Quando os veículos se afastam, a sensação é novamente de diminuição de freqüência
e, o som resultante parece ao receptor mais grave e, é claro, menos intenso.

DISTORÇÃO
Ocorre quando um sistema não consegue reproduzir fielmente a forma de onda
original, ou seja, distorce, indicando que a forma da onda foi alterada de algum modo. Ex:
Amplificação da onda sonora de maneira inadequada.
Existem quatro formas principais de distorção: harmônica, linear, intermodulada e
transitória.

MATERIAIS ACÚSTICOS
Dos vários fenômenos que ocorrem na propagação do som, os materiais tem influência
decisiva na absorção e na isolação.
Um material é absorvente quando não reflete o som, retendo-o em seu interior. Parte
do som absorvido é transformado em energia térmica e dissipado no material e parte
atravessa-o. Geralmente, o material absorvente é um mal isolante e se dividem em dois tipos:
os fibrosos e os porosos.
- Fibrosos: Ocorre a vibração das fibras e a transformação da energia sonora em calor.
(coeficiente de absorção mais elevado)
- Porosos: O som penetra nos poros, sendo refletido inúmeras vezes até ser absorvido.
(coeficiente de absorção menor).

Um material é considerado isolante quanto mais massa possuir e oferecer maior


resistência à passagem da onda sonora, refletindo-a ao máximo. É considerado um mal
Fundamentos de Física e Biofísica 24

absorvente e quanto maior for à freqüência, maior dificuldade terá o som fazer vibrar esse
material que, por sua massa, se opõe às vibrações mais elevadas. Ex: voz abafada, mais grave
vinda de um outro recinto.

CABINAS ACÚSTICAS OU CÂMARAS ANECÓICAS


São locais destinados a minimizar reverberações ou reflexões de ondas sonoras, pois
absorvem a maior parte da energia sonora transmitida, apresentando um alto coeficiente de
absorção.
Para criar uma cabina acústica são utilizados materiais absorventes, alternando
camadas de fibra de vidro e madeira, a fim de que possam atuar como verdadeiras “esponjas
acústicas”.
Nos testes auditivos é recomendável um mínimo de ruído no interior da cabina
audiométrica a fim de mascarar a percepção de alguns sons tais como: batimento cardíaco,
som da respiração, que pode m interferir na obtenção precisa de sua acuidade auditiva.
Entretanto, esse nível de ruído não deverá ultrapassar 30 dB NPS.
A cabina acústica deverá estar situada no local menos exposto a ruídos, longe de ruas
movimentadas, elevadores, ventiladores, etc. deve possuir uma janela de observação contendo
3 vidros, se possível, unidirecionais, e será fechada através de porta dupla ou bastante
espessa, que utilize trinco do tipo usado para portas de frigorífico. Seu tamanho poderá variar
de 1 x 1, 2 x 2, 2 x 1, de acordo com as limitações de espaço físico disponível no local de sua
construção. Entretanto, para a situação de simulação de campo livre, o indivíduo testado
deverá estar sentado a uma distância de pelo menos 1 metro das caixas acústicas.
Fundamentos de Física e Biofísica 25

Cabina acústica usada na avaliação da acuidade auditiva, isto é, na audiometria tonal.


FONTES SONORAS, RESSONÂNCIA E FILTROS ACÚSTICOS

FONTES SONORAS

Para que um corpo seja considerado fonte sonora, deve ser capaz de vibrar, de acordo
com sua massa e elasticidade, produzindo perturbações no meio elástico no qual o som gerado
por ela se propaga.
Muitas coisas podem servir como fonte sonora, porém serão destacados somente as
cordas, as barras, os tubos, as membranas e placas.

Cordas Vibrantes
É denominada como um fio elástico, inerte, porém de rigidez desprezível, tenso entre
dois pontos fixos. Tais cordas encontram amplo uso nos instrumentos musicais.
Nos instrumentos que apresentam poucas cordas, a variação da freqüência é feita pela
diminuição ou aumento do comprimento da corda, bastando, para isso, que ela seja
pressionada em diferentes pontos, como é o caso do violão, violino, etc.
Fundamentos de Física e Biofísica 26

Quando tocadas, as cordas vibram, gerando ondas estacionárias que por sua vez,
fazem vibrar as partículas de ar ao seu redor, dando origem a uma onda sonora de igual
freqüência.
As possíveis freqüências de vibração de uma corda formam uma série harmônica e
estas freqüências são denominadas de freqüências naturais.

P 128

Movimento harmônico na corda vibrante.

Barras
Chama-se barra um sólido no qual uma dimensão predomina sensivelmente sobre as
outras duas, isto é, o comprimento é maior do que a largura e a espessura.
Devido a sua rigidez a barra pode vibrar com uma das extremidades livres, ao contrário
das cordas vibrantes, funcionando como fonte sonora pelas vibrações que gera nos meios
elásticos.
Exemplo: O diapasão é uma barra em forma de U que, na natureza produz o som que
mais se assemelha ao tom puro. É utilizado para a afinação de instrumentos, corais,
orquestras, sendo o de 440 Hz (Lá4) o mais freqüentemente usado. Na área de audiologia é
usado em testes que irão comparar a acuidade auditiva do indivíduo por VA e VO, sendo os
diapasões de 512 Hz, 1.024 Hz e 2.048 Hz, os mais empregados nessas medições.

Tubos Sonoros
O ar no interior de um tubo é capaz de oscilar de acordo com as ondas sonoras que o
estimularam. Tais ondas geram movimentos de freqüências que, por sua vez, são decorrentes
da forma e do comprimento do tubo, da mesma forma que o comprimento e o diâmetro de uma
corda vibrante influenciam sua freqüência natural ou de ressonância.
São encontrados nos instrumentos musicais de sopro, como corneta, saxofone, flauta,
etc. Dependendo da extremidade oposta à embocadura ser aberta ou fechada, os tubos
sonoros recebem a denominação de tubos abertos ou tubos fechados.
- Tubos Abertos: Ambas as extremidades do tubo serem abertas. O comprimento de onda
da freqüência fundamental será igual ao dobro do comprimento do tubo.

- Tubos Fechados: A extremidade oposta à da embocadura apresenta pressão máxima,


isto é, um ventre de vibração estará sempre presente na extremidade fechada do tubo. O
comprimento de onda da freqüência fundamental será o quádruplo do comprimento do
tubo.

Membranas
Fundamentos de Física e Biofísica 27

São corpos flexíveis que produzem ondas sonoras da mesma forma que corda, barras
e tubos, mas que apresentam uma das dimensões muito menor do que as outras duas, ou seja,
a espessura menor do que a largura e o comprimento.
A freqüência fundamental dos instrumentos musicais, que se utilizam de membranas
como fontes de vibração, dependem do tamanho da superfície e da tensão a que a membrana
seja submetida, podendo os mesmos ser afinados, bastando para isso, esticar ou afrouxar a
membrana que os recobre. Ex: tambor, bumbo, tambor, membrana timpânica.

Placas
São fontes sonoras rígidas, normalmente metálicas, que vibram com sua extremidade
livre, seja uma circunferência, como no caso dos pratos usados na percussão de uma
orquestra.

PRINCÍPIOS DA RESSONÂNCIA

Todo sistema elástico possui uma freqüência natural de vibração. Se uma fonte sonora
emitir uma onda sonora cuja freqüência coincida com a do sistema dizemos que os dois
entraram em ressonância.
A ressonância é utilizada para fazer a análise dos sons complexos, onde podemos
descrever seus componentes de freqüência e descobrimos a freqüência natural da fonte sonora
que os gerou.
Este princípio pode ser demonstrado pela aplicação de um diapasão em vibração sobre
uma superfície rígida.
Quando uma força vibratória periódica é aplicada a um meio elástico, o meio será
forçado a vibrar com a freqüência da força aplicada. Além disso, quanto mais próxima à
freqüência da forca aplicada estiver a freqüência natural do meio elástico, maior será a
amplitude de vibração resultante.
Consideremos alguns exemplos de como a ressonância pode ser empregada na
análise dos sons complexos com o auxílio de aparelhos:
- Freqüenciômetro de Frahm; ressonadores de Helmholtz e ressonador de Köening.
Outros exemplos dedo fenômeno de ressonância:
- Cantores líricos que quebram copos de cristal;
- Aviões supersônicos que estilhaçaram vidraças;
- Ponte de Tacoma, no Canadá, destruída pela ressonância causada pela coincidência entre
sua freqüência natural e a freqüência de vibração do vento;
- Tropas militares marchando em cima de pontes e viadutos

Sistemas Ressonadores
Os sons produzidos por instrumentos de corda, por exemplo, necessitam ser
enfatizado, em vez de dependerem simplesmente da vibração isolada de suas cordas. Isso é
feito pelo uso do que se convencionou chamar de “amplificador mecânico” ou ressonador,
porque, além de amplificar as ondas sonoras, o ressonador as reforça.
Existem dois tipos de ressonadores:
- Não Amortecidos: Reforçam uma faixa de freqüência muito estreita com baixo
amortecimento (diapasões, cordas vibrantes dos instrumentos musicais);

- Amortecidos: Reforçam uma faixa ampla de freqüências com amortecimento maior (alto
falante, membrana timpânica).

FILTROS ACÚSTICOS

É um dispositivo que reduz seletivamente a amplitude de algumas freqüências ou


elimina-as enquanto enfatiza sua freqüência natural.
Os parâmetros principais de um filtro são:
Fundamentos de Física e Biofísica 28

- Freqüência Natural ou Central;


- Freqüência de Corte Superior;
- Freqüência de Corte Inferior;
- Largura de Banda;
- Taxa de atenuação em dB/oitava.

Tipos de Filtros

- Filtros Passa-baixo: São aqueles que deixam passar energia abaixo de uma freqüência
de corte superior, acima da qual a energia é rejeitada. Tais filtros deixam passar graves e
cortam agudos.

- Filtros Passa-alto: São aqueles que deixam passar energia acima de uma determinada
freqüência de corte inferior. A energia para freqüências abaixo é rejeitada. Tais filtros
deixam passar agudos e cortam graves.

ACÚSTICA FISIOLÓGICA OU PSICOACÚSTICA

NOÇÕES BÁSICAS SOBRE ACÚSTICA FISIOLÓGICA

Durante toda a vida o homem recebe uma corrente contínua de informações sonoras
que são captadas por seus ouvidos, classificadas e arquivadas na memória de seu cérebro.
Desde o batimento cardíaco no peito de nossas mães, a cantiga de ninar, a música preferida,
até um grito de socorro, a buzina de um carro, o disparo de um canhão, a decolagem de um
avião a jato... nada escapa ao sensível ouvido humano, considerado como uma das mais
perfeitas obras de engenharia da qual somos dotados.
Dependendo do indivíduo, os sons podem provocar as mais diversas reações físicas e
emocionais: sustos, risos, lágrimas, sensações de prazer ou desprazer, participação e
segurança vitais, as quais compartilhamos com os nossos semelhantes, principalmente por
intermédio da linguagem falada, adquirida basicamente através da audição. Como se fosse um
radar, nossa audição estende-se em todas as direções e a grandes distâncias, fornecendo-nos
informações sobre a localização e a distância que nos encontramos da fonte sonora,
constituindo, assim, um mecanismo de defesa e alerta extremamente importante para nossa
Fundamentos de Física e Biofísica 29

segurança vital. Centenas de milhares de sinais sonoros, cujo fluxo não cessa nem mesmo
quando dormimos, são captados por nossos ouvidos que permanecem em constante vigília.
A Audiologia é a ciência da avaliação da audição e tem sua base científica na
Psicoacústica que, por sua vez, está relacionada àquilo que ouvimos, descrevendo as relações
existentes entre nossas sensações auditivas e as propriedades físicas de um estímulo sonoro,
como por exemplo: sua freqüência, intensidade, forma de onda, velocidade, etc.
A Psicoacústica (acústica fisiológica) lida com os atributos da sensação do indivíduo
para freqüência (pitch), para a intensidade (loudness) e, ainda, em relação a ruídos, sons
musicais, vozes humanas. Está relacionada à habilidade dos ouvintes em distinguir diferenças
entre os estímulos e não diretamente aos mecanismos fisiológicos que servem de base para a
detecção ou diferenciação dos sons, mas a relatos dos ouvintes sobre tais sons.
A diferença básica entre a Audiologia e a Psicoacústica reside na metodologia
empregada. A Psicoacústica interessa-se por pequenas diferenças e efeitos sutis, podendo
submeter os pacientes a inúmeros testes, horas a fio, para determinar a média dos resultados
obtidos para um grande número de indivíduos a fim de investigar estes efeitos. A Audiologia,
por outro lado, utiliza-se de testes simples, de rápida aplicação a um indivíduo em particular, a
fim de determinar a natureza do distúrbio e o local da lesão na via auditiva.
A diferença de abordagem, contudo, não impede o intercâmbio de idéias entre as duas
disciplinas, o que efetivamente ocorreu, pois uma é a base da outra (RUSSO, 1993).

ASPECTOS PSICOACÚSTICOS DA PERCEPÇÃO DO SOM

Na percepção auditiva dos sons, em geral, desde puros ou complexos, periódicos ou


aperiódicos, o ouvido humano necessita de algumas informações básicas referentes a quatro
aspectos:
- “Pitch”: Sensação subjetiva de freqüência;
- Duração: Tempo em segundos da vibração sonora;
- “Loudness”: Sensação subjetiva de intensidade;
- Timbre: Qualidade fornecida pela combinação harmônica do som, decorrente das
características da fonte sonora que o produziu.

Sensação de freqüência – “pitch”


É um atributo da impressão auditiva que mostra uma elevação ou diminuição na
percepção da escala musical e está sujeita, primeiramente, à altura, tonalidade das ondas
sonoras, ou seja, da sensação auditiva em termos de que sons podem ser ordenados,
variando de graves a agudos. A sensação de freqüência está relacionada à taxa de repetição
da forma da onda de um som. Para um tom puro isto corresponde à sua freqüência e para uma
onda complexa periódica corresponde à freqüência fundamental (MOORE, 1989). Uma vez que
é um atributo subjetivo, não pode ser medido diretamente, embora tenha sido criada uma
unidade denominada sone para medir a sensação de freqüência.
Duração
Os indivíduos diferem extraordinariamente nas suas habilidades para julgar intervalos
de tempo em segundos, minutos ou dias.
A duração está relacionada à habilidade em detectarmos diferenças nos estímulos
sonoros em função do tempo. Podemos detectar diferenças de cerca de 10 milionésimos de
segundo de intervalo de tempo entre os estímulos sonoros que atingem nossas orelhas, graças
à audição estereofônica. Com apenas um ouvido podemos detectar mudanças temporais da
ordem de 1 milionésimo de segundo, percebendo a ordem de dois eventos sonoros distintos,
separados por apenas 1/50 de segundo (BOOTHROYD, 1986).

Sensação de intensidade – “loudness”


É também uma impressão subjetiva relacionada à intensidade de um som a partir
de sua pressão, energia ou amplitude. Em geral, podemos dizer que quanto maior a
amplitude de um som mais intensamente o ouvimos, embora não haja linearidade neste
processo e variações existam, dependendo da freqüência. Quando a pressão sonora é
reduzida, a sensação de intensidade também decresce e, abaixo de certo nível de pressão, o
som não é mais ouvido. A menor pressão sonora capaz de impressionar o ouvido humano é de
Fundamentos de Física e Biofísica 30

20mPa para um tom de 1.000 Hz e podemos aumentá-la um trilhão de vezes até que atinjamos
o limiar da dor.
A loudness é definida como sendo o atributo da sensação auditiva em termos de
quais sons podem ser ordenados em uma escala que varia de fraco a forte (MOORE,
1989). Nossa sensibilidade auditiva para mudanças na intensidade sonora é menos precisa do
que para as de freqüência. Precisamos de pelo menos 1 dB de intervalo para percebermos
diferenças na intensidade, o que corresponde a uma mudança de 10%, dando-nos na faixa
audível cerca de 100 intervalos discrimináveis entre o limiar de audibilidade e o de desconforto
(BOOTHROYD, 1986). A unidade de medida da loudness é o fone, que equivale à sensação de
intensidade em dB produzida para um tom de 1.000 Hz, a partir das curvas de igual
audibilidade ou isofônicas, determinadas em experiências realizadas por FLETCHER &
MUNSON.

Timbre
Na natureza pode ser encontrada uma infinita série de variedades na qualidade de um
tom e, ainda é possível descobrir neles uma base fundamental e relativamente simples para
sua classificação e descrição. O que torna possível a distinção entre a mesma nota musical
executada em instrumentos diferentes depende da qualidade e da quantidade de harmônicos
presentes na onda sonora complexa, modificados pela sensação de freqüência absoluta e pela
intensidade total, é definido como timbre. Sendo também uma impressão subjetiva, não pode
ser medido diretamente, e sabe-se que o timbre de um som pode ser alterado por mudanças
na intensidade e/ou no número dos seus componentes harmônicos, ou seja, alterações no
modelo sonoro.
O timbre está diretamente relacionado à nossa habilidade de analisar freqüências e
depende das várias combinações de freqüências e intensidades no modelo físico da
estimulação acústica (DAVIS, 1970).

Faixa de audição humana


O ouvido humano não é igualmente sensível para todas as freqüências e vários
experimentos psicoacústicos foram realizados com o intuito de esclarecer as relações
existentes entre as alterações nas propriedades físicas das vibrações sonoras e as
correspondentes alterações subjetivas na sensação auditiva.
Nestes experimentos foi determinada a faixa de audição humana, que compreendia a
área de freqüências de 20 a 20.000 Hz, incluindo o limiar mínimo de detecção ou audibilidade,
isto é, a mais fraca intensidade sonora capaz de impressionar o ouvido humano para um tom
puro, em 50% das vezes em que o estímulo sonoro é apresentado, tomando por base a
freqüência de 1.000 Hz e a pressão sonora de referência de 20 mPa.
Este valor de pressão determinou o estabelecimento do 0 dB NA (nível de audição). O
procedimento foi empregado para as demais freqüências e foi construído um gráfico onde, na
abscissa, eram dispostas as freqüências, e na ordenada, os valores de pressão sonora. Neste
mesmo gráfico foram, também, registrados os limiares de desconforto que, para um tom de
1.000 Hz encontra-se a 120 dB e dor a 140 dB.

Pág 181
Fundamentos de Física e Biofísica 31

Gráfico representando a faixa de audição humana.

Determinação do nível de audição


A área de audibilidade, ou o nível de audição foi determinado para um grupo de
indivíduos otologicamente normais, com idades variando entre 18 e 25 anos, inicialmente para
tons puros apresentados em campo livre e, posteriormente, com o uso de fones, no Laboratório
Nacional de Física, na Inglaterra. Os mesmos testes foram, também, realizados nos
Laboratórios Telefônicos Bel nos EUA.
O audiômetro de tons puros foi projetado como um instrumento eletrônico calibrado de
tal forma que a leitura zero para cada freqüência correspondesse a um nível de audição médio
para jovens adultos normais. Os valores de nível de pressão sonora eram, pois, diferentes para
cada freqüência e a audiometria tonal mediria, por sua vez, o número de dB em que o limiar do
indivíduo se situasse com relação a cada valor médio. O resultado era anotado em um gráfico
que horizontalizou os limiares de audibilidade – o audiograma.
Níveis de audição positivos representariam a pressão adicional necessária para ser
ouvida por ouvidos menos sensíveis do que a média da população e foram colocados para
baixo para expressar a idéia de redução na sensibilidade auditiva, ao contrário dos gráficos
físicos. No audiograma, as freqüências variam de 125 a 8.000 Hz em intensidades que vão
desde –10 dB a 120 dB NA.
A razão de existirem valores negativos (–5 e –10 dB NA) justificou-se pelo fato de
existirem indivíduos que ouviram valores de pressão sonora inferiores ao valor de referência,
ou seja, 20 mPa, sendo sua audição considerada como acima do normal.
Se levarmos em consideração a variação individual encontraremos o nível de
sensação, ou seja, o zero audiométrico de cada indivíduo; é um valor subjetivo e depende do
nível de audição individual.

Pág 183

Audiogramas para as orelhas direita e esquerda.


BASES FÍSICAS DA AUDIÇÃO

O processo auditivo parte de umas ondas sonoras, transmitidas no ar, para vibrações
mecânicas na orelha média (OE), aos efeitos hidráulicos na orelha interna (OI) até os impulsos
nervosos elétricos e engloba, pois, todas essas formas de energia.
O ouvido humano tem aproximadamente 17 cm3 e possui um sistema de som que
inclui um harmonizador de impedâncias, um analisador mecânico de grande capacidade, um
grupo móvel de retransmissão e amplificação, um transformador de muitos canais ou um
transdutor destinado a converter energia mecânica em energia elétrica, um sistema para
manter um delicado equilíbrio hidráulico e um sistema interno de comunicação em dois
sentidos. Ainda é capaz de se adaptar às fortes intensidades sonoras, distingue sons
diferentes, seleciona o som que quer captado e está em constate estado de vigília.
O ouvido possui um isolamento acústico especial que atenua os sons provenientes do
próprio corpo, inclusive o da voz do indivíduo. Entre todos os órgãos do corpo, poucos fazem
tanto em tão pequeno espaço.
Funcionando em conjunto, as estruturas da OE, OM e OI, discriminam cerca de
400.000 sons, desempenhado papéis vitais para o ser humano, tanto relacionado à sua
Fundamentos de Física e Biofísica 32

locomoção e manutenção do equilíbrio estático e dinâmico, quanto localizando a direção e a


distância de fontes sonoras, funcionando como importante mecanismo de alerta e defesa e
possibilitam a aquisição e o desenvolvimento da linguagem verbal.
Resumindo as principais funções do ouvido em três itens são:
- Transmissora: Dispõe de mecanismos que permitem a adequada transmissão da energia
acústica captada;
- Protetora: Dispõe de elementos capazes de atenuar intensidades sonoras excessivas,
evitando assim danos maiores às células sensórias da OI;
- Transdutora: Transforma energia mecânica em elétrica (nervosa).

O ouvido humano é dividido didaticamente em três partes: OE, OM e OI. É dividida em


OE, OM e OI. As OE e OM permitem ao som do meio aéreo chegar adequadamente ao meio
líquido, onde estão imersas as células sensoriais da cóclea, que captam essa energia sonora.

ORELHA EXTERNA
- O pavilhão apresenta o papel de localizar o som no sentido vertical, o sentido horizontal é
dado pela bilateralidade das orelhas, além de captar e canalizar as ondas sonoras para o
meato acústico externo (MAE);
- O tragus protege o MAE;
- O MAE protege as estruturas mais profundas e conduz a vibração sonora até a membrana
timpânica (MT), além de ajudar na ressonância e na amplificação do som.

MODO DE VIBRAÇÃO DA MEMBRANA TIMPÂNICA


- A MT separa a OE da OM. Apresenta um anel fibroso que a prende na parede do MAE,
estando na parte central seu maior poder de vibração.
- Embora rígida, a porção central da MT, geralmente se move como um todo, como se fosse
um pistão, em movimentos de vaivém. Para freqüências acima de 2.000 Hz, porém, o
modo de vibração da MT torna-se segmentar, isto é, por partes, e perdendo sua tensão.

ORELHA MÉDIA

Mecânica da cadeia ossicular


A cadeia ossicular é formada pelos três menores ossos do corpo, ou seja, martelo,
bigorna e estribo. Encontra-se suspensa na cavidade timpânica por ligamentos, movendo-se
para dentro e para fora como se fosse um bloco único. Em resposta a pressões moderadas, o
estribo acompanha o movimento de modo que a cadeia ossicular age como uma massa única.
Quando a intensidade de um som de baixa freqüência ascende acima de um valor
crítico (70 a 90 dBNS para freqüências situadas entre 450 e 4.000 Hz), esse modo de vibração,
muda subitamente, passando a platina do estribo a rodar em torno de seu eixo longo. A
amplitude do movimento é diminuída e menor pressão é transmitida para a cóclea, reduzindo,
assim, o risco de lesões das células ciliadas do órgão de Corti.
Os músculos intra-auriculares promovem outros meios de proteção contra sons
intensos, principalmente de baixa freqüência. Quando o tensor do tímpano se contrai, puxa o
cabo do martelo juntamente com a MT para dentro da cavidade da OM. Quando o músculo
estapédio se contrai, puxa a platina do estribo para fora da janela oval. O efeito das contrações
simultâneas é o de restringir a movimentação da cadeia ossicular pelo aumento de rigidez do
sistema. Esse efeito denominado reflexo acústico, por sua vez, altera a impedância da OM,
aumentando a resistência do sistema à passagem da onda sonora que penetra no MAE. Essa
ação mecânica do conjunto tímpano-ossicular contribui para a função protetora da OM.

A impedância da OM e a ação transformadora da cadeia ossicular


Impedância mecânica da OM é a oposição que o conjunto tímpano-ossicular oferece à
passagem da onda sonora que penetra no MAE, na qual parte da energia acústica que atinge a
MT é refletida para fora, enquanto parte é transmitida para a OM pela vibração da MT.
A impedância dos fluídos cocleares é maior que a impedância do ar contido na
cavidade da OM e, nesse caso, a onda sonora é quase totalmente refletida ao penetrar na OI,
Fundamentos de Física e Biofísica 33

implicando uma perda de transmissão de, aproximadamente, 30 dB. Para compensar essa
perda, a cadeia ossicular age como um transformador, combinando a baixa impedância do ar
com a alta impedância dos fluídos cocleares, propiciando, então, o casamento das
impedâncias entre os dois meios, a fim de propiciar a máxima admitância, isto é, máxima
transmissão da energia acústica. Essa ação é chamada de ação transformadora da cadeia
ossicular.
A impedância da OM é determinada por três fatores:
- Massa: Relacionada ao peso e à densidade dos elementos dentro do sistema, ou seja,
cadeia ossicular, MT e fluídos da OM;
- Rigidez: Relacionada ao movimento da platina do estribo e à resistência dos fluídos
cocleares, contribuindo para manter a forma e posição originais do sistema móvel.
- OBS: o efeito da massa e da rigidez no movimento resultante é conhecido como
reactância (depende da freqüência sonora). Os fatores massa e rigidez não atuam
na faixa de freqüência de 500 e 4.000 Hz, sendo esta denominada zona de
ressonância.
- Resistência: É proveniente da transformação da energia aplicada no sistema móvel em
uma forma alternativa de energia e pode ser conhecida como fricção ou atrito; a resistência
está ligada à suspensão dos ossículos pelos músculos e ligamentos e, por definição, é a
parte da impedância que não depende da freqüência sonora, sendo função da densidade
do meio e da velocidade de propagação do som no meio.

Amplificação mecânica da cadeia ossicular


A OM age como um transformador, ajustando as diferentes impedâncias do ar e dos
fluídos cocleares, por meio de dois sistemas de amplificação mecânicos: o sistema de alavanca
e a redução de área.
- Sistema de Alavanca: O martelo e a bigorna atuam conjuntamente, constituindo uma
alavanca inter-resistente, que tem a potência aplicada no cabo do martelo, sendo a
resistência o estribo e o ponto de apoio à articulação da bigorna com o estribo. Este
sistema multiplica a pressão sonora, que chega à janela oval aumentada 1,3 vez e
corresponde à razão entre os comprimentos do martelo e da bigorna.
- Mecanismo de Redução de Área: Ocorre uma diferença de diâmetro entre a área da MT
(55 mm2) e da janela oval (3,2 mm2). Essa diferença provoca uma multiplicação da pressão
sonora que chega à janela oval aumentada 17 vezes, o que equivale à razão das
superfícies das duas membranas.
- Esses dois sistemas, conjuntamente, aumentam a pressão sonora em 22 vezes. Isso
equivale, aproximadamente, a um aumento de 30 dB, permitindo assim que toda energia
sonora que chegou à MT atinja a base do estribo, perilinfa e órgão de Corti.

Função ventilatória e o equilíbrio de pressão na OM


A cavidade timpânica é periodicamente ventilada pela ação da tuba auditiva, que a
conecta a nasofaringe.A porção cartilaginosa dessa tuba possui um orifício que se abre
mediante algumas ações, tais como: bocejar, tossir, deglutir, espirrar, permanecendo o resto do
tempo fechado. Ao abrir-se o orifício da tuba ocorre à ventilação da OM e a pressão de ar do
meio interno é igualada à do meio externo. Esse mecanismo também protege o sistema
auditivo contra variações da pressão atmosférica.

HIDRÁULICA DA AUDIÇÃO E A TRANSDUÇÃO MECANOELÉTRICA

A força mecânica, amplificada e transmitida da OM para a OI pelos ossículos, é


transformada em pressão hidráulica, que comunica movimento ao duto coclear e às células
ciliadas do órgão de Corti, o centro da audição. As ondas de pressão na cóclea iniciam sua
trajetória pela janela oval, passando pelas rampas vestibular e timpânica, indo finalizar na
janela redonda.
Fundamentos de Física e Biofísica 34

Pág 201

Movimentos na orelha média.

As rampas vestibular e timpânica são separadas por uma membrana flexível em cuja
superfície repousa o duto coclear e as células ciliadas do órgão de Corti, cujos cílios estão
embebidos em outra membrana gelatinosa, a membrana tectória. A movimentação oposta das
duas membranas imposta pela inversão de fase na transferência de energia para as duas
janelas cocleares, faz com que os cílios dobrem e liberem uma substância química que
desencadeia o impulso eletronervoso que caminhará pelas fibras do nervo auditivo até o
cérebro. Este é o mecanismo de transdução desempenhado pela OI.

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O órgão de Corti – orelha interna.


ANALISADOR HARMÔNICO DA ORELHA INTERNA

A membrana basilar possui uma rigidez, mas é suficientemente elástica e tem massa
suficiente, o que lhe permite retornar à sua forma e posição originais após sofrer qualquer
deslocamento ou deformação. Por essa razão, ela tem uma freqüência natural ou de
ressonância na qual se move com maior facilidade e a grandes amplitudes ao ser estimulada
por uma onda sonora. Por ter menor quantidade de massa e ser mais rígida na base da cóclea,
entra em ressonância com freqüências altas e, à medida que vai recebendo maior número de
fibras, tornando-se, assim, mais densa e mais flexível, entra em ressonância com freqüências
médias e baixas, na proximidade do ápice. O modelo final de movimento, no qual a rigidez e a
tonalidade são continuamente graduadas na membrana basilar, é composto pelas chamadas
ondas viajantes (descritas por Georg Von Békésy), que apresentam maior amplitude de
movimento exatamente na região correspondente à sua freqüência natural.
A cóclea atua como um microfone, reproduzindo a forma de onda sonora original
transduzida em sua correspondente eletronervosa e esse é o chamado microfonismo coclear.

CAMINHO PARA O CÉREBRO


Fundamentos de Física e Biofísica 35

Quando as OE, OM e OI completaram o trabalho de captar as ondas sonoras,


amplificá-las e transmiti-las para as células sensoriais, onde serão convertidas em impulsos
eletronervosos, resta ainda a transmissão destes para os centros corticais auditivos situados no
lobo temporal. Feixes duplos de fibras nervosas do VIII par craniano, nervo vestíbulo-coclear,
servem de linhas de transmissão para que inúmeras mensagens que, constantemente,
transitam entre as duas orelhas do cérebro. Em algumas estações de retransmissão dispostas
na via auditiva, algumas fibras se encaminham para o hemisfério cerebral correspondente à
orelha estimulada e outras cruzam, agrupando-se de acordo com a freqüência dos sinais
sonoros que transportam.
O cérebro por sua vez avalia os vários aspectos quantitativos e qualitativos da
informação sonora que lhe chegam, interpretando, discriminando, memorizando, enfim,
processando aquela que será a resposta auditiva manifestada por todos aqueles que podem
ouvir e ser ouvido.

RUÍDOS, SEUS EFEITOS E MEDIDAS PREVENTIVAS

CONCEITO E CLASSIFICAÇÃO DOS RUÍDOS

A classificação dos ruídos é subjetiva e sua distinção se refere ao fato deste ser ou não
desejável.
O termo ruído é utilizado para descrever um sinal acústico aperiódico, originado da
superposição de vários movimentos de vibração com diferentes freqüências, as quais não
apresentam relação entre si. (Feldman & Grimes, 1985).
O ruído afeta adversamente o bem estar físico e mental das pessoas, sendo que,
diariamente milhares de pessoas são expostas a ele. É usado para descrever um som
indesejado. Por exemplo: buzina, explosão, barulho de trânsito, máquinas. Para o som ser
percebido é necessário que esteja dentro da faixa de freqüência captável pelo ouvido humano
normal que varia em média de 20 a 20.000 Hz. Também é necessário uma certa variação de
pressão para percepção desse som.
Fundamentos de Física e Biofísica 36

Os ruídos podem ser mais lesivos (são de pouca freqüência no limite com o tom puro
e concentram a energia em um grupo pequeno de células) ou menos nocivos (contém muitas
freqüências e se dispersam por muitas células ciliadas).
De acordo com a Norma ISSO 2204/73 (Ïnternational Standard Organization”), os
ruídos podem ser classificados segundo o seu nível de intensidade em:
- Contínuo estacionário: Ruído com variações de níveis desprezíveis durante o período de
observação.

- Contínuo não estacionário: Ruído cujo nível varia significantemente durante o período de
observação.

- Contínuo flutuante: Ruído cujo nível varia continuamente de um valor apreciável durante
o período de observação.

- Ruído intermitente: Ruído cujo nível cai ao valor de fundo (ruído de fundo) várias vezes
durante o período de observação, sendo o tempo em que permanece em valor acima do
valor da ordem de segundo ou mais. (Ruído cujo nível varia de um valor apreciável durante
o período de observação, superior a 3 dB).

- Ruído de impacto ou impulsivo: Ruído que se apresenta em picos de energia acústica


de duração inferior a 1s em intervalos superiores a 1s. Está geralmente associado a
explosões. (Ruído se apresenta em picos de energia acústica de duração inferior a 1
segundo).

Uma exposição contínua a ruídos acima de 85 dBA pode causar perdas permanentes
de audição e, acima deste nível, um aumento de apenas 5 dB implica redução do tempo de
exposição ao ruído pela metade, conforme a tabela abaixo:

NÍVEL DE RUÍDO dB (A) MÁXIMA EXPOSIÇÃO


85 8h
90 4h
95 2h
100 1h
105 30 min.
110 15 min.
115 7 min.

OBS: Os ruídos não são só ocupacionais, mas podem ser também de lazer.

FONTES DE RUÍDO
- Variam de acordo com o seu tipo e posição de trabalho;
- Entre as fontes de ruído encontradas temos: tipos de máquinas, distribuição geográfica das
máquinas, variabilidade da fonte, duração de diversas fases de ruído e pausas;
- A posição das máquinas também influencia na fonte de ruído;
- Ela pode ser fixa, móvel (mais definida) e móvel não definida;
- Exemplos de ruído de alguns ambientes de trabalho:
- Metalúrgica: 95 a 100 dB;
- Beneficiamento de Pedras: 100 a 118 dB;
- Indústria Têxtil: 101 a 105 dB;
- Vidreira: 100 a 110 dB;
- Gráfica Rotativa: 95 a 100 dB.

A MEDIÇÃO E O CONTROLE DO RUÍDO

As medições sonoras permitem análises precisas dos atributos físicos indispensáveis


para o processo de determinação da nocividade de um ruído.
Fundamentos de Física e Biofísica 37

Nesta medição são empregados basicamente dois tipos de medidores:


- Decibilímetro: O medidor de nível de pressão sonora registra de forma direta o nível de
pressão sonora de um fenômeno acústico e é expresso em dB. São dotados de filtros de
ponderação divididos em 4 tipos: A, B, C e D, sendo que o mais utilizado é o filtro A, pois
apresenta resposta mais próxima do ouvido. Este filtro avalia melhor em que medida a
energia sonora distribuída em várias freqüências pode ser responsável pela alteração da
audição. Os medidores são dotados ainda de circuitos de respostas divididos em três tipos,
que são:
- Fast ou Rápida: Usado para medir ruídos contínuos e também para determinar
valores extremos de ruídos intermitentes.

- Slow ou Lenta: Usado em situação de grande flutuação. É o habitualmente o mais


usado.

- Impulso: Usado para ruídos de impacto. Quando o aparelho não é dotado deste
circuito usa-se a resposta fast e o filtro de ponderação C.

- Dosímetro: É um monitor de exposição que acumula o ruído constantemente utilizando um


microfone e circuitos similares aos dos medidores de pressão sonora. O sinal é acumulado
num condensador assim que se transforma em energia elétrica. Ele mede e armazena a
energia sonora com o passar do tempo.

RUÍDOS USADOS EM AUDIOLOGIA

O ruído na audiologia é empregado visando o fenômeno do mascaramento (ruído


utilizado numa orelha, para que esta não responda para a outra orelha). São utilizados diversos
tipos de ruído, entre eles estão:

Ruído Branco (White Noise)


Fundamentos de Física e Biofísica 38

- Ruído de banda larga;


- Faixa de freqüência: 100 a 10.000 Hz – 6.000 Hz;
- Forma de onda aperiódica com igual energia dentro de qualquer banda de freqüência de 1
Hz de largura;
- É análogo a luz branca (caracteriza igual energia em todos os comprimentos de onda
luminosa);
- Espectro de amplitude: contínuo;
- Possui a mesma quantidade de energia em cada banda de freqüência de 1 Hz,
independente do valor da freqüência;
- É mais utilizado na logoaudiometria (teste dos sons da fala).

Ruído Rosa (Pink Noise)


- Filtragem do ruído branco;
- Faixa de freqüência: 500 a 4.000 Hz;
- Espectro de amplitude: contínuo;
- Energia concentrada numa faixa de freqüência mais estreita do que o WN – melhor
efetividade para mascaramento dos sons da fala;
- Logoaudiometria – sons da fala – menor intensidade.

Ruído de Fala (Speech Noise)


- Filtragem do ruído branco;
- Mascara o espectro de longo termo dos sons da fala;
- Produzido pelo uso de um filtro passa-baixo;
- Logoaudiometria – sons da fala – melhor mascaramento.

Ruído de Banda Estreita (Narrow Band)


- Filtragem do ruído branco – banda centrada na freqüência do tom de teste;
- O gerador de ruído de NB cria um ruído diferente para cada largura de banda;
- Audiometria – tons puros – melhor mascaramento.
- Leva em conta três aspectos principais:
- A freqüência central;
- A largura de banda em Hz em intensidade 3 dB inferior ao componente de maior
amplitude de pico;
- A taxa de rejeição do filtro ou decréscimo na intensidade por oitava abaixo e acima da
largura de banda.

EFEITOS DO RUÍDO NA AUDIÇÃO E NO ORGANISMO


Na audição:
Os efeitos do ruído na audição sofrem influência direta de alguns fatores:
- Intensidade;
- Freqüência do ruído;
- Tempo e local de exposição;
- Susceptibilidade individual.

- Mudança Temporária do Limiar (TTS – “Temporary Threshold Shift”) ou Fadiga


Auditiva: É a diminuição gradual da sensibilidade auditiva com o tempo de exposição a um
ruído contínuo intenso. A redução do limiar auditivo é temporária, já que este volta após um
período de repouso auditivo (2 a 3 horas);
- Trauma Acústico: Está relacionada aos efeitos da exposição única a um ruído de grande
intensidade, proveniente de uma explosão, pois produzem lesões mecânicas irreversíveis
na cóclea;
Fundamentos de Física e Biofísica 39

- Perda Auditiva Induzida pelo Ruído (PAIR) (PTS – “Permanent Threshold Shift”): É
decorrente de um acúmulo de exposições a ruído, normalmente diárias, repetidas
constantemente, por um período de muitos anos.

No organismo:
- Transtornos:
- Comunicação;
- Sono;
- Neurológicos;
- Vestibulares;
- Digestivos;
- Cardiovasculares;
- Hormonais;
- Comportamentais;
- Psicossociais.

RUÍDOS RECREACIONAIS OU NÃO OCUPACIONAIS

- Caça, tiro ao alvo: 132 a 170 dB (A);


- Brinquedos: 76 a 123 dB (A);
- Ruídos domésticos: NPS 110 dB (A), 140 dB (A);
- Música:
- Discotecas: 105 a 115 dB (A);
- Bandas de Rock: 120 dB (A);
- Música clássica e jazz: NPS < 90 dB (A);
- Orquestra sinfônica: 107 a 116 dB;
- Fones de ouvido: 60 a 114 dB (A);
- Transportes: 85 a 100 dB (A).

CONTROLE DO RUÍDO: MEDIDAS PREVENTIVAS:

Com relação ao meio:


- Programa de Conservação Auditiva (PCA):
Com relação ao homem:
- Avaliações audiométricas;
- Uso de equipamento de proteção individual (EPI);
- Educação e treinamento.

Com relação ao ruído não ocupacional


- Campanhas de conscientização.
Fundamentos de Física e Biofísica 40

A IMPORTÂNCIA DA CALIBRAÇÃO?

POR QUE CALIBRAR?

A calibração é um processo que visa controlar as características de freqüência,


intensidade e tempo e verificar o funcionamento dos equipamentos utilizados em Audiologia.
Ela é necessária para assegurar que um audiômetro produza um tom puro em um nível e
freqüência específicos e que este sinal esteja presente somente no transdutor ao qual foi
direcionado, estando livre de distorção ou interferência de ruído indesejável (WILBER, 1994).
Equipamentos calibrados com a freqüência exigida podem contribuir para aumentar a
confiabilidade do fonoaudiólogo nos resultados dos testes audiométricos realizados, uma vez
que a calibração periódica determina se o equipamento está de acordo com os padrões
apropriados para cada um dos instrumentos ou se sofreram alterações com o tempo de uso.

Equipamento para a calibração


Os equipamentos básicos para calibração dos níveis de saída incluem: um voltímetro,
um microfone de condensador (pressão e campo livre), um acoplador de 6 ml (NBS-9A para a
ANSI e 318 para a IEC), um peso de 500 g, um acoplador mecânico para mensuração do
vibrador ósseo (mastóide artificial), um medidor de nível sonoro ou analisador de espectro. O
processo de calibração eletroacústica deve ser realizado por um técnico habilitado pelo próprio
fabricante do equipamento.

Processo de calibração
O primeiro passo para aprender como verificar o funcionamento e calibrar o
equipamento é a leitura do manual de instruções que o acompanha. Algumas vezes os
resultados dos testes por si mesmos revelam a necessidade de calibração do instrumento. É
preferível assumir que o problema é do equipamento antes de atribuí-lo ao paciente sob teste.
Inicialmente, é recomendável que o fonoaudiólogo faça a calibração biológica do
audiômetro, verificando com o uso de seu próprio ouvido, a saída do sinal acústico nos
diferentes transdutores: fones, alto-falantes e vibrador ósseo.
Não é necessário ser portador de um ouvido especial ou absoluto para fazê-lo, pois
com um pouco de prática qualquer profissional pode ouvir falhas básicas no instrumento. A
seguir, deve ser feita a inspeção do audiômetro a fim de verificar possíveis fontes de mau
funcionamento, tais como: plugs e tomadas; fios enrolados ou partidos dos fones e vibrador
ósseo; botões e interruptores quebrados ou fora de alinhamento; cliques mecânicos audíveis
através dos fones, quando os atenuadores ou osciladores são manipulados.
Geralmente, há duas abordagens para a calibração dos fones do audiômetro. Uma é a
biológica, que utiliza o ouvido humano como referência e a outra a artificial ou eletroacústica,
feita no acoplador de 6 ml.
A calibração biológica é feita quando 10 indivíduos otologicamente normais de 18 a
25 anos de idade são submetidos, no mínimo mensalmente, a audiometria tonal para verificar
se a média de sua audição está em 0 dB para cada freqüência, obedecendo a referência de
limiares proposta pela norma ANSI S3.6–1989. Embora seja possível de ser realizada, a
calibração biológica não é considerada tecnicamente correta por referir-se a um nível de
audição arbitrariamente aceito por normas de padronização, sendo preferível a calibração
eletroacústica dos fones do audiômetro, através do uso do acoplador de 6 ml, também
chamado de “ouvido artificial”.
A calibração eletroacústica consiste no uso de um microfone de condensador ligado
a um acoplador de 6 ml, volume semelhante ao do ouvido humano quando o fone está
colocado (CORLISS & BURKHARD, 1953).
O fone é colocado no acoplador e sobre ele é depositado um peso de 500 g. A seguir é
gerado no fone um tom de baixa freqüência (125 ou 250 Hz) até que a intensidade mais
elevada seja atingida. A saída é registrada em voltagem e depois transformada em dB (re 20
mPa) e comparada com os valores de NPS esperados para cada freqüência, segundo os
padrões ISO 7566 – 1987, antiga ISO- 1964 ou ANSI S3.6 – 1989.
Fundamentos de Física e Biofísica 41

Diferenças de até 15 dB devem ser levadas em consideração através do uso de um


cartão de correção que mostra a discrepância entre a saída do audiômetro e os padrões de
calibração.
Quando tais diferenças excederem os 15 dB em qualquer freqüência ou 10 dB em três
ou mais freqüências, o audiômetro deve ser calibrado pelo próprio fabricante (WILBER, 1994).
Para a calibração do vibrador ósseo é empregada uma mastóide artificial, pressupondo
que os limiares para as vias aérea e óssea são equivalentes. Neste procedimento também são
avaliados os parâmetros de intensidade, freqüência e tempo, mas a ênfase é dada à obtenção
dos níveis de distorção do vibrador ósseo nas várias freqüências. O padrão ANSI S3.43 – 1992
fornece os valores apropriados para o vibrador ósseo do tipo B-71 usado com uma haste P-
3333, atualmente em uso (WILBER, 1994).

Padrões de calibração para audiômetros e cabinas acústicas


As normas ANSI S3.6 – 1989, IEC 1988 e ISO 7566 – 1987 são as que atualmente
regem a calibração dos parâmetros acústicos dos fones dos audiômetros utilizados no
processo de avaliação audiológica.
Portanto, ao se anotar no audiograma os níveis de audição de um indivíduo é
importante especificar o padrão de calibração ao qual o audiômetro foi submetido, uma vez que
os valores de referência para o zero dB diferem de padrão para padrão.
O audiograma, por sua vez, permite o registro dos limiares de audibilidade do indivíduo,
e suas especificações básicas são recomendadas pela American Speech Hearing and
Association (ASHA – 1974 e 1988) e adotadas pela ANSI S3.21 – 1978 e R – 1986. Estas
recomendações se referem à construção do gráfico, mantendo as freqüências (Hz) na abscissa
em escala logarítmica, enquanto o nível de audição (dB NA) deve estar na ordenada, expresso
linearmente. Além disso, a ASHA recomenda que uma divisão de uma oitava na escala de
freqüência seja equivalente a 20 dB na escala do nível de audição em dB (JACOBSON &
NORTHERN, 1991).
O padrão ANSI S3.43 – 1992 fornece os valores em nível de pressão sonora
apropriados para o vibrador ósseo do tipo B-71 usado com uma haste P-3333, empregados
atualmente.
A determinação dos limiares de audibilidade ou do nível de audição dos indivíduos
deve ser feita em local apropriado, isto é, em uma cabina acústica. Esta deverá ter paredes
constituídas de várias camadas de material isolante a fim de impedir a entrada de som para o
seu interior e absorvente, para dissipar as ondas sonoras em sua estrutura. Contudo, não
poderá ser totalmente à prova de som, uma vez que o indivíduo examinado poderá ouvir ruídos
provenientes de seu próprio organismo, distraindo sua atenção dos estímulos sonoros
utilizados na audiometria tonal.
Desta forma, é recomendável que exista um nível de ruído para mascarar estes sons,
específico para cada freqüência ou banda de oitava, obedecendo a norma ANSI S3.1 – 1991.
Estes valores foram obtidos tanto para fones quanto para alto-falantes empregados nos testes
em campo livre.
A cabina acústica deverá estar situada no local menos exposto a ruídos, longe de ruas
movimentadas, elevadores, ventiladores, etc. Deve possuir uma janela de observação,
contendo três vidros, se possível, unidirecionais e será fechada através de porta dupla ou
bastante espessa que utilize trinco do tipo usado para portas de frigoríficos. Seu tamanho
poderá variar de 1x1, 2x2, 2x1, etc., de acordo com as limitações de espaço físico disponível
no local de sua construção. Entretanto, para a realização de audiometria tonal com o uso de
alto-falantes ou caixas acústicas, simulando a situação de campo livre, o indivíduo testado
deverá estar sentado a uma distância de pelo menos um metro destas (HODGSON, 1980).

Calibração dos analisadores de orelha média (imitanciômetros)


O padrão empregado na obtenção das medidas da imitância acústica é o ANSI S3.39 –
1987, que descreve quatro tipos de unidades para mensuração, listados simplesmente como
tipos 1, 2, 3 e 4. Os requerimentos mínimos são: tom de sonda de pelo menos 256 Hz, um
sistema pneumático (manual ou automático), um modo de medir a imitância acústica estática, a
timpanometria e o reflexo acústico. Assim, para verificar um imitanciômetro é necessário um
analisador de freqüência para determinar o(s) tom(s) de sonda, cuja precisão deve situar-se
entre ±3% do valor nominal. A distorção harmônica não deverá exceder a 5% da fundamental
Fundamentos de Física e Biofísica 42

quando medida em um acoplador de 2 ml. O tom de sonda não poderá exceder a 90 dB no


acoplador. Isto é feito, conectando-se a sonda do equipamento às cavidades de teste e
verificando a precisão da saída em temperaturas específicas e pressões barométricas
ambientais, descritas por LILLY (1984). A pressão de ar pode ser medida conectando-se a
sonda a um manômetro ou tubo “U” e determinando-se o deslocamento em deca-Pascals
(daPa), que não deve diferir do que está no equipamento: +200 daPa em mais de ±10 daPa ou
±15% da leitura. O padrão determina que a medida da pressão de ar deve ser realizada em
cavidades de 0,5 a 2cm3 (WILBER, 1994).
O sistema de elicitação do reflexo acústico contralateral pode ser medido no acoplador
NBS-9A e o do ipsilateral no acoplador do tipo HA-1. As tolerâncias para freqüência,
intensidade e distorção harmônica deverão ser as mesmas esperadas para os fones dos
audiômetros, ou seja, ± 3% do valor esperado para freqüência e distorção harmônica e 5% ou
menos para o transdutor da sonda. O NPS dos ativadores tonais deve estar entre ± 3 dB do
valor declarado para as freqüências de 250 a 4.000 Hz e ±5 dB para freqüências de 6.000 e
8.000 Hz e para ruído (WILBER, 1994).
Os imitanciômetros ou analisadores de orelha média vêm acompanhados de uma
cavidade metálica de calibração que deve ser utilizada semanalmente, ou diariamente, a fim de
assegurar o funcionamento adequado do equipamento. Novamente, é imprescindível que o
audiologista leia o manual do fabricante com atenção antes de manipular o equipamento. Isto
poderá evitar erros desnecessários na obtenção dos resultados dos testes e poderá fazer com
que o instrumento possa funcionar bem por um maior período de tempo.
Fundamentos de Física e Biofísica 43

O PAPEL DA ACÚSTICA DAS SALAS DE AULA


NA INTELIGIBILIDADE DA FALA

A capacidade de escutar é essencial para que a comunicação. Quando escutamos uma


mensagem de fala, é necessário que estejamos atentos a fim de atribuir-lhe um significado e,
assim, compreendê-la.
A compreensão da mensagem numa sala de aula pode ser prejudicada pela
intensidade insuficiente ou exagerada da voz do professor, por problemas de articulação,
dificuldade de pronúncia ou vocabulário desconhecido, ou pela ausência da pista visual,
quando o professor está escrevendo da lousa, voltando às costas para os alunos. Outras
vezes, o ruído excessivo, tanto no interior quanto fora da sala, nos corredores da escola, que
exerce um efeito mascarante deletério sobre a mensagem falada.
De acordo com BERG (1993), existem três tipos de ruídos nas salas de aula:
- Ambientais (contínuos): Provenientes de ruídos de tráfego de veículos na rua, ventilação
ou refrigeração, quadras de esportes, lanchonete, projetores de slides, retroprojetores e
equipamentos de vídeo.
- Transitórios (inesperados): Ruídos de motores de avião, gritos no pátio, passos no
corredor, campainhas.
- Gerados no interior da sala: Conversas entre alunos, deslocamento de carteiras e
meses, objetos derrubados no chão.
- OBS: Acústicas de salas de aula ruim (divisórias de fórmica, salas sem revestimento,
janelas muito grandes, carteiras de material reverberante).
Ainda de acordo com BERG (1993), para que uma total transmissão sonora ocorra é
necessário levar em consideração:
- Diminuição da energia sonora de fala – em média 65 dB NPS;
- Queda da intensidade de fala com a distância (queda de 6 dB no NPS);
- Absorção, reflexão e difração do som pelos próprios corpos e movimentos realizados em
sala de aula pelos estudantes;
- Características direcionais da fala – olhar sempre de frente para o ouvinte;
- Problemas de esforço vocal: A intensidade da voz do professor deve ser em torno de 60 dB
em um ambiente silencioso e 80 dB em um ambiente que apresente 40 dB de ruído de
fundo.
É imprescindível combinar adequadamente os vários materiais a fim de que possam
refletir as ondas sonoras e, desse modo, garantir que o som direto que atinge as paredes da
sala possa ser redirecionado por reflexão, ou atenuado por absorção, distribuindo
uniformemente a energia sonora, a fim de não comprometer a transmissão da mensagem de
fala, influindo negativamente no processo de aprendizagem.
A percepção auditiva é essencial no processo de comunicação entre estudantes e
professores na sala de aula. Não basta apenas ouvir, é necessário escutar e isso pressupõe
atentar para o falante a fim de compreender o que foi dito.
A inteligibilidade de fala é definida como a relação entre palavras faladas e palavras
entendidas, expressas em porcentagem. Para uma comunicação efetiva e inteligível a
inteligibilidade da fala deve ser superior a 90% (NEPOMUCENO, 1994).
Para que um ouvinte tenha sucesso em compreender bem os sinais de fala que
recebe, é necessário que algumas condições sejam obedecidas e estas são:
- Atenção à mensagem, comportamento de escuta, o qual hierarquiza o estímulo de fala;
- Intensidade da mensagem, os sons de fala devem ser audíveis para que possam ser
percebidos;
- Intensidade do ruído ambiental, que deverá ser inferior à do sinal priorizado;
- Tipo do material de fala empregado, vocabulário utilizado pelo falante: palavras
familiares e mais comuns da língua;
- Co-articulação e fatores supra-segmentais – entonação, pausas no discurso;
- Sensação de freqüência (“pitch”), tonalidade;
- Sensação de intensidade (“loudness”), audibilidade;
- Fatores temporais, ritmo e velocidade de fala;
Fundamentos de Física e Biofísica 44

- Qualidade vocal do falante – sonoridade e harmonia;


- Articulação, pronúncia e regionalismo, característicos das diversas regiões do país.
- Bom funcionamento da audição.
É importante considerar a intensidade entre a voz do professor e o ruído ambiental que
chega aos ouvidos, principalmente das crianças em situação de sala de aula, sendo à distância
professor/aluno um dos fatores determinantes na relação sinal/ruído. Enquanto o nível de fala
do professor diminui com a distância, o nível de ruído geralmente mantém-se uniforme,
interferindo na percepção dos alunos como um todo, independentemente de seu
posicionamento em sala de aula.
Define-se relação sinal/ruído como sendo a diferença em dB entre a intensidade do
som desejado e a do som competitivo.
O som que ouvimos no dia-a-dia está sempre adicionado a um certo nível de ruído.
Uma representação geral usada para relacionar o nível de sinal (S) ao nível de ruído (R) é
através da taxa S/R denominado taxa de sinal/ruído. Quando representado em dB a taxa S/R
é obtida pela diferença entre o sinal em dB e o ruído também em dB. Isto porque o logaritmo da
taxa é igual a diferença entre o log do numerador e o log do denominador.
Ex: sendo o sinal igual a 70dB e o ruído igual a 66dB. Determine a taxa S/R.
S/R = 70 – 66 = 4 dB.
ELLIOT (1892) declarou que a relação S?R em sala de aula para crianças ouvintes
encontra-se por volta de +6 dB.
Outro problema acústico comumente encontrado em salas de aula é o ruído
excessivo e indesejável, cujos níveis médios encontram-se entre 30 e 35 dBA à noite, 40 e 50
dBA quando sistemas de ventilação estão ligados, 55 a 75 dBA quando há um professor e mais
de 25 ocupantes e sabemos que esses níveis não deveriam exceder a 40 ou 50 dBA a fim
de permitirem a correta interpretação da mensagem falada.
O controle de ruído na escola deve envolver um trabalho de equipe formado por
arquitetos, engenheiros, educadores e fonoaudiólogos, os quais poderão juntos propor medidas
que contribuam para que sejam minimizados os efeitos negativos que a acústica inadequada
das salas de aula exerce na detecção, na discriminação e no reconhecimento da fala e,
conseqüentemente, no processo de aprendizagem dos alunos.
Fundamentos de Física e Biofísica 45

BASES FÍSICAS DA FONAÇÃO

“Do ponto de vista físico, o aparelho fonador consiste, essencialmente, em uma fonte de
vibração acoplada a um sistema ressonador, sendo a laringe a fonte, e o trato vocal o sistema
ressonador. Sabemos, contudo, que nenhum som pode ser produzido
sem um suprimento de energia”. (Fry, 1979).

SUPRIMENTO DE ENERGIA NA FONAÇÃO

Falar é um ato motor que consiste em movimentos coordenados agindo sobre um


objeto. Na fala, o objeto a ser trabalhado é o ar contido nos tratos oral e respiratório, isto é, o ar
contido nos pulmões, traquéia, laringe, faringe, nariz e boca.
Quando falamos, executamos movimentos que agem nesse espaço e os sons da fala
devem ser produzidos sob forma de corrente contínua, que dura um tempo considerável, a fim
de possibilitar sua emissão.
Assim sendo, a força necessária não é aplicada em um breve momento, como se
estivéssemos percutindo um diapasão.
É o mecanismo respiratório que proporciona o suprimento de energia necessário à
fonação.

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Diagrama dos órgãos usados na produção da fala.

Quando não estamos falando, a respiração envolve uma atividade rítmica composta
basicamente de duas forças: a de inspiração e a de expiração.
A força de inspiração expande o volume do pulmão pela elevação da caixa torácica,
puxando o ar de fora para dentro; a força de expiração contrai o volume do pulmão pelo
abaixamento da caixa torácica, soltando o ar de dentro para fora, em uma média de 15 vezes
Fundamentos de Física e Biofísica 46

por minuto. Ambas possuem tempos relativamente iguais, ou seja, se gastamos 4 segundos
para respirar, levamos 2 segundos na inspiração e 2 segundos na expiração.
Ao falarmos, contudo, usamos somente a fase da expiração e, com isso, aumentamos
consideravelmente o tempo desta fase, em casos extremos 10 a 15 segundos, o que exige um
grande reservatório de ar como suprimento de energia.
A corrente de ar proveniente dos pulmões é responsável pela força utilizada na
produção dos sons da fala.
Durante a fala, parte do trato vocal é constrita de tal modo a impedir que essa corrente
de ar escape, aumentando assim a pressão do ar da traquéia. Essa pressão é a base
fundamental dos sons de fala, que se originam de variações de pressão de ar, movimentos de
vaivém ou oscilações, primeiramente de estruturas sólidas e depois das partículas de ar em
torno de sua posição de equilíbrio. Na fonação, a laringe desempenha essa função pela
vibração das pregas vocais.

A LARINGE COMO FONTE SONORA

“A vibração das pregas vocais exige uma aproximação (adução) das mesmas da linha média e,
ao assim procederem, obstruem a passagem do fluxo aéreo expiratório ao nível da glote. Com
isso ocorre um aumento da pressão subglótica até atingir níveis suficientes para forçar a
abertura das pregas vocais e superar a resistência oferecida por esta obstrução.”(Tabith, 1980).

Opondo-se a esse fluxo aéreo encontramos a resistência dos ligamentos e músculos


que, por terem sua elasticidade forçada ou terem sido removidos da posição original de
equilíbrio, tendem a retornar o mais rapidamente possível àquela posição, obstruindo
novamente a passagem do fluxo de ar. Tais ciclos de abertura e fechamento são repetidos,
formando uma corrente pulsátil que constituirá a vibração de uma necessária para a produção
de sons complexos, constituídos de uma freqüência fundamental e uma série de harmônicos,
ou seja, os sons da fala.
Todavia, o retorno das pregas vocais à posição original ou de equilíbrio (fechadas) não
se deve somente à resistência glótica, mas também a um fenômeno físico conhecido como
“Efeito Bernoulli”.
Para aplicar o efeito Bernoulli à fonação, imaginemos as pregas vocais quase
aproximadas no instante em que a corrente de ar é liberada pelo pulmão.
Essa corrente terá uma velocidade constante até atingir a constrição glótica, que se
oporá ao movimento. Vencendo a resistência glótica, devido ao aumento da pressão aérea
subglótica, a corrente de ar terá sua velocidade aumentada, resultando em pressão negativa
entre as bordas medianas das pregas vocais, sendo estas literalmente sugadas uma na direção
da outra.
Em resumo, o rápido aumento da velocidade do ar quando as pregas vocais se abrem
resulta em uma queda abrupta na pressão e num conseqüente efeito de sucção que propicia o
novo fechamento das pregas vocais.

VARIAÇÃO DAS FREQÜÊNCIAS NA LARINGE

- Freqüência: É o número de ciclos que as partículas materiais realizam em um segundo.


- Freqüência Fundamental: É a freqüência glótica, a freqüência da onda complexa e a
freqüência do primeiro harmônico. As variações em torno da freqüência fundamental
podem ser relacionadas à altura (jitter) ou à intensidade (shimmer).
- OBS: As freqüências fundamentais das vozes masculinas podem variar de 80 a 150
Hz, as femininas de 150 a 250 Hz e as infantis encontram-se acima de 250 Hz.

Os fatores físicos que regulam a freqüência de vibração são a massa, o comprimento e


a tensão das pregas vocais, todos controlados pelos músculos intrínsecos e extrínsecos da
laringe.
Sabemos que as cordas vibrantes que produzem as notas musicais mais graves, isto é,
de menor freqüência, são as de maior massa e comprimento, porém de menor tensão. Para as
freqüências altas, portanto notas musicais agudas, são necessárias cordas vibrantes delgadas,
mais curtas e bem esticadas, tensas.
Fundamentos de Física e Biofísica 47

A altura tom laríngeo é determinada pela freqüência dos pulsos emitidos pela abertura
das pregas vocais. A mudança na freqüência significa mudança no tempo ocupado por um ciclo
glotal, isto é, soma das fases aberta e fechada.
A onda glótica é quase periódica e não periódica, pois varia ligeiramente em forma,
freqüência e amplitude dos ciclos vibratórios, sendo esses parâmetros raramente iguais. A
intensidade do som produzido na glote é muito fraca, composta pela freqüência fundamental de
vibração das pregas vocais e seus harmônicos, que decrescem em intensidade a uma razão de
12 dB por oitava. Seu formato triangular deve-se principalmente à ação das freqüências mais
altas. Uma fase aberta mais curta significa que o triângulo possui uma base menor e um ângulo
mais agudo no ápice, estando os lados mais próximos da posição vertical. Isso significa que as
modificações dos movimentos vibratórios ocorrem em tempo muito curto, gerando freqüências
mais elevadas.

FUNÇÕES DE VIBRAÇÃO DA LARINGE NA FONAÇÃO

Tornar os Sons Audíveis


Para que haja comunicação, os sons da fala têm que serem audíveis.
A intensidade da voz decorre de três fatores:
- Pressão de ar subglótica;
- Quantidade do fluxo aéreo;
- Resistência glótica.
Nas freqüências baixas, a resistência glótica é fundamental para a variação de
intensidade da voz, tornando-se menos importante nas freqüências mais altas, até que nas
extremamente altas a intensidade da voz é controlada somente pelo volume e pela velocidade
do fluxo aéreo.

Variação da Freqüência Fundamental


A freqüência fundamental varia continuamente durante a fonação e,
conseqüentemente, a altura da voz nunca é a mesma no decorrer no tempo. Os homens
utilizam uma faixa de freqüência mais baixa, crianças, uma faixa mais alta e mulheres uma
intermediária.
OBS: Fry (1979): “a área de freqüências fundamentais da fala estende-se de 60 a 500Hz,
aproximadamente”.
A variação da freqüência fundamental produz a modulação da voz ou entonação, tão
importantes na gramática de um sistema lingüístico.

Seleção Vocal
É efetuada no momento em que fazemos a distinção do traço de sonoridade
(surdo/sonora) entre os sons, uma vez que são idênticos em ponto de articulação, diferindo
apenas na vibração laríngea que ocorre somente nas consoantes sonoras.

Qualidade Vocal
Embora existam divergências quanto à qualidade vocal, isto é, quanto ao dato da
impressão global deixada pela voz de um falante ser dependente unicamente da quantidade e
qualidade de harmônicos produzidos nas cavidades de ressonância de seu trato vocal, existe
um forte indício de que a mudança no padrão vibratório das ppvv contribui significativamente
para alterar a qualidade vocal do falante.

O TRATO VOCAL E O SISTEMA DE RESSONÂNCIA DA FONAÇÃO


Trato Vocal: Região compreendida entre a gole e os lábios, da qual participam várias
cavidades: laringe, faringe, cavidade oral e nasal.

Formantes: Faixas de freqüências que concentram maior energia acústica.


Fundamentos de Física e Biofísica 48

Sistema de Ressonância: Responsável pela estética de uma voz, embelezando-a ou


não, aumentando ou amortecendo a intensidade de alguns sons.

Os sons da fala consistem em uma combinação de sons vocálicos e consonantais:


- Vocálicos: São sonoros, intensos, contínuos, com formantes bem definidas;

- Consoantes: Apresentam energia acústica menor do que a das vogais. São produzidas
pelas fontes friccionais, podem ser contínuos e/ou explosivos.

Ressonância: Capacidade que um sistema vibrante possui de oscilar livremente, por


em movimento corpos ao seu redor que possuírem a mesma freqüência de vibração.

Pág 152

Vista da cabeça e parte do pescoço em corte sagital.

ESPECTOGRAFIA ACÚSTICA

A análise dos sons da fala é realizada com equipamentos chamados espectrógrafos,


que oferecem um registro gráfico das alterações da freqüência e da intensidade da onda
complexa emitida pelo falante, constituindo um método bastante eficaz de identificação do
indivíduo pela voz, com o uso do computador.
O laboratório de análise acústica da voz detalha a sua produção em função dos
parâmetros de natureza física, especialmente a freqüência, a intensidade e a duração, tendo a
espectrografia acústica um papel fundamental na área.
Os padrões de representação da espectrografia acústica incluem:
- Espectrogramas: Representações tridimensionais de freqüência, intensidade e tempo,
com a aplicação de diversos filtros de banda larga e estreita, os quais permitem a obtenção
de informações relacionadas à freqüência fundamental, harmônicos, formantes e ruído
glótico.

- Traçados de forma de onda: Representam pulsos que se repetem em um intervalo de


tempo, derivando de um gráfico da intensidade em função do tempo, mantendo relação
direta com as pregas vocais. Suas principais informações são periodicidade e
aperiodicidade do sinal, freqüência fundamental e estrutura melódica frasal.

- Espectros de longo termo: Representam a distribuição cumulativa de energia ao longo de


uma faixa de freqüências, em um período de 30 a 60 segundos, fornecendo informações
sobre a conformação do envelope espectral e dos picos e vales, bem como sobre as
variantes sociais e pessoais na produção vocal.
Fundamentos de Física e Biofísica 49

Na análise global da voz, podem ser empregados métodos qualitativos como a emissão
prolongada da vogal /a/ isolada ou desencadeada em uma sílaba ou trecho de fala espontânea,
nos quais são avaliados os seguintes parâmetros acústicos:
- Freqüência fundamental média e seu desvio padrão: Números de ciclos vibratórios por
segundo (Hz) e desvio para graves e agudos, medidos por meio de escaletas ou
diapasões.

- Medidas de perturbação em torno da freqüência fundamental: Como jitter (parâmetro


físico de freqüência de vibração das ppvv) e shimmer (parâmetro físico de intensidade de
vibração das ppvv).

- Extensão Vocal: Corresponde à faixa de freqüências que um indivíduo consegue produzir


(da mais baixa a mais alta).

- Faixa de intensidade dinâmica: Corresponde à emissão vocal, em freqüência habitual,


em intensidade o mais fraca ou forte possível.

- Fonetograma: Fornece o perfil de toda a extensão vocal, nota por nota, em diferentes
intensidades, sendo um gráfico que apresenta os limites vocais de um indivíduo em função
da freqüência e da variação de intensidade.

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