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Maurício L. Dias - Mestre em Direito pelo PPGD/UFP, professor da Faculdade de Direito da UFPA
Christiane H.G. Costa – Graduanda em arquitetura e urbanismo pela UFPA
Jessyca I. N. dos Santos- Graduanda em engenharia sanitária e ambiental pela UFPA
Mônica R. S. Ferreira - Graduanda em arquitetura e urbanismo pela UFPA
Nelma R. da Silva - Graduanda em arquitetura e urbanismo pela UFPA
RESUMO - Tomando como fundamento a nova lei 11.977/2009, este trabalho expõe a situação
atual dos moradores do bairro Montese, mais conhecido como Terra Firme, localizado no
município de Belém/PA. A área estudada encontra-se dentro de uma ZEIS (Zona Especial de
Interesse Social) definida no Plano Diretor e grande parte de sua extensão é composta por terras
de domínio da União. A ação de regularização fundiária que está sendo realizada pela
Universidade Federal do Pará e pelo Instituto de Terras do Pará no bairro ainda não contempla os
novos parâmetros abordados na lei, que visam regularização urbanística para ordenamento
espacial, em conjunto com o estudo do meio ambiente, assim como a sustentabilidade do espaço,
tanto econômico quanto social. Isto sugere que o processo de regularização em curso considera o
bem individual – a titulação –sobre o bem coletivo – que seria o ordenamento sócio-econômico-
ambiental-espacial do bairro. O direito a moradia digna só será efetivo quando houver um
movimento em conjunto dos vários segmentos de profissionais, que se ocupam em estudar a
cidade de forma sustentável e eficiente. Através desta análise, buscamos uma maior compreensão
sobre as bases do trabalho atualmente realizado e da forma como os moradores da área vêm
recebendo esta ação.
Palavras-chave: Política Fundiária, Direitos Humanos, Direito Urbanístico.
ABSTRACT- Taking as base the new law 11.977/2009, this work presents the current situation
of neighborhood residents Montese, better known as Terra Firme, located in the municipality
Belém / PA. The study area is within a ZEIS (Special Area of Social Interest) defined in the
master plan and much of its length consists of domain lands of the Union. The action of
regularization which is being held at the Federal University of Pará and the Land Institute of Pará
in the neighborhood still does not include the new parameters addressed in the law, aimed at
urban regularization to the spatial planning, together with the study of the environment, as well as
the sustainability of space, both economic and social. This suggests that the ongoing process of
regularization considers the individual good - titration - above the collective good - that would be
the social-economic-environmental-spatial planning of the neighborhood. Ensure the adequate
housing will only be effective when there is a movement among the many segments of workers
who are engaged in studying the city in a sustainable and efficient way. Through this analysis, we
seek a better understanding of the foundations of the current work done and how area residents
have been receiving this action.
KeyWords: Land policies, Human Rights, Urban Law
1. INTRODUCÃO
O Bairro Montese, também conhecido como Terra Firme, situa-se em uma área de
baixada da cidade de Belém, no Pará, sobre a Bacia do Tucunduba. Esta área está, em sua
maioria, sob o domínio da Universidade Federal do Pará. A origem irregular da área se dá pelo
fato da mesma pertencer ao domínio público, além de não condizer morfologicamente com os
padrões urbanísticos vigentes na legislação da cidade. Segundo Brazil (2004, p. 15) a má
distribuição de renda, o desemprego, os baixos salários e toda política econômica, social e
habitacional existente neste país tem imposto um elevado custo ao direito de habitar a cidade e
isso tem provocado o assentamento de inúmeras famílias em loteamentos clandestinos, favelas,
baixadas, etc. O que nos remete ao surgimento das favelas como uma área barata e acessível, com
moradia sem o mínimo da estrutura básica necessária e sem planejamento urbanístico, ambiental
e social, como pode ser observado na imagem abaixo (Imagem 1):
Imagem 1:Palafitas à beira do Igarapé Tuncuduba (Fonte: Acervo pessoal, Santos 2012).
2
A Primeira Légua Patrimonial é a área da cidade de Belém que foi ocupada desde sua origem no Forte do Presépio
até o bairro do Marco, doada pela Coroa Portuguesa ainda no século XVII através de Cartas de Doações de
Sesmarias, contemplando os bairros centrais da cidade atual (VELOSO, 2011). Foi planejada com traçados
ortogonais – mantendo a aparência de um tabuleiro de xadrez, à moda das cidades novas da colonização portuguesa
(SANTOS, 2001).
3. REGULARIZAÇÃO URBANÍSTICA
3
Quadra sem disposição ortogonal facilita o tráfego de veículos, o trabalho do serviço de correio e coleta de lixo, e a
localização por turistas. Quando estas quadras retangulares possuem vias de penetração, aumentam o índice de
segurança do local e tem um custo de implantação econômico quando as vias possuem hierarquia. (MASCARÓ,
2005, p.37-62)
4
ZEIS: Zona Especial de Interesse Social –área passível a projetos de intervenção do governo voltados à integração
de áreas marginalizadas da cidade com seu entorno, ao estímulo à construção de habitações de interesse social, entre
outras políticas públicas voltadas à população de baixa renda. (Lei 11.977/09, Art 47, V, VII).
produção histórica do espaço no bairro; a ocupação ao longo do igarapé do Tucunduba; a
ausência de integração com o meio ambiente e sua consequente negação; a falta de oportunidade
de emprego e renda, onde prevalece a informalidade; a violência no bairro permeia às páginas
policiais dos jornais locais, assim como a violência televisionada, muito comum hoje nos
programas de televisão aberta em Belém e no restante do país, se junta a isso a falta de politicas
públicas para os jovens. Enfim, poucas iniciativas para uma porção de área extensa e cheia de
irregularidades e necessidades.
4. MATERIAL E MÉTODO
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A área delimitada é uma extensão de três quadras nas margens do igarapé Tucunduba, de grande precariedade e
incluído em projeto de urbanização executado pela Prefeitura Municipal de Belém no início dos anos 2000.
obstruída. Além disso, a arborização da área é pontual e escassa. Observe imagem abaixo com a
delimitação da área de estudo.
Imagem 2: Polígonos de atuação na Terra Firme e área de levantamento (Fonte: Dados organizados pelos autores)
5. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Quadro 1: Componentes da inadequação habitacional, por número de domicílios, segundo base de dados
da Fundação João Pinheiro, do Governo do Estado de Minas Gerais.
Componentes Descrição N° de N° de
habitações habitações
inadequadas inadequadas
no Brasil na R.M.B
Adensamento Relaciona qualidade de vida dos habitantes por meio de 2.024.939 41.433
excessivo indicador que mede o n° de pessoas por dormitórios. É
considerado adensamento excessivo a partir de três
pessoas por dormitório ou cômodo.
Inadequação Está relacionada à regularização de posse da terra 1.508.744 28.406
fundiária
Inadequação Habitações que devem passar por recuperação em virtude 836.669 9.118
por depreciação do alto grau de depreciação
Carência de Ausência de um ou mais serviços de infraestrutura como: 10.267.076 194.691
infraestrutura rede de abastecimento de água, energia elétrica,
drenagem, rede coletora de esgoto ou fossa séptica e
coleta de lixo.
Inexistência de 1.466.071 40.533
banheiro
Fonte: Adaptado de Fundação João Pinheiro apud Valente (2003).
O bairro em questão é um exemplo característico do quadro acima. Entende-se que o
processo que ocorre então abrange uma forma de intervenção política, uma resposta imediata ao
problema de irregularidade no bairro. Estes procedimentos, contudo, surgem desvinculados de
melhorias urbanas fundamentais à garantia de condições dignas da moradia urbana, que
presumem, dentre outros elementos, condições tecnicamente adequadas de habitação, acesso ao
trabalho e ao rendimento compatível, transporte público, saneamento ambiental, recreação, lazer,
educação, acesso às políticas culturais. Investimento em saneamento básico pode ser considerado
investimento em saúde e, sua ausência implica em situação de extrema precariedade, com
degradação do ambiente, o exemplo mais simples são as populações em palafitas que se
encontram em parte da área que fazem despejos dos mais diversos tipos de resíduos sólidos e
efluentes domésticos imprudentemente no igarapé Tucunduba.
As áreas de baixada de Belém em suas características urbanísticas podem ser
potencializadas, com o tratamento devido e com a provisão de infraestrutura e políticas de
desenvolvimento econômico e social necessárias. A constituição de áreas de ZEIS assinala
apenas o início do processo de reabilitação destes locais, de sua inclusão em parâmetros de
acesso a serviços e a uma concepção mais ampla de direitos sociais e cidadania no espaço urbano.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir desta análise compreende-se o método de trabalho que vem sendo executado
pela Comissão de Regularização Fundiária da UFPA e pelo Instituto de Terras do Pará -
ITERPA. Os meios utilizados para execução desses abrangem apenas os quesitos legais de uso ou
posse da terra. O que geram oportunidades para a obtenção de recursos para fins de melhoria da
residência, mas não garantem a instalação de infraestrutura básica no meio urbano.
Apesar de parte da população entrevistada se dizer satisfeita com suas condições
atuais, esta toma como referência a total falta de dignidade do local vivida anteriormente. A
promoção de regularização fundiária fundamentada em todas as diretrizes da Lei 11.977/09
ocasionaria a implantação de redes de esgoto, água e energia elétrica; distribuição do loteamento
dentro de parâmetros da ZEIS e medidas urbanísticas referentes ao lazer, transporte, assim como
equipamentos urbanos, requisitos considerados mínimos à qualidade de vida urbana. Devemos
atentar para vários fatores concernentes a ação de regularização e fazer valer o direito dos
residentes da Terra Firme em sua plenitude, a regularização urbanística da Terra Firme deve ser
anterior à titulação, pois aquela é uma parte do processo e traz benefícios para a comunidade em
geral. A regularização é uma dos instrumentos de acesso da população de baixa renda à terra, no
entanto, ele não se constitui como o único instrumento de promoção. A cidade de Belém, em seu
plano diretor, loca o Bairro em questão, em toda a sua extensão, como ZEIS; no entanto este
instrumento, ainda não regulamentado, constituiria uma grande saída para assentamentos
precários como o Bairro da Terra Firme, ou seja, legislações adequadas para sanar as
irregularidades existem, no entanto, elas ainda não saíram do papel e acabam fazendo com que a
reprodução da irregularidade permeie ainda o contexto das nossas cidades.
7. REFERÊNCIAS