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Apresentação
Este livro é composto de dois ensaios escritos por autores dos quais nem
as problemáticas nem os objetos de estudo são exatamente similares. Um
livro, dois enfoques. Um pretende ser uma interpretação histórico-social, o
outro, uma abordagem semiótica e de marketing do luxo; o primeiro adota o
ponto de vista da longuíssima duração, o segundo concentra-se na
identidade das marcas e em sua gestão no tempo. Tanto um como o outro,
os ensaios aqui apresentados conservam seu “espírito” próprio, mais ou
menos ligado a uma tradição teórica ou a uma disciplina. Não procuramos
transmitir uma mensagem comum, tendo cada um de nós levado o caminho
tão longe quanto seu campo e problemática específica lhe permitiam. Os
pontos de junção existem: caberá ao leitor notá-los e julgá-los.
Tomemos um pouco de distância histórica. Como se sabe, em suas
primeiras expressões, o pensamento sobre o luxo construiu-se e
desenvolveu-se em função de objetivos éticos e moralizadores. Para a maior
parte das escolas filosóficas gregas e até as Luzes, o luxo, porque sinônimo
de artifícios, de excessos e de vaidades, não pode senão levar à inquietude
da alma e afastar-nos das alegrias da simplicidade, da independência, da
força interior. Tornando os homens infelizes por uma corrida sem fim para
os falsos prazeres, amolecendo o corpo e o espírito, o luxo é, além do mais,
responsável pela corrupção dos costumes e pela queda das cidades.
Incompatível com a felicidade, acarretando a decadência dos povos, foi a
crítica moral que comandou a análise do luxo até o século xviii, momento
em que surgem as primeiras apologias modernas do supérfluo e da riqueza.
Com a emergência da sociologia e da etnologia, um paradigma
inteiramente diferente vem à luz, substituindo o projeto filosófico-moral
pela ambição científica de conceitualização das lógicas sociais que
organizam os consumos exagerados e prestigiosos. São colocadas em
primeiro plano as regras coletivas que prescrevem o dispêndio ostensivo, os
processos de pretensão, de imitação e de distinção social que servem de
base ao seu funcionamento. As teorias do luxo são então centradas nos
mecanismos da procura e nas lutas simbólicas travadas pelas classes sociais.
Sob muitos aspectos, continuamos nesse mesmo ponto, tendo o pensamento
dominante sobre o luxo permanecido “imutável” a despeito das subversões
cruciais que se produziram na ordem do real histórico. Essa grade de leitura
atinge manifestamente os seus limites. As mudanças acontecidas são tais
que se tornou imperativo proceder a um descentramento teórico, a uma
ampla retificação dos modelos interpretativos que fazem da lógica distintiva
o alfa e o ômega do fenômeno.
Há mais. A nova cultura que se impõe é acompanhada por uma nova
economia do luxo. Nesse contexto, as marcas, sua concepção—
comunicação—distribuição adquiriram uma superfície e uma significação
novas que é importante decifrar atentamente caso se queira compreender o
que se passa de inédito no universo dos bens preciosos. No momento do
crescimento do luxo de marketing, convém mais do que nunca examinar,
em paralelo ou em conjunto com as metamorfoses da procura, as estratégias
da oferta no que elas têm de específico: daí a leitura de marketing do
fenômeno que se encontrará nesta obra.
Tal como aparece em seu conjunto, este livro apresenta sem nenhuma
dúvida muitas imperfeições e insuficiências. Alguns o julgarão
“estratosférico” demais, considerando a ambição globalizante afirmada aqui
impossível de realizar nos limites estreitos de um ensaio. Outros deplorarão
o espaço excessivo concedido ao ultracontemporâneo do mercado e das
estratégias de marcas. O leitor talvez seja surpreendido pelas discordâncias
de ótica, pela justaposição de reflexões antropológicas e de interpretações
de marketing, do mais distante e do mais próximo, do estrutural e do
efêmero, do teórico e do empírico. Contudo, não é certo que o que é perdido
em homogeneidade não seja ganho em inteligibilidade. Esta é a aposta deste
livro. As mutações em curso são tão profundas que o cruzamento das
perspectivas e das temporalidades nos pareceu um bom “método” para
restituir oxigênio a esse objeto de estudo, para melhor destacar os novos
dispositivos do luxo, essa esfera em que agora coabitam paixões
“aristocráticas” e paixões democráticas, tradição e inovação, tempo longo
do mito e tempo curto da moda, essa esfera paradoxal em que, como dizia
Baudelaire em Le Peintre de la vie moderne [O pintor da vida moderna], o
eterno é tirado do transitório.
parte i
luxo eterno, luxo emocional
Gilles Lipovetsky
Não tenho nenhum gosto particular pelo luxo. Apenas o de pensá-lo.
Por certo, nada de original nisso, a tal ponto a questão provocou uma
longa e venerável tradição de pensamento, que se inaugura com a filosofia
grega, encontra sua apoteose no século xviii com a famosa “querela do
luxo” e prolonga-se no século seguinte com as problemáticas sociológicas.
De Platão a Políbio, de Epicuro a Epicteto, de Santo Agostinho a Rousseau,
de Lutero a Calvino, de Mandeville a Voltaire, de Veblen a Mauss, durante
25 séculos o supérfluo, a aparência, a dissipação das riquezas jamais
deixaram de suscitar o pensamento de nossos mestres.
Se me pareceu necessário reabrir o dossiê e acrescentar uma modesta
pedra a um edifício que continua a ser, e muito, fonte de reflexão, isso se
deve às mudanças cruciais acontecidas nas últimas duas décadas na cena do
luxo. De agora em diante, esta, sem dúvida não totalmente diferente, já não
é mais exatamente a mesma. As transformações em curso são de tal
amplitude que a exigência de um novo exame do fenômeno se impõe.
O novo é lido, em primeiro lugar, no peso econômico das indústrias de
luxo. A época recente foi testemunha de uma forte expansão do mercado do
luxo, sendo este estimado em 2000, no plano mundial, em
aproximadamente 90 bilhões de euros (estudo Eurostaf). Ainda assim, essas
cifras estão longe de revelar o estado do mercado considerado em sua
totalidade, pois não integram os números relativos ao setor do automóvel
top de linha. Quanto a isso, assinalemos apenas que, em 2001, a Mercedes,
a bmw, a Audi e a Porsche realizaram um montante de negócios que se
eleva, respectivamente, a 47,7, 33,5, 22 e 4,4 bilhões de euros. Apesar de
certas dificuldades conjunturais, muitos estudos prospectivos prometem um
belo futuro ao luxo; a emergência de novas classes abastadas, a
globalização e a abertura da lista dos países relacionados com o consumo de
luxo constituem tendências geradoras de um forte potencial de
desenvolvimento do setor: o Japão é agora o primeiro mercado do mundo
para as marcas de luxo, o país realiza isoladamente um terço do montante
de negócios do setor.
Há bem mais do que uma nova superfície econômica. Desde mais de uma
década, o setor do luxo passa por uma verdadeira mutação organizacional,
tendo as pequenas empresas independentes e semi-artesanais cedido lugar
aos conglomerados de dimensão internacional, aos grupos multimarcas que
aplicam, embora não exclusivamente, métodos e estratégias que provaram
seu valor nos mercados de massa. O lvmh, primeiro grupo mundial de
marcas de luxo, realizou um montante de negócios de 12,2 bilhões de euros
em 2001, apoiando-se em 51 marcas presentes em 65 países. No mesmo
ano, o montante de negócios do grupo Estée Lauder elevava-se a 4,6
bilhões de dólares, o do Pinault—Printemps—Redoute (luxo) a 2,5 bilhões
de euros. Anuncia-se uma nova época do luxo, marcada pela aceleração dos
movimentos de concentração, pelas fusões, aquisições e cessões de marcas
em um mercado globalizado. O momento é o da financeirização do setor,
sem que por isso desapareçam os imperativos específicos de criatividade e
de excelência dos produtos. O mundo do luxo que se desenha aparece,
assim, como uma síntese inédita e antinômica de lógica financeira e de
lógica estética, de imposições de produtividade e de savoir-faire tradicional,
de inovação e de conservação da herança. Tensões estruturais que
asseguram seu sucesso e desenvolvimento.
Antigamente reservados aos círculos da burguesia rica, os produtos de
luxo progressivamente “desceram” à rua. No momento em que os grandes
grupos apelam a managers oriundos da grande distribuição e treinados no
espírito do marketing, o imperativo é de abrir o luxo ao maior número, de
tornar “o inacessível acessível”. Em nossos dias, o setor constrói-se
sistematicamente como um mercado hierarquizado, diferenciado,
diversificado, em que o luxo de exceção coexiste com um luxo
intermediário e acessível. Esfera daí em diante plural, o luxo “estilhaçou-
se”, não há mais um luxo, mas luxos, em vários graus, para públicos
diversos. Por isso, ao menos ocasionalmente, o luxo aparece como um bem
ao alcance de quase todos os bolsos: segundo um estudo do instituto Risc,
mais de um europeu em dois comprou uma marca de luxo ao longo dos
doze últimos meses. De um lado, reproduz-se, em conformidade com o
passado, um mercado extremamente elitista; do outro, o luxo enveredou
pelo caminho inédito da democratização de massa.
Ao mesmo tempo, a visibilidade social do luxo cresceu fortemente. Em
primeiro lugar, pelo efeito “mecânico” do aumento do número de marcas de
luxo presentes no mercado: enumeravam-se, no mundo, 412 na metade dos
anos 1990. Em seguida, pela intensificação do investimento publicitário e,
mais amplamente, da midiatização das marcas de luxo. Enfim, assiste-se à
extensão das redes de distribuição de que dão testemunho a uma só vez a
abertura acelerada de butiques exclusivas, os “corners” reservados às
grandes marcas nos grandes magazines seletivos, as novas megastores (1,5
mil m2) dedicadas ao perfume e à beleza, as cadeias de perfumaria seletiva:
em 2001, a marca Sephora incluía 385 magazines na Europa, setenta nos
Estados Unidos. De um lado, bem classicamente, a distribuição continua
seletiva; do outro, desenvolvem-se fórmulas de venda e conceitos de
magazines (e-commerce, parafarmácia, butiques duty free, grandes espaços
especializados) que se aproximam das técnicas da grande distribuição (auto-
serviço, referências pletóricas). Duas tendências coabitam: uma banaliza o
acesso ao luxo e o desmitifica, a outra reproduz-lhe o poder de sonho e de
atração pelas políticas de preço e de imagem.
Além disso, as expectativas e os comportamentos relativos aos bens caros
“não são mais o que eram”. Nossa época vê manifestar-se o “direito” às
coisas supérfluas para todos, o gosto generalizado pelas grandes marcas, o
crescimento de consumos ocasionais em frações ampliadas da população,
uma relação menos institucionalizada, mais personalizada, mais afetiva com
os signos prestigiosos: o novo sistema celebra as bodas do luxo e do
individualismo liberal. Mutações que convidam a reconsiderar o sentido
social e individual dos consumos dispendiosos, bem como o papel
tradicionalmente estruturante das estratégias distintivas e dos afrontamentos
simbólicos entre os grupos sociais.
É realmente uma nova cultura do luxo que cresce sob os nossos olhos.
Ela era apanágio de um mundo fechado, e hoje vemos desenvolver-se o
culto de massa das marcas, a difusão das cópias, a expansão da falsificação,
que é estimada em 5% do comércio mundial. Ao antigo universo em
surdina sucedem a hipermidiatização das grandes casas, a “estrelização”
dos chefs cozinheiros e dos grandes designers, a proliferação das obras
sobre os criadores, os produtos finos e a história dos mais “belos objetos”.
Enquanto os nomes das marcas mais prestigiosas são exibidos nos muros da
cidade, o luxo e a moda invadem os programas de televisão e a internet. Lá,
onde se impunha uma discrição um pouco solene, multiplicam-se
campanhas publicitárias marcadas por um espírito humorístico ou
“transgressivo”. Aos olhos da geração precedente, o luxo “parecia
envelhecido”, agora parece “absolutamente moderno”, no impulso da
reabilitação do antigo, do “retorno dos verdadeiros valores”, do vintage, da
inflação do memorial e do “autêntico”. De um lado, intensifica-se a sede
das novidades, do outro vêem-se aprovados os “sem idade”, a herança, as
grandes marcas históricas. Tudo o que ontem figurava como conformismo
empoeirado — os cruzeiros, os rituais da nobreza, os grandes bailes e os
lambris dourados — é beneficiado por uma nova valorização. A época deu
meia-volta: eis-nos tomados pelas paixões ao patrimonial e ao que não está
sujeito a sair de moda, por toda parte são celebrados as tradições, a
continuidade, os “lugares de memória”. A consagração contemporânea do
luxo é acompanhada por uma nova relação com a herança, por uma
valorização inédita do passado histórico, pelo desejo pós-moderno de
reconciliar criação e permanência, moda e intemporalidade.
À luz de todos esses fenômenos é difícil abrir mão da idéia de que
assistimos a uma verdadeira mudança de época: começou uma nova idade
do luxo que constitui sua segunda modernidade. O texto a seguir deseja
lançar alguma luz sobre os mecanismos e as forças que servem de base à
economia geral dessa mutação.
arqueologia do luxo
esplendores e hierarquia
luxo e modernidade
Tudo oscila com a modernidade. Nada ilustra melhor a nova lógica que
se impõe do que o surgimento da alta-costura. Na segunda metade do século
xix, Charles Frédéric Worth assenta-lhe os fundamentos ao estabelecer uma
indústria de luxo consagrada à criação de modelos freqüentemente alterados
e fabricados nas medidas de cada cliente.1 A ruptura com o passado é clara.
Enquanto os modelos são criados fora de toda procura particular, o grande
costureiro aparece como um criador livre e independente. Ele estava à
disposição; agora impõe soberanamente seus modelos e gostos às clientes
metamorfoseadas em consumidoras despojadas de um real direito de
controle. A idade moderna do luxo vê triunfar o costureiro liberto de sua
antiga subordinação à cliente e afirma seu novo poder de dirigir a moda.
Nasceu a idade de ouro do costureiro demiurgo: ela vai durar cem anos.
O costureiro era um artesão obscuro, agora é reconhecido como um
artista sublime, um criador favorecido por uma notoriedade, um renome
excepcional que resplandece em todo o planeta. Dignificação e consagração
democrática do grande costureiro que prolonga uma dinâmica inaugurada
no século xviii, momento em que os grandes cabeleireiros e as “vendedoras
de moda” são considerados artistas e adquirem seus títulos de glória. A
partir da metade do século xix, toda uma face do universo do luxo vê-se,
assim, associada a um nome, a uma individualidade excepcional, a uma
casa comercial de muito prestígio. Alguns desses nomes, tanto na esfera da
moda como em outros setores, conservaram um lugar de primeiríssimo
plano até nossos dias.2 O produto de luxo personalizou-se, daí em diante
traz o nome do costureiro ou de uma grande casa e não mais o de um alto
hierarca ou de um lugar geográfico. Não é mais apenas a riqueza do
material que constitui o luxo, mas a aura do nome e renome das grandes
casas, o prestígio da grife, a magia da marca. Nesse quadro, as competições
pelo prestígio não serão mais exercidas apenas no campo das classes
superiores, mas também no campo dos produtores de bens de luxo.
Com a alta-costura, o luxo torna-se pela primeira vez uma indústria de
criação. Sem dúvida, o funcionamento das grandes casas continua artesanal
— o feito à mão, o sob medida, a qualidade e não a quantidade, o savoir-
faire das costureiras —, mas aí se manifesta igualmente o princípio
moderno da série,3 ainda que reduzida, podendo os modelos ser
reproduzidos em algumas centenas ou alguns milhares de exemplares. A
alta-costura promoveu a série limitada um pouco antes que se propagassem
— depois de 1880 — as novas técnicas de fabricação industrial que
permitem produzir em enorme série as mercadorias estandardizadas.
Algumas cifras dão a medida da nova dimensão industrial do luxo: 1,2 mil
operárias trabalhavam em 1873 para a Worth, 4 mil para a Chanel em 1935,
1,2 mil para a Dior em 1956. Na metade dos anos 1930, a Chanel fabricava
cerca de 28 mil peças por ano; a alta-costura parisiense produzia, em 1953,
90 mil peças.4
Junte-se a isso a venda aos compradores estrangeiros, americanos em
particular, de modelos encomendados em vários exemplares e em diferentes
tamanhos. Por si sós, em 1925, as vendas da alta-costura representavam
15% das exportações francesas globais e ocupavam a segunda posição no
comércio exterior. Depois de 1929, a fim de fazer face ao aumento das
tarifas alfandegárias, desenvolveu-se a venda dos modelos em tela e moldes
de papel aos confeccionistas estrangeiros, com o direito de reproduzi-los em
série em seus respectivos países. Essas vendas constituíam até 1960 cerca
de 20% do montante de negócios da alta-costura. Elementos que revelam a
nova sustentação industrial do luxo. Em suma, é como uma formação de
compromisso a que se entrega o primeiro momento moderno do luxo, um
compromisso entre artesanato e indústria, arte e série.
Luxo e semiluxo
rumo a um luxo-marketing
Onde estamos hoje? Desde uma ou duas décadas, tudo leva a pensar que
entramos em uma nova idade do luxo: ela constitui seu momento pós-
moderno ou hipermoderno, globalizado, financeirizado. Até então, o setor
do luxo escorava-se em sociedades familiares e em fundadores-criadores
independentes. Esse ciclo terminou, dando lugar a gigantes mundiais, a
grandes grupos com cifras de negócios colossais, cotados em bolsa e
baseados em um vasto portfolio de marcas prestigiosas. O universo
econômico e empresarial do luxo mudou de escala: as tradicionais lutas de
concorrência pelo prestígio são suplantadas pelas “guerras do luxo”, as
operações de fusão e de aquisição, os movimentos de concentração e de
reestruturação em vista da constituição de impérios industriais
internacionais. O luxo acertou os ponteiros com as megaentidades, a
globalização, as stock-options, as estratégias de grupo que anunciam o fim
das pequenas casas independentes ao mesmo tempo que dos criadores-
artistas soberanos. Se é verdade que o luxo é um setor a uma só vez
econômico e não econômico,7 é preciso observar que, nesse complexo
híbrido, é cada vez mais o pólo econômico e financeiro que domina,
impondo sua lei ao desenvolvimento dos produtos, às compras e vendas das
marcas, às introduções em bolsa tendo em vista taxas de margem de dois
algarismos. À idade sublime—artística do luxo sucedeu seu momento hiper-
realista e financeiro, no qual criação e busca de alta rentabilidade tornaram-
se inseparáveis.
O modelo anterior conseguira a combinação de uma lógica industrial
com uma lógica artesanal. Nessa aliança, no entanto, a dimensão artesanal
prevalecia, sendo a reprodução dos modelos limitada e executada sob
medida. Nesse plano, assistimos a uma inversão de tendência: daí em diante
é a lógica industrial da série que se mostra soberana. Testemunha-o de
maneira exemplar a ruína do pólo sob medida da alta-costura em benefício
dos perfumes e dos acessórios, do prêt-à-porter e dos produtos vendidos
sob licença. Já não é na oposição do modelo e da série que se constrói o
luxo, não representando o fora de série mais que um setor marginal.
Relembremos apenas que os perfumes são produzidos em centenas de
milhares de exemplares e as séries do prêt-à-porter de luxo em vários
milhares de peças. Mesmo o luxo superior já não escapa à lei das grandes
séries industriais. Em 2001, a bmw e a Audi venderam, respectivamente,
900 mil e 720 mil carros. A Mercedes, que vai lançar em dois anos o Vision
gst , mistura de mono-space e de 4 × 4 de grande luxo, espera produzir 100
mil deles por ano. A cópia em grande número não é mais semiluxo.
Enquanto as grandes marcas de luxo lançam cada vez mais artigos
acessíveis (perfumes, acessórios...), os grupos industriais de grande
consumo anunciam sua vontade de investir nos segmentos superiores do
mercado. Esse fenômeno de “subida de linha” é particularmente
significativo no setor automobilístico. O grupo Renault mostra hoje sua
ambição de penetrar no topo de linha comercializando o Avantime e o Vel
Satis. Enquanto “Renault criador de automóveis” substitui “os carros para
viver”, o top de linha deveria representar, segundo os objetivos do
construtor, 12% de seu montante de negócios europeu em 2003, contra 8%
em 1999. Depois de ter adquirido a Audi, a Bentley, a Bugatti, a
Lamborghini, a Volkswagen faz sua entrada no segmento do luxo com a
limusine Phaeton. O luxo é sempre elemento de diferenciação social, mas
funciona igualmente, cada vez melhor, como ferramenta de management
das marcas para o grande público, uma vez que o prestígio do top de linha
repercute no conjunto dos modelos. Como o desempenho e a confiabilidade
dos automóveis se nivelam, o atrativo de um carro é reforçado pela
presença, na linha, de modelos superiores, arquétipos do savoir-faire da
empresa. Assim, vê-se a multiplicação dos modelos de luxo que não apenas
criam diferença, mas que, ao mesmo tempo, enriquecem a reputação do
grupo. Se os grandes construtores de automóveis de massa investem no
segmento de luxo, as marcas de prestígio, como convém, crescem sempre
mais para o alto. A Mercedes, que já propunha seu luxuoso Classe S,
anuncia a saída de uma “megalimusine”, a Mayback de seis metros de
comprimento, vendida a 300 mil euros. A supremacia democrática e
industrial da lógica da série significa tudo, salvo declínio dos excessos
dispendiosos e nivelamento do luxo.
Em sua época heróica, a alta-costura tinha à frente um artista criador
impondo soberanamente seus gostos a uma clientela rica. Essa época está
terminada, sendo as coleções do prêt-à-porter das grandes marcas muito
menos fantasistas, muito menos versáteis, mais atentas às expectativas e os
gostos mais ou menos formulados dos clientes. Os ditames dos costureiros,
as grandes revoluções estilísticas da moda já não estão em voga ou não têm
mais impacto suficientemente visível: Tom Ford substituiu Yves Saint-
Laurent. Depois de cem anos de um ciclo de luxo artístico dominado pelos
ateliês da oferta, eis o tempo do luxo-marketing centrado na procura e na
lógica do mercado.
Levado por uma procura em forte expansão8 e marcado por uma
concorrência feroz, o universo do luxo tende a aventurar-se em práticas
análogas às observáveis nos mercados de massa: explosão dos custos de
lançamento e da publicidade, comunicação de “choque” ou transgressiva,
inflação de lançamento de novos produtos,9 encurtamento da duração de
vida dos produtos, aumento das ofertas promocionais no mercado dos
perfumes e dos cosméticos, exigência de resultados financeiros a curto
prazo.10 É verdade que todas essas novas estratégias não são inelutáveis e
destinadas a um avanço ilimitado, a tal ponto que podem ter efeitos
perversos a longo prazo. Mas nem por isso traduzem menos a entrada
estrondosa das indústrias de luxo na era do marketing.
o luxo emocional
Se convém falar de uma nova idade do luxo, isso não diz respeito
unicamente às transformações observáveis na esfera da oferta, mas também
às metamorfoses que se enraízam na procura, nas aspirações e nas
motivações, nas relações que os indivíduos mantêm com as normas sociais
e com os outros, com o consumo e os bens raros. Individualização,
emocionalização, democratização, estes são os processos que reordenam a
cultura contemporânea do luxo.
Reconheçamos que, à primeira vista, o fenômeno do consumo de luxo
parece antes marcado por uma continuidade social-histórica que pela
descontinuidade. De fato, é pouco duvidoso que em diversos meios
riquíssimos (monarcas, príncipes, magnatas industriais e financistas)
perpetue-se a tradicional função social dos dispêndios suntuários
ostentatórios. Exibir seu nível de riqueza, despender em pura perda,
mostrar-se generoso e mecenas, nada de tudo isso desapareceu e continua a
funcionar, sob muitos aspectos, como norma social obrigatória. Mesmo em
níveis inferiores, o consumo das novas camadas abastadas dos traders e
outros golden boys parece continuar dependente do efeito Veblen. Desde os
anos 1980, as novas elites do mundo econômico alardeiam sem complexo
seus gostos pelos produtos de luxo e pelos símbolos de posição social. Nos
Estados Unidos, mais que na Europa, as classes ricas orgulham-se de exibir
sua fortuna como signos de valor e sucesso individual, validação de um
projeto econômico e social.11 De todo modo, tanto além-Atlântico como no
Velho Continente, os ideais da frugalidade puritana bem como os da
contestação estão esgotados; eis o luxo e suas marcas de prestígio
reabilitados, cada vez menos controversos, voltando a estar em voga.12 A
época contemporânea faz recuar os imperativos da moda, mas vê triunfar o
culto das marcas e dos bens raros. O esnobismo, o desejo de parecer rico, o
gosto de brilhar, a busca da distinção social pelos signos demonstrativos,
tudo isso está longe de ter sido enterrado pelos últimos desenvolvimentos
da cultura democrática e mercantil.
Nada de novo, portanto, na relação dos homens entre si e com os
consumos dispendiosos? A realidade é muito mais complexa. Uma
observação importante de Veblen dá o sentido da mudança em curso. Ao
exibir riqueza, sublinha ele, “não apenas fazemos com que os outros sintam
nossa importância, não apenas aguçamos e mantemos em alerta o
sentimento que eles têm dessa importância, mas também, coisa quase não
menos útil, fortalecemos e preservamos todas as razões de auto-
satisfação”.13 A paixão pelo luxo não é exclusivamente alimentada pelo
desejo de ser admirado, de despertar inveja, de ser reconhecido pelo outro, é
também sustentada pelo desejo de admirar a si próprio, de “deleitar-se
consigo mesmo” e de uma imagem elitista. Foi essa dimensão de tipo
narcísico que se tornou dominante. A redução do peso do julgamento do
outro que acompanha o neonarcisismo contemporâneo não significa a
diminuição da importância da relação de si com os outros. Em um tempo de
individualismo galopante, afirma-se a necessidade de destacar-se da massa,
de não ser como os outros, de sentir-se um ser de exceção. Assim, as
motivações elitistas permanecem, mas estão menos baseadas em desígnios
de honorabilidade e de ostentação social do que no sentimento da distância,
no gozo da diferença proporcionada pelos consumos raros e no afastamento
que abrem em relação à maioria.14 Se uma vertente da dinâmica pós-
moderna do individualismo leva a pessoa a “viver para si”, a ser menos
dependente da opinião de outrem, a privilegiar suas emoções íntimas, uma
outra vertente estimula-a a comparar-se com os outros para sentir que existe
“mais”, marcar sua particularidade, construir uma imagem positiva de si
para si própria, sentir-se privilegiada, diferente dos outros. Os sentimentos
elitistas, a exigência de comparar-se vantajosamente com os outros não têm
nada de novo, mas se recompõem hoje a partir da própria lógica do neo-
individualismo, mais para si do que com vista à estima do outro.
Mesmo a tradicional lógica de distinção social traz a marca da dinâmica
individualista. O universo do luxo não funciona mais exclusivamente
segundo a oposição clássica dos mais ricos e dos menos ricos, dos
dominadores e dos dominados, dos herdeiros e dos novos-ricos. Para toda
uma categoria de consumidores de produtos de grande luxo (estrelas, ídolos
etc.), trata-se não tanto de ser admitido em um grupo ou de confirmar um
estado de riqueza quanto de exprimir uma personalidade singular, uma
originalidade, um gosto pessoal livre das formas e dos quadros
convencionais. Hoje, o luxo está mais a serviço da promoção de uma
imagem pessoal do que de uma imagem de classe.
As mudanças de fundo não param aí. Desde a noite dos tempos, as
despesas suntuárias ordenaram-se em função de regras sociais impositivas,
ora sagradas, ora profanas, mas de todo modo sinônimos de um
enquadramento rígido das condutas individuais pela ordem coletiva. Nesse
ponto, nossas sociedades registram uma transformação profunda, e isso
tanto é verdade que funcionam menos sob o signo da obrigação social que
sob o da arbitragem individual. Ao aparato e ao padrão de vida socialmente
impostos nas classes superiores sucedeu um luxo livre, não conformista,
“sem obrigação nem sanção”. Emerge assim um consumo dispendioso, livre
das prescrições sociais, que representa a ascensão das aspirações e das
motivações individualistas. Despesas extravagantes aqui, compras
“econômicas” ali, o consumo de luxo está em via de desinstitucionalização,
paralelamente ao que está em ação nas esferas da família, da sexualidade,
da religião, da moda, da política. Por toda parte a cultura neo-individualista
é acompanhada pela emancipação dos indivíduos em relação às antigas
imposições de dependência e pela correlativa erosão da autoridade das
normas coletivas. Diversificação dos modelos de vida, enfraquecimento do
poder regulador das instituições sociais e dos controles de grupo, é um
individualismo desregulado, opcional, que caracteriza o momento dito pós-
moderno. Esse impulso da autonomia dos indivíduos não poupou o
consumo em geral e o consumo de luxo em particular, manifestando-se este
último, tendencialmente, segundo uma lógica desunificada, descoordenada,
de geometria variável. O que, em nossos dias, é chamado de “burguês
boêmio” é apenas uma das últimas ilustrações da promoção de uma cultura
pós-convencionalista, desemparelhada e eclética, sustentada pelo princípio
de livre disposição de si. O consumidor de luxo típico ideal é daí em diante
multifacetado, tira seus modelos de diferentes grupos, mistura diferentes
categorias de objetos de diferentes preços e diferentes estilos. A
mobilidade, a hibridação, a disparidade substituíram o luxo empolado
“comme il faut”.
Desinstitucionalização e individualização, isso significa ao mesmo tempo
emergência de uma relação mais afetiva, mais sensível com os bens de luxo.
Por certo, essa dimensão está longe de ser nova, manifestando-se de
maneira evidente pelo menos desde a Renascença. Ainda assim, no
conjunto, o luxo estava associado a sujeições mais ou menos cerimoniais
que testemunham a prioridade das imposições coletivas sobre os gostos
subjetivos. Sob esse aspecto, a mudança a que assistimos merece ser
sublinhada. Sob o impulso do neo-individualismo, vêm à luz novas formas
de consumo dispendioso que dependem bem mais do regime das emoções e
das sensações pessoais do que das estratégias distintivas para a classificação
social. Através das despesas caras, homens e mulheres aplicam-se menos
em ser socialmente ajustados do que em experimentar emoções estéticas ou
sensitivas, menos em fazer exibição de riqueza do que em sentir momentos
de volúpia. Convite à viagem, convite às delícias dos cinco sentidos, o luxo
identifica-se tendencialmente com uma festa privada, uma festa dos
sentidos. A busca dos gozos privados ganhou prioridade sobre a exigência
de exibição e de reconhecimento social: a época contemporânea vê afirmar-
se um luxo de tipo inédito, um luxo emocional, experiencial, psicologizado,
que substitui a primazia da teatralidade social pela das sensações íntimas.
Por muito tempo o luxo confundiu-se com a demonstração, o cenário, o
espetáculo ostentatório da riqueza: o artifício, o adorno, os signos visíveis
destinados ao olhar do outro constituíam-lhe as manifestações
predominantes. Isso não desaparece, mas surgiram novas orientações que
testemunham o recuo dos símbolos honoríficos em favor de expectativas
centradas na experiência vivida imediata, na saúde, no corpo, no maior
bem-estar subjetivo. Agora, os produtos de cuidado classificam-se na
primeira posição das vendas dos cosméticos, muito à frente dos produtos de
maquiagem. As talassoterapias, os centros de cuidado e de recuperação da
forma, as clínicas de saúde estão em pleno crescimento. A cirurgia estética
registra um boom sem precedente. Todos os hotéis luxuosos acomodam
agora locais de restabelecimento, oferecem cuidados adaptados às
expectativas de boa forma, beleza, relaxamento, repouso, emagrecimento,
harmonização energética. Multiplicam-se os spas de luxo. De um lado, a
lógica da aparência continua igualmente fundamental, como confirma a
espiral dos cuidados de beleza, mas o deslocamento em curso não é por isso
menos significativo: o importante já não é pôr a fortuna em evidência, mas
parecer jovem e realçar a beleza. Do outro lado, as práticas de luxo
aventuram-se por caminhos menos sujeitos ao primado do olhar, dominados
que são pela busca da saúde e do experiencial, do sensitivo e do bem-estar
emocional. Teatro das aparências, o luxo tende a pôr-se a serviço do
indivíduo privado e de suas sensações subjetivas. Um luxo para si.
O direito ao luxo
luxo e desafio
a grande inversão
A clientela dos anos 1980 consumia marcas de luxo “custe o que custar”;
a dos anos 1990 já não queria comprá-las “a qualquer preço”; a dos anos
2000, por sua vez, faz suas afinidades e identificações afetivas depender das
marcas que sabem projetar sua identidade, reinterpretando-a de maneira
criativa e coerente, na época ou em um outro universo. Antes que aos
habituais arbítrios qualidade—preço, ela se entrega a um raciocínio valor—
preço (“value for money”). Qual é o valor agregado simbólico, afetivo e
emocional, que justifica o diferencial de preço praticado pelas marcas de
prestígio? Qual é o sentido, o conteúdo desse valor, em que legitimidade ele
se apóia? Perguntas que o consumidor faz a si mesmo a fim de justificar
suas escolhas.
A participação de uma marca no universo do luxo pode, naturalmente, ser
definida pelo preço. Em seu estudo, a McKinsey considerava, por exemplo,
que um tailleur de mais de 6 mil francos, em 1991, fazia parte desse
universo. Se comparamos as políticas de preço das marcas de luxo às do
mercado de massa, observamos uma relação de pelo menos um para quatro,
entre um champanhe dito de “preço inicial” com grande distribuição e um
millésime* de grandes marcas como Veuve Clicquot ou Moët et Chandon.
O mesmo acontece com os produtos de beleza, em que coabitam nas
cadeias especializadas, como a Séphora, marcas de massa e marcas de luxo,
propondo as primeiras produtos quatro vezes menos caros que as segundas,
como Dior, Lancôme ou Lauder.
A estrutura dos sortimentos da grande distribuição, que faz coexistir
linearmente produtos de massa e produtos de luxo e, da mesma maneira, a
carteira de marcas dos grupos líderes do setor da higiene—beleza reduzem
a distância psicológica entre os dois segmentos: “luxo” e “massa”. Elas
levam o consumidor a interrogar-se sobre o que ele obtém a mais, sobre o
suplemento de “valor” que lhe é proporcionado por uma marca de luxo em
comparação a uma marca que não o seria.
No domínio do prêt-à-porter, as marcas estrangeiras, em particular
italianas e alemãs, com qualidade percebida como igual, vêm tornar mais
difícil a justificação do preço de certas marcas francesas, situando-se em
uma zona de preço ligeiramente inferior. As marcas italianas, a uma só vez
criativas e integrando as expectativas do mercado, beneficiadas pelo savoir-
faire produtivo de distritos especializados e pelas taxas de câmbio
favoráveis, desenvolveram-se em extensões verticais de sua marca. Armani,
valor italiano indiscutível, não tem menos de sete linhas de roupas
diferentes.22 Mas as políticas de extensão que diferenciam mal as diversas
linhas levam as consumidoras a transferir-se para as linhas de difusão,
menos caras, e então há canibalização. Daí a necessidade de definir linhas
bem distintas, no quadro de um repertório estilístico comum, identificável e
único,23 permitindo atingir clientelas complementares, com uma política de
criação, de produção e de preço controlada. Pois se este não for o caso, os
clientes afastam-se da marca ou não aderem ao seu “contrato”, como, por
exemplo, as diferentes linhas de prêt-à-porter feminino de Ralph Lauren,
cuja segmentação pouco legível seduz pouco as européias, ao contrário das
americanas. Com exceção das raras marcas míticas, em relação às quais o
comprador não seria sensível ao preço e que portanto parecem ainda
preservadas, os administradores das outras marcas são sensíveis a esse
fenômeno; e alguns deles definiram zonas de preço ótimas,24 identificando
as flutuações da procura em mais ou menos cinco dólares.
Diante da redução das vendas e dessa nova sensibilidade ao preço com a
qual contam os concorrentes estrangeiros, certas marcas de prêt-à-porter
dos costureiros baixaram sistematicamente, em período de recuo, todos os
seus preços em 20%. Essa atitude defensiva em relação à concorrência não
parece adequada. De fato, contribui paradoxalmente para reforçar a suspeita
do consumidor no que se refere ao preço: se todos os preços baixam 20%, é
que os preços iniciais traduziam mais as margens da empresa que o “valor”
da marca e de seus produtos. Zonas de preço ótimas deveriam, portanto, ser
definidas para os diferentes produtos, no interior das diversas gamas
comercializadas pela marca, evitando as ações sistemáticas e não
diferenciadas sobre os preços, bem como uma baixa generalizada. A
fixação dos preços no domínio do luxo deveria apoiar-se nos métodos
clássicos do preço psicológico para o consumidor, em discussões com
especialistas ou em métodos do tipo “análise conjunta”, que permite
identificar, considerado o “valor” ligado à marca, a soma que o consumidor
está disposto a pagar para ser beneficiado por esta ou aquela vantagem (ou
atributo determinante da escolha) em comparação a uma outra marca.
A clientela do luxo compõe-se essencialmente de dois segmentos: o
segmento fiel dos clientes muito ricos, o segmento menos fiel dos clientes
razoavelmente abastados. Sempre houve e sempre haverá, quaisquer que
sejam os países, indivíduos ricos que constituem a clientela tradicional das
casas de prestígio. Essa clientela móvel mas fiel desloca-se, segundo os
períodos, ao sabor das flutuações geográficas das grandes fortunas:
Inglaterra, Estados Unidos, Oriente Médio, Japão etc. A nova clientela do
luxo é uma clientela abastada e cada vez mais uma clientela de classes
médias, mais sensível ao preço. Ela corresponde a um segmento pouco fiel
à marca, e seu comportamento é volátil; trata-se de um alvo informado e
exigente em relação às marcas. Essa exigência é tanto mais forte no plano
dos produtos e dos serviços quanto as compras dessa clientela serão de
natureza excepcional e, portanto, de alto investimento psicológico.
Por definição, o domínio do luxo é o da excelência e da emoção. Como
diz um dos principais dirigentes do setor, “no domínio do luxo não se deve
enganar no produto, nem na criação e inovação, nem na qualidade, nem no
preço, nem na acolhida”. Nos anos 1980, certas marcas deixaram-se levar e
dominar pela onda de uma procura exponencial, esquecendo esse princípio
básico. Nos anos 1990, elas tiveram de reagir, para comunicar um valor
autêntico à sua clientela, pois se os clientes estivessem convencidos de que
o preço era justificado por valores únicos, então não pediam mais que poder
compartilhar deles e fazê-los seus. Depois, os ciclos da euforia seguidos de
recuos completaram a paisagem, para torná-la ainda mais complexa e
condicional.
a qualidade do serviço
***
da ostentação à emoção
O que é banal está ao alcance pecuniário do grande público, portanto não há mérito em
consumi-lo. Construiu-se sobre essa base todo um código, digamos toda uma tabela das
conveniências estéticas, de um lado, e das abominações estéticas do outro.
A ponte é um caminho que conecta duas margens ou que torna uma descontinuidade contínua,
[...] que conecta o desconectado [...]. A comunicação estava cortada, a ponte a restabelece.
O poço é um buraco, uma rasgadura local em uma variedade [...] mas ele pode conectar
variedades empilhadas.8
Ética estética
Em 1914 não havia vestidos esportivos [...] eles eram acinturados bem baixo, apertados nos
quadris, nas pernas, em toda parte... Inventando o jérsei, eu libertava o corpo, abandonava a
cintura, desenhava uma silhueta nova; para conformar-se a ela, com a ajuda da guerra todas as
minhas clientes ficaram magras, “magra como Coco”... As mulheres vinham a mim comprar
esbelteza.8
Criei a moda durante um quarto de século. Por quê? Porque eu soube exprimir meu tempo [...]
levava uma vida moderna, tinha as maneiras, gostos, necessidades daquelas a quem vestia; fiz
a moda justamente porque eu saía, porque fui a primeira a viver a vida do século.9
Assim, Chanel recusa-se a fazer bolsos nos quais não se possa introduzir
as mãos, botões puramente decorativos e sem verdadeiras casas. Ela cuida
para que suas saias permitam grandes passadas e que as cavas e as costas
das roupas sejam suficientemente largas para facilitar os movimentos.
Escolheu o jérsei e o crepe por sua maleabilidade. Daí a primeira dimensão
semiótica do look Chanel, que tem como conteúdo narrativo recorrente a
conquista da liberdade individual, o próprio emblema da modernidade
conjugado no feminino. As diferentes figuras do look Chanel falam,
portanto, de um tema: a mulher moderna e sua busca de liberdade.
Segunda dimensão: as peças e os materiais utilizados não têm sentido no
universo da época senão em oposição ao da moda feminina: o trabalho e o
vestuário masculino. Assim, os significantes do trabalho e da masculinidade
(jérsei, calça, colete, tweed, boina, gravata, boné, capote, blusa à marinheira
etc.) foram escolhidos por estar associados aos significados contrários: o
luxo e o feminino. Há, portanto, inversão dos significantes e dos
significados da identidade sexual socialmente definida à época. Foi graças a
essa inversão que Chanel dotou-se de uma identidade distintiva e singular.
A resposta ao “como” único é desde então formulada como guia da
transição estilística; as criações deverão responder ao mesmo “como” para
significar ainda e sempre Chanel... Tomar o que significa masculino e
trabalho e transformá-lo em seu contrário, feminino e luxo, reivindicando
valores de liberdade feminina. O talento renovado do criador ou do diretor
artístico da casa Chanel pode assim propor reinterpretações pessoais dessa
ética claramente identificada e projetar novas execuções desse sistema de
valores, em sintonia com a época... Liberdade hoje mais afirmada e
reivindicada, mais agressiva ou mais lúdica e descompassada! Então se
compreende perfeitamente o aceno feito em 1993 pela Chanel para o slip
Canguru, símbolo perfeito do trabalhador comum masculino que, marcado
com os “2 C”, torna-se luxo feminino.
O look Chanel não é passível de análise unicamente no plano figurativo,
por signos de identificação, mas também no plano plástico, na organização
e na combinação dos elementos que compõem a silhueta como sistema de
conjunto. Quando se compara a silhueta “Chanel” às referências da época, a
de Poiret nos anos 1920 e a de Dior dos anos 1950,10 ela se caracteriza por
quatro elementos: 1) um efeito de delimitação; 2) a predominância da
linearidade; 3) a localização das massas circunscrita aos acessórios; 4) o
cromatismo.
• O efeito de delimitação: o look Chanel produz o efeito de delimitação
da forma geral. Esse efeito se produz pelo ataque muito franco da silhueta
graças à ponta preta dos escarpins. Solo e silhueta são dissociados. Se o
bege do escarpim alonga a perna, a ponta preta sublinha a estrutura fechada
do conjunto do look. O mesmo cuidado de delimitação traduz-se pela
clareza do desenho do penteado: cabelos curtos, catogan, canotier, boné,
boina.
• A linearidade: o privilégio é dado à linha. Ela se traduz pelos alamares
do tailleur, o desenho da gola, a delimitação dos bolsos e pela presença de
um cinto, do caimento do traje garantido por uma “chumbagem” dos
casacos graças a uma corrente dourada costurada sobre o forro. Esse
privilégio dado à linha assegura o recorte da silhueta e sua situação no
espaço.
• A localização das massas: onde se encontram os acessórios, camélia,
pulseiras, colares, agrafes, broches, pendentifs, cascatas de pérolas, corrente
etc., todos elementos perfeitamente delimitados, mas sempre abundantes.
• O cromatismo: o cromatismo de Chanel é particular; tira partido da luz
através das cores das roupas e dos acessórios. As roupas são apresentadas
nos tons de bege, azul-marinho, branco ou preto. Os acessórios contam com
o ouro dos cintos e dos agrafes, o cinza das pérolas, o brilho dos diamantes
montados em platina, a cor cambiante das pedrarias.
continuidades e descontinuidades
Eu me pergunto por que me lancei nessa profissão, por que fiz figura de revolucionária. Não
foi para criar o que me agradava, mas sim para tornar fora de moda o que me desagradava...
Usei meu talento como explosivo.15
Depois, Thierry Mugler juntou-se ao comitê Colbert em 1996-97. O grupo de cosméticos Clarins,
que controla a sociedade, anunciava, no fim de 2002, o termino das atividades do pólo de costura de
Thierry Mugler.
tabela 2: data de criação das casas de
costura e de prêt-à-porter
Fonte: McKinsey, “Douze propositions pour étendre le leadership des marques françaises”, op. cit., p.
5-2, e igualmente Hubert Joly (1991). “Industrie du luxe: rebondir sur la crise, leviers pour le succès
des années 1990”, Revue française du marketing, 132-33, p. 100.
* Data de lançamento do prêt-à-porter e não da casa; a Hermès foi fundada em 1837 e a Gucci em
1920, por exemplo.
Notas
1. Sobre todos esses pontos, ver a análise clássica de Marshall Sahlins, Âge de pierre, âge
d’abondance, Paris, Gallimard, 1976, pp. 37-81.
2. Bronislaw Malinowski, Les Argonautes du Pacifique occidental, Paris, Gallimard, 1989. [Em
português, Os argonautas do pacífico ocidental, trad. Anton P. Carr e Ligia Aparecida Cardieri
Mendonça, São Paulo, Abril Cultural, 1984.]
3. Marcel Mauss, Essai sur le don [1924], in Sociologie et anthropologie, Paris, P. U. F., 1960, pp.
197-202. [Em português, “Ensaio sobre a dádiva”, em Sociologia e Antropologia, trad. Paulo Neves,
São Paulo, Cosac & Naify, 2003.]
4. Georges Bataille, La Part maudite [1967], Paris, Éd. du Seuil, col. “Points”, p. 123. [Em
português, A parte maldita, trad. Júlio Castañon Guimarães, Rio de Janeiro, Imago, 1975.]
5. Essa é a problemática desenvolvida por G. Bataille, ibid., pp. 57-83.
6. Reconheceu-se a definição da sociedade tradicional segundo Louis Dumont, Homo aequalis,
Paris, Gallimard, 1977; igualmente, Claude Lévi-Strauss, Les Structures élémentaires de la parenté
[1967], Paris e Haia, Mouton, reed. 1981, pp. 49-79. [Em português: Louis Dumont, Homo aequalis,
trad. José Leonardo Nascimento, Bauru, Edusc, 2000; e Claude Lévi-Strauss, As estruturas
elementares do parentesco, trad. Mariano Ferreira, Rio de Janeiro, Vozes, 2003.]
7. Pierre Clastres, La Société contre l’État, Paris, Éd. de Minuit, 1974. [Em português, A
sociedade contra o Estado, trad. Theo Santiago, São Paulo, Cosac & Naify, 2003.]
8. Karl Polanyi, La Grande Transformation, Paris, Gallimard, 1983, pp. 71-86; igualmente, K.
Polanyi, C. M. Arensberg e H. W. Pearson, Les Systèmes économiques dans l’histoire et dans la
théorie, Paris, Larousse, 1975. [Em português: Karl Polanyi, A grande transformação, trad. Fanny
Wrobel, Rio de Janeiro, Campus, 1988.]
9. M. Mauss, Essai sur le don, op. cit., pp. 214-27 e pp. 164-9; sobre o sentido do potlatch entre
os Kwakiutl, ver Marshall Sahlins, “Les cosmologies du capitalisme”, Le Débat, no 118, janeiro-
fevereiro de 2002, pp. 182-6.
10. M. Mauss, Essai sur le don, op. cit., p. 165.
11. Roger Caillois, L’Homme et le Sacré, Paris, Gallimard, col. “Idées”, pp. 123-62. [Em
português, O homem e o sagrado, trad. Geminiano Franco, Lisboa, Edições 70, 1988.]
12. Marcel Henaff, Le Prix de la vérité: le don, l’argent, la philosophie, Paris, Éd. du Seuil, 2002,
pp. 145-207. O autor sublinha com razão que a troca de bens preciosos é relação, ato de aliança entre
os parceiros. Mas suas análises não levam em conta os fundamentos mágico-religiosos do fenômeno.
Inseparáveis dos sistemas de pensamento mítico, as distribuições suntuárias não se reduzem a
processos de reconhecimento inter-humano, têm igualmente por finalidade assegurar os ciclos de
reencarnação, a incorporação de poderes cósmicos e sagrados, cf. M. Sahlins, “Les cosmologies du
capitalisme”, art. citado.
13. M. Mauss, Essai sur le don, op. cit., pp. 277-9; M. Sahlins, Âge de pierre, âge d’abondance,
op. cit., pp. 221-36; Lévi-Strauss escreve igualmente: “As trocas são guerras pacificamente
resolvidas, as guerras são o desfecho de transações malsucedidas”, Les Structures élémentaires de la
parenté, op. cit., p. 78.
14. Nas sepulturas do paleolítico superior aparecem já objetos de adorno e maquiagens funerárias.
No começo do neolítico, os santuários (Çatal Hüyük, entre 6500 e 5600 a. C.) são ornados de uma
rica decoração mural e guarnecidos de figuras de pedra ou de argila com destinação religiosa.
Desigualdades no mobiliário existem, sem que se saiba se são marcas de “classes” sociais, de
autoridades religiosas ou de distinções prestigiosas adquiridas ao longo da vida. É apenas a partir do
quarto milênio que as sepulturas se mostram sistematicamente diferenciadas, de um lado com tumbas
pobres desprovidas, ou quase, de qualquer oferenda, do outro, túmulos principescos dotados de
cerâmicas finas, de jóias preciosas, de armamentos de prestígio.
15. Jacques Cauvin, Naissance des divinités, naissance de l’agriculture, Paris, Flammarion, col.
“Champs”, 1997, pp. 102-4; igualmente, do mesmo autor, “L’apparition des premières divinités”, La
Recherche, no 194, 1987, pp. 1472-80.
16. Erik Hornung, Les Dieux de l’Égypte, Paris, Flammarion, col. “Champs”, 1992, pp. 210-1.
17. Jean Bottéro, La plus vieille religion, Paris, Gallimard, 1997, pp. 113-5.
18. Ibid., pp. 229-66.
19. Erik Hornung, L’Esprit du temps des pharaons, Paris, Hachette-Pluriel, 1996, pp. 79-92.
20. Sobre a teorização geral do papel do Estado em relação à dinâmica histórica, ver Marcel
Gauchet, Le Désenchantement du monde, Paris, Gallimard, 1985, pp. 26-46.
21. Paul Veyne, Le Pain et le Cirque. Sociologie historique d’un pluralisme politique, Paris, Éd.
du Seuil, col. “Points”, 1976.
22. Marc Bloch, La Société féodale, Paris, Albin Michel, 1930, pp. 432-3.
23. Norbert Elias, La Société de cour, Paris, Calmann-Lévy, 1974. Para uma visão sintética e
atualizada da máquina curial, Jacques Revel, “La Cour”, in Les Lieux de mémoire (sob a direção de
Pierre Nora), Paris, Gallimard, col. “Quarto”, 1997, vol. iii, pp. 3141-97. [Em português, Norbert
Elias, A sociedade da corte, trad. Pedro Süssekind, Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2001.]
24. Orest Ranum, “Les refuges de l’intimité”, in Histoire de la vie privée, t. 3, Paris, Éd. du Seuil,
col. “Points”, 1985, pp. 246-8. [Em português, História da vida privada, vol. 3, trad. Hildegard Feist,
São Paulo, Companhia das Letras, 1991.]
25. Philippe Ariès, L’homme devant la mort, Paris, Éd. du Seuil, 1977, pp. 133-8. [Em português,
O homem diante da morte, trad. Luiza Ribeiro, Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1981-2.]
26. Georges Duby, Le Temps des cathédrales, Paris, Gallimard, 1976, pp. 221-327. [Em
português, O tempo das catedrais, trad. José Saramago, Lisboa, Estampa, 1993.]
27. Krzysztof Pomian, Collectionneurs, amateurs et curieux. Paris, Venise: XVIe-XVIIIe siècle,
Paris, Gallimard, 1987.
28. Odile Blanc, Parades et parures. L’invention du corps de mode à la fin du Moyen Âge, Paris,
Gallimard, 1997, pp. 21-36.
29. Para uma análise mais detalhada, permito-me remeter à minha obra, L’Empire de l’éphémère.
La mode et son destin dans les sociétés modernes, Paris, Gallimard, 1987, pp. 55-79. [Em português,
O império do efêmero: a moda e seu destino nas sociedades modernas, trad. Maria Lúcia Machado,
São Paulo, Companhia das Letras, 1989.]
1. Sobre Worth e a alta-costura, ver Diana De Marly, Worth, Father of Haute Couture, Londres,
Elm Tree Books, 1980; da mesma autora, The History of Couture, 1850-1950, Londres, Batsford,
1980; igualmente, G. Lipovetsky, L’Empire de l’éphémère, op. cit., 1a parte, cap. ii.
2. Daum é fundada em 1875 e Lalique em 1910, Boucheron em 1858, S. T. Dupont em 1872,
Hermès em 1837, Louis Vuitton em 1854, Guerlain em 1828, Jeanne Lanvin em 1889. Boucheron
instala-se na place Vendôme em 1893, Cartier em 1899.
3. O casamento da alta-costura com a indústria moderna traduz-se igualmente por seus vínculos
com o perfume. A partir do começo do século xx, os costureiros vão lançar perfumes ou estarão
associados a eles: Poiret em 1914 com o “Fruit défendu” (para a casa Rosine), Chanel em 1921 com
o No 5.
4. Didier Grumbach, Histoires de la mode, Paris, Éd. du Seuil, 1993.
5. Philippe Perrot, Le Luxe. Une richesse entre faste et confort, XVIIIe-XIXe siècle, Paris, Éd. du
Seuil, 1995, pp. 125-56.
6. Michael B. Miller, Au Bon Marché, 1869-1920, Paris, Armand Colin, 1987, p. 181. Sobre os
grandes magazines nos Estados Unidos, William Leach, Land of Desire, Nova York, Vintage, 1993.
7. Elyette Roux e Jean-Marie Floch, “Gérer l’ingérable: la contradiction interne de toute maison
de luxe”, Décisions Marketing, no 9, setembro-dezembro de 1996.
8. Segundo um estudo do banco Merryll Linch, contavam-se no mundo, em 2000, 7,2 milhões de
pessoas possuidoras de mais de um milhão de dólares em poupança. No presente, 57 mil pessoas
detêm um patrimônio financeiro superior a 30 milhões de dólares.
9. O fenômeno ultrapassa os setores da moda e do perfume: a bmw prevê comercializar vinte
novidades ao longo dos seis próximos anos.
10. Elyette Roux, “Le luxe: entre prestige et marché de masse”, Décisions Marketing, no 1,
janeiro-abril de 1994.
11. Bruno Rémaury, “Luxe et identité culturelle américaine”, Revue française du marketing, no
187, 2002, pp. 49-60.
12. Danielle Allérès, Luxe... Stratégies—Marketing, Paris, Economica, 1997, pp. 5-6. [Em
português, Luxo: estratégias, marketing, trad. Mauro Gama, Rio de Janeiro, fgv, 2000.]
13. Thorstein Veblen, Théorie de la classe de loisir [1899], trad. do inglês por L. Évrard, Paris,
Gallimard, col. “Tel”, 1970, p. 27. [Em português, A teoria da classe ociosa, trad. Olivia Krahenbuhl,
São Paulo, Abril Cultural, 1983.]
14. Em uma perspectiva aristocrática, Nietzsche sublinha o “prazer de saber-se diferente”, Par-
delà le Bien et le Mal, parágrafo 260. [Em português, Além do bem e do mal, trad. Paulo César de
Souza, São Paulo, Companhia das Letras, 1992.]
15. Por exemplo, Saphia Richou e Michel Lombard, Le Luxe dans tous ses états, Paris,
Economica, 1999, cap. viii.
16. Pierre Bourdieu, La Distinction, Paris, Éd. de Minuit, 1979, pp. 198-230.
17. Sobre essas denominações, ver Roger Caillois, Les Jeux et les Hommes, Paris, Gallimard,
1967.
18. Robert Reich informa que a segurança privada é um dos setores de atividade cujo crescimento
é mais rápido nos Estados Unidos: “Em 1990, os guardas privados formavam 2,6% da população
ativa total, uma proporção duas vezes maior que em 1970” (L’ Économie mondialisée, Paris, Dunod,
1993).
19. David Le Breton, Passion du risque, Paris, Métailié, 1991, pp. 130-61.
3. A feminização do luxo
1. Claude Lefort, “L’échange et la lutte des hommes”, in Les Formes de l’histoire, Paris,
Gallimard, 1978. [Em português, As formas da história, trad. Luiz Roberto Salinas Fortes, São Paulo,
Brasiliense, 1979.]
2. Sobre esse ponto, a segunda parte de minha obra, L’Empire de l’éphémère, op. cit.
3. Bernard Arnault, “The Perfect Paradox of Star Brands”, Harvard Business Review, outubro de
2001, vol. 79.
4. Mircea Éliade, Aspects du mythe, Paris, Gallimard, 1963. [Em português, Aspectos do mito,
trad. Manuela Torres, Lisboa, Edições 70, 1963.]
5. Jean-Paul Aron, Le Mangeur du XIXe siècle, Paris, Robert Laffont, 1973.
1. McKinsey, “Douze propositions pour étendre le leadership des marques françaises”, McKinsey
—comitê Colbert, 1990.
2. Eurostaf, “L’industrie mondiale du luxe: l’impératif de la création face à la banalisation des
marchés”, 1992; id., “L’industrie mondiale du luxe: perspectives stratégiques et financières”, 1995.
3. P. N. Giraud, O. Bomsel e E. Fieffé-Prévost, “L’industrie du luxe dans l’économie française”,
Cerna e Ministério da Indústria—comitê Colbert, 1995.
4. R. Burnel, “La filière luxe. Rapport du Conseil économique et social”, Journal Officiel de la
République, no 4, 13 de fevereiro de 1996.
5. H. Baudrillart, Histoire du luxe privé et public de l’Antiquité jusqu’à nos jours, Paris Hachette,
4 volumes, 1878-80.
6. P. Perrot, Le Luxe: une richesse entre faste et confort, XVIIIe-XIXe siècle, Paris, Éd. du Seuil,
1995.
7. T. Veblen, Théorie de la classe de loisir [1899], Paris, Gallimard, trad. do inglês por L. Évrard,
1970.
8. J. Sekora, Luxury: the Concept in Western Thougth. Eden to Smollet, Johns Hopkins University
Press, 1977.
9. C. Berry, The Idea of Luxury: a conceptual and historical investigation, Cambridge University
Press, 1994.
10. Ver, por exemplo, J.-N. Kapferer, Les Marques, Capital de l’entreprise, Paris, Éditions
d’Organisation, 1995. [Em português, As marcas, capital da empresa, trad. Arnaldo Ryngelblum,
Porto Alegre, Bookman, 2004.]
11. P. N. Giraud, O. Bomsel e E. Fieffé-Prévost, “L’industrie du luxe dans l’économie française”,
op. cit., p. 7. Para uma discussão desses valores, pode-se remeter igualmente a S. Richou e M.
Lombard, Le Luxe dans tous ses états, Paris, Economica, 1999.
12. Estimativa para o ano 2000, segundo a McKinsey.
13. A marca Montana, adquirida em 1995, foi cedida pela Clarins em 2000.
14. C. Blanckaert, Les Chemins du Luxe, Paris, Grasset, 1996, p. 28.
15. Estima-se que o montante da compra das duas marcas é ligeiramente inferior ao da Tag Heuer
(747 milhões de dólares), enquanto a Chaumet fora vendida por seu proprietário anterior ao
Investcorp por 6 milhões de dólares em 1987. O grupo lvmh possuía já as marcas Fred (para as jóias)
e Zénith (para os relógios).
16. As estimativas são publicadas, por exemplo, na Business Week, “The 100 Top Brands”,
Interbrand, 6 de agosto de 2001, pp. 60-4. Para o leitor interessado, o valor da marca calculado pela
Interbrand leva em conta os seguintes critérios: a liderança da marca no mercado, sua estabilidade, a
evolução desse mercado, sua dimensão internacional, os investimentos de apoio e de proteção da
marca. A “força” da marca é avaliada em função de seus desempenhos em cada quesito, ponderados
por importância. As análises da Interbrand aplicam em seguida um “múltiplo” a esse placar, ele
próprio aplicado aos rendimentos da marca, a fim de calcular-lhe o valor.
17. McKinsey, “Douze propositions pour étendre...”, op. cit.
18. Conferência de Christophe Navarre, então presidente da Hennessy, “Les ateliers du luxe.
Nouveaux comportements de consommation et paradoxes du marketing”, Associação Nacional para a
Valorização Interdisciplinar da Pesquisa em Ciências do Homem e da Sociedade junto às Empresas,
Paris, 20 de junho de 2000, da qual tive o prazer de responder pela presidência científica.
19. Cofremca, “Rapport sur le luxe et l’évolution des mentalités”, Cofremca—comitê Colbert,
1992.
20. B. Dubois, G. Laurent, “The Functions of Luxury: a situacional approach to excursionism”,
24e Conférence Annuelle de l’European Marketing Academy (16-19 de maio de 1995), Essec, Cergy-
Pontoise.
21. Eurostaf, L’Industrie mondiale du luxe: l’impératif de la création face à la banalisation des
marchés, 1992; H. Joly, “Industrie du luxe: rebondir sur la crise. Leviers pour le succès dans les
années 90”, Revue française du marketing, nos 132-3, pp. 97-109, a partir do relatório McKinsey,
“Douze propositions pour étendre...”, op. cit.; ver igualmente o relatório Cofremca já citado sobre “o
luxo e a evolução das mentalidades”.
22. Giorgio Armani, Borgonuovo, G. Armani Le Collezioni, Mani, Emporio Armani, Armani
Jeans, A/X (Armani Exchange), sem contar a criança, o esporte ou as roupas íntimas, ou as outras
extensões da marca com os perfumes (via grupo L’Oréal), os relógios e acessórios ou ainda a
decoração de interiores.
23. A esse respeito, ver o capítulo iii sobre a identidade de marca.
24. H. Simon, “Le prix optimal: un concept majeur”, Décisions Marketing, 1993, no 0, pp. 35-45.
25. Todos os mercados e setores misturados, inclusive o não-luxo.
26. Setembro de 1991 a novembro de 1992, e compilação a partir das novidades 2000-2001,
Cosmétique Magazine, julho-agosto de 2001.
27. Analisaremos o caso dessa exceção no capítulo sobre a identidade de marca.
28. Fonte: Cosmétique Magazine, julho-agosto de 2002, pp. 64-5.
29. Fonte: Fabricante, a partir de análises de dados de amostragem de vendas em valor, para 1999.
30. O marketing-mix recobre a combinação e a dosagem coerente dos diferentes meios de ação do
marketing (produto, preço, força de venda, circuito de distribuição, comunicação). O mix-produto
corresponde à interação das decisões que correspondem ao conceito do produto, seu posicionamento
e embalagem, igualmente chamada acondicionamento, por exemplo.
31. Dados dos fabricantes para 1997.
32. P. Bousquet Chavanne, “How Recession Proof is The Luxury Industry? The first panel makers
conference”, Essec., Nova York, 24 de abril de 2002.
33. Com base em dados de 1999, para a parte prêt-à-porter de ck e não para seus perfumes, que
são concedidos à Unilever.
34. P. Desmet, Promotion des ventes, Paris, Nathan, 1992.
35. D. Aaker, Managing Brand Equity, Nova York, The Free Press, 1991. [Em português, Marcas,
Brand Equity: gerenciando o valor da marca, trad. André Andrade, São Paulo, Negócio, 1998.]
36. Dodson et al, “The Impact of Deals and Deal Retraction on Brand Switching”, Journal of
Marketing Research, 15, 1978, pp. 72-81.
37. S. Davis et al, “Promotion Has a Negative Effect on Brand Evaluation — or Does Not It?
Additional disconfirming evidences”, Journal of Marketing Research, 21, 1, pp. 141-8.
38. Fonte: fabricante, novembro de 1998.
39. Ver a esse respeito a obra de Gilles Lipovetsky sobre a moda, L’Empire de l’éphémère. La
mode et son destin dans les sociétés modernes, Paris, Gallimard, 1987, em particular, a primeira parte
dessa obra.
40. Segundo a síntese do estudo: “Les femmes leaders et les circuits non traditionnels”, de Régine
Lemoine-Dartois, Euromap—Upper, efetuado de 15 de fevereiro a 15 de março de 1999, com uma
amostragem de trezentas mulheres européias com altíssimos rendimentos.
41. A título de comparação, o magazine Gap nos Champs-Élysées não totaliza menos de 1,7 mil
m2 de superfície, por um aluguel de 2 milhões de euros por ano.
42. A. Parasuraman et al, “Servqual: une échelle multi-items de mesure des perceptions de la
qualité de service par les consommateurs”, Recherche et applications en marketing, 5, 1, 1990, pp.
19-42.
43. Ver o artigo “fundador” de P. Eiglier, E. Langeard e C. Dageville, “La qualité de service”,
Revue française du marketing, no 121, 1989, pp. 93-100.
1. Comitê Colbert, “Nouveaux regards sur le luxe. Rapport d’activité”, outubro de 1997, p. 5.
2. R. Colonna d’Istria, L’Art du luxe, Paris, Hermé, 1991, p. 35, ou ainda J.-N. Kapferer, Les
Marques, Capital de l’entreprise, op. cit., p. 85, e a exposição de D. Rapoport, “Le luxe: réponse à
quels désirs, à quels besoins”, Rencontres internationales des métiers du luxe (Rime 98), Paris, 26-27
de março de 1998.
3. J. Picoche, Dictionnaire étymologique du français, Paris, Éd. Le Robert, 1986, p. 213, e A.
Rey, Dictionnaire historique de la langue française, Paris, Éd. Le Robert, 1998, t. 2, p. 2072.
4. K. Polanyi, Primitive, Archaic and Modern Economy, Boston, Beacon Press, 1968, e
igualmente La Grande Transformation, Paris, Gallimard, 1983; ver também P. Veyne, Le Pain et le
Cirque: sociologie historique d’un pluralisme politique, Paris, Éd. du Seuil, 1976, p. 73. Pode-se
ilustrar esse ponto pelos seguintes trechos: “Ora, Cícero o diz: o povo romano detesta o luxo privado,
mas aprova o luxo com que se beneficia o público. O luxo imperial não será apenas consumo egoísta;
será também o de um evérgeta que dá espetáculos à sua capital” (p. 637); da mesma maneira, a
esmola está no centro da moral cristã: “Os cristãos perfeitos fogem do mundo da carne, outros
cristãos mais numerosos resgatarão sua alma pela esmola e pelos legados à Igreja [...]. Deus
prescreveu que os ricos dêem” (p. 62).
5. B. Mandeville, La Fable des abeilles ou les vices privés font le bien public, Paris, Vrin (ed.
original, 1714), i, 1990, p. 108. Ver igualmente P. Carrive, Bernard Mandeville: passions, vices,
vertus, Paris, Vrin, 1980.
6. Citado por P. Perrot, Le Luxe: une richesse entre faste et confort, op. cit., p. 34, por R. Burnel,
“La filière luxe”, art. citado, 1996, p. 8 e A. Rey, Dictionnaire historique..., op. cit., p. 2072.
7. Grand Larousse em 5 vol., vol. 2, 1991, p. 1902.
8. P. Perrot, “De l’apparence au bien-être: les avatars d’un superflu nécessaire”, em J.-P. Goubert,
Du luxe au confort, Paris, Belin, 1988, p. 46.
9. G. Simmel, “L’individualisme moderne” [1917], em Philosophie de la modernité, Paris, Payot,
1989, pp. 281-322. Ver igualmente na mesma obra o capítulo sobre a moda.
10. T. Veblen, Théorie de la classe de loisir, op. cit., pp. 105-6.
11. R. Burnel, “La filière luxe”, art. citado, 1996, p. 68. No anexo i, encontram-se as datas de
criação das casas membros do comitê Colbert.
12. De fato, foi em 1995, como desenvolveremos mais adiante, que a indústria do luxo dotou-se
de uma definição de seu perímetro como o de um conjunto de marcas (ver pp. 146 segs.).
13. R. Rochefort, La Société des consommateurs, Paris, Odile Jacob, 1995; ver igualmente Le
Consommateur entrepreneur, Paris, Odile Jacob, 1997, e, para uma abordagem de historiador, F.
Caron, Les Deux Révolutions industrielles du XXe siècle, Paris, Albin Michel, 1997.
14. J. Baudrillard, Le Système des objets, Paris, Gallimard, 1968, e La Société de consommation,
ses mythes, ses structures, Paris, Denoël, 1970; reed. Gallimard, col. “Folio Essais”. [Em português,
O sistema dos objetos, trad. Zulmira Ribeiro Tavares, São Paulo, Perspectiva, 1973; e A sociedade de
consumo, Lisboa, Edições 70, 1975.]
15. P. Bourdieu, La Distinction. Critique sociale du jugement, Paris, Éd. de Minuit, 1979.
16. G. Simmel, “La mode” [1923], em Philosophie de la modernité, op. cit., p. 169.
17. P. Bourdieu, La Distinction, op. cit., p. 275.
18. Ibid.
19. Ibid., p. 317.
20. Encontramos essa lógica levada a seu paroxismo no romance de Bret Easton Ellis, American
Psycho [O psicopata americano] (1990), que causou escândalo na época por sua extrema violência,
sendo considerado uma crítica feroz dos anos Reagan e da supremacia das marcas. Retomaremos
aqui, a título de exemplo, uma das múltiplas listas de marcas que pontuam a descrição dos
personagens quando de sua entrada em cena: “Há quatro mulheres na mesa em frente [...] uma delas
usa um vestido chemisier reversível de lã Calvin Klein, uma outra um vestido de tricô com laços de
faille de seda Geoffrey Beene, uma outra uma saia simétrica de tule plissado com um bustiê de
veludo bordado Christian Lacroix e escarpins com saltos altos Sidonie Laizzi, e a última tem um
vestido bustiê com lantejoulas, sob uma jaqueta acinturada de crepe de lã Bill Blass”. Pode-se
também ler a respeito desse romance na história da literatura americana: “O ar do tempo é
inteiramente indicado pelas marcas (de sapatos, de whiskies, de vídeo), todas de luxo”, em Pierre-
Yves Pétillon, Histoire de la littérature américaine. Notre demi-siècle, Paris, Fayard, 1992, p. 664.
21. M. Maffesoli, La Contemplation du monde, figures du style communautaire, Paris, Grasset,
1993; ver igualmente do mesmo autor, Éloge de la raison sensible, Paris, Grasset, 1996, bem como a
obra de referência sobre o termo, depois muito na moda, “tribo”: Le Temps des tribus, le déclin de
l’individualisme dans les sociétés de masse, Paris, Méridiens Klincksieck, 1988; reed. Le Livre de
poche, 1990. [Em português, respectivamente: A contemplação do mundo, trad. Francisco Franke
Settineri, Porto Alegre, Artes e Ofícios, 1995; Elogio da razão sensível, trad. Albert Cristophe
Migueis Stuckenbruck, Petrópolis, Vozes, 2005 (3a ed.); O tempo das tribos: o declínio do
individualismo nas sociedades de massa, trad. Maria de Lourdes Menezes, Rio de Janeiro, Forense
Universitária, 2000 (3a ed.).]
22. Le Temps des tribus, op. cit. É preciso observar que, em sua obra, Maffesoli usa a noção de
tribo como uma metáfora.
23. J.-F. Lyotard, La Condition postmoderne, Paris, Éd. de Minuit, 1979. [Em português, A
condição pós-moderna, trad. Ricardo Corrêa Barbosa, Rio de Janeiro, J. Olympio, 1998 (5a ed.).]
24. Desenvolveremos amplamente esse ponto no trecho referente à especificidade das marcas de
luxo e naquele referente à identidade.
25. G. Lipovetsky, La Troisième Femme. Permanence et révolution du féminin, Paris, Gallimard,
1997, p. 138.
26. G. Lipovetsky, L’Empire de l’éphémère, op. cit., e Le Crépuscule du devoir. L’éthique
indolore des nouveaux temps démocratiques, Paris, Gallimard, 1992; ver igualmente as análises do
antropólogo D. Le Breton, Anthropologie du corps et modernité, Paris, P. U. F., 2001 (2a ed.), e do
sociólogo J.-F. Amadieu, Le Poids des apparences. Beauté, amour et gloire, Paris, Odile Jacob, 2002.
27. A participação do vestuário nas despesas dos lares franceses baixou à metade em quarenta
anos, de 11% em 1960 para 5,1% em 2000 (fonte Insee).
28. B. Rémaury, “Une mode entre deux décennies”, Repères mode et textile, Institut français de la
mode, 1996, p. 63.
29. M. Maffesoli, Au creux des apparences. Pour une éthique de l’esthétique, Paris, Plon, 1990.
[Em português, No fundo das aparências, trad. Bertha Halpern Gurovitz, Petrópolis, Vozes, 1999 (2a
ed.).]
30. G. Lipovetsky, La Troisième Femme, op. cit., p. 135.
31. Na publicidade da primavera de 1999 para “Dior Body Light”, lê-se: a esbelteza de alta
definição produz os três benefícios seguintes: 1) despertar do sistema esbelteza; 2) ataque direto dos
excessos; 3) efeito prolongado, produzindo uma “eficácia provada por testes científicos
rigorosamente controlados: 93% das mulheres interrogadas notaram um efeito sobre a celulite; 96%
notaram um efeito sobre a firmeza” (Publicidade de imprensa para revistas femininas, abril de 1999).
32. G. Mermet, Francoscopie, Paris, Larousse, 1998 e 2001.
33. G. Lipovetsky, La Troisième Femme, op. cit., pp. 142-3.
34. M. Maffesoli, Le Temps des tribus, op. cit., p 135.
35. Testemunho do cuidado consigo, Mermet sublinha que na França, por exemplo, quase 200 mil
pessoas freqüentaram um centro de talassoterapia, ou seja, duas vezes mais que há dez anos, assim
como duplicaram as visitas a estações termais entre 1958 (265 mil pessoas) e 1996 (600 mil pessoas)
(Francoscopie, op. cit., p. 124).
36. O comitê Colbert foi criado em 1954 em torno de quinze casas, hoje reúne 75 delas, cuja lista
é apresentada em anexo.
37. P. N. Giraud, O. Bomsel e E. Fieffé-Prévost, “L’industrie du luxe dans l’économie française”,
art. citado.
38. R. Burnel, “La filière luxe”, art. citado.
39. McKinsey, “Deux propositions pour étendre...”, op. cit.
40. P. N. Giraud, O. Bomsel e E. Fieffé-Prévost, “L’industrie du luxe...”, art. citado, p. 3.
41. O leitor que quiser aprofundar a noção de representação pode remeter-se a J.-C. Abric, “Les
représentations sociales, aspects théoriques”, Pratiques sociales et représentations, Paris, P. U. F.,
1994. Nos desenvolvimentos atuais em psicologia social, uma representação é definida como “uma
visão funcional do mundo, que permite ao indivíduo ou ao grupo dar um sentido às suas condutas e
compreender a realidade através de seu próprio sistema de referência e, portanto, adaptar-se a ele,
nele definir um lugar para si” (ibid., p. 13), ou ainda: “uma forma de conhecimento, socialmente
elaborada e partilhada, tendo uma intenção prática e concorrendo para a construção de uma realidade
comum a um conjunto social” (D. Jodelet, “Représentations sociales, un domaine en expansion”, em
D. Jodelet [ed.], Les Représentations sociales, Paris, P. U. F., 5a ed., p. 36). [Em português, As
representações sociais, trad. Lilian Ulup, Rio de Janeiro, uerj, 2001.] É, portanto, um sistema
(organizado) sociocognitivo que não se reduz apenas a “imagens, conceitos, sensações”, como os
autores sugerem.
42. E. Roux, “Comment se positionnent les marques de luxe”, Revue française du marketing, no
132-3, 1991, pp. 111-8.
43. Para mais informações referentes aos objetivos desses métodos de pesquisa, podemos remeter-
nos a Y. Évrard, B. Pras e E. Roux, Market. Études et recherches en marketing, Paris, Dunod, 2000.
44. Cofremca, “Rapport sur le luxe et l’évolution des mentalités”, op. cit.
45. Risc (Research Institut on Social Change), Estudo Imagem, sobre as representações e os
consumidores do luxo, outubro de 1993, 1995, 2000 e 2001.
46. P. Degrave, “Quelle conception du luxe pour s’adapter aux moeurs du troisième millénaire?”,
Comunicação ao Rime 98 (26-27 de março de 1998), Versalhes. Patrick Degrave é diretor-geral da
Cofremca Sociovision.
47. Ver a esse respeito os progressos de meu colega Bernard Cova, Au-delà du marché: quand le
lien importe plus que le bien, Paris, L’Harmattan, 1995.
48. Podemos remeter-nos à obra muito didática de meu outro colega Patrick Hetzel sobre as
aplicações pós-modernas no marketing: Planète Conso, Marketing expérientiel et nouveaux univers
de consommation, Paris, Éditions d’Organisation, 2002.
49. Relembremos apenas que os modelos experienciais em marketing foram desenvolvidos desde
os anos 1980, em particular com M. Holbrook e E. Hirschman, “The Experential Aspects of
Consumption: consumer fantaisies, feelings and fun”, Journal of Consumer Research, 9, 1982, pp.
132-40. Para uma síntese recente das pesquisas em marketing sobre as “experiências” dos
consumidores, podemos referir-nos a M. Filser, “Le marketing de la production d’expérience: statut
théorique et implication managériales”, Décisions Marketing, 28, 2002, pp. 13-22.
50. Nesse caso, infelizmente nenhuma referência é feita às análises de Max Weber ou ainda às de
Gauchet!
51. A clientela do luxo: Europa, Estados Unidos, Japão. Compilação segundo o Risc (estudos de
outubro de 1994 e 2000), com uma amostragem de 12,5 mil pessoas na Europa (França, Itália,
Alemanha, Inglaterra, Espanha) e de 3 mil pessoas nos Estados Unidos e no Japão. São considerados
clientes do luxo os entrevistados que compraram pelo menos uma marca de luxo ao longo dos dois
últimos anos.
52. Para a Europa, esses montantes ganham ainda três pontos em 2001, passando de 60 a 63%.
Em outubro de 2001, a França inclui 64% de pessoas que compraram pelo menos uma marca de luxo
nestes dois últimos anos.
53. Fonte Risc 2002 para os perfumes, os produtos de maquiagem ou de cuidado; as porcentagens
correspondem às consumidoras que compraram uma marca de luxo nos últimos doze meses.
54. Estudo anual simm 2000 Interdeco, Taylor Nelson, Sofrès, Sécodip, com uma amostragem de
9975 pessoas.
55. Essa “equação” é estabelecida comparando as respostas às perguntas de notoriedade assistida
das marcas: “Eis um certo número de marcas de luxo... Pode me indicar todas as que conhece pelo
menos de nome?” e de sonho: “Imagine que você ganhasse a possibilidade de escolher um belíssimo
presente. Entre todas as marcas que conhece, quais são as cinco que lhe dariam mais prazer?”.
56. Fonte Risc 2000, C. Paternault, “Le marché du luxe”, a partir de estudo Risc Imagem 1994 e
2000, D. Weber e B. Dubois, “The Edge of Dream: managing brand equity in the European luxury
market”, documento de pesquisa, H. E. C., 1995; enfim, B. Dubois e C. Paternault, “The Dream
Formula”, Journal of Advertising Research, agosto de 1995, pp. 69-76.
1. Este capítulo fora começado com Jean-Marie Floch, a partir de seus trabalhos sobre a
identidade da Chanel, dos quais certas análises são apresentadas em sua obra sobre as identidades
visuais (op. cit.). A escrita comum desse capítulo revisitado foi infelizmente interrompida por sua
morte prematura.
2. Segundo o estudo Risc Imagem 2000, realizado, relembremos, com uma amostragem de 12,5
mil pessoas na Europa (Alemanha, Inglaterra, Espanha, França, Itália) e de 3 mil nos Estados Unidos
e no Japão.
3. Os vinte artistas mais marcantes do século, segundo a Times, são P. Picasso, Le Corbusier, C.
Chanel, J. Joyce, T. S. Eliot, C. Chaplin, S. Spielberg, M. Brando, I. Stravinsky, os Beatles, B. Dylan,
A. Franklin, L. Armstrong, F. Sinatra, Rodgers e Hammerstein, Lucille Ball, J. Henson, O. Winfrey,
M. Graham, B. Simpson (o herói de desenhos animados dos anos 1990!), vol. 151, no 23, p. 3.
4. “A liberdade e a postura: ética e estética do total look de Chanel”, em J.-M. Floch, Identités
visuelles, op. cit., pp. 108-44.
5. Essas pranchas são igualmente reproduzidas às pp. 109 e 110, ibid., assim como em F. Baudot,
Chanel, Paris, Éd. Assouline, 1996, memória da moda (sem número de página). [Em português,
Chanel, trad. Eloisa Araújo Ribeiro, São Paulo, Cosac & Naify, 1999.]
6. F. Baudot, Chanel, op. cit. (sem número de página).
7. Citado em J.-M. Floch, Identités visuelles, op. cit., p. 112, e igualmente, em C. Delay, Chanel
solitaire, Paris, Gallimard, 1983, p 117.
8. P. Morand, L’Allure de Chanel, Paris, Herman, 1976, pp. 45-6.
9. Ibid., p. 138.
10. Sobre a silhueta “Dior” e sobre o estilo de Christian Dior, podemos remeter-nos a M.-F.
Pochna, Christian Dior, Paris, Flammarion, 1994, ou à monografia que ela também consagrou a ele,
nas Éditions Assouline (1996). [Em português, Dior, trad. Carlos Sussekind, São Paulo, Cosac &
Naify, 2000.]
11. H. Wölfflin, Principes fondamentaux de l’histoire de l’art [1916], última ed. francesa, Gérard
Montfort, 1992. [Em português, Conceitos fundamentais da história da arte, trad. João Azenha Jr.,
São Paulo, Martins Fontes, 1984.] Sobre a distinção “clássico versus barroco”, ver igualmente H.
Wölfflin, Renaissance et baroque, Paris, Gérard Montfort, 1985 [Renascença e Barroco, São Paulo,
Perspectiva, 2000], e V. Tapié, Baroque et classicisme, Paris, Pluriel, Le Livre de poche, 1980
[Barroco e classicismo, Lisboa, Presença, 1972]. Para uma síntese rápida, podemos remeter-nos a J.-
M. Floch, Sémiotique et marketing, sous les signes les stratégies, Paris, P. U. F., 1990, pp. 64-75 e, do
mesmo autor, Identités visuelles, op. cit., pp. 120-38, para a aplicação clássico—barroco.
12. Sobre a pertinência dessas distinções temporais como categorias de análise semiótica
estrutural, podemos remeter-nos às definições de A. Greimas e de J. Courtés, Sémiotique:
dictionnaire raisonné, op. cit. (ed. de 1986), p. 68, e (ed. de 1993) p. 67; ver igualmente as aplicações
ao espaço propostas por J.-M. Floch, Sémiotique et marketing, op. cit., pp. 33 segs, ou à
diferenciação do clássico e do barroco em Identités visuelles, op. cit., pp. 127-31. Essas mesmas
categorias foram também aplicadas à análise dos discursos publicitários das marcas de relógios de
luxo: D. Bertrand, “Approche sémiotique du luxe: entre esthétique et esthésie”, Revue française du
marketing, no 187, 2002, 2, pp. 73-82. A classificação proposta aqui é uma adaptação livre a partir de
B. Rémaury, “Imaginaire de mode” (conferência para a cadeira lvmh), Essec, 28 de fevereiro de
2001, e de S. Warnier, “Mode et temps: la légitimité des griffes créatives”, Repères mode et textile,
Institut français de la mode, 1996, pp. 94-105.
13. O termo adaptado, segundo o vocabulário técnico semiótico e as oposições semânticas
correspondentes, seria não “contrário”, mas “contrariedade”. Para a compreensão do leitor,
preferimos manter “contrário”.
14. J. Cocteau, Lithographie [1928], em Coleção privada, setenta ilustrações das sociedades do
comitê Colbert, 1929.
15. P. Morand, L’Allure de Chanel, op. cit., p. 143.
16. J.-M. Floch, Identités visuelles, op. cit., p. 137.
Copyright © 2003 by Editions Gallimard
Publicado originalmente na França, em 2003
Título original
Le luxe éternel: de l’âge du sacré au temps des marques
Capa
Raul Loureiro
Foto de capa
© pg/Magnum Photos
Preparação
Vanessa Barbara
Revisão
Olga Cafalcchio
Marise Simões Leal
ISBN 978-85-8086-498-4