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do Terceiro Setor
Resumo
O terceiro setor tem despontado como uma das alternativas mais produtivas
e eficazes de organização da sociedade civil para fazer face às deficiências e
desajustes do Estado brasileiro. Nesta perspectiva, a crescente presença de
organizações deste tipo tem significado a emergência de desafios a serem
enfrentados, inclusive como proposta de renovação e novas configurações
deste mesmo Estado. Um destes desafios tem sido o gerenciamento destas
organizações na captação e administração de fundos e no desenvolvimento e
consolidação da instituição e de sua imagem no plano social e político. Assim,
este artigo discute as questões ligadas às competências gerenciais nas
organizações do Terceiro Setor, em comparação com o elenco de competên-
cias demandadas e propostas por um modelo teórico construído a partir da
literatura específica sobre o tema, o que pode originar o desenvolvimento de
estratégias diferenciadas para a formação e desenvolvimento destes mesmos
gestores nos diversos espaços institucionais.
Palavras-chave: Gestão. Competências. Terceiro Setor.
Introdução
O fim do século XX foi marcado por um intenso debate acerca do papel do Estado
diante do cenário da globalização e sobre questões relativas ao seu tamanho e à sua
atuação. Em decorrência disso, diversas reformas foram apresentadas com vistas a
adequar o Estado às novas exigências impostas por um novo contexto. Entre as propostas
de reformas mais discutidas pode-se destacar a redução dos gastos do Estado com
programas sociais e até mesmo uma parceria com entidades públicas não-estatais. A
estas entidades não-estatais caberiam ações no sentido de atender às demandas sociais,
enquanto ao Estado caberia o papel de agente regulador. Estas carências sociais, em
especial nos países emergentes, têm sido negligenciadas pelos programas governa-
mentais, acompanhando um direcionamento de ações, por parte do Estado, para o
enxugamento da máquina estatal. Em outras palavras, observa-se uma diminuição das
responsabilidades até então creditadas ao poder público.
Tal cenário tem sido favorável ao aparecimento de um número cada vez maior de
organizações de cunho alternativo, o que constitui um fenômeno dos tempos contem-
porâneos. A sociedade civil organizada, por meio de organizações não-governamentais
(ONGs) e entidades sem fins lucrativos, tem se mobilizado no sentido de suprir necessi-
dades coletivas. Ressalta-se que estes organismos são vistos, muitas vezes, como única
possibilidade e esperança de sobrevivência para as populações mais carentes e vêm
aumentando seu poder de influência. O termo “Terceiro Setor” vem sendo utilizado para
diferenciar essas organizações do setor público (primeiro setor 1 ) e do setor privado
(segundo setor2 ).
1. Delimitação da Problemática
Após várias décadas de convivência com um Estado provedor de bens e serviços públi-
cos, ocorre, atualmente, um movimento que visa minimizar tais encargos e enfatizar a
função reguladora do Estado, como decorrência dos novos desafios impostos pelo avanço
da privatização. É necessário considerar que as mudanças necessárias no papel do Estado
estão ligadas a um conjunto mais amplo de transformações que agitam o mundo no final
do século XX, tanto no cenário político quanto no econômico, exigindo profundas mudan-
ças no relacionamento entre o Estado e a sociedade.
A globalização financeira, a abertura comercial, a privatização de empresas públicas,
a formação de blocos regionais e o fortalecimento dos poderes locais alteraram conside-
ravelmente o contexto no qual se situavam as estratégias de desenvolvimento dos países,
exigindo, por decorrência, uma profunda revisão do papel a ser desempenhado pelo
Estado. A transformação do Estado provedor em um Estado regulador modifica os
padrões de prestação dos serviços públicos e a gestão das organizações não-governa-
mentais do Terceiro Setor.
O grande crescimento da participação das organizações privadas na ação social
ocorreu a partir dos anos 90, particularmente na segunda metade da década, mas as
perspectivas para um futuro próximo são otimistas. Uma pesquisa realizada pelo Insti-
tuto de Pesquisas Aplicadas (IPEA) em 2002, mostrou que gestores de 39% das empresas
analisadas pretendem ampliar seus investimentos sociais em breve6 (IPEA, 2002).
Ocupando espaços criados entre o primeiro e o segundo setor, surgem as ONGs e
demais tipos de organizações sociais para a prestação de serviços públicos à sociedade, na
forma de “Terceiro Setor”. Este setor tem crescentemente exercido peso político diante
de países, empresas transnacionais e organismos internacionais (IANNI, 1997). Isso se
deve, de acordo com Wood Jr. (1999, p.68) ao fato de que o Terceiro Setor é o espaço
institucional que abriga “ações de caráter privadas, associativas e voluntaristas que são
voltadas para a geração de bens de consumo coletivo, sem que haja qualquer tipo de
apropriação particular de excedentes econômicos que sejam gerados nesse processo”.
Parcerias e alianças entre diversos grupos sociais se sucedem, com a captação de
recursos junto ao mercado, viabilizando a realização de atividades que não estariam
sendo desenvolvidas pelo Estado. Nesse cenário, as organizações do Terceiro Setor,
subvencionadas por capital estrangeiro ou nacional, vêm demonstrando, em diversos
setores da área social, competência para elaborar e implementar projetos que possi-
bilitam ações sociais transformadoras. De acordo com Tachizawa (2002), o mercado de
trabalho, no Brasil, cresceu 20% entre 1991 e 1995. No Terceiro Setor, esse crescimento
chegou a 45% e tende a aumentar ainda mais. Enquanto no Brasil apenas 2,5% da mão-
de-obra ativa estão alocadas neste setor, subindo para 3,2% com o trabalho de insti-
tuições religiosas, a média em 22 países pesquisados por Tachizawa (2002) é de 4,8%.
O Terceiro Setor evoluiu tanto que hoje a expressão “responsabilidade social e ética”
já aponta nas preocupações das empresas com os reflexos de suas atitudes nos negócios,
ainda que nessa postura muito seja direcionado mais pela orientação de reforço na
imagem corporativa do que por uma genuína motivação social (BAPTISTA e SARAIVA,
2003). Dados e resultados de pesquisas realizadas, nos últimos anos, por centros de
estudos e universidades têm sido utilizados para “comprovar” a crescente importância do
segmento. Fischer e Mendonça (2002) identificaram 38 instituições/centros de pesquisas
dedicadas à temática do Terceiro Setor e Responsabilidade Social. Destes, 26 (68,4%) são
Centros de Estudos ou projetos sociais de extensão vinculados às Universidades, e os
outros 12 são Centros de Estudos sem vínculo acadêmico ou organizações de Terceiro
Setor que também realizam pesquisas. Ainda que sejam incipientes os indicadores
7
quantitativos sobre o tamanho do Terceiro Setor no Brasil , pode-se constatar uma
mudança na percepção da comunidade a respeito da importância das ações, do papel e da
missão das ONGs e empresas privadas geradoras de serviços públicos não-governa-
mentais.
Há certos fatores indicando que, no Brasil, o Terceiro Setor ainda está em fase
embrionária, tendendo a um crescimento devido ao agravamento das necessidades sócio-
econômicas, aliado a uma crise do setor público e às limitações das políticas sociais tra-
dicionais. Estes fatores geram um crescimento da violência, com a ameaça da segurança
das populações, inclusive das classes alta e média, que tendem a apoiar mais as
iniciativas sociais, atraindo o interesse da mídia e das grandes empresas. As organizações
do Terceiro Setor passaram a ser alvos da mídia brasileira a partir da ECO-928 . “De ma-
neira geral, isto que a imprensa passou a chamar de organizações não-governamentais
seria parte de um fenômeno anterior de diversificação de associações de cidadãos na
sociedade brasileira” (NEDER, 1996, p.7).
Também se presencia um momento de questionamento sobre os valores pessoais, com
a busca por auto-realização e contribuição social por parte dos indivíduos. As pessoas
estão mais dispostas a prestarem serviços voluntários, que impulsionam as organizações
do Terceiro Setor. No momento atual, principalmente nos países desenvolvidos, o traba-
lho é visto por muitas pessoas como uma fonte de satisfação e de integração social –
ainda que autores como Teodósio (2001) alertem para a necessidade de que não se tome o
trabalho voluntário como terapia. Assim, o Terceiro Setor desponta como uma impor-
2. O Terceiro Setor
Desse modo, a idéia de um Terceiro Setor se aplica mais para delimitar um tipo de
atuação diferenciada das instâncias de governo e de mercado, mas que, embora com a
mesma característica legal, é composto por um conjunto de instituições bastante diferen-
tes quanto à filosofia de atuação, dimensões, temáticas e formas de intervenção. Em
decorrência, o setor ainda carece de estudos e pesquisas, a despeito do levantamento do
IBGE/IPEA (2002) que aponta o número de entidades que nele se enquadram. Alguns
trabalhos mais recentes, como o de Landim e Ligneul (1999) apontam para a existência
de mais de 220 mil, enquanto o levantamento do IBGE/IPEA 2002 sinaliza a existência
de 276 mil fundações privadas e associações sem fins lucrativos, que representavam 5%
do total das organizações existentes no país, em 2002.
Estes fatos moldaram o atual contexto vivenciado pelas organizações não-gover-
namentais nacionais. Ao mesmo tempo em que o espaço de atuação foi ampliado, fruto
das próprias demandas sociais da população, houve um “enxugamento” das fontes de
recursos, especialmente das internacionais. O estabelecimento de critérios mais rígidos
de organização e demonstração de resultados evidenciou a necessidade de investimentos
no aumento da profissionalização e da capacitação institucional, principalmente de
gestão organizacional e de recursos, áreas menos desenvolvidas pelas organizações,
sobretudo pelas prioridades históricas de luta e defesa de direitos humanos, no caso das
organizações não governamentais tradicionais, e pela tradição voltada principalmente
para a prestação de serviços assistenciais e imediatos, no caso das filantrópicas. Isso tam-
bém significou uma concentração de recursos nas mais conhecidas ONGs, dadas as fragi-
lidades e dificuldades das menores em se adaptarem rapidamente aos novos padrões. Na
década atual, assiste-se ao desenvolvimento e ao debate das tendências acima referidas,
relativos ao papel social que lhes cabe, seus desafios, limites e potencialidades.
3. Questões Legais
Conforme visto, até recentemente a legislação brasileira não fazia distinção entre as
diferentes organizações genericamente incluídas no Terceiro Setor, todas abrigadas sob o
mesmo estatuto jurídico, mas podendo assumir diferentes formatos legais. Este fato
gerava uma série de distorções e barreiras ao crescimento das instituições que efetiva-
mente tinham finalidade e ação pública, sem fins lucrativos. Por conta disso, a partir de
1996 intensificaram-se os debates e a movimentação da sociedade civil organizada,
liderados pelo Conselho da Comunidade Solidária, que culminou com a aprovação de uma
nova regulação para o setor (BRASIL, 2001).
Pelo fato de operarem como organizações de direito privado, as organizações do
Terceiro Setor conseguem explorar suas informações e são capazes de se comunicar
melhor com o seu público-alvo, defini-lo com clareza e divulgar as suas mensagens, como
afirma Paz (1997). Sabendo de si e de seu público, são capazes de informar melhor aos
potenciais financiadores: os próprios beneficiários, empresas, fundações ou órgãos de
governo. Apesar de parecer simples, isto é uma forma de comunicação, que transforma a
lógica de funcionamento das organizações do Terceiro Setor, pois exige um aprendizado
com as empresas no mercado, as primeiras instituições a assimilarem a necessidade da
informação. Isso não implica, evidentemente, esquecer as inspirações profundas que
movem as ações voluntárias, mas modifica o modo de agir. Dar mais importância ao tema é
uma condição indispensável para que as parcerias entre governo, setor privado e Terceiro
Setor possam, de fato, abrir caminho para políticas públicas mais efetivas no país.
Entretanto, apesar da importância do reconhecimento jurídico qualificado para o
setor, as mudanças introduzidas pela lei parecem não ter sido ainda assimiladas pelas
entidades e governos. Até 2001, passados dois anos de promulgação da lei, apenas 600
organizações solicitaram ao Ministério da Justiça a qualificação de OSCIP. Por não
atenderem às exigências estatutárias ou apresentarem finalidades em desacordo com a
legislação, somente 35% destas tiveram seus pedidos deferidos. O argumento corrente
para a baixa adesão ao novo título é de que existem custos envolvidos no processo de
requerimento e de que as vantagens oriundas da qualificação ainda são pequenas, o que é
exemplificado pela falta de uma legislação tributária complementar que modifique a
atual estrutura de incentivos fiscais (aplicável às entidades de utilidade pública e filan-
trópica) destinados às organizações do Terceiro Setor.
As experiências vividas a partir dos anos 70, tendo como objetivo a superação da crise
econômica causada pelos dois choques do petróleo, e a transição para o capitalismo
“globalizado”, têm ocorrido no sentido de incorporação de novas tecnologias de produção,
com o aumento não apenas da mecanização, mas também da automação de base
microeletrônica (BAPTISTA, 2003). Dessa maneira, o trabalho repetitivo e monótono
seria reservado às máquinas, capazes de agrupar certas atividades um pouco mais
sofisticadas graças aos computadores e aos novos sistemas. Paralelamente às novas
tecnologias de produção, novas tecnologias de gestão começam a ser implementadas com
o intuito de transformar a organização em um espaço mais participativo e, nesse sentido,
torna-se necessário redimensionar o papel do indivíduo nesse espaço (PIMENTA, 1999).
O conceito de qualificação, fundado como a base de codificação social para fins de
inserção nas relações de trabalho e de identidade sócio-profissional, também é atingido
pela nova onda que emerge, sobretudo dos países asiáticos.
Na ótica das novas tecnologias de gestão – representadas em um primeiro momento
pelo modelo japonês – a ruptura com os antigos modelos de controle sobre a força de
Para alguns autores, como Le Boterf (1995), Jolis (1997) e Zarifian (2001b), a questão
das competências representa um novo modelo de gestão da força de trabalho, no qual há
“um movimento de retorno do trabalho em direção ao trabalhador, o trabalho podendo,
agora, aparecer como a atualização organizada da força de pensamento e de ação, e,
portanto, de sua competência” (ZARIFIAN, 2001a, p.61). Assim, o conceito de compe-
tência, compreendido como um saber agir dentro da situação de trabalho reconhecido
pelo meio ambiente social (LE BOTERF, 1995), implica o deslocamento da prescrição das
atividades do nível das operações do trabalho para o nível dos objetivos e resultados da
atividade profissional (e, assim, à ruptura com o taylorismo clássico); e também que a
competência é assumida por um coletivo (que a reconhece), mas esta depende de cada
sujeito individual.
Esta concepção, por conseguinte, implica o reconhecimento de uma situação de
trabalho e de um meio ambiente social que confere sustentabilidade ao conhecimento
adquirido e comprovado na execução de uma determinada tarefa. A competência surge,
assim, como resultado de uma prática adquirida por um indivíduo, mas validada pelo
grupo ao qual ele encontra-se alocado14 .
Dessa maneira, o termo competência identifica, classifica e nomeia capacidades
pessoais de operacionalização e de efetivação eficiente de recursos diante de situações
concretas. É importante salientar que existe uma certa variação entre os diversos
autores sobre o que seja competência profissional (BAPTISTA, 2003). Assim, uns
afirmam que ela é um conjunto estável de saberes e de saber fazer, de procedimentos-
padrão, de tipos de racionalidade que colocamos em prática sem necessidade de
aprendizagem; outros dela tratam como a capacidade de se autoformar, de formar os
outros e de motivar os outros para resolver problemas. Uma terceira visão conceitua
competência como saber mobilizar os conhecimentos ou qualidades para resolver deter-
minados problemas (Jolis, 1997); e ainda que a competência é uma combinação de conhe-
cimentos, saber-fazer, experiências e comportamentos que se exercem em um contexto
preciso, ela se constata na situação de trabalho, a partir da qual ela é validada (CNPF,
1998). Mas todas essas definições guardam em si os mesmos ingredientes, sintetizados na
Figura 1.
Figura 1
Onde nasce a Competência Profissional
Figura 2
Classificação Tradicional dos Postos de Trabalho
Figura 3
Classificação Enriquecida dos Postos de Trabalho
Figura 4
Gestão Qualificante das Pessoas
Quadro 1
Tipos de Competências e suas Especificações
competências técnicas conhecimentos específicos sobre o trabalho que deve ser realizado.
7. Competências Gerenciais
Em nenhuma outra época na história das organizações as pessoas, com suas com-
petências e talentos, foram tão valorizadas como atualmente. Com o intuito de fazerem
frente às atuais transformações do mundo de negócios, as organizações têm crescen-
Considerações Finais
Notas
1
As organizações governamentais, representadas pelos órgãos da administração direta e indireta, empresas
públicas, sociedades de economia mista, autarquias, fundações e estatais afins, constituem o “primeiro
setor”. Analisando as organizações estatais no Brasil, percebe-se que foram criadas para ocuparem espaços
econômicos, os quais o setor privado, isoladamente, não poderia ocupar. O setor governamental, face ao seu
crescimento e orientações de suas macropolíticas, teve problemas para cumprir suas tradicionais atividades-
fim, como saúde, segurança, transporte, saneamento básico e educação. O crescimento das estatais deu-se de
forma pouco articulada e planejada, o que limitou as possibilidades de realizações de estratégias conjuntas,
não só entre as diferentes esferas federal, estadual e municipal, como entre órgãos da administração direta e
indireta, reduzindo a eficácia das políticas macroeconômicas.
2
O “segundo setor” é composto pelas organizações privadas que, face às mutantes e crescentes exigências de
clientes, de fornecedores e dos próprios empregados, são pressionadas a agir de forma responsável em seus
relacionamentos internos e externos.
3
A partir da década de setenta, observou-se uma gradativa diminuição no fluxo da ajuda externa às
organizações não-governamentais brasileiras, o que as obrigou a mudar para sobreviver. A redução do
número de organizações apoiadas no Brasil deveu-se ainda ao maior rigor na seleção de novos parceiros e às
exigências (contrapartidas) de cunho institucional impostas pelas agências externas em termos de eficiência
organizacional, especialmente nas áreas de planejamento, avaliação e prestação de contas, o que levou a um
movimento generalizado de profissionalização no setor.
4
Em meados dos anos 90, deu-se a entrada organizada do setor empresarial em programas e projetos sociais,
especialmente por meio de suas fundações e institutos associados, o que representou a inserção da visão de
mercado no Terceiro Setor e novas possibilidades de parcerias e de fontes de recursos para as instituições
atuantes na área. O modo de atuação empresarial e também o novo marco legal setorial – que introduz uma
qualificação jurídica específica e novas formas de regulação para a interação com o Estado – reforçaram a
tendência de modernização e de aumento da profissionalização para as instituições integrantes do setor, que
passaram a investir na aquisição de atributos que conferissem melhorias de qualidade, transparência de ação
e resultados (inclusive auditorias externas), aumento da visibilidade e da credibilidade e identificação de
novas estratégias de sustentabilidade e financiamentos. Destaca-se, nessa década, a criação de vários cursos
e instrumentos voltados para o planejamento, a gestão e o marketing de instituições do Terceiro Setor; para
estratégias de captação de recursos; para sistematização de metodologias utilizadas nestas instituições; para
a divulgação e avaliação das experiências (metodologias e instituição de prêmios), entre outras ações.
5
Neste estudo, tal como no de Saraiva e Gramiceli (2003), os termos executivo, supervisor, líder, gerente,
encarregado ou facilitador são indistintos, sendo portanto qualquer pessoa envolvida na administração de
uma organização com a autoridade de usar recursos organizacionais como dinheiro, trabalho e
equipamentos, de acordo com os objetivos organizacionais (STATT, 1999). Embora saiba-se que a hierarquia
do gestor interfere na amplitude do processo decisório, em maior ou menor grau, todos os gestores tomam
decisões, circunscritas à sua esfera de autoridade e responsabilidade
6
Esta tendência também se verifica entre as companhias siderúrgicas privatizadas, analisadas por Baptista e
Saraiva (2005), que mesmo não sendo mais estatais, atuam fortemente nas localidades em que se situam com
a execução de projetos sócio-ambientais.
7
Encontra-se na pesquisa do IBGE/IPEA “As fundações privadas e associações sem fins lucrativos no Brasil”,
de 2002, os dados mais completos sobre o assunto.
8
A II Conferência Mundial para o Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Eco-92, realizada no Rio de Janeiro,
em junho de 1992, reuniu 114 chefes de Estado, 10 mil jornalistas e 40 mil militantes de 3.200 ONGs. O
encontro foi encerrado com a assinatura da Agenda 21, um documento de 840 páginas, prevendo uma série
de estratégias globais de desenvolvimento sustentado.
9
Pode-se, atualmente, considerar o Terceiro Setor como o destino do fenômeno denominado deslocamento de
empregos. Com a reestruturação do primeiro e segundo setores, há a destruição de postos de trabalho
formais em certas áreas de atividades. Por outro lado, cresce a demanda por profissionais no Terceiro Setor,
devido ao agravamento dos problemas sociais. Estes dois processos – a destruição de empregos em um setor e
a criação de empregos em um outro, podem ocorrer simultaneamente ou não, dependendo da estrutura
econômica, legal e social do país no qual isto ocorre (PASTORE,1998).
10
De acordo com Melo Neto e Froes (1999, p.19), no Brasil ainda não foi assimilada a cultura das doações de
caráter social. A causa seria a grande desconfiança em mecanismos deste tipo, normalmente desenvolvidos
por entidades de baixo grau de institucionalização e, conseqüentemente, de reduzida visibilidade e
credibilidade junto ao grande público.
11
Juridicamente também há uma confusão de conceitos sobre os limites institucionais de uma ONG,
organização do Terceiro Setor, organização sem fins lucrativos. É o campo em que convivem lado a lado
associações, fundações, cooperativas, OSCIPS e OSS, estas últimas definidas adiante. Juridicamente, se
pessoas se reúnem, com uma idéia qualquer, isso caracteriza uma associação; porém quando uma ou mais
pessoas se reúnem, com um patrimônio que é designado para uma atividade pública, isso caracteriza uma
fundação. Mais recentemente, no Brasil, duas leis criaram figuras jurídicas inéditas. Trata-se das
Organizações Sociais (OSS) e das Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIPS) previstas
pelas leis nº 9.637/98 e nº 9.790/99, respectivamente. O primeiro tipo é criado pelo Estado e o segundo, pela
sociedade civil, acrescentam elementos de qualificação entre as relações e a forma de gerenciamento do
Estado com a sociedade. Esse marco legal vincula as organizações da sociedade civil a normas que
estabelecem um regime de maiores restrições e maior vigilância do Estado se comparado ao regime jurídico
aplicável às tradicionais entidades privadas de utilidade pública.
12
Apesar da iniciativa totalizante deste processo, é importante frisar que o individuo não é um ator passivo.
Mesmo em condições adversas, ele preserva um meio de resistência, não perdendo sua capacidade de filtrar o
que recebe e de ser crítico a esses estímulos, mesmo se aparentemente os incorpore ou os exprima na sua
pratica cotidiana (ZARIFIAN, 1998).
13
Há mais de 30 anos que este movimento começou na Europa. Em 1992, por exemplo, 20% dos
estabelecimentos franceses já tinham colocado em prática ao menos 3 das inovações do novo capitalismo:
23% estavam organizadas à Just in time; 34% utilizavam-se dos CCQ’s (Círculos de Controle de Qualidade);
27% tinham suprimido pelo menos um nível hierárquico; 11% praticavam as normas de qualidade do tipo
ISO e outra parte implantava grupos autônomos (BOLTANSKI e CHIAPELLO, 1999 :295).
14
Como coloca Zarifian (2001a, p.60), “o trabalho em equipe, em rede, em projeto, fornece um modelo e um
referencial para a ação de cada um, e formaliza a convergência necessária das ações profissionais, mas cada
pessoa singularmente é importante nela mesma. O sucesso da ação coletiva vira dependente, de uma
maneira ou outra, da competência ativa de cada um, não mais no senso puramente automático da
complementaridade das operações dos trabalhadores ao longo de uma linha de montagem automobilística,
mas no senso do valor individual das iniciativas empreendidas face aos eventos, aos casos a tratar, ao serviço
a planejar, na medida que elas são fundamentais para o sucesso da ação coletiva. Não há mais automatismo
no encadeamento das ações. O que significa que a subjetividade de cada indivíduo é utilizada. E é isto que
motiva profundamente o fato que a questão do indivíduo, vista como tal, não possa mais ser reduzida à do
seu grupo”.
15
Uma competência essencial não precisa necessariamente ser baseada em “tecnologia strictu sensu”: ela pode
estar associada ao domínio de qualquer estágio do ciclo de negócios, como por exemplo, um profundo
conhecimento das condições de operação de mercados específicos. Não obstante, para ser considerado uma
competência essencial, esse conhecimento deve estar associado a um sistemático processo de aprendizagem,
que envolve descobrimento / inovação e capacitação de recursos humanos.
Referências