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Preparação e revisão
Mineo Takatama
Capa
Walter Mazzuchelli
Editoração eletrônica
AGWM Artes Gráficas
00-1361 CDD-809
Índices para catálogo sistemático:
1. Literatura: História e crítica 809
Todos os direitos reservados à
Editora Fundação Peirópolis Ltda.
Rua Girassol, 128 - Vila Madalena
05433-000 - São Paulo - SP
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Nova Consciência é uma série de livros que faz um registro dos
novos rumos assumidos pelas diversas áreas do conhecimento
humano, a partir do resultado teórico e prático de diversos
pesquisadores e professores, dentro e fora das universidades,
que, insatisfeitos com os paradigmas tradicionais, ousaram
investir na compreensão do mundo e do ser humano por meio de
diferentes ângulos de um pensamento mais abrangente,
transdisciplinar e complexo.
Nova Consciência enfoca a ética e a solidariedade como valores
imprescindíveis nesta virada de milênio. E destina-se a um público
heterogêneo, formado por professores, pesquisadores e
estudantes das mais diversas áreas, e ao leitor em geral.
Nurimar Maria Falei Marco
Polo Henriques
Coordenadores
Série Nova Consciência
SUMÁRIO
Prefácio
Foi com dupla emoção que convidei Nelly Novaes Coelho para
participar desta coleção: primeiramente, por se tratar de uma das maiores
pesquisadoras da literatura portuguesa e brasileira, com admirável
bagagem literária e saber transdisciplinar, e, em segundo lugar, por ser ela
a mestra e amiga que, com mãos de sabedoria e de generosidade, conduziu-
me pelas sendas do território cognitivo da literatura, ponto de partida para
a compreensão de mim mesma, do homem e do mundo.
Após uma consistente trajetória como professora, crítica literária,
ensaísta e introdutora da disciplina de literatura infanto-juvenil no Brasil,
Nelly Novaes Coelho tem sido ainda a persistente pesquisadora, sempre
atenta aos problemas da educação. Seguindo as trilhas do pensador francês
Edgar Morin, ela tem consciência da necessidade de uma reforma do
pensamento através da educação para responder às questões complexas do
mundo contemporâneo.
Literatura: arte, conhecimento e vida registra um trabalho teórico e prático de
longos anos com a literatura, abordada de maneira abrangente, clara e
sintética, marca registrada da autora. A literatura é também aqui enfocada
como linguagem artística, como forma de conhecimento do homem e do
mundo, além de ser uma proposta de ponto de partida para a reforma do
sistema educacional brasileiro.
No primeiro capítulo, intitulado “A Literatura: um ‘fio de Ariadne’ e no
labirinto do ensino neste limiar de milênio? ”, a autora propõe um projeto
de currículo transdisciplinar que tenha a literatura portuguesa, brasileira e
estrangeira como “eixo” ou “disciplina transversal” para atender à
complexidade dos problemas que se entrecruzam no âmbito dos estudos e
reflexões sobre os possíveis rumos a serem tomados para uma reforma
estrutural do sistema de educação vigente, há muito em crise.
O segundo capítulo, denominado “A poesia pessoana e a grande
mutação do conhecimento no século XX”, nos traz, sob a forma de um
refinado ensaio, a poesia do genial poeta português Fernando Pessoa como
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Nelly Novaes Coelho
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A Literatura: um "fio de
Ariadne" no labirinto do
ensino neste limiar de
milênio?
Edgar Morin1
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Nelly Novaes Coelho
O momento de caos
Comecemos por esclarecer que o termo “caos” (hoje tão comum para
caracterizar o nosso tempo) está ligado ao sentido que lhe deu a nova Física,
algo mais que seu significado dicionarizado: “Caos — confusão geral dos
elementos da matéria, antes da criação do Universo”. Pela nova óptica
científica, o termo “caos” aponta ao mesmo tempo para a potência
transformadora da matéria e para a imprevisibilidade de seu comportamento na
constituição dos sistemas. (Isso, em oposição ao “comportamento
previsível”, determinístico, que a Física clássica atribuía às leis naturais e
imutáveis que, segundo ela, presidiam à constituição da matéria.)
Daí que um dos modelos de constituição estrutural da matéria, segundo
a nova Física, é o do “caos determinístico”. “Caos”, significando o
comportamento imprevisível, e “determinístico”, o previsível. Pode-se notar que
esse comportamento aparentemente ilógico ou contraditório decorre da
própria dinâmica do sistema (e não de uma anomalia), na medida em que o
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Literatura: arte, conhecimento e vida
1 Op. cit.
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Nelly Novaes Coelho
Suspeita”. Mas uma coisa é certa: vivemos num universo constituído por
uma abissal trama de relações e integrações que atuam nos fundamentos de
nosso viver, mas não nos damos conta disso. Dessa trama, fala o físico F.
Capra 2 : “A nova realidade descoberta pela física resulta da inter-relação e
interdependência essencial de todos os fenômenos - físicos, biológicos,
psicológicos, sociais e culturais”. Trata-se de uma nova visão do real que
“transcende as atuais fronteiras disciplinares e conceituais” e que “vê o
mundo em termos de relações e de integração”. Saber que somos resultantes
dessas “relações” e dessa “integração” é a nova consciência a ser por nós
conquistada.
A nova óptica
2 Fritjof Capra: o ponto de mutação (A ciência, a sociedade e a cultura emergente), Cultrix, São Paulo, 1991 -
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Literatura: arte, conhecimento e vida
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Nelly Novaes Coelho
O Ensino em crise
Talvez em lugar de “crise” fosse mais correto dizer que o Ensino está
em “mutação”, acompanhando a “aceleração da história” - fenômeno que
singulariza o nosso tempo de mudança de paradigma. E se há setor na
sociedade que necessariamente se apoia em paradigmas, normas ou valores
aferidores, esse é o da Educação, do Ensino.
Daí insistirmos aqui na reflexão acerca dessa nova e complexa con-
cepção de mundo provocada pela ciência: necessariamente, ela deverá estar
na base das novas reformas ou, pelo menos, permanecer no “horizonte das
ideias”.
Enfim, com relação a essa mudança de óptica ainda em curso, o que
mais importa destacar por ora é a passagem de um sistema de unidades
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Literatura: arte, conhecimento e vida
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Literatura: arte, conhecimento e vida
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Nelly Novaes Coelho
Os Temas Transversais
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mesmo criou. E mais: descobrir que o seu eu, aparentemente isolado e inde-
pendente dos demais, pertence realmente a um grande Ser, que é a
Humanidade, a qual, para existir, depende visceralmente que cada indivíduo
que a constitui cumpra a sua tarefa na vida.
Esclarecendo melhor essa visão, valemo-nos de F. Capra, quando diz:
“Todo e qualquer organismo - desde a menor bactéria até os
seres humanos —, passando pela imensa variedade de plantas
e animais, é uma totalidade integrada e, portanto, um sistema vivo.
[...] Porém, os sistemas não estão limitados a organismos
individuais e suas partes. Os mesmos aspectos de totalidade
são exibidos por sistemas sociais — como o formigueiro, a
colmeia ou uma família humana — e por ecossistemas que
consistem numa variedade de organismos e matéria
inanimada em interação mútua. O que se preserva numa
região selvagem não são árvores ou organismos individuais, mas a
teia complexa de relações entre elas. ”3
Essa longa citação se justifica na medida em que põe em evidência o
“horizonte de expectativas” ou de “ideias” que temos de manter à vista em
nossos projetos ou atuação docente. A expectativa de um mundo
constituído por complexas e infinitas relações, de cuja trama todos nós
fazemos parte e cujo conhecimento, ainda hoje, é feito mais de incertezas do
que de certezas. Aí reside a atual crise do conhecimento, para cuja solução
(mesmo provisória) nos compete colaborar, ainda que seja com uma
infinitesimal parcela de contribuição. Como disse Morin4:
“É preciso que o corpo docente se coloque nos postos mais
avançados do perigo representado pela permanente incerteza
do mundo. [...] É isso que estamos compreendendo neste final
do século XX, o mundo não desliza sobre uma vida traçada de
antemão, não é uma locomotiva que corre sobre os trilhos, o
futuro é absolutamente incerto, é preciso pensar com e na
incerteza. Mas não uma incerteza absoluta, porque a verdade
é que navegamos em um oceano de incertezas através de
3 Op. cit.
4 Edgar Morin e Yves Bonnefoy: Articuler les savoirs, Centre National de Documentation Péda- gogique,
Paris, 1999-
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e seja, por sua vez, iluminada por elas. Adquirir cultura (“saberes
essenciais”) não significa acumular conhecimentos, mas sim organizá-los em torno
de eixos de ideias, num determinado contexto que seja significativo para o
sujeito. Nos rastros do pensamento complexo, todas as discussões que vêm
sendo feitas em torno da “crise do ensino” têm como base uma das
premissas da psicologia cognitiva: sem estar integrado num contexto, nenhum
saber tem valia, por mais sofisticado que seja, isto é, não provoca no sujeito
o dinamismo interno que o levaria a interagir com outros saberes e ampliar
o conhecimento inicial ou transformá-lo.
Ao analisar possíveis caminhos para a estruturação de um novo sistema
de ensino, diz Morin6: “[Faz-se necessário um sistema] que articule entre si
as diferentes áreas do saber, hoje dissociadas, tais como a história, a
geografia, a sociologia, a ciência das crenças, uma vez que as realidades
imaginárias são extremamente importantes para conhecermos o ser
humano”.
O aprofundamento no pensamento de Morin reforçou a nossa certeza
de que a Literatura — uma das mais importantes “ciências do imaginário”
— poderia ser o eixo organizador de determinadas unidades de estudo —
uma espécie de “fio de Ariadne” que poderia indicar caminhos, não para
sairmos do “labirinto”, mas para conseguirmos transformá-lo em “vias
comunicantes” que a concepção de mundo atual exige.
Tentando justificar essa nossa opção, escolhemos duas definições de
Literatura que apontam para a sua natureza híbrida: individual e social ao
mesmo tempo.
Bakhtin e Vygotsky
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Objetivo
Descobrir a Literatura não só como um produto da imaginação criadora do
homem, mas também como um meio deproblematizar o real - uma espécie de
“encruzilhada” por onde passam e se cruzam todos os “caminhos “que
formam o “mapa” da sociedade. Literatura é a transformação da vida em
palavras, em linguagem, e um dos instrumentos mais fecundos para a
formação da mente do educando.
Justificativa
• A escolha da problemática-eixo (“O novo como fusão da herança com a
invenção) derivou de uma das palavras de ordem do nosso tempo: um dos
principais caminhos para a necessária transformação do presente é a redescoberta
e/ou reinvenção do passado, que, transformado em história, precisa ser reescrito.
• A escolha da Literatura como disciplina-base decorreu da ênfase que o
pensamento contemporâneo dá ao EU consciente que, com urgência, pre-
cisa se descobrir como novo centro do mundo “descentrado”, que é o nosso.
E, se há ação construtora em que o EU se manifeste em plenitude, essa é
a da criação literária ou poética que se concretiza em Literatura.
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Módulo 1 - Cronologia10
Autor: Gil Vicente (datas aproximadas: 1465-1536)
Período histórico: Transição do século XV para o século XVI (da
Idade Média para o Renascimento). Reinados
de dom Manuel, o Venturoso (1469-1521), e
dom João III, o Piedoso (1502-1557).
Início do teatro vicentino: 1502. Representação do Monólogo do vaqueiro ou Auto
da visitação na câmara da rainha dona Maria
que havia dado à luz o futuro dom João III.
Obra completa: 48 peças de natureza religiosa (milagres, mis-
térios, moralidades) e profana (farsas, trágico-
médias, autos, pastoris, diálogos, etc.). Foram
reunidas, após sua morte, por seus filhos Luís
e Paulo Vicente, em 1562, com o título:
Cornpilaçam de todalas obras de Gil Vicente, a qual se / reparte em 5 livros.
/ 0 primeyro he de todas / suas cousas de devaçam. / 0 segundo as comédias.
I 0 terceyro as tragicomedias.l No quarto as farsas. I No quinto as obras
meudas.
Emprimiose em a muy nobre & sempre leal cidade de Lisboa. Em casa de
Yoan Auarez dei Rey Nosso Senhor. Ano MDLXII. Foy visto pelos
deputados da Sancta ínquisiçam. Com privilegio real.
(Como curiosidade, registramos os dizeres da página de rosto dessa
publicação, com a aprovação da Santa Inquisição. Fato que representa uma
conquista para essa obra que, por muitas vezes, durante a vida do autor, foi
muito censurada pelo clero, que ali se via duramente criticado.)
Peças selecionadas: Auto da índia (1509), Quem tem farelos?
(1515), Barca do Inferno (1517), Auto da fama (1521),
Tragicomédia de D. Duardo (1522) e Auto da feira
(1528).
Módulo 2 - Gil Vicente e seu tempo 11
Gil Vicente manteve em cena o seu teatro durante 34 anos. Longo período
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que lhe permitiu ser testemunho das grandes mudanças ocorridas em Por-
tugal, que de nação agrária transformou-se em potência naval, militar e
comercial. Época dos grandes descobrimentos, cujo apogeu ocorre nos rei-
nados de dom Manuel e dom João III, reis que nos plantaram como povo
neste imenso território brasileiro. Território que de início (a julgar por certos
índices da obra vicentina), para a Coroa portuguesa, significou apenas mais
uma terra descoberta por seus navegadores e sem nenhum interesse para o
comércio, que era, então, a grande fonte de riquezas do reino.
Os autos e farsas vicentinas espelham com agudez esse período de
explosão de riquezas, vindas de fora, que, desestimulando a produção
interna, acaba por desequilibrar a nação. Em breve síntese, B. Abdalla Jr.
traça o perfil desse momento:
“Numa sociedade em ebulição pela chegada de riquezas
nunca vistas, que colocava Lisboa como a Corte mais rica da
Europa, poucos continuavam a se preocupar com a produção.
Importava-se tudo. Era mais fácil adquirir bens comuns
como o ouro e as especiarias provenientes das Navegações,
ficando o trabalho mais pesado para os escravos capturados
na África e na Ásia. Nessa situação, a população rural deixava
o campo e corria para Lisboa, os artífices afastavam-se das
manufaturas, os fidalgos acotovelavam-se em torno do
palácio real. Desorganizava-se assim a produção. Todos,
inclusive o clero, procuravam usufruir desse vertiginoso
afluxo de riquezas.
Nessas condições, era difícil viver do próprio trabalho.
Procurava-se o lucro fácil na empresa comercial-militar das
índias, um monopólio do rei. Cresceu exageradamente o
número de servidores da Corte. E os que conseguiam seguir
viagem só tinham um objetivo, de acordo com uma das
personagens do Auto da índia: pelejar e roubar. ”
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Literatura: arte, conhecimento e vida
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Módulo 3 - A arte teatral vicentina
Historicamente, sua carreira como criador do teatro português começou em
12 A. José Saraiva: Gil Vicente e o fim do teatro medieval. Pub. Europa-América, Lisboa, 1970.
Benjamin Abdala Jr.: Gil Vicente (Auto da índia, auto da Barca do Inferno e farsa de Inês Pereira), Ed. Senac, São Paulo, 1996.
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Literatura: arte, conhecimento e vida
Peça alegórica que se passa numa imaginária feira universal onde tudo se
vende, desde os enganos diabólicos (vendidos pelo Diabo) até as virtudes
celestiais (vendidas pelo Anjo). Através das peripécias, vão sendo dirigidas
severas críticas às superstições que os clérigos difundiam entre o povo e que
Roma não coibia, pois, ao final, eram-lhes lucrativas. (Como o fato de
atribuírem as causas do terremoto que destruíra Lisboa aos pecados do
povo ou aos judeus.)
A natureza contundente das críticas feitas ao papa e à corte pontifícia
(embora atenuadas pela linguagem metafórica usada) mostra bem o
crescente poder da Coroa portuguesa em relação ao do papado, e também
o apoio que o rei daria a Gil Vicente para que ele se atrevesse a tanto.
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Nelly Novaes Coelho
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Literatura: arte, conhecimento e vida
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História
O teatro vicentino como “unidade irradiadora” tem na História uma das
disciplinas mais ricas para revelar a complexidade da vida humana, isto é,
mostrar de maneira clara que todos os setores da sociedade estão de tal
maneira interligados que alterar um significa alterar todos. E nesse sentido
que os “temas transversais” podem ampliar o conhecimento de cada área
de ação humana ou de conhecimento.
Entre os aspectos que o estudo do teatro vicentino poderia levar a explo-
rar no programa de História estariam: o panorama histórico da época dos
descobrimentos e, dentro dele, a discussão sobre a desimportância que a
descoberta do Brasil teve de imediato para a Coroa portuguesa. Como o
panorama histórico da época dos descobrimentos (séculos XV-XVI) é
extremamente complexo, a seleção dos aspectos a serem desenvolvidos
pode talvez restringir-se à ampliação das ideias sugeridas pela “unidade
irradiadora”. Registramos a seguir uma seleção que pode servir de ponto
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As grandes navegações
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Como reza a História, Pedro Alvares Cabral saiu com suas caravelas
com o intuito de descobrir o “caminho ocidental para as índias”. Entretanto,
o acaso o trouxe para estas plagas, e a nossa história começou. Mas não
imediatamente. Sem dúvida, a descoberta das terras selvagens brasílicas
deve ter decepcionado a Coroa, pois o interesse vital da época era o “grande
comércio” ultramarino, que tinha na índia sua grande fonte. Daí o
esquecimento em que ficou a nossa terra durante anos. Esquecimento
comprovado pela ausência de registro no teatro vicentino. Sendo este teatro
alimentado pelos problemas imediatos vividos pelo povo e pelo Reino
(principalmente os problemas advindos da expansão marítima), causa
espécie que em nenhuma de suas peças haja referência à descoberta do
Brasil. Estranheza que desaparece quando situamos essa descoberta no
quadro dos interesses imediatos da Coroa, já referidos.
Esse quadro só começa a mudar quando os investimentos nessa política
expansionista passam a dar grandes prejuízos e outra política se faz
urgente. Diante do verdadeiro sangramento do Tesouro real, provocado
pela má administração (ou erros de estratégias) da política expansionista,
dom João III muda o rumo dos investimentos: suspende a expansão por-
tuguesa no Oriente, consolida o domínio nas regiões já conquistadas (em
África e Ásia) e dá início à política de colonização do Brasil, baseada em
atividades agrícolas e numa incipiente indústria para lhes dar suporte.
Em 1530, é assinado o acordo para a criação das capitanias hereditárias.
Organiza-se a primeira expedição para reconhecimento das costas
brasileiras. Chefiada por Martim Afonso de Sousa, a expedição realiza a
ocupação efetiva do imenso território, desde o Recife até o Rio da Prata.
Têm início o povoamento e a colonização das terras selvagens brasílicas, e
nós começamos a surgir como povo13.
Gil Vicente, já velho, teria atentado para essa mudança na política do
Reino? Nem o povo, evidentemente, pois a verdade é que os resultados
demoraram anos para aparecer, e Gil Vicente faleceu em 1536.
Outro dado a salientar nessa complexa trama de acontecimentos his-
tóricos é o tipo de cultura que veio com os primeiros colonizadores: não a
renascentista, que apenas começara a agitar o mundo pensante (e disso a
obra vicentina é prova), mas a medieval, já assimilada e realmente vivida
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Literatura: arte, conhecimento e vida
pelo povo. Assim, é importante lembrar que o Brasil foi descoberto no albor
do Renascimento, mas sua índole se forjou com valores culturais medievais,
feudais, misturados com valores africanos e indígenas, tribais. Até hoje
andamos a braços com tais valores. (Os jovens precisam atentar para isso
porque deles depende o futuro da nação e do povo.)
Geografia
A relação do tempo de Gil Vicente com a Geografia pode partir das pos-
síveis causas geográficas que teriam influído, não só na formação da índole
portuguesa, mas principalmente no audacioso projeto que resultou no
grande feito dos portugueses, pequeno povo que nos séculos XV-XVI
descobriu a maior parte do mundo, até então desconhecido da Europa.
Uma das causas básicas desse grande feito foi, sem dúvida, a situação
geográfica de Portugal. Limitado a um pequeno território, cercado ao norte
e a oeste pela Espanha e rodeado em suas demais fronteiras (ocidental e
meridional) pelo oceano Atlântico, o povo português permaneceu durante
séculos isolado do resto do continente (até mesmo com deficientes
intercâmbios culturais). Aprisionado pelo oceano na maior parte de suas
fronteiras, durante séculos foi graças ao aperfeiçoamento da cosmografia e
aos estudos da arte da “marinharia” desenvolvidos na Escola de Sagres, que
os portugueses puderam vencer o obstáculo geográfico, representado pelo
Tenebroso (o Atlântico), e se lançar ao mar para a grande epopeia que
mudou a feição do mundo conhecido até então.
É evidente que o alto aperfeiçoamento dos estudos sobre navegação
desenvolvido na Escola de Sagres foi precedido de importantes descobertas
e invenções ligadas à arte da navegação (a bússola, por exemplo). Desde o
século XIII os conhecimentos geográficos foram sendo alterados pela base:
a ideia medieval de que a Terra era quadrada (ou plana) foi substituída pela
ideia que defendia a forma esférica, tal como os geógrafos gregos a haviam
concebido. O historiador A. Malet 14 sintetiza bem a interligação dos
diferentes fatos que contribuíram para essa revolução do conhecimento
geográfico:
"... a partir do século XIII, os limites do mundo foram se
ampliando. Os europeus ficaram conhecendo países do
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15 Op. cit., v. 4.
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Literatura: arte, conhecimento e vida
Matemática
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Literatura: arte, conhecimento e vida
Ciências Sociais
A imagem da mulher
Notar, inicialmente, a óptica negativa pela qual Gil Vicente e seu tempo
olhavam a mulher. As figuras femininas que povoam o universo vicentino
são representadas sempre em sua face censurável ou tola: a face pecadora
com que a religião estigmatizou a mulher e que é comum em sua
representação da literatura medieval (contrastando com a onipresença da
face pura, angelical, representada pela Virgem Maria, por santas ou por
anjos que povoam as pinturas e esculturas medievais).
As peças vicentinas, embora em tom de farsa, mostram as personagens
femininas sempre em seu hábitat cotidiano, em geral fugindo aos trabalhos
da casa (ou descontentes com ele); entregues à tagarelice, às mentiras, ao
desejo sexual disfarçado por negaças, ao adultério, à desobediência, à
ambição de luxo, à vontade de domínio sobre o homem, etc. Pondo a nu
esse comportamento negativo (de mulheres e homens), o teatro vicentino
mostra o descompasso que havia entre a vida real, vivida concretamente no
dia-a-dia, sob o influxo das paixões, e os ideais de virtude e ascetismo,
consagrados pela sociedade. Ideais que consagravam como supremas
virtudes femininas a castidade, a obediência irrestrita aos homens, a
temperança, o silêncio, a imobilidade, a discrição.
Exatamente o contrário daquilo que acontecia na prática. Por outro lado,
como mostra Gil Vicente, muitas vezes o comportamento pecaminoso das
mulheres é incentivado pelos próprios homens, que as assediam, para
depois culpá-las ou acusá-las de sedução. Assédio para o qual contavam
com a mediação de uma outra mulher: a alcoviteira — uma das mais
constantes personagens das peças vicentinas.
Seria uma excelente ocasião para, a partir das mulheres vicentinas,
analisar com os alunos a longínqua origem da imagem dual da mulher
(pura/impura, anjo/demônio, etc.), que foi consagrada pela Igreja da Idade
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O ideal da cavalaria
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Literatura: arte, conhecimento e vida
As relações rei-igreja-clero-nobreza
A julgar pelas críticas abertas feitas por Gil Vicente ao clero corrupto e à
nobreza decadente, confirmam-se as informações que existem sobre sua
vida e que o apontam como persona grata na Corte, tendo até o beneplácito do
rei para fazer as críticas que este julgasse necessárias.
A História mostra que já no reinado de dom Manuel (quando Gil
Vicente iniciou sua carreira de dramaturgo) as relações da Coroa portu-
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Nelly Novaes Coelho
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E, deslizando dramaticamente (isto é, desdobrado em múltiplas
personae) por esse “abismo” abaixo, Fernando Pessoa (tal qual Proteu 18 ),
transmutando-se incessantemente em novas formas poéticas, inscreveu- se
para sempre entre os grandes visionários do século XX. Aqueles pensadores
ou poetas que, consciente ou inconscientemente, expressaram o
dilaceramento íntimo do homem contemporâneo, diante de um mundo
cujos valores, definições, limites e certezas ruíam, levando de roldão as
palavras que fixavam ou imobilizavam suas realidades.
Poesia revolucionária, a de Fernando Pessoa vem sendo redescoberta a
cada leitura, releitura ou confronto de seus textos (poéticos, filosóficos,
ensaísticos), não apenas como das maiores no contexto da moderna poesia
ocidental, mas principalmente como uma das mais lúcidas, ao intuir a grande
mutação que teve início no século XX.
Referimo-nos à mutação do conhecimento herdado da Tradição. Conhe-
cimento que, tendo perdido seu fundamento milenar (a origem divina do
homem, por obra de um Deus criador), viu-se à deriva... Como disse Adolfo
Casais Monteiro:
“A poesia moderna podia definir-se como aquela que surge
após a morte dos deuses. ”
Todos nós (e não só a Poesia, o pensamento...) — sobreviventes à morte
dos deuses - somos o “homem moderno”, naufragado no caos que restou
da destruição das “verdades absolutas” e “certezas” de ontem, que davam
à Vida o seu sentido maior. A grande poesia dos últimos cem anos, direta
ou indiretamente, vem sendo dinamizada pela busca desse “sentido maior”
da vida, que se fracionou e diluiu em milhentos “sentidos menores”, que se
atropelam na “geleia geral” ou no cyberspace em que o mundo se
transformou.
Poeta que surgiu nos primeiros momentos da crise que iria dividir as
águas entre a Tradição e a Modernidade (ou Pós-Modernidade?), Fernando
Pessoa foi das primeiras vozes a expressar a aguda intuição de que o caos
aparente não significava apenas destruição, mas potencialidades ainda informes
que, um dia, emergiram em nova e plena forma. E no oculto desse
18 Mito grego, Proteu era um deus marinho que recebeu de Netuno o dom do conhecimento do passado,
presente e futuro. Mas se recusava a atender aos que procuravam consultá-lo. Para não ser encontrado,
usava do ardil de se transformar nas mais diversas formas: leão, dragão, leopardo, javali, árvore, água,
fogo... (Ao relacionarmos Pessoa a Proteu, evidentemente, pensamos na espantosa intuição poética
pessoana, que pode ser identificada com o conhecimento do tempo sem fronteiras, tal qual o proteico mito
grego.)
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19 Trata-se da arca ou baú onde Fernando Pessoa guardava sua fantástica produção (poesia, filosofia,
astrologia, esoterismo, etc.) e que só em parte foi pesquisada e publicada em livros, após a morte do poeta
em 1935. Entretanto, as pesquisas prosseguem intensas, com os milhares de folhas escritas e guardadas na
arca, já há anos preservada na Biblioteca Nacional de Lisboa.
20 Desde 1891, data do ultimatum inglês (que frustrou os projetos de Portugal para consolidar seu domínio
em territórios africanos), a nação entra em processo de decadência econômico e político, que leva ao caos.
Ao mesmo tempo, a literatura entra em crise: esgotaram-se as forças criadoras do passado. Em 1910, é
assassinado o rei dom Carlos e proclamada a República. Sucedem-se vários governos “provisórios”,
rebeliões civis, etc. Esse caos só começaria a ser controlado com a nomeação de Antônio Salazar como
primeiro-ministro em 1928. E, a partir daí, com seu governo ditatorial, que se estende por mais de meio
século. Portanto, Fernando Pessoa viveu um período de caos.
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21 Em 1913, Fernando Pessoa publicou na revista A Águia, órgão da Renascença portuguesa, dois ensaios
reveladores de sua visão crítica sobre Portugal e sua poesia: “A Nova Poesia Portuguesa sociologicamente
considerada" e “A Nova Poesia Portuguesa em seu aspecto psicológico”, ambos publicados em livro após a
morte do poeta, A Nova Poesia Portuguesa, Lisboa, Ed. Inquérito, 1945.
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Filosofia e poesia
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para o Saber. Como ele próprio diz, a certa altura de suas reflexões:
“Uma corrente literária não passa de uma metafísica. Uma
metafísica é um modo de sentir as coisas. [...] As metafísicas
têm gradações; são modos mais ou menos intensos, mais ou
menos lúcidos de sentir o Universo. O materialismo está no
mais baixo nível, representa uma sensibilidade mínima
perante o Universo, um conceito estético reduzido, porque
não vive a vida das coisas em grau superior. Por isso não há
grandes poetas materialistas. ”
Não esqueçamos que a Arte do momento naquele início do século
lançava-se contra o universo positivista que havia se oficializado como o
pensamento diretor da Sociedade e, assim fechadas as vias de acesso às
realidades não-científicas, a Criação estética e a Metafísica viram-se em um
“beco sem saída”.
Enfim, o que importa ressaltar aqui é que não só Fernando, mas toda a
sua geração estava no encalço de um novo conhecimento, de uma nova abertura
para a vida e para a verdade essencial em face de uma cultura e de uma arte
que se esfacelavam, recolocavam interrogações sobre o Ser, o Estar-no-
Mundo e o Conhecer que os novos tempos passaram a exigir.
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22 Curioso lembrar que essa retomada do pensamento kantiano na primeira metade do século XX deu-se ao
mesmo tempo que a Física atômica estava sendo descoberta por Einstein e companheiros, descoberta que,
por sua vez, provocaria uma nova crise do conhecimento, que está ainda em processo, neste limiar de
milênio. Essa defasagem entre o momento em que surge a teoria e aquele em que se torna conhecida mostra
o quão lento é o avançar das novas ideias em relação à ação prática.
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Páginas íntimas, publicadas talvez em 1916, mas que talvez sejam anteriores à
publicação dos poemas em questão), em que Fernando Pessoa analisa
teoricamente o que Álvaro de Campos realiza poeticamente na diretriz do
Sensacionismo e com isso nos dá as “chaves” mais adequadas para
compreendermos a natureza da alquimia verbal ali pretendida pelo poeta. Diz
Pessoa:
“Nada existe, não existe a realidade, apenas sensação.
As ideias são sensações, mas de coisas não situadas no espaço e,
por vezes, nem mesmo situadas no tempo. A lógica, o lugar das
ideias, é outra espécie de espaço.
[...] A finalidade da arte é simplesmente aumentar a autoconsciência
humana. O seu critério é a aceitação geral (ou semigeral), mais
tarde ou mais cedo, pois é essa a prova de que, na realidade,
ela tende a aumentar a autoconsciência entre os homens.
Quanto mais decompomos e analisamos as nossas sensa-
ções em seus elementos psíquicos, tanto mais aumentamos a
nossa autoconsciência. A arte tem, pois, o dever de se tornar cada
vez mais consciente. ” Páginas íntimas, p. 185)
Aí temos pelo menos três importantes premissas que alicerçam o
universo poético pessoano:
• a importância basilar das sensações na apreensão do mundo das
relações: homem vs. mundo exterior;
• a diferença de natureza entre “sensações” (ligadas à intuição) e
“ideias” (ligadas à inteligência, à lógica, à razão); e
• a finalidade pragmática da arte: tornar a humanidade auto-
consciente das realidades que são essenciais à evolução.
Essas premissas podem ser rastreadas em todo o universo poético fer-
nandino (ortônimo ou heterônimo), e é por meio dessa perspectiva (a de o
poeta tentar decompor e analisar suas sensações até o fundo de seus
componentes psíquicos, para aumentar sua autoconsciência do Real que
deve ser objetivado no poema) que compreenderemos melhor o ritmo
torrencial dos poemas sensacionistas. Em Ode triunfal, por exemplo:
“À dolorosa luz das grandes lâmpadas elétricas da fábrica Tenho
febre e escrevo.
Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto,
Para beleza disto totalmente desconhecido dos antigos
Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno!
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[...]
Em fúria fora e dentro de mim.”
Mais do que a euforia futurista de Marinetti (a primeira a tentar
encontrar o ritmo e a atmosfera próprios à civilização da máquina); mais do
que a adesão à “vitalidade transbordante”, ao “belo feroz” ou à “força
sensual” do universo poético de Walt Whitman, os poemas sensacionistas
de Álvaro de Campos expressam um mundo que ultrapassou sua
capacidade normal de apreensão, um mundo “totalmente desconhecido
dos antigos”, mas resultante irredutível destes últimos.
O poeta tenta (e praticamente consegue) comunicar-nos suas sensações
in totum. Não a epidêmica visão do babélico mundo moderno que os
futuristas ofereciam, mas uma apreensão global, abrangente, que sugere o
mundo como continuum vital, em que presente-passado-futuro sem
amalgamam na alquimia do verbo, tal como na realidade cósmica as
vivências estão amalgamadas.
“Canto, e canto o presente, e também o passado e o futuro,
Porque o presente é todo o passado e todo o futuro E há Platão e
Virgílio dentro das máquinas e das luzes elétricas Só porque
houve outrora e foram humanos Virgílio e Platão. ”
Como uma funda consciência da metamorfose, como processo funda-
mental da vida, Fernando Pessoa, tal como os grandes criadores, seus
contemporâneos, introjeta o passado no presente como algo vivo, que
ocultamente dinamiza as realidades.
[É da mesma origem o impulso que levava E. Pound, naquele mesmo
momento, a criar suas Personae e seus Cantos, em que (pelo processo da
intertextualidade) vozes poéticas do passado são absorvidas pela voz
poundiana, que, assim, expressa o Presente como uma voragem, que o
ontem dinamiza, e onde já se gera o amanhã. ]
Esse é um dos aspectos fundamentais da poesia contemporânea, bem
como da fernandina: a diluição das fronteiras entre os “tempos” que regem
a nossa vida concreta para revelar o Tempo infinito que tudo engloba e que
permanece desconhecido dos homens.
Mas não é só dos “tempos” que se anulam as fronteiras. Na palavra de
Pessoa há uma grande ânsia de fundir “espaços” distintos e distantes em
um só Espaço abrangente e perene, como há também a ânsia de expansão
da individualidade para que seja alcançada a Totalidade do ser ou uma
plenitude de sentir e ser, quase cósmica, na qual pressentimos uma grande
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23 A “Introdução” assinada por Montalvor no primeiro número de Orpheu é uma verdadeira profissão de fé
poética que afirma não só o valor absoluto da Arte para essa geração, mas também o fato de que eles se
sentiam irmanados com os demais nas mesmas aspirações e projetos. Diz Montalvor:
“O que é propriamente revista em sua essência de vida e cotidiano deixa-o de ser ORPHEU, para melhor
se engalanar do seu título e propor-se.
E, propondo-se, vincula o direito de em primeiro lugar se desassemelhar de outros meios, maneiras e
formas de realizar arte, tendo por notável nosso volume de Beleza não se incaracterístico ou fragmentado,
como literárias que são essas duas formas de fazer revista ou jornal.
Puras e raras suas intenções como seu destino de Beleza é o do: - Exílio! Bem propriamente, ORPHEU é
um exílio de tempramentos de arte que a querem como a um segredo ou tormento...
Nossa pretensão é formar, em grupo ou ideia, um número escolhido de revelações em pensamento ou
arte, que sobre este princípio aristocrático tenham em ORPHEU o seu ideal esotérico e bem nosso de nos
sentirmos e conhecermo-nos.
A fotografia de geração, raça ou meio, com o seu mundo imediato de exibição a que frequentemente se
chama literatura e é sumo do que para ahi se intitula revista, com a variedade a inferiorizar pela igualdade
de assuntos (artigo, secção ou momentos) qualquer tentativa de arte — deixa de existir no texto preocupado
de ORPHEU.
Isto explica nossa ansiedade e nossa existência! ”
(In Orpheu, vol. I, Lisboa, Ática, s/d., pp. 11-12). (Grifos da autora)
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Às vezes, na penumbra Do
meu quarto, quando eu Para
mim próprio mesmo/
Em alma mal existo,
Toma um outro sentido Em
mim o Universo —
E uma nódoa esbatida De eu
ser consciente sobre Minha
ideias das coisas. ”
Para lá da conotação esotérica ou ocultista que têm esses versos, está
bem evidente a obsessão do conhecimento acessível ao eu.
Distendido na ânsia do conhecer, o poeta sonda continuadamente sua
própria consciência das coisas. Com esse gradativo aprofundar-se no eu, de
quem se esperava a revelação da verdade do mundo, o artista- criador viu-
se cada vez mais reduzido a si mesmo e, ao mesmo tempo, cada vez mais
distanciado de sua própria identidade.
“Sê plural como o universo”, diz Fernando Pessoa, reagindo à nova
realidade cósmico-social que se oferecia ao homem moderno da Sociedade
Tecnológica. Obrigado a apreender a caótica pluralidade de formas do
universo, o eu tende também a se pluralizar. Fragmenta-se e, aos poucos,
desaparece aquele “eu” uno (do Romantismo) que se apresentava como um
centro fixo, nítido, e que, acima de tudo, devia ser sincero ao expressar seus
sentimentos. E nesse sentido que se pode entender os conhecidos versos de
Autopsicografia:
“O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente Que
chega a fingir que é dor A dor
que deveras sente. ”
Pessoa apreende aí com nitidez a dialética entre eu pessoal vs. eu poético que
se impôs ao poeta moderno, obrigado a distanciar-se do seu eu comum, preso
na teia social e rotineira do mundo cotidiano, para poder ouvir com clareza
o seu “outro” eu, o eu criador, sensível e intuitivo, que serviria de mediador entre
o Conhecido e o Desconhecido.
A esse repúdio do “eu” pessoal, individualizado e poderoso (que está
na base do mundo romântico), corresponde a despersotialização procurada a
partir de então. Não se trata mais de dar voz ao eu real do poeta, nem de lhe
pedir “sinceridade de sentimentos”, mas sim de entregar a experiência de
criação à sua personalidade poética — personalidade fictícia -, mas muito mais livre
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O fenômeno da heteronímia
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e dinâmica de Deus!”, como diz o poeta mais adiante nessa mesma ode.
A ideia mais próxima que nos ocorreu, ao tentarmos “diagnosticar” o
contemporâneo em Fernando Pessoa (principalmente o espetacularmente
registrado em Álvaro de Campos), foi a do “corpo somático”, que, nestes
últimos anos, vem sendo investigado por fenomenólogos, psicólogos e
cientistas de várias áreas. Por ser uma relação inesperada e insólita que se
nos apresentava à reflexão, resolvemos investigar sua possível legitimidade
e retomamos o caminho da análise que vínhamos seguindo: o de como
Fernando Pessoa resolveu, em poesia, o problema do Conhecimento
colocado por sua época. Nessa atitude basilar, víamos (e vemos) a principal
razão da absoluta atualidade da poética fernandina, hoje, quase cem anos de
distância depois de seu início.
Ao perseguirmos novamente o esforço inventivo de Fernando Pessoa
para se fazer mediador do universo através de suas próprias sensações,
acabamos verificando que ele se identifica com aqueles pensadores-cria-
dores revolucionários que Thomas Hanna 24 analisa como profetas ou
arautos do “mutante cultural” de nossos dias: Kant, Nietzsche, Freud,
Darwin, Marx, Kierkegaard, Husserl, Sartre, etc. Tendo-se dedicado à
leitura e aos estudos de quase todos esses pensadores (como atestam suas
notas e reflexões), Fernando Pessoa expressa em sua produção poética os
elementos básicos da evolução-mutação para a qual cada um deles con-
tribuiu de uma maneira. E isso, evidentemente, não porque os tenha lido,
mas porque ele próprio foi um desses superperceptivos que se anteciparam
aos tempos.
Lida à luz dessa evolução-mutação, veremos que novos aspectos da
poesia fernandina podem ser iluminados. E, a certa altura, pareceu-nos
sobremaneira fecundo (para posteriores estudos) que tentássemos com-
preender essa singular poesia como uma daquelas vozes que, desde o início
do século, “profetizaram” o mutante que, desde a segunda metade do
século XX, singulariza o nosso panorama cultural. E assim nos decidimos
por essa abordagem, colocando de início a pergunta fundamental: em que
consiste esse “corpo somático” que caracteriza o “mutante cultural” de hoje
e que já vemos pressentido por Fernando Pessoa?
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kantiana.
E, para a preparação da autoconsciência que deverá iluminar o caminho,
a poesia é um dos grandes mediadores. Como disse Fernando Pessoa: “A
finalidade da Arte é simplesmente aumentar a autoconsciência humana”. Bem
sabemos (como ele também o sabia) que Arte não é só isso. Entretanto,
nestes tempos de mudança e de rebaixamento geral da cultura essencial ao
ser humano, é bom que a encaremos assim.
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Bibliografia
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pacífico o fato de que valor literário não tem sexo. Tanto há os grandes escritores
ou escritoras como os meramente bons, medíocres ou péssimos. O confronto
entre ambas as produções leva facilmente à conclusão de que homens e
mulheres se igualam em força ou energia criativa, desde que tenham iguais
oportunidades de desenvolvimento cultural, e de que a maior ou menor
densidade literária de cada obra depende exclusivamente do maior ou
menor grau de qualidade do espírito que a produz, seja de homens, seja de
mulheres.
Nesse sentido, a crítica atraída pela produção literária da mulher tem-se
preocupado basicamente em descobrir o que essa literatura é, como se constrói
e por que trilha determinados caminhos (temáticos, estruturais, estilísticos,
ideológicos, etc.). Ou, mais amplamente, como essa escrita marca a presença da
mulher na história e na cultura do tempo em que ela se manifesta.
Voltando ao nosso tema inicial, podemos dizer que um caminhar atento
pelos meandros da produção feminina mostra-nos que, na cultura
andocêntrica que está na base da nossa civilização, a mulher foi sempre o
diferente que precisava ser domado ou neutralizado pelo "igual”. Assim, o
conhecermos as manifestações desse conflito latente (homem- mulher-
cultura—sociedade), tal como foi expressado pela mulher desde a origem
dos tempos históricos, poderá “iluminar ” certos aspectos ainda obscuros da
crise de valores em curso em nosso tempo.
A mulher na literatura e na memória cultural
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As eras literárias
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Pode-se notar que a literatura foi sempre uma espécie de arauto das
novas formas de vida, de sentir e de pensar que se sucedem nos tempos.
Assim, foi a Poesia que anunciou o nascimento do Amor, ao codificar as
relações homens—mulher, tal como as consagrou a civilização cristã (amor
puro, conjugal; amor impuro, extraconjugal). No século XII, na Galícia (sul da
França), surgiu a poesia trovadoresca, cantada no dialeto galego-português
por trovadores aristocráticos que, nas cortes, expressavam um novo
sentimento do homem em relação à mulher: o amor cortes. Um amor que,
semelhante à relação de vassalagem que existia entre “servos” e “suserano”,
também obrigava o amador a prestar “vassalagem amorosa” à amada
escolhida.
Na verdade, tratava-se de um jogo, uma representação, a que se
entregavam cavaleiros celibatários e damas casadas (portanto, “inacessíveis”
à união sexual com o amador). Tratava-se, pois, de um amor idealizado,
platônico (embora, na prática, haja indícios de que tais amores não ficavam
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Como morreu quem nunca bem (Como morreu quem nunca obteve nada
ouve da rem que mais amou e daquela que ele mais amou, e quem viu
quem viu quanto receou d'ela e foi acontecer o que mais temia e por isso foi
morto por em: morto:
Ai, mia senhor, assi moireu! Ai, minha senhora, assim morro eu!)
(Como homem que enlouqueceu, senhora,
Comome que ensandeceu senhor,
com o grande pesar que viu e depois não se
com gran pesar que viu, e nom foi
alegrou, nem dormiu, minha senhora, e
ledo nem dormio depois, mia
morreu:
senhor, e morreu:
Ai, minha senhora, assim morro eu!)
Ai, mia senhor, assim moir eu!
(Paio Soares de Taveirós, século
XII)
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Século XIII
Infanta dona Branca. Nascida em Guimarães em 1259 e falecida no
Mosteiro das Olgas, em Burgos, em 1321. Filha da rainha dona Beatriz e de
dom Afonso III. Era irmã de dom Dinis, o rei trovador. Deixou fama de
mulher erudita, atenta à cultura do tempo. Com seu apoio, o famoso copista
Rabbi Abner, judeu convertido, compôs o Livro das Batalhas de Deus em hebraico.
Posteriormente, ainda por sua iniciativa, esse livro foi vertido para o
castelhano por mestre Afonso. Passou à crônica do tempo o seu infeliz amor
pelo chefe mouro Aben Afan, morto em batalha; trágico amor que vai ser
celebrado, séculos depois, por Almeida Garrett, num poema em dez cantos,
Dona Branca ou a Conquista dos Algarves (1826).
Século XV
Senhora dona Filipa. Nascida em Coimbra em 1453 e falecida no convento
de Odivelas em 1497. Filha do infante dom Pedro, o Regente. Foi dama
prestigiada pela família real por sua inteligência e arguto espírito político.
Foi tutora de uma das filhas de Afonso V. São-lhe atribuídas as obras: Conselho
e voto de dona Filipa, sobre as terçarias e guerras de Castella; 0 conselho; Nove meditações da
paixão; Tratado da vida solitária; Prática ao Senado de Lisboa, e a tradução do latim de
Evangelhos e homílias de todo o ano. Dona Filipa e suas damas compuseram cantigas
que mais tarde foram incluídas no Cancioneiro Geral Garcia de Resende (1516).
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Século XVI
Infanta dona Maria, chamada a infanta Minerva. Nascida em 1521 e
falecida em 1577. Era filha de dona Leonor da Áustria, terceira mulher de
dom Manuel, o Venturoso, “Senhor da Guiné e de toda a Conquista”. Era
irmã de dom João III, o rei inquisidor, em cuja corte austera a cultura e as
artes foram incentivadas. No Paço de Santos, onde a infanta vivia, eram
recebidos os homens mais doutos da Europa. Seu prestígio de mulher sábia,
à frente desse “cenáculo de erudição e arte”, espalhou- se pelas cortes
europeias. Confirmando esse prestígio, a infanta dona Maria, com o apoio
do irmão dom João III, fundou uma Academia Feminina, que se tornou
ponto de encontro das “mulheres doutas” do reino, entre as quais avulta a
presença da infanta. Do elenco de nomes que pertenceram à Academia,
destacam-se: Luiza Sigéa (espanhola que aos doze anos vai para Portugal
com seu pai e se notabiliza pela cultura, erudição e inteligência, o que lhe
valeu o encargo de ser mestra da infanta); Ângela Sigéa; Públia Hortência;
Joana Vaz; Paula Vicente (filha de Gil Vicente; perita em idiomas, canto,
danças, pintura, etc., entendida em arquitetura civil e autora do livro Arte da
língua inglesa e holandesa, para instrução dos seus naturais); e dona Leonor de Noronha
(respeitada tradutora do latim: Eneida, Tratado da História de Job e Princípios de nossa
redenção).
Século XVII
Sóror Mariana Alcoforado, a voz feminina mais famosa de Portugal do
século XVII devido às Cartas portuguesas, que ela — uma freira - escreveu a um
oficial francês, marechal Chamilly, que participara de lutas políticas em
Portugal. São cinco cartas da mais extremada paixão e desespero, por ter sido
abandonada pelo amado. Sóror Mariana nasceu em 1640 e faleceu com a
avançada idade de 83 anos, em 1723, no Convento da Conceição de Beja,
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onde foi escrivã. Filha de família ilustre, foi obrigada por decisão do pai a
ingressar ainda adolescente na vida religiosa, onde permaneceu até sua
morte. Mas, a julgar pela exaltada paixão, sofrimento e desejo de morte,
expressos nas Cartas portuguesas, sua vida não teve a paz e a serenidade que
seriam naturais num convento. Publicadas pela primeira vez em francês, por
um livreiro de Paris, com o título Lettres Portugaises traduites en français (1669), as
cartas de sóror Mariana levantaram acirradas polêmicas (por questões de
autenticidade, autoria, etc.), mas atravessaram os séculos, chegando até os
nossos dias como as mais famosas cartas de amor da literatura ocidental.
(Duzentos anos depois das Cartas portuguesas, o gesto apaixonado, revoltado e
libertário de sóror Mariana volta a ser repetido por três grandes escritoras
portuguesas: Maria Tereza Horta, Maria Velho da Costa e Maria Isabel
Barreno, em 1972, nas Novas cartas portuguesas, contra a opressão machista e
ditatorial exercida sobre as mulheres — reação que lhes valeu a apreensão
da edição, processo-crime e mandado de prisão, que só não foi executado,
devido a delongas da lei que, quando o aprovou para ser cumprido, a
Revolução de Abril de 74 acabara de acontecer...)
Século XVIII
Teresa Margarida da Silva e Orta. Foi uma voz “feminista” a se fazer
ouvir em pleno Neoclassicismo, influenciada pelas ideias do Iluminismo em
gestação. Nascida em São Paulo, Brasil, em 1711, faleceu em Lisboa em 1793,
aos 82 anos de idade. Filha de um português de origem humilde, que
enriqueceu no Brasil organizando “bandeiras” e controlando o envio do ouro
para Portugal, Teresa Margarida deixou o Brasil aos cinco anos. Sua obra não
tem rastro nenhum de vivência brasileira, daí que não se justifica a iniciativa
de alguns intelectuais, entre nós, de considerá-la a “primeira romancista
brasileira”. Teve vida atribulada e combativa. Aos dezesseis anos, desafia a
vontade do pai e abandona a casa para casar-se com o filho de seu preceptor
alemão. É deserdada pelo pai, cuja fortuna, após sua morte, é toda entregue
a Matias Aires, seu irmão mais velho. Foi secretária do marquês de Pombal
e a ela é atribuída a redação da carta dirigida aos jesuítas anunciando o
expurgo que contra eles foi feito pelo governo pombalino.
Teresa Margarida marcou presença na história da literatura devido à
novela publicada em 1752 (com o pseudônimo de Dorotéia Engrássia
Tavarede Dalmira), Aventuras de Diófanes — Máximas de virtude e formosura, com que
Diófanes, Clymenea e Hemirena, Príncipes de Thebas, venceram os mais apertados lances da
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desgraça.
Dedicada à infanta dona Maria, essa novela (que segue o modelo clássico
de Fénelon) tornou-se bestseller na época, com quatro edições seguidas (1752,
1756, 1765 e 1777). Em 1888, sai a quinta edição e em 1945, no Brasil, a sexta
edição (hoje uma raridade). Apesar de obedecer rigorosamente aos padrões
da novela clássica, Aventuras de Diófanes (cuja personagem central é uma
mulher) já expressa uma nova consciência acerca da importância da mulher
na sociedade, que prenuncia o ideário romântico que estava em germinação
na época.
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vindo de fora e aqui assume o caráter que a nossa criatividade ou índole lhe
der. Obviamente, desde que deixamos de ser colônia no século XVIII vimos
lutando para construir a nossa própria identidade, a nossa própria literatura
e uma cultura específica, que, por sua vez, um dia talvez se torne
“irradiadora”. Seremos um dia o “país do futuro”, há muito profetizado por
Stephan Zweig?
Esperemos.
Voltemos às mulheres.
Como dissemos, é no século XVIII que a mulher surge na literatura
brasileira como autora. Até então só aparecia como personagem ou “musa
inspiradora”, reforçando a imagem feminina dual (pura/impura),
construída na Idade Média e consolidada na era clássica, principalmente pela
poesia camoniana, que consagra definitivamente o amor puro como o supremo
ideal a ser alcançado pelo homem e pela mulher. Embora parcos, restaram
documentos da época que registram a presença de poetisas que, sob o influxo
de um arcadismo tardio, marcaram a entrada da mulher na nossa literatura.
Destacam-se nessas fontes documentais os nomes de:
Beatriz Brandão. Poetisa, dramaturga, autora de romances em versos e
contemporânea dos árcades brasileiros, Beatriz nasceu em Vila Rica em 1779,
viveu parte da vida no Rio de Janeiro, onde faleceu em 1868, em pleno
Romantismo.
Foi confidente de sua prima Maria Joaquina Dorotéia, a famosa Marília de
Dirceu, noiva e musa de Tomás Antônio Gonzaga. Beatriz Brandão teve
notoriedade em sua época, chegando a colaborar em jornais cariocas, como
Marmota e Guanabara. Sua primeira publicação em livro foi Cantos da mocidade
(1856). Deixou inúmeros inéditos e outros tantos publicados (poesia,
romance e traduções).
Ângela do Amaral Rangel. Primeira poetista repentista registrada pelos
historiadores, Ângela nasceu no Rio de Janeiro em 1725, onde faleceu em
data ignorada. Era cega de nascimento e deixou fama de talento muito
louvado pelos seus pares. Foi a única mulher a participar da Academia dos
Seletos, onde, em 1752, foi recebida entre as mais altas figuras do Estado.
Fato raríssimo de acontecer a uma mulher e não só naqueles recuados
tempos do século XVIII. Deixou publicações esparsas na imprensa e uma
coletânea de poemas incluída na antologia Júbilos da América. (Lisboa, 1754).
Delfina Benigna da Cunha. Poetisa gaúcha que viveu no período de
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O entre-séculos (1880-1920)
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É curioso notar que na área da poesia não se fez ouvir nenhuma voz
feminina engajada na linha de ruptura do Modernismo de 22. Na música,
houve a pianista Guiomar Novaes; nas artes plásticas, Anita
Malfatti e Tarsila do Amaral. Há ainda Pagu (Patrícia Galvão, São Paulo,
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A literatura regionalista que surge nos anos 30, ativada pela grande
crise econômica que se alastra pelo mundo (pós-crack da Bolsa de Nova York,
em 1929), no Brasil foi iniciada por uma mulher.
Rachel de Queiroz (Ceará, 1910). É a escritora que abre caminho para o
novo romance, empenhado em denunciar a injustiça social que fun-
damentava (ou fundamenta?) a sociedade moderna. Em 1930, estréia com o
romance 0 quinze (cuja matéria foi tirada da grande seca que assolou o Ceará
em 1915), no qual, a par da tragédia que se abate sobre as vítimas da seca, é
questionado o novo lugar que a mulher começava a ocupar na sociedade: o
de uma profissional que transpõe os limites do lar, onde o sistema patriarcal
a aprisionava.
[No ano seguinte, Jorge Amado estréia com 0 país do carnaval e põe em
xeque o antigo ideal de mulher (pura, submissa, etc.). A partir daí, o romance
brasileiro é invadido por uma galeria de mulheres “decaídas” (fêmeas fortes
ou fracas, mas sempre dependentes do macho), que, através dos romances
traduzidos, são exportadas para o mundo todo como imagens da mulher
brasileira, tornada símbolo da sexualidade instintiva, livre, natural. ]
Em 1939, Rachel publica As três Marias, no qual reforça o silencioso conflito
entre mulher e sociedade e denuncia o antagonismo de raiz a impedir que a
mulher liberada pelo estudo e pela profissão pudesse se realizar, no plano
amoroso, como mulher e como mãe.
Romancista, contista, cronista, teatróloga, Rachel de Queiroz vem
construindo uma obra-testemunho da realidade brasileira, dividida entre
grandezas e misérias, primitivismo e civilização. Entre seus títulos, des-
tacam-se: João Miguel (1932), Caminho de pedras (1937), Dora, Doralina (1975) e
Memorial de Maria Moura (1992).
Rachel de Queiroz foi a primeira mulher eleita para a Academia Bra-
sileira de Letras, em 1977.
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épocas e das mais variadas maneiras o mundo feminino foi apoio e espaço
concretizador das ideias, crenças, conquistas ou inovações do mundo
masculino. Assim, nada mais natural que agora também esteja sendo o
espaço por excelência, onde o “novo” se está forjando em meio a
desencontros, perplexidades, acertos e desconcertos, com a diferença de que
agora um dos elementos-chave da mudança em processo é o próprio mundo
feminino, é a própria condição de mulher que tenta se redescobrir e se
reequacionar em sintonia com as novas forças imperantes. Como diz Marina
Colasanti: “Somos mutantes, mulheres em transição. Como nós não houve
outras antes. E as que vierem depois serão diferentes” {Mulher daqui pra frente,
1981). Ou, ainda, como disse uma das “meninas” de Lygia Fagundes Telles:
“Sempre fomos o que os homens disseram que nós éramos. Agora somos nós
que vamos dizer o que somos” {As meninas, 1974).
As novas escritoras
A partir dos anos 60, a produção literária feminina (poesia, ficção,
teatro, etc.) como que explode, expressando a multiplicidade de olhares que
procuram desvendar essa nova mulher em gestação. Há um crescente
amadurecimento crítico que traz à luz a definitiva falência da imagem dual da
mulher criada na Idade Média e que atravessou os tempos. Falência também
do modelo feminino (a “rainha do lar”) consagrado pela sociedade patriarcal (ou
machista). Manifesta- se cada vez com mais força e lucidez o impulso de
romperem os limites do próprio eu (tradicionalmente voltado para si mesmo
em uma vivência quase autofágica) para mergulhar na esfera do outro: a do
ser humano partícipe deste mundo em crise. Daí que o eu-que-fala na
literatura feminina mais recente se revele cada vez mais claramente como nós.
O que quer dizer que, nestes últimos anos, os problemas limitadamente
“femininos” têm-se alargado no sentido de se revelaram ilimitadamente
humanos.
O elenco de grandes vozes femininas nessas novas vias da criação
literária é demasiado extenso para caber neste percurso. Assim, citaremos
apenas algumas das que já entraram no circuito dos mass-midia culturais
(enquanto outras, também de alta categoria, permanecem injustamente na
sombra): Hilda Hilst, Nélida Pinon, Lya Luft, Stella Leonardos,
Heloisa Maranhão, Neide Archanjo, Adélia Prado, Renata Pallotini, Yêda
Schmaltz, Sônia Coutinho, Patrícia Bins, Helena Parente Cunha, Márcia
Denser, Patrícia Melo.
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Nelly Novaes Coelho
Conclusão
“É com uma alegria tão profunda [...] aleluia que se funde com
o mais escuro uivo humano da dor da separação, mas é grito
de felicidade diabólica. Porque ninguém me prende mais [...]
agora quero o plasma, quero me alimentar diretamente da
placenta [...] Quero captar o meu é. [...] Escrevo-te toda inteira
e sinto um sabor em ser e o sabor a ti é abstrato como o instante.
”
(Água viva, 1973)
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Bibliografia
isolado. Situada em seu contexto cultural, essa nova literatura revela que sua
sintonia com as forças transformadoras, atuantes no mundo desde o início do
século XX (o período dos “ismos”), fez-se lentamente (por razões que
veremos adiante). Observando o seu percurso histórico, vemos que depois do
grande momento inaugural (anos 20-30), representado pela presença
inovadora de Monteiro Lobato, a literatura escrita para a meninada entrou
numa fase de quase “hibernação” da inventividade e do ludismo, durante a
qual os aparentes discípulos de Lobato nada mais fizeram do que, usando
técnicas novas da escrita, reforçar os valores conservadores.
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Literatura: arte, conhecimento e vida
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Nelly Novaes Coelho
A descoberta do mundo
26 Cf. Nelly Novaes Coelho: Dicionário crítico da literatura infantil e juvenil brasileira , 4- ed., Edusp, São Paulo, 1995
(registro de centenas de autores e mais de 3-000 títulos analisados).
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Nelly Novaes Coelho
Entre os bestsellers para crianças e jovens que surgem nos rastros do boom
dos anos 70-80 estão: A fada que tinha ideias, de Fernanda Lopes de Almeida;
Nicolau tinha uma ideia, de Ruth Rocha; A bolsa amarela, de Lygia Bojunga Nunes;
Bisa Bia Bisa Bel, de Ana Maria Machado; a criação da personagem folhetinesca
Bruxinha, de Eva Furnari; Sangue fresco, de João Carlos Marinho; Amarelinho, de
Ganymédes José; Os que podem voar, de Elias José; série “Vaca Voadora”, de Edy
Lima; Macaparana, de Giselda L. Nicolelis; Vira vira lobisomem, de Lúcia Góes; 0
viajante das nuvens, de Haroldo Bruno; Os cavaleiros das 7 luas, de Bartolomeu de
Queirós; a série policial Irmãos Encrenca e a série “Afuganchos”, de Stella Carr;
Tôpedindo trabalho, de Teresinha Alvarenga; 0 menino maluquinho, de Ziraldo, etc.
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Paradigmas tradicionais
Paradigmas tradicionais 2. Descrédito da autoridade como
poder absoluto e inquestionável. Consciência
1. O individualismo e suas verdades (ou
da relatividade dos valores e ideais criados
certezas) absolutas são a base do Sistema. Na
pelos homens; descoberta de que a
Sociedade tradicional (cristã, liberal, burguesa,
transformação contínua é uma das leis da vida.
pragmática, progressista, capitalista, patriarcal)
tudo parte do indivíduo e nele se sustenta. O 3. Sistema social das antigas hierarquias
ideal perseguido é realizar o ser através do fazer em desagregação; sistema familiar em fase de
que levará ao ter. Embora guiado por ideais transformação devido ao desequilíbrio das
generosos (que visavam ao bem da relações homem— mulher; sistemas religiosos
coletividade), na prática o individualismo em fase de reestruturação; ecumenismo vs.
competitivo que era a base do Sistema acabou fundamentalismos; ateísmo vs. fanatismo, etc.
por se transformar no poder absoluto das Sociedade, em geral, desorientada pela perda
minorias privilegiadas. das antigas certezas e pela proliferação de
novas “verdades” que logo se desgastam e são
2. Obediência absoluta ao poder e ao substituídas por outras. Sociedade alimentada
saber da autoridade, exercida exclusivamente pelo “espetáculo” da vida virtual...
pelos homens (Deus, governo, patrão, pai, 4. Sistema moral baseado em valores
esposo). Tal dogmatismo acabou por dogmáticos, de base religiosa: o sentido último
transformar a autoridade em autoritarismo. da vida é de natureza transcendente (prêmio ou
castigo ao comportamento humano, após a
3. Sistema social baseado na hierarquia de morte: céu para os bons e inferno para os maus).
classes, segundo sua maior ou menor fortuna; Moral sexófoba, forjada pela interdição ao sexo,
sistema familiar baseado na autoridade do que é um dos fundamentos da civilização cristã,
homem; sistema religioso centrado na ideia de desde que o Concilio de Trento (século XVI)
Deus criador. Sociedade fundada em certezas estigmatizou o sexo como pecado.
absolutas.
7. A individualidade consciente
de SÍ e de sua responsabilidade em relação ao
outro. Espírito solidário, consciente de que o
indivíduo é parte essencial do todo
(humanidade, sociedade, natureza), pelo qual
cada um é visceralmente responsável.
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Paradigmas emergentes
5. Racismo. Valorização das etnias “brancas” o universo, compartimentou-o em campos ou
do Ocidente sobre as demais (negra, indígena, disciplinas independentes e incomunicáveis,
asiática) ou a de certas etnias que tentam com limites bem definidos (Galileu, Descartes,
destruir outras, por razões religiosas, Newton). Valorização da Razão como a única
fundamentalistas (árabes e judeus, russos e via de acesso ao pleno conhecimento das coisas
chechenos, etc., etc.). para além do visível.
Paradigmas emergentes
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Paradigmas tradicionais
da intuição ou da inteligência emocional como (infância) deve ser encurtado o mais possível
possíveis vias de acesso ao conhecimento das pela ação de uma educação rigorosa e inibidora
coisas para além das aparências sensíveis. da espontaneidade e da livre individualidade
de seu ser. Para essa criança foi escrita a
7. A linguagem literária assume a si
“literatura exemplar” medíocre e autoritária
como invenção. Diante das incertezas inerentes
que (ao lado dos contos de fadas e contos
ao Real, os antigos cânones faliram, a palavra
maravilhosos) proliferou no Romantismo
poética ou narrativa se torna questionadora das
(século XIX) e estigmatizou a Literatura Infantil
realidades; e, por outro lado, descobre-se
como “gênero menor”.
criadora ou instauradora de um novo real: lin- Paradigmas emergentes
guagem de questionamento e descoberta, para
a qual todo experimentalismo é permitido. Tal 8. A criança é vista como um ser em formação,
como Deus que, no início dos tempos, pela cujo potencial deve desenvolver-se em
palavra criou o mundo (“Deus disse: Faça-se a liberdade, mas orientado no sentido de alcançar
luz, e a luz se fez”, ou: “No princípio era o a maior plenitude em sua realização. Para essa
Verbo”.), agora o homem se vê investido do criança, vem sendo criado o novo universo da
poder da palavra, que engendrará a Nova Literatura Infantil, cujo marco histórico é
Ordem. Monteiro Lobato (anos 20-30) e cujo ponto mais
8. A criança é vista como um “adulto em alto (até este limiar do terceiro milênio) está na
miniatura”, cujo período de imaturidade Literatura Infantil/Objeto Novo, engendrada a
partir do boom dos anos 70-80.
Conclusão
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Paradigmas emergentes
leitor crítico) e consciente de que uma das mais fecundas fontes para a
formação dos imaturos é a imaginação — espaço ideal da literatura. É pelo
imaginário que o eu pode conquistar o verdadeiro conhecimento de si
mesmo e do mundo em que lhe cumpre viver. Apenas a razão, a lógica já
não é suficiente.
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Por outro lado, toda “revolução de ideias” se expressa por uma “lin-
guagem revolucionária”, isto é, rompe os códigos linguísticos antigos para
instaurar códigos novos que, de início, são praticamente indecifráveis pelo
pensamento lógico. Tais códigos exigem muito tempo para se tornar
“legíveis” e ser compreendidos por seus destinatários. Uma vez que a
criança é o destinatário da Literatura Infantil, esta não pode romper de um
momento para outro o código já conhecido, pois seria como falar à criança
em uma língua desconhecida. Ela não tem, como o adulto, recursos
interiores para ir descobrindo, em meio à fragmentação dos discursos, os
possíveis valores dos novos códigos e ir-se situando diante deles. Na área
da Literatura Infantil, as mudanças precisam ser lentas. E foi o que
aconteceu.
O sopro renovador que no início do século XX começou a atingi-la foi
decorrente das reformas do Ensino que então se impunham em todo o
mundo. Reformas educacionais que, em geral, estavam ligadas à valo-
rização da língua e dos valores cívicos de cada nação para além dos valores
morais e familiares que deviam ser cultuados. Foi nesse sentido que entre
nós certos intelectuais, preocupados com a formação das crianças,
começaram a “retraduzir” para o português falado no Brasil os velhos livros
infantis que aqui circulavam em tradução portuguesa de Portugal. A
distância entre os dois falares - o português e o brasileiro - já se fazia sentir
no vocabulário, na sintaxe, na fala coloquial, nos modismos, etc., com
diferenças que tornavam, muitas vezes, os textos portugueses quase
ininteligíveis. Devido a esse gradativo distanciamento entre os dois falares,
no início do século XX começaram a aparecer em adaptações brasileiras os
contos de fada, as fábulas, as estórias exemplares ou contos populares que
a Tradição nos havia legado.
Portanto, entre nós, a primeira manifestação crítica em relação à
literatura destinada às crianças foi no domínio da língua. Logo depois aparecem
algumas traduções de estórias infantis clássicas, feitas principalmente de
publicações francesas. Começam também a aparecer livros de leitura escritos
por brasileiros para serem adotados nas escolas. A preocupação com a
Língua junta-se a preocupação com o Ensino e, ao mesmo tempo, com os
valores cívicos nacionais.
A revolução crítico-literária lobatiana
É com Monteiro Lobato que esse primeiro espírito crítico iria dar
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maturação das potencialidades que cada ser traz consigo e que o meio familiar,
social e cultural auxilia a eclodir e a se transformar em realidade é conquista
do nosso tempo. E, ainda assim, é muito lentamente que essa nova
concepção da infância vem se difundindo pelo mundo.
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embora às vezes opinem sobre o valor das obras, em geral não se fundam
em critérios críticos e, portanto, são destituídos de valor informativo quanto
à natureza ou valor intrínseco da obra.
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poucas linhas, o que acontece no livro, qual a sua “estória”. (Serve de simples
orientação quanto ao conteúdo da obra e não entra no mérito de seu valor.)
2. Artigos: breves textos que, noticiando o aparecimento da obra, elogiam-
na ou reprovam-na, mais ou menos de maneira impressionista, sem
praticamente nenhum critério crítico, seguindo apenas a opinião ou o gosto
pessoal. (Crítica de natureza subjetiva, arbitrária e emotiva que pode causar
sérios prejuízos tanto à obra, por mal compreendida, quanto aos seus
leitores em potencial.)
3. Análise estruturalista (sempre resultante de uma produção universi-
tária ou estudos especializados): visa revelar o mecanismo interno da obra, os
componentes de sua estrutura narrativa (com suas variantes e invariantes).
Esse tipo de leitura/análise da obra literária infantil é dos poucos que
trabalham diretamente com a matéria literária. Limitam-se, porém, a uma
abordagem descritiva, preocupada com a dimensão semiótica do texto e não
com sua dimensão simbólica que leva à interpretação ou avaliação da obra.
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Peirópolis, localidade rural situada a 20 quilômetros da cidade
mineira de Uberaba, é um dos mais importantes sítios
paleontológicos brasileiros.
editora fundação
Peirópolis
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Nelly Novaes Coelho é professora
de pós-graduação de Literatura
Portuguesa e Brasileira da Faculdade
de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas da Universidade de São
Paulo e, esporadicamente, de outras
universidades oficiais do Brasil.
Ensaísta, crítica literária,
pesquisadora e estudiosa do pen-
samento proposto pelo pensador,
antropólogo e sociólogo francês
Edgar Morin, é também a introdu-
tora da literatura infanto-juvenil
como disciplina universitária. Vem
ministrando vários cursos e confe-
rências e participando de inúmeros
congressos e seminários promovidos
em diversas faculdades, escolas e
instituições culturais do Brasil e do
exterior.
Contemplada com vários prêmios
no Brasil e no exterior, Nelly é
membro de muitas associações
culturais e autora de uma dezena de
livros — muitos adotados por escolas
e universidades de todo o Brasil — e
de artigos publicados em jornais e
revistas. Atualmente, está finalizando
uma pesquisa que resultará numa
espécie de dicionário de autoras
brasileiras.
"Nelly está entre os melhores ensaístas e críticos literários
brasileiros. Escreve com erudição e profundidade, mas sempre
numa linguagem elegante, clara, ao alcance de qualquer leitor.”
Tânia Doyle de Paris
ISBN 85-85663-41-3
^ editora fundação
Peirópolis 9 663414