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PENTECOSTALISMO

E SEUS DANOS À
IGREJA DE CRISTO!

Marcos Granconato
OS TRÊS PERIGOS

Ao longo de sua história, a igreja cristã tem enfrentado três


graves perigos: o paganismo, o papismo e o pentecostalismo.
O paganismo ameaçou a igreja logo nos primeiros anos de
sua existência, especialmente por meio de um misto de religiões,
filosofias e fábulas que mais tarde ficou conhecido como
gnosticismo. Esse modelo exercia forte atração sobre os cristãos
menos preparados porque, além de oferecer experiências místicas,
como visões e coisas do tipo (Cl 2.18), também impunha aos seus
seguidores normas de conduta que pareciam piedosas — regrinhas
como "não pode isso", "não pode aquilo" (Cl 2.20-23). O maior
atrativo do gnosticismo, porém, estava na alegação de que seus
adeptos formavam uma elite espiritual detentora de um grau de
espiritualidade e conhecimento (gnosis) que outras pessoas eram
incapazes de ter.
O papismo, por sua vez, desenvolveu-se em decorrência
de processos muito mais longos e complexos, iniciados já no século
2, e que culminaram no surgimento de uma espécie de príncipe
eclesiástico com autoridade universal, supostamente dotado de
infinitos poderes temporais e espirituais — uma espécie de deus,
reconhecido, aliás, como infalível!
Por causa do papismo, a igreja medieval ficou muitas
vezes nas mãos de homens inescrupulosos, imorais e corruptos
que, em nome de Cristo e em benefício próprio, cometeram
atrocidades como as guerras das Cruzadas, os crimes da Inquisição
e a exploração impiedosa do povo por meio da venda de relíquias e
de indulgências. O caos e a vergonha a que o papismo lançou a
igreja deram ensejo à Reforma Protestante do século 16.
O terceiro perigo, o pentecostalismo, é de todos o mais
recente e também o mais danoso, posto que abriga elementos dos
dois primeiros e, conforme será demonstrado, trouxe prejuízos para
o cristianismo que nem mesmo os piores inimigos da fé foram
capazes de causar nesses 2 mil anos de história eclesiástica.
O surgimento do movimento pentecostal geralmente é
datado de 1906, ano em que William Joseph Seymour, um pregador
afro-americano, iniciou reuniões num barracão na Rua Azuza,
número 312, em Los Angeles, EUA. Nessas reuniões, a ênfase era
a busca do batismo com o Espírito Santo, o que Seymour cria ser
uma experiência mística pós-conversão, acompanhada pelo falar
em línguas.
Ora, a Bíblia ensina que o batismo do Espírito Santo é
dado a todos os crentes, sem que eles precisem se esforçar para
obtê-lo (1Co 12.13; Gl 3.2). Também ensina que isso ocorre no
momento da conversão (Ef 1.13), sem nenhuma necessidade de
ser evidenciado pelo dom de línguas, já que, na Igreja Primitiva,
esse dom era dado somente a alguns (1Co 12.30).
Contudo, os seguidores de Seymour criam que o batismo
do Espírito Santo era uma espécie de segunda bênção (a primeira
bênção seria a conversão) dada por Deus somente a quem a
buscasse com orações, jejuns, clamores, lágrimas e vigílias. Por
isso, testemunhas oculares relataram que, na Rua Azuza, as
pessoas passavam dias e noites gritando, chorando, gemendo,
uivando, pulando, girando e se contorcendo, enquanto clamavam
pela "bênção". Já os que eram "batizados" balbuciavam o que criam
ser línguas estranhas e, em êxtase, caíam no chão onde ficavam
rolando ou se sacudindo, numa manifestação frenética de loucura
total. Outros, ainda, desmaiavam e ficavam deitados por horas a fio,
inertes como se estivessem mortos.
Tudo isso, pensavam, era necessário e valia a pena, pois
o batismo do Espírito Santo, uma vez recebido, elevaria o crente a
um novo e mais rico patamar espiritual, tornando-o participante de
uma elite de homens santos e fazendo-o desfrutar de uma vida
repleta de experiências poderosas e arrebatadoras com Deus.
Foi dito aqui que o primeiro grande perigo que ameaçou a
igreja de Cristo foi o paganismo manifesto em doutrinas gnósticas.
Pois bem... O pentecostalismo demonstrou ser um dos maiores
danos que já sobrevieram à igreja porque, com sua ênfase numa
doutrina jamais ensinada nas Escrituras, trouxe de volta para o
cristianismo precisamente aquelas velhas noções pagãs, apegando-
se ao êxtase, ao frenesi espiritual e, especialmente, ao principal
conceito gnóstico da existência de uma elite espiritual que se situa
acima dos crentes comuns.
Então, como ocorreu com o gnosticismo nos séculos 1 e 2,
a possibilidade de provar emoções novas e de fazer parte de uma
elite espiritual fez com que o pentecostalismo atraísse uma imensa
massa de pessoas ignorantes, ávidas por experiências místicas e
sedentas por conquistar o reconhecimento e a admiração dos seus
correligionários.
Conforme dito anteriormente, a segunda maior ameaça
sofrida pela igreja ao longo dos séculos foi o papismo. Ora, o
pentecostalismo também não deixou de fora os principais
elementos desse mal. Com efeito, além de trazer novamente para a
igreja de Cristo o velho paganismo combatido pelos pais apostólicos
do século 2, o movimento pentecostal trouxe também para a igreja
evangélica o velho papismo combatido pelos reformadores do
século 16. A diferença é que o papismo pentecostal é um papismo
piorado.
De fato, se no romanismo foi acolhida a figura de um papa
apenas, no movimento pentecostal ocorreu a diabólica proliferação
de um exército de pequenos papas locais, todos reivindicando
autoridade divina e infalibilidade absoluta sob os títulos de bispo,
apóstolo, profeta ou patriarca.
Com incrível ousadia, todas essas figuras alegam que
Deus lhes fala diretamente e, à semelhança dos pontífices
medievais, não aceitam que suas opiniões ou condutas sejam
questionadas por ninguém e em nenhum grau. Também à
semelhança dos papas renascentistas, esses facínoras exploram a
boa-fé do povo e juntam tesouros para si, vendendo quinquilharias
que dizem ser santas e dotadas de poder. Na verdade, isso
acontece hoje numa escala tão grande que é fácil concluir que os
papas medievais, em termos de engano e estelionato, teriam muito
que aprender com os pequenos papas da atualidade que reinam
soberanos nas igrejas pentecostais.
UMA FÁBRICA DE SEIS MALES

Se o pentecostalismo abriga elementos do paganismo e do


papismo, há também outras razões muito mais perceptíveis que
comprovam que essa vertente dita evangélica é um risco terrível
para a causa cristã. Para expor essas razões, basta descrever o
pentecostalismo como uma fábrica de seis males: heresia,
superstição, falsos irmãos, hipocrisia, desordem e desilusão.
Por que podemos afirmar seguros que o pentecostalismo é
uma fábrica de heresias? A resposta é simples e lógica: Crendo que
Deus fala diretamente aos seus apóstolos e profetas, bem como
àqueles que foram agraciados com a “segunda bênção”, os
pentecostais não valorizam o estudo teológico, a exegese ou
mesmo as lições mais elementares da hermenêutica bíblica. Para
que — dizem eles — se afadigar na análise do texto bíblico, no
aprendizado das línguas originais ou na leitura de obras de
profundidade doutrinária se Deus nos fala diretamente? Aliás, no
afã de ressaltar essa fábula, alguns pastores mais criativos deixam
uma cadeira vazia ao seu lado no púlpito, afirmando que aquele
lugar é ocupado por um anjo ou pelo próprio Espírito Santo que,
pondo-se ao seu lado, sussurra as coisas que ele deve dizer à
multidão.
Agravando essa situação, grande parte dos líderes
pentecostais se opõe ferozmente ao estudo da teologia, dizendo
que “a letra mata” (2Co 3.6). Ora, o fácil contexto dessa citação é
suficiente para mostrar que Paulo fala ali da Lei Mosaica (a letra) e
seu impacto mortal sobre aqueles que tentam ser justificados
através da sua observância. Para os pentecostais, porém, nesse
texto, Paulo, justamente o apóstolo mais estudioso do Novo
Testamento (At 26.24), reprovava o dedicado estudo da Palavra de
Deus!
O resultado dessas proezas é que o pentecostalismo
acaba sendo um prato cheio para os que se deleitam na preguiça
intelectual e dá ensejo para que homens sem preparo, seguindo as
imaginações de seu próprio coração e chamando tudo o que lhes
vêm à mente de “revelação”, ensinem aos seus seguidores
absurdos que vão desde as tolices mais chocantes até as heresias
mais deploráveis e destruidoras. Na verdade, esse fato é tão
notável e evidente que qualquer crente com conhecimento teológico
básico sabe que é mais fácil encontrar um dente na boca de um
torcedor corintiano do que uma frase de alto valor doutrinário na
boca de um pastor pentecostal.
De fato, poucas vezes na história do pensamento cristão
existiu uma fábrica de heresias tão produtiva como o
pentecostalismo. Há algum tempo eu adquiri o grau de mestre
(Th.M) em teologia histórica e posso afirmar depois de muitos anos
de estudo que nem Márcion, o arqui-herege do século 2, nem os
montanistas, nem os defensores da cristologia heterodoxa que
ameaçou a igreja nos séculos 4 e 5, nem os cátaros, nem o
catolicismo medieval, nem os radicais da época da Reforma, nem
as seitas pseudocristãs da atualidade superaram o pentecostalismo
na produção de doutrinas blasfemas, desvios teológicos, erros de
interpretação, ensinos destruidores, lições vergonhosas e propostas
antibíblicas.
Quem duvida, deve estudar esses movimentos e compará-
los com as aberrações que dia após dia brotam dos púlpitos
pentecostais. Sem dúvida, o crente sincero se sentiria mais à
vontade numa missa dirigida pelo Papa Inocêncio III do que num
“culto de libertação” realizado por pentecostais. Se bem que, na
verdade, o melhor mesmo seria não comparecer em nenhuma das
duas reuniões.
O segundo mal que a máquina pentecostal produz
incansavelmente é a SUPERSTIÇÃO. Mais uma vez, a noção de
que Deus fala diretamente a seus profetas, revelando coisas novas
a cada dia, fez com que o pentecostalismo abrisse as portas para o
misticismo religioso, repleto de crendices toscas inventadas por
pessoas que diziam ter recebido uma “revelação” qualquer.
Os reformadores do século 16 afirmavam que a
superstição é filha da ignorância. Assim, sem conhecer a doutrina
bíblica e fiando-se nas ilusões de inúmeros sonhadores, os
pentecostais passaram a acreditar em frases mágicas (“eu
determino”, “tá amarrado”; “eu tomo posse”, “eu não aceito...”), em
rituais de quebra de maldição, na força maior de orações feitas de
madrugada, no poder de objetos ungidos com óleo de cozinha e até
em água milagrosa obtida por meio de um copo deixado sobre o
aparelho de TV durante a transmissão de um programa evangélico
qualquer.
Percebendo a facilidade com que as massas criam nessas
fábulas, homens perversos e impostores foram atraídos para o meio
pentecostal onde conquistaram facilmente postos de liderança (para
se destacar no meio pentecostal basta gritar, sapatear e rodopiar
bastante). Então, movidos pela ganância, esses homens inventaram
ainda mais superstições, criaram um amplo comércio de relíquias
muito semelhante ao que a igreja católica explorou na Idade Média
e enriqueceram vendendo cacarecos ungidos para o povo iludido,
prometendo saúde e prosperidade por meio dessas coisas (2Pe
2.1-3).
A massa desesperada seguiu esses golpistas, acreditando
que sua vida ia melhorar e, então, os salões pentecostais ficaram
lotados. Foi assim que o pentecostalismo fez com que a igreja do
Senhor recebesse a fama de um covil de ladrões e a maravilhosa fé
cristã, exposta e defendida por gigantes e santos do passado,
ficasse com a pecha de uma religião de feiticeiros, muito
semelhante à macumba, ao candomblé, ao baixo catolicismo e ao
fetichismo de tribos primitivas. Com efeito, nenhuma outra
estratégia do diabo foi capaz de emporcalhar tanto o santo nome da
igreja de Deus.
O terceiro mal que o pentecostalismo fabrica
incessantemente são os FALSOS IRMÃOS. Infelizmente, ao
contrário do que muitos pensam, um número enorme de
pentecostais jamais conheceu a salvação anunciada no verdadeiro
evangelho. Isso acontece especialmente porque quem se filia a
esse movimento geralmente o faz em busca dos milagres de Cristo
e não do seu perdão. Porém, outra causa para o grande número de
incrédulos dentro dessa vertente evangélica está no fato de que os
pentecostais acreditam piamente na heresia arminiana da perda da
salvação.
Consequentemente, ainda que afirmem em teoria que a
salvação é somente pela fé em Cristo, na prática, os pentecostais
vivem tentando se manter salvos por meio da religiosidade
aparente, das práticas rituais e da observância de regrinhas
inventadas pela igreja. Por incrível que pareça, muitos deles
chegam a acreditar que preservam a salvação porque não deixam a
barba crescer ou porque nunca vestiram uma bermuda!
Tudo isso mostra que muitos pentecostais jamais
entenderam as Boas Novas de Cristo, sendo apenas incrédulos
cheios de medo tentando melhorar de vida ou buscando ser salvos
pelo esforço próprio.
Obviamente, essa presença enorme de falsos crentes no
meio evangélico, produzida especialmente pelo movimento
pentecostal, é uma das principais causas do descrédito a que foi
lançado o cristianismo nos tempos modernos.
A HIPOCRISIA é o quarto mal que a máquina
pentecostal fabrica. A ênfase numa espiritualidade marcantemente
exterior, com gritos, pulos e quedas no chão, deu espaço para
constantes representações teatrais. Com efeito, simulando o que
chamam de “transbordar do Espírito”, muitos pentecostais
sapateiam, rodopiam e se contorcem como loucos, tudo para
convencer os outros de que são fervorosos espiritualmente.
Também a altíssima valorização do falar em línguas impeliu esse
povo ao fingimento, levando-os a repetir, por conta própria, três ou
quatro sílabas desconexas a fim de dar a impressão de que foram
agraciados com o maravilhoso dom descrito em Atos 2 (muitos
deles, depois de “falar em línguas de anjos” no domingo, falam a
língua dos demônios durante a semana na forma de palavrões!).
Buscando ainda status dentro da igreja, muitos pentecostais fingem
profetizar, quando, na verdade, somente dizem qualquer coisa que
lhes venha à mente e que possa estar relacionada à vida alheia.
Naturalmente, todo esse teatro é facilmente percebido por qualquer
pessoa normal, o que transforma a fé cristã em motivo de piadas
aos olhos dos incrédulos.
O quadro descrito acima desemboca facilmente no quinto
mal produzido pelas igrejas pentecostais: A DESORDEM. Nem
num hospício, nem num desfile de carnaval, nem na Câmara dos
Deputados em Brasília é possível ver e ouvir as loucuras e sandices
que se veem e ouvem num culto pentecostal. Ali uns riem, outros
uivam; uns correm de lá para cá, outros rolam no chão; uns
dançam, outros oram aos gritos... No final, dizem que tudo isso é
fervor ou ação do Espírito Santo. Pra piorar, os pentecostais ainda
afirmam que a igreja ordeira, centrada no estudo da Palavra,
marcada por decência, reverência e santo temor é, na verdade, fria
e precisa aprender muito com eles se quiser amadurecer na vida
cristã!
Finalmente, o sexto mal que se origina no
pentecostalismo é a DESILUSÃO. Ouvindo profecias vazias e
revelações inventadas, muitas pessoas criam esperanças que
jamais se cumprem e que as lançam, enfim, num poço de
frustração. Quando isso acontece, para agravar a situação, mestres
impostores as atormentam ainda mais, dizendo que as ditas
profecias não se cumpriram por causa da falta de fé. Então, além de
frustradas, essas pessoas passam a se sentir também culpadas,
vivendo infelizes pelo resto da vida.
Outros, seguindo orientações que lhes disseram ter sido
reveladas por Deus, tomam decisões ou praticam coisas que
acabam por destruir sua família, seu casamento, sua juventude, seu
futuro, sua saúde, sua carreira e seu patrimônio. Quando, enfim,
despertam para isso, percebem muitas vezes que é tarde demais.
Há ainda aqueles que, numa busca escravizadora pelo
que acreditam ser o batismo do Espírito Santo, entregam-se a um
rigorismo cruel que os priva do lazer (cinema é pecado!), do
conforto (mulher de calça comprida? Nem pensar!), do alegre
convívio com os filhos pequenos (ir à praia com eles seria pura
carnalidade!) e até dos prazeres do leito conjugal. No fim de tudo,
ao descobrirem que nada disso teve qualquer proveito, passam a se
lamentar frustrados, percebendo que foram enganados, que a vida
passou e que aquilo que perderam não pode mais ser recuperado.
Veem-se, assim, quão horríveis são os males causados
pelo pentecostalismo. Como evitá-los? Como fugir deles? Esse será
o tema do último artigo desta série.
RESSALVAS E OPÇÕES

Muitas pessoas vão dizer que nesta série de artigos eu


faço confusão entre pentecostalismo e neopentecostalismo. Dirão
que, na verdade, é somente o neopentecostalismo que realiza os
abusos que tenho enumerado, estando o pentecostalismo “clássico”
livre disso tudo.
Esse parecer resulta de certas distinções que foram feitas
no passado entre o chamado pentecostalismo de “primeira onda”
(com ênfase no batismo do Espírito acompanhado de línguas
estranhas), o pentecostalismo de “segunda onda” (com ênfase em
curas e milagres) e o da “terceira onda” (que adota a teologia da
prosperidade). Sem dúvida, essa distinção tem certo valor como
forma de classificação que auxilia a análise histórica do movimento.
Contudo, a observação do cenário atual mostra que, na prática, a
referida diferenciação tornou-se obsoleta, não fazendo mais
qualquer sentido.
Com efeito, como acontece em qualquer praia em que
uma “onda” logo se mistura com a outra, o mesmo ocorreu com o
pentecostalismo. Por isso, hoje é possível perceber que a
“primeira”, a “segunda” e a “terceira onda” se mesclaram, viraram
uma vaga só, espumando heresias, confusões, fraudes, escândalos
e hipocrisias. Assim, a diferença entre pentecostalismo e
neopentecostalismo, se houver, poderá talvez ser encontrada na
eventual ênfase que cada igreja em particular dá a um erro
específico. Na base, porém, todo o movimento se iguala, pois as
comunidades que o compõem adotam os mesmos pressupostos,
praticam e pregam basicamente as mesmas coisas, afirmando a
crença na “segunda bênção”, nas revelações e nos portentos
supostamente concedidos por Deus aos seus falsos apóstolos e
profetas ilusórios.
Feita essa ressalva, importa agora voltar a atenção para
os crentes em Cristo que se encontram nas igrejas pentecostais.
Sim, há cristãos de verdade nessas comunidades. Eu conheço
muitos deles. Trata-se de irmãos em Cristo que percebem que algo
está errado, que sentem a falta de alimento sólido, que observam
inconformados aquelas manifestações fingidas de arrebatamento
espiritual, que sofrem percebendo a ação de espertalhões e a
santidade hipócrita de quem louva a Deus com gritos mas tem a
vida suja (Is 29.13).
São irmãos que, à vezes, se sentem culpados, pensando:
“Será que o errado sou eu? Será que não tenho fervor? Será que
Deus está realmente agindo aqui e só eu não estou vibrando? Por
que não sinto vontade de gritar e pular? Por que não consigo falar
em línguas? E quanto a essas profecias, curas e orações
barulhentas? Será que só eu percebo que são forçadas?”.
Tive contato com muitos irmãos amados que enfrentaram
esses dilemas no meio pentecostal e que hoje estão num aprisco
bíblico. Outros, porém, geralmente por causa de vínculos sociais e
afetivos, ainda vivem nesse meio, mesmo se sentindo incomodados
e pouco à vontade. Para esse crentes de verdade, creio haver
quatro opções:
1. Permanência com influência: Nessa primeira opção, o
crente permanece na igreja em que está, tentando mudar as coisas.
Trata-se de uma decisão nobre, mas a experiência mostra que tem
poucos resultados. Ademais, essa opção tem se mostrado perigosa,
pois, geralmente, com o passar do tempo, os crentes que a adotam
ficam indiferentes diante do erro. Aos poucos, sem que percebam,
tornam-se menos rígidos em seus julgamentos. A constante e tácita
convivência com a mentira faz com que, para eles, o mal se torne
normal (e até engraçado). O resultado final é que, sem alimento
espiritual e com as faculdades amortecidas, seu testemunho entra
em colapso, seu casamento começa e enfrentar crises e seus filhos,
quando crescem, correm para o mundo, dizendo que tudo na igreja
não passa de representação barata.
2. Ecclesiola in ecclesia: Essa expressão significa
“pequena igreja dentro da igreja” e foi usada especialmente pelos
puritanos da Inglaterra para se referir a pequenos grupos de crentes
verdadeiros que se reuniam para cultuar a Deus de maneira correta,
sem, contudo, se desligar da igreja maior, cheia de erros, à qual
pertenciam. Essa opção pode ser útil, especialmente porque uma
ecclesiola seria um bom lugar para levar o visitante, sem passar
vergonha. Além disso, talvez seja uma forma de obter alimento
verdadeiro. Porém, essa alternativa é perigosa porque pode gerar
orgulho espiritual ou até mesmo uma forma de elitização. Ademais,
a liderança da igreja maior se indisporá com grupos assim e os
problemas serão inevitáveis.
3. Formação de uma nova igreja por um grupo: A
vantagem dessa opção é o surgimento quase imediato de uma
igreja séria. Porém, os perigos dessa medida a tornam
desaconselhável. Isso porque a nova igreja nascerá com a fama de
dissidente, enfrentando a forte oposição da igreja de origem. Esta,
em regra, não poupará esforços para caluniá-la, enfraquecê-la e até
destruí-la. Ainda que possa sobreviver a tudo isso, o sofrimento
decorrente dessas investidas deixará marcas que poderiam ser
evitadas caso fosse adotado um modo de agir diferente.
4. Saída individual pacífica: De todas as alternativas, essa
é a melhor. Nessa opção, o crente simplesmente se desliga da
comunidade maculada em que se encontra e se filia a uma igreja
séria, onde poderá nutrir comunhão com seus irmãos e cultuar a
Deus longe de escândalos, encenações e badernas. Na igreja que
pastoreio tenho várias ovelhas que, pertencendo a comunidades
pentecostais no passado, tomaram essa iniciativa e hoje fazem
parte do nosso rol de membros. O senso de terem achado
finalmente o seu lar, a alegria de aprender a Palavra de Deus a
partir da hermenêutica sadia e o alívio de terem se livrado de um
ambiente eclesiástico nocivo, repleto de excessos e de maluquices,
fazem desses irmãos os mais gratos e vibrantes crentes que há no
nosso meio.

FONTE: http://igrejaredencao.org.br/

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