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APLICABILIDADE DOS NOVOS REGULAMENTOS DA CONSTRUÇÃO EM

EDIFÍCIOS “GAIOLEIROS”

CASO DE ESTUDO

José Daniel Lopez Ferreira

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em

Engenharia Civil

Júri
Presidente: Prof. Francisco José Loforte Teixeira Ribeiro

Orientador: Prof. Pedro Manuel Gameiro Henriques

Vogal: Prof. Alberto Martins Pereira da Silva

Outubro de 2008
AGRADECIMENTOS

Ao meu orientador Professor Pedro Gameiro Henriques pela receptividade em aceitar as minhas
ideias, pelo positivismo em terminar a tese, e pelos comentários bem-dispostos sobre as minhas
ajudas.
Relativamente às ajudas, não poderei em primeiro lugar deixar de agradecer à minha família que
sempre acreditou em mim, em especial o meu irmão Carlos. Aos meus amigos, gratificar o seu apoio
porque sem isso, não teria conseguido.
Um apreço especial àqueles que de uma forma única me ajudaram na conclusão deste trabalho:
À Engenheira Célia Mota, colaboradora da Câmara Municipal de Lisboa - que me disponibilizou as
plantas originais do edifício - pela disponibilidade em acompanhar o estudo numa fase inicial.
Ao Engenheiro Francelino Silva da ANPC, pelos ensinamentos incondicionais relativamente ao novo
Regulamento Geral de Segurança Contra Incêndio em Edifícios.
Relativamente a colegas a amigos terei de destacar algumas pessoas, nomeadamente:
Ao André Cunha, pela ajuda prestada na fase final, e pelo descomplexar de muitas situações.
Ao António Peixoto, pela simplicidade que me transmitiu na conclusão do estudo.
Ao Miguel Nunes, pelo constante apoio e crença no meu trabalho.
À Joana Neves, pelas suas ajudas em termos de arquitectura.
À Ana Raposo, pelo acompanhamento que mutuamente fomos partilhando neste fase de trabalho.

I
RESUMO

O sector da reabilitação e da manutenção é consideravelmente menos activo que o da construção


nova, reflectindo-se na quantidade de legislação específica que regulamenta a reabilitação. Avaliar a
capacidade de adaptação dos novos regulamentos da construção aos edifícios “Gaioleiros” é um dos
grandes objectivos desta dissertação.
Para avaliar aquilo a que a dissertação se propõe, estudou-se ao pormenor as características de
concepção de um edifício que se adoptou como caso de estudo; esse imóvel representou a imagem
dos edifícios da época em que foi construído verificando-se que entre estes existe grande
homogeneidade em termos físicos e construtivos – edifícios “Gaioleiros”.
Os regulamentos da construção aplicados ao caso de estudo foram o actual Regulamento Geral das
Edificações Urbanas, o novo Regulamento Geral das Edificações e o novo Regulamento Geral de
Segurança Contra Incêndio em Edifícios. Tendo em conta as disposições não cumpridas, foram
apresentadas propostas de adaptação do edificado às novas exigências legislativas.
Com esta dissertação pretende-se interpretar um tipo de edificado e compreender as suas carências
ao nível da habitabilidade e segurança contra incêndios – novos regulamentos da construção. A
eficácia das intervenções dependerá obviamente da capacidade que esses regulamentos terão para
se adaptar ao parque habitacional já existente, sabendo que o edifício condiciona a exequibilidade
das propostas. Através deste estudo pretende-se obter algumas conclusões quanto às fragilidades
tanto do edifício como dos regulamentos, interpretando-os como aliados para intervenções eficazes.

Palavras-chave: “Gaioleiro”; edifício; reabilitação; regulamentos; incêndios; habitabilidade;


construção.

II
ABSTRACT

Building rehabilitation and maintenance is generally considered to be a less active sector than new
construction, which is then reflected on the quantity of specific legislation available for the field of
refurbishment. Evaluating the adapting capacity of typical “Gaioleiro” buildings to new construction
codes is one of the greater objectives of this report.
In order to evaluate what is proposed in this study, the characteristics of design, conception and
construction of the building that was adopted for the case study were thoroughly analysed; this
structure represents the image of buildings from the specific period in which it rose, as there is a great
homogeneity in physical and constructive terms among them – the so-called “Gaioleiro” building style.
Construction regulations that were applied to the case study are the current Regulamento Geral das
Edificações Urbanas, the new Regulamento Geral das Edificações and the also new Regulamento
Geral de Segurança Contra Incêndio em Edifícios. Regarding the non-compliant dispositions,
suggestions were presented to adapt the building to new legislative demands.
This report aims to interpret a type of building and comprehend its gaps in respect to habitability and
security against fires, as prescribed in the new building codes. The efficacy of interventions will
obviously depend on the adapting capacity of the aforementioned codes to the existing building
network, knowing beforehand that the building conditions the feasibility of any proposals. This study
seeks to gather some conclusions on the fragilities of buildings and codes alike, perceiving the latter
as allies for effective intervention works.

Key words: “Gaioleiros”; building; rehabilitation; regulations; fire regulations; habitability; construction.

III
ÍNDICE

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 1
1.1. CONCEITOS GERAIS ........................................................................................................................ 1
1.2. CONSIDERAÇÕES INICIAIS ................................................................................................................ 3
1.3. OBJECTIVOS ................................................................................................................................... 3
1.4. ORGANIZAÇÃO DA DISSERTAÇÃO...................................................................................................... 4
2. CARACTERIZAÇÃO DO CASO DE ESTUDO................................................................................... 4
2.1. CARACTERIZAÇÃO CONSTRUTIVA DO EDIFÍCIO................................................................................... 5
2.1.1. Fundações ............................................................................................................................. 6
2.1.2. Paredes exteriores ................................................................................................................ 7
2.1.3. Paredes interiores ................................................................................................................. 7
2.1.4. Pavimentos ............................................................................................................................ 8
2.1.5. Coberturas ........................................................................................................................... 10
2.1.6. Varandas / Terraços ............................................................................................................ 11
2.1.7. Escadas ............................................................................................................................... 12
2.1.8. Caixilharia ............................................................................................................................ 14
2.1.9. Cantarias ............................................................................................................................. 15
2.1.10. Revestimentos e acabamentos ......................................................................................... 16
2.1.11. Instalações Prediais .......................................................................................................... 18
2.1.12. Elevador ............................................................................................................................ 19
2.2. CARACTERIZAÇÃO FÍSICA / ESPACIAL DO EDIFÍCIO .......................................................................... 19
3. PRINCIPAIS INTERVENÇÕES REALIZADAS ................................................................................ 22
3.1. ACÇÕES DE MANUTENÇÃO ............................................................................................................. 22
3.2. ACÇÕES DE SUBSTITUIÇÃO ............................................................................................................ 22
3.3. ACÇÕES DE ALTERAÇÃO ................................................................................................................ 23
4. COMPARAÇÃO DO EDIFICADO COM OS NOVOS REGULAMENTOS DA CONSTRUÇÃO ...... 23
4.1. REGULAMENTO GERAL DAS EDIFICAÇÕES URBANAS – RGEU ......................................................... 23
4.1.1. Título I – Disposições de natureza administrativa............................................................... 24
4.1.2. Título II – Condições gerais das edificações ....................................................................... 27
4.1.3. Titulo III – Condições especiais relativas à salubridade das edificações e dos
terrenos de construção .................................................................................................................. 32
4.1.4. Título IV – Condições especiais relativas à estética das edificações ................................. 41
4.1.5. Título V – Condições especiais relativas à segurança das edificações.............................. 41
4.1.6. Título VI – Sanções e disposições diversas ........................................................................ 42
4.2. REGULAMENTO GERAL DAS EDIFICAÇÕES - RGE ........................................................................... 42
4.2.1. Título I - Disposições Gerais ............................................................................................... 43
4.2.2. Título II – Meio Ambiente .................................................................................................... 43
4.2.3. Título III – Qualidade do espaço edificado .......................................................................... 44
4.2.4. Título IV – Segurança, Salubridade e Conforto .................................................................. 51

IV
4.2.5. Título V – Construção e demolição ..................................................................................... 54
4.2.6. Título VI – Instalações e equipamentos .............................................................................. 56
4.2.7. Título VII – Durabilidade e manutenção .............................................................................. 58
4.3. REGULAMENTO GERAL DE SEGURANÇA CONTRA INCÊNDIO EM EDIFÍCIOS - RGSCIE ....................... 58
4.3.1. Título I – Disposições Gerais e Fiscalização ...................................................................... 59
4.3.2. Título II – Caracterização do risco de incêndio ................................................................... 61
4.3.3. Título III – Condições exteriores comuns ............................................................................ 62
4.3.4. Título IV – Condições Gerais de Comportamento ao Fogo, Isolamento e Protecção ........ 67
4.3.5. Título V – Condições Gerais de Evacuação ....................................................................... 74
4.3.6. Título VI – Condições Gerais das Instalações Técnicas ..................................................... 78
4.3.7. Título VII – Condições gerais dos equipamentos e sistemas de segurança ...................... 78
4.3.8. Título VIII – Condições gerais de organização e gestão da segurança.............................. 83
4.3.9. Título IX – Condições específicas das utilizações-tipo ....................................................... 85
5. PROPOSTAS DE REABILITAÇÃO FACE ÀS NOVAS EXIGÊNCIAS REGULAMENTARES ....... 86
5.1. REGULAMENTO GERAL DAS EDIFICAÇÕES URBANAS – RGEU ......................................................... 86
5.2. REGULAMENTO GERAL DAS EDIFICAÇÕES – RGE........................................................................... 96
5.3. REGULAMENTO GERAL DE SEGURANÇA CONTRA INCÊNDIO EM EDIFÍCIOS – RGSCIE ...................... 99
6. CONCLUSÕES ............................................................................................................................... 106
7. BIBLIOGRAFIA............................................................................................................................... 109
8. ANEXOS ........................................................................................................................................... 8.I
ANEXO I – 01 PLANTA DAS FUNDAÇÕES ................................................................................................ 8.I
ANEXO I – 02 PLANTA RÉS-DO-CHÃO .................................................................................................. 8.II
ANEXO I – 03 PLANTA PISOS ELEVADOS.............................................................................................. 8.III
ANEXO I – 04 PLANTA PROPOSTA RGEU – RÉS-DO-CHÃO .................................................................. 8.IV
ANEXO I – 05 PLANTA PROPOSTA RGEU – PISOS ELEVADOS ............................................................... 8.V
ANEXO I – 06 PLANTA PROPOSTA RGE – RÉS-DO-CHÃO ..................................................................... 8.VI
ANEXO I – 07 PLANTA PROPOSTA RGE – PISOS ELEVADOS ................................................................ 8.VII
ANEXO I – 08 CORTE A – A’ ............................................................................................................. 8.VIII
ANEXO II – TABELAS DO ANEXO DO REGULAMENTO GERAL DE SEGURANÇA CONTRA INCÊNDIO EM
EDIFÍCIOS (RGSCIE) ......................................................................................................................... 8.IX
ANEXO III - NE EN 13501-1................................................................................................................ 8.X

V
ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 2.1 – Fachada do edifício. ............................................................................................................ 5


Figura 2.2 - Saguão lateral. ..................................................................................................................... 6
Figura 2.3 - Zona de tardoz. .................................................................................................................... 6
Figura 2.4 - Pormenor de uma parede de tabique. ................................................................................. 7
Figura 2.5 - Pormenor dos vigamentos metálicos do pavimento da casa de banho. ............................. 8
Figura 2.6 - Pormenor dos vigamentos de madeira de um pavimento. .................................................. 8
Figura 2.7 – Transição de espessura dos pavimentos entre pisos. ........................................................ 9
Figura 2.8 - Travamento dos vigamentos através de tarugos ligados aos barrotes. .............................. 9
Figura 2.9 - Estrutura de uma asna simples de madeira. Fonte: Appleton (2003) ............................... 10
Figura 2.10 - Pormenores das abobadilhas de tijolo de burro e furado que apoiam em perfis
metálicos I. Situação existente nos pavimentos das casas de banho e marquises. Fonte:
Appleton (Maio, 2005) ........................................................................................................................... 11
Figura 2.11 - Acesso da cozinha para a marquise. ............................................................................... 11
Figura 2.12 - Clarabóia da caixa de escadas. ....................................................................................... 12
Figura 2.13 - Porta metálica de entrada do edifício. ............................................................................. 12
Figura 2.14 - Guarda-vento original. ..................................................................................................... 12
Figura 2.15 - Actuais escadas de serviço de tardoz. ............................................................................ 13
Figura 2.16 - Ligação entre as habitações estabelecida pelas escadas de serviço. ............................ 13
Figura 2.17 - Janela da fachada principal com sistema cremona. ........................................................ 14
Figura 2.18 - Janela com fecho de barra da sala de jantar................................................................... 14
Figura 2.19 - Fachada principal do edifício. .......................................................................................... 15
Figura 2.20 - Parede de estuque imitando revestimento de mármore. ................................................. 16
Figura 2.21 - Tecto de estuque com relevos. ........................................................................................ 16
Figura 2.22 - Porta de acesso a um dos quartos. ................................................................................. 17
Figura 2.23 - Pormenor da janela da marquise. .................................................................................... 17
Figura 2.24 - Pia de despejos da cozinha. ............................................................................................ 18
Figura 2.25 - Saguão lateral. ................................................................................................................. 18
Figura 2.26 – Instalação sanitária de tardoz. ........................................................................................ 18
Figura 2.27 - Enquadramento da zona do caso de estudo. .................................................................. 19
Figura 2.28 - Porta de ligação entre marquise e varanda. .................................................................... 20
Figura 2.29 – Varanda. .......................................................................................................................... 20
Figura 2.30 - Porta de acesso que faz a ligação entre a marquise e as escadas de tardoz. ............... 20
Figura 4.1 – Fissuras verticais existentes nas paredes da fachada. .................................................... 27
Figura 4.2 – Cozinha. ............................................................................................................................ 29
Figura 4.3 - Casa de banho. .................................................................................................................. 29
Figura 4.4 - Compartimento da marquise de tardoz. ............................................................................ 29
Figura 4.5 – Clarabóia de iluminação da caixa de escadas.................................................................. 31
Figura 4.6 – Espaço vazio da caixa de escadas. .................................................................................. 31

VI
Figura 4.7 - Ilustração do artigo 17º - "Regra dos 45º". ........................................................................ 44
Figura 4.8 – Ilustração para situações de edifícios implantados em terrenos em declive ao
longo da fachada. .................................................................................................................................. 44
Figura 4.9 - Ilustração do pátio interior.................................................................................................. 45
Figura 4.10 - Espaço junto à fachada principal. .................................................................................... 45
Figura 4.11 - Ilustração das exigências patentes no artigo 33º. ........................................................... 49
Figura 4.12 - Ilustração daquilo que o artigo 48º regulamenta. ............................................................ 51
Figura 4.13 - Saguão lateral com a distância entre fachadas dos edifícios contíguos. ........................ 53
Figura 4.14 - Ilustração elucidativa do artigo 61º. ................................................................................. 53
Figura 4.15 - Ilustração da chaminé, relativa ao artigo 108º................................................................. 57
Figura 4.16 - Esquema relativo às condições construtivas da marquise. ............................................. 64
Figura 5.1 - Pormenor da aplicação da sub-telha. Fonte: www.cm-coimbra.pt .................................... 87
Figura 5.2 - Pormenor da proposta de intervenção nas escadas interiores para fazer cumprir o
artigo 46º. .............................................................................................................................................. 88
Figura 5.3 - Esquema elucidativo relativamente à ocupação da cadeira-elevador. ............................. 90
Figura 5.4 - Intervenção semelhante àquela que é proposta para o caso de estudo. .......................... 90
Figura 5.5 - Intervenção semelhante àquela que é proposta para o caso de estudo. .......................... 90
Figura 5.6 - Esquema relativo à ocupação da cadeira-elevador na escada do edifício em
estudo. ................................................................................................................................................... 91
Figura 5.7 - Proposta de incorporação de um compartimento situado a tardoz destinado a
albergar os contentores do lixo. ............................................................................................................ 95
Figura 5.8 - Esquema elucidativo da incorporação do elevador. ........................................................ 101

VII
ÍNDICE DE QUADROS

Quadro 4.1 - Comparação entre a espessura das paredes do edifício e a espessuras


regulamentares. ..................................................................................................................................... 28
Quadro 4.2 - Comparação entre as dimensões das escadas e as exigências regulamentares. .......... 30
Quadro 4.3 - Verificação das áreas mínimas dos compartimentos segundo o RGEU para
tipologias T4 ........................................................................................................................................... 33
Quadro 4.4 - Verificação da área mínima do suplemento de área obrigatório. .................................... 34
Quadro 4.5 - Verificação das áreas brutas das habitações. ................................................................. 34
Quadro 4.6 - Verificação das dimensões mínimas dos compartimentos com área inferior a 9,5
2
m . ......................................................................................................................................................... 35
Quadro 4.7 - Verificação das áreas mínimas dos vãos dos compartimentos. ...................................... 36
Quadro 4.8 - Verificação da área mínima dos vãos da cozinha. .......................................................... 36
Quadro 4.9 - Verificação da área mínima de envidraçado da marquise............................................... 36
Quadro 4.10 - Verificação da área mínima de ventilação da marquise. ............................................... 36
Quadro 4.11 - Verificação das condições regulamentares dos vãos de acesso existentes no
edifício. .................................................................................................................................................. 46
Quadro 4.12 - Verificação das condições regulamentares dos vãos de acesso existentes no
edifício. .................................................................................................................................................. 46
Quadro 4.13 - Verificação das condições regulamentares das escadas do edifício. ........................... 47
Quadro 4.14 - Verificação das áreas mínimas dos compartimentos segundo o RGE para
tipologias T4 ........................................................................................................................................... 48
Quadro 4.15 - Verificação das áreas brutas mínimas das habitações segundo o RGE. ...................... 48
Quadro 4.16 - Verificação das dimensões mínimas das salas e quartos. ............................................ 49
Quadro 4.17 - Verificação das áreas mínimas regulamentares dos vãos dos compartimentos. .......... 52
Quadro 4.18 - Verificação das espessuras regulamentares para paredes de alvenaria. ..................... 54
Quadro 4.19 - Verificação das exigências regulamentares quanto às condições da via de
acesso ao edifício. ................................................................................................................................. 62
Quadro 4.20 - Verificação das exigências regulamentares quanto às condições da faixa de
estacionamento, manobra e operação de veículos de socorro. ........................................................... 63
Quadro 4.21 - Verificação da reacção ao fogo de revestimentos exteriores da fachada. .................... 64
Quadro 4.22 – Classificação da classe de reacção ao fogo, de acordo com as especificações
LNEC. .................................................................................................................................................... 65
Quadro 4.23 - Classe de reacção ao fogo de alguns dos materiais utilizados no edifício.
FONTE: Segurança contra incêndio em edifícios de habitação – grelha de análise para edifícios
unifamiliares. ......................................................................................................................................... 65
Quadro 4.24 - Resistência ao fogo padrão mínima exigida para elementos estruturais de
edifícios.................................................................................................................................................. 67
Quadro 4.25 - Reacção ao fogo (segundo a classificação do LNEC) de alguns tipos de madeira
utilizados. ............................................................................................................................................... 68

VIII
Quadro 4.26 - Verificação da reacção ao fogo das paredes do saguão. Fonte: Quadro XIII,
RGSCIE ................................................................................................................................................. 69
Quadro 4.27 - Resistência ao fogo padrão mínima dos elementos da envolvente de vias
horizontais de evacuação interiores protegidas. Fonte: Quadro XXIX, RGSCIE ................................. 70
Quadro 4.28 - Resistência ao fogo padrão mínima de elementos estruturais de edifícios. Fonte:
Quadro XIX, RGSCIE ............................................................................................................................ 70
Quadro 4.29 - Verificação da reacção ao fogo mínima dos revestimentos de vias de evacuação
horizontais. ............................................................................................................................................ 71
Quadro 4.30 - Verificação da reacção ao fogo mínima dos revestimentos de vias de evacuação
verticais. Fonte: Quadro XXXIV, RGSCIE............................................................................................. 72
Quadro 4.31 - Verificação da reacção ao fogo mínima dos revestimentos de vias de evacuação
verticais exteriores................................................................................................................................. 73
Quadro 4.32 - Verificação da reacção ao fogo mínima dos revestimentos de locais de risco A.
Fonte: Quadro XXXV, RGSCIE ............................................................................................................. 73
Quadro 4.33 - Condições regulamentares das vias de evacuação verticais no piso de saída
para o exterior. Fonte: Quadro XXX, RGSCIE ...................................................................................... 77
Quadro 4.34 - Configuração das instalações de alarme. Fonte: Quadro XLVI, RGSCIE ..................... 79
Quadro 5.1 - Características técnicas da sub-telha proposta. Fonte: www.onduline.pt ....................... 87
Quadro 5.2 - Características técnicas da cadeira-elevador proposta. A largura total do assento
inclui o utilizador. ................................................................................................................................... 89
Quadro 5.3 - Características técnicas da cadeira-elevador proposta para o caso de estudo. ............. 90
Quadro 5.4 - Proposta de alteração do uso dos compartimentos de acordo com o RGEU. ................ 92
Quadro 5.5 - Verificação do cumprimento do espaço reservado ao "suplemento de área
obrigatório" após a proposta de intervenção. ........................................................................................ 92
Quadro 5.6 - Verificação das áreas brutas mínimas das habitações após as alterações
propostas. .............................................................................................................................................. 93
Quadro 5.7 - Verificação da área mínima regulamentar das instalações sanitárias após a
intervenção proposta. ............................................................................................................................ 93
Quadro 5.8 - Verificação da área dos vãos da cozinha após a intervenção proposta. ........................ 93
Quadro 5.9 - Verificação da área de envidraçado da marquise após a intervenção proposta. ............ 94
Quadro 5.10 - Verificação da área de ventilação relativamente ao envidraçado da marquise
após a intervenção proposta. ................................................................................................................ 94
Quadro 5.11 - Proposta de alteração espacial das habitações tendo de acordo com o RGE. ............ 97
Quadro 5.12 - Verificação das áreas mínimas regulamentares dos compartimentos após
proposta de acordo com o RGE – Tipologia T2 ..................................................................................... 97
Quadro 5.13 - Verificação das áreas mínimas regulamentares dos compartimentos após
proposta de acordo com o RGE – Tipologia T3 ..................................................................................... 97
Quadro 5.14 - Verificação das dimensões dos compartimentos após proposta de acordo com o
RGE – Tipologias T2 .............................................................................................................................. 98

IX
Quadro 5.15 - Verificação das dimensões dos compartimentos após proposta de acordo com o
RGE – Tipologias T3 .............................................................................................................................. 98
Quadro 5.16 - Verificação da área regulamentar dos vãos dos compartimentos. ................................ 98
Quadro 5.18 - Características técnicas do elevador proposto. ........................................................... 100
Quadro 5.18 - Resistência ao fogo padrão mínima dos elementos da envolvente de circulações
verticais que não constituem vias de evacuação. Fonte: Quadro XXXII, RGSCIE ............................ 102
Quadro 5.19 - Verificação da reacção ao fogo mínima dos revestimentos de vias de evacuação
verticais. Fonte: Quadro XXXIV, RGSCIE........................................................................................... 102
Quadro 8.1 - Categorias de risco da utilização-tipo I (habitacionais). ................................................ 8.IX
Quadro 8.2 - Categorias de risco da utilização-tipo VIII (comerciais). ................................................ 8.IX
Quadro 8.3 - Reacção ao fogo de produtos de construção com excepção de revestimentos de
piso. Equivalência entre o sistema europeu e a classificação de acordo com as especificações
LNEC. .................................................................................................................................................. 8.IX
Quadro 8.4 - Classe de reacção ao fogo de produtos de construção em geral. ................................. 8.X
Quadro 8.5 - Classificações complementares relativas à produção de fumo. ..................................... 8.X
Quadro 8.6 - Classificações complementares relativas à libertação de partículas / gotas
inflamadas. .......................................................................................................................................... 8.XI

X
SIGLAS

RGEU – Regulamento Geral das Edificações Urbanas


RGE – Regulamento Geral das Edificações
RGSCIE – Regulamento Geral de Segurança Contra Incêndio em Edifícios
DL – Decreto-Lei
VUE – Vida Útil de uma Edificação
CCF – Compartimento Corta-fogo
RIA – Rede de Incêndios Armada

XI
1. Introdução
A introdução deste trabalho pretende esclarecer o leitor relativamente aos objectivos e organização
da dissertação, bem como dar a conhecer algumas noções importantes que irão ser tratadas ao longo
deste estudo.

1.1. Conceitos gerais


Com o objectivo de esclarecer alguns conceitos associados à temática do trabalho, apresenta-se uma
lista de termos que importará conhecer desde logo:

Alteração

Segundo a definição do Decreto-Lei n.º 177/2001, de 4 de Junho, aceitam-se como obras de


alteração “as obras de que resulte a modificação das características físicas de uma edificação
existente ou sua fracção, designadamente a respectiva estrutura resistente, o número de fogos ou
divisões interiores, ou a natureza e cor dos materiais de revestimento exterior, sem aumento da área
de pavimento ou de implantação ou de cércea.”

Ampliação

De acordo com a definição do Decreto-Lei n.º177/2001, de 4 de Junho, tomam-se como obras de


ampliação “as obras de que resulte o aumento da área de pavimento ou de implementação, da
cércea ou do volume de uma edificação existente.”

Conservação

De acordo com a definição do Decreto-Lei n.º177/2001, de 4 de Junho, entendem-se como obras de


conservação “as obras destinadas a manter uma edificação nas condições existentes à data da sua
construção, reconstrução, ampliação ou alteração, designadamente as obras de restauro, reparação
ou limpeza.”

Edificação

De acordo com o Decreto-Lei n.º177/2001, de 4 de Junho, edificação entende-se como “a actividade


ou resultado da construção, reconstrução, ampliação, alteração ou conservação de um imóvel
destinado a utilização humana, bem como de qualquer outra construção que se incorpore no solo
com carácter de permanência.”

Manutenção

Segundo AGUIAR, CABRITA, & APPLETON (1997), a manutenção envolve uma serie de operações
delineadas que visem minimizar os ritmos de deterioração na vida de um edifício, desenvolvidas
sobre diversas partes e elementos da sua construção, assim como sobre as suas instalações e
equipamentos. São operações programadas e geralmente efectuadas em ciclos regulares.

1
Patologia

Quando aplicado à construção civil, este termo designa a ciência que analisa os fenómenos que
afectam o comportamento de uma construção. No ponto de vista de RODRIGUES, SOUSA, &
BONIFÁCIO (1990), a patologia refere-se à acção dos agentes destruidores, das deformações e
doenças sofridas pelos materiais utilizados numa construção. Segundo AGUIAR J. (Ano Lectivo 2006
/ 2007), o método de análise patológica, relativamente à componente física do património a
diagnosticar, compreende:
Uma primeira fase de levantamento e análise da situação a partir dos problemas, anomalias,
deficiências e contingências detectadas;
Uma segunda fase de diagnóstico com a identificação das razões ou das causas dos problemas,
numa perspectiva conclusiva direccionada para a sua resolução;
Uma terceira fase de prescrição terapêutica apontando possíveis métodos e medidas de conservação
/ reabilitação.

Reabilitação

Segundo AGUIAR, CABRITA, & APPLETON (1997), o termo reabilitação designa toda a série de
acções empreendidas tendo em vista a recuperação de um edifício, tornando-o apto para o seu uso
actual. O seu objectivo principal consiste em resolver as deficiências físicas e as anomalias
construtivas, ambientais e funcionais, acumuladas ao longo dos anos, procurando também uma
modernização e uma melhoria geral do imóvel sobre o qual incide, melhorando o seu desempenho
funcional e tornando esses edifícios aptos para o seu completo e actualizado re-uso.
De acordo com o IPPAR (1999), o conceito de reabilitação define-se como “obras que visam adequar
e melhorar as condições desempenho funcional de um edifício, com eventual reorganização interior,
mantendo o esquema estrutural básico e o aspecto exterior original.”

Reconstrução

De acordo com a definição do Decreto-Lei n.º 177/2001, de 4 de Junho, entende-se como obras de
reconstrução “as obras de construção subsequentes à demolição total ou parcial de uma edificação
existente, das quais resulte a manutenção ou a reconstituição da estrutura das fachadas, da cércea e
do número de pisos.”

Recuperação

Segundo o IPPAR (1999), o conceito de recuperação define-se como o conjunto de obras que visam
adequar, melhorar ou eventualmente adaptar a novos usos as condições de desempenho funcional
de um edifício, admitindo a reorganização do espaço interior, mantendo o esquema estrutural básico
e o aspecto exterior original.

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1.2. Considerações iniciais
Com a degradação de parte do património no centro das cidades, e com a insuficiência de medidas
para inverter esta tendência, torna-se importante conhecer a fundo os actuais regulamentos da
construção, para poder intervir de forma responsável. O melhor aliado dos conhecimentos técnicos é
cada vez mais, hoje em dia, o domínio das ferramentas legais que regulamentam a construção. Por
isso, destacam-se neste trabalho as mais recentes novidades que irão regrar as construções novas e
as intervenções em edifícios.
O facto de o edificado antigo da cidade de Lisboa necessitar urgentemente de ser revitalizado,
associado à revisão dos regulamentos da construção, foi o ponto de partida para este estudo. Nele
importa conhecer quais os focos de intervenção dos edifícios, para que dessa forma, possam cumprir
os novos regulamentos. Através dessa intenção é possível retirar conclusões quanto à aplicabilidade
dos regulamentos em edifícios “Gaioleiros” e conhecer também qual a capacidade que estas
construções têm para absorver aquilo que é regulamentado.
Os regimes estudados foram o Regulamento Geral das Edificações Urbanas (em vigor; RGEU), o
Regulamento Geral das Edificações (actualmente em fase final de elaboração mas ainda não
aprovado; RGE), e o Regulamento Geral de Segurança Contra Incêndio em Edifícios (já aprovado
mas ainda não publicado; RGSCIE). A razão para estudar o actual RGEU tem a ver com o facto da
versão estudada do RGE não ser ainda uma versão final, daí que seria importante compreender em
que ponto se encontra a legislação neste momento. Este seria uma espécie de ponto de partida para
compreender as carências de um regulamento ainda em fase de revisão.

1.3. Objectivos
O objectivo principal deste estudo está exactamente descrito no título; compreender o edificado e
adapta-lo aos regulamentos para compreender até que ponto estes são aplicáveis num determinado
tipo de imóveis – edifícios “Gaioleiros”
A base de trabalho fundamentou-se em compreender o funcionamento dos edifícios em termos
construtivos e espaciais, estudar as suas intervenções executadas até hoje, analisar os
regulamentos, propor soluções que visavam o cumprimento dos regulamentos para que, finalmente a
partir daí fosse possível compreender as carências da legislação e deficiências do edificado para se
adaptar à realidade actual.
Outro dos grandes propósitos desta dissertação - numa altura em que o novo RGE está numa fase
final de revisão – foi entender quais as principais falhas do actual panorama legislativo, podendo
assim contribuir com um estudo objectivo que prende o seu olhar num tipo de edificado muito
específico.
Finalmente, e no que diz respeito à regulamentação de protecção contra incêndios, sabendo também
do perigo que os edifícios com estrutura em madeira representam no centro da cidade, o RGSCIE
será uma nova ajuda para desenvolver a prevenção em edifícios “Gaioleiros”. Através da análise
deste disposto, e comparação com o caso de estudo, será possível compreender a sua aplicabilidade
e até que ponto o edifício terá de ser adaptado às novas exigências. Para a presente dissertação será

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analisado um caso de estudo de um edifício “Gaioleiro” localizado na Avenida Luís Bivar, construído
em 1923.

1.4. Organização da dissertação


A dissertação inicia-se com um capítulo introdutório onde são apresentados os pontos que irão ser
tratados ao longo do trabalho, conceitos que importa dominar aquando da leitura do mesmo e
objectivos a atingir na elaboração do estudo. São ainda descritas as motivações que levaram à
realização desta dissertação.
Para a análise do edifício foram seguidas duas linhas, a caracterização física deste e dos elementos
mais importantes que o constituem, e a caracterização física/ espacial do imóvel e dos fogos de
habitação – nitidamente “Gaioleiros”. Um entendimento profundo das bases de construção e dos
princípios em que se fundamenta foi essencial para compreender até que ponto o caso de estudo
poderia representar um tipo de edificado de uma época específica.
Tendo um conhecimento profundo das técnicas construtivas do edifício, consolidado com visitas ao
local, foi possível partir para uma análise dos regulamentos, comparando o exigido nestes com aquilo
que se encontra no imóvel neste momento. Para isto foi necessário actualizar as plantas obtidas na
Câmara Municipal de Lisboa com os vários projectos de alteração já apresentados neste organismo
ao longo dos anos.
Após compreender em que aspectos é que cada regulamento não é cumprido, e a razão pela qual
isso sucede, propõem-se algumas intervenções para que o edifício possa cumprir os artigos que não
verifica. Este capítulo está dividido em três partes, cada uma delas relatando-se a um dos
regulamentos estudados. Procurou-se avaliar até que ponto estas propostas seriam viáveis e iriam
respeitar os regulamentos nos quais estão inseridas.
Por último, o capítulo das conclusões tenta agregar o máximo de informação possível para
compreender até que ponto os objectivos desta dissertação foram cumpridos; analisando todos os
pressupostos que foram sendo estudados ao longo do trabalho. A diferenciação entre os três
regulamentos facilita a análise dessas conclusões, bem como a caracterização diferenciada entre as
falhas do imóvel e as carências dos regulamentos no sentido de reger os edifícios “Gaioleiros”.

2. Caracterização do caso de estudo


Ao longo deste capítulo vai ser possível entender o edificado em termos construtivos e espaciais.
Para considerar todas as intervenções propostas, bem como as análises efectuadas à luz dos
regulamentos, considera-se importante conhecer profundamente todos os métodos construtivos,
materiais aplicados, alterações efectuadas e disposições espaciais do edifício. Cumpre-se portanto o
objectivo de dar a conhecer o objecto de estudo antes de desenvolver qualquer análise.
O lote em causa foi seleccionado dado o seu avançado estado de degradação, por representar um
tipo de edificado de uma época e pela carência de estudos efectuados a este nível.

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2.1. Caracterização construtiva
onstrutiva do edifício
Primeiramente importa apresentar o edifício; situado na Avenida Luís Bivar, nº 77,, foi construído em
1923 com 5 pisos elevados, 2 fogos por piso, todos eles destinados ao arrendamento.
arrendamento Insere-se num
conjunto
junto de edificado denominado por “Gaioleiros”” e representam uma época de maior decadência
construtiva relativamente ao que vinha sendo feito até aí (estilo
( Pombalino).
Este tipo de edificado ganha expressão na zona das Avenidas Novas, com acções
cções nitidamente
especulativas; a tecnologia construtiva desce de nível devido à utilização de materiais mais
económicos e de qualidade inferior. Este edifício “Gaioleiro” estava
stava ligado a duas modalidades; para
vender, ou construído por encomenda para ser alugado por fracções, daí poder-se
poder falar em
especulação imobiliária, que nesta altura fez com que Lisboa visse a sua população crescer.
crescer
Este tipo de desleixe acontece à medida que as memórias do sismo de 1755 se iam apagando
apagando, as
gaiolas pombalinas não apresentam o mesmo rigor e os “Gaioleiros”
“ passam
am a constituir a sua
própria identidade. Nela se destacam as seguintes características:
• Maior liberdade formal reflectindo-se
reflectindo em diferentes aspectos; sendo eles, a utilização de
diferentes formas de janela e de cantarias (Figura 2.1),, maiores vãos de janelas, fachadas
com janelas de peito e de sacada no mesmo piso, composição da fachada através de três
zonas bem marcadas – soco, zona intermédia e sistema platibanda/ telhado
telhado (influência
francesa inexistente no caso de caso de estudo)
estudo) e imitação de materiais nobres recorrendo
essencialmente a estuques trabalhados.
trabalhados

Figura 2.1 – Fachada do edifício.

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• Distinção em termos de organização funcional nomeadamente na existência da varanda ou
“marquise” agregada à escada metálica (nítida influência da arquitectura do ferro), saguões
que visam a penetração de luz e arejamento das zonas interiores dos fogos, casas de banho
a tardoz ou directamente confinantes com os saguões (Figura 2.2), longo corredor
longitudinal de distribuição no fogo, quintais com hortas situados no logradouro a tardoz
(Figura 2.3).

Figura 2.2 - Saguão lateral. Figura 2.3 - Zona de tardoz.

• Sistema construtivo que assenta na simplificação do processo pombalino; ao longo deste


capítulo serão explicados alguns dos parâmetros que justificam esta constatação. Fruto de
alguns aspectos menos bem acabados por parte dos construtores, este tipo de edificado
possui menor resistência ao sismo comparativamente aos imóveis pombalinos.

2.1.1. Fundações
As fundações deste tipo de edifício antigo são normalmente construídas em alvenaria de pedra com
argamassas constituídas por areia e cal. Em termos de dimensões, estas são variáveis, sendo que as
fundações das paredes anterior e posterior são geralmente mais largas, 0,90 e 1,00 m,
respectivamente.
O tipo de fundação é igualmente variável nos “Gaioleiros”, divide-se em dois tipos: fundações
directas, constituindo um prolongamento das paredes até ao terreno, com um alargamento das
mesmas, sendo função das características do terreno; fundações semi-directas, usadas em situações
em que o terreno de fundação não se encontra à superfície. Estas últimas são executadas através da
escavação de poços com altura tal que se atinjam as camadas resistentes do terreno de fundação; no
topo desses poços de alvenaria de pedra executam-se arcos de alvenaria constituídos por pedra ou
tijolo. Estes arcos irão suportar as paredes de alvenaria do edifício. De referir ainda que o primeiro
tipo de fundação é normalmente utilizada para solos bons a pequena profundidade, sendo que as
fundações semi-directas anteriormente descritas, são usadas para solos resistentes a mais de 3
metros de profundidade. Esta solução revelava-se mais económica evitando a escavação geral a
grandes profundidades, o que acrescentava dificuldades de ordem técnica.

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No presente caso de estudo as fundações são directas e consistiam basicamente no prolongamento
das próprias paredes resistentes, providenciando um alargamento simétrico das mesmas abaixo do
solo. Com a construção de um novo edifício contendo caves, na zona contígua ao caso de estudo, a
qualidade das fundações foi “deteriorada” o que tem vindo a prejudicar o comportamento de alguns
vãos patentes na principal fachada.

2.1.2. Paredes exteriores


As soluções construtivas destas paredes podem ser de dois tipos: alvenaria de pedra e argamassa de
cal e areia; ou alvenaria de tijolo e argamassa de areia e cal e prumos de reforço de madeira
(secções de 0,10 x 0,10 m).
Tal como nas fundações, as dimensões das paredes exteriores podem mudar de edifício para
edifício, sendo que normalmente as paredes anteriores e posteriores são mais largas (0,80 m); no
entanto, a fachada de tardoz tem normalmente menor espessura. Ao longo dos pisos verifica-se que
a espessura destes elementos diminui, permitindo não só alguma poupança em termos económicos
como também o aproveitamento dos ressaltos que daí resultam para apoio dos pavimentos, advindo
um aumento das áreas úteis dos fogos.

2.1.3. Paredes interiores


Relativamente à constituição das paredes interiores, estas podem dividir-se em paredes de tijolo e
paredes em madeira. Dentro das paredes interiores, convém fazer uma distinção entre as paredes de
“frontais” e “tabiques”.
Designam-se por “frontais” as paredes interiores mais importantes, construídas em tijolo. Por vezes
aplica-se este termo às paredes que são paralelas à fachada principal, sem função estrutural. Dentro
dos “tabiques” (Figura 2.4) incluem-se as paredes mais finas, sendo nalgumas situações construídas
em tijolo e dispostas perpendicularmente à fachada principal. Nestas situações incluem-se as
paredes das casas de banho (confinantes com o saguão), da caixa de escadas e cozinhas.
Relativamente às dimensões das paredes “frontais” estas podem variar de espessura em altura pelas
mesmas razões apontadas relativamente às paredes exteriores. Os “tabiques” são principalmente
paredes divisórias de espessura reduzida sem qualquer função estrutural (excepções feitas em casos
de má construção).

Figura 2.4 - Pormenor de uma parede de tabique.

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2.1.4. Pavimentos
A tecnologia de construção dos pavimentos neste tipo de edifícios pode ser executada através de
uma estrutura metálica (Figura 2.5) ou de madeira (Figura 2.6).
Os pavimentos de madeira são normalmente em pinho nacional (pinus pinaster), revestidos com
soalho ou mosaico (cozinhas). Relativamente à madeira, importa assinalar algumas das
características negativas a ela associadas, tais como, susceptibilidade a ataques de insectos
(carunchos e térmitas) e de fungos (de podridão seca e húmida); todas estas advindas da variação
dos valores de humidade relativa.

Figura 2.5 - Pormenor dos vigamentos metálicos Figura 2.6 - Pormenor dos vigamentos de
do pavimento da casa de banho. madeira de um pavimento.

Sendo os vigamentos a principal estrutura do pavimento, importa referir as variações de dimensão a


que estão sujeitos; a altura varia normalmente entre os 0,16 a 0,22 m, sendo que a largura pouco
varia (entre 0,07 a 0,08 m). A utilização de vigas mais altas em detrimento de vigas mais largas
acontece devido às vantagens resistentes que daí advêm. A estrutura destes pavimentos era
montada colocando os vigamentos principais paralelamente, com um afastamento que varia entre
0,20 a 0,40 m. De referir, que após consulta do projecto original, foi possível perceber que os
vigamentos utilizados tinham secções de 0,16 m x 0,08 m, excepção feita ao último dos pisos, com
secções de 0,12 m x 0,07 m. Sendo que o último piso do edifício não é habitado, compreende-se esta
redução de secção dos vigamentos do pavimento.
A ligação entre os pavimentos e as respectivas paredes de apoio era feita através do encaixe das
vigas de madeira em aberturas dispostas nas paredes em posição e com a dimensão conveniente.
Outra das formas de ligação consiste na utilização de um frechal (Figura 2.7) - elemento de madeira
existente na parede que possibilita a ligação entre a parede e o pavimento. Este é “ancorado” à
parede através de pregagem, ou recorrendo a tirantes de madeira embebidos nas paredes, esta
tecnologia possibilita que o peso dos pavimentos descarregue indirectamente nas paredes. Outro dos
elementos presente nos pavimentos são os tarugos (Figura 2.8), cuja principal função tem a ver com
o travamento dos vigamentos na sua perpendicular ou ainda evitar a encurvadura das vigas, seja por
razões de natureza estrutural, seja por consequência dos efeitos de estabilização dimensional em

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função do teor de água. Importa referir através de uma saliência existente nos barrotes, é possível o
apoio dos tarugos.

Figura 2.7 – Transição de espessura dos Figura 2.8 - Travamento dos vigamentos
pavimentos entre pisos. através de tarugos ligados aos barrotes.

Historicamente, foi nos edifícios “Gaioleiros” que os perfis metálicos começaram a ser utilizados,
principalmente em pavimentos. Tudo aquilo que diz respeito ao uso deste material na zona de tardoz,
será posteriormente descrito, assim, nesta fase apenas será mencionado o recurso a este material
nas casas de banho. A principal razão do uso destes elementos tem a ver com a pretensa
durabilidade do ferro, no entanto, devido à ineficiente protecção contra a corrosão, acabou por se
revelar igualmente vulnerável ao ataque das águas. Se a madeira, por um lado apodrecia, este
material também proporcionou algumas dores de cabeça aos habitantes do edifício. Hoje em dia as
casas de banho - fruto do apodrecimento constante - foram alvo de intervenções não só de
rebaixamento dos tectos através do uso de gesso cartonado, como também substituição dos perfis
metálicos.
De referir que o pavimento das cozinhas foi alvo de profunda alteração em 1959, fruto do seu estado
degradado, deu entrada na câmara municipal um processo com memória descritiva da futura
intervenção. Nesse ano, as cozinhas passaram a ter lajes de betão armado, substituindo os
anteriores pavimentos em madeira, conduzindo a maior durabilidade destes e evitando fenómenos de
fluência e apodrecimento dos pavimentos.

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2.1.5. Coberturas
A cobertura do edifício em estudo é inclinada sendo, em toda a sua estrutura, constituída por madeira
(pinho). O revestimento era (na
na quase totali
totalidade dos casos) assegurado por telha de m
marselha,
designação que indicava a origem do material.
A estrutura
strutura de madeira referida pode ser descrita como um conjunto de vigas dispostas
paralelamente, vencendo, com peças simples, os vãos disponíveis.
disponíveis Quando se monta uma estrutura
como esta, é natural interligar as barras inclinadas com as barras horizontais dispondo de elementos
de madeira auxiliares,, esta é a forma mais simplificada das asnas de madeira.
madeira As ligações entre as
diferentes peças da estrutura podem ser feitas através de ligações pregadas, coladas, ou recorrendo
recorrendo-
se a peças auxiliares de ferro. No edifício em causa foi impossível de inspeccionar esta zona.
Outro ponto interessante de referir diz respeito à ligação entre as asnas e os seus apoios. Quando
estas se apoiam directamente nas paredes é conveniente conferir uma protecção dos topos
embebidoss nas alvenarias para apoio da asna (semelhante ao caso dos pavimentos). No entanto,
pode ser executado
o um apoio intermédio sobre uma viga de transição (frechal) que promove uma
melhor distribuição das cargas pelas paredes. Por fim,
fim é ainda possível um apoio
io simples de asnas
em consolas de pedra (mísulas),, que por sua vez transmitem a carga de forma
orma excêntrica para as
paredes - de
e referir que estas asnas são ligadas entre si através de elementos metálicos. Existem
ainda outros elementos secundários, igualmente
igualmente importantes na estrutura de qualquer cobertura
deste tipo, sendo eles as madres (Figura
Figura 2.9), varas e ripas – elementos sobre os quais assentam as
telhas.

Figura 2.9 - Estrutura de uma asna simples de madeira. Fonte: Appleton (2003)

A cobertura dos edifícios convém ser alvo de inspecções recorrentes, visto serem zonas passíveis de
problemas estruturais,, nomeadamente deformações excessivas ou fendilhação. Além disso, é sempre
difícil garantir a eficácia de um elemento directamente exposto
exposto às acções exteriores, logo,
logo para além
das anomalias associadas ao próprio desempenho da cobertura, ou problemas decorrentes de má
execução, existem outros focos de problemas. O mau desempenho de uma cobertura pode ainda
advir de zonas singulares tais como
omo rincões e larós, remates em paredes emergentes ou ainda
ligações a caleiras e algerozes.

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2.1.6. Varandas / Terraços
As varandas existentes a tardoz dos edifícios “Gaioleiros” são a sua principal imagem de marca.
Estas são geralmente constituídas por pilares metálicos verticais (perfis I ou circulares) que apoiam
vigas de bordadura metálicas apoiadas lateralmente nas paredes de empena, às quais são ligados
perfis perpendiculares à parede (perfis I, T ou U). As abobadilhas, (revestidas com betonilha), são
colocadas sobre estes perfis (Figura 2.10). Existem casos em que nos topos das varandas aparecem
elementos metálicos que ligam a viga de bordadura à parede, na diagonal. Estes elementos
funcionam como tirantes, ajudando a suspender as varandas.
A situação existente no edifício em causa demonstra um exemplo importante da “arquitectura do
ferro” em Portugal; a construção das marquises é um prolongamento da estrutura das cozinhas (ver
Figura 2.11).

Figura 2.10 - Pormenores das abobadilhas de Figura 2.11 - Acesso da cozinha para a
tijolo de burro e furado que apoiam em perfis marquise.
metálicos I. Situação existente nos pavimentos
das casas de banho e marquises. Fonte:
Appleton (Maio, 2005)

A solução construtiva apresentada nos parágrafos anteriores foi sofrendo, ao longo dos anos, um
rápido envelhecimento não só devido à existência de circulação de águas nas suas imediações, como
também por suportarem cargas substancialmente superiores às que inicialmente estavam previstas.
Por outro lado, o facto de os elementos de suporte serem metálicos e não serem convenientemente
protegidos contra a corrosão, tem agravado ainda mais o estado de conservação da zona posterior
deste tipo de edifícios. Estas estruturas são, como já foi referido, muito vulneráveis à corrosão pelo
que se deterioram facilmente com o tempo. As canalizações mal executadas também têm grande
responsabilidade no envelhecimento destas zonas anexas às cozinhas.
Com as transformações operadas em 1959, mais do que nunca as marquises passaram a ser um
complemento da cozinha; com uma passagem para essa marquise, existiam ainda duas portas; uma
que ligava a um pequeno terraço e outra que abria para as escadas de betão armadas, construídas
também nessa fase. É possível através do projecto observar estes pormenores (Anexo I – 02).

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2.1.7. Escadas
Ao longo desta secção vão ser descritas as escadas exteriores e interiores do edifício. A caixa de
escadas interior do edifício é iluminada por uma clarabóia (Figura 2.12), elemento comum nos
“Gaioleiros”, sendo esta executada originalmente em ferro e vidro. As escadas são de madeira e
apesar de não serem apoiadas por um elevador, são relativamente largas (1,15 m).

Figura 2.12 - Clarabóia da caixa de escadas. Figura 2.13 - Porta metálica de entrada do
edifício.

As escadas do edifico contêm prumos de ferro com corrimão de madeira destacando ainda o guarda-
vento original, separando a zona de entrada revestida a pedra nos degraus e as escadas de madeira
do edifício (Figura 2.14). A porta de entrada variava entre a utilização de madeira e ferro (Figura
2.13), com elementos de vidro para possibilitar alguma ventilação e iluminação.

Figura 2.14 - Guarda-vento original.

Relativamente às escadas exteriores, estas eram um clássico da construção metálica do princípio do


século, surgindo como uma demanda dos bombeiros em termos de segurança para os ocupantes do
edifício, eram normalmente designadas por escadas de serviço. Este nome estava precisamente

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associado à utilização por parte dos empregados que faziam serventia às habitações. Tal como já foi
referido, apresentam alguns problemas em termos de desgaste por corrosão advindo do inexistente
tratamento superficial aquando da sua instalação. Em geral, a estrutura da escada era constituída por
4 prumos de ferro onde descarregavam os lanços de escada ligados alternadamente por um patamar
ou pelo pavimento da marquise.
Com o aparecimento do betão armado, começou a ser possível a substituição dos pilares e vigas
metálicas de suporte, mas mantendo a relação funcional da zona de tardoz destinada basicamente à
cozinha, instalações sanitárias e marquise; no caso do edifício em estudo, esta substituição operou-
se em 1958, até que hoje em dia estas escadas se encontram novamente degradadas (Figura 2.15 e
Figura 2.16).

Figura 2.15 - Actuais escadas de serviço de Figura 2.16 - Ligação entre as habitações
tardoz. estabelecida pelas escadas de serviço.

Nestas grandes obras, e as últimas de importância substancial a que o edifício assistiu, foi erguida
toda uma nova estrutura. Esta estrutura, na zona das marquises, é formada por dois reticulados
planos de vigas e pilares ligados entre si, ao nível dos vários andares por lajes destinadas a suportar
o pavimento das varandas. A nova distribuição do espaço contemplava a criação de um terraço e de
uma marquise fechada, situação mantida até hoje. Importa acrescentar que nesta marquise se incluía
um pequeno compartimento que podia ser utilizado como casa de banho. Tinha ligação confinante ao
tubo colector de águas residuais e à rede de abastecimento de água, daí a utilidade deste
compartimento. No entanto, dado a reduzida área, e mesmo pela localização desfavorável deste
espaço (recuado na habitação) associado ainda ao hábito de usufruir de apenas uma instalação
sanitária, fez com que se adoptasse esta zona como área de arrumos. Existe um caso, o fogo
visitado, em que foi destinado a uma lavandaria.
Os muretes das marquises são executados em tijolo até à altura do parapeito. A estrutura de betão
das escadas, varanda e marquise, tal como já foi referido, estendia-se até às cozinhas, zona húmida
que tinha assistido a uma deterioração dos seus pavimentos em madeira.

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2.1.8. Caixilharia
O edifício em estudo apresenta caixilharia de madeira, o que se depreende, pela exposição destes
elementos às acções do exterior,, que muita
muitass patologias tenham surgido nesta zona; não dizendo
respeito apenas à caixilharia em si, mas também às paredes em que se inserem. Na fachada
principal utilizam-se
se janelas de abrir, deixando para trás a solução guilhotina;
guilhotina; estas janelas têm vidros
lisos, tendo
ndo maiores dimensões que aquelas que vinham sendo usadas no período pombalino. De
referir que as janelas funcionam
uncionam com sistema cremona (vãos da fachada principal, Figura 2.17), mas
também podem ter simplesmente
te fechos de barra (casos das cozinhas,, sala de jantar ou dos
saguões, Figura 2.18).
Relativamente à pintura, normalmente contêm um acabamento em esmalte.

Figura 2.17 - Janela da fachada principal


princip com Figura 2.18 - Janela com fecho de barra da
sistema cremona. sala de jantar.

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2.1.9. Cantarias
Uma das razões do uso de cantarias tem a ver com a função estrutural em zonas muito específicas,
como contornos de aberturas de portas e janelas; outra das razões tem a ver com a função
decorativa que desempenha ao longo de qualquer fachada. Através deste elemento é possível ter
uma ideia quanto à qualidade arquitectónica do edifício. Nesta época procuravam-se pedras com
boas características mecânicas e com uma boa durabilidade, portanto, com boa relação custo/
qualidade.
Neste edifício recorreu-se à pedra calcária nas molduras das janelas da fachada (Figura 2.19).

Figura 2.19 - Fachada principal do edifício.

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2.1.10. Revestimentos e acabamentos
Ao longo desta secção vão ser abordados os revestimentos usados nos diferentes paramentos.
Começando pela cobertura, neste caso foi usada a telha Marselha, tal como em quase todos os
casos de “Gaioleiros”. Nas paredes interiores, esta foi a época dos fingimentos; tentava imitar-se
materiais através de acabamentos em estuque assemelhando-se à pedra natural (Figura 2.20) ou
madeiras nobres. Hoje em dia é raro encontrar revestimentos como estes nos edifícios, dada a
constante abertura de roços nas paredes. Quanto à sua durabilidade, sabe-se que envelhecem
melhor que as pinturas ditas “normais” e são de uma beleza visual completamente diferente, daí que
seja de todo o interesse mantê-los. Este “fingimento” estendia-se aos tectos e sancas, não só no
interior dos fogos (Figura 2.21) como no átrio de entrada, decorado com frisos e molduras imitando
madeiras exóticas. Neste edifício não existem painéis de azulejos, situação corrente em muitos
“Gaioleiros”, e que conferia classe às construções da época. Ainda no interior dos fogos, de referir a
utilização de azulejos nas paredes das casas de banho, acompanhados de mosaico hidráulico nos
pavimentos das mesmas.

Figura 2.20 - Parede de estuque imitando


Figura 2.21 - Tecto de estuque com relevos.
revestimento de mármore.
Uma das marcas dos “Gaioleiros” são os seus corredores que atravessam o fogo em toda a sua
profundidade, daí que o acabamento ao longo das paredes destes tivesse alguma preponderância;
assim, o estuque pintado a imitar pedra era a principal solução usada. Este tipo de acabamento era
utilizado nas zonas de circulação e maior desgaste devido à sua resistência e facilidade de limpeza;
de referir ainda que, na altura, era uma solução barata.
Quanto às portas no interior dos apartamentos, estas são também um dos símbolos dos “Gaioleiros”,
existindo acima da folha de madeira uma bandeira de vidro (Figura 2.22) que conferia alguma
luminosidade à habitação (uma das grandes carências dos fogos desenvolvidos em profundidade).

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Quanto às marquises, são de extrema singularidade as elegantes janelas de ferro, formando
pequenos rectângulos e pintados a tinta de esmalte (Figura 2.23). Hoje em dia, são considerados
compartimentos com deficientes condições a nível térmico.

Figura 2.22 - Porta de acesso a um dos Figura 2.23 - Pormenor da janela da


quartos. marquise.

A clarabóia existente na cobertura permite iluminar a zona da caixa de escadas e, embora muitas
vezes contenha motivos decorativos, este não é o caso, sendo executada unicamente em ferro e
vidro simples incolor.
Relativamente ao revestimento das paredes exteriores, recorria-se ao reboco, situação comum em
quase todo o edificado da época.
Por último, importa ainda referir a utilização de soalho de madeira nos pavimentos de quase toda a
casa, com excepção das casas de banho e marquises em que se recorria ao mosaico hidráulico.

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2.1.11. Instalações Prediais
As principais diferenças entre as instalações deste tipo de construção e aquelas que vêm sendo
utilizadas hoje em dia, dizem respeito principalmente aos materiais. Apesar das intervenções tidas
como necessárias ao longo dos anos, é possível observar não só no caso presente, como em muitos
outros, que nem sempre elas se adequam às exigências actuais, nem actuam em consonância com
os princípios da reabilitação. O caso mais grave diz respeito às instalações eléctricas, que, quando
não executadas pelo exterior das paredes (provocando situações perigosas em termos de
segurança), são incrustadas na parede levando à abertura de roços que deterioram a estética do
edifício.
As redes de abastecimento de águas são geralmente embebidas nas paredes, servindo as casas de
banho e cozinha, sendo que o chumbo era o material mais usado.
As redes de águas residuais existem em paralelo com a rede de abastecimento de águas, resumindo-
se a um ramal ligado a uma pia de despejos na cozinha (Figura 2.24) e um tubo de queda embebido
na parede exterior; o material em uso na época dos “Gaioleiros” era o grés cerâmico. Os tubos de
queda dos esgotos domésticos situam-se neste caso, no saguão (colectando as águas das casas de
banho) e no tardoz (servindo as cozinhas), sempre pelo exterior do edifício (Figura 2.25 e Figura 2.26,
respectivamente.

Figura 2.24 - Pia de despejos da Figura 2.25 - Saguão lateral. Figura 2.26 – Instalação
cozinha. sanitária de tardoz.

As redes de águas pluviais tinham como função captar e drenar as águas das chuvas que caíam
sobre a cobertura.
Importa referir neste capítulo a existência, em quase todos os “Gaioleiros”, de uma “caixa-de-ar” por
baixo do edifício, elevando-o em relação ao piso térreo, possibilitando assim a sua ventilação, daí que
o rés-do-chão seja ligeiramente elevado. Este tipo de procedimento visa impedir o surgimento de
humidades ascensionais, assim como o apodrecimento dos pavimentos e dos tabiques devido ao
contacto com a terra e humidade. É possível observar em qualquer fachada principal (incluindo o
edifício em estudo) a existência de grelhas de ferro ao nível da via pública, para permitir uma
ventilação eficaz e simultaneamente impedir a entrada de animais para a cave.

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2.1.12. Elevador
Este é um tipo de equipamento que hoje em dia sendo tão vulgar, na época em que o edifício foi
construído apenas era acessível às construções mais nobres. Assim, aquando da reabilitação de
qualquer edifício, é sempre tida em conta uma possível intervenção a este nível.
No caso em estudo não existe elevador, de qualquer das formas, será avaliada uma possível
instalação do mesmo em função do espaço reservado à caixa de escadas.

2.2. Caracterização Física / Espacial do Edifício


O caso de estudo é um “Gaioleiro”, como tal, tem algumas características singulares, não apenas em
termos construtivos (já desenvolvido anteriormente), como também em termos físicos e espaciais.
Localiza-se numa zona central da cidade de Lisboa (Figura 2.27).

Figura 2.27 - Enquadramento da zona do caso de estudo.

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Apesar de já descritas anteriormente, as marquises são um marco dos edifícios desta época, importa
por isso referi-las nesta secção pela sua função e cultura estética. Estas dividiam o espaço com um
pequeno terraço, e fazia a ligação até ao logradouro através de uma escada de serviço (Figura 2.28,
Figura 2.29, Figura 2.30).

Figura 2.28 - Porta de ligação Figura 2.29 – Varanda. Figura 2.30 - Porta de acesso
entre marquise e varanda. que faz a ligação entre a
marquise e as escadas de
tardoz.

Segundo Appleton (Maio 2005), é possível fazer uma distinção entre os edifícios, baseada em vários
parâmetros; assim, o caso de estudo pertence ao grupo 2, designado de “grandes”. A sua relação
profundidade / frente é de 1,39 situando-se pouco abaixo dessa categoria (que compreende valores
entre 1,42 e 2,24). Possui ainda 10 divisões por fogo, e 4 divisões com abertura para o saguão (uma
abaixo da descrição de Appleton, entre 5 e 8).
O projecto de construção de 1923 surge como alteração ao original de 1921 e as principais alterações
espaciais promovidas dizem respeito ao aproveitamento das caves para utilização de arrecadações.
Nas habitações foram criadas sala de engomados e rouparia promovendo ainda a ampliação do
edifício em mais um piso, situação compatível com a cércea das construções contíguas.
Este edifício, tal como outros da época possuía um espaço interior denominado saguão, a sua
principal função era a de garantir luminosidade e ventilação às divisões interiores dos fogos, tais
como, casas de banho e quartos. Este elemento por vezes era localizado exactamente no centro do
edifício, sendo que no caso em estudo existem dois saguões laterais. Segundo Appleton (Maio 2005),
constatou-se que as paredes do saguão são normalmente construídas em tijolo com menor
espessura que as paredes exteriores da fachada e de tardoz. Estes elementos são dos que mais
patologias apresentam em termos estruturais, principalmente assentamentos de fundações. Ainda de
referir que, apesar de proporcionar alguma luminosidade ao interior dos fogos, esta é nitidamente
escassa; a sua reduzida dimensão relativamente à altura dos edifícios, torna-os propensos à
insalubridade.
Neste caso, tal como em muitos outros da época, existiam dois fogos por piso, eram habitações com
grandes áreas, sendo que na presente situação são constituídas por 2 quartos, 1 cozinha, 1 casa de

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banho, 1 sala de jantar, 1 sala de estar, 1 engomadoria, 1 despensa, 1 arrecadação e uma saleta.
Existe ainda uma marquise e terraço na parte posterior do prédio. A existência de apenas uma casa
de banho era perfeitamente normal numa época em que as questões de higiene eram mais
desprezadas que hoje em dia; de referir ainda que um dos fogos do piso, tinha 1 escritório. Apesar de
ser descrito como escritório, normalmente era destinado ao arrendamento. As divisões com acesso
ao saguão são a casa de banho, os quartos e a engomadoria. Ainda hoje as casas de banho
possuem uma botija de gás como forma de abastecimento de água quente, o que, não sendo
aconselhável, ainda não trouxe relatos de acidentes a este nível, dada a constante ventilação através
da janela que se abre para o saguão. O fogo “Gaioleiro” funcionava sempre ao longo da direcção
perpendicular à fachada principal. O elemento que marcava esta tendência era o estreito corredor
que servia as diferentes divisões e que se estendia desde a saleta (virada para a fachada principal),
até à cozinha (situada na zona posterior do edifício). Apenas nos edifícios muito grandes se verifica
que os corredores se desenvolvem com algumas mudanças de direcção, não sendo o presente caso.
Em jeito de conclusão relativamente ao fogo, conclui-se que a cozinha era sempre colocada no tardoz
em articulação com a varanda, sendo que no presente caso esta surgia no alinhamento da caixa de
escadas. A sala de jantar (junto à cozinha), é uma divisão com grande incidência de luz, e com
grande área – situação comum nos “Gaioleiros”. Sala e escritório são conexos à fachada principal,
dividindo-se esta sala numa outra saleta mais reduzida. Sobre este tipo de distribuição por piso,
importa concluir a sua arquitectura desajustada às exigências actuais de espaço.
Além das portas que fazem a ligação entre o corredor e as divisões, existem outras que separam
algumas divisões entre si, nomeadamente a sala e a saleta, ou o caso do quarto e a saleta. Para
além das portas existe outro aspecto importante no que diz respeito aos acabamentos; existem
divisões em que os acabamentos são mais nobres, casos das salas anexas à fachada principal e da
sala de jantar, que continham sancas e tectos altamente ornamentados. O corredor, e principalmente
a cozinha e casa de banho, eram menos consagrados em termos arquitectónicos, existindo também
neste capítulo, alguma heterogeneidade espacial ao longo do fogo.
Outro dos marcos de um edifício “Gaioleiro” é o seu logradouro, sendo que hoje, a grande maioria se
encontra em franco estado de degradação, ora por abandono, ora por ocupação ilegal por parte de
pequenos negócios que ali montam os seus armazéns. Normalmente a ocupação destas áreas é feita
por parte de lojistas locados na cave do edifício (não é o caso presente) que vêem uma oportunidade
de assim ocupar, de forma útil, zonas verdes em franco desuso. Para o acesso ao logradouro, existia
um corredor que passava pelo saguão e ligava a uma porta da fachada principal, esta também uma
das grandes referências espaciais dos “Gaioleiros”.
A cobertura do edifício encontra-se em avançado estado de degradação, decorrente de constantes
infiltrações a que esta zona se encontra sujeita. No entanto, não importa aqui repetir o capítulo
anterior, descrevendo a sua construção; importa sim referir que esta zona, não sendo acessível,
impossibilita qualquer aproveitamento de área nesta a este nível.
As varandas posteriores, com a sua estrutura metálica faziam aproveitar o tardoz do edifício, com
acesso pelo exterior através de escadas de emergência que uniam todos os pisos. Estas escadas de
ferro, posteriormente alteradas para uma construção em betão armado, serviam não só para evacuar

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o edifício em situações de incêndio, como também para providenciar um acesso aos empregados que
trabalhavam no prédio. A distribuição do espaço nesta zona é bastante desactualizada, não só por
questões de privacidade mas também atendendo ao próprio desconforto térmico que esta solução
envidraçada proporciona. Hoje em dia, seria importante procurar materiais capazes de responder a
esta solução arquitectónica. Em termos espaciais qualquer reabilitação terá de pensar bem o espaço
em termos de acessibilidades; o edifício não possui elevador e não existe espaço na caixa de
escadas para incorpora-lo sem que se levem a cabo sérias alterações construtivas. Em termos de
estacionamento denota-se um total desajustamento deste tipo de edificado, tendo em conta que hoje
em dia, qualquer construção nova deve ser autónoma em termos de parqueamento, para, pelo
menos, um veículo.

3. Principais intervenções realizadas


A caracterização do edifício termina com a descrição das principais intervenções que este foi
sofrendo ao longo do tempo. Através da consulta de artigos camarários ou informações recolhidas
junto dos actuais moradores, não foi possível conhecer a fundo todas as acções levadas a cabo. Esta
análise será dividida em três campos, acções de manutenção, substituição e alteração.

3.1. Acções de manutenção


Apesar de este ser um dado a ser tratado em capítulos posteriores, nomeadamente aquando do
estudo aprofundado do RGEU, importa dizer que segundo o artigo 9º deste regulamento, todas as
edificações devem ser reparadas e beneficiadas pelo menos uma vez de oito em oito anos. Repetidas
vezes a câmara municipal apelou à realização de obras. As acções de manutenção de um edifício
podem ter a ver com situações mais problemáticas a nível de anomalias, casos de pintura de
fachada, cuidados ao nível da escada metálica a tardoz ou reparações ao nível da cobertura. Pela
análise dos documentos camarários nunca houve um cuidado consistente na conservação do edifício.
No interior dos fogos as principais acções de manutenção dizem respeito a pinturas, reparação de
fendas ou outras acções que promovam uma utilização mais eficiente da habitação. Exemplos disto
mesmo são as reparações efectuadas nas casas de banho com o recurso a tectos falsos para ocultar
as patologias advindas das humidades existentes nos tectos. Nas visitas efectuadas ao edifício em
causa, não se detectaram quaisquer cuidados a este nível, pelo menos a curto/médio prazo.

3.2. Acções de substituição


A principal intervenção levada a cabo, terá sido em 1958, com a substituição da escada de ferro por
uma estrutura de betão armado. Desta forma, julgava-se evitar todos os problemas que decorriam da
solução inicial, no entanto, outras patologias foram surgindo principalmente problemas ao nível do
recobrimento das escadas.
No interior do fogo, procede-se à alteração dos acabamentos originais, nomeadamente a substituição
da estrutura inicial das cozinhas ou inovação nos revestimentos. De acrescentar, que na mesma fase
em que se substituiu a escada de tardoz, alterou-se o pavimento de madeira das cozinhas por betão

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armado. Por último, importa assinalar que toda a zona de tardoz acabou por ser substituída, sendo
que no lugar das varandas metálicas foram construídas marquises em betão armado.

3.3. Acções de alteração


As alterações do desenho de tardoz, transformando parcialmente as varandas em marquises ou a
introdução de “colunas” de electricidade na caixa de escadas pelo interior ou exterior da parede
destruindo os acabamentos trabalhados em estuque, são as principais alterações levadas a cabo no
edifício. A introdução de elevador é outro dos possíveis exemplos de uma alteração ao edifício.
A principal alteração, e já referida, diz mesmo respeito à transformação do espaço interior a tardoz do
edifício. Originalmente este era constituído por uma varanda aberta ao longo de toda a fachada,
sendo guarnecida por uma escada metálica. Importa ressalvar a existência de um pequeno
compartimento a tardoz que era aproveitado ora para pequena divisão de lavagem de roupa, ora
como casa de banho, fazendo uso das canalizações que seriam comuns com a cozinha (contígua a
este espaço). Com a alteração de 1958 o espaço ficou dividido numa marquise e num terraço,
separados por uma porta e parede de alvenaria. A fachada da marquise era agora constituída por um
reticulado de vidro, a partir de 0,90 m de altura que tornava este espaço interior.
Outra das alterações ao projecto inicial diz respeito às caves. Apesar de licenciadas para utilização
dos inquilinos, em 1987 a utilização de 3 delas passou a ser de uso único de uma actual agência
funerária. Justamente no espaço existente entre a actual agencia e o prédio vizinho (que
posteriormente foi alvo de obras profundas), funcionava um corredor que fazia a ligação entre a frente
do prédio e o logradouro. Hoje em dia este local de passagem encontra-se selado devido às
intervenções estruturais efectuadas no edifício contíguo, consequência de patologias ao nível de
fundações.

4. Comparação do edificado com os novos


regulamentos da construção
Sendo um dos objectivos deste trabalho a verificação da compatibilidade do edifício com os
regulamentos actuais, irá iniciar-se esta análise com o Regulamento Geral das Edificações Urbanas
(RGEU). O estudo deste disposto foi uma opção para compreender as alterações que têm vindo a ser
feitas entre este regulamento e o novo RGE.

4.1. Regulamento Geral das Edificações Urbanas – RGEU


O Regulamento Geral das Edificações Urbanas (RGEU) surge como actualização do Regulamento de
Salubridade das Edificações Urbanas, datado de 1903. Concretizou-se assim uma necessidade em
legislar exigências de solidez, salubridade, diminuição do risco de incêndio e respeito pelas cada vez
maiores preocupações estéticas, funcionais e conforto.

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4.1.1. Título I – Disposições de natureza administrativa
Publicado a 7 de Agosto de 1951, este regulamento possibilita uma integração das construções num
novo patamar de exigência, estabelecendo regras específicas relativamente a áreas, espessuras,
secções, distâncias ou pés-direitos, fixando mínimos e máximos para estes e outros parâmetros. O
RGEU concentra-se ainda nalgumas outras preocupações, ao nível do parcelamento dos terrenos,
integração da Natureza nas novas construções ou ainda questões ao nível do conforto ambiental ou
acústico, estando esta última questão mais integrada noutro tipo de regulamentos.
No seguimento desta legislação é possível ao público usufruir de espaços, que nos termos do referido
decreto, possui condições vantajosas à sua habitabilidade e bem-estar, conduzindo a níveis de
exigência que na época vinham sendo crescentes, acompanhando assim a procura.
O RGEU, Decreto-Lei n.º 38382, divide-se em seis títulos, agregando dentro destes, capítulos. O
Título I refere-se às disposições de natureza administrativa, clarificando no capítulo I quais os tipos de
situações que se fazem abranger pelo regulamento em causa, sendo elas, “novas edificações ou
quaisquer obras de construção civil, a reconstrução, ampliação, alteração, reparação ou demolição
das edificações e obras existentes (…), trabalhos que impliquem alteração da topografia local, dentro
do perímetro urbano e das zonas rurais de protecção fixadas para as sedes de concelho e para as
demais localidades sujeitas por lei a plano de urbanização e expansão”. Refere-se ainda a
necessidade de licenciamento para a execução das intervenções anteriores, bem como a
responsabilidade que as câmaras têm neste processo. Ao longo deste primeiro capítulo são ainda
explicitadas as situações que carecem ou não de licença consoante a natureza da intervenção. No
entanto, este é um tema desenvolvido em pormenor no Decreto-Lei n.º 445/91, Regime Jurídico de
Licenciamento Municipal de Obras Particulares.
Este decreto pretendeu reformular as directrizes estabelecidas pelo DL nº. 166/70. Entre as
novidades desta revisão de 1991 destacam-se as situações de isenção de licenciamento municipal
para obras de pequena dimensão no interior dos edifícios, maior responsabilização dos autores dos
projectos de especialidade, limitação do número de entidades exteriores ao município que devem ser
ouvidas no âmbito do licenciamento municipal, fim da vistoria camarária quando o técnico
responsável pelas obras certifique que a obra foi executada de acordo com as normas legais e
regulamentares em vigor. São referidas no diploma as situações de dispensa de licenciamento, das
quais se enunciam, “as obras de simples conservação, restauro, reparação ou limpeza, quando não
impliquem modificação da estrutura das fachadas, da forma dos telhados, da natureza e da cor dos
materiais de revestimentos exteriores”, acrescentam-se ainda “obras de iniciativa das autarquias
locais” ou “obras promovidas pela administração directa ou indirecta do Estado”.
A designação adoptada para o decreto-lei n.º 555/99 foi, Regime Jurídico da Urbanização e
Edificação. Uma das grandes inovações deste diploma, e que importa aqui referir, tem a ver com a
possibilidade de ser concedida uma licença parcial para a construção da estrutura de um edifício,
mesmo antes da aprovação final do projecto da obra. A razão da celeração do processo tem a ver
com a convicção de que, ultrapassada a fase de apreciação urbanística do projecto da obra, é
razoável, em termos de segurança permitir o início da execução da estrutura enquanto decorre a fase

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de apreciação dos respectivos projectos de especialidades. Na análise do artigo 4.º, e que importa
aqui rever, em paralelo com o RGEU, referem-se como sujeitas a licença administrativa, entre outras:
• “As obras de construção, de ampliação ou de alteração em área não abrangida por operação
de loteamento ou plano pormenor”;
• “As obras de reconstrução, ampliação, alteração ou demolição de edifícios classificados ou
em vias de classificação e as obras de construção, reconstrução, ampliação, alteração ou
demolição de edifícios situados na zona de protecção de imóvel classificado ou em vias de
classificação ou em áreas sujeitas a servidão administrativa ou restrição de utilidade pública”;
• “Alteração da utilização de edifícios ou suas fracções em áreas não abrangidas por operação
de loteamento ou plano municipal de ordenamento de território, quando a mesma não tenha
sido precedida de realização de obras sujeitas a licença ou autorização administrativas”.
Integram-se ainda neste artigo as obras sujeitas a autorização administrativa, entre elas:
• “As operações de loteamento em área abrangida por plano de pormenor”;
• “As obras de construção, de ampliação ou de alteração em área abrangida por operação de
loteamento, plano de pormenor ou em área urbana consolidada como tal identificada em
plano municipal de ordenamento do território para a qual não seja necessária a fixação de
novos parâmetros urbanísticos”;
• As obras de reconstrução de edifícios classificados ou em vias de classificação;
• As obras de demolição de edificações existentes que não se encontrem previstas em licença
ou autorização de obras de reconstrução”, salvo aquelas tidas como classificadas ou em vias
de classificação.
Além de uma listagem dos casos em que é exigida licença municipal, passa-se a referir aqueles que
se encontram isentos dessa necessidade. Assim sendo, são isentas de licença ou autorização:
• As obras de conservação, “as obras de alteração no interior dos edifícios não classificados ou
suas fracções que não impliquem modificações da estrutura resistente dos edifícios, das
cérceas, das fachadas e da forma dos telhados.
• Podem ainda ser dispensadas de licença ou autorização, mediante previsão em regulamento
municipal, as obras de edificação ou demolição que, pela sua natureza, dimensão ou
localização, tenham escassa relevância urbanística.
A partir de 4 de Junho de 2001, surge um novo diploma fazendo alguns ajustes no DL 555/99; o DL
177/2001. No entanto, e abreviando um estudo que nesta fase diz maioritariamente respeito à análise
do RGEU, opta-se por rever alguns artigos da mais recente alteração do regime jurídico da
urbanização e edificação, o Decreto-Lei n.º 60/2007.
Percorrendo o artigo 4º, passa a referir-se quais as condições alteradas relativamente ao DL 555/99,
assim sendo, encontram-se como sujeitas a licença administrativa as operações de loteamento:
• “As obras de construção, alteração e de ampliação em área não abrangida por operação de
loteamento”.
• “As obras de reconstrução, ampliação, alteração, conservação ou demolição de imóveis
classificados ou em vias de classificação

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• As obras de construção, reconstrução, ampliação, alteração, conservação ou demolição de
imóveis situados em zonas de protecção de imóveis classificados, bem como dos imóveis
integrados em conjuntos ou sítios classificados, ou em áreas sujeitas a servidão
administrativa ou restrição de utilidade pública”,
• As “obras de reconstrução sem preservação das fachadas, as obras de demolição das
edificações que não se encontrem previstas em licença de obras de reconstrução”.
Quanto à isenção de licenças, é aqui que surgem as maiores novidades deste diploma.
Primeiramente, é referido que todas as situações a serem enunciadas não devem entrar em conflito
com o anteriormente referido, assim sendo, admite-se como dispensadas de licenças as “obras de
conservação; obras de alteração no interior de edifícios ou suas fracções, à excepção dos imóveis
classificados ou em vias de classificação, que não impliquem modificações na estrutura de
estabilidade, das cérceas, da forma das fachadas e da forma dos telhados”. Recentemente tem
havido alguma controvérsia relativamente a esta última premissa, dado já não estar sujeita ao regime
de comunicação prévia que o DL 555/99 exigia. São ainda incluídas na lista as “obras de
reconstrução com preservação de fachadas, as obras de urbanização e os trabalhos de remodelação
de terrenos em área abrangida por operação de loteamento, as obras de construção, de alteração ou
de ampliação em zona urbana consolidada que respeitem os planos municipais e das quais não
resulte edificação com cércea superior à altura mais frequente das fachadas da frente edificada do
lado do arruamento onde se integra a nova edificação, no troço de rua compreendido entre as duas
transversais mais próximas, para um e para outro lado; acrescenta-se ainda a edificação de piscinas
associadas a edificação principal”.
Finalmente, no que diz respeito à utilização de edifícios, o RGEU dedica o artigo 8º a este tema; é
dito que “qualquer edificação nova, reconstruída, ampliada ou alterada, quando da alteração resultem
modificações importantes nas suas características, carece de licença municipal”. Este tipo de
premissa mantém-se hoje em dia com o DL 60/2007, do qual se acrescenta que o pedido de
autorização deve ser acompanhado com o termo de responsabilidade subscrito pelos autores de
projecto de obra e do director de fiscalização de obra, atestando a conformidade da obra com o
projecto aprovado e respectivas condições de licença.
Com a informação recolhida até aqui é possível entender as medidas a serem tomadas em qualquer
processo de licenciamento para uma intervenção; foram estudados diplomas que se entendem
necessários para a integração do RGEU. Assistir à sua metamorfose foi importante para
compreender as dificuldades de legislar e regular uma actividade de forma capaz e menos
burocrática quanto possível. Na fase inicial deste capítulo, todo o entendimento desta legislação
“circundante” ao RGEU permitiu integra-lo e complementa-lo nos parâmetros mais recentes
possíveis, enquanto a sua revisão não se torna oficial.

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4.1.2. Título II – Condições gerais das edificações
O Título II do RGEU refere-se às condições gerais das edificações, dividindo-se em cinco capítulos. O
primeiro desses capítulos abrange algumas generalidades no que diz respeito à forma de construção
das edificações, garantias a respeitar, qualidade e materiais a aplicar. O artigo 17º, que integra este
capítulo sofreu alteração em 2007, neste regulamenta-se que os novos materiais para os quais não
existam especificações oficiais de qualquer Estado membro da União Europeia, nem reconhecimento
de acordo com o Decreto-Lei n.º 4/2007, sejam sujeitos a homologação por entidade nacional
legalmente habilitada.
No capítulo II deste título, o artigo 19º refere a necessidade de os caboucos penetrarem no terreno
firme até à profundidade de 50 cm. Com o projecto original do edifício não é possível aferir quanto à
boa execução destra premissa, não sendo possível avaliar o cumprimento deste artigo. Apesar de
não se integrar totalmente nesta análise do RGEU, importa destacar as patologias associadas a
assentamentos, que, desde que as obras nos edifícios contíguos se iniciaram, foram provocando
problemas no funcionamento deste prédio. Escavações mal planeadas, ou escoramentos mal
executados, foram algumas das causas para o aparecimento de fissuras nas paredes das habitações
(Figura 4.1).

Figura 4.1 – Fissuras verticais existentes nas paredes da fachada.

Quanto às sapatas (dimensões em planta de 1 x 1 m), pode ainda referir-se, pela observação do
projecto, que se encontram a diferentes profundidades, constituindo um tipo de fundação directa.
Neste artigo exige-se que os alicerces sejam executados de modo que a humidade do terreno não se
transmita às paredes, para isso aconselha-se o uso de alvenaria hidráulica, resistente e impermeável,
fabricada com materiais rijos e não porosos. Mais uma vez, não é possível confirmar a boa execução
destes elementos. Justifica-se este tipo de precaução pela, segundo Appleton (2003), “ocorrência de
fenómenos de ascensão de humidade por capilaridade através das paredes.”

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No Capítulo III são desenvolvidas as características das paredes; além das considerações iniciais
referindo algumas das condições a respeitar para uma boa edificação, seguem-se artigos com
importantes regulamentações ao nível de dimensões ou constituição. Importa acrescentar que estes
artigos iniciais, 23º e 24º determinam que essas paredes sejam seguras e eficazes em termos
térmicos e acústicos.
O artigo 25º regulamenta as espessuras das paredes das edificações correntes destinadas a
habitação, quando construídas em alvenaria de pedra ou em tijolo cerâmico maciço. Tendo em conta
que apenas foi possível visitar 1 fogo de todo o edifício, o estudo deste artigo não é completo. Sendo
que essa fracção determina-se como 4ª a partir do último andar, observa-se no Quadro 4.1 o estudo
das paredes a partir de dados do projecto actual (Anexo I – 04 Planta Proposta RGEU – Rés-do-
chão).
Espessura de paredes de alvenaria de pedra ou de tijolo
Espessura regulamentar Espessura no edifício
Elemento Verifica
[cm] [cm]
Grupo A - Paredes das fachadas 60 80 Sim
Grupo B - Paredes das empenas 50 50 Sim
Quadro 4.1 - Comparação entre a espessura das paredes do edifício e a espessuras
regulamentares.

Quanto às paredes interiores, pelo projecto constata-se que todas elas têm a mesma espessura.
Quanto ao artigo 27º, que refere situações de especiais cuidados com as paredes quando estas
tenham alturas livres superiores a 3,50 m ou estejam sujeitas a solicitações superiores às verificadas
nas habitações correntes, não se aplica no presente caso. A maior das alturas livres verifica-se no 1º
e 2º andar com 3,25 m. As paredes das caves, também apresentam algumas exigências, no entanto,
para este estudo, considera-se não aplicável este artigo, dado que nenhuma das caves do edifício é
habitável. Todas elas têm fins não habitacionais, são consideradas apenas arrecadações.
Para que fique claro quais as condições que as paredes devem cumprir quando expostas ao exterior,
o artigo 30º refere que todas elas devem ser guarnecidas interior e exteriormente, com revestimentos
capazes de garantir um bom funcionamento destes elementos verticais. Distingue ainda que os
revestimentos exteriores deverão ser impermeáveis, quando a parede seja exposta a ventos
chuvosos, e que as paredes das mansardas bem como as suas janelas de trapeira devem ser
revestidas com “material impermeável com reduzida condutibilidade calorífera e resistente à acção
dos agentes atmosféricos e ao fogo”. O piso de cobertura deste edifício não tem qualquer tipo de
função habitacional, logo não é abrangido nesta premissa.
O artigo 31º destaca a importância de revestir com materiais impermeáveis as paredes das casas de
banho, retretes, cozinhas e locais de lavagem, pelo menos até 1,50 m de altura. Algumas das obras
efectuadas no edifício permitiram ter em conta esta premissa, possibilitando a protecção das paredes
até uma determinada altura (Figura 4.2, Figura 4.3).

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Por último, o compartimento de tardoz anexo à marquise, ora utilizado como casa de banho ora como
lavandaria, nunca foi revestido nas suas paredes senão com uma cortina semelhante às usadas nas
banheiras, daí que a protecção seja praticamente nula (Figura 4.4).

Figura 4.2 – Cozinha. Figura 4.3 - Casa de banho. Figura 4.4 - Compartimento
da marquise de tardoz.

O artigo último deste capítulo refere a necessidade de garantir uma boa ligação entre o material
aplicado nos vãos ou revestimentos de paredes, utilizando para isso, materiais que garantam solidez
e duração.
No Capítulo IV são referidas algumas características dos pavimentos das edificações, não só quanto
à segurança, mas também quanto ao bom funcionamento acústico e salubridade a garantir às
habitações. São descritas no artigo 36º as várias possibilidades de constituição do pavimento
(madeira, betão armado, aço ou outros materiais). A segurança dos pavimentos tem vindo a ser um
dos grandes problemas deste tipo de edificado, principalmente devido a infiltrações provocadas por
roturas das canalizações.
No artigo 37º é referida a secção mínima dos vigamentos (0,16 m x 0,08 m), o que é rigorosamente
respeitado pela observação do projecto original. Quanto ao afastamento entre os eixos destes
elementos, pelo projecto não é possível saber se é cumprido, normalmente não era superior aos
regulamentares 0,40 m. De referir a excepção que neste caso se verifica, no último piso, com uma
secção de viga de 0,12 m x 0,07 m. Esta diminuição de secção terá possivelmente a ver com a
diminuição de cargas a ser aplicadas neste piso, dado que a cobertura não é acessível.
As exigências quanto à cobertura são descritas no artigo 38º, nele se inserem aquelas cuja inclinação
se situa entre 20 e 45 graus. No caso de estudo, e após medições do projecto, a inclinação deste
elemento é de 29,7º graus, assim, e segundo este artigo, as distâncias entre madres, varas e ripas,
bem como as suas secções mínimas devem ser as seguintes:
• Madres, secção mínima de 16 cm x 8 cm, afastadas de 2 metros entre si;
• Varas para telhas tipo marselha, secção mínima de 10 cm x 5 cm, afastadas de 0,5 metros
entre si;
• Ripas para telha tipo marselha, secção mínima de 3 cm x 2,5 cm, afastadas entre si
consoante o comprimento da telha.

29
As medidas que o RGEU recomenda para estes elementos são impossíveis de confirmar neste
estudo, dada a inacessibilidade à cobertura. No artigo seguinte são feitas algumas recomendações
para o bom funcionamento da estrutura, abrangendo situações como o bom apoio da cobertura, para
que não esteja sujeita a esforços horizontais importantes. Ainda se alerta para o cuidado a ter
aquando da aplicação da madeira devido ao apodrecimento a que estes elementos estão sempre
expostos.
O RGEU comenta no artigo 40º algumas exigências do pavimento dos andares térreos; recomenda-
se que este assente sobre uma caixa-de-ar ventilada com altura mínima de 0,50 m. As caves
enterradas deste edifício (pé direito mínimo de 2,20 m), funcionam como elementos que permitem a
circulação transversal de ar, possuem ainda uma abertura para o exterior devidamente selada através
de dispositivos destinados a impedir a entrada de objectos ou animais.
É descrito no artigo 41º a necessidade de ter em conta a possível existência de infiltrações nas casas
de banho, tendo que, para tal, aplicar materiais que respondam de forma eficaz a este tipo de
solicitação.
O artigo 44º descreve o tipo de acabamento que os algerozes devem respeitar, isto para que os
telhados possam responder da melhor forma às solicitações do exterior. Referem-se ainda quais as
dimensões a admitir e o declive a considerar para o bom funcionamento da cobertura. Por razões de
segurança nunca foram feitas visitas à cobertura do imóvel, daí que seja complicado confirmar
adequação destes elementos. Em conversas com moradores, soube-se que, durante cerca de dois
anos, houve alguns problemas em termos de escoamento das águas pluviais, derivado da
deterioração do tubo de queda. Consequentemente, a fachada principal sofreu algumas infiltrações
devido à constante acção das águas do exterior. Esta é uma situação recorrente em muitos edifícios
“Gaioleiros”.
O último capítulo deste Título II descreve algumas características das comunicações verticais. No
artigo 45º, o regulamento exige que estas sejam “seguras, suficientemente amplas, bem iluminadas e
ventiladas e proporcionar cómoda utilização”. As comunicações verticais existentes no edifício
referem-se às escadas, sendo que o principal problema desta estrutura no edifício tem a ver com a
segurança. O artigo 46º descreve algumas dimensões para as escadas. Observe-se o Quadro 4.2:
Características das escadas
Dimensões Dimensões no
Elemento Verifica
regulamentares [m] edifício [m]
Largura útil mínima das escadas 1,20 1,15 Não
Largura útil mínima dos patamares 1,40 1,30 Não
Altura máxima dos degraus (espelho) 0,193 0,17 Sim
Profundidade mínima dos degraus (cobertor) 0,25 0,27 Sim
Quadro 4.2 - Comparação entre as dimensões das escadas e as exigências regulamentares.

Tal como se tinha referido anteriormente, as escadas deste edifício são amplas e com condições para
uma boa circulação, no entanto, em termos regulamentares apresentam algumas falhas. Apesar de
não serem graves, a largura das escadas e dos patamares de acesso às habitações não verificam o
RGEU.

30
O artigo 47º atribui às escadas de acesso comum em edifícios com mais de três pisos (caso de
estudo), algumas características importantes, tais como, boa iluminação e ventilação através de
aberturas das paredes - situação que não se verifica neste edifício. Nos dois últimos andares, a
iluminação e ventilação das escadas considera-se eficaz se garantidas através de clarabóias (Figura
4.5). Acrescenta-se a existência de um espaço vazio entre lanços de escadas com largura não
inferior a 40 centímetros; no imóvel em estudo este espaço tem dimensões de 220 cm x 50 cm
(Figura 4.6)

Figura 4.5 – Clarabóia de iluminação da caixa Figura 4.6 – Espaço vazio da caixa de
de escadas. escadas.

Ainda neste mesmo título, o artigo 48º engloba as edificações com mais de quatro pisos, incluindo
cave e sótão quando habitáveis (não é o caso do sótão do caso de estudo). Neles, o regulamento
estipula a necessidade de além da escada principal, edificar-se uma escada de serviço, incorporada
no perímetro da construção e com acesso para a rua. Convém no entanto referir, que apesar de o
edifício em causa cumprir esta exigência do RGEU, este artigo foi revogado pelo DL 650/75, estando
por isso, em desuso no contexto actual.
No artigo 50º trata-se de um assunto de profundo interesse no contexto da reabilitação urbana, a
inserção de elevadores. Decreta-se obrigatória a sua instalação quando, a altura do último piso
destinado a habitação exceder 11,5 m; o que no presente caso chega aos 17,3 m. O artigo
acrescenta que estes ascensores devem ser dimensionados de acordo com o número de habitantes
e com a capacidade mínima de quatro pessoas.

31
4.1.3. Titulo III – Condições especiais relativas à salubridade das
edificações e dos terrenos de construção
O Título III desenvolve os seus artigos em torno das condições especiais relativas à salubridade das
edificações e dos terrenos de construção. O primeiro capítulo deste título tece algumas
considerações precisamente sobre a salubridade dos terrenos, subscreve que todas as edificações
devem ser construídas em terrenos salubres e previamente sujeitos a obras de saneamento.
Acrescenta ainda algumas situações a evitar, tais como “cavalariças, currais, vacarias, pocilgas,
lavadouras, fábricas de produtos corrosivos ou prejudiciais à saúde pública e estabelecimentos
semelhantes – sem que os respectivos pavimentos fiquem perfeitamente impermeáveis e se adoptem
as demais disposições próprias para evitar a poluição dos terrenos e das águas potáveis”. Pela
inspecção ao edifício, ou recorrendo aos registos camarários, nunca foram verificados quaisquer dos
usos anteriormente referidos nem mesmo situações prejudiciais enumeradas.
O artigo 59º cita uma exigência sempre polémica em qualquer urbanização, a altura deste
relativamente à largura do arruamento confinante. No presente caso, a altura do edifício medida no
projecto é de 25,5 metros, medida em relação ao ponto mais baixo da fachada principal. A distância
até ao edifício situado no outro lado da avenida Luís Bivar, medida na horizontal é de 24,7 m medidos
no terreno e de 25 m medidos no projecto, assim sendo, o ângulo referido no artigo é de cerca de 46º,
1º acima do regulamentado.
O artigo 60º ressalva que, independentemente do artigo anterior, a distância entre fachadas não seja
inferior a 10 metros, o que é largamente cumprido pelos cerca de 25 metros medidos no projecto.
Relativamente ao artigo 62º, este regulamenta que deve existir um logradouro com fácil acesso do
exterior, situação que no traçado inicial do edifício era cumprida – bem como na maior parte dos
“Gaioleiros”. No entanto, no presente caso de estudo, posteriormente alvo de intervenções no prédio
contíguo, o corredor que fazia a ligação entre a frente do edifício e o logradouro, foi bloqueado, não
fazendo respeitar este ponto do RGEU. Relativamente ao último dos pontos deste artigo, não se
aplica ao presente estudo, sendo que o edifício não se encontra no gaveto do arruamento. Este tipo
de procedimentos adultera aquilo que é a função destas portas de serviço tão comuns nos
“Gaioleiros”.
Em jeito de conclusão, refere-se que aquilo que veio sendo regulamentado ao longo deste capítulo,
apenas é alvo de situações excepcionais quando se assegurem as condições mínimas de
salubridade exigíveis ou quando o edifício assim o exija, sem qualquer outra solução possível. Esta
obrigatoriedade é desenvolvida ao longo dos dois últimos artigos do primeiro capítulo deste título.
No Capítulo III regulamentam-se algumas condições a cumprir no interior das habitações. O primeiro
dos artigos estipula como limite mínimo de pé direito 2,40 metros, o que neste edifício é cumprido,
uma vez que a menor das alturas livres piso a piso, é de 2,50 m nas caves ou 2,75 m nos dois últimos
andares. De frisar que este não é, normalmente, um problema nos “Gaioleiros”. Acrescenta ainda
este artigo algumas excepções nas quais o pé direito pode ser reduzido até valores de 2,20 m
(vestíbulos, corredores, instalações sanitárias), o que no prédio em estudo é cumprido nas casas de
banho (2,90 m). No terceiro dos pontos deste artigo 65º regulamenta-se que o pé-direito livre mínimo

32
das zonas destinadas a estabelecimentos comerciais é de 3 metros. Sendo que, no projecto inicial
não haveria intenção de integrar nenhuma situação deste género, nunca foram salvaguardadas estas
preocupações. Hoje em dia, com a existência de uma funerária na cave, este pé direito não é
respeitado, situando-se 80 cm abaixo deste limite – de qualquer das formas, a falta de preocupação
com as caves, em termos de pé direito, não era uma situação isolada no caso de estudo. Com o
quarto ponto do artigo 65º demarca-se o estender de todo o artigo a situações de “tectos com vigas,
inclinados, abobadados ou, em geral, contendo superfícies salientes”. No presente edifício, as
situações que se englobam neste grupo são as marquises de tardoz e as casas de banho mas que
são também claramente cumpridas pelos 2,90 m de pé direito.
O artigo 66º reflecte sobre as áreas a estabelecer nos fogos, e o número de compartimentos de
habitação. No termos deste artigo, a classificação Tx é atribuída segundo o número de quartos de
dormir, x. No projecto original, apenas duas divisões são classificadas como quartos; no entanto, para
análise do RGEU, classificar-se-ão os espaços da seguinte forma:
• Quartos referidos no projecto serão considerados como quarto de casal, dado ser a situação
mais exigente em termos de área mínima;
• Saleta e escritório são classificados como quartos duplos;
• Casa de jantar será estudada como uma sala.
Segundo este artigo, são seis o mínimo de compartimentos para habitações T4 (com quatro quartos
de dormir), pela classificação referida, cumpre-se o regulamento. No edifício contabilizam-se sete,
sendo eles:
• 4 Quartos;
• 2 Salas;
• 1 Cozinha.
Destacam-se no Quadro 4.3, as áreas mínimas referidas pelo RGEU e as áreas dos compartimentos,
medidas no projecto:
Tipologia T4
Compartimentos Área mínima regulamentar [m2] Área [m2] Verifica
Quarto (Quarto casal) 10,50 13,80 Sim
Quarto casal (Quarto casal) 10,50 13,80 Sim
Saleta (Quarto duplo) 9,00 9,60 Sim
Escritório (Quarto duplo) 9,00 8,97 Não
Casa de jantar (Sala) 12,00 20,24 Sim
Sala 12,00 13,50 Sim
Cozinha 8,00 8,00 Sim
Quadro 4.3 - Verificação das áreas mínimas dos compartimentos segundo o RGEU para tipologias T 4

Pela análise do Quadro 4.3, é possível verificar que as divisões cumprem os mínimos em termos
espaciais. A única excepção prende-se com o escritório, no entanto, há que ter em conta que foi
exigido deste espaço uma função de quarto duplo, situação que, em caso de quarto simples seria
2
cumprida, estando acima dos 6,5 m regulamentares. De qualquer das formas, o cariz rigoroso
evidenciado no Quadro 4.3, não é, de todo, aquilo que mais importa neste estudo
O artigo acrescenta que o suplemento de área obrigatório que vem referido no regulamento, deve
fazer-se distribuir pela cozinha e sala e terá uma parcela afectada ao tratamento de roupa.

33
Considera-se que a parcela da cozinha referida terá como destino a Quadro 4.3despensa e marquise.
No Quadro 4.4 agregam-se os dados recolhidos:
Tipologia T4
2 2
Compartimentos Área [m ] Área mínima regulamentar [m ] Verifica
Despensa 2,73
Engomados e rouparia 5,13 12,40 8,00 Sim
Marquise 4,54
Quadro 4.4 - Verificação da área mínima do suplemento de área obrigatório.

Pela análise do Quadro 4.4 é possível verificar que o somatório das áreas da despensa, sala de
engomados e marquise, é superior ao mínimo exigido pelo regulamento. O artigo acrescenta no ponto
três outra exigência que é cumprida, determinando que a área destinada ao tratamento de roupa
2
deve ser maior ou igual a 2m , o que é verificado pelo edifício como é possível observar pelo Quadro
4.4.
Para o artigo 67º são distinguidos três tipos de áreas, sendo elas a área bruta, útil e habitável. Mais
importante nesta fase será verificar a área bruta mínima dos fogos de tipologia T4. Dado que existem
diferenças em termos espaciais entre as várias habitações, dispõe-se no Quadro 4.5 as áreas de
todos eles:
Habitação Área bruta mínima regulamentar [m2] Área bruta [m2] Verifica
Rés-do-Chão esquerdo (T3) 91 191,93 Sim
Rés-do-Chão direito (T3) 91 164,70 Sim
Pisos elevados esquerdo (T3) 91 155,25 Sim
Pisos elevados direito (T4) 105 176,67 Sim
Quadro 4.5 - Verificação das áreas brutas das habitações.

Para todos os fogos o regulamento é cumprido, no que diz respeito aos limites mínimos de área
bruta. De referir que esta área foi medida pelo “perímetro exterior das paredes exteriores e eixos das
paredes separadoras dos fogos, e inclui varandas privativas e locais acessórios”
Para as instalações sanitárias, a área mínima ainda não havia sido debatida neste regulamento,
assim, o artigo 68º estipula para as habitações T4 um limite inferior de 4,5 m2, subdividido em dois
espaços com acesso independente. Assim sendo, este artigo não é cumprido, não pela área mínima,
dado que a casa de banho existente possui 7,29 m2, mas porque apenas existe uma instalação
sanitária “completa”. Esta é uma situação que sobressaiu desde logo nas visitas efectuadas ao
edifício. Em qualquer edifício “Gaioleiro” que mantenha as suas características iniciais a situação será
semelhante – apenas com uma instalação sanitária.
O adjectivo “completa” justifica-se pela desarticulação do compartimento sanitário incluído na
marquise, que faz com que este artigo seja cumprido. Apesar de pouco adequado; em termos de área
e ajustamento espacial este ponto do RGEU é verificado. Este pequeno espaço, com 0,94 m2, é
nitidamente insuficiente para os usos actuais. Além disso, o regulamento estipula como equipamento
mínimo um bidé, bacia de retrete e lavatório; estando em falta um bidé nas situações conhecidas
desse compartimento. Este tipo de solução na marquise de tardoz, era por vezes utilizada como
recurso à instalação sanitária principal.

34
Na continuação dos artigos anteriores, o artigo 69º determina algumas limitações quanto às
dimensões dos compartimentos, dependentemente da sua área.
2
Na primeira alínea determina-se que sempre que a área dos compartimentos seja inferior a 9,5 m , a
sua dimensão mínima será de 2,10 m. As divisões que importam aqui analisar serão a cozinha e
escritório (ver Quadro 4.6):
Compartimentos Área [m2] Dimensões [m] Dimensão mínima regulamentar [m] Verifica
Cozinha 8,00 3,20 x 2,50 2,10 Sim
Escritório 8,97 3,90 x 2,30 2,10 Sim
2
Quadro 4.6 - Verificação das dimensões mínimas dos compartimentos com área inferior a 9,5 m .

Ambas as divisões cumprem o regulamentado. Nas alíneas b) e c) deste artigo determina-se,


respectivamente:
• “Para áreas entre maiores ou iguais a 9,5 m2 e menores que 12 m2, deverá inscrever-se nela
um círculo de diâmetro não inferior a 2,40 m”;
2 2
• Para áreas maiores ou iguais a 12 m e menores que 15 m , “deverá inscrever-se nela um
círculo de diâmetro não inferior a 2,70 m”.
2
Para a alínea b) será estudada a saleta. Com 9.60 m , este compartimento tem dimensões suficientes
para que nele se possa inscrever o círculo referido (3,90 m x 2,45 m). Para a análise da alínea c)
serão considerados os quartos e a sala. Tendo áreas de 13,80 m2 e 13,50 m2, respectivamente;
quando inscritas circunferências de diâmetro 2,70 m, não houve qualquer conflito, confirmando o
cumprimento daquilo que está regulamentado. Importa referir que os dois quartos dos fogos têm
áreas iguais. A quarta e última alínea refere que sempre que a área dos compartimentos for maior ou
2
igual a 15 m , o comprimento não deverá exceder o dobro da largura. A única situação que pode ser
abrangida nesta análise, é a casa de jantar, com 20,24 m2 (4,40 m x 4,60 m), sendo que é igualmente
cumprido aquilo que é regulamentado neste artigo.
O artigo 70º vê cumprida a largura mínima exigida para os corredores das habitações, sendo 1,10
metros, encontra-se exactamente no limite regulamentar. Através destes dados compreende-se a
amplitude espacial dos edifícios desta época.
Ainda sobre dimensões praticadas nas habitações, o artigo 71º destaca a importância dos vãos dos
compartimentos dos fogos, estes devem ser sempre iluminados e ventilados (verifica-se no caso em
estudo) e em comunicação directa com o exterior. A área total destes vãos não deve ser inferior a um
décimo da área dos compartimentos com o mínimo de 1,08 m2 medidos no tosco.

35
Apresenta-se no Quadro 4.7 uma síntese com a informação necessária à análise da adequabilidade
do RGEU ao edifício:
Compartimentos Área [m2] 10% Área [m2] Área dos vãos [m2] Verifica
Quarto (Quarto casal) 13,80 1,38 1,48 Sim
Quarto (Quarto casal) 13,80 1,38 1,48 Sim
Saleta (Quarto duplo) 9,60 0,96 2,30 Sim
Escritório (Quarto duplo) 8,97 0,90 2,30 Sim
Casa de jantar (Sala) 20,24 2,02 3,87 Sim
Sala 13,50 1,35 3,02 Sim
Cozinha 8,00 0,80 2,48 Sim
Quadro 4.7 - Verificação das áreas mínimas dos vãos dos compartimentos.

Como se pode observar pelo Quadro 4.7, e através de medições efectuadas no edifício, foi possível
concluir que aquilo que é disposto no artigo é efectivamente cumprido. O artigo refere ainda que a
2
área mínima destes vãos, medidos no tosco, será de 1,08 m , o que é igualmente verificado pelo
prédio em estudo.
No número dois deste mesmo artigo permite-se o uso de varandas envidraçadas consideradas como
espaço exterior, sempre que estejam reunidas as condições climáticas e de ruído, bem como o
devido respeito pelas seguintes dimensões:
• Largura das referidas varandas não pode ser superior a 1,80 metros, o que na presente
situação é cumprido (1,60 m);
• As áreas dos vãos dos compartimentos confinantes não podem ser inferiores a 1/5 da
2
respectiva área, nem inferior a 3 m . Aquilo que este ponto regulamenta diz respeito à
comparação entre as áreas do vão da cozinha (compartimento confinante à marquise
envidraçada) e respectiva área dessa divisão. Analisando o projecto, agrega-se no Quadro
4.8 a informação que verifica o cumprimento do regulamento:
2 2 2
Compartimento Área [m ] 1/5 Área [m ] Área dos vãos [m ] Verifica
Cozinha 8,00 1,60 2,48 Sim
Quadro 4.8 - Verificação da área mínima dos vãos da cozinha.

2
• Importa acrescentar ainda nesta alínea, que o vão da cozinha é inferior aos 3m
regulamentados, não cumprindo esta premissa.
• A área do envidraçado da marquise (varanda envidraçada) deverá ser superior a 1/3 da sua
2
área bem como superior a 4,3 m . No Quadro 4.9 destaca-se a informação necessária para
comprovar a verificação do artigo 71º:
2 2 2
Compartimento Área [m ] 1/3 Área [m ] Área envidraçado [m ] Verifica
Marquise 4,54 1,51 5,23 Sim
Quadro 4.9 - Verificação da área mínima de envidraçado da marquise.

• Relativamente à alínea d) do ponto 2 deste artigo, resume-se no Quadro 4.10 os dados


importantes para a sua análise:
2 2 2
Compartimento Área envidraçado [m ] 1/2 Área envidraçado [m ] Área ventilação [m ] Verifica
Marquise 3,77 1,89 1,45 Não
Quadro 4.10 - Verificação da área mínima de ventilação da marquise.

36
Como é possível observar pelo Quadro 4.10, a área de ventilação não é maior ou igual a metade da
área de envidraçado da marquise, não cumprindo o regulamento.
O artigo 72º regulamenta a importância da ventilação transversal do edifício através de janelas
dispostas em duas fachadas opostas. Apesar da fachada posterior do imóvel ter sido alterada, ainda
hoje este disposto é cumprido, através do terraço que faz comunicação com a casa de jantar através
de uma janela. Quanto à fachada principal, este possui aberturas para o exterior não só na sala como
também na saleta e escritório. No seguimento do que vem sendo regulamentado para os vãos dos
compartimentos, o artigo 73º alerta para que o afastamento medido perpendicularmente ao plano das
janelas seja inferior a metade da altura da fachada situada no lado oposto da Avenida Luís Bivar.
Este disposto é nitidamente cumprido. Acrescenta ainda que “não deverá haver a um e outro lado do
eixo vertical da janela qualquer obstáculo à iluminação a distância inferior a 2 m” disposição que é
verificada na fachada principal. Quanto à fachada de tardoz, a janela da marquise dista, na horizontal,
1,35 metros até à escada de serviço de betão armado, não fazendo cumprir o artigo.
Apesar de ser uma situação bastante comum em quarteirões da cidade de Lisboa, o artigo 74º
estabelece limites para a ocupação desordenada dos logradouros, este refere que o uso destes para
a construção de telheiros, coberturas ou outras alterações, só podem ter efeito mediante autorização
camarária. Ainda sobre os logradouros, o artigo seguinte refere que deve haver ao longo destes, uma
faixa de, pelo menos, 1 metro de largura, disposição esta que é cumprida e concretizada através do
corredor que faz a ligação entre a frente do edifício e a zona de tardoz. Esta ligação pretende-se
impermeável e capaz de escoar as águas pluviais. O corredor que faz a ligação entre a porta de
serviço do prédio e o logradouro tem a largura de 1 metro, fazendo cumprir o regulamento.
Para a construção de caves destinadas à habitação, o RGEU estabelece algumas regras das quais o
edifício em causa não precisa verificar, dado que nenhuma das suas caves se destina a esse fim. Já
no artigo 78º refere-se que, no caso de caves que sirvam exclusivamente de arrecadação para uso
dos inquilinos do prédio, armazém, ou mesmo arrecadação de estabelecimentos comerciais, o pé
direito mínimo é de 2,20 m, situação respeitada no limite por uma das arrecadações do edifício
(actualmente propriedade do Hospital Particular de Lisboa). A outra das arrecadações que foi
possível aceder, e que hoje em dia funciona como uma funerária tem pé direito de 2,20 m, fazendo
também cumprir este artigo.
Quanto aos artigos 79º e 80º, apontam algumas limitações para situações em que os sótãos, águas-
furtadas e mansardas sejam utilizados para fins habitacionais. No imóvel em estudo, não consta
nenhum destes casos, não se aplicando as directrizes que constam neste artigo nem no seguinte.
Os dois últimos artigos deste capítulo, 81º e 82º, destacam algumas premissas a respeitar em termos
de higiene e saúde. Entre elas, a possibilidade de a câmara municipal tomar disposições construtivas
especiais impedindo o acesso de ratos ao interior do edifício.
No Capítulo IV são abordadas questões relacionadas com as instalações sanitárias e esgotos,
iniciando-se no artigo 83º, com a obrigatoriedade de que todas as edificações deverão ser providas
de instalações sanitárias adequadas. No artigo seguinte iniciam-se as exigências específicas a
cumprir nestas divisões; regulamenta-se que deve haver, no mínimo, uma instalação com lavatório,
uma banheira, uma bacia de retrete e um bidé; acrescentando ainda que o número de casas de

37
banho deve ser proporcional ao número de compartimentos. Ora, se por um lado estas divisões
contêm os dispositivos exigidos pelo RGEU, constata-se que, perante as exigências habitacionais e
regulamentares de hoje em dia, uma casa de banho é claramente insuficiente, situação que será alvo
de estudo aprofundado mais à frente neste trabalho. Ainda sobre as casas de banho, importa
ressalvar que existe um pequeno compartimento a tardoz que serve como casa de banho,
actualmente desajustado em termos de espaço, mas também deficitário em termos do equipamento
atrás referido (possui apenas uma bacia de retrete e lavatório). Quanto ao segundo ponto deste
artigo, e que descreve as cozinhas, as exigências são parcialmente cumpridas. Existe, como
regulamentado, um lava-louça com saída de esgoto, mas o seu ramal é de 30 mm; 20 mm abaixo do
exigido. De acrescentar que existe um sifão e a ligação actual já é parcialmente em PVC, substituindo
o chumbo original. Através de conversas com habitantes, conclui-se que normalmente este sistema
responde bem às solicitações. Existem, no entanto, algumas reservas, dado que o único dispositivo
de água da cozinha é efectivamente o lava-louça.
O artigo 85º prefere focar outro aspecto importante na vida de um projecto bem executado, a
localização das instalações sanitárias dentro de uma habitação. É referido que estas devem ser
incorporadas no perímetro da construção, em locais iluminados e arejados. Neste caso, a casa de
banho “principal” localiza-se junto ao saguão, o que permite fazer deste espaço, um local bem
ventilado e com acesso a alguma luz natural. Quanto ao compartimento utilizado como instalação
sanitária e localizado junto à cozinha, não tem qualquer iluminação ou arejamento, sendo nitidamente
desajustado à luz deste regulamento. A sua localização dentro da habitação também não é
seguramente a mais ajustada.
Quanto ao artigo 86º, este regulamenta um cuidado que é actual, os cheiros advindos da má
localização ou instalação das casas de banho. Neste caso, é cumprido o RGEU, sendo que a retrete
não tem comunicação com os compartimentos, apenas com o corredor, possuindo ainda uma janela
com abertura para o saguão.
No artigo 87º estipula-se um limite mínimo (0,54 m2) para a área envidraçada dos vãos abertos na
2
parede, em contacto directo com o exterior, medida no tosco. Assim sendo, os 1,32 m medidos no
edifício consideram-se suficientes para fazer cumprir o RGEU. De ressalvar que a área mínima da
2 2
parte de abrir, será de 0,36 m , inferiores aos 0,65 m medidos no fogo visitado. No ponto 3 deste
artigo importa verificar o total desajuste das habitações visitadas relativamente a este regulamento;
neste é referido que nunca deverão ser utilizados aparelhos de combustão (esquentador a gás), nas
casas de banho, situação existente em todas as casas de banho, com abastecimento através de
botija. Até hoje, seguindo os relatos dos habitantes, nunca terão havido problemas decorrentes desta
situação, fruto precisamente da boa ventilação destas zonas, mas, através do regulamento, e de
outras experiências negativas, sabe-se que não será de todo aconselhável a continuidade desta
situação.
Quanto ao artigo 88º, este obriga a que todas as retretes sejam providas de uma bacia de sifão e
dispositivo para a sua lavagem, o que é cumprido no edifício, evitando a propagação de cheiros. No
artigo seguinte fala-se em urinóis, o que é de todo, descontextualizado para um edifício habitacional.

38
Nos artigos 90º, 91º e 92º são comentados alguns pormenores construtivos a ter em conta. Refere-se
que as canalizações de esgoto devem assegurar boa evacuação das matérias recebidas, sendo
acessíveis e facilmente inspeccionáveis (tanto quanto possível). Acrescenta-se sobre estas que as
suas tubagens nunca devem ser de barro comum, mesmo vidrado. Quanto às águas pluviais,
determina-se que devem ser rápida e completamente escoadas através de tubos de queda
independentes dos que se destinam ao esgoto; apesar de antigo, o edifício cumpre esta exigência.
No último destes três artigos alerta-se para a devida atenção que deve ser dispensada para o bom
funcionamento da rede de esgotos e cuidados a ter contra possíveis infiltrações das águas contra a
saúde pública. No artigo 93º continuam as exigências regulamentares das canalizações de esgoto,
preconizando-se todas as precauções para assegurar a ventilação das canalizações e impedir o
esvaziamento dos sifões.
Para salubridade dos edifícios, o artigo 94º aconselha que todos os dejectos e águas servidas sejam
afastados dos prédios através de ramais que liguem à rede pública. Não acompanhando a fase de
construção do edifício para auferir quanto à boa execução deste tipo de ligações; situado o edifício
numa zona central da cidade, é natural que estas ligações sejam completamente funcionais.
O artigo 97º prevê para todas as edificações com mais de quatro pisos (nas quais se inclui o caso de
estudo), a existência de, pelo menos, um compartimento facilmente acessível, destinado ao depósito
de contentores dos lixos dos diversos pisos. Este deve ser bem ventilado e possuir condições de
lavagem frequente. Pela visita ao edifício ou pela observação do projecto, não existe actualmente
qualquer espaço destinado a este propósito. Pela observação do projecto junto dos moradores,
soube-se que o corredor que faz a ligação entre o logradouro e a porta de serviço do edifício, tinha
justamente esta função. Existia um contentor no qual se depositava os lixos do prédio, acessível
através das escadas de tardoz. Na continuação dos artigos anteriores, o artigo 98º descreve um tipo
de canalização inexistente no edifício e que se destina à evacuação dos lixos dos diversos pisos.
No Capítulo V é feita uma abordagem superficial sobre o abastecimento de água potável. Este inicia-
se com uma recomendação fundamental que é cumprida pelo caso em estudo; as habitações deste
são abastecidas de água potável na quantidade suficiente para a alimentação e higiene dos seus
inquilinos. Acrescenta-se que todos os prédios (salvo os casos de isenção legal) devem ser servidos
por rede pública de abastecimento de água e providos de sistemas de canalizações interiores de
distribuição, ligado à rede pública por meio de ramais privativos, tudo isso com dimensões que
permitam o bom funcionamento de todo o traçado. No artigo 102º são feitas uma série de
recomendações, entre as quais alertando que as canalizações, dispositivos de utilização e acessórios
são sempre explorados tendo em conta as exigências do Regulamento Geral do Abastecimento de
Água.
No Capítulo VI discutem-se questões de segurança, mais precisamente, evacuação dos fumos e
gases. Inicialmente, exige-se que todos os compartimentos das habitações nos quais haja
permanência de pessoas e onde venham a funcionar aparelhos de aquecimento por combustão,
tenham dispositivos necessários para a ventilação destas áreas, e consequente evacuação dos
gases e fumos susceptíveis de prejudicar a saúde ou bem-estar dos ocupantes. Neste ponto, já é

39
possível detectar algumas falhas no edifício em estudo, mas complementa-se esta análise nos artigos
seguintes.
No artigo 109º exige-se que as cozinhas sejam providas de dispositivos eficientes para a evacuação
de fumos e gases, e eliminação de maus cheiros, o que não se verifica nos compartimentos visitados.
Quanto às chaminés de lareiras, o regulamento refere que, quando instaladas, devem ter
profundidade de, pelo menos, 50 cm, e conduta privativa para a evacuação do fumo e eliminação dos
maus cheiros. Medido no edifício, este dispositivo tem exactamente as dimensões exigidas, em
visitas efectuadas ao imóvel, foi sempre verificado que funcionava com eficácia.
No artigo 110º acrescenta-se que as condutas de fumos que sirvam chaminés e fogões de
aquecimento devem ser independentes, o que, pela vistoria ao edificado verifica-se plenamente. O
ponto dois deste mesmo artigo regulamenta algumas soluções construtivas para uma possível
intervenção, sendo que o terceiro descreve como indispensável a instalação, nas saídas das
chaminés, de exaustores estáticos, convenientemente dimensionados e capazes de conferir bom
funcionamento ao sistema de evacuação de fumos. Este último ponto não é cumprido no caso de
estudo.
Os artigos 111º e 112º referem algumas características construtivas que as condutas de fumo devem
respeitar, nomeadamente secções e materiais que as constituem - condições impossíveis de
fiscalizar em visitas ao edifício. Segundo o artigo 113º, a conduta de fumo deverá elevar-se pelo
menos 0,50 m acima da parte mais elevada das coberturas do prédio (1 m medido no projecto). O
acesso que permite a limpeza deste dispositivo é assegurado por uma escada metálica totalmente
deteriorada.
O Capítulo VII abrange a sua análise sobre a possibilidade e as condições de alojamento de animais
nos edifícios e logradouro. O artigo 115º refere que existe um limite de área de logradouro (1/15) para
a construção destes anexos destinados aos animais. Nunca, em qualquer caso, estas instalações
podem prejudicar a salubridade e conforto das habitações, o que parece ser cumprido em todos os
fogos visitados; salientando também que no logradouro não existe qualquer área destinada ao
alojamento de animais. O artigo 116º, na continuação do anterior, determina ainda outros cuidados
construtivos a ter nas situações de alojamento de animais, não sendo de interesse referi-los aqui,
dado que o edifício em estudo não se enquadra nesta situação.
Os artigos 117º, 118º e 119º desadequam-se totalmente ao edifício, sendo que tratam de casos em
que os prédios incluam cavalariças, vacarias, currais ou instalações semelhantes. Neles descrevem-
se os cuidados a ter na construção destes anexos, bem como as particularidades associadas à
produção de estrumes. Inclui-se no artigo 120º, e último deste título, que deverão sempre ser
tomadas sérias precauções para a propagação de moscas e mosquitos, qualquer que seja o tipo de
ocupação animal que o prédio albergue.

40
4.1.4. Título IV – Condições especiais relativas à estética das edificações
O RGEU destaca o Título IV para tratar das condições especiais relativas à estética das edificações.
Esta abordagem tem a ver não apenas com novas construções mas também com as obras de
conservação, reconstrução ou transformação. O artigo 121º refere que todas as construções, da qual
uma possível intervenção do edifício em causa faz parte, devem ser “delineadas, executadas e
mantidas de forma que contribuam para a dignificação e valorização estética do conjunto em que
venham a integrar-se”. Haverá assim, que ter todo o cuidado em qualquer intervenção para que
nunca se comprometa o aspecto do edifício que tem o seu lugar na história do edificado “Gaioleiro”.
Os objectos de publicidade são também abordados no artigo 125º, referindo que as Câmaras estão
em condições de proibir a instalação dos mesmos, quando estes se revelem prejudiciais para a
imagem da zona onde se encontram. No edifício em questão não existe nenhum elemento deste tipo.
Relativamente a árvores ou maciços de arborização presentes em logradouros, apesar de
constituintes de propriedade privada, quando sejam classificados de interesse público, não poderão
ser destruídos, segundo o regulamentado no artigo 126º.
Em jeito de conclusão deste título IV, importa referir que as exigências de conservação estética do
edifício não são, definitivamente, cumpridas. As qualidades arquitectónicas deste – patentes no
projecto inicial – não são garantidas hoje em dia, deturpando um tipo estilo de edifícios que marcaram
uma época.

4.1.5. Título V – Condições especiais relativas à segurança das


edificações
O Título V divide-se em três capítulos, sendo que o terceiro dos quais se encontra revogado,
deixando a análise deste tema para o capítulo 4.3 deste estudo. Sendo este Título dedicado às
condições especiais relativas à segurança das edificações, o primeiro e segundo capítulos referem-se
respectivamente à solidez das edificações e segurança pública e dos operários no decurso das obras.
Quanto ao primeiro capítulo é facilmente observável nas visitas ao edifício que a solidez e protecção
contra o perigo não estão de todo asseguradas. Existem graves problemas de rotura de pavimentos e
infiltrações danosas ao nível da cobertura. As exigências em termos de segurança aquando da
intervenção num edifício como este podem levar à realização de ensaios para demonstração das
qualidades dos terrenos e materiais. Qualquer alteração que se destine ao futuro cumprimento das
disposições deste regulamento devem assegurar sempre solidez e nunca poderão constituir perigo
para a segurança dos seus ocupantes ou para os prédios vizinhos. Segundo o artigo 129º, qualquer
intervenção deve ser comprovadamente capaz de suportar com segurança o acréscimo de solicitação
resultante da obra projectada. Não veio sendo o caso do edifício em causa, mas em muitos outros
procede-se à alteração da utilização dos fogos, sem que para isso se verifique o disposto no artigo
anterior, o artigo 130º destaca isso mesmo.
O artigo 132º trata da qualidade dos materiais utilizados na construção, descrevendo as suas
características resistentes para assegurar o bom funcionamento da estrutura. Os dois últimos artigos

41
deste capítulo, 133º e 134º, determinam alguns cuidados a ter na fase de construção com materiais
ou técnicas não correntes, e conclui-se frisando a necessidade de condições restritivas especiais
para edificações em zonas sujeitas a sismos (caso presente). No entanto, e dado o não
acompanhamento da fase de projecto, não se pode concluir algo de concreto senão supor que
houveram os devidos cuidados na época de construção, altura de ressaca do terramoto que destruiu
parte da baixa de Lisboa.
Quanto ao Capítulo II, este remete-nos para a execução da obra, montagem do estaleiro, escavações
ou outras operações que possam acarretar riscos para a segurança pública e dos operários. Esta é
uma das passagens que convém ter em conta aquando da execução de qualquer intervenção no
imóvel. Assim sendo, na fase de estudo da adequabilidade do regulamento ao edificado, não será um
capítulo de particular interesse.
Tal como já foi referido, a análise do capítulo III é remetida para o mais actual dos diplomas nesta
área, o Regulamento de Segurança Contra Incêndio em Edifícios.

4.1.6. Título VI – Sanções e disposições diversas


O último dos títulos, conduz o seu leitor ao longo das sanções e disposições que regulam o
cumprimento do diploma em causa. Nele constam algumas das penalizações para os que não
cumpram aquilo que está regulamentado neste documento. Consta ainda que são as câmaras
municipais quem terão a competência para determinar quais as coimas a aplicar dentro dos valores
estabelecidos entre os artigos 161.º e o164.º.

4.2. Regulamento Geral das Edificações - RGE


O Regulamento Geral das Edificações (RGE) surge como uma resposta às necessidades de
actualizar o actual Regulamento Geral das Edificações Urbanas. Apesar de ainda não aprovado, o
regulamento em análise é uma das mais recentes versões acessíveis e que importará neste momento
estudar. Através de uma comparação entre o disposto actual e este que está em vias de aprovação, é
possível tirar as conclusões necessárias para atingir os objectivos propostos neste estudo.
Esta versão do RGE está dividida em nove títulos mais anexos (ainda não disponíveis), nos quais
estão algumas definições importantes para a compreensão deste despacho.
O estudo aprofundado do RGEU permitirá encarar a análise dos artigos do RGE com alguma
segurança, reforçando ainda o sentido crítico que a sua leitura poderá despertar.

42
4.2.1. Título I - Disposições Gerais
O título I do RGE fala de algumas disposições gerais que importará conhecer antes da análise deste
regulamento. No capítulo 1 refere-se que o novo regulamento é aplicável às novas edificações e
obras de intervenção em edificações existentes (caso de estudo).
O artigo 2º será importante para a estudar a aplicabilidade do regulamento ao caso de estudo, uma
vez que trata exclusivamente das intervenções em edificações. No primeiro ponto deste artigo
classificam-se os níveis das intervenções em edificações existentes:
• Nível I: Q ≤ 5%
• Nível II: 5% <Q ≤ 25%
• Nível III: 25% <Q ≤ 50%
• Nível IV: Q> 50%
• Segundo o regulamento, este valor Q representa a percentagem do custo da intervenção
relativamente ao custo da construção de um edifício novo com a área bruta idêntica à do
edifício original. Para o caso de estudo, considerar-se-á muito difícil o valor das intervenções
propostas - tendo em vista o cumprimento dos regulamentos - ultrapassar o limite dos 50%.
Para fins de análise do RGE, irá ser considerado o Nível II e III.

4.2.2. Título II – Meio Ambiente


No artigo 6º, que integra o capítulo 1 (integração no meio físico), refere-se que deverá haver um
respeito pelos espaços livres, nomeadamente logradouros, fazendo com que estes contribuam para a
valorização ambiental do espaço. Para este tipo de espaço, o artigo 9º define que a zona deverá ser
tratada de modo a garantir condições de segurança e de salubridade. No artigo 10º refere-se que
será importante garantir a possibilidade de inserção de árvores de acordo com a paisagem,
acrescentando-se que a remoção destas implicará sempre o respeito pelos critérios de
sustentabilidade e preservação do ambiente natural.
No artigo 12º do capítulo 2 deste título regulamenta-se a salubridade do meio físico, situações que,
com o edifício já consolidado, não importam verificar para o estudo em causa. Estas exigências terão
a ver com as condições do terreno de implantação do imóvel.
No artigo 13º definem-se algumas regras para a realização de actividades industriais e agrícolas,
inexistentes na situação em estudo. No artigo 14º, e último deste título regulamentam-se as
instalações para animais. Nestas situações, aconselha-se manutenção dos espaços e garantia de
salubridade para o edifício.

43
4.2.3. Título III – Qualidade do espaço edificado
No artigo 16º exige-se que qualquer intervenção deverá assegurar a ventilação, iluminação natural e
exposição solar; estes são parâmetros que em alguns compartimentos não são garantidos,
nomeadamente arrecadações e despensas.
O artigo 17º apresenta algumas novidades relativamente ao actual regulamento, no que diz respeito à
regra dos 45º. O primeiro ponto será de fácil interpretação observando a Figura 4.7:

Figura 4.7 - Ilustração do artigo 17º - "Regra Figura 4.8 – Ilustração para situações de
dos 45º". edifícios implantados em terrenos em declive
ao longo da fachada.

A novidade diz respeito aos elementos de construção que se encontrem recuados (situação
inexistente no edifício). Estas situações são contabilizadas no caso de a distância até ao plano da
fachada for inferior à altura destes elementos. No ponto 3 deste mesmo artigo regulamenta-se que,
quando em dois planos de fachada contíguas, resultarem valores diferentes, admite-se que o plano
de fachada mais desfavorável possa atingir a altura do plano contíguo, numa extensão máxima de 15
m, para situações referidas no número 1 deste artigo (não é aplicável no caso de estudo). Para
edificações implantadas em terrenos em declive ao longo da fachada, o limite definido no número 1
pode ser excedido até ao máximo de 1,50 metros, apenas na parte descendente a partir do plano
médio da fachada (Figura 4.8). No caso de estudo, esta situação não é cumprida, uma vez que este
limite de 1,50 m é ultrapassado na parte descendente, o valor é de 2 metros.
Outra das diferenças neste novo regulamento diz respeito ao aumento da distância mínima entre
fachadas fronteiras a espaços públicos, artigo 18º. Neste novo regulamento esta medida passa a ser
11 metros, 1 m acima daquilo que é determinado pelo RGEU. Esta exigência é cumprida no caso de
estudo. No ponto dois deste artigo exige-se que “o afastamento entre qualquer fachada onde existam
vãos de compartimentos habitáveis e outro lote ou parcela confinante deverá ser igual ou superior a
metade da sua altura, com o valor mínimo de 4 m”. Para o caso de estudo esta premissa é cumprida
uma vez que a distância até à fachada oposta é de 24,7 metros, sendo superior a metade da altura
do imóvel (12,75 m). O terceiro e quarto pontos deste artigo não se aplicam ao caso de estudo, uma
vez que tratam de vãos de compartimentos não habitáveis e de edifícios com corpos salientes.

44
O artigo 19º trata de pátios interiores (saguões laterais no caso de estudo), permitindo a existência
destes espaços desde que seja possível inscrever um cilindro com diâmetro maior ou igual a metade
da altura da fachada (12,75 m). No caso de estudo, esta regra é violada uma vez que um cilindro
inscrito nessas condições ultrapassará as dimensões destes pátios. Acrescenta-se a necessidade de
uma saída directa para o exterior com largura mínima de 3 metros, situação em falta a partir das
obras realizadas nos anos 90. Apesar de ser um caso particular, este deverá assumir-se como um
exemplo a outros edifícios da mesma época, evitando situações semelhantes que deturpam a
funcionalidade dos logradouros. Acrescenta-se que estes espaços devem ser descobertos e apenas
acessíveis a partir dos restantes espaços comuns - não verificado pelo edifício. É possível concluir
que este artigo estará mais de acordo com o tipo de construção actual em que o saguão não é uma
situação normal. O pátio interior aqui referido insere-se numa perspectiva de logradouro partilhado
por um conjunto de edifícios, tal como a Figura 4.9 destaca.

Figura 4.9 - Ilustração do pátio interior. Figura 4.10 - Espaço junto à fachada principal.

O artigo 20º trata dos corpos e elementos localizados sobre espaços de utilização pública, nele
regulamenta-se que estes elementos não deverão prejudicar a segurança, a circulação, a
arborização, a iluminação pública e ocultar letreiros. Neste artigo, o edifício em estudo cumpre o novo
RGE. Regulamenta-se que os elementos referidos nunca deverão localizar-se a uma altura inferior a
3 metros do solo, igualmente cumprido pelo regulamento. Os elementos descritos neste artigo só
poderão existir sobre zonas onde não exista circulação automóvel, o que é verificado no caso de
estudo dado que as varandas do rés-do-chão não se estendem até à faixa de rodagem (Figura 4.10).
O capítulo 2 deste título fala dos espaços interiores das edificações, iniciando-se com o artigo 21º que
refere qual o âmbito de aplicação deste capítulo. O caso de estudo, considerado como uma
intervenção do nível II ou III enquadra-se no conjunto abrangido por este artigo (nível III e IV). No
artigo 22º define-se como limite mínimo de pé-direito das habitações 2,60 m, o que, na situação em
análise, se verifica em todos os pisos. Para situações como as varandas abobadadas, o mesmo
artigo regulamenta 2,30 m como limite mínimo, igualmente verificado pelo edifício. No quinto ponto
determina-se que as caves possuam, no mínimo, uma altura livre de 2,20 m, o que é igualmente
cumprido. De referir que o novo regulamento inclui limites para o pé-direito das caves de
estacionamento. O presente artigo divide-se em vários pontos referindo-se a espaços diferentes em
cada um deles.

45
O artigo 23º refere-se por completo às caves, outra das novidades do RGE, destinando um artigo
unicamente para o estudo destes espaços. Nele refere-se que estes espaços deverão ser
suficientemente ventilados e protegidos contra a humidade, acrescentando que deverão haver
condições de segurança e salubridade. Neste ponto, o caso de estudo conseguirá cumprir
razoavelmente as exigências. No segundo ponto regulamentam-se as condições para a existência de
caves habitáveis (inexistente no imóvel em estudo), sendo que no terceiro referem-se as regras para
pisos totalmente em cave destinados a comércio (situação igualmente fora do âmbito do trabalho). Os
pontos quatro e cinco, discutem novamente as caves habitáveis, mas em condições mais específicas,
como o caso de situações em que as caves comuniquem directamente com o interior de fogos em
edifícios unifamiliares.
No artigo 25º determinam-se as dimensões de vãos de acesso existentes no edifício - outra das
novidades em que o novo RGE consegue ser mais interpretável e mais rigoroso na sua abordagem.
Nele determinam-se os seguintes parâmetros que importa analisar no caso de estudo:
Largura útil de vãos de acesso
Elemento Dimensões regulamentares [m] Dimensões no edifício [m] Verifica
Acesso ao edifício 0,90 1,30 Sim
Quadro 4.11 - Verificação das condições regulamentares dos vãos de acesso existentes no edifício.

Como é possível observar pelo Quadro 4.11, a largura útil que importará estudar no caso de estudo, é
respeitada. Quanto à altura útil dos acessos, apresenta-se de seguida a comparação entre o exigido
e o observado no caso de estudo:
Altura útil de vãos de acesso
Elemento Dimensões regulamentares [m] Dimensões no edifício [m] Verifica
Acesso ao edifício 2,00 3,40 Sim
Quadro 4.12 - Verificação das condições regulamentares dos vãos de acesso existentes no edifício.

Como é possível constatar pelo Quadro 4.12, a altura útil de acesso ao edifício é superior àquilo que
é exigido. Importa acrescentar que o acesso discutido diz respeito à entrada principal do imóvel.
No artigo 26º regulamentam-se as condições de estacionamento das viaturas, situação bastante
importante no panorama actual, em que os parqueamentos subterrâneos são prática comum. Dada a
inexistência de espaços como este, não se aprofundará os pontos que constituem este artigo.
Importará apenas referir que, no exterior ao edifício, existe uma faixa para estacionamento com 3,5
metros de largura - mínimo regulamentar.
No artigo 27º trata-se de sistemas alternativos de estacionamento de veículos, tais como monta-
carros, situação inexistente no edifício.
No artigo 28º, à semelhança do que acontece com o actual RGEU, exige-se, para situações
semelhantes ao caso de estudo (edifícios multifamiliares), que exista um compartimento encerrado,
bem ventilado e facilmente acessível do exterior, destinado ao depósito de contentores do lixo. Tal
como já foi referido no capítulo que estuda o regulamento em vigor, este espaço hoje em dia não
2
existe. Este novo regulamento determina um valor mínimo para a área destes compartimentos, 6 m .
2
Exige-se ainda neste artigo a existência de um compartimento encerrado com área mínima de 2 m ,
destinado a arrecadação de material de limpeza. Ambos os espaços referidos deverão possuir um

46
ponto de água com altura mínima de 0,60 m. Nenhuma destas instalações se encontra no edifício em
estudo.
No artigo 29º regulamentam-se as condições das comunicações verticais, sendo que no artigo 30º se
particulariza algumas premissas importantes que as escadas deverão cumprir. Neste exigem-se as
seguintes características:
Características das escadas
Dimensões Dimensões no
Elemento Verifica
regulamentares [m] edifício [m]
Largura útil mínima das escadas 1,20 1,15 Não
Largura útil mínima dos patamares 1,50 1,30 Não
Altura máxima dos degraus (espelho) 0,18 0,17 Sim
Profundidade mínima dos degraus (cobertor) 0,28 0,27 Não
Altura livre mínima de utilização 2,20 2,20 Sim
Quadro 4.13 - Verificação das condições regulamentares das escadas do edifício.

Como é possível observar pelo Quadro 4.13, a dimensão mínima do cobertor não é respeitada, sendo
que para o espelho, o regulamento é cumprido. Quanto à largura das escadas, aquilo que é exigido
não se verifica no edifício. Já no que diz respeito ao patamar para onde abrem as portas das
habitações este encontra-se aquém do que é regulamentado. De qualquer forma, nenhum destes
pontos que não é cumprido pode considerar-se demasiado penalizador para a funcionalidade da
escada. O último dos parâmetros que importa analisar, refere-se à altura útil das escadas, situação
tangencialmente cumprida pelo edifício. A análise efectuada a estes elementos terá de ser alargada a
outros edifícios “Gaioleiros”, no entanto, ao invés de situações da época Pombalina ou anterior, esta
não era uma questão problemática.
Para o artigo 31º não se reserva qualquer tipo de comentários, uma vez que não existe nenhuma
rampa no caso de estudo.
Neste novo regulamento trata-se com mais pormenor a questão dos elevadores, uma vez que hoje
em dia é uma situação banal na construção. O artigo que trata deste tema é o artigo 32º exigindo-se,
para situações como o caso de estudo, a instalação de um elevador com dimensões mínimas
interiores de 1,10 m x 1,40 m. Importa aqui retirar algumas conclusões; em primeiro lugar, como seria
de esperar, o novo regulamento continua a exigir a instalação destes elementos; além disso importa
ressalvar a compatibilização do novo RGE com o DL 163/2006 (decreto-lei com normas técnicas para
melhoria da acessibilidade das pessoas com mobilidade condicionada). Neste novo regulamento
importa ainda ressalvar que a necessidade de elevador não se aplica apenas a edifícios com mais de
3 pisos, alargando-se a todos os edifícios com excepção daqueles que se destinem à habitação
unifamiliar.

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A secção II deste mesmo título trata da habitação, este conjunto de artigos inicia-se com o 33º que
trata das tipologias, áreas e organização dos fogos. Através da análise deste disposto é possível
constatar uma lacuna no actual RGEU, a indefinição quanto ao conceito de quarto. No ponto um do
artigo 33º do RGE refere-se que são considerados como quartos, todos os compartimentos habitáveis
para além da sala e da cozinha.
Tipologia T4
2 2
Compartimentos Área mínima regulamentar [m ] Área [m ] Verifica
Sala 16,00 (17,00) 13,50 Não
Cozinha 6,50 8,00 Sim
Quarto 10,50 13,80 Sim
Quarto 10,50 13,80 Sim
Saleta (Quarto) 9,00 9,60 Sim
Escritório (Quarto) 9,00 8,97 Não
Tratamento de roupa 4,00 5,13 Sim
Quadro 4.14 - Verificação das áreas mínimas dos compartimentos segundo o RGE para tipologias T 4

Como é possível observar pelo Quadro 4.14, nem todas as áreas do edifício respeitam o RGE sendo
que relativamente ao tratamento de roupa, o novo regulamento possibilita que este seja um espaço
autónomo quando a sua área for superior a 4 m2. Deverá acrescentar-se que sempre que a tipologia
for superior a T1, quando o acesso aos quartos se fizer através da sala (caso do acesso à saleta
2
considerada como quarto no RGE), a área regulamentar da sala deverá aumentar 1 m , o que justifica
os 17 m2 entre parêntesis no Quadro 4.14. Importa acrescentar que os 2 fogos por piso possuem a
mesma distribuição espacial à excepção de um escritório para os pisos elevados. Assim, foi apenas
estudado o caso mais desfavorável, a tipologia T4. Em jeito de conclusão importa observar no Quadro
4.14 que a sala e escritório (quarto) estão aquém das necessidades regulamentares. No entanto,
importa assinalar que a discrepância observada para o escritório não é, de todo, gravosa em termos
espaciais. A análise efectuada no Quadro 4.14 tem apenas a ver com as exigências regulamentares.
Ainda no artigo 33º exige-se que as áreas brutas dos fogos deverão ter os valores mínimos a seguir
apresentados:
2 2
Habitação Área bruta mínima regulamentar [m ] Área bruta [m ] Verifica
Rés-do-Chão esquerdo (T3) 100 191,93 Sim
Rés-do-Chão direito (T3) 100 164,70 Sim
Pisos elevados esquerdo (T3) 100 155,25 Sim
Pisos elevados direito (T4) 115 176,67 Sim
Quadro 4.15 - Verificação das áreas brutas mínimas das habitações segundo o RGE.

Observando o Quadro 4.15, os valores da área bruta dos fogos encontram-se nitidamente acima dos
regulamentares. O ponto cinco deste artigo refere que, sem prejuízo daquilo que é regulamentado no
Quadro 4.14, poderá admitir-se a supressão de algumas paredes divisórias devidamente identificadas
no projecto. No caso de estudo, esta é uma situação que deverá ser sempre bem analisada e evitada
ao máximo.

48
No artigo 34º regulamenta-se as dimensões dos compartimentos habitáveis. Na alínea a)
determinam-se alguns parâmetros importantes no caso de quartos e salas; observe-se a Figura 4.11:

Figura 4.11 - Ilustração das exigências patentes no artigo 33º.

Expõe-se no quadro seguinte os resultados deste artigo referentes ao caso de estudo:


Compartimento Dimensão maior (B) [m] Dimensão menor (A) [m] 2A [m] Verifica
Saleta (Quarto) 3,90 2,45 4,90 Sim
Sala 3,90 3,45 6,90 Sim
Escritório (Quarto) 3,90 2,25 4,50 Sim
Casa de Jantar 4,60 4,40 8,80 Sim
Quarto 4,60 3,00 6,00 Sim
Quarto 4,60 3,00 6,00 Sim
Quadro 4.16 - Verificação das dimensões mínimas das salas e quartos.

No que diz respeito à primeira das alíneas do artigo é possível verificar que todas as dimensões das
salas e quartos são cumpridas. Na alínea b) exige-se que as salas possibilitem a inscrição de um
círculo de diâmetro 2,70 m, o que é cumprido. A alínea c) exige que nos quartos com área superior a
2
10,50 m (caso de dois dos quartos dos fogos), seja possível inscrever-se um quadrado com 2,60 m
de lado, o que, pelas dimensões dos mesmos é perfeitamente aceitável.
Nas cozinhas, a alínea d) determina o seguinte:
• Dimensão menor (2,50 m) não seja inferior a 2,10;
• Exista uma área livre que permita inscrever um cilindro assente no pavimento, com 1,50 m de
diâmetro e 0,30 de altura, o que é cumprido pelo edifício.
O artigo 35º continua a abordagem das cozinhas, exigindo que esta seja equipada com os seguintes
equipamentos:
• Lava-loiça;
• Banca de preparação e confecção de alimentos;
• Apanha fumos.
De referir a carência de um dispositivo apanha fumos. O mesmo artigo acrescenta que apesar de
tudo, deverá haver espaço disponível para a incorporação de equipamentos como:
• Fogão;
• Dispositivo para aquecimento de água quando não exista sistema centralizado para
preparação de água quente sanitária no edifício;

49
• Dispositivo para lavagem de roupa;
• Frigorífico ou equivalente.
No artigo 36º definem-se algumas características para um espaço ainda não mencionado, as
instalações sanitárias. Permite-se que estes espaços sejam ventilados naturalmente através da
abertura de janelas. Para as tipologias em causa no edifício em estudo (T3 ou superior), exigem-se
duas casas de banho, situação em falta no imóvel. Determina-se ainda que seja possível inscrever
um cilindro com base assente no pavimento, de diâmetro 1,5 m e 0,30 m de altura (cumprido).
A grande novidade deste artigo 36º tem a ver com a exigência de que a porta abra para fora, quando
devidamente protegida e não interfira com as circulações, o que iria certamente suceder caso se
procedesse desta forma no edifício em estudo. Determina-se ainda os equipamentos mínimos que
deverão abastecer as instalações sanitárias, nomeadamente, banheira, bidé, lavatório, bacia de
retrete (edifício cumpre o regulamento). Importa acrescentar que a segunda casa de banho deveria
2
ter área mínima de 2,50 m , equipada com lavatório, bacia de retrete e base de chuveiro.
Relativamente aos espaços de entrada e circulação, o regulamento determina que seja possível
inscrever no pavimento um círculo de diâmetro igual a 1,50 m nos espaços de entrada, situação que
o edifício em estudo não respeita. Quanto à largura dos espaços de circulação, exige-se que estes
possuam 1,10 m no mínimo, o que é verificado pelo edifício.
O artigo 38º regulamenta a existência de arrumos, exigindo que as habitações disponham deste tipo
de espaços. No edifício em estudo, existe uma arrecadação e uma dispensa de apoio à cozinha, no
entanto, a sua ventilação não será a mais apropriada dado que se situam em zona interiores do fogo.
Quanto à área de ocupação destes espaços, no caso de estes serem encerrados (caso de estudo),
exige-se que não possuam dimensões, em planta, inferiores a 1,60 m. Esta premissa não é cumprida
pela dispensa, dado que uma das suas dimensões é igual a 1,30 m. O artigo 39º regulamenta a
existência de espaços para sala de condomínio (inexistentes na situação em análise).
Com o artigo 40º inicia-se a última secção deste título, nela trata-se de situações de comércio e
serviços. Não são feitas exigências comparáveis com o edificado, assim não importa analisar em
pormenor este artigo.
Para melhor entender as características das instalações sanitárias a instalar neste tipo de espaços, o
artigo 42º regulamenta que sempre que se instale uma bacia de retrete, se adicione um lavatório;
proíbe-se também a colocação de bidés e impede-se que estas abram directamente para a zona de
trabalho ou para zona pública. No caso de estas serem para utilização do público, o seu acesso
deverá ser através de zonas comuns. No caso de estudo, na funerária da cave, não existe qualquer
espaço deste género, o que vai contra aquilo que é exigido no artigo 44º que determina que espaços
2
com área igual ou superior a 25 m tenham no mínimo uma instalação sanitária equipada com bacia
de retrete e um lavatório. Apesar de esta ser uma situação particular, convém conhecer até que ponto
o novo RGE regulamenta os locais de comércio e serviços.
No artigo 46º determina-se que as áreas destinadas a comércio deverão possuir acesso ao exterior
do edifício autónomo.

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4.2.4. Título IV – Segurança, Salubridade e Conforto
Este título irá abordar questões importantes que dizem respeito a uma boa habitabilidade, garantindo
boas regras de construção.
No artigo 48º exige-se naturalmente que as edificações sejam projectadas, construídas e mantidas de
modo a que se garanta a segurança estrutural, segurança dos ocupantes, dos edifícios contíguos e a
segurança pública. Nos novos edifícios, deverá ser deixada uma junta com os edifícios adjacentes.

Figura 4.12 - Ilustração daquilo que o artigo 48º regulamenta.

No artigo 49º regulamentam-se as intervenções em edificações, alertando-se para os perigos de


alteração da utilização desses espaços. Nesses casos, deverá ser demonstrado que a estrutura
suportará as intervenções. Neste mesmo artigo definem-se algumas regras consoante o nível de
intervenção anteriormente definido; importa referir que para as de nível II e III “devem ser garantidas
as condições de segurança estrutural aplicáveis”. Esta preocupação estrutural será a base para uma
boa intervenção, daí que as propostas apresentadas mais à frente neste estudo se baseiem em
princípios de apenas fazer cumprir os regulamentos estudados.
O capítulo 3, que engloba os artigos 50º, 51º e 52º trata de exigências gerais de segurança contra
incêndio. Não se efectua qualquer referência ao novo regulamento geral de segurança contra
incêndios em edifícios, no entanto, determina-se que “as edificações estão sujeitas ao cumprimento
das disposições regulamentares específicas relativas a risco de incêndio”.
No capítulo 4 (artigo 53º) determinam-se algumas regras de segurança e saúde que deverão fazer
parte de qualquer obra de qualquer natureza. Neste sentido, deverão respeitar-se as normas de
segurança adoptando precauções no sentido de proteger o público e trabalhadores, activar medidas
que salvaguardem o trânsito na via pública e contra terceiros.
O capítulo 5 inicia-se pelo artigo 54º e trata das questões de salubridade. Este artigo será o ponto de
partida para uma série de parâmetros tratados separadamente em vários outros artigos. Apresenta-se
de seguida os artigos que constituem este capítulo, bem como questões que tratam e verificações
que se encontrem necessárias:
• Artigo 55º trata da estanqueidade à água referindo que todos os elementos em contacto com
o solo deverão assegurar esta premissa através de boas práticas de construção. Deverá
existir sistema de drenagem de águas nas varandas (inexistente).

51
• Artigo 56º trata das exigências de distribuição e drenagem de água exigindo que este sistema
funcione de forma a não perturbar a ocupação das habitações.
• Artigo 57º trata da qualidade do ar interior garantindo esta premissa através de uma selecção
correcta dos materiais, situação que pela perspectiva de acumulação de substâncias
perigosas para a saúde ou cheiros incómodos, o edifício em estudo cumpre plenamente. O
novo RGE é mais específico neste ponto que o actual RGEU.
• Artigo 58º destaca a necessidade dos materiais de revestimento serem seleccionados de
forma a não libertarem gases poluentes para o ar interior, não importará tratar desta análise
neste estudo.
• Artigo 59º trata da renovação de ar, destacando que poderá ser feita por via mecânica,
natural ou mista; devendo ser garantida independentemente da necessidade de abertura de
portas ou janelas. Destaca-se ainda a necessidade de consultar a regulamentação específica,
exigindo-se mesmo assim a instalação de tomadas de ar exterior permanentes (inexistente no
edifício). No entanto, todos os compartimentos habitáveis possuem janelas, com excepção
das arrecadações, logo a renovação de ar é francamente aceitável (apesar de não
comprovado à luz dos regulamentos).
• Artigo 60º refere-se à iluminação e ventilação natural, exigindo que todos os compartimentos
habitáveis sejam iluminados por vãos e ventiláveis naturalmente por comunicação directa
com o exterior. Sendo que a área de envidraçados não deverá ser inferior a 1/8 da área útil
do compartimento onde se situam, apresentam-se de seguida os resultados do estudo:
Compartimentos Área [m2] 1/8 Área [m2] Área dos vãos [m2] Verifica
Quarto 13,80 1,73 1,48 Não
Quarto 13,80 1,73 1,48 Não
Saleta (Quarto) 9,60 1,20 2,30 Sim
Escritório (Quarto) 8,97 1,12 2,30 Sim
Casa de jantar (Sala) 20,24 2,53 3,87 Sim
Sala 13,50 1,69 3,02 Sim
Cozinha 8,00 1,00 2,48 Sim
Quadro 4.17 - Verificação das áreas mínimas regulamentares dos vãos dos compartimentos.

Como é possível observar pelo Quadro 4.17, os vãos dos quartos são inferiores àquilo que é
regulamentado pelo RGE. Este novo regulamento aumenta as suas exigências também quanto à
área de vãos. Apesar de esta análise abranger apenas o presente caso de estudo, importa assinalar
que possivelmente alguns edifícios “Gaioleiros” terão ter alguma dificuldade em verificar este artigo.
Exige-se ainda nas cozinhas a existência de uma abertura para a extracção do ar viciado, localizada
sobre o fogão (chaminé, no caso de estudo). Além disso nas instalações sanitárias e arrecadações
deverão também existir sistemas de extracção de ar viciado – no caso de estudo não existe, sendo
que nas casas de banho a ventilação é favorecida pela janela que tem abertura para o exterior.
Segundo aquilo que é destacado na alínea e) deste artigo, importa garantir que não haja reversão de
fumos e cheiros nas condutas de extracção.
O artigo 61º trata da obstrução dos vãos iluminados descritos anteriormente. Determina-se que não
deverá existir qualquer obstáculo a menos de 3 m medidos na perpendicular ao plano do vão – este

52
problema só se coloca nas janelas das instalações sanitárias, situação em que o prédio contíguo está
situado a 2,20 metros (Figura 4.13).
Quanto aos obstáculos que se situam a um e outro lado de uma faixa de 2 metros do eixo vertical do
vão, deverão ter um afastamento de 3 metros medido na perpendicular ao plano que contém o vão –
esta situação apenas será problemática no caso das marquises, em que as escadas de tardoz
constituem um obstáculo à iluminação destes espaços (tal como havia sido descrito na análise do
RGEU, Figura 4.14).

Figura 4.13 - Saguão lateral com a distância Figura 4.14 - Ilustração elucidativa do artigo 61º.
entre fachadas dos edifícios contíguos.

Artigo 62º trata das questões de insolação de espaços habitáveis, outra das novas preocupações
deste regulamento. Nele incluem-se especificações de difícil verificação e que têm a ver com as
horas exactas de exposição solar dos compartimentos durante vários períodos do ano (a
possibilidade de aceder apenas a um fogo foi condicionante neste ponto).
No artigo 63º e 64º especificam-se respectivamente as condições de conforto termo-higrométrico e
acústico, fazendo referência à construção nova e às intervenções do nível III e IV. Em ambos os
artigos remete-se para a consulta da regulamentação específica das condições termo-higrométricas e
acústicas dos edifícios. O estudo destes parâmetros foi deixado de lado, uma vez que a constituição
das paredes, e inacessibilidade a muitos dos fogos seria uma séria dificuldade para efectuar este tipo
de estudo.
No artigo 65º exige-se que as construções sejam projectadas, construídas e mantidas de forma a
evitar que os seus habitantes estejam sujeitos a níveis de vibração que causem desconforto. Deverá
ter-se em conta para o cumprimento desta premissa as actividades e uso das edificações.
O artigo 66º exige que os habitantes dos edifícios possuam condições de conforto visual adequadas,
para isso apresentam-se vários parâmetros que deverão ser tidos em conta, entre os quais a
tipologia, actividades, uso das edificações, dispositivos de regulação do ambiente luminoso e níveis
de iluminação aconselhados para cada actividade. De entre estes, o mais problemático no caso de
estudo serão os dispositivos de regulação de ambiente luminoso, uma vez que as portadas de

53
madeira não são tão eficazes neste aspecto quanto as actuais persianas. Nos edifícios antigos este
tipo de solução era banal, retirando alguma capacidade de controlo da luminosidade.

4.2.5. Título V – Construção e demolição


Nos artigos iniciais deste título apresentam-se algumas recomendações importantes sobre a
qualidade do projecto, qualidade de execução, certificação da qualidade das edificações e economia
da construção. Estes tópicos são descritos entre os artigos 68º e 71º; artigos esses que integram o
capítulo 1 – Qualidade e economia da construção.
O capítulo 2 dedica-se a alguns elementos de construção, estando dividido em secções que
determinam alguns tipos de parâmetros. A Secção I fala das fundações e estrutura, e inicia-se no
artigo 72º. Este artigo fala das exigências gerais das fundações, situação que não será aprofundada
uma vez que o estudo trata de uma intervenção em que estes elementos já se encontram
consolidados.
No artigo 73º determina-se que a estrutura deverá garantir estabilidade e durabilidade, situação que
no último piso já sofreu sérios danos – uma das zonas do pavimento já cedeu. A secção II trata das
paredes e começa pelo artigo 74º; neste regulamentam-se algumas exigências gerais destes
elementos. Apresenta-se no Quadro 4.18 a análise efectuada:
Exigências gerais para paredes de alvenaria
Elemento Espessura regulamentar Espessura no edifício Verifica
0,60 (Paredes de empena) Sim
Paredes exteriores 0,25
0,40 (Paredes do saguão) Sim
Quadro 4.18 - Verificação das espessuras regulamentares para paredes de alvenaria.

Como é possível observar pelo Quadro 4.18, as paredes executadas em alvenaria cumprem aquilo
que é exigido pelo futuro regulamento. As outras paredes referidas no artigo não se adequam ao caso
de estudo. Acrescenta-se ainda que deverão ser tomadas medidas para garantir a estanqueidade à
água e resistência aos impulsos do solo.
No artigo 75º prossegue-se o estudo das paredes, especificando-se a situação dos acabamentos. A
única exigência passível de verificação nas paredes do edifício tem a ver com o revestimento em
casas de banho e cozinhas até à altura de 1,50 m (à semelhança do RGEU). Esse revestimento
deverá ser garantido com materiais impermeáveis à água, facilmente laváveis e resistentes à acção
das gorduras e produtos de limpeza e desinfecção.
A secção III trata dos pavimentos, estabelecendo-se no artigo 76º que todos os pavimentos dos locais
passíveis de existir água deverão ser estanques, o que no edifício em estudo é cumprido nas casas
de banho e cozinha. Acrescentam-se outras exigências para situações em que os pavimentos
estejam em contacto com o solo ou junto a ele – não existente no edifício.
No ponto quatro determina-se que pavimentos sobre espaços em contacto com o exterior deverão ser
isolados térmica e acusticamente, o que é impossível de verificar no caso de estudo.
O artigo 77º trata dos acabamentos dos pavimentos, exigindo-se que estes sejam compatíveis com a
natureza dos respectivos suportes e que garantam as condições de segurança aos utentes.

54
A secção IV trata das coberturas dos edifícios englobando um conjunto de artigos para regulamentar
estes elementos. No artigo 78º exige-se que as coberturas respeitem os princípios de segurança
estrutural, segurança contra incêndio, estanqueidade (não cumprido) e isolamento térmico e acústico.
No artigo 79º regulamentam-se os acabamentos da cobertura exigindo-se que quando inclinadas
sejam providas de sistema de impermeabilização protegido contra as acções mecânicas (não
cumprido).
No artigo 80º exige-se que hoje em dia as coberturas tenham um espaço acessível específico para a
instalação de equipamentos que possam ser previstos, nomeadamente antenas e dispositivos de
ventilação, de climatização e de captação de energia solar – não cumprido pelo edifício. No artigo 81º
determina-se que as coberturas sejam acessíveis a partir de espaços comuns do edifício – inexistente
na situação em análise e na totalidade dos “Gaioleiros”. Esta comunicação é feita normalmente pelo
exterior da zona de tardoz.
A secção V regulamenta os tectos, destinando o artigo 82º e 83º para este fim; a única situação
passível de comparação com o caso de estudo tem a ver com a resistência mecânica que estes
elementos deverão garantir. No edifício da Avenida Luís Bivar este pressuposto não é cumprido, uma
vez que já houve vários problemas de derrocadas destes elementos.
A secção VI fala de acessos e circulações, iniciando-se no artigo 84º as referências a que estes
elementos deverão respeitar as condições de segurança estrutural, segurança contra incêndio e
segurança na utilização, de estanqueidade à água, de isolamento sonoro, de conforto visual e
durabilidade. Ainda na mesma secção, no artigo 85º é abordada a questão dos acabamentos dos
acessos; nenhuma das exigências é passível de análise com o edifício em estudo, limitando-se a
recomendações construtivas de compatibilização dos materiais.
A secção VII trata de questões relacionadas com os componentes dos vãos iniciando-se no artigo
86º. Neste exige-se que os componentes utilizados nos vãos sejam compatíveis com o vão de modo
a evitar as acções induzidas pelos elementos estruturais do edifício, ou por vibrações produzidas pelo
tráfego. Importa referir que, devido aos assentamentos significativos que a estrutura sofreu, as
cantarias dos vãos da fachada principal já demonstram alguma fragilidade. Os assentamentos da
estrutura eram uma situação comum no edificado “Gaioleiro”.
Na secção VIII, constituída pelos artigos 88º e 89º, trata-se de guardas; exigindo-se a sua aplicação
nas escadas ou varandas - cumprido. A segurança estrutural dessas guardas na fachada principal
não é, normalmente, garantida.
O 3º e último capítulo deste título refere-se em específico a situações de demolição. Nele incluem-se
importantes exigências quanto às condições de demolição; obriga-se a existência de projecto de
demolição independentemente do processo utilizado. Chama-se ainda a atenção no artigo 92º para a
importância que a demolição selectiva poderá ter para aumentar a eficácia da triagem dos resíduos.

55
4.2.6. Título VI – Instalações e equipamentos
Este título, como os outros, está dividido em vários capítulos, sendo que no primeiro deles se trata de
ductos, pisos e espaços técnicos. Não importará fazer qualquer tipo de análise de aplicabilidade do
regulamento, uma vez que não existe forma de inspeccionar este tipo de instalações.
O capítulo 2 inicia-se com artigo 96º e fala de sistemas prediais de distribuição de água não potável,
sistemas esses que podem ser utilizados na lavagem de pavimentos, regas, combate a incêndios ou
outros fins. Importa referir que o RGE exige que este sistema seja independente do sistema de
abastecimento de água potável.
No artigo 97º fala-se de zonas sem sistemas de distribuição pública de água potável, situação na qual
não se insere o caso de estudo. Para o artigo 98º reserva-se o estudo das instalações de água
quente sanitária, referindo-se no ponto 3, que em situações em que a exposição solar seja adequada,
deverá ser instalado um sistema de colectores solares para aquecimento de água.
No capítulo 3 determinam-se alguns parâmetros importantes quanto à drenagem de águas residuais,
no entanto, para o presente estudo não serão aprofundadas estas questões, uma vez que no edifício
em estudo não existem problemas a este nível.
No capítulo 4 trata-se dos resíduos sólidos urbanos, referindo-se que a recolha seleccionada dos
mesmos (papel, vidro…), não deverá ser assegurada com recurso a conduta, exceptuando-se os
casos em que razões de ordem técnica fundamentada justifiquem solução diferente.
No capítulo 5, constituído pelos artigos 102º e 103º, trata-se dos combustíveis gasosos, destacando-
se que todas as edificações que sofram intervenções do nível II ou superior, deverão ter instalações
de gases de acordo com as exigências regulamentares. No edifício em estudo, as casas de banho
não cumprem este disposto na medida em que não se encontram integradas na rede de gás. Todas
as fracções do imóvel são abastecidas por garrafas alojadas no interior das habitações. Segundo o
artigo 103º, estas deverão estar em locais bem ventilados, no exterior da edificação.
O capítulo 6 não será discutido, uma vez que trata de combustíveis sólidos ou líquidos, situações
inexistentes no caso de estudo.
O capítulo 7 trata da evacuação de produtos de combustão sendo que no artigo 105º determina-se
que apenas é permitido instalar aparelhos de combustão nas cozinhas, sendo a única excepção as
lareiras das salas (não existe). Incluem-se ainda neste artigo outras recomendações para o bom
funcionamento das instalações de ventilação das cozinhas. O artigo 106º regulamenta uma série de
exigências para o bom funcionamento das instalações de evacuação dos produtos de combustão,
sendo que no edifício será difícil verificar a sua boa execução.
No artigo 107º possibilita-se que a evacuação de efluentes dos equipamentos de cozinhas seja feita
através de extracção natural ou mecânica (caso de estudo).

56
No artigo 108º exige-se que as chaminés se situem no mínimo a 0,50 m acima do ponto mais elevado
das partes das construções situadas num raio de 10 m a partir dessa saída. Pela observação do
projecto do edifício é possível constatar que esta premissa é cumprida.

Figura 4.15 - Ilustração da chaminé, relativa ao artigo 108º.

O capítulo 8 não será alvo de estudo uma vez que não existem equipamentos que libertem energia
sobre a forma de calor com intensidade suficiente para provocar temperaturas excessivas no interior
dos compartimentos.
No capítulo 9 regulamentam-se questões relacionadas com a electricidade. Neste capítulo é possível
apontar várias falhas ao edifício, não só em termos de segurança (situação gritante nas escadas do
imóvel), mas também ao nível do número de pontos para alimentação, que hoje em dia se encontra
nitidamente desajustado às necessidades.
O capítulo 10 trata das questões relacionadas com as telecomunicações. O primeiro artigo deste
capítulo, o artigo 112º, define que todas as edificações com fins residenciais e serviços (funerária),
deverão ser equipadas com infra-estrutura de telecomunicações, tais como ligação telefónica, rádio,
televisão e interligação (garantindo, no mínimo, a ligação simples de áudio entre os acessos ao
edifício e cada fracção autónoma) – esta última é uma situação em falta no caso de estudo.
O artigo 114º define que as antenas se localizem na cobertura dos edifícios, podendo eventualmente
instalar-se em logradouro privado – não é o caso do edifício em estudo.
O capítulo 11 - que trata de ascensores, escadas mecânicas e tapetes rolantes – no artigo 115º,
destaca a necessidade de estes equipamentos serem compatíveis com aquilo que é regulamentado
na legislação que se aplica a pessoas com mobilidade reduzida. Este novo regulamento apresenta
esta novidade de compatibilizar as suas exigências com estes dois dispostos.
O capítulo 12, que trata dos correios, refere no artigo 116º que as edificações deverão dispor de
receptáculos postais, o que no presente edifício se situa ao nível do rés-do-chão.

57
4.2.7. Título VII – Durabilidade e manutenção
O último título deste regulamento inicia-se no artigo 117º e começa por definir a vida útil de uma
edificação (VUE), como o “período em que a respectiva estrutura não apresenta degradação dos
materiais, em resultado das condições ambientes, que conduzam à redução da segurança estrutural
inicial, nomeadamente nas secções críticas dos elementos estruturais principais”. Define-se neste
mesmo artigo que a vida útil deverá ser fixada pelo dono de obra, sendo que, caso não seja feito,
considerar-se-á por defeito o valor de 50 anos.
No artigo 119º determina-se que o proprietário deverá assegurar a realização de inspecções
periódicas ao edifício, situação que não foi sofrendo o devido acompanhamento ao longo dos anos.
As inspecções periódicas referidas deverão ser realizadas de 15 em 15 meses contados a partir da
data da atribuição da licença de utilização podendo ser realizadas por pessoas sem formação
específica.
Terá especial interesse, aquilo que está referido no artigo 120º, e que refere que independentemente
das obras decorrentes das inspecções a que se refere o artigo 119º, as Câmaras Municipais podem
em qualquer altura, após inspecção, determinar a execução das obras necessárias para corrigir
condições deficientes de salubridade, segurança e anomalias decorrentes de intervenções que
tenham alterado de forma inconveniente a configuração da edificação.

4.3. Regulamento Geral de Segurança Contra Incêndio em


Edifícios - RGSCIE
Uma das importantes verificações a fazer em qualquer tipo de edifício diz respeito à sua resistência e
capacidade de reacção ao fogo. Hoje em dia é importante fazer avanços quanto à qualidade dos
materiais, e para isso é essencial conhecer os regulamentos e o tipo de edificado. Desta forma, o
Regulamento Geral de Segurança Contra Incêndio em Edifícios será um dos instrumentos para
conhecer a adequabilidade do caso de estudo ao incêndio. Aprovado no dia 25 de Janeiro de 2007,
mas ainda não publicado, este novo regulamento visa aglomerar a actual legislação sobre incêndio
em edifícios. O novo artigo possibilita não só unificar um conjunto de regras, como também abrange
alguns tipos de edifícios que até aqui se encontravam excluídos (instalações industriais, armazéns,
lares de idosos, museus, bibliotecas, arquivos, locais de culto), neste tipo de situações era aplicado o
Regulamento Geral das Edificações Urbanas, nitidamente insuficiente. De referir que os artigos que
nesse regulamento dizem respeito à segurança contra incêndios, foram revogados em 1990 com a
entrada em vigor do Decreto-Lei 64/90 – Regulamento de Segurança Contra Incêndio em Edifícios de
Habitação.
O Decreto-Lei nº 83/2007 aprova o Regulamento Geral da Segurança Contra Incêndio em Edifícios e
substitui a actual legislação que se direcciona cada uma para um determinado tipo de utilização,
casos de edifícios de habitação, estabelecimentos comerciais, edifícios de serviços públicos, parques
de estacionamento cobertos, estabelecimentos de restauração e bebidas, empreendimentos
turísticos, entre outros. “Este novo disposto aplica-se a todos os edifícios e recintos itinerantes ou ao
ar livre nos quais existam uma, ou mais, das doze utilizações-tipo nele consideradas.” (Carlos Santos

58
Pina, 2007). De referir que aquando da publicação deste regulamento será revogado o DL 64/90, bem
como todos os decretos referentes a outros tipos de edifícios, segundo o que consta no artigo 332º do
RGSCIE.
A análise deste regulamento tem a ver com a conhecida fragilidade do edificado antigo relativamente
à segurança contra incêndios, sendo importante conhecer a sua organização espacial. Além disso, os
materiais e tecnologia de construção aplicados no edifício são diferentes da realidade actual, sendo
importante conhecer até que ponto esta se adequa ou não às novas exigências, e de que forma será
possível remediar os possíveis erros.
O presente diploma divide-se em dez títulos, constituídos por capítulos que são separados consoante
temáticas ou situações de utilização-tipo. A análise do regulamento será igualmente dividida em
títulos para compreender até que ponto o edifício se adequa ou não a este.

4.3.1. Título I – Disposições Gerais e Fiscalização


Ao longo deste título destacam-se algumas das responsabilidades deste diploma, a sua aplicabilidade
a todos os edifícios e recintos (exceptuando estabelecimentos prisionais ou espaços classificados de
acesso restrito das instalações de forças armadas ou de segurança). Importa para o caso de estudo
destacar que o presente regulamento aplica-se igualmente a obras de alteração ou ampliação de
edifícios ou de parte deles. Revela-se que as exigências presentes no RGSCIE vão de encontro à
prevenção, à redução da probabilidade de ocorrência de incêndios, limitar o seu desenvolvimento,
facilitar a evacuação e salvamento dos ocupantes, permitir uma intervenção eficaz, e proteger bens
do património cultural. Em termos de responsabilidades relativamente ao dever de aplicar as
disposições de segurança contra risco de incêndio em edifícios, o artigo 5º destaca:
• O dono da obra;
• Os técnicos autores dos projectos de edifícios e recintos, na fase de concepção e assistência
técnica às respectivas obras (obrigados a apresentar um termos de responsabilidade no qual
conste que foram observadas as normas legais);
• Ao empreiteiro geral da obra, no caso de edifícios e recintos em fase de construção;
• Ao responsável pela segurança contra incêndio (RS) em edifícios e recintos em fase de
utilização ou exploração;
• Às câmaras municipais e à ANPC (Associação Nacional de Protecção Civil).
No artigo 6º destacam-se as utilizações-tipo de edifícios e recintos, sendo que será a partir deste
artigo que toda a análise do imóvel será efectuada. A sua utilização-tipo permitirá distinguir o edifício
consoante o seu uso. Assim, no edifício existem duas utilizações-tipo:
• “O tipo I, “habitacionais”, corresponde a edifícios ou partes de edifícios destinados a
habitação unifamiliar ou multifamiliar, incluindo os espaços comuns de acessos e as áreas
não residenciais reservadas ao uso exclusivo dos residentes, conforme consta no presente
regulamento.”

59
• “O tipo VIII “comerciais e gares de transportes” corresponde a “edifícios ou partes de
edifícios, recebendo público, ocupados por estabelecimentos comerciais onde se exponham e
vendam materiais, produtos, equipamentos ou outros bens, destinados a ser consumidos no
exterior desse estabelecimento, ou ocupados por gares destinados a aceder a meios de
transporte (rodoviário, ferroviário, marítimo, fluvial ou aéreo), incluindo as gares intermodais,
constituindo espaço de interligação entre a via pública e esses meios de transporte, com
excepção das plataformas de embarque ao ar livre;”
Desta forma, é possível compreender que as utilizações-tipo I serão os fogos residenciais e
arrecadações existentes no edifício, sendo que a utilização-tipo VIII apenas diz respeito à funerária
existente numa das caves do caso de estudo. Assim, e segundo o ponto 3 deste mesmo artigo,
designa-se o edifício como sendo de utilização mista.
O artigo 7º trata da qualificação dos produtos da construção, destacando-se que a classificação
destes mesmos produtos é feita segundo normas comunitárias.
No artigo 8º refere-se que a fiscalização é responsabilidade da ANPC para as utilizações-tipo da 2ª
categoria de risco (situação em que se insere o caso de estudo e que se classifica no artigo 21º do
título II). Quanto às competências que a ANPC fica responsável, destacam-se a emissão de
pareceres sobre projectos, medidas de autoprotecção e realização de inspecções periódicas ou
extraordinárias. Esclarece-se no ponto 3 deste artigo que, a ANPC tem a possibilidade de delegar as
suas responsabilidades a outras entidades que disponham de técnicos de segurança contra risco de
incêndio em edifícios (SCIE) em número suficiente. Entre essas entidades constam o Regimento de
Sapadores Bombeiros de Lisboa e Batalhão de Sapadores Bombeiros do Porto, Inspecção-Geral de
Actividades Culturais, entre outras mediante o regime a definir por despacho do Ministro da
Administração Interna.
O licenciamento de construção de edifícios ficará sempre dependente de um parecer vinculativo de
conformidade emitido pelas entidades anteriormente referidas, devendo para isso estar na posse dos
projectos que fazem parte dos pedidos de licenciamento (artigo 9º). Antes da ocupação, qualquer
edifício deve ser alvo de uma vistoria a realizar pela entidade fiscalizadora, para verificação da
adequação das medidas construtivas e da operacionalidade dos sistemas e equipamentos. Para as
situações já existentes (caso de estudo), devem ser estudadas soluções de autoprotecção que se
refiram neste regulamento, situação a ser explorada com mais pormenor ao longo do Título VIII –
Condições Gerais de Organização e Gestão da Segurança.

60
4.3.2. Título II – Caracterização do risco de incêndio
O título III permite ao utilizador do regulamento conhecer as condições que o seu imóvel, ou parte
dele, se insere à luz da segurança contra incêndio. O primeiro dos seus dois capítulos trata da
classificação dos locais de risco. Esta classificação diz respeito a todos os locais do edifício com
excepção dos fogos de habitação e dos espaços afectos a circulações, o que no caso de estudo se
refere à funerária.
Observando o regulamento, classifica-se esta zona como local de risco A - local não apresentando
riscos especiais, no qual se verifiquem simultaneamente as seguintes condições:
• O efectivo1 total não exceda 100 pessoas;
• O efectivo de público não exceda 50 pessoas;
• Mais de 90% dos ocupantes não se encontrem limitados na mobilidade ou nas capacidades
de percepção e reacção a um alarme;
• As actividades nele exercidas ou os produtos, materiais e equipamentos que contém, não
envolvam riscos agravados de incêndio.
O cálculo deste efectivo é calculado, segundo o artigo 70º, multiplicando a área útil de um
determinado espaço pelo seu índice de ocupação. Neste caso, sendo este um espaço comercial, o
seu índice de ocupação é de 0,20 pessoas/m2. Assim, tendo que a sua área é de 45 m2 conclui-se
que o efectivo deste espaço é de 9 pessoas. Sobre a distribuição do espaço na cave do caso de
estudo, é possível consultar o Anexo I – 01 Planta das fundações, da presente dissertação.
No capítulo II deste título II é discutido o risco de incêndio das utilizações-tipo de edifícios e recintos,
sendo que entre a utilização-tipo I e utilização-tipo VIII, o único factor que distingue a sua
diferenciação é o efectivo. O artigo 21º remete a análise da categoria de risco para os quadros do
anexo VII do regulamento. Acrescenta-se que a categoria de risco de cada utilização-tipo é a mais
baixa que satisfaça integralmente os critérios indicados. Antes de tudo, e para saber qual a categoria
de risco das duas utilizações-tipo presentes no edifício importa conhecer a sua altura2.
Tendo em conta que, para a utilização-tipo I a altura do edifício é de 17,3 metros, este terá de ser
abrangido na 2ª categoria de risco, sendo que respeita o limite máximo de pisos abaixo do plano de
referência (1 cave apenas, perante as 3 regulamentares) – ver Quadro 8.1 - Categorias de risco da
utilização-tipo I (habitacionais).Quadro 8.1.
Quanto à utilização tipo VIII, a sua categoria de risco é condicionada pelo número de pisos ocupados
por esta abaixo do plano de referência, assim sendo, encontra-se na 2ª categoria. Quanto ao efectivo,
este encontra-se abaixo dos 1000 – ver Quadro 8.2.

1
Número máximo de pessoas estimado para ocuparem, em simultâneo, um dado espaço de um edifício ou de
um estabelecimento
2
Diferença de cota entre o piso mais desfavorável da utilização-tipo, susceptível de ocupação, e o plano de
referência, sendo este plano de referência, um plano de nível, à cota de pavimento do acesso destinado às
viaturas de socorro, medida na perpendicular a um vão de saída directa para o exterior do edifício do edifício.

61
4.3.3. Título III – Condições exteriores comuns
Ao longo deste título vão ser discutidos parâmetros como a segurança e acessibilidade (Capítulo I),
limites à propagação do incêndio pelo exterior (Capítulo II) e abastecimento e prontidão dos meios de
socorro (Capítulo III).
Para o combate a qualquer incêndio que o edifício seja vítima, deverá existir uma via de acesso
adequada a veículos de socorro, em concordância com o artigo 22º. Estando localizado numa zona
central da cidade, é fácil o acesso a água para um possível combate a incêndio, além disso a sua
acessibilidade permitirá a intervenção de bombeiros de forma bastante rápida.
Para saber se o caso de estudo se integra no artigo 24º, importa conhecer que a altura do edifício3 é
de 17,3 m (superior a 9 m). Neste artigo, exige-se que seja possível o estacionamento dos veículos
de socorro junto às fachadas (o que é cumprido). No entanto, convém verificar outras determinações
importantes:
Vias de acesso a edifícios com altura superior a 9 metros
Exigências Situação
Parâmetro Verifica
regulamentares Actual
Largura útil [m] 10 3,5 Não
Altura útil [m] 5 9 Sim
Raio de curvatura mínimo medido ao eixo [m] 13 1,75 Não
Inclinação máxima [%] 10 4 Sim
Quadro 4.19 - Verificação das exigências regulamentares quanto às condições da via de acesso ao
edifício.

Como é possível observar no Quadro 4.19, a via de acesso ao edifício não cumpre todos os
parâmetros de circulação exigidos pelo regulamento principalmente no raio de curvatura, o que
impedirá algumas manobras a ser efectuadas pelo meio de combate a incêndios. De realçar ainda a
insuficiência da largura útil, muito por causa do estacionamento legal dos veículos, no entanto, com a
evacuação dos mesmos, a via pode vir a ter 7 m de largura.
Para situações de vias em impasse4, o que em parte corresponde à via de acesso ao edifício, uma
vez que os sentidos de marcha são divididos por um estacionamento central que ocupa 7,10 m;
determina-se que se recorra a rotundas ou entroncamentos “que garantam que os veículos de
socorro não andem mais de 20 metros em marcha-atrás para inverter a marcha”, no caso de estudo
esta distância é de 22 metros. Nesse ponto, através de um entroncamento é possível inverter o
sentido de marcha, estando, no entanto, nessa altura a uma distância de 16 m do edifício medidos na
horizontal.

3
Diferença de cota entre o piso mais desfavorável susceptível de ocupação e o plano de referência.
4
Situação, segundo a qual, a partir de um ponto de uma dada via de evacuação horizontal, a evacuação só é
possível num único sentido.

62
O mesmo artigo 24º acrescenta algumas exigências quanto aos acessos no seu ponto 3. Neste ponto
obriga-se a que exista uma faixa de operação que deverá possuir as seguintes características:
Faixa de estacionamento, manobra e operação de veículos de socorro
Parâmetro Exigências regulamentares Situação Actual Verifica
Largura mínima [m] 7 3,5 Não
Comprimento mínimo [m] 15 15 Sim
Pontos de penetração
Pontos de penetração incluídos no comprimento Cumprida Sim
total da faixa de operação
Distância, medida em planta,
entre o ponto mais saliente da 3 a 10 m 1,75 m Não
fachada e o bordo da faixa de
operação que lhe é mais próximo
Quadro 4.20 - Verificação das exigências regulamentares quanto às condições da faixa de
estacionamento, manobra e operação de veículos de socorro.

Como é possível observar, o último dos parâmetros expostos pelo Quadro 4.20 é amplamente
deficitário, dizendo respeito apenas à distância do passeio (1,75 m). A largura da faixa não é
igualmente respeitada.
A acessibilidade às fachadas é tratada neste título III ao longo do artigo 25º, nele começa-se por
exigir que as vias de acesso ao edifício permitam o acesso às fachadas e entrada directa dos
bombeiros em todos os níveis, o que é cumprido pela arquitectura do imóvel. A entrada dos
bombeiros nesta situação será, a partir do primeiro piso, apenas através dos pontos de penetração
(janelas). Exige-se que estes se situem a uma altura não superior a 50 m, o que é cumprido, e
possuam abertura fácil a partir do exterior facilitando o trabalho dos bombeiros que só por aí poderão
penetrar no edifício. Efectuam-se ainda neste artigo algumas considerações sobre fachadas do tipo
cortina, envidraçadas e para edifícios com altura inferior a 9 m, situações em que o caso de estudo
não é abrangido.
Continuando a análise do artigo 25º, o ponto 5 refere que pontos de penetração devem permitir atingir
os caminhos horizontais de evacuação (cumpre-se), e as suas dimensões mínimas devem ser de 1,2
x 0,6 m. Sabendo que os pontos de penetração da fachada principal referem-se às janelas,
destacam-se os dois tipos de janelas existentes, uma delas com secção de 1,7 x 1 m, a outra de 2,3 x
1 m, justificando a boa capacidade que o edifício demonstra neste capítulo. Ainda no artigo 25º, o seu
ponto 6 refere que todos os edifícios com altura superior a 9 m (caso de estudo) devem possuir, no
mínimo, uma fachada acessível. Este é um ponto em que o edifício no passado funcionava melhor
que hoje em dia dado que a sua fachada posterior era igualmente acessível, justamente para
salvaguardar situações de incêndio; com a obturação do corredor que fazia a ligação entre esta zona
e a via de acesso ao edifício, a única forma de evacuar o prédio será pela entrada principal. Esta é
uma situação particular do caso de estudo, em que a evacuação através da entrada de serviço está
condicionada.
Quanto às limitações à propagação do incêndio pelo exterior, o capítulo III deste título trata este
assunto pormenorizadamente, sendo que esta é uma das formas que o fogo se pode deflagrar. O
primeiro ponto do artigo 26º exige uma distância mínima de 1,10 m entre troços de elementos de

63
fachada compreendidos entre vãos situados em pisos sucessivos da mesma prumada; medida no
edifício em estudo, esta distância é de 1,30 m.
No caso de existirem varandas prolongadas mais de 1 m, o que não é o caso da fachada principal,
este valor de 1,10 m corresponde à distância entre vãos sobrepostos somada com a do balanço da
varanda. Esta situação importará apenas verificar na parte posterior do edifício. Tendo em conta que
na varanda de tardoz existe um prolongamento de 1,6 m além do plano da fachada a distância
referida neste artigo dispõe-se da forma apresentada na figura seguinte:

Figura 4.16 - Esquema relativo às condições construtivas da marquise.

Como é possível observar pela Figura 4.16, o ponto 2 do artigo 25º é cumprido.
No ponto 8 do artigo 26º exigem-se algumas características mínimas para as paredes exteriores, no
entanto esta será uma situação em que a análise não abrange o caso de estudo. O facto de o edifício
em confronto distar acima dos 8 m definidos pela tabela do quadro XII do anexo VII do regulamento
faz com que a análise deste ponto seja excluída. No ponto 9 referem-se os edifícios com mais de um
piso em elevação, exigindo-se as seguintes características:
Fachadas com aberturas
Altura H≤28m
Reacção ao fogo de
Classificação de acordo com Situação
Elemento revestimentos exteriores sobre Verifica
as especificações do LNEC actual
fachadas, caixilharias e estores
Revestimentos
e elementos C-s2 d0 M2 M0 Sim
transparentes
Caixilharia e
estores ou D-s3 d0 M3 M0 Sim
persianas
Quadro 4.21 - Verificação da reacção ao fogo de revestimentos exteriores da fachada.

Através do Quadro 4.21 é possível compreender as características exigidas aos elementos que
compõem a fachada exterior do edifício. Através da consulta da Norma Europeia NE EN 13501-1,
pôde classificar-se os materiais da construção através dos seguintes parâmetros:
• Classe de reacção ao fogo de produtos de construção em geral, excluindo os destinados a
revestimentos de piso - Quadro 8.4;Quadro 8.4

64
• Classificação relativa à produção de fumo - Quadro 8.5;
• Classificação relativa à libertação de partículas / gotas inflamadas - Quadro 8.6.Quadro 8.6
Através da consulta dos anexos, para compreender os dados acima apresentados, será mais fácil
conhecer as classificações do LNEC. Para conhecer as exigências do RGSCIE quanto à reacção ao
5
fogo, apresenta-se outro tipo de classificação utilizada nas especificações do LNEC :
Classe de reacção ao fogo
Classe M0 Materiais não combustíveis
Classe M1 Materiais não inflamáveis
Classe M2 Materiais dificilmente inflamáveis
Classe M3 Materiais moderadamente inflamáveis
Classe M4 Materiais facilmente inflamáveis
Quadro 4.22 – Classificação da classe de reacção ao fogo, de acordo com as especificações LNEC.

Através da consulta de bibliografia de António Leça Coelho, (LNEC) et Segurança contra incêndio em
edifícios de habitação - Grelha de análise para edifícios unifamiliares, foi possível chegar a algumas
classificações que permitem conhecer o comportamento dos materiais utilizados no edifício. Observe-
se no Quadro 4.23 a classificação dada aos materiais que compõem a fachada do edifício:
Classe de reacção ao fogo dos materiais mais correntemente utilizados na construção
Materiais Classificação
Pedras ou produtos cerâmicos M0
Pinturas plásticas espessas para paredes exteriores (r=1,5 a 3,5 KG/M2) M2
Pedras naturais (calcários, granitos, ardósia) M0
Argamassas (de cimento, de cal, de gesso) M0
Metais e ligas metálicas M0
Vidro (em chapa ou celular) M0
Madeira maciça não resinosa (e=14mm) M3
Quadro 4.23 - Classe de reacção ao fogo de alguns dos materiais utilizados no edifício. FONTE:
Segurança contra incêndio em edifícios de habitação – grelha de análise para edifícios unifamiliares.

Através da consulta do Anexo VIII do RGSCIE é possível estabelecer uma relação entre os dois tipos
de classificação. Observe-se o Quadro 8.3.
Relativamente aos elementos transparentes, é possível observar que a exigência C-s2 d0 está abaixo
daquilo que o vidro (M0) e as guardas metálicas (M0) conseguem suportar. Assim, conclui-se que
relativamente à fachada do edifício cumpre-se o regulamento, podendo alargar-se esta conclusão ao
edificado da época do caso de estudo - uma vez que os materiais eram recorrentemente utilizados.
Quanto às pedras naturais (M0) e argamassas de cimento (M0), constituintes das paredes exteriores,
terão igualmente um comportamento acima do exigido em matéria de reacção ao fogo.
Já a madeira, material que compõe as caixilharias dos vãos da fachada principal, é um material que
favorecerá a propagação de acidentes com fogo (M3); de qualquer das formas consegue cumprir
aquilo que é regulamentado. Não existindo estores ou persianas, recorre-se à utilização de portadas
de madeira, igualmente prejudiciais à expansão do incêndio.

5
Laboratório Nacional de Engenharia Civil

65
Prosseguindo a análise do artigo 26º, no seu ponto 11 são descritos sistemas compósitos para
isolamento térmico exterior sobre isolante (ETICS) bem como o material de isolamento térmico que
integra esses sistemas; esta é uma situação que não se utiliza no edifício em estudo nem em
qualquer situação que mantenha as características originais das paredes.
No artigo 27º são discutidas situações de paredes não tradicionais tais como cortina em vidro ou
fachadas de vidro (inexistentes no edifício em estudo). No artigo 28º exige-se que as paredes de
empena garantam uma resistência ao fogo da classe EI 60 para edifícios de altura inferior ou igual a
28 m, conjunto no qual se insere o edifício em análise. Este tipo de classificação refere-se aos
elementos estruturais e de compartimentação sendo que a nomenclatura apresenta os seguintes
significados:
• E – estanquidade a chamas e gases quentes;
• I – isolamento térmico.
• 60 – escalão de tempo no qual as funções indicadas pelas letras anteriores se devem manter
(minutos).
Assim sendo, exige-se que as paredes de empena sejam estanques a chamas e gases quentes, e
que garantam isolamento térmico durante 60 minutos. No caso em que não seja garantida esta
premissa, exige-se que estas paredes se elevem acima da cobertura 60 cm, formando um “guarda-
fogos”, esta situação prende-se com a propagação das chamas para os edifícios contíguos. No
entanto, esta situação não é cumprida, observando o projecto; se deflagrar algum incêndio na zona
da cobertura, este será facilmente expandido aos edifícios vizinhos.
No artigo 29º refere-se que, em situações como o caso de estudo - habitação multifamiliar com mais
de um piso acima do plano de referência - deve existir acesso à cobertura, o que não é cumprido hoje
em dia pelas condições deficientes que esse caminho se encontra. Além disso, exige-se que essas
coberturas tenham uma guarda exterior em toda a sua periferia com 60 cm de altura; o que no
presente caso só acontece a tardoz e na zona da fachada principal do edifício, com a existência de
uma grade metálica e um murete, respectivamente. Hoje em dia nenhuma destas protecções existem
uma vez que estes elementos já foram removidos por avançado estado de degradação. No ponto 5
deste mesmo artigo aconselha-se que, no caso de haver uma clarabóia, e, no caso desta se
encontrar a uma distância de 4 m da parede exterior, deverá ter uma classe de resistência ao fogo
padrão EI 60 ou superior; no caso de estudo a clarabóia encontra-se a 5,5 m da parede o que já por
si garante alguma segurança à propagação do fogo através deste elemento. Ainda no mesmo artigo
exige-se que os elementos de revestimento exterior da cobertura inclinada sejam de classe de
reacção ao fogo padrão C-s2 d0. Ora, as telhas marselha que compõem o revestimento da cobertura
são de material cerâmico, sendo classificado com a sigla M0, material incombustível. Quanto à
produção de fumo ou libertação de partículas ou gotas inflamadas, tal como é possível observar pelo
Quadro 8.3, a classificação M0 permite estar bem acima daquilo que é exigido às telhas. No entanto,
e como forma de complementar o ponto 11 deste artigo importa sublinhar que a estrutura de suporte
da cobertura é toda ela em madeira, o que não exclui, de todo, a possibilidade de propagação de
incêndio através desta zona.

66
O capítulo III deste título refere-se ao abastecimento e prontidão dos meios de socorro e inicia-se
com o artigo 31º que trata da disponibilidade de água. Neste exige-se que existam hidrantes 6
exteriores, alimentados pela rede de distribuição pública, o que é cumprido no caso de estudo. Este
dispositivo está instalado na parede exterior do edifício, na fachada principal.
No artigo 32º fala-se sobre o grau de prontidão do socorro, destacando que, quando estes não se
prevejam de rápida intervenção, devem ser agravadas as medidas de segurança constantes neste
regulamento.

4.3.4. Título IV – Condições Gerais de Comportamento ao Fogo,


Isolamento e Protecção
Este título estende-se ao longo de sete capítulos, iniciando-se com o artigo 33º; nele se tratam os
critérios de segurança. A primeira situação em que o edifício não cumpre o regulamento diz respeito
aos compartimentos corta-fogo. O RGSCIE define-o como sendo “parte de um edifício,
compreendendo um ou mais espaços, divisões ou pisos, delimitada por elementos de construção com
resistência ao fogo adequada a, durante um período de tempo determinado, garantir a propagação do
incêndio ao resto do edifício, ou ainda a fraccionar a carga de incêndio.” Desta forma, sendo o edifício
constituído essencialmente por madeira em toda a sua estrutura, não existe nenhum compartimento
corta-fogo. Acrescenta-se no quarto ponto deste mesmo artigo que a compartimentação corta-fogo
“deve ser obtida por paredes e pavimentos que além da capacidade de suporte, garantam a
estanqueidade a chamas e gases quentes e o isolamento térmico durante um determinado tempo”,
devendo estes ser contínuos, atravessando pisos ou tectos falsos. No ponto 9 deste artigo refere-se
que as vias de evacuação interiores protegidas (caso das escadas) devem constituir compartimentos
corta-fogo independentes, o que não é igualmente respeitado. No décimo ponto acrescenta-se à lista
de compartimentos corta-fogo as caixas de elevadores, ou coretes de gás.
No primeiro capítulo deste título, no artigo 34º, trata-se da resistência ao fogo de elementos
estruturais. Nele refere-se que “os elementos estruturais de edifícios devem possuir uma resistência
ao fogo que garanta as suas funções de suporte de cargas, de isolamento térmico e de estanquidade
durante todas as fases de combate ao incêndio, incluindo o rescaldo, ou, em alternativa, devem
possuir a resistência ao fogo padrão mínima indicada no quadro XIX do anexo VII” do regulamento.
Resume-se na tabela seguinte a informação desse quadro que diz respeito ao edifício:
Resistência ao fogo padrão mínima de elementos estruturais de edifícios
Categoria de risco
Utilizações-tipo Função do elemento estrutural

R 60 Apenas suporte
I, VIII
REI 60 Suporte e compartimentação
Quadro 4.24 - Resistência ao fogo padrão mínima exigida para elementos estruturais de edifícios.

6
Equipamento permanentemente ligado a uma tubagem de distribuição de água à pressão, dispondo de órgãos
de comando e uma ou mais saídas, destinado à extinção de incêndios ou ao reabastecimento de veículos de
combate a incêndios. Os hidrantes podem ser de dois tipos: marco de incêndio ou boca-de-incêndio (de parede
ou de pavimento)

67
Como é possível observar no Quadro 4.24, exige-se que, para as utilizações-tipo I e VIII os elementos
de suporte tenham capacidade de suporte de carga durante 60 minutos; sejam eles paredes,
pavimentos, cobertura, vigas, pilares, varandas, escadas ou passagens. Quanto aos elementos com
função de suporte e compartimentação (paredes), exige-se que estas, sendo em princípio interiores,
além de capacidade de suporte de carga durante 60 minutos, garantam ainda estanqueidade a
chamas e gases quentes, bem como isolamento térmico; estas exigências têm a ver com a
necessidade de providenciar aos habitantes uma evacuação mais fácil.
O capítulo II do título IV trata das características da compartimentação geral de fogo, iniciando-se no
artigo 36º que fala da coexistência entre utilizações-tipo distintas. Na alínea a) do segundo ponto
deste artigo exige-se que as utilizações-tipo distintas (no caso de estudo, a funerária e as habitações
do rés-do-chão) devem ser separadas por pavimentos cuja resistência ao fogo padrão EI ou REI se
mantenha durante 60 minutos, segundo o quadro XX do anexo VII do RGSCIE. Segundo António
Leça Coelho, na classificação obtida em “Segurança contra incêndio em edifícios de habitação -
Grelha de análise para edifícios unifamiliares”, as madeiras apresentam as seguintes classes de
reacção ao fogo:
Madeira e derivados da madeira
Madeira maciça não resinosa (e=14mm) M3
Madeira maciça não resinosa (e≤14 mm) M4
Madeira maciça resinosa (e=18mm) M3
Madeira maciça resinosa (e≤18mm) M4
Contraplacados e aglomerados (e=18mm) M3
Contraplacados e aglomerados (e≤18mm) M4
Quadro 4.25 - Reacção ao fogo (segundo a classificação do LNEC) de alguns tipos de madeira
utilizados.

Desta forma, através da observação do Quadro 4.25, é possível observar que a madeira, material
constituinte dos pavimentos, dificilmente manterá as suas capacidades de estanquidade a chamas e
gases quentes, isolamento térmico e capacidade de suporte de carga durante 60 minutos. Ainda no
mesmo artigo regulamenta-se algumas condições especiais para utilizações-tipo que comuniquem
com vias de evacuação protegidas7, não havendo nenhum caso como este no edifício em estudo.
Acrescenta-se ainda neste artigo que, “os espaços situados abaixo do plano de referência, servidos
8
por via de evacuação enclausurada que não lhe seja exclusiva, esta deve ser protegida desses
espaços por câmaras corta-fogo”. Esta é uma situação que não é passível de análise dada a
inexistência de um sistema de controlo de fumo e de envolvente com uma resistência ao fogo
especificada (parâmetros que caracterizam uma via de evacuação enclausurada).
O artigo 37º trata da compartimentação geral corta-fogo, iniciando-se com uma exigência que não é
cumprida no regulamento; os diversos pisos devem constituir compartimentos corta-fogo diferentes.
Ora, se por um lado, pela sua constituição, os pavimentos apresentam graves falhas neste capítulo,

7
Vias dotadas de meios que conferem aos seus utentes protecção contra os gases, o fumo e o fogo, durante o
período necessário à evacuação.
8
Via de evacuação protegida, estabelecida no interior do edifício dotada de sistema de controlo de fumo e de
envolvente com uma resistência ao fogo especificada.

68
foi possível concluir em conversas com especialistas na matéria da ANPC, que os pavimentos, pela
sua elevada espessura, conseguem suportar o fogo durante algum tempo, evitando inclusive a sua
propagação rápida para os pisos seguintes. Desta forma estes classificar-se-ão como
“aceitavelmente corta-fogo” no âmbito do regulamento. Prossegue-se no mesmo artigo outras
exigências, nomeadamente a nível de áreas máximas ou condições de isolamento dos materiais que
o constituem estes compartimentos.
No artigo 38º regulamenta-se as condições de isolamento e protecção de pátios interiores referindo
que neste deve ser possível inscrever um cilindro com diâmetro igual a √7 sendo H a altura deste
pátio interior (saguão). Ora, tendo que a altura deste pátio é de 18,3 m, o diâmetro deste cilindro a ser
inscrito nos saguões deverá ter diâmetro 11,32 m situação totalmente desajustada ao edifício em
estudo. Existindo dois saguões laterais, com secções de 4,1 m x 1,5 m e 4,1 m x 2 m, compreende-se
que este novo regulamento de incêndios será muito mais exigente quanto às dimensões destes
espaços interiores. Esta nova preocupação poderá ter a ver com a intenção de facilitar o combate a
incêndios nesta zona. Sendo um espaço tão limitado em termos de área, no caso de os construtores
pretenderem construir situações como estas, será importante ter em conta estas limitações.
Acrescenta-se ainda neste artigo que as paredes do edifício que delimitam este espaço devem ter
condições de limitação de propagação do fogo semelhantes àquelas que são exigidas no artigo 26º.
Apresenta-se no Quadro 4.26 os parâmetros que importará analisar:
Fachadas com aberturas
Altura H≤28m
Classificação de
Reacção ao fogo de
acordo com as Situação
Elemento revestimentos exteriores sobre Verifica
especificações do actual
fachadas, caixilharias e estores
LNEC
Revestimentos
e elementos C-s2 d0 M2 M0 Sim
transparentes
Quadro 4.26 - Verificação da reacção ao fogo das paredes do saguão. Fonte: Quadro XIII, RGSCIE

Observando a tabela anterior, é possível observar, que nas mesmas condições anteriormente
analisadas para a fachada principal, com excepção das guardas metálicas, o tipo de comparação
entre o regulamentado e o edificado será semelhante ao artigo 26º; não só devido às mesmas
exigências mas também pelas mesmas condições de construção. Tal como é possível observar pelo
Quadro 4.26, os materiais constituintes desta zona conseguem fazer verificar o regulamento.
O capítulo III não será analisado uma vez que nenhuns dos locais de risco nele descrito existem no
caso de estudo.
No capítulo IV são tratadas as condições de isolamento e protecção de meios de circulação, tendo
início no artigo 44º que trata da protecção das vias horizontais de evacuação (corredores,
antecâmaras, átrio, galerias, etc.). Assim sendo, considerar-se-á como objecto de análise deste
artigo, os corredores do interior dos fogos. Importa esclarecer que, apesar de hoje em dia os
corredores no interior das habitações não serem habitualmente considerados vias horizontais de
evacuação; neste tipo de edificado, pelas suas características espaciais (longos corredores), a
interpretação do regulamento terá de ser flexível a esse ponto.

69
No terceiro ponto deste artigo regulamenta-se que as vias horizontais de evacuação exteriores devem
ser dotadas de revestimentos com a classe mínima de resistência ao fogo padrão E 30. Ora, se
anteriormente às obras dos anos 1958, existia um corredor que fazia a ligação entre o espaço de
tardoz e a rua de acesso ao edifício, sendo por isso um via horizontal de evacuação exterior, hoje em
dia não pode ser considerado como tal, dado que a partir dessa intervenção esta foi selada. Apesar
de não ser uma situação em que se possa abranger todo o edificado “Gaioleiro”, convém ter em conta
as desvantagens de medidas como estas.

Resistência ao fogo padrão mínima dos elementos da envolvente de vias horizontais de


evacuação interiores protegidas
Altura Paredes não resistentes Paredes resistentes Portas
Média ou grande EI 60 REI 60 E 30 C
Quadro 4.27 - Resistência ao fogo padrão mínima dos elementos da envolvente de vias horizontais
de evacuação interiores protegidas. Fonte: Quadro XXIX, RGSCIE

No artigo 45º são descritas as condições de execução das vias verticais de evacuação, exigindo-se
protecção para todas elas, exceptuando alguns casos nos quais não se incluem o caso de estudo.
Importante referir que, nos termos deste regulamento as escadas são o único caso que se enquadra
neste artigo, sendo elas as exteriores ou as interiores. Assim, não sendo garantida esta protecção,
não é cumprido o regulamento. No segundo ponto deste artigo refere-se que estes elementos devem
ser separados dos restantes espaços por paredes e pavimentos apresentando classe de resistência
ao fogo não inferior ao exigido para os elementos estruturais do edifício. Apresenta-se o seguinte
quadro:
Resistência ao fogo padrão mínima de elementos estruturais de edifícios
Categoria de risco
Utilizações-tipo Função do elemento estrutural

R 60 Apenas suporte
I, VIII
REI 60 Suporte e compartimentação
Quadro 4.28 - Resistência ao fogo padrão mínima de elementos estruturais de edifícios. Fonte:
Quadro XIX, RGSCIE

Através da consulta dos elementos dispostos no Quadro 4.29, é possível observar que será mais fácil
para as escadas exteriores (em betão armado, material incombustível) cumprir o que é disposto no
regulamento. De qualquer das formas, o facto de serem exteriores, confere uma segurança acrescida
aos seus utilizadores em termos de incêndio. Para a situação das escadas interiores, constituídas
unicamente por madeira, este tipo de exigências ficam além das possibilidades deste material –
situação idêntica em qualquer “Gaioleiro”.
Os pontos quatro e cinco, que falam das protecções dos acessos às vias verticais de evacuação não
interessam analisar, isto porque estas condições apenas são vigentes para situações de vias de
evacuação verticais protegidas.
Quanto ao artigo 47º, sabendo que trata do isolamento e protecção das caixas de elevadores, não
será objecto de estudo nesta fase dada a inexistência deste equipamento no edifício.
No capítulo V descrevem-se as condições de isolamento e protecção de canalizações e condutas,
esta análise aplica-se a canalizações eléctricas, de esgoto, de gases, de evacuação de efluentes de

70
combustão. Segundo o ponto dois do artigo 49º, a análise deste capítulo faz sentido na medida em
que o edifício em estudo, tendo mais de 9 m de altura enquadra-se num conjunto de situações que o
presente regulamento abrange. O artigo 49º refere alguns métodos de protecção das condutas e
canalizações, entre eles está o alojamento em ductos ou atribuição de resistência ao fogo às próprias
canalizações; destas medidas talvez a primeira seja a mais exequível – uma vez que o saguão possui
algum espaço livre. Outras especificações são discutidas ao longo deste capítulo, no entanto, essa
verificação não foi possível de executar, dada a dificuldade em analisar as condições das
canalizações em termos da sua resposta ao fogo e condições de isolamento. Convém destacar que o
saguão, apesar de estar totalmente em desuso hoje em dia, serve em muitas reabilitações, para
intervir ao nível das instalações técnicas, nomeadamente no que diz respeito às águas residuais.
O capítulo VI trata da protecção de vãos interiores começando pelo artigo 53º que trata da resistência
ao fogo de portas. No entanto, este artigo trata especificamente das portas que isolam os
compartimentos corta-fogo, situação que, como já foi referido, não existe no imóvel em causa. O
mesmo sucede com o artigo 54º - isolamento e protecção através de câmaras corta-fogo. No artigo
55º trata-se das exigências dos dispositivos de fecho e retenção das portas resistentes ao fogo,
inexistentes no caso de estudo. Em jeito de resumo, o artigo 58º regulamenta as classes mínimas de
reacção ao fogo dos materiais de revestimento de pavimentos, tectos e tectos falsos em vias de
evacuação horizontais e que passa a resumir-se de seguida:
Reacção ao fogo mínima dos revestimentos de vias de evacuação horizontais
Em pisos entre 9 e 28 Classificação de acordo com as Situação
Elemento Verifica
m de altura especificações do LNEC actual
Paredes e tectos C-s2 d0 M2 M0 Sim
Pavimentos CFL-s2 M2 M3 Não
Quadro 4.29 - Verificação da reacção ao fogo mínima dos revestimentos de vias de evacuação
horizontais.

Para compreender aquilo que está exigido comparativamente aos materiais que estão aplicados,
importa consultar o Quadro 8.3. Através deste quadro compreende-se que os revestimentos de
paredes e tectos estão acima daquilo que é exigido, sendo que os pavimentos estão aquém do que é
regulamentado (como seria de esperar). De referir que é utilizada a classificação dos tacos de
madeira para representar o soalho dos pavimentos.
A descrição s2 diz respeito a uma produção de fumo limitada, o que, com a madeira de pinho, sendo
resinosa, produzirá sempre algum fumo que dificultará a visibilidade dos ocupantes do edifício.
Conclui-se assim que, em termos de revestimentos, as vias horizontais de evacuação cumprem o
regulamento apenas em relação às suas paredes e tectos, evidenciando um défice de resistência ao
fogo no caso dos pavimentos.

71
No seguimento do artigo anterior, o artigo 59º regulamenta igualmente as classes mínimas de
reacção ao fogo dos materiais e revestimento de pavimentos, paredes e tectos em vias de evacuação
verticais. Apresenta-se no Quadro 4.30 aquilo que o RGSCIE exige:
Reacção ao fogo mínima dos revestimentos de vias de evacuação verticais e câmaras corta-fogo
Vias de evacuação verticais interiores - edifícios de pequena ou média altura
Reacção ao fogo de Classificação de
revestimentos de vias de acordo com as Situação
Elemento Verifica
evacuação verticais e especificações do actual
câmaras corta-fogo LNEC
Paredes e tectos A2-s1 d0 M0 M0 Sim
Pavimentos CFL-s1 M2 M3 Não
Quadro 4.30 - Verificação da reacção ao fogo mínima dos revestimentos de vias de evacuação
verticais. Fonte: Quadro XXXIV, RGSCIE

Relativamente às paredes e tectos das escadas interiores, o tipo de revestimento é semelhante


àqueles que foram analisados no artigo anterior, podendo recorrer-se ao Quadro 4.29 para o
entendimento desta situação. Quanto às exigências, estas aumentam para a classe de reacção ao
fogo A2 que determina que os produtos aplicados não contribuam significativamente para a carga de
incêndio9 nem desenvolvimento do mesmo; no entanto, o estuque pintado (M0) continua neste caso a
fazer cumprir o regulamento. Quanto à libertação de fumo, o regulamento define que nas escadas a
sua produção seja inferior àquela que é exigida nas vias de evacuação horizontal, isto porque sendo
uma extensão maior a percorrer pelos habitantes, as escadas devem possibilitar boas condições de
visibilidade aos seus inquilinos. Relativamente aos pavimentos, sendo que a madeira continua a ser a
solução tanto nas vias verticais como nas vias horizontais de evacuação, a análise é semelhante à do
artigo anterior. Ressalva-se apenas que, tal como no caso de paredes e tectos, no artigo 59º exige-se
que a produção de fumo seja inferior no caso das escadas, pelas mesmas razões já apontadas. Para
a tabela anterior foi considerado que o edifício em causa se enquadra num escalão de pequena ou
média altura. A justificação para esta classificação vem do anexo I do RGSCIE, em que se considera
que imóveis com altura entre os 9 e 28 metros de altura são considerados edifícios médios.

9
Quantidade de calor susceptível de ser libertada pela combustão completa da totalidade de elementos contidos
num espaço, incluindo o revestimento das paredes, divisórias, pavimentos e tectos.

72
Ainda no artigo 59º importa referir a especificidade das vias de evacuação exteriores - escada de
serviço localizada a tardoz do edifício. Sendo que estas escadas são todas elas construídas em betão
armado pintado, apresenta-se no Quadro 4.31 as classes de reacção ao fogo dos produtos utilizados
nas escadas de tardoz.
Reacção ao fogo mínima dos revestimentos de vias de evacuação verticais e câmaras corta-fogo
Vias de evacuação verticais exteriores
Reacção ao fogo de
Classificação de acordo
revestimentos de vias Situação
Elemento com as especificações Verifica
de evacuação verticais actual
do LNEC
e câmaras corta-fogo
Paredes e tectos B-s3 d0 M1 M2 Não
Pavimentos CFL-s3 M2 M0 Sim
Quadro 4.31 - Verificação da reacção ao fogo mínima dos revestimentos de vias de evacuação
verticais exteriores.

Como é possível observar pelo Quadro 4.31, os materiais utilizados nas escadas de tardoz ficam um
pouco aquém das exigências uma vez que a categoria B-s3 d0 está ligeiramente acima da descrição
(M2) das pinturas plásticas. Importa assinalar que para além de o betão ser um material considerado
incombustível e a pintura desse elemento se caracterizar como dificilmente inflamável, o problema da
produção de fumo não se coloca a nível regulamentar. A classificação s3 para revestimentos de
pavimentos e paredes tem a ver com a facilidade de evacuação de fumos que um meio exterior
consegue naturalmente. Por último, importa referir que a tinta será apenas uma parte mínima da
constituição das paredes e tectos, sendo que no presente caso o betão será mesmo o principal
material a considerar.
No artigo 60º são regulamentadas as classes mínimas de reacção ao fogo dos materiais de
revestimento de pavimentos, paredes de locais de risco, dos quais para o caso de estudo apenas
importa analisar a situação A (funerária localizada na cave). Apresenta-se a seguinte síntese das
exigências feitas pelo RGSCIE:
Reacção ao fogo mínima dos revestimentos de locais de risco
Local de risco A
Reacção ao fogo de Classificação de acordo com
Elemento Situação actual Verifica
revestimentos as especificações do LNEC
Paredes e tectos D-s2 d2 M4 M0 Sim
Pavimentos EFL-s2 M4 M3 Sim
Quadro 4.32 - Verificação da reacção ao fogo mínima dos revestimentos de locais de risco A. Fonte:
Quadro XXXV, RGSCIE

Antes de mais importa perceber que, à luz do regulamento, sendo os locais de risco A, aquele que
terá menor susceptibilidade a situações de riscos humanos inerentes a incêndios, terá por isso
menores exigências quanto ao tipo de material aplicado nestas fracções. Atente-se que, as suas
exigências são qualitativamente inferiores àquelas que se regulamentam para as vias de evacuação
verticais e horizontais. Quanto à situação verificada no edifício, da mesma forma que para os fogos
habitacionais, as paredes e tectos são de estuque pintado e os pavimentos constituídos por soalho de
pinho, o que representa uma boa solução em termos de paredes e tectos e uma solução menos boa

73
no que diz respeito aos pavimentos. De qualquer das formas a classificação do soalho de madeira
consegue fazer respeitar o regulamentado, segundo o que se apresenta no Quadro 4.32.
O artigo 62º regulamenta os materiais dos tectos falsos, solução construtiva que apenas é utilizada
nas casas de banho. Neste artigo é referido que os materiais constituintes dos tectos falsos devem
garantir uma classe de reacção ao fogo não inferior à classe C-s2 d0. Ora, sendo o gesso, um dos
principais constituintes deste revestimento, é de esperar que a sua reacção ao fogo seja eficaz; além
disso, dada a reduzida área do edifício revestida com este material, este não será o principal ponto
deficitário do imóvel relativamente ao combate e prevenção de incêndios.
São tratadas ao longo do artigo 64º as condições de aplicação dos elementos de informação,
sinalização, decoração, referindo a classe de reacção ao fogo consoante o local de risco no qual
estejam inseridos. Os artigos 65º e 66º falam igualmente de situações inexistentes no caso de estudo
- tendas e estruturas insufláveis e bancadas, palanques e estrados em estruturas insufláveis, tendas
e recintos itinerantes.

4.3.5. Título V – Condições Gerais de Evacuação


O título V do regulamento trata das condições gerais de evacuação, definindo condições construtivas
e espaciais para os edifícios. O artigo 69º inicia o capítulo I (disposições gerais), e nele define alguns
critérios de segurança. O principal motivo para uma boa evacuação tem a ver com a possibilidade de
os ocupantes poderem “alcançar um local seguro no exterior pelos seus próprios meios, de modo
fácil, rápido e seguro”.
O artigo 70º define um dos principais itens a ter em conta na classificação de um local de risco - o
efectivo. Através dos índices de ocupação da funerária (única situação passível de considerar
efectivo), estabelecidos em anexo no RGSCIE, é possível, considerando a área útil do local de risco,
calcular o número de pessoas passível de ocupar um espaço. Na situação em estudo esta área é de
45 m2 o que, com um índice de ocupação de 0,2 pessoas/m2, representa um efectivo de 9 pessoas.
No capítulo II deste título trata-se da evacuação dos locais, sendo que nenhum dos casos
apresentados no artigo 72º (lugares destinados ao público) se engloba a situação de estudo.
O artigo 73º determina o número de saídas que o edifício deve possuir em função do seu efectivo,
excepção feita às utilizações-tipo I. Assim, para a funerária (utilização-tipo VIII), sendo o seu efectivo
entre 1 e 50, o número de saídas é aquela que existe actualmente (uma).

74
No artigo 75º regulamenta-se a largura das saídas e dos caminhos de evacuação10. A largura das
saídas e dos caminhos de evacuação é medida em unidades de passagem (UP) tendo a seguinte
correspondência:
• 1 UP = 0,9 m;
• 2 UP = 1,4 m;
• N UP = N x 0,6 (para N> 2).
O número três deste artigo regulamenta que a funerária (com efectivo entre 1 e 50 pessoas) deve ter
no mínimo uma unidade de passagem de largura da saída. Apesar daquilo que é regulamentado no
terceiro ponto, no ponto 4 é permitido que as saídas de locais de risco A cujo efectivo seja inferior a
20 pessoas (caso de estudo), tenham largura inferior a 1 UP. A funerária do edifício tem uma entrada
de 1 metro de largura, que acaba por ser superior a 1 UP, cumprindo o regulamentado.
No artigo 76º destaca-se que os caminhos de evacuação devem proporcionar o acesso rápido e
seguro às saídas. Neste artigo trata-se das distâncias a percorrer nos locais; regulamentando-se que,
para o caso das utilizações-tipo I, 15 m seja a distância máxima a percorrer nos locais de
permanência até a saída mais próxima para o exterior ou até uma via de evacuação protegida. Ora,
se por um lado o edifício em causa, ao invés daqueles que são actualmente construídos com
compartimentos corta-fogo, não possui nenhuma zona protegida, estes 15 m serão largamente
ultrapassados pelos ocupantes dos pisos acima do 2º quando se tentam dirigir para o exterior do
edifício. Esta será uma situação recorrente em qualquer edifício “Gaioleiro” uma vez que todos os
edifícios da época apresentavam as mesmas características construtivas nas escadas.
No artigo 77º destaca-se a evacuação dos locais de risco A, situação da funerária do edifício. O
primeiro ponto deste artigo refere que a saída deve ser nítida para os ocupantes deste local, fazendo
com que contribuam para isso o mobiliário, os equipamentos e os elementos decorativos, neste ponto
o artigo é nitidamente comprido. O segundo ponto deste artigo coloca em causa novamente a largura
de locais de risco A, mas exceptuando situações com área superior a 50 m2 (situação da funerária
com 45 m2 de área útil).
O Capítulo III deste título estipula algumas normas importantes para as vias horizontais de
evacuação, destacando uma imposição inicial que refere que estas devem conduzir directamente a
vias verticais de evacuação, o que é cumprido no edifício em causa, através da ligação que o
corredor dos fogos faz às escadas.
No ponto dois do artigo 80º exige-se que a distância máxima a percorrer de qualquer ponto das vias
horizontais de evacuação, medida segundo o seu eixo, até uma saída para o exterior, ou, até uma via
de evacuação vertical protegida deve ser no máximo de 15 m. Uma vez que a via de evacuação
vertical existente no edifício (escadas) não é considerada protegida, este artigo não é cumprido; no
entanto, importa esclarecer que o corredor dos fogos estende-se ao longo de 12 m, pelo que apesar
de se encaixar dentro dos 15 m regulamentares, não faz cumprir o referido artigo. Se for feita esta

10
Percurso entre qualquer ponto, susceptível de ocupação, num recinto ou num edifício até uma zona de
segurança exterior, compreendendo, em geral, um percurso inicial no local de permanência e outro nas vias de
evacuação.

75
análise para a distância que vai até ao exterior não serão cumpridos os 15 metros a partir do 2º piso,
tal como se havia referido no artigo 76º. Acrescente-se em jeito de conclusão, que este tipo de
conclusões sobre as vias de evacuação, poderão ser alargadas a todo o edificado “Gaioleiro”, uma
vez que a configuração espacial é semelhante neste tipo de construção.
Regulamenta-se ainda distâncias para as situações das vias horizontais exteriores, mas, como já foi
referido, hoje em dia a única existente no edifício em estudo já se encontra desactivada. Acrescenta-
se neste artigo que a largura das vias horizontais de evacuação, ou troços dela são função do seu
efectivo, exceptuando destes casos as utilizações-tipo I. No caso de outras utilizações-tipo, nas quais
a funerária se inclui, o regulamento remete para um quadro presente em anexo que exige o que já
havia sido determinado pelo artigo 75º. No último ponto deste artigo, exige-se que as vias horizontais
de protecção sejam protegidas nas condições descritas no Quadro 4.27.
Analisando em primeiro lugar as portas dos corredores dos fogos, todas elas de madeira, conclui-se
que, como já anteriormente foi referido, sendo a madeira, um material moderadamente inflamável
(M3), não conseguirá ser estanque às chamas e gases quentes durante 30 minutos. Além do mais, a
característica até agora ainda não estudada tem a ver com a capacidade de fechar automaticamente
- desajustada à realidade dos “Gaioleiros”. Quanto às características das portas, o artigo 81º refere
algumas exigências para portas que sejam utilizadas por mais de 50 pessoas, eventualmente a porta
de entrada de um edifício multifamiliar. No entanto, neste edifício dada a quantidade de fogos
devolutos, o número de habitantes hoje em dia é bem inferior a 50, actualmente são 8. Acrescenta-se
no ponto 3 que, as portas de saída dos espaços afectos à utilização-tipo I estão dispensadas do
disposto do primeiro ponto do artigo. O ponto oito deste mesmo artigo regulamenta que as portas que
abram para o interior de vias de evacuação (caso das portas das habitações que abrem para os
corredores), não devem obstruir a passagem dos utentes. No edifício em análise o espaço deixado
vago para quando a porta é aberta é, no mínimo de 55 cm, permitindo a passagem de uma pessoa a
partir desse ponto. Por último, este artigo refere que a porta do edifício deve ser dotada de fechadura
que possibilite a sua abertura pelo exterior, estando as respectivas chaves ao dispor no posto de
segurança ou na portaria visando a utilização destas por parte das equipas de segurança e dos
bombeiros. No edifício em causa existe de facto uma fechadura, no entanto, não existe nenhuma
portaria que faça cumprir por completo este disposto.
O artigo 82º trata do dimensionamento das câmaras corta-fogo, o que nesta fase não será avaliado
dada a inexistência de compartimentos como este no edifício.

76
O capítulo IV, no artigo 83º, trata das vias verticais de evacuação, sendo que no seu ponto 4 é
referido que estas devem ser contínuas ao longo da sua altura até ao piso que se encontra ao nível
do plano de referência. Apesar do anterior ponto ser cumprido, o ponto seis deste artigo não é; nele é
referido que “as vias que sirvam pisos abaixo do piso do plano de referência não devem comunicar
directamente com as que sirvam os pisos acima desse plano”. Este é um disposto que hoje em dia a
nova construção respeita com a existência de câmaras corta-fogo, no entanto, no tipo de edifício em
estudo, as escadas são contínuas desde as caves até ao 5º piso. No ponto oito deste artigo discute-
se as condições de protecção das vias verticais de evacuação resumindo no quadro seguinte essas
condições:

Protecção dos acessos a vias de evacuação verticais protegidas localizados no piso de saída para
o exterior
Via acima do plano de referência Via abaixo do
Saídas de vias enclausuradas Altura do piso mais elevado (H) plano de
H< 28 m referência
Em átrio com acesso directo ao exterior e sem
ligação a outros espaços interiores com Sem exigências Portas E 30 C
excepção de caixas de elevadores protegidas
Quadro 4.33 - Condições regulamentares das vias de evacuação verticais no piso de saída para o
exterior. Fonte: Quadro XXX, RGSCIE

Através deste quadro é possível compreender quais as condições a respeitar pelo átrio de entrada do
edifício, que faz o acesso à via de evacuação vertical e está localizado no piso de saída para o
exterior. Aquilo que o Quadro 4.33 demonstra vem ao encontro do que havia sido referido no ponto
seis deste mesmo artigo; deverá haver portas com capacidade de ser estanques às chamas e gases
quentes durante 30 minutos e equipadas com fecho automático. Como já foi referido, esta premissa
não é cumprida no edifício em estudo, bem como em todo o edificado antigo.
O artigo 84º trata das características das escadas, remetendo para o Regulamento Geral das
Edificações Urbanas as especificações em termos de dimensões a respeitar. No ponto dois deste
artigo regulamenta-se que para escadas com largura superior a 1 UP (0,9 m), que é a situação do
edifício em estudo, a largura mínima a percorrer nos patamares deve ser de 1 m. Esta premissa é
cumprida uma vez que esta distância é de 1,4 m. No ponto cinco exige-se que as escadas deverão
ser dotadas de um corrimão, o que é igualmente cumprido. O artigo 85º diz respeito a rampas,
escadas mecânicas e tapetes rolantes, que não existindo no edifício não será alvo de análise. No
artigo 86º regulamenta-se que a altura das guardas das vias de evacuação elevadas deverá ser de
0,9 m para situações em que a diferença entre cotas dos patamares seja não superior a 6 m (situação
em causa). Esta premissa é cumprida pelo edifício.
O capítulo V trata das zonas de refúgio que, no regulamento em estudo, se define como “local num
edifício, temporariamente seguro, especialmente dotado de meios de protecção, de modo a que as
pessoas não venham a sofrer dos efeitos directos de um incêndio no edifício”. Através daquilo que é
possível compreender no regulamento, a zona de tardoz poderia considerar-se como uma zona de
refúgio, no entanto, dado que os habitantes não teriam forma de ser evacuados dessa zona e não
sendo um espaço dotado de meios de protecção capazes de garantir segurança aos inquilinos,

77
conclui-se que o imóvel não tem nenhuma zona de refúgio. De qualquer das formas, segundo aquilo
que é determinado no ponto 8 deste artigo, o quintal nunca seria uma zona de refúgio dado que em
nenhum ponto deste será possível distar 8 m dos vãos abertos na fachada posterior.

4.3.6. Título VI – Condições Gerais das Instalações Técnicas


Na análise a ser feita a este regulamento será excluído este título dado que o principal objectivo deste
estudo tem a ver com as disposições construtivas e não propriamente com a adequação técnica das
instalações.

4.3.7. Título VII – Condições gerais dos equipamentos e sistemas de


segurança
No título VII são descritas as condições gerais dos equipamentos e sistemas de segurança. Este é
nitidamente um ponto fraco dos edifícios antigos em geral, sendo que o caso de estudo não se isenta
deste grupo. No primeiro capítulo deste título, que trata da sinalização, é comprovada essa realidade,
uma vez que nenhum tipo de avisos, informação de emergência ou alarme consta no edifício. Desta
forma, nenhum dos artigos que compõem o primeiro capítulo do título VII é cumprido pelo edifício.
No capítulo II desenvolve-se a temática da iluminação de emergência. No seu primeiro capítulo
determina-se que seja obrigatória a iluminação de emergência com excepção das “habitações
situadas em edifícios de qualquer categoria”, nas quais o caso de estudo se integra. De qualquer
forma, o edifício em causa não salvaguarda este tipo de iluminação.
No artigo 134º, ainda constante no capítulo II regulamenta-se a utilização de blocos autónomos. Estes
dispositivos são definidos como um tipo de iluminação que consegue ser autónomo mesmo na falta
de energia eléctrica. Relativamente ao caso de estudo, importa referir que apenas é obrigatória a sua
instalação para as habitações quando sirva para iluminação de placas indicadoras de saída –
situação inexistente no edifício.
O capítulo III trata da detecção de alarme e alerta. Antes de tudo convém referir que, sinal do elevado
estado de degradação e abandono em que o imóvel em estudo se encontra, nenhum dispositivo de
detecção, alarme e alerta de incêndio foi até hoje instalado. Quanto ao regulamento, este obriga que
os edifícios sejam equipados com instalações deste género para que, em caso de incêndio, os seus
ocupantes possam evacuar em segurança, e atempadamente, o imóvel. No artigo 135º descrevem-se
algumas situações que estão isentas de cobertura por detectores automáticos; casos de espaços que
11
estejam protegidos totalmente por sistema fixo de extinção automática de incêndios por água.
No artigo 138º determina-se que devem ser instalados e convenientemente sinalizados dispositivos
de accionamento manual de alarme; aconselha-se que estes sejam instalados nos caminhos

11
Sistema fixo constituído por uma reserva adequada de agente extintor ligada permanentemente a um ou mais
difusores fixos, pelos quais é projectado, manual ou automaticamente, o agente extintor para a extinção de um
incêndio.

78
horizontais de evacuação junto às saídas dos pisos. No caso de estudo, a solução que iria ao
encontro do regulamento seria aplicável na saída/ entrada dos fogos, no entanto, como já foi referido,
não existe nenhum tipo de dispositivo deste género no imóvel em estudo.
No artigo 139º e 140º regulamentam-se as condições que os detectores automáticos e difusores de
alarme geral devem ser instalados; nenhum destes elementos faz parte do edifício.
Quanto ao artigo 141º apesar de regulamentar dispositivos inexistentes no caso de estudo - centrais
de sinalização e comando - importa conhecer que este tipo de instalação permite registar um princípio
de incêndio sem a intervenção humana e transmitir as informações correspondentes a uma central de
detecção de incêndios. Estas devem ser instaladas nos locais reservados ao pessoal afecto à
segurança do edifício, no posto de segurança. Esta não é propriamente uma exigência do
regulamento. Situação idêntica está descrita no artigo 142º que trata das fontes de energia de
emergência.
Entre o artigo 145º e 149º estão descritas separadamente as configurações a serem seguidas pelas
diferentes utilizações-tipo, no que diz respeito a matérias de alarmes (assunto tratado ao longo deste
capítulo III). No artigo 149º trata-se dos edifícios de utilização mista, sendo que no seu ponto três é
regulamentada uma situação que se deverá aplicar ao caso de estudo, edifício de utilização mista
que inclui a utilização-tipo I e dispõe de comunicações interiores comuns com as outras utilizações-
tipo. Neste tipo de caso, o sistema de alarme deve ser, pelo menos, da configuração 2, com difusor
de alarme instalado na caixa de escada. Resumindo, aquilo que o regulamento exige para este tipo
de situação está descrito na tabela seguinte:
Configuração das instalações de alarme
Configuração
Componentes e funcionalidade
2
Botões de accionamento de alarme X
Detectores automáticos X
Temporizações X
Alerta automático
Central de
sinalização e Comandos X
comando Fonte local de alimentação de
X
emergência

Total
Protecção
Parcial X
Difusão do No interior X
alarme No exterior X
Quadro 4.34 - Configuração das instalações de alarme. Fonte: Quadro XLVI, RGSCIE

Após visitas ao prédio percebeu-se que nenhum dos dispositivos existe, divulgando as inúmeras
insuficiências do imóvel ao nível de detecção, alarme e alerta de incêndios. Para as situações em que
as escadas sejam enclausuradas, exige-se que seja instalado um difusor de alarme em cada patamar
de acesso aos fogos. No entanto, não sendo a escada enclausurada, não é obrigatória a instalação
deste tipo de sistema.
No capítulo IV deste título trata-se do controlo de fumo, destacando-se inicialmente que os “edifícios
devem ser dotados de meios que promovam a libertação para o exterior do fumo e dos gases tóxicos

79
ou corrosivos, reduzindo a contaminação e temperatura dos espaços e mantendo condições de
visibilidade, nomeadamente nas vias de evacuação”. No artigo 153º são distinguidos dois conceitos
importantes, a desenfumagem passiva, quando realizada por tiragem térmica natural (chaminé
cozinha) e desenfumagem activa, quando utilizados meios mecânicos (inexistentes no edifício). As
instalações de desenfumagem passiva podem ser constituídas por aberturas para admissão de ar e
aberturas para libertação do fumo ligadas ao exterior. O artigo 154º determina os espaços a serem
dotados de instalações de controlo de fumo, nas quais se incluem as vias verticais de evacuação
enclausuradas (não é o caso das escadas do edifício); vias horizontais de evacuação (corredores dos
fogos) e pisos situados no subsolo. De referir que, apesar de não enclausuradas, as escadas do
edifício são ventiladas por clarabóia no seu topo, permitindo alguma desenfumagem natural desta
zona. Quanto aos corredores dos fogos e pisos situados no subsolo acessível a público (funerária),
não existe qualquer tipo de dispositivo que limite o fumo.
Os artigos 155º até 159º tratam das condições dos dispositivos de controlo de fumo; não existindo
nenhuma instalação deste género no imóvel, esta análise será posta de parte.
O artigo 160º aborda a questão da admissão de ar nas instalações de desenfumagem passiva.
Nestes casos, e aquele que é verificado no edifício, é descrito que as bocas de admissão de ar são
feitas através de condutas ligadas ao exterior, situação que corresponde à tecnologia construtiva das
chaminés do imóvel. A evacuação de fumo é tratada no artigo 161º descrevendo as características
que as condutas de evacuação do mesmo devem seguir; no entanto, foi impossível conferir a boa
execução destas no edifício. A secção III que compõe o capítulo IV deste título VII trata toda ela de
instalações de desenfumagem activa, que, não existindo no imóvel, serão deixadas fora da análise
deste estudo.
Para a secção IV será abordado o controlo de fumo nos pátios interiores e pisos ou vias circundantes;
destes serão analisados os pátios interiores (saguões). Segundo o artigo 167º, estes consideram-se
naturalmente desenfumados, dado que não são cobertos, desta forma não será necessário recorrer a
meios que executem essa tarefa nestes espaços. O artigo 169º não será importante neste estudo
uma vez que se refere a pátios interiores cobertos, inexistente no edifício da Avenida Luís Bivar. Os
edifícios construídos na mesma época que o presente caso de estudo não contemplam habitualmente
este tipo de espaços.
Para a secção V do mesmo capítulo IV é tratado o controlo de fumo nos locais sinistrados, ou seja, os
locais afectados por incêndio. No artigo 171º regulamenta-se a existência de cantões de
12
desenfumagem - inexistentes no edifício.
Ao longo do artigo 172º descrevem-se as condições construtivas das instalações de desenfumagem
passiva. No entanto, no caso de estudo, é difícil conferir a boa execução destes elementos. Quanto
ao artigo 173º, que trata das instalações de desenfumagem activa, ficará de fora do âmbito deste
estudo.

12
Volume livre entre o pavimento e a parte inferior da cobertura ou o tecto, delimitado lateralmente pelos planos
verticais que contêm os painéis de cantonamento e/ ou paredes. Pode ainda definir-se cantão como espaço
delimitador de propagação de fumo no interior dos edifícios (HERMÍNIO GLOSS)

80
Na secção VI do mesmo capítulo IV trata-se do controlo de fumo nas vias horizontais de evacuação
(corredores de fogos). Nestes espaços, o controlo de fumo pode ser realizado de forma passiva ou
activa. Como já foi referido, não existe em nenhum local do edifício, qualquer dispositivo de
desenfumagem activa, no entanto, nesta zona o controlo de fumo não é executado por qualquer meio
passivo, valendo apenas a circulação de ar ao longo destes corredores.
Na secção VII do capítulo IV desenvolvem-se algumas exigências quanto ao controlo de fumo nas
vias verticais de evacuação. Nestas, o controlo de fumo é feito por desenfumagem passiva
(clarabóia), sendo que o regulamento não permite extracção forçada de fumo nestes locais. Assim
sendo, importa analisar o artigo 179º que exige que o arejamento das vias verticais seja assegurado
por aberturas dispostas no topo e na base das vias verticais; pode considerar-se cumprido uma vez
que a clarabóia e a porta do edifício cumprem este disposto. Acrescenta-se ainda que a abertura
superior deve ser permanente, o que é cumprido pelo edifício uma vez que a clarabóia está
ligeiramente elevada relativamente à estrutura que a suporta, para permitir a circulação de ar. Limita-
2
se ainda a área da clarabóia a um mínimo de 1 m . Apesar de não ser possível precisar a área deste
elemento de iluminação e arejamento do edifício, é nítida que a área por ele ocupada é superior a 1
2
m.
Para a desenfumagem das escadas que servem pisos enterrados exige-se que estes contenham uma
grelhagem permanente com 1 m2 de área útil ao nível da saída, na parte superior da porta. Este
pressuposto é cumprido no edifício, resultando numa constante corrente de ar que é até minimizada
pelo guarda-vento.
No capítulo V do título VII são regulamentados os meios de intervenção. No primeiro artigo que o
constitui, o artigo 181º, é referido que os edifícios devem dispor de meios próprios de intervenção que
permitam a actuação imediata sobre os focos de incêndio. Distinguem-se ainda os meios de extinção
a aplicar no interior dos edifícios, entre os quais extintores portáteis e móveis, redes de incêndios
armadas 13 - meios de primeira intervenção 14 , redes secas 15 e húmidas 16 - meios de segunda
intervenção17.
O capítulo V divide-se em várias secções, a primeira das quais trata dos meios de primeira
intervenção. No primeiro ponto do artigo 182º refere-se que as utilizações-tipo I da 2ª categoria de
risco (caso de estudo) são excepções quanto à obrigatoriedade de utilização de meios portáteis e
móveis de extinção; de qualquer forma, no edifício em causa não existe qualquer tipo de dispositivo
deste género. No artigo 183º é discutida a utilização de rede de incêndios armada tipo carretel,
referindo-se no seu primeiro ponto que, as utilizações-tipo VIII (funerária) devem ser servidas por este

13
Rede de água, exclusivamente destinada ao combate a incêndios, mantida permanentemente em carga e
dotada de bocas-de-incêndio armada
14
Medida de autoprotecção que consiste na intervenção no combate a um incêndio desencadeada,
imediatamente após a sua detecção, pelos ocupantes de um edifício, recinto ou estabelecimento.
15
Tubagem fixa e rígida montada, com carácter permanente, num edifício e destinada a ser ligada ao sistema de
alimentação de água a fornecer pelo bombeiros e posta em carga no momento da utilização.
16
Tubagem fixa e rígida montada num edifício, permanentemente em carga, ligada a uma rede de água,
exclusivamente destinada ao combate a incêndios.
17
Intervenção no combate a um incêndio desencadeada, imediatamente após o alarme, pelos bombeiros ou por
equipas especializadas ao serviço do responsável de segurança de um edifício

81
tipo de instalações. O caso de estudo não respeita esta premissa. Nos artigos seguintes, 184º 185º e
186º, são descritas as condições de localização, instalação e alimentação dos dispositivos referidos.
Na secção II deste capítulo, no artigo 187º, é regulamentada a utilização de meios de segunda
intervenção, determinando-se que as utilizações-tipo I (caso de estudo) sejam servidas por redes
secas ou húmidas; esta é mais uma situação em que o edifício não respeita este novo regulamento.
Para as situações em que existam redes secas e húmidas, o artigo 188º determina as condições de
localização das bocas de piso e de alimentação, sendo que, no artigo 189º, se descrevem as
características e localização das bocas-de-incêndio. Para situações em que os edifícios tenham redes
húmidas, o regulamento determina as condições de instalação de depósito da rede de incêndios
visando o abastecimento desta mesma rede.
18
No capítulo VI desenvolve-se ao longo da secção I e II as condições dos sistemas fixos de extinção
automática de incêndios. No artigo 191º destaca-se que este tipo de sistema tem por objectivo a
extinção automática de incêndio na área por ele protegida, através da descarga automática de um
produto que pode ou não ser água. Na secção I deste capítulo são descritos este tipo de sistemas
utilizando água, referindo-se no artigo 192º algumas das situações obrigatórias de ser abrangidas por
este meio de intervenção. Ainda neste artigo, bem como no artigo 193º, descrevem-se as condições
de instalação e funcionamento destes elementos.
Na secção II trata-se dos sistemas fixos de extinção automática de incêndios por agente extintor
diferente da água, o que nos termos do novo regulamento não é exigido no edifício em estudo.
Quanto ao capítulo VII do título VII, nele trata-se de sistemas de cortina de água que o regulamento
descreve como um “sistema automático constituído por tubagens e aspersores de água que, após a
detecção de um incêndio, projecta uma lâmina contínua de água segundo um plano vertical (cortina),
isolando da penetração do fumo e das chamas dois espaços contíguos. Essa cortina deve irrigar uma
superfície (tela, vidro, metal, etc) melhorando o seu comportamento ao fogo.” Estes sistemas são
considerados complementares dos elementos de construção, com o objectivo de melhorar a
resistência ao fogo destes. Considera-se fundamental a sua instalação em fachadas cortina
envidraçadas.
No capítulo VIII são regulamentados os dispositivos de controlo de poluição de ar. No artigo 199º
realçam-se os critérios gerais, destacando que estes devem condicionar o teor de monóxido de
carbono ou outros gases que se considerem nocivos aos habitantes do imóvel. No artigo 200º
definem-se os casos em que é obrigatória a utilização destes sistemas, sendo que em nenhum deles
se inclui qualquer das utilizações-tipo existentes no caso de estudo.
No capítulo IX desenvolvem-se as condições dos sistemas de detecção automática de gás
combustível. Segundo o artigo 203º, para as utilizações-tipo I e VIII, existentes no caso de estudo,
não se exige a instalação deste tipo de dispositivos.
No capítulo X são descritas as condições de drenagem de águas residuais resultantes da extinção de
incêndios, instalações essas, não sendo obrigatórias, não se encontram no edifício em estudo.

18
Sistema fixo constituído por uma reserva adequada de agente extintor ligada permanentemente a um ou mais
difusores fixos, pelos quais é projectado, manual ou automaticamente, o agente extintor para a extinção de um
incêndio.

82
No capítulo XI regulamentam-se os postos de segurança, locais que o regulamento define como
“local, permanentemente vigiado, dum edifício onde é possível controlar todos os sistemas de
vigilância e de segurança, os meios de alerta e de comunicação interna, bem como os comandos a
accionar em situação de emergência”. No artigo 209º não se inclui o caso de estudo nas situações
em que se obriga à instalação destes meios de intervenção.
No capítulo XII, último do título VII, são regulamentadas as instalações acessórias nas quais se
incluem pára-raios, e sinalização óptica para a aviação. Em nenhuma destas situações o caso de
estudo se encontra aquém dos regulamentos.

4.3.8. Título VIII – Condições gerais de organização e gestão da


segurança
Ao longo deste título serão descritas as condições e medidas de organização da segurança,
designadas por medidas de autoprotecção. Para situações como o caso de estudo, segundo o artigo
212º, a solução passa por agravar as medidas compensatórias de autoprotecção constantes neste
título. Desta forma, será possível minorar a carência de equipamentos ou sistemas de segurança.
No artigo 213º nomeia-se o responsável pela segurança dos edifícios consoante as utilizações-tipo
que nele funcionam; assim, para utilizações-tipo I será o proprietário ou administração do condomínio
(senhorio), sendo que para as utilizações-tipo VIII, será a entidade exploradora da utilização-tipo
(funerária). No entanto, refere-se ainda neste artigo, que o responsável de segurança pode delegar
competências.
No artigo 214º exige-se um parecer prévio da entidade fiscalizadora quando se pretende alterar o uso
de algum dos espaços do edifício, sempre que se verifique aumento do efectivo, alteração da
categoria de risco, redução de número ou da largura das saídas ou vias de evacuação, alteração dos
vãos de passagem, obstrução das aberturas permanentes das vias de evacuação ao ar livro,
cedência temporária a terceiros. No artigo 215º descrevem-se as condições que os referidos
pareceres devem ser apresentados.
O artigo 216º fala sobre a execução de trabalhos, referindo que todas as operações de conservação,
manutenção, beneficiação, reparação, modificação ou alteração em edifícios que possam prejudicar a
evacuação dos utentes, devem ser efectuados fora dos períodos de funcionamento dos espaços. No
artigo 217º destaca-se o conjunto de medidas de autoprotecção a ser adoptadas, diferenciando-as
segundo preventivas e de intervenção. As medidas de autoprotecção mínimas exigíveis para cada
categoria de risco das diversas utilizações-tipo constam em anexo do RGSCIE das quais se
destacam para a 2ª categoria de risco da utilização-tipo VIII, plano de prevenção (artigo 222º),
procedimentos em caso de emergência (artigo 223º) e formação em segurança contra incêndio (artigo
225º).
No artigo 218º são descritas as instruções de segurança que o edifício deverá facultar aos seus
ocupantes. Nele é referido que estas são obrigatórias em locais de risco C, D, E e F (inexistentes no
edifício em estudo). No entanto, para situações que não as referidas, deverão ser afixadas instruções

83
simplificadas incluindo procedimentos de alarme, procedimentos de alerta e técnicas de utilização dos
meios de primeira intervenção.
O artigo 219º estipula alguns procedimentos visando uma boa organização da segurança de um
edifício não só em termos de medidas a tomar como também em termos de localização de efectivo de
segurança ou funções complementares do responsável de segurança. No artigo 220º e 221º
argumentam-se quais as condições a respeitar pelos registos de segurança (a executar pelo
responsável pela segurança) e pelos procedimentos de prevenção. No artigo 221º referem-se
algumas das boas regras de exploração que devem ser garantidas, entre as quais a acessibilidade
dos meios de socorro aos espaços da utilização-tipo (não cumprido), acessibilidade dos veículos de
socorro dos bombeiros aos meios de abastecimento de água (cumprido), praticabilidade dos
caminhos de evacuação (cumprido), eficácia da estabilidade ao fogo e dos meios de
compartimentação, isolamento e protecção (não cumprido), acessibilidade aos meios de alarme e de
intervenção em caso de emergência (não cumprido), vigilância dos espaços, em especial os de maior
risco de incêndio (não cumprido).
O artigo 222º refere-se ao plano de prevenção 19 dos edifícios, sendo que o edifício em estudo,
nomeadamente a funerária, terá que ser abrangida por este tipo de plano. Neste artigo determina-se
aquilo que nele deve constar, abrangendo a sua análise mais no plano burocrático. O artigo 223º
destaca alguns dos procedimentos a ter em caso de emergência, situação que terá de abranger
igualmente a funerária do edifício. O artigo 224º reporta-se também à funerária do edifício, sendo que
o seu principal objectivo será sistematizar a evacuação do edifício e limitar a propagação e
consequência dos incêndios. Ao longo deste mesmo artigo são abrangidas algumas premissas a ter
em conta na organização deste documento.
O artigo 225º destaca quais as entidades que deverão possuir formação no domínio da segurança
contra incêndio, entre as quais importa destacar os elementos com atribuições nas actividades de
autoprotecção (responsável pela segurança).
O artigo 226º destaca os exercícios de simulação, incluindo-se a funerária no lote de locais que
devem ser alvo deste tipo de procedimentos. Este tipo de exercício possibilita que sejam observados
alguns parâmetros entre os quais a resposta dos ocupantes dos espaços em situação de emergência.

19
Documento no qual estão indicados a organização e os procedimentos a adoptar, por uma entidade, para
evitar a ocorrência de incêndios e para garantir a manutenção do nível de segurança decorrente das medidas de
autoprotecção adoptadas e a preparação para fazer face a situações de emergência.

84
4.3.9. Título IX – Condições específicas das utilizações-tipo
O último dos títulos do RGSCIE fala das várias condições a que devem estar sujeitas as diferentes
utilizações-tipo. Tendo em conta que está a ser feita uma análise deste regulamento em comparação
com o edifício da Avenida Luís Bivar, apenas serão estudados os capítulos I e VI, que tratam
respectivamente das utilizações-tipo I e VIII.
No artigo 227º regulamenta-se que em fogos de habitação multifamiliar (caso de estudo) não é
permitida a existência de quartos de dormir abaixo do piso de saída - sendo esta situação respeitada
pelo regulamento. O artigo 228º define as condições das arrecadações, alertando para que nestas se
proíbam o armazenamento de produtos combustíveis, justamente para evitar o alastramento ou
surgimento de focos de incêndio. Refere-se ainda que estes espaços devem constituir um
compartimento corta-fogo - o que não é cumprido. O caminho de evacuação destes espaços exige-se
que seja no mínimo 1 UP de largura (0,9 m), o que é respeitado nas escadas de acesso às caves. No
ponto 12 deste mesmo artigo exige-se que as paredes e tectos sejam, no mínimo, da classe de
reacção ao fogo A2-s1 d0 e os do piso da classe BFL-s2. Sendo que as paredes e tectos são
revestidos a estuque (classe M0) esta premissa é respeitada. No caso do chão, composto por soalho
de madeira, semelhante à reacção dos tacos de madeira (M3), segundo as equivalências disponíveis
em anexo do RGSCIE, estará abaixo das exigências. A desenfumagem e ventilação pode considerar-
se eficaz se efectuada por meios passivos (aberturas para o exterior) desde que com áreas
superiores a 0,2 m2 (cumprido pelo edifício, com janelas de 0,5 m2 na fachada principal). O ponto 14,
tal como já foi referido anteriormente, não é cumprido; este exige que os núcleos de arrecadações
possuam iluminação de emergência, sinalização, sistema de alarme da configuração 2 (Quadro 4.34)
e extintores.
O artigo 229º e 230º falam de situações que não estão presentes no edifício: salas de condomínio e
estacionamentos cobertos, respectivamente; assim, não se fará qualquer tipo de comentário a estes
artigos. No artigo 232º exige-se que as vias de evacuação que sirvam exclusivamente espaços
afectos à utilização-tipo I devem ter 1,2 m (com excepção das vias interiores das habitações). Pode
interpretar-se estes espaços como os patins das escadas de acesso às habitações que têm 1,3 m,
cumprindo assim o que é regulamentado.
O capítulo VI faz abranger os seus artigos nas utilizações-tipo VIII. No entanto, o âmbito dos artigos
278º a 282º situa-se nas gares subterrâneas, situação na qual a funerária do edifício não se
enquadra. O artigo 283º limita as áreas dos compartimentos corta-fogo que as áreas de utilizações-
tipo VIII integram. Os restantes artigos que compõem este capítulo, nada acrescentam àquilo que
havia sido verificado ao longo do regulamento para a utilização-tipo que existe no edifício em estudo.
Além disso, outros artigos que integram este mesmo capítulo VI falam de situações que não dizem
respeito à funerária, casos de gares de embarque.

85
5. Propostas de reabilitação face às novas exigências
regulamentares
Após a análise dos novos regulamentos da construção seguem-se as propostas para fazer cumprir os
artigos que neste momento não são respeitados. Umas vezes será impossível fazer algo para que o
edifício cumpra os novos regulamentos, outras serão feitas propostas que nem sempre serão viáveis
economicamente, mas que como propostas, pretendem sugerir formas de os regulamentos serem
seguidos.
As propostas serão apresentadas segundo a ordem dos artigos que não são cumpridos.

5.1. Regulamento Geral das Edificações Urbanas – RGEU


Após a análise de todos os títulos do Regulamento Geral das Edificações Urbanas, seguem-se
algumas propostas para fazer cumprir as exigências deste disposto. De uma forma geral, as
alterações a artigos que não foram verificados incidem sobretudo nos Títulos II e III. O ponto de
partida para todas as propostas foi a análise de todos os artigos e tendo como base de apoio a planta
de todos os pisos, tomando sempre especial atenção às pequenas diferenças existentes entre as
habitações. A base de intervenção procura melhorar os aspectos que não são cumpridos à luz do
regulamento, tendo sempre em conta os princípios em que o RGEU se fundamenta - melhoria das
condições de habitabilidade. Importa ainda acrescentar que apenas serão apresentadas propostas
incidindo nos artigos que não são cumpridos pelo edifício em estudo, deixando para o fim possíveis
conclusões sobre a boa análise que o RGEU permite ou não fazer.
Iniciando esta pesquisa pelo artigo 31º do Título II, é possível agir tendo em vista o melhoramento das
condições do edifício. Para satisfazer aquilo que é exigido nesta fase do RGEU, terá de revestir-se as
casas de banho e as cozinhas com materiais impermeáveis, até, pelo menos, à altura de 1,50 m.
Hoje em dia existem múltiplas soluções para evitar o desgaste das paredes, sem que estas sejam
sobrecarregadas em termos de peso.
Para a situação em que não são verificadas as dimensões mínimas dos vigamentos de madeira dos
pavimentos, propõe-se que, para efeitos de regulamento, sejam reforçadas as vigas do último piso.
Hoje em dia, apesar de não ter sido possível visitar as habitações do 5º andar, sabe-se que, alguns
dos pavimentos já cederam fruto da entrada de águas através da cobertura que se encontra em mau
estado e através da clarabóia que permite a entrada de água. Este tipo de problemas é comum
acontecerem em muitos “Gaioleiros”.
Sobre a segurança do edifício, é notório em qualquer visita, o mau estado de conservação da
cobertura, propõe-se assim uma intervenção integrada com a estrutura existente. Para que seja
possível terminar com as infiltrações, propõe-se a instalação de uma sub-telha de material fibro-
betuminoso, permitindo a impermeabilização da cobertura. Estas placas são extremamente leves,
não acrescentando peso substancial à estrutura, tornando-se a melhor solução para este tipo de
problemas. O facto de ser aplicada sobre a estrutura de vigas pré-existentes facilita o processo de
instalação, exigindo apenas que seja averiguada a estrutura das vigas e possível existência de
deformações (podendo ser necessário proceder a algum tipo de reforço). De qualquer das formas

86
este tipo de aplicação pode justamente ser aplicada em estruturas com deformações importantes,
criando através destas placas uma superfície lisa sobre a qual sejam aplicadas as telhas.
Outra das vantagens tem a ver com o possível reaproveitamento das telhas já utilizadas (desde que
estejam em boas condições). A colocação das telhas é igualmente fácil, não exigindo técnicas ou
materiais especiais, sendo que sobre a sub-telha são colocadas ripas de PVC dispostas
paralelamente ao beirado e que permitirá sobre elas colocar as telhas Marselha, servindo ainda como
travamento destas (Figura 5.1). Entre as telhas e a sub-telha irá ser criada uma zona de ventilação
que limitará o aparecimento de fungos, bolores e condensações.

Figura 5.1 - Pormenor da aplicação da sub-telha. Fonte: www.cm-coimbra.pt

Para a fixação das placas de sub-telha, devem ser utilizados pregos galvanizados, sendo que para a
sua colocação deve começar-se sempre pela parte inferior da cobertura e do lado oposto ao vento
dominante. De referir que, em situações em que as telhas se partam, a impermeabilização é
garantida por este elemento.
Em consulta ao site oficial de um distribuidor deste tipo de material, preconiza-se a seguinte solução:
Placas de SubTelha ref.ª 50 para utilização com telha lusa, marselha, betão ou romana
Comprimento 2020mm
Área útil 1,95m2
Largura 1050mm
Peso 3kg/m2
Altura (onda) 24mm [22 ondas]
Composição Fibro-betuminoso
Face superior: vermelho e com a marca d'água Onduline;
Cores
Face inferior: negro
Quadro 5.1 - Características técnicas da sub-telha proposta. Fonte: www.onduline.pt

Importa ainda referir que hoje em dia já existem soluções para melhorar as condições térmicas e
acústicas da cobertura; painéis de fibra de madeira ou painéis de aglomerados de partículas de
madeira orientadas.
No artigo 46º regista-se o incumprimento do ponto quatro e seis. Estes dizem respeito à largura dos
lanços de escadas e à largura dos patamares para onde abrem as portas de acesso às habitações.
Tendo em conta que no artigo seguinte exige-se um espaço vazio de largura não inferior a 40 cm,
neste edifício é possível proceder a algumas alterações fazendo uso deste mesmo espaço para fazer

87
cumprir o artigo 46º. Relativamente à largura do patamar de acesso às habitações, não é viável
proceder ao aumento deste espaço dado que isso implicaria pôr em causa o espelho e cobertor dos
degraus da escada. Ainda assim, os 130 cm situam-se apenas 10 cm abaixo do regulamentar, não
implicando riscos sérios de habitabilidade desta zona. Apresenta-se na Figura 5.2 um esquema de
uma possível solução para a incompatibilidade que o edifício apresenta com o regulamento.

Figura 5.2 - Pormenor da proposta de intervenção nas escadas interiores para fazer cumprir o artigo
46º.

Esta solução proposta implica algumas alterações profundas nas escadas com um alargamento de 5
cm em cada lanço para fazer cumprir o regulamento. Importa referir que a actual situação deste
elemento não acarreta problemas de espaço e funcionalidade para os habitantes.
Ainda relativamente às escadas, propõe-se a substituição da actual clarabóia tendo em conta o seu
estado de degradação já avançado, provocando sucessivos problemas de infiltrações directas das
águas pluviais. O artigo 47º exige que as escadas sejam iluminadas por meio de clarabóia provida de
ventiladores, assim sendo, será urgente a substituição dos vidros e eventual reformulação da
estrutura metálica que compõe a clarabóia.
No artigo 50º apesar de se exigir um elevador, é possível observar pela Figura 5.2, que o espaço
existente na caixa de escada é insuficiente para proceder à instalação deste equipamento. Qualquer
alteração que fosse feita às dimensões das escadas para poder incorporar um elevador, iria pôr em
causa as dimensões mínimas a que os degraus estão sujeitos. Além disso, qualquer proposta para
fazer cumprir este artigo, iria acarretar elevados custos e consequências estruturais que teriam de ser
muito bem estudadas. Alguma bibliografia aponta para a instalação de elevador no saguão ou mesmo
no espaço das arrecadações. No caso da localização no saguão lateral, seria uma boa oportunidade
para reforçar estruturalmente uma zona debilitada, mas que por outro lado seria de difícil execução.
Ainda para mais, acabaria com uma zona que, à luz do regulamento, serve como ventilação e
iluminação dos espaços interiores dos fogos (quartos e casa de banho). A outra solução possível diz

88
respeito à criação de uma caixa de elevador fazendo uso do espaço actualmente utilizado como
arrecadação.
A proposta de intervenção, além de ser das mais importantes no conjunto que será analisado, será
também a mais complexa e de mais difícil articulação entre os regulamentos. Desta forma, a
incorporação do elevador será analisada ao pormenor em 5.3, em conjunto com o RGSCIE. Além do
mais, será importante integrar o seu estudo nas verificações desse regulamento.
A proposta de incorporação de um elevador neste edifício foi uma decisão que teve em conta não só
o cumprimento do RGEU (exige apenas um ascensor com capacidade para 4 pessoas), mas também
levou a outras questões que hoje em dia são cada vez mais estudadas, a mobilidade condicionada.
O modelo de elevador proposto não é suficientemente espaçoso para que seja possível o transporte
de cadeiras de rodas (ver 5.3), assim, foi acrescentada outra possibilidade a este estudo, e que tem a
ver com a incorporação de uma cadeira-elevador de escadas.
Através de uma consulta do mercado, foi possível obter alguma informação. A instalação de um
elevador de escadas permite transportar os inquilinos com mobilidade condicionada,
complementando a utilização de elevador que não é possível a estes utentes por razões de espaço.
Nesta consulta de mercado foi possível auferir que, para um edifício semelhante ao caso de estudo e
com o mesmo número de pisos elevados, o valor orçamentado varia entre os 20.475€ e 24.150€
(com IVA de 5% incluído). Através desta solução é possível aos utentes aceder a qualquer piso do
imóvel, vendo possível a integração neste prédio sem recurso ao elevador.
Tendo em conta que no edifício em estudo existe um lanço de escadas a direito que liga a porta do
imóvel ao patamar de acesso às habitações do rés-do-chão, propõe-se a incorporação neste troço de
uma cadeira-elevador para escadas a direito, modelo Hiro 150. Este dispositivo é possível instalar
pela parte interior ou exterior do lanço de escada. Apresentam-se as suas principais características:
Cadeira-elevador de escadas HIRO 150
Largura do assento [mm] 460
Largura total [mm] 566
Aberta 708
Ocupação da escada [mm]
Fechada 343
Capacidade [kg] 135
Inclinação Até 45º
Velocidade [m/s] 0,1
Largura mínima da escada [mm] 700
Espaço mínimo de aterragem [mm] 533
Quadro 5.2 - Características técnicas da cadeira-elevador proposta. A largura total do assento inclui
o utilizador.

As escadas que fazem a ligação entre a entrada do prédio e o primeiro patamar de acesso às
habitações têm 1,40 m de largura; assim, na pior das hipóteses, quando este elevador estiver em
funcionamento, sobrarão 69 cm para que os restantes habitantes possam circular. Esta solução irá
contra as larguras definidas no RGEU no artigo 46º que obriga a que a largura dos lanços de escadas
seja, no mínimo, 1,20 m. Este tipo de considerações poderão abranger-se a outros “Gaioleiros”, uma
vez que a entrada do caso de estudo é considerada ampla se enquadrada no conjunto do edificado
da época.

89
Sobre a velocidade de 0,1 m/s, importa assinalar que será possível percorrer o primeiro conjunto de
escadas (2,57 m), em 25 segundos. Esta deslocação executa-se ao longo de uma calha que é
instalada ao longo das escadas e que as empresas especializadas neste tipo de serviço incluem no
seu preço total de instalação do produto. A Figura 5.3 demonstra a amarelo a área ocupada pelo
acessório de transporte na altura de funcionamento.

Figura 5.3 - Esquema elucidativo relativamente Figura 5.4 - Intervenção semelhante àquela
à ocupação da cadeira-elevador. que é proposta para o caso de estudo.

Para as restantes escadas do edifício, estas consideram-se como escadas em curva, e propõe-se a
sua instalação pelo interior, daí que o modelo a instalar será o HIRO 160 cujas características
apresentam-se de seguida:
Cadeira-elevador de escadas HIRO 160
Largura do assento [mm] 460
Largura total [mm] 575
Ocupação da Aberta 770
escada [mm] Fechada 417
Capacidade [kg] 135
Inclinação Até 60
Velocidade [m/s] 0,1
Largura mínima da escada [mm] 755
Espaço mínimo de aterragem [mm] 500
Quadro 5.3 - Características técnicas da Figura 5.5 - Intervenção semelhante àquela
cadeira-elevador proposta para o caso de que é proposta para o caso de estudo.
estudo.

90
Para entender quais serão as consequências desta intervenção nas restantes escadas, apresenta-se
de seguida um esquema elucidativo:

Figura 5.6 - Esquema relativo à ocupação da cadeira-elevador na escada do edifício em estudo.

Os patins intermédios das escadas ficarão mais limitados em termos de espaço, no entanto, o bom
senso terá de imperar respeitando sempre a prioridade da cadeira-elevador. O percurso deste
elemento será mais lento, dado que nas escadas que ligam o rés-do-chão ao último piso terão 10
degraus por lanço. Desta forma, cada lanço de escadas, numa distância de 2,96 m, será percorrido
em 30 segundos. Este tipo de sistema oferece autonomia de uma hora quando houver interrupções
no abastecimento de corrente eléctrica através das suas baterias.
O sistema de transporte de pessoas com mobilidade condicionada trará não só problemas de espaço
ao edifício, como irá ainda aumentar substancialmente os custos da intervenção. Acrescente-se que
este será um complemento ao elevador e nunca poderá ser vista como uma solução única, dado que
hoje em dia estes equipamentos continuam a exigir algum investimento e dificuldades de
incorporação nos edifícios.
Relativamente ao título III também são necessárias alterações para que se cumpra o regulamento em
análise. Em primeiro lugar convém analisar o artigo 68º que trata das condições a que devem estar
sujeitas as habitações no que diz respeito às instalações sanitárias. Este refere que deve haver duas
casas de banho com acesso independente. Assim sendo, propõe-se que alguns compartimentos
mudem a sua utilização, bem como outros sejam eliminados. Assim sendo, a sala de engomados e
rouparia passará a ser uma casa de banho e a arrecadação passará a ser usada como arrecadação
ou engomadoria (contabilizando a sua área para o suplemento de área obrigatório referido no artigo
66º).

91
A sala de engomados e rouparia, com 5,13 m2, é excessivo, além disso a necessidade de outra casa
de banho pode ser correspondida neste espaço. A localização junto ao saguão deste compartimento
faz com que as instalações técnicas sejam mais fáceis de instalar, podendo usufruir do espaço deste
pátio para fazer passar as tubagens das águas residuais.
Sendo este espaço contíguo com o saguão torna-se mais fácil montar uma coluna das instalações de
águas residuais independente e pelo exterior da habitação, tendo como fim abastecer todos os pisos.
Este espaço criará uma casa de banho com boa área útil e com capacidade de incorporar todos os
equipamentos necessários ao bom funcionamento desta divisão. Com esta alteração fazer-se-á
cumprir o disposto no artigo 68º e artigo 66º. Assim sendo, o suplemento de área obrigatório
continuará a ser cumprido através desta alteração espacial das habitações. No Quadro 5.4
apresenta-se um resumo das principais alterações de espaços dos fogos ao longo do edifício:
Habitações Actuais compartimentos Compartimentos propostos
Arrecadação Elevador
Esquerdo
Engomados e rouparia Casa de banho 2
R/C
Arrecadação Arrecadação ou engomadoria
Direito
Engomados e rouparia Casa de banho 2
Arrecadação Elevador
Direito
Pisos Engomados e rouparia Casa de banho 2
elevados Arrecadação Arrecadação ou engomadoria
Esquerdo
Engomados e rouparia Casa de banho 2
Quadro 5.4 - Proposta de alteração do uso dos compartimentos de acordo com o RGEU.

Tal como o quadro anterior demonstra, haverá em todos os pisos um fogo que não terá arrecadação,
sendo que, no outro dos fogos, essa divisão será mantida podendo ser usada como arrecadação ou
engomadoria (também designada como sala de engomados e rouparia). De acrescentar que a
designação “casa de banho 2” será para distinguir esta da actual instalação sanitária denominada de
“casa de banho 1”.
Quanto ao suplemento de área obrigatório que o artigo 66º exige, é distribuído pelos fogos em
detrimento dos impactos do elevador. De qualquer forma, em todas as habitações o mínimo
regulamentar de 8 m2 é respeitado.
Suplemento de área obrigatório
2 Área mínima
Habitações Compartimentos propostos Área [m ] 2 Verifica
regulamentar [m ]
Despensa 2,73
Esquerdo 8,41 Sim
Marquise 5,68
R/C Despensa 2,73
Direito Marquise 5,68 15,16 Sim
Arrecadação ou engomadoria 6,75
8,00
Despensa 2,73
Direito 8,41 Sim
Marquise 5,68
Pisos
Despensa 2,73
elevados
Esquerdo Marquise 5,68 15,16 Sim
Arrecadação ou engomadoria 6,75
Quadro 5.5 - Verificação do cumprimento do espaço reservado ao "suplemento de área obrigatório"
após a proposta de intervenção.

92
Tendo em conta as alterações propostas, importa confirmar se aquilo que está referido no artigo 67º
continua a ser cumprido e que diz respeito às áreas brutas mínimas.
Tipologia T4
2
Habitação Área bruta mínima regulamentar [m2] Área bruta [m ] Verifica
Rés-do-Chão esquerdo 184,65 Sim
Rés-do-Chão direito 164,70 Sim
105
Pisos elevados esquerdo 155,25 Sim
Pisos elevados direito 169,39 Sim
Quadro 5.6 - Verificação das áreas brutas mínimas das habitações após as alterações propostas.

Para comprovar o cumprimento do artigo 68º, apresenta-se no Quadro 5.7 a distribuição das áreas e
equipamentos das instalações sanitárias:
Área mínima das instalações sanitárias
Área mínima
Actuais Compartimentos 2
Equipamento Área [m ] regulamentar Verifica
compartimentos propostos 2
[m ]
Bacia de retrete
Banheira
Casa de banho Casa de banho 1 Chuveiro 7,29
Bidé
Lavatório 12,42 4,50 Sim
Bacia de retrete
Engomados e Chuveiro
Casa de banho 2 5,13
rouparia Bidé
Lavatório
Quadro 5.7 - Verificação da área mínima regulamentar das instalações sanitárias após a intervenção
proposta.

No Quadro 5.7 é possível atestar que a proposta apresentada não só melhora a habitabilidade dos
fogos como também possibilita o cumprimento do RGEU. A habitação será abastecida por duas
casas de banho com todos os aparelhos necessários, com áreas razoáveis, permitindo assim melhor
adequação às necessidades actuais (fazendo cumprir igualmente o artigo 84º que trata dos
equipamentos das instalações sanitárias). Ainda sobre as instalações sanitárias, é de acrescentar
que o pequeno compartimento existente a tardoz, e que pode ser utilizado como casa de banho, deve
ser abolido. Não apenas pela má localização dentro do fogo, mas também pela reduzida área que
incompatibiliza qualquer utilização que não a actual lavandaria. Estes tipos de elementos repetem-se
nos edifícios “Gaioleiros”. Assim aumentar-se-á a área da marquise. Com esta alteração a área da
2
marquise passará a ser de 5,68 m . Com este aumento, o regulamento continua a ser cumprido,
atente-se no seguinte quadro:
Compartimento Área [m2] 1/5 Área [m2] Área dos vãos [m2] Verifica
Cozinha 8,00 1,60 3,22 Sim
Quadro 5.8 - Verificação da área dos vãos da cozinha após a intervenção proposta.

93
O artigo 71º refere algumas exigências para as marquises. A alínea b) deste artigo não é cumprida
pela dimensão insuficiente dos vãos das cozinhas. Propõe-se assim o alargamento dos actuais 1,00
2
m para 1,30 m, fazendo com que esta área respeite os mínimos 3 m . Observe-se o Quadro 5.9:
Compartimento Área [m2] 1/3 Área [m2] Área envidraçado [m2] Verifica
Marquise 5,68 1,89 5,23 Sim
Quadro 5.9 - Verificação da área de envidraçado da marquise após a intervenção proposta.

2
Como é possível observar, a área dos vãos é superior aos mínimos exigidos, 3 m e um quinto da
área da cozinha.
Importa ainda conferir uma solução para que a área de ventilação seja a regulamentar (igual ou maior
que metade da área total do envidraçado). Para isso, propõe-se o alargamento da zona de ventilação,
passando esta a ter um comprimento 30 cm acima dos actuais 110 cm. Regista-se no Quadro 5.10,
os resultados que atestam o cumprimento desta exigência do RGEU:
Área envidraçado 1/2 Área envidraçado Área ventilação
Compartimento Verifica
[m2] [m2] [m2]
Marquise 3,38 1,69 1,85 Sim
Quadro 5.10 - Verificação da área de ventilação relativamente ao envidraçado da marquise após a
intervenção proposta.

Como é possível observar, a área de ventilação passando para uma janela de dimensões 1,32 m x
1,40 m, em detrimento dos anteriores 1,32 m x 1,30 m, é possível fazer cumprir o regulamento. O
aumento da área deste vão possibilitará uma melhor vivência nesta área, fazendo cumprir aquilo que
o regulamento exige.
O artigo 73º alerta para questões da iluminação dos compartimentos. Já foi abordado anteriormente
qual a razão do incumprimento deste artigo; tem a ver com a escada de tardoz que impede a
iluminação total da varanda. Assim sendo, tentou-se uma solução que possibilitasse criar um vão
suficientemente grande (cumprindo o artigo 71º) e que respeitasse a distância de 2 m que o artigo 73º
refere. Isto só foi possível através de um reposicionamento da janela que permite ventilar a marquise,
esta recolocação sofreu ainda um alargamento já atrás referido. No esquema presente no Anexo I –
04 Planta Proposta RGEU – Rés-do-chão, é possível observar ao pormenor a intervenção global que
diz respeito ao cumprimento do RGEU.
Importa acrescentar que apesar das medidas tomadas, a recolocação da janela das marquises,
desviando-as para o lado do terraço, não fez cumprir o regulamento por 10 cm. Esta proposta procura
posicionar a janela o mais afastada possível das escadas de serviço, absorvendo desta forma uma
maior quantidade de luz quanto possível. Os 10 cm possibilitam o manuseamento da janela bem
como colocação ou reparação da mesma.
O artigo 87º no seu terceiro ponto alerta para a proibição de aparelhos de combustão nas instalações
sanitárias, situação que no edifício em causa não é cumprida. Desta forma terão de ser estudadas
soluções de integração na rede de abastecimento de gás. Esta é, aliás, uma carência de todos os
edifícios antigos ainda não reabilitados.
Em resposta ao artigo 97º, que trata das exigências para uma boa recolha dos lixos, é proposta uma
solução que não resolve totalmente a incompatibilidade com o regulamento; isto porque seria

94
extremamente dispendioso e problemática a sua aplicação. Para que o lixo disponha de um
compartimento facilmente acessível a todos os inquilinos, propõe-se a criação de uma pequena casa
no tardoz do edifício. Esta divisão deverá ter respiradores para proporcionar boa ventilação e evitar
acumulação de maus cheiros e ao mesmo tempo serem capazes de evitar a entrada de animais.
Dentro deste, é possível alojar dois contentores do lixo com acesso através de uma porta de 70 cm e
útil para todos os habitantes do edifício. Esta poderá ser uma solução a adoptar em situações em que
o logradouro de tardoz se mantenha. Neste caso particular, o único senão desta proposta diz respeito
ao acesso independente à via pública. Por questões de natureza estrutural, a entrada de serviço foi
bloqueada há alguns anos, assim, a única forma de criar um novo acesso seria alterando esta obra, o
que se revela problemático, não só em termos de custos como também em questões de segurança.
O seguinte esquema pretende apresentar uma possível solução. Este compartimento dispõe de uma
área útil de 1,785 m2 e o acesso, apesar de pouco espaçoso permite manobrar os contentores. Assim
sendo, para adequar o edifício a este artigo do RGEU, parece a solução possível segundo a figura
demonstra:

Figura 5.7 - Proposta de incorporação de um compartimento situado a tardoz destinado a albergar os


contentores do lixo.

Acrescente-se que esta será apenas uma proposta tende em conta o caso de estudo, que consoante
o edifício a intervir poderá ter variações ou tornar-se completamente incompatível. Para uma boa
habitabilidade nas cozinhas, o artigo 110º exige a instalação de dispositivos eficientes para
evacuação de fumos e gases e eliminação de maus cheiros. Tal como já foi referido, as actuais

95
chaminés conseguem obter bons resultados, pelo que não é obrigatória a instalação de exaustores
para garantir a ventilação forçada.
Para completar a proposta que diz respeito ao artigo 110º, poder-se-á instalar na saída da chaminé,
um exaustor estático. Este dispositivo servirá como complemento dos elementos extractores
colocados nas chaminés das cozinhas e ajudará à boa circulação dos fumos e cheiros.

5.2. Regulamento Geral das Edificações – RGE


Depois de analisado o novo Regulamento Geral das Edificações, importa ressalvar que muitos dos
seus artigos não verificados pelo edifício continuam a ser os mesmos que para o RGEU. Assim,
nesses casos, apesar de comentados, as propostas para fazer cumprir esses artigos serão remetidas
para o capítulo 5.1. que trata exactamente do regulamento que está em vigor.
Iniciando-se a análise pelo artigo 16º, em que se exige que as edificações sejam ventiladas e
iluminadas, compreender-se-á a dificuldade de cumprir este disposto para as despensas e
arrecadações, uma vez que a sua localização nos fogos é completamente interior. Além do mais,
importa assinalar que a maior parte da casa, apenas com excepção destes dois compartimentos, é
iluminada. Será complicado propor algum tipo de intervenção uma vez que estes espaços não são
compartimentos em que a boa habitabilidade é uma exigência fulcral. Tal como já foi referido
anteriormente, o edificado desta época dispunha-se espacialmente de forma a possuir maior
luminosidade nas salas e cozinha, em detrimento das arrecadações.
O artigo 19º, que trata dos pátios interiores, define que deverá existir uma saída para o exterior,
situação entretanto interrompida pelas obras de intervenção, para segurança estrutural do edifício
contíguo. A única forma de fazer cumprir o artigo seria tentar encontrar outra solução estrutural que
desimpedisse esta entrada para o edifício.
O artigo 28º é um dos casos já abordados no RGEU e que diz respeito à necessidade de existir um
compartimento destinado ao depósito de contentores. Apesar de já proposta uma solução, a novidade
do novo regulamento prende-se com a obrigação de reservar um espaço para arrecadação de
materiais de limpeza, espaço esse com 2 m2. Esse espaço poderá ser instalado a tardoz ou numa
das caves – apesar de hoje em dia todas pertencerem a particulares e não ao condomínio.
O artigo 30º relata uma situação que está descrita de forma igual no RGEU e que determina que os
patamares das escadas para onde abrem as portas de acesso às habitações tenham 1,50 m de
largura. Os 20 cm deficitários no edifício não justificarão uma intervenção de fundo, tendo em conta
que essa obra iria pôr em causa as dimensões dos degraus, que estão dentro do regulamentado; de
qualquer forma a questão das escadas propriamente dita já foi abordada uma proposta no capítulo
anterior.
O artigo 32º exige a instalação de um elevador; para rectificar esta situação a proposta de
incorporação do mesmo será explorada com mais pormenor no capítulo 5.3 do presente estudo.
O artigo 33º determina uma das grandes mudanças do novo regulamento, a necessidade de áreas
maiores no que respeita às salas. Na presente situação a sala tem 13,50 m2, sendo que o exigido é
2
de 17 m . A única forma de rectificar este artigo seria aumentando a sala na direcção do quarto, o que
iria afectar as boas condições de vivência do quarto, e, por outro lado, iria afectar a área mínima

96
desse mesmo quarto. Outra solução mais radical passaria por juntar a sala com o escritório (quarto)
nos pisos elevados, e juntar a sala com a saleta nos pisos do rés-do-chão. As tipologias passariam
então a estar distribuídas da seguinte forma:
Habitação
Habitações Tipologia actual Nova tipologia
Rés-do-Chão esquerdo T3 T2
Rés-do-Chão direito T3 T2
Pisos elevados esquerdo T3 T2
Pisos elevados direito T4 T3
Quadro 5.11 - Proposta de alteração espacial das habitações tendo de acordo com o RGE.

Relativamente às áreas, resume-se no Quadro 5.12 e Quadro 5.13 as principais alterações e


verificações necessárias de ser cumpridas:
Tipologia T2
Novos Área mínima
Compartimentos actuais 2 Área [m2] Verifica
compartimentos regulamentar [m ]
Cozinha Cozinha 6,50 8,00 Sim
Quarto Quarto 10,50 13,80 Sim
Quarto Quarto 9,00 13,80 Sim
Saleta (Quarto)
Sala 14,00 (15,00) 23,40 Sim
Sala
Tratamento de roupa WC 2,50 7,29 Sim
WC WC 4,50 5,13 Sim
Casa de Jantar Casa de Jantar 14,00 (15,00) 20,24 Sim
Quadro 5.12 - Verificação das áreas mínimas regulamentares dos compartimentos após proposta de
acordo com o RGE – Tipologia T 2

Tipologia T3
Compartimentos Novos Área mínima
Área [m2] Verifica
actuais compartimentos regulamentar [m2]
Cozinha Cozinha 6,50 8,00 Sim
Quarto Quarto 10,50 13,80 Sim
Quarto Quarto 10,50 13,80 Sim
Saleta (Quarto) Quarto 9,00 9,60 Sim
Sala Sim
Sala 16,00 (17,00) 22,82
Escritório (Quarto) Sim
Tratamento de roupa WC 2,50 7,29 Sim
WC WC 4,50 5,13 Sim
Quadro 5.13 - Verificação das áreas mínimas regulamentares dos compartimentos após proposta de
acordo com o RGE – Tipologia T 3

Como é possível observar pelos Quadro 5.12 e Quadro 5.13, as novas alterações efectuadas tendo
como base o artigo que regulamenta as áreas (artigo 33º) e o artigo que trata das instalações
sanitárias (artigo 36º), são completamente verificadas; esta é uma outra proposta de intervenção no
edifício mas tendo em conta o novo RGE. Nesta proposta já se inclui duas casas de banho e a
eliminação do espaço sanitário de tardoz. É possível estudar em pormenor esta proposta no Anexo I
– 07 Planta Proposta RGE – Pisos elevados, da presente dissertação.

97
Com as novas definições de áreas terá interesse confirmar o cumprimento do artigo 34º, nele limitam-
se as dimensões dos compartimentos:
Tipologia T2
Novos Dimensão maior (B) Dimensão
Compartimentos 2A [m] Verifica
Compartimentos [m] menor (A) [m]
Saleta (Quarto)
Sala 6,00 3,90 7,80 Sim
Sala
Quadro 5.14 - Verificação das dimensões dos compartimentos após proposta de acordo com o RGE
– Tipologias T 2

Tipologia T3
Novos Dimensão maior (B) Dimensão
Compartimentos 2A [m] Verifica
Compartimentos [m] menor (A) [m]
Sala
Sala 5,85 3,90 7,80 Sim
Escritório
Quadro 5.15 - Verificação das dimensões dos compartimentos após proposta de acordo com o RGE
– Tipologias T 3

Como é possível constatar observando Quadro 5.14 e Quadro 5.15, a proposta apresentada não
condiciona o artigo 34º.
Para que seja cumprido o ponto 1 do artigo 35º, propõe-se a instalação de um apanha-fumos na
cozinha para fins de exaustação e ventilação.
No artigo 44º determina-se que nos estabelecimentos comerciais deverá incorporar-se uma
instalação sanitária, assim, será conveniente dotar a funerária de um compartimento como este.
No artigo 60º existem problemas quanto às dimensões dos vãos de iluminação dos quartos. Para
fazer cumprir o regulamento, propõe-se o alargamento destes elementos de 0,85 m para 1,05 m.
Desta forma, a luminosidade advinda do saguão aumentará; registam-se no Quadro 5.16 os
resultados:
2 2 2
Compartimentos Área [m ] 1/8 Área [m ] Área dos vãos [m ] Verifica
Quarto 13,80 1,73 1,83 Sim
Quarto 13,80 1,73 1,83 Sim
Saleta (Quarto) 9,60 1,20 2,30 Sim
Escritório (Quarto) 8,97 1,12 2,30 Sim
Casa de jantar (Sala) 20,24 2,53 3,87 Sim
Sala 13,50 1,69 3,02 Sim
Cozinha 8,00 1,00 2,48 Sim
Quadro 5.16 - Verificação da área regulamentar dos vãos dos compartimentos.

No artigo 61º trata-se de uma situação já regulamentada no RGEU, os obstáculos à iluminação dos
vãos, e que por isso será mantida a mesma proposta de procurar desviar as janelas da marquise de
tardoz de maneira que as escadas desta zona não sejam tão prejudiciais.
O artigo 78º exige que a cobertura seja estanque, situação que hoje em dia, não sendo cumprida, já
foi proposta anteriormente neste estudo uma solução para solucionar este problema.
No artigo 111º determina-se que exista um número suficiente de pontos para alimentação eléctrica
dos aparelhos. Sabendo que hoje em dia o edifício não responde às necessidades actuais, e

98
entrando no campo do projecto de electricidade, propõe-se o estudo mais aprofundado da
possibilidade de aumentar o número de soluções neste campo.
A última situação proposta tem a ver com as inspecções periódicas que o proprietário terá que
promover ao edifício. Hoje em dia, para a totalidade dos edifícios antigos, propõe-se que estas
inspecções sejam mais regulares tendo em vista a verificação das condições do imóvel.

5.3. Regulamento Geral de Segurança Contra Incêndio em


Edifícios – RGSCIE
Tal como já foi referido nas propostas que visam o Regulamento Geral das Edificações Urbanas,
aquela que maior impacto terá na vida dos inquilinos do edifício, seria a incorporação de um elevador.
A instalação deste elemento terá assim uma serie de consequências que necessitam de ser
analisadas ao longo do RGSCIE. Desta forma, primeiramente será tratada a proposta de instalação
do elevador, seguindo-se a análise dos artigos que estarão associados à instalação deste elemento,
sendo que por último serão avaliadas algumas soluções visando o cumprimento dos restantes artigos
do RGSCIE que actualmente não são verificados.
Tal como se explica no capítulo 5.1 a incorporação do elevador será feita no lugar de uma das
arrecadações do edifício (ver Anexo I – 07 Planta Proposta RGE – Pisos elevados e Anexo I – 08
Corte A – A’). Através da consulta junto de uma empresa de montagem deste tipo de aparelhos, foi
possível encontrar uma solução que tem vindo a ser aplicada em outros “Gaioleiros”, apresentando-
se como uma tarefa possível do ponto de vista estrutural (apesar desta viabilidade não ser estudada
ao pormenor). O acesso ao elevador será feito através dos patins intermédios das escadas, o que
trará alguns efeitos negativos:
• Diminuição do espaço interior de um dos fogos do piso;
• Acesso ao elevador obrigará os utilizadores a percorrer sempre um lanço de escadas;
• Sérias alterações estruturais na zona da caixa de escadas (associadas ao custo das
mesmas).
No entanto, esta alteração possibilitará integrar o edifício nas exigências habitacionais de hoje em dia
trazendo valor ao imóvel e fazendo com que seja cumprido RGEU e RGE. Além disso, em termos de
habitabilidade, esta solução consegue ser melhor que qualquer outra principalmente por garantir a
ligação à escada.
Após a consulta de vários produtos, e verificando as situações já testadas em outros edifícios, a
solução proposta para fazer cumprir o artigo 50º é a incorporação de um elevador GeN2 Comfort da
OTIS. As grandes vantagens da utilização deste elevador são:
• Não necessita de casa das máquinas possibilitando redução de custos estruturais na
construção do edifício;
• Utilização de cintas revestidas a poliuretano em detrimento dos cabos de aço, evitando os
elevados raios de curvatura necessários para utilização desse material;
• As novas cintas de aço revestidas a poliuretano são mais leves e resultam num raio de
curvatura menor;

99
• Através da utilização de uma cinta mais flexível é possível uma máquina mais compacta;
• Montagem e instalação rápida (após a abertura do fosso que é necessário no caso de
estudo).
O modelo a ser aplicado terá as seguintes características:
OTIS GeN2 COMFORT
Capacidade Cabina [mm] Caixa [mm] Vão livre da porta [mm]
320 kg (4 pessoas) 840 x 1050 1380 x 1300 700
Quadro 5.17 - Características técnicas do elevador proposto.

Importa ressalvar que, segundo o DL 163/06, apenas o modelo de 630 kg para 8 pessoas, com
dimensões interiores de cabine de 1100 mm x 1400 mm estaria a respeitar os inquilinos com
mobilidade condicionada. Esta questão está descrita na secção 2.6. deste decreto-lei.
A solução proposta vai de encontro às possibilidades de espaço que o edifício dispõe, procurando
integrar uma solução exequível. De qualquer forma, as dimensões que uma cadeira de rodas pode vir
a ocupar serão de 1240 x 480 mm, assim, não será possível transportar este veículo no elevador.
Esta é uma solução intermédia entre aquilo que é possível e aquilo que é desejável. Mesmo assim,
será possível melhorar bastante a qualidade de vida dos inquilinos através de uma solução que tem
sido amplamente utilizada no mercado.
Existem outras recomendações que o modelo proposto comporta. O poço do elevador deverá ter
1000 mm de profundidade e instalar-se-á na cave (com pé direito de 2,50 m na zona em que o poço
do elevador será instalado). O extra-curso a ser incorporado no edifício terá a altura de 3400 mm,
medidos a partir do último patim elevado a ser servido pelo elevador. Relativamente a este extra-
curso, importa referir que estes 3,4 m serão perfeitamente ajustáveis ao edifício. A distância entre o
último patim a ser servido e a cobertura é de 3,8 m (consultar Anexo I – 08 Corte A – A’ para
complementar a informação).
Outra das indicações do fabricante, diz respeito à necessidade de haver uma ligação ao sistema de
telecomunicações do edifício (a ser utilizado em caso de emergência). Esta ligação deve ser
incorporada no quadro de manobra a ser instalado junto à porta de patamar no último piso servido
pelo elevador. Este quadro de manobra terá dimensões de 400 x 160 x 2100 mm.

100
Figura 5.8 - Esquema elucidativo da incorporação do elevador.

A instalação deste elevador terá em vista não só a melhoria da mobilidade dos habitantes mas
também uma adaptação da zona de evacuação às necessidades do regulamento actual de
segurança contra incêndio. Assim, este dispositivo será envolvido numa caixa de betão armado
criando uma câmara corta-fogo, oferecendo aos inquilinos uma zona de segurança acessível através
de uma porta instalada no patim intermédio das escadas. A espessura desta caixa de betão armado
será de 15 cm. A porta que dá acesso à câmara corta-fogo abrirá no sentido da evacuação do
edifício, tal como mostra a Figura 5.8. Ainda de referir que as portas de acesso ao elevador não são
corta-fogo, apenas pára-chamas durante 60 minutos.
A utilização do espaço actualmente ocupado por uma arrecadação de um dos pisos, possibilitará não
só a instalação do elevador mas também a criação deste espaço de segurança provisório em que os
habitantes se podem refugiar em caso de incêndio. Apesar de ser aconselhável a permanência neste
espaço durante pouco tempo, aguardando por ajuda dos bombeiros, é também verdade que numa
situação de emergência a saída imediata do elevador levará sempre a uma situação intermédia de
segurança nesta zona. Para evacuar o edifício será sempre mais complicado uma vez que as
escadas apresentam sérias limitações quanto à segurança contra incêndio, como já foi referido.
Tendo como ponto de partida a proposta apresentada para a inclusão do elevador, importa agora
analisar todos os artigos do regulamento que se referem câmaras corta-fogo ou propriamente a
elevadores.
Inicialmente, importa referir que a inclusão do elevador será extremamente importante em situações
de incêndio dada a sua condição protegida. Em casos em que a emergência não tenha origem nesta
zona, será possível classificar o elevador como meio prioritário de salvamento (designação técnica
utilizada pela ANPC). Desta forma, poderão ser salvas vidas tendo em conta que se propõe ainda a
instalação de uma fonte de energia alternativa com alimentação protegida contra incêndio. Este tipo
de solução (comum em alguns edifícios hoje em dia) é de fácil execução e permitirá, mesmo em caso
de incêndio, o funcionamento do elevador.
O artigo 33º exige que se criem no edifício o número suficiente de compartimentos corta-fogo para
albergar os seus habitantes em situação de emergência. Acrescenta-se outras funções para este
espaço tais como impedir a propagação do incêndio ou fraccionar a carga de incêndio. É justamente
neste ponto que o espaço anteriormente utilizado como arrecadação vem ajudar a cumprir este
parâmetro do regulamento, com 3,5 m2 de área útil.
Comprovando a verificação do ponto 4 do artigo 33º, o núcleo de betão com 15 cm de espessura ao
longo de toda a altura do edifício, será corta-fogo nas paredes, garantindo ainda capacidade de
suporte desta estrutura. No ponto 10 deste mesmo artigo refere-se que as caixas de elevadores
deverão constituir compartimentos corta-fogo, o que foi conseguido com esta proposta.
No artigo 37º exige-se que a área dos compartimentos corta-fogo por piso seja, no máximo, de 1600
m2; amplamente superior aos 6,2 m2 da proposta.

101
Para completar as verificações da proposta do elevador, convém analisar novamente o artigo 47º que
trata das questões de isolamento e protecção das caixas de elevador. No primeiro ponto deste artigo
determina-se o seguinte para as paredes e portas de patamar de isolamento das caixas de elevador:
Resistência ao fogo padrão mínima dos elementos da envolvente de circulações verticais
que não constituem vias de evacuação
Altura Paredes não resistentes Paredes resistentes Portas
Pequena ou média EI 30 REI 30 E 15 C
Quadro 5.18 - Resistência ao fogo padrão mínima dos elementos da envolvente de circulações
verticais que não constituem vias de evacuação. Fonte: Quadro XXXII, RGSCIE

Observando o Quadro 5.18 é possível constatar que, sendo as portas dos elevadores pára-chamas,
serão capazes de manter-se estanques a estas durante 15 minutos. Quanto às paredes, sendo
construídas em alvenaria, conseguirão ter um comportamento aceitável ao fogo durante 30 minutos.
Acrescenta-se neste mesmo artigo que as portas de patamar do elevador deverão ser de
funcionamento automático, o que será cumprido uma vez que o próprio fabricante exige que assim
seja.
O artigo 53º aborda as condições de reacção ao fogo da porta que faz a ligação entre as escadas e o
compartimento corta-fogo. Segundo aquilo que está determinado, esta deverá ser da classe EI 30
(metade do escalão de tempo exigido para as paredes do compartimento corta-fogo).
No artigo 54º exige-se que as paredes e pavimentos do compartimento corta-fogo (CCF) sejam da
classe REI 60, situação na qual se pode inserir o núcleo de betão que constitui o CCF. Além disso a
porta referida no artigo 53º deverá ser de fecho automático e estanque a chamas e gases quentes (E
30 C). No interior da câmara corta-fogo deverão existir extintores e sinalização de emergência,
indicando o caminho de evacuação, além disso estão proibidas canalizações ou lixos. No interior
deste espaço deverão ainda instalar-se meios de controlo de fumo. Por último, no ponto 6 deste
artigo exige-se que seja afixada na porta da deste compartimento sinalização referindo “câmara corta-
fogo. Manter esta porta fechada”. Estas portas, segundo o artigo 55º deverão ser mantidas fechadas
e ser fecho automático.
No artigo 59º são regulamentadas as condições dos pavimentos e paredes das câmaras corta-fogo;
resume-se de seguida essas exigências:
Reacção ao fogo mínima dos revestimentos de vias de evacuação verticais e câmaras corta-fogo
No interior de edifício
Elemento Exteriores Verifica
De pequena ou média altura
Paredes e tectos B-s3 d0 A2-s1 d0 Sim
Pavimentos CFL-s3 CFL-s1 Sim
Quadro 5.19 - Verificação da reacção ao fogo mínima dos revestimentos de vias de evacuação
verticais. Fonte: Quadro XXXIV, RGSCIE

Observando o Quadro 5.19, é possível constatar que, sendo os pavimentos, paredes e tectos da
câmara corta-fogo constituídos por betão (M0), este compartimento estará devidamente protegido em
situações de incêndio.

102
O artigo 82º trata do dimensionamento das câmaras corta-fogo, referindo que a sua área mínima
deverá ser 3 m2. A abertura da porta deste compartimento deverá funcionar no sentido da saída para
o caminho de evacuação (escadas).
A partir desta proposta de instalação do elevador será possível fazer uma nova abordagem ao
RGSCIE tendo em vista ainda os artigos que actualmente não cumpriam o regulamento. De referir
que a proposta que visa o cumprimento do RGSCIE foi integrada nas duas soluções anteriormente
apresentadas, daí que importará consultar os anexos que dizem respeito às intervenções relativas ao
RGEU e RGE.
O artigo que trata das coberturas em edifícios é o artigo 29º do título III sendo que hoje em dia o
edifício carece um acesso adequado a este elemento. No caso de necessidade de reparações ou
mesmo em situações de incêndio a passagem para esta zona deverá ser feita “a partir de circulações
verticais comuns”, ou seja, através da escada principal do edifício. Tornar-se-ia complicado estender
a escada do caso de estudo até à cobertura, por isso resta a possibilidade de realizar um acesso a
esta área através das escadas de serviço. Além de possuírem uma estrutura de betão armado -
possibilitando uma intervenção mais profunda, esta já é hoje em dia a única solução, estando no
entanto em avançado estado de degradação. O único factor que pesa nesta proposta tem a ver com
o facto de que este acesso estará sempre condicionado pela passagem por uma das habitações. No
mesmo artigo 29º, no seu ponto 5, refere-se que a cobertura deverá possuir guardas em todo o seu
perímetro, situação em nítido estado de degradação hoje em dia. Aconselha-se portanto a instalação
de guardas a toda a volta do telhado fixadas por elementos metálicos espaçados, no máximo, de 12
cm.
Para fazer cumprir o artigo 36º é necessário fazer com que as diferentes utilizações-tipo (funerária e
habitações) sejam separadas por paredes e pavimentos com resistência ao fogo padrão REI 60.
Sendo que ambos os elementos são essencialmente constituídos por madeira, será difícil fazer
cumprir este artigo. De qualquer forma existem no mercado soluções que podem minimizar o impacto
do fogo, nomeadamente as tintas intumescentes. Este tipo de revestimento garante alguma protecção
contra o fogo, sendo aplicável em superfícies interiores e exteriores. Este tipo de produto, quando
exposto ao fogo, desenvolve uma espuma termo-isolante com vários centímetros de espessura com
grande poder protector contra a deformação e perda de propriedades mecânicas. A sua reacção ao
fogo, segundo testes de acordo com as Normas Europeias, classifica-se como M1 (material não
inflamável). Importa no entanto conhecer que, para o caso de estudo, sendo que as paredes já se
encontram pintadas, deverá eliminar-se esta pintura para proceder a uma nova aplicação.
As diferentes utilizações-tipo são separadas pelo pavimento do 1º piso, assim, para minimizar os
efeitos de um possível incêndio propõe-se o revestimento dos tectos (com acabamentos em gesso)
com revestimento anti-fogo intumescente, aplicado da mesma forma que uma pintura.
Quanto às exigências do ponto 1 do artigo 37º, não será proposta qualquer intervenção, uma vez que
seria quase impossível, nas condições em que o edifício se encontra, fazer com que todos os pisos
constituíssem compartimentos corta-fogo diferentes.
No artigo 45º exige-se protecção para as vias verticais de evacuação (escada) em situações como
aquela que está em análise. Tendo em conta que para uma via de evacuação ser considerada como

103
protegida, implica que seja dotada de meios que assegurem protecção contra gases, fumo e fogo;
propõe-se a melhoria das condições de protecção dos degraus (madeira) com revestimento
intumescente, para que a sua reacção ao fogo seja melhorada. De qualquer forma, relativamente aos
sistemas de controlo de fumo, detecção e extinção de fogo serão mais à frente abordados. No artigo
59º são novamente referidas as vias de evacuação verticais, sendo que as condições dos pavimentos
continuam a ser problemáticas. No entanto, com a aplicação de um revestimento intumescente nas
escadas será possível minorar as consequências do fogo. De referir, que desta forma as escadas
passarão a ter classificação M1, sendo que o exigido pelo regulamento corresponde a uma reacção
ao fogo M2.
Quanto ao artigo 58º, aquilo que faz com que o regulamento não seja cumprido, é semelhante ao
artigo 59º - os pavimentos. Desta forma, a solução proposta é idêntica, aplicar nos pavimentos de
madeira um acabamento com material intumescente.
Com a análise do artigo 76º foi possível perceber a carência de locais protegidos no edifício. O limite
máximo de 15 m estipulado pelo RGSCIE poderá ser respeitado tendo em conta que os inquilinos
possuem, com a incorporação do elevador, um compartimento em todos os pisos com 6,2 m2 que se
considera protegido. Como já foi referido, a partir deste compartimento não será possível evacuar o
edifício, mas permanecer por alguns instantes para de seguida escapar do prédio. Desta forma o
artigo não será completamente cumprido, no entanto, estará ao dispor dos habitantes uma solução
intermédia. Seguindo a mesma lógica, o artigo 80º estipula igualmente 15 m como distância máxima a
percorrer entre as vias horizontais de evacuação e uma via de evacuação vertical. A nova solução foi
comentada para o artigo 76º e aplica-se também a este disposto. Importa ainda acrescentar que
através da solução proposta para o artigo 59º, e que diz respeito à melhoria da reacção ao fogo das
escadas, a via de evacuação vertical estará assim mais segura para os residentes, possibilitando
uma saída menos arriscada em caso de emergência.
No ponto 14 do artigo 80º determina-se que as vias horizontais de evacuação sejam protegidas com
portas estanques a chamas e gases quentes durante 30 minutos, o que poderá ser alcançado através
da substituição das portas dos fogos.
Tal como o artigo 134º regulamenta, e visando a melhoria das condições de evacuação dos
habitantes, propõe-se a instalação de iluminação de emergência para que esta possibilite a
visualização das placas indicadoras de saída. A instalação desta sinalização de segurança seria
certamente uma mais-valia nas escadas, indicando o sentido de evacuação. Ainda referente à
sinalização, deverá existir junto ao elevador um aviso referindo “não utilizar o ascensor em caso de
incêndio” - se o incêndio não se localizar nesta zona. Outra medida que seria importante implantar diz
respeito ao artigo 135º; a instalação de um sistema automático de detecção, alarme e alerta de
incêndio. Relativamente ao artigo 138º propõe-se instalar no edifício dispositivos de accionamento
manual de alarme. Estes mecanismos devem ser estabelecidos junto à saída dos pisos ou junto aos
elevadores (local sujeito a risco especial).
Visando o cumprimento do artigo 183º, propõe-se a instalação de uma rede de incêndios armada tipo
carretel que permita abastecer a utilização-tipo VIII do edifício (funerária) em situação de incêndio.

104
Tendo em conta os meios de segunda intervenção que são abordados no artigo 187º propõe-se a
instalação, em todos os pisos, de dispositivos de combate ao incêndio activos. Assim, para todos os
pisos, seria adoptada uma rede de incêndio armada tipo carretel (incluindo as arrecadações e
funerária) Propõe-se ainda a incorporação de um elemento deste género no interior da entrada do
edifício. No exterior, existe hoje em dia uma boca-de-incêndio pronta para ser abastecida pelos
bombeiros em caso de emergência.
Além destes meios que visam combater o incêndio ao longo do edifício; no interior da câmara corta-
fogo onde se aloja o elevador propõe-se a incorporação de um sistema de 2ª intervenção com um
sistema de coluna húmida, sendo que para a sua utilização basta que os bombeiros liguem as suas
mangueiras à rede.
Para seguir aquilo que é descrito no artigo 218º propõe-se a afixação nas escadas, de instruções de
segurança simplificadas, nestas incluem-se procedimentos de alarme a cumprir em caso de incêndio,
procedimentos de alerta, técnicas de utilização dos meios de primeira intervenção (RIA). De qualquer
forma, e no que respeita às medidas de segurança, é importante aumentar a fiscalização em
situações como o caso de estudo. Este tipo de medidas que visam educar os habitantes, resultam
numa diminuição de sinistros em situações de emergência.
O artigo 221º refere-se a alguns procedimentos de prevenção que se devem adoptar, entre aqueles
que não são cumpridos actualmente propõe-se, como já foi referido, a melhoria das condições de
reacção ao fogo das vias de evacuação. Além disso, os meios de alarme e intervenção, como
também já foi referido, irão permitir maior segurança aos inquilinos.
Ainda na temática da organização e gestão da segurança importa referir que seria importante a
elaboração de um plano de prevenção no qual se iria incluir as características do edifício e os
procedimentos a seguir para evitar situações de risco. Este tipo de proposta, bem como a elaboração
de um conjunto de procedimentos em caso de emergência, e a preparação de um plano de
emergência são medidas que deverão ser adoptadas pela funerária do edifício. Convém referir que
quanto aos procedimentos em caso de emergência, o artigo 223º destaca quais deverão ser as
regras a seguir pelos utilizadores da funerária em caso de detecção de alarme, as formas de
evacuação do edifício e o modo de utilização dos meios de primeira intervenção. Quanto ao plano de
emergência, nele constam uma série de determinações que deverão ser seguidas sistematicamente
em caso de incêndio. Nele incluem-se o plano de evacuação, plano de actuação, organização a
adoptar em caso de emergência.
No artigo 228º regulamenta-se as condições das arrecadações, sendo que a transformação destes
espaços em compartimentos corta-fogo seria extremamente complicado em termos construtivos,
ainda para mais em edifícios cujas fundações são sempre problemáticas. Quanto ao ponto 12 deste
artigo, verificou-se algumas carências do pavimento relativamente à sua reacção ao fogo, desta
forma, tal como nos outros pisos, e no caso das escadas, propõe-se a aplicação de revestimento
intumescente no piso para que este passe a ser da categoria M1.

105
6. Conclusões
A abordagem a este estudo tinha por base final concluir quais as principais dificuldades de adaptação
do edificado “Gaioleiro” em relação aos novos regulamentos da construção. Desta forma, seria
importante estudar os princípios deste tipo de imóveis e compreender as dificuldades de aplicação da
nova legislação da área da construção.
Para verificar de uma forma prática os regulamentos, foi feita uma pesquisa real num edifício da
Avenida Luís Bivar (caso de estudo). Após caracterizar em termos construtivos os vários elementos
que compõem esse edifício, foi importante identificar quais as acções de manutenção, substituição e
alteração que foram promovidas ao longo das décadas.
Seguidamente, nas propostas de intervenção apresentadas neste trabalho tentou-se fazer cumprir os
artigos que não eram verificados pelo caso de estudo. Estas propostas foram tendo como base um
sentido de exequibilidade, entendendo os novos regulamentos como aliados para uma boa
intervenção. Para a interpretação dos regulamentos foi necessária alguma flexibilidade de forma a
poder exercer uma comparação com o caso de estudo. A preocupação foi coordenar os artigos
passíveis de verificação, com a análise e reflexão de outros artigos que fossem importantes comentar
num estudo como este.
Numa altura em que está a ser preparado o Novo Regulamento Geral das Edificações (RGE, cuja
versão provisória foi estudada no presente trabalho), importa analisar cuidadosamente quais as
principais carências do actual Regulamento Geral das Edificações Urbanas (RGEU). Esta foi a
principal motivação do estudo deste disposto. Quanto ao novo Regulamento Geral de Segurança
Contra Incêndio em Edifícios (RGSCIE), a situação já é mais definitiva, tendo sido já aprovado o
regulamento.
Importará analisar em primeiro lugar as grandes dificuldades do edificado para se adaptar aos
regulamentos, compreendendo depois os motivos pelos quais a nova legislação não está preparada
para regulamentar os edifícios antigos.
Conclui-se que as principais dificuldades do edifício para respeitar o RGEU, não têm a ver com o
espaço disponível, uma vez que este tipo de construção tem pés-direitos generosos e
compartimentos espaçosos. As funções de manutenção foram sendo adiadas, daí que hoje dia este é
mesmo o grande inimigo, fazendo com que as premissas de estanqueidade da cobertura ou
segurança estrutural sejam descuradas. Não sendo o espaço o principal problema, a articulação e
funcionalidade deste elemento é um dos grandes desafios para modernizar este tipo de edifício. O
excesso de compartimentação, a dificuldade de integração de um elevador ou a existência de apenas
uma instalação sanitária são alguns dos parâmetros mais problemáticos. Os equipamentos são
também uma questão ainda por desenvolver no caso de estudo; simples rede de abastecimento de
gás, ar condicionado, equipamentos de extracção de fumo das cozinhas ou casas de banho são
falhas comuns. Quanto às áreas dos vãos dos compartimentos, o fogo “Gaioleiro” é normalmente
uma habitação com boa iluminação – uma vez que normalmente apenas as arrecadações não têm
luz natural.
Quanto às conclusões que o edifício nos fornece relativamente à adaptação ao novo Regulamento
Geral das Edificações (RGE), os problemas quanto às áreas já são mais comuns, sendo que as

106
falhas anteriormente referidas continuam a ser problemáticas. Assim, verificou-se que algumas das
propostas apresentadas para que o edifício passasse a ser compatível com o RGEU, seriam também
úteis para fazer cumprir o RGE. Quanto às áreas, constata-se que a saleta, interpretada segundo
uma perspectiva de quarto, não cumpre os requisitos do novo disposto, sendo que a sala, à luz da
legislação em vias de aprovação, também terá área insuficiente. Estes problemas advêm da
excessiva compartimentação e da redundante acessibilidade às diferentes divisões.
O edifício “Gaioleiro” era encarado em termos espaciais como um conjunto de compartimentos a
distribuir-se ao longo de um extenso corredor que percorria a habitação, daí que seja difícil a sua
adequação ao novo RGE uma vez que este reserva parte do seu espaço de entrada para um círculo
de diâmetro de 1,5 m, muito difícil de constituir para este tipo de edificado.
Quanto à luminosidade, o edifício apresenta défices quanto às dimensões dos vãos dos quartos.
Importa salientar que estes quartos absorvem a luz que penetra através dos saguões – actualmente
desadequado.
A carência de equipamentos continua a ser um problema face ao novo regulamento, assim como as
escadas de tardoz continuam a pecar pela ineficácia da sua função, contribuindo ainda para obstruir a
luz de penetrar nas marquises de tardoz. Neste regulamento já se exige que a cobertura do edifício
disponha de um espaço reservado para instalação de equipamentos, situação que o imóvel não
prevê. Importa acrescentar a falta de instalações técnicas que caracterizam os “Gaioleiros”; qualquer
intervenção terá de prever situações como essa.
Observando o edifício em termos de segurança contra incêndio, as principais dificuldades tendo em
vista a adaptação aos novos regulamentos nesta área, têm a ver com os acessos e vias de
evacuação, com os materiais utilizados na construção e com os meios de detecção e intervenção em
caso de emergência. Particularizando, importa observar as condições de acesso ao edifício, o acesso
à cobertura, a protecção desta para salvaguardar quedas e a protecção adequada às vias verticais e
horizontais de evacuação dos ocupantes (escadas e corredores das fracções). Quanto aos materiais,
existem carências em termos de espaços corta-fogo, deficientes isolamentos das habitações (portas
de madeira), bem como a problemática utilização deste material nas próprias escadas do imóvel. É
comum ainda observar os edifícios “Gaioleiros” entregues a um sistema de intervenção baseado na
reacção ao fogo e não na protecção do mesmo.
Ainda sobre o edifício, e analisando a sua capacidade de adaptação ao RGSCIE, importa referir a
lacuna que foi criada ao bloquear a entrada de serviço que o imóvel possuía – entrada esta que
possibilitava a evacuação em caso de emergência. Esta situação alastra-se a outros edifícios
“Gaioleiros”. Muitas das vezes, as hipóteses de manter as características do património construído
são substituídas por medidas pouco pensadas e mesmo prejudiciais em termos de segurança. Com
esta intervenção o imóvel piorou a sua capacidade de resposta em caso de emergência. Assim, terá
que haver sempre algum cuidado na hora de intervir sobre os locais de evacuação que o edifício
dispõe.
Nesta segunda fase das conclusões será analisada a capacidade da legislação estudada em
regulamentar os edifícios antigos. Começando pelo RGEU, a principal dificuldade tem a ver com a
dispersão dos artigos e regras da construção. Apesar de o regulamento se aplicar a obras de

107
alteração, não é combatido um dos grandes vazios detectados quando elaborada a proposta; a má
articulação entre os compartimentos. O actual RGEU possibilita a comunicação directa entre quartos
e sala, criando-se mesmo no edifício em estudo um “circuito fechado” entre sala, saleta, quarto e
corredor. Em termos de acessibilidade ao edifício já não existe qualquer referência às escadas de
serviço de tardoz, revelando desrespeito pela construção gaioleira.
Com o estudo efectuado analisando o futuro RGE, foi possível também compreender as carências do
RGEU em termos de dimensões dos vãos e desadequação quanto às áreas de espaços que hoje em
dia são tão valorizados, caso das salas. Sobre os quartos importa acrescentar a preocupação do
novo regulamento em definir exactamente o conceito de quarto. Sobre o espaço propriamente dito, a
situação referida como “circuito fechado” também não é combatida neste regulamento - não sendo o
caso de estudo um caso isolado. Compreende-se neste RGE a necessidade de aumentar limites
mínimos de áreas dos compartimentos como a sala e quartos, mantendo as necessidades das
cozinhas – hoje em dia espaços cada vez mais práticos.
Ainda sobre o RGE, importará analisar a preocupação de conceder um título aos artigos facilitando a
sua análise e contribuindo para a sua consulta. Já em termos de conteúdo, é de louvar a
incorporação de capítulos que abordam questões técnicas como telecomunicações. No entanto, não
são apontadas quaisquer linhas orientadoras de modo a formar os especialistas no sentido de
executar boas intervenções em edifícios antigos.
Apesar de tudo, a principal carência que se observa no novo RGE tem a ver com o carácter restritivo
que a divisão espacial dos fogos comporta – situação transitória do actual RGEU. As habitações hoje
em dia baseiam-se em princípios mais flexíveis e menos vinculadas a limites espaciais e
compartimentações. Esta ideia tem a ver com a crescente procura das habitações T0 e T1 – fruto do
aumento do número de pessoas que vivem sozinhas nos dias de hoje. Outra das novidades que veio
complementar os regulamentos da construção, diz respeito à compatibilização das exigências dos
edifícios relativamente às pessoas com mobilidade condicionada.
Por último, e ainda sobre o novo RGE, importa discutir que este regulamento carece da existência de
medidas compensatórias a ter em conta no património existente. Através destes meios seria possível
intervir sobre o parque habitacional, tentando compatibilizar aquilo que a nova legislação determina.
Estas medidas compensatórias poderiam abranger passar por uma maior flexibilidade ou possíveis
alternativas às exigências dos regulamentos.
Quanto ao novo Regulamento Geral de Segurança Contra Incêndio em Edifícios, sendo um
regulamento recentemente aprovado, será complicado apontar-lhe carências técnicas. No entanto, a
análise deste disposto irá focar essencialmente as questões relacionadas com o âmbito de aplicação.
Apesar de dedicado a obras de alteração, as edificações que se encontram consolidadas e ainda não
estejam aprovadas segundo as normas actuais, não se encontram no âmbito do regulamento. O
princípio da retroactividade não é assegurado por este disposto, uma vez que escasseiam as
soluções visando a adaptação dos edifícios. A solução para que fosse possível incluir os “Gaioleiros”
no âmbito do RGSCIE passaria por prever medidas compensatórias para atenuar as lacunas que este
tipo de edifícios possui. O regulamento não apresenta qualquer tipo de indicação no sentido de
propostas alternativas que possam vir a ser aprovadas e que se justifiquem eficazes – esta crítica

108
poderá abranger temas como medidas de prevenção, soluções construtivas de protecção das vias ou
mesmo características espaciais.
Relativamente à questão da prevenção, o regulamento identifica e exige medidas de auto-protecção.
Dentro dessas medidas, e num espírito retroactivo, exige-se um plano de prevenção (incluindo uma
série de disposições técnicas de apoio) e um plano de emergência (descrevendo os princípios e
formas de intervenção). A questão reside no facto de que, se para um plano de emergência, as
equipas poderão estar montadas e convenientemente organizadas, para pôr em prática estes
pressupostos, terão de ser salvaguardados os princípios do plano de prevenção. Aqui o regulamento
é contraditório uma vez que os princípios de adaptação ao edificado poderão ser concretizados até
certo ponto, no entanto, sem possibilidade de incorporar equipamentos exigidos, dificilmente o
RGSCIE poderá legislar convenientemente sobre este tipo de imóvel.
Por último, importará atentar na quantidade de excepções feitas às utilizações-tipo I (habitacionais);
tendo em conta os actuais procedimentos construtivos, será fácil exceptuar algumas medidas de
protecção nestes casos, no entanto, para o edificado “Gaioleiro”, deveriam ser introduzidas medidas
excepcionais para colmatar algumas lacunas – caso da exigência de extintores.

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110
Consulta de sites sem designação de autor:
• http://www.onduline.pt • http://www.uminho.pt
• http://www.thermoof.com • http://maps.google.com
• http://www.sotecnisol.pt • http://www.lnec.pt
• http://www.petaproj.pt • http://www.ipq.pt
• http://www.matesica.com • http://arquitectos.pt
• http://www.cype.pt • http://www.cm-lisboa.pt
• http://www.dre.pt • http://www.ippar.pt
• http://www.proteccaocivil.pt • http://www.cm-coimbra.pt

Legislação consultada:
• Regulamento Geral das Edificações Urbanas
• Decreto – Lei n.º445/91
• Decreto – Lei n.º555/99
• Decreto – Lei n.º177/2001
• Decreto – Lei n.º60/2007
• Decreto – Lei n.º650/75
• Decreto – Lei n.º463/85
• Decreto – Lei n.º61/93
• Regulamento Geral das Edificações
• Regulamento Geral de Segurança contra Incêndio em Edifícios
• Decreto – Lei n.º83/2007

111
8. Anexos
Anexo I – 01 Planta das fundações

8.I
Anexo I – 02 Planta Rés-do-Chão

8.II
Anexo I – 03 Planta Pisos elevados

8.III
Anexo I – 04 Planta Proposta RGEU – Rés-do-chão

8.IV
Anexo I – 05 Planta Proposta RGEU – Pisos elevados

8.V
Anexo I – 06 Planta Proposta RGE – Rés-do-chão

8.VI
Anexo I – 07 Planta Proposta RGE – Pisos elevados

8.VII
Anexo I – 08 Corte A – A’

8.VIII
Anexo II – Tabelas do anexo do Regulamento Geral de
Segurança Contra Incêndio em Edifícios (RGSCIE)

• Quadro I, Anexo VII


Valores máximos referentes à utilização-tipo I
Número de pisos ocupados pela UT I abaixo do plano de
Categoria Altura da UT I
referência
1ª 9m 1
2ª 28 m 3
3ª 50 m 5
Quadro 8.1 - Categorias de risco da utilização-tipo I (habitacionais).

• Quadro VII, Anexo VII


Valores máximos referentes à utilização-tipo VIII
Número de pisos ocupados pela UT I Efectivo da UT
Categoria Altura da UT VIII
abaixo do plano de referência VIII
1ª 9m 0 100
2ª 28 m 1 1000
3ª 50 m 2 5000
Quadro 8.2 - Categorias de risco da utilização-tipo VIII (comerciais).

• Quadro I, Anexo VIII

Classificação de Classificação segundo o sistema europeu


acordo com as Classificação complementar
especificações Classes Queda de gotas/ partículas
LNEC Produção de fumo
inflamadas
A1 - -
M0
A2 S1 d0
A2 Não exigível d0
M1
B Não exigível d0
A2
Não exigível d1
B
M2
d0
C Não exigível
d1
d0
M3 D Não exigível
d1
A2
B
Não exigível d2
C
M4
D
Ausência de classificação
E -
d2
Sem classificação F - -
Quadro 8.3 - Reacção ao fogo de produtos de construção com excepção de revestimentos de piso.
Equivalência entre o sistema europeu e a classificação de acordo com as especificações LNEC.

8.IX
Anexo III - NE EN 13501-1

Classe de reacção ao fogo de produtos de construção em geral - NE EN 13501 - 1


Produtos para os quais não é determinado o desempenho face à acção do
CLASSE F fogo ou que não podem ser classificados em nenhuma das classes A1, A2, B,
C, D, E
Produtos capazes de resistirem, durante um curto período de tempo, ao
CLASSE E ataque por uma chama de pequenas dimensões sem que ocorra uma
propagação substancial da chama.
Produtos que satisfazem os critérios da classe E e que sejam capazes de
resistir, por um período de tempo superior, ao ataque por uma chama de
pequena dimensão sem que ocorra uma propagação substancial da chama.
CLASSE D
Adicionalmente, são capazes de suportar o ataque térmico de um elemento
isolado em combustão, com uma libertação de calor suficientemente
retardada e limitada.
Tal como a classe D embora satisfazendo a requisitos mais rigorosos.
CLASSE C Adicionalmente, sob o ataque térmico de um elemento isolado em
combustão, apresentam uma propagação lateral da chama limitada.
CLASSE B Tal como a classe C embora satisfazendo a requisitos mais rigorosos.
Satisfazendo aos critérios aplicáveis à classe B no que respeita ao ensaio EN
13823. Adicionalmente, sob as condições de um incêndio completamente
CLASSE A2
desenvolvido estes produtos não contribuirão significativamente para a carga
de incêndio nem para o desenvolvimento do incêndio.
Os produtos da classe A1 não contribuirão para qualquer etapa do incêndio,
incluindo uma situação de incêndio completamente desenvolvido. Por essa
CLASSE A1
razão assume-se que estes produtos satisfazem automaticamente a todos os
requisitos de todas as classes inferiores.

Quadro 8.4 - Classe de reacção ao fogo de produtos de construção em geral.

Classificações complementares relativas à produção de fumo - NE EN 13501 - 1


s3 Não é exigida qualquer limitação à produção de fumo.
s2 A produção total de fumo, bem como a taxa de desenvolvimento do fumo são limitadas.
s1 São satisfeitos critérios mais exigentes do que os aplicáveis a s2.
Quadro 8.5 - Classificações complementares relativas à produção de fumo.

8.X
Classificações complementares relativas à libertação de partículas / gotas inflamadas - NE EN
13501 – 1
d2 Sem limitação.
Sem libertação de gotas / partículas inflamadas que persistam mais do que um dado período
d1
de tempo.
d0 Sem libertação de gotas / partículas inflamadas.
Quadro 8.6 - Classificações complementares relativas à libertação de partículas / gotas inflamadas.

8.XI

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