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ARTIGO ORIGINAL | ORIGINAL ARTICLE 95

Decisões estruturais em demandas judiciais


por medicamentos
Structural decisions in lawsuits for medication

Rafael Rezende das Chagas1, Aldo Pacheco Ferreira2, André Luiz Nicolitt1, Maria Helena Barros de
Oliveira2

DOI: 10.1590/0103-11042019S409

RESUMO A promoção da saúde pública no Brasil tem exibido montantes crescentes; e a judicialização
da saúde é um fenômeno em contínuo aumento, representando gastos extraordinários, lastreados em
decisões judiciais, refletidos em impacto orçamentário não necessariamente advindos de decisões dos
poderes Legislativo e Executivo. Nesse jaez, a forma de prestação da tutela jurisdicional também é
analisada, na busca por compreender tendências de julgamento e formas de solução de conflitos sobre
medicamentos via decisões judiciais, na realidade do Judiciário brasileiro. Para tanto, o trabalho utiliza o
método hipotético dedutivo, por meio da revisão doutrinária e jurisprudencial, além da legislativa. Com
o objetivo de apresentar uma alternativa à problemática sistêmica quanto à (não) prestação eficiente de
medicamentos e fármacos pelo Sistema Único de Saúde e o abarrotamento de ações no Poder Judiciário,
o presente artigo desenvolve, além dos comentários acerca do ativismo judicial, das demandas coletivas,
das mutações constitucionais e da ponderação de interesses, outrossim, a discussão acerca da inserção e
da utilização de decisões estruturais no ordenamento jurídico brasileiro, tendo por finalidade ofertar uma
singela contribuição aos debates sobre o aperfeiçoamento contínuo do Estado Constitucional de Direito.

PALAVRAS-CHAVE Saúde pública. Sistema Único de Saúde. Decisões judiciais. Acesso a medicamentos
essenciais e tecnologias em saúde. Direitos humanos.

ABSTRACT The promotion of public health in Brazil has shown increasing amounts; and the judicialization
of health is a phenomenon in continuous growth, representing extraordinary expenses, backed by judicial
decisions, reflected in budgetary impact not necessarily coming from decisions of the Legislative and Executive
branches. In this sense, the form of judicial protection provision is also analyzed, aiming to understand the
tendencies of trial and forms of solution of conflicts over medication via judicial sentences, in the realm of
the Brazilian Judiciary System. In order to do so, the work uses the hypothetical deductive method, through
doctrinal and jurisprudential revision, in addition to the legislative research. With the objective of presenting
an alternative to the systemic problem regarding the (non) efficiency over the supplying of drugs and medi-
1 Tribunal
cines by the Unified Health System (SUS) and the crowding of lawsuits with the Judiciary, the present article
de Justiça do
Estado do Rio de Janeiro develops, in addition to the comments on judicial activism, collective demands, constitutional changes. and
(TJRJ) – Rio de Janeiro the weighting of sentences, as well as the discussion about insertion and use of structural injunctions in the
(RJ), Brasil. Brazilian legal system, with the aim of offering a humble contribution to the debates about the continuous
rafaelrezende@tjrj.jus.br
improvement of the Constitutional State of Law.
2 Fundação Oswaldo
Cruz (Fiocruz), Escola
Nacional de Saúde
KEYWORDS Public health. Unified Health System. Judicial decisions. Access to essential medicines and
Pública Sergio Arouca health technologies. Human rights.
(Ensp), Departamento de
Direitos Humanos, Saúde
e Diversidade Cultural
(DIHS) – Rio de Janeiro
(RJ), Brasil.

Este é um artigo publicado em acesso aberto (Open Access) sob a licença Creative
Commons Attribution, que permite uso, distribuição e reprodução em qualquer
meio, sem restrições, desde que o trabalho original seja corretamente citado. SAÚDE DEBATE | RIO DE JANEIRO, V. 43, N. ESPECIAL 4, P. 95-110, DEZ 2019
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Introdução gestores públicos ao longo da história nacional


quanto o desinteresse político e humanístico, so-
Na ciência histórica e política, o Estado constitu- bretudo em relação às necessidades mais básicas
cional – em um amplo sentido formal do termo das camadas populacionais menos abastadas.
– designa um Estado no qual o poder estatal é O abismo socioeconômico produzido por
instituído e delimitado por uma Constituição. um capitalismo mal estruturado e por predo-
Em direito constitucional, o termo Estado minâncias partidárias perverteram a forma de
Constitucional, principalmente no tocante pensar o futuro da sociedade a um ponto no
ao conteúdo material de sentido hermenêu- qual as estruturas do País padecem de elevada
tico, refere-se a um certo tipo ideal do Estado desordem e desconexão com os anseios sociais.
Constitucional, em que a democracia esteja Nesse diapasão, o setor de saúde no Brasil
garantida pelo arcabouço normativo superor- apresenta-se como grande fragilidade. Muito
denado pela Constituição que, portanto, deve embora os sucessivos esforços para melho-
possuir determinado grau de rigidez, e tendo rias do Sistema Único de Saúde (SUS), como
a sua guarda e a sua interpretação asseguradas política pública de atendimento integral,
por um Tribunal Constitucional independente. universal e equânime, ele não parece estar
Além da reserva legal ordinária, que afirma devidamente equipado para atender a todas
que determinados assuntos devem ser regula- as necessidades que se apresentam. Como a
dos por lei, as disposições da lei constitucional administração pública não tem conseguido
consolidada são imperativas e supremas, o prover a prestação do direito de acesso à
que também limita a margem de discrição do saúde e ao cuidado em sua forma integral
legislador ordinário, e a reserva constitucional, e plena, essa garantia constitucional, para
fazendo que o Estado Constitucional de Direito muitos usuários, passou a ser objeto de reivin-
esteja assegurado de qualquer outra teoria dicação de positivação no Poder Judiciário.
cognitiva do direito. A atuação judicial no Brasil, especialmente
No entanto, a natureza formal das insti- na área de saúde pública, alcançou tal grau
tuições representativas tornou as regras e de protagonismo que o foro judiciário se
princípios constitucionais particularmente transformou em um dos principais espaços
adaptáveis às diferentes expressões políticas na construção das políticas públicas de saúde.
da sociedade moderna: os conceitos teóricos Entretanto, consideramos interessante
subjacentes ao pensamento de Kelsen1, por enxergar essa realidade, no sentido de que,
exemplo, ao mesmo tempo que exaltaram o ao invés da rejeição da dogmática jurídica, e
Estado como um instrumento formal do exer- da busca da justiça fora do direito positiva-
cício do poder, fortalecem o valor propiciador do, que tantos perigos encerram, parece uma
do compromisso pacífico, característico de estratégia muito mais segura e inteligente a
uma sociedade democrática multicíclica. aposta na força normativa da Constituição2
Na sociedade brasileira hodierna, a vigência como instrumento de emancipação social3.
da Constituição da República de 19882 tem al- O acesso a medicamentos essenciais como
cançado determinado grau de longevidade em parte do direito à integralidade em saúde é
comparação às suas antecessoras. Todavia, a matéria reprisada nos Tribunais do Brasil,
efetividade no cumprimento da prestação das dado o elevado grau de repetição das demandas
garantias básicas por parte da administração cujo objeto da discussão é o fornecimento de
pública tem mostrado falhas nas mais diversas medicamentos pelo SUS.
áreas de seguridade constitucional. Os frequen- A realidade constitucional contemporânea
tes descumprimentos de princípios e regras ins- no Brasil é profundamente marcada por um
culpidos na Carta Magna representam tanto protagonismo do Poder Judiciário, potencia-
a debilidade administrativo-econômica dos lizado pelo caráter analítico da Constituição

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da República2 e pela ampla aceitação pela As reiteradas condenações dos entes da


doutrina e jurisprudência dos ideais de efeti- Administração em obrigação de fazer geram
vidade propagados por aquilo que se entendeu desgaste entre os poderes, sobretudo porque as
designar por doutrina brasileira da efetividade sentenças trazem consigo efeitos secundários
ou constitucionalismo da efetividade4. que atuam diretamente na forma de organi-
A compreensão da saúde como direito fun- zação interna do SUS e no seu planejamento
damental fez com que surgisse um ativismo orçamentário.
judicial especialmente forte e com inevitável A realidade da execução judicial demonstra
característica de decisão política, criando a resistência ou incapacidade dos gestores
interpretações para os princípios e regras públicos em dar cumprimento aos anseios de
inseridos na Constituição da República2, não saúde da população, desaguando no aguardo
necessariamente coincidentes com as concep- pela tomada de decisões judiciais sobre o
ções construídas no âmbito do movimento da assunto ou, paralelamente, ao argumento
reforma sanitária no Brasil. quanto à contínua insuficiência de recursos,
Estes novos paradigmas interpretativos, que seria agravada pelo descontrole financeiro
decorrentes das mutações constitucionais, decorrente do conjunto das decisões judiciais.
trazem impactos do ponto de vista juris- Essa epopeia gera uma equação de difícil
prudencial e doutrinário aos operadores do solução, bem como práticas reiteradas cujo
direito, bem como têm o condão de modificar gargalo solucionador passa pelo Judiciário.
relações de direito público e de direito privado, A discussão acerca das decisões estruturais
na medida em que produzem mecanismos voltadas para a prestação de medicamentos
modulados de escolhas de construtos jurídicos também considera um modus operandi comum
para fundamentar sentenças judiciais. e harmônico, por meio do qual os planeja-
Assim sendo, a técnica da ponderação mentos fiscais para dotações orçamentárias
passou a figurar como uma nova forma de contariam com uma margem maior de varia-
avaliar a demanda trazida à apreciação ju- bilidade, já prevendo a aquisição de medica-
dicial, alargando a margem discricionária e mentos alienígenas à lista geral do SUS e, dessa
personalizando, caso a caso, a forma como a forma, organizando melhor a arrecadação,
tutela jurisdicional pode ser prestada, na busca a compra e a distribuição de medicamentos
pela efetivação de direitos e garantias. Dessa que, apesar de representar setor específico
forma, vários tribunais passaram a produzir da problemático jurídico-administrativa, tem
decisões acerca da prestação de medicamen- o condão de mitigar uma crise que se arrasta
tos baseadas nos imperativos constitucionais continuamente, bem como auxiliar no fortale-
garantistas de universalidade e integralidade cimento do Estado Constitucional de Direito.
em saúde pública, estendendo o entendimento
de que é possível pleitear fármacos conforme a
orientação médica específica, ainda que estes O acesso a medicamentos
não estejam glosados nas listas prévias do SUS. no panorama do SUS
As decisões caso a caso possuem, em
verdade, um marcado caráter de interesse O acesso a medicamentos pelo SUS representa:
coletivo, pois o objeto jurídico em discussão se I) a assistência farmacêutica; e II) a formulação
reprisa constantemente enquanto demanda em de políticas de medicamentos, como as duas
massa. Neste jaez, novas perspectivas acerca principais frentes de atuação e distribuição de
de procedimentos vêm sendo adotadas no or- fármacos listados. Por meio de um processo
denamento jurídico brasileiro, podendo ser participativo entre os entes da Federação, esta-
potencializadas com o advento do Código de belece-se a Política Nacional de Medicamentos
Processo Civil (CPC) 20155. (PNM), a qual se baseia nos princípios e

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diretrizes do SUS e tem por escopo nortear a a medicamentos essenciais. O relatório


ação de municípios, estados e União quanto à apontou que a melhoria no acesso a medi-
política pública de medicamentos. Entretanto, camentos existentes poderia salvar cerca de
o reconhecimento amplo e a operacionalização 10 milhões de vidas a cada ano, 4 milhões
dos princípios do SUS nas múltiplas atividades delas na África e no Sudeste Asiático. Além
desenvolvidas conta também com contradições da privação, a desigualdade bruta no acesso
e limitações à plena prestação dos direitos à a medicamentos continua a ser a caracte-
saúde constitucionalmente previstos. rística primordial da situação farmacêutica
Durante a década de 1990, o imperativo mundial, em que a média de gastos per capita
constitucional de acesso à saúde como um com medicamentos em países de alta renda
direito inalienável e condição básica da digni- é 100 vezes maior do que em países de baixa
dade humana encadeou uma série de modifica- renda: cerca de US$ 400 em comparação com
ções no sistema público de saúde do Brasil. O US$ 4 em países subdesenvolvidos.
advento da Lei Orgânica de Saúde nº 8.080/906 A OMS estima que apenas 15% da po-
organizou e ampliou as áreas de atuação do pulação mundial tenha acesso e consuma
SUS, bem como viabilizou a prestação e a assis- um montante de 90% da produção total de
tência terapêutica de forma integral7, também produtos farmacêuticos.
fazendo incluir a prestação de fármacos com Conforme aponta o relatório, as leis, po-
a consequente necessidade de formulação da líticas públicas e instituições nacionais e
política pública de medicamentos. internacionais contribuem para essas priva-
Em 1997, o Ministério da Saúde desativou a ções e desigualdades maciças. Os sistemas
Central de Medicamentos para, então, instituir nacionais de abastecimento de medicamentos
à PNM, com fulcro na Portaria nº 3.916/988, geralmente não atingem aqueles que vivem
com o escopo de assegurar a segurança, a eficá- na pobreza9. Historicamente, a pesquisa e o
cia e a qualidade dos medicamentos adquiridos desenvolvimento não abordaram as necessida-
e distribuídos, bem como a promoção do uso des prioritárias de saúde daqueles que vivem
racional e o acesso da população aos fármacos na pobreza. Todavia, apontou que arranjos
listados como essenciais. alternativos devem ser viabilizados para a con-
dução de reformas urgentemente necessárias,
considerando os imperativos legais e éticos,
Fornecimento de incluindo aqueles decorrentes dos documentos
medicamentos internacionais de direitos humanos.
Para a OMS 9, os Estados devem fazer
internacionais e a atuação tudo o que for razoavelmente possível para
da Organização Mundial da garantir que os medicamentos existentes
Saúde estejam disponíveis em quantidade suficien-
te em suas jurisdições. Por exemplo, eles
A Organização Mundial da Saúde (OMS) tem podem ter que fazer uso das flexibilidades
realizado, desde o ano 20009, consideráveis do Acordo sobre Aspectos dos Direitos de
esforços para garantir à população mundial Propriedade Intelectual Relacionados ao
o acesso a medicamentos, sendo trazidas in- Comércio, aprovando e usando a legisla-
formações alarmantes a respeito do consumo ção de licença compulsória, garantindo,
de medicamentos e das políticas de governo assim, que os medicamentos atinjam suas
para melhoria da saúde da população via jurisdições em quantidades adequadas. Os
tratamento público. Estados, portanto, são obrigados a recorrer
Os dados extraídos apresentam quase 2 a uma variedade de incentivos econômicos,
bilhões de pessoas como não tendo acesso financeiros e comerciais, a fim de influenciar

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a pesquisa e o desenvolvimento em neces- procedimentos de relatórios; III) um órgão


sidades específicas de saúde10. nacional adequado (por exemplo, um ouvidor
No contexto dos medicamentos, essa res- de saúde) que considere o grau em que os
ponsabilidade significa que nenhum Estado responsáveis pela implementação da política
rico deve encorajar um país em desenvol- nacional de medicamentos cumpriram suas
vimento a aceitar padrões de propriedade obrigações – não com vistas a sancionar e
intelectual que não levem em conta as salva- punir, mas com o intuito de estabelecer quais
guardas e flexibilidades incluídas no Acordo políticas e instituições estão funcionando e
Trips (do inglês Agreement on Trade-Related quais não estão, visando à melhoraria na rea-
Aspects of Intellectual Property Rights). Em lização do direito a medicamentos para todos.
outras palavras, os Estados desenvolvidos não A OMS9 alerta para problemas crônicos
devem encorajar um país em desenvolvimento nas compras públicas de medicamentos.
a aceitar os padrões ‘Trips-plus’ em qualquer Ser um medicamento acessível depende de
acordo comercial bilateral ou multilateral. muitos fatores, incluindo financiamento e
Todavia, devem ajudar os países em desen- preço. Existem diferentes maneiras de fi-
volvimento a estabelecer sistemas de saúde nanciar medicamentos, inclusive por meio
inclusivos, integrados e eficazes, que incluam de seguros de saúde públicos ou privados,
sistemas confiáveis de fornecimento de me- honorários de pacientes, doações, emprés-
dicamentos que ofereçam medicamentos de timos e assim por diante. Qualquer que seja
qualidade a preços acessíveis para todos e o acordo de financiamento escolhido, um
apoiem a pesquisa e o desenvolvimento nas Estado tem a obrigação de garantir que os
necessidades prioritárias de saúde dos países medicamentos sejam economicamente aces-
em desenvolvimento9. síveis a todos os consumidores.
O direito à saúde traz consigo o requisito A OMS12 também aponta que, em muitos
crucial de estabelecer mecanismos de mo- países de alta renda, mais de 70% dos medi-
nitoramento e responsabilização acessíveis, camentos são financiados com recursos pú-
transparentes e eficazes11. Aqueles com res- blicos, enquanto nos países de baixa e média
ponsabilidade de direito à saúde devem ser renda, os gastos públicos não cobrem as ne-
responsabilizados em relação ao cumprimen- cessidades básicas de consumo de fármacos
to de suas funções, com vistas a identificar para a maioria da população. Nesses países,
sucessos e dificuldades; na medida do neces- os próprios pacientes pagam de 50% a 90%
sário, políticas e outros ajustes podem ser dos custos totais em medicamentos. Quando
feitos. Existem muitas formas diferentes de o custo dos medicamentos é suportado pelos
mecanismos de monitoramento e responsabi- agregados familiares, pode empobrecer ainda
lização. Embora um Estado decida quais são mais as populações desfavorecidas e inibir o
os mais apropriados em seu caso particular, acesso equitativo aos medicamentos.
todos os mecanismos devem ser efetivos, Para os propósitos atuais, no entanto, o
acessíveis e transparentes12. que a informação de relevância trazida pelos
Uma política nacional de medicamentos estudos da OMS9 aponta é que, nos países
deve, portanto, ser submetida a monitora- desenvolvidos, a maioria dos medicamentos
mento e responsabilização apropriados13. é paga com financiamento público, enquanto
Isso exige que a política definida compre- nos países em desenvolvimento, ocorre o de-
enda: I) as obrigações de direito à saúde do sembolso privado pelas famílias. Nos países
governo em relação aos medicamentos; II) em desenvolvimento, o financiamento público
um plano de implementação que identifique inadequado no setor da saúde torna os medi-
objetivos, cronogramas, deveres e suas res- camentos menos acessíveis, especialmente
ponsabilidades, indicadores, benchmarks e para aqueles que vivem na pobreza.

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A judicialização de suas respectivas terapias na expectativa de


medicamentos não listados cura; bem como não exime o Estado de ter
que cumprir a obrigação constitucional de
O cenário nacional de fornecimento de me- acesso à saúde13.
dicamentos representa esforços para atender Apesar da existência da Portaria nº 2.98217,
às necessidades da população de modo geral, na qual está insculpida a previsibilidade de
tendo por base a PNM, como política pública dotação orçamentária para aquisição de me-
instituída e capaz de se perpetuar por meio dicamentos extraordinários à listagem glosada
dos governos, enquanto lutam contra as pres- pela Relação Nacional de Medicamentos
sões de laboratórios e mercados de fármacos Essenciais (Rename), a recorrência de nega-
em nível internacional, visando à constante tivas por parte do SUS em prestar outros me-
manutenção de estoques em disponibilida- dicamentos, principalmente os importados e
de e fácil acesso à população no âmbito do ainda não aprovados pela Agência Nacional de
SUS. Para Vasconcelos14: se o aumento do Vigilância Sanitária (Anvisa), fez com que o a
financiamento dos diferentes componentes 1ª Seção do Superior Tribunal de Justiça (STJ),
da assistência farmacêutica, paralelamente por meio do julgamento do Recurso Especial
à expansão das garantias formais de acesso nº 1.657.15618, de relatoria do Ministro Benedito
a medicamentos, reflete maior comprome- Gonçalves, fixasse a decisão como repetitiva,
timento com a busca da universalidade e da a tendo cadastrado no sistema dos repetitivos
integralidade, a estratificação por componen- sob o número 106.
tes de financiamento e a desigual evolução O sobrestamento determinou a obrigação
dos gastos por componente podem ameaçar do Poder Público em fornecer medicamen-
a equidade – isto porque o uso adequado dos tos que estão fora da lista do SUS, quando
medicamentos mais caros exige o acesso à estiverem presentes os seguintes requisi-
atenção especializada e apoio diagnóstico tos: I) a comprovação, por meio de laudo
ainda não universalizados. médico fundamentado e circunstanciado
No entanto, os princípios constitucionais expedido por médico que assiste o pacien-
que norteiam a atuação do SUS se transves- te, da imprescindibilidade ou necessidade
tem de muitas iniciativas e buscam atuar de do medicamento, assim como da ineficácia,
forma a atender à maior parte dos problemas para o tratamento da moléstia, dos fárma-
de clínicos da população de forma linear15. cos fornecidos pelo SUS; II) a incapacidade
Essa isonomia no fornecimento de medica- financeira do paciente de arcar com o custo
mentos é também causa da judicialização16 do medicamento prescrito; e III) a existência
quando o paciente não consegue acesso a de registro do medicamento na Anvisa18. Tais
tratamentos em que o governo não tem inte- critérios foram fixados com efeito ex nunc,
resse em gastar. Aliás, o subfinanciamento da para novos processos judiciais distribuídos
política pública de medicamentos é também a partir do julgamento.
um agravante capaz de comprometer a Por conseguinte, a modulação realizada
saúde do paciente, do orçamento público e pelos julgadores, tendo em conta art. 927, §3º,
do Judiciário – como gargalo dos conflitos do CPC, representa um marco na forma de
pela não prestação de medicamentos. pensar e organizar a problemática e reprisada
O caráter excepcional dos medicamentos questão dos medicamentos não inseridos nas
não listados, todavia, não excluiu o indivíduo listagens do SUS, que agora deve se preparar
necessitado de, na condição de paciente em para abarcar um novo procedimento judi-
tratamento, ter a satisfação de sua pretensão, cialmente fixado, na compra e concessão de
qual seja, a de receber o fármaco indicado medicamentos para pacientes que cumpram
pelo médico responsável pelo diagnóstico e os requisitos fixados pelo STJ.

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A busca por efetividade do juiz escolher um desses dois polos como o


da política pública de vitorioso e o outro como o perdedor, em uma
concepção bipolar da relação processual20.
medicamentos e o uso No caso do acesso à saúde mediante a
das decisões estruturais prestação de medicamentos, a complexidade
no ordenamento jurídico do tema amplifica a insuficiência da estrutu-
brasileiro ra do processo civil clássico. Nesse sentido,
Arenhart19 complementa e ilustra o raciocínio
As demandas judiciais sobre prestação de nos seguintes termos:
medicamentos e fármacos por parte da
Administração Pública representam um Pense-se em uma demanda em que certa pes-
moto-perpétuo instalado no aparelho buro- soa pretende uma cirurgia de emergência junto
crático brasileiro. Com o esgotamento das ao sistema público de saúde. Ao contrário do
alternativas de resoluções de conflitos, pelas que se pode imaginar, este (aparentemente)
vias judiciais, extrajudiciais autocomposi- inocente litígio não é apenas entre o seu direito
tivas, além das administrativas, a defasada à saúde (ou à vida) e o interesse à tutela do pa-
efetivação da saúde pública não encontra trimônio público do Estado. Ele embute em seu
vertentes de diluição das demandas ou pers- seio graves questões de políticas públicas, de
pectivas de melhoria na efetividade dos servi- alocação de recursos públicos e, ultima ratio,
ços prestados, causando um elevado grau de de determinação do próprio interesse público.
insegurança jurídica para os dependentes de Com efeito, o juiz, ao decidir essa demanda,
terapias com fármacos, bem como a descrença poderá estar, por exemplo, desalojando da
tanto no Executivo quanto no Judiciário. prioridade de cirurgias do Poder Público outro
Por esse prisma, o engessamento dos me- paciente quiçá em estado ainda mais grave do
canismos processuais capazes de solucionar que o autor. Poderá também estar retirando
as lides com a eficiência necessária e condi- recursos – dinheiro, pessoal, tempo, etc. – de
zente a garantir a dignidade humana fazem outra finalidade pública essencial. E, sem dúvi-
com que seja necessário apresentar formas da, estará sempre interferindo na gestão da po-
mais pontuais e inéditas no direito brasileiro. lítica de saúde local, talvez sem sequer saber a
Assim, a revisitação de ordenamentos jurídicos dimensão de sua decisão.
estrangeiros traz a perspectiva das decisões A questão é ainda mais grave no campo da
estruturais como alternativa viável para uma tutela coletiva. Nesse tipo de processo, pela
efetiva concretização dos valores constitucio- peculiar interferência por ele gerada no âm-
nais. A respeito da processualística brasileira, bito econômico, político, social ou cultural,
Arenhart19 tece as seguintes observações: os problemas acima vistos são amplificados.
Basta pensar no quão complexo é decidir uma
O direito processual civil brasileiro foi, todo ação coletiva que pretende o fornecimento de
ele, concebido para lidar com uma espécie medicação a todo um grupo de pacientes, a
muito bem determinada de litígios. Ele foi construção de escolas ou de hospitais, ou a
pensado para lidar com a situação típica da eliminação de certo cartel.
‘lide’, na qual se vê uma pretensão de um su-
jeito (ou grupo de sujeitos), objeto de resis- Por isso, e sendo hoje corrente a atividade
tência ou de insatisfação por outro sujeito (ou judicial voltada ao tratamento dessas questões
grupo de sujeitos)19(1). complexas, é necessário que se ofereça ao ma-
gistrado novos padrões de atuação e, sobretudo,
Sob tal perspectiva, o processo se encontra maior flexibilidade na adequação de sua decisão
flutuando entre dois extremos, sendo a missão àquilo que exija a situação concreta19(4-5).

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Por outro lado, a forma como muitas vezes Com posturas similares, Marinoni e
as ações coletivas são trabalhadas no Brasil é Mitidiero20(22) ressaltam que, para bem operar
objeto de crítica da parte de Arenhart19, que as ações coletivas, os operadores do direito
entende que: precisam se despir de velhos preconceitos (ou
‘pré-conceitos’), evitando-se o recurso
A tutela coletiva nacional não é, a rigor, uma
técnica que permite à coletividade expressar a raciocínios aplicáveis apenas à tutela indi-
sua vontade ou seus interesses. Ao contrário, vidual para solucionar questões atinentes à
o que ela faz é autorizar alguns entes a, dizen- ‘tutela coletiva’, que não é, e não pode ser,
do-se porta-voz de uma coletividade, defen- pensada sob a perspectiva da teoria da ‘ação
der os interesses desta. Essa proteção, porém, individual.
faz-se exatamente do mesmo modo como se
realiza a proteção de interesses individuais. Independentemente da perspectiva ana-
Os instrumentos processuais são os mesmos, lítica adotada, a doutrina e a jurisprudência
as técnicas são as mesmas e mesmo o pro- expostas até este momento demonstram a ne-
cedimento desenhado é, substancialmente, cessidade de reformulação da processualística
o mesmo que é empregado para a tutela de em questões de tangibilidade coletiva, com
interesses individuais em sentido estrito. E, matriz garantista constitucional.
mais grave, mesmo a dita ‘representação’ fei- Nesse jaez, as chamadas decisões estruturais
ta pelo legitimado para a tutela coletiva é mais passam à discussão como um possível caminho
aparente do que real. Com efeito, um agente para que a atividade jurisdicional possa de-
do Ministério Público, por exemplo, pelo sim- sempenhar eficazmente seu escopo, seja este
ples fato de sê-lo, está inquestionavelmente compreendido como a tutela de um direito sub-
legitimado à tutela de qualquer interesse difu- jetivo violado, a observância prática do direito
so ou coletivo e, em consequência, passa a ter objetivo ou, principalmente, a atribuição de
a prerrogativa de dizer – sem sequer ser obri- significado e aplicação aos valores constitu-
gado a consultar qualquer membro da comu- cionais, notadamente na área da saúde pública.
nidade ou da coletividade como um todo, ou
mesmo sem nem mesmo dar a oportunidade
a esses grupos ou à sociedade de manifestar- Ações coletivas e
-se previamente – aquilo que a sociedade pre- demandas repetitivas sob
cisa, deseja ou exige. Paradoxalmente, por-
tanto, o processo coletivo aliena exatamente
a perspectiva das decisões
o grupo que é protegido, na medida em que estruturais
não permite sua participação direta, mas ape-
nas autoriza a presença, no processo, dos en- A abordagem decisória estrutural se revela
tes legitimados para a tutela desses grupos. E como a via eleita alternativa trazida a comento,
faz tudo isso segundo a mesma lógica da tu- pois defendida adiante como o procedimento
tela individual, ou seja, segundo um processo de maiores possibilidades processuais e jurídi-
bipolarizado, onde necessariamente se veem co-sociais para alterar o quadro de debilidade
posições antagônicas em que uma deve pre- do sistema público de saúde no Brasil, bem
valecer sobre a outra. A lógica individualista como para contribuir para o aperfeiçoamento
do processo coletivo é tão forte que muitas da PNM, de forma a garantir a efetiva concre-
vezes sequer se percebe a submissão desse tização do direito à saúde, atribuindo-lhe seu
tipo de processo à mesma principiologia dos real significado e dando-lhe aplicação eficaz
processos individuais19(3-4). no plano prático da vida civil.
A par disso, contribui para a tutela dos

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direitos subjetivos, permitindo um eficaz ordem constitucional admita a interferên-


acesso à justiça e simplificando as discus- cia judicial nos atos dos demais Poderes,
sões que se proliferam nos tribunais onde não sendo possível imaginar a abordagem
se pleiteia a prestação individual de direitos judicial mediante decisões estruturais em
fundamentais20 de caráter social, ditos de sistemas pautados por uma rígida separa-
segunda geração. ção de Poderes, em que não se admita que o
Se não bastasse, no âmbito de atuação desses Judiciário intervenha em políticas públicas.
direitos sociais, que se caracterizam por serem No que diz respeito ao ordenamento bra-
prestacionais por parte do Estado, a aborda- sileiro, a satisfação desse requisito é eviden-
gem estrutural possibilita uma real observân- te à luz da sedimentada jurisprudência do
cia prática do direito objetivo, preservando Supremo Tribunal Federal, que admite o con-
e promovendo a autoridade do legislador trole judicial dos atos de políticas públicas,
constituinte21, como se pretende demonstrar. especialmente em atenção aos direitos funda-
A decisão estrutural, structural injunc- mentais. O próprio controle jurisdicional da
tion, é, pois, aquela que busca implantar uma constitucionalidade das leis e atos normativos,
reforma estrutural, structural reform, em um consagrado na Constituição da República, seja
ente, organização ou instituição, com o obje- pela via do controle concreto ou abstrato, con-
tivo de concretizar um direito fundamental, centrado ou difuso, faz emergir a evidência da
realizar uma determinada política pública ou opção da ordem constitucional pelo controle
resolver litígios complexos22, sendo que essa judicial dos atos do Poder Público em geral.
complexidade não é, necessariamente, aquela Tal possibilidade de intervenção judicial em
própria de teses jurídicas complexas ou de políticas públicas é hoje uma realidade dada na
situações envolvendo múltiplos fatos, mas, prática constitucional brasileira, de modo que,
sim, a complexidade decorrente da colisão nas palavras de Arenhart19, a questão ‘deixa de
de múltiplos interesses sociais. Dessa forma, centrar-se na discussão sobre a possibilidade
Didier Junior e Zaneti Junior22 apontam o dessa intervenção, passando a importar mais
conteúdo complexo da decisão estrutural, que: o debate a respeito do modo e do ambiente
em que esse tipo de conflito deve ser levado à
Normalmente, prescreve uma norma jurídica análise judicial’, concluindo ser inquestionável
de conteúdo aberto; não raro o seu preceito que o Brasil satisfaz tal requisito necessário
indica um resultado a ser alcançado – uma para se pensar em decisões estruturais.
meta, um objetivo – assumindo, por isso, A esse respeito, muito embora fuja aos
e nessa parte a estrutura deôntica de uma escopos deste trabalho, convém registrarmos
norma-princípio, com o objetivo de promover que nos filiamos à corrente filosófica que iden-
um determinado estado de coisas. Mas não tifica a garantia dos direitos fundamentais
só isso: é uma decisão que estrutura o modo mínimos como essencial para o funcionamento
como se deve alcançar esse resultado, deter- da própria democracia e para o controle social
minando condutas que precisam ser observa- das políticas públicas.
das ou evitadas para que o preceito seja aten- Nas palavras de Barcellos23, ‘o sistema de
dido e o resultado, alcançado – assumindo, diálogo democrático não tem como funcionar
por isso, e nessa parte, a estrutura deôntica adequadamente se os indivíduos não dispõem
de uma norma-regra22(426). de condições básicas de existência digna’.
A partir dessa concepção, concordamos
Para a utilização das decisões estrutu- com a autora quando ressalta a importância
rais em determinado ordenamento jurídi- do controle jurisdicional de políticas públicas
co, Arenhart19 apresenta certos requisitos, em países subdesenvolvidos ou em desenvol-
sendo necessário que: em primeiro lugar, a vimento, como o Brasil, onde ele exerce papel

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essencial para a garantia do funcionamento da da postulação. A ideia dos processos estru-


própria deliberação democrática. turais é, como visto, a de alcançar uma fina-
Feita a ressalva, um segundo requisito lidade, mediante a execução estruturada de
para a tomada de decisões estruturais pelo certas condutas. Sucede que nem sempre é
Poder Judiciário seria a sua subsidiariedade possível à parte antever todas as condutas
em relação a outras medidas mais simples, que precisam ser adotadas ou evitadas pela
devendo elas serem empregadas somente parte contrária para alcançar essa finalida-
diante da ineficácia destas últimas para a de. Muitas vezes isso somente é aferível já
adequada solução do litígio levado ao conhe- no curso do processo. Daí a necessidade de
cimento do Judiciário19. ser maleável com a regra da congruência
Com efeito, quando outras medidas mais objetiva externa22(432).
simples se mostrarem adequadas, não haveria
razão para que o Judiciário se valesse de pro- A esse respeito, a garantia dos direitos fun-
vidências estruturais, as quais se revelam de damentais mínimos como essenciais para o
maior com complexidade, implicam maior funcionamento da própria democracia e para o
custo para tal Poder e são vistas como de controle social das políticas públicas deve ser
caráter mais intrusivo na esfera dos demais considerada com grande enfoque e cautela21.
poderes. Assim, complementa Arenhart19 nos Tal perspectiva entende que sem níveis básicos
seguintes termos: de educação e informação, em condições de
miséria extrema, o controle social, democrá-
De fato, é evidente que medidas desse porte tico, das políticas públicas, que é a base lógica
implicarão um elevado custo de recursos (em adotada por aqueles que se insurgem contra
sentido amplo) do Poder Judiciário. Por isso, e a intervenção judicial em tais políticas, cer-
diante das dificuldades em se implementar e tamente não é exercido adequadamente24.
controlar decisões dessa ordem, devem elas
ficar reservadas a casos em que sejam efeti-
vamente necessárias, não tomando o lugar de As decisões estruturais
medidas mais simples, mas que possam efi- na moldura normativa do
cazmente resolver o litígio19(9).
Código de Processo Civil
A complexidade das situações que exigem
decisões estruturais não se coaduna com uma Antes da vigência do CPC de 2015, o direito
rígida interpretação do princípio da demanda, brasileiro já vislumbrava condições para a
até mesmo pela impossibilidade de o próprio superação de uma rígida interpretação do
demandante dimensionar adequadamente o princípio da demanda, identificando vários
que venha a ser necessário para a adequada dispositivos da legislação processual que in-
tutela do seu direito19. Nas palavras de Didier dicariam uma tendência de aceitação de uma
Junior e Zaneti Junior22, em casos complexos ampla relativização do princípio da demanda,
e que envolvam políticas públicas: em prol da superação de certos dogmas em que
se assentariam tal comando22, por exemplo, os
É fundamental libertar o magistrado das conteúdos dos arts. 290 e 293, os quais conside-
amarras dos pedidos das partes, uma vez que ram implícito o pedido de juros em pedidos de
a lógica que preside os processos estruturais cunho pecuniário ou as prestações vincendas,
não é a mesma que inspira os litígios indivi- bem como o art. 461 (cláusula aberta da tutela
duais, em que o julgador se põe diante de três de prestações de fazer e não fazer), todos do
caminhos a seguir, quais sejam: o deferimen- CPC de 1973, ora revogado.
to, o deferimento parcial ou o indeferimento Já sob a luz do CPC de 2015, Didier Junior

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Decisões estruturais em demandas judiciais por medicamentos 105

e Zaneti Junior22 reforçam a admissibilidade Nesse ponto, Arenhart19 ressalta que os


da flexibilização da congruência objetiva, in- limites da atuação do juiz serão dados pela
dicando que ela supõe que a interpretação do devida fundamentação da sua decisão, com
pedido ‘leve em consideração a complexidade base no escopo de efetividade do direito
do litígio estrutural’, nos precisos termos do que se pretende tutelar, legitimando de-
art. 322, §2º, do NCPC, e complementam o mocraticamente o atuar judicial, devendo
raciocínio proposto nos termos in verbis: também ser considerada a capacidade de
autocontenção do julgador, cabendo ao
O art. 493 do CPC também ajuda a compre- Supremo Tribunal Federal, enquanto Corte
ender a disciplina dos processos estruturais. Constitucional incumbida, entre outras
Ao autorizar e impor que a decisão judicial funções, traçar os próprios limites da in-
seja ajustada à realidade atual dos fatos, o tervenção judicial na esfera de atuação dos
legislador diz ao julgador que ele deve inter- demais Poderes, coibir eventuais abusos e
pretar a demanda – e, de resto, as diversas evitar a possível distorção na atuação judi-
manifestações de interesse e postulações cial por meio de decisões estruturantes, em
deduzidas ao longo do processo estrutural – respeito à separação dos poderes26.
segundo o cenário vigente ao tempo da prola- De todo modo, a acentuada intervenção
ção da decisão, flexibilizando a regra da con- judicial na atividade dos sujeitos da relação
gruência. A dinamicidade com que se altera jurídica é, inexoravelmente, uma das carac-
o cenário fático dos litígios subjacentes aos terísticas das decisões estruturais, devendo-
processos estruturais torna esse art. 493 do -se mais ao fato do seu objeto – as políticas
CPC uma ferramenta fundamental para que o públicas – do que propriamente às suas ca-
juiz, na etapa de efetivação das decisões es- racterísticas técnicas21.
truturais, corrija os rumos da tutela executiva O fato de a decisão ser estrutural não sig-
de modo a contemplar as necessidades atuais nifica, necessariamente, uma maior inter-
dos interessados22(432-433). ferência do Judiciário na seara dos demais
poderes, mas, sim, e tão somente, que tal
Muito embora persista a necessidade de forma de decidir é a mais adequada para a
superação da interpretação rígida e estrita prestação jurisdicional, visando à efetividade
do princípio da demanda, é perceptível que dos direitos fundamentais24.
essa maior liberdade dada ao julgador não Vale dizer, uma decisão que não se revista
pode significar uma total ausência de cor- das características de uma decisão estrutu-
relação entre o que é pedido e o provimento ral, embora tecnicamente mais simples, pode
judicial23. Para Arenhart19, ‘não se tolera que a representar uma intromissão tão ou mais in-
decisão judicial extrapole os limites do ilícito vasiva às competências dos demais Poderes
a ser combatido, sob pena de transformar o do que uma decisão estrutural24. Não há, ne-
magistrado no verdadeiro gestor do órgão ou cessariamente, uma correlação entre maior
do ente responsável pela conduta discutida’. interferência e decisão estrutural. O que há é
A flexibilização do princípio da demanda que o objeto da decisão estrutural – que pode
deve se dar na estrita medida necessária para ser, diga-se, o mesmo de uma decisão ‘comum’
se resguardar a efetividade da prestação ju- – representa, por si só, a ingerência do Poder
risdicional, não podendo se dar ao simples Judiciário nos outros poderes21.
capricho do magistrado23. Entender diferen- Em superação às formas tradicionais de
temente seria pôr em risco um dos pilares intervenção processual, faz-se necessário
do direito processual e da própria separação pensar em novas formas de participação dos
entre os poderes, qual seja o princípio da sujeitos do processo, diante da complexidade
inércia do Poder Judiciário25. das matérias postas sob apreciação judicial e

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do potencial atingimento de número signifi- A questão que se apresentaria, na atualida-


cativo de pessoas. Além dessa reconfiguração de, seria menos a de saber se o Poder Judiciário
da noção de contraditório, também persiste pode intervir em políticas públicas em nome
a necessidade de reformulação de elementos da realização de direitos fundamentais, ou-
como a adstrição da decisão ao pedido, a li- trossim sobre como essa intervenção deva se
mitação do debate aos contornos da causa de dar28, em termos de abrangência, efetividade
pedir, a dimensão da prova, a amplitude do e mecanismos coercitivos para exigibilidade
direito ao recurso e os limites da coisa julgada, de cumprimento das decisões, sem que as
para uma efetiva adequação do procedimento negativas de fornecimento de fármacos por
à ideia de processos estruturais. parte SUS continuem a se repetir
Na doutrina de Didier Junior e Zaneti
Junior22(36), no âmbito da implementação e
Decisões estruturais na da aplicação de políticas públicas, a comple-
vertente de judicialização xidade da matéria torna necessária a migração
de um modelo de atuação judicial meramente
da política pública de responsivo e repressivo, caracterizado por ser
medicamentos posterior aos fatos já ocorridos para aplicação
da norma jurídica, “para um modelo resolutivo
Como consequência da abertura do texto e participativo, que pode anteceder aos fatos
constitucional e da maior liberdade e impor- lesivos e resultar na construção conjunta de
tância conferidas ao julgador pela técnica soluções jurídicas adequadas”.
da ponderação de interesses, de amplíssima Tal mudança não só é compatível com as
aplicação pelos juízes e largamente reconhe- diretrizes do CPC de 2015 como se faz mesmo
cida pela doutrina como a adequada para a necessária diante da sindicabilidade judicial de
aplicação de norma jurídicas caracterizadas políticas públicas por meio de ações coletivas,
como princípios, para cuja aplicação a mera que é, como acima afirmado, “uma realidade
técnica da subsunção não se revela suficiente, consolidada no âmbito da jurisprudência”22(37).
temos um agigantamento do papel do Poder Não se trata de negar o papel e a relevância
Judiciário no espaço de decisão política. Essa do processo ‘comum’, individual, nos moldes
é, hoje, uma realidade dada, tanto à luz da tradicionais, como instrumento primordial
jurisprudência do Supremo Tribunal Federal para a garantia e promoção dos direitos fun-
quanto da própria prática política cotidiana, damentais. Há, evidentemente, espaço para
considerando-se todos os seus atores20. os provimentos jurisdicionais que advenham
No âmbito acadêmico, sob diversas óticas, os de tais demandas, ante a real possibilidade de
questionamentos acerca do ativismo judicial, lesão a um direito fundamental, a atingir um
tal como ele é praticado no Brasil, e o controle indivíduo determinado, passível, portanto, de
jurisdicional de políticas públicas represen- reparação mediante ação individual29.
tam fatos de inquestionável ocorrência19, mas Por seu turno, Didier Junior e Zaneti
não totalmente capazes de balizar decisões Junior22(40) apontam vantagens da noção ex-
e, sobretudo, de parametrizar condutas da perimentalista e das medidas estruturantes,
Administração, de forma a tornar cogentes as que permitiriam
posturas de fornecimento de medicamentos
conforme as previsões normativas27. Sob a a um só tempo o conhecimento colaborativo do
perspectiva da política pública de medica- problema pelas partes e pelo juiz (colaborative
mentos, esta também não é ampliada, dando learning) e uma maior responsabilização e legiti-
maior liberdade de solicitação e compra, ainda mação democrática (democratic accountability),
que fora da lista prévia do SUS. visando à efetivação da decisão judicial.

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Decisões estruturais em demandas judiciais por medicamentos 107

A complexidade da assistência farmacêutica máxima efetividade das normas constitucio-


passa muito ao longe da abordagem judicial nais, em especial, as veiculadoras de direitos
que se tem a partir das ações individuais. fundamentais, abre considerável espaço para
Inobstante a tal contexto, a realidade que se uma atuação política do Poder Judiciário, visto
apresenta na jurisprudência brasileira é a de que, no processo de concretização da norma,
um grande número de demandas individuais há uma razoável amplitude para a tomada de
por bens e serviços de saúde em face do Estado, decisões, que são se limitam à clássica função
com uma altíssima taxa de sucesso, de onde se de interpretação das normas.
verifica que a argumentação jurídica que serve Um dos maiores desafios da atuação judicial
de fundamento para tais decisões é, singela- para a efetivação dos direitos fundamentais
mente, a concepção da saúde como um direito diz respeito aos direitos sociais, de segunda
fundamental a justificar a satisfação de todas geração, uma vez que a sua concretização
as necessidades, combinação esta denominada quase sempre depende não apenas de um non
por Brazilian model of litigation30. facere, mas, sim, de um facere por parte do
Dessa forma, tais demandas não só apre- Estado, mediante a realização de atos materiais
sentam debilidades estruturais como também e a implementação de políticas públicas que
levantam discussões sobre a política de medi- demandam recursos materiais e humanos.
camentos, compreendendo suas dificuldades A saúde é um direito fundamental expres-
e desafios, bem como desafiando magistrados, samente previsto na Constituição brasileira
acadêmicos e doutrinadores a elaborarem de 1988, sendo que o legislador constituin-
soluções que contribuam para o seu aperfei- te, incorporando os ideais do movimento de
çoamento. Sob a égide da lógica processual é reforma sanitária brasileiro, optou pela insti-
que se almeja aquisição de maior espaço para tuição de um SUS, informado pelos princípios
o debate dessas questões. da universalidade, integralidade e equidade.
A efetivação do direito à saúde demanda
ações concretas do Estado e a implementa-
Considerações finais ção de políticas públicas, sendo a PNM um
ponto essencial para a realização do prin-
Na realidade do Estado Constitucional, cípio da integralidade.
marcado pela supremacia da Constituição e A jurisprudência brasileira demonstra es-
pela força cogente das suas normas, o Poder pecial propensão em dar efetividade ao direito
Judiciário é alçado a uma condição de protago- fundamental à saúde, sendo firme a sua posição
nista, na medida em que desempenha o papel no sentido de compreendê-lo como direito
de intérprete último e fiador da realização público subjetivo passível de ser requerido em
dos valores e fins constitucionais, inclusive ações individuais contra o Estado, inclusive e
mediante intervenção em atos típicos dos principalmente para a obtenção de medicamen-
demais Poderes. tos. Os princípios doutrinários do SUS são, de
As cartas constitucionais em geral, e a bra- maneira geral, os únicos argumentos normati-
sileira de 1988 em particular, são marcadas vos adotados nas decisões judiciais nessa área.
pelo largo emprego de enunciados normati- A demanda em massa por medicamentos
vos caracterizados como princípios, para cuja pela via judicial é uma realidade dos tribunais,
aplicação a técnica da mera subsunção do fato encontrando as ações grande percentual de
à norma não se revela suficiente, exigindo êxito, resultando quase sempre em decisões
do aplicador o uso da técnica da ponderação que impõem obrigação de entregar o medi-
de interesses para a obtenção da norma a ser camento prescrito pelo médico assistente
aplicada ao caso concreto. do autor da ação. Esta realidade acaba por
Esse cenário, aliado ao movimento pela deslocar para o foro judicial grande parte do

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espaço de debate público acerca da construção A utilização de ações coletivas que se


da política de medicamentos. valham de decisões estruturais, muito
Destarte, a discussão permeada em sede de embora não represente a superação da via in-
pesquisa analisou as nuances da intervenção dividual, apresenta significativas vantagens,
judicial na política de medicamentos, em decor- entre elas, a maior capacidade de diálogo
rência do massivo ajuizamento de ações indivi- com os gestores públicos e com a socieda-
duais, em que se pleiteia o seu fornecimento de de organizada, bem como a potencialidade
fármacos independentemente da inclusão nas de ser um mecanismo capaz de levar a um
listas públicas que, em sendo objeto de críticas efetivo aprimoramento da política pública
e gerando tensões entre os gestores públicos da de medicamentos pela via judicial.
saúde e órgãos judiciários, não há no panorama
da ciência jurídica elementos de pesquisa que
permitam mensurar o real impacto do conjunto Colaboradores
das decisões judiciais para o aprimoramento da
política de medicamentos em si. Chagas RR (0000-0002-5055-2378)* contri-
Desse modo, o Instituto norte-americano buiu para a análise e a interpretação dos dados.
das structural injunctions apresenta deline- Ferreira AP (0000-0002-7122-5042)*, Nicolitt
amentos técnicos que permitem a sua uti- AL (0000-0002-3857-3838)* e Oliveira MHB
lização no ordenamento jurídico brasileiro, (0000-0002-1078-4502)* contribuíram para a
em especial após o advento do CPC de 2015, concepção, o planejamento, a análise e a inter-
inclusive no que diz respeito à intervenção pretação dos dados; revisão crítica do conteúdo;
judicial em políticas públicas, entre elas, a e aprovação da versão final do manuscrito. s
de medicamentos.

*Orcid (Open Researcher


and Contributor ID).

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Decisões estruturais em demandas judiciais por medicamentos 109

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