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Psicologia, Religião e a Ética: um estudo sobre a atuação destas práticas na sociedade

contemporânea
Carine do Espírito Santo Barreto

Resumo: O presente artigo estuda questões éticas sobre o limite da atuação entre a
prática Psicológica e a prática Religiosa dentro dos espaços religiosos. Até que ponto
a Psicologia e a Religião podem cruzar-se sem interferir nas questões éticas e morais
de suas práticas. O estudo também examina a atuação do profissional psicólogo e
líderes religiosos a fim de ressaltar condutas que fortaleçam o reconhecimento social
destas duas categorias na sociedade contemporânea.
Palavras-chave: Atuação, Condutas ,Ética, Psicologia, Religião.

Introdução

O termo ética deriva do grego ethos que significa o caráter, o modo de ser de um
indivíduo. É um conjunto de valores e princípios que orienta o comportamento
humano na sociedade. ''A ética é a ciência da conduta humana perante o ser e seus
semelhantes.'' (HOUAISS, 2009).
Segundo (DE LA TILLE, 2006,p.25), a ética é sinônimo da moral, e se refere ao
conjunto de regras e normas consideradas obrigatórias para conviver em sociedade.
Tais temas advindos do latim e do grego visavam a reflexão sobre os costumes , a sua
eficácia, obrigatoriedade, validade , entre outros fatores ao serem colocados em
prática.
No entanto, apesar das aproximações sinonímicas entre os dois conceitos existem as
diversas denominações que ao se tratar da ética, pode ser observada através das
perspectiva de pensadores como Platão e Aristóteles. Segundo (GALLO, 2014) para o
filósofo Platão a ética é a valorização do mundo das ideias, das essências, em que o
homem adquire os princípios éticos que governam o mundo em sociedade a partir do
conhecimento da verdade. A ética platônica preocupava-se com o agir corretamente
para poder alcançar a felicidade. Esta concepção estava relacionado à ideia de justiça,
em que só é feliz, quem é justo.
Já para Aristóteles, a ética se pautava no questionamento sobre as condutas
humanas e da organização em sociedade. O pensador adotava uma visão mais
realista sobre as indagações e sobre atitudes, já Platão, era mais idealista e
racionalista ao buscar a utopia da cidade ideal.
No entanto, vale ressaltar que entre semelhanças e diferenças, estas classificações se
formam a partir de convenções que dependem da cultura, da história de cada
sociedade em cada época, ao atentar que as atitudes éticas e morais se modificam
com o passar do tempo. Com isso, percebe-se que apesar da ética e a moral serem
atualizadas, estas concepções estão presentes diariamente na vida das pessoas para
nortear as condutas em sociedade. Desta forma, as profissões também seguem
normas que orientam as ações de cada profissional para que seja possível agir de
forma digna e consciente perante ao cliente e à sociedade.
A princípio, para compreender a prática psicológica é preciso compreender a forma
de atuação do Psicólogo. O encargo do psicólogo é trabalhar as demandas associadas
aos conflitos internos do indivíduo, que constantemente geram incômodos ao sujeito
ou as pessoas de seu círculo social. O psicólogo deve aprofundar-se às origens dos
incômodos, entendendo suas funções. Deve-se clarificar a forma pela qual o
indivíduo trata essas questões, priorizando as questões éticas, desejando tornar a
vida da pessoa mais equilibrada possível.
De acordo com Moreira; Romagnoli; Neves (2007), desde o final do século passado e
início deste, houve um aumento considerável das áreas de atuação em Psicologia, o
que aponta uma ampliação de seus locais de trabalho: o psicólogo torna-se presente
cada vez mais no SUS, nos asilos, nos centros de reabilitação, no sistema judiciário,
nos hospitais psiquiátricos e gerais, nas penitenciárias, nas creches e nas
comunidades. Dessa maneira, surgem, para o profissional, outras oportunidades
práticas que ultrapassam os seus espaços comuns de atuação, limitado até então aos
consultórios, às escolas e às empresas. Hoje, a ampliação dos locais de trabalho está
tão grande que até as Igrejas reservam um espaço para a atuação da Psicologia.
Segundo (MOREIRA;ROMAGNOLI;NEVES,2007,p 616):
''Cabe ressaltar que o psicólogo se depara, portanto, com o desafio de
trilhar novos caminhos e de sustentar suas conquistas recentes. Esse
desafio pressupõe, de acordo com Romagnoli (2006/no prelo), não só
a disseminação da especialidade do psicólogo para um número maior
de pessoas e de classes sociais mas também a produção de novos
recursos em sua formação e de novas formas de exercício profissional,
que apostem na construção de práticas ético-políticas.''
É neste contexto que evidencia-se a ética, esta sendo primordial para que o exercício
do profissional psicólogo seja íntegro, ao ressaltar o respeito ao ser humano, aos
pacientes, e outros profissionais, que lidam com a fragilidade humana. Segundo
(ROLNIK,1999), apud (NETO; PENNA,2006) as práticas clínicas integram-se, direta
ou indiretamente, da composição dos territórios subjetivos, por isso a ética é
primordial para analisar e compreender os casos de forma singular.
Com isso, de acordo com (NETO; PENNA,2006) nota-se que cada teoria e cada
técnica no campo da psicologia torna-se uma operação ética, pois cada indivíduo tem
uma subjetividade, e desta forma cada caso deverá ser analisado de maneira única
cabendo ao psicólogo estar atento às nuances e responsabilidades daquele contexto.
De acordo com (LACAN, 1988, p. 32) apud ( NETO; PENNA,2006), "Os limites
éticos da análise coincidem com os limites de sua práxis."
Os estudiosos, (Neto; Penna, 2006), ressaltam que Lacan e Foucault aproximam a
ética e moral em um aspecto universal e entendem a ética de forma contrária ao ato
de refletir sobre as condutas morais encarando esta como a responsabilização do
sujeito sobre suas atitudes e possibilidades de se transformar.
Para Foucault :
''Não existe conduta moral que não implique a constituição
de si mesmo como sujeito moral; nem tampouco constituição
do sujeito moral sem ‘modos de subjetivação’, sem uma
‘ascética’ ou sem ‘práticas de si’ que as apoiem.
''(FOUCAULT 1984,p.28) apud (NETO; PENNA,2006).
Para ele, levando em consideração o viés sinonímico, os valores morais(éticos)
norteiam as atitudes do sujeito que refletem diretamente em sua vida e na concepção
de si mesmo como um ser integral. A prática Psicológica se configura pelas
intervenções técnicas ao buscar a autorrealização pessoal e a valorização da
experiência como processos únicos de subjetivação. E como estes processos são
únicos, a ética vem para que seja possível indagar individualmente todas as questões
que envolvam a vida de cada pessoa.
Desta maneira, para dar suporte à conduta do Psicólogo, o Código de Ética
Profissional do Psicólogo (2014), afirma que toda profissão define-se a partir de um
corpo de práticas que buscam atender demandas sociais, norteados por elevados
padrões técnicos e pela existência de normas éticas que garantam a adequada relação
de cada profissional com seus pares e com a sociedade como um todo. O objetivo da
ética é fomentar questionamentos que cada indivíduo manifesta sobre a sua conduta
e responsabilizá-lo pelas suas ações.
O sujeito pode seguir a ética baseada em sua vida ou através da sugestão de algumas
normas, assim como pode ser baseada na educação que teve, pode ser conduzida a
partir da formação dos seus próprios valores, estes, que também podem ser
moldados através das convicções empregadas pela Religião na qual a pessoa se
identifica.
No entanto, ao falar sobre Religião, o estudioso (ALMEIDA,2004) deixa claro que a
moralidade/ética não tem necessariamente uma base religiosa, mas esta foi usada
equiparavelmente para delimitar os comportamentos.
Nesta concepção, a Religião oferece suporte à religiosidade ao ter como base o
significado de re-ligar, unir-se, às realidades transcendentais e espirituais, assim
como orientar as condutas mais adequadas a serem seguidas. A religião é a forma
que as pessoas encontram de conectar-se à divindade, através de um conjunto de
crenças e rituais.
De acordo com o FIGUEREDO( 1922) religião é:

''Conjunto de princípios e de práticas, que constituem as relações entre o homem e a


divindade. Culto interno ou externo, prestado à divindade. Sistema religioso. Respeito ou
reverência às coisas sagradas. Temor de Deus. Dever sagrado. Ordem religiosa. Moral
independente e comum às nações cultas. Crença viva. Consciência escrupulosa; escrúpulos.''
(FIGUEREDO,1922,p.1757)

Porém, segundo (ALMEIDA,2004,p.1), a religião também pode assumir outros


significados. O estudioso ressalta que: '' A religião é uma das mais antigas
instituições humanas''. Deste modo, a família ao ser equiparada a uma instituição
muito antiga, pode ser influenciada pelos princípios religiosos a seguir condutas que
moldam a subjetividade do indivíduo. Assim, as práticas religiosas se faziam
presentes desde à antiguidade, também com o intuito de orientar o comportamento
das pessoas, de acordo com a moralidade, costumes e tradições de cada cultura.
Conforme (ALMEIDA,2004),a religião tinha como objetivo mesmo que secundário,
manter as pessoas comportadas e obedientes, seguindo algum padrão de conduta
considerado como ideal. Seguir ou não um tipo de comportamento esperado gerava
punições ou recompensas que permitiam o julgamento da igreja e da sociedade. Por
isso, a ética no contexto religioso, é considerada como a teoria da moral, ou seja, das
normas.
Segundo estudos sobre a ética da religião:
''A ética, por sua vez, é a teoria da moral, o modo de conceber a
moral: a sua origem, a sua natureza, os seus objetivos. A moral é
prescritiva: refere-se ao dever. A ética é descritiva. Ela não emite,
como a moral, juízo de valor, mas um juízo de realidade. ''
(SANTOS, 2007)
As Religiões estabelecem aos seus adeptos uma série de orientações que devem ser
seguidas por um comportamento moral esperado. Cada religião tem seus
ensinamentos, suas regras e de acordo com cada cultura, estes comportamentos são
modificados. No entanto, em todas as religiões a expectativa são de que os adeptos
respeitem as regras e condições de acordo com os dogmas gerados.
A ética norteia as possíveis ações dos indivíduos e suas práticas profissionais. A
Psicologia e a Religião ressaltam a ética voltada para a atitude do homem, levando
em consideração os seus sentimentos, pensamentos e as escolhas que fazem. Estes
princípios, tanto para Psicologia quanto para Religião, servem como orientadoras de
condutas para que seja possível atuar de forma equilibrada, íntegra e respeitosa.
Por este motivo, a prática Psicológica dentro do espaço religioso, é uma atitude que
requer muita atenção para não confundir as questões de análise de sintomas
patológicos com as crenças do sujeito. Deste modo, a ética é sinônimo do bom senso.
Deve-se priorizar o código de ética do profissional psicólogo, e levar em conta toda a
história e o contexto de vida do sujeito que procura o suporte, não julgando ou
patologizando em um viés cego e equivocado. Foi através da busca pelo suporte e
acolhimento tanto psíquico quanto espiritual que foi possível valorizar a
importância do apoio Psicológico e/ou Religioso. A humanidade na
contemporaneidade foi capaz de comprovar que a crença em algo superior
(Deus/Deuses) poderia amenizar sofrimentos, assim como a crença nas abordagens
das questões psíquicas poderiam trazer alívio das angústias do sujeito. Estas práticas
seriam capazes de reforçar a confiança em algo externo por lhes trazerem conforto e
segurança emocional .
De acordo com (SERBENA,2003) ao seguir o significado epistemológico, a palavra
Psicologia, se traduz pelo estudo da alma, o estudo do comportamento, sendo esta a
expressão do movimento da alma em ação. A Psicologia é vista como um ramo da
Filosofia que estuda especificamente a alma. Ela é definida como um "princípio de
pensamento" e como animação do corpo. Deste modo, a Psicologia é recorrida para
dar suporte ao sofrimento das pessoas que procuram orientação.
Segundo Carqueja (2009) ''O sofrimento é algo de inerente à espécie humana ''.A
Psicologia, enquanto ciência do comportamento e das questões psíquicas do sujeito,
reforça bastante a importância deste campo. O sofrimento depende da significação
que assume no tempo e no espaço, bem como no corpo onde produz algo além do
princípio do prazer. Já a religião por sua vez, também pode assumir este propósito.
Pois a religião é uma crença em que as pessoas buscam a satisfação nas práticas
religiosas ou na fé, para superar o sofrimento e alcançar a felicidade.
Por este motivo, o interesse em estudar as práticas que trazem alívio psíquico,
emocional e espiritual se tornaram tão crescentes na contemporaneidade.
O estudo das crenças religiosas
Como aponta (ANDRADE, 2012, p. 17) “A antropologia religiosa passa a ser o
referencial para o estudo dos rituais e das práticas religiosas.” Por conta desta
perspectiva, Carqueja (2009) também considera que a sociedade moderna, pode
colocar-se de fora da esfera religiosa e estudar objetivamente as questões levantadas
sobre a fé, crenças, suporte emocional e Ciência. Na sociedade atual, valoriza-se a
importância do livre arbítrio sendo este essencial para nortear a ação das pessoas ao
destacar o direito de crer ou de não crer em algo que lhes deem significado. Com isso,
é possível estudar filologicamente os textos sagrados, a história das Igrejas, as bases
sociológicas e psicológicas sobre a religião. De acordo com (Vergote in Carqueja
2009, p.13).'' A ciência é sem Deus, neutra com relação à Fé religiosa; ela observa e
explica o que pode: isso não é ateísmo filosófico, mas ateísmo metodológico ''. Para a
Ciência, ''A definição mais aceita pelos estudiosos, para efeitos de organização e
análise, tem sido a seguinte: religião é um sistema comum de crenças e práticas
relativas a seres sobre-humanos dentro de universos históricos e culturais
específicos. '' (Silva,2004,p.4)
Por conta desta curiosidade e o interesse pelo saber, surge o desconforto das pessoas
sobre o assunto Psicologia e Religião. Muitas vezes este tema concentra-se dentro da
sala de aula, na intenção de buscar referências, pois embora seja bastante discutida é
pouco fundamentada.
Psicologia e Religião se confundem?
De acordo com a pesquisa feita por PAIVA G.J et.al. no artigo Psicologia da Religião
no Brasil: a produção em periódicos e livros. Tem-se verificado com frequência que
estudantes de Psicologia e de outras áreas recorrem à disciplina PR (Psicologia
Religiosa) para resolverem problemas pessoais, levantados pelo encontro da religião
que trouxeram da família com a perspectiva acadêmica, sobretudo psicológica. O
conteúdo curricular das disciplinas de Psicologia, de modo geral, não inclui
referência à religião, de modo que a PR é procurada, pelos estudantes, como um
recurso para a superação do desconforto resultante do desencontro entre religião e
ciência psicológica.
Porém apesar destes impasses é importante salientar o grande aumento de religiosos
dogmáticos em busca de uma formação acadêmica em Psicologia. Percebe-se então
que a Ciência e a Religião estão se convergindo mais do que na era pré moderna. No
entanto, da onde vem esta conexão ? Por que duas áreas distintas podem confundir
as pessoas se não houver um bom discernimento sobre suas práticas?
Tudo começa com o mesmo foco : o homem – o comportamento do homem no meio
em que vive. Este é o principal ponto de encontro entre a Psicologia e Religião. De
acordo com Habermas (1989), somos construídos segundo as nossas crenças, valores
e razão comunicativa que variam em relação ao mundo objetivo e social. Tudo
começa quando acreditamos em algo que possa nos fortalecer de alguma forma. A
partir deste ponto agrupam-se pessoas que compartilham a mesma ideia e procuram
seguir as mesmas crenças, podendo ser assim, as crenças religiosas. De outro lado, a
ciência também é construída por crenças, de experimentos que levaram a inúmeras
consequências prováveis, aumentando a credibilidade que foram fortalecidas pelo
povo.
As pessoas passaram a encontrar formas funcionais para libertar seus sofrimentos ou
sentir-se acolhidos por algo que lhes confortam. Por isso, tanto a Psicologia quanto a
Religião compartilham estas demandas. Segundo Carquejo (2009), acreditar em algo
maior dá esperanças para continuar vivendo e ter um propósito na vida.
A Religião preza pelo equilíbrio, pela paz de espírito e a Psicologia enquanto Ciência,
preza pelo bem estar físico e mental do indivíduo. Deste modo as duas práticas se
complementam.
Com isso, percebe-se que a Psicologia e a Religião tratam de temáticas que trazem
diversas opiniões sobre a mesma questão. De acordo com o artigo de PAIVA G.J.
Psicologia e Espiritualidade. Congresso de Psicologia Unifil Universidade de
São Paulo,2011 . A espiritualidade é sinônimo de libertação do plano concreto e
material, é a crença em algo maior, que pode ser cósmica. Outra posição, ligada ao
‘movimento de conscientização’, é apresentada por (BREGMAN APUD PAIVA, 2001)
que sustenta, teórica e empiricamente, que a psicologia tem recursos próprios, não
opostos aos recursos religiosos mais independentes deles, para lidar por exemplo
com a preparação da morte ou do luto . Para a estudiosa, a Psicologia tem
espiritualidade, no sentido de que as pessoas acreditam nesta perspectiva para se
sentir acolhidas e afagadas.
Psicologia versus Religião
Já que as práticas prezam o equilíbrio emocional dos sujeitos, por que estas
abordagens são tão distintas?
Para elucidar, a Psicologia e a Religião partem de enfoques em comum que são os
sentimentos das pessoas. De modo que o sentimento de luto pode ser expressado
pela tristeza, pelo desgosto, também pode ser externalizado pelo medo, pela raiva,
fracasso frente à perda pessoal e social. A busca pelo autoconhecimento e o
reequilíbrio emocional também é motivo de procura. Desta forma, ao partir destas
perspectivas, uma pessoa pode recorrer há um Psicólogo ou a Igreja, por exemplo.
A grande diferença está no fato de fazer uso da ética para orientar-se e saber quando
a demanda realmente é espiritual, ou quando aquele sofrimento é tão disfuncional
que impede o sujeito de viver de uma vida equilibrada e saudável. Em muitos casos
cabe o profissional psicólogo ou o representante religioso saber orientar estas
situações.

Segundo Uriel Heckert apud Paiva (2011), em Psiquiatria e Cristianismo, no IX


Congresso Mundial de Psiquiatria (1993), cita um outro psicólogo e pastor, o Dr. J.
H. Ellens, que considera estas práticas como esferas distintas:
"Vejo a teologia e a psicologia como perspectivas ou pontos de referência
diferentes, com diferentes universos de discurso, lidando com o mesmo
assunto. Interagem em quatro níveis na busca pela verdade a respeito de
seu objetivo: no nível teórico de suposições, conceitos e definição de teoria,
no de pesquisa metodológica, no de banco de dados (que dados procurar,
como procurar e como aparecem) e no nível de experiência clínica. ' Para
concluir: 'Seu tema comum é a condição humana. Interseccionam-se, por
isso, na antropologia que funciona ou se forma em todos os níveis de
intersecção acima citados. ”.
Já o estudioso ADAMI (2015) contrapõem que:
“[...] os campos, a formação, as atividades e a atuação são distintos, mas
não opostos. Contudo, há um elemento comum que os une e que deve ser o
lugar do diálogo entre a Teologia e a Psicologia, é a visão de homem, a
antropologia, já que ambos, pastor e psicólogo, têm sua atenção voltada e
dedicada para o ser humano.”
Embora a Ciência e Religião tenham uma visão mais harmônica entre si ao longo do
tempo, percebe-se que há grandes entraves que surgem a partir dos conflitos de
valores e de condutas do profissional Psicólogo dentro do espaço Religioso nos dias
atuais.
Psicologia, Religião e seus espaços de atuação
Desta maneira, é preciso destacar e ressaltar qual é a função destes profissionais em
cada espaço de atuação. Em muitos casos, há profissionais contratados pelo corpo
administrativo dos espaços religiosos a fim de fornecer serviços terapêuticos de
psicologia orientados por uma terminologia espiritual. Psicólogos que atuam em
igrejas, templos, casas de reflexão espirituais, por exemplo, não podem usar a escuta
clínica e abordagens psicoterápicas para orientar os fiéis, e assim atraí-los com a
finalidade de convertê-los àquela Religião usando a Psicologia como ferramenta para
tal. Esta atitude é considerada violação ao Código de Ética profissional do Psicólogo.
Quando o profissional terapeuta presta serviços havendo um vínculo deste porte com
as instituições religiosas, o mesmo deve ser denunciado ao Conselho de Psicologia
atual.
No entanto existe a prática da Psicologia para fins sociais, em que as Instituições
religiosas sedem ou alugam seus espaços para atender esta demanda dentro de um
setting terapêutico adequado. Nota-se que este movimento está de acordo com as
normas éticas segundo o código de Psicologia vigente. Porém, o profissional
psicólogo precisa abdicar-se de suas crenças no momento da terapia a fim de atentar-
se para o sujeito e seus questionamentos de forma integral.
Vale ressaltar que o fato de existirem Psicólogos adeptos a diversas religiões sendo
eles pastores, conselheiros, religiosos e ministros atuando em alguma área de
Psicologia, não apontam nenhum tipo de irregularidade pois cada indivíduo tem a
sua liberdade de escolha. No entanto, é preciso lembrar que suas crenças não podem
influenciar o andamento das práticas psicoterapêuticas.
A Psicologia é uma Ciência que está inserida em várias áreas e nos últimos anos cada
vez mais crescente no espaço religioso, porém é importante atentar-se para não
interferir os valores pessoais de cada profissional, na fé e na fragilidade das pessoas
assim como utilizar técnicas psicológicas para atrair fiéis/adeptos.
A situação contrária também pode acontecer: há religiosos, pastores e conselheiros
dentro da igreja, que encontram resistência para encaminhar assuntos psicológicos
aos profissionais que atuam na área. Muitos não acreditam ser questões psíquicas e
priorizam o somente o caráter espiritual. É preciso ter ética, bom senso e encaminhar
estes assuntos aos seus respectivos meios de ajuda, quando necessário.
Considerações Finais

É importante não desqualificar as práticas Religiosas e Psicológicas, pois estas têm


grande influência e importância para a sociedade Contemporânea. Psicologia e
Religião são temas bastante complexos e estão inseridas dentro de culturas
específicas. Por isso, é preciso uma educação adequada frisando a ética para evitar
condutas impróprias como as citadas no estudo. É preciso ter atenção para que as
duas áreas não invadam o espaço uma da outra.
A Psicologia e Religião são complementares. Devem ser discutidas sempre para
desmistificar ideias preconceituosas sobre a Ciência e Religião. Debates, artigos e
estudos são os caminhos mais eficazes para quebrar tabus, e conscientizar as pessoas
de que o respeito e a compreensão fazem cair por terra as ideias pré concebidas
durante muitos anos. Só assim, poderemos exercer práticas justas, íntegras e com
muito mais transparência.

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