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A viagem de Ricardo Reis é perfeitamente antiépica, a começar pela viagem de Barco, voluntariamente escamoteada pelo

discurso, que pretende inaugurar o tempo Da terra: «Aqui o mar acaba e a terra começa.» […] No presente, o mar sabido não
Fornecerá material à nova epopeia e Portugal, que antes se definiapelo modelo Camoniano – «onde a terra se acaba e o mar
começa» – perdeu o mar e só lhe restou a Terra, onde, de volta, Ricardo Reis pisa para se aventurar em grandes caminhadas de
Reconhecimento por uma Lisboa que deixara há anos e por onde a nova experiência Vai começar. […] O discurso falará dessa terra
e de homens nessa terra, desse país de Marinheiros naufragados em ondas de silêncio, violência e corrupção. […Em terra, passeia
por Lisboa, e no mapear a cidade – Rua do Alecrim, estátua do Eça, o Camões, o Largo de S. Roque ou o Adamastor, descendo
outras vezes o Chiado – cada ponto desencadeia no sujeito Ricardo Reis um processo de divagação, onde Elemento exterior
funciona mais como catalisador da subjetividade doque como valor Em si. […] O deambular de Reis é um percurso interno, uma
nova «Lisbon Revisited1».Poeta nascido do texto, o seu espaço é fundamentalmente o da literatura, Daí não haver apenas um
deambular físico – o da Lisboa revisitada – mas, Paralelamente, um deambular textual – o da literatura revisitada. No corpo do
Romance tecem-se, então, outros discursos da produção pessoana ou camoniana, além de alusões à galeria de personagens do
mundo ficcional, de textos Poéticos variados e de frases históricas reconhecidamente famosas, sem esquecer as referências
bíblicas não menos comuns. […]A primeira forma de fazer presente o texto poético é a alusão consciente da Personagem à sua
produção anterior e que constitui o acervo do heterónimo Ricardo Reis. […Nesse revisitar, os textos que, por coerência interna, só
a poetas caberia, O grande eco anterior à produção pessoana é, evidentemente, Camões, que Inaugura e encerra o livro, relido,
transformado, mas presente. […] No labirinto que o faz sempre revisitado,poder também se serve dele – queestando Morto, já
não pode lutar pelos seus direitos – servindo-se tendenciosamente Dos seus textos, da suprodução, da sua obra. […] Lido em
momentos laudatórios2, calado nos momentos críticos, o poeta foi usado e corrompido pela Máquina política que castra a
liberdade e desconhece os limites. […]Fernando Pessoa é uma das imagens avassaladoras do texto. A nível da estó-Ria é o motor
dos acontecimentos, pois nada aconteceria, o romance mesmoNão teria sentido sem o dado concreto da sua morte, libertadora
do discurso Novo, do novo Ricardo Reis e do novo Pessoa a quem a fantasia permitirá Revisitar o seu tempo. […]

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