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A CULPA É DE QUEM?

Um levantamento de dados realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica


Aplicada (IPEA) no Brasil apontou para uma realidade que a sociedade de tal país
parece ignorar: a tolerância social em relação à violência contra as mulheres.
De acordo com os dados oficiais, 58,5% dos entrevistados pela organização
acreditam que o comportamento feminino tem influência nos casos de estupro; e 65,1%
concordam total ou parcialmente com a frase “mulheres que usam roupas que mostram
o corpo merecem ser atacadas”. Isso demonstra que a mentalidade brasileira ainda está
impregnada com velhos conceitos machistas, que pregam o comportamento recatado
como o único válido para mulheres “decentes”.
Críticos da pesquisa alegam que a quantidade de pessoas que participaram dela
foi pequena demais para que as manchetes estampassem com tanto vigor a imagem de
um Brasil quase medieval. Contudo, a mídia – e a pesquisa – serviu apenas como
estopim de uma discussão que há muito vinha se adiando.
Os elementos de uma sociedade majoritariamente patriarcal podem ser visto no
cotidiano brasileiro com clareza – não só por parte dos homens, mas também pelas
próprias mulheres, criadas num cerco ideológico fundamentalmente machista. Seja nas
piadas misóginas, ou nos comentários maldosos que colocam a mulher como objeto
sexual, a realidade brasileira ainda conta com uma característica sexista tão enraizada
que muitas vezes passa despercebida pela maior parte da população.
Segundo o “Estadão”, jornal veiculado em São Paulo, um homem foi expulso de
um avião da Trip ao afirmar que se recusaria a permanecer num voo comandado por
uma mulher. Caso isolado de preconceito de gênero? Não. Nas empresas e nos
transportes públicos, por exemplo, o assédio contra passageiros do sexo feminino
chegou a níveis alarmantes. No mercado de trabalho, as mulheres ainda recebem
salários reduzidos, desempenhando as mesmas tarefas que colegas homens.
O grande problema está na ideia de que a mulher é o “sexo frágil”, e de que ela
não tem competência para lidar com cargos e situações que exijam mais agressividade,
mais firmeza. E isso é transmitido de geração em geração, nos pequenos detalhes da
educação infantil. Repreende-se ou ridiculariza-se um garoto que demonstre um
sentimento considerado “feminino” (como medo, tristeza), ao passo em que se ensina às
jovens meninas a serem submissas perante a força do homem, e, acima de tudo,
recatadas.
É de extrema importância que se mudem os parâmetros culturais e educacionais
da sociedade para que ela mesma possa expurgar de si o fantasma de uma sociedade
patriarcal que desvaloriza e desestimula a participação ativa do sexo feminino, através
do controle sociocomportamental deste.
WHOSE FAULT IS IT?

A data survey conducted by the Institute of Applied Economic Research (IPEA)


in Brazil pointed to a reality that the society of that country seems to ignore: the social
tolerance towards violence against women.
According to the official data, 58.5% of those who responded the survey believe
that the female behavior has influence in cases of rape; and 65.1% fully or partially
agree with the phrase "women who wear revealing clothes deserve to be attacked". This
shows that the Brazilian mentality is still imbued with old sexist concepts that preach
the prude behavior as the only valid for "decent" women.
Critics of the survey argue that the amount of people who took part in it was far
too small for the country’s headlines to denounce so vigorously the image of an almost
medieval Brazil. However, the media – and research – acted like a trigger to ignite a
discussion that has been put off for a long time.
The elements of a largely patriarchal society can be seen clearly in the Brazilian
daily life – not only through the actions of men, but also through the actions of women
themselves, who were raised in an ideological siege fundamentally sexist. Be it in the
misogynistic jokes, or in the mischievous remarks that put women as sexual objects, the
Brazilian reality still has a sexist character so deep-rooted that often goes unnoticed by
most people.
According to the "Estadão", a newspaper in the state of São Paulo, a man was
kicked out of an airplane because he incisively stated that he would never stay on a
flight commanded by a woman. Was it an isolated case of gender bias? No. Inside the
working environment and the public transportation, for example, the harassment against
female passengers reached alarming levels. In the labor market, women still earn lower
wages, even though they perform the same tasks as their male coworkers.
The big problem lies in the idea that the women are the "weakest gender", and
that they have no competence to deal with situations and positions that require a more
aggressive, firm behavior. And that is transmitted from generation to generation, in the
small details of early childhood education. We often mock young boys who demonstrate
an emotion considered too "feminine" (such as fear, sadness), whilst we teach young
girls to be submissive before the power of the men, and to be, above all, demure.
It is of utmost importance to change the cultural and educational parameters of
the society, so it can purge out of itself the ghost of a patriarchal society that devalues
and discourages the active participation of women, through social behavior control.

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