Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
De
que maneira escolheremos as notas para formarmos uma melodia sobre uma
determinada progressão de acordes.
Porém, como saber as qualidades das tensões que serão adequadas a uma determinada
harmonização? Isto é, para um D7, por exemplo, o que seria mais apropriado, uma
nona maior ou uma nona menor? É óbvio que só deve haver uma resposta correta. É
também evidente que seria não só inevitável como pouco producente conhecer de cor
todas as possibilidades para todos os acordes nas doze tonalidades. Como solução
para o problema, foi criado o esquema das escalas dos acordes, também chamadas de
modos. Isso significa que cada acorde possui uma escala que além das notas do arpejo,
contém as tensões que lhe são próprias.(ALMADA, 2009, p.83).
Aqui vamos criar algumas progressões harmônicas e mostrar o emprego correto das
escalas sobre os acordes. Dessa maneira iremos entender como devemos agir.
Analisando o exemplo número um que está na tonalidade de lá bemol maior,
observamos somente acordes que estão dentro do campo harmônico da tonalidade.
Mesmo assim, temos que aplicar os modos da forma correta sobre eles. Isso já mostra
que para cada acorde teremos um modo específico para ser trabalhado.
Se estamos sobre o acorde de primeiro grau (AbMaj7) iremos criar algo com o modo
jônio. Quando passamos para o segundo compasso mudamos para o acorde de Sol meio
diminuto (como é reconhecido também) o modo passa a ser o lócrio. Outro compasso a
frente e o modo será o frígio, já que o acorde é Do menor e ele é o terceiro grau da
tonalidade em questão. Na sequência vem o acorde de Ré bemol quarto grau de Lá
bemol, usamos então o modo lídio.
Em Fá menor que vemos no compasso de número cinco a escala eólia seria a correta.
Caminhando para a finalização temos Si bemol menor dórico por ser o segundo grau, e
no penúltimo compasso a dominante Mi bemol onde usaremos o modo mixolídio.
Em todos os acordes dessa progressão não existe mudança de acidentes, já que todos
fazem parte do campo harmônico de Lá bemol maior, porém, mesmo ocorrendo dessa
forma mudamos o foco das notas principais, valorizando cada uma das tétrades em
questão. Esse protagonismo é fundamental para determinarmos a qualidade da harmonia
que trabalharemos, realçando a tonalidade da peça.
Quando passamos para o exemplo de número dois teremos uma abordagem diferente,
pois encontraremos algumas dominantes individuais e consequentemente haverá
mudanças entre os acidentes das escalas. Esses acordes acrescentados são
procedimentos básicos em uma construção harmônica, mas exige uma atenção muito
grande na escolha das notas a serem usadas sobre eles.
O que deve chamar a nossa atenção é que esses mixolídios pertencem a tonalidades
diferentes, e não ao Mi maior do primeiro compasso. Portanto, deixaremos de lado a
preocupação com a armadura de clave que teria quatro sustenidos, e pensaríamos nos
acidentes para formarmos essas novas escalas.
Na finalização dentro dos dois últimos compassos temos um quinto e um primeiro grau,
só que pertencentes à tonalidade primeira. Essa forma de pensar em quatro tons
diferentes se dá em um espaço de oito compassos. Isso nos dá a dimensão da quantidade
de notas e acidentes que podem surgir em uma composição qualquer, onde geralmente
teremos muito mais desenvolvimento.
Agora vamos argumentar sobre a progressão de número três. Ela está na tonalidade de
Fá menor, o que nos trará outras referências a respeito dos modos que utilizaremos
sobre os acordes.
Sobre esse quarto grau menor que aparece no terceiro compasso, usaremos o modo
dórico. Talvez isso gere dúvidas sobre a escolha dessa escala para um quarto grau, mas
se fizermos uma reflexão sobre esse acorde quando ele aparece no campo harmônico
relativo maior, veremos que a sua posição é de segundo grau, portanto, é por isso que
aplicaremos esse modo dórico sobre ele.
O penúltimo acorde também chama a atenção por ser um quinto grau maior na
tonalidade menor, já que naturalmente seria uma estrutura menor. Essa transformação se
faz necessária justamente para que tenhamos uma dominante para as tonalidades
menores. No caso, o modo será o mixolídio.
Dentro dessa escala teremos somente o acidente de Si bemol, o que destoa da tonalidade
em questão que traz quatro bemóis em sua armadura de clave. Apesar desse fato, essa é
exatamente a forma correta de montarmos o modo.
No terceiro compasso, temos Dó sustenido menor, terceiro grau, portanto, modo frígio,
voltando novamente para os acidentes da tonalidade principal.
A partir do compasso nove, vamos encontrar uma sequência harmônica que nos levará a
uma modulação para a tonalidade de Do maior. Para esse movimento que nos transporta
de um tom para outro não temos regras quanto a número de compassos ou de acordes a
serem utilizados. Ficando a critério de cada compositor a forma de trabalhar isso. Então
nesse caso que estamos analisando aparece um acorde de Lá maior com sétima menor e
usaremos o modo mixolídio, e é uma preparação para o Ré meio diminuto que está no
compasso dez. O modo correto para ele é o lócrio.
Na continuidade temos uma nova estrutura que é um Sol com sétima menor e quinta
aumentada. Para pensar a escala a ser empregada temos que observar se existe alguma
modificação nos intervalos de nona. Isso se faz necessário, pois será determinante na
escolha do modo. Sem que haja nenhuma alteração nas nonas, mas somete a quinta,
usaremos a escala montada com uma sequência de tons inteiros entre as notas. Dessa
maneira, encontramos intervalos de nona maior (chamar o intervalo de nona ao invés de
segunda é comum), terça maior, quarta aumentada, quinta aumentada e sétima menor.
Encontramos, então, a nova tônica com o acorde de Do maior, e para tal usaremos o
modo jônio. Esse novo primeiro grau só dura um compasso, pois já na sequência
encontramos novamente Do maior, mas com a sétima menor, mudando a função para
dominante. Esse acorde funciona como um sub V, mas pela sua estrutura como vimos
anteriormente, aplicaremos o modo mixolídio.
Continuaremos esse processo de análise harmônica, o qual nos traz uma visão exata do
que podemos nos deparar quando estivermos escrevendo um arranjo por exemplo, tendo
que respeitar os acordes já determinados pelo compositor da peça, ou quem sabe em um
momento de improvisação. A atenção quanto as escolhas das escalas e notas a serem
usadas precisa ocorrer da mesma maneira, com a mesma responsabilidade que tem um
compositor. A diferença maior é que nesse caso tudo ocorre em tempo real. Sem
podermos parar para pensar com calma e consultarmos o material já estudado.
A tonalidade número cinco está em Sol maior e observamos esse primeiro grau logo no
compasso inicial, onde usaremos o modo jônio de Sol. No compasso dois temos uma
cadência com o segundo e quinto graus de Mi maior, e aplicaremos sobre esses acordes
os modos dórico e mixolídio respectivamente. Acontece que eles não resolvem, ou seja,
sabemos que é uma preparação para Mi, mas ela não acontece. Isso é muito comum
também de aparecer em uma música, então as possibilidades de “aparecerem surpresas”,
são muitas.
Não importa a motivação que levou o compositor a realizar algo assim, mas sim o que
vamos ter que fazer diante dessa realidade.
Aparece na cifragem harmônica uma nona menor, que nos leva a pensar em usar a
escala dominante diminuta (dom-dim). Esse modo tem sua estrutura desenvolvida de
forma simétrica assim como o de tons inteiro e o diminuto. De uma nota para a outra
revezam-se entre intervalos de semitom e um tom, dessa maneira obtemos oito notas até
alcançar a fundamental novamente. Devido a essa simetria, temos somente três escalas
nessa categoria que servem aos doze sons da nossa escala cromática.
É muito importante a classificação das notas dentro dessa estrutura para que não exista
confusão na sua utilização. Depois da fundamental, as próximas duas notas são
nomeadas nona menor e nona aumentada – todo o cuidado para não confundir essa
segunda aumentada com uma terça menor. Trata-se de uma dominante e deve então ser
aplicada sobre um acorde maior – em seguida terça maior, quarta aumentada (décima
primeira), quinta justa, sexta maior e finalizando com uma sétima menor.
Esse modo abre um leque grande de possibilidades quanto a forma que iremos combinar
os sons no seu uso. Se sobrepormos suas notas em uma espécie de campo harmônico –
uma maneira bem criativa de trabalhar as escalas – chegaremos ao resultado de quatro
acordes maiores de função dominante, quatro acordes menores com sétima menor, e
oito acordes diminutos.
Esse modo traz uma diversidade harmônica que nos possibilita uma variedade grande de
motivos melódicos/harmônicos.
Chegamos então ao Do maior no quinto compasso, e sobre ele usaremos o modo lídio,
que nos faz retornar à tonalidade principal.
No compasso de número sete chegamos à tônica de Sol, mas trazendo também uma
surpresa em sua constituição. Uma décima primeira aumentada. Isso não altera a
categoria de acorde de repouso, mas traz um colorido sonoro novo para o primeiro grau,
onde aplicaremos o modo lídio sobre ele.
No oitavo compasso, temos dois temos dois acordes que funcionam como substitutos de
quinto grau. São também acordes maiores com sétima menor como a qualquer
dominante, portanto, modo mixolídio para os dois. Contudo, por caminharem de
maneira cromática e em tão curto espaço de tempo, teremos mudanças de notas muito
contrastantes, tornando uma passagem bem complexa quanto ao seu desenvolvimento
melódico.
Na sequência ocorre uma modulação, e iremos para uma nova tônica na tonalidade de
Fá maior. Sobre ele usaremos o modo jônio de Fá. Em seguida temos o acorde de Mi
bemol maior com sétima menor e décima primeira aumentada. Seu papel é o de um
acorde de empréstimo modal que substitui a subdominante menor em uma cadência para
o primeiro grau. Pela qualidade da harmonia vamos aplicar a escala lídio dominante
sobre ela. A resolução será no acorde de Fá, modo jônio novamente.
Como estamos caminhando para Fá esse segundo grau está em Sol menor e usaremos
sobre ele o modo dórico. O quinto grau será Do maior, mas com a sua quinta aumentada
e com a nona aumentada também. Nessa situação não poderemos usar a escala de tons
inteiros que possui a quinta aumentada, porém, a sua nona é maior. Não podemos
pensar na dom-dim que tem nona aumentada, mas a quinta dentro dela é justa. Dessa
forma o melhor a ser usado é a escala alterada. Em sua estrutura, encontraremos a nona
menor, nona maior, terça maior, quarta aumentada, quinta aumentada e sétima menor.
Ela só não possui o sexto grau, mas contempla todas as dissonâncias que estão sendo
pedidas na cifra.
E finalizamos no acorde de Sol maior que volta a ser o primeiro grau da música.
Ela não inicia com o primeiro grau, mas sim com a sua cadência. Temos então um
segundo grau menor com a quinta diminuta e a sétima menor. Para ele temos que
utilizar o modo lócrio. Em seguida, no lugar do que seria um quinto grau teremos o sub
V ou segundo grau bemol com sétima menor. Apesar da análise mostrar que se trata
desse segundo grau, pela estrutura vamos aplicar a escala lídio dominante, pois a cifra
mostra a obrigação de incorporar à tétrade a décima primeira aumentada. Chegando ao
compasso de número dois, aí sim, temos o primeiro grau de Do menor e para ele
usaremos o modo eólio.
Seguindo, temos um Fá maior com sétima menor caminhando também para o primeiro
grau. Esse movimento tem relação com a estrutura do blues. Um quarto grau indo para a
tônica da música. Esse tipo de procedimento ainda vamos analisar melhor mais à frente.
Por enquanto, o que é importante observar é que se trata de um acorde com formato de
quinto grau. Usaremos então o mixolídio sobre ele, mesmo sendo um quarto grau, mas
em decorrência da sua armação sonora.
Na sequência, temos um Sol com a décima terceira, o que nos leva a pensar que em sua
construção vamos ter também uma sétima menor mesmo que não colocada na cifra, e
para isso vamos usar o modo mixolídio. Seguido por um Sol bemol maior com sétima
menor e quinta aumentada. Vamos usar a escala de tons inteiros.
Não devemos nos espantar com as novas combinações de graus e modos, pois estamos
falando de um campo harmônico menor o que ocasiona novas relações para as escalas.
No compasso de número nove, temos uma cadência de segundo e quinto graus para Do
menor. Vamos usar o lócrio para o acorde de Re menor com quinta diminuta e sétima
menor, e vamos usar a escala lídio dominante sobre o Sol que tem sétima menor e
também, a décima primeira aumentada. Chegando ao primeiro grau novamente.
Adiante, vamos ter dois compassos com cadência IIm7/V7 formando um motivo
harmônico, e utilizaremos as mesmas escalas de maneira trasposta.
No compasso doze, o modo lócrio de Mi, e na sequência uma escala dom-dimde Lá.
Seguindo, teremos o modo lócrio de Ré e logo após a dom-dim de Sol. Chamamos uma
ocorrência desse tipo de motivo transposto, já que são modos iguais um tom abaixo do
outro.
Após essas análises temos a ideia de quantas notas e acidentes diferentes da armadura
de clave vamos trabalhar em uma peça, por mais simples que essa possa aparecer.
É claro, também, que muitas outras combinações podem aparecer, porém, aqui já se tem
a ideia de como vamos trabalhar, e a importância de saber observar o que é pedido na
estrutura de uma harmonia.