Você está na página 1de 1

Pesquisar

28  0  COMENTAR
no Jusbrasil
| 8 
SALVAR   PUBLICAR
 CADASTRE-SE ENTRAR

NOVO
Home Artigos Notícias Jurisprudência Diários O ciais Modelos e Peças Legislação Diretório de Advogados Consulta Processual

Desacato Advocacia Advogado Criminalista Advocacia Criminal

Artigo 331 do Decreto Lei nº 2.848 de 07 de Dezembro de 1940 Lei nº 8.906 de 04 de Julho de 1994

Direito Penal Canal Ciências Criminais 

O advogado criminalista frente à acusação


de desacato

Publicado por Canal Ciências Criminais há 4 anos  275 visualizações


Precisa de Orientação
Jurídica?

Por Anderson Figueira da Roza

Há algumas semanas recebi um pedido de um querido seguidor do Canal


Ciências Criminais para que eu escrevesse sobre o crime de desacato e suas
atuais implicações, além de referenciar também sobre a possibilidade de sua
revogação prevista em projeto de lei na Câmara dos Deputados.

Pois bem, primeiramente é preciso relembrar o artigo 331 do Código Penal:


“Desacatar funcionário público no exercício da função ou em razão dela: Pena
– detenção, de seis meses a dois anos, ou multa”.

Necessário ainda é entender o significado do verbo desacatar, consiste então


em ato de “faltar com o devido respeito; tratar com irreverência; desprezar”.

Feitas essas considerações iniciais, já se tem um grande problema, pois o


núcleo do delito passa a ser uma questão de educação, com significado amplo,
pois é necessário entender o que seria “o devido respeito” nos dias atuais. No
país em que vivemos, onde possuímos um amplo espectro cultural e
educacional separado por regiões geográficas distintas, as próprias vítimas do
delito – os funcionários públicos também possuem educação diferenciada.

A complexidade é tamanha de tratar o desacato como sendo crime,


relembrando aqui que é mais um dos delitos de menor potencial ofensivo, que
será processado em algum juizado especial criminal, bastando saber apenas se
foi cometido contra funcionário público municipal, estadual ou federal, para
determinação da respectiva competência, pois depende primeiro da iniciativa
do funcionário público de sentir-se ofendido ou desrespeitado, para depois
dirigir-se a uma delegacia de polícia e registrar uma ocorrência policial em
desfavor do ofensor, para depois haver processo.

É importante também entender que o direito penal por ser a ultima ratio, não
deveria elencar tipos penais dessa ordem, que tranquilamente podem ser
tratados na esfera do direito civil, com ações indenizatórias, ou quando muito,
dependendo do grau da ofensa ser processado como calúnia, injúria ou
difamação.

Além disso, é preciso também entender que diante de discussões envolvendo


funcionários públicos em serviço, pode haver do outro lado um advogado
também em serviço, sendo que este último nesta situação possui imunidade
profissional segundo o Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil, pela Lei
8.906/94. Sob esse prisma caberia até um novo artigo para confrontar a
violação de prerrogativas do advogado e o desacato. Necessário conhecer
quais ofícios possuem imunidades.

Existem projetos de lei no Congresso Nacional, que buscam a revogação


expressa dos delitos de desacato e também do abuso de autoridade. Dentre
eles ressalta-se o PL 602/2015 de autoria do deputado federal Jean Wyllys e o
PL 2769/2015 de autoria dos deputados Wadih Damous, João Daniel e
Jandira Feghali.

Porém, já existem decisões no Brasil, reconhecendo que o crime de desacato


está em desacordo com Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de
São José da Costa Rica), especificamente com o artigo 13, que garante
liberdade de pensamento e expressão, fundamentalmente por que se alia à
citada Convenção, que a Comissão Interamericana de Direitos Humanos
aprovou no ano de 2.000, a Declaração de Princípios sobre a Liberdade de
Expressão, sendo que este documento possui a finalidade de contribuir para a
definição e abrangência do artigo 13 do Pacto de São José da Costa Rica.
Considerando que o item 11 da Declaração determina “que as leis que punem a
expressão ofensiva contra funcionários públicos, geralmente conhecida come
‘leis de desacato’, atentam contra a liberdade expressão e o direito à
informação”.

Então, pode-se afirmar que o crime de desacato e aqueles cartazes colocados


muitas vezes em repartições públicas alertando as pessoas que vão solicitar o
serviço do Estado, estão com os dias contados.

Fonte: Canal Ciências Criminais

Canal Ciências Criminais

Portal jurídico de notícias e artigos voltados à esfera criminal.

5.026 9.732
PUBLICAÇÕES SEGUIDORES
 SEGUIR

8 Comentários

Faça um comentário construtivo para esse documento.

Escreva aqui...

COMENTAR

Glauco Pereira
3 anos atrás

Se os dois lados envolvidos na questão tivessem um pouco mais de educação e de


tolerância, talvez tipos penais como este cairiam em desuso...

Mas, como não vivemos em um mundo ideal, o que mais acontece é a utilização de
tipo penal, acrescido ainda da expressão "sabe com quem está falando".

Por estes aspecto, poderíamos, numa interpretação um pouco mais exacerbada,


afirmar que, em certos casos, o desacato é visto como uma forma de ameaça, como
se o agente público dissesse "...me deixe fazer o meu serviço como quero e quando
quero..."

Nestes caso, o singelo argumento da educação não cabe muito não...

 4  Responder 
Nilo Rodarte
3 anos atrás

Concordo com vossa posição, mas é um problema muito complexo. Lidar com
pessoas é muito difícil. Na condição de funcionário público eu já interferi no
atendimento que um colega estava prestando para um cidadão porque fiquei com
vergonha do jeito que esse colega estava tratando a pessoa. Fui lá e tomei o
atendimento pra mim e o colega saiu. Por outro lado, já presenciei diversas
ocorrências de cidadão muitas vezes sem razão, outras vezes até com razão, mas
todos nós engessados pela burocracia estatal, nm sempre dá para atender a
pessoa no tempo que ela quer e, como disse, já ví cidadãos "destruindo"
funcionários que os estava atendendo, descontando naquele funcionário as suas
frustrações com todo o sistema público como se aquele funcionário tivesse culpa
do problema. Então são dois lados da mesma moeda muito complexos. O cidadão
quer ser bem atendido. O funcionário público muitas vezes não tem uma mesa
adequada para fazer esse atendimento. Tem exageros dos dois lados, mas ouso
dizer que muito da culpa é de uma burocracia extremamente desnecessária.
Muita papelada, muito protocolo, muita coisa que podia ser resolvida pela
Internet, de casa...

 4 

Tiago Pedra
3 anos atrás

O negócio é instalar a Anarquia total!! Um absurdo lamentável a iniciativa, pois a lei,


como foi citado, já prevê remédio para os abusos dos dois lados, seja com a previsão
do crime de desacato, seja com o de abuso de autoridade. Só quem presta serviço de
atendimento ao público sabe como é difícil. Sou servidor público e advogado, não
exerço função incompatível com a advocacia, poderei me defender, mas fico
preocupado com os colegas policiais, por exemplo, que toda vez que forem
injuriados, difamados ou caluniados, no exercício da função, terão que contratar um
advogado para processar o ofensor, já que esses crimes são de ação penal privada..

 3  Responder 

Edimar Pereira dos Santos


3 anos atrás

Como é? as vítimas do crime de desacato são os funcionários públicos?! Não seria o


Município quando funcionário público se tratar de servidor municipal, o estado
quando o servidor estiver representando o estado a que serve, bem como a União se
o servidor for funcionário público federal?!

 1  Responder 

Marcel Santos PRO


3 anos atrás

A Constituição da República editada no ano de 1988 ressaltou os direitos subjetivos


em detrimento das obrigações. Expandiu o espírito democrático, de forma tão
intensa, que preparou o campo para atuação dos "rebeldes primitivos", expressão
emprestada do historiador britânico Erick Hobsbawn e adaptada à realidade
brasileira, que fustigam, com eficiência o cidadão. Esse comportamento de desafio
atinge os servidores públicos em sentido amplo, com a ab-rogação ou até mesmo, a
revogação da norma penal protetora da honra profissional dos referidos prestadores
de serviço público.

 1  Responder 

CARREGAR MAIS

Você também pode gostar