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DOENÇAS DE BEZERROS

B,

Mortalidadede Bezerros

A saúde dos neonatos depende da nutrição da mãe, durante o


períodode gestação (l) — deficiências do arraçoamento das matrizes
emenergia,vitaminas A e D, iodo, fósforo, manganês, cobalto, cobre,
molibdênioe selênio podem aumentar a morbidadee a mortalidadede
Depende também das boas normas de manejo e nutrição
terneiros.
dosprópriosneonatos (2), bem como da imunidade obtida por meio de
umconsumo adequado de colostro.
Oitentaanimais recém-nascidos das raças Ayrshire,Holandesae
cid Jerseyforam submetidos a duas temperaturas diferentes — m oc e
14,50C — e receberam dietas líquidas ou então sólidas — neste caso,
comdesaleitamentoaos 35 dias (3). Os pré-ruminantes apresentaram
0
-USI temperaturasretais mais elevadas, em especial no ambiente de 21 C,
e maiorincidência de diarréias que os desaleitados precocemente;Já
estesúltimos apresentaram mais lesões pulmonares e seus ganhos de
1984 pesoforam acentuadamente menores.
)821 Oterneirosofre maior risco de vida nas primeiras semanas após o
parto,quando tem de vencer as hostilidades do meio ambiente. Em
geral,índicesde mortalidade de até 5% são consideradosnormais, do
nascimento aos 3 meses de vida (4),mas são grandementeinfluencia-
dospelo tempo de ocupação do bezerreiro.
Nos Estados Unidos, em um estudo envolvendo 12 300 bezerros de
407rebanhos diferentes (5) as baixas ficaram entre 5,1% e 6,8%. A
mortalidade
foi de 6,2% quando o desaleitamentoera executado entre
6e 8 semanas e
de 7,7% quando às 8 semanas de vida; provavelmente
0 desaleitamento
em idade menor edgiu uma atenção especial do
criador,
alémde tecnologia mais elevada. Outros dados sobre mortali-
dadesão menos otimistas, ficando entre 8% e 25% (6, 7, 8, 9, 10, 41);
aindanos Estados Unidos, os resultados indicam não ter ocorrido
diminuiçãonessas taxas nos últimos trinta anos. Uma pesquisa efe- Si
tuadaem 477 letalidade de 17,7%, sendo
que11,3% criações de Michigan reveloumeses de idade (8) Tabela
ocorridado nascimento aos 2
88)'NaCalifómia,
em dezesseis fazendas pesquisadas, as baixas va-
de 3,7%a 32,
estatistica com a média geral de 20,2% (12).Em uma
abrangendotodas as regiões dos Estados Unidos, as baixas
entre 6,1% e 10,1% (15).

281
Autores (8)encontraram que as perdas de be
aos 60 dias de idade, foram iguais a 17,7%, daszerros,
quais
donascim
tadas por natimortos ou animais que pereceram 6,4%represen ento
8,5%, por ocorrências entre o nascimento e os 14durante o parto•
dias
s (8), cinco de idade.
baixas acontecem antes das 2 semanas de idade; segundo de cada
seis
três de cada quatro, antes dos IO dias. Além disso, 70% outros (10)
das proprie_
dades leiteiras visitadas apontaram a diarréia dos recém-nascidos
principal causa mortts. Parece haver um consenso de que como
raça Holandesa sofrem menor incidência de diarréias do que da bezerros
raças Jersey e Ayrshire; contudo, os Ayrshiresaparentamseros das
suscetíveis às infecçõesrespiratórias do que os Holandeses(16). menos
relatados (14) maiores casos de mortalidadepara neonatosda raças
Jersey e Guernsey (17%a 18%)que para os da Holandesa(13%).
Em geral, as perdas são mais elevadasem rebanhosnumerosos.
Foram registradas mortalidades anuais de 15,8%em plantéiscom
cem vacas ou menos; 19,3%, com cem a duzentas vacas;e 27,2%,
com mais de duzentas (9). Em Illinois (14) rebanhos com menosde
sessenta vacas apresentaram 12,5%,e com mais de sessenta,15,1%.

Tabela 88 — Mortalidade em propriedades de Michigan, Estados Unidos


(11).
Proprie- Bezerros Mortalidade
Tamanho do reba- (n' por pro- de bezerros
nho (nQde vacas) dades (nQ) priedades)

menos de 30 48 26 12,1
30 a 49 119 39 13,7
69 13,4
50 a 69 80 15,3
70 a 99 32
13 115 18,4
100 ou mais
média geral e 50 14,2
totais 281

mortalidade foram mais baixas quando a esposa


As taxas anuais de
ou os filhos dos criadores tomavam conta e mais elevadasquando
pelo
eram os responsáveis
empregadosou mesmo os proprietários 3 meses de idade,
trato dos bezerros (5). As perdas do nascimento aosUnidos (9),
foram
York, Estados
em 247 fazendas do Estado de Nova quan-
uma criança,8,8%
iguais a 6,3% quando a esposa, 8,4% quando
tomava conta dos
do o proprietário e 11,7% quando um empregado o proprietári0,
terneiros. Em outra pesquisa (13) as taxas foram: com

282
com um assalariado, 20, 1%; com a mãe ou a esposa
12,80/6; 12,3% (como taxas anuais de do
proprietário,entre dificuldade do parto e mortalidade).
Há relação mortalidade de bezerros; as
de animais nascidos de partos distócicos são quatro vezes mais
rdas dos nascidos de partos normais (13).O desenvolvimento
altasque asdesde o nascimento até a primeira cria, com alimentação
denovilhasapenas 65% das
queforneça ao parir e aumenta em energia, diminui o tama-
nhodas vacas apesar o.número de (68),
pis os bezerros, de também apresentarem menor peso, serão
proporcionalmente maiores em relação ao porte materno que seus
parceiroscujas matrizes receberam alimentação normal. Em vacas de
idadeavançada,a restrição de energia alimentar durante a gestação
podediminuiro peso do recém-nascidoa tal ponto que compromete
suaschances de sobrevivência no período pós-natal. Normalmente,
paraas novilhas de primeira cria, recomenda-se, além de uma alimen-
taçãoadequada, a escolha de touros que gerem filhos pequenos. Em
rebanhosmestiços, uma boa prática é realizar a primeira cobertura
dasnovilhascom touro da raça Jersey.

Antibióticospara Bezerros
Oempregode antibióticos para bezerros como aditivos alimentares
é feitoquer adicionado ao leite ou sucedâneo, quer às misturas
concentradas.No alimento líquido, seguindo via goteira esofagiana,
irãoter diretamente ao abomaso e aos Intestinos, onde suas principais
funções
serão as de controlar o crescimento de microorganismos
Potencialmente
patogênicos e prevenir fermentações indesejáveis. Já a
administração
na mistura concentrada coloca-osdentro do rúmen,
Ondesua ação será de alimentos.
a de aumentar o consumo
Dequalquerforma, os resultados do emprego de antibióticos depen-
demda higienedo meio ambiente: quando as condiçõessão boas, as
respostas
a seu uso são insignificantes;e, contrariarnente,quando as
Condições
são más, as respostas são excelentes.
Provasde campo executadas no Brasil mostram um aumento médio
nastaxasde
controle ganhos de peso da ordem de 26%, em relação aos animais-l
(17) são as respostas
aoempregode(Tabela89). Ainda mais espetaculares
quadros antibióticos em animais considerados refugos, já com
de diarréias
Apesar crónicas (Tabela 90).
dos
deestado
tórios, ambientes higienicamente insatisfa-
deve-segeral e criados em antibióticos
entossólidosconsiderar que os fornecidosjunto com os
thleroorgani têm efeito sobre a microflorado rúmen, agredindo os
smos ai presentes. Contudo, aqueles de largo espectro (entre

283
Dados Controles
Tratadoo

Número de provas 23
1 056 23
Número de bezerros 3209
Idade dos bezerros (dias) 1 a 100
1 a 100
Peso médio inicial (kg) 37,3
64,5 36,8
Peso médio final (kg) 70,2
Índice de crescimento 100 126,7
Ganho médio diário (kg) 0,328 0,416
Duração média das provas (dias) 80 80
Ganho total de peso (kg) 26,3 33,3
Atividadeda terramicina
(cabeça/dia) 100 mg

Tabela 90 — Emprego de antibióticos para bezerros refugos (17).


Dados Controles Tratados
Número de animais 40 40
Peso médio inicial (kg) 39,7 36,7
Peso médio final (kg) 41 ,4 45,2
Duração da prova (dias) 21 21
Atividade da terramicina
(cabeça/dia) 100 mg
Ganho de peso (kg) 1,67 8,50
Ganho diário de peso (kg) 0,079 O,404
Índice de crescimento 100 508

os quais a terramicina e a aureomicina) parecem apresentar um efeito


agressivo passageiro sobre a população ruminal. Assim, algumasobser-
vaçóes mostram que o emprego de pequenas doses desses antibióticos
não chegam a causar efeitos depressivos: 50 ppm não reduzirama
digestão da celulose pelos ruminantes adultos, enquanto 200 ppm
resultaram em uma depressão transitória de apenas dois diasde
duração (17).
O antibiótico usado na mistura iniciadora é a (terrami-
quantidade
cina). Nesse caso será impossível um controle preciso da indiví-
ingerida, pois o consumo da mistura varia grandementeentre 15 e 80
duos; procura-se, no entanto, alcançar doses diárias entre de
do emprego
mg. O aumento na ingestão de alimentos, resultante diminuição
antibióticos com os concentrados, tem sido atribuído a uma

284
da fermentação ruminal, por agressão às
bactérias do rúmen,
uma maior proporção de nutrientes sendo digerida
ao
com
so e dos intestinos (18). Esse fato propiciaria nivel do aboma-
melhor
dosnutrientes, maior desenvolvimentodo animal e, aproveitamento
te, maior consumo (Tabelas 91 e 92). Niveis conseqüentemen-
mais elevados de glucose
sangüínea,em bezerros tratados, parecem suportar
esta teoria (19).

Tabela91 — Porcentagens de fibras aproveitadas


de tratamento pelo bezerro (17).Dias

Controle 1 2 3 4 7 8 15
75 mg/dia* 36,0 32,7 44,4 40,9 61,8 43,8 50,8
100mg/dia* 20,8 40,1 45,8 39,7 63,6 55,4 52,0
150mg/dia* 17,6 26,6 38,4 34,9 55,9 43,0 55,0
3,4 32,9 40,8 32,1 49,1 44,0 59,2
terramicina/dia/cabeça
Nota:O autor deste livro (20), em provas de crescimentobacteriano, não
encontrouevidências de que o número de bactérias ruminais tenha diminuído,
em terneiros que ingeriam antibióticos. As amostragens de fluido mminal,
contudo,foram feitas por sonda esofagiana, e assim outras variações podem ter
interferido
nos resultados obtidos.

Tabela 92 — Número de bactérias/ml de fluido ruminal (20) (I x 108/ml).


Semanas Bactérias
de vida Tratamento NQde bezerros

4 Com antibiótico* 10 203,3


Sem antibiótico 10 298,2
8 Com antibiótico* 10 385,7
Sem antibiótico 10 209,5
MR747, Merck
Sharp, EUA.
e df
não ocorreram diferenças significativas nos números de bactérias (F = 1,27
3,36).

Comoantibióticos têm provocadoaumentos nos ganhos de peso e


reduzidoos índices de mortalidade, em relação aos tratamentos-
controle,seu uso tem sido recomendado quando as condições ambientes
nãosão Consideradas ideais, ou ainda quando empregam-se sistemas
dedesaleitament0 de idade, por exemplo.
muito precoce, às 5 semanas
sempre mais interessante utilizar-se o produto no leite ou no
285
quantidade ingerida, como tamt*m
pela garantiada e nos intestinos.
sucedâneo, no abomaso
atuação
apenas condições ideais que dispensam o emprego de
as Roy (19) enumera as seguintes:
guals seriam bezerros?
antibióticospelos na própria fazenda, o que impede a introdução
nascidos as quais poderiam apresentar uma
1)animais de bactérias,
de cepasestranhas
maior em ambiente novo;
virulência
neonatos devem apanhar o colostro na própria mãe, assegu-
2) os a ingestão efetiva ocorra nas primeiras 3 a 4 horas
rando-se ainda que
de vida; de alimentação, e que não se empreguemsiste-
3) condições boas
precoce (por exemplo, antes das 6 sema-
mas de desaleitamento muito
nas de idade);
4) construções bem arejadas, varridas pelo sol e protegidas de ventos
frios, com cama limpa e seca, ou estrados;
5) número de animais não muito grande, sob um mesmo teto, ou
então que se utilizem abrigos individuais (cabanas);
6) que o homem empregado na lida com tenha
Os antibióticos adicionados aos alimentos líquidos atacam os mi-
croorganismos potencialmente patogénicos, diminuem os níveis de
urease e aumentam a síntese de vitaminas no aparelho digestivo;a
parede intestinal dos animais tratados apresenta-se delgadaem rela-
ção aos testemunhas. No Brasil, não é feito o uso generalizadode
antibióticos,a não ser pela presença em algumas das misturas inicia-
doras adquiridas no comércio. aA4xsardo reconhecimentode que são
um auxílio valioso, principalmente em condições piores de criação,
pesquisas sobre mortalidade de bezerros realizadas na Inglaterra,em
1946, quando antibióticosnão eram dispniveis e. em 1962,quando
seu uso era generalizado,mostraram a mesma média geral, iguala
5%, até os 6 meses de idade.
Muitos pesquisadores criticam o uso indiscriminadodos antibióti-
dos
cos na alimentação risco do estatrlectmento de resistênciaque
microorganismos, o que foi comprovado; mas náo foi provado forma
doses posteriores curativas tivessem sido afetadas de alguma o uso
que
pelo emprego anterior de doses preventivas. Há registros debezerreiro,
continuado das drogas por longo período de ternp. em um sua utilização
provoca um decréscimo de seus resultados e, assim, descri-
as condições ideais
deve ser feita somente quando náo existam (21):resultados
tas por Roy (19). Há, no entanto, opiniões discordantes empregode
anos com
de um estudo executado em um período de onze veterinária,não
na
antibióticos, tanto na medicina humana comohavendo inclusivea
indicaram aumento de resistência bacteriana, menos
possibilidadede que as bactérias tenham se tornado
em sua resistêncfa ao emprego extensivo do produto.
286
outro trabalho (22) utilizou 28 bezerros submetidos ou não a anti-
bióticosem doses subterapêuticas, sendo depois todos infectados
oralmentecom Salmonella typhtmurtum.Quarenta e oito horas após a
inoculação surgiram sintomas da moléstia, sendo os doentes
tratados
comdoses terapêuticas de oxitetracicllna (11,1 mg/kg de peso vivo por
dia,durante três dias, por via intramuscular). A conclusãofoi de que
dosespequenas do produto, fornecidas previamente à moléstia, não
afetaramem nada a resposta às doses curativas aplicadas após o
aparecimentode sintomas.
Desde1950 muitas pesquisas vêm demonstrando beneficios na
administraçãode antibióticos a bezerros Jovens: ganhos maiores de
peso(23, 24, 25, 26, 27, 28, 29, 30, 31, 32, 33, 34, 35); aumento do
os
consumode alimentos (23, 24, 25, 26, 29, 30, 31, 32, 33, 34, 35);
diminuição de diarréias e da mortalidade (25, 29, 32, 34, 35).
ou

Diarréiade Bezerros
Diarréiaé o sintoma clínico de hipersecreção de fluidos para o
de interior
do trato alimentar, em resposta à ação de um agente imitante
(36),que pode ser de natureza química, fisica ou infecciosa (bactérias
evírus).Fezes com menos de 120 g de matéria seca por quilo caracte-
rizamdiarréias (37), que podem ser classificadas como putrefativas,
onde predominam os microorganismos sacaroproteolíticos, ou como
são
fermentativas,
çáo, açúlcares onde predominam os microorganismosque convertem
em ácido láctico. Uma segunda classificaçãotenta defini-las
comonutricionaisou infecciosas, as primeiras geralmente relacionadas
rido às
fementativas,e as segundas, às putrefativas.Contudo, os diferen-
testipospodem desenvolver-se em outros — por exemplo, as nutricio-
naisfreqüentemente se transformam em infecciosas. Por outro lado,
as Putrefativas,devido às grandes quantidades de E. colt presentes,
Causam
Ilf Coma danos ao epitélio intestinal, reduzindo a atividade enzimática.
lactase diminuída, surgem fermentações de carboidratos no
intestinogrosso e produção de ácidos graxos, como o acético e o
láctico.Em outras palavras, uma disfunção do tipo putrefativo evolui
ouassocia-se,
dessa forrna, à do tipo fermentativo.
A diarréiados neonatos é a maior causa de perdas de bezerros
novos•Seu tratamento geralmente é dificil por ser raro diagnosticar-se
0 fatorcausal
combate com precisão e rapidez. Atualmente os métodos de
(terapiaincluema luta contra a desidrataçãoe perda de eletrolitos
de fluidos e eletrolíticas) e contra a acidose (36).
NaVerdade, a diarréia é apenas um sintoma clinico de uma disfun-
do aparelho
digestivo. Bactérias, vírus ou nutrientes ingeridos e
digeridoscausam hipersecreção das células intestinais e falha
287
o processo ocorrem perdas de
de fluidos.Durante
que 'leva acidose e
absorção
na bicarbonatoe água, o vezes os bezerros
muitas
dioe dessesprob\emas,
normaisde e ainda a
quantidades
consomem na ingestão. aproveitamento dos
o assim. queda têm um espaço da
reduzida.Há, peso. Os animais saudáveis
e perdade corporal ocupado pe\a água•, os com diarreia.
de 87%do pesodurante os processos, parece ser igua\mente
A desidratação, compartimentos orgânicos. O turn-ouer, ou
os
buída por todoságua medida
orgânica, aumenta drasticamente
Nuçaodo total da mais severo (38).
o quadro se torna enumeradaspara o aparecimento de diarré\a.
causas são
artificia\, a má higiene dos baldes
das infecciosas.no aleitamento
fornecimento de \eite•,o emprego de misturas concentradas
àrcia\mentefermentadas comum deixar o animal apanhar sobras
midas do concentradoque permaneceu nos cochos desde o dia
a qualidadedo leite ou sucedâneo fornecido e falhas em sua
mterior)•,
coagu\açáo ao alcançaro abomaso, extravasamento de \eite para o
rúmenpor defeitona formaçáoda goteira ou outros motivos, a supe-
tanto no aleitamentoartificial quanto no natural. Uma
diarréiaque de inicio r•ño represente um risco acentuado, não rece-
bendo a devida atenção por parte do tratador. facilmente
transformar-seem um quadro grave, com das bactérias
na luz intestinal.

Colibacilose
A "diarréiabranca" ou "curso branco" ocorre semana
de vida. Trata-se de uma durante a
coli-A moléstiaé uma enterite intestinal causada Eschertchta
grave.acompanhadade diarréia. dos tecidos intestinais)
uma forma mais agressiva, uma ou ainda ser representada pr
rente circulatóriados bezerros toxemia-septicemia (invasáo da cor-
a taxa de mortalidade por e bactérias), quando entã
Nas diarréias toma-se extremamente e\evada.
a E. colt,o cheiro das fezes é muito pronunciado,
de "curso branco" é devida
apresentaremaquosas e ao fato de e\as
outros,aquosas acinzentadas, em muitos dos casos. e,
e amareladas•,
de ar e manchas é comum também a presença de
neonatospodem de sangue. Nos casos de
sintoma morrer no ou dia de vida sem mostrar qua)
ser
interna normal pulso fraco e frieza dos membros•.a temper
O processoou subnorma\ e pode rño ocorrer evidênciade
agudo que há tempo sequer para
288
das fezes. No entanto, os casos típicos se
desenvolvem durante as
primeiras3 semanas de idade, mais freqüentemente
apresenta-seentorpecido, fraco e recusa o leite na 14.O bezerro
Coma diarréia tornando-se mais intensa, o raboque lhe é ofertado.
fezes,muito líquidas, saem em Jatos. Há sintomas fica sujo, pois as
de dor abdominal e
desidratação(é tipico os olhos se apresentarem
aprofundadosdevidoà
perda de adiposidade da cavidade orbitária). Na
eventualidade de
mortes,os exames necroscópicos mostram uma concentração
elevada
deE. colino intestino delgado, quando normalmente seu
número deve
serreduzido neste local. Contudo, é interessante frisar que uma pro-
liferaçãobacteriana rápida e extensiva ocorre no aparelho digestivode
bezerrosapós a morte. Aliás, em animais examinadosimediatamente
apóssacrificados, observou-se no trato alimentar que as membranas e
osvasos sangüineos pareciam perfeitamente normais; seis horas mais
tarde,no entanto, apresentavam aparência macroscópicade um pro-
cessode enterite (87). Em exames de aparelho digestivo feitos por
laparotomia,imediatamente antes do sacrificio,não foram constata-
das diferenças entre terneiros com diarréia e terneiros saudáveis,
emborao conteúdo do intestino grosso geralmente fosse em média
quatrovezes maior nos doentes (57 ml contra 14 ml). A grande dife-
rençaesteve na característica do conteúdo intestinal, aparente mesmo
Ite na primeira porção do intestino delgado. O indivíduosaudável apre-
sentouconteúdo viscoso, opaco, homogêneo e de cor amarelo-clara, o
qual,deixado em descanso, em um recipiente, mostrou-se razoavel-
menteestabilizado, com partículas pequenas em suspensão, sendo
que as partes maiores sedimentaram lentamente. À medida que o
exameatingiu porções mais distais do intestino, o aspecto dos conteú-
dosfoimenos opaco, mais espesso, a coloração indo para o alaranjado
e' em seguida, para o castanho; nas porções finais foi homogêneo,
Semi-sólido e no intestino grosso semelhante às fezes, embora estas No se
aPresentassemmais concentradas e com coloraçãomais escura.
bezerrodoente, a situação foi bastante diversa:o conteúdoda primei-
ra POrçãointestinal foi heterogêneo e, imediatamenteapós a coleta,
Separou-se e uma sedimentada, com
em uma parte fluida verde-claracompreenderam
aspectode flocos esbranquiçados, os quais de 30% a
500/0do volume total. Nas porções finais do intestino o aspecto é pouco
alterado,a não ser por um aumento da porção sólida: os conteúdos do
intestinogrosso e das fezes são parecidos com os do intestino delgado.
NOtocante ao pH do trato digestivo, as maiores diferenças ocorreram
no intestino resultados obtidos de treze
delgado, quando comparadosdiarréicos e nove severamen-
animais
te dia saudáveis, onze moderadamente
be rréicos. A Tabela 93 mostra dados do conteúdo intestinal de
zerrosSacrificadosduas horas após terem recebido I litro de leite.
destes, os autores (87) sacrificaram mais dezesseis, em horários
289
diferentesdepois da refeição, e não encontraram resultados diversos.
O pH do rúmen nos animais saudáveis apresentou média de 5,5 va_
riando de 5,0 a 6,9 (87).
Tabela 93 — pH dos conteúdos de diferentes partes do intestino;o
intestino delgado foidividido em sete porções, a de número
I próxima ao abomaso e a de número 7 anexa ao intestino
grosso (87).
pH dos conteúdos intestinais de bezerros
órgão Saudáveis Com diarréia Com diarréia
moderada severa
Média Variação Média Variação Média Variação
Abomaso
I. delgado 4,9 3,5-5,4 3,7-5,7 4,5 3,7-5,4
parte 1 5,9 5,7-6,4 5,8 4,8-6,3 5,3 4,9-5,7
parte 2 6,1 5,8-6,4 6,0 5,3-6,4 5,6 5,3-6,2
parte 3 6,3 6,0-6,9 6,2 5,4-6,7 5,8
parte 4 6,5 6,1-7,0 6,6 5,7-6,5
parte 5 6,8 6,5-7,5 6,8 6,3-7,2 6,2 5,9-7,1
parte 6 7,2 6,8-7,9 6,5-7,4 6,3 6,0-7,2
parte 7 7,1-8,3 6,3-7,6 6,4 6,2-7,2
I. grosso 6,6 5,4-7,2 6,0-6,7 6,6
Reto 6,0 5,3-7,2 5,8-7,8 6,4 5,7-7,2

Ao nascer, o bezerro tem o aparelho digestivolivre de bactérias,


mas na primeira refeiçãoelas já se introduzem e multiplicam-se.Os
coliformessão habitantes comuns dos intestinos de todos os animais
e do homem, onde vivem sem causar qualquer maleficio.Bezerros
saudáveis apresentam normalmente E. coli no intestino grosso, contu-
do em número relativamente pequeno. Fatores que baixem a resistên-
cia do animal, aliados à presença de estirpes patogénicas, permitema
multiplicação desses microorganismos,sua penetração nas células
intestinais e até a passagempara a corrente circulatória.Após5 horas
e meia do nascimento,a E. coltestá restrita principalmenteao íleo
(porção final do intestino delgado) e ao intestino grosso; com 8 horas e
meia alcança o abomaso, onde é encontrada na concentraçãode 103
por ml. No duodeno, início do intestino delgado, esse microorganismo
atinge um pico entre 1 e 4 dias de vida e, em saudáveis,
declina para um pequeno número por volta de IO dias (10 a 102Em por
(64).
ml) devido à dominância, neste local, dos Lactobacillusspcontagens
contraste, animais que morrem por colibaciloseapresentam
de E. coli de 107 a 108 por ml, no duodeno.
290
guando um terneiro adoece e apresenta diarréia branca, os
causaissão encontrados em grande número nas excretas, havendogermes
aumentona possibilidade de infectar companheirosque compartilhem
a mesmainstalação. Por isso, o isolamento dos doentes é de grande
importância.Existem várias estirpes de E. colt, e sua virulência
é
aumentadapela passagem do organismo de um bezerro para o de
outro.Nos terneiros privados de colostro, a septicemia por E. colt é
devidaà coleta heterogênea de diversos tipos; Já nos que receberam
nonnalmentecolostro, as septicemias parecem estar associadas à maior
virulênciade certos tipos que produzem colicina (39). Há evidência de
quea IgAé menos eficiente que a IgMe a IgG,na imunizaçãopassiva
contradiarréia de bezerros por colibacilose.
AsTabelas 94, 95 e 96 mostram os números de Eschertchtacolt,
clostridtumwelchtte Lactobacillussp encontrados em tratos alimenta-
res de bezerros com 8 a IO dias de idade: saudáveis, moderadamente
doentese severamente doentes, que haviam recebido colostro; e de
moderadamentedoentes e severamente doentes, que não haviam rece-
bidocolostro,com idades entre 2 e 8 dias. Para os indivíduossaudá-
veis,as contagens de E. colt mostraram números pequenos no início
dointestino delgado, aumentando consistentemente até o final e ainda
maisno intestino grosso. Nesses animais, os Lactobactllussp forma-
ramo principal componente da flora do abomaso e do intestino delga-
do,sendo ultrapassados em número apenas no intestino grosso e reto.
O fato mais significanteencontrado nas Tabelas 94, 95 e 96 é que
os animais privados de colostro e doentes apresentaram bacteremia:
de dezessete bezerros nessa situação, a E. colt foi isolada do sangue de
catorze,sendo que, destes, em doze casos isolada como única bactéria
presente (87).
Nãose sabe se é o elevado número de E. coltque causa diarréias ou
se estas é que ocasionam o aumento daqueles microorganismos,em
todoo intestino delgado, do duodeno até o íleo. A temperatura intema,
inicialmente,pode apresentar ascensão, mas depois torna-se subnormal.
Adiarréiacausa grandes perdas de água, bicarbonato, cloretos, potás-
sioe sódio, pela fezes. Com o decréscimo desses eletrolitos no organis-
mo, surge como conseqüência a migração do potássio intracelular
Para0 plasma sangüineo. O volume de urina diminui acentuadamente
na busca de uma economia hídrica, ocorrendo maior concentração de
uréiasangüínea, que sobe de Seus valores normais de 16 mg/ 100 ml
Para 41 mg/
100 ml de sangue ou valores ainda mais altos,nos casos
emque os animais morrem (19).A perda de bicarbonato pelas fezes
Pr0V0ca acidose sangüínea, agravada pelo aumento dos corpos cetô-
nicoscirculantes,uma vez que o bezerro tenta retirar a energia de
que necessita
(19),se de seus depósitos de gordura orgânicos. Segundo Roy
o pH
sangüineo atingir valores inferiores a 7,2, ocorre a morte.
291
Tabela 94 — Número de E. colt no conteúdo do trato alimentar de bezerros (87), sendo
em sete o intestino delgadodividido
partes, a de número I anexa ao abomaso e a de número 7 anexa ao intestino
grosso.

Logaritmo da contagem de E. coli viáveis


órgão Bezerros
com colostro Bezerros sem colostro
Saudáveis Moderadamente Severamente Moderadamente Severamente
13 doentes doentes doentes doentes
8 7 5 9
Abomaso 5,3 (3,3-6,7) 5,2 (4,3-5,2) 5,7 (2,7-6,3) (5,6-8,6) (3,7-7,6)
I. delgado
1 (3,0-6,5) 4,0 (N -5,7) 3,7 (2,3-5,4) 6,5 (4,6-8,0) 5,9 ( -7,7)
2 3,9 (2,7-6,3) 4,2 (2,3-5,7) 5,2 (4,3-8,4) (2,7-8,8)
3 4,4 (2,7-7,1) 4,7 (2,8-6,2) (2,4-8,3) 5,2 (4,2-8,4) 7,5 (5,5-8,8)
4 4,4 (2,8-6,3) 4,8 (2,9-5,9) 5,0 (2,7-9,7) 6,2 (4,0-8,3) 7,9 (5,9-9,4)
5 5,0 (2,9-7,3) 5,7 (3, 1-7,2) 6,0 (3,4-9,7) 7,3 (4,3-8,6) 8,7 (7, 1-9,0)
6 6,0 (3,3-8,4) 6,4 (3,3-7,2) 6,9 (2,5-9,2) 8,4 8,7 (8, 1-9,9)
7 7,0 (4,7-8,6) 7,2 (3,9-8,2) 7,3 (4,6-8,9) 8,8 (5,6-9,1) 8,9 (8, 1-9,4)
I. grosso 8,6 (6,9-9,6) 8,2 8,6 (8,0-9,4) (7,5-9,5) 9,5 (8,7-9,7)
Reto 8,5 (7,7-9,7) 8,4 (6,8-9, 1) 9,2 (8,0-9,3) 9,3 (7,5-9,5) 9,6 (8,5-9,9)
Sangue 3,4 (N -3,7) 4,2 ( N -7,1)
Tabela 95 —Número de Clostrtdtumwelchtt no conteúdo do trato alimentar de bezerros (87), sendo o intestino
delgado dividido em sete partes, a de número 1 anexa ao abomaso e a de número 7 anexa ao intestino
grosso.

I.ogaritmo da contagem de C. uztchii viáveis


Bezerros com colostro Bezerros sem colostro
órgio
Saudáveis Moderadamente Severamente Moderadamente Severamente
13 doentes doentes doentes doentes
8 7 5 9
Abomaso 2,4 ( N -4,4) ( N -2,3) ( N -3,1) ( N -5,3)
l. delgado
1 N (N -2,2) N (N -1,7) N ( N -1,7) N ( N -1,7) ( N -4,5)
2 N (N -2,3) N (N -2,2) N ( N -1,7) ( N -4,0)
3 N (N -2,7) N (N -2,2) N ( N -1,7)
4 N (N -2,5) N (N -2,2) N ( N -1,7) ( N -5,'O)
5 N (N -3,4) N (N -2,0) N ( N -2,0) ( N -5,2)
6 2,3 ( N -3,7) N (N -2,6) N ( N -2,5) ( N -2,7) ( N -6,3)
7 (N -3,7) N (N -5,3) ( N -3,9) N ( N -2,3) 3,7
l. 4,0 (1,7-7,2) (N -6,0) 6,7 (5,6-8,7)
Reto (N -7,7) (1,7-7,0)
3,9 (2,7-7,2) 6,4 (3,7-8,4)
Sangue 7,2 (6,4-9,6) ( N -8,2) (3,4-8,2)
N (N N) N (N -1,7)
Tabela 96 —Número de Lactobactllus sp no conteúdo do trato alimentar de bezerros
delgado dividido em sete partes, a de número I anexa ao abomaso e (87),sendo o intestino
grosso.
a de número 7 anexa ao intestino

Logaritmo da contagem de sp viáveis


Bezerros com colostro Bezerros sem colostro
órgão
Saudáveis Moderadamente Severamente Moderadamente Severamente
e.
13 doentes doentes doentes doentes
8 7 5 9
Abomaso 7,3 (6,3- 8 7) 7,8 (6,0-8,3) (7,3-8,7) 7,5 (7,2-8,2) 8,2 (5,7-8,3)
I. delgado
1 6,5 (5,3- 8 1) 6,7 (6,0-7,6) 7,8 (6,5-8,9) 6,7 (6,5-7,7) 7,5 (4,5-8,5)
2 6,5 (5,5- 7 8) 6,5 (6,2-7,5) 7,5 (6,6-8,1) 6,7 (6,2-7,9) 7,5 (3,7-8,7)
3 6,6 (5,5- 8 1) 6,7 (5,8-7,7) 7,7 (6,7-8,3) 7,0 (6,2-7,8) 7,7 (4,0-8,8)
4 6,3 (5,5- 8 1) 7,5 (5,2-8,2) 8,2 (6,7-8,4) 6,5 (5,9-7,9) 7,9 (3,9-9,3)
5 6,5 (5,9- 8 6) (6,2-8,0) 8,2 (7,0-8,7) (5,9-8,0) 8,3 (4,0-9,8)
6 (5,2- 93) 7,5 (7,0-8,4) 8,4 (6,7-8,7) 7,7 (6,7-8,2) 8,7 (4,0-9,5)
7 8,7 (5,0- 95) 7,3 (6,8-8,6) (7,2-8,5) 8,7 (4,0-9,5)
I, grosso 9,4 7,4 (6,0-9,5) 8,4 (7,6-9,9) 8,7 (7,7-9,5) 9,0 (7,4-9,8)
Reto 9,2 (7,2-10,4) (7,8-9,5) 8,7 (8,1-9,7) 8,6 (8,2-9,3) 9,5 (8,7-9,9)
Sangue N) N ( N -4,4)
Arritmiase sincopes cardíacas causam as baixas,
casos, por falta de níveis mínimos de potássio na na maioria dos
coração.O desenlace ocorre geralmenteem três a cinco musculatura do
sobreviventesapresentam mau desemFznho. Pneumonias dias, e os
caçõescomuns ao quadro descrito. A prevençãoda moléstia são compli-
é muito
maisefetivae económicado que seu tratamento.
Um bom consumo de colostro pelo neonato é a medida
preventiva
por excelência. O período entre o nascimento e a primeira ingestão
um fator de importância: o colostro deve chegar ao intestino antes é
das
bactériasinfectantes. Contudo, o processo não é tão simples assim: a
quantidadedo alimento líquidoe o número de colibacilos
nogênicosingeridos devem ser considerados. Práticas de manejo que
retardam e/ou limitam quantitativamente a ingestão de colostro, ou
aindaquando o meio ambiente está altamente infectado.compriorida-
de para o local de nascimento), são fatores predisponentespara ocor-
rênciade um grande número de infecçõesintestinais, Os neonatos
dependemdos anticorpos provenientesdas secreçõesmamárias para
ficarimunes ao ataque das E. colt patogénicas, quer por via sistêmica
(septicémicas),quer pelas infecçõesintestinais (enterotmdnogênicas).
Os anticorpos do colostro, que são absorvidosnas primeiras 24 a 48
horas de vida, previnem o aparecimento de septicemias por E. colt,
mas não as infecções intestinais. Ao contrário, os anticorpos ingeridos
que não atravessam o epitélio intestinal protegem contra a colibacilose
enterotoxinogênica,mas não contra as septicemias. Portanto, um
bezerropode estar imune à septicemia (o que pode ser detectado em
provas de concentrações de imunoglobulinasséricas), mas, mesmo
assim,vir a morrer de colibaciloseentérica. Dessa forma, a ingestão
de colostro não deve ser feita visando apenas atingir um nível máximo
de concentração de imunoglobulinas séricas, mas também prover boa
concentraçãode anticorpos na luz intestinal. É recomendávelque, nas
Primeiras25 horas de vida, o bezerro ingira 10%de seu peso como
colostro,sendo que metade desta quantidadedurante as primeiras 6
horas (40).A colibacilose é responsável por cerca de 90% das perdas
de bezerrosnas primeiras semanas de vida (2).
NOsoro dos bezerros, dois fatores séricos foram encontrados: um
termolábil(inativado quando submetido a 600Cpor uma hora) e outro
termoestável,este último somente apresentando atividade antibacte-
riana, na presença do primeiro. O soro sangüineo colhido antes da
ingestãode colostro possui o fator termolábilsomente; o colostrotem
o fator termoestável,e o soro sangüíneo, colhidoapós a ingestão de
COIOstro, possui ambos os fatores. A parte termoestável é representada
Pelasimunoglobulinas, e a termolábil, pelo sistema properdina (69).
Este sistema presente ao nascimentoe tem ação bactericida,
sendo está estirpes de E. colt (87),
reforçado pelas imunoglobulinas. De 38
295
vinte foram inibidas em seu crescimento pela properdina; treze, pela
Junção de properdina mais imunoglobulinas; e cinco estirpes não foram
inibidas em nenhuma situação.
Assim, que o soro de terneiros privados de colostrotem
alguma ação bactericida sobre a E. colt Para provar essa hipótese,
foram colhidas estirpes provenientes do intestino delgado e do sangue
de animais doentes, privados de colostro, e do intestino delgadode
animais doentes e de animais sadios que receberam colostro,Os
resultados estão na Tabela 97.
Em resumo, a E. colicausa duas doençasem bezerros:a septice-
mia, quando há invasão bacteriana da corrente circulatóriae dos
órgãos internos — figado, cérebro, baço, pulmões, gânglios linfáticos
mesentéricos, principalmente (87); e a forma entérica, localizadana
mucosa do intestino delgado. Os tipos de E. coli que causam uma e
outra infecção são diferentes e distinguem-se ambos do grupo de E.
coli que faz parte da microflora normal do aparelho digestivo.

Tabela 97 — Crescimento de estirpes de E. colide diversas procedências,


em soros de bezerros privados de colostro (87).
Porcentagem de
Número Número estirpes que
Fontes das estirpes de de cresceram no
animais estirpes soro de bezerros
sem colostro

Sangue de animais doentes


privados de colostro 10 10 100
Intestino delgado de animais
doentes privados de colostro 9 18 14
Intestino delgado de animais
doentes que receberam colos-
tro 15 30 30
Intestino delgado de animais
saudáveis que receberam 25
colostro 14 28

produz duas en-


A E. coli que provoca diarréia a termoestável (tipo
terotoxinas, uma termolábil, outra termoestável: importantedessas
A) é a que causa diarréia (40). Uma característica (K-99),que permi-
bactérias é a presença de pilosidadesou fimbrias e, assim, a coloniza-
tem sua fixação nas células do epitélio intestinal
epitelial. O íleo (porçá0
do intestino delgado, forrando a parede
296
final do intestino delgado) seria um local de especificidadepara a
aderênciado K-99 (37).
As pilosidades ou fimbrias dessas bactérias são filamentos protéicos
finosque cobrem a superficie de seus corpos. A fixaçãodas E. colt
ocorrequando as fimbrias reagem com sítios de recepção nas células
do intestino delgado. A fimbria mais importante da E. colt enterotoxi-
nogênicaé o antígeno K-99, encontrado em praticamente todos os ca-
sos de diarréias por colibacilose. Atualmente, além do antígeno K-99,
sabe-seque a E. coli também deve ter presente um antígeno somático,
chamadode Sta. para causar a doença.
Nodesenvolvimento de diarréia com colibacilosenterotoxinogênicos,
ao
teríamos: a) a infecção com a bactéria; b) a fixação de bactériae c)
epitéliointestinal, resultando na colonizaçãodo intestino delgado;
a produção e ação do Sta. Esta cadeia de eventos metabólica resulta em diarréia
e final-
aguda e desidratação severa do animal, acidose
mentemorte, nos casos mais graves. pela contami-
A infecção ocorre logo após ou durante o nascimento,as E. colt que
nação da boca do animal com fezes. Norrnalmente, patogênicas, sendo que a
colonizamos intestinos dos bezerros não são
e são constante-
maioriadessas bactérias fica suspensa no digesta digestivo. Seu número
mentepropelidas para a Jusante do aparelho
intestinal.
raramenteexcede 107 por grana de conteúdo metade posterior do intesti-
A colonizaçãopelas bactérias ocorre na
fixação das mesmas na parede intestinal é
no delgado,sendo que a à porção flnal do trato
imprescindivelpara que não sejam conduzidas
a maior parte de E. colt está no
digestivo.Nos bezerros normais, permanece fixa à muco-
10% a 20%
conteúdodo intestino e somente colibacilose,80% a 90% das bac-
sa•Em contraste, nos animais com parede do intestino. É usual a
tériasenterotoxinogênicasestão fixas à afixadas ao
bactérias superpostas,
Ocorrência de várias camadas de a produção de Sta torna-se
epitélio;quando seu número é grande, produzida pela E. colt
SUficiente para causar diarréia. A enterotoxina
sítio do intestino, terá açáo de dese-
Patogênica,em um determinado extensão do epitéliode revesti-
qUllibraras trocas hídricas em toda a que a enterotoxina
mentodo trato digestivo(65).O mais provável é
do íons e da água por meio
alteresimultaneamente os movimentos a absorção sobrepuja-se à
I das membranas celulares. Normalmente, e inibe a absor-
secreção,mas o Sta provoca o estímulo da secreção
resultando em perdas de fluidos e diarréia. Os bezerros infectados
comcoltenterotoxinogênicospodem perder de 1 a 2,7 litropelo de fluido
troca de líquidos epité-
Pelasfezes,em 24 horas. curiosamente, a
lio intestinal, direçóes, alcança 144 litros por dia. A
em ambas as 1% a 2% do
PerdaPela diarréia de 1 a 2,7 litros consiste em apenas
para dentro e fora
fluxototal o fluxo líquido
(40). Segundo Roy (37),
297
de 80 litros por dia. No ileo há sugestões de
dos intestinos é da ordemalcance
que a magnitude do fluxo 5,5 a 6 litros por hora. As diferenças
de secreçãoe absorção normalmente devem ser de apenas 50 ml por
dia em todo o intestino, mas nos animais com diarréia, alcançandode
I a 2,7 litros, causam desidratação e morte. Nesse aspecto, continuar
a alimentação líquida para bezerros com diarréia, teoricamente, auxi-
liaria a manter o volume plasmático; contudo, com essa medida, aliás
problemática, pois o animal perde o apetite, não foi conseguidaa
diminuição de mortalidade (42, 43).
A transmissão da colibacilose enterotoxinogênica é feita pelas fezes
de bovinos. Com a diarréia, têm-se 2 kg ou mais de fezes semilíquidas
por 24 horas chegando ao meio exterior apresentando contagensde
1010enterotoxinogênicos por mililitro. Os bezerros que se recuperam
continuam expelindo bactérias por vários meses, as quais são também
expulsas pelas fezes normais de animais adultos, que as abrigamem
seus aparelhos digestivos, sem desenvolver a doença. Além disso, esses
microorganismossão bastante resistentes quando no meioambiente,
onde podem sobreviver por seis meses ou mais, em condiçõesfavorá-
veis; as formas capsuladas apresentam maior resistência.
A diarréia causada por colibaciloseenterotoxinogênicaocorrenos
primeiros dias de vida, raramente em terneiros mais velhose nunca
em bovinos adultos. Mais de 800/0 dos casos clínicos da doença
acontecem em animais com até 4 dias de idade. Estudos in vitro
demonstram que as células intestinais presentes ao nascimentoou
perdem seus receptores para o antígeno K-99, ou são substituídaspor
novas, que não os possuem.
O tratamento da colibaciloseexige o emprego de antibióticosou
sulfas. É muito importante a reposiçãodos fluidose sais perdidos,
usando-se soluções adequadas para esse fim. Uma receita seria o
emprego de uma solução salina normal, e caso o bezerrose recusea
bebê-la, deverá ser forçada,comobeberagem.

Defesa Contra a Colibacilose Enterotoxinogênica


bacterianos presentes no leite que não são
Existem inibidores transferrina (44,45).
anticorpos, como, por exemplo, a lactoferrina e a
nutriente essencial para 0
ferro,
Tanto um como o outro fixam o fixação é promovida por bicarbo-
crescimento dos A
enterobactina, esta última um com-
nato e inibida por citrato e pela
posto produzido pela própria E. colt. neutrófilosem desintegraçá0,
A lactoferrina pode ser liberada por provenientesdo sangue.Ela
que migram pela parede intestinal (48), encapsulada de colibacilos
sozinha inibiu o crescimento de uma estirpe

298
enterotoxlnogênicos, mas a inibição aumentou acentuadamente
quando anticorpos e complementos também estiveram presentes (49).
sugere-se que anticorpos pdem prevenir a produção de enterobactina
pelasbactérias, o que resultaria na possibilidadede ação da lactofer-
rina.
Outro sistema antibacteriano, alheio à presença de anticorpos, é o
da lactoperoxidase (LP),Para funcionar, este mecanismo necessita de
três componentes: lactoperoxidase, enzima presente no colostro e no
leite; tiocianato, produzido pelas células abomasais; e de
hidrogénio,cedido pelos LactobactllusSP, que só estarão presentes no
abomasodecorridas 24 horas após o parto. O sistema, portanto, não
será ativo no I Qdia de vida dos bezerros.
Uma possibilidade de combater a colibaciloseseria por meio de
efeitosbactericidas e bacteriostáticos dos anticorpos, via fagocitose.
Nas infecções, várias células fagocitárias, principalmente neutrófilos,
migram para a luz do intestino delgado, onde parecem fagocitar
colibacilos enterotoxinogênicos. Normalmente, para ocorrer fagocitose,
devehaver a fixação de um complementoàs células bacterianas, mas
as cápsulas das bactérias podem impedira fixaçãodesse complemen-
to. Essa capacidade da cápsula é destruída por anticorpos capsulares
(K)ou por anticorpos somáticos (O),e assim o complemento consegue
fixar-seà bactéria e provocar a fagocitose.

Vacinas
Antígenos de fimbrias (K-99) têm se mostrado eficientes para
vacinação,conferindo boa imunidade. Menos de 3% a 4% das vacas
leiteirastêm anticorpos naturais contra o antígeno K-99 (46). Já o
antígenoSta não tem obtido sucesso na prática como agente imuni-
a diar-
zante. Os anticorpos contra as fimbrias (anti-K-99)previnemExistem
réia por impedir a ligação dos cílios à mucosa intestinal. podem
anticorpos
alguns resultados in vitro demonstrando que esses só
atacar uma adesão Já formada, sugerindoque não previnem como
tambémpodem tratar a moléstia (47).
Atualmente, muitas vacinas disponíveis no comércio de
Váriospaíses contra a colibaciloseenterotoxinogênica.A maior parte é
aplicadapor via intramuscular ou subcutânea em vacas prenhes e
estimula a formação de anticorpos séricos, transferíveis para o colostro.
Presume-seque esses anticorpos estariam colocadosou na IgGou na
IgM.Como a E. colt nem sempre é responsável pelos problemas de
diarréias,a generalizaçãodo empregodas vacinas não é economica-
menteinteressante, a menos que, em criações-problemas, o agente, no
casoa E. colt,Já tenha sido isolado e identificado.
299
Em alguns rebanhos onde a incidência de colibaciloseé esporádica,
e um programa de vacinação completa seria oneroso, é possívelainda
vacinar algumas das vacas de alta produção e estocar, no congelador,
o excesso de colostrodesses animais. O deproduto congelado(em por-
proteção pelo mínimo de
çóes de I litro) manterá sua capacidade descongelado
dois anos. No momentodo uso deverá ser em banho-
maria a temperaturas inferiores a 560C, No futuro, é possível que
outros anticorpos tenham de ser fabricados, pois espera-se que o
ataque ao antígeno K-99 provoque, pelas bactérias, a produção de
tipos de fimbrias diferentes.
Uma vacina contra a E. coli (K-99)foi aplicada em vacas, às seis e
três semanas antes dos partos. Os títulos de anticorpos contra K-99,
nos bezerros,às 24 horas de vida, foram: 34 para animais de vacas
não vacinadas e de 711 a 1 114 para os de vacinadas; não ocorreram
diferençasnas incidênciasde diarréias ou de outras doenças, entre
terneiros de mães tratadas e testemunhas (50).
A vacinação de vacas contra a estirpe B-44 de E. colt resultou em
proteçáo dos recém-nascidos quando, após o fornecimento do colostro,
inoculou-se o bacilo (51)— a no colostro dessas vacas, de
uma antienterotoxina impediu o desequilíbriohídrico e a diarréia, sem
contudo eliminar os colipatogênicosdos tratos intestinais dos bezer-
ros.
Cento e quarenta terneiros receberam nenhuma quantidade ou
apenas 0,4 litro de colostro(52);cerca de 1/3 morreram, alguns por
septicemia com E. coli e outros por infecções intestinais, também por
E. colt. Os valores séricos de sódio foram semelhantes nos que perece-
rarn de septicemiaou de infecçãointestinal, mas neste últimocasoos
valores séricos de potássio aumentaram e foram relacionados às ocor-
rências de parada cardíaca. As quantidades pequenas de colostro(0,4
litro) forneceram proteçáo contra a septicemia, mas não contra a in-
fecção entérica.
Logo após o nascimento, a microflora intestinal é muito variávele
somente por volta da 2 2 semana é que vai acontecer sua estabilização,
quando a resistência dos bezerros à colibacilose será maior (53).Como
o Lactobactllus actdophtllusparece controlar o crescimento da E, coli
no intestino, a colonização do aparelho digestivo do neonato por uma
flora mista típica talvez seja uma medida para a prevençãoda
colibacilose. Explorando essa idéia, 200 ml de fluido duodenalde
bezerros preparados foram acrescidos à primeira porção de colostro,
servindo como inóculo para neonatos (53). Os animais foram contami-
nados por E. collàs 12 ou 24 horas após o nascimento: os inoculados
apresentaram melhores ganhos de peso e menor incidênciade diar-
réias em relação aos controles. Os resultados desse trabalho necessi-
tam, contudo, ser conflrmados.
300

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