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Módulo I

1- Explique em detalhes, e passo a passo, o funcionamento das sinapses. Explique como


o uso de inibidores de degradação interferem numa sinapse. Sua resposta deve incluir: o
que são PEPS e PIPS e como eles são gerados (citando os íons possíveis envolvidos);
qual o papel dos canais iônicos e da somação neste processo.

A sinapse inicia com a chegada de potencial de ação no terminal axonal, abrindo os


canais voltagem-dependentes de cálcio (Ca++) e permitindo, a partir de difusão simples, sua
passagem para dentro do neurônio pré-sináptico. O cálcio faz com que as vesículas, que
envolvem os neurotransmissores, encostem na membrana, se fundam a ela, e soltem os
neurotransmissores que envolviam. Com a liberação de neurotransmissores na fenda
sináptica, alguns deles se ligam com receptores da membrana do neurônio pós-sináptico,
gerando a abertura de canais ligante-dependentes. Se os canais abertos forem de sódio (Na+)
ou cálcio (Ca++), haverá o influxo desses íons na célula, tornando-a mais positiva, esse
fenômeno tem o nome de despolarização e gera o potencial excitatório pós-sináptico (PEPS).
Já se os canais ligante-dependentes abertos forem de cloro (Cl-) ou potássio (K+), a célula se
torna mais negativa, hiperpolarizada, seja pelo influxo de cloro ou pelo efluxo de potássio, o
que gera o potencial inibitório pós-sináptico (PIPS).
Após o processo de liberação de neurotransmissores na fenda sináptica, a célula
também possui mecanismos de degradação e de recaptação, em que na degradação
neurotransmissores são degradados ou perdem funcionalidade e na recaptação retornam ao
neurônio pré sináptico para serem reaproveitados. Ambos os processos limitam o tempo de
atuação dos neurotransmissores na sinapse, portanto, o uso de inibidores de degradação, e
também de recaptação, amplia o tempo de contato dos mesmos com seus receptores. Esse
tipo de droga é considerada agonista.
No cone de implantação do axônio, também chamado de zona de disparo, é onde estão os
canais voltagem-dependentes de sódio e é também onde ocorre a somação dos PEPS e PIPS
ocorridos na célula. Se a somação atingir a voltagem limiar, gerará potencial de ação e abrirá
os canais voltagem-dependentes. É interessante também pontuar que a somação pode ser
temporal ou espacial, sendo a temporal a chegada de PIPS e PEPS em um mesmo ponto em
um curto período de tempo e a espacial, a chegada de PIPS e PEPS em pontos diferentes,
mas ao mesmo tempo.

2- Apresente resumidamente os casos da garota Genie e das crianças que sofreram


hemisferectomia, e, a partir daí (e tendo estes casos como exemplo) explique os conceitos
de período crítico, maturação e plasticidade. Como uma alimentação adequada e a
idade interferem nestes conceitos? (máximo de 2 páginas de resposta)

O caso da garota Genie é um caso sobre uma garota que foi privada de estímulos e
nutrição ao longo de sua vida infantil. A garota passou a primeira parte de sua vida
acorrentada em um quarto pelo seu próprio pai, sendo pobremente alimentada e impedida de
ter experiências básicas para seu desenvolvimento, como afeto, contato com outras pessoas e
até mesmo ouvir a voz de pessoas ao seu redor. Já os casos das crianças que sofreram
hemisferectomia, se referem à crianças que, devido a graves problemas neurológicos, tiveram
um hemisfério cerebral retirado cirurgicamente e, ainda assim, tiveram uma vida útil e
produtiva relativamente normal. Esses dois exemplos representam um ótimo paralelo para o
entendimento de conceitos como período crítico, maturação e plasticidade.
O conceito de maturação se refere ao amadurecimento do cérebro a partir do
momento em que o bebê nasce, em que o cérebro está parcialmente formado. É necessário
para esse amadurecimento experiências e substrato (nutrição), possibilitando que o cérebro
tenha estímulos e energia para se desenvolver em sua plasticidade. O conceito de plasticidade
pode ser entendido como a configuração do padrão sináptico a partir das experiências vividas.
O período crítico se relaciona a esses conceitos por ser o período determinado de tempo em
que alguns aspectos no sujeito precisam ser estimulados para que uma função seja
desenvolvida plenamente.
Nos exemplos citados anteriormente podemos ver a importância desses conceitos para
o desenvolvimento completo. No caso da menina Genie, apesar de sua constituição anatômica
estar dentro do padrão de normalidade, as privações na infância, em que se situam as janelas
de período crítico, impossibilitaram a sua plena maturação neurológica, o que resultou em,
mesmo após um grande processo terapêutico com uma equipe multidisciplinar, algumas de
suas capacidades nunca terem se desenvolvido completamente. A principal capacidade
atrofiada no desenvolvimento de Genie foi sua capacidade linguística, a menina não
pronunciava frases com mais de uma palavra a princípio e com o tratamento conseguiu
articular frases com mais elementos, porém não com a síntese perfeita. O fato de Genie ter
conseguido aprender mesmo com estímulos apenas após o período crítico é devido a
plasticidade cerebral que continua existindo por toda a vida, porém com menor potencial. Já
nos casos das crianças que sofreram hemisferectomia ocorreu o contrário. Apesar da retirada
de metade da massa cerebral, as crianças receberam estímulos e nutrição ao longo do período
crítico de seu desenvolvimento (antes dos 10 anos de idade), o que fez com que o seus
sistemas cerebrais se reorganizassem para “dar conta” de desempenhar as funções necessárias
para sua adaptação, a função que normalmente seria realizado pelo hemisfério que foi
retirado, nessas crianças acabou sendo realizada pelo hemisfério restante, ficando este
responsável pelas funções de ambos hemisférios.

Módulo II
1- Opióides endógenos e sensações fantasmas são temas relacionados aos sistemas
sensoriais de grande aplicação em Psicologia. a) Fale um pouco sobre a história dos
opióides, sua aplicação e importância na Psicologia (enfatize as condições que modulam
sua produção - estados de humor, fé, etc - e seus efeitos sobre os indivíduos). b) Em
relação às sensações fantasmas, apresente as bases neurais que explicam o surgimento
destas, enfatizando o envolvimento do Homúnculo de Penfield e da plasticidade neural
neste fenômeno.

a- Opioides endógenos foram descobertos apenas após o descobrimento da morfina. A


morfina é um opióide não produzido pelo corpo, é considerada a substância analgésica mais
potente já encontrada, ela é extraída da papoula, e seu descobrimento gerou uma grande
mudança na história da medicina. Após o descobrimento desse opioide houve o
questionamento de como a morfina é metabolizada sem ser produzida naturalmente pelo
corpo, já que o cérebro não teria receptores para "entendê-la" . Esse questionamento levou ao
descobrimento dos opioides endógenos, substâncias analgésicas produzidas pelo corpo, e
portanto possuidores de receptores de membrana correspondentes no cérebro, que seriam os
“utilizados” pela morfina para seu funcionamento.
Os opioides endógenos são produzidos no sono, no mecanismo de luta ou fuga, na
atividade sexual e também na acupuntura. A sua produção pelo organismo se dá pelas
sensações que trazem bem estar, portanto os estados de humor influenciam diretamente. É
interessante pensar para atuação do psicólogo no cenário hospitalar, que o aumento de sua
produção também aumenta a resposta imunológica do paciente e, consequentemente, é
possível explicar e fazer uso do auxílio da fé e do placebo no tratamento de pessoas doentes,
pois acreditar na melhora de seu quadro, aumenta a sensação de bem estar e com isso a
produção de opioides endógenos

b- Os membros fantasmas são explicados pelo fato da amputação do membro não alterar a
representação dele na região correspondente do cérebro. Com a amputação, os circuitos
neurais responsáveis pela parte sensório-motor do membro tenderiam a atrofiar por não serem
utilizados. Porém, por fenômeno de plasticidade, os neurônios dessa região tem seus
dendritos aumentados, se ligando a neurônios responsáveis por áreas sensório-motores
vizinhas. O homúnculo sensorial de Penfield foi essencial para essa descoberta, já que, tendo
o mapeamento do córtex somestésico primário, é possível saber qual área do cérebro é
associada a área correspondente no corpo. E assim se descobriu que o estímulo recebido na
face por um paciente com os braços amputados, por exemplo, fazia com que este sentisse o
braço que já não existia -- no mapeamento de Penfield essas áreas são vizinhas--,
confirmando o rearranjo dos circuitos sensoriais.

2- Nossa percepção visual está fortemente ligada às características e limitações da


retina. Esta não é uma estrutura homogênea, havendo diferenças importantes entre a
fóvea e a periferia. Apresente as características histológicas e funcionais entre fóvea e
periferia da retina e explique como isso interfere na nossa percepção visual (inclua na
sua resposta as diferenças e entre cones e bastonetes)

A constituição da retina se dá por camadas de células que revestem o olho, entre as


principais células estão os fotorreceptores (transformam luz em sinal elétrico) e as
ganglionares (relacionadas ao nervo óptico e a transmissão da informação para o córtex). Para
a resposta dessa pergunta, é interessante focarmos nos fotorreceptores.
Os fotorreceptores se dividem em cones e bastonetes:
● Os cones possibilitam a visão em cores, necessitam de muita luz e se concentram na
fóvea. A fóvea é a pequena área na retina em que a luz incide diretamente -- mesmo
estando na parte mais externa do olho, as estruturas anteriores a ela desviam,
possibilitando que os cones recebam diretamente a luz e que a visão captada nessa
área seja mais nítida -- ela é responsável pela acuidade visual. Os campos receptores
contidos nessa área são pequenos (devido o formato conico dos cones) e portanto são
mais sensíveis, possibilitando maior discriminação sensorial. Isso faz com que 70%
da correspondência sensorial no córtex visual seja responsável pela fóvea.
● Os bastonetes possuem formato de bastão, a sua sensibilidade se dá na penumbra, e a
visão que possibilitam é em preto e branco. Eles se localizam na periferia da retina
(nos arredores da fóvea, ainda na parte mais proxima do “final do olho”), os campos
receptores dessa região são grandes e portanto não há grande discriminação visual de
formato ou cor.

Módulo III

1- Explique como a medula, o tronco encefálico, o cerebelo (suas 3 divisões), os núcleos


da base e o córtex (motor primário, pré-motor e pré-frontal) participam na organização
do sistema motor. Use o desenvolvimento psicomotor da criança para explicar a
participação destas estruturas no sistema motor​.

Utilizando o desenvolvimento psicomotor da criança para responder essa pergunta, é


possível observar que o funcionamento do recém nascido é “medular”, seu movimento se dá
apenas a partir das funções da medula. A medula é responsável pelos reflexos, movimentos
subcorticais, inatos, não aprendidos e que não melhoram com a prática, como sucção,
abocanhar, preensão etc.
Com o amadurecimento, no tronco encefálico, da formação reticular (SARD)
“descem” neurônios que se dirigem à medula, estes ativam os neurônios da medula, que se
mielinizam, tornando-se funcionais e produzindo tônus e apoio anti-gravitacional para a
criança. Passando do estado de atonia do recém-nascido, para a hipotonia e chegando até a
hipertonia, em que o movimento é rígido, “de robô”.
O cerebelo entra na equação do desenvolvimento psicomotor infantil gradualmente,
pela modulação do tônus excessivo do estado de hipertonia, principalmente o arquicerebelo
(responsável pelo equilíbrio) e o paleocerebelo (responsável pelo tônus). Já o neocerebelo
amadurece mais tarde e é essencial para os movimentos finos. Os núcleos da base atuam no
planejamento motor do movimento voluntário.
Com o amadurecimento, o córtex motor primário é o responsável pela execução do
movimento voluntário. Na execução, o feixe piramidal, feixe de neurônios que se originam
no córtex, vai até o corno anterior da medula levando o comando superior para o movimento
voluntário, o cerebelo também atua nessa parte, comparando o movimento executado com o
planejamento motor e corrigindo através do tônus e do equilíbrio o que sai fora do planejado.
Já o córtex pré-frontal atua na tomada da decisão do movimento e a área pré-motora é onde
se dá o planejamento do mesmo, conjuntamente aos núcleos da base.

2- As alterações (ou doenças) psicossomáticas têm como base neurofisiológica as


relações do hipotálamo com o SNA e com a hipófise. Explique o papel central do
hipotálamo neste processo e como perturbações emocionais extremas podem afetar as
relações entre tais estruturas produzindo as doenças psicossomáticas. Deixe claro na
resposta seu conhecimento sobre os vários mecanismos de controle homeostático
regulados por essas relações.

O hipotálamo é o regulador do sistema nervoso autônomo e da hipófise. Ele, a partir


de seus vários núcleos com funções distintas, analisa a necessidade do organismo e age a fim
de manter a homeostasia do meio interno. As doenças psicossomáticas são explicadas pelo
fato do sistema límbico (responsável pelas emoções) ter grande influência no “trabalho” do
hipotálamo, fazendo com que emoções intensas, através da relação sistema
límbico-hipotálamo, possam desequilibrar o meio interno do organismo.
Na relação do hipotálamo com SNA, ele lança mão, quando necessário para a
sobrevivência do organismo, de mecanismos simpáticos ou parassimpáticos, sendo o
simpático responsável pela “luta ou fuga” (o preparo do organismo para o trabalho muscular
intenso), o parassimpático pelo repouso e digestão (o relaxamento do organismo), e ambos
pelo controle da vida vegetativa, atuando em músculos liso, cardíaco e glândulas de maneiras
antagônicas.
Já na relação com a hipófise, o hipotálamo regula os hormônios para a homeostase do
meio interno, podendo agir de duas maneiras, através da relação com a neuro-hipofise (parte
posterior) e com a adeno-hipofise (parte anterior). Através da com a neuro-hipofise os
hormônios são produzidos no hipotálamo e levados por axônios até a neuro-hipofise e
liberados na corrente sanguínea, (os hormônios são o ADH, responsável pela diurese, e a
ocitocina, importante para as relações sociais e o reforçamento dos vínculos, além de ser
responsável pela contração uterina no parto e pela ejeção do leite no amamentamento). Na
relação com a adeno-hipofise, o hipotálamo age liberando fator de liberação específico de
dado hormônio no sangue, que chega até a adeno-hipofise e ela secreta o hormônio
correspondente na circulação sistêmica, através disso se atinge o órgão alvo, produzindo o
efeito desejado. Entre os hormônios produzidos na adeno-hipófise, os mais relevantes para o
trabalho do psicólogo são o TSH, que age na tireóide (T3 e T4) e é responsável pelo aumento
da taxa metabólica, fazendo com que o excesso dele no organismo simule um quadro de
hiperatividade e o baixo nível, em oposição, simule um quadro de depressão; o ACTH, que
age no córtex supra-renal (cortisol), é responsável pela ação anti-inflamatória e se relaciona
aos quadros de estresse; e o FSH e LH, que agem nas gônadas e são responsáveis pelo
comportamento sexual.
É relevante ainda acrescentar que o hipotálamo é a sede dos comportamentos
motivados, os impulsos de reprodução, alimentação e defesa e agressão responsáveis pela
preservação da vida e da espécie. Ele regula, além do que já foi citado, a água e a temperatura
corporal, os ritmos biológicos, o comportamento alimentar, o impulso de defesa e agressão e
os centros de prazer e punição.

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