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Caro Participante,
Reunimos nesta apostila os principais materiais
disponibilizados no Curso On-line Criança Segura para
Familiares e Responsáveis. O objetivo é que você possa
salvar e consultar os conteúdos apresentados nesta
formação sempre que precisar. Bons estudos!
SUMÁRIO
AULA 1 Familiares e responsáveis que promovem a segurança infantil 04
FAMILIARES E RESPONSÁVEIS
QUE PROMOVEM A SEGURANÇA
INFANTIL
Bem-vindo(a) ao nosso primeiro encontro, o ponto de partida para uma importante caminhada
na direção da prevenção de acidentes e da segurança na primeira infância. Vamos juntos
realizar uma formação cujo objetivo não é o sucesso ou o reconhecimento profissional, e sim
algo muito mais importante em nossas vidas: promover a segurança de nossas crianças.
O curso on-line Criança Segura para Familiares e Responsáveis ajudará você a prevenir e a evitar
acidentes com seus filhos, sobrinhos, netos e demais crianças da sua convivência. Nas próximas cinco
aulas, conheceremos muitas dicas sobre segurança infantil e disponibilizaremos materiais em textos,
vídeos e áudios, entre outros. Tudo isso para tornar a aventura da infância de quem amamos ainda
mais feliz, segura e tranquila.
A criança pequena ainda não reconhece perigos, por isso é importante nós adultos oferecermos um
ambiente seguro. Assim ela poderá, de forma livre e criativa, conhecer esse mundo que é todo novo
para ela sem ter sua criatividade tolhida, mas ao mesmo tempo sem sofrer uma lesão grave.
“No cotidiano da educação infantil, o brincar tem papel vital para o desenvolvimento integral das
crianças. É por meio do brincar que elas adquirem experiências e desenvolvem seu conceito sobre o
mundo, pois se trata de uma ação que as motiva explorar, experimentar e a recriar. As ações do jogo
e da brincadeira geram um ambiente especial para a aprendizagem, sejam os aprendizes crianças ou
adultos”. (CARDOSO, 2009, p. 10)
Iniciaremos agora a nossa primeira aula com o texto da psicopedagoga Isabel Parolin, que nos traz
uma lição sobre aprendizagem e amor aos filhos.
Hoje, vivemos a era do conhecimento. Se por um lado já sabemos que as crianças não vêm com
manual de instruções, por outro lado, é de consenso que cada uma é única em sua forma de ser no
mundo, que ela faz parte de um grupo, de uma espécie e que ela irá se humanizar a partir da inserção
em sua sociedade. Portanto, é inadmissível vermos crianças sofrendo por falta de conhecimento
e educação de seus pais. Não é possível imaginar uma criança indo à praia sem protetor solar, uma
mãe colocando sal num corte entendendo que assim a cicatrização seria mais rápida, um pai passando
uma faca fria em cima de um hematoma, ou ainda, alguém deixar de comer manga ou melancia à
noite com medo de morrer.
É verdade que cada criança nasce sem o seu manual de instruções, e isso ocorre, acredito, para que
tenhamos a alegria de conhecer e formar nossos filhos para a sociedade. Entretanto, não se pode
imaginar que nos tempos de hoje os pais não tenham um grupo de informações que tornem a vida
mais segura, mais produtiva, mais competente e, certamente, mais bela e prazerosa.
Sorte ou azar faz parte dos tempos antigos. Hoje vivemos os tempos do trabalho, da construção e do
conhecimento. Você ainda duvida da importância dos pais se formarem para poderem bem formar
seus filhos?
Isabel Parolin é pedagoga, psicopedagoga clínica e institucional; palestrante para pais e educadores.
Autora dos livros: Pais Educadores: É proibido proibir? e Pais Educadores: Quem tem tempo de educar?,
ambos da editora Pulso.
Para compreendermos a realidade dos acidentes infantis e sabermos como evitar diversos tipos de
acidentes com nossos filhos, convidamos você a assistir a um vídeo-reportagem que alerta sobre
os principais perigos a que as crianças estão sujeitas em suas brincadeiras cotidianas. Confira no
link: https://globoplay.globo.com/v/5269867/
Mais de 4,3 mil crianças morrem e cerca de 122 mil são hospitalizadas a cada ano, segundo dados
do Ministério da Saúde. Em nível mundial, os acidentes provocam a morte de aproximadamente
um milhão crianças por ano. Esse quadro evidencia os acidentes como uma séria questão de saúde
pública, e por isso é fundamental difundirmos atitudes preventivas.
Esse curso apresentará grande enfoque nos cuidados com as crianças pequenas, uma vez que, ao
analisar com mais detalhes os índices de acidentes na faixa etária de até quatro anos, percebemos
que há uma indicação para acidentes de maior gravidade entre os pequenos. Além disso, o foco em
primeira infância se justifica, porque as características da criança até quatro anos que as tornam mais
vulneráveis a acidentes são bastante diferentes das características que expõem os maiores ao risco.
Logo, é coerente que os pais, familiares e cuidadores tenham essa perspectiva por faixas etárias.
Você entenderá melhor a realidade dos acidentes na infância ao analisar as principais informações e
estatísticas sobre quais os tipos de acidentes que mais acontecem, a mortalidade e as hospitalizações
associadas a cada um deles. Vejamos:
2%
Trânsito
6%
Queda 6%
23%
Afogamento
Sufocação
5%
Queimadura
36%
Intoxicação
22%
Outros
Outros 1.200
Intoxicação 1.000
Queimadura 800
Sufocação
600
Afogamento
400
Queda
200
Trânsito
0
Menor de 1 ano 1 a 4 anos
Além das ocorrências de morte por acidentes, é preciso considerar milhares de crianças e adolescentes
feridos, que tiveram o seu desenvolvimento, a sua saúde e/ou as suas atividades comprometidas. O
gráfico a seguir apresenta os dados relacionados às internações por acidentes registradas em 2015.
Trânsito
11%
Queda
22%
Afogamento
Sufocação
3%
Queimadura
Intoxicação 46%
18%
Arma de Fogo
Outros
Já nas internações, percebemos que as quedas são o tipo de acidente mais representativo, com 46%
dos casos. Essas quedas podem ocorrer de altura, como, por exemplo, de móveis, janelas e lajes, ou no
mesmo nível, como quedas ao correr e tropeçar.
É curioso observar que as causas mais significativas de mortes quase não aparecem nas internações.
São elas: trânsito, afogamento e sufocação. Isso indica que esses acidentes, em geral, são mais graves
e fatais, portanto merecem cuidado redobrado.
2%
Sufocação na cama ou berço 2%
7%
Estrangulamento
Desmoronamento de terra
34%
Inalação de conteúdo gástrico 28%
Inalação ou ingestão de alimentos
Causas de mortalidade por sufocação de 0 a 4 anos em 2014 (fonte: Ministério da Saúde, Datasus)
Outros dados mais específicos e as atualizações das estatísticas de acidentes podem ser encontradas
no site de nossa organização (www.criancasegura.org.br), no item “dados de acidentes”. Esse espaço
é atualizado regularmente, a partir das estatísticas divulgadas pelo Ministério da Saúde.
Antes de irmos para a próxima aula e conhecermos as dicas de prevenção dos acidentes que vimos
nas estatísticas aqui apresentadas, gostaríamos de falar sobre quais são as características físicas e
comportamentais da criança até quatro anos que contribuem para os acidentes. E, por fim, confira
uma entrevista exclusiva concedida pela pedagoga Silvana Bianchi à Criança Segura Safe Kids Brasil
sobre como é a percepção de perigo em cada fase do desenvolvimento intelectual e afetivo da criança.
De 0 a 4 anos:
Têm estrutura física em desenvolvimento (frágil);
Não reconhecem os perigos;
Apresentam coordenação ainda em desenvolvimento;
Imitam o comportamento do adulto;
Contam com a habilidade limitada para reagir ao perigo;
Têm desejo natural de explorar pela boca;
São de tamanho pequeno;
Convivem com forte presença do lúdico;
Apresentam centro de gravidade mais alto (devido ao tamanho da cabeça).
Silvana Bianchi - “Fase oral” é uma expressão da psicanálise e envolve vários componentes que
abrangem os aspectos psíquicos, sociais e sexuais. Em pedagogia, essa fase corresponde ao estágio
piagetiano chamado sensório-motor, que vai desde o nascimento até por volta dos dois anos.
Nessa fase, a criança explora o mundo por meio dos sentidos e do movimento. Ela ainda não tem
representação mental, ou seja, vai descobrindo enquanto está vivenciando, porque não tem um
acervo de informações armazenadas no cérebro e, por isso, torna-se bastante vulnerável a acidentes.
Além de não ter noção de perigo ao colocar o dedo na tomada, debruçar-se em escadas, puxar cabo
CS - Até que idade a criança não consegue discernir a fantasia do que é real e perigoso?
SB - A fantasia e a ludicidade nascem com o ser humano e o acompanham até a velhice. Em cada fase,
porém, mudamos as características do nosso “faz-de-conta”. Mas existe um período da vida, chamado
de estágio pré-operacional, que vai de dois anos até por volta dos sete anos, em que a criança vive
mergulhada na fantasia, pois é este o caminho que ela utiliza para se apropriar da realidade. Ou seja,
para compreender a realidade, a criança brinca e vive o faz-de-conta. Ela sempre diferencia realidade
de brincadeira. Mas acontece que a criança é imatura em experiências, o que a expõe ao risco. Por
exemplo: quando um menino coloca uma toalha fingindo ser uma capa de super-homem e pula
da janela, ele não está acreditando que é super-herói. Ele sabe que está brincando. O que ele não
sabe é que pode morrer quando cair e que não há volta neste caso. A grande dica é supervisionar as
brincadeiras, evitando sempre aquelas que estimulam a violência, além de afastar objetos perigosos
do convívio da criança, independentemente da idade.
SB - A consciência é um processo que evolui com o ser humano. Até por volta dos dois anos de idade, a
criança não tem condições mentais de compreender o perigo. Entre dois e sete anos aproximadamente,
ela avança na exploração do mundo e passa a criar um acervo mental de conhecimentos. Por volta
dos sete anos, ela dá um salto intelectual muito importante, passando para um estágio chamado
operacional concreto. Nessa fase, a criança avança na compreensão de mundo e pode elaborar melhor
as situações de risco. Mas é só por volta dos 12 anos, quando entra na fase operacional formal, que
a criança possui componentes mentais para elaborar pensamentos próximos aos dos adultos. Ou
seja: deve-se educar a criança desde bebê sobre a prevenção de acidentes, explicando sempre tudo
o que está acontecendo no cotidiano, mas lembrando que ela não pensa como um adulto e, por isso,
precisa sempre de supervisão. Por exemplo: os pais podem ensinar uma criança desde os três anos a
atravessar corretamente a rua, mas só devem deixá-la atravessar sozinha depois dos 12 anos.
Sabemos que, para os filhos, todos os pais são verdadeiros super-heróis, sempre preocupados em
protegê-los. Para aumentar seus “superpoderes”, apresentaremos na aula 2 as principais dicas para
prevenção de sufocações, afogamentos e quedas.
Até lá!
1) SUFOCAÇÕES
A sufocação é a principal causa de morte acidental na primeira infância. Apesar de ser recorrente
até os quatro anos de idade, 80% dos casos acontecem com bebês de até um ano. Como já vimos,
nessa fase é comum que a criança leve tudo à boca, o que favorece a sufocação por objetos pequenos.
Temos ainda os riscos envolvidos com o momento de dormir e outros que veremos ao longo da aula.
Mais uma vez, é hora dos superpais, supermães, superavôs, superavós e supercuidadores conhecerem
e adotarem algumas medidas para evitar que eventuais acidentes aconteçam. Vamos lá!
A sufocação ocorre quando há obstrução da passagem de ar para os pulmões. Apenas quatro a seis
minutos nessa situação podem resultar em graves lesões cerebrais ou até mesmo em morte.
BRINQUEDOS PEQUENOS
Teste as pequenas peças dos brinquedos verificando se elas representam perigo à criança. Dica: utilize
um tubo com três centímetros de diâmetro como referência – se a peça couber dentro desse tubinho,
significa que poderá obstruir a garganta da criança.
BALÕES E BEXIGAS
Não permita que as crianças pequenas encham balões de látex (bexigas). Supervisione atentamente
as brincadeiras com bexigas e guarde-as vazias e fora do alcance das crianças. Muito cuidado com
pedaços de bexigas estouradas, que são ainda mais perigosos.
RISCO DE ESTRANGULAMENTO
Algumas atitudes podem prevenir situações de risco de estrangulamento:
Tire cachecóis e lenços do pescoço das crianças na hora das brincadeiras, principalmente
em parquinhos.
O berço deve estar livre de objetos que possam dificultar a respiração do bebê, como almofadas,
travesseiros, brinquedos, bichos de pelúcias ou aqueles paninhos ou “cheirinhos” que algumas
crianças usam para dormir. Além do mais, não é indicado também o uso do protetor de berço pela
Sociedade Brasileira de Pediatria.
O bebê não deve parecer quente ao toque. A temperatura do ambiente encontra-se ideal para o
bebê quando estiver agradável para um adulto vestindo roupas leves.
O colchão do bebê deve ser firme, estar bem preso ao berço e sem embalagens plásticas.
É inadequado colocar o bebê para dormir em colchões muito macios ou de água, sofás ou
poltronas.
O espaço entre as grades do berço não pode ser maior do que seis centímetros de largura.
2) AFOGAMENTOS
Os afogamentos, junto com o trânsito, são a segunda maior causa de morte na infância, depois da
sufocação. Sabemos que mares, rios, piscinas, lagos e represas são ambientes de risco de afogamento
para todas as idades. Mas muita gente desconhece o perigo de deixar recipientes com água rasa ao
alcance das crianças. Uma criança pode se afogar em apenas 2,5 cm de profundidade de água, por
exemplo, em baldes, banheiras, piscinas infantis e até mesmo no vaso sanitário de sua casa.
Até quatro anos de idade a cabeça da criança corresponde a 25% do peso de seu corpo,
enquanto a de um adulto corresponde a 6% do seu peso total. Essa característica física
favorece que a criança se desequilibre e caia em lugares que tenham água.
Uma criança submersa pode perder a consciência em apenas dois minutos. Nesta condição,
bastam de quatro a seis minutos para causar danos cerebrais.
Nunca deixe crianças sozinhas quando estiverem dentro ou próximas da água, nem por um
segundo. Nessas situações, garanta que um adulto estará supervisionando-as de forma ativa
e constante o tempo todo.
Ensine as crianças que nadar sozinhas, sem ninguém por perto, é perigoso.
A idade ideal para entrar na natação é a partir dos quatro anos, antes disso, as crianças são
mais suscetíveis a desenvolver infecções por engolir muita água. Mas lembre-se: saber nadar
Tenha os telefones de emergência sempre visíveis (SAMU: 192; Corpo de Bombeiros: 193).
EM PISCINAS:
Piscinas devem ser protegidas com cercas de no mínimo 1,5 m de altura e com portões com
cadeados ou travas de segurança. Atenção!
Alarmes e capas de piscina garantem mais proteção, mas não eliminam o risco de acidentes.
Portanto, devem ser usados em conjunto com as cercas e ter a constante supervisão dos adultos.
Evite o acúmulo de água em cima das capas de piscinas e supervisione as crianças mesmo
quando a piscina estiver coberta.
Verifique se há proteção nos ralos da piscina, de modo a evitar que a criança fique presa pela
força de sucção.
EM ÁGUAS NATURAIS:
Tenha certeza de que as crianças estão nadando em áreas seguras de rios, lagos, praias
e represas.
EM AMBIENTE DOMÉSTICO:
Depois do uso, mantenha vazios, virados para baixo e fora do alcance das crianças baldes,
bacias, banheiras e piscinas infantis.
Mantenha a tampa do vaso sanitário abaixada (se possível, lacrada com um dispositivo
de segurança).
3) QUEDAS
Mantenha camas, armários e outros móveis longe das janelas. Além disso, verifique se móveis e o
tanque da lavanderia estão estáveis e fixos.
Bebês devem dormir em seus próprios berços sozinhos, e não na cama dos pais. Além do risco de
sufocação, há um alto índice de admissões hospitalares de bebês por queda da cama de adulto.
As crianças com menos de seis anos não devem dormir em beliches. Se não tiver escolha,
coloque grades nas laterais.
Ao andar de bicicleta, skate ou patins, o capacete é equipamento fundamental. Ele pode reduzir
o risco de lesões na cabeça em até 85%.
Crianças devem ser sempre observadas quando estiverem brincando nos parquinhos.
Verifique se os brinquedos estão em boas condições e se são adequados à idade da criança.
Confira algumas dicas para fazer uma inspeção rotineira no parquinho que você frequenta
clicando aqui.
Contar histórias pode ser uma boa maneira de transmitir às crianças o que você aprendeu até aqui.
Por isso, queremos que você entre novamente em ação como contador de histórias. No material de
apoio aos familiares e responsáveis desta apostila, há uma série de histórias infantis sobre sufocações,
afogamentos e quedas. Escolha as que sejam mais adequadas à faixa etária e à realidade de seu(s)
filho(s) e aproveite para conversar sobre esses temas com as crianças. Procure chapéus diferentes,
faça vozes variadas, dê uma interpretação envolvente, enfim, solte a imaginação e divirta-se em uma
sessão de contação de histórias!
Olha! Não é fácil ser sentinela de duas crianças tão cheias de energia como Tom e Ioiô Dora.
Tenho tanta história pra contar desses dois.
Um dia desses, Ioiô Dora estava brincando de cabra-cega com suas amiguinhas. Ao invés de
elas amarrarem um lenço nos olhos, como deveria ser, elas resolveram enfiar um saco de lixo,
um saco plástico na cabeça.
Eu estava sentindo que aquilo não era boa coisa. Sei por experiência própria. Na minha
curiosidade felina, um dia eu entrei dentro dum saco plástico e passei maus bocados.
Quase sufoquei!
Pois foi isso que aconteceu com a menina. O saco entalou na sua cabeça, e ela não conseguia
mais respirar. Deve ter ficado nervosa, né? Começou a espernear. Eu tive de agir rápido. Enfiei
minhas garras afiadas naquele saco e o transformei em fiapos.
E foi assim que, mais uma vez, Joca, o supergato, se saiu bem na sua supermissão.
Bom... por hoje fico por aqui. Qualquer hora eu volto, porque o que não falta são histórias
pra contar.
Era aniversário da menina pequenina que usava óculos. Ela estava radiante. Havia convidado
todos os amigos da escola. Todos? Todos eram tão poucos. A menina, além de pequenina, era
quietinha. Poucos se aproximavam dela. Achavam ela sem graça. Mal sabiam eles das histórias
que ela contava... e como contava bem. Quando soltava sua voz de passarinho, o ar se enchia de
graça.
O menino também sorriu, entrou na casa e começou a encher bexigas. Brancas, amarelas,
vermelhas, azuis, lilases... lindas... enchia uma e... pow, outra... pow... pow... outra... enchia outra,
e pow pow pow mais uma... era assim!
Entre um estouro e outro, Pulga na Cueca resolveu brincar de fazer bolinhas com as bexigas
arrebentadas.
Ele fazia uma bolinha pequena de som agudo e irritante aos ouvidos da menina.
O menino ficou mudo, branco e mudo. Engasgou com um pedaço de borracha entalado
na garganta.
A menina pequenina que usava óculos tinha medo. Começou a chorar baixinho.
A menina arregalou os olhos enquanto a vovó pulava sobre o peito do menino. A bexiga saltou
da sua goela feito bolinha de pingue-pongue. O menino parou de sufocar.
Lá estava ela. Deslizando pelo rio de águas mansas, a bordo de uma canoa. Ela, a vovó de
chapéu roxo com bolinhas amarelas e luvas encarnadas.
Era domingo. As mães afrouxaram a guarda, e as crianças, soltas, foram brincar no rio: o
menino, de pernas-de-saracura e pulga na cueca, e a menina pequenina que usava óculos. O
O menino parecia peixe, nadava para longe, boiava, imergia e emergia nas águas escuras. A
menina apenas andava dentro do rio. A água batia na canela, no joelho, nas coxas, quando de
repente...
— Aaaaaaaaiaiaiaiaiaiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii.
O vento levou o eco para longe, e todos os moradores do rio ouviram seu grito de dor. Todos,
menos o menino. A menina cortou o pé num caco de garrafa que repousava no leito do rio.
Tonta de dor, desequilibrou-se, caiu, desesperou-se, bebeu água barrenta e afundou. Ela só via
sombras a sua volta. Um filete vermelho coloriu a água marrom.
O menino parecia peixe, nadava para longe, boiava, imergia e emergia nas águas escuras,
agora pintadas de vermelho.
Um vulto aproximou-se da menina. Tomou-a nos braços, levou-a para a margem do rio, fez o
sangue parar.
E o vulto desapareceu. Depois que o susto passou, a mãe da menina lavou, tratou e cobriu
o machucado.
Quando o menino de pernas-de-saracura e pulga na cueca voltou, viu a menina que usava
óculos com o pé enfaixado. Montou a menina nas suas costas, e, na garupa do Pernas-de-
Saracura, ela viu de longe uma canoa deslizando nas águas mansas do rio.
Ioiô Dora quase se afogou na piscina. Eu fiquei sabendo disso porque não se falava em outra
coisa naquela casa, ontem à noite.
Ainda bem que não fui nesse passeio. Ainda bem! Vocês sabem que gato escaldado tem medo
de água fria, não é?
— Uma festança, Joca. Você ia se divertir. Tinha sardinha (hummm... lambi meus lábios ao ouvir
isso), churrasco, guaraná, música pra dançar. Tava todo mundo, né? Daí... depois, eles foram
conversar. Eu fui jogar bola com os meninos, ali pertinho. Dora foi dar banho de piscina na
boneca. Escorregou e ó... tchibummm. Ouvi uns gritos e vi a Dorinha batendo os braços, assim
ó... Agora é até engraçado... mas, naquela hora, minhas pernas tremiam, tremiam, tremiam.
Precisa ver, Joca. Eu tremia todo... tremia, tremia. Daí, deu uma coisa na minha cabeça e corri
pra chamar o pai.
Foi o Tom que ajudou a irmã. Menino corajoso. Ele disse que gritou bem forte:
Ele contou que foi um alvoroço. As pessoas corriam pra todo lado; a mãe chorava... aí o pai
pulou na piscina, tirou a Dora de lá, fez respiração boca a boca, e a Ioiô Dora viveu outra vez.
TOM E O GATO-SENTINELA
— Menino, o que você está fazendo em cima do muro? Desce daí, já! — disse a mãe.
— Você vai espantar o passarinho, e acaba caindo daí, desce já! - insistiu a mãe.
— Já vou, já vou!
Aquilo estava virando uma lengalenga. O Tom parecia personagem de filme de ação, pulando
da árvore pro muro, do muro pro telhado, do telhado pro muro, do muro pra árvore.
Comecei a rolar no chão e a miar desesperado... e a me jogar de um lado para outro... e soltar
miados estridentes... dar pulos no ar... eriçar meu dorso... enfim, fiz uma cena apavorante.
— Tom, meu filho, acuda, acho que o gato está tendo um troço.
O Tom olhou lá de cima. Percebi que era a hora de colocar mais vida naquela representação.
Além das sugestões de histórias, jogos e atividades lúdicas que a Criança Segura oferece dentro deste
curso para aplicar com crianças, temos também uma parceria com o Clubinho Salva Vidas, que é
um portal de jogos educativos com dicas de educação no trânsito, cidadania, preservação do meio
ambiente, segurança em ambientes urbanos e cuidados em ambientes aquáticos, entre outras. Essas
informações podem contribuir para melhorar a qualidade de vida e reduzir os índices de acidentes
no mundo, aliando educação e tecnologia. Para conhecer um pouco mais desse trabalho e utilizá-
lo como ferramenta educativa com os pequenos, acesse: http://www.clubinhosalvavidas.com.br/pt.
Visite também o canal de vídeos do Clubinho Salva Vidas no Youtube: https://www.youtube.com/
results?search_query=clubinho+salva+vidas
Os participantes do curso podem solicitar um código promocional para testar todos os jogos do
Clubinho Salva Vidas por 30 dias. Para isso, ou para obter mais informações, basta entrar em contato
pelo e-mail: clubinhosalvavidas@hotmail.com.
Diálogo;
Apoio e confiança;
Limites;
Respeito.
Já que falamos em brincar, sugerimos a leitura do texto Brincadeiras Seguras. A seguir, apresentamos um
trecho desse artigo que destaca aos pais, mães, familiares e responsáveis as principais recomendações
sobre a escolha de brinquedos que não representem risco à saúde da criança.
BRINCADEIRAS SEGURAS
Trecho do artigo gentilmente cedido pela Revista Mãe
Vocês já conhecem o processo de “selagem” de um brinquedo antes de chegar às mãos do seu filho,
o que garante a sua segurança. Mesmo assim, nunca é demais saber quais são as recomendações e
proibições quanto a cada tipo de brinquedo, dos aquáticos aos sonoros, dos mordedores aos móbiles
e às bonecas de pano. Confira a seguir.
Os chamados brinquedo educativos, como blocos de montar, não estão livres do controle de segurança.
Até os três anos, a maior preocupação é quanto ao tamanho das peças. Nenhum componente pode
Quando o assunto são mordedores ou massageadores de gengiva, se forem à base de PVC (vinil), há
um teste especifico que mede o teor de D.E.P.H., um plastificante utilizado para amolecer o PVC. Essa
concentração jamais pode ultrapassar os 3%, pois se trata de uma substância cancerígena. Além disso,
o mordedor é submetido aos demais testes rotineiros de toxicologia.
Nos móbiles, a preocupação especial fica por conta do cordão que o amarra no berço. Seu comprimento
não deve ser superior a 30 centímetros para que o bebê não se amarre no mesmo. Embora não
obrigatório, é aconselhável que o fabricante instrua os pais a retirarem o móbile do berço quando a
criança completar cinco meses. A partir dessa idade, o bebê começa a ensaiar posturas mais eretas,
podendo alcançar o móbile.
Quanto aos brinquedos sonoros, é medida a emissão de som, que deve estar dentro de padrões
aceitáveis. Isso significa o limite de 85 decibéis para ruídos constantes (que duram mais de um
segundo) e 100 decibéis para ruídos instantâneos. Brinquedos com som acima desses índices são
reprovados.
Brinquedos infláveis, como bexigas, são submetidos a testes de toxicologia e de abuso mecânico
previsível com crianças por perto.
Quanto aos brinquedos aquáticos, aqueles que suportam 1,5 kg sem afundar, se forem de vinil,
necessitam passar pelo ensaio de D.E.H.P.
Os famosos (e aparentemente inocentes) patinhos de plástico que passeiam pela banheira enquanto
o bebê toma banho merecem muita atenção. Eles passam por rigorosos testes quanto à toxicologia,
pois são muito convidativos para serem colocados na boca. Por isso, é preciso ter certeza de que não
soltam nenhuma substância tóxica na boca do pequeno.
A utilização de fantoches deve sempre ser acompanhada por um adulto. Por exemplo, os fantoches
de dedo são peças pequenas facilmente engolidas. Se for o caso de fantoches de tecidos, os mesmos
devem ser suficientemente porosos para evitar asfixia.
Bonecas de pano e outros brinquedos recheados, além de seguirem as mesmas normas dos bichinhos
de pelúcia, ainda devem ser examinados quanto à sua inflamabilidade. Isso porque fios de lã em
cabelos de bonecas, por exemplo, são altamente inflamáveis. O fabricante evita problemas utilizando
um antichamas atóxico.
Quanto aos materiais com que são confeccionados os brinquedos, além dos de PVC, os de madeira
passam por um teste especial, para averiguar a presença do pentaclorofenol, um fungicida
extremamente tóxico. Se for de plástico rígido, o objetivo é detectar a presença de metais pesados de
acordo com a cor do material. Quer dizer: se um brinquedo possui várias partes de cores diversas, são
realizados tantos testes quanto sejam as cores. A presença de metais pesados também é verificada
em papéis, instrumentos gráficos (lápis, crayon, giz) e PVC.
Em massas de modelar, há ensaios biológicos para checar uma eventual toxidade. Por fim, na
maquilagem para bonecas, pesquisa-se a sensibilização da mucosa oral, a irritabilidade e a eventual
presença de metais pesados. A tinta que recobre qualquer brinquedo deve ser totalmente atóxica.
Antes de assinar o cheque e levar para casa um lindo urso de pelúcia ou um móbile superoriginal,
papais e mamães preocupados com a segurança de seus pequenos devem atentar para os
seguintes itens:
A cozinha é o lugar de maior risco para as crianças se queimarem, principalmente por causa do
fogão e do forno. Portanto, a primeira dica é manter os pequenos longe desse ambiente.
Confira a seguir mais atitudes que podem prevenir queimaduras nas crianças.
Enquanto estiver cozinhando, deixe as panelas com o cabo voltado para dentro do fogão.
Não guarde alimentos, como doces e biscoitos, em prateleiras ou armários sobre o fogão.
Guarde fósforos, isqueiros, velas, recipientes com álcool e outros produtos inflamáveis em
armários trancados e longe do alcance das crianças.
Nunca segure líquidos quentes ou fume quando estiver com um bebê muito próximo ou no
seu colo.
Evite usar toalha comprida na mesa, pois uma criança pode puxá-la, causar um acidente e se
queimar com utensílios e comidas que ainda estejam quentes.
Antes do banho da criança, teste a temperatura da água movendo a mão por toda a banheira,
para ter certeza de que não há nenhum ponto muito quente.
Mantenha longe das crianças eletrodomésticos como aquecedores, ferro de passar roupa e
secador de cabelo, entre outros, seja na hora de usar ou de guardar. Guarde-os sempre em
locais onde as crianças não possam alcançá-los.
Não permita que crianças manuseiem ou brinquem com bombinhas e fogos de artifícios, pois
elas podem se queimar gravemente e até perder partes do seu corpo.
As velas em uso devem ficar dentro de recipientes não inflamáveis e que as mantenham em
pé e firmes.
Ensinar as crianças a brincar com pipas longe de postes e fios elétricos de alta tensão.
por quê?
• O álcool líquido faz o fogo se espalhar rapidamente e causa
Não use álcool
queimaduras gravíssimas, além do risco de explosão. Para
líquido para acender
evitar esses perigos, use álcool em gel.
fogo ou mesmo
como produto de • O álcool líquido vendido para limpeza não tem ação
limpeza.
desinfetante. Portanto, prefira detergente, sabão e outros
produtos específicos.
PREVENÇÃO DE INCÊNDIOS
É importante fazer inspeções periódicas em sua casa ou trabalho para eliminar potenciais riscos de
incêndio, como problemas nas instalações elétricas.
2) INTOXICAÇÕES
Evite tomar medicamentos na frente das crianças, pois elas tendem a imitar os adultos.
Não guarde nenhum produto químico fora da embalagem original, para evitar confusão –
imagine o estrago que pode causar uma garrafa de refrigerante cheia de alvejante.
Sobretudo se você mora em área rural, verifique periodicamente dentro de sapatos e armários
e embaixo de móveis se há cobras, escorpiões e aranhas.
Ensine a criança a nunca colocar na boca folhas, caule, casca, nozes ou sementes de
qualquer planta.
Quando adquirir um brinquedo para a criança, certifique-se que ele é atóxico, ou seja, não
contém componentes tóxicos.
Conheça as substâncias e plantas tóxicas mais comuns e confira em quais produtos domésticos
elas estão presentes.
Ácidos e bases
Ácido muriático, água sanitária, alvejante, amoníaco, cal virgem, clareador de pelos, detergente em
grãos (usado em máquina lava-louça), descolorante, desinfetante, limpador de fogão, limpador de
metal, removedor de calos e verrugas etc.
Derivados do petróleo
Aguarrás, álcool combustível, inseticida solúvel em solvente orgânico, diluente de tinta, fluido de
isqueiro, gasolina, naftalina líquida, polidor/cera de assoalho ou mobília, polidor de metal solúvel em
solvente orgânico etc.
Plantas tóxicas
Arruda, avelós, aroeira, bico-de-papagaio, cambará, chapéu-de-napoleão, cinamomo, confrei, coroa-
de-cristo, comigo-ninguém-pode, copo-de-leite etc.
A intoxicação (ou envenenamento) pode ser causada pela ingestão de vários tipos de produtos tóxicos,
como remédios, substâncias químicas, plantas e agrotóxicos. Basta um momento de distração, e
pronto: a criança alcança a prateleira do banheiro e bebe o pote de água oxigenada.
Peça orientação por telefone ao Centro de Controle de Intoxicação (CCI) de sua cidade;
Nunca induza o vômito na pessoa intoxicada, pois isso pode causar um desgaste desnecessário
no trato digestivo da vítima, além de não resolver o problema. Vomitar pode piorar a situação,
ainda mais em casos de envenenamento por produtos corrosivos (ácidos e bases) e derivados
de petróleo;
Caso haja vômito espontâneo, procure fazer com que a vítima vomite em um balde, para que o
material possa ser analisado pelos médicos;
Não permita que a vítima beba qualquer líquido, nem sequer água, leite ou azeite;
Caso a vítima apresente convulsões, não tente imobilizá-la nem segurar sua língua, apenas
garanta que ela não vai esbarrar em algo e se machucar ainda mais;
Em caso de parada respiratória, apresse a ida ao hospital; não adianta fazer respiração boca a
boca em caso de intoxicação;
Deite a vítima de lado, com a cabeça apoiada sobre o braço, para evitar que ela se sufoque com
vômitos involuntários;
Preste muita atenção em cada reação da vítima, pois suas descrições serão essenciais na hora
do atendimento médico – observe se está fria ou quente, se saliva, se vomita, se parece confusa
ou sonolenta.
E NUNCA SE ESQUEÇA!
Procure levar para o médico o produto que causou envenenamento – pode ser o resto do produto,
sua embalagem, sua bula, um ramo da planta tóxica etc.
Quanto aos acidentes com armas de fogo, o melhor modo de preveni-los é não ter armas em casa. Se
a sua profissão exige o uso de armas, deixe-as fora do alcance das crianças. Os menores de oito anos
não têm sequer condições de distinguir uma arma de verdade de um brinquedo. Portanto, toda arma
de fogo deve ser guardada travada, sem munição e em local trancado e inacessível aos pequenos. As
munições devem ficar em lugar separado e também trancado. Para mais informações, acesse o link:
http://www.ic.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=13
Depois de conhecer tantas medidas preventivas ao longo do nosso curso, sua tarefa é acessar o
resumo de prevenção de acidentes em casa, disponível em: http://criancasegura.org.br/categoria-
dica/ambiente/domesticos/
Eu não disse que esta casa é um perigo? Uma ameaça pras crianças e pros gatos também.
Aquela moça que trabalha aqui nem olha o que esses dois ficam fazendo. A mãe deles fica fora
o dia todo. E os dois, quando não estão na escola, estão aprontando, e eu sempre acabo no
meio das confusões. Ioiô Dora e Tom me põem louco.
Sabe aquela coisa chamada microondas? Pois é! Aquilo é uma arma mortal. Estava eu, bem
deitado na cadeira da cozinha, onde entra um raio de sol quentinho, quando o Tom resolveu
esquentar leite pra fazer chocolate. Ligou aquela máquina, tirou a xícara de leite do microondas
e veio sentar-se ao meu lado. Quando ele foi colocar o chocolate em pó no leite, aquela coisa
explodiu na sua cara. Acho que o leite se revoltou e esparramou-se pra todo lado. Eu só senti
aquela dor e corri assustado pra debaixo da cama pra lamber meu corpo ardido. Só depois é que
ouvi os berros do Tom, e os berros ainda mais altos daquela doidinha que trabalha aqui:
— Minha Virgem Maria, o que você fez, menino? Ai meu Jesus, o que eu faço agora?
O Tom queimou o rosto. Ouvi a mãe dele dizer que “ainda bem que não pegou nos olhos”.
PERIGO NA COZINHA
Na casa do menino de pernas-de-saracura e pulga na cueca, era assim: no domingo, era dia de a
mãe fazer comida, enquanto todos conversavam na cozinha.
O pai cortava a carne, picava cheiro-verde e tomate maduro. A mãe refogava a cebola, que
soltava um aroma doce no ar. Preparava o pudim de laranja e fervia a água pro macarrão.
A menina pequenina passou por ali. Trocou um livro com o menino. O menino estava radiante.
Ele queria ler aquela história. Saiu correndo. Com um pulo das suas pernas longas, logo estaria
no quarto. Hércules, seu cachorro magricela, veio atrás, pulando também.
No caminho pro quarto, passou pela cozinha. Pegou um pedaço de tomate para si, um pedaço
de carne para Hércules. O pai falou:
O cabo da panela, com a água do macarrão, entrou no seu caminho. A panela levou uma queda,
do fogão para o chão. No trajeto, saltou sobre o menino, feito cachoeira de água fumegante.
A vovó de chapéu roxo com bolinhas amarelas me contou essa história. Contou também como
ela voltou no tempo, a tempo de o menino fazer tudo diferente e não mais se queimar.
Foi assim:
A menina pequenina passou por ali. Trocou um livro com o menino. O menino estava radiante.
Ele queria ler aquela história. Tranquilamente, se dirigiu pro quarto. Hércules, seu cachorro
magricela, foi atrás, abanando o rabo.
No caminho pro quarto, passou pela cozinha. Pegou um pedaço de tomate para si, um pedaço
de carne para Hércules. O pai perguntou:
— Vai ler?
O menino disse:
— Sim.
Bebês são tão rápidos. Com suas quatro patinhas, ops! Quatro perninhas, eles exploram todos
os cantos da casa. Entram em armários, sobem nas mesas, nas janelas, na cama, entram até na
casinha do gato.
Quando o bebê fica chateado, ele chora tanto. A pequena menina ficou tonta, com tanto choro
do bebê. A menina só queria um tiquinho de sossego. Tirou seus óculos e sentou um bocadinho
no sofá. Esfregou os olhos cansados de só vigiar. Fechou os olhos. O bebê estava ali. Ela podia
ouvir a sua voz. Por um momento, a menina pequenina sonhou que tinha asas e podia voar. Lá
de cima cuidava do bebê.
A menina colocou seus óculos e, com olhos esgazeados, procurou pela irmã.
´´Embaixo da mesa? Não está. No berço? Não está. No sofá? Não está. As janelas... corre... as
janelas. Não, não está! Não é possível. O bebê sumiu. Epa! Que faz a porta da pia da cozinha
aberta? Será?``
Lá estava o bebê.
´´Como esta danadinha conseguiu entrar aqui? O bebê está chupando bolinha? Bala de coco?
Tem alguma coisa errada. Embaixo da pia não é lugar pra bala de coco. Oh! Não. É aquela
bolinha fedida que mamãe usa para espantar as traças. E agora? O que fazer!``
A menina ouviu uma voz. Com olhos embaçados, procurou por ela. Na cadeira de balanço,
repousava a vovó de chapéu roxo com bolinhas amarelas. Suas mãos entre luvas encarnadas
seguravam o bebê. Ele dormia. Agora tudo estava bem.
Bicho-papão
Saia do telhado
Deixe esta criança
Dormir sossegada.
16%
Pedestre
33%
Ciclista
Motocicleta
Carro
5% 1%
Outros 45%
Podemos mudar a realidade dos acidentes adotando comportamentos mais seguros, de cuidado aos
pequenos pedestres, ciclistas e passageiros, ensinando desde cedo às crianças o comportamento
adequado no trânsito. Vamos então conhecer as medidas que nos ajudam a prevenir acidentes e
educar para o trânsito. Iniciaremos pelas dicas para levar a criança de forma segura dentro do carro,
já que esse tipo de acidente corresponde a 45% dos casos fatais no trânsito envolvendo as crianças
pequenas.
ATENÇÃO! PERIGO!
Quando uma criança anda de carro desprotegida, isto é, sem assento adequado ao seu peso e tamanho
e/ou sem cinto de segurança, as consequências podem ser graves – mesmo quando os automóveis
estão andando a uma velocidade moderada. As crianças pequenas ainda são muito frágeis e muito
menos tolerantes ao impacto que nós adultos, por isso nessa faixa etária é imprescindível ter muito
zelo para escolher a cadeirinha adequada, instalá-la corretamente e não abrir mão da cadeirinha
nunca, nem em trajetos curtos.
Imagine, por exemplo, que você está dirigindo a 50km/h e, de repente, colide com outro veículo. O que
pode acontecer com seu filho que está no banco traseiro? Abaixo, você confere vídeos que mostram
os efeitos do impacto sobre o veículo, sobre o passageiro, sobre os órgãos internos da criança e sobre
o bebê-conforto. Basta clicar sobre cada item e acesse a Aula 4 do curso.
Lembre-se sempre de que a cadeirinha deve se adaptar bem ao veículo e ser instalada corretamente,
de acordo com as recomendações do fabricante. Dê preferência às cadeiras certificadas, isto é, que
apresentam selo de qualidade, pois esta é a garantia de que o produto está preparado para resistir a
um acidente.
BEBÊ-CONFORTO OU CONVERSÍVEL
Recomendações: as tiras da cadeirinha devem ficar abaixo dos ombros da criança, ajustadas ao
corpo com, no máximo, um dedo de folga. Se houver clipe peitoral, deve ser ajustado na altura das
axilas.
Instalação: siga as orientações do fabricante. O cinto de segurança do carro deve passar pelos locais
indicados da cadeirinha, e esta não deve se mover mais do que 2 cm para os lados, após sua fixação.
Após instalada corretamente, a cadeirinha deve ficar reclinada o suficiente para que a cabeça do
bebê possa descansar de forma plana – lembrando que o limite da inclinação é de 45º.
Nunca coloque nada entre a criança e a cadeira. Cuidado com roupas muito grossas ou
acolchoadas, pois esses materiais podem ser comprimidos num acidente, o que deixaria o cinto
de segurança frouxo, comprometendo a segurança da criança.
Não use este tipo de cadeirinha quando o carro tiver air-bag frontal ou lateral. A força de um
airbag em formação sobre o bebê-conforto pode resultar em ferimentos graves ou até em morte.
Se a cadeirinha tiver uma alça, consulte as orientações do fabricante sobre a posição em que a
alça deve ficar durante o transporte no carro. A maioria das cadeiras americanas pede que as
alças fiquem para baixo durante o transporte no carro.
Para saber a hora exata de tirar o bebê desse equipamento e colocar na cadeirinha, é importante
considerar altura e peso, além da idade. O peso limite sempre será o indicado pelo fabricante do
bebê-conforto. E a altura limite para um bebê no bebê-conforto é quando o topo de sua cabeça
começa a ultrapassar o topo do equipamento.
CADEIRINHA DE SEGURANÇA
Recomendações: as tiras da cadeirinha devem iniciar acima dos ombros e estar ajustadas ao corpo
da criança com, no máximo, um dedo de folga. Se houver clipe peitoral, ajuste-o na altura das axilas.
Instalação: siga as orientações do fabricante. O cinto de segurança do carro deve passar pelos
locais indicados da cadeirinha e, após sua fixação, ela não deve se mover mais do que 2 cm para
os lados. Pais e responsáveis devem ler atentamente as instruções da cadeirinha de segurança e o
manual do carro.
DICAS IMPORTANTES
Use uma cadeirinha de segurança de frente para o movimento, com sistema de retenção (cinto
da cadeira) de cinco pontos, na posição vertical, de acordo com as instruções do fabricante.
Para saber a hora exata de passar a criança desse equipamento para o assento de elevação, é
importante considerar altura e peso, além da idade. O peso limite sempre será o indicado pelo
fabricante da cadeirinha. E a altura limite para uma criança na cadeirinha é quando a altura do
olho começar a ultrapassar o topo do equipamento.
Pais e responsáveis devem estar atentos ao selo de certificação de padrões de segurança brasileiro (selo
do Inmetro), europeu ou americano. No Brasil, temos a NBR 14400, norma que estabelece os requisitos
de segurança de dispositivos de retenção para criança em veículos (cadeira e assento auxiliar).
Modelos americanos e europeus – levam sempre o selo de certificação, que nesses países é obrigatória.
Modelos brasileiros – devem necessariamente ter o selo de certificação Inmetro.
Para proteção da criança, deve-se optar sempre por uma cadeira de segurança que tenha o selo de
certificação. Ele é a garantia de que o equipamento foi aprovado nos testes que garantem sua eficácia
no caso de colisão do veículo. Os testes são:
Estático – a cadeira é verificada quanto à resistência dos cintos, das fivelas e toxidade dos materiais
usados, entre outros itens.
Dinâmico (car crash) – a cadeira é instalada dentro de um carro que colidirá contra um muro a 50 km/h.
Em carros com vidros elétricos, todo cuidado é pouco: a criança pode sufocar caso feche a janela
enquanto está com a cabeça para fora. Portanto, trave a abertura das janelas.
Mantenha os bancos traseiros travados para impedir que a criança entre no porta-malas por
dentro do carro.
Nunca deixe o carro estacionado aberto, pois a criança pode entrar e não conseguir sair.
Depois de trancar o carro, certifique-se de que as chaves estão com você e deixe-as longe do
alcance da criança.
Confira outros materiais informativos sobre como garantir a segurança das crianças no carro:
Sabemos que muitos pais e mães não podem levar seus filhos pessoalmente à escola. Nesses casos,
uma opção é a contratação de um serviço especializado de transporte escolar. A seguir, veremos como
verificar se o serviço escolhido é realmente uma opção segura para sua família.
Os veículos autorizados para o transporte escolar são ônibus, vans, kombis e embarcações (barcos).
Motocicletas, carros de passeio e caminhões não são recomendados para esse tipo de transporte.
Eventualmente, o Departamento de Trânsito (Detran) local pode autorizar o transporte em camionetes
ou até em carros menores, desde que sejam adaptados para a segurança das crianças – esse tipo de
autorização só costuma acontecer em municípios com estradas precárias.
Todo veículo de transporte escolar deve estar em boas condições e receber uma autorização especial,
expedida pela Divisão de Fiscalização de Veículos e Condutores do Detran ou pela Circunscrição
Regional de Trânsito (Ciretran). A autorização deve ser fixada na parte interna do veículo, ficando bem
visível. Além das vistorias normais no Detran, o veículo precisa fazer mais duas vistorias específicas
(uma em janeiro e outra em julho) para verificação dos equipamentos de segurança.
Veja, abaixo, um checklist com os detalhes que você deve conferir na hora de contratar um serviço de
transporte escolar.
Ter coletes salva-vidas para todos os passageiros – todas as crianças devem usá-lo, mesmo as
que sabem nadar;
Estar em boas condições de uso e tráfego;
Ser devidamente registradas na Capitania dos Portos;
Fixar em local visível sua autorização para trafegar;
Possuir cobertura para proteção contra o sol e a chuva;
Ter grades laterais para proteção contra quedas;
Possuir cobertura do motor para evitar escalpelamento.
As crianças que utilizam transporte escolar devem ser especialmente educadas sobre como se
comportar durante o trajeto, pois algumas atitudes podem atrapalhar o motorista e aumentar o risco
de um acidente. Mesmo que os pequenos ainda não sejam conscientes do perigo nem capazes de
compreender as regras de segurança, é importante começar a trabalhar essas orientações desde cedo:
Crianças pequenas ainda não sabem fazer uma leitura adequada do trânsito. Muitas vezes pensam
que tanto os carros quanto as bicicletas podem parar instantaneamente ou que, se elas podem ver o
motorista/condutor, ele também é capaz de vê-las.
ATENÇÃO ÀS GARAGENS
Crianças pequenas são vítimas fáceis de morte e de lesão por atropelamento em entradas de garagem,
principalmente quando o veículo está dando ré. Não deixe seu filho brincar ou andar de bicicleta, skate
e patins em frente a portões eletrônicos e entradas de garagens, quintais sem cerca, estacionamentos,
nas vias de trânsito de veículos ou mesmo junto ao meio-fio.
POR QUÊ?
Muitas vezes elas podem não ser vistas, devido ao seu tamanho pequeno. As áreas mais seguras para
brincar são parques, praças, áreas livres cercadas e quadras desportivas.
Recomendamos que a criança comece a andar sozinha na rua a partir dos 10 anos de idade, mas para
isso ela deve ter sido preparada antes. Portanto, os pais, familiares e cuidadores devem aproveitar
essa fase em que a criança começará a circular pelas ruas andando para já desde cedo oferecer como
referência exemplos de comportamentos seguros. Essa fase é ideal para a formação de um futuro
pedestre consciente e seguro.
Se você estiver circulando com mais de uma criança pela rua, coloque-as para andar em fila única, em
vez de lado a lado.
No uso adequado do capacete, que deve estar centrado em cima da cabeça e com suas tiras
corretamente ajustadas sob o queixo, sem ficar solto, frouxo ou mesmo apertado demais.
Durante as brincadeiras com bicicleta, skate ou patins, um dos maiores perigos são as lesões na
cabeça. Elas podem levar à morte ou deixar sequelas permanentes. O uso do capacete é a maneira
mais efetiva de reduzir esse problema, podendo evitar a morte em 85% dos casos, quando colocado
corretamente e tendo o tamanho adequado.
Escolha uma bicicleta adequada à faixa etária do seu filho. Lembre-se de que os pés da criança devem
alcançar o chão quando ela senta na sua bicicleta. Não permita que seu filho ande de bicicleta, skate
ou patins à noite, sem o uso de roupas e acessórios luminosos. Além disso, é indispensável utilizar os
equipamentos de segurança, como joelheiras e cotoveleiras.
Se estiver carregando uma criança em uma bicicleta, é importante também buscar uma cadeirinha
de transporte segura e que tenha cintos. Eles devem estar sempre bem afivelados para garantir a
segurança no passeio.
Além de adotar atitudes seguras, podemos também educar os pequenos para o trânsito de forma
divertida, explorando o imaginário das crianças. Que tal entrar em ação e contar histórias aos pequenos?
Quer uma ajuda? Acesse o nosso material de apoio aos familiares e responsáveis! Selecionamos
uma série de histórias infantis sobre atropelamentos e acidentes envolvendo bicicletas, para serem
narradas em família. Você certamente saberá escolher as histórias mais adequadas à faixa etária e à
realidade de seu(s) filho(s).
Lembre-se de que a contação de histórias faz parte do desenvolvimento infantil, explora a imaginação
e aumenta o gosto pela leitura. Também pode ser um belo momento de convivência e troca emocional
em família. Portanto, solte a sua criatividade e não tenha medo de contar, interpretar e inventar
histórias divertidas e cheias de emoção!
Agora, convidamos você a realizar a leitura de material traduzido pela Criança Segura que ilustra
uma possível prática inovadora em prol da prevenção de acidentes e da melhoria dos hábitos no
trânsito. O Guia Ônibus a pé [http://criancasegura.org.br.previewc75.carrierzone.com/wp-content/
uploads/2016/08/09-1.pdf] é uma adaptação da publicação do The Walking Bus - a step-by-step
guide - Hertfordshire. Sugerimos que reflita se essa alternativa é viável em seu bairro.
Chegamos ao final da nossa formação no que se refere à prevenção de acidentes com crianças na
primeira infância. Esperamos que você compartilhe seus novos conhecimentos com outros pais,
familiares e responsáveis e divulgue este curso a todos os interessados na cultura da prevenção de
acidentes com crianças. Você já pode realizar o questionário de conhecimentos aprendidos para
finalizar e concluir o curso e responder a nossa pesquisa de avaliação. Mas caso tenha interesse em
aprimorar ainda mais os seus conhecimentos, temos uma aula adicional que aborda algumas dicas
específicas dos acidentes com crianças maiores. Não deixe de conferir!
Olá. Eu sou o Joca. Eu sou um gato. Não um gato qualquer. Sou muito especial. Tenho uma
tarefa que dá um trabalho, viu? Eu vou lhe contar. Este vai ser o nosso segredo.
Moro com um amiguinho, um humano, que vive se metendo em confusão. E quem é que tira ele
das encrencas? Eu, o super-Joca, o gato mais falante de toda a redondeza.
Eu sou um belo gato. Modéstia à parte, me acho... um gato! Sou preto, bem preto; meu pelo é
brilhante; meu olho é verde, bem verde.
Meu amiguinho tem o costume de brincar na rua. Ele sabe que a rua já não é mais lugar de
brincadeira. Pelo menos a rua na qual ele mora. Mas ele é teimoso, cabeça-dura. Nem adianta
a mãe dele dizer:
Ele grita:
Outro dia eu estava curtindo a calmaria de um telhado ensolarado. Com um olho eu dormia,
com o outro cuidava do meu amigo que andava de skate. Ele fez um ollie, tirou o skate do chão
e ficou se exibindo pros outros meninos.
Com meu olho acordado, eu vi um carro que vinha em alta velocidade. Percebi que meu amigo,
no seu ollie radical, ia se esborrachar embaixo das rodas do carro. Saltei rapidamente do telhado
e comecei a atravessar a rua, calmamente. O motorista me viu, buzinou e freou a tempo de o
meu amiguinho sair da rua. Acho que ele ficou mais assustado com a voz irritada do motorista
do que com a possibilidade de ser atropelado. O moço gritou:
— Ei, menino, nesta rua não pode brincar não. Carro mata, viu?
— Ei, Joca, vamos pra casa. Que susto, hein? O carro quase o pegou.
Todos os dias o menino ia pra escola. Todo dia o menino atravessava a rua, com suas pernas-
de-saracura e pulga na cueca. Nem olhava pros lados. Até parece que a rua era só dele. Passava
correndo na frente dos carros e dos ônibus grandalhões.
- Menino, não pode atravessar no meio da rua. Você tá vendo aquela faixa branca?
É por ela que se atravessa. Ela foi pintada no chão pra gente passar com segurança. E só quando
os carros estiverem parados, entendeu?
O menino responde:
- Sim, senhora!
- E por que você atravessa no meio da rua quando os carros estão andando?
E agora? Eles vinham em disparada. Todos de uma vez. Não dava para ir pra lá, nem dava para
correr pra cá. Foi então que ele a viu, pela primeira vez.
Ela tinha a cabeça branca e usava um chapéu roxo com bolinhas amarelas. Estava parada na
calçada, do outro lado da rua, na faixa branca. Ela sorriu pro menino e com um gesto, fez o
tempo parar.
No outro dia, ela estava lá, ao lado da faixa branca... e no outro dia também... e no outro, no
outro e no outro...
Ela erguia sua mão, o tempo parava, e o menino atravessava a rua na faixa branca, levado pela
mão encarnada da vovó.
O PASSEIO DO GATO
Há dias que a gente nem devia sair da cama, você não acha? Ontem foi um desses dias. Eu
estava enrolado nas cobertas quando ouvi:
Não gosto de injeção. Rapidamente me enfiei embaixo da cama. Meu amiguinho não
conseguiu me tirar, mas sua irmã, sim. Ela me chamou de um jeito tão especial, que até esqueci
o que fui fazer lá, e saí ronronando e me esfregando nas pernas da menina.
Meu amiguinho sentou no banco de trás comigo, e sua irmã, no banco da frente. A mãe
dele dizia:
— Meu filho, coloque o cinto de segurança. Minha filha, para trás, na sua cadeirinha, já.
Eles nem ouviam. Continuavam a brigar. Os dois discutiam por uma bobagem, e o menino
deu de puxar as tranças da menina. Ela se virou para lhe dar um tabefe. A mãe gritou:
— Parem vocês dois. Já. Ainda bem que este veterinário é pertinho.
Eu fiquei apavorado, porque ela falou isso olhando pra nós, e não percebeu que um carro
Foi por um triz! Ainda bem que tenho sete vidas. Mas os humanos, pelo que eu sei, só têm uma
vida, e se não cuidarem...
A MENINA E A VOVÓ-BORBOLETA
Era uma vez um carro vermelho e veloz. Era uma vez uma menina pequenina que usava óculos.
Ela sentava no banco da frente. Queria ver a paisagem, por isso ajoelhou-se perto do janela.
Agora podia ver o campo, as ovelhas passeando, as vacas pastando, o homem lavrando a terra.
O pai dirigia sério. Nem percebia que a menina tinha o nariz grudado na janela. Nem percebia
que ela estava no banco da frente. Nem percebia o perigo que era estar sentada no banco da
frente, com o nariz grudado na janela.
Papai nem ouvia a menina. Só via os carros que passavam rápido na rodovia. Caminhões,
caminhões, caminhões. Fila de caminhões e carros que queriam andar mais rápido que
os caminhões.
A menina conversou com a vovó, enquanto seu nariz continuava grudado na janela. A vovó,
do tamanho de uma borboleta, solta no ar, voava do lado de fora da janela. Com suas mãos
escondidas, fazia sinal pra menina passar para o banco de trás.
A vovó não falava, mas a menina podia ler seus pensamentos. A vovó indicou o assento de
segurança que estava no banco de trás. A menina não gostava de sentar naquele assento,
porque não podia ficar com o nariz grudado na janela.
Mas a vovó era tão linda. Sorria grande. Falava doce. A menina gostou da vovó e sentou no seu
lugar, no assento do banco de trás.
A vovó entrou por uma fresta da janela e prendeu o cinto de segurança na menina.
E a menina sentiu-se segura, dormiu e sonhou com as ovelhas no campo, enquanto o carro
vermelho deixava os caminhões para trás.
Agora, vocês vão conhecer a minha família humana: meu amigo se chama Tom, acabou de fazer
seis anos, gosta de jogar bola, voar de bicicleta e brincar com carrinhos.
A sua irmã se chama Dora, mas eu a chamo de Ioiô Dora, porque ela pula e roda sem parar,
como um ioiô. Ioiô Dora vai fazer cinco anos. Tenho, também, dois amigos felinos, que moram
na casa ao lado: a Biba e o Nino.
Eu estou muuuuuuuito triste. Bem triste mesmo. Eu bem que tentei, mas não consegui. Eu, o
super-Joca, não consegui impedir o tombo do Tom. E que tombo! Em toda a minha vidinha de
gato, nunca vi coisa assim.
Tom andava de bicicleta na rampa do condomínio onde ele mora. Ele com outros garotos
subiam e desciam com tanta velocidade, que até resolvi sair de perto. Eu dizia: “Tom, vá devagar!
Olha o outro garoto! Carro saindo da garagem! Ioiô Dora no caminho.” Mas que nada! O Tom
parecia estar surdo. Com a sua superbicicleta, fazia vruuuummmmmmmmmmmmmmm... tirava
a roda do chão... freava... soltava as mãos.
Aiaiaiiaiiiiaiiiiiiii!!! Eu punha a minha patinha na frente dos olhos. Não queria nem ver, e gritava:
“... carro entrando... menino na contra-mão...”.
Eu bem que quis chegar mais perto pra alertá-lo do perigo de um tombo daqueles.
O menino estava passando do limite, e muito. Mas era impossível. Ele gritava, pulava... e foi aí
que aconteceu.
Um dos garotos não conseguiu desviar e chocou-se com o Tom. Voaram os dois. Espatifaram-se
no chão. Foi aquela choradeira. Fiquei gelado. Saía sangue da cabeça do meu amigo. Corri pra
dentro de casa, me pendurei na perna do pai do Tom e levei-o para fora. Só conseguia dizer:
O Tom quebrou o braço, machucou a cabeça e ralou o joelho, e o outro menino quebrou
um dente.
Já viu uma coisa dessas? Isso até pode virar história: o dia em que a inofensiva bicicleta se
transformou numa inimiga mortal.
O menino de pernas-de-saracura e pulga na cueca estava correndo atrás da bola. A bola foi
parar na rua. Na rua, passava um moço numa bicicleta. O moço da bicicleta atropelou o menino.
Outra vez!
O menino de pernas-de-saracura e pulga na cueca estava correndo atrás da bola. A bola foi
parar na rua. Na rua, passava um moço de bicicleta. O moço pedalava rápido, e o suor escorria
por dentro de seu capacete laranja. Ele nem olhava para os lados. Não passeava. Apenas corria.
Não via nada na sua frente além do caminho estreito por onde voava a sua bicicleta. Veloz...
veloz... velozzzzzzzz.
O menino brincava apenas. Brincava de bola na frente de casa. Fazia uma, duas, três, quatro
embaixadinhas. A bola saiu do seu joelho e foi parar no caminho da bicicleta. Mas a bicicleta
não podia parar. A bicicleta, com o moço de capacete laranja, andava cada vez mais rápida.
O menino correu atrás da bola, pra fazer cinco, seis, dez, quinze embaixadinhas. O nevoeiro
estava baixo e ele nem viu o capacete laranja. Mas viu um vulto ir se formando à sua frente: era
a vovó de chapéu roxo com bolinhas amarelas. Ela pegou na sua mão. Soprou forte em direção
ao moço da bicicleta, e ele foi parando... parando... sem mesmo saber o porquê. Parou!
Cadê a vovó? A vovó não estava mais lá. E a bola? Onde estava a bola?
O moço da bicicleta retomou o seu caminho. Agora ele passeava, pensava no vento, pensava
no tempo.
Enquanto isso, pensava naquele caminho, onde tudo pode aparecer entre a neblina: vovós,
bicicletas, capacetes laranja, e muito perigo.
Vamos começar sabendo quais são os acidentes fatais mais comuns na faixa etária de 5 a 14 anos:
7%
2%
Trânsito 6%
Queda 3%
Afogamento
Sufocação 51%
Queimadura 27%
Intoxicação
Outros
4%
Percebemos que o trânsito é o grande vilão nessa faixa etária, sendo responsável por mais da metade
das mortes. É muito comum que, nessa idade, a criança comece a fazer trajetos a pé desacompanhada
de adultos sem estar de fato preparada para tal, mais à frente entenderemos melhor essa questão.
Os afogamentos também são bastante comuns. Vamos a algumas reflexões sobre os possíveis motivos:
Muitas vezes os pais e cuidadores podem pensar que, nessa idade, a criança já consegue “se
virar” na água;
É frequente também que, nessa idade, a criança já tenha feito aulas de natação em algum
momento, o que passa a falsa sensação de segurança aos pais;
Por fim, conforme a criança vai crescendo e ganhando independência, ela pode apresentar
resistência para usar equipamentos de proteção na água, como coletes salva-vidas.
Diante dos pontos levantados, a grande dica aqui para evitarmos os afogamentos com os maiores
é continuarmos vigilantes e com os mesmos cuidados que temos com os pequenos. A água pode
trazer situações de risco que colocam até nós adultos em perigo e nos deixam sem saber como reagir;
portanto, nada de afrouxar o cuidado quando a criança cresce. Criança na água merece supervisão
sempre! Se quiser relembrar as dicas de prevenção, revisite a aula 2 deste curso.
Isso significa que, diferente das crianças menores, nessa idade elas já entendem o que pode
ser perigoso, mas muitas vezes tomam atitudes irresponsáveis exatamente pelas características
citadas acima.
Como vimos, o trânsito é a principal causa de morte acidental nessa faixa etária. O texto abaixo nos
trará elementos para entender melhor os perigos desse complexo sistema que é o trânsito.
ATENÇÃO NA RUA
Não permita que seu filho menor de 10 anos atravesse a rua sozinho. A supervisão de um adulto é
vital até que os pequenos demonstrem certas habilidades e capacidade de julgamento do trânsito.
Seja a pé ou em bicicleta, skate ou patins, os pequenos nem sempre são capazes de reconhecer e
reagir rapidamente ao perigo.
Os menores de 10 anos estão numa fase do desenvolvimento em que ainda têm dificuldade de julgar
a velocidade de deslocamento dos veículos, as relações distância/velocidade entre veículos/pedestres
e a direção dos sons do ambiente.
Para preparar a criança para que, a partir dos 10 anos, comece a circular sozinha pela rua, devemos
ensinar através do exemplo e da orientação de que um pedestre consciente:
Reconhece o melhor local para atravessar a via, utilizando faixas de segurança e locais com
semáforos, e, quando não houver, prioriza a travessia nas esquinas, onde será visto mais facilmente;
Evita atravessar no meio dos quarteirões, cruzamentos e rotatórias – locais perigosos devido ao
tráfego em mais de um sentido;
Antes de atravessar, confirma que está sendo visto pelos motoristas/condutores, comunicando-se
através do olhar e de gestos;
Olha sempre para os dois lados da via, antes e durante sua travessia, mesmo quando em pistas de
sentido único – inesperadamente pode surgir um veículo em sentido diferenciado;
É atento aos veículos que estão dando marcha a ré na saída de garagens e estabelecimentos;
Sempre anda pelas calçadas e, na falta delas, vai no sentido contrário dos veículos para fazer
contato visual;
Evita andar na rua entre 19h e 7h da manhã, horários em que está escuro e será mais difícil ser
visto;
Anda em fila única quando estiver com mais de uma criança, em vez de colocá-las lado a lado;
Sabemos que é muito comum nessa faixa etária as crianças não desejarem mais utilizar os dispositivos
de retenção ou se considerem grandes demais para isso. Só que elas ainda não possuem idade, peso
e altura necessários para irem diretamente no banco do automóvel. Elencamos abaixo os tipos de
dispositivos adequados para cada fase.
Recomendações: o cinto de três pontos do carro deve passar nos locais corretos do corpo da criança,
ou seja, pelo centro do ombro e do peito e sobre os quadris.
DICAS IMPORTANTES
Nunca permita que seu filho coloque o cinto peitoral embaixo do braço ou por trás das costas –
isso pode causar ferimentos sérios.
Oriente seu filho a sempre apoiar as costas no assento, seja do assento de segurança ou do
próprio veículo.
O assento de segurança deve ser usado somente com cinto de três pontos e somente se houver
encosto de cabeça no carro. Caso o seu carro não tenha esse equipamento, procure uma
concessionária autorizada para instalá-lo.
Se seu filho pesar mais que 18 kg e seu carro tiver apenas um cinto subabdominal no banco de
trás, informe-se em uma concessionária ou com o fabricante do carro sobre a instalação do cinto
de três pontos.
Indicado para: crianças acima de 36 Kg e com altura mínima de 1,45 m (aproximadamente 10 anos
de idade).
DICAS IMPORTANTES
Nunca permita que seu filho coloque o cinto peitoral embaixo do
braço ou por trás das costas – isso pode causar ferimentos sérios.
Caso a criança não atenda às orientações, você deve considerar a utilização de um assento
de segurança.
Nessa idade, em geral, é quando a criança começa a andar de bicicleta. A principal dica para quando
andar de bicicleta, skate e patins é que a criança deve estar com capacete. Lembre-se de que isso
também implica:
POR QUÊ?
Durante as brincadeiras com bicicleta, skate ou patins, um dos maiores perigos são as lesões na cabeça.
Elas podem levar à morte ou deixar sequelas permanentes. O uso do capacete é a maneira mais efetiva
de reduzir esse problema, podendo evitar a morte em 85% dos casos, quando colocado corretamente
e tendo o tamanho adequado. Escolha uma bicicleta adequada à faixa etária do seu filho. Lembre-se
de que os pés da criança devem alcançar o chão quando ela senta na sua bicicleta. Não permita que
seu filho ande de bicicleta, skate ou patins à noite, sem o uso de roupas e acessórios luminosos. Além
disso, é indispensável utilizar os equipamentos de segurança, como joelheiras e cotoveleiras.
À noite ou durante o dia, o melhor caminho a tomar são sempre as ciclovias, que são faixas exclusivas
para a prática do ciclismo. Nas ruas, o tráfego intenso e a alta velocidade dos veículos, bem como a
Por fim, atente para o cuidado e a manutenção da bicicleta do seu filho. Tudo tem que estar em
dia: refletores eficazes, freios em bom estado, pneus firmes e devidamente cheios, marchas
facilmente movidas.
Tráfego intenso;
Alta velocidade dos veículos;
Ausência de dispositivos de segurança para pedestres (faixas de segurança, passarelas, lombadas
eletrônicas etc.);
Grande número de veículos estacionados e outros obstáculos que dificultam a visão das crianças;
Poucas áreas dedicadas exclusivamente ao ciclismo.
Portanto, acompanhe e supervisione seus filhos nas ruas. Também é importante promover o uso de
roupas claras, coloridas e/ou com materiais reflexivos, para que os pequenos possam ser facilmente
vistos pelos motoristas/condutores.
Atividades recreativas e desportivas devem ser propostas conforme a faixa etária, o tamanho
e o nível de desenvolvimento psicomotor da criança, observando-se aspectos como o nível de
dificuldade do jogo e as habilidades exigidas para cada tipo de atividade.
Antes de começar a praticar um esporte, toda criança deve passar por um exame médico
completo, que definirá suas aptidões ou limitações para determinadas atividades.
A criança deve sempre ser supervisionada por um adulto enquanto joga ou brinca.
Selecionamos para as crianças maiores uma série de histórias infantis sobre os temas abordados
nessa aula, como: afogamentos, atropelamentos e acidentes envolvendo bicicletas e carros, para
serem narradas em família.
AFOGAMENTO NO MAR
No guarda-sol, só ficou o meu avô. Minha mãe foi pra beira do mar com minhas irmãs, e eu
fui jogar futebol com o meu pai. Tempo depois, meu pai encontrou uns amigos e saíram
para conversar. Resolvi pegar umas ondas. O mar estava um pouco agitado, mas nada que
desse medo.
Imagina o mico, pegar onda no raso. Que graça tem? E lá ia eu. Cada vez pegando uma onda
maior. Eu estava me divertindo. Até conheci uns meninos, que moram por lá. Eles são feras.
Arrasam no mar. E eu fui na cola deles. Não demorou pros dois de mim aparecerem.
Eu lá... furava onda, nadava mais um pouco... furava onda, nadava mais um pouco.
O Minúsculo cara feia parecia um macaco nos meus ombros. Pulava sem parar e gritava:
— Aí, Pedro... lá vem outra... vamô lá... fura esta... mais pro fundo que aí dá pra pegar aquela
grandona... radical, cara... radical...
O Minúsculo sorridente, o minúsculo do bem, não estava tão animado. Agarrava-se nos meus
cabelos e cochichava no meu ouvido:
— Calma, Pedro, calma! Você tem o dia inteiro, a vida inteira pra brincar no mar. Não se arrisque
tanto... glub... glub... glub...
E lá vinha onda! O Minúsculo do bem entrava no meu ouvido e fechava o nariz pra água não
entrar. Quando eu terminava de mergulhar, ele esbravejava:
— Pedro enlouquecido, você vai nos matar... glub... glub... glub... chega. Pedro, me leva pra fora.
O Minúsculo sorridente:
— Eu não aguento mais... estou sem forças... glub... glub... glub... Pedro, vamos sair da
água... glub...
O Cara feia:
O Sorridente sacudiu os bracinhos. Tudo estava ficando confuso à minha volta. Os dois de mim
pulavam no meu ombro. Eu só via água à minha volta, um mar de tanta água. Eu afundava e
voltava pra superfície, e aquela água toda...
Quando dei por mim, estava deitado na areia. Muita gente em pé, ao meu lado. Minha mãe
chorava, meu pai gesticulava, e os dois de mim, sentados na minha barriga, um de costas para
o outro, olharam para mim com umas caras assustadas e evaporaram no ar.
Eu tinha me afogado.
Olá, meu nome é Pedro. Quero contar um segredo pra vocês, e que fique entre nós, tá bom? Isso
aconteceu um tempo atrás. Pouco tempo atrás. Foi assim:
Eu estava superatrasado. Ia pro futebol. Convenci o meu pai e a minha mãe que já dava pra
ir sozinho. Poxa! Todos os meus amigos faziam isso. Eles iam rir de mim se eu chegasse com
“papai”, né?
No caminho que vai da minha casa ao campo de futebol, tem uma avenida, uma via rápida,
dessas onde os carros não param nunca. Pra atravessar, a gente tem de se arriscar no meio do
trânsito, ou ir até o semáforo, que fica a uns trezentos metros do meu caminho em linha reta.
Eu prometi aos meus pais que só atravessaria na faixa de pedestre. Mas nesse dia eu estava
atrasado. Sabe como é! Eu ia na maior pressa, na corrida mesmo. Ao chegar à avenida, parei pra
ver se vinha carro. Nenhum carro à vista. Já ia passar direto, quando senti uma coisa tocando no
meu braço direito.
Foi a primeira vez que aconteceu.
Alguém tocou o meu ombro. Parei. Olhei pro lado: ninguém. Tocaram no outro ombro. Virei pro
outro lado: ninguém. Nessas alturas já havia passado um monte de carros. Fiquei intrigado.
Outro toque, depois outro e outro.
Foi então que me vi. É isso mesmo. Juro! Eu me vi, minúsculo, sentado no meu ombro direito. Eu
tinha uma cara feia, os cabelos espetados e uma cara de cão raivoso. Até parecia a Lua, minha
cachorra, quando está brava. Levei um susto. Virei pra esquerda, e lá estava outro eu, também
minúsculo, mas com uma cara sorridente e feliz, com a cabeça repousada no pescoço.
Poxa! Eu não tava sonhando, não. Tava bem acordado. Via tudo o que acontecia na rua, mas
via, também, os dois de mim. Pro meu espanto, eles começaram a discutir. Um dizia:
O outro:
— Pedro, calma. Olha o perigo que é esta avenida. Anda mais um pouco, larga mão de
ser preguiçoso.
Um irritado:
— Deixa disso e passa logo, o carro tá tão longe, dá pra atravessar mil vezes.
Outro tranquilo:
— Pensa. Pensa antes de passar na louca. Você já é grande e tem noção do perigo. Já imaginou
um atropelamento na velocidade que estes caras vêm? Não sobra nenhum de nós pra contar
a história.
O atirado:
— Não ouve este trouxa, não! Lembra que o futebol já tá começando, cara. Passa logo.
Que coisa, viu! Eu estava ali, só olhando, de um lado pra outro, de boca aberta, vendo aqueles
dois minúsculos discutindo. Foi então que o meu primo apareceu dizendo que ia pra aquele lado:
pros lados do campo de futebol.
Saímos andando, juntos, conversando sobre música. Às vezes, eu espiava pros meus ombros, e
eles continuavam lá. Gesticulavam, como se estivessem numa conversa empolgante. Perguntei
pro Gustavo:
— Nada.
E assim, na boa, chegamos ao semáforo. Sinal vermelho pros carros: todos pararam. Sinal verde
pra nós: atravessamos na maior calma. Em segurança. Senti um alívio.
No meu ombro, eu, minúsculo e de cara feliz, dava um sorriso de vencedor pro eu de cara feia. E
foi assim que aconteceu o meu encontro com os dois de mim.
Um dia desses, meu pai acordou com vontade de passar o domingo na praia e experimentar seu
carro novo na estrada. Minha mãe dizia:
— Cabe direitinho, quer ver só? Eu e você no banco da frente; atrás vai o Pedro, as duas meninas
são pequenas mesmo, e o seu pai.
— A Maria nem tem cadeira de segurança, Tião!
Eu e minhas irmãs fazíamos festa, isso animou minha mãe, que acabou concordando. E lá foi o
meu pai socar as 22 sacolinhas que ela insistia em levar. Dizia:
— Esta é a da farofa... esta a do frango... esta a dos panos de prato... dos copos... dos garfos... da
salada... do tomate e do pão; esta a dos remédios pra dor de estômago, dor de barriga, dor de
cabeça, pra asma, pra disenteria; esta é a das bonecas da Maria, esta a dos livros da Betinha;
esta é a dos biquínis, esta a do bronzeador...
Meu pai socava também o guarda-sol, cadeira de praia, frescobol e o isopor com bebidas. Até
parecia uma mudança. Foi então que eles apareceram. Eles, os Minúsculos.
Um dizia:
— Agora vai, seu Tião, soca as pessoas dentro deste carrão. Ô, Pedroca, fala pro seu pai levar o
cachorro também.
O outro rebatia:
— Pedro, fala pro seu pai não fazer esta loucura. É superlotação, isso não vai dar certo. Se a
polícia rodoviária pegar, é multa na certa. Não tem nem cinto de segurança pra todo mundo!
Achei que aquilo tava certo. Eu não havia pensado nisso antes. Resolvi falar:
— Pai, não cabe todo mundo neste carro. Posso ir de ônibus com o vovô? Não tem nem cinto de
segurança pra todo mundo.
Meu pai:
— Não se preocupe, meu filho, a praia é pertinho, e a gente vai devagar, passeando, ninguém
tem pressa, não é? Quer ver? Você e vovô dividem um cinto, e suas irmãs dividem o outro. Não
tem por que temer. Não confia mais no seu pai?
— Tá vendo? Preocupando-se com bobagem, garoto, seu pai sabe o que faz.
E o Minúsculo sorridente:
— Fica quieto, quem tá falando bobagem é você. Não percebe que esta família corre perigo? O
Pedro está certo. Neste carro não cabe toda esta gente. Eu é que não vou.
— Pois fique. Praia, sol, onda. Não vai levar a prancha, garoto?
Finalmente partimos. Meu pai é bem calmo pra dirigir. O problema é que nem todos são.
Estávamos quase chegando à praia, quando um carro bem veloz tentou nos ultrapassar. Nesse
exato momento, outro carro, que vinha na direção contrária, avançou na nossa pista. Foi o
tempo de o meu pai jogar o carro no acostamento. Com aquele movimento brusco, minha
irmãzinha escorregou por baixo do cinto de segurança e acabou machucando a boca.
Vi o Minúsculo cara feia pulando no meu ombro e rindo sem parar. Fiquei muito bravo. Ora,
aquilo não era hora pra fazer gracinha.
— Olha, Tião, o Pedro estava certo. Este carro está pequeno pra nossa família. E estas crianças
não podem viajar sem segurança. Nem elas, nem a gente. Olha o papai... tadinho... tá branco...
que perigo!
Puxa, fiquei todo orgulhoso. Minha mãe me dando razão, e meu pai, que é todo teimoso, falou:
— É. Acho que o Pedro volta de ônibus com o avô. E a gente trata de comprar um ônibus, né?