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RESPONSABILIDADE SOCIAL DA EMPRESA

UM BOM NEGÓCIO PARA TODOS


Anais

Salvador, Bahia, Brasil,


10-12 de dezembro 2006

Antonio Vives
Estrella Peinado-Vara
Editores
RESPONSABILIDADE SOCIAL DA EMPRESA
UM BOM NEGÓCIO PARA TODOS
Anais

Salvador, Bahia, Brasil,


10-12 de dezembro 2006

Antonio Vives
Estrella Peinado-Vara
Editores
ÍNDICE
iv Agradecimentos

vi Apresentação

vii Introdução
Um bom negócio para todos: Responsabilidade Social da Empresa (RSE) e Desenvolvimento Econômico
Antonio Vives
Estrella Peinado-Vara

1 Primeira sessão plenária


A contribuição do setor privado responsável para o desenvolvimento
Antonio Vives

7 Segunda sessão plenária


O papel do Estado na criação de um ambiente propício para a RSE
Josep M. Lozano

13 Primeira rodada de sessões paralelas


13 Sessão A: Co-relação entre Indicadores Ethos e Global Reporting Initiative-G3: duas ferramentas para a
comunicação contínua ou Communication on Progress (COP)
Marcelo Linguitte
19 Sessão B: Diversidade no mercado de trabalho e o investimento social inclusivo
Equipe de relatores1
27 Sessão C: Ação coletiva do setor privado na luta contra a corrupção
Amina El-Sharkawy
31 Sessão D: Os catadores e a indústria de reciclagem: construindo vínculos sustentáveis
Equipe de relatores

35 Segunda rodada de sessões paralelas


35 Sessão A: Apresentação de casos empresariais
Estrella Peinado-Vara
43 Sessão B: Parcerias público-privadas para a implementação de normas internacionais de trabalho e promoção
do comércio justo
Armand Pereira
51 Sessão C: RSE e crescimento econômico eqüitativo em favor das populações pobres e vulneráveis: criando
impacto através da cadeia de fornecimento
Beat Grüninger
55 Sessão D: Ética: Um bom negócio
Margareth Flórez

59 Terceira sessão plenária


A sociedade civil na RSE e o desenvolvimento
María Matilde Schwalb

65 Terceira rodada de sessões paralelas


65 Sessão A: Impacto da RSE na competitividade e no desenvolvimento
Pablo Frederick
71 Sessão B: Perspectivas de diferentes setores sobre alianças multisetoriais
Agnieszka Rawa
77 Sessão C: O papel do setor privado na capacitação de instituições governamentais e da sociedade civil
Equipe de relatores
81 Sessão D: Índice Setorial de Responsabilidade Social – uma metodologia inovadora
Thereza Lobo

87 Quarta rodada de sessões paralelas


87 Sessão A: Normas internacionais e acordos setoriais de transparência
Equipe de relatores
91 Sessão B: Administração efetiva de empreendimentos sociais
Equipe de relatores
97 Sessão C: A sustentabilidade é compatível com finanças?
Equipe de relatores
103 Sessão D: Avaliação e comunicação da Responsabilidade Social Corporativa: o desafio da eficácia
Aron Belinky

113 Quarta sessão plenária


Alianças estratégicas para o desenvolvimento
James Austin

117 Anexo: Agenda

1 Alice Ishikawa Lariú traduziu os sumários feitos pela equipe de relatores do português ao espanhol e estes foram editados em seguida por Estrella Peinado-Vara

Responsabilidade social da empresa: Um bom negócio para todos iii


AGRADECIMENTOS
A organização e realização desta conferencia foi possível graças ao apoio de várias
pessoas e instituições as quais queremos expressar nosso mais profundo
agradecimento.

Comitê organizador
Banco Interamericano de Instituto Ethos de Responsabilidade Federação das Indústrias do Estado da
Desenvolvimento (BID) Social Bahia (FIEB)
Antonio Vives Ricardo Young Manoelito Souza
Estrella Peinado-Vara Marcelo Linguitte Cláudia Maria Libório Ribeiro Melo
Neli Díaz-Lameda Tábata Marchetti Villares Theila Cristina Murakami
Alice Ishikawa Lariu João Gilberto Dos Santos

Patrocinadores principais

Co-patrocinadores Patrocinadores de Mídia

Logística
Os detalhes de logística foram de responsabilidade da
Interlink Turismo.

Outros colaboradores
Acción RSE, Centro Colombiano de Responsabilidad
Empresarial (CCRE), ComunicaRSE, Instituto Argentino de
Responsabilidad Social Empresaria (IARSE), Instituto de
Responsabilidad Social Empresarial, Ecuador (IRSE), Perú 2021
e Risolidaria são algumas das organizações que apoiaram na
difusão do evento.

iv Responsabilidade social da empresa: Um bom negócio para todos


CONSELHO ASSESSOR
Adrian Hodges Italo Pizzolante Marcela Alvarez Calderón de Pardini
Prince of Wales International PIZZOLANTE Comunicación Estratégica Integrarse
Business Leaders Forum (IBLF) Venezuela Panamá
Reino Unido
James Austin Matilde Schwalb
Alvaro Castillo Monge Harvard Business School Universidad del Pacífico
CentraRSE Estados Unidos Perú
Guatemala
Jorge Lins Freire Mónica Beatriz Galiano
Armand Pereira Federação das Indústrias Iniciative Brasil
Organización Internacional del Trabajo do Estado da Bahia Brasil
(OIT) Brasil
Estados Unidos Paulina Beato
José Angel Moreno Repsol
Charles Philip Bassett BBVA España
Director Ejecutivo de Canadá ante el España
BID Ricardo Young
Estados Unidos Jose Antonio Puppim de Oliveira Instituto Ethos
Fundação Getulio Vargas Brasil
Djordjija Petkoski Brasil
Instituto del Banco Mundial Roberto Murray
Julio Moura Agrisal
Eduardo Shaw GrupoNueva El Salvador
Deres Chile
Uruguay Roberto Pizarro
Larry Palmer Fundación Carvajal
Federico Cúneo Inter-American Foundation Colombia
Foro Empresa Estados Unidos
Perú Soledad Teixidó
Luis Ulla Fundación PROhumana
Helio Mattar Instituto Argentino de Responsabilidad Chile
Instituto Akatu Social Empresaria (IARSE)
Brasil Argentina Susan Aaronson
Kennan Institute
Estados Unidos

RELATORES
O Centro Interdisciplinar de Desenvolvimento e Gestão Social da Universidade Federal da Bahia (CIAGS/UFBA) foi a instituição
responsável por elaborar os resumos das sessões ao final de cada uma delas. Os relatores foram:

Adriana Reis de Souza Gabryel Ferrari Maria Priscilla Kreitlon


Andrea Leite Rodrigues Jussara Correia Melissa Bahia
Carla Márcia Parisi Checchia Katiani Lucia Zape Patrícia Brito de Ávila
Fábio Rocha Lídice Miranda Patrícia Hamilton
Coordenado pela Dra. Paula Chies Schommer.

Agradecemos também a Sra. Gabriela de la Garza (BID) pelo seu apoio na revisão final do documento.

Responsabilidade social da empresa: Um bom negócio para todos v


APRESENTAÇÃO
Estes anais apresentam um resumo das em resposta ao mandato dos
sessões e discussões ocorridas durante presidentes do Hemisfério Ocidental
a IV Conferência Interamericana sobre emanado da Cúpula das Américas
Responsabilidade Social da Empresa: realizada em Québec, em 2001.
Um Bom Negócio para Todos, realizada As edições posteriores no Panamá,
em Salvador, Bahia, Brasil, de 10 a 12 em 2003, México, em 2004, Chile,
de dezembro de 2006. A maior parte em 2005 e Brasil, em 2006 foram
das apresentações realizadas durante realizadas sob o título “Conferência
o evento, bem como os anais e as Interamericana sobre Responsabilidade
apresentações de edições anteriores Social das Empresas”.
pode ser encontrada em
www.csramericas.org. Com a publicação destes anais,
esperamos contribuir para a divulgação
Esta é a quinta edição da conferência dos benefícios da responsabilidade
sobre responsabilidade social da social e ambiental das empresas entre
empresa organizada pelo Banco todos os atores envolvidos.
Interamericano de Desenvolvimento,
com o apoio de diferentes parceiros do
continente. A primeira foi realizada em
Miami, em setembro de 2002, sob o
título “Conferência das Américas sobre
Responsabilidade Social da Empresa:
Parcerias para o Desenvolvimento”,

vi Sobre Responsabilidad Social de la Empresa


INTRODUÇÃO
Um bom negócio para todos: Responsabilidade Social da Empresa
(RSE) e Desenvolvimento Econômico

Antonio Vives
Estrella Peinado-Vara
Banco Interamericano de Desenvolvimento2

Possivelmente como resposta das não é suficiente sequer em países bens e serviços, empregos de
conseqüências positivas e negativas desenvolvidos, o que dizer de países qualidade, novas oportunidades de
da globalização à incapacidade de em desenvolvimento e economias atividades econômicas que gerem auto-
muitos governos de fazer frente às emergentes? Muitas empresas emprego, e contribuir para a geração
necessidades sociais e ambientais e ao acreditam que com os impostos, de cadeias de valor responsáveis. Em
fortalecimento da sociedade civil que as compras de insumos, os salários outras palavras, empresas responsáveis
começa a se fazer ouvir, surge com de seus empregados e os dividendos podem oferecer soluções sustentáveis
força a responsabilidade social gerados estão fazendo mais do que o para problemas socioeconômicos. O
empresarial. As empresas reconhecem suficiente. Entretanto, responsabilidade potencial da RSE é ainda mais relevante
que têm responsabilidades perante social não é apenas pagar impostos, e necessário em países em
a sociedade e o meio ambiente, mas sim todos os tributos que cabem à desenvolvimento, como a maioria dos
responsabilidades estas que incluem empresa; tampouco é pagar salários, países da América Latina e do Caribe.
a gestão eficiente de recursos. mas sim pagar salários justos e oferecer
condições de trabalho dignas e O apoio dos doadores internacionais
O que isso implica para as regiões enriquecedoras. Ser responsável não pode ser muito importante, mas por si
do mundo em desenvolvimento como é ter mais clientes e vender-lhes mais só não é suficiente nem sustentável.
a América Latina e o Caribe? produtos, mas sim educar os clientes Iniciativas empresariais de
Tradicionalmente, acredita-se que o atuais e potenciais para que tomem responsabilidade perante a sociedade,
desenvolvimento econômico é um decisões em consonância com suas baseadas em atividades econômicas
papel que compete ao Estado e que o necessidades. (emprego e compras na comunidade,
papel das empresas é produzir os bens dentre outras), são as que têm um
e serviços que a sociedade demanda, Se uma empresa coloca em prática impacto maciço e se mostram mais
gerando emprego e pagando impostos. essas atividades de forma coerente, eficazes para ajudar os mais
Todavia, quando esse papel empresarial pode ajudar a melhorar seu acesso a desfavorecidos a sair da pobreza e

2 As opiniões expressas neste artigo não refletem necessariamente a posição do Banco Interamericano de Desenvolvimento.

Sobre Responsabilidad Social de la Empresa vii


viii Sobre Responsabilidad Social de la Empresa
evitar a dependência da assistência de a efêmera e variável filantropia. Com a
agências de cooperação. Essas iniciativas RSE se está gerando desenvolvimento
fortalecem o tecido socioeconômico e eqüitativo a partir do setor privado.
geralmente são mais sustentáveis, além
de promover o desenvolvimento de um A adoção de modelos de
setor privado responsável. desenvolvimento que combinam uma
boa governança pública e privada,
A América Latina e o Caribe enfrentam empreendedorismo social e RSE,
numerosos desafios e, no caso da RSE, utilizando recursos do setor privado e
os esforços filantrópicos de longa sua capacidade de inovação, é uma das
tradição não conseguiram produzir o formas mais eficazes para promover o
impacto que se buscava. Algumas desenvolvimento sustentável. Cabe a
empresas têm adotado uma visão todos nós garantir que a evolução do
paternalista de seu papel na sociedade, sistema capitalista de que falávamos no
centrando seus esforços em educação início continue e se converta em Um
básica, saúde e atividades culturais, Bom Negócio para Todos.
deixando de lado o impacto real de
suas atividades empresariais. A RSE é
uma contribuição mais sustentável para
o desenvolvimento econômico do que

Sobre Responsabilidad Social de la Empresa ix


“As empresas constituem redes dinâmicas e
abertas que compartilham valores e princípios,
verdadeiros ecossistemas nos quais os
integrantes, conscientes de sua
interdependência, investem na qualidade de
suas relações”.

—Guilherme Peirão Leal,


Natura,
Dezembro 2006

x Responsabilidade social da empresa: Um bom negócio para todos


PRIMEIRA SESSÃO PLENÁRIA

A contribuição do setor privado responsável para o desenvolvimento


Segunda-feira, 11 de dezembro de 2006

Antonio Vives*
Banco Interamericano de Desenvolvimento

Este painel foi constituído pelos seguintes palestrantes: Julio Moura, Presidente do
GrupoNueva e Vice-Presidente do Conselho Empresarial Mundial para o
Desenvolvimento Sustentável (WBCSD); Guilherme Peirão Leal, Co-Presidente do
Conselho de Administração da Natura, Brasil; Stanley Litow, Vice-Presidente
Corporativo de Relações com a Comunidade e Presidente da Fundação Internacional
IBM, Estados Unidos; e Larry Palmer, Presidente da Inter-American Foundation (IAF),
Estados Unidos.

Introdução humanidade, atuando em redes Um bom negócio para todos


dinâmicas e abertas com os governos
Uma empresa que pretende ser e a sociedade civil, espaços onde se Julio Moura iniciou sua apresentação
competitiva deve assumir uma posição compartilham valores e princípios. enfatizando que a responsabilidade
de liderança perante seus acionistas, social empresarial é um grande negócio
seus empregados e a comunidade, O setor privado necessita de uma para todos - empresas e sociedade.
de forma que os interesses de todos sociedade saudável para operar, e a Entretanto, o conceito foi desenvolvido
sejam articulados. Para tanto, devem ir responsabilidade social empresarial é a partir das experiências das empresas,
além da responsabilidade empresarial um avanço que contribui para a passando das primeiras ações
tal como a interpretamos hoje, melhoria social e ambiental. assistencialistas para uma gestão
baseando suas ações em quatro pilares: Comunidades prósperas, saudáveis e integrada e estratégica, incluindo a
seguras constituem um ambiente mais obtenção da necessária “licença para
1) Conhecer as expectativas e os propício aos negócios. operar”, outorgada implicitamente pela
desafios da sociedade global. sociedade.
2) Procurar identificar as oportunidades Não podemos negligenciar o fato de
que emergem desses desafios e que o lucro é a necessidade primordial Atualmente, a responsabilidade social
incluí-los em sua estratégia. das empresas, pois se não for rentável deixou de ser um tema acessório,
3) Dialogar com a sociedade e o Estado uma empresa deixará de existir. O que convertendo-se em um tema que veio
para o estabelecimento de parcerias. também é certo é que o lucro não pode para ficar e que deve fazer parte da
4) Implementar essa estratégia em seus vir da exploração dos trabalhadores, estratégia das empresas. Por essa
valores e em sua rotina diária. da sonegação fiscal ou da exploração razão, a contribuição do setor privado
da desinformação do consumidor. para o desenvolvimento econômico
Nesse sentido, a empresa deve A pergunta que se faz é “Como obter eqüitativo tem apontado para novas
funcionar como um instrumento para benefícios para a sociedade e bons fronteiras que vêm sendo vislumbradas,
satisfazer às necessidades da resultados financeiros?”. tanto no âmbito do World Business

* Antonio Vives, Gerente do Departamento de Desenvolvimento Sustentável do Banco Interamericano de Desenvolvimento, foi o moderador dessa sessão.

Responsabilidade social da empresa: Um bom negócio para todos 1


Council for Sustainable Development devemos nos perguntar o que conhecimento, que possibilita a
(WBCSD) como nas empresas do desejamos para as gerações futuras sustentabilidade dos negócios e de
GrupoNueva. É preciso conhecer essas se continuarmos assim. Em 2030, as nossa vida no planeta.
fronteiras, bem como encontrar novas populações urbanas terão 2 bilhões de
formas de fazer negócios rentáveis. pessoas a mais do que hoje. As empresas B. Identificação de oportunidades de
Julio Moura enfatizou que os desafios precisam apresentar uma contribuição negócios nesses desafios, fazendo o
são imensos, principalmente em termos para a sociedade à altura desses que fazem melhor, como inovar para
de escala, mas que se deve manter uma desafios e que lhes permita operar no apresentar soluções e produtos que
atitude otimista, já que isso significa futuro. incluam os novos setores da sociedade
que também há grandes na solução dos problemas. As empresas
oportunidades. Hoje, o WBCSD congrega 190 devem participar do diálogo com outros
empresas que representam 10 por setores da sociedade, como o governo e
Para ser uma empresa líder no século cento do PIB mundial, com uma a sociedade civil, na busca de parceiros
XXI, é preciso oferecer soluções capitalização de mercado da ordem capazes de solucioná-los, exercendo
estratégicas empresariais com impacto, de US$6 trilhões e vendas da mesma sobre os governos uma pressão saudável
escala e ousadia, capazes de superar os magnitude. Essas empresas devem unir que possa ajudá-los a ser mais eficientes
desafios da pobreza. A pobreza e a forças com a sociedade civil e participar e a criar um ambiente de negócios onde
exclusão atingem 50 por cento da dos programas governamentais, a fim as empresas possam realizar seus
população mundial. Segundo Moura, de reconsiderar a situação atual no que investimentos. O WBCSD participa de
as cerca de 3 bilhões de pessoas se refere ao consumo de recursos e ao discussões em áreas como comércio
atualmente excluídas dos mercados - comportamento, para conservar um justo entre países, adoção de legislação
sem acesso a muitos bens, serviços e planeta onde as gerações futuras simples e transparente para os
infra-estruturas – poderiam fazer parte possam viver. investimentos que apóiam o crescimento,
destes se recebessem alguma em especial da pequena e média
assistência. Nos países desenvolvidos, Para Moura, as empresas vencedoras empresa, bem como investimentos para
90 por cento da população têm acesso e líderes do século XXI são as que a infra-estrutura básica necessária ao
a algum tipo de financiamento, incorporam as oportunidades que desenvolvimento.
enquanto nos países em surgem do conhecimento e da análise
desenvolvimento essa porcentagem é dos desafios, das tendências e C. Alinhamento das oportunidades de
de apenas 26 por cento. expectativas da sociedade, integrando- negócios às estratégias centrais (core
as às suas estratégias e fazendo o que strategies) da empresa. Uma sociedade
Outra grande responsabilidade das sabem fazer melhor - negócios – a única civil forte cria instituições fortes e,
empresas está relacionada com as forma de tornar esse esforço sustentável. portanto, é capaz de “ler” as tendências
mudanças climáticas e seus efeitos, do mercado. As empresas, ao criar
e deve ser compartilhada com os As empresas bem sucedidas estão parcerias com a sociedade civil em
governos e a sociedade civil. O problema fundamentadas em 4 pilares: geral, transferem essas oportunidades
da escassez energética nos leva a para seu interior, alinhando-as à sua
questionar se teremos energia para A. Obtenção de conhecimento, estratégia de negócios.
atender às necessidades da população por meio de um esforço disciplinado
e das gerações futuras. Entretanto, para identificar as expectativas, D. Mudança do mapa mental das
deveríamos nos perguntar também se as tendências e os desafios das empresas, para incluir avaliações
o planeta suportará essas necessidades sociedades e do planeta. A empresa de resultados no longo prazo.
e seus impactos negativos no ritmo deve ir além de suas obrigações, As empresas bem sucedidas sabem
atual de consumo. Na realidade, incorporando às suas estratégias esse executar e implementar esse tipo de

2 Responsabilidade social da empresa: Um bom negócio para todos


estratégia, que tem início com a As empresas devem ir além da termos de Produto Interno Bruto (PIB)
incorporação da visão e dos valores da responsabilidade social empresarial globais poderão chegar a 10 por cento.
responsabilidade social por todos os como a entendemos hoje, explorando
empregados. Dessa forma, promove novas fronteiras com ousadia, paixão e Para Leal, essa crise pode ser vista
uma mudança que vai além do líder disciplina. como uma oportunidade, de maneira
ou do gerente responsável pela parte que o compromisso moral da empresa,
social e ambiental. Para tanto, aliado ao seu pragmatismo, pode ser
a empresa necessita de ferramentas, A empresa privada em uma um agente de geração de valor
sistemas e processos que integrem sociedade em transição econômico, social e ambiental por meio
essa visão ao seu planejamento e à sua da criação de soluções inovadoras,
atividade diária. Necessita também Em sua apresentação, Guilherme de produtos de qualidade, e de preços
de sistemas de incentivos para os Peirão Leal destacou que, antes de se competitivos e, sobretudo, um agente
empregados dentro dessa nova visão, falar em empresa, é preciso pensar no de mudança em prol da inclusão.
indo além da avaliação de resultados compromisso individual que cada um As empresas devem incorporar as
no curto prazo. tem com a ética, com a moral e com dimensões social e ambiental às suas
o restante da humanidade. Para ele, estratégias, e criar cultura e consciência
O GrupoNueva estimula seus cada um de nós não existe de maneira por meio de produtos, serviços,
colaboradores a encontrarem soluções isolada, mas sim na relação com o e modelos de negócio e gestão
para os desafios enfrentados pela outro. Por essa razão, deve-se pensar que permitam reduzir os impactos
humanidade por meio de negócios nas empresas como mecanismos para ambientais. Devem também promover
inclusivos que sejam rentáveis para a atender às necessidades dos seres o consumo consciente e influir no
empresa e bons para a sociedade, humanos e como instrumentos para comportamento de outras empresas e
com foco nos segmentos de menor preservar a vida. nas políticas públicas do Estado. A crise
renda da população. É importante que enfrentamos não se resolve apenas
entender as necessidades dos clientes Segundo Leal, as empresas com inovações tecnológicas, ainda que
entre a população com menos recursos. acumularam um poder muito estas sejam necessárias; é preciso,
O Grupo tem incentivado seus 17 mil significativo e sem precedentes e também, uma grande mudança cultural.
funcionários a propor projetos para enfrentam grandes desafios perante Leal enfatizou que “o negócio dos
atender às necessidades dessas uma sociedade em transição que negócios é o negócio sustentável”,
populações, de forma lucrativa. atravessa uma crise sócio-ambiental. acrescentando a palavra “sustentável”
Alguns exemplos bem sucedidos de Nas últimas quatro décadas, o consumo à célebre frase de Milton Friedman,
novos negócios são as parcerias com disparou. As sociedades consomem associada a uma perspectiva neoliberal
pequenos empresários para a produção recursos naturais numa velocidade 25 da economia segundo a qual “o negócio
e distribuição de móveis e projetos por cento maior do que a natureza é dos negócios é o negócio”.
para irrigação e redução do capaz de regenerar, ameaçando a
desperdício de água. Outra experiência biocapacidade do planeta. A exclusão Leal destaca que não bastam avanços
importante reuniu empresários do setor afeta populações nas áreas de saúde, modestos e graduais. É preciso romper
de tubos e conexões que, cansados da educação e nutrição, atingindo um paradigmas para construir soluções
corrupção em muitas concorrências terço da humanidade. Diante desses alternativas, e criar uma cultura de
públicas, uniram-se à Transparência padrões de produção e consumo, sustentabilidade, na qual as empresas
Internacional, num esforço para que as o futuro se apresenta um tanto desempenhem um papel preponderante
práticas nesse setor sejam mais sombrio. Com a previsão da elevação como espaços e agentes de
transparentes. da temperatura do planeta em 2-5°C no transformação cultural, por interagirem
próximo século, as perdas anuais em com diversos setores – sociedades,

Responsabilidade social da empresa: Um bom negócio para todos 3


governos, fornecedores, e clientes – Conciliação de interesses sofisticados em suas organizações.
por meio da atuação em dois vetores: A IBM produz, em parceria com as
na construção de novas tecnologias e Stanley Litow apresentou a experiência empresas, sites gratuitos na Internet em
no papel de agentes de transformação da IBM em cidadania corporativa e diversos idiomas. Esse sistema permite
social. O contato com governos e a destacou a importância da conciliação que pessoas de diferentes países
sociedade civil é de suma importância dos interesses de todos os atores – tenham acesso a produtos empresariais
para evitar a visão egocêntrica das acionistas, empregados, e comunidade na Internet e desenvolvam suas próprias
empresas, cujo impacto pode – como fator-chave para a estratégias de negócio, motivo pelo
ser negativo. competitividade das empresas que qual pode ser considerado uma
pretendem ser líderes de mercado. incubadora virtual de empresas.
“As empresas constituem redes
dinâmicas e abertas que compartilham Segundo Litow, o negócio da IBM é Outro projeto apresentado foi o World
valores e princípios, verdadeiros desenvolver inovações relevantes para Community Grid, que disponibiliza o
ecossistemas nos quais os integrantes, seus clientes. Desse modo, sua acesso a supercomputadores, com o
conscientes de sua interdependência, cidadania corporativa está relacionada à objetivo de apoiar pesquisas essenciais
investem na qualidade de suas relações”. forma como a IBM pode expandir seus para a humanidade. Por meio do
valores para compartilhar inovação compartilhamento do acesso via
—Guilherme Peirão Leal, Natura, tecnológica na solução de problemas Internet a mais de 425 mil dispositivos,
Dezembro 2006 relevantes para o mundo. Litow várias instituições estão realizando
enfatizou a relação entre tecnologia, pesquisas tais como as de combate
A experiência da Natura no que diz em especial a tecnologia da à AIDS, cura e tratamento do câncer
respeito à responsabilidade social comunicação, e o atendimento de e ajuda ao diagnóstico precoce,
empresarial está pautada em três demandas sociais nas áreas de dentre outras que estão em fase de
premissas: distribuição de renda, educação, segurança e economia. desenvolvimento nas área de distrofia
novas tecnologias e conscientização, muscular e gripe aviária, por exemplo.
com destaque para o envolvimento Em suas ações ligadas de forma mais
de comunidades em áreas onde se direta à atividade empresarial, a IBM A IBM também compartilha com o
desenvolvem atividades extrativistas e prioriza investimentos em tecnologia público um programa de
agrícolas. Essas ações propiciam e em novos talentos. Além disso, reconhecimento de voz para plataforma
oportunidades de geração de renda, a empresa tem-se envolvido em Web, que permite acesso à educação
o desenvolvimento de embalagens diversos projetos e parcerias nos gratuita a milhões de adultos e crianças
biodegradáveis e de produtos de quais possa aplicar seus conhecimentos através da Internet, buscando colaborar
origem vegetal que reduzem os na promoção de melhorias para a na solução das dificuldades de leitura e
impactos ambientais. Igualmente sociedade. aprendizagem. Somente nos EUA, 13
relevante é o investimento na educação por cento dos adultos têm dificuldade
de jovens e adultos para a o consumo Em parceria com o Banco Mundial, para ler e escrever. Em breve, o projeto
consciente. A empresa tem investido na por exemplo, a IBM desenvolveu uma também será estendido à América
idéia de governança com a participação caixa de ferramentas para pequenas e Latina.
de múltiplos interessados médias empresas (Toolkit for SMEs),
(multistakeholder3), procurando avançar projeto que amplia a possibilidade A parceria com a ONG The Nature
na construção de sistemas capazes de de pequenos negócios potenciais, Conservancy exemplifica bem o tipo
captar as necessidades de todos os em especial para mulheres e minorias, de interseção que a IBM deseja
agentes envolvidos com a empresa e da para que tenham acesso a sistemas de estabelecer entre o impacto social de
sociedade como um todo. tecnologia da informação mais seus negócios e os problemas sociais.

3 O termo “multistakeholder” proveniente do idioma inglês, se refere a múltiplos atores da sociedade - ou “stakeholders” por sua terminologia original em inglês.

4 Responsabilidade social da empresa: Um bom negócio para todos


Nesse projeto, a IBM compartilha aprimorar seu desempenho em mais do que apenas disponibilizar os
tecnologia com todos os interessados responsabilidade social corporativa ou meios para que os menos favorecidos
dentro da organização, a obtenção de cidadania corporativa, e compartilha suas consigam sair da pobreza: é
informações, e a gestão da água em experiências na identificação de soluções imprescindível dar-lhes capacidade
grandes rios, com o objetivo de ótimas e melhores experiências. para que “se mantenham” fora do
contribui para o processo de tomada círculo da pobreza e da condição
de decisões. permanente de vulnerabilidade. Isso
Comunidades saudáveis, somente é possível quando se investe
Segundo Litow, esta é a chave para a negócios rentáveis nas comunidades com uma visão
mudança de paradigma das empresas: empresarial e de longo prazo, ou seja,
obter benefícios levando em conta O último a falar foi Larry Palmer, quando se investe naquilo que é
o desenvolvimento da sociedade. Presidente da Inter-American necessário para dar-lhes o poder de
Para a IBM, responsabilidade social Foundation (IAF), agência decidir e de gerar um futuro para as
empresarial não significa converter independente do governo dos comunidades, com a contribuição das
benefícios em ajuda, mas sim buscar Estados Unidos. A IAF foi criada como empresas. O investimento social das
usar seu poder empresarial em alternativa experimental aos programas empresas como atividade social e
benefício da sociedade. A de ajuda externa, com o objetivo ambientalmente responsável, centrado
responsabilidade social deve estar de promover estratégias de na geração de oportunidades
conectada com a estratégia da desenvolvimento de base a partir das produtivas que resultem em receita
empresa, de modo que esta possa pessoas, na América Latina e no Caribe. para as comunidades, apresenta-se
colocar seu poder a serviço da A idéia básica não é apenas ajudar como uma opção válida e socialmente
comunidade. A visão atual é que as as pessoas em situação de pobreza, responsável. Desse modo, tanto
empresas fazem negócios e esperam mas ajudá-las a obter as condições empresas como a sociedade se
que os resultados promovam mudanças necessárias para sair dessa situação. beneficiam, e contribuem para
para a sociedade. Outra visão, mais Os recursos priorizam as demandas impulsionar um círculo virtuoso.
avançada e desejável, é que os das próprias comunidades, sem definir
negócios sejam realizados, em primeiro o que estas devem ou não fazer, Comentários finais
lugar, motivados pela promoção de com base na idéia de que aqueles
mudanças positivas na sociedade. que vivenciam o problema são os Estamos diante de uma situação social na
que melhor sabem o que é necessário América Latina que pode ser classificada
Litow destacou, ainda, a importância de para solucioná-lo. como preocupante. Uma situação política
organizações intermediárias, como relativamente estável e uma situação
escolas e organizações comunitárias, Segundo Palmer, as nações são econômica favorável, mas cujos sucessos
para garantir o acesso das pessoas às constituídas por comunidades, não se traduzem em melhorias tangíveis
tecnologias. Para ele, não há milagres que apóiam projetos coletivos que para a sociedade. Temos mais de 200
nessa área. É preciso muita articulação contribuem para o desenvolvimento. milhões de pobres. Embora muitos
entre as pessoas, as organizações e os O palestrante também destacou a governos tenham implementado
setores, para que se obtenham relação entre um bom desempenho programas eficazes para a solução dos
resultados. E essa, sem dúvida, é uma dos negócios e um bom funcionamento problemas decorrentes da pobreza e
tarefa difícil. Como exemplo de da sociedade. As comunidades, por sua aumentado seus investimentos em
processo de aprendizagem, Litow citou vez, são compostas por consumidores educação e saúde, grandes segmentos
o caso da Global Leadership Network potenciais e, portanto, necessitam de da população continuam excluídos
(GLN), em que um grupo de empresas certa estabilidade social e políticas para das oportunidades econômicas e
busca cooperar para aprender e prosperar. Para a IAF, é preciso fazer do crescimento.

Responsabilidade social da empresa: Um bom negócio para todos 5


Fica cada dia mais claro para o seu próprio negócio. No longo prazo,
empresário que, embora em parte o bem estar da empresa e da sociedade
esses sejam problemas do governo, estão intimamente ligados.
as empresas são seriamente afetadas.
Devem fazer algo. No longo prazo, Alguns empresários se contentam em
não podem operar em sociedades contribuir para causas especiais por
frágeis. Um bom negócio necessita meio da filantropia eventual. Essas ações
de uma sociedade robusta, com tendem a produzir um impacto muito
estabilidade social, que melhore a localizado e pouco disseminado,
qualidade de vida da população. em vez de contribuir para o
Ao empresário convém contribuir para desenvolvimento da sociedade.
o círculo virtuoso, no qual suas ações Para alguns, são como a expiação de
contribuam para a prosperidade da culpas. As empresas devem incorporar
sociedade, o que beneficia a empresa atividades que impulsionem o
por meio de uma população com maior desenvolvimento econômico às suas
poder aquisitivo. estratégias e práticas habituais de
negócios e buscar novas oportunidades
Isso não significa que a empresa deve nas quais possa contribuir para
privilegiar os problemas da sociedade em preencher a lacuna social com
detrimento dos benefícios, uma vez que atividades que melhoram a qualidade
ambos são compatíveis, mas sim adotar de vida e que façam mais do que
uma visão de longo prazo, integral, que apenas oferecer um emprego,
vá além do olhar míope na direção de pagar impostos e prover recursos.

6 Responsabilidade social da empresa: Um bom negócio para todos


SEGUNDA SESSÃO PLENÁRIA
O papel do Estado na criação de um ambiente propício para a RSE
Segunda-feira, 11 de dezembro de 2006

Josep M. Lozano*
Instituto de Inovação Social (ESADE Business School)

Este painel contou com a presença dos seguintes palestrantes, que apresentaram
visões distintas e complementares: Ramón Jáuregui, membro da Comissão
Parlamentar de Política Social e Emprego e incentivador da Subcomissão Parlamentar
sobre RSE, Espanha; Isaac Edington, Diretor de Desenvolvimento Organizacional da
Rede Bahia, Brasil; Anna María Peliano, Diretora de Estudos Sociais do Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada, Brasil; e Patrus Ananias de Sousa, Ministro do
Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Brasil.

Introdução Estado é decisivo, independentemente • Em que medida os governos devem


da orientação que adote. “dar o exemplo” quando se fala de
Esta sessão plenária apresentou responsabilidade social?
um tema atual de grande relevância: Daí a importância de se debater o papel • As empresas devem estar um passo à
o papel do Estado na criação de um do Estado no desenvolvimento da RSE. frente ou um passo atrás dos governos
ambiente propício para a RSE. Há cada A isso cabe acrescentar uma no desenvolvimento da RSE?
vez mais consenso e evidências de que consideração de suma importância: • Que desafios de liderança política e
o desenvolvimento da RSE não é independentemente do papel do Estado, empresarial vemos associados ao
possível se concebido exclusivamente este não pode pretender qualquer desenvolvimento da RSE?
como um esforço por parte somente neutralidade asséptica. A posição que
das empresas consideradas adote já modifica as expectativas e as Em resumo, a questão de fundo que se
individualmente ou, menos ainda, atuações dos diferentes atores. E, assim, discute é a seguinte: supondo-se que
se concebido fundamentalmente como várias perguntas emergem: a RSE apresente, em última análise,
resultado da pressão de diferentes uma nova forma de fazer negócios,
atores sobre as empresas. No • Como evitar a confusão, por parte isso é possível com velhas formas de
desenvolvimento da RSE é das empresas, entre optar pela RSE e fazer política?
fundamental, obviamente, o debate assumir responsabilidades que
sobre o modelo de empresa e de competem aos Estados? Em sua intervenção, Ramón Jáuregui
gestão que se propõe como expressão • Que tipo de forças institucionais são apresentou os resultados mais
desse desenvolvimento. Mas também necessárias para o desenvolvimento relevantes do relatório elaborado pela
é fundamental considerar-se que, da RSE? Subcomissão para a promoção de RSE,
na medida em que a RSE trata do papel • As políticas públicas, para propiciar a criada na Câmara dos Deputados na
da empresa na sociedade e do modelo RSE, devem ter um perfil próprio e Espanha. O referido relatório é
de sociedade para cuja construção característico na América Latina? composto por duas partes. Na primeira,
contribui, o papel desempenhado pelo Qual seria esse perfil? são resumidas e ordenadas as

* Josep M. Lozano do Instituto de Inovação Social (ESADE Business School) foi o moderador dessa sessão.

Responsabilidade social da empresa: Um bom negócio para todos 7


contribuições dos quase 60 se praticada no marco jurídico, recomenda-se, especialmente, tomar
participantes, provenientes de já constitui um exercício de como referência a Global Reporting
diferentes instituições e organizações, responsabilidade empresarial. Initiative (GRI), e que todas as empresas
os quais a Subcomissão convocou para b)A RSE, por sua vez, é tanto um listadas em bolsa implementem a tripla
que expressassem sua opinião sobre processo quanto um modelo de relação (financeira, social e ambiental).
diversos aspectos do desenvolvimento gestão. Como processo, está em Quanto às partes interessadas,
da RSE na Espanha. Na segunda parte, construção e é um caminho para a destaca-se a necessidade de incorporar
são compiladas as constatações e excelência; já como modelo de aos estatutos das empresas os
recomendações aprovadas pela gestão, resulta da integração das compromissos de RSE com cada um
Subcomissão e que, além de seu valor dimensões econômicas, sociais e deles, estender aos fornecedores as
intrínseco, receberam o apoio de todos ambientais. políticas de RSE e, especialmente,
os grupos parlamentares. São 30 c) A RSE pressupõe a articulação das desenvolver relações trabalhistas
constatações ou afirmações de expectativas das diferentes partes de qualidade, como, por exemplo,
conceito e de contexto, e 57 interessadas e o diálogo com as o reconhecimento de sindicatos,
recomendações à sociedade mesmas. a igualdade de gênero e a conciliação
espanhola. Cabe destacar que esse é o d)A RSE tem caráter voluntário, o que trabalhista, o combate aos acidentes de
primeiro relatório dessa natureza não é incompatível com o trabalho, etc. Finalmente, destacam-se
aprovado por um parlamento europeu. desenvolvimento de políticas a adesão a compromissos
Nesse sentido, é uma experiência que públicas de fomento. internacionais como o Pacto Mundial
pode ser útil quando se trata de e) As iniciativas internacionais e das Nações Unidas ou os critérios
impulsionar a RSE em cada contexto regionais desempenham um papel da Organização para a Cooperação
nacional. muito importante, tanto catalisador e o Desenvolvimento Econômico
como impulsionador. (OCDE).
Embora tenha dedicado a maior f) Não há uma maneira única de
parte de sua intervenção elogiando as avançar na RSE; depende de setores No que se refere às administrações
recomendações, Jáuregui ressaltou que e portes e, nesse sentido, é muito públicas, várias propostas são
o debate sobre RSE na Espanha se importante incorporar as pequenas e apresentadas. Uma delas está
iniciou a partir da publicação do Livro médias empresas. relacionada com os incentivos à RSE,
Verde da Comissão Européia, no ano como, por exemplo, a promoção do
2000. Em 2002, o Partido Socialista A seguir, Jáuregui apresentou as Investimento Socialmente Responsável
Trabalhista Espanhol (PSOE) apresentou conclusões da subcomissão, que não se (ISR), a criação de estímulos fiscais, ou a
um projeto de lei que pretendia referem exclusivamente às empresas, premiação e o reconhecimento de
instaurar um marco regulatório para a uma vez que também se destinam a melhores práticas. Outra proposta gira
RSE. Em 2003, o Ministério do Trabalho outros atores embora, como parece em torno do enfoque da RSE e do
e Assuntos Sociais criou uma comissão óbvio, o maior número dessas estabelecimento do modelo social
de especialistas. Finalmente, em 2004 conclusões afete as empresas e as europeu como referência de relações
foi criada, na Câmara dos Deputados, administrações públicas. trabalhistas para aprimorar o marco
a referida Subcomissão. legislativo de inclusão de portadores de
No que se refere às empresas, necessidades especiais ou em risco de
Algumas das constatações do relatório as recomendações enfatizam a auto- exclusão social e incorporar critérios de
destacadas pelo palestrante foram: regulação, que somente será possível RSE à concessão de créditos. Também
levando-se em conta as especificidades se incluem propostas que implicam
a) Não se deve esquecer que a de cada setor. No que concerne à assumir organicamente a RSE,
atividade empresarial em si, comunicação e à transparência, com vistas à criação de uma estrutura

8 Responsabilidade social da empresa: Um bom negócio para todos


governamental que coordene todas as Edington centrou sua apresentação na medida em que são capazes de
ações referentes à RSE, um conselho ou em uma visão das diversas formas gerar intercâmbios. Nas palavras de D.
observatório de RSE, e o impulso da de articulação dos três setores: North, ratificadas pelo palestrante:
RSE nos níveis locais. Essa proposta empresas, governos e
inclui, ainda, aplicar os critérios de RSE instituições/ONGs, partindo do “Quanto mais intercâmbios úteis
nas administrações públicas e nas pressuposto de que hoje a governança gerarem as organizações, mais
organizações de caráter público, bem requer uma interação fecunda entre os dinâmica será uma sociedade e mais
como estendê-los aos investimentos do três setores e sua participação na riqueza será produzida”.
Estado e aos investimentos públicos em solução de desafios sociais que não
general. E, finalmente, promover a RSE podem ser enfrentados a partir das Como conseqüência do que precede,
fortalecendo o movimento associativo capacidades de apenas um deles. Edington perguntou o que o Estado
de consumidores e na sociedade civil, pode fazer para criar um ambiente
e fomentar os valores da RSE na Mas também enfatizou que, quando propício à RSE. Sua resposta indicava
educação. essa desejável articulação entre os três claramente a necessidade de um
setores não ocorre, nos defrontamos Estado capaz, em todos os seus níveis
Para concluir, há outras recomendações com quatro possíveis cenários sociais administrativos, de gerar relações.
como fomentar as cláusulas de ISR nos problemáticos, em função do tipo de Finalmente, propôs um enfoque
planos de pensão, integrar a RSE às relações que se estabeleçam. relacional do Estado, o qual definiu
práticas da economia social, ampliar a como um novo paradigma,
formação universitária e de pós- • Nenhuma articulação entre os três caracterizado por um estilo de trabalho
graduação em SER, e incorporar aos setores ou o caos. integrado e transversal, voltado para o
meios de comunicação -especialmente • Articulação unicamente entre desenvolvimento sustentável e
à imprensa econômica - a cultura de governos e empresas ou aproveitando os instrumentos e as
RSE. Em suma, trata-se de adotar um corporativismo. práticas socialmente responsáveis já
enfoque voltado para a promoção da • Articulação unicamente entre existentes. Para tanto, considerou que
responsabilidade social de todas as empresas e instituições/ONGs, o que já se pode trabalhar nessa direção com
organizações. pode levar à deslegitimação. os instrumentos existentes: dispositivos
• Articulação unicamente entre constitucionais e tecnologias sociais de
Jáuregui concluiu sua intervenção com governos e instituições/ONGs, o que cooperação, maximizando recursos e
uma reflexão de caráter mais global, pode resultar em populismo. aproveitando e disseminando o
na qual destacou o que a RSE pode conhecimento existente.
representar como alavanca de Nessa visão de governança que envolve
mudança, em termos tanto de inovação a articulação dos três setores, Edington Mas o palestrante também apontou
empresarial como de processos de sustentou, parafraseando Tocqueville, algumas deficiências que impedem
transformação social. que a maior riqueza de uma sociedade o avanço nessa direção. Citou, por
é o tecido social. Entre outras razões, exemplo, a necessidade de um
Em sua intervenção, Isaac Edington porque a criação de tecido social gera, interesse genuíno no bem-estar da
destacou o desafio e a necessidade por sua vez, condições para que se sociedade, de que o Estado seja um
no que se refere à criação de redes produza auto-regulação. Isso pressupõe, agente de mobilização e participação -
de cooperação envolvendo diferentes portanto, que riqueza social é a que também desempenhe um papel de
atores. Concluiu com uma referência capacidade de estabelecer relações coordenação das transformações
ao papel-chave da educação, entre seus diversos atores e, necessárias para avançar de forma
especialmente no contexto brasileiro. conseqüentemente, que as socialmente responsável na agenda
organizações são úteis socialmente, do desenvolvimento sustentável - e,

Responsabilidade social da empresa: Um bom negócio para todos 9


por fim, que todos os níveis da econômico, o desenvolvimento social e adoção de três linhas de atuação:
administração pública (governo central, político, a eqüidade, a participação
estados e municípios) se convertam em cívica, e a redução da criminalidade e 1. Cumprir seu papel constitucional;
geradores de riqueza social. Nesse da corrupção. Mas isso contrasta com 2. Favorecer as redes sociais e;
sentido, expôs uma grande diversidade os dados sobre o nível de população 3. Promover uma educação pública de
de exemplos de práticas socialmente alfabetizada no Brasil, cuja recente qualidade.
responsáveis que o Estado já pode melhoria não deve ocultar
implementar para criar um ambiente determinados níveis de alfabetização Ana Maria Peliano sustentou sua
propício para a RSE. que, entretanto, em termos percentuais intervenção em pesquisas e estudos
são muito baixos. Com base em dados sobre a ação social das empresas.
Finalmente, destacou a má qualidade de pesquisas, destacou o paradoxo de Entre outras razões porque, segundo
do ensino como um dos maiores que no Brasil, embora se reconheça a argumentou, não é possível implementar
problemas brasileiros que, em sua importância da educação, isso não é políticas públicas e promover o trabalho
opinião, impedem o desenvolvimento considerado um problema claramente conjunto dos diversos atores sem esse
de tudo o que havia dito. Para prioritário. E esse paradoxo pode tipo de informação. A pesquisa realizada
Edington, todos os esforços para a resultar em que não se considere pelo Instituto de Pesquisa Econômica
construção de uma sociedade urgente avançar na solução de um Aplicada (IPEA) que usou como
sustentável estarão condenados ao problema que o palestrante considerou referência, compila um universo de
fracasso se não vierem acompanhados fundamental. empresas de todo tipo, chegando,
de uma educação básica de qualidade. inclusive, às microempresas. Na medida
Fundamentou essa avaliação na Por tudo isso, concluiu que o papel do em que a RSE pressupõe a consideração,
convicção de que a educação de Estado na criação de um ambiente por parte das empresas, de suas relações
qualidade promove o crescimento propicio para a RSE deveria resultar da com todas as partes interessadas,
o estudo no qual apoiou sua
apresentação destaca a relação da
empresa com a comunidade; algo por
certo muito importante no contexto
brasileiro, no qual a campanha contra a
fome (fome zero) coloca em primeiro
plano a pergunta sobre o papel das
empresas em suas relações com a
comunidade na qual operam.

Nesse ponto, destacou a percepção que


os empresários têm de sua atuação na área
social. Por um lado, são muito conscientes
de que não devem desempenhar
o papel do Estado e consideram que,
freqüentemente, as empresas atuam no
social porque os governos não cumprem
seu papel. Mas, por outro, também
predomina a opinião de que, para
contribuir com as comunidades não basta
que as empresas se conformem em pagar

10 Responsabilidade social da empresa: Um bom negócio para todos


impostos e gerar empregos, mas que a institucionalização limitada e o evidente, às empresas, mas seu
realizem atividades sociais na medida em conservadorismo. Entre os avanços desenvolvimento não está circunscrito a
que há problemas sociais que o Estado apontou a aproximação e o diálogo estas. Requer também a participação
não pode resolver sozinho e que requerem com as comunidades, a adequação das do Estado e das ONGs. Essa colaboração
a contribuição das empresas. ações às demandas locais, a flexibilidade está vinculada a uma perspectiva de
para a melhoria permanente, e a caráter republicano perante o
No caso do Brasil, entretanto, se dá o agilidade nas decisões. Entre os compromisso público, com sua inter-
paradoxo de que a maior atividade desafios para as empresas citou a relação entre direitos e deveres e,
social das empresas não ocorre nas promoção do “empoderamento” nesse sentido, como algo em que
regiões com índices mais elevados de das comunidades, a ampliação de todos devem desempenhar seu papel.
pobreza. De qualquer forma, constata- sua participação na área de políticas
se que, de fato, o público-alvo ao qual públicas, a disseminação dos Insistiu especialmente no fato de que
se destinam as atividades sociais das compromissos sociais, a quando se fala de Estado no contexto
empresas são as crianças, na medida institucionalização da missão social, brasileiro, não se deve perder de vista
em que suas prioridades são temas de e a integração de uma rede de proteção que a melhoria da situação dos pobres
alimentação, assistência social, saúde e social. Finalmente, entre os requisitos deve desempenhar um papel crucial na
educação. Isso, segundo a palestrante, para ampliar as parcerias público- agenda do país, lembrando que no
nos remete ao problema das relações privadas, enfatizou a necessidade de marco da Constituição Brasileira
com o Estado, uma vez que essas aprofundar o diálogo, melhorar o há um espaço importante para o
atuações, por um lado, representam um entendimento, definir atribuições, desenvolvimento de políticas públicas.
complemento das políticas públicas, dar maior transparência à gestão,
mas, por outro, estão associadas a um e a formulação de uma política de Além disso, acrescentou que quando se
certo ceticismo em relação às mesmas incentivos por parte dos governos. fala de políticas públicas e de RSE,
políticas públicas. Quando se analisam nunca se deve esquecer que a primeira
as preferências das empresas no que se Em suma, trata-se de dar-se conta de coisa que as empresas devem fazer é
refere à criação de alianças e parcerias, que as empresas de fato realizam cumprir a legislação trabalhista e
fica claro que somente uma atividades que pressupõem uma tributária, e que esse cumprimento é
porcentagem muito reduzida contribuição à comunidade. Mas isso algo fundamental. Sem ele não faz
implementa atividades conjuntas com não pode ser simplesmente resultado sentido falar de RSE e nada que as
organismos governamentais, enquanto de sua iniciativa individual, posto que empresas façam pode ser apresentado
o maior número de acordos se dá com requer um ambiente propício por parte como RSE. Todos devem cumprir a lei
organizações sem fins lucrativos. do Estado para que seja possível e como algo vinculado ao papel positivo
eficaz. do Estado, que vá além das
Daí a necessidade de uma avaliação de perspectivas reducionistas que o
conjunto. Peliano dividiu sua avaliação O último palestrante a intervir na sessão considerariam simplesmente um mal
da realidade da atuação social das plenária foi Patrus Ananias de Sousa, necessário.
empresas em quatro grupos: Ministro do Desenvolvimento Social e
dificuldades, avanços, desafios, e Combate à Fome do Brasil. Ele iniciou Em sua opinião, o principal desafio a
requisitos para ampliar as parcerias sua intervenção destacando a ser tomado como referência é o
público-privadas. importância do tema RSE e políticas desenvolvimento do país,
públicas, acrescentando que essa especialmente pensando-se nas futuras
Entre as dificuldades destacou a falta questão não pode ser desenvolvida gerações. Daí a vigência de conceitos
de coordenação e aproveitamento de sem uma reflexão sobre a RSE. como pátria ou nação, sempre e
recursos, a centralização das decisões, Considerou que a RSE remete, como é quando se apresentem vinculados à

Responsabilidade social da empresa: Um bom negócio para todos 11


pergunta sobre como os diferentes Por fim, segundo o ministro, a RSE deve
atores podem contribuir para o seu ir além da filantropia e voltar-se para as
desenvolvimento. É no marco dessa parcerias estruturais entre os setores
perspectiva que se deve situar a público e privado, que devem se
vontade de construir um mundo mais perguntar “O que podemos fazer
integrado, no qual seja possível juntos?”.
encaixar construtivamente a tensão
entre unidade e diversidade.
Comentários finais
Nesse contexto, o papel do Estado é
promover um desenvolvimento integral, Talvez essa pergunta final seja também
por meio das instituições jurídicas e um bom resumo do tom geral das
políticas. Mas o ministro acrescentou exposições (apesar de sua diversidade)
que não devemos ficar limitados a essa e do breve colóquio que as seguiu.
perspectiva ou a esse nível, uma vez Ao fim e ao cabo, faz sentido falar
que é preciso atender também ao do papel do Estado como facilitador
desenvolvimento ético e espiritual, da RSE se nos colocamos em uma
incluído em projetos superiores que se perspectiva compartilhada na qual,
manifestam na cultura. Esse enfoque além do debate sobre iniciativas
mais global é o que permite planejar empresariais concretas, a questão de
corretamente um projeto nacional, a fundo é como cada um dos atores
partir das características, das realidades pode contribuir para objetivos comuns
e dos recursos de cada país. e compartilhados, a partir da própria
especificidade e sem invadir nem
Daí a importância de considerar o ocupar espaços alheios.
papel de todas as empresas.
Independentemente de suas Nesse sentido, o papel facilitador
características, todas podem ter seu do Estado se apresenta como algo
lugar no desenvolvimento social da fundamental para o desenvolvimento
RSE; não unicamente as grandes de compromissos compartilhados,
empresas, mas também as pequenas e nos quais o papel das empresas assume
médias empresas, as cooperativas e as a forma de RSE.
iniciativas engajadas em projetos de
desenvolvimento regional.

12 Responsabilidade social da empresa: Um bom negócio para todos


PRIMEIRA RODADA DE SESSÕES PARALELAS

Sessão A: Correlação entre Indicadores Ethos e Global Reporting


Initiative-G3: duas ferramentas para a comunicação contínua ou
Communication on Progress (COP)
Segunda-feira, 11 de dezembro de 2006

Marcelo Linguitte*
Consultante, Ethos

Participaram desta sessão como palestrantes: Ernst Ligteringen, Presidente da Global


Reporting Initiative (GRI); Manuel Escudero, Chefe de Redes do Pacto Mundial das
Nações Unidas; e Ricardo Young, Presidente do Instituto Ethos de Empresas e
Responsabilidade Social do Brasil.

O objetivo desta sessão foi apresentar Secretário-Geral da Organização das mundo, no intuito de estimular a gestão
os principais argumentos que mostram Nações Unidas (ONU) comentou que socialmente responsável, usando os
a correlação entre os Indicadores Ethos “devemos unir o poder dos mercados ao parâmetros estabelecidos pelo
e os Indicadores da GRI, com o fim de poder dos princípios universalmente Pacto Mundial. Esses parâmetros
estimular seu uso para manter uma aceitos”. Este foi o marco do correspondem a 10 princípios,
comunicação contínua das atividades desenvolvimento do Pacto Mundial. divididos em quatro temas fundamentais:
empresariais, particularmente das Desde então, tem havido grande
empresas que fazem parte do Pacto progresso e hoje mais de 4 mil • Direitos Humanos
Mundial das Nações Unidas. organizações já participam dessa • Relações Trabalhistas
iniciativa. • Meio Ambiente
Ricardo Young, Presidente do Instituto • Combate à Corrupção
Ethos, iniciou sua intervenção A razão desse crescimento, segundo
apresentando os palestrantes e Escudero, se justifica pelo aumento do Todas as empresas que aderem à
introduzindo o tema da sessão - poder das empresas no contexto iniciativa devem enviar relatórios anuais
uma discussão sobre a convergência global: as multinacionais extrapolam, descrevendo as ações baseadas nesses
das ferramentas para a gestão da em alguns setores, o poder regulador princípios. Os relatórios, denominados
responsabilidade social. dos países e necessitam de uma Comunicações de Progresso (COPs),
referência global para orientar suas devem destacar seus avanços e
Manuel Escudero enfatizou o objetivo da ações. O Pacto Mundial funciona demonstrar seu compromisso com o
sessão, apontando-a como um exemplo exatamente como um marco Pacto Mundial. Escudero observou,
e um mecanismo para promover a regulatório, baseado em princípios entretanto, que também há o caso
criação de parcerias latino-americanas universalmente reconhecidos (diversas de empresas que não cumprem em
interessadas em ações de cidadania declarações das Nações Unidas) e, sua totalidade os compromissos de
corporativa. Escudero apresentou um portanto, a adesão a esse Pacto tem informar os progressos alcançados por
breve histórico da criação do Pacto sido cada vez maior nos últimos anos. meio de suas práticas.
Mundial, citando Kofi Annan em um Assim, mais de 72 redes nacionais do
discurso de 1999, no qual o então Pacto Mundial foram criadas em todo o

* O artigo se baseia nos relatórios da equipe de relatores.

Responsabilidade social da empresa: Um bom negócio para todos 13


O Pacto Mundial envolve alguns temas, percebidos, o que refletiria uma para os relatórios sobre sustentabilidade
como, por exemplo, investimentos ausência real de controle em relação ao nas organizações do setor privado e da
financeiros. Hoje, os índices de impacto das ações empresariais na área. sociedade civil. Também enfatizou a
sustentabilidade das bolsas de valores O segundo risco é a possibilidade de importância das organizações que
são critérios adotados pelos fundos que os modelos, as ferramentas e os atuam em rede, em geral e, em particular,
de pensão (grandes investidores mecanismos de monitoramento das das que estimulam a responsabilidade
institucionais) para decidir onde alocar práticas de RSE, por terem sido criados social e produzem guias para os
seus investimentos. Há iniciativas na de forma fragmentada, acabem por relatórios que resumem os impactos
esfera acadêmica, como a formação atuar como inibidores da ação nas sociais, ambientais e econômicos.
de um conselho global com entidades organizações, que podem tender a
acadêmicas, já que estas são prender-se a processos burocráticos. A GRI é uma iniciativa baseada nos
impulsionadoras de idéias e práticas Demandas fragmentadas, inconsistência princípios do Triple Bottom Line - ou
e desempenham papel importante e ferramentas incompatíveis podem conta tripla de resultados, que inclui
na formação de pessoas. Estimula-se, gerar duplicação de esforços. Daí a dimensões econômicas, ambientais e
por exemplo, a criação de disciplinas necessidade de a GRI e o Pacto Mundial sociais, além de utilizar indicadores
específicas sobre o tema e o ensino unirem as ferramentas globais de divididos conforme esses mesmos
contínuo de responsabilidade social, gestão socialmente responsável. princípios. As diretrizes GRI refletem
incorporado aos cursos de gestão um processo de construção
organizacional. Finalmente, Escudero mencionou os multistakeholder, que conta com a
pontos comuns da GRI-G3 e do Pacto participação de cerca de mil
Assim, segundo Escudero, o Pacto Mundial, destacando ambos como organizações de diversos países, e cuja
Mundial vem se consolidando como a ferramentas de gestão global, focadas terceira geração foi lançada em 2006.
maior iniciativa global de cidadania na comunicação do progresso da
corporativa, com ações pioneiras de gestão socialmente responsável. Ernst Ligteringen apresentou uma
promoção da responsabilidade social Sugeriu que 2007 seja um amo marcado revisão histórica do processo que levou
empresarial. Escudero acredita que 2006 pela aliança entre o Pacto Mundial e a as empresas a se preocupar com a
foi um ano importante nesse movimento, GRI, buscando converter a cidadania sustentabilidade de suas ações,
no qual a RSE ganhou várias batalhas corporativa em uma prática comum destacando como fator fundamental
sobre idéias, criando-se a base necessária no âmbito mundial, passando pela o crescimento populacional nas últimas
para promover o desenvolvimento de promoção de convergências entre décadas, principalmente nos países
práticas socialmente responsáveis de conceitos, relatórios e ações. Ressaltou mais pobres e, por conseguinte,
forma sustentável. Essa base inclui a a importância da articulação dessas o aumento da pobreza, do desemprego
formação de redes regionais, das quais iniciativas globais com organizações e de doenças, uma vez que a infra-
participam as instituições que promovem locais e de redes em cada país. Dentre estrutura para apoiar essas áreas não
a responsabilidade social empresarial, essas iniciativas, Escudero enfatizou o aumentou na mesma proporção.
universidades, bolsas de valores, papel do Instituto Ethos no Brasil e na Entretanto, apesar da situação alarmante
instituições multilaterais, governos, América Latina como propulsor pela qual o planeta está passando,
organizações dos setores público e fundamental para transformar a RSE, Ligteringen comentou que não há
privado e da sociedade civil. cada vez mais, em realidade nas mobilização suficiente para gerar
empresas. mudanças positivas significativas,
Entretanto, segundo Escudero, e utilizou uma metáfora, dizendo que
esse processo enfrenta dois riscos Ernst Ligteringen expôs a iniciativa, agimos como “sapos que não sentem
importantes. O primeiro é que os apresentando-a como uma rede que a lagoa está esquentando e ficam
resultados desse processo não sejam responsável pela criação de um guia esperando que ela ferva até morrerem

14 Responsabilidade social da empresa: Um bom negócio para todos


cozidos”. Segundo ele, as empresas sendo necessárias a participação e as começo do novo milênio, foram criadas
têm que parar de pensar que não são parcerias com empresas e outros ferramentas mais eficazes para apoiar a
partes integrantes desse processo de segmentos da sociedade. RSE e, somente agora, nos últimos dois
degradação global. Primeiro vem a ou três anos, é que nos temos
conscientização, depois a preocupação Ligteringen concluiu sua apresentação preocupado com a convergência de
e, por fim, as ações que visam a destacando a importância da ferramentas de RSE para uma maior
promover mudanças. Esse processo integração de ferramentas para tanto eficácia.
vem acompanhado de vários conceitos obter avanços - como maior facilidade
novos, como cidadania corporativa, de acesso aos mecanismos de Os Indicadores Ethos de
sustentabilidade, responsabilidade prestação de contas sobre práticas – Responsabilidade Social surgiram em
social empresarial, etc. Sugeriu que se como para permitir a divulgação de 2000 como uma ferramenta de auto-
houvesse menos preocupação com a ações empresariais com maior avaliação das empresas de seus
terminologia utilizada e mais atenção intensidade e qualidade. Assim, um processos de gestão sustentável. As
aos impactos de nossos modelos de número cada vez maior de empresas vê empresas não estavam avaliando seu
produção, padrões de consumo e na utilização desses instrumentos uma crescimento de forma integrada e não
formas de conduzir negócios, seria mais oportunidade fundamental para o seu estavam levando em conta a percepção
fácil perceber que todos falamos o crescimento sustentável. de suas diferentes partes interessadas.
mesmo idioma e, assim, evitar as Os indicadores Ethos oferecem às
barreiras que dificultam a unificação A gestão socialmente responsável é empresas metodologias de controle
das ferramentas. uma etapa importante na gestão mensuráveis, organizadas em 7 temas:
empresarial e deve ser construída de
Ligteringen comentou que é alarmante forma integrada com as várias partes • Valores
saber que das 77 mil grandes interessadas, assinalou Ricardo Young, • Fornecedores
multinacionais que atuam hoje no presidente do Instituto Ethos, logo no • Transparência e Governança
mundo, apenas cerca de 3 mil (menos início de sua exposição. Segundo ele, • Clientes e Consumidores
de 4 por cento) elaboram relatórios de foi-se o tempo em que ser socialmente • Força de Trabalho
sustentabilidade. A meta da GRI é que, responsável era pagar as contas e • Governo e Sociedade.
em cinco anos, esse número aumente cumprir as leis. Atualmente, falamos de • Meio Ambiente
para 20 por cento, ou seja, cerca de transparência nas empresas e de como
15 mil empresas. Para uma meta tão é fundamental ter ferramentas de Os indicadores Ethos são utilizados por
ambiciosa, é mais do que fundamental governança. Falamos também de cerca de 600 empresas no Brasil.
que iniciativas globais como a GRI e o cadeias produtivas e da necessidade de
Pacto Mundial se unam e estimulem ferramentas de gestão para estabelecer Por outro lado, o Pacto Mundial,
iniciativas locais. Nesse aspecto, o Brasil relações com fornecedores. Percebe-se, que em dezembro de 2006 reunia cerca
tem-se destacado, especialmente por portanto, a importância das de 200 empresas signatárias somente
sua participação ativa na elaboração ferramentas de gestão para no Brasil, baseia-se em parâmetros
e consolidação desse processo de desenvolver, orientar e mensurar o mínimos referenciados em marcos
integração das iniciativas conjuntas do impacto das atividades socialmente regulatórios produzidos no âmbito das
Pacto Mundial e da GRI, com destaque responsáveis. Nações Unidas e adotados por vários
para a atuação do Instituto Ethos. governos. Para os anos de 2006 e 2007,
O palestrante enfatizou que as inter- Falar de gestão socialmente responsável os princípios do Pacto Mundial
relações e as parcerias entre essas significa falar de um fenômeno recente. relacionados com o trabalho decente e o
organizações e as ferramentas são Segundo Young, a RSE, como tal, surgiu combate à corrupção foram escolhidos
importantes, mas não são suficientes, no início da década de 1990. No como foco de atenção no Brasil. Já a GRI

Responsabilidade social da empresa: Um bom negócio para todos 15


é uma medida de desempenho que sucesso de suas atividades com base Ricardo Young enfatizou que o Instituto
utiliza o conceito Triple Bottom Line em outros indicadores, além dos Ethos tem avançado na definição de
como guia, preocupado com a financeiros. A tendência do mercado é critérios essenciais em responsabilidade
sustentabilidade da gestão social. analisar com mais intensidade os social, como, por exemplo, legislação,
No Brasil, em dezembro de 2006, balanços de sustentabilidade das auto-regulação e processos
cerca de 30 empresas declararam utilizar empresas. No entanto, essa prática não fundamentais de gestão. O grane
a GRI como referência para a elaboração está totalmente internalizada nas desafio, agora, é como as empresas
de seus relatórios. empresas. Por exemplo, é raro vermos podem contribuir para o
departamentos jurídicos que tenham desenvolvimento sustentável. Para
Ainda segundo Young, desde o início o noção do impacto dos direitos Young, o conceito continua sendo novo
Instituto Ethos estabeleceu um diálogo humanos nos processos de gestão e as ferramentas para sua prática ainda
com essas duas iniciativas globais – empresarial e dos riscos jurídicos aos estão em processo de construção.
o Pacto Mundial e a GRI - para a quais a empresa está exposta em Nesse processo, tanto o Pacto Mundial
construção dos indicadores, o que fica relação aos mesmos. Atualmente, como a GRI desempenham um papel
evidente uma vez que ambas estão há empresas que usam as três essencial para uma boa estruturação.
diretamente relacionadas nos guias dos ferramentas (Ethos, GRI e Pacto
Indicadores Ethos. Mundial) de forma integrada e eficaz Por fim, Ricardo Young destacou o
em todos os níveis da organização, processo de discussão em curso sobre
Ricardo Young acredita que, hoje em como a COPEL - Companhia de a ISO 26000 como um novo “giro na
dia, é cada vez mais comum as Energia Elétrica do Estado do Paraná, roda” da comunidade empresarial e da
empresas se preocuparem em avaliar o e a Petrobrás, por exemplo. sociedade civil para conquistas

16 Responsabilidade social da empresa: Um bom negócio para todos


relacionadas com responsabilidade verificação dos relatórios, Young
social empresarial e desenvolvimento destacou os índices de sustentabilidade
sustentável. O processo representa um como exemplo, acrescentando que o
marco na elaboração de diretrizes ideal seria que a pessoa encarregada
consistentes para a gestão de processos de verificar esses relatórios reunisse a
de desenvolvimento sustentável. competência de um auditor e um
A diferença de outras normas emitidas conhecimento profundo dos processos
pela mesma entidade, é que a ISSO de gestão empresarial sustentável.
26000 não será certificável, mas sim um Ligteringen complementou dizendo
guia de conduta para ações relacionadas que a auditoria teria que ir além da
com a sustentabilidade na gestão verificação e que, quando todas as
organizacional. empresas começassem a elaborar esse
tipo de relatório, ele se tornaria uma
Durante a sessão de perguntas e prática habitual e uma ferramenta
respostas surgiu o tema da participação básica para a competitividade das
do movimento sindical nos processos empresas. Lembrou que já há muitos
de desenvolvimento das ferramentas investidores que levam em conta esses
de gestão. Manuel Escudero destacou relatórios ao tomar suas decisões.
a colaboração da Organização
Internacional do Trabalho e das
múltiplas perspectivas sindicais Comentários finais
reunidas na essência do Pacto Mundial.
Ernst Ligteringen mencionou a A sessão funcionou como um momento
participação de representações de estímulo ao uso e à integração entre
sindicais nas discussões da GRI, o Pacto Mundial, a GRI e os Indicadores
e Ricardo Young manifestou sua Ethos de Responsabilidade Social,
preocupação quanto a essa participação bem como para demonstrar como as
no Brasil, onde o movimento sindical três iniciativas têm sido integradas.
tem se mostrado resistente, o que para Outras ferramentas que estão sendo
ele é preocupante, visto que o desenvolvidas são igualmente
movimento desempenha um papel que importantes para criar a base e a
vai além das relações trabalhistas em si acessibilidade necessárias para um
e, portanto, deveria participar mais processo de convergência de várias
ativamente das discussões. organizações interessadas no tema
de desenvolvimento sustentável.
Sobre a participação das pequenas e Na opinião dos palestrantes, trata-se
médias empresas (PMEs), Ligteringen de um processo de construção coletivo,
destacou os vários níveis de aplicação no qual não há verdades absolutas.
da GRI-G3 adaptáveis às PMEs,
mencionando o número de empresas
com até dois empregados que já
utilizaram os padrões da GRI na
produção de seus relatórios. No que se
refere à responsabilidade pela

Responsabilidade social da empresa: Um bom negócio para todos 17


18 Responsabilidade social da empresa: Um bom negócio para todos
PRIMEIRA RODADA DE SESSÕES PARALELAS

Sessão B: Diversidade no mercado de trabalho e o investimento


social inclusivo
Segunda-feira, 11 de dezembro de 2006

Equipe de relatores

Esta sessão foi dividida em duas partes. A primeira parte foi moderada por Isabel Portela,
Diretora Executiva do Instituto Íris, Brasil, e a segunda por Tina Balin-Brooks, da Inter-
American Foundation, Estados Unidos. A primeira parte teve como palestrantes Helio
Santos, Presidente do Instituto Brasileiro de Diversidade; Elias Sampaio, Subsecretário
Municipal da Reparação, Brasil; e Rocio Alonso Lorenzo, Pesquisadora da Universidade
Cornell. Os palestrantes da segunda parte foram Giovanni Harvey, Diretor-Financeiro do
Instituto Palmares de Direitos Humanos; Rosemberg Evangelista Pinto, Gerente de
Comunicação Institucional Nordeste da Petrobrás; Claudio Krug Merino, Presidente da
União Nacional de Instituições de Cegos, do Chile; Cristian Bravo Román, Diretor de
Projetos da Telefónica do Chile; Rodolfo Soriano, Diretor-Executivo da Associação para
o Desenvolvimento Rural, da Bolívia; e Javier Hurtado e Vicente Choquetijlla de Irupana,
da Andean Organic Foods, da Bolívia.

Introdução Durante a segunda parte da sessão, dar importância à diversidade permite


o painel adotou um formato de que se ponha fim à falta de diversidade,
Os palestrantes apresentaram entrevistas com pessoas envolvidas em além de possibilitar a promoção da
experiências sobre diversidade no programas de parcerias entre empresas igualdade de oportunidades. No entanto,
mercado de trabalho e exemplos de e organizações sem fins lucrativos, a diversidade não pode existir sem
colaboração entre organizações sem em temas como, por exemplo, eqüidade, já que esta exige uma
fins lucrativos e empresas privadas na diversidade no mercado de trabalho. cultura pluralista.
América Latina. Enfatizaram, ainda,
os benefícios dessas colaborações e Para Hélio Santos, a implementação
os desafios para suprir as necessidades Diversidade no mercado de trabalho de programas de diversidade no Brasil
de todas as partes interessadas. e sustentabilidade integral é viável em empresas com um enfoque
de modelo cultural pluralista. A
Na primeira parte da sessão, além do Hélio Santos iniciou sua participação responsabilidade social corporativa,
debate sobre o tema, foi apresentada destacando a missão do Instituto segundo ele, é um conjunto de atitudes
uma iniciativa pública da Prefeitura Brasileiro de Diversidade (IBD): facilitar que precisa contemplar o progresso em
Municipal de Salvador, que contempla o estabelecimento e a promoção de matéria de igualdade. A despeito do
o processo de capacitação institucional uma cultura pró-diversidade no avanço das práticas de responsabilidade
em temas de diversidade. Também mercado de trabalho do país. Para ele, social no Brasil, ainda há muita resistência
foram apresentados os resultados de é importante valorizar a diversidade nas à diversidade.
uma pesquisa qualitativa sobre ações empresas, já que dessa forma se
afirmativas que favorecem a diversidade promove uma maior interação com o O Brasil é um dos países mais
em três empresas privadas com meio ambiente, geram-se sinergias e desiguais do mundo, e essa
unidades no Brasil. agrega-se valor à empresa. Valorizar e desigualdade de renda resulta em u

Responsabilidade social da empresa: Um bom negócio para todos 19


A ignorância no que se refere às se vêem freqüentemente excluídos.
diferenças é uma das causas que O programa PCRI tem como objetivo
explicam a desigualdade no caso do fortalecer a capacidade do setor
Brasil, contada pela história e público na identificação e prevenção
comprovada pela simples análise de do racismo institucional e promover a
alguns fatos. A partir do dia 14 de maio participação das organizações da
de 1888 - “The Day After” (o dia sociedade civil no debate de políticas
seguinte à abolição da escravatura no públicas racialmente eqüitativas.
Brasil), a dialética brasileira e as O programa, que contou com a adesão
assimetrias radicalizaram a pobreza. de 80 por cento das secretarias
A pobreza brasileira aumentou, e um municipais, procura capacitar
dos elementos propulsores desse profissionais da Prefeitura, com vistas
m baixo aproveitamento de talentos. aumento foi o desprezo da diversidade, ao tratamento eqüitativo dos cidadãos,
Citando Peter Drucker - “Uma força que trouxe conseqüências como o buscando prevenir atitudes de racismo,
de trabalho diversificada é um fator crescimento desorganizado e a falta que muitas vezes resultam das próprias
obrigatório para que a empresa de oportunidades. Estas, por sua vez, práticas institucionais.
tenha sucesso no Terceiro Milênio”. também estão arraigadas em
Santos comentou que a resistência elementos como a pobreza, a anestesia O racismo no âmbito institucional,
à diversidade no mercado de trabalho moral, a inércia e a assimetria da segundo Elias Sampaio, representa o
pode ser comparada à sensação sociedade. Em vista da necessidade de fracasso das instituições e organizações
de se ter uma horta muito variada e, mudar esse quadro, é preciso que a em prestar um serviço profissional e
todos os dias, oferecer a mesma verdura. diversidade seja vista de forma adequado às pessoas em função de sua
diferente, promovendo uma mova cor, cultura, origem racial ou étnica.
Hélio Santos acredita que a cultura, na qual a diversidade seja Suas manifestações podem ser
sustentabilidade integral corresponde a considerada não parte do problema, identificadas por meio de normas,
fazer o melhor, da melhor forma mas sim parte da solução. práticas e comportamentos
possível. Ou seja, ter a verdade como discriminatórios adotados na rotina de
norma e a ética como guia. Para Santos, trabalho, que resultam da ignorância,
quem duvida da existência harmoniosa Diversidade, capacitação institucional de pré-concepções, ou de estereótipos
na diversidade está se enganando e de governos e investimento social racistas. De qualquer forma, o racismo
mostra um grande medo do que institucional sempre coloca os grupos
possivelmente desconhece. Um Elias Sampaio, da Secretaria Municipal raciais ou étnicos discriminados em
exemplo típico dessa situação ocorre da Reparação de Salvador, Bahia, situação de desvantagem no acesso
nos esportes, por exemplo, onde as apresentou o programa de capacitação a benefícios gerados pela ação
equipes de futebol, que requerem institucional dos profissionais da das instituições e organizações.
diferentes talentos, são aceitas e Prefeitura Municipal de Salvador – É fundamental que o governo volte
valorizadas. No entanto, os profissionais PCRI. A Secretaria tem como missão seu olhar para as diferenças existentes
responsáveis pela seleção de recursos articular iniciativas de promoção da na sociedade e nas práticas do governo
humanos em muitas empresas ainda igualdade racial, garantindo a inserção e que haja articulação entre as políticas
não aprenderam a respeitar e apreciar de todos em todas as políticas públicas públicas.
a diversidade. Não estão aproveitando implementadas na cidade, de modo
os diferentes talentos que o mercado que estas alcancem a maioria da Elias Sampaio mencionou algumas
lhes oferece. população, especialmente os afro- das estratégias adotadas para a
descendentes que, por desgraça, implementação do PCRI, tais como

20 Responsabilidade social da empresa: Um bom negócio para todos


sensibilização de gestores, assessores a responsabilidade social empresarial • Alinhamento da diversidade à
e equipes técnicas; produção e deve realizar-se de maneira endógena estratégia global do negócio.
divulgação de diagnósticos sobre os e não exógena, como vem ocorrendo • Integração, à empresa, de práticas de
efeitos do racismo institucional; criação em muitas empresas. diversidade e ações afirmativas
de mecanismos para o reconhecimento, externas e internas.
a identificação e o combate do racismo • Compromisso histórico da empresa
institucional; e promoção da cultura Práticas gerenciais no Brasil: com a diversidade e um significativo
de respeito à diversidade racial e reflexões sobre a valorização da impulso interno.
de gênero nas relações de trabalho. diversidade
O palestrante também apresentou Por outro lado, dentre os principais
algumas ações relacionadas com o A pesquisadora Rocio Lorenzo desafios do programa de diversidade
plano de trabalho intersetorial como, apresentou sua pesquisa de doutorado, desenvolvido pela IBM, destacam-se a
por exemplo, a divulgação do programa realizada entre janeiro de 2004 e julho falta de continuidade de algumas
PCRI, a capacitação institucional, de 2005, na qual explorou uma rede práticas, a seleção de afro-descendentes
oficinas e treinamento, diagnósticos da de empresas e seus programas de e a sensibilização dos empregados.
saúde da população afro-descendente diversidade e ações afirmativas em prol
de Salvador e das desigualdades raciais da diversidade. A pesquisa foi qualitativa Os fatores de sucesso, de acordo com
em Salvador. e observou, em profundidade, as práticas o caso estudado, Aliança Trilateral -
de recrutamento, seleção e promoção primeira ação afirmativa com o público
Segundo Sampaio, a Prefeitura Municipal de empregados em três empresas. externo - Geração XXI, do Banco de
de Salvador acredita que o processo A metodologia da pesquisa envolveu a Boston foram:
de capacitação institucional é um participação em oficinas e dinâmicas de
elemento que pode propiciar uma a grupo, visitas às empresas e entrevistas, • O caráter pioneiro do programa e
discussão mais eficaz da eqüidade resultando na identificação de fatores seu potencial de replicação por
social. As ações do governo funcionam, de sucesso e alguns desafios para outras empresas.
ainda, como um catalisador do esses programas. • O sucesso dos jovens envolvidos no
investimento social privado e da programa no ensino secundário e na
promoção da diversidade nas empresas, Os projetos e as empresas que universidade.
por meio de iniciativas diversas. participaram desse estudo foram: • A satisfação dos jovens com o
Salvador é um exemplo de diversidade, financiamento e a infra-estrutura
mas também de desigualdade. O que 1) Gestão Global da Diversidade, proporcionada pelo projeto.
se vê é o paradoxo da maioria, uma vez programa desenvolvido pela IBM.
que se fala em termos de políticas para 2) Aliança Trilateral - primeira ação
as minorias, mas no caso de Salvador, afirmativa com o público externo -
do Estado da Bahia e do Brasil, Geração XXI, do Banco de Boston
a população negra constitui a maioria e, 3) Primeira rede de empresas
ainda assim, é discriminada. “fornecedoras de integração” -
Integrare
Elias Sampaio concluiu dizendo que,
para a promoção da diversidade, Como fatores de sucesso da primeira
a atuação do governo não é suficiente; experiência – Gestão Global da
é necessária a união de esforços de Diversidade, da IBM, o estudo destacou
todos os agentes, inclusive das empresas. os seguintes:
No entanto, para que isso aconteça,

Responsabilidade social da empresa: Um bom negócio para todos 21


Como desafios, Rocio Lorenzo destacou para atender às necessidades de todas da responsabilidade social, mas há dois
a separação entre a fundação que as todas as partes interessadas. aspectos éticos que influenciam suas
gerencia o programa e a empresa; ações. Primeiro, a ética empresarial,
o número reduzido de beneficiários; Rosemberg Evangelista Pinto, que evidencia a necessidade de obter
a discordância entre os parceiros sobre o da Petrobrás, disse que, no Brasil, retorno do investimento, inclusive dos
significado dos conceitos “diversidade” e o investimento social inclusivo voltado investimentos em ações sociais;
“ação afirmativa”; e sua descontinuidade. para a diversidade no trabalho está e, segundo, a ética social.
centrado, prioritariamente, nas ações
Os resultados do terceiro caso de inclusão étnica. No entanto, Giovanni Harvey esclareceu que a
estudado (Integrare) evidenciaram os atualmente o enfoque tem recaído Incubadora Afro-brasileira é um projeto
seguintes fatores de sucesso: também sobre as relações de gênero, que começou a ser pensado em 1997
a inclusão de pessoas com necessidades pelo Instituto Palmares de Direitos
• Oportunidades de negócio para especiais e a questão da opção sexual. Humanos e que, entre 1997 e 2004,
pequenos empresários afro- continuava a ser uma idéia.
descendentes, portadores de Segundo o palestrante, para a Petrobrás
necessidades especiais, e indígenas; o campo das relações sociais externas A partir da participação da Fundação
• Aumento do número de empresas inclui investimentos sociais, ambientais Interamericana e da Petrobrás,
associadas e de empresas que utilizam e culturais, extrapolando o conceito de em 2004, foi possível desenvolver
a base de dados criada pelo Integrare. investimento pontual para ações que uma experiência concreta que gerou
geram oportunidades de inclusão para a percepção de que era necessário
Entre os desafios, Lorenzo destacou o a sociedade, de maneira estratégica. romper alguns paradigmas.
conhecimento da área de fornecimento Isso é fundamental, especialmente,
das empresas; o treinamento das nos investimentos produtivos das O primeiro desses paradigmas é que a
empresas fornecedoras para alcançar grandes empresas. inserção dos afro-descendentes no
o nível de qualidade e preço exigido mercado de trabalho é não apenas
pelas empresas; a interpretação Rosemberg enfatizou, no entanto, que desejável, mas também factível.
equivocada da responsabilidade social não se deve considerar o investimento Entretanto, com a situação atual da
empresarial por algumas corporações social privado como solução para os população, é um ideal quase impossível
que a entendem como caridade e, problemas que o Estado deveria resolver. de ser alcançado no momento,
finalmente, a falta de continuidade As empresas desempenham um papel em razão das mudanças estruturais
do projeto. ético, que não inclui interferir nos ocorridas no mercado de trabalho,
assuntos que competem ao Estado. especialmente em razão do
As empresas devem ser eticamente descompasso entre a oferta e a
Entrevistas sobre experiências bem responsáveis, cumprindo seus deveres demanda das habilidades necessárias
sucedidas como parte integrante da sociedade na era da informação, ou era do
e implementando as ações de conhecimento, que vivemos hoje.
Os participantes da segunda parte responsabilidade social e ambiental
da sessão apresentaram algumas necessárias para seu bom Outra idéia errônea, mas presente na
experiências positivas sobre a funcionamento, e observando a sociedade, é que a inclusão social se
diversidade no mercado de trabalho. legislação vigente. Na maioria dos casos, opõe ao desenvolvimento econômico.
Mostraram, ainda, exemplos de as ações das empresas nessa área têm Ao contrário, é necessário perceber
colaboração entre organizações sem como objetivo agregar valor ao seu que somente temos desenvolvimento
fins lucrativos e empresas privadas na negócio. Segundo ele, toda empresa na medida em que avançamos nas
América Latina, bem como os desafios deve cumprir um ritual do ponto de vista ações de inclusão social.

22 Responsabilidade social da empresa: Um bom negócio para todos


O terceiro paradigma, segundo Harvey, fazer coisas para os pobres, porque não baixo poder aquisitivo. Uma contribuição
é o papel atribuído aos afro- dispõem de tecnologia e outras importante para esses produtores é
descendentes na economia. No Brasil, condições para produzir a preços dar-lhes as condições necessárias para
a raça negra, como conjunto, é vista baixos e em grande escala. Além disso, chegar ao mercado de consumidores
como um elemento que colabora para diferenciar-se das demais com maior capacidade de compra, que
com o desenvolvimento econômico, empresas, precisam desenvolver pode oferecer melhores oportunidades
mas não como protagonista direto no produtos especializados, com alto valor em termos de preços e margens.
processo. No entanto, enquanto os agregado, e vendê-los aos segmentos Segundo Soriano, é preciso apoiar os
negros não desempenharem o papel do mercado que podem pagar esse produtores para que gerem produtos
de protagonista, a economia não vai preço mais elevado. Em sua trajetória de melhor qualidade, que lhes permitam
crescer de maneira sustentável. de empresário ele percebeu que competir no mercado. É necessário,
investir em vantagens competitivas em também, trabalhar com as empresas de
A incubadora foi criada para romper toda a cadeia produtiva, de maneira maior porte, para que estas adquiram a
esses três paradigmas. A atuação da integrada, gera benefícios para todos. produção de pequenos produtores em
Petrobrás nesse processo foi decisiva Na área da agricultura orgânica, uma condições mais favoráveis.
para a consecução dos resultados das coisas que aprendeu é que, em
esperados, não apenas pela ajuda vista das práticas de muitos países Soriano destacou os benefícios e as
financeira, mas também pela desenvolvidos, é muito difícil competir vantagens mútuos alcançados nas
credibilidade agregada ao projeto. em um mercado global sem subsídios e parcerias criadas entre empresas e
Sem essa ajuda, esse trabalho não sem cooperação. É necessário que pequenos produtores. Dentre esses
poderia ter sido realizado. Vários exista algum método de apoio aos benefícios e essas vantagens estão o
empreendedores postularam uma vaga pequenos produtores para compensar acesso a novos mercados e maiores
na Incubadora Afro-Brasileira, bem como as desigualdades, sua falta de acesso a margens que pressupõem maiores
na do município de Nova Iguaçu e em informações e recursos e outras receitas e acesso a novas tecnologias.
uma incubadora experimental criada em imperfeições do mercado que os A organização dirigida por Soriano
parceria com uma organização dedicada afetam. É preciso também atuar em adquiriu experiência e aprendizagem
à inserção social de ex-detentos. cooperação, de forma a garantir o para centrar suas ações no
volume e a qualidade necessários para desenvolvimento de parcerias,
Javier Hurtado comentou, inicialmente, participar do mercado global. Com a trabalhando de uma forma mais
que não se considerava empresário, Associação para o Desenvolvimento eficiente e obtendo resultados de
mas sim um sociólogo que, há vinte e Rural como parceira, mostramos que é maior impacto. Segundo ele, haviam
seis anos, quis iniciar um trabalho social possível fazer negócios gerando encontrado a chave, o segredo para
na área de agricultura, mas isso era benefícios, de forma ética e sustentável. oferecer um tipo de subsídio inteligente
difícil sem que se criasse uma empresa. aos produtores. Muitos recursos foram
Assim o fez e criou uma empresa Rodolfo Soriano aderiu ao diálogo investidos em subsídios, tanto pelas
responsável em sua relação com comentando que a Bolívia tem uma ONGs como pelos governos, mas com
terceiros. O desafio de criar a Irupana, longa história de ajuda aos produtores resultados muito discutíveis e por vezes
que começou como uma microempresa agrícolas, tanto pelas organizações frustrantes, porque acabam, inclusive,
e foi crescendo, passou pela governamentais como não- por piorar situação do pequeno
necessidade de gerar valor agregado governamentais. Reiterou o que Javier produtor no longo prazo.
aos produtos, o que proporcionaria Hurtado havia mencionado a respeito
acesso a mercados mais atraentes. dos pequenos produtores pobres, que Ao concluir, Rodolfo Soriano enfatizou
Hurtado percebeu que as pequenas tendem a ganhar pouco ao voltar seus que o trabalho de articulação entre
empresas em países pobres não podem negócios para os consumidores de empresas e pequenos produtores é

Responsabilidade social da empresa: Um bom negócio para todos 23


extremamente difícil, uma vez que enfrentam estão falta de oportunidades percepção de que as oportunidades
existe uma experiência no passado que de trabalho, baixa qualificação e má oferecidas a esse grupo de pessoas são
deu lugar a certa desconfiança entre qualidade de vida. Por outro lado, escassas. O objetivo da parceria foi
ambos. Embora tenhamos apresentado o nível de profissionalismo das desenvolver capacidades coletivas
aqui um caso de sucesso em uma associações de portadores de para obter uma cultura de trabalho
relação, isso nem sempre acontece. deficiências também é baixo. Essas em torno de projetos sustentáveis.
Gerar confiança e construir pontes associações enfrentam desafios Dentre os aspectos positivos da
entre ambas as partes são os principais constantes e fazem um grande esforço parceria destacam-se o alto grau
desafios do trabalho que vem sendo para atender a necessidades pontuais. de comprometimento e a capacidade
desenvolvido. Em parceria com a Telefónica do Chile, de liderança dos envolvidos, bem como
decidiu-se concentrar os recursos no a transmissão de conhecimento,
Cláudio Krug Merino representa a desenvolvimento de projetos cujo propiciados pelo trabalho. Perceberam,
União Nacional de Instituições de objetivo seja criar mecanismos de também, que os portadores de
Cegos, do Chile - UNCICH, uma autofinanciamento para essas deficiência visual que participam do
organização sem fins lucrativos, de organizações, além de gerar fontes projeto, ao ter acesso a uma
direito privado, que tem como principal de trabalho para os deficientes visuais, oportunidade como essa a valorizam e
objetivo melhorar a qualidade dos que foram definidos como os principais se comprometem no sentido de obter
deficientes no Chile. A organização tem beneficiários desse projeto. os melhores resultados, demonstrando
17 associações e congrega uma rede vontade de sugerir, participar e se
de 850 especialistas. Merino informou Cristian Bravo Román disse que a desenvolver. O maior desafio, agora,
que no Chile, de cada cem pessoas, opção da Telefónica do Chile de é expandir o trabalho, envolvendo
treze têm algum tipo de deficiência. criar uma parceria e trabalhar com um maior número de pessoas e
Dentre os problemas que essas pessoas deficientes visuais resultou da organizações e desenvolvendo
soluções tecnológicas para facilitar o
acesso a informações e oportunidades.

Vicente Choquetijlla, da Irupana


Andean Organic Foods, da Bolívia,
destacou que muitos falam do papel
das empresas a partir da perspectiva
de sustentabilidade, mas é preciso
distinguir a intenção da atuação de
cada uma dessas empresas. Na área
de produção de alimentos orgânicos,
é essencial identificar os produtores
que realmente adotam um processo
de produção orgânica. Essas empresas
colaboram para o desenvolvimento
sustentável, e seu trabalho deve ser
reconhecido.

Segundo Choquetijlla, a produção


orgânica na Bolívia e em outros países
da região não se extinguiu com a

24 Responsabilidade social da empresa: Um bom negócio para todos


mecanização da agricultura e o uso de Comentários finais
outras técnicas agrárias pelos grandes
produtores agrícolas, graças a um Contrariamente ao que muitos
trabalho árduo e ao empenho dos acreditam, a diversidade não é um
povos indígenas bolivianos, que problema e sim parte da solução,
preservaram as mais antigas técnicas já que a utilização de diversidade nos
de cultivo. Mais recentemente, mercados de trabalho propicia uma
algumas empresas têm contribuído maior riqueza de talentos, além de
para o desenvolvimento desse método promover a igualdade de
de cultivo e vendem sua produção para oportunidades. No entanto, não se
mercados principalmente em países pode promover diversidade sem
europeus que necessitam desses eqüidade, uma vez que não é possível
produtos, mas que não podem produzi- tratar com igualdade os que na
los. Todas as partes envolvidas estão realidade são desiguais, e que cada
ganhando com a produção orgânica, problema requer uma solução distinta.
mas o desafio é a geração de A pré-concepção com relação à
oportunidades de mercado para todos, diversidade é um problema que atinge
ou seja, que a grande maioria dos muitas áreas e pessoas. Os diferentes
produtores orgânicos encontre um setores e atores da sociedade devem,
mercado para sua produção e obtenha portanto, desenvolver iniciativas em
uma rentabilidade que lhes permita favor do uso da diversidade de
viver dignamente e dar continuidade à talentos e da superação de idéias
sua atividade produtiva. preconcebidas. Vimos a necessidade
de um esforço comum de todos os
Giovanni Harvey, respondendo a uma atores governamentais, empresariais
pergunta sobre a discriminação contra e da sociedade civil para promover a
idosos, disse que no Brasil uma pessoa diversidade. Programas e práticas como
de 40 ou 45 anos é considerada idosa os que foram apresentados neste
e enfrenta muitas dificuldades para painel, que são iniciativas promovidas
encontrar emprego. Isso é trágico tanto por órgãos do governo, ONGs ou
para as pessoas que passam por essas empresas privadas, não deveriam ser
dificuldades como para a economia, já exceções, mas sim a regra geral.
que entre 40 e 60 anos uma pessoa está
em plena capacidade intelectual e física
e é um talento na sociedade que está
sendo desperdiçado. Um esforço
deveria ser feito no sentido de incluir
as pessoas de meia idade no mercado
de trabalho.

Responsabilidade social da empresa: Um bom negócio para todos 25


26 Responsabilidade social da empresa: Um bom negócio para todos
PRIMEIRA RODADA DE SESSÕES PARALELAS

Sessão C: Ação coletiva do setor privado na luta contra a corrupção


Segunda-feira, 11 de dezembro de 2006

Amina El-Sharkawy
Instituto do Banco Mundial*

Esta sessão foi moderada por Philip Nichols, Professor-Adjunto de Estudos Jurídicos
e Ética nos Negócios da Wharton School, Universidade da Pensilvânia, e teve como
palestrantes Djordjija Petkoski, Diretor do Programa de Negócios, Competitividade
e Desenvolvimento do Instituto do Banco Mundial, Grupo Banco Mundial; Alejandro
De Lascurain, Gerente de Serviços Financeiros, Construcard, CEMEX, México; Sarah
Cook, Especialista em Comércio Internacional/Gerente de Programa, Departamento
de Comércio de Estados Unidos; Graciela Garay, Presidente da Câmara de Comércio
Paraguaio-Americana e Membro-Fundador do Pacto Ético Comercial, Paraguai; e
Stephen Ettinger, Assessor de Projeto/Coordenador para a América Latina do Fundo
de Parcerias para a Transparência (Partnership Transparency Fund).

Introdução aumenta em até 10 por cento o custo por meio de ações coletivas que
de fazer negócios, e em até 25 por cento melhorem o ambiente de negócios.
A corrupção e uma governança frágil o custo das licitações públicas. Além
prejudicam seriamente o ambiente de disso, o Instituto do Banco Mundial Phillip Nichols abriu a sessão
negócios no qual as empresas operam. estima que mais de US$ 1 bilhão é pago enfatizando que as empresas podem
Na América Latina, quase 60 por cento em subornos anualmente.6 contribuir - e em muitos casos
dos negócios identificam a corrupção contribuem – positivamente para
como um grave empecilho para suas Iniciativas bem sucedidas em todo o solucionar alguns dos desafios da falta
operações e seu crescimento. mundo demonstram que as empresas de desenvolvimento em alguns países,
podem construir sobre medidas de inclusive no que se refere à luta contra
Não se pode negar a necessidade de responsabilidade e governança a corrupção. Nichols destacou que uma
uma boa governança e de novos corporativa, formas de combater a empresa responsável, como parte de
enfoques para abordar o problema da corrupção, não apenas no âmbito da uma sociedade, tem a obrigação de
corrupção. Mais de dois terços das 159 empresa, mas também de forma contribuir tanto para que o conceito
nações pesquisadas no Índice de coletiva por meio de iniciativas finque raízes como para uma maior
Percepção de Corrupção da lideradas pelo setor privado. A sessão transparência. A corrupção é uma
Transparência Internacional 20054 “Ações Coletivas do Setor Privado para praga que se estende a todos os
alcançaram 5 pontos em 10, indicando Combater a Corrupção” apresentou um setores levando a uma mitigação
níveis sérios de corrupção na maioria diálogo sobre novos enfoques, ineficaz, a menos que seja abordada de
dos países. Segundo o “Relatório aproveitando as lições de maneira global, por meio de iniciativas
Negócios contra a Corrupção” responsabilidade e governança coletivas e multissetoriais. O setor
(Business against Corruption Report5) corporativa e estratégias de ética nos privado dispõe de muitas competências
há fortes evidências de que a corrupção negócios para combater a corrupção que podem efetivamente beneficiar,

* Esta sessão foi organizada conjuntamente pelo Programa de Negócios, Competitividade e Desenvolvimento do Instituto do Banco Mundial; a Administração de Comércio Internacional do
Departamento de Comércio de Estados Unidos; e o Zicklin Center for Business Ethics Research da Wharton School of Business, Universidade da Pensilvânia. Um agradecimento especial a Rafael Pinto,
da Organização dos Estados Americanos (OEA) por sua ajuda na redação desse resumo.
4 Índice de Percepção de Corrupção 2005. Transparência Internacional. O relatório completo pode ser encontrado em http://www.transparency.org/.
5 Business against corruption. UN Global Compact, Transparency International e International Business Leaders Forum. O relatório pode ser encontrado em http://www.iblf.org/docs/
Businessagainstcorruption.pdf.
6 The Cost of Corruption. Banco Mundial, abril de 2004.

Responsabilidade social da empresa: Um bom negócio para todos 27


de forma coletiva, os esforços influências muito arraigadas, presentes CEMEX, que distribuía o dinheiro às
multissetoriais, particularmente aqueles em um setor ou em uma sociedade. pessoas afetadas. A CEMEX ficou
que atacam a corrupção. Algumas As empresas também são chamadas a responsável pela administração dos
dessas competências incluem liderar com o exemplo, convertendo-se fundos e pela produção de um relatório
organização e orientação concreta nas em líderes em sua comunidade. Petkoski sobre a utilização dos recursos. Os
atividades, uma rede forte e ampla, destacou o exemplo da empresa de benefícios se estenderam a todos –
acesso a capital e a outros recursos, telefonia celular africana Celtel. Desde o para o governo, incluiu uma resposta
conhecimento e experiência em um início, a Celtel se comprometeu com 100 mais rápida ao desastre e a
determinado setor, canais de por cento de transparência e uma maximização do uso dos fundos por
comunicação e educação, e um resistência ativa a fatores de corrupção. meio de um processo auditado e
conhecimento avançado do tema. A empresa também faz um esforço transparente. Além disso, a plataforma
Nichols insistiu que os líderes consciente para trabalhar com as de comunicação do Construapoyo
empresariais têm uma responsabilidade comunidades e organizações locais, permite que se tenha uma visão em
perante a sociedade que extrapola dando exemplos de como uma empresa tempo real. Os benefícios para as
suas contas de resultados financeiros. pode fazer uma grande diferença e populações atingidas incluíram uma
O sucesso de uma empresa – financeiro, modificar paradigmas sobre como se resposta muito rápida às suas
ambiental e social – se define por sua podem fazer negócios. necessidades, apoio dos distribuidores
liderança, clareza e visão. da CEMEX, e recebimento da
Aproveitando essa noção de líder da totalidade dos recursos alocados.
Djordjija Petkoski, do Instituto do Banco indústria (ou um líder que sirva de Para a CEMEX, implicou o exercício de
Mundial, deu prosseguimento ao tema exemplo), Alejandro De Lascurain, sua responsabilidade social, apoiando a
de iniciativas lideradas por empresas da CEMEX, uma das empresas mais população depois do desastre,
que contribuem para o cumprimento bem sucedidas do México e uma fortalecendo sua relação com o
de metas de desenvolvimento, das empresas líderes no mundo, governo e a sociedade civil,
centrando-se na conexão entre apresentou seu programa Construapoyo. recebimento pontual dos pagamentos
responsabilidade social empresarial, Em 2005, na esteira dos devastadores por parte do governo, maximização dos
combate à corrupção e competitividade. furacões Stan e Wilma, o governo recursos de assistência e uma clientela
Nos últimos 50 anos, tem havido um do México e várias ONGs investiram mais ampla.
melhor entendimento do que ajuda os uma grande soma em dinheiro para
governos e os países a funcionar de reconstruir as casas das pessoas Outra experiência empresarial
forma mais eficaz e obter um crescimento atingidas pelo furacão. Como se tratava foi apresentada por Sarah Cook,
econômico sólido. As pessoas que de grandes volumes de recursos a do Departamento de Comércio dos
trabalham em temas de desenvolvimento serem distribuídos, havia a preocupação Estados Unidos – o programa de Boa
chamam isso de “boa governança”, de que o dinheiro pudesse acabar não Governança na América Latina (Good
referindo-se a como a autoridade em onde deveria e que os recursos que Governance Program in Latin America).
um país qualquer é exercida em prol do efetivamente chegassem à população O objetivo desse programa é fornecer
bem comum. A luta contra a corrupção atingida fossem bem inferiores, por ao setor privado as habilidades e a
está no próprio cerne da governança. conta da burocracia e da corrupção. perícia necessárias para poder engajar-se
O setor privado, como elemento Em resposta, a CEMEX decidiu em ações e promover colaborações
corruptor e corrupto, não apenas tem desenvolver o projeto Construapoyo, para liderar a luta contra a corrupção e
incentivos para acabar com a corrupção, que distribui cartões pré-pagos que promover a transparência no ambiente
mas também para aumentar a permitem às pessoas adquirir materiais de negócios. Por meio desse trabalho
transparência internamente e liderar de construção a preços reduzidos. na Nicarágua, em Honduras, no Paraguai,
esforços multissetoriais para abordar Dessa forma, os recursos saíam da na Guatemala e em El Salvador,

28 Responsabilidade social da empresa: Um bom negócio para todos


aprendeu-se que muito pode ser Para trazer a voz da sociedade civil na Comentários finais
feito com recursos limitados e que luta contra a corrupção, o painel contou
o trabalho conjunto dá resultados. com a participação de Stephen Ettinger, Os recentes escândalos corporativos
As empresas, especialmente, deveriam assessor e coordenador de projetos comprovam que os negócios não
coordenar-se – em vez de competir - para a América Latina do Fundo de podem prosperar sem uma boa
nesse esforço, uma vez que se Parcerias para a Transparência (PTF). governança corporativa e ética
beneficiam enormemente das O PTF concede pequenas doações empresarial – fatores que aumentam as
experiências umas das outras na de até US$ 25 mil a organizações da possibilidades de que as empresas
luta contra a corrupção. sociedade civil (OSC) bem administradas venham a cumprir suas responsabilidades
em países em desenvolvimento, sociais e ambientais e lutar contra a
Graciela Garay relatou sua experiência com o objetivo de reduzir a corrupção. corrupção. Segundo uma pesquisa
de primeira mão nesse Programa de Como aumentar a transparência e realizada pela McKinsey, os investidores
Boa Governança. Como presidente da reduzir a corrupção requer a institucionais em empresas baseadas
Câmara de Comércio Paraguaio- cooperação do governo, de empresas em mercados emergentes afirmam que
Americana, Graciela implementou o e da sociedade civil, o papel mais estariam dispostos a pagar até 30 por
projeto Pacto Ético Comercial (PEC), importante da sociedade civil é fazer cento mais por ações de empresas bem
que começou como parte do programa com que as atividades do governo administradas. Essas mesmas empresas
geral. O PEC é uma iniciativa do setor sejam transparentes, monitorando e podem esperar um aumento em seu
privado, cujos objetivos incluem informando a opinião pública. valor de mercado entre 10 e 12 por
promover princípios empresariais Para desempenhar esse papel de cento, com o simples aprimoramento
baseados nas leis vigentes, na ética e forma confiável, as OSC necessitam de sua governança. Essa tendência não
na experiência empresarial; levantar de independência real e percebida, se aplica somente a grandes empresas
preocupações sobre ética nos negócios que é o propósito das doações. O PTF listadas em bolsa, mas também a
e transparência, interna e concedeu, até o momento, 54 doações pequenas e médias empresas que
externamente; capacitar empresas no total de US$ 1 milhão, e já obteve buscam participara de cadeias de
membros da Câmara em práticas de sucesso na implementação e impactos, fornecimento.
negócios responsáveis; e criar uma por meio dos “Pactos de Integridade”
coalizão entre os setores público e da Transparência Internacional e Podemos concluir, a partir das
privado e a sociedade civil, para a trabalhando diretamente com entidades apresentações desta sessão, que os
consecução mais eficaz dessas metas. públicas. Um segundo projeto, o Fundo negócios responsáveis são cada vez
De fato, o PEC firmou acordos Regional para a Promoção da mais reconhecidos como sinônimo de
e realizou treinamentos em parceria Transparência (FRONTRA), está prestes negócios competitivos tanto em
com o Ministério de Indústria e a ser concluído. Com uma doação mercados desenvolvidos como em
Comércio, o Ministério da Agricultura, de US$ 600 mil, o FRONTRA está mercados emergentes. De forma
bem como com a previdência social do concentrado em seis países - Argentina, semelhante, os líderes empresariais
país, aduanas e órgãos de contratações Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai e globais estão promovendo campanhas
públicas. O PEC oferece um fórum Uruguai, e fomenta a participação agressivas para combater a corrupção,
construtivo para obter consensos, do setor privado e seu compromisso como um elemento vital para garantir o
suscitar expectativas e promover com a transparência e os projetos de crescimento sustentável e estável dos
uma melhor colaboração entre responsabilidade social. negócios. A proliferação de práticas
vários setores nos temas de empresariais responsáveis em todo o
transparência e responsabilidade mundo é reforçada por iniciativas
social empresarial. focadas em códigos de ética e de
integridade e em medidas de combate

Responsabilidade social da empresa: Um bom negócio para todos 29


à corrupção, como parte da estratégia países em desenvolvimento alcance
de gestão de riscos da indústria, os trabalhadores, suas famílias,
protegendo os interesses da empresa e as comunidades e o restante da
de outras partes interessadas. O custo população. A luta contra qualquer
associado à corrupção e à má forma de corrupção e pela
governança corporativa está afetando transparência é vital para o
negativamente as oportunidades para desenvolvimento econômico eqüitativo.
que o crescimento econômico dos

30 Responsabilidade social da empresa: Um bom negócio para todos


PRIMEIRA RODADA DE SESSÕES PARALELAS

Sessão D: Os catadores e a indústria de reciclagem: construindo


vínculos sustentáveis
Segunda-feira, 11 de dezembro de 2006

Equipe de relatores

Participaram da sessão como palestrantes: Valdemar de Oliveira Neto, Representante


Regional da Fundação Avina no Brasil; Roberto Laureano da Rocha, Diretor-presidente
da CRUMA - Cooperativa de Reciclagem Unidos pelo Meio Ambiente, do Brasil; e
Antonio Bunchaft, Diretor do PANGEA - Centro de Estudos Sócio-Ambientais, do
Brasil. A moderadora da sessão foi Telma Rocha, da Fundação Avina, Brasil.

O painel apresentou a indústria Segundo Valdemar de Oliveira Neto, a proprietário do GrupoNueva e também
de reciclagem como um elemento Fundação Avina foi criada em 1994 pelo a principal fonte financeira da
de fundamental importância para empresário suíço Stephan Schmidheiny, Fundação Avina. O programa
o desenvolvimento sustentável. fundador e também principal acionista Reciclagem Sustentável e Solidária,
No entanto, o papel da pessoa que do GrupoNueva naquela ocasião. promovido pela Avina, nasceu da
recolhe os materiais recicláveis tem sido percepção de que determinadas
tradicionalmente ignorado na cadeia O GrupoNueva é um conglomerado intervenções estratégicas na cadeia
de valor dessa indústria – mais uma de empresas que se declaram de valor da indústria de reciclagem
manifestação concreta das muitas comprometidas com o crescimento da podem não apenas trazer vantagens
formas de exclusão social. O programa América Latina, com a responsabilidade ambientais como também contribuir
Reciclagem Sustentável Solidária, social empresarial e com a eco-eficiência, para a inclusão social dos catadores de
desenvolvido pela Fundação Avina tendo como objetivo contribuir para o materiais, proporcionando renda e
e implementado por organizações desenvolvimento social e econômico trabalho digno aos indivíduos que
da sociedade civil como o Pangea, das sociedades nas quais operam. até então têm vivido à margem da
tem como objetivo criar oportunidades A Fundação Avina, por sua vez, tem sociedade.
de trabalho digno e gerar renda regular como missão associar-se a líderes da
para os catadores, ao tempo em que sociedade civil e do empresariado em A cadeia de valor da reciclagem é
promove benefícios ambientais. suas iniciativas para o desenvolvimento formada por duas realidades muito
O programa conta com a ajuda de sustentável na América Latina. distintas. Por um lado, no topo da
inúmeras empresas, e já foi ampliado cadeia, a reciclagem faz parte da
com a criação e incubação de Em 2003, Schmidheiny se aposentou economia formal, respeita o meio
cooperativas de recicladores em de suas funções no GrupoNueva e na ambiente e a liderança em RSE,
várias cidades brasileiras. Avina e doou todas as suas ações do além de incorporar um segmento de
GrupoNueva ao Viva Trust (um fundo catadores organizados em cooperativas
fiduciário). Portanto, o Viva Trust é o legalizadas. No Brasil, cerca de 35 mil

Responsabilidade social da empresa: Um bom negócio para todos 31


pessoas engajadas nessa atividade comum capaz de gerar compromisso; audiências e oficinas de trabalho com a
estão organizadas ou em processo de avanços no processo de incubação e presença do Presidente Luiz Inácio Lula
organização. Por outro lado, na base da profissionalização de cooperativas; da Silva, a proposta de erradicação
cadeia a economia é informal, há entre e a participação ativa dos catadores do trabalho nos lixões com a
300 mil e um milhão de pessoas no em todos os processos de articulação implementação de programas
Brasil (os dados variam) que vivem da política, técnica e comercial. de gestão, a criação de redes
coleta no lixo de materiais que vendem independentes de organizações de
para complementar sua renda, Roberto Laureano da Rocha, catadores e de comercialização
submetidos a um regime de trabalho da Cooperativa de Reciclagem Unidos conjuntas (cooperativas), com a
precário que pode implicar, muitas pelo Meio Ambiente, trouxe para o finalidade de agregar valor, e a
vezes, escravidão e violência. painel sua perspectiva de ex-catador implantação de unidades industriais
de rua. Hoje, organizado em uma para o domínio da cadeia produtiva
O principal desafio enfrentado pelo cooperativa, relata como o movimento de materiais recicláveis.
programa Reciclagem Sustentável e de reconhecimento do trabalho das
Solidária é estruturar essa cadeia de pessoas que recolhem os materiais Roberto Laureano citou algumas das
valor de forma que um maior número de refugos e como o diálogo com redes de cooperativas de reciclagem
de pessoas possa se organizar em os diversos setores tem crescido no que existem atualmente: CataSampa,
cooperativas e, assim, obter uma renda Brasil. Segundo a base de dados do CataBahia, ProRecife, etc. Destacou a
regular, e sensibilizar as entidades Movimento Nacional de Catadores importância da ajuda de diferentes
públicas e do setor privado de modo de Materiais Recicláveis - MNCR, empresas aos programas de reciclagem
que estas contribuam para os projetos. o movimento organizado conta com sustentável como, por exemplo,
Segundo Valdemar, para responder quase 40 mil recicladores informais Petrobrás, Banco do Brasil, Caixa
a esse desafio é necessário, antes de trabalhando nas ruas e nos lixões, Econômica Federal, Wal-Mart, Amanco e
tudo, fortalecer as cooperativas, dos quais 25.783 são pessoas que ABN Amro Real, dentre outras.
de modo que estas tenham domínio vivem nesses mesmos lugares e
suficiente em termos de tecnologia somente 9.854 estão organizadas Antonio Bunchaft apresentou um caso
e gestão e possam trabalhar melhor em cooperativas. Segundo Roberto, de sucesso que une as atividades de
com logística, distribuição e escala o número de catadores que participa pesquisa e consultoria organizacional
de produção. Simultaneamente, de cooperativas poderia ser mais do Pangea, os esforços dos governos
é preciso eliminar os intermediários significativo, melhorando, assim, municipais de algumas cidades do
desnecessários, que não agregam as condições de vida e de trabalho de estado da Bahia e o trabalho dos
valor à cadeia, mas sim reduzem a milhares de pessoas desempregadas, catadores de materiais recicláveis –
renda do catador, para que as se outras iniciativas semelhantes ao a Rede de CataBahia (união de
cooperativas possam vender programa Reciclagem Sustentável e cooperativas). Esse projeto tem como
diretamente para as empresas. Solidária fossem fomentadas e principal objetivo melhorar as condições
multiplicadas pelo país. de trabalho dessas pessoas e garantir
Concluindo, Valdemar recordou que, a sustentabilidade da cadeia de
para que as iniciativas do Reciclagem As principais conquistas do movimento reciclagem. O projeto está dividido
Sustentável e Solidária se consolidem, até agora foram a articulação com o em cinco etapas:
é preciso que se alcancem alguns Governo Federal (constituição do
objetivos estratégicos. Dentre esses Comitê Interministerial para a Inclusão), • Diagnóstico socioeconômico: tem
objetivos destacam-se a construção de a criação do Dia Nacional de como objetivo identificar as condições
uma agenda coletiva com os principais Mobilização dos Catadores de Material de vida e trabalho dos catadores que
atores envolvidos, criando-se uma visão Reciclável - 7 de junho, a realização de vivem em lixões e nas ruas.

32 Responsabilidade social da empresa: Um bom negócio para todos


• Programa de capacitação: oficinas e Segundo Antonio Bunchaft, os resultados Comentários finais
conferências educativas sobre como positivos do projeto são visíveis, já que
separar resíduos, promoção da houve um aumento da renda dos A construção do diálogo entre os setores
autogestão da cooperativa, catadores, acompanhada de uma público, privado e da sociedade civil
conhecimento e uso da equipe, melhoria de suas condições sociais. representa, muitas vezes, o primeiro
para melhorar a renda e a segurança O projeto se tornou um exemplo e um passo para diversos projetos e programas
no trabalho. estímulo para a criação de novos de responsabilidade social empresarial.
• Incubação das cooperativas: programas baseados no Reciclagem Este painel demonstrou que há sérios
orientação e direção da cooperativa Solidária e voltados para o problemas sociais e econômicos na
durante um certo tempo, de 3 a 5 desenvolvimento sustentável da região. cadeia de valor da indústria de
anos, até que se apresentem as O CataBahia beneficiou mais de um reciclagem, e que é impossível falar da
condições para passar para um milhão de pessoas, cerca de 4 mil sustentabilidade do setor sem uma
regime de autogestão. Concepção toneladas de materiais recicláveis foram reorganização da cadeia, de modo a
de logística para a coleta e coletados e comercializados e, com isso, beneficiar também aqueles que estão na
distribuição de material reciclável. cerca de 61 árvores foram preservadas. base de todo o processo - os catadores.
• Rede de comercialização integrada: O programa também obteve
formada por catadores, cooperativas reconhecimento nacional, ganhando Por outro lado, esse é um tipo de
e a Rede CataBahia, proporcionando diversos prêmios. Mas o mais mportante problema particularmente adaptado a
o aumento de poder na venda do é que deu lugar ao orgulho crescente soluções construídas a partir da
material. daqueles que estão na base de todo o atuação conjunta dos três setores.
• Educação sócio-ambiental: realizada processo - os catadores de materiais É muito importante que as empresas
junto à comunidade local, tendo recicláveis mais vulneráveis. percebam seu impacto na indústria de
como objetivo aumentar as doações reciclagem de materiais e que gerenciem
de materiais recicláveis para coleta. suas práticas de descarte de resíduos

Esquema de Funcionamento

Coleta em Residências Ponto Eco (depósito) Cooperativa

Fardos prensados Separação e área de


vão para o armazém seleção (prensa)

Transação Comercial
com Fornecedores

Responsabilidade social da empresa: Um bom negócio para todos 33


sólidos de forma a contribuir Finalmente, a sociedade civil organizada,
efetivamente para o desenvolvimento por intermédio de suas entidades,
local, beneficiando todos os cidadãos e pode facilitar o fortalecimento da
gerando um ambiente favorável para os organização dos catadores em
investimentos e os negócios. Ao Estado cooperativas, incentivar a educação
cabe reagir por meio de políticas ambiental nas comunidades e sugerir
públicas afirmativas de inclusão alternativas sustentáveis para a luta
socioeconômica dos catadores contra os problemas sociais existentes.
informais – partindo, entre outras
coisas, do reconhecimento e da
regulamentação dessa categoria
profissional e da implementação de
marcos regulatórios para o setor de
reciclagem.

34 Responsabilidade social da empresa: Um bom negócio para todos


SEGUNDA RODADA DE SESSÕES PARALELAS

Sessão A: Apresentação de casos empresariais


Segunda-feira, 11 de dezembro de 2006

Estrella Peinado-Vara*
Banco Interamericano de Desenvolvimento

Esta sessão contou com os seguintes palestrantes: Arturo Condo, Decano do Centro
Latino-Americano para a Competitividade e o Desenvolvimento Sustentável (CLACDS),
INCAE, Costa Rica; Antonio Boadas, Diretor de Assuntos Corporativos para a América
Latina, Procter & Gamble, Venezuela; Piedad Rojas Román, Responsável pela RSE da
Unión Fenosa, Colômbia; Maurício Medeiros, Programa de Desenvolvimento Integrado
e Sustentável do Baixo Sul da Bahia, Fundação Odebrecht, Brasil; e Paulo Roberto
Lima Bonfim, Gerente de Relações Institucionais e RSE, Michelin da Bahia, Brasil.

O argumento empresarial da RSE: americanas e do Caribe, ou empresas O marco conceitual enfocou os


10 casos na América Latina e no que operam na região, para mostrar possíveis benefícios para o negócio,
Caribe que também são possíveis em países gerados a partir de uma conduta
emergentes e, especificamente, na empresarial responsável, e que podem
Arturo Condo apresentou uma prévia América Latina e no Caribe. ser agrupados: (i) na estrutura da
da pesquisa “O argumento empresarial indústria; (ii) na posição relativa da
da RSE: 10 casos na América Latina e Segundo Condo, muitos empresários empresa em sua indústria; (iii) na
no Caribe (INCAE)“, encomendada continuam a associar a RSE a atividades configuração das atividades; e (iv) na
pelo BID, que expõe as experiências filantrópicas e não a aspectos eficácia operacional.
de empresas nas quais se pode verificar estratégicos de gestão de negócios,
os resultados dos investimentos em o que tem dificultado, até agora, As conclusões preliminares dos estudos
atividades de responsabilidade social. o desenvolvimento desses tipos de indicam que as práticas produziram
O objetivo da pesquisa foi documentar práticas. melhorias na rentabilidade das
essas atividades buscando obter novas empresas estudadas, em quatro
e melhores evidências de que as Os casos pesquisados permitiram vertentes:
práticas de responsabilidade social reconhecer novas evidências da relação
empresarial (RSE) efetivamente existente entre as práticas de RSE e a i. Aumento do valor dos ativos
contribuem para melhorar a competitividade empresarial. O uso de devido a uma melhor reputação,
competitividade das empresas, casos pareceu apropriado por seu ao estabelecimento de melhores
ao produzirem um impacto favorável realismo, seu caráter exaustivo e relações com governos e comunidades
nos determinantes de rentabilidade integrador das diferentes áreas que locais, e à inovação gerada.
dos negócios como investimentos, compõem uma organização, e dos ii. Redução dos custos de investimento,
custos, valor dos ativos e gestão de diferentes grupos de interesses com seja por inovação (eco-eficiência)
riscos. O que se pretende, aqui, é que esta se relaciona. ou inovação de outros processos,
ilustrar o caso de empresas latino- por meio de melhor acesso a

* Estrella Peinado-Vara, Especialista do Setor Privado do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), foi a moderadora dessa sessão.

Responsabilidade social da empresa: Um bom negócio para todos 35


Os casos incluídos na pesquisa são os seguintes:

Situação exemplificada Empresa


1. Práticas de RSE de uma empresa com participação de British Petroleum Trinidad e Tobago
mercado majoritária.

2. Práticas de RSE de uma empresa pública. Empresas Públicas de Medellín

3. Empresa que vende produtos aos segmentos inferiores Supermercados Palí


da base da pirâmide e adota práticas de RSE com benefí-
cios para ambas as partes.
4. Empresa com práticas de RSE que resultaram em melhor Irupana Andean Organic Food
acesso a mercados internacionais.

5. Empresa cujas práticas de RSE permitem vender a um San Cristóbal Coffee Importers
preço mais alto (a um segmento disposto a pagar um ágio).

6. Empresa que devido às suas práticas de RSE conseguiu Cementos Lima


reduzir riscos e gerenciá-los melhor.

7. Empresa que reduziu custos operacionais como conse- TenarisSiderca


qüência de determinadas práticas de RSE.

8. Empresa que reduziu custos financeiros como resultado Banco ABN AMRO Real
de suas práticas de RSE.

9. Empresa que obteve uma produção mais eficiente/ Ingenios Pantaleón


aumentos de produtividade como resultado de práticas
de RSE.

10. Empresa que aumentou o valor de seus ativos (tangíveis Recycla Chile
e intangíveis) como resultado das práticas de RSE e cujas
atividades, em si, respeitam o meio ambiente.

36 Responsabilidade social da empresa: Um bom negócio para todos


financiamento ou aumento de de vida foi analisada com o objetivo de cima, que requer maior esforço para
produtividade. Esse aumento de identificar suas necessidades e poder subir e descer, o valor do produto é
produtividade seria o resultado da atendê-las convenientemente. muito mais elevado. Constatou-se,
melhoria das condições de trabalho É necessário conhecer as necessidades então, que por meio da criação de
e de uma melhor qualificação dos das pessoas para identificar também microempresas era possível fazer
trabalhadores. novas oportunidades de negócios. com que os produtos chegassem à
iii.Aumento do faturamento, devido a Entre as necessidades identificadas parte alta desses bairros, a preços
um melhor acesso a mercados destacam-se: mais acessíveis. O modelo buscou
existentes ou a novos segmentos, identificar nessas comunidades as
ou à melhoria da reputação e i. Em relação a produtos: ouvindo-se redes de poder e os líderes, que se
inovação tecnológica; os consumidores, desenvolvem-se converteram em pequenos
iv. Redução dos riscos operacionais, produtos que atendem às suas empresários com novos modelos de
em razão da melhoria das relações necessidades, como aquelas que negócios. O resultado foi a criação
com o governo e com as partes surgem nas tarefas de limpeza de uma rede de microempresários,
interessadas e das relações e doméstica, por exemplo, cujo a geração de empregos e a oferta de
parcerias que garantem a licença resultado foi uma mudança em melhores preços aos consumidores,
social para operar. determinados hábitos e, especialmente os que vivem em
conseqüentemente, economia de áreas de pior acesso, que geralmente
água, tempo e esforço para o são os mais pobres.
RSE: Uma carteira de oportunidades consumidor. iv. Programas sociais: em parceria com
ii. Inovação em serviços: em vista da organizações como Unicef, Cruz
Antonio Boadas iniciou sua exposição falta de lavadoras em muitos lares, Vermelha, CARE e outras, foi lançado
abordando o processo de evolução foram criadas lavanderias operadas um produto para purificar a água,
contínua dos temas relacionados com a pela própria comunidade, sem a necessidade de qualquer
responsabilidade social empresarial, desenvolvendo-se uma solução que elemento mecânico e a um custo
partindo da filantropia estratégica, gerou diversos benefícios para os bem inferior, indicado, especialmente,
passando pelos processos de eco- envolvidos - tanto as pessoas da para regiões com graves problemas
eficiência até um conceito mais amplo comunidade que, além de poder de abastecimento de água potável
de desenvolvimento sustentável, e lavar sua roupa, encontram um lugar (muito comuns na África) e áreas
chegando à idéia de responsabilidade onde relacionar-se com seus vizinhos, atingidas por desastres naturais que
empresarial como uma grande como para a empresa que, requerem ações emergenciais.
oportunidade social. Ou seja, nos logicamente, tem possibilidades de v. Comunicação para a mudança:
últimos anos, a RSE adquiriu uma aumentar as vendas de detergente Participação de empregados,
importância estratégica para o negócio, nessa comunidade. fornecedores, clientes, governos,
o que pode ser um bom negócio para iii. Inovação de modelos de negócio: organizações de desenvolvimento
todos. O palestrante afirmou que a na experiência da P&G, as social, universidades e outros
questão social, além da estratégia comunidades pobres estudadas se parceiros, em redes sociais para
empresarial, deve estar inserida em encontram nos morros e funcionam promover essas mudanças nas
nossa maneira de viver e fazer parte de como uma pirâmide de consumo. empresas.
nossa razão de viver. A parte de baixo, mais acessível,
está mais próxima do custo real do Finalmente, Boadas sugeriu alguns
Boadas ilustrou sua palestra com a produto; no meio da pirâmide o temas para reflexão, dentre os quais se
história de Margarita, uma mulher da produto é o mesmo, mas o valor é destacam: Trabalhando de forma
Venezuela, com dois filhos, cuja forma um pouco mais elevado; na parte de isolada, as empresas conseguirão

Responsabilidade social da empresa: Um bom negócio para todos 37


acabar com a desigualdade social no irregulares. São os bairros com as perdas de energia,
mundo? As empresas estão cumprindo “subnormais” do ponto de vista de identificando e eliminando fraudes
o papel que lhes compete? O que abastecimento e infra-estrutura elétrica; na oferta de energia para a totalidade
devem fazer para que outros atores são também bairros com altos índices dos clientes. Assim, foram propostas
também participem? de pobreza. Em vista dessa situação, estratégias de aproximação com as
que estava causando grandes perdas comunidades e busca de soluções
de energia e receitas, além de para os problemas de comercialização
Energia social: Uma estratégia representar um sério risco para as e cobrança. Entre as atividades
responsável com resultados para populações afetadas, iniciou-se uma implementadas nos bairros
o negócio estratégia que teve como objetivo desfavorecidos está a ação social
recuperar a credibilidade, buscando com treinamento de líderes e o
Piedad Rojas Román, responsável pela eliminar fraudes e melhorar o serviço fortalecimento das capacidades
RSE da União Fenosa, uma empresa do prestado a milhões de pessoas. coletivas para obter a autogestão
setor de energia elétrica da Colômbia, A Constituição de 1991 concedeu de projetos e iniciativas. Os membros
apresentou um modelo de gestão no permissão para que o serviço de da comunidade se converteram em
qual a RSE não é algo acessório ao energia fosse prestado, direta ou agentes de desenvolvimento em
negócio, mas sim parte fundamental indiretamente, por comunidades seus bairros, funcionando como elos
dos objetivos da empresa. organizadas ou por particulares, com o articulados e estruturados que
objetivo de introduzir a eficácia na estabelecem sua relação entre a
Em seu relato, mencionou que na prestação de serviços públicos. comunidade, a empresa e o governo.
década de 1980 era evidente a A União Fenosa entendeu que tem
incapacidade do Estado de manter a Segundo Piedad Román, a empresa responsabilidades para com a
prestação de serviços públicos com entendeu que essa situação não fazia comunidade em aspectos críticos para
tarifas inferiores aos custos de produção, mais do que acirrar o conflito, já que desenvolver confiança com a
como se estava fazendo. A Colômbia dificilmente se poderia resolver o comunidade.
tinha um mercado com falhas problema de energia de forma individual
estruturais em termos de eficácia, e por conta própria. A questão era Piedad Román apresentou alguns dos
eficiência e eqüidade, convivia com a como abordar o problema e obter benefícios para a empresa decorrentes
pobreza e a desigualdade, não havia uma solução eficiente tanto para as da constituição da Energía Social.
infra-estrutura em diversos locais, comunidades como para a empresa. Em primeiro lugar, houve uma redução
ocorriam muitos casos de fraude e substancial nas perdas de energia e,
insolvência. Além dos problemas de Propôs-se então a criação de um por conseguinte, também na gestão
ordem pública decorrentes da modelo de gestão nas comunidades da cobrança. Além disso, houve um
marginalização de segmentos da de baixa renda, e assim surgiu a reconhecimento de que as parcerias
população, algumas empresas do setor empresa filial Energía Social, centrada com a comunidade são muito
de energia estavam funcionando com nos bairros com subnormalidade, necessárias. Entre os benefícios para as
perdas da ordem de 42 por cento, precisamente para tentar solucionar comunidades destacam-se a melhoria
que representavam cerca de US$ 300 esse problema e mitigar as na prestação do serviço, uma maior
milhões ao ano. conseqüências da pobreza. A coesão social nos bairros com a
colaboração do governo foi necessária reativação de atividades produtivas a
Aproximadamente 2 milhões de para viabilizar um modelo voltado partir do aproveitamento de energia,
pessoas não eram clientes formais e especialmente para a base da pirâmide a criação de microempresas para
usavam gratuitamente o serviço de ou segmentos de menor renda. A atividades relativas à cobrança de
energia, por meio de conexões estratégia definida foi procurar acabar faturas (feitas pelos próprios líderes

38 Responsabilidade social da empresa: Um bom negócio para todos


comunitários) e aos serviços de água limpa, cascatas, palmeiras e iii. Capital social: é a capacidade da
manutenção e reparos das redes e outras vegetações. sociedade de formular objetivos
instalações elétricas, dentre outros. comuns no longo prazo e manter
Segundo Medeiros, o foco de atuação uma visão de futuro conjunta. Trata-
Piedad Román concluiu enfatizando desse programa baseia-se em algumas se também de gerar coesão social
que a responsabilidade social é um cadeias produtivas, tendo como em torno desses objetivos e manter a
elemento importante para a empresa e finalidade gerar riqueza social e perseverança no longo prazo.
deve continuar alinhada aos interesses material, contribuindo para a iv. Capital produtivo: são os recursos
da empresa, buscando oportunidades construção de uma classe média rural. intangíveis e tangíveis capazes de
que sejam benéficas para o negócio e A filosofia do programa é “fazer gerar riqueza e possibilitar a criação
para a sociedade, numa relação de acontecer”, propiciando instrumentos de oportunidades de trabalho e
interdependência e benefícios mútuos, com talento para o conhecimento a renda para as pessoas da
de modo que as empresas possam protagonistas regionais, tendo como comunidade.
contribuir para criar uma sociedade objetivo a retirada gradual de seus
melhor. investidores externos, de forma que Finalmente, Medeiros apresentou um
se possa alcançar sustentabilidade com vídeo da área de Proteção Ambiental
os recursos gerados pelas próprias (APA) de Pratigi, uma região que
DIS – Baixo Sul: Programa de iniciativas. representa 26 por cento do território
fomento de educação, cidadania, do Baixo Sul e abriga 39 por cento da
geração de trabalho e renda e A ação no Baixo Sul se dá por meio de Mata Atlântica existente na região, que
conservação ambiental um processo integrado e sinérgico conserva uma biodiversidade e riqueza
entre os capitais ambiental, humano, de recursos naturais muito importantes.
Maurício Medeiros apresentou o social e produtivo, através da promoção Assim, tornou-se o centro da pesquisa
Programa de Desenvolvimento do desenvolvimento sustentável. sobre conservação ambiental.
Integrado e Sustentável (DIS)-Baixo Sul, Considera-se como definição desses
desenvolvido pela Fundação diferentes capitais:
Odebrecht7. Nas palavras do Projeto Ouro Verde - Michelin
palestrante, o programa fomenta a i. Capital ambiental: recursos naturais
geração de trabalho e a distribuição provenientes de nosso planeta, Paulo Roberto Lima Bonfim iniciou sua
justa de renda, a conservação resultantes do uso sustentável pelos apresentação comentando que o
ambiental, a prática da cidadania e a seres humanos, promovendo, assim, compromisso com a preservação
educação rural de qualidade, o estabelecimento de uma relação ambiental sempre representou uma
contribuindo, em todos esses aspectos, cada vez mais importante entre a das prioridades na política de atuação
para que jovens talentos não tenham herança recebida pela nossa geração da Michelin. No Brasil, a empresa
que emigrar e permaneçam em suas e a que vamos legar às gerações desenvolve o projeto Ouro Verde
cidades de origem, com uma melhor futuras. Bahia, que estimula o desenvolvimento
qualidade de vida e bem-estar. ii. Capital humano: são os valores, econômico e social no sul da Bahia,
as atitudes, o conhecimento e as preservando, ampliando e
O Baixo Sul é uma região formada por habilidades de uma comunidade, enriquecendo os fragmentos da Mata
onze cidades localizadas no sudeste do que permitem às pessoas Atlântica na região. Instalada no sul do
Estado da Bahia. Essa região tem uma desenvolver seu potencial, aproveitar estado, a empresa tem plantações de
enorme riqueza de cenários – muitos as circunstâncias favoráveis e ter seringueira, da que se extrai a matéria-
ainda em excelente estado de acesso a oportunidades de emprego prima para a fabricação de borracha,
conservação – com bosques, rios de digno. estratégica para o fabricante de pneus.

7 www.fundacaoodebrecht.org.br

Responsabilidade social da empresa: Um bom negócio para todos 39


Além do aspecto ambiental, o projeto
tem um caráter social e educativo,
a partir do estímulo para a preservação
da flora e da fauna da região,
do incentivo à diversificação de culturas
e da geração de oportunidades de
trabalho para os residentes das
comunidades locais.

Bonfim explicou que a missão do


projeto Ouro Verde é implementar
ações que contribuam para o
desenvolvimento econômico e a
preservação do ecossistema da região
sul do estado da Bahia. O projeto
integra o programa mundial
“Desempenho e Responsabilidade
Michelin”, que se propõe a promover
melhorias na qualidade de vida e
no desenvolvimento sustentável
das áreas onde se realizam atividades
de produção.

O palestrante afirmou que o projeto


Ouro Verde Bahia tem seu foco nas
Plantações Michelin da Bahia (PMB),
situadas 200 quilômetros ao sul de
Salvador, ao longo da costa. Trata-se de
um terreno acidentado e a área ocupa
cerca de 10 mil hectares - sendo 3 mil
hectares de Mata Atlântica. Os aspectos
ambiental, social, econômico e científico
se entrelaçam e são desenvolvidas
diferentes atividades, dentre as quais
se destacam algumas.

Na área ambiental, a empresa criou a


Reserva Ecológica Michelin, na qual
foram plantadas seringueiras e onde
se mantém uma supervisão da reserva.
O trabalho está voltado para o
enriquecimento e a pesquisa de
biodiversidade e a educação ambiental.

40 Responsabilidade social da empresa: Um bom negócio para todos


Na área social foram criados o Projeto financiamento para pesquisas em ou que de alguma forma estava
Nova Igrapiúna, que contempla a biodiversidade. refletido na visão e na missão da
criação de um bairro que, em três anos, empresa, pelo menos em algum
deverá abrigar 264 casas, escolas, Paulo Roberto Bonfim concluiu sua aspecto. Em todos os casos, os
creches e estabelecimentos comerciais. participação com a mensagem de palestrantes comentaram que não foi
O Programa de Agricultura Familiar, Edouard Michelin - in memorian difícil convencer a gerência quando
financiado pelo Banco do Nordeste, (1963-2006): a iniciativa não havia partido desta.
uma iniciativa produtiva conjunta da Em alguns casos, a responsabilidade
Michelin e do Instituto Biofábrica com “O projeto Ouro Verde Bahia é, antes social é o elemento que mantém o
o qual é feita a comercialização da de tudo, uma maravilhosa aventura negócio funcionando, porque em
borracha e que presta alguma humana: dos homens e das mulheres quase todas as empresas implicou ou
assistência técnica aos produtores. da Michelin que apostaram que numa expansão dos mercados (P&G)
a imaginação, o senso de ou na solução de um problema em
Na área econômica e científica, responsabilidade e a fé no futuro relação ao qual, ou se agia de forma
foram criadas 12 propriedades nas são fortes o bastante para, juntos, responsável, ou a rentabilidade do
quais foi feito um replante de árvores, realizem um verdadeiro projeto de negócio correria um sério risco (Energia
combinado com a produção de cacau. desenvolvimento sustentável. Social); em outros, a necessidade
Essa iniciativa gerou emprego e Agradecemos a todos eles imperiosa de contribuir para a melhoria
renda para muitas pessoas, além da profundamente.” da sociedade na qual se desenvolve
implantação de um centro para a (Odebrecht) ou, além disso, contribuir
melhoria da borracha natural e a para a conservação dos espaços e dos
pesquisa relacionada com seringueiras. Comentários finais recursos naturais dos quais se abastece
a empresa (Michelin). Todos eles nos
O desenvolvimento dessa pesquisa Vimos, tanto nos dez casos mostraram a evidência empresarial de
propiciou a criação de clones de apresentados na pesquisa do BID que a RSE é necessária não apenas
exemplares de alta produtividade e encomendada ao INCAE, como nas para o bom funcionamento da empresa
resistentes a certas doenças causadas apresentações dos representantes das como para toda a sociedade.
pelo fungo microcyclus ulei, três clones empresas no painel Procter & Gamble,
para escala industrial e 14 clones em Energía Social, Odebrecht e Michelin,
avaliação na Ásia e na África. que a RSE pode, efetivamente, ser um
elemento positivo para as empresas e a
Bonfim afirmou que os primeiros sociedade, de forma simultânea e sem
resultados do projeto Ouro Verde Bahia prejudicar uma à outra.
mostram que foram gerados pelo
menos 250 novos empregos diretos na Diante da pergunta “Como surgiu o
região, foram plantados pelo menos reconhecimento da necessidade de
600 hectares de cacau, houve um incorporar a sustentabilidade e a
aumento de 300 hectares de plantação responsabilidade social empresarial à
de borracha com um aumento de 50 gestão e às estratégias de cada uma
por cento na produção de borracha das empresas?”, houve certo consenso
natural e mais de 500 famílias foram de que, em todas as situações, esse foi
beneficiadas pela agricultura familiar. um tema que evidenciou sua
Com o sucesso das primeiras necessidade de ser levado em conta,
atividades, foi possível obter novos há muito tempo, na maioria dos casos,

Responsabilidade social da empresa: Um bom negócio para todos 41


42 Responsabilidade social da empresa: Um bom negócio para todos
SEGUNDA RODADA DE SESSÕES PARALELAS

Sessão B: Parcerias público-privadas para a implementação de


normas internacionais de trabalho e promoção do comércio justo
Segunda-feira, 11 de dezembro de 2006

Armand Pereira*
Organização Internacional do Trabalho (OIT)

Dentre os palestrantes estavam Oded Grajew, Presidente do Conselho Deliberativo


do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, Brasil; Fernando Pimentel,
Superintendente da Associação Brasileira de Indústrias Têxteis (ABIT), Brasil; Susan
Aaronson, Pesquisadora do Frank Hawkins Kenan Institute of Private Enterprise e
Professora da Universidade George Washington, Washington, DC, Estados Unidos;
Elena Arengo, Diretora de Programas na América Latina da Social Accountability
Internacional (SAI); e Kjeld Jakobsen, Presidente do Observatório Social, Brasil.

Armand F. Pereira abriu a sessão os Estados membros têm a obrigação Estados membros, por meio de
anunciando seu objetivo: discutir como de aplicá-las por meio de leis nacionais processos relativamente fechados.
os governos unem iniciativas voluntárias e garantir seu cumprimento. Desse Hoje, as práticas trabalhistas das
e políticas públicas para lançar normas modo, os Estados desempenham um empresas e as queixas relacionadas
de trabalho internacionais (international papel regulador chave. Enfrentam com essas práticas estão expostas ao
labor standards, ILS), especialmente pressões externas e internas para escrutínio e às pressões dos grupos de
aquelas consideradas cruciais (“core” desempenhar seu papel de forma organizações não governamentais, em
international labor standards -CLS-). eficaz. Por outro lado, as empresas não razão do maior acesso à informação.
O tema requer uma introdução sobre têm a obrigação direta de aplicar as
quatro assuntos: 1) Por que são normas de trabalho, dentre outras Pereira comentou que há uma variedade
necessárias normas internacionais normas das Nações Unidas, mas de cardápios de normas internacionais de
de trabalho? 2) Quais são as espera-se que elas o façam e se trabalho, que requerem um mínimo de
responsabilidades dos Estados e das interessem cada vez mais por sua clareza. Muitas empresas preferem
empresas? 3) Que normas, em particular, aplicação como parte da gestão de selecionar aquelas que são mais fáceis de
são aplicáveis? 4) Por que fortalecer as riscos, ao tempo em que se preocupam ser aplicadas. Esse é um bom começo,
parcerias público-privadas nessa área? com temas de ética nos negócios e a mas é insuficiente e seguramente não
responsabilidade social. está alinhado aos princípios mais aceitos
Há mais de cem anos as normas de de responsabilidade social. Há um
trabalho internacionais fazem parte do A aplicação das normas da OIT vai de conjunto reconhecido de normas
debate sobre a liberalização comercial, encontro ao próprio interesse das fundamentais de trabalho – um mínimo
reaberto no final dos anos 1980. Os empresas em sua relação com as leis de direitos não negociáveis (em
Estados e as empresas têm diferentes nacionais e pelo fato de que a maioria contraposição a escolher o mais
obrigações na aplicação de normas das queixas recebidas pelos órgãos de facilmente aplicável) - baseado no
internacionais. Os Estados, e não as supervisão da OIT está associada às reconhecimento de que um nível mínimo
empresas, ratificam os tratados. No caso empresas. No passado, essas queixas comum para todos é necessário para que
das convenções da OIT (tratados), eram feitas através dos governos dos o comércio avance de forma sustentável.

* Esta sessão foi moderada por Armand Pereira, Representante/ Diretor da Organização Internacional do Trabalho (OIT) em sua representação em Washington, D.C., Estados
Unidos.

Responsabilidade social da empresa: Um bom negócio para todos 43


As normas de trabalho centrais da OIT Unidos. Elogiou as recentes experiências deveria ser uma grande preocupação
incluem oito convenções fundamentais brasileiras para buscar coesão entre as para os Estados Unidos, já que o país
que abrangem “liberdade de políticas públicas e as iniciativas privadas, concentra muitas das matrizes das
sindicalização e de negociação enquanto a experiência americana, a maiores empresas multinacionais.
coletiva” (convenções 87 e 98); despeito de iniciativas muito poderosas, As empresas têm responsabilidades
“erradicação do trabalho forçado” tem sido marcada pela incoerência na relacionadas com os direitos humanos.
(convenções 29 e 105); “ idade mínima parceria público-privada. Em ambos os A Declaração das Nações Unidas sobre
para o trabalho e erradicação das casos, entretanto, as empresas Direitos Humanos conclamou todas as
piores formas de trabalho infantil” consistentemente não aderem às normas organizações da sociedade (inclusive
(convenções 138 e 182); “igualdade trabalho internacionalmente aceitas e a ONGs e corporações) a promover e
de remuneração e discriminação em outras normas de direitos humanos. proteger os direitos humanos.
matéria de emprego e profissão” A RSE provavelmente seria mais eficaz Certamente, não deveriam menosprezar
(convenções 100 e 111). Esse mínimo no tempo se construída sobre o pacote os direitos humanos de suas partes
é adotado por muitas organizações de normas trabalhistas fundamentais, interessadas (consumidores,
e instrumentos relacionados com temas contempladas na Declaração de empregados, fornecedores,
trabalhistas no marco da SER, como o Princípios e Direitos Fundamentais no comunidades). Os governos, os
Pacto Mundial das Nações Unidas (UN Trabalho e na Declaração Universal dos cidadãos e suas corporações precisam
Global Compact), a Global Reporting Direitos Humanos. definir exatamente quais são essas
Initiative (GRI), alguns bancos responsabilidades.
internacionais, e acordos de comércio Houve grandes avanços nos últimos
internacional. No entanto, há também anos, uma vez que quase toda Comparando o Brasil e os Estados
normas internacionais um pouco mais multinacional adota uma estratégia de Unidos, Aaronson argumentou que o
ambiciosas, promovidas e adotadas por RSE. Ao mesmo tempo, também é uma Brasil, pelo menos, tem uma receita.
organizações internacionais e muitas época ruim, dado que há alguns fluxos Os legisladores reconhecem os
empresas que consideraram os de investimentos e empregos para problemas e adotam ações em busca
mínimos existentes insuficientes ou economias emergentes com normas da participação do setor privado e
demasiadamente arriscados para trabalhistas notoriamente inferiores. de outros atores da sociedade civil.
algumas empresas em alguns setores Também se produziram práticas O governo implementou políticas
e países. Este é o caso da Declaração problemáticas de direitos humanos em objetivas nas quatro áreas trabalhistas
Tripartite de Princípios sobre as algumas zonas de conflito, bem como fundamentais, com a participação de
Empresas Multinacionais e a Política uma preocupação crescente com associações de empregadores e
Social, das Diretrizes da OCDE para trabalho escravo em troca de dívidas trabalhadores. Por outro lado, empresas
Empresas Multinacionais, das normas contraídas, e outras formas de com visão de futuro e ONGs impeliram
sociais internacionais da Social trabalhos forçados e trabalho infantil o governo a adotar essas iniciativas.
Accountability International (SAI) em cadeias de fornecimento. Em matéria de tráfico de pessoas e
SA 8000, do Forestry Stewardship trabalho escravo como pagamento de
Council (FSC) para a proteção Cada vez mais se reconhece a dívidas, o governo fez um levantamento
ambiental, dos indicadores sociais importância dos direitos humanos, da situação existente com a ajuda da
do Instituto Ethos, dos códigos de inclusive das normas trabalhistas OIT, de ONGs e de empresas
conduta de muitas empresas, etc. fundamentais. O monitoramento responsáveis, que resultou no Pacto
parece mais eficaz. Ainda assim, Nacional para a Erradicação do
Susan Aaronson comparou o segundo Susan Aaronson, um número Trabalho Escravo no Brasil, lançado em
desenvolvimento da responsabilidade crescente de empresas parece incorrer maio de 2005. Foi criada uma estratégia
social empresarial no Brasil e nos Estados em violações de direitos humanos. Isso de “colocar em evidência”, por meio de

44 Responsabilidade social da empresa: Um bom negócio para todos


uma lista negra, aquelas empresas nas perguntas como: “As empresas são expectativas de práticas empresariais
quais inspeções governamentais e responsáveis pelas ações dos globais, reforçando a necessidade de
métodos semelhantes detectaram o uso fornecedores e subcontratados?” desenvolver e cumprir as normas
de trabalho escravo. As questões de “As empresas são indiretamente internacionais da OIT e a Declaração
tráfico de pessoas e trabalhos forçados responsáveis se um produto que Universal dos Direitos Humanos.
são abordadas a partir de duas fabricam for usado para violar os direitos
perspectivas - oferta e demanda. humanos?” Susan Aaronson ressaltou Oded Grajew iniciou sua intervenção
O Brasil também tem iniciativas que os Estados Unidos freqüentemente recordando que havia uma grande
importantes de certificações sociais enviam sinais contraditórios. Comparado distância entre definir uma norma e
que envolvem parcerias entre empresas com o Brasil, o país exibe um modelo implementá-la. Enfatizou a necessidade
e ONGs, baseadas em políticas incoerente. O resultado é mais reativo de abandonar a idéia de que
governamentais de erradicação do do que proativo. Reage-se a crises ou competitividade e RSE não andam
trabalho infantil. Por exemplo, 1.041 escândalos, mas não se implementam juntas, que costumava levar as
empresas obtiveram no Brasil o selo esforços consistentes para melhorar as empresas a acreditar, erroneamente,
Abrinq em 2004. Embora os problemas políticas de direitos humanos básicos, que têm que optar pela primeira em
persistam, mas houve um pequeno inclusive os direitos trabalhistas detrimento da segunda.
progresso com essa parceria público- fundamentais, e buscar coerência entre
privada. essas políticas e iniciativas empresariais. A Fundação Abrinq, no Brasil, em sua
experiência trabalhando pelos direitos
Os Estados Unidos por sua vez, segundo Aaronson recomendou políticas para da criança, percebeu que é mais útil
Aaronson, não têm uma política clara assegurar que as diretrizes e práticas acompanhar as cadeias produtivas que
sobre as responsabilidades sociais e de fornecimento não violem as normas incluem trabalho infantil do que
ambientais das empresas americanas. internacionais universalmente identificar os locais, muito pulverizados,
Os legisladores tampouco têm explorado reconhecidas. Os governos podem onde se utiliza mão de obra infantil.
as implicações internacionais dessa desenvolver preferências em relação Foram identificados quatro setores -
falta de diretrizes. O Survey Ruggie de aos direitos humanos e favorecer cultivo, coleta e processamento de
setembro de 2006 das empresas Fortune empresas estrangeiras que aderirem laranja; produção de açúcar e álcool;
500, que incluía respostas de 102 às normas universalmente aceitas, e as indústrias de calçados e carvão.
empresas, revelou que 9 em cada 10 bem como garantir que façam todo Em muitos casos, a cadeia produtiva
empresas informavam adotar um o possível para promover os direitos inclui grandes empresas multinacionais.
conjunto de princípios ou práticas humanos em sua esfera de influência. A Fundação utilizou várias estratégias
relacionados com os direitos humanos. As empresas globais que se de convencimento e pressão sobre as
No entanto, esse levantamento e outros beneficiam, em sua maioria, da empresas, agindo em parceria com
resultados revelaram incoerências e falta globalização, precisam assumir uma agências das Nações Unidas no Brasil,
de clareza sobre que normas deveriam maior responsabilidade no sentido especialmente a OIT e o UNICEF,
ser respeitadas e quem seria responsável de promover e colocar em prática, que vêm desempenhando um papel
por sua implementação. A palestrante no mínimo, um conjunto de normas fundamental, muitas vezes de maneira
ressaltou positivamente algumas internacionais básicas de direitos discreta, na assistência a várias iniciativas,
iniciativas governamentais de direitos humanos, trabalhistas e ambientais. de grande importância para o avanço
humanos e direitos trabalhistas, em sua Os governos têm o dever precípuo dos direitos humanos no Brasil.
maioria como parte de um marco de de proteger esses direitos e fomentar Esses quatro setores conseguiram
política e acordos comerciais. Entretanto, uma postura empresarial apropriada. praticamente eliminar o trabalho infantil
falta um marco genérico para promover Os legisladores têm que emitir sinais em sua cadeia produtiva e a indústria
uma RSE global, que deveria responder a claros no que se refere às suas de suco de laranja, por exemplo,

Responsabilidade social da empresa: Um bom negócio para todos 45


deixou de sofrer sanções internacionais parcerias entre o governo, empresas, precisem competir no mesmo nível de
por esse motivo. imprensa, ONGs e outras organizações outras que, por exemplo, não pagam
e, assim, foi possível identificar onde se impostos, adotam práticas de
Outra ação importante em parcerias estava utilizando trabalho escravo em corrupção, ou utilizam práticas
público-privadas no Brasil foi realizada vários setores da economia. trabalhistas que descumprem as
na luta contra o trabalho forçado, que no normas básicas de trabalho.
Brasil é conhecido como trabalho Cada setor envolvido com trabalho
escravo porque se manifesta escravo foi chamado para discutir Grajew enfatizou, ainda, o papel dos
principalmente como escravidão em as conclusões desse estudo, e as consumidores na promoção do
troca do pagamento de dívidas associações de empresas, dentre elas trabalho decente e da responsabilidade
contraídas. O Instituto Ethos havia a ABIT, aqui representada, social. Os governos, também, por sua
atuado em parceria com órgãos do desempenharam um papel fundamental grande capacidade de compra, gozam
governo, a OIT, o Instituto Observatório no processo, neste caso no setor têxtil, de uma posição privilegiada para
Social, representado no painel, e outras mais precisamente na indústria do influenciar o mercado em favor do
organizações. Como exemplo, citou uma algodão. Em maio de 2005, foi firmado cumprimento de normas internacionais
reportagem de 2004 sobre carvoarias o Pacto Nacional para a Erradicação do e de responsabilidade social. Grajew
que utilizavam trabalho escravo. Trabalho Escravo, envolvendo vários citou o exemplo de São Paulo, onde foi
Essa atividade fazia parte da cadeia setores. Um setor que resistiu ao pacto lançado um selo para as empresas de
produtiva de algumas siderúrgicas e foi o de exportação de carne, que entrega que respeitam as leis de
empresas automotivas. Foram posteriormente sofreu um duro golpe trabalho, uma vez que muitas empresas
chamados os representantes das com a crise de febre aftosa e que, nesse setor não as respeitam.
empresas envolvidas nesse problema, (justa ou injustamente), acabou saindo Mencionou também os movimentos
inclusive associações de empresas do na imprensa internacional como um sindicais que se deram conta de
setor de carvão e de siderúrgicas e, setor com más condições sanitárias e que podem utilizar a opinião pública
juntamente com o Tribunal Superior de trabalho, incluindo trabalho escravo. e os consumidores para pressionar as
do Trabalho, formou-se um Pacto Se esse setor houvesse aderido ao pacto empresas a adotar melhores práticas.
contra o Trabalho Escravo nesses nacional, talvez tivesse tido que ser
setores. Também foi criado o Instituto mais cuidadoso com os outros temas, Grajew concluiu enfatizando que os
Carvão Cidadão, que se comprometeu, evitando, em parte, a repercussão exemplos concretos mencionados
na medida do possível, com a difícil negativa da febre aftosa. demonstram que quando há
tarefa de monitorar o setor, buscando a compromisso de diferentes agentes e
eliminação de práticas de trabalho O objetivo do movimento de setores - empresas, governos,
escravo e a melhoria geral das condições responsabilidade social no Brasil é associações empresariais e organismos
de trabalho no setor. O problema ainda constituir um mercado de RSE no qual internacionais - com os direitos
não foi totalmente resolvido devido às o governo e a sociedade promovam a fundamentais do trabalho, o resultado
dificuldades de acompanhamento e participação de empresas socialmente é impressionante. “Isso quer dizer que
inspeção em áreas remotas, mas houve responsáveis, fazendo com que o está em nossas mãos”, ressaltou.
um grande progresso. conceito da OIT de “trabalho decente”
seja incluído nas práticas das empresas. Fernando Pimentel iniciou sua
Conforme comentado anteriormente, Muitos empresários buscam colocar em intervenção mencionando que o Brasil
o governo publicou uma “lista negra” prática a RSE e obter o reconhecimento é bom em elaborar leis, mas nem
de empresas que utilizam práticas de do mercado, já que na lógica das sempre é tão bom em cumpri-la. Ele
trabalho escravo, que gerou grande empresas isso é importante para que compartilhou dados que demonstram a
repercussão. A mobilização resultou em aquelas que agem corretamente não importância do setor de algodão na

46 Responsabilidade social da empresa: Um bom negócio para todos


economia brasileira e sua situação no poderiam ser reciclados, gerando aplicar a lei, desempenhando o Estado
mercado mundial. Dentre as iniciativas comunidades de trabalho em torno de seu papel de garantir o cumprimento
mais recentes do setor está a criação do novos produtos com possibilidade de do que é determinado pela justiça
Instituto Algodão Social, que adota inserção no mercado. Ele mencionou brasileira.
algumas políticas referentes às condições uma pesquisa realizada recentemente
de trabalho. Por outro lado, a ABIT8 no Brasil, mostrando que os Elena Arengo iniciou sua palestra
recomendou e instruiu todas as suas consumidores reconhecem a pirataria apresentando a Social Accontability
empresas associadas a comprar somente como um problema, mas muitos International (SAI - www.sa-intl.org),
algodão com garantia de não ter sido compram produtos pirateados ou organização que promove a
produzido com mão de obra escrava ou falsificados devido aos preços. Isso responsabilidade social empresarial
em condições de trabalho indesejáveis. mostrou a necessidade de modificar por meio da certificação de empresas
A ABIT trabalhou com índices a produção para criar melhores pela Social Accontability (SA) 8000.
referentes a condições de trabalho e condições de competitividade para Trata-se de uma ferramenta baseada
planeja gerar uma certificação baseada as empresas. nas normas internacionais que
em critérios de comércio justo. Não se protegem os direitos humanos e os
pode negar que a indústria têxtil é um Ao responder a uma pergunta no final direitos do trabalho, inclusive: a
setor que emprega muitas pessoas em da sessão, Pimentel informou que a Declaração Universal dos Direitos
todo o mundo, inclusive em países ABIT não tem papel de polícia e sim Humanos, a Convenção das Nações
desenvolvidos, ou países como um papel educativo, de promoção e Unidas sobre os Direitos da Criança e
Bangladesh, aonde mais de 80 por monitoramento, além de procurar do Adolescente, e doze convenções da
cento do comércio exterior vem da promover o produto nacional como OIT. Essas doze convenções incluem as
exportação de produtos têxteis. A China diferente em qualidade, estilo e design, oito convenções básicas e convenções
domina 25 por cento do comércio têxtil e como cumpridor das normas de sobre: segurança e saúde no trabalho
do mundo. Nesse mercado tão trabalho. Ao receber as denúncias, (Conv. 155 e 164), reabilitação
competitivo, o cumprimento de regras a entidade busca ouvir as partes, profissional e emprego de pessoas
mínimas por todos os países é muito promovendo o diálogo e dando espaço deficientes (Conv. 159), representação
importante. No entanto, seria ingênuo para a contradição. Não se trata de dos trabalhadores (Conv. 135), e trabalho
esperar a adesão imediata de todas as uma “caça às bruxas”, mas sim de em domicílio (Conv. 177). Há também
empresas do setor, embora o interesse identificar os problemas e estimular uma norma sobre sistemas de
no tema por parte de organizações mudanças. Nesse sentido, a ABIT conta gestão, para assegurar monitoramento
como a ABIT tenha produzido um com uma rede diversificada de parceiros contínuo.
efeito indutivo e maior interesse entre para o controle e a realização de
as empresas. É preciso considerar que atividades articuladas. Respondendo Em novembro de 2006, havia 1.112
muitas empresas enfrentam desafios a uma pergunta sobre o fato de duas certificações em todo o mundo,
básicos de sobrevivência e necessitam entidades fundadoras do Instituto do abrangendo mais de 600 mil
de prazos adequados para se adaptar Algodão fazerem parte da “lista suja” empregados, em mais de 70 setores
às novas normas. Seria importante, de trabalho escravo divulgada pelo industriais em 57 países. Os países
também, que os mercados valorizassem governo federal, Pimentel afirmou ser com maior número de certificações
as boas práticas das empresas, em vez importante o fato de essas duas eram Itália, Índia, China e Brasil.
de enfatizar exclusivamente custos. empresas terem posteriormente Os setores com mais certificações eram
aderido à campanha de boas práticas. o têxtil e de confecção, em razão das
Pimentel citou o exemplo de uma Ficaram cicatrizes, mas eram empresas exigências dos consumidores e das
região de produção de calças jeans, que poderiam ser recuperadas. grandes marcas.
onde materiais de refugo como sobras Destacou também a necessidade de

8 www.abit.org.br

Responsabilidade social da empresa: Um bom negócio para todos 47


Como vantagens esperadas da adoção sobre o cumprimento de códigos de para a solução dos problemas. Foram
da SA 8000, Elena Arengo destacou: conduta e dos direitos do trabalho, promovidos cursos para setores
redução no número de acidentes caso de uma iniciativa público-privada específicos, bem como parcerias com
de trabalho; oportunidades para implementada em cinco países da governos, para capacitar agentes em
organizar-se; maior conhecimento dos América Central. Participavam dessa técnicas de inspeção mais preventivas
direitos; melhor cumprimento da parceria a SAI, empresas de confecção do que reativas, já que muitos atuavam
legislação trabalhista; melhores e calçados, a Federação Internacional somente respondendo a denúncias.
remunerações e benefícios; e canais de de Trabalhadores da Indústria Têxtil e A SAI desenvolve também programas
comunicação mais eficientes com as de Couro e seus membros em cada de qualificação com diferentes setores,
gerências. No caso dos empregadores, país, além de governos e ONGs. trabalhadores, associações de
esperava-se que SA 8000 contribuísse empresas e de setores específicos,
para: benefícios em produtividade e Dentre os objetivos dessa iniciativa além de programas de qualificação
qualidade; maior retenção de seus estavam a melhoria das condições de para clientes, fornecedores e auditores.
empregados; melhores relações com trabalho nas empresas, a promoção do
trabalhadores, sindicatos, ONGs e diálogo social, a atenção às demandas Entre os desafios percebidos estavam a
clientes; sistemas gerenciais eficientes; da democracia e o aumento da falta de diálogo social que historicamente
melhor imagem; maior interesse dos competitividade do setor de maquilla afeta a região, a necessidade de um
clientes globais. na América Central. Em uma parceria compromisso mais firme das marcas, a
entre empresas com interesses muito carência de recursos dos ministérios do
A palestrante apresentou exemplos variados, a competitividade era o trabalho para implementar as ações
de como estão buscando avaliar as objetivo que as unia. Até pouco tempo propostas, bem como a dificuldade que
vantagens do uso da SA 8000, atrás, os produtos desse setor o setor privado ainda enfrenta para
especialmente na América Central, provenientes das áreas de maquillas associar o cumprimento de normas
ressaltando que havia dois níveis de de alguns países da América tinham à competitividade.
comprometimento com a Norma nos acesso privilegiado a mercado dos
programas desenvolvidos. Forneceu Estados Unidos. Hoje, precisam Nesse programa na América Central, a
informações sobre as empresas que competir com países da Ásia, SAI planeja adotar medidas de impacto
aderiram aos seus programas e as por exemplo, o que exigiu que das ações, definindo indicadores
parcerias que estão sendo criadas. melhorassem sua competitividade. relacionados com a política de gestão,
Ressaltou que a SAI trabalha em melhorias nas condições de trabalho
conjunto com outras organizações do Uma das etapas foi o diagnóstico e competitividade. Como resultados
mundo, citando como exemplo sua da situação em cada país e setor, que já estão sendo sentidos, Arengo
participação no processo de construção identificando-se aspectos econômicos, destacou que as empresas começam a
da ISO 26000 e outras iniciativas de de gênero, de horas-extras e de perceber a relação entre o cumprimento
partes interessadas nessa área. liberdade de associação. Esses de normas e a competitividade. Já há
diagnósticos permitiam ajustar os resultados da promoção do diálogo
Além do cumprimento da Norma programas a cada país. Foram realizadas social e começam a ser percebidas
e da Certificação, a SAI busca a oficinas comuns para os trabalhadores melhorias nas condições de trabalho.
sustentabilidade, atuando em três de diversas empresas, com base na
áreas: sistemas de gestão, participação metodologia de educação da população, Kjeld Jakobsen mencionou que o
de trabalhadores e contribuição para buscando identificar problemas e, Instituto Observatório Social nasceu da
o diálogo social entre as partes conjuntamente, encontrar soluções. discussão sobre a relação entre as
interessadas. Um exemplo dessa última A partir daí, prestava-se assessoria normas de trabalho e os acordos
linha de ação é a promoção do diálogo técnica para a formulação de planos multilaterais de comércio internacional.

48 Responsabilidade social da empresa: Um bom negócio para todos


Recordou que no início da década de Observatório Social sobre cadeias Estado. Mais recentemente, os novos
noventa, houve uma proposta de produtivas em vários setores acordos têm enfatizado mais o papel
criação de uma cláusula social no propiciaram, em alguns casos, parcerias das empresas. O Pacto Mundial (Global
comércio, no âmbito do antigo GATT, com as próprias empresas, na busca de Compact) resultou disso. Incorporou as
com ênfase nos direitos fundamentais soluções para os problemas suscitados, normas internacionais básicas da OIT e
do trabalho. Essa proposta foi como nos setores de siderurgia, da ONU, com enfoque nas empresas.
patrocinada principalmente pelo produção de carvão e confecção. Surgiram também os acordos privados,
governo dos EUA e rejeitada pelos As soluções articuladas entre vários como a SA 8000, que adotam um
governos de vários países em atores, muitas vezes, não beneficiavam patamar superior ao das normas da
desenvolvimento, inclusive o Brasil. alguns interesses locais gerando, OIT, e ao qual as empresas decidiam
Uma das perguntas centrais dessa também, um processo legal contra o se aderiam ou não. Mas apenas a
discussão girava em torno das várias Instituto Observatório Social. Mas o existência das normas não resolvia
dificuldades para avaliar violações dos saldo foi positivo. Outra experiência o problema, mesmo quando havia
direitos fundamentais da OIT, caso interessante foi o das pesquisas certo poder coercitivo da OIT ou dos
fosse incluída uma cláusula social geral conduzidas pelo Instituto em empresas Estados. A eficácia era maior com
nesses acordos multilaterais do GATT. alemães e holandesas no Brasil, o monitoramento de incidências de
Parecia, então, oportuno, que o que resultaram em comitês de problemas. E quando as empresas
movimento sindical internacional administração e representantes aceitavam ser supervisionadas e
criasse capacidade e instrumentos de sindicais que diagnosticavam relações assumiam a responsabilidade de
avaliação que complementassem o de trabalho, identificando dificuldades resolver os problemas detectados,
sistema de supervisão da OIT, e buscando alternativas. Em outra as possibilidades de êxito eram muito
estabelecido com base em queixas experiência na cadeia produtiva de maiores. Um dos desafios foi convencer
específicas fora do âmbito do GATT. alumínio na Amazônia, o Instituto as empresas das vantagens disso.
Como saber, por exemplo, onde havia Observatório Social estava envolvido Houve também empresas que
ocorrido trabalho infantil no Brasil ou no exame de informações e adotaram o monitoramento, mas não
em outros países, em que setores e diagnósticos, mas a negociação de contrataram auditorias adequadas,
empresas e em que circunstâncias? problemas de trabalho, ambientais e quer por conveniência ou porque não
comunitários era de responsabilidade entendiam de relações de trabalho e
Uma metodologia foi desenvolvida dos empresários, dos sindicatos e de normas associadas.
para identificar como as empresas se outras organizações sociais locais.
comportavam diante das normas O Instituto Observatório Social tinha A questão de assimetria e não
básicas da OIT, que Armand destacou, que manter distância do processo de cumprimento de normas internacionais
bem como nas áreas de saúde e negociação. Em nove anos como no mundo era tema recorrente e
segurança no trabalho, meio ambiente presidente do Instituto, Jakobsen inevitável nas negociações comerciais
e outras dimensões da aprendeu que a busca de soluções para
responsabilidade social empresarial. problemas complicados nas relações de
trabalho é mais eficaz quando há boa
Jakobsen ressaltou que não era vontade e participação de todos os
possível conceber uma empresa como atores principais.
socialmente responsável se esta não
tivesse um comportamento coerente Problemas de condições de trabalho e
em relação às normas de trabalho em dificuldades decorrentes das relações
toda a sua cadeia produtiva. As de trabalho são parte de uma discussão
pesquisas desenvolvidas pelo Instituto secular focada no papel do direito e do

Responsabilidade social da empresa: Um bom negócio para todos 49


entre os países e os blocos econômicos. Alguns entusiastas do tema da RSE Concordando com Susan Aaronson em
Quando se falava de sanções comerciais, acreditavam que as empresas poderiam sua comparação entre o Brasil e os
a resposta comum era: “isso é se auto-regular. Alguns pensavam assim Estados Unidos em matéria de normas
protecionismo”, e ainda se poderia devido à necessidade de reduzir riscos internacionais, Pereira afirmou que nos
considerar assim. Mas havia nesse nas cadeias produtivas. Mas outros eram Estados Unidos as relações de trabalho
debate pessoas a favor da extirpação atraídos pela ideologia de acabar com são entendidas predominantemente a
de práticas trabalhistas inaceitáveis. o papel de regulação do Estado. Pereira partir de uma perspectiva empresarial,
Era necessário responder às pressões reiterou que os Estados são responsáveis e que as normas internacionais de
externas com foco nas condições pelos acordos e tratados internacionais trabalho são percebidas como
de trabalho. e, portanto, mantêm o papel de regular relevantes para o restante do mundo,
e fiscalizar normas e consentir ou não a mas têm pouca relevância para o país
Kjeld Jakobsen concluiu sugerindo ao auto-regulação que, em muitos casos, mais rico e poderoso do mundo.
BID que em suas próximas conferências é onerosa e complicada e, em outros,
amplie a participação direta dos desnecessárias.
atores envolvidos. Para tratar de
responsabilidade social seria desejável As empresas realmente comprometidas
dialogar com os parceiros, inclusive com a responsabilidade social deveriam
sindicatos. Para tratar do combate à procurar complementar as funções
pobreza, seria conveniente envolver reguladoras do Estado e não de
seus eventuais beneficiários. Para tratar substituí-las, e muito menos corrompê-
de diversidade no mercado de las. A noção clara das responsabilidades
trabalho, seria oportuno envolver essenciais do governo e das empresas
entidades sindicais que convivem com é fundamental para a definição de
a questão dentro e fora do ambiente funções e responsabilidades
de trabalho. A participação de compartilhadas com eficácia.
diferentes atores enriquece o debate,
e os beneficiários valorizam mais uma Pereira concluiu dizendo que a RSE,
ação ou uma política quando entendem por natureza, é uma responsabilidade
porque estão sendo beneficiados. compartilhada que pode e tem que ser
induzida por políticas governamentais
adequadas e implementadas por meio
Comentários finais de parcerias público-privadas. Por isso,
a discussão sobre parcerias público-
As contribuições dos cinco palestrantes privadas é importante quando falamos
haviam evidenciado que ações do uso de normas internacionais,
complementares e integradas entre as de direitos fundamentais do trabalho,
diversas partes interessadas poderiam de direitos humanos ou ambientais e
ser mais eficientes, mais rápidas, de relações com fornecedores e
menos onerosas e arriscadas. E se os consumidores. No Brasil, por exemplo,
consumidores participassem desse há casos de iniciativas de empresas
movimento de forma mais ativa, endossados por políticas e programas
as mudanças poderiam ser ainda do governo.
mais rápidas.

50 Responsabilidade social da empresa: Um bom negócio para todos


SEGUNDA RODADA DE SESSÕES PARALELAS

Sessão C: RSE e crescimento econômico eqüitativo em favor das


populações pobres e vulneráveis: criando impacto através da cadeia
de fornecimento
Segunda-feira, 11 de dezembro de 2006.

Beat Grüninger*
Business and Social Development, Brasil

Participaram como palestrantes dessa sessão: Felipe Arango, Diretor de Business


and Social Development na Colômbia e Verónica Rubio, Consultora da Fairtrade
Labelling Organizations International FLO.

Introdução de 20 por cento da população mais rica proporcionar os meios necessários para
aumentou mais de 180 por cento nos mudar o contexto e criar valor agregado
Esta sessão foi dedicada a avaliar o últimos 40 anos, enquanto os 20 por e mecanismos de inclusão dos
impacto que a aplicação de práticas cento mais pobres registraram um segmentos mais vulneráveis da
socialmente responsáveis pode ter ao aumento de 26 por cento no mesmo economia mundial, como pequenos
longo da cadeia de fornecimento. período. As mesmas discrepâncias são produtores rurais e pequenas empresas.
Enquanto as grandes empresas e visíveis no que se refere ao acesso a Essas categorias são, no entanto, as
multinacionais normalmente são capazes linhas telefônicas, energia elétrica e, geradoras de emprego mais importantes
de oferecer excelentes condições de por exemplo, consumo de papel. Os 20 da economia local, e o impacto de suas
trabalho e benefícios para os por cento mais pobres da população medidas de RSE na comunidade, nos
empregados, o valor adicional criado respondem por 1 por cento do consumo empregados e em suas famílias podem
pelas práticas de RSE está preenchendo mundial de papel, número que indica ser muito mais significativos do que os
apenas algumas das lacunas sociais. não apenas pobreza real, mas também de uma grande empresa multinacional.
No caso dos trabalhadores de pequenas exclusão social e falta de acesso a
e médias empresas (PMEs), normalmente informação e educação. Uma evolução Foram apresentados diferentes
lhes falta melhorar substancialmente suas semelhante pode ser identificada no modelos de criação de valor na cadeia
vidas e condições de trabalho. A sessão setor econômico, em empresas maiores e seu impacto. Hoje, há diversos
teve o objetivo de mostrar como as e mais ricas, enquanto a maioria das programas nos quais as cadeias de
intervenções na cadeia de fornecimento pequenas empresas apenas sobrevive fornecimento foram modificadas para
podem gerar desenvolvimento e valor nos mercados globais mais competitivos. criar maior sustentabilidade e incluir
também para as PMEs e contribuir para pequenos e médios fornecedores. Três
um futuro sustentável. modelos diferentes são identificados
Modelos de criação de valor nas nas apresentações dos palestrantes:
Uma recente publicação das Nações cadeias de fornecimento
Unidas sobre divergências sociais 1) Integração de RSE-Gestão de
mostrou que a lacuna na distribuição de Com base nesse cenário, um desafio práticas de grupos de PMEs
riqueza está aumentando. A renda média importante para o conceito de RSE é 2) Comércio Justo, uma certificação

* Beat Grüninger, Diretor de Business and Social Development no Brasil, foi também um dos palestrantes dessa sessão.

Responsabilidade social da empresa: Um bom negócio para todos 51


desenvolvimento sustentável. As investimentos em RSE são vistos como
pressões da sociedade civil, as pressões um custo adicional, ou a interpretação
sobre os recursos naturais e humanos, um equivocada de que a RSE é puro
menor consumo de energia e água e a investimento filantrópico, levam a RSE a
perda de biodiversidade, dentre outros, não ser considerada como uma questão
são assuntos que, mais do que nunca, de gestão empresarial. Esses mitos sobre
dizem respeito às PMES, enfatizou Felipe a RSE evidenciam a necessidade de que
Arango. Outro aspecto da mudança foi o as empresas e associações empresariais
resultado de uma maior pressão da sejam mais bem capacitadas para
sociedade civil. As partes interessadas perceber que há uma relação direta
hoje exigem um posicionamento do setor entre um melhor desempenho de sua
que ajuda pequenos produtores a empresarial no que concerne a questões empresa e questões de sustentabilidade,
obter acesso aos mercados de sociais e ambientais, e isso pode que precisa ser abordada.
consumidores éticos. significar riscos - mas também
3) Modelo das chamadas empresas- oportunidades - para as PMEs.
âncoras (anchor companies), que são Participação das partes interessadas
os “tratores” desenvolvidos pelos Do ponto de vista dos palestrantes,
fornecedores com um enfoque grupal. melhores competências em Para o trabalho no Equador, a BSD criou
sustentabilidade e desenvolvimento de um instrumento de referência que integra
Todos os modelos foram aplicados na PMEs resultaria em maior redução da enfoques formativos e as expectativas
América Latina e no Brasil, e os pobreza. Não há nada melhor do que das partes interessadas das pequenas
primeiros resultados já são positivos uma PME bem estruturada e crescendo empresas e as ajuda a desenvolver
para todos esses diferentes enfoques. de forma sustentável para mudar a vida um plano de ação para a gestão
dos empregados e de suas famílias. de uma conta tripla de resultados.
No Equador, as PMEs são um O compromisso das partes interessadas
A gestão da linha tripla de elemento-chave na economia local, internas no processo é crucial. Somente
resultados podem contribuir para o contexto integrando suas visões e idéias, as PMEs
social na comunidade e são capazes podem realmente colocar em prática
Felipe Arango apresentou o caso da de se adaptar mais rapidamente do tudo o que se diz a respeito da
Business and Social Development9, que as empresas maiores aos desafios sustentabilidade; e a motivação e
fundada em 1977 com o objetivo de do mercado. Felipe Arango indicou satisfação do pessoal pode apoiar
melhorar a gestão da sustentabilidade que as empresas podem seguir, agora, o processo. Outros benefícios potenciais
de quatro pequenas e médias empresas uma nova direção, criando uma da aplicação do instrumento são:
no Equador. O projeto foi concebido estratégia de conta tripla de resultados,
e executado em Quito, Equador, com integrando valores sociais e ambientais a) Acesso a novos mercados;
o apoio local da People’s Foundation. ao cálculo do valor econômico e b)Aumento da reputação;
O apoio é garantido, sobretudo, pela gerando transparência e relações éticas c) Maior produtividade;
Swisscontact Equador e foi co-financiado com todas as partes interessadas. d)Reduções de custos e;
com contribuições de contrapartida das e) Boas práticas ambientais.
empresas participantes. Embora a demanda por mais estratégias
de RSE seja bem recebida, ainda há O Programa da Swisscontact para a
O projeto está baseado na convicção de algumas crenças errôneas que impedem Gestão Sustentável das PMEs foi
que as pequenas e médias empresas um desenvolvimento mais rápido: uma implementado com três empresas:
exercem um papel fundamental no opinião muito difundida é que os Floralp – uma fábrica de queijos e

9 www.bsd-net.com

52 Responsabilidade social da empresa: Um bom negócio para todos


manteiga; Gráfica Paola; e Fabricables, sul. A idéia da certificação de Comércio O Comércio Justo conseguiu integrar
uma pequena fábrica de componentes Justo foi uma evolução de diferentes práticas sustentáveis à cadeia de
elétricos. Cada empresa definiu ações enfoques para incluir pequenos fornecimento, mas o foco central está
em 42 áreas, abrangendo os seguintes produtores de países em no lado do produtor. As organizações
segmentos: Políticas e Estratégia; desenvolvimento nos mercados de produtores têm que cumprir uma
Clientes; Relações com Fornecedores; globais, iniciada por organizações de série de critérios que fazem com
Meio Ambiente; Comunidades; desenvolvimento e associações de que seus negócios se tornem mais
e Quadro de Pessoal. consumidores nos anos 1970. O foco competitivos, mais transparentes,
central naquele momento foi o café. As e social ambientalmente responsáveis.
Sobre os primeiros resultados do iniciativas nacionais de Comércio Justo A certificação lhes garante um preço
trabalho, Felipe Arango ressaltou os que começaram a certificar produtos justo e exclui aqueles compradores
seguintes pontos: foram lançadas em 1997, sob a égide da com atitudes impróprias, que são
organização FLO - Fairtrade Labeling auditados pela FLO-Cert. Os benefícios
• Integração da sustentabilidade à Organizations International, para do Comércio Justo são triplos, já que se
missão, aos valores e às políticas das harmonizar procedimentos e padrões. estendem não apenas aos produtores,
empresas. Em 2001, a FLO criou sua própria mas também às unidades comerciais e
• Programas de gestão participativa unidade de inspeção (FLO-Cert GMBH), ao consumidor.
e compromisso dos empregados. para garantir um controle independente
• Novos produtos que oferecem na cadeia de fornecimento. O benefício para os produtores são:
valores sociais e ambientais.
• Estruturação de sistemas de gestão Para Verónica Rubio, a certificação foi a) Acesso a um nicho de mercado de
do meio ambiente. um elemento diferencial importante, grande valor.
• Diálogos com a comunidade local. responsável pelo sucesso da FLO em b)Garantia de um preço mínimo.
• Desenvolvimento de fornecedores. todo o mundo. O mercado global de c) Pré-financiamento dos produtos,
Comércio Justo cresce mais de 30 por relações comerciais de longo prazo,
Os resultados, até o momento, têm sido cento ao ano e alcança 1,2 milhão de melhores práticas gerenciais.
muito motivadores, embora a maior produtores e trabalhadores rurais em 52 d)Investimento do prêmio extra pago
dificuldade encontrada tenha sido a países, que se beneficiam de melhores em projetos sociais e de
necessidade de mudar atitudes da preços e melhores condições de desenvolvimento comunitário.
gerência e do pessoal. Em 2007, as três comércio.
empresas se concentraram em avaliar Os parceiros comerciais se beneficiam,
seu progresso usando indicadores A confiança do consumidor na sobretudo, de um maior valor de marca,
específicos, e em produzir seu primeiro certificação tornou possível a motivação do quadro de pessoal e uma
relatório de sustentabilidade. participação de mais de 500 oferta de melhor qualidade, enquanto os
organizações comerciais com milhões consumidores têm a possibilidade real de
de pontos de venda. O sucesso do apoiar o desenvolvimento, selecionando
Comércio Justo: Garantias para o Comércio Justo foi impulsionado pela produtos certificados com informações
produtor e o consumidor participação ativa de consumidores de que seu método de produção e os
éticos. Em todo o mundo, mais de 200 termos de intercâmbio comercial são
Verónica Rubio apresentou o sistema mil voluntários estão promovendo os sustentáveis e justos. Sua contribuição
de certificação de comércio justo produtos do comércio justo, seja em para melhores condições de vida e
(Fairtrade Labeling)10, com sua missão suas cidades, nas universidades, ou nos trabalho é direta e pode influenciar a
de contribuir para o desenvolvimento próprios supermercados. cadeia de fornecimento global por meio
social e econômico em áreas rurais do de suas compras diárias.

10 www.fairtrade.net

Responsabilidade social da empresa: Um bom negócio para todos 53


O programa chega às empresas na preciso derrubar alguns mitos sobre a
cadeia de valor de forma tanto RSE como, por exemplo, que ela é
ascendente (fornecimento, fabricação, onerosa e está voltada apenas para
etc.) como descendente (distribuição, o investimento social. Um grande
serviço pós-venda, etc.). Uma empresa aliado no apoio ao movimento
“âncora” estabelece uma relação com dos empreendedores para a
no mínimo 15 fornecedores, sustentabilidade é o consumidor. Se os
distribuidores ou clientes. O grupo se consumidores, e também as grandes
reúne pelo menos uma vez por mês e empresas como compradoras de bens e
trabalha em uma agenda comum para serviços, exigissem mais valores sociais
integrar medidas de RSE às práticas de e ambientais e os cumprissem pagando
gestão. O BSD baseou a metodologia11 preços justos, as barreiras de acesso
para trabalhar em modelos existentes para muitas PMEs seriam reduzidas.
de relações com fornecedores,
desenvolvidos por empresas como O três enfoques apresentados no
CPFL, Natura ou ABN Amro Real. painel mostraram modelos eficazes que
existem e que podem apoiar essa
Um aspecto importante do Tear é seu integração e seus resultados e ser
enfoque amplo para promover a RSE. facilmente replicados em diferentes
O modelo pode ser replicado por cada setores e regiões.
uma das empresas participantes ao
longo de sua própria cadeia de
fornecimento. Outros atores como
instituições financeiras, federações de
O Programa Tear do BID e do Ethos indústrias e associações setoriais estão
envolvidas e integradas como “agentes
O programa Tear (Tecendo Redes promotores”. Os resultados do
Sustentáveis) é financiado pelo Banco programa serão documentados e
Interamericano de Desenvolvimento estarão disponíveis para informação e
(BID) e executado pelo Instituto Ethos no uso em outros países ou regiões.
Brasil. Os objetivos do Tear são trabalhar
ao longo da cadeia de fornecimento das
grandes empresas e integrar as práticas Comentários finais
de RSE a grupos formados por
fornecedores ou clientes. O BSD foi Esta sessão evidenciou a grande
responsável pela criação da metodologia importância de introduzir práticas
do programa. Com o apoio financeiro do sustentáveis na gestão das PMEs. As
Fundo Multilateral de Investimentos pequenas e médias organizações são
(FUMIN), que integra o Grupo BID, capazes de tornar as economias locais
o programa está sendo implementando marginalizadas mais competitivas, seu
em empresas de sete setores: impacto no crescimento - que favorece
álcool/açúcar; construção civil; petróleo e os mais pobres - é significativo e podem
gás; distribuição de energia; mineração; ser importantes agentes de mudança.
indústria do aço; e supermercados. Entretanto, para envolver as PMEs, é

11 Para obter detalhes sobre a metodologia, acesse www.ethos.org.br.

54 Responsabilidade social da empresa: Um bom negócio para todos


SEGUNDA RODADA DE SESSÕES PARALELAS

Sessão D: Ética: Um bom negócio


Segunda-feira, 11 de dezembro de 2006

Margareth Florez*
Corporación Transparencia por Colombia

A apresentação feita pela Transparencia por Colombia teve como objetivo mostrar
as principais características do seu principal programa, seus sucessos e desafios
futuros, bem como compartilhar a experiência de sua implementação na cadeia de
valor da Organização Corona, que foi apresentado por Felipe Giraldo, Chefe de
Desenvolvimento Comercial da Organização Corona, uma das grandes empresas de
Colômbia.

Introdução Na esfera mundial, cresce a tendência Desenvolvimento da parceria


de exigir das empresas a implementação Transparencia por Colombia -
Na Colômbia existem aproximadamente de práticas éticas em seus negócios, Colcerámica
64.200 pequenas e médias empresas, e os benefícios dessas práticas são
que são o motor da economia. Essas cada vez mais visíveis. Importantes Como aplicação prática dos princípios
empresas representam 96 por cento dos estudos como, por exemplo, o da corporativos, a Organização Corona
estabelecimentos industriais, geram 63 KPMG, mostram que 44 por cento das aceitou o convite da Transparencia por
por cento do emprego nacional e 77 por empresas que implementam práticas Colombia para participar e apoiar o
cento dos salários no setor industrial, éticas experimentam aumentos em sua desenvolvimento do Programa Rumbo
respondem por 37 por cento da produtividade e melhoram em 39 por PMEs - Integras y Transparentes -
produção e contribuem com 40 por cento sua imagem de integridade. em sua cadeia de valor. Dessa forma,
cento do Produto Interno Bruto (PIB). Segundo a AccionRSE, 37 por cento em 2005 foi firmada uma parceria entre
dos consumidores latino-americanos já as organizações, implementada por
Na Colômbia, as PMEs enfrentam altos consideraram punir, ou efetivamente meio dos seguintes passos:
níveis de corrupção, que dificultam a puniram, uma empresa por conduta
realização de seus negócios. Essa irresponsável. Segundo a Walker • Assinatura de um memorando de
situação ocorre não apenas entre Information, cerca de 6 por cento dos entendimento entre a organização e
empresas privadas, mas também nos trabalhadores que acreditam que seus a empresa.
processos contratuais com o Estado. chefes não se comportam corretamente • Definição de um responsável pela
Em relação a esses aspectos, pesquisas tendem a permanecer em sua empresa, parceria na Corona.
realizadas com empresários colombianos enquanto essa porcentagem cai para 40 • Processo de comunicação interna e
mostram que 36,8 por cento deles por cento entre aqueles que acreditam apresentação do programa a
consideram a perda de valores éticos a que seus superiores são éticos. Gerentes Gerais, Gerentes de Vendas
causa mais relevante para a corrupção e e Assistentes de Vendas da Corona.
72,6 por cento desconfiam de seus • Manifestação por escrito da
concorrentes. Presidência da Organização,

* Margareth Florez, Diretora-Executiva da Corporación Transparencia por Colômbia, foi também uma palestrante dessa sessão.

Responsabilidade social da empresa: Um bom negócio para todos 55


para abrir os espaços para o • 37 comerciantes vinculados, que Desafios para as empresas e PMEs
Programa e, assim, gerar o congregam aproximadamente 1500 envolvidas
compromisso dos comerciantes. empregados.
• Apresentação de proposta, • 20 fornecedores e 9 cooperativas de Quando o Programa adquire dinâmica
cronograma e custos do programa trabalho associado vinculadas ao própria, surgem ao mesmo tempo
aos proprietários e administradores programa. novos desafios a serem superados e
das empresas. • 18 oficinas de capacitação, com um novas metas a serem alcançadas. No
• Seleção dos comerciantes que serão público aproximado de 160 que se refere às parcerias, não é fácil
convidados a participar do programa, representantes dos comerciantes. consolidar um grupo de comerciantes,
levando-se em conta o porte e as • 29 empresas que já contam com fornecedores e outras entidades que
características particulares de cada um. avaliação de ambiente ético, das integram a cadeia de valor da Corona,
• Comunicação e compromisso da força quais 14 já estabeleceram sua que gere consciência social diante da
de vendas da Corona no sentido de declaração de compromisso ético e importância do tema. Também surge a
dinamizar a implementação e apoiar 5 desenvolveram alguns princípios dificuldade para criar um sistema de
as empresas no desenvolvimento do contra o suborno. reconhecimento para aquelas pequenas
programa. Com isso também se • Maior facilidade nas relações. empresas que implementarem o
mantém a consistência no • Fortalecimento do tecido social. Programa, que lhes permita
gerenciamento de informações. • Maior sustentabilidade nas relações diferenciar-se no mercado.
• Realização da primeira oficina com o de negócios.
Grupo Promotor e, simultaneamente, • Maior coerência nos valores dos É conveniente, também, divulgar as
a vinculação de mais comerciantes. membros da rede de negócios da boas práticas identificadas nas PMEs
• Acompanhamento, apoio e Corona. e nas cadeias de valor, que estão
implementação de módulos básicos. vinculadas ao Programa, para facilitar o
• Realização de oficinas com os Grupos caminho para as novas empresas que
Promotores e apoio com módulos Dificuldades encontradas vão aderindo. Um desafio pendente
básicos e temáticos. é como motivar um processo de
• Convite e posterior vinculação a Ainda assim, o desenvolvimento do expansão do Programa para outros
cooperativas de trabalho associado e processo não tem sido fácil e houve atores da cadeia de valor e outras
outros fornecedores para participar obstáculos que foram superados, dentre empresas da organização.
do Programa. os quais se destacam, principalmente,
• Evento de reconhecimento dos a dificuldade para destinar recursos Deve-se começar colocando a ética
comerciantes que durante a primeira exclusivos ao projeto, tanto por parte empresarial como condição necessária
etapa implementaram os três das PMEs como da Organização Corona. para estabelecer relações de negócios
módulos básicos ou estão em Os objetivos do projeto e aqueles da e consolidar esse novo modelo de
processo de fazê-lo. pessoa responsável pela pequena relações entre empresas na cadeia
empresa e pelas demais áreas da de valor.
empresa nem sempre estão
Sucessos alcançados perfeitamente alinhados e é preciso As PMEs envolvidas devem contribuir
trabalhar para que se consiga alcançar para a geração de confiança e a criação
A parceria obteve importantes sucessos, esses objetivos. Algumas PMEs estavam de um elemento diferenciador no
que podem ser resumidos nos seguintes implementando outros projetos, mercado. Para elas, às vezes não é fácil
números: gerando certa concorrência pelos tomar decisões empresariais coerentes
recursos para implementar o programa. com o Programa, em vista de sua
trajetória no passado, regida por outras

56 Responsabilidade social da empresa: Um bom negócio para todos


normas. No entanto, estão conscientes organizações envolvidas. É cada vez mais
de que devem persistir na comum dirigentes de organizações de
implementação do Programa e avaliar diferentes setores reverem seus sistemas
seus resultados. Dessa forma, com sua de tomada de decisões, passando a
experiência e sucesso se gera um enfocar mais a transparência e a
modelo ético para outras empresas. prestação de contas de suas atividades
a todos os seus colaboradores.
Sem dúvida alguma, o Programa
constitui uma ferramenta de avaliação Ética é um bom negócio? Experiências
da relação entre a Corona e os como as relatadas nesta sessão mostram
públicos-alvos, onde se aproveitam as que sim, evidenciando como é
experiências bem sucedidas como fundamental e lucrativo promover
veículos de promoção para a vinculação programas de responsabilidade social
efetiva de novas PMEs e novos empresarial baseados na ética,
parceiros. Nas primeiras etapas de no fortalecimento da cidadania e na
implementação, são fundamentais o credibilidade da empresa. Pequenas e
monitoramento e o acompanhamento médias empresas lideradas por pessoas
das pequenas empresas como parte do com bom comportamento empresarial
sucesso do Programa. Além disso, ético chegam a ser uma referência no
o aporte econômico das PMEs cria incentivo aos investimentos externos e
compromisso e senso de propriedade no desenvolvimento local sustentável.
em relação ao processo. No entanto, ações isoladas, restritas à
alta administração das empresas, nem
sempre são eficientes. O compromisso
Comentários finais ético deve envolver toda a cadeia de
valor dos setores produtivos e influenciar
A corrupção é um obstáculo destrutivo os diferentes atores e esferas da
na construção sustentável de empresas sociedade.
no atual ambiente competitivo.
As pequenas e médias empresas são
as que mais sentem o impacto da má
conduta de seus dirigentes e
colaboradores. Nesta sessão, ficou clara
a importância da união de esforços e
competências técnicas de organizações
da sociedade civil - preocupadas com
o fortalecimento da cidadania local -
com empresas que buscam melhorar
sua cadeia de valor a partir de ações de
responsabilidade social empresarial.

A (re)educação em ética empresarial, se


adequadamente conduzida, é capaz de
promover uma reorganização cultural nas

Responsabilidade social da empresa: Um bom negócio para todos 57


58 Sobre Responsabilidad Social de la Empresa
TERCEIRA SESSÃO PLENÁRIA

A sociedade civil na RSE e o desenvolvimento


Terça-feira, 12 de dezembro de 2006.

María Matilde Schwalb*


Universidad del Pacífico, Lima, Perú

Participaram do painel Alexandre Prado, Gerente de Economia de Conservação da


Conservação Internacional do Brasil; Wilson Mello Neto, Vice-Presidente de Assuntos
Corporativos da Wal-Mart do Brasil; Raymond Forde, Vice-Presidente da Federação
Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e da Crescente Vermelha; e Claudio
Bruzzi Boechat, Gerente de Projetos, Sustentabilidade e Responsabilidade Corporativa
da Fundação Dom Cabral do Brasil.

O objetivo desta sessão foi mostrar, especial foi feito para que as empresas custos de produção dos responsáveis
por meio das experiências de quatro internalizem seus custos ambientais. pelas atividades produtivas que as
instituições de grande prestigio e longa geram. Algumas dessas medidas são
trajetória, como a sociedade civil pode Alexandre Prado apresentou o tema de de caráter compulsório – licenças,
contribuir significativamente para o desenvolvimento e SER, com enfoque impostos, multas - e outras de caráter
desenvolvimento eqüitativo da sociedade em uma perspectiva de biodiversidade voluntário - certificações, auditorias, etc.
em geral. A partir dos programas sociais e recursos naturais. A degradação e
desenvolvidos pelas instituições contaminação de terras agrícolas; As práticas de eco-eficiência adotadas
apresentadoras, se podem extrair lições a escassez e contaminação da água; pelas empresas constituem o primeiro
aprendidas que servirão de estímulo para a poluição e a mudança climática; passo para a sustentabilidade, mas não
que muitas outras organizações da e a perda de biodiversidade são alguns são suficientes. Com a finalidade de
sociedade civil dêem continuidade a dos sinais de alerta que nos indicam a contribuir para o desenvolvimento
esses empreendimentos promotores pressão atual que as atividades sustentável, observam-se dois tipos
do desenvolvimento sustentável. produtivas estão exercendo sobre os de parcerias entre empresas e ONGs.
recursos naturais, com séria ameaça para Um primeiro tipo de parceria é
A sociedade está consumido mais do a sustentabilidade do nosso planeta. constituído por relatórios sócio-
que lhe permite sua capacidade de ambientais e pelas contribuições
reposição de recursos naturais. Esse é A situação ambiental de nosso tempo das empresas a fundo perdido para
um problema que concerne a todos os expõe uma série de externalidades o desenvolvimento de projetos.
indivíduos e instituições, sejam estas de econômicas, ambientais e operacionais O segundo tipo de parceria consiste
caráter público ou privado. Daí a que devem ser incorporadas aos custos na incorporação de políticas,
necessidade de se tomar consciência totais de produção, se é que se deseja procedimentos e atividades ambientais
da magnitude do problema e obter um desenvolvimento econômico como parte das operações da empresa.
empreender ações proativas, que não sustentável. Atualmente existem As parcerias do primeiro tipo
apenas mitiguem os danos, mas que algumas medidas destinadas a forçar a constituem uma prática muito
também os previnam. Um apelo incorporação dessas externalidades aos freqüente nas empresas, mas não são

* María Matilde Schwalb, Coordenadora da Área de Responsabilidade Social Empresarial, Universidad del Pacífico, Peru, foi a moderadora dessa sessão.

Sobre Responsabilidad Social de la Empresa 59


conservação, além da mitigação, A visão leva a empresa a atuar nas
da própria identidade ecológica. potencialidades e responsabilidades dos
líderes empresariais, enquanto os valores
Claudio Bruzzi Boechat apresentou a dão coerência ao discurso e à ação e
responsabilidade da Dom Cabral como promovem o compromisso com os
escola de negócios. A Fundação Dom resultados. Por seu turno, a missão move
Cabral (FDC) desenvolveu uma solução a ação da FDC para a sua atividade
educacional para promover o central, que é educar os gerentes e
desenvolvimento sustentável por parte líderes empresariais nos conceitos e
das empresas e se propôs a ser práticas de RSC e na sustentabilidade,
referência internacional na educação e por meio do desenvolvimento e da
no desenvolvimento de executivos, aplicação de conhecimento.
empresários e empresas responsáveis.
O enfoque sistêmico da FDC a leva a
A Fundação Dom Cabral se propôs orientar seus esforços de ação para o
ainda, a conscientizar, estimular e elemento mais básico da sociedade -
instrumentalizar as empresas para o indivíduo - com base na convicção
que cumpram seu papel de promover de que essa ação impactará, como uma
o desenvolvimento sustentável. onda expansiva, as demais esferas da
A instituição está fundamentada em vida social – passando pela empresa,
sólidos princípios e valores. Sua missão pelo mercado e pela sociedade - até
inclui contribuir para o desenvolvimento envolver todo o planeta. Esse enfoque
da sociedade como um todo, e a sistêmico implica um olhar diferente
fundação está convencida da urgência sobre o lucro empresarial, já não como
de atender aos problemas econômicos, fim, mas como meio, e considera a
suficientes para ser consideradas sociais e ambientais do Brasil e do inovação a essência da empresa.
sustentáveis. As do segundo tipo têm restante do mundo. Seu público mais
a ver com a eco-eficiência, que é o direto são os líderes empresariais que Para Boechat, a responsabilidade
primeiro passo para a sustentabilidade, têm poder de transformação. empresarial implica um equilíbrio nas
mas não é sinônimo de relações da empresa com seus diferentes
desenvolvimento sustentável. Para alcançar seu objetivo, a Fundação públicos de interesse, e uma visão de
construiu sua pirâmide de longo prazo. A sustentabilidade, por
Os instrumentos desenvolvidos até sustentabilidade institucional, cujos outro lado, requer que se considerem os
agora para mitigar os danos ambientais vértices são: impactos nas gerações tanto presentes
constituem um avanço na direção da como futuras.
sustentabilidade, mas ainda falta • Comitê e Programa de Voluntariado;
empreender um esforço maior. • Projeto “FDC Responsável” A FDC elaborou um modelo de gestão
É preciso reduzir e compensar os • Núcleo Andrade Gutiérrez de empresarial responsável para a
impactos na biodiversidade e nos Sustentabilidade e Responsabilidade sustentabilidade. No centro desse
recursos naturais produzidos pelas Corporativa. modelo estariam as partes ou os
operações das empresas e de sua públicos interessados (stakeholders),
cadeia de fornecimento. É necessário O núcleo indutor que dá coerência à dos quais surgiriam os grandes temas
contribuir com boas práticas responsabilidade social empresarial são a que permitiriam conceber a estratégia
operacionais e recursos para a visão, a missão e os valores institucionais. empresarial. O planejamento

60 Sobre Responsabilidad Social de la Empresa


estratégico estaria apoiado num são amplamente conhecidas por sua A Cruz Vermelha entende que todos os
processo de consulta permanente aos posição, predominante na área de esforços destinados a prevenir desastres
diferentes stakeholders, o que daria ajuda humanitária e, em particular, constituem um compromisso com o
legitimidade às metas e aos objetivos por suas atividades na gestão de desenvolvimento e com a vida.
definidos pela empresa. Essas metas e desastres, na promoção da saúde Conseqüentemente, destaca a
esses objetivos se traduzem em e na disseminação dos valores de necessidade de se investir mais na
indicadores num equilíbrio integrado, humanidade, imparcialidade, prevenção de desastres, no nível tanto
como um painel de controle que neutralidade, independência, serviço dos governos como das organizações
permite medir os avanços e estabelecer voluntário, unidade e universalidade. privadas. Embora as estatísticas
medidas de melhoria contínua. Dessa demonstrem que cada dólar investido
forma, a empresa certifica-se de que O caráter singular da Cruz Vermelha – na prevenção de desastres produz uma
seu desenvolvimento e crescimento seu marco jurídico e institucional -, sua economia de 3 a 4 dólares, as instituições
empresarial será sustentável, porque força organizacional - 185 sociedades de assistência dedicam menos de 10
está alinhado aos objetivos sociais. nacionais, 295 mil empregados, 97 por cento de seu orçamento de ajuda
milhões de voluntários e milhares de humanitária à redução de riscos de
Os pilares da sustentabilidade da FDC escritórios nas Américas - e sua desastres. Mais ainda, os estudos
são a gestão do conhecimento e a capilaridade no nível global, continental, mostram que um número importante
gestão administrativa. A partir desses nacional, regional e local a colocam dessas instituições, além de governos
pilares, a fundação desenvolve atividades numa posição insuperável para e organizações de desenvolvimento,
em áreas como consultoria interna; promover importantes impactos na não contemplam – de forma sistemática
atendimento a clientes; reapresentação sociedade em escala mundial. - os riscos de desastres em seus planos
institucional; estabelecimento de É justamente graças a seus níveis de de desenvolvimento.
parcerias; desenvolvimento de atuação - local, nacional e internacional -
conhecimento; e ação pedagógica. que a Cruz Vermelha contribui para Atualmente, o mundo está enfrentando
melhorar a qualidade de vida de desastres em escalas sem precedentes.
O modelo estruturado de ações da pessoas mais vulneráveis. Desde 1990, os desastres custaram
FDC parte do indivíduo como líder das 58 mil vidas, em média, a cada ano,
empresas e se estende até a empresa A conjuntura de vulnerabilidades na e afetaram a vida de outros 225 milhões
como geradora de impactos mais amplos América Latina e no Caribe oferece o de pessoas. Apenas em 2002, 92 mil
numa série de grupos de interesse. contexto no qual a Cruz Vermelha pessoas morreram em conseqüência
Por meio de ações de intervenção trabalha e destaca a importância de de 150 desastres.
educacional no indivíduo e na empresa – suas atividades. Segundo os relatórios
como seu “Programa de Gestão apresentados por Forde, os danos Segundo o expositor, a redução dos
Responsável para Sustentabilidade”- causados por desastres na última riscos de sofrer as conseqüências de
a FDC espera impactar o mercado e a década significaram perdas mundiais desastres está relacionada com o
sociedade, para finalmente contribuir num valor equivalente a cerca de US$ desenvolvimento em dois sentidos.
para um desenvolvimento mais 67 bilhões por ano. Mas o caso dos Por um lado, pode favorecer a
sustentável do planeta. países em desenvolvimento é mais implementação e sustentabilidade de
dramático, já que os danos nesses projetos sociais; e por outro, a adoção de
Raymond Forde apresentou o tema de países são 20 vezes maiores - em termos decisões políticas, sociais e econômicas,
gestão de desastres naturais, do ponto percentuais do Produto Interno Bruto sem a orientação técnica adequada,
de vista de uma organização global da (PIB) – do que aqueles produzidos nos pode colar em risco as comunidades e,
sociedade civil. As organizações da países desenvolvidos. no médio e longo prazo, comprometer
Cruz Vermelha e da Meia Lua Vermelha seu desenvolvimento.

Sobre Responsabilidad Social de la Empresa 61


Estudos conduzidos por instituições corretivas concretas para reduzir o “risco comunitário” criam uma situação
internacionais mostram que a América risco das comunidades; do tipo “ganhar-ganhar”. Para tanto,
Latina é a região mais sujeita a sofrer 3. Integração da redução do risco de a Cruz Vermelha propõe que as
os danos causados por desastres. sofrer desastres ao planejamento empresas revejam seus produtos e
Aos fenômenos naturais próprios da do desenvolvimento sustentável, processos produtivos e se envolvam
região, juntam-se a desigualdade e a por meio do trabalho comunitário com a comunidade por meio do
pobreza como os mais devastadores integrado e do fortalecimento da voluntariado corporativo.
desastres, agravados pelo rápido rede de voluntários.
crescimento demográfico, pela falta Wilson Mello Neto apresentou,
de planejamento urbano e pela A organização conclama os governos, de maneira muito transparente, o poder
degradação ambiental, dentre outros as organizações locais e o setor privado de influência da cadeia produtiva de
fenômenos que aumentam a a participar dessa luta legítima para fornecimento da empresa, bem como
vulnerabilidade da região. mitigar os impactos dos desastres nas o sério compromisso com cada uma de
populações mais vulneráveis. Em vista suas partes interessadas. O compromisso
Embora o desafio no longo prazo da magnitude do problema e de suas da Wal-Mart com todas os seus públicos
seja reverter a condição de alta potenciais conseqüências fatais, interessados está refletido em sua visão
vulnerabilidade da região, a Cruz o expositor destacou a necessidade de ser uma empresa de varejo global,
Vermelha se propôs, como objetivo de parcerias entre o setor público, ao tempo em que busca contribuir
prioritário, no curto prazo, a desenvolver o setor privado e o terceiro setor para para melhorar a qualidade de vida de
capacidades para contar com fazer frente a essa calamidade. seus clientes e parceiros, servindo às
comunidades mais seguras e saudáveis. Raymond Forde enfatizou, igualmente, comunidades nas quais atua. Essa
Nesse sentido, empreendeu três tipos o compromisso das empresas com a empresa entende que para materializar
de ação: mitigação da vulnerabilidade das sua visão, seu crescimento deve estar
comunidades diante dos desastres, alinhado aos três objetivos de
1. Preparação das comunidades para já que fazem parte das comunidades desenvolvimento sustentável -
responder a desastres; nas quais operam e que afetam com econômicos, ambientais e sociais.
2. Mitigação e prevenção, por meio da suas atividades. Mais ainda, empresas
promoção e adoção de medidas que se concentram em gerenciar o Nessa linha de crescimento sustentável,
a Wal-Mart desenvolve uma série de
ações que beneficiam suas diferentes
partes interessadas. Segundo Neto,
a Wal-Mart se preocupa em melhorar
constantemente a qualidade de vida
no trabalho e a vida privada de seus
empregados contando, para isso, com
um plano de remuneração e participação
nos benefícios, um programa de
desenvolvimento profissional e uma
política que assegura a diversidade no
emprego, dentre outros.

Quanto ao meio ambiente, a empresa


exerce um controle rígido sobre seus
impactos ambientais diretos e indiretos

62 Sobre Responsabilidad Social de la Empresa


e desenvolve programas para otimizar aumento da fidelização de seus e reparar os danos quando não for
o uso de recursos naturais. Além disso, clientes, dentre outros. A Wal-Mart possível preveni-los.
se impôs metas exigentes em três também adota um programa de gestão
frentes, para melhorar a qualidade do de resíduos do qual participam, com a Por outro lado, em vista do grande
meio ambiente. No que se refere ao empresa, a cooperativa de catadores poder e da influência que exercem os
impacto ambiental, pretende trabalhar (ou recicladores informais, CAEC), líderes empresariais, é preciso trabalhar
com 100 por cento de energia os clientes, a prefeitura de Salvador no sentido de sensibilizá-los e
renovável e obter máquinas de (Bahia) e o terceiro setor. transformá-los por meio da educação
produção 25 por cento mais eficientes e do fornecimento de instrumentos
no prazo de sete anos e uma frota 25 De outro projeto denominado de gestão que melhorem sua eficiência
por cento mais eficiente nos próximos “Condomínio Digital” também e sua produtividade.
três anos. Com relação a resíduos, participam diferentes grupos da
propõe-se a obter “desperdício zero” sociedade tais como jovens, como Dada a magnitude da tarefa a ser
tendo, para tanto, definido a meta de grupo-alvo. Nesse caso, as empresas realizada tanto na área ambiental –
reduzir em 25 por cento os resíduos oferecem oportunidades a candidatos reduzir ou eliminar os impactos
sólidos em três anos. Finalmente, jovens em processos de seleção. Os contaminantes e depredadores - como
pretende vender somente produtos trabalhadores também se beneficiam na social – lutar contra a pobreza e as
que acompanhem essa linha no que desse programa, no qual 50 por cento desigualdades - e a incapacidade das
se refere ao uso de recursos e impacto das novas vagas são reservadas para instituições sociais (de caráter público
no meio ambiente; para tanto, sua meta seus familiares; e ,por último, o terceiro ou privado) de resolver o problema
é ter 20 por cento da cadeia de setor - as organizações da sociedade individualmente, é imprescindível que
fornecimento alinhada nos próximos civil de interesse público (OSCIP) - são se formem parcerias estratégicas entre
três anos. responsáveis pela direção e execução os diferentes atores sociais, tais como
do projeto. A infra-estrutura do projeto empresas, cidadãos e líderes políticos,
As relações da empresa com seus está a cargo da ONG do “Subúrbio para que juntos obtenhamos o
fornecedores se baseia na ética, Ferroviário”. desenvolvimento sustentável de
na integridade e na transparência na nossos povos.
construção de parcerias. Sua estratégia
está fundamentada na valorização de Comentários finais
produtores regionais e da agricultura
regional. Com o objetivo de Como resultado da atividade
profissionalizar os fornecedores e depredadora do homem, nosso planeta
garantir a seleção da produção, apresenta sinais alarmantes de
a empresa desenvolveu uma série de deterioração ambiental. Isso requer
iniciativas como “O Clube do Produtor” ação imediata, mas planejada e
e a ampliação da oferta de produtos concertada, na qual a união de forças
orgânicos e de comércio justo. Nessa entre os diferentes atores sociais
linha, foi criado um programa de apoio produza os impactos significativos
ao fornecedor regional, que está necessários. Vimos que a eco-eficiência,
refletido na expansão do mercado de como medida de conservação
consumidores, no fortalecimento das ambiental, é o primeiro passo para a
relações de médio e longo prazo com sustentabilidade, mas não é suficiente.
os fornecedores, na ampliação da É preciso prevenir e reduzir impactos
oferta para os consumidores e no ambientais e sociais negativos e mitigar

Sobre Responsabilidad Social de la Empresa 63


64 Sobre Responsabilidad Social de la Empresa
TERCEIRA RODADA DE SESSÕES PARALELAS

Sessão A: Impacto da RSE na Competitividade e no Desenvolvimento


Terça-feira, 12 de dezembro de 2006.

Pablo Frederick*
Foro Empresa

Este painel foi composto por Hugo Vergara, Gerente-Geral do Fórum Empresa; Alex
MacGillivray, Diretor de Programas da AccountAbility, Reino Unido; Arturo Condo,
Decano do Centro Latino-Americano para a Competitividade e o Desenvolvimento
Sustentável, do INCAE, Costa Rica, que abordaram o primeiro estudo. Antonio Corral,
Diretor de Área do IKEI, Espanha e Iñigo Isusi, Consultor Sênior do IKEI, apresentaram
o segundo estudo.

Introdução mercados internos, de tal forma que as e em sua qualidade de vida?”. “Podem
oportunidades e os serviços fluam para um país, uma região, instituições,
Neste painel foram apresentados dois os locais mais necessitados. população, etc., ser mais competitivos
estudos específicos: o Índice de por meio do comportamento
Competitividade Responsável, Considerando-se o tema central desta responsável de suas empresas?”.
elaborado pela AccountAbility, em IV Conferência Interamericana sobre
parceria com o INCAE e a Fundação RSE, cabe perguntar se a RSE é Hugo Vergara abriu o painel assinalando
Dom Cabral e a participação do Fórum verdadeiramente um bom negócio para que, a partir do momento em que
Empresa, e A Contribuição das todos. Em vista do avanço da análise e entendemos Responsabilidade Social
Empresas para os Objetivos do Milênio da aplicação de RSE por um número Empresarial como um modelo de gestão
na América Latina, desenvolvido pelo crescente de empresas na região e no para as empresas que conjuga variáveis
IKEI e o BID. mundo, podemos hoje assegurar que a econômicas, ambientais e sociais,
RSE é, sim, um bom negócio para as esta deveria ter um impacto na
O Presidente do Banco Interamericano empresas. Entretanto, estender esse sustentabilidade das sociedades nas
de Desenvolvimento, Luis Alberto benefício às sociedades, a partir de quais essas empresas desenvolvem
Moreno, destacou no discurso de uma perspectiva de sua competitividade, suas atividades.
abertura da V Conferência Interamericana requer instrumentos e práticas que
sobre RSE, o desafio que implica garantir devem ser analisados a partir de outra Entretanto, ele também afirmou que,
que a maioria alcance suas aspirações e perspectiva. Algumas perguntas que para que isso seja possível, é preciso
aproveite ao máximo seus talentos. surgem nesse sentido são, por exemplo, que as empresas compreendam que
Também falou sobre como podemos “Como as empresas responsáveis suas políticas de RSE devem estar
passar da macroeconomia para a podem impactar positivamente as alinhadas aos seus interesses e
microeconomia, a fim de aumentar a sociedades, em seu desenvolvimento objetivos, isto é, estar incorporadas às
amplitude e a profundidade dos social, em suas capacidades produtivas suas estratégias de negócios. Ações

* Pablo Frederick, Diretor Executivo do Projeto BID/FUMIN e OEA com Foro Empresa, foi o moderador dessa sessão.

Sobre Responsabilidad Social de la Empresa 65


enorme número de pessoas que Índice de competitividade
vivem abaixo da linha de pobreza, responsável
as carências em educação, saúde e
habitação geram contextos pouco A apresentação do Relatório de
competitivos. Nesses casos em que Competitividade Responsável foi iniciada
a sociedade sofre grandes carências, por Alex MacGillivray, que destacou a
as empresas não podem alcançar todo necessidade de reformulação dos
o seu potencial. mercados globais para gerar processos
de crescimento a partir das estratégias e
Para superar essas situações, explicou práticas das empresas, de forma que
Vergara, as políticas e práticas de seus impactos sociais, econômicos e
RSE devem ser orientadas a partir da ambientais se convertam em fatores de
perspectiva do negócio e, portanto, desenvolvimento. No escopo dessa idéia
suas estratégias devem procurar surge esse estudo, que pretende integrar,
melhorar a competitividade empresarial antes que contrapor, os dados obtidos na
e, por sua vez, impactar positivamente região sobre a competitividade de seus
o ambiente social em que operam. países, aos níveis de responsabilidade
Para se desenvolver, as empresas social de suas empresas. Trata-se de
necessitam de mercados competitivos. esclarecer a “zona cinzenta” que muitas
Práticas empresariais responsáveis não vezes aparece quando essas temáticas
apenas contribuem para melhorar as são abordadas e que estão vinculadas às
vantagens competitivas de seus perguntas formuladas no início.
negócios, mas também apóiam a
isoladas, dispersas e desagregadas não melhoria dos ambientes de negócios No marco do Relatório de
terão impacto no negócio, nem nos necessários para permitir que um país Competitividade Responsável
diferentes grupos de interesse que se conte com um capital interno que gere de 2005 fica claro, por um lado,
quer impactar de forma significativa e melhorias para a sociedade em geral. o reconhecimento de que a
sustentável no tempo. competitividade econômica é,
Finalmente, Hugo Vergara afirmou essencialmente, produto do esforço
Empresas bem sucedidas requerem que a competitividade nacional está humano, entendendo-se que o valor
sociedades igualmente bem sucedidas, fortemente ligada à existência de econômico está cada vez mais arraigado
com cidadãos saudáveis, formados, empresas socialmente responsáveis em ativos intangíveis como capital
com certo poder aquisitivo, etc. Uma e não a empresas com programas de intelectual, gestão do conhecimento,
empresa competitiva e responsável RSE que não estão convencidas dos marcas, compromisso no trabalho,
necessita de ambientes favoráveis impactos positivos que estas práticas criatividade e relações. Nesse sentido,
para o desenvolvimento bem sucedido têm em sua competitividade. a produtividade está estreitamente
de suas estratégias de negócios. Infelizmente, essas empresas atuam relacionada com a valorização social do
Isso significa que as empresas precisam de forma reativa (e não proativa) diante processo de produção, mais do que
se desenvolver em ambientes que da necessidade de participar desse com normas puramente técnicas ou
favoreçam seu crescimento e sua mercado, sem que isso signifique custos decorrentes da disponibilidade
inovação, que não se restrinjam ao seu claramente mudanças em seus de insumos. Nesse contexto, é evidente
desenvolvimento natural com políticas negócios e em sua competitividade. que o comportamento socialmente
mal direcionadas. Lamentavelmente, responsável das empresas terá um
na América Latina, considerando-se o impacto crescente.

66 Sobre Responsabilidad Social de la Empresa


Por outro lado, entende-se 5. Fortalecer a capacidade dos No âmbito da região, embora se possam
competitividade responsável como a investidores. observar diferenças entre a avaliação
integração de metas e resultados 6. Sensibilizar as regras de comércio, dos três componentes, os países com
sociais e ambientais ao próprio cerne investimento e concorrência. melhores posições no ranking do INRE
da competitividade. Trata-se de 7. Alinhar as normas de responsabilidade são Chile (29), Costa Rica (32) e Brasil (37),
melhorar a produtividade por meio da às oportunidades de competitividade. num primeiro grupo. Jamaica (44),
reformulação de estratégias e práticas Trinidad e Tobago (46), Panamá (47), El
de negócios e do contexto no qual Arturo Condo, por sua vez, Salvador (50), Uruguai (51) e México (54)
operam as empresas, para levar em apresentou uma análise do Índice de constituem um grupo intermediário. O
conta seus impactos sociais, Competitividade Responsável (ICR), restante encontra-se numa posição de
econômicos e ambientais. composto pelo Índice de real fragilidade em relação à avaliação
Competitividade de Crescimento (ICC) do índice.
Dessa forma, é necessário avaliar esses (elaborado pelo World Economic Forum)
impactos (geração do ICR), por meio e o Índice Nacional de Responsabilidade Mas o aspecto central da análise desse
da incorporação do Índice Nacional Empresarial (INRE), e os resultados de sua índice, sem dúvida, é observar as
de Responsabilidade Empresarial (INRE, avaliação na região. O INRE incorpora ao mudanças que se produzem ao
desenvolvido pela AccountAbility e pela ICR a dimensão da RSE por meio de: incorporar o INRE ao ICC do WEF.
Fundação Dom Cabral) ao Índice de Nesse caso, embora se mantenha a
Competitividade de Crescimento do • Componente interno: governança tendência geral, também se produzem
World Economic Forum (WEF). O Índice corporativa, práticas éticas e mudanças negativas e positivas.
de Competitividade de Crescimento do desenvolvimento de capital humano. Dentre os primeiros se destacam
WEF inclui em sua estrutura variáveis • Componente externo: organização e o Chile, que se mantém em primeiro
associadas a três aspectos: a) ambiente dimensão da sociedade civil. lugar, mas cai do 18º (ICC) para o 24º
macroeconômico; b) Instituições • Gestão e administração ambiental: (ICR) lugar; o Uruguai, do 44º para o
Públicas; e c) Tecnologia que nos rigor das regulamentações, assinatura 54º; da Colômbia, do 47º para o 56º;
permita, como veremos mais adiante e ratificação de tratados, uso de e a Argentina, do 58º para o 67º.
ao analisar as posições dos países, combustíveis fósseis, empresas Entretanto, alguns outros países
estabelecer uma correlação entre os certificadas em ISO 14001. subiram de posição ao incorporar ao
resultados obtidos em cada um desses
índices e analisar o que ocorre com a
competitividade ao agregarmos essas
novas variáveis.

Alguns dos elementos a serem


considerados para obter a
Competitividade Responsável, segundo
MacGillivray, são:

1. Responsabilidade corporativa alinhada


à estratégia.
2. Colaboração para elevar o nível geral.
3. Um enfoque setorial.
4. Estratégias nacionais, regionais, de
clusters (grupos empresariais) e locais.

Sobre Responsabilidad Social de la Empresa 67


índice de competitividade do WEF as podemos qualificar como insuficiente. urgência dos problemas sociais e
variáveis de RSE próprias do INRE. Esse é Embora em alguns países se observem econômicos da região exigem, cada vez
o caso da Costa Rica, que subiu da 51ª avanços na erradicação da pobreza mais, uma participação ativa do setor
(ICC) para a 41ª (ICR) posição; do México extrema e da fome, há algumas metas privado no desenvolvimento.
(da 45ª para a 43ª) e do Brasil (da 53ª para específicas que se vislumbram alcançáveis
a 49ª). no médio prazo, como é o caso da Seguindo a linha do palestrante que o
igualdade de gênero na educação e a precedeu, Corral destacou que para as
Uma análise do ICR de 2005 para os redução da mortalidade infantil. Outros empresas privadas há uma série de
países da região, segundo Arturo Condo, assuntos como a criação deficiente de vantagens no que se refere à obtenção
permite estabelecer certas relações entre empregos e sua precariedade, ou a de metas macro: os ODM favorecem
aspectos próprios de um desenvolvimento grave degradação do meio ambiente, a criação de um ambiente robusto e
empresarial responsável e seu impacto não nos permitem ser muito otimistas sólido para fazer negócios, eliminam
positivo na competitividade dos países, no que se refere á consecução dos parcialmente os riscos inerentes à
por meio de variáveis como educação, objetivos, de suas metas e de seus atividade empresarial e favorecem novas
saúde, conectividade tecnológica, ou seja, indicadores específicos. oportunidades de desenvolvimento
todos os aspectos da assim chamada empresarial.
“plataforma competitiva”. As empresas Esses objetivos associados a metas, a
podem produzir um impacto positivo na serem alcançados até 2015 são: Foi nesse marco que se realizou a
competitividade de suas sociedades, pesquisa encomendada pelo BID e
seja pelo estabelecimento de um marco 1. Erradicar a fome e a pobreza apresentada neste painel por Iñigo Isusi.
de eficácia operacional, ou pelo 2. Educação básica universal O resultado da pesquisa foi o livro “
posicionamento de um modo de fazer 3. Igualdade de Gênero A Contribuição das Empresas para os
negócios alinhado a práticas socialmente 4. Reduzir a mortalidade infantil Objetivos do Milênio na América Latina”,
responsáveis. Finalmente, o uso 5. Melhorar a saúde materna que pretende analisar o aporte das
responsável (e sustentável) dos recursos 6. Combater a AIDS e outras doenças empresas de alguns clusters produtivos
produtivos, dentre esses os humanos 7. Sustentabilidade e Meio Ambiente e que estão, direta ou indiretamente,
e os ambientais, redundará em maior 8. Associação Mundial para o contribuindo para a consecução dessas
competitividade para todo o país. Não é Desenvolvimento. metas, a fim de melhorar os padrões
por acaso que se pode estabelecer uma sociais da região. Por outro lado, o estudo
correlação muito próxima entre os países Um dos problemas detectados é que as faz algumas recomendações para poder
da região com melhor INRE e maior PIB. metas excedem as capacidades dos alinhar as atividades das empresas aos
governos para cumpri-las, o que obriga ODM e obter um maior impacto.
a incorporação de outros atores da
A contribuição das empresas para sociedade, como o setor privado, para Para analisar as atividades e o eventual
a consecução dos objetivos de sua consecução. Embora seja certo que impacto nos ODM, foram selecionados
desenvolvimento do milênio o compromisso com os Objetivos de quatro clusters empresariais na América
Desenvolvimento do Milênio tenha sido Latina, tais como o cluster industrial
Para introduzir-nos nesse tema, Antonio assumido pelos Governos no marco de metal-mecânico e metalúrgico de
Corral iniciou sua exposição apresentando uma Cúpula de Estados (A Cúpula do Campana, na Argentina, o cluster de
um balanço geral entre os 8 Objetivos Milênio de setembro de 2000), fica cada calçados Vale do Rio dos Sinos/Vale d
de Desenvolvimento do Milênio (ODM), vez mais evidente que o cumprimento o Paranhana, no Brasil, o cluster de
estabelecidos pelas Nações Unidas e desses objetivos requer parcerias mineração de Antofagasta, no Chile
outros atores, e sua situação nos países produtivas entre o setor público e o e o cluster têxtil e de confecção em
da região, que em termos gerais setor privado. A complexidade e a São Salvador (El Salvador).

68 Sobre Responsabilidad Social de la Empresa


Após uma análise detalhada de cada um estruturas conjuntas e planos globais fomento e desenvolvimento produtivo,
dos oito objetivos, o estudo conclui que (especialmente na Argentina e no Chile). já que estas permitem gerar estruturas
os temas mais abordados pelos clusters econômicas mais diversificadas.
estudados são aqueles relacionados Os principais pontos fortes levantados As cadeias de valor são vistas como
com pobreza e fome (casos do Chile e pelo estudo estão associados a parcerias e elementos importantes onde as empresas
do Brasil). Nesses casos, destacam-se articulações entre o setor público, o setor mobilizadoras devem incrementar seus
atividades como apoio a cantinas para privado e organizações da sociedade civil, esforços de cooperação com seus
crianças de rua; assistência alimentar a bem como o chamado “efeito trator” fornecedores e prestadores de serviços,
famílias carentes; desenvolvimento de das grandes empresas junto aos seus para melhorar o desempenho em RSE.
hortas familiares; criação de empregos fornecedores e prestadores de serviços Um grande desafio a ser enfrentado é a
entre grupos de baixa renda; apoio a (i.e., os clusters argentino e chileno). mensuração e avaliação das diversas
produtores locais; apoio a iniciativas Como pontos fracos o estudo destaca as ações desenvolvidas e a realização de
empresariais de setores pobres; dificuldades decorrentes da crescente atividades de comunicação e informação
voluntariado social entre trabalhadores; pressão competitiva, o desenvolvimento (transparência e prestação de contas).
e fundos solidários para iniciativas insuficiente de atividades de avaliação e
comunitárias ou associativas de controle de ações sociais/ambientais
desenvolvimento social. implementadas e a falta de atenção das Comentários finais
empresas às atividades de comunicação/
No acesso à educação e aprimoramento informação da temática social. Como foi mencionado no início, o desafio,
de sua qualidade (caso da Argentina), no caso do desenvolvimento da RSE,
destacam-se atividades como Finalmente, Isusi expôs as principais é passar do micro para o macro.
fornecimento de utensílios e vestuário; recomendações do estudo, dentre as Compreender definitivamente que as
infra-estrutura e cessão de instalações; quais se incluem potencializar a empresas fazem parte da sociedade em
apoio de bolsas de estudo e orientação integração de empresas no tecido não que atuam e que sua forma de fazer
vocacional de jovens; capacitação de apenas produtivo, mas também social da negócios tem um impacto crescente no
pessoal docente; apoio a ONGs do tipo comunidade. Cabe ainda destacar a desenvolvimento de seu ambiente. Para
técnico; e parceria com o setor público grande importância da participação dos tanto, foram criados alguns indicadores
em projetos educacionais. atores locais como fator essencial de que buscam integrar esses aspectos,
sustentabilidade das iniciativas e a elaborados com base em casos estudados
Por outro lado, os clusters menos necessidade de direcionar atividades para em países da região.
implementados são os de o fortalecimento do capital humano em
sustentabilidade e meio ambiente, com populações de risco. Sem dúvida, aparece Embora seja indiscutível que as
exceção do chileno e do de igualdade com força a necessidade de ações de apresentações deste painel estavam
de gênero, embora caiba destacar longo prazo que sejam sustentáveis e não claramente diferenciadas, todos os
algumas atividades de apoio voltadas assistencialistas. Um assunto que parece palestrantes abordaram temas
para a mulher e que buscam uma maior necessário abordar é a divulgação do contingentes na América Latina, como a
igualdade no caso do setor têxtil e de conhecimento e de informações sobre os pobreza, as instabilidades políticas,
confecção em El Salvador. ODM no meio empresarial. As parcerias a corrupção, situações que condicionam
devem ser fomentadas, junto com a os ambientes nos quais se desenvolve
Entre as principais contribuições dos formação de articulações explícitas entre a atividade empresarial e as reais
clusters figuram um catálogo amplo de o setor público, o setor privado e as possibilidades de impactar o
atividades desenvolvidas, sua grande organizações da sociedade civil, em desenvolvimento das sociedades.
capacidade de influência em suas particular no caso das comunidades mais
comunidades regionais e a presença de pobres. É preciso apoiar ações de

Sobre Responsabilidad Social de la Empresa 69


70 Sobre Responsabilidad Social de la Empresa
TERCEIRA RODADA DE SESSÕES PARALELAS

Sessão B: Perspectivas de diferentes setores sobre alianças


multisetoriais
Terça-feira, 12 de dezembro 2006

Agnieszka Rawa*
Environmental Resources Management (ERM)

Este painel foi composto por Vivian Smith, da Equipe de Desenvolvimento Sustentável
da ERM, São Paulo, Brasil, que também atuou como co-moderadora da sessão; Maria
Amalia Souza, Co-fundadora e Diretora do Centro de Apoio Sócio-Ambiental (CASA),
Brasil; Ana Paula Carvalho, do Departamento de Responsabilidade Social da
Petrobrás, Brasil; e André Guimarães, Diretor do Instituto BioAtlântica (IBio), Brasil.

Introdução Entretanto, a criação de parcerias Os fatores ambientais e socioeconômicos


duradouras e bem sucedidas não está associados ao desenvolvimento são
Em uma era de crescentes e complexos isenta de obstáculos e desafios. muito complexos e estão inter-
desafios ambientais e socioeconômicos O objetivo desta sessão foi extrair relacionados. Conseqüentemente,
interconectados e associados ao experiências valiosas de um grupo não é possível abordar esses problemas
desenvolvimento, as associações diversificado de profissionais que complexos de forma isolada. Em vez
multissetoriais representam um enfoque representam os setores público, disso, é cada vez mais importante a busca
promissor para o desenvolvimento privado e sem fins lucrativos, de diálogos multissetoriais, colaborações
sustentável. Essas parcerias podem ser para ilustrar exemplos de parcerias e parcerias, para os quais esta sessão
eficazes na construção de coesão social e ressaltar os desafios identificados deseja contribuir.
e institucional e no desenvolvimento e as lições aprendidas.
de capacidades, gerindo recursos Vivian Smith, da ERM, explicou o papel
ambientais e promovendo o A sessão foi concebida pensando-se e o enfoque das parcerias multissetoriais.
crescimento econômico. As parcerias em maximizar a oportunidade de A empresa considera as parcerias o
podem também otimizar benefícios diálogo com a platéia. Nesta sessão grau de compromisso mais avançado
potenciais de desenvolvimento no havia representantes do setor público, que uma organização e suas partes
longo prazo, promovendo a co- do setor privado e da sociedade civil interessadas podem alcançar num
responsabilidade entre os diferentes que, não faz muito tempo, teria sido espectro de possíveis interações.
setores da sociedade, compartilhando muito difícil reunir numa mesma sala. Em um extremo desse espectro
habilidades e recursos, alavancando Entretanto, essa é a prova de que as encontramos as reuniões e consultas
aquelas áreas nas quais se tem parcerias são objeto de interesse de de mais curto prazo; no outro,
maior conhecimento e experiência, todos os setores e geram diálogo, as colaborações, as parcerias e
e progredindo na direção de um objetivo além de um grande número de ações as associações.
comum de desenvolvimento sustentável. muito produtivas.

* Agnieszka Rawa, Gerente de Projetos e Especialista em Desenvolvimento Sustentável de Environmental Resources Management (ERM), foi também uma palestrante dessa
sessão.

Sobre Responsabilidad Social de la Empresa 71


acesso ao desenvolvimento de
capacidades sejam canalizados para as
organizações de desenvolvimento de
base - naqueles níveis que estão
tipicamente excluídos dos diálogos
intersetoriais e dos ciclos de tomada
de decisão associados aos projetos
de desenvolvimento, devido,
fundamentalmente, à falta de recursos,
capacidade ou acesso à informação.

A CASA busca preencher esse vazio


“empoderando” esses níveis da
sociedade civil com difícil acesso aos
recursos, apoiando-os na execução de
suas estratégias de coesão consistentes
com suas outras agendas locais, e
Smith enfatizou que cada nível de mencionou o processo histórico conectando-os aos recursos disponíveis.
compromisso com as partes interessadas pelo qual os temas ambientais e Por meio da participação de um conjunto
tem um papel e um propósito que socioeconômicos se desenvolveram de assessores especialistas, com mais de
requerem uma compreensão significativa, no Brasil. Como parte dessa conta 20 anos de experiência, a CASA também
confiança e tempo para avançar histórica, destacou a importância da é capaz de garantir programas que se
gradativamente de um extremo do criação de redes e parcerias para o beneficiam das experiências de longo
espectro ao outro. Também destacou “empoderamento” de ONGs, prazo, para assegurar que as realidades
que as parcerias nem sempre são bem como de outras organizações de locais estejam integradas, os resultados
apropriadas para uma situação particular desenvolvimento de base. Souza citou sejam otimizados e o valor dos recursos
e que muitas organizações podem vários exemplos de redes na sociedade maximizado.
considerar compromisso intermediário civil, tais como o Fórum Brasileiro de
suficiente. Finalmente, Vivian Smith ONGs e os Movimentos Sociais para o Amália Souza destacou um exemplo no
ressaltou que a ERM apóia seus clientes Meio Ambiente e o Desenvolvimento qual alguns projetos, como o de usinas
na avaliação de diferentes tipos de Sustentável, que congregam associações hidrelétricas, nem sempre fornecem
possíveis interações, selecionando comunitárias, de povos indígenas, informações suficientes às comunidades
e implementando as que são associações locais, sindicatos, etc., e organizações que poderiam ser
estrategicamente apropriadas, com base os quais, ao longo da década de 1990, afetadas por esses projetos. Nesse
na natureza e complexidade da situação, contribuíram para o processo de contexto, a CASA pode ajudar a
no nível de compromisso existente e nos desenvolvimento de capacidades desenvolver capacidades entre as
recursos e tempo disponíveis. organizacionais em vários níveis, capazes organizações locais (por exemplo,
de influir nas políticas públicas e de ONGs locais, líderes comunitários ou
promover o conhecimento nas áreas de universidades) e apoiá-las com os
A perspectiva da comunidade local justiça social e ambiental. recursos necessários para que
e das ONGs participem de forma significativa do
Nesse contexto, Amália apresentou a processo de consulta que pode
Amália Souza, co-fundadora do Centro CASA12 como uma organização cujo influenciar o desenvolvimento final
de Apoio Sócio-ambiental (CASA), papel é assegurar que os recursos e o e as decisões de projetos.

12 www.casa.org

72 Sobre Responsabilidad Social de la Empresa


Amália também explicou que a CASA Vida” (“Forests for Life”) - uma parceria
obteve fundos dos Estados Unidos concebida para apoiar a conservação
e da Europa ajudando organizações de duas bacias hidrográficas importantes
financeiras a chegar até as organizações - Santa Maria e Jucu, no estado do
de base no Brasil. A palestrante concluiu Espírito Santo, sudeste do país. Essas
sua apresentação enfatizando que sua duas bacias juntas suprem 60 por cento
instituição apóia projetos e iniciativas das necessidades de água do estado.
que contribuem para a implementação O palestrante também descreveu o
de ações associadas à democracia e a contexto de fragilidade ambiental no
processos participativos. qual o projeto está sendo implementado,
visto que a área inclui uma grande
fragmentação do habitat, altos níveis
A perspectiva de uma ONG dedicada de sedimentação e custos cada vez
à conservação ambiental maiores de tratamento da água.
Ao mesmo tempo, inclui uma cidade
André Guimarães explicou que o que está crescendo, Vitória, a capital do
Instituto BioAtlântica13 é uma joint estado, com uma população de mais
venture que inclui duas ONGs de 1,5 milhão de habitantes e grande
internacionais (Conservation International atividade industrial, que depende
e Nature Conservancy) e cinco empresas diretamente da disponibilidade
brasileiras: Aracruz, Veracel, Petrobrás, de água para continuar crescendo.
Dupont e Furnas. O BioAtlântica O desenvolvimento sustentável
promove o desenvolvimento de parcerias depende, portanto, de esforços
entre o setor privado e outras partes apropriados de conservação, que
interessadas na implementação projetos assegurarão um abastecimento de
de conservação que preservem a Mata água no longo prazo.
Atlântica. O Instituto BioAtlântica trabalha
de forma integrada com várias partes Nesse contexto, o Instituto BioAtlântica
interessadas, envolvendo-as, conforme busca envolver no processo de
necessário, em diferentes aspectos de conservação organizações do setor
conservação da Mata. privado e outras partes interessadas
como o governo estadual, o governo
Durante sua apresentação, Guimarães local, ONGs, agricultores, empresas e
explicou que, historicamente, a Mata agências de turismo. Guimarães
Atlântica representava 18 por cento do explicou que os interesses específicos
território nacional; hoje representa de algumas partes em relação à água
menos de 7 por cento. Ao mesmo variam. O governo quer contribuir para
tempo, aproximadamente 80 por cento o desenvolvimento; as ONGs buscam a
do Produto Interno Bruto (PIB) estão conservação da biodiversidade e o
concentrados em áreas onde reflorestamento; os agricultores estão
anteriormente havia matas. interessados em incentivos e créditos;
e as indústrias estão interessados num
Guimarães descreveu um dos projetos abastecimento regular de água.
do BioAtlântica - “Florestas para Toda a

13 www.bioatlantica.org.br

Sobre Responsabilidad Social de la Empresa 73


O desafio, e por sua vez a oportunidade, representam uma missão comum com partes interessadas e explicou que uma
é identificar um interesse comum os outros parceiros potenciais (nesse empresa que valoriza seus públicos
entre esses grupos e um objetivo que caso governo e setor privado). Ao mesmo interessados tem grande probabilidade
promova sua colaboração. No caso tempo, o setor público e o setor privado de expandir sua atividade na área de
particular descrito por André Guimarães, deveriam firmar parcerias com as responsabilidade e investimento social.
o elemento comum entre esses grupos ONGs, reconhecendo a experiência, Ela assinalou que o mapa de partes
é a disponibilidade de água e a o conhecimento e o papel que estas interessadas da Petrobrás congrega
conservação baseada nas necessidades representam para a consecução do sociedade civil, clientes, comunidades
de recuperação florestal e na solução objetivo comum de conservação e próximas, fornecedores, governos,
de problemas ambientais como erosão desenvolvimento sustentável. acionistas e imprensa, e inclui os
ou sedimentação excessiva, que podem objetivos de atividades específicas para
ser mitigados com uma boa gestão dos expandir as atividades que demonstrem
recursos hídricos e que também A perspectiva do setor privado compromisso com todos eles, como, por
asseguram o desenvolvimento exemplo, atividades de inclusão social e
econômico da região. Ana Paula Carvalho é coordenadora luta contra a desigualdade.
de RSE da Petrobrás14 e também
Guimarães concluiu explicando que a responsável pela publicação do relatório Segundo Ana Paula, antes de 2003 o
lição mais importante aprendida como anual de desempenho social e ambiental investimento social era significativamente
parte do projeto “Floresta para Toda a da empresa. Ana Paula explicou que a menor e não estava estrategicamente
Vida” foi a percepção de que as ONGs visão e a missão da Petrobras destacam integrado às atividades cotidianas da
precisam ser criativas para combinar os a importância que a empresa atribui empresa. o mesmo tempo, 70 por cento
objetivos particulares de seus projetos, ao desenvolvimento sustentável. dos investimentos eram financiados
enfatizando aqueles elementos que Recordou à platéia a definição de unicamente pela Petrobrás e dependiam
do apoio contínuo da empresa. A partir
de 2003, a empresa implementou
programas de colaboração, como o
Petrobrás Fome Zero, que se apóiam
em parcerias multissetoriais para sua
implementação e estão estruturados em
torno de projetos específicos nas áreas
de educação, desenvolvimento de
capacidades e atividades produtivas.
A participação de outras partes fortaleceu
essas iniciativas, tornando-as mais
sustentáveis. Atualmente, esse programa
beneficia mais de 4 milhões de pessoas e
se baseia em investimentos de cerca de
R$ 300 milhões.

Ana Paula também explicou que a


Petrobrás tem vários projetos de
investimento ambiental, concebidos
para preservar a biodiversidade e os
recursos hídricos. A empresa apóia

14 www.petrobras.com.br

74 Sobre Responsabilidad Social de la Empresa


aproximadamente 60 projetos que
totalizam cerca de R$ 80 milhões.
A palestrante concluiu sua apresentação
explicando que a Petrobrás compartilha
suas lições aprendidas e melhores
práticas, participando de vários comitês
nacionais e internacionais voltados para
a responsabilidade social e ambiental,
inclusive iniciativas como o Pacto
Mundial das Nações Unidas e a Global
Reporting Initiative (GRI).

Perguntas e respostas
Comentários finais As parcerias deveriam procurar
Nesta parte da sessão, a platéia complementar - e não substituir -
compartilhou suas experiências com Em relação às parcerias multissetoriais, o papel dos governos. É importante
parcerias multissetoriais. Um comentário podemos dizer que estas são definir claramente os papéis e as
girou em torno da necessidade de meramente um dos muitos tipos de responsabilidades, a fim de otimizar
conceder tempo suficiente para consultas interação possíveis; nem sempre são recursos, evitar possíveis mal-
às partes interessadas, de modo que os a solução correta para abordar o entendidos e problemas futuros.
projetos que são implementados sejam tema de desenvolvimento sustentável. Também é necessário garantir a
abordados de forma conveniente. O planejamento de qualquer parceria contribuição eqüitativa de recursos
Um participante comentou que se as que se queira estabelecer deve começar por parte dos parceiros, de modo que
empresas do setor privado rapidamente e com uma atitude todos se sintam responsáveis pelo
compartilhassem seus planos de definitivamente proativa, mais do processo e tenham legitimidade para
desenvolvimento estratégico com as que reativa. Quando as parcerias são usufruir dos resultados da parceria.
pessoas afetadas e as comunidades, consideradas precocemente, há tempo
estas poderiam reagir adequadamente e para explorar interesses comuns, Os parceiros devem ser flexíveis e
se adaptar aos impactos potenciais e aos papéis e competências de cada uma tolerantes com as diferenças de
efeitos eventualmente produzidos. das partes envolvidas. terminologia, os processos
administrativos, os horizontes
Outro comentário foi a necessidade de Os interesses dos diferentes parceiros temporais, etc. entre os diferentes
cautela, uma vez pode haver interesses deveriam ser cuidadosamente setores. A liderança é vital, já que nem
muito distintos entre as multinacionais, avaliados, para assegurar que sejam todas as partes têm motivos para estar,
as ONGs e as comunidades. Além disso, entendidos, que tenham objetivos em princípio, comprometidas da
buscou-se evidenciar a relevância das comuns compreensíveis e que levem mesma forma. Finalmente, as parcerias
pequenas e médias empresas que ainda ao máximo possível. A participação dependem da confiança; é, portanto,
podem divergir dos demais atores, da comunidade deveria ser estruturada crucial, respeitar o tempo na
uma vez que se trata de empresas em torno das atividades familiares construção de colaborações de longo
com uma esfera de atuação geralmente que contribuem diretamente para os prazo, sobretudo quando estas
local, motivo pelo qual estão mais benefícios locais e a realidade local. envolvem vários setores.
bem alinhadas nesse contexto.

Sobre Responsabilidad Social de la Empresa 75


76 Sobre Responsabilidad Social de la Empresa
TERCEIRA RODADA DE SESSÕES PARALELAS

Sessão C: O papel do setor privado na capacitação de instituições


governamentais e da sociedade civil
Terça-feira, 12 de dezembro de 2006

Equipe de relatores

Esta sessão foi apresentada por Tobias Webb, editor da Ethical Corporation Magazine
e diretor do Ethical Corporation Institute, Reino Unido.

Segundo Tobias Webb, o Ethical que poderia ser definido como Essencialmente, governança diz
Corporation Institute (ECI) está “contribuições para uma melhor respeito ao nível macro, ou seja,
conduzindo uma pesquisa sobre as governança”, vem ganhando espaço e à forma como um quadro de referência
contribuições do setor privado na atenção. Naturalmente, a atuação das cujo objetivo é garantir os interesses
capacitação de instituições em países empresas, como atores políticos, nacionais é mantido e aprimorado.
em desenvolvimento, com lançamento produz resultados positivos e negativos Nesse sentido, melhor governança
previsto para julho de 2007. Embora na e pode-se deduzir que todos eles significa dispor de instituições que
data de realização desta sessão o acabam tendo algum tipo de impacto funcionem bem, geralmente
estudo ainda não houvesse sido na governança. O lado negativo está independentes e apolíticas, tais como
concluído, já trouxe à luz alguns fatos estreitamente relacionado com o exército, a polícia, o poder judiciário,
interessantes e suscitou algumas vantagens obtidas de forma desleal e os órgãos de arrecadação fiscal e os
perguntas e fragilidades do processo com influências exercidas sobre as sistemas de educação e saúde.
para debate. instâncias políticas e de
regulamentação. Mas qual seriam, É justamente nas áreas de segurança,
Quando se fala de responsabilidade então, as contribuições com impacto direitos humanos, saúde, arrecadação
social empresarial (RSE), uma das positivo na governança? de impostos e desenvolvimento
primeiras constatações é que o termo comunitário que, em vários países,
tem diferentes acepções, dependendo Como ponto de partida, Tobias Webb as grandes empresas começam a
de quem o utiliza e de onde é utilizado propôs a seguinte definição para assumir algumas responsabilidades.
– se nos Estados Unidos, na China, governança: “o uso de instituições, Durante muito tempo, as empresas
no Reino Unido, na Colômbia, na África de estruturas de autoridade, e de consideraram que essa função deveria
do Sul ou no Camboja. A proposição colaboração, com a finalidade de alocar ser desempenhada pelos Estados;
colocada por Tobias, respaldada na recursos e coordenar ou controlar no entanto, como isso não ocorria
pesquisa que vem sendo conduzida atividades na sociedade ou na com freqüência, decidiram começar
pelo ECI, é de que atualmente um novo economia”. a contribuir – no início, sem muito
aspecto da responsabilidade social, planejamento e estratégia. Hoje,

Sobre Responsabilidad Social de la Empresa 77


iniciativas desse tipo fazem parte das Foram contratados advogados e BP no Azerbaijão
práticas de RSE de muitas empresas. especialistas internacionais para
Entretanto, são iniciativas que às vezes participar das oficinas, com o objetivo Devido à recente construção e entrada
falham por terem um horizonte de curto de desenvolver um sistema amplo e em funcionamento do oleoduto de
prazo e não levarem em conta certas integrado de capacitação de servidores Baku-Tblisi-Ceyhan (TBC), o país acaba
deficiências mais sistêmicas e estruturais, públicos. Em 2002, a Premier Oil de se tornar um petro-Estado e deverá
presentes no ambiente institucional vendeu seus ativos na Birmânia, receber cerca de um bilhão de dólares
onde as empresas operam. mas continuou envolvida nesses até 2030, prazo estimado para a
assuntos de direitos humanos até 2003. operação do oleoduto. A BP reconhece
Por essa razão, algumas grandes Infelizmente, o governo reformista foi a magnitude de seu impacto na
empresas - coletiva ou individualmente deposto em 2004 por um general, economia do Estado e entende que
- passaram a usar seu poder financeiro, e o regime voltou à tirania anterior, cabe ao próprio país identificar formas
sua competência na gestão de projetos produzindo um grande impacto que legítimas para minimizar, tanto quanto
e sua influência junto aos governos redundou na descontinuidade da possível, os impactos negativos e
para enfrentar problemas de maneira ação devido à instabilidade política ampliar os impactos positivos.
mais enfocada, por meio do do governo.
fortalecimento de instituições locais. A empresa tem incentivado o governo
a participar da Iniciativa para a
Tobias Webb citou como exemplo Statoil, na Nigéria e Venezuela Transparência das Indústrias Extrativas
quatro casos recentes de empresas que (Extractive Industry Transparency
optaram por intervir no nível macro da Na Venezuela, a Statoil financia, desde Initiative - EITI), além de financiar
governança: 1) Premier Oil, na Birmânia; 1999, um programa de capacitação em iniciativas externas nessa área como,
2) Statoil, na Nigéria e Venezuela; 3) BP, direitos humanos destinado a pessoas por exemplo, o novo Centro para
no Azerbaijão; 4) Unilever, British que ocupam cargos importantes no Análise das Economias Ricas em
American Tobacco (BAT) e outras, sistema judiciário do país. O programa - Recursos, com sede em Oxford,
na África. uma iniciativa do Programa das Nações no Reino Unido.
Unidas para o Desenvolvimento (PNUD)
– visa a implementar ações para corrigir As equipes de economistas e
Premier Oil, na Birmânia deficiências no sistema jurídico da especialistas externos contratados pela
Venezuela. A meta do programa é BP têm intensificado o treinamento e
A empresa operava em um país onde treinar até 1.200 juízes e 200 defensores apresentado sugestões ao governo
ocorriam sérias violações dos direitos públicos, que deverão atuar como local, com o objetivo de assisti-lo na
humanos e decidiu participar ativamente, multiplicadores do conteúdo, tornando gestão dessa nova fonte de riqueza, na
junto ao governo local, em prol de o programa auto-sustentável. melhor alocação possível dos recursos
questões relativas aos direitos humanos arrecadados, na gestão de políticas
e ao cumprimento das convenções das Esse programa é desenvolvido em macroeconômicas e na diversificação
Nações Unidas sobre o tema. Atuando parceria com organizações locais e da economia.
como organizadora e intermediária, internacionais como a Anistia
a Premier Oil promoveu uma série de Internacional e o Departamento
nove seminários e oficinas de Governamental Venezuelano Business Action for Africa –
capacitação, dos quais participaram responsável pela nomeação e Unilever y BAT, na África
cerca de 250 integrantes do exército, capacitação de juízes. O programa
da polícia, de vários ministérios e de serviu de referência para uma iniciativa A existência de práticas alfandegárias
outras organizações governamentais. similar, iniciada na Nigéria em 2002. extremamente lentas, burocráticas e

78 Sobre Responsabilidad Social de la Empresa


corruptas na África representa uma aspectos cruciais para o desenvolvimento Outro aspecto igualmente importante
barreira significativa para o comércio e de um país, uma vez que os benefícios é promover a participação permanente
o desenvolvimento. A própria Comissão podem ser facilmente disseminados e de especialistas, ONGs e outros grupos
pela África recomenda enfaticamente a institucionalizados por meio de estruturas da sociedade civil, que podem ser
reforma das legislações e dos órgãos permanentes (judiciário, alfândega, forças capacitados em conjunto, estimulando-
aduaneiros, como forma de estimular o de segurança, arrecadação fiscal, etc.). se, sempre, o monitoramento e a
comércio e o desenvolvimento da região. prestação de contas de toda e qualquer
Por outro lado, há riscos e ambigüidades iniciativa do setor privado destinada
A Ação Empresarial para a Melhoria da envolvidos no desempenho desses ao fortalecimento de instituições
Administração Alfandegária na África - tipos de papel por parte das empresas governamentais.
da qual fazem parte a Unilever, a BAT, privadas. Um deles é a possibilidade de
a Diageo e outras empresas - tem que as empresas usem sua influência
produzido estudos que visam a acelerar institucional para promover seus
a reforma para uma maior capacitação próprios interesses. Outra questão
e melhoria dos trâmites alfandegários. complexa está associada à delimitação
O grupo sugere que empresas com do papel e das atribuições em cada
um histórico positivo de pagamento esfera de atuação. Onde deve terminar
de impostos e liberação alfandegária a responsabilidade da iniciativa
recebam um tratamento mais ágil. privada? A falta de experiência de
Um grupo específico se encarrega de alguns governos também pode ser
identificar as etapas necessárias e as um problema.
medidas práticas a serem adotadas
para o avanço do projeto, previsto A solução para as armadilhas e
inicialmente para o Quênia, a Tanzânia dificuldades mencionadas acima,
e Uganda. segundo Webb, devem ser a
transparência e o escrutínio público,
fatores fundamentais para que se
Comentários finais conquiste e mantenha a legitimidade
dos projetos.
Para concluir, Tobias Webb ressaltou a
importância de ações semelhantes às
dos exemplos relatados, que têm
grande potencial para melhorar as
práticas de governança nos países em
desenvolvimento. Enquanto em alguns
casos os Estados não necessitam de
estímulos para agir, em outros há uma
demanda clara e explícita dos governos
no sentido de que a iniciativa privada
os auxilie a aperfeiçoar práticas e
estruturas institucionais. Ao aceitar essa
tarefa, as empresas podem exercer um
impacto positivo e muito forte nesses
países, centrado em determinados

Sobre Responsabilidad Social de la Empresa 79


80 Sobre Responsabilidad Social de la Empresa
TERCEIRA RODADA DE SESSÕES PARALELAS

Sessão D: Índice setorial de responsabilidade social –


uma metodologia inovadora
Terça-feira, 12 de dezembro de 2006

Thereza Lobo*
Comunitas

Participaram desta sessão como palestrantes: Rosa Maria Fischer, Coordenadora do


Centro de Empreendimentos Sociais e Administração em Terceiro Setor (CEATS),
FIA/USP, Brasil; e Izabel Portela, Diretora Executiva do Instituto Íris, Brasil.

Thereza Lobo iniciou sua apresentação conceitual e um alinhamento de idéias RSE coerentes com as melhores
enfatizando o processo de construção sobre a RSE, além da discussão dos práticas;
de um índice setorial de responsabilidade instrumentos de avaliação que • Construir um índice de
social, desenvolvido a partir de uma poderiam ser usados, um passo responsabilidade social exclusivo
solicitação do setor elétrico privado importante para a definição de para o setor de energia elétrica,
brasileiro à Comunitas15 por meio da qualquer metodologia. A pesquisa foi atentando para as especificidades
Câmara Brasileira de Investidores iniciada em 2003 e sua publicação da área.
Privados em Energia Elétrica, hoje concluída em 2005. • Otimizar a eficiência e o alcance da
denominado Instituto Acende Brasil. RSE dos agentes privados no setor
Nesse processo, foi possível diagnosticar Ao comentar a importância e a de energia elétrica.
indicadores de RSE no setor, o que utilidade de índices como esse que foi
contribuiu para a construção de uma criado, Thereza Lobo ressaltou que os Foram analisadas 14 empresas que
metodologia de monitoramento e índices devem ser analisados com operam na geração e distribuição de
avaliação das práticas do setor e para a extrema cautela, uma vez que podem energia - definidas pelos patrocinadores
criação de benchmarkings. ocultar realidades complexas, como é o da pesquisa -, o que não prejudicou
caso, por exemplo, do IDH – Índice de nem alterou os resultados, já que se
A demanda inicial estava relacionada Desenvolvimento Humano. trata de uma amostra representativa.
com o Balanço Social do setor elétrico, O estudo foi realizado entre 1998 (ano
uma ferramenta importante. O primeiro Foram definidos os seguintes objetivos: seguinte ao processo de desestatização
contato evidenciou a oportunidade da economia brasileira) e 2003, com
de trabalhar a responsabilidade social • Introduzir uma perspectiva mais dados mais amplos coletados entre
de maneira mais ampla. Da mesma ampla de RSE no setor privado de 2001 e 2003.
forma, inicialmente não se pensou energia elétrica;
na construção de um índice, mas sim • Conceber e implementar Os desafios foram muitos, comentou
em uma análise da RSE no setor. metodologias de planejamento Thereza Lobo, em vista da distância
O processo começou com um debate estratégico e de monitoramento de geográfica das empresas e do caráter

* Thereza Lobo, Diretora de Responsabilidade Social Corporativa do Comunitas, foi também uma palestrante dessa sessão
15 www.comunitas.org.br

Sobre Responsabilidad Social de la Empresa 81


pioneiro da pesquisa, uma vez que não temas de responsabilidade social percebe-se que em algumas empresas
havia referência a trabalhos nessa área corporativa e a relação das empresas o tema Princípios, Valores e
do ponto de vista setorial, e da com seus stakeholders - partindo-se do Transparência, e os stakeholders
dificuldade de coletar e compilar que já existia e acrescentando-se novas governo e consumidor atingem o
informações: dados de caráter informações pertinentes ao segmento benchmark esperado. Esta é uma
confidencial, bancos de dados elétrico. informação crucial para as empresas
deficientes ou inexistentes, além da que se propõem a melhorar suas
dificuldade, não rara, de uniformizar os Segundo Thereza, para a criação do práticas de RSE: é possível identificar
critérios para a compilação dos dados. índice não houve uma avaliação como e onde melhorar.
Por vezes, as empresas se surpreendiam especial das empresas, que
com algumas questões e informações simplesmente foram divididas, Os exemplos abaixo de resultados mais
que lhes eram solicitadas, já que não para efeitos de análise, em pequenas, detalhados da pesquisa oferecem
relacionavam certas práticas com médias e grandes distribuidoras pistas, idéias e oportunidades para
responsabilidade social empresarial e geradoras. Foi criada uma escala avançar:
como, por exemplo, a capacitação de zero a cem, calculando-se o
profissional de seus colaboradores. desempenho de cada empresa e a • Princípios, Valores e Transparência:
média obtida em cada item: São ações concretas, desenvolvidas
Dois conceitos se mostraram em relação ao Código de Ética,
fundamentais para a percepção dos • de 0 a 40: desempenho regular; incluindo monitoramento. O diálogo
empresários no que se refere à • de 40 a 60: desempenho médio; com as partes interessadas é a maior
responsabilidade social: stakeholders • de 60 a 80: desempenho bom; e preocupação para a maioria das
(partes interessadas) e distribuição de • de 80 a 100: desempenho ótimo empresas.
valor agregado. No caso dos (benchmarking no tema ou • Consumidores: Pressupõe o
stakeholders, foi preciso deixar bem stakeholder). cumprimento da exigência de
claro que outros atores, além de universalização dos serviços, exigido
investidores e acionistas, eram cruciais O quadro abaixo provoca algumas pelo contrato de concessão de
para o entendimento da RSE. Por outro reflexões importantes, segundo serviços. Essa universalização é
lado, a distribuição de valor agregado Thereza Lobo. A intenção foi comparar evidenciada pelo aumento de
evidencia os beneficiários diretos das o Índice de Responsabilidade Social consumidores de baixa renda; a
riquezas geradas pelas empresas. médio obtido pelo grupo de empresas qualidade efetiva do atendimento
ao índice mais alto obtido por (menos de 1 minuto de espera ao
Para a concepção e aplicação da determinadas empresas. O objetivo foi telefone; redução significativa (55 por
metodologia, foram adaptadas mostrar não apenas eventuais pontos cento) no número de interrupções e
ferramentas de avaliação nacionais e fortes e fracos, mas também averiguar na duração das interrupções do
internacionais, tais como os parâmetros onde as empresas podem concentrar serviço).
da Global Reporting Initiative (GRI) e os esforços para atingir práticas de • Público interno/colaboradores: US$
Indicadores Ethos de Responsabilidade excelência. Dentre as partes 2,2 bilhões em valor agregado
Social, inclusive uma adaptação desses interessadas destacam-se os temas distribuído; US$ 1,7 bilhão em
indicadores desenvolvida para um fornecedores, com um baixo investimentos sociais internos.
prêmio concedido a empresas desempenho - indicando que o O tema da diversidade recebe
distribuidoras de energia. O índice foi processo de disseminação de práticas pouca – ou nenhuma - atenção.
desenvolvido com base em indicadores de RSE junto a estes é incipiente - • Fornecedores: US$ 8 bilhões em
descritivos de gestão e resultados - e governo, com o nível mais alto de aquisições de bens e serviços; pouca
levando-se em conta os principais desempenho. Ao mesmo tempo, disseminação de práticas de RSE.

82 Sobre Responsabilidad Social de la Empresa


Índice de Responsabilidade Social – Principais Resultados Da mesma forma, responsabilidade
social não mais se resume à ética e ao
IRS respeito aos direitos humanos.
(Valor Médio) (Maior Valor)
Finalizando, Thereza Lobo destacou
Governo 77 100
duas questões resultantes do trabalho.
Consumidores 66 95 A primeira se refere às áreas que
requerem atenção especial do setor
Princípios, Valores e 63 100
privado de energia elétrica no Brasil.
Transparência
Todas as empresas necessitam
Comunidade 58 80 urgentemente de sistemas de
informação gerencial para a gestão da
Meio Ambiente 56 75 RSE. É impossível monitorar ou melhorar
Público interno/ 52 76 o movimento de RSE sem essas
colaboradores ferramentas. O público interno/
colaboradores, fornecedores e meio
Fornecedores 41 83 ambiente são claros candidatos a
promover avanços. O investimento
social interno pode sofrer ajustes que
não se limitam necessariamente a
• Investidores: o retorno oferecido é • Meio Ambiente: o valor dos melhores salários. Os investimentos
razoável, uma vez pagas as dívidas. investimentos durante o período sociais externos, por sua vez, podem
• Acionistas: deixam de receber no estudado não ultrapassou US$ 900 ser mais eficazes, se acompanhados
período; em alguns casos, há milhões. Não houve investimentos de uma política que inclua acordos
distribuição negativa de valor em projetos de regeneração; há institucionais e financeiros baseados em
agregado. indefinição regulatória e sobre-oferta critérios transparentes e em sistemas
• Governo: é quem recebe o maior de energia, o que resulta em um eficazes de monitoramento e avaliação.
valor agregado (50 por cento), baixo retorno dos investimentos
embora as tarifas permaneçam realizados. A participação das partes interessadas
estáveis (aumento de tributos) e se no processo é fundamental. O trabalho
trate de um setor privatizado. O trabalho mostra, de modo geral, a levou em conta apenas um ponto
Destacam-se as ações éticas importância do processo de construção de vista sobre a realidade – a dos
referentes às práticas de combate à coletiva de conhecimento na própria colaboradores/público interno.
corrupção. pesquisa e na área de RSE, processo Outros stakeholders deveriam ser
• Comunidade: US$ 138 milhões em este que está apenas começando. regularmente envolvidos para melhorar
investimentos sociais externos. A idéia de processo é fundamental, o processo de monitoramento,
O reconhecimento ocorre por meio já que se trata de uma mudança cultural, promover os ajustes necessários e
de prêmios e menções. As redes e isso não pode ser feito apenas com avançar na direção de uma maior
protegidas em zonas urbanas e rurais documentos. Em relação ao conceito eficácia. A própria comunidade deveria
são ampliadas em até 400 por cento. e às práticas de investimento social estar envolvida, bem como um
Somente três empresas com externo, por exemplo, é preciso ir além espectro mais diversificado de
financiamento próprio de longo da idéia de filantropia e caridade. colaboradores, investidores e
prazo, indicando certa fragilidade A filantropia e a caridade não acabaram, acionistas, além do governo.
nesse aspecto. mas estão sendo questionadas.

Sobre Responsabilidad Social de la Empresa 83


futuro é a do capital social gerando
capital financeiro. Izabel Portela propôs
uma pergunta para reflexão: o valor
social já é considerado um valor em si,
ou ainda estamos no estágio de
mudança de comportamento?

Os participantes da pesquisa destacaram,


ainda, como características do cenário
futuro nessa área, a construção de
conceitos democráticos, a participação
das pessoas nos processos produtivos,
a inserção do tema diversidade nas
estratégias das empresas - como, por
exemplo, a questão de gênero e a
construção de novos conceitos de
sociedade. Falaram, igualmente, da
construção de indicadores referentes ao
percentual de investimento das empresas
na área social e de indicadores que
estabeleçam relações mais igualitárias
entre acumulação e distribuição de
riqueza. Outro ponto abordado pelos
Esse exercício iniciou um processo; social, os entrevistados indicaram as entrevistados foi a criação de novos
agora cabe ao setor, em seu conjunto, características do que seria o cenário indicadores para decisões relacionadas
dar continuidade aos esforços. passado em relação ao investimento com a aquisição de produtos ou serviços,
social das empresas, e também do que além de preço e qualidade, para que os
Izabel Portela, ao comentar os dados poderia ser o cenário futuro. Entre as consumidores possam escolher produtos
apresentados, enfatizou que o práticas relacionadas com o passado e empresas consideradas socialmente
desempenho de algumas empresas estão o assistencialismo e a caridade, responsáveis. Destacaram, ainda, como
está muito além da média do setor, e poucas empresas engajadas em elemento desse cenário, a criação de
como é o caso dos fornecedores, área questões sociais e ambientais que ferramentas de análise para a avaliação
em que há muitas oportunidades de extrapolem suas obrigações legais. de investimentos sociais pelos agentes
avanços. Em relação ao investimento patrocinadores.
social privado, a palestrante comentou Para o futuro, os entrevistados previram
que ainda se verificam os chamados um cenário marcado pelo compromisso Essas visões evidenciam a importância
“pecados” da área social: dispersão de com os resultados dos investimentos dos indicadores para a avaliação de
áreas, não definição de prioridades ou sociais, pelo entendimento de que a processos e impactos em várias áreas.
de foco dos investimentos, e o pobreza deve fazer parte das estratégias Izabel enfatizou a necessidade de
assistencialismo, que ainda impera. das empresas, pela preocupação das monitorar e avaliar, mas observou que,
Na pesquisa realizada em 1998 por Izabel empresas com o desenvolvimento social embora tenhamos avançado, o que se
Portela em parceria com pesquisadores e e o resgate da dívida social, bem como percebe pela própria experiência
gestores de organizações envolvidas por uma nova atitude proativa por parte apresentada nesta sessão, oito anos
com a atuação das empresas na área dos empresários. Uma idéia para o depois dessa pesquisa, realizada em

84 Sobre Responsabilidad Social de la Empresa


1998, é que essa ainda não pode ser A palestrante ressaltou a importância A palestrante também apresentou uma
considerada uma prática generalizada. da consolidação da metodologia, bem reflexão sobre responsabilidade social
Em relação aos vários resultados como a relevância da sistematização empresarial na concessão de serviços
identificados, Izabel Portela se declara dos dados no processo da pesquisa públicos. A inquietação gira em torno
muito satisfeita com os avanços dos apresentada, valorizando a riqueza da da capacidade das concessionárias de
últimos anos mas, ao mesmo tempo, sessão no compartilhamento da influenciar positivamente a elaboração
reconhece que há grandes desafios a pesquisa, bem como de procedimentos, de políticas públicas. Para ela, um tema
serem enfrentados. dificuldades, caminhos que devem ser pouco explorado na pesquisa é a relação
percorridos e obstáculos a serem das empresas com as populações de
Rosa Maria Fischer comentou a enfrentados na realização de uma baixa renda, por meio da oferta de seus
contribuição do trabalho desenvolvido pesquisa como essa. Reconheceu, serviços a essas populações com base
pela Comunitas na construção de ainda, o caráter pioneiro da pesquisa, em um novo tipo de relação, e sugeriu
instrumentos de avaliação, que que foi realizada de forma setorial. que se procure avançar nessa área,
oferecem a oportunidade de trabalhar É muito importante desenvolver inclusive pela troca de experiências
com precisão e segurança, como parte indicadores setoriais que permitam com empresas de outros países.
da gestão empresarial. A seguir, identificar e trabalhar as particularidades
enfatizou a importância da definição de cada setor.
conceitual, ao mesmo tempo em que Comentários finais
criticou a profusão de conceitos e A professora comentou a dificuldade
termos na área – empresa cidadã, de realizar exercícios de mapeamento Para concluir, a professora Rosa M.
cidadania empresarial, empresa de dados, tanto pelas dimensões do Fischer comentou que as pesquisas
sustentável, responsabilidade social Brasil como pela dificuldade de acesso sobre RSE estão muito centradas nas
empresarial, responsabilidade social a esses dados, até porque há leituras próprias empresas. É preciso perguntar
corporativa, etc. Segundo ela, um muito distintas no país a respeito mais às outras partes interessadas sobre
trabalho como esse contribui para do que é responsabilidade social. suas expectativas em relação às
eliminar termos confusos e apresentar Os indicadores são importantes, mas empresas. Também a preocupa a
conceitos e teorias de maneira também é fundamental um trabalho falta de disponibilidade de informações.
coerente e lógica, ajudando os de convergência e consolidação das As entidades que representam as
gestores nas organizações a traduzi-los diferentes metodologias, para que não empresas deveriam pressioná-las
em estratégias e práticas concretas. se “reinvente a roda” e não se faça com mais para que coletem dados e os
“Foi uma grande contribuição os instrumentos de avaliação o que se compartilhem de forma transparente.
conceitual, muito bem fundamentada faz com os conceitos, de modo que Outro tema identificado na pesquisa é
e aprofundada”, afirmou Rosa Fischer, cada um define seus indicadores e os o problema da corrupção. Trata-se de
acrescentando que pode falar com aplica como melhor lhe convier. uma questão que precisa ser trabalhada
tranqüilidade, pois acredita que a partir da mudança cultural de
responsabilidade social empresarial Outro destaque da pesquisa foi ter administradores e executivos, bem como
não é um conceito passageiro, uma vez trabalhado com valor agregado da própria sociedade.
que já foi constado por pesquisas do demonstrável. Rosa Fischer sustentou
próprio CEATS/USP e que há certa que se deve incentivar um processo de Àqueles que estão interessados no
perenidade nas práticas das empresas mudança nos indicadores de modo que tema da responsabilidade social,
nessa área. Uma melhor articulação adquiram mais flexibilidade e precisão, Rosa Fischer sugere que, como ponto
entre conceitos e indicadores para que a própria avaliação de de partida, comecem por transformar a
tende a contribuir para o avanço benefícios ofereça informações mais si próprios. As empresas, ao trabalhar
do movimento. detalhadas sobre o universo empresarial. com comunidades vizinhas,

Sobre Responsabilidad Social de la Empresa 85


muitas vezes buscam “empoderar” que se deve reduzir sua concessão.
as pessoas. Embora isso seja positivo, Segundo ela, os prêmios foram
quantas dessas mesmas empresas relevantes nos anos 1990, para que a
desenvolvem atividades semelhantes mídia tomasse conhecimento do
com seus empregados? Quantas estão movimento de responsabilidade social
trabalhando com práticas participativas? corporativa e os empresários iniciassem
A empresa não deve se preocupar a mobilização. Mas, hoje, os prêmios
apenas com o âmbito social externo, carecem exatamente de indicadores de
mas sim começar por transformar suas avaliação mais precisos.
próprias práticas internas, a fim de
contribuir para a transformação da
sociedade.

Por último, Rosa Maria Fischer


manifestou sua discordância com a
recente proliferação de prêmios de
responsabilidade social, argumentando

86 Sobre Responsabilidad Social de la Empresa


QUARTA RODADA DE SESSÕES PARALELAS

Sessão A: Normas Internacionais e Acordos Setoriais


de Transparência
Terça-feira, 12 de dezembro de 2006

Equipe de relatores

Entre os palestrantes desta sessão estavam Donald O'Leary, Líder da Rede de


Integridade da Água (WIN), da ONG Transparência Internacional, Berlim, Alemanha;
Roberto Salas, Presidente do Grupo Amanco e da Associação Latino-Americana de
Produtores de Tubos Plásticos (FLUIR), São Paulo, Brasil; e Margareth Flórez, Diretora-
Executiva da ONG Transparência Internacional, Capítulo da Colômbia.

Introdução enormemente a capacidade do Estado Margareth Flórez apresentou o estudo


de ser eficiente na prestação de de caso da Colômbia onde, em abril
O objetivo desta sessão foi servir serviços públicos e em sua missão de de 2005, um acordo foi firmado com
de espaço para a discussão sobre atender às necessidades dos cidadãos. o objetivo de prevenir práticas de
o desenvolvimento e a implantação De acordo com o Banco Mundial, corrupção entre os fabricantes de tubos
de marcos reguladores nacionais e entre 20 e 40 por cento dos recursos do país, motivado pelos problemas
internacionais à luz da luta contra a econômicos destinados ao setor de identificados tanto no governo como
corrupção, bem como de algumas fornecimento de água se perdem devido nas empresas. O acordo reúne os
práticas inovadoras de auto-regulação a práticas desonestas e corruptas. fabricantes, que representam 95 por
empresarial, a partir de uma cento de todo o mercado e 100 por
perspectiva multissetorial que envolva Na América Latina, organizações não cento dos fabricantes locais que
os setores privado e governamental e a governamentais e do setor privado se operam no mercado nacional e
sociedade civil. unem para promover acordos de internacional. Após identificar os riscos
transparência e, dessa forma, assegurar o associados às práticas de corrupção,
A corrupção é um dos maiores investimento dos recursos públicos no o grupo definiu normas para evitar
obstáculos ao desenvolvimento atendimento das necessidades de água esses riscos e mecanismos para o seu
econômico e social. O desvio e a na região. cumprimento, com a atuação de um
malversação de recursos desgastam comitê de ética.

Sobre Responsabilidad Social de la Empresa 87


Um ano após a implantação do acordo, da Transparência Internacional, de água e o saneamento constituem
os principais resultados observados são mencionou os acordos internacionais grandes desafios, tal como o
a eliminação ou melhoria de alguns para manter a integridade do setor. cumprimento da meta 10 dos Objetivos
riscos, descritos a seguir: Destacou que, felizmente, as empresas de Desenvolvimento do Milênio,
estão mudando sua forma de pensar e, que propõe reduzir em 50 por cento
• Diante da falta de reconhecimento o que é ainda mais importante, suas o número de pessoas sem acesso
de uma cultura anticorrupção, condutas. Em parte porque podem sustentável à água potável e aos
procedeu-se à capacitação de sentir até que ponto isso se reflete serviços básicos de saneamento.
trabalhadores e à oficialização de 50 positivamente nos negócios e também Ademais, as empresas detectaram
por cento dos contratos de trabalho, porque entenderam a importância de e reconheceram que o custo da
dentre outras iniciativas. agregar valor à imagem de suas corrupção, além de muito alto,
• Foi identificada uma ausência de empresas no atual cenário é inaceitável.
normas éticas, que se busca corrigir internacional.
por meio de uma ampla divulgação Roberto Salas destacou que a iniciativa
do acordo, destacando-se o Ao final de sua apresentação, Donal da Fluir é uma bandeira importante do
estabelecimento de políticas O’Leary propôs uma reflexão aos espírito empreendedor, com impacto
específicas, do código de ética e de participantes: “As empresas são parte social, que busca um melhor ambiente
normas de conduta apropriadas. do problema ou da solução?” e de negócios com menos impactos
• Foi feito um ajuste de 30 por cento “As empresas estão preparadas para negativos na sociedade. Melhorar as
entre o preço de referência e o privar seus negócios de lucros no curto condições comerciais e sociais do
preço real de venda, para evitar a prazo para alcançar os objetivos setor requer demanda e empenho
erosão na política de preços. fundamentais dessa mudança?”. para a criação de um marco ético;
• São organizadas reuniões freqüentes promover a conscientização de que
com distribuidores em todo o país; Roberto Salas, em nome da Associação saneamento básico significa saúde em
79 dos 167 distribuidores firmaram Latino-Americana dos Fabricantes de todas as esferas; adquirir e manter
um acordo para pôr fim à Tubos Plásticos (FLUIR), falou sobre o credibilidade; liderar novas iniciativas
permissividade diante das práticas de fortalecimento da transparência e da e parcerias; e criar novas vantagens
suborno no processo de distribuição. integridade no setor de gestão da água competitivas.
• São envidados esforços para o na América Latina. A iniciativa de criar a
trabalho conjunto com o setor Fluir partiu do setor empresarial, Isso somente será possível
público, a fim de aliviar a falta de no momento em que este percebeu estabelecendo-se princípios por meio
transparência na contratação. que a corrupção nas licitações públicas de acordos de transparência no setor,
constituía um obstáculo para o a exemplo do que fizeram a Colômbia
Para Margareth Flórez, as empresas crescimento dos negócios. A venda e a Argentina. A partir dessas
continuam a manter esses acordos por de tubos para o segmento de infra- experiências, é possível perceber os
acreditarem que são capazes de reduzir estrutura envolve negociações com o benefícios obtidos por esses acordos,
a corrupção no mercado. Além disso, poder público. Assim, os empresários que pouco a pouco vão se
preferem uma auto-regulamentação reconheceram que a questão da consolidando e mostrando melhores
baseada em regras comuns aos corrupção teria que fazer parte de seus resultados. O objetivo é implementar
participantes. Em sua opinião, o Acordo planos e objetivos de negócios. Além acordos no México e no Brasil em
também incentiva a observação entre disso, inúmeros argumentos confirmam meados de 2007 e consolidar uma
empresas concorrentes e mantém um essa necessidade como, por exemplo, Rede Latino-Americana contra a
espaço aberto para o diálogo no setor. a preocupação comum nas empresas, corrupção no setor de água em 2010.
Donal O'Leary, falando em nome em uma região na qual o fornecimento

88 Sobre Responsabilidad Social de la Empresa


Comentários finais mudança na conduta das empresas,
que decidem aderir a esses esforços
É evidente que a falta de transparência por diferentes razões, dentre elas o
sai muito cara para a sociedade, gera aumento da fiscalização das atividades
malversação de recursos e provoca nos últimos seis anos e a oportunidade
distorções que impedem a tomada de percebida de apoiar e se engajar
decisões mais idôneas e racionais. coletivamente em um novo
Portanto, qualquer esforço para acabar posicionamento no mercado.
com a corrupção e melhorar a A Transparência Internacional acredita
transparência é sempre positivo. e aposta, com base nas iniciativas
voluntárias das empresas, num processo
Ainda há empresas que mantêm certa de construção de um mercado mais
resistência à iniciativa, por temer custos justo e mais fortalecido na luta contra
extras ou instabilidade no modelo de atividades antiéticas.
negócios. Entretanto, observa-se uma

Sobre Responsabilidad Social de la Empresa 89


90 Sobre Responsabilidad Social de la Empresa
QUARTA RODADA DE SESSÕES PARALELAS

Sessão B: Administração efetiva de empreendimentos sociais


Terça-feira, 12 de dezembro de 2006

Equipe de relatores

Entre os palestrantes desta sessão estavam Rosa Maria Fischer, Coordenadora de


Empreendimentos Sociais e Administração do Terceiro Setor (CEATS); Ángela Maria
Ortiz, Diretora de Desenvolvimento Comercial da CEMEX, Colômbia; e Roberto
Gutiérrez, Diretor da SEKN. O moderador da sessão foi Ezequiel Reficco, Membro da
SEKN, Universidade Harvard, EUA.

O objetivo desta sessão foi apresentar Roberto Gutiérrez começou Na pesquisa consolidada no livro
os resultados da última pesquisa da apresentando a SEKN, que procura “Gestão efetiva de empreendimentos
Social Enterprise Knowledge Network romper as barreiras do conhecimento e sociais” foram examinados, em
(SEKN) sobre as variáveis que da prática em empreendimentos sociais profundidade, 40 casos de práticas de
contribuem para o desempenho eficaz através da pesquisa colaborativa, da empreendedorismo social em cada um
das organizações da sociedade civil e aprendizagem compartilhada, do ensino dos países integrantes da rede.
das empresas engajadas em atividades centrado na participação e do
de valor social. fortalecimento das competências das Gutiérrez esclareceu que são
instituições de educação executiva a considerados “empreendimentos
Ao abordar a gestão efetiva de serviço da comunidade. sociais” tanto projetos desenvolvidos
empreendimentos sociais, é preciso por organizações do terceiro setor,
analisar de que maneira estes estão A rede atua por meio da estruturação de como projetos ou iniciativas de
sendo conduzidos, identificar os linhas de pesquisa conjuntas, cujos empresas com objetivos sociais.
elementos que influenciam ou não sua temas são selecionados coletivamente
consolidação e gestão, bem como sua pelos membros de cada instituição As práticas investigadas permitem a
contribuição para a cadeia de valor da participante. Em seguida, é elaborado realização de análises comparativas,
organização e seus resultados. Nesta um conjunto de questões comuns para com o objetivo de identificar
sessão foram apresentadas as conclusões investigação, o que permite dar início convergências e divergências sobre
da última pesquisa desenvolvida pela à pesquisa de campo em cada país. o fenômeno entre os países onde a
SEKN, consolidadas no livro “Gestão Além de atividades de investigação pesquisa foi realizada. Essas análises
efetiva de empreendimentos sociais”, (ou pesquisa), os membros da SEKN resultam em um documento, no qual
sobre as variáveis que contribuem para o estão engajados em atividades de cada escola reúne e expõe os
bom desempenho das organizações da ensino e de serviço relacionadas com resultados e as conclusões das
sociedade civil e das empresas envolvidas empreendimentos sociais. questões abordadas na pesquisa.
em empreendimentos sociais. Os casos produzidos, além de servir
de material didático para as escolas

Sobre Responsabilidad Social de la Empresa 91


integrantes da rede, possibilitam
o intercâmbio de práticas de
empreendedorismo em diferentes
realidades.

Rosa Maria Fischer iniciou sua


apresentação destacando a característica
efetiva da rede de produção de
conhecimento da SEKN. Ela informou
que a constituição da rede teve início
entre 2000 e 2001, a partir de um convite
do David Rockefeller Center for Latin
American Studies, da Universidade
Harvard, a diferentes universidades e
pesquisadores. O projeto foi financiado
pela Fundação Avina.

Entre os desafios percebidos por


Rosa Fischer nesta experiência está a
comunicação entre os diferentes idiomas
e países, uma vez que os conceitos que
servem de base para o trabalho
possuem significados distintos em cada
país, ainda que o idioma seja o mesmo.
Um exemplo é a própria expressão
social enterprise, associada a diferentes
tipos de organizações nos países
membros da rede. Em português,
poderia ser traduzida como “empresa
social”, mas optou-se por
“empreendimento social” porque,
segundo Rosa, a expressão “empresa
social” não corresponderia ao significado
objeto das pesquisas da rede. Segundo
a palestrante, empreendimento social,
no Brasil, designa diferentes tipos de
investimentos com objetivo social,
bem como ONGs que tenham criado
projetos com impacto social.

Os empreendimentos sociais, de acordo


com os estudos realizados pela rede,
incluem três elementos propulsores –
estratégia, liderança e cultura –

92 Sobre Responsabilidad Social de la Empresa


fundamentais para o gerenciamento das 2. Institucionalização – é o momento desenvolvimento de sua governança,
influências e interferências dos seus em que o empreendimento começa a de forma a trabalhar temáticas relativas
ambientes interno e externo, bem como levar em conta aspectos da estrutura à transformação social por meio
para a compreensão das transformações organizacional e das estratégias, de mais pesquisas sobre
pelas quais estes passam. que variam dependendo da origem empreendedorismo, terceiro setor e
do empreendimento - se empresa administração pública; (ii) incentivar
O primeiro elemento, a estratégia, é ou organização da sociedade civil; modelos de desenvolvimento de
composto por três forças mutuamente 3. Sucesso / Descentralização – é o empreendimentos sustentáveis em
influentes: (i) valores, que dão suporte à momento mais difícil, pois o sucesso cada país; (iii) passar de um paradigma
cultura; (ii) capacidade organizacional, do empreendimento leva à centralizado para um paradigma de
que define as dimensões estratégicas, necessidade de sua ampliação gestão que tenha a sustentabilidade
as vantagens competitivas e as e descentralização. É também como base, no qual cada organização
possibilidades de resultados; e (iii) o momento crítico para compartilhar desenvolve e coloca em prática seu
legitimidade, que está relacionada com poder, quando os conflitos de próprio pano de sustentabilidade.
o ajuste do ambiente e a definição do interesse começam a surgir;
foco estratégico do empreendimento. 4. Redes sociais – é o momento Ángela Maria Ortiz apresentou a
Segundo Rosa Fischer, “o de formação de conglomerados experiência da CEMEX – empresa
empreendimento social não deve ser e de compartilhamento de cultura mexicana líder mundial em produção
tratado como ação social voluntarista, e conhecimento tecnológico e e venda de produtos de construção –
assistencialista [...] A ação social deve gerencial. na promoção do desenvolvimento
estar focada e ter consistência sustentável em regiões pobres e
estratégica, ou seja, deve ter De acordo com Rosa Fischer, as duas marginalizadas da Colômbia. A CEMEX,
continuidade no longo prazo”. primeiras etapas caracterizam-se por em atividade há mais de cem anos, está
uma liderança carismática, enquanto presente em 50 países e tem negócios
O segundo fator é a liderança, que deve nas etapas seguintes ocorrem com mais de 80 nações dos mercados
ser vista mais como um processo do que processos políticos com uma mais dinâmicos da América, Ásia, África
como o conjunto de características participação democrática mais ampla. e Europa.
pessoais de um líder. Para a
pesquisadora, a liderança é um elemento O terceiro e último elemento, a cultura Preocupada com sua cadeia de valor,
importante para o entendimento, dentro organizacional, é o elemento chave em especial com seu consumidor final,
do ciclo de vida de um empreendimento para se buscar a melhor forma de a CEMEX Colômbia16 começou a
social, do processo de sobrevivência da gerenciamento de empreendimentos implantar, em 2005, um programa social
organização e de sua sustentabilidade no sociais. A cultura organizacional se de sucesso, desenvolvido pela matriz
longo prazo. Esse processo de liderança manifesta tanto nos seus aspectos mais mexicana a partir de 1998: o
é composto por quatro etapas: simbólicos quanto na assimilação dos PATRIMONIO HOY. O programa apóia
padrões culturais do ambiente e precisa famílias com poucos recursos para que,
1. Início – é o momento em que o ser conhecida, pois age internamente de forma sustentável, melhorem suas
empreendimento começa a se influenciando as redes de poder nos casas e sua qualidade de vida por meio
desenvolver com a presença do “pai” processos de tomada de decisão. de sua própria capacidade econômica
da idéia. Nessa etapa, muitos valores e de organização solidária.
organizacionais ainda estão sendo A palestrante concluiu sua apresentação
trabalhados para dar sustentabilidade destacando alguns dos desafios Um estudo realizado nos bairros mais
à iniciativa, e a cultura organizacional atualmente enfrentados pela própria pobres de algumas cidades colombianas
começa a ser gerada; SEKN: (i) expandir a rede e identificou vários problemas na

16 www.cemexcolombia.com

Sobre Responsabilidad Social de la Empresa 93


condução de programas de habitação, • assessoria técnica completa para o ainda haja diferenças entre
que impediam o crescimento sustentável projeto de habitação; empreendimentos com e sem fins
e o progresso socioeconômico desses • método de entrega simples e lucrativos, o surgimento do
bairros. Entre esses problemas estavam armazenamento adequado dos empreendedorismo social como
a dificuldade de organização das materiais. fenômeno faz com que empresas e
pessoas para a construção de casas, ONGs apresentem mais semelhanças
sobretudo por não saberem aplicar Os materiais são comprados de do que se poderia imaginar.
adequadamente os recursos financeiros maneira conjunta e entregues por um
de que dispunham, além da falta de distribuidor oficial em cada região. As empresas, estruturalmente pensadas
conhecimento técnico na área de Além de contar com o apoio técnico para gerar valor econômico, estão
construção e da adoção de mecanismos de profissionais e acesso a centros de embutindo a responsabilidade social
de construção que geravam muitos capacitação em construção, as famílias em seus planejamentos estratégicos,
desperdícios. Apesar da carência de são incentivadas a formar grupos nos financiando e apoiando projetos
capital econômico, percebeu-se que quais desenvolvem a cultura de sociais, com a conseqüente valorização
havia muito capital social que poderia colaboração e solidariedade. do capital social. As ONGs, por sua vez,
ser utilizado para a organização do estruturalmente organizadas para gerar
projeto habitacional. Havia, porém, Desde 1998, 150 mil famílias já foram valor social, buscam cada vez mais
grande desconfiança nesse tipo de beneficiadas no México e na Colômbia gerar recursos e oferecer seus serviços
proposta, em razão do fracasso de por esse programa, melhorando sociais, uma vez que grande parte
experiências anteriores. suas casas e suas condições de vida. dessas organizações sobrevive graças à
O tempo médio de construção nos venda de seus serviços. Por outro lado,
Outro fator interessante identificado bairros beneficiados foi reduzido de 4 empresas e ONGs envolvem-se em
nessa pesquisa foi a importância da anos para 18 meses, o mesmo tendo relações de cooperação, na busca da
liderança da mulher na construção acontecido com os gastos, que hoje integração entre valor econômico e
de residências em bairros populares, são 30 por cento inferiores. A CEMEX social, embora ainda persista o conflito
bem como na administração de também incentiva sua rede de nas relações entre as partes.
recursos financeiros para esse fim. distribuidores a participar do programa
e a prestar maior assistência às famílias A forma como empresas e ONGs
A partir de um diagnóstico da situação beneficiárias. gerenciam sua cadeia de valor e
social e econômica das regiões mais suas partes interessadas também
marginalizadas pela sociedade, foi Ezequiel Reficco, que participa da tem ocorrido de forma complementar
possível estabelecer um programa social coordenação da rede SEKN desde e, ao mesmo tempo, divergente.
flexível, que atenderia às demandas o início, destacou a importância de As empresas, geridas a partir do
diagnosticadas na pesquisa. O programa analisar os empreendimentos sociais interesse de seus acionistas, têm
“Patrimonio Hoy” combina práticas dentro do processo dinâmico atual de procurado redefinir suas principais
simples de gestão e financiamento para a mudanças e convergência de culturas. partes interessadas e suas relações
construção. As comunidades pobres Segundo Reficco, as tensões externas com cada uma deles. As ONGs,
beneficiadas pelo programa têm acesso a: estão cada vez mais influenciando por outro lado, orientadas pelos
e modificando as estratégias de interesses da sociedade como um
• microcrédito facilitado para a compra empresas e organizações da sociedade todo, estão igualmente preocupadas
de materiais; civil. De alguma forma, está havendo com os interesses dos governos,
• “congelamento” dos preços dos uma inversão de papéis, e empresas já que também utilizam seus serviços.
materiais de construção durante dois como ONGs estão mudando, de certa
anos; forma, seus focos de atuação. Embora

94 Sobre Responsabilidad Social de la Empresa


Em relação à estrutura organizacional, diferenças quanto as semelhanças também aos mais pobres ou àqueles
as empresas são estruturadas para constituem elementos que geram que não estão nas universidades?”.
atender aos seus próprios interesses oportunidades de aprendizagem Segundo Rosa Maria Fischer, no Brasil
(gerar lucros), enquanto as ONGs, recíproca. Juntas, empresas e ONGs estão sendo implantados cursos que
supõe-se, atendem aos interesses podem criar uma nova forma de pensar, se ocupam desse tema, nos quais se
coletivos da sociedade. No entanto, onde valor social e valor econômico estimula a realização de oficinas para
estão surgindo formas híbridas, estejam integrados a oportunidades organizações comunitárias, de modo
parcerias integradas à cadeia de valor: para uma atuação conjunta pautada que o conhecimento seja apropriado
empresas privadas com uma missão pela transparência e a prestação por todos.
social, joint-ventures entre setores, de contas.
e organizações que nascem como O grande desafio para redes que
ONGs e acabam se transformando produzem conhecimento e para
em empresas. Comentários finais redes sociais que estimulam a
responsabilidade social empresarial
As empresas investem com o objetivo O conhecimento deve ser o fator é o próprio reconhecimento, pela
de obter retorno, mas hoje valores chave na promoção de ações de sociedade, da importância de se gerir
como transparência e prestação de responsabilidade social empresarial. bem os empreendimentos sociais por
contas, bem como a criação e o apoio a Conhecer a cultura organizacional meio do conhecimento e da adaptação
projetos de responsabilidade social têm interna da organização, bem como a a mudanças sociais.
desempenhado um papel cada vez cultura do país no qual se deseja fazer
mais importante, permitindo que esses negócios ou empreender ações sociais
elementos se tornem relevantes no é um fator decisivo para a sua
mercado. As ONGs, por sua vez, cujos sustentabilidade e facilita o
investimentos são orientados por estabelecimento de práticas simples,
valores, têm mostrado um interesse flexíveis e inovadoras. Assim, o estímulo
cada vez maior em investimentos e o investimento de longo prazo de
diretos, especialmente por meio do governos, empresas e organizações da
microcrédito e de outras ferramentas sociedade civil em projetos de
financeiras do mercado de capitais. pesquisas em universidades e outros
grandes centros de produção de
Ezequiel Reficco concluiu afirmando conhecimento – escolas, institutos de
que empresas e ONGs continuam a pesquisa, etc. – facilitam a
desempenhar funções e características compreensão das mudanças
específicas, com diferenças tanto socioeconômicas e de ações de
qualitativas como quantitativas. adaptação por parte de organizações
Entretanto, as pesquisas desenvolvidas empreendedoras.
pela SEKN têm contribuído para derrubar
alguns mitos em relação a essas Um comentário excelente feito por um
diferenças. As ONGs, baseadas em dos participantes foi de que a rede
valores éticos, conservam o importante produz conhecimento em
papel de monitorar os excessos das universidades, que são prioritariamente
empresas, enquanto estas detêm a integradas por universitários da elite
função primordial de gerar valor intelectual e econômica das nações. “
econômico para a sociedade. Tanto as O conhecimento gerado é transmitido

Sobre Responsabilidad Social de la Empresa 95


96 Sobre Responsabilidad Social de la Empresa
QUARTA RODADA DE SESSÕES PARALELAS

Sessão C: A sustentabilidade é compatível com finanças?


Terça-feira, 12 de dezembro de 2006

Equipe de relatores

Esta sessão foi apresentada por Miguel Danta, responsável pelo desenvolvimento
de negócios sustentáveis do ABN Amro Real, Brasil.

Miguel Danta apresentou o que vem Para iniciar a discussão do tema, incluem várias transformações da
sendo desenvolvido no Banco ABN Danta perguntou para que os bancos sociedade. Muitos cidadãos não
Amro, ou seja, buscar alinhar a existem. Pensando em sua atividade toleram mais comportamentos
sustentabilidade à estratégia da específica, pode-se concluir que os irresponsáveis com a sociedade e com
empresa, incorporando todos os atores bancos existem para rentabilizar a o meio ambiente. Por outro lado, as
envolvidos ao processo. O objetivo economia dos clientes, financiar o novas gerações já recebem aulas de
da sessão foi apresentar a experiência consumo e o investimento e efetuar educação ambiental nas escolas e
do Banco ABN Amro ao introduzir a pagamentos. O desafio da empresa é compartilham esse conhecimento com
sustentabilidade em todas as etapas garantir a sustentabilidade nessas três seus pais, buscando influenciar, assim,
do negócio. A empresa optou por atribuições inerentes a uma instituição seu comportamento. O palestrante
privilegiar as dimensões sociais e bancária. convidou os participantes da sessão a
ambientais em todas as suas decisões, refletir sobre as atividades diárias das
sem negligenciar a dimensão Danta comentou que as empresas empresas, já que novas necessidades e
econômica e utilizando o triple bottom existem para oferecer bens e serviços novas expectativas requerem também
line – planeta, pessoas e lucro - à sociedade de forma sustentável, novas formas de agir.
como referência. contribuindo, portanto, para o
desenvolvimento. O lucro é obtido Atualmente, há novos reguladores no
O Banco ABN Amro é o 20º maior atendendo-se à sociedade por meio mercado que não fazem parte do Estado:
banco do mundo e o 11º na Europa. do fornecimento de bens e serviços, partes interessadas, organizações da
Possui cerca de 4.500 agências em 53 do pagamento de impostos e da sociedade civil, associações de
países e mais de 110 mil empregados criação de empregos, usando-se os empregados, fornecedores,
em todo o mundo. Somente no Brasil, recursos de maneira racional. consumidores mais exigentes, empresas
são 13 milhões de clientes e 29 mil seguradoras e a mídia. Por outro lado,
empregados. Segundo o palestrante, muitas mudanças somos testemunhas do esgotamento
vêm ocorrendo no cenário atual, que dos recursos naturais e de uma crescente

Sobre Responsabilidad Social de la Empresa 97


desigualdade social. Paralelamente, mesmos valores e estimula de alguma sustentável e integrá-lo à sua atividade
há uma crescente inter-relação e forma a participação e a influência na rotineira. O modelo educacional
conscientização da interdependência discussão de políticas públicas. No caso desenvolvido pelo ABN Amro, com a
entre os diversos agentes da sociedade dos recursos humanos, o ABN Amro ajuda de vários parceiros, compreende
e os fenômenos que afetam tanto busca os melhores talentos - que se um conjunto de iniciativas educacionais
os negócios como o meio ambiente tornam mais comprometidos com a relacionadas com a idéia de
e a sociedade. organização - e consegue uma maior sustentabilidade. O modelo tem como
retenção dos mesmos. Outra objetivo o desenvolvimento simultâneo
Sustentabilidade não significa ignorar conseqüência positiva do ponto de da pessoa, do profissional e do
a dimensão econômica, mas incluir vista empresarial é que a visão de cidadão, permitindo que os
e integrar as dimensões sociais sustentabilidade e as atividades a empregados se tornem agentes de
e ambientais em todas as decisões ela aplicadas reduzem riscos e custos mudança e protagonistas com
da empresa, com base na conta tripla operacionais, aumentam o valor da conhecimento complexo e sistêmico.
de resultados (Triple Bottom Line). marca e melhoram a reputação, além Três perguntas são formuladas nesse
É preciso cuidar de cada um desses de permitir o alinhamento de interesses processo educacional:
aspectos de maneira equilibrada, já que entre as partes interessadas e a criação
negligenciar um deles pode significar de parcerias de longo prazo. 1) Que tipo de ser humano desejamos
a falta de sustentabilidade da empresa formar?
e do planeta. Dantas citou o exemplo As experiências mostram que a 2) Como é a sociedade para cuja
da empresa de tapetes Interface que, sustentabilidade não pode ser construída construção desejamos colaborar?
na busca de novas formas de atuar com iniciativas individuais ou de uma 3) Em que tipo de conhecimento nos
para reduzir seus impactos ambientais, única empresa. É preciso a participação baseamos para conduzir a formação
está alugando tapetes em vez de de todos e, portanto, parcerias com das pessoas, a fim de convertê-las em
vendê-los. Assim, após um período outras pessoas e organizações com agentes de mudança?
de 5 ou 6 anos, o tapete alugado é capacidades complementares são vitais
devolvido à Interface, podendo ser para que se possa avançar nas práticas de Danta compartilhou com a platéia uma
substituído por outro mediante um sustentabilidade. experiência concreta adotada pelo
novo contrato de aluguel. A empresa ABN Amro - a política de risco sócio-
se encarrega da destinação final do Toda mudança começa pelo indivíduo, ambiental. Antes de conceder crédito a
antigo tapete, de uma forma que não embora haja muita resistência no uma empresa, o banco a submete a um
contamine o meio ambiente. Esses são processo de promover a adoção de questionário para verificar os possíveis
exemplos de novas formas de fazer novos comportamentos tanto nas impactos sócio-ambientais que a
negócios - modificando os modelos empresas, internamente, como na atividade a ser financiada pode gerar.
de negócios, se necessário -, mas sem sociedade, de maneira geral. Todos nós Se o impacto previsto for considerado
abrir mão da dimensão econômica. podemos, individualmente, contribuir negativo para o meio ambiente ou para
para produzir mudanças no mercado, a sociedade, o banco sugere que a
A experiência do Banco ABN Amro seja como consumidor, empregado ou empresa modifique seu projeto e se
Real tem confirmado que a decisor em uma empresa. Danta converte em um parceiro na busca de
sustentabilidade é um aspecto destacou o papel importantíssimo alternativas para a mudança. Se a
estratégico porque estimula o da educação como única via válida empresa não aceitar modificar o
lançamento de novos produtos para modificar algumas atitudes das projeto, o empréstimo é recusado.
e serviços, identificando novas pessoas. A empresa, portanto, utiliza a Caso a empresa aceite a necessidade
oportunidades de negócio. Além disso, educação como ferramenta básica para de submeter-se a determinadas
atrai clientes que compartilham os promover o desenvolvimento mudanças, o banco lhe concede o

98 Sobre Responsabilidad Social de la Empresa


crédito, auxilia a instituição na
busca de parceiros e acompanha o
desenvolvimento e a implementação
das mudanças. Por outro lado,
a instituição também apóia projetos
e define linhas de financiamento com
prazos e taxas diferenciados para a
implantação de soluções que reduzam
impactos ambientais como, por exemplo,
o uso de energia solar e projetos na
área de educação.

Outro exemplo destacado por


Miguel Danta foi a participação do
ABN Amro na formulação dos
“Princípios do Equador” (Equator
Principles)17. O banco foi uma das
primeiras instituições financeiras a
aderir aos Princípios. Ao participar
dessa iniciativa, o banco se sente de comunidade vizinha. Percebendo o Outro exemplo de mudança citado
alguma forma responsável pelos problema, a instituição financeira por Miguel Danta é o Fundo Ethical,
impactos gerados pelos créditos condicionou a concessão do crédito à uma carteira de ações de empresas
concedidos às empresas com as quais solução do problema, provocando com excelência em responsabilidade
se relaciona. outras mudanças significativas na social e governança corporativa, cuja
empresa que, em última análise, rentabilidade média vem crescendo em
Segundo Danta, a atividade levaram-na a modificar sua atitude geral relação ao I-Bovespa, índice da bolsa
empresarial pode ser compatível com em relação ao impacto de seu negócio de valores de São Paulo. A percepção
o desenvolvimento sustentável. Por essa e a adotar as ações necessárias para é de que empresas que se preocupam
razão, o ABN Amro investiu nessa área, minimizá-lo. A Nutriz, empresa de com a responsabilidade social
concedendo crédito a empresas como alimentos congelados, gerava resíduos empresarial apresentam um melhor
a Curtume Touro Ltda., de Presidente de alguns produtos químicos utilizados desempenho do que aquelas que não
Prudente, no estado de São Paulo; a na fabricação de seus produtos. A partir o fazem. Isso deixa claro que os
Nutriz, na cidade de Lagoa Vermelha, das sugestões do banco, a empresa investidores têm levado em conta
no estado do Rio Grande do Sul; ou a construiu uma estação de tratamento outras questões, além de indicadores
TSL Engenharia Ambiental, na cidade de água, gerando economia de puramente financeiros, ao tomar suas
de São Paulo. Todas são exemplos de consumo e, conseqüentemente, decisões de investimento. O banco
empresas que precisaram modificar sua ganho de produtividade. A empresa também aderiu à comercialização de
proposta original para adaptar-se aos TSL Engenharia desenvolveu uma créditos de carbono e a práticas de
requisitos de impacto social e nova tecnologia para obter um microcrédito.
ambiental exigidos pelo banco. reaproveitamento de 100 por cento das
embalagens Tetra-Pak. Essa tecnologia Esses exemplos mostram que a
As atividades da Curtume Touro, gerou uma grande demanda na sustentabilidade pode ser um elemento
empresa de curtume de peles, Europa, fomentando novos negócios gerador de oportunidades de negócios.
contaminavam o rio que atendia a uma e parcerias para a empresa. No período de transição de um modelo

17 www.equator-principles.com

Sobre Responsabilidad Social de la Empresa 99


que não leva em conta os aspectos Outro grupo observou que, para fazer da articulação de todos os agentes e
sociais e ambientais para outro modelo negócios levando-se em conta a das práticas das empresas em suas
de negócios que o faz, certamente há sustentabilidade social e ambiental relações com cada parte interessada.
muitas incertezas, conflitos e perguntas no longo prazo, os gestores das Assim, a sustentabilidade passa pela
sem resposta imediata, o que torna organizações precisam tomar decisões inclusão tanto dos que estão dentro
crucial o envolvimento da alta diretoria e realizar um planejamento estratégico como dos que estão fora da
da empresa para que se possa seguir que assegure a viabilidade financeira organização.
adiante. também no curto prazo.
Miguel Danta mencionou que o Banco
Outro desafio considerado estratégico Um terceiro grupo acrescentou que, ABN Amro Real está constituindo um
para a organização é a diversidade além de a sustentabilidade ser um comitê com todas as partes
dentro da própria empresa, seja de componente de oportunidade para interessadas e que isso tem se
crença, origem, opção sexual, racial ou os negócios e para a sociedade, é mostrado um processo difícil.
étnica. Segundo Danta, quanto mais imprescindível que no futuro não haja Contou que a empresa consultou seus
diversificada a organização, mais claras outra opção. No entanto, sua adoção públicos interessados com o objetivo
as diretrizes de igualdade de tratamento. como parâmetro geral é difícil, já que a de avaliar a relevância de seus
Como parte do painel, propôs uma educação dos agentes sociais está relatórios. Segundo Danta, a experiência
dinâmica entre os participantes, centrada, muitas vezes, no foi extremamente interessante, tendo
sugerindo que as 30 pessoas presentes individualismo e na noção de resultado em importantes contribuições
se dividissem em grupos menores e responsabilidade somente em relação dos clientes para o processo de
que cada grupo discutisse, durante ao ambiente mais próximo e em uma aprendizagem da empresa.
alguns minutos, se o conceito de visão reduzida do alcance de cada
sustentabilidade é realmente importante, pessoa. Em pouco tempo, teremos que Finalmente, Danta colocou uma
e depois compartilhasse os resultados expandir a visão para que esta inclua pergunta para cada um dos grupos.
da discussão. novas gerações, com uma maior visão Essas perguntas normalmente lhe são
de futuro. No presente, entretanto, dirigidas quando fala sobre temas de
Um dos grupos respondeu que a isso ainda é um desafio. sustentabilidade para diferentes
sustentabilidade é importante por cinco públicos.
razões principais: Outro grupo chamou a atenção para
as dimensões sociais e ambientais da 1) Por que mudar, se as empresas
1) Ajuda a gerenciar e controlar riscos; sustentabilidade, observando que continuam a ganhar dinheiro?
2) Integra as dimensões sociais, muitas empresas, ao mesmo tempo em 2) Sustentabilidade é um tema que
ambientais e financeiras de maneira que têm potencial para contribuir para “veio para ficar” ou um jogo de
equilibrada, ou seja, nenhuma é mais o desenvolvimento social e ambiental, marketing?
importante do que a outra; também têm grande potencial para ser 3) Sustentabilidade significa ignorar o
3) Permite vislumbrar um futuro melhor social e ambientalmente insustentáveis. curto prazo em favor do longo prazo?
para as gerações vindouras; Esse grupo considerou a 4) Vale a pena, financeiramente, investir
4) Inclui uma visão sistêmica de sustentabilidade como uma resposta na sustentabilidade (aumenta os
integração de diferentes grupos de para viver e se perpetuar. custos)?
interesse; e
5) É o único caminho a seguir para Finalmente, na opinião do último grupo Em resposta à primeira pergunta,
sobreviver no mercado no longo a sustentabilidade, com seu enfoque um dos grupos mencionou que o
prazo. triplo, proporciona equilíbrio, que se cenário no qual as empresas são muito
torna efetivo por meio da participação, lucrativas já não existe como tal. E que

100 Sobre Responsabilidad Social de la Empresa


empresas que geram muitos lucros entender que práticas responsáveis mudanças necessárias podem ser
também tendem a investir muito para podem agregar valor ao negócio, comparadas ao desafio de “trocar a
fazer frente aos problemas gerados reduzir custos e riscos e que, portanto, turbina do avião em pleno vôo”, mas
pelo desequilíbrio social e ambiental. devem avançar nessas práticas, até que são inevitáveis. Por outro lado,
Na medida em que sua participação mesmo em interesse próprio e em prol determinadas mudanças não são
e exposição aos mercados aumentam - de sua sustentabilidade. factíveis. Algumas áreas industriais
e, com isso, seus lucros -, as empresas foram concebidas com base em um
precisam se adaptar à situação, levando modelo que não permite grandes
em conta os impactos sociais e Comentários finais alterações, exigindo a criação de uma
ambientais. Não há outra opção. área totalmente nova que se ocupe dos
Comentando a relação entre curto assuntos sociais e ambientais.
As empresas precisam se preparar e longo prazo, alguns participantes
para os novos riscos, envolvendo não consideraram que é difícil mudar, Finalmente, Danta apresentou os
apenas a si próprias, mas também de um dia para o outro, práticas já resultados da pesquisa de imagem da
todas as partes interessadas. enraizadas em uma empresa. É preciso empresa, bem como reconhecimentos
Um problema com um cliente ou introduzir mudanças e incorporar as e prêmios recebidos pelo Banco ABN
um fornecedor, por exemplo, expectativas de cada parte interessada, Amro Real recentemente. Segundo o
gera conseqüências em outras áreas mas isso exige tempo. Quanto ao palestrante, para o banco, os negócios
de uma empresa, porque as atividades retorno financeiro, pode ser difícil, e o mundo estão conectados. Destacou
estão relacionadas. Por outro lado, no curto prazo, medi-lo de maneira os conceitos de confiabilidade,
enfoques proativos são preferíveis aos imediata. O Banco ABN Amro Real, responsabilidade social, preservação
reativos. Outra razão para a mudança segundo Miguel Danta, está buscando de recursos naturais, inclusão social,
é a necessidade de estar à altura dos formas para avaliar o impacto no justiça e sustentabilidade. A cada dia
concorrentes. As empresas e o sentido do retorno financeiro. fica mais claro que os esforços em prol
mercado estão modificando seu No entanto, não se pode medir da sustentabilidade valem a pena.
funcionamento simultaneamente. exatamente o valor, devido à
Outro participante destacou a dificuldade de estabelecer uma relação
importância de valorizar e preservar de causalidade direta, mas é evidente,
a imagem da empresa, o que implica segundo Danta, que a sustentabilidade
não apenas adaptar-se às mudanças agrega valor. Outra maneira de colocar
do mercado, mas também, antecipar-se a questão é que não basta calcular
a elas. quanto se ganha, mas sim a exposição
ao risco e quanto se pode perder caso
Com respeito à segunda pergunta, esses aspectos não sejam levados em
um grupo chamou a atenção para a conta. Num primeiro momento,
necessidade de manter a coerência investimentos em mudanças destinadas
entre o que se diz e o que se faz, entre a tornar o negócio mais sustentável
o discurso e a prática. Um participante podem gerar custos adicionais, mas, no
comentou que há empresas que médio e longo prazo, tendem a gerar
aplicam medidas de responsabilidade lucros que superam os custos.
social buscando, tão somente, melhorar
sua imagem pública, sem ações reais É comum encontrar resistência a
voltadas para a sustentabilidade social mudanças dentro das empresas e nos
e ambiental. As empresas precisam empregados. Danta mencionou que as

Sobre Responsabilidad Social de la Empresa 101


102 Sobre Responsabilidad Social de la Empresa
QUARTA RODADA DE SESSÕES PARALELAS

Sessão D: Avaliação e comunicação da responsabilidade social


corporativa: o desafio da eficácia
Terça-feira, 12 de dezembro de 2006

Aron Belinky*
Instituto Akatu pelo Consumo Consciente

Participaram desta sessão como palestrantes Helio Mattar, Diretor-Presidente do


Instituto Akatu pelo Consumo Consciente, Brasil; Mario Monzoni, Coordenador do
Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo
(FGV/EAESP), Brasil; Nelson Niero, Editor do Caderno Empresas & Tecnologia do
Jornal Valor Econômico, Brasil; e Ana Luiza Herzog, Jornalista da Revista Exame,
Brasil.

Introdução investidores. A eficácia das informações medida, das pressões das partes
geradas por essas ferramentas foram interessadas sobre as empresas.
A ampliação da responsabilidade social debatidas por profissionais de dois É inegável que a continuidade do
da empresa depende, em grande meios de comunicação especializados processo de adoção da RSE e sua
escala, das demandas de suas partes em temas econômicos e empresariais disseminação em empresas menos
interessadas. Para que haja um no Brasil: a revista Exame e o jornal próximas desses valores somente
processo de indução de RSE positivo e Valor Econômico. ocorrerão quando seus diferentes
intenso, são necessárias formas eficazes públicos interessados puderem
de avaliação e comparação do grau compreender, avaliar e valorizar o grau
de compromisso das empresas com Não basta avaliar; é preciso de envolvimento de cada empresa.
sua responsabilidade social, e de comunicar os resultados Uma avaliação objetiva dessa
comunicação dessa informação ao participação é, no entanto, algo
público. A diversidade de empresas Helio Mattar abriu a sessão reiterando extremamente complexo, já que aqui
e partes interessadas requer diferentes as questões centrais que seriam se potencializa, apesar das dificuldades
formas de avaliação de resultados e abordadas. É fato que em alguns casos inerentes à criação de instrumentos de
de processos de comunicação. os valores corporativos ou as avaliação dos processos gerenciais,
convicções pessoais de seus gerentes outras três fontes de dificuldades
Nesta sessão foram destacados os ou proprietários são o ponto de partida como, por exemplo: 1) a
indicadores voltados para duas partes e, em muitas ocasiões, o motor para a heterogeneidade de empresas e
interessadas fundamentais: a Escala incorporação da responsabilidade setores econômicos; 2) a diversidade de
Akatu de RSE – que traduz a social às práticas empresariais e ao partes interessadas; e 3) os desafios da
perspectiva dos consumidores – e o planejamento estratégico. Mas a comunicação.
Índice de Sustentabilidade Empresarial evolução da responsabilidade social
da BOVESPA – que traz o enfoque dos empresarial depende, em grande

* Aron Belinky, Gerente de Projetos Especiais do Instituto Akatu pelo Consumo Consciente, foi também palestrante dessa sessão.

Sobre Responsabilidad Social de la Empresa 103


De fato, é virtualmente impossível criar eficaz de transmissão das informações que, em suas decisões de investimento
um sistema único que seja aplicável relevantes para cada público, os considera, além da análise financeira
tanto às grandes como às micro e melhores dados e indicadores se tornam tradicional, uma análise de questões
pequenas empresas; que atenda às praticamente inúteis. É importante que ambientais, sociais, econômicas e de
necessidades tanto das indústrias essas informações estejam acessíveis a governança corporativa. O objetivo
manufatureiras como de prestadores consumidores e investidores no dia a continua sendo maximizar o retorno
de serviços, comércio ou instituições dia, não apenas por meio de notícias, para os investidores, mas considerando
financeiras; que seja interessante, mas também de rankings e indicadores, todos esses elementos ao lado da
relevante e compreensível tanto para o que exige parcerias no processo de sustentabilidade da organização no
acionistas e gestores como para divulgação, destacando-se aí o papel da longo prazo. Monzoni enfatizou que
consumidores e a comunidade ou a mídia. Os meios de comunicação não se trata de abrir mão dos lucros.
sociedade em geral. Da mesma forma, podem contribuir mais para esse Ao contrário, as ações nesse mercado
esse sistema deve ser corretamente processo, exercendo o papel de estão sendo cada vez mais valorizadas.
captado e divulgado pela mídia, com a decodificador, traduzindo informações e Voltando ao início do surgimento dos
agilidade e simplicidade que lhe são práticas. Quanto mais divulgado o tema, fundos dessa natureza, Monzoni citou
peculiares, de forma a atender maior a influência da opinião pública exemplos das décadas de 1960 e 1970
rotineiramente aos anseios dessas para ajudar a transformar o ambiente quando, por questões éticas ou
partes interessadas. competitivo, de modo que pessoais, alguns investidores excluíam
consumidores e investidores considerem de sua carteira empresas ligadas a
É imprescindível encontrar maneiras critérios éticos, sociais e ambientais em determinados negócios e/ou práticas
de superar esses desafios. Para tanto, suas decisões, além dos critérios de como armas, fumo, pornografia e
a adoção urgente de práticas de qualidade e preço ou de rentabilidade bebidas alcoólicas. Posteriormente,
responsabilidade social pelo maior financeira. também foram relatados casos em que
número possível de empresas é um motivações do mesmo tipo levaram à
fator crítico para a superação dos exclusão de outros setores como
problemas sociais e ambientais que Empresas socialmente responsáveis petróleo e mineração. Esse processo
ameaçam a estabilidade da economia e são melhores investimentos? ficou conhecido como “seleção
as bases do modelo de civilização atual. negativa” (“negative screening”), ou
Nesse sentido, vários sistemas estão Mario Monzoni apresentou o Índice de exclusão dos fundos daquelas
sendo desenvolvidos, com a finalidade Sustentabilidade Empresarial (ISE) da empresas cuja atividade empresarial
de atender às necessidades de Bolsa de Valores de São Paulo produz um impacto negativo.
avaliação e comparação do grau de (BOVESPA), lançado em 2005, e um dos
compromisso das diferentes empresas 4 índices desse tipo no mundo, sendo Posteriormente, nas décadas de 1980
com sua responsabilidade social. os outros o Dow Jones Sustainability e 1990, aparecem os fundos em setores
Buscam-se ferramentas de avaliação Index (DSJI/Nova York), lançado em promissores para o desenvolvimento
apropriadas, que permitam às 1999; o FTSE4Good, da Bolsa de sustentável - ou de baixo impacto
diferentes partes interessadas tomar Londres, de 2001, e o SRI Index da JSE negativo para o meio ambiente -
decisões eficazes e conscientes, (Joanesburgo), introduzido em 2003. como energia eólica, energia solar,
exercendo, assim, seu papel de indutor reciclagem, biotecnologia e informática
da ação das empresas. O ISE insere-se no mercado de - o chamado “positive screening”
investimentos na categoria de (seleção positiva). Em seguida surge
A comunicação se apresenta como investimentos socialmente responsáveis uma terceira geração de critérios de
questão central nesse cenário, na (Social Responsible Investing, SRI), ou seleção, adotada desde a década de
medida em que, sem um processo seja, uma parte do mercado de capitais 1990 até os dias atuais. É o caso do

104 Sobre Responsabilidad Social de la Empresa


critério “best in class”, ou seja, a busca (parte de sua renda e/ou da taxa de O projeto tem apresentado bons
de empresas e/ou setores com as administração) para projetos ou ONGs resultados. Tudo indica que o ISE chegou
melhores práticas de responsabilidade sociais e ambientais. para ficar como referência para o
social comparadas a outras do mesmo mercado de investimento responsável
setor. Essa é uma forma de seleção Concluindo sua apresentação, Monzoni brasileiro e é uma meta para as empresas
muito comum hoje no Brasil, que une apresentou mais detalhadamente que desejam se destacar por seu
a busca da sustentabilidade ao o processo de construção do ISE- compromisso com a responsabilidade
pragmatismo do mundo real. BOVESPA e seus resultados até o social e a sustentabilidade.
Na prática, embora tenham surgido em momento. O índice foi criado por
épocas e contextos distintos, os três iniciativa da Bolsa de Valores de São
tipos de seleção mencionados Paulo, apoiada por um grupo de Como saber se uma empresa é
coexistem e, de certa forma, trabalho coordenado pelo Centro de socialmente responsável?
se complementam. Estudos da Sustentabilidade da Escola
de Administração de Empresas de São Aron Belinky apresentou a escala
Para dar uma dimensão desse Paulo, da Fundação Getúlio Vargas Akatu19 de Responsabilidade Social
fenômeno, Monzoni lembrou que o (FGV/EAESP). Trata-se de um trabalho Empresarial, um instrumento voltado
volume de investimentos nos fundos de em equipe, no qual as diretrizes para o consumidor. Ele começou
investimento socialmente responsáveis estratégicas e políticas do ISE emanam explicando que o objetivo do Instituto
nos Estados Unidos atinge US$ 12 de um conselho composto por Akatu18 é transformar o cidadão
trilhões. No Brasil, o volume atual é de representantes de diversas organizações consumidor em consumidor cidadão,
R$ 500 milhões. Esse movimento já está empresariais, do governo e da ou seja, em um consumidor que toma
presente também em outros mercados sociedade civil. O trabalho técnico de suas decisões de forma consciente,
emergentes como o da África do Sul e definição de critérios e processos para a considerando os impactos que
de vários países da Ásia. Outro seleção das empresas que farão parte estas têm também na economia,
indicador da importância desse da carteira do ISE, bem como a própria na sociedade e no meio ambiente.
mercado é seu crescimento no Brasil. seleção das empresas, é feito pelo O ato de consumo revela, assim,
Desde 2000, vários bancos têm se Centro de Estudos. Uma vez definidas as sua dimensão de cidadania, e dá a cada
envolvido nesse mercado como, por empresas participantes, a BOVESPA pessoa um instrumento poderoso para
exemplo, Unibanco, ABN Amro Real, depura e divulga a composição da contribuir para a sustentabilidade,
Itaú, Bradesco, HSBC, Safra, Caixa carteira, calcula sua valorização diária e a praticando o consumo consciente.
Econômica Federal e Banco do Brasil. compara à evolução do mercado como
um todo. O Banco Interamericano de Dar preferência a produtos de empresas
Além de ilustrar a importância dos Desenvolvimento (BID) foi o principal socialmente responsáveis é uma das
investidores como partes interessadas, financiador desse projeto em seus dois formas mais eficazes para a prática
Monzoni destacou também outras primeiros anos de existência. A partir de do consumo consciente, na medida
práticas que vêm sendo adotadas no 2007, o projeto deverá conquistar em que, buscando essa preferência
mercado financeiro para pressionar as autonomia financeira, gerando seus do consumidor, as empresas estarão
empresas a agir de forma socialmente próprios recursos oriundos das mais motivadas para adotar práticas
responsável. Uma delas é a compra de empresas participantes. Isso vem sendo que privilegiem a sustentabilidade
ações das empresas por ONGs que, feito com extrema cautela, a fim de e a responsabilidade social. Segundo
dessa forma, adquirem o direito de evitar eventuais interferências no Belinky, uma das prioridades da Akatu
participar das reuniões e de influenciar processo de seleção das empresas. em sua ação é propiciar ao consumidor
na gestão da empresa. Outro exemplo meios práticos e objetivos para
são os fundos que transferem recursos conhecer o compromisso das empresas

18 www.akatu.org.br

Sobre Responsabilidad Social de la Empresa 105


O ISE/BOVESPA

• Acompanha a valorização do papel das empresas que mais se destacam pela adoção de práticas e políticas
relacionadas com Sustentabilidade, dentre as 150 com papéis mais líquidos na BOVESPA.
• Seleciona até 40 empresas, com base no tratamento estatístico dos dados coletados por meio de um
questionário que contempla seis dimensões: geral; natureza do produto; governança; econômico-financeira;
social; e ambiental (divididas em 3 subtipos).
• Cada dimensão é avaliada com base em três critérios. A cada critério corresponde um ou mais indicadores,
e a cada indicador uma ou mais perguntas. No total, são 56 indicadores, com 147 perguntas.

2005 2006
(lançamento) (1a atualização)
Empresas convidadas 121 120
Responderam ao questionário 63 60
Carteira de ISE
Empresas participantes 28 34

Setores representados 12 14
Valor de Mercado BBR504.2 Billones BRR700.7 Billones

% de capitalização da BOVESPA 34,9% 48,5%


Distribuição setorial das empresas
(peso na composição do índice)

Financiero 59,54% 43,56%


Petróleo, Gás e Biodiesel - 25,00%
Siderurgia e Metalurgia 3,72% 8,13%
Energia Elétrica 14,11% 7,14%

Outros setores* 22,63% 16,17%

* Aluguel de Veículos; Análises e Diagnósticos; Carnes e Derivados; Equipamentos Elétricos; Exploração de


Estradas; Holding Diversificada; Material de Transporte; Papel e Celulose; Petroquímicos; Produtos de Higiene
Pessoal e Limpeza; Transporte Aéreo e Ferroviário.

106 Sobre Responsabilidad Social de la Empresa


com a RSE, reforçando, assim, a idéia meios eficazes para a operação do Instituto Akatu19. Esse Guia permite
de que o compartilhamento de sistema. pesquisar diretamente as empresas (ou
informações entre consumidores marcas) de interesse e, assim, verificar
também é de grande importância Para desenvolver a Escala Akatu, as respostas da empresa na Escala
nesse processo. informa Belinky, foi desenvolvida uma Akatu e sua classificação geral ou em
metodologia de cálculo e categorização cada um dos 17 temas. Pode-se
Quando se propôs a criar um sistema das empresas, baseada em um conjunto também chegar às empresas por meio
para atender necessidades, a Akatu de pesquisas realizadas junto a empresas de produtos, uma vez que na busca de
concluiu que se deveria dar ao e consumidores, e criado um sistema de informações sobre determinados
consumidor uma perspectiva mais coleta e apresentação de informações via produtos, o sistema também apresenta
ampla e positiva da ação das empresas Internet, para operacionalizar seu uso. ao usuário as empresas participantes
em termos de responsabilidade social. A partir dessas pesquisas, foram definidas do guia que os produzem. Outros
Assim, em vez de enfocar a denúncia as 60 Referências Akatu-Ethos de RSE, aspectos essenciais cobertos pelo Guia
de ações negativas ou os erros das que abrangem 17 temas fundamentais de Empresas e Produtos são o
empresas – como usualmente ocorre na de responsabilidade social. As práticas e intercâmbio de informações e o
mídia - a Escala Akatu chama a atenção os temas foram então submetidos ao questionamento das respostas das
para um conjunto de práticas que as escrutínio dos consumidores, por meio empresas a cada uma das Referências
empresas poderiam adotar e as de uma pesquisa com 600 consumidores Akatu-Ethos. Junto com as informações
sintetiza em um processo de em São Paulo, Porto Alegre e Recife, sobre a empresa, o usuário pode deixar
categorização, no qual se destacam as selecionados em razão de seu maior suas perguntas e seus comentários,
empresas mais ativas nas diferentes grau de consciência social. Também foi além de consultar as perguntas e os
áreas de responsabilidade social e incluído um fator destinado a premiar as comentários de outras pessoas e as
ambiental. Nesse sentido, algumas empresas pioneiras em suas práticas, que respostas das empresas.
premissas foram adotadas no sistema, resultou em um sistema de pontuação
a saber: baseado nas informações fornecidas pela Em dezembro de 2006, cerca de 108
empresas sobre o grau de adoção de empresas já participavam do Guia de
• Será responsabilidade das empresas cada uma das Referências. A partir de Empresas e Produtos, avaliando seu
declarar as práticas de RSE que pesquisas e simulações realizadas num desempenho e divulgando-o aos
adotam, assumindo, assim, universo representativo de empresas consumidores por meio da Escala
um compromisso público. instaladas no Brasil, foi definida uma Akatu. Apesar de ser um número
• Será responsabilidade dos usuários escala com 4 níveis de classificação das significativo, a Akatu considera que
e da imprensa consultar o sistema, empresas. Estimativas indicam que o para conseguir a massificação do uso
comunicando as informações nível mais baixo concentra 70 por cento de informações objetivas sobre RSE
incorretas e exigindo sua retificação das empresas, e que apenas 5 por cento como parâmetro para decisões de
ou seu esclarecimento pelas empresas. estão no nível mais alto, onde recebem a compra por parte dos consumidores,
• Trata-se de um sistema de maior pontuação (3 Akatus). ainda é preciso melhorar o sistema de
classificação, tendo como base as coleta de informações e disseminação
prioridades dos consumidores O palestrante informou, ainda, que dos resultados obtidos pela Escala
brasileiros, a ampla cobertura das para facilitar a consulta por Akatu. Nesse processo, a mídia
áreas que envolvem a RSE e o estado consumidores, empresas e pela mídia, certamente desempenha um papel
atual de sua prática nas empresas os resultados das empresas fundamental.
do país. participantes estão disponíveis na
• Será responsabilidade da Akatu Internet, no Guia de Empresas e Aron Belinky destacou, ao concluir sua
apurar essas informações e criar Produtos localizado na página do apresentação, alguns dos resultados

19 www.akatu.org.br

Sobre Responsabilidad Social de la Empresa 107


obtidos na pesquisa sobre a função como a de promover o no Prêmio ETHOS-VALOR, que
prioridade atribuída pelos desenvolvimento sustentável e estimula a produção acadêmica
consumidores às práticas de RSE combater injustiças, que não são entre estudantes universitários de
contempladas pela Escala Akatu, responsabilidades apenas do graduação e pós-graduação em
conforme mostra o quadro abaixo. Estado. O editorial considerava temas relacionados com a
que empresas e outros agentes responsabilidade social empresarial.
econômicos também precisam se Além disso, em parceria com o
Como a empresa percebe as envolver nessa tarefa e que o jornal Instituto Ethos e o Instituto Akatu,
notícias sobre RSE? estaria sempre disposto a apoiar o jornal participa do “Prêmio Valor
iniciativas nesse sentido. Social”, concedido a empresas que
se destacam em RSE em diferentes
Na segunda parte das apresen-
Niero citou como exemplo o categorias.
tações, destinada às manifestações
da mídia impressa, Nelson Niero suplemento mensal “Empresas &
abordou a relação do Jornal Valor Comunidade”, com uma tiragem Nelson Niero apresentou, também,
Econômico – voltado para o mercado de 60 mil exemplares, cujos temas resultados de pesquisas que mostram
empresarial no Brasil – com o tema principais são projetos para a a visão geral da mídia brasileira em
da responsabilidade social empre- comunidade, questões ambientais, relação à responsabilidade social,
sarial, destacando que desde seu ações junto ao público interno comprovando o aumento do número
lançamento, em 2000, o jornal tem e iniciativas ligadas a educação, de reportagens sobre o tema e
um grande interesse na temática. saúde, geração de renda e emprego. evidenciando um conjunto de
Esse jornal, no editorial de seu Outro exemplo do envolvimento do iniciativas de cobertura em vários
lançamento em 2000, descrevia sua Valor Econômico é sua participação veículos de comunicação como

ESCALA AKATU DE RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL

• Categoriza as empresas conforme seu grau de responsabilidade social, com base nas respostas a 60
perguntas (as Referências Akatu-Ethos), agrupadas em 17 temas.
• Contempla 4 categorias, definidas com base no atual momento de prática das empresas situadas no Brasil.
• A categoria de maior grau recebe a classificação “3 Akatus” e estima-se que inclua apenas 5 por cento das
empresas do país.
• Pondera as práticas conforme a prioridade atribuída pelo consumidor e considera em sua avaliação o grau
de adoção dessas práticas pela empresa.
• As respostas e informações fornecidas pelas empresas estão sujeitas a comentários e questionamentos
públicos por parte dos usuários.

108 Sobre Responsabilidad Social de la Empresa


Os 17 temas considerados na Escala Akatu

Princípios e normas de conduta Seleção de fornecedores


Transparência para a sociedade Responsabilidade na relação com o consumidor
Participação e diálogo com os empregados Comunicação com o consumidor e propaganda
Promoção da inclusão social como empregadora Relações com a comunidade adjacente
Assistência aos empregados Contribuição para a sociedade em geral
Práticas de emprego justas Transparência política
Cuidado com o meio ambiente Práticas anticorrupção
Gestão do impacto ambiental Liderança social
Parceria com fornecedores

Principais informações da pesquisa “O que o consumidor consciente espera das empresas” (Akatu, 2005):

• Das 11 práticas mais valorizadas pelos consumidores, 10 estão relacionadas com o tratamento do público
interno, ou seja, com o papel da empresa como empregador.
• A única exceção é a prática “adota programas para o uso racional de água e energia”, que também é uma
das mais valorizadas.
• Dessas 11 práticas, 6 estão implantadas em mais de 70 por cento das empresas participantes:
• evita diferenças de remuneração em razão de gênero
• adota regras claras de desenvolvimento profissional e remuneração de empregados
• estende benefícios às famílias de seus empregados
• promove a educação dos empregados e o treinamento funcional
• combate o trabalho infantil e forçado e incentiva fornecedores a fazer o mesmo
• adota programa de participação dos empregados nos lucros da empresa.

• Entretanto, 4 dessas 11 práticas mais valorizadas pelos consumidores estão entre as menos implantadas no
Brasil, revelando uma oportunidade inexplorada pelas empresas:
• contratação de pessoas com necessidades especiais
• normas e práticas para evitar o assédio moral e sexual
• apoio ao desenvolvimento social e cultural de filhos dos empregados
• apoio à recolocação e requalificação de empregados

• O consumidor também considera essencial o atendimento de qualidade e rejeita a participação da empresa


em campanhas políticas.

Sobre Responsabilidad Social de la Empresa 109


jornais, o rádio, a televisão e a • 86,9 por cento das reportagens mostrou que estes, em sua grande
Internet. Por outro lado, citou dados não informam o valor total de maioria, ainda percebem o tema mais
não muito positivos sobre uma investimentos em práticas como marketing do que como
pesquisa realizada pela ANDI e pelo socialmente responsáveis compromissos reais ou verdadeiras
Instituto Ethos, referente a 750 textos • 92,5 por cento das reportagens práticas organizacionais. Essa
publicados entre agosto de 2003 e não informam quanto o percepção gera certa desconfiança
setembro de 2004, em 54 dos investimento em responsabilidade em relação ao tema, prejudicando
principais jornais do país. A pesquisa social representa em relação ao uma cobertura mais esclarecedora e
concluiu que, apesar de ter faturamento total da empresa profunda.
aumentado, a cobertura ainda é • 83,6 por cento das reportagens
muito superficial e, na maioria dos não mostram uma perspectiva de Nelson Niero concluiu enfatizando
casos, negligencia aspectos desenvolvimento da sociedade/ a importância de que temas
fundamentais para a informação do comunidade relacionados com responsabilidade
público e o incentivo ou orientação social empresarial e sustentabilidade
das empresas, como ilustram os Sobre as conclusões da pesquisa, sejam reconhecidos pela mídia de
dados abaixo (veja dados abaixo). Niero comentou que fica clara a falta massa como relevantes, de forma a
de uma reflexão mais madura. Uma contribuir para a construção de
sondagem realizada com jornalistas novos paradigmas.

O PALESTRANTE APRESENTOU DADOS SOBRE AS REPORTAGENS DO SUPLEMENTO “EMPRESAS & COMUNIDADE”,


DESTACANDO A DIVERSIDADE TEMATICA DOS ARTIGOS E SEU VOLUME:

Ano tema Artigos Empresas Projetos Número de artigos por


tema

2000 144 183 21 Consumo 9


2001 154 201 18 Arrecadação de
recursos 28

2002 97 135 135 Cultura 30

2003 124 195 160 Diversidade 0


2004 124 193 220 Ambiente de
Trabalho 53

2005 131 163 124 Voluntariado 56

Total 741 1007 849 Gestão do terceiro setor


57 Outros 65

110 Sobre Responsabilidad Social de la Empresa


A responsabilidade social como um novo peso à questão da inserção da Concluindo, ao referir-se ao papel
pauta de uma revista de negócios responsabilidade social na estratégia que ferramentas como o ISE e a
da empresa, demonstrando, assim, a Escala Akatu podem desempenhar,
Para concluir a RODADA de sintonia da publicação com o momento a palestrante recordou que estas se
apresentações, Ana Luiza Herzog atual do movimento de responsabilidade têm revelado importantes fontes para
apresentou o que a revista EXAME, social empresarial. assentar as bases, na medida em que
voltada para o público executivo trazem dados de maneira mais objetiva
empresarial no Brasil, vem fazendo em Além do Guia de Cidadania Corporativa, e neutra do que a simples informação
termos de cobertura da responsabilidade a revista publica regularmente, em suas divulgada diretamente pelas empresas.
social. O tema começou a ser abordado edições mensais, reportagens sobre Assim, avalia que essas ferramentas
pela revista em 1999, um ano após a RSE e sustentabilidade, destacando públicas de avaliação da RSE cumprem
criação do Instituto ETHOS. A primeira exemplos bem sucedidos e novos a função para a qual foram concebidas,
reportagem a ganhar a capa da desafios para as empresas, percepções não apenas sintetizando o momento
publicação usou muito a expressão dos consumidores, opiniões de analistas das empresas no que se refere às
“filantropia”, bastante explorada pelas nacionais e internacionais, possibilidades práticas que adotam, mas também
empresas naquele momento, como algo de parcerias para soluções de problemas divulgando as atividades concretas
positivo. Um marco importante foi o sociais e desafios para as empresas nas que estão sendo avaliadas.
lançamento, em 2000, do Guia de Boa relações com suas partes interessadas,
Cidadania Corporativa, primeira dentre outros temas. Mas, por outro
publicação com esse enfoque no Brasil. lado, comenta que apesar desse alto Comentários finais
Essa primeira edição teve como destaque grau de interesse, ainda persiste a
matérias sobre voluntariado. A essência necessidade de mais recursos – de Durante o diálogo com os participantes
do Guia foi construída por meio das tempo e humanos - para a realização houve uma série produtiva de perguntas
respostas das empresas a questionários de trabalhos mais profundos e e comentários, na qual as principais
baseados, inicialmente, nos Indicadores esclarecedores sobre o que as empresas questões debatidas – conforme a
Ethos de Responsabilidade Social. estão fazendo na área de RSE. proposta da sessão – foram a eficácia
Com o tempo e a experiência adquirida,
a composição do Guia e a seleção das
empresas foram sendo modificadas,
adequando-se mais ao formato
jornalístico e sintonizando-se com as
tendências mais recentes sobre o tema.
As edições desse guia anual apresentam
empresas modelo e suas práticas.

Ana Luiza Herzog ressaltou que os


temas de cada edição do Guia refletem
os assuntos mais discutidos nas
empresas em cada ano. Na primeira
edição foram destacados projetos
sociais em várias áreas. Já na edição de
2001, o tema destacado foi Balanço
Social. A palestrante acrescentou que,
em sua edição de 2006, o Guia atribui

Sobre Responsabilidad Social de la Empresa 111


das ferramentas de avaliação disponíveis
no mercado em relação às práticas
de responsabilidade social, e as
possibilidades de sua assimilação pelos
veículos de comunicação. Ficou clara a
qualidade das ferramentas e a
necessidade de sua existência, que,
entretanto ainda carecem de maior
repercussão junto aos mercados e à
mídia de massa. Destacou-se nesse
contexto um elemento altamente
positivo, representado pelo movimento
do mercado financeiro no que toca à
RSE, inclusive com a chegada do
ISE/BOVESPA, o que comprova o
entendimento dos investidores em
relação ao novo comportamento de
algumas empresas. Chegou-se à
conclusão de que a comunicação de
massa, a despeito da grande cobertura,
ainda é muito superficial, uma vez que a
maioria dos jornalistas ainda está longe
de dominar o tema. Há muito espaço
para uma cobertura mais profunda e
consistente do tema. As ferramentas
apresentadas ajudam, mas o empenho
e o investimento das empresas de
comunicação são essenciais para a
plena realização de seu potencial.

112 Sobre Responsabilidad Social de la Empresa


QUARTA SESSÃO PLENÁRIA

Alianças estratégicas para o desenvolvimento


Terça-feira, 12 de dezembro de 2006

Professor emérito James Austin*


Harvard Business School

Este painel foi constituído pelos seguintes palestrantes: Robert de Jongh, Diretor
para a América Latina da SNV (Agência de Cooperação Holandesa); André Guimãres,
Diretor do Instituto BioAtlântico, Brasil; Manoelito Souza, Superintendente do
Departamento Regional do Serviço Social da Indústria (SESI) da Bahia, Brasil; e María
Silvia Pineda, Vice-Presidente da CentraRSE, Guatemala.

Os palestrantes confirmaram o poder organizações são um veículo para novas responsabilidade, agendas comuns,
e a diversidade das colaborações, iniciativas de colaboração com outras pontos de compatibilidade,
que podem ser observados com base entidades públicas, privadas e do competências complementares,
na própria natureza de suas organizações. setor social. capacidades centrais e fatores
As experiências de todos os casos operacionais críticos.
apresentados no painel resultam de O poder de colaboração também se
colaborações interinstitucionais. A SNV, manifesta na grande variedade de • Co-responsabilidade. Um importante
uma ONG que integra o sistema de ações nas quais cada uma dessas ponto de partida conceitual que
cooperação holandesa, é fruto de uma organizações tem estado efetivamente resulta das colaborações é o
parceria estratégica entre o governo da envolvida, tais como atividades de reconhecimento de que a
Holanda e o World Business Council for conservação ambiental, capacitação responsabilidade por melhorar a
Sustainable Development (WBCSD). de empregados, promoção da sociedade deve ser compartilhada
O Instituto BioAtlântico, por sua vez, alfabetização, alívio da fome, apoio a por todos os setores – empresas,
é uma joint venture formada por um jovens em situação social de risco, governo e sociedade civil. Essa co-
grupo de empresas e um conjunto de serviços comunitários, microfinanças responsabilidade surge também
ONGs com o objetivo comum de e negócios inclusivos. como um reconhecimento
conservar a Mata Atlântica do Brasil. pragmático da incapacidade dos
O SESI é uma colaboração intra-setorial A partir desse rico conjunto de setores e das instituições de tratar
criada como uma entidade com um experiências organizacionais e de adequadamente, por si sós, a
propósito social, como parte de uma diálogo surgiram no painel alguns crescente magnitude e complexidade
federação empresarial brasileira. Por elementos e lições relevantes para a dos problemas e das necessidades
último, a CentraRSE é uma associação formação de parcerias estratégicas que que enfrenta a sociedade. Essa
nacional de empresas na Guatemala, contribuam significativamente para o responsabilidade não é percebida
dedicada à promoção da desenvolvimento positivo. Esses como um elemento periférico,
responsabilidade social empresarial. elementos podem ser resumidos nas mas sim como parte central da
Além de serem fruto de parcerias, essas seguintes dimensões: Co- estratégia da organização.

* James Austin, Professor Emérito da Harvard Business School, foi o moderador dessa sessão.

Sobre Responsabilidad Social de la Empresa 113


• Agendas comuns. Há uma tendência semelhantes também podem Comentários finais
compreensível de cada organização aumentar sua capacidade unindo
e setor de pensar que suas esforços e combinando ativos É impossível obter avanços significativos
preocupações são de caráter semelhantes, porque obtêm em responsabilidade social empresarial
particular e que afetam apenas a si uma maior escala. Esse é o caso, sem colaborações sólidas e poderosas.
próprios. É imperativo escapar dessa por exemplo, de empresas que Se a RSE é um “bom negócio para
visão míope e reconhecer a inevitável unem esforços em federações todos”, então não há dúvida,
interdependência dos setores e das ou associações. também, de que “todos devem estar
instituições. A tarefa é identificar os • Capacidades centrais. Enquanto a envolvidos”. Este século será a era das
pontos importantes de interseção complementaridade é uma das fontes parcerias. As habilidades para colaborar
e os problemas comuns, cuja solução de criação de valor, outra forma de com terceiros se torna uma capacidade
é de interesse mútuo e requer ações gerar valor agregado é colocar as essencial para o sucesso de
conjuntas. Essa é a base para capacidades centrais à disposição organizações de todos os setores.
produzir uma agenda comum para da parceria. Isso significa alavancar
sua ação de colaboração. os ativos que são vitais para o Mas, há algo além da colaboração?
• Pontos de compatibilidade. Além dos sucesso de uma organização O que parece estar emergindo
problemas comuns, os pilares sobre em suas atividades normais como, é o fenômeno da convergência.
os quais se constrói uma parceria por exemplo, a tecnologia utilizada, Os três setores - empresas, governo e
estratégica necessitam de outros o know-how, as relações com outras sociedade civil – cada vez têm mais
pontos de compatibilidade. pessoas envolvidas com o ambiente pontos e características em comum.
As missões, os valores e as estratégias da atividade, a rede de contatos Os pontos de convergência a serem
são peças centrais na construção da (know-who), que pode ser um ativo destacados são os seguintes:
organização. Quanto maior a muito valioso, ou a infra-estrutura,
congruência entre esses elementos a reputação, os produtos, os canais • Propósito: Os propósitos já não
ao longo das organizações e as de distribuição e o poder de estão tão claros, no sentido de
colaborações, maiores a coesão e o arregimentação da empresa. que os limites pouco a pouco
entendimento mútuo. Esses elementos • Fatores operacionais críticos. desaparecem e já não dependem
não serão idênticos, mas quanto As formas como os parceiros apenas da natureza da organização,
maiores as áreas de sobreposição, interagem para poder levar adiante nem são algo inamovível com um
maiores as probabilidades de uma a colaboração determina, em grande único propósito determinado, como
colaboração harmoniosa. medida, a efetividade da parceria. se poderia considerar no passado;
• Competências complementares. As parcerias mais sólidas parecem ao contrário, os propósitos tendem a
O que cria o potencial para capturar estar caracterizadas pelos seguintes convergir. Por um lado, as empresas
as sinergias de colaboração é a atributos: respeito, confiança, estão criando valor tanto social como
combinação das competências de horizontalidade, inovação, econômico. Por outro, as ONGs
complementaridade de cada compromisso de longo prazo, estão gerando valor econômico por
organização colaborativa. Essa nova sustentabilidade e prestação de meio das vendas de bens e serviços,
combinação de ativos e habilidades contas. As parcerias mais poderosas além de seu papel tradicional
propicia associações para a apresentam um nível de participação de geradoras de valor social.
realização de ações mais eficazes profundo por parte dos líderes de Acrescente-se a isso o fato de que
do que aquelas que os parceiros cada uma das organizações os governos também estão gerando
poderiam implementar isoladamente, participantes da organização. mais do que valor político ao se
uma vez que amplia o âmbito de suas comprometerem com a geração de
possibilidades. Organizações valor social e econômico,

114 Sobre Responsabilidad Social de la Empresa


freqüentemente em colaborações convergência significa que há muitas
com outros setores. oportunidades para aprender
• Forma organizacional. As empresas mutuamente e construir organizações
estão criando ONGs e fundações. com ações altamente integradas.
As ONGs, por sua vez, estão criando Desse modo, para avançar em uma
empresas, e os governos, organizações agenda comum de co-responsabilidade
mistas. Todos eles envolvidos em social, devemos construir parcerias
colaborações para o sucesso de intersetoriais ainda mais sólidas;
empreendimentos sociais. Portanto, alavancar oportunidades na nova
vemos também um amplo nível de fronteira de convergência; e continuar
convergência nas formas liderando com paixão e compromisso.
organizacionais das entidades.
• Mecanismos financeiros. As ONGs
estão utilizando instrumentos para
obter recursos dos mercados
financeiros; as empresas estão
recebendo financiamento proveniente
de fundos que têm a responsabilidade
social como um de seus critérios de
investimento; as empresas e os
governos estão criando tributos
voluntários destinados a financiar
projetos sociais gerenciados por
ONGs. Ou seja, os instrumentos e
mecanismos de financiamento
também estão convergindo para
aqueles que levam em conta os
aspectos sociais e ambientais.

Essa convergência encerra duas


grandes implicações. Primeiro,
precisamos proceder a uma mudança
básica em nosso modelo mental.
Na prática, habitualmente cada setor
olha para os demais e pensa neles
como uma terceira parte com a qual
não se identificam diretamente.
Precisamos mudar essa atitude,
transformando-a numa visão comum,
ou seja, olhar para os demais setores
e pensar uma estratégia comum,
identificar-se como parte do todo,
com vários pontos em comum e uma
agenda compartilhada. Segundo,

Sobre Responsabilidad Social de la Empresa 115


ANEXO 1: AGENDA

RESPONSABILIDADE SOCIAL DA EMPRESA


UM BOM NEGOCIO PARA TODOS
10-12 de dezembro de 2006
Hotel Pestana Bahia, Salvador, Bahia, Brasil

116 Sobre Responsabilidad Social de la Empresa


ANEXO 1: AGENDA
RESPONSABILIDADE SOCIAL DA EMPRESA
UM BOM NEGOCIO PARA TODOS
10-12 de dezembro de 2006
Hotel Pestana Bahia, Salvador, Bahia, Brasil

Domingo, 10 de dezembro de 2006

15:00-19:00 Inscrição
Foyer

19:30-21:30 Recepção de boas vindas


23º andar do Hotel Pestana Bahia

Segunda-feira, 11 de dezembro de 2006

9:00-9:30 Abertura
Salas Fernando Pessoa 2 e 3

• Eraldo Tinoco, Vice-Governador do Estado da Bahia, Brasil


• Luis Alberto Moreno, Presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID)
• Ricardo Young, Presidente do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, Brasil
• Jorge Lins Freire, Presidente da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (FIEB), Brasil
• Patrus Ananias de Sousa, Ministro de Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Brasil

9:30-11:00 Primeira sessão plenária: A contribuição do setor privado responsável para o desenvolvimento
Salas Fernando Pessoa 2 e 3

A primeira plenária apresentará as bases da conferência, discutindo os temas gerais que afetam o desenvolvimento e em que
as empresas podem contribuir, desde sua esfera de atuação. O setor privado gera riqueza e cria empregos, mas pode fazê-lo
de tal forma que a riqueza se distribua mais eqüitativamente e os empregos sejam de qualidade. Pode também criar
oportunidades para melhorar as condições de vida da população, contribuindo, por exemplo, para melhorar a infra-estrutura
e os sistemas de saúde e educação.

Palestrantes
• Julio Moura, Presidente do Grupo Nueva, Vice-Presidente do Conselho Empresarial Mundial para
o Desenvolvimento Sustentável (WBCSD)
• Guilherme Peirão Leal, Co-Presidente do Conselho de Administração da Natura, Brasil
• Stan Litow, Vice-presidente Corporativo de relações com a comunidade e Presidente da Fundação
Internacional IBM, EUA
• Larry Palmer, Presidente, Inter-American Foundation, EUA

Sobre Responsabilidad Social de la Empresa 117


Moderador
• Antonio Vives, Gerente, Departamento de Desenvolvimento Sustentável, Banco Interamericano de
Desenvolvimento

11:00-11:30 Coffee-break
Foyer

11:30-13:00 Segunda sessão plenária: O papel do Estado na criação de um ambiente propício para a RSE
Salas Fernando Pessoa 2 e 3

Nessa sessão, será debatido o papel do Estado como gerador de um ambiente que permita as empresas serem mais
responsáveis com o meio-ambiente e a sociedade, discutindo-se ainda a necessidade ou não de instrumentos de
regulamentação dessas ações. Os expositores trarão enfoques diferentes para a atuação do Estado em países nos quais
já se estão realizando esforços nesse sentido.

Palestrantes
• Ramón Jáuregui, Comisión Parlamentaria de Política Social y Empleo, Espanha
• Isaac Edington, Diretor, Desenvolvimento Organizacional, Rede Bahia, Brasil
• Anna Maria Peliano, Diretora de Estudos Sociais, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), Brasil
• Patrus Ananias de Sousa, Ministro de Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Brasil
Moderador
• Josep M. Lozano, Instituto Persona, Empresa y Sociedad (IPES) de ESADE, Espanha

13:00-14:30 Almoço
Sala Jorge Amado
Patrocinado pela The Coca-Cola Company

14:30-16:15 Primeira Rodada de Sessões Paralelas:

A: Co-relação entre Indicadores Ethos e Global Reporting Initiative-G3: duas ferramentas para a comunicação contínua
ou Communication on Progress (COP)
Sala Fernando Pessoa 3
Esta sessão apresentará os principais argumentos que demonstram a co-relação entre os Indicadores Ethos e Indicadores G3
de GRI com o objetivo de estimular sua utilização para manter uma comunicação contínua das atividades empresariais,
particularmente das empresas membros do Pacto Global das Nações Unidas (United Nations Global Compact, UNGC).

• Ernst Ligteringen – Presidente, Global Reporting Initiative (GRI)


• Manuel Escudero- Chefe das Redes, UN Global Compact
• Ricardo Young – Presidente, Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, Brasil

118 Sobre Responsabilidad Social de la Empresa


B: Diversidade no mercado de trabalho e o investimento social inclusivo
Sala Fernando Pessoa 1
Os palestrantes apresentarão experiências de diversidade no mercado de trabalho e exemplos de colaboração entre
organizações sem fins lucrativos e empresas privadas na América do Sul. Enfatizarão também os benefícios dessas
colaborações e os desafios para suprir as necessidades de todas as partes interessadas. Essa sessão estará dividida
em duas partes, a primeira será um painel e a segunda terá um formato de entrevista.

Parte 1: Apresentação do Instituto Iris

Palestrantes
• Helio Santos – Presidente, Instituto Brasileiro da Diversidade, Brasil
• Elias Sampaio- Sub-Secretario Municipal de Reparação, Brasil
• Rocio Alonso Lorenzo – Pesquisadora, Cornell University, EUA
Moderadora
• Izabel Portela – Diretora Executiva, Instituto Íris, Brasil

Parte 2: Fundação Interamericana - Entrevistas: experiências de sucesso

Palestrantes
• Giovanni Harvey – Diretor Financeiro, Instituto Palmares de Direitos Humanos, Brasil
• Rosemberg Evangelista Pinto– Gerente de Comunicação Institucional Nordeste, Petrobrás, Brasil
• Claudio Krug Merino – Presidente, Unión Nacional de Instituciones de Ciegos de Chile (UNCICH), Chile
• Cristian Bravo Román - Diretor de Projetos, Telefónica de Chile, Chile
• Rodolfo Soriano – Diretor Executivo, Asociación para el Desarrollo Rural, Bolivia
• Javier Hurtado - Irupana Andean Organic Foods, Bolívia
• Vicente Choquetijlla - Irupana Andean Organic Foods, Bolívia
Moderadora
• Tina Balin-Brooks – Inter-American Foundation (IAF), EUA

C: Ação coletiva do setor privado na luta contra a corrupção


Sala Zélia Gatai
Essa sessão apresentará enfoques empresariais inovadores na luta contra a corrupção para melhorar o ambiente empresarial,
usando conceitos como os de RSE, governança corporativa e estratégias éticas de negócios.

Palestrantes
• Djordjija Petkoski - Chefe da Equipe de Negócios, Competitividade e Desenvolvimento, Instituto do Banco
Mundial, Grupo Banco Mundial
• Graciela Garay – Presidente, Câmara de Comércio Paraguaio-Americana e Membro Fundador do Pacto Ético
Comercial no Paraguai, Paraguai
• Sarah Cook, Especialista do Comércio Internacional/Gerente de Programas, Departamento de Comércio, EUA
• Alejandro De Lascurain, Gerente de Serviços Financeiros, Construcard, CEMEX, México
• Stephen Ettinger – Assessor de Projetos/ Coordenador de Partnership for Transparency Fund (PTF) na América
Latina, EUA
Moderador
• Philip Nichols – Professor de Estudos Legais e Ética Corporativa, The Wharton School, University of Pennsylvania, EUA

Sobre Responsabilidad Social de la Empresa 119


D: Os catadores e a indústria de reciclagem: construindo vínculos sustentáveis
Sala Gregório de Matos
Esta sessão apresentará como o (re)conhecimento e o diálogo entre as partes da cadeia pode colaborar para a construção
de uma economia realmente sustentável.

• Valdemar de Oliveira Neto – Representante Regional do Brasil, Fundação Avina, Brasil


• Roberto Laureano da Rocha, Diretor-Presidente da CRUMA - Cooperativa de Reciclagem Unidos pelo Meio
Ambiente, Brasil
• Antonio Bunchaft, Diretor do PANGEA - Centro de Estudos Sócio-Ambientais, Brasil
Moderador
• Telma Rocha – Fundação Avina, Brasil

16:15-16:45 Coffee-break
Foyer

16:45-18:30 Segunda Rodada de Sessões Paralelas:

A: Apresentação de casos empresariais


Esta sessão apresentará o progresso da pesquisa O argumento empresarial da RSE: 10 casos na América Latina e no Caribe (INCAE)
e empresas apresentarão experiências e projetos de RSE que contribuem para o desenvolvimento eqüitativo de suas regiões.
Sala Fernando Pessoa 3

Palestrantes
• Arturo Condo – Decano, Centro Latino-Americano para a Competitividade e o Desenvolvimento Sustentável
(CLACDS), INCAE, Costa Rica
• Antonio Boadas – Diretor de Assuntos Corporativos para América Latina, Procter & Gamble, Venezuela
• Paulo Roberto Lima Bonfim - Relações institucionais e pela área de RSE, Michelin da Bahia, Brasil
• Piedad Rojas Román – Encarregada de RSE, Unión FENOSA, Colômbia
• Mauricio Medeiros, Programa de Desenvolvimento Integrado e Sustentável do Baixo Sul da Bahia, Fundação
Odebrecht , Brasil
Moderadora
• Estrella Peinado-Vara – Especialista do Setor Privado, Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID)

B: Parcerias público-privadas para a implementação de normas internacionais de trabalho e promoção do comércio justo
Sala Fernando Pessoa 1
Essa sessão apresentará casos de parcerias público-privadas e casos específicos de estruturas de parcerias flexíveis com o
objetivo de melhorar o cumprimento das normas de trabalho internacionais.

120 Sobre Responsabilidad Social de la Empresa


Palestrantes
• Oded Grajew – Presidente do Conselho Deliberativo, Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, Brasil
• Fernando Pimentel – Superintendente, Associação Brasileira de Indústrias Têxtil (ABIT), Brasil
• Susan Aaronson – Pesquisadora, Frank Hawkins Kenan Institute of Private Enterprise e Professora, George
Washington University, EUA
• Elena Arengo – Diretora de Programas da América Latina, Social Accountability Internacional
• Kjeld Jakobsen – Presidente, Observatório Social, Brasil
Moderador
• Armand Pereira, Representante/Diretor, Organização Internacional do Trabalho (OIT), Escritório em Washington, EUA

C: RSE e crescimento econômico eqüitativo em favor das populações pobres e vulneráveis: criando impacto através da
cadeia de fornecimento
Sala Zélia Gatai
A sessão analisará o potencial da integração da RSE nas cadeias de fornecimento para promover o desenvolvimento
sustentável e o alivio à pobreza. O assunto será abordado através da apresentação de três estudos casos: O enfoque
empresarial para pequenas e medianas empresas em Equador, o modelo de Comércio Justo (Fairtrade) em comunidades
rurais no Brasil e a metodologia TEAR desenvolvida em Brasil para apoiar a grandes empresas a incentivar a sustentabilidade
nas suas cadeias de valor. As metodologias desenvolvidas serão apresentadas e será facilitada uma discussão em torno aos
fatores críticos de sucesso e indicadores para o desenvolvimento de cadeias produtivas sustentáveis.

• Beat Grüninger – Diretor, Business and Social Development, Brasil


• Felipe Arango – Diretor, Business and Social Development, Colômbia
• Verónica Rubio – Consultora, Fairtrade Labelling Organizations International FLO

D: Ética: um bom negócio


Sala Gregório de Matos
Transparência por Colômbia desenvolveu um enfoque conceitual de iniciativas práticas sobre transparência e setor privado.
Uma dessas iniciativas é RUMBO PYMES: 10 ferramentas práticas aplicadas mediante capacitação e acompanhamento em 140
pequenas e médias empresas que integram a cadeia de valor de grandes empresas. Nessa sessão, Transparencia por Colômbia
compartilhará as lições aprendidas e um líder empresarial relatará sua experiência na implementação de Rumbo PYMES.

• Margareth Flórez – Diretora Executiva, Transparencia por Colômbia, Colômbia


• Felipe Andrés Giraldo Munera, Chefe de Desenvolvimento Comercial, Organización Corona, Colômbia

19:30-21:30 Coquetel
Palácio da Aclamação
Patrocinado pela Federação das Indústrias do Estado da Bahia (FIEB)

Sobre Responsabilidad Social de la Empresa 121


Terça-feira, 12 de dezembro de 2006

7:30-8:45 Diálogo com a Inter-American Foundation: Todos ganham com o investimento corporativo em
desenvolvimento de base (Café da manhã será servido)
Sala Gregório de Matos

9:00-10:30 Terceira sessão plenária: A sociedade civil na RSE e o desenvolvimento


Salas Fernando Pessoa 2 e 3
As organizações da sociedade civil se incumbem de fazer ouvir as vozes dos cidadãos e transmitem às empresas expectativas
da sociedade. A proximidade dessas organizações com os problemas decorrentes da desigualdade social e seu conhecimento
sobre as populações que as rodeiam, colocam-nas em uma situação privilegiada para encontrar soluções. Com a contribuição
de empresas socialmente responsáveis, não somente com recursos para financiar iniciativas mas também com técnicas de
gestão e conhecimentos próprios do setor privado, é possível construir sólidas parcerias, com grande benefícios para todos.

Palestrantes
• Claudio Bruzzi Boechat, Gerente de Projetos, Sustentabilidade e Responsabilidade Corporativa, Fundação Dom
Cabral, Brasil
• Alexandre Prado, Gerente de Economia de Conservação, Conservação Internacional, Brasil
• Wilson Mello Neto, Vice Presidente de Assuntos Corporativos, Wal-Mart Brasil
• Raymond Forde, Vice-Presidente da Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e da Crescente
Vermelha
Moderadora
• María Matilde Schwalb, Coordenadora da Área de Responsabilidade Social Empresarial, Universidad del Pacífico,
Perú

10:30-11:00 Coffee-break
Foyer

11:00-12:45 Terceira Rodada de Sessões Paralelas:

A: Impacto da RSE na competitividade e no desenvolvimento


Sala Fernando Pessoa 3
A crescente aplicação da RSE em empresas da região permite estabelecer seus impactos em aspectos que vão além das
empresas, como a competitividade de seu entorno e o desenvolvimento sustentável de seus países. Desde esta perspectiva,
dois trabalhos serão apresentados: A contribuição das empresas aos objetivos de desenvolvimento do milênio (IKEI) e Índice
de Competitividade Responsável (AccountAbility, INCAE, Forum Empresa) e o progresso da pesquisa O argumento
empresarial da RSE: 10 casos na América Latina e no Caribe (INCAE).

Palestrantes
• Hugo Vergara - Diretor Geral, Forum Empresa
• Alex MacGillivray – Diretor de Programas, AccountAbility, Reino Unido
• Arturo Condo – Decano, Centro Latino-Americano para a Competitividade e o Desenvolvimento Sustentável
(CLACDS), INCAE, Costa Rica

122 Sobre Responsabilidad Social de la Empresa


• Antonio Corral – Diretor de Área, IKEI, Espanha
• Iñigo Isusi – Consultor Sênior, IKEI, Espanha
Moderador
• Pablo Frederick - Diretor Executivo, Projeto BID/FUMIN e OEA com Forum Empresa

B: Perspectivas de diferentes setores sobre alianças multisetoriais


Sala Fernando Pessoa 1
Um diverso grupo de representantes dos setores público e privado e de organizações sem fins lucrativos apresentarão seus
enfoques sobre o conceito e a implementação de alianças para o desenvolvimento sustentável. Exemplos locais, regionais e
internacionais serão usados para ilustrar as lições aprendidas.

• Agnieszka Rawa – Gerente de Projetos e Especialista em Desenvolvimento Sustentável, Environmental Resources


Management (ERM), EUA
• Vivian Smith – Equipe Desenvolvimento Sustentável, Environmental Resources Management (ERM), Brasil
• Maria Amália Souza – Fundadora Adjunta e Diretora Geral de CASA, Brasil
• André Guimarães, Diretor, Instituto BioAtlântica, Brasil
• Ana Paula Carvalho – Unidade de RSE da Petrobrás, Brasil

C: O papel do setor privado na capacitação de instituições governamentais e da sociedade civil


Sala Zélia Gatai
Como financiar e contribuir para o fortalecimento de instituições essenciais para a boa governança em países em desenvolvimento?
Algumas grandes empresas multinacionais começaram recentemente a especular como podem contribuir para a criação e o apoio
a organizações da sociedade civil em países em desenvolvimento de uma forma sustentável. Uma importante questão é como
materializar o apoio e a colaboração. Alguns recentes exemplos indicam as alianças multisetoriais como um modelo a ser
explorado. Essa sessão tem o objetivo de analisar diferentes tipos de alianças que podem melhorar a capacidade de instituições
governamentais e da sociedade civil.

Sobre Responsabilidad Social de la Empresa 123


• Tobias Webb – Editor, Ethical Corporation
Magazine e Diretor, Ethical Corporation Institute,
Reino Unido

D: Índice Setorial de Responsabilidade Social – uma


metodologia inovadora
Sala Gregório de Matos
Comunitas tem desenvolvido um conjunto de metodologias
com empresas privadas desde 2003. Nessa sessão, Comunitas
apresentará o Índice de Responsabilidade Social, uma
ferramenta inovadora e pioneira no Brasil. Comunitas adaptou
ferramentas de medida nacionais e internacionais, desenhou e
aplicou o Índice considerando os principais temas da
responsabilidade social corporativa e a relação das empresas
com seus stakeholders.

• Thereza Lobo – Diretora de Responsabilidade


Social Corporativa, Comunitas, Brasil
• Rosa Maria Fischer – Coordenadora, Centro de
Empreendedorismo Social e Administração em
Terceiro Setor (CEATS) -FIA/USP, Brasil
• Izabel Portela – Diretora Executiva, Instituto Íris,
Brasil

12:45-14:15 Almoço
Sala Jorge Amado

14:15-16:00 Quarta Rodada de Sessões Paralelas:

A: Normas internacionais e acordos setoriais de transparência


Sala Fernando Pessoa 3
A corrupção é um dos maiores obstáculos ao desenvolvimento
econômico e social. O desvio e mal uso de recursos desgasta
enormemente a capacidade do Estado em ser eficiente ao
proporcionar serviços públicos e em sua missão de satisfazer as
necessidades dos cidadãos. Esta sessão pretende servir como
um espaço de discussão sobre o desenvolvimento e a
implementação de marcos regulatórios nacionais e
internacionais frente ao combate à corrupção, assim como
algumas práticas inovadoras de auto-regulamentação
empresarial desde uma perspectiva multisetorial, envolvendo
os setores privado, governamental e sociedade civil.

124 Sobre Responsabilidad Social de la Empresa


• Donal O'Leary, Líder da Water Integrity Network - WIN- Berlim, Alemanha
• Roberto Salas, Presidente Executivo do Grupo Amanco e Presidente da Associação Latino-Americana de Tubos
Plásticos – FLUIR, Brasil
• Margareth Flórez, Diretora Executiva, Transparencia por Colombia, Colômbia

B: Administração efetiva de empreendimentos sociais


Sala Fernando Pessoa 1
Essa sessão apresentará os resultados da última pesquisa de Social Enterprise Knowledge Network (SEKN) sobre as variáveis
que contribuem para o bom desempenho das organizações da sociedade civil e das empresas envolvidas em atividades de
valor social.

Palestrantes
• Rosa Maria Fischer – Coordenadora, Centro de Empreendedorismo Social e Administração em Terceiro Setor
(CEATS) -FIA/USP, Brasil
• Ángela María Ortiz – Diretora de Desenvolvimento Comercial, CEMEX, Colômbia
• Roberto Gutiérrez – Diretor, Social Enterprise Knowledge Network (SEKN)
Moderador
• Ezequiel Reficco – Membro da Social Enterprise Initiative, Harvard Business School, EUA

C: A sustentabilidade é compatível com finanças?


Sala Zélia Gatai
Em diversas oportunidades, durante o processo de integração da sustentabilidade na estratégia da empresa, surgem dúvidas
sobre qual a melhor decisão a ser tomada, considerando os valores e princípios institucionais. Nesses momentos, sempre
procuramos o aconselhamento de diferentes stakeholders para escolher o melhor caminho. Nessa sessão, uma ferramenta
será apresentada e discutida com diferentes atores que formam parte da tomada de decisões, incorporando todos os
stakeholders no processo.

• Miguel Danta – Responsável pelo desenvolvimento de negócios sustentáveis, ABN Amro Real, Brasil

D: Avaliação e comunicação da Responsabilidade Social Corporativa: o desafio da eficácia


Sala Gregório de Matos
A ampliação da Responsabilidade Social das Empresas depende fortemente das demandas de seus stakeholders. Para que
haja um processo de indução da RSE positivo e intenso, são necessárias formas eficazes de avaliação e comparação do grau
de comprometimento das empresas com sua responsabilidade social, e de comunicação dessas informações ao público.
Nesta sessão, esta questão será enfocada do ponto de vista de dois stakeholders: os consumidores e os investidores.
Serão também apresentados e analisados dois sistemas de avaliação - a Escala Akatu e o Índice de Sustentabilidade
Empresarial da BOVESPA - que serão em seguida debatidos por profissionais dos meios de comunicação.

• Helio Mattar, Diretor-Presidente, Instituto Akatu pelo Consumo Consciente, Brasil


• Aron Belinky – Gerente de Projetos Especiais, Instituto Akatu pelo Consumo Consciente, Brasil
• Mario Monzoni – Coordenador, Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas (FGV),
Brasil
• Nelson Niero – Editor, Caderno de Empresas & Tecnologia, Jornal Valor Econômico, Brasil
• Ana Luiza Herzog – Jornalista, Revista Exame, Brasil

Sobre Responsabilidad Social de la Empresa 125


16:00-16:30 Coffee-break
Foyer

16:30-18:00 Quarta sessão plenária: Alianças estratégicas para o desenvolvimento


Salas Fernando Pessoa 2 e 3
Cada uma das partes interessadas não pode por si só conseguir os resultados desejados no combate à pobreza e a todas
as suas conseqüências. As empresas não são as únicas responsáveis por solucionar os problemas que a sociedade enfrenta,
mas podem, sim, contribuir para a sua solução, juntamente com outros atores. É necessário que o setor privado, a sociedade
civil e os governos encontrem os mecanismos de realizar esforços conjuntos que sejam mais eficientes e consigam resultados
melhores para a sociedade, para o meio-ambiente e para a vida da população como um todo.

Nessa última plenária, serão repassados também as conclusões sobre alguns dos temas de maior destaque discutidos
durante a conferência. Analisar-se-á que áreas de ação deveriam ser reforçadas para que o setor privado responsável tenha
maior impacto no desenvolvimento econômico e social eqüitativo.

Palestrantes
• André Guimarães, Diretor, Instituto BioAtlântica, Brasil
• Robert de Jongh, Diretor para América Latina, Corporação de Desenvolvimento Holandesa, Holanda
• Manoelito Souza, Superintendente, Federação das Indústrias do Estado da Bahia (FIEB), Brasil
• Maria Silvia Pineda, Vice-presidente, CentraRSE, Guatemala
Moderador
• James Austin, Professor Emérito, Harvard Business School, EUA

19:30-21:30 Coquetel de encerramento – IV Conferência Inter-Americana sobre RSE


Coquetel de boas-vindas – Conferência sobre RSE na Europa-América Latina e Caribe
Hotel Pestana Bahia
Patrocinado pela IBM

126 Sobre Responsabilidad Social de la Empresa


Inter-American Development Bank
1300 New York Avenue, N.W.
Washington, D.C. 20577

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