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Direitos Coomer
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O Crédito
É essencialmente a troca de uma prestação presente por uma prestação futura, ou seja, o diferimento no tempo de uma
contra prestação.
O conceito de crédito comporta dois pressupostos básicos:
a) A confiança do credor na honestidade e solvabilidade do devedor, isto é, na sua aptidão moral e patrimonial para
cumprir a obrigação no prazo concedido, ou, pelo menos o valor das garantias (pessoais ou reais) constituídas pelo
devedor para assegurar a efectivação da prestação a que obrigou;
b) Decurso do tempo entre a prestação actual do credor e a prestação futura do devedor, normalmente fixado num
período certo ou a prazo; ou, o carácter futuro ou diferido da prestação do devedor.
A promoção do crédito seja um dos objectivos fundamentais do direito comercial, cuja prossecução está na base e
justifica a especialidade do regime dos actos do comércio.
31. Função e conceito de título de crédito
Todo o documento necessário para exercer um direito, que é um direito literal, autónomo, abstracto, que está
mencionado nesse próprio documento; verifica a incorporação do direito nesse título de que somos detentores.
Esse direito que está ínsito nesse título, é designado no nosso sistema por um direito cartolar, há uma incorporação
expressa, uma conexão directa entre tal documento e o direito que se é titular.
O título de crédito, tem uma eficácia que ultrapassa a de mera constituição do direito ao título adere permanentemente
ao direito, de modo tal que aquele é indispensável para que o direito possa ser exercido e transmitido, ou seja, para
que o seu titular possa dispor dele. Os títulos de crédito são documentos dispositivos.
32. Características gerais dos títulos de crédito
A confiança constitui a base do desempenho dos títulos de crédito. Para que essa confiança exista, é essencial que o
regime para eles traçado proteja ao máximo os interesses do titular do direito, do devedor e daqueles que venham a
adquiri-los de boa fé. Todos eles se disporão a aceitar a emissão e transmissão dos títulos se puderem ter absoluta
confiança em que:
a) O titular é quem tem o título em seu poder e por isso está habilitado para exercer o direito nele referido;
b) Cada titular poderá com toda a facilidade transmitir esse título, para realizar o valor dele, sem necessitar de
esperar pelo cumprimento da obrigação correspondente ao direito nele mencionado.
c) O teor literal do título correspondente ao direito que ele representa; e
d) A posição jurídica do actual detentor do título não poderá ser posta em causa pela invocação de excepções
oponíveis aos anteriores detentores do título.
33. Princípio da incorporação ou legitimação
A detenção do título é indispensável para o exercício e a transmissão do direito nele mencionado (quem for titular de
um título é titular de um direito).
Tal característica consiste em que a posse do título legítima o portador para exercer ou transmitir o direito. É mais
preciso, designar esta característica por legitimação activa visto que ela se refere à posição jurídica do sujeito activo
do crédito, à sua aptidão para exercê-lo ou transmiti-lo.
A posse, ou melhor a detenção material do título segundo as regras de circulação que para ele estão defendidas, que
confere ao seu possuidor a legitimação formal para exercer ou transmitir o direito que o título refere.
O regime jurídico dos títulos de crédito assenta numa presunção de boa fé dos sucessivos detentores do título, através
da qual se cimenta e robustece a formação e manutenção da confiança que constitui a base da aceitação destes
documentos.
Há igualmente que considerar uma legitimação passiva, relativa à posição e interesse do devedor: este pode desonerar
validamente da sua obrigação, correspondente ao direito cartolar, se a cumprir perante o detentor do título segundo a
respectiva lei de circulação.
34. Princípio da circulabilidade
Os títulos de crédito destinam-se a circular, o que significa que, a sua própria destinação jurídico-económica implica a
potencialidade de serem transmitidos da titularidade de uma pessoa para a outra sucessivamente, acarretando cada
transmissão do direito sobre o título a transmissão do direito por ele representado, do direito cartolar.
Porque assim é, os documentos que não comportem a possibilidade de circulação não podem ser considerados como
títulos de crédito.
35. Princípio da literalidade
O direito que está incorporado no título, é um direito literal, porque o documento vale nos precisos termos que
constam no próprio documento. O direito cartolar é aquele que está no documento independentemente da forma como
foi constituído, da relação subjacente do mesmo.
36. Princípio da autonomia
O tal direito cartolar (incorporado no documento), é em si um direito autónomo, porque a relação cambiária tem vida
própria, não está dependente de qualquer relação subjacente a essa letra de câmbio. Importa distinguir dois sentidos:
a) Autonomia face ao direito subjacente
O direito cartolar tem a sua origem numa relação jurídica logicamente anterior ao surgimento do título de crédito – a
relação subjacente ou fundamental – e que ele é novo e diferente do direito subjacente ou fundamental, tendo um
regime próprio.
Assim, o direito cartolar é autónomo do direito subjacente, e por isso não podem ser opostos ao portador do título, em
princípio, meios de defesa (excepções) emergentes da relação fundamental (art. 17º in fine LULL).
b) Autonomia face aos portadores anteriores
O direito cartolar é autónomo, segundo este sentido, porque cada possuidor do título ao adquiri-lo segundo a sua lei de
circulação “adquire o direito nele referido de um modo originário, isto é, independentemente da titularidade do seu
antecessor e dos possíveis vícios dessa titularidade” como se o direito tivesse “nascido ex-novo nas suas mãos” (art.
16º LULL)
37. Princípio da abstracção
O negócio cambiário é abstracto porque, esse negócio permite preencher um conjunto de funções económico-jurídicas
(ex. compra e venda).
A obrigação cambiária pressupõe sempre a existência de uma relação jurídica subjacente, a relação pode preencher
uma diversidade de funções económico-jurídicas, a obrigação cambiária só tem um fim – pagamento ou garantia de
pagamento. Não é por esse fim que determina o negócio cambiário. O negócio cambiário é determinado por outro
negócio celebrado entre as partes – a convenção executiva – é a causa próxima do negócio cambiário, as partes
determinam (através de convenção executiva) a função desse negócio (art. 17º LULL).
38. Títulos impróprios
Habitualmente não são considerados como títulos de crédito certos documentos que, muito embora tenham, em geral,
as mesmas características daquelas todavia se afastam deles no tocante à sua função jurídico-económica e, por isso,
quanto à característica da circulabilidade, sendo designados como títulos impróprios.
Dentro destes documentos, é usual distinguir ainda duas categorias: os títulos de legitimação e os comprovantes de
legitimação.
a) Títulos de legitimação, têm por função conferir ao seu possuidor a legitimação (activa) para o exercício de certos
direitos e, consequentemente, também conferem à outra parte a correspectiva legitimação passiva.
b) Comprovantes de legitimação, conferem igualmente a legitimação activa e passiva relativamente ao exercício de
certos direitos, mas nem sequer têm a possibilidade de circular por serem intransmissíveis.
Tipologia