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Ana Kellen Ribeiro Weng

A fim de desnaturalizar o que é texto, Freda traz a concepção deste em quatro


correntes teóricas diferentes, sendo elas respectivamente linguística textual, teoria da
enunciação, semiótica e análise do discurso. Pois, conforme a autora (2006, p. 35, grifo da
autora), “o sentido de texto muda de acordo com o aparato teórico de que nos cercamos
para concebê-lo”. Dessa forma, há o que é texto com base na primeira teoria. Para a
linguística textual, o texto era compreendido como uma “sequência coerente de frases”, o
texto sendo considerado portanto, uma extensão da frase, constituindo assim a fase
transfrástica dos estudos textuais.
Posteriormente, houve a busca pelo entendimento do texto a fim de “descrevê-lo por
si mesmo e em sua totalidade” (p. 45), levando a uma outra fase conhecida por gramática
de texto. Nesse período, objetivou-se transferir ao texto aquilo que já havia sido construído
com base no objeto frase, tendo como propósito prescrever uma gramática do texto.
Buscava-se, portanto, compreender o além da frase para se chegar ao texto, para isso, as
relações entre as frases (mais tarde conhecidas como coesão) que constituem o texto eram
analisadas.
Ainda no que tange a linguística textual, a autora ressalta que há três conceitos
elementares advindos dos estudiosos dessa corrente que devem ser considerados sendo
eles a textualidade (“propriedade intrínseca de um texto”), coesão (“relações entre as
frases”) e a coerência (“unidade de significação que um texto deve apresentar para ser
entendido como texto”) (INDURSKY, 2006, p. 47).
Entretanto, por mais que nessa corrente o sujeito não tenha tido relevância, ao
aproximar-se de Chomsky é que este entrou no jogo, mas de forma sutil, apenas como
sujeito ideal e não real, e, com isso, o texto passou a ser visto como ato de comunicação.
Assim sendo, os linguistas textuais caminharam rumo a um novo período, o de “junção do
processamento do texto” e seu “contexto pragmático”. Com isso, o texto passou a ser
entendido como um meio de comunicar-se com seu interlocutor, conforme assevera Freda
acerca do texto nessa nova fase, "uma unidade pragmática” (p. 49).
Ao tratar de texto nessa nova perspectiva, outros conceitos somados a coesão e
coerência são introduzidos a fim de constituir sua natureza comunicacional, sendo eles a
intencionalidade (o que se deseja com um texto), aceitabilidade (a aceitação da intenção do
texto pelo interlocutor), situacionalidade (diz respeito à “relevância e pertinência do texto
em relação ao contexto em que este é produzido”), informatividade (informações novas
contidas no texto avaliadas pelo interlocutor e a intertextualidade (texto fazendo sentido em
relação a outros textos) (ibid, p. 50).
Assim sendo, a autora ao considerar a linguística textual, pontua que a grande
relevância dessa corrente teórica encontra-se em ter formulado o texto como um novo
objeto de análise.
Em busca de explicar o que é o texto para a teoria da enunciação, Freda inicia
esclarecendo que para esta corrente o que é concebido como objeto de análise é o
enunciado e que assim advém os estudos acerca da enunciação. A autora defende que
pelo fato de a teoria tratar também do externo, não apenas da língua como um sistema
fechado, a leva a ancorar suas reflexões acerca do texto com base nela. O enunciado aqui
é, portanto, tratado pela autora como texto. Dessa forma, o texto passa a levar em conta a
exterioridade, ou seja, o contexto no qual o locutor se encontra, bem como considera o
interlocutor que receberá tal texto.
Assim sendo, Freda elucida a concepção de texto sob as lentes da teoria da
enunciação segundo Eduardo Guimarães, que propõe uma substituição do conceito de
coerência para o de consistência, isto é, o autor considera os aspectos linguísticos em
conjunto com o exterior a língua, que juntos levam à interpretação. Dessa forma, o texto não
é mais visto como sequências de códigos que o interlocutor precisa decifrar, mas que para
haver sentido, “passa-se por uma operação que envolve locutor e interlocutor, pelo viés da
consistência” (ibid, p. 55). Portanto, para a teoria da enunciação, tanto as relações internas
da língua como as da exterioridade envolvendo o locutor e o interlocutor e seus contextos
são mobilizadas ao considerar texto, diferentemente da linguística textual.

Ao explicar texto pelo viés da Semiótica, Freda se embasa na semiótica greimasiana


e que conforme Greimas e Courtés (1979 apud INDURSKY, 2006, p. 58), a “teoria semiótica
deve apresentar-se … como uma teoria da significação”. Com isso, Freda elucida que essa
teoria se interessa por variados objetos, sendo, portanto, diferente das duas citadas
anteriormente e, que, o que se interessa analisar é o “funcionamento textual da
significação”, que é feito de modo a considerar o interno sem o externo.
Dessa forma, a semiótica busca “construir a organização e a produção dos discursos
e dos textos” (ibid, p. 60). Para essa teoria, discurso e texto são tratados como sinônimos,
compreendendo tanto aquilo que é linguístico quanto o que não é, entretanto, a autora deixa
claro que por texto refere-se apenas ao que é linguístico e, em seguida, introduz o que é
texto para a semiótica: “o resultado de um dispositivo estruturado de regras e de relações,
que darão conta do plano da expressão e do plano do conteúdo e estes, por sua vez, são
abordados em dois diferentes níveis, o superficial e o profundo”, elucidando sua
proximidade com o gerativismo de Chomsky e, ainda, pontua que para a semiótica o que
interessa é “saber como o texto faz para dizer o que diz” (ibid, p. 62), ficando no plano do
conteúdo.
Ademais, a noção de sujeito também é mobilizada nessa teoria. Com base em
Greimas, Freda assevera acerca desse sujeito do discurso como não sendo aquele que
somente atravessa a língua e vai para a fala, mas como o produtor do próprio discurso, isto
é, o locutor. Assim sendo, o sujeito na semiótica é uma representação desse sujeito acima
descrito, e que a partir disso, há um outro conceito a ser empregado conhecido como
actante, o sujeito do discurso para a semiótica: “[...] aquele que realiza ou sofre o ato”
(GREIMAS; COURTÉS, 1979 apud INDURSKY, 2006, p. 64, grifo da autora), mas que não
se aplica ao sujeito real. A semiótica, portanto, se vale do “texto para, nele, estudar o
percurso gerativo do sentido”.
Na análise do discurso, Freda traz o texto conforme sua origem advinda da
linguística distribucional de Harris. Autor este, que sugere que se analise além de uma frase
e nisso, apresenta o conceito de discurso: “enunciado contínuo (escrito ou oral)”, e, que
para tanto leve-se em consideração “as relações entre a cultura e a língua” (ibid, p. 67, grifo
da autora), diferindo-se da linguística textual, pois, busca-se o além da frase, considerando
as condições de produção, a cultura e o sujeito como locutor que cria a sequência de suas
frases. Sendo assim, a exterioridade levada em consideração pela AD, mobiliza o contexto,
este que tece relações com a sócio-história.
Os interlocutores também são considerados pela AD, porém, leva-se em conta a sua
história, suas ideologias. Portanto, há a passagem do indivíduo, da teoria da enunciação,
para o sujeito social, da AD, ou seja, o sujeito sai da posição de estar no centro/origem de
seu dizer, para passar à ilusão de achar que é origem do que diz. Este sujeito, portanto, irá
mobilizar memórias discursivas a fim de produzir textos.
Dessa forma, o texto para a análise do discurso é tratado, como “uma unidade de
análise, afetada pelas condições de sua produção”, bem como sendo um “espaço
discursivo” não fechado em si mesmo, o que leva à intertextualidade e à interdiscursividade,
pois conforme aponta Freda “o sentido, não pertence, de direito, nem ao texto nem ao
sujeito que a produziu, mas é resultado da relação entre os sujeitos históricos envolvidos
em sua produção/interpretação” (p. 70). Com isso, em meio há tantas criações e
interpretações de textos e discursos, conforme aponta Freda com base em Pêcheux, o lugar
chamado de "non-sens", é que o sujeito passa a ser chamado de “sujeito-autor”, aquele que
se coloca na posição de autoria, por meio da identificação de representações que são
mobilizadas pelas memórias discursivas, que trazem certos sentidos que se encaixam a
este sujeito, ou seja, são “possíveis no âmbito da FD com a qual se identifica” (p. 71)
A fim de encerrar a busca da concepção de texto na AD, Freda corrobora que o
texto para essa teoria constitui-se como um “espaço discursivo heterogêneo e
simbolicamente fechado pelo trabalho discursivo do sujeito-autor[...]” (p. 72).

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