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Fichamento do artigo: A pragmática e a análise de textos, de Maria da Penha Pereira

Lins.

O artigo analisa diferentes gêneros textuais com base na aplicação de noções


básicas da Pragmática. Para tal, a autora passeia por algumas definições do termo,
defendidas por diferentes estudiosos. Por exemplo, Levinson (2007), que tenta explicar as
especificidades da estrutura linguística por referência a pressões de causas não-linguísticas.
Nesse sentido, é interessante a comparação que a autora faz entre gramática e pragmática:
a gramática estaria voltada para a atribuição de significado às formas linguísticas
independentemente do contexto, ao passo que a Pragmática se ocuparia com a
interpretação dessas formas, levando em consideração os aspectos presentes no contexto.
No entanto, a autora alerta para a problemática de tal paralelo, visto que os aspectos da
estrutura linguística, às vezes, incluem características do contexto.
Outra definição apresentada é a que caracteriza a pragmática como o “estudo do
significado do falante”. Tal definição, conceituada por Yule (1996), leva em consideração
como os falantes organizam o que querem dizer, o lugar e o momento histórico que ocupam,
além das circunstâncias. Essa abordagem envolve, ainda, estudar a questão do dito e do
não-dito. Para Yule, em geral, a pragmática tem como preocupação o estudo do significado
que o usuário da língua quer dar a sua mensagem e, também, da significação que o ouvinte
constrói ao interpretar determinada mensagem. Já para o autor Green (1996), a linguística
pragmática deve atuar na interação com outros campos da ciência, como a psicologia
cognitiva, a antropologia cultural e a sociologia, além de levar em consideração a análise de
expressões anáforas.
Outra autora citada no texto é Reyes (1998), que apresenta uma definição de
pragmática linguística mais voltada à análise da língua em seu uso, ou seja, o estudo do
significado das palavras em sua relação com falantes e contextos. De acordo com Lins, para
estudar esses fenômenos é preciso centrar-se no que o usuário faz ao usar a linguagem. É
interessante salientar que Reyes defende a pragmática como estudo não do significado das
palavras “ilhadas” no contexto, mas do significado das palavras usadas em atos de
comunicação.
Também é apresentado o ponto de vista que aproxima a pragmática da noção de
intenção e do ato racional, ou seja, um falante com determinada intenção e com um
conjunto de crenças tem que agir racionalmente sobre essa intenção, organizando um plano
que seja coerente a suas crenças. Sendo assim, segundo Lins, a pragmática, a partir dessa
definição, é caracterizada como estudo da “ação deliberada com a intenção de levar o
interlocutor a reacessar o modelo de como as coisas são, incluindo o sistema de valores e o
modelo de crenças, atitudes e intenções do falante” (p. 9). Outro aspecto pontuado no artigo
é sobre os atos de fala, que consistem em enunciados relacionados à intenção comunicativa
do falante. Para tanto, Lins cita alguns estudiosos, como Austin (1962), que define os três
atos presentes na produção de um determinado enunciado: ato fonético, ato fático e ato
rético. A autora também apresenta o princípio da cooperação criado por Grice que, em
suma, define a boa formação conversacional e a cooperação dos interlocutores com o
propósito de que a interação da qual participam se desenvolva de forma clara e
transparente. Outro conceito apontado no texto é o da polidez, quando os interlocutores
procuram atuar linguisticamente a partir de um comportamento polido, que pode ser,
também, referido como etiqueta. Em resumo, o princípio de polidez está relacionado à
elaboração da face que visa manter a cordialidade no tratamento que envolve os sujeitos em
certas situações de comunicação. Para Goffman, a face é como uma imagem social
executada por uma pessoa para si mediante o que os outros suspeitam que ela seja dentro
de um dado momento de interação.
A autora também apresenta a teoria da relevância, que considera o que o falante diz
ser determinado por sua intenção de ser relevante, e a interpretação do ouvinte é guiada
exclusivamente pela presunção de que aquilo que foi dito é relevante. Nesse processo,
segundo Lins, o papel da inferência é fundamental. Por fim, tomando como ponto de partida
as sugestões levantadas anteriormente, a autora conclui que qualquer texto que representa
interações presta-se a análises a partir da Pragmática — inclusive, textos de quadrinhos, de
cinema, de conversação espontânea e de debates.

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