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Ricoeur expõe sua dupla maneira de ver a hermenêutica (GRONDIN, 2014, p.

94): A
hermenêutica da confiança e a hermenêutica da suspeita, distinção esta – entre as duas – que
sucede ao propósito de uma tentativa de consenso entre aquelas. O melhor resumo, a priori,
que se pode encontrar ao conceitua-la é dizer que “a ideia de Ricoeur, e talvez a ideia
fundamental de sua hermenêutica, é que é preciso pensar conjuntamente essas duas
hermenêuticas, aquela que se apropria do sentido tal qual ele se dá à consciência na
expectativa de orientação e aquela que se distancia da experiência imediata do sentido para
reconduzi-la a uma economia mais secreta” (GRONDIN, 94)

Ou seja, tem-se em vista a hermenêutica que interpreta no ato intuitivo E reflexivo de


imediato e um segundo momento que é muito peculiar de Ricoeur, qual seja, o olhar mais
pormenorizado sobre a função do distanciamento (RICOEUR, 2008, p.51-69). Portanto, Ricoeur
tem um entendimento de que hermenêutica é uma abertura de mundo 1: Nessa perspectiva a
interpretação é o “trabalho de pensamento que consiste em decifrar o sentido oculto no
sentido aparente, em desdobrar os níveis de significação implicados na significação literal”
(RICOEUR, 1988 apud GRONDIN, 2012).

Grondin evidenciará que o pensamento multifacetado de Ricoeur, tornará a fazer com que sua
hermenêutica seja opaca, no sentido que por vezes pode parecer difícil de limitar o núcleo de
sua concepção sob essa abordagem, mas que podemos ver ao mesmo tempo como algo
relativo, dada a superabundância de diversidade de disciplinas consubstanciadas. O
distanciamento está no oposto (proposto por Gadamer) que são as proposições da
fenomenologia da hermenêutica, que envolvem entre outras coisas, o pressusposto
fenomenológico de que a hermenêutica deve justificar essa experiência – do distanciamento –,
uma vez que se a consciência se caracteriza inicialmente por sua pertença ao sentido, esse
sentido deve ser posto à distância e interpretado (GRONDIN, p. 99)

Na Simbólica do mal, Ricoeur emerge com sua virada hermenêutica com o enxerto da
hermenêutica na filosofia (RICOEUR, 1988, p.8-13).

1
Gadamer vai dizer que todo pensamento já é a busca da linguagem, não podendo existir pensamento
sem linguagem. Para ele a hermenêutica não se resume em “visão de mundo (Humboldt) e nem “forma
simbólica de nossa apreensão de mundo (Cassirer). Gadamer falava de uma fusão entre o sentido e
aquele que o entende.

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