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INTRODUÇÃO
Um dos elementos centrais do pensamento filosófico é a justiça.
Desde seu berço, no ocidente na Grécia, a justiça (diké) foi objeto da
discussão filosófica nas ágoras gregas. Após isso, grandes estudos
foram lançados, passando pelos medievais, Agostinho e Tomás de
Aquino, cruzando a modernidade, Rousseau, Locke, e atingindo até o
pensamento contemporâneo, John Rawls. Mas tão vasta é a
significação de justiça que nenhuma obra conseguiu abranger toda a
complexidade desse fenômeno.
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O resgate do perdão foi fundamental para a compreensão dos
fenômenos do testemunho, da narrativa, e da interpretação. Com este
artigo pretendemos lançar as bases para uma nova aproximação.
Como o perdão e justiça se relacionam? Qual a importância do perdão
para a justiça? Como Ricoeur articula perdão e justiça? Essas
perguntas delimitarão a temática desse texto.
1- A JUSTIÇA
Em Paul Ricoeur, não temos uma teoria unitária sobre o que é justiça,
e isso o distingue de autores como, por exemplo, John Rawls [1].Em
uma série de ensaios agrupados no livro “ O justo” [2], o filósofo
descreve vários componentes da justiça, que vão desde o que é
sujeito de direito até as concepções sobre perdão. Em um desses
ensaios “O ato de julgar”, Ricoeur vai discutir o que chama de “uma
espécie de fenomenologia do julgamento”. Diz ele que julgar é um
conceito plurívoco porque engloba desde uma simples opinião até
avaliação de algo como justo.
2- O PERDÃO
O perdão designa um momento ápice do esquecimento, e como
conseqüência, na própria memória. O perdão é algo que não pode ser
claramente explicado, pois “o perdão é tão difícil de ser dado quanto
compreendido” (RICOEUR, 2000, p. 465). A dificuldade de
compreender o perdão está inserida na dificuldade que temos de
compreender um ato inacabado, pois o perdão é chamado para
resolver os conflitos não resolvidos.
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A falta torna o perdão impossível de ser apropriado. O perdão atua
como um horizonte, onde quanto mais se aproxima mais ele se afasta.
Isso ocorre pelos motivos acima expressos, o perdão toma como base
uma memória dolorosa que quer se converter em uma memória feliz,
mas quando ela faz o percurso dessa conversão ela se aproxima do
abismo do esquecimento. Ameaçada pelo apagamento, ela recua e
volta a ser dolorosa.
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Em “Condenação, Reabilitação e Perdão”[6], Ricoeur discute a punição
e a absolvição dentro da esfera jurídica. Ele quer fazer mostrar que
justiça e vingança não são co-dependentes. Para ele a frase que diz
que a vingança é a justiça com as próprias mãos é carente de sentido.
Pois, se a justiça fosse possível de se fazer sem um elemento
intermediário, um terceiro (no caso do processo, o juiz) nunca
conseguiríamos estabelecer uma justa posição definitiva entre o justo
e o injusto.
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agir como se o acontecimento não tivesse ocorrido”(RICOUER, 2008,
p. 188)
O perdão escapa ao direito tanto por sua lógica quanto por sua
finalidade. De um ponto de vista que se pode dizer epistemológico, ele
pertence a uma economia da dádiva, em virtude da lógica de
superabundância que o articula e que deve ser oposta a lógica de
equivalência que rege a justiça (RICOEUR 2008, p.196)
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ato justo se transforme também em ato perdoável? E é possível que o
perdão dado estabeleça por si só a justiça ao caso?
Referencias bibliográficas:
GARCIA, José Luís. Rumos a crianção desenhada dos seres
humanos. IN Revista estudos de sociologia. Recife. Editora da UFPE,
2006. Disponível em: <<
http://www.scientiaestudia.org.br/pt2007/rumo%20a%20criacao.pdf.
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Notas
[1] Rawls, Jonh. Uma teoria da Justiça, 1971.
[2] RICOEUR, P. O Justo. V1. Editora Martins Fontes: São Paulo, 2008