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Editores
Philipp Horn Ana Cláudia Cardoso
Estudos e Planejamento Urbano Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
Universidade de Sheffield Universidade Federal do Pará
Sheffield Belém, Pará
Reino Unido Brasil
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Conteúdo
1 Introdução ............................................. 1
Philipp Horn, Ana Claudia Cardoso e Paola Alfaro d'Alençon
ix
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x Conteúdo
Capítulo
9 Floresta tropical urbana: onde a natureza
e os assentamentos humanos são ativos
para superar a dependência, mas como as
teorias de urbanização podem identificar
esses potenciais?
D. Araújo
e-mail: danfernandes2@hotmail.com
base para sua subsistência, incluindo povos indígenas, caboclos (filhos de indígenas
e portugueses), camponeses e comunidades tradicionais que vivem em áreas rurais
ou foram empurrados para áreas urbanas após a reestruturação do campo. O artigo
também procura expor as resistências locais a esse processo, revelando como a
urbanização extensiva pode evoluir da mera integração econômica para uma
urbanização integral, capaz de criar novas formas de cidadania e respeito à natureza,
transformando-a, assim, na naturalização extensiva do urbano. .
9.1 Introdução
1
Essa explicação ajuda a situar melhor o papel dos países periféricos na divisão internacional do trabalho
estabelecida entre os séculos XIX e XX. Esses países eram obrigados a fornecer matérias-primas e bens
primários, enquanto o centro do sistema podia concentrar estruturas espaciais para produzir, distribuir e
comercializar bens industriais. Tal pensamento apoiou abordagens teóricas influenciadas pela CEPAL
(Comissão Econômica para a América Latina – uma das cinco comissões regionais das Nações Unidas), que
foram muito influentes entre os estudiosos latino-americanos durante as décadas de 1950 e 1960. Desde
então, eles foram reformulados e ampliados, para permitir novas interpretações sobre a integração dos países
latino-americanos ao sistema capitalista global (Prebisch e Cabanas 1949; Toye e Toye 2003; Baer 1962;
Love 1980).
2
Esses grupos originalmente habitavam áreas rurais, os camponeses são produtores rurais de base familiar,
os quilombolas são descendentes de escravos africanos que fugiram de seus donos para viver em
comunidades isoladas, secretas e livres, e os caboclos são um grupo social típico da Amazônia criado a partir
da miscigenação entre indígenas e portugueses.
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Assim, essas práticas ilustram claramente como essas sociedades criaram intervenções
intencionais no espaço e na natureza, que levaram ao estabelecimento de assentamentos
extensos e complexos e à produção de espaço para viver, conhecer e interagir, produzir e
trocar, celebrar e engajar-se na política.
Foram formas únicas de invenções urbanas, em que elementos articulados trouxeram
significados a formas de expressão que só podem ser plenamente apreciadas na perspectiva
da vida urbana – incluindo cerâmica amazônica, terra preta, megalitos e geoglifos, sociedades
multilíngues e uma visão holística do mundo (Neves 2003; Schaan 2008; Franchetto 2011; de
Castro 2002). São marcas de um padrão de civilização e de desenvolvimento original nos
trópicos, baseado no processo milenar de criação de significados sociais para o mundo natural.
Durante os primeiros tempos coloniais, havia cinco nações competindo pela Amazônia. A
região era uma fronteira mundi, com abundância de terras para sustentar a produção agrícola
(ainda um setor importante para a economia da época e a principal razão pela qual diferentes
nações estenderam seu alcance para colônias mais periféricas).
A Amazônia foi capaz de fornecer ouro aos espanhóis e especiarias exóticas aos holandeses.
Oferecia o controle do litoral da América do Sul aos franceses e britânicos, e terras aos
colonizadores portugueses, que finalmente alcançaram a hegemonia final na região hoje
conhecida como Brasil.
Embora o principal objetivo das autoridades portuguesas fosse introduzir o cultivo da
cana-de-açúcar na Amazônia, foi de fato um sistema extrativista opressivo que efetivamente
consolidou sua presença como colonizadores, atendendo às demandas européias por
especiarias exóticas. Durante o período colonial, a presença portuguesa na Amazônia foi
pautada por uma visão utilitarista da natureza, uma vez que as operações específicas e a
viabilização dos negócios coloniais aproveitaram todos os benefícios
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A abordagem socioambiental seria mais adequada, pois nas áreas periféricas muitos processos
produtivos se sobrepõem e coexistem em um mesmo território, e as pessoas têm diferentes
níveis de acesso aos sistemas industriais modernos (Monte-Mór, publicado neste volume). Isso
fica mais evidente quando a visão vai além da clássica dicotomia rural-urbano e leva em conta
o uso da terra e a propriedade privada para entender o fluxo que se dá pela substituição de um
grupo social mais pobre por outros grupos em melhor situação.
as estratégias de marketing lançadas a partir da década de 1950 para atrair milhões de migrantes em busca
de terras baratas e abundantes, com possibilidade de fazer fortunas rápidas com a exploração dos recursos
naturais, sob o lema 'Terra sem homens para homens sem terra' (Brasil 1970). Assim, a segunda metade
do século XX testemunhou o restabelecimento do Eldorado do século XVI, juntamente com a crença de que
os recursos naturais eram infinitos e poderiam ser explorados com anuência e apoio financeiro do governo
federal para as atividades de agronegócio e mineração.
Esse caminho criou as sobreposições citadas anteriormente entre os diferentes modos de vida e
sistemas produtivos que geraram o processo contemporâneo de urbanização, que é derivado, seletivo,
descontínuo e aberto (Santos 1986), permeado por sinais de resistência a todas as práticas exógenas,
difundida nas últimas décadas por meio de políticas federais (ambientais, industriais, agrárias, urbanas etc.)
e de investimento privado. A região tornou-se um espaço de múltiplas determinações, com maior dependência
das diretrizes do setor público do que o observado em outras regiões do Brasil, e muitas vezes aliada às
demandas do setor privado. Também faltam investimentos, que são fundamentais para o cotidiano dos
crescentes grupos populacionais de pobres urbanos, cuja subsistência depende de certo grau de acesso à
terra ou à natureza, e são identificados apenas como estratégias de resistência (Monte-Mór 2015 ).
As cidades da periferia global são centros de acumulação que funcionam como nós onde o trabalho
excedente é gerado e onde o excedente de capital é mobilizado e direcionado para os centros globais da
economia mundial. Essas cidades também oferecem modelos de demonstração, absorvendo insumos e
valores exógenos (gerados em centros modernos – homogeneizando fórmulas de cidades globais) para
abrir um novo mercado para seus produtos e disseminar hábitos e valores urbano-industriais (Browder e
Godfrey 1997).
Uma vez que toda a família se mudou para a cidade, eles se tornam muito vulneráveis e se deslocam para
empregos temporários e atividades não qualificadas. Este processo já ocorreu em diferentes países em
diferentes momentos. No entanto, a atual velocidade e intensidade com que se manifestou na Amazônia
brasileira aprofundou ainda mais a capacidade anteriormente atestada da era financeira do capitalismo de
causar desigualdade e exclusão (Sassen 1991; Hardt e Negri 2000). O timing dos investimentos é
excessivamente acelerado e tende a mudar os marcos institucionais, as circunstâncias de posse, os
paradigmas tecnológicos e o perfil da força de trabalho.
A população local não consegue acompanhar essas mudanças; seus meios de subsistência são interrompidos
e eles são finalmente forçados a se mudar para as periferias da cidade. A maioria da população local tem
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despreocupado com a regularização da posse, uma vez que a ocupação era geralmente
considerada suficiente para manter o controle da terra. A chegada de novos investimentos,
no entanto, traz consigo um sistema formal, que não é compreendido pelos locais, e é
completamente dominado e tendencioso para os recém-chegados.
A ação do capitalismo na fronteira é seletiva e desigual, pois várias áreas de fronteira
estão integradas aos centros do sistema de diferentes maneiras, tempos e circunstâncias,
conforme a história de sua formação social (Furtado 1983).
Hoje em dia, a penetração capitalista não é um resultado direto de uma transição gradual do
campesinato para as relações proletárias. O processo de integração capitalista na fronteira
demonstra diversos gradientes que resultaram em intensidades urbanas em todo o território,
manifestadas não apenas por meio de assentamentos humanos e aglomerações, mas
também por unidades de ocupação humana relacionadas à produção capitalista (como
fazendas, portos, sistemas de armazenamento, unidades de energia, etc.) (D'Alasta 2016; Ramos 2014).
A abordagem que mais se adequa à inserção do espaço amazônico em uma rede mais
ampla de produção e urbanização global é a 'urbanização extensiva' (Monte-Mór 1994),
entendida como um processo que penetra nos espaços regionais e os manipula virtualmente
em redes contínuas espalhadas pelo mundo. Reconhece o processo de urbanização como
conduzido globalmente, apesar de suas expressões extraordinariamente diversas, que
confirmam o desenvolvimento desigual das práticas capitalistas.
Nesse sentido, como mencionado acima, a Amazônia foi inserida nessa rede mais ampla
como uma periferia para a exploração dos recursos naturais.
O conceito de urbanização extensiva foi desenvolvido por Monte-Mór (1994) inspirado no
conceito lefebvriano de 'zona urbana', palco da formação socioespacial contemporânea, que
leva à desestruturação da cidade, gerando um movimento dicotômico de implosão
(concentração e aglomeração de práticas urbanas) e explosão (extensão do tecido urbano e
intensificação das conexões espaciais). Na mesma linha, Brenner (2014) posteriormente
introduziu o conceito de 'urbanização planetária', descrito como um processo que produz uma
diversidade de novas geografias capitalistas, que expressam um desenvolvimento espacial
desigual, e não podem ser explicadas por meio de dicotomias rurais-urbanas clássicas.
Essa situação pode ser ilustrada pela proliferação de novas formas urbanas (globais)
(shopping centers, condomínios fechados, conjuntos habitacionais e grandes centros
comerciais) e pelos grandes investimentos em logística (estradas, ferrovias e hidrelétricas)
que surgiram distantes do regiões metropolitanas, cada vez mais inseridas em áreas
periurbanas e rurais, que agora se amalgamaram em periferias distantes (Fix 2011; Melazzo
2013). O capitalismo pós-moderno criou essas novas geografias, por conta das novas rotinas
e possibilidades espaciais facilitadas pelas novas soluções telemáticas e de comunicação. A
transição da produção industrial clássica para o controle e os serviços financeiros permitiu
que a produção fosse transferida para as áreas periféricas do sistema capitalista, mantendo
ao mesmo tempo o controle do sistema nas cidades globais.
A consolidação dos dados empíricos e o rastreamento dos processos atuais indicam que
há três tendências básicas envolvidas nas estratégias de urbanização e desenvolvimento,
que são propensas a gerar conflitos socioambientais. São elas: (i) aquelas que emergem
da interação acelerada e contraditória entre intensa urbanização e estagnação; (ii) as
relacionadas com a reconfiguração e diferenciação urbana e regional; e (iii) a apropriação
da produção nas cidades existentes por frações do capital, graças às políticas pró-
privatização e neoliberais, que visam fomentar a chegada de investimentos internacionais.
1970, e que experimentou um novo boom entre 2011 e 2015. Negrão (2016) apresenta
os resultados do mais recente boom da cidade causado pela construção da usina
hidrelétrica de Belo Monte, localizada a 52 km de Altamira. Nesse período, a cidade
recebeu 25 mil trabalhadores, impulsionando a modernização e os surtos de urbanização.
As ações dessas novas forças repetiram e renovaram o processo dinâmico de
transformação urbana, percebido por Lefebvre (2000 [1970]) como a implosão/explosão
da cidade. A expansão do tecido urbano e a dispersão das funções e estruturas da cidade
reforçam o impulso para a mercantilização e o consumo, e acirrados conflitos sociais
entre os diferentes usuários: grupos sociais de tipo especialmente 'moderno' e habitantes
tradicionais.
No caso de Belo Monte, para receber a licença de operação, foi estipulado que a Norte
Energia, consórcio responsável pelas obras, forneceria à cidade de Altamira e seu entorno
obras no valor de cinco bilhões de reais (US$ 1,5 bilhão). Como parte dessa compensação
socioambiental devida à cidade, a empresa realizou, consequentemente, um programa
de remoções em massa e realocou comunidades carentes e povos indígenas da cidade
para áreas menos desejáveis. A agenda de uso desse dinheiro foi definida pelas elites,
que buscavam ansiosamente a modernização, em vez disso, grande transtorno foi
causado ao cotidiano dos habitantes locais, especialmente os de origem indígena, que
sofreram despejos e deslocamentos.
Antes do início das obras, havia 16 mil indígenas morando na cidade. Originalmente,
esses grupos se estabeleceram às margens do Riacho de Altamira, em meio a outros
grupos sociais pobres, de onde podiam facilmente chegar à floresta de barco, trabalhar
em atividades extrativistas ou como guias turísticos nas diversas ilhas e praias que agora
estão submersas. A realocação os levou para áreas onde a terra era barata, mas de onde
agora precisavam pagar o equivalente a cinco dólares americanos para chegar ao rio.
Sua rede social foi completamente desmantelada e, após uma longa ausência, eles
perderam sua posição nas comunidades da floresta e estão literalmente passando fome
em pequenos lotes de terra (destinados a habitação social urbana regular) onde não
podem cultivar suas culturas tradicionais ( mandioca e outras hortaliças).
Fig. 9.1 Transformações urbanas na área de várzea do Baixão do Tufi, em Altamira, Pará.
Fontes Google Earth Pro 2017 (topo); os autores (abaixo)
Apesar das precárias condições de vida que persistem nos assentamentos humanos, tem-
se verificado um adensamento das redes de infraestruturas, maioritariamente dedicadas à
logística de transportes e destinadas à exportação eficiente de mercadorias (rodovias, ferrovias
e aeroportos). A difusão dessas circunstâncias gerais de produção 'industrial' reestruturou
rapidamente o campo tradicional, redesenhando aldeias e áreas periurbanas para receber
novas funções relacionadas à produção e ao comércio de commodities (indústria de mineração,
agronegócio e produção de energia hidrelétrica) e para se adaptar às fórmulas globais (Cardoso
et al 2017).
Os centros regionais mais importantes fora de Belém, capital do estado do Pará, são
Santarém e Marabá, que antes eram tradicionais cidades ribeirinhas amazônicas. Ambas as
cidades passaram por diversos ciclos de exportação e foram selecionadas pela 'indústria'
imobiliária para receber novas áreas de expansão. Marabá possui vários núcleos em um local
atravessado por dois grandes rios e, por sua localização estratégica, recebeu também um
aeroporto regional, integrou-se a duas malhas rodoviárias federais e recebeu conexão ferroviária.
Em um futuro próximo, Marabá também receberá um porto de apoio ao agronegócio, além de
mais uma hidrelétrica.
O núcleo mais antigo de Marabá, que já foi a cidade tradicional, foi adaptado para dar uma orla
para a cidade. Essa mudança espacial reduziu drasticamente as possibilidades de muitos
habitantes acessarem as margens dos rios onde praticaram formas tradicionais de subsistência
por gerações, como pesca, serviços de lavanderia e manutenção de barcos (Cardoso 2010).
Muitas planícies aluviais, historicamente valorizadas como espaços verdes, são agora vistas
como terras urbanizáveis. Essas áreas são igualmente importantes tanto para atividades
populares de subsistência quanto para lazer, como é o caso da praia localizada em uma ilha
voltada para a cidade. A expectativa do setor imobiliário é que a nova barragem permita o
desvio do Rio Itacaiúnas, incorporando uma grande quantidade de áreas de várzea ao mercado
imobiliário. Essa nova configuração também submergirá as praias e, portanto, apagará ainda
mais a natureza – e todas as práticas cotidianas associadas à natureza (cultivo de ervas e
alimentos, coleta de frutas, pesca e natação) – do espaço da cidade. A indisponibilidade de
lazer gratuito e sua substituição por serviços pagos (como nos shopping centers) aprofunda
ainda mais a pobreza daqueles grupos sociais cujos espaços de vida foram destruídos (Pontes
2015). A possibilidade de criar um sistema de áreas verdes e espaços públicos é invisível para
as autarquias, que consideram as estratégias urbanas industriais preferíveis à inovação genuína
que poderia advir da agregação de novos conhecimentos e tecnologias e de antigas soluções
espaciais bem sucedidas (Pontes e Cardoso 2016). Nessas áreas, as autoridades locais não
reconheceram a Agenda 2030 e outros acordos internacionais que promovem o desenvolvimento
sustentável (Nações Unidas 2015).
Nas últimas décadas, Santarém tornou-se um porto de exportação de soja, devido à sua
ligação com as regiões centrais do Brasil com a abertura de uma nova rodovia federal (BR 163).
É cercado por áreas protegidas (uma floresta nacional, uma reserva extrativista e projetos de
assentamento para agricultura e atividades extrativistas) que apoiam os produtores nativos, e
também por uma miríade de pequenas aldeias centenárias, espalhadas ao longo das margens
do rio e em terras , desde a época do boom da borracha. Migrantes afluíram para essas
pequenas comunidades durante o boom da borracha e adotaram meios de subsistência
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seus rendimentos. A ilha tornou-se um paraíso local para os visitantes, que gostariam de estar
em contacto mais próximo com o rio, passando um tempo num local onde os habitantes locais
podem beneficiar de manter o seu modo de vida original enquanto usufruem dos equipamentos
urbanos situados à beira do rio (Bibas e Cardoso 2016).
No entanto, o sector imobiliário também vê esta ilha como a próxima fronteira para o
desenvolvimento urbano, na sequência da experiência anterior em outras ilhas já ligadas ao
continente por pontes, e da invisibilidade histórica dos habitantes locais.
Nos dias de hoje, as ilhas tornaram-se estratégicas, pois as áreas naturais estão desaparecendo
na cidade continental devido à expansão urbana inadequada. Embora o tecido urbano do centro
de Belém, desde a época do ciclo da borracha, tenha sido inspirado nas cidades europeias
(Duarte 1997), com praças e espaços públicos bem definidos, até a década de 1970, o principal
uso do solo dentro de sua área de expansão era ligados a sítios e fazendas, que respeitavam
os espaços naturais (planícies de inundação dos rios) e eram utilizados para lazer, sociabilidade
e produção. Ao longo das últimas décadas, diversos processos econômicos amalgamaram
diferentes tipologias de desenvolvimentos urbanos nessa área de expansão (habitações,
loteamentos irregulares, ocupação e condomínios fechados).
Esses assentamentos foram orientados de forma individualizada, sem um plano global para
a cidade. Como resultado, a maior parte das áreas naturais disponíveis está urbanizada, rios e
córregos poluídos, sem oferta de espaços públicos e, além das praças para os conjuntos
habitacionais até então inacabados, qualquer espaço disponível tem sido direcionado para
consumidores de classe alta, determinando que o acesso depende da renda (Miranda e Cardoso
2016). A competição pela terra afetou o acesso à água doce e à natureza, na medida em que
expulsou aqueles que não fazem parte da economia urbana formal (por exemplo, pescadores e
pequenos agricultores) ou os substituiu por pobres urbanos despossuídos em ocupações
informais semelhantes a favelas. Esta é a inspiração para a Ilha de Combú.
Fig. 9.2 Cenas em Afuá: moradores aproveitando a água durante a maré mais alta do mês (esquerda),
tipologia de moradias na frente ribeirinha (direita). Este não é um ponto turístico, e a escassez de
madeira é uma desculpa para substituir as estruturas de madeira por tecnologias mais modernas.
Fontes Os autores
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Fig. 9.3 Ilustração das três tendências destacadas no texto. Fotografias de Altamira da esquerda para a
direita: ocupação urbana tradicional, artesanato e os resultados das ações de despejo e moradia no Programa
Minha Casa Minha Vida. Fotografias de Santarém da esquerda para a direita: ocupação indígena, Festa do
Sairé, shopping e conjuntos habitacionais no Programa Minha Casa Minha Vida. Fotos de Marabá da esquerda
para a direita: bairro mais antigo da cidade, usos tradicionais às margens do rio, muro construído desde 2007
e conjuntos habitacionais do Programa Minha Casa Minha Vida.
Fotos de Belém da esquerda para a direita: tipologia habitacional na Ilha de Afuá, banho em balneário popular,
shopping e conjuntos habitacionais do Programa Minha Casa Minha Vida. Fotos de Afuá da esquerda para a
direita: acessibilidade fluvial, rua típica sobre palafitas, hotel novo construído em alvenaria e concreto. Fontes
Pereira, Negrão, Silva, Gomes e Thomazelli (autorização para publicação das fotos recebidas)
fato de que em muitos lugares do mundo, especialmente nas áreas periféricas do sul,
outros padrões de assentamentos humanos se sobrepuseram aos gerados pela
globalização econômica.
9.6 Conclusões
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Biografias do autor
Ana Carolina Melo é Ph.D. Aluna do Programa de Pós-Graduação em Economia da Universidade Federal do
Pará. Possui graduação em Arquitetura e Urbanismo (2013) e mestrado em Arquitetura e Urbanismo (2015)
pela mesma universidade. Sua pesquisa aborda a relação entre o setor imobiliário e as atividades extrativistas
de mineração, atualizando a discussão sobre manifestações de fronteira no sudeste do Estado do Pará, Brasil.
Danilo Araújo é Professor Adjunto da Faculdade de Economia da Universidade Federal do Pará. Ele tem um
Ph.D. em Desenvolvimento Socioambiental pelo NAEA (Centro Sênior de Estudos da Amazônia) da
Universidade Federal do Pará. Possui mestrado em Teoria Econômica pela Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (Brasil). Investiga a dinâmica agrária, o desenvolvimento regional e urbano e a história do
pensamento econômico para a Amazônia.