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Paisagens e Paisagismo: Do apreciar ao fazer e usufruir

Book · January 2014

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Claudia Petry
Universidade de Passo Fundo
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PAISAGENS E PAISAGISMO:
DO APRECIAR AO FAZER
E USUFRUIR

Cláudia Petry

Conteúdo de paisagismo da
disciplina de Paisagismo,
parques, jardins e floricultura

EDITORA

c o l e ç ã o
didática
UNIVERSIDADE DE PASSO FUNDO

José Carlos Carles de Souza


Reitor
Rosani Sgari
Vice-Reitora de Graduação
Leonardo José Gil Barcellos
Vice-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação
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Vice-Reitora de Extensão e Assuntos Comunitários
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Editora

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João Carlos Tedesco
Jurema Schons
Leonardo José Gil Barcellos
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Paulo Roberto Reichert
Rosimar Serena Siqueira Esquinsani
Telisa Furlanetto Graeff

CORPO FUNCIONAL
Cinara Sabadin Dagneze
Revisora-chefe

Daniela Cardoso
Revisora de textos

Graziela Thais Baggio Pivetta


Revisora de textos

Sirlete Regina da Silva


Designer gráfico

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Diagramadora

Carlos Gabriel Scheleder


Auxiliar administrativo
PAISAGENS E PAISAGISMO:
DO APRECIAR AO FAZER
E USUFRUIR

Cláudia Petry

Cláudia Petry
Conteúdo de paisagismo da disciplina de
Paisagismo, parques, jardins e floricultura

Conteúdo de paisagismo da
disciplina de Paisagismo,
parques, jardins e floricultura

2014
EDITORA

c o l e ç ã o
EDITORA
didática
Copyright da autora

Cinara Sabadin Dagneze


Daniela Cardoso
Graziela Thais Baggio Pivetta
Revisão de textos e revisão de emendas
Sirlete Regina da Silva
Projeto gráfico e produção da capa
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Diagramação

Este livro, no todo ou em parte, conforme determinação legal, não pode ser reproduzido por qualquer
meio sem autorização expressa e por escrito do autor. A exatidão das informações e dos conceitos e
opiniões emitidos, as imagens, tabelas, quadros e figuras são de exclusiva responsabilidade dos autores.

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das Editoras Universitárias
Dedico:
Aos eternos aprendizes, seres divinos e de mente aberta
e espírito crítico, a todos os meus mestres, a todos os amigos-
irmãos, fontes de inspiração e motivação.
E aqui e agora em especial, a Valérie Gaudin e Tetê, pela
constante presença e partilha... e pelos corações imensuráveis!
Agradeço e dedico, a este chão e ao ambiente de
trabalho maravilhoso que é a UPF, à minha grande e
maravilhosa família Petry-Bortoluzzi, ao meu esposo
Edson, pelo nosso amor, nossa admiração recíproca e nosso
companheirismo, aos nossos filhos maravilhosos:
Bianca, Octávio e Germano,
por reinventarem minha vida todos os dias.
Sumário

Introdução.......................................................................................... 8
A paisagem acima de tudo................................................................. 8
No Brasil: atribuições profissionais em paisagismo versus
parques e jardins...................................................................................10
A atuação do agrônomo........................................................................ 12
Capítulo I
Paisagismo: conceitos e aplicações................................................ 14
Paisagem natural................................................................................... 16
Paisagem rural....................................................................................... 18
Paisagem urbana.................................................................................. 20
Concepções francesas de paisagem: do território geográfico ao
jardim sustentável................................................................................ 22
Tendências atuais e aplicações............................................................ 25
Como atividade profissional................................................................. 28
Instrumento: para compreender a paisagem...................................... 29
Capítulo II
Arte e estilo de jardins..................................................................... 34
Nas artes: land art, paisagem, buquês e a mosaicultura.................... 34
Evolução histórica dos jardins............................................................. 38
Antiguidade............................................................................................... 40
Idade Média................................................................................................ 41
Renascimento........................................................................................... 42
Eterno e perene........................................................................................ 43
Contemporâneo........................................................................................ 44
Considerações finais sobre a importância do estudo e uso dos
estilos........................................................................................................ 44

Capítulo III
Estudo da vegetação ornamental................................................... 48
Princípios de composição.................................................................... 54
Elementos para associação vegetal.................................................... 54
Plantas medicinais e plantas tóxicas................................................... 64
Capítulo IV
Classificação de jardins e estruturação das áreas básicas........... 65
Classificação de jardins........................................................................ 65
Estruturação das áreas básicas verdes...............................................67
Desejos e expectativas do cliente........................................................ 68
Roteiro de questões para a composição do jardim................................. 69

Capítulo V
O projeto paisagístico....................................................................... 71
Etapas da organização.............................................................................. 71
Como trabalhar no projeto....................................................................73
Atelier de projeto paisagístico...................................................................75
Representação da vegetação................................................................... 77

Capítulo VI
Arborização em vias públicas......................................................... 82
Arborização rodoviária......................................................................... 82
Arborização urbana.............................................................................. 85
Arborização urbana e sustentabilidade ambiental.............................. 88
Capítulo VII
Práticas pedagógicas em paisagismo: construindo jardins nos
espíritos e no espaço – o paisagismo na Agronomia...................... 92
Conclusão....................................................................................... 101
Referências.....................................................................................104
Apêndices....................................................................................... 110
Apêndice 1........................................................................................ 111
Instrumento Atitudes e percepções da paisagem............................... 111
Apêndice 2...................................................................................... 112
Instrumento da análise do lugar ao projeto de paisagem................... 112
Apêndice 3...................................................................................... 113
Exemplo de análise.............................................................................. 113
Apêndice 4...................................................................................... 115
Questionário prévio na instalação de jardins: desejos e
expectativas dos usuários.................................................................. 115
Introdução

A paisagem acima de tudo

O
bjetivo inicial deste documento é fornecer subsídios, como um li-
vro didático apoiado institucionalmente, para a formação acadê-
mica no curso de Agronomia. Mas, seu principal objetivo é pro-
porcionar ao leitor uma leitura instigante que o convide a olhar
a paisagem de forma inovadora e nesse contexto reencontrar-se como ser
imaterial, tentando praticá-la e usufrui-la.
Tenho o paisagismo como escolha de vida e procuro passar meu en-
cantamento por essa profissão ao leitor por meio do meu trabalho. Pensan-
do dessa forma, podemos traçar um paralelo entre as leis (ou a falta dessas,
ou os projetos de lei em andamento) e as normas, com o bom senso, das
nossas escolhas (culturais, psicológicas e estéticas) em relação às paisagens,
à natureza e ao meio ambiente.
Entretanto, o deleite somente é permitido com saúde, pois quando
sentimos dores permanecemos egoístas em nossos corpos físicos e quando
estamos bem espalhamo-nos cosmus afora. O iminente biólogo René Dubos
(1901-1982) já dizia que a saúde vai além do estado de vigor e de bem-estar
e que “saúde é você poder funcionar, fazer o que quer fazer e vir a ser aqui-
lo que deseja ser ”, colocando a responsabilidade de permanecer saudável
no paciente, e não no médico ou na medicina. E, a primeira parada é a
nossa paisagem cotidiana. Por isso, o convite do título, sairmos da aprecia-
ção para o fazer (processo terapêutico) e novamente reencontrarmo-nos no
processo do usufruto da paisagem, das tantas paisagens, pois existem tan-
tas quantos somos (ou em quantos estados de espírito encontrarmo-nos).
Minha história pessoal acadêmica com o paisagismo começou em
1988, na Udesc, em Lages, onde consegui a parceria de mais 14 amigos
formandos (número mínimo de alunos) para a oferta de uma disciplina
eletiva. A mestre botânica Claudete Nuernberg organizou a disciplina e
convidou a professora Nara dos Santos da Universidade Federal de Santa
Maria (UFSM) para ajudá-la. Em uma semana tivemos aulas teóricas, fize-
mos os projetos paisagísticos e realizamos uma visita técnica na região das
hortênsias, na serra gaúcha. Voltamos da viagem famosos e reconhecidos
como um grupo muito unido, com uma unidade singular. Em seguida, realizei meu
estágio final do curso com o biólogo Gustaaf Winters, em São Paulo. Da turma de
33 formandos, apenas eu continuei no ramo, sempre estudando e me especializan-
do. Meu doutorado foi na França, sob a orientação do doutor Pierre Donadieu, da
Escola de paisagem de Versailles. Fui a última orientanda (de pós-doc) do eminente
pesquisador das paisagens francesas, doutor Michel Périgord, na Universidade de
Poitiers. O conteúdo deste livro é o somatório de aprendizados com esses mestres e
seus estudos ao longo dos últimos vinte anos, lecionando no curso de Agronomia.
Existe meu esforço constante em agregar outras áreas devido ao envolvimento
com alunos da geografia, educação, biologia, artes e arquitetura. Mas reitero que
tenho a intenção de despertar esse ofício em quem parece estar esquecendo do seu
vínculo com a terra, e, por isso, vou insistir aqui com os estudantes de Agronomia.
Nesses vinte anos de carreira docente testemunhei a forma como a maioria dos aca-
dêmicos deixa transparecer certo desdém por esse ramo profissional. Talvez seja
por pura ignorância intelectual a respeito do tema, pois aqueles que se motivaram e
estudaram tornaram-se excelentes profissionais em paisagismo.1
Mesmo que a maior parte dos egressos das faculdades de Agronomia, sobre-
tudo no Rio Grande do Sul, objetive tornar-se profissional com atuação exclusiva
nas cadeias produtivas do meio rural (esse é de fato o conhecimento que se destina 9
ao cultivo da terra), o conhecimento na área não precisa restringir-se à produção de
alimentos e seus processos inerentes. A Engenharia Agronômica permite o desen-
volvimento de estudos e conhecimentos das relações entre solo e ambiente e a vida
que ali se desenvolve. Entretanto, a amplitude do conhecimento adquirido por um
profissional dessa área atribui-lhe responsabilidades éticas perante a sociedade, as
quais vão além das implantações de lavouras e dos resultados das criações de ani-
mais. Esse profissional precisa compreender também sua função para o bem-estar e
para a qualidade de vida de toda a sociedade.
Atualmente, são nichos cujas lacunas demonstram a carência de profissionais
com visões interdisciplinares, inovadoras e dinâmicas, que buscam a sustentabilidade
dos agrossistemas. Nesse ponto de vista, salienta-se a atuação profissional do agrô-
nomo no meio urbano. É nesse meio que vive a maioria da população, submetida às
consequências dos próprios impactos produzidos no meio ambiente. Existe um con-
sumidor cada vez mais consciente dos danos que um meio ambiente poluído e um
alimento contaminado podem lhe causar. Esta obra busca suprir, de forma incipiente,

Um breve resgate histórico: foi na primeira turma que lecionei na UPF (no primeiro semestre de 1994)
1

que conheci Sérgio Valente Tomasini, diplomou-se doutor pela UFRGS e é o atual diretor de Parques
e Jardins de Porto Alegre. Sandra Rigo, que além de floricultora tornou-se técnica do Senar-RS de ex-
celência em paisagismo e foi a primeira responsável pelo treinamento em jardinagem das agricultoras
jardinistas da Rota dos jardins rurais de Victor Graeff-RS.

Cláudia Petry
essa necessidade de compreensão do meio exterior, de nosso território que se trans-
forma em paisagem. Alguns dos textos aqui compartilhados já foram divulgados em
eventos acadêmicos e científicos, constituíram documentos impressos ou digitais, mas
continuam atuais, podendo ajudar na educação e no esclarecimento dos novos profis-
sionais.
A melhoria da qualidade de vida, nas cidades, tem sido um tema de preocu-
pação geral em todas as áreas do conhecimento, tanto para engenheiros como para
arquitetos, sociólogos, historiadores, educadores, biólogos, artistas, profissionais da
saúde coletiva, etc. Os conhecimentos agronômicos podem auxiliar na solução de
grande parte dos problemas ambientais de uma cidade, no tocante, por exemplo,
à reciclagem de resíduos orgânicos e à criação e o gerenciamento de áreas verdes
bem-sucedidas, sejam públicas ou privadas. Os benefícios dos espaços verdes na
qualidade de vida (saúde física e psicológica) são incontestáveis. Muitos são os casos
conhecidos de profissionais bem-sucedidos nesse setor, tanto com escritórios priva-
dos ou como funcionários públicos.
No entanto, no contexto atual, ainda verifica-se um déficit de profissionais
qualificados atuantes, o que faz com que profissionais não qualificados atuem em
floricultura e paisagismo, motivados pelo aumento da demanda da sociedade. O
10 resultado pode ser observado ao nosso redor, em iniciativas desastrosas de implan-
tações de árvores, em via pública, sem planejamento prévio e sem visão de como as
espécies irão comportar-se em longo prazo, ou ainda a instalação de jardins, praças
e parques sem planificação e sem seus referidos projetos paisagísticos, sobretudo em
pequenas cidades. A punição devido a cortes ilegais de árvores em meio urbano (e
também no meio rural, região submetida ao código florestal) vem comprovar a ur-
gência de conhecimentos prévios para efetivar projetos de arborização, projetos de
recuperação ambiental (Rima) e projetos paisagísticos.

No Brasil: atribuições profissionais em


paisagismo versus parques e jardins
Atuar na implantação de áreas públicas verdes é responsabilidade de paisagis-
tas, profissionais do paisagismo, isso na maioria dos países desenvolvidos. Mas essa
profissão ainda não é regulamentada no Brasil e a discussão fica restrita a alguns
profissionais como os arquitetos, via Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU)
versus agrônomos e engenheiros florestais por meio do Conselho Regional de En-
genharia (Crea). Os paisagistas formados em composição paisagística, desde 1979,
pela Escola de Belas Artes no Rio de Janeiro, ainda não têm o reconhecimento de seu
ofício. Mas, atualmente, está em votação na Câmara dos Deputados um projeto de

A paisagem acima de tudo


lei (PL n. 2043/2011) que visa criar a profissão de paisagista no Brasil. Devido a esse
fato não retomarei mais o debate em relação às atribuições profissionais. Enfim, o
métier/ofício do paisagista está em evolução, em discussão e em ebulição no Brasil.
A amplitude do termo paisagismo fomenta novas áreas de estudo ainda pouco
exploradas no Brasil. Por exemplo, estudar as identidades regionais em Geografia,
ou ainda as diferentes percepções ambientais em Psicologia Ambiental. Ou seja, o
paisagismo ao estudar as relações dos seres humanos com seus territórios e am-
bientes, permite uma maior compreensão das diferentes realidades visíveis e/ou
perceptíveis. Assim, podemos começar a responder as razões de um lugar ser assim
e de outro ser completamente distinto. Razões culturais, além das ecológicas, eco-
nômicas e contextuais ajudam a explicar essas diferenças. Anaïs Nin (1961, p. 124) a
isso se refere usando uma expressão talmúdica: “nós vemos as coisas não como são
mas como somos!”
Ao conceito original de paisagem – “imagem de um território abarcada pelo
olhar” – foram agregadas as relações humanas, as quais ajudaram a “fabricar” essa
imagem que é vista (Convenção europeia da paisagem, 2000). A paisagem pode ser
considerada natural, a qual sofreu as transformações físicas, naturais ou artificiais
transformada pelo homem, tendo, assim, a paisagem urbana e a paisagem rural. E,
por isso, essa pode estar ameaçada e necessitar de proteção. A Unesco já listou várias 11
paisagens culturais e sítios naturais que merecem ser protegidos por ser patrimônio
mundial da humanidade. Respectivamente, os exemplos das ruínas das Missões em
Santo Ângelo e o conjunto da Mata Atlântica, como reserva da biosfera, ilustram, no
Brasil, os dois casos .
As noções de paisagem cultural, de patrimônio e de identidade territorial dei-
xam claro que somente avançaremos no estudo das paisagens quando esse for com-
partilhado também com profissionais das áreas de ciências humanas. Em função dis-
so, tornou-se urgente superar a discussão das atribuições profissionais relacionadas
ao paisagismo a fim de, ao invés de dividir, somar, enriquecendo o paisagismo com
estudos interdisciplinares, e com isso aumentar o leque das potencialidades e das
aplicações da ciência da paisagem. Dada a diversidade dos elementos que compõem
a paisagem, tais como, formações naturais, construções, espécies vegetais, fauna,
áreas degradadas, obras de arte, elementos simbólicos e culturais, etc., o paisagismo
nasceu como uma ciência multidisciplinar, a qual exige visões respeitosas, portanto
interdisciplinares ou transversais das disciplinas, cuja participação de profissionais
de várias áreas do conhecimento torna-se fundamental.

Cláudia Petry
A atuação do agrônomo
Como o agrônomo pode contribuir na elaboração e na prática dessa ciência
da paisagem? Aplicando seus conhecimentos em solos e em ambientes (constitui-
ção, geologia, fertilidade, topografia, manejo e conservação), em biologia vegetal
(botânica, fisiologia vegetal, fitopatologia, plantas invasoras, etc.) e em produção
vegetal (horticultura, floricultura, silvicultura, etc.), o qual pode resolver diretamen-
te problemas técnicos no planejamento e designe baseado e relacionado ao solo e a
vegetação empregada em projetos paisagísticos de parques e jardins. Senão, com
seus conhecimentos relacionados à paisagem rural, ao manejo de microbacias e aos
princípios de extensão rural, pode auxiliar em projetos de desenvolvimento rural
regional, a partir da análise das paisagens rurais.
O profissional que decidir trabalhar nessa área deverá buscar conhecimentos
complementares que facilitarão sua atuação, por exemplo, nos domínios de conhe-
cimento da estética, da composição, do desenho artístico, da representação espacial
e do uso da informática (nos quais existem inúmeros programas de computadores
para elaboração de projetos e de listas de plantas). De posse de tais conhecimentos,
projetos de micropaisagismo (ajardinamento em pequenas áreas) podem ser elabo-
12 rados e executados na íntegra por agrônomos. Estudos e projetos em áreas maiores
(macropaisagismo) solicitam a criação de equipes multidisciplinares, mas o profis-
sional responsável saberá delimitar sua atuação, sem esquecer, no entanto, que o
trabalho em equipe é enriquecedor para todos os envolvidos.
Desse modo, mesmo que o agrônomo pouco explore seu nicho de mercado
em paisagismo, o mercado é promissor. Há tanto a possibilidade em trabalhar como
autônomo como também junto a floriculturas ou a escritórios de arquitetura e pro-
jetos. Nos últimos anos, vem aumentando a demanda por prestação de serviços e
consultorias junto aos órgãos públicos, principalmente aos órgãos municipais, pois,
após o Fórum Rio-92, as secretarias municipais de meio ambiente passaram a ser
consideradas de importância primordial na administração da qualidade de vida dos
cidadãos e passaram a, obrigatoriamente, abrigar um setor de paisagismo ou de par-
ques. Ao verdadeiro interessado no assunto – um autodidata, ético e idealista – não
faltará mercado, cabendo a cada um conquistar seu espaço profissional.
Ao referirmo-nos ao conteúdo abordado neste livro, buscou-se no Capítulo 1,
apresentar conceitos e aplicações em paisagem e paisagismo, e anexaram-se como
apêndices informações e metodologias de análise da paisagem advindas da área da
geografia. Em seguida, o Capítulo 2 expõe algumas contribuições das Belas Artes,
culminando com os estilos de jardins. No final desse, há uma pequena crônica de
festivais franceses de jardins. Já, o Capítulo 3 aborda alguns aspectos estéticos e plás-

A paisagem acima de tudo


ticos da vegetação ornamental. O Capítulo 4 trata da classificação de jardins e da es-
truturação das áreas básicas verdes, sugerindo no anexo um roteiro de questões para
a composição do jardim que contemple os desejos e as expectativas do cliente. No
Capítulo 5 relata-se, de forma simplificada, as etapas de elaboração do projeto pai-
sagístico, valorizando a forma mais artesanal, sugerindo um atelier para o projeto e
insistindo na criação pessoal da simbologia para a representação da vegetação. E, no
Capítulo 6 são alinhavadas questões relacionadas à arborização em vias públicas, seja
em rodovias ou no meio urbano. Completa-se o assunto com um artigo de opinião,
publicado no Jornal da Sociedade Brasileira de Arborização Urbana, com questões
referentes à sustentabilidade ambiental. Ao final da proposta, foi acrescentado um re-
lato das práticas pedagógicas em paisagismo e foram tecidas as considerações finais.
Em função do exposto, o paisagismo é um trabalho sério, de atribuição e de
responsabilidade do profissional de agronomia. Esse, ao permitir-se encarar tal área
como potencial e assim diminuir seu próprio preconceito a respeito do assunto, po-
derá crescer e contribuir para melhorar o ambiente de uma forma geral. Se a visão
do profissional não fizer rupturas entre o meio urbano e o meio rural, olhando de
forma holística e sistêmica a paisagem como um todo, todos ganham. Ao longo de
minha carreira como educadora testemunhei muitos momentos na vida de alunos e
leigos, de verdadeira descoberta do sentido da vida, ao saberem da existência dessa 13
ciência e arte. E é para todas as pessoas interessadas em usufruir melhor seu ambien-
te e aumentar sua qualidade de vida que este livro é dedicado. Considera-se, pois,
que cada ser humano tem sua casa para morar e que essa, no mínimo, terá pátio ou
sacada (se for apartamento). Escolher ter um jardim (se possível agroecológico) é,
portanto, a consequência primeira de tratar esse espaço com o carinho que um habi-
tat humano merece. Boa leitura!

Cláudia Petry
Capítulo I

Paisagismo: conceitos e aplicações2

D
issertar a respeito do paisagismo é resgatar os conceitos ecoló-
gicos de ecossistemas e de melhor qualidade de vida para os se-
res vivos em suas comunidades. Para se vislumbrar a diferença
conceitual entre os termos técnicos, abaixo seguem algumas de-
finições e diferenciações entre paisagem, paisagismo, jardim e arquitetura
paisagística (ou planejamento paisagístico).
O termo paisagem pode significar desde uma pintura, representando
a vista de uma cena natural da região a uma extensão do território visível
a partir de um ponto determinado. Nas Belas Artes, a paisagem passou
de cenário/pano de fundo para ensaios do uso das cores e luzes/sombras
(impressionismo), de forma que significou mais um panorama na mente do
artista do que a retratação das verdades existentes em uma cena campestre
(Swinglehurst, 1997), visto ser Vincent Van Gogh um exemplo de renomado
paisagista. Para a Geografia, a paisagem é o resultado atual de um longo
processo evolutivo: a formação do relevo de uma região, seu clima, a vida
que ali se instalou e também evoluiu, a interferência humana e tudo isso
inter-relacionado ao meio ambiente.
Paisagismo é a representação da paisagem pela pintura ou pelo dese-
nho, e em arquitetura, é o estudo dos processos de preparação e realização
da paisagem como complemento da arquitetura, segundo o dicionário Au-
rélio. Para Mazzilli e Geiser (1997), é o tratamento da paisagem, nas mais
diversas escalas, do m2 ao km2, o que se denomina de micropaisagem e
macropaisagem, respectivamente. Tanto para zonas urbanas como para zo-
nas rurais, e em todas as suas interfaces, o manejo de paisagens naturais,
parques e reservas, bem como as categorias de conservação da natureza,
como o entende a União Internacional para a Conservação da Natureza e
dos Recursos Naturais (UICN). Para Burle-Marx (1987), paisagismo é uma
arte altamente elaborada que resulta de uma trama de concepções e de co-
nhecimentos no estabelecimento de uma paisagem ou de um jardim.


2
Parte do texto apresentado pela autora na introdução ao Seminário Regional de Paisagismo Urbano,
realizado nos dias 18 e 19 de junho de 1998. In: QUADROS, C.; PETRY, C. (Orgs.). Seminário Regional
de Paisagismo Urbano. Passo Fundo: Ed. Universidade de Passo Fundo, 1998. p. 16-30. (v.I).
Já a palavra jardim, vem do hebreu gan (proteger, defender) e eden (prazer, de-
lícia), significando a imagem de um pequeno mundo ideal, perfeito e privativo. Esse
é a reunião sob conceitos técnicos e estéticos da fauna, da flora, dos elementos arqui-
tetônicos com finalidades recreativas, culturais e econômicas (Winters, 1991), ou um
espaço verde funcional, que envolve conhecimentos das ciências e das artes. O jardim
deve ser considerado como uma manifestação de arte, com características e persona-
lidade próprias, segundo Burle-Marx (1987): “Um jardim é a natureza organizada,
aonde a intenção do artista é colocada em evidência com a beleza das cores e das
formas, do ritmo e dos volumes ordenados. É estabelecer harmonias, criar contrastes,
sendo o conjunto uma trama na qual todos os elementos são indispensáveis” .
A arquitetura paisagística ou o planejamento paisagístico, segundo a Comis-
são de Planejamento do Meio Ambiente da UICN, é o processo contínuo que se em-
penha em fazer o melhor uso para a humanidade de uma área limitada da superfície
terrestre, conservando sua produtividade e beleza. É sua meta reconciliar as neces-
sidades dos usos competitivos da terra e incorporá-los em uma paisagem, na qual
as civilizações humanas possam prosperar sem a destruição dos recursos naturais e
culturais, em que as sociedades estão fundadas. Baseado na compreensão da natu-
reza, o projeto busca conservar e criar a maior diversidade, implicando em uma pai-
sagem capaz de múltiplos usos. Em outras palavras, é a conservação criativa, pois 15
pode envolver a modificação deliberada das paisagens existentes (Demattê, 1997;
Mazzilli, Geiser, 1997).
Segundo a American Society of Landscape Architects (Asla), a arquitetura
paisagística é a arte do desenho, do planejamento e do manejo da terra, arranjo dos
elementos naturais e feitos pelo homem por meio da aplicação de conhecimentos
científicos e culturais, com objetivos de conservação e administração dos recursos
naturais, com fins que resultem em um ambiente com propósitos úteis e saudáveis.
Em relação à profissão do arquiteto paisagista, a Associação Brasileira de Ar-
quitetos Paisagistas (Abap) diz que o seu trabalho contém elementos que se referem
a valores artísticos, funcionais e ambientais, cuja produção envolve planos e pro-
jetos. Dependendo da complexidade e da escala, o trabalho é exercido em equipes
interdisciplinares constituídas principalmente de arquitetos, urbanistas, geógrafos,
agrônomos, biólogos, cientistas sociais e juristas, dentre outros, visto envolver co-
nhecimentos de todas as áreas, e como já foi informado, não existe um curso espe-
cífico com essa formação no Brasil, a qual ocorre em nível internacional, tanto em
cursos de graduação como de pós-graduação. A profissão arquiteto paisagista não
é regularmente reconhecida no país (arquitetos paisagistas yearbook, 1997). Na Ar-
quitetura, na Agronomia e na Engenharia Florestal, há, no mínimo, uma disciplina
obrigatória, presença ainda não marcada nos outros cursos, mas cuja análise seria
pertinente. Cotidianamente, todos os cidadãos apreciam, usam e apropriam-se de

Cláudia Petry
suas paisagens mais queridas, uns mais outros menos, mas todos têm o dever de
tentar compreendê-las para melhor preservá-las.
Ainda em relação às atuações em paisagismo, pode-se denominar micropai-
sagismo quando se faz paisagismo em pequenos espaços, trabalhando com escalas
entre 1:50 a 1:1000, o qual pode ser feito por somente um profissional, envolven-
do a criação artística com técnicas mais simples. E quando tal trabalho é realizado
em áreas maiores, as quais trabalham com escalas menores que 1:1000 (de 1:5000 a
1:50.000), denomina-se de macropaisagismo, envolvendo trabalho em equipe, vis-
to surgir problemas complexos e multidisciplinares (Demattê, 1997). Em resumo, o
material de trabalho do paisagista constitui-se de: anseios do usuário, solo (geologia
e relevo), flora, fauna, recursos hídricos e minerais, condições ambientais e muita
dedicação e paciência (para não ser imediatista). A seguir, alguns tópicos a respeito
das paisagens naturais, rurais e urbanas. As definições variam segundo alguns au-
tores que as classificam simplesmente em paisagem natural e paisagem antrópica
(modificada pelo homem). Aqui, frisa-se a paisagem rural, que é formada por ca-
racterísticas peculiares, muito distintas do meio urbano, antrópica e ocupa a maior
extensão territorial do país.

16
Paisagem natural
Será que se conhece a paisagem original? A maioria das paisagens atuais (prin-
cipalmente no velho mundo) é a já modificada pelo homem. A paisagem natural
mundial varia por meio da sua localização geográfica. Os biomas – grandes com-
plexos de comunidades de organismos vivos, que se caracterizam por vegetações e
climas típicos, como por exemplo, desertos e campos segundo Raven et al. (1978),
tundra e taigas são de altas latitudes, a Floresta Tropical e a Mata Atlântica de latitu-
des menores, tendo a densidade menor e número de espécies maior nesses últimos,
por isso, os trópicos sofrem mais com os processos de degradação ambiental e a
maioria de suas espécies estão ameaçadas de extinção (Odum, 1988). A altitude tam-
bém afeta a composição florística.
A paisagem natural sofre, em nome do manejo para a humanização dos am-
bientes, processos de desertificação, domesticação e desagregação (queimadas,
desmatamento, movimento de terras, agrotóxicos e resíduos industriais), visando
à produção agrícola, geração de energia e a ocupação na forma de assentamentos
humanos. Por isso, o restante das paisagens naturais deve ser preservado como ar-
quivo histórico da própria humanidade. E as áreas degradadas devem passar por
um processo de reabilitação (visto que a recuperação total não é possível) para exter-
narem seu potencial regional.

Paisagismo: conceitos e aplicações


A vegetação tropical e subtropical do país apresenta grandes formações: flo-
restais, herbáceas, complexas e litorâneas (IBGE, 1974). No paisagismo natural do
Rio Grande do Sul há seis regiões geomorfológicas (formação e relevo dos solos),
sete regiões fitoecológicas (formação das comunidades vegetais) e áreas de tensão
ecológica, que são áreas de transição (Teixeira e Neto, 1986; Rambo, 1994). As regiões
geomorfológicas são os quatro planaltos (das araucárias, das missões, da campanha
e sul-rio-grandense), a depressão central e a planície costeira. As regiões fitoecológi-
cas são: savana, estepe, savana estépica, áreas de formação pioneira e as três florestas
(ombrófila mista, ombrófila densa e estacional semidecidual). De uma forma geral,
a vegetação campestre de estrutura gramineoide ocupava originalmente 50,83% da
área e, a formação florestal, antes do início da ação antrópica, 26,62% da área estuda-
da em Teixeira e Neto (1986), situada abaixo do paralelo 28 graus ao sul. Houve uma
redução de 90% dessa área de florestas, que, inicialmente, era de 72.165 km2.
Na região de Passo Fundo predomina a savana e, segundo o Projeto Radam-
Brasil, ocorre em clima estacional, em locais com solos rasos ou arenosos lixiviados,
com relevo geralmente aplainado, pedogênese férrica (solos distróficos ou álicos) e
vegetação gramíneo lenhosa. Quanto à origem da savana, há várias teorias, e quan-
to à sua fisionomia, essa é variável, não havendo somente campos nem somente
árvores (Lindman, 1906 apud Teixeira e Neto, 1986), estando divididas em três ca- 17
tegorias: savana arbórea aberta, savana parque e savana gramíneo lenhosa (campos
gramados, paleáceos e subarbustivos). A savana no planalto é também chamada de
os campos (pampas) de cima da serra (Rambo, 1994).
No Planalto das Missões (ou região do Planalto Médio, como é conhecida po-
liticamente, onde situa-se Passo Fundo), predomina a savana gramíneo lenhosa, com
floresta de galeria, devido ao relevo suave e ondulado, latossolos e podzólicos com
vegetação herbácea original: Paspalum notatum (grama-forquilha), Piptochaetium spp
(pelo de porco), Andropogon spp, Baccharis spp (carquejas), Vernonia sp (alecrim), Des-
modium spp (pega-pega) e Tripholium spp (trevos). Pelo manejo utilizado que inclui as
queimadas, há um predomínio das espécies rizomatosas (com substâncias de reservas
nas raízes), como a grama-forquilha, a Axonopus compressus (grama tapete de folha
larga), Axonopus tissifolius (grama jesuíta), as carquejas, Eryngyum spp (caraguatás),
samambaias, alecrim, Senecio brasiliensis (maria mole) e ainda Aristida pallens (capim
barba de bode), Eryanthus angustifolius (macega estaladeira), desmodiuns, ciperáceas,
leguminosas umbelíferas e compostas, formando agrupamentos muito variados. Vá-
rias destas espécies tem um grande potencial na utilização ornamental como grama-
dos e forrações, citando-se as samambaias e capins diversos (barba de bode, chorão,
etc). A floresta de galeria é densa, alta e estreita, cujas principais espécies originais são:
canafístula (Peltophorum dubium), açoita-cavalo (Luehea divaricata), pitangueira (Euge-
nia uniflora), pessegueiro bravo (Prunus sellowi), aroeira preta (Lithraea brasiliensis).

Cláudia Petry
Já a Floresta Ombrófila mista, que se mistura à Savana, no Planalto das Mis-
sões, é a Montana, sob rochas basálticas. Nos solos profundos, essa já foi substituída
por lavouras de produção agrícola (Não-Me-Toque, Ibirubá, Selbach,...). Há rema-
nescentes na serra geral com: araucária (Araucaria angustifolia) no estrato emergente,
canela areia (Cryptocarya sp), canela lajeana (Ocotea pulchella), canela sebo (Ocotea
puberula), bracatinga (Mimosa scabrella) e pessegueiro bravo, no estrato dominante. E
na submata (ou sub-bosque), a aroeira-preta, o guamirim (Myrceugenia sp), o cambuí
(Myrciaria sp) e a erva-mate (Ilex paraguariensis). Interessante atentar para possíveis
modificações na sinonímia botânica após a mudança para APG-2.
Todas essas espécies de árvores nativas têm um grande potencial para orna-
mentação das cidades e áreas suburbanas, além de serem preservadas no meio na-
tural e mantidas no meio rural, com vistas a garantir a identidade de cada lugar.
Deve-se ter o cuidado de selecioná-las para o emprego em ornamentação, pelas suas
características plásticas e necessidades ecológicas. Por exemplo, a araucária é uma
árvore grande, em forma de cone (conífera) na fase juvenil e de guarda-chuva inver-
tido quando adulta, é uma estrutura estética relativamente rara, estando ameaça-
da de extinção (como formação florestal). Portanto, deve-se usá-la em maciços, em
grandes espaços, em solos profundos e na fase jovem deve estar à sombra de outras
18 árvores (é ombrófila nessa fase), para se alcançar o seu máximo potencial paisagís-
tico, com o máximo de desenvolvimento. Cada espécie deve ser trabalhada com o
respeito e os devidos cuidados individualizados para a obtenção das suas melhores
performances como potenciais plantas ornamentais.

Paisagem rural
A maior parte das paisagens brasileiras ainda está no meio rural, e a sua fi-
sionomia vai depender do desenvolvimento agrícola regional, das características
culturais de seus habitantes, do zoneamento agroclimático (quais culturas podem
se desenvolver ali), dos recursos naturais e da aptidão ecológica, do levantamento
das unidades de mapeamento dos solos e sua classificação de uso, bem como a to-
pografia, em seus aspectos físicos. Como fatores sociais, tem-se as diferentes formas
e origens da colonização e das sucessivas ocupações, bem como os fatores culturais
dos povos que a colonizaram. Como aspectos políticos, tem-se as políticas agrícolas
adotadas ao longo de sua evolução e o acesso à comercialização dos seus produtos.
Ao se pensar a paisagem rural, convém ser conservacionista, vislumbrando a
região, como um todo, como bacias (ou microbacias) hidrográficas, tratando as pro-
priedades como unidades integralizadoras dessas bacias, a fim de garantir a conser-
vação dos recursos hídricos, do solo e da sustentabilidade da produção. Para atuar

Paisagismo: conceitos e aplicações


na paisagem rural, em relação à vegetação, deve-se utilizar o Código Florestal (lei
n. 4771, de 15/09/1965, modificada recentemente), além da nova lei ambiental, que
classifica os crimes ambientais.
Para Corajoud e Corajoud (1979), as paisagens europeias mais ameaçadas são as
rurais, seja pela transformação dos modos de produção ou pelo abandono puro e sim-
ples de superfícies não rentáveis, ou, ainda, pela extensão das zonas urbanas. No Bra-
sil, isso aparece no cultivo intenso e monocultural, no uso de agrotóxicos, e no aumento
de voçorocas e rios carregados de sedimentos, assim como no aumento do celibato e do
êxodo rural. Em função disso, além da degradação ambiental in situ, há o processo de
esvaziamento rural, com a favelização nas periferias urbanas e todas as consequências
advindas de um crescimento urbano desordenado. Segundo os autores, é preciso rea-
prender a olhar para a paisagem, percebendo que há uma relação de homogeneidade
entre a atividade camponesa e os lugares onde essa desenvolve-se. Portanto, cada lugar
é um lugar, com sua identidade e suas autonomias, econômica e cultural.
Estudiosos, técnicos e cientistas precisam descobrir, junto com as populações,
o genius loci (o espírito do lugar) de cada localidade, de cada cidade e de cada bairro
para passar a considerar as possibilidades de identificação dos lugares como tarefa
de planejamento (Kolhsdorf, 1998). Mesmo porque, o desempenho topoceptivo ocor-
rerá de qualquer forma, mesmo tendo sido desprezado por projetistas, gestores e 19
executores, quando prefigurações transformarem-se em espaços construídos (Tuan,
1987), ou seja, a paisagem está sendo construída (ou reconstruída) por alguém, sem-
pre, independente da nossa vontade. Interessante é respeitar, da melhor forma pos-
sível, as ideias de quem habita esses lugares.
Em relação à domesticação da terra, que foi a forma de colonizar os espaços
naturais, Dubos (1981) ressalta a importância de a humanidade dominar o ambiente
natural e transformá-lo às suas necessidades de sobrevivência. Isso torna-se claro,
quando se analisa a sensação de segurança que um sítio rural proporciona, com toda
a comodidade possível, para turistas ocasionais, de fim de semana, ou até para as
pessoas que habitam os espaços rurais. A mesma sensação não seria alcançada, se
fossem excursões para áreas de florestas virgens, com inúmeras surpresas e dificul-
dades imprevisíveis. Essa alternativa de passeio ou de turismo seria para os mais
aventureiros, outro público, ainda em menor proporção, em um mercado crescente
de turismo em espaços rurais e naturais.
Hoje, foge-se da cidade em busca de lugares que investimos com “valor de na-
tureza” (Conan, 1994). Conforme Donadieu (1994), o citadino busca amenidades no
meio rural: fontes de lazer, de prazer, de sensações inéditas ou aquelas oriundas das
qualidades da ambiência rural (ar puro, espaço de relaxamento e de distração) e de na-
tureza inesperada e pitoresca. Os olhares dos habitantes rurais, para Donadieu, dizem
respeito a uma referência identitária, de apego ao lugar e às lembranças familiares.

Cláudia Petry
Ao trabalhar os temas ecoturismo e turismo rural Rodrigues (1998) cita obser-
vações de Dewailly (1992), visto que esse autor não reconhece as distinções entre
os dois termos anteriores, mas usa como critério as relações espaço-tempo de des-
locamento e as áreas, objeto da prática do que chama de lazer de natureza, que se
superpõem em razão de circunstâncias locais, reconhecendo:
• natureza de ruptura, longe do domicílio de origem, correspondendo a
lugares preservados e razoavelmente exóticos;
• natureza de proximidade, cujos deslocamentos acontecem durante fins de
semana ou de excursões de um dia, de qualidade banal;
• natureza de vizinhança, ainda mais próxima do domicílio, no meio ime-
diato do cotidiano banal, fazendo parte do quadro de vida habitual, como
em jardins públicos, espaços verdes urbanos – como determinados par-
ques de práticas diárias de caminhadas.

Essa tipologia, aplicada ao paisagismo e ao turismo, é muito interessante na


medida em que não está preocupada com a distinção clássica entre natural, rural, ur-
bano, cujas características mesclam-se facilmente em certos espaços, principalmente
periurbanos.
20
Paisagem urbana
Dados do IBGE apontam que, desde a década de 1950, a população urbana
recebe um grande contingente de imigrantes do meio rural, hoje cerca de 80% da
população brasileira. Os problemas da pressão populacional são fáceis de identifi-
car (diminuição dos recursos hídricos potáveis, excesso de resíduos urbanos, maior
demanda de energia elétrica e de alimentos, etc.), mas de difícil resolução em curto
prazo. O índice de área verde previsto pela Organização das Nações Unidas (ONU)
é de 12 m2/habitante, mas esse deve variar em função da ocupação do solo (densida-
de e utilização funcional) e se for para área industrial, o índice deve ser maior.
A questão dos espaços verdes urbanos é imprescindível para a sobrevivência
do cidadão que reside na área urbana. Na atualidade, são redigidas várias leis que
protegem essas áreas e estimulam seu aumento. Por exemplo, os planos diretores
preveem um recuo de 4 m nas residências, área essa que servirá para o jardim. Em
Brasília, a lei prevê que 20% do terreno seja de área verde e, em Curitiba, há a dimi-
nuição dos valores de IPTU até a sua isenção, conforme a cobertura com vegetação
arbórea. Até cidades jardins (proposições inovadoras no urbanismo moderno do
final do século XIX e início do XX) são criadas, com as residências em meio às áre-
as verdes, separadas da área industrial. É fundamental repensar a organização dos
espaços, a localização estratégica das áreas industriais, o processo de urbanização e

Paisagismo: conceitos e aplicações


a função dos espaços não urbanizados, na busca de uma paisagem regionalizada (in-
dividualizada), resultante desse jogo de relações que favoreça a maior diversidade
possível nos estilos de vida e, por consequência, nas leituras paisagísticas. A regiona-
lização das paisagens é lembrada quando se cita no Rio Grande do Sul cidades como
Gramado, São Francisco de Paula e Ibirubá, dentre outras, as quais mantêm-se fiéis
à cultura de sua gente e aos seus belos recursos naturais.
Aqui, encontra-se uma área de trabalho em pleno crescimento para o profissio-
nal paisagista, o viveirista ou o comercializador de mudas ornamentais. Sempre have-
rá espaço para os profissionais que buscarem o aperfeiçoamento técnico, os conheci-
mentos interdisciplinares, e os compartilharem, na tentativa de realizar uma assesso-
ria técnica de qualidade, com a visão de abrir e manter esses novos nichos de mercado.
Acrescenta-se a importância de estabelecer contato com as experiências dos órgãos
públicos (que são os principais responsáveis pela gestão das áreas verdes urbanas),
via estágios e também como servidor ou assessor técnico, o que permitirá ampliar os
horizontes da visão de cidadania, de legislação e de impactos ambientais (Petry, 1988).
Segundo Coutinho dos Santos (1975), os jardins são separados em públicos (a
cargo do poder público, e abertos ao público) e particulares (propriedade privada
com utilização restrita). O autor ainda divide-os em função da finalidade (recreati-
vos, culturais e econômicos), da forma (regular, paisagista ou mista) e da localiza- 21
ção (urbano, suburbano e rural). Os jardins públicos recreativos seriam os núcleos
esportivos, playgrounds, praças, parques, aterros, largos e calçadões; os culturais
envolveriam os zoobotânicos e de defesa da flora e da fauna; e os econômicos seriam
os de aclimatação e os hortos florestais.
Independente de classificações, qualquer área verde pode ser enquadrada
como econômica, podendo ser cobrado ingresso para se ter acesso, haver pontos
de comércio (quiosques, bares, artesanato, etc), de lazer de consumo, ou ainda se
for avaliado o valor econômico da vegetação, como reserva de biomassa ou pelos
custos de implantação e manutenção desses espaços verdes. Benassi (2013) reforça
a importância dos fundamentos ecológicos na valorização do desenho da paisagem
urbana. São grandes os investimentos na nova infraestrutura verde, tais como muros
e telhados verdes. Em relação à crescente valorização fundiária do entorno de uma
área verde, Detzel (1992), ao trabalhar com a avaliação monetária das árvores – que
é uma nova tendência em nível de arboricultura mundial –, cita Jim (1987) para
justificar tal avaliação: a qual fornece dados importantes ao planejamento, à implan-
tação, à manutenção e à remoção da arborização; cria valores de multas por danos
causados às árvores; estabelece parâmetros de indenizações em questões legais ou
jurídicas, bem como auxilia nas avaliações de propriedades de imóveis; e até mes-
mo, na determinação do “patrimônio físico-financeiro” existente na cidade. Entre
tantos outros benefícios da implantação de uma legislação da avaliação monetária

Cláudia Petry
das árvores, esses representam os principais que os órgãos administrativos públicos
podem dispor. Para não ficarmos impávidos, na constatação de Mário Quintana,
“As árvores podadas parecem mãos de enterrados vivos” (Quintana, 2006, p. 68).
Hoje, com a agricultura urbana, por meio dos jardins operários, terapêuticos e
comunitários visualizam-se muitas opções para a atuação em paisagismo, principal-
mente levando-se em consideração as questões ecológicas, de autonomia alimentar
e de sustentabilidade, que são os objetivos comuns da Agenda 21. Quando se fala
em cidadania e em qualidade de vida, fala-se no trabalho que dignifica e no lazer
que recompõem. Esse lazer é um dos direitos do homem, inclusive previsto na Cons-
tituição Federal, como responsabilidade do poder público. Portanto, proporcionar
lazer, mas com essa garantia da qualidade ambiental, torna-se um grande desafio. O
importante, além do sentir-se desafiado, é buscar compartilhar o caminho a seguir
com todos os envolvidos.
A corrente impetuosa é chamada de violenta, mas o leito do rio
que a contém ninguém chama de violento
(Bertoldo Brecht, 1990, poema “Sobre a violência”, p. 143)

22 Concepções francesas de paisagem: do


território geográfico ao jardim sustentável
Busca-se aqui apresentar um breve histórico a respeito da palavra paisagem
(paysage em francês) e sua importância na criação de identidades territoriais. Em
seguida, a partir da exposição de modelos franceses de análise e de valorização da
paisagem, buscaremos explicitar alguns instrumentos de manejo da paisagem e seu
uso transversal na atualidade, envolvendo várias profissões mais notadamente as
com bases geográficas.

Breve histórico
O termo paisagem nasceu nas artes plásticas, no século XVI, para demonstrar a
representação de uma cena campestre e, em seguida, migrar para a literatura român-
tica, a qual influenciou fortemente os naturalistas que descreveram o Novo Mundo
(século XVIII) nesse estilo literário. Na França, desde Luís XIV até Napoleão, a paisa-
gem francesa, em grande escala, foi forjada por meio de grandes obras de intervenção
que visavam o manejo do território (canal do midi, que liga o Atlântico ao Mediterrâ-
neo; alinhamentos de rodovias; grandes parques reais, etc.). No início do século XX,
o geógrafo Paul Vidal de la Blache percebeu, com muita sensibilidade, os gêneros
de vida e sua importância na definição dos pays e das paisagens típicas regionais

Paisagens e paisagismo: do apreciar ao fazer e usufruir


francesas. Roger Dion (1981) em sua obra Ensaio da formação da paisagem rural francesa
confirmou a importância dos manejos da superfície rural, definindo a longa evolução
do território francês e sua perspectiva atual enquanto paisagens típicas. Rougerie e
Beroutchachvili, em 1991, resgatam os vários enfoques que dizem respeito à paisa-
gem, dando ênfase à análise de geossistemas, muito utilizado pela escola russa.
Após os anos de 1970, houve a criação da Ecole Nationale Supérieure du Paysa-
ge à Versailles, estabelecendo, assim, a profissão do paysagiste DPLG (diplomado pelo
governo), que trabalha em projetos de intervenção do espaço em várias escalas. Essa
escola originou-se da divisão da real Ecole d’horticulture, segmento esse transferido
para Angers, região francesa do Loire. Nessa mesma época, a Unesco realiza o tom-
bamento de lugares notáveis (naturais/culturais) como patrimônios da humanidade
(conjugando beleza impressionante e/ou peculiar e demonstração do gênio humano)
e é estabelecido, na França, a Lei de criação dos Parques Naturais Regionais. Em 1993,
é sancionada a Lei da Paisagem na França. Concomitantemente, ganha corpo uma
formação doutoral DEA Jardins Paysages Territoires em Paris, que integra a escola de
arquitetura de Paris-La Villette com a Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais. Os
fundadores expressaram seus quadros teóricos na obra coletiva Cinco proposições para
uma teoria da paisagem (Berque et al., 1994). Nesse contexto, o tema paisagem continua
como um importante instrumento no manejo do território, até com leis internacionais, 23
como a Convenção europeia da paisagem, carta de Florença de 2000.
Essa convenção europeia da paisagem contém quatro capítulos, 17 artigos e 86
alíneas e define “Paysage como uma parte do território tal qual é percebida pelas
populações, cujo caráter resulta da ação de fatores naturais e/ou humanos e de suas
inter-relações” e acrescenta ainda: a política da paisagem, o objetivo da qualidade
paisagística, a proteção, a gestão e o manejo das paisagens. Aplica-se a: “todo o terri-
tório e suas partes; sobre espaços naturais, rurais, urbanos e periurbanos. [...] Inclui
espaços terrestres, águas interiores e marítimas; [...] e ainda as paisagens podem ser
notáveis, do cotidiano ou degradadas”. Esse avanço legal na gestão das paisagens
é considerado como complemento de instrumentos jurídicos internacionais como a
Convenção da Unesco sobre a proteção do patrimônio mundial, cultural e natural
(Paris, 16/11/1972); e as convenções do Conselho da Europa referente à: “conservação
da vida selvagem e do meio natural” (Berna, 19/09/1979), “pela salvaguarda do patri-
mônio arquitetural” (Granada, 3/10/1985) e “pela proteção do patrimônio arqueoló-
gico” (La Vallette, 16/01/1992) da Europa. Além do que, complementa ainda a inicia-
tiva internacional de “estratégia pan-europeia da diversidade biológica e paisagística”
(Sofia, 25/10/1995) (Convention..., 2000). Em outras palavras, na Europa, paisagem é
patrimônio, é tema interdisciplinar por excelência e é protegida por lei internacional.
Na estética e na filosofia a paisagem foi revista por meio dos termos culturalis-
tas artialisation (artialização) e re-cultura. Inicialmente, foi Cauquelin, em 1989, com

Cláudia Petry
sua obra a Invenção da paisagem, que disserta a respeito dos arquétipos imateriais de
paisagem nas belas artes e na literatura, e que acabaram perenizando-se material-
mente. Na sequência, o filósofo Roger (1997), em Curto ensaio sobre a paisagem, pro-
fere que é necessário recuo e cultura para ver a paisagem e que há um processo de
valorização da imagem do território (a sua artialização em paisagem) que pode ser in
locu ou in visu. O primeiro é por meio da explicação minuciosa do local no próprio
local (com outdoors, etc.) e, o segundo, é sua exposição e divulgação de imagens vi-
suais veiculadas por meio de cartões postais, filmes de cinema, propagandas, etc. Do
território à paisagem, imagina-se uma produção material do espaço versus (e inter-
dependente) a sua produção imaterial, atribuída pelo sentido que suas populações
lhe dão. Disso, vem o senso estético, denotando o apego a esse território frequentado
e vivenciado. Um outro filósofo, Corbin, em 2001, em sua obra O homem na paisagem,
traça esse olhar poético e sempre subjetivo do homem presente na paisagem, ofere-
cendo uma leitura da evolução dessa.
Como, então, poderíamos avaliar seu valor estético? Para o primeiro diretor da
Missão Paysage no governo francês, Cabanel (2000, p. 50), um diagnóstico das carac-
terísticas estéticas da paisagem, engloba dissertar a respeito da textura dos materiais
e suas nuances; a complementaridade, oposição e dominância das cores; os contras-
24 tes; a escala; a composição; as formas que se repetem; os enquadramentos visuais; a
transparência; as visões abertas e fechadas; os odores e as sonoridades associadas,
[...] E seu valor cultural e afetivo é percebido, principalmente, por meio de entrevis-
tas junto aos moradores do local em que se encontra a paisagem. France (1994), no
Método para elaborar atlas de paisagens, recomenda para identificar e caracterizar as
paisagens, fazer a identificação de unidades paisagísticas; a localização de sítios e
de paisagens institucionalizadas; a identificação de representações iconográficas de
paisagens, assim como a identificação das paisagens de interesse local por meio de
entrevistas nas comunidades envolvidas no estudo.
As premissas metodológicas para a análise sensível do território – consequen-
temente da paisagem – envolvem a elaboração de diagnósticos para o estudo e a
análise de dinâmicas paisagísticas por meio do levantamento dos: a) fatores físicos;
b) fatores bióticos; c) fatores culturais, tais como o histórico da ocupação do sítio,
entrevistas da população, etc.; d) identificação dos motivos paisagísticos (paysagers)
– ecossímbolo, géogramme (termos da teoria da écoumène do geógrafo orientalista
Augustin Berque), que são elementos materiais que marcam/assinalam a paisagem
e que são reconhecidos por suas populações; e enfim e) evolução das representações
paysagères ou paisagísticas da análise de imagens, textos da literatura, récitos, car-
tões postais e mapas, dentre outros.
Os utensílios para a concepção e a decisão no estudo das dinâmicas paisagís-
ticas envolvem desde: a) métodos de percepção e de leitura paisagística (sociolo-

Paisagismo: conceitos e aplicações


gia, artes,...); b) cartografia (SIG, modelização,...); c) informática (banco de dados,
cenários, cartas paisagísticas,...); à d) tendências da pesquisa, exigindo equipes
multidisciplinares. Alguns exemplos de olhares que se cruzam e de conhecimentos
agregados que são trabalhados conjuntamente entorno da paisagem: fitogeografia,
biogeografia, ecologia da paisagem, “lugares da memória” (com enfoque histórico),
etno-paisagens (enfoque etnológico), land art (enfoque das belas artes), e tantas ou-
tras paisagens temáticas que cruzam conhecimentos, tais como: paisagem identitá-
ria, paisagem vernacular, paisagem patrimonial, paisagem regulamentar, paisagem
ecológica e paisagem cidadã.
Os principais usos práticos das representações paysagères ou paisagísticas são
feitos principalmente pelas administrações públicas (parques e jardins), na gestão
coletiva de espaços periurbanos, em função dos problemas que se apresentam e
envolvem:
a) aumentar e gerir a biodiversidade na cidade (níveis de gestão diferenciada;
vegetalização das zonas industriais; corredores verdes, recursos hídricos, etc.);
b) garantir a função ecológica dos bosques urbanos;
c) traçar e fazer respeitar cartas municipais de paisagem (e parques naturais
regionais);
d) averiguar as causas e proporcionar alternativas para o abandono das áreas 25
produtivas rurais;
e) inserir preocupações paisagísticas na elaboração dos planos diretores e nos
planos de ocupações de solo.
Em função do exposto até aqui, propõe-se as seguintes questões, principal-
mente para os geógrafos envolvidos nas comunidades:
• Como transformar em patrimônio a paisagem herdada?
• Quais formas são fonte de naturalidade na paisagem?

Tendências atuais e aplicações


Como as tendências em paisagismo na França buscam aproximar o respeito à
memória dos lugares e o respeito ao ambiente, buscando manejos que visem o de-
senvolvimento sustentável (Corajoud, 2000), surgem técnicas como o Protection Bio-
logique Integrée (PIB), algo como controle integrado de pragas ou a gestão diferen-
ciada dos espaços verdes, utilização de recipientes biodegradáveis e reutilização dos
resíduos vegetais, além do conceito de jardim perfumado e do jardim habitado (Lien
Horticole, 2005). Segundo Georget, integrante da Associação nacional de estruturas
de experimentação e de demonstração em horticultura (Astredhor), dos 330 ensaios
que serão realizados pela rede de estações dessa associação, 21 estarão relacionados

Cláudia Petry
diretamente com a paisagem (Lien Horticole, 2005). Essa tendência de relacionar a
horticultura com a ecologia e a paisagem tem ganho muitos adeptos principalmente
após a Conferência Rio-92.
Um dos paisagistas contemporâneos franceses que trabalha predominante-
mente com princípios ecológicos em seus projetos é Gilles Clement, o qual criou as
concepções de Jardim planetário (um projeto político que integra plantas exóticas e
nativas), Jardim em movimento (manejo de capoeiras urbanas) (Clement, 1997), e
Terceira paisagem (para referir-se aos espaços livres abandonados) (Clement, 2004).
Considerando que se trata de desenvolvimento sustentável, Normand (2004) lembra
ainda que os cursos d’água em meio urbano, mesmo pequenos, quando acompa-
nhados de sua mata ciliar, contribuem para o efeito de corredor biológico. Santos
(1997) relatou a importância, sobretudo ecológica, das araucárias remanescentes em
Curitiba para ligar pontos na paisagem da capital paranaense.
No Brasil, cita-se Roberto Burle-Marx e Fernando Chacel. Esse último, discí-
pulo do primeiro, criou, inclusive, a noção de ecogênese no paisagismo, ao criar mo-
delos de parque, caatinga e mangue nos seus projetos paisagísticos, restabelecendo,
assim, a configuração vegetal original dos locais manejados. Por exemplo, no projeto
do Parque de educação ambiental professor Mello Barreto, nas margens da Lagoa
26 da Tijuca, no Rio de Janeiro, a associação de exemplares de Erythrina falcata Benth
em relação a maciços de bromélias nativas terrestres, tendo como pano de fundo o
manguezal (Chacel, 2001), foi fascinante por ser, ao mesmo tempo, uma composi-
ção bonita e que remeteu à fisionomia vegetal das restingas destruídas na região. Já
Burle-Marx foi um mestre no uso de espécies nativas de uma forma artística muito
marcante e de estilo inconfundível e, segundo comentário de Flavio Motta, podemos
inferir que Burle-Marx também foi um sensível etnobotânico:
Reconhecendo que, para muitos, a “a planta é simplesmente mato”, Burle-Marx insiste,
com seus projetos, em criar as mediações indispensáveis para que a totalidade da popu-
lação possa aprofundar seus conhecimentos da flora com a participação na paisagem.
O estudo da nomenclatura vulgar das plantas pode conduzir ao conhecimento das re-
lações efetivas entre determinada tradição científica e a visão popular, a tradição oral,
cotidiana, da paisagem (Motta, 1983, p. 5).

Em países mais antigos e desenvolvidos como a França, observa-se mais facil-


mente o quanto a vegetação é considerada patrimônio (Dubost, 1994) cada vez mais
festejada em feiras, encontros e exposições temáticas, além da importância crescente
no usufruto dos espaços verdes de excelência – parques, praças e jardins – ao passo
que no Brasil esse interesse é ainda incipiente para a maioria da população. Petry
(2003) considera o pouco caso com o verde, como uma herança cultural, fruto da
adaptação dos colonizadores pioneiros a um país com uma natureza pródiga (pai-

Paisagismo: conceitos e aplicações


sagem natural grandeur nature), a qual sempre se recuperava facilmente da intensa
exploração extrativista em que era submetida. Os graves problemas ambientais da
atualidade exigem que esse mito do pioneiro seja revisto com urgência.
As outras tendências observadas são o senso heterotópico das paisagens, pro-
porcionado pelo estudo dos sensos dos lugares atribuídos pelas sociedades que os
vivenciam (nesse sentido, Pierre Donadieu, 2000, chama a sociedade atual de pai-
sagista); pelas tendências ecológicas acima citadas (Jardim planetário e manejo das
Capoeiras urbanas (frîches), em que a natureza na cidade, a terceira paisagem, não é
manejada, mas sobrevive como um espaço potencial maravilhoso de área verde ou
de lazer segundo Clement); as campagnes urbanas (Donadieu, 1998) e periurbanas,
na qual entra a linha de pesquisa da “agricultura urbana”; e os jardins sociais, sejam
operários ou familiares, todos continuam como uma fonte inesgotável de expressões
coletivas no espaço. Decompondo essas tendências em aplicações atuais, algumas
são bem visíveis, tais como:
a) desenvolvimento rural: por meio da valorização da multifuncionalidade na
agricultura e o turismo gerado por essa riqueza de opções (produção agrí-
cola “imaterial”);
b) criação de produtos locais, do terroir, que é o território mais a expressão
da cultura que o habita. São inúmeros os produtos que tem a appelation 27
d’origine controlée (AOC) ou selos de origem controlada;
c) resgate de um olhar positivo do lugar permite sua revalorização pela co-
munidade levando à permanência dessa no seu local de origem. E assim,
cria-se e mantêm-se costumes, tradições, gastronomia, rituais (ligados ao
território), permitindo a preservação do patrimônio material e a continui-
dade de manifestações culturais e folclóricas;
d) cultivo de “lugares da memória”, nos quais se percebe a valorização de tra-
dições e fatos históricos e culturais, sobretudo por meio das cidades e das
rotas turísticas assim criadas.
O surgimento de fenômenos como a publicisation de l’espace (dos sociólogos
rurais franceses Hervé e Viard), divulgando mais o espaço e a artialisation in visu
(Roger, 1997) por meio das imagens que circulam de forma cada vez mais intensa.
Afinal, os viajantes dos séculos XX e XXI são, mormente, os fotógrafos com olhares
que transparecem uma afinidade especial com suas identidades culturais.

Cláudia Petry
Como atividade profissional
No Brasil, ainda não existe a profissão regulamentada do paisagista como exis-
te na França. Mas o profissional francês (architecte paysagiste) não tem poder em
relação à paisagem, esse deve compreender como os usuários a percebem (ex.: a
malha do Bocage normando desestruturado pela destruição das sebes). Em nosso
país, todas as outras profissões podem aportar algum sentido nessa leitura, visto
ser primordial a função do geógrafo, de resgatar a noção do espaço e do trabalho
na escala do território. A paisagem será sempre um grande coração de mãe, ao ter
continuamente espaço para mais um olhar. Se resgatarmos a teoria de Tuan, em obra
traduzida para o português em 1980, o qual designou esse apego e essa percepção
de topofilia. Por que não retomar com afinco essa análise apaixonante do espaço?
Consideradas atividades promissoras do século XXI, o paisagismo e o estudo da
paisagem exigem, fundamentalmente, o trabalho em equipes multi/interdisciplinares
com a percepção de todo o sistema (transversalidade). Para Franco (1997, p. 220), qual-
quer projeto de intervenção no espaço (urbanístico ou territorial) não prescinde do
desenho ambiental como instrumento de detecção da qualidade e encaixe do projeto
ao locus, sem que, todavia, as preocupações estético-funcionais, herdadas do paisagis-
28 mo, sejam eliminadas. A autora sugere, assim, a integração das curvas irregulares da
natureza às formas simples da geometria clássica. A teoria francesa, mais culturalista,
é retomada por France (1994) no Método de Atlas de paisagens ao dizer que a paisa-
gem, pertence desde sua origem a um domínio simbólico, estético e fenomenológico,
marcado pela subjetividade, enquanto que a ecologia é do domínio científico e objeti-
vo, em que os especialistas elaboram métodos de avaliações e de medida dos fenôme-
nos, como a evolução de uma população de fauna ou da flora, a poluição das águas,
etc. Entretanto, as noções existem, pois os processos ecológicos intervêm na evolução
das paisagens e essas permitem ler ou revelar esses processos. Com ideias inovadoras
como essas, que integram a ecologia à paisagem, percebe-se o enorme potencial que
se tem ao cruzar conhecimentos de domínios diferentes. Sobretudo, torna-se premente
pensar o planejamento e o manejo dos ecossistemas sob a égide do desenvolvimento
sustentável, como única forma de garantir a sobrevivência da vida na terra.
Nos apêndices, inserimos dois instrumentos usados para análise da paisagem,
retirada do corpo administrativo teórico francês. O primeiro apresenta os principais
critérios de julgamento do valor de uma paisagem (atitudes e percepções da paisa-
gem). O segundo utiliza as ferramentas da Geografia para ir à Análise do lugar ao
projeto de paisagem. Para exemplificar a pertinência do método, acrescentamos na
sequência uma aplicação com dados físicos de locais existentes, mas retirados de ar-
tigos científicos. A seguir, uma sinopse, feita por mim, de uma clássica obra francesa
a respeito de um processo para a compreensão da paisagem.

Paisagismo: conceitos e aplicações


Instrumento: para compreender a paisagem3
Uma das obras básicas contemporâneas para a análise da paisagem rural na
França, Comprendre un paysage: guide pratique de recherche, tem como autoras, Berna-
dette Lizet, etnóloga, e Françoise de Ravignan, agrônoma, ambas pesquisadoras de
importantes centros científicos e agrícolas da França. Nesse livro, as pesquisadoras
expõem seu método de análise e de descrição das paisagens, como uma forma de
compreensão de todo o território, levando em consideração os aspectos físicos e cul-
turais inerentes aos espaços ocupados. A proposta sugere a coleta prévia de dados
científicos existentes, a coleta de dados in loco, realizando um reconhecimento do lo-
cal a partir de um percurso pré-estabelecido em linha reta, isto é, um transect – o mé-
todo utilizado pela fitoecologia para estudar comunidades ecológicas e seus meios,
efetuadas observações e medições ao longo de uma linha ou de uma banda escolhi-
da em função de um gradiente ecológico determinado, por exemplo, uma linha reta
em uma encosta – e a realização de pesquisas com habitantes e usuários. Para cada
uma dessas unidades, as autoras sugerem três fases intrínsecas ao trabalho.
1) Descrição global: topografia, vegetação, recursos geológicos e hídricos, po-
pulação, etc.
2) Análise detalhada para avaliar as hipóteses testadas.
3) Síntese com o agrupamento das informações obtidas.
29
Partindo de uma visão global da área, o enfoque físico parte da descrição do
relevo, analisando os declives, a localização dos divisores de água e de vales, os se-
tores a montante e a jusante, a exposição/inclinada das encostas, considerando os
caminhos da água como um forte indicador do desenho da paisagem analisada. As
palavras utilizadas repetidamente demonstram isso: declives (versants), vales (val-
lées), talvegues (talwegs), terras aluviais (terres alluviales), córregos (amont), vertente
(aval), etc. Por exemplo, a análise do terreno feito a partir de um mapa hidrográfico.
Ao se visualizar a densidade das informações relativas à circulação da água, tais
como escorrimento superficial em jatos (fontes d’água, etc.) ou água estagnada (pân-
tanos, brejos, etc.), todas as variações possíveis do movimento da água em função do
tipo de solo e de subsolo.
Em outro exemplo, para comprovar a hipótese de que o abandono da prática
agrícola, em determinados lugares, foi ocasionado por essa distribuição da água,
as autoras examinaram casos particulares de distribuição e evolução da vegetação
(com o inventário botânico), utilizando também uma classificação da paisagem em
função da cor da vegetação encontrada (o que variou conforme a presença da água),
de uma pradaria úmida (com as herbáceas nativas hidrófilas) ao pântano (ou brejo
ou mangue, etc.) propriamente dito, com espécies arbóreas hidrófilas. Pode-se tam-

Resenha da autora referente à obra: LIZET, B.; RAVIGNAN, F. de. Comprendre un paysage: guide pratique de
3

recherche. Paris: Inra, 1987. Essa resenha foi publicada na Revista ECO21, Ed. 51, fev. 2001. Disponível em:
www.eco21.com.br. Acesso em: dez. 2001.

Cláudia Petry
bém fazer uma análise retrospectiva de áreas drenadas a partir da evolução da sua
flora (novas espécies que surgiram e extinção de outras).
O objetivo desse método é fazer um diagnóstico de uma ou de várias comuni-
dades ou mesmo de uma região agrícola. Sua elaboração trabalha na relação dialé-
tica entre o estudo direto e a enquete, supondo igualmente que se faça uma triagem
entre um grande número de informações para reter as mais determinantes, aquelas
referentes ao presente e ao futuro. Essa escolha efetua-se a posteriori e não há método
rígido para fazê-la. Pode-se tentar somente descrever as condições requeridas para
que a seleção operacional entre os resultados adquiridos seja significativa em relação
a realidade do conjunto da comunidade estudada.
Uma curiosidade: a primeira condição para avaliar a importância relativa das
informações obtidas é a de não privilegiar desde o início tal tema de investigação.
Antes de lançar-se no estudo de uma região, presume-se que seu problema é a ero-
são e que todo o estudo da paisagem orienta-se em função dessa, arriscando-se a
ocultar outras questões também importantes. Entre essas podemos mencionar, por
exemplo, a proliferação de áreas abandonadas, vegetações secundárias, disclímax,
as capoeiras ou mesmo negligenciar os laços que unem uns aos outros. As relações
entre o homem e a natureza formam um sistema complexo e não se pode descrever
um elemento isolado, fazendo abstração das interações, nas quais esse encontra-se
30 isolado. Mas não é fácil conciliar as duas escalas, compreender o território e descre-
ver de maneira satisfatória o funcionamento de cada uma das partes.
Nesse método sugerido, a rapidez da análise não é um sinônimo de superfi-
cialidade. Ao contrário, essa constitui uma condição da riqueza da visão do conjun-
to. Obviamente poder-se-ia pensar em realizar um estudo da paisagem com uma
grande equipe de campo, a fim de compensar a multiplicidade de competências e de
investigações, o que também faz perder a brevidade dos detalhes. Trabalhar assim
amplia a gama de conhecimentos e de savoir-faire, mas, o problema é que não se im-
provisam pesquisadores nem condições de pesquisa, o que é uma dificuldade maior
e conhecida da interdisciplinaridade. O estabelecimento de um diagnóstico em rela-
ção a uma comunidade ou a uma pequena região supõe que se tenha uma percepção
o mais ampla possível. Tal visão integra os dados do estudo em curso, mas apoia-se
igualmente em todas as experiências adquiridas em período anterior. O resultado
será muito mais rico e coerente se essa experiência for comum aos membros da equi-
pe. Mais breve e explorador, esse método aparece como complementar daqueles que
procedem com mais precisão, mas também com maior lentidão.
Assegurar o retorno das informações aos habitantes das comunidades estu-
dadas (por exemplo, em reuniões organizadas para isso) demonstra uma cortesia
e também uma condição da validade dos resultados. Em primeiro lugar, porque a
pesquisa relacionada a paisagens, seus instrumentos próprios e sua finalidade deve
ficar o mais próximo possível do que faz o campo estudado, ou seja, os habitantes, o
meio ambiente em que esses manejam e os produtos que elaboram. Seria, entretanto,

Paisagismo: conceitos e aplicações


ingênuo buscar uma convergência sistemática entre os fatos observados e as afirma-
ções (ou mesmo convergentes entre elas), que emanam do grupo ao qual essas são
apresentadas – uma distância inevitável é estabelecida entre os dois níveis de per-
cepção, em prejuízo do rigor e da simplicidade que se busca na exposição. Precisa-
-se, então, escolher o que pode ser dito no contexto da restituição pública e, também,
medir os efeitos produzidos no interior da comunidade estudada. Essa distância é
necessária e, nesse sentido, pode conduzir e precisar certos dados até a verificação
da validade das hipóteses.
O elogio da diversidade e defesa das regiões agrícolas marginais. Ao final de
cada estudo de paisagem, algumas ideias dominantes tendem a se impor. Uma de-
terminada região, em razão da baixa mão de obra e da degradação geral do valor
forrageiro das pradarias, apareceu como o fenômeno mais evidente ao bloqueio atual
ou previsível dos aumentos de produção. Essas ideias-força requerem um aprofun-
damento, pois o estudo da paisagem somente introduz o conhecimento da região.
Mesmo protegendo-se de todo maniqueísmo, os problemas postos poderiam
ter mais chances de encontrar soluções na medida em que a gama das possibilida-
des se mostrasse mais extensa. É necessário se abrir aos problemas agrícolas atuais;
esses estudos da paisagem demonstram, frequentemente, situações nas quais o meio
ambiente apresenta um desequilíbrio profundo, com degradações acentuadas. Seu
interesse prático é o de revelar concretamente tais situações. O exame da paisagem 31
pastoral conduziu-nos a uma conclusão pessimista em relação ao futuro da pecuá-
ria, mas essa permitiu-nos também expressá-la de uma forma clara aos interlocuto-
res locais ou de outras paragens, ajudando-os na busca de alternativas.
A agricultura paysanne (campesina), muito desprezada, é portadora de uma
autonomia cada vez mais necessária, mas a opinião pública ainda a ignora. O campo
interessa ao público urbano por seus aspectos tradicionais, estéticos ou folclóricos,
mas poucos cidadãos percebem que a vida rural, os problemas da produção e a
comercialização de gêneros alimentícios estão religados a sua própria realidade ma-
terial e cotidiana. Para um público leigo, a prática de olhar uma paisagem pode sus-
citar, de forma concreta e sensível, um interesse pelos fatos ecológicos, econômicos e
sociais descobertos por meio de exemplos precisos.
A leitura da paisagem é um procedimento eminentemente pedagógico que
deveria facilitar a abertura das portas do mundo rural. É uma abertura no tempo,
partindo de uma visão de curto prazo, segundo a qual, a agricultura contemporânea
não teria mais do que trinta anos (correspondendo ao início do seu grande período
de industrialização), tendo como consequência obrigatória uma concepção que afir-
ma não existir o passado e que não haverá futuro. A paisagem, ao contrário, ajuda-
-nos a situarmo-nos na história, preparando um futuro. Para Lizet e Ravignan (1987),
após dez anos de colaboração científica e de uma série de estudos de caso, a leitura
da paisagem torna-se quase um reflexo, muitas vezes feito a partir da janela de um
trem ou de um avião. Mas igual a uma partitura musical que não diz nada a quem

Cláudia Petry
não lê o solfejo, a paisagem somente pode falar àqueles que permitem esforçar-se a
aprender decifrá-la. As Figuras 1 e 2 demonstram um processo de artialisation in visu
da paisagem de uma cidade catarinense, Seara, onde nasci.
Figura 1: Cidade de Seara-SC em 2010 e paisagem urbana de 1960 pintada por Cláudia Petry

32

Fonte: da autora.

Paisagismo: conceitos e aplicações


Figura 2: Cidade de Seara - SC em 1960 e paisagem urbana de 1960 pintada por Cláudia Petry

33

Fonte: da autora.

Cláudia Petry
Capítulo II

Arte e estilo de jardins

Estilo é o conjunto das qualidades próprias às produções do


espírito, inspirada por um pensamento geral comum, por
uma espécie de obsessão poderosa que domina a falange dos
artistas de uma época, cujas obras, assim irmanadas, guardam
perenemente a marca do pensamento que as criou
Maurício Joppert da Silva

Nas artes: land art, paisagem, buquês e a


mosaicultura

“A maior importância do desenho só a prática que dá”


Antonino, 1980

A
land art é baseada em uma intervenção em vasta escala na nature-
za, podendo trazer recursos estrangeiros ou apenas transformar o
terreno (earth art). Iniciou nos anos de 1960 com Walter de Maria
(1935) e Christo, entre outros. Nessa arte, em que as produções são
feitas para desaparecer sob o efeito da natureza, é proibida toda forma de
comercialização, restituindo assim à obra de arte os seus únicos valores con-
ceituais e estéticos (Stewart, 1997). O britânico Andy Goldsworthy (1956) cria
obras nos sítios naturais e as fotografa para poder expô-las (pratica a artiali-
sation ex situ). Se por um lado a land art institui-se no sítio, na cultura oriental,
a arte do mitate é de instituir pelo olhar. Não são reproduções, são alusões.
Não imitam formas, vão ao campo comum do imaginário. Ex.: um montículo
no jardim simboliza a montanha mais importante da China (Berque, 1994).
Mas e quando queremos representar a paisagem ex situ? Então, tento
aqui relacionar o aporte da paisagem na arte para a composição de jardins
e paisagens concretas. A composição de uma paisagem artística, em sua
totalidade, deve ser encarada como um conjunto, em um tema que nos dê
prazer. Para isso, compomos os elementos e ressaltamos algum motivo de-
terminado (um grupo de árvores, uma construção...), atribuiremos texturas e tons da
paisagem, com qualidade e contraste dos cinzas, buscando a melhor coloração das
terras, dos céus e da vegetação. Na composição, buscamos um trabalho harmônico
e rítmico, para isso elegemos um ponto de vista (com as duas mãos fazer um en-
quadramento do que vemos, um mise au point); sugerimos sensações e emoções seja
por meio de linhas verticais (ascensão espiritual, como o cipreste italiano); linhas
horizontais (calma e ambiente de repouso, como as extensões de gramado ou de rel-
vado); ou linhas inclinadas, com dinamismo (igual a curvas em abundância, podem
ser criadas por maciços de diferentes alturas); e, por fim, buscamos o equilíbrio tonal
para demonstrar significados emocionais distintos.
A paisagem era pintada pela necessidade de expressão da personalidade do
artista. Para aprendermos, o importante é praticar, então comece a desenhar. Encaixe
o tema a lápis, mantendo boas proporções entre os elementos; encaixe as sombras
(onde não há luz, risca-se); mantenha os eixos principais bem delineados. Por fim, é
na definição das texturas e do acabamento que percebemos a qualidade e a persona-
lidade do desenhista. Pode ser que para um indivíduo o desenho ainda é um esboço
ou rascunho, mas para outros esse desenho já pode estar pronto. Se for o caso, ficar
alguns dias sem olhar para o desenho, pode conduzir-nos a outras percepções ou
reações causadas pelo desenho. 35
Se “paisagem é um conjunto de diversos elementos que devem estar de algum
modo coordenados uns com os outros, formando uma unidade harmônica onde ne-
nhum fator em particular rompa, desequilibre ou distorça o principal que é a totali-
dade, o conjunto” (Antonino, 1980, p. 126), então, atenção para não encher demais
ou usar lápis muito espessos e grossos. Tem que ter claridade e expressividade (que
as pessoas não fiquem indiferentes diante de teu desenho).
Nas técnicas, usa-se o lápis para a expressão e síntese, o qual serve para es-
tudar, tomar apontamentos, ensaiar campos e iluminações, praticar texturas, como
pesos prévios para outras técnicas. Já a pena com nanquim ou a caneta nanquim é o
instrumento mais característico para desenho. Somente produz traços (ou manchas
mais difíceis). Suas possibilidades são de todos os contornos, com delicadeza, e os
tramados serão de boa qualidade expressiva (traços grossos, diferentes direções e
curvaturas), obtendo maior gama de cinzas e uma fina escala tonal. Assim, também
será com o lápis de cor. Há, ainda, outras técnicas com cores, como o pincel, que é o
mais completo; a aguada; a aquarela (ambas podem deixar esfumaçado com muita
leveza); e a guache (usada pelos fauvinistas). A qualidade de usar giz de cera é seu
forte impacto visual.
O produto final pode ser retrabalhado em outros momentos do dia (como Mo-
net fazia em seu jardim em Giverny), afinal,

Cláudia Petry
[...] uma paisagem, como qualquer outra manifestação gráfica, pode abordar-se de mui-
tos estados de ânimo: princípios de representação realista até os que partem do modelo
real para construir um desenho no qual o que conta não é o “parecido” com o modelo,
mas sua realidade gráfica, sua própria personalidade plástica que muitas vezes não tem
nada a ver com sua origem [...] o que importa é o autor sentir-se satisfeito e que tenha
passado um bom momento (Antonino, 1980, p. 147).

Então, resumindo, elege-se na paisagem a composição, o motivo que nos cha-


me a atenção, as texturas gerais do modelo, a composição tonal (branco, negro ou
cinzas) e a cor (considerando que todos podem nos interessar). Como a paisagem é
um conjunto (o importante é a totalidade) que envolve composição e síntese (obtém
uma imagem parcial sintetizada de cada motivo) para maior expressividade gráfica,
utilizam-se texturas e tons diversificados. Jamais poderemos esquecer que todo de-
senho é um processo (operações que requerem prática) que necessita: encaixe (fixar
dimensões, posições e formas gerais), traços do desenho linear (sem sombras nem
recuos gráficos de preenchimento) e, enfim, o acabamento do desenho com a ob-
tenção de textura e de sombreados. Para personalizar os distintos componentes da
paisagem: rochas devem parecer rocha; água deve parecer água, sempre por meio
dos dois recursos: forma e textura.
36 E o que dizer das pequenas paisagens vivas trazidas para dentro de casa? Dos
orientais bonsais e ikebanas até os modernos arranjos florais, passamos sempre por téc-
nicas artísticas que nos permitem alcançar o sublime nesses pequenos cenários de na-
tureza e de buquês. A meta era sempre de levar o jardim (ou a natureza) para dentro
de casa, seja com a planta viva, seja com pedaços dela, tais como folhas, flores, ramos
e frutos. Enfim, tudo sempre mereceu continuar sua história dentro de nossos lares. O
arranjo floral mais famoso é o Tussie Mussie (de 1440), o qual foi criado para melhorar o
sanitarismo e para transmitir mensagens na época vitoriana. Esse é elaborado do centro
para fora e amarrado com barbante. Embora seja comum o uso moderno de plantas de-
sidratadas ou secas, isso não é comum no Fengshui (vento e água), pois é uma prática
oriental que valoriza plantas hidratadas. Queimar plantas como lavanda e alecrim den-
tro de casa purifica o ar. Como em tudo que vem do espírito artístico, usar a intuição
para escolher as espécies é uma das grandes chaves do sucesso (Webster, 2008).
Outro buquê muito especial é o delicioso bouquet garni, no qual são atados com
um barbante ramos frescos de salsinha (Petroselinum crisupum), de tomilho (Thymus
vulgaris) e de folhas de louro (Laurus nobilis), plantas essas muito usadas na culinária
francesa para perfumar pratos e serem retirados antes da degustação sem deixar ves-
tígios. Além disso, na contemporaneidade, as flores ornamentam pratos deliciosos
e nutritivos. Durante nosso pós-doc em Poitiers, França, de 2012 a 2013, conhecemos
uma paisagista, Florence Morisot, que cultivava, de forma orgânica, em seu jardim,
flores para a alta gastronomia baseada na cozinha sauvage (selvagem). Percebe-se,
assim, que muitas são as ideias que podem ser extraídas da arte.

Arte e estilo de jardins


Já em relação aos efeitos tridimensionais e plásticos da arte aplicada, à história
dos jardins e da horticultura, citamos a criação de parterres (patamares ornamenta-
dos) e a técnica de mosaicultura. Segundo Benouf (2001), havia três características
comuns entre a técnica de parterres do século XVI e XVII e a mosaicultura do século
XIX, quais sejam: 1) imposição de forma ao vegetal e ao artifício, exemplo Buxinho
(Buxus Sufuticosa) e maciços regulares; 2) tapetes, quadros e panos de cores (orna-
mento de letras, linhas, folhagens entrelaçadas). Essa onipresença do desenho é mar-
cada por: arabescos entrelaçados (entre-lacs), bordados (broderies), folhados (rinceau
= ornamento de folhagens, arabesco vegetal), florão (fleuron), laços (noeuds) e voluta
(ornamento em espiral, hélice). A diferença está na maneira de tratar os motivos (o
“cheio”) e o fundo (os “vazios”), sempre valorizando o desenho.
Nos séculos XVII e XIX, sem muitas opções vegetais, os jardineiros tratavam as
superfícies com materiais coloridos (areias de cor, areia fina para o amarelo e branco,
o cimento e o tijolo moído para o vermelho, resíduos de hulha, terra, carvão batido e
limalha para o negro). Já no século XIX, estufas multiplicavam plantas vindas de to-
dos os continentes, as criações hortícolas eram inúmeras. Chevreul pronunciava suas
teorias referentes à cor, incitando os jardineiros a tentar novas associações, colocando
em evidências os efeitos contrastantes pelo jogo ou das complementares ou das opos-
tas (dissonances); 3) de longe e de cima – visto como manifestações de poder, as brode- 37
ries deveriam ser mostradas no balcão pelo nobre e, no século XIX, os burgueses, em
suas ricas mansões, levavam a valorizar plantas raras ou esculturas no centro do mo-
saico ou desenhando brasões, iniciais do nome (a heráldica da família). Os jardineiros
do município, ao usarem-nas, tornaram-nas populares. A imprensa e os intelectuais
dividiam opiniões, alguns achavam-nas de mau gosto, outros sustentavam-nas.
No caminho entre uma e outra, com a tradição dos jardins ingleses na França,
foram belgas e alemães que continuaram exercitando-se com tapetes floridos (teppi-
chgärtnerei ou jardins em tapetes), assegurando a transição e tornando progressivo o
uso dos parterres com vegetais floridos. A técnica da mosaicultura aparece na França
somente nos fins do século XIX (1860), com a influência dos vizinhos e das condições
hortícolas favoráveis (grande desenvolvimento do setor e grande diversidade de
plantas exóticas do mundo). É na exposição universal de 1878 que se consagra esse
modo de apresentar plantas florescidas, que durará até a primeira grande guerra.
Foi M. J. Chrétien, jardineiro à Lyon, o criador do termo em 1878. O trabalho exige
uma simetria axial, em que o centro é valorizado em ambos os lados. São arquétipos
de ornamento (regularidade). A simetria pode ser alta ou baixa, na esquerda ou na
direita; em parterres de compartimentos ou maciços de mosaicultura. Essa afasta-se
do rigor geométrico quando trata de animais como tema, ainda assim escolhendo
animais simétricos como a borboleta.

Cláudia Petry
O parterre migrou para a mosaicultura no século XIX, quando as cidades ocu-
pam-se de criá-los. As novidades são as novas concepções pela utilização de estru-
turas de 3D (três dimensões), usando substratos adaptados, por exemplo, o cão de
Jeff Koons diante do museu Guggenhein à Bilbao (país Basco espanhol) e o tapete
floral de 300m2, instalado a cada dois anos, na grande praça de Bruxellas, na Bélgica.
A técnica necessita, portanto, de substrato adaptado, sistema de irrigação integra-
do e investimentos altos em tecnologia: pessoal e material. Comumente, utiliza-se
como substratos no Canadá o esfagno, na Europa, as misturas de turfa clara, cascas
compostas, esfagno, solo argiloso e fibra de madeira e, na China, a argila, a palha de
arroz e o composto orgânico que eles enrolam nas estruturas torcidas. Em resposta
às críticas à mosaicultura, Benouf (2001) cita J. P. Collaert (1993, p. 23): “mais que
só criticar essa técnica árdua, mesmo sem recomendar solo, cujas flores sirvam de
instrumento para o jardim, uma visão artística, talvez, não seria a mosaicultura esse
catálogo inventivo, essa fonte de ideias para dinamizar nossos jardins, lhes aportan-
do fantasia e um segundo nível de compreensão?”
Nos compete, nesse contexto, buscar respostas à essa indagação desafiado-
ra. Alguns habitantes paisagistas como o senhor Fredolino Schmidt, jardineiro das
topiarias da praça de Victor Graeff, tentou fazer o melhor de seus sonhos nas figu-
38 ras criadas. Em toda a região do Planalto Médio gaúcho o senhor Fredolino tem
seguidores até mesmo entre os jardineiros do Campus da UPF, onde encontramos
Alberico, que desenha formas cada vez mais autênticas. Outros tantos usam a arte
para terapias de dores existenciais e, assim, surgiu a hortiterapia ou a horticultura
terapêutica. Mas enfim, a imaginação humana não tem limites. Basta não perder a
motivação e a coerência em suas convicções, a arte pode sempre auxiliarmo-nos nes-
se processo de autoconhecimento e de superação.
Uma breve explanação da evolução histórica dos jardins permite compreender
como a humanidade evoluiu e como refletiu nos jardins essa evolução. A paisagem
construída reconhece, em cada período, a expressão do pensamento estético que se
manifesta nas demais artes.

Evolução histórica dos jardins


A evolução dos jardins deu-se em jardins eternos (orientais), da Antiguidade
(egípcios, romanos, gregos e persas), da Idade Média (mourisco, medieval e astecas),
do renascimento (italiano, francês), o pós-renascentista inglês e o contemporâneo
paisagista. Francisco Paez de La Cadena (1982) tem uma das obras mais completas
e bonitas a respeito do assunto, tendo-o conhecido pessoalmente durante um inter-
câmbio, entre a UPF e a Universidad de La Rioja em 1998, apenas posso dizer que
no Brasil engatinhamos em conceitos da evolução histórica dos jardins. Sobretudo

Arte e estilo de jardins


a evolução dos jardins brasileiros, o quanto ainda se tem de estudar para resgatar a
historicidade desses, para irmos além da noção do jardim eclético. Trata-se de um
vasto campo de trabalho que se abre.
E quando se criam definições, constatamos que os conceitos mudam para cada
povo e cultura. Chamava-me a atenção, na França, o fato de não escutar na Escola de
Versailles que André Le Notre criou o “estilo francês”. Para os franceses, Le Notre
trabalhou o jardim clássico. Somos nós que vemos com recuo os jardins que estão na
França e o denominamos como um estilo desse povo. Van Zuylen (1994) denomina-o
de jardim à francesa.
Bazin (1988), além de também chamar o jardim clássico aquele criado na Fran-
ça, sugere o jardim egípcio como nascido na noite dos tempos; os jardins antigos
foram o grego e o romano; e, por fim, aponta que o Islam, no jardim, foi melhor
representado em Alhambra, nas mesquitas e no templo Taj Mahal. Esse autor consi-
dera o jardim da Idade Média como a eclipse do jardim e o jardim do renascimento
por excelência, o italiano; e após o clássico francês, têm-se os jardins maneirista e
barroco (Boboli em Florença). E mesmo que o jardim paisagista tenha iniciado na
Inglaterra, teve exemplos na França (Pagode de Chanteloup e o Hameau da rainha
Maria Antonieta em Versailles) e no resto do mundo. Finalizando sua lista de jardins
definidores de escolas, Bazin (1988) cita ainda o jardim hortícola (jardins botânicos e 39
o bosque de Bolonha em Paris) e os jardins orientais do outro lado do mundo.
Schinz (1988) situa o jardim de cottage (jardim de Claude Monet, em Giverny,
na França), o jardim de ervas, o roseiral, a horta (Villandry na França) e a bordadu-
ra perene (Upton House na Inglaterra) como elementos que marcaram os espíritos
e perenizaram-se na história dos jardins. Como escolas, a autora cita: a italiana, o
estilo francês, o jardim inglês, o paisagista contemporâneo, o jardim naturalista (co-
leções botânicas, etc.) e o exemplo brasileiro de Roberto Burle-Marx. O historiador
francês Baridon (1998), em extensa obra sobre os jardins, os separa simplesmente
em aqueles dos horizontes longínquos (Antiguidade, Islã, e extremo Oriente) e os
jardins da tradição ocidental, os quais abrangem os jardins criados na influência da
idade média, do renascimento e do barroco, chegando aos jardins do homem sensí-
vel (romantismo), da era industrial e os jardins dos nossos tempos.
Por sua vez, Michel Racine, historiador de jardins da Escola de paisagem de
Versailles, classifica os jardins franceses em função de seu interesse: seja botânico
e hortícola, seja artístico e histórico. Em uma pesquisa na França, foram elencados
779 jardins (com pontuação entre 1 e 4), apresentando a planta baixa de 65 desses
(Racine, 1999). Isso exemplifica que a riqueza dos jardins também está vinculada à
qualidade dos olhos de quem vê (ou julga). Entretanto, é importante iniciarmo-nos
no assunto dos elementos herdados, lembrando alguns princípios básicos norteado-
res de todos os estilos:

Cláudia Petry
a) o princípio que coordenou todas as atividades foi uma visão formal (origi-
nalmente no estilo egípcio) e uma visão informal (originalmente no estilo
oriental). Todos os jardins expressam uma ou outra visão ou a mistura de
ambas (também considerado o jardim eclético);
b) as razões precursoras da existência de diversos estilos foram: relevo + clima
+ caráter cultural. Por isso, se o relevo de um jardim francês é o mesmo de
um jardim egípcio, ambos serão diferentes, pois há climas diferentes nos
dois locais e culturas diferentes dos dois povos;
c) os objetivos a alcançar foram: a utilidade e a beleza artística. O maior suces-
so foi quando se obteve a combinação do útil e do belo. Hoje, acrescenta-se
a esse sucesso o uso da vegetação adaptada (funcionalidade ecológica) ao
espaço verde funcional.

Antiguidade
1) Estilo egípcio (2000 a.C.): em síntese, os egípcios usavam como orientação
os pontos cardeais, o relevo era plano e o uso era privado. O traçado era
geométrico e simétrico. Havia a presença da água em pequenos espelhos
d’água ao nível do solo e parede negra (para aumentar o reflexo). O jardim
40 era utilitário, monocromático verde e a principal vegetação utilizada era
papiro, palmeiras, lótus e pomar (videira, limão, laranja, romã).
2) Estilo grego: em relevo mais ondulado e clima peculiar, os gregos expressa-
vam o jardim com influência egípcia com formas mais naturais. Além dos
jardins privados, houve a inovação com as áreas públicas (a Ágora).
• Jardim residencial: eram fechados (átrios), com manifestação artística nos
elementos arquitetônicos – bancos e mesas. Também era um jardim uti-
litário de horta e pomar. A vegetação utilizada era pera, romãs, maçãs,
figos, azeitonas, uvas e hortas.
• Jardim público: nasce com os gregos (Ágora), próximo a templos e acade-
mias. Há elementos arquitetônicos – mesas, bebedouros e estátuas. A ve-
getação era arbórea e simbólica com cipreste (ascensão do espírito), louro
(vitórias do corpo físico). Ex.: jardim de Academus.
3) Estilo romano: incrementou o estilo grego, foi metódico e ordenado, inte-
grado às moradias (Pompéia e Herculano)4. Vegetação constituída por co-
níferas, plátanos, frutíferas e horta. Iniciou-se as esculturas vegetais (topia-
ria). E havia elementos arquitetônicos em abundância – esculturas, terraços,
pérgolas, escadas, fontes, pavilhões (tudo o que havia sido saqueado da

Pompéia e Herculano, duas cidades italianas que sucumbiram às lavas do vulcão Vesúvio.
4

Arte e estilo de jardins


civilização grega era exposta no jardim sem pena nem dó). Ex.: parques ro-
manos (Tivoli) e as praças. O estilo romano foi o precursor do estilo italiano.
Heranças do estilo: i) hipódromo; ii) alameda; iii) espelho d’água acima do
solo; iv) condução de videiras em pergolados; v) uso exagerado de escultu-
ras; vi) plantas recortadas; vii) associação de árvores com trepadeiras.
4) Estilo persa (500 a.C.): jardim formal e simétrico, mas quadros diferentes.
Havia sempre dois canais em cruz – chafariz no centro, azulejos azuis. A ve-
getação era formada por plátanos, ciprestes, pinus, álamos, palmeiras. Há
presença do pomar.. Os persas inovaram com o uso de flores perfumadas
e possíveis de serem trocadas. Inovação no uso de roseiras, tulipas, lírios,
prímulas, narcisos, jasmins, açucenas. O jardim aparece então com perfume
e substituição de flores (renovação), nos quais os persas são considerados
os pais da jardinagem. Há dois momentos:
• primeiro momento: jardim suspenso da babilônia – construído em um
Oasis, em pleno deserto, com floreiras, eficiente irrigação (gotejamento)
em cascatas e uma fantástica técnica de impermeabilização. Esses jardins,
construídos por Nabucodonosor para sua amada, foram considerados
uma das sete maravilhas do mundo e os precursores da tecnologia de
telhados verdes; 41
• segundo momento: jardim persa – parece um quadro (como o tapete per-
sa), com flores anuais e perfumes. Tem quiosque e aves no jardim. Tem
umidade relativa valorizada e sons (com chafarizes).

Idade Média
5) Estilo mourisco (até 800 d.C.): são os “jardins da sensibilidade”, pois tem
água, cor e perfume. São geométricos, internos, com água corrente (constru-
ídos em locais secos e áridos, a água em movimento aumentava a umidade
relativa do ar). Os elementos arquitetônicos eram compostos por fontes, va-
sos, pisos (textura e cor definida), colunas e toldas. A vegetação empregada
era buxo, louro, frutíferas. Flores para cor e perfume eram cravos, jasmins,
alfazemas, rosas...
6) Estilo medieval: retraimento – inquisição. Os jardins eram simples, geo-
métricos e funcionais; eram internos nos mosteiros (Locus amoenus) ou nos
castelos (Locus voluptatis). Todos refletem o Hortus conclusus (cultivo em lo-
cal fechado), o paraíso sobre a terra. A vegetação era funcional com ervas,
hortas e flores para o altar. Desse estilo, surge o termo horticultura, que é o
cultivo de jardins.
7) Astecas (1400 d.C.): houve o extermínio antes de conhecer. Eram balsas com
terra – hortaliças e pomar.

Cláudia Petry
Renascimento
8) Jardim italiano: após o período negro da inquisição na Idade Média, hou-
ve um renascimento das artes antigas (greco-romanas), e isso começou em
território italiano com grandes artistas da época, tais como, Michelangelo
e Leonardo da Vinci dentre outros. As características básicas eram o estilo
greco-romano; a simetria; os elementos arquitetônicos em abundância (va-
sos, pérgolas,...); a presença da água em cascatas ou em chafarizes; a cor
predominante é o verde; são típicos os parterres ou patamares e há moldu-
ras nos belvederes proporcionados pelas árvores. Dessa época herdamos os
jardins de Villa (residências caras localizadas no alto dos morros, para fugir
da peste), cujas peculiaridades são a presença de cascatas e dos “giardinos
segretos”, locais privativos para reuniões.
9) Jardim francês: esse estilo reflete o Absolutismo monárquico da época do
rei Sol Luís XIV. A paisagem é completamente artificial. O maior paisagis-
ta da época foi André Le Nôtre, o qual fez os jardins do castelo de Vaux-
-le-Vicomte para o ministro das finanças Fouquet. O rei Sol teve ciúmes,
prendeu o ministro e pegou emprestado o jardineiro paisagista para que
42 ele projetasse os jardins de seu castelo de caça, Versailles, ficando tão bo-
nito que o rei mudou-se e ali fez o domínio de sua corte. As caracterís-
ticas básicas eram: um plano geométrico (eixo); traçados monumentais
(impressiona pelo grande volume espacial); presença de fontes e espelhos
d’água; sempre com grande doma da natureza. É o auge do poder cien-
tífico e filosófico francês da época (cartesianismo e época das lumières).
Eram peculiaridades do estilo Tapis vert (gramado com função estética de
tapete verde, sem ser pisoteado, abrindo a perspectiva); broderie parterre
(bordados pela terra); rond-points (cruzamentos em rótulas, favorecendo a
circulação ordenada, até hoje, é uma herança francesa, inclusive no trân-
sito de veículos automotores); elementos de bronze (estátuas da mitologia
greco-romana, vasos clássicos, todos eram protegidos com mantas no in-
verno); presença da água em fontes e espelhos. A água era movimentada
(chafarizes e cascatas) somente quando o rei passeava em frente às obras
de arte. Em 2013, com as comemorações dos 450 anos do nascimento de
André Le Notre, toda a infraestrutura hidráulica começou a ser reforma-
da. As pessoas da corte eram os atores desse grande artifício ao ar livre.

Pós-renascentistas
10) Jardim inglês: os ingleses já não tinham mais florestas nativas em 1086, fru-
to da devastação da ilha pela ocupação humana. Com a revolução indus-
trial, as consequências ficaram ainda piores, pois o povo adoecia com ta-

Arte e estilo de jardins


manha carga de trabalho. Nesse ínterim, resgata-se a ideia de Jean-Jacques
Rousseau de que o selvagem é bom. Então, o século XVIII, ao resgatar o
“Bom Selvagem”, acaba por proporcionar elementos na caracterização do
estilo inglês, o qual é informal (jardins em compartimentos), com presença
de muros, sebes e caminhos sinuosos (circulação); há grande diversidade
de plantas; há uma transição sutil para o campo, integrando a paisagem
rural ao jardim. Existe a liberdade ao proporcionar a dissimulação e a ex-
pectativa pelos ângulos de vista assim criados. Esse estilo proporcionou
as bases do paisagismo atual: tridimensionalismo, temporalidade e dinâ-
mica. Na elaboração de Mixed-Boards (bordaduras mixtas), as principais
paisagistas representantes são as artistas plásticas Gertrudes Jekyll e Vita
Sackville-West, e os arquitetos Edwin Lutyens e Rosemary Verney. Capabi-
lity Brown foi o grande incentivador do localismo ao trabalhar sempre com
o melhor que cada local expressava.
11) Jardim de cottage: no final do século XIX, em função dos danos da revo-
lução industrial na saúde da classe operária, era importante estimular o
cultivo de jardins caseiros, juntamente no movimento de “Artes e Ofícios”.
Assim, o jardim de cottage tem origem humilde (Schinz, 1988) e suas pala-
vras-chaves são: a profusão, o rústico e a permuta. Esse estilo é caracteri- 43
zado pelo caminho reto do portão à porta; utilização de flores típicas como
gerânios, tremoceiros, rosas, prímulas, anêmonas, dálias, etc. e muitos
vasos. As principais jardineiras de cottage, do século XX, foram Margery
Fish, Gertrude Jekyll e Vita Sackville-west. A partir dessa prática de vida,
teve origem a famosa exposição mundial de plantas de Chelsea, na Ingla-
terra. O pintor francês Claude Monet, em seus jardins em Giverny, praticou
o jardim de cottage misturado com o estilo oriental, tudo retratado em suas
obras impressionistas.

Eterno e perene
12) Jardim oriental (2000 a.C.): esse estilo não sofreu evolução e é o mais perfei-
to, pois propõem uma ordenação do já existente. A palavra paisagem, em
chinês, é a soma de dois ideogramas que significam água e montanha (por
isso, o jardim mineral zen é composto por areia, significando as extensões
de água e pedrinhas, expressando as montanhas ou as ilhas). O Imperador
WU, na dinastia HAN, criou o jardim “lago-ilha”, onde as rochas são dis-
postas irregularmente (como na natureza e como os percalços na vida), e
representam os animais. Há lagos com lótus e chorões, palácios e pontes de
cor vermelha e lugar para meditação. Os princípios básicos são YIN-YANG

Cláudia Petry
(negativo e positivo complementando-se); SHIN-GYO-SO (formal em tran-
sição para o informal); e amor à natureza. Os elementos arquitetônicos são
inúmeros e originais, tais como, lanterna de pedra, casa de chá, azumaya
(quiosque com bancos) ou casa de ver a lua, ponte e cerca de bambu no
traçado da heráldica da família. A vegetação é perene e simbólica (azaleia é
a mãe, bambus em sua fertilidade simbolizam os filhos, pinus simboliza o
pai; ardísia, camélia, cerejeira, ninfeia, lírios, etc.). A paz oriental transpare-
ce no jardim oriental, uma vez que o objetivo é “concentrar a atenção sobre
o essencial, quadro estável”.

Contemporâneo
13) Estilo paisagista: ou estilo contemporâneo, com influência oriental e ingle-
sa, pois é totalmente informal e assimétrico, limitado a formações naturais,
caminhos sinuosos, amplos relvados, árvores isoladas, agrupadas, ou a
grandes maciços irregularmente distribuídos. O exemplo maior é brasilei-
ro, Roberto Burle-Marx, que inovou com seus traçados orgânicos e com o
amplo uso da flora autóctone. Depois vieram outros paisagistas, como Fer-
nando Chacel, com sua ecogênese, reforçando a importância da vegetação
44 adaptada na estratégia ambiental. Como engenheiro agrônomo citamos o
gaúcho Toni Backes com seu paisagismo regenerativo
Alguns criadores contemporâneos como o francês Gilles Clément (já citado) e
o holandês Piet Oudolf tem retornado a valorizar as questões locais, usando recursos
vegetais adaptados e rústicos. Clément criou a teoria do jardim planetário, do jardim
em movimento e a noção de planta cosmopolita. Oudolf recriou bordaduras mistas
lindas e impactantes, com gramíneas e espécies anuais.

Considerações finais sobre a importância do estudo e


uso dos estilos
• Os jardins cicatrizam feridas causadas pelos seres humanos. No processo
de domesticação, após a devastação, temos o dever de fazer a recuperação
(Dubos, 1981), a qual deve ser bonita, funcional e bem adaptada.
• A utilização atual dos estilos, como fonte de inspiração (beber água na
fonte do inconsciente coletivo), tem importantes funções históricas, eco-
lógicas e de marketing.
• O paisagismo é extremamente científico, obrigando-nos a utilizar a tríade:
histórico-ecológico-estético. É a grande conjugação exitosa entre ciência
e arte, a qual abraça todos os seus campos do conhecimento, permitindo
um projeto paisagístico sustentável e com amplo uso popular.

Arte e estilo de jardins


Tudo isso é constatado principalmente na recuperação das áreas degradadas,
pois não há mais áreas nobres para a aplicação do paisagismo, ao qual sobrou o
encargo de curar feridas ambientais. A legislação é ampla e busca corrigir isso, no
Brasil, o Rima (decreto, art. 48 do decreto 88.351, de 1 de junho de 1983), que gerou a
resolução 001, de 23 de janeiro de 1986, do Conama, e, na França, a lei 1% paisagem
nas novas infraestruturas rodoviárias (em cada obra, é obrigado aplicar 1% do valor
total na recuperação da paisagem). Em relação a essa questão da sustentabilidade,
existem várias possibilidades de aumentar o verde na área urbana, inclusive a colo-
cação em prática do código florestal e a criação de pradarias naturais floridas e de
corredores ecológicos compostos pelos jardins. Para nossa sobrevivência e garantia
da qualidade de vida, não se pode mais negar a urgência da existência de leis brasi-
leiras aplicadas à paisagem e ao seu efetivo cumprimento.
Figura 3: Ilustrações dos estilos de jardins: a) jardim de Versailles (local das frutíferas da orangerie)
no inverno; b) jardim dos continentes (Europa), imagem de Cláudia Petry para o Centro de
Eventos da Universidade de Passo Fundo (UPF); c) jardim medieval no claustro do hospital
psiquiátrico, onde Van Gogh ficou internado em Saint-Remy em Provence, France (foto de
Claudia Petry para ilustrar a capa da Revista horticultura brasileira); d) jardins de Roberto
Burle-Marx em Brasília; e) jardins da Agronomia na UPF

45

Fonte: da autora.

Cláudia Petry
Figura 4: Os festivais de jardins à la mode na França

Os festivais de jardins à la mode na França


Grande parte dos paisagistas franceses considera o festival de jardins um modismo,
depreciando-os. Essa tendência pode demonstrar esnobismo ou vaidades durante os
concursos, ou, ainda, analisando-se prospectivamente, pode ser uma reação a pro-
postas não viáveis em futuras implantações. Enfim, é pelos festivais terem seu grande
público e por criarem uma série de tendências, junto às coletividades, que gostaríamos
de apresentá-los aqui como um espaço de manifestação de criações efêmeras, entre-
tanto, contemporâneas e muito sugestivas.
8º art. du jardin (Paris, 15/06/2001 –18/06/2001)
Seus 25 jardins apontavam soluções para pequenos espaços, pois, hoje, qualquer
canto é potencial de jardim citadino. Até floreiras contam e somente a França tem 57
milhões dessas para 13 milhões de jardins. Tratando-se de um evento comercial que
Kenzo. Projeto de Patrick Nadeau: “Lado jardim, visa o consumidor urbano, a decoração íntima, farta em detalhes e mobiliário, com-
lado urbano”. A artialização hidropônica no provava que os jardins são a nova peça a céu aberto, espécie de sala para o cosmos.
anuncio (a papoula é inodora, Kenzo inventou Ao conjugar funcionalidade e beleza, a organização desses jardins internos e dos ter-
seu perfume). raços, seguiu princípios básicos como a demarcação da estrutura dos contornos com
cercas-vivas e quebra-ventos; a demarcação dos espaços internos com a valorização
de pontos de vista e, por fim, a escolha do mobiliário para os espaços de convívio.
As cercas-vivas continuam fundamentais nos jardins franceses, principalmente em
pavillons germinados, onde um regulamento estrito considera todos os jardins como
área coletiva verde (surface de verdure), mas de usos individuais. Em voga, um pai-
sagista de pequenos espaços deveria ter um apurado senso de enquadramento e de
percepção do genius loci e boa mise en scène do projeto. Essa, obtida por meio do
uso de plantas preferidas, toques e traçados pessoais do paisagista, enfim, a herança
material do seu gesto criador. Como poucos são os que confessam, cabe-nos a tarefa
de identificá-los.
Forte apelo dos produtos anunciados, os jardins estendiam-se desde um caminho
“visto do céu” para uma empresa aérea, até topiarias de personagens da Disney. Hor-
ticultores e colecionadores marcaram presença e o botânico Patrick Blanc anunciou as

46 convulvoláceas como suas plantas do futuro para floreiras e terraços. Fantástica rea-
bilitação das ipoméas: o florescimento profuso e efêmero destas rústicas desenhado
como um relógio floral horizontal. Quem teve na formação acadêmica uma disciplina
Champagne Veuve Cliquot: “Historia de Bolas” chamada Plantas daninhas sabe a que me refiro. Pregou-se ainda o fim de sebes de
(proj. Christian Fournet). tuias, de rosas monocromáticas e de bordaduras de petúnias, enaltecendo-se mais
que nunca, as vivazes.
Arnaud Maurières, paisagista “da luz” e do jardim medieval de Cluny, escolheu temas
andaluzes e mediterrâneos. Eric Ossart, a temática orientalista. Hughes Peuvergne, o
homem da cabana, diz gostar de escutar os sonhos de infância de seus clientes, para,
a partir desses, criar cantos e recantos. Suas concepções preveem, no mínimo, três
espaços diferentes: para repouso, para refeições e para sonhar. A sua cabana é um
sonho de infância realizado e contempla qualquer dessas três funções.
Já para um jardim recuado, o paisagista inglês Antony Paul afirma que o francês não
faz sacrifícios pelo jardim e pelas plantas como faz pela casa (Clement é a exceção),
mas o pouco conhecimento botânico de jovens paisagistas e a baixa diversidade vege-
tal oferecida pelos horticultores são problemas comuns à França e à Inglaterra (e o que
diríamos do Brasil?). A demanda de projetos ainda é por jardins clássicos, que mesmo
modernos e coloridos, apresentam uma palheta vegetal reduzida. No jardim, segue a lei
dos 3H: mãos, coração e cabeça (hands, heart and head). Para esse autor, globalmen-
te, o jardim está na moda e adora o Festival de Chaumont porque é lá que as criações
Empresa aérea australiana Qanta: “Austrália vista
podem fugir da rigidez do classicismo francês.
do céu” em vermelho, azul e verde.
Disponível em: www.jornaldapaisagem.com.br. Acesso em: 12 out. 2001.
Jardim de um habitante paisagista, Vasos espelhos d´agua com ninféas, “Caixa de surpresas” e seus efeitos
da Ecole Superieure d´art du história de refrescar pequenos calidoscopicos
Jardin - ESAJ espaços

Disneylândia: “Nuvem da fada Sininho”.

Arte e estilo de jardins


Figura 5: 10º Festival Internacional de Jardins (Chaumont-sur-Loire, 2/06/2001 – 21/10/2001)

10º Festival Internacional de Jardins (Chaumont-sur-Loire, 2/06/2001 –


21/10/2001)
Este ano, com o tema Mosaicultura & Cia, com 300 dossiers de candidatura, vinte jardins
de 250 m² foram realizados no espaço do Conservatório de Jardins nessa charmosa cidade
às margens do Loire. O parque já incorporou elementos de antigas edições, tais como o
baoba que chora, as colunas de azulejo português, o vale das brumas, os jardins palestino
e experimental, dentre outros. Simbolismo e releitura continuam ser as palavras de ordem
do dia por lá. Para o diretor do festival, Jean-Paul Piaget, contribui para o ajardinamento das
cidades, com sugestão de ideias, de soluções técnicas e de materiais. Evento do qual pai-
sagistas ingleses adoram participar, criadores franceses tornam-se conhecidos (Eric Ossart,
Patrick Blanc) e visitantes empolgam-se com o tema, ainda são as coletividades territoriais
que por meio de cursos e estágios, acabam consolidando-o como um lugar de formação
profissional. Os profissionais franceses que consideram esses eventos à la mode (no gosto
“Reflexão numa poça d’agua”, de do dia, passageiro) acham que esses comprometem a perpetuidade da ideia e da criação.
Serge Mansau e Fundação Yves É, nesse país das griffes e da moda, jardim ainda é coisa séria, acadêmica e que faz escola.
Rocher (França) Ah, e é elitista e para privilegiados. Ao menos esse jardim cheio de regras. Senão, tem os
“espontâneos”, os “brutos”, etc. Explico que jardins espontâneos de subúrbio são os labora-
tórios onde os sociólogos estudam novas manifestações culturais e artistas autodidatas de
art brut também compõem vanguarda. Enfim, nesse métier de profissionais sensíveis, esses
festivais possibilitam à sociedade de conhecer um pouco mais essas “regras” e de participar
ao debate. É uma boa continuidade para a “sociedade paisagista” de Pierre Donadieu.
Tinha jardins kitsch (nem sempre pejorativo) e jardins revalorizados por reinterpretações
inventivas, o caminho inverso da tapeçaria, com verdadeiras broderies par terre ou ele-
mentos tridimensionais. Técnica em voga, nos fins do século XIX, em jardins burgueses e
públicos, a mosaicultura seria, nas entradas de cidade hoje, o que os anões são para os
jardins, segundo um ditado francês. Mas para Piaget, acabou-se esse tempo de relacionar
mosaicultura com relógio de flores em trevos, pois com a evolução de materiais de susten-
tação tem-se estruturas consideradas impossíveis anos atrás. Os cinco meses de duração
do festival estão ali para comprovar essa mudança de estatuto ao permitir a avaliação da

“Mosanamorphose” e os 4 elementos,
dimensão tempo na mostra de jardins. Nostalgia foi uma palavra recorrente na mídia para
essa edição, insinuando que o festival envelheceu ou que faltam temas atuais. Piaget res-
47
ponde que nostalgia é recordar-se, com prazer, das melhores edições, para o autor a “água”
da cidade de Blois (França) (1997) e a “horta” (1999), já anunciando o tema para 2002: o “exótico” no jardim.
Imaginem-se percorrendo instalações como em um caminho iniciático: exercícios de jar-
dinagem com floreiras móveis vislumbrando-se mais longe os caminhos listrados da pampa
argentina ou as listras ocres de Granada. Poça d’agua estilizada e algumas folhas gigan-
tescas parecem flutuar na bruma, mais parecidas com gôndolas em alguma Veneza da
nossa imaginação. Animais vegetalizados como a rã símbolo do festival, tartaruga gigante
ou jacarés na selva, um pavão exibido ou patos canadenses levantando vôo. Tudo isso
costurado com elementos minerais ou água (sagrada e serena), um puro exercício de mo-
saicultura. O metal florescia em esculturas dos quatro elementos básicos, nas ondas do rio
Loire ou em caramujos de estimação. Animadores de jardins e informações prolongavam
essas sensações.
Um caleidoscópio, não somente ter visto como ter passado por dentro de um. Essa é a
sensação forte que perdura. Críticas de acadêmicos cultos e de vanguarda à parte, deixa-
-me confessar somente para vocês: foi muito legal! Fica a mensagem para insistirmos na
“O corrimão” e seus motivos busca de espaços como esses, para criações e trocas, educação ambiental e artística, no
islâmicos, do Conservatório de jardim. Sem pretensão chauviniste. Nem que seja apenas pelo convívio.
jardins (França)
Referências:
Lien Horticole: Parcs et Jardins (12/07/2001) In: 28/285 supplement de Lien Horticole. Perols, France.
Guides Le Figaro: 12/06/2001. Supplement Le Figaro. Paris, France.
10º Festival des Jardins de Chaumont sur Loire: “Mosaïculture et compagnie”, 2 juin – 21 octobre 2001. Journal
du Festival (par Jardiland et La Nouvelle Republique). Chaumont sur Loire, France. 12 p. Disponível em: www.
chaumont-jardins.com
(Fotos: Cláudia Petry).

“Pampa: to infinite through monotony”, “O atelier do pintor”, cidade de “A mosaicultura aquática”: J. L. Cura, M.
Grupo Pampa (Argentina e Bélgica) Vendôme (França) Félix e M. Schneider (França)

Os 3 patos” da cidade de
Montreal (Canadá)

Cláudia Petry
Capítulo III

Estudo da vegetação ornamental

A
s plantas são utilizadas em paisagismo conforme suas principais
características morfológicas e de adaptação ecológica ao ambiente
do projeto. Esse existir plástico é a plasticidade vegetal, que leva
em consideração a estrutura da planta (a forma, o diâmetro e a
altura quando adulta) e outros aspectos tridimensionais.
A) Multifuncionalidade: os vegetais são extremamente úteis e com vá-
rias funções e isso deve estar sempre evidente ao se escolher as espécies de
um projeto paisagístico. Se ela proporcionar alimento de qualidade então
cumpriu todos os objetivos propostos. Os princípios da permacultura são
os mais adequados para atender tal aspecto.
Na horticultura ornamental, o vegetal é multifuncional. Além das
funções alimentícias tradicionais e do uso de plantas medicinais, citamos
as pequenas frutas, as frutas vermelhas, as aromáticas, as condimentares,
as pictóricas e as nativas. Reinventam-se antigas aplicações: bioarquitetura
(muros, telhados e peles verdes), jardins filtrantes, biorremediação, valo-
rização de espécies nativas e dos gramados esportivos (devido à Copa do
Mundo realizada no Brasil em 2014). As plantas também seguem padrões
simbólico-culturais como Halloween, valores identitários locais, o dia do
trabalhador na França (Muguet), os pinheiros e a estrela de natal, finados,
dia dos namorados e São Valentim, dia das mães e dia dos pais, entre tantos
dias de comemorações.
A avifauna é cada vez mais dependente das espécies vegetais presen-
tes nos jardins urbanos. Em cima do teatro Ópera, em Paris, as colmeias de
abelhas produzem, anualmente, mais de 30kg de mel. Mesmo toda a polui-
ção urbana é menos agressora para esses insetos mágicos que a poluição
rural da agricultura moderna industrial. Os beija-flores ou os colibris são
atraídos por flores com tubos (Jasminum polyanthum, Odontonema sp., etc.).
Inúmeras espécies de borboletas necessitam das plantas do jardim para
continuar seus ciclos e metamorfoses. A borboleta 88 (Diatheria clymena) é
uma das mais típicas quando instalamos as verbenáceas. A monarca (Da-
naus plerippus) coloca seus ovos nos botões de flores e/ou nas folhas da planta tóxica
oficial de sala (Asclepias curassavica) e, assim, fica imune ao ataque de alguns preda-
dores como os pássaros. A borboleta da couve (Ascia monuste) sempre estará perto
do seu alimento. As borboletas pingos de prata (Agraulis vanillae) aumentam suas
populações em jardins floridos, tem um voo rápido e irregular, rente à vegetação,
sobrevoando o jardim por meio de um movimento charmoso e delicado . E, enfim, o
maracujá é polinizado, sobretudo pelas mamangavas, e o jardim com Thitonia, man-
jericão e jasmim garantem a alimentação para a população dessas frequentadoras do
local nas estações vegetativas do maracujá.
As plantas medicinais são fundamentais no jardim, pois a colheita pode ser
feita a qualquer hora e, em relação a isso existem inúmeras bibliografias a consultar
(Lorenzi e Matos, 2002; Bellé, 2012). Para os mais sensíveis a cheiros, outra opção
é utilizar plantas aromáticas. Os tipos de aromas em famílias olfativas segundo a
Associação brasileira de aromatologia (Abraroma) são os amadeirados (sândalo, pa-
tchuli e vetiver), os balsâmicos (café, mirna e olíbano), os cítricos ou citrinos (laranja,
lima, limão e tangerina), as especiarias (canelas, coentro, alho, gengibre, pimentas),
os florais (alfazema ou lavanda, jasmim, lírios, madressilvas, rosas e pêssegos), e os
verdes ou herbais (hortelã, manjericão, menta, erva-doce, salsa, sálvia e alecrim).
Outra tendência (e um verdadeiro resgate) é o uso, no jardim, de plantas ali- 49
mentícias não convencionais (Panc’s), proposta no Brasil, pelo biólogo Valdeli Fer-
reira Kinupp em sua tese de doutorado na UFRGS, orientado pela doutora Ingrid
Barros. Deliciosas receitas de beldroega (Portulaca oleracea), capuchinha (Tropaelum
majus) e bertalha (Anredera cordifolia) entre outras foram propostas por Pereira et al.
(2011). Um dos autores, Silvana Bohrer, é engenheira agrônoma formada na Univer-
sidade de Passo Fundo (UPF) em 1997. Também está na moda da alta gastronomia
francesa a cuisine sauvage (Bertrand, 2012), ou seja, alimentar-se de saladas de mes-
clun (mix de folhas pequenas) e dentes-de-leão (Taraxacum), ou omeletes de oseilles
(Rumex acetosella), assim como a prestigiada sopa de urtiga (Urtica dioica).
Na França, esse hábito de comer as plantas do jardim vem do hortus, o jardim
original. A evolução do jardim potager foi muito bem explorado pelo pesquisador
Florent Quellier na obra Histoire du jardim potager de 2012. Esse historiador confirma
que o jardim teve início para nutrir, depois é que virou um lugar de devaneio, mais
tarde uma ode ao selvagem e, enfim, a horta aristocrática. O século XIX, na França,
foi dos jardins dos padres, e o século XX, o dos jardins operários. Hoje, a horta ga-
nhou novamente seu encanto nos jardins comunitários ou nos jardins sociais (Bau-
delet et al., 2008). Inúmeros concursos são realizados, um dos mais prestigiados é o
da Sociedade de horticultura da França (SNHF/GNIS) (Jardinot, 2010). Desde 2008
essa Sociedade vem resgatando os valores e a importância da biodiversidade e do
meio ambiente saudável no universo do jardim (SNHF, 2008; 2009; 2011a; 2011b)

Cláudia Petry
inclusive sugerindo um guia de manejo sustentável dos espaços verdes urbanos pro-
postos por duas paisagistas (SNHF, 2011c).
O uso de árvores frutíferas no paisagismo também é crescente, sobretudo as
espécies nativas, que podem ser de maior valor nutritivo que as tradicionais. Por
exemplo, 100 g de polpa fresca de exemplares de guabiroba (Campomanesia xantho-
carpa) podem ter entre 200 e 900 mg de vitamina C (Wesp, 2013). A clássica laranja
terá menos que 100 mg, na mesma porção (Manica, 1997). Na França, existem inú-
meras fontes de financiamento (pública e privada) para viabilizar projetos urbanos
privados de áreas de pradaria natural (vegetação arbustiva e rupestre) e de zonas
úmidas, visando aumentar os benefícios ecológicos desses habitats guardadores da
biodiversidade local. Em Poitiers, por exemplo, é uma grande honra ter seu jardim
cadastrado como componente de um corredor ecológico de insetos polinizadores.
A outra função muito importante das plantas é a de fitorremediação, de despo-
luição de ambientes internos e externos, quando a planta é bioacumuladora de po-
luentes. O clorofito (Chlorophytm comosum) é a planta mais eficaz para a oxigenação
de uma peça, assim como para a absorção de benzeno, formaldeído, CO2, xileno e
tolueno, tendo crescimento rápido com bastante uso em muros verdes (Boudassou,
2009). A couve tem alta absorção de metais pesados. A técnica dos jardins filtrantes,
50 no rio Sena, foi aplicada pelo paisagista Thierry Jacquet, utilizando plantas rizoma-
tosas, plantadas em vários tanques, onde a água retirada do rio circula até ser devol-
vida ao rio novamente. Ainda, as plantas podem ser bioindicadoras. A presença de
líquens em troncos de árvores é indicador da qualidade do ar.
Nesse contexto, é impossível sintetizar a flora com potencial de uso paisagís-
tico em algumas páginas, por isso, optei por manter uma pequena lista de plantas
clássicas, de uso antigo, com boa rusticidade e de baixo custo. O que me tranquiliza
é o fato de a internet, em uma pesquisa on line, proporcionar instantaneamente a
qualquer interessado uma riqueza de informações com imagens de qualquer espé-
cie, cujo nome for digitado. Nos anos de 1980, quando iniciei minha trajetória em
paisagismo, somente contávamos, no Brasil, com imagens na enciclopédia Trópica,
pois todos os livros de botânica ou eram com desenhos a nanquim (belíssimos e úni-
cos) de exsicatas ou não continham imagens. Muitas informações e conhecimentos
eram trazidos da prática, do empirismo, da labuta e do erro-acerto, sempre contando
com mestres que nos transmitiam, voluntariamente, todos os seus saberes. Mesmo
com tantos recursos digitais, gostaria que os aprendizes de hoje, ainda percebessem
a importância da presença humana a guiar e estimular o estudo.
B) Principais estruturas e plasticidade: no caso das árvores, têm-se as estru-
turas – guarda-chuva (umbeliformes), globosa, globosa chorona e oval. Essas são
encontradas, em sua maioria, entre as angiospermas. As gimnospermas tem, em ge-

Estudo da vegetação ornamental


ral, estruturas piramidais (coniformes) e colunares. As palmeiras são colunares, mas
transparentes. Existem espécies consideradas estruturas mistas (corticeira do banha-
do). Em geral, existe um grupo de regiões quentes, com florescimento visível. O bo-
tânico Harri Lorenzi chama a atenção para a beleza ímpar das floradas das espécies
da América do Sul (ipês, jacarandás, cássias, etc.). As espécies de regiões frias não
apresentam esse florescimento visível, visto serem mais valorizadas em função de
outras características como resistência ao frio, permanência de folhas, etc. Por ques-
tões ecológicas, convém não misturar categorias de grupos diferentes. No plantio do
mesmo grupo de plantas, importa manter o espaçamento entre elas, respeitando o
futuro diâmetro de quando adulta. Entre grupos diferentes, podem-se criar maciços
dessas ligados por arbustos ou árvores de estrutura mista. Nesses tufos ou maciços
haverá a sobreposição de copas, pois as espécies são de grupos diferentes.
Respeita-se e utiliza-se, no plantio, o diâmetro da planta quando adulta:
Escala: 1:100 Ex.: Cupressus sempervirens var. piramidali
∅=3m (grafiticação própria)

Também projeta-se, respeitando a altura da planta quando adulta, pois essa


medida permite o melhor convívio com a fiação aérea, com a arborização urbana
existente, valorizando ou mimetizando o relevo do terreno , enfim, conhecer a altu- 51
ra quando adulta permite o espaçamento de plantio menos denso e, assim, poderá
haver a sobreposição de copas.
C) Textura: essa característica estética está relacionada às superfícies dos vege-
tais. Seu uso requer sensibilidade e critério. Exemplos: rústico X delicado; brilhante
X opaco; pontiagudos X arredondados. Na superfície das terras lavradas, das pra-
darias, das florestas folhosas ou das coníferas, a textura influencia a profundeza do
campo visual, a direção e a importância das encostas. Com a distância, a textura
fica adensa e perde seus detalhes. As pedras, seixos rolados, são formas específicas
das mais importantes, pois os conjuntos menores, de granulometrias idênticas, são
percebidos como uma matéria única. A luz interfere bastante na percepção do que
se vê. A noção de escala é a proporção, mas é a passagem da medida exata à medida
ressentida (ou aparente) que lhe dá um senso diferente (Loiseau et al., 1993). Entre
matéria e aparência, percebemos duas escalas: a escala táctil (à distância reduzida, a
qualidade é perceptível pela vista) e a escala visual (a longa distância, não se vê mais
que a cor e a luminosidade dessa matéria).

D) Transparência e mobilidade: algumas espécies são bastante móveis, como o


chorão ou o bambu. Outras são transparentes, além da palmeira, temos a nandina.

Cláudia Petry
E) Brilho: o brilho depende da existência de cera na superfície das folhas de
determinadas espécies. Algumas são extremamente brilhantes (e merecem cuidados
especiais para manutenção) como Fícus elástica.

F) Cor: para o melhor uso da teoria das cores, existem princípios básicos: i) tem
maior efeito uma massa de somente uma cor do que a mistura de cores; ii) é melhor
alternar as cores do que misturá-las; iii) há uma grande importância do fundo; iv)
as cores pálidas contrastam-se melhor do que as fortes. Mesclar perde a vistosidade.

Disco das cores

52

Combinações:
– simples ou básicas: contraste duro;
– binárias: contraste matizado;
– complementares: contraste belo e forte, com excelentes combinações –
vermelho + verde; azul + laranja; amarelo + roxo;
– monocromático: diferentes matizes da mesma cor;
– policromático: cuidado no uso;
– vizinhas do disco: não é o melhor efeito.

Estudo da vegetação ornamental


Baseado no disco das cores, não combinam quando lado a lado: amarelo X
laranja; vermelho X laranja; vermelho X violeta; azul X verde; azul X violeta.

Exemplo de vegetação em diversas cores:


• vermelho: folhagens – Acalifa repens; Iresine herbstii; Cordiline spp.; flores
– Ixora chinensis; Ixora coccinea; Bougainvillea spectabilis; Salvia splendens; Pe-
largonium sp. (Gerânio); Callistemon viminalis (escova de garrafa); C. rígi-
dus; C. citrinus (arbustos);
• verde: Philodendrum bipinatiffifum (Guaimbé); Monstera deliciosa (Banana
de macaco; tem variegata); Ligustrum ovalifolium; L. sinensis; L. sinensis va-
riegada (Ligustros); Tuias; Ciprestes; palmeiras;
• forração: Ajuga reptans (ajuga verde); Hedera helix (hera); Clorophytum com-
mosum (clorofito); Curculigo; Ophiopogon japonicus (grama preta) e O. japo-
nicus nana;
• amarelo: Hemerocallis flava (Lírio amarelo); Canna generallis (Biri amarelo);
Pachystachys lutea (Camarão amarelo); Lantana camara (Cambará amarelo);
Tagetes; Vedélia. Árvores – Handroanthus chrysotrichus (Ipê amarelo); Cas-
sia polyphylla (Cassia baiana);
• roxo (rosa): Setcreasea purpurea (Trapoeraba roxa); Persicaria capitata (Tape-
53
te-inglês); Epifafia purpurea (Pifáfia);zSchizocentrum elegans (Quaresmeira
rasteira) e Begônias. Árvores – Tibouchina mutabilis (Quaresmeira); Han-
droanthus heptaphyllus (Ipê roxo);
• laranja: Combretum fruticosum (Escova de macaco); Crossandra infundibuli-
formis (arbusto baixo, até 60 cm, vendida em potes desde cedo, ponteira
pega fácil, folhagem verde escura, espessa, de sombra); Hemerocallis fulva
(Lírio tijolo); Siningeas; Kalanchoe;
• azul: Plumbago capensis (Bela Emília); Petrea volubilis; Evolvulus glomera-
tus (Azulzinha); Hidrangea macrophylla (Hortênsia); Agapanthus umbellatus
(Agapanto azul); Echeveria spp; Eranthemum nervosum (flor cornetinha).

Na maioria dos exemplos exitosos, foi melhor reforçar o efeito, e não introdu-
zir novas espécies. Em cada cultura, há diferentes interpretações da simbologia das
cores, as quais merecem ser estudadas e respeitadas, de acordo com os objetivos do
projeto. Por exemplo, ao aplicar o fengshui, utiliza-se a cor branca por meio de suas
cinco flores simbólicas: magnólia, crisântemo, a orquídea, a flor de Lótus e a peônia
(Webster, 2008).

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Princípios de composição
São as maneiras de combinar os elementos para um bom projeto paisagístico.
1 - Dominância: deve haver um elemento que se sobreponha – cor, textura, etc.
2 - Contraste: chama a atenção para si e para o outro, acentuando à diferença.
3 - Equilíbrio: oferecer estabilidade à composição (balança).
4 - Proporção: cria a sensação de escala entre o tamanho do todo e de cada uma
das partes.
5 - Harmonia: dá uma identidade ao jardim (+ simplicidade = clareza e beleza).
6 - Movimento: criar um conjunto de planos no espaço vertical, com maciços
de alturas diferentes (dinâmica de paisagem).
7 - Unidade: terá unidade quando não se pode tirar nenhum dos elementos
que o compõem (holística).

Em um bom planejamento, é fundamental considerar o aspecto estético a ser adquirido


com o jardim que se pretende implantar. O jardim precisa ter uma personalidade, um tra-
ço definido que facilite descobrir sua identidade na leitura paisagística, dentro de estilos
geométricos, naturalistas ou informais. E combinar as plantas com os elementos arqui-
tetônicos adjacentes, levando em conta as condições ecológicas do meio (Winters, 1991).
54
Elementos para associação vegetal
Para o uso da vegetação, em paisagismo, consideram-se os critérios de estru-
tura (volume e forma); folhagem, flores, frutos, tronco, características ecológicas e
culturais. A multifuncionalidade e a estrutura já foram abordadas anteriormente.
Neste momento abordaremos as características.
A) Folhagem pode ser valorizada levando em consideração cinco características:
1. equilíbrio perene X caduco – manter 1:3 conforme os objetivos propostos
(mais transparência ou mais densidade);
2. equilíbrio claro X escuro – manter 1:3 conforme os objetivos propostos (mais
transparência ou mais densidade);
3. pigmentação – a folhagem apresenta essa qualidade que lhe atribui colora-
ções diversas;
4. cromatismo – é a mudança de cor, devido às mudanças do tempo ao longo
do ano, que interferem nos hormônios vegetais (no outono há um aumento
do ácido giberélico e do ácido abscisico, tornando as folhas de coloração
mais claras antes da queda);
5. dicotomia – quando as duas faces da folha são de coloração diferentes.
Exemplo: álamo prateado, com face abaxial cinza e adaxial verde-claro.

Estudo da vegetação ornamental


B) Flores:
1. vistosidade e textura – é a intensidade da florada com a respectiva qualidade
dessa. Uma florada de ipê tem um efeito diferente (em quantidade e qualida-
de) da delicada flor da orquídea oncídio (impressiona pela qualidade da flor);
2. período de floração – é um dos grandes triunfos de algumas espécies, ou
seja, apresentar longos períodos de floração (orquídea falaenópsis), florir em
época em que poucas espécies estão florindo (exemplo é a acácia mimosa
amarela no outono) ou, ainda, desabrochar várias vezes ao ano (caliandras).

C) Frutos: cor, forma, tamanho e textura – aproveitar o visual proporcionado


pela delícia de ter frutos. Por exemplo, um pomar de citros é muito atraente quando
está na safra. Há frutos muito bonitos (carambola), com formato estranho (urucum e
escova de macaco) ou com tamanho impactante (jaca).

D) Tronco: textura, brilho, cor, formato – há troncos inesquecíveis pela plastici-


dade adquirida ao longo do tempo. Quem nunca ficou impressionado com o tronco
das mirtáceas? Ou com o tronco da espécie do pau-mulato? Ou com o multicolorido
do tronco do Eucalyptus deglupta? O formato fascina por expressar as dificuldades
ao longo do tempo (é o maior atributo de uma árvore em bonsai), por isso o hot spot
do cerrado transmite-nos, por meio de suas árvores tortuosas, essa impressão de
55
ambiente árido.

E) Ecológica:
1. adaptação ao ambiente: a maior estratégia em paisagismo, hoje, é o uso de
vegetação adequada e adaptada aos locais dos projetos. Quanto maior a
rusticidade, maior o sucesso do empreendimento;
2. microclima criado: o maior benefício do uso da vegetação ecologicamente cor-
reta é o equilíbrio criado, com melhor uso dos recursos naturais (economia de
água e de energia), melhor conforto térmico e percepção ambiental positiva.
F) Culturais:
1. folclore: deve-se utilizar a vegetação, valorizando seus aspectos etnobotâ-
nicos, assim, a cultura humana também será a protetora da natureza. Um
dos maiores exemplos é a erva-mate no RS (lendas) e a araucária em Curi-
tiba (pinheirais em tupi-guarani). Valorizar a troca de informações entre a
comunidade e diversos profissionais;
2. regionalização dos ambientes: o localismo valoriza as identidades regio-
nais. Assim, cada lugar conta uma história local diferente, e, por isso, atrai
o interesse de terceiros. A vegetação é maravilhosa para caracterizar essa
proposta de regionalização.

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Na sequência, elencamos, em um quadro, algumas espécies bastante utiliza-
das. Conforme já foi dito anteriormente, trata-se de uma lista em relação a tudo o
que podemos encontrar já descrito em floras botânicas e de rápido acesso na inter-
net. Deve-se buscar, sempre que possível, valorizar a flora nativa do local. O impor-
tante é que cada paisagista organize sua própria lista de vegetação, em função de
suas experiências com as espécies. Cada um deve dedicar o máximo de seu tempo
para construir sua própria paleta de opções, visto que mostrar imagens aos clientes
auxilia no processo da identificação e na escolha da melhor espécie.
Árvores: proporcionam os tetos do jardim, assim como as trepadeiras em per-
golados. Abaixo, uma tabela com as espécies mais conhecidas. O leitor pode criar o
código ou o gráfico que vai representá-la. Linhas em branco convidam para acres-
centar as espécies de sua preferência.

56

Estudo da vegetação ornamental


Tabela 1: Árvores para uso em paisagismo
Nome científico Código/ Diâmetro da
Nome popular Altura Características
Árvores gráfico copa (∅)
Flor rosa em fevereiro-março, fo-
Ceiba speciosa Paineira 12-14 m 14-15 m lhagem caduca e fruto: cápsula
(com paina) em agosto-setembro.
Flor amarela-ouro em janeiro-
Enterolobium
Timbaúva 15 m 8-12 m março. Folhagem caduca. Fruto:
contortisiliquum
legume contorcido.
Flor amarela em novembro-de-
Schizolobium paraybum Guapuruvú 15-17 m 12 m zembro. Folhagem caduca. Tron-
co reto, cinza com marcas.
Flor roxa (azul violáceo) em outu-
Jacaranda mimosifolia Jacarandá mimoso 9-11 m 7-8 m bro-dezembro. Folhagem caduca
tardia.
Flor amarela em janeiro-março.
Peltophorum dubium Canafístula 15 m 8-12 m
Folhagem caduca tardia.
Caesalpinea Flor amarela outubro-novembro.
Sibipiruna 6-7 m 6 m;
peltophoroides Folhagem perene com cromatismo.
Flor esbranquiçada em setembro-
-outubro (cachos). Copa globosa-
Schinus molle Aroeira mansa 6-8 m 5-6 m
-chorona. Folhagem persistente,
ramificada e densa.
Flor amarela (pompom) em julho-
Acacia podalyriaefolia Acácia mimosa 5m 4m agosto. Folhagem perene acin-
zentada.

Tibouchina mutabilis Quaresmeira 5m 4m


Flores brancas/roxas em marçoa-
bril. Folhagem perene. 57
Flor rosa em janeiro-março (bran-
Lagerstroemia indica Extremosa 4m 3m ca e roxa). Folhagem caduca.
Tronco marmorizado.
Floração abundante em setem-
Handroanthus
Ipê amarelo <15 m 10 m bro. Folhagem caduca.
chrysotrichus
Tronco tortuoso.
Floração abundante em setem-
Handroanthus
Ipê rôxo <15 m 10 m bro. Folhagem caduca.
heptaphyllus
Tronco tortuoso;
Flor amarela em outubro-dezem-
Tipuana tipu Tipuana < 12 m < 10 m bro (cima). Folhagem verde azu-
lada caduca. Raízes superficiais.
Flor vermelha em dezembro-abril.
Corticeira do ba-
Erythrina crista-galli 12 m 6m Folhagem verde escura caduca e
nhado
tronco retorcido.
Folhagem perene, cinza, orna-
Eucaliptus cinerea Eucalipto prateado 15-18 m 10-12 m
mental.
Folhagem caduca ornamental,
Platanus occidentalis Plátano 15-18 m 12-15 m
cromatismo outonal.
Flores laranja em novembro. Fo-
Grevillea robusta Grevilha 15 m <10 m lhagem perene, ornamental acin-
zentada.
Flor branca final da primavera.
Magnolia grandiflora Magnólia 10-12 m 8-10 m Folhagem escura brilhante em
cima e ferrugem embaixo.
Folhagem ornamental pendente e
Salix babilonica Chorão 10-12 m 8-10 m
dá movimento.
Fonte: da autora.

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Palmeiras: as palmeiras são mais transparentes que as árvores e há a possibili-
dade de encontrá-las em várias alturas. Deve-se evitar o uso de palmeiras tropicais
em locais com inverno rigoroso. Na região Sul, as espécies nativas gerivás e butiás
são as mais adequadas e que melhor se adaptam, podendo-se recomendar as espé-
cies utilizadas no mediterrâneo como alternativa exótica. Todas as palmeiras são
reproduzidas por sementes e as que formarem touceiras propagam-se também por
divisão de touceiras.
Tabela 2: Palmeiras para uso em paisagismo

Nome científico Diâmetro


Nome popular Altura Características
Palmeiras da copa (∅)
Saygrus romanzoffianum Estipe único, folhas pinadas, frutos
Gerivá 17 m 2m
(Arecastrum) alaranjados em cachos.

Espécie nativa robusta com frutificação


Butia capitata Butiá 12 m 3m
em fevereiro.

Folhas flabeladas (em leque), tronco


Trachycarpus fortunei Traquicarpo 3-5 m 3m
áspero com crina. Robusta.
Tamareira das Folhas pinadas longas. Grande massa
Phoenix canariensis 7m 5m
Canárias foliar.
Folhas pinadas longas. Grande massa
58 Phoenix roebelinii Tamareira anã 3m 2m
foliar, mas com porte menor.
Vários troncos paralelos à base. Folhas
Chrysalidocarpus lutes-
Areca bambú 9m 4m pinadas arqueadas com nervura ama-
cens
rela. Sensível ao frio.
Tronco reto, folhas pinadas. Foi trazida
Roystonea oleracea Palmeira imperial < 50 m 5m
por D. João VI.
Roystonea regia Palmeira real < 15 m 3m Tronco inchado a meia altura.
Seaphortia elegans Palmito grande e visível. Folhas pina-
Falsa palmeira
(Archontophoenix 15 m 4m das vigosas. Frutos vermelhos para
real
cunninghamiana): pássaros.
Euterpe edulis Palmito 10 m 2m Espécie nativa. Tronco liso, reto e fino.
Espécie nativa da Mata Atlântica.
Euterpe oleracea Acaí < 15 m 2m
Touceiras.
Tronco baixo. Folhas em forma de
Livistona chinensis Leque chinês 5m 5m leque, com extremidades pendentes.
Muitos frutos
Folhas pequenas em leque. Prefere
Rhapis excelsa Rápis, ráfis, ráfia <5m 1m
local sombreado.
Desenvolvimento lento. Folhas em
Chamaerops humilis Palmeira siciliana 5m 4m
leque rígidas. Com espinhos.
Palmeirinha de interior, para local som-
Chamaedorea elegans Camedoréa <3m <2m
breado, vasos.
Fonte: da autora.

Estudo da vegetação ornamental


Trepadeiras: as trepadeiras são utilizadas para forrações verticais e horizon-
tais. Existem três tipos de plantas usadas como trepadeiras. a) Lianas – designação
comum a diversas trepadeiras lenhosas, epífitas, de caule extenso, que são abun-
dantes nas florestas tropicais. São as trepadeiras propriamente ditas aquelas que
sobem em algo (volúveis) ou agarram-se em um suporte (fixadoras); b) Escanden-
tes – aglutinantes (grudam) e apoiantes (apoiam-se em alguma coisa e, se não for
possível, não se apoiam em nada); c) Rasteiras – decumbentes (voltadas para o solo)
e sarmentosas (o caule cresce indefinidamente, rente ao solo ou a um suporte, com
estruturas de flores exuberantes) (Lorenzi; Souza, 2001).

Tabela 3: Trepadeiras para uso em paisagismo

Nome científico
Nome popular Características
Trepadeiras
Boungainvilea spectabilis Primavera ou Três Marias Flores rosa, salmão o ano todo. Muito
vigorosa.

Pyrostegia venusta Cipó de São João Nativa com flor laranja de junho a agosto.
Ipomoea cairica Cairica

Allamanda cathartica Alamanda Planta exótica, flor tubular amarela.


Wisteria sinensis Glicínia Caduca no inverno. Com cachos arroxe-
ados em setembro/outubro. 59
Rosa sp. Rosa trepadeira Muito vigorosa. Exuberante floração a
partir da primavera.

Jasminum meysnii Jasmim amarelo Muito vigorosa. Flor amarela agosto/se-


tembro. Para cobrir taludes.
Jasminum polyanthum Jasmim perfumado Atrai beija-flores. Para pérgolas.
Hedera helix Hera Pele verde para paredes. Folha perene
e sempre-verde. Pode ser usada para
forração horizontal embaixo de árvores.
Ficus pumila Unha-de-gato Pele verde para paredes. Folha perene e
sempre-verde.
Fonte: da autora.

Arbustos: são espécies com altura de até 4 m e com o tronco lenhoso. Essas
espécies podem ser trabalhadas de forma isolada em maciços regulares (cercas-vivas
podadas) ou em irregulares (manchas). Como os muros, elas dividem o espaço em
setores ou em áreas menores.

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Tabela 4: Arbustos para uso em paisagismo

Nome científico
Nome popular Porte até Características
Arbustos

Abutilon megapotamicum Abutilon, lanterna 3m Floração vermelha/amarela o ano todo, necessitando


japonesa de no mínimo 4 horas de sol direto por dia.

Camellia japonica Camélia 4m Flor: laranja, rosa, vermelha, bicolor no inverno/prima-


vera. Meia-sombra.

Caesalpinea pulcherrina Flamboyant de 2a3m Flor: laranja avermelhada na primavera/verão. Pleno


jardim sol.

Gardenia jasminoides Gardênia 2m Flor: branca perfumada na primavera. Pleno sol.

Hibiscus rosa-sinensis Hibisco 2,5 m Flor: branco/amarela/rosa/alaranjado/vermelho o ano


todo. Pleno sol. Não suporta geada forte, então seria
melhor usar o H. siriacus.

Hydrangea macrophylla Hortênsia 1,5 m Flor: branca/rosa/lilás/azul/roxo no verão. Pleno sol.

Lantana camara Lantana 1,5 m Flor: branca/rosa/amarela/vermelha na primavera/ve-


rão. Pleno sol.

Brunfelsia uniflora Manacá de jardim 2m Flor: roxo/ branco (mutação) na primavera. Pleno sol.

Plumbago capensis Bela-emília 2m Flor: azul-claro e lilás na primavera. Pleno sol à meia-
-sombra. Proteger no inverno.
60 Bambusa gracillis Bambuzinho ama- 2,5 m Pleno sol. Folhagem ornamental.
relo

Calliandra tweedii Espuminha, Calian- 2m Flor: vermelha diversas vezes por ano. Pleno sol.
dra, Sarandi

Callistemon lanceolatus Escova de garrafa 4m Flor: vermelha na primavera/verão. Pleno sol.

Cordyline terminalis Dracena vermelha 3m Pleno sol. Proteger no inverno. Folhagem ornamental.

Dracaena spp (Fragans, Dracena 5m Meia-sombra com folhagem ornamental.


deremensis

Euonymus japonica Evônimo 3m Pleno sol. Proteger no inverno. Folhagem variegata.

Fucsia sp Brinco de princesa 2m Flor: roxa/vermelha meia-sombra. Flor símbolo do RS.

Lavandula officinalis Lavanda, Alfazema 2m Planta medicinal do mediterrâneo que tolera estres-
ses hídricos e de temperatura. Pode florescer (flores
roxas) o ano todo em nossas condições ambientais.
Fonte: da autora.

Herbáceas para forração: são espécies baixas que servem para forrar o solo,
mas sem serem submetidas a pisoteio. As melhores forrações são rústicas, de fácil
propagação vegetativa (divisão de touceira, rizoma, estolho e algumas por resse-
meadura natural). São essas que permitem as grandes composições espalhadas no
terreno (imitando os famosos broderies parterres franceses) ou a presença perene nas
composições efêmeras das bordaduras mistas (mixed board) inglesas.

Estudo da vegetação ornamental


Tabela 5: Herbáceas para forração com uso em paisagismo
Nome científico
Herbáceas para Nome popular Porte até Características
forração
Ophiopogon japonicus Grama preta ou pêlo 0,25 m Para locais sombreados.
de urso
Ophiopogon japonicus Grama preta anã 0,10 m Para locais sombreados.
‘nana’
Hemerocallis fulva Lírio laranja e lírio 0,50 m Pleno sol. Rústica. Flor ano todo em locais sem
Hemerocallis flava amarelo inverno rigoroso.
Agapanthus umbellatus 0,70 m Flor roxa, azul ou branca. Pleno sol. Flor na pri-
mavera/verão. Pode ser usada como flor de corte.
Strelitzia reginae Ave do paraíso 0,90 m Flor exótica laranja e amarelo na primavera/verão.
Pleno sol. Até 1,5 m de altura. Excelente durabili-
dade como flor de corte em arranjos.
Zantedeschia aeothipica Copo de leite 0,60 m Flor branca, amarela ou rosa na primavera/verão,
usada para floricultura de corte. Atenção para
seus efeitos tóxicos. Pleno sol e muito úmido.
Pelargonium X hortorum Gerânio 0,60 m Flor vermelha, branca ou rosa. Todo o ano. Exce-
lente para floreiras. Pleno sol.
Impatiens balsamina Beijinho, Maria sem 0,60 m Várias cores e flor o ano todo. Para locais som-
vergonha breados.
Cineraria maritima Cinerária, Falsa sálvia 0,40 m Folhagem ornamental cor cinza.
Gazania ringens Funcionária pública 0,30 m Rústica. Flor o ano todo. Para bordadura.
Vinca major Vinca 0,50 m Folhas variegatas. Flor azul. Excelente forração.
61
Tropaelum majus Chaguinhas 0,40 m Escandente. Planta comestível. Folhas arredon-
dadas. Flor laranja/vermelha. Primavera/verão.
Acalipha repens Rabo de gato 0,20 m Forração verde com flores vermelhas (rabinhos
vermelhos).
Setcresea purpurea Manto de viúva 0,20 m Folhagem arroxeada. Pleno sol.
Chlorophytum comosum Clorofito 0,30 m Folhas verdes com branco. Flores roxas. Bordadura.
Pilea cadierei Pilea ou alumínio 0,40 m Folhagem variegata, para meia-sombra.
Ajuga reptans Ajuga 0,10 m Folhagem avermelhada ou verde bem rasteira.
Alternanthera amoena Periquito 0,20 m Folhagem vermelha ou verde amarelada. Para
bordadura baixa e compacta. Não suporta geada.
Persicaria capitata Tapete inglês 0,10 m Forração perene em folhagem avermelhada com
flores rosa. Adapta-se bem em pouco substrato e
suporta condições estressantes de pouca água e
temperaturas extremas.
Aptenia morifolia Maringá 0,10 m Forração perene com folhas suculentas verde-
-claras e flores vermelhas ou rosa. Bem rústica ao
frio e à falta d’água.
Stachys bizanthina Pulmonária 0,20 m Planta medicinal comestível. Forração perene
com espessas folhas cinza.
Catharanthus roseus Cataranto ou vinca 0,50 m Excelente forração com flores rosa e branco o ano
todo. Seu princípio ativo é usado em remédios co-
merciais para leucemia.
Ophiopogon jaburans Barba de serpente 0,40 m Folhas lineares verdes com branco. Forma toucei-
ras. Muito rústica.
Fonte: da autora.

Cláudia Petry
Gramado: o gramado é a forração perene do solo, mas passível de pisoteio. No
hemisfério norte, geralmente utiliza-se uma composição de várias espécies semea-
das juntas ao mesmo tempo (de cinco a sete), mas, no Brasil, ainda tem-se o hábito
monocultural do gramado, ou seja, somente uma espécie. Esta é uma tendência que
vem se modificando no mundo todo devido ao alto custo de manutenção desses mo-
nocultivos. Na França já existe subsídio para atividades que preservem as pradarias
floridas (100 euros por hectare na agricultura orgânica rural) e redução de impostos
urbanos para jardins com relvado que será manejado como tal (cortes alternados,
sempre deixando espécies com sementes para a avifauna, etc.).
Tabela 6: Espécies de gramas para uso em paisagismo

Nome científico Nome popular Características

Axonopus sp Sempre-verde, grama larga Boa resistência ao pisoteio, pragas e doenças.


Até a meia-sombra.

Paspalum notatus Forquilha ou paulista Folhas verde-claras duras e pilosas. A mais resis-
tente. Pleno sol. Ideal para parques, campos de
futebol.

Stenotaphrum secundatum Santo Agostinho Nativa no litoral. Folhas de largura e comprimento


médios, sem pelos, clara. Resistente até meia-

62 -sombra. Bastante usada em solos arenosos.

Cynodon dactylon Grama seda Para barrancos e áreas degradadas. Resistente


à estiagem e apropriada, inclusive, para meia-
-sombra.

Zoysia sp Coreana ou esmeralda Pequenos tufos, não crescem muito, são resisten-
tes ao pisoteio leve. Até meia-sombra. Ideal para
beira de piscinas, entre pedras.
Fonte: da autora.

Espécies floríferas anuais: são espécies que completam seu ciclo em uma es-
tação (ou no máximo em um ano) de crescimento. São propagadas por sementes.
Existem várias plantas que são perenes, mas ficam bonitas somente no primeiro ano
(chamadas de anualizadas). Isso deve-se ao melhoramento condicionado a melho-
res condições de cultivo. E, em paisagismo, nem sempre se consegue as melhores
condições de cultivo. Para um jardim com maior autonomia, que busca diminuir
os custos e os gastos energéticos, seria mais adequado à propagação por sementes
diretamente nos canteiros do jardim, preferencialmente, utilizando as sementes pro-
duzidas pelas melhores plantas produzidas naquele local, as quais podem ser mais
altas ou mais resistentes à deficiência hídrica. Mas como é um dos principais ramos
da horticultura ornamental, há uma enorme oferta de materiais comercializados na
forma de mudas (plugs), geralmente de ciclo precoce e de baixa altura de plantas.

Estudo da vegetação ornamental


Tabela 7: Espécies floríferas anuais para uso em paisagismo (com observações da autora desde
1995, UPF)

Flor
Alt. cm Época de
Nome popular Nome científico
média plantio
cor Época

VERÃO

Alegria de jardim* Salvia splendens <50 ago./nov. vermelho ano todo

Alisso ou flor de mel Lobularia marítima 25 jul./abr. branca/roxa ano todo

Boca de leão Antirrhinum majus 40 ago./fev mista set-mar

Begonia* Begonia semperflorens 30 ano todo vermelha/rosa/branca ano todo

Calêndula Calendula officinalis 40 ago./fev. amarelo out./mar.

Cosmos Cosmos Bipinnatus 100 ago./fev. amarelo set./maio

Cravo de defunto Tagetes pátula 35/100 ago./fev amarelo laranja set./maio

Crista de galo Celosia cristata 50 ago./fev. mista set./maio

Gonfrena Gomphrena globosa 30 ago./fev. roxa set./maio

Lobelia* Lobelia erinus 20 ago./dez. azul/branco/rosa set./maio

Maravilha * Mirabilis Jalapa 90 ago./dez. mista set./maio

Onze horas* Portulaca grandiflora 20 set./nov mista set./maio 63


Nemesia Nemesia strumosa 50 ago./fev. mista set./maio

Não me esqueça Myosotis sylvatica 30 set-dez azul bianual

Petúnia* Petúnia x hybrida 25 ago./fev. mista set./mar.

Torenia Torenia fournieri 25 jul./ago. branca set./mar.

Verbena* Verbena x hybrid 25 jul./ago. mista set./mar.

Zinia Zinnia elegans 100 ago./fev. mista set./mar.

INVERNO

Agerato Ageratum houstonianum 40 mar./jul. mista jun./nov.

Amor perfeito Viola X wittrockiana 20 fev./jul. mista jun./nov.

Cravina Dianthus barbatus 40 mar./jul mista jun./nov.

Flocos, flox Phlox drummondii 40 mar./jul. mista jun./nov.

Papoula Eschscholtzia californica 40 mar./jul. amarela ago./dez.

Papoula verdadeira Papaver spp 40 maio/nov. mista jul./dez


Fonte: da autora.
* Plantas perenes ficam melhores no primeiro ano (anualizadas). Seria interessante instalá-las no jardim por meio de
semeadura, usando materiais menos melhorados, mas resistentes às intempéries. Observa-se, hoje, que no melhora-
mento opta-se por espécies anãs de ciclo precoce. Todas devem ser testadas para verificar a melhor época de plantio,
pois a viabilidade do cultivo depende das condições climáticas do local e do ano de cultivo, além do material genético
empregado.

Cláudia Petry
Plantas medicinais e plantas tóxicas
Uma atenção especial deve ser dada às plantas bioativas, sejam com potencial
medicinal ou plantas tóxicas. Essa máxima é de Paracelso: “sou remédio sou veneno
depende da dose”, pois todas as plantas têm fitoquímicos, mas essas, em especial,
em maior concentração.
As plantas medicinais devem sempre estar presentes nos jardins, nos hortos
medicinais ou nas floreiras. Em relação a esse assunto, é importante ler obras rela-
cionadas ao referencial botânico das plantas medicinais (Lorenzi; Mattos, 2002; Mu-
noz, 2000). E, aqui, também incluem-se as plantas alimentícias não convencionais
(Panc’s) tão fundamentais na cultura popular brasileira e no sul, estudadas pelo
pesquisador Valdely Ferreira Kinupp.
Quanto às espécies tóxicas, deveria ser evitado seu emprego em paisagismo,
pois o Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (Sinitox) alerta que
60% dos casos de intoxicação por plantas tóxicas no Brasil ocorrem com crianças me-
nores de nove anos e que 80% dessas intoxicações são acidentais. As 16 plantas que
mais causam acidentes no Brasil são: Caladium bicolor Vent (Tinhorão ou caládio);
Colocasia antiquorum Schott (Taiba-brava ou tajá); Dieffenbachia picta Schott (Comigo-
64 -ninguém-pode); Zantedeschia aethiopica Spreng (Copo-de-leite); Datura suaveolens L.
(Saia-branca ou trombeta); Lithraea brasiliens March (Aroeira brava ou pau-de-bugre);
Euphorbia pulcherrima Willd. (Bico-de-papagaio); Euphorbia milii L. (Coroa-de-cristo);
Euphorbia tirucalli L. (Avelós); Fleurya aestuans L. (urtiga-brava); Nerium oleander L.
(oleandro ou espirradeira); Thevetia peruviana Schum (Chapéu-de-Napoleão); Melia
azedarach L. (Cinamomo); Manihot utilissima Pohl (Manihot esculenta ranz) (Mandioca
brava); Ricinus communis L. (Mamona); Jatropha curcas L. (Pinhão-roxo).
Em função do exposto, ressalta-se a importância da escolha mais adequada
das espécies vegetais utilizadas, refletindo também nas questões de saúde coletiva,
mas, sobretudo, quando as implantações serão em áreas públicas. O técnico respon-
sável pelo projeto da vegetação deve arcar com as consequências das escolhas, por-
tanto, estudos mais intensos na fase de pré-projeto podem diminuir ou até evitar
completamente esses riscos.

Estudo da vegetação ornamental


Capítulo IV

Classificação de jardins e estruturação


das áreas básicas

Classificação de jardins

O
s jardins foram classificados de inúmeras formas dependendo
dos especialistas que os analisavam. Na conjuntura brasileira, do
final do século XX, os jardins foram classificados em função de
suas finalidades como públicos (recreativos, culturais e econômi-
cos) ou privados (residencial e propriedade coletiva), e também, em função
da forma, da situação ou da localização (Coutinho dos Santos, 1975).
Em micropaisagismo, busca-se remodelar áreas com até 1000 m2, vis-
to que esses , no Brasil, já foram os jardins caseiros ou residenciais, como os
de fachada (antigamente era para valorizar a construção arquitetônica) ou
de quintal (resgate das antigas quintas portuguesas, pomares e hortas no
fundo da residência). Ainda há os jardins internos, que podem ser jardins
de inverno ou hortas suspensas no interior das casas, das lojas, dos escri-
tórios, dos shoppings. Esses jardins exigem uma tecnologia adequada de
drenagem, de iluminação artificial (30 minutos a cada 3 horas), de umidade
adequada e da escolha das espécies de sombra.
Atualmente, existe toda uma tecnologia que envolve o uso de ve-
getação na construção como um todo, como as peles verdes (trepadeiras
inseridas diretamente nas paredes), muros verdes (estruturas verticais que
permitem o uso de substrato e espécies herbáceas) e telhados verdes (sobre
lajes de construções). A famosa Opera de Paris tem uma horta no seu te-
lhado com uma colmeia que proporciona anualmente 30 kg de mel. Além
dos itens já abordados, ainda necessitamos trabalhar, juntamente com o
cliente, a sua lista de necessidades e estabelecer as zonas de sol e sombra
(ao lado de muros e paredes). É necessário, na medida do possível, elaborar
o projeto do jardim junto com o projeto da casa para ficar mais harmonioso
e funcional.
Em macropaisagismo, estuda-se o planejamento, a execução e a conservação
de áreas verdes e espaços verdes urbanos, visto que as unidades básicas trabalhadas
são as praças e os parques. E temos inúmeras variações dessas unidades: parques
lineares (ao longo de rios), reservas legais urbanas, quarteirões verdes e a própria ar-
borização urbana como uma malha tecendo o verde urbano. Trata-se de áreas maio-
res, espaços públicos ou não.
Praça e parque: o traçado das praças é de design simétrico radial. Favorece a
circulação, não o estar. O projeto padrão, da década de 1950, que resultou em uma
praça para cada cidade, em um programa integrado que inclui bancos de granilite,
árvores, luminárias e coretos.
• Bancos de granilite: com propaganda imposta, uso inadequado dos usuá-
rios, local inadequado e mal dimensionados. A alternativa foi criar recan-
tos embaixo das árvores.
• Coreto: octogonal com grades de proteção. Apresenta inconvenientes
como o fato de servir de abrigo para sem-tetos. Não é cômodo, sanitários
cheiram mal, grades tapam o visual. A alternativa foi manter somente os
que estão conservados e os que estão historicamente em lugares estraté-
66 gicos. Os outros foram substituídos por anfiteatro aberto (sem cobertura),
se possível em cima de um espelho d’água.
• Iluminação: no início, coloca-se alta (diminui a depredação), depois que
a vegetação cresce, coloca-se iluminação baixa e decorativa, além de re-
sistente (globos de fibra). São colocados de dois a quatro globos em cada
ponto, tendo a distribuição de 500 W a cada 15 m. Depois da vegetação
crescida, recalcula-se o sub-bosque.
• Vegetação:
– árvores: aumentar a diversidade, utilizar mais espécies nativas. Não po-
dar e não caiar, deixá-las o mais natural possível (somente limpeza). Adu-
bação de manutenção = 800 g/árvore (na projeção da copa, com trado a
50 cm de profundidade) de 6-10-6 ou similar.

– arbustos e herbáceas: para preencher espaços, criar ambientes, dar dinâ-


mica ao plano horizontal e colorido nas estações. Utilizar plantas sadias,
maciços com arranjos legíveis. Projetar com sensibilidade. Tratos culturais
– adubação, irrigação, condução e reposição sempre que possível.

• Forrações anuais: são as espécies de ciclo anual. Embora de custo mais


elevado (pois todos os anos tem que ser feito os tratos de implantação, no
mínimo duas vezes por ano) são consideradas importantes devido ao seu
intenso colorido, colocadas em locais estratégicos.

Classificação de jardins e estruturação das áreas básicas


Existem, hoje, inúmeras possibilidades de mobiliário urbano, que incluem
desde as academias para a terceira idade, os playgrounds ou parques infantis feitos
com material reciclável, as pistas de caminhada e de rodas de chimarrão, além das
mesas para jogos de salão (xadrez, etc.). Um exemplo de mobiliário bem adaptado e
que conta a história regional dos tropeiros, são os cavalos em madeira no playground
da Praça Notre Dame, em Passo Fundo, no projeto de extensão coordenado pela
Enga Agra Beatriz Fedrizzi, da UFRGS.
O parque tem inúmeras funções e aplicações, serve de válvula de escape na
natureza urbana e pode ser temático. Está localizado em uma área bem superior
à praça e, em função dos custos, seu planejamento visa aproveitar ao máximo os
recursos existentes. Curitiba é um dos maiores exemplos urbanos de parques temá-
ticos, ecológicos e completamente integrados à vida social curitibana. O Jardim de
Inhotim também é um exemplo de parque moderno com recuperação de área degra-
dada transformada em museu contemporâneo.
Para cada autor, em cada área, os jardins podem ser classificados diferente-
mente. De acordo com Webster (2008), que é um conhecedor do fengshui, a classi-
ficação envolveria os jardins formais, campestre, mediterrâneo, zen interno, jardim
de ervas aromáticas e medicinais, jardim misto, jardim secreto. Para esse autor, é
fundamental a existência do jardim secreto no Fengshui, pois é nesse a verdadeira
expressão do proprietário. No jardim rural ou cottage, a presença de flores ao lado do
67
caminho aumenta o CH’I.5 Para Berque (1994), o fengshui distribui túmulos, casas
e vilas, gerando harmoniosamente o CH’I. Portanto, esses novos olhares poderiam
estar desde o início do planejamento de uma intervenção paisagística em uma área.
Frances Burnett escreveu, em 1911, o livro Jardim secreto, no qual relata os re-
encontros possíveis de três crianças em torno desse jardim secreto. É uma ode ao es-
paço privativo em que os sonhos podem concretizar-se, desde a escolha das espécies
até o processo terapêutico da jardinagem. O primeiro exercício básico de reencontro
com si mesmo ao ar livre foi a apropriação do movimento de pular corda. Brinca-
deira simples da infância e que pode ser realizada em qualquer lugar. Certamente
encontra-se a felicidade nas coisas simples independente da classificação que damos
ao espaço.

Estruturação das áreas básicas verdes


Para efetuar a distribuição espacial: divide-se a área em espaços menores, con-
forme o uso, criando ambientes estrategicamente distribuídos conforme os tipos de
lazer existentes – contemplativo; recreativo; esportivo; cultural; e aquisitivo. Esta-

CH’I = ou Qi, na cultura tradicional chinesa é energia, é a força vital universal, encontrada em todas
5

as coisas vivas e tudo que é feito com perfeição cria energia Ch’i (WEBSTER, 2008, p. 19).

Cláudia Petry
belece-se o plano de massas, que é a construção dos espaços (vazios e preenchidos),
definindo os níveis de piso, de paredes e de teto. E concomitantemente estabelece-se
o plano de circulação, deixando-a funcional e que não domine a área (favorecer de-
masiadamente a circulação não valoriza a permanência no local).
Na distribuição espacial, pode-se, com o uso da vegetação, buscar mostrar ou
esconder. Quando se usa árvores altas e palmeira obtém-se um visual amplo, com
possibilidade de ver além dos troncos de árvores ou palmeiras (as quais, ali, pare-
cerão postes), tendo acentuado seu efeito se herbáceas forem usadas para forrar o
chão. O visual amplo, com barreiras vegetais próximas (arbustos), dá uma sensação
de proteção, estimulando a circulação rápida (como um corredor ou um brete), o
que fica mais evidenciado quanto mais próximo ao pedestre estiver esses planos
verticais. Quando esses planos são dispostos de forma muito densa e próxima tem-
-se as alamedas, que restringem o visual, impossibilitando que se veja o céu. O uso
de arbustos proporciona o visual semirrestrito, restrito e com barreira visual parcial.
Todos podem diminuir a segurança do pedestre, portanto, convém refletir antes de
utilizá-los em área pública.
O traçado do plano de circulação dependerá dos usos da área e do acesso a
essa. De preferência ficar entre 20% e 30% da área de circulação e que essa seja prefe-
68 rencialmente permeável (pisos e gramas drenáveis). Na Europa, é comum o uso de
argilas e resíduos minerais na pavimentação de caminhos. Esses são construídos de
forma a permitirem a drenagem da água (em desnível) e são levemente compacta-
dos, mas o importante é apresentar uma aparência natural.
Se no planejamento das áreas básicas for utilizado os princípios do Fengshui
(vento e água) será observado: 1) Princípio do Yin e Yang (complementares); 2) Prin-
cípio do Ch’i ou qi (ou força vital); 3) utilização do Baguá (um mapa setorial que di-
vide a área em nove setores); 4) o respeito à presença dos cinco elementos (Webster,
2008). E, se for aplicado os princípios da permacultura, haverá também o respeito à
produção sustentável de alimentos, valorizando a agroecológica (Mars, 2008).

Desejos e expectativas do cliente


O cliente poderá ter vários anseios em relação à área funcional de seu jardim,
os quais tentar-se-á, aqui, identificar por meio de entrevistas e depoimentos. De-
penderá da sua percepção e de sua visão de mundo captar o que é de fundamental
importância para esse(s) e, transformá-lo em realidade, com o máximo de enriqueci-
mento em beleza e funcionalidade. No Apêndice 4, incluímos um questionário para
entrevistar diretamente os usuários/clientes (área pública/área particular), antes da
instalação dos jardins. Esse instrumento permite detectar os elementos que venham

Classificação de jardins e estruturação das áreas básicas


a satisfazer as necessidades e ou os desejos do cliente, o qual apenas assinalará o que
achar interessante. Depois, a avaliação da viabilidade de implantação do projeto fica
a critério do projetista.

Roteiro de questões para a composição do jardim

Perguntas do projetista ao cliente


• O que você deseja ter em seu jardim?
• Quanto tempo semanal tem livre para o jardim?
• Que valor deve ser previsto para dispensar na manutenção do jardim com
jardineiro?
Pré-enquete para saber a prioridade desses elementos
• Quais são as prioridades? (Circule as respostas e depois relacione com o
questionário respondido pelo cliente no Apêndice 4)
• Proteção: muros, paredes, valas, terraços, quiosques, casinhas para avifauna...
• Circulação: calçadas (pedras, paralelepípedos, lajes...), caminhos (pedras
irregulares, pó de brita, areia, terra batida, relvado...).
• Bancos: na sombra, em desníveis de “estar”, churrasqueira, casa de chá, 69
jardim de inverno, banco com bela perspectiva...
• Defesa: pérgola, quebra-ventos, sebes, giardino segreto...
• Jogos: gramado, relvado, parterre, playground, caixa de areia para crian-
ças, xadrez, labirinto...
• Plantação: bordaduras, canteiros de flores de corte, maciços de perenes,
maciços de floríferas anuais...
• Produção de alimentos: horta de verduras e legumes, horto medicinal,
pomar, alimento p/ avifauna...
• Hobby: estufa de plantas, estufim, orquidário, jardim rochoso, jardim
aquático, lugar para pintar ao ar livre, parterre para cultivar...
• Utilidade: atelier com ferramentas para jardim e/ou bricolagem, compos-
teira, tonel para lixo, canil, área para secagem de roupas...
• Beleza: lagos, fontes, esculturas, iluminação, elementos de adorno...
Questões referentes à distribuição do espaço a serem resolvidas pelo projetista
• Qual é o desenho da trajetória do sol?
• Qual é o plano das zonas de insolação e de sombra ao longo do dia?
• Qual é o plano dos níveis do terreno?
• Lista dos elementos necessários para integrar ao jardim.

Cláudia Petry
Algumas dicas ao projetista
• Não mostrar tudo de uma vez (efeito de bastidores e impressões de sur-
presa): cercas vivas, desníveis...
• Enquadrar certos elementos com destaque: árvores, arbustos, coníferas,
palmeiras, bambus...
• Interligar na superfície essas plantas maiores, utilizando maciços de forra-
ções.
• Estimular o uso de plantas vivazes nos parterres: rasteiras ou prostradas,
de adorno, silvestres, aquáticas...
• Estimular o uso de bulbosas que florescem na primavera: crocus, narcis-
sus, lírios, íris, begônias, dálias, gladíolos...
• Utilizar com moderação as floríferas anuais e bianuais (verão e inverno),
combinando-as com as vivazes.
• Combinar as cores, evitando a mistura excessiva. Na dúvida, o melhor
resultado é branco/verde/cinza.
• Atentar para que a distribuição vegetal combine a forma e a altura das
folhas com as cores (flores e de folhas): achillea X panículas; lírios X ervas;
70 verde X bosque.
• Considerar as necessidades ecofisiológicas das plantas utilizadas em rela-
ção à luminosidade e ao solo/substrato.
Atualmente, é a vegetação funcional a melhor estratégia para um projeto pai-
sagístico eficiente e sustentável.

Classificação de jardins e estruturação das áreas básicas


Capítulo V

O projeto paisagístico

O
projeto paisagístico é o documento que propõe como será fei-
ta a intervenção no local. Há inúmeras novas metodologias de
apresentação gráfica digital do projeto. Em escritórios de plane-
jamento, o projeto é construído com inúmeras plantas baixas, do-
cumentos e fotos anexas. Toda essa exigência dependerá da complexidade
da intervenção, das dimensões e do orçamento disponível. Como nem sem-
pre os acadêmicos são treinados para utilizar softwares de projeto, preten-
demos salientar aqui a noção da elaboração manual do projeto. A seguir,
proporemos uma metodologia de planejamento paisagístico em diferentes
etapas: análise do sítio; pré-projeto, demonstrando a distribuição espacial-
-funcional, de circulação, de plano de massas e de definição das espécies; e,
por último, o projeto definitivo aprovado.

Etapas da organização
Busca-se contemplar a justificativa, a análise do sítio, o anteprojeto,
a análise e a redefinição desse com o cliente, e, finalmente, a apresentação
do projeto definitivo. Para Larcher e Gelgon (2012), o plano cadastral e a
planta topográfica são os documentos básicos para se começar a projetar.
O manejo de grandes espaços ainda pode contemplar a análise paisa-
gística, o estabelecimento de cartas paisagísticas, a proposição de projetos, a
elaboração de cartas de impacto e de um projeto definitivo, recomendações
gerais e proposições técnicas (terraços, intervenções na vegetação existente,
novas construções e plantações, gestão das superfícies e das florestas). Para
Larcher e Gelgon (2012), há diferentes tipos de desenhos (croquis, desenho
do conjunto, desenho da definição, planta baixa detalhada em escala, es-
boço e esquema). Nesse sentido, Schmidt (1986) sugere procedimentos de
análise de sítio para reconstituir ambientes e Mars (2008) trabalha o plane-
jamento de forma permacultural.
Análise do sítio
De forma esquemática, a análise de sítio ou análise do local vai contemplar o
máximo de informações a respeito do sítio:
• clima (sol, ventos, temperatura, poluição, zonas de áreas ensolaradas e
área de sombras);
• acesso à circulação;
• levantamento planialtimétrico e cadastral;
• situação e perspectivas externas;
• recursos naturais (água, solo, vegetação e vegetação potencial);
• características da obra e do jardim;
• pesquisa popular (conhecer a opinião dos habitantes em relação ao local,
sua aspiração popular e alinhavar a vocação natural da área).
Aplicado o fengshui para avaliar seu jardim, ainda, poderá utilizar a bússola
do jardim (trigrama e os quatro lados favoráveis e os quatro desfavoráveis), além do
uso de técnicas da geomancia. Em permacultura, todas as potencialidades de recur-
sos, energia, assim como, os fluxos são também mapeados (Ross, 2008).
Anteprojeto paisagístico:
72 • definição (escala adequada) e distribuição espacial (funcional, circulação,
plano de massas e definição das espécies);
• elementos naturais, hidráulicos e elétricos;
• análise e redefinição do anteprojeto: retorno com o cliente para ser defini-
do o projeto definitivo;
• projeto definitivo (execução): definição, características, multidisciplinari-
dade – plantas executivas de arquitetura; executiva de engenharia civil;
executiva do Projeto botânico (com objetivos, pranchas ilustradas, me-
morial botânico); e Manual técnico de implantação e manutenção ou me-
morial descritivo (identificação, justificativa e objetivo do design; razões
estéticas, funcionais e ecológicas da vegetação empregada; croquis; nor-
mas de implantação, execução e manutenção do jardim; orçamento, ob-
servações e anexos, tais como, levantamento planialtimétrico, cadastro de
registro e/ou sanidade das mudas, cópias da ART,...). As normas técnicas
envolvem as indicações de análise do solo, recomendação de adubos, nor-
mas para plantio de árvores, arbustos, forrações e gramados. Além disso,
inclui serviços de jardinagem e de implantação de mobiliário urbano ou
de material de apoio (tutores,...), além da limpeza geral do terreno. Apre-
sentação final ao cliente: será a entrega de material impresso e elaboração
de uma apresentação oral com apoio da multimídia.

O projeto paisagístico
Como trabalhar no projeto

A) Sistema de circulação
A acessibilidade deve ser garantida (conforme norma brasileira ABNT NBR
9050/2004) por meio de sinalizações e declives adequados (Bortolini; Bellé, 2012),
normalmente 30% da área (no máximo) sem as calçadas do contorno.
1. Calçadas com no mínimo 1,5 m de largura. Na média corresponde a 3 m de
largura.
2. Caminhos menores ou iguais a 1 m de largura. São atalhos, vias de acesso.
Quando esses forem de pedras lajes, à distância do centro de uma para outra
deve corresponder a cerca de 55 cm.
3. Ruas variam de 2 m (para pedestres e bicicletas) até 12 m de largura (carros).
Em cidades de médio porte podem ser de até 4 m, e com calçada lateral de
1,50 m de largura.
4. Avenidas com canteiro central. Ideal como acesso principal ou eixo central de
parques e zoobotânicos. Deverá ter no mínimo 16,5 m de largura.
5. Alameda é uma via arborizada, de forma “compassada”, quando as árvores
têm um espaçamento uniforme, ou “descompassada”, quando têm espaça- 73
mento desuniforme é, visto que essa forma é a mais encontrada nas cidades.
Aleia é um caminho arborizado de forma organizada.
OBS.: no memorial descritivo, além da citação do material empregado no as-
sentamento, cita-se a quantidade do material empregado e o tipo de as-
sentamento e de detalhes.
Lembrete: devem-se arredondar os cantos. Não se anda em 90 graus.
B) Elementos utilitários
1. Construções: grafica-se6 o espaço, nomina-se ou numera-se, e, se necessário, acom-
panha em planta anexa – restaurantes, quiosques, vestiários, banheiros, bares, etc.
2. Pontes: numera-se e desenha-se, em planta anexa, a perspectiva lateral; e, em
planta baixa, a seguinte graficação:
• escadas: normalmente os degraus apresentam-se com 28 cm de largura e o
espelho do degrau pode variar de 13 cm a 17 cm de altura;
• rampa com declives: < 7% = o revestimento igual à circulação; > 7% = o
revestimento deve ser antiderrapante, com cerâmica e borracha.

Graficar é utilizado na língua espanhola e significa representar mediante figuras e símbolos. Esse verbo
6

tem sido usado para criar figuras que simbolizam os arranjos das plantas nos projetos paisagísticos. Se-
gundo o dicionário da Real Academia Espanhola graficar é usado em Cuba, Argentina, Chile, Salvador
e Uruguai.

Cláudia Petry
3. Iluminação (por meio de luminárias): a) globosa – altura de 3-4 m, com haste
metálica e na extremidade o globo; b) pescoço – altura de 9 a 10 m; c) pétala –
altura maior que 10 m, é a mais segura para depredações em locais públicos;
d) spots ou holofotes – luminárias colocadas no solo para iluminar elementos
chamativos, tornando-os focos visuais à noite.
4. Pontos de água, lixeira, bebedouros, churrasqueiras: marca-se o ponto, nomi-
na-se ou chama no memorial.
5. Mesas: graficamente no tamanho definitivo – de 0,80 m a 1 m com os respec-
tivos bancos.
C) Elementos arquitetônicos de recreação
1. Quadras: marca-se o desenho, se polivalente desenha-se o padrão (handebol)
e escreve “polivalente”, se não:
• basquete = 26 x 14 m (+>2 m);
• handebol = 40 x 20 m;
• voleibol = 18 x 9 m;
• futebol salão: mínimo = 25 x 13 m; máximo = 28 x 15 m;
• tênis = 36 x 18 m (somente a cancha = 23,77 x 10,97 m);
74 • futebol de campo: a) olímpico = 70 x 105 m, podendo variar a largura (64 a
75 m) e o comprimento (90 a 110 m).

Convém juntá-las em um setor, a fim de facilitar o suporte de construções fun-


cionais (vestiários, sanitários, quiosques, etc). Pode ser feita uma pista de atletismo
ao redor das quadras. A orientação dada é de que as quadras tenham em suas mar-
cações o padrão norte-sul.
2. Playground ou parque infantil:
• deverá ser cercado por telas ou por vegetação cerca-viva. De preferência
seguro, longe ou separado de vias de tráfego intenso. Deverá ser dividido
em setores, de acordo com as faixas etárias das crianças, evitando, assim,
acidentes;
• o piso de preferência deve ser de areia ou borracha reciclada (existe em vá-
rias cores) e, em último caso, usar o pó de brita para evitar machucaduras. É
sempre interessante ter algumas árvores caducas, para ter maior insolação
no inverno.
D) Graficação:
a) brinquedo visto de cima, em escala. Nomina-se ou cita-se no memorial;
b) deixa-se o espaço total delimitado e cita playground na planta e especifica os
elementos no memorial descritivo.

O projeto paisagístico
E) Orçamento
1. Custo do projeto:
• honorários: podem ser cobrados baseados na Tabela do Crea, por hora téc-
nica trabalhada;
• cobra-se separado o material de consumo utilizado, as visitas técnicas, o de-
senho técnico, as cópias e pranchas coloridas impressas e o valor recolhido
da ART para o Crea.
2. Implantação (em ordem numérica, com especificações de serviços e materiais,
com respectivas quantidades, unidades, preço unitário e preço global de
cada item):
• custo de terraplenagem: retirada e colocação horizonte a (orgânico), me-
xendo até 20 cm;
• acrescentar substrato de boa qualidade e procedência: terra com compos-
to, adubação orgânica;
• plantio da vegetação: especificar a cor, o tamanho da muda, das embala-
gens e o preço que envolve o valor da muda e da mão de obra;
• outros elementos: garantia de manutenção por um determinado período,
ou, para prazos mais longos, propor um fator de reajuste. 75
A seguir, uma proposta de atelier de projeto paisagístico a ser facilmente apli-
cado pelo projetista.

Atelier de projeto paisagístico


Existem inúmeros programas de desenho para uso em computador que visam
estimular o projetista a realizar manualmente o projeto para melhor praticar a arte
de projetar.
1. Procedimento de campo: (planimétrico + análise de sítio + pesquisa popular).
• Material necessário: prancheta, papel, lápis, borracha, trena ou outro
equipamento para medição, além de máquina fotográfica, documentos,
plantas baixas e fotos aéreas disponíveis.
• Análise da área escolhida:
– medir a área (fazer um croqui);
– localizar os pontos de água, luz, divisas, árvores e outros monumentos
existentes, anotando movimentos de luz e sombra, ao longo do dia;
– anotar o norte;
– avaliar as perspectivas dos usuários dessa área em direção ao entorno.

Cláudia Petry
2. Material necessário para o atelier de projeto em sala.
• folhas de papel manteiga A3 para rascunhos;
• lápis macio (HB), borracha, régua, escalímetro, compasso e/ou bolôme-
tro, esquadros; papel vegetal e caneta nanquim para planta baixa final
(original do autor);
• lápis de cor e canetas hidrocor para colorir a cópia final em papel branco
(do cliente).
3. Procedimento de escritório.
• Desenho em A3 (297 mm x 420 mm) das margens (1 cm nas margens su-
perior, direita e inferior, e de 2,5 cm na margem esquerda), prevendo es-
paço para o selo na parte inferior direita (largura de 17,5 cm) e para o me-
morial botânico na parte superior direita. O restante é a área disponível
em papel para a representação da área real;
• Cálculo da escala a ser utilizada:

Distância real (cm)


ESC =
Distância no papel (cm)

76 • Colocar o valor da escala obtido no Esc e assim descobrir os valores das


respectivas distâncias reais nas distâncias no papel. Terminar o desenho
da área real na área do papel;
• fazer as proposições da projetação (a seguir) em papel manteiga, sobre-
posto ao papel trabalhado, para dar maior liberdade de alterações.

4. Projeção (fase do anteprojeto).


• Definir a estruturação das áreas básicas:
– zoneamento funcional em áreas menores;
– circulação;
– plano de massas;
– Escolha das espécies com plasticidade ornamental desejada:
– por grupos ornamentais (árvores, arbustos, forrações, gramados,...);
– por características ecológicas;
– por identificação na planta baixa por meio de gráficos e códigos;
• Quantificação de exemplares vegetais a serem empregados em função da
área utilizada e da quantificação do material arquitetônico a ser aplicado
em função do espaço projetado.

O projeto paisagístico
5. Projeto paisagístico definitivo.
• Após mostrar o anteprojeto ao cliente, apenas com o aceite desste, dese-
nha-se a planta baixa final em papel vegetal. Faz-se cópia em papel colo-
rido para o cliente;
• anexa-se essa ao memorial descritivo (folha de rosto, introdução com jus-
tificativa e objetivos, vegetação empregada e justificativa, croquis, nor-
mas de implantação e manutenção do jardim, orçamento, documentos
necessários, planta baixa colorida).
6. Cuidados ao longo do processo:
• asseio, caligrafia técnica, organização (ter o material por perto), português
correto, mensagem compreensível e atenção às necessidades do cliente.

Representação da vegetação
Uma forma interessante proposta por Winters (1992) para auxiliar na leitura e na
visualização espacial da vegetação utilizada, em um projeto paisagístico, é organizar
essa (com um código específico), em grupos pela função e plasticidade ornamental:
a) árvores e palmeiras;
b) arbustos; 77
c) forrações;
d) gramados.
Ou seja, colocar a respectiva letra maiúscula antes do número, e depois colocar
esse código na tabela do memorial botânico:
Exemplo:
A1 – Erythrina crista-galli (corticeira do banhado)

Exemplo de memorial botânico:


A seguir, um exemplo de memorial botânico (a constar na planta baixa). A
simbologia a ser escolhida fica a critério do projetista, os grupos das árvores e dos
arbustos (maior altura e tronco lenhoso), representados por formato arredondado,
com diâmetro adulto e as forrações e os gramados (ambas herbáceas) serão apenas
texturizados no espaço correspondente projetado:

Cláudia Petry
 Calliandra tweedi
com diâmetro adulto e as forrações e os gramados (ambas herbáceas) serão apenas
Sara
texturizados no espaço correspondente projetado:
Exemplos
Tabela 8: deExemplo
graficação
de trabalhados em desenho
memorial botânico, com técnico
exemplos de graficação trabalhados em desenho
técnico, nomes populares e científicos da vegetação e número de indivíduos necessários
Código Simbologia
para o projeto. Nome científicoAgapanthus umbellatus
Nome popular Quantidade Observação Agap
Código
A1 ӨSimbologia Nome
Erythrina científico
crista-galli Nomedopopular
Corticeira banhado Quantidade
10 Observação

A2 A1 Φ Φ Erythrina crista-galli
Phytolaica dióica Corticeira
Umbú do banhado 1 10
A2 Φ Phytolaica dióica Umbú 1
B1  Calliandra tweedi Sarandi 8
B1  Calliandra tweedi Sarandi 8
B2
B2
C1 C1   Agapanthus umbellatus
Agapanthus umbellatus Agapanto azul azul
Agapanto 50 50 Esp.
Esp. 0,20x0,20
0,20x0,20 m
m
C2 C2
G1G1
√√√
√√√√√√ Axonopus
Axonopus
compressus
Axonopus compressus Grama
compressus
Gramasempre-verde
sempre-verde - - 200 m²
200 m²
Gram
G2G2 ‫س سس‬ Stenothraphum
Stenothraphum
Stenothraphum secundatum secundatum
secundatum Grama Santo Agostinho - - 20 m² 20 m² Gram
Fonte: material elaborado pela autora.

Figura 4: Simbologia vegetal de árvores e bosquetes utilizados em projetos paisagísticos


emplos de graficação já trabalhados em desenho técnico ( Cláudia Petry

78

Fonte: da autora.

Figura 5: Simbologia vegetal de arbustos, perfil, cerca-viva e maciços utilizados em projetos paisagísticos

Fonte: material elaborado pela autora.

O projeto paisagístico
Figura 6: Simbologia vegetal de herbáceas, forrações e bordaduras mistas utilizados em projetos
paisagísticos

Fonte: material elaborado pela autora.


79
Figura 7: Representação gráfica de elementos arquitetônicos utilizados em projetos paisagísticos

Fonte: material didático elaborado pela autora.

Cláudia Petry
Figura 8: Simbologia vegetal de gramados utilizados em projetos paisagísticos

80
Fonte: da autora.

Figura 9: Simbologia vegetal de palmeiras utilizadas em projetos paisagísticos

Fonte: da autora.

O projeto paisagístico
Figura 10: Projeto paisagístico do Jardim solidário da Feira de Economia solidária de Passo Fundo, em
2011, instalação efêmera de 48 horas de duração.

81

Fonte: Claudia Petry, CCTAM, UPF, Passo Fundo.

Cláudia Petry
Capítulo VI

Arborização em vias públicas

Arborização rodoviária
“Arborização rodoviária visa restaurar as ofensas feitas à nature-
za quando da implantação das estradas, promovendo a sua inte-
gração na paisagem, de maneira a obter efeitos de ordem técnica
e estética, aumentando a segurança viária”
Dersa

O
s órgãos responsáveis publicam normas a serem seguidas para a
arborização rodoviária, a qual tem o objetivo de proteger as obras
de arte, assim como a segurança do motorista. Cada país tem uma
estratégia de acordo com sua realidade. No Brasil, não há uma
aplicação da normatização existente, por isso, indica-se consultar o mate-
rial disponível on-line do DNIT e dos órgãos estaduais, indicativos de boas
práticas. A seguir, elencamos algumas dessas sugestões.
1) Proteção das plataformas das estradas
a) Consolidação dos terrenos e defesa dos sistemas de drenagem;
combate à erosão: Ex.: gramíneas, maciços de arbustos e arvoretas
nos pés dos taludes para diminuir pedras soltas.
b) Manutenção e escolha das espécies vegetais:
• espécies nativas (+ adaptadas);
• espécies robustas e rústicas (pouco exigentes em fertilidade de
solo e água).
• espécies com folhas persistentes, flores e frutos pequenos, para não pre-
judicar o sistema de drenagem pluvial e não lançar resíduos nas pistas;
• nos canteiros centrais, arbustos de crescimento vertical (antiofuscante);
• espécies com raízes fortes e intrincadas para assegurar a estabi-
lidade dos taludes;
• espécies perenes, sem exigência de cortes e podas constantes
(Arachis próstata, Ipomoea sp., Persicaria capitata).
2) Aumento da segurança no trânsito
A segurança no trânsito pode ser aumentada com a utilização de vegetação
como sinalização viva, usando os princípios do “road focus”, que é o ponto qualquer
do panorama que cerca o motorista, no qual se encontra o seu foco visual em dada
velocidade do percurso” (SEP, 1976).
Ex.: o aumento da velocidade afasta o “road focus” sem proporção e aumenta
o perigo do trânsito.
A “sinalização viva” diminui a velocidade através de:
a) visibilidade
• Faixas desimpedidas em cruzamentos, acessos, intersecções:
- 160 m antes do cruzalto, a partir do ângulo de 7,5 graus do motorista,
usa somente forração; arbustos (até 1 m) e depois árvores com copa que
começa acima 2,5 m;
- não pode ter vegetação arbustiva alta, nem arbórea em postos policiais,
balanças, cabinas de controle. Esses devem ter amplo campo visual.
b) Ofuscamento
Para diminuir o efeito nocivo e perigoso dos faróis altos, usam-se barreiras vege-
tais nos canteiros que separam as pistas, funcionando também como amortecedores. 83
I. Marginal com o mesmo sentido da rodovia.
II. Marginal em sentido contrário da rodovia.
III. Marginal em desnível com a rodovia.
c) Tédio e imprevisibilidade do motorista
• Em paisagem homogênea, o motorista aumenta a velocidade, cria-se o
interesse e a contemplação visual, diminuindo a velocidade.
• Em paisagens heterogêneas, com mudanças frequentes no percurso, o cli-
ma torna-se imprevisível e os elementos vegetais facilitarão a leitura visu-
al da rodovia, prevenindo-o das direções e mudanças de sentido:
– defesas naturais: curvas desprotegidas e aterros com mais de 4 m de al-
tura encobrem a topografia acidentada do terreno (nivelamento ótico);
– orientação: torna mais eficaz os sinais convencionais:
– curva à direita ou à esquerda: pelo lado externo da curva (permite uma
melhor condução ótica);
– curva vertical: plantio afunilando em relação ao alto da curva, em semi-
círculo longitudinal, cria perspectivas;
– obras de arte: plantio de árvores em ângulo de 45 graus com o eixo da
rodovia, causando a impressão de afunilamento e leva o motorista a
reduzir a velocidade.

Cláudia Petry
• Paisagismo
– Locais de paradas ao longo das rodovias para atender repouso e recrea-
ção. Deverão ser espalhados em função de: a) volume e tipo de tráfego;
b) extensão e tipo de rodovia; c) distância, cidades e povoados; d) ca-
racterísticas da região; e) recursos paisagísticos do trecho (monumento
históricos, belvederes), etc.
– Recomenda-se, em média, 40 km de espaçamento, afastando linhas de
transmissão, cabos de alta tensão, torres e outdoors e, da pista, por-
tanto, isolados pela vegetação. Deverá ter estacionamento compatível
com a demanda, instalações sanitárias, água potável, coletores de lixo e
bancos.

Recomendações técnicas
Os arbustos ficarão distantes 3-4 m do início do acostamento e as árvores 7 m.
Os principais cuidados são para a elaboração de covas quadradas adubadas; irri-
gação na implantação (ou colocação do saco com gel no fundo da cova); proteção
contra formigas e contra o fogo. E, sempre que possível, usar menos gramados (pois
84 precisam maior manutenção), preferindo herbáceas perenes rústicas.
Para concluir, é interessante ressaltar a importância do envolvimento dos pro-
prietários das áreas vizinhas às rodovias. Normalmente, é o capricho e asseio dessas
pessoas que auxilia em todo o processo de manutenção das áreas estatais de rodo-
vias. Tornou-se comum ver tais áreas plantadas com culturas produtivas (soja ou
aveia) o que pode indicar o interesse econômico do proprietário lindeiro, mas tam-
bém sua boa vontade em ver a área com uma ocupação adequada. Várias cidades de
tradição europeia tem insistido na melhoria dos acessos à zona urbana (trevos, rota-
tórias,...) o que tem marcado visualmente essas regiões (exemplos: Selbach, Marau e
Carlos Barbosa). Todos os estímulos vindos do poder público são bem-vindos, seja
por meio da distribuição de mudas ou pela redução de impostos territoriais.
Uma última questão a ser pensada é a quase ausência generalizada de mapas
com informações referentes a pontos turísticos, históricos, belvederes e sítios arque-
ológicos e arquitetônicos, que possam existir ao longo da rodovia. A boa indicação
torna-se a melhor propaganda para uma rota que almeja integrar-se em roteiros tu-
rísticos. Além da indicação em mapas, (que estimulam os motoristas a fazerem pa-
radas para apreciar estas obras e pontos de interesse paisagístico), é fundamental a
colocação de placas indicativas e sinalizadoras. Essas últimas podem ser feitas com
material alternativo ou local, auxiliando, assim, no processo de identificar regio-
nalmente o entorno da rodovia. Os pórticos também marcam entradas de cidades,
abrigam quiosques de informações turísticas e tornam-se cartões-postais, definindo

Arborização em vias públicas


os limites das zonas urbanas. Valorizar um belvedere é valorizar todo um vale e
uma região. Basta planejar com segurança esses locais de parada, para contemplar
as belezas regionais.

Arborização urbana
É um conjunto de terras públicas e particulares com
cobertura arbórea que uma cidade apresenta
Grey e Deneke (1978)

A arborização urbana divide-se em subsetores específicos: o das áreas verdes


e o de arborização de ruas. O assunto é tão importante que existe uma Sociedade
Mundial de Arboricultura7 (ISA), uma Sociedade Brasileira de Arborização Urbana8
(SBAU) que realiza congressos (CBAU) e simpósios anuais e é responsável por uma
revista científica (RSBAU), nas quais discute-se a segurança no trabalho, a valori-
zação de árvores no meio urbano, o diagnóstico de pragas, o manejo integrado da
vegetação e como produzir mudas com melhor sistema radicial para suportar as
mudanças climáticas. Essa área de trabalho é uma ciência em si mesma, tamanha a 85
complexidade de fatores e informações. Cabe ao acadêmico ter ciência da existência
e valorizar o que já foi feito na área.
Benefícios da arborização
a) Melhoria microclimática: radiação solar, temperatura, precipitação, circula-
ção do ar são afetados pela vegetação (Grey; Deneke, 1978):
• Conforto térmico: a melhoria ocorre com o aumento da evapotranspira-
ção, já que uma árvore evapotranspira 380 l H2O/dia, equivalente à um
resfriamento proporcionado por cinco aparelhos de ar condicionado mé-
dios funcionando 20 h/dia; a diminuição do vento também melhora o
conforto térmico, havendo uma proteção alta ao vento na distância de
dez vezes a altura do quebra-vento, à uma baixa proteção na distância
de trinta vezes a altura do quebra-vento; a diminuição da temperatura
também melhora o conforto térmico, pois a menor insolação do solo (com
a sombra das árvores) diminui amplitudes térmicas, com registros no ve-
rão de até 8 ºC a menos em locais sombreados, comparados com locais
expostos ao sol.

Disponível em: www.isa-arbor.com.


7

Disponível em: www.sbau.com.br.


8

Cláudia Petry
• ação contra a poluição atmosférica: absorção de gases e retenção de poei-
ras de forma variável - cortinas vegetais diminuem 10% o teor de poeira
do ar (Lapoix, 1979): Faia (68,2 t/ha) e Abeto (Picea - 31 ton/ha).

b) Ação acústica e visual: mais importante psicológica do que fisicamente. A


ação varia com a frequência e a intensidade sonora, com a posição das ár-
vores em relação à fonte, e à estrutura, à composição dos plantios, tendo
ligação com a estação do ano (Lapoix, 1979). Densas rodovias cobertas são
mais eficazes e, no aspecto visual, proporciona privacidade.
c) Ação em relação à saúde física e mental do homem (direta ou indireta):
• ação microbiana: 50 germes/m3 na floresta de Fontainebleau e 40 mi-
lhões/m3 em uma loja;
• efeito psicológico, bem-estar;
• melhoria da condição de saúde: pacientes hospitalares revelam que as ja-
nelas de seus quartos estão voltadas para parques, jardins e áreas verdes,
a recuperação é sensivelmente mais rápida, diminuindo o período hospi-
talar e a necessidade de remédios (Ulrich, 1990).
d) Benefícios sociais e econômicos:
• satisfação do usuário do logradouro com área verde;
86 • há uma valorização fundiária das propriedades;
• desenvolvimento do senso conservacionista;
• favorecimento do turismo (ecoturismo);
• preservação da história biológica e evolucionista da região.
Espécies indicadas:
1) Cassia macranthera (bolão de ouro);
2) Cassia bicapsularis;
3) Cassia leptophylla (falso barbatimão);
4) Cassia multijuga (multijuga);
5) Ilex paraguaiensis (erva-mate);
6) Acca sellowiana (goiaba da serra);
7) Grevillea forsterii (grevilha anã);
8) Caesalpinea pulcherrima (flamboyant de jardim);
9) Callistemon sp (escova de garrafa);
10) Lagerstroemia indica (extremosa);
11) Laurus nobilis (louro);
12) Magnolia soulangeana (magnólia-tulipa);
13) Murraya exotica(murta);
14) Myrta communis;
15) Acacia podaryliaefolia (acácia mimosa);

Arborização em vias públicas


16) Bauhinia galpinii(pata de vaca);
17) Calliandra haematocephala (caliandra);
18) Camellia japonica (com poda);
19) Handroanthus alba (ipê da serra).
Características desejáveis das espécies a serem usadas na arborização urbana:
raiz pivotante, rusticidade, desenvolvimento não muito lento, flor com pouco (ou
nenhum) perfume e pouco pólen, frutos leves e ausência de princípios tóxicos.
A prefeitura municipal de Porto Alegre indica as seguintes espécies para uso
embaixo de fiação e em qualquer situação: Psidium cattleyanum (araçá); Myrciaria
tenella (Camboim); Casearia parviflora (Guaçatonga); Lagerstroemia indica (extremosa);
Brunfelsia mutabilis (manacá ou primavera) e Tibouchina granulosa (quaresmeira).
Recomendações técnica para o plantio das mudas:
• utilizar uma muda saudável bem formada, com altura entre 1,80-2,20 m e
altura das pernadas a partir de 1,50 m (20 L);
• covas quadradas de no mínimo 0,60 x 0,60 x 0,60 m. Fazer uma adubação
no fundo da cova e a irrigação subterrânea (com tubo chegando ao fundo
da cova). Deixar um espaço entre 0,50 e 1 m ao redor da muda e plantar
grama, se não for possível, colocar uma grade vazada; - espaçamento en- 87
tre mudas deve ser maior ou igual ao diâmetro da copa quando adulta.
Espécies pequenas podem ser plantadas entre 5 a 8 m, ficando distantes 3
m dos postes, quando as calçadas forem equivalentes a 2,5 m de largura.
Em calçadas mais largas (> 3,0 m) que não apresentam fiação aérea, as
espécies podem ser maiores plantadas em espaçamento maior (10-15 m).
Sempre se deve respeitar a distância do meio-fio, de 0,40 a 1 m (alinhado
com a iluminação). Além de desviar estacionamento, entradas, etc., deve-
-se conhecer a distribuição hidráulica (H2O, esgotos, galerias), por isso, o
ideal da arborização urbana é que seja planejada junto com o loteamento;
• pode-se fazer calçadas verdes, com canteiros a partir de 1 m2 (comercial)
até 5 m2, coloca-se grama, piso-grama ou grelhas de ferro;
• faz-se um tutoramento, amarrando a muda com um barbante em forma de
oito. É importante que ela ainda balance para melhor expandir o sistema
radicial. As podas serão de limpeza, de regeneração, de correção (somente
poda leve) e de condução, geralmente feitas pelos funcionários da prefeitura.
Plano de arborização e Comissão municipal de arborização urbana (Comau):
• objetivos: propor adaptações locais à legislação federal (Código florestal e
normativas do Conama);
• monitoramento e fiscalização;

Cláudia Petry
• inventário de árvores urbanas: quais, quantas, onde e como estão. A base
de dados permite determinar ações para melhoria do patrimônio arbóreo
e sua manutenção;
• Em Passo Fundo, várias espécies localizadas em terrenos particulares
estão protegidas legalmente do corte (figueiras, corticeiras, algaborro,
inhanduvá, araucária), bem como as localizadas em áreas de preservação
permanente, em vias e logradouros públicos, as quais são de responsabili-
dade e de autonomia do poder público municipal, fiscalizando dentro do
perímetro urbano e legislando por meio do Plano Diretor.
Sugestão para o programa de ação

Ação político institucional:


• criação de um departamento de arborização;
• inventários para valorização do patrimônio arbóreo (ex.: programa “Mu-
nicípio verde azul” da Secretaria Estadual de Meio Ambiente de São Pau-
lo; convênio PMBH e Cemig e Programa de Revitalização de Árvores
Centenárias de Campo Grande-MS);

88 • avaliação monetária de árvores urbanas9 serve para cálculo do valor real


das árvores, para aplicação de multas e punições, e também para o plane-
jamento das atividades de manutenção;
• programa de divulgação e educação ambiental;
• programa municipal de incentivo à arborização: IPTU ou Adote uma praça;
• estabelecimento de convênio de cooperação;
• fiscalização e cobrança por parte da sociedade;

Enfim, os benefícios da arborização na melhoria das condições de saúde po-


dem ser premiados, como aconteceu, por exemplo, com Curitiba e Maringá no Pa-
raná.

Detzel (1992) sugere: como valor alternativo (remuneração do capital investido em outra coisa durante
9

o período); como Patrimônio arbóreo; incluir valores de manutenção (para podar, irrigar, adubar, reposi-
ção, etc. é um dos índices mais usados); valor da madeira; valor de propriedades; valores legais (multas,
indenizações...); custos de reposição; ou por fórmulas de avaliação (Cartela de avaliação de Michigan,
valor em função da manutenção, valor em função do diâmetro, etc. Ainda se busca regionalizar as pro-
postas de avaliação) In: MILANO, M. (Org.). Curso de arborização urbana. Curitiba: Unilivre, 1992.

Arborização em vias públicas


Arborização urbana e sustentabilidade
ambiental10
Não há outra solução para o impasse ambiental gerado pelas novas tecnolo-
gias pós-revolução industrial, a não ser, discutir os princípios filosóficos das atitudes
humanas em relação à natureza. Nesse sentido, torna-se fundamental resgatar as
noções básicas de ética e de moral, que perpassam as relações humanas, e dessas,
em analogia à natureza, sobretudo àquela que sobrou nos meios urbanos, represen-
tada pela presença da árvore e o conjunto da arborização urbana. Há uma gama de
símbolos culturais e identitários, de significados e de aspirações humanas, que ainda
merecem ser estudados, elucidados e valorizados, facilitando o processo do plane-
jamento de uma arborização urbana eficiente, adaptada e que contemple além das
necessidades fisiológicas, as aspirações inconscientes, espirituais e filosóficas das
pessoas. Assim, com certeza as áreas verdes conseguirão ser mais bem valorizadas,
se reconhecidas.
Para salientar a importância do tema na atualidade , a revista Science, em seu
editorial, dissertou sobre a importância de áreas verdes urbanas e a sua proteção em
regiões metropolitanas (Green cities), seja protegendo as áreas reflorestadas, seja re- 89
cuperando florestas nativas. Nesse sentido o problema das águas urbanas, em artigo
no estado de São Paulo (3/02/2009), José Galizia Tundisi, alerta para o fato de que o
mais complexo sistema urbano da América do Sul, apresenta graves problemas, os
quais deveriam ter soluções priorizadas no início de 2009, para garantir o consumo
e o equilíbrio hídrico naquele complexo ecossistema. A manutenção de áreas verdes
é uma dessas alternativas, mas para tornar esse processo sustentável, o pesquisador
salienta o estímulo à participação e à educação da comunidade.
Se pensarmos em uma atividade sustentável, devemos utilizar os recursos de
forma a permitir que as gerações futuras também usufruam desses (Relatório Brun-
dtland, Nosso futuro em comum, ONU, 1987) com a mesma qualidade. Por isso, a
importância de resgatar os princípios éticos e filosóficos, que norteiam a humani-
dade desde sempre, e que atualmente encontram-se um tanto esquecidos. A ética
pondera que toda atividade considere a presença do outro e que seja uma atitude
em cadeia, antevendo possíveis consequências na atual metodologia dos cenários. A
necessidade contínua de reflexão e de escolhas engajadas, se não as mais acertadas
(errar é humano), que sejam as mais consequentes e conscientes possíveis, sempre
considerando o saber local. Por isso, tanto a responsabilidade como os usufrutos
desse bem devem ser partilhados pelo planejador e pelo usuário.

Texto publicado originalmente no Jornal da Sociedade Brasileira de Arborização Urbana em abril de


10

2009.

Cláudia Petry
Para atingir os pressupostos da sustentabilidade, qualquer processo de plane-
jamento, inclusive o de arborização urbana, deve, além de apreciar todos os aspectos
físicos e geográficos, também considerar a história, fazendo uma análise do local e
da cultura. Além disso, resgatar e valorizar elementos locais, utilizando-os como íco-
nes identitários; propor uma adequada escolha de espécies (respeitando prioridades
locais, mas dando preferência à nativas ou então exóticas adaptadas, mas rústicas
e sem princípios tóxicos) que busque consonância com os anseios da comunidade
usuária; estimular a percepção e o reconhecimento do local, por meio da divulgação
constante de resultados e das atividades executadas, de forma que a comunidade
diferencie-se em seu território. Assim, certamente a árvore manter-se-á como teste-
munha viva das vidas de várias gerações de habitantes do local.
A partir dessas informações, com certeza o planejamento será o mais adequa-
do para cada contexto, o que também contribuirá para a implantação e o manejo
adequado da manutenção, sobretudo se a comunidade compreender e participar do
processo, adotando os espécimes vivos utilizados. Enfim, se a meta é buscar durabi-
lidade no tempo e sustentabilidade ambiental, é impossível não envolver a popula-
ção em todas as fases.
Ao finalizar, busco ilustrar com as imagens o entrelaçamento de histórias e de
90 funções da árvore urbana, com exemplos franceses devido à minha permanência
na França para o doutorado, como professora universitária bolsista da Capes. Vê-se
ruas estreitas com calçadas apertadas e sem recuo de edificações, com árvores altas,
podadas conforme o sítio, mas denotando um exemplo de conciliação da vonta-
de pública com a coletiva. E se árvores centenárias caem, também são merecedoras
de honrarias, como um ser da memória nacional, tal o caso do carvalho centenário
morto na grande seca de 2003 em Versailles, atualmente em exposição ao ar livre.
Uma paisagem urbana qualquer com área verde pode ser mais do que aparenta.
Pode ser uma fossa séptica nos conformes, como o parque urbano universitário em
Guyancourt, onde há o manejo racional de resíduos líquidos urbanos. Fica alguns
questionamentos em relação à sustentabilidade: como podemos garantir que uma
criança, quando idosa, poderá ver e usufruir da mesma paisagem verde urbana que
aprecia hoje? Paisagem essa ainda contendo a maioria de seus elementos vegetais,
e, contando essa experiência vivenciada aos seus netos. Onde? Somente nos locais
patrimoniais? Enfim, como profissionais, creio que devemos trabalhar para demo-
cratizar e popularizar essa possibilidade em bairros e quintais.

Arborização em vias públicas


Figura 11: Por meio das fotos, o entrelaçamento de histórias e de funções da arborização urbana.
a) Paris – no bairro 14 (14o arrondissement) um exemplo de árvores altas, em ruas e cal-
çadas relativamente estreitas e sem recuo de edificações. Exemplo de vontade pública
e coletiva; b) honraria e memória – carvalho centenário morto na grande seca de 2003,
em Versailles, em exposição ao ar livre; c) poda drástica “lençol” no parque de Versailles
(estilo clássico renascentista francês); d) árvores no parque Montsouris,Paris, estilo inglês;
e) Magnólia em container em Paris; f) parque urbano universitário em Guyancourt, França
– área verde com manejo de resíduos líquidos urbanos; g) sustentabilidade – questiona-
mentos em relação à possibilidade de essa criança ver a mesma paisagem quando idosa
e (Parque de Versailles, França) onde podemos garantir isso no Brasil?

91

Fonte: fotos de Cláudia Petry.

Cláudia Petry
Capítulo VII

Práticas pedagógicas em paisagismo:


construindo jardins nos espíritos e no
espaço – o paisagismo na Agronomia11

P
ráticas de paisagismo visando ambientes sustentáveis são cons-
tantemente discutidas e reavaliadas. Vários geógrafos, arquitetos,
agrônomos e engenheiros florestais que trabalham nesse meio,
dentre eles, destacam-se Tuan (1980); Besse (2000); Berque (2000);
Abbud (2006); Lira Filho (2002); Dematte (1997). No Brasil, essas reflexões
acontecem em eventos nacionais como o Encontro nacional de ensino de pai-
sagismo em escolas de arquitetura (Enepea) (Santiago, 2001), que são bastan-
te específicos, mas também em fóruns de educação ou discutido por espe-
cialistas em literatura e arte (Nail, 1999; Mosser, 1999; Terra, Andrade, 2008).
Para Anna Zahonero Xifré, professora em Barcelona, para ser um bom
paisagista é necessário muitíssimo senso comum, desenvolver o sentido da
estética e ser muito curioso e paciente, pois o que se deve entender da pai-
sagem é que é o tempo que a constrói (Oliveira, 2008). Como fazer isso sem
ter uma experiência prática do tempo da natureza, do ciclo das estações, do
calor que vem depois do tempo frio?
Este trabalho busca resgatar uma experiência didática de 14 anos em
paisagismo no curso de agronomia. Desde 1994, houve mudanças na dis-
ciplina, a qual era denominada Parques e Jardins (quatro créditos) e, que
após a reforma curricular do curso de Agronomia, em 2001, passou a cha-
mar-se Paisagismo, Parques e Jardins (três créditos). Sempre houve ateliês
de projetos paisagísticos, de criação individual, de preferência em locais e
com temas da escolha do aluno. Alguns desses foram executados como os
jardins da Capela de São Miguel no primeiro semestre de 2005, na comuni-
dade rural de mesmo nome, no município de Santo Antônio do Palma - RS,

Trabalho apresentado pela autora no Encontro de Universidades Sustentáveis (Elaus), na UPF, em 2008.
11
realizado em grupo, o qual era composto por F. B. Jr., D. B. e E. M., justamente por
requerer a prática interdisciplinar coletiva, visando atender projetos de extensão em
andamento.
Como as práticas de paisagem e da jardinagem exigem local, ferramentas e
recursos disponíveis, é importante manter o engajamento dos docentes, dos mo-
nitores, dos estagiários e dos funcionários envolvidos. O viveiro da UPF fornece o
apoio material, disponibilizando mudas, substrato artesanal e ferramentas. Graças
a alguns convites internos foi possível trabalharmos em jardins de novos espaços,
sugerindo-se uma mudança na questão conceitual na criação de novos jardins no
Campus I da UPF. Questão traduzida por traçados mais orgânicos e informais, valori-
zação do germoplasma nativo e rústico, utilização de plantas perenes, nativas e/ou
espontâneas na região. Estivemos presentes com essas ideias nos novos jardins como
no jardim de esculturas da Faculdade de Artes e Comunicação (FAC); o pátio da Fa-
culdade de Educação Física e Fisioterapia (FEFF); o dos cinco continentes no Portal
das Linguagens; o de inverno da Biblioteca e os Jardins da Faculdade de Agronomia
e Medicina Veterinária (FAMV). Nesse, inclui-se integrar à histórica Aleia das arau-
cárias dos formandos em agronomia iniciada na década de 1970 com a trilha dos
cinco sentidos da Faculdade de Educação (Faed).
Em todos os momentos, busca-se cruzar o olhar da ciência com a arte no pla- 93
nejamento de jardins e na escolha de espécies ornamentais; na floricultura, uma pro-
dução com menos insumos, resgatando germoplasma nativo; e no paisagismo rural,
valorizar recursos naturais, APP’s e reservas legais.
Entre as práticas pedagógicas que já foram aplicadas nessa disciplina, cita-se a
análise da paisagem do Oratório da UPF, a análise da paisagem de Passo Fundo em
um tour em espaços rurais, periurbanos e urbanos; os ateliês de projeto paisagístico;
e as oficinas de jardinagens nos jardins da FAMV.
A análise da paisagem do Oratório consta de um exercício individual, em que
o acadêmico faz uma descrição sumária de suas percepções em um espaço bastante
artializado da UPF, a paisagem do entorno do oratório ecumênico. As anotações
eram digitadas e disponibilizadas a todos pelo sistema intranet. O objetivo era esti-
mular o olhar, analisando a paisagem, para que se ampliassem as visões.
Os ateliês de paisagismo são aulas práticas, envolvendo desde as técnicas bási-
cas de croquis e projeto em papel manteiga e vegetal, até a definição das estruturas
básicas e das espécies a serem utilizadas. Esse projeto é uma exigência individual
que busca o contato de cada um com a arte da projetação. Além do que, os interes-
sados em fazer prospectos para jardins dentro da UPF podem aplicar seus conheci-
mentos de topografia, por meio do levantamento topográfico, com Estação total do
Laboratório de Análise do Território e Topografia da FAMV.

Cláudia Petry
O atelier de paisagismo, realizado na disciplina de Ecofisiologia e manejo de
plantas ornamentais (e medicinais) do PPGAgro, no segundo semestre de 2007, por
quatro pós-graduandas (três biólogas e uma engenheira florestal) permaneceu mais
nos aspectos conceituais e filosóficos de um jardim dos cinco sentidos, da Faculdade
de Educação. O documento ainda está em andamento com vistas a ser submetido à
apreciação daquela unidade. No projeto, é previsto um jardim zen, uma trilha ecoló-
gica, uma ecoclasse e um jardim de contemplação, unidades básicas que permitam
a ampliação da discussão da educação ambiental para o jardim e o território. Esse
projeto servirá tanto à comunidade externa como aos futuros professores que atual-
mente estudam na Faed.
As oficinas de jardinagem buscam complementar a teoria do projeto com a
prática do jardinismo e da jardinagem. Ao solicitar um relatório final de todas as
atividades executadas e o cronograma estabelecido para cada canteiro, essa prática
estimula o grupo de alunos responsáveis pelo canteiro, de planejar às espécies e
executar o plantio, bem como todas as técnicas da manutenção (adubação, irrigação,
retirada de plantas invasoras). Essas oficinas foram inspiradas nas aulas práticas
(individuais) de Ecologia na Ecole Nationale Superieure du Paysage, de Versailles, na
França, que forma arquitetos paisagistas DPLG (diplomados pelo governo).
94 Por conseguinte, as aulas em paisagismo estimulam atividades de pesquisa e
extensão universitária em horticultura e paisagismo. Mais especificamente, citam-
-se os dois trabalhos de extensão realizados em Victor Graeff, os quais basearam-
-se no levantamento de plantas ornamentais e medicinais. Todos os trabalhos de
extensão foram realizados em viagens técnicas da disciplina aos jardins rurais do
município (Caminho das topiarias, flores e aromas, rota registrada na Secretaria Es-
tadual de Turismo), em contatos entre os alunos e a população com suas demandas.
O primeiro estudo foi o do Jardim rural de Delci Gnich, com a catalogação na época
(fevereiro de 2007) de 650 espécies de plantas, pelas acadêmicas Jucelâine Vanin e
Francieli Mariani. Essa necessidade surgiu na primeira excursão aos jardins rurais
de Victor Graeff, em outubro de 2005. O segundo trabalho foi o levantamento do
patrimônio paisagístico de topiarias da praça central Tancredo Neves, realizado em
julho de 2007, pelas acadêmicas Ana Cristina Trentin e Lidiane Malagutti, envolven-
do a catalogação de 656 ciprestes que constituem mais de 150 figuras geométricas e
simbólicas. A entrega desse projeto ao prefeito de Victor Graeff, Cláudio Alflen, foi
realizado em abril de 2008 (Figuras 12A e 12B). Foram feitas quatro excursões a esse
município, o qual também é o precursor em microbacias hidrográficas no país.

Práticas pedagógicas em paisagismo: construindo jardins nos espíritos e no espaço – o paisagismo na Agronomia
Figura 12: Vista da praça central Tancredo Neves de Victor Graeff. a) com trabalhos artísticos e
hortícolas em topiaria, as quais foram mapeados pelas acadêmicas Ana Trentin e Lidiane
Malagutti; b) entrega do Projeto de levantamento do patrimônio paisagístico da praça pela
professora Claudia Petry ao prefeito de Victor Graeff em 18 de abril de 2008

Fonte: da autora, 2008.

A prática de jardinagem propriamente dita iniciou no segundo semestre de 2005.


Durante as reformas do prédio da FAMV, considerado o mais antigo do Campus I da
UPF, da década de 1960, foi considerado importante fechar um lado da rua de acesso 95
para valorizar o pedestre, seja o transeunte, seja o aluno nos momentos de intervalos
das aulas. O Setor de Projetos da UPF criou calçadas com seis canteiros retangulares
em cima da antiga rua. Nesse momento, solicitamos à direção da FAMV que se pas-
sasse um subsolador, mas isso não foi realizado, o que gerou canteiros que são pra-
ticamente floreiras, quase impermeáveis após 20 cm de profundidade. No primeiro
semestre de 2005 os acadêmicos desenvolveram o estudo e as propostas para o design
original dos maciços a serem trabalhados nos seis canteiros dessa praça.
A nossa orientação inicial foi de não praticarem traçados extremamente geo-
métricos, visto que toda área já seguia essa tendência (seis canteiros retangulares em
praça com calçadas largas em forma de L). Também, outra recomendação é utilizar
o máximo de espécies floríferas anualizadas, de tal forma que permita a viabilidade
dessas oficinas no tempo, pois se fossem somente espécies perenes, diminuiria o
esforço do planejamento e de outras atividades ligadas à horticultura ornamental.
Os alunos mantêm o contato com jardins de espécies perenes situados dentro do
campus, justamente para fazer comparações de sustentabilidade e manejo.
Considerando que o jardim deveria ser visto pelo transeunte que desce de
carro a avenida principal (essa praça ocupa o final da avenida), tornou-se necessário
serem utilizados maciços mais longitudinais nos primeiros canteiros. Os acadêmicos
pedestres poderiam observar mais de perto os desenhos formados, ficando esses,
portanto com maior liberdade de traçado. Mesmo que no Brasil, a tendência é de fa-

Cláudia Petry
zer formatos geométricos (quadrados e redondos), esse nosso argumento baseou-se
na dificuldade de domesticar as formas de um jardim que troca de jardineiros a cada
semestre e que não será, necessariamente, manejado no período de férias universitá-
rias (3,5 meses ou mais de um quarto do ano).
Todas as atividades foram descritas em relatórios entregues pelos seis grupos
envolvidos na época. Os primeiros quatro canteiros (sentido avenida – FAMV ou
sul-norte) ficaram com grupos da graduação e os dois canteiros junto à porta e hall
de entrada do prédio ficaram sob a responsabilidade de dois grupos da disciplina
de Ecofisiologia e manejo de plantas ornamentais da pós-graduação em Agronomia
(Tabela 9).
Tabela 9: Acadêmicos participantes (da graduação e da pós-graduação em Agronomia) envolvidos
nas oficinas de jardinagem dos jardins da FAMV (UPF, Passo Fundo, 2008)

Semestre alunos da graduação alunos da pós-graduação n. de canteiros

2005-II 20 13 6
2006-I 45 - 6
2006-II 21 - 6
96 2007-I 40 - 7
2007-II 39 4 8
2008-I 47 9
Subtotais 212 17 9
Fonte: da autora.

Desde o segundo semestre de 2005 até o primeiro de 2008, sexto semestre se-
guido das oficinas, 229 alunos estiveram envolvidos nos canteiros, que passaram de
seis para nove, em função do número crescente de acadêmicos da Agronomia. Fo-
ram incorporados a esses da praça da Agronomia um canteiro situado em frente ao
prédio H1, da pós-graduação em Agronomia e um segundo situado no pátio interno
da FAMV, hoje em formato de cuia (Figura 13F). Nesse semestre foi incorporado o
terceiro, a partir de abril de 2008, no lado norte da praça da Agronomia. Trata-se de
uma proposição bastante autônoma, do grupo de sete alunos do semestre, liderados
pelo acadêmico Rodrigo Backes. O grupo organizou desde o projeto, a aquisição
do material, o plantio e a elaboração da maquete do estado do Rio Grande do Sul
em autorelevo, o feitio e a pintura em concreto do símbolo da agronomia. Todos os
detalhes técnicos foram discutidos previamente conosco e com a direção da FAMV,
mas o grupo demonstrou um grande empenho na iniciativa de completar com mé-
rito os trabalhos idealizados (Figuras 13A, B e C). O canteiro número 6 (do sentido

Práticas pedagógicas em paisagismo: construindo jardins nos espíritos e no espaço – o paisagismo na Agronomia
sul-norte) foi considerado o mais trabalhoso, pois são 18 m² de solo descoberto. Esse
é o único que tem a proposta de não ser recoberto com grama, justamente para am-
pliar a experiência da turma sobre os efeitos positivos e as desvantagens da grama,
presente nos outros maciços. Por isso, é comum estudarmos a incidência de plantas
invasoras (Figura 13E) e nos espaços livres busca-se manter a letra “A” (Figura 13D)
de agronomia, tendo como passe-partout a forração areia, visto ser mineral e barata,
posta em uma manta geotêxtil, favorecendo a infiltração da água da chuva.
Estima-se um consumo de 1.400 plantas nesse primeiro semestre de 2008.
Como a média é de 150 plantas por canteiro, começou-se o trabalho com cerca de 900
mudas na primeira oficina, realizado no segundo semestre de 2005. Essas mudas,
oriundas do Viveiro de mudas da FAMV-UPF, situado no Cepagro, foram produzi-
das pelo funcionário Maximino Nunes, com o apoio de Solange da Silva e Leonardo
Mércio, além dos estagiários voluntários da agronomia.

97

Cláudia Petry
Figura 13: Preparação de um novo canteiro (canteiro 7) na praça da Agronomia em três momentos.
a) 3 de abril de 2008 – fase de projeto e colocação do material de base (pedras e solo
mineral); b) 4 de abril de 2008 – preparo do canteiro maquete do Rio Grande do Sul; c) 9
de maio de 2008 – grupo envolvido na instalação do símbolo da Agronomia; d) canteiro
6 – antes das intervenções (3/04/2008) e após as intervenções pelo grupo de acadê-
micos (9/05/2008); f) grupo 9 – criação de um símbolo regional (cuia) ao seu canteiro
(25/04/2008) (FAMV, UPF, Passo Fundo, 2008).

98

Fonte: da autora.

Práticas pedagógicas em paisagismo: construindo jardins nos espíritos e no espaço – o paisagismo na Agronomia
Inicialmente gostaria de explanar as virtudes de um trabalho amplo e desafia-
dor como este. É fundamental contar com o apoio da Direção da Unidade, na qual
se está vinculado, manifestado por meio da compreensão da envergadura de tal
projeto em longo prazo. Isso permite que haja uma atividade funcional e integrada
(no nosso caso, o Viveiro proporciona o apoio às atividades de ensino, pesquisa e
extensão), realizada com satisfação. Espera-se em um futuro próximo, explorar as
afinidades já existentes, mas incipientes, com os setores administrativos da institui-
ção que lidam com essas questões projetuais e de manutenção do paisagismo.
Entre os méritos, percebe-se que pelo fato de ser uma oficina pedagógica, ain-
da é possível errar, e essa compreensão ameniza o processo de aprendizagem. Há
momentos que se calcula erroneamente o número de mudas necessárias. Então, se
faltar mudas, busca-se o restante no Viveiro. Se for superestimado, é possível devol-
vê-las ou remanejá-las para outro jardim da UPF ou para outros locais, permitindo
ao aluno visualizar o desenvolvimento de mudas de mesma idade em situações dife-
rentes. Remanejar o excedente em um projeto real, muitas vezes, é impossível de ser
feito, gerando ônus para o projetista. Desperdício de insumos como adubos, além
de onerosos, têm efeitos poluidores sobre o meio ambiente. O não uso de produtos
químicos fitossanitários e herbicidas também é um desafio aos alunos da oficina. 99
Praticar as funções da jardinagem permite ao aluno incorporar conhecimen-
tos empíricos juntamente com os teóricos. Assim, será mais fácil para ele comandar
essas atividades quando graduado. Entretanto, é prática mais acurada, pois há um
cruzamento de informações a respeito de solo e de adubação, interpretação da análi-
se de solo, conhecimento do microclima local e manejo básico da irrigação (e da ini-
ciativa de o fazer, pois se não molhar, as plantas morrem, e sob sua responsabilida-
de). Enfim, há o processo criativo, mas dentro das possibilidades existentes, com as
ferramentas e material vegetal e mineral da FAMV. Tudo isso, realizado na frente do
prédio, sob os olhares dos colegas e demais integrantes da comunidade acadêmica.
Dentre as principais falhas, algumas passíveis de serem resolvidas, encontra-
-se um curto período de tempo para cada grupo trabalhar e aprofundar-se nas ques-
tões emergentes. Isso proporciona um resultado não homogêneo, mas, também,
atende nossas expectativas em relação ao processo pedagógico, visto que se trata de
um jardim de práticas e de processos e não, absolutamente, de um jardim-resultado.
Conseguimos valorizar o processo, embora nem sempre o pedestre e os próprios
funcionários da Instituição podem não compreender esse aspecto pedagógico.
Dentro dessa nuance, citamos a presença de pitocos de cigarro jogados nos
canteiros em frente à entrada do prédio da FAMV (canteiros 5, 6 e 7 no sentido sul-
-norte). Embora existam lixeiras (no mínimo quatro espalhadas no local), os fuman-

Cláudia Petry
tes não tem respeito com o espaço público, pois são retiradas centenas de pitocos
por semana no local. Espera-se que pelo fato de o fumante acadêmico de Agronomia
também precisar limpar, esse possa dar-se conta do quanto poluente e incômodo é o
ato de jogar lixo no chão.
Enfim, fazer da prática do planejamento de jardins pelos acadêmicos uma re-
flexão relacionada à constante interferência do homem na paisagem é a proposta
deste trabalho. Nem que se trate de micropaisagem, pois antes de ser um paisagista,
o egresso já é cidadão, com uma moradia e, consequentemente, com um jardim resi-
dencial ou uma sacada para vegetalizar.

100

Práticas pedagógicas em paisagismo: construindo jardins nos espíritos e no espaço – o paisagismo na Agronomia
Conclusão

A
proposta deste trabalho é chamar a atenção para a importância
da profissão, sobretudo do engenheiro agrônomo na melhoria da
qualidade de vida do ser humano – cidadão integrado em suas
paisagens – rural ou urbana, entretanto, tal prática é responsabi-
lidade de todos, independente da escolha profissional. Algumas constata-
ções dos habitantes paisagistas: há mais de 70 mil chácaras (as residências
secundárias) em torno de São Paulo; o mercado da floricultura continua
crescendo 17% ao ano (o consumo interno é de U$4,7 bilhões e o Brasil
exporta U$25 milhões para o mercado mundial de U$ 44 bilhões/ano no
varejo); citando apenas o sul do Brasil, sabe-se que o gaúcho é o maior
consumidor per capita de flores num Brasil que consome R$23,00 per capita,
além disso, é o gaúcho que ainda importa mais de 80% desses produtos.
Diante disso, faz-nos refletir que Curitiba é considerada capital ecológica
e recebeu prêmio Habitat da ONU pela qualidade (e quantidade) de seus
espaços verdes; que todas as “cidades-jardim” têm um maior atrativo turís-
tico (Blumenau, Gramado, Victor Graeff). Esse produto visual é desenvol-
vido na Agronomia por meio do estudo do paisagismo: estilos e elaboração
de jardins, praças, parques e projetos de arborização urbana e rodoviária.
O engenheiro agrônomo, graças ao seu conhecimento relacionado à botâ-
nica e à ecofisiologia vegetal é um excelente horticultor. Essa mistura de
ciência e arte – a horticultura – trabalha com a produção de flores, de plan-
tas medicinais, de plantas frutíferas e de plantas olerícolas, até sua aplica-
ção no hortus, no jardim. Desde a produção da muda até o consumo, ou a
utilização dessa em paisagismo pelo cidadão, a cadeia cumpre inúmeras
funções sociais como o aumento da oferta de empregos (até dez pessoas/
ha), o engajamento com projetos de cunho social e filantrópico (jardins de
asilos, creches, escolas, etc.), alternativas de terapia ocupacional com gera-
ção de renda e produto (jardins operários e sociais); além da valorização do
espaço periurbano e do resgate de valores espirituais por meio do contato
com a natureza. Anterior a essa aplicação prática e direta no meio urbano,
deve-se tentar resgatar a formação do engenheiro agrônomo com uma vi-
são integrada do manejo do espaço rural, de preferência em sistemas agroecológicos,
que auxiliam na criação e depois na identificação de paisagens rurais típicas. Essas
paisagens identitárias locais, além de auxiliar e estabelecer laços afetivos das pesso-
as com seus lugares preferidos sugerem temas para visitação. Na França, esse valor
imaterial do território, a paisagem, é o maior responsável pelo sucesso do turismo
internacional do país. Portanto, ao considerar o turismo não apenas um produto,
mas um processo, aceita-se que todos estão envolvidos em tempo integral. Por onde
começar? Valorizar-se ao valorizar as diferenças culturais expressas nas paisagens e
jardins; estar atento aos outros tantos olhares para o território (histórico, geográfico,
social, filosófico e artístico, dentre outros), compartilhar os conhecimentos gerais
cultivando a prática da assistência técnica especializada, além de fomentar o associa-
tivismo, entendido aqui como práticas da agricultura urbana dos jardins operários
e sociais, além dos grupos de floricultores. Destaca-se a importância de respeitar
a simbologia cultural e o traço vernacular de cada lugar expresso por meio dessas
paisagens. Afinal, nos dias atuais, está em voga ser um ativista das paisagens de
elevada autoestima.
Todas as informações (e imagens) que procurei apresentar, ao longo deste con-
vívio na disciplina de Paisagismo, constituem-se em um acervo para aqueles que
102 gostariam de prosseguir nesse ramo profissional. Se conseguir motivar-lhes para ir
em busca de mais informações, a disciplina já cumpriu com seus objetivos. A com-
preensão da abertura de perspectivas que se tem ao trabalhar com paisagens justi-
fica os aspectos introdutórios que tentamos passar no período acadêmico. Buscar
leituras complementares e formações extracurriculares, assim como realizar estágios
com profissionais qualificados tem demonstrado ser a melhor forma de aperfeiçoa-
mento, não importando qual área profissional escolhida. Especificamente relaciona-
do ao paisagismo, salientamos constantemente o caráter interdisciplinar desta área,
o que justifica amplamente a necessidade de dinamizar as informações obtidas por
meio da constante atualização de forma autodidata e da troca de informações com
profissionais de outros domínios do conhecimento.
Circular em outras áreas e mostrar-se aberto a novas informações e pontos de
vista é o fruto da tolerância disciplinada e da prática da solidariedade e da cidada-
nia. Permitir-se escutar outras opiniões, ler diferentes assuntos, assistir bons filmes,
enfim, ser perspicaz, tentando selecionar as informações mais adequadas e menos
preconceituosas são algumas das atitudes e escolhas que demonstram uma sábia
busca da interdisciplinaridade e do sossego na vida. Para compreender melhor o
que as paisagens podem nos fazer projetar (e, consequentemente realizar) precisa-
mos estar com os olhos, com o coração e com o corpo desperto para as sensações
que a riqueza do ambiente dessas paisagens venham nos proporcionar. Sensações
e percepções que, muitas vezes, não podem ser descritas, no máximo sentidas e em

Paisagens e paisagismo: do apreciar ao fazer e usufruir


um processo individualizado. Portanto, se o aporte desses conhecimentos ajuda-
-nos a cultivar a sensibilidade de olhar, de ver ao redor a riqueza das imagens, de
sentir o quanto as coisas podem ser bonitas ou bem conservadas, somente assim
acreditamos que contribuímos para a valorização da paisagem. O potencial de ver e
de compreender a beleza dos entornos de onde vive e atua está dentro de cada um
e esse potencial é único e especial. Usufruir desses conhecimentos contribui para o
enriquecimento do paisagismo e das paisagens criadas.
Além da potencialidade de criar imagens territoriais que deem identidades
regionais, criando roteiros turísticos e movimentando a economia regional, o pai-
sagismo proporciona a atenção aos detalhes, as imagens do nosso mundo privado,
carregando noções de alteridade e de amor próprio das culturas instaladas nesses
territórios. Um pequeno jardim em frente à nossa casa, com anões e sálvias (alegrias
de jardim) pode dizer sobre nós mesmos muito mais do que imaginamos. Os ha-
bitantes paisagistas estão criando mundos imaginários em seus pedaços de pátios
porque não tem outros lugares para expressarem suas sensibilidades. Desse modo,
jardins familiares, no primeiro mundo, são aqueles terrenos públicos onde associa-
ções de moradores (principalmente de baixa renda) cultivam, de forma comunitária,
legumes, frutas, flores e sonhos. Muitos necessitados e carentes, afetiva e espiritual-
mente continuam esperando ações de carinhos em paisagens de orfanatos, asilos e 103
hospitais. Paisagens de memória poderiam simbolizar e artializar momentos históri-
cos de antigas batalhas, de antigas aldeias indígenas, de tantos instantes importantes
que se perderam nas poeiras do tempo. Momentos históricos também das gentes
humildes, gente que transpira prática e conhecimento popular. Não se pode mais
priorizar somente os momentos históricos de elites pensantes e diletantes. Tudo é
motivo para refletir e avançar, discutir e compartilhar. O que será que precisaríamos
para resgatar ou melhorar as paisagens da realidade brasileira, e, mais especifica-
mente, para a realidade do Planalto médio gaúcho? Cada um de vocês deve encon-
trar entre as folhas de livros e a imaginação outras respostas. O mais importante
talvez seja que esse conhecimento que será trazido ao mundo seja mesclado com um
olhar sensível – ao mesmo tempo, de admiração do bonito, do justo socialmente e do
ecologicamente sustentável.

Cláudia Petry
Referências

ABBUD, Benedito. Criando paisagens: guia de trabalho em arquitetura paisagística. 2. ed. São Pau-
lo: Senac, 2006.

ANTONINO, José. Dibujando el paisage. Barcelona: Ed. CEAC, 1980.

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109

Cláudia Petry
Apêndices
Apêndice 1

Instrumento Atitudes e percepções da


paisagem

Situação objetiva do observador: Atitude mental do observador:


– observador de passagem – atitude racional: paisagem, quadro de
(turista...) ou permanente. vida a construir com método
– citadino ou rural – atitude tradicional: paisagem, quadro
– faixa etária do observador de vida produzido involuntariamente
– originário do lugar ou não pelo homem.
– na ativa/ ou aposentado – atitude cultural: paisagem, quadro
– nível e tipo de estudos afetivo reenviando a imagens idílicas
(Éden, lugares românticos, agricultura
tradicional...)
 

PERCEPÇÃO da PAISAGEM
 111
REAÇÃO DO OBSERVADOR:
– protetora/defensiva
– corretora
– harmonizadora
– resignada
– de desinteresse

Diren, Lorraine. Pos et paysages: guide methodologique permettant d’intégrer les préoc-
cupations paysagères dans les POS. In: Prefecture de Lorraine. Lorraine, Diréction Regionale de
l’Environnement (DDE 54, 55, 57, 58), 1998. p. 14 .

Cláudia Petry
Apêndice 2

Instrumento da análise do lugar ao projeto de


paisagem
I ) Organização do procedimento (análise sensível)
Expectativa observada Projetos públicos Princípios de
Elementos paisagísticos Interesse/
quanto à legibilidade ou à e privados proteção/
estruturantes sensibilidade
coerência conhecidos valorização possível
Geomorfologia/ subsolo
Hidrografia
Vegetação
Ocupação do sitio
Economia e paisagem

112 II) Modo operatório – Do Plano de ocupação do solo (POS) – ou outra norma/lei – levando em consi-
deração estas preocupações paisagísticas:

Princípios de Disposições do POS


Elementos paisagísticos proteção/ Ações de
Regulamento
estruturantes valorização pos- Documentos acompanhamento
síveis gráficos
Prescrições Exceções Recomendações

Geomorfologia/ subsolo

Hidrografia

Vegetação

Ocupação do sítio

Economia e paisagem

• Nas colunas “Princípios de proteção/valorização...” e “Ações de acompanha-


mento” são os consultores que vão indicar propostas. O restante é retirado de
observações (análise de sitio, diagnóstico e de dentro das leis e normalizações).
A seguir, um exemplo de análise da paisagem, de dois locais, a partir de arti-
gos científicos.

In: Prefecture de Lorraine, 1998 (Prefecture de Lorraine, Pos et paysages : guide methodologique
permettant d’intégrer les préoccupations paysagères dans les POS. Lorraine, Diréction Regionale de
l’Environnement [Diren Lorraine] 1998, p. 38-42)

Paisagens e paisagismo: do apreciar ao fazer e usufruir


Apêndice 3

Exemplo de análise

Análise de dois artigos de ecologia da paisagem: exemplos de aplicação de


duas propostas de princípios de proteção/valorização possíveis e ações de acompa-
nhamento para a paisagem de dois locais rurais distintos (Paisagismo, FAMV, UPF,
abr 2004).
Princípios de proteção/valorização
Ações de acompanhamento
Terras coloniais no PR Terras indígenas no RS

Analisado em função do uso Leitura do relevo em quatro Aplicação de técnicas adequadas


da terra, então estimular a patamares: cada unidade de uso e conservação do solo; va-
Geomorfologia utilização de técnicas con- tem um perfil e um tipo de lorizar o visual do relevo com bel-
subsolo servacionistas nas lavouras; ocupação. vederes e trilhas de descoberta.
diminuir uso de insumos
(que poluem). 113
Com técnicas conservacio- Preservar a quantidade/ qua- Aumentar a diversidade e quan-
nistas diminuir a chegada lidade desse recurso natural tidade de exemplares nas matas
de poluentes químicos e renovável através de técni- ciliares e florestas nativas; Dimi-
Hidrografia sedimentos de solo nos rios cas conservacionistas ade- nuir o uso de insumos agroquími-
(mata ciliar, forrações pere- quadas aos sistemas extrati- cos; uso de gestão diferenciada e
nes de baixo porte...). vistas e de produção agrícola do controle integrado.
indígenas.

Aumentar as matas ciliares; Identificar espécies existen- Enriquecer as áreas com vegeta-
enriquecer as florestas; es- tes e espécies utilizadas; ção arbórea; aumentar as rotações
Vegetação timular rotações com espé- manter e proteger a floresta de cultura e estimular o uso de es-
cies mais adaptadas. nativa e enriquecê-la com es- pécies mais adaptadas e relacio-
pécies úteis à comunidade. nadas às culturas humanas locais.

Detectar a evolução da ocu- Detectar a localização e dis- Valorizar os “lugares da memó-


pação do sitio em varias tribuição dos “lugares da me- ria”, sejam sítios arqueológicos
escalas: região, município, mória” dos índios: cemitérios, ou espaços que demonstrem a
lotes rurais. Na zona rural, roças (rotações?), aldeias, evolução da ocupação do territó-
Ocupação do distribuição foi: “aldeia” ou hortas e lugares simbólicos. rio rural; divulgar a organização
sítio comunidade, “picada” ou de desta produção rural, com todos
forma aleatória esparsa? os produtos ali oriundos; divulgar
No lote, qual a distribuição especificidades culturais e dife-
das construções e das áreas renças regionais.
produtivas?

Avaliar se a trilogia agrária Há o predomínio de florestas; Divulgar as formas de ocupação,


esta presente e como essa então conservar e aumentar respeitadoras das florestas e vár-
foi distribuída? Valorizar a a biodiversidade local com zeas nativas remanescentes, e
Economia e
distribuição em mosaico. Me- sustentabilidade, para que conciliadoras com a exigência da
paisagem
lhorar acessos, proporcionar esta paisagem seja também produção rural e da sobrevivência
belvederes, caminhos e tri- viável economicamente. destes povos nestes pedaços de
lhas com indicações. território.

Cláudia Petry
Paisagem rural (agrícola e Faxinal) com Paisagem natural com pedaços de
Tipos de paisagem
paisagem natural paisagem rural

Unidades de paisagem

Preservar florestas naturais e várzeas rema- Buscar compreender o uso cultural do


nescentes, por meio da integração de infor- meio ambiente e seus recursos (por
mações com métodos de análise ambiental; meio da etno-paisagem), com a iden-
Objetivos
em uma gestão participativa que concilie tificação de unidades de paisagem e
ambiente (biodiversidade) e desenvolvimento com a aplicação de uma gestão sus-
(econômico). tentável.

114

Paisagens e paisagismo: do apreciar ao fazer e usufruir


Apêndice 4

Questionário prévio na instalação de jardins:


desejos e expectativas dos usuários

Para fazer a distribuição das áreas básicas e funcionais que o jardim terá, é ne-
cessário que o usuário, com a ajuda do projetista, responda:
• distribuição espacial (que lazer ou qual atividade aonde?) que permitira
distribuir a área em espaços menores estrategicamente distribuídos con-
forme o uso predestinado;
• plano de massas: (a) onde passarão os caminhos? (b) Quais as perspecti-
vas a serem valorizadas e aquelas a serem escondidas? Com esses quesi-
tos podem-se construir os espaços, marcando áreas livres e definindo os
espaços construídos ou intensamente vegetados;
• distribuição da circulação: retomam-se as linhas condutoras da circulação 115
como espaços livres e abertos;
• escolha e definição dos elementos arquitetônicos e vegetais do jardim:
o cliente tem vários anseios em relação à área funcional e lúdica de seu
jardim, os quais buscam captá-los com um questionário e entrevistas/
depoimentos. O importante é aliar a beleza e o simbólico aos aspectos
funcionais. Em seguida, uma lista de possibilidades em elementos de jar-
dim (público ou privado).
Para a distribuição espacial, é interessante o cliente assinalar e anotar tudo o
que lhe interessa no quadro abaixo em relação ao diferentes tipos de lazer:
• lazer contemplativo: predomina a beleza plástica, apreciada preferencial-
mente de forma individualizada. Buscar valorizar os cinco sentidos: en-
xergar uma folhagem exuberante, tocar texturas diferentes, escutar o can-
to dos pássaros ou da água em movimento; sentir perfumes agradáveis; e
experimentar algum fruto. O que nos poporciona: quietude, valorização
da paz e silêncio interior, descanso mental e bem-estar, diminuindo o rit-
mo estressante que causa tensões;
• lazer recreativo: ao proporcionar atividades e movimentos lúdicos ou ex-
perimentais, proporciona terapias ocupacionais a todas as faixas de ida-
de, promovendo a integração social de seus usuários;

Cláudia Petry
• lazer esportivo: garantindo áreas para a realização de atividades físicas,
traz benefícios para a saúde e o bem-estar físico;
• lazer cultural: espaços para manifestações culturais ou de expressão
cultural;
• lazer gastronômico: recompensa psicológica pelo paladar;
• atividades funcionais: locais para as atividades que permitem um bom
funcionamento e organização do cotidiano de uma casa.

Sugestões de compo-
Tipos de lazer Propostas N S S Local (onde?)
nentes e estruturas

Belvedere a ser valorizado:

Ex.: flores em redor;


ou folhagem verde;
ou água (fontes...);
Banco p/ meditar
ou pedras;
outros:

Lazer contemplativo Área de estar ao ar livre:


madeira
acrílico
116 Pérgola: bambu
c/ trepadeira vegetal

Outro:

caixa de areia:
balanço:
Playground escorregador:
gangorra:
Outros:

que tamanho?
Piscina que material?
Lazer recreativo
p/ correr:
pega-pega;
Área livre peteca;
mira p/ arco e flecha;
mira p/ bodoque;
Outros:

Recanto de passatempos mesa de xadrez

cesta de basquete;
Mini-quadras vôlei de praia;
(em grama futsal;
Lazer esportivo ou areia) ping-pong;
outros:

Trilhas ecológicas

Paisagens e paisagismo: do apreciar ao fazer e usufruir


instrumentos (piano...);
Área p/ apreciação musical órgão de bambu;
Lazer cultural
Outros:

juego de la oca/ ludo;


via sacra;
Caminhos iniciáticos
percurso pl. medicinais

capim santa-fé;
madeira;
cerâmica;
Quiosque
pano;
bambu;
outros:
Churrasqueira

Barbecue
Lazer gastronômico
Canto da Fogueira

Disco (p/ bife)

Canteiro de verduras

Canteiro de aromáticas

Canteiro de medicinais
117
Área p/ secagem de roupas

Area p/ quarar roupas

Canil

Atividades funcionais Horta

Pomar

Horto de medicinais

Canteiro de flores de corte

Cláudia Petry
Características de estilos preferidos de jardim
Estilo S/N* S/N* Razões de escolha
FORMAL:
Egípcio
Grego
Romano
Persa
Cottage
Italiano
Francês
Outro:
INFORMAL:
Chinês
Japonês
Indígena
Inglês
Paisagista
Permacultural

118 Selvagem
Planetário
Regenerativo
Outro:

A primeira coluna S/N se refere à expressão da vontade de ter ou não algum destes 28 grupos de ele-
*

mentos. A segunda coluna S/N vai esmiuçar então qual o elemento especifico daquele grupo escolhido
(se quer água, qual a forma da água aparecer? Fonte? Chafariz? Etc.).

2 e 3) Plano de massas: (a) Onde passarão os caminhos? (b) Quais as perspecti-


vas a serem valorizadas e aquelas a serem escondidas? Com esses quesitos podem-
-se construir os espaços, marcando áreas livres e definindo os espaços construídos
ou intensamente vegetados.

Paisagens e paisagismo: do apreciar ao fazer e usufruir


Croquis dos caminhos:
4) Escolha a definição dos elementos arquitetônicos e vegetais do jardim.
• Elementos arquitetônicos:
Elementos
S/N* Tipo de material S/N* Obs.
arquitetônicos
Pedras
Dormentes
Ladrilhos
Troncos
Escadas Bolachas de madeira
Gramadas
Floridas
Outro:

Fontes
Piscinas
Tanque decorativo
Lago
Chafariz
Córrego pedregoso
Espelho d’agua
Água Cascata
Bebedouro avifauna
119
Bacias
C/ Plantas aquáticas
C/ Peixes
C/ Tartaruga
C/ ponte

M. Vazados
M. floridos
M. vegetais verticais
Cerca de madeira roliça
Cerca de ripas
Dormentes
Moirões tratados
Tijolos
Muros e muretas
texturizados Pedras
Taipas
Ladrinhos
Azulejos portugueses
Bambu
Pano
C/ vasos meia-parede
C/ placas para epífitas

Cláudia Petry
Cobertura de capim
Telha colonial
Quiosque
Tenda
Ombrelone (guarda-sol)
Madeira
Acrílico
Pérgolas Ferro
Outro:

Ferro
Portões, portas e Madeira
passagens Arame

Clássicas
Espantalhos
Esculturas Duendes
Originais

Pedras
Dormentes
Pedrisco
Brita
Pó de brita
Caminhos Areia
120 Concreto
Bolachas de madeira
Placas
Casca de pinus

C. interna
C. externa
Barbecue
Churrasqueiras e Disco (p/bife)
similares
Forno colonial
Forno à lenha
Outro:

Outro:
Terraços

Belvederes Outro:

Outro:
Estacionamento

Pedras
Torinhas
Floreiras perma- Metálicas
nentes
Madeira
Outro:

Apêndice
Cerâmica
Concreto

Vasos e jardineiras Vidro


Madeira
Plástico

Pedras naturais Outras:

Troncos de árvores Outras:


mortas
Canil Outro:

Ranário Outro:

Poste
Luminária
Iluminação deco- Refletores
rativa
Lanterna japonesa
Outro:

Pluviômetro
Relógio de sol
Termômetro

121
Barômetro
Mini-estação mete-
orológica Catavento
Biruta
Luneta
Casa de ver a lua

Casas de madeira
Porongos
Abrigos para avi- Bebedouros p/ pássaros
fauna
Comedouros p/ passaros
Outro:

Madeira trançada
Tela metálica
Bambu
Armações para
trepadeiras Treliça
Vime trançado
Outro:

Madeira

Mesas e cadeiras Acrílico


Plástico

Cláudia Petry
Pedras
Dormentes
Cadeira de balanço
Assentos originais Chaise longue
Redes de descanso
Bancos
Outro:

C/ madeira cor natural e tratada


Playground: C/ madeira regular colorida
Em ferro tradicional

Brinquedo casa de Em madeira


boneca Plástica colorida

Brinquedo vaca Madeira


parada Outro:

Pedriscos brancos
Pedriscos texturizados
Seixo rolado

Forrações inertes Resíduo de granito


122 Pó de brita
Cinasita
Casca de pinus

Varal de secagem Madeira


de roupa Metal
Construída com tijolo
Comosteira Plástica
Área designada
Plástica
Cisterna Caixa d’água
Tonel de metal

Outros:

Paisagens e paisagismo: do apreciar ao fazer e usufruir


• Elementos vegetais:
Elementos vegetais S/N Espécies e preferências No Obs.

Árvores isoladas preferência

Quebra-vento e cortinas vegetais espécies

Bosque e bosquetes espécies


Maciços de arbustos floríferos com
espécies
forte cromia
Jardim de coníferas espécies

Cercas vivas espécies

Arbustos em “topiaria” espécies

Jardim de gramíneas espécies

Jardim de bambus espécies

Jardim de palmeiras (tropical) espécies

Jardim de espécies nativas espécies

123
Jardim de Plantas medicinais espécies

Hortas (verduras e condimentos) espécies

Jardim de flores de corte espécies

espécies rupestres
espécies tropicais
Jardins de pedras bromélias
floríferas
cactáceas e suculentas
por herbáceas

Taludes recobertos por trepadeiras/pendentes

outros:

Pequenos pomares espécies

Tapa-muro vegetal (“muro verde”) espécies

Orquidário espécies

Viveiro de plantas carnívoras espécies

Viveiro de plantas raras espécies

Viveiro de Cactáceas e suculentas espécies

Coleção de bonsais espécies


Bordaduras mistas (mix board) espécies

Cláudia Petry
gramado uni-específico
parelho
gramado com alturas
diferentes
gramado com combina-
Tapete verde (tapis vert) ção de varias espécies
(pradaria)
c/ variegatismo
forrações perenes
outras:

espécies frugivoras
Espécies que alimentam a avifauna
(pássaros, beija-flores...) espécies floríferas (néctar)

espécies frugivoras
Espécies que alimentam borboletas
espécies floríferas (néctar)

Espécies melíferas espécies

Espécies da infância espécies

Espécies funcionais bem adaptadas

124

Paisagens e paisagismo: do apreciar ao fazer e usufruir

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