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Fundamentos da

Avaliação de Impactos Ambientais


com estudo de caso

Autores:
José Aldo Alves Pereira
Luís Antônio Coimbra Borges
Ana Carolina Maioli Campos Barbosa
Rosângela Alves Tristão Borém

1a Edição

Lavras
2014

Lavras
2014
© 2014 by José Aldo Alves Pereira, Luís Antônio Coimbra Borges, Ana Carolina Maioli Campos Barbosa e
Rosângela Alves Tristão Borém, 1a edição: 2014.

Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, por qualquer meio ou forma, sem a autorização escrita e
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Direitos de publicação reservados à Editora UFLA.

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Conselho Editorial: Renato Paiva (Presidente), Brígida de Souza, Flávio Meira Borém, Joelma Pereira e Luiz
Antônio Augusto Gomes
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Revisão de Texto: xxxxxxxxxxxxxx


Referências Bibliográficas: xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
Responsável Editorial da publicação: Ewerton de Carvalho
Capa: Ewerton de Carvalho
Fotografias: ?

Ficha Catalográfica Preparada pela Divisão de Processos Técnicos da


Biblioteca da UFLA
AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem inicialmente às agências de fomento, em especial


à FAPEMIG pelo apoio à editoração e impressão desta obra e ao CNPq pelo
financiamento de uma bolsa de pós-doutoramento.
À Universidade Federal de Lavras (UFLA) pela oportunidade de executar
este trabalho.
À Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) pela oportunidade em
desenvolver o pós-doutoramento do prof. José Aldo Alves Pereira, sendo este livro
produto deste aperfeiçoamento acadêmico.
Aos Programas de pós-graduação em Engenharia Florestal (PPGEF/
UFLA) e em Biologia Vegetal (PPGBV/UFMG) por promover a ciência e o
desenvolvimento das pesquisas em Avaliação de Impactos Ambientais.
Aos pesquisadores e estudantes de pós-graduação da disciplina de
“Avaliação de Impactos Ambientais” do PPGEF/UFLA envolvidos no estudo de
caso que enriquece esta obra.
Aos nossos familiares que sempre nos apoiaram e contribuíram neste
desafio gratificante de construir este livro.



APRESENTAÇÃO..................................................................................................... 9

1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 13

2. BASE HISTÓRICA DA AIA E EVOLUÇÃO DA


POLÍTICA AMBIENTAL NO BRASIL..................................................... 17
2.1. A Evolução dos Movimentos Ambientais e o Surgimento da AIA.............................. 19
2.2. Histórico da Proteção Ambiental no Brasil................................................................ 22
Sumário

2.3. AIA e Política Ambiental no Brasil............................................................................ 25


2.3.1 A Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA).................................................... 26
2.3.2 Estruturação institucional do meio ambiente no Brasil: entendendo o SISNAMA.. 26
2.3.3. O papel do CONAMA.......................................................................................... 30
2.3.4. Reorganização Institucional das Políticas Ambientais............................................. 34
Criação do IBAMA e seu papel institucional: 1989................................................ 36
Criação do MMA: 1992........................................................................................ 38
Lei de Crimes Ambientais: 1998............................................................................ 39
Serviço Florestal Brasileiro: 2006........................................................................... 39

3. CONCEITOS E PRINCÍPIOS UTILIZADOS NOS ESTUDOS


DE IMPACTOS AMBIENTAIS..................................................................... 43
CONCEITOS................................................................................................................. 44
3.1. Meio Ambiente......................................................................................................... 44
3.2. Recursos Ambientais................................................................................................. 45
3.3. Desenvolvimento Sustentável.................................................................................... 45
3.4. Impacto Ambiental................................................................................................... 46
3.5. Poluição.................................................................................................................... 46
3.6. Poluidor.................................................................................................................... 47
3.7 Degradação ............................................................................................................... 47
3.7.1. Degradação da Qualidade Ambiental..................................................................... 47
3.8. Recuperação.............................................................................................................. 47
3.9. Reabilitação ............................................................................................................. 48
3.10. Restauração ............................................................................................................ 48
3.10.1. Revitalização........................................................................................................ 48
3.11. Avaliação de Impactos Ambientais.......................................................................... 48
3.12. Área de influência de Empreendimentos................................................................. 49
3.13. Medidas Mitigadoras............................................................................................... 50
3.14. Medidas compensatórias......................................................................................... 51
3.15. Termo de Ajustamento de Conduta (TAC)............................................................. 52
3.16. Ação, Aspecto e Impacto Ambiental........................................................................ 52
3.17. Estudos Ambientais................................................................................................. 53
3.18. Estudo de Impacto Ambiental (EIa)........................................................................ 53
3.19. Relatório de Impacto Ambiental (RIMA)................................................................ 55
3.20. Plano de Controle Ambiental (PCA)....................................................................... 56
3.21. Relatório de Controle Ambiental (RCA)................................................................. 56
3.22. Plano de Recuperação de Áreas Degradadas (PRAD).............................................. 56
3.23. Regularização Ambiental......................................................................................... 57
3.24. Licenciamento Ambiental....................................................................................... 57
3.25. Licença Ambiental.................................................................................................. 58
3.26. Zoneamento Ecológico-Econômico (zee)................................................................ 59

4. MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS ........ 61


4.1 Introdução................................................................................................................. 62
4.2 Classificação Qualitativa e Quantitativa de Impactos Ambientais............................... 64
4.3 Principais Métodos de AIA......................................................................................... 66
4.3.1 Método Espontâneo (Ad Hoc)................................................................................ 66
4.3.2 Método da Listagem de Controle (Checklists)......................................................... 67
4.3.3 Método das Matrizes de Interação........................................................................... 78
4.3.4 Método das Redes ou Diagramas de Interação (Networks)...................................... 81
4.3.5 Método da Sobreposição de Mapas (Overlay Mapping).......................................... 84
4.3.6 Método dos Modelos Matemáticos ou de Simulação............................................... 87
4.4 Critérios para a Seleção da Metodologia..................................................................... 87

5. INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE .......................................... 91


5.1 Introdução................................................................................................................. 92
5.2 Aspectos Principais..................................................................................................... 92
5.3 Funções dos Indicadores............................................................................................. 99
5.4 Construção Histórica e Aplicações........................................................................... 100
5.5 Sistemas dos Indicadores.......................................................................................... 103
5.5.1 Avaliação do Desempenho Ambiental (ADA)........................................................ 103
ABNT NBR ISO 14031 ..................................................................................... 103
FIESP-CIESP ..................................................................................................... 104
PEGADA ECOLÓGICA (Ecological Footprint Method).................................... 105
6. O PROCESSO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTOAMBIENTAL ..... 107
6.1 Introdução............................................................................................................... 108
6.2. O Processo de AIA.................................................................................................. 108
6.3 Etapas do EIA/RIMA............................................................................................... 113
6.4 Etapas da Regulariza;áo Ambiental........................................................................... 120

7. ESTUDO DE CASO DE IMPACTO AMBIENTAL: MINERAÇÃO ..


123
Sumário

7.1. Introdução.............................................................................................................. 124


7.2. Informações Gerais................................................................................................. 124
7.2.1. Descrição do Empreendimento............................................................................ 124
7.2.2. Localização e Acesso............................................................................................. 125
Área de Influência do Empreendimento............................................................... 126
7.2.3. Dados do Empreendedor..................................................................................... 127
7.2.4. Relação da Equipe Técnica Responsável pela Elaboração e Atualização do EIA/
RIMA.................................................................................................................. 127
7.3. Enfoque Conceitual................................................................................................ 128
7.3.1. Atividades a serem Desenvolvidas no Empreendimento........................................ 128
Fase 01 - Preparo da área para a Lavra.................................................................. 128
Fase 02 – Lavra.................................................................................................... 129
Fase 03 – Beneficiamento.................................................................................... 130
Fase 04 - Desativação .......................................................................................... 130
7.4. Diagnóstico Ambiental........................................................................................... 130
7.4.1. Diagnóstico do meio físico................................................................................... 130
Clima.................................................................................................................. 130
Qualidade do ar................................................................................................... 131
Ruídos................................................................................................................. 131
Geologia e Geomorfologia................................................................................... 132
Solos.................................................................................................................... 133
Classificação dos solos.......................................................................................... 133
Características Gerais dos Solos Mapeados........................................................... 134
Avaliação da Aptidão Agrícola das Terras e Uso Atual do Solo.............................. 135
Condições Agrícolas das Terras............................................................................ 135
Avaliação das Classes de Aptidão Agrícola das Terras............................................ 136
Uso Atual das Terras............................................................................................ 137
Recursos Hidricos e Qualidade da Água .............................................................. 138
Localização da Microbacia................................................................................... 139
Interpretação das Análises.................................................................................... 140
7.4.2. Diagnóstico do Meio Biótico: Flora e Fauna......................................................... 141
Flora.................................................................................................................... 141
Formações Florestais............................................................................................ 142
Fauna................................................................................................................... 150
Ecossistemas aquáticos......................................................................................... 151
Ambientes lóticos................................................................................................ 151
Ambientes lênticos............................................................................................... 152
7.4.3. Diagnóstico do meio sócio-econômico................................................................. 152
Área de influência do empreendimento................................................................ 154
Coleta de informações nas propriedades rurais..................................................... 157
7.5. Avaliação dos Impactos Ambientais......................................................................... 158
7.5.1. Impactos Ambientais............................................................................................ 158
Meio Físico.......................................................................................................... 158
Solos - Impactos negativos................................................................................... 158
Recursos Hídricos – Impactos negativos.............................................................. 162
Meio biótico........................................................................................................ 163
Vegetação - Impactos negativos............................................................................ 163
Fauna................................................................................................................... 163
Terrestre e ornitofauna......................................................................................... 163
Fauna aquática..................................................................................................... 164
Meio Sócio-Econômico........................................................................................ 164
Impactos negativos............................................................................................... 165
7.5.2. Matriz Ambiental das Interacões dos Impactos Ambientais.................................. 166
7.6. Medidas Mitigadoras e Monitoramento dos Impactos Ambientais.......................... 171
7.6.1. Medidas Mitigadoras............................................................................................ 171
Meio Físico.......................................................................................................... 171
Solos.................................................................................................................... 171
Recursos Hídricos................................................................................................ 172
Meio Biótico........................................................................................................ 172
Flora.................................................................................................................... 172
Fauna................................................................................................................... 173
Terrestre e Ornitofauna........................................................................................ 173
Fauna Aquática.................................................................................................... 174
Sócio-Econômico................................................................................................. 174
7.6.2. Programa de Acompanhamento e Monitoramento dos Impactos Ambientais....... 175

8. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ................................................................ 177


Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso

Favela “comunidade” da Roçinha, Rio de Janeiro.


Favela é um território onde as ações políticas do Estado se fazem historicamente incompletas. Local onde os investimentos
do mercado formal são precários. A favela é um território de edificações predominantemente caracterizadas pela autocons-
trução, sem obediência aos padrões urbanos normativos do Estado. Significa uma morada urbana que resume as condições
desiguais da urbanização, mas que caracteriza a luta de cidadãos pelo legítimo direito de habitar a cidade. A favela é um
território de expressiva presença de uma população de alta vulnerabilidade socioeconômica. Superando os estigmas de ter-
ritórios violentos e miseráveis, a favela se apresenta com a riqueza da pluralidade de convivências de sujeitos sociais em suas
diferenças culturais, simbólicas e humanas.
8
Fonte: SILVA, J. S (Org.). O que é favela, afinal? Observatório das Favelas do Rio de Janerio. Rio de Janeiro, 2009.
Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso

APRESENTAÇÃO

Este livro é fruto da experiência de uma dezena de anos de trabalhos dedicados ao


licenciamento de empreendimentos privados, principalmente minerários e de usinas hidrelétricas
em consultoria ambiental, associado a um período equivalente de experiência acadêmica na
Universidade Federal de Lavras (UFLA), onde somos responsáveis pela disciplina de Avalição de
Impactos Ambientais, ministrada para cursos em nível de graduação, pós-gradução lato sensu e
stricto sensu.
A prática acadêmica no período nos possibilitou perceber que o material didático
disponível para a compreensão dos estudos ambientais, voltados para alunos e professores, era, à
época, escasso e disperso. O material de melhor conteúdo esgotava-se rapidamente, dificultando
o acesso ao conhecimento. Para preencher esta lacuna elaboramos um texto acadêmico para uso
dos alunos regularmente matriculados na UFLA e, para nossa surpresa, a demanda e o interesse
sobre este material ultrapassou a esfera desta Universidade, aonde vimos o nosso material
didático ser utilizado em diversos núcleos de ensino superior.
O crescimento do quadro universitário e o destaque necessário que a área ambiental
adquiriu ao longo dos últimos anos proporcionaram a incorporação de outros docentes nesta
Universidade. Conjuntamente, quatro professores envolvendo os Departamentos de Ciências
Florestais e Biologia da UFLA, tendo como base o texto acadêmico inicial, atualizaram e
acrescentaram dados ao material didático inicial e, agora, vimos disponibilizá-lo à sociedade.
Este livro está dividido em duas grandes partes. A primeira está subdividida em seis
capítulos: o primeiro promove a introdução, com abordagem geral do conteúdo; o segundo
capítulo apresenta o histórico contextualizado, necessário para a compreensão da origem dos
estudos ambientais, trazendo uma abordagem evolutiva das principais regras legais e institucionais,
culminando com a apresentação da linha do tempo onde os princípios históricos norteadores dos
estudos ambientais são descritos; no terceiro capítulo são apresentados os principais conceitos
necessários para a compreensão da leitura e do conteúdo deste livro; o quarto capítulo é dedicado
aos principais métodos utilizados no Brasil para a Avaliação de Impactos Ambientais; o quinto
capítulo introduz o leitor na compreensão dos indicadores de sustentabilidade, enquanto que o
sexto e último capítulo desta primeira parte apresenta e discute um roteiro metodológico para
a condução dos estudos de impactos ambientais, de conformidade com algumas instituições
oficiais de avaliação e análise de estudos ambientais. A segunda parte deste livro é dedicada a um
estudo de caso acadêmico, desenvolvido por alunos do curso de pós-graduação da UFLA, para
o qual foi utilizado um passivo ambiental minerário como material aplicativo dos conceitos,
métodos e medidas mitigadoras decorrentes das intervenções, apropriadas para as características
do empreendimento e para a região em questão, sul de Minas Gerais.

9
Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso

O material que disponibilizamos foi elaborado por quatro Engenheiros Florestais, tendo
como foco principal professores e alunos de gradução e pós-gradução das diferentes áreas do
conhecimento. Com este material esperamos contribuir para o preenchimento de uma lacuna
de conteúdo ainda existente no presente momento. Com esta iniciativa esperamos ser úteis aos
estudantes, professores e à população em geral, na condução das disciplinas em instituições de
ensino dedicadas à compreensão dos impactos ambientais produzidos por empreendimentos das
mais diferentes áreas, visto que o enfoque e a abordagem do conhecimento aqui presente têm
caráter multidisciplinar.

Autores.

Homenagem
“Nesta oportunidade, os autores deste livro, homenageiam o ilustre geógrafo
brasileiro Milton Santos (1926-2001). Natural de Brotas de Macaúbas, Bahia,
formado em direito e doutor em geografia pela Universidade de Strasbourg,
França. Preso em 1964, durante o regime militar, esteve fora do País entre os
anos de 1964 e 1977, período em que lecionou em universidades da França,
Canadá, Estados Unidos, Venezuela e Tanzânia. Foi o primeiro cientista de
um país em desenvolvimento a receber o prêmio Vautrin Lud (equivalente ao
Prêmio Nobel da Geografia). Entre 1980 e 2000, Milton Santos recebeu vinte
títulos de Dr. Honoris Causa de Universidades do Brasil, da América Latina e
da Europa. Publicou mais de quarenta livros e mais de 300 artigos em revistas
cientificas, em português, francês, espanhol e inglês. Ao leitor: Poderíamos
ter utilizado outros livros ou artigos de Milton Santos para ilustrar com frases
de sua autoria, e em sua homenagem, os títulos dos capítulos deste livro. A
temática nos direcionou para o livro denominado “Pensando o Espaço do
Homem”, publicado em primeira impressão em 1982 pela Hucitec e em 2009
pela Editora da Universidade de São Paulo – Edusp.

10
Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso

Extração de areia
Extração de areia no Rio Paraiba, Alagoas, às margens da Rodovia AL – 210. Nesta foto observa-se a eu-
trofização das águas, caracterizada pela grande quantidade de macrófitas aquáticas. O método de extração é
totalmente manual, expondo o homem às baixas condições sanitárias. 11
Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso

Complexo mineração e industria de cimento


Mineração e correspondente Fábrica Camargo Correa Cimentos S.A. – Ijaci, MG. No segundo plano observa-se “braço” do
lago da Usina Hidrelétrica do Funil, construída no Rio Grande no município de Ijaci, MG.

12
1
INTRODUÇÃO

Hoje, o espaço humano compreende as áreas que permaneceram como es-


paço biológico, incluídas, porém, na rede de relações que, em nossos dias,
já não são estritamente econômicas, senão também políticas, relações efe-
tivas, mas também potenciais.
Milton Santos
Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso

A ação do homem sobre o meio ambiente é tão antiga quanto a sua própria história. Nas
últimas décadas os efeitos ambientais degradatórios intensificaram-se de forma insustentável
para a capacidade de suporte da terra, visualizada para o atual momento, e tendo como base
as tecnologias disponíveis no presente. Esta degradação deve-se, em parte, ao alto grau de
aceleração da tecnologia transformadora desenvolvida pelo homem, e da forma como vem sendo
empregada, ao interferir direta e indiretamente sobre os recursos naturais, renováveis ou fósseis.
O crescimento demográfico concentrado especialmente nos centros urbanos, atua
radicalmente sobre os recursos naturais, limitados frente ao modelo de desenvolvimento que
requer uma demanda ilimitada para a produção de alimentos, energia e bens de consumo. O
crescimento desordenado do binômio população e consumo propicia a produção de detritos
tóxicos e elementos residuais não degradáveis ou degradáveis ao longo de dezenas e centenas
de anos. O passivo ambiental ou o depalperamento dos recursos ambientais geram danos
irreparáveis, sejam no esgotamento e perdas dos solos, da água, diversidade de plantas e animais,
ou mesmo na descaracterização da paisagem e dos elementos que a compõem.
Este processo de degradação acumulativo teve ênfase nas últimas décadas, ensejando da
sociedade, cuidados e atenção com o meio ambiente, que possibilitaram a criação de instrumentos
e mecanismos de proteção por meio da prevenção, recuperação ou reabilitação do meio ambiente
como um todo ou dos ecossistemas ameaçados ou degradados pela ação humana.
As desigualdades sociais, em particular nos países ou regiões subdesenvolvidas desencadeiam
situações extremas de descuido ou falta de informações, dentre outras causas, devido aos altos
índices de analfabetismo, que sobrepõem e dificultam medidas de controle, implementações de
programas e recuperação dos recursos ambientais.
Para fins de proteção, a noção de meio ambiente é muito ampla, abrangendo todos os
bens naturais e culturais de valor para a sociedade. Alguns destes são detentores de mecanismos
técnicos e legais que os protegem, tais como o solo, a água, o ar, a flora e a fauna, os elementos
de belezas naturais e artificiais, como o patrimônio histórico, artístico e paisagístico, elementos
arqueológicos e espeleológicos, sendo o homem, entretanto, o elemento central.
As primeiras leis de proteção ambiental no Brasil foram trazidas de Portugal através das
Ordenações Afonsinas datadas de 1326 que protegiam as aves, igualando criminalmente o seu
furto ou ações de maus tratos aos crimes comuns, ou seja, não ambientais. A preocupação com a
proteção das riquezas florestais brasileiras era motivada pela necessidade do emprego das madeiras
para o impulso da expansão ultramarina portuguesa - o corte deliberado das árvores frutíferas era
também considerado ato criminoso (Wainer, 1991; Magalhães, 1998), não evitando, ainda assim,
a intensa e duradoura exploração da espécie “Pau Brasil”, colocando-a nos limites da extinção.
Os conceitos de Impactos Ambientais na legislação brasileira são fundamentalmente
antrópicos. De acordo com o artigo 1º da Resolução CONAMA 001/86, Impacto Ambiental é:

14
Capítulo 1 - Introdução

“qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente


causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas
que direta ou indiretamente venham a afetar: a saúde, a segurança e o bem estar da
população; as atividades sociais e econômicas, a biota; as condições estéticas e sanitárias
do meio ambiente; a qualidade dos recursos ambientais.”

Esta resolução CONAMA não distingue, entretanto, se os impactos são positivos ou


negativos. A avaliação do valor positivo ajustada às ações empreendedoras (fundamentais) para
o desenvolvimento de regiões específicas, e do País como um todo, é um fator primordial para a
compreensão da dinâmica de licenciamento. Para a avaliação do valor negativo, a ordenação dos
licenciamentos de empreendimentos potencialmente impactantes foi incluída no Brasil, como
parte do sistema de licenciamento por meio da Lei Federal 6.938/81, que estabeleceu a Política
Nacional do Meio Ambiente, que por sua vez instituiu a Avaliação de Impacto Ambiental (AIA)
como um de seus importantes instrumentos, a cargo das entidades ambientais dos governos
federal, estaduais e municipais.
A institucionalização da Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) como instrumento de gestão
ambiental foi liderada por empresas, centros de pesquisas e universidades de países desenvolvidos,
a partir da realização da Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente, em 1972, em
Estocolmo, Suécia. Nessa conferência foi recomendada aos países, de modo geral, a inclusão da
AIA no processo de planejamento e decisão de planos, programas e projetos de desenvolvimento.
No Brasil este fato propiciou o surgimento de trabalhos sobre AIA e EIA/RIMA (Estudo
de Impacto Ambiental/Relatório de Impacto Ambiental), alterando positivamente as bases das
políticas de desenvolvimento e intervenções econômicas, antes orientadas primordialmente por
parâmetros econômico-financeiros.
Na compreensão e definição da Avaliação de Impactos Ambientais observam-se pequenas
diferenças de texto entre autores, convergindo todos, entretanto, para o entendimento de que a
AIA, como instrumento da política ambiental, é formada por um conjunto de procedimentos
capaz de assegurar que se faça uma análise sistemática dos impactos ambientais de uma ação
proposta (projeto, programa, plano ou política) e de suas alternativas, e que os resultados sejam
apresentados adequadamente ao público e aos responsáveis pela tomada de decisão.
Os últimos debates internacionais sobre o meio ambiente culminaram com a realização,
em junho de 2012, no Rio de Janeiro, da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento
Sustentável, a “Rio + 20”, cuja tônica esteve focada na economia de baixo carbono, com pequena
ou ausência de emissão de gases de efeito estufa; na economia verde, com foco no desenvolvimento
sustentável e nos processos relacionados ao combate às mudanças climáticas, à erradicação da
pobreza e das desigualdades sociais.

15
Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso

Perseguir o desenvolvimento sustentável foi a linha principal do documento súmula da


Conferência Rio + 20 - O FUTURO QUE QUEREMOS. Dentre os temas discutidos na
reunião, a ênfase do documento produzido pela conferência foi a promoção da sustentabilidade na
produção e consumo. A proteção e ordenação da base dos recursos naturais e o desenvolvimento
econômico e social são requisitos indispensáveis para o atingimento desta sustentabilidade. O
documento ainda reafirma

“que é necessário alcançar o desenvolvimento sustentável, inclusivo e equitativo, criando


maiores oportunidades para todos, reduzindo as desigualdades, melhorando os níveis de
vida básicos, fomentando o desenvolvimento social equitativo e a inclusão, e promovendo
uma ordenação integrada e sustentável dos recursos naturais e dos ecossistemas que
prestem apoio, entre outras coisas, ao desenvolvimento econômico, social e humano, e
facilite ao mesmo tempo a conservação, a regeneração, o restabelecimento e a resiliência
dos ecossistemas frente aos problemas novos e emergentes”
(ONU, 2012).

O Brasil possui uma legislação ambiental moderna que se iguala às dos países desenvolvidos
com tradição no cuidado com o meio ambiente. Por outro lado, este fato em si não garante
diretamente à aplicabilidade das leis e a qualidade da conservação e preservação dos recursos
naturais no País, que se possa qualificar de ambiente sadio e equilibrado. Os empreendimentos
novos e antigos encontram-se, sistematicamente, submetidos ao licenciamento correspondente
à fase em que se encontram, e a sociedade espera que o aprimoramento do conjunto legal,
juntamente com as condições de análise e implementação da AIA, cujo processo está contemplado
no Sistema Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA), avancem na garantia do contínuo
aparelhamento técnico e legal, essenciais para o futuro dos ambientes naturais, urbanos e sociais
do território brasileiro.

16
2
BASE HISTÓRICA DA
AIA E EVOLUÇÃO DA
POLÍTICA AMBIENTAL
NO BRASIL

O momento passado está morto como tempo, não, porém, como espaço; o
momento passado já não é e nem voltará a ser, mas sua objetivação não
equivale totalmente ao passado, uma vez que está sempre aqui e participa
da vida atual como forma indispensável à realização social.
Milton Santos
Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso

O relacionamento do homem com o ambiente tem se baseado, tradicionalmente, na


exploração e consumo dos recursos naturais. O pensamento geral da sociedade ao longo dos
séculos foi de privilegiar o crescimento econômico, relegando a um segundo plano a capacidade
de suporte e de recuperação dos ecossistemas. Todavia, a realidade ambiental das últimas décadas
e suas correspondentes críticas e discussões, tem despertado a consciência das populações para a
necessidade de conservação e recuperação ambiental, como uma exigência fundamental para a
própria sobrevivência humana no planeta terra.
Nos países signatários das Nações Unidas, os problemas de degradação ambiental e suas
consequências, têm sido objeto de discussões e regulamentações nos processos decisórios e nas
dicussões da alta cúpula, cuja tônica é a melhoria da qualidade ambiental. Os fatores ambientais
e sociais devem ser expressamente considerados no planejamento em geral e nos projetos
específicos, pois os métodos tradicionais de crescimento e desenvolvimento, sem uma completa
avaliação, ou com enfoque tão somente em critérios econômicos e técnicos, mostraram-se
inadequados e insuficientes para auxiliar nas decisões políticas e econômicas.
Na visão de Veiga (2008), a idéia de crescimento econômico e distribuição de renda,
apenas, não podem fundamentar o desenvolvimento em busca da sustentabilidade. É necessário
considerar a finitude do planeta. A cultura de um povo e o respeito aos grupos minoritários, se
fazem importantes na evolução e no conceito das nações, em especial para as democracias ocidentais.
Foram com estas precupações que na década de 80 do século XX, a Avaliação de Impacto
Ambiental (AIA), como um instrumento da Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA)
– Lei 6.938/81 surgiu no Brasil. A exigência por meio de lei definiu a grande importância
dada à proteção ao meio ambiente pelo governo brasileiro para gestão institucional de planos,
programas e projetos, em nível federal, estadual e municipal. À sociedade e ao Estado cabem
a responsabilidade de desenvolver as ações e as propostas para a definição de critérios para a
instalação de empreendimentos com o menor impacto possível, levando em consideração as
questões ambientais e sócio-econômicas (FERREIRA, 2000).
O processo de institucionalização da AIA, como instrumento de gestão ambiental, foi
liderado por empresas, centros de pesquisas e universidades de países desenvolvidos, a partir da
realização da Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente, em 1972, em Estocolmo,
Suécia. Nessa conferência foi recomendada aos países, de modo geral, a inclusão da AIA no
processo de planejamento e decisão de planos, programas e projetos de desenvolvimento. Isto
propiciou o surgimento de uma ampla literatura especializada sobre AIA e EIA/RIMA (Estudo de
Impacto Ambiental/Relatório de Impacto Ambiental), alterando políticas de desenvolvimento e
intervenções econômicas, antes orientadas por parâmetros exclusivamente econômico-financeiros.
Assim, o uso da Avaliação de Impacto Ambiental, generalizou-se rapidamente nos países
desenvolvidos. Nos países em desenvolvimento, a exemplo do que ocorreu no Brasil, a AIA

18
Capítulo 2 - Base histórica da AIA e a evolução política ambiental do Brasil

começou a ser adotada por exigência das agências financiadoras internacionais (MOREIRA,
1995; DIAS, 2001), como forma de responder às pressões da comunidade científica mundial
e dos cidadãos dos países desenvolvidos, que passaram a se sentir responsáveis pelos problemas
ambientais resultantes de projetos multinacionais ou financiados por seus países. Servem como
exemplo: a Usina Hidrelétrica de Tucuruí que teve seu EIA/RIMA elaborado mesmo sem
exigência legal; e o terminal de exportação do minério de Carajás, em Ponta da Madeira, em São
Luiz, Maranhão.
Na América Latina, vários países contam com a utilização formal da AIA: Colômbia, Venezuela,
México, Argentina, Brasil, dentre outros. Observam-se dificuldades de ordem institucional e política,
em todos esses países, pois o estágio de desenvolvimento do processo corresponde quase sempre,
ao estágio de democratização e conscientização da sociedade. Vale destacar que os países membros
do MERCOSUL possuem dispositivos legais suficientes para garantir uma efetiva conservação
ambiental, especialmente a legislação brasileira que é a mais completa e moderna. No entanto, esses
países ainda apresentam pendências de uma fiscalização eficaz, para que as normas sejam cumpridas
(ROCHA et al., 2005).
Este capítulo traz uma análise histórica dos principais fatos, eventos e normas ambientais no
Brasil e no mundo, que culminaram na criação da atual Política Ambiental Brasileira. A sinopse
dessa evolução histórica é apresentada ao final do capítulo representada na linha do tempo.

2.1. A Evolução dos Movimentos Ambientais e o Surgimento da AIA

No final dos anos 50, grupos ambientalistas se organizaram nos EUA à medida que
aumentava a conscientização de uma parcela da opinião pública americana sobre a degração
ambiental e os problemas sociais decorrentes. Em 1962, a ecologista norte-americana Rachel
Louise Carson, impulsionou o movimento global sobre o meio ambiente com a publicação do
livro Silent Spring (Primavera Silenciosa), no qual advertia sobre os efeitos da contaminação
acumulativa causada pelo pesticida DDT. O livro é considerado um clássico da conscientização
ecológica, sendo a primeira åpublicação sobre impacto ambiental. Pela primeira vez, sentiu-se
a necessidade de regulamentação da produção industrial de modo a proteger o meio ambiente.
Como resultado, o DDT passou a ser supervisionado pelo governo americano, até que foi
finalmente banido.
Na mesma década, outros movimentos em prol do meio ambiente marcaram a política
ambiental americana, como o Clean Air Act de 1963, visando o controle legal da poluição
atmosférica, e o Wilderness Act de 1964, responsável pela proteção de áreas selvagens. Com o
aumento da apreciação e preocupação com o meio ambiente, a sociedade passou a exercer forte
pressão sobre as autoridades. Um exemplo foi o clamor público após o vazamento de petróleo em

19
Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso

Santa Bárbara, em 1969, no sul da Califórnia, com impacto significativo sobre a vida marinha,
causando a morte de milhares de aves, golfinhos, focas e leões marinhos.
Esses e outros fatos levaram os EUA a uma legislação ambiental que culminou com a
instituição do EIA (Estudo de Impacto Ambiental), por meio do NEPA (National Environmental
Policy Act of 1969), vigorando a partir de 1970. O documento gerado foi denominado de EIS
(Environmental Impact Statement), cuja tônica era criar e conservar as condições em que o
homem pudesse viver em harmonia com a natureza. Este instrumento legal determinou que os
objetivos e princípios da legislação, ações e projetos de responsabilidade do governo federal, que
afetassem significativamente a qualidade do meio ambiente, incluíssem a Avaliação de Impacto
Ambiental, observando os seguintes aspectos: identificação dos impactos ambientais; efeitos
ambientais negativos da proposta; alternativas de ação; relação entre a utilização dos recursos
ambientais no curto prazo e a manutenção ou melhoria do padrão ambiental no longo prazo, e
qual o comprometimento do recurso ambiental para o caso de implantação da proposta.
Pode-se dizer que o surgimento da AIA, na segunda metade do século XX, foi uma
consequência da crescente percepção da fragilidade e vulnerabilidade dos ecossistemas frente
ao crescimento econômico e industrialização nos países desenvolvidos. Cada vez mais ficava
patente que a avaliação dos grandes projetos não poderia se limitar aos aspectos tecnológicos e
de custo-benefício. Assim, de maneira pioneira, a lei americana instituiu uma política nacional
do meio ambiente, sob a responsabilidade do governo federal, a fim de garantir a integridade dos
componentes físicos, biológicos, sociais e culturais.
A concepção da AIA, formalizada no NEPA, começou a se difundir mundialmente e a
sofrer adaptações em diferentes níveis de acordo com a realidade e necessidade de cada país. Os
primeiros países a aderirem ao sistema foram o Canadá, Nova Zelândia e a Austrália, ainda no
início dos anos 70.
Em 1972, o recém-criado Clube de Roma ganhou repercursão mundial com a publicação
do seu primeiro relatório, “Os limites do crescimento”, comissionado por um grupo de cientistas
do Massachusetts Institute of Technology (MIT) sob a chefia de Dana Meadows. Por meio de
modelos matemáticos, o MIT concluiu que o Planeta Terra era incapaz de suportar o crescimento
populacional devido à pressão sobre os recursos naturais e energéticos e ao aumento da poluição.
A publicação demonstrava de forma convincente a contradição do crescimento irrestrito e do
consumismo ilimitado em um mundo de recursos claramente finitos, trazendo a discussão
ambiental como prioridade da agenda global. O impacto desse relatório é descrito como um Big
Bang nos campos da política, economia e ciência (Club of Rome, 2012).
A primeira Conferência Mundial sobre o Homem e o Meio Ambiente foi inaugurada
pela ONU (Organização das Nações Unidas) em 1972, em Estocolmo, capital da Suécia. A
Conferência de Estocolmo, como ficou conhecida, é considerada um marco histórico político

20
Capítulo 2 - Base histórica da AIA e a evolução política ambiental do Brasil

internacional, e resultou na criação da primeira agência ambiental global: o Programa das Nações
Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). Além do Relatório do Clube de Roma, um segundo
documento da ONU intitulado Only one earth: the care and maintenance of a small planet (Apenas
Uma Terra: cuidado e conservação de um pequeno planeta), forneceu as bases para as discussões.
A Conferência de Estocolmo foi marcada por discussões conflituosas entre os países
desenvolvidos e os subdesenvolvidos. Os primeiros defendiam o “desenvolvimento zero”, pelo
controle populacional e a redução do crescimento econômico; os últimos apelavam para o
“desenvolvimento a qualquer custo”, alegando que os problemas ambientais eram originados
da pobreza, a principal fonte de poluição, e defendiam o direito de crescer sem preocupação
com as questões ambientais, a exemplo do que ocorreu com os países desenvolvidos. Para os
países pobres, a filosofia do crescimento zero era inaceitável, e culpavam as nações prósperas
pelo execesso de produção e consumo. Surge então a alternativa do Ecodesenvolvimento, proposta
durante a mesma conferência, em que o processo de desenvolvimento econômico pode ser
compatível com a preservação do ambiente, desde que a eficiência econômica seja considerada
em conjunto com a equidade social e o equilíbrio ecológico.
A partir de 1975, o desenvolvimento de estudos de impactos ambientais passou a ser
uma exigência por parte dos órgãos financiadores (FOGLIATTI et al., 2004). À época, sob
forte dependência do capital e ajuda externa, muitos países da América Latina como o Brasil,
Argentina, Colômbia, México e Venezuela, se encontraram forçados a tomar providências quanto
às exigências dos organismos internacionais.
Na França, a realização de estudos de impacto ambiental iniciou-se com a Loi relative a la
protection de la nature, de 1976, exigindo a realização do EIA antes da instalação de empreendimentos
passíveis de alterar o meio ambiente. No restante da Europa, o processo AIA começou a ser
implantado a partir de 1985, por meio de uma resolução da Comissão Europeia que exigia aos
países membros adotar em procedimentos formais de AIA para a aprovação de empreendimentos
potencialmente causadores de significativa degradação ambiental (MARTO, 2009).
Em outubro de 1979 foi realizada a primeira Conferência Intergovernamental sobre
Educação Ambiental, organizada pela UNESCO em colaboração com o PNUMA e realizada na
cidade de Tbilisi, Geórgia, antiga União Soviética. A Conferência de Tbilisi propôs os princípios
básicos da educação ambiental: promover a compreensão da interdependência econômica,
social, política e ecológica; proporcionar a todos a possibilidade de adquirir os conhecimentos
necessários para proteger o meio ambiente, e induzir, nos indivíduos e sociedade como um todo,
novas formas de conduta a respeito do meio ambiente.
A retomada, pela ONU, do debate sobre as questões ambientais no início dos anos 80,
levou à criação da Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento 10 anos após a
Conferência de Estocolmo. O objetivo era promover audiências em todo o mundo e produzir um

21
Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso

resultado formal das discussões, resultando no Relatório de Brundtland, publicado em 1987 com
o título “Nosso Futuro Comum”, abordando temas cruciais para o desenvolvimento sustentável,
entre eles, a preservação da biodiversidade e dos ecossistemas, o desenvolvimento de tecnologias
para o uso de fontes de energia renováveis e tecnologias ecológicas de produção industrial.

2.2. Histórico da Proteção Ambiental no Brasil

O modelo de exploração utilizado no Brasil desde o descobrimento até recentemente, foi


basicamente o predatório. O primeiro movimento da Coroa Portuguesa ao desembarcar em solo
brasileiro foi explorar as riquezas naturais que ali se encontravam e que pareciam ilimitadas. Esta
imensidão, que parecia infinita, perdeu e vem perdendo, ano a ano, uma vasta área para usos pouco
nobres, sem o mínimo de racionalidade para o seu aproveitamento (BORGES et al., 2009).
Após tanto tempo de escravização da natureza, o homem começou a sofrer as consequências
dos seus atos, como o surgimento de doenças nunca antes diagnosticadas. Estas são provenientes
dos gases tóxicos exalados pelas fábricas e pela descarga de automóveis, da utilização de material
nuclear devido à corrida do “desenvolvimento”, do derramamento de petróleo nos oceanos
e outras substâncias lesivas à saúde, da queima irracional das florestas, do despejo de esgoto
doméstico e industrial nos rios e muitos outros (SOUZA, 2001).
Toda essa degradação e seus reflexos não ocorrem apenas no Brasil, mas em todo o mundo.
Este quadro de eventos negativos não se trata da “vingança da natureza”, tudo se resume à falta de
resiliência que o ambiente enfrenta após os distúrbios causados pelo homem. A degradação chega
a ser tanta que o equilíbrio normal do ambiente alterado não consegue retornar ao seu estágio
natural e, portanto, surgem os problemas. O processo produtivo não precisa, necessariamente,
prejudicar o meio ambiente. Se o destruirmos, de nada adiantará toda a ambição do homem, eis
que também a nossa existência estará ameaçada (MASCARENHAS, 2004).
A importância do ambiente natural para a vida do homem e preocupação com a proteção
e o uso adequado dos ecossistemas naturais vem aumentando nos últimos anos. Dentre
as principais ferramentas para a proteção ambiental, destaca-se a edição de normas legais.
Contudo, apenas elas não fornecem o amparo suficiente para garantir a conservação da
natureza. É necessário que haja instrumentos operacionais eficazes, além de simplesmente
contar com a legislação ambiental.
A fim de se conhecer o histórico da legislação ambiental, a política ambiental e a
organização institucional do Brasil para a proteção ambiental, este estudo focará o período
republicano brasileiro, desde o início do século XX. Será dada ênfase às principais normas de
proteção ambiental e aos respectivos fatos que, à época, justificaram sua criação. Fatos estes que
têm importância significativa nas épocas em que se deram, pois foram deliberadas normas de

22
Capítulo 2 - Base histórica da AIA e a evolução política ambiental do Brasil

acordo com a realidade que se vivia. Portanto, não se deve condenar erros passados, mas acertar as
políticas de uso e preservação dos recursos naturais que garantam a sua perpetuidade no futuro.
Durante os primeiros anos do século XX, o país não demonstrava grande preocupação
com os recursos naturais. A legislação, inclusive a Constituição Federal, era liberal e garantia aos
proprietários rurais autonomia e poder ilimitado sobre a propriedade. Não havia preocupação
com o despejo de efluentes em rios, com a coleta de lixo, entre outras ações que hoje se considera
triviais. A abundância dos recursos e a capacidade de resiliência dos ecossistemas estavam em equilíbrio.
Com o crescimento da população, a aceleração dos processos de produção e o avanço
do desmatamento proporcionado pelo crescimento da agricultura fizeram com que o governo
despertasse para a necessidade de se conservar os recursos naturais no país. Nos anos 20, surgiu
a ideia de se criar uma normatização para a proteção e uso racional dos recursos naturais. Em
1934, com a implantação do Estado Novo, foram instituídos o Código Florestal e o Código de
Águas, com a principal função de regular o uso das florestas e das águas no Brasil.
O primeiro Código Florestal Brasileiro, datado de 1934, apresentava algumas características
preservacionistas, estabelecendo o uso da propriedade em função do tipo florestal existente,
definindo-as em quatro categorias de florestas: florestas protetoras, remanescentes, modelo e de
rendimento. Além desta classificação, foram estabelecidas limitações às propriedades privadas de
acordo com a tipologia florestal nela existente e regulada a exploração das florestas de domínio
público e privado. Trazia também, a estrutura de fiscalização das atividades florestais, as penas,
infrações e as respectivas punições aos infratores (KENGEN, 2001). Apesar das boas intenções,
a legislação não funcionou devido à inércia e displicência das autoridades e, dependendo da
localização, as áreas que deveriam ser declaradas protetoras ou remanescentes continuavam
sendo entregues ao machado e ao fogo (SWIOKLO, 1990).
Ocorreram também, na década de 30, outros eventos normativos de importância
ambiental. Foi estabelecido o primeiro Código da Fauna (1937) e criado o primeiro Parque
Nacional do Brasil, o de Itatiaia, em junho de 1937. No período de 1938 a 1965 ainda foram
criados 14 Parques Nacionais no Brasil (BORGES et al., 2009).
Passados 31 anos até a edição do segundo Código Florestal Brasileiro (Lei 4.771/65), as
normatizações que tratavam das florestas não se modificaram muito e, a partir da edição do
Código Florestal de 1965 todas as florestas e demais formas de vegetação existentes no território
nacional passaram a ser consideradas bens de interesse comum de todos os habitantes do Brasil
(BRASIL, 1965). Pela menção “bens de interesse comum”, o Código Florestal de 1965 pode ser
considerado o precursor da Constituição Federal de 1988 por conceituar meio ambiente como
bem de uso comum do povo brasileiro (MACHADO, 2004). O Código Florestal de 1965
também introduziu a limitação do uso da propriedade rural pelo seu proprietário, por meio da
instituição das áreas de Reserva Legal e de Preservação Permanente (BORGES, 2011). Até então,

23
Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso

não havia sido editada uma norma que restringisse o uso da propriedade, pois o proprietário
detinha direitos ilimitados sobre sua propriedade privada.
Em 1972, o Brasil participou da Conferência de Estocolmo, na Suécia, e tornou-se seu
signatário. Uma vez que o país assinou o acordo, ele se compromete a ratificá-lo por meio de uma
normatização interna que garanta o cumprimento do que foi acordado no tratado. De forma
geral, estas são as regras do direito internacional para a regulação dos tratados internacionais. O
Brasil, para iniciar o processo de ratificação do que havia sido tratado em Estocolmo, criou a
Secretaria Especial do Meio Ambiente (SEMA). Até então as ações de proteção ambiental estavam
pulverizadas nos diversos ministérios e órgãos das mais diferentes atribuições. Por exemplo,
o Código Florestal era vinculado ao Ministério da Agricultura. A SEMA tinha como objetivo
sistematizar as informações dispersas no Brasil sobre o meio ambiente e definir procedimentos e
padrões de preservação ambientais.
Como resultado da Conferência de Estocolmo, destacam-se algumas normas ambientais
brasileiras que são importantes até os dias de hoje, sendo elas: o Código de Mineração de 1967,
o Código de Fauna de 1967, o Parcelamento e Uso do Solo Urbano de 1979 e, finalmente, a
Política Nacional de Meio Ambiente (PNMA) de 1981. A PNMA foi o marco decisivo para a
ratificação da Conferência de Estocolmo. Nela o Brasil organizou a estrutura institucional sobre
o meio ambiente, definiu os princípios gerais para o meio ambiente ecologicamente equilibrado,
estabeleceu as diretrizes e regras para o atingimento dos objetivos e princípios de proteção ambiental
e, finalmente, trouxe os instrumentos e ferramentas para tutelar o meio ambiente no Brasil.
Instrumentos estes que vêm sendo, a cada ano, aprimorados por meio de novas normas ambientais.
Em 1988, durante a constituinte brasileira, os legisladores se atentaram para a proteção
ambiental no Brasil também no texto da Carta Magna. A nova Constituição brasileira refletiu o
grande debate nacional acerca da problemática florestal e ambiental, tendo inserido no seu texto
um capítulo sobre meio ambiente. Assim, a Constituição Federal brasileira trouxe um capítulo
exclusivo assegurando a proteção ambiental no Brasil (capítulo VI, art. 225 da Constituição
Federal de 1988), que afirma textualmente:

“Todos tem direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do
povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade
o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”
(BRASIL, 1988).

Após a edição da Constituição Federal de 1988, outros dispositivos surgiram a fim de


regulamentar o que estava disposto de forma geral, tanto na Constituição quanto na PNMA.
A tutela ambiental pós-88 tem deixado a rigidez de suas origens antropocêntricas incorporando

24
Capítulo 2 - Base histórica da AIA e a evolução política ambiental do Brasil

uma visão mais ampla, de caráter biocêntrico, ao propor-se a amparar a totalidade da vida e suas
bases (CYSNE; AMADOR, 2000). Dentre estas normas, resumidamente, destacam-se:

1989 – criação do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis


(IBAMA) (Lei n° 7.735/89);
1992 – criação do Ministério do Meio Ambiente (MMA) (alteração em 1999);
1997 – criação do Plano Nacional de Recursos Hídricos (Lei 9.433/97);
1998 – instituição da Lei de Crimes Ambientais (Lei 9.605/98);
1999 – definição da Política Nacional de Educação Ambiental (Lei 9.795/99);
2000 – instituição do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) (Lei 9.985/00);
2006 – criação do Serviço Florestal Brasileiro (SFB) (Lei 11.284/06);
2007 – criação do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio)
(Lei 11.516/07);
2010 – criação da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) (Lei 12.305/10);
2012 – instituição do Novo Código Florestal Brasileiro (Lei 12.651/12).

2.3. AIA e Política Ambiental no Brasil

A avaliação de impacto ambiental, no Brasil, surgiu em função da exigência de órgãos


financiadores internacionais e foi incluída como parte do sistema de licenciamento ambiental bem
mais tarde. Foi finalmente incorporada como instrumento de execução da Política Nacional do
Meio Ambiente em 1981 (Rohde, 1995).
A institucionalização da AIA no Brasil e, em diversos países, guiou-se pela experiência
americana, face a grande efetividade que os Estudos de Impacto Ambiental (EIA) demonstraram
no sistema legal dos Estados Unidos (IBAMA, 1995).
A Lei Federal 6.938/81, que estabelece a Política Nacional do Meio Ambiente, instituiu
a avaliação de impacto ambiental como um de seus instrumentos, sendo regulamentada pelo
Decreto 88.351/83, vinculando sua utilização aos sistemas de licenciamento de atividades
poluidoras ou modificadoras do meio ambiente, a cargo das entidades ambientais dos governos
estaduais e, em casos especiais, da Secretaria Especial do Meio Ambiente (SEMA).
A grande maioria dos estudos de impacto ambiental realizados no Brasil, no início, foi executada
para empreendimentos minerários (IBRAM, 1985; CETESB, 1987) e hidrelétricos. Atualmente,
diversos segmentos industriais, das mais diversificadas cadeias produtivas, devem passar por estudos
ambientais, que variam segundo as particularidades dos empreendimentos, porte, potencial poluidor,
vulnerabilidade ambiental do local, entre outros requisitos. A Constituição Federal de 1988 fixou em
seu artigo 225, inciso IV, a obrigatoriedade do Poder Público exigir o Estudo de Impacto Ambiental
(EIA) para a instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação

25
Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso

ambiental, sendo a primeira Constituição de um país a descrever a obrigatoriedade do EIA.


Embora o Brasil conte com uma regulamentação bem definida, as indústrias também são
estimuladas a inovar seus estudos ambientais para uma metodologia melhor e mais precisa e,
principalmente, menos impactante. Desta forma, a cada nova tecnologia lançada para reduzir
os impactos ambientais dos empreendimentos, novas legislações (principalmente Resoluções do
CONAMA e deliberações Estaduais) são promulgadas com o objetivo de replicar as boas ações.
Antes orientadas apenas por parâmetros econômico-financeiros, a autorização de funcionamento
de um empreendimento evoluiu em vários sentidos, principalmente na exigência dos EIA durante
o processo de licenciamento, fundamentados na PNMA.

2.3.1 A Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA)

A Conferência de Estocolmo de 1972, o NEPA americano e a pressão dos organismos


financiadores internacionais antecederam a criação da PNMA no Brasil. O Brasil precisava
demonstrar ao mundo que tratava com respeito os seus recursos naturais e que os mesmos não
estavam entregues à exploração desregrada de quaisquer indústrias que viessem a se instalar no país.
A PNMA (Lei 6.938/81) é constituída pelo Sistema Nacional do Meio Ambiente
(SISNAMA) e pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), estruturada em
princípios, objetivos e instrumentos responsáveis pela gestão ambiental. Editada na época
em que o ambientalismo moderno ainda era incipiente no Brasil, a PNMA trouxe políticas
públicas consideradas inovadoras. Entretanto, ainda permanecem questões que necessitam de
complementação mediante a inserção de temáticas recentes (p.ex., pagamentos por serviços
ambientais, zoneamento ecológico econômico, entre outros) e regras de organização das
instituições de uma maneira mais sistemática. Contudo, sabe-se da dificuldade em estabelecer
regras ambientais no Brasil, onde o Congresso Nacional mais incentiva a flexibilização das
normas do que seu rigor punitivo, como ocorreu recentemente com a aprovação do Código
Florestal (Lei 12.651/12).

2.3.2 Estruturação institucional do meio ambiente no Brasil: entendendo o SISNAMA

O Sistema Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA), instituído pela Lei nº 6.938, de 31 de


agosto de 1981, é constituído pelos órgãos e entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal,
dos Municípios e pelas Fundações instituídas pelo Poder Público, responsáveis pela proteção e
melhoria da qualidade ambiental.
O SISNAMA não se resume a um órgão nem a uma entidade. Não tem presidente nem
diretor. Trata-se da reunião de órgãos e entidades que militam na área ambiental. Compõem o
SISNAMA todas as secretarias, órgãos e entidades ligados ao meio ambiente no Brasil.

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Capítulo 2 - Base histórica da AIA e a evolução política ambiental do Brasil

Desde a sua instituição, em 1981, houve várias modificações na sua estruturação. Dentre
as principais alterações, ao longo do tempo, tem-se a extinção da Secretaria Especial de Meio
Ambiente (SEMA) e criação do Ministério do Meio Ambiente (MMA), Instituto Brasileiro
do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (IBAMA), Instituto Chico Mendes de
Conservação da Biodiodiversidade (ICMBio) e Serviço Florestal Brasileiro (SFB) que serão
discutidos ao longo do texto.
Os principais componentes do SISNAMA, atualmente, nos níveis federal, estadual e
municipal estão estruturados da segunte forma:

Nível Federal

27
Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso

28
Capítulo 2 - Base histórica da AIA e a evolução política ambiental do Brasil

Nível Estadual

Para exemplificar o caso de uma organização institucional de meio ambiente estadual,


segue o arranjo adotado pelo estado de Minas Gerais, conforme dispõe o Decreto 45.824, de 20
de dezembro de 2011.
Integram a “área de competência” da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e
Desenvolvimento Sustentável (SEMAD) – Minas Gerais:

A Superintendência Regional de Regularização Ambiental (SUPRAM) não compõe a


“área de competência” da SEMAD, contudo, tem relação direta com a sua estrutura orgânica. É
responsável pela regularização dos empreendimentos poluidores do estado de MG, isto é, cuida
da análise dos EIA e do licenciamento dos empreendimentos.

Nível Municipal

Os municípios podem ter estrutura orgânica diferenciada, dependendo do porte ou


potencial poluidor dos empreendimentos. Geralmente, os municípios detém a seguinte estrutura
institucional sobre o meio ambiente:

29
Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso

• Secretaria de Meio Ambiente


• Conselhos Municipais de Desenvolvimento Ambiental (Codemas)
• Departamentos Municipais do Meio Ambiente.

A atuação do SISNAMA se dará mediante articulação coordenada dos Órgãos e entidades


que o constituem, observado o acesso da opinião pública às informações relativas às agressões ao
meio ambiente e às ações de proteção ambiental, na forma estabelecida pelo CONAMA.
Cabe aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios a regionalização das medidas
emanadas pelo SISNAMA, elaborando normas e padrões supletivos e complementares. Os Órgãos
Seccionais devem prestar informações sobre os seus planos de ação e programas em execução,
consubstanciadas em relatórios anuais, que são consolidados pelo Ministério do Meio Ambiente,
em um relatório anual sobre a situação do meio ambiente no País, posteriormente publicado e
submetido à consideração do CONAMA, em sua segunda reunião do ano subseqüente.
Além dos órgãos vinculados diretamente à estrutura do SISNAMA, busca-se atualmente
no Brasil uma transversalidade da temática ambiental em todos os ministérios, secretarias
de estado e secretarias municipais. A concepção do meio ambiente no todo, considerando a
interdependência entre meio natural e o sócio-econômico são fundamentais para se atingir a
sustentabilidade, seja em qualquer esfera do poder ou atividade econômica.

2.3.3. O papel do CONAMA

O Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA) foi criado pela PNMA (Lei
6.938/81) com a principal atribuição de deliberar resoluções que tratam da definição dos
parâmetros e diretrizes para a intervenção sobre o meio ambiente e regulamentar o processo
de licenciamento ambiental no Brasil. Dentre as várias atribuições do CONAMA, duas o
caracterizam como o órgão máximo na proteção ambiental no Brasil: 1- deliberar os padrões e
parâmetros de qualidade ambiental, norteando o licenciamento dos empreendimentos causadores
de degradação ambiental; 2- decidir, em último grau recursal ou instância, a instalação dos
empreendimentos mais polêmicos.
O CONAMA é composto por Plenário (109 membros), pelo Comitê de integração de
Políticas Ambientais (CIPAM), pelos Grupos Assessores de planejamento e avaliação e revisão
do regimento interno do CONAMA, pelas Câmaras Técnicas e Grupos de Trabalho para dar
suporte técnico às reuniões do CONAMA. O conselho é presidido pelo Ministro do Meio
Ambiente e sua Secretaria Executiva é exercida pelo Secretário-Executivo do MMA.
As principais Resoluções do CONAMA no campo dos Estudos de Impactos Ambientais
(EIA) e Licenciamentos Ambientais são, respectivamente, a Resolução CONAMA nº 01 de
1986 e a nº 237 de 1997. Estas resoluções definem critérios e diretrizes gerais para a realização
dos Estudos de Impactos Ambientais (EIA), Relatórios de Impactos Ambientais (RIMA) e
licenciamento ambiental no Brasil. A Resolução 01/86 é considerada a precursora da evolução

30
Capítulo 2 - Base histórica da AIA e a evolução política ambiental do Brasil

no ordenamento jurídico brasileiro sobre os estudos dos impactos, sendo que de 1984 até 2012
foram editadas mais de 400 resoluções.
As resoluções do CONAMA tratam de diversos assuntos relacionados às atividades que causam
alguma intervenção no ambiente. As principais resoluções que tratam do EIA e licenciamento ambiental
são apresentados na tabela 1, sendo que estão destacadas algumas consideradas fundamentais.

Tabela 2.1- Resoluções do CONAMA referentes ao Licenciamento Ambiental entre 1984 e 2012.
ANO RESOLUÇÃO CONAMA No / DESCRIÇÃO
“Dispõe sobre o prévio licenciamento por órgão estadual nas atividades de transporte, estocagem e
1985 005
uso do “Pó da China”
001 “Dispõe sobre critérios básicos e diretrizes gerais para a Avaliação de Impacto Ambiental - AIA”
006 “Dispõe sobre a aprovação de modelos para publicação de pedidos de licenciamento”
024 “Dispõe sobre apresentação de licenciamento de projetos de hidrelétricas pela ELETROBRÁS”
1986
“Dispõe sobre a determinação à CNEN e FURNAS de elaboração de EIAs e apresentação do
028
RIMA referente as Usinas Nucleares Angra II e III”
“Dispõe sobre a determinação à CNEN e FURNAS - de apresentação do RIMA das Usinas Nucle-
029
ares Angra II e III”
006 “Dispõe sobre o licenciamento ambiental de obras do setor de geração de energia elétrica”
1987
009 “Dispõe sobre a questão de Audiências Públicas”
005 “Dispõe sobre o licenciamento de obras de saneamento básico”
1988 “Dispõe sobre o licenciamento de atividade mineral (transformada no Decreto nº 97.507, de 13 de
008
fevereiro de 1989)” Status: Transformada em ato superior
“Dispõe sobre a apresentação de EIAs, pela PETROBRÁS, sobre o uso de metanol como combus-
1989 015
tível”
“Dispõe sobre normas específicas para o licenciamento ambiental de extração mineral, classes I, III
009
a IX”
1990
010 “Dispõe sobre normas específicas para o licenciamento ambiental de extração mineral, classe II”
011 “Dispõe a revisão e elaboração de planos de manejo e licenciamento ambiental na Mata Atlântica”
“Ratifica os limites de emissão, os prazos e demais exigências contidas na Resolução CONAMA
nº 018/86, que institui o Programa Nacional de Controle da Poluição por Veículos Automotores
- PROCONVE, complementada pelas Resoluções CONAMA nº 03/89, nº 004/89, nº 06/93, nº
1993 016
07/93, nº 008/93 e pela Portaria IBAMA nº 1.937/90; torna obrigatório o licenciamento am-
biental junto ao IBAMA para as especificações, fabricação, comercialização e distribuição de novos
combustíveis e sua formulação final para uso em todo o país”

Continua...

31
Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso

Tabela 2.1- Continuação


ANO RESOLUÇÃO CONAMA No / DESCRIÇÃO
“Define vegetação primária e secundária nos estágios pioneiro, inicial, médio e avançado de rege-
001 neração da Mata Atlântica, a fim de orientar os procedimentos de licenciamento de exploração da
vegetação nativa em São Paulo”
“Define formações vegetais primárias e estágios sucessionais de vegetação secundária, com finalida-
002
de de orientar os procedimentos de licenciamento de exploração da vegetação nativa no Paraná”
“Define vegetação primária e secundária nos estágios inicial, médio e avançado de regeneração da
004 Mata Atlântica, a fim de orientar os procedimentos de licenciamento de atividades florestais em
Santa Catarina”
1994
“Define vegetação primária e secundária nos estágios inicial, médio e avançado de regeneração da
005 Mata Atlântica, a fim de orientar os procedimentos de licenciamento de atividades florestais na
Bahia”
“Institui procedimentos específicos para o licenciamento de atividades relacionadas à exploração e
023
lavra de jazidas de combustíveis líquidos e gás natural”
“Define vegetação primária e secundária nos estágios inicial, médio e avançado de regeneração da
025 Mata Atlântica, a fim de orientar os procedimentos de licenciamento de atividades florestais no
Ceará”
“Define vegetação primária e secundária nos estágios inicial, médio e avançado de regeneração da
026 Mata Atlântica, a fim de orientar os procedimentos de licenciamento de atividades florestais no
Piauí”
“Define vegetação primária e secundária nos estágios inicial, médio e avançado de regeneração da
028 Mata Atlântica, a fim de orientar os procedimentos de licenciamento de exploração de recursos
florestais no Alagoas”
“Define vegetação primária e secundária nos estágios inicial, médio e avançado de regeneração da
030 Mata Atlântica, a fim de orientar os procedimentos de licenciamento de atividades florestais no
Mato Grosso do Sul”
1994
“Define vegetação primária e secundária nos estágios inicial, médio e avançado de regeneração da
031 Mata Atlântica, a fim de orientar os procedimentos de licenciamento de atividades florestais no
Pernambuco”
“Define vegetação primária e secundária nos estágios inicial, médio e avançado de regeneração da
032 Mata Atlântica, a fim de orientar os procedimentos de licenciamento de atividades florestais no Rio
Grande do Norte”
“Define vegetação primária e secundária nos estágios inicial, médio e avançado de regeneração da
034 Mata Atlântica, a fim de orientar os procedimentos de licenciamento de atividades florestais no
Sergipe”
1996 010 “Regulamenta o licenciamento ambiental em praias onde ocorre a desova de tartarugas marinhas”

Continua...

32
Capítulo 2 - Base histórica da AIA e a evolução política ambiental do Brasil

Tabela 2.1- Continuação


ANO RESOLUÇÃO CONAMA No / DESCRIÇÃO
“Regulamenta os aspectos de licenciamento ambiental estabelecidos na Política Nacional do Meio
1997 237
Ambiente”
“Determina o Manejo florestal sustentável, Licenciamento Ambiental e Controle e Monitoramento
248
dos empreendimentos de base florestal, na Mata Atlântica no Sul da Bahia”
1999
“Licenciamento de fornos rotativos de produção de clínquer para atividades de co-processamento
264
de resíduos”
“Estabelece procedimentos para o licenciamento ambiental simplificado de empreendimentos
279
elétricos com pequeno potencial de impacto ambiental”

2001 281 “Dispõe sobre modelos de publicação de pedidos de licenciamento”


284 “Dispõe sobre o licenciamento de empreendimentos de irrigação”
286 “Dispõe sobre o licenciamento ambiental de empreendimentos nas regiões endêmicas de malária”
“Dispõe sobre Licenciamento Ambiental, Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto no
2002 305 Meio Ambiente de atividades e empreendimentos com Organismos Geneticamente Modificados e
seus derivados”
312 “Dispõe sobre o licenciamento ambiental dos empreendimentos de carcinicultura na zona costeira”
“Dispõe sobre os procedimentos de licenciamento ambiental de estabelecimentos destinados ao
334
2003 recebimento de embalagens vazias de agrotóxicos”
335 “Dispõe sobre o licenciamento ambiental de cemitérios”
“Dispõe sobre o licenciamento ambiental de empreendimentos ferroviários de pequeno potencial
349
de impacto ambiental e a regularização dos empreendimentos em operação”
2004
“Dispõe sobre o licenciamento ambiental específico das atividades de aquisição de dados sísmicos
350
marítimos e em zonas de transição”
“Altera dispositivos da Resolução Nº 335, de 3 de abril de 2003, que dispõe sobre o licenciamento
368
ambiental de cemitérios”
377 “Dispõe sobre licenciamento ambiental simplificado de Sistemas de Esgotamento Sanitário”
2006 “Estabelece procedimentos a serem adotados para o licenciamento ambiental de agroindústrias de
385
pequeno porte e baixo potencial de impacto ambiental”
“Estabelece procedimentos para o Licenciamento Ambiental de Projetos de Assentamentos de
387
Reforma Agrária, e dá outras providências”
“Estabelece critérios e diretrizes para o licenciamento ambiental de aterro sanitário de pequeno
2008 404
porte de resíduos sólidos urbanos”

Continua...

33
Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso

Tabela 2.1- Continuação


ANO RESOLUÇÃO CONAMA No / DESCRIÇÃO
“Estabelece critérios e diretrizes para o licenciamento ambiental de novos empreendimentos desti-
412
2009 nados à construção de habitações de Interesse Social”
413 “Dispõe sobre o licenciamento ambiental da aquicultura, e dá outras providências”
“Dispõe, no âmbito do licenciamento ambiental, sobre a autorização do órgão responsável pela
administração da Unidade de Conservação (UC), de que trata o artigo 36, § 3o, da Lei no 9.985,
2010 428 de 18 de julho de 2000, bem como sobre a ciência do órgão responsável pela administração da UC
no caso de licenciamento ambiental de empreendimentos não sujeitos a EIA-RIMA e dá outras
providências”

É possível acessar todas as resoluções CONAMA por meio de consulta ao seu sítio na rede
mundial de computadores (http://www.mma.gov.br/conama/) ou ainda por consulta ao índice
temático da publicação “Resoluções do Conama: Resoluções vigentes do CONAMA publicadas entre
setembro de 1984 e janeiro de 2012” (CONAMA, 2012).
O ordenamento regulado pelo CONAMA continua se apefeiçoando e, por isso, é
considerado um dos principais órgãos de tutela ambiental.

2.3.4. Reorganização Institucional das Políticas Ambientais

A legislação ambiental brasileira sempre se mostrou precária e insuficiente para atender


às reais necessidades do país no que se refere aos recursos ambientais. Contudo, a crescente
preocupação com a conservação dos recursos naturais levou o Brasil a estabelecer profundas
modificações no campo institucional nos últimos anos. Neste contexto é importante citar a
PNMA (Lei nº 6.938/81) que criou o Sistema Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA). Essa
Lei se transformou no principal instrumento da gestão ambiental no país, definindo o papel do
Poder Público e conferindo novas responsabilidades ao setor privado em relação à proteção do
meio ambiente. A PNMA passou a tratar o meio ambiente em termos sistêmicos e globais, ao
invés de tratar as questões ambientais de forma pontual e específica.
Visando melhorar seu desempenho, em fevereiro de 1989, o Governo Brasileiro unificou a
estrutura da administração pública ambiental, criando o Instituto do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis (IBAMA), a partir da fusão do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento
Florestal (IBDF), da Secretaria Especial do Meio Ambiente (SEMA), da Superintendência de
Desenvolvimento da Pesca (SUDEPE) e da Superintendência de Desenvolvimento da Borracha
(SUDHEVEA). Com esta medida, objetivou-se dotar de uma visão integrada o planejamento e
a ação governamental no setor de meio ambiente, abarcando em uma só estrutura as funções de
fomento, proteção, pesquisa e fiscalização para as áreas florestais, pesqueiras e de preservação dos

34
Capítulo 2 - Base histórica da AIA e a evolução política ambiental do Brasil

ecossistemas nacionais. Ao mesmo tempo o IBAMA passou a exercer o papel de órgão executor
do SISNAMA, com a finalidade de executar e fazer executar, como órgão federal, a política e
diretrizes governamentais fixadas para o meio ambiente.
Nesta época o país já se encontrava sob uma nova ordem constitucional, onde a questão
ambiental recebeu destaque e passou a ser tratada de forma indissociável. No tocante à repartição
de competências entre os entes federativos para a tutela ambiental, a Constituição Federal de
1988 definiu três competências distintas, quais sejam: privativas, comuns e concorrentes. Ações
de interesse nacional ou que envolvem energia nuclear, populações indígenas, fronteiras, dentre
outras, são de competência privativa da união (artigos 21 e 22 da Constituição Federal). A
competência comum à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios refere-se às
ações conjuntas para preservar e conservar as florestas, a fauna e a flora (artigo 23 da Constiuição
Federal). A competência para legislar sobre florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza,
defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição, passou
a ser concorrente, onde os Estados e o Distrito Federal assumem competência para legislar,
concorrentemente com a União, nos termos do artigo 24, da Constituição Federal.
O mandamento constitucional da competência comum e da competência concorrente,
consagrada na nova Constituição, alterou, radicalmente, o modelo centralizado de administração
construída em torno do extinto IBDF, estabelecendo a descentralização como um princípio
fundamental. Como desdobramento da nova Constituição, podem ser assinalados os seguintes
pontos de inovação da competência ambiental e florestal no Brasil (FUNATURA, 1996):

(a) a competência atribuída aos Estados e aos Municípios para atuarem diretamente
em assuntos relacionados com as florestas, fez com que desaparecesse a figura
jurídica da competência delegada, dando mais autonomia aos Órgãos estaduais
e fortalecendo a implementação descentralizada da política florestal;
(b) a competência adquirida pelos Estados de legislarem concorrentemente com
a União sobre florestas, mobilizou os poderes legislativos estaduais para a
elaboração de “leis florestais” destinadas a ajustar as normas gerais do Poder
Federal às peculiaridades dos Estados e seus Municípios, como já ocorre em
algumas Unidades da Federação;
(c) o fortalecimento político do Sistema Nacional do Meio Ambiente, que passou a
incorporar os órgãos florestais, gerando acordos de cooperação institucional entre
a União e os Estados, celebrados sob o enfoque das novas regras estabelecidas na
Constituição;
(d) a inserção da administração florestal no contexto da gestão ambiental, já que a
temática florestal foi tratada no capítulo específico de meio ambiente consignada
na nova Carta Magna;

35
Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso

(e) a conceituação dos principais biomas do país: Floresta Amazônica, Mata Atlântica
e o Pantanal, como patrimônio nacional submetido a regime jurídico especial,
cuja exploração só poderá ser realizada mediante técnica de manejo sustentável.

A partir de 2011, por meio da Lei Complementar n° 140 de 08 de dezembro de 2011, o


procedimento administrativo destinado a licenciar atividades ou empreendimentos utilizadores
de recursos ambientais foi reformulado para atender aos anseios da sociedade. Foram definidos
sistemas de cooperação institucional entre os diferentes níveis, em que as instâncias estaduais e
municipais receberam maiores competências e responsabilidades no processo de regularização
dos empreendimentos.
Segue a análise dos principais órgãos pós-1988 que tutelam o meio ambiente no Brasil.

Criação do IBAMA e seu papel institucional: 1989

A criação do IBAMA, por meio da Lei nº 7.735, de 22 de fevereiro de 1989, buscou


criar um fato político e administrativo, com o qual fosse possível responder às preocupações
e às pressões da sociedade brasileira, principalmente, aquelas nascidas no seio do movimento
ambientalista, em relação ao imobilismo e à inoperância da estrutura governamental que o
precedeu. Com o surgimento do IBAMA, as atividades ambientais deixaram de ser geridas sob a
ótica e a influência da política agrícola, como tradicionalmente se fazia no Brasil, dando ênfase
ao meio ambiente nas políticas de desenvolvimento do país.
Segundo FUNATURA (1996), o IBAMA procurou instrumentalizar um novo modelo de
gestão, que tinha por base o fato de ser:

(a) Integrado - reuniu, pela primeira vez, sob o comando deste instituto federal,
a definição das políticas públicas de proteção e uso dos recursos ambientais; de
controle da poluição; de uso e proteção das florestas; dos recursos hídricos e
pesqueiros; da fauna silvestre; e da qualidade ambiental;

(b) Sistêmico - com o objetivo de tornar consistente o propósito de integração


das ações do Governo Federal e facilitar a articulação do conjunto de políticas
governamentais de responsabilidade da União e desta com os governos dos
Estados Federados e dos Municípios;

36
Capítulo 2 - Base histórica da AIA e a evolução política ambiental do Brasil

(c) Descentralizado - para tornar factível e assegurar que o dispositivo constitucional


que estabeleceu a descentralização administrativa - como decorrência das
competências comum e concorrente entre a União, os Estados e os Municípios
- seja praticado no cotidiano da atuação e do funcionamento do Poder Público,
de tal modo que os governos estaduais e municipais - devidamente aparelhados
institucionalmente - venham a ter crescente participação na execução das
políticas adotadas.

A matriz institucional do IBAMA, assim definida, procurou: (i) capacitar o Estado Brasileiro,
organizacional e institucionalmente, para cumprir os novos mandamentos constitucionais
sobre o meio ambiente e os recursos naturais renováveis; (ii) incorporar novos conceitos aos
procedimentos administrativos tradicionalmente empregados pelo Poder Público no exercício do
seu papel normativo, nas relações do Estado com a sociedade civil; e (iii) disciplinar as atividades
produtivas estatais e privadas susceptíveis de causar danos ao meio ambiente e de provocar a
degradação irreversível do patrimônio natural do país.
A formulação conceitual do novo modelo de gestão ambiental e da matriz institucional
estabelecida, para configurar o papel do Estado e a atuação do Governo no tocante à questão,
levou em conta a necessidade de se incorporar, numa mesma esfera de decisões, as atribuições
inerentes ao meio ambiente e aos recursos naturais renováveis. Buscava-se, então, estruturar um
Órgão que superasse a fragilidade, a inércia, o anacronismo e o fracionamento dos encargos e das
competências das instituições extintas. Esta concepção deu lugar à criação do IBAMA.
O IBAMA foi estruturado de forma a incorporar todas as atribuições das instituições
extintas, além de incorporar as novas funções previstas na PNMA como órgão executor do
SISNAMA. A estrutura institucional foi dividida entre várias diretorias e departamentos, quais
sejam: a Diretoria de Controle e Fiscalização (DIRCOF), a Diretoria de Recursos Naturais
Renováveis (DIREN), a Diretoria de Ecossistemas (DIREC) e a Diretoria de Incentivo à Pesquisa
e Divulgação (DIRPED).
Em termos operacionais, as consequências da gestão da Política Ambiental decorrente
do novo arranjo institucional do IBAMA foram as seguintes: a reestruturação institucional do
IBAMA incorporando todas as funções do SISNAMA de forma a minimizar as deficiências
observadas até então; a concentração e centralização de atividades ambientais e florestais ao
IBAMA, sendo possível estabelecer parcerias com os estados e o Distrito Federal; a correção
no desequilíbrio de funções observadas anteriormente por meio de controle e fiscalização mais
efetivos; a melhoria da atuação do IBAMA em defesa do meio ambiente, incluindo a proteção
das florestas e demais recursos naturais, em detrimento da redução da representatividade do setor
florestal, especialmente dos setores produtivos.

37
Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso

O IBAMA novamente passará por reformas institucionais em 2007, permanecendo, no


entanto, com as funções que envolvem os licenciamentos ambientais, autorizações ambientais e
a fiscalização (REZENDE et al., 2007).

Criação do MMA: 1992

No contexto de priorização das questões relacionadas à Política de Meio Ambiente do


país e diante das críticas internacionais em relação à questão amazônica, o governo brasileiro
criou, em 1992, o Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal
(MMARHAL) (Lei nº 8.490/92), com a finalidade de coordenar, supervisionar e controlar as
atividades relativas à PNMA e à preservação, conservação e uso racional dos recursos naturais
renováveis. Entre as diversas competências atribuídas ao Ministério, incluiu-se: formular, orientar
e disciplinar a política florestal, faunística, pesqueira e da borracha.
A decisão política do Governo Federal em criar o MMARHAL trouxe reflexos na
restruturação do IBAMA. Apesar destas implicações, novamente, observava-se a defasagem entre
a intenção e a prática, uma vez que o MMARHAL não contemplou o setor florestal em secretaria
específica, o que na prática manteve a gestão dos recursos e atividades florestais subordinada
integralmente à política ambiental.
Esta distorção somente veio a ser corrigida com a reestruturação do MMARHAL e
consolidação do Ministério do Meio Ambiente (MMA) por meio do Decreto nº 2.972/99. Este
Decreto criou a Secretaria de Biodiversidade e Florestas com competência de propor políticas e
normas, definir estratégias e implementar programas e projetos relacionados:

(I) a gestão compartilhada do uso sustentável dos recursos naturais;


(II) o conhecimento, conservação e utilização sustentável da biodiversidade;
(III) o acesso aos recursos genéticos;
(IV) o reflorestamento e a recuperação das áreas degradadas;
(V) o uso sustentável da ictiofauna e dos recursos pesqueiros;
(VI) o gerenciamento do sistema nacional de unidades de conservação e
(VII) o uso sustentável de florestas, incluindo a prevenção e controle de queimadas.

Com a estruturação do MMA vigente, ressalta-se a importância ambiental no contexto


das políticas públicas e um espaço de interlocução com o governo, especialmente no que tange
a políticas, programas e projetos voltados à proteção da biodiversidade constantes nos estudos
ambientais para instalação dos empreendimentos.

38
Capítulo 2 - Base histórica da AIA e a evolução política ambiental do Brasil

Lei de Crimes Ambientais: 1998



A Lei de Crimes ambientais aprimorou a legislação que era falha com relação à questão de
penalidades contra aqueles que utilizavam os recursos naturais de forma inadequada. Até então
compensava utilizar-se dos recursos ambientais causando degradação, porque as penas e multas
decorrentes eram insignificantes frente ao lucro gerado pela prática da degradação. Os delitos
contra o meio ambiente eram considerados contravenções penais – não eram, portanto, crime.
Assim, qualquer dano ou prejuízo causado aos elementos que compõem o meio ambiente, com
a Lei de Crimes Ambientais, passou a ser considerado crime ambiental (BORGES et al., 2009).
A Lei de Crimes Ambientais tramitou entre a Câmara dos Deputados e o Senado de 1991
a 1998, quando em fevereiro deste último ano foi finalmente aprovada. A Lei não trata apenas
de punições severas. Incorporou métodos e possibilidades da não aplicação das penas, desde que
o infrator recupere o dano, ou, de outra forma, pague sua dívida à sociedade.
Uma lei só é eficiente se puder ser efetivamente aplicada e cumprida. A Lei de crimes
ambientais ainda precisa ser melhor divulgada e correlacionada com a Constituição Federal de
1988, que trata do meio ambiente comum a todos, sendo dever de cada cidadão protegê-lo. No
entanto, é necessária a participação da sociedade na forma de denúncias sobre a má utilização
dos recursos naturais, pois incumbe ao poder público e à coletividade o dever de defender e
preservar o meio ambiente para as presentes e futuras gerações. A Lei de Crimes Ambientais é
uma ferramenta de cidadania, cabendo a todos os cidadãos exercitá-la, implementá-la, dar-lhe
vida, por meio do seu amplo conhecimento e da vigilância constante (IBAMA, 2001).
Ter boas leis é o primeiro e mais importante passo, mas não é o suficiente. A norma
é apenas um ponto de partida. Para a sua efetividade, é necessário estabelecer condições que
viabilizem sua aplicação, como a contratação de técnicos especializados, infraestrutura adequada
e recursos financeiros para a consecução dos trabalhos (BORGES et al., 2009).

Serviço Florestal Brasileiro: 2006

A Lei 11.284/06 criou o Serviço Florestal Brasileiro (SFB) e dispôs sobre a gestão de
florestas públicas para a produção sustentável no território brasileiro. Esta norma estabeleceu os
critérios para o uso, concessão e conservação das florestas públicas. Conceituou termos atinentes
à exploração florestal bem como os produtos e serviços que ela pode oferecer.
O SFB atua exclusivamente na gestão das florestas de domínio público e tem por competência:

39
Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso

• exercer a função de órgão gestor das florestas públicas (federais);


• apoiar a criação e gestão de programas de treinamento, capacitação, pesquisa e
assistência técnica para a implementação de atividades florestais, incluindo manejo
florestal, processamento de produtos florestais e exploração de serviços florestais;
• estimular e fomentar a prática de atividades florestais sustentáveis, madeireira, não
madeireira e de serviços;
• promover estudos de mercado para produtos e serviços gerados pelas florestas;
• propor planos de produção florestal sustentável de forma compatível com as demandas
da sociedade;
• criar e manter o Sistema Nacional de Informações Florestais integrado ao Sistema
Nacional de Informações sobre o Meio Ambiente;
• gerenciar o Cadastro Nacional de Florestas Públicas, exercendo as seguintes funções:
a) organizar e manter atualizado o Cadastro-Geral de Florestas Públicas da União;
b) adotar as providências necessárias para interligar os cadastros estaduais e
municipais ao Cadastro Nacional;
• apoiar e atuar em parceria com os seus congêneres estaduais e municipais.
BRASIL (2006)

No exercício de suas atribuições, o SFB promove a articulação com os Estados, o Distrito


Federal e os Municípios, para a execução de suas atividades de forma compatível com as diretrizes
nacionais de planejamento para o setor florestal e com a PNMA.

Criação do ICMBio: 2007

A criação do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio)


surgiu da necessidade de se criar uma estrutura organizada de forma a proteger a biodiversidade
no Brasil. Visou separar, principalmente, as atribuições de proteção da biodiversidade das de
licenciamento de atividades degradadoras do meio ambiente, este pertencente ao IBAMA. Não
justificava o mesmo órgão que protegia o meio ambiente autorizar a intervenção no mesmo. A
criação do ICMBio foi um importante instrumento para o aperfeiçoamento do SISNAMA.
O ICMBio, autarquia federal dotada de personalidade jurídica de direito público,
autonomia administrativa e financeira, vinculada ao MMA, é responsável pela gestão das
Unidades de Conservação (UC) Federais de todo o País e tem, como principais finalidades:

40
Capítulo 2 - Base histórica da AIA e a evolução política ambiental do Brasil

• executar ações da política nacional de unidades de conservação da natureza,


referentes às atribuições federais relativas à proposição, implantação, gestão,
proteção, fiscalização e monitoramento das unidades de conservação instituídas pela
União;
• executar as políticas relativas ao uso sustentável dos recursos naturais renováveis,
apoio ao extrativismo e às populações tradicionais nas unidades de conservação de
uso sustentável instituídas pela União;
• fomentar e executar programas de pesquisa, proteção, preservação e conservação da
biodiversidade;
• exercer o poder de polícia ambiental para a proteção das unidades de conservação
instituídas pela União.
BRASIL (2007)

41
Linha do Tempo
3
CONCEITOS E PRINCÍPIOS
UTILIZADOS NOS
ESTUDOS DE IMPACTOS
AMBIENTAIS

Com a mundialização da sociedade, o espaço, tornado global, é um capital


comum a toda a humanidade. [...] Hoje, quando se fala de espaço total fala-
se de uma multiplicidade de influências superpostas: mundiais, nacionais,
locais; no entanto, o espaço é maciço, contínuo, indivisível.
Milton Santos
Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso

Os principais conceitos aplicados aos estudos de avaliação de impactos ambientais e


conservação ambiental estão dispersos na literatura, não havendo uma única publicação que
os organize de forma categórica e permita a sua compreensão plena. Muitos desses conceitos
não são bem compreendidos ou não foram ainda devidamente regulamentados pela legislação
ambiental brasileira. Frente à preocupação em organizá-los, faz-se necessário a definição dos
mesmos com o intuito de estruturar as ideias e maximizar os pontos conflituosos existentes sobre
o assunto, guiando para uma uniformização de entendimentos.
O tema é extenso e, por isso, não há a pretensão de esgotá-lo sobre uma ou outra
atividade/empreendimento, mas apresentar uma ideia geral do que deve ser fundamental para
a formação do profissional que atuará na Avaliação de Impactos Ambientais. Os conceitos
clássicos associados aos Estudos de Impactos Ambientais estão em normas jurídicas, literatura
especializada, artigos científicos e em textos técnicos elaborados por instituições ambientais.
Dentre as fontes consultadas destacam-se: Lei 6.938/81 – Política Nacional do Meio Ambiente;
as Resoluções CONAMA 01/86, 237/97, 303/02; Lei 9.985/00 – Sistema Nacional de Unidades
de Conservação; Lei 11.284/06 – Dispõe sobre a Gestão de Florestas Públicas, a Secretaria de
Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Minas Gerais e o IBAMA.
Os conceitos foram organizados de forma sequencial, mantendo associação entre os temas
gerais, de forma a tornar o texto didático e claro para a compreensão do leitor.

CONCEITOS

3.1. Meio Ambiente

Segundo a UNESCO, Meio Ambiente é “tudo que rodeia o homem, quer como indivíduo,
quer como grupo, tanto o natural como o construído, englobando o ecológico, o urbano, o
rural, o social e mesmo o psicológico”.
Na Lei Federal 6.938/81, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, o
meio ambiente é compreendido como “o conjunto de condições, leis, influências e interações
de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”
(BRASIL, 1981).
Sánchez (2008) explica que o conceito de ambiente, no campo do planejamento e
gestão ambiental, é amplo, multifacetado e maleável. Amplo porque inclui tanto a natureza
como a sociedade; multifacetado porque pode ser compreendido sob diferentes perspectivas;
maleável porque, ao ser amplo e multifacetado, pode ser reduzido ou ampliado de acordo com

44
Capítulo 3 - Conceitos e princípios nos estudos de Impactos Ambientais

as necessidades do analista ou os interesses dos envolvidos. Portanto, entende-se que o meio


ambiente são todas as interações naturais, incluindo tudo que envolve o homem, as interações
com ele ocorridas e por ele provocadas.

3.2. Recursos Ambientais

A PNMA de 1981 define recursos ambientais como sendo “a atmosfera, as águas interiores,
superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da
biosfera, a fauna e a flora”. Os recursos ambientais são todos os recursos existentes no planeta,
que englobam a terra, o ar, a água, a fauna e flora. Eles podem ser subdivididos em outros
dois, quais sejam: recursos renováveis e não-renováveis. Grande parte da literatura diferencia os
recursos renováveis dos não renováveis, segundo a sua inesgotabilidade, sem mencionar a escala
de tempo necessária para esse esgotamento. O entendimento necessário para compreensão desses
termos deve partir da relação de tempo necessário para a renovação de um dado recurso. Por
exemplo, ao se pensar numa escala de tempo correspondente a uma geração humana (em torno
de 25 anos), a fauna, a floresta e muitos recursos, especialmente nas regiões tropicais, podem ser
considerados renováveis, em detrimento dos minerais. Caso a análise do tempo de renovação
do recurso ultrapasse uma era geológica ou alguns milhares de anos, possivelmente, dentre os
recursos renováveis possamos incluir alguns minerais. Em suma, na compreensão do recurso
como renovável ou não-renovável, é necessário indexar uma escala de tempo.

3.3. Desenvolvimento Sustentável

É a forma de desenvolvimento que atende às necessidades do presente, sem comprometer


as possibilidades de vida das gerações futuras, pela utilização excessiva dos recursos ambientais.
Esta definição foi trazida pela Comissão Mundial de Meio Ambiente e Desenvolvimento -
WCED (1987), propondo uma cooperação internacional que pudesse orientar políticas e ações
de modo a promover as mudanças necessárias para o uso racional dos recursos naturais. O
texto ficou conhecido por todo o mundo pelo nome de “Nosso Futuro Comum” ou “Relatório
Brundtland”. A personalidade associada a este relatório, que inclusive leva o seu nome, foi a
Primeira Ministra Norueguesa à época Grö Harlem Brundtland, por ter sido a responsável pela
elaboração do relatório Nosso Futuro Comum.
Na visão de Sachs (1993), os pilares do desenvolvimento sustentável são:

45
Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso

Social - é aquela em que se busca uma maior eqüidade na distribuição do ter, criando
um processo civilizatório baseado no ser;
Econômico- possibilita reduzir os custos - ambientais e sociais, possibilitando uma maior
alocação e gestão de recursos, com um fluxo regular de investimento público e privado;
Ecológico - visa o aumento da capacidade de recursos naturais, limitando os recursos
não-renováveis ou ambientalmente prejudicáveis;
Espacial - se volta para uma configuração rural-urbana mais equilibrada;
Cultural - enfatiza as raízes endógenas, respeitando a continuidade das tradições
culturais e a pluralidade das soluções particulares.

3.4. Impacto Ambiental

De acordo com o artigo 1º da Resolução CONAMA 001/86, Impacto Ambiental é:

“qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente


causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas
que direta ou indiretamente venham a afetar: a saúde, a segurança e o bem estar da
população; as atividades sociais e econômicas; a biota; as condições estéticas e sanitárias
do meio ambiente; a qualidade dos recursos ambientais.”

O impacto ambiental, trazido por esta Resolução não distingue os impactos positivos ou
negativos. Portanto, entende-se que, numa avaliação e estudo de impactos ambientais, além dos
impactos ambientais negativos causados pelo empreendimento, sejam contemplados também
os impactos positivos. Quanto maior o detalhamento dos mesmos, melhor e mais rápida será a
compreensão e a avaliação do estudo pelo órgão licenciador.
Para a Fundação Estadual do Meio Ambiente (FEAM) de Minas Gerais, impacto ambiental
pode ser compreendido como “qualquer alteração significativa do meio ambiente em um ou
mais dos seus componentes, provocada pela ação do homem.”

3.5. Poluição

A poluição foi definida pela PNMA como:

“degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente:


prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; criem condições adversas
às atividades sociais e econômicas; afetem desfavoravelmente a biota; afetem as condições
estéticas ou sanitárias do meio ambiente; lancem matérias ou energia em desacordo com
os padrões ambientais estabelecidos”.
(BRASIL, 1981)

46
Capítulo 3 - Conceitos e princípios nos estudos de Impactos Ambientais

3.6. Poluidor

A PNMA também define poluidor como “a pessoa física ou jurídica, de direito público ou
privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental”.
(Brasil, 1981)

3.7 Degradação

A degradação ambiental ocorre quando a vegetação nativa e a fauna foram destruídas,


removidas ou expulsas; a camada fértil de um solo foi perdida; a qualidade do ar e dos recursos
hídricos, incluindo o regime de vazão, foi alterada, inviabilizando o desenvolvimento sócio-
econômico em níveis adequados.

3.7.1. Degradação da Qualidade Ambiental

A degradação da qualidade ambiental é definida pela PNMA como “a alteração adversa das
características do meio ambiente”. (BRASIL, 1981).
Toda poluição, segundo definição pela PNMA, é causada pelo homem sendo entendida
como evento negativo ao meio ambiente. A PNMA se preocupou em estabelecer, de forma
categórica, esta sequencia de definições permitindo ao leitor compreender que toda poluição é
prejudicial ao meio ambiente e tem causa antrópica. A diferença básica entre poluição e impacto
ambiental é que a segunda, além da possibilidade de ser considerada poluição, pode também ser
entendida como impactos positivos. A avaliação e estudo dos impactos ambientais, portanto, vai
além da caracterização dos eventos negativos.

3.8. Recuperação

O sítio degradado deverá retornar a uma forma de utilização de acordo com um plano
preestabelecido para o uso do solo. Obtem-se uma condição estável de conformidade com os
valores ambientais, estéticos e sociais da circunvizinhança.
BRASIL (2000), define recuperação como o processo de restituição de um ecossistema ou
de uma população silvestre degradada a uma condição não degradada, que pode ser diferente de
sua condição original.

47
Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso

3.9. Reabilitação

Refere-se ao processo em que homem atua complementarmente à natureza para aumentar


ou agir na solução dos problemas decorrentes dos impactos ambientais negativos ou ocasionados
por fenômenos naturais. Visa a tornar o ambiente degradado a um estado biológico apropriado,
não necessariamene idêntico ao ambiente natural. Ex.: reafeiçoamento do relevo, reflorestamento.

3.10. Restauração

Retorno da área ao estado original, antes da degradação. É o processo mais complexo no


trabalho de recuperação ambiental. Além da recuperação, conforme já mencioada, a restauração
pretende tornar a área o mais próximo possível da sua condição antes da intervenção. Brasil
(2000), define restauração como “o processo de restituição de um ecossistema ou de uma
população silvestre degradada para uma condição mais próxima possível da original”.

3.10.1. Revitalização

A revitalização é entendida como um conjunto de medidas que visa a criar nova vitalidade
ou a dar novo grau de eficiência a alguma coisa.
Conceito novo na área ambiental, vem sendo utilizado na literatura em associação às
bacias hidrográficas e tem como foco, a garantia da oferta de água em quantidade e qualidade a
uma determinadada população. O MMA define revitalização como o processo de recuperação,
preservação e conservação das bacias hidrográficas em situação de vulnerabilidade e degradação
ambiental, por meio de ações integradas e permanentes, que promovam o uso sustentável dos
recursos naturais, a melhoria das condições sócioambientais, o aumento da quantidade e a
melhoria da qualidade da água para uso múltiplo. A revitalização geralmente é empregada em
trabalhos onde a bacia hidrográfica foi perturbada, pretendendo-se intervir de forma a retornar a sua
capacidade em prover o ecossistema de suas atividades originais (serviços ambientais), principalmente
a de recarga do lençol freático.

3.11. Avaliação de Impactos Ambientais

O impacto ambiental é uma alteração do meio ambiente provocada por ação humana,
sendo esta alteração benéfica ou adversa (SÁNCHEZ, 2008). Embora o estudo de impacto
ambiental seja devido às consequencias negativas causadas pelo empreendimento, há que se
apontar, também, as alterações positivas de um projeto.

48
Capítulo 3 - Conceitos e princípios nos estudos de Impactos Ambientais

A avaliação de impacto ambiental é uma atividade que visa identificar, prever, interpretar e
informar acerca dos impactos de uma ação sobre a saúde e o bem estar humano, inclusive a “saúde”
dos ecossistemas dos quais depende a sobrevivência do homem (MUNN, 1975). De acordo com
Moreira (1985), a avaliação de impactos ambientais é um instrumento de política ambiental
formado por um conjunto de procedimentos capaz de assegurar, desde o início do processo, que
se faça um exame sistemático dos impactos ambientais de uma ação proposta (projeto, programa,
plano ou política) e de suas alternativas, e que os resultados sejam apresentados de forma adequada
ao público e aos responsáveis pela tomada de decisão, e por eles devidamente considerados.
Assim, a avaliação de impactos ambientais não deve ser considerada apenas como
uma técnica, mas como uma dimensão política de gerenciamento, educação da sociedade e
coordenação de ações impactantes, pois permite a incorporação de opiniões de diversos grupos
sociais (CLAUDIO, 1987; QUEIROZ, 1990).

3.12. Área de influência de Empreendimentos

A delimitação da área de influência de um empreendimento tem como objetivo


circunscrever as ações de controle e de mitigação a uma área geográfica, de forma a prevenir ou
a eliminar os impactos ambientais significativos adversos, reduzindo-os a níveis aceitáveis ou
potencializando-os, no caso dos impactos positivos. A área de influência corresponde aos espaços
físico, biótico e às relações sociais, políticas e econômicas a ser direta e indiretamente afetadas
pelos potenciais efeitos das atividades desenvolvidas por um determinado empreendimento nas
fases de planejamento, implantação e operação. O espaço físico de qualquer estudo de impacto
ambiental deve ser suficientemente abrangente de modo a comportar os reflexos diretos e
indiretos do projeto, em toda a sua abordagem.
A Resolução CONAMA 001/86 Art. 5°, inciso III, determina que nos estudos de impacto
ambiental deve-se adotar a bacia hidrográfica como unidade de planejamento das áreas de
influência direta e indiretamente afetada por um empreendimento. Entretanto, somente quando
se define o problema a ser estudado, tem-se mais claramente a abrangência dos limites espaciais,
o qual muitas vezes extrapola o espaço físico delimitado por uma bacia hidrográfica.
Para a definição e delimitação da área de influência são consideradas as características
e abrangência do empreendimento e os tipos de intervenções que serão realizadas, associadas
às características e especificidade dos ambientes afetados. Desta forma são delimitadas as áreas
sujeitas aos efeitos diretos, indiretos e imediatos das operações e obras da futura área ocupada.
A área de influência deve ser estabelecida a partir de dados obtidos para a avaliação dos
impactos ambientais sobre os meios físico, biótico e socioeconômico. Segundo Tommasi (1994),
os limites de um estudo de impacto ambiental na sua abordagem ecológica devem alcançar até

49
Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso

onde os efeitos ecotoxicológicos são percebidos, até onde pode haver bioacumulação de poluentes
na cadeia alimentar, até onde há modificações de habitats e até onde ocorrerão interferências nos
ciclos biogeoquímicos. Alguns limites físicos se estendem além do alcance regional e, em alguns
casos, extrapolam fronteiras territoriais de um país, como é o caso de poluição por chuva ácida
da Grã-Bretanha em relação aos países nórdicos ou, da Alemanha que prejudicam países mais
ao norte, ou ainda efeitos de grandes hidrelétricas em rios de fronteiras entre países que podem
afetar ambientes além do âmbito territorial de uma nação.
Considerando as especificidades de cada estudo para a elaboração do diagnóstico ambiental e
para as análises de impacto ambiental de um determinado empreendimento, podem ser consideradas
as seguintes escalas de abrangência: Área Diretamente Afetada (ADA), Área de Influência (AI) e,
para alguns empreendimentos, tais como os hidrelétricos ou lagos com finalidades distintas, pode-
se considerar também a área de entorno (AE), separadamente, ou em conjunto, compondo a Área
Diretamente Afetada e Entorno (ADAE), assim compreendidas:

Área Diretamente Afetada – ADA: área onde ocorrem as operações de implantação


e operação do empreendimento, bem como as áreas onde serão construídas
as edificações de apoio. São fáceis de serem circunscritos geograficamente em
empreendimentos minerários e outros de efeitos pontuais.

Área Diretamente Afetada e Entorno – ADAE: área que abrange o empreendimento


e seu entorno. Para empreendimentos hidrelétricos a ADAE deve abranger a área
de inundação do reservatório na sua cota máxima, acrescida da Área de Preservação
Permanente (APP) em projeção horizontal, as áreas situadas à jusante da barragem,
cuja extensão deve ser definida pelo estudo de cada empreendimento, além das áreas
destinadas ao barramento, áreas de empréstimo, estradas e áreas de apoio, como
alojamentos, definidos caso a caso.

Área de Influência – AI: Compreende as áreas onde os impactos reais ou potenciais


provocados pela implantação e operação do empreendimento serão percebidos.
Para grandes empreendimentos pode ter alcance regional. Abrange os ecossistemas
e o sistema sócio-econômico (população, dinâmica econômica, dentre outros) que
podem ser impactados por alterações ocorridas na área de influência direta.

3.13. Medidas Mitigadoras

São medidas que visam a minimizar ou a eliminar impactos adversos provocados pelas
atividades, nas fases de instalação e operação, abrangendo as áreas de influência do empreendimento
e possibilitando o acompanhamento e monitoramento dos impactos ambientais controlados e

50
Capítulo 3 - Conceitos e princípios nos estudos de Impactos Ambientais

não controlados. São atividades consideradas fundamentais para a obtenção da licença ambiental
para o funcionamento de qualquer empreendimento. O órgão ambiental deverá avaliar critérios
de mitigação tecnicamente comprovados pela literatura que menos prejudiquem o meio
ambiente. Para cada atividade há uma medida mitigadora específica, quer seja para a redução ou
para a eliminação do impacto sobre os recursos naturais.
As medidas mitigadoras são classificadas quanto à sua natureza (preventiva, corretiva); à
fase do empreendimento em que deverão ser adotadas; ao fator ambiental a que se aplicam (físico,
biótico ou sócioeconômico); ao prazo de permanência de sua aplicação; à responsabilidade por sua
implantação; aos meios, recursos e tecnologia aplicados. No processo de regularização ambiental
da atividade, o empreendedor também deverá mencionar os impactos adversos eliminados ou
evitados, bem como aqueles que não serão contidos pelas medidas. Deverão ser mencionadas,
também, as medidas compensatórias do empreendimento.

3.14. Medidas compensatórias

A compensação ambiental foi introduzida na legislação ambiental brasileira pela Lei


9.985/00, que instituiu o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC). A compensação
ambiental funciona da seguinte forma: no processo de licenciamento ambiental, exige-se dos
empreendimentos considerados potencialmente poluidores (aqueles constantes no artigo 2º
da Resolução CONAMA 001/86 e Anexo I da Resolução CONAMA 237/97) a obrigação
de apoiar a implantação e manutenção de Unidades de Conservação (UC). A compensação
ambiental sempre deverá ser aplicada em local onde as características ambientais sejam o mais
próximo possível da área afetada pelo empreendimento. O órgão ambiental definirá a aplicação
do recurso referente à compensação ambiental de acordo com a localização da UC, por dois
critérios fundamentais: será dada prioridade para a UC de Proteção Integral; proximidade entre
a UC beneficiada da região onde o empreendimento está sendo construído.
O montante de recurso aplicado na compensação ambiental não pode ser inferior a meio
por cento dos custos totais previstos para a implantação do empreendimento, sendo o percentual
fixado pelo órgão ambiental licenciador, de acordo com o grau de impacto ambiental causado pelo
empreendimento (BRASIL, 2000).
Atualmente, o conceito de compensação ambiental vem sendo ampliado e praticado pelo
órgão ambiental em outras atividades que não aquelas consideradas potencialmente poluidoras.
No entanto, a compensação ambiental deve versar sempre pela preservação ambiental, excluindo-
se as despesas de cunho do Estado, conforme ocorreram no princípio dos anos 2000, como
aquisição de veículos, computadores, aluguel de helicóptero, entre outras, nas quais meio
ambiente não seja diretamente beneficiado. Exemplos de aplicação direta são a regularização
fundiária de uma UC, a recuperação de área degradada (plantio de mudas), ou outras ações com
reflexo direto na conservação e preservação do meio ambiente.

51
Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso

As medidas mitigadoras e compensatórias, em conjunto, são exigidas no processo de


licenciamento ambiental no Brasil e, por isso, são consideradas condicionantes legais da regularização
das atividades de todo empreendimento que cause impactos ambientais significativos.

3.15. Termo de Ajustamento de Conduta (TAC)

Surgiu no âmbito no Ministério Público, com o objetivo de regularizar a situação de


infratores mediante o compromisso ou antendimento de penas “mais brandas” antes da
instauração da ação penal. Caso o infrator cumpra fielmente o TAC, a ação penal não se inicia.
Foi introduzido no ordenamento jurídico por meio da Lei nº 8.069/90 (Estatuto da Criança e
do Adolescente) e da Lei nº 8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor). A partir da década
de 90, os demais interesses difusos e coletivos passaram a ter essa proteção jurídica no Brasil, o
que inclui o meio ambiente.
A natureza jurídica do TAC não se caracteriza por um mero contrato, acordos de cooperação
ou qualquer transação de interesse privado, mas um termo jurídico cujo objetivo comum é a
proteção do direito transindividual. Machado (2005) ressalta que os TAC devem ser tornados
públicos, pelo fato de serem de interesse de todos os cidadãos brasileiros.
Como exemplos de TAC firmados entre o infrator e o Ministério público, no tocante
às infrações ambientais, destacam-se: a regularização da Reserva Legal da propriedade rural
onde foi verificado desmatamento sem autorização; a recuperação de uma Área Preservação
Permanente (APP) degradada pelo empreendedor que não solicitou a devida intervenção em
APP; enfim, os TAC são geralmente exigidos para aqueles que não fizeram a regularização
ambiental de suas atividades. O fato de ter havido o TAC e o seu correto atendimento não
acarreta o descumprimento do procedimento administrativo do órgão ambiental, quais sejam,
multas ambientais e a obrigatoriedade da regularização da atividade perante o órgão ambiental.

3.16. Ação, Aspecto e Impacto Ambiental

A interação desses conceitos, segundo Sánchez (2008), permite compreender o mecanismo


de geração do impacto ambiental. De forma didática, o autor afirma que as ações são as causas, os
impactos são as consequências, enquanto os aspectos ambientais são os processos intermediários
(Tabela 3.1). A “ação” refere-se às ações humanas (corte e deslocamento de terras para construção
de estradas, construção de barragem, formação de um lago, inundação de terras, atividades
diversas como o transporte, limpeza, pintura), o “aspecto” seriam os mecanismos por meio do
qual uma ação antrópica gera um impacto ambiental (emissão de gases, emissão de ruídos,
vazamentos) e o “impacto” refere-se aos efeitos dessa ação e aspecto (supressão de vegetação,
deterioração da qualidade do ar, eutrofização de águas, etc).

52
Capítulo 3 - Conceitos e princípios nos estudos de Impactos Ambientais

Tabela 3.1 - Interação entre Ação, Aspecto e Impacto Ambiental.


AÇÃO ASPECTO IMPACTO
Irrigação de culturas agrícolas Consumo de água Redução da disponibilidade hídrica
Lançamento de água com
Limpeza doméstica e industrial Eutrofização
detergente
Formação de um lago Inundação de terras Supressão de terras agrícolas
Emissão de compostos orgâni-
Pintura de uma peça metálica Deterioração da qualidade do ar
cos voláteis
Emissão de compostos orgâni-
Produção de carvão vegetal Deterioração da qualidade do ar
cos voláteis
Contaminação do solo e água subter-
Armazenamento de combustível Vazamento
rânea
Transporte de carga por caminhões Emissão de ruídos Incômodo aos vizinhos

Transporte de carga por caminhões Aumento do tráfego Maior frequência de congestionamentos


Fonte: Adaptado de Sánchez (2008).

3.17. Estudos Ambientais

O CONAMA (1997) define estudos ambientais como:


“todos e quaisquer estudos relativos aos aspectos ambientais relacionados à localização,
instalação, operação e ampliação de uma atividade ou empreendimento, apresentado como
subsídio para a análise da licença requerida, tais como: relatório ambiental, plano e projeto de
controle ambiental, relatório ambiental preliminar, diagnóstico ambiental, plano de manejo,
plano de recuperação de área degradada e análise preliminar de risco”.
Estes estudos visam a conhecer os problemas gerados pelas intervenções antrópicas e,
consequentemente, na mitigação e, ou, solução dos mesmos.

3.18. Estudo de Impacto Ambiental (EIa)

O Estudo de Impacto Ambietnal (EIA) é exigido pela legislação ambiental brasileira


para o licenciamento dos empreendimentos considerados potencialmente poluidores. Segundo
a Resolução CONAMA 01/86, o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) deve contemplar, no
mínimo, as seguintes atividades técnicas:

53
Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso

I - Diagnóstico ambiental da área de influência do projeto, com completa descrição


e análise dos recursos ambientais e suas interações, tal como existem, de modo a
caracterizar a situação ambiental da área, antes da implantação do projeto,
considerando:

a) o meio físico - o subsolo, as águas, o ar e o clima, destacando os recursos


minerais, a topografia, os tipos e aptidões do solo, os corpos d’água, o
regime hidrológico, as correntes marinhas, as correntes atmosféricas;
b) o meio biológico e os ecossistemas naturais - a fauna e a flora, destacando
as espécies indicadoras da qualidade ambiental, de valor científico e
econômico, raras e ameaçadas de extinção e as áreas de preservação
permanente;
c) o meio sócio-econômico - o uso e ocupação do solo, os usos da água e
a sócioeconomia, destacando os sítios e monumentos arqueológicos,
históricos e culturais da comunidade, as relações de dependência entre
a sociedade local, os recursos ambientais e a potencial utilização futura
desses recursos.

II - Análise dos impactos ambientais do projeto e de suas alternativas, através de


identificação, previsão da magnitude e interpretação da importância dos prováveis
impactos relevantes, discriminando: os impactos positivos e negativos (benéficos
e adversos), diretos e indiretos, imediatos e a médio e longo prazo, temporários e
permanentes; seu grau de reversibilidade; suas propriedades cumulativas e sinérgicas;
a distribuição dos ônus e benefícios sociais.

III - Definição das medidas mitigadoras dos impactos negativos, entre elas os
equipamentos de controle e sistemas de tratamento de despejos, avaliando a eficiência
de cada uma delas.

IV - Elaboração do programa de acompanhamento e monitoramento dos impactos


positivos e negativos, indicando os fatores e parâmetros a serem considerados.

Parágrafo Único. Ao determinar a execução do estudo de impacto ambiental, o órgão


estadual competente; ou o IBAMA ou quando couber, o Município, fornecerá as
instruções adicionais que se fizerem necessárias, pelas peculiaridades do projeto e
características ambientais da área.
(CONAMA, 1986)

54
Capítulo 3 - Conceitos e princípios nos estudos de Impactos Ambientais

3.19. Relatório de Impacto Ambiental (RIMA)

Segundo o CONAMA (1986), o relatório de impacto ambiental (RIMA) refletirá as


conclusões do estudo de impacto ambiental e conterá, no mínimo:

I - Os objetivos e justificativas do projeto, sua relação e compatibilidade com as


políticas setoriais, planos e programas governamentais;

II - A descrição do projeto e suas alternativas tecnológicas e locacionais, especificando para


cada um deles, nas fases de licenciamento (Licenças Prévia, Instalação e Operação)
das áreas diretamente afetada e de influência, as matérias primas, mão-de-obra,
fontes de energia, processos e técnicas operacionais, prováveis efluentes, emissões,
resíduos e perdas de energia, os empregos diretos e indiretos a serem gerados;

III - A síntese dos resultados dos estudos de diagnósticos ambiental da área de influência
do projeto;

IV - A descrição dos prováveis impactos ambientais da implantação e operação da


atividade, considerando o projeto, suas alternativas, os horizontes de tempo de
incidência dos impactos, indicando os métodos, técnicas e critérios adotados para
sua identificação, quantificação e interpretação;

V - A caracterização da qualidade ambiental futura da área de influência, comparando


as diferentes situações da adoção do projeto e suas alternativas, bem como com a
hipótese de sua não realização;

VI - A descrição do efeito esperado das medidas mitigadoras previstas em relação aos


impactos negativos, mencionando aqueles que não puderem ser evitados, e o grau
de alteração esperado;

VII - O programa de acompanhamento e monitoramento dos impactos;

VIII - Recomendação quanto à alternativa mais favorável (conclusões e comentários de


ordem geral).

Parágrafo Único. O RIMA deve ser apresentado de forma objetiva e adequada à sua
compreensão. As informações devem ser traduzidas em linguagem acessível,

55
Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso

ilustradas por mapas, cartas, quadros, gráficos e demais técnicas de comunicação


visual, de modo que se possam entender as vantagens e desvantagens do projeto,
bem como todas as conseqüências ambientais de sua implementação.
(CONAMA, 1986)

3.20. Plano de Controle Ambiental (PCA)

O plano de controle ambiental normalmente acompanha o EIA/RIMA, mas pode ser


exigido para a regularização de atividades de menor impacto ambiental. De uma forma geral, o
PCA refere-se aos procedimentos de controle ambiental que o empreendedor se comprometeu a
executar como garantia para a obtenção das licenças ou do ato de regularização ambiental de seu
empreendimento. O PCA visa a prevenir ou a corrigir os possíveis impactos negativos causados
pelo empreendimento.

3.21. Relatório de Controle Ambiental (RCA)

Documento usualmente exigido para empreendimentos não tratados como “potencialmente


poluidores” e não descritos no anexo 1 da Resolução CONAMA 237/97. O relatório deve
descrever o empreendimento a ser licenciado, informando: o local do empreendimento bem
como o diagnóstico ambiental (físico, biótico e sócioeconômico) da região onde ele será instalado;
a caracterização do empreendimento e a descrição dos prováveis impactos ambientais gerados nas
fases da instalação e operação; as propostas de medidas mitigadoras dos impactos negativos; e a
descrição do programa de acompanhamento e monitoramento dos impactos.

3.22. Plano de Recuperação de Áreas Degradadas (PRAD)

A PNMA de 1981, objetivando a recuperação da qualidade ambiental, instituiu em seu artigo


2º, a obrigação de se recuperar as áreas degradadas pelos empreendimentos. A regulamentação da
lei só veio a ocorrer em 1989, com a edição do Decreto nº 97.632. Conforme este Decreto, todos
os empreendimentos que se destinam à exploração de recursos minerais deverão submeter Plano de
Recuperação de Área Degradada (PRAD), criando a obrigatoriedade de que todo empreendimento
mineral deverá apresentar o PRAD juntamente com o EIA/RIMA (BRASIL, 1989).
A recuperação da área degradada deverá ter por objetivo o retorno do sítio degradado a
uma forma de utilização, de acordo com um plano preestabelecido para o uso do solo, visando a
obtenção de uma estabilidade do meio ambiente (BRASIL,1989; SOBRADE, 2011).
O “plano preestabelecido” requerido por ocasião do PRAD causa discussão quando não se
define adequadamente a destinação do local após a realização das atividades do empreendimento.

56
Capítulo 3 - Conceitos e princípios nos estudos de Impactos Ambientais

Recomenda-se que todo PRAD seja claro, objetivo e factível. O objetivo almejado no PRAD
pode ser uma simples recuperação do ambiente degradado a uma situação não degradada, ou a
reabilitação, ou a restauração ou mesmo a revitalização do ecossistema.

3.23. Regularização Ambiental

A regularização ambiental, segundo Minas Gerais (2008), é o ato pelo qual o


empreendedor atende às precauções que lhe foram requeridas pelo poder público, referentes ao
licenciamento ambiental, outorga de direito de uso de recursos hídricos, supressão de vegetação
nativa, intervenção em APP, entre outras autorizações. Em suma, qualquer ato ou procedimento
que exiga do órgão ambiental uma licença, autorização, concessão ou outorga para o uso ou
exploração dos recursos naturais são entendidos como “Regularização Ambiental”.
Para cada tipo de atividade há a necessidade de se realizar um estudo ambiental específico
para a sua regularização. Para os empreendimentos potencialmente poluidores, será necessário o
EIA/RIMA para a obtenção do licenciamento; para as demais atividades há uma diversidade de
licenças (autorização, licença, concessão, outorga, etc.) de acordo com o tipo de empreendimento,
seu porte e seu potencial poluidor. Poderão ser realizados estudos como: Relatório de Controle
Ambiental (RCA), Plano de Controle Ambiental (PCA), Plano de Recuperação de Áreas
Degradadas (PRAD), entre outras modalidades de estudos.

3.24. Licenciamento Ambiental

Procedimento rigoroso exigido para a regularização ambiental dos empreendimentos


relacionados no ANEXO 1 da Resolução CONAMA 237/97 e artigo 2º da Resolução
CONAMA 001/86. Esses empreendimentos são considerados potencialmente poluidores e, por
isso, necessitam do EIA/RIMA para o seu funcionamento.
CONAMA (1997) define Liceciamento Ambiental como:

Procedimento administrativo pelo qual o órgão ambiental competente licencia a


localização, instalação, ampliação e a operação de empreendimentos e atividades
utilizadoras de recursos ambientais, consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras ou
daquelas que, sob qualquer forma, possam causar degradação ambiental, considerando
as disposições legais e regulamentares e as normas técnicas.
(CONAMA, 1997)

57
Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso

3.25. Licença Ambiental

A licença ambiental como definida pela Resolução CONAMA nº 237/97, é o

Ato administrativo pelo qual o órgão ambiental competente, estabelece as condições,


restrições e medidas de controle ambiental que deverão ser obedecidas pelo empreendedor,
pessoa física ou jurídica, para localizar, instalar, ampliar e operar empreendimentos ou
atividades utilizadoras dos recursos ambientais consideradas efetiva ou potencialmente
poluidoras ou aquelas que, sob qualquer forma, possam causar degradação ambiental.
(CONAMA, 1997).

A licença ambiental para empreendimentos e atividades consideradas efetiva ou


potencialmente causadoras de significativa degradação do meio dependerá de prévio EIA/RIMA,
ao qual dar-se-á publicidade, garantida a realização de audiências públicas, quando couber, de
acordo com a regulamentação. CONAMA (1997) ressalta que a licença ambiental é concedida
aos empreendimentos potencialmente poluidores e que, o órgão ambiental ao verificar que a
atividade ou empreendimento não é potencialmente causador de significativa degradação do
meio ambiente, definirá os estudos ambientais pertinentes ao respectivo processo de liberação do
funcionamento da atividade/empreendimento.

Segundo o CONAMA (1997), o Poder Público (órgão ambiental), no exercício de sua


competência de controle, expedirá as seguintes modalidades de licenças:

I - Licença Prévia (LP) - concedida na fase preliminar do planejamento do empreendimento


ou atividade aprovando sua localização e concepção, atestando a viabilidade ambiental e
estabelecendo os requisitos básicos e condicionantes a serem atendidos nas próximas fases de
sua implementação. Prazo de validade da licença prévia: até cinco anos;

II - Licença de Instalação (LI) - autoriza a instalação do empreendimento ou atividade


de acordo com as especificações constantes dos planos, programas e projetos aprovados,
incluindo as medidas de controle ambiental e demais condicionantes, da qual constituem
motivo determinante. Prazo de validade da licença de instalação: até seis anos;

III - Licença de Operação (LO) - autoriza a operação da atividade ou empreendimento,


após a verificação do efetivo cumprimento do que consta das licenças anteriores, com as
medidas de controle ambiental e condicionantes determinados para a operação. Prazo de
validade da licença de operação: no mínimo, quatro anos e, no máximo, 10 dez anos.

58
Capítulo 3 - Conceitos e princípios nos estudos de Impactos Ambientais

Parágrafo único. As licenças ambientais poderão ser expedidas isolada ou sucessivamente,


de acordo com a natureza, características e fase do empreendimento ou atividade.

3.26. Zoneamento Ecológico-Econômico (zee)

O Zoneamento Ecológico-Econômico é o:

Diagnóstico das caracteristicas naturais e sócio-econômicas de todas as regiões. Uma de suas


funções é criar cenários alternativos para a consolidação de potencialidades econômicas,
recuperação de áreas degradadas, ocupação territorial integrada e ordenada, bem como
para o planejamento dos projetos de infraestrutura influenciados pela adoção de modelos
de desenvolvimento social, econômico, cultural e ambientalmente sustentáveis.
(MINAS GERAIS, 2008).

Biodiversidade (2011), define ZEE como:

Um conjunto de regras para o uso dos recursos ambientais estabelecidos por zonas que
possuem padrões de paisagem semelhantes. É um instrumento de planejamento, que
estabelece diretrizes ambientais, permitindo identificar as restrições e potencialidades
de uso dos recursos naturais. As macrodiretrizes estabelecidas no ZEE reconhecem que a
manutenção da qualidade ambiental de uma região, é também um elemento estratégico
para o seu desenvolvimento socioeconômico de longo prazo.

O ZEE foi contemplado na PNMA em 1981, como um dos seus instrumentos de


consecução da proteção ambiental no Brasil. Somente em 2002 foi regulamentado por legislação
específica (Decreto 4.297/02). Tem se transformado numa excelente ferramenta de avaliação de
impactos ambientais, pois os empreendimentos no ato do licenciamento ambiental poderão ser
autorizados mediante análise prévia do ZEE. Pelo fato do ZEE prever as regiões de aptidão e de
vulnerabilidade ambiental, o empreendedor terá informações básicas para dar prosseguimento
ao processo de licenciamento. Há excelentes iniciativas de ZEE como ferramenta para o
licenciamento ambiental no Brasil. O estado de MG destaca-se na vanguarda com o uso do ZEE
como critério inicial e direcional do processo de licenciamento ambiental.

59
Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso

Mineração de Ferro
Desmatamento em fragmento de Floresta Estacional Semidecidual Altomontana, após exploração de ferro. Nesta
foto observa-se a conformação do terreno em taludes e bermas, e a revegetação do terreno explorado - vista tomada
60
no município de Itatiaiuçu, MG a partir da BR 381.
4
MÉTODOS DE
AVALIAÇÃO DE
IMPACTOS AMBIENTAIS

Digamos que a sociedade produz a paisagem, mas que isso jamais ocorre sem
mediação. É por isso que, ao lado das formas geográficas e da estrutura social,
devemos também considerar as funções e os processos que, através das funções,
levam a energia social a transmudar-se em formas.
Milton Santos
Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso

4.1 Introdução

A definição e o desenvolvimento de métodos próprios de avaliação de impactos ambientais


são de suma importância para garantir uma análise segura de quaisquer projetos que se queira
avaliar. Os indicadores escolhidos pelos inúmeros métodos existentes não têm igualdade universal,
ao contrário, têm valores diferentes tanto no espaço como no tempo, diferindo até mesmo de um
país a outro por diversos fatores (e.g., ambientais, sociais, culturais, etc), além das diferenças do
nível de desenvolvimento dos mesmos. Daí a necessidade de se evitar simplesmente a importação
de técnicas e indicadores que, embora objetivos e científicos, não refletem as necessidades
públicas, dentro do quadro histórico-político-econômico do país (BRAGA, 1986).
A avaliação dos impactos ambientais é um exercício de elevada complexidade, uma vez
que lida com um amplo espectro de variada natureza, agindo simultaneamente ou em diferentes
escalas espaço-temporais. Portanto, os métodos empregados nas AIAs devem permitir uma
análise conjunta de vários níveis, aos quais correspondem cada um dos ângulos da análise
efetuada. Além disso, as questões metodológicas devem seguir uma abordagem técnica-científica
que desenvolva um raciocínio analítico compatível com a Legislação Ambiental Brasileira, com
técnicas específicas para o cálculo ou tabulação dos impactos no meio biológico, físico e antrópico
(OLIVEIRA; MEDEIROS, 2007).
Os métodos ou técnicas de avaliação de impactos ambientais são instrumentos inter e
multidisciplinares utilizados para identificar, coletar, analisar, avaliar, comparar e organizar
informações qualitativas e quantitativas sobre os impactos ambientais originados de uma determinada
atividade modificadora do meio ambiente, em que são consideradas, também, as técnicas que
definirão a forma e o conteúdo das informações a serem repassadas aos setores envolvidos (BISSET,
1980; SILVA, 1994; FERNANDES, 1996; RODRIGUES, 1998; LA ROVERE, 2001).
Portanto, a atividade técnica de avaliação de impactos ambientais deve ser desenvolvida
conforme disposto no artigo 6o, Inciso II, da Resolução 001/86 do CONAMA, respondendo à
seguinte questão:

A análise dos impactos ambientais do projeto e de suas alternativas, através de identificação,


previsão da magnitude e interpretação da importância dos prováveis impactos relevantes,
discriminando: os impactos positivos e negativos (benéficos e adversos), diretos e
indiretos, imediatos e a médios e longos prazos, temporários e permanentes; seu grau de
reversabilidade; suas propriedades cumulativas e sinérgicas; a distribuição dos ônus e
benefícios sociais.
CONAMA (1986)

62
Capítulo 4 - Métodos da Avaliação de Impactos Ambientais

Existe um grande número de métodos, técnicas e ferramentas de AIA para a realização das
três principais tarefas da análise de impactos: identificação, previsão e interpretação ou avaliação
(SÁNCHEZ, 2008). Todavia, deve ficar claro que não existe um método que se aplique a todo
e qualquer estudo, pois nenhum método atende a todas as etapas do estudo. Os métodos foram
desenvolvidos para os mais variados propósitos e situações a fim de auxiliar o trabalho dos
analistas, mas não se tratam de pacotes fechados e inflexíveis. Todos apresentam potencialidades
e limitações, sendo que a escolha do método a ser aplicado a cada caso vai depender de vários
fatores, tais como, recursos técnicos e financeiros disponíveis, tempo para realização do estudo,
disponibilidade de dados, requisitos legais, características intrínsecas do tipo de empreendimento,
de forma a obter resultados claros, objetivos e seguros (FOGLIATTI ET AL., 2004).
Na literatura são encontradas diversas classificações para organizar os métodos de AIA, que
variam conforme a abordagem adotada. La Rovere (2001) divide essas técnicas em dois grandes
grupos: econômicos e quantitativos. O primeiro grupo se baseia nos métodos tradicionais de
avaliação de projetos, como a análise de custo-benefício, em que os impactos são mensurados
em termos monetários. O segundo conjunto de métodos inclui aqueles onde os impactos são
avaliados em qualquer unidade que não a monetária, geralmente aplicando escalas valorativas
aos diferentes impactos medidos originalmente em suas respectivas unidades físicas. Contudo,
atualmente, os métodos econômicos são considerados obsoletos e muitas vezes nem são
mencionados na literatura entre as técnicas de AIA.
Outra classificação bastante utilizada agrupa os métodos de acordo com o objetivo em
duas categorias: a primeira, centrada na identificação e sintetização dos impactos, e a segunda,
com métodos que mais se aproximam do conceito de avaliação. Pertencem à primeira categoria
os métodos tipo Listagem de Controle, Matrizes de Interação, Diagramas de Sistemas, Métodos
Cartográficos, Redes de Interação e os Métodos Ad Hoc. Sánchez (2008) se refere a esses métodos
como ferramentas de identificação dos impactos ambientais. Na segunda categoria se encontram
os métodos e modelos que visam quantificar, comparar e selecionar a melhor alternativa, podendo
explicitar as bases de cálculo ou a ótica de diferentes grupos sociais, como por exemplo, o método
de Battelle, Análise Multicritério, Matrizes de Realização de Objetivos e Folhas de Balanço (LA
ROVERE, 2001; FOGLIATTI ET AL., 2004).
A classificação mais recorrente, contudo, agrupa os métodos de AIA em qualitativos e
quantitativos. As abordagens qualitativas são aquelas balizadas nas decisões de especialistas e no
conhecimento gerado pelas experiências passadas, sendo os impactos avaliados por classes subjetivas
como “muito, pouco, nada”, “significativo ou não significativo”, “a longo, médio e curto prazo”, ou
ainda por escalas ou pesos hierárquicos (FOGLIATTI ET AL., 2004). Já as abordagens quantitativas
são inteiramente baseadas em métodos matemáticos onde as relações entre os elementos são dadas
por variáveis e parâmetros, numericamente quantificáveis em qualquer unidade.

63
Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso

4.2 Classificação Qualitativa e Quantitativa de Impactos Ambientais

A classificação qualitativa de impactos ambientais, como o próprio nome indica trata-se de


descrição do projeto com informações qualitativas dos processos de operação e das consequências
negativas e positivas previsíveis. A Tabela 4.1 apresenta a classificação qualitativa dos impactos
ambientais segundo os critérios de Silva (1994). Tendo em vista suas potencialidades de aplicação
na área florestal a identificação e caracterização qualitativa podem ser realizadas utilizando vários
métodos de avaliação de impactos ambientais, dentre esses cita-se: matriz de interação e rede
de interação. A caracterização qualitativa dos impactos identificados pelo método de rede de
interação pode ser feita considerando especificamente o critério de valor, ou seja, se os impactos
foram positivos (+) ou negativos (-).

Tabela 4.1 - Classificação qualitativa de impactos ambientais.


CRITÉRIO DESCRIÇÃO E EXEMPLOS
Impacto Positivo ou Benéfico: quando uma ação causa melhoria da qualidade de um fator ou
parâmetro ambiental.
Valor Ex.: geração de empregos, ocupação de terras ociosas, fixação do homem no campo.
  Impacto Negativo ou Adverso: quando uma ação causa um dano à qualidade de um fator ou
parâmetro ambiental.
Ex.: efluente industrial despejado.
Impacto Direto, Primário ou de Primeira Ordem: quando resulta de uma simples relação de
causa e efeito.
Ordem Ex.: desmatamento (com o corte estou reduzindo imediatamente a área superficial para a fauna).
  Impacto Indireto, Secundário ou de Enésima ordem: quando é uma reação secundária em rela-
ção à ação, ou quando é parte de uma cadeia de reações.
Ex.: reflorestamento (redução da população faunística, erosão de solos).
Impacto Local: quando a ação circunscreve-se ao próprio sítio e suas imediações.
Espaço Impacto Regional: quando um efeito se propaga por uma área além das imediações do sítio onde
  se dá a reação;
  Impacto Estratégico: quando é afetado um componente ambiental de importância coletiva, na-
cional ou mesmo internacional.
Impacto de Curto Prazo: quando o efeito surge no curto prazo. O impacto imediato é um caso
Tempo particular de impacto de curto prazo. Ex.: implantação de reflorestamento;
  Impacto de Médio Prazo: quando o efeito se manifesta no médio prazo;
  Impacto de Longo Prazo: quando o efeito se manifesta no longo prazo. Ex.: exploração de reflo-
restamento.

Continua...

64
Capítulo 4 - Métodos da Avaliação de Impactos Ambientais

Tabela 4.1 - Continuação

CRITÉRIO DESCRIÇÃO E EXEMPLOS


Impacto Temporário: quando o efeito permanece por um tempo determinado, após a realização
da ação. Ex.: empreendimentos agrícolas e florestais;
Dinâmica
Impacto Cíclico: quando o efeito se faz sentir em determinados períodos (ciclos), que podem ser
 
ou não constantes ao longo do tempo. Ex.: mineração;
 
Impacto Permanente: quando uma vez executada a ação, os efeitos não cessam de se manifestar
num horizonte temporal conhecido.
Impacto Reversível: quando cessada a ação, o fator ambiental retorna às suas condições originais.
Plástica
  Impacto Irreversível: quando cessada a ação, o fator ambiental não retorna às suas condições ori-
ginais, pelo menos em um horizonte de tempo aceitável pelo homem. Ex.: mineração.
Fonte: SILVA, 1994.

A classificação quantitativa de impactos ambientais inclui métodos que atribuem valor para
cada efeito ambiental previsível do projeto, aplicando-se em seguida um tratamento matemático
adequado que fornecerá o índice de impacto ambiental (BRAGA, 1986). No que diz respeito
à classificação quantitativa dos impactos, deve ser observado que o seu objetivo é fornecer ao
licenciador uma visão da magnitude do impacto, ou seja, do grau de alteração no valor de um
fator ou parâmetro ambiental, em termos quantitativos (SILVA, 1994).
Dentre os métodos utilizados, o sistema de Batelle, que permite chegar ao índice de
qualidade ambiental (IQA), que tem valores de 0 a 1, atribui pouco valor aos aspectos sócio-
econômicos, embora aparente grande objetividade quanto aos parâmetros técnicos empregados.
Outro método quantitativo é o de Sondheim, que leva em consideração a opinião da sociedade
através de suas entidades de representação. Este método associa mais claramente os aspectos
políticos aos parâmetros técnico-científicos. Além da quantificação dos impactos pela apresentação
de informações numéricas, a Avaliação de Impactos Ambientais trabalha também com informações
que possibilitam essa visão de magnitude. Assim, tem-se:

• Nenhum impacto (zero, a cor branca ou outro padrão de referência);


• Desprezível (um, a cor amarela ou outro padrão de referência);
• Baixo grau (dois, a cor laranja ou outro padrão de referência);
• Médio grau (três, a cor marrom ou outro padrão de referência);
• Alto grau (quatro, a cor vermelha ou outro padrão de referência);
• Muito Alto (cinco, a cor preta ou outro padrão de referência).

A classificação dos impactos, seja qualitativa ou quantitativa, tem alto grau de subjetividade,
que pode ser minimizada quando a sua elaboração for realizada por profissional experiente ou por

65
Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso

equipe multidisciplinar. A subjetividade pode ainda ser diminuída quando durante a tomada de
decisão houver a participação de um número maior de pessoas com conhecimento do problema
e que participem da avaliação.

4.3 Principais Métodos de AIA

4.3.1 Método Espontâneo (Ad Hoc)

É um método que utiliza a prática de reuniões entre especialistas de diversas áreas (grupo
multidisciplinar), para se obter dados e informações, em tempo reduzido, imprescindíveis à
conclusão dos estudos, onde esses fornecem suas impressões e experiências para a formulação
de um relatório ou inventário de impactos potenciais do projeto em avaliação. Começou a ser
usado com essa finalidade na década de 1950, e ainda hoje é muito empregado em combinação
com outros métodos. Atualmente, consultas Ad Hoc compõem a maioria dos métodos de AIA,
em pelo menos uma de suas fases.
Normalmente, empregam-se em situações cujas informações preliminares são parcas e
quando a experiência passada é insuficiente para uma sistemática organização das informações
com métodos objetivos. Nos casos em que outros métodos científicos são viáveis, esse método
não é suficiente para tomada de decisão (LOHANI ET AL., 1997).
A eficiência desse método depende da qualificação dos profissionais das diferentes áreas,
que juntos trazem variados pontos de vista baseados numa combinação única do conhecimento
específico, da experiência, treinamento e intuição do grupo de especialistas. É comum a
identificação dos impactos via brainstorming1, que após uma longa reflexão, são organizados por
meio de tabelas ou matrizes e usados na elaboração de um relatório (LOHANI ET AL., 1997;
LA ROVERE, 2001; COSTA ET AL., 2005).
Um exemplo comum citado por Rodrigues (1998) é o método Delphi, que utiliza rodadas
subsequentes de questionários nos quais os especialistas expressam suas impressões sobre pontos
levantados a priori, a partir das quais se desenha um cenário que é então compartilhado com
todos os pontos específicos e um quadro de opções possíveis nos pontos em desacordo.
Tem como principais vantagens a simplicidade de implementação, rapidez e o baixo custo,
e como desvantagens o fato de não realizar análise sistemática dos impactos e apresentar resultados
com alto grau de subjetividade. Outro problema intrínseco ao exercício de opinão por especialistas
de forma Ad Hoc é o fato de não ser replicável, uma vez que depende da qualidade do grupo de
especialistas reunidos e do nível de informação existente para o projeto. Isso dificulta a revisão
1 Brainstorming (tempestade de idéias): Consiste em um processo de trabalho em equipe que explora a potencialidade de um grupo para atin-
gir objetivos pré-determinados. A técnica é aplicada em várias áreas, como: publicidade, solução de problemas e gestão de processos.

66
Capítulo 4 - Métodos da Avaliação de Impactos Ambientais

crítica das conclusões da AIA (LOHANI ET AL., 1997; ANJANEYULU; MANICKAM, 2007).
Portanto, o método Ad Hoc sozinho não contempla as exigências da legislação vigente, devendo ser
usado como uma etapa dentro do processo de avaliação e não como método absoluto.

4.3.2 Método da Listagem de Controle (Checklists)

Este foi um dos primeiros métodos de avaliação de impactos ambientais, em virtude,


principalmente, de sua facilidade de aplicação. Tais listas, segundo Rodrigues (1998), compõem um
dos métodos primordiais da avaliação de impactos, consistindo de listagens de atributos ambientais
que possam ser afetados pelo projeto, e que causem algum impacto. Podem ser simples enumeração
de atributos e atividades, até complexos inventários que incorporem ponderações para definir escala
e importância de cada atividade do projeto sobre o ambiente (SADLER; MCCABE, 2002).
De acordo com Tomasi (1993), é um método útil em estudos preliminares para
identificação de impactos relevantes nos meios físico, biótico e antrópico, porém, não permite
projeções e identificação de impactos secundários, nem evidencia as inter-relações entre os fatores
ambientais. É considerado um método estático e fragmentado em que não são consideradas
as características temporais e espaciais, nem a dinâmica dos sistemas ambientais. Contudo,
quando a caracterização via listagem de controle é realizada com base no conceito de impacto
ambiental da Resolução CONAMA 001/86 e no conhecimento técnico-científico disponível,
fornece a transparência necessária para as etapas posteriores, como hierarquização e avaliação de
indicadores (IBAMA, 1995).
Existem hoje diversas listas padronizadas por tipo de projetos (e.g., barragens, auto-
estradas), além de listas informatizadas (softwares) para diferentes tipos de empreendimentos (LA
ROVERE, 2001; SADLER; MCCABE, 2002). Como exemplos temos as listas disponibilizadas
no livro de consulta Environmental Assessment Sourcebook do Banco Mundial (WORLD BANK,
1991a; 1991b; 1991c) e nos livros de orientação Guidance on EIA da Comissão Européia (EC,
2001a; 2001b). No Brasil, vários tipos de listas podem ser encontrados na literatura técnica
(como manuais e guias), geralmente elaborados por órgãos ambientais. Um bom exemplo são os
Termos de Referência da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável
(Semad), em Minas Gerais, com referências para uma gama de atividades de desenvolvimento,
disponíveis online. Contudo, a utilização dessas listas de verificação quase sempre requer
correções e adaptações para adequá-las às condições que não estão previstas nas listas preexistentes
(SÁNCHEZ, 2008).
As listas de controle podem ter variadas formas. Aqui serão descritos as cinco principais
listas de controle usadas na AIA:

67
Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso

Listas de Controle Simples: nas quais os impactos são enumerados de modo simples e
avaliados qualitativamente. Estas listas levam em consideração apenas os atributos ambientais, e os
impactos não são associados com as atividades geradoras, podendo apenas ser relacionados com a
fase do projeto em que ocorrem. Também não identificam os impactos secundários (FOGLIATTI
ET AL., 2004). Este tipo de lista pode ser importante para diagnosticar ambientalmente uma
área de influência e obter uma avaliação das implicações do projeto, como uma etapa inicial
para uma abordagem mais elaborada (RODRIGUES, 1998). Um exemplo de listagem simples
é apresentado na Tabela 4.2.

Tabela 4.2 - Lista de controle simples aplicada a um projeto rodoviário.


ITENS Planejamento Construção Operação
Sócio-econômico
Melhoria da economia local e regional ● ● ●
Valorização/desvalorização imobiliária ● ● ●
Arrecadação tributária ● ● ●
Oportunidades de trabalho ● ● ●
Físico
Modificação do relevo ●
Erosão do solo ● ●
Aumento da área de solo impermeabilizado ● ●
Alteração da qualidade das águas superficiais ● ●
Carga de sedimentos e assoreamento de corpos d’água ● ●
Alteração da qualidade do ar ● ●
Alteração no nível e frequência de ruídos ● ●
Biótico
Fragmentação e redução de habitats da vida selvagem ● ●
Impactos na fauna ● ●
Impactos na flora ● ●
Antrópico (Patrimônio)
Comprometimento de sítios arqueológicos ● ●
Alteração da paisagem de valor histórico ● ●
Impactos estéticos e visuais ● ●
Comprometimento de outros elementos do patrimônio ● ●
cultural

68
Capítulo 4 - Métodos da Avaliação de Impactos Ambientais

Listas de controle descritivas: as fontes geradoras de impactos são identificadas, bem


como os grupos sociais afetados. Esta informação adicional facilita a definição dos objetivos e
um diagnóstico dos tipos de mitigação e monitoramento que serão necessários. Contudo, as
importâncias dos impactos não são fornecidas. Apesar do maior detalhamento em relação às listas
simples, ainda trazem pouca orientação para a comparação entre alternativas de projeto para a
tomada de decisão (FOGLIATTI ET AL., 2004). Parte de uma lista descritiva é apresentada
na Tabela 4.3, contendo diversos fatores relativos a projetos de habitação e outros usos da terra.

Tabela 4.3 - Lista de controle descritiva para projetos de desenvolvimento urbano.


FATOR BASES PARA ESTIMATIVAS
1. Economia local

Receitas públicas: renda familiar estimada (por tipo de habi-


Alteração do balanço líquido fiscal no fluxo fiscal do governo tação), incluindo valores de propriedade;
(despesas menos receitas) Gastos públicos: análise da nova demanda de serviços, custos
atuais, capacidades disponíveis por tipo de serviço.

Emprego Direto de novas atividades ou estimado a partir da distribui-


Mudança em números e percentuais de empregados, desem- ção espacial, padrões residenciais locais, imigração esperada e
pregados e subempregados, por nível de qualificação. perfis de desemprego atual.

Riqueza Oferta e demanda de terras similares (zoneamento), mudan-


Mudança no valor da terra ças ambientais próximas à propriedade.

2. Ambiente natural

Qualidade do ar
 Saúde
 Concentrações atuais no ambiente, emissões atuais
 Mudanças nas concentrações de poluição do ar por:
e estimadas, modelos de dispersão, mapas de população;
frequencia de ocorrência e o número de pessoas em risco.
 Estudos de base, processos industriais e volume de
 Mudança na ocorrência de perturbações da quali-
tráfego esperados.
dade visual do ar (fumaça, neblina) e/ou olfativas (odor), e
o número de pessoas afetadas.

Qualidade da água
Volume de efluentes atual e estimado, concentração atual no
Mudanças na permissão ou tolerância de uso da água, o
ambiente, modelo de qualidade da água.
número de pessoas afetadas para cada corpo de água.
Mudanças no tráfego próximo ou outras fontes de ruído e
Ruído nas barreiras anti-ruído; modelos de propagação de ruído
Alteração dos níveis e freqüência de ocorrência de ruído, e o que correlacionem os níveis de ruído relativo ao tráfego,
número de pessoas incomodadas. barreiras, etc.; estudo de base e satisfação atual do cidadão
com os níveis de ruído.
Fonte: ANJANEYULU; MANICKAM, 2007

69
Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso

Outro exemplo é apresentado na Tabela 4.4, fornecido pelo Banco Mundial, onde são
listados os possíveis impactos negativos e medidas de mitigação para usinas hidroelétricas.

Tabela 4.4 - Parte da lista descritiva fornecida pelo Banco Mundial para projetos hidroelétricos
IMPACTOS NEGATIVOS POTENCIAIS MEDIDAS MITIGADORAS
Diretos
1. Efeitos ambientais negativos durante a construção
 Poluição do ar e água pelo despejo de resíduos da Medidas para minimizar os impactos:
construção  Controle de poluição do ar e da água
 Erosão do solo  Critério na alocação do canteiro de obras, constru-
 Supressão da vegetação ções, fossas, pedreiras e área de despejo
 Problemas sanitários e de saúde nos canteiros de  Precauções para minimizar processos erosivos
obras  Recuperação de áreas degradadas

• Implantação da barragem ou redução do tamanho


da represa para evitar perdas
4. Perda de elementos históricos, culturais e estéticos pela
• Recuperação ou proteção dos patrimônios cultu-
inundação da represa
rais

• Implantação da barragem ou redução do tamanho


da represa para evitar/minimizar perda
5. Perda de áreas naturais e habitats da fauna selvagem • Estabelecimento de parques ou reservas como
áreas compensatórias
• Resgate e realocação da fauna

Indiretos
22. Migração desordenada de pessoas para área devido ao Limitação do acesso, prover meios para o desenvolvimento
fácil acesso pelas estradas e redes de transmissão rural e serviços de saúde na tentativa de minimizar impacto
23. Problemas ambientais devido ao desenvolvimento acarre-
Planejamento da bacia para evitar o uso excessivo e indevido
tado pela barragem (irrigação agrícola, indústrias, crescimen-
da água e conflitos pelos recursos hídricos e da terra.
to municipal)
Fonte: WORLD BANK, 1991c.

Questionários: onde consultores especialistas desenvolvem um questionário específico


para o projeto em análise, baseado na experiência ou por meio de consulta bibliográfica. Os
questionários apresentam os objetivos e impactos a serem avaliados, e consistem em uma lista
de perguntas abertas e/ou fechadas que serão aplicadas aos elaboradores do EIA. Este tipo de
método geralmente emprega outra equipe de especialistas pelo método Ad Hoc. Apesar de ser uma
abordagem flexível que possibilita a adequação ao contexto do projeto, existe um elevado grau de
subjetividade proveniente da própria natureza (STAMM, 2003). A seguir, são apresentadas duas
tabelas com partes dos questionários disponibilizados nos guias da Comissão Européia para as

70
Capítulo 4 - Métodos da Avaliação de Impactos Ambientais

etapas de triagem2 e escopo3 (Tabelas 4.5 e 4.6, respectivamente).

Tabela 4.5 - Exemplo com partes de um questionário checklist usado na fase de triagem.
É provável que isso acarrete um efeito
Questões a serem consideradas Sim / Não / ? . Descreva brevemente
significante? Sim / Não/ ? – Por que?
Descrição breve do projeto:
Construção de 500 casas em uma vila junto a um assentamento rural.
1. A construção, operação ou desati-
Sim. O projeto envolverá o desenvolvi-
vação do Projeto envolve ações que
mento de uma grande área atualmente Sim. Perda de terras agrícolas e desvio
podem causar mudanças físicas na
de uso agrícola e cortada por um do rio.
localidade (topografia, uso da terra,
pequeno rio.
mudanças nos corpos d’água, etc)?

3. O projeto envolverá o uso, arma-


zenamento, transporte, manuseio ou
produção de substâncias ou materiais Não. Exceto em pequenas quantidades
Não
que possam ser nocivos à saúde humana de uso doméstico.
ou ao ambiente ou levantar questões
sobre riscos para a saúde humana?
Sim. A construção vai exigir a escavação
4. O projeto produzirá resíduos sólidos Sim. O transporte poderá ter um
de uma pequena colina e o transporte
durante a construção, operação ou impacto significativo na comunidade
e eliminação ou reutilização de uma
desativação? vizinha.
grande quantidade de resíduos.

9. O projeto resultará em mudanças


Não. A vila existente foi basicamente
sociais, por exemplo, na demografia, Não.
construída na década de 1950.
estilos de vida tradicionais e emprego?
10. Existem outros fatores que devem
ser considerados de desenvolvimento
Sim. O projeto vai exigir a extensão das Sim. Não há muito espaço para ampliar
conseqüencial que poderiam levar a
obras de tratamento de esgoto na vila, as obras e há ocorrência de mau cheiro
efeitos ambientais ou a impactos cumu-
que já se encontra em sobrecarga. na vila.
lativos com outras atividades existentes
ou previstas na localidade?

19. Existem áreas ou elementos de


importância histórica ou cultural, no ? Requer uma investigação mais apro-
? Não há informação disponível.
local ou no entorno, que poderão ser fundada.
afetadas pelo projeto?
Fonte: EC, 2001a.

2 Triagem: termo usado na literatura internacional como screening.


3 Escopo: termo usado na literatura internacional como scoping.

71
Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso

Tabela 4.6 - Exemplo com partes de um questionário checklist usado na fase de escopo.
Sim/
Quais características do ambiente O efeito pode ser significante?
No. Questões a serem consideradas Não/
do projeto poderiam ser afetadas? Por que?
?
1. O projeto envolverá qualquer ação durante a construção, operação ou desativação que poderá criar mudanças na localida-
de, como resultado da natureza, escala, forma ou finalidade do empreendimento?

Obras de demolição? Sim Vai exigir a demolição de dois Sim. Os edifícios são conhecidos
1.6
edifícios históricos nacionalmente

Envolverá a dragagem do canal Não – O canal já é regularmente


1.11 Operações de dragagem? Sim
para criar nova margem dragado
2. O projeto utilizará algum recurso natural, especialmente aqueles não renováveis ​​ou escassos?

A criação da plataforma requer


Sim. Grande mudança no ambien-
uma grande quantidade de mate-
te nos locais de extração. Impacto
rial proveniente de uma área de
2.4 Agregados? Sim sobre um grande número de
empréstimo - solo e aglomerados.
pessoas nas proximidades. Grande
Efeito indireto da extração em
pressão sobre o abastecimento local
áreas naturais

4. O projeto irá produzir resíduos sólidos durante a construção, operação ou desativação?

Resíduo municipal (resíduos A nova população irá gerar resídu- Não. Existe ampla capacidade de
4.2 Sim
domésticos e ou comerciais)? os domésticos e outros gestão de dejetos

5. O projeto implicará no lançamento de poluentes ou substâncias perigosas, tóxicas ou nocivas na atmosfera?

Sim. A habitação é protegida inter-


A remoção de terra durante a cons-
Poeira ou odores do manuseio de nacionalmente, sendo vulnerável ​​à
trução pode causar poeira durante
5.5 materiais, incluindo materiais de Sim deposição de poeira. A condição de
a seca e afetar habitações vizinhas e
construção, esgoto e resíduos? pacientes hospitalizados poderá ser
residentes locais
agravada pela exposição à poeira

6. O projeto causará ruído e vibração ou liberação de luz, energia térmica ou radiação eletromagnética?

Fluxos de tráfego pesado durante


A partir da construção ou do o transporte de material para a Sim. Os níveis de ruído já são ele-
6.5 Sim
tráfego operacional? construção, afetando os residentes vados pelo tráfego e pela indústria
e o hospital

Continua...

72
Capítulo 4 - Métodos da Avaliação de Impactos Ambientais

Tabela 4.6 - Continuação


Sim/
Quais características do ambiente O efeito pode ser significante?
No. Questões a serem consideradas Não/
do projeto poderiam ser afetadas? Por que?
?
7. O projeto acarretará em riscos de contaminação do solo ou da água devido a emissões de poluentes no solo ou nas redes
de esgoto, águas superficiais, águas subterrâneas, dutos costeiros ou no mar?

Decorrente da descarga de esgotos Aumento nos fluxos da rede de


Possivelmente. Depende da exigên-
7.2 ou outros efluentes (tratados ou Sim esgoto municipal pelos novos
cia de novas estações de tratamento
não) na água ou no solo? residentes

9. O projeto resultará em mudanças sociais?


O acréscimo imediato de 10.000
pessoas transformando zonas rurais
em ambiente urbano. A transfor- Sim. Comunidade local é pequena
Haverá mudanças no tamanho
mação no número de habitantes e bem estabelecida, com sólidas
9.1 da população, idade, estrutura, Sim
(de 5.000 para 15.000) resultará instituições comunitárias e iden-
grupos sociais, etc?
na alteração da comunidade atual, tidade
identidade cultural e condições
econômicas
Fonte: EC, 2001a.

Listas de Controle Escalares Comparativas: são listas em que se atribuem escalas


que permitem comparar os estados anterior e posterior (previsto) de um empreendimento
(RODRIGUES, 1998), ou ainda, a comparação entre alternativas de projeto (FOGLIATTI
ET AL., 2004). Isso é feito pela estimativa das magnitudes dos impactos ambientais, dadas por
valores numéricos, letras ou sinais representativos, que são comparados para auxiliar na tomada
de decisão. Este tipo de listagem apresenta uma coluna de possíveis alternativas de projeto e
as colunas de atributos ambientais (fatores). Cada atributo poderá ainda receber, para cada
alternativa, escalas estimadas antes e após a implementação do projeto (STAMM, 2003). O
exemplo a seguir (Tabela 4.7) apresenta quatro alternativas para a construção de uma rodovia,
sendo que os pesos 0, 1, 2 e 3 representam respectivamente as classificações nenhum, pequeno,
médio e grande impacto, para cada fator considerado.

73
Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso

Tabela 4.7 - Exemplo de listagem de controle escalar


ESCALAS DOS FATORES
ALTERNATIVAS Impactos da Segurança e
Custo Desapropriação
construção risco
Duplicação da rodovia existente 3 3 3 3
Contrução de nova rodovia contornando a cidade 3 3 3 2
Realização de serviços de manutenção e
1 1 2 0
conservação da rodovia existente
Manutenção da situação atual com a rodovia
0 0 1 0
existente
Fonte: FOGLIATTI ET AL., 2004.

Listas de Controle Ponderáveis: assim como nas listas escalares, aqui são atribuídos pesos
aos impactos enumerados (fatores), contudo, esses pesos são baseados (quando possível) em
medições reais e em seguida são ponderados para permitir a comparação entre diferentes fatores.
Lohani et al. (1997) enumera as principais etapas envolvidas no desenvolvimento dessas listas:

1. Fixar um conjunto apropriado de fatores ambientais significativos para a atividade/


projeto que requer a AIA;
2. Determinar o índice de impacto para cada fator da seguinte forma:
2.1. Definir a unidade de medição para cada fator ambiental (Ex.: hectares
preservados);
2.2. Coletar os dados referentes ao fator ambiental (Ex.: 10.000 hectares preservados);
2.3. Decidir um intervalo comum para os índices de cada fator ambiental (Ex.: 0 a 1);
2.4. Converter os dados brutos dos fatores ambientais para índices (isso geralmente
é feito pela normalização dos dados pelo valor máximo ou mínimo);
3. Determinar o peso para cada fator ambiental (constante de importância relativa),
sendo que o somatório deverá ser igual a 1,0;
4. Escolher um método que agregue todos os fatores para obtenção do índice geral
(geralmente aditivo). Dessa forma, quanto maior for o índice (mais próximo de
1,0), melhor será a qualidade ambiental.

Considerando o exemplo hipotético a seguir (Tabela 4.8) em que são analisados dois
fatores e duas alternativas. Os fatores são: habitat da vida selvagem (medido em hectares de área
preservada) e aumento de emprego (medido em postos de trabalho). Neste exemplo os fatores
foram escalalonados para um índice que varia de 0 (pior) a 1 (melhor), obtido pela divisão dos
dados pelos valores máximos das duas alternativas. Os pesos de 0,2 e 0,8 foram determinados
para o habitat da vida selvagem e empregos, respectivamente.

74
Capítulo 4 - Métodos da Avaliação de Impactos Ambientais

Tabela 4.8 - Exemplo de duas alternativas de projetos analisadas com os métodos escalar e ponderável.
Alternativa 1 Alternativa 2
Fatores Pesos Dados Índice Dados Índice
Índice Índice
brutos ponderado brutos ponderado
Habitat preservado (ha) 0.2 5.000 0,5 0,1 10.000 1,0 0,2
Aumento de emprego (postos) 0.8 5.000 1,0 0,8 3.000 0.6 0,5
Índice global 1,5 0,9 1,6 0,7
Fonte: LOHANI ET AL., 1997; ANJANEYULU; MANICKAM, 2007.

Observe que são apresentados dois índices globais para cada alternativa. O primeiro foi
obtido pela simples adição dos índices dos fatores, que considera pesos iguais (1,0). Conforme
esse índice, a segunda alternativa parece mais vantajosa (1,6) do que a primeira. Já o índice
ponderado foi calculado com base nos pesos relativos de cada fator e indica que a Alternativa 1
apresenta uma melhor qualidade ambiental (0,9) do que a alternativa dois (0,7). Neste exemplo a
estratégia do estado é que decidirá a melhor alternativa do empreendimento conforme as prioridades
de políticas públicas: preservação ambiental versus geração de empregos. Fica evidente, portanto,
que o resultado obtido irá depender: a) dos fatores ambientais considerados; b) da metodologia
empregada no cálculo dos índices; c) do peso atribuído a cada fator; e, d) do método utilizado para
agregar os fatores em um índice global (ANJANEYULU; MANICKAM, 2007).
Dentre as técnicas de listagem ponderável, o mais conhecido é o Método de Battelle
ou Sistema de Avaliação Ambiental (Environment Evaluation System, EES). O método foi
desenvolvido nos Laboratórios de Battelle em Colombo, EUA, para aplicação em projetos
relativos aos recursos hídricos e consiste na obtenção de dados de base de 78 fatores ambientais.
Os dados brutos são convertidos (ou escalonados) em Índices de Qualidade Ambiental (QA) em
uma escala que varia de 0 (muito ruim) a 1 (ótimo) definidos segundo critérios de especialistas.
Esses valores são multiplicados pela constante denominada Unidade de Importância (UIP). A
Unidade de Impacto Ambiental (UIA) é obtida pela soma do produto de QA x UIP de todos os
fatores (Equação 1).


(1)

UIA = unidade de impacto ambiental para a j-ésima alternativa


QA = índice de qualidade ambiental para o i-ésimo fator e j-ésima alternativa
UIP = unidade de importância para o i-ésimo fator

75
Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso

A Figura 4.1 apresenta a organização desses 78 fatores agrupados em componentes


pertencentes a quatro categorias que compõem o sistema ambiental: ecologia, poluição ambiental,
estético e valores sociais (FOGLIATTI, 2004; ANJANEYULU; MANICKAM, 2007). Os
números apresentados no canto inferior direito dos componentes e categorias representam a
UIP correspondente. O Índice Global de impacto é calculado pela diferença entre as unidades
de impacto ambiental com e sem a realização do projeto (LAROVERE, 1992):

(2)

IG = índice global
UIACP = unidade de impacto ambiental com o projeto
UIASP = unidade de impacto ambiental sem o projeto

Esse método possibilita a comparação entre diferentes alternativas de um mesmo projeto,


com a vantagem de apresentar os dados de maneira quantitativa, fornecendo bons resultados
na caracterização ambiental e previsão de impactos (FOGLIATTI, 2004). Apesar das vantagens
desse método comparado aos anteriores, algumas falhas inerentes à metodologia de quantificação
e cálculo foram mencionadas por Larovere (1992): a identificação das interações entre impactos
pode resultar em dupla contagem ou subestimativa dos mesmos; dificuldades inerentes ao
estabelecimento de escalas para a comparação de parâmetros de natureza e comportamento
diferentes (ex.: parâmetros físicos versus sócio-culturais); e a comparação e adição de impactos de
naturezas distintas por meio de uma unidade comum.

76
Capítulo 4 - Métodos da Avaliação de Impactos Ambientais

Figura 4.1 - Fatores ambientais considerados no Método de Battelle. Os números indicam a Unidade de
Importância (UIP) de cada fator, componente e categoria.). Por exemplo: para a categoria
Ecologia (UIP = 240); componente Espécies e Populações (UIP = 140); fator Vegetação
Nativa (UIP = 14).
Fonte: Adaptado de Fogliatti (2004) e Anjaneyulu e Manickam (2007).
77
Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso

4.3.3 Método das Matrizes de Interação

Constitui-se em um método que organiza as informações em formato de tabela,


permitindo a visualização das relações entre os elementos/processos ambientais e as ações do
projeto (IBAMA, 1995). As matrizes estão entre os métodos mais comumente utilizados para
identificação dos impactos da AIA (GLASSON ET AL., 2005). As matrizes simples funcionam
como listagens de controle bidimensionais, composta de duas listas, dispostas na forma de linhas
e colunas (SÁNCHEZ, 2008). Uma lista pode representar as ações impactantes (erradicação
da cobertura vegetal, decapeamento do solo, etc.) e a outra, os fatores ambientais impactados
(solo, flora, fauna, etc.). A Tabela 4.9 apresenta um exemplo de matriz simples, onde as ações
potencialmente causadoras de impacto nos fatores ambientais são identificadas e assinaladas.

Tabela 4.9 - Parte de uma matriz simples.


AÇÕES DO PROJETO
Construção Operação
FATORES AMBIENTAIS Edifícios
Edifícios Edifícios Parques e
Utilidades comerciais e
residenciais comerciais áreas abertas
residenciais
Solo e geologia ● ●
Flora ● ● ●
Fauna ● ● ●
Qualidade do ar ●
Qualidade da água ● ● ●
Densidade
● ●
populacional
Emprego ● ●
Tráfego ● ● ● ●
Habitação ●
Estrutura da comunidade ● ● ●
Fonte: GLASSON ET AL., 2005.

As matrizes podem ser qualitativas ou quantitativas. A matriz é qualitativa quando são


utilizados os seis critérios de classificação qualitativa de impactos ambientais para preencher as
possíveis relações de impacto entre as suas linhas e colunas. A matriz é quantitativa quando são
utilizados critérios relativos à magnitude dos impactos, por meio do uso de números ou cores.
Embora possam incorporar parâmetros de avaliação, são métodos basicamente de identificação
(LA ROVERE, 2001).

78
Capítulo 4 - Métodos da Avaliação de Impactos Ambientais

A matriz quantitativa mais conhecida é a Matriz de Lepold, elaborada em 1971 pelo


Serviço Geológico do Ministério do Interior dos Estados Unidos (LEOPOLD ET AL., 1971).
Foi apontada pelo IBAMA (1995) como uma das mais utilizadas nos EIA/RIMA realizados no
Brasil, sendo frequentemente adotada como método para elaboração de estudos. A Matriz de
Leopold propõe a sistematização da análise dos impactos em 100 colunas de ações antrópicas
do projeto e 88 linhas dos componentes ambientais passíveis de serem afetados por estas ações
(Figura 4.2). Das 8.800 interações possíveis, estima-se que o número de interações aplicáveis
para a maioria dos projetos esteja entre 25 e 50 (LEOPOLD ET AL., 1971). A matriz ainda
permite fácil expansão para inclusão de itens adicionais não contemplados.

Figura 4.2 - Representação da Matriz de Leopold organizada em 100 colunas de ações antrópicas do
projeto e 88 linhas dos componentes ambientais.

Cada célula da Matriz de Leopold registra dois números que representam a relação entre
uma ação do empreendimento e um elemento ambiental (ver a representação da matriz na
Figura 4.2). O número à esquerda representa a magnitude do impacto, podendo variar entre
1 (menor) a 10 (maior magnitude relativa), enquanto que o número da direita diz respeito à
significância da interação, também variando de 1 (insignificante) a 10 (muito significativo). É
importante ressaltar a diferença entre magnitude e significância: o primeiro se refere ao nível,
extensão, escala; o segundo abrange o grau de importância, sendo mais subjetivo e dependente
do julgamento da equipe multidisciplinar (LEOPOLD ET AL., 1971). Um impacto pode ser
grande, porém insignificante, ou pequeno e significativo. Glasson et al. (2005) exemplificam essa
diferença ilustrando o impacto, em termos ecológicos, da pavimentação de um grande campo
usado intensivamente para agricultura comparado à destruição, ainda que de uma pequena área,
de um sítio de especial interesse científico.
Após o preenchimento da matriz, uma matriz simplificada é criada contendo apenas as ações

79
Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso

e fatores ambientais cujas interações foram identificadas (Figura 4.3). Essa matriz é de fato um
resumo para o texto de comunicação dos resultados que irão compor o RIMA. De forma geral, a
Matriz de Leopold é simples e pode ser aplicada a uma grande variedade de projetos, permitindo
uma fácil compreensão dos impactos diretos e de primeira ordem. Contudo, esse método falha em
revelar efeitos indiretos advindos da complexa interação entre os componentes ambientais.

Figura 4.3 - Resumo da matriz elaborada para um projeto de exploração de fosfato.

Fonte: LEOPOLD ET AL., 1971.

80
Capítulo 4 - Métodos da Avaliação de Impactos Ambientais

Segundo Glasson et al. (2005), o sistema de pontuação da magnitude/significância


apresenta alguns inconvenientes:

(a) é subjetivo por natureza, podendo ainda ser tendencioso;


(b) exclui detalhes das técnicas usadas na predição dos impactos;
(c) não dá indicação se os dados de origem são quantitativos ou qualitativos;
(d) não especifica a probabilidade de ocorrência do impacto.

Entretanto, de modo geral, as Matrizes de Interação são flexíveis e simples de serem


empregadas, sendo consideradas ferramentas valiosas de grande importância na identificação
dos impactos, orientação dos estudos e apresentação dos resultados. Apresentam as seguintes
vantagens: possibilitam comparações entre várias alternativas de intervenção; são bastante
abrangentes, pois envolvem aspectos físicos, biológicos e sócio-econômicos. Apresentam
as seguintes desvantagens: não permitem a avaliações frequentes das interações, não fazem
projeções no tempo e apresentam grande subjetividade, sem identificar impactos indiretos, nem
de segunda ordem.
As matrizes são amplamente utilizadas no Brasil. Um exemplo de aplicação do método de
matrizes é apresentado no estudo de caso do capítulo 7.

4.3.4 Método das Redes ou Diagramas de Interação (Networks)

As redes de interação ilustram as conexões de causa-efeito das atividades do projeto e


dos elementos ambientais por meio de fluxogramas, modelos conceituais ou de equações
matemáticas que representam uma sequência de operações intrincadas entre os componentes de
um sistema (IBAMA, 1995). Compõem o primeiro método essencialmente sistêmico de AIA,
sendo particularmente útil na identificação e descrição dos impactos indiretos e acumulativos
resultantes dos efeitos em cadeia (INEP, 2002). O primeiro modelo de rede, Sorense Network, foi
desenvolvido em 1971 para ajudar planejadores a conciliar conflitos entre diferentes usos do solo
nas regiões costeiras do estado da Califórnia, EUA.
Os impactos ambientais podem resultar tanto diretamente pela atividade do projeto,
como indiretamente pelas alterações causadas nas condições ambientais (GLASSON ET AL.
2005). A Figura 4.4 apresenta o modelo conceitual para a construção das redes de interação. O
primeiro passo consiste em identificar as alterações de primeira ordem ou os efeitos ambientais
de determinada intervenção (p.ex., aumento da superfície de escoamento de águas pluviais).
Segue-se então à identificação das alterações secundárias em outros componentes ambientais
causadas pelos efeitos primários (p.ex., enchentes). As alterações/efeitos de terceira ordem, por
sua vez, também são identificadas (p.ex., sulcos, erosões) juntamente com as ações corretivas

81
Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso

(p.ex., reposição da cobertura vegetal) e dos mecanismos de controle (p.ex., construção de redes
de drenagem) a serem implementados. Isso continua até atingir a satisfação da equipe especialista
(IBAMA, 1995; LOHANI ET AL., 1997; ANJANEYULU; MANICKAM, 2007).

Figura 4.4 - Modelo conceitual das redes de interação dos impactos ambientais.

Fonte: LOHANI ET AL., 1997; ANJANEYULU; MANICKAM, 2007.

O exemplo da Figura 4.5 (Müller, 1995) organiza os efeitos observados sobre os ecossistemas
(fator biótico) com a formação do reservatório de uma hidroelétrica. Os diagramas podem ser
elaborados para solo, água e demais recursos que compõe o meio ambiente.

82
Capítulo 4 - Métodos da Avaliação de Impactos Ambientais

Figura 4.5 - Diagrama de interação retratando os impactos sobre os fatores bióticos (ecossistemas).

Fonte: MÜLLER, 1995.

83
Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso

É um método de grande importância, pois permite identificar impactos indiretos, de


segunda, terceira ordem, etc, que geralmente são negligenciados nos outros métodos. Enquanto
as matrizes dividem o meio ambiente em compartimentos fechados, as redes permitem o
entendimento da interação entre as partes (SÁNCHEZ, 2008). Isso possibilita identificar e
incorporar as medidas mitigadoras, mecanismos de controle, monitoramento e manejo nas fases
de planejamento do projeto (ANJANEYULU; MANICKAM, 2007). Apresenta ainda, como
vantagem, o fato de que uma avaliação isolada e consecutiva pode ser utilizada como ferramenta
adequada para a construção de suas matrizes, e ser de grande ajuda no processo de avaliação,
identificando as ações necessárias, os parâmetros e os compartimentos ambientais susceptíveis,
especialmente as interações entre esses.
Vale ressaltar que esse método geralmente não estabelece parâmetros valorativos de
magnitude ou significância dos impactos nos diversos componentes ambientais, com exceção de
algumas variações do método (IBAMA, 1995). Os resultados obtidos pelos diagramas podem
auxiliar a organizar a discussão e a comunicação dos impactos previstos no projeto sob análise ao
público interessado. As redes de interação mais detalhadas são de difícil visualização, morosas e
difíceis de serem produzidas sem o auxílio de programas de computador desenvolvido para esse
fim (UNEP, 2002).

4.3.5 Método da Sobreposição de Mapas (Overlay Mapping)

Um dos problemas relacionados aos demais métodos de AIA é a falta de conexão dos
impactos com a área que eles afetam, sendo que a grande maioria dos dados apresenta uma clara
relação espacial ou geográfica (p.ex.: difusão e concentração de poluentes, efeitos da erosão do
solo, extensão de floresta nativa, etc).
O método de sobreposição de cartas é uma forma de relacionar informações sobre
características ou processos ambientais georreferenciados. Esse método tem sua origem no
final da década de 60 quando o Dr. Ian McHarg desenvolveu o sistema de mapas temáticos
transparentes para designar diferentes atributos espacialmente (p.ex.: flora, fauna, geologia,
população, cursos d’água, topografia, rodovias, terras agrícolas, etc). Esses mapas eram então
sobrepostos para formar um mapa composto, permitindo a identificação de áreas viáveis para a
localização das alternativas do projeto em estudo (MUNIER, 2004).
Hoje esse método está associado aos Sistemas de Informações Geográficas (SIG),
permitindo a aquisição, o armazenamento, a análise e a representação de dados ambientais de
forma muito mais completa e eficiente. A essência continua a mesma, com a elaboração e a
posterior sobreposição de cartas temáticas de uma determinada área (Figura 4.6). Atualmente, a
técnica de SIG já dispõe de diversos “softwares” avançados para a obtenção de mapas temáticos,
tornando mais ágil a utilização desta técnica. Os mapas devem apresentar uma mesma escala,

84
Capítulo 4 - Métodos da Avaliação de Impactos Ambientais

um mesmo padrão de detalhamento, e o mesmo sistema de projeção. O diagnóstico ambiental é


feito a partir da sobreposição dos temas que irão produzir os mapas de aptidão e restrição de uso
do solo de acordo com a ação prevista para ocorrer.
O SIG é uma ferramenta poderosa para as abordagens relativas às análises de dados
referenciados geograficamente. Modelos matemáticos complexos com um grande número de
variáveis podem ser processados, permitindo a ponderação dos projetos propostos para uma dada
área e a avaliação dos impactos preditos. A modelagem pode analisar tendências e identificar
os fatores causadores, indicar rumos alternativos, as implicações e consequências-chave para a
tomada de decisão (ANJANEYULU; MANICKAM, 2007). Além disso, permite prever cenários
futuros por meio de simulações feitas pelas alterações nas variáveis de entrada. Imagens de satélite
podem ser usadas na construção desses modelos e assim possibilitar a atualização periódica das
condições ambientais (p.ex.: fragmentação da cobertura vegetal, terras irrigadas, ocupação do
solo, etc).
A maior vantagem deste método é a sua aplicabilidade direta na distribuição espacial dos
impactos. Outra vantagem é que, com as atuais facilidades para a digitalização das informações,
torna-se possível criar modelos numéricos do terreno, e com computadores, operações complexas
com esses modelos são factíveis, mesmo quando muitos mapas devem ser sobrepostos. É um
método facilmente entendido por qualquer pessoa, seja ela uma especialista no assunto, ou outro
que não tenha contato direto com o assunto.

Figura 4.6 - Ilustração do método de sobreposição de mapas.

85
Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso

Neste contexto, o Zoneamento Ecológico-Econômico do Brasil (ZEE), previsto no Art


9º da Lei 6.938/1981 e posteriormente regulamentado pelo Decreto 4.297/2002, se constitui
em um instrumento de organização do território que deve ser seguido na implantação de planos,
obras e atividades públicas e privadas. O ZEE tem por objetivo organizar, de forma vinculada, a
distribuição espacial dos recursos naturais e das atividades econômicas, dividindo o território em
zonas para auxiliar as decisões dos agentes públicos e privados, levando em conta a importância
ecológica, as limitações e fragilidades dos ecossistemas, assegurando a plena manutenção do
capital e dos serviços ambientais, a qualidade ambiental, dos recursos hídricos e do solo e a
conservação da biodiversidade.
Essas zonas são definidas por meio do diagnóstico dos recursos naturais, informações
constantes do SIG, cenários tendenciais e alternativos, e diretrizes gerais e específicas, contendo:

(i) atividades adequadas a cada zona, de acordo com sua fragilidade ecológica,
capacidade de suporte ambiental e potencialidades;
(ii) necessidades de proteção ambiental e conservação das águas, do solo, do subsolo,
da fauna e flora e demais recursos naturais renováveis e não-renováveis;
(iii) definição de áreas para unidades de conservação, de proteção integral e de uso
sustentável;
(iv) critérios para orientar as atividades madeireira e não-madeireira, agrícola,
pecuária, pesqueira e de piscicultura, de urbanização, de industrialização, de
mineração e de outras opções de uso dos recursos ambientais;
(v) medidas destinadas a promover, de forma ordenada e integrada, o desenvolvimento
ecológico e economicamente sustentável do setor rural, com o objetivo de
melhorar a convivência entre a população e os recursos ambientais, inclusive
com a previsão de diretrizes para implantação de infra-estrutura de fomento às
atividades econômicas;
(vi) medidas de controle e de ajustamento de planos de zoneamento de atividades
econômicas e sociais resultantes da iniciativa dos municípios, visando a
compatibilizar, no interesse da proteção ambiental, usos conflitantes em espaços
municipais contíguos e a integrar iniciativas regionais amplas e não restritas às
cidades; e
(vii) planos, programas e projetos dos governos federal, estadual e municipal, bem
como suas respectivas fontes de recursos com vistas a viabilizar as atividades
apontadas como adequadas a cada zona.

Segundo a regulamentação, os produtos resultantes do ZEE deverão ser armazenados


em formato eletrônico e atualizados, constituindo banco de dados geográficos acessível

86
Capítulo 4 - Métodos da Avaliação de Impactos Ambientais

à sociedade, com linguagem e formato passível de compreensão pelos cidadãos. Dentre os


exemplos de aplicação tem-se os ZEE dos Estados de Minas Gerais, Maranhão, Mato Grosso,
Mato Grosso do Sul, Acre, Roraima e Rondônia.

4.3.6 Método dos Modelos Matemáticos ou de Simulação

Representa o que há de mais moderno em termos de método de avaliação de impactos


ambientais, apesar de ter sido desenvolvido no final da década de 70. Funciona como modelos
matemáticos (simulação, regressão, probabilidade, multivariadas, etc.), desde os mais simples aos
mais complexos, que permitem simular a estrutura e o funcionamento dos sistemas ambientais,
pela consideração de todas as relações biofísicas e antrópicas possíveis de serem compreendidas
no fenômeno estudado.
A abordagem mais conhecida desse método foi desenvolvida por ecologistas e é conhecida
como Manejo e Avaliação Ambiental Adaptativa (Adaptive Environmental Assessment and
Manegement – AEAM). O AEAM consiste na formação de equipes interdisciplinares interagindo
durante uma série de workshops para desenvolver modelos de simulação para a predição de impactos
e avaliação de alternativas, incluindo ações de manejo do ambiente (LOHANI ET AL., 1997).
Essa abordagem resulta em análises aprofundadas, nas quais as predições são testadas e os cenários
resultantes de diferentes alternativas de manejo e desenvolvimento são avaliados. A disponibilidade de
dados robustos é o principal fator limitante para a acurácia e compreensão dos modelos.
Neste procedimento ocorre a simplificação de todas as características do meio em um
modelo matemático, sendo esta talvez uma de suas maiores limitações. Podem ser processadas
variáveis qualitativas e quantitativas e simular, por exemplo, a magnitude de uma determinada ação
(atividade) ambiental sobre um dado fator ambiental. Tem como principais vantagens: promover
a comunicação entre especialistas; trabalhar qualquer forma de relação seja linear ou não linear;
facilitar a identificação de variáveis chaves ou de relações que necessitam ser investigadas.
As principais desvantagens são: depende da disponibilidade de dados apropriados e de
qualidade, requer capacitação (especialistas) e tempo, tem elevado custo além de que as relações
entre as variáveis são consideradas constantes através do tempo. Outra questão delicada se
refere ao estágio ainda investigativo dos modelos de simulação de ecossistemas, cuja acurácia e
capacidade preditiva ainda estão sendo validadas.

4.4 Critérios para a Seleção da Metodologia

Apesar do grande número de métodos de AIA disponíveis, cada um apresenta suas


vantagens e desvantagens, sendo que a escolha do método ou de suas variações irá depender da
aplicação e dos recursos disponíveis (dados robustos, aporte financeiro e tempo disponível para

87
Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso

coleta, análise e interpretação). A Tabela 4.10 traz uma lista de critérios usados para selecionar os
métodos durante as várias etapas do processo de AIA.
Com base nos critérios especificados na tabela 4.10, Lohani et al. (1997) avaliaram
sistematicamente os métodos discutidos neste capítulo. O resumo das principais características,
vantagens e desvantagens de cada método encontra-se apresentado na Tabela 4.11.

Tabela 4.10 - Critérios objetivos para a seleção do método de AIA.


Processo de
Avaliação Critério Descrição do critério
(Fase)
Simples o suficiente para permitir que a mão de obra disponível, mesmo
1. Requerimento de experiência com pouco conhecimento, compreenda e aplique o método sem grandes
dificuldades.
Não requer coleta de dados primários e pode ser usado com os dados
2. Requerimento de dados
disponíveis.
Geral Pode ser bem concluído dentro do tempo requisitado para a revisão do
3. Requerimento de tempo
EIA.
Flexível o suficiente para permitir modificações/adaptações durante o
4. Flexibilidade curso do estudo, especialmente se um estudo mais detalhado é neces-
sário.
5. Nível de pessoal Pode ser conduzido com mão de obra e recursos limitados.
Abragente o suficiente para conter todas as opções e alternativas possí-
6. Abrangência veis; capaz de fornecer informação suficiente sobre os impactos e permi-
tir tomada de decisão eficiente.
Capaz de identificar parâmetros específicos para medir impactos signi-
7. Baseado em indicadores
Identificação ficativos.
Requer e sugere métodos para identificar impactos advindos do projeto e
8. Descriminativo
descriminá-los das mudanças ambientais futuras devido a outras causas.
9. Dimensão de tempo Pode identificar os impactos em escala temporal.
10. Dimensão espaço Pode identificar os impactos em escalas espaciais.
Usa um conjunto de unidades proporcionais para permitir a comparação
11. Ponderado
entre alternativas.
Sugere o uso de indicadores específicos e mensuráveis para quantificar os
12. Quantitativo
Medição impactos relevantes.
Prevê a medição da magnitude do impacto como distinto da significân-
13. Mudanças de medidas
cia do impacto.
14. Objetivo É baseada em critérios objectivos declarados explicitamente.

Continua...

88
Capítulo 4 - Métodos da Avaliação de Impactos Ambientais

Tabela 4.10 - Continuação


Processo de
Avaliação Critério Descrição do critério
(Fase)
Fornece uma profundidade de análise suficiente e transmite confiança
15. Credibilidade
aos usuários e ao público em geral.
16. Replicabilidade A análise pode ser replicada por outros profissionais da AIA.
Pode explicitamente avaliar a significância dos impactos medidos em
uma escala local, regional e nacional.
17. Significância
Expõe os critérios e os pressupostos utilizados para determinar a signifi-
cância do impacto.
Avaliação
18. Agregação Agrega a vasta quantitade de informação e dados de base.
Permite um certo grau de incerteza.
19. Incerteza Identifica os impactos que têm baixa probabilidade de ocorrência, mas
um alto potencial de dano e perda.
20. Alternativo Permite comparação entre os impactos das alternativas do projeto.
Claramente retrata os impactos sobre o meio ambiente com e sem o
20. Comparação
projeto.
Fornece uma comparação suficientemente detalhada e completa das al-
ternativas vários projetos disponíveis.
Exige e sugere um mecanismo para a participação do público na inter-
pretação dos impactos e sua importância.
21. Comunicabilidade
Fornece um mecanismo para avaliar os impactos sobre os grupos geográ-
ficos ou sociais afetados.
Comunicação Fornece uma descrição da configuração do projeto para ajudar os usuá-
rios a compreender adequadamente todo o quadro.
Resume os resultados da análise de impacto em um formato que fornece
aos usuários, desde o público até os tomadores de decisão, detalhes sufi-
22. Formato sintetizado cientes para compreender e confiar na avaliação.
Fornece um formato para destacar os principais problemas e impactos
identificados na avaliação.
Fonte: LOHANI ET AL., 1997.

89
Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso

Tabela 4.11 - Avaliação dos métodos de acordo com os critérios adotados.

Listas Listas
Critério Ad Hoc Matrizes Redes Mapas Modelos
simples ponderáveis

1. Requerimento de experiência C C N P P C N
2. Requerimento de dados C C P C C P N
3. Requerimento de tempo C C P P C C N
4. Flexibilidade C C C P C C C
5. Nível de pessoal P C P P C P P
6. Abrangência N C P C N N P
7. Baseado em indicadores N N N N C P C
8. Descriminativo N N N N P N C
9. Dimensão de tempo N N N N N P C
10. Dimensão espaço N N N N N C C
11. Ponderado N N P N N C C
12. Quantitativo N N N N N C C
13. Mudanças de medidas N N N N N C C
14. Objetivo N N N P P C P
15. Credibilidade P P P P P C P
16. Replicabilidade N N N N P C C
17. Significância N P N N N N P
18. Agregação N N P P P P C
19. Incerteza N N N N N N P
20. Alternativo P P C N N P C
20. Comparação P C P C C C C
21. Comunicabilidade N C C C P C C
C: Critério completamente satisfeito
P: Critério parcialmente satisfeito
N: Critério não satisfeito
Fonte: Adaptado de Lohani et al. (1997).

90
5
INDICADORES DE
SUSTENTABILIDADE

A técnica, esse intermediário entre a natureza e o homem desde os tempos


mais inocentes da história, converteu-se no objeto de uma elaboração científica
sofisticada que acabou por subverter as relações do homem com o meio, do
homem com o homem, do homem com as coisas, bem como as relações das
classes sociais entre si e as relações entre nações.
Milton Santos
Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso

5.1 Introdução

Neste capítulo busca-se fornecer elementos para capacitar e familiarizar o leitor, por meio
da contextualização do tema, efetuando uma abordagem que atenda às primeiras consultas,
sem o intuito de exaurir o assunto que é amplo e apresenta muitas possibilidades e direções, de
conformidade com o estudo que se desenvolve.
Como pode ser visto em capítulos anteriores, a definição de desenvolvimento sustentável
caracteriza-o, fundamentalmente pelo combate à miséria e às desigualdades sociais, sem repudiar
a natureza ou desconsiderar as especificidades locais. Persegue o objetivo global do crescimento
econômico e social duradouro, pensando com equidade e certeza científica, sem dilapidar o
patrimônio natural das nações ou perturbar desastrada ou profundamente o equilíbrio ecológico
local, regional, das respectivas nações, com prejuízos à integridade ecológica global.
Para o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), um dos desafios da construção
do desenvolvimento sustentável é criar instrumentos de mensuração, tais como indicadores de
desenvolvimento, considerando que indicadores são ferramentas constituídas por uma ou mais
variáveis que, associadas através de diversas formas, revelam significados mais amplos sobre os
fenômenos a que se referem.
Dadas as dimensões e complexidades do objeto, o desenvolvimento sustentável e a sua
compreensão utilizando indicadores, constituem um grande desafio. Segundo Dahl (1997), o
maior desafio dos indicadores de desenvolvimento sustentável é fornecer um retrato da situação
da sustentabilidade, de uma maneira simples, que defina a própria idéia, apesar da incerteza e da
complexidade.

5.2 Aspectos Principais

O vocábulo indicador tem origem no verbo latino Indicare, que significa descobrir,
apontar, anunciar, estimar, divulgar ou fazer sabido publicamente (HAMMOND et al., 1995;
RIBEIRO, 2006).
Indicadores de Desenvolvimento Sustentável são instrumentos essenciais para guiar a ação
e subsidiar o acompanhamento e a avaliação do progresso alcançado rumo ao desenvolvimento
sustentável. Devem ser vistos como um meio para se atingir o desenvolvimento sustentável e não
como um fim em si mesmo. Valem mais pelo que apontam do que pelo seu valor absoluto, e são mais
úteis quando analisados em seu conjunto, do que o exame individual de cada indicador (IBGE, 2010).
Os indicadores normalmente são pensados como elementos de evidência para que
forneçam informações sobre questões de interesses amplos; indicador é algo que nos conta o que
está acontecendo ou que está para acontecer.

92
Capítulo 5 - Indicadores de sustentabilidade

Para Sánches (2008) os indicadores têm uso crescente no planejamento e na gestão


ambiental e são úteis em várias partes dos estudos de impacto: no diagnóstico, na previsão de
impactos e no monitoramento. Um indicador deve ser capaz de apontar a existência de uma
degradação no sistema, bem como de advertir sobre eventuais perturbações potenciais.
A definição de McQueen e Noak (1998) trata um indicador como uma medida que resume
informações relevantes de um fenômemo particular ou um substituto dessa medida, semelhante
ao conceito de Holling (1978) de que um indicador é uma medida do comportamento do
sistema em termos de atributos expressivos e perceptíveis.
Quando aplicados em metodologias de trabalhos de gestão participativa, Guijt (1999)
compreende indicadores como elementos centrais na maioria das abordagens em monitoramento,
constituindo um recurso para comunicar processos, fatos ou tendências complexas a um público
mais amplo. Neste sentido, um indicador é significativo se estiver diretamente relacionado
à informação de que as pessoas necessitam e sabem interpretar, ou ler o seu sentido. Podem
representar uma realidade complexa e por isso devem ser releventes e precisos, mas nem sempre
são perfeitos.
Quando se aborda ou trata-se de desenvolvimento, indicadores são ferramentas constituídas
por uma ou mais variáveis que, associadas, revelam significados mais amplos sobre os fenômenos
a que se referem; são instrumentos essenciais para guiar a ação e subsidiar o acompanhamento
e a avaliação do progresso alcançado rumo ao desenvolvimento sustentável. Devem ser vistos
como um meio para alcançar o desenvolvimento sustentável e não como um fim em si mesmo
(IBGE, 2008).
No campo das ciências biológicas, “os bioindicadores”, são organismos, populações ou
comunidades, cujas funções vitais se correlacionam tão estreitamente com determinados fatores
ambientais, que podem ser empregados como indicadores na avaliação de uma determinada área
(SCHUBERT, 1991 apud LIMA, 2001).
Os indicadores ambientais não são apenas medidas de impacto sobre o meio ambiente,
mas podem também ser expressões que contenham informações sobre condições ambientais,
locais e regionais, podendo ser expressos em termos de Pressão/Estado/Resposta. Devem mostrar
como está o estado do meio ambiente e o que pode acontecer no curto, médio e longo-prazo; o
processo de seleção de indicadores pode incluir tanto aqueles já existentes, bem como desenvolver
novos indicadores, podendo incluir agregações e ponderações que possam refletir características
estratégicas da política ambiental (RIBEIRO, 2006).
Voltados para estudos florestais, os indicadores podem ser compreendidos como
componentes ou variáveis da floresta ou sistema de manejo que implicam ou indicam o estado ou
as condições requeridas por um critério. Eles são apresentados como uma mensagem individual
significativa sobre um componente ou uma variável, podendo ser compostos por um ou mais

93
Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso

elementos de dados (RITCHIE et al, 2001).


Para agroecossistemas, indicadores de sustentabilidade, segundo (FERRAZ, 2003), devem
refletir as alterações nos atributos da produtividade, resiliência, estabilidade e equidade. Ressalta-
se que não existem indicadores “universais”, mas sim que cada sistema, dependendo de suas
categorias e elementos específicos, assim como dos descritores relacionados, terá seu próprio
conjunto de indicadores (Figura 5.1).
A Comissão Mundial para Desenvolvimento Ambiental (World Comission on Environmental
Development), destacou que os indicadores devem possuir as seguintes características:

• Aplicáveis (replicáveis) em um grande número de sistemas ecológicos, sociais e


econômicos;
• Mensuráveis e de fácil medição;
• Concebidos de tal forma que a população local possa participar de suas medições,
ao menos no âmbito da propriedade;
• Sensíveis às mudanças no sistema e indicar tendências;
• Representar os padrões ecológicos, sociais e econômicos de sustentabilidade;
• Permitir o cruzamento com outros indicadores.

O nível crítico de um indicador pode ser definido em termos de severidade da degradação.


Quando o nível crítico é máximo, além deste, a produção declina rapidamente. O limite inferior
do nível crítico é aquele no qual a velocidade de degradação é alta, mas ainda pode ser revertida;
o limite superior do nível crítico se refere ao ponto de irreversibilidade de degradação do recurso
(FERRAZ, 2003).
A escolha de muitos indicadores, ou uma seleção muito detalhada, em lugar de dar maior
precisão, gera dificuldades no processamento, na interpretação dos resultados e nas conclusões sobre
os impactos. Por outro lado, escolher poucos indicadores ou indicadores muito superficiais, pode
tornar as informações insuficientes para a constatação do impacto avaliado (MÜLLER, 1995).

94
Capítulo 5 - Indicadores de sustentabilidade

Continua...

95
Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso

Continua...

96
Capítulo 5 - Indicadores de sustentabilidade

Figura 5.1 - Modelo conceitual apresentando os Temas em estudo, Descritores, Indicadores principais,
Indicadores secundários e os Impactos ambientais negativos.

Fonte: Pessoa et al. (2003)

97
Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso

Indicadores podem adotar diferentes significados. Alguns termos normalmente utilizados


são Norma, Padrão, Meta e Objetivo. Nos indicadores de desenvolvimento sustentável pode-
se afirmar que os conceitos de Padrão e Norma são semelhantes. Quando eles referem-se
fundamentalmente a valores estabelecidos ou desejados pelas autoridades governamentais ou
obtidos por meio de um consenso social, são utilizados dentro de um senso normativo ou um
valor técnico de referência.
As metas, por outro lado, representam uma intenção, valores específicos a serem alcançados.
Normalmente são estabelecidas a partir do processo decisório, dentro de uma expectativa que
seja de alguma maneira alcançável. Os progressos no sentido do alcance das metas devem ser
observáveis ou mensuráveis. Muito embora alguns usem os termos metas e objetivos de forma
intercambiável, de maneira geral os objetivos são usualmente qualitativos indicando mais uma
direção do que um estado específico (Bellen, 2006). Exemplificando, pode-se dizer que um dos
objetivos do sistema de saúde do País é erradicar a Dengue e que sua meta é que 80% desta
doença sejam erradicadas até o final de 2014.

98
Capítulo 5 - Indicadores de sustentabilidade

5.3 Funções dos Indicadores

Os indicadores devem agregar e quantificar informações de modo que sua significância se


torne mais clara, aparente. Eles simplificam as informações sobre fenômenos complexos tentando
melhorar com isso o processo de comunicação.
O principal objetivo dos Indicadores de Desenvolvimento Sustentável (IDS) é medir a
evolução em direção ao desenvolvimento sustentável, monitorando dessa forma os impactos da
política pública de meio ambiente e alimentando a participação das comunidades pela promoção
do conhecimento e da consciência dos parâmetros considerados (Ribeiro, 2006).
Indicadores podem ser quantitativos ou qualitativos, sendo que, regra geral, os mais
adequados para avaliação das iniciativas de desenvolvimento sustentável são os qualitativos,
em função de limitações explicitas ou implícitas que existem em relação a indicadores apenas
numéricos, embora, em alguns casos, avaliações qualitativas podem ser transformadas em uma
notação quantitativa.
Para Gallopin (1996) os indicadores qualitativos são preferíveis aos quantitativos em
pelo menos três casos específicos: quando informações quantitativas não estiverem disponíveis;
quando o atributo de interesse é inerentemente não quantificável; quando determinações de
custo assim o obrigarem.
As principais funções dos indicadores de acordo com Tunstall (1994) são:

• Avaliação de condições e tendências;


• Comparação entre lugares e situações;
• Avaliação de condições e tendências em relação às metas e aos objetivos;
• Prover informações de advertência;
• Antecipar futuras condições e tendências.

Quanto às funções, Hardi e Barg (1997) dividem os indicadores em dois grupos:


indicadores sistêmicos e de performance. Indicadores sistêmicos estão fundamentados em
referenciais técnicos, enquanto os indicadores de performance são ferramentas para comparações
que incorporam indicadores descritivos e referências a um objetivo político específico. Os
indicadores sistêmicos, ou descritivos, traçam um grupo de medidas individuais para diferentes
questões, características do ecossistema ou do sistema social e comunicam as informações mais
relevantes para os tomadores de decisão.
De acordo com Bellen (2006) os indicadores de performance fornecem aos tomadores de decisões,
informações sobre o grau de sucesso na realização de metas locais, regionais, nacionais ou internacionais.
São utilizados dentro de diversas escalas, no campo da avaliação política e no processo decisório.

99
Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso

Ainda segundo este autor, devido às incertezas naturais, entretanto, os sistemas são apenas
parcialmente ratificados pela ciência e também pelo processo político. Assim, as ferramentas de
avaliação são resultantes de um compromisso entre a exatidão científica e a necessidade de tomada
de decisão, em função do caráter urgente da ação. Essa limitação pode ser facilmente observável
no campo social, onde muitas variáveis não são quantificáveis e não podem ser definidas em
termos físicos (Bellen, 2006).

5.4 Construção Histórica e Aplicações

O desenvolvimento de indicadores ambientais e de desenvolvimento sustentável iniciou-


se no fim da década de 1980 no Canadá e em alguns países da Europa. O grande impulso
para o seu desenvolvimento ocorreu, entretanto, com o lançamento da Agenda 21, durante a
Conferência das Nações Unidas Sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento no Rio de Janeiro em
1992 (CEPAL, 2001).
A agenda 21 é, verdadeiramente, o maior e mais detalhado “documento” consensual
que a comunidade internacional conseguiu acordar para fazer face ao dilema da relação entre
a espécie humana e a natureza. Ela recolhe de forma integrada, antigas aspirações das nações
em desenvolvimento com vistas a uma ordem econômica internacional mais justa, assim como
incorpora as preocupações ambientais, sociais, culturais e econômicas dos países de maneira
ampla, sejam eles desenvolvidos e em desenvolvimento (BRASIL, 1996).
Nesse sentido, o trabalho de construção de indicadores de desenvolvimento sustentável
no Brasil, foi e tem sido inspirado no movimento internacional liderado pela Comissão
para o Desenvolvimento Sustentável (CDS) das Nações Unidas (Commission on Sustainable
Development). Foi criada durante a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento no Rio de Janeiro em 1992, e reuniu ao longo das décadas passadas governos
nacionais, instituições acadêmicas, organizações não governamentais, sendo representada por
especialistas de todo o mundo (IBGE, 2010). A CDS teve a missão de monitorar os avanços em
direção ao desenvolvimento sustentável, mas para isso necessitava de instrumentos para medir este
desenvolvimento. Foi esta a razão dos estudos e criação de diversos trabalhos com a finalidade de
criar e planejar o uso de indicadores ambientais e de desenvolvimento sustentável que incorporassem
as dimensões econômica, social, ambiental e institucional de desenvolvimento (RIBEIRO, 2006).
Na construção e consolidação de indicadores de sustentabilidade, a Agenda 21, do capítulo
8 ao 40, trata da relação entre meio ambiente e desenvolvimento sustentável e aborda a necessidade
de informações para a tomada de decisões. O documento Indicators of Sustainable Development:
framework and methodologies, conhecido como “Livro Azul”, foi publicado em 1996 pela CDS.
O documento apresentou, inicialmente, 134 indicadores, sintetizados posteriormente em 50 e
consolidados como recomendações da CDS, em 2001, quando ocorreu a divulgação de fichas

100
Capítulo 5 - Indicadores de sustentabilidade

metodológicas e diretrizes para a sua utilização (RIBEIRO, 2006).


O projeto de criação dos indicadores de sustentabilidade no Brasil ficou a cargo do IBGE
que tomou como referência as recomendações da CDS de 2001, adaptando o seu conteúdo às
particularidades brasileiras para a ordenação dos indicadores. O IBGE organizou os indicadores
em quatro dimensões fundamentais ao desenvolvimento sustentável, sendo implementadas em
2006 (IBGE, 2010):

• Dimensão Social – corresponde aos objetivos relacionados à satisfação das


necessidades humanas, melhoria da qualidade de vida e justiça social. Os
indicadores incluídos nesta dimensão abrangem os temas população, trabalho e
rendimento, saúde, educação, habitação e segurança, e procuram retratar o nível
educacional, a distribuição de renda e as questões relacionadas à equidade e às
condições de vida da população;
• Dimensão Ambiental – diz respeito ao uso dos recursos naturais e à degradação
ambiental, encontrando-se relacionada aos objetivos da preservação e conservação
do meio ambiente (atmosfera, terra, água doce, oceanos, mares e áreas costeiras,
biodiversidade e saneamento), considerados fundamentais para as gerações futuras;
• Dimensão Econômica – aborda o desempenho macroeconômico e financeiro
do país e dos impactos decorrentes do consumo de recursos materiais, na
produção e gerenciamento de resíduos e uso de energia. Ocupa-se da eficiência
dos processos produtivos;
• Dimensão Institucional – trata da orientação política, capacidade e esforço
despendido pelos governos e pela sociedade na implementação do desenvolvimento
sustentável. Neste tema figura o indicador que sintetiza o investimento em ciência
e novas tecnologias de processos e produtos, além de contemplar o indicador que
expressa a atuação do poder público na proteção do meio ambiente.

Conforme dito inicialmente, o estudo dos indicadores é amplo e complexo, e para alguns
temas, em especial aqueles relacionados a descritores submetidos mais intensamente aos revezes
conjunturais e às descobertas da ciência, haverá sempre necessidade de atualização e complementação
permanente para atender à evolução científica e às novas proposituras metodológicas, necessidades
sociais e orientações políticas. A Figura 5.2 apresenta uma lista básica dos principais indicadores
selecionados e destacados por Ribeiro (2006) nas suas respectivas dimensões.

101
Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso

Figura 5.2 - Principais dimensões e indicadores de sustentabilidade (Ribeiro, 2006).

102
Capítulo 5 - Indicadores de sustentabilidade

5.5 Sistemas dos Indicadores

5.5.1 Avaliação do Desempenho Ambiental (ADA)

A Avaliação do Desempenho Ambiental (ADA) foi adaptada do sistema Norte Americano,


conhecido por “Environmental Performance Index (EPI)”, que visava a quantificar e classificar
seu desempenho ambiental durante os anos 1999 a 2005. Constitui o modelo para mensurar a
eficácia dos procedimentos de conservação ou otimização do uso dos recursos naturais, bem como
das medidas de controle ambiental adotadas, ou a serem adotadas por determinada empresa.

ABNT NBR ISO 14031

A agenda 21 define propostas de ações em âmbitos regionais e locais para alcançar o


desejado desenvolvimento sustentável (MMA, 1998). Esta necessidade de parâmetros relevantes
e confiáveis para a medida do desempenho ambiental pode ser atendida com a formulação da
ISO 14031 (Gestão Ambiental: avaliação do desempenho ambiental e diretrizes), que traz uma
série de exemplos para serem utilizados por empresas, empreendimentos, etc, listando mais de
100 indicadores ilustrativos.
A ISO 14031 é um processo e ferramenta de gestão interna, planejada para prover a gestão
com informações confiáveis e verificáveis, em base contínua para determinar se o desempenho
ambiental de uma organização está adequado aos critérios estabelecidos pela administração
da organização. A norma é aplicável a todas as organizações, independente do tipo, tamanho,
localização e complexidade (ABNT, 2004).
A norma ISO 14031 descreve duas categorias gerais de indicadores a serem considerados
na condução da Avaliação de Desempenho Ambiental: Indicador de Condição Ambiental
(ICA) e o Indicador de Desempenho Ambiental (IDA). O IDA fornece informações sobre
o desempenho ambiental da organização, sendo classificado em indicadores de desempenho
gerencial e operacional.
Na coleta dos dados relativos ao processo produtivo, a empresa deve garantir a confiabilidade
dos dados, necessários para adequar a informação, validar os registros e verificar as bases científicas
e a estatística. Os dados referentes aos indicadores da Condição Ambiental (ICA), sob os quais
a indústria está submetida (Tabela 5.1), são obtidos junto aos órgãos de governo, instituições de
pesquisa ou a organizações não-governamentais.
Os Indicadores de Desempenho de Gestão (IDG) fornecem informações sobre os esforços
da alta administração para influenciar o desempenho ambiental das operações da organização
em questão. Relacionam-se com a política, pessoas, práticas, procedimentos, decisões e ações

103
Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso

em todos os níveis da organização. Por sua vez, os Indicadores de Desempenho Operacional


(IDO) fornecem informações sobre o desempenho ambiental das operações da organização,
relacionando-se com materiais, energia, produtos, serviços, resíduos, emissões, projeto, operação
e manutenção de equipamentos etc.

Tabela 5.1 - Indicadores utilizados na Avaliação de Desempenho Ambiental


CLASSIFICAÇÃO ISO 14031
Categoria Tipo Aspecto Ambiental
Indicador de desempenho Consumo de energia
Indicador de operacional (IDO) Consumo de matéria prima
Desempenho
Ambiental (IDA) Indicador de desempenho Consumo de materiais
de gestão (IDG) Gestão de resíduos sólidos
Indicador de Índice de qualidade da água;
Condição Ambiental (ICA) Índice de qualidade do ar
(Fonte: ABNT, 2004; FIESP, 2004)

Quanto aos Indicadores de Condição Ambiental (ICA), eles fornecem informações sobre
as condições do meio ambiente que possam ser úteis para a implementação da Avaliação de
Desempenho Ambiental dentro de uma organização.
O trabalho de medir e avaliar o desempenho ambiental é acompanhado por um grupo
de IDAs que pode ser usado não somente para a Avaliação de Desempenho Ambiental, mas
também ajuda a organização a selecionar técnicas ambientalmente corretas, fazer benchmarking1,
emitir relatórios ambientais e estabelecer Sistemas de Gestão Ambiental. Órgãos governamentais
também podem usar IDAs em avaliações de desempenho, avaliação e disseminação de tecnologias,
avaliação de impactos ambientais de diferentes setores ou regiões através da agregação de IDAs
específicos (REN, 2000).

FIESP-CIESP

A FIESP-CIESP lançou em 2004, instruções (cartilha) “Indicadores de Desempenho


Ambiental da Indústria” com o objetivo de mostrar a importância do acompanhamento, medição
e avaliação do desempenho ambiental e também indicar as alterações nos processos produtivos e
na gestão empresarial que possam levar à conformidade legal e normativa, aliada à melhoria de
produtividade e de competitividade.
Estas instruções baseiam-se na Norma ABNT NBR ISO 14031:2004 quanto à classificação
1 Trata-se da melhoria constante da indústria pela busca de melhores práticas que conduzem ao desempenho superior de uma organização a
fim de otimizar a realização de uma função.

104
Capítulo 5 - Indicadores de sustentabilidade

dos indicadores e critérios para escolha e coleta de dados. No entanto, ao listar sua proposição,
utiliza também outras fontes. A lista considera os Indicadores de Desempenho Gerencial (IDG)
e os Indicadores de Desempenho Operacional (IDO), mas não considera os Indicadores de
Condição Ambiental (ICA). Além disso, os IDG não consideram aspectos como treinamento e
relação com a comunidade.
Para a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP, 2004), os indicadores
selecionados devem incluir considerações sobre a qualidade, eficácia e adequação para expressar
as informações necessárias à avaliação preconizada. Deve ser feita de forma sistemática, a partir
de fontes apropriadas, e com a freqüência necessária à finalidade do trabalho.
Nas instruções há recomendações sobre como desdobrar os indicadores de forma a ter
unidades diferenciadas conforme o caso, assim como parâmetros a serem considerados com relação
à produção. A lista é, portanto, orientativa. Ao decidir seguir as instruções da FIESP, a empresa
deverá desenvolver os Indicadores conforme sua atividade e direcioná-los para atender às suas
necessidades de avaliação de desempenho e de comunicação das informações às partes interessadas.
Os indicadores selecionados, expressos em valores relativos (volume de água consumida/
ano; quantidade de energia consumida/produto; volume de resíduos sólidos gerados/produção
anual) devem ser interpretados e avaliados no sentido de identificar os aspectos ambientais
críticos, progressos e deficiências do desempenho ambiental da empresa.
É importante o relato das informações em níveis gerenciais, no sentido de resolver, melhorar
ou manter o desempenho ambiental da empresa, por meio da adoção de medidas adequadas,
tanto no que se refere à gestão, quanto ao processo produtivo propriamente dito.

PEGADA ECOLÓGICA (Ecological Footprint Method)

Diversos especialistas da área ambiental afirmam que uma ferramenta de avaliação pode ajudar
a transformar a preocupação com a sustentabilidade em uma ação pública consistente. A ferramenta,
proposta por Wackernagel e Rees (ecological footprint) pode ser traduzida como pegada ecológica e
representa o espaço ecológico correspondente para sustentar um determinado sistema ou unidade.
É uma ferramenta simples e compreensível, e sua metodologia basicamente contabiliza
os fluxos de matéria e energia que entram e saem de um sistema econômico e converte esses
fluxos em área correspondente de terra ou água existente na natureza para sustentar esse sistema
(Wackernagel e Rees, 1996). Pegada Ecológica é uma medida de consumo que é corretamente
compreendida como uma quantidade de serviço biológico consumida por unidade de tempo. O
indicador Pegada Ecológica representa o espaço ecológico necessário para sustentar um sistema ou
unidade, ou, em outras palavras, a capacidade de carga do sistema. É um parâmetro simplificado
que permite calcular a pressão do homem sobre o planeta, rastreando o consumo dos recursos

105
Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso

naturais. Trata-se de um método que avalia a sustentabilidade ambiental de um sistema de forma


objetiva, agregada e com indicadores unidimesnsionais (SCHWEITZER et al., 2009).
Pegada Ecológica refere-se, em termos de divulgação ecológica, à quantidade de terra e água
necessárias para sustentar as gerações atuais, tendo em conta todos os recursos materiais e energéticos
gastos por uma determinada população. É medida por unidade de área, em geral hectares, tendo
como componentes (CARVALHO; ROSEMBERG; SABBAGH, 2009):

• a área que seria reservada para a absorção do CO2, que é emitida em excesso pelo
uso de energia fóssil;
• a área de terras agrícolas necessárias (terra arável) para suprir as necessidades
alimentícias da população;
• a área necessária de pastagens para criar gado;
• a área de florestas necessárias para fornecer madeira, seus derivados e outros
produtos não lenhosos;
• a área urbanizada necessária para a construção de edifícios e infraestrutura.

Para que haja uma padronização dos dados usados, as estimativas geralmente utilizam
médias nacionais de consumo e médias mundiais de produtividade da terra. Através do tamanho
da “pegada ecológica” é que se pode vislumbrar os padrões de consumo e produtividade, auxiliando
na elaboração de modelos de gestão.
Quando descreve o sistema da “Pegada Ecológica”, Wackernagel e Rees (1996) abordam a
relação da sociedade com o meio ambiente. De acordo com os autores, existe a conscientização,
por parte da sociedade, de que o ecossistema terrestre não é capaz de sustentar indefinidamente
os níveis de atividade econômica e de consumo de matéria prima atuais. Simultaneamente, o
nível de crescimento econômico médio da economia avaliado pelo PIB tem sido de 4% ao ano,
o que implica um tempo estimado de 18 anos para dobrar a atividade econômica. Para os autores
da ferramenta, a base do conceito de sustentabilidade é a utilização dos serviços da natureza
dentro do principio da manutenção do capital natural, isto é, o aproveitamento dos recursos
naturais dentro da capacidade de carga do sistema (BELLEN, 2006).

106
6
O PROCESSO DE
AVALIAÇÃO DE
IMPACTOAMBIENTAL

Lugares, subespaços, nada mais são do que espaços funcionais. Só a conside-


ração do espaço total permite apreender o papel da paisagem no movimento
global da economia e da sociedade.
Milton Santos
Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso

6.1 Introdução

A Avaliação de Impactos Ambientais é constituída por uma vertente político-jurídico-


institucional e outra vertente técnico-científica. A vertente político-jurídico-institucional refere-
se ao conjunto de normas ambientais disciplinadoras da AIA, pela ação dos órgãos ambientais
na fiscalização e pelo licenciamento ambiental. A vertente técnico-científica refere-se aos estudos
e avaliações de impactos ambientais. É composta pelo empreendedor, que é o interessado e que
paga pela avaliação, pelo corpo técnico multidisciplinar que elabora o estudo, pelos institutos de
pesquisa e universidades. Além das vertentes mencionadas, a sociedade, incluindo a comunidade
diretamente afetada, se manifestam nas audiências públicas no processo do licenciamento das
obras. Estas vertentes devem assegurar, desde o início do processo de avaliação, um exame
criterioso das alterações ambientais provocadas por uma ação proposta, e das alternativas de
minimização (mitigação) dessas ações.
O EIA é o instrumento técnico-científico capaz de definir, mensurar, monitorar, mitigar
e corrigir as possíveis causas e efeitos, das atividades sobre ambiente, devendo ser realizado por
uma equipe multidisciplinar habilitada que será responsável tecnicamente pelos resultados
apresentados. A elaboração do EIA compreende um conjunto de atividades, pesquisas e tarefas
técnicas realizadas com o objetivo de dar conhecimento às principais conseqüências ambientais
de um projeto, de modo a atender aos regulamentos de proteção do meio ambiente e auxiliar a
decisão sobre a implantação desses projetos.
Este capítulo trata do processo e elaboração do EIA/RIMA e dispõe as diretrizes para a
preparação de estudos que visam a orientar empreendedores, técnicos, acadêmicos, entre outros,
na preparação de um EIA. De acordo com a Resolução CONAMA 01/86, o EIA, além de atender
à legislação, em especial os princípios e objetivos expressos na Lei de Política Nacional do Meio
Ambiente, obedecerá às seguintes diretrizes gerais: contemplar todas as alternativas tecnológicas e
de localização do projeto, confrontando-as com a hipótese de não execução do projeto; identificar
e avaliar sistematicamente os impactos ambientais gerados nas fases de implantação e operação da
atividade; definir os limites da área geográfica a ser direta ou indiretamente afetada pelos impactos,
denominada área de influência do projeto, considerando, em todos os casos, a bacia hidrográfica na
qual se localiza; considerar os planos e programas governamentais, propostos e em implantação na
área de influência do projeto, e sua compatibilidade (CONAMA, 1986).

6.2. O Processo de AIA

Os componentes e atividades do processo de AIA (Figura 6.1) apresentam estrutura


comum operada normalmente em três fases: seleção e triagem, determinação do escopo (termo
de referência) e pós-aprovação (monitoramento). A etapa inicial de seleção e triagem consiste
na análise da proposta pelo órgão ambiental que definirá se o empreendimento requer o

108
Capítulo 6 - O processo da Avaliação de Impacto Ambiental

Licenciamento Ambiental. No Brasil, dispõe-se de uma lista oficial deliberada pelas Resoluções
CONAMA 01/86 (Tabela 6.1) e 237/97 (Tabela 6.2).

Tabela 6.1 - Resumo dos empreendimentos potencialmente poluidores e que dependem do EIA/RIMA
(CONAMA, 1986).
Estradas de rodagem com duas ou mais faixas de rolamento;
Ferrovias;
Portos e terminais de minério, petróleo e produtos químicos;
Aeroportos;
Oleodutos, gasodutos, minerodutos, troncos coletores e emissários de esgotos sanitários;
Linhas de transmissão de energia elétrica, acima de 230KV;
Obras hidráulicas para exploração de recursos hídricos;
Extração de combustível fóssil (petróleo , xisto, carvão);
Extração de minério;
Aterros sanitários;
Usinas de geração de eletricidade;
Complexo e unidades industriais e agroindustriais
Distritos industriais e zonas estritamente industriais - ZEI;
Exploração econômica de madeira ou de lenha;;
Projetos urbanísticos;
Projetos Agropecuários;
Empreendimentos potencialmente lesivos ao patrimônio espeleológico nacional.

Tabela 6.2 - Resumo dos empreendimentos sujeitos ao Licenciamento Ambiental (CONAMA, 1997).
Pesquisa mineral; lavra a céu aberto, subterrânea, garimpeira, com ou sem
Extração e tratamento de minerais
beneficiamento; perfuração de poços e produção de petróleo e gás natural.
Indústria de produtos minerais não metálicos Beneficiamento, fabricação e elaboração de produtos minerais não metálicos.
Fabricação de aço, produtos siderúrgicos, fundidos de ferro e aço, estrutu-
Indústria metalúrgica
ras metálicas, laminados, ligas, artefatos de metais não-ferrosos e afins.
Indústria mecânica Fabricação de máquinas, aparelhos, peças, utensílios e acessórios.
Fabricação de pilhas, baterias e outros acumuladores, material elétrico,
Indústria de material elétrico,
eletrônico, equipamentos para telecomunicação e informática, aparelhos
eletrônico e comunicações
elétricos e eletrodomésticos.
Fabricação e montagem de veículos rodoviários e ferroviários; aeronaves;
Indústria de material de transporte
embarcações e estruturas flutuantes.
Serraria, desdobramento, preservação de madeira; fabricação de chapas,
Indústria de madeira aglomerados, compensados e fabricação de estruturas de madeira e de
móveis.

Continua...
109
Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso

Tabela 6.2 - Continuação


Indústria de papel e celulose Fabricação de celulose, pasta mecânica, papel e papelão e fibra prensada.
Beneficiamento de borracha natural; fabricação e recondicionamento de
Indústria de borracha
pneumáticos, laminados, artefatos de espuma de borracha, inclusive látex.
Secagem, salga e curtimento de couros e peles; fabricação de artefatos de
Indústria de couros e peles
couros e peles, cola animal.
Produção de substâncias e fabricação de produtos químicos (derivados do
petróleo, rochas betuminosas e da madeira); combustíveis não derivados de
petróleo; pólvora, explosivos e afins; recuperação e refino de solventes, óleos
Indústria química minerais, vegetais e animais; fabricação de concentrados aromáticos naturais,
artificiais e sintéticos; preparados para limpeza e polimento, desinfetantes,
inseticidas, germicidas; fungicidas; tintas, esmaltes, e afins; fertilizantes e
agroquímicos; fármacos; perfumarias e cosméticos; produção de álcool.
Indústria de produtos de matéria plástica Fabricação de laminados e artefatos de plásticos;
Beneficiamento de fibras têxteis, vegetais, de origem animal e sintéticos;
Indústria têxtil, de vestuário, calçados e
fabricação de fios, tecidos, tingimento, estamparia; fabricação de calçados
artefatos de tecidos
e similares.
Beneficiamento e fabricação de produtos alimentares; matadouros, abate-
douros, frigoríficos; fabricação de conservas; fabricação de rações balancea-
Indústria de produtos alimentares e bebidas
das e de alimentos preparados para animais; engarrafamento e gaseificação
de águas minerais; fabricação de bebidas alcoólicas.
Indústria de fumo Fabricação de cigarros e outras atividades de beneficiamento do fumo.
Indústrias diversas Usinas de produção de concreto e asfalto; serviços de galvanoplastia.
Rodovias, ferrovias, hidrovias, barragens e diques, canais para drenagem;
Obras civis
transposição de bacias hidrográficas.
Produção de energia termoelétrica; transmissão de energia elétrica; estações
Serviços de utilidade de tratamento de água, esgoto, resíduos industriais; dragagem e derrocamen-
tos em corpos d’água; recuperação de áreas contaminadas ou degradadas.
Transporte de cargas perigosas; transporte por dutos; marinas, portos e ae-
Transporte, terminais e depósitos roportos; terminais de minério, petróleo e derivados e produtos químicos;
depósitos de produtos químicos e produtos perigosos
Turismo Complexos turísticos e de lazer, inclusive parques temáticos e autódromos.
Atividades diversas Parcelamento do solo; distrito e pólo industrial.
Projeto agrícola; criação de animais; projetos de assentamentos e de colo-
Atividades agropecuárias
nização.
Silvicultura; exploração da madeira e subprodutos florestais; manejo da fau-
na exótica e criadouro de fauna silvestre; utilização do patrimônio genético
Uso de recursos naturais
natural; manejo de recursos aquáticos vivos; introdução de espécies exóticas
e/ou geneticamente modificadas.

110
Capítulo 6 - O processo da Avaliação de Impacto Ambiental

A fase de determinação do escopo baseia-se nos termos de referência disponíveis para os


diversos tipos de empreendimentos elaborados pelo órgão ambiental e que podem ser acessados
nos sites oficiais dos órgãos licenciadores integrantes do SISNAMA. Os termos de referência
servem como um guia de orientação para a elaboração do EIA/RIMA, RCA/PCA e PRAD.
Outro aporte importante do processo AIA é a incorporação do público em diferentes fases do
licenciamento reduzindo o nível de subjetividade presente na avaliação. Esta prática, embora
polêmica e de complexa operacionalização, é fundamental para o processo democrático na
concepção do empreendimento (La Rovere, 2001).
Finalmente, a fase de pós-aprovação consiste no monitoramento e gestão dos componentes
ambientais durante e após a instalação do empreendimento, seguindo o plano definido no Estudo
de Impacto Ambiental. É fundamental o acompanhamento constante das inovações tecnológicas
para aprimorar os procedimentos previstos no EIA, tais como, técnicas de fitorremediação,
desenvolvimento de novos filtros industriais e tecnologias de uso eficiente dos recursos energéticos.

111
Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso

Figura 6.1 - Componentes do processo da AIA. 1 Resoluções CONAMA 01/86 e 237/97 que definem os
empreendimentos considerados potencialmente poluidores; 2 Resolução CONAMA 09/87 que
dispõe sobre a realização de audiências públicas; 3 Para garantir a continuidade do seu funcionamento
o empreendedor deverá atender às normas ambientais de monitoramento e gestão.

112
Capítulo 6 - O processo da Avaliação de Impacto Ambiental

6.3 Etapas do EIA/RIMA

São vários os estudos ambientais que são realizados para a regularização ambiental de diversos
empreendimentos. Nessa seção, será abordada a estrutura necessária para o Licenciamento Ambiental
de empreendimentos considerados potencialmente poluidores que requerem o EIA/RIMA.
O formato básico do EIA deve conter uma seqüência de itens formulados pelo órgão
ambiental licenciador, com o objetivo de orientar o empreendedor com relação aos aspectos
que devem ser considerados e seguidos, para a instalação do empreendimento (Figura 6.2).
A estrutura do RIMA deve representar uma síntese do EIA, apresentando suas principais
conclusões. É destinado ao público leigo, portanto deve conter figuras ou outras formas de
comunicação escrita e visual de modo a tornar compreensíveis as vantagens e desvantagens do
projeto proposto. O EIA/RIMA deve ser apresentado ao órgão expedidor da licença.
Na esfera federal, o formato do EIA/RIMA obedece às normas preconizadas pela Resolução
CONAMA 01/86 e na estadual, pelas recomendações constantes nos Termos de Referência
formulados pelo órgão ambiental estadual licenciador, adaptadas a cada tipo de empreendimento
e às particularidades jurídicas e institucionais de cada estado da federação. Será apresentado
um roteiro geral para a elaboração do EIA/RIMA com base no IBAMA (1995) e no Termo
de Referência da FEAM (2002). As etapas apresentadas na Figura 6.2 são descritas a seguir,
guardando a correspondência entre os itens abordados.

113
Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso

Figura 6.2 - Etapas do processo de EIA/RIMA. As letras de A a H indicam os subitens detalhados no texto.

114
Capítulo 6 - O processo da Avaliação de Impacto Ambiental

A. Informações Gerais: devem contemplar o tipo de atividade e porte do empreendimento,


objetivos, justificativa e a análise de custo-benefício. O empreendimento deve ser compatível
com a legislação, os planos e programas de ação federal, estadual e municipal, em qualquer das
suas fases, com indicação das limitações administrativas impostas pelo Poder Público.

B. Descrição do Empreendimento: com a apresentação e descrição do empreendimento nas


fases de planejamento, implantação, operação e desativação (quando houver), com a previsão das
etapas em cronograma detalhado. Deve constar também a localização geográfica demonstrada em
mapa ou croquis, incluindo as vias de acesso, existentes e projetadas, e a bacia hidrográfica; e seu
posicionamento frente à divisão político-administrativa. Apresentar esclarecimentos sobre as possíveis
alternativas tecnológicas e/ou locacionais, inclusive aquela de não se proceder à sua implantação.

C. Diagnóstico Ambiental da Área de Influência: inicia-se com a apresentação dos


limites geográficos da área de influência do projeto, contendo as áreas de incidência dos impactos,
abrangendo os distintos contornos para as diversas variáveis enfocadas. O diagnóstico deve
apresentar a descrição e análise dos componentes ambientais e suas interações, caracterizando
a situação ambiental da área de influência, antes da implantação do empreendimento. Dentre
os produtos desta análise, deve constar uma classificação do grau de vulnerabilidade do meio
natural da área de influência.

D. Componentes Ambientais: são as variáveis suscetíveis de sofrer, direta ou


indiretamente, efeitos significativos das ações em todas as fases do empreendimento. O grau de
detalhamento dos componentes ambientais avaliados em cada EIA dependerá da natureza do
empreendimento, da relevância dos fatores em face de sua localização e dos critérios adotados
pela equipe responsável pela elaboração do estudo. Os itens detalhados a seguir compõem os
fatores ambientais constantes no roteiro básico para elaboração do EIA:

• Meio Físico
 Clima e condições meteorológicas: inclui as variáveis de perfil do vento,
temperatura e umidade do ar; balanço de radiação; balanço hídrico; nebulosidade;
freqüência de ocorrência de condições meteorológicas de larga e meso-escala;
ocorrência e intensidade de anticiclones subtropicais, semipermanentes e
transientes; parâmetros meteorológicos necessários para a caracterização do
regime de chuvas (precipitação total média: semanal, mensal, e anual, delimitação
do período seco e chuvoso, intensidade duração e freqüência da precipitação,
evapotranspiração e dos demais componentes do balanço hídrico do solo).

115
Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso

 Qualidade do ar: concentrações de referência de poluentes atmosféricos;


caracterização físico-química das águas pluviais.
 Ruído: índices de ruídos; mapeamento dos pontos de medição.
 Geologia: caracterização geológica da área potencialmente atingida pelo
empreendimento, incluindo estratigrafia e caracterização litológica com
indicação da mineralogia e composição geoquímica das rochas; esboço estrutural
e tratamento de dados em estereogramas; avaliação das condições geotécnicas
dos maciços de solo e de rocha.
 Geomorfologia: descrição das formas e compartimentação geomorfológica
das áreas de estudo; caracterização e classificação das formas de relevo quanto
à sua gênese (formas cársticas, formas fluviais, formas de aplainamento, etc.);
dinâmica dos processos geomorfológicos (ocorrência e/ou proposta de processos
erosivos, movimentos de massa, inundações, assoreamento, etc.).
 Solos: caracterização dos solos da região na área em que os mesmos são
potencialmente atingidos pelo empreendimento, com definição de classes de
solos, nível taxonômico de série, caracterizadas morfológica e analiticamente;
descrição de aptidão agrícola dos mesmos.
 Recursos hídricos: caracterização dos recursos hídricos, considerando as bacias
ou sub-bacias hidrográficas que contêm a área potencialmente atingida pelo
empreendimento. Caracterização da hidrologia superficial: rede hidrográfica,
balanço hídrico das áreas de estudo; produção e transporte de sedimentos nas
calhas fluviais e demais parâmetros hidrológicos pertinentes.
 Hidrogeologia: localização, tipo, geometria, litologia, estrutura, propriedades
físicas e outros aspectos geológicos do(s) aqüífero(s); caracterização das áreas
e dos processos de recarga e descarga do(s) aqüífero(s); piezometria das águas
subterrâneas; regime de fluxo das águas subterrâneas; relações com águas
superficiais e com outros aqüíferos; caracterização físico-química das águas
subterrâneas; inventário dos pontos d’água.
 Qualidade das águas: caracterização da qualidade das águas por meio da
determinação das características físico-químicas e bacteriológicas de referência
dos recursos hídricos interiores, superficiais e subterrâneos.

• Meio Biótico
 Ecossistemas terrestres: caracterização da flora por meio da descrição
e mapeamento atualizado das formações vegetais da área de influência;
levantamento fitossociológico das diversas formações vegetais identificadas;

116
Capítulo 6 - O processo da Avaliação de Impacto Ambiental

relação das espécies de valor científico, econômico, raras e ameaçadas de extinção;


inventário da biomassa lenhosa (estimativa de volume/espécies). Caracterização
da fauna pelo inventário das espécies da entomofauna, da mastofauna, avifauna
e da herpetofauna, ressaltando aquelas que são raras, ameaçada de extinção, de
valor econômico e científico, indicadores de qualidade ambiental, assim como
as de interesse epidemiológico. Descrição das inter-relações fauna-flora, fauna-
fauna na área considerada.
 Ecossistemas aquáticos: características físicas e químicas da água e dos
sedimentos; levantamento dos componentes básicos das comunidades aquáticas;
(identificação e descrição dos principais grupos taxonômicos da fauna e flora
aquáticas). Caracterização limnológica das condições físicas, químicas e
biológicas dos cursos d’água a serem aproveitados nos projetos propostos.

• Meio Socioeconômico
 Dinâmica populacional: distribuição da população pela análise e mapeamento
da localização das aglomerações urbanas e rurais, da densidade demográfica e do
grau de urbanização; evolução da população (taxa de crescimento demográfico
e vegetativo da população, com projeções populacionais); composição da
população (distribuição e análise por faixa etária, por sexo e estrutura da
população economicamente ativa e índice de desemprego); movimentos
migratórios (identificação e análise da intensidade dos fluxos, origem regional,
tempo de permanência no município, possíveis causas da migração, ofertas de
trabalho e acesso).
 Uso e ocupação do solo: identificação das áreas rurais, urbanas e de expansão
urbana e do processo de ocupação e urbanização; áreas de valor histórico e
outras de possível interesse para pesquisa científica ou preservação; usos urbanos
(residenciais, comerciais, de serviços, industriais, institucionais e públicos),
inclusive as disposições legais de zoneamento; infra-estrutura regional (sistema
viário principal, portos, aeroportos, terminais de passageiros e cargas, redes de
abastecimento de água e de esgoto sanitário e escoamento de águas pluviais,
sistema de telecomunicações, etc.); principais usos rurais (culturas permanentes
e temporárias, pastagens naturais ou plantadas, vegetações nativas e exóticas,
etc.); estrutura fundiária local e regional segundo o módulo rural mínimo, as
áreas de colonização ou ocupadas sem titulação de propriedade.
 Usos da água: caracterização dos principais usos das águas, superficiais e
subterrâneas, apresentando a listagem das utilizações levantadas, suas demandas
atuais e futuras, em termos qualitativos e quantitativos, bem como a análise

117
Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso

das disponibilidades frente às utilizações atuais e projetadas, considerando


importações e exportações, quando ocorrem. Deverão ser identificadas:
abastecimento doméstico e industrial; diluição dos despejos domésticos e
industriais; geração de energia; irrigação; pesca; recreação; preservação da fauna
e da flora; navegação.
 Patrimônio natural e cultural: áreas e monumentos naturais e culturais
(cavernas, picos, cachoeiras, sítios paleontológicos e/ou arqueológicos, como
depósitos fossilíferos, presença de arte rupestre, cemitérios indígenas, cerâmicas
e outros de possível interesse para pesquisa científica ou preservações); áreas de
edificações de valor histórico e arquitetônico.
 Nível de vida: assentamento humano (condições habitacionais nas cidades,
nos povoados e na zona rural); educação (rede de ensino e seus recursos
físicos e humanos, índice de alfabetização por faixa etária); saúde (estrutura
institucional e infra-estrutura correspondente, além dos recursos humanos; taxas
de mortalidade geral e infantil, ocorrência de doenças endêmicas e venéreas;
susceptibilidade à instalação e/ou expansão de doenças como a esquistossomose,
chagas, malária, febre amarela, leishimaniose e parasitose em geral); alimentação
(estado nutricional da população, hábitos alimentares; sistema de produção e
abastecimento); lazer (turismo e cultura relacionados ao meio ambiente natural
e sócio-religioso); segurança social (criminalidade, infra-estrutura policial e
judiciária, corpo de bombeiros; estrutura de proteção ao menor e ao idoso;
sistema de defesa civil).
 Estrutura produtiva e de serviços: fatores de produção; emprego e nível
tecnológico por setor; relações de troca entre as economias local, regional e
nacional, incluindo a destinação da produção local e importância relativa.
 Organização social: forças e tensões sociais; grupos e movimentos comunitários;
lideranças comunitárias; forças políticas e sindicais atuantes; associações.

A Qualidade Ambiental é apresentada ao final do diagnóstico, por meio de um quadro


sintético expondo as interações dos fatores ambientais físicos, biológicos e sócio-econômicos,
indicando os métodos adotados para análise dessas interações. Além do quadro citado, deverão
ser identificadas as tendências evolutivas daqueles fatores que forem importantes para caracterizar
a interferência do empreendimento.

E. Prognóstico dos Impactos Ambientais: consiste na apresentação da análise dos prováveis


impactos ambientais em cada fase prevista para o empreendimento, sobre os componentes
ambientais, devendo ser determinados e justificados os horizontes de tempo considerados. Os
impactos serão avaliados, para efeito de análise, podendo ser considerados como impactos diretos

118
Capítulo 6 - O processo da Avaliação de Impacto Ambiental

e indiretos; benéficos e adversos; temporários, permanentes e cíclicos; imediatos, a médio e em


longo prazo; reversíveis e irreversíveis; locais, regionais e estratégicos.
A análise dos impactos ambientais inclui, necessariamente, identificação, previsão
de magnitude e interpretação da importância de cada um deles, permitindo uma apreciação
abrangente das repercussões do empreendimento sobre o meio ambiente. O resultado dessa análise
constituirá um prognóstico da qualidade ambiental da área de influência do empreendimento,
nos casos de adoção do projeto e suas alternativas, mesmo na hipótese de sua não implementação.
É preciso mencionar os métodos de identificação dos impactos, as técnicas de previsão
da magnitude e os critérios adotados para a interpretação, análise de suas interações e das
necessidades e possibilidades tecnológicas e econômicas de prevenção, controle, mitigação e
reparação dos efeitos negativos.

F. Proposição de Medidas Mitigadoras: neste item deverão ser explicitadas as medidas


que visam minimizar os impactos adversos identificados e quantificados no item anterior, essas
medidas deverão ser apresentadas e classificadas quanto: à sua natureza (preventivas ou corretivas);
à fase do empreendimento; ao componente ambiental a que se destina; ao prazo de permanência
(curto, médio ou longo); à responsabilidade por sua implementação (empreendedor, poder
público ou outros); aos custos das medidas mitigadoras.
Deverão ser mencionados os impactos adversos que não possam ser evitados ou mitigados.
Nos casos de empreendimentos que exijam reabilitação das áreas degradadas, deverão ser
considerados os seguintes aspectos: definição no uso futuro da área justificando a escolha e
descrição das etapas e métodos da reabilitação. Para as atividades de mineração, os trabalhos de
reabilitação/recomposição devem abranger as áreas de lavra, de deposição de estéril, de rejeitos,
de empréstimo, de tratamento do minério e de apoio.

G. Programa de Acompanhamento e Monitoramento: nesta fase deve ser priorizada a


maximização dos impactos positivos e a solução/mitigação dos impactos negativos detectados no
prognóstico. Os programas de acompanhamento e monitoramento devem incluir a indicação
e justificativa: dos parâmetros selecionados para a avaliação dos impactos sobre cada um
dos componentes ambientais considerados; dos métodos de coleta e análise de amostras; da
amostragem, incluindo seu dimensionamento, distribuição espacial e periodicidade para cada
parâmetro; do processamento das informações levantadas.

H. Relatório de Impacto Ambiental (RIMA): reflete as conclusões do EIA, com a


apresentação das informações técnicas expressas em linguagem acessível ao grande público,
ilustradas por mapas em escalas adequadas, quadros, gráficos ou outras técnicas de comunicação
visual. As informações constantes no RIMA devem ser claras, permitindo o entendimento das
possíveis conseqüências ambientais do projeto e de suas alternativas, comparando as vantagens e

119
Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso

desvantagens de cada uma delas.

O Relatório de Impacto Ambiental deverá conter, basicamente:


• os objetivos e justificativas do projeto, sua relação e compatibilidade com as
políticas setoriais, planos e programas governamentais, em desenvolvimento e/
ou implementação;
• a descrição do projeto e suas alternativas tecnológicas e locacionais em todas
as fases, a área de influência, as matérias-primas e mão-de-obra, as fontes
de energia, os processos e técnicas operacionais, os efluentes, as emissões e
resíduos, as perdas de energia, os empregos diretos e indiretos a serem gerados,
a relação custo-benefício dos ônus e benefícios sociais/ambientais do projeto e
da área de influência;
• a síntese dos resultados dos estudos sobre o diagnóstico ambiental da área de
influência do projeto;
• a descrição dos impactos ambientais analisados, considerando o projeto, as suas
alternativas, os horizontes de tempo de incidência dos impactos e indicando os
métodos, técnicas e critérios adotados para sua identificação, quantificação e
interpretação;
• a caracterização da qualidade ambiental futura da área de influência,
comparando as diferentes situações de adoção de projeto e de suas alternativas,
bem como a hipótese de sua não realização;
• a descrição do efeito esperado das medidas mitigadoras previstas em relação aos
impactos negativos, mencionando aqueles que não puderem ser evitados e o
grau de alteração esperado;
• o programa de acompanhamento e monitoramento dos impactos;
• recomendação quanto à alternativa mais favorável (conclusões e comentários de
ordem geral).

O RIMA deverá indicar a composição da equipe técnica autora dos trabalhos, devendo
conter, além do nome de cada profissional, seu título, número de registro na respectiva entidade
de classe e indicação dos itens de sua responsabilidade técnica.

6.4 Etapas da Regulariza;áo Ambiental

Na etapa do processo de regularização ambiental, o órgão ambiental examina a


documentação apresentada pelo proponente, consulta a legislação e os dados disponíveis sobre o
local do empreendimento, o tipo de licença requerida, decidindo qual o tipo de documento de

120
Capítulo 6 - O processo da Avaliação de Impacto Ambiental

estudo ambiental (EIA/RIMA, RCA/PCA, PRAD) deve ser apresentado, conforme Figura 6.3.
Para cada estudo ambiental exigido, o órgão licenciador poderá elaborar um termo de referência
a partir das informações prestadas pelo empreendedor na fase do pedido de regularização
ambiental, para orientar a realização do estudo (FOGLIATTI et al., 2004). Para alguns casos o
órgão ambiental dispõe de termo de referência básico orientando o empreendedor na elaboração
do estudo ambiental.

Figura 6.3 - Fluxograma da regularização ambiental.

121
Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso

Área reabilitada - exploração de cascalho


Área conhecida como Morro Redondo, submetida à exploração de cascalho para construção de rodovias e reabilitada,
posteriormente, após vários anos em processo de degradação, município de Lavras. MG.
122
7
ESTUDO DE CASO DE
IMPACTO AMBIENTAL:
MINERAÇÃO

O espaço social, assim como toda realidade social, é definido metodologicamente


e teoricamente por três conceitos gerais: a forma, a estrutura e a função.

Milton Santos
Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso

7.1. Introdução

As atividades humanas como a agricultura, barragens, mineração, entre outras, de


uma maneira geral, afetam todos os componentes do ambiente, na medida em que eles estão
interligados e os limites e alcances das ações, com raras exceções, são bastante difusos.
Em empreendimentos onde a exploração dos recursos naturais é feita sem qualquer
planejamento ou ordenação, observam-se claramente, dependendo do tipo de atividade, os
prejuízos na perda de produtividade do solo, decréscimo na qualidade da água, interferência
no ciclo biológico, perda de produtos valiosos como a madeira, poluição das águas e do ar,
assoreamento de bacias, invasão de plantas exóticas de difícil erradicação, dentre outros problemas.
Todo empreendimento minerário, seja ele, a céu aberto ou subterrâneo, modifica o terreno
no processo de extração e na deposição de rejeitos. O bem mineral extraído não retorna mais ao
local, fica em circulação, servindo ao homem e às suas necessidades. Esse aspecto traz consigo
uma dúbia questão, pois se, de certa maneira, a mineração degrada o terreno, é verdade também
que estes ambientes podem retornar a uma forma aceitável, limitando o impacto negativo, por
meio de medidas mitigadoras eficazes em um dado período de tempo. A recuperação é um
dos elementos que deve ser objeto de preocupação e de ações efetivas desde o início da etapa
de planejamento, durante a exploração da jazida, até um período após o término da atividade
minerária local.
A Resolução CONAMA nº 01 de 23 de janeiro de 1986, estabeleceu a necessidade de
elaboração do Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e do Relatório de Impacto Ambiental (RIMA)
para o licenciamento de atividades modificadoras do meio ambiente, bem como o conteúdo mínimo
do EIA/RIMA, sua forma de abordagem e apresentação. Assim, de acordo com as exigências legais
vigentes, este estudo tem como objetivo efetuar o EIA/RIMA do empreendimento de exploração
de cascalho e aterro do “Morro Redondo”, localizado no município de Lavras - MG.

7.2. Informações Gerais

7.2.1. Descrição do Empreendimento

O empreendimento refere-se à lavra de cascalho, cuja finalidade é a obtenção de matéria-


prima para construção civil em geral e aterramento de estradas, localizadas próximas ao município
de Lavras. Esta reserva mineral é uma das principais fornecedoras desses produtos para o município.
A atividade de exploração de cascalho apresenta um impacto ambiental importante,
podendo ser feito um estudo de RCA/PCA ou EIA/RIMA, dependendo de suas dimensões, em
função das modificações físicas e bióticas provocadas nas áreas de influência direta e indireta do
empreendimento. Portanto, faz-se necessário um planejamento da mina a ser explorada, visando

124
Capítulo 7 - Estudo de caso de Impacto Ambiental: Mineração

a sua posterior revegetação e mitigação dos impactos ambientais provocados pela atividade.
Entretanto, neste estudo de caso, a título de execício acadêmico, será realizado o EIA/RIMA.

7.2.2. Localização e Acesso

O empreendimento localiza-se na Microbacia do Ribeirão Santa Cruz, mais precisamente no


Morro Redondo, município de Lavras, zona fisiográfica Sul de Minas, microrregião Alto Rio Grande.
O acesso ao local do empreendimento, partindo de Lavras, pode ser feito de duas maneiras:
em direção à BR 265, no sentido Lavras - São João Del Rei, passando pelo trevo do Distrito
Industrial e seguindo a estrada que liga o bairro Vista Alegre à Estação Itirapuã ou pelo caminho
que liga ao Parque Ecológico Quedas do Rio Bonito, popularmente conhecido por “Poço
Bonito” (Figura 7.1).

Figura 7.1 - Croqui de localização e acesso da área de estudo.

125
Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso

Área de Influência do Empreendimento

A área de exploração - área de influência direta (Figura 7.2) corresponde a 19,74 ha, que
está delimitada por um polígono irregular, cuja atividade afeta diretamente uma porção da Bacia
do Ribeirão Santa Cruz, que ocupa uma área de 776,00 ha.
A área de influência indireta afetada pelo empreendimento é o município de Lavras - MG,
que abrange uma área de 559,20 km2 com perímetro urbano de aproximadamente 117,84 km e
uma área urbana de 14,16 km2.

Figura 7.2 - Delimitação da área diretamente afetada pelo empreendimento.

126
Capítulo 7 - Estudo de caso de Impacto Ambiental: Mineração

7.2.3. Dados do Empreendedor

Vide item 6 – Roteiro Básico para elaboração de Estudo de Impacto Ambiental.

7.2.4. Relação da Equipe Técnica Responsável pela Elaboração e Atualização do EIA/RIMA

• Coordenação Geral
Prof. José Aldo Alves Pereira
• Consultores: alunos da Universidade Federal de Lavras, Departamento de Ciências
Florestais da Universidade Federal de Lavras, cursando a Disciplina de Pós-graduação
Estudos de Impactos Ambientais – Código PCF 517. Os alunos foram responsáveis pela
elaboração deste EIA/RIMA.
• Meio Físico:
Engº Florestal Antônio de Arruda Tsukamoto Filho
Enga Florestal Maria Floriana Esteves de Abreu
Engº Florestal Marco Aurélio Mathias de Souza
Engº Florestal Rubens Marques Rondon Neto
• Meio Biótico:
Engº Florestal Rubens Marques Rondon Neto
Biólogo Frederico Augusto G. Guilherme
Engº Florestal Sebastião Osvaldo Ferreira
• Meio Sócioeconômico:
Engª Florestal Michelliny Gama
Engª Florestal Regiane Vilas Boas Faria
Engª Florestal Sybelle Barreira
• Equipe de atualização:
Engº Florestal Dalmo Arantes de Barros
Engº Florestal Rossi Allan Silva

Obs: A multidisciplinaridade da equipe técnica foi parcial devido à formação básica do


quadro de alunos.

127
Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso

7.3. Enfoque Conceitual

A lavra de cascalho da área de estudo tem a finalidade de prover o município de Lavras de


matéria-prima para construção civil em geral e aterramento de estradas. Assim sendo, há uma
necessidade de redução de impactos a serem gerados, tanto naqueles de natureza física e biótica
como, principalmente, nos de natureza sócio-econômica.
A concepção básica do Estudo de Impacto Ambiental fundamentou-se em focalizar o
empreendimento e áreas adjacentes, situados em uma área de influência descrita através de fatores
ambientais. Buscou-se, então, uma visão integrada do homem, da vegetação, da fauna bem como
do meio físico, que lhes dá suporte para se obter uma avaliação consistente da viabilidade ambiental
do empreendimento.

7.3.1. Atividades a serem Desenvolvidas no Empreendimento

A exploração de cascalho provoca impactos à biota, ao meio físico e ao meio sócio-


econômico, fazendo-se necessário realizar o planejamento adequado de exploração, com foco à
sua posterior revegetação.
A recuperação não é um evento que ocorre em uma determinada época, mas sim um
processo que se inicia antes da mineração e termina após seu exaurimento. A recuperação envolve
operações de redução dos impactos ambientais antes e após a exploração mineral tais como a
retirada e estocagem da camada superficial do solo, o reafeiçoamento do terreno e a recolocação
da camada fértil. Operações bem planejadas são fundamentais para o sucesso da recuperação,
além de ser menos onerosas.

Fase 01 - Preparo da área para a Lavra

A fase 01 compreende as seguintes operações:

• Implantação do sistema de drenagem provisório:


É necessário, antes de qualquer operação, construir um sistema de drenagem provisório,
objetivando desviar as águas superficiais para evitar a ocorrência de processos erosivos, que
possam culminar no assoreamento e contaminações físicas e químicas dos cursos d’água. Para se
estabelecer uma rede de drenagem provisória, podem-se adotar várias práticas, tais como: o uso
de valetas, canaletas, tanques de decantação, canaletas de contenção, sumps, bueiros e outras.

128
Capítulo 7 - Estudo de caso de Impacto Ambiental: Mineração

• Remoção da cobertura vegetal:


Na mineração de superfície é necessária a retirada da vegetação existente sobre o material
a ser explorado. Essa atividade deve ser dimensionada de acordo com o tipo e os padrões
vegetacionais encontrados sobre as jazidas.

• Remoção da camada superficial


Na camada superficial do solo (horizonte A), de aproximadamente 20 cm de espessura,
encontram-se grande parte da matéria orgânica, nutrientes minerais, propágulos vegetativos,
banco de sementes, micro e mesofauna. A remoção da camada fértil do solo pode ser feita com
trator de esteiras com lâmina, evitando a mistura com o subsolo (horizonte B), o qual pode
comprometer a qualidade da camada fértil do solo.
Na área a ser minerada deve-se minimizar o decapeamento, removendo somente o necessário
para que não haja perda desses elementos, que são de suma importância para a recuperação do
ambiente degradado. A madeira proveniente do desmatamento poderá ser utilizada como fonte
de energia ou para deposição dentro do corte ou cava da lavra.

• Estocagem da camada superficial


O armazenamento do solo superficial tem como objetivo o posterior fornecimento de
microorganismos adaptados às condições locais, adição de minerais prontamente assimiláveis
às plantas e sementes / propágulos de espécies vegetais nativas, utilizados durante as etapas de
recuperação ambiental das jazidas.
Esse armazenamento pode ser feito em leiras com altura de 1,5 m, aproximadamente, e de
3 a 4 m de largura, com pilhas individuais de 5 a 8 m3, também com a mesma altura das leiras.
O local de estocagem preferencialmente deve ser plano e protegido da enxurrada e da erosão, a
fim de evitar perdas de solo e nutrientes. O solo estocado deve ser coberto com vegetação morta,
serrapilheira ou plantio de gramíneas e leguminosas, a fim de proteger, assim, o material dos
raios solares que podem alterar as características químicas e biológicas do solo estocado.
Não é recomendado armazenar solos muito úmidos encontrados em época de chuva. Deve-se
evitar a compactação das pilhas da camada do solo estocado e quanto mais curto for o período
de estocagem, melhor será a sua função na restauração do ecossistema degradado.

Fase 02 – Lavra

A fase 02 consiste de apenas uma operação:

• Desmonte e manuseio do cascalho para estocagem


O desmonte é a operação que consiste na ruptura das camadas estruturais do solo, através

129
Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso

do trabalho de tratores de esteiras ou de pneus dotados de lâmina do tipo angular. O material


originário do desmonte deve ser movimentado de um local para outro, na tentativa de formar
pilhas de estocagem à espera de serem carregados.

Fase 03 – Beneficiamento

A fase 03 compreende as seguintes operações:


• Separação física
Esta etapa consiste em retirar do cascalho as rochas de maiores dimensões, partes de vegetais
e outros rejeitos sem interesse para a construção civil e estradas. Essa operação de separação pode
ser realizada através do uso de tratores de esteiras ou de pneus, com pá carregadeira e/ou lâmina
do tipo angular.
• Carregamento e transporte
Após o beneficiamento, o material estocado é carregado através do uso de tratores de pneus
com pá carregadeira até os caminhões do tipo caçamba, os quais possuem uma capacidade de
transporte de 5 a 6 m3.

Fase 04 - Desativação

Esta fase consiste na paralisação das atividades referentes ao processo de mineração do


cascalho, seguido da retirada de todas as estruturas e das máquinas que foram utilizadas durante
a fase exploratória do recurso mineral em questão. Nesta fase será realizado o reafeiçoamento
do terreno, bem como serão executados os planos de recuperação ambiental, com a deposição
da camada de solo estocada e plantio de espécies conforme estratégia de uso da superfície do
terreno, podendo ser para a produção (pastagem, reflorestamento, culturas, etc.) ou conservação
(retornar a funcionalidade ambiental original).

7.4. Diagnóstico Ambiental

7.4.1. Diagnóstico do meio físico

Clima

A região em estudo localiza-se nas terras altas do sul do Estado de Minas Gerais, com
altitude de aproximadamente 800 metros. O clima é considerado subtropical moderado úmido,
com temperatura média anual variando de 18 a 20°C. A temperatura média no mês mais frio
está entre 13° e 16°C e a do mês mais quente entre 21° e 23°C. As geadas são raras, com

130
Capítulo 7 - Estudo de caso de Impacto Ambiental: Mineração

temperaturas mínimas absolutas de até 3,3°C. A precipitação média anual varia entre 1300 e
1700 mm, com regime de distribuição periódica predominando no semestre mais quente. O
inverno tem de 2 a 4 meses secos, com um déficit hídrico pequeno entre 10 e 30 mm anuais.
A evapotranspiração potencial anual varia entre 800 e 850 mm. A insolação média anual é de
aproximadamente 2.483 horas, com ventos predominantes de Leste, com velocidade média de
1,9 m/s. O município de Lavras-MG, goza de excelente clima, com temperatura amena mesmo
durante o verão. As chuvas são concentradas entre janeiro e março, e a estiagem se dá de julho a
agosto. O índice médio pluviométrico anual é de 1.473 mm.

Qualidade do ar

A exploração do Morro Redondo para retirada do cascalho pouco influenciará em possíveis


mudanças climáticas que venham a ocorrer. No entanto, a retirada da cobertura vegetal e a remoção
do cascalho podem criar locais de concentração de poluentes, formando um microclima diferente
do anterior à exploração. A qualidade do ar na área diretamente afetada pode ficar prejudicada
pela emissão de poluentes na atmosfera, caracterizada por muitos contaminantes, advindos
de várias fontes, como a poeira de possíveis detonações, escavações, solos expostos, tráfego de
veículos pesados nas estradas de terra, locais de beneficiamento, estocagem e carregamento do
cascalho. A erosão eólica pode também contribuir para a poluição do ar, colocando em suspensão
as partículas de solo. As possíveis detonações emitem NOx, CO e uma concentração menor de
dióxido de enxofre. É possível que essas partículas em suspensão possam causar irritação no
sistema respiratório dos trabalhadores e da comunidade rural adjacente ao empreendimento,
assim como também podem afetar moderadamente o desenvolvimento das plantas e a vida dos
animais silvestres.

Ruídos

A poluição sonora no empreendimento é causada principalmente pelas máquinas que


trabalham no local, pelas possíveis detonações e pelo tráfego intenso de máquinas pesadas
pelas estradas. O efeito desta poluição concentra-se nos trabalhadores da lavra, uma vez que as
propriedades da comunidade rural do local estão localizadas em sua maioria, distantes do morro
a ser explorado. Por outro lado, os animais da região devido ao barulho, serão afugentados
para outras áreas, o que ecologicamente considera-se como possível desequilíbrio, tanto para a
vegetação local como para o próprio animal em adaptação no novo ambiente, como também
para os animais e a vegetação onde os animais estão se refugiando. O ouvido humano é muito
sensível e, dependendo do tempo de exposição ao barulho, quando acima de 85 decibeis, pode
vir a sofrer danos considerados irreversíveis.

131
Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso

Geologia e Geomorfologia

A região em estudo situa-se sobre uma das formações geológicas mais antigas, conhecida
como Complexo Cristalino do Pré-Cambriano. Esse complexo abrange gnaisses, mica xistos,
quartzitos, mármores, dolomitos, itabiritos e abundantes intrusões de granitos, dioritos, gabros,
piroxitos e outras rochas básicas com frequência transformadas em metabasitos, anfibólitos e
agalmatólitos (Oliveira e Leonardo, 1943).
De acordo com o mapa geológico do Ministério de Minas e Energia, na região predomina
o complexo granito-gnáissico indiviso, do Pré-Cambriano. O grupo Andrelândia, também do
Pré-Cambriano, aparece em menor proporção na parte sul da região, formando as serras que
limitam Lavras-MG com Ingaí-MG (Serra do Campestre) e com Carmo da Cachoeira - MG
(Serra da Bocaina), atingindo a Serra do Faria. Este grupo é caracterizado pela predominância de
quartzitos sobre micaxistos e por micaxistos sobre quartzitos.
A região em estudo se caracteriza por apresentar rochas de alto grau de cristalinidade,
geralmente alojando corpos metabasíticos. Tectonicamente, trata-se de um megabloco estrutural,
ao qual se impuseram transformações petrogenéticas do ciclo Brasiliano, sendo os falhamentos os
elementos fundamentais desse conjunto litólico. Sobre o Domínio Leptito-migmatito-metabasítico
predominam as rochas gnáissicas de totalidade cinza-clara quando inalteradas, e esbranquiçadas e
amareladas quando meteriorizadas. A granulação é média a fina, sendo comuns os veios e diques
quartzo-feldspáticos. Existe nesse Domínio uma grande incidência de corpos metabásicos, os
quais geralmente mostram-se alterados na forma de blocos arredondados de coloração amarelada.
O domínio migmatítico apresenta uma maior regularidade petrográfica, marcada por rochas
porfiroblásticas e granitóides recortadas por massas aplíticas, distribuindo-se desde o norte da
cidade de Nepomuceno–MG, até os arredores de Lavras-MG. Os tipos litólicos característicos são
os que mantêm a série de morros a oeste de Lavras, os quais exibem certo bandamento, com os
facóides feldspáticos mostrando dimensões centimétricas.
Geomorfologicamente, a região em estudo localiza-se no chamado Planalto Atlântico
(Almeida, 1966), ocorrendo várias subdivisões morfológicas, sendo que a região se assenta na
superfície do Alto Rio Grande, que se caracteriza pelo relevo ondulado, com altitudes variando
em torno de 900 metros, onde se salientam cristas de cotas superiores a 1.000 metros. É talhada
essencialmente em rochas de médio a alto grau metamórfico, apresentando-se também em áreas
onde aparecem tipos litólicos de caráter metabásico.

132
Capítulo 7 - Estudo de caso de Impacto Ambiental: Mineração

Solos

Classificação dos solos

Os solos se distinguem regionalmente por causa de diferenças em materiais de origem,


condições bioclimáticas e idade, que é controlada basicamente pela evolução do relevo. Isso
acarreta variações na composição mineralógica, granulométrica, profundidade, riqueza em
nutrientes, capacidade de retenção de água, porosidade, etc. A classificação do solo de uma região
constitui um instrumento de definição de seu possível aproveitamento, por isso, o levantamento
de solos é fundamental para o planejamento do uso da terra, uma vez que ele permite mapear
as diversas classes de solo de uma área, diferenciadas pelas características morfológicas, físicas,
químicas e mineralógicas. Esses fatores são os que determinam a utilização adequada do recurso
e permitem avaliar a aptidão agrícola das terras.
Na região da microbacia hidrográfica sobre influência do Morro Redondo, onde se realizam
os Estudos de Impactos Ambientais, foram classificados cinco tipos de solo. Essa classificação
foi realizada de acordo com as unidades do mapeamento da vegetação, onde também foram
coletadas as amostras de solo e levantados os seus respectivos perfis para a classificação. No
estabelecimento das classes de solo utilizaram-se os critérios propostos pela EMBRAPA (2006).
As classes de solos encontradas na microbacia hidrográfica do ribeirão Santa Cruz (Figura
7.3) sob influência do Morro Redondo são as seguintes:

a) Latossolo Vermelho-Amarelo Distrófico (LVAd);


b) Cambissolo Háplico Tb Distrófico (CXbd);
c) Gleissolo Háplico Tb Distrófico (GXbd);
d) Latossolo Vermelho Distrófico (LVd);
e) Latossolo Vermelho Eutrófico (LVe).

133
Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso

Figura 7.3 - Distribuição das classes de solo na microbacia hidrográfica do ribeirão Santa Cruz, sob
influência do Morro Redondo.

Características Gerais dos Solos Mapeados

Para este estudo foram coletadas amostras de solo na camada de 0-20 cm de profundidade,
em 8 (oito) locais pré-determinados da microbacia (os mesmos locais onde foram feitos os perfis
para a determinação das classes de solo), sobre influência do Morro Redondo. Essas amostras
foram encaminhadas ao Departamento de Ciência dos Solos da Universidade Federal de Lavras,
onde foram efetuadas as análises granulométricas e de fertilidade.
A partir destas informações sobre a fertilidade dos solos da microbacia, pode-se antever
algumas restrições quanto ao uso do solo, e indicar o seu melhor aproveitamento, uma vez que
a fertilidade se constitui em um dos elementos de limitação para a determinação da aptidão
agrícola dos solos.
Na região estudada há uma predominância de Latossolo Vermelho, com 143,81 ha ou 54,19%

134
Capítulo 7 - Estudo de caso de Impacto Ambiental: Mineração

da área total mapeada. Os Latossolos Vermelho-Amarelos cobrem 69,41 ha ou 26,15% do total


mapeado, enquanto os Cambissolos estão representados com 46 ha ou 17,33% e, ainda com menor
expressão os Gleissolos, com 6,18 ha ou 2,33% da área total em estudo sobre a microbacia hidrográfica
do rio Santa Cruz.

Avaliação da Aptidão Agrícola das Terras e Uso Atual do Solo

A interpretação de levantamentos de solos é uma tarefa da mais alta relevância para


utilização racional desse recurso natural na agricultura e em outros setores que utilizam o solo
como elemento integrante de suas atividades. Assim, podem ser realizadas interpretações para
atividades agrícolas, onde se classificam as terras de acordo com sua aptidão para diversas culturas,
sob diferentes condições de manejo e viabilidade de melhoramento através de novas tecnologias.
Neste estudo, para avaliação da aptidão agrícola dos solos, seguiu-se a metodologia
do Sistema de Interpretação desenvolvido pela Divisão de Pedologia e Fertilidade do Solo -
Ministério da Agricultura (Bennema et al., 1965), atualmente, Centro Nacional de Pesquisa de
Solos (CNPS/EMBRAPA), ampliada por Ramalho Filho et al. (1983).
A avaliação da aptidão agrícola consistiu no posicionamento das terras dentro de seis
grupos, visando a mostrar as alternativas de uso de uma determinada extensão de terra, em função
da viabilidade de melhoramento das cinco qualidades básicas e da intensidade de limitação que
persistir após a utilização de práticas agrícolas inerentes aos sistemas de manejo A (baixo nível
tecnológico), B (médio nível tecnológico) e C (alto nível tecnológico).

Condições Agrícolas das Terras

Para a análise das condições agrícolas das terras, tomou-se hipoteticamente como
referência, um solo que não apresente problemas de fertilidade, deficiência de água e oxigênio,
não seja suscetível à erosão e nem ofereça impedimentos à mecanização. Como normalmente as
condições das terras fogem a um ou vários desses aspectos, foram estabelecidos diferentes graus
de limitação em relação ao solo de referência, para indicar a intensidade dessa variação.
De modo geral, a avaliação das condições agrícolas das terras é feita em relação a vários
fatores, muito embora alguns desses fatores atuem de maneira mais determinante em certas
situações. Os cinco fatores tomados para avaliar as condições agrícolas das terras foram:
a) Deficiência de fertilidade;
b) Deficiência de água;
c) Excesso de água ou deficiência de oxigênio;
d) Susceptibilidade à erosão;
e) Impedimentos à mecanização.

135
Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso

Avaliação das Classes de Aptidão Agrícola das Terras

A avaliação das classes de aptidão agrícola das terras e, por conseguinte dos grupos e
subgrupos, foi feita por meio do estudo comparativo entre os graus de limitação atribuídos às
terras e aos estipulados na tabela-guia de avaliação agrícola das terras referentes à região tropical
úmida. A tabela-guia é conhecida como quadro de conversão, constituindo em uma orientação
geral para a classificação da aptidão agrícola das terras, em função de seus graus de limitação,
relacionados com os níveis de manejo A, B e C. Assim, a classe de aptidão agrícola das terras
através dos diferentes níveis de manejo, foi obtida em função do grau limitativo mais forte,
referente a qualquer um dos fatores que influenciam a sua utilização agrícola. Nesta avaliação
objetivou-se diagnosticar o comportamento das terras para lavouras nos níveis de manejo A, B e
C; sendo para pastagem plantada e silvicultura no nível de manejo B, e para pastagem natural no
nível de manejo A. A simbologia adotada para as classes determinadas foi definida por Ramalho-
Filho et aI. (1983) (Tabela 7.1).

Tabela 7.1 - Simbologia correspondente as classes de aptidão agrícola das terras


Lavouras Silvicultura Pastagem Plantada Pastagem Natural
Classes de Aptidão Agrícola Nível de Manejo
A B C B B A
Boa A B C P S N
Regular a b C P S N
Restrita (a) (b) (c) (p) (s) (n)
Inapta - - - - - -
A, B e C referem-se à lavoura; P à pastagem plantada; N à pastagem natural. Subgrupos: maiúsculas
- classe de aptidão boa; minúsculas: classe de aptidão regular; minúsculas entre parênteses - classe de
aptidão restrita. Fonte: Ramalho-Filho et al. (1983).

• Nível de Manejo

NíveI A: Baseado em práticas agrícolas que refletem um baixo nível tecnológico.


Praticamente não há aplicação de capital para manejo, melhoramento e conservação das
condições do solo e das lavouras. As práticas agrícolas dependem do trabalho braçal, podendo
ser utilizada alguma tração animal com implementos agrícolas simples.

Nível B: Baseado em práticas agrícolas que refletem um nível tecnológico médio.


Caracteriza-se pela aplicação modesta de capital e de resultados de pesquisa para manejo,
melhoramento e conservação das condições do solo e das lavouras. As práticas agrícolas estão
condicionadas principalmente ao trabalho braçal e à tração animal.

136
Capítulo 7 - Estudo de caso de Impacto Ambiental: Mineração

Nível C: Baseado em práticas agrícolas que refletem um alto nível tecnológico. Caracteriza-
se pela aplicação intensiva de capital e de resultados de pesquisa para manejo, melhoramento e
conservação das condições do solo e das lavouras. A motomecanização está presente nas diversas
fases da operação agrícola.

Uso Atual das Terras

O uso atual de uma determinada área muitas vezes não é compatível com sua real aptidão
agrícola, que é determinada por um conjunto de fatores pedológicos, climáticos e biológicos,
e que se interagem naturalmente, resultando em um menor ou maior grau de limitação,
quanto aos aspectos de deficiência de fertilidade, de água, de oxigênio, suscetibilidade à erosão,
impedimentos a mecanização e outros.
A relação do uso atual do solo com a sua aptidão agrícola é fundamental dentro de um
processo produtivo e de conservação dos recursos naturais. Assim, quando se visa direcionar
o uso das terras de acordo com sua vocação, é necessário determinar o uso atual das terras,
estratificando os ambientes através de suas características e propriedades, que por sua vez,
permitirá determinar a avaliação do seu potencial e de suas limitações.
Para se determinar o uso atual das terras, utilizou-se como material básico a carta topográfica
de ltumirim (SF-23-X-C-I-3) na escala 1:50.000. As interpretações da ortofotocarta de ltumirim
(Faixa 2108 - E) (fotos 400 a 402) na escala 1:10.000, foram ainda, apoiadas, nas observações
realizadas no campo, obtendo-se então, a determinação dos padrões e das formas de ocupação
no período atual.
A Tabela 7.2 apresenta as classes de uso atual dos solos, simbolizadas por números,
correspondentes àqueles representados no mapa de uso e ocupação das terras (Figura 5).

Tabela 7.2 - Classes de uso e ocupação dos solos, sua simbologia e sua expressão geográfica.
Classe de uso atual Área (ha) %
Floresta hidrófila pluvial 58,45 22,02
Cultura agrícola 76,65 28,88
Pastagem 55,68 20,98
Campo limpo 5,94 2,24
Campo rupestre 26,26 9,89
Áreas degradadas 19,74 7,44
Capoeira 17,00 6,41
Campo de várzea 5,26 1,98
Represa 0,42 0,16
TOTAL 265,4 100,00

137
Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso

Observa-se o domínio das culturas agrícolas, na porção mais centro-oeste da área,


perfazendo 76,65 ha, correspondendo a 28,88% da área mapeada. A vegetação encontrada
na área, na sua maioria matas ciliares, está protegida por Lei. As matas ciliares são do tipo
floresta hidrófila pluvial e praticamente ocorrem distribuídas por toda a microbacia em estudo,
perfazendo 58,45 ha. As áreas de pastagem estão distribuídas pela área no sentido Ieste-oeste, na
parte central da microbacia sobre influência do Morro Redondo, equivalendo a 20,98% da área
mapeada. A vegetação considerada como campo rupestre e as áreas degradadas, está basicamente
localizada sobre Cambissolos, contornando a face norte-oeste do Morro Redondo, totalizando
uma área de 46 ha, correspondendo a 17,33% da área em estudo. As vegetações campo limpo,
campo de várzea e capoeira, estão Iocalizadas na porção norte-Ieste da área, com pouca expressão
em área quando observadas isoladamente, em conjunto formam 10,63% da área total mapeada.

Recursos Hidricos e Qualidade da Água

O homem tem produzido obras que degradam o meio ambiente ou modificam o ciclo
natural das águas, tais como as barragens, as obras de capacitação, de drenagem, irrigação e
inúmeras outras, observando-se, em grande parte do nosso planeta a deterioração da qualidade
das águas. Esta situação é ainda mais preocupante quando se considera a forte limitação dos
recursos hídricos disponíveis para utilização pelo homem.
A água da chuva, ao cair, é quase pura, ao atingir o solo, seu grande poder de dissolver
e carrear substâncias altera suas qualidades. Dentre o material dissolvido encontram-se as mais
variadas substâncias como, por exemplo, substâncias calcárias e magnesianas que a tornam dura;
substâncias ferruginosas que dão cor e sabor diferentes à mesma; substâncias resultantes das
atividades humanas, tais coma produtos industriais, que tornam a água imprópria ao consumo.
Por sua vez, a água pode carrear substâncias em suspensão, tais como partículas finas dos terrenos
e que dão turbidez à mesma; pode também carrear outras substâncias decorrentes da atividade
humana que modificam o seu sabor, ou ainda, organismos patogênicos. Em consequência da sua
grande atividade, a água quimicamente pura não é encontrada na natureza.
Apesar de existirem diversos setores da sociedade preocupados com a conservação dos
recursos naturais renováveis, pelo que se sabe, são poucos os métodos desenvolvidos na maioria
dos estados brasileiros, que visam detectar os graus de degradação de uma microbacia através de
valores numéricos.
Com a evolução das técnicas de detecção e medidas de poluentes, foram estabelecidos
padrões de qualidade para a água, isto é, a máxima concentração de elementos ou compostos que
poderiam estar presentes na água, de modo a apresentar compatibilidade com a sua utilização
para determinadas finalidades.
No Brasil, o Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA), através de legislação

138
Capítulo 7 - Estudo de caso de Impacto Ambiental: Mineração

específica, classifica as águas do território nacional em doce, salobra e salinas, em conformidade


com os usos predominantes, definidos pela Resolução CONAMA nº 357 de 2005.

Localização da Microbacia

O município de Lavras pertence à Bacia do Rio Grande, tendo o Ribeirão Água Limpa
e o Ribeirão Vermelho como os principais rios. A área de estudo está inserida na microbacia
do Ribeirão Santa Cruz, influenciada diretamente pelo empreendimento em estudo, que ocupa
uma área de 776,00 ha, cujas coordenadas geográficas são 21º17’32” a 21º19’l8” de latitude Sul e
44º56’42” a 44º 53’42” de longitude Oeste. Para a realização do estudo de qualidade da água, foi
considerada uma área de 265,40 ha, enquanto que a caracterização física da microbacia influenciada
pelo empreendimento abrange a área total dessa microbacia.

Coleta de Material para Análises

Foram determinados três pontos do ribeirão Santa Cruz (Figura 7.4), respeitando o espaço
entre um ponto e outro, para a coleta de amostras de água. A primeira coleta (Ponto 1), foi feita
na fazenda Santo Antônio do Morro Redondo, próximo à estrada que Iiga Lavras a Ingaí. A
segunda amostra (Ponto 2), foi coletada em frente à entrada da fazenda Santa Cruz, localizada
à esquerda da estrada que Iiga Lavras a Ingaí, enquanto que a terceira amostra (Ponto 3), foi
coletada no final da microbacia, junto à estrada que liga Lavras ao Morro Redondo, próximo
ao bairro Pipoca. Para a coleta foram considerados o horário, temperatura, pH e fixação de
oxigênio, de acordo com as normas vigentes estabelecidas, e retiradas amostras representativas
para ensaios de laboratório.
Os parâmetros analisados em Iaboratório foram os seguintes: DBO – Demanda
Bioquímica de Oxigênio, OD – Oxigênio Dissolvido, Sólidos Totais, Sólidos Suspensos, sendo
que a Análise Bacteriológica e a Turbidez foram realizadas no laboratório de Proteção Ambiental
do Departamento de Engenharia Agrícola da UFLA.

139
Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso

Figura 7.4 - Localização dos pontos de coleta das amostras de água para as análises, no Ribeirão Santa
Cruz, Lavras, MG.

Interpretação das Análises

Observa-se na Tabela 7.3, que o valor de coliformes totais e fecais foi alto, portanto,
conclui-se que a água em estudo encontra-se fora dos padrões bacteriológicos de potabilidade.

140
Capítulo 7 - Estudo de caso de Impacto Ambiental: Mineração

Tabela 7.3 - Resultado dos parâmetros físicos, químicos e biológicos da água do Ribeirão Santa Cruz, em
Lavras, MG em três pontos amostrados.
Concentração
Análises Unidade Ponto 01 Ponto 02 Ponto 03
1ª Análise 2ª Análise 1ª Análise 2ª Análise 1ª Análise 2ª Análise
Físicas
Temperatura 0
C 24 22 23 22 23 23,5
pH - 6,38 6,43 6,73 6,72 6,80 6,63
Turbidez UNT
Sólidos Totais mg/l 40 70 40 40 412 124
Sólidos Suspensos mg/l 18 49 21 30 175 62
Químicas
DBO5 mg/l 2,0 1,9 3,5 2,3 4,0 0,6
OD mg/l 6,1 5,2 6,5 8,6 5,4 4,9
Biológicas
Coliformes Totais NMP/100ml - 2,0 x 103 - - - 1,1 x 104
Coliformes Fecais NMP/100ml - 2,0 x 103 - - - 1,1 x 104

Analisando-se a DBO pode-se verificar que nas amostras dos pontos 02 e 03, os valores
encontrados estavam fora do índice limite. Em relação ao oxigênio dissolvido, somente a
amostra do ponto 03 apresentou valores abaixo do índice limite. Os valores de temperatura, pH,
sólidos totais e sólidos suspensos encontravam-se dentro dos limites estabelecidos pela Resolução
CONAMA N° 357/2005.

7.4.2. Diagnóstico do Meio Biótico: Flora e Fauna

Flora

Os biomas do Estado de Minas Gerais, a exemplo do que ocorre com o restante do país,
têm sido seriamente alterados pela ação antrópica, principalmente por atividades agropecuárias,
fragmentando e modificando a composição da flora e da fauna, provocando em algumas situações
perdas irreversíveis de suas riquezas naturais.
A cobertura vegetal original da área em estudo encontrava-se extremamente devastada,
restando das formações florestais, somente capões esparsos na cumeeira das elevações e,
estreitas matas ciliares, fragmentadas ao longo dos cursos d’água. As formações campestres
e de Cerrado encontravam-se mais alteradas, enquanto que os Campos de Várzea foram
geralmente substituídos por culturas agrícolas e/ou pastagens. Os Campos Rupestres e os
Campos Limpos, embora submetidos à ação antrópica, ainda mantém os seus Iimites originais

141
Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso

(Gavilanes e Brandão, 1991a).


Para a identificação do material botânico e possíveis comparações, foram utilizados
alguns trabalhos de levantamentos florísticos já realizados em locais próximos à área de estudos,
principalmente aqueles efetuados na Reserva Biológica Municipal do Poço Bonito, que se
localiza a cerca de 1.200 m da área de estudo, em linha reta, e cuja fitofisionomia predominante
é muito semelhante a da área de estudo (Gavilanes et al.,1992; Gavilanes e Brandão, 1991a,b, e
Gavilanes, Brandão e Pereira,1990).
Após a identificação, as espécies foram listadas em ordem alfabética de acordo com as famílias,
gêneros, espécies e nome vernacular a que pertencem, em cada formação florestal ocorrente.

Formações Florestais

Conforme Gavilanes e Brandão (1991), a cobertura vegetal do município de Lavras -


MG é constituída por duas formações distintas: a florestal e a campestre, cuja classificação
fitogeográfica foi baseada em Rizzini (1963). A florestal é representada pela Mata de Galeria ou
Mata Ciliar, constituída por prolongamentos da Floresta Atlântica através do Planalto Central,
apresentando-se sob a forma de capões esparsos, Floresta Tropical Latifoliada Baixo Montana,
Floresta Mesófila Estacional Semidecídua e Decídua (afloramentos de rocha) e pela Floresta
Esclerófila (Cerradão) em pequenas manchas. A campestre é representada pelo Cerrado e suas
gradações (Cerrado strictu sensu e Campo Cerrado), além de Campos de Várzeas, Campos
Limpos e Campos Rupestres. Como formações antrópicas, existem as Capoeiras e Capoeirões,
assim como os Campos Antrópicos (Figura 7.5). Já na área de influência do empreendimento as
formações florestais predominantes, são as seguintes:

• Floresta Hidrófila Pluvial ou Mata Ciliar;


• Campo Limpo;
• Campo Rupestre;
• Campo de Várzea;
• Capoeira.

142
Capítulo 7 - Estudo de caso de Impacto Ambiental: Mineração

Figura 7.5 - Mapa da uso e ocupação na Bacia Hidrográfica de Influência do Morro Redondo
- Lavras, MG.

A listagem caracterizada abaixo (Tabela 04) é um exemplo da florística de uma das


formações florestais existentes na área estudada. Levantamentos florísticos foram desenvolvidos
também para as demais fitofisionomias.

Tabela 4 - Listagem florística das espécies presentes na Floresta Tropical Pluvial ou Mata de
Galeria da Bacia Hidrográfica de influência do Morro Redondo - Lavras, MG.
FAMÍLIA/ESPÉCIE NOME VULGAR
Anacardiaceae
Lithraea molleoides (Vell.) Engl. Aroeira-branca
Tapirira guianensis Aubl. Pau-pombo
Tapirira obtusa (Benth.) J.D.Mitch. Pau-pombo
Annonaceae
Annona cacans Warm. Araticum-cagão
Duguetia lanceolata A.St.-Hil. Biribá
Guatteria nigrescens Mart. Pindaíba-preta
Xylopia brasiliensis Spreng. Pindaíba
Xylopia emarginata Mart. Pindaíba-do-brejo

Continua...

143
Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso

Tabela 4 - Continuação
FAMÍLIA/ESPÉCIE NOME VULGAR
Araliaceae
Dendropanax cuneatus (DC.) Decne. & Planch. Maria-mole
Didymopanax calvum (Cham.) Decne. & Planch. Mandiocão
Bignoniaceae
Jacaranda macrantha Cham. Caroba-do-mato
Tabebuia vellosoi Toledo Ipê-amarelo-da-serra
Boraginaceae
Cordia ecalyculata Vell. Louro-mole
Cordia rufescens A.DC. Grão-de-galo
Cordia sellowiana Cham. Chá-de-bugre
Burseraceae
Protium almecega L. Marchand Almecegueira
Protium heptaphyllum (Aubl.) Marchand Almecegueira
Leguminosae
Bauhinia longifolia (Bong.) Steud. Unha-de-vaca
Bauhinia holophylla (Bong.) Steud. Unha-de-vaca
Copaifera langsdorffii Desf. Copaíba
Senna spp. Fedegoso
Senna macranthera (Collad.) H.S.Irwin & Barneby Amarelinho
Sclerolobium rugosum Benth. Angá
Andira anthelmia (Vell.) J.F.Macbr. Angelim-amargo
Bowdichia virgilioides Kunth Sucupira-preta
Dalbergia villosa (Benth.) Benth. Caviúna
Dalbergia variabilis Vogel Assapuva
Machaerium angustifolium Vogel Adolfo
Machaerium brasiliense Vogel Jacarandá
Machaerium nictitans (Vell.) Benth. Bico-de-pato
Machaerium villosum Vogel Jacarandá-mineiro
Machaerium condensatum Kuhlm. & Hoehne Jacarandá
Myroxylon peruiferum L.f. Bálsamo
Ormosia arborea (Vell.) Harms Tento
Platypodium elegans Vogel Faveiro
Zollernia ilicifolia (Brongn.) Vogel Azevinho
Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan Angico
Anadenanthera peregrina (L.) Speg. Angico-vermelho
Enterolobium contortisiliquum (Vell.) Morong Orelha-de-negro

Continua...

144
Capítulo 7 - Estudo de caso de Impacto Ambiental: Mineração

Tabela 4 - Continuação
FAMÍLIA/ESPÉCIE NOME VULGAR
Inga spp. Ingá
Piptadenia gonoacantha (Mart.) J.F.Macbr. Pau-jacaré
Calophyllaceae
Calophyllum brasiliense Cambess Guanandi
Kielmeyera corymbosa Mart. Pau-santo
Cannabaceae
Celtis iguanaea (Jacq.) Sarg. Grão-de-galo
Celastraceae
Maytenus glazioviana Loes. ex Taub. Cafezinho
Maytenus salicifolia Reissek Fruta-de-pomba
Salacia elliptica (Mart.) G.Don Bacupari
Clusiaceae
Rheedia gardneriana Planch. & Triana Bacupari-miúdo
Combretaceae
Terminalia argentea Mart. Capitão-do-campo
Terminalia glabrescens Mart. Mirindiba
Compositae
Eremanthus incanus (Less.) Less. Pau-de-candeia
Vanillosmopsis erythropappa (DC.) Sch.Bip. Candeia
Vernonia discolor (Spreng.) Less. Vassourão-preto
Erythroxylaceae
Erythroxylum cuneifolium (Mart.) O.E.Schulz Fruta-de-pomba
Euphorbiaceae
Actinostemon communis (Müll.Arg.) Pax Laranjeira-brava
Alchornea triplinervia (Spreng.) Müll.Arg. Tanheiro
Alchornea iricurana Casar. Tapiá
Croton celtidifolius Baill. Capichingui
Croton floribundus Spreng. Capichingui
Croton urucurana Baill. Sangra-d’água
Hyperacaceae
Vismia brasiliensis Choisy Pau-de-laerte
Lamiaceae
Aegiphila sellowiana Cham. Pau-de-tamanco
Vitex polygama Cham. Maria-preta
Lauraceae
Aniba firmula (Nees & Mart.) Mez Canela-sassafrás

Continua...

145
Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso

Tabela 4 - Continuação
FAMÍLIA/ESPÉCIE NOME VULGAR
Beilschmiedia emarginata (Meisn.) Kosterm. Canela-ameixa
Endlicheria paniculata (Spreng.) J.F.Macbr. Canela-peluda
Nectandra grandiflora Nees & Mart. Canela-sassafrás
Nectandra mollis (Kunth) Nees Canela-amarela
Ocotea spp. Canela
Magnoliaceae
Talauma ovata A.St.-Hil. Pinha-do-brejo
Malpighiaceae
Byrsonima perseifolia Griseb. Murici-da-mata
Malvaceae
Helicteres ovata Lam. Guaxima
Guazuma ulmifolia Lam. Mutamba
Luehea spp. Açoita-cavalo
Melastomataceae
Leandra lancifolia Cogn.
Leandra pectinata Cogn. Aperta-mão
Leandra scabra DC. Pixirica
Miconia spp.
Tibouchina candolleana Cogn. Quaresmeira
Tibouchina stenocarpa (DC.) Cogn.
Meliaceae
Cabralea cangerana Saldanha Canjerana
Cabralea polytricha A.Juss. Canjerana-do-campo
Cedrela fissilis Vell. Cedro
Guarea guidonia (L.) Sleumer Piorra
Trichilia emarginata (Turcz.) C. DC. Catiguá
Monimiaceae
Mollinedia argyrogyna Perkins Negramina
Mollinedia triflora (Spreng.) Tul. Capixim
Moraceae
Ficus mexiae Standl. Figueira
Pseudolmedia laevigata Trécul Muiratinga
Sorocea bonplandii (Baill.) W.C.Burger, Lanj. & de Boer
Myrtaceae
Calycorectes acutatus (Miq.) Toledo Amarelinho
Calyptranthes brasiliensis Spreng. Guamirim

Continua...

146
Capítulo 7 - Estudo de caso de Impacto Ambiental: Mineração

Tabela 4 - Continuação
FAMÍLIA/ESPÉCIE NOME VULGAR
Calyptranthes clusiifolia O.Berg Jaborandi
Eugenia spp.
Gomidesia affinis (Cambess.) D.Legrand Guamirim
Gomidesia eriocalyx (DC.) O.Berg Guamirim
Gomidesia velutiflora Mattos & D.Legrand Guamirim
Myrcia rostrata DC. Folha-miúda
Myrcia velutina O.Berg Piúna
Psidium sp.
Nyctaginaceae
Guapira noxia (Netto) Lundell João-mole-maria-mole
Ochnaceae
Ouratea semiserrata (Mart. & Nees) Engl. Farinha seca
Opilaceae
Agonandra engleri Hoehne Cerveja-de-pobre
Pentaphylacaceae
Ternstroemia brasiliensis Cambess.
Peraceae
Pera obovata (Klotzsch) Baill. Pau-de-sapateiro
Phyllanthaceae
Hieronyma ferruginea (Tul.) Tul. Sangue-de-boi
Picramniaceae
Picramnia glazioviana Engl. Pau-amargo
Piperaceae
Ottonia leptostachya Kunth Jaborandi
Piper spp.
Pothomorphe umbellata (L.) Miq. Caapeba-do-norte
Poaceae
Chusquea capituliflora Trin. Bambuzinho
Chusquea pinifolia (Nees) Nees Bambuzinho
Olyra micrantha Kunth Capim-de-sombra
Merostachys neesii Rupr. Taquara-poca
Polygonaceae
Coccoloba warmingii Meisn. Cabuçu
Primulaceae  
Rapanea spp. Capororoca
Cybianthus brasiliensis (Mez) G.Agostini

Continua...

147
Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso

Tabela 4 - Continuação
FAMÍLIA/ESPÉCIE NOME VULGAR
Proteaceae
Roupala brasiliensis Klotzsch Carne-de-vaca
Roupala longipetiolata Klotzsch ex Meisn. Carne-de-vaca
Putranjivaceae
Drypetes sessiliflora Allemão Folha-de-serra
Rubiaceae
Alibertia sessilis (Vell.) K.Schum. Marmelinho-do-campo
Amaioua guianensis Aubl. Marmelada
Bathysa australis (A.St.-Hil.) K.Schum. Folha-larga
Coccocypselum hasslerianum Chodat Cabuçu
Faramea cyanea Müll.Arg. Cafezinho
Faramea multiflora A.Rich. Café-do-mato
Ixora gardneriana Benth. Ixora-do-mato
Ladenbergia hexandra (Pohl) Klotzsch Pau-de-colher
Palicourea longipedunculata Gardner Erva-de-rato
Psychotria spp.
Rutaceae
Dictyoloma incanescens DC. Mil-folhas
Esenbeckia grandiflora Mart. Mamoninha
Zanthoxylum sp. Mamica-de-porca
Sabiaceae
Meliosma sellowii Urb. Congonha-folha-larga
Salicaceae
Casearia arborea (Rich.) Cascaria
Casearia decandra Jacq. Pituma
Casearia lasiophylla Eichler Espeto
Casearia obliqua Spreng. Guaçatonga
Sapindaceae
Cupania racemosa (Vell.) Radlk. Camboatã
Matayba elaeagnoides Radlk. Pau-crioulo
Siparunaceae
Siparuna apiosyce (Mart. ex Tul.) A. DC. Limoeiro-bravo
Siparuna guianensis Aubl. Negramina
Solanaceae
Brunfelsia brasiliensis (Spreng.) L.B.Sm. & Downs Manacá
Sessea regnellii Taub.

Continua...

148
Capítulo 7 - Estudo de caso de Impacto Ambiental: Mineração

Tabela 4 - Continuação
FAMÍLIA/ESPÉCIE NOME VULGAR
Solanum celsum Standl. & C.V. Morton Panancéia
Styracaceae
Styrax pohlii A. DC. Benjoim
Symplocaceae
Symplocos lanceolata A. DC. Chá-de-cabloco
Thymelaeaceae
Daphnopsis fasciculata (Meisn.) Nevling Imbira
Urticaceae
Cecropia spp. Embaúba
Verbenaceae
Lippia candicans Hayek Viuvinha-branca
Vochysiaceae
Callisthene minor Mart. Itapiúna
Qualea glauca Warm. Pau-terra-branco
Qualea multiflora Mart. Pau-terra
Vochysia tucanorum Mart. Pau-de-tucano, Caixeta
Winteraceae
Drimys brasiliensis Miers Casca-de-anta 

149
Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso

Fauna

A fauna é o conjunto de todas as espécies animais de certa região que se interrelacionam


com o meio físico e biológico do ecossistema, formando as comunidades animais.
A fauna silvestre desempenha um importante papel ecológico no meio natural, uma
vez que é através de seus componentes consumidores, que a energia fixada pelas plantas pode
ser transferida para todos os níveis da cadeia trófica promovendo, dessa forma, a existência
de interações ecológicas vitais para o equilíbrio dinâmico de todo o ecossistema, tais como a
polinização, a dispersão, a predação e a decomposição.
A diversidade da fauna do cerrado reflete a adaptação aos diversos tipos de vegetação
encontrados no bioma cerrado. Algumas espécies são restritas a determinadas formações vegetais,
enquanto que outras têm distribuição mais ampla podendo habitar diversas fitocenoses. Além
desta diversificação, a fauna silvestre é na maioria das vezes, constituída por organismos que
possuem elevada capacidade de movimentar-se no seu meio, ocorrendo, portanto uma grande
variação sazonal, sendo que a maioria dos animais é mais ativa na estação chuvosa.
Em virtude destas características, o levantamento direto da diversidade de certos grupos
da fauna pode tornar-se uma tarefa exaustiva, pois envolve gastos expressivos e longos períodos
de tempo para sua execução. A utilização de metodologias que permitam a avaliação indireta da
diversidade faunística pode auxiliar no trabalho de levantamentos da fauna e no próprio manejo
da área. Tais métodos identificam o local com maior probabilidade de se encontrar elevada
diversidade faunística.
Para a identificação da fauna local foram utilizadas as seguintes técnicas: observação direta
a olho nu e / ou com auxílio de binóculos para possível identificação; avaliação de sons típicos
das espécies; verificação de restos mortais; sinais como restos alimentares, marcas deixadas
no solo (rastros, deposição de fezes, corte ou sinais na vegetação por ocasião do pastoreio ou
hábitos da espécie), abrigos (tocas, ninhos ou túneis); além da obtenção de informações junto
aos moradores locais, por meio de questionários. No entanto, o intervalo de tempo disponível
nesse estudo não foi suficiente para um Ievantamento faunístico adequado. Por isso a literatura
disponível serviu de grande auxilio para a complementação dos dados levantados.
De acordo com um questionário realizado com 16 moradores da região ao redor do
empreendimento, no ano de 1995, obtiveram-se várias informações a respeito da mastofauna,
avifauna e herpetofauna local. Apesar de muito eficiente em determinadas situações, as informações
obtidas através dos moradores locais devem ser utilizadas com cautela, principalmente nos
grupos taxonômicos mais complexos, tais como os ofídios, onde os leigos normalmente podem
confundir as espécies.

150
Capítulo 7 - Estudo de caso de Impacto Ambiental: Mineração

Os mamíferos mais citados pelas pessoas foram: cachorro-do-mato, Iobo-guará, macaco-


sauá, mico-estrela, tatu, paca e veado. As aves mais comuns de acordo com os moradores são:
codorna, jacú, siriema e tucano. As cobras na região são bem frequentes, sendo que a cascavel foi a
mais citada pelos moradores. O lagarto-teiú também é comumente observado nessas localidades.
Alguns mamíferos foram identificados ainda através de restos mortais, tipo de abrigo
e conteúdo fecal. Várias aves foram identificadas no campo por meio de observação direta,
características dos ninhos e emissão de sons. Para a complementação da listagem da avifauna
local usou-se o trabalho de D’Angelo Neto (1996). Enquanto que para a listagem de anfíbios e
peixes usou-se essencialmente as referências bibliográficas.
Para o estudo dos invertebrados, principalmente dos artrópodes e em especial a classe
Insecta, não se tem conhecimento de trabalhos de listagem das espécies existentes para estas
localidades, mesmo porque são de difícil qualificação e quantificação, exigindo tempo e recursos
financeiros para a obtenção de dados precisos e confiáveis. Outros Phyla provavelmente existentes
na área de influência e entorno são Protozoa, Porifera, Coelenterata, Nematoda, Plathelminthes,
Mollusca, Annelida.

Ecossistemas aquáticos

Um ambiente aquático deve apresentar certas características físicas, químicas e biológicas,


que Ihe conferem uma água boa não só para o consumo, como também para o desenvolvimento
de plantas aquáticas e de invertebrados, como fases larvais de adultos e insetos, microcrustáceos,
moluscos e peixes, o que determina o equilíbrio das cadeias alimentares nestes ambientes.
De acordo com a composição físico-química e biológica de um corpo d’água é possível
classificá-lo em oligotrófico, mesotrófico e eutrófico. Os ambientes oligotróficos são pobres em
nutrientes, apresentando grande diversidade de algas, principalmente as algas verdes (clorofíceas).
Os ambientes eutróficos são ricos em nutrientes (principalmente nitratos e fosfatos), resultantes da
decomposição de material orgânico nos sedimentos o que favorece o crescimento em grande escala
de algas. Já os ambientes mesotróficos apresentam características intermediárias a esses dois.

Ambientes lóticos

De maneira geral, esses ambientes inseridos na área de influência e entorno apresentam-se


cobertos por uma mata de galeria, o que dificulta a entrada de raios solares, reduzindo a sua
produtividade primária, tendo em vista a ausência de plantas aquáticas flutuantes ou submersas.
A falta de luz, associada à corrente fluvial, impede o desenvolvimento do fitoplâncton (algas)
e zooplâncton (microcrustáceos, rotíferos, protozoários, etc.), influenciando diretamente na
diversidade de peixes.

151
Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso

Entretanto, a mata de galeria apresenta outras vantagens que justificam a sua presença:
evita o aquecimento excessivo da água, fornece energia ao sistema através das folhas, frutos e
sementes que caem nos cursos d’água, proporcionam cobertura (sombra) protetora aos peixes,
evita a erosão das margens, e dificulta que os agrotóxicos atinjam a água, dentre outras vantagens.
Os insetos e restos vegetais que caem na água compõem parte da alimentação dos peixes.
A ictiofauna desses ambientes é representada por uma diversidade considerável de espécies de
peixes de pequeno porte (muitas das quais ainda não identificadas).
Dentre os invertebrados aquáticos, os ribeirões da região de entorno, provavelmente,
apresentam os insetos que normalmente habitam esses ambientes, tais como as Iarvas de
Tricoptera, Ephemeroptera, Plecoptera, Díptera, Neuroptera e Coleóptera, além de adultos
das ordens Hemiptera e Coleoptera. Muitas destas Iarvas, particularmente as Dípteras, são
componentes essenciais na dieta dos peixes.

Ambientes lênticos

Os ambientes lênticos da área de influência e entorno do Morro Redondo são representados


por pequenas represas e apresentam características Iimnológicas diferentes daquelas dos ambientes
Ióticos. Um desses aspectos é o fato de que geralmente são ambientes abertos, que recebem
muita luz e pouca influência das correntes. Assim sendo, a comunidade planctônica é muito
desenvolvida, dependendo da Iuz solar e composição química da água.
Essas represas encontram-se em áreas bastante alteradas, já que ao seu redor existe uma
grande exploração agrícola. O fitoplâncton é, possivelmente, representado por um grande número
de espécies, tais como algas azuis (Cyanophyceae) e algas verdes (Chlorophyta). O zooplâncton
é provavelmente representado por microcrustáceos copépodos e cladóceros. A fauna bentônica
com certeza é muito diversificada, destacando-se principalmente larvas de insetos (Díptera,
Odonata e Ephemeroptera). A fauna de vertebrados é constituída por girinos de várias espécies
de anfíbios e alguns peixes, tanto nativos, quanto introduzidos pelos produtores rurais da região.

7.4.3. Diagnóstico do meio sócio-econômico

A história demonstra que as atividades econômicas Ievam à degradação ambiental, visto


que os recursos naturais como a água, o ar e o solo, são livres de custos monetários diretos, em
sua maioria, ainda sem a existência de mecanismos de controle da atividade de seus usuários,
numa sociedade onde a procura pelo uso dos recursos naturais muitas vezes se faz no sentido de
maximizar a posição financeira de cada um (Pinheiro, 1990).
Os solos e os cursos d’água são os principais componentes afetados durante a deterioração
ambiental de qualquer natureza. As consequências dos processos de degradação são refletidas

152
Capítulo 7 - Estudo de caso de Impacto Ambiental: Mineração

também nos recursos naturais que possam estar ligados direta ou indiretamente aos solos e a água.
O solo, base para a implementação das diversas atividades humanas (Pereira, 1995), é
considerado o recurso básico de uma nação, renovável desde que usado dentro de sua capacidade.
Entretanto, quando de sua má utilização, reflexos negativos como erosões e assoreamentos
passam a ser fatores comuns e também passíveis de preocupação.
A modernização da sociedade tem contribuído assustadoramente para o aumento do
uso e degradação do ambiente, que em muitos casos superam a capacidade de regeneração dos
ecossistemas e a reciclagem dos recursos renováveis, conduzindo ao depauperamento destes
recursos. Uma vez degradado, a preocupação se faz presente, não somente na tentativa de
recompor o ambiente, mas principalmente para restabelecer o equilíbrio e permitir a sobrevivência
e reprodução das espécies no ambiente.
Qualquer que seja a implantação de um empreendimento, projeto ou plano, há geração de
efeitos no sistema biótico e sócio-econômico em certo período de tempo, porém, tradicionalmente,
na avaliação de projetos, a análise convencional custo-benefício é a que primeiro se considera. Em
se tratando de impactos ambientais e sociais, efeitos secundários e consequências, um número
limitado de informações encontram-se disponíveis (Pinheiro, 1990).
Embora não seja possível frear o desenvolvimento econômico, já que ele é consequência
do próprio desenvolvimento social e do crescimento populacional, é possível, porém, inferir até
que ponto pode-se permitir uma degradação ambiental socialmente aceitável, e que assegure um
desenvolvimento sustentável para futuras gerações. Os Estudos de Impactos Ambientais tornam-
se imprescindíveis no processo de licenciamento ambiental, pois visam a elencar as principais
medidas mitigadoras dos impactos gerados pelos empreendimentos.
A obrigação de recuperar áreas degradadas pela exploração de recursos minerais está prevista
na Constituição Brasileira. O Decreto 97.632 de 10 de abril de 1989 regulamentou a Lei 6.938
prevê que novos empreendimentos no setor mineral, deverão apresentar ao órgão ambiental
competente Estudo de Impacto Ambiental e respectivo Relatório de Impacto Ambiental - EIA/
RIMA, juntamente com o Plano de Recuperação da Área Degradada.
A recuperação ambiental de uma área degradada pela mineração envolve diversos aspectos
importantes para a obtenção do resultado final. Deve prever o controle da qualidade dos recursos
hídricos superficiais e subterrâneos e da qualidade do ar. O tratamento previsto do solo deve
considerar seus aspectos físicos e bióticos. O processo de revegetação dependerá da obtenção dos
resultados de recuperação do solo.
O controle ambiental se dá por meio da implementação de programas e ações que
reduzam o impacto negativo sobre os meios físicos (água, solo e ar), biológicos (fauna e flora) e
sócioeconômico, melhorando a qualidade de vida das pessoas. Um dos instrumentos previstos na

153
Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso

Política Nacional de Meio Ambiente para o controle das atividades potencialmente poluidoras e/
ou utilizadoras dos recursos naturais é o Licenciamento Ambiental.

Área de influência do empreendimento

O município de Lavras é influenciado de maneira indireta pelas atividades realizadas na


área de estudo. O município situa-se na Zona Fisiográfica SuI de Minas Gerais, a noroeste
da microrregião Polarizada Alto Rio Grande, que possui 21 cidades e população de 412.629
habitantes. Esta área engloba as regiões dos Campos das Vertentes e parte do Sul de Minas,
constituindo uma das regiões de maior densidade demográfica do Estado e intensa ocupação do
solo com agropecuária e indústrias, além de várias usinas hidrelétricas.
Confronta-se ao norte com os municípios de Ribeirão Vermelho e Perdões, à leste com
Ijaci e Itumirim, à oeste com Nepomuceno e ao sul com os municípios de Ingaí e Carmo da
Cachoeira. O município de Lavras goza de excelente clima, com temperatura amena mesmo
durante o verão. As chuvas têm maior distribuição de janeiro a março e a estiagem ocorre entre
os meses de julho e agosto.
O levantamento do meio sócioeconômico no estudo de impacto ambiental abrangeu e
descreveu com detalhes, à época, os seguintes itens:

1) Histórico do município de Lavras - MG

2) Estrutura fundiária

3) População

4) Recursos econômicos:
a) Setor primário:
• Agropecuária;
• Atividade leiteira;
• Suinocultura e outros rebanhos;
• Avicultura;
• Cafeicultura e outros produtos;
• Culturas temporárias e permanentes.
b) Setor secundário:
• Indústria.
c) Setor terciário:
• Comércio;

154
Capítulo 7 - Estudo de caso de Impacto Ambiental: Mineração

• Comércio varejista;
• Comércio atacadista;
• Serviços e transportes.
d) Finanças
e) Reservas minerais

5) Saúde
a) Assistência médica
• Hospitais;
• Postos de atendimento;
• Pronto socorro, serviço odontológico e clínicas;
• Laboratórios.

6) Infra-estrutura
a) Educação
• Maternal, pré-primário, 1º e 2º grau;
• Graduação e pós-graduação;
• Cursos específicos.

7) Comunicação/ Informação
• Telefonia: serviços de DDD e DDI;
• Correios e Telegráfos: EBCT;
• Telex: 20 aparelhos (1994);
• Emissoras de rádio: 3 (1992);
• Jornais: 4 (1992);
• Televisão/retrasmissão: Três torres retransmissoras, captando oito emissoras;
• Bibliotecas: a cidade possui oito bibliotecas entre federais, estaduais,
municipais e particulares.

8) Vias de acesso
• Rodovias e ferrovias: A cidade é servida por duas rodovias federais, além de ser
entroncamento ferroviário da Ferrovia Centro Atlântica (FCA).

9) Transportes
a) Rodoviário: rodovias BR-265 e BR-381;
b) Ferroviário;
c) Aéreo: possui um aeroporto com pista asfáltica e infra-estrutura para operar
aviões de pequeno porte em linhas comerciais;

155
Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso

d) Transporte Coletivo:
• Transporte interurbano e interestadual – operado por 12 empresas;
• Transporte urbano.
10) Energia elétrica e água: CEMIG e COPASA

11) Esgoto e coleta de lixo

12) Rede bancária

13) Correios

14) Drogarias e farmácias

15) Segurança pública:


a) Polícia militar
b) Polícia civil

16) Organização judiciária


• Cartórios e tabelionatos

17) Logradouros públicos



18) Edificações

19) Assistência social:


• Conselhos

20) Grupos sócio-culturais:
• Banda de música

21) Outras estruturas de apoio:


• Hotéis
• Terminal rodoviário
• Aeroporto
• Empresas de turismo e transporte
• Clubes sociais e de lazer

22) Patrimônio regional:

156
Capítulo 7 - Estudo de caso de Impacto Ambiental: Mineração

a) Natural
• Parque Ecológico Quedas do Rio Bonito
• Serra da Bocaina

Coleta de informações nas propriedades rurais

Para a realização do trabalho, utilizaram-se questionários estruturados, visando obter


informações para uma análise da situação social, econômica e tecnológica dos produtores
mais afetados pelas atividades de exploração da cascalheira, com a realização de entrevistas aos
produtores rurais (Figura 7.6) e proprietários de terras próximas à área do empreendimento.
Efetuou-se também a busca de informações em fontes primárias, tais como trabalhos e relatórios
elaborados pela COPASA, IBAMA e IBGE, referentes à área objeto deste estudo.

Figura 7.6 - Localização de algumas propriedades rurais utilizadas para o estudo do meio antrópico.

157
Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso

7.5. Avaliação dos Impactos Ambientais

7.5.1. Impactos Ambientais

No presente estudo, a ocorrência dos possíveis impactos provocados pelo empreendimento


ao ambiente, e suas respectivas fases (atividades), foram simplificados da seguinte maneira:
a) Fase 01- preparo para lavra
b) Fase 02 - lavra
c) Fase 03 - beneficiamento
d) Fase 04 - desativação

Meio Físico

Solos - Impactos negativos

a) Perda da camada superficial do solo


• A retirada da camada superficial do solo que viabilizará a exploração do cascalho
acarretará várias consequências, tais como: alteração das propriedades químicas
e físicas do solo, perda da matéria orgânica, destruição da população microbiana
do solo, da mesofauna e do banco de sementes. (Fase: 01).

b) Desafeiçoamento da área
• Com a exploração do cascalho no Morro ocorrerá o desafeiçoamento total ou
parcial das características morfológicas e das propriedades concernentes à beleza
cênica do local. Com isso, modifica-se a interação natural existente do Morro
com todos os outros aspectos naturais que compõem a paisagem da bacia onde
o empreendimento está inserido (Fases: 02 e 03).

c) Compactação do solo
• O tráfego constante de tratores e caminhões para a exploração do Morro,
certamente causará a compactação no solo, que será caracterizado por um
aumento da densidade do solo e uma diminuição da porosidade total, quando
comparadas às camadas adjacentes (Fases: 01, 02 e 03).
• A compactação do solo provocará alterações em seu interior, modificando boa parte
do seu ambiente físico. O processo de compactação desenvolve a formação de crostas
(encrostamento superficial), empoçamento de água, zonas endurecidas abaixo da
superfície, erosão pluvial excessiva, baixo índice de emergência de plantas, sistema
radicular pouco profundo e raízes mal formadas (Fases: 01, 02 e 03).

158
Capítulo 7 - Estudo de caso de Impacto Ambiental: Mineração

d) Erosão do solo
• A exploração do cascalho no Morro promoverá a retirada da vegetação, deixando
o solo descoberto, sujeito ao impacto direto das gotas da chuva e escoamento
superficial da água sobre o solo. Dessa forma, o solo ficará extremamente suscetível
aos processos erosivos e as consequências muitas vezes são de caráter devastador,
com danos irreversíveis. Os impactos causados pela erosão estão associados a
muitos fatores, todos eles de real importância e magnitude. A Equação Universal
de Perda de Solo, que avalia a perda de solos pelos processos erosivos, determinou
que a perda anual de solos na microbacia é de 0,112 toneladas de solo/ha/ano
para os Latossolos, os quais são predominantes na microbacia, e cujo valor é
considerado baixo. No entanto, espera-se que com a efetivação e operação do
empreendimento, as perdas de solo por erosão, desde que medidas preventivas
não sejam aplicadas, aumentem em relação a esse valor (Fases: 02, 03 e 04).

e) Perda de nutrientes do solo
• Em geral, os nutrientes estão concentrados na camada superficial do solo, que
desprotegido devido a ausência de vegetação, possibilita o desencadeamento dos
processos erosivos e a lixiviação de nutrientes decorrentes da ação dos impactos
das gotas de chuva sobre o solo. A perda de nutrientes pelo solo interfere de
maneira negativa na produção agrícola e florestal. Como muitos dos nutrientes
do solo estão associados com a fração fina do solo, eles são, portanto, facilmente
carreados pela erosão (Fases: 01, 02, 03 e 04).

f ) Redução na capacidade de infiltração e retenção de água no solo


• A desestruturação dos agregados do solo altera a porosidade, afetando a
porcentagem de matéria orgânica e, consequentemente, a população de
microrganismos, cujos resultados afetarão principalmente a capacidade do solo
em absorver e reter água. (Fases: 01, 02 e 03).

g) Formação de sulcos e voçorocas


• Os sulcos e voçorocas são formas de erosão hídrica, que se intensificam em solos
desnudos, principalmente aqueles que se encontram em processo intensivo de
exploração (Fases: 01, 02, 03 e 04).

159
Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso

h) Destruição das culturas


• As culturas podem ser incompatíveis ou fortemente prejudicadas em função da
ativação e operação do empreendimento. A maioria dos impactos desencadeados
interfere diretamente na agricultura através dos processos erosivos que causam a
destruição das lavouras e redução da produtividade. Esta realidade aumenta os
custos do produtor para efetuar os ajustes e correções advindas dos impactos da
exploração (Fases: 02, 03 e 04).

i) Degradação do perfil do solo


• A degradação do perfil do solo promove a lixiviação de nutrientes, gerando um
desequilíbrio para a mesofauna, tornando os solos mais suscetíveis aos processos
erosívos (Fases: 01, 02, 03 e 04).

j) Degradação da qualidade de água causada pela erosão do solo


• A erosão provocada em função da exploração do cascalho no Morro tende a levar
as partículas do solo através do escoamento superficial ou através das voçorocas
na direção da declividade para os leitos dos rios, lagos e para locais mais baixos
(menor energia). Esse processo causa mudanças no regime hídrico dos rios e
aumenta consideravelmente a quantidade de partículas sólidas em suspensão,
deixando a água com a cor escura e com uso limitado, além de promover a
redução na qualidade da água (Fases: 01, 02, 03 e 04).

l) Aumento no custo do tratamento da água em função da sedimentação e assoreamento
causados pela erosão
• Associado ao transporte de sedimentos pode-se encontrar vários elementos ou
partículas oriundas das adubações, fertilizações e controle químico de pragas e
doenças. A utilização desta água pelo ser humano requer tratamento para torná-
la apta para consumo. Quando isso ocorre, aumentam os custos com tratamento,
com reflexos diretos para a própria população (Fases: 01, 02, 03 e 04).

m) Alteração no formato dos leitos dos rios pela deposição de sedimentos do solo
• A deposição de sedimentos nos leitos dos rios pode alterar o seu curso, prejudicando
o fluxo normal da corrente hídrica. Em alguns casos, pode ocorrer a interrupção
do fluxo d’água ou o desvio para outras calhas (Fases: 01, 02, 03 e 04).

160
Capítulo 7 - Estudo de caso de Impacto Ambiental: Mineração

n) Interrupção do fluxo d’água de pequenos canais de drenagem, quando da implantação


da malha viária para transporte do cascalho
• A construção de estradas pode interromper os canais de drenagem, os pequenos
cursos d’água e destruir mananciais. As barreiras físicas causadas pelas estradas,
em certos casos, tende a provocar o represamento da água na época das chuvas,
vindo a provocar sérias alterações na vida microbiana e na micro e mesofauna
(Fase: 01).

o) Aumento do nível de turbidez e assoreamento dos cursos d’água pela interferência


direta do solo
• O processo erosivo deposita partículas de solo no leito dos rios. Dependendo
do tamanho d partículas, elas podem ficar em suspensão se locomovendo com
a corrente d’água. Isso provoca o aumento da turbidez, afetando diretamente a
vida da ictiofauna e dos animais, tanto aquáticos como terrestres, e, de maneira
indireta, também a vida humana (Fases: 01, 02, 03 e 04).

p) Perturbação das nascentes de rios e mananciais pela exploração do solo


• Está associada a todo o processo de exploração do morro, uma vez que a construção
de estradas, o trânsito de máquinas, a deposição de sedimentos, a retirada da
vegetação, a extração de cascalho, a compactação do solo, o desafeiçoamento
do terreno e a erosão, irão interferir diretamente na degradação das nascentes e
mananciais existentes (Fases: 01, 02 e 03).

q) Alterações do lençol freático causadas pela retirada do cascalho


• As atividades de exploração do cascalho que ocorrerão no morro, não só trarão
consequências às águas de superfície como também afetarão o lençol freático,
alterando o seu nível. Este fato implica em modificações no regime natural do
escoamento das águas de superfície e nas fundações estruturais implantadas no
solo (Fases: 01, 02, 03 e 04).

r) Degradação do banco de sementes e da regeneração natural pela erosão do solo


• Dependendo da intensidade da erosão do solo e das formas como ela se
apresenta, o banco de sementes do solo e a regeneração natural serão fortemente
prejudicados. Isso ocorrerá próximo à área explorada, principalmente no sentido
da declividade, uma vez que a área de exploração terá toda sua vegetação retirada
(Fases: 01, 02 e 03).

161
Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso

s) Poluição do ar causada pelas partículas do solo


• A constante movimentação de máquinas carregando e transportando cascalho, e
a retirada do cascalho do seu ambiente, podem provocar uma cortina de poeira
no entorno da área de exploração, prejudicando e afugentando os animais e
danificando a saúde dos trabalhadores nas áreas de lavra. Acredita-se que os
moradores da região pouco sofrerão com a poeira originada da lavra, pois as
residências localizam-se distantes do local de exploração. (Fases: 01, 02 e 03).

Recursos Hídricos – Impactos negativos

a) Assoreamento e sedimentação
• Existe a possibilidades do aumento de deslizamentos de solo em alguns pontos do
Morro Redondo, em direção às nascentes Iocalizadas na Fazenda Santo Antônio
do Morro Redondo e Santa Cruz, e que podem provocar o assoreamento das
calhas dos cursos d’água (Fases: 01, 02, 03 e 04).
• O assoreamento dos cursos d’água em consequência da deposição de sedimentos
provoca a diminuição do volume e velocidade da água (Fases: 01, 02 e 03).

b) Qualidade da água
• Os cursos de drenagem analisados encontram-se bastante poluídos por lixo
doméstico, além de fezes e urinas de bovinos, uma vez que estes transitam nos
ribeirões que se localizam nas microbacias da área afetada pelo empreendimento.
Portanto, essa água não deve ter uso doméstico, servindo apenas para a Iimpeza
dos currais e dessedentação animal.
• Após chuvas prolongadas na microbacia, pode ocorrer um aumento da turbidez,
provocada pela presença de sólidos suspensos oriundos do empreendimento
através do carreamento desses até os cursos d’água (Fases: 01, 02 e 03).
• A eliminação da vegetação deixa o solo susceptível a ocorrência de fenômenos
erosivos, consequentemente, há o carreamento de partículas sólidas para o leito
dos recursos hídricos, aumentando a sua turbidez (Fases: 01, 02, 03 e 04).

c) Vazão
• A construção de pequenos canais de drenagem provoca a interrupção do fluxo
d’água (Fase: 01).
• A ocorrência de queda natural de árvores nas nascentes, provocada pelo
desbarrancamento, pode causar erosões e obstruções dos cursos d’água (Fases:
01, 02 e 03).

162
Capítulo 7 - Estudo de caso de Impacto Ambiental: Mineração

d) Lençol freático
• Com a retirada da vegetação nativa há o favorecimento para o escoamento
da água no perfil do solo, além de causar sua compactação pela operação do
desmatamento. Consequentemente a infiltração e percolação da água para o
abastecimento do lençol freático ficam comprometidas (Fases: 01, 02 e 03).

Meio biótico

Vegetação - Impactos negativos

a) Regeneração natural
• A deposição de sedimentos nas encostas em alguns pontos provoca a eliminação
da vegetação herbácea e das espécies arbóreas e arbustivas, além de dificultar a
regeneração natural (Fases: 01, 02 e 03).
• O manuseio da camada superficial do solo pode danificar mecanicamente os
propágulos vegetais remanescente, bem como o banco de sementes encontrado
nesse material (Fases: 01, 02 e 03).

b) Proteção
• Os riscos de incêndios florestais aumentam devido à presença de máquinas e
de pessoas na área de influência do empreendimento, o que pode provocar a
eliminação de espécies vegetais de vários estratos (Fases: 01, 02, 03 e 04).
• As operações de retirada e transporte do material mineral podem causar injúrias
à vegetação, com maior frequência para as árvores de maior porte, abrindo
caminho para a ocorrência de doenças ou ataque de pragas (Fases: 02 e 03).
• A alteração na vegetação, devido à exploração do recurso mineral, pode causar
alterações na composição florística, extinção de espécies e estreitamento da base
genética das populações que compõem a formação florestal (Fase: 01).

Fauna

Terrestre e ornitofauna

a) Impactos positivos
• O revolvimento das camadas superficiais do solo expõe inúmeros tipos de
organismos, que servem como fonte de alimento para um grande número de
vertebrados, especialmente a ornitofauna.

163
Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso

b) Impactos negativos
• Os distúrbios devido à instalação do empreendimento minerário e as operações
relacionadas, como construção da infra-estrutura, movimentação de maquinas e
veículos, e a geração de ruídos perturbam a fauna, provocam o seu deslocamento,
também a mudança na composição e estrutura, bem como o afugentamento dos
indivíduos. Pode haver mortalidade de animais causada pelo trânsito de veículos
(Fases: 01, 02, 03 e 04).
• Diminuição dos habitats naturais em consequência da utilização / desmonte
da fonte de cascalho, gerando perda constante de ambientes para reprodução,
abrigo, locomoção e disponibilidade de alimentos para a fauna silvestre (Fases:
01 e 02).
• Queimadas nas áreas de pastagem natural e demais formações florestais, devido à
presença de máquinas e pessoas na área de influência direta do empreendimento.
Destruição de ninhos, abrigos, habitats e fontes de alimento para a fauna (Fases:
01, 02, 03 e 04).
• A erradicação da vegetação causa uma diminuição da capacidade de suporte do
meio para a fauna terrestre (Fases: 01, 02 e 03).

Fauna aquática

a) Impactos Negativos
• A qualidade da água afeta diretamente a fauna aquática e a ictiofauna, sendo que
as principais consequências da baixa qualidade da água são: redução no tamanho
da população e na saúde dos peixes, ocorrendo com maior intensidade em cursos
d’água com baixo volume de água (Fases: 01, 02 e 03).
• O aumento da turbidez provocada pela presença de substâncias sólidas, as
quais podem ser oriundas dos processos erosívos, podem interferir na qualidade
e quantidade de luz que penetra o corpo líquido, causando alteração na
produtividade do sistema aquático (Fases: 01, 02, 03 e 04).
• O assoreamento dos cursos d’água em consequência da deposição de sedimentos
pode afetar o habitat da fauna aquática e da ictiofauna (Fases: 01, 02, 03 e 04).

Meio Sócio-Econômico

Impactos positivos

a) Arrecadação de impostos

164
Capítulo 7 - Estudo de caso de Impacto Ambiental: Mineração

• A arrecadação de impostos provenientes da comercialização dos produtos


retirados do empreendimento gera um impacto positivo.

b) Oferta de produto
• O empreendimento fornece aterro para a construção e recuperação de estradas
Iocalizadas nas proximidades do município de Lavras (Fase: 03).

c) Oferta de emprego
• Nas fases de planejamento, de lavra e de beneficiamento haverá uma oferta de
trabalho pouco considerável em função do porte do empreendimento (Fases:
01, 02 e 03).

Impactos negativos

a) Produção agrícola e animal


• As técnicas de manejo das Iavouras quanto ao uso de produtos químicos, tem
potencializado ainda mais a capacidade poluidora que prejudica a qualidade
do ambiente. A criação de bovinos é caracterizada como semi-extensiva (0,75
animais/hectare), não havendo problemas importantes relacionados com o
superpastoreio. Destaca-se, entretanto, a relação entre a criação de bovinos e o
carreamento de esterco dos currais para os mananciais (Fases: 01, 02, 03 e 04).
• De uma forma geral, a produção agropecuária apresenta certa dificuldade, no
que tange à irrigação das lavouras e fornecimento de água para a dessedentação
animal (Fases: 01, 02 e 03).

d) Saúde
• Através dos Ievantamentos realizados, foi verificado que a água consumida não é
filtrada em 12% das propriedades. Entretanto, o saneamento básico merece ser
destacado, tendo em vista a prática comum de Iançamento dos esgotos sanitários
brutos em valas de escoamento e cursos de água, podendo torná-los impróprios
para o consumo doméstico.
• Não existem postos para a prestação de serviços de saúde e de educação no local.
Estes serviços a cargo da administração pública são concentrados na zona urbana
do municipio de Lavras.

165
Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso

e) Desativação
• Com a desativação do empreendimento haverá a paralisação da arrecadação de
impostos oriundos da exploração do produto e da sua comercialização (Fase: 04).
• Nesta fase ocorrerá a dispensa dos funcionários ou o seu aproveitamento em
outras atividades (Fase: 04).

7.5.2. Matriz Ambiental das Interacões dos Impactos Ambientais

A matriz de interação utilizada para a qualificação e quantificação dos impactos gerados ou


previsíveis pelo projeto (Tabela 5), contemplou inúmeras possibilidade de impactos ambientais,
dos quais 247 se revelaram efetivos. Desses impactos, 59 ou 23,9% são de caráter benéfico, 159
ou 64,4% são de caráter adverso e 29 ou 11,7% são indefinidos, ou seja, seu caráter depende
de fatores ainda desconhecidos, ou aqueles cuja ocorrência não pode ser prevista com exatidão.
Deve-se ressaltar que do total dos impactos identificados ou previstos, em relação ao
atributo importância, 76 ou 30,8% apresentam grande importância 81,0 ou 32,8% importância
moderada e 90 ou 36,4% não apresentaram grau de importância significativa.
Quanto ao atributo magnitude, observa-se que 26 ou 10,5% dos impactos estudados
apresentaram magnitude muito alta; 37 atributos ou 15% que apresentaram alta magnitude;
36 ou 14,6% apresentaram magnitude média; 62 atributos correspondendo a 25,1%
apresentaram magnitude baixa e, finalmente 86 do total ou 34,8% dos impactos estudados
apresentaram-se insignificantes.
Com relação ao atributo duração, observa-se que 135 impactos ou 54,9% são de Ionga
duração, 34 ou 14,2% de média duração e 62 ou 24,8% representam impactos de curta duração
e, finalmente 15 atributos , que correspondem a 6,01% foram nulos quanto a duração.
O meio físico foi o mais impactado, sendo afetado por 100 impactos, contando com 18 de
caráter benéfico, 77 adversos e 6 indefinidos. As ações do empreendimento que causam os maiores
efeitos adversos na fase de planejamento, são aquelas decorrentes do desvio de águas superficiais,
remoção da cobertura vegetal, construção de estradas e estocagem da camada superficial, sendo
que esta última foi motivo da ocorrência considerável de impactos benéficos. Já na fase de lavra
o desmonte é a atividade que proporciona maiores impactos adversos. São poucos os impactos
irreversíveis, destacando-se entre eles a alteração morfológica, que pode ser compensada com as
medidas de controle ambiental incluídas neste estudo.
No meio biótico constatou-se 80 impactos: 10 de caráter benéfico, 56 adversos e 14
indefinidos. As operações que mais afetam o meio biótico na fase de planejamento, são aquelas
decorrentes do desvio de águas superficiais, remoção da cobertura vegetal, remoção da camada
superficial e construção de estradas. Na fase de lavra é a operação de desmonte, e na fase de

166
Capítulo 7 - Estudo de caso de Impacto Ambiental: Mineração

beneficiamento a separação física. Os demais impactos adversos identificados atuam de forma


indireta, principalmente pela emissão de ruídos, que interferem negativamente sobre a fauna.
Vale à pena salientar que serão tomadas as devidas medidas de proteção ambiental no intuito de
conter ou amenizar, de forma eficiente, tais impactos adversos.
Quanto ao meio sócio-econômico verificou-se 67 impactos: 31 de caráter benéfico, 27
adverso e 9 indefinido. A ligeira predominância de impactos de caráter benéfico é reflexo do
poder econômico e social dos produtores e das pessoas ligadas a área diretamente afetada pelo
empreendimento.

167
168
Matriz simplificada dos impactos ambientais - Morro Redondo, Lavras - MG

Meio Físico

Geologia Água Ar

pH
Água

Vazão
Fecais
DBO5
Poeiras
Ruídos

Taludes

Mineral
Recurso
Oxigênio

Qualidade
Dissolvido

Coliformes

Morfologia
Subterrânea

Temperatura
Temperatura

Estabilidade de
1. Planejamento

Desvio de águas superficiais 12 2 2 1 2 1 2 1 2 1 1 1 1 3 2 1 1


- 2 - 3 + 1 - 1 - 1 + 1 + 1 - 3 - 1

Remoção da cobertura vegetal 1 1 4 3 2 2 2 2 3 2 1 1 2 2 1 1


- 3 - 3 - 2 - 2 - 3 - 3 - 3 - 1

Remoção da camada superficial 4 3 4 3 2 2 3 2 3 2 1 1


- 3 - 3 - 2 - 2 - 1 - 1

Estocagem da camada superficial 3 3 2 2 2 2 1 1 1 1


+ 1 + 1 + 1 - 1 - 1

Construção de estradas 3 3 2 2 1 1 1 1 1 1 1 1 4 3 1 1
- 3 - 3 - 3 + 3 + 3 + 3 - 2 - 1

2. Lavra

Desmonte 1 1 5 3 5 3 2 2 3 2 2 2 2 2
- 3 - 3 - 3 - 2 - 3 - 3 - 3

Manuseio do cascalho 1 1 2 2 1 1
- 3 - 1 - 1
1 1 2 2 1 1
Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso

Estocagem - 1 - 1 - 1

3. Beneficiamento

Separação física 3 2 2 2 1 1
- 1 - 1 - 1

Carregamento e Transporte 2 2 1 1
- 1 - 1

4. Desativação 5 3 5 3 5 3 5 3 4 3 5 3 5 3
+ 3 + 3 + 3 + 2 + 3 + 3 + 3

Continua...
Matriz simplificada dos impactos ambientais - Morro Redondo, Lavras - MG

Meio Físico Meio Biótico

Solo Flora Fauna

Áreas
Fauna

Visual
Erosão
Ciliares
Natural
Aqiática

Impacto
Formações
Formações

Fertilidade
Antrópicas
Campestres
Regeneração

Compactação
Assoreamento
Afudelamento
Cadeia Trófica

Atropelamento

1. Planejamento

Desvio de águas superficiais 3 2 3 3 2 2 2 2 4 3 2 2 2 2 2 2 1 1 2 2 2 2


- 2 - 2 - 2 - 3 - 3 - 2 - 1 - 2 - 1 - 2 - 3

Remoção da cobertura vegetal 5 3 4 3 2 2 2 2 4 3 2 2 3 2 4 3 2 2 3 3 1 1 3 3


- 3 - 3 - 1 - 3 - 3 - 3 - 2 - 3 - 2 - 3 - 1 - 3

Remoção da camada superficial 3 3 4 3 3 2 5 3 4 3 2 2 3 2 1 1 1 1 3 1 5 3 2 2 1 1


- 3 - 3 - 2 - 3 - 3 - 3 - 3 - 3 - 3 - 2 - 3 - 3 - 3

Estocagem da camada superficial 3 2 3 2 1 1 5 3 4 3 1 1 1 1 5 3 5 3 2 1 1 1 1 1 2 2


- 2 + 1 - 1 + 1 + 1 + 0 + 0 + 2 + 2 - 1 + 1 + 1 - 3

Construção de estradas 2 2 3 2 1 1 2 2 2 1 2 2 2 2 1 1 4 3 5 3 2 2 1 1
- 3 - 3 - 3 - 3 - 3 - 3 - 3 - 3 - 3 - 3 - 3 - 3

2. Lavra

Desmonte 4 3 4 3 2 2 4 3 4 3 1 1 1 1 1 1 2 1 2 1 1 1
- 3 - 3 - 3 - 3 - 3 - 3 - 3 - 3 - 1 - 1 - 1

Manuseio do cascalho 2 2 1 1 1 1 1 1 2 2 1 2 2 1 2 1 1 1
- 2 - 1 + 0 + 0 - 2 - 2 - 1 - 1 - 1

Estocagem 3 3 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 2 1
- 1 - 1 - 1 + 0 + 0 + 0 + 0 - 1

3. Beneficiamento

Separação física 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
- 1 + 3 + 3 + 3 + 3 - 1 - 1 - 1

Carregamento e Transporte 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 4 3 5 3 4 3
- 1 - 1 - 3 - 3 - 3 - 3 - 3 - 3 - 3

4. Desativação 5 3 5 3 5 3 3 2 5 3 4 3 4 3 5 3 5 3 5 3 5 3 5 3 5 3
+ 3 + 3 + 3 + 3 + 3 + 2 + 2 + 2 + 2 + 2 + 1 + 1 + 2
Capítulo 7 - Estudo de caso de Impacto Ambiental: Mineração

Continua...

169
170
Matriz simplificada dos impactos ambientais - Morro Redondo, Lavras - MG

Mensuração dos I. Ambientais


Meio Sócio-Econômico
Caráter Importância Magnitude Duração

+ - + 3 2 1 5 4 3 2 1 3 2 1 0

Setor

Infra-
Saúde
Lazer /

Público

Agrícola
estrutura
Produção
Serviços /
Acidentes
Recreação

Empregos
1. Planejamento

Desvio de águas superficiais 4 3 4 3 1 1 2 2 2 2 3 2 3 3 1 22 4 5 16 6 0 3 5 10 9 7 9 9 1


- 3 - 2 + 0 + 1 - 2 - 1 - 3

Remoção da cobertura vegetal 4 3 3 3 0 22 0 10 8 4 1 6 5 6 4 15 4 3 0


- 3 - 3

Remoção da camada superficial 4 3 4 3 1 1 3 2 2 2 3 2 3 3 2 23 1 10 10 6 2 6 9 4 5 16 4 5 1


- 3 - 3 + 0 + 1 + 1 - 1 - 3

Estocagem da camada superficial 4 3 2 2 1 1 4 3 2 2 3 2 3 3 10 10 5 8 8 9 3 3 5 6 8 3 3 16 3


- 3 - 1 + 0 + 1 + 1 - 1 - 3

Construção de estradas 2 2 3 3 1 1 2 2 2 18 4 5 9 10 1 2 3 9 9 22 1 1 0
+ 3 + 3 - 3 + 3

2. Lavra

Desmonte 2 2 2 2 1 1 4 3 1 1 4 3 2 2 3 21 1 8 8 9 2 6 1 9 7 21 1 3 0
- 3 - 3 + 3 + 3 + 3 - 3 + 3

Manuseio do cascalho 2 2 2 2 1 1 4 3 2 2 4 3 2 2 3 13 3 2 7 10 0 2 0 8 9 8 3 6 2
- 3 - 3 + 3 + 3 + 3 - 3 + 3
Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso

Estocagem 1 1 1 1 1 1 4 3 2 2 3 2 1 1 5 8 5 2 3 13 0 1 2 3 12 5 0 7 6
+ 3 + 0 + 0 + 3 + 3 - 3 + 3

3. Beneficiamento

Separação física 1 1 1 1 4 3 2 2 3 2 1 1 1 1 5 8 5 1 4 13 0 1 2 2 13 10 0 7 1
+ 0 + 3 + 3 + 3 - 3 + 3 + 3

Carregamento e Transporte 1 1 4 3 1 1 4 3 2 2 3 2 1 1 4 13 1 5 3 10 1 4 1 2 10 13 0 4 1
+ 3 - 3 + 0 + 3 + 3 - 3 + 3

4. Desativação 3 3 2 2 2 2 2 2 3 2 24 1 0 20 5 0 16 3 3 3 0 15 9 1 0
+ 2 - 3 + 3 + 3 + 3
Capítulo 7 - Estudo de caso de Impacto Ambiental: Mineração

7.6. Medidas Mitigadoras e Monitoramento dos Impactos Ambientais

7.6.1. Medidas Mitigadoras

Meio Físico

Solos

Algumas medidas podem ser usadas para diminuir os efeitos adversos dos impactos
ambientais causados pela exploração do recurso solo:
a) Remoção da camada superficial do solo e armazenamento em locais protegidos
dos efeitos da erosão;
b) Redução da compactação do solo utilizando pneus de baixa pressão e alta
flutuação, de preferência bem Iargos;
c) Condução das operações de campo mais intensivas em épocas secas;
d) Construção de represas ou tanques para facilitar a deposição dos sedimentos na
área de lavra;
e) Evitar a modificação do leito original dos cursos d’água;
f ) Utilização adequada dos solos da microbacia, com base na aptidão agrícola das
terras;
g) Evitar que a construção de estradas de acesso ao empreendimento, atinja os
cursos d’água, nascentes e mananciais;
h) Construção de estradas de forma compatível com o relevo e com as características
edáficas e vegetais;
i) Setorização da exploração, afim de que as operações sejam menos impactantes na
exploração do empreendimento, diminuindo os riscos de erosão;
j) Construção de terraços ou bancadas que diminuam a velocidade da enxurrada
e que funcionem como depósitos de sedimentação antes que estas atinjam os
cursos d’água, nascentes e mananciais;
k) Instalalação de barreiras físicas para facilitar o controle da sedimentação causada
pela erosão;
l) Eliminação de voçorocas através do acerto topográfico utilizando equipamentos
que movimentem grandes quantidades de terra;
m) Retenção da água de drenagem, por meio de práticas conservacionistas de
cultivo;
n) Estabelecimento de redes de drenagem para facilitar o escoamento de
águassuperficiais sem remover o solo;

171
Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso

o) Desenvolvimento de sistemas de exploração e novas técnicas, menos agressivas


aos recursos ambientais durante a exploração;
p) Fomentar medidas e ações conscientizadoras com a comunidade diretamente afetada pelo
empreendimento, sobre a importância da conservação do solo para o seu desenvolvimento
e sustentação.

Recursos Hídricos

As medidas para mitigar os impactos negativos provocados pelo empreendimento em


estudo, mais precisamente relacionadas com os recursos hídricos são as seguintes:
a) Contenção de partículas em suspensão na água através da adoção de tanques
decantadores, como barragens de contenção nos pontos críticos;
b) Controle da contaminação da água por coliformes fecais, através da execução de
programas de educação ambiental, com enfoque à implementação de esterqueiras
junto aos currais e bebedouros nas pastagens;
c) Implantação de um programa de recuperação das áreas erodidas, por meio da
adoção de sistemas adequados de drenagem, além da implantação de matas
ciliares em Iugares estratégicos a fim de minimizar o assoreamento das nascentes
existentes;
d) Conscientização dos agricultores locais para descarte das embalagens vazias de
biocidas dentro dos padrões técnicos e legais.

Meio Biótico

Flora

Os impactos ambientais negativos causados à flora local podem ser amenizados através da
adoção das seguintes medidas mitigadoras:
a) Construção de estradas de menores larguras, retirando o mínimo da vegetação das
suas margens durante a construção e manutenção;
b) Controle sobre os trabalhadores para que as suas ações sobre o ambiente fiquem
restritas aos limites da área de exploração;
c) Evitar a erradicação da vegetação em área de preservação permanente, segundo as
especificações do Artigo 2º da Lei 4.771, de 15 de setembro de 1965 que institui
o Novo Código Florestal;
d) Ao realizar queimadas deve-se solicitar ao órgão ambiental competente licença
para a prática do uso do fogo, de acordo com as normas pertinentes, e seguir

172
Capítulo 7 - Estudo de caso de Impacto Ambiental: Mineração

rigorosamente suas recomendações;


e) Construção de cercas ao redor da área de exploração, a fim de evitar danos à
vegetação em fase inicial de regeneração;
f ) Recomposição vegetal da área explorada, na tentativa de restabelecer a composição
florística e estrutura da vegetação.
Fauna

Terrestre e Ornitofauna

Na tentativa de diminuir os impactos ambientais sobre a fauna do local, devem-se seguir


as seguintes medidas mitigadoras:
a) Elaboração de um programa de conscientização ambiental para os produtores
da área de entorno e outras pessoas que estejam atuando negativamente sobre a
fauna. Este programa deve conscientizar os moradores locais sobre a importância
da fauna silvestre para conservar o meio natural, proporcionando o equilíbrio no
ambiente local e o bem-estar da população;
b) Manutenção dos escassos remanescentes de vegetação nativa, proporcionando
locais para reprodução, abrigo e alimentação da fauna silvestre;
c) Manutenção de porções intactas da floresta, as quais servirão de refúgio para
algumas espécies móveis durante a exploração, e como fonte para a recolonização
de espécies que foram afugentadas da área;
d) Plantio de mais árvores frutíferas nas sedes das fazendas locais no intuito de
fornecer recurso alimentar adicional à fauna silvestre, principalmente para as
aves;
e) Manutenção de árvores e troncos em pé ou caídos, com a finalidade de criar
ambientes especiais para abrigo, alimento e esconderijo dos animais silvestres;
f ) Proibir o exercício da caça profissional, com amparo no Artigo 2º da Lei 5.197
de 03 de janeiro de 1967;
g) Limitar a velocidade de veículos nas estradas próximas aos locais com concentração
faunística;
h) Criar parceria com o Parque Ecológico Quedas do Rio Bonito, área de conservação
privada, bem estruturada, próximo à área explorada, na tentativa de gerar condições
para a conservação da flora e refúgio da fauna local, visando a conscientização dos
visitantes através de projetos de educação ambiental.

173
Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso

Fauna Aquática

Para minimizar os impactos provocados pelo empreendimento à fauna aquática, podem


ser adotadas as seguintes medidas:
a) Dimensionar e instalar obras em locais de águas correntes, de modo a permitir o
livre trânsito da ictiofauna;
b) Atentar para a importância dos cuidados durante a aquisição, armazenamento,
transporte e utilização de produtos químicos nas propriedades;
c) Recuperação de áreas marginais aos cursos d’água com a finalidade de minimizar
os impactos sobre a ictiofauna.

Sócio-Econômico

As medidas para minimizar os impactos negativos sobre o meio antrópico são as seguintes:
a) Direcionar esforços a fim de fomentar a preservação das fontes remanescentes que
fornecem água para uso animal;
b) Implementar um programa de monitoramento da qualidade da água que
possibilite um sistema de alerta para impedimento da distribuição da água
captada no manancial em caso de contaminação;
c) Construção de sanitários para os trabalhadores com fossas sépticas, com a devida
manutenção, evitando a proliferação de doenças;
d) Fometar a construção de fossas sépticas nas propriedades ruaris;
e) Priorizar a contratação de mão de obra residente nas imediações do
empreendimento;
f ) Realizar programas de educação ambiental, a fim de sensibilizar os moradores
locais sobre a importância da conservação dos recursos naturais, proporcionando o
equilíbrio no ambiente local e o bem-estar da população;
g) Para o controle da erosão laminar devem ser adotados programas de disseminação
de técnicas agrícolas adequadas, bem como a adoção de técnicas conservacionistas
por parte dos produtores rurais.
h) Conter ou minimizar os processos de erosão laminar e a consequente contaminação
dos cursos d’água, através do planejamento das pastagens, dos terraceamentos,
das drenagens, das limpezas e com a adequação das atividades às classes de uso
do solo.

174
Capítulo 7 - Estudo de caso de Impacto Ambiental: Mineração

7.6.2. Programa de Acompanhamento e Monitoramento dos Impactos Ambientais

Como uma atividade de controle que envolve a possibilidade de mudanças estratégicas,


em fincão de peculiariedade de uma dada ocorrência, o monitoramento é aplicado às várias
atividades desenvolvidas durante o empreendimento. A seguir são relacionadas às atividades que
auxiliarão a previsão e o gerenciamento dos impactos causados pelo empreendimento ao longo
de toda a sua execução:

a) Assistência técnica para cuidar e inspecionar as recomendações feitas para mitigar


os impactos durante as fases de extração do cascalho, com o intuito de manter e
proteger ao máximo o ecossistema circundante, evitando a compactação excessiva
do solo nas áreas de lavra, processos erosivos e consequente assoreamento dos cursos
d’água na região do entorno;
b) Acompanhamento e monitoramento no período de construção de estradas de
acesso ao empreendimento, evitando a degradação da vegetação e a perda de
solo, viabilizando as medidas que tornam possível a manutenção da qualidade
dos cursos d’água na área de influência do empreendimento;
c) Acompanhamento e monitoramento técnico das iniciativas conscientizadora na
comunidade diretamente afetada, sobre a importância da conservação do solo e da
manutenção da qualidade dos recursos hídricos;
d) Elaboração de um programa de educação sanitária com a comunidade local sobre
a importância do controle da contaminação da água por materiais fecais;
e) Monitoramento da construção de fossas sépticas e da sua manutenção sanitária, a
fim de evitar a proliferação de agentes causadores de doenças;
f ) Implantação da infra-estrutura de atendimento à demanda educacional;
g) Implantação de um programa de recuperação das áreas erodidas, através da adoção
de sistemas de drenagem adequados, aIém da implantação de matas ciliares em
lugares estratégicos a fim de conservar as nascentes e a boa qualidade da água;
h) Monitoramento das características das águas superficiais (físicas, químicas, físico-
químicas e biológicas);
i) Monitorar a vegetação das áreas de preservação permanente, segundo as
especificações do Código Florestal;
j) Através de órgãos do governo, acompanhar e inspecionar a realização de queimadas
seguindo rigorosamente as recomendações;
k) Monitoramento técnico durante a recomposição vegetal da área explorada, na
tentativa de restabelecer a composição florística e estrutura da vegetação;
l) Acompanhar e monitorar a elaboração de um programa de conscientização

175
Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso

ambiental para os produtores da área do entorno e outras pessoas que estão


atuando negativamente sobre a fauna. Devem-se conscientizar os moradores
locais sobre a importância da fauna silvestre para a conservação do meio natural,
proporcionando o equilíbrio no ambiente local e o bem-estar da população;
m) Fomentar a fiscalização de órgãos ambientais e da própria comunidade local
no sentido de coibir a caça furtiva, e controle da pesca predatória na região do
entorno;
n) Fornecer o apoio técnico necessário para a transformação do Parque Ecológico
Quedas do Rio Bonito em Unidade de Conservação legalmente reconhecida pelo
SNUC (Lei 9985/2000), gerando condições para a conservação da flora e refúgio
da fauna local, visando à conscientização dos visitantes e dos moradores locais
sobre a importância da flora e da fauna silvestres, e demais recursos naturais,
através de projetos de educação ambiental.

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Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso

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Capítulo 8 - Bibliografia Consultada

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www.mma.gov.br/conama/

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